Alexandre Harlei Ferrari Dissertacao MESTRADO

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FACULDADE DE CINCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO ESCOLAR MESTRADO ACADMICO

DISSERTAO DE MESTRADO

EDUCAO AMBIENTAL EM ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE MUNICIPAL DE ARARAQUARA: DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO SALA DE AULA.

ALEXANDRE HARLEI FERRARI

ORIENTADOR: PROF. DR.

MARIA CRISTINA DE SENZI ZANCUL

ARARAQUARA Agosto de 2009

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CINCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO ESCOLAR MESTRADO ACADMICO LINHA DE PESQUISA: FORMAO DO PROFESSOR, TRABALHO DOCENTE E PRTICAS PEDAGGICAS

EDUCAO AMBIENTAL EM ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE MUNICIPAL DE ARARAQUARA: DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO SALA DE AULA.

ALEXANDRE HARLEI FERRARI

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao Escolar da Faculdade de Cincias e Letras da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Campus de Araraquara, sob a orientao da Profa. Dra. Maria Cristina de Senzi Zancul, do Departamento de Cincias da Educao, como parte dos requisitos obrigatrios para obteno do ttulo de Mestre em Educao Escolar.

ARARAQUARA Agosto de 2009

FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CINCIAS E LETRAS UNESP CAMPUS DE ARARAQUARA

Ferrari, Alexandre Harlei Educao ambiental em escolas de ensino fundamental da rede municipal de Araraquara: do projeto poltico-pedaggico sala de aula / Alexandre Harlei Ferrari 2009 221 f.; 30 cm. Dissertao (Mestrado em Educao Escolar) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Cincias e Letras, Campus de Araraquara Orientador: Maria Cristina de Senzi Zancul 1. Educao -- Brasil. 2. Educao ambiental. 3. Prtica de ensino. 4. Ensino Fundamental. I. Ttulo.

FOLHA DE APROVAO: DISSERTAO DE MESTRADO

ALEXANDRE HARLEI FERRARI EDUCAO AMBIENTAL EM ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE MUNICIPAL DE ARARAQUARA: DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO SALA DE AULA.

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de PsGraduao em Educao Escolar da Faculdade de Cincias e Letras da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Campus de Araraquara, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Educao Escolar.

Data da Defesa: Local:

7 de agosto de 2009 Universidade Estadual Paulista Faculdade de Cincias e Letras UNESP Campus de Araraquara

MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientadora: Maria Cristina de Senzi Zancul, Profa. Dra. FCL/UNESP Campus de Araraquara

Membro Titular: Edson do Carmo Inforsato, Prof. Dr. FCL/UNESP Campus de Araraquara

Membro Titular: Flvia Cristina Sossae, Profa. Dra. Centro Universitrio de Araraquara/UNIARA

AGRADECIMENTOS

Maria Cristina, pela energia que depositou neste trabalho, sempre acreditando em meu potencial, concedendo-me liberdade e autonomia para trilhar meus prprios caminhos, me orientando nos momentos tempestuosos e, acima de tudo, pelo seu compromisso tico e sua dedicao profissional... meus sinceros agradecimentos!

Aos

Meus Pais, Deolindo e Nylza, pela pacincia em me aguentar realizando mais um curso universitrio, acreditando sempre na minha capacidade pessoal e profissional, deixando-me livre para viver a vida com os meus prprios erros e acertos... valeu pela fora!

Andreia, minha Esposa, meu MOZO, pela pacincia, pelo carinho e pelos muitos finais de semana em que a deixei a ver navios... beijos mozo!

A

Todos os Profissionais das Escolas de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Araraquara s Diretoras, s Coordenadoras Pedaggicas, s Assistentes Educacionais Pedaggicas, s Professoras e aos Professores que gentilmente me receberam sem reservas e me concederam a oportunidade de invadir-lhes o seu dia-adia, dialogando comigo sobre esta rdua tarefa que educar para uma conscincia ambientalmente responsvel... muito obrigado colegas!

EP G RAFE

Na vida, no existem solues. Existem foras em marcha: preciso cri-las e, ento, a elas seguem-se as solues. Antoine de Saint-Exupry

SUMRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... 9 LISTA DE QUADROS........................................................................................................... 10 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................11 RESUMO................................................................................................................................. 13 ABSTRACT ............................................................................................................................14

CAPTULO 1:

O PERCURSO DA PESQUISA....................................................................... 15OS PRIMEIROS PASSOS ...................................................................................................15 O CAMINHO PERCORRIDO.........................................................................................16 O TEMA QUE NOS MOVE(U) ..........................................................................................17 A ORGANIZAO DO TRABALHO ...............................................................................24

CAPTULO 2:

OS PROCEDIMENTOS METODOLGICOS............................................. 26AS ETAPAS DA PESQUISA ..............................................................................................29 OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA..................................................31 A FICHA DE REGISTRO PARA AS INFORMAES SOBRE A ESCOLA E AS ANOTAES DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO (PPP) ................................32 OS QUESTIONRIOS DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADOS APLICADOS JUNTO AOS COORDENADORES PEDAGGICOS E PROFESSORES ...................34 OS PROJETOS POLTICO-PEDAGGICOS ................................................................37

AS ENTREVISTAS COM OS COORDENADORES PEDAGGICOS E PROFESSORES QUE TRABALHARAM COM A TEMTICA AMBIENTAL NAS ESCOLAS PESQUISADAS ............................................................................................37

CAPTULO 3:

MEIO AMBIENTE E EDUCAO AMBIENTAL ..................................... 40DOCUMENTAO LEGAL E DE REFERNCIA...........................................................40 ALGUNS AUTORES E A DISCUSSO SOBRE A TEMTICA ....................................62 A EDUCAO AMBIENTAL EM DISSERTAES E TESES ......................................70

CAPTULO 4:

AS INFORMAES OBTIDAS NA PESQUISA ....................................... 114SOBRE A LOCALIZAO DAS ESCOLAS SELECIONADAS ...................................116 SISTEMATIZAO DAS INFORMAES DO DIRIO DE CAMPO: DOS PRIMEIROS CONTATOS FINALIZAO DA ETAPA DE COLETA DE DADOS 118 ORGANIZAO E ANLISE DAS INFORMAES OBTIDAS ................................134

CONSIDERAES FINAIS ......................................................................... 178

REFERNCIAS .............................................................................................. 183

APNDICE ASOBRE O PROGRAMA DE EDUCAO COMPLEMENTAR ....................................188

APNDICE BOPINIO DOS ENTREVISTADOS SOBRE AS PESQUISAS EM EDUCAO AMBIENTAL.....................................................................................................................191

ANEXOSANEXO.1: SOLICITAO PARA REALIZAO DA PESQUISA .............................193 ANEXO.2: AUTORIZAO CONCEDIDA....................................................................194 ANEXO.3: ACEITE DO COORDENADOR PEDAGGICO .........................................195 ANEXO.4: ACEITE DO PROFESSOR RESPONSVEL ...............................................196 ANEXO.5: ROTEIRO PARA ANOTAES SOBRE A ESCOLA E O PPP .................197 ANEXO.6: QUESTIONRIO ENTREVISTA: COORDENADOR.................................203 ANEXO.7: QUESTIONRIO ENTREVISTA: PROFESSOR .........................................212

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuio no permetro urbano da cidade de Araraquara, das oito Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs) selecionadas para a pesquisa.........................115 Figura 2. Vista area da Escola.1. ..........................................................................................119 Figura 3. Vista area da Escola.2. ..........................................................................................121 Figura 4. Vista area da Escola.3. ..........................................................................................123 Figura 5. Vista area da Escola.4. ..........................................................................................125 Figura 6. Vista area da Escola.5. ..........................................................................................127 Figura 7. Vista area da Escola.6. ..........................................................................................129 Figura 8. Vista area da Escola.7. ..........................................................................................131 Figura 9. Vista area da Escola.8. ..........................................................................................133 Figura 10. Localizao do Centro de Educao Complementar Alscio Gonalves dos Santos, que desenvolve trabalho educativo com a temtica ambiental. ...............................190

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Nmero de visitas s escolas e perodo em que essas visitas foram realizadas ....114 Quadro 2. Organizao dos projetos poltico-pedaggicos (PPP) das oito escolas da rede municipal de ensino fundamental selecionadas para a pesquisa ............................................144 Quadro 3. Sntese da percepo dos coordenadores pedaggicos das oito escolas pesquisadas quanto temtica ambiental e educao ambiental................................................................149 Quadro 4. A percepo dos coordenadores pedaggicos e professores quanto s questes ambientais e de educao ambiental.......................................................................................157 Quadro 5. Projetos em educao ambiental desenvolvidos nas escolas municipais de Araraquara, segundo informaes dos coordenadores pedaggicos e professores responsveis ................................................................................................................................................162

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.1 ....................119 Tabela 2: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.2 ....................121 Tabela 3: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.3 ....................123 Tabela 4: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.4 ....................125 Tabela 5: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.5 ....................127 Tabela 6: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.6 ....................129 Tabela 7: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.7 ....................131 Tabela 8: Dependncias (laboratrios, aparelhos e reas diversas) da Escola.8 ....................133 Tabela 9: Organizao das escolas da rede municipal de Araraquara, referentes ao nvel de ensino, nmero de alunos e nmero de professores em cada unidade ...................................135 Tabela 10: Perfil da organizao interna das escolas, quanto ao tempo de atuao da direo, funo de coordenao pedaggica e a abrangncia dos projetos poltico-pedaggicos .......136 Tabela 11: Distribuio e diviso do quadro de professores por rea de atuao nas escolas pesquisadas .............................................................................................................................138 Tabela 12: Identificao da formao acadmica dos coordenadores pedaggicos e professores entrevistados e o tempo de docncia no exerccio do magistrio e/ou coordenao pedaggica ..............................................................................................................................139 Tabela 13: Relao das experincias no planejamento e/ou participao e/ou coordenao com a temtica ambiental, dos coordenadores pedaggicos e professores das escolas municipais de ensino fundamental de Araraquara/SP ...................................................................................142 Tabela 14: Relao dos elementos indicadores de facilidades e dificuldades na elaborao de projetos e/ou atividades em EA nas escolas, elencados pelos coordenadores e professores entrevistados ...........................................................................................................................151

Tabela 15: Indicao dos principais temas e do pblico alvo para os projetos e/ou atividades em educao ambiental realizados na escola, conforme indicao feita pelos coordenadores pedaggicos e professores responsveis.................................................................................171 Tabela 16: Indicao dos principais objetivos dos projetos e/ou atividades em Educao Ambiental nas escolas pesquisadas, de acordo com os coordenadores pedaggicos e professores entrevistados........................................................................................................173 Tabela 17: Os principais procedimentos metodolgicos utilizados nas atividades com a temtica ambiental desenvolvidos nas escolas pesquisadas, identificados pelos coordenadores pedaggicos e professores entrevistados ................................................................................175 Tabela 18. Sobre as pesquisas desenvolvidas com a temtica ambiental:..............................191

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo realizar uma anlise dos fundamentos, princpios e prticas da Educao Ambiental, a partir do estudo de prticas pedaggicas desenvolvidas em escolas de Ensino Fundamental da Rede Municipal da cidade de Araraquara, Estado de So Paulo. Foram tomados como referncia a documentao oficial (orientaes, parmetros curriculares, regulamentaes e leis em nvel federal, estadual e municipal) e autores cuja obra e experincias com a temtica ambiental contribuem para o entendimento da questo no mbito da educao escolar formal. Os procedimentos metodolgicos utilizados na pesquisa consistiram na anlise das propostas de Educao Ambiental contidas nos projetos polticopedaggicos das unidades escolares envolvidas na pesquisa, em entrevistas com roteiro semiestruturado, realizadas com os coordenadores pedaggicos das escolas, e em entrevistas com roteiro semi-estruturado com professores que desenvolvem prticas sobre o tema. Trata-se de um estudo fundamentado numa abordagem qualitativa e se baseia na concepo de Educao Ambiental como um processo de ensino-aprendizagem voltado construo e exerccio da cidadania. Os resultados revelam a existncia de uma gama diversificada de projetos e atividades em Educao Ambiental, desenvolvidas nos diferentes anos do ensino fundamental, nas escolas que fizeram parte da pesquisa. No entanto, tais resultados apontam a ausncia de fundamentos tericos, conceituais e metodolgicos que alicercem o trabalho pedaggico com a temtica ambiental nestas escolas. Palavras-Chave: Educao Ambiental. Prtica Pedaggica. Ensino Fundamental. Projeto Poltico-Pedaggico.

ABSTRACT

The objective of this work is to accomplish an analysis of the fundaments, principles and practices of Environmental Education from a study of pedagogical practices developed in municipal elementary education schools, in Araraquara city, So Paulo State, Brazil. The official documentation (orientations, parameters of the curriculum, regulation and laws at three levels - federal, of the state, and municipal) and authors whose work about environmental theme and experience in this field contribute for the understanding of this subject in the formal school education were taken as reference .The methodological procedures used in the research were: the analysis of Environmental Education proposes from the political pedagogical projects of the school unities involved in the research; interviews with semi structured schedules with the pedagogical coordinator of the schools; interviews with semi-structured schedules with teachers who developed practices about this theme. This study is based in a qualitative approach and in the conception of Environmental Education as an education-learning process whose aim is the construction and the exercise of citizenship. The results show the existence of a diversified range of projects and activities in Environmental Education, developed in the different grades of elementary education, at the schools participating in the research. Nevertheless, the results show a lack of theoric, conceptual, and methodological fundaments that can establish the pedagogical work with the environmental theme in the schools involved in the research. Keywords: Environmental Education. Pedagogical Practice. Elementary Education. PoliticalPedagogical Project.

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O PERCURSO DA PESQUISA

Parece ser importante, medida que encerramos uma etapa, rever como tudo comeou, recuperando um pouco daquilo que pensamos ser nosso projeto de pesquisa a idia original que impulsionou, que deu sentido e que nos motivou a realizar o trabalho buscando a certeza, to incerta, de que o percurso agora prestes a ser vencido, no se distanciou tanto da proposta original que, ao que parece, foi mais ou menos assim...

OS PRIMEIROS PASSOSA pesquisa comeou a ser desenhada quando cursei, no primeiro semestre de 2005, a disciplina de Educao e Meio Ambiente, oferecida como optativa no curso de Licenciatura em Pedagogia, da Faculdade de Cincias e Letras da UNESP de Araraquara, na qual busquei ampliar meus conhecimentos em relao temtica ambiental. Na poca, iniciava o trabalho docente junto Oficina de Pesquisas Ambientais1 como educador ambiental no Centro de Educao Complementar (CEC) Alscio Gonalves dos Santos, uma das cinco unidades do Programa de Educao Complementar2 da rede municipal de Araraquara. No trabalho final da disciplina Educao e Meio Ambiente, abordei a participao dos alunos na referida oficina, analisando o envolvimento deles com a temtica e identificando possveis alteraes na compreenso destes estudantes sobre as questes ambientais, depois de um ano de atividades.Ingressei (via concurso pblico) como professor na rede municipal de ensino de Araraquara, no Programa de Educao Complementar em julho de 2002, na unidade de educao complementar instalada na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Professor Henrique Scabello e, aps passar por outras duas unidades do programa, nos anos de 2003 e 2004, me transferi, em 2005, para o CEC Alscio Gonalves dos Santos, no Jardim Pinheiros, recm inaugurado, que tinha como proposta pedaggica trabalhar a temtica ambiental na educao complementar. 2 Ver Apndice A para a explicao sobre este programa educacional desenvolvido na rede municipal.1

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A preocupao, naquele momento, era a de que a Educao Ambiental no mbito do ensino regular, promovesse um aprendizado significativo e transformador, levando o aluno a agir tica e criticamente em relao s questes ambientais em seu meio social. Quando ingressei no Programa de Ps-Graduao em Educao Escolar, Mestrado Acadmico, da FCL/UNESP de Araraquara, com o projeto Educao Ambiental: Possibilidades Alm da Sala de Aula, o objeto de pesquisa continuava o mesmo: analisar o que seria um aprendizado significativo e transformador, para alm da sala de aula. Contudo, me deparei com a necessidade anterior de considerar o possvel potencial transformador do trabalho com a temtica ambiental, e fui levado a reconhecer que era necessrio investigar como acontecia a Educao Ambiental na rede municipal de ensino, na qual atuo profissionalmente e que constitua um espao aparentemente conhecido por mim. Assim, a pesquisa passou a ser delineada no sentido de investigar, analisar e compreender como ocorria a prtica pedaggica com a temtica ambiental nas escolas da rede municipal de ensino de Araraquara, tomando como foco oito escolas, entre as onze3 unidades que compunham a rede ento.

O CAMINHO PERCORRIDO Nossa trajetria teve incio no ano de 2007, mais precisamente a partir de maro, quando comeamos a freqentar as disciplinas do curso de ps-graduao stricto sensu (tanto as disciplinas obrigatrias quanto as optativas), como parte dos requisitos exigidos para a obteno do ttulo de Mestre em Educao Escolar. Em especial, alm das conversas extra-oficiais e das orientaes precisas com a Profa. Maria Cristina, uma disciplina obrigatria do curso chamou a ateno por exigir a definio mais clara de nosso objeto de pesquisa. Tratava-se da disciplina Pesquisa em Educao, cuja responsvel, Profa. Marilda da Silva, nos levou a organizar a estrutura conceitual de nossa pesquisa, buscando estabelecer o que queramos fazer, como, com quais fundamentos e instrumentos e por quais motivos. Em tese, no curso da disciplina, buscava-se construir a racionalidade analtica no trabalho de pesquisa, ou seja, estabelecer a relao entre mtodos e pressupostos tericos, delinear as hipteses, definir o universo de pesquisa e delimitar o problema.

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At outubro de 2008, a rede municipal estava composta por 13 unidades escolares (EMEFs).

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No geral essas questes no foram respondidas ao final da disciplina, mas foram contempladas na disciplina obrigatria do segundo semestre de 2007, Produo da Pesquisa, sob responsabilidade das Profas. Maria Regina Guarnieri e Silvia Sigolo. Na disciplina Produo da Pesquisa, a proposta de trabalho era realizar o fechamento do projeto inicial de pesquisa, ou seja, nos cabia reformular o projeto apresentado no processo de seleo ao mestrado, reorganizando-o agora na direo daquilo que efetivamente seria feito, desenvolvido, pesquisado. Neste contexto, a trajetria que percorremos, nos permitiu organizar o trabalho de pesquisa que realizamos e agora estamos a apresentar.

O TEMA QUE NOS MOVE(U)Podemos dizer, com certa segurana, que a espcie humana sempre enfrentou problemas ambientais ao longo de sua histria, haja vista os grandes desafios pelos quais passou para garantir sua sobrevivncia e prosperar, processo este que se deu principalmente pelo domnio e controle da natureza, tomada como fonte inesgotvel de recursos naturais e matria prima para o empreendimento humano. Essa viso, de que a natureza forneceria tudo o que a humanidade viesse a precisar para o seu desenvolvimento de forma inesgotvel, sem pensar os impactos decorrentes disso, foi tida como correta e indiscutvel durante muito tempo, sendo questionada somente no sculo XX, a partir da constatao de que a natureza se esgota, pois seus recursos so finitos e de que o meio ambiente no se recupera rapidamente das aes em prol do progresso, s quais submetido. Mauro Grn (2005), professor da Universidade do Planalto Catarinense, em meio s questes sobre tica e Educao Ambiental, assevera que um problema ambiental (ecolgico) no somente um problema tcnico, mas tambm um problema tico, e que uma reviso da literatura no campo tico ambiental identificar o antropocentrismo como um dos elementos responsveis pela devastao ambiental (p.45). Para ele, tendo como referncia a literatura sobre o problema tico ambiental, o antropocentrismo a postura que apregoa que o ser humano o centro de tudo seria o piv da crise ecolgica (GRN, 2005, p.45). Segundo Samuel Murgel Branco, bilogo, ex-professor titular de Ecologia Aplicada da USP:

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Desde o surgimento do homem na Terra, os tipos de impacto ambiental tm se diversificado e sua freqncia aumentado muito. O primeiro tipo de impacto causado pelo homem provavelmente derivou-se do domnio do fogo. medida que a espcie humana foi desenvolvendo novas tecnologias e ampliando seu domnio sobre os elementos e a natureza em geral, os impactos ambientais foram se ampliando em intensidade e extenso (BRANCO, 2002, p.20).

As conseqncias desse processo de interveno so observadas nos srios problemas ambientais enfrentados na atualidade, como a perda da biodiversidade, a poluio do ar, da gua e dos solos, o desmatamento e o aquecimento global, to comentado pela mdia, todos representando grande ameaa s formas de vida no planeta. De acordo com Branco,O grande problema da civilizao moderna, industrial e tecnolgica talvez o de ela no ter percebido que ainda depende da natureza, ao menos em termos globais; que sua liberao ainda no total e que, provavelmente, nunca ser; que no possvel produzir artificialmente todo o oxignio necessrio manuteno da composio atual da atmosfera, nem toda a matria orgnica necessria ao seu prprio consumo; que no possvel manter, sem a participao da massa vegetal constituda pelas florestas, savanas e outros sistemas, os ciclos naturais da gua de modo a garantir a estabilidade do clima, a constncia e a distribuio normal das chuvas e a amenidade da temperatura (BRANCO, 2002, p.22).

Branco (2002), estabelece a relao de que o planeta enquanto biosfera, dividido em ecossistemas complexos e auto-reguladores, suporta de forma quase infinita, mas no infinita, as mudanas cclicas que ocorrem, absorvendo os impactos de pocas rigorosas (invernos, secas, inundaes e outros fenmenos), sem a ameaa de ser devastado por catstrofes em escala global. Acontece, porm, que a forma com que o homem interfere nesses ecossistemas, de forma no cclica, mas contnua ou desordenada, alterando as caractersticas essenciais do sistema, introduzindo elementos estranhos ou retirando elementos essenciais, podem provocar danos irreversveis os impactos ambientais (BRANCO, 2002, p.26-27). Com isso, as interferncias nesse processo contnuo, por meio de freqentes e mltiplos impactos ambientais, podem levar catstrofe, que seria o desequilbrio total da biosfera (BRANCO, 2002, p.27). Francisco de Assis Mendona, professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paran, chama a ateno para o fato de que a emergncia da

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discusso sobre a temtica ambiental, no simplesmente mera obra do acaso, sendo que a questo tem recebido um justo e profcuo tratamento (MENDONA, 2002, p.7). Mendona (2002), ao discorrer sobre a forma com que a temtica tratada, alm daquela que aparece nos veculos de mdia (rdio, televiso, jornais, revistas etc.), divide a abordagem a partir de trs instncias da atividade humana: artes, poltica e cincias. No que se refere s artes, a retratao do meio ambiente atravs das vrias expresses, sempre apareceu como inspirao dos artistas de forma contemplativa, sendo que s mais recentemente os artistas passaram a denunciar as agresses da sociedade contra a natureza (MENDONA, 2002, p.16-17). Alis, define Mendona (2002, p.17), esta participao artstica tem contribudo para a conscientizao da problemtica ambiental e em muitos casos esclarecido equvocos criados pelos alarmismos da mdia4. Quanto atividade poltica, Mendona (2002, p.17), ressalta aatitude demaggica de determinados indivduos, quando sob ateno do eleitorado, de se utilizar dos problemas relativos ao meio ambiente, como um recurso para conseguir mais votos sem sequer demonstrar conhecimento aprofundado e compromisso real com sua causa.

O autor chama ateno para esta questo, apontando que falta uma cobrana mais direta da sociedade civil, exigindo que as bandeiras eleitorais voltadas s questes ambientais, levantadas em campanha, no sejam apenas uma caa ao voto do eleitor, mas sim uma ao concreta por parte dos governantes e dirigentes polticos eleitos. Para ele, embora seja possvel reconhecer o trabalho efetivo de alguns polticos srios em defesa do meio ambiente, com pequenos avanos na elaborao de diretrizes e planos de cunho ambientalista, a fora e influncia dos verdes ainda est em formao na esfera poltica (MENDONA, 2002, p.18). J no que se refere instncia da atividade humana ligada s cincias, Mendona (2002, p.18), discorre que a temtica ambiental, embora esteja sempre presente nas discusses, recebe um tratamento diversificado e de acordo com os diferentes momentos histricos que caracterizam o desenvolvimento do conhecimento cientfico, cabendo ressaltar

Francisco Mendona chama ateno para esta questo do alarmismo da mdia, citando como exemplo os acontecimentos de ordem completamente natural (cclicos) a que o planeta submetido (como maremotos, erupes vulcnicas etc.) e que so tratados como catstrofes ambientais sensacionalistas. Para ele, importante separar o que fruto da ao humana daquilo que fruto da dinmica planetria.

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que o autor identifica as cincias como sendo a cincia geogrfica, atendo-se sua evoluo e a como ela abarcou o tema meio ambiente. O autor elenca, ainda, vrios eventos, entre os quais, a Segunda Guerra Mundial, a Globalizao das Economias Capitalista e Socialista e a Exploso Demogrfica, como contingncias mundiais para a ecloso da conscincia ambiental no sculo XX, e aponta a Primeira Conferncia Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente (Estocolmo, Sucia, 1972), como um importantssimo evento sociopoltico voltado ao tratamento das questes ambientais (MENDONA, 2002, p.33-46). Sobre a Conferncia, ele afirmase aquele evento significou, por um lado, a primeira tentativa mundial de equacionamento dos problemas ambientais, por outro, significou tambm a comprovao da elevada degradao em que a biosfera j se encontrava (MENDONA, 2002, p.46).

Segundo Mendona (2002, p.46-47), esperava-se, a partir dessa conferncia, que as aes relativas ao meio ambiente, pudessem ser melhor orientadas, passando, o ambiente do planeta, a apresentar sensvel evoluo nas condies gerais. Contudo, no foi isso que aconteceu, e a ao depredadora das relaes de produo capitalista, mais acentuadamente que a socialista produziu uma destruio brutal no patrimnio ambiental do planeta, nunca antes observado. Para o autor, com a destruio ambiental observada, em contradio ao que se esperava pelo proposto na conferncia de 1972, tornou-se necessria a realizao de outra conferncia ocorrida, para ele, tardiamente, vinte anos depois, na cidade do Rio de Janeiro. Mendona (2002), descreve que nesta conferncia, a Rio-925, a participao de alguns pases foi lastimvel, sendo o caso mais gritante, a recusa dos Estados Unidos da Amrica, em assinar o Acordo Internacional da Biodiversidade, que viria a assegurar um tratamento mais srio s questes ambientais. Para o autor, tal atitude se configurou numa verdadeira afronta ao empenho internacional por novas posturas para o equacionamento dos problemas ambientais para o presente e o futuro, e trouxe como registro para a histria da humanidade, o nome do

A II Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada entre 3 e 14 de junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, mundialmente conhecida como Rio-92 e teve, como temas centrais de discusso, questes sobre o desenvolvimento sustentvel e o processo de degradao ambiental do planeta. Disponvel em: . Acesso em: 10 nov. 2008.

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presidente George W. Bush e dos Estados Unidos da Amrica, como os grandes viles para a melhora na qualidade de vida no planeta (MENDONA, 2002, p.47-48). Ademais, ao falar das deliberaes gerais da Segunda Conferncia (Rio de Janeiro, 1992), o autor afirma que estas no significaram maiores avanos em relao s deliberaes aprovadas na Primeira Conferncia (Estocolmo, 1972), sendo que, para ele, o que se espera agora que tais deliberaes, ao contrrio daquelas aprovadas em Estocolmo, sejam postas em prtica por todos os pases (MENDONA, 2002, p.48).Somente com o cumprimento das convenes internacionais estabelecidas durante a referida conferncia que se poder acreditar que alguma coisa em prol da vida futura na Terra estar sendo gestada com seriedade (MENDONA, 2002, p.48).

Quanto Declarao Sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, 1972), transcrita na obra de Mendona (2002, p.48-51), destacamos o item 6, com o objetivo de salientar a situao planetria observada naquela ocasio.Chegamos a um momento da Histria em que devemos orientar nossos atos em todo o mundo, atentando com a maior solicitude para as conseqncias que possam ter quanto ao meio. Por ignorncia ou indiferena, podemos causar danos irreparveis e imensos ao meio terrqueo de que dependem nossa vida e nosso bem-estar. Pelo contrrio, com um conhecimento mais profundo e ao mais prudente, podemos conseguir para ns e os psteros, condies de vida melhores em um meio mais em consonncia com as necessidades e aspiraes do homem (DECLARAO SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO apud MENDONA, 2002, p.50).

importante destacar, tendo em vista o excerto, que de l para c, transcorridos mais de 36 anos, a situao planetria no melhorou e as condies de vida ainda no esto em consonncia com as necessidades e aspiraes da humanidade. Mendona (2002, p.70), apresenta importantes consideraes acerca das questes ambientais, em especial na parte que se refere sua abordagem. Para ele, o tratamento da temtica ambiental , por assim dizer, atividade bastante complexa do ponto de vista terico e mais ainda do ponto de vista da prxis. Salienta tambm que, ao abordar questes como a preocupao com espcies em extino, o homem, aparentemente, nem sempre compreendido como elemento do meio, o que leva necessidade de resgatar (mais ainda nos pases em desenvolvimento) o mnimo necessrio sobrevivncia de cada um e condio de cidadania. Portanto, falar de meio

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ambiente em tal contexto no tem nenhuma ressonncia, sem que antes se recupere a condio humana (MENDONA, 2002, p.71). No que se refere realidade brasileira, o autor expe que falar de meio ambiente significa, antes de tudo, lutar para o equacionamento de graves problemas sociais que to marcadamente caracterizam o espao geogrfico nacional (MENDONA, 2002, p.71). Para Mendona (2002, p.71), frente ao agravamento dos problemas sociais criminalidade, violncia, delinqncia, corrupo, favelamento etc. etc. etc. que se tornam uma sria ameaa paz e a vida em sociedade, de suma importncia pensar:Como falar de meio ambiente em tais condies?! Como falar de meio ambiente dentro de uma favela?! Como falar de meio ambiente para os sem terra?! O que estas pessoas precisam resolver primeiro?!!!!! Quais suas prioridades bsicas?!!! (MENDONA, 2002, p.71).

Diante do exposto, podemos considerar que os problemas ambientais, embora afetem direta ou indiretamente a vida de milhes (ou bilhes) de pessoas no mundo, no so adequadamente tratados como frutos da relao entre o homem e a biosfera, o que nos leva necessidade de pesquisar, divulgar, discutir, conscientizar e educar para uma ao humana ambientalmente responsvel. Surgem, porm, as questes: Como fazer? Que caminhos seguir? Que meios utilizar? Como garantir que a sociedade tenha acesso s informaes sobre os problemas ambientais em sua totalidade, e como nos assegurar de que essas informaes possam gerar mudanas de comportamento? Essas no so, como tantas outras, perguntas simples de serem respondidas, tanto pela sua subjetividade, como pela dimenso que tomam. Como agir, ento? Nesse sentido, Michle Sato e Luiz Augusto Passos, intelectuais e ativistas das questes ambientais, ambos professores da Universidade Federal de Mato Grosso, trazem, para o campo da Educao Ambiental, alguns elementos que contribuem para o debate.Insistimos em democracia, incluso social e proteo ecolgica como persistncia da plataforma poltica, para que, alm da esttica da beleza, possamos acolher tambm a feira dos erros, dos limites e das ausncias. Reconhecemos, assim, que os valores ticos diante do mundo e de seus desafios subjacentes clamam teimosamente por ser lembrados como dimenso inseparvel de toda a vida (SATO & PASSOS, 2006 , p.21).

Ainda para os autores

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Na potica da EA, a ateno degradao ambiental muitas vezes deixa escapar a injustia social. Por isso preciso reivindicar a conscincia reflexiva de que toda misria humana est intrinsecamente relacionada com os impactos ambientais. Teremos o enorme desafio de transformar a potica em sua dimenso poltica, pois a histria da civilizao do Homo Sapiens j comprovou que os prejuzos dos danos ambientais recaem sempre nas camadas economicamente desfavorecidas. (...) Para alm de pragmatismos, preciso um fecundo repensar a vida, sem restos ou enigmas vazios, mas com coragem de assumir a injustia presente nas inmeras sociedades de um mundo to desigual (SATO & PASSOS, 2006 , p.23).

Sato e Passos (2006, p.24), definem que na dimenso poltico-potica da Educao Ambiental, no existem receitas prontas, um guia prtico de como fazer, no h cartilhas que promovam o ABC de estratgias, ou bssolas que mostrem apenas um eixo norteador do universo, mas sim um conjunto de tentativas e erros, com acmulo de dissabores. Quanto aos educadores ambientais, os autores falam que estes ainda se encontram num enigmtico mundo de descobertas, com dvidas sobre por onde caminhar ou sobre qual itinerrio seguir. Para eles,O que move a EA no so suas temticas abrangentes, mas o enredo que se trama para que o mundo se mostre extraordinrio, revelando que o mundo no cabe no mundo e o real no cabe no concebvel6 (SATO & PASSOS, 2006 , p.24).

Assim, procuramos esclarecer, nas pginas que apresentamos, um pouco do tema que nos moveu, e que nos levou a elaborar a presente pesquisa junto ao Programa de PsGraduao em Educao Escolar da Faculdade de Cincias e Letras UNESP Araraquara. O estudo busca analisar como ocorre, nas escolas municipais de Ensino Fundamental da cidade de Araraquara/SP selecionadas para a pesquisa, o processo de ensino-aprendizagem da temtica ambiental. Para tanto, consideramos que a Educao Ambiental, a partir do trabalho pedaggico desenvolvido em sala de aula, deve proporcionar experincias concretas que insiram o educando numa prtica social real, para que ele possa construir seus valores e hbitos, colocando-se como ser ativo diante das realidades de sua comunidade, refletindo sobre aquilo que acontece no espao onde vive e atuando de forma consciente, buscando a manuteno, a conservao e a preservao do Meio Ambiente.

A citao o mundo no cabe no mundo e o real no cabe no concebvel, foi extrada pelos autores de WISNIK, J. (2005). Miguel, Drummond e o mundo. In: NOVAES, Adauto (Org.). Poetas que pensam o mundo. So Paulo: Cia. das Letras, pp.19-64, p.31.

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Nesse sentido, entendemos que a Educao Ambiental tem, como uma de suas possibilidades, a condio de proporcionar experincias reais de interveno no meio social, fornecendo subsdios significativos e legtimos para que o educando, no mbito da educao formal, se coloque como ator do processo de ensino-aprendizagem, visando formao de uma conscincia ecolgica ativa. Tal juzo nos conduziu aos objetivos da pesquisa: a) analisar o significado da proposta de Educao Ambiental contida nos projetos poltico-pedaggicos das escolas de Ensino Fundamental da rede pblica municipal de Araraquara participantes da pesquisa; b) relacionar os projetos educacionais, cujo tema central seja Educao Ambiental, observando como e por quem so propostos, planejados e executados; c) observar se estes projetos buscam o mbito do extra-classe, ou seja, se so complementados por experincias reais dos alunos para alm do ambiente da sala de aula e se vo alm das dependncias fsicas da prpria escola. A partir de tais objetivos, a pesquisa proposta busca contribuir para o necessrio debate sobre as questes ambientais caminhos e rumos fornecendo elementos para o entendimento do papel da escola e da Educao Ambiental nesse contexto.

A ORGANIZAO DO TRABALHOO trabalho encontra-se estruturado nos prximos captulos da seguinte forma: No Captulo intitulado Os procedimentos metodolgicos, apresentado o percurso da pesquisa, tendo como cerne os procedimentos, os instrumentos e a fundamentao terica que alicerou nosso trabalho.

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No Captulo Meio Ambiente e Educao Ambiental, temos as consideraes tericas sobre o tema, em especial no que concerne educao bsica, a partir de trs fontes fundamentais: Documentao legal que fundamenta e regulamenta polticas de Educao Ambiental, bem como documentos oficiais de mbito nacional, que abordam o ensino e aprendizagem do componente Educao Ambiental na educao formal; Autores nacionais que tratam a Educao Ambiental nos aspectos da educao formal e da discusso terico-cientfica; Dissertaes e Teses j defendidas em Programas de Ps-Graduao, em nvel nacional, sobre a temtica Educao Ambiental, tendo como pano de fundo a escola e o ensino-aprendizagem.

No Captulo intitulado As informaes obtidas na pesquisa, teremos a apresentao de todos os dados colhidos na pesquisa, desde os estudos dos projetos poltico-pedaggicos, passando pelas entrevistas com os coordenadores pedaggicos, culminando com as entrevistas com os professores que realizam as prticas de Educao Ambiental na escola.

No ltimo Captulo Consideraes finais, fazemos uma anlise dos dados obtidos luz dos conceitos tericos apresentados na reviso bibliogrfica.

Ao final, aps as referncias bibliogrficas, encontramos, no Apndice A, uma explanao sobre o Programa de Educao Complementar em que atuamos como professor; no Apndice B, uma anlise sobre a questo levantada nos questionrios de entrevista7, sobre pesquisas em EA e o retorno destas s escolas; e os anexos que consideramos importantes de serem includos no presente trabalho.

Trata-se da ltima pergunta feita aos entrevistados, tanto no formulrio para Coordenador Pedaggico quanto para o Professor responsvel, e encontra-se formulada da seguinte forma: Voc gostaria de fazer algum comentrio sobre esse tipo de pesquisa em Educao Ambiental?.

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OS PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

A pesquisa, como se apresenta, engloba questes da prtica docente, do ensino de componentes curriculares e do processo de ensino-aprendizagem, proporcionados pela escola aos alunos, alm das caractersticas da rede de ensino na qual essas aes se efetivam. Como exposto no incio do trabalho tivemos, como preocupao, construir um estudo que estivesse alicerado tanto na reviso da literatura (por meio do estudo da documentao oficial/legal, de livros sobre a temtica e de pesquisas realizadas em programas de psgraduao), quanto no trabalho de campo a investigao nas escolas (as visitas, as entrevistas, as observaes). Na coleta de dados, utilizou-se a premissa expressa por Menga Ldke e Marli Andr (1986, p.1), que preconiza que para realizar uma pesquisa de fato, necessrio gerar um confronto entre as informaes obtidas, a realidade observada e o que j se tem organizado sobre o assunto em questo, tendo como eixo norteador o referencial terico adotado. Na obra Pesquisa em Educao: abordagens qualitativas, referncia na pesquisa em educao, as autoras expem que pesquisar estudar um problema que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma determinada poro do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento, e se constitui numa oportunidade singular, que rene o pensamento e ao de uma pessoa, ou um grupo, no esforo de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que serviro para compor solues (LDKE & ANDR, 1986, p.2). Segundo elas,Esse conhecimento , portanto, fruto da curiosidade, da inquietao, da inteligncia e da atividade investigativa dos indivduos, a partir e em continuao do que j foi elaborado e sistematizado pelos que trabalharam o assunto anteriormente (LDKE & ANDR, 1986, p.2).

Para as autoras, a pesquisa no est situada acima da esfera de atividades comuns e correntes do ser humano, sofrendo assim as injunes tpicas dessas atividades (1986, p.2), o que leva ao fato de entendermos que a pesquisa que realizamos, situada dentro de nosso

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campo de atuao profissional esteja, por conseguinte, sujeita s intempries das percepes que tnhamos antes e depois da ida a campo. Por outro lado, nosso tema de pesquisa foca o processo de ensino-aprendizagem do componente curricular Educao Ambiental e, nesse sentido, vai ao encontro das idias expressas por Valdo Hermes de Lima Barcelos (2005), professor da Universidade Federal de Santa Maria, com vasta experincia em pesquisa e questes ambientais, em interessante ensaio sobre o processo de pesquisa educacional em Educao Ambiental. Neste ensaio, o autor reflete sobre a constante mudana dos problemas de pesquisa em educao, dada a necessidade de novas respostas para velhos problemas, e explicita que temas como Educao Ambiental, entre outros, fazem parte de Temticas Emergentes de Pesquisa em Educao (BARCELOS, 2005, p.67). Barcelos (2005, p.68), assevera que novas temticas de pesquisa exigem novas abordagens, caso no se queira incorrer no equvoco de adaptar antigas frmulas, e que necessrio estarmos atentos para a permanente busca de familiarizao daquilo que nos estranho. O autor expressa que as questes ecolgicas, no contexto da Educao Ambiental, so problemas que esto a desafiar nossas melhores reflexes intelectuais e sendo elas emergentes novas temticas em pesquisa educacional , deveramos entend-las melhor (BARCELOS, 2005, p.73), poisProcurando descrever um problema ecolgico, a reflexo sobre ele nos leva a um caminho de auto-conhecimento, medida que, ao assumirmos determinadas interpretaes, estaremos, necessariamente, assumindo nossa participao ou nossa parcela de responsabilidade sobre o que estamos analisando (BARCELOS, 2005, p.77).

Barcelos alerta sobre a necessidade de desmascaramento, como um possvel mtodo de se compreender mais a fundo as complexas relaes entre a sociedade e seus problemas ambientais, prevenindo-se de concluses equivocadas, que muito pouco contribuem para um trabalho educativo e de pesquisa (BARCELOS, 2005, p.77).O dilogo sobre um problema ecolgico apresenta tambm a possibilidade importante de tornarmos visveis, mediante as diferentes interpretaes e representaes de cada participante, as contradies, oposies e conflitos inerentes aos processos que envolvem a vida das pessoas em seu meio (BARCELOS, 2005, p.79).

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Ainda, para o autor, lidar com questes ecolgicas contemporneas, estar permanentemente mexendo em conflitos, em interesses individuais e coletivos os mais variados (BARCELOS, 2005, p.79). Dada essa questo, temos a perspectiva de que esta pesquisa se fundamenta numa abordagem qualitativa e se prope a realizar um levantamento do trabalho pedaggico desenvolvido no mbito da educao formal do Ensino Fundamental, em relao Educao Ambiental. No que se refere rede de ensino, optamos por trabalhar com as escolas municipais de ensino fundamental, da cidade de Araraquara, tendo em vista os aspectos j mencionados de nossa insero nessa rede, na qual atuamos como professor no Programa de Educao Complementar. A rede municipal de Araraquara8 composta por 13 (treze) unidades escolares de Ensino Fundamental, que contemplam diferentes etapas dessa modalidade educacional, sendo que algumas atendem exclusivamente alunos dos anos iniciais (1 ao 5 ano, oferecidos em trs escolas) e outras oferecem o ciclo completo (1 ao 9 ano, em dez escolas). Das 13 (treze) unidades, selecionamos 8 (oito) escolas para nossa pesquisa, tendo sido excludas 5 (cinco) delas, pelos seguintes motivos: 3 (trs) unidades escolares fazem parte do programa Escolas do Campo da Secretaria Municipal da Educao, duas delas esto instaladas nos assentamentos rurais de Bela Vista do Chibarro e Monte Alegre; a outra unidade fica no distrito de Bueno de Andrada; Outras 2 (duas) unidades escolares foram inauguradas no decorrer do desenvolvimento desta pesquisa (uma no primeiro semestre e a outra no segundo semestre, ambas em 2008). Na realizao deste projeto, os registros e anlises das prticas pedaggicas em Educao Ambiental foram tomados a partir da observao participante, que cola o pesquisador realidade estudada; da entrevista que permite um maior aprofundamento das informaes obtidas; e da anlise documental que complementa os dados obtidos (LDKE & ANDR, 1986, p.9).

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At outubro de 2008, quando encerramos a etapa da coleta de dados.

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Quanto sua efetivao, a presente pesquisa foi realizada de acordo com os seguintes passos: 1) levantamento de dados da rede escolar de ensino fundamental do municpio de Araraquara: localizao, pblico atendido, sries e/ou ciclos, nmero de alunos, nmero de professores e caractersticas gerais; 2) anlise do Projeto Poltico-Pedaggico de cada unidade escolar no tocante Educao Ambiental; 3) entrevista, utilizando roteiro semi-estruturado, com os coordenadores pedaggicos das unidades escolares, de modo a levantar os projetos voltados Educao Ambiental desenvolvidos na unidade; 4) entrevista, utilizando roteiro semi-estruturado, com os professores responsveis pela proposio e/ou realizao dos projetos de Educao Ambiental, com a finalidade de levantar suas concepes sobre o processo de ensinoaprendizagem focado no projeto proposto ou realizado; 5) anlise das informaes obtidas com base nos Parmetros Curriculares Nacionais de Meio Ambiente e Sade e em documentos legais e nos textos dos autores que fundamentam este estudo.

AS ETAPAS DA PESQUISAUma vez decidido o foco nas escolas de ensino fundamental, a etapa seguinte foi pensar em como seriam feitos o contato com as unidades e o levantamento das informaes escolares, alm das entrevistas previstas. Com isso em mente, nosso primeiro passo foi o de oficializar, junto Secretaria Municipal da Educao (SME), o pedido para a realizao da pesquisa, no qual apontamos nossos objetivos e os devidos cuidados com as questes burocrticas (hierarquia) e ticas (participao e exposio das escolas e dos profissionais) ver Anexo 1.

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Com o Ofcio/SME n. 1046/07 de 29 out. 2007 em mos, tnhamos ento a autorizao para a realizao de todas as etapas da pesquisa, o que significava, para ns, o convite e o carto de visita para que pudssemos nos dirigir oficialmente s escolas na pesquisa de campo (ver Anexo 2). Tendo em vista nossa premissa de evitar que as escolas e seus profissionais fossem identificados, buscamos preservar o anonimato dos profissionais e criamos uma nomenclatura padronizada. medida que fazamos os contatos com as escolas, passamos a nome-las pela ordem de visita, desta forma: Escola.n (sendo n o nmero de ordem da primeira visita realizada em cada unidade), e estabelecemos a sequncia da Escola.1, a primeira a ser visitada, at a Escola.8, a ltima a receber nossa visita9. Uma vez nomeadas as escolas de 1 a 8, a identificao dos Coordenadores Pedaggicos e Professores seguiu a ordem da escola, sendo identificados simplesmente por Coordenador Pedaggico ou Professor e suas abreviaes quando necessrias, conforme apresentado no captulo dos resultados encontrados. Todavia, muito embora tenhamos escolhido pela no identificao das escolas e pelo completo anonimato dos profissionais, temos conscincia de que muitos aspectos e pontos da pesquisa sero associados aos seus respectivos interlocutores, mas reiteramos nossa preocupao com o adequado tratamento tico, profissional e acadmico dos dados apresentados neste trabalho. Frente a esta questo, mediante a necessidade de consentimento dos profissionais envolvidos, elaboramos os termos de aceite da participao na pesquisa, destinados Direo da Escola, aos Coordenadores Pedaggicos e aos Professores. Estes termos de aceite, apresentados nos anexos 3 e 4, receberam a cincia da Direo de cada unidade escolar e foram devidamente assinados por todos os participantes, atestando o consentimento na concesso das entrevistas, bem como a gravao em udio10. importante ressaltar que, em cada unidade escolar, tambm foram entregues cpias do pedido de autorizao para a realizao da pesquisa e da autorizao concedida pela Secretaria Municipal da Educao.Vale ressaltar que fizemos diversas visitas s escolas, em diferentes momentos e em diferentes sequncias, como ficar melhor demonstrado no item em que apresentamos nosso dirio de campo. 10 A gravao em udio das entrevistas com os profissionais das unidades escolares, apontada desde a elaborao do projeto de pesquisa, bem como no pedido de solicitao para a realizao da mesma junto Secretaria Municipal da Educao de Araraquara, foi feita atravs da utilizao de aparelho eletrnico porttil que grava udio diretamente em formato digital, armazenando-o no aparelho ou permitindo a transferncia para o microcomputador como arquivo de dados/udio e, posteriormente, a gravao em unidade de CD (disco compacto), opcionalmente como arquivo de dados e/ou udio.9

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OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA Os instrumentos de pesquisa utilizados para o levantamento de dados referentes s atividades desenvolvidas em Educao Ambiental pelas escolas foram: 1) Formulrios de anotaes (ficha de registro) sobre a unidade escolar e o projeto poltico-pedaggico, estruturado a fim de registrar o nmero de professores e dos demais funcionrios da unidade, o nmero de classes e de alunos e as dependncias da escola. Com o formulrio, a partir de quatro questes dissertativas, buscaram-se tambm, informaes gerais sobre a Educao Ambiental na unidade escolar (ver anexo 5). 2) Questionrios de entrevista semi-estruturada, para os Coordenadores Pedaggicos, objetivando-se conhecer: a estrutura administrativa da unidade escolar e aspectos da atuao profissional (docncia, tempo de docncia, experincia na coordenao etc.); as atividades em Educao Ambiental na unidade; os possveis projetos realizados com as respectivas metodologias, os alunos participantes etc., alm das acepes do coordenador pedaggico sobre a temtica ambiental (ver anexo 6). 3) Questionrios de entrevista semi-estruturados, para os professores que aceitaram participar da pesquisa e que desenvolviam algum trabalho voltado temtica ambiental. Destaca-se que o questionrio investiga, primeiramente, a formao do professor, seu campo ou rea de atuao e, na sequncia, os projetos desenvolvidos, as metodologias utilizadas, os alunos envolvidos e outros aspectos, alm das acepes do professor sobre a temtica ambiental (ver anexo 7).

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A FICHA DE REGISTRO PARA AS INFORMAES SOBRE A ESCOLA E AS ANOTAES DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO (PPP)11 O instrumento utilizado para a caracterizao das escolas (levantamento de dados em geral e registro das atividades e projetos em Educao Ambiental nos projetos polticopedaggicos), est identificado como Anexo. 5 Roteiro para Anotaes sobre a Escola e o PPP, e teve sua verso final elaborada no final de 2007 e encontra-se dividido em duas partes principais: Primeira Parte: Quantitativa Composio da equipe diretiva (Direo, Vice-Direo, Coordenador Pedaggico, Assistente Educacional Pedaggico e Supervisor de Ensino); Identificao numrica da equipe pedaggica: nmero de professor por rea de conhecimento e nmero de agentes educacionais (pessoal de apoio pedaggico); Identificao da equipe funcional: secretaria, portaria, cozinha, servios gerais etc.; Composio do corpo discente: nmero de alunos divididos por srie/ano e nmero de classes; Identificao quantitativa de espaos fsicos existentes na escola: laboratrio de informtica, cincias e arte, biblioteca de aluno e professor, portal do saber, campo de futebol e quadra poliesportiva (cobertas ou no) etc. Esse levantamento apresentado nas tabelas inseridas no incio do captulo de anlise dos resultados obtidos, e encontra-se indicado como caractersticas da rede municipal de ensino de Araraquara; organizao diretiva e pedaggica das unidades escolares; e diviso do quadro de professores por rea de atuao. Todavia, dados quantitativos da equipe funcional foram descartados da anlise final deste trabalho por no acrescentarem informaes significativas aos objetivos da pesquisa.

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Faz-se necessrio esclarecer que todos os instrumentos de pesquisa (ficha de registro e questionrios de entrevista), foram elaborados tendo em vista outros instrumentos de pesquisa, como pode ser observado na indicao que fizemos ao final de cada um destes documentos, apontando as experincias de orientando e orientador, alm de trabalhos de outros autores.

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Segunda Parte: Qualitativa Questes para anlise dos Projetos PolticoPedaggicos formuladas na ficha de registro e respondidas pelo pesquisador depois da leitura de cada PPP: a) Qual o teor da proposta pedaggica para Educao Ambiental? b) Existem fundamentos tericos que alicercem a proposta? c) Quais modelos, meios, recursos e instrumentos so (sero) utilizados? d) Como e por quem sero realizados?

Elaboramos estas perguntas com a finalidade de esmiuar os projetos polticopedaggicos das unidades escolares procura dos projetos desenvolvidos, das atividades realizadas e das prticas escolares voltadas Educao Ambiental nos diversos aspectos inerentes escola e ao seu funcionamento. Todavia, na prtica, este conjunto de perguntas mostrou-se pouco adequado aos nossos objetivos, pois o pouco que encontramos na anlise dos oito PPP no cabia exatamente dentro do escopo das questes elaboradas, o que nos levou, quando da apresentao dos dados, a procurar sistematizar melhor as informaes obtidas na pesquisa dos documentos. De todo modo, em vista das informaes levantadas, optamos por construir um quadro que pudesse sintetizar os dados colhidos, sendo este apresentado no captulo resultados encontrados como Quadro 2: Organizao dos Projetos Poltico-Pedaggicos (PPP) nas Escolas, e que foi dividido em duas partes: Contedos da proposta pedaggica orientados para atividades em Educao Ambiental; e Os fundamentos ou referncias tericas que aliceram a proposta de Educao Ambiental. Este aspecto da pesquisa permitiu-nos observar que pesquisar est para muito alm de encontrar respostas concretas s perguntas feitas de antemo e nos levou a ponderar que a investigao muito mais uma arqueologia do saber uma busca por indcios e indicaes do conhecimento do que propriamente seguir um mapa do tesouro, onde o x mostra o local do grande prmio.

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OS QUESTIONRIOS DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADOS APLICADOS JUNTO AOS COORDENADORES PEDAGGICOS E PROFESSORES A exemplo do que foi feito na elaborao da ficha de registro, tambm seguimos o mesmo caminho para a elaborao destes dois roteiros de entrevista, sendo um para aplicao junto aos coordenadores pedaggicos das escolas e o outro para os professores que desenvolvessem algum tipo de projeto e/ou atividade em Educao Ambiental. Estes dois instrumentos, identificados como Anexo.6 Questionrio de Entrevista: Coordenador; e Anexo.7 Questionrio de Entrevista: Professor, encontram-se divididos em duas partes, sendo a primeira parte diferenciada em ambos os documentos, por se dirigir a profissionais com funes distintas nas unidades escolares. No Questionrio para o Coordenador Pedaggico, buscamos levantar informaes referentes a: Identificao, tempo de atuao como professor, tempo de atuao na rede municipal, formao (graduao e ps-graduao), tempo de exerccio na coordenao; Identificao de experincias em Educao Ambiental que planejou, de que participou e que coordenou; Identificao de projetos e/ou atividades em Educao Ambiental que se encontram em prtica na unidade escolar a partir de trs questes: 1. H projetos e/ou atividades na rea de Educao Ambiental em desenvolvimento na escola? Quais os ttulos desses projetos e do que eles tratam?; 2. Os projetos e/ou atividades esto inseridos no Projeto Poltico-Pedaggico da Escola ou em planejamentos diversos Como eles esto descritos nos documentos da Escola? (PPP ou Planejamentos); e 3. Esses projetos partiram do planejamento interno da escola ou so (foram) orientados pela Secretaria da Educao Como feito o registro pedaggico desses projetos (onde consta sobre seu desenvolvimento?); No Questionrio para o Professor Responsvel, procuramos explicitar os seguintes aspectos:

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Identificao, tempo de docncia, tempo de docncia na rede municipal, formao (graduao e ps-graduao), disciplina ou rea de atuao; Identificao e anotaes gerais sobre o projeto desenvolvido; Identificao das experincias em Educao Ambiental que planejou, de que participou ou coordenou.

A segunda parte dos instrumentos se refere a um conjunto de questes comuns aos dois profissionais entrevistados (coordenador pedaggico e professor responsvel), e foi elaborada a fim de levantar, junto a ambos, os diversos entendimentos sobre a temtica ambiental no contexto da Educao Ambiental escolar. Ademais, esse segundo momento busca suscitar uma anlise comparativa entre as falas dos dois segmentos, sem qualquer inteno de confronto ou juzo de valor em relao s idias expressas, salientando-se estritamente a viso destes dois profissionais que exercem funes diferentes na escola, a fim de demonstrar os conflitos presentes nos discursos sobre meio ambiente e Educao Ambiental. Essa parte traz questes para o Coordenador Pedaggico e o Professor Responsvel, visando identificar: os elementos considerados por ambos como facilidades e

dificuldades para a realizao do trabalho de Educao Ambiental na escola de um modo geral; a compreenso sobre quatro questes em relao Educao Ambiental: 1. O que Educao Ambiental para voc?; 2. Para voc, qual a forma mais apropriada, de se trabalhar Educao Ambiental na Escola?; 3. Quais os temas ambientais que voc considera prioritrios nos dias de hoje; e 4. Para voc, quais so os temas a que a mdia em geral tem dado mais destaque ultimamente; a associao estabelecida entre os principais temas dos projetos e/ou atividades em Educao Ambiental realizados na escola e seu pblico alvo relao de tema e do pblico alvo (classes, srie, anos ou ciclos); a durao dos projetos e/ou atividades em Educao Ambiental; os objetivos dos projetos e/ou atividades realizadas na escola com a temtica;

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a relao entre os projetos e/ou atividades, as principais disciplinas envolvidas e o nmero de alunos envolvidos; os principais procedimentos metodolgicos utilizados na realizao dos projetos e/ou atividades na escola com a temtica ambiental.

Vale esclarecer, quanto elaborao destes dois documentos questionrios de entrevista semi-estruturados que tivemos a preocupao de abordar: Quem so os profissionais que esto nas escolas trabalhando com a temtica ambiental, qual a sua formao e experincia em Educao Ambiental; O que pensam eles a respeito dos temas que devem ser abordados, o que consideram que deve ser trabalhado nas escolas e quais as idiossincrasias destes temas na mdia; O que pensam os coordenadores pedaggicos sobre a Educao Ambiental na escola projetos realizados e suas aplicaes; O que pensam os professores sobre os projetos que realizam, quais as finalidades destes e o que buscam construir com os mesmos; Quais as dificuldades e facilidades em trabalhar com a temtica ambiental na escola, incluindo desde questes de pessoal (colegas, hierarquia), questes burocrticas (planejamento e orientaes da secretaria) at a existncia ou a falta de materiais (didtico-pedaggicos, insumos e recursos). Alm dos fatores apontados, sem que se incorra numa anlise valorativa, estes instrumentos tiveram especialmente o objetivo de levantar o que Educao Ambiental na viso de coordenadores pedaggicos e professores, fornecendo um panorama sobre a viso destes em relao a esta instvel temtica na educao formal. Outrossim, ainda nos utilizamos, nos questionrios, de uma ltima pergunta ao entrevistado: voc gostaria de fazer algum comentrio sobre esse tipo de pesquisa em Educao Ambiental?. Assim, no Apndice B, sob o ttulo de Opinio dos entrevistados sobre as pesquisas em Educao Ambiental, apresentamos uma compilao dos depoimentos de todos os profissionais que, para alm da nossa inteno de realizar uma pesquisa sobre Educao Ambiental escolar, buscou demonstrar um pouco do universo da pesquisa e da viso destes profissionais quando so chamados a colaborar com um trabalho desse tipo.

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OS PROJETOS POLTICO-PEDAGGICOS Uma vez definidos os instrumentos que seriam utilizados na coleta de dados (ficha de registro e questionrios de entrevista), o passo seguinte foi o de buscar os Projetos PolticoPedaggicos (PPP) das oito unidades selecionadas para a pesquisa, no intuito de analis-los segundo os critrios apresentados na ficha de registro. Nesse sentido, conseguimos encontrar parte dos exemplares na biblioteca da Secretaria Municipal da Educao, outra parte nos arquivos do ento Coordenador Executivo Pedaggico da SME e exemplares nas prprias unidades escolares. Outro esclarecimento que se faz necessrio, antecipando o que ser apresentado no captulo dos resultados obtidos, tem a ver com o fato de todos os projetos polticopedaggicos das oito unidades escolares terem validade at final de 2007, sendo que os novos projetos estavam sendo reelaborados e reescritos para o binio/trinio de 2008-2010. Isto, de imediato, nos trouxe um grande problema, pois iramos elaborar registros sobre os contedos em Educao Ambiental, traando um perfil da rede municipal de ensino, a partir de documentos que j no estavam mais em uso, o que nos acarretava uma falta de sincronia entre o momento da pesquisa e o momento em que os PPP haviam sido planejados. A soluo encontrada foi traar um paralelo entre os documentos analisados e o que descreveriam coordenadores pedaggicos e professores nos seus depoimentos nas entrevistas, como pode ser observado na anlise dos dados.

AS ENTREVISTAS COM OS COORDENADORES PEDAGGICOS E PROFESSORES QUE TRABALHARAM COM A TEMTICA AMBIENTAL NAS ESCOLAS PESQUISADAS 12 horas, 14 minutos e 58 segundos. Este foi o tempo total das entrevistas realizadas com os professores coordenadores e professores que trabalham com a temtica ambiental, participantes da pesquisa, no perodo de 4 de maro de 2008 e 15 de outubro de 2008, excetuando-se os contatos informais, as conversas iniciais e os diversos encontros que tivemos com a direo e equipe das unidades escolares para que pudssemos chegar aos projetos poltico-pedaggicos e s entrevistas com coordenadores e professores.

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No que se refere Coordenao Pedaggica foram entrevistados sete12 representantes, sendo: trs Professores Coordenadores Pedaggicos, efetivamente ocupantes dos cargos de coordenao; uma Diretora13 de EMEF (ex-coordenadora de uma das escolas selecionadas); duas Vice-Diretoras14 (ex-coordenadoras das mesmas escolas selecionadas); e uma Assistente Educacional Pedaggica AEP15 (respondendo pelas funes de coordenao enquanto no havia assumido o titular do cargo). Os Coordenadores Pedaggicos foram selecionados por unidade escolar pesquisada, tendo em vista que, at aquele momento16, havia apenas um coordenador pedaggico por escola, independentemente dos ciclos de ensino oferecidos na unidade. Quanto aos Professores que desenvolviam projetos de Educao Ambiental e aceitaram participar da pesquisa, foram entrevistados oito (profissionais), sendo um professor por escola participante, variando conforme o nvel de ensino (sries iniciais, sries finais ou todas as sries de ensino) oferecido pela escola. Na seleo dos professores foram levados em conta o fato de desenvolverem projetos de Educao Ambiental e a disponibilidade e aceitao em participar da entrevista, alm de outros fatores: indicao pela direo da unidade escolar, tendo em vista a disciplina ministrada, cujo contedo aborda a temtica ambiental; indicao pela Coordenao Pedaggica da unidade, tendo em vista o conhecimento, por parte da coordenao, dos projetos desenvolvidos na prpria unidade;

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Das 8 (oito) escolas selecionadas para participarem da pesquisa, 1 (uma) delas, at a data de encerramento das entrevistas (out./2008), no tinha o titular para o cargo de Coordenao Pedaggica. 13 Diretora de uma das EMEFs recm inauguradas (fev./2008), no selecionada para a pesquisa, que concordou em participar do trabalho tendo em vista sua recente aprovao para o cargo de direo. 14 Coordenadoras que recentemente (fev./2008) deixaram o cargo de Coordenadora Pedaggica para assumirem a Vice-Direo, sendo que, na data da entrevista, a escola ainda no tinha o cargo de coordenao ocupado por um titular. 15 Aceitou conceder entrevista para expor o projeto poltico-pedaggico da escola, tendo em vista que at aquela data (set./2008) o cargo de coordenao pedaggica no havia sido ocupado por titular. 16 A Secretaria Municipal da Educao de Araraquara passou a ter, a partir de 2008, no trabalho de coordenao pedaggica nas unidades escolares, 1 (um) coordenador para cada ciclo de ensino. Assim, algumas unidades tm apenas um coordenador (para as sries iniciais), enquanto que outras (com os nove anos do ensino fundamental) tm 3 (trs) coordenadores. Vale ressaltar que a ocupao dos cargos foi lenta e gradativa, em funo do processo seletivo para a escolha destes profissionais, que ocorreu na rede no incio do ano letivo, estendendo-se at outubro do mesmo ano. Os cargos de coordenao so assumidos por professores concursados, com mais de 3 (trs) anos de magistrio na rede municipal.

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indicao pelos pares, ou seja, pelos colegas de trabalho, em conversas informais nas escolas ou em eventos da rea, de professores que desenvolviam algum tipo de trabalho (atividade, projeto etc.) na rea de Educao Ambiental;

contatos diretos com professores que, ao participarem das atividades desenvolvidas com a temtica ambiental, visitando nosso local de trabalho (o CESAMA), foram questionados sobre o interesse em participar da pesquisa.

Em resumo, dos oito professores que aceitaram participar da pesquisa, tendo consentido em responder a entrevista, dois foram indicados pela Direo/Vice-Direo da unidade escolar; dois foram indicados pela Coordenadora Pedaggica; dois por colegas de trabalho; e dois que haviam participado das visitas ao CEC Alscio CESAMA para atividades de Educao Ambiental.

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MEIO AMBIENTE E EDUCAO AMBIENTAL

A discusso sobre Educao Ambiental na escola pressupe, antes, a explicitao de suas bases, isto , a definio dos referenciais tericos que sustentam nossas concepes sobre o trabalho pedaggico voltado Educao Ambiental na escola. Para a realizao deste trabalho nos baseamos em documentos oficiais de mbito nacional, estadual e municipal, em autores que abordam a Educao Ambiental nos aspectos da educao formal e da discusso terico-cientfica, e em dissertaes e teses defendidas em programas de ps-graduao stricto sensu com nfase na Educao Ambiental escolar. Dividimos este captulo em trs partes: a primeira trata da documentao oficial; a segunda se refere a autores brasileiros (livros/artigos publicados); e a terceira sobre dissertaes e teses.

DOCUMENTAO LEGAL E DE REFERNCIAPara a discusso da documentao legal, partimos da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, a Carta Magna, por se tratar do documento maior a lei mais importante do pas que determina direitos e deveres dos cidados brasileiros, alm de funcionar como regente da vida pblica institucional, tendo, entre outras atribuies, a legitimidade de outorgar (e cobrar) responsabilidades aos governos federal, estadual e municipal. A Constituio Federal de 1988 ressalta seu carter de universalizao do direito pblico, assim como o do exerccio pleno da cidadania, e nos conduz busca de uma relao com o meio ambiente, pressupondo a ligao tica e consciente entre espao social e natural, intimamente ligada responsabilidade do cidado.

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Promulgada pela Assemblia Nacional Constituinte e submetida a vrias emendas e alteraes nesses vinte anos passados, a Constituio Federativa do Brasil (BRASIL, 198817), traz uma srie de referncias relacionadas temtica ambiental (preservao, conservao, manuteno, responsabilidade, patrimnio, uso e explorao, organizao etc.), dentro das quais selecionamos e agrupamos trs ocorrncias que mais se reportam especificidade da presente pesquisa, sendo elas:Ttulo II. Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Captulo I. Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. Art. 5. Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: Inciso LXXIII qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia; Ttulo III. Da Organizao do Estado. Captulo II. Da Unio. Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios: Inciso VI proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas; Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: Inciso VI florestas, caa, pesca, fauna, conservao da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteo do meio ambiente e controle da poluio; Ttulo VIII. Da Ordem Social. Captulo VI. Do Meio Ambiente. Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondose ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. 1 Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico: Inciso VI promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente;

Dos trs excertos retirados da Constituio Federal, podemos observar: que o primeiro se refere ao fato de qualquer cidado ter o direito de propor ao popular que vise a anular ato lesivo, ou seja, garante pessoa o poder de

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Conforme a ntegra textual da verso eletrnica (pgina da internet em html), armazenada no stio do Palcio do Planalto. Disponvel em: . Acesso em: 28 out. 2008.

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agir legalmente contra aes danosas ao meio ambiente, sem que isto lhe cause o nus da sucumbncia (que as despesas processuais no caiam sobre ele, caso venha a perder a ao impetrada); que o segundo se refere competncia legal, atribuda pela Constituio, Unio, Estados e Municpios para que legislem sobre questes relacionadas ao meio ambiente, com o intuito da proteo integral (preservao, conservao, manuteno e, inclusive, a explorao ordenada e sustentvel); que o terceiro se refere condio inalienvel de que todos tm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo ao Poder Pblico (em suas inmeras instncias), a atribuio de promover a Educao Ambiental em todos os nveis de ensino. Entrando na discusso do campo educacional, cabe-nos a meno Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), que, embora no faa meno ao termo/tema meio ambiente, traz o termo ambiente natural que, em nosso entendimento, est relacionado com o espao em que se insere o aluno e sua comunidade, sendo este o local onde vive e estabelece suas relaes com o meio. De qualquer modo, tendo em vista que no h nenhuma outra citao que diga respeito s questes ambientais, cabe-nos apenas a transcrio abaixo:Ttulo V. Dos Nveis e das Modalidades de Educao e Ensino. Captulo II. Da Educao Bsica. Seo III. Do Ensino Fundamental. Art. 32. O ensino fundamental obrigatrio, com durao de 9 (nove) anos, gratuito na escola pblica, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, ter por objetivo a formao bsica do cidado, mediante18: Inciso II a compreenso do ambiente natural19 e social, do sistema poltico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

Ainda no mbito federal, temos trs referncias Educao Ambiental, sendo, a primeira, a Lei n. 9.795 de 27 de abril de 1999, que institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental (PNEA); em segundo, o Decreto 4281 de 25 de junho de 2002, que regulamente aConforme redao dada pela lei n. 11.724, de 2006. Disponvel em: . Acesso em: 28 out. 2008. 19 Como dissemos, nossa interpretao a esta meno, se refere ao espao fsico-geogrfico (natural ou no), em que se insere o aluno18

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citada Lei 9.795/99; e em terceiro lugar, o Programa Nacional de Educao Ambiental ProNEA. Na Lei 9.795/99 (BRASIL, 1999), encontramos estabelecidas em seus artigos iniciais a concepo de Educao Ambiental assumida e a indicao de sua insero tanto nos processos formais como nos no formais, em todos os nveis e modalidades de ensino.Art. 1. Entendem-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2. A educao ambiental um componente essencial e permanente da educao nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em carter formal e no-formal.

No Art. 9 da referida lei, v-se a especificao da Educao Ambiental no que diz respeito educao escolar, em especial no que concorre s questes do currculo escolar, bem como s modalidades de educao bsica, educao superior, educao especial, educao profissional e educao de jovens e adultos (BRASIL, 1999). J no Art. 10, a observncia de que a Educao Ambiental ser desenvolvida como uma prtica educativa integrada, contnua e permanente em todos os nveis e modalidades do ensino formal (BRASIL, 1999), d o tom da discusso em nvel nacional. Destacamos o Art. 13 por estabelecer como Educao Ambiental no-formal as aes e prticas educativas voltadas sensibilizao da coletividade sobre as questes ambientais, tendo, no pargrafo nico, a referncia de que o poder pblico em nveis federal, estadual e municipal dever incentivar:Inciso I a difuso, por intermdio dos meios de comunicao de massa, em espaos nobres, de programas e campanhas educativas, e de informaes acerca de temas relacionados ao meio ambiente; Inciso II a ampla participao da escola, da universidade e de organizaes no-governamentais na formulao e execuo de programas e atividades vinculadas educao ambiental no-formal; Inciso III a participao de empresas pblicas e privadas no desenvolvimento de programas de educao ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizaes no-governamentais; (BRASIL, 20 1999 ).

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Para reflexo, vale mencionar que o penltimo artigo da Lei 9.795/99, de 27 de abril de 1999, o de nmero 20, define que a mesma seria regulamentada pelo Poder Executivo no prazo de 90 (noventa) dias. De fato, isso aconteceu, porm em 25 de junho de 2002, bem mais do que 90 dias depois.

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O Decreto 4.281/02, assinado em 25 de junho de 2002 a fim de regulamentar a lei 9.795/99, define sua aplicao, estabelecendo a criao do rgo gestor (como prev a referida lei). Prescreve, em seu Art. 1:A Poltica Nacional de Educao Ambiental ser executada pelos rgos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA, pelas instituies educacionais pblicas e privadas dos sistemas de ensino, pelos rgos pblicos da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios, envolvendo entidades no governamentais, entidades de classe, meios de comunicao e demais segmentos da sociedade (BRASIL, 2002).

No presente decreto, destacamos o Art. 5 (BRASIL, 2002), que recomenda, na incluso da Educao Ambiental em todos os nveis e modalidades de ensino os Parmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais como referncia, observando-se:I a integrao da educao ambiental s disciplinas de modo transversal, contnuo e permanente; e II a adequao dos programas j vigentes de formao continuada de educadores.

Ainda no Art. 6, que se refere s deliberaes sobre o cumprimento do que est contido no decreto, temos a referncia de que devero ser criados, mantidos e implementados, sem prejuzo de outras aes, programas de Educao Ambiental integrados a todos os nveis e modalidades de ensino (BRASIL, 2002, Art.6, Inciso I). Destacados a lei e o decreto que estabelecem a Poltica Nacional de Educao Ambiental PNEA, passemos agora apresentao do Programa Nacional de Educao Ambiental ProNEA (BRASIL, 2005). Cabe ressaltar que o ProNEA resultado de um trabalho coletivo, realizado entre setembro e outubro de 2004, com mais de 800 educadores ambientais de 22 unidades federativas, em parceria com as Comisses Interinstitucionais Estaduais de Educao Ambiental (CIEAs) e as Redes de Educao Ambiental, que se tornou uma oportunidade de mobilizao social entre educadores ambientais (BRASIL, 2005, p.15). O ProNEA representa um programa de mbito nacional, cuja competncia de implementao no se restringe ao poder pblico federal, ao contrrio, todos os segmentos sociais e esferas de governo so co-responsveis pela sua aplicao, execuo, monitoramente e avaliao (BRASIL, 2005, p.15).

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Como eixo orientador da proposta educativa frente temtica ambiental, numa perspectiva da sustentabilidade ambiental na construo de um pas de todos, indica que(...) Suas aes destinam-se a assegurar, no mbito educativo, a interao e a integrao equilibradas das mltiplas dimenses da sustentabilidade ambiental ecolgica, social, tica, cultural, espacial e poltica ao desenvolvimento do pas, buscando o envolvimento e a participao social na proteo, recuperao e melhoria das condies ambientais e de qualidade de vida (BRASIL, 2005, p.33).

O ProNEA representa a proposta de um constante exerccio de transversalidade, oportunizando a internalizao, por meio de espaos de interlocuo bilateral e mltipla, a Educao Ambiental em todas as instncias da sociedade: governo, entidades privadas, terceiro setor etc., alm de estimular o dilogo interdisciplinar entre as polticas pblicas, nos diferentes setores (BRASIL, 2005, p.33). Encontramos no ProNEA o princpio de que a Educao Ambiental um dos instrumentos fundamentais da gesto ambiental21, tendo o presente programa, um importante papel na orientao de agentes pblicos e privados, para a reflexo, a construo e a implementao de polticas pblicas que possibilitem solucionar questes estruturais, almejando a sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2005, p.34). Dentro os objetivos do ProNEA (BRASIL, 2005, p.39-41), destacamos:Promover processos de educao ambiental voltados para valores humanistas, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias que contribuam para a participao cidad na construo de sociedades sustentveis. Fomentar a transversalidade por meio da internalizao e difuso da dimenso ambiental nos projetos, governamentais e no-governamentais, de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida. Promover a incorporao da educao ambiental na formulao e execuo de atividades passveis de licenciamento ambiental. Promover a educao ambiental integrada aos programas de conservao, recuperao e melhoria do meio ambiente, bem como queles voltados preveno de riscos e danos ambientais e tecnolgicos.

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Esta concepo vem de 1991, e est contida no que a Comisso Interministerial para a preparao da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), considerou como sendo um dos instrumentos da poltica ambiental brasileira (BRASIL, 2005, p.23).

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Entre outras percepes, temos a de que, em essncia, os objetivos do ProNEA, na forma como esto postos, identificam a pluralidade do tema e a necessidade de que as informaes sejam tratadas num contexto global, sendo o espao coletivo o melhor para discusso dos temas ambientais. Passemos do nvel federal ao estadual com Constituio do Estado de So Paulo (SO PAULO, 1989), haja vista as particularidades da pesquisa. Para tanto, destacamos, na Constituio do Estado, as ocorrncias que se referem ao mbito da presente pesquisa, buscando a correlao com o que foi extrado do texto da Constituio Federal.Ttulo VI. Da Ordem Econmica. Captulo IV. Do Meio Ambiente, dos Recursos Naturais e do Saneamento. Seo I. Do Meio Ambiente. Art. 191. O Estado e os Municpios providenciaro, com a participao da coletividade, a preservao, conservao, defesa, recuperao e melhoria do meio ambiente natural, artificial e do trabalho, atendidas as peculiaridades regionais e locais e em harmonia com o desenvolvimento social e econmico. Art. 193. O Estado, mediante lei, criar um sistema de administrao da qualidade ambiental, proteo, controle e desenvolvimento do meio ambiente e uso adequado dos recursos naturais, para organizar, coordenar e integrar as aes de rgos e entidades da administrao pblica direta e indireta, assegurada a participao da coletividade, com o fim de: Inciso XV promover a educao ambiental e a conscientizao pblica para a preservao, conservao e recuperao do meio ambiente;

Ao comparar estas referncias com os excertos retirados da Constituio Estadual, podemos observar: que a ntegra do texto estadual no se afasta, obviamente, do que est proposto na Constituio Federal, salientando que, no caso da Constituio Estadual, o que se refere ao Meio Ambiente est atrelado Ordem Econmica; o mesmo vale para a questo da Educao Ambiental, no que se refere caber ao Estado, promover a modalidade de ensino e a conscientizao pblica para a proteo integral do meio ambiente. Para o Estado de So Paulo h a Lei n. 9.509, de 20 de maro de 1997 (SO PAULO, 1997), que estabelece a Poltica Estadual do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao.

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No h muito o que citar sobre as questes educacionais nessa lei (SO PAULO, 1997, p.1-2), mas pensamos ser vlido expor alguns pontos de definio da proposta de poltica ambiental e Educao Ambiental (Inciso X do Art. 2).Captulo I. Da Poltica Estadual do Meio Ambiente. Seo I. Disposies Preliminares. Artigo 1. Esta lei estabelece a Poltica Estadual do Meio Ambiente, seus objetivos, mecanismos de formulao e aplicao e constitui o Sistema Estadual de Administrao da Qualidade Ambiental, Proteo, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos Recursos Naturais - SEAQUA, nos termos do artigo 225 da Constituio Federal e o artigo 193 da Constituio do Estado. Artigo 2. A Poltica Estadual do Meio Ambiente tem por objetivo garantir a todos da presente e das futuras geraes, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, visando assegurar, no Estado, condies ao desenvolvimento sustentvel, com justia social, aos interesses da seguridade social e proteo da dignidade da vida humana e, atendidos especialmente os seguintes princpios: Inciso X promoo da educao e conscientizao ambiental com o fim de capacitar a populao para o exerccio da cidadania;

Antes de falarmos sobre a lei estadual de Educao Ambiental, vale um adendo acerca da proposta de Educao Ambiental que o Estado de So Paulo j apresentava junto Secretaria do Meio Ambiente Coordenadoria de Educao Ambiental. Trata-se do Cadernos de Educao Ambiental Conceitos para se fazer Educao Ambiental 199922, distribudo no Estado, que estava sendo proposto como um livro bsico de consultas, tendo um referencial de conceitos bastante profundos e, como tal, poderia vir a contribuir para o desempenho de profissionais interessados em trabalhar com as novas necessidades educacionais: a Educao Ambiental (SO PAULO, 1999, p.7-9). No texto, encontramos definido que Educao Ambiental fundamentalmente uma educao para a resoluo de problemas, a partir de bases filosficas do holismo, da sustentabilidade e do aprimoramento, tendo, como meta para isso, a resoluo de problemas, permanente, de forma a encontrar solues melhores (SO PAULO, 1999, p.17). De acordo com a proposta de Educao Ambiental apresentada no texto, deve-se

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Originalmente o livro foi publicado em 1989 pela United Nations Environment Programme (UNEP) com o ttulo de Harvesting one Hundredfold Key Concepts and Case Studies in Environmental Education, Posteriormente, em 1994, foi traduzido e adaptado por Maria Julieta de A. C. Penteado, e publicado pela Secretaria do Meio Ambiente de So Paulo atravs da Coordenadoria de Educao Ambiental, sendo que esta edio de 1999 conta, ainda, com algumas adaptaes.

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extrair conceitos a partir das leis bsicas do planeta, at o ponto em que ns as conhecemos, e a partir da natureza humana fundamental, at onde a compreendemos, mas isso no pode ser feito a contento por um nico ramo do conhecimento humano. Se educao ambiental envolve a procura no apenas da verdade, mas da verdade como um todo, preciso, ento, que ela comporte todas as verdades parciais e de diferentes pontos de vista. [...] Cabe educao ambiental (...) encorajar as pessoas a viverem suas vidas e planejarem suas sociedades de acordo com as leis e sabedoria prprias do planeta (SO PAULO, 1999, p.111-112).

No que se refere a uma lei estadual de Educao Ambiental, temos como referncia aquilo que divulgado pela Rede Paulista de Educao Ambiental REPEA23, e que consiste no detalhamento do processo trabalhoso para a elaborao de uma proposta de poltica estadual de Educao Ambiental. Segundo consta no stio da instituio, realizou-se, no Estado de So Paulo, durante o ano de 2006-2007, um processo de consulta pblica Minuta da Lei24 a fim de recolher sugestes sobre o projeto, com vistas construo coletiva deste instrumento, na busca de responsabilidades e estratgias compartilhadas para a Educao Ambiental no Estado. Na formulao da minuta e da consulta pblica, participaram diversas instncias, instituies e organizaes, entre elas: Coletivos Educadores, Secretarias Estaduais de Educao e Meio Ambiente, rgo Gestor da Poltica Educacional de Educao Ambiental (PNEA), Universidades e Organizaes No-Governamentais. A minuta, posteriormente transformada no Projeto de Lei n. 749/2007, foi fruto de 18 reunies (pr-encontros) que culminaram no III Encontro Estadual de Educao Ambiental, realizado na cidade de So Jos do Rio Preto (SP), entre os dias 25 e 28 de julho de 2007. No encerramento do encont