Upload
drfelipeyuri
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
1/9
EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 4 VARA DEENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL
Autos n.: xxxx.xx.x.xxxxx-x
FULANO DE TAL, devidamente qualificada nos autos do processo em
epgrafe, vem, respeitosamente, presena de Vossa Excelncia, por intermdio de seus
advogados, procurao anexa, com fulcro no art. 403, 3, do Cdigo de Processo
Penal, na forma de memoriais, apresentar:
ALEGAES FINAIS
Fazendo-o nos termos fticos e jurdicos a seguir expostos:
1 SNTESE FTICA
Trata-se de denncia oferecida pelo Ministrio Pblico do Distrito Federal e
Territrios por intermdio da 8 Promotoria de Justia de Entorpecentes do Distrito
Federal, objetivando a condenao de FULANO DE TAL pelo crime tipificado no art.33, da lei 11.343.
Resposta preliminar s fls. 78-79.
A denncia foi recebida em 19/04/2011, conforme deciso de fl. 97.
Conforme ofcio n. 16.134/ 2011 da Secretaria 1 Turma Criminal durante
julgamento realizado por esta Turma, Habeas Corpus autos n 2011.00.x.0xxxx-x,
concedeu-se a ordem para conceder alvar de soltura a Beltrano, Fulano de Tal e
Cicrano, presos nas mesmas circunstncias, por no estarem presentes os requisitos da
priso preventiva do art. 312, do Cdigo de Processo Penal (fls. 141), assim ementado:
HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGA. PRISO EM FLAGRANTE. NEGATIVA DELIBERDADE PROVISRIA. PEQUENA QUANTIDADE DE MACONHA. INEXISTNCIADE PERICULOSIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
1. Paciente preso em flagrante por infringir o artigo 33 da Lei 11.343/2006, eis quesurpreendido num veculo com duas pessoas no qual foram apreendidas duas pores demaconha e uma balana de preciso, alm de importncia em dinheiro no bolso de sua bermuda.
2. O paciente primrio, com bons antecedentes, comprovou residncia fixa e ocupao lcita.No existe qualquer outra anotao penal em seu nome e a priso em flagrante na posse de
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
2/9
pequena quantidade de maconha, entorpecente de menor nocividade sade pblica, noevidencia periculosidade capaz de justificar a cautelaridade. Foram apreendidasaproximadamente noventa gramas da droga, mas o paciente se fazia acompanhar de duaspessoas, sem que estivesse praticando qualquer ato de mercancia. O fato de terem encostado oveculo um quilmetro depois dos sinais de parar feitos por policiais no revela periculosidadeou o desapreo s autoridades constitudas, mas to somente mero exerccio de autodefesa, poiscertamente utilizaram deste interregno para ocultar o entorpecente no interior do carro. (grifoprprio).
3. Ordem concedida, estendendo-se a deciso aos corrus.
Respectivo alvar de soltura fl. 142.
Na audincia de instruo e julgamento realiza em 2 de junho de 2011, feito
o interrogatrio do acusado (fl. 169-170) afirmou que:
[...] no dia dos fatos se dirigiu at Santa Maria onde adquiriu uma poro de 100 gramas de
maconha por R$ 100,00 (cem reais) [...] que a poro de maconha era destinada ao seu consumopessoal, j que usurio de drogas h oito anos.
Alegaes finais do MPDFT s fls. 211-221.
Eis o memorial dos fatos.
2 DO MRITO
2.1 DA ABSOLVIO NECESSRIA
De acordo com informaes dos autos, percebe-se a ausncia de investigao
pretrita, assim como qualquer prova que o acusado tinha a inteno de vender a droga
que trazia consigo.
Em seu interrogatrio, o acusado categrico ao afirmar que no tinha
inteno de vender a droga que portava no momento da apreenso, sendo essa destinada
ao seu uso pessoal, e confessou ser proprietrio e usurio da Maconha apreendida (fls.
169-170):
[...] no dia dos fatos se dirigiu at Santa Maria onde adquiriu um poro de 100 gramas de
maconha por R$ 100, 00 (cem reais) [...] que a poro de maconha era destinada ao seu
consumo pessoal, j que usurio de drogas h oito anos.
Ocorre que, a simples apreenso de balana de preciso e de quantidade de
droga relativamente baixa 92,88 g (fl. 113) e no fracionada, no suficiente para
comprovar o Trfico de Drogas.
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
3/9
Diante da insuficincia das provas, no h como imputar ao acusado a
autoria pela prtica de trfico de drogas. De acordo com o art. 386, inciso VII do
Cdigo de Processo Penal:
Art. 386. O juiz absolver o ru, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconhea:
VII no existir prova suficiente para a condenao.
Sendo assim, torna-se incontestvel a necessidade de aplicao do princpio
do in dbio pro ru, uma vez que certa a dvida a cerca da culpa a ele atribuda com
relao acusao de Trfico de Drogas, pois o Ru no foi encontrado em atividade de
traficncia.
Sendo assim, o acusado deve ser ABSOLVIDO, com fundamento no art.
386, inciso VII, do Cdigo de Processo Penal, devida inexistncia de provas suficientes
que ensejem sua condenao pela figura do art. 33, caput, da Lei 11.343/06.
2.2 DA DESCLASSIFICAO PARA USURIO
Em seu interrogatrio, o Ru explica o motivo de estar com as drogas em
seu poder (fl.169).
Vejamos o que diz o art. 28 da lei 11.343/06:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depsito, transportar ou trouxer consigo, paraconsumo pessoal, drogas sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ouregulamentar ser submetido s seguintes penas: (grifo prprio)
I - advertncia sobre os efeitos das drogas;
II - prestao de servios comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
Agora vejamos o que diz o art. 33 da lei 11.343/06:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor venda, oferecer, ter em depsito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorizao ou emdesacordo com determinao legal ou regulamentar:
Pena - recluso de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil equinhentos) dias-multa.
Agora pergunto, justo colocar uma pessoa com sua liberdade restrita por
portar uma quantidade de droga nfima e no fracionada pelo simples fato de
transportar, sem comprovao de sua atividade de traficncia? Onde entra ai o
princpio da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana?
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
4/9
Ora Vossa Excelncia, notria a vontade do agente e a destinao para uso
pessoal do acusado, o simples indicio de materialidade do crime de trafico de drogas
no pode ser argumento para a condenao pelo delito do art. 33.
Alm do mais falamos de um ru primrio e com residncia fixa, a suaprimariedade sim uma coisa que deve ser observada, pois o Ru no ostenta a
atividade criminosa.
O uso de tetrahidrocannabinol THC, que o principal agente ativo da
cannabis sativa, conhecida por maconha, como sabido, uma substancia que causa
dependncia qumica, e questes como esta deveriam ser tuteladas pelo Estado como
questes de Sade Pblica e no como de uma atividade criminosa.
Conforme se observa do exposto, resta por comprovada a situao do Ru
como usurio de drogas, conduta elencada no art. 28 da Lei de Drogas, e no a de
traficante, conforme aduzido na denncia. No h prova nos autos que, de acordo
com a anlise dos depoimentos, do local do fato, das condies em que se
desenvolveu a ao, das circunstncias sociais e pessoais, bem como a conduta e os
antecedentes do Ru, cheguem certeza plena de que a prtica do fato era
realmente trfico de drogas, razo que demonstra caso tpico de desclassificao.
Do exposto, caso Vossa Excelncia no vislumbre a idia da absolvio,
requer que seja desclassificada a conduta prevista na denncia para a conduta prevista
no art. 28, da lei 11.343/06.
2.3 DOS POSVEIS CRITRIOS DE FIXAO DA PENA
Embora ntida a tese da absolvio por no estar comprovado o crime de
trfico, e ainda, a tese da desclassificao necessria para usurio pela nfima
quantidade de maconha e o modo como foi encontrada, convm demonstrar outras
situaes que devem ser observadas por Vossa Excelncia. Verificando a situao do
acusado, possvel concluir que o ru primrio e de bons antecedentes e possui
residncia fixa.
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
5/9
Isso porque, embora a droga encontrada em poder do Ru seja de baixo
poder destrutivo, eram estas para seu consumo prprio. Adiciona-se a isso o fato de
ele ser primrio e no se apresentando como justa a priso em regime prisional de
um jovem de 21 anos, usurio de drogas, que apesar de ter cometido uma conduta
reprovvel, no merece um tratamento isonmico ao de um criminoso, uma vezque sabido por todos a fragilidade do sistema carcerrio brasileiro no que diz
respeito ressocializao dos indivduos que l se encontram e retornam ao
convvio social.
Nesse sentido:
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. TRFICO DE DROGAS.
PENA FIXADA EM PATAMAR INFERIOR A DOIS ANOS. PEDIDO DE
CONCESSO DE SURSIS. IMPETRAO PREJUDICADA. CONCESSO DA
ORDEM DE OFCIO PARA RECONHECER A POSSIBILIDADE DE
SUBSTITUIO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE
DIREITOS.(grifo prprio)
1. O Supremo Tribunal Federal assentou serem inconstitucionais os arts. 33, 4, e
44, caput, da Lei n. 11.343/2006, na parte em que vedavam a substituio da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos em condenao pelo crime de trfico de
entorpecentes (HC 97.256, Rel. Min. Ayres Britto, sesso de julgamento de 1.9.2010,
Informativo/STF 598).
2. O art. 77, inc. III, do Cdigo Penal estabelece que a suspenso condicional da pena
(sursis) somente ser aplicvel quando no for indicada ou cabvel a substituio da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, prevista no art. 44 do Cdigo
Penal.
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
6/9
3. Reconhecida pelo Plenrio do Supremo Tribunal Federal a possibilidade de
substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no crime de
trfico de drogas, fica vedada a concesso de sursis ao Paciente.
4. Habeas corpus prejudicado.
5. Concesso de ofcio para reconhecer a possibilidade de se substituir a pena
privativa de liberdade aplicada ao Paciente por restritiva de direitos, desde que
preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos previstos em lei, devendo a anlise ser
feita pelo juzo do processo de conhecimento ou, se tiver ocorrido o trnsito em
julgado, pelo juzo da execuo da pena. (grifo prprio)
(STF, 1 Turma, HC 104361, Rel. Ministra Carmen Lcia, anlise 03/05/2011).
EMENTA: HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGAS. ART. 44 DA LEI
11.343/2006: IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAO
INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA GARANTIA
CONSTITUCIONAL DA INDIVIDUALIZAO DA PENA (INCISO XLVI DO ART. 5
DA CF/88). ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.1. O processo de individualizao da pena um caminhar no rumo da personalizao
da resposta punitiva do Estado, desenvolvendo-se em trs momentos individuados e
complementares: o legislativo, o judicial e o executivo. Logo, a lei comum no tem a
fora de subtrair do juiz sentenciante o poder-dever de impor ao delinqente a sano
criminal que a ele, juiz, afigurar-se como expresso de um concreto balanceamento
ou de uma emprica ponderao de circunstncias objetivas com protagonizaes
subjetivas do fato-tipo. Implicando essa ponderao em concreto a opo jurdico-positiva pela prevalncia do razovel sobre o racional; ditada pelo permanente esforo
do julgador para conciliar segurana jurdica e justia material.
2. No momento sentencial da dosimetria da pena, o juiz sentenciante se movimenta
com ineliminvel discricionariedade entre aplicar a pena de privao ou de restrio
da liberdade do condenado e uma outra que j no tenha por objeto esse bem jurdico
maior da liberdade fsica do sentenciado. Pelo que vedado subtrair da instncia
julgadora a possibilidade de se movimentar com certa discricionariedade nosquadrantes da alternatividade sancionatria.
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
7/9
3. As penas restritivas de direitos so, em essncia, uma alternativa aos efeitos
certamente traumticos, estigmatizantes e onerosos do crcere. No toa que todas
elas so comumente chamadas de penas alternativas, pois essa mesmo a sua
natureza: constituir-se num substitutivo ao encarceramento e suas seqelas. E o fato
que a pena privativa de liberdade corporal no a nica a cumprir a funo
retributivo-ressocializadora ou restritivo-preventiva da sano penal. As
demaispenas tambm so vocacionadas para esse geminado papel da retribuio-
preveno-ressocializao, e ningum melhor do que o juiz natural da causa para
saber, no caso concreto, qual o tipo alternativo de reprimenda suficiente para
castigar e, ao mesmo tempo, recuperar socialmente o apenado, prevenindo
comportamentos do gnero. (grifo prprio)
4. No plano dos tratados e convenes internacionais, aprovados e promulgados pelo
Estado brasileiro, conferido tratamento diferenciado
ao trfico ilcito de entorpecentes que se caracterize pelo seu menor potencial ofensivo.
Tratamento diferenciado, esse, para possibilitar alternativas ao encarceramento. o
caso da Conveno Contra o Trfico Ilcito de Entorpecentes e de Substncias
Psicotrpicas, incorporada ao direito interno pelo Decreto
154, de 26 de junho de 1991. Norma supralegal de hierarquia intermediria, portanto,
que autoriza cada Estado soberano a adotar norma comum interna que viabilize a
aplicao da pena substitutiva (a restritiva de direitos) no aludido crime de
trfico ilcitode entorpecentes.
5. Ordem parcialmente concedida to-somente para remover o bice da parte final do
art. 44 da Lei 11.343/2006, assim como da expresso anloga vedada a converso
em penas restritivas de direitos, constante do 4 do art. 33 do mesmo diploma legal.
Declarao incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da
proibio de substituio da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de
direitos; determinando-se ao Juzo da execuo penal que faa a avaliao das
condies objetivas e subjetivas da convolao em causa, na concreta situao do
paciente.(Grifo prprio)
(STF, HC 97256, Rel. Ministro Ayres Britto, anlise 28/01/2011).
Assim, deve ao Ru ser deferida a converso da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos, conforme garantida pela lei penal; e ainda, que sua pena seja
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
8/9
fixada no mnimo legal apenas ser fixada no mnimo legal pelas circunstncias j
expostas.
Na terceira fase de anlise da fixao da pena deve-se levar em conta
tambm a circunstncia atenuante do Ru, ou seja, na epoca dos fatos ser o agente
menor de 21 anos, nos moldes do art. 65 do Cdigo Penal.
2. 4 DA POSSIBILIDADE DE APELAR EM LIBERDADE
Na busca do carter ressocializador da pena, deve a justia trabalhar para
aplicar aquilo que se coaduna com a realidade social.
Hoje, infelizmente, nosso Sistema Prisional cercado de incertezas sobre a
verdadeira funo de ressocializao dos indivduos que l so mantidos, onde em
muitos casos trata-se de verdadeira escola do crime.
Com base no princpio da presuno de inocncia, previsto na nossa Carta
Poltica, art. 5, inciso LVII: ningum ser considerado culpado at o trnsito em
julgado da sentena penal condenatria; no merece o Acusado, caso Vossa
Excelncia entenda pela condenao, responder ao processo com sua liberdade restrita,
pois as circunstncias do fato e condies pessoais da acusada (art. 282, inciso II, CPP)
lhe so favorveis pelo fato de no haver reincidncia e sua conduta social no ser em
nenhum momento questionada.
Destarte, requer que seja possibilitado R responder ao processo em
liberdade at que ocorra o trnsito em julgado.
3 PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) Que seja absolvido FULANO DE TAL, por no existir prova suficiente para a
condenao, com base no art. 386, VII, do CPP;
b) Em caso contrrio, que seja desclassificada a conduta para a prtica do art. 28 da lei
11.343/06, por existirem elementos suficientes apenas para a afirmao de que o Ru
usurio de drogas;
8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1
9/9
c) Por necessrio, ad argumentum, caso Vossa Excelncia entenda pela condenao, requer
que a pena seja fixada no mnimo legal, observada ainda causa atenuante, e que o Ru
possa apelar em liberdade nos termos do art. 283, do CPP, pois o acusado preenche os
requisitos objetivos para tal benefcio.
Termos em que requer deferimento.
Braslia/DF, em 20 de setembro de 2011.
ADVOGADO
____________________
OAB n ...