66
ALENTEJO – uma SEARA VOCABULAR – 05 CANCIONEIRO DE SERPA Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994, com 410 páginas, com escrita, pautas e desenhos à mão!!! 05 Rita Cortez José Rabaça Gaspar – 2012 11

Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Alentejo - Seara Vocabular- 05, baseada na obra de Maria Rita Ortigão Pinto Cortez - Cancioneiro de Serpa, 1994, um delicioso 'Cancioneiro Visual'....

Citation preview

Page 1: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

ALENTEJO – uma SEARA VOCABULAR – 05

CANCIONEIRO DE SERPA

Maria Rita Ortigão Pinto Cortez,

Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994, com 410 páginas, com escrita, pautas e desenhos à mão!!!

05 Rita Cortez

José Rabaça Gaspar – 2012 11

Page 2: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

2 Breve nota a abrir… pela ‘milésima’ vez o:

CANCIONEIRO DE SERPA

Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994, com 410 páginas, com escrita, pautas e desenhos à mão!!! Ao visitar pela milésima vez esta obra única e encantatória de Maria Rita Cortez, uma

artista discreta, escondida na sua mansão encostada à

muralha de Serpa, onde, um dia, em criança, andou atrás

de um coelho que fugira do quintal, (p. 48)

pareceu-me que podia servir de fonte, mais uma, para

seleccionar palavras e expressões características, bem como assinalar ambientes, usos e costumes mais

expressivos da vida no Alentejo, mais propriamente, na

zona de Serpa.

Surpreendentemente, apercebi-me que, nas letras das modas, não havia, ou muito raro, palavras e expressões a colher… mas, na sua introdução a autora situa o

cancioneiro no ambiente que as envolve e aí encontrei esta ‘seara imensa’…

«Alguns dos desenhos representavam vistas autênticas de Serpa e dos seus

campos…» (e palavras e as expressões para os explicar são uma ‘fonte abundante’.) JRG, Corroios, 2011, Abril; 2012, Novembro)

Page 3: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

3

Fala a autora na sua introdução ao Cancioneiro:

Pode ver esta INTRODUÇÃO em: http://www.joraga.net/gruposcorais/pags09_pautas_09_CSerpa_MRitaOPC/0433_Cd

eSerpa_MRitaCortez_p009_000_intro.htm

«Num dia de Março de 1983, não sei a que propósito, ocorreu-me a ideia de escrever as canções tradicionais alentejanas que ao longo de toda a minha vida ouvi cantarem

Serpa, e de as ilustrar com desenhos que representassem as ruas e recantos da vila,

os seus campos, os seus habitantes. Assim nasceu o projecto deste Cancioneiro de

Serpa, e com este nome foi logo baptizado.

«Já na minha adolescência eu fizera uma tentativa de organizar tal colectânea.

Porém, o meu conhecimento de Serpa era nessa época bastante reduzido e

superficial, e por várias razões acabei por desistir. Agora, eu sabia que estava em melhores condições de levar por diante a tarefa. Sem perda de tempo, fui comprar

papel, e no dia seguinte iniciava o desenho que ilustra a primeira canção de que me

lembrei. (44 Lá vai Serpa...)

«À medida que rebuscava na memória canções do meu tempo de criança, outras coisas aprendidas em Serpa vinham ao de cima: rodas infantis (293), contos, lendas

(321), orações populares (399), canções religiosas alentejanas (357), ditados e

Page 4: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

4 provérbios (350), maneiras pitorescas de dizer as coisas, assim como imagens de

cenas presenciadas e episódios de infância, que sentia uma vontade enorme de

representar em desenhos.

«E já agora, "acabandes de" (como se diz em linguagem serpense) ilustrar tantas

páginas com canções - que elas não faltam nesta abençoada terra - porque não havia

de registar também todas estas coisas que para mim estavam tão ligadas a Serpa?

Assim, o cancioneiro foi crescendo...

«Às vezes, mostrava o meu trabalho a pessoas amigas. E, se elas não eram daqui, eu explicava os usos, costumes ou recordações que tinham inspirado certos

desenhos. Então, elas apreciavam-nos muito mais. Isto mostrou-me que era

conveniente fazer acompanhar o Cancioneiro de algumas palavras com essas

mesmas explicações, para que o conteúdo do livro pudesse ser melhor (mais bem) entendido, "mormentes" pelos leitores não familiarizados com esta região. (357 - C.

Religioso)

«Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que esta colectânea contém canções

tradicionais que Serpa canta, ou cantou, desde o tempo da minha infância, o que não significa que todas elas tenham tido em Serpa a sua origem. Muitas são

inegavelmente originais daqui; algumas são adaptações de canções nascidas noutras

Page 5: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

5

partes do Alentejo; outras cantam-se mais ou menos da mesma maneira em toda a

província, inclusive em Serpa, por isso as inseri.

«Que os naturais desses lugares não pensem que quero usurpar honras devidas a

outras terras, considerando Serpa como o berço de todos estes cantares. Esta não é

uma obra de investigação das origens, mas apenas um registo e não é meu desejo

"arranjar enleios" com os restantes alentejanos "por mó'de" tais questões eruditas!»

No entanto...

«A asserção de que Serpa foi sempre um centro importante da cultura e divulgação do canto alentejano não exprime puro bairrismo, mas um facto. Lembro-me de ouvir

em criança e encontrando-me fora do Alentejo a expressão "cantar à moda de Serpa"

usada como sinónimo de "cantar à alentejana".

«Ilustra de certo modo o prestígio de Serpa neste campo a quadra com que abre o

capítulo das modas e cantigas, e que também aparece com as variantes:

Quem me dera ser de Serpa,

ou em Serpa ter alguém é só por ouvir dizer

és de Serpa, cantas bem!

Page 6: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

6 (ou)

que em Serpa se canta bem!

«Falando há pouco tempo com um cantor de um dos grupos corais, que canta há

mais de quarenta anos, confirmou ele que a maioria das canções divulgadas por todo

o Alentejo nasceu de facto aqui. Segundo me disse, houve tempo em que o célebre

"Lírio Roxo" (84) era uma espécie de hino de Serpa. E contou que, indo ele às vezes com o seu rancho cantar a Lisboa ou a outros lugares, ouvia exclamar com respeito

entre os componentes dos outros grupos: "Serpa veio! Estão cá os de Serpa!"

«Mas as canções viajam facilmente, e ainda há dias transmitiram na rádio a cantiga serpense "Eu sou devedor à terra", (270) entoada por um rancho folclórico de Minho

e ao ritmo duma dança minhota!

«Autoridades comprovadas como Michel Giacometti (ver liga) e Rodney Gallop (ver liga), entre outros, fizeram de Serpa um dos principais centros de recolha de canções

alentejanas. Note-se que o segundo, em trinta e uma canções de todo o Alentejo

incluídas no seu livro "Cantares do Povo Português" regista dezassete recolhidas Em

Serpa, ou seja, mais de metade de toda a colecção.

Page 7: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

7

«Porém, repito, não tenho a pretensão de que todas as canções do meu livro tenham

tido aqui a sua origem. Chamei-lhe "Cancioneiro de Serpa", porque em Serpa foi

recolhido todo o material que ele contém.

«Também não foi minha intenção fazer uma recolha sistemática, mas tão só registar

aquilo que eu própria conhecia, abordando, quando muito, uma ou outra pessoa com

o fim de tirar dúvidas ou preencher as lacunas da minha memória. Essas pessoas, por vezes, lembravam-me canções e outras coisas que eu esquecera mas sabia já ter

ouvido. Conhecendo o meu interesse, houve quem me oferecesse folhas e folhas de

cantigas.

«E o Cancioneiro cresceu ainda mais...

«Depois de pronto, ele é um recital dado pelos Serpenses, cantores e contadores de

histórias. E como os Alentejanos quando começam a cantar nunca mais se calam, tive dificuldade em dá-lo por terminado.

«Se eu tivesse feito uma recolha a preceito, acho que teria de escrever vários

volumes iguais a este. "Ia lá por ida"!

«Mas, por agora, "tem avondo"!

Page 8: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

8 «Dedico este livro às crianças de Serpa.

«Com ele, quero ajudar a preservar estas modas, que já não se cantam tanto como se cantavam, estes contos que possivelmente nunca ouviram e a imagem de tantas

coisas belas que há na nossa terra. Pretendo chamar-lhes a atenção para elas

pedindo-lhes que as conservem e as estimem, para que não se percam.

«Que a ânsia de progresso não as leve a desprezar e a deixar arruinar estes edifícios

antigos (64-65), estas casas tão cheias de personalidade, ou a enquadrá-las noutras

construções deslocadas e sem sentido da nossa paisagem. (53-54-55 - 56-57)

«E que o gosto pela música moderna as não faça esquecer o prazer de cantar esta

belíssima música que é tradição nossa!

«Origem do material deste Cancioneiro… Não foi difícil reuni-lo.

«Quando eu era pequena, cantava-se muito em Serpa. Espontaneamente. As

pessoas cantavam tão naturalmente como falavam. (46-47)

«Nessa época, os aparelhos de telefonia eram raros e barulhentos. Além disso, só se podiam ouvir depois do anoitecer, quando funcionava a central eléctrica. Em poucas

casas existia uma grafonola. Se a gente queria ouvir música, tinha que a produzir!

Page 9: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

9

«Cantavam as mulheres enquanto faziam a lida doméstica. (50-52)

«As criadas cantavam os dias inteiros, a ponto de causarem dor de cabeça às

pessoas mais velhas. (100-101)

«E com elas aprendi muita coisa...

«Igualmente se cantava no trabalho do campo e durante as longas caminhadas para

lá chegar. (74-75)

«Um desses trabalhos, sobretudo, dava azo a belos concertos nocturnos - era a

apanha dos grãos, que tinha de ser feita de noite, para evitar que o grande calor

do Sol tornasse as plantas quebradiças, ocasionando a perda dos bagos espalhados

pelo chão. Nesse tempo, era costume as manajeiras andarem batendo às portas das mulheres dos seus ranchos, por volta da meia-noite e, pouco depois, todas se

punham em marcha para os campos. E, para afugentar o medo e esquecerem a

dureza do trabalho que as esperava, iam cantando. (264-265)

«Era lindo, no silêncio das noites de Verão, ouvir esses cantares.

«Como diz a quadra:

Page 10: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

10

O cantar da madrugada

(ou) O cantar da meia-noite

é um cantar "inscelente":

acorda quem está dormindo,

dá gosto a quem 'stá doente!

«Também se cantava muito nas festas familiares, principalmente nos casamentos

(68-69 - 126-127) - ainda hoje há esse costume, mesmo nas famílias consideradas

abastadas - e nas festividades anuais. (394) Ocasiões havia em que apareciam sempre modas novas, compostas localmente ou trazidas de fora, por exemplo no

Carnaval e no tempo da ceifa, em que se celebrava a festa das aprendizas (e dos

aprendizes). Quando as jovens ceifeiras e ceifeiros eram dados por prontos, fazia-se

uma festa, em que eles usavam chapéus coroados de flores. E cantava-se horas a fio.

«Ouvindo-se sempre canções, as crianças aprendiam-nas naturalmente. Mas eu tive

um "professor" que me ensinou a cantar, ainda mal falava - era um empregado que

havia em minha casa. "O Bimbas", (216) "Estou-me divertindo" (146) e "Meus Senhores, que rapariga esta" (216) foram as modas que ele achou mais apropriadas

para me ensinar e, com esta cultura, eu fazia sensação junto da parte não alentejana

Page 11: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

11

da minha família. Mas, aqui em Serpa, a gracinha não causava admiração, porque

todos os miúdos faziam o mesmo! Acontecia frequentemente, nas tardinhas de

Verão, passarem na rua grupos de rapazinhos cantando, por vezes já a duas vozes, como os homens.

«O bom ouvido musical é uma virtude comum à grande maioria dos Serpenses, ou

era, até há algum tempo, pois está a perder-se o hábito de cantar...

«Saí de Serpa ainda antes de ter concluído a instrução primária, e, enquanto

duraram os estudos, só aqui vinha passar férias. Mas, lá longe, recordava sempre

com saudade, os seus cantares e também a sua paisagem - estes campos imensos com um colorido tão próprio, a sobriedade destas casas antigas, a severidade dos

trajos das pessoas.

«Vinham-me à mente as palavras da cantiga:

Eu não sei que(m) tenho em Serpa,

que Serpa me está lembrando.

Em chegando ao Guadiana,

as ondas me vão levando...

«Um dia, regressei a casa para ficar.

Page 12: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

12

«Novas modas tinham aparecido durante a minha ausência. Ouvia-as cantar pelas

ruas, sobretudo nas quadras festivas, altas horas da noite, quando os mais retardatários deixavam as tabernas. Algumas das modas da minha infância já não se

ouviam...

«As mais recentes, ia-as aprendendo com esses cantores, com os meus alunos e com os grupos corais de Serpa e das aldeias do concelho, que dão meças entre os da

Margem Esquerda e até entre os de todo o Alentejo.

«E tudo o que já conhecias e o que ia assim aprendendo, eu fui buscar para compor este livro.

«Além de ter recorrido a pessoas amigas, quando não me lembrava bem de qualquer

canção, também me ajudou a recordar modas e contos a consulta de livros contendo material recolhido em Serpa, nomeadamente exemplares da revista "Tradição" e

"Cantares do Povo Português" de Rodney Gallop. Essa consulta facilitou-me o

trabalho no que respeita às músicas, pois foram menos essas que tive de tirar de

ouvido. No entanto, algumas dessas canções conheci-as já numa versão diferente e,

nesses casos, foi a forma minha conhecida que escrevi. Outras ouvi-as sempre cantar num tom mais grave do que o que encontrei nessas obras; noutros casos, a

música mudou, como acontece por exemplo com "As cobrinhas de água", que se

Page 13: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

13

cantava, no meu tempo, de maneira diferente da que figura em "A Tradição" - versão

recolhida no início deste século (XX), pela Senhora D. Elvira Monteiro, que foi depois

minha professora de piano, assim como de várias gerações de crianças de Serpa.

«Tanto numa como na outra versão destas obras, figuram numerosas canções

recolhidas em Serpa e que nunca ouvi cantar; por isso, não as incluí nesta colecção.

«Direi o que se me oferecer sobre canções (37), etc., em pequenas introduções, no

início dos respectivos capítulos.

«Assim como ia aprendendo as canções mais recentes, agora que vivia em Serpa, também ia observando e conhecendo melhor a vila, os seus recantos, o interior das

suas casas, a sua gente...

«Os desenhos que ilustram estas páginas resultam da observação de todas estas coisas, conforme explicarei a seguir.

«Os Desenhos

«Alguns dos desenhos representavam vistas autênticas de Serpa e dos seus campos. Sem preocupação fotográfica, simplificando, por vezes, os elementos. Que me não

levem a mal os moradores de certas casas ao verem-nas aqui um pouco modificadas,

Page 14: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

14 ou ao constatarem a sua ausência de determinada rua ou praça. Em alguns casos, os

desenhos são inspirados em locais que existem, tendo sido registados somente os

elementos essenciais. (50-51) Outros são feitos de memória, pelo que não podem ser muito exactos. (52-53)

«Por vezes, motivos dispersos são representados juntos; em outros casos, as

distâncias foram encurtadas para que os elementos pudessem caber no espaço disponível. (55 e 65)

«Também idealizei um pouco as coisas, retirando da paisagem fios eléctricos, cabos

telefónicos e antenas de televisão. Bem me basta ter de aturar um grosso e inestético cabo preto que corta ao meio a vista da minha casa de estar (179), da

qual se podem admirar as torres de Santa Maria, do Relógio e do Castelo e que

desmancha todo o prazer de olhar! Este mal só é atenuado pelo facto de os

passarinhos fazerem dele poleiro, o que me permite observá-los mais de perto. (72)

«Quer nos desenhos baseados em paisagem real, quer nos que foram criados pela

minha imaginação, tive sempre como ponto de partida as coisas que se vêem por

aqui:

«As ruas estreitas, de calçadas antigas de pedras irregulares, as paredes sempre

brancas, caiadas várias vezes ao ano, quase tantas vezes quantas se faz a limpeza

Page 15: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

15

das casas. Alvura que brilha em dias de trovoada, de encontro ao céu quase negro.

(83)

«As portas antigas (83 - 137), umas ogivais, outras cujo lintel ostenta um arco

de querena e outras ainda muito singelas, sem moldura, a madeira pintada de

verde-escuro, azul ou castanho, com postigo (101).

«As grandes chaminés (285), de quatro tipos principais: as de escuta, que podem

atingir a altura de dois pisos - algumas com um janelico, outras sem ele mas do

mesmo feitio e que entendidos dizem não deverem ser consideradas de escuta.

«As cilíndricas, muito altas ou atarracadas, cobertas por uma cúpula abobadada

rematada por um pequeno pináculo. As facetadas, com oito ou mais lados, cuja

barra de frestas se situa entre frisos canelados de várias larguras, com cobertura em

pirâmide ondulada que faz lembrar a tampa de um açucareiro inglês - faz pena, actualmente, ver desaparecer chaminés tão bonitas, ocultas pelo crescimento das

casas vizinhas - e ainda as chaminés mais simples, de secção quadrada ou

rectangular, também rematadas por pirâmides onduladas. (243)

«Igualmente, representei, por serem muito características, algumas das clarabóias existentes em muitas casas antigas e que se assemelham a pequenas capelas.

Várias dessas construções cobrem escadas de acesso a mirantes, outras são

Page 16: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

16 clarabóias propriamente ditas e constituem o único ornamento na austeridade

arquitectónica das casas Há uma grande variedade de modelos, alguns bastante

elaborados. (129)

«Estão também representados os telhados velhos, de telha solta, os beirais

assentes em cimalhas salientes. Em certas casas mais antigas, o beiral de telhão

protege do sol ou da chuva quem gosta de se pôr à janela.

«Como não podia deixar de ser, aqui aparecem também as muralhas com os seus

torreões e portas, o aqueduto e algumas das dezassete igrejas, capelas e ermidas

que Serpa se orgulha de possuir. (55 - 379)

«E os fontanários públicos, onde antigamente as mulheres iam buscar água de

"enfusa" à cabeça: à ida a bilha ia deitada sobre a "sogra" e, no regresso,

vinha muito direita, como a sua portadora, que se movia com elegância e à-vontade. Diziam que iam "buscar água ao boneco", porque essas fontes (das quais ainda

existem três) são formadas por uma coluna rematada por um cone, cujo conjunto se

assemelha a uma figura humana; à volta existe um pequeno tanque. (69 - 115)

«Procurei ainda desenhar, sem ter esgotado o tema, as várias grades das janelas, de ferro forjado ou fundido, que tanto embelezam as fachadas das casas. (197)

Page 17: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

17

«E os quintais, de altos muros caiados, por cima dos quais espreitam quase

sempre os ramos de um limoeiro e às vezes os de uma oliveira, com o seu pavimento

de calçada e ladrilho. E as flores que geralmente lá crescem: as rosas, os cravos, as malvas, os malvaíscos, os jarros, os malmequeres, os brincos de princesa,

as flores de lis. Por vezes, uma grande glicínia faz pender os seus cachos para o

lado da rua. (233)

«E os jardins improvisados junto às portas, (137) pois quem não tem quintal

retira pedras da calçada para fazer canteiros ou planta flores nos recipientes mais

inesperados.

«E, ao longo das ruas, as laranjeiras ornamentais, os jacarandás, as olaias que

no fim do Inverno se cobrem de cor-de-rosa forte. E os saudosos mosqueiros, que

davam tão boa sombra, coisa rara no Verão. Fala verdade a quadra:

Alentejo não tem sombra

senão a que vem do céu.

Senta-te aqui, meu amor,

à sombra do meu chapéu!

«Os interiores das casas que desenhei também se inspiram naqueles que eu

conheço: os tectos de abóbada - aqui muito vulgares - outros de caniço seguido

Page 18: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

18 ou do tipo "salto de rato". As grandes lareiras de parede a parede (139 - 245)

e outras pequenas de canto (131 - 225), existentes, em geral, em casas mais

modestas; umas revestidas de azulejos, outras caiadas a oca, onde se faz (ou fazia) lume no chão e se aquece a água em panelas de ferro. O "pial das enfusas". O

pavimento de ladrilhos (que aqui se chamam "baldosas" se forem quadrados e

"lambazes" os rectangulares) fazendo efeitos geométricos nas suas tonalidades

de vermelho. Os nichos cavados nas paredes grossas das cozinhas, onde se arrumam as vasilhas de barro, de cobre ou de latão. E o mobiliário e objectos típicos:

as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira,

as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas, o baú

de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata

onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros

e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra

jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.

«Procurei representar os campos nos seus múltiplos aspectos e cores próprias de

cada estação:

«O verde-esmeralda (263) do princípio da Primavera e as "folhas" de tons diferentes à medida que o Verão se aproxima e as searas vão amadurecendo. A cor

de ouro do tempo das ceifas, que vão deixando a terra castanha com laivos

Page 19: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

19

amarelos do restolho. As grandes queimadas, (72) que à noite povoam os

campos de inúmeras cidades - antigamente começavam no dia de Santa Maria -

tornando ainda mais insuportável a calma do mês de Agosto e deixando extensas manchas negras no solo. E finalmente a terra vermelha do Outono, húmida das

primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e charruadas que preparam as

sementeiras.

«Retratei com mais frequência o esplendor dos campos na Primavera: searas

verde-bandeira, de trigo, e dum verde mais claro, de cevada, salpicadas de

papoilas, malmequeres palmitos cor-de-rosa. (263) Os prados onde crescem

tufos de rosmaninho, os chupa-meis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as

candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome.

«E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das

quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão, no fundo das ribeiras

e barrancos, manchas de cor viva a animar a extrema secura da paisagem.

«E os "montes", como não podia deixar de ser: a casa de habitação, a arramada, o redil, celeiros e palheiros, a chaminé por vezes coroada por um

ninho de cegonhas, o forno redondo isolado ou edificado ao fundo do alpendre ou

Page 20: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

20 casão. (109 - 266 - 273 - 317)

«E a paisagem do Guadiana, (177) que alguns chamam ainda de "a ribeira" (diz-se "r'bera"), com os seus característicos moinhos (85) abobadados de grossas

paredes pardas, construídos de modo a resistir às cheias que todos os anos ocorriam,

antes da construção das barragens em Espanha. Quando o moleiro pressentia a

aproximação duma cheia, retirava o trigo, a farinha e tudo o que podia e abandonava o moinho, que ficava debaixo de água por uns tempos. Retomado o nível normal das

águas, permanecia sobre as paredes e o tecto mais uma camadas de lama e

sementes de erva, o que contribuiu para dar a estas azenhas o aspecto de

montículos de terra e as faz confundir-se com os penedos das margens do rio.

«Também quis representar fenómenos naturais, como as trovoadas de Maio e o

arco-íris. Num dia de tempestade, observei dois grandes arcos-da-velha

concêntricos e completos, pintados com cores luminosas sobre um céu castanho - eles aqui estão, não tão bonitos infelizmente, numa destas páginas. (276)

«E o "espojinho", corrente de ar causada pelo calor, que traça uma linha de poeira

e folhas secas arrancadas do chão, enquanto tudo à volta permanece imóvel,

elevando-se pois no ar, num redemoinho.

Page 21: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

21

«Procurei animar as paisagens da vila e do campo colocando nelas gente e animais,

que têm sempre como fonte de inspiração elementos locais.

«Lembro-me de ver, em pequena, as mulheres de saias compridas e rodadas,

feitas de riscado - era mesmo riscado às riscas, brancas e pretas ou castanhas

escuras - debruadas por um nastro.

«Usavam blusas de chita ou gorgorina de cores escuras, "xale de malha"

pequeno, seguro no peito com um pregador e por cima um xale grande de ir à

rua. Na cabeça, lenço de rebuço que só deixava ver um bocadinho do rosto (dizem

ser reminiscência árabe), e um gracioso chapéu preto de copa redonda e aba enrolada para cima, que usavam apenas as mulheres desta vila. (75 - 76 - 223) E

nos pés, meias de linha, pretas ou de cor e elegantes botas justas à pernas,

apertadas com ilhós e cordões. No Verão, para o trabalho da ceifa, o fato era um

pouco mais garrido, com saias de chita e blusas coloridas, mas traziam o xale de malha da mesma maneira, porque o que protege do frio protege do calor.

«É curioso que, sendo o Baixo Alentejo a região mais quente do País, não se ouve

falar em casos de insolação entre a gente que trabalha no campo.

Page 22: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

22 «Mesmo na vila, os trajes das mulheres eram deste tipo e o uso do xaile obrigatório.

"Censuram!" Diziam, a justificar o facto de terem de pô-lo sempre que iam à rua. As

viúvas traziam o xaile preto pela cabeça, preceito que ainda há quem siga.

«Nessa época, a importância do traje era tão grande, que as manajeiras não

aceitavam nos seus ranchos trabalhadeiras que não estivessem vestidas a rigor. (75

- 77)

«Os homens (135) aparecem nestes desenhos vestidos com fatos de saragoça ou

de sarja cinzenta, de colete e jaqueta, outros trajam camisa de riscado aos

quadradinhos com as pontas da fralda atadas à frente, botas, chapéu de aba larga e lenço dobrado em triângulo atado ao pescoço, (91 - 259) o qual se usa

também desdobrado e colocado sob o chapéu, para defender do ardor do Sol. Outros

trazem peliça ou samarra, outros ainda capote à alentejana. (133 - 289)

«Os pastores usam pelico e ceifões de pele de borrego - também alguns

ceifeiros usam safões (109), mas de pêlo rapado. Ainda hoje se vêem pastores

assim vestidos, por ser uma indumentária confortável. Alguns deles transportam um

borreguinho na curva do cajado posto ao ombro, atado pelas quatro patas como se

fosse uma trouxa. Esta cena observava-se com frequência durante a Semana Santa, altura em que traziam para a vila os animais que iriam ser mortos pela Páscoa e que,

às vezes, eram oferecidos a compadres e amigos. Ao contrário do que se poderia

Page 23: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

23

esperar, eles pareciam não achar incómoda a posição e, dali, iam olhando

placidamente as ruas e casas que nunca tinham visto.

«Desenhei também gente a caminho dos campos, seguida dos seus animais: uma

ovelha com a sua cria, que ficavam a pastar enquanto os donos trabalham, e o

inseparável cão.

«Nos desenhos estão também representados ciganos, que se vêem em grande

número por estas paragens.

«Em algumas das ilustrações, as pessoas estão ocupadas nos trabalhos mais comuns: a monda, a ceifa, a apanha da azeitona (265), o lavado da roupa no

rio, o corte da cortiça: e o pastor e o porqueiro guardando o seu gado;

homens a cavar e a lavrar a terra. Nas ruas, mulheres caiando as casas e

lavando as pedras da calçada. Nas cozinhas, a lida do amassado e a matança do porco (225). E o roupeiro na sua rouparia, fabricando o belíssimo Queijo

Serpa (219 - 269).

«E também figuram pessoas vulgares, sem vestimenta especial, como existem em

toda a parte.

Page 24: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

24 «Os animais que aparecem nos desenhos são os que costumam ver-se por estas ruas

e campos.

«Em primeiro lugar, os cães. A população canina deve ser quase tão numerosa como

a humana e, nas ruas e largos, há sempre cães à vista, predominando as raças

ligadas à caça - os perdigueiros - e uns canitos de raças indiferenciada, pretos ou

amarelos, usados para enxotar os coelhos das moitas.

«Há ainda o cão de pastor (251), de tamanho médio e muito felpudo - infelizmente

já não se vêem muitos, sucedendo o mesmo com o grande rafeiro, usado como cão

de guarda nos montes.

«Na vila, os cães costumam andar em liberdade. Correm, saltam e brincam uns com

os outros e, por vezes, têm o hábito de se deitar a dormir no meio da rua, para

desespero dos automobilistas, que são obrigados a fazer travagens bruscas e desvios inesperados, para não os atropelarem. (57)

«O gato também se vê muito sentado à porta das casas (algumas têm um buraco

redondo para ele entrar e sair à vontade), ou espreguiçando-se ao Sol, em cima dos

telhados.

Page 25: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

25

«Gatos cinzentos, pretos, amarelos ou brancos e a chamada gata mourisca, que

ostenta malhas de três cores. (245)

«Também quis fixar aqui um espectáculo que já se não vê: os burros carregados

de estevas ou de rama de oliveira para os fornos. Punham-lhes uma carga tão

grande em coma, que não se via o burro, ou antes, só apareciam as pontas das

patas, as orelhas e o focinho. Eram autênticas copas de oliveira ambulantes! Por vezes, encontrava-se na estrada um homem conduzindo vários burros assim

ataviados. (73)

Recordações de infância e outras representadas nos desenhos…

«Alguns pormenores das ilustrações podem parecer estranhos, produtos de uma

fantasia que misturou elementos desconexos. No entanto, todos eles são reais.

«Por exemplo, uns passarinhos coloridos, azuis, verdes e amarelos, as cores dos

piriquitos, voando em pleno Alentejo, podem afigurar-se a uma nota insólita. Mas

eles existem. São os abelharucos e os verdilhões, e vi-os várias vezes nas

imediações do Guadiana. A forma pode não ser muito exacta - um pássaro não se

deixa observar por muito tempo - mas as cores são estas. (221)

Page 26: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

26 «Junto ao Guadiana há uns montes que no fim do Inverno se cobrem de junquilhos

bravos e onde, um dia, quando os fotografava, me saltou uma lebre quase debaixo

dos pés. Ambas apanhámos um susto e ela fugiu a toda a velocidade - uma grande bola parda, com orelhas, pisando as flores sem cerimónia...

«Uma manhã de Verão, em que fazia muito calor, apesar de ser ainda cedo, um

jardineiro regava roseiras numa rua onde eu passava a caminho da escola. Ao pé dele e sem se intimidar com os transeuntes, um pintassilgo tomava banho de chuva

na água que respingava da mangueira (95 - 272). É preciso um pintassilgo estar

muito encalmado para se arriscar desta maneira!

«O que é que acontece quando, num mercado, duas vendedeiras colocam lado a lado

um cesto contendo um coelho vivo e outro com um ramo de malmequeres? Foi esta

cena que eu presenciei um dia: o coelho esgueirava-se entre as cordas cruzadas na

boca do cesto, e, de pé nas patas traseiras, roía tranquilamente as flores, iguaria rara para quem vive em capoeira. De vez em quando, a dona apercebia-se do abuso

e dava-lhe uma palmada na cabeça; o coelho encolhia-se, mas não tardava a atacar

novamente os malmequeres da vizinha! (139)

«Num dos desenhos, aparece o interior de uma casa modesta, onde uma mulher faz meia e duas crianças brincam (ver p. 87). O que parece insólito nesta cena é o tecto,

uma linda abóbada com reforço de cantaria e fecho de pedra lavrada. Ela

Page 27: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

27

existe, de facto, numa casa onde fui um dia procurar um pedreiro. Velha casa rica

degradada com o tempo? Capela da referida casa? Não posso sabê-lo, mas ela ali

está, na Travessa de São Paulo.

«Doutra vez, observei uma cena engraçada:

«Chuviscava e, diante de um automóvel estacionado na rua, vi um grande chapéu de chuva aberto, que quase tocava o chão, por debaixo do qual apareciam quatro

perninhas iguais. Eram duas meninas do mesmo tamanho que, abrigadas pela

sombrinha, faziam fosquinhas para a sua imagem reflectida nos pratos das rodas do

carro. (195)

«Cenas como esta que acabo de descrever não podiam deixar de ser utilizadas nas

ilustrações deste livro.

«Igualmente forneceram matéria para vários desenhos recordações de infância, das

quais vou dar exemplos.

«Um dia, o meu pai teve de ir a um monte e eu acompanhei-o. Nessa manhã, a

pateira tinha apanhado uma coruja que entrara pela janela durante a noite. Como eu me pusesse a admirá-la com a curiosidade de quem nunca tinha visto tal ave,

deram-ma de presente e voltei para casa trazendo ao colo a minha coruja. A minha

Page 28: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

28 mãe é que não achou graça nenhuma à aquisição e declarou que não queria em casa

bicho tão agoirento! Ficou-me sempre o desgosto da perda desse animal doméstico,

em memória do qual representei, numa destas páginas, uma menina com uma coruja ao colo. (87 - 161)

«A casa em que vivo fica encostada à muralha e, por isso, o quintal é pequeno e

sombrio. (103 - 179)

«O meu pai, que era médico, receando que a saúde das galinhas pudesse ser

afectada pela insalubridade do local, mandou construir um galinheiro numa varanda

existente por cima da casa.

«Um dia, em que fui dar de comer aos ditos animais, deixei a porta mal fechada e,

um coelho branco que também ali residia, escapou-se e fugiu para cima da muralha.

Assustada pela minha imprevidência, desatei a correr atrás dele pela muralha fora e teria dado volta à vila se não houvesse, de onde em onde, paredes divisórias, uma

das quais deteve o fugitivo.

«Nunca El-Rei D. Dinis imaginou, quando ordenou a edificação destas muralhas, que

por cima dos seus adarves viessem a andar meninas a correr atrás de coelhos brancos! (48)

Page 29: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

29

«Algumas destas recordações de infância estão relacionadas com temporadas que

passei num monte, propriedade de um irmão de meu pai, o Monte Novo. O meu tio

António convidava-nos todas as Primaveras a passar ali algumas semanas e assim me familiarizei com aspectos próprios da vida do campo, que de outro modo não

teria conhecido:

«A grande cozinha do monte, onde comia o pessoal, com o lume no chão sempre aceso e as pessoas sentadas em cadeirinhas baixas ou em mochos. (139) As

tripeças de madeira de azinho. As galinhas que entravam à vontade para

apanhar calor e debicar migalhas espalhadas pelo chão. Os "pirunitos", (245)

que eram uns bichos frágeis e tristonhos, criados dentro de casa, alimentados a papas de farelos quentes misturados com urtigões (diziam "ortigões" e eu fiquei a

saber donde provinha o meu apelido do lado materno).

«As trovoadas, que faziam morrer na casca os pintainhos quase a nascer e cujo espectáculo admirávamos das janelas do primeiro andar, iluminando todo o céu e os

vastos campos a perder de vista.

«Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no

fabrico do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo que o fazia atalhar, ao moldar do coalho dentro dos cinchos

Page 30: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

30 sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um

barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo.

«Tal como acontece com todos os montes alentejanos, a casa ficava situada num

ponto alto e desabrigado, donde se desfrutava uma ampla paisagem de serra. De

noite, ouvia-se sempre o assobiar do vento e o latido dos cães. Tais sons, geralmente

tidos como lúgubres, eram, pelo contrário, imensamente agradáveis e intensificavam a sensação de conforto das pessoas ao adormecer, bem quentinhas debaixo dos

cobertores, sobretudo as crianças, cansadas por um dia de brincadeiras e correrias

pelo campo.

«Que para mim não havia campo como aquele. Encantavam-me aquelas terras

bravias, sem muros nem limitações, toda aquela imensidão.

«Corríamos léguas em redor, eu e a minha prima pouco mais velha e a filha da pateira, uma azougada Marianita, que era pouco mais ou menos da minha idade.

«Íamos até ao Barranco de Margalhos, onde havia loendros, poejos (erva

aromática usada na açorda e nas masmárreas), saudades e outras flores e lá nos

entretínhamos tentando apanhar as rãs, que saltavam por entre as pedras, o que ocasionava umas quantas quedas na água.

Page 31: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

31

«A curta distância do monte havia um sítio chamado Pego das Bruxas, talvez por

ser um amontoado de pedras negras, certamente sinistras depois do escurecer. Mas

de dia era um local maravilhoso, com poças de água e uma enorme variedade de flores. Tantas que, de algumas, ninguém sabia o nome.

«Brincávamos junto ao chafariz, em que a água jorrava de duas carrancas e em cujo

tanque se criavam sanguessugas pretas e vermelhas, que às vezes se prendiam à garganta dos animais e eram muito úteis em certas doenças. Chamavam-lhes

"bichas".

«Íamos ao "corunchoso" – hortejo cercado de "enxapotas" (ramos de azinheira e outras) - onde cresciam couves e alfaces, assim como matrastos,

(mentrasto - metátese de mentastro) erva que cheirava muito bem, especialmente

nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à passagem das

procissões ou nos mastros do São Pedro. No corunchoso havia um espantalho, que não chegava a ser suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos

bravos, os quais, uma noite por outra, iam lá fazer terrabazias.

«Ouviam-se cantar os cucos e as raparigas gritavam-lhes: «Ó cuco, lá da Beira,

quantos anos sou solteira?!» E ele respondia sempre: «Cu-cú-u-u-u-u! Cu-cú-u-u-u-u! Cu-cú-u-u-u-u! ...

Page 32: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

32 «De longe em longe, passavam ranchos a pé ou em carros e paravam para beber no

chafariz.

- «São malteses!» dizia a gente do monte. Ninguém sabia de onde vinham e para

onde iam...

«Nessa época do ano havia galinhas no choco, com os ovos da sua espécie, ou de pata, ou de perua.

«Um dia nasceu uma ninhada de patinhos, muito espertos e engraçados e pouco

demorou vê-los nadar dentro de uma bacia. Então, eu e a Mariana tivemos uma ideia: se eles sabiam nadar tão bem na bacia, ainda melhor nadariam no tanque. E

logo resolvemos proporcionar-lhes uma boa exibição das suas habilidades,

carregando com eles para dentro de uma "pieta" onde as ovelhas bebiam. E eles

nadavam, mas ao fim de algum tempo queriam descansar. Porém, mal eles mostravam vontade de sair do banho, nós enxotávamo-los para o meio da pieta. Os

pobrezinhos não resistiram a tão dura prova e morreram todos! (267)

«Antigamente cultivavam-se variedades de trigo de caule muito alto. Num

desses anos em que íamos para o Monte Novo, as searas cresceram tanto, que atingiram a altura de um homem.

Page 33: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

33

«Uma manhã, a minha prima Maria dos Anjos e eu fomos brincar dentro de uma

seara, procurando flores e vacas-loiras (uns insectos pretos e vermelhos, que,

quando se lhes cuspia em cima, rebentavam) e fazendo piparralhas (pequenas flautas com o caule do trigo).

«Andámos muito tempo entretidas com esses estragos, até que qualquer coisa nos

lembrou que deviam ser horas do almoço e era preciso voltar para casa. Então, descobrimos que nos tínhamos perdido! O trigo era mais alto do que nós e não

conseguíamos ver o monte, nem sabíamos para que lado ele ficava! Depois de várias

tentativas, assustadas, começámos a andar à roda. Por fim, uma de nós sugeriu que

caminhássemos sempre na mesma direcção até sairmos da seara e podermos orientar-nos, levasse o tempo que levasse. Por acaso, seguimos o rumo certo!

«Também íamos passear a outros montes e quintas próximos: à Junqueira, à

Graciosa, à Quinta de São Brás.

«Alturas havia em que se organizavam burricadas, em que tomavam parte os

adultos e as crianças. Vinham da vila tios e primos e arranjavam-se burros

adequados ao tamanho e às aptidões equestres de cada um.

Page 34: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

34 «Nomes de lugares como Margalhos, Benvenidos, Moinhos da Misericórdia e

dos Bugalhos ficaram-me gravados na memória, associados a imagens envoltas

numa névoa de imprecisão, que lhes aumenta o encanto.

«À Quinta de São Brás, ia-se todas as tardes, ao Sol-posto, comprar o leite de vaca

para o pequeno almoço. Tinha uma grande casa antiga formada de três alas de

barras amarelas e janelas gradeadas e, nas traseiras, uma varanda sobranceira ao jardim. Uma escadaria ladeada de roseiras conduzia até uma

área pavimentada com aldosas, contornando um vasto tanque, alimentado pela

água que jorrava da boca de um leão de alvenaria. No meio do tanque, uma estátua

de Neptuno caiada de branco, a quem chamavam o "Rei dos Peixes". (205) Rodeando esse espaço, bancos de alvenaria, muros de buxo e, mais além, um

fresco pomar. A poucos passos, a ermida de São Brás, cuja romaria se celebrava em

Quinta-feira de Ascensão. A festa, e a apanha da espiga, atraía gente dos montes

em redor e até da vila. Passávamos sempre esta data no Monte Novo e também o dia de Santa Cruz.

«No terceiro dia de Maio, era costume confeccionar uma cruz de flores sobre

uma armação de cana, centrada numa grinalda também de flores. Ajudei a fazê-la

algumas vezes, com rosas saloias de cor viva, que tinham muitas pétalas e lembravam pequenos repolhos. Depois de pronta, a Santa Cruz era pendurada num

prego na parede exterior da casa e, à tardinha, toda a gente lhe dançava ao pé, na

Page 35: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

35

rua do monte. Faziam-se balhos de roda, (97) simples ou formando cadeia

(185), acompanhados de modas como "o Pavão" (164), "José Marques" (248), "Foste

tu, ó ladrão, ladrão" (212) e "Eu nesta manhã achei" (130). Às vezes cantava-se ao despique, improvisando.

«Também na vila havia o costume de fazer a Santa Cruz e de florir, nesta data, os

cruzeiros de pedra, que se erguem nas várias entradas da povoação, o que ainda hoje se faz na Cruz Nova.

«As coisas que admiro em Serpa, as minhas recordações de infância e outras,

serviram para elaborar o "Cancioneiro Visual". Foram horas felizes, lembrando todas essas coisas, enquanto procurava passá-las ao papel. Mas horas de angústia

também, por não ser capaz de fazê-lo tão bem como gostaria e, por as actividades

do dia a dia, me não deixarem o tempo e a disponibilidade de espírito necessários.

«Também não me foi possível utilizar todo o material existente; muita coisa bonita

ficou por representar.

«Ao longo deste trabalho estive sempre consciente de que os motivos de inspiração

eram dignos de pincel mais abalizado. Pintar, como escrever, é tarefa de grande responsabilidade...

Page 36: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

36 «Aqui ficam pois, estes bonecos, a chamar a atenção para o que de belo existe na

nossa terra. É essa função, creio, que eles já têm sido capazes de desempenhar,

mesmo antes de o livro ter sido editado.

«Quero agradecer a todas as pessoas a quem roubei um pouco do seu tempo,

pedindo ajuda na reconstituição de canções e histórias semi-esquecidas e que me

forneceram material para esta colectânea.

«Às empregadas da Escola Secundária de Serpa, nomeadamente as Senhoras: Alda

Apolinário, Catarina Mestrinho, Maria de Fátima Saleiro, Gertrudes Mederio e Maria

da Cruz, a quem algumas vezes pedi para me cantarem esta ou aquela moda e sempre o fizeram de muito boa vontade, tendo-me, as duas primeiras, trazido

grande número de cantigas.

«À Senhora D. Maria da Luz Machado Braga, à minhas primas Maria do Carmo Cortez Saraiva da Rocha e Maria dos Anjos C. Baptista Féria Oliveira e à minha amiga Maria

de Lurdes Varela Bettencourt agradeço a ajuda que me deram na reconstituição das

canções.

«A alguns elementos dos ranchos corais - os Senhores José Filipe Justo do Corro e Armando Elias Torrão, do Grupo coral e etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que

Page 37: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

37

me reviram várias músicas e letras; e ao Senhor António Santinhos, do rancho "Os

Ceifeiros de Serpa", que me deu letras de canções da sua autoria.

«Às Senhoras Nita Rias e Maria do Carmo Felício, que me ensinaram e completaram

canções, histórias e orações populares.

«À minha tia Carlota Cortez Baptista e a D. Palmira Isidoro, que me ajudaram em vários contos e lendas.

«Agradeço também à Senhora Marquesa de Ficalho os esclarecimentos que me deu

sobre a lenda da Condessinha, relacionada com uma janela e com o jardim da sua casa.

«Igualmente agradeço a todas as pessoas que se interessaram por este trabalho e

que me acompanharam e encaminharam nos passos a dar com vista à sua publicação.»

Serpa, 8 de Janeiro de 1987 Maria Rita Ortigão Pinto Cortez

Page 38: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

38 GLOSSÁRIO ALENTEJANO no Cancioneiro de Serpa

TERMO /

expressão

origem CITAÇÃO/INFORMAÇÃO

/Significado

OBRA Pa

g

acabandes de E já agora, "acabandes de" (como se diz em linguagem serpense)…

CSerpa

açorda (erva aromática usada na açorda e nas

masmárreas)

CSerpa

alcachofras Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras

bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

aldosas Uma escadaria ladeada de roseiras conduzia até uma área pavimentada com aldosas,

contornando um vasto tanque,

CSerpa

almece Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico

do queijo e do almece, desde a fervura do

leite em tachos enormes, ao deitar do cardo que o fazia atalhar, ao moldar do coalho

dentro dos cinchos sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um

barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro

forte um tanto enjoativo

CSerpa

Page 39: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

39

almofarizes E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os

cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra

jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê

em algumas casas.

CSerpa

alqueives a terra vermelha do Outono, húmida das

primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e

charruadas que preparam as sementeiras

CSerpa

arca de madeira E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os

cântaros e tachos de arame, as chocolateiras

de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê

CSerpa

Page 40: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

40 em algumas casas.

arranjar enleios "arranjar enleios" com os restantes

alentejanos

CSerpa

atalhar Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico

do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo

que o fazia atalhar, ao moldar do coalho

dentro dos cinchos sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um

barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo

CSerpa

aves –

pássaros… mais

típicos…

Por exemplo, uns passarinhos coloridos,

azuis, verdes e amarelos, as cores dos

piriquitos, voando em pleno Alentejo, podem afigurar-se a uma nota insólita. Mas eles

existem. São os abelharucos e os verdilhões, e vi-os várias vezes nas imediações do

Guadiana

CSerpa

avondo Mas, por agora, "tem avondo"! CSerpa 12

azinheiras …os montados com os seus sobreiros,

azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

CSerpa

azinheiras E também os montados com os seus

sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as

CSerpa

Page 41: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

41

loendreiras que florescem no pino do Verão…

junquilhos bravos

baldosas O pavimento de ladrilhos (que aqui se chamam "baldosas" se forem quadrados e

"lambazes" os rectangulares)

CSerpa

balhos de roda Faziam-se balhos de roda, (97) simples ou formando cadeia (185), acompanhados de

modas como "o Pavão" (164), "José Marques"

(248), "Foste tu, ó ladrão, ladrão" (212) e "Eu nesta manhã achei" (130). Às vezes cantava-

se ao despique, improvisando.

CSerpa

barranhão Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico

do queijo e do almece, desde a fervura do

leite em tachos enormes, ao deitar do cardo que o fazia atalhar, ao moldar do coalho

dentro dos cinchos sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um

barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro

forte um tanto enjoativo

CSerpa

baú E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite

CSerpa

Page 42: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

42 e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os

cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra

jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê

em algumas casas.

Benvenidos Nomes de lugares como Margalhos, … CSerpa

bichas Brincávamos junto ao chafariz, em que a água jorrava de duas carrancas e em cujo

tanque se criavam sanguessugas pretas e vermelhas, que às vezes se prendiam à

garganta dos animais e eram muito úteis em

certas doenças. Chamavam-lhes "bichas".

CSerpa

bilha à ida a bilha ia deitada sobre a "sogra" e, no regresso, vinha muito direita,

CSerpa

Bimbas Bimbas – tema de uma moda… nome? CSerpa 216

brancal a arca de madeira coberta com o brancal, os

capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos

CSerpa

burricadas Alturas havia em que se organizavam

burricadas, em que tomavam parte os adultos e as crianças. Vinham da vila tios e primos e

arranjavam-se burros adequados ao tamanho

e às aptidões equestres de cada um.

CSerpa

cadeiras de

bunho

a arca de madeira coberta com o brancal, os

capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira

de cana para os queijos

CSerpa

camas de ferro E o mobiliário e objectos típicos: as camas de CSerpa

Page 43: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

43

de joeira ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite

e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras

de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê

em algumas casas.

Cancioneiro

Visual

As coisas que admiro em Serpa, as minhas recordações de infância e outras, serviram

para elaborar o "Cancioneiro Visual".

CSerpa

candeias - flor Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,

os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

canitos há sempre cães à vista, predominando as raças ligadas à caça - os perdigueiros - e uns

canitos de raças indiferenciada, pretos ou

amarelos, usados para enxotar os coelhos das moitas

CSerpa

cântaros de E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

CSerpa

Page 44: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

44 arame redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata onde se guarda o azeite

e o de barro para as azeitonas (131 – 219),

os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma

ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.

cante ao

despique

Faziam-se balhos de roda, (97) simples ou

formando cadeia (185), acompanhados de modas como “o Pavão” (164), “José Marques”

(248), “Foste tu, ó ladrão, ladrão” (212) e “Eu

nesta manhã achei” (130). Às vezes cantava-se ao despique, improvisando.

CSerpa

capachos E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata onde se guarda o azeite

e o de barro para as azeitonas (131 – 219),

os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma

CSerpa

Page 45: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

45

ou outra jarra antiga de vidro coalhado que

ainda se vê em algumas casas.

capote Outros trazem peliça ou samarra, outros ainda capote à alentejana. (133 – 289)

CSerpa

cardos Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,

os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e

umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome.

CSerpa

ceifões «Os pastores usam pelico e ceifões de pele

de borrego – também alguns ceifeiros usam safões (109),

CSerpa

chaminés As grandes chaminés, de quatro tipos

principais: as de escuta…

As cilíndricas, muito altas ou atarracadas

As facetadas, com oito ou mais lados… as chaminés mais simples, de secção

quadrada ou rectangular, também rematadas

por pirâmides onduladas…

CSerpa 285

chaparros E também os montados com os seus

sobreiros, azinheiras e chaparros, as

charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das quintas. E as

loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos

CSerpa

Page 46: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

46 charnecas E também os montados com os seus

sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as

loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos

CSerpa

charruadas a terra vermelha do Outono, húmida das

primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e charruadas que preparam as sementeiras

CSerpa

chocolateiras de

cobre

E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os

cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra

jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê

em algumas casas.

CSerpa

chorrilho Ali soube o que era uma rouparia, assistindo

ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico

do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo

que o fazia atalhar, ao moldar do coalho

dentro dos cinchos sobre a grande banca de

CSerpa

Page 47: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

47

madeira, de onde escorria o chorrilho para um

barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo

chupa-méis Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,

os chupa-méis, as saudades, as alcachofras

bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e

umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome.

CSerpa

cinchos Ali soube o que era uma rouparia, assistindo

ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico do queijo e do almece, desde a fervura do

leite em tachos enormes, ao deitar do cardo

que o fazia atalhar, ao moldar do coalho dentro dos cinchos sobre a grande banca de

madeira, de onde escorria o chorrilho para um

barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo

CSerpa

colete Os homens (135) aparecem nestes desenhos

vestidos com fatos de saragoça ou de sarja cinzenta, de colete e jaqueta, outros trajam

camisa de riscado aos quadradinhos com as pontas da fralda atadas à frente, botas,

chapéu de aba larga e lenço dobrado em

triângulo atado ao pescoço

CSerpa

cómodas rústicas

E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

CSerpa

Page 48: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

48 estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),

os cântaros e tachos de arame, as

chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que

ainda se vê em algumas casas.

Corro os Senhores José Filipe Justo do Corro e Armando Elias Torrão

CSerpa

corunchoso Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de

“enxapotas” (ramos de azinheira e outras) – onde cresciam couves e alfaces, assim como

matrastos, erva que cheirava muito bem,

especialmente nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à

passagem das procissões ou nos mastros do São Pedro. No corunchoso havia um

espantalho, que não chegava a ser

suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos bravos, os quais, uma

noite por outra, iam lá fazer terrabazias.

CSerpa

cozinha típica do monte

A grande cozinha do monte, onde comia o pessoal, com o lume no chão sempre aceso e

as pessoas sentadas em cadeirinhas baixas ou

em mochos. (139) As tripeças de madeira de

CSerpa

Page 49: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

49

azinho.

encalmado É preciso um pintassilgo estar muito

encalmado para se arriscar desta maneira…

CSerpa

enfusa (infusa)

os fontanários públicos, onde antigamente as mulheres iam buscar água de “enfusa” à

cabeça

CSerpa

enleios não é meu desejo "arranjar enleios" CSerpa

enxapotas Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de “enxapotas” (ramos de azinheira e outras) –

onde cresciam couves e alfaces, assim como

matrastos, erva que cheirava muito bem, especialmente nas manhãs cinzentas e

húmidas e servia para juncar o chão à passagem das procissões ou nos mastros do

São Pedro. No corunchoso havia um

espantalho, que não chegava a ser suficientemente medonho a ponto de

espantar os coelhos bravos, os quais, uma noite por outra, iam lá fazer terrabazias.

CSerpa

espojinho E o “espojinho”, corrente de ar causada pelo

calor, que traça uma linha de poeira e folhas

secas arrancadas do chão, enquanto tudo à volta permanece imóvel, elevando-se pois no

ar, num redemoinho.

CSerpa

estanheira a estanheira na parede com pratos e travessas

CSerpa

estevas E também os montados com os seus CSerpa

Page 50: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

50 sobreiros, azinheiras e chaparros, as

charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das quintas. E as

loendreiras que florescem no pino do Verão…

junquilhos bravos

fatos fatos de saragoça ou de sarja cinzenta CSerpa

flores dos campos do

Alentejo

searas verde-bandeira, de trigo, e dum verde mais claro, de cevada, salpicadas de papoilas,

malmequeres palmitos cor-de-rosa. (263) Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os

chupa-meis, as saudades, as alcachofras

bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e

umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome

CSerpa

fontanários fontanários públicos…

Diziam que iam “buscar água ao boneco”,

porque essas fontes (das quais ainda existem três) são formadas por uma coluna rematada

por um cone…

CSerpa

giesta Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras

bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

hortejo Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de CSerpa

Page 51: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

51

“enxapotas” (ramos de azinheira e outras) –

onde cresciam couves e alfaces, assim como matrastos, erva que cheirava muito bem,

especialmente nas manhãs cinzentas e

húmidas e servia para juncar o chão à passagem das procissões ou nos mastros do

São Pedro. No corunchoso havia um

espantalho, que não chegava a ser suficientemente medonho a ponto de

espantar os coelhos bravos, os quais, uma noite por outra, iam lá fazer terrabazias.

Ia lá por ida Se eu tivesse feito uma recolha a preceito,

acho que teria de escrever vários volumes iguais a este. "Ia lá por ida"!

CSerpa 12

inscelente O cantar da meia-noite

é um cantar “inscelente”

CSerpa

Janelas com

grades…

…as várias grades das janelas, de ferro forjado ou fundido, que tanto embelezam as

fachadas das casas.

197

janelico Chaminés… algumas com um janelico CSerpa

jaqueta Os homens (135) aparecem nestes desenhos

vestidos com fatos de saragoça ou de sarja cinzenta, de colete e jaqueta

CSerpa

jarra antiga de

vidro coalhado

E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas,

CSerpa

Page 52: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

52 o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite

e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras

de cobre, os almofarizes. E uma ou outra

jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.

junquilho E também os montados com os seus

sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão…

junquilhos bravos

CSerpa

lambazes O pavimento de ladrilhos (que aqui se

chamam “baldosas” se forem quadrados e “lambazes” os rectangulares)

CSerpa

lírios Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,

os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

loendreiras E também os montados com os seus

sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as

CSerpa

Page 53: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

53

loendreiras que florescem no pino do Verão…

junquilhos bravos

manajeiras era costume as andarem batendo às portas das mulheres dos seus ranchos…

CSerpa

Margalhos Nomes de lugares como Margalhos,

Benvenidos…

masmárreas (erva aromática usada na açorda e nas masmárreas)

CSerpa

matrastos

(mantrastos,

(mentrasto – metátese de

mentastro)

Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de

“enxapotas” (ramos de azinheira e outras) – onde cresciam couves e alfaces, assim como

matrastos, erva que cheirava muito bem,

especialmente nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à

passagem das procissões ou nos mastros do São Pedro. No corunchoso havia um

espantalho, que não chegava a ser

suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos bravos, os quais, uma

noite por outra, iam lá fazer terrabazias.

CSerpa

Mederio Apelido família – Gertrudes Mederio CSerpa

Mesas redondas

de braseira

E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de

CSerpa

Page 54: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

54 bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),

os cântaros e tachos de arame, as

chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que

ainda se vê em algumas casas.

Mobiliário típico

duma casa alentejana

mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite

e o de barro para as azeitonas (131 – 219), os cântaros e tachos de arame, as

chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma

ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas

CSerpa

moinhos do

Guadiana

Guadiana, (177) que alguns chamam ainda de

“a ribeira” (diz-se “r’bera”), com os seus característicos moinhos (85) abobadados de

grossas paredes pardas, construídos de modo a resistir às cheias que todos os anos

ocorriam

CSerpa

montados …os montados com os seus sobreiros,

azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas

CSerpa

Page 55: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

55

de estevas, tojo e urze.

monte típico

alentejano

E os “montes”, … com a casa de habitação, a

arramada, o redil, celeiros e palheiros, a chaminé por vezes coroada por um ninho de

cegonhas, o forno redondo isolado ou

edificado ao fundo do alpendre ou casão. (109 – 266 – 273 – 317)

CSerpa

mormentes mormentes pelos leitores não familiarizados

com esta região

CSerpa

nichos Os nichos cavados nas paredes grossas das cozinhas, onde se arrumam as vasilhas de

barro, de cobre ou de latão.

CSerpa

Ortigões Os “pirunitos”, (245) que eram uns bichos frágeis e tristonhos, criados dentro de casa,

alimentados a papas de farelos quentes misturados com urtigões (diziam “ortigões” e

eu fiquei a saber donde provinha o meu

apelido do lado materno).

CSerpa

olivais E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as

charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das quintas. E as

loendreiras que florescem no pino do Verão…

junquilhos bravos

CSerpa

pavimento de

ladrilhos

O pavimento de ladrilhos (que aqui se

chamam “baldosas” se forem quadrados e

“lambazes”

CSerpa

Page 56: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

56 pateira a pateira tinha apanhado uma coruja… CSerpa

pial das enfusas O “pial das enfusas”. CSerpa

pieta Para ver os patinhos nadar… carregando com

eles para dentro de uma “pieta” onde as

ovelhas bebiam.

CSerpa

peliça Outros trazem peliça ou samarra, outros

ainda capote à alentejana. (133 – 289)

CSerpa

pelico «Os pastores usam pelico e ceifões de pele de borrego – também alguns ceifeiros usam

safões (109),

CSerpa

piorno Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,

os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

Piparralhas … e fazendo piparralhas (pequenas flautas com o caule do trigo)

CSerpa

piriquitos Por exemplo, uns passarinhos coloridos,

azuis, verdes e amarelos, as cores dos

piriquitos (220)

CSerpa

pirunitos Os “pirunitos”, (245) que eram uns bichos

frágeis e tristonhos, criados dentro de casa,

alimentados a papas de farelos quentes misturados com urtigões (diziam “ortigões” e

eu fiquei a saber donde provinha o meu

apelido do lado materno).

CSerpa

Page 57: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

57

plantas mais

comuns no

Alentejo

as laranjeiras ornamentais, os jacarandás, as

olaias que no fim do Inverno se cobrem de cor-de-rosa forte. E os saudosos mosqueiros…

CSerpa

plantas mais

comuns no Alentejo

E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as

charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão…

junquilhos bravos

CSerpa

poejos (erva aromática usada na açorda e nas masmárreas)

CSerpa

por mó de “por mó de” tais questões eruditas! CSerpa

pote de barro E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),

os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma

ou outra jarra antiga de vidro coalhado que

ainda se vê em algumas casas.

CSerpa

Pote de lata E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

CSerpa

Page 58: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

58 redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata onde se guarda o azeite

e o de barro para as azeitonas (131 – 219),

os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma

ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.

Prateleira de

cana

E o mobiliário e objectos típicos: as camas de

ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a

estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de

bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),

os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma

ou outra jarra antiga de vidro coalhado que

ainda se vê em algumas casas.

CSerpa

R’bera – o

Guadiana… e

Guadiana, (177) que alguns chamam ainda de

“a ribeira” (diz-se “r’bera”), com os seus

característicos moinhos (85) abobadados de grossas paredes pardas, construídos de modo

CSerpa

Page 59: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

59

a resistir às cheias que todos os anos

ocorriam

rosas albardeiras

Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras

bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

rosmaninho Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras

bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e

umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

rouparia roupeiro

E o roupeiro na sua rouparia, fabricando o belíssimo Queijo Serpa (219 – 269).

CSerpa

rouparia

roupeiro

Ali soube o que era uma rouparia, assistindo

ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico

do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo

que o fazia atalhar, ao moldar do coalho dentro dos cinchos sobre a grande banca de

madeira, de onde escorria o chorrilho para um

barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo.

CSerpa

safões «Os pastores usam pelico e ceifões de pele

de borrego – também alguns ceifeiros usam

CSerpa

Page 60: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

60 safões (109),

samarra Outros trazem peliça ou samarra, outros

ainda capote à alentejana. (133 – 289)

CSerpa

Santa Cruz No terceiro dia de Maio, era costume confeccionar uma cruz de flores sobre uma

armação de cana, centrada numa grinalda também de flores. Ajudei a fazê-la algumas

vezes, com rosas saloias de cor viva, que

tinham muitas pétalas e lembravam pequenos repolhos. Depois de pronta, a Santa Cruz era

pendurada num prego na parede exterior da casa e, à tardinha, toda a gente lhe dançava

ao pé, na rua do monte. Faziam-se balhos de

roda, (97) simples ou formando cadeia (185), acompanhados de modas como “o Pavão”

(164), “José Marques” (248), “Foste tu, ó

ladrão, ladrão” (212) e “Eu nesta manhã achei” (130). Às vezes cantava-se ao

despique, improvisando.

CSerpa

sarja fatos de saragoça ou de sarja cinzenta CSerpa

saragoça fatos de saragoça ou de sarja cinzenta CSerpa

saudades Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras

bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,

as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que

nunca soube o nome.

CSerpa

Page 61: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

61

sobreiros E também os montados com os seus

sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as

loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos

CSerpa

sogra …à ida a bilha ia deitada sobre a “sogra” e,

no regresso, vinha muito direita,

CSerpa

tachos de arame E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas

redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,

o baú de pele e a arca de madeira coberta

com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos

(325), o pote de lata onde se guarda o azeite

e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras

de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê

em algumas casas.

CSerpa

telhados telhados velhos, de telha solta, os beirais assentes em cimalhas salientes.

CSerpa

tem avondo Mas, por agora, "tem avondo"! CSerpa 12

terra vermelha a terra vermelha do Outono, húmida das

primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e

charruadas que preparam as sementeiras

CSerpa

Page 62: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

62 terrabazias Íamos ao "corunchoso" - hortejo cercado de

"enxapotas" (ramos de azinheira e outras) - onde cresciam couves e alfaces, assim como

matrastos, erva que cheirava muito bem,

especialmente nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à

passagem das procissões ou nos mastros do

São Pedro. No corunchoso havia um espantalho, que não chegava a ser

suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos bravos, os quais, uma

noite por outra, iam lá fazer terrabazias.

CSerpa

tojo E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as

charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão…

junquilhos bravos

CSerpa

Torrão os Senhores José Filipe Justo do Corro e Armando Elias Torrão

CSerpa

traje típico da

mulher

alentejana (um)

Lembro-me de ver, em pequena, as mulheres

de saias compridas e rodadas, feitas de riscado - era mesmo riscado às riscas,

brancas e pretas ou castanhas escuras -

debruadas por um nastro. Usavam blusas de chita ou gorgorina de cores

escuras, "xale de malha" pequeno, seguro no

peito com um pregador e por cima um xale

CSerpa

Page 63: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

63

grande de ir à rua. Na cabeça, lenço de

rebuço que só deixava ver um bocadinho do rosto (dizem ser reminiscência árabe), e um

gracioso chapéu preto de copa redonda e aba

enrolada para cima, que usavam apenas as mulheres desta vila. (75 - 76 - 223) E nos

pés, meias de linha, pretas ou de cor e

elegantes botas justas à pernas, apertadas com ilhós e cordões. … Nessa época, a

importância do traje era tão grande, que as manajeiras não aceitavam nos seus ranchos

trabalhadeiras que não estivessem vestidas a

rigor. (75 - 77)

traje típico do

homem… (um)

Os homens (135) aparecem nestes desenhos

vestidos com fatos de saragoça ou de sarja

cinzenta, de colete e jaqueta, outros trajam camisa de riscado aos quadradinhos com as

pontas da fralda atadas à frente, botas,

chapéu de aba larga e lenço dobrado em triângulo atado ao pescoço, (91 - 259) o qual

se usa também desdobrado e colocado sob o chapéu, para defender do ardor do Sol.

Outros trazem peliça ou samarra, outros

ainda capote à alentejana. (133 - 289)

CSerpa

traje típico do

pastor…

Os pastores usam pelico e ceifões de pele de

borrego - também alguns ceifeiros usam

safões (109), mas de pêlo rapado.

CSerpa

Page 64: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

64 urtigões Os "pirunitos", (245) que eram uns bichos

frágeis e tristonhos, criados dentro de casa, alimentados a papas de farelos quentes

misturados com urtigões (diziam "ortigões" e

eu fiquei a saber donde provinha o meu apelido do lado materno).

CSerpa

urze E também os montados com os seus

sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.

Os olivais e os pomares das quintas. E as

loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos

CSerpa

vacas-loiras fomos brincar dentro de uma seara,

procurando flores e vacas-loiras (uns insectos pretos e vermelhos, que, quando se lhes

cuspia em cima, rebentavam) e fazendo

piparralhas (pequenas flautas com o caule do trigo)

CSerpa

vasilhas Os nichos cavados nas paredes grossas das

cozinhas, onde se arrumam as vasilhas de barro, de cobre ou de latão.

CSerpa

Page 65: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez

65

trabalho realizado por @ JORAGA

Vale de Milhaços, Corroios, Seixal 2012

JORAGA

JORAGA

Page 66: Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994

proposta de recolha e estudo de joraga.net

66

05 – RitaCortez

Corroios - www.joraga.net - 2012