Alexandre Gonzales Juros Sobre o Capital Próprio

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC/SP

    Alexandre Gonzales

    Juros sobre capital prprio: utilizao em empresas de capital fechado atuantes no segmento Transportador-Revendedor-Retalhista (TRR)

    MESTRADO EM CINCIAS CONTBEIS E ATUARIAIS

    SO PAULO

    2008

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC/SP

    Alexandre Gonzales

    Juros sobre capital prprio: utilizao em empresas de capital fechado atuantes no segmento Transportador-Revendedor-Retalhista (TRR)

    MESTRADO EM CINCIAS CONTBEIS E ATUARIAIS

    Dissertao apresentada Banca Examinadora como exigncia parcial para obteno do ttulo de MESTRE em Cincias Contbeis e Atuariais, pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, sob a orientao do Prof. Dr. Roberto Quiroga Mosquera.

    SO PAULO 2008

  • Banca Examinadora

    Prof. Dr. : __________________________________

    Prof. Dr. : __________________________________

    Prof. Dr. : __________________________________

  • iv

    minha famlia, Patrcia, Pedro Henrique e Ana Beatriz.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    minha famlia, em especial Patrcia e Pedro Henrique pela compreenso e pelo estmulo, e a meu pai, Jos Roberto, pelos ensinamentos pessoais e profissionais.

    Aos Professores do Programa de Ps-Graduao em Cincias Contbeis da PUC/SP, pelos conhecimentos e iluminao transmitidos.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Roberto Quiroga Mosquera, pela sabedoria, ateno e dedicao que enriqueceram e honraram este trabalho. Ao Prof. Dr. Roberto Fernandes dos Santos pelo apoio durante o curso, assim como pela sua participao na avaliao do presente estudo.

    Ao Prof. Dr. Francisco Antonio Bezerra, pela dedicao e pela valiosa participao que resultou em importante contribuio ao trabalho.

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC/SP, pelo apoio concedido a mim, como membro docente dessa admirvel instituio. Ao Sindicato Nacional do Comrcio TRR pela assistncia que tornou possvel a realizao da pesquisa junto a seus associados. Aos meus amigos de curso, que muito contriburam para o meu desenvolvimento pessoal e acadmico, dentre eles, em especial, aos amigos Cludio Rafael Bifi, Maurcio Fernando da

    Silva, Vnia Cristina Canal Gomes. Professora Silvana Terranova dos Santos pelas revises e sugestes relativas utilizao da gramtica.

    Ao Professor Carlos Ricardo Bifi pelo auxlio no decorrer do trabalho. Aos meus familiares e amigos, que direta ou indiretamente contriburam para a construo deste trabalho, pelas palavras de apoio, encorajamento e conselhos fornecidos.

  • vi

    O pulso ainda pulsa Marcelo Fromer / Tony Bellotto / Arnaldo Antunes

  • vii

    RESUMO

    O pagamento de juros sobre o capital prprio pelas empresas teve um incremento significativo, desde sua criao, pela Lei 9.249/95. A partir da referida Lei, a possibilidade de utilizao da referida figura, que era restrita a alguns casos especficos, foi estendida. O pagamento a ttulo de juros sobre o capital prprio opcional, e deve seguir critrios objetivos para caracterizar-se como despesa dedutvel para fins de apurao de imposto de renda e contribuio social sobre o lucro. Tal deduo pode proporcionar s empresas uma considervel economia tributria. No entanto, possvel verificar que um nmero significativo de empresas no aderiu ao pagamento de juros sobre o capital prprio. Mais de cinqenta por cento das empresas de capital aberto aderiram ao pagamento de juros sobre o capital prprio, enquanto que o cenrio, levando-se em considerao as empresas optantes pelo Lucro Real como um todo, mostra outra realidade. Informaes obtidas por meio de anlise de nmeros fornecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil indicam que menos de 3% das empresas optantes pelo Lucro Real pagam juros sobre o capital prprio. Por que motivo a referida sistemtica, de aplicao relativamente simples, claramente definida em lei, e que pode proporcionar economia tributria s empresas, no tem sido utilizada com mais freqncia? A pesquisa desenvolvida classificada como uma pesquisa exploratria. O estudo foi realizado a partir de pesquisa documental, pesquisa de campo e entrevistas. Sero pesquisadas empresas atuantes no segmento denominado TRR Transportador Revendedor Retalhista, atividade regulamentada pela ANP Agncia Nacional do Petrleo. A pesquisa realizada no presente trabalho conclui que, dentre as empresas estudadas que no pagam juros sobre o capital prprio, aproximadamente 40% no o fazem por desconhecer completamente o assunto, ou ento por conhec-lo pouco, no sendo possvel, assim, que possam estimar os possveis benefcios derivados do pagamento dos juros sobre o capital prprio.

    Palavras-chave: juros sobre o capital prprio, economia tributria, dividendos.

  • viii

    ABSTRACT

    Payment of interest on shareholders equity by companies has been increasing significantly since its creation, by Law 9.249/95. Since this law was created, the possibility of using this figure, which was restricted to few specific cases, was extended. The payment of interest on shareholders equity is optional, and might follow objective criteria to characterize as a deductible expense when calculating income and social taxes. This deduction can provide a considerable tax economy to companies. However, it is possible to verify that a significant number of companies have not joined the payment of Interest on shareholders equity. More than fifty per cent of publicly-traded companies joined the payment of Interest on shareholders equity, while the scenario, taking into consideration the companies which pays income and social taxes by Lucro Real mode as a whole, shows another reality. Informations obtained through numbers provided by Secretaria da Receita Federal do Brasil, the entity that monitors the income tax in Brazil, indicates less than 3% of these companies pay interest on shareholders equity. Why this systematic, with relatively simple implementation, clearly defined in law, and which can provide tax economy to the companies, has not been used more often? The research developed is classified as an exploratory search, and the study was conducted from documentary research, search field, and interviews. Will be searched companies operating in the segment called TRR Transportador Revendedor Retalhista, activity regulated by ANP Agncia Nacional do Petrleo, the government entity that monitors the oil industry in Brazil. The research conducted in this study concludes that, among all the companies that do not pay interest on shareholders equity, 40% do not pay it because completely or partially ignore the issue, being impossible, then, for these companies, to estimate possible benefits arising from the payment of interest of shareholders equity.

    Palavras-chave: Interest on shareholders equity, tax economy, dividends.

  • SUMRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................3 LISTA DE QUADROS ..........................................................................................................5 LISTA DE TABELAS............................................................................................................6 LISTA DE GRFICOS..........................................................................................................7 1 INTRODUO..............................................................................................................8

    1.1 Apresentao ............................................................................................................9 1.2 Contextualizao do tema .......................................................................................10 1.3 Formulao do problema ........................................................................................11 1.4 Objetivo geral e objetivos especficos .....................................................................11 1.5 Importncia e contribuio......................................................................................12 1.6 Motivos para a no utilizao dos juros sobre o capital prprio ...............................13 1.7 Metodologia de pesquisa.........................................................................................14 1.8 Campo de abrangncia a ser analisado ....................................................................15 1.9 Reviso da literatura ...............................................................................................16

    2 FUNDAMENTAO TERICA ................................................................................18 2.1 O planejamento tributrio .......................................................................................18

    2.1.1 Administrador e o planejamento........................................................................18 2.1.2 A Contabilidade definio, objetivos e usurios..............................................20 2.1.3 Contabilidade e tributao .................................................................................25 2.1.4 Definio de carga tributria e sua evoluo......................................................29 2.1.5 Definio de planejamento tributrio.................................................................34 2.1.6 Diferena entre evaso e eliso fiscal ................................................................38 2.1.7 Planejamento tributrio e norma antielisiva .......................................................42

    2.2 Juros sobre o capital prprio ...................................................................................45 2.2.1 Definio de juros sobre o capital prprio .........................................................45 2.2.2 Histrico na legislao brasileira .......................................................................49 2.2.3 Fatores que impulsionaram a criao dos juros sobre o capital prprio ..............53 2.2.4 Fundamentao legal e critrios para apurao do valor dedutvel .....................59 2.2.5 Contabilizao nas empresas pagadoras de juros sobre o capital prprio............64 2.2.6 Imputao ao valor do dividendo obrigatrio.....................................................69 2.2.7 Imposto de renda retido na fonte .......................................................................71 2.2.8 Evoluo da arrecadao de IRRF juros sobre o capital prprio......................72 2.2.9 Justificativas para utilizao..............................................................................74 2.2.10 Juros ou dividendos? .....................................................................................77 2.2.11 Evoluo recente da tributao dos dividendos no Brasil ...............................81 2.2.12 Juros sobre o capital prprio em outros pases ...............................................83 2.2.13 Exemplo de aplicao....................................................................................85 2.2.14 Exemplo comparativo - com e sem juros sobre o capital prprio....................87

    3 PESQUISA...................................................................................................................94 3.1 Universo de empresas .............................................................................................94

    3.1.1 Empresas optantes pelo Lucro Real ...................................................................94 3.1.2 Universo de empresas pesquisadas ....................................................................95 3.1.3 Empresas pesquisadas .......................................................................................99 3.1.4 Procedimentos de pesquisa................................................................................99 3.1.5 Possveis causas ..............................................................................................100

    3.2 Anlise dos resultados da pesquisa........................................................................103 3.2.1 Respostas dos questionrios ............................................................................103

  • 2

    3.2.2 Localizao das empresas................................................................................105 3.2.3 Adequao ao foco da pesquisa .......................................................................106 3.2.4 Porte das empresas ..........................................................................................106 3.2.5 Utilizao dos juros sobre o capital prprio .....................................................107 3.2.6 Motivos para a utilizao dos juros sobre o capital prprio ..............................109 3.2.7 Freqncia de utilizao dos juros sobre o capital prprio ...............................109 3.2.8 Motivos para a no utilizao dos juros sobre o capital prprio .......................110 3.2.9 Limitaes da pesquisa....................................................................................112

    4 CONSIDERAES FINAIS......................................................................................114 4.1 Concluses ...........................................................................................................114 4.2 Recomendaes para trabalhos futuros..................................................................115

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................116

  • 3

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ANP: Agncia Nacional do Petrleo

    BACEN: Banco Central do Brasil CFC: Conselho Federal de Contabilidade

    CNP: Conselho Nacional do Petrleo COFINS: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social CSLL: Contribuio Social sobre o Lucro Lquido CSSL: Contribuio Social sobre o Lucro

    CST: Coordenador do Sistema de Tributao CTN: Cdigo Tributrio Nacional

    CVM: Comisso de Valores Mobilirios DIPJ: Declarao de Informaes Econmico-Fiscais da Pessoa Jurdica DOU: Dirio Oficial da Unio DRE: Demonstrao de Resultado do Exerccio EVA: Economic Value Added IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IPEA: Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada IRPJ: Imposto de Renda Pessoa Jurdica

    IRRF: Imposto de Renda Retido na Fonte JCP: juros sobre o capital prprio LALUR: Livro de Apurao do Lucro Real MP: Medida Provisria NBC: Norma Brasileira de Contabilidade OCDE: Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico PIB: Produto Interno Bruto

    PIS: Programas de Integrao Social PN: Parecer Normativo

    PUC-SP: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo RF: Regio Fiscal

    S.A.: Sociedade Annima SINDTRR: Sindicato Nacional do Comrcio Transportador-Revendedor-Retalhista

    de leo Diesel, leo Combustvel e Querosene

  • 4

    SRF: Secretaria da Receita Federal SRFB: Secretaria da Receita Federal do Brasil TJLP: Taxa de Juros de Longo Prazo TRR: Transportador-Revendedor-Retalhista

  • 5

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Principais tipos de usurios de informaes contbeis.........................................24 Quadro 2 - Tributao incidente sobre lucros ou dividendos - a partir de 1989......................82 Quadro 3 - Exemplo sem aplicao de juros sobre o capital prprio Balano Patrimonial ..87 Quadro 4 - Exemplo sem aplicao de juros sobre o capital prprio DRE ..........................88 Quadro 5 - Exemplo com aplicao de juros sobre o capital prprio Balano Patrimonial ..88 Quadro 6 - Exemplo com aplicao de juros sobre o capital prprio DRE..........................89

  • 6

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Taxa de juros de longo prazo - TJLP....................................................................63 Tabela 2 - Evoluo da arrecadao - IRRF - juros remuneratrios do capital prprio...........73 Tabela 3 - Clculo de juros sobre o capital prprio - empresas com prejuzo no perodo .......86 Tabela 4 - Clculo de juros sobre o capital prprio empresas com lucro no perodo ...........86 Tabela 5 - Composio da remunerao dos scios Exemplo b).........................................90 Tabela 6 - Limite permitido para dedutibilidade - exemplo b)...............................................90 Tabela 7- Comparao dos valores do lucro do exerccio no PL............................................91 Tabela 8- Comparao de tributos sobre o lucro entre os dois exemplos (a e b).....................92 Tabela 9- Comparao da composio das obrigaes tributrias..........................................92 Tabela 10 -Comparativo empresas optantes pelo Lucro Real .............................................95 Tabela 11 - Distribuio de estabelecimentos TRR no Pas - ANP........................................98 Tabela 12 - Empresas com e sem aes na bolsa de valores ................................................100 Tabela 13 - Freqncia de preenchimento de campo de despesa de juros sobre o capital prprio em declaraes de renda de empresas .....................................................................101 Tabela 14 - Classificao de empresas TRR pesquisadas por volume mensal de vendas...107 Tabela 15 - Motivos para a no utilizao dos Juros sobre o Capital Prprio empresas pesquisadas ........................................................................................................................112

  • 7

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Evoluo da Carga Tributria sobre o PIB 1995 a 2006 ...................................32 Grfico 2 - Carga Tributria Global 1947/96......................................................................33 Grfico 3 - IRRF Juros sobre o Capital Prprio 1996 a 2005...........................................73 Grfico 4 - Empresas TRR no Pas .....................................................................................104 Grfico 5 - Presena de empresas TRR Por Unidades da Federao.................................105 Grfico 6 - Volume Mensal de Vendas Litros ..................................................................107 Grfico 7 - Utilizao dos Juros sobre o Capital Prprio Empresas Pesquisadas...............108 Grfico 8 - Motivos para Utilizao dos Juros sobre o Capital Prprio................................109

  • 8

    1 INTRODUO

    A presente dissertao tem por objetivo estudar a utilizao da figura do pagamento de juros sobre o capital prprio em empresas optantes pelo Lucro Real, de capital fechado. A pesquisa foi limitada a um determinado segmento, denominado TRR Transportador-Revendedor-

    Retalhista de combustveis.

    Este estudo pretende identificar a amplitude da utilizao dessa figura por empresas, que, em muitos casos, podem, dentro da previso legal existente, reduzir suas respectivas cargas

    tributrias. Essa reduo de carga tributria teria, como efeito direto, aumento de valor da empresa para os scios ou acionistas.

    No entanto, h motivos para imaginar que tal possibilidade, prevista em lei, de reduo de carga tributria, est sendo abandonada por grande parte das empresas. E as causas desse abandono merecem um estudo mais detalhado, em tempos em que notrio o aumento da

    participao da carga tributria nacional em relao ao nosso PIB- Produto Interno Bruto.

    Pretende-se, no resultado deste estudo, expor os motivos pelos quais as empresas deixam de se utilizar dessa alternativa. Essa descoberta resultar em um maior conhecimento da realidade das empresas estudadas.

    O trabalho iniciado a partir de conceitos como: planejamento, contabilidade e sua relao com a tributao. realizado um levantamento da carga tributria e so explorados temas ligados ao planejamento tributrio.

    Na seqncia, apresentado o tema dos juros sobre o capital prprio, de forma mais especfica. Sero abordados os seguintes tpicos: definies; histrico na legislao brasileira; fatores que levaram criao da forma como existe hoje; critrios por meio dos quais apurado; motivos que levam as empresas a utiliz-lo; discusso sobre sua natureza; existncia da figura fora do Brasil, e exemplo de aplicao.

  • 9

    A pesquisa realizada ento apresentada, demonstrando-se o universo pesquisado e os procedimentos utilizados na pesquisa e anlise dos resultados obtidos. Por fim, revela-se a concluso alcanada, conduzindo assim resposta do problema de pesquisa.

    1.1 Apresentao

    A legislao tributria brasileira, na Lei n 9.249/95, no artigo 9, introduziu mais recentemente a figura do pagamento de juros sobre o capital prprio. Conforme essa previso legal, a pessoa jurdica:

    poder deduzir, para efeitos da apurao do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, scios ou acionistas, a ttulo de remunerao do capital prprio, calculados sobre as contas do patrimnio lquido e limitados variao, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP. (BRASIL, 1995b).

    No ano seguinte, a Lei n 9.430/96, no artigo 78, insere uma alterao no texto originalmente previsto pelo artigo 9, da Lei n 9.249/95, que tem como resultado a mudana do critrio utilizado como condio para que ocorra o efetivo pagamento ou crdito dos juros. Pelo texto original da Lei n 9.249/95, o efetivo pagamento ou crdito dos juros ficava condicionado existncia de lucros, computados antes da deduo da prpria despesa de juros sobre o capital prprio, ou ento de lucros acumulados, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados. A partir da Lei n 9.430/96, pode ser ento adicionado tambm o montante de reserva de lucros ao montante de lucros acumulados, para condicionar, alm do prprio resultado positivo do perodo, o pagamento ou crdito dos juros sobre o capital prprio.

    O Regulamento do Imposto de Renda vigente prev a utilizao dos juros sobre o capital prprio na apurao do lucro real das empresas, assim como as condies dessa utilizao, no artigo 347 (BRASIL, 1999a).

    No entanto, a figura do pagamento de juros sobre o capital dos scios no foi introduzida no sistema jurdico brasileiro pela legislao citada. A previso de pagamento de juros aos acionistas j existia em 1940, quando o Decreto-lei n 2.627, de 26/09/1940, previa, no artigo 129, pargrafo nico, item e:

  • 10

    nas despesas de instalao devero ser includos os juros pagos aos acionistas durante o perodo que anteceder o incio das operaes sociais. Os estatutos fixaro a taxa de juro, que no poder exceder a 6% (seis por cento) ao ano, e o prazo para amortizao. (BRASIL, 1940).

    Posteriormente, apesar da mudana dessa legislao, continuou existindo a previso de pagamento de juros a acionistas, no perodo em que empresas constitudas ainda no tivessem iniciado suas atividades. No artigo 179, inciso V, a Lei 6.404/76 previa1 a incluso desses valores no ativo diferido, como se verifica:

    V - no ativo diferido: as aplicaes de recursos em despesas que contribuiro para a formao do resultado de mais de um exerccio social, inclusive os juros pagos ou creditados aos acionistas durante o perodo que anteceder o incio das operaes sociais. (BRASIL, 1976).

    Tal previso deixou de ser expressa, porm, com a alterao sofrida pelo inciso acima citado,

    pela Lei 11.638/07, na qual est definido que no ativo diferido constaro as despesas pr-operacionais e os gastos de reestruturao que contribuiro, efetivamente, para o aumento do resultado de mais de um exerccio social e que no configurem to-somente uma reduo de custos ou acrscimo na eficincia operacional (BRASIL, 2007b).

    1.2 Contextualizao do tema

    A figura dos juros sobre o capital prprio permite, em muitos casos, reduo lcita dos tributos devidos por uma empresa. A maneira como possvel tal reduo ser detalhada no presente estudo.

    Trata-se de uma reduo lcita de tributos, o que se imagina ser do interesse de grande parte dos gestores, acionistas e scios de empresas, e essa figura no foi criada recentemente. Sendo

    assim, seria possvel que, depois de uma dcada de existncia, essa figura estivesse sendo freqentemente utilizada pelas empresas.

    1 At a alterao promovida pela Lei n 11.638/2007.

  • 11

    No entanto, em decorrncia de informaes disponibilizadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, essa utilizao tem sido relativamente tmida. No ano de 2003, o nmero de empresas que efetuou o pagamento ou crdito de juros sobre o capital prprio no chegou a 3% das optantes pelo Lucro Real. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2006b).

    Essa baixa utilizao dos juros sobre o capital prprio no devida falta de utilizao por parte das empresas de capital aberto, que tm aderido significativamente ao pagamento de juros sobre o capital prprio. Em 2002, 54% das empresas de capital aberto utilizavam-se da sistemtica dos juros sobre o capital prprio (SILVA, Fernando, 2004, p.60).

    Em pesquisa recente, (GUERREIRO, Reinaldo; SANTOS, Ariovaldo, 2006, p.9) em uma amostra de 3.000 empresas, observou-se que, dentre as que apuraram lucro, em 2004, 67,2% das empresas com aes na bolsa pagaram ou creditaram juros sobre o capital prprio, enquanto que 35,6% das empresas sem aes na bolsa o fizeram.

    As empresas de capital aberto tm demonstrado uma expressiva adeso ao pagamento ou crdito de juros sobre o capital prprio, o que no ocorre se for considerada a totalidade das empresas optantes pelo lucro real. Assim, as informaes apresentadas conduzem concluso de que esse instrumento pouco utilizado pelas empresas optantes pelo lucro real, de capital fechado.

    1.3 Formulao do problema

    Por que motivo, as empresas de capital fechado, optantes pelo Lucro Real, pertencentes ao

    segmento denominado TRR, no aderiram, de maneira significativa, utilizao do pagamento de juros sobre o capital prprio?

    1.4 Objetivo geral e objetivos especficos

  • 12

    O objetivo geral do presente trabalho pesquisar os motivos pelos quais as empresas de capital fechado, optantes pelo Lucro Real, de um determinado segmento econmico, denominado TRR, no tm aderido de maneira expressiva sistemtica dos juros sobre o capital prprio, uma figura que, supostamente, traria benefcios empresa em decorrncia de

    sua aplicao.

    O objetivo especfico consiste pesquisar junto s empresas do segmento escolhido: - localizao das empresas pesquisadas; - se o capital da empresa aberto ou fechado; - volume de vendas mensal;

    - modalidade de tributao: se pertencem ou no ao regime de tributao denominado Lucro Real;

    - perodos em que foram ou no utilizados os juros sobre capital prprio; - motivos que contriburam para a utilizao dos juros sobre o capital prprio, em sendo o caso; e

    - motivos que contriburam para a no utilizao dos juros sobre o capital prprio, em sendo o caso.

    1.5 Importncia e contribuio

    Como resultado da resposta da questo apresentada, que compe o problema de pesquisa, pretende-se apresentar os motivos pelos quais algo legtimo, que traria benefcios a uma parcela considervel de empresas, no tem encontrado maior apoio junto s empresas TRR que apuram tributos incidentes sobre o lucro pelo do Lucro Real.

    Os motivos apontados podem trazer esclarecimentos quanto ao nvel de conhecimento e aplicao da legislao tributria por parte dessas empresas. Podem ainda, revelar polticas de remunerao de scios, assim como trazer uma percepo sobre suas estruturas societrias.

  • 13

    1.6 Motivos para a no utilizao dos juros sobre o capital prprio

    As empresas podem deixar de adotar a sistemtica do pagamento de juros sobre o capital prprio pelos mais diversos motivos, uma vez que diversas tambm so as realidades individuais de cada empresa.

    No entanto, abaixo so relacionadas s possveis causas que se acredita possurem maior

    probabilidade de explicar a falta de adeso j mencionada. So elas:

    - desconhecimento, total ou parcial, por parte dos gestores, dos benefcios fiscais possveis;

    - situao que resulte na indedutibilidade da despesa financeira decorrente da aplicao dos juros sobre o capital prprio, tornando essa opo pouco atraente para a empresa, em virtude da ausncia de economia tributria;

    - economia tributria na empresa que paga juros sobre o capital prprio, porm, acarretando em acrscimo de tributao nos scios enquadrados como pessoas jurdicas;

    - aspectos culturais ou internos da empresa; - ausncia de poltica de remunerao aos scios ou acionistas, seja essa remunerao por

    dividendos, seja por juros sobre o capital prprio; - existncia de poltica de remunerao aos scios, porm sem a efetiva remunerao no

    decorrer dos exerccios analisados.

    Trata-se, pois, de algumas das possveis causas que podem dar origem questo a ser estudada, apresentada na formulao do problema, e que sero investigadas no decorrer do

    trabalho.

    Tal relao foi desenvolvida a partir de uma anlise de situaes de possvel ocorrncia nas empresas, levantadas durante a elaborao do presente estudo. As situaes podem representar desde o desconhecimento completo do tema at um nvel de conhecimento suficiente para utilizar a figura dos juros sobre o capital prprio, passando por situaes em que, apesar de uma utilizao dessa figura ser possvel, no seria interessante a utilizao por parte da empresas, e tambm por situaes em que a empresa, por motivos internos e

    particulares, optou por no utilizar a referida figura.

  • 14

    1.7 Metodologia de pesquisa

    A pesquisa a ser desenvolvida exploratria. assim denominada pois tem por finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idias, tendo em vista a formulao de problemas mais precisos ou hipteses pesquisveis para estudos posteriores (KMETEUK FILHO, 2005, p.16).

    O estudo ser elaborado a partir de:

    a) Pesquisa documental, em que se utilizaro documentos, estatsticas, e bibliografia.

    Os documentos a serem utilizados so os arquivos pblicos, que abrangem os documentos

    oficiais, tais como leis, ofcios, relatrios, publicaes parlamentares, atos administrativos de autoridades fiscais.

    As estatsticas a serem utilizadas so as efetuadas por rgos especficos e especializados, como por exemplo: a Agncia Nacional do Petrleo (ANP), Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) e rgos da administrao tributria.

    A bibliografia a ser utilizada composta por publicaes, compostas por livros, teses, monografias, publicaes avulsas, pesquisas e tambm imprensa escrita, assim entendidos os jornais e peridicos.

    b) Pesquisa de campo, que ser realizada por meio de questionrios a serem distribudos a empresas que se enquadrem nos requisitos necessrios.

    O questionrio ser distribudo a empresas de capital fechado, optantes pelo Lucro Real, pertencentes ao segmento denominado TRR. A finalidade ser identificar os motivos que levam parte considervel delas a abandonar uma possibilidade de economia tributria.

    c) Entrevistas com a finalidade de esclarecer quanto profundidade de respostas obtidas.

  • 15

    Aps a resposta dos questionrios, sero realizadas entrevistas junto s empresas participantes da pesquisa. A entrevista se faz necessria para esclarecimento de questes ligadas s respostas fornecidas por meio de questionrios, permitindo, assim, uma melhor compreenso do resultado obtido.

    1.8 Campo de abrangncia a ser analisado

    A pesquisa tem por objetivo levantar motivos pelos quais empresas de capital fechado, sujeitas tributao com base no Lucro Real, deixam de utilizar a figura dos juros sobre o capital prprio. Porm, a quantidade de empresas que se enquadram em tais caractersticas demasiadamente vasto para ser analisado pelo presente estudo, motivo pelo qual se optou por estudar um segmento econmico especfico, regulado por rgo governamental.

    O segmento escolhido denominado Transportador-Revededor-Retalhista (TRR), e regulamentado pela Agncia Nacional do Petrleo. A escolha do referido segmento se deve fundamentalmente s seguintes razes:

    - presena de empresas TRR por praticamente todo o territrio nacional. Tal distribuio possibilita um estudo de empresas pertencentes a diversas unidades da Federao, no se limitando a apenas uma cidade, ou a apenas um Estado. Dessa maneira, o estudo pode alcanar uma maior dimenso;

    - caractersticas do segmento sugerem que as empresas possuam um perfil adequado ao presente estudo, havendo quantidade significativa de empresas de capital fechado, que

    tambm sejam tributadas pelo Lucro Real. So caractersticas importantes e essenciais ao presente estudo. Empresas optantes pelo denominado Lucro Real compem uma

    minoria, perante o universo de empresas no Pas, de acordo com informaes da Receita Federal do Brasil, como ser visto adiante;

    - regulamentao por um rgo governamental, que divulga a lista completa de empresas pertencentes ao segmento, transmitindo a exata dimenso da amplitude da atividade. Por

    meio de informaes disponibilizadas pelo rgo regulador governamental, no caso, a ANP Agncia Nacional do Petrleo, possvel conhecer como as empresas

    pertencentes a esse segmento esto distribudas pelo Pas e quantas so.

  • 16

    1.9 Reviso da literatura

    Estudos a respeito dos juros sobre o capital prprio no so inditos em trabalhos acadmicos, cada qual com seu foco especfico. No entanto, como afirma Batiston (2005, p.19), h poucas obras sobre o assunto, na maioria artigos para revistas especializadas em direito tributrio ou

    contabilidade.

    O estudo do perfil da poltica de dividendos das empresas de capital aberto no Brasil, quanto forma de distribuio de lucros, a partir da lei que introduziu o conceito de pagamento ou crdito de juros sobre o capital prprio, foi o foco principal do trabalho acadmico elaborado por Fernando Silva (2004, p.74).

    Ainda nesse trabalho, ficou constatado que as empresas de capital aberto no Brasil aderiram

    de forma significativa ao uso dos juros sobre o capital prprio como instrumento de remunerao aos acionistas. Tal constatao confirmou a hiptese levantada de que a distribuio dos lucros das empresas, na forma de juros sobre o capital prprio, tenderia a substituir, consideravelmente, a distribuio de lucros na forma de dividendos, ainda que essa substituio no tivesse ocorrido de forma to progressiva como se esperava. (SILVA, Fernando, 2004, p.74).

    O efeito da utilizao dos juros sobre o capital prprio foi analisado por ABREU (2004, p.1-2), ao avaliar os impactos das peculiaridades da tributao brasileira sobre as proposies de Modigliani e Miller. O autor afirma que a empresa deve usar esse benefcio, pois a utilizao dos juros sobre o capital prprio reduz a tributao sobre o conjunto composto pela empresa e acionista (ABREU, 2004, p.112).

    Sidnei Silva et al (2006, p.37) evidenciam a falta de unanimidade, entre contadores e analistas, quanto justificativa para a instituio dos juros sobre o capital prprio. O estudo destaca, ainda, as divergncias no tratamento contbil a ser dado aos juros sobre o capital prprio entre a Comisso de Valores Mobilirios e a Secretaria da Receita Federal do Brasil.

  • 17

    Em 2006, foi apresentado um estudo realizado com o objetivo de investigar o comportamento das empresas no que se refere utilizao da legislao relativa aos juros sobre o capital prprio. Nesse estudo, foram avaliadas as demonstraes contbeis de 3000 empresas, de todo o territrio nacional, que se enquadraram nas caractersticas determinadas, e ficou

    demonstrado um desequilbrio entre empresas com e sem aes na bolsa. A prtica de utilizao dos juros sobre o capital prprio se mostrou mais usual em empresas com aes na bolsa (GUERREIRO, Reinaldo; SANTOS, Ariovaldo, 2006, p.1).

    Batiston (2005, p.170-171) realizou estudo sobre a percepo de consultores tributrios atuantes na cidade de So Paulo no tocante utilizao dos juros sobre o capital prprio, e concluiu que as empresas pagam juros sobre o capital prprio em razo da economia fiscal propiciada, e que o desconhecimento, dentre outras razes, responsvel pelo no pagamento

    de juros sobre o capital prprio em casos onde h possibilidade de reduo de carga tributria da empresa. Constatou que os BEESs (binmio econmico empresa scio) no esto atentos s prticas que possibilitem a maximizao da economia fiscal propiciada pela utilizao dos juros sobre o capital prprio. Apurou ainda que o JCP um mecanismo pouco utilizado pelos BEESs em comparao ao nmero total deles que poderia obter reduo de carga tributria em funo de sua utilizao, e que os BEESs que pagam o JCP o fazem

    com base nos critrios determinados pela SRF e pelo BACEN.

    No presente trabalho, o que se busca reconhecer os motivos que fazem com que parte considervel das empresas de capital fechado, mais especificamente as pertencentes a um determinado segmento econmico, deixem de se utilizar dos juros sobre o capital prprio.

  • 18

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 O planejamento tributrio

    2.1.1 Administrador e o planejamento O Administrador de uma empresa tem por objetivo conduzir as respectivas atividades, da melhor maneira possvel, de forma a maximizar a riqueza, na tentativa de lhe garantir a

    sustentabilidade a mdio e longo prazo.

    Donaldson (1963, p. 53), apud Ross, Westerfield e Jaffe (2002, p. 34), descreve duas motivaes bsicas que influenciam os administradores. Como conseqncia dessas

    motivaes, Donaldson concluiu que o objetivo bsico dos administradores a maximizao da riqueza da empresa. So as motivaes:

    1- Sobrevivncia. A sobrevivncia da organizao pressupe que os administradores sempre procuraro controlar recursos suficientes para evitar que a empresa deixe de existir.

    2- Independncia e auto-suficincia. Trata-se da liberdade de tomar decises sem dar satisfaes a agentes externos ou depender de mercados financeiros externos.

    Tal maximizao emana tambm de previso legal. No sistema jurdico brasileiro, impera o princpio da legalidade, em que, de acordo com o artigo 5, inciso II, da Constituio Federal, ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei

    (BRASIL, 1988a).

    Partindo-se dessa base, previsto que o administrador de uma empresa deve fazer o mximo possvel, dentro da lei, obviamente, com a finalidade de lhe preservar a vida a mdio e longo prazo, assim como a funo social, que exatamente o termo utilizado pela Lei. possvel verificar na Constituio Federal:

    DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

  • 19

    Artigo 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    [...] XXIII - a propriedade atender a sua funo social; (BRASIL, 1988a)

    Essa obrigao de preservar a funo social da propriedade pode ser encontrada tambm na

    Lei 6.404/76, no artigo 154:

    Art. 154 O administrador deve exercer as atribuies que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigncias do bem pblico e da funo social da empresa. (BRASIL, 1976)

    O planejamento est inserido no conjunto de obrigaes a que se sujeitam os dirigentes de uma empresa. Sem um bom planejamento de mdio e longo prazo, a sobrevivncia de uma empresa fica comprometida (ANAN JR., 2005, p.300).

    O planejamento a definio de um futuro desejado e de meios eficazes de alcan-lo (ACKOFF apud SHINGAKI, 2002, p.23). Shingaki afirma ainda ser o planejamento uma das funes mais importantes da cincia administrativa Antecipar decises, aps estudo em

    qualquer ramo do conhecimento humano, leva obteno de vantagens.

    Rocha (1995, p.161) declara que se pede previso estratgica do administrador empresarial, em todas as frentes possveis, para a obteno de resultados, e que uma das frentes a ser objeto de planejamento a tributria.

    Dentro do contexto do planejamento empresarial, a tributao assume um papel de grande relevncia. Amaro (1995, p.115) aponta que o planejamento tributrio parte integrante do planejamento empresarial, em que inmeras decises precisam ser tomadas com intuito de alcanar o lucro. O empresrio precisa tomar decises que envolvem escolha do setor da empresa: produtos, matrias-primas, atividade de produo, mercado que deseja alcanar, pblico-alvo, forma de financiamento de suas atividades, forma societria, entre outras. E dentro desse contexto, as decises de carter tributrio assumem papel importantssimo.

  • 20

    O planejamento tributrio, realizado nas formas lcitas, deve ser considerado como uma atividade de rotina empresarial de significativa importncia, especialmente considerando-se que o prprio legislador imps ao administrador a obrigao de empregar todos os recursos legais que estiverem ao seu alcance, no sentido de lograr os fins, e no interesse da empresa,

    esclarece Rolim (1998, p.52). Salienta ainda que atualmente, a discusso no se coloca em nvel do planejar o pagamento de tributos, mas, ao contrrio, entre planejar bem ou planejar mal, incluindo-se neste ltimo caso o simplesmente no planejar. (ROLIM, 1995, p.61).

    Para a administrao de empresas brasileiras, possuir uma elevada capacidade de gesto na rea tributria, alm da eficincia exigida para sobreviver s condies adversas do mercado e

    das taxas de juros, so condies adicionais e necessrias, impostas pelo contexto sistmico macroeconmico. (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.3).

    Seguindo-se essa linha, compreende-se que o fator tributrio essencial dentre todos a serem considerados na composio dos resultados das empresas. Por conseqncia da relevncia, inevitvel que o planejamento adotado nas empresas compreenda o fator tributrio.

    2.1.2 A Contabilidade definio, objetivos e usurios A Contabilidade uma cincia social por estudar o comportamento das riquezas que se integram no patrimnio em face das aes humanas. Ainda que a Contabilidade se utilize de mtodos quantitativos, no pode ser confundida com as cincias matemticas (ou exatas), uma vez que, na Contabilidade, as quantidades so simples medidas dos fatos que ocorreram em razo da ao do homem. (MARION, 2007, p.26).

    A contabilidade uma cincia social, na medida em que fornece insumos para o comportamento humano frente a organizaes dinmicas inseridas na sociedade. A contabilidade retrata obras humanas, as entidades, para que outras pessoas possam tomar as decises adequadas relacionadas a elas. No entanto, a contabilidade utiliza-se de uma metodologia qualitativa e quantitativa para realizar seus objetivos, pois atribui conceitos, muitas vezes arbitrrios, para caracterizar os elementos patrimoniais, em seguida cuidando de sua mensurao por intermdio de tcnicas quantitativas. (LOPES; MARTINS, 2007, p.126).

    A natureza social da Contabilidade traduz-se na preocupao da compreenso da maneira com que os indivduos ligados rea contbil criam, modificam e interpretam os fenmenos contbeis, sobre os quais informam seus usurios; representa a realidade que deve ser observada por esse ramo do conhecimento humano. (SANTOS, Jos, et al, 2007, p.39).

  • 21

    A contabilidade, assim, ainda que se utilize de mtodos quantitativos, no pode ser considerada uma cincia exata. Deve ser considerada como uma cincia social, por retratar nas entidades o reflexo das atitudes homem, por refletir nas entidades o impacto do ambiente em que esto inseridas.

    Com o objetivo de estudar e controlar os fatos que podem afetar as situaes patrimoniais, financeiras e econmicas de uma entidade, a Contabilidade, como cincia social, desenvolveu seus processos prprios (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.5).

    Objetivamente, a Contabilidade um sistema de informao e avaliao destinado a prover seus usurios com demonstraes e anlises de natureza econmica, financeira, fsica e de produtividade, com relao entidade objeto da contabilizao. (IUDCIBUS et al, 2003, p.48; Comisso de Valores Mobilirios, 1986).

    O objetivo bsico da Contabilidade pode ser resumido no fornecimento de informaes econmicas para os vrios usurios, de forma a propiciar decises racionais. (IUDCIBUS, 2000, p.23).

    A tomada de decises desempenha papel crucial na teoria da contabilidade, e sua importncia tem sido ressaltada freqentemente nas definies da contabilidade. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p.135).

    O objetivo da contabilidade coerente com a prpria funo histrica. Prover informaes aos usurios a razo da existncia da contabilidade. Na medida em que as condies econmicas e sociais so alteradas, e surge nova tecnologia, as exigncias dos usurios por informaes mais teis podem ser esperadas.2 (KAM, 1990, p.47).

    A Contabilidade deve ter objetivos aderentes, de forma implcita ou explcita, quilo que o usurio considera como elementos importantes para seu processo decisrio. Sua verdade

    reside em ser instrumento til para a tomada de decises, tendo em vista a entidade (IUDCIBUS et al, 2003, p. 49).

    2 Traduo livre

  • 22

    A contabilidade tem a funo clara e objetiva de servir s necessidades dos usurios, e essa viso voltada aos clientes da contabilidade marca uma nova perspectiva na contabilidade brasileira em relao aos modelos mais tradicionais. (LOPES; MARTINS, 2007, p.125)

    No Brasil tambm pode ser observada uma forte relao entre prticas contbeis adotadas e eventos sociais, econmicos, institucionais e culturais. Afirma-se que a trajetria da contabilidade no pas tem como marco inicial um alvar expedido por D. Joo VI, em 1808, por intermdio do qual foi determinado que as contas da Fazenda Real fossem escrituradas de acordo com o mtodo das partidas dobradas. No entanto, h quem considere como primeiro referencial histrico, a organizao da Contabilidade Pblica, realizada por volta de

    1830. (DIAS FILHO; MACHADO, Luiz, 2004, p.62).

    A Contabilidade, como descreve a Resoluo CFC n 560/83, tem por objeto fundamental o patrimnio, afirmao que encontra apoio generalizado entre os autores, chegando alguns a design-la simplesmente, por cincia do patrimnio,. Ainda nessa Resoluo, afirma-se que a Contabilidade visa guarda de informaes e ao fornecimento de subsdios para a

    tomada de decises, alm daquele objetivo clssico da guarda de informaes com respeito a determinadas formalidades. (CFC, 1983). Confira-se:

    cabe observar que o substantivo patrimnio deve ser entendido em sua acepo mais ampla que abrange todos os aspectos quantitativos e qualitativos e suas variaes, em todos os tipos de entidades, em todos os tipos de pessoas, fsicas ou jurdicas, e que, adotado tal posicionamento, a Contabilidade apresentar-se-, nos seus alicerces, como teoria de valor, e que at mesmo algumas denominaes que parecem estranhas para a maioria, como a contabilidade ecolgica, encontraro guarida automtica no conceito adotado; (CFC, 1983).

    Do ponto de vista dos usurios, o objetivo da Contabilidade prestar informaes teis e relevantes queles com interesse no desempenho das entidades e na avaliao da situao patrimonial. Tais entidades podem ser pessoas fsicas ou jurdicas, internas ou externas em relao a elas. (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.6).

    A Contabilidade tem por objetivo o fornecimento de informao estruturada de natureza econmica, financeira e, subsidiariamente, fsica, de produtividade e social, aos usurios internos e externos entidade objeto da Contabilidade. (IUDCIBUS; MARION, 2002, p.53).

  • 23

    Marion (2007, p.26) a respeito do objetivo da contabilidade, declara:

    O objetivo principal da contabilidade, portanto, conforme a Estrutura Conceitual Bsica da Contabilidade, o de permitir a cada grupo principal de usurios a avaliao da situao econmica e financeira da entidade, num sentido esttico, bem como fazer inferncias sobre suas tendncias futuras.

    O Comit de Pronunciamentos Contbeis (2008, p.7) esclarece que o objetivo das demonstraes contbeis fornecer informaes sobre a posio patrimonial e financeira, o desempenho e as mudanas na posio financeira da entidade, que sejam teis a um grande nmero de usurios em suas avaliaes e tomadas de deciso econmica..

    As informaes geradas pela Contabilidade [...] s tero utilidade desde que satisfaam s necessidades da administrao ou de outros interessados, e no apenas s do Contador. (IUDCIBUS et al, 2006, p.27).

    conceituado como usurio toda pessoa fsica ou jurdica que tenha interesse na avaliao da situao e do progresso de determinada entidade, seja tal entidade empresa, ente de finalidades no lucrativas, ou mesmo patrimnio familiar. (IUDCIBUS et al, 2003, P.48).

    Marion (2007, p.25) afirma que Os usurios podem ser internos (gerentes, diretores, administradores, funcionrios em geral) ou externos empresa (acionistas, instituies financeiras, fornecedores, governo, sindicatos).

    Dentre os diversos usurios possveis, esto os administradores, os tomadores de deciso. Freqentemente, os responsveis pela administrao esto tomando decises, quase todas importantes, vitais para o sucesso do negcio. Por isso, h necessidade de dados, de informaes corretas, de subsdios que contribuam para uma boa tomada de deciso.

    (IUDCIBUS; MARION, 2002, p.42).

    Os principais tipos de usurios de informaes contbeis, e a natureza bsica das informaes mais requisitadas por eles, esto relacionados abaixo (IUDCIBUS, 2000, P.21):

  • 24

    Quadro 1 - Principais tipos de usurios de informaes contbeis

    Usurio da Informao Contbil Meta que Desejaria Maximizar ou Tipo de Informao mais Importante

    Acionista Minoritrio fluxo regular de dividendos.

    Acionista majoritrio ou com grande participao

    fluxo de dividendos, valor de mercado da ao, lucro por ao.

    Acionista preferencial fluxo de dividendos mnimos ou fixos.

    Emprestadores em geral gerao de fluxos de caixa futuros suficientes para

    receber de volta o capital mais os juros, com segurana.

    Entidades governamentais valor adicionado, produtividade, lucro tributvel.

    Empregados em geral, como

    assalariados

    fluxo de caixa futuro capaz de assegurar bons

    aumentos ou manuteno de salrios, com segurana; liquidez.

    Mdia e alta administrao retorno sobre o ativo, retorno sobre o patrimnio lquido; situao de liquidez e endividamento confortveis.

    FONTE: IUDCIBUS, 2000, P.21

    A lista de usurios, assim como a de metas que desejariam ser maximizadas ou tipo de informao mais importante, no so exaustivas. Salienta tambm que algumas metas principais de algum tipo de usurio podem ser, ao mesmo tempo, metas auxiliares ou secundrias de outros usurios, mencionando o exemplo de um acionista minoritrio de pequeno poder aquisitivo com interesse na evoluo do valor de mercado da ao, mas com

    objetivo principal de garantir-se com um fluxo regular e seguro de dividendos, como forma de complementao de sua renda pessoal. (IUDCIBUS, 2000, p.21).

    So vrios os possveis usurios, o que pode qualificar a Contabilidade como fundamental no processo decisrio de uma entidade. A Contabilidade a grande ferramenta que auxilia a administrao a tomar decises (IUDCIBUS; MARION, 2002, p.42).

  • 25

    Dentre os usurios das demonstraes contbeis, incluem-se investidores atuais e potenciais, empregados, credores por emprstimos, fornecedores e outros credores comerciais, clientes, governos e suas agncias e o pblico. As demonstraes contbeis so utilizadas por eles para satisfazer algumas das diversas necessidades de informao. Embora nem todas as

    necessidades de informaes desses usurios possam ser satisfeitas pelas demonstraes contbeis, h necessidades que so comuns a todos (COMIT DE PRONUNCIAMENTOS CONTBEIS, 2008, p.6-7).

    Observamos com certa freqncia que vrias empresas, principalmente as pequenas, tm falido ou enfrentam srios problemas de sobrevivncia. Ouvimos empresrios que criticam a carga tributria, os encargos sociais, a falta de recursos, os juros altos etc., fatores estes que, sem dvida, contribuem para debilitar a empresa. Entretanto, descendo a fundo nas nossas investigaes, constatamos que, muitas vezes, a clula cancerosa no repousa naquelas crticas, mas na m gerncia, nas decises tomadas sem respaldo, sem dados confiveis. Por fim observamos, nesses casos, uma contabilidade irreal, distorcida, em conseqncia de ter sido elaborada nica e exclusivamente para atender s exigncias fiscais. (IUDCIBUS; MARION, 2002, p.42).

    Neves e Viceconti (1997, p.1) corroboram a importncia da Contabilidade como fonte de informaes, e afirmam que os administradores, bem como os demais usurios da Contabilidade, utilizam essas informaes nos processos de tomada de decises.

    Pode-se afirmar que, no fundo, no que se refere Contabilidade Geral ou Financeira, o trabalho do contador tem alcance social em termos amplos, alm do estritamente econmico. Afinal, informando sociedade quo bem (ou mal) certa entidade utiliza os recursos conferidos pelos scios ou pelo povo, exerce um papel de grande relevncia nessa mesma sociedade. (IUDCIBUS; MARION, 2002, p.56).

    A contabilidade, ao refletir nas entidades as aes tomadas pelo homem, deve considerar a importncia que as informaes por ela geradas tm para os usurios. Diversos usurios com os mais diversos interesses, mas que devem enxergar na contabilidade uma fonte til de informaes, seja para poder investigar o histrico da entidade, seja para fornecer uma base slida para a tomada de decises com relao a procedimentos futuros.

    2.1.3 Contabilidade e tributao Os enfoques mais comuns da Contabilidade so: fiscal, legal, tico, econmico, comportamental e estrutural. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p.23).

  • 26

    De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999, p.23), o enfoque preferido por muitos iniciantes em contabilidade consiste em perguntar o que a Receita Federal tem a dizer sobre um determinado assunto.

    Hendriksen e Van Breda (1999, p.23) asseveram que os objetivos da contabilidade fiscal so muito distintos dos objetivos da divulgao de dados financeiros, e reconhecem a importncia das leis de carter fiscal ao afirmar:

    Isto no quer dizer que as vrias leis do imposto de renda no tenham exercido um impacto significante sobre a prtica da contabilidade em muitas reas. Foram importantes para colocar a prtica contbil mdia no nvel das melhores empresas de sua poca. Isto produziu um aperfeioamento das prticas gerais de contabilidade a ajudou a preservar a uniformidade. Alm disso, a proviso para depreciao, includa na Legislao Tributria de 1909 e em leis subseqentes, deu origem a mtodos sistemticos de depreciao, busca de melhores conceitos de depreciao, e ao uso de mtodos mais apropriados de clculo de custos de depreciao. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p.23)

    No entanto, a legislao fiscal pode inserir efeitos adversos sobre a teoria e os princpios contbeis em muitas reas, devido tendncia, lamentvel, no sentido de aceitar as normas de imposto de renda como princpios e prticas contbeis aceitos (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p.24).

    A legislao tributria tem influenciado o desenvolvimento da contabilidade, ora estimulando procedimentos aderentes aos princpios contbeis, ora inibindo, mas sempre reconhecendo a importncia dessa disciplina como instrumento de apoio aos objetivos do errio. (DIAS FILHO; MACHADO, Luiz, 2004, p.63)

    A legislao tributria sempre exerceu grande influncia na contabilidade, assim como na

    elaborao das demonstraes financeiras das empresas sujeitas tributao com base no lucro apurado. (HIRASHIMA & ASSOCIADOS, 2006, p.7).

    Mudanas legislativas que impliquem em aumento de carga tributria afetaro diretamente dois fatores, que so: custo e preo do produto, resultando em repasse do valor decorrente do aumento ao consumidor ou cliente; e lucratividade, resultando em menor resultado passvel de

    distribuio aos scios ou acionistas da empresa. Para que os citados fatores no sejam

  • 27

    afetados preciso que as empresas procurem reduzir sua carga tributria de maneira lcita, por meio de lacunas ou brechas na legislao (ANAN JR., 2005, p. 300).

    Em Contabilidade, utilizam-se muitos conhecimentos provenientes de outras cincias, assim

    como outras cincias tambm buscam subsdio na cultura contbil. A riqueza, por exemplo, interessa ao estudo de outras disciplinas, como Direito, Administrao, Economia, Sociologia.

    Duas ou mais cincias podem ter o mesmo objeto de indagao, mas os estudos proporcionados por cada disciplina sero sempre diferentes, pois variam os aspectos de observao de cada uma (S, 1999, p.107). O autor declara ainda que No o que se toma como objeto, mas a forma como esse objeto vem a ser observado que caracteriza um ramo de conhecimento no campo especfico. (S, 1999, p.107).

    O mesmo fato pode ser visto sob ticas distintas. Um determinado aumento de tributo, por exemplo, pode ser analisado por profissionais da rea do Direito de maneira a verificar questes jurdicas da norma que introduziu tal aumento, enquanto que pode ser examinado por profissionais da rea Contbil de forma a averiguar os impactos no resultado da entidade,

    ou ento eventuais mudanas nas margens de lucro at ento praticadas.

    O Direito e a Contabilidade esto sempre caminhando juntos na rotina diria de um contador. Assim, o dever desse profissional consiste em, alm de obedecer s normas e aos Princpios Fundamentais de Contabilidade, visando correta apurao da situao econmica, financeira e patrimonial de uma empresa, tambm obedecer s normas da legislao tributria para cumprir com as obrigaes fiscais de maneira exata, mediante controles extracontbeis. (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.97).

    O ramo que tem por objetivo aplicar na prtica conceitos, princpios e normas bsicas de contabilidade e da legislao tributria, de forma simultnea e adequada, recebe o nome de

    contabilidade tributria. Deve evidenciar, de forma clara e precisa, a situao do patrimnio e o resultado do exerccio. (FABRETTI, 2006a, p. 29).

    Em seguida, deve atender, de forma extracontbil, s exigncias do Imposto de Renda Pessoa Jurdica, e da Contribuio Social sobre o Lucro, com a finalidade de apurar as respectivas bases de clculo, por decorrncia suas provises, que sero abatidas do resultado contbil,

  • 28

    para, ento, determinar-se o lucro lquido passvel de distribuio aos acionistas, scios, ou titular de firma individual (FABRETTI, 2006a, p.31).

    A Contabilidade Tributria pode ser entendida como especializao da contabilidade cujos principais objetivos so o estudo da teoria e a aplicao prtica dos princpios e normas bsicas da legislao tributria, assim como ramo da contabilidade responsvel pelo

    gerenciamento dos tributos incidentes nas diversas atividades de empresas, ou grupo de empresas, adequando as obrigaes tributrias ao dia-a-dia empresarial, no expondo assim a entidade s possveis sanes fiscais e legais. (OLIVEIRA, Lus, et al, 2007, p.36).

    As principais funes desse ramo da contabilidade so: apurao com exatido do resultado tributvel; registro contbil das provises relativas aos tributos a recolher, em obedincia aos

    Princpios Fundamentais de Contabilidade; escriturao dos documentos fiscais em livros fiscais prprios ou registros auxiliares; preenchimento de guias de recolhimento, alm de emitir e providenciar a entrega aos respectivos rgos competentes dos formulrios estabelecidos pela legislao pertinente; orientao fiscal para todas as unidades da empresa

    ou das sociedades coligadas e controladas; orientao, treinamento e constante superviso dos funcionrios do setor de impostos. (OLIVEIRA, Lus, et al, 2007, p.36).

    Essa diviso da contabilidade tem como uma das funes o uso de regras e princpios prprios para interpretar e aplicar as normas legais provenientes da legislao tributria e apurar rigorosamente os proventos que devem ser tributados nas empresas. (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.5).

    As normas tributrias refletem inevitavelmente nos patrimnios das entidades. Esse reflexo pode ser decorrente de uma alterao relativa ao clculo de um tributo, o que modificar o resultado apurado pela entidade. Pode ser tambm resultante da criao de novas obrigaes

    acessrias, ou alterao de obrigaes acessrias j existentes, o que certamente levar a uma variao no resultado apurado pela entidade, pois o cumprimento de tais obrigaes consome

    recursos, e a falta de cumprimento das referidas obrigaes sujeita a entidade a penalidades.

    Portanto, cabe ao ramo da contabilidade denominado contabilidade tributria, aplicar s entidades as normas tributrias vigentes, fazendo assim a ligao entre as normas tributrias e

    o patrimnio das empresas.

  • 29

    2.1.4 Definio de carga tributria e sua evoluo Os tributos refletem no patrimnio das entidades, sendo, portanto, parte importante dentro dos

    processos de planejamento.

    Amaro (1995, p.115) afirma que as decises de carter tributrio assumem papel importantssimo dentro do contexto das decises tomadas pelo empresrio, e que planejamento tributrio parte integrante do planejamento empresarial.

    Rolim (1998, p.52) descreve o planejamento tributrio, realizado nas formas lcitas, como uma atividade de rotina empresarial de significativa importncia.

    Gustavo Oliveira (2008, p.3) considera como condies adicionais e necessrias para as empresas brasileiras, possuir uma elevada capacidade de gesto na rea tributria, assim como a eficincia exigida para sobreviver s condies adversas do mercado.

    A carga tributria no Brasil vem aumentando gradativamente, o que faz aumentar tambm a

    importncia do tema tributrio dentro das entidades.

    Segundo definio da Secretaria da Receita Federal do Brasil:

    O conceito de carga tributria utilizado amplo e inclui contribuies sociais, de interveno no domnio econmico e de interesse de categorias profissionais e econmicas, alm dos impostos, taxas e contribuies de melhoria, abrangidos pelo conceito de tributo nos termos do art. 145 da Constituio Federal. Tambm esto includas no clculo da carga tributria as contribuies para o Fundo de Garantia do Tempo de Servio (FGTS). (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2006c).

    Realmente, trata-se de um conceito amplo, pois h itens considerados na apurao da carga tributria que no se encaixam na definio de tributo prescrita no Cdigo Tributrio

    Nacional, Lei n 5172, de 25 de Outubro de 1966, artigo 3:

    toda prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que no constitua sano de ato ilcito, instituda em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. (BRASIL, 1966).

  • 30

    Quem deve receber o tributo, para dele utilizar-se, o chamado sujeito ativo da obrigao tributria. O Cdigo Tributrio Nacional prev, no artigo 119, que o sujeito ativo dessa obrigao a pessoa jurdica de direito pblico, titular da competncia para exigir o seu cumprimento..

    No caso do Fundo de Garantia do Tempo de Servio, por exemplo, considerado no clculo da carga tributria, pelas definies explicitadas acima, no se encaixaria no conceito de tributo, uma vez que o montante recolhido do trabalhador. E o trabalhador no pode ser considerado sujeito ativo de obrigao tributria, por no ser pessoa jurdica de direito pblico.

    No entanto, esse alargamento de conceito da carga tributria revelado na prpria definio

    de carga tributria da Receita Federal. O indicador constitudo para apurar o resultado do esforo da sociedade para o financiamento das atividades do Estado. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2006c).

    Confirmando esse critrio, a Receita Federal esclarece :

    Alguns desses institutos, embora possam ter natureza tributria juridicamente contestada, produzem efeitos econmicos idnticos aos dos tributos e, portanto, so calculados no clculo da carga. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 1999a, p.1).

    Os dados divulgados pela Receita Federal apresentam a seguinte evoluo da carga tributria nacional:

    - No ano de 2006, a carga tributria bruta atingiu 34,23% do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2007C, p.1)3;

    3Devido aos ajustes de clculo do produto interno bruto (PIB) realizados pelo Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE), os valores da srie de carga tributria divulgada nesse trabalho no so diretamente comparveis com aqueles divulgados nos estudos anteriores. Alm da reviso do PIB, a metodologia utilizada sofreu as seguintes alteraes: Excluso das restituies efetivamente pagas aos contribuintes. Os valores restitudos so contrapartida de pagamentos e/ou retenes realizados em montante superior ao devido, logo no so considerados como recursos efetivamente transferidos da esfera privada para os cofres do Estado Incluso de parcela de atualizao monetria. Manteve-se a regra de excluso de multas e juros, porm, aos pagamentos extemporneos, foi acrescida parcela para anular o efeito inflacionrio. Desta forma busca-se manter a representatividade econmica dos pagamentos relativos a fatos geradores ocorridos em perodos passados. (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2007c)

  • 31

    - No ano de 2005, a carga tributria bruta atingiu 37,37% do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2006c, p.1);

    - No ano de 2004, a carga tributria bruta atingiu de 35,91% do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2005b, p.1);

    - No ano de 2003, a carga tributria bruta atingiu 34,88 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2004c, p.1);

    - No ano de 2002, a carga tributria bruta atingiu 35,86 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2003c, p.1);

    - No ano de 2001, a carga tributria bruta atingiu 34,36 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2002b, p.1);

    - No ano de 2000, a carga tributria bruta atingiu 33,18 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2001, p.1);

    - No ano de 1999, a carga tributria bruta atingiu 30,32 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2000b, p.1);

    - No ano de 1998, a carga tributria bruta atingiu 29,84 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 1999a, p.1);

    - No ano de 1997, a carga tributria bruta4 atingiu 27,81 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 1998, p.3);

    - No ano de 1996, a carga tributria bruta atingiu 28,17 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 1997a);

    - No ano de 1995, a carga tributria bruta atingiu 26,77 % do PIB (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 1996a);

    Cabe, contudo, um esclarecimento acerca da definio de PIB Produto Interno Bruto. A definio de PIB assim descrita pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica:

    Total dos bens e servios produzidos pelas unidades produtoras residentes sendo, portanto, a soma dos valores adicionados pelos diversos setores acrescida dos impostos, lquidos de subsdios, sobre produtos no includos na valorao da produo. Por outro lado, o produto interno bruto igual soma dos consumos finais de bens e servios valorados a preo de mercado sendo, tambm, igual soma das rendas primrias. Pode, portanto, ser expresso por trs ticas: a) do lado da produo o produto interno bruto igual ao valor da produo menos o consumo intermedirio mais os impostos, lquidos de subsdios, sobre produtos no includos no valor da produo; b) do lado da

    4 Nas publicaes citadas da Secretaria da Receita Federal do Brasil, relativas aos anos-base 1996 e 1997, a

    denominao utilizada foi a de carga fiscal bruta. Nos demais anos-base, inclusive o de 1995, a nomenclatura utilizada nas publicaes citadas da Secretaria da Receita Federal foi a de carga tributria bruta.

  • 32

    demanda - o produto interno bruto igual despesa de consumo final mais a formao bruta de capital fixo mais a variao de estoques mais as exportaes de bens e servios menos as importaes de bens e servios; c) do lado da renda - o produto interno bruto igual remunerao dos empregados mais o total dos impostos, lquidos de subsdios, sobre a produo e a importao mais o rendimento misto bruto mais o excedente operacional bruto. (IBGE, 2007, p.70).

    Abaixo a representao grfica das informaes sobre a evoluo da carga tributria nacional, de 1995 a 2005:

    Evoluo da Carga Tributria

    0,00%5,00%

    10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%40,00%

    1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    Grfico 1 - Evoluo da Carga Tributria sobre o PIB 1995 a 2006 FONTE: http://www.receita.fazenda.gov.br

    Complementando a informao a respeito da elevao da carga tributria nacional, em 1947, quando teve incio o registro sistemtico das contas nacionais do Brasil, a carga tributria brasileira era de 13,8% do PIB. Houve um lento crescimento, at atingir 18,7% do PIB em 1958, quando ento houve uma queda gradativa, at 1962, quando a carga tributria significava 15,8% do PIB. Na dcada de 1960, a carga tributria recuperou a tendncia ascendente, atingindo 25% do PIB no final dessa dcada, e mantendo-se nesse patamar durante a dcada de 1970 (VARSANO et al, 1998, p.3).

    A recuperao da tendncia ascendente da carga tributria na dcada de 1960 decorreu de alguns fatores, como (VARSANO et al, 1998, p.3) :

    - adoo de tributao sobre o valor adicionado para o principal imposto estadual, e

    tambm para o imposto federal sobre produtos industrializados;

  • 33

    - reduo drstica da tributao cumulativa; - reformulao do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, aumentando

    seu potencial arrecadador; - substancial melhoria na qualidade fazendria.

    Do incio da dcada de 1980 at 1983, a carga tributria apresentou crescimento. A partir desse ponto, inicia-se uma nova fase de declnio que perdura at o final da dcada.

    Em 1990, a carga tributria alcana 28,8% do PIB e, a partir de ento, h a volta do crescimento.

    Abaixo, o grfico apresentado no citado estudo publicado pelo IPEA, demonstrando a

    trajetria da carga tributria de 1946 a 1996 (VARSANO et al, 1998, p.4):

    Grfico 2 - Carga Tributria Global 1947/96 FONTE: VARSANO et al, 1998, p.4

    Foi apontado, em 2002, o setor de energia eltrica como sendo o que era submetido a uma maior tributao mdia sobre o faturamento: 37,63%. O setor de combustveis sofria tributao mdia de 31,63% sobre o faturamento, e as atividades agropecuria e extrativista

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    eram tributadas, em mdia, em 14,07% sobre o faturamento. (AMARAL, OLENIK; apud CAVALCANTI, 2006, p.46).

    Cavalcanti (2006, p.1) declara que Os tributos incidentes sobre os combustveis automotivos perfazem, em particular no Brasil, uma parcela significativa do preo final ao consumidor. Desta forma, importante estudar os tributos, uma vez que eles possuem elevado grau de

    influncia no mercado analisado.

    Por meio da apresentao dos dados oficias da Secretaria da Receita Federal do Brasil, em que h indicao do incremento da carga tributria nacional no perodo de 1995 a 2005, assim como pelos dados publicados pelo IPEA, fica demonstrado que os tributos aumentaram a participao no PIB Produto Interno Bruto Nacional. Por conseqncia, a questo tributria

    assume tambm uma importncia crescente nas entidades, em virtude do impacto nos patrimnios.

    2.1.5 Definio de planejamento tributrio O planejamento tributrio o estudo feito preventivamente, ou seja, antes da realizao do fato administrativo, pesquisando-se seus efeitos jurdicos e econmicos e as alternativas legais menos onerosas (FABRETTI, 2006a, p.32).

    A atividade empresarial que, de forma preventiva, projeta os atos e fatos administrativos com objetivo de informar quais os nus tributrios em cada uma das opes legais disponveis, recebe costumeiramente a denominao de Planejamento Tributrio, define Latorraca (1992, p. 58).

    Em ltima anlise, o objeto do planejamento tributrio a economia tributria. Comparando vrias opes legais, sempre que possvel, o administrador procura orientar os passos de forma a evitar o procedimento mais oneroso, sob o ponto de vista fiscal. E quando o

    contribuinte pretende planejar, com intuito de economizar impostos, dever dirigir a ateno para o perodo anterior ocorrncia do fato gerador, e, nesse perodo, adotar as opes legais disponveis. A economia de impostos, quando visa evitar ou retardar a ocorrncia do fato gerador, somente legtima se as providncias para minimizar ou evitar o nus tributrio

    antecederem a ocorrncia do fato gerador da obrigao tributria e observarem estritamente as

  • 35

    alternativas legais. Ocorrendo o fato gerador, nasce a obrigao tributria, e no resta ao contribuinte outra opo seno pagar o imposto devido (LATORRACA, 1992, p.59).

    Melo (2005, p.180) nos elucida que as pessoas privadas podem realizar negcios que atendam a objetivos particulares, tendo como nico limite as normas proibitivas. So livres para escolherem a estrutura societria mais conveniente aos interesses, abrir filiais no territrio

    nacional. Podem tambm optar por comprar, locar ou construir um estabelecimento, ou ainda, adquirir, locar ou realizar arrendamento mercantil de bens. Em conseqncia, o direito ao planejamento dos negcios implicitamente implica no direito ao planejamento dos decorrentes efeitos tributrios. (MELO, 2005, p.180).

    O planejamento tributrio envolve a escolha, entre alternativas igualmente vlidas, de situaes fticas ou jurdicas que visem reduzir ou eliminar nus tributrios, sempre que isso for possvel nos limites da ordem jurdica. (ANDRADE FILHO, 2006a, p.710).

    Planejamento tributrio, para Luciano Amaro,

    a designao corrente para uma srie de procedimentos tradicionalmente conhecidos como formas de economia de imposto. Aquela expresso tem, talvez, uma conotao mais sofisticada de engenharia tributria. Com efeito, as normas de economia fiscal tm sido enriquecidas por projetos de alta complexidade, que envolvem avanada tecnologia fiscal, financeira e societria. (AMARO, 1995, p.115).

    SHINGAKI (2002, p.24) caracteriza planejamento tributrio como escolha de alternativas de aes ou omisses lcitas, portanto no (dis)simuladas e sempre anteriores ocorrncia dos fatos geradores dos tributos, que objetivem direta ou indiretamente a reduo desse nus, diante de um ato administrativo ou fato econmico. Complementa ainda com os principais

    elementos de qualquer planejamento tributrio:

    i) Praticar atos anteriores ocorrncia da incidncia dos tributos, no sentido de que qualquer tentativa de inibir o pagamento do imposto aps seu fato gerador configura-se como ato condenvel;

    ii) Praticar atos dentro da lei (comprar, vender, alugar, emprestar, remunerar etc), ou seja, dentro de nosso ordenamento jurdico, no qual qualquer operao possvel de ser viabilizada, desde que no esteja ferindo qualquer direito de terceiros, inclusive do prprio Estado; e iii) Ter um motivo econmico que justifique o estudo e a implementao de alternativas que visem pagar menos imposto, isto , s o motivo exclusivo de diminuir o nus fiscal no suficiente para justificar um planejamento. (SHINGAKI, 2002, p.24)

  • 36

    Becker (2007, p.142) afirma ser uma aspirao naturalssima e intimamente ligada vida econmica, a de se procurar determinado resultado econmico com a maior economia, com a menor despesa, incluindo-se na despesa os tributos que incidiro sobre os atos e fatos

    necessrios obteno daquele resultado econmico. O autor complementa ainda:

    Ora, todo o indivduo, desde que no viole regra jurdica, tem a indiscutvel liberdade de ordenar seus negcios de modo menos oneroso, inclusive tributariamente. Alis, seria absurdo que o contribuinte, encontrando vrios caminhos legais (portanto, lcitos) para chegar ao mesmo resultado, fosse escolher justamente aquele meio que determinasse pagamento de tributo mais elevado. (BECKER, 2007, p.142-143).

    Caso o contedo dos livros e documentos fiscais corresponda aos fatos efetivamente

    ocorridos, e se tais fatos so lcitos, h o planejamento tributrio. Se o contedo dos livros e documentos fiscais for diverso dos fatos, h a fraude, caracterizada pela falta de

    correspondncia entre os fatos relevantes para a tributao, e o que os livros e documentos fiscais dizem a respeito deles. (MACHADO, 1998, p.43-44).

    O planejamento tributrio um procedimento lcito e transparente, pelo qual o contribuinte planeja os custos tributrios de uma operao que pretende realizar, com a menor carga tributria possvel. Esse planejamento, obrigatoriamente, deve se dar antes da materializao da hiptese de incidncia tributria, antecipando-se ao fato gerador e evitando a ocorrncia do mesmo, mediante a adoo de um procedimento lcito e no defeso em lei, que corresponda alternativa legal que estiver ao seu alcance. (GUERREIRO, Rutna, 1998, p.149).

    Gustavo Oliveira esclarece:

    O planejamento tributrio realizado antes da ocorrncia do fato gerador conhecido como eliso fiscal, sendo uma fase multidisciplinar, pois importa em estudos e planos de ao realizados por vrios profissionais como: contadores, advogados, engenheiros, economistas e administradores que organizam os negcios da empresa ou pessoa fsica, de modo a diminuir ou zerar nus econmico dos tributos ou mesmo de modo a evitar certas obrigaes acessrias. (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.197).

    O Conselho de Contribuintes, esfera administrativa qual recorrem as empresas para contestar autuaes do fisco, passou exigir em seus julgamentos mais do que simples obedincia legislao tributria. Em casos de planejamentos envolvendo reorganizaes societrias, passou a exigir que as operaes possussem substncia econmica. O

  • 37

    fundamento de negcio exigido vem da influncia de outros pases, e tambm do dispositivo antieliso criado pela Lei Complementar n 104, de 2001 (GOULART; WATANABE, 2007b, p. A14).

    Pelo anteriormente exposto, conclui-se que o planejamento tributrio somente estar caracterizado se for realizado dentro dos limites legais, antes do fato gerador, e se possuir

    fundamento econmico. Caso no possua tais caractersticas, no poder ser considerado como planejamento tributrio. fundamental que qualquer atitude no sentido de economia tributria no viole as normas jurdicas vigentes, pois caso haja violao, no ser planejamento tributrio, mas sim infrao s essas normas, resultando em punio. Essencial que seja antes do fato gerador, pois, uma vez nascido o tributo, no h mais possibilidade de escolher uma alternativa legal, no havendo, assim, possibilidade de planejar. E para que o planejamento possa nitidamente configurado, deve tambm possuir fundamentao econmica para sua implementao, o que significa que no pode ser realizado nica e exclusivamente com a finalidade de reduo de carga tributria.

    O planejamento tributrio uma forma lcita de reduzir a carga fiscal, o que exige alta dose de conhecimento tcnico e bom-senso dos responsveis pelas decises estratgicas no

    ambiente corporativo. (OLIVEIRA, Lus, et al, 2007, p.38).

    As opes proporcionadas pela legislao, assim como seus efeitos tributrios, no devem ser estudados apenas em situaes especiais. Muitos vazamentos de tributos podem existir no cotidiano das empresas. (CHRISTOVO; WATANABE, 2002, p.74).

    A reduo do custo tributrio deve ser uma prtica do dia-a-dia da empresa, uma vez que a incidncia tributria permanente, e os perodos de apurao so cada vez menores. (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.201).

    Os empresrios e executivos j esto cientes de que o gerenciamento das obrigaes tributrias no pode mais ser considerado uma necessidade quotidiana, mas algo estratgico dentro das organizaes de mdio e grande porte, de qualquer setor de atividade. (OLIVEIRA, Lus, et al, 2007, p.34).

  • 38

    Planejamento tributrio um tema srio, que requer conhecimentos sobre negcios e sobre leis. O bom planejamento aquele que obedece s particularidades de cada caso, sendo implementado com o mximo de cuidado e zelo. No bom planejamento no h meias palavras, as declaraes so feitas de forma direta, e os fatos so relatados s claras. Nele os

    documentos de suporte so cuidadosamente preparados, e os registros contbeis espelham os fatos acontecidos de forma analtica, passo a passo (ANDRADE FILHO, 2006a, p.715).

    Para que os custos tributrios possam ser racionalizados, sem afrontar as diversas legislaes que regem os mais diversos tributos, o planejamento tributrio um dos mais significativos instrumentos de que dispem as empresas. (OLIVEIRA, Lus, et al, 2007, p.38).

    Portanto, entende-se que planejamento tributrio, lembrando-se de que, para ser caracterizado como tal deve obedecer a determinados critrios, uma atividade relevante dentro de uma empresa. As que conseguirem elaborar um planejamento tributrio estaro em uma situao vantajosa com relao quelas que no conseguirem, pois economizaro por intermdio da reduo das cargas tributrias. E, proporo que aumenta o nmero de empresas que

    praticam medidas de planejamento tributrio, mais relevante ele pode se tornar, por deixar de ser um diferencial, passando a ser um pr-requisito para a manuteno da competitividade

    empresarial.

    2.1.6 Diferena entre evaso e eliso fiscal Evaso e eliso fiscal so conceitos diferentes. A linha que divide os dois conceitos est fundamentada basicamente na licitude ou no dos atos praticados.

    A licitude dos meios utilizados pelo contribuinte para evitar o pagamento de tributos o divisor de guas entre a economia legtima de tributos e a evaso fiscal (OLIVEIRA, Gustavo, 2008, p.187).

    Huck (1998, p.11) explica que Eliso e evaso corporificam a tnue distino ou a pouco precisa fronteira entre o planejamento tributrio lcito e a sonegao criminosa.

    Eliso fiscal e evaso fiscal so separadas por um abismo de significao. A eliso busca, de

    maneira lcita, alternativas que levam a uma menor carga tributria. Tais alternativas

  • 39

    requerem o manejo de duas linguagens: a do Direito Positivo e a dos negcios. Portanto, no est restrita descoberta de lacunas ou brechas existentes na legislao. Evaso, tambm entendida por sonegao fiscal, resultado de ao ilcita, punvel com pena restritiva de liberdade e multa. Estabelecer uma linha que divide eliso de evaso dividir o lcito do

    ilcito (ANDRADE FILHO, 2006a, p.710).

    Quando o planejamento tributrio preventivo, antes da ocorrncia do fato gerador do tributo, o resultado a reduo da carga fiscal dentro da legalidade, denominada eliso fiscal. O mau planejamento traz consigo o perigo de resultar em reduo da carga tributria descumprindo determinaes legais, classificadas como crime de sonegao fiscal, e a essa reduo d-se o

    nome de evaso fiscal (FABRETTI, 2006a, p.33).

    A diferena entre economia de imposto e evaso reside na licitude ou ilicitude dos procedimentos ou dos instrumentos adotados pelo indivduo para evitar o pagamento de tributo (AMARO, 1995, p. 135).

    Evaso tributria designa a fuga ao dever de pagar tributos, e tem sentido amplo, abrangendo tanto as condutas lcitas, quanto as ilcitas. Quando acrescida do qualificativo lcita, ou legtima, designa apenas as condutas de fuga ao dever de pagar tributos sem violao de lei. Neste caso, tambm designada pelas expresses eliso tributria, economia de impostos, planejamento tributrio e engenharia tributria (MACHADO, 1995, p.51).

    A eliso fiscal decorre da utilizao, pelos contribuintes, de formas legtimas, juridicamente admitidas, com intuito de excluir, retardar ou diminuir resultados tributrios, enquanto que a evaso fiscal refere a condutas ilcitas em que se verificam a ao ou omisso dolosa (vontade consciente e livre dirigida a um resultado ilegtimo) do contribuinte, com o objetivo de evitar, reduzir ou retardar o pagamento de tributo. A evaso geralmente intencional, mas pode

    tambm no o ser (CASSONE, 1985, p.91-92).

    A economia tributria lcita, mediante ao anterior ocorrncia do fato gerador, que evite, reduza ou postergue imposto, sem violar a lei, caracterizada como eliso fiscal. Quando a ao ou omisso, tendente a eliminar o cumprimento da obrigao tributria, for ilcita, caracterizada a evaso fiscal (SHINGAKI, 2002, p. 25).

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    Melo (2005, p.200) classifica eliso fiscal como procedimento lcito, podendo revestir a natureza jurdica de negcio jurdico indireto, colimando a obteno de economia fiscal, tendo como limite legal a livre forma jurdica consentnea com os atos do contribuinte, enquanto que classifica evaso fiscal como toda ao ou omisso de natureza ilcita, objetivando a subtrao de uma obrigao tributria, caracterizada por ato viciado, fraude, simulao (ou dissimulao), e praticada aps tipificada a obrigao;.

    Os dois conceitos podem ser diferenciados pela afirmao de que na eliso procura-se o caminho lcito, reduzindo-se a carga tributria por meio de operaes admitidas ou no proibidas por lei, e estas operaes sempre devem ocorrer antes do fato gerador. Na evaso

    fiscal, porm, a conduta ilcita ou fraudulenta, em que o contribuinte realiza operaes contrrias lei, que ocorrem aps o fato gerador, com o objetivo de esconder a real inteno das partes contratantes (ANAN JR., 2005, p.304).

    Latorraca (1981, p. 19) afirma que o objetivo do planejamento tributrio a economia tributria,

    e tal economia de impostos s legtima se as providncias para minimizar ou para evitar o nus tributrio antecederem a ocorrncia do FATO GERADOR do imposto e observarem estritamente as alternativas legais. Do contrrio, corre-se o risco de praticar infrao, que pode caracterizar a SONEGAO ou FRAUDE. (LATORRACA, 1981, p.19).

    O planejamento tributrio, tambm conhecido por evaso lcita, tax avoidance, eliso fiscal, dentre outras denominaes encontradas, acontece antes da ocorrncia do fato gerador do tributo, por meio de formas previstas ou no proibidas na lei, e visa impedir, reduzir ou adiar a incidncia do tributo. A forma irregular de se evitar, reduzir ou adiar a incidncia de norma tributria, sobre fato j ocorrido, e essa forma tem por objetivo dar a este fato j ocorrido, contornos diversos do que foi praticado, denomina-se evaso fiscal, tax evasion, planejamento ilcito, dentre outras denominaes encontradas (CARDOSO, 2004, p.216).

    A eliso significa forma lcita de evitar ou minorar a incidncia de tributos, e nela busca-se evitar o surgimento da obrigao tributria. A evaso tributria, no entanto, significa forma ilcita de evitar a satisfao da obrigao tributria, e nela j h obrigao do contribuinte de satisfazer essa obrigao, ocultada pelo mesmo, de acordo com exposio de Carvalho (2004, p.58).

  • 41

    A evaso, como tentativa de fugir da obrigao tributria, no recente. A evaso fenmeno indissocivel de todos os sistemas tributrios, inclusive daqueles dos pases mais desenvolvidos., afirma Fossati (2006, p.65). Declara ainda:

    A nsia de fugir do Estado repressivo e fiscalizador remonta Antiguidade, onde desde os integrantes de estrato social mais baixo at os de mais elevado faziam o que podiam para evitar a visita do fiscal tributrio, do arrecadador de impostos. No antigo Egito, onde a arrecadao de tributos geralmente tinha uma nica dotao, um nico destino qual seja, alargar o patrimnio do fara, tido como deus vivo na terra, ou construir palcios e pirmides as formas de evaso tributria muitas vezes incluam mesmo o suicdio do contribuinte, desesperado por no ter encontrado outra forma de evitar o pagamento do tributo. (FOSSATI, 2006, p.65)

    Fossati ressalta que acompanha o posicionamento de Antnio Roberto Sampaio Dria no sentido de que os termos evaso e fraude so inadequados para designar o fenmeno da eliso tributria. Isso porque o termo evaso j traz consigo uma conotao de ilicitude, sendo ilgica a qualificao de evaso em lcita ou ilcita. (FOSSATI, 2006, p.74).

    Nos tempos em que o Brasil ainda estava sob o regime da monarquia, o ento rei D. Joo V decretou que o ouro, que era tributado na poca, somente poderia ser comercializado ou ento circular em barras. Esse ato teve por motivao o entendimento de que a circulao ou comercializao de tal material em p, forma em que inclusive era aceito como moeda,

    facilitava a evaso fiscal. Proibindo-se a circulao do ouro em p, este deveria ser transformado em barras por casas de fundio, que se encarregavam pelo recolhimento do

    tributo incidente, o denominado quinto. (MOSQUERA, 2006, p.111).

    Eliso e evaso fiscal so definies opostas, no que diz respeito obedincia s leis. Enquanto que, na eliso fiscal, os procedimentos adotados ficam dentro dos limites legais

    impostos, na evaso fiscal os limites legais no so respeitados, o que resulta em punio. Ambas definies tratam de reduo de tributos, mas a diferena entre elas est na legalidade

    do que praticado para obter a almejada economia.

    Doria (1977, p.49-54), apud Peixoto (2004, p.85), tratando das espcies de eliso trib