ALFABETIZAÇÃO E HABILIDADES FONOLÓGICAS: …ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/IICILLIJ/10/ArtigoAmandaMary.pdf · A ordem do teste envolveu a orientação para a audição da palavra

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  • ALFABETIZAO E HABILIDADES FONOLGICAS: CONSCINCIA FONMICA E PROCESSOS DE ENSINO E

    APRENDIZAGEM DA LNGUA ESCRITA

    Mary Elizabeth Cerutti-Rizzatti1

    Amanda Machado Chraim2

    Introduo

    Este estudo tematiza a conscincia fonmica e o aprendizado da leitura e da

    escrita, focalizando as implicaes fonmicas de uma orientao metodolgica mais

    sinttica ou mais global de alfabetizao. A questo que moveu a pesquisa foi:

    Processos globais de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita e processos sintticos

    de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita tm efeito diferencial sobre o

    desenvolvimento da conscincia fonmica das crianas alfabetizandas?

    A pesquisa se consolidou via aplicao de testes de conscincia fonmica aos

    sujeitos envolvidos, levando a termo, tambm, descrio qualificada dos dados,

    concebida como recurso para assegurar que cada qual das linhas de alfabetizao

    manifestava-se de fato no trabalho em sala de aula, tanto quanto para descrever o

    domnio das crianas nas habilidades de leitura e escrita; essa descrio se deu via

    observao, notas de campo e anlise documental. O corpus envolve o universo da

    alfabetizao em trs diferentes escolas de configurao educacional e insero

    socioeconmica similares, e os sujeitos so 96 crianas com idade entre sete e oito anos,

    alunos de seis diferentes classes de alfabetizao, com as quais estabelecemos contato

    ao longo de trs meses do ano letivo, em um recorte transversal de pesquisa.

    1 Conscincia fonmica e alfabetizao: interfaces

    Conscincia fonmica uma particularizao da conscincia fonolgica que, por

    sua vez, uma particularizao da conscincia lingustica definida como a

    habilidade para manipular as unidades fonmicas constitutivas da fala. Gough e Larson

    (1996) afirmam que conscincia fonmica requer que o falante ignore os significados

    das palavras para, ento, prestar ateno sua estrutura e ter a capacidade de examin-la

    1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)2 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

  • e manipul-la. O conceito de manipulao envolve, segundo Alves (2009), a capacidade

    que o falante tem de desempenhar atividades como apagar, adicionar, substituir sons.

    Para tanto, necessrio que o significado seja ignorado, e a estrutura da palavra seja

    tomada como ponto de reflexo. A conscincia fonolgica pode ser dividida em trs

    subclassificaes: conscincia de palavra, de slaba e de fonema. Essas formas de

    conscincia surgem em momentos diferentes, sendo que a conscincia de palavra a

    primeira a emergir, seguida pela conscincia silbica e, por ltimo, pela conscincia

    fonmica propriamente dita.

    Acreditava-se, h algum tempo, que a conscincia fonolgica era monoltica, um

    elemento que o falante tinha ou no tinha (GOUGH; LARSON, 1996). Hoje, parece

    claro que essa conscincia no tida como um construto unitrio e organizado, mas

    sim, como uma habilidade cognitiva geral, com combinaes de diversas habilidades,

    cada uma delas com suas especificidades (MOOJEN, 2003). Muitos autores defendem a

    existncia de um continuum nas habilidades fonolgicas, [...] ou seja, um aumento

    gradual da complexidade dos processos cognitivos e lingusticos envolvidos, com a

    conscincia de rimas e slabas precedendo a alfabetizao, que favoreceria nveis de

    conscincia fonmica (CIELO, 2001:48). Com relao a essa interface com a

    alfabetizao, Lamprecht (2009:19) entende que [...] a importncia que damos

    faculdade de conscincia fonolgica decorre, em parte, tambm do fato de que se pode

    tirar proveito dela no trabalho com qualquer mtodo de alfabetizao [...]. Na vasta

    literatura sobre as relaes entre conscincia fonolgica e alfabetizao, fica claro

    haver, hoje, relativo consenso de que ambas influenciam-se mutuamente.

    O foco deste estudo a conscincia fonmica, a qual implica a capacidade de

    manipulao consciente de fonemas. Este, segundo Alves (2009), um nvel mais

    complexo de conscincia fonolgica, pois o reconhecimento de um nico segmento

    exige maior habilidade do falante para ser manipulado, diferentemente de uma unidade

    como a slaba, que se discrimina auditivamente mais facilmente.

    Byrne (1996: 40) afirma que o desenvolvimento das habilidades de

    decodificao e codificao (leitura e escrita) [...] dependem, sobretudo, de uma

    combinao de conscincia fonmica e conhecimento das correspondncias entre as

    letras e os sons. Nenhum dos dois suficiente por si mesmo. Moojen (2003), por sua

    vez, reitera a importncia de estabelecer relaes entre conscincia fonolgica e

    instruo alfabtica. Considerando que a maioria dos falantes tende a no desenvolver

    uma percepo acerca dos elementos constituintes da fala antes de aprender a ler,

  • importante que se investiguem quais so os nveis e as habilidades que esses sujeitos

    desenvolvem em conscincia fonolgica sem instruo alfabtica, e o contrrio tambm:

    quanto a instruo alfabtica relevante para o desenvolvimento de tal conscincia, o

    que, segundo Moojen (2003), pode contribuir em estudos acerca de metodologias de

    alfabetizao.

    importante, para esta discusso, considerar a dificuldade de tomada de

    conscincia dos componentes dos prprios pensamentos e aes por parte dos falantes

    (BYRNE, 1996). Segundo Byrne (1996), as coisas que podem ser feitas facilmente

    comportamento lingustico correspondente ao uso cotidiano da lngua oral so difceis

    de serem objetos de pensamento comportamento metalingustico: interrupo do uso

    da lngua para reflexo consciente sobre ela. Tambm, completa Byrne, [...] plausvel

    que a ausncia de uma compreenso objetiva da estrutura da corrente da fala faa com

    que o sistema da escrita seja muito mais misterioso [...] (1996:43). Para o autor, a

    lngua falada no apresenta elementos fsicos claros que correspondam s letras, os

    segmentos discretos. Assim, o problema que o aprendiz de leitura deve resolver [...] o

    problema da segmentao, isto , descobrir os elementos da fala contnua que

    correspondem aos elementos discretos da escrita alfabtica (BYRNE, 1996:40). J

    Vanderevelden e Siegel (1995) apontam maior facilidade na manipulao de segmentos

    iniciais, seguida pela manipulao de segmentos finais e, como nvel mais difcil, a

    manipulao de segmentos mediais. Cardoso-Martins (1995), enfim, entende que,

    apesar de ser, de fato, uma capacidade relacionada diretamente alfabetizao, uma

    srie de questes sobre a estrutura da conscincia fonolgica e sobre a natureza exata de

    sua relao com a aprendizagem da leitura e da escrita permanecem controvertidas.

    Uma dessas questes diz respeito s relaes entre a natureza dos processos de

    alfabetizao e o desenvolvimento da conscincia fonmica, nosso foco aqui.

    2 Procedimentos metodolgicos: classes, sujeitos e testes

    A pesquisa envolveu 96 alfabetizandos, distribudos em seis classes distintas,

    duas em cada uma das trs escolas participantes do estudo. Ter cursado Pr-Escola foi

    uma varivel neutralizada, uma vez que todas as crianas participantes da pesquisa

    haviam passado pela Educao Infantil. Idade foi, igualmente, uma varivel

    neutralizada, porque todos os sujeitos encontravam-se na faixa etria de sete e oito anos

    e, segundo Liberman et al. (1974), o perodo de doze meses entre os seis e sete anos de

  • idade no revela os mesmos efeitos diferenciais que so observados no perodo de doze

    meses nas idades anteriores nos testes de conscincia fonolgica. Acrescentemos a isso

    o fato de que a conscincia fonolgica emerge por volta dos seis ou sete anos

    (GOMBERT, 1992). Quanto natureza dos processos de alfabetizao, aps um

    perodo de trs meses de observao das aulas, notas de campos e anlise documental de

    materiais de ensino, atividades e produes das crianas, caracterizamos as Classes

    como segue, em que E significa escola, e a numerao corresponde a cada uma das trs

    instituies.

    Classe/Escola Caracterizao quanto ao processo/mtodo1. Classe 1 E1 Estratgias globais e estratgias sintticas associadas: mtodo misto.2. Classe 2 E1 Prevalncia de estratgias de natureza sinttica.3. Classe 3 E2 Prevalncia absoluta de estratgias de natureza sinttica.4. Classe 4 E2 Estratgias globais e estratgias sintticas associadas: mtodo misto.5. Classe 5 E3 Prevalncia de estratgias globais.6. Classe 6 E3 Prevalncia de estratgias globais.

    Quadro 1 Caracterizao das Classes

    Para as finalidades deste estudo, recortamos dois testes de conscincia

    fonmica3: apagamento e reordenao de fonema inicial e apagamento e reordenao de

    fonema medial. A ordem do teste envolveu a orientao para a audio da palavra

    pronunciada e o apagamento do som inicial com enunciao da palavra remanescente

    primeiro teste e, e seguida, o mesmo procedimento com o som medial segundo teste.

    Houve treinamento inicial para que a criana aprendesse como proceder em cada teste.

    Eis os testes:

    Teste 1 Fonema Inicial

    Teste 2 Fonema Medial

    1. /t/ toco (oco) 1. /t/ luta (lua)2. /d/ deles (eles) 2. /d/ lida (lia)3. /p/ povo (ovo) 3. /p/ tipo (tio)4. /b/ barco (arco) 4. /b/ suba (sua)5. /f/ filha (ilha) 5. /f/ pifou (piou)6. /v/ vela (ela) 6. /v/ curva (cura)7. /k/ cacho (acho) 7. /k/ dicas (dias)8. /g/ globo (lobo) 8. /g/ figos (fios)9. /m/ molha (olha) 9. /m/ rimos (rios)10. /n/ nossos (ossos) 10. /n/ dunas (duas)11. /s/ salto (alto) 11. /s/ basta (bata)12. /z/ zunidos (unidos) 12. /z/ pisar (piar)13. // janta (anta) 13. // sujar (suar)

    14. // chave (ave) 14. // acho (ao)

    3 Testes produzidos com base em Cielo (2001) e Cerutti-Rizzatti (2004).

  • 15. /l/ lama (ama) 15. /l/ bola (boa)16. /R/ risca (isca) 16. /r/ perde (pede)

    Quadro 2 Teste de CF

    Com relao aos itens particularizados por ocasio dos testes, optamos por itens

    lexicais de domnio das crianas e, mais especificamente, pela priorizao de itens

    dissilbicos e paroxtonos, com vistas a respeitar o padro de tonicidade da lngua.

    3 Discusso dos resultados

    Os resultados da performance das crianas so demonstrados nos dois grficos a

    seguir. O primeiro deles quantifica o desempenho dos sujeitos, por classe, no teste de

    apagamento e reordenao de segmento inicial, e o segundo o faz no teste de

    apagamento e reordenao de segmento medial. Neles: A corresponde a acertos; E, a

    erros; e N corresponde a no-resposta.

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    1(M) 2(S) 3(S) 4(M) 5(G) 6(G)

    A E N

    Figura 1 Resultados do Teste 1 por classe

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    1(M) 2(S) 3(S) 4(M) 5(G) 6(G)

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    Figura 3 Resultados do Teste 2 por classe

    Podemos observar, nos grficos acima, que a melhor performance nos testes

    corresponde s Classes 2, 5 e 6: a primeira delas de orientao sinttica e as outras duas

    de orientao global. A Classe com pior desempenho no teste 1 a Classe 3, de

    orientao sinttica; j a classes com pior desempenho no teste 2 a Classe 4, de

    orientao mista. A descrio qualificada dos dados permitiu-nos observar que havia em

    comum, nessas duas classes, uma ausncia de organizao do espao e do tempo das

  • aulas, um processo de planejamento docente praticamente inexistente, o que instaurava

    uma espcie de caos no cotidiano escolar dessas crianas.

    A anlise empreendida ratificou dados de Vandervelden e Siegel (1995) acerca

    da maior facilidade para manipulao de segmentos iniciais e para a maior dificuldade

    de manipulao de segmentos mediais, o que fica evidente nos grficas acima. Fez-nos

    ver, ainda, a inexistncia de uma correspondncia biunvoca entre conscincia fonmica

    e mtodo de alfabetizao em si mesmo: o maior ou menor domnio da modalidade

    escrita e no o mtodo pareceu determinante na boa performance. Vale levantar

    razes pelas quais crianas em uma mesma faixa etria e inseridas em contextos

    educacionais nos quais no haja grandes disparidades socioeconmicas e institucionais,

    apresentam tamanhas distines em termos de desenvolvimento ou no das habilidades

    ligadas lngua escrita. As crianas das Classes 1, 3 e 4, diferentemente das crianas

    das Classes 2, 5 e 6, no dominavam, em sua maioria, os princpios da leitura e da

    escrita como o faziam estas.

    A maior diferena entre os grupos, no processo de encaminhamento da

    alfabetizao, ao que pudemos constatar, foi o fato de que, enquanto as Classes 5 e 6

    eram coerentes no encaminhamento do processo de alfabetizao por meio da

    textualizao, e a Classe 2 era coerente no encaminhamento fnico do processo, as

    demais Classes no empreendiam um processo planejado e coerente. Mesmo a Classe 3,

    de fundamentao claramente fnica, no apresentava planejamento organizado e

    consequente de atividades no cotidiano escolar, desorganizao que, em nossa

    compreenso, retardava o processo de apropriao da escrita.

    Com relao, especificamente, s Classes 5 e 6, um dado importante precisa ser

    retomado: o nvel de letramento dos pais das crianas em sua maioria formados no

    ensino mdio pareceu trazer consigo implicaes na potencializao do desempenho

    escolar das crianas. O fato de as professoras aludirem preocupao expressiva dos

    pais com a correo da escrita de seus filhos robustece essa nossa inferncia, alm do

    que sabemos que estudos diversos tm mostrado a interferncia do nvel de letramento

    escolar dos pais no processo de construo da leitura e da escrita das crianas, entre os

    quais pesquisa de Terzi (2002).

    Assim, embora no houvesse diferenas flagrantes de natureza etria,

    institucional e socioeconmica entre os grupos, o grau de escolarizao dos pais e as

    implicaes de organizao do tempo e do espao das aulas parecem ter sido relevantes

    nos resultados. As aproximaes entre as Classes 5 e 6 e a Classe 2 parecem estar muito

  • mais intimamente relacionadas organizao subjacente prtica pedaggica, o que

    favorecia o processo de apropriao da escrita por parte das crianas e, em relao

    mtua, o maior desenvolvimento da conscincia fonmica.

    Consideraes finais

    Os dados aqui recortados parecem apontar significativamente para a inexistncia

    de uma correlao mais efetiva entre tipo de processo de alfabetizao e conscincia

    fonmica, j que, como pudemos verificar, de algum modo, processos globais terminam

    por se debruar sobre o carter segmental da escrita alfabtica, sobretudo por ocasio da

    produo escrita. Nossos resultados, entendemos, depem em favor da existncia de

    uma correlao mais significativa entre domnio da lngua escrita e determinados tipos

    de habilidades metafonolgicas, em uma possvel escala de conscincia fonmica do

    que propriamente entre o desenvolvimento dessas habilidades e a natureza do processo

    de alfabetizao no que respeita a mtodos.

    Referncias

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    CARDOSO-MARTINS, C. Sensitivity to rhymes, syllables, and phonemes in literacyacquisition in Portuguese. Reading Research Quarterly, 30, 1995, p. 808-828.

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    GOMBERT, Jean Emile. General considerations. In: Metalinguistic development.Chicago: University of Chicago Press, 1992.

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  • LAMPRECHT, Regina. Fixando o olhar na vidraa. In: LAMPRECHT, Regina [et al.].Conscincia dos sons da lngua: subsdios tericos e prticos para alfabetizadores,fonoaudilogos e professores de lngua inglesa. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009.

    LIBERMAN, I., SHANKWEILER, D, FISHER, CARTER, B. Explicit syllable andphoneme segmentation in the young child. Journal of Experimental Child Psychology,v. 18, 1974, p. 201-212.

    MOOJEN, Snia (Coord.) CONFIAS Conscincia fonolgica: instrumento deavaliao sequencial. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2003.

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    TERZI, Sylvia Bueno. A construo da leitura. 3. ed. Campinas/SP: Pontes, 2002.