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ALDENILSON DOS SANTOS VITORINO COSTA
SOCIABILIDADE NA ERA DAS REDES EM PALMAS
Rio de Janeiro
2012
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Orientadora: Tamara Tania Cohen Egler
C837s Costa, Aldenilson dos Santos Vitorino. Sociabilidade na era das redes em Palmas / Aldenilson dos Santos Vitorino Costa. – 2012. 153 f. : il. color. ; 30 cm. Orientador: Tamara Tania Cohen Egler. Tese (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2012. Bibliografia: f. 127-136. 1. Internet – Aspectos sociais. 2. Inclusão digital – Aspectos sociais. 3. Inclusão digital – Palmas (TO). 4. Integração social. 5. Telecentros. 6. Palmas (TO) – Aspectos sociais. I. Egler, Tamara Tania Cohen. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. III. Título. CDD: 303.4833
ALDENILSON DOS SANTOS VITORINO COSTA
SOCIABILIDADE NA ERA DAS REDES EM PALMAS
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
______________________________ Prª. Drª. Tamara Tania Cohen Egler Instituto de Pesquisa e Planejamento urbano e Regional
______________________________ Prª. Drª. Claudia Maria Lima Werner Programa de Engenharia de Sistemas e Computação, COPPE/UFRJ ______________________________ Prª. Dr. William Ribeiro da Silva Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGG/UFRJ
AGRADECIMENTOS
Agradecer é sempre uma ação muito difícil, principalmente pelo fato de que como muitas
pessoas estiveram envolvidas, direta ou indiretamente, ao longo do desenvolvimento deste
trabalho, corre-se o risco de esquecer algum nome, ou alguns nomes.
Primeiramente agradeço a Deus, pois sempre nas reuniões semanais na IURD, reavia forças,
me distraia, ficando pronto para mais uma semana de trabalho intelectual árduo, fosse no
IPPUR ou em casa, ou em algum meio de transporte.
Meus pais, Benedito e Aldenise, evidentemente não poderiam ser esquecidos, afinal de contas
posso afirmar que cheguei ao fim de mais um trabalho acadêmico em função do apoio
incondicional deles, mesmo que a distância. Apoio este que foi tanto financeiramente, como
por meio de conversas cotidianas através das ligações, sempre auxiliaram direta ou
indiretamente na minha formação. Este grande auxílio, que vem desde a graduação, sempre
foi de grande valia psicológica e um grande impulsionador intelectual.
As orientadoras certamente foram decisivas. E falo no plural justamente pelo fato de que o
grande pontapé para este trabalho surgiu ainda na graduação, por ideia da professora
Rusvênia, que me orientou na monografia de graduação. Por outro lado, mais decisivo ainda
foi a dedicação e a empolgação da professora Tamara quanto as minhas ideias. Não apenas
acreditou no meu objeto, como me fez acreditar no meu trabalho de pesquisa que em
inúmeras vezes eu mesmo não entendia. Desde as primeiras conversas através dos e-mails, até
a formalização da orientação e o desenvolvimento da pesquisa, sempre houve grande
incentivo da sua parte com respeito a mim. Me ajudou inclusive na formação para além do
título acadêmico, e sim como pesquisador, através das orientações coletivas, dos projetos
desenvolvidos, dos fomentos solicitados, dos eventos organizados. Aprendi mais do que o
simples conhecimento teórico, mas aprendi para a vida, para a vida dentro da academia.
Não posso esquecer-me de fazer referência à professora Ana Clara Torres Ribeiro (in
memoria), que também muito me orientou. Agradeço pelas surpresas que me fazia, sobretudo
quando me ligou, após um e-mail sobre as angústias que eu vinha tendo quanto ao meu
objeto, e passamos quase uma hora ao telefone conversando sobre o meu trabalho. Além
disso, as suas aulas em Sociologia das Técnicas me proporcionaram uma visão mais ampla
tanto no que tange à técnica, quanto ao meu objeto de investigação. Além, é claro, da sua
simplicidade, e como afirmou o professor Jorge Natal, do seu “raro trato humano”. Pessoa que
jamais imaginava conhecer, principalmente na universidade, onde os egos são bastante
aguçados. Além disso, o envolvimento com ela no trabalho de organização do XIV Enanpur
muito me permitiu aprender.
Agradeço também aos amigos, alguns com vínculos acadêmicos e outros não, como aqueles
que me deram total apoio quando cheguei ao Rio, como Reinaldo Cantanhede, Jorge Marinho
e a Familia Vater de Almeida. Agradeço também aos amigos que me ajudaram no
desenvolvimento da dissertação, inclusive quando conseguiam me tirar de casa e me fazer
esquecer minimamente das obrigações vinculadas ao trabalho acadêmico. Aqui cito Felipe
Natan, Daniela Mendes, Paulo Roberto, Michelle Lopes, Eliane Pereira, Stanley Lima, e
outros.
Alguns amigos, entretanto ajudaram muito na reflexão do meu objeto, como Fabiana Mabel,
Carol Brasil e todos do laboratório Estado, Sociedade, Tecnologia e Espaço (IPPUR/UFRJ),
mesmo quando a conversa surgia nas mesas do laboratório ou mesmo dos bares como no bar
do Mangue na UFRJ.
Aos colegas da turma 2010 do Mestrado, que em meio a brigas, conflitos e alegrias me faziam
sorrir das loucuras que aconteciam na turma, em especial Isabella Vitória, Raquel Pádua,
Filipe Marino. Além dos instigantes debates desenvolvidos nas aulas com Geraldiny
Malaguty, Silvio Cesar, Rafaele Monteiro, nas aulas da professora Julieta Nunes.
Agradecimento especial também para Kátia Marina e Vinícius Carvalho muito próximos em
função das atividades do XIV Enanpur. Realmente foi um aprendizado e tanto ter organizado
este evento juntamente com eles. Desde a solicitação de fomento nas agências de
financiamento até a realização do evento foi um amplo aprendizado adquirido. E mesmo em
meio a correria encontrávamos tempo para sorrir.
Agradecimentos também ao Ricardo Sierpe que me ajudou fazendo os mapas dessa
dissertação. Além das longas conversas que tivemos ao longo do momento em que estávamos
fazendo os mapas. Agradeço também ao pessoal da biblioteca que sempre se mostraram
solícitos às minhas questões, solicitações e atrasos.
Agradeço a CAPES pela concessão da bolsa de pesquisa, decisiva para o pleno
desenvolvimento do trabalho. Ao IPPUR pela concessão dos auxílios para participação em
eventos científicos que proporcionaram muito debate e assim o melhor entendimento do meu
objeto. E aos professores do IPPUR que em suas disciplinas confirmavam mais ainda que a
minha escolha pelo departamento havia sido uma excelente escolha. Em especial Jorge Natal,
Fania Friedman, Orlando Junior, Julieta Nunes que com os textos dados nas disciplinas me
ajudaram a amadurecer as ideias.
No trabalho de campo agradeço a todos os proprietários e usuários de lan house, bem como
aos atendentes, coordenadores e usuários de telecentros que responderam ao questionário e
aceitaram participar da entrevista. Além disso, agradecimento especial dedico a Pedro
Vinícius Gomes de Castro que me indicou e me apresentou nas lan houses mais populares
entre os jovens das quadras da área noroeste de Palmas, onde foi possível a realização da
última etapa da pesquisa, de entrevistas apenas com usuários do estabelecimento. Além disso,
as conversas e revelações dele antes mesmo de irmos aos estabelecimentos para que eu
pudesse escolher em qual realizar a entrevista, muito auxiliaram para a análise e compreensão
do cotidiano da lan house.
Enfim, agradeço a todos pelos conselhos, ideias, perguntas, festas e pela amizade.
A tecnificação das formas sociais de vida e trabalho, produção e reprodução material e espiritual, espalha-se por todos os lugares e recantos do mundo e indivíduos. A razão instrumental generaliza-se, adquire preeminência, funda ações e relações, processos e estruturas. Os produtos da ciência transformam-se em técnicas, signos, emblemas, fetiches, ao mesmo tempo que organizam a atividade e a imaginação em toda parte e no íntimo de cada indivíduo (IANNI, 2008, p. 119).
RESUMO
Procura-se refletir sobre a relação entre espaço urbano, sociabilidade e tecnologia de
informação e comunicação, a saber, a internet, na cidade de Palmas. Palmas é uma cidade que
dispõe de políticas públicas governamentais de inclusão digital através de telecentros, mas
que não consegue atingir parcela significativa da população, sobretudo aquelas situadas nas
áreas mais populares, servindo apenas para a realização de cursos, sobretudo para professores
da rede municipal de educação. Ao mesmo tempo, se verifica que as lan houses têm maior
expressão no contexto da cidade, principalmente nas áreas populares, sendo vetores de
inclusão digital. Além disso, as lan houses figuram enquanto espaço de sociabilidade, de
interação social e formação de redes sociais na periferia, com características singulares, que
implicam em novos contornos sociais. Neste sentido, entender a globalização na cotidianidade
urbana, revela, entre outras coisas, a necessidade de analisar as novas formas de socialização
engendradas pela internet.
Palavras-chave: Internet. Sociabilidade. Lan house. Telecentro. Palmas.
ABSTRACT
It seeks to reflect on the relationship between urban space, sociability and information and
communication technology, namely the internet, in the city of Palmas. Palmas is a city that
has public governmental policies of digital inclusion through telecentres, but can not achieve
significant portion of the population, especially those located in the most popular areas,
serving only to courses, especially for teachers of the municipal education. At the same time,
it appears that the Internet cafes have higher expression in the context of the city, especially in
popular areas, being vectors of digital inclusion. Moreover, the lan houses listed as an area of
sociability, social interaction and social networking on the periphery, with unique
characteristics, which imply new social contours. In this sense, understand globalization in
urban daily life, reveals, among other things, the need to examine the new forms of
socialization engendered by the internet.
Keywords: Internet. Sociability. Lan house. Telecentre. Palmas.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Rodrigues Filho, o Sonrisal, já pensa na ampliação da lan house que abriu na laje de
seu mercadinho, em Heliópolis – São Paulo. ...........................................................................31
Figura 2 “Individualidade” na lan house ..................................................................................31
Figura 3 Compartilhamento e socialização na lan house em Palmas.......................................31
Figura 4: Adolescentes jogando no Playstation – jogo off line ................................................37
Figura 5 Compartilhamentos de computador na lan house ......................................................40
Figura 6: Tipos de rede.............................................................................................................42
Figura 7: Velocidade de Conexões em 1998............................................................................60
Figura 8: Velocidade de Conexões em 2011............................................................................60
Figura 9: Mapa de backbones brasileiros em 2010 ..................................................................61
Figura 10: Estrutura de rede .....................................................................................................73
Figura 11: Rede de Fibra Óptica...............................................................................................74
Figura 12: Mapa de fibra óptica da Telebras............................................................................75
Figura 13: Lan House na China: há mais chineses conectados na rede do que habitantes nos
Estados Unidos .........................................................................................................................90
Figura 14: Lan houses na periferia da cidade de Palmas: compartilhamento do espaço da casa
entre a .......................................................................................................................................91
Figura 15: Lan house no centro de Palmas comumente chamada de cyber café......................91
Figura 16 Mapa de localização das lan houses regularizadas em Palmas – TO.......................94
Figura 17: Na primeira imagem (a direita) temos uma lan house no centro de Palmas, e na
segunda imagem (a esquerda) temos uma lan house em quadra na área noroeste da cidade que
faz parte da periferia de Palmas................................................................................................95
Figura 18: Mapa de localização das lan houses segundo a densidade populacional de Palmas –
TO.............................................................................................................................................97
Figura 19: Crianças e adolescentes na Lan house ..................................................................100
Figura 20: Lan House e os serviços oferecidos ......................................................................104
Figura 21: Lan house ..............................................................................................................107
Figura 22: Telecentro Mundi no bairro Jardim Aureny I .......................................................113
Figura 23: Telecentro Palmas Virtual no bairro Jardim Aureny III .......................................113
Figura 24 Mapa de localização dos telecentros em Palmas – TO ..........................................115
Figura 25: Localização dos telecentros segundo a densidade populacional de Palmas – TO 116
Figura 26: Curso de formação continuada de professores da rede municipal de ensino de
Palmas.....................................................................................................................................117
Figura 27 Mapa das Lan houses e telecentros em Palmas – TO ............................................119
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Sites de redes sociais no Brasil por total de visitantes de Dezembro de 2010 a
Dezembro de 2011*..................................................................................................................36
Tabela 2: Cobertura Banda Larga por Trimestre no Brasil por trimestre - 2009 – 2011 .........63
Tabela 3: Cobertura Banda Larga Trimestral por município em % por trimestre - 2009 – 2011
..................................................................................................................................................63
Tabela 4: Municípios com cobertura de serviço de internet banda larga por trimestre - 2009 –
2010 ..........................................................................................................................................64
Tabela 5: População com cobertura de serviço de internet banda larga por estado por trimestre
- 2009 2010...............................................................................................................................66
Tabela 6: Local utilizado para acesso pelos usuários de Internet.............................................92
Tabela 7: Valor médio cobrado pela hora de acesso em 2011 em lan houses de Palmas – TO
..................................................................................................................................................98
Tabela 8: Idade de usuários de lan house em Palmas...............................................................99
Tabela 9: Tempo de permanência na lan house acessando a internet ....................................105
Tabela 10: Evolução de atendimento aos cursistas em 2009..................................................113
Tabela 11: Faixa etária dos cursistas em 2009 .......................................................................114
Tabela 12: Avaliação dos cursistas em 2009..........................................................................114
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Mensalidade cobrada por 1Mbps..............................................................................67
Quadro 2 Mensalidade cobrada por 1Mbps em alguns estados brasileiros..............................68
Quadro 3 Estabelecimentos cadastrados como lan house na Prefeitura de Palmas..................70
Quadro 4 Perfil dos usuários e usos no/do Telecentro em Palmas. ........................................111
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Finalidade de uso da internet na lan house.............................................................106
Gráfico 2 Uso feito da internet em telecentros .......................................................................112
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADSL - Asymmetric Digital Subscriber Line
ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações
ANPUR – Associação Nacional de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
CAPES – Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior
CDI - Comitê para a Democratização da Informática
CGI – Comitê Gestor da Internet
DSL - Digital Subscriber Line
FMECT – Fundação Municipal de Ensino Ciência e Tecnologia
GTA - Grand Theft Auto
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPPUR – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
ISP - Internet Service Provider
MSN - The Microsoft Network
POP – Point of Presence
RNP – Rede Nacional de Pesquisa
TCP/IP - Transmission Control Protocol/Internet Protocol
TELEBRÁS - Telecomunicações Brasileiras S.A.
TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação
TO - Tocantins
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFT – Universidade Federal do Tocantins
UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento
UNITINS – Universidade do Tocantins
UOL – Universo Online
WWW – World wide web
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...............................................................................................
18
1 SOCIABILIDADE DA ERA DAS REDES EM PALMAS ..........................
25
1.1 PRIMEIRA APROXIMAÇÃO .........................................................................
25
1.2 LAN HOUSE E AS FORMAS DE SOCIABILIDADE NA PERIFERIA .......
28
1.3 JOGO: SOCIABILIDADE NA REDE E NA LAN HOUSE ............................
34
1.4 REDES SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE .........................................
40
1.4.1 Por uma definição de rede social ....................................................................
40
1.4.2 Quando o virtual passa para o real e o real passa para o virtual ...............
45
2 PALMAS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO ..................................
57
2.1 ORIGENS DA INTERNET EM PALMAS ......................................................
57
2.2 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM PALMAS ..
70
3 DA BASE TÉCNICA À DIGITALIZAÇÃO DO ESPAÇO ........................
76
3.1 DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À GLOBALIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA .......................................................................................
76
3.2 TÉCNICA, ESPAÇO E TEMPO NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO ..
82
4 LAN HOUSE E TELECENTRO EM PALMAS: ENTRE O PÚBLICO E PRIVADO ........................................................................................................
87
4.1 LAN HOUSE: DA MORFOLOGIA AO USO .................................................
87
4.1.1 Os usos na/da lan house ..................................................................................
103
4.2 TELECENTROS: POLÍTICA PÚBLICA GOVERNAMENTAL ...................
107
4.2.1 Uma panorama geral .......................................................................................
107
4.2.2 Telecentros em Palmas ....................................................................................
110
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................
121
REFERÊNCIAS .............................................................................................. APÊNDICES......................................................................................................
127 137
ANEXOS .......................................................................................................... 155
18
INTRODUÇÃO
A questão proposta nessa dissertação tem por objetivo examinar as transformações
urbanas dadas pelo uso e apropriação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs),
particularmente a Internet, na cidade de Palmas, capital do Estado do Tocantins, no contexto
da sociedade da informação e comunicação globalizada. Palmas é uma cidade que nasce em
1989 para ser capital do Tocantins, seguindo normas de planejamento, num período em que
concomitantemente se inicia a popularização da Internet. No entanto, vale dizer que a lógica
de criação da cidade em nada se associa com a criação da internet, mas esta última insere-se
na cidade como algo necessário a qualquer cidade.
Nossa hipótese é: se há a inserção de uma infraestrutura técnica na cidade associada a
aparelhos tecnológicos com grande carga de técnica, científica e informacional, cuja gênese
remete ao processo de globalização, ou como aponta Santos (2008a) ao meio técnico-
científico-informacional, necessariamente haverá transformações físico-territoriais e sociais
principalmente. Ao mesmo tempo, as transformações sociais expressam-se entre outras coisas
nos comportamentos, nas relações sociais, nas formas de sociabilidade, de interação social,
mediadas por TICs. A partir disso, observa-se que a inserção técnica num meio geográfico
ocorre também no tecido social, porquanto implica em transformações que ocorrem,
sobretudo, no domínio das relações socioespaciais.
No caso de Palmas, última capital criada e planejada do século XX (SEGAWA, 1991)
percebe-se uma transformação dada pelo uso de TICs nas formas de interação social, logo de
sociabilidade. Soma-se a isto o fato de na cidade haver tanto políticas públicas quanto ações
privadas de digitalização e inclusão digital, seja por meio de lan house no caso privado, seja
por meio de telecentros no caso do poder público.
Através dos telecentros Palmas Virtual e Telecentro Mundi são oferecidos
gratuitamente a parte da população o acesso à internet, no entanto esta política pública não
consegue suprir as reais necessidades da população, seja em função do precário
funcionamento dos telecentros, seja em função da esparsa localização dos mesmos, o que
torna necessário avaliar em que medida este tipo de política pública governamental tem
resultados positivos ou negativos.
Já as lan houses, hoje, têm importante papel como mediadoras para a inclusão digital,
que é assim uma inclusão social. Nas áreas populares das cidades, este tipo de
empreendimento tem ganhado expressão não somente em função de permitir o acesso à
19
internet, mas também, por ser um espaço de encontro, socialização, interação social. É uma
ação privada, que em muitos dos casos não dispõe de auxílios governamentais que fomentem
a manutenção e durabilidade do estabelecimento no mercado, mas que tem grande
popularidade entre os internautas situados em áreas populares.
De um lado há atores privados, os donos de lan house e de outro há o poder público
com políticas públicas de digitalização e inclusão digital
A cidade de Palmas é um caso particular de análise, na medida em que sua criação
vem junto concomitante com a popularização da internet no Brasil, o que talvez explique o
motivo pelo qual os mais diversos governos municipais tenham políticas de inclusão digital.
Além disso, houve já na década de 1990 uma ação no sentido de estruturar a cidade para a
inserção da internet. Esse fato nos revela como essa política pública conduz para o a
instalação de uma base técnica de natureza material que transforma as relações sociais
(EGLER, 2007).
Ora, vive-se um processo de globalização, ou como afirma Giddens (1991) de
modernidade radicalizada, que segundo o autor faz com que a globalização seja inerentemente
moderna. O modo de produção capitalista traduz-se, entre outras coisas, pela produção de
imagens, signos, simulacros, linguagens a serem consumidos. No espaço urbano é onde estão
as condições perfeitas tanto para a difusão desses e outros tantos produtos, quanto para o seu
consumo. Ao mesmo tempo a produção tanto de objetos quanto de signos perde a
funcionalidade muito rapidamente, o que exige a sua infinita (re)produção
Não se trata mais de uma produção capitalista apenas de objetos como nos primórdios
do sistema capitalista, mas trata-se principalmente da produção de imagens e signos que irão
transformar profundamente as maneiras de perceber, conceber e vivenviar a cidade, o urbano,
o espaço, o tempo, as relações sociais. Além disso, a realidade se apresenta de outra maneira,
com dispositivos tecnológicos, e com técnicas as mais diversas, que surgem e desaparecem
rapidamente.
As TICs, além de representarem aparelhos técnicos e tecnológicos, inserem na cidade
novas possibilidades de superação das barreiras espaço-temporais (SANTOS, 2008a),
redefinindo, com isso, as relações socioespaciais (RANDOLPH, 2005). Aliás, as
transformações urbanas na contemporaneidade, sobretudo a partir da inserção de TICs, ligam-
se com os processos de globalização que expressam a princípio a mundialização econômica,
mas que tem dimensões territoriais, políticas e principalmente sociais (SANTOS, 2000;
RIBEIRO, 2005; EGLER, 2005).
20
Diante disso, nossa questão consiste em analisar e compreender as transformações urbanas
promovidas pelas TICs em Palmas e a natureza dessas transformações.
É verdade que a sociedade contemporânea vive um grande processo de transformação,
que pode ser observado tanto na dimensão material quanto na dimensão imaterial do espaço
das cidades. As cidades estão em constante transformação promovida por atores das mais
diversas escalas, sendo historicamente determinada. Para cada momento histórico um
processo de transformação particular, sendo que na atualidade este se realiza no contexto e em
defesa de interesses globais.
Nesta direção, as transformações materiais em face da infraestrutura necessária para as
ações dos agentes globais implicam em transformações imateriais. Ao mesmo tempo, há
transformações no domínio do urbano, que não é um elemento inerte, mas que por ser
dinâmico implica em modificações na cidade. Trata-se de reconhecer tanto a imaterialidade
dos processos materiais quanto a materialidade dos processos imateriais na sociedade da
informação e comunicação, onde a informação torna-se fundamental (SANTOS, 2008b) para
a manutenção e realização dos processos de ordem global.
Contudo, o impacto dos processos de globalização sobre as cidades são diferentes a
depender da complexidade urbana da cidade, ou seja, todas as cidades não são igualmente
impactadas pela globalização. Ao contrário, a importância da cidade na rede urbana do país
vai definir o grau de influência dos processos globais (DIAS, 1995, 2005; SANTOS, 2008c),
o que nos leva a identificar que as metrópoles, capitais dos estados e cidades médias são onde
mais se percebe as implicações da globalização, e neste contexto incluímos a implicação das
TICs.
Tais tecnologias inseridas no espaço e mais ainda no espaço urbano criam novas
dimensões da experiência urbana (RIBEIRO, 2007; EGLER 2003) revelando que as TICs,
que Egler (2003, p. 123) chama de tecnologias numéricas, “moldam novas formas de
produção e representação do espaço”.
Neste sentido, algumas perguntas surgem no sentido de criar dúvidas, reavaliar
convicções, repensar conceitos, e principalmente, auxiliar no processo de reflexão e
compreensão do objeto de estudo:
Qual a natureza das relações sociais na era das redes?
21
Como pensar as transformações dadas pelo advento de TIC que se dão no espaço urbano, e
por isso, são transformações urbanas, para uma cidade como Palmas que tem um recente
histórico de produção do espaço?
Quais as implicações da expansão da internet no domínio das práticas e interações sociais no
cotidiano da cidade de Palmas?
Quais os processos que propiciaram a inserção e expansão das políticas associadas à inclusão
de TICs no cotidiano da cidade de Palmas?
Quais são as políticas envolvidas na criação de centros públicos de acesso à internet?
Qual é o papel dos lan houses, que resultam de uma ação de atores privados, na conectividade
e acessibilidade ao ciberespaço e na formação de um novo espaço de encontro?
Quais são as políticas públicas governamentais de inclusão digital e em que medida elas
atendem às necessidades da população?
A investigação
A escolha em tratar sobre a internet em Palmas decorre do fato de ter residido na
cidade por 7 anos. De fato, ter saído de Salvador – BA e ido para Palmas em 2003 foi uma
grande mudança objetivo-subjetiva. Além disso, a vivência na cidade e a observação das
disparidades socioespaciais, que muito me incomodavam por se tratar de uma cidade
“planejada”, me incentivou a pesquisar em um primeiro momento, quando da graduação em
Geografia (UFT) a dinâmica de segregação. Neste momento foi onde, pela primeira vez
atentei para o fato da área popular trabalhada, a saber, o bairro Jardim Aureny I, situado ao sul
da cidade, espacialmente e socialmente segregado, ter muitos estabelecimentos de tipo lan
house.
Somado a isto tem o fato de ter trabalhado anteriormente, em um cybercafé situado no
centro de Palmas, onde muitos jovens e adolescentes, e até mesmo adultos e crianças
passavam horas utilizando a internet, jogando, interagindo, brincando; sendo que, aos finais
de semana, principalmente aos sábados, o estabelecimento recebia indivíduos que passavam
todo o período de funcionamento do estabelecimento utilizando os serviços do cybercafé.
22
Além disso, a política pública de digitalização existente na cidade há alguns anos
também chamou a atenção, sobretudo pelo fato de que há algum tempo esta política não
consegue suprir as reais necessidades da população.
Não obstante, cito o fato de nas escolas de ensino fundamental e médio em que
ministrava aulas de Geografia, por inúmeras vezes ter presenciado os alunos marcarem
encontros entre eles após as aulas no MSN e Orkut. Tal fato suscitava dúvidas sobre o motivo
pelo qual eles (os alunos) ao invés de se encontrarem pessoalmente, o faziam com a maior
naturalidade nos sites de redes sociais e MSN, tratando-se assim do que chamamos de
“encontros on line”.
Neste sentido é que situamos a problemática da internet em Palmas, vinculando-a as
novas formas de sociabilidade e ao surgimento de novos espaços de interação social que
condensam elementos do real e do virtual, do concreto e do digital.
Para avançar na produção conhecimento é importante examinar as condições da
existência na cidade real e percorrer a literatura para encontrar categorias e conceitos para
iluminar os fatos, atores e processos que fazem parte do objeto proposto para a análise.
O real e o teórico são as vertentes necessárias para a construção do conhecimento. Não
há como desvincular essas duas vertentes do processo de investigação, pois senão tira-se o
que de mais importante existe na construção do conhecimento (ARENDT, 1994;
BOURDIEU, 1998; RIBEIRO, 2007; EGLER, 2008). Na verdade, a teoria surge do real e
serve para explicar a realidade existente, devendo-se sempre atentar para o período histórico
para o qual foi produzida tal teoria, o que significa dizer que toda teoria tem uma dimensão
histórica, que expressa a realidade para a qual e a partir da qual ela surgiu. Egler (2007, p. 29)
ao refletir sobre a construção do objeto do conhecimento afirma que “trata-se de um processo
reflexivo que parte da realidade para a teoria e reintroduz, na realidade, as categorias e
conceitos teóricos que iluminam o objeto empírico”. Este movimento permite o
desvendamento do objeto examinado que é complexo e exige a sensibilidade do observador
para atentar para os processos que ocorrem no percurso analítico proposto.
O desvendamento da realidade também exige atentar para os percalços as dificuldades
que surgem ao longo do processo de construção do conhecimento. São certezas que surgem e
que são desconstruídas. Opções que necessitam ser escolhidas, muitas vezes incorrendo em
equívocos, mas que revelam que pesquisar, e com isso, construir o objeto do conhecimento,
trata de uma atividade que exige rigor nas escolhas e precauções na escolha de conceitos e
categorias.
23
Pesquisar significa rigor nas escolhas e subsistir imerso com diligência minuciosa no exercício de opções. Esse viver traz angústias, pois o risco de opções equivocadas é uma realidade que não deixa traços indeléveis e exige correção de caminhos e rotas. Descrer das certezas para ir ao encontro de novas certezas fazem parte do percurso do conhecimento. Nesse percurso, enfrentar dificuldades, negar falsos problemas e superar equívocos requer coragem, mas exige também, certa dose de prudência (LENCIONE, 2008, p. 109).
Portanto, para o objeto proposto, a metodologia surge objetivando reconhecer métodos
e procedimentos analíticos que ajudem na compreensão do objeto de estudo. Para isto,
escolhas são necessárias. Perguntas surgem. Certezas são refutadas. Mas tudo com o objetivo
primaz de decompor o real observado in loco para burilar o objeto do conhecimento. Nesta
direção, a metodologia escolhida para análise da inserção e apropriação social da internet em
Palmas inclui elementos da Geografia e da Sociologia, por reconhecermos que as
transformações urbanas promovidas na cidade pelas TICs consistem em transformações na
ordem geográfica e social.
A definição da metodologia permite a delimitação dos procedimentos metodológicos
utilizados para análise do objeto proposto. Neste sentido, através de um levantamento
secundário de dados junto a prefeitura da cidade foi possível realizarmos o mapeamento de
lan houses e telecentros. Posteriormente realizamos a aplicação de questionários em algumas
lan houses e telecentros; ao todo foram aplicados 36 questionários em usuários da lan house,
10 em usuários de telecentros, 15 em proprietários de lan house. Realizamos também, ao
longo da pesquisa, registros fotográficos dos estabelecimentos privados e públicos, o que
permitiu uma aproximação das condições reais da existência social vinculada ao uso da
internet. Por último realizamos entrevistas com 14 usuários de lan houses, 4 usuários de
telecentros, 3 atendentes de telecentros e 4 proprietários de lan houses. Por fim, realizamos
observação por 1 semana de uma lan house situada numa área popular de Palmas, na quadra
305 norte, onde entrevistamos 11 indivíduos que são usuários da internet no estabelecimento.
Além disso, foram realizados levantamentos secundários, por meio de levantamento de
dados e documentos do Município e Governo Federal sobre a questão, além da construção de
um arcabouço teórico que ajudou na reflexão do objeto de estudo. Todos esses procedimentos
promoveram uma simbiose que permitiu analisar e compreender as implicações das TICs na
cotidianidade da cidade de Palmas.
Ademais, o primeiro capítulo trata da sociabilidade contemporânea engendrada pelas
redes, em função do uso de TICs, pela juventude das áreas populares. Trata-se de reconhecer
a potencialidade e os novos contornos sociais dados a partir das TICs no tecido social. Neste
24
capítulo é apresentada uma etnografia da lan house na área popular da cidade de Palmas, por
meio da qual foi possível perceber os nexos sociais existentes neste estabelecimento. O
segundo capítulo trata da cidade de Palmas frente ao contexto de globalização, onde é
realizado um debate em torno das transformações porque passou a cidade em função da
inserção das redes telemáticas. Trata-se de um capítulo onde traçamos um histórico da
consolidação da infraestrutura de redes, que possibilitou, a posteriori, a difusão da lan house
sobre o tecido urbano. No terceiro capítulo discutimos a relação entre tecnologia e o espaço
urbano, pois as TICs figuram enquanto elementos que transformam a cidade na sua forma e
no seu conteúdo, requalificando o urbano, que na era das redes ganha outras qualidades. No
quarto capítulo situamos os telecentros, que em Palmas figuram enquanto uma política
pública que não tem alcançado parcela significativa da população, o que torna a política
pública incipiente e sem grande poder de alcance social. Situa-se nesse capítulo os usos
realizados nos telecentros, e de que forma vem contribuindo para a redução das desigualdades
sociais através dos cursos que são oferecidos. Além disso, são apontados os limites dessa
política pública e as barreiras para a ampliação e pleno funcionamento da política pública na
cidade.
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1 SOCIABILIDADE NA ERA DAS REDES EM PALMAS
1.1 PRIMEIRA APROXIMAÇÃO
O processo de globalização impõe inúmeros desafios, que não se limitam à esfera
econômica nem política apenas, mas que abrangem outras dimensões, sobretudo, as
dimensões do vivido e da experiência (LEFEBVRE, 1991; SANTOS, 2008d; RIBEIRO,
2008; MORIN, 2011; EGLER, 2003). Na verdade, há uma necessidade de nas análises sociais
superar a dimensão estritamente econômica, visto que esta dimensão, por si só, não dá mais
conta da totalidade dos processos, haja vista que nem tudo se resume a uma relação
exclusivamente econômica. Ribeiro (2000, p. 17) argumenta que “a ênfase analítica na
globalização da economia, isto é, na nova mundialização do capitalismo, ao privilegiar o nível
econômico da vida coletiva, dificulta a plena apreensão da natureza do sistema social
atualmente em gestação”.
No contexto da globalização são produtos, imagens, linguagens que surgem e
desaparecem com muita facilidade, revelando assim o caráter inerentemente moderno,
efêmero e fugidio do processo de globalização, e assim da racionalidade modernista. Diante
disto, “a globalização” não diz respeito ao que todos nós, ou pelo menos os mais talentosos e
empreendedores, desejamos ou esperamos fazer. Diz respeito “ao que está acontecendo a
todos nós” (BAUMAN, 1999, p. 68). São transformações nas relações econômicas, políticas e
sociais inseridas pelo processo de globalização. Neste sentido, torna-se necessário analisar as
formas de interação social engendradas pelo uso e apropriação das TICs, em especial, a
internet, até mesmo para entender a globalização contemporânea.
Neste sentido, refletir em torno do processo de globalização é também atentar para a
questão urbana, visto que é na cidade onde a globalização tem expressão tanto concreta como
abstrata, objetiva e subjetiva. Portanto, se o processo de globalização implica em
transformações concretas e abstratas, físicas e humanas, logo, também implica em
transformações no domínio da experiência, dos sentidos, da vida (EGLER, 2003; RIBEIRO,
2008). Ao mesmo tempo, há neste contexto uma exacerbação dos produtos, imagens,
linguagens que contraditoriamente surgem e desaparecem com muita facilidade, promovendo
a efemeridade tão característica da modernidade (BERMAN, 1986; GIDDENS, 1991;
HARVEY, 2008). Para tanto, um desafio que se põe na contemporaneidade, e que alguns já
vêm trabalhando nesta direção (FRANÇA, 1995; PAIVA, 1995; PEREIRA, 2008; COSTA,
26
2011), é o de questionar, investigar, analisar e compreender as atuais formas de interação
social mediadas pelas TICs (EGLER, 2012), em especial, a internet.
São Lefebvre (1991), Santos (2008d) e Ribeiro (2008) quem apontam para a
necessidade de atentarmos para a cotidianidade, visto que é nela, que segundo os autores
alguns processos, sui generis, existem e coexistem. É no domínio do cotidiano que
observamos a dinâmica da vida, e com isso da relação socioespacial, ou seja, a vida no
território, produzindo e reproduzindo o espaço. Mais ainda, mesmo no contexto da
globalização, o cotidiano ainda deve ser levando em consideração nas análises, sobretudo
num cotidiano urbanizado, que promove aventura, novas experiências e novo sentido da
experiência (RIBEIRO, 2008).
É neste domínio da existência social, ou seja, no cotidiano, que a vida acontece. E
hoje, este cotidiano globalizado, porque urbano, mudou tanto a condição da cidade quanto a
experiência na cidade. Ao mesmo tempo, em algumas áreas da cidade, mais precisamente nos
bairros, o cotidiano urbano se apresenta de formas diferentes, e isto, a depender dos
indivíduos que constituem os bairros, bem como dos valores e condições socioespaciais do
lugar (DE CERTAU, 2002). Mais especificamente, em alguns lugares da cidade, a
cotidianidade, e por isso a vida, tem outros sentidos, modificando o próprio sentido da
experiência urbana (RIBEIRO, 2008).
Ora, a cidade assim revela que é mais que um simples aglomerado de pessoas, mais do
que a circulação de indivíduos e objetos, mais do que uma divisão de espaços, mais do que a
construção de prédios, edifícios comerciais, ruas e avenidas (PARK, 1979). A cidade envolve
também o cotidiano, por isso, que o urbano enquanto condição subjetiva/objetiva da cidade
depende dela e a transcende, e justamente no cotidiano das cidades que percebemos o
acontecer da vida, a urbanidade, os sentidos da existência e da experiência.
Santos (2008d, p. 34-35) afirma que:
O espaço ganhou uma nova dimensão – a espessura, a profundidade do acontecer –, graças ao número e diversidade enormes dos objetos (isto é, fixos) de que hoje é formado e ao número exponencial de ações (isto é, fluxos) que o atravessa. Essa é uma nova dimensão do espaço, uma verdadeira quinta dimensão. [...]. O cotidiano é a quinta dimensão do espaço [...].
Adentrando a cotidianidade na cidade verificamos as diferentes práticas cotidianas,
que diferem de lugar para lugar, de bairro para bairro, de rua para rua, e que também
diferenciam lugares, bairros, e ruas. Egler (2009, p. 69) afirma que: “a vida cotidiana passa a
27
ter um lugar de destaque, porque o foco analítico está centrado no cotidiano, composto nas
palavras de práticas cotidianas”.
As práticas cotidianas no contexto urbano são observáveis, entre outras coisas, a partir
da vida de bairro. A vida de bairro, muito revela das práticas sociais e das normas sociais
(HABERMAS, 1989) criadas por e para determinado lugar. Na periferia das cidades, por
exemplo, as experiências do/no lugar são diferentes das áreas de maior poder aquisitivo: a
conversa entre vizinhos; sentar a porta de casa; observar o cotidiano dos demais moradores,
comumente chamado de “fofoca”; a frequência aos estabelecimentos comerciais como
mercados, bares, lan houses e outros, revelam a dinâmica cotidiana dos espaços dentro dessa
parte da cidade, principalmente.
É neste contexto de vida cotidiana no atual processo de globalização, que situamos, e
melhor falaremos daqui pra frente, da lan house, cuja presença na periferia de Palmas tem
demonstrado que não se trata de um simples estabelecimento comercial, mas de um espaço de
práticas cotidianas, de sociabilidade. Dentro da lan house é que estas práticas se revelam e
tornam-se cotidianas justamente pelo fato de acontecerem continuamente, sobretudo para
crianças, adolescentes e jovens. É bem verdade, como já apontado anteriormente, que este
tipo de estabelecimento tem se tornado muito comum nas periferias urbanas do Brasil e da
América Latina (FINQUELIEVICH; PRINCE, 2007), tornando-se um espaço de
sociabilidade da periferia.
Hoje, conforme inúmeras estatísticas (CGI 2010, 2011, 2012) são inúmeros os
indivíduos que acessam a internet, seja em casa, trabalho, lan house, telecentro. Finquelievich
e Prince (2007, p. 44) afirmam que “la realidade actual de los países em desarrollo parecería
indicar la relevancia de los cibercafés1 como atajos a la integración a la sociedade del
conocimento”. Porém, mais do que integração a sociedade do conhecimento ou da
informação, o mais interessante de todas as estatísticas ainda é o número de pessoas que
utilizam a rede mundial de computadores como meio de interação social, como veremos mais
adiante. Mais interessante ainda é o porquê de pessoas utilizarem centros públicos de acesso
pago à internet, a saber, as lan houses, como lugar de encontro, conforme revela a pesquisa
realizada por nós em Palmas. Diante disso, além da sociabilidade por meio da rede, ainda
assim, há a sociabilidade no lugar, no território apropriado, usado, cheio de signos e
1 No Brasil,algumas lan houses são chamadas de cibercafés, sendo a diferença expressa no tipo de atendimento e serviço oferecido. Nesse caso, alguns apenas consideram cibercafé aqueles estabelecimentos que oferecem serviços de lanchonete, ou café propriamente dito.
28
significados, e é na lan house da periferia que se verifica este tipo de uso e apropriação. Para
isto, apresentaremos alguns elementos que explicam esta realidade.
1.2 LAN HOUSE E AS FORMAS DE SOCIABILIDADE NA PERIFERIA
A consolidação do processo de urbanização, que permitiu que as cidades se tornassem
verdadeiros aglomerados humanos, e ao mesmo tempo, aglomerados de casas, construções,
bairros, avenidas, promoveu entre outras coisas, que na cidade surgissem espontaneamente,
lugares de encontro. Historicamente, a cidade sempre foi constituída de lugares de encontro,
onde era possível a resolução de problemas, a conversa, enfim, a sociabilidade, a relação
social. Aliás, a cidade de ontem e de hoje concentra diversos pontos de encontro, onde é
possível observar o cotidiano, e assim, a interação social. Trata-se de lugares onde é possível
visualizar as formas de socialização e sociabilidade, e assim a dinâmica do tecido social, da
vida.
Seja num samba de roda pelas ruas dos centros históricos, seja numa mesa de bar,
numa igreja ou numa instituição de ensino, a cidade dispõe de diversos lugares que promovem
o encontro social. É bem verdade que muitos desses espaços, que podem ser públicos ou
privados, sequer foram criados com esta intenção, contudo passam a ter a função de encontro
quando a apropriação social transcende o domínio funcional e econômico.
É bem verdade que em alguns casos, espaços cuja gênese baseia-se em questões
econômicas, se transformam em espaços de socialização, logo de sociabilidade, a exemplo
dos casos citados anteriormente, onde a dinâmica não está apenas no consumo de produtos,
mas na troca de informações, na relação social, formando e costurando o tecido social. No
entanto, na era das redes alguns desses lugares são potencializados, sobretudo, em função da
utilização das TICs, que fazem com que lugares jamais pensados para encontros sociais,
tornem-se vetores da sociabilidade, como no caso das lan houses. Nesta direção, o termo
potencializado surge como auxiliador da reflexão, visto que a técnica, e hoje as TICs não são
determinantes, mas sim condicionantes (PINTO, 2005; LÉVY, 1999, 2007; EGLER, 2003).
O atual período histórico, ao mesmo tempo em que revela a natureza do meio técnico-
científico-informacional, cara geográfica da globalização (SANTOS, 2008a) é responsável
pela produção exacerbada de imagens, linguagens, ações, onde tudo que é sólido desmancha
no ar (BERMAN, 1986), até mesmo as relações sociais que são (re)modeladas
constantemente.
29
A tela da televisão outrora, e hoje a tela do computador, convida a navegar no oceano
de imagens e linguagens, signos e significados, sentidos e experiências, característica da atual
globalização, e por isso, da modernidade, que promove o consumo tanto objetivo como
subjetivo. Para alguns há também na contemporaneidade uma produção exagerada de
individualidades, ao invés de coletividades, produto da modernidade. Todavia, é neste
contexto que a lan house revela ser mais que um simples estabelecimento de acesso individual
à internet, passando a ser um lugar coletividades, onde é possível a sociabilidade, onde há um
convite implícito tanto a coletividade quanto a individualidade.
Como um aventureiro no oceano de imagens, aquele que navega nas redes de comunicação, mesmo que apenas como espectador, recebe um convite para que experimente um “outro mundo”, portador de laivos sagrados. Esse convite transfere-se, no momento, para outras telas, igualmente hipnóticas, como as que fazem a festa da infância e da juventude em tantas lan houses de áreas populares (RIBEIRO, 2008, p. 196).
Neste sentido, Debord (1997) quando da análise social em seu livro A sociedade do
espetáculo, diz que a sociedade surgida da “última modernidade” (RIBEIRO, 2008) ou da
modernidade radicalizada (GIDDENS, 1991) é aquela onde “o espetáculo não é um conjunto
de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens” (DEBORD, 1997,
p. 14). Ou seja, na contemporaneidade a produção de imagens e linguagens, e com isso, o
consumo destes elementos torna-se a grande chave do atual período histórico, a saber, do
consumo dirigido, formando uma sociedade do consumo dirigido (LEFEBVRE, 1991;
RIBEIRO, 1998). Mais do que nunca as imagens tornam-se mediadoras da relação social,
prova disso são as propagandas existentes nas mais diversas redes sociais digitais, nas páginas
online, nos outdoors eletrônicos, convidando ao consumo, construindo a relação social
pautada no consumo objetivo e subjetivo.
Esta produção e consumo de imagens, práticas, ações, ideias associa-se a expansão da
rede mundial de computadores (www), a internet, produto da evolução técnica e tecnológica.
Morin (2011, p. 96) afirma que “a ampliação da Internet como sistema neurocerebral artificial
de caráter planetário, o desenvolvimento das multimídias, tudo isso vai acentuar e amplificar
as tendências em curso e acentuar os antagonismos”. Isto posto, entre os antagonismos,
podemos citar a expansão do comércio de lan houses, um empreendimento comercial outrora
exclusivamente central e hoje mais comuns nas áreas urbanas populares. Outro antagonismo é
que nesses lugares, cuja gênese é econômica, surgiu um lugar de encontro, com características
30
peculiares, que rompe com o status quo da racionalidade capitalista. Isto revela, entre outras
coisas, que não se trata de uma relação econômica strictu sensu, mas sim de uma apropriação
social que dá novos sentidos aos espaços, lugares, ao território, mediados por TICs.
Nesta direção, por meio de pesquisa in lócu, realizada em uma quadra2 popular da
cidade de Palmas, justamente para entender a dinâmica da lan house para além da questão
econômica3, foi possível perceber que dentre as características mais gerais deste tipo de
estabelecimento estão:
• lugar cuja maioria dos usuários que utilizam o estabelecimento mais frequentemente
são do sexo masculino, havendo poucos indivíduos do sexo feminino com frequência
tão grande quanto o público masculino4;
• lugar de encontro para usuários de jogos online, que muitas das vezes se conhecem no
estabelecimento, continuando a interação social para além da lan house;
• lugar que promove a individualidade para uns e a socialização para outros
simultaneamente. E em muitos casos, há momentos em que os usuários demonstram
individualidade e noutros socialidade.
Não é de hoje que as lan houses nas áreas populares tornaram-se espaços que
permitem o acesso à rede mundial de computadores, reduzindo assim a exclusão digital dessas
áreas (BORGES, 2009; MORAES, 2012). Em reportagem de Moreira, Borges e Magalhães
no Jornal Valor Econômico de 24 de setembro de 2007, verifica-se o crescimento e a
importância desse tipo de empreendimento nas áreas urbanas populares (figura 1), visto serem
pontes de acesso ao mundo virtual. Ao mesmo tempo, a infraestrutura de muitos desses
estabelecimentos muito se assemelha a um ambiente familiar, sem muito requinte, isto porque
muitos deles ocupam parte do terreno residencial, ou parte da própria residência.
2 Conforme observamos em capítulos anteriores, em Palmas, a organização territorial baseia-se em bairros e quadras. O plano básico era composto apenas de quadras, sendo os bairro fruto do processo de segregação (LIRA, 1995; COCOZZA, 2007; COSTA, 2012). Todavia, algumas quadras, como as situadas a noroeste da cidade, que foram ocupadas por meio do processo de “invasão”, e, portanto tornaram-se quadras populares, cuja população é, em grande parte, de menor poder aquisitivo. 3 Esta variável da pesquisa já vinha sendo revelada quando dos primeiros trabalhos de campo em outubro de 2010 e fevereiro de 2011. 4 Frequência aqui entende-se tanto o uso da lan house diariamente quanto semanalmente, e é justamente isto que chama a atenção neste tipo de estabelecimento, pois, o público masculino, que mais utiliza a lan house, o faz várias vezes por dia e por semana.
31
Figura 1: Rodrigues Filho, o Sonrisal, já pensa na ampliação da lan house que abriu na laje de seu mercadinho, em Heliópolis – São Paulo.
Fonte: Moreira, Borges e Magalhães (2007).
Mais do que espaços públicos de acesso pago à internet, a lan house se consolida
também enquanto um espaço de sociabilidade e solidariedade. Porquanto, a pretensa
individualidade promovida pelas cabines (Figura 2) da lan house é rompida pelo bate papo
entre os jovens mesmo com essa divisão entre as máquinas (Figura 3). Ao mesmo tempo, esta
ruptura se desenvolve justamente a partir do desenrolar da relação social. Borges (2009, p.
219) ao analisar a inserção da lan house na periferia de São Paulo diz que: “encontramos um
cenário oposto nas lan houses das periferias: são pontos de encontros, conversa, contato,
relacionamento e sociabilidade de grupos jovens, principalmente entre 14 e 20 anos de idade”.
Figura 2 “Individualidade” na lan house
Fonte: http://cratonoticias.wordpress.com/2011/04/19/
Figura 3 Compartilhamento e socialização na lan house em Palmas
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012.
32
Face a isto, a pesquisa revelou que a lan house é mais que um espaço comercial,
passando a ser um lugar de sociabilidade para os jovens e adolescentes, que em geral
utilizam as lan houses próximas as suas residências e onde o círculo de amigos
frequentam tanto para jogos ou mesmo para acessar à internet. No entanto, em ambos os
casos, como veremos, o que define a utilização do espaço para uma ou outra situação é,
entre outras coisas, a socialização existente com/no lugar. É neste sentido que, tratando
das relações que ocorrem nas lan houses, sobretudo as de caráter não-capitalista, Pereira
(2007, p. 332) ao tratar da lan house em Porto Alegre, afirma que:
A objetividade das relações mercadológicas “prestador – cliente” era pouco visível. Esse modo objetivo de tratar o cliente só funcionava com aqueles que usavam o computador funcionalmente, jovens desconhecidos ou pessoas mais velhas (acima de 25 anos) que precisavam ler e-mails, consultar algo na web, ou falar com alguém distante. Essas pessoas não passavam de transeuntes, e simplesmente “pipocavam” na lan, apareciam uma ou duas vezes (talvez, como eu, por conta do micro estragado em casa), e depois sumiam, sem deixar marca de sua presença. Entravam sem serem notados (se fosse uma bela mulher até notavam) e saíam assim também, não passavam de sombras que rendiam alguns tostões.
A popularização da internet, nas grandes cidades e capitais em um primeiro
momento, e posteriormente nas médias e pequenas cidades, ocorreu seguindo camadas
da sociedade. Primeiro aqueles com grande poder aquisitivo que dispunham de internet
discada e a posteriori a banda larga.
Num segundo momento, já em face do impulso ao acesso a internet, as camadas
com menor poder aquisitivo tiveram acesso ao computador pessoal, hoje portátil, em
face dos auxílios governamentais para isto. Parcelamentos, financiamentos bancários,
computadores com preços mais acessíveis, o crescimento do poder de consumo das
classes populares, foram elementos importantes para que um número cada vez maior de
indivíduos tivesse acesso ao computador pessoal, e em alguns casos à internet
residencial. Neste contexto, incluímos também o processo de inclusão digital nas
escolas, os planos de banda larga promovidos pelo governo federal brasileiro, criação de
telecentros públicos – política pública municipal, lan houses, entre outros elementos que
compõem a dinâmica de expansão da digitalização dos mais diversos espaços e inclusão
digital da sociedade.
33
É bem verdade que as lan houses que são empreendimentos comerciais que
permitem o acesso ao ciberespaço, antes era um tipo de comércio que disponibilizava o
acesso à internet com um valor elevado. Sendo que, a maior parte destes
estabelecimentos situava-se nos centros das cidades. Hoje, porém, as lan houses são um
tipo de empreendimento popular cujo valor cobrado pelo acesso à internet é mais
acessível às camadas mais populares da sociedade. Vale lembrar também que,
atualmente, a maior parte desses estabelecimentos não tem registro fiscal, situando-se
nas áreas cuja população tem menor poder aquisitivo, além da pouca durabilidade de
muitos desses empreendimentos (CGI, 2010). São comunidades, favelas, bairros
populares, onde hoje, mais existem este tipo de estabelecimento comercial, que
atendem, na sua maioria, ao público adolescente, jovens e adultos do lugar.
Todavia, as lan houses diferem de cidades para cidades e dentro das próprias
cidades. Além disso, a espacialidade do empreendimento vai dizer muito acerca da
dinâmica existente no interior do estabelecimento. Notadamente, verifica-se que em
cidades pequenas tais formas de comércio são mais simples, sem um número
significativo de estabelecimentos desta natureza, mesmo porque o serviço de internet
fornecido não é de qualidade. Diferentemente, nas capitais, cidades médias e grandes é
possível identificar um elevado número de lan houses, com diversos usos, e cuja
qualidade da internet favorece o seu maior uso e apropriação.
Por outro lado, a lan house tornou-se também um lugar de encontro entre os
jovens, mesmo àqueles que dispõem de computador e acesso à internet em suas
residências, fato que chamou muito a nossa atenção com respeito ao estabelecimento.
Contudo, os indivíduos que utilizam as lan houses diferem com relação ao tipo de
serviço oferecido, o que vai definir também se o empreendimento além de servir de
acesso à internet será ponto de encontro ou não.
No caso de servir como ponto de encontro, o estabelecimento terá sua forma
(física) e sua dinâmica (conteúdo) totalmente alteradas. Todavia, cada usuário, tem uma
especificidade de uso, que revela o tipo de apropriação que ocorre no estabelecimento,
conforme verifica-se nas entrevistas:
“Só uso a lan house para diversão, jogos. Além disso, meus amigos estão na lan house também e se fosse numa lan house desconhecida eu não me divertiria tanto, por causa das amizades. Porque aqui fazemos badernas. Mesmo tendo em casa, eu mesmo não gosto de ficar muito em casa, e além disso, meu irmão também usa. Em casa mesmo eu não uso, mesmo
34
tendo em casa não dá certo, porque meus irmãos usam”. D.L, 17 anos, estudante, masculino.
“Só estou usando a lan house porque a da minha casa está bloqueada”. B.R, 18 anos, vendedora, feminino.
“É porque eu uso de vez em quando a lan house. Na minha casa eu uso moldem e as vezes o moldem não pega e quando ele não pega eu venho para a lan house”. A.G, 12 anos, estudante, feminino.
“Eu utilizo a lan house porque não tenho internet em casa”. I.A, 14 anos, estudante, masculino.
“Eu uso a lan house para estudar, para fazer tarefas. E quando não tem o livro a gente vem na lan house, e mesmo se tivesse livro eu viria aqui. Sei lá parece que atrai mais a gente vindo aqui. E é o que faz mais a gente gastar o dinheiro”. T.L, 12 anos, estudante, masculino.
“Uso a lan house para me divertir”. A.N, 13 anos, estudante, masculino.
“Eu uso a lan house por causa do jogo e conversar com as pessoas. E em casa tem meus irmãos. E quando alguém ta jogando lá ai eu venho para a lan house. Principalmente para jogo mesmo”. L.U, 17 anos, estudante, masculino.
“Eu uso a lan house porque não tenho em casa. Se tivesse em casa não usaria na lan house”. E.L, 26 anos, repositor de supermercado, masculino.
Usos diversos. Razões diversas. Estas dimensões auxiliam no próximo passo,
onde entenderemos mais profundamente a sociabilidade, sobretudo masculina, e em
torno do jogo, que promove competição, aproximação, distanciamento, socialização.
1.3 JOGO: SOCIABILIDADE NA REDE E NA LAN HOUSE
A rede mundial de computadores (www) tem sido usada para as mais diversas
atividades comerciais, acadêmicas, escolares, sociais. Além disso, é utilizada como
meio por onde é possível interagir com o outro que pode ou não estar distante a muitos
quilômetros. Neste sentido, uma das variáveis da internet é a de permitir a interação
social, ou seja, trata-se de um vetor de sociabilidade. E não é de hoje que a internet é
utilizada como vetor de sociabilidade, de interação entre os mais diferentes indivíduos
situados nas mais diversas áreas, tratando-se de uma sociabilidade à distância
(CARDOSO JUNIOR, 2008).
35
Egler (2007, p. 7) quando da apresentação da obra Ciberpólis, exemplificou o
processo de interação social por meio da Web, já em curso desde os anos 1990, da
seguinte forma:
[...] Um dia, no início da década de 1990, fui até o Núcleo de Computação Eletrônica da minha universidade, para encontrar com o Prof. Antonio Borges, cientista da computação; na ocasião, ele havia gentilmente aberto uma interlocução comigo, ajudando-me na pesquisa sobre o uso da informática na produção de multimídia. Quando lá cheguei, o Antonio me chamou, sentou no computador e começou a escrever. Logo depois, ele parou de escrever no teclado, mas o texto continuava aparecendo na tela. Eu fiquei surpreendida, e ele ria. Estava conversando com um professor em Nova York. [...] O NCE fica a uma distância de aproximadamente 1 km do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IPPUR/UFRJ, no campus da cidade universitária, na Ilha do Governador – minha casa institucional. Eu saí de lá pensando: o Antonio estava mais próximo do Prof. de Nova York do que de mim. Nesse momento, compreendi que as relações espaço-temporais estavam mudadas no mundo. [...]
Como se percebe, já havia o uso da internet como meio de trocas (sociais,
comerciais, e outras) desde os anos 1990, porém limitado aos que estavam vinculados às
instituições de ensino e pesquisa. Ou seja, eram redes acadêmicas por excelência. No
entanto, esta desde os seus primórdios no Brasil, já permitia a interação social,
revelando o seu potencial para a transposição das fronteiras geográficas, bem como para
a (re)formulação do tecido social e das formas de interação social.
Para tanto, entender as redes sociotecnicas (EGLER, 2007) na
contemporaneidade é um esforço de transcender o senso comum que o envolve conceito
de rede social, sobretudo no que se refere a sua associação com o uso das TICs. Até
porque tem sido muito comum o uso deste conceito para definir as interações a partir de
algumas páginas de relacionamento online, tais como Orkut, Facebook que são páginas
de relacionamento muito populares, sobretudo no Brasil, também chamadas de redes
sociais.
De acordo com matéria do Jornal Valor Econômico de 22/12/2011
A navegação nas redes sociais é a atividade mais comum entre os internautas de todo o mundo, segundo levantamento da empresa de pesquisa comScore. De acordo com a companhia, as redes sociais representaram um de cada cinco minutos de navegação na web durante o mês de outubro. Esse tipo de
36
página tem uma abrangência de 82% dos internautas com idade acima dos 15 anos que acessou a rede pelo computador de casa, ou do trabalho, um total de 1,2 bilhão de pessoas.
As redes sociais de que trata a reportagem são as virtual e digitalmente
constituídas, ou seja, os sites por meio dos quais inúmeros indivíduos se relacionam na
contemporaneidade. Além disso, as redes sociais digitais estão figurando, atualmente,
entre as principais atividades realizadas pelos brasileiros na internet.
Tabela 1: Sites de redes sociais no Brasil por total de visitantes de Dezembro de 2010 a Dezembro de 2011*
Total de visitants únicos Dez-2010 Dez-2011 Variação %
Total de acessos 45,128 51,759 15% Rede Social 42,477 47,399 12% Facebook.com 12,379 36,098 192% Orkut 32,671 34,419 5% Windows Live Profile 11,801 13,301 13% Twitter.com 8,939 12,499 40% Vostu.com 1,120 4,901 338% Google Plus N/A 4,300 N/A Tumblr.com 1,319 4,029 206% LinkedIn.com N/A 3,182 N/A
* Exclui visitação de computadores públicos, tais como cafés de Internet ou acesso a partir de telefones móveis ou PDAs. Fonte: http://www.comscore.com
No entanto, para além deste tipo de “rede social”, que na verdade são redes
sócio-técnicas (LATOUR, 2009; EGLER, 2007), na lan house da periferia também são
formadas redes sociais a partir do uso e da frequência ao estabelecimento. Vale dizer
que, é o jogo que mais propicia a formação das redes sociais.
A pesquisa na lan house em Palmas revelou que se houverem jogos nos
computadores, tais como counter strike, GTA, Need for Speed, ou mesmo o Playstation,
o público mais comum passa a ser de jovens, entre 12 e 25 anos. Além disso, o
ambiente da lan house neste caso torna-se mais conturbado, barulhento, não sendo
aprazível aos que buscam somente acesso à internet e outros serviços como digitação,
busca de empregos.
Em entrevista realizada por meio de trabalho de campo na lan house em Palmas,
os entrevistados revelaram que utilizam a internet para diversas atividades, sendo muito
comum a referência ao jogo. O jogo que permite a aproximação ou distanciamento entre
os usuários. Inclusive a referência ao jogo vem até mesmo como uma forma de vício.
37
Além disso, a pesquisa revelou também que a referência ao jogo difere a
depender da idade do usuário. Ao mesmo tempo, em alguns momentos o jogo ganha
outra natureza, de diversão esporádica, e muitas vezes, ocorre off-line5 (figura 4). No
entanto, a competição ainda existe, como no caso dos jovens e adolescentes que passam
horas jogando em busca do êxito no jogo on-line ou off-line. Isto é, em busca de ser o
ganhador, como é possível verificar no depoimento a seguir:
“Eu acesso Blog, Videos, jogos. Mas os jogos estão em primerio lugar, porque ele é melhor. Sei lá, o jogo atrai a gente, cria um vício, fazendo a gente gastar dinheiro, mas a gente não consegue para de vir gastar dinheiro na lan house. Por exemplo quando eu perco eu fico nervoso querendo ganhar ai o tempo vai acabando e ai eu coloco mais dinheiro que é para poder ganhar. Mas depois que ganho eu para um pouco, mas depois volto”. T.L, 12 anos, estudante, masculino.
No caso feminino as referências aos jogos inexistem, revelando que o jogo em
lan houses de Palmas é utilizado principalmente pelas crianças, adolescentes e jovens
do sexo masculino. Pereira (2008, p. 119) apresenta as mesmas considerações sobre
essa questão, afirmando inclusive que “os meninos jogam e as meninas circulam”. Além
disso, a autora também revela que a lan house tem um ambiente marcadamente
masculino. Figura 4: Adolescentes jogando no Playstation – jogo off line
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012.
O uso dos jogos difere até com relação ao horário de uso do estabelecimento,
pois pelo que foi possível perceber, no período matutino, onde a maioria dos 5 Jogos off-line são aqueles jogados no Playstation, comumente chamado de Play 2 pelos usuários. Não apenas os adultos que utilizam este tipo de jogo, mas há também adolescentes.
38
adolescentes e jovens estudam, a lan house torna-se mais funcional e “tranquila”, isto é,
as pessoas que dela se utilizam o fazem para pesquisas, baixar ou ouvir músicas, e em
menor escala para jogos. Entretanto, é interessante que há uma maior parcela de
crianças que frequentam a lan house pela manhã, e o público jovem que acessa neste
horário, o faz para pesquisas e não para jogos, geralmente. O ambiente neste horário é
mais calmo, silencioso, sem grande fluxo de pessoas, havendo apenas os ruídos
emitidos pela digitação nos teclados. A individualidade é mais presente. Não há muita
conversa, nem mesmo entre os que se conhecem. Cada usuário em seu gabinete, na
frente do computador e utilizando o fone de ouvido, o que revela a prática de ouvir
músicas e vídeos, sendo uma barreira a interação, certamente.
Orkut, MSN, facebook, pesquisas são pelo que se pode perceber as páginas mais
comumente acessadas pelos usuários da manhã. O silencio somente é rompido quando
da entrada de algum indivíduo no estabelecimento, que muitas das vezes já nem se
dirigir primeiramente a atendente, mas a contata já da máquina que deseja usar.
Portanto, pela manhã há uma atmosfera mais comercial no estabelecimento.
Diferentemente, no horário da tarde e da noite o silêncio quase inexiste. A
individualidade dos gabinetes é rompida através das conversas, das interações, mesmo
daqueles que estão com fones de ouvido. O uso do jogo é mais comum, e neste
momento a competição é cada vez mais comum. Foi possível notar também que em
todos os horários há um conhecimento mútuo entre os usuários e as atendentes, pois se
tratam pelo nome e não por causa do cadastro, obrigatório para o uso do
estabelecimento, sobretudo por causa da Lei nº 1636, de 23 de Setembro de 2009. Em
entrevista, uma das atendentes da lan house revelou que esta prática se dá em função da
frequência do usuário ao estabelecimento.
Ao mesmo tempo, os usos são variados nos mais diversos horários, como é
possível perceber através das entrevistas:
“Eu uso a internet na lan house para baixar música, MSN, jogo de vez em quando”. D.L, 17 anos, estudante, masculino.
“Utilizo a internet para jogar, utilizar Orkut, MSN”. P.V, 14 anos, estudante, masculino.
“Eu uso a internet aqui na lan house para estudar, fazer trabalho, para me comunicar com minhas amigas no Orkut. E eu só tenho no meu Orkut pessoas da minha escola e pessoas que eu conheço. Alguns moram no Centro, outros aqui perto”. A.G, 12 anos, estudante, feminino.
39
“Uso a internet para fazer pesquisas, jogar, sites de relacionamento, baixar músicas, assistir filmes”. I.A, 14 anos, estudante, masculino.
“Fico vendo vídeo, jogando aqui na lan house”. T.L, 12 anos, estudante, masculino.
“Eu uso a internet aqui na lan house para jogar, entrar em MSN, Orkut, mas o mais comum mesmo é jogar para me divertir”. A.N, 13 anos, estudante, masculino.
“Eu uso a internet na lan house para conversar com os amigos, ouvir música, jogar”. L.U, 17 anos, estudante, masculino.
“A internet e a lan house eu uso para pesquisa, assistir filmes, baixar música, conversar com a família que mora longe”. E.L, 26 anos, repositor de supermercado, masculino.
Enquanto isso, caso a lan house não tenha jogos online, ai sim o público muda,
mesmo mantendo uma faixa etária parecida com a das lan houses com jogos, há nestes
casos, também, a presença de indivíduos mais velhos. Pereira (2007, p. 332) ao realizar
um estudo antropológico da lan house em Porto Alegre afirma que “a lan ingressou
num contexto de “controle territorial” demarcado pelos jovens”. Mais que isto, a lan
house é na contemporaneidade o lugar onde ocorrem encontros, trocas sociais, mesmo
porque, é na lan house que muitos jovens marcam para se encontrar e socializar.
Entre uma partida de jogo e outra surgem conversar sobre jogos que foram
lançados recentemente, situações da vida cotidiana, uso do MSN, Orkut, Facebook6, e
outras páginas da internet. Além disso, há também o compartilhamento de um mesmo
computador entre vários usuários, que muitas vezes estão utilizando concomitantemente
computadores diferentes (figura 5), mas que por instantes passam a usar um a máquina
do outro.
6 “As redes sociais já fazem parte do cotidiano para 90% dos internautas brasileiros, sugere um novo estudo apresentado nesta terça-feira pela comScore. O
relatório, que mostra um panorama do uso de redes sociais no continente latino-americano, revela que o uso de sites do gênero cresceu 16% na região em relação
ao ano anterior, enquanto o tempo despendido nestas plataformas aumentou incrivelmente 88%”. Disponível em http://ecommercenews.com.br/noticias/pesquisas-noticias/estudo-mostra- panorama-do-uso-de-redes-sociais-no-brasil
40
Figura 5 Compartilhamentos de computador na lan house
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012.
Todos os elementos até então apresentados revelam que a lan house é mais que
um simples estabelecimento comercial, com relações econômicas ad hoc. Mas que se
insere nas áreas populares das cidades como espaço de sociabilidade, de formação e
consolidação de redes sociais reais e virtuais.
1.4 REDES SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE
1.4.1 Por uma definição de rede social
A título de maiores esclarecimentos, e até mesmo no sentido de superar o senso
comum que hoje envolve o conceito de rede social, torna-se salutar uma conceituação
do termo, no sentido de evitar qualquer equívoco ou analogia indevida. Comecemos
pelo conceito de rede, e posteriormente passaremos ao conceito de rede social, de modo
a iluminar a reflexão.
“Rede” nada mais é que uma série de nós interligados entre si, que formam uma
teia, onde é possível observar as ligações existentes. Cada ciência utiliza com sua
particularidade o conceito de rede, fazendo com que este tenha um sentido e um
significado para cada ciência. Todavia, percebemos uma coisa em comum: a lógica dos
“nós” interligando os diversos pontos da rede.
Pierre Musso ao realizar um retrospecto da palavra rede encontra sua primeira utilização no século XII na língua francesa (réseau), vindo do latim retiolus, empregado com o sentido de designar redes de caça e pesca ou na técnica de
41
produção de tecidos e outras formas de artesanatos com o entrelaçamento de fios (CARDOSO JUNIOR, 2008, p. 6).
Nas Ciências Sociais o conceito de rede é utilizado para definir as redes sociais
através das relações primárias e secundárias existentes na relação social, no intuito de
revelar a dinâmica da organização social (DIAS, 2005). Ao mesmo tempo, para as
Ciências Sociais, a estrutura social expressa uma espécie de rede, na medida em que
“compreende uma rede complexa dessas relações e interconexões que organizam o
fluxo das interações entre as pessoas específicas num dado momento” (SCOTT, 2010,
p. 85). Ou seja, o conceito é utilizado para a análise das redes de relações que formam o
tecido social. Redes são compreendidas como uma estrutura formada por um grupo de
atores que participam de um mesmo coletivo em torno de um objeto comum de ação,
quer dizer que tem por objetivo interesses compartilhados de ação (EGLER, 2004,
2007).
Por outro lado, na Geografia, o conceito de rede é muito utilizado nos estudos
sobre as interações espaciais (CORREA, 1997), sejam elas urbanas, bancárias, de
transporte, econômicas e outros (CARDOSO JUNIOR, 2008). No caso das redes
urbanas, o objetivo é, entre outras coisas, identificar, classificar e definir as hierarquias
e interações espaciais existentes entre cidades e suas interligações, ou seja, sua
organização (CORREA, 1989). Nesta perspectiva, as interações espaciais (CORREA,
1997) tornam-se umas das questões analisadas para entender a rede urbana, ou seja, são
os fluxos inerentes a qualquer rede. São os fixos e os fluxos que compõe a rede, tal
como afirma Milton Santos (2008a). Em algumas engenharias a rede pode indicar a
formação de um sistema, nesta direção, a rede também ganha dimensão técnica (DIAS,
1995), hoje chamada de rede mundial de computadores, a saber world wide web - www.
42
Figura 6: Tipos de rede
Fonte: http://www.iieh.com/index.php/complejidad-y-sistemica/20-redes-y-organizaciones-de-salud-publica-un-nuevo-paradigma
O geógrafo Milton Santos (2008a, 2008c, 2008d) amplia o debate em torno do
conceito de rede, sobretudo quando vincula o conceito a questão da cibernética, das
TICs, dos mass media. Já Cilene Gomes (2001) utiliza o conceito de rede para analisar
as telecomunicações e a informática na transformação do território brasileiro. Por sua
vez, Castells (1999) atualiza o debate em torno das redes na medida em que, em seu
estudo, apresenta inúmeras dimensões da rede (técnica, social, espacial, organizacional)
e suas características, além das formas de sua apropriação social. Além disso, Castells
(1999, 2007) também amplia o debate apontando para as diversas dimensões e
implicações do atual sistema técnico, que além da dimensão técnica tornou-se também
científico e informacional, tratando-se do meio técnico-científico-informacional
(SANTOS, 2008a). Na contemporaneidade as redes articulam nós e fluxos
potencializados pelas TICs, dando novos contornos as redes, aproximando-se em muito
do que Deleuze e Guatarri (1997) conceituam enquanto rizoma.
Scherer-Warren (1996, 2005) ao analisar o conceito de rede, a partir do qual
examina as redes de movimentos sociais, delimita o estado da arte dos estudos de redes
sociais, apresentando uma vasta referência em torno do tema, revelando as principais
questões que envolvem o conceito. Para a autora, em suas análises, alguns enfoques
analíticos são relacionais e atributivos, isto quer dizer que as relações sociais definem-se
em primárias ou secundárias; fechadas ou abertas. Ao mesmo tempo, de modo a
precisar o seu objeto de investigação, a autora em suas obras realiza uma diferenciação
43
entre coletivos em rede (2005) e as redes de movimentos sociais (1996), que segundo a
autora são distintas, apresentando a segunda como uma rede secundária, com
determinados fins, tal qual aponta Max Weber.
Todavia, a diferença entre redes primárias e secundárias, de acordo com as
Ciências Sociais (SCHERER-WARREN, 2005; MARTELETO, 2010) consiste em:
a) As primárias caracterizam as interações cotidianas, em geral mais próximas,
como as relações de vizinhança, amizades, e outros que ocorrem no domínio do
cotidiano;
b) As redes de tipo secundária são as que se formam em função de interesses
coletivos. Ou seja, são as que defendem interesses em comum para determinados
fins. Há em curso, neste caso, objetos compartilhados de interesse, o que explica
a formação e articulação da rede;
Os coletivos em rede, por sua vez, são de natureza comunicacional enquanto que
as redes de movimentos sociais são complexas e transcendem organizações empíricas
delimitadas (SCHERER-WARREN,1996).
Nesta direção, Egler (2007) apresenta em livro, organizado com diversos outros
autores, coletivos sociais que se formam e se articulam em rede. Nesta obra, são
apresentadas diversas redes, ou seja, coletivos que se organizam em rede, em países da
América Latina. Ao mesmo tempo, na pesquisa realizada são identificadas redes em
torno de questões ambientais, políticas, sociais, educacionais. Além disso, foi possível
identificar a natureza dessas redes, se monocêntricas ou policêntricas. A pesquisa
apresentada pela autora revelou, entre outras coisas, o potencial dos coletivos
articulados em rede quanto a governança da cidade, e como forma de democratização da
participação popular. Isto revelou, como a internet tem promovido uma maior
participação, em alguns casos, do governo da cidade, e como os governos atuam em
função dessa nova dinâmica. Nesta direção, foi identificada, em alguns casos, como por
exemplo, no México que os coletivos em rede estavam vinculados ao Estado, que
controlava as ações dos grupos na internet. Porém, a grande contribuição da obra situa
justamente no fato de tornar clara a potencialidade que a internet pode trazer às relações
primárias e secundárias do cotidiano.
No que concerne ao conceito de rede social este também é originário das
Ciências Sociais, a partir do qual se definiam as formas de interação social entre os
indivíduos. Segundo Scherer-Warren (2005), com base principalmente na escola
44
estruturalista cujos principais nomes em torno da questão são Lévi-Strauss, Barnes,
Radcliffe-Brown, e outros, a rede social é utilizada para entender os vínculos existentes
na sociedade, seja de parentesco, amizade, outros. Estas formas de interação se definem,
segundo a perspectiva das Ciências Sociais a partir de dois princípios:
a) para a explicação da estrutura social;
b) para definir as relações sociais do cotidiano.
Para Marteleto (2010, p. 28) “o conceito de redes sociais leva a uma
compreensão da sociedade a partir dos vínculos relacionais entre os indivíduos, os quais
reforçariam suas capacidades de atuação, compartilhamento, aprendizagem, captação de
recursos e mobilização”. Para a referida autora, o conceito de rede social é tributário da
dicotomia entre indivíduo/sociedade; ator/estrutura; objetividade/subjetividade;
micro/macro no contexto social (MARTELETO, 2001).
A rigor, Scherer-Warren (2005, 2006) apresenta características das redes sociais
na contemporaneidade, que vincula-se a sociedade da informação e comunicação,
diferenciando os coletivos em rede dos movimentos sociais, que vis a vis tem uma ação
diferenciada quando do uso das TICs. Nesta direção, se faz necessário analisar quais as
características e a natureza das redes sociais, na era das redes, na era da comunicação
globalizada. Principalmente, faz-se necessário entender qual a natureza das relações
sociais mediadas pelas TICs, visto que como afirma Rosa Pedro (2008, p. 1):
São inegáveis as transformações operadas pelas ciências e tecnologias, cuja presença crescente nas mais diferentes esferas do conhecimento e da vida tem propiciado novas formas de cognição, de interação, de ação social, de ativismo político, de geração e difusão do conhecimento.
No caso da lan house há uma dinâmica interessante, onde desconhecidos passam
a ser amigos e a ter vínculos sociais, e por que não dizermos afetivos, para além do
espaço da lan house. Todavia, esses vínculos ocorrem de duas formas:
- da rua para a lan house;
- da lan house para a rua.
Ou como afirma Egler (2009):
- do vital para virtual
- do virtual para vital
45
Porém, ambos tendo a lan house como articulador desse processo. E são essas
dimensões da lan house, que trabalharemos adiante.
Mais que isto, trata-se de reconhecer que as redes sociais têm novos contornos
que devem ser levados em consideração. Há novas maneiras de experienciar o cotidiano
na contemporaneidade, sobretudo urbana.
1.4.2 Quando o virtual passa para o real e o real passa para o virtual
Entre um grito e outro7 a relação entre os usuários da lan house vai se
desenrolando, e os sujeitos interagem mutuamente a partir do jogo on-line, que é jogado
e sobre o qual se discutem informações na lan house. Mesmo os que têm computador
com acesso à internet residencial preferem ir à lan house, pois como aponta Pereira
(2008) os jovens, adolescentes e crianças preferem a lan house porque jogar em casa e
sozinho, não tem graça. Para estes indivíduos a ida até a lan house ocorre face ao
isolamento promovido pelo computador residencial, que muitas vezes não deixa os
jogadores confortáveis para jogar, sendo necessária a troca de experiências
pessoalmente. Este elemento vem contra o discurso, amplamente difundido, de que a
internet promoveria o isolamento social8, deixando de ser condicionante para ser
determinante. Na verdade, o contato pessoal evidentemente está reduzido, contudo não
extinto. Todavia, além disso, o contato pessoal, a relação social ganhou nova dimensão,
novos contornos, típicos do tecido social que se transforma, (re)constrói, (re)modela
constantemente .
Diante disto, a sociabilidade na contemporaneidade tem outros contornos, e a
rede mundial de computadores influencia bastante na produção e reprodução desses
novos contornos. As TICs juntamente com o processo de globalização capitalista que é
fruto da condensação de técnicas fez emergir um mundo do consumo, que é também o 7 Entre os jogadores é comum a conversa na hora do jogo. Neste contexto, são proferidos xingamentos, que expressam um descontentamento em algum momento do jogo. Além disso, expressões de alegria são possíveis de se visualizar. 8 Inserimos nesta questão a crítica de Pierre Lévy (1999, 2007) ao determinismo tecnológico que envolve boa parte das análises com respeito as tecnologias de informação e comunicação. O autor faz duras críticas a ideologia de uma pretensa substituição, onde as tecnologias de informação e comunicação substituiriam entre outras coisas, o contato pessoal. Verificamos assim, que não se trata de uma substituição, mas sim de a tecnologia passar a ser um condicionante, mas que não determina, inclusive em se tratando de relações sociais. Ao contrário, podemos perceber por meio da pesquisa, que o uso e apropriação das tecnologias de informação e comunicação, na realidade, atuam mais como potencializadores do que como determinantes. Neste caso a ida a lan house ocorre por uma questão subjetiva. De uma necessidade de interação social para além da tela do computador.
46
consumo de imagens, signos e significados, que altera também as formas tradicionais de
sociabilidade. Nesse contexto, as relações sociais são alteradas.
Num mundo em constante movimento, onde a velocidade torna-se cada vez mais
comum, novas formas comportamentais e de percepção surgem embebidas num
contexto de globalização e consumo exacerbado. Este é um momento em que a
modernidade chega ao ponto de radicalização (GIDDENS, 1991) gerando a sensação de
constantes incertezas e ao mesmo tempo eternidade, onde se reproduz tudo ao mesmo
tempo e tudo do mesmo.
É nesta condição que situamos a sociabilidade, que em era de redes, na rede e
por meio da rede, não se põe como uma contraposição as formas tradicionais de
sociabilidade. Ao contrário, se põe como uma nova perspectiva do social, da relação
social, potencializando as formas de trocas sociais. Ora, se um fato acontece
constantemente em todos os lugares do mundo é sinal que a sociedade está em
transformação e vale a pena refletir essa mudança. Não se trata de partir de um ponto de
vista otimista nem pessimista exclusivamente, mas de reconhecer a totalidade do
processo social em curso que está dando novos contornos a dinâmica social. Segundo
Lévy (1998. p. 40) “cada dispositivo de transporte e de comunicação modifica o espaço
prático”. Neste contexto, o ciberespaço conduz a uma nova extensão espaço, e por assim
dizer da atual sociedade em rede, “onde os fluxos definem novas formas de relações
sociais”. (SILVA E TANCMAN, 1999, p.56).
Na verdade, o que foi possível perceber tanto pela observação da lan house
quanto através das entrevistas realizadas é que as pessoas se encontram na lan house tal
qual o fazem em outros lugares. Isto faz com que a lan house nos bairros residenciais, e
mais precisamente nos bairros situados nas áreas populares da cidade, tornem-se
espaços para o encontro, para o compartilhamento, para a troca, para a relação social.
Há casos inclusive, em que o jogo aproxima os indivíduos, tanto conhecidos como
desconhecidos, que marcam para jogar ou para realizar outras atividades na lan house,
como se percebe através das entrevistas:
“Tenho amigos na lan house. E muitos. Algumas vezes marcamos para nos encontrar aqui só para jogar mesmo, ou até para jogar conversa fora. E ai acaba que a gente bagunça e tal”. D.L, 17 anos, estudante, masculino.
“Tenho amigos na lan house sim. Praticamente todos os meus amigos foram feitos aqui na lan house, inclusive eu não tinha
47
muitos amigos. Eu cresci na lan house, e frequento desde os 10 anos de idade”. P.V, 14 anos, estudante, masculino.
“Bom, eu não tenho amigos aqui na lan house. Só uma vez que eu encontrei duas amigas aqui, mas foi por acaso, nada programado”. A.G, 12 anos, estudante, feminino.
“Tenho amigos aqui na lan house sim. E tenho amigos feitos na lan house. A Quésia (a atendente) mesmo eu só conhecia de vista no curso de informática e aqui na lan house nos conhecemos melhor”. I.A, 14 anos, estudante, masculino.
“Tenho amigos na lan house sim. Inclusive, as vezes marcamos de jogar Country Strike aqui. Na verdade, o jogo é o melhor, atrai muito a gente. Mas se eu tivesse esse jogo em casa eu jogava lá, mas se meus amigos tivessem aqui na lan house jogando claro que eu viria para cá”. T.L, 12 anos, estudante, masculino.
“Sim, tenho amigos aqui na lan house e muitos. Alguns eu conheci por causa dos jogos. Eles me ensinavam a jogar, e por causa disso continuamos a amizade fora daqui”. A.N, 13 anos, estudante, masculino.
“Tenho amigos que utilizam também a lan house, além do que tenho amigos feitos a partir daqui. As amizades feitas a partir daqui foi por causa do jogo. Foram as conversas sobre o jogo que nos aproximou. E de vez em quando marco com meus amigos de jogar na lan house”. L.U, 17 anos, estudante, masculino.
“Não tenho amigos na lan house. Nem amigos feitos na internet, e os que estão nas minhas redes sociais já eram meus amigos antes”. E.L, 26 anos, repositor de supermercado, masculino.
Amizade na lan house transcende os domínios físico e virtual, pois passa para
além do espaço da internet e da lan house. Como se pode perceber, é a internet que
promoveu a aproximação entre os vários indivíduos, no entanto a socialização ocorreu
entre as pessoas medias por tecnologias virtuais digitais (OLIVEIRA, 2003). Ou seja,
dependeu do contato pessoal, tendo as TICs como condicionante e não como
determinante. Nesta direção, percebemos que a pretensa substituição imposta pela
internet, e muito criticada por Pierre Lévy (2007), inexiste, na medida em que os
encontros continuam acontecendo, contudo em outros moldes, temporalidades e
espacialidades. Aliás, pode-se dizer que a verdadeira supressão espaço-tempo, ocorre na
realidade nas relações sociais, e mais precisamente na dimensão dos sentidos, da
48
experiência, onde distâncias espaciais principalmente são superadas, aproximando
temporalmente, subjetiva e perceptivamente os indivíduos.
É um equívoco pensarmos que o uso das TICs substituirão os contatos pessoais.
Trata-se de uma grande falácia amplamente difundida. Na verdade, a comunicação é
potencializada e a percepção espacial e temporal modificada, contudo, jamais, em
tempo algum, o contato pessoal é substituído.
[...] é um erro pensar que o virtual substitui o real, ou que as telecomunicações e a telepresença vão pura e simplesmente substituir os deslocamentos físicos e os contatos diretos. A perspectiva da substituição negligencia a análise das práticas sociais efetivas e parece cega à abertura de novos planos de existência, que são acrescentados aos dispositivos anteriores ou os complexificam em vez de substituí-los (LÉVY, 1999, p. 211).
A crítica à teoria da substituição promovida por Pierre Lévy (1999, 2007), de
certo modo ajuda a sanar uma deficiência existente na análise dos contextos sociais
mediados pelas TICs, visto que de um lado há os que superestimam tais tecnologias,
colocando-as enquanto determinante; e de outro há o grupo dos pessimistas, para os
quais as tecnologias são a raiz de todos os males. No limite, preferimos atentar, de
modo dialético tanto para o potencial, quanto para as deficiências da apropriação das
TICs no tecido social, visto que “nossa sociedade se tece com a ciência e a tecnologia”
(PEDRO, 2008, p.1). Conforme a professora Ana Clara Torres Ribeiro9, quando da
análise da técnica é preciso seriedade, mas também o riso, visto que a técnica possui
uma sedução e uma aversão concomitantemente, que agem no domínio da psicoesfera
mais do que na tecnoesfera (SANTOS, 2008d).
É neste contexto que podemos verificar que as TICs são extensões humanas
tanto no sentido físico como no domínio dos sentidos (DUARTE, 2003; PINTO, 2005),
logo, trata-se de um processo que, portanto, exige uma análise dialética. Não há dúvidas
de que a internet modificou algumas ações, práticas e comportamentos, e por isso, tem
para alguns resultados bons e para outros resultados ruins. Para entendermos essa
questão, em entrevista, obtivemos as seguintes respostas:
“O uso da internet para mim tem resultados bons e ruins. Os bons é que ajuda na realização de trabalhos da escola, e a gente
9 Anotações da disciplina: Sociologia das Técnicas ministrada pela professora Ana Clara no primeiro bimestre letivo de 2011 no IPPUR/UFRJ.
49
sempre aprende mais. Já com relação aos resultados ruins têm essas questões de pedofilia, mesmo ela não tendo interferindo na minha vida. Agora os jogos interferem bastante, pois eu jogo direto mesmo, e jogo para aliviar a tensão do dia a dia”. D.L, 17 anos estudante, masculino.
“O uso da internet tem resultados bons e ruins. Ruins é que, por exemplo, as redes sociais, a pessoa pode invadir sua vida, e invade de um jeito que você não gostaria, como os “fakes”, hacker que entram nas redes sociais e roubam fotos e fazem outro perfil que danificam a imagem da pessoa. Inclusive, uma vez já fizeram isso comigo, roubaram minhas fotos, no tempo que ainda utilizava o Orkut, e fizeram um outro Orkut com um nome de uma menina que não tinha nada a ver com meu nome e falaram um monte de bobagem para os meus amigos. Adicionou meus amigos, como se fosse um outro perfil meu e os meus amigos adicionaram. Mas eu não sei quem fez isso. Quanto aos resultados bons, tem a praticidade”. B.R, 18 anos, vendedora, feminino.
“O resultado bom para mim é que a internet amplia o conhecimento de uma forma mais simples do que antigamente, e o resultado ruim é que tem muita mentira também na internet, muita influencia ruim, como alguns sites por exemplo. Uma coisa ruim que a internet me trouxe foram os vírus que danificam o computador”. I.A, 14 anos, estudante, masculino.
“Bom, o uso da internet tem muitos resultados bons e ruins. Não sei explicar! Mas, eu ia para a escola direto e por causa da internet eu não fui mais. Gosto da internet para falar com meus amigos, parentes. Mas também na internet eu falo coisas que na frente das pessoas eu não tenho coragem de falar. Acho que é isso”. A.N, 13 anos, estudante, masculino.
“Na verdade não vejo nenhum benefício ou malefício que a internet tenha me trazido. No caso, só as amizades mesmo, pois, eu não tinha tanta amizade antes e com a internet passei a ter mais”. L.U, 17 anos, estudante, masculino.
“Para fazer pesquisa, com a internet, é mais fácil. O ruim é que as vezes se o cara vacilar, acessar conta de banco e tal, alguém pode hackear”. E.L, 26 anos, repositor de supermercado, masculino.
Contudo, é preciso cuidado para não cair na tentação do determinismo
tecnológico, mas é preciso uma perspectiva dialética do processo que aponte as
múltiplas dimensões da internet e suas múltiplas vertentes do tecido social mediado por
TICs.
No entanto, até mesmo para alguns usuários o uso da internet parece determinar,
conforme é possível verificar a seguir:
50
“Bem, eu parei de ver televisão, de jogar bola, de ficar em casa, de ir para escola, por causa dos jogos on line”. A.N, 13 anos, estudante, masculino.
“Eu uso muito a internet para fazer trabalho, não preciso ficar procurando no livro, e na internet é mais fácil. Eu tenho preguiça de ler e na internet é tudo da mesma forma que no livro, mas parece ser menor e mais fácil”. I.A, 14 anos, estudante, masculino.
“Na questão do fazer e não fazer, por exemplo, eu jogava muita bola antes de começar a mexer com internet. Ai eu parei um tempo e fiquei só com internet direto. Deixei de encontrar meus amigos pessoalmente e passei a encontrar mais na internet, por causa da distância, que é de mais ou menos 1 km”. D.L, 17 anos, estudante, masculino.
Não obstante, quando do uso da lan house como vetor de socialização, observa-
se nítida diferença entre homens e mulheres. As mulheres normalmente utilizam a lan
house pontualmente e funcionalmente; isto quer dizer, que a maioria dos indivíduos
deste gênero frequentam o estabelecimento para utilizar a internet, realizar impressões,
scanner e outros, mas quase nunca com o intuito de encontrar-se ou jogar. Enquanto
isso, os indivíduos de gênero masculino, utilizam o estabelecimento para se encontrar,
para jogar, para interagir social, mesmo quando estes têm internet em casa. Não que este
grupo não utilize outros serviços dentro da lan house, contudo, além dessas atividades,
o espaço do estabelecimento é utilizado para socialização; para a interação social, para
além da funcionalidade característica do estabelecimento comercial. Não que desejamos
fazer um estudo de gênero, tampouco nos arriscaríamos a isto, contudo, as respostas da
entrevista e a observação da lan house que revelaram isso.
Sociabilidade é muito comum nas lan houses e esta passa a ser uma das
características do empreendimento, principalmente nas áreas populares da cidade. A
rigor, sociabilidade é um conceito desenvolvido pelas Ciências Sociais, que o utilizam
para definir, diferenciar e classificar as formas de interação entre indivíduos. Simmel
(1979, 2006) ao tratar dessa questão, utiliza o conceito de sociabilidade para explicar a
mentalidade e comportamento inerentemente urbanos.
A sociabilidade consiste nas formas de interação social que os sujeitos sociais
utilizam para manter seus vínculos sociais. Simmel (2006) define a sociabilidade como
um exemplo de sociologia pura ou formal. Ao mesmo tempo, Frúgoli Júnior (2007) ao
examinar Simmel, aponta que a sociabilidade consiste num modo de organização social,
51
sendo “um tipo ideal entendido como “social puro”, forma lúdica arquetípica de toda a
socialização humana” (FRÚGOLI JÚNIOR, 2007, p. 9).
Sociabilidade expressa a forma de interação social, ela “cria, caso se queira, um
mundo sociologicamente ideal: nela, a alegria do indivíduo está totalmente ligada à
felicidade dos outros.” (SIMMEL, 2006, p. 69). Ou seja, o outro tem que existir para
que a sociabilidade seja possível. Ao mesmo tempo, a sociabilidade aponta para os
contextos de formação dessa interação social, porquanto, se há interação não podemos
desvincular esse processo do meio físico, do território, pois são estes que possibilitam a
efetivação dos encontros e da sociabilidade. Para tanto, a cidade neste sentido torna-se
agente primaz da interação social. Isto é, as cidades desde muito sempre exerceram a
função de atrair sujeitos por ser um lugar onde o comércio era possível, a partir do qual
o governo administrava o território, onde os sujeitos sociais se encontravam para as
mais diversas ações. No entanto, hoje a troca social, a relação social, baseia-se
principalmente em informações, que é o novo tipo de capital simbólico e cultural. É
neste sentido que Ribeiro (2005, p. 420) ao falar de sociabilidade na
contemporaneidade, e fazendo assim associação com as TICs, chamando tais
tecnologias de veículo, afirma que “esses veículos, portadores de novos fluxos de
mensagens, irrigam o tecido social”.
Há uma nova forma de sociabilidade que emerge no seio social, fruto da crise
societária (RIBEIRO, 2005) porque passamos que não apaga as formas pretéritas de
socialização, mas se sobrepõe a elas, e que tem sua representação nos sujeitos que
utilizam as tecnologias digitais. Todavia, há também inúmeras formas, hoje, de
interação social que são potencializadas por meio das TICs.
Não se trata de um vislumbre com as novas ferramentas de comunicação, ou
uma superestima por tais tecnologias, mas trata-se de reconhecer que há novas maneiras
de interagir socialmente. O real está sendo modificado, ou melhor, potencializado com
as TICs, e seus efeitos sociais já são em muito visíveis.
Dos gestos-fio “impensados” podem advir descobertas radicalmente novas e vínculos imprevisíveis, o que também é necessário à tessitura do social, especialmente num período caracterizado pelo esgarçamento de relações sociais. Acrescente-se que o entendido como “impensado” por determinado segmento social pode simplesmente expressar a existência de racionalidades alternativas, estranhas à lógica sistêmica (parcelar e excludente) dominante. As racionalidades alternativas emergem em experiências espaço-temporais que se
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afastam daquelas vividas pelos segmentos sociais que controlam os meios técnicos mais atualizados de circulação e comunicação (RIBEIRO, 2005, p. 421).
Há uma mudança nos códigos comportamentais que implicam em novas
maneiras de vivenciar o cotidiano. O lugar não é vivido da mesma forma. O simbólico
alterou-se profundamente em razão das técnicas. A linguagem toma novos contornos e
dá novos contornos a estrutura social. O tecido social está embebido numa lógica que é
técnica, científica e informacional (SANTOS, 2008c; RIBEIRO, 2008; EGLER, 2004).
Corpo e mente experienciam novas técnicas a cada momento, promovendo
concomitantemente a fugacidade, efemeridade, o transitório, a velocidade, o movimento
mais comum e aos olhos de muitos, aprazível. Mumford (1992, p. 63, tradução nossa)
afirma que “o ritmo do trabalho se acelerou, as magnitudes aumentaram,
substanciamente. A cultura moderna se lançou ao espaço e se entregou ao movimento”.
Essas experiências potencializadas por meio das TICs revelam que a
sociabilidade na contemporaneidade ganhou novas dimensões. A interação social tem
novos contornos, principalmente porque o uso dessas tecnologias, e neste caso estamos
tratando da internet, permitiu uma maior interação entre diversos indivíduos situados
em lugares diferentes. Tal dimensão do cotidiano contemporâneo é possível verificar,
por meio das entrevistas sobre a influência da internet na vida dos entrevistados:
“Bom, a internet influencia muito. Influencia muita gente, porque na realidade sempre nós iremos precisar dela. E ela me influencia em muita coisa. Eu não sei especificar bem, mas quando eu preciso fazer trabalho de escola eu utilizo muito a internet. Além do uso do MSN, bate papo, que facilita no trato com as amizades. Por exemplo, MSN mesmo eu uso para jogar conversa fora com os amigos”. D.L, 17 anos, estudante, masculino.
“Bem, para mim a internet não influencia em praticamente nada. Mas reconheço que influencia com relação aos jogos, que eu gosto. Na relação com meus amigos influenciou mais ou menos. Por exemplo, eu jogo um jogo que eles (meus amigos) jogam, ai comecei a me enturmar com eles, pois antes não conhecia eles, e foi o jogo que nos aproximou”. P.V, 14 anos, estudante, masculino.
“É grande a influência da internet na minha vida. Eu não sei explicar. Na verdade, eu acho até que não mudou muita coisa. É uma inovação, um meio de comunicação, mas para mim não mudou muita coisa não. Mas acho que influenciou só nos estudos; no trabalho também ajuda bastante; na questão de e-
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mail. É tudo mais rápido, por exemplo, no pedido de um fornecedor, a pessoa faz o pedido por e-mail, do jeito que você quer, e o contato torna-se mais rápido. Nos estudos a internet ajuda bastante nas pesquisas, pois há conteúdos mais simplificados, com linguagem coloquial”. B.R, 18 anos, vendedora, feminino.
“Eu também sou bastante influenciada pela internet. Mas eu acho legal. A gente se comunica mais, sabe mais do que acontece na nossa cidade”. A.G, 12 anos, estudante, feminino.
“Acho que a internet não tem nenhuma influência na minha vida. Mas reconheço que facilita para conversar com quem está distante, até mesmo para não perder a amizade. Por exemplo, acabou o ano escolar e muita gente sai da escola, ai ficamos conversando a distância, por meio da internet para manter a amizade. Teve uma amiga minha mesmo que saiu da escola e foi para o Pará, mas mantemos contato pela internet. Mas também converso com pessoas que estão aqui na cidade ou na quadra se elas estiverem on-line. então não é só para os distantes. Agora o contato não ocorre pessoalmente porque pela internet é melhor, já temos o costume de conversar pela internet. Na realidade isso ocorre porque é moda, virou costume, as pessoas preferem conversar pela internet do que pessoalmente. Eu mesmo prefiro conversar pela internet do que pessoalmente”. I.A, 14 anos, estudante, masculino.
“Não sei no que a internet me influencia. Mas sei que aprendo muita coisa nela. Alguns jogos, por exemplo.”. A.N, 13 anos, estudante, masculino.
“A influencia da internet na minha vida é do tipo normal. Nem bom nem ruim. Mas influencia com relação as amizades, pois por meio da internet conheci algumas pessoas. Por exemplo você conhece uma pessoa interessante pela internet e depois encontra com ela pessoalmente. Comigo já aconteceu isso, e até hoje mantenho contato com essa pessoa tanto pessoalmente quanto pela internet. porém é mais comum o contato pela internet, porque neste caso que citei, essa pessoa mora em Goiânia - GO”. L.U, 17 anos, estudante, masculino.
“Só tenho influência da internet com relação a questões de distância. Porque as vezes é melhor para conversar com quem está distante. É melhor utilizar a internet nesses casos porque gasta menos. A economia é maior e melhor, do que usar telefone”. E.L, 26 anos, repositor de supermercado, masculino.
Percebe-se assim que as respectivas redes sociais dos indivíduos são ampliadas
ou potencializadas face ao uso de TICs. São vínculos criados pela internet e que passam
a fazer parte da cotidianidade; e outros vínculos, que pareciam se esvair por causa das
distâncias físico-territoriais, são reafirmados. Não obstante, as distâncias continuam
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existindo concretamente, mas não subjetivamente, o que explica o crescente e constante
uso de redes sociais digitais.
Ao mesmo tempo, a interação social implica na formação de símbolos e
imagens, e mais ainda, em imaginários, construídos ao longo das trocas sociais. Com
efeito, o tecido social é moldado pela face simbólica do cultural, que é modelada pela
globalização capitalista. Além disso, a cognição está passando por uma violenta
transformação promovida pelo desenvolvimento técnico, científico e informacional. O
impacto da globalização, que é também metafórica, e de certo modo uma fábula
(SANTOS, 2000), está ocorrendo sobre a subjetividade e sobre o imaginário,
modificando a cotidianidade, que aponta para uma crise social que é a crise da
subjetividade, do comportamento, do imaginário (RIBEIRO, 2005).
Para tanto, a linguagem é um fator social determinante para a formação do ser
social, e é essa linguagem que permite a formação da sociabilidade. Na
contemporaneidade, ou como afirma Giddens (1991) na modernidade radicalizada, a
linguagem é fundamental, sendo também a característica da condição pós-moderna
(LYOTARD, 1986). Ana Clara Torres Ribeiro (2005, p. 417) afirma que “o esforço de
comunicação integra as tarefas do “fazer sociedade”, numa época em que a informação
em mercadoria, ameaça a negociação de sentidos, as trocas intersubjetivas, a
sociabilidade e o conhecimento”. Ora, comunicar-se é um elemento sem o qual não é
possível consolidar o ser social. A sociabilidade é uma das características dos
indivíduos, e na rede mundial de computadores a comunicação é essencial, e o
crescimento das “redes sociais” on-line expressa mais que o crescimento de um site
qualquer, mas expressa um aumento da comunicabilidade social. Tal comunicabilidade
se materializa em muitos casos.
Esta dimensão do tecido social ajuda a explicar o motivo pelo qual inúmeros
usuários preferirem utilizar a lan house, mesmo nos casos daqueles que possuem
computador e internet em casa. A interação, a comunicação, a socialização tornam-se
elementos fundantes das razões de utilizar e assim, frequentar, a lan house. Tal
dimensão do cotidiano, do tecido social pode ser verificada por meio da pesquisa de
campo, onde os usuários que foram entrevistados revelaram a diferença entre utilizar a
internet em casa e na lan house:
“Ah! (risos). La em casa é mais difícil eu usar computador, eu não uso. Eu venho pra lan house por causa dos amigos, para
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não ficar em casa. Até porque minha mãe não deixa eu levar amigos em casa”. D.L, 17 anos, estudante, masculino.
“Prefiro usar a lan house por causa da diversão, pela bagunça. Além disso, por causa do movimento, porque em casa não tem graça, porque lá fico sozinho, e aqui não. Aqui eu converso. E além do mais, mesmo se minha mãe deixasse meus amigos jogarem lá casa eu usaria a lan house, porque eu gosto e aqui é mais divertido”. P.V, 14 anos, estudante, masculino.
“Prefiro usar a internet na minha casa, porque na minha casa eu fico no meu canto, na minha, e aqui na lan house tem barulho, tem muita gente muita bagunça. E lá eu também posso lanchar”. B.R, 18 anos, vendedora.
“Aqui na lan house tem muita gente a sua volta, e em casa você fica de boa, deitada, por exemplo. Mesmo porque eu uso notebook. Então eu prefiro a minha casa”. A.G, 12 anos, estudante, feminino.
“Eu não tenho internet em casa. Mas o bom de usar aqui é que tem bastante jogo on line. Além do que, joga todo mundo junto. Ai nesse caso dá mais emoção jogar todo mundo junto, com quem você conhece. É melhor jogar com quem você conhece da lan house que ai quando você ganha você joga na cara, e se eu não conhecesse a pessoa não seria possível fazer isso”. I.A, 14 anos, estudante, masculino.
“Eu tenho internet na minha casa, mas uso a lan house porque em minha casa a internet não está funcionando. Mas mesmo quando está funcionando eu venho aqui mesmo assim, porque aqui tem mais gente jogando; porque tem mais diversão. Em casa é muito chato, porque a gente fica no computador pensando nos amigos que estão na lan house, ai a gente vem para lan house”. T.L, 12 anos, estudante, masculino.
“Bom, se eu tivesse computador e internet em casa eu ficaria mais tempo em lá do que aqui. Lá em casa seria melhor, não iria gastar dinheiro”. A.N, 13 anos, estudante, masculino.
“A diferença entre jogar aqui na lan house e em casa é que em casa eu posso ficar mais a vontade; em casa não tem limite de tempo. Mas prefiro em casa, mas como lá agora está sem internet eu estou usando mais aqui na lan house”. L.U, 17 anos, estudante, masculino.
“Se eu tivesse internet em casa a diferença seria muito grande entre usar lá e usar aqui na lan house. Por que viria para a lan house gastar dinheiro sendo que eu tenho em casa?”. E.L, 26 anos, repositor de supermercado, masculino.
A lan house como se percebe, ao contrário do que muitos imaginam, é um
espaço de encontro para os jovens, para aqueles que se interessam pelos jogos, e até
56
mesmo outras páginas on line com músicas, filmes, entre outros. É um lugar de
encontro criado a partir da questão das novas técnicas, que não extingue outros lugares,
mas que torna-se peculiar a determinado grupo social. A lan house é sim um lugar de
encontro, com características próprias para um determinado grupo social, tal como em
tempos pretéritos outros espaços de encontro expressavam o grupo social que deles se
apropriavam. Trata-se de um espaço para a sociabilidade tanto dos nativos digitais
(PALFREY e GASSER, 2011), indivíduos com vasta intimidade no uso das TICs para
as mais diversas atividades, como daqueles que mesmo não tendo nascido na era do
boom digital mesmo assim se apropriaram das tecnologias digitais muito intimamente.
Não se trata de um vislumbre com respeito a tais tecnologias, mas temos que
reconhecer o seu potencial, e mais ainda, questionar as formas de sociabilidade
engendradas pelas técnicas no período que Santos (2008a) denominou de meio técnico-
científico-informacional, em que a informação é o motor deste novo período. Neste
período, os indivíduos interagem entre si usando as mesmas possibilidades disponíveis
para outras atividades, através da tecnologia avançada. Não obstante, para que exista a
interação entre indivíduos são exigidos espaços para que ela ocorra, verdadeiros espaços
públicos. Nas áreas populares da cidade atualmente, a lan house torna-se o espaço
púlico por excelência que tem a qualidade de promover a interação on line e off line.
Lugar de acesso e lugar de encontro. Lugar de interação social. Lugar de sociabilidade.
Frente à isto vale a pena questionar se estes fatos são a expressão de um retorno
à sociabilidade perdida no caos da modernidade globalizada, onde os indivíduos
percebem a necessidade premente de trocar, de relacionar-se socialmente; ou trata-se de
um crescimento na individualidade, visto que a internet também promove a
individualidade?
Fato é que hoje, vive-se uma nova forma de experienciar as transformações
dadas pela expansão e difusão das TICs. Além disso, a própria experiência urbana,
inserida num processo intenso de globalização trás consigo novas formas de ver,
perceber, conceber e transformar o espaço, o tempo e a cidade. Dando novos contornos
ao tecido social.
57
2 PALMAS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
2.1 ORIGENS DA INTERNET EM PALMAS
Sobre as origens e evolução da Internet em Palmas foi possível compreender a
partir de dados primários e secundários. Isto é, a partir de dados de transferência de
dados da Rede Nacional de Pesquisa - RNP, bem como de entrevistas com atores
envolvidos no contexto de consolidação da internet em Palmas. Igualmente, os
depoimentos que colhemos na nossa pesquisa, orientam a nossa compreensão sobre as
origens do processo de instalação da Internet em Palmas.
De acordo com dados obtidos em entrevista a André Lindemberg, proprietário
da escola de informática Digitec, situada no centro de Palmas, e uma das primeiras
escolas de informática da cidade, a internet em Palmas começa com o tipo discada que
é:
Conexão por linha comutada ou dial up (as vezes apelidada de Banda estreita em alusão a conexão Banda larga), é um tipo de acesso à Internet no qual uma pessoa usa um modem e uma linha telefónica para se ligar a um nó de uma rede de computadores do provedor de Internet (ISP, do inglês Internet Service Provider). A partir desse momento, o ISP encarrega-se de fazer o roteamento para a Internet ou à outras redes de serviço, como as antigas BBS. O dial-up geralmente usa os protocolos PPP e TCP/IP.
(Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/Linha_discada)
Além disso, havia também a internet de tipo rádio que consiste “em distribuir o
sinal da Internet captado por uma linha E1 utilizando antenas e distribuindo-o através de
POPs (Point of Presence) espalhados pela cidade, formando uma grande rede de
usuários”. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet_a_r%C3%A1dio, sendo
que após esse período há a inserção da adsl, também chamada de banda larga que:
É um tipo de conexão xDSL mais usado existindo também outros tipos e, comparada a outras formas desta, o ADSL tem a característica principal de que os dados podem trafegar mais rápido em um sentido do que em outro. Geralmente, os provedores anunciam o ADSL como um serviço onde a velocidade de "download" é mais rápida do que a velocidade usada para "upload". A grande vantagem do ADSL é que o usuário é conectado ponto a ponto com a central telefônica, sem
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precisar compartilhar sua linha com outros usuários, contrariamente ao modem a cabo. O modem ou roteador ADSL pode ser ligado ao computador via uma placa ethernet, através de uma porta USB ou ainda em modo wireless (sem fio). (Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Banda_larga)
Ainda de acordo André Lindemberg, em entrevista concedida em 02/10/2010, a
internet na cidade:
“Começou com acesso discado, como outros lugares do país, com 56kbit/s, e depois começou a entrada de oferta via rádio, wireless, mas sem nenhum registro em ANATEL10. No início existiam alguns provedores11 de acesso que utilizavam algumas linhas de telefone, utilizando linhas analógicas. Depois com o passar, as pessoas foram utilizando a rede sem fio. Mas antes da rede sem fio, a UOL12 passou a fazer parceria com provedores locais, que davam acesso discado para a cidade, isso por volta de 1997, 1998, mas com um sistema bem arcaico, mas para a época era top de linha. A UOL ao se inserir, ganhou popularidade e dominou o mercado. Depois começou a existir a rede sem fio. Com a entrada da ADSL, houve a entrada de outros provedores como Terra. Além disso, a UOL descredenciou os provedores locais, pois as operadoras de telefones passou a oferecer serviço parecido com um custo mais baixo, o que fez com que essas empresas fechassem”.13.
Esse depoimento revela como se deu a inserção da internet em Palmas, que por
sinal, tem uma mudança, do tipo discado para a banda larga relativamente rápida em
função da criação da cidade ter sido em 1989, pois na década seguinte começam os
esforços do governo no sentido de efetivar a expansão da internet. Além disso, esses
elementos tornaram-se a base física para que fosse possível a instalação de lan houses e
de telecentros. Vale lembrar que, mesmo as lan houses sendo um fenômeno
característico do século XXI, algumas escolas de informática já disponibilizavam acesso
à internet cobrando taxas como no sistema de lan house antes dos anos 2000. No
entanto, esse tipo de serviço era limitado e poucos eram os indivíduos que buscavam
esse serviço.
10 Agência Nacional de Telecomunicações. 11 Provedores, segundo o entrevistado, eram empresas que disponibilizavam internet seja para outras empresas seja para residências, mas tudo com tecnologia analógica e discada. Eram empresas filiadas à UOL. 12 Universo Online “é um provedor de conteúdo e um provedor de acesso à Internet brasileira, que foi criado pela empresa Folha da Manhã, que edita o jornal Folha de S. Paulo”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Universo_Online 13 Vale observar através do exposto na entrevista o modo como o grande capital empresarial se apropria de algumas pequenas empresas e como migram para outras mais rentáveis sem pensar nas pequenas empresas, como ocorrera com os provedores em Palmas.
59
“O primeiro acesso à internet era pela UNITINS (Universidade do Tocantins), e somente para os funcionários. Depois a Netsgol, uma das filiadas da UOL, que também instalou a primeira internet à rádio. A internet discada foi instalada pelos provedores locais. Ou seja, o acesso à internet em Palmas já começou de modo geral com a cidade, mas em escolas e universidades. No caso de Palmas a popularização ocorre com a universidade e com a Netsgol.”. (André Lindemberg em entrevista concedida em 02/10/2010)
Contudo, pode-se afirmar que Palmas como em outras tantas cidades brasileiras,
tem a efetiva popularização da internet a partir dos anos 2000, pois antes há uma
acessibilidade limitada à internet. Com efeito, os fluxos de backbones ao longo dos anos
demonstram a evolução do sistema técnico e o aumento dos fluxos, conforme pode-se
observar nos mapas da Rede Ipê14 (figuras 10 e 11).
14 “A rede Ipê é a primeira rede óptica nacional acadêmica da América Latina, inaugurada pela RNP em 2005. O backbone da rede Ipê foi projetado para garantir não só a largura de banda necessária ao tráfego Internet usual (navegação web, correio eletrônico, transferência de arquivos) mas também o uso de serviços e aplicações avançadas e a experimentação. A infraestrutura engloba 27 Pontos de Presença (PoPs), um em cada unidade da federação, além de ramificações para atender mais de 500 instituições de ensino e pesquisa em todo o país, beneficiando mais de 3,5 milhões de usuários. (Disponível em: http://www.rnp.br/ipe/ acessado em 10/10/2011)
60
Figura 7: Velocidade de Conexões em 1998
Fonte: www.rnp.br
Figura 8: Velocidade de Conexões em 2011
Fonte: disponível em: http://www.rnp.br/backbone/index.php
61
Além disso, o mapa de backbones brasileiros em 2010 ajuda a perceber a
consolidação da rede de internet no Brasil e em Palmas, no caso em questão. Figura 9: Mapa de backbones brasileiros em 2010
Fonte: Tecmundo Uol. Disponível em http://www.tecmundo.com.br/internet/22730-e-possivel-acabar-com-a-internet-no-brasil-.htm.
Com efeito, a evolução dos backbones permitiu que após os anos 2000, em
Palmas, surgissem inúmeros estabelecimentos de acesso à internet, chamados de lan
houses ou cibercafés. Em muitos desses estabelecimentos há uma divisão do espaço
tanto com serviços de internet como serviços de informática, lanchonete, papelaria.
Outros, entretanto, apenas disponibilizam acesso à internet. Segundo André
Lindemberg, “Lan house, em Palmas, teve uma ascensão e queda. Sendo que as
primeiras foram empresas de informática que implantaram, sendo que tinham a empresa
e uma segunda empresa seria a lan house.”. Ainda segundo o entrevistado, esse
62
processo “expressou uma fase de transição, já que quase ninguém tinha acesso à
internet”.
Além disso, a própria velocidade de conexões ajuda a avaliar a densidade do
acesso à rede mundial de computadores, com pouca expressividade em Palmas na
década de 1990, diferentemente da década de 2010. Contudo, também permite perceber
o papel de Palmas na inserção não só da cidade, mas do Estado na rede mundial de
computadores, sobretudo, por ser a capital do Estado. Logo, é a cidade que melhor
dispunha de condições técnicas de acesso à internet com a velocidade apresentada.
Castells (1999, p. 368) quando da análise sobre a sociedade em rede, revela a
condição contemporânea na qual se vive, ou seja, de globalização, apontando que “em
meados da década de 90, a Internet conectava 44 mil redes de computadores e cerca de
3,2 milhões de computadores principais em todo o mundo, com mais ou menos 25
milhões de usuários, e estava se expandindo de forma acelerada”. Estes elementos inter-
relacionados podem ser traduzidos através dos backbones15 da Rede Ipê que na
contemporaneidade, modificou-se em muito, se comparado a década de 1990, conforme
verificamos nas figuras anteriores.
Por mais que se trate de uma rede que conjuga laboratórios acadêmicos das mais
diversas áreas do país, estes dados ajudam a compreender a consolidação e
desenvolvimento da internet na cidade de Palmas, pois a Rede Ipê tem vínculos com a
operadora Oi, que contribuiu para a consolidação da rede16.
Somado a isto, tem o fato de que no que se refere a Cobertura de Banda Larga
Fixa (Tabela 2 e 3) os dados para o Brasil apontam uma evolução substancial, ainda que
o Brasil, em 2009, tenha obtido a 97ª posição no ranking do custo da banda larga por
país, onde o custo ficava em US$ 28,0317.
É importante atentar para estes dados, pois a partir deles é que torna-se possível
uma melhor avaliação da popularização da internet na cidade de Palmas. Além disso,
esses dados auxiliam a compreensão do “fenômeno” das lan houses, pois a expansão da
15 No contexto de redes de computadores, o backbone (backbone traduzindo para português, espinha dorsal, embora no contexto de redes,backbone signifique rede de transporte) designa o esquema de ligações centrais de um sistema mais amplo, tipicamente de elevado desempenho. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Backbone 16 Em 2010, a rede Ipê passou por um grande salto qualitativo, atingindo a capacidade agregada de 233,2 Gbps, um aumento de 280% em relação à capacidade agregada anterior. Nesta nova rede, que é a sexta geração do backbone operado pela RNP, as velocidades multigigabits (acima de 1 Gbps) estão disponíveis para 24 dos 27 PoPs. A ampliação foi resultado de acordo de cooperação com a empresa de telecomunicações Oi, que proverá à RNP infraestrutura de transmissão em fibras ópticas para uso não-comercial e participará de projetos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) de interesse comum. 17 Dados disponíveis em http://www.teleco.com.br/blarga2.asp
63
banda larga também foi determinante tanto para a popularização da internet quanto da
emergência das lan houses, que são verdadeiras ilhas de acesso ao ciberespaço
(SANTOS FILHO, 2005), promovendo aos que não dispõe de acesso à internet
residencial, um acesso rápido, facilitado e com preços acessíveis, sobretudo a população
de baixo poder aquisitivo.
Tabela 2: Cobertura Banda Larga por Trimestre no Brasil por trimestre - 2009 – 2011
Brasil 3T09 4T09 1T10 2T10 3T10 4T10 1T11 2T11
Municipios 2.777 3.535 3.535 3.798 4.514 4.514 5.215 5.317
População Atendida (milhões) 157,8 166,5 166,5 168,3 179,1 179,1 186,7 187,7
Fonte: SICI (Anatel) considerando-se o atendimento por operadoras de SCM com as tecnologias xDSL, Cable Modem, FTTH e MMDS. Não inclui pequenos provedores que utilizam tecnologia wireless e banda larga móvel. Disponível em: http://www.teleco.com.br/blarga_cobertura.asp Tabela 3: Cobertura Banda Larga Trimestral por município em % por trimestre - 2009 – 2011
% 3T09 4T09 1T10 2T10 3T10 4T10 1T11 2T11
Municipios 49,9% 63,5% 63,5% 68,2% 81,1% 81,1% 93,7% 95,6%
População Atendida 82,4% 86,9% 86,9% 87,9% 93,6% 93,6% 97,9% 98,1%
Fonte: SICI (Anatel) considerando-se o atendimento por operadoras de SCM com as tecnologias xDSL, Cable Modem, FTTH e MMDS. Não inclui pequenos provedores que utilizam tecnologia wireless e banda larga móvel. Disponível em: http://www.teleco.com.br/blarga_cobertura.asp.
Os dados da Teleco revelam que no Brasil a cobertura de banda larga atende
cerca de 98,1% da população, atendendo em 2011, 95,6% dos municípios. Contudo,
entendemos que cobertura difere do real acesso, ou seja, por mais que haja um número
tão expressivo de população e municípios que dispõem de banda larga, segundo as
tabelas apresentadas, isto não significa dizer que todos os indivíduos dispõem em suas
residências de acesso à internet, mesmo porque, segundo dados da Tic Domicílios 2011:
A quantidade de domicílios brasileiros com computador aumentou dez pontos percentuais, de 2010 para 2011, contra um crescimento de 3% de 2009 para 2010. As conexões à internet subiram um pouco mais: 11%, de 2010 para 2011, também contra 3% do período anterior. Um salto bastante expressivo, sem dúvida. Mas ainda insuficiente, se considerarmos que, mesmo com esse avanço, 55% das residências ainda não tinham computador. E 62% não tinham acesso à internet. A sexta economia do planeta aparece em 81º lugar - após cair três
64
posições, em 2011 - no ranking mundial de usuários de internet. (disponível em: http://www.arede.inf.br/. Acessado em 03/06/2012)
E neste caso é que entram os centros públicos de acesso pago (lan house) e
centros públicos de acesso público (telecentros) (CGI, 2010), que suprem a necessidade
tanto dos que não dispõem de computador quanto os que não dispõem de internet
residencial.
É bem verdade que esses dados não expressam que a internet esteja acessível a
toda população, ao contrário ainda há grande exclusão digital, que revela uma dimensão
da exclusão social, que vem sendo reduzida face a presença de lan houses, que hoje
estão mais presentes nas periferias urbanas.
Retornando à análise dos dados obtidos através da Teleco, por meio de dados
estaduais, observa-se uma expansão no serviço de internet banda larga, sobretudo para
Tocantins onde há um salto na cobertura desse tipo de internet entre os municípios no
ano de 2009 para o ano de 2010, o que expressa uma evolução na malha técnica no
Estado.
Tabela 4: Municípios com cobertura de serviço de internet banda larga por trimestre - 2009 – 2010
Municípios 3T09 4T09 1T10 2T10 3T10 4T10
AC 14 15 15 17 18 18
AL 18 37 37 42 74 74
AM 4 4 4 4 5 5
AP 12 6 6 6 6 6
BA 75 155 155 163 318 318
CE 62 101 101 101 157 157
DF 1 1 1 1 1 1
ES 43 47 47 49 70 70
GO 217 224 224 243 245 245
MA 33 67 67 74 115 115
MG 290 516 516 545 715 715
MS 78 78 78 78 78 78
MT 115 116 116 126 127 127
PA 40 50 50 50 64 64
PB 12 49 49 56 99 99
PE 51 85 85 93 143 143
PI 17 79 79 84 125 125
65
PR 388 397 397 398 399 399
RJ 89 92 92 92 92 92
RN 18 50 50 57 95 95
RO 52 52 52 52 52 52
RR 1 1 1 1 1 1
RS 356 356 356 367 383 383
SC 290 292 292 292 293 293
SE 22 39 39 42 64 64
SP 417 551 551 640 644 644
TO 62 75 75 125 131 131
Fonte: TELECO. Disponível em: http://www.teleco.com.br/blarga_cobertura.asp
A partir desses dados é possível notar que o Estado do Tocantins que tem 139
municípios, dispõe de 131 com acesso à internet banda larga. Ao mesmo tempo, é
possível fazer uma correlação entre esses dados e o quesito populacional, isto porque as
cidades de Palmas, Araguaína, Gurupi, Porto Nacional, Paraíso do Tocantins juntas
concentram 549.134 hab., sendo que o Estado como um todo têm 1.383.445 hab (IBGE,
2010). Ou seja, esses municípios concentram aproximadamente 40% da população do
Estado, ficando Palmas com 17% do total da população do Estado, ou seja, 228.332 hab
(IBGE, 2010).
Logo, o peso de Palmas para a rede urbana do Estado é elevado. Isto faz com
que a cidade disponha dos melhores serviços de internet e a melhor infraestrutura
técnica dentre os 139 municípios. Somado a isto, é importante notar que nas figuras
anteriores (10, 11 e 12) é nas capitais em que se verificam os maiores fluxos de conexão
à internet e as maiores velocidades. Ou seja, para Palmas é possível afirmar que a
cidade, por ser capital, condensa os maiores fluxos de internet.
Com efeito, o peso de Palmas para Estado, além de ser técnico, é também
humano, ou seja, a população de Palmas é a maior do Estado como foi possível verificar
através dos dados anteriormente apresentados e se, conforme a Tabela 5 no 4º trimestre
de 2010, o Tocantins dispunha de 98% da população com acesso à internet banda larga,
logo, é possível afirmar que em Palmas é onde há o maior número de acesso à internet
desse tipo.
66
Tabela 5: População com cobertura de serviço de internet banda larga por estado por trimestre - 2009 2010
% da População 3T09 4T09 1T10 2T10 3T10 4T10
AC 88,1% 88,9% 88,9% 93,1% 95,2% 95,2%
AL 54,8% 68,2% 68,2% 70,5% 86,4% 86,4%
AM 54,2% 54,2% 54,2% 54,2% 55,4% 55,4%
AP 96,6% 87,0% 87,0% 87,0% 87,0% 87,0%
BA 56,2% 67,0% 67,0% 68,1% 90,1% 90,1%
CE 71,7% 80,9% 80,9% 80,9% 94,6% 94,6%
DF 100% 100% 100% 100% 100% 100%
ES 86,1% 87,4% 87,4% 88,3% 97,4% 97,4%
GO 98,5% 98,8% 98,8% 99,8% 99,9% 99,9%
MA 48,8% 57,8% 57,8% 60,0% 73,5% 73,5%
MG 76,5% 85,7% 85,7% 86,9% 95,8% 95,8%
MS 100% 100% 100% 100% 100% 100%
MT 95,6% 96,3% 96,3% 97,8% 98,0% 98,0%
PA 62,9% 66,9% 66,9% 66,9% 72,5% 72,5%
PB 45,5% 58,5% 58,5% 60,5% 72,7% 72,7%
PE 71,2% 78,6% 78,6% 80,5% 91,7% 91,7%
PI 48,6% 63,9% 63,9% 64,7% 77,1% 77,1%
PR 99,6% 99,9% 99,9% 99,9% 100% 100%
RJ 99,5% 100% 100% 100% 100% 100%
RN 58,5% 70,0% 70,0% 72,3% 83,8% 83,8%
RO 100% 100% 100% 100% 100% 100%
RR 63,3% 63,3% 63,3% 63,3% 63,3% 63,3%
RS 95,9% 95,9% 95,9% 96,3% 96,9% 96,9%
SC 99,8% 99,9% 99,9% 99,9% 100% 100%
SE 65,0% 81,8% 81,8% 83,2% 94,5% 94,5%
SP 97,4% 98,9% 98,9% 99,9% 100% 100%
TO 77,9% 83,4% 83,4% 97,0% 98,0% 98,0%
Fonte: TELECO. Disponível em: http://www.teleco.com.br/
Como se percebe no caso do Tocantins, segundo os dados da Teleco, parcela
significativa da população tem acesso à internet e, neste sentido, vale lembrar que em
Palmas é onde há maior número de habitantes no estado, logo, é possível afirmar,
mesmo que hipoteticamente, que a maior parte da população que dispõe de internet no
estado está em Palmas. Porém, vale lembrar que conforme apontamos anteriormente,
67
estes dados não podem ser julgados como homogêneos, tampouco como uma verdade
absoluta, pois aí se verifica o papel dos telecentros numa menor escala, e das lan houses
num outra escala maior no processo de popularização da internet. Soma-se a isto o fato
de que inúmeros indivíduos utilizam a internet em seus locais de trabalho, que hoje,
mais do que em qualquer outra época, está embebido no uso de TICs.
Nesta direção, vale lembrar que o valor da internet no Brasil ainda é elevado, e
de igual modo, o valor cobrado pelos provedores ainda é uma barreira para o pleno
acesso à internet, diferentemente de outros países (quadros 1 e 2). De acordo com Lobo
(2011, s.p), a partir de estudos realizados pela UNCTAD (Conferência das Nações
Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento “o Brasil tem a banda larga - fixa e móvel
- mais cara do mundo e com custo muito acima do praticado em países emergentes e até
mesmo com economias menos desenvolvidas18”. E esta realidade de discrepância entre
os preços praticados no Brasil e no exterior é possível observar através dos quadros a
seguir.
Quadro 1 Mensalidade cobrada por 1Mbps. Fonte: http://www.tecmundo.com.br/banda-larga/2543-a-historia-da-conexao.htm
18 http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=28112&sid=8
68
1 – A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) determinou a suspensão temporária deste serviço. Para maiores informações, acesse o comunicado oficial da Telefonica. 2 – Preço nos 12 primeiros meses. Após esse período a mensalidade volta para o valor de R$79,90. 3 – Valor da mensalidade para a conexão de 600 kbps, maior velocidade disponível na região. 4 – Ambos os serviços, diferentemente dos outros, não necessitam da contratação de um provedor para autenticação. Quadro 2 Mensalidade cobrada por 1Mbps em alguns estados brasileiros. Fonte: http://www.tecmundo.com.br/banda-larga/2543-a-historia-da-conexao.htm
Esses dados ajudam, sem sombra de dúvidas, a questionar os dados da Teleco, e
principalmente a compreender que embora tenha possibilidade de acesso19, esta
possibilidade não significa que de fato as pessoas utilizem, ou dominem o uso das TICs.
Sem dúvidas nenhuma, ainda há uma exclusão digital enorme no Brasil, o que
justifica o fato do governo federal investir em diversos programas de inclusão digital,
seja nas escolas ou através dos telecentros, incentivando financiamentos a pequenos
empresários donos de lan house. Soma-se a isto o fato do Brasil ter uma banda larga
muito cara, impossibilitando o acesso à internet residencial a boa parcela da população.
De acordo com matéria do Jornal Valor Econômico do dia 17/01/2012
Com 56 milhões de conexões no país, o sistema de banda larga tem a oferta concentrada nas mãos de poucos provedores, é lento e com preços díspares. Pode-se encontrar 1 megabit por segundo de velocidade no Sudeste por R$ 29,80 e até 30 vezes mais caro no Norte. Nos centros urbanos onde há alta densidade e maior renda, a concorrência é acirrada, a qualidade do serviço é diferenciada e os preços mais acessíveis. O alto custo na aquisição de links no
19 Assim que interpretamos os dados da Teleco. Ou seja, quando apresentam esses dados estatísticos, evidentemente que não se trata de dados absolutos, mas de dados relativos, e portanto, não devem ser considerados como fato absoluto.
69
atacado para a última milha - trecho que liga a central da operadora ao domicílio do usuário - se reflete no preço e na qualidade do serviço no varejo, diz Rogério Takayanagi, presidente da TIM Fiber, unidade resultante da aquisição da AES Atimus. "A realidade é que, na média, a banda larga continua cara e lenta no país. Em muitos casos, a oferta desse serviço fica só na teoria", afirma o executivo.
Todos esses elementos ajudam a compreender o boom da internet por meio de
lan house em Palmas, pois se há valores elevados para a aquisição da internet
residencial por um lado e de outro há pequenos empresários que investem em espaços
públicos de acesso pago à internet, essa simbiose contribui para a popularização da
internet. Ao mesmo tempo, é pertinente lembrar que a partir dos anos 2000 é que se
verifica um crescimento nos cadastros de empresa junto a Prefeitura Municipal de
Palmas que são cadastradas como lan house. Note-se que de acordo com o Quadro 3,
onde estão todos os estabelecimentos cadastrados na prefeitura cuja atividade é lan
house ou cibercafé até 2010, não há muitos empreendimentos dessa natureza antes dos
anos 2000, o que pode ser atribuído entre outras coisas, a consolidação da internet na
cidade somente na década de 2000, o que propiciou o aumento dos fluxos
informacionais e, logo, da necessidade de acesso à internet por parte da população.
Nome Início da atividade Localização João Domingos da Silva 01/07/1994 407 norteJ. Gutembergues Carreiro Varao 28/08/1996 104 norteV b da Rosa 20/07/1999 308 sulR s l Ltda. 27/10/2000 106 sulDiferencial eventos Ltda. 09/11/2000 212 norteIntegresis automação Ltda. 13/02/2001 103 nortePontonet informática Ltda. 28/05/2002 206 sulSuum cuique consultoria em tecnologia da informação Ltda. 22/11/2002 106 sulTotal play Ltda. 12/12/2002 106 sulMatos e lola Ltda. 16/10/2003 106 sulTotal play Ltda. 16/10/2003 TaquaraltoWgx negócios Ltda. 23/02/2006 104 sulJ. Gutembergues carreiro varao me 02/08/2006 TaquaraltoJ f de Oliveira Júnior 24/01/2007 806 sulRodrigues e Rezende Ltda. 29/01/2007 TaquaraltoGomes e Gomes entretenimentos, publicidade e eventos Ltda. 21/03/2007 104 sulR. Da Silva Bastos 04/06/2007 103 sulBruno a. Ornelas 04/03/2008 307 norteKabana do kibe Ltda. 10/03/2008 110 norteL F de Menezes 09/05/2008 104 sulM j l de Araújo serviços 28/05/2008 804 sulAndrade e Rodrigues Ltda. 02/06/2008 504 sulPortal c t comunicação Ltda. 19/06/2008 110 sul
70
W m locações de vídeos Ltda. 04/07/2008 108 sulO M C Gonçalves me 19/09/2008 504 sulRocha e Carvalho Ltda. 13/10/2008 106 nortePrime serviços de escritório Ltda. 12/11/2008 101 sulMundo gospel comércio de produtos evangélicos Ltda. 11/12/2008 104 sulGráfica êxodo Ltda. 01/04/2009 104 norteR. da Silva Bastos 30/04/2009 TaquaraltoResende e teles Ltda. 05/05/2009 Jardim aureny iiiLavajato confiança Ltda. 08/05/2009 104 norteC x b da silva lan house 29/05/2009 Jardim aureny ivRodrigues de Sousa e silva Ltda. 01/10/2009 Jardim aureny ivSilvia oliveira coelho 04/02/2010 205 sulJ r revistaria Ltda. 25/03/2010 105 norteW. Delgado 29/03/2010 103 norteAilton Costa Gomes 31/03/2010 104 norteSantiago e pereira Ltda. 03/05/2010 104 sulZig zag fair play centro de lazer Ltda. 14/07/2010 107 norteNascimeto e Rodrigues Ltda. 19/08/2010 104 sulAntonio Marcelo Gomes Cerqueira 23/08/2010 210 sulOziel de Souza Braga 24/08/2010 303 norteJosé do Nascimento Silva 25/08/2010 603 norteNatalia Nogueira Leite 27/08/2010 307 norteW g tecnologia documental Ltda. 28/09/2010 906 sul Quadro 3 Estabelecimentos cadastrados como lan house na Prefeitura de Palmas Fonte: Secretaria de Finanças de Palmas. Ano de Referência: 2010.
No limite, é possível perceber que é justamente com o surgimento da internet de
tipo banda larga que passam a existir mais empreendimentos cadastrados de tipo lan
house em Palmas, e não apenas os cadastrados, mas há uma expansão também dos
empreendimentos não-cadastrados, sobretudo nas periferias da cidade, situadas ao sul da
cidade e na área noroeste da cidade. Ou seja, a banda larga torna-se elemento
determinante para a acessibilidade digital. E Palmas, tal como as demais capitais do país
dispõe de internet banda larga.
2.2 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM PALMAS
A internet em tempos de globalização cria e recria representações, difunde
práticas, imagens, signos, significados, linguagens, transforma a materialidade e, com
isso, o espaço e o tempo, bem como as formas de perceber e conceber ambas as
categorias. Como afirma Castells (2003, p. 7) na abertura do livro A Galáxia da Internet,
“a Internet é o tecido de nossas vidas”. E mais ainda, como afirma Lemos (2004a, p.
15), “a cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais [...] vai criar uma nova
relação entre a técnica e a vida social”. Neste sentido, a internet, fruto do avanço técnico
71
permite a troca comercial, social, cultural numa escala de tempo cada vez menor tanto
de mercadorias materiais quanto de mercadorias imateriais (EGLER, 2007). Para
Spósito (2008, p. 50), a internet expressa “a principal concretização da rede”.
A internet para se inserir no tecido social exige alguns elementos essenciais à
própria dinâmica da questão tecnológica. Trata-se, como mostra Castells (2003, p. 170),
de uma geografia técnica que “diz respeito à infra-estrutura de telecomunicações da
Internet, às conexões entre os computadores que organizam seu tráfego (roteadores) e à
distribuição da banda larga nela; isto é, as linhas de telecomunicação dedicadas ao
tráfego de pacotes de dados”. Dito de outro modo, num primeiro patamar está a cidade
enquanto base material e num outro está a dimensão social, e mais especificamente
socioespacial da cidade, a saber, urbano. Ambos são elementos indispensáveis para a
consolidação técnica, e assim da tecnologia. Desta forma, a tecnologia exige a cidade e
a transcende, pois transcende o construído, e assim engloba o urbano.
Castells (1999; 2003) destaca a importância das cidades e de um contexto de
urbanização para a difusão espacial da Internet, condição esta que foi determinante para
a emergência da “Era da Internet”, também chamada da era dos fluxos. Num primeiro
momento, o autor aponta o modo como as metrópoles foram importantes para a inserção
e difusão nos países da Internet, seja nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
E num segundo momento, o papel das cidades médias e pequenas neste processo. Além
disso, a tecnologia exige alguns elementos técnicos como fibras óticas, satélites,
computadores, torres de transmissão, e na cidade estão as condições perfeitas para a
instalação desses elementos. Limonad (2007, p. 167), ao tratar da urbanização e a era
dos fluxos, aponta a inter-relação entre esses dois processos, indicando, a partir de uma
interlocução com outros autores do campo que “o que temos hoje com esta plêiade de
novas tecnologias e processos de reestruturação é uma nova qualidade da urbanização –
nova no sentido em que exponencia fenômenos antes latentes”.
Vive-se uma sociedade das TICs que (re)modelam o espaço, e que sem a
urbanização não seria possível. Desse modo, a sociedade técnica e urbanização
caminham juntas, não sendo possível analisá-los separadamente.
Ora, se as técnicas produzidas em tempos históricos determinados se
materializam no espaço concretamente e nas ações que promovem, é na cidade onde se
visualiza mais nitidamente tais processos. Neste sentido, Santos (2008, p. 60) afirma
que “a cidade é um elemento impulsionador do desenvolvimento e aperfeiçoamento das
técnicas”.. Já Figueiredo (2010, p. 50), ao analisar o território e a cidade frente as atuais
72
tecnologias, argumenta que “não há um abandono da cidade mais sim uma outra forma
de usá-la”. A cidade assim tem novos contornos que dão outros sentidos à cidade, a
vida, a cotidianidade urbana.
A inserção técnica e mais ainda da tecnologia no território implica numa
transformação que é física e ao mesmo tempo social (EGLER, 2007; SANTOS, 2008b).
Além disso, há que se correlacionar a questão das tecnologias com a da própria
modernidade, que transcende o concreto. Morin (2011, p. 24), ao tratar da crise da
modernidade, revela que esta crise surge quando a problematização da questão torna-se
a própria modernidade com seus produtos, dentre os quais está a técnica, “que permite
tanto o pior quanto o melhor. Ela nos torna capazes de subjugar as energias físicas, mas
também as energia humanas”.
Não obstante, enquanto avanço técnico, a internet tem sua história, que não se
limita a uma invenção técnica do século XX apenas, mas que remonta a mudanças no
padrão produtivo em tempos pretéritos que formaram a base para a constituição das
atuais TICs. Neste sentido, a maior parte das cidades brasileiras apresenta um histórico
na constituição da sua base técnica, contudo, algumas delas não, como no caso de
Palmas, capital do estado do Tocantins no norte do Brasil, criada em 198920. Palmas, ao
contrário de muitas cidades, não tem a inserção técnica enquanto um processo histórico,
mas é uma cidade que nasce no contexto da atual globalização, e mais ainda, nasce num
período de difusão das TICs, sobretudo, a internet. Porém, a internet somente se insere
na cidade em meados da década de 1990, década de intensa ocupação do espaço urbano
da cidade, e marco do processo de segregação.
No entanto, a relação entre cidade e as TICs se revela a partir do momento em
que examinamos o mapa de fibras óticas, onde se percebe que as cidades são os nós da
rede de cabos ópticos. Neste sentido, no exame sobre a internet é pertinente atentar para
a relação entre fixos e fluxos, nós e fluxos, sendo as cidades os nós a partir dos quais e 20 A cidade Palmas antes de ser uma construção arquitetônica representa a vitória e a ruptura com um processo de separação que distinguia o Estado de Goiás em duas grandes áreas, onde o centro-sul do Estado representava a parte desenvolvida, enquanto o Norte do Estado, hoje Tocantins, apresentava-se enquanto uma área com precárias condições de desenvolvimento social (LIRA, 1995). A partir da separação destas duas grandes áreas, em 1988 com a Constituição Federal, houve a criação do Estado do Tocantins. Todavia, a criação do Estado criou a demanda por uma capital, que na legislação estadual, já apontava para a criação de uma “nova” cidade, e não mais a adoção de uma cidade já existente para servir de capital. Contudo, essa ideia de uma cidade nova, no caso de Palmas, última cidade planejada do século XX (SEGAWA, 1991), com o desenho urbanístico bem parecido com as normas do alto modernismo de Le Curbusier para alguns (LIRA, 1995; COCOZZA, 2007) e para outros não (SILVA, 2008; TEIXEIRA, 2009; VELASQUES, 2010) é alvo de críticas e reflexões, sobretudo no tocante as bases norteadoras da morfologia urbana da cidade.
73
para os quais afluem os fluxos. Para tanto, os nós, ou seja, as cidades são adaptadas para
permitirem os fluxos, o que também implica numa redefinição da posição da cidade na
rede urbana, visto que a partir dos fluxos da cidade é que se verifica a importância da
mesma na conjuntura nacional e até mesmo global.
Neste sentido, ao mesmo tempo em que tratamos da cidade com as TICs,
tratamos assim da produção do espaço (HARVEY, 2008), que por sua vez dispõe de
fixos e fluxos, visto que “o espaço é, também e sempre, formado por fixos e fluxos. Nós
temos coisas fixas, fluxos que se originam dessas coisas fixas, fluxos que chegam a
essas coisas fixas”. (SANTOS, 2008c, p. 85).
Nos fixos incluímos as cidades (nós), que para a dinâmica das tecnologias, são
equipadas com os cabos de fibra óptica, as torres de transmissão, as centrais telefônicas
binárias e moldem e outros, que formam a base física da rede, necessária para a
consolidação dos nós na globalização e responsáveis pela fluidez. Esta infraestrutura
também está presente em Palmas, o que vai contribuir para a análise sobre a
consolidação das TICs, sobretudo a internet, e para a transformação urbana da cidade. Figura 10: Estrutura de rede
Fonte: http://paulamc.sites.uol.com.br/cursohtml/1hist.htm
Por meio de mapas de fibra óptica (Figuras 11 e 12) é possível visualizar uma
parte da infraestrutura da rede de fibras ópticas existente em Palmas. Vale lembrar que a
Eletronet é uma empresa que “oferece serviços de transporte de dados, voz e imagem
em alta velocidade para operadores de telecomunicações e provedores de serviços de
valor agregado.” (disponível em http://www.eletronet.com/ acessado em 30/11/2011).
75
Figura 12: Mapa de fibra óptica da Telebras
Fonte: http://www.bdibbs.com.br/2010/mais-mapa-fibra-otica
76
Nesta direção, pode-se verificar que Palmas é um dos nós da rede de fibra, o que
permite explicar a constituição e consolidação dos fluxos de informacionais na cidade e para
as demais cidades do estado. Ao mesmo tempo, isto revela que, Palmas é quem detêm a
melhor infraestrutura técnica para internet do Estado, pois diferentemente de outros estados,
somente Palmas, referente ao Tocantins, está incluída no mapa. Esses elementos são
importantes para analisarmos a relação entre TICs e o espaço urbano, pois há que se pensar
antes dos fluxos na infraestrutura instalada. Aliás, essa infraestrutura é determinante, na
contemporaneidade, para a localização de inúmeras empresas de capital global, o que não é
diferente em Palmas, que a partir do limiar da primeira década dos anos 2000, recebeu
inúmeras empresas de capital global.
3 DA BASE TÉCNICA À DIGITALIZAÇÃO DO ESPAÇO
3.1 DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À GLOBALIZAÇÃO
CONTEMPORÂNEA
A questão das tecnologias de informação e comunicação, produto da modernidade
radicalizada (GIDDENS, 1991) e, por conseguinte da atual fase do processo de globalização,
traduzem uma evolução técnica, que expressa uma evolução social, ou como afirma Milton
Santos (2008a, 2008b, 2008c) o período técnico-científico-informacional a cara geográfica da
contemporaneidade globalizada. Todavia, tratar das TICs é também fazer um retrocesso no
sentido de identificar, mesmo que minimamente, as origens do atual sistema técnico, que nada
mais é que a materialização de uma evolução técnica e hoje, tecnológica (PINTO, 2005).
Não se pretende aqui realizar uma análise profunda da evolução técnica, mas tratar de
tal evolução revela a necessidade de reconhecermos o tempo e espaço enquanto categorias
necessárias à análise social. Face a isto, antes de passar a tarefa de examinar profundamente
as TICs, e aqui leia-se internet, e suas implicações sobre o espaço urbano de Palmas, bem
como sua apropriação social, começaremos por analisar, mesmo que rapidamente, as
revoluções industriais que ajudam na reflexão sobre as tecnologias comunicacionais, e mais
ainda, da atual dinâmica socioespacial e temporal.
É unânime a ideia de que a revolução industrial trouxe consigo notória modificação
não somente no modo de produzir mercadorias, mas também ao espaço como um todo,
especialmente à cidade e à sua dimensão simbólica (CASTELLS, 1999; PINTO, 2005;
77
SANTOS, 2008; EGLER, 2004). Além disso, este processo também inseriu novos modos de
organização da sociedade. Ou seja, mais que a expansão das relações capitalistas de produção,
a revolução industrial expressou movimentos de modificações profundas no cerne da
sociedade, a saber, na sua dimensão simbólica, dos sentidos, da percepção tempo/espaço.
Com a primeira revolução industrial vê-se que a máquina é inserida no intuito de
contribuir para que houvesse uma maior produção, e com isso, uma maior rentabilidade.
Novas formas de pensar e executar a produção de mercadorias são inseridas, o que gerou
modificações na organização social, implicando em um ruptura com a então divisão
internacional e territorial do trabalho. Com a segunda revolução industrial, há uma aceleração
maior na produção, comparada a primeira revolução. O petróleo, a eletricidade, o automóvel,
e outros tantos inventos engenhosos impulsionaram a aceleração nas formas de produção de
mercadorias, e com isso, nas relações capitalistas.
A indústria se renova e inova, produz cada vez mais em espaços de tempo cada vez
menores. Além disso, há uma difusão exacerbada de inovações, que promoveram rupturas
estanques nos processos produtivos, já estudadas por Schumpeter (1906) que tornaram-se para
o autor necessárias à própria dinâmica capitalista. Neste momento, verifica-se uma maior
interferência das inovações tecnológicas sobre a sociedade, principalmente sobre a sociedade
urbana, em consolidação.
Com efeito, surgem inúmeros sistemas produtivos que expressam as dinâmicas
capitalistas, e também apontam para uma característica social. Dentre os sistemas produtivos
da segunda revolução industrial estão o fordismo, taylorismo. Somado a isto, situam-se a crise
de 1929, a emergência do welfare state - Estado do Bem-estar social e o início da transição de
uma sociedade industrial para uma sociedade urbana (LEFEBVRE, 2008, LOJKINE, 1995).
Uma nova organização do espaço mundial se dá, levando tal organização a modificar a esfera
local, onde se materializam os processos advindos da escala global. Neste sentido, a análise da
revolução industrial inclui a dimensão social, política, econômica, entre outros (EGLER,
2004).
Contudo, é com a terceira revolução industrial que se verifica a maior transformação
territorial, social, econômica e política, e por assim dizer espaço-temporal, que já se
experimentou, pois trata-se de um período onde no âmbito da produção de mercadorias
presencia-se a produção flexível. No domínio social há uma transição da sociedade industrial
para uma sociedade urbana (LEFEBVRE, 2008) e informacional (LOJKINE, 1995; SCHAF,
1992) Porém, é na dimensão social que esta revolução mais implica em transformações. Além
78
disso, a terceira revolução industrial insere um novo paradigma na sociedade (CASTELLS,
1999), a saber a informação, que Santos (2008c) afirma ser o motor da contemporaneidade.
Trata-se como afirma Lemos (2004b, p. 18) “de transformações nas práticas sociais, na
vivência do espaço urbano e na forma de produzir e consumir informação”.
Schaff (1992, p. 32) ao examinar a sociedade informática, e assim, fazendo uma
avaliação das revoluções industriais afirma que a nova revolução industrial “consiste em que
as capacidades intelectuais do homem são ampliadas e inclusive substituídas por autômatos,
que eliminam com êxito crescente o trabalho humano na produção e nos serviços”. Além
disso, o autor considera que “a revolução microeletrônica e a revolução tecnológico-industrial
a ela associada representam apenas um aspecto, embora muito importante, da atual revolução
técnico-científica”. Nesta direção, Pinto (2005, p. 81) contribui no debate ao fazer uma exímia
análise da tecnologia, apresentando as diferentes acepções existentes sobre a técnica e a
tecnologia, revelando que “cada vez mais o homem se exime do trabalho muscular ou o torna
menos penoso, pondo as máquinas para trabalhar para eles.”. Além disso, também afirma que
“o principal proveito tirado dessa desobrigação será dispor de maior soma de conhecimentos,
e portanto de novas e mais numerosas vias de relação com o mundo – as idéias –, que em
conjunto representarão mais energia mental”.
Com a terceira revolução industrial, e com a consolidação do meio técnico-científico-
informacional (SANTOS, 2008a), novas maneiras de perceber, sentir e ler espaço e tempo
emergem, tendo como base a tecnologia21 que se constitui. A partir da terceira revolução
industrial, observa-se o emergir de novas formas de organização da sociedade, que não
extinguem as formas passadas, mas marcam com suas peculiaridades o novo período
histórico.
Limonad (2007, p. 146) afirma que “as novas condições tecnológicas, propiciadas pelo
desenvolvimento da telemática e das novas técnicas de organização e gerenciamento da
produção, têm contribuído para incrementar a fluidez dos fluxos espaciais e setoriais do
21 “A palavra “tecnologia” é usada a todo momento por pessoas das mais diversas qualificações e com propósitos divergentes. Sua importância na compreensão dos problemas da realidade atual agiganta-se, em razão justamente do largo e indiscriminado emprego, que a torna ao mesmo tempo uma noção essencial e confusa. Desde os jornalistas até os filósofos, não há estudiosos dedicado a observar a realidade, onde se destaca ao primeiro relance a forma da produção social, que deixe de usá-la, tendo de permeio os especialistas em todos os modos imagináveis do saber. No entanto, comprova-se imediatamente não existir um conteúdo inequívoco para defini-la. De acordo com o primeiro significado etimológico, a “tecnologia” tem de ser a teoria, a ciência, o estudo, a discussão da técnica, abrangidas nesta última noção as artes, as habilidades do fazer, as profissões e, generalizadamente, os modos de produzir alguma coisa. Este é necessariamente o sentido primordial, cuja interpretação nos abrirá a compreensão dos demais. A “tecnologia” aparece aqui com o valor fundamental e exato de “logos da técnica”. (PINTO, 2005, p. 219)
79
capital, do trabalho, das mercadorias e das informações”. Já Lojkine (1995, p. 11) ao tratar da
revolução informacional afirma que:
Ela é, primeiramente, uma revolução tecnológica de conjunto, que se segue à revolução industrial em vias de terminar. Mas é muito mais que isto: constitui o anúncio e a potencialidade de uma nova civilização, pós-mercantil, emergente da ultrapassagem de uma divisão que opõe os homens desde que existem as sociedades de classe [...].
O espaço diante deste novo período é técnico, científico, informacional, sendo um
produto social (LEFEBVRE, 2008; SANTOS, 2008a, 2008c, 2008e; RIBEIRO, 2000;
EGLER, 2005) e, além disso, torna-se importante para a análise da realidade, ou melhor, o
espaço torna-se categoria indispensável na análise social. Isto porque o espaço é determinante
e produto social. De fato trata-se de uma revolução em todos os sentidos, não só objetiva, mas
também e principalmente subjetiva, ou seja, simbólica, onde a informação ganha importância
na consolidação dos processos socioespaciais.
Nunca houve na história da humanidade um período em que a informação se
difundisse tão rapidamente, alcançando e transformando o tecido social tão energicamente,
como na contemporaneidade. Para tanto, a construção de aparelhos técnicos e de uma
infraestrutura técnica é fundamental para a consolidação da base informacional, tal como se
observa na contemporaneidade, infraestrutura que tem também conteúdo científico. Ou seja,
trata-se de uma condição técnica-científica-informacional (SANTOS, 2008a) que é fruto do
progresso técnico e da capacidade humana de criar máquinas e tecnologias.
O fim do século XV, com o progresso da navegação, a implantação da segurança no mar e a introdução do comércio e da colonização da América recém-descoberta, é um marco importante na transformação do Ecúmeno. O fim do século XIX, com a formação dos grandes impérios, marca um momento fundamental nesse desenvolvimento. A estrada de ferro, o navio a vapor, o telégrafo sem fio, a revolução bancária mudam completamente a noção de distância e, como conseqüência, as escalas de tempo e de espaço. Nessa definição de momentos marcantes da história da humanidade, chegamos à época atual comandada pela revolução científico-tecnológica (SANTOS, 2008a, p. 207).
Não obstante, a constituição técnica promovida pela revolução industrial, a partir do
século XVIII é a mais marcante desde então e a partir da qual se desencadearam novos
processos econômicos, políticos e sociais. A revolução industrial, mais que a constituição de
80
máquinas no processo produtivo inaugurou uma transformação em vários domínios sociais, na
cidade, no campo, na materialidade e na imaterialidade. É certo que a máquina ao ser inserida
no processo produtivo aumentou a velocidade na produção, e consolidou o sistema capitalista.
Todavia, é na dimensão social, sobretudo da cidade, onde as revoluções e as transformações
operadas pelo capitalismo mais se fazem notáveis, sobretudo da revolução informacional.
Como afirmam Borja e Castells (1997, p. 29) “a política da sociedade da informação é
comunicação simbólica expressa conflitualmente no espaço midiático”. Somado a isto, tempo
e espaço enquanto categorias indispensáveis da análise social tornam-se importantes para a
análise de tais transformações sociais, pois se há a construção de tecnologias, e estas são
inseridas no contexto social, logo estamos tratando de um processo que é espaço-temporal.
Todos estes elementos criam uma simbiose que ajuda a refletir sobre o processo de
globalização. Para tanto, é necessário aqui, fazer uma aproximação conceitual do que
entendemos por globalização, que transcende a nosso ver o domínio econômico. Pensar a
revolução industrial, as TICs e sua relação com espaço urbano é, entre outras coisas, trazer ao
debate a questão da globalização, visto que o avanço técnico é nada mais que uma expressão
das necessidades do processo de globalização.
Globalização, afirma Bauman (1999, p. 7), “está na ordem do dia: uma palavra da
moda que se transforma rapidamente em um lema, uma senha capaz de abrir as portas de
todos os mistérios presentes e futuros”. Ora, de fato trata-se de uma senha, mas uma senha
que abre portas somente à uma parcela da população, expressando a natureza contraditória e
heterogênea da globalização, que se pretende homogênea, que Santos (2000) chama de
globalização perversa, onde as formas geográficas difundem a ideologia do capital (SANTOS,
2008f). Neste sentido, é com a evolução das técnicas que a globalização ampliou-se e
transformou a realidade social.
o mesmo tempo, há a necessidade de se pensar a dinâmica da globalização enquanto
um processo que tem implicações concretas tanto na materialidade (construções, máquinas,
ferramentas as mais diversas) quanto na imaterialidade (relações sociais, percepção,
comportamento) social. Além disso, a globalização que através dos mais diversos meios cria
novos objetos e novas maneiras de experienciar tempo e espaço, faz surgir a sensação de
efemeridade, associada a própria questão da modernidade. Neste sentido, segundo Berman
(1986, p. 15) “ser moderno é encontra-se num ambiente que promove aventura, poder, alegria,
crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor [...]”. E a globalização
promove isto.
81
No que se refere ao processo de globalização, Egler (2009, p. 70) afirma que este vai
se realizar “através da invenção de um novo suporte técnico dado pelas TICs que alteram a
dinâmica de realização de fluxos de dinheiro, mercadorias, pessoas e informações que
transformam a dimensão espacial”. E, a dimensão espacial, porquanto produto e condição
social, certamente está sendo transformada face as TICs, que tem nas lan houses em maior
escala e telecentros em menor escala, as bases para a sua maior inserção e apropriação social.
Baudelaire citado por Harvey (2008), afirma que a modernidade se expressa pelo
transitório, fugidio e outros tantos adjetivos, e hoje o que se vive, mais que qualquer outra
época, é uma sensação transitória e fugidia, sendo as atuais tecnologias de informação e
comunicação uma das ferramentas para a promoção de tal sensação. É bem verdade, que
inúmeras são as críticas quanto a esta condição da modernidade, que ao criar uma variedade
de objetos técnicos, cria uma sensação de presentificação exacerbada, e de uma efemeridade
que nunca acaba (RIBEIRO, 2000).
A modernidade se expressou no tecido social pela busca do novo, pela inserção da
máquina no processo de produção de mercadorias, pela industrialização que hoje é global,
pela difusão do modo capitalista de viver e pelo consumismo exacerbado que é a máxima do
atual período histórico (BAUMAN, 1999; GIDDENS, 1991; HARVEY, 2008). Morin (2011,
p. 18) ao falar da modernidade aponta para um momento de crise, onde para ele, “são
característicos dos tempos modernos o desenvolvimento econômico, o mercantil, depois o
capitalista, assim como o começo de uma era planetária com o desenvolvimento das trocas e a
dominação do mundo pelo oeste da Europa”. Não obstante, para Giddens (1991, p. 110) a
““modernidade” refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na
Europa do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua
influência”. No limite, a modernidade expressa uma condição de estar à frente do seu tempo,
ou situado nele. O moderno representa a característica fundamental do que se pensa enquanto
“melhor”, diga-se de passagem, muito criticada, e esta ideologia com a atual fase da
globalização toma maior fôlego, ou como afirma Giddens (1991, p. 69) “a modernidade é
inerentemente globalizante”.
De igual modo, moderno é aquilo que se situa em relação ao antigo, sendo o que há de
mais novo em relação a este último, todavia, nas atuais condições o antigo e o novo vivem
uma relação simétrica e assimétrica simultaneamente. Hoje, o novo surge com uma
velocidade incrível, e torna-se obsoleto na mesma proporção. A este fato, soma-se que nas
82
atuais condições técnicas produz-se sempre o mesmo do mesmo com o título de novo. A
novidade técnica e tecnológica é inerentemente globalizada e moderna.
Novas máquinas e ferramentas são criadas a todo instante, novos aparelhos de
comunicação surgem a cada dia. A cada momento são lançados ao consumo novos produtos,
sobretudo com alta inserção tecnológica, que cria a fantasia do consumo, criando um
espetáculo social (DEBORD, 1997). Celulares, i-phones, ipads, ipods, computadores,
notebooks, netbooks, entre outros, são lançados constantemente, oferecendo aos indivíduos
com os mais diversos padrões aquisitivos, uma infinidade de produtos a serem consumidos.
Ou seja, tal como Marx apontou para o fetiche da mercadoria, pode-se pensar hoje no fetiche
da mercadoria tecnologia que leva ao consumo desenfreado e exacerbado, sem referente
(RIBEIRO, 2005; 2007). Neste sentido, “o consumidor real torna-se consumidor de ilusões. A
mercadoria é essa ilusão efetivamente real, e o espetáculo é sua manifestação” (DEBORD,
1997, p. 33).
Ao mesmo tempo, há produção e consumo exacerbado de imagens e signos
(DEBORD, 1997; LYOTARD, 1986), que por sua vez, tornam-se promotores de um
consumismo sem fim. Tais imagens, próprias ao consumo, tem com as novas ferramentas de
comunicação e informação, especialmente a internet, o meio de difusão mais apropriado, isto
por ser uma forma rápida e simples de divulgação, seja através de sites, redes sociais digitais,
e-mails. Hoje, antes mesmo da difusão da “novidade” acontecer materialmente há uma
difusão imaterial dos produtos, que torna a sua aquisição concreta mais fácil, através de
imagens na rede mundial de computadores, como por exemplo, os empreendimentos
imobiliários. Aguça-se o desejo do consumo pelo que é difundido na internet, através de
imagens. Diante disso, Egler (2003, p. 132) afirma tratar de um espaço numérico onde esse
“espaço numérico é informação cujo suporte técnico é a tecnologia numérica que tem
acessibilidade definida pela imagem”.
Mais do que nunca, a imagem é fundamental, e os atores ativos e passivos , produtores
e consumidores da técnica se utilizam da imagem para difundir ideias, ideologias, consumo.
3.2 TÉCNICA, ESPAÇO E TEMPO NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
As tecnologias de informação e comunicação também apontam para a relação entre
técnica, tempo e espaço, tríade indissociável na análise das relações socioespaciais na
contemporaneidade, isto porque estas categorias são elementos indissociáveis das relações
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humanas, que tem técnicas, que se expressam em um tempo e espaço determinados22. É
verdade que a técnica por si só de nada serve, somente àqueles que criam técnicas (PINTO,
2005; SANTOS, 2008a). Ou seja, a técnica não pode ser analisada como um fim em si
mesmo, como se tudo determinasse, pois na realidade trata-se de um condicionador, e não um
determinador.
Enquanto a técnica ficar no domínio dos seus criadores, dos técnicos estritamente, em
nada beneficiará a sociedade. Esse é um dos grandes entraves para a análise das técnicas, e
com isso da tecnologia. Ou seja, a dissociação entre homem e técnica, entre sociedade e
tecnologia. A separação entre técnica e indivíduo leva a análise para um patamar onde
autonomiza-se a técnica, criando um caráter “divino”.
Afinal, o que é a técnica senão uma produção humana.
A técnica enquanto modo de fazer torna-se também um meio de pensar, de trabalhar,
de agir. A técnica tem uma ideologia (HABERMAS, 1994) e se constitui enquanto um
processo histórico. A tecnologia, por sua vez, enquanto a condensação de técnicas apresenta-
se como um estágio superior da dimensão técnica. Todavia, o avanço da técnica se sobrepõe a
diversos outros processos, até mesmo sociais, isto porque a técnica enquanto dimensão
laboratorial tem um estágio de produção avançada, que muitas vezes está deslocada da
realidade social.
Não obstante, há a possibilidade de inserção da técnica no contexto social, como é
possível observar ao longo da história humana, e a própria globalização da economia é fruto
da inserção social da técnica. Por exemplo, a fluidez do capital hoje, foi permitida, entre
outras coisas, graças ao avanço tecnológico das formas de comunicação e de transmissão da
informação.
o limite, vive-se numa conjuntura onde a técnica e mais ainda a tecnologia toma uma
dimensão jamais imaginada, na qual a técnica criou um condicionamento e para muitos uma
dependência inigualável. Ao mesmo tempo há nessa conjuntura uma apropriação social das
tecnologias que promove em alguns grupos sociais, sobretudo crianças, jovens, adolescentes e
aqueles muito envolvidos com tecnologias, uma mudança nos códigos comportamentais,
sobretudo face às novas maneiras de experienciar a realidade. Novos imaginários, novas
22 As relações humanas se expressam num tempo e espaço determinados (re)modelando o território. Milton Santos (2008a) chama esta dinâmica de rugosidades, onde por meio das formas geográficas é possível observar a materialização espaço-temporal da sociedade. Trata-se como afirma Levy (1999) de uma cristalização temporal por meio da técnica. E aqui colocamos além do tempo, o espaço e o território, onde se observa a condensação das condições e contradições objetiva/subjetiva das relações sociais.
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percepções, novas formas de conceber a realidade, novas formas de conceber e perceber
espaço e tempo.
Santos (2008e) ao contribuir para o estudo da Geografia e mais ainda, para a
delimitação do objeto de estudo próprio da Geografia, introduz a técnica como categoria
necessária à compreensão do espaço, que para o autor é o objeto de estudo da referida ciência.
De acordo com o Milton Santos “a técnica é a grande banalidade e o grande enigma, e é como
grande enigma que ela comanda nossa vida, nos impõe relações, modela nosso entorno,
administra nossas relações com o entorno” (2008d, p. 20).
Nesta direção, para Heidegger (2009, p. 66), falando sobre o humanismo, “em sua
Essência, a técnica é um destino – instaurado na História do Ser – da Verdade do Ser relegada
do esquecimento”. Ora, ao produzir espaço, a sociedade produz técnicas, e produz o espaço
por meio do uso das técnicas23. Tudo isso de modo histórico, temporal. Para tanto, é preciso
compreender o tempo nesta dinâmica, pois se se trata de um processo, este já indica uma
historicidade e, por isso, uma temporalidade.
A evolução da espécie humana é fruto desse movimento perpétuo e infindável, sendo a técnica responsável pela criação da segunda natureza – a cultura – num processo de desnaturalização do homem. Os objetos técnicos formam uma espécie de ecossistema cultural, onde a naturalização do artifício modifica o meio natural, da mesma forma que o meio natural vai impondo limites à atividade humana. Esta naturalização de objetos técnicos impulsiona uma progressiva artificialização do homem e da natureza, sendo mesmo impensável a existência do homem e da cultura fora desse processo (LEMOS, 2004a, p. 31).
Não obstante, a apropriação técnica ocorre de maneira desigual, isto é, a ideia de
homogeneidade embutida na globalização insere-se também quanto a questão técnica24.
Evidentemente, a difusão da técnica sempre foi seletiva, como o próprio processo de
globalização, fazendo surgir o que Milton Santos (2008d) chama de espaços luminosos e
espaços opacos. E hoje, no contexto das atuais tecnologias de informação e comunicação estas
23 “Se o espaço é sistema de objetos e sistema de ações, o território é a dimensão materializada do espaço e, portanto, onde a dialética materialidade – imaterialidade, sempre presente na ação, adquire maior concretude. Nesta dimensão, a técnica é imediatamente ação, na medida em que se trata da ciência da vida, da sabedoria dos que não abstraem as imposições imediatas do existir.” (RIBEIRO, 2005, p. 12460) 24 “Já na face do pensamento dominante que se traduz em promessas de inclusão social através do mercado, a fragmentação do corpo é ocultada mediante a articulação da técnica, tomada como garantia de acesso ao futuro, ao empenho individual, que inclui o extremo cuidado com a aparência e o compromisso com valores tradicionais.” (RIBEIRO, 2009, p. 5).
85
características se exacerbam. Ao mesmo tempo, procura-se na técnica a solução para todos os
problemas contemporâneos, dotando as técnicas de uma capacidade de independência e
determinação no trato das mais diversas questões.
Além disso, essas relações se traduzem no espaço, que se torna fundamental para as
técnicas, pois além de ser a base das técnicas é também o meio pelo qual esses elementos
tornam-se possíveis. De acordo com Santos (2008a, 2008b, 2008c) o espaço condensa
necessariamente e de forma indissociável um sistema que contém objetos e ações. Tais
objetos são também técnicos e induzem às ações predeterminadas e outras que surgem ao
longo do seu uso.
O esforço de Santos (2008a) para definir o espaço enquanto objeto da Geografia
introduz como já apontado anteriormente, a técnica nesta análise. De cunho marxista, o
espaço surge enquanto produto social, e por isso, trata-se de relações socioespaciais
historicamente determinadas. Igualmente, se o espaço é historicamente determinado e,
expressa as condições sociais de um dado período, logo, o tempo é um categoria inerente ao
espaço, não havendo possibilidade de pensar espaço sem o tempo e vice-versa, mesmo que o
processo de globalização tenha essa ideologia25.
Norbert Elias (1998) ao tratar do tempo apresenta significativa contribuição no sentido
de mostrar como o tempo tornou-se um elemento historicamente determinado e, por isso, um
componente social, ou seja, o tempo é uma categoria social, materializada e cristalizada
através das formas. Por outro lado, para Harvey (2008) espaço e tempo são “categorias
básicas da existência humana”, que hoje em face da evolução técnica de transporte de
indivíduos, objetos e principalmente informações, aponta entre outras coisas para uma
supressão do espaço pelo tempo. Neste sentido, o exame das TICs exige a análise o espaço e
tempo como categorias essenciais do ser social, da produção social.
O tempo também, associado ao trato das TICs, passa a ter a dimensão da
instantaneidade. Isto é, tempo zero ou tempo mínimo é exigido, tanto no que se refere às TICs
quanto no tocante ao processo produtivo. As trocas hoje estão ocorrendo numa escala de
tempo cada vez menor, o que faz surgir uma instantaneidade sem profundidade, tal qual nos
25 Outra ideologia muito difundida pelo atual processo de globalização é a de que o espaço seria aniquilado pelo tempo. Massey (2009, p. 137) afirma que: “As confusões que existem dentro das imaginações dos tempo-espaços da globalização em curso situam-se, provavelmente, em sua forma mais aguda (e, ironicamente, menos notada) na cômoda coexistência da visão de que esta é a era do espaço, com a contraditória, mas igualmente aceita, noção de que esta é a era na qual o espaço será, finalmente, aniquilado pelo tempo, cumprindo a velha profecia de Marx”.
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fala Massey (2009), onde há uma aparente aniquilação do espaço pelo tempo, que nada mais é
do que mais uma fábula da atual globalização.
Assim como o tempo não pode, de maneira adequada, ser conceituado sem um reconhecimento das multiplicidades (espaciais) através das quais ele é gerado, também o espaço não pode ser imaginado, de forma adequada, como a estase de uma instantaneidade sem profundidade, totalmente interconectada (MASSEY, 2009, p. 119).
Para tanto, técnica, espaço e tempo, tal qual já nos revelava Milton Santos (2008d)
através de seus artigos, são elementos e categorias indispensáveis a análise social. E mais
precisamente a análise da atual conjuntura socioespacial, onde há uma tecnicização cada vez
mais exacerbada das relações de produções, implicando em transformações espaciais e
temporais definidas. Trata-se de reconhecer como a sociedade produz seu espaço através do
tempo e como em função dessa produção, as maneiras de perceber tempo e espaço são
transformadas. E não apenas no domínio da percepção, mas também como os códigos
comportamentais, as relações sociais, como as normas sociais e as formas de sociabilidade
foram e são alteradas em decorrência das transformações no domínio da técnica, do espaço,
do tempo, e principalmente, em decorrência da apropriação social da técnica que faz
transformar todas as normas, relações e códigos sociais.
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4 LAN HOUSE E TELECENTRO EM PALMAS: ENTRE O PÚBLICO E
O PRIVADO
4.1 LAN HOUSE: DA MORFOLOGIA AO USO
A internet é um novo meio de comunicação que transforma o espaço concreta e
subjetivamente e cria novas maneiras de perceber tempo e espaço transformando assim os
contornos sociais. De igual modo, a cidade e o urbano são transformados face a inserção, uso
e apropriação da internet, não se tratando, como muitos visionários acreditam, da formação de
uma nova cidade, ou de uma cibercidade da e para a tecnologia. Nesta direção Figueiredo
(2010, p. 51) argumenta que a cidade “ainda existe como um “cenário” para práticas
cotidianas, porém ela vem acompanhada de uma descaracterização do que é um lugar social”.
Segundo a autora, por exemplo, “uma praça onde as pessoas se conectam a internet deixa de
ser um lugar físico social e passa a ser um lugar virtual social”. Ou seja, há sim a formação de
ágoras virtuais (LÉVY, 2007).
Contudo, a internet faz surgir novos espaços, bem como a (re)funcionalização de
outros, que são adaptados em função da dinâmica da internet. As cidades neste contexto
passam a ser essenciais para a dinâmica do ciberespaço, da internet. Nelas são criados espaços
e muitos outros são reestruturados, em função das exigências do atual período histórico, onde
a internet tornou-se um dos motores das trocas, da dinâmica social. Para tanto, as lan houses
enquanto elemento material, técnico e social fazem parte desta nova dinâmica urbana,
sobretudo nas periferias urbanas. São espaços de acesso ao mundo virtual digital (OLIVEIRA,
2003), cada vez mais populares nas cidades e periferias brasileiras.
A constituição da infraestrutura técnica tornou-se a condição básica para a
popularização da internet. A expansão da internet banda larga, a facilidade de aquisição do
computador26, o aumento do poder de consumo da classe C, entre outros, possibilitaram mais
ainda a popularização da internet. Entretanto, mesmo com todos estes processos, ainda não há
homogeneidade no acesso a internet, tampouco com relação a posse do computador. Contudo,
alguns empreendimentos comerciais contribuem enormemente para o acesso a internet
26 “[...] Depois do PC (computador pessoal) isolado dos anos 60-70, da popularização da internet fixa com o CC (computadores coletivos) nos anos 80-90, estamos vendo, no começo do século 21, a emergência da era do CCm (computadores coletivos móveis)”. (LEMOS, 2004, p. 40)
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daqueles que não têm computador ou não dispõe de acesso a internet residencial. Tais
empreendimentos são denominados de lan houses ou cibercafés27.
De acordo com Moreira, Borges e Magalhães (2007) em artigo no jornal Valor
Econômico, as lan houses antes localizadas em bairros, cuja população tem maior poder
aquisitivo, migram para a periferia, servindo como ponto de lazer e fonte de renda. Porém,
mais que fonte de lazer e renda, a lan house inaugura, mais que o telecentro, o processo de
popularização do acesso a internet.
De acordo com o CGI28 (2010, p. 18), os empreendimentos de tipo lan house
desenvolveram-se principalmente nos locais onde a população do país é mais carente de acesso à infraestrutura da Internet e, por consequência, está privada de todos os benefícios oriundos do seu uso. Prova disso é a experiência de uso nas lanhouses ser muito mais incidente nas faixas menos escolarizadas da população e nas camadas desfavorecidas economicamente: classes sociais mais baixas e faixas de renda inferiores.
As lan houses são um fenômeno de grande expressão no Brasil, e que tem maior
notoriedade hoje nas áreas cuja população tem menor poder aquisitivo, muito embora tenha
sido um empreendimento localizado, em seus primórdios nas áreas centrais das cidades. Por
ser um tipo de comércio onde o custo ao consumidor é baixo, e pela expansão da internet de
tipo residencial e da atual facilidade de posse do computador, as lan houses têm sido mais
comuns nas áreas de baixo poder aquisitivo. Finquelievich e Prince (2007, p. 19), ao
realizarem investigação sobre as lan houses e cibercafés, apontam que este tipo de
empreendimento é um fenômeno
[...] que não se limita somente a Argentina: o número crescente de Lan Houses (locais comerciais que facilitam o acesso a Internet em rede, semelhantes a cibercafés, onde as pessoas podem pagar para usar um computador com acesso à Internet e a uma rede local, com o objetivo fundamental de jogar em rede) em favelas e periferias urbanas revela a
27 Aqui usaremos o termo lan house por ser o nome mais comum dentre os empreendimentos desta natureza. 28 Comitê Gestor da Internet. Foi criado pela Portaria Interministerial nº 147, de 31 de maio de 1995 e alterada pelo Decreto Presidencial nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no país, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Composto por membros do governo, do setor empresarial, do terceiro setor e da comunidade acadêmica, o CGI.br representa um modelo de governança na Internet pioneiro no que diz respeito à efetivação da participação da sociedade nas decisões envolvendo a implantação, administração e uso da rede. Com base nos princípios de multilateralidade, transparência e democracia, desde julho de 2004 o CGI.br elege democraticamente seus representantes da sociedade civil para participar das deliberações e debater prioridades para a internet, junto com o governo. Disponível em: www.cgi.br
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emergência deste novo nicho, não só de acesso à Internet para consumir bits, mas também de produção audiovisual.
De acordo com Mateus (2006, p.3) lan house é “um local, aberto ao público em horas
predefinidas como qualquer outro estabelecimento comercial, onde as pessoas pagam para
utilizar um computador ligado em rede e com acesso à Internet”. Além disso, de acordo com o
CGI (2010, p.11) “as lanhouses constituem uma oportunidade para a participação cidadã e
para o trânsito no mundo cultural, educacional e de lazer, por meio das tecnologias de
informação e comunicação (TICs).”. Ao mesmo tempo, esses empreendimentos expressam
uma dinâmica mais complexa, a saber, da globalização, cuja cara geográfica, se expressa
através do meio técnico-científico-informacional (SANTOS, 2008a).
Contudo, o fenômeno das lan houses não é apenas brasileiro, como podemos observar
no caso da Argentina. Ao contrário, inúmeros países dispõem de estabelecimentos com as
mesmas finalidades, muitos deles sendo chamados de cibercafés (Finquelievich & Prince,
2007). No entanto, em diversos outros países existem cibercafés. Por exemplo, na China,
segundo reportagem do portal R7 do dia 07/04/2010, existem 81 mil lan houses no país. Em
outra reportagem, agora do Jornal Nacional29, de 18/03/2010, é apontado que “No Japão, as
lan houses estão se tornando a casa de muita gente – literalmente. Além de conexão
superrápida com a internet, muitos desses locais já oferecem camas, comida, bebida e até
banheiro com chuveiro para os usuários”.
Na Coréia do Sul, por exemplo, há uma regulação quanto ao período de uso, sobretudo
no que se refere ao jogo, ficando limitado a 4 horas por dia, segundo informação do site
Techtudo30, vinculada ao portal globo.com. Na China, segundo determinação do governo, as
lan houses “que atenderem três ou mais clientes menores de idade terão suas licenças
revogadas. A regra é mais uma tentativa do governo chinês em manter um controle maior do
uso da internet no país”31. No Brasil há política parecida em algumas cidades como São
Paulo, Rio de Janeiro, Palmas, onde há leis que regulam o uso das lan house não apenas por
menores, mas também por adultos, numa tentativa de controlar os crimes cometidos por meio
digitais. No entanto, bem diferente do Brasil, na China as lan houses são bem maiores e bem
mais frequentadas por indivíduos de todas as classes (figura 13).
29 Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1535715-6174,00-LAN+HOUSES+DO+JAPAO+JA+OFERECEM+CAMA+COMIDA+E+ATE+BANHEIRO+COM+CHUVEIRO.html 30 Disponível em: http://www.techtudo.com.br/jogos/noticia/2012/02/gamers-na-coreia-do-sul-poderao-jogar-apenas-4-horas-por-dia.html 31 Disponível em: http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/china-aumenta-restricoes-para-o-uso-de-lan-houses-20100407.html
90
Figura 13: Lan House na China: há mais chineses conectados na rede do que habitantes nos Estados Unidos
Fonte: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1007/noticias/emergentes-2-0
Nesta direção, a lan house apresenta-se enquanto um mediador de acesso à internet.
Ou seja, por ser um empreendimento que comercializa o acesso à internet, a lan house torna-
se a porta de entrada daqueles que não têm acesso residencial ao ciberespaço. Vale lembrar
que a lan house tem diferentes características e funcionalidades a depender da localidade onde
estiver instalada, servindo até mesmo como lugar de encontro e de prática da sociabilidade.
Ao mesmo tempo, verifica-se que no caso da cidade de Palmas existem tanto lan
houses cadastradas junto a Prefeitura, como muitas lan houses que não estão regularizadas.
Aliás, alguns dos proprietários reclamam bastante da burocracia existente para a legalização
dos empreendimentos, face a burocracia dada pela Lei nº 1636, de 23 de Setembro de 2009,
que impõe uma série de obrigações aos proprietários desse tipo de empreendimento, que
muitas das vezes torna-se inviável, sobretudo pelo fato de que as lan houses, em determinadas
áreas da cidade, principalmente nos bairro mais populares é um empreendimento onde o
proprietário e os atendentes conhecem a maior parte dos usuários. Todavia, esta é a realidade
de parcela significativa deste tipo de empreendimento no Brasil. Segundo a Ong CDI (Comitê
para a Democratização da Informática), nove em cada 10 lan houses estão na ilegalidade32.
Vale lembrar que as lan houses são um tipo de empreendimento onde os proprietários
utilizam parte do terreno residencial (figura 14) no caso da periferia, enquanto que no caso
das lan houses situadas no centro são mais funcionais, inclusive na sua localização (figura
15).
32 Disponível em: http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/nove-em-cada-dez-lan-houses-estao-ilegais-no-brasil-20100718.html
91
Figura 14: Lan houses na periferia da cidade de Palmas: compartilhamento do espaço da casa entre a habitação e o empreendimento comercial
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012 Figura 15: Lan house no centro de Palmas comumente chamada de cyber café
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012
É bem verdade que as lan houses se configuram, na contemporaneidade como um
canal de acesso facilitado à internet, sobretudo nas periferias urbanas, já que o valor cobrado
pela hora acessada é bastante acessível. Diferentemente, no centro das cidades o valor
cobrado em geral é mais elevado. Segundo dados da Teleco os centros públicos pagos de
acesso à internet, a saber as lan houses, figuram o segundo maior meio de acesso à rede
mundial de computadores, ficando atrás apenas do acesso residencial.
92
Tabela 6: Local utilizado para acesso pelos usuários de Internet
Local de acesso (%) PNAD 2005 2005* 2006* 2007* 2008 2009 2010
Em casa 50,0% 42% 40% 40% 42% 48% 56%
Local de trabalho 39,7% 26% 24% 24% 21% 22% 22%
Na escola 25,7% 21% 16% 15% 14% 14% 14%
Casa de outra pessoa - 18% 16% 24% 22% 26% 27%
Centro público de acesso gratuito 10,0% 2% 3% 6% 4% 4% 4%
Centro público de acesso pago 21,9% 18% 30% 49% 48% 45% 35%
Outro local 31,1% 4% 2% 2% 0% 0% 3%**
*não inclui área rural do Brasil ** por telefone celular Fonte: http://www.teleco.com.br/internet_usu.asp
Note-se que há um crescimento substancial entre 2005 e 2007 no acesso à internet em
centros públicos pago, havendo um decréscimo a partir de 2008, o que explica a redução no
valor cobrado pelo acesso nas lan houses inclusive naquelas situadas na periferia. Aliás, vale
lembrar que esse período expressa também a migração maciça desses empreendimentos para
outras áreas da cidade, sobretudo mais populares, havendo também uma redução de lan
houses e cibercafés nos centros das cidades, bem como uma (re)funcionalização desses
empreendimentos. No entanto, esse espraiamento para a periferia das cidades, constituindo
uma nova geografia das lan houses, segue-se com certa “irregularidade fiscal”. Em Palmas, as
lan houses regularizadas concentram-se principalmente nas áreas do centro da cidade ou nas
redondezas do centro, e as irregulares nas áreas periféricas, o que não quer dizer que na
periferia somente existam lan houses irregulares.
Neste sentido, é interessante notar que em Palmas, as lan houses têm uma dinâmica
bem semelhante às demais capitais brasileiras no que se refere ao crescimento, decréscimo e
migração para a periferia. Essa parte da história das lan houses em Palmas é contada por
André Lindemberg, que revelou que:
“Lan house em Palmas teve uma ascensão e queda. Sendo que as primeiras lan houses foram empresas de informática que implantaram esse serviço, sendo que tinham a empresa e uma segunda empresa seria a lan house. Isso expressou uma fase de transição, já que quase ninguém tinha acesso à internet. Mas houve também uma explosão
93
muito grande e muitos montaram e a concorrência aumentou e o preço caiu e muitas dessas empresas fecharam. Antes de 2000 o máximo que conseguia era acesso em escolas de informática, mas não nos padrões de lan house” (entrevista concedida em 02/10/2010).
Ao mesmo tempo em que há um número elevado de lan houses na periferia da cidade
de Palmas, há uma diferenciação entre os regularizados e os irregulares que se expressa entre
outras coisas, pela sua localização. Isto é, os regularizados se situam nas áreas mais
valorizadas da cidade e no centro mais precisamente, conforme se verifica através do Mapa 1,
enquanto que as lan houses irregulares, geralmente, estão em áreas cuja fiscalização não é tão
constante.
94
Figura 16 Mapa de localização das lan houses regularizadas em Palmas – TO
Fonte: Prefeitura de Palmas/IBGE. Adaptado por Costa, Aldenilson e Silva, Ricardo Sierpe da.
Até mesmo a estrutura do empreendimento difere do centro para as áreas mais
periféricas, inclusive se o empreendimento for regularizado ou irregular (Figura 16).
95
Figura 17: Na primeira imagem (a direita) temos uma lan house no centro de Palmas, e na segunda imagem (a esquerda) temos uma lan house em quadra na área noroeste da cidade que faz parte da periferia de Palmas.
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012
É bem verdade que a dicotomia centro-periferia não consegue mais contemplar, nem
explicar a totalidade dos processos, inclusive, como afirma Borges (2009, 222) “é preciso
superarmos a visão que opõe a periferia ao centro.” Até porque, segundo o autor, “a periferia
é atualmente atendida por uma infra-estrutura que não necessariamente a coloca em destacada
desvantagem ou atraso em relação ao centro”. Nesta direção, as lan houses situam-se numa
posição privilegiada, na medida em que expressam um movimento de estruturação
informacional da periferia, permitindo uma ligação cada vez maior dos indivíduos do lugar
com o global.
Finquelievich e Prince (2007, p. 44-5) apontam que:
A realidade atual dos países em desenvolvimento parecem indicar a importância dos cibercafés como atalhos para a integração na sociedade do conhecimento. É muito possível que sejam gradualmente deslocados pelo avanço da banda larga em residências, Wi Fi e Wi Max, telefones celulares, o uso de tecnologias sem fio em geral. Além disso, é desejável que assim seja, que a tecnologia na Sociedade do Conhecimento seja tão difundida que o papel dos centros privados de acesso público á Internet seja relativamente menos em termos quantitativos, mas reconhecendo que seguirão prestando um serviço para os grupos menos favorecidos, assim como os transeuntes (tradução nossa).
Ao mesmo tempo, a lan house na periferia insere uma (re)organização do comércio
local, isto porque tornou-se numa fonte de renda tanto para aqueles que já tinham comércio,
96
como no caso de proprietários de locadoras de filmes, bares e papelarias, como para aqueles
indivíduos que não tinham tradição comercial, que utilizam parte da residência para a
instalação do empreendimento.
Todavia, vale lembrar que a grande maioria das lan houses cadastradas em Palmas não
estão em áreas de grande densidade populacional, como se observa no mapa 2. Ao contrário
são os empreendimentos irregulares que se localizam, em sua maioria, em áreas de grande
densidade populacional. Porém, vale dizer que aqueles empreendimentos do tipo lan house
que são regularizados, situados em áreas de grande densidade populacional, em geral, estão
nas áreas mais valorizadas dos bairros periféricos, que geralmente são que expressam maior
centralidade.
97
Figura 18: Mapa de localização das lan houses segundo a densidade populacional de Palmas – TO
Fonte: www.palmas. to.gov.br. adaptado pelo autor
98
Por meio de dados do CGI sobre lan houses (2010), observa-se que dentro da
amostragem utilizada na referida pesquisa, 49% afirmaram haver algum tipo de formalidade,
sendo que 80% das lan houses classificaram-se como negócio familiar.
Esses dados, analisados comparativamente com a realidade de Palmas, ajudam a
explicar o motivo de alguns desses estabelecimentos estarem situados em parte do terreno
residencial do proprietário da lan house.
Além disso, a pesquisa de campo realizada em lan houses de Palmas revelou que as
diferenças entre os empreendimentos situados no centro e na periferia da cidade se expressam
também no valor cobrado pela hora de acesso (tabela 7). Aliás, o valor cobrado também diz
respeito a localização e infraestrutura do empreendimento, e ainda se o espaço em que
funciona é alugado ou próprio.
Tabela 7: Valor médio cobrado pela hora de acesso em 2011 em lan houses de Palmas – TO
Localização da lan house Hora de acesso
Área Norte 1,50
Área Sul 1,70
Centro 2,00
Todos esses elementos ajudam a compreender a internet, bem como a expansão e
redução das lan houses na cidade e nos bairros de Palmas. Isto porque, como já indicado
anteriormente, no início do século XXI, quando da expansão da internet e sua popularização,
as lan houses se concentravam no centro, praticando valores relativamente elevados. Contudo
com o passar do tempo, com a facilidade de compra do computador somada a política do
governo federal de popularização da Banda Larga33, houve uma redução dos usuários de lan
houses no centro, passando estes empreendimentos a se situarem em áreas mais populares.
33 Essa política começa a se consolida com a formalização do Livro Verde (TAKAHASHI, 2000) que consiste numa coletânea com as metas de implementação do Programa da Sociedade da Informação no Brasil. Hoje há um Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) que consiste num programa criado pelo Decreto nº 7.175, de 12 de maio de 2010, cujo “objetivo do Programa é expandir a infraestrutura e os serviços de telecomunicações, promovendo o acesso pela população e buscando as melhores condições de preço, cobertura e qualidade. A meta é proporcionar o acesso à banda larga a 40 milhões de domicílios brasileiros até 2014 à velocidade de no mínimo 1 Mbps” (disponível em: http://www.mc.gov.br/acoes-e-programas/programa-nacional-de-banda-larga-pnbl)
99
A pesquisa revelou também que na periferia da cidade de Palmas as lan houses têm
outras características, outro perfil de usuário e usos diferenciados. Esse dado foi possível
obter por meio de informações oriundas de questionário aplicado em 36 usuários de lan house
em Palmas, sendo que a aplicação do questionário levou em consideração a divisão
objetiva/subjetiva da cidade, contemplando assim as áreas Sul, Norte e o Centro34.
No que se refere a idade dos usuários, obtivemos os seguintes dados:
Tabela 8: Idade de usuários de lan house em Palmas
Idade
Localização 12 a 17 18 a 25 26 a 30 31 a 35 36 a 40 41 a 50
Área Norte
38% 54% 8% - - -
Área Sul 46% 54% - - - -
Centro - 50% - 20% 20% 10%
Conforme se verifica nas lan houses situadas na periferia de Palmas há um predomínio
de jovens e adolescentes, o que aponta para a necessidade de atentarmos para os usos feitos
nas lan houses. É bem verdade que essa realidade se reporta ao Brasil como um todo.
Segundo dados do CGI (2010, p. 24) sobre as lan houses: “a grande maioria das
lanhouses (95%) reportou frequência média ou intensa de jovens entre 16 e 24 anos; 82%
indicaram frequência média ou intensa de indivíduos entre 25 e 34 anos”.
34 Vale lembrar que não foi levada em consideração quando da aplicação dos questionários a regularidade fiscal da lan house, mas priorizou-se o princípio de formação da cidade, que tem um plano básico central, e uma periferia que existe desde o início da cidade em função da política governamental de impedir que os indivíduos de baixo poder aquisitivo tivessem acesso às quadras do plano básico. Para tanto, a fim de obter-se uma amostra das três grandes áreas da cidade, foram aplicados questionários nas áreas norte, sul e central de Palmas.
100
Figura 19: Crianças e adolescentes na Lan house
Fonte: http://gritosinocentes.blogspot.com.br/2011/08/uso-de-lan-house-por-criancas-e.html
Outra característica das lan houses no Brasil, e em Palmas é que não há muita
durabilidade destes empreendimentos com o mesmo proprietário, sobretudo em função da
expansão do acesso à internet residencial, a partir de 2008 principalmente. Além, é claro da
pequena rentabilidade promovida pelo empreendimento, segundo revelaram alguns
proprietários.
Por meio de entrevista35 realizada com alguns proprietários deste tipo de
empreendimento em diversas áreas de Palmas pode-se perceber que há certa incredulidade no
tocante a rentabilidade da lan house, o que ajuda a compreender a pouca durabilidade de
muitos desses empreendimentos:
“Lan house já foi uma coisa que dava renda. Antigamente. Porque cada vez mais o computador e a internet estão mais acessíveis. E eu pretendo manter a lan house até terminar a graduação, e depois que concluir a graduação pretendo vender e montar outra coisa”. W.C. 19 anos
“Lan house é só um passatempo. O videogame ainda está dando lucro, mas a lan house não dá mais”. L.A. 29 anos
“Quando eu abri há 3 anos atrás, havia uma expectativa muito grande, em função da necessidade que havia. Hoje a necessidade é mais na questão de serviços, de coisa rápida, mandar e-mail, imprimir, porque
35 As entrevistas constituíram a segunda etapa da pesquisa, onde levamos em consideração o mesmo princípio que o dos questionários, isto é, levamos em consideração a divisão objetiva/subjetiva da cidade de Palmas, o que nos levou a entrevistas proprietários de lan houses nas áreas Sul, Norte e no Centro. Todavia, o princípio da regularidade fiscal não foi determinante, o que evidentemente implicou na escolha de lan houses cadastradas ou irregulares.
101
a maioria das pessoas tem computador e internet em casa, mas não tem os serviços que temos aqui”. Z.C. 21 anos.
“Não trabalho apenas com lan house. Lan house é o “chama”, mas o produto forte mesmo é Xerox, cartão, foto, currículo, fax, etc. E trabalho com ele porque é um ramo defasado sem muita gente especializada para atender as pessoas que querem o problema solucionado de forma rápida”. J.M. 24 anos
Além disso, uma das grandes dificuldades que alguns dos proprietários indicaram diz
respeito a manutenção do empreendimento. Segundo os proprietários, não há um lucro
extraordinário com o empreendimento, face ao elevado custo de manutenção seja com relação
as máquinas seja com relação a velocidade de internet necessária para o melhor
desenvolvimento da lan house.
“A grande dificuldade é a manutenção dos computadores. Além disso tem o calor, que influencia na manutenção. Pode até haver muito lucro, mas o gasto também é muito elevado”. W.C. 19 anos.
“A dificuldade é a facilidade de aquisição da internet e do computador, o que faz com que a procura pela lan house diminua”. J.R. 42 anos.
“A dificuldade está na energia que é muito cara, e quanto mais potente o computador, mais energia consome”. L.A. 29 anos.
“A dificuldade é o fornecimento da internet de qualidade. Principalmente no que se refere à velocidade, eu precisava de no mínimo 8gb, e só está disponível para nós 4gb”. Z.C. 21 anos.
“Dificuldade é só com relação à regularização, alvará, habite-se, etc.”. J.M. 24 anos
Outro ponto que alguns apontaram como uma barreira para o sucesso do empreendimento é a
lei sancionada pela Prefeitura de Palmas que cria algumas regras para o uso da lan house. A Lei nº
1636, de 23 de setembro de 2009, que dispõe sobre lan houses e cibercafés, exige, entre
outras coisa, que para o uso do estabelecimento seja realizado cadastro do usuário, que deve
ser atualizado periodicamente; não permissão de acesso a menores de 18 anos após as
22h00min, bem como de todos os menores de 12 anos em qualquer horário sem a presença
dos pais ou responsáveis e de estudantes em horário escolar ou com uniforme em qualquer
horário. Isto para alguns proprietários representa uma das dificuldades do empreendimento,
inclusive alguns apontaram pontos negativos e positivos dessa lei.
“Os pontos negativos da lei é que depois das 20:00h não pode entrar menores de 18 anos, não pode entrar aluno em horário escolar e com
102
uniforme escolar, e muitas vezes os alunos vêm para fazer trabalhos e não pode entrar. E também muitas mães vêm deixar os filhos na lan house até elas buscarem. Eu não vejo nenhum ponto positivo na lei”. W.C. 19 anos
“A lei é boa, pois com ela os pais acreditam mais no que falamos, e não vejo pontos negativos”. J.R. 42 anos
“Eu soube mais ou menos dessa lei. Eles querem que tenhamos um programa que cadastre com CPF, identidade, para que se a pessoa estiver fazendo uma coisa errada seja possível identificar. Mas lan house é uma coisa para ser livre. A pessoa vem e não quer saber de fazer cadastro. Ela usa para o que não pode fazer em casa. Se realmente a pessoa fizer algo errado, como rackear alguém, é possível identificar. E negativo é porque como a lan house é um lugar para ser livre, é um ponto de encontro, para encontrar amigos que em casa você só tem o contato pela internet, e na lan house há o contato físico, e na lan house você pode ver alguma coisa, estar jogando e chama a outra pessoa para jogar contigo, ficar naquela brincadeira”. L.A. 29 anos
“O cadastro é um ponto positivo da lei para aqueles que usam no mínimo 15 minutos. Na verdade para nós não têm muita vantagem. Tem por questão de segurança, saber quem usou a máquina, mas às vezes dificulta um pouco porque não é todo mundo que aceita chegar e preencher um cadastro enorme”. Z.C. 21 anos
“Os pontos negativos da lei são em relação a faixa etária estipulando o tempo que a pessoa tem no período de escola para acessar a internet, e depois de uma certa hora nem com os pais pode-se usar. Enfim, não vejo nenhum ponto positivo”. J.M. 24 anos
Estes elementos, e outros mais, revelam que a lan house enquanto empreendimento comercial
tem dificuldades como qualquer outro empreendimento. Isto também é um passo no sentido de
entender o motivo pelo qual esse tipo de empreendimento muda de dono facilmente, não havendo
muita durabilidade com o mesmo proprietário na maioria dos casos.
Segundo a pesquisa do CGI (2010, p. 18) sobre este tipo de empreendimento, observou-se que
dentro da amostra utilizada pela pesquisa, com relação ao tempo de funcionamento do
empreendimento.
31% das lanhouses pesquisadas funcionam há menos de um ano, enquanto outros 27% funciona entre um e dois anos. A maioria das lanhouses está em funcionamento há até dois anos, período crítico do ciclo de vida do negócio, e carecem de auxílio e incentivos para que sejam viáveis economicamente no médio e longo prazo. (grifo nosso)
Trata-se de um empreendimento que em geral não consegue permanecer no mercado
por muito tempo, seja formal ou informal. Contudo, este tipo de empreendimento tem sido a
ponte de acesso a rede mundial de computadores à população de baixo poder aquisitivo
103
(SANTOS FILHO, 2005; MAGALHÃES E GARCIA, 2008), e que muitas vezes até dispõe
de computador, mas que ainda não dispõe de acesso à internet residencial. Ao mesmo tempo,
como veremos mais adiante, a lan house não é utilizada somente pelos que não dispõem de
internet residencial, mas em menor grau, há também indivíduos que utilizam a lan house para
os serviços oferecidos para além do acesso à internet.
4.1.1 Os usos na/da lan house
Os usos feitos nas lan houses em Palmas são múltiplos, sendo claramente distintos
quando se trata de lan houses localizadas no centro e na periferia da cidade e da existência ou
não de jogos online. Não há uma apropriação social homogênea deste tipo de
empreendimento em todas as áreas da cidade de Palmas. Ao contrário, a localização do
empreendimento também determina os usos que são feitos da/na lan house e o perfil de
usuário.
Em geral, as lan houses do centro de Palmas são utilizadas por indivíduos que
possuem computador e internet residencial, servindo como um comércio cujos produtos são
apenas adquiridos, e com isso, consumidos, não havendo ligação alguma entre proprietário e
usuário, senão a relação comercial. Normalmente trata-se de um empreendimento cujos
usuários são adultos. Além disso, o jogo não é tão comum em algumas das lan house situadas
no centro, o que faz com que o estabelecimento seja puramente funcional. Enquanto isso, na
periferia o público mais comum é de adolescente. Contudo, um fato comum entre as lan
houses é que tanto na periferia quanto no centro da cidade não se limitam ao acesso à internet,
mas oferecem outros serviços como lanches, manutenção de computadores, impressões,
scanner, fax, entre outros.
104
Figura 20: Lan House e os serviços oferecidos
Fonte: http://raiobrasil.com/photo/mega-one-lan-house-cyber-cafe-6
Borges (2009, p. 223) ao tratar das lan houses na periferia aponta que:
Nesses tipos de estabelecimentos encontramos a venda de salgadinhos, doces, lanches rápidos, refrigerantes, café, serviços de reposição de cartucho para impressora, venda de artigos e produtos associados à informática, manutenção de equipamentos de informática, cursos na área de tecnologia e a venda de outros diversos artigos que possam atender a demanda local.
Ao mesmo tempo, a procura em lan houses do centro é por serviços rápidos seja de
impressão, acesso à internet, scanner e outros, enquanto que na periferia o acesso à internet é
mais longo, sendo que a mesma pessoa utiliza o estabelecimento por várias vezes por
dia/semana. A pesquisa revelou também que a lan house é um ambiente cuja maioria dos
indivíduos que dela se utiliza é do sexo masculino, tanto nas situadas no centro quanto na
periferia, como pode ser observado a partir dos dados a seguir:
É bem verdade que a depender do serviço oferecido (jogos, internet, lanchonete) e da
estrutura do estabelecimento, há mudança tanto no perfil de usuário quanto no tempo de uso.
Alguns proprietários de lan house quando em entrevista realizada em trabalho de campo em
agosto de 2011 revelaram essa característica.
No total foram entrevistados 10 proprietários seguindo a mesma escolha dos
questionários, a saber, Área Sul, Área Norte e Centro, sendo que sobre o uso, alguns
responderam que:
“Eu tinha outra lan house que tinha jogos, que eram máquinas de jogos, que o público era mais jovem e adolescentes. Hoje não, o público é mais de pessoas que vem rápido, que vem para fazer um
105
serviço rápido. Pessoal que está trabalhando e estudando e que passam aqui rapidamente.” Z.C
“O meu ambiente não é muito visível. Meu público é mais jovem, mas as meninas (patricinhas) não frequentam aqui, pois exigem um ambiente mais adequado com ar condicionado, mais organizado.” L.A
“Os maiores usuários são moradores da quadra, que muitas vezes tem computador em casa, mas que vem para a lan house para encontrar amigos, para jogar em rede, para não jogar sozinho em casa.” W.S
O tempo de uso também é variado, sendo que o mais comum dentre os usuários é a
permanência mínima por uma hora a cada vez que frequentam a lan house.
Tabela 9: Tempo de permanência na lan house acessando a internet
Tempo de Uso % Área Sul Área Norte Centro até 10 minutos 3% - - 1 10 a 20 minutos 11% - 2 2 20 a 30 minutos 11% 1 2 1 30 a 60 minutos 31% 4 4 3 mais que 60 minutos 44% 8 5 3 100% 13 13 10
Os usos da lan house também variam de acordo com o horário. E os jogos, ao que
parece expressam mais uma prática de adolescentes. De acordo com Borges (2009, p. 228):
Em cada período de horário as lan houses recebem um público diferente e característico. Durante a manhã, é a vez de algumas donas de casa, pessoas mais idosas – que ficam por curto tempo –, crianças e pré-adolescentes que passam quase toda a manhã jogando games. Jogam coletivamente, conectados em rede. A tarde é o turno dos adolescentes, concentrados até 18 anos de idade. Redes sociais como MSN, Orkut, salas de bate papo, email, download de músicas são os principais usos, conjugados com a navegação pela internet e games. Esse grupo também, uma vez ou outra, aproveita para fazer pesquisas escolares. Não é frequente, até porque esses trabalhos não são solicitados constantemente.
Não obstante, no caso de Palmas, os usos que são feitos da lan house e assim da rede
de internet variam bastante. E inúmeras foram as referências feitas quanto a esse quesito.
106
Gráfico 1 Finalidade de uso da internet na lan house
De acordo com a pesquisa participar de redes sociais é a mais importante atividade que
realizam os indivíduos que utilizam a internet na lan house. As redes sociais digitais são as
maiores referências não só para os que responderam aos questionários, mas também entre os
indivíduos que foram entrevistados.
[...] como as ferramentas de bate papo e as redes sociais é que produzem sentido para os jovens, pois elas se constituem em um espaço no qual eles podem mostrar aos outros – seu grupo de amigos ou toda a web a que estão ligados – seus gostos, seus sentimentos e estados de espírito no momento, o desenho, a qualidade e a intensidade da(s) rede(s) de amigos a que estão ligados, as comunidades de que fazem parte, os eventos e festas que frequentam. [...] (CARVALHO, 2010, p. 105).
No entanto, já com a pesquisa sobre lan house da CGI (2010), verifica-se que a maior
indicação recai sobre os jogos, cerca de 66%. No entanto, um elemento fundamental
associado a questão dos jogos é importante para analisar a lan house como ponto de encontro
e como lugar onde é possível a prática da sociabilidade, pois há em curso uma transformação
das formas de sociabilidade e da vida dentro dos bairros, sobretudo nas periferias. Dentro da
pesquisa realizada, foi possível observar a lan house como lugar para o encontro entre
amigos, mesmo em meio a cabines que aparentemente expressam um individualismo (Figura
20).
107
Figura 21: Lan house
Fonte: http://rexpublica2010.blogspot.com/2011/04/camara-aprova-regulamentacao-das-lan.html
Com efeito, como foi possível perceber, diversos são os usos feitos na/da lan house, o
que revela, entre outras coisas, a nova dimensão da vida urbana que está sendo transformada
face ao uso e apropriação social das TICs. Tal processo tem implicado em transformações no
domínio das interações sociais, e as lan houses contribuem para as transformações das formas
de relação social.
Nestes termos Ribeiro (2000) aponta para a necessidade de questionar a sociabilidade
a partir dos novos padrões técnicos, e verificar como as novas técnicas engendram outras e
novas formas de interação social. Mais ainda, no debate aqui desenvolvido propomos a
análise das interações sociais, das formas de sociabilidade, que Simmel (2006) chama de
sociologia pura, engendrada a partir das TICs através das lan houses, em especial nas
periferias urbanas. Tal fato constitui, entre outras coisas, transformações urbanas, que são
tanto concretas quanto abstratas, materiais e imateriais, objetivas e subjetivas.
4.2 TELECENTROS – POLÍTICA PÚBLICA GOVERNAMENTAL
4.2.1 Um panorama geral
Os telecentros, política pública governamental de acesso gratuito à internet, figuram
como um espaço para os que não dispõem de acesso residencial à internet e que não dispõem
de condições econômicos para utilização da lan house. Segundo Moraes (2012, p. 140) “a
origem de centros públicos para acesso a tecnologias de informação e comunicação pode ser
108
remontada ao final da década de 1970”. Ainda segundo o autor, tais experiências começam na
França em 1978. Por sua vez, Egler (2011, p. 356-367) afirma que:
Essa política pública está associada à compreensão de que a inclusão digital é uma política do desenvolvimento local que possibilita a inclusão dos indivíduos na complexidade dos processos econômicos, políticos e sociais no contexto de uma sociedade tecnológica globalizada. [...]. Nessa concepção, a alfabetização digital se torna fundamental, sendo a sua realização uma responsabilidade do Estado, associada aos direitos de cidadania, quando a comunicabilidade em geral é considerada uma condição necessária ao desenvolvimento social e local.
Para muitos, trata-se de um espaço que rompe com as barreiras comerciais e possibilita
a inclusão digital, hoje vista como uma política de inclusão social (GONÇALVES, 2007;
MORAES, 2012). Todavia, o objetivo principal dos telecentros, segundo o Ministério das
Comunicações36 consiste em “promover o desenvolvimento social e econômico das
comunidades atendidas, reduzindo a exclusão social e criando oportunidades aos cidadãos”.
Por outro lado, há casos em que estes estabelecimentos não atendem às reais necessidades da
população, sendo muito incipiente sua participação no acesso à internet da população e assim
da inclusão digital, como no caso de Palmas.
Finquelievich e Prince (2007, p. 145) revelam que no caso da Argentina “el Consejo
Federal de Inversiones há puesto em marcha Centros de Acceso em las ciudades capitales de
las provincias argentinas”. Além disso, os autores afirmam que tais centros são dotados de
pessoal capacitados, onde é possível a realização de videoconferência, seminários, e outros.
Um dos casos brasileiros de sucesso no uso dos telecentros é a cidade de Porto Alegre, que
tem o programa de telecentro vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da prefeitura, onde
oferecem mais que acesso à internet, mas oferecem cursos para inclusão digital de idosos e
indivíduos com baixo poder aquisitivo (MORAES, 2012). Ao mesmo tempo, inúmeros órgãos
do governo federal fazem alianças para a instalação e consolidação de telecentros. Desde o
Ministérios das Comunicações, até o Banco do Brasil, Ministério de Ciência e Tecnologia
entre outros. Tais instituições mantem projetos vinculados à inclusão digital, dentre os quais
citamos o Telecentros.BR, Telecentro Mundi, Casa Brasil, possibilitam a formação de
telecentros em diversas áreas do país.
Não há como negar o papel dos telecentros na redução da exclusão social, pois a
inclusão digital também implica numa inclusão social. Há em curso uma nova divisão
internacional do trabalho, que exige entre outras coisas por parte da massa trabalhadora, um 36 http://www2.mc.gov.br/component/content/article/145-sem-categoria/21772-informacoes-gerais
109
saber ligado às TICs. Neste sentido, a exclusão social tem uma dimensão, na
contemporaneidade que é digital, sendo a falta de acesso a esta última mais uma forma de
exclusão social. Para tanto, no sentido de reduzir a exclusão social, que é também digital, é
que inúmeras prefeituras têm desenvolvido projetos de acesso gratuito à internet através dos
telecentros, a exemplo de Porto Alegre – RS, Piraí – RJ, Palmas – TO, Belo Horizonte – MG,
entre outras, muitos configurando cibercidades (PIRAÍ DIGITAL, 2012; MORAES, 2012).
No entanto, a inclusão digital não se configura somente através do acesso à internet. Para
Castro (2011, p. 1):
O conceito de inclusão é bem diverso e controverso e, muitas vezes, está ligado somente ao acesso à infraestrutura tecnológica. Ele é necessário, mas não o bastante, visto que o entendimento dos conteúdos e o uso efetivo dessas informações é que podem promover a inclusão social.
No caso do telecentro além da acessibilidade à internet, Egler (2011, p. 356) afirma
que um dos objetivos desses estabelecimentos é “a capacitação técnica dos usuários”. Ou seja,
não se trata apenas de uma política de acesso à internet, mas também de um projeto de
capacitação profissional.
Câmara (2005, p. 51), ao realizar uma pesquisa sobre telecentros em Belo Horizonte
aponta que “Os governos mais conscientes têm desenvolvido políticas, implementando
programas que permitam desenvolver um acesso, o mais democrático possível, pela criação
de centros de tecnologia, denominados”. Com efeito, o autor afirma que entre os objetivos dos
telecentros estão o de “alavancar a inclusão sócio-econômica-cultural de diferentes cidadãos,
em regiões distintas, possibilitando o acesso às TICs à maior parte da população que não
possui esses meios e não os alcançaria de forma individual” (grifo nosso). Nesta direção, é
que Egler (2001, p. 372) afirma:
No mundo onde os meios de comunicação são alavancas do processo de produção de mercadorias e da formação da vontade coletiva, redefinem-se as relações de exclusão e as propostas de políticas sociais. A incorporação das tecnologias da inteligência como objeto de políticas de caráter social se torna obrigatória para sociedades desiguais como a brasileira.
Mais do que o simples acessibilidade à Internet, a política pública de telecentros deve
se inserir enquanto uma política social que proceda a redução das desigualdades sociais
materializadas no espaço geográfico, e com isso à equidade social.
110
4.2.2 Telecentros em Palmas
Em Palmas, os telecentros, figuram enquanto política pública da prefeitura da cidade,
e é um espaço que, quando em funcionamento, dispõe além do acesso à internet, de cursos de
qualificação profissional. Ou melhor, na maioria dos casos, os telecentros funcionam
enquanto espaço de qualificação profissional dos funcionários do setor educacional da
prefeitura de Palmas. Todavia, a política pública de telecentro não consegue atingir
significativamente a população, mesmo sendo uma política governamental que existe desde o
início dos anos 2000. Conforme Santos, Guimarães e Silva (2009) “os telecentros do projeto
inclusivo Palmas Virtual, existente na capital tocantinense, não realiza uma inclusão digital,
já que oferece o meio, mas esquece de capacitar o usuário”.
Em Palmas tal política tem se mostrado incipiente pelo fato de que inúmeros dos
telecentros estão com os equipamentos desativados por causa, entre outras coisas, da
burocracia quanto à manutenção. Segundo os atendentes de alguns telecentros entre os pontos
negativos e positivos dessa política públicas estão:
“Os pontos negativos do telecentro consistem no profissional que atuam no telecentro, pois são máquinas boas, de qualidade muito boa, mas não há a formação técnica necessária do funcionário, além de atender e resolver problemas muito simples. Então, as vezes a máquina fica parada por muito tempo, por um problema ou outro de configuração, o que faz com que a máquina fique parada por muito tempo, 2 ou 3 meses. Então é importante formar uma equipe multidisciplinar para os telecentros. A pessoa própria para atender, a pessoa própria para resolver problemas técnicos e uma pessoa para entender todo esse mecanismo pedagogicamente, tanto para a comunidade como para a parte interna”. W.T
“Os positivos são muitos, sobretudo pela possibilidade de acesso gratuito. Muitos professores que prestaram concurso e passaram estudaram aqui. Os negativos, tem alguns, como a dificuldade para a manutenção dos computadores, que ainda é uma área meio carente”. J.Q
“Entre os pontos negativos coloco o período de funcionamento do telecentro, que fica por muito tempo fechado. Positivo é a inclusão digital”. W.M
Isto revela que há uma necessidade urgente de descentralização de algumas decisões e
ações no que concerne ao serviço público, pois, muitas vezes a burocratização para a
111
realização de serviços simples, impossibilita o pleno funcionamento do telecentro e mais
ainda da inclusão social.
Quanto aos usos feitos no/dotelecentro, podemos verificar que há um uso muito
funcional, ou seja, para estudos, trabalhos, sem muita referência a jogos. De acordo com
atendentes de telecentros em Palmas:
“Muita gente que precisa estudar para vestibular, por exemplo, procura o telecentro, porque além de ser gratuito, tem acesso à todos os sites, mesmo os de relacionamento. Todavia, o telecentro é voltado à pesquisa, a formação”. J.N
“Esta política do governo de implantar telecentros contribui para o desenvolvimento social com relação ao acesso à informação, porque as pessoas que não tem computador em casa e internet em casa, por exemplo, tem a oportunidade de ter acesso à informação”. W.M
Por meio de aplicação de questionários em usuários do telecentro em diversas áreas de
Palmas, obtivemos os seguintes dados:
Idade Sexo Escolaridade Tempo de uso Frequência de uso
12 a 17 masculino fundamental cursando mais que 60 minutos 1 a 2 dias 12 a 17 masculino fundamental completo mais que 60 minutos 3 a 5 dias 12 a 17 masculino fundamental cursando mais que 60 minutos 1 a 2 dias 18 a 25 masculino médio completo 30 a 60 minutos 3 a 5 dias 18 a 25 masculino médio completo mais que 60 minutos 1 a 2 dias 18 a 25 masculino médio incompleto 30 a 60 minutos 1 a 2 dias 26 a 30 feminino superior cursando 30 a 60 minutos 1 a 2 dias 26 a 30 masculino superior cursando 30 a 60 minutos 3 a 5 dias 31 a 35 feminino médio completo 30 a 60 minutos raramente 36 a 40 feminino médio completo 20 a 30 minutos todos os dias
Quadro 4 Perfil dos usuários e usos no/do Telecentro em Palmas.
Ademais, o uso feito do telecentros é variado. Este fato se dá em função das limitações
de uso porque passam os usuários tanto no que tange ao tempo como aos sites acessados.
Conforme revela o gráfico 2 os telecentros são mais utilizados para a realização de pesquisas,
fato este revelado também nas entrevistas com os usuários dos telecentros. Além disso, os
usuários falaram também dos limites impostos quanto ao uso da internet no telecentro, o que
implica na redução do uso por parte da população, que prefere ir à lan house.
112
Gráfico 2 Uso feito da internet em telecentros
Não obstante, em Palmas, vale lembrar, há telecentros cuja responsabilidade é da
Secretaria Municipal de Educação, a saber, os telecentros Palmas Virtual37 (figura 10), antes
chamados de Cidade do Conhecimento38, o que explica o fato dos atendentes do
estabelecimento serem funcionários públicos da Educação, professores principalmente,
enquanto que outros são de responsabilidade da Secretaria Municipal de Ciência e
Tecnologia, a saber os Telecentros Mundi (figura 11) e o Taquari Digital (PREFEITURA
MUNICIPAL DE PALMAS, 2009a, 2009b).
37 “No início do projeto, em 2003, o programa tinha o nome de “Cidade do Conhecimento” e abrangia três projetos operacionais: no “Projeto Corporativo”, professores e alunos relatavam fatos que ajudavam a compor a história do município, e o resultado era passado pelos próprios alunos ao computador; no “Projeto Comunidade”, a população ia até a escola para ter acesso aos computadores e, paralelamente, falar sobre suas vivências com o intuito de extrair dos relatos histórias e memórias de Palmas; já o “Projeto Cidadão” consistia em quatro quiosques espalhados pela cidade que tinha um orientador responsável e cerca de quatro computadores, além de sala de leitura com jornais e revistas de circulação regional e nacional”. (CASTRO, 2011, p. 10) 38 “Palmas . Cidade do Conhecimento20 (Palmas-TO) - A cidade de Palmas desenvolve uma iniciativa muito interessante no que diz respeito à inclusão digital. Trata-se de “Palmas . Cidade do conhecimento”, que “...é um ambiente virtual para a educação a distância, inclusão digital e gestão do conhecimento, que busca inserir os cidadãos do município de Palmas na Sociedade da Informação, promovendo o desenvolvimento da fluência tecnológica da comunidade”. Através do portal, os interessados podem se cadastrar, tornando-se assim .Netcidadãos. (com uma identidade que pode ser impressa) e participando do projeto a partir de relatos sobre sua história, a história do município, criação de álbuns de família, envio de fotos e etc. “Palmas . Cidade do Conhecimento” oferece informações gerais sobre a cidade (sua constituição, localização e etc.); a história de Palmas construída pelos relatos dos “Netcidadãos” sobre as pessoas, arte e cultura, qualidade de vida e empreendimentos; comunidades virtuais; projetos que visam estimular a participação da população no desenvolvimento da cidade digital; eventos virtuais como a exposição fotográfica .Palmas., em que o usuário pode navegar em um museu virtual de fotos sobre a cidade e o mapa da .Cidade do Conhecimento.. Além disso, o portal conta com busca, fale conosco, comentários sobre o projeto, esclarecimento de dúvidas, serviço de e-mail, clipe, sala de imprensa (com releases) e matérias sobre a repercussão da iniciativa na mídia. Para que a população tenha acesso ao projeto, são oferecidos três pontos públicos de acesso fixo e uma unidade móvel, todos com a presença de monitores para auxiliarem a navegação. Nos pontos fixos os cidadãos também têm disponíveis filmes em DVD, jornais e revistas”. (LEMOS, 2007, p. 22/3)
113
Figura 22: Telecentro Mundi no bairro Jardim Aureny I
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012
Figura 23: Telecentro Palmas Virtual no bairro Jardim Aureny III
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro de 2012
No que concerne aos cursos oferecidos, no caso dos telecentros vinculados a
Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, obtivemos os seguintes dados:
Tabela 10: Evolução de atendimento aos cursistas em 2009
Quantidade de alunos Total Geral Especificação 1ª Turma 2ª Turma 3ª Turma 4ª Turma Nº %
Vagas Ofertadas 40 80 40 40 200 100 Aprovados 34 71 39 38 182 91 Reprovados 02 04 00 00 06 3 Desistentes 04 05 01 02 12 6
Fonte: Indicadores Numéricos – FMECT/2009 Dados Preliminares. Fundação Municipal de Ensino Ciência e Tecnologia. Dezembro de 2009
114
Além disso, no caso dos telecentros vinculados à essa secretaria, há parcerias
realizadas com outras instituições como o Senac, por exemplo. No que se refere a idade dos
cursistas, obtivemos os seguintes dados:
Tabela 11: Faixa etária dos cursistas em 2009
Quantidade Total Geral Especificação 1ª Turma 2ª Turma 3ª Turma 4ª Turma Nº %
< 12 anos 00 01 00 00 01 0,5 12 a 17 anos 17 32 15 23 87 43,5 18 a 29 anos 13 22 06 06 47 23,5 30 a 64 anos 10 25 19 11 65 32,5 = ou > de 65 00 00 00 00 00 00
Fonte: Indicadores Numéricos – FMECT/2009 Dados Preliminares. Fundação Municipal de Ensino Ciência e Tecnologia. Dezembro de 2009
Com referência a avaliação realizada pelos cursistas, os dados revelaram que a maior
parte daqueles que realizam cursos no telecentro elogiaram o serviço prestado, indicando até
outros possíveis cursos que poderiam ser oferecidos, como podemos ver na tabela a seguir: Tabela 12: Avaliação dos cursistas em 2009
Quantidade Ótimo Bom Precisa
Melhorar Total Geral
Especificação
Nº Nº Nº Opinaram Não Opinaram
Apostila 74 46 04 Kit do aluno 65 46 13 Equipamentos 61 52 11 Instalações 64 51 09 Carga horária 65 42 17 Horário do curso 60 51 13 Nível de conhecimento do instrutor 82 38 04 Nível de satisfação do cursista com a aprendizagem adquirida no curso
73 41 10
124
76
Outros Cursos solicitados pelos cursistas - Informática Avançada - Manutenção de Computadores - Cursos à distância de curta duração
Fonte: Indicadores Numéricos – FMECT/2009 Dados Preliminares. Fundação Municipal de Ensino Ciência e Tecnologia. Dezembro de 2009
No que se refere a localização desses estabelecimento (mapa 2), esta é muito esparsa, e
perde muito frente ao poder de localização das lan houses.
115
Figura 24 Mapa de localização dos telecentros em Palmas – TO
Fonte: Prefeitura de Palmas/IBGE. Adaptado por Costa, Aldenilson e SILVA, Ricardo Sierpe da
No que se refere à localização dos telecentros em Palmas vale a pena correlacionar
também com a densidade populacional da cidade (figura 23). Tal correlação se dá pelo fato de
que se se trata de uma política de inclusão digital que expressa uma inclusão social, a partir do
116
momento em que não está disponível nas áreas mais densamente povoadas, que em Palmas
configuram as periferias, não permitem uma inclusão digital. Por conta disso, entre outras
coisas, é que ocorre a popularização e expansão dos centros públicos de acesso pago, a saber,
a lan house, nestas áreas. Figura 25: Localização dos telecentros segundo a densidade populacional de Palmas – TO
Fonte: www.to.gov.br adaptado pelo autor
117
Para tanto, hoje, os telecentros servem como espaços para qualificação da população,
dos funcionários públicos principalmente, sendo em última instância um espaço público para
o acesso à internet. Egler (2011), ao apresentar análises do caso da cidade de Piraí – RJ,
também identifica alguns atores que utilizam os telecentros, citando os funcionários públicos,
professores, gestores e estudantes, e as pessoas comuns. Esta também é uma realidade da
cidade de Palmas (Figura 12), porém a maioria dos telecentros, quando da realização da
pesquisa não estavam funcionando.
Figura 26: Curso de formação continuada de professores da rede municipal de ensino de Palmas
Fonte: COSTA, Aldenilson, em fevereiro 2012.
Neste sentido, o que se questiona é a validade dessa política para Palmas, já que não
abrange parcela significativa da cidade nem da população. Ao contrário, hoje, em função dos
telecentros em Palmas quando abertos não disporem de internet, e por terem acesso limitado à
internet, em geral 1 hora por dia, parte da população prefere utilizar a lan house, que é
privada. Além disso, as restrições não se limitam ao tempo de uso, mas ao acesso a algumas
páginas online. Nesta direção, vejamos o que uma das entrevistadas que utiliza lan house
afirma no tocante aos telecentros.
“A política de telecentro não totalmente de graça. Sei que o SES fornece o curso de inclusão digital, mas ele não é totalmente grátis. O Palmas Virtual daqui da quadra do lado não funciona mais. Antes você poderia usar, por 1 hora, mas se quisesse você poderia usar o tempo que quisesse, mas hoje você só acessa uma vez por dia e por 1 hora. E eu não sei se funciona ainda estava em reforma. Mas como a disponibilidade de lan house é mais fácil do que ter que ir lá só porque
118
é gratuito para mim não tem tanta acessibilidade. Prefiro ir na lan house que não tem espera. Não tem incômodo”. G.N, 20 anos.
Para tanto, é bem verdade, essa política pública em Palmas é frágil face a
burocratização existente na manutenção dos telecentros, as restrições de acesso, a
popularização da internet residencial e expansão do comércio de lan house para periferias.
Porquanto, “o desafio político global não é superar a exclusão digital, mas expandir o acesso e
o uso da TIC para promover a inclusão social” (CASTRO, 2011, p. 12).
Com isso,
Um verdadeiro modelo de desenvolvimento com inclusão digital não é composto a partir da mera soma de equipamentos e conhecimentos isolados. O objetivo do trabalho de inclusão digital deve buscar estabelecer as raízes dos indivíduos na era do conhecimento, para atender as suas reais necessidades (CASTRO, 2011, p. 12).
Nesta direção, percebemos que ainda há muito que fazer, enquanto política pública
governamental, para o atendimento básico ou pleno das reais necessidades da população no
que se refere à inclusão digital. Infelizmente, ao longo da pesquisa não pudemos empreender
melhores análises sobre o projeto por causa do não funcionamento, seja do telecentro, da rede
de internet, e outros. No limite, o que se pode perceber é que se trata de uma política ainda
incipiente.
119
Figura 27 Mapa das Lan houses e telecentros em Palmas – TO
Fonte: Prefeitura de Palmas/IBGE. Adaptado por COSTA, Aldenilson e SILVA, Ricardo Sierpe da.
Trata-se de um projeto que, sem sombra de dúvidas, beneficiaria em muito a
população, se realmente funcionasse e tivesse uma espacialidade menos esparsa de modo a
permitir uma maior acessibilidade da população. Assim, a inclusão digital, e a política de
120
inclusão digital, deve passar por uma reestruturação, tanto no nível interno, no que diz
respeito a reorganização das formas de gerenciar a política, quanto no que diz respeito a
política de localização.
Desse modo, a política pública de digitalização empreendida em Palmas por meio dos
telecentros deve passar por uma reestruturação que transcenda o domínio da inclusão digital
vista apenas enquanto possibilidade o acesso, mas que de fato permita que haja uma inclusão
digital, e assim, social. Trata-se de perceber a digitalização enquanto uma política pública da
cidade que deve, necessariamente, envolver todos os setores governamentais numa
perspectiva de mudança da cidade.
121
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão do uso e apropriação das tecnologias de informação e comunicação implica
em transformações em todas as dimensões da vida e da cotidianidade. É sabido que hoje as
TICs estão inseridas nos mais diversos âmbitos da sociedade, seja na saúde, trabalho, relação
social, percepção, do corpo, da vida (RIBEIRO, 1998; 2007), implicando em inúmeras
transformações objetivo-subjetivas (EGLER, 2001). Ao mesmo tempo, percebe-se que as
TICs, hoje tão arraigadas no tecido social, têm uma dimensão que é real e outra virtual, uma
concreta e outra digital. Isto quer dizer que não se trata de um elemento que tem uma ou outra
dimensão, mas que tem as duas dimensões concomitantemente.
É do tecido social que surgem inúmeros empreendimentos comerciais, os quais
revelam mais que a dinâmica econômica, o sistema social inerente a construção das formas
geográficas. Desse tecido social é que surgiram, nas cidades brasileiras, as lan houses, que
outrora se situavam em áreas centrais, mas que passaram ao longo dos anos a se situarem nas
áreas populares da cidade, dando novos contornos e conteúdos ao cotidiano da periferia.
Ao mesmo tempo, desde a primeira década do século XXI que tem havido forte
iniciativa dos governos federal, estadual e municipal no sentido de prover o acesso à Internet
a população de modo a reduzir as desigualdades socioespaciais, e assim, promover o
desenvolvimento. Neste contexto, os telecentros figuram enquanto a materialização dessas
políticas governamentais de acesso à Internet, mas que sucumbe em alguns casos, frente às
barreiras da burocracia estatal e a expansão das lan houses nas periferias urbanas.
No limite, o que verdadeiramente diferencia a lan house do telecentro não é tipo de
administração, se pública ou privada, mas o uso e apropriação feitos de ambos os
estabelecimentos que são completamente diferentes tanto na forma, como no conteúdo, e mais
ainda no uso feito pelos seus frequentadores.
No caso do uso e apropriação da lan house em Palmas, percebemos que as
transformações ocorrem tanto dentro como fora do ambiente. Isto é, não se trata apenas de um
uso e apropriação de tecnologia dentro do ambiente comercial, mas esta extrapola para além
do espaço físico e da relação comercial. Na lan house existem e coexistem relações que
revelam a real dimensão da tecnologia de informação e comunicação, que não se limita a uma
questão puramente técnica, mas que ultrapassa a técnica como um fim em si mesmo,
tornando-a socialmente apropriada. São relações de amizade, de solidariedade, de
122
sociabilidade que se confundem com o uso da internet, tornando o espaço da lan house um
ambiente sui generis para determinados grupos sociais.
No tocante as lan houses estas são pontes de acesso ao mundo virtual (SANTOS
FILHO, 2005) e diríamos até mesmo que são pontes de inclusão digital, e assim, social. É
bem verdade, que em muitos casos não há um uso profícuo da internet, este se limitando ao
acesso à redes sociais digitais, jogos online, chats, e pequenas pesquisas escolares. Além
disso, a maior parte dos usuários não realiza uma filtragem rigorosa das informações obtidas
através da Internet, informações estas que muitas das vezes são reproduzidas in natura sem o
devido cuidado, o que faz com que tais informações não se transformem em conhecimento
(AQUINO, 2006). Ao mesmo tempo, no que tange as pesquisas escolares, estas também não
são realizadas com certo cuidado pela maioria dos usuários. São informações obtidas que não
expressam um conhecimento de fato, mas apenas uma repetição, mimética, de dados obtidos
por intermédio da Internet, que são levados a diante.
No entanto, o que torna a lan house singular e é o fato que mais chamou a atenção é
que ela tem dinâmicas diferentes a depender do local onde está situado, e do contexto
socioeconômico da localidade. Isto quer dizer que através da pesquisa foi possível perceber
que no caso de Palmas, e mais precisamente no caso das áreas populares da cidade, a lan
house tem outras formas, funções, estruturas e processos, para usar os termos criados por
Milton Santos (2008a).
A forma da lan house nas áreas populares de Palmas é residencial/comercial, isto por
ocupar parte do terreno residencial do proprietário do empreendimento; a estrutura é menos
equipada, comparada àqueles estabelecimentos desta natureza situados nas áreas mais centrais
da cidade, inclusive no que se refere a própria velocidade do serviço de internet, que em geral
é menor, e com isso de menor qualidade. Aliás, esta foi uma das muitas críticas apontadas
pelos proprietários das lan houses. As funções variam, sendo a principal delas uso da internet
para o acesso à redes sociais digitais, jogos online, pesquisas escolares. No entanto, além
dessas funções, outra que mais se destacou foi a de encontro entre amigos, sobretudo pelo
público masculino. Ao mesmo tempo, os processos que foram percebidos na lan house
transcendem o domínio do ambiente e da dimensão comercial, ou seja, vai para fora da lan
house, se materializando em relações sociais em outros domínios da vida, do cotidiano, com
outras espacialidades que não apenas a da lan house, como as relações de amizade,
potencializadas a partir da lan house.
123
Isto posto, a lan house ganha outras dimensões, inclusive uma dimensão que é
simbólica, que é da representação, do significado, na vida de seus mais frequentes usuários,
muitos dos quais que utilizam a lan house mesmo dispondo de computador e internet em casa.
São novos significados e novos sentidos dados ao empreendimento lan house que revelam
como a dinâmica social transforma o espaço prático-objetivo, dando sentidos diferentes
daqueles para o qual foram criados. Trata-se de uma dimensão que transcende o conteúdo
econômico, passando a uma dimensão da relação social e por isso, da apropriação. É neste
sentido que a lan house na periferia de Palmas se revelou enquanto um espaço de
sociabilidade, de práticas sociais cotidianas da juventude urbana. Um espaço onde é possível
conversar sobre a vida cotidiana tanto digital quanto pessoalmente. É um espaço de interação
entre pessoas das mais diversas classes sociais, e que experienciam outros processos dentro da
lan house, diferentemente se estivessem na solidão do computador residencial ou da cabine do
computador na lan house.
A lan house é, pode-se afirmar, a nova praça, a nova rua, o novo lugar de encontro, o
novo espaço público de sociabilidade. O lugar para onde convergem indivíduos das mais
variadas classes, com um único interesse que é o de se divertir, mas que acabam competindo,
interagindo, trocando experiências, que revela uma necessidade da dimensão humana que é a
de estar com o outro, de socializar, de interagir com o outro, de trocar com o outro
(BAUMAN, 2003). O outro que pode estar tanto ao seu lado concretamente falando quanto na
tela do computador através de um jogo ou de uma rede social digital. Um outro com quem se
compete; de quem se ganha ou perde. Um outro com quem se mantém vínculos dentro e fora
da lan house desenhando o tecido social com novas lógicas espaço-temporais (ARAÚJO,
2001), que permitem novas experiências objetivo-subjetivas espaciais e temporais
concomitantemente.
Por outro lado, o telecentro em Palmas enquanto ação governamental, isto é, enquanto
política pública governamental de inclusão digital não consegue alcançar plenamente as
necessidades da população quanto à inserção, uso e apropriação da tecnologia de informação
e comunicação, ficando a reboque da lan house que tem maior poder de alcance. A inclusão
digital, evidentemente, é também uma das vertentes da inclusão social, visto estarmos diante
de um período em que o uso das TICs para a realização das mais diversas tarefas (re)definem
as relações trabalhistas e com isso a divisão social e territorial do trabalho. Portanto faz-se
necessário entender que na contemporaneidade, a política pública de inclusão digital por si
124
mesma já procede a uma inclusão social, visto que as relações hoje estão sendo mediadas por
tecnologias de informação e comunicação (EGLER, 2001; 2004).
Ao mesmo tempo, em Palmas os telecentros, na maioria dos casos não servem
plenamente a população sequer com relação a qualificação profissional. Vale lembrar, que em
tempos pretéritos uma das propostas de ação dos telecentros era justamente a qualificação
profissional da população através de cursos de informática, além do acesso à Internet
(PREFEITURA MUNICIPAL DE PALMAS, 2008, 2009b, 2009c). No entanto, em função
dos problemas infraestruturais com relação a disponibilidade de internet, pessoal qualificado
para ministrar cursos, computadores e programas atualizados, não tem sido possível um pleno
desenvolvimento do telecentros no tocante a proposta para a qual foi criada. Hoje, os
telecentros estão relegados a pouco uso pela população, tanto em função da sua incipiente
espacialidade, como pela precariedade do serviço oferecido. Aliás, quando ainda tem cursos
de qualificação profissional no telecentros, estes ocorrem para grupos específicos como o dos
professores da rede municipal de ensino, por exemplo.
Somado a isto, os usuários de telecentros, em geral, figuram enquanto indivíduos que
apenas passam pelo ambiente, não criando vínculos nem com os demais usuários tampouco
com os atendentes. Além disso, são indivíduos que não utilizam o telecentro frequentemente,
e quando o fazem é para atividades pontuais e corriqueiras. Aliás, a própria localização dos
telecentros já promove essa formalidade de uso e relações, inexistente na maior parte das lan
houses situadas em áreas populares. São espaços formais em todas as dimensões, seja no que
é acessado, na forma de uso, ou na relação entre os usuários e entre os usuários e atendentes.
“Cidade do Conhecimento”, “Palmas Virtual”, Telecentro Mundi”, “Taquari Digital”
são os nomes que os telecentros em Palmas já tiveram o que revela a ruptura existente entre os
governos, que não costumam dar continuidade entre um governo e outro, mesmo se tratando
de uma política de inclusão social. Com efeito, quantos nomes mais vierem a ter as políticas
públicas de inclusão digital através dos telecentros a depender da administração, o que se
percebe é que ainda há muito o que fazer para que de fato os telecentros, em Palmas, figurem
enquanto uma política pública que realmente permita a inclusão digital e diminua as
disparidades sociais presentes desde a formação e ocupação do espaço urbano da cidade.
Trata-se de uma política que precisa, a nosso ver, de uma (re)formulação, de modo a se tornar
um projeto de cidade para a redução das desigualdades sociais, e por isso, espaciais.
Portanto, o projeto de inclusão digital, deve buscar a integração entre os diversos
setores do governo municipal, de modo a permitir um maior e melhor desenvolvimento da
125
cidade como um todo, e não se limitar a uma política de determinada secretaria, sem vínculo
com as demais, e sem vínculo com o projeto de desenvolvimento da cidade. Com isso, há uma
necessidade eminente de uma reestruturação do projeto político dos telecentros, devendo este
incluir entre outras coisas um verdadeiro projeto pedagógico exequível, com uma equipe
interdisciplinar e de todas as secretarias de governo.
No limite, o que foi possível verificar através da pesquisa é que a lan house é mais que
um ambiente comercial de acesso à Internet, sendo um espaço de sociabilidade e encontro
entre os indivíduos adolescentes e jovens do sexo masculino. Enquanto isso, o telecentro é
uma política pública que não funciona plenamente na ação de inclusão digital, deixando muito
a desejar tanto no acesso à internet quanto no próprio projeto de inclusão digital.
Nestes termos, a pesquisa também permitiu surgirem alguns questionamentos,
sobretudo, por percebermos que na pesquisa foi possível pensar outras variáveis e assim, uma
complexidade maior do processo social vinculado às TICs, sobretudo a Internet:
a) Não deveria o projeto de inserção e inclusão digital figurar enquanto um projeto de
cidade envolvendo os demais setores da sociedade, e com isso, do governo para além
das secretarias de educação, ciência e tecnologia e planejamento?
b) As lan houses tanto formais quanto informais não deveriam ser incluídas no projeto de
inclusão digital que é assim um projeto de inclusão social, de modo a incluir todos os
atores que contribuem para a redução da exclusão digital direta e indiretamente?
c) Quais os elementos constituintes desse projeto de inclusão digital que envolve
necessariamente todos os setores da sociedade e do governo enquanto vetor da
redução das desigualdades sociais e assim, promotor de um verdadeiro
desenvolvimento econômico, social, político e humano?
d) Como o Planejamento Urbano e Regional, a Geografia, a Sociologia, ou mesmo a
Antropologia e tantas outras ciências sociais podem contribuir à compreensão desta
nova dinâmica socioespacial presente no tecido social urbano das cidades brasileiras
na contemporaneidade?
Face ao exposto, as TICs são mais que simples ferramentas de inclusão digital ou de
acesso ao ciberespaço. São assim, ferramentas para o desenvolvimento socioespacial, que
126
implicam em transformações sociais, e que também expressam o novo conteúdo da sociedade
informacional, que é a sociedade do meio técnico-científico-informacional (SANTOS 2008a).
É preciso mais do que esse reconhecimento, mas precisamos proceder a investigações das
implicações do uso da Internet nas diversas camadas e setores da sociedade, bem como em
diversas cidades, para assim, ampliarmos o debate, que se revela complexo, em torno das
TICs.
Trata-se de perceber a questão da internet na sua complexidade, enquanto um saber
complexo (MORIN, 2011), que exige análises minimamente holísticas, porque complexas.
Assim, trata de refletir em termos de presente, e vislumbramos em termos de futuro, o uso e
apropriação de TICs, em especial, a internet, na cotidianidade, e como elas transformam vis a
vis as relações sociais, as relações governamentais, a cidade, as políticas públicas.
127
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http://www.mc.gov.br/inclusao-digital-mc/telecentros/conheca-o-telecentro-comunitario/
138
APÊNDICE A – Questionário: Usuários de lan house
Localização _______ Data: ___________
Identificação do usuário 1- Sexo ( ) Feminino ( ) Masculino 2- Idade ( ) menos de 12 anos ( ) 12-17 anos ( ) 18-25 anos ( ) 26-30 anos ( ) 31-35 anos ( ) 36-40 anos ( ) 41-50 anos ( ) mais de 50 anos 3- Escolaridade ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Cursando ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Cursando ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Superior Completo ( ) Ensino Superior Cursando ( ) Ensino Superior Incompleto 4- Área de atuação profissional ( ) Estudante ( ) Agricultura ( ) Indústria ( ) Serviços ( ) Funcionário Público ( ) Trabalho informal ( ) Aposentado ( ) Desempregado 5- Renda familiar ( ) menos de 510 reais ( ) 510 a 1000 reais ( ) 1001 a 1500 reais ( ) 1501 a 2000 reais ( ) 2001 a 2500 reais ( ) 2501 a 3000 reais ( ) mais de 3000 reais Acesso Na lan house
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6- Eficácia do serviço 6.1- Qualidade do ambiente e atendimento: ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 6.2- Qualidade da conexão: ( ) Ótima (velocidade rápida e sem interrupções no serviço) ( ) Boa (velocidade rápida e com algumas interrupções no serviço) ( ) Regular (velocidade moderada e com algumas interrupções no serviço) ( ) Insuficiente (velocidade lenta e com algumas interrupções no serviço) ( ) Ruim (velocidade lenta e com interrupções constantes no serviço) Obs.: Questões 7, 7.1, 8, focar no que costuma acessar. 7- Finalidade de uso (pode ser escolhida mais de uma opção) ( ) Email ( ) Orkut / Facebook ( ) Msn ( ) Pesquisa ( ) Jogos ( ) Acesso a serviços (bancos por exemplo ) ( ) Encontrar amigos ( ) Outro Especifique: _________________________ 7.1- No caso de usar email, msn ou orkut, com quem fala? (pode ser escolhida mais de uma opção) ( ) Namorados (as) ( ) Amigos ( ) Familiares ( ) Colegas de trabalho ( ) Amigos virtuais ( ) Outros Especifique: _________________________ 8- Tempo de permanência ( ) até 10 minutos ( ) 10-20 minutos ( ) 20-30 minutos ( ) 30-60 minutos ( ) mais que 60 minutos 9- Freqüência de uso ( ) Mais de uma vez por dia ( ) Todos os dias ( ) 3 a 5 dias por semana ( ) 1 a 2 dias por semana ( ) Raramente
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10- Você costuma marcar encontros pela internet? ( ) Sim ( ) Não Se sim, por quê? ______________________________________________________________________ Acesso em casa 11- Acessa Internet em casa? ( ) não tem Internet em casa ( ) 6 meses a 1 ano ( ) 2 a 4 anos ( ) mais de 5 anos 12- Se tem em casa, porque acessa na lan house? ( ) conexão com defeito ( ) conexão lenta ( ) proximidade com escola, trabalho etc ( ) encontrar amigos ( ) Outro. Especifique: ___________________________________________ 13- Qual a importância da Internet na sua vida? ______________________________________________________________________ 14- Você acredita que a Internet pode contribuir em algo na sua vida? Justifique ______________________________________________________________________
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APÊNDICE B – Questionário: Proprietários de lan house
Localização _________ Data: ______________
Identificação do proprietário 1- Sexo ( ) Feminino ( ) Masculino 2- Idade ( ) 12-17 anos ( ) 18-25 anos ( ) 26-30 anos ( ) 31-35 anos ( ) 36-40 anos ( ) 41-50 anos ( ) mais de 50 anos 3- Escolaridade ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Cursando ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Cursando ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Superior Completo ( ) Ensino Superior Cursando ( ) Ensino Superior Incompleto 4- Área de atuação profissional ( ) Estudante ( ) Agricultura ( ) Indústria ( ) Serviços ( ) Funcionário Público ( ) Trabalho informal ( ) Aposentado ( ) Desempregado 5- Renda familiar ( ) menos de 510 reais ( ) 510 a 1000 reais ( ) 1001 a 1500 reais ( ) 1501 a 2000 reais ( ) 2001 a 2500 reais ( ) 2501 a 3000 reais ( ) mais de 3000 reais
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Sobre os usuários 6- Qual o principal público atendido na lan house ( ) Crianças ( ) Adolescentes ( ) Jovens ( ) Adultos ( ) Idosos 7- Qual o dia de maior público na lan house ( ) De segunda-feira a sexta-feira ( ) Sábado ( ) Domingo 8- Qual a finalidade de uso mais comum entre os usuários ( ) Email ( ) Orkut / Facebook ( ) Msn ( ) Pesquisa ( ) Jogos ( ) Acesso a serviços (bancos por exemplo ) ( ) Encontrar amigos ( ) Outro Especifique: _________________________ 9- Tempo de permanência ( ) até 10 minutos ( ) 10-20 minutos ( ) 20-30 minutos ( ) 30-60 minutos ( ) mais que 60 minutos 10- Freqüência de uso dos usuários mais constantes ( ) Mais de uma vez por dia ( ) Todos os dias ( ) 3 a 5 dias por semana ( ) 1 a 2 dias por semana ( ) Raramente 11- Já houve casos de briga entre usuários, familiares, casais na lan house por causa da internet? ( ) Sim ( ) Não Se sim, por quê? ______________________________________________________________________ 12- Qual a opinião dos pais dos usuários quanto a lan house? ( ) não gostaria que o filho usasse ( ) deixa o filho na lan house para evitar que fique na rua ( ) deixa o filho na lan house para resolver problemas diários
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( ) incentiva o filho a usar lan house 13- Há casos em que o usuário tem acesso a internet em casa, e mesmo assim acessa na lan house? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual a justificativa deles? ______________________________________________________________________ 14- Há casos de usuários viciados em Internet? Qual a atitude tomada? ______________________________________________________________________
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APÊNDICE C - Questionário: Usuários de telecentros
Localização _________ Data: _____________
Identificação do usuário 1- Sexo ( ) Feminino ( ) Masculino 2- Idade ( ) menos de 12 anos ( ) 12-17 anos ( ) 18-25 anos ( ) 26-30 anos ( ) 31-35 anos ( ) 36-40 anos ( ) 41-50 anos ( ) mais de 50 anos 3- Escolaridade ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Cursando ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Cursando ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Superior Completo ( ) Ensino Superior Cursando ( ) Ensino Superior Incompleto 4- Área de atuação profissional ( ) Estudante ( ) Agricultura ( ) Indústria ( ) Serviços ( ) Funcionário Público ( ) Trabalho informal ( ) Aposentado ( ) Desempregado 5- Renda familiar ( ) menos de 510 reais ( ) 510 a 1000 reais ( ) 1001 a 1500 reais ( ) 1501 a 2000 reais ( ) 2001 a 2500 reais ( ) 2501 a 3000 reais ( ) mais de 3000 reais
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Acesso no telecentro e/ou quiosque 6- Eficácia do serviço 6.1- Qualidade do ambiente e atendimento: ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 6.2- Qualidade da conexão: ( ) Ótima (velocidade rápida e sem interrupções no serviço) ( ) Boa (velocidade rápida e com algumas interrupções no serviço) ( ) Regular (velocidade moderada e com algumas interrupções no serviço) ( ) Insuficiente (velocidade lenta e com algumas interrupções no serviço) ( ) Ruim (velocidade lenta e com interrupções constantes no serviço) Obs.: Questões 7, 7.1, 8, focar no que costuma acessar e não no acesso pontual. 7- Finalidade de uso (pode ser escolhida mais de uma opção) ( ) Email ( ) Msn ( ) Orkut ( ) Cursos ( ) Pesquisa ( ) Compras online ( ) Acesso a serviços (bancos por exemplo ) ( ) Outro Especifique: _________________________ 7.1- No caso de usar email ou orkut, com quem fala? (pode ser escolhida mais de uma opção) ( ) Namorados (as) ( ) Amigos ( ) Familiares ( ) Colegas de trabalho ( ) Amigos virtuais ( ) Outros Especifique: _________________________ 8- Tempo de permanência ( ) até 10 minutos ( ) 10-20 minutos ( ) 20-30 minutos ( ) 30-60 minutos ( ) mais que 60 minutos 9- Freqüência de uso ( ) Mais de uma vez por dia ( ) Todos os dias ( ) 3 a 5 dias por semana ( ) 1 a 2 dias por semana ( ) Raramente
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10- Você considera que a internet pode contribuir para a sua vida? ( ) Sim ( ) Não Por quê? ______________________________________________________________________ Acesso em casa 10- Internet em casa ( ) não tem Internet em casa ( ) 6 meses a 1 ano ( ) 2 a 4 anos ( ) mais de 5 anos 11- Se tem em casa, porque acessa no telecentro? ( ) conexão com defeito ( ) conexão lenta ( ) proximidade com escola, trabalho etc ( ) cursos ( ) Outro. Especifique: ___________________________________________ 12- Qual a importância da Internet na sua vida? ______________________________________________________________________ 13- Você acredita que a Internet pode contribuir em algo na sua vida? Justifique ______________________________________________________________________
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APÊNDICE D – Entrevista: Usuários de lan house 1. Identificação do entrevistado
• Nome: • Idade: • Qual o bairro que você reside? • Qual a sua renda média mensal? • Histórico de formação:
2. Sobre a cidade
• Como é sua vida em Palmas? • Quais as suas perspectivas futuras?
3. Você dispõe de computador em casa?
4. Além da lan house, em quais lugares você acessa à internet?
5. Você utiliza a lan house somente para acessar à Internet?
6. O computador amplia o acesso à informação?
7. Quais páginas de online você costuma acessar? E por quê?
8. Tecnologia e vida cotidiana
• A Internet mudou a sua relação com seus amigos? Por quê? • A Internet mudou a sua relação com seus familiares? Por quê? • A Internet mudou a sua relação com seu trabalho? Por quê? • Você participa de algum fórum de discussão ou canal de comunicação na Internet?
9. Política Digital em Palmas
• Você sabia que Palmas tem uma política de TIC’s através dos telecentros? • Você já utilizou telecentros? Por quê? • Caso não utilize, por que não utiliza?
10. O acesso às novas tecnologias de informação e comunicação trazem ou podem trazer
benefícios para sua vida? Como?
11. Quando você pensa em Internet você pensa em?
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APÊNDICE E – Entrevista: Usuários de telecentro 1. Identificação do entrevistado
• Nome: • Idade: • Qual o bairro que você reside? • Qual a sua renda média mensal? • Histórico de formação.
2. Sobre a cidade
• Como é sua vida em Palmas? • Quais as suas perspectivas futuras?
3. Você dispõe de computador em casa?
4. Além do telecentro, em quais lugares você acessa à Internet?
5. Você utiliza o telecentro somente para acessar à Internet?
6. O computador amplia o acesso à informação?
7. Quais páginas de online você costuma acessar? E por quê?
8. Tecnologia e vida cotidiana
• A Internet mudou a sua relação com seus amigos? Por quê?
• A Internet mudou a sua relação com seus familiares? Por quê?
• A Internet mudou a sua relação com seu trabalho? Por quê?
• Você participa de algum fórum de discussão ou canal de comunicação na Internet?
9. Política Digital em Palmas
• Quais os pontos positivos e negativos do telecentro? • Com que frequência você utiliza o telecentro?
10. Lan House
• Você já utilizou a lan house? Por quê? • Com que frequência você utiliza?
11. O acesso às novas tecnologias de informação e comunicação trazem ou podem trazer
benefícios para sua vida? Como?
12. Quando você pensa em Internet você pensa em?
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APÊNDICE F – Entrevista: Atendentes e proprietários de lan house
1. Identificação do entrevistado
• Nome: • Idade: • Qual o bairro que você reside? • Qual a sua renda média mensal? • Histórico de formação
2. Sobre a cidade
• Como é sua vida em Palmas? • Quais as suas perspectivas futuras?
3. Tecnologia e vida cotidiana
• A Internet mudou a sua relação com seus amigos? Por quê? • A Internet mudou a sua relação com seus familiares? Por quê? • A Internet mudou a sua relação com seu trabalho? Por quê?
4. Por que trabalha com lan house?
5. Qual o público atendido na lan house?
6. Qual o perfil dos usuários?
7. Você acredita que o computador amplia o acesso à informação?
8. Quais os pontos positivos e negativos da Lei das lan houses? Por quê?
9. Quais as dificuldades do empreendimento lan house?
10. No que o governo poderia investir para melhorar o desenvolvimento do
empreendimento lan house?
11. Quais as páginas que os usuários mais acessam?
12. Quais os serviços, além do acesso à Internet, que os usuários utilizam?
13. Quando você pensa em Internet você pensa em?
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APÊNDICE G – Entrevista: Atendentes de telecentro
1. Identificação do entrevistado
• Nome: • Idade: • Qual o bairro que você reside? • Qual a sua renda média mensal? • Histórico de formação:
2. Sobre a cidade
• Como é sua vida em Palmas? • Quais as suas perspectivas futuras?
3. Por que trabalha no telecentro?
4. Você utiliza o computador em casa? E a Internet?
5. Você utiliza o telecentro ou lan house para acessar à Internet?
6. Quais páginas de online você costuma acessar? E por quê?
7. Sobre Tecnologia e vida cotidiana
• A Internet mudou a sua relação com seus amigos? Por quê? • A Internet mudou a sua relação com seus familiares? Por quê? • A Internet mudou a sua relação com seu trabalho? Por quê? • Você participa de algum fórum de discussão ou canal de comunicação na Internet? • Qual o público atendido no telecentro? • Você acredita que o computador amplia o acesso à informação? • Você acredita que esta política do governo de implantar telecentros ajuda no
desenvolvimento social? Por quê? • Quais os benefícios que o telecentro tem trazido para a comunidade local?
8. Sobre a Política Digital em Palmas
• Quais os pontos positivos e negativos do telecentro? • Com que frequência as pessoas utilizam o telecentro? • Quais os motivos de uso do telecentro? • Onde moram os usuários? • Qual o perfil? • Quando você pensa em Internet você pensa em?
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APÊNDICE H – Entrevista: Usuário de lan house da quadra 305 norte
1. Identificação do Usuário
• Nome • Idade • Profissão
2. Em quais lugares você utiliza a internet?
3. Para que você usa a Internet?
4. Qual a influência da internet na sua vida pessoal?
5. Quais são os resultados do uso da internet?
6. De que forma a Internet muda a sua vida?
7. Por que você usa a lan house?
8. Para que você usa a lan house?
9. Quais são as principais atividades que você usa na Internet?
10. Quais são os principais sites que visita?
11. Qual é a diferença entre a lan house e a sua casa?
12. Você tem amigos na lan house.
13. Quais outras atividades fazem parte de sua vida?
14. Quando você pensa em lan house você pensa em?