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12 Bazar&Cia*Correio Domingo, 5/Dezembro/2010 TURISMO Alexandria, Destino incomum, a cidade egípcia tem exuberância e história viva Lívia Cabral Há pouco mais de 200 quilômetros do Cairo, a segunda maior cidade do Egito, apesar de ser um roteiro incomum, ainda guarda os encantos da história antiga e a exuberância do litoral mediterrâneo. Alexandria, primeira capital egípcia, foi fundada no século IV a.C. pelo jovem imperador Alexandre, o Grande, e é conhecida pelo Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo, e pelas catacumbas de Kom el Shoqafa, uma das sete maravilhas medievais, além de abrigar uma das maiores bibliotecas do mundo antigo, a vasta Biblioteca de Alexandria. Local frequentado pela rainha Cleópatra, filha do sucessor de Alexandre, o Grande, a Biblioteca foi destruída por um incêndio em 47 a.C., no entanto, foi totalmente reconstruída em 2002. O antigo Farol, destruído por um terremoto em 1375 d.C., deu lugar ao Forte Qaitbey, por volta de 1480 d.C. Um programa agradável é passear pelos corredores do contr No trânsito confuso, velhos carros Lada são o padrão dos táxis forte, com grandes salas iluminadas pela luz do sol, que invade os ambientes pelas janelas estreitas. Do alto da muralha é possível ver boa parte da costa, que fica ainda mais atraente ao pôr do sol. As catacumbas de Kom el Shaqafa estão 35 metros abaixo do nível do solo e são alcançadas por uma escada em formato espiral. Vale a pena descer, explorar a área, sentir a história e descobrir até uma sala de jantar onde os egípcios confraternizavam ao visitar os túmulos dos seus entes queridos. Outros pontos imperdíveis são o palácio Al-Montazah, que já serviu como residência real e destaca-se pelos seus mais de 370 jardins e vista para uma praia com iates, além do marcante anfiteatro romano, em pleno centro da cidade. TRÂNSITO Logo ao chegar na cidade, um grande contraste se revela no trânsito confuso. Velhos táxis Lada se misturam a sofisticadas BMWs equipadas com aparelhos de DVD. Se você acha que o trânsito de Salvador é complicado, espere até viver a aventura de entrar em um carro no Egito. Em Alexandria, não existem semáforos e atravessar a rua é sempre uma prova de fogo. Fique bastante atento. POVO Com 4,1 milhões de habitantes, Alexandria é, definitivamente, um lugar contrastante. De acordo com dados do governo, 40% da população vive abaixo da linha da pobreza. Para o engenheiro americano Bob Cavalcante, que mora há pouco mais de um ano na cidade, o número real seria 80%, enquanto 20% vive em situação de extrema riqueza, com direito a iates e férias em resorts. A situação de miséria não leva os egípcios a cometerem muitos crimes, “em parte por causa da religião muçulmana e parte por causa da punição severa”, supõe Bob. No entanto, os baixos salários da classe trabalhadora são revelados em atos explícitos de corrupção. “O que normalmente seria uma simples gorjeta por uma gentileza, na verdade se torna propina para você conseguir até visitar uma parte mais escondida de um museu”, alerta a terapeuta ocupacional baiana Rosana Cavalcante, casada com Bob. Loura, de olhos azuis, Rosana chama atenção de homens, mulheres e crianças em Alexandria. “Muitas mulheres pegam nos meus cabelos, porque a cor é rara aqui. Algumas crianças até pedem para tirar fotos, elas são adoráveis”, conta. Além de aparentemente simpáticos e amigáveis, os egípcios são bastante vaidosos quanto ao seu país e sua cultura. Depois de percorrer algumas dezenas de quilômetros do centro de uma Alexandria poluída até um luxuoso resort às Moradias precárias são comuns Na orla, estão luxuosos hotéis Bazar&Cia*Correio 13 Domingo, 5/Dezembro/2010 o grande A gastronomia é um dos atrativos Além da história, Alexandria também é bem servida na culinária. Com cerca de 20 quilômetros de extensão pela costa do Mar Mediterrâneo, a cidade tem frutos do mar em abundância. O tempero é sempre forte e marcante. Um jantar no restaurante Tauboush, no shopping Hilton Green Plaza, custa cerda de 100 pounds (ou R$ 35) por pessoa. E ele inclui o famoso kobebah (kibe), entrada com pão árabe e molhos, salada, frutos do mar e bebidas não alcoólicas. Mais sofisticado, o restaurante China House, na cober- tura do Hotel Sofitel, tem vista para o mar Mediterrâneo e o jantar sai por cerca de R$ 50 por pessoa. Nada mal! DICAS 1. “Não”, em árabe, pronuncia-se “lá” e “obrigado” é “shukran”. Você vai precisar muito dessas palavras, juntas ou separadas. 2. A moeda local é o pound. Os egípcios pronunciam “bound” pela dificuldade de pronunciar a letra “p”. Um pound vale R$ 0,35. 3. O visto de turista você adquire no aeroporto do Cairo, logo na sua chegada, por US$ 15. 4. Beba apenas água mineral, até a água de bebedouros é suja. 5. Leve um casaco eficiente. No deserto é quente durante o dia, mas pode ficar muito frio à noite. 6. Reserve um dia para compras no centro da cidade, no mercado de Mancheya. Os souvenirs nos pontos turísticos são bem mais caros. Ah, e não esqueça de pechinchar, e muito! Os preços podem cair até pela metade. 7. Os táxis não usam taxímetro. Negocie o valor antes de entrar no carro. Em Alexandria, é possível atravessar a cidade por cerca de 20 pounds. raste As garotas são superantenadas Iates e lanchas atracados no porto são benefício de poucos egípcios margens do Mediterrâneo, o motorista Ahmed Salah orgulha-se: “Esse é o verdadeiro Egito”. No entanto, o que se vê pelas ruas são muitos pedintes e pessoas fuçando pilhas de lixo. Aliás, o lixo está por toda parte. FASHION E por falar em vaidade, as garotas egípcias, apesar da rigidez da religião, são bastante antenadas com o mundo fashion. A depender da exigência da família, algumas mulheres precisam usar a burca, aquele tecido preto que cobre o corpo todo, deixando apenas os olhos de fora. Outras usam apenas um véu em volta da cabeça e pescoço e roupas que cubram pernas e ombros, algumas nem precisam usar o véu. Mas, não se engane, por baixo da burca escondem-se mulheres poderosas. “Uma vez estava no avião e entrou uma mulher toda coberta. Alguns minutos depois da decolagem, ela foi ao banheiro e quando saiu usava um jeans justo, joias, maquiagem e um perfume muito sensual. Era uma das mulheres mais bonitas que já vi”, conta Ozkan Ozkosar, engenheiro turco que mora e trabalha no Egito há cerca de dois anos. Passar por garotas bem produzidas de um lado da rua e mulheres de burca do outro parece uma viagem no tempo em poucos segundos. E os contrastes de Alexandria seguem entre prédios modernos e luxuosos e construções precárias, sem reboco e sujas pela poluição dos carros. Algumas mulheres usam burca FOTOS DE LÍVIA CABRAL Com cerca de 20 quilômetros de costa mediterrânea, a primeira capital do Egito se divide entre belas paisagens e ar poluído

Alexandria

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Jornal Correio*, 05/12/2010

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12 Bazar&Cia*Correio Domingo, 5/Dezembro/2010

TURISMO

Alexandria,

Destino incomum,a cidade egípciatem exuberânciae história vivaLívia Cabral

Há poucomais de 200quilômetros do Cairo, asegundamaior cidade doEgito, apesar de ser umroteiro incomum, aindaguarda os encantos dahistória antiga e aexuberância do litoralmediterrâneo. Alexandria,primeira capital egípcia, foifundada no século IV a.C.pelo jovem imperadorAlexandre, o Grande, e éconhecida pelo Farol deAlexandria, uma das setemaravilhas domundo antigo,e pelas catacumbas de Kom elShoqafa, uma das setemaravilhasmedievais, alémde abrigar uma dasmaioresbibliotecas domundo antigo,a vasta Biblioteca deAlexandria. Localfrequentado pela rainhaCleópatra, filha do sucessorde Alexandre, o Grande, aBiblioteca foi destruída porum incêndio em 47 a.C., noentanto, foi totalmentereconstruída em 2002.O antigo Farol, destruído

por um terremoto em 1375d.C., deu lugar ao ForteQaitbey, por volta de 1480d.C. Umprograma agradávelé passear pelos corredores do

contr

No trânsito confuso, velhos carros Lada são o padrão dos táxis

forte, com grandes salasiluminadas pela luz do sol,que invade os ambientespelas janelas estreitas. Doalto damuralha é possível verboa parte da costa, que ficaaindamais atraente ao pôr dosol.As catacumbas de Kom el

Shaqafa estão 35metrosabaixo do nível do solo e sãoalcançadas por uma escadaem formato espiral. Vale apena descer, explorar a área,sentir a história e descobriraté uma sala de jantar ondeos egípcios confraternizavamao visitar os túmulos dos seusentes queridos.Outros pontos imperdíveis

são o palácio Al-Montazah,que já serviu como residênciareal e destaca-se pelos seusmais de 370 jardins e vistapara uma praia com iates,além domarcante anfiteatroromano, em pleno centro dacidade.

TRÂNSITO Logo ao chegarna cidade, um grandecontraste se revela notrânsito confuso. Velhos táxisLada semisturam asofisticadas BMWs equipadascom aparelhos de DVD. Sevocê acha que o trânsito deSalvador é complicado,espere até viver a aventurade entrar em um carro noEgito. EmAlexandria, nãoexistem semáforos eatravessar a rua é sempreuma prova de fogo. Fiquebastante atento.

POVO Com 4,1milhões dehabitantes, Alexandria é,definitivamente, um lugarcontrastante. De acordo comdados do governo, 40%dapopulação vive abaixo dalinha da pobreza. Para oengenheiro americano BobCavalcante, quemora hápoucomais de um ano nacidade, o número real seria80%, enquanto 20%vive emsituação de extrema riqueza,com direito a iates e férias emresorts.A situação demiséria não

leva os egípcios a cometeremmuitos crimes, “em parte porcausa da religiãomuçulmanae parte por causa da puniçãosevera”, supõe Bob. Noentanto, os baixos salários daclasse trabalhadora sãorevelados em atos explícitosde corrupção. “O quenormalmente seria uma

simples gorjeta por umagentileza, na verdade setorna propina para vocêconseguir até visitar umapartemais escondida de ummuseu”, alerta a terapeutaocupacional baiana RosanaCavalcante, casada comBob.Loura, de olhos azuis,

Rosana chama atenção dehomens,mulheres e criançasemAlexandria. “Muitasmulheres pegamnosmeuscabelos, porque a cor é raraaqui. Algumas crianças atépedem para tirar fotos, elassão adoráveis”, conta.Além de aparentemente

simpáticos e amigáveis, osegípcios são bastantevaidosos quanto ao seu país esua cultura. Depois depercorrer algumas dezenasde quilômetros do centro deuma Alexandria poluída atéum luxuoso resort às

Moradias precárias são comuns

Na orla, estão luxuosos hotéis

Bazar&Cia*Correio 13Domingo, 5/Dezembro/2010

o grande

A gastronomia éum dos atrativos

Além da história,Alexandria também ébem servida na culinária.Com cerca de 20quilômetros de extensãopela costa doMarMediterrâneo, a cidadetem frutos domar emabundância. O tempero ésempre forte emarcante.Um jantar no restauranteTauboush, no shoppingHilton Green Plaza, custacerda de 100 pounds (ouR$ 35) por pessoa. E eleinclui o famoso kobebah(kibe), entrada com pãoárabe emolhos, salada,frutos domar e bebidasnão alcoólicas. Maissofisticado, o restauranteChina House, na cober-tura doHotel Sofitel, temvista para omarMediterrâneo e o jantarsai por cerca de R$ 50por pessoa. Nadamal!

DICAS

� 1. “Não”, em árabe,pronuncia-se “lá” e“obrigado” é “shukran”.Você vai precisarmuitodessas palavras, juntas ouseparadas.

� 2.Amoeda local é o pound.Os egípcios pronunciam“bound” pela dificuldade depronunciar a letra “p”. Umpound vale R$ 0,35.

� 3.Ovisto de turista vocêadquire no aeroporto doCairo, logo na sua chegada,por US$ 15.

� 4. Beba apenas águamineral, até a água debebedouros é suja.

� 5. Leve um casacoeficiente. No deserto é quentedurante o dia, mas pode ficarmuito frio à noite.

� 6.Reserve umdia paracompras no centro da cidade,nomercado deMancheya. Ossouvenirs nos pontosturísticos são bemmaiscaros. Ah, e não esqueça depechinchar, emuito! Ospreços podem cair até pelametade.

� 7.Os táxis não usamtaxímetro. Negocie o valorantes de entrar no carro. EmAlexandria, é possívelatravessar a cidade por cercade 20 pounds.

raste

As garotas são superantenadas

Iates e lanchas atracados no porto são benefício de poucos egípcios

margens doMediterrâneo, omotorista Ahmed Salahorgulha-se: “Esse é overdadeiro Egito”. Noentanto, o que se vê pelasruas sãomuitos pedintes epessoas fuçando pilhas delixo. Aliás, o lixo está portoda parte.

FASHION E por falar emvaidade, as garotas egípcias,apesar da rigidez da religião,são bastante antenadas com omundo fashion. A dependerda exigência da família,algumasmulheres precisamusar a burca, aquele tecidopreto que cobre o corpo todo,deixando apenas os olhos defora. Outras usam apenas umvéu em volta da cabeça epescoço e roupas que cubrampernas e ombros, algumasnem precisam usar o véu.Mas, não se engane, por

baixo da burca escondem-semulheres poderosas. “Umavez estava no avião e entrouumamulher toda coberta.Algunsminutos depois dadecolagem, ela foi aobanheiro e quando saiu usavaum jeans justo, joias,maquiagem e umperfumemuito sensual. Era uma dasmulheresmais bonitas que jávi”, conta OzkanOzkosar,engenheiro turco quemora etrabalha no Egito há cerca dedois anos.Passar por garotas bem

produzidas de um lado da ruaemulheres de burca do outroparece uma viagem no tempoem poucos segundos. E oscontrastes de Alexandriaseguem entre prédiosmodernos e luxuosos econstruções precárias, semreboco e sujas pela poluiçãodos carros.

Algumas mulheres usam burca

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SDELÍVIACABRAL

Com cerca de 20quilômetros de costamediterrânea, aprimeira capital doEgito se divide entrebelas paisagense ar poluído