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1 Saiba Mais Sobre Bebidas Alcoólicas Consumo de bebidas alcoólicas em Portugal De acordo com os dados resultantes de transacções comerciais (WDT 2005), Portugal ocupa o 8º lugar no ranking mundial de consumidores de álcool, com 9,5 litros de álcool puro por habitante. No entanto, fica por quantificar toda a produção caseira de vinho e aguardente, que terá um impacto no aumento do consumo de álcool pelos portugueses e por conseguinte, o aumento dos problemas relacionados. Bebidas não alcoólicas A água é a mais importante de todas as bebidas existentes e sem a qual não é possível viver. Diariamente cada pessoa perde 2 a 3 litros de água (pela urina, fezes, ar expirado e suor) que devem ser repostos. O leite é uma bebida alimentar muito importante pela sua riqueza em proteínas de elevado valor biológico, cálcio, fósforo e vitaminas. O seu consumo deve ser diário por toda a população. Os sumos de frutos são excelentes bebidas alimentares pela sua riqueza em vitaminas, sais minerais, água e frutose. Constituem uma alternativa para pessoas que não gostam de ingerir fruta. O chá, café, e a coca-cola incluem-se no grupo de bebidas estimulantes e o seu consumo deve ser moderado.

ÁLCOOL - GRADUAÇÃO

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Saiba Mais Sobre Bebidas Alcoólicas Consumo de bebidas alcoólicas em Portugal De acordo com os dados resultantes de transacções comerciais (WDT 2005), Portugal ocupa o 8º lugar no ranking mundial de consumidores de álcool, com 9,5 litros de álcool puro por habitante. No entanto, fica por quantificar toda a produção caseira de vinho e aguardente, que terá um impacto no aumento do consumo de álcool pelos portugueses e por conseguinte, o aumento dos problemas relacionados.

Bebidas não alcoólicas A água é a mais importante de todas as bebidas existentes e sem a qual não é possível viver. Diariamente cada pessoa perde 2 a 3 litros de água (pela urina, fezes, ar expirado e suor) que devem ser repostos. O leite é uma bebida alimentar muito importante pela sua riqueza em proteínas de elevado valor biológico, cálcio, fósforo e vitaminas. O seu consumo deve ser diário por toda a população. Os sumos de frutos são excelentes bebidas alimentares pela sua riqueza em vitaminas, sais minerais, água e frutose. Constituem uma alternativa para pessoas que não gostam de ingerir fruta. O chá, café, e a coca-cola incluem-se no grupo de bebidas estimulantes e o seu consumo deve ser moderado.

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Bebidas Alcoólicas São bebidas que contêm álcool na sua composição. O álcool das bebidas alcoólicas é o álcool etílico ou etanol (é o mesmo que se vende na farmácia), sem qualquer valor nutritivo. Tipos de bebidas alcoólicas Fermentadas: São bebidas obtidas a partir da fermentação dos sumos açucarados:

� O vinho: resulta da fermentação do sumo da uva. Tem uma graduação que varia entre 8 a 13 graus.

� A cerveja: resulta da fermentação de cereais. A sua graduação varia entre 4 a 8 graus. A cerveja dita sem álcool é uma boa alternativa de consumo para pessoas não alcoólicas, e pode atingir um teor máximo de álcool de 0,5 graus.

� A água-pé: resulta da mistura de água e mosto após ser espremido. A sua graduação varia entre 2 a 3 graus;

� A cidra: resulta da fermentação do sumo de maçã. A sua graduação oscila entre 4 a 5 graus.

Generosas ou fortificadas: São bebidas à base de vinhos, mas com uma maior graduação (ex. Madeira e Porto) .Obtém-se pela mistura de vinho com álcool, açúcares e aromas (anis, licores diversos). Têm uma graduação que varia entre 15 a 20 graus. Destiladas: São bebidas obtidas através da destilação de frutos e das bebidas fermentadas, por meio de alambique e que resultam em bebidas com maior graduação.

� Aguardente/bagaço/cognac /rum: resultam da destilação do vinho, cana-de-açúcar, frutos.

� Whisky/vodka/gin: Resultam da destilação de sementes. Têm uma graduação à volta dos 45 graus. Alcopops ou designer drinks: As alcopops, são bebidas alcoólicas açucaradas, com sabor a fruta e com uma percentagem de álcool que pode variar entre 4 a 6%. Devido ao sabor açucarado, estas bebidas alcoólicas são apelativas para os jovens, que em geral, não apreciam o sabor ardente do álcool. Graduação das bebidas alcoólicas A graduação é o volume de álcool etílico por litro de bebida. Por vezes exprime-se em percentagem, e em graus, e varia de acordo com o tipo de bebida. Como se calcula a graduação de uma bebida? 1l de vinho a 12º tem 12%,ou 0,12 l ou 120 ml de álcool 1l de cerveja a 6º tem 6%, ou 0,06 l ou 60 ml de álcool 1 l de aguardente a 50º tem 50% ou 0,5 l ou 500 ml de álcool Se misturar água ou gasosa na cerveja ou no vinho, não diminui a quantidade de álcool que aí se encontra, apenas o dilui.

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Pode beber-se a mesma quantidade de álcool ingerindo bebidas diferentes. Em termos de quantidade de álcool ingerido podemos dizer que beber 2 litros de cerveja (a 6º) é igual a beber 1litro de vinho (a 12º) e beber 1/4 litro de aguardente ou de whisky ( a 48º). As bebidas com mais graduação são servidas em copos pequenos e as bebidas com menos graduação são servidas em copos maiores. A quantidade de álcool varia entre 8 a 12 gramas por cada unidade de bebida.

Conversão do volume de álcool em gramas Podemos converter qualquer volume de álcool em gramas seguindo a seguinte regra: cada mililitro de álcool , tem 0.8g de álcool puro. Por exemplo:

I l de vinho de 12º = 120 ml de álcool 120 ml x 0.8 (factor de conversão ) = 96 gramas

Os efeitos do álcool O álcool no organismo Através da boca e do esófago, o álcool chega ao estômago e ao intestino onde é absorvido pelo sangue. O sangue transporta o álcool a todos os órgãos do corpo, nomeadamente ao fígado, pulmões, coração, cérebro, etc. O fígado é o órgão responsável pela degradação lenta do álcool Alcoolémia A taxa de alcoolémia é a quantidade de álcool existente no sangue em determinado momento e expressa-se em gramas de álcool por litro de sangue. Quando alguém tem uma alcoolémia de 0,5g/l, equivale a dizer que existem 0,5g de etanol ou álcool puro por cada litro de sangue. A presença de álcool no sangue é a indicação de que o álcool se espalhou em todo o corpo e particularmente nos órgãos mais irrigados, como o fígado, pulmões, o coração, o cérebro e os rins. Qual o tempo que o organismo leva a absorver uma bebida? O tempo de absorção do álcool pelo organismo varia entre 15 a 30minutos se absorvido em jejum, e de 30 a 60 minutos se absorvido durante a refeição.

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Curva de alcoolémia após ingestão de 0.75l de vinho de 10º num homem adulto com 60kg de peso

Quanto tempo é necessário ao organismo para eliminar uma bebida? O organismo elimina, aproximadamente 0,10 g/l de álcool por hora. Assim uma pessoa que tiver uma alcoolémia de 0.5g/l, precisa de 5 horas para atingir uma alcoolémia de 0,0g/l. Variáveis que influenciam a taxa de alcoolémia:

• Quantidade ingerida e tipo de bebida • Momento de absorção (em jejum ou durante e fora das refeições) • O ritmo de absorção. O consumo rápido e maciço acelera o aumento da

alcoolémia • O peso corporal (a alcoolémia é tanto mais elevada quanto menor é o peso da

pessoa) • O género (a mulher é mais sensível do que o homem) • O estado geral (físico e psíquico)

Fórmula de cálculo da taxa de alcoolémia

Álcool puro consumido em gramas

Taxa de alcoolémia =

Peso corporal (em kg) x coeficiente (0.7 nos homens) (0.6 nas mulheres) (1.1 durante as refeições)

A taxa de alcoolémia mede-se tanto no sangue como no ar expirado? Verdadeiro. O alcoolímetro é o instrumento que serve para avaliar, de forma indirecta, o teor de álcool no sangue, apresentando os valores já convertidos em gramas de álcool por litro de sangue. Para efeitos de aplicação legal a conversão dos valores do teor de álcool no ar expirado (TAE) em teor de álcool no sangue (TAS) é baseada no princípio de que 1 mg de álcool por litro de ar expirado equivale a 2,3 g de álcool por litro de sangue (decreto-lei n.º 2/98 de 3 de Janeiro, Art.4º).

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Consumo moderado de bebidas alcoólicas O beber moderado é um padrão de consumo de álcool sem riscos para a saúde. Regras de moderação Um homem adulto saudável não deve beber mais do que 3 bebidas com álcool (24 gramas de álcool) por dia, de preferência distribuídas pelas duas principais refeições (almoço e jantar). Uma mulher adulta saudável, e que não esteja grávida ou a amamentar, não deve beber mais do que 2 bebidas alcoólicas (16 gramas) por dia. Restrições ao consumo moderado

� Mulheres grávidas ou a amamentar � Crianças e jovens até aos 18 anos � Pessoas com história de traumatismo craniano, doenças do aparelho

digestivo, e do sistema nervoso central � Doentes com história de epilepsia � Doentes alcoólicos, mesmo depois de muitos anos de abstinência e

considerados em recuperação � Todas as pessoas durante o trabalho e a condução

Consequências do abuso de álcool na saúde Estudos recentes (Room,R et al 2005) mostram que o consumo excessivo de álcool para além de provocar problemas específicos, como o Sindroma de Abuso de álcool (SAA) e o Síndroma de Dependência do álcool (SDA),está relacionado com cerca de 60 tipos de problemas de saúde diferentes. A figura seguinte ilustra alguns desses problemas.

(adaptado de Chick J. 1998)

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O álcool é uma substância depressora do Sistema Nervoso Central (SNC) O álcool é consumido por via oral e actua como um depressor do SNC. A aparente estimulação ou efeito desinibidor conseguida com os primeira bebidas, mais não é do que o resultado da depressão dos mecanismos de controlo inibitório do cérebro. Em primeiro lugar são afectados os centros superiores (o que se repercute na fala, pensamento, cognição e juízo crítico) e posteriormente deprime os centros inferiores (afectando a respiração, os reflexos, e em casos de intoxicação aguda, podendo levar ao coma e até à morte). O álcool é uma droga? Quando consumido em excesso, o álcool é uma droga, que provoca dependência física e psíquica como a heroína e cocaína. A diferença é que o seu consumo está socialmente aceite e legalizado, e, para algumas pessoas, é possível um consumo moderado de álcool sem riscos para a saúde. O álcool quando consumido em excesso promove doenças próprias e específicas, nomeadamente: intoxicações agudas, a síndroma de abuso e a síndroma de dependência do álcool. Intoxicação aguda pelo álcool/embriaguez A intoxicação aguda ou embriaguez ocorre quando é ingerida grande quantidade álcool num curto espaço de tempo. As manifestações da intoxicação dependem das quantidades de bebida ingerida e da tolerância do indivíduo. Caracterização das etapas da intoxicação aguda Fase de excitação psicomotora (alcoolémia entre 0.5 e 1.5 g/l de sangue)

• Desinibição • Euforia superficial alternada com período de tristeza e agressividade • Necessidade irresistível de falar e familiaridade excessiva • Alterações da memória, do discernimento e da atenção

Fase de descoordenação (alcoolémia superior de 1.5 a 3 g/l de sangue)

• Desordem de pensamento que leva à confusão total • Sonolência progressiva até ao torpor • Descoordenação motora • Diplopia (visão dupla). • Vertigens, náuseas, vómitos • Taquicardia

Fase comatosa (alcoolémia superior a 3 g/l sangue)

• Coma profundo (na maior parte dos casos sai do coma ao fim de algumas horas) • Hipotermia (descida de 5 a 6 graus da temperatura) • Hipotensão arterial com risco de colapso cardiovascular • Amnésias lacunares (black-outs)

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É possível morrer de overdose de álcool? Verdadeiro. Se houver consumos de grandes quantidades de álcool num curto espaço de tempo, é possível alcançar um estado de coma e por vezes a morte, por colapso cardiovascular ou depressão respiratória. Estas situações de overdose são frequentes nos jovens que estão a iniciar a sua relação com o álcool. Também podem acontecer situações de overdose, quando há mistura de drogas ou de comprimidos, nomeadamente benzodiazepinas. Síndroma de Abuso de Álcool (SAA) O Abuso de álcool caracteriza-se por um padrão do consumo de álcool excessivo, repetido e recorrente e que se manifesta por consequências adversas na vida da pessoa. O abuso de álcool tem critérios definidos tanto no Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-IV-R), como na Classificação Internacional das Doenças (CID-10). Como se identifica o SAA? (Compreende um ou mais dos seguintes sintomas durante um período de 12 meses.)

a) Incapacidade de cumprir obrigações importantes (ex. faltas ao trabalho, à escola, quebra de rendimento);

b) Abusos Recorrentes em situações em que estes se tornam fisicamente perigosos (ex. conduzir um carro, manobrar uma máquina);

c) Problemas legais relacionados com comportamentos em estado de embriaguez (condução com álcool, desmandos de conduta);

d) A pessoa continua a beber abusivamente apesar dos problemas sociais, interpessoais causados ou potenciados pelo abuso de álcool (ex. dificuldades conjugais, divórcio).

Síndrome de Dependência do Álcool (SDA), ou Alcoolismo O SDA ou vulgo conhecido alcoolismo é uma tipologia clínica para denominar uma situação de dependência física e psicológica do álcool. Como se identifica o SDA? Devem observar-se pelo menos 3 ou mais do seguintes sintomas num período de 12 meses)

• Tolerância elevada ao álcool (necessidade de beber cada vez mais quantidade para conseguir os memos efeitos, o que permite à pessoa atingir alcoolémias elevadas sem que apresente sinais de intoxicação)

• Perda de controlo (incapacidade de controlar a quantidade que ingere) • Apetência ou Craving (desejo obsessivo de beber)

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• Síndrome de abstinência (sinais da privação do álcool que surgem num período entre 4 a 12 horas após redução dos consumos, como, tremor, ansiedade, suores, náuseas etc. O álcool é consumido também para evitar ou aliviar estes sintomas

• Existe desejo ou esforço para reduzir, controlar, cessar os consumos sem sucesso

• Danos nas várias áreas da vida: família, trabalho, amigos, saúde. • O consumo mantém-se apesar dos danos persistentes

O Síndroma de Dependência do Álcool é uma doença? A dependência de álcool é uma doença que causa sofrimento físico e psicológico, afectando o próprio e aqueles que lhe são próximos. Caracteriza-se por ser uma doença primária, com evolução progressiva e que não tem cura, ou seja, mesmo após grandes períodos de abstinência não é possível voltar a beber sem se descontrolar. O tratamento destes doentes baseia-se na abstinência completa. Um doente alcoólico pára de beber quando quer? Depende da fase da dependência em que se encontra. Numa fase inicial em que ainda não tem sinais de abstinência física, é possível parar por iniciativa própria sem consequências para a sua saúde. Pelo contrário se já tiver sinais de abstinência, não conseguirá, por norma, parar os consumos de álcool sem acompanhamento médico. Quais os principais sintomas da abstinência do álcool?

• Neuromusculares (tremor das mãos e da língua, cãibras, sensação de formigueiro)

• Digestivos (náuseas, vómitos) • Neurovegetativos (suores, taquicardia, hipotensão,) • Psíquicos (ansiedade, humor depressivo, irritabilidade, alucinações visuais,

delírios) O consumo de bebidas alcoólicas na condução e no trabalho O facto do Código da Estrada regulamentar uma taxa mínima de 0.5g/l, não significa que algumas pessoas estejam capazes de conduzir ou trabalhar com esta taxa de álcool no sangue. Mesmo em doses fracas (a partir de 0.2g/l) o álcool actua sobre o cérebro provocando várias alterações:

� Atraso no tempo de reacção a estímulos visuais e sonoros � Estreitamento no campo visual � Dificuldade na percepção das cores � Alteração na percepção das distâncias e da velocidade � Perturbação no equilíbrio óculo-motor

Outras funções psíquicas são afectadas, nomeadamente: a atenção, atenção a um segundo estímulo, vigilância, recolha e tratamento de informação, raciocínio e memória, existindo falta de critica e tendência para arriscar.

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O álcool – um risco na condução e no trabalho

Qual o limite seguro de consumo de álcool no trabalho e na condução? No trabalho e na condução o limite seguro é 0g/l sangue, ou seja, não consumir qualquer tipo de bebida alcoólica. A partir de uma alcoolémia de 0.5g/l agrava-se o risco de acidentes

Alcoolémia Risco agravado de acidente 0g/l 0

0,5g/l Duas vezes mais 0,8g/l Cinco vezes mais 1,2g/l Vinte vezes mais 2g/l Oitenta vezes mais

Consequências do abuso de álcool no trabalho O aspecto descuidado, o hálito a álcool, as alterações de humor, como a irritabilidade e agressividade provocadas pelo abuso de álcool, ou o excesso de bom humor, perturbam as relações com clientes, colegas e chefias, desencadeando reclamações, conflitos, e procedimentos disciplinares. As consequências ao nível laboral incidem na diminuição de rendimento, não progressão na carreira, aumento de absentismo, acidentes e reformas prematuras. Regulamentação de consumo de álcool nos locais de trabalho A Portaria 390/2002 de 11 de Abril regulamenta a disponibilização e consumo de bebidas alcoólicas nos locais de trabalho da Administração Pública. De acordo com esta Portaria é permitido o consumo de bebidas alcoólicas fermentadas apenas durante o almoço e jantar, em quantidades limitadas a um máximo de 25 cl de vinho ou 33 cl de cerveja por refeição.

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O álcool e os Jovens O consumo excessivo de álcool é a principal causa de morte nos jovens, seja directamente ou por consequências, nomeadamente, em acidentes de viação. Especificidades do padrão de consumo Os jovens em geral não bebem às refeições. Têm um padrão de consumo caracterizado por ingerir grandes quantidades de bebidas alcoólicas num curto espaço de tempo. O acto de beber está frequentemente associado aos efeitos que o álcool provoca. É um padrão essencialmente de fins-de-semana, associado a saídas à noite e a momentos recreativos. A partir de que idade é que o consumo de álcool oferece menos risco? Só a partir dos 18 anos é que é aceitável um consumo moderado de álcool. No entanto, a regulamentação apenas restringe a venda e o consumo a menores de 16 anos (Decreto-Lei n.º9/2002 de 24 de Janeiro), o que não significa que a partir desta idade os jovens estejam aptos do ponto de vista do seu desenvolvimento físico e psíquico para lidar com a toxicidade do álcool. Quais as consequências do consumo de álcool nos jovens?

• Engorda, estraga a pele e provoca envelhecimento precoce • Acidentes de viação • Overdoses (seja por uma intoxicação aguda de álcool ou com mistura com

outras drogas). • Relações sexuais desprotegidas (riscos de contrair doenças infecto-contagiosas,

gravidezes precoces) • Desinvestimento nos estudos (devido à baixa de rendimento escolar, faltas às

aulas) • Risco de agravamento dos consumos, com instalação de um Síndrome de

Abuso de Álcool ou um Síndrome de Dependência de Álcool. • Risco de entrada ou de agravamento do consumo de outras substâncias: tabaco,

calmantes (benzodiazepinas), cannabis, cocaína, heroína. O consumo excessivo de álcool na mulher As mulheres bebem em média menos do que os homens, mas mais rapidamente se tornam dependentes. É muito frequente a associação de álcool com tranquilizantes e ansiolíticos, o que pode levar a uma comorbilidade aditiva. Na mulher, o consumo abusivo de álcool é vivenciado com culpa, sendo muitas vezes um acto solitário e às escondidas. Álcool e gravidez Beber álcool durante a gravidez acarreta complicações no desenvolvimento embrionário, podendo culminar num quadro de Sindroma Alcoólico Fetal. O Sindroma Alcoólico Fetal Tendo em conta a grande capacidade que o álcool tem de atravessar a barreira placentária, a alcoolémia do feto e da mãe são habitualmente equivalentes. Durante o primeiro trimestre de gravidez, o consumo de álcool traduz-se em prejuízo na formação dos órgãos (organogénese), músculos e esqueleto do feto.

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Durante o segundo e o terceiro trimestres, causa perturbações de crescimento e desenvolvimento. O Síndrome Alcoólico Fetal caracteriza-se por:

• Atraso no crescimento pré e pós-natal • Alterações no sistema nervoso central • Alterações da face e dos olhos • Alterações cardíacas

Amamentação Durante a amamentação a mãe deve utilizar bebidas saudáveis como a água, o leite, e sumos naturais, evitando totalmente o consumo de bebidas alcoólicas. Caso a mãe tenha ingerido bebidas alcoólicas, o álcool difunde-se nos líquidos orgânicos, pelo que se encontra com grande facilidade no leite materno, sendo a quantidade neste líquido igual à que existe no sangue. Mitos e falsos conceitos sobre o álcool O álcool faz aumentar a capacidade sexual? Não. O álcool consumido até certas quantidades pode facilitar a desinibição sexual. No entanto, é muito difícil manter um padrão de consumo que leve à efectivação destes efeitos sem abusar. Por outro lado, o consumo abusivo regular provoca no homem impotência sexual, isto porque o consumo excessivo de álcool afecta os nervos necessários à erecção. O álcool reduz os níveis de hormonas masculinas, o que também reduz o desejo sexual e a capacidade reprodutiva. O consumo moderado de álcool é protector de doenças cardiovasculares? Não. Há estudos recentes que não confirmam esta relação. Ter um estilo de vida saudável é que é determinante na protecção de doenças cardiovasculares, nomeadamente, ter uma alimentação saudável e fazer exercício físico. Se não gosta de beber não deverá passar a fazê-lo porque tem ganhos para a sua saúde. O álcool ajuda a lidar com a timidez Não. Acha que é tímido? O que tem isso de errado? As pessoas tímidas são muitas vezes amáveis e interessantes. Quando sai com alguém que não conhece, a melhor forma de a abordar é perguntar às pessoas algo delas próprias. Em princípio as outras pessoas gostam de falar de si próprias e você pode mostrar ser um bom ouvinte. A sua

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timidez irá desaparecer se deixar de se preocupar com o que as outras pessoas pensam de si e se, em vez disso, mostrar interesse genuíno pelas pessoas. Beber um café amargo e muita água dilui os efeitos uma alcoolémia excessiva? Não. Os efeitos do álcool no organismo dependem das quantidades de álcool consumidas, bem como da saúde do indivíduo. Não existem receitas para atenuar os efeitos do álcool, nem acelerar a sua eliminação (nem ingeri muita água, beber café sem açúcar, ingerir uma colher de azeite). O álcool é eliminado naturalmente por um organismo de boa saúde à razão de 0.10 a 0.15 g/l por hora. No entanto, ingerir água é positivo porque combate a desidratação e porque é uma forma de interromper os consumos de álcool. O álcool aquece? Não. O álcool faz com que o sangue se desloque do interior do organismo para a superfície da pele, provocando sensação de calor. Mas este movimento do sangue provoca uma perda de calor interno, já que o sangue se encontra a uma temperatura que ronda os 37º e que é quase sempre superior à temperatura ambiente. Quando o sangue regressa ao coração há necessidade de o organismo despender energia no restabelecimento da sua temperatura. O álcool mata a sede? Não. A sensação de sede significa necessidade de água no organismo. As bebidas alcoólicas não satisfazem esta falta, provocando, ainda, a perda através da urina, da água que existe no organismo, o que vai aumentar a carência de água e, portanto,a sede. Não esqueça: numa refeição, ao servir um copo de vinho, sirva sempre um copo de água ao mesmo tempo. A água mata a sede e contribui para diminuir a ingestão alcoólica. O álcool dá força? Não. O álcool tem um efeito estimulante e anestesiante, que disfarça o cansaço provocado pelo trabalho físico ou intelectual intenso, dando a ilusão de voltarem as forças. Mas, depois o cansaço é a dobrar porque o organismo vai gastar ainda mais energias para "queimar" o álcool no fígado. O álcool é um alimento? Não. O álcool apesar de fazer parte da nossa gastronomia, não tem qualquer valor nutritivo. Produz calorias inúteis para os músculos e não serve para o funcionamento das células. Contrariamente aos verdadeiros alimentos ele não ajuda na edificação, construção e reconstrução do organismo. Ingerir uma bebida após a refeição facilita a digestão? Não. O álcool faz com que os movimentos do estômago sejam muito mais rápidos e os alimentos passem precocemente para o intestino sem estarem devidamente digeridos, dando a sensação de estômago vazio. O resultado é a falta de apetite e o aparecimento de gastrites e de úlceras. O álcool não é um medicamento Não. O álcool não cura nem trata nenhuma doença. Devido aos seus efeitos pode provocar uma anestesia passageira, camuflando durante algum tempo a sensação de mal-estar, o que vai permitir que esta se agrave.

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Como ajudar um familiar ou amigo, que tem uma doença provocada pelo álcool, mas que não a reconhece? É frequente nas pessoas com esta problemática negar ou desvalorizar o seu comportamento de consumo nocivo do álcool e relacionar os danos que têm na sua vida com esse comportamento. Neste caso, a família ou quem está próximo afectivamente do doente pode ajudá-lo a tomar consciência que tem um problema de saúde e que deve pedir ajuda especializada.

• Não ignorar nem esconder o problema ou desculpá-lo Trata-se, normalmente, de doenças especiais, em que as pessoas não reconhecem a doença nem a necessidade de tratar, e não só sofrem como também fazem sofrer os outros. Por isso é importante ser claro, falar do tema, e das dificuldades que o consumo nocivo de álcool tem trazido à vida da pessoa. Encoraje outras pessoas a falar. Aproveitando um momento de sobriedade, deverá manifestar que está preocupado/a com ele(a), e com a forma como ele(a) está a beber. Dê exemplos de incidentes ocorridos recentemente aquando dos excessos. É importante não esconder nem desculpar a pessoa com problemas de álcool, de modo a que esta sinta todas as consequências que o consumo nocivo do álcool acarreta. Se você for maltratado(a), ou pessoas que você conheça, nomeadamente crianças, deve fazer queixa às entidades competentes. Esta responsabilização e eventuais sanções acabarão por traduzir-se numa protecção contra excessos, responsabilização e até ajuda à pessoa doente.

• Use Amor Firme Mostre-lhe que gosta dele(a) e explique-lhe que não aceita partilhar esse sofrimento com ele(a). Pressione-o(a) a procurar ajuda, não para o(a) punir mas para o(a) ajudar, e para se ajudar a si mesmo, protegendo-se dos problemas da pessoa alcoólica. Não faça ameaças que não esteja preparado(a) para cumprir.

• Procure ajuda Os familiares devem procurar ajuda para melhor lidar com o problema de alcoolismo. Existem grupos de Auto-Ajuda, onde os familiares destes doentes podem encontrar apoio (Al-Anon). Este tipo de grupos ajudam os familiares a compreender que eles não são responsáveis pelo abuso de álcool de um(a) alcoólico(a) e que necessitam de tomar medidas para se protegerem do problema, quer o(a) alcoólico(a) procure ajuda ou não. Sempre que se sentir de ameaçado, agredido ou em perigo deve recorrer à autoridade policial mais próxima. Pode também recorrer ao seu médico assistente e aos serviços do IDT.

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AutoTeste AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) Questionário de detecção precoce do abuso de álcool 1. Com que frequência consome bebidas que contêm álcool? (Escreva o número que melhor corresponde à sua situação.) 0 = nunca 1 = uma vez por mês ou menos 2 = duas a quatro vezes por mês 3 = duas a três vezes por semana 4 = quatro ou mais vezes por semana 2. Quando bebe, quantas bebidas contendo álcool consome num dia normal? 0 = uma ou duas 1 = três ou quatro 2 = cinco ou seis 3 = sete ou oito 4 = dez ou mais 3. Com que frequência consome seis bebidas ou mais numa única ocasião? 0 = nunca 1 = uma vez por mês ou menos 2 = duas a quatro vezes por mês 3 = duas a três vezes por semana 4 = quatro ou mais vezes por semana 4. Nos últimos 12 meses, com que frequência se apercebeu de que não conseguia parar de beber depois de começar? 0 = nunca 1 = uma vez por mês ou menos 2 = duas a quatro vezes por mês 3 = duas a três vezes por semana 4 = quatro ou mais vezes por semana 5. Nos últimos 12 meses, com que frequência não conseguiu cumprir as tarefas que habitualmente lhe exigem por ter bebido? 0 = nunca 1 = uma vez por mês ou menos 2 = duas a quatro vezes por mês 3 = duas a três vezes por semana 4 = quatro ou mais vezes por semana 6. Nos últimos 12 meses, com que frequência precisou de beber logo de manhã para "curar" uma ressaca? 0 = nunca 1 = uma vez por mês ou menos 2 = duas a quatro vezes por mês 3 = duas a três vezes por semana 4 = quatro ou mais vezes por semana

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7. Nos últimos 12 meses, com que frequência teve sentimentos de culpa ou de remorsos por ter bebido? 0 = nunca 1 = uma vez por mês ou menos 2 = duas a quatro vezes por mês 3 = duas a três vezes por semana 4 = quatro ou mais vezes por semana 8. Nos últimos 12 meses, com que frequência não se lembrou do que aconteceu na noite anterior por causa de ter bebido? 0 = nunca 1 = uma vez por mês ou menos 2 = duas a quatro vezes por mês 3 = duas a três vezes por semana 4 = quatro ou mais vezes por semana 9. Já alguma vez ficou ferido ou ficou alguém ferido por você ter bebido? 0 = não 1 = sim, mas não nos últimos 12 meses 2 = sim, aconteceu nos últimos 12 meses 10. Já alguma vez um familiar, amigo, médico ou profissional de saúde manifestou preocupação pelo seu consumo de álcool ou sugeriu que deixasse de beber? 0 = não 1 = sim, mas não nos últimos 12 meses 2 = sim, aconteceu nos últimos 12 meses

Pontuação do AUDIT:

As perguntas 1 a 8 fornecem respostas numa escala de 0 a 4 pontos; e as respostas ás perguntas 9 a 10 cotam-se com 0, 2 e 4 pontos. Os resultados expressam-se em valores entre 0 e 40.

Valores de 1 a 7 ⇒ Consumo de baixo risco Valores de 8 a 19 ⇒ Consumo Nocivo/Abuso Valores de 20 a 40 ⇒ Dependência

Fonte: (World Health Organization - WHO), 1992) Adaptado para Portugal por Jorge Roque da Cunha (2002)

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Onde posso pedir ajuda para os problemas relacionados com o álcool? Centros Regionais de Alcoologia Se está no Sul Centro Regional de Alcoologia do Sul - CRAS Parque e Saúde de Lisboa Av. do Brasil 53-A 1749-006 Lisboa Tel. 21 795 80 30 / 21 796 18 07 Fax: 21 794 04 27 www.cras.min-saude.pt Se está no Centro Centro Regional de Alcoologia do Centro (CRAC) Conraria 3040 Castelo Viegas Tel: 239 793 710 Fax: 239 780 452 www.crac.min-saude.pt Se está no Norte Centro Regional de Alcoologia do Norte (CRAN) Rua Prof. Álvaro Rodrigo 4100-40 Porto Tel: 22 610 22 75 / 22 610 01 82/83 Fax: 22 610 25 92 www.cra-porto.pt Grupos de Auto-Ajuda Alcoólicos Anónimos (AA) Grupos de Auto-Ajuda para alcoólicos Tel: 21 716 2969 e-mail: [email protected] www.aaportugal.org AL-ANON Grupos de Auto-Ajuda para familiares e amigos dos alcoólicos Tel: 21 216 03 97 e-mail: [email protected]

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Narcóticos Anónimos (NA) Grupos de Auto-Ajuda para dependentes de drogas Famílias Anónimas Grupos de Auto-Ajuda para familiares e amigos de pessoas com problemas relacionados com o consumo de drogas Tel: 21 453 87 09 Bibliografia DSM-IV (Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais) CDI -10 (Classificação Internacional das Doenças 10º edição) Melo, MLM (1988). Manual de Alcoologia para o Clínico Geral. Coimbra World Drink Trends, 2005 Chick, J. (1998). Problemas com a bebida. Campo das Letras Editores,Porto. Room, R.; Babor, T.;Rehm J. (2005). Alcohol and public health. The Lancet, vol 365: 519-30. www.who.int ( site da Organização Mundial de Saúde). Acedido em 2007-03-19 www.niaaa.nih.gov ( site do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism). http://sindromealcoolicafetal.org/. Acedido em 2007-03-19