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Poesias esparsas
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Alguma Poesia
2013
DIMAS TADEU COVAS
ANOS 70 E 80
Juventude
Reuno aqui as poesias iniciais da juventude, quando o mundo era mais simples, os dias mais azuis e misteriosos e o futuro parecia uma aventura incrível.
Beleza
2
Beleza.Pura beleza!Pequena folha verde,De alguma árvoreRespingada de chuva.
Suave brisa.Tarde de sol.A noite próxima.
Beleza.Pura beleza!Trega fugaz.
Abrigo anti-atômico.Horrível,Em tiVivo um minuto mais.
Pontaria
Quando chegar a hora,
Por favor, não errem,
Meu endereço segue anexo.
Não sei bem a latitude,
Nem a longitude,
Mas está no mapa.
Confiram, por favor,
Se possível gostaria de ser o primeiro.
Dizem que vossos mísseis
Não erram nunca.
Tomara.
Sou muito covarde.
Não suportaria morrer
Depois dos outros.
3
Ocaso
O ocaso
Às vezes é claro
Bonito
Outras é escuro
Nebuloso
Quantas vezes ainda
Verei o pôr do sol?
4
Primavera
Primavera
Os campos estão verdes
Mas os tempos não mudaram
Continua nublado
Tempestuoso
Relâmpagos espoucam no horizonte
Quando haverá mudança na China?
5
Lembranças
Velho quadro negro
Abandonado no porão
Algumas palavras escritas
Idioma do passado
Impossível lembrar o significado
A poeira cobre tudo
Nada aqui me alegra
Fecho a porta
6
Doença
O amor?
Doença gravíssima
Quando o contraímos
Sempre morremos
Ou de felicidade
Ou de sofrimento
7
Hipnóse
Chove!
Quero pensar,
Não consigo.
Uma goteira
No meio do quarto
Impede.
Pingos ritmados
Me hipnotizam.
Durmo...
8
Ideais
Esferas multicoloridas
Apenas isto
No início parecem estrelas
Quando se aproximam
Viram esferas coloridas
Mescla de claro, escuro
Azuis, verdes, vermelhos
Apenas isto
E rapidamente se afastam
E lá no longe
Voltam a se parecer com estrelas
Tudo é isto
Nesta viagem infinita
Rumo ao nada
9
Ignorância
Cósmica poeira
De grãos invisíveis
Que tudo atinge
Ininterruptamente se acumula
Impregnando os espaços
Sufocando o vazio
Respirar
Já não posso
Ela preenche os alvéolos
Vaza pelas narinas
Substituí os excrementos
Poeira infinita
Impossível baní-la
Impssível fugir
Do seu irracional progresso
Dela morro
10
Consciência
Prisioneira inútil
Acorda!
Pequena bola
Explosiva
Perdida no emaranhado
No convoluto remoínho
Miseráveis reações químicas
Pegajosas lembranças
Incapazes de renascer
E os sonhos
Ópio intestinal
Morte travestida
Jamais verás a luz
De Deus
Ou de Platão
Viverás catatônica
Consciência
11
Sonhos
Sonhos
Tristes ilusões
Pesadelos bem suscedidos
Imagens perdidas
Cintilações meteóricas
Que do nada ao nada
Vez por outra
Atropelam a consciência
Impeçam-me de sonhar
Imprimam a realidade
Nas lentes de aumento dos meus óculos
E então
Somente então
Morrerei feliz
12
Peregrino
Andar, andei
Por estradas que nunca soube
Andar, andei
Perdido
Para me encontrar
Mais me perdi
Onde estou?
Onde estás?
Nunca saberei!
13
Cegueira
Primeiro veio o véu
Depois a venda
Por fim a escuridão
Procuro a luz
14
Hay Kay
A paz não existe
É um sonho
Que motiva a guerra
15
Estranhamento
Espelho
Meus olhos
O outro lado
Estranho
Desconheço
Me assusto
Fujo do banheiro
16
Vazio
Calor
Respirar é tão difícil
Os pulmões enchem
E esvaziam
O ar gosmento
entra e saí
O silêncio atormenta
Uma mosca interrompe
Mais dificil é respirar com o espírito
17
Insônia
Procuro o sono
Sumiu
Escondeu-se embaixo da cama!
Olho
Procuro
Engano
Desisto
Vou sofrer...
18
Realidade
Pensar
Ou não pensar
Não faz diferença
Pensamento imbutido
Pensamento ausente
Somam zero
O importante é comer a maça
19
Liberdade
Vai pensamento
Pula o muro
Pula para a rua
Perca-se no mundo
Nunca deixe te prenderem
Nunca, viu!
20
Infância
Lá na rua
Onde mora a minha casa
A criançada pula amarelinha
Até chegar no céu
Algumas vezes esbarram na luz
Outras passam de leve no inferno
Mas nunca deixam de dar grande pulos
Quer voltar a ser criança!
21
Renascimento
Acabou a energia
Luzes apagadas
Televisores mudos
Dentro da casa
Luz de vela
Nas ruas
Luz das estrelas
O espírito renasce
Enfim, respiro!
22
Desilusão
A esperança morreu
Só restou fiapos
De beleza e ternura
Momentos fugazes
Na travessia
Nada além
Faz sentido
23
Gerações
Imagens do passado
Imagens do futuro
Se chocam
No meio do meu cérebro
Tudo se espedaça
Em milhões de fragmentos
Meu Deus!
Para onde vou?
24
Vida
À noite na sala
Luz apagada
Na parede
Projeta-se luz quadrada
Que entra pela janela
No centro da claridade
Duas sombras se agitam
Se tocam
Não sei se se amam
Ou se agridem
Se se ferem
Ou se acariciam
É a vida projeta na parede.
25
Moral
Pelos buracos dos olhos
Do nariz
Da boca
Dos ouvidos
Escorre pagajosa e marrom
A consciência
26
Imaginação
Meus pensamentos
São movidos a vela
A brisa suave
Sopra meu rosto
E lá vão eles
Perdendo-se no horizonte
27
Inverno Nuclear
Não há noite
Não há dia
Depois que tudo começou
Tudo é escuro
A névoa pegajosa
Desce sobre nós
Os ponteiros dos relógios
Movem-se incessantemente
Mas o tempo parou
Faz muito frio
Nada mais há para se comer
Nada mais há para se conhecer
É o fim...
28
Garapa
Máquina de moer ossos
Para fazer botões
Nhroc nhroc nhroc!
Moe moe moe
No fundo
Minha alma
Para ver o que sai
29
Neon
Luzidio
Lusco-fusco
Neon
Brilha, brilha
Na escuridão
Da rua do comércio
Sem ninguém que te olhe
Morrerás de solidão
30
O grilo
Gril, gril, gril, gril
No compasso dos segundos
Lá fora
O grilo marca o tempo
Me lembra que é hora
De renascer
Para um mundo novo
(O velho não tem conserto)
Feito de pequenas e belas coisas
Que eternizam
Em segundos
Todo o sentido da vida
31
Inércia
A briza da noite
Entra pela porta aberta
Mansamente
É um convite para poetar
Mas a inércia
Sempre vence
Quedo silencioso
Sem nada dizer
32
Real
Espaços etéreos
Preenchidos por vagas estelares
Silenciosas e brilhantes
Rapidamente se distanciam
Abandonam a realidade da visão
Transmutam-se
Tornam-se possibilidades de existência
Pontos obscuros nos ecrans dos computa-dores
Providso de infinitas dimensões
Impossível conceber tamanha grandeza
Por olhos tão pequenos da consciência
33
Dúvida
Noite estrelada na minha solidão
Pergunto-me: existem as estrelas?
Ou serão apenas ilusão
Pontos prateados pregados na pupila
Ou serão ainda estados da alma
Como a solidão que não existe
Mas nela insistimos em acreditar
Uma estrela cadente cortou os céus
Da minha solidão
Pequena realidade despregou-se do olho
Pelo piscar
Uma ilusão morreu
(Pois é difícil mantê-las todas vivas)
Mas nada mudou
Continuo sentindo a solidão que não ex-iste
Continuo vendo as estrelas que caem
Afinal
Para isto serve a filosofia
34
CHAPTER 2
Maturidade
Maturidade é o estado da alma em que as ilusões se sedimentam, ou em mentiras renitentes, ou em verdades passadiças.Não sei ao certo. Não tem a ver com envelhecimento ou com decrepitude. Mas com certeza tem a ver com experiência, vivência e conheci-mento. Talvez tudo isso junto. Nos tornamos maduros, mas nem sem-pre mais saborosos.
Futuro
Vamos falar do futuroPorque o presente me decepcionaVamos falar de otimismo e garraPorque o dia a dia me entristece
Vamos falar de novas luzesPorque minha alma anda em penumbraE não vejo claramente a luzQue alguém disse que está no fim do túnel
Vamos falar de amizade
Porque na solidão em que vivoNão sinto o calor de um corpo amigoQue me aqueça no frio da noite
Vamos falar de sonhosPorque nas noites em que adormeçoSomente tenho pesadelosDo dia a dia que me entristece
Vamos falar da vida Que esquecemos de viverPorque a nossa vida é tão rápidaQue para ela não temos tempo
Vamos falar da morte dos sonhosQue estando mortosNão andam pelas minhas noites dormi-dasMas deambulam como fantasmas
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Pelos dias infinitosQue me entristecem
Vamos falar da juventudeDa minha e da delesPerdidas no torvelinhoDo dia a dia que me entristece
Vamos falar das lutas Que nunca lutamosPorque não temos causa Que nosso coração abale
Vamos falar das dores que não sentimosPorque anestesiados estamosPelo dia a dia que me entristece
Vamos falar do futuroPorque tudo nele aconteceE o dia que ainda não veio
Pode ser luminoso e feliz
Vamos falar do futuroPorque nele as decepçõesAinda não existemE a felicidade ainda vive
Vamos falar do futuroPorque o presente é tão duroQue nossa pele rasgaE nossa mente violenta
Vamos falar do futuroPorque o que nele vivePode nos inspirarPode nos salvarDeste dia a dia que me entristece
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38
Memória
O sossego dos pátios vazios A calma das noites de verão Iluminadas pelos candeeiros Da memória infante
Transporte transdimensional Êxtase intelectual Que demonstra a fragilidade Do agora
Vivo melhor e mais feliz Naquilo que já vivi
Remontado no presente Pelo gênio sensívelQue em mim mora
Quisera que assim sempreTivesse vivido Pois assim nunca te Teria perdido
Te manteria assim CativaEscrava No meu coração
Te consumiria Quando bem Me aprouvesse Em uma noite De verão
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Vida
Sempre é tempo Para começar A viver O que nunca vivemos
Seja no sonho tresloucado Da noite insone Seja na fúria insana Da impotência morta
Sempre é tempo De retomar O mar perdido Para o inimigo interno
E velejar nas águas Profundas da alma Rediviva pela forçaDa imaginação
Sempre é tempo De recomeçar Para não perder tudo Para a negra criatura
Afinal Só vive o que Em fluxo Se mantém
40
Só vive o que Sempre muda Se adapta Se transforma
O que mudo e quieto Ficou Já morreu Sem saber
41