Alegações Finais Trafico1

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  • 8/22/2019 Alegaes Finais Trafico1

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    EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 4 VARA DEENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL

    Autos n.: xxxx.xx.x.xxxxx-x

    FULANO DE TAL, devidamente qualificada nos autos do processo em

    epgrafe, vem, respeitosamente, presena de Vossa Excelncia, por intermdio de seus

    advogados, procurao anexa, com fulcro no art. 403, 3, do Cdigo de Processo

    Penal, na forma de memoriais, apresentar:

    ALEGAES FINAIS

    Fazendo-o nos termos fticos e jurdicos a seguir expostos:

    1 SNTESE FTICA

    Trata-se de denncia oferecida pelo Ministrio Pblico do Distrito Federal e

    Territrios por intermdio da 8 Promotoria de Justia de Entorpecentes do Distrito

    Federal, objetivando a condenao de FULANO DE TAL pelo crime tipificado no art.33, da lei 11.343.

    Resposta preliminar s fls. 78-79.

    A denncia foi recebida em 19/04/2011, conforme deciso de fl. 97.

    Conforme ofcio n. 16.134/ 2011 da Secretaria 1 Turma Criminal durante

    julgamento realizado por esta Turma, Habeas Corpus autos n 2011.00.x.0xxxx-x,

    concedeu-se a ordem para conceder alvar de soltura a Beltrano, Fulano de Tal e

    Cicrano, presos nas mesmas circunstncias, por no estarem presentes os requisitos da

    priso preventiva do art. 312, do Cdigo de Processo Penal (fls. 141), assim ementado:

    HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGA. PRISO EM FLAGRANTE. NEGATIVA DELIBERDADE PROVISRIA. PEQUENA QUANTIDADE DE MACONHA. INEXISTNCIADE PERICULOSIDADE. ORDEM CONCEDIDA.

    1. Paciente preso em flagrante por infringir o artigo 33 da Lei 11.343/2006, eis quesurpreendido num veculo com duas pessoas no qual foram apreendidas duas pores demaconha e uma balana de preciso, alm de importncia em dinheiro no bolso de sua bermuda.

    2. O paciente primrio, com bons antecedentes, comprovou residncia fixa e ocupao lcita.No existe qualquer outra anotao penal em seu nome e a priso em flagrante na posse de

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    pequena quantidade de maconha, entorpecente de menor nocividade sade pblica, noevidencia periculosidade capaz de justificar a cautelaridade. Foram apreendidasaproximadamente noventa gramas da droga, mas o paciente se fazia acompanhar de duaspessoas, sem que estivesse praticando qualquer ato de mercancia. O fato de terem encostado oveculo um quilmetro depois dos sinais de parar feitos por policiais no revela periculosidadeou o desapreo s autoridades constitudas, mas to somente mero exerccio de autodefesa, poiscertamente utilizaram deste interregno para ocultar o entorpecente no interior do carro. (grifoprprio).

    3. Ordem concedida, estendendo-se a deciso aos corrus.

    Respectivo alvar de soltura fl. 142.

    Na audincia de instruo e julgamento realiza em 2 de junho de 2011, feito

    o interrogatrio do acusado (fl. 169-170) afirmou que:

    [...] no dia dos fatos se dirigiu at Santa Maria onde adquiriu uma poro de 100 gramas de

    maconha por R$ 100,00 (cem reais) [...] que a poro de maconha era destinada ao seu consumopessoal, j que usurio de drogas h oito anos.

    Alegaes finais do MPDFT s fls. 211-221.

    Eis o memorial dos fatos.

    2 DO MRITO

    2.1 DA ABSOLVIO NECESSRIA

    De acordo com informaes dos autos, percebe-se a ausncia de investigao

    pretrita, assim como qualquer prova que o acusado tinha a inteno de vender a droga

    que trazia consigo.

    Em seu interrogatrio, o acusado categrico ao afirmar que no tinha

    inteno de vender a droga que portava no momento da apreenso, sendo essa destinada

    ao seu uso pessoal, e confessou ser proprietrio e usurio da Maconha apreendida (fls.

    169-170):

    [...] no dia dos fatos se dirigiu at Santa Maria onde adquiriu um poro de 100 gramas de

    maconha por R$ 100, 00 (cem reais) [...] que a poro de maconha era destinada ao seu

    consumo pessoal, j que usurio de drogas h oito anos.

    Ocorre que, a simples apreenso de balana de preciso e de quantidade de

    droga relativamente baixa 92,88 g (fl. 113) e no fracionada, no suficiente para

    comprovar o Trfico de Drogas.

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    Diante da insuficincia das provas, no h como imputar ao acusado a

    autoria pela prtica de trfico de drogas. De acordo com o art. 386, inciso VII do

    Cdigo de Processo Penal:

    Art. 386. O juiz absolver o ru, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que

    reconhea:

    VII no existir prova suficiente para a condenao.

    Sendo assim, torna-se incontestvel a necessidade de aplicao do princpio

    do in dbio pro ru, uma vez que certa a dvida a cerca da culpa a ele atribuda com

    relao acusao de Trfico de Drogas, pois o Ru no foi encontrado em atividade de

    traficncia.

    Sendo assim, o acusado deve ser ABSOLVIDO, com fundamento no art.

    386, inciso VII, do Cdigo de Processo Penal, devida inexistncia de provas suficientes

    que ensejem sua condenao pela figura do art. 33, caput, da Lei 11.343/06.

    2.2 DA DESCLASSIFICAO PARA USURIO

    Em seu interrogatrio, o Ru explica o motivo de estar com as drogas em

    seu poder (fl.169).

    Vejamos o que diz o art. 28 da lei 11.343/06:

    Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depsito, transportar ou trouxer consigo, paraconsumo pessoal, drogas sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ouregulamentar ser submetido s seguintes penas: (grifo prprio)

    I - advertncia sobre os efeitos das drogas;

    II - prestao de servios comunidade;

    III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

    Agora vejamos o que diz o art. 33 da lei 11.343/06:

    Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor venda, oferecer, ter em depsito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,

    entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorizao ou emdesacordo com determinao legal ou regulamentar:

    Pena - recluso de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil equinhentos) dias-multa.

    Agora pergunto, justo colocar uma pessoa com sua liberdade restrita por

    portar uma quantidade de droga nfima e no fracionada pelo simples fato de

    transportar, sem comprovao de sua atividade de traficncia? Onde entra ai o

    princpio da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana?

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    Ora Vossa Excelncia, notria a vontade do agente e a destinao para uso

    pessoal do acusado, o simples indicio de materialidade do crime de trafico de drogas

    no pode ser argumento para a condenao pelo delito do art. 33.

    Alm do mais falamos de um ru primrio e com residncia fixa, a suaprimariedade sim uma coisa que deve ser observada, pois o Ru no ostenta a

    atividade criminosa.

    O uso de tetrahidrocannabinol THC, que o principal agente ativo da

    cannabis sativa, conhecida por maconha, como sabido, uma substancia que causa

    dependncia qumica, e questes como esta deveriam ser tuteladas pelo Estado como

    questes de Sade Pblica e no como de uma atividade criminosa.

    Conforme se observa do exposto, resta por comprovada a situao do Ru

    como usurio de drogas, conduta elencada no art. 28 da Lei de Drogas, e no a de

    traficante, conforme aduzido na denncia. No h prova nos autos que, de acordo

    com a anlise dos depoimentos, do local do fato, das condies em que se

    desenvolveu a ao, das circunstncias sociais e pessoais, bem como a conduta e os

    antecedentes do Ru, cheguem certeza plena de que a prtica do fato era

    realmente trfico de drogas, razo que demonstra caso tpico de desclassificao.

    Do exposto, caso Vossa Excelncia no vislumbre a idia da absolvio,

    requer que seja desclassificada a conduta prevista na denncia para a conduta prevista

    no art. 28, da lei 11.343/06.

    2.3 DOS POSVEIS CRITRIOS DE FIXAO DA PENA

    Embora ntida a tese da absolvio por no estar comprovado o crime de

    trfico, e ainda, a tese da desclassificao necessria para usurio pela nfima

    quantidade de maconha e o modo como foi encontrada, convm demonstrar outras

    situaes que devem ser observadas por Vossa Excelncia. Verificando a situao do

    acusado, possvel concluir que o ru primrio e de bons antecedentes e possui

    residncia fixa.

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    Isso porque, embora a droga encontrada em poder do Ru seja de baixo

    poder destrutivo, eram estas para seu consumo prprio. Adiciona-se a isso o fato de

    ele ser primrio e no se apresentando como justa a priso em regime prisional de

    um jovem de 21 anos, usurio de drogas, que apesar de ter cometido uma conduta

    reprovvel, no merece um tratamento isonmico ao de um criminoso, uma vezque sabido por todos a fragilidade do sistema carcerrio brasileiro no que diz

    respeito ressocializao dos indivduos que l se encontram e retornam ao

    convvio social.

    Nesse sentido:

    EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. TRFICO DE DROGAS.

    PENA FIXADA EM PATAMAR INFERIOR A DOIS ANOS. PEDIDO DE

    CONCESSO DE SURSIS. IMPETRAO PREJUDICADA. CONCESSO DA

    ORDEM DE OFCIO PARA RECONHECER A POSSIBILIDADE DE

    SUBSTITUIO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE

    DIREITOS.(grifo prprio)

    1. O Supremo Tribunal Federal assentou serem inconstitucionais os arts. 33, 4, e

    44, caput, da Lei n. 11.343/2006, na parte em que vedavam a substituio da pena

    privativa de liberdade por restritiva de direitos em condenao pelo crime de trfico de

    entorpecentes (HC 97.256, Rel. Min. Ayres Britto, sesso de julgamento de 1.9.2010,

    Informativo/STF 598).

    2. O art. 77, inc. III, do Cdigo Penal estabelece que a suspenso condicional da pena

    (sursis) somente ser aplicvel quando no for indicada ou cabvel a substituio da

    pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, prevista no art. 44 do Cdigo

    Penal.

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    3. Reconhecida pelo Plenrio do Supremo Tribunal Federal a possibilidade de

    substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no crime de

    trfico de drogas, fica vedada a concesso de sursis ao Paciente.

    4. Habeas corpus prejudicado.

    5. Concesso de ofcio para reconhecer a possibilidade de se substituir a pena

    privativa de liberdade aplicada ao Paciente por restritiva de direitos, desde que

    preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos previstos em lei, devendo a anlise ser

    feita pelo juzo do processo de conhecimento ou, se tiver ocorrido o trnsito em

    julgado, pelo juzo da execuo da pena. (grifo prprio)

    (STF, 1 Turma, HC 104361, Rel. Ministra Carmen Lcia, anlise 03/05/2011).

    EMENTA: HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGAS. ART. 44 DA LEI

    11.343/2006: IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSO DA PENA PRIVATIVA DE

    LIBERDADE EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAO

    INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA GARANTIA

    CONSTITUCIONAL DA INDIVIDUALIZAO DA PENA (INCISO XLVI DO ART. 5

    DA CF/88). ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.1. O processo de individualizao da pena um caminhar no rumo da personalizao

    da resposta punitiva do Estado, desenvolvendo-se em trs momentos individuados e

    complementares: o legislativo, o judicial e o executivo. Logo, a lei comum no tem a

    fora de subtrair do juiz sentenciante o poder-dever de impor ao delinqente a sano

    criminal que a ele, juiz, afigurar-se como expresso de um concreto balanceamento

    ou de uma emprica ponderao de circunstncias objetivas com protagonizaes

    subjetivas do fato-tipo. Implicando essa ponderao em concreto a opo jurdico-positiva pela prevalncia do razovel sobre o racional; ditada pelo permanente esforo

    do julgador para conciliar segurana jurdica e justia material.

    2. No momento sentencial da dosimetria da pena, o juiz sentenciante se movimenta

    com ineliminvel discricionariedade entre aplicar a pena de privao ou de restrio

    da liberdade do condenado e uma outra que j no tenha por objeto esse bem jurdico

    maior da liberdade fsica do sentenciado. Pelo que vedado subtrair da instncia

    julgadora a possibilidade de se movimentar com certa discricionariedade nosquadrantes da alternatividade sancionatria.

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    3. As penas restritivas de direitos so, em essncia, uma alternativa aos efeitos

    certamente traumticos, estigmatizantes e onerosos do crcere. No toa que todas

    elas so comumente chamadas de penas alternativas, pois essa mesmo a sua

    natureza: constituir-se num substitutivo ao encarceramento e suas seqelas. E o fato

    que a pena privativa de liberdade corporal no a nica a cumprir a funo

    retributivo-ressocializadora ou restritivo-preventiva da sano penal. As

    demaispenas tambm so vocacionadas para esse geminado papel da retribuio-

    preveno-ressocializao, e ningum melhor do que o juiz natural da causa para

    saber, no caso concreto, qual o tipo alternativo de reprimenda suficiente para

    castigar e, ao mesmo tempo, recuperar socialmente o apenado, prevenindo

    comportamentos do gnero. (grifo prprio)

    4. No plano dos tratados e convenes internacionais, aprovados e promulgados pelo

    Estado brasileiro, conferido tratamento diferenciado

    ao trfico ilcito de entorpecentes que se caracterize pelo seu menor potencial ofensivo.

    Tratamento diferenciado, esse, para possibilitar alternativas ao encarceramento. o

    caso da Conveno Contra o Trfico Ilcito de Entorpecentes e de Substncias

    Psicotrpicas, incorporada ao direito interno pelo Decreto

    154, de 26 de junho de 1991. Norma supralegal de hierarquia intermediria, portanto,

    que autoriza cada Estado soberano a adotar norma comum interna que viabilize a

    aplicao da pena substitutiva (a restritiva de direitos) no aludido crime de

    trfico ilcitode entorpecentes.

    5. Ordem parcialmente concedida to-somente para remover o bice da parte final do

    art. 44 da Lei 11.343/2006, assim como da expresso anloga vedada a converso

    em penas restritivas de direitos, constante do 4 do art. 33 do mesmo diploma legal.

    Declarao incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da

    proibio de substituio da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de

    direitos; determinando-se ao Juzo da execuo penal que faa a avaliao das

    condies objetivas e subjetivas da convolao em causa, na concreta situao do

    paciente.(Grifo prprio)

    (STF, HC 97256, Rel. Ministro Ayres Britto, anlise 28/01/2011).

    Assim, deve ao Ru ser deferida a converso da pena privativa de liberdade

    por restritiva de direitos, conforme garantida pela lei penal; e ainda, que sua pena seja

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    fixada no mnimo legal apenas ser fixada no mnimo legal pelas circunstncias j

    expostas.

    Na terceira fase de anlise da fixao da pena deve-se levar em conta

    tambm a circunstncia atenuante do Ru, ou seja, na epoca dos fatos ser o agente

    menor de 21 anos, nos moldes do art. 65 do Cdigo Penal.

    2. 4 DA POSSIBILIDADE DE APELAR EM LIBERDADE

    Na busca do carter ressocializador da pena, deve a justia trabalhar para

    aplicar aquilo que se coaduna com a realidade social.

    Hoje, infelizmente, nosso Sistema Prisional cercado de incertezas sobre a

    verdadeira funo de ressocializao dos indivduos que l so mantidos, onde em

    muitos casos trata-se de verdadeira escola do crime.

    Com base no princpio da presuno de inocncia, previsto na nossa Carta

    Poltica, art. 5, inciso LVII: ningum ser considerado culpado at o trnsito em

    julgado da sentena penal condenatria; no merece o Acusado, caso Vossa

    Excelncia entenda pela condenao, responder ao processo com sua liberdade restrita,

    pois as circunstncias do fato e condies pessoais da acusada (art. 282, inciso II, CPP)

    lhe so favorveis pelo fato de no haver reincidncia e sua conduta social no ser em

    nenhum momento questionada.

    Destarte, requer que seja possibilitado R responder ao processo em

    liberdade at que ocorra o trnsito em julgado.

    3 PEDIDO

    Ante o exposto, requer:

    a) Que seja absolvido FULANO DE TAL, por no existir prova suficiente para a

    condenao, com base no art. 386, VII, do CPP;

    b) Em caso contrrio, que seja desclassificada a conduta para a prtica do art. 28 da lei

    11.343/06, por existirem elementos suficientes apenas para a afirmao de que o Ru

    usurio de drogas;

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    c) Por necessrio, ad argumentum, caso Vossa Excelncia entenda pela condenao, requer

    que a pena seja fixada no mnimo legal, observada ainda causa atenuante, e que o Ru

    possa apelar em liberdade nos termos do art. 283, do CPP, pois o acusado preenche os

    requisitos objetivos para tal benefcio.

    Termos em que requer deferimento.

    Braslia/DF, em 20 de setembro de 2011.

    ADVOGADO

    ____________________

    OAB n ...