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Análise de “A Alegoria da Caverna” Livro VII de A República de Platão. O presente texto faz uma leitura da Alegoria da Caverna (514a – 521b), passagem célebre de A República de Platão. Tentamos tornar explícito o significado dos elementos do mito a partir da relação com trechos anteriores, os quais fundamentam essa síntese metafórica que expressa o projeto do autor de criar um Estado ideal. Como método, apresentaremos progressivamente através de cinco momentos – as passagens da Alegoria, destacando os pontos que consideramos os mais consideráveis e necessários para explicar sua relação com trechos anteriores da obra. Os cinco momentos da Alegoria são: (1) Cativeiro (514a-515b), (2) libertação das correntes (515c- e), (3) ascensão para fora da caverna (516a), (4) contemplação das idéias (516a-d) e (5) volta à caverna (516e-517c). Primeiramente, é apresentado o assunto da Alegoria, ao que ela se refere: a educação dos homens: “imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência” (514 a). Por tanto, antes da Alegoria ser apresentada, Platão já limita o seu âmbito: fala-se da educação. E não se deve, a rigor, aplicá-la a qualquer assunto. A seguir, é apresentado o primeiro momento da Alegoria (514 a – 515b). Brevemente, ela diz: Imagina-se homens dentro de uma caverna (que possui uma entrada para a luz), eles estão presos a correntes de uma maneira que não se movem, mas apenas olham para uma parede à sua frente. Não são prisioneiros que ali foram confinados, mas nasceram nesta situação e nunca tiveram outra experiência, “estão lá dentro

Alegoria Da Caverna

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Histria da Filosofia Antiga II

Anlise de A Alegoria da Caverna

Livro VII de A Repblica de Plato.

O presente texto faz uma leitura da Alegoria da Caverna (514a 521b), passagem clebre de A Repblica de Plato. Tentamos tornar explcito o significado dos elementos do mito a partir da relao com trechos anteriores, os quais fundamentam essa sntese metafrica que expressa o projeto do autor de criar um Estado ideal.

Como mtodo, apresentaremos progressivamente atravs de cinco momentos as passagens da Alegoria, destacando os pontos que consideramos os mais considerveis e necessrios para explicar sua relao com trechos anteriores da obra. Os cinco momentos da Alegoria so: (1) Cativeiro (514a-515b), (2) libertao das correntes (515c-e), (3) ascenso para fora da caverna (516a), (4) contemplao das idias (516a-d) e (5) volta caverna (516e-517c).

Primeiramente, apresentado o assunto da Alegoria, ao que ela se refere: a educao dos homens: imagina a nossa natureza, relativamente educao ou sua falta, de acordo com a seguinte experincia (514 a). Por tanto, antes da Alegoria ser apresentada, Plato j limita o seu mbito: fala-se da educao. E no se deve, a rigor, aplic-la a qualquer assunto.

A seguir, apresentado o primeiro momento da Alegoria (514 a 515b). Brevemente, ela diz: Imagina-se homens dentro de uma caverna (que possui uma entrada para a luz), eles esto presos a correntes de uma maneira que no se movem, mas apenas olham para uma parede sua frente. No so prisioneiros que ali foram confinados, mas nasceram nesta situao e nunca tiveram outra experincia, esto l dentro desde a infncia (514 a). Uma fogueira serve-lhes de iluminao e aquecimento, embora esteja ao longe e numa posio (numa eminncia) para a qual os prisioneiros no podem voltam a cabea (214 b). Entre esta fogueira e a posio dos homens h um muro, semelhante ao gnero dos tapumes que os homens dos robertos (marionetes) colocam diante do pblico, para mostrarem as suas habilidades por cima deles (514 b). As marionetes, na verdade, so sombras de esttuas, objetos, animais, etc., transportadas por homens que esto, por assim dizer, ao longo do muro (214 b-c).

Para melhor compreenso pictrica da Alegoria, optamos por apresentar uma ilustrao:

A situao terrvel destes homens torna-se espantosa quando Scrates afirma: eles so semelhantes a ns (515 a). Aquela advertncia inicial a alegoria refere-se educao esclarece a afirmao de Scrates: Semelhante a esta situao embaraosa a nossa, presa a uma educao errnea. Aqui, lembremos que o primeiro livro de A Repblica busca refutar a tradio anterior (representada por Cfalo-Polemarco) e a contempornea de Plato (representada por Trasmaco), ambas educadoras: a primeira, homrica, educava por mitos, rejeitada por Plato em 377c392-c; a segunda, sofstica, mediante remuneraes, prestava-se ora a enganar ora a conceder ao senso-comum (os remuneradores), tambm rejeitada pelo filsofo, em 495d 496a. O que importa aqui entender o que estas duas educaes tm em comum e as torna insuficientes e malficas. Encontramos a resposta um pouco mais frente, quando apresentada a definio consensual de educao: a arte de introduzir ou fornecer cincia alma, como se introduzisse a vista em olhos cegos (518 c). Em outras palavras: ambas as educaes aprisionam os homens a contedos fixos e determinados. Para usarmos termos ainda mais correntes, diramos: elas bitolam os homens-alunos atravs de contedos prontos e manipulados, forando-os apenas a receber e aglomerar passivamente o que lhes imposto. Mais frente veremos que a educao platnica, patente na Alegoria, busca fazer o inverso.

Antes, porm, entendamos o que representam aquelas sombras, as nicas imagens apre(e)ndidas pelos homens confinados no interior da caverna (e, como vimos, confinados educao errnea). Para eles, sem dvida, caso conversem entre si, elas so os objetos reais (515b). No entanto, e aqui comea o segundo momento da Alegoria (515c), imaginemos agora que fosse dado a um homem da caverna a oportunidade de se libertar de suas correntes e algemas inatas. Sem dvida, ficaria parado. Mas Scrates refora: imaginemos que a pessoa que o libertasse tambm o forasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoo, a andar e a olhar para a luz (515c), ver os objetos que formavam as antigas sombras, e ento o forasse com perguntas a dizer o que era (os objetos que formam as sombras) (515d). Por certo que diria que os objetos agora conhecidos so muito mais reais (515d). No entanto, se olhasse para a fogueira a luz dela advinda feriria seus olhos pouco habituados claridade, e o caverncola tenderia a buscar descanso voltando a olhar para os objetos que lhe so habituais, as sombras (515e). Mas, notemos, a este homem foi concedido ver os objetos (as estatuetas, animais, etc.) que formavam as sombras, isto , ele ainda se encontra no interior da caverna; por enquanto sua ascenso foi apenas, por assim dizer, de um patamar dentro da priso. Interresante notar que os homens que carregam os objetos entre a fogueira e a parede vista pelos acorrentados eles tambm esto dentro da caverna. Embora, nesta situao, sejam capazes de distinguir entre as sombras e os objetos que as causam, eles tambm no conhecem o exterior da caverna, ou seja, no conhecem outra educao que no esta. Aqui pensamos que estes homens diferem-se apenas em grau dos que esto acorrentados. Embora eles no tenham correntes, tambm esto presos, pois esto confinados caverna. Podemos identific-los com os educadores antes apresentados, quais sejam, o da tradio clssica e o da sofstica. Embora eles tenham o poder de emitir uma opinio verdadeira, isto , no julgam que as sombras so os objetos eles mesmos, ainda sim esto presos a esta falsa dicotomia. Chamamos isto de falsa dicotomia porque ela se insere dentro da caverna, ou seja, dentro de uma educao limitada e errnea. A verdadeira dicotomia se realizar no passo seguinte da Alegoria.O novo passo, o terceiro momento (516a), prope que aquele homem h pouco liberto das correntes fosse agora forado a sair da caverna, atravs daquele espao ngreme apresentado no comeo (na nossa ilustrao, o caminho ondulante no centro alto). No incio, observaria melhor a dicotomia objetos/sombras e tambm os homens ali presentes (acorrentados e carregadores). Mas agora, fora da caverna, olharia algo que os homens carregadores de esttuas nunca viram: o que h no cu, e o prprio cu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua (516a-b). Contudo, para mirar o Sol ele teria que esperar at que seus olhos se adaptassem fulgurante claridade. Nota-se, importante, o que achamos por bem grifar. O contemplador precisa se adaptar. Mais a frente isso (518c) ser fundamental. Mas prossigamos no andamento da Alegoria. Uma vez que seus olhos adaptaram-se a mirar o Sol diretamente (no mais pela sua imagem na gua ou em outro stio, 516b), ele ento compreender que ele, o Sol, a causa das estaes e os anos e que tudo dirige no mundo visvel, e que o responsvel por tudo aquilo de que eles viam um arremedo (256c).Achamos conveniente ressaltar que a imagem da claridade, da luz, do Sol, em contraposio da escurido, penumbras e sombras, e a correspondncia anatmica dessa contraposio ao rgo da viso j comeam a se delinear no livro anterior. Em 505d, fala-se da escolha pelas aparncias, a despeito da sua carncia de realidade; em 506a, diz-se dos que no buscam uma crena mais slida que acabam por ficar nas trevas; em 506c, julga-se que, entre as doutrinas sem base no saber, as melhores so cegas; e a partir de 507d essas analogias intensificam-se com a anlise da faculdade de viso, analisemos esta passagem mais detidamente.Entre a viso e o objeto visto requer-se um terceiro elemento, a Luz (507d-e). A luz do fogo pode ser entendida como fonte de uma viso, mas esta parca, ilumina distorcendo, devido a seu movimento bruxuleante, possibilitando apenas opinies verdadeiras (como quando o homem da Alegoria foi libertado das correntes e viu os objetos que causavam sombras na parede), mas nunca conhecimento. A luz, em sua fonte mais intensa, advm no Sol (508a). Por isso: Podes, portanto, dizer que o Sol, que eu considero filho do bem, que o bem gerou sua semelhana, o qual bem , no mundo inteligvel, em relao inteligncia e ao inteligvel, o mesmo que o Sol no mundo visvel em relao vista e ao visvel (508b-c).

E mais sintomaticamente, em consonncia com nossas observaes acima sobre a capacidade de viso dos homens da caverna, iluminados apenas por uma fogueira:

Portanto, relativamente alma, reflecte assim: quando ela se fixa num objecto iluminado pela verdade e pelo Ser, compreende-o, conhece-o e parece inteligente; porm, quando se fixa num objecto ao qual se misturam as trevas, o que nasce e morre, s sabe ter opinies, v mal, alterando o seu parecer de alto a baixo, e parece j no ter inteligncia (508d).

E logo a seguir, em contraposio s opinies advindas da luz da fogueira, apresentam-se os efeitos da Luz do Sol: Fica sabendo que o que transmite a verdade aos objetos cognoscveis e d ao sujeito que conhece esse poder, a idia do bem (508e).

Aps estas consideraes ficam clarssimas as analogias apresentadas por Plato: O mundo visvel a analogia para o inteligvel; o Sol para as Idias (no trecho citado, a idia do Bem); a luz para a verdade; objetos da viso para os objetos do conhecimento; etc (Extramos estas analogias da pg. 308 da edio usada por ns, elas foram elaboradas pela tradutora da obra).

Detenhamos um pouco mais na idia do Bem. Por que ela que, como na citao feita por ns, confere a verdade e d ao sujeito a capacidade de conhecer a verdade? Para entendermos isso a analogia com o Sol ainda se faz necessria. Uma vez que o homem sai da caverna e habitua-se claridade cristalina, pode ento contemplar a natureza, objetos reais. Mas logo sua adaptao a esta natureza nua e transparente torna-se completa, e ele passa ento a poder observar no os objetos da natureza, mas a luz que os ilumina, isto , o Sol. Percebe ento que ele, o Sol, no apenas torna os objetos visveis, mas responsvel pela constituio e manuteno deles. Em suma, do conhecimento do Sol (conhecimento proporcionado por ele mesmo), descobre-se que a causa da natureza, o que faz ela ser como . Com a Idia do Bem o mesmo. O homem apto para o conhecimento (conhecimento, a esta altura, adquire um sentido mais forte: s se pode chamar conhecimento a apreenso das idias, isto , das formas inteligveis s quais todas as imagens visveis so dependentes) contempla as Idias de verdade e saber, por exemplo. No entanto, algo s pode ser verdadeiro ou certo sendo bom. Isto , assim como os objetos reais da natureza dependem do Sol, que os constitui e mantm, assim ocorre com a idia do Bem em relao s demais idias. Ela constitui a verdade e o saber, e as mantm. Ela a causa do saber e da verdade, na medida em que esta conhecida, mas, sendo ambos assim belos, o saber e a verdade, ters razo em pensar que h algo de mais belo ainda do que eles (508e), isto , assim como a vista e a luz so semelhantes ao Sol, embora no sejam elas mesmas o Sol, da mesma forma as idias de saber e verdade so semelhantes ao bem, mas no so o Bem ele mesmo. Isto significa que preciso que exista uma idia mais elevada de bem, isto , um Bem em si mesmo, no relacionado s outras idias, mas em si mesmo, isso s pode ser conhecido na idia do Bem.

Mas por que no possvel pensar numa idia mais elevada ainda que a do Bem? Salientamos o que foi dito h pouco: qualquer idia, para ser verdadeira ou bela ou justa ou indubitvel, etc., precisa antes ser Boa. Isto , a idia do Bem o princpio e o fundamento de todas as outras idias: ...no limite do cognoscvel que se avista, a custo, a idia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela para todos a causa de quanto h de justo e belo; que, no mundo visvel, foi ela que criou a luz, da qual senhora; e que, no mundo inteligvel, ela a senhora da verdade e da inteligncia, e que preciso v-la para se ser sensato na vida particular e pblica (517b-c).

Chegamos ento ao ltimo momento da Alegoria (516e-517c). Ele conta o que ocorre ao homem quando decide voltar caverna para compartilhar com os habitantes estanques o que viu l fora, isto , as idias (que, como j definimos, so os princpios e a forma primordial do que portanto, imutveis , em contraposio ao que no , ou seja, o que nasce e perece explicamos: se algo deixa de ser ento no , o que no pode deixar de ser).

A primeira coisa que ele faria seria comparar as imagens as quais os caverncolas vem e as imagens vistas apenas por ele fora da caverna, quais seja, a de objetos reais, iluminados pela luz intensa do Sol e tambm o prprio Sol, isto , as Idias. Aquelas pareceriam ento a ele efmeras, irreais, mera sombras e objetos obscuros. Perceberia que os caverncolas lutam entre si pela posse e saber dessas formas ilusrias, as sombras em competio (517a). Seus olhos, agora habituados brilhante luz solar enxergaria essas sombras de maneira obscura, em volta em trevas. Seu juzo ento sobre este espetculo de sombras pareceria risvel aos caverncolas (517a). Mas ele tentaria solt-los de seus grilhes, alertando-os que so iluses e barreiras contemplao da verdade e do Bem(517a). Contudo, seu desprezo e condenao a estas figuras efmeras causariam a ira daqueles que lutam em si por possu-las. E sua tentativa de libert-los causaria usa morte (517a).

Assim sendo, poderia se pensar que mais razovel permanecer fora da caverna, sem descer e passar por ridculo ou ameaa de morte. No entanto, pensamos, isto impossvel, pois uma vez contemplada a idia do Bem, segue-se a busca de libertao dos demais. E o homem que foi suficientemente inteligente para sair da caverna e contemplar as idias, pode compreender que seus gesto disparatados (517d) deve-se passagem da luz sombra, e da sombra luz (518a). Disso se segue algumas implicaes: A passagem da sombra luz anloga da alma do mundo visvel ao inteligvel. Esta passagem, e o novo estado da alma deste homem, de certo despertariam a admirao e o desejo de igual-lo. A passagem inversa despertaria a compaixo em relao quele que contemplou as idias e agora se esfora por libertar os seus congneres.

O texto avana agora falando desta nova educao, a que o que contemplou as idias pratica a fim de libertar seus congneres caverncolas. Relembremos uma passagem onde afirma-se que as educaes convencionais as praticadas pelos caverncolas intentam introduzir cincia na alma (518c). Esta, por certo, s pode ser falsa, pois ensina sombras... E seu modus operandi uma no-educao. Como j frisamos, ela impe apenas objetos, sem ensinar como conhec-los, mas, ao contrrio, aprisiona os cidados em imagens manipuladas. A verdadeira educao, deve assemelhar-se ao processo vivido por aquele homem que subiu natureza. Lembremos do que tnhamos salientado (incio da pg. 5 deste trabalho): o homem emergido na natureza, a princpio ofuscado por tanta luz, sentia a necessidade de esperar at que seus olhos se adaptassem claridade do novo mundo. Disso tiramos o essencial da educao proposta por Plato neste trecho (518c): A educao no deve impor objetos de estudo, mas antes deve ensejar a adaptao do olho contemplao. O aprendiz no deve ser passivo de uma enxurrada de saberes, mas antes deve aprender a conhecer, deve ser capaz de, por si mesmo, adaptar-se luz. A educao correta, ento, deve quebrar os grilhes, e no apresentar sombras: ...esse rgo [o da viso] deve ser desviado, juntamente com a alma toda [isto , a faculdade do conhecimento], das coisas que se alteram, at ser capaz de suportar a contemplao do Ser e da parte mais brilhante do Ser. A isso chamamos o bem (518c).

Ao contrrio da falsa educao, que, como foi posto, definida como a introduo de cincia na alma, a verdadeira educao apenas torna possvel que o contemplador contemple: A educao seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fcil e mais eficaz de fazer dar a volta a esse rgo, no o de fazer obter viso, pois j a tem, mas, uma vez que ele no est na posio correcta e no olha para onde deve, dar-lhe os meios para isso (518d, grifos nossos).

Esta educao, sem dvida, no se refere a qualquer arte. A arte da manufatura, por exemplo, pode ser aprendida pelo hbito e pela prtica (518e). Mas uma arte, em especial, qual se dirige esta verdadeira educao: a arte de pensar. A analogia do pensamento com a viso, trabalhada exausto at aqui, mais vlida do que nunca: quanto mais certeira for a direo da viso (a educao proporciona a direo certa) e quanto mais iluminada, isto , quanto mais prxima for a ascenso do conhecimento s alturas estrelares das idias, mais o conhecimento ser totalizador (519a).

Sem dvida, quanto mais cedo a educao correta for aplicada, mais fcil ser o desvencilhar-se das algemas da ignorncia e da falsa educao. Os homens que na tenra infncia fossem libertos das sombras efmeras sero os que antes vero com clareza a diferena entre as opinies (caverncolas) e o conhecimento (contemplao das idias), logo virando o pescoo e adquirindo o desejo do saber absoluto (519b). Apenas estes so os cidados aptos ao governo da cidade (519c). Os educadores devem, pois, estimular estes mais capacitados ascenso ao mundo das idias, ou melhor, contemplao e conhecimento dos princpios e fundamentos da realidade, do que (519d).

Uma vez alcanada a ascenso dos cidados mais enamorados (termo em 521b) do saber, e uma vez contempladas as idias eternas, estes devem voltar caverna, para s ento governar a cidade justamente, autorizar o que agora autorizado (519d). Impe-se ento a questo: ser justo o homem do conhecimento ter que lidar e se envolver nas relaes falsas e efmeras dos caverncolas (519d)? Se assim fosse, todo o objetivo da educao seria perdida. Este, para ser verdadeiro, deve visar a totalidade da plis (519e). Ainda que os caverncolas estejam presos a falsas impresses, o que implica a luta por honrarias e falsos valores, o governante, possuidor do conhecimento, deve ser capaz de harmonizar, pela persuaso ou coero (519e), a arte de cada cidado, a fim de cada uma preste o maior benefcio totalidade da plis (520a).

Enfim, estes homens sequiosos de saber, que alcanaram o conhecimento do fundamento ltimo da realidade, s eles, so realmente ricos, no em dinheiro, mas naquilo em que deve abundar quem feliz uma vida boa e sensata (521a). Referncias:Plato, A Repblica. Traduo de Maria Helena da Rocha Pereira. Editora: Fundao Calouste Gulbenkian. Portugal: Lisboa. 2001.

Fonte da ilustrao da Alegoria da caverna: . Acessado em 10 de setembro de 2012.