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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA MEDIDA PROVISÓRIA 1.820/99 AURISVAWO MELO SAMPAIO PrOlfwtor de Justiça na Bahia, professor convidado na cadeira de Direito do Consumidor na Escola Superior do Ministério Público da Bahia e pale.çtrante no curso de pôs-graduação da Escola de Magistrados da Bahia. o Governo Federal vem de editar a Medida Provisória 1.820, de 5 de abril de 1999 (a publicação se deu no Diário Oficial da União do dia 06.04.1999), através da qual tenciona dar combate à prática da agiotagem. A despeito da recenticidade da edição do aludido diploma - que sequer adquiriu ares de definitividade -, resolvemos lançarmo-nos à tarefa de revelar a nossa primeira impressão acerca do assunto, numa análise perfunctória, é verdade. Assumimos, conseqüentemente, o risco de emitir opinião temerária, todavia, preferimos arrostar o desafio a ficar, como o personagem da fábula de Florian, sentado à margem do rio, esperando comodamente a água passar, para atravessá-lo a pé enxuto. 1. A VIA ELEITA PARA REGULAR A MATÉRIA De início, convém censurar o tratamento da matéria através de Medida Provisória, expediente através do qual o Poder Executivo tem dado, amiudadamente, vazão à sua fúria legiferante, em menoscabo à competência própria do Congresso Nacional e, por

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA

MEDIDA PROVISÓRIA N° 1.820/99

AURISVAWO MELO SAMPAIO

PrOlfwtor de Justiça na Bahia, professor convidado na cadeira de Direito do Consumidor na Escola Superior do Ministério Público da Bahia

e pale.çtrante no curso de pôs-graduação da Escola de Magistrados da Bahia.

o Governo Federal vem de editar a Medida Provisória n° 1.820, de 5 de abril de 1999 (a publicação se deu no Diário Oficial da União do dia 06.04.1999), através da qual tenciona dar combate à prática da agiotagem. A despeito da recenticidade da edição do aludido diploma - que sequer adquiriu ares de definitividade -, resolvemos lançarmo-nos à tarefa de revelar a nossa primeira impressão acerca do assunto, numa análise perfunctória, é verdade. Assumimos, conseqüentemente, o risco de emitir opinião temerária, todavia, preferimos arrostar o desafio a ficar, como o personagem da fábula de Florian, sentado à margem do rio, esperando comodamente a água passar, para atravessá-lo a pé enxuto.

1. A VIA ELEITA PARA REGULAR A MATÉRIA

De início, convém censurar o tratamento da matéria através de Medida Provisória, expediente através do qual o Poder Executivo tem dado, amiudadamente, vazão à sua fúria legiferante, em menoscabo à competência própria do Congresso Nacional e, por

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AURISVALDO MELO SAMPAIC INSTlTUlÇÁO TOLEDO DE ENSINO 80

isto mesmo, produzindo atos viciados de inconstitucionalidade formal. De fato, não vislumbramos existir na hipótese o requisito da urgência, o qual - ao lado da relevância -, justifica a edição da medida provisória com força de lei. É certo que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a urgência e a relevância previstas no artigo 62 da Constituição Federal têm caráter político, cuja apreciação fica, em princípio, por conta dos Poderes Executivo e Legislativo,l não obstante, o que não se pode admitir é que, sob o pálio de tal entendimento, sejam editadas Medidas Provisórias que, a olhos vistos, não são marcadas pelos apontados requisitos.

Com efeito, a questão central versada na Medida Provisória sob análise - os juros excessivos nos contratos de mútuo -, já está, há muito, regulada pelo direito pátrio, 2 especificamente pelo Decreto n° 22.626, de 07 de abril de 1933 (Lei de Usura), e pela Lei n° 1.521, de 26.12.1951 (Lei dos Crimes Contra a Economia Popular), diplomas legais que, se de fato necessitam de aperfeiçoamentos, para adequá-los aos tempos presentes, melhor o seriam pelo processo legislativo de criação da lei ordinária, através dos agentes escolhidos pelos cidadãos para este mister.

Quanto aos lucros ou vantagens excessivos - outro tema saliente na MP 1.820 -, tratando-se de relação de consumo, as relações jurídicas mais freqüentes na nossa sociedade massificada, há tratamento adequado nos artigos 6°, V, e 51, IV, ambos do CDC. A MP em consideração, é verdade, excluiu expressamente da incidência do artigo 1°, inciso II, que trata dos lucros e vantagens patrimoniais excessivos, estipulados em razão da vulnerabilidade da parte, os negócios jurídicos disciplinados pelas legislações comercial e de defesa do consumidor, remanescendo as relações de natureza civil. Referentemente à vantagem

I Conf. ADIMC 1397 - DF.

2 A respeito, comentando o artigo 1.262 do Código Civil, Maria Helena Diniz averba: "I - Mútuo jelleratício. O mútuo feneratício ou oneroso é permitido no nosso direito, uma vez que a lei possibilita que, por cláusula expressa, se fixem juros ao empréstimo de dinheiro ou de outras coisas fungíveis, desde que não ultrapassem a taxa de 12% ao ano, sob pena de serem resti­tuídos por meio da colldicrio indebiti (Dec. n. 22.626/33, arts. 1°. 2° e 13; Lei n. 1.52l/S I, art. 2°; RT, S04:198, 478:132, 474:118, 473:117 e 197:530; RF. 139:S63). Está vedada a capitalização dos juros pela Lei da Usura (Dec. n. 22.626/33; Súmula 121 do STF; Lex. 16:171; RT. 495:181; RTJ. 79:734. 72:916,77:966,79:620)" (Código Civil Anotado. Saraiva. 2' ed., p. 844).

exagerada nestas reIaI Congresso Nacional, t tramita naquela Casa h no Senado e n° 118/84 negócio jurídico por prevendo, noutro dispo: sob premente necessie prestação manifestamel oposta (art. 157).

Ora, se a sociedadl regulada a matéria, prol problema cuja gênese Congresso - e já em fas tais conflitos, não se h tema. Entendimento I Executivo operar, verbi Civil através de medida daquele Cadex.

A edição descomedic distorções evidentes. Se adoção do instituto pel Constituição Federal de editadas nada menos qUi Provisórias novas. Se se chega a duas mil, oitoce relações jurídicas revel< que trezentas e seis ree Em sede de relação de e 9.656, de 3 de junho seguros privados de assi período de tramita substancialmente altera seguinte à sua publicaçã em que se escreve este 1

dispositivos que restar, preceitos constantes deI a fixação da anuidade

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ados de inconstitucionalidade existir na hipótese o requisito ~vância -, justifica a edição da lei. É certo que o Supremo gência e a relevância previstas :ral têm caráter político, cuja onta dos Poderes Executivo e o se pode admitir é que, sob o ~ditadas Medidas Provisórias s pelos apontados requisitos.

iada na Medida Provisória sob Iltratos de mútuo -, já está, há especificamente pelo Decreto :Lei de Usura), e pela Lei n° ::rimes Contra a Economia se de fato necessitam de )S tempos presentes, melhor o le criação da lei ordinária cidadãos para este mister. '

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1. 22.626/33; Súmula 121 do STF; Lex, 79:620)" (Código Civil Anotado, Saraiva,

exagerada nestas relações jurídicas, já se tem preocupado o Congresso Nacional, tanto que o Projeto de Código Civil que tramita naquela Casa há mais de duas décadas (Projeto n° 634/75 no Senado e n° 118/84 na Câmara) estabelece a anulabilidade do negócio jurídico por vício resultante de lesão (art. 171, II), prevendo, noutro dispositivo, que ocorre esta quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga à prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta (art. 157).

Ora, se a sociedade brasileira aguarda há tanto tempo ser regulada a matéria, provendo-a de meios jurídicos para obviar um problema cuja gênese não é recente, e estando a tramitar no Congresso - e já em fase adiantada - um Projeto que dá solução a tais conflitos, não se há falar em urgência, embora relevante o tema. Entendimento contrário equivale a admitir possa o Executivo operar, verbi gratia, uma verdadeira reforma no Código Civil através de medida provisória, com fundamento na senectude daquele Codex.

A edição descomedida de Medidas Provisórias tem ocasionado distorções evidentes. Segundo dados do Senado Federal, desde a adoção do instituto pelo nosso direito, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, até o final do ano de 1998, foram editadas nada menos que quatrocentas e cinqüenta e oito Medidas Provisórias novas. Se somadas estas às suas reedições, o número chega a duas mil, oitocentos e vinte e uma. A insegurança para as relações jurídicas revela-se com clareza diante da observação de que trezentas e seis reedições modificaram as Medidas reeditas. Em sede de relação de consumo, há situações aberrantes: a Lei n° 9.656, de 3 de junho de 1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde, a qual sofreu considerável período de tramitação no Congresso Nacional, foi substancialmente alterada por Medida Provisória logo no dia seguinte à sua publicação, sendo que as reedições desta - ao tempo em que se escreve este artigo estamos na 11 a - modificaram outros dispositivos que restaram intocados pela primeira, assim como preceitos constantes dela mesma; por outro lado, os critérios para a fixação da anuidade cobrada pelos estabelecimentos de ensino

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pré-escolar, fundamental, médio e superior são disciplinados há mais de quatro anos por Medida Provisória, atualmente na sua sexagésima reedição.

2. A NULIDADE PREVISTA NO ARTIGO ]O

Logo no artigo 1°, inc. I, preceitua a MP que, nos 'contratos civis de mútuo, são nulas de pleno direito as estipulações usurárias, assim consideradas as que estabeleçam taxas de juros superiores às legalmente permitidas. Estas "taxas de juros legalmente permitidas" equivalem ao percentual de 12%, ou seja, o dobro da taxa legal (arts. 1.062 e 1.063 do CC), conforme se infere do artigo 1° do Decreto 22,626/33. Já o inciso II, do artigo referido, atribui a mesma nulidade de pleno direito, nos negócios jurídicos não disciplinados pelas legislações comercial e de defesa do consumidor, às estipulações que estabéleçam lucros ou vantagens patrimoniais excessivos, estipulados em situação de vulnerabilidade da parte. Estabelece ainda a norma que o juiz só deverá ajustar a taxa de juros à medida legal ou restabelecer o equilíbrio da relação contratual, ajustando os lucros ou vantagens patrimoniais ao valor corrente, ou, no caso do cumprimento da obrigação, ordenar a restituição, em dobro, mediante requerimento.

Ora, a expressão "nulidade de pleno direito" já é há muito conhecida pelo nosso ordenamento jurídico, utilizada no Código de Defesa do Consumidor (artigo 51, caput) que parece tê-la importado da CLT (art. 9°) ou do Decreto 22.626/33 (Lei de Usura, art. 11). Também a Lei n° 6.766179 (Lei de Parcelamento do Solo Urbano, art. 39) utiliza a expressão, que é prestigiada pela doutrina. Consoante se tem entendido pacificamente, a nulidade de pleno direi to a que se refere o artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor equivale à nulidade do Código Civil (art. 145), podendo, como tal, ser decretada de ofício pelo juiz que as conhecer (art. 146), em qualquer tempo e grau de jurisdição.3

] Assim os ensinamentos de Tupinambá Miguel Castro do Nascimento. Comentários ao Código do Consumidor, 3' ed., Aide, pp. 68/69; Arruda Alvim et aUi, Código do Consumidor Comentado,

AURISVALDO MELO SAMPP

Ademais, a nulidade: partes. No particular, Congresso Nacional ( dado à matéria pelo C reproduz quase que lil

No dizer sempre pl nulidade tem como ( (invalidada o ato de alegada por qua1que reconhecida de ofício podem saná-la, nem pela prescrição). A relativa, sanável e pro

Diante desses ensi Medida Provisória COI

legal ou o restabelecit requerimento do intl nulidade de pleno d confere ao lesado d alternativa: postular l

lesivo, com a conseq eficácia, ou o restabel A solução encontrad preconizada de lege fi Pereira.5

Embora deficiente: esta a exegese que postulados hermenêut direito a adotar a inter entendimento diferent

ERT, 2' ed., p. 250; Ruy Ro Mercosul, Livraria do Adv( Comentários ao Código de I ou tros que esposam o mesmc

4 Introdução ao Direito Civil, 8' e 5 Instituições de Direito Civil, vol 6 Cf. Paula Batista, apud Carlo

Livraria Freitas Bastos, S. A.

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO 83

superior são disciplinados há Provisória, atualmente na sua

lRTIGOr

itua a MP que, nos 'contratos tleno direito as estipulações le estabeleçam taxas de juros das. Estas "taxas de juros .o percentual de 12%, ou seja, ~ 1.063 do CC), conforme se ~6/33. Já o inciso II, do artigo ie pleno direito, nos negócios islaçães comercial e de defesa que estabeleçam lucros ou estipulados em situação de ainda a norma que o juiz só ~dida legal ou restabelecer o tando os lucros ou vantagens no caso do cumprimento da .0, em dobro, mediante

Ileno direito" já é há muito jurídico, utilizada no Código 51, caput) que parece tê-la Decreto 22.626/33 (Lei de

766/79 (Lei de Parcelamento ressão, que é prestigiada pela lo pacificamente, a nulidade igo 51 do Código de Defesa do Código Civil (art. 145), je ofício pelo juiz que as mpo e grau de jurisdição. 3

lo Nascimento, Comentários ao Código do ~I alii, Código do Consumidor Comentado,

Ademais, a nulidade não é suprível ainda que a requerimento das partes. No particular, o Projeto de Código Civil que tramita no Congresso Nacional (acima aludido) mantém o mesmo tratamento dado à matéria pelo Código de 1916, vez que o artigo 168 daquele reproduz quase que literalmente a redação do artigo 146 deste.

No dizer sempre preciso do saudoso Mestre Orlando Gomes,4 a nulidade tem como caracteres as circunstâncias de ser imediata (invalidada o ato desde a sua formação), absoluta (pode ser alegada por qualquer interessado, pelo Ministério Público ou reconhecida de ofício pelo juiz), incurável (porque as partes não podem saná-la, nem o juiz supri-la) e perpétua (não é atingida pela prescrição). A anulabilidade, opostamente, seria diferida, relativa, sanável e provisória.

Diante desses ensinamentos, que se há de entender quando a Medida Provisória condiciona o ajuste da taxa de juros à medida legal ou o restabelecimento do equilíbrio da relação contratual ao requerimento do interessado, mesmo diante de hipótese de nulidade de pleno direito? Parece-nos que a norma estudada confere ao lesado direito de ação sob forma de faculdade alternativa: postular a simples declaração da nulidade do ajuste lesivo, com a conseqüência de reconhecer-lhe privado de toda eficácia, ou o restabelecimento do equilíbrio entre as prestações. A solução encontrada pela Medida Provisória já era, aliás, preconizada de lege ferenda pelo Professor Caio Mário da Silva

. 5Perelra.

Embora deficiente a redação dos incisos do artigo 1°, parece ser esta a exegese que melhor se ajusta aos mais comezinhos postulados hermenêuticas, como o que orienta o aplicador do direito a adotar a interpretação que evite o absurdo.6 E com efeito, entendimento diferente - no sentido de não conferir a norma

ERT, 2' ed., p. 250; Ruy Rosado de Aguiar el alii, A Proteção do Consumidor no ~rasil e no Mercosul, Livraria do Advogado Editora, 1994, p. 27; Alberto do Amaral JUnior el ~lll,

Comentários ao Código de Proteção do Consumidor, Saraiva, 1991, pp. 193/4; dentre mUitos outros que esposam o mesmo entendimento.

4 Introdução ao Direito Civil, 8' ed., Forense, pp. 403 a 406. S Instituições de Direito Civil, vol. 1,4' ed., Forense, p. 379. 6 Cf. Paula Batista, apud Carlos Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do Direito, 8' ed.,

uvraria Freitas Bastos, S. A., p. 178.

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faculdade alternativa -, conduziria à conclusão de estarmos diante de nulidade pleno jure que só há de ser reconhecida mediante requerimento, podendo, por conseguinte, ser convalidada pela vontade das partes, no particular confundindo-se com a anulabilidade.

Como se disse, em face de cláusula lesionária, poderá o prejudicado, alternativamente, socorrer-se de ação de nulidade ou postular o restabelecimento do equilíbrio das prestações. Todavia, cuidando-se de cláusula nula de pleno direito, diante da ausência de manifestação do lesado, deverá o juiz que conhecer do ato ou de seus efeitos pronunciar a nulidade ex oficio, não lhe sendo Hcito, neste caso, restabelecer o equilíbrio das prestações.

Com o dispositivo sob análise, permite a MP 1820/99 que o juiz, se a isto instado pelo prejudicado, exerça função construtiva no controle das cláusulas contratuais que especifica, sob este aspecto introduzindo inovação em relação ao Código de 1916, e mesmo em relação ao Projeto de Código Civil de 1975 (ainda tramitando no Congresso), o qual, no particular, comina a sanção de anulabilidade para o negócio jurídico viciado pela lesão, mas não outorga ao lesado a faculdade de pedir o restabelecimento do equilíbrio das prestações - já aí se vê que, no tocante à laesio enormis, está o Projeto aludido a carecer de atualização, mas não só neste ponto, como noutros em relação aos quais a edição do Código de Defesa do Consumidor introduziu conceitos novos? Ao ajustar a taxa de juros à medida legal ou o lucro ou vantagem ao valor corrente, estará o juiz estipulando novas bases para o contrato cujas cláusulas apreciar. Exercerá atividade criadora, modificando importante elemento da relação jurídica, vale dizer, o preço.

Entretanto, a faculdade ora outorgada ao contratante civil não representa propriamente uma novidade no direito brasileiro. De fato, o CDC já prevê solução semelhante, quando possibilita, no artigo 50, V, a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais, cláusulas que são, por

7 A respeito. preciso o posicionamento do Ministro Ruy Rosado de Aguiar Jr., in Aspectos do Código de Defesa do Consumidor, AJURIS, v. 52, p.167

AURISVALDO MELO SAMPAI

força do artigo 51, N, No dizer da Profes~

mencionado artigo do I

da MP 1820/99 - limit pode ser modificado ~

manifestação volitiva aqui um claro exem] relações contratuais, ' corrigir negócio jurídi justiça contratual.

2.1. Similitude com doutras plagas

Também no direitc solução semelhante à exemplo do Código Ci' artigo 954 autoriza à ví dos atos jurídicos "c~

necesidad, ligereza o medio de ellos un desproporcionada y Si

poderá demandar a r contrato, todavia, a açãl reajuste se isto (o reaju demanda.

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de benefícios excessi\ seguinte, que o lesado,

8 Contratos no Código de Defesa do

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

à conclusão de estarmos diante á de ser reconhecida mediante ;eguinte, ser convalidada pela ular confundindo-se com a

cláusula lesionária, poderá o )rrer-se de ação de nulidade ou .ilíbrio das prestações. Todavia, leno direito, diante da ausência o juiz que conhecer do ato ou

dade ex oficio, não lhe sendo lilíbrio das prestações.

permite a MP 1820/99 que o :ado, exerça função construtiva :uais que especifica, sob este relação ao Código de 1916, e Código Civil de 1975 (ainda

no particular, comina a sanção lrídico viciado pela lesão, mas de pedir o restabelecimento do e vê que, no tocante à laesio arecer de atualização, mas não relação aos quais a edição do Iltroduziu conceitos novos.7 Ao ~al ou o lucro ou vantagem ao pulando novas bases para o Exercerá atividade criadora,

a relação jurídica, vale dizer, o

rgada ao contratante civil não fade no direito brasileiro. De :lhante, quando possibilita, no s cláusulas contratuais que .onais, cláusulas que são, por

Ruy Rosado de Aguiar Jr.. in Aspectos do .p.I67

força do artigo 51, IV, do mesmo Código, nulas de pleno direito. No dizer da Professora gaúcha Cláudia Lima Marques, o mencionado artigo do CDC - o mesmo se pode dizer do artigo 1° da MP 1820/99 - limita o princípio clássico de que o contrato não pode ser modificado ou suprimido senão através de uma nova manifestação volitiva das mesmas partes contratantes. 8 Temos aqui um claro exemplo do intervencionismo do Estado nas relações contratuais, atuando através do Poder Judiciário para corrigir negócio jurídico privado com o escopo de alcançar a justiça contratual.

2.1. Similitude com soluções encontradas por legislações doutras plagas

Também no direito comparado há notícias da adoção de solução semelhante à encontrada pela Medida Provisória, a exemplo do Código Civil Argentino, reformado em 1968, que no artigo 954 autoriza à vítima demandar a nulidade ou modificação dos atos jurídicos "cuando una de las partes explotando la necesidad, ligereza o inexperiencia de la otra, obtuviera por medio de ellos una ventaja patrimonial evidentemente desproporcionada y sin justificación". Naquele país, o autor poderá demandar a nulidade ou um reajuste eqüitativo do contrato, todavia, a ação de nulidade se transformará em ação de reajuste se isto (o reajuste) for oferecido pelo réu ao contestar a demanda.

A solução adotada pelo legislador português é muito semelhante à encontrada pelo argentino, tanto é assim que o Código Civil Luso de 1966, após estabelecer, no artigo 282°, ser anulável, por usura, o "negócio jurídico, quando alguém, explorando a situação de necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de carácter de outrem, obtiver deste, para si ou para terceiro, a promessa ou a concessão de benefícios excessi vos ou injustificados", prevê, no artigo seguinte, que o lesado, em lugar da anulação, poderá requerer a

8 Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 2" ed.. ERT, p. 93.

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modificação do negócio segundos juízos de equidade. Também em Portugal, requerida a anulação, a parte contrária tem a faculdade de opor-se ao pedido, declarando aceitar a modificação do negócio.

3. A NULIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2°

Estabelece o artigo 2° que são nulas de pleno direito as disposições contratuais que, com o pretexto de conferir ou transmitir direitos, são celebradas para garantir, direta ou indiretamente, contratos civis de mútuo com estipulações usurárias. Cuida-se aqui de proteger o patrimônio da vítima do contrato usurário contra estipulações que visem a assegurar o proveito do ato criminoso - não é despiciendo lembrar que usura é crime, à luz do artigo 4°, "a", da Lei n° 1.521/51. Cuidam-se de avenças imorais, as quais, na prática, temos visto freqüentemente travestidas de promessa irrevogável de venda de imóvel (por vezes o único imóvel da vítima, que o utiliza para sua própria moradia), venda de automóvel, ou alienação de direito de uso de linha telefônica, mas que pode paramentar-se com o aspecto de outro negócio jurídico em tese lícito.

Contrariamente ao que se disse com relação à nulidade prevista no artigo 1°, aqui não se prevê a possibilidade do manejo de ação de modificação da cláusula contratual. A disposição é nula de pleno direito e, como tal, há de ser declarada pelo juiz, seja ele provocado ou mesmo de ofício, a qualquer tempo e grau de jurisdição.

4. A cLÁUSULA GERAL DA LESÃO ENORME

À Medida Provisória sob comento, precisamente ao seu artigo 10, inciso II e parágrafo único, cabe o mérito de haver resgatado, de forma explícita, a cláusula geral da lesão enorme nos contratos civis no direito brasileiro, estabelecendo parâmetro de equilíbrio entre as prestações.

AURISVALDO MELO SAMPAIC

Realmente, é contf( positivo brasileiro ado dos contratos. Embora direito, propugna a de posteriores, em parti inicialmente o Decreto depois Lei n° 1.521, denominação de usun alguns exemplos, as p< Silva Pereira. 10 Tar entendimento, como o acórdão unânime da 1< Arnaldo Rizzardo, urr posicionamento recebe Grande do Sul, citar Professor e Desembarg

A verdade é que definindo como crim( qualquer contrato, inexperiência ou leviar exceda o quinto do va prometida. Ora, argum conduta é criminosa, é desta natureza, pela só Civil, estabelece tal sal ilícito.

Nada obstante a for defensores, a tese t

sobretudo no PretórÍ< Constituição de 1967, ( mediante recurso e interpretação de lei j

Tribunal de Justiça d<

9 Obrigações e Contratos. ERT. 13' \O Op. e p. cits. 11 RJTJRJ 47/1982. 12 Da Ineficácia dos Atos Jurídicos

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

IS juízos de equidade. Também lção, a parte contrária tem a leclarando aceitar a modificação

) ARTIGO 2°

são nulas de pleno direito as m o pretexto de conferir ou Idas para garantir, direta ou de mútuo com estipulações ~ger o patrimônio da vítima do :ções que visem a assegurar o despiciendo lembrar que usura é Lei n° 1.521/51. Cuidam-se de

.ica, temos visto freqüentemente ivel de venda de imóvel (por que o utiliza para sua própria

1 alienação de direito de uso de aramentar-se com o aspecto de to.

com relação à nulidade prevista lossibilidade do manejo de ação ratual. A disposição é nula de ier declarada pelo juiz, seja ele

a qualquer tempo e grau de

SÃO ENORME

nto, precisamente ao seu artigo )e o mérito de haver resgatado, I da lesão enorme nos contratos ~cendo parâmetro de equilíbrio

Realmente, é controversa a tese que propugna haver o direito positivo brasileiro adotado a lesão como hipótese de invalidade dos contratos. Embora certo que o Código Civil a baniu do nosso direito, propugna a doutrina e parte da jurisprudência que Leis posteriores, em particular a Lei de Economia Popular ­inicialmente o Decreto-Lei n° 869, de 18 de novembro de 1938, e depois Lei n° 1.521, de 26.12.1951 -, a consagraram sob a denominação de usura real. Neste sentido, somente para citar alguns exemplos, as posições de Amoldo Wald9 e Caio Mário da Silva Pereira. 10 Também alguns Tribunais respaldam o entendimento, como o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em acórdão unânime da lavra do Desembargador Basileu Ribeiro. I I

Arnaldo Rizzardo, um dos defensores da tese, informa que o posicionamento recebeu acolhida no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, citando acórdão nesse sentido da lavra do Professor e Desembargador gaúcho Oscar Gomes Nunes. 12

A verdade é que a Lei n° 1.521/51 tem natureza penal, definindo como crime de usura real obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida. Ora, argumentam os corifeus deste entendimento, se a conduta é criminosa, é nulo o contrato que contenha estipulação desta natureza, pela só razão de que o artigo ]45, lI, do Código Civil, estabelece tal sanção para o ato jurídico que possua objeto ilícito.

Nada obstante a força do argumento e a autoridade dos seus defensores, a tese encontrou resistência na jurisprudência, sobretudo no Pretório Excelso, o qual, sob a vigência da Constituição de 1967, que lhe outorgava competência para julgar, mediante recurso extraordinário, matéria relacionada à interpretação de lei federal, decidiu, reformando decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que "desde que o

9 Obrigações e Contratos, ERT, 13' ed., pp. 287/9. \O Op. e p. cits. 1\ RJTJRJ 47/1982. 12 Da Ineficácia dos Atos Jurídicos e da Lesão no Direito, Forense, 1983, p. 102.

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Código Civil regulou a matéria relativa aos atos jurídicos e especificou os vícios de consentimento, excluindo a lesão, é evidente que esta não constitui mais motivo de anulação dos contratos". I3 Posteriormente, o Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, louvando-se na citada decisão do Supremo, manifestou adesão ao mesmo entendimento. 14

Em ocasião bem mais recente, o STJ, agora o responsável pelo "controle da inteireza positiva, da autoridade e da uniformidade de interpretação da lei federal ",15 pela unanimidade dos integrantes da sua Terceira Turma, admitiu a acolhida, pelo nosso direito, do instituto da lesão, embora, por maioria de votos, prevaleceu o entendimento de que o instituto não era aplicável ao caso concreto, eis que inexistentes elementos subjetivos imprescindíveis à sua caracterização. 16

Com a edição da novel legislação, parece-nos que há de cessar a controvérsia, ficando agora claro que o direito positivo brasileiro adotou o instituto da lesão em sede de relações jurídicas civis.

4.1. Elementos da disposição contratuallesionária

A questão relativa aos elementos caracterizadores da cláusula lesionária foi objeto de acerba discussão, no passado recente, entre dois luminares da cultura jurídica nacional. De um lado, o ilustre Professor da terra-berço do Brasil, Orlando Gomes, um ferrenho opositor do instituto, advogava que, no figurino das Ordenações, à configuração da lesão bastava a desproporção das obrigações (critério puramente objetivo). Na medida em que elementos subjetivos impregnassem o instituto, ter-se-ia a figura da lesão qualificada, a qual se confunde com a "usura especial" prevista no artigo 138 do BGB. De tais considerações, aliás, o Mestre dos

13 Decisão unânime da Primeira Turma do STF, em 26/10/1976, RE 82971-RS, ReI. Min. Cunha Peixoto, in RTJ 841218.

14 Decisão unânime da Segunda Câmara Cível do TARGS na APC 184040103, Relator Cacildo de Andrade Xavier, decisão proferida em 30.10.1985, in Jurisprudência Informatizada Saraiva.

11 A expressão é de José Afonso da Silva, in Curso de Direito Constitucional Positivo, 8' ed. Revista, Malheiros, p. 490.

16 Decisão proferida no REsp. 33883-MG em 30.05.1994, acórdão lavrado pelo Ministro Costa Leite, autor do voto vencedor, in RSTJ 64/198.

Contratos concluia pe substituído pela usura Ir

Com outra compreel menos ilustre Caio Má] nos ensinos de De Page, um contrato seja lesio aufira vantagem desI "especulação em tomo celebrar o contrato qw subjetivo. 18

No Superior Tribuna REsp. 33883-MG, acirr que a lesão, nos terrnt (entenda-se, pela Lei premente necessidade, i (elemento subjetivo). C Corte discutia lucro excc a um quinto do valor do Santos, tal margem de contrato, para a maioria foi de 3 a 2), todavia, in faltava ao caso o elemen

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17 Transformações Gerais do Direil 1967, pp. 29 e seguintes.

18 Lesão nos Contratos, Companhia.

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

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10/1976, RE 82971-RS, ReI. Min. Cunha

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94, acórdão lavrado pelo Ministro Costa

Contratos concluia pela obsolescência .. do instituto, que fora substituído pela usura material. 17

Com outra compreensão do tema, o também Professor e não menos ilustre Caio Mário da Silva Pereira, defende, com arrimo nos ensinos de De Page, que não é suficiente, para o invalidar, que um contrato seja lesionário, ou seja, que um dos contratantes aufira vantagem desproporcional, mas que haja, também, "especulação em torno da situação particular que levou o outro a celebrar o contrato que lhe é tão desfavorável" - aí o elemento subjetivo,I8

No Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do REsp. 33883-MG, acima aludido, prevaleceu o entendimento de que a lesão, nos termos em que é acolhida em nosso direito (entenda-se, pela Lei n° 1.521/51), exige que haja abuso de premente necessidade, inexperiência ou leviandade da outra parte (elemento subjetivo). O litígio posto a exame daquela Colenda Corte discutia lucro excessivo em contrato de empreitada, superior a um quinto do valor do contrato. Para o Relator, Ministro Cláudio Santos, tal margem de lucro era o quantum satis para viciar o contrato, para a maioria da Terceira Turma (o escore da votação foi de 3 a 2), todavia, inspirada pelo voto do Ministro Costa Leite, faltava ao caso o elemento subjetivo,

A verdade é que, segundo nos parece, influências históricas modificaram o instituto da lesão, de tal forma que esta não mais subsiste na sua feição original. Assim pensa Sílvio Rodrigues, que após observar, argutamente, que a lesão, conforme foi acolhida pelas legislações modernas (art. 138 do Código Alemão, art. 21 do Código Federal das Obrigações da Suíça, art. 1.448 do Código Civil Italiano e art. 4° da nossa Lei dos Crimes contra a Economia Popular), difere profundamente do instituto que emergiu da Lei Segunda de Diocleciano e Maximiliano, conclui que "Não é altamente relevante verificar se se trata do mesmo ou de outro instituto, pois, na primeira hipótese, houve evolução no conceito

17 Transfonnações Gerais do Direito das Obrigações, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1967, pp. 29 e seguintes.

18 Lesão nos Contratos, Companhia Editora Forense, Rio, 2' ed., p. 195.

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i

AURISVALDO MELO SAMPAINSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

de uma instituição antiga; na segunda, houve o advento de uma nova concepção para remediar os defeitos oriundos de uma idêntica relação humana" .19

Contra a alegada obsolescência do instituto, insurge-se Wilson de Andrade Brandão,20 o qual, pretendendo fazer reparos à doutrina de Orlando Gomes, afirma que o conceito moderno de lesão "em nome de princípios morais inescusáveis, instrumentaliza a justiça contratual, o que demonstra a sua permanente presfÍmosidade", arrematando conclui, em seguida, que não se trata de conceito caduco. Para Luis O. Andorno, "EI retomo de la figura de la lesión a diversos ordanamientos legales, constÍfuye una nueva instancia en el proceso de socialización deI derecho, como contrapartida a las ideas individualistas decimonónicas". 21

Deixando superada a discussão doutrinária, a MP 1820, às escâncaras, diferentemente do que dispõem os artigos 6°, V, primeira parte, e 51, IV, ambos do CDC, os quais continuam a regular a matéria no tocante às relações de consumo, exige, para a imposição da sanção de nulidade, a coexistência de elementos objetivo e subjetivo. O CDC, trilhando outra senda, exige apenas que haja "prestações desproporcionais" ou "desvantagem exagerada" para o consumidor, deixando claro que, para a caracterização da cláusula abusiva, nula de pleno direito, basta a existência do elemento objetivo. Neste passo, convém salientar que juristas da maior envergadura vislumbram nos mencionados artigos do Código do Consumidor o instituto da lesão, como o Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior22 e Caio Mário da Silva Pereira, este em recente edição do seu livro Lesão nos Contratos. 23

19 Dos Vícios do Consentimento, Saraiva, 1979, p. 218. 20 Apud José Luiz Bayeux Filho, O Ressurgimento da Rescisão Lesionária ou por Usura Real no

Direito Brasileiro, in Revista de Direito do Consumidor, p. 88. 21 La Lesion, in Revista de Direito Civil. 18/22. 22 Aspectos do Código de Defesa do Consumidor, aula inaugural do Curso de Direito da Faculdade

de Direito da UFRGS, proferida em 26 de março de 1991, in AJURIS, n° 52, julho de 1991, pp. 1781179.

n Forense, 1993,3' ed., p. 212.

4.1.1. O elemento ob}

Consiste o element prestações das partes aufira lucro ou vant, conceito jurídico prudente arbítrio do jl desproporção, vale di da lesão.

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4.1.2. O elemento sub)

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO 91

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.ugural do Curso de Direito da Faculdade 1991, in AJURIS, n° 52, julho de 1991,

4.1.1. O elemento objetivo

Consiste o elemento objetivo da lesão na desproporção entre as prestações das partes contratantes, de tal forma que uma delas aufira lucro ou vantagem patrimoniais excessivos. Temos aqui conceito jurídico indeterminado, deixando-se entregue ao prudente arbítrio do juiz, em cada caso concreto, a aferição dessa desproporção, vale dizer, estabelecer a existência ou inexistência da lesão.

A Medida Provisória em estudo, ao abster-se de determinar o quantum do lucro oU vantagem patrimonial que considera excessivo, afastou-se do sistema tarifado adotado pela Lei n° 1.521/51, que estabelece o limite de um quinto do valor corrente ou justo da prestação; o que excede disto é considerado usura real. Aproximou-se, por outro lado, do projeto do Código Civil que tramita no Congresso, o qual alude a "prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta".

Embora as legislações alienígenas não sejam uniformes nos critérios utilizados para definir o elemento objetivo da lesão, parece preponderar aquele adotado pela Medida em estudo. Assim, o Código Civil Alemão (§ 138) refere-se a desproporção evidente, sem quantificá-la, todavia; O Código Português alude simplesmente a benefícios excessivos ou injustificados; e o Argentino a uma "una ventaja patrimonial evidentemente desproporcionada y sin justificación ".

4.1.2. O elemento subjetivo

O elemento subjetivo, repudiado por alguns sob o argumento de que exorbitaria do conceito clássico do instituto, consiste na situação de vulnerabilidade da parte. Aqui, o alcance do termo vulnerabilidade é distinto daquele que lhe empresta o Código de Defesa do Consumidor. Para o CDC, a vulnerabilidade do consumidor é princípio informador da Política Nacional das Relações de Consumo. Assim, tem-se entendido que a vulnerabilidade é "um traço universal de todos os consumidores,

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92 INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

ricos ou pobres, educadores ou ignorantes, crédulos ou espertos".24 Para Arruda Alvim, "A vulnerabilidade do consumidor é incindível do contexto das relações de consumo e independe de seu grau cultural ou econômico, não admitindo prova em contrário, por não se tratar de mera presunção legal".25 Diferentemente do que ocorre naquele Código, no contexto das relações jurídicas disciplinadas pelo artigo 10, ora em estudo, relações civis, é bom repetir, a vulnerabilidade não se presume, há de ser demonstrada no caso concreto.

Vulnerável é o ponto pelo qual alguém pode ser atacado. 26 Há aqui outro conceito aberto que há de ser integrado casuisticamente pelo operador do direito. Vulnerabilidade, obviamente, não é sinônimo de pobreza ou ignorância, embora estes fatores possam ser invocados, no caso concreto, como caracterizadores daquele estado. Vulnerável era Esaú - para citar um exemplo clássico ­que vendeu os seus direitos de primogenitura ao irmão Jacó pelo irrisório preço de um prato de lentilhas, premido pela fome intensa.27

A vulnerabilidade, como dissemos, há de ver apurada em face do negócio, nela estando inserida, obviamente, as noções de necessidade, inexperiência ou leviandade previstas no artigo 4°, "b", da Lei n° 1.521/51.

À luz da doutrina estrangeira e dos ditames da Lei n° 1.521, propugnam os juristas patrícios que o elemento subjetivo cindi-se em duas vertentes: a primeira relacionada ao lesado - seu estado de necessidade, inexperiência ou ligeireza -, e outra ao autor da lesão - a exploração deste estado. 28 Neste diapasão, lesão só haveria se, aliados ao elemento objetivo, ocorressem ambos os elementos subjetivos. Reprime o artigo 4°, "b", da Lei n° 1.521/51, o ato de alguém obter, ou estipular, em qualquer contrato, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente

24 Cf. Antônio Hennan de Vasconcelos e Benjamin et alii, Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, p. 8, Forense Universitária, 1991.

25 Arruda Alvim et alii, Código do Consumidor Comentado, ERT, 2' ed., p. 45. 26 Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 2' ed., p. 1.792. 27 A história dos filhos de Isaque está registrada na Bíblia Sagrada, Livro de Gênesis, capítulos 25 e

seguintes. 2& Wilson de Andrade Brandão, Lesão e Contrato no Direito Brasileiro, 3' ed., Aide.

AURISVALDO MELO SAMPA

ou justo da prestaç inexperiência ou levic penal, em dolo de aI dificuldade natural pa parte do agente lesant do instituto, e por aplicação.

A Medida Provisól não se perquire do ar, lesionária, mas tão-so avença prejudica. Se estar a prevalecer a ( Andrade Brandão, pa subjetivo deixa bem CJ

da legislação de aban da inexperiência ou lii liberdade de consentÍl natureza de vício da VI

ao assunto confere o pl

5. CRITÉRIOS AFEJ EXCESSIVOS

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29 Obra citada, p. 251.

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

ignorantes, crédulos ou "A vulnerabilidade do

das relações de consumo e econômico, não admitindo

tratar de mera presunção )corre naquele Código, no linadas pelo artigo 1°, ora em lr, a vulnerabilidade não se lSO concreto.

, d d 26 H'guem po e ser ataca o. a ler integrado casuisticamente lilidade, obviamente, não é embora estes fatores possam mo caracterizadores daquele ~itar um exemplo clássico ­1genitura ao irmão Jacó pelo ltilhas, premido pela fome

:, há de ver apurada em face obviamente, as noções de

dade previstas no artigo 4°,

os ditames da Lei n° 1.521, I elemento subjetivo cindi-se nada ao lesado - seu estado ~ireza -, e outra ao autor da 8 Neste diapasão, lesão só ~tivo, ocorressem ambos os artigo 4°, "b", da Lei n° ou estipular, em qualquer a o quinto do valor corrente

et alii, Código Brasileiro de Defesa do

lo, ERT, 2' ed., p. 45.

I Nova Fronteira, 2' ed., p. 1.792. Sagrada, Livro de Gênesis, capítulos 25 e

to Brasileiro, 3' ed., Aide.

ou justo da prestação, abusando de premente necessidade, inexperiência ou leviandade da outra parte; daí falar-se, na órbita penal, em dolo de aproveitamento. Disto resulta que, diante da dificuldade natural para a demonstração do elemento subjetivo da parte do agente lesante, tem-se tornado não raro difícil o manejo do instituto, e por vezes obstaculizada por completo a sua aplicação.

A Medida Provisória sob análise afastou-se desta linha. Aqui não se perquire do animus, daquele a quem beneficia a cláusula lesionária, mas tão-somente se era vulnerável a parte a quem a avença prejudica. Se tal ocorreu, nula será a disposição. Parece estar a prevalecer a doutrina do Professor piauiense Wilson de Andrade Brandão, para quem "essa compreensão do elemento subjetivo deixa bem clara uma tendência moderna da doutrina e da legislação de abandonarem a idéia de abuso da necessidade, da inexperiência ou ligeireza, para verem na lesão a ausência da liberdade de consentimento do prejudicado, reconhecendo-lhe a natureza de vício da vontade ".29 No particular, mesmo tratamento ao assunto confere o projeto do novo Código Civil.

5. CRITÉRIOS AFERIDORES DO LUCRO OU VANTAGEM EXCESSIVOS

Para a configuração do lucro ou vantagens excessivos, reprimidos pelo inciso 11 do artigo 1°, estabeleceu-se no parágrafo único do mesmo artigo que hão de ser considerados a vontade das partes, as circunstâncias da celebração do contrato, o seu conteúdo e natureza, a origem das correspondentes obrigações, as práticas de mercado e as taxas de juros legalmente permitidas. Diferentemente do que consagrou a redação publicada, a proposta encaminhada pelo MJ fazia alusão ao "interesse das partes" ­expressão que buscou no artigo 51, § 1°, IH, do Código de Defesa do Consumidor -, à "natureza e o conteúdo do contrato" e "outras circunstâncias peculiares ao caso".

29 Obra citada, p. 251.

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94 AURISVALDO MELO SAMPAICINSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

Deveras, neste, como noutros pontos, a MP n° 1.820/99 consiste numa mutilação da proposta encaminhada à Presidência da República pelo Ministério da Justiça no final do mês de março de 1999 e alardeada - já antes da sua edição e de sofrer as mutações que lhe impuseram os assessores da Presidência - como panacéia para o problema da agiotagem que vitima grande contingente de consumidores, inclusive muitos servidores da administração pública, conforme amplamente divulgado pelos meios de comunicação.

Representa uma involução ao tratamento dispensado ao contratante vulnerável pelo CDC estabelecer-se que, para a configuração do lucro ou vantagem excessivos, há de ser consultada a "vontade das partes", numa homenagem, ao que parece, ao princípio da autonomia da vontade, do qual decorre o dogma da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda). A expressão nos parece equívoca - e capaz de enfraquecer a tutela dispensada ao contratante civil vulnerável -, até porque ninguém contrata outorgando vantagem excessiva à outra parte porque quer, mas porque as circunstâncias o levaram a isso, porque era premente a sua necessidade ou elevado o seu grau de inexperiência ou leviandade, vale dizer, sua vulnerabilidade. Melhor andaria a norma se utilizasse a expressão já consagrada pelo CDC e contida na proposta ministerial "interesse das partes". Configurado o estado de vulnerabilidade do contratante lesado, esta circunstância, por si só, já vicia a sua vontade - servimo-nos aqui dos ensinos de Wilson de Andrade Brandão -, sendo, portanto, incoerente perquirir-se esta mesma vontade viciada para averiguar se configurado o lucro ou vantagem excessivos. Aqui há de ser cauteloso o trabalho do aplicador do direito, a fim de não derruir, numa interpretação voluntarista, a proteção que a Medida Provisória, no seu conjunto, quis proporcionar ao contratante lesado.

Outro critério aferidor do lucro ou vantagem patrimonial excessivos são "as práticas de mercado". Ora, num País onde o mercado freqüentemente consagra o abuso, a expressão, se levada a interpretação literal, equivale quase que a afirmar que a lesão ao contratante vulnerável será lícita desde que o mercado consagre

tal prática. O direito é tratando da proteção a corrigir as condutas d sociedade, não tutelá-la caberá mais uma vez o salis, a expressão em aI as práticas do merca< apresentados pelo parág

6. A INAPLICABILIDI CONTRATOS DE C

Importante realçar, p incisos e parágrafo únic< as quais, no tocante ac continuam sendo regid Decreto 22.626/33 e Lei o inciso 11 e o parágra1 relações de consumo, p norma, parece mesmo: esteja destinado a disciI expresso que sua finalid. de mútuo. Como se sabe, quando aludiu aos contn de consumo. Seria con empréstimo de coisa fun que o mutuante não se artigo 3°, caput, do C[ incisos do artigo 10 ex consumo.

Conforme é cediço - e dos elementos caracteri profissionalidade. Neste enquadra-se no conceit ati vidade não desfigura a é fornecedor aquele ( mercadoria imprópria p:

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

pontos, a MP n° 1.820/99 1 encaminhada à Presidência Iça no final do mês de março

sua edição e de sofrer as ;sores da Presidência - como otagem que vitima grande Jsive muitos servidores da mplamente divulgado pelos

tratamento dispensado ao estabelecer-se que, para a ~m excessivos, há de ser numa homenagem, ao que

l vontade, do qual decorre o ltOS (pacta sunt servanda). A apaz de enfraquecer a tutela rável -, até porque ninguém ssiva à outra parte porque I levaram a isso, porque era elevado o seu grau de

dizer, sua vulnerabilidade. ~ a expressão já consagrada ;terial "interesse das partes". dade do contratante lesado, :l sua vontade - servimo-nos .ndrade Brandão -, sendo, mesma vontade viciada para mtagem excessivos. Aqui há jor do direito, a fim de não ta, a proteção que a Medida lroporcionar ao contratante

ou vantagem patrimonial do". Ora, num País onde o buso, a expressão, se levada que a afirmar que a lesão ao ie que o mercado consagre

AURISVALDO MELO SAMPAIO

tal prática. O direito é a ciência do dever-ser, não do ser. Em se tratando da proteção ao contratante mais fraco, deve o direito corrigir as condutas desviantes do patamar ético exigido pela sociedade, não tutelá-las, desde que corrente a sua prática. Aqui caberá mais uma vez o trabalho do juiz, temperando, cum grana salis, a expressão em apreço, para somente levar em consideração as práticas do mercado após sopesados os demais critérios apresentados pelo parágrafo único.

6. A INAPLICABILIDADE DO ARTIGO r AOS CONTRATOS DE CONSUMO

Importante realçar, para afastar dúvidas, que o artigo 1°, seus incisos e parágrafo único, não se aplicam às relações de consumo, as quais, no tocante aos temas regulados pelo referido artigo, continuam sendo regidas pela legislação anterior (CDC, CC, Decreto 22.626/33 e Lei n° 1.521/51). Sim, porque se é certo que o inciso II e o parágrafo único do artigo 1° não se aplicam às relações de consumo, porque assim consignado com clareza na norma, parece mesmo inequívoco que o inciso I também não esteja destinado a disciplinar estas relações jurídicas, já que ali expresso que sua finalidade é regular os juros nos contratos civis de mútuo. Como se sabe, a Lei não contém palavras inúteis, logo, quando aludiu aos contratos civis de mútuo, excluiu os contratos de consumo. Seria contrato civil de mútuo, por exemplo, o empréstimo de coisa fungível celebrado entre dois indivíduos em que o mutuante não se enquadre na definição de fornecedor do artigo 3°, caput, do CDC. Com diferentes palavras, ambos os incisos do artigo 1° excluem do seu alcance os contratos de consumo.

Conforme é cediço - exsurge do artigo 3°, caput, do CDC - um dos elementos caracterizadores da figura do fornecedor é a profissionalidade. Neste diapasão, a figura do agiota habitual enquadra-se no conceito de fornecedor. A ilicitude da sua atividade não desfigura a sua condição de fornecedor, assim como é fornecedor aquele que - também ilicitamente - vende mercadoria imprópria para o consumo. Por outro lado, a sua

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96 INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

atividade - crédito - constitui serviço nos termos do artigo 3°, § 2°, do CDC. Decorre disto que todas as vezes que o agiota empresta dinheiro a tomador que o utilizará como destinatário final, estabelece relação de consumo, a qual não é alcançada pelo artigo 1°, inciso I, sob consideração. Se a intenção do Poder Executivo era alcançar esta atividade, disse coisa diferente daquilo que pretendia.

Contra o entendimento que esposamos é viável argüir que o direito do consumidor tem caráter pluridisciplinar30 e que as leis civis - tanto quanto as comerciais - são aplicáveis às relações de consumo. Ademais, dir-se-ia, é verdade consabida que os contratos de consumo não diferem daqueles do direito comum, exceto pelo aspecto funcional. Sob o prisma formal, o contrato de mútuo é um só, seja ele celebrado entre partes juridicamente iguais (contrato civil de mútuo) ou entre um profissional e alguém que vá utilizar a coisa emprestada, notadamente dinheiro, como destinatário final (contrato de consumo). Pode-se objetar, ainda, que o contrato de mútuo é, essencialmente, um contrato civil, já que previsto naquele Código, com a peculiaridade de que, na medida em que vincule um fornecedor a um consumidor, devem prevalecer as normas que regem o microssistema das relações de consumo.

Nenhuma das premissas acima elencadas, embora todas verdadeiras, demovem-nos do nosso convencimento, se não mesmo reforçam-no. Invocando, mais uma vez, o princípio verba cum effectu sunt accipienda, podemos asseverar que a utilização da expressão "contratos civis de mútuo" tem a função de restringir o alcance da norma, para excluir deste os contratos mercantis e de consumo. Quisesse o redator da MP permitir a sua incidência a quaisquer contratos de mútuo, omitiria a palavra "civil" e pronto, estaria resolvida a questão. Mas o vocábulo não está ali por acaso, redundantemente.

Pode-se, ainda, cogitar que quis o Executivo excluir apenas os contratos mercantis de mútuo, previstos no artigo 247 do Código

30 Na expressão de Jean Calais-Auloy. in Droit de la Consommntion, 2" ed .• Dalloz, Paris, 1986, p. 21.

AURISVALDO MELO SAMP;l

Comercial. Se assirr intenção, já que o fornecedor e um I

mercantil, já que fig comerciante do créd habitualidade e lucro,

Atentando-se para Provisória sob exam procurou-se, com a simplesmente excluir expressão citada teria do empréstimo bancál por uma instituição regulada pela Lei n° venia, é imperfeito ç expressamente excluí< também o fossem.

Nem se perquira d( seu escopo era ating negócios jurídicos co Ora, a afirmação afasl 1°, que trata da lesão, negócios jurídicos di consumidor".

Efetuando-se uma comento, parece ter seguida ao seu encam perdeu completamentl redatores iniciais. Or; proposta pelo Ministél relação ao texto publi não restringia o alcanc de mútuo, nem o inci.

31 Segundo Carlos Gilberto vm banco transfiere a un clien devolveria en un plazo deter técnico y prático de la activi.

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I

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

ço nos termos do artigo 3°, § odas as vezes que o agiota D utilizará como destinatário >, a qual não é alcançada pelo ão. Se a intenção do Poder ~, disse coisa diferente daquilo

Isamos é viável argüir que o tluridisciplinar30 e que as leis são aplicáveis às relações de verdade consabida que os daqueles do direito comum,

I prisma formal, o contrato de D entre partes juridicamente tltre um profissional e alguém notadamente dinheiro, como Imo). Pode-se objetar, ainda, IImente, um contrato civil, já a peculiaridade de que, na

lor a um consumidor, devem licrossistema das relações de

elencadas, embora todas ,so convencimento, se não s uma vez, o princípio verba )S asseverar que a utilização 10" tem a função de restringir e os contratos mercantis e de , permitir a sua incidência a ia a palavra "civil" e pronto, ~ábulo não está ali por acaso,

Executivo excluir apenas os tos no artigo 247 do Código

nsommation, 2" ed., Dalloz, Paris, 1986, p.

Comercial. Se assim quis, suas palavras foram além da sua intenção, já que o contrato de mútuo celebrado entre um fornecedor e um consumidor é, igualmente, um contrato mercantil, já que figura num dos pólos da relação jurídica um comerciante do crédito, cuja atividade envolve intermediação, habitualidade e lucro, elementos da atividade mercantil.

Atentando-se para o espírito que animou a redação da Medida Provisória sob exame, é admissível que alguns concluam que procurou-se, com a expressão "contratos civis de mútuo", simplesmente excluir a atividade bancária do seu alcance. A expressão citada teria sido utilizada para distinguir tais contratos do empréstimo bancário, que é mútuo também, só que concedido por uma instituição integrante do sistema financeiro nacional,

31 TI' ,. dregulada pela Lei n° 4.595, de 31.1 2.64. a racIOClOIO, ata venia, é imperfeito porque tais contratos - bancários - já são expressamente excluídos pelo artigo 4°, desnecessitando que aqui também o fossem.

Nem se perquira da intenção do autor da MP e se afirme que o seu escopo era atingir exatamente os contratos que regem os negócios jurídicos com características de relações de consumo. Ora, a afirmação afasta-se da realidade, pois o inciso II do artigo 1°, que trata da lesão, expressamente excluiu da sua incidência os negócios jurídicos disciplinados "pela legislação de defesa do consumidor".

Efetuando-se uma análise histórica da Medida Provisória sob comento, parece ter ela sofrido uma tal degenerescência em seguida ao seu encaminhamento à Presidência da República, que perdeu completamente o alcance que lhe quiseram dar os seus redatores iniciais. Ora, a redação primeva da MP - a que foi proposta pelo Ministério da Justiça -, dentre outras diferenças em relação ao texto publicado no Diário Oficial do dia 06 de abril, não restringia o alcance do inciso I do artigo 1° aos contratos civis de mútuo, nem o inciso II excluía da sua incidência os negócios

31 Segundo Carlos Gilberto Villegas, "EI contrato de mutuo bancario es aquel,por el cu~1 um banco transfiere a un cliente cierla cantidad de dinero en propledad, y este se obllga a devolveria en un plazo determinado. com más los intereses convenidos" (Compendio jurídico, técnico y prático de la actividad bancaria, Buenos Aires, DepalllUl, 1985, voI. I, p. 496).

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jurídicos disciplinados pelas legislações comercial e de defesa do consumidor. Parecia claro que a intenção era renovar o combate à prática da agiotagem - aquela cometida com características de relação de consumo -, ao menos isto foi alardeado amplamente nos meios de comunicação. Entretanto, inobstante a pirotecnia que envolveu o anúncio da proposta encaminhada à Presidência, os seus efeitos, quando da oficialização da Medida, foram mais estreitos que os pretendidos.

Reconhecemos, por outro lado, que a discussão sobre a incidência ou não do inciso I, sob consideração, aos contratos de mútuo com características de contratos de consumo tem reduzido efeito prático, já que a cláusula que impuser, em tais avenças, taxas de juros superiores ao percentual legalmente permitido será sempre nula de pleno direito, seja por força do dispositivo referido, ou em virtude do que dispõe o artigo 11 do Decreto 22.626, de 7 de abril de 1933.

7. A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Estabelece o artigo 4° que nas ações que visem à declaração de nulidade de estipulações com base no disposto na MP sob análise, incumbirá ao credor ou beneficiário do negócio - conforme se trate de cláusula usurária ou lesionária, respectivamente - o ônus de provar a regularidade jurídica das respectivas obrigações, sempre que demonstrada pelo prejudicado, ou pelas circunstâncias do caso a verossimilhança da alegação. Trata-se de norma que excepciona a regra geral do artigo 333 do Código de Processo Civil, que impõe o ônus da prova ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito.

Constitui, a medida ora analisada, novidade em sede de relação jurídica civil, embora já prevista no artigo 6°, VI, do CDC. Com efeito, vemos prevalecer numa norma destinada a regular relações jurídicas civis, princípio inaugurado no direito brasileiro pelo Código de Defesa do Consumidor. O fundamento da inversão será, neste caso, unicamente, a verossimilhança da alegação, afastada que foi a segunda hipótese cogitada pelo CDC, a

hipossuficiência da partt daquele Cadex).

A inversão aqui cogil automática, mas dependI concreto, o que não reservados ao magistrad ou negá-la: verificada a de rigor o pronunciame outro lado, demonstrad circunstâncias do caso a independe de requerim( afficia.

7.1. O momento da invel

Questão instigante r pronunciamento judicial Na Medida Provisória s silêncio quanto ao assun autoridade de ser um do CDC, sustenta que, sen, prova regras de juízo - ( verificada situação de m causa, deverão ser apli demanda. 33 Aduz, ainda importaria em pré-julgaI Procurador de Justiça pa que "essa regra é fator i se desincumbir dos ônu,

" 34pracessua1 .

32 Interpretando o artigo 6°, VI, do Nascimento, Responsabilidade C Antonio Gidi, Aspectos da invel RDC 13/33; Carlos Roberto BaI benefício do consumidor, RDC 2

JJ Código de Defesa do Consumidc Universitária, p. 619.

34 Código de Processo Civil Comentai

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

:íes comercial e de defesa do lção era renovar o combate à etida com características de o foi alardeado amplamente ), inobstante a pirotecnia que ~aminhada à Presidência, os ~o da Medida, foram mais

que a discussão sobre a iOsideração, aos contratos de )S de consumo tem reduzido ~ impuser, em tais avenças, aI legalmente permitido será

por força do dispositivo lõe o artigo 11 do Decreto

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ovidade em sede de relação 1:igo 6°, VI, do CDC. Com jestinada a regular relações no direito brasileiro pelo

) fundamento da inversão )ssimilhança da alegação, e cogitada pelo CDC, a

hipossuficiência da parte lesada (ou do consumidor, na sistemática daquele Codex).

A inversão aqui cogitada é ope judieis. Não se trata de medida automática, mas dependente de avaliação judicial, em face do caso concreto, o que não quer dizer, obviamente, que estejam reservados ao magistrado poderes discricionários para concedê-la ou negá-la: verificada a presença do pressuposto que a autoriza, é de rigor o pronunciamento judicial ordenando a inversão. 32 Por outro lado, demonstrada pelo prejudicado ou exsurgindo das circunstâncias do caso a verossimilhança da alegação, a inversão independe de requerimento do autor, podendo ser proferida ex offieio.

7.1. O momento da inversão do ônus da prova

Questão instigante refere-se ao momento oportuno para o pronunciamento judicial afirmando que inverterá o ônus da prova. Na Medida Provisória sob exame, assim como no CDC, fez-se silêncio quanto ao assunto. O Professor Kazuo Watanabe, com a autoridade de ser um dos autores do anteprojeto que resultou no CDC, sustenta que, sendo as regras de distribuição do ônus da prova regras de juízo - ou de julgamento -, orientadoras do juiz, verificada situação de non fiquet, acerca da decisão a ser dada à causa, deverão ser aplicadas no momento do julgamento da demanda. 33 Aduz, ainda, que a inversão em momento anterior importaria em pré-julgamento. O mesmo entendimento esposa o Procurador de Justiça paulista Nelson Nery Junior, acrescentando que "essa regra é fator indicativo para as partes, de que deverão se desincumbir dos ônus sob pena de ficarem em desvantagem processual ".34

32 Interpretando o artigo 6°, VI, do CDC, assim se pronunciam Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, Responsabilidade Civil no Código de Defesa do Consumidor, Aide, la ed., p. 134; Antonio Gidi, Aspectos da inversão do ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor, RDC 13/33; Carlos Roberto Barbosa Moreira, Notas sobre a inversão do ônus da prova em benefício do consumidor, RDC 22/135; dentre outros.

33 Código de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do Anteprojeto, 5a ed., Forense Universitária, p. 619.

34 Código de Processo Civil Comentado, 3aed., ERT, pp. 1354/1355, nota 18 ao artigo 6° do CDC.

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Com a devida vênia dos brilhantes juristas paulistas, parece­nos mais condizente com os princípios constitucionais que norteiam o processo civil, precisamente os princípios do contraditório e da ampla defesa (art. 5°, LV, da CF), o entendimento segundo o qual o pronunciamento judicial quanto à inversão deve se dar até o instante do saneamento do proeesso, ou, sendo exato, por ocasião do saneamento, momento em que cabe ao magistrado fixar os pontos controvertidos, decidir as questões processuais pendentes e determinar as provas (art. 331, § 2°).

Com efeito, a regra geral é de que cabe ao autor o ônus de provar os fatos constitutivos do seu direito (art. 333, I, do CPC). Em princípio - inexistindo pronunciamento judicial prevendo o contrário -, esta regra norteará a orientação das partes no tocante à produção probatória. Ora, se no momento de julgar o magistrado, simultaneamente, decidir inverter o ônus da prova, tal conduta, surpreendendo o réu, importará, não raro, em puni-lo por ter-se omitido de fazer algo que não sabia ser seu dE;ver realizar - aliás, de fato não era -, a prova da inexistência do fato constitutivo do direito do autor.

A mera possibilidade da inversão, em face da previsão legal, não basta para garantir ao réu o exercício da ampla defesa, tendo em vista que, no caso concreto, não era certo que fosse determinada a inversão. É necessário pronunciamento judicial expresso, a fim de que o réu possa, ciente da decisão do magistrado, produzir prova da inexistência do fato constitutivo do direito da parte contrária, fato este cujo ônus de provar a existência, segundo a regra geral do cnc, competiria ao autor. Mais ainda, deverá o réu tomar ciência oportuna da decisão de inversão do ônus da prova para, querendo, combatê-la, manejando para isto recurso de agravo de instrumento, eis que se trata de decisão interlocutória;35 inexistindo impugnação, a matéria fica preclusa.36

35 Este é o entendimento de Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, in Comentários ao Código do Consumidor, Aide, 3' ed., p. 91.

36 Súmula 424 do STE

Também não acode ~

alegativa de que o pro anterior à sentença impt que ninguém afirma ha com arrimo no artigo sumária, a verossimilhan da tutela pretendida no p~

Parece-nos que está a ora abraçamos, tanto assi Alçada do Rio Grande de que "Quando, a critéri( inversão do ônus da prm sob pena de nulidade, é n desfavor de quem se in controvertido. A inversão em surpresa e cerceamen Justiça de São Paulo te: afirmando, através da sua "o deferimento da inver, entre o ajuizamento da de, de se configurar prejuízo J

Na doutrina, além de T (obra e página citada~

entendimento Carlos Roh Almeida40 e Teresa Arrud:

Problema surgirá qu: aperceber-se o juiz da ex da inversão creio ser do ôr razão assiste a Teresa Am

37 RDC 14/114. 38 Agravo de Instrumento 014.305-5/8,

apud Kazuo Watanabe el alii, obra 39 Notas sobre a inversão do ônus da prc 40 A proteção jundica do consumidor, Si 41 Noções gerais sobre o processo no Cá

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

tes juristas paulistas, parece­lncípios constitucionais que isamente os princípios do

(art. 5°, LV, da CF), o lUnciamento judicial quanto à I saneamento do proeesso, ou, lento, momento em que cabe Jvertidos, decidir as questões s provas (art. 331, § 2°).

lue cabe ao autor o ônus de direito (art. 333, I, do CPC). :iamento judicial prevendo o ntação das partes no tocante à nento de julgar o magistrado, ônus da prova, tal conduta,

) raro, em puni-lo por ter-se ser seu détver realizar - aliás, ência do fato constitutivo do

I, em face da previsão legal, "CÍcio da ampla defesa, tendo

não era certo que fosse rio pronunciamento judicial Jssa, ciente da decisão do tência do fato constitutivo do te cujo ônus de provar a ) CDC, competiria ao autor. rIcia oportuna da decisão de ~ndo, combatê-la, manejando umento, eis que se trata de impugnação, a matéria fica

do NascimenIo, in Comentários ao Código

Também não acode à tese contrária a que aqui esposamos a alegativa de que o pronunciamento da inversão em momento anterior à sentença importaria em pré-julgamento da causa, eis que ninguém afirma haver pré-julgado aquele magistrado que, com arrimo no artigo 273 do CPC, admite, numa cognição sumária, a verossimilhança da alegação para antecipar os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial.

Parece-nos que está a prevalecer na jurisprudência a tese que ora abraçamos, tanto assim que a 4a Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, sem discrepância de votos, decidiu que "Quando, a critério do juiz, configurar-se a hipótese de inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6. o, VIII, do CDC, sob pena de nulidade, é mister a prévia determinação à parte, em desfavor de quem se inverte o ônus, para que prove o fato controvertido. A inversão, sem essa cautela processual, implicará em surpresa e cerceamento de defesa. ".37 Também o Tribunal de Justiça de São Paulo tem prestigiado o mesmo entendimento, afirmando, através da sua Quarta Câmara de Direito Público, que "o deferimento da inversão do ônus da prova deverá ocorrer entre o ajuizamento da demanda e o despacho saneador, sob pena

,I',' • , d ,F. d '" 38de se conJlgurar preJu1Zo para a eJesa o reu .

Na doutrina, além de Tupinambá Miguel Castro do Nascimento (obra e página citadas acima), compartilham do mesmo entendimento Carlos Roberto Barbosa Moreira,39 João Batista de Almeida40 e Teresa Arruda Alvim.41

Problema surgirá quando apenas ao final da instrução aperceber-se o juiz da existência dos pressupostos autorizadores da inversão creio ser do ônus da prova. Neste caso, parece-nos que razão assiste a Teresa Arruda Alvim, para quem "a instrução será

37 RDC 141114. 38 Agravo de Instrumento 014.305-5/8, reI. Des. José Geraldo de Jacobina Rabello, j. em 5.9.1996,

apud Kazuo Watanabe et alii, obra citada. p. 620. 39 Notas sobre a inversão do ônus da prova em benefício do consumidor. RDC 221135 e seguintes. 40 A proteção juridica do consumidor, Saraiva, 1993, p. 80. 41 Noçôes gerais sobre o processo no Código do Consumidor, in RDC 10/248.

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reaberta, em conformidade com a regra que determina haja inversão do ônus da prova".42

8. A EXCLUSÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO ALCANCE DA MEDIDA PROVISÓRIA

Apressou-se o executivo em deixar claro que estavam excluídas das disposições da MP 1.820/99 as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil. Realmente, demonstrando uma preocupação particular com estas, o artigo 4° da MP, expressamente, as torna imunes aos seus efeitos, cuidando de preservar os interesses das instituições financeiras com uma clareza faltante noutros pontos do Diploma. Por amor à verdade, devemos registrar que a imunidade concedida aos bancos, constante do texto publicado no Diário Oficial do dia 06 de abril, não fora averbada na proposta formulada pelo Ministério da Justiça.

Salientamos que as instituições financeiras estão imunes a todos os dispositivos insertos na MP 1.820/99, e não apenas· àqueles relativos às taxas de juros. Assim, os negócios jurídicos civis lesionários entabulados pelas instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (bancos, administradoras de consórcio, sociedades de arrendamento mercantil, etc.) não sofrerão a sanção de nulidade de pleno direito prevista no inciso 11 do artigo 1°. Injusto, nos parece, o privilégio concedido a tais empresas e iníqua essa diferenciação de tratamento.

8. I. O problema da limitação da taxa de juros

Inobstante estando claro que a MP sob estudo não limita as taxas de juros praticadas pelos bancos e demais instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, cabe que façamos aqui uma digressão para discutir o tema.

42 Artigo citado, p. 256.

O Código de 1916, estipulou limite para livremente pactuadas, 1.262. Posteriormente, Usura), estabeleceu ql quaisquer contratos seI (doze por cento) ao , originou-se acerbada limitação das taxas ( instituições integrantes artigo 4°, inciso IX, df NacionaI o encargo de juros, descontos, COl

remuneração de operaçi controvérsia que se in] edição da Súmula 5S disposições do Decreto de juros e aos outr realizadas por instituiçl sistema financeiro nacie

O posicionamento ad da Súmula 596, a nosse isonomia, consagrado p odioso e injustificado financeiras. Por outro la as taxas de juros não I

liberar as instituições entenda convenientes, ( pela Lei de Usura. Aden Juiz Márcio Oliveira P1. Súmula em questão, assi

"A Súmula peculiaridade de .s

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~ra que determina haja

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,ob estudo não limita as s e demais instituições onal, cabe que façamos

o Código de 1916, inspirado por princípios liberalistas, não estipulou limite para as taxas de juros, as quais poderiam ser livremente pactuadas, conforme deflui dos seus artigos 1.063 e 1.262. Posteriormente, o Decreto n° 22.626, de 7.4.33 (Lei de Usura), estabeleceu que o limite máximo da taxa de juros em quaisquer contratos seria o dobro da taxa legal, vale dizer, 12% (doze por cento) ao ano. Com a edição da Lei n° 4.595/64, originou-se acerbada discussão acerca da aplicabilidade da limitação das taxas de juros prevista na Lei de Usura às instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, já que o artigo 4°, inciso IX, desta Lei, cometeu ao Conselho Monetário Nacional o encargo de limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros. A controvérsia que se iniciou foi aparentemente dissipada com a edição da Súmula 596 do STF, a qual assentou que "As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional".

O posicionamento adotado pelo Pretório Excelso com a edição da Súmula 596, a nosso sentir, fere o princípio constitucional da isonomia, consagrado pelo artigo 5°, caput, da CF, constituindo odioso e injustificado privilégio em favor das instituições financeiras. Por outro lado, seja-nos permitido objetar que limitar as taxas de juros não equivale a estabelecer qualquer taxa, ou liberar as instituições financeiras para praticar aquelas que entenda convenientes, cumprindo observar-se o limite imposto pela Lei de Usura. Ademais, valiosas e corretas as ponderações do Juiz Márcio Oliveira Puggina, que entende estar desatualizada a Súmula em questão, assinalando:

"A Súmula n° 596 foi editada diante de uma peculiaridade de sua época, qual seja a impossibilidade do Sistema Financeiro de utilizar-se, de forma generalizada do mecanismo de correção monetária. Logo, a única possibilidade de reposição do valor real da moeda, acrescida de remuneração de capital, era a taxação de

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juros, que cumpria, pois, dupla finalidade, repor as perdas inflacionárias e remunerar o capital. Sem correção monetária, o limite de juros em 12% ao ano conduziria o Sistema Financeiro à falência.

Ora, com a generalização da correção monetária, passando a incidir sobre todas as operações comerciais e civis, os juros passam a ter função única, qual seja a de remunerar o capital. A partir daí a Súmula n° 596 perde a sua finalidade e passa a ser não instrumento de manutenção do Sistema Financeiro, mas passaporte para a usura. Por isso a sua desatualização ,,43

A discussão sobre o tema - limite de taxas de juros - foi reavivada com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual, recepcionando o Decreto 22.626/33, proibiu a fixação de taxas de juros reais em percentual superior a doze por cento ao ano (art. 192, § 3°). A aplicabilidade da norma constitucional citada foi objeto de acerba controvérsia, com parcela respeitável dos doutrinadores pugnando pela aplicabilidade imediata do dispositivo que limita a taxa de juros44 e outra defendendo que trata de regra de eficácia contida, dependente de regulamentação.45 Após um estágio inicial de vacilação, com decisões que assumiam ora um ora outro posicionamento, preponderou na jurisprudência, o Pretório Excelso à frente (por maioria de votos), o entendimento segundo o qual a norma constitucional referida está a carecer de regulamentação através de Lei Complementar (ADIn n° 4/91).

Não é nossa intenção tomar partido em tão erudito debate, todavia, ainda que se admita que o § 3° do artigo 192 da CF

43 Apelação Cível n° 194247698, decisão unânime da 4" Câm. Cível do TARGS em 09.03.1995. a ementa do acórdão foi vazada nos seguintes termos: "A Lei da Usura nunca foi revogada expressa ou tacitamente. A súmula 596 excepcionou sua incidência nas operações de crédito bancário pela impossibilidade legal de estender-se ao Sistema Financeiro, de forma generalizada, o mecanismo da Correção Monetária, cumprindo os juros a dupla função de manutenção do valor real da moeda (função anômala) e remuneração do capital (típica função de juros remuneratórios). Com a generalização da correção monetária, a súmula perdeu sua atualidade, passando, no entanto, a se constituir em passapone para a usura."

44 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, 8" ed., Malheiros, p. 7031704. 4~ Walter Ceneviva, Direito Constitucional Brasileiro, 2" ed., Saraiva, p. 276/277.

AURISVALDO MELO SAMPAI(

dependa de regulament tema -, parece-nos ( entendimento de que ~

dizer, as taxas de juros quaisquer percentuais, de fixar as taxas de jun não pode simplesmentl bancos, para que este~

exatamente isto o que f de 5.12.1985, onde se operações financeiras s Arrima-se tal Resoluç 4.595/64, ao entendime utilizar a locução "semI quando aquele Conse limitação, as taxas de ju

Embora tal entendi jurisprudência, não nos É que subsiste o limite agasalhado pela Constitl fixado pelo CMN, de, previsto naquele Decn Rizzardo, o qual afirma 12% (doze por cento) al Central do Brasil" e ( "deve-se obedecer aos Civil e pelo Dec. 22.626

Há algum tempo, o acerca do assunto, a manifestado pelo Desem relação às cédulas de reguladas, respectivame fevereiro de 1967, Decn pela Lei n° 6.840, de O~

46 Cf. José Afonso da Silva, obra cita 47 Contratos de Crédito Bancário, ER

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finalidade, repor as perdas J capital. Sem correção ! 12% ao ano conduziria o

io da correção monetária, as operações comerciais e

rzção única, qual seja a de 'lí a Súmula n° 596 perde a instrumento de manutenção 'isaporte para a usura. Por

te de taxas de juros - foi stituição Federal de 1988, a :6/33, proibiu a fixação de -rerior a doze por cento ao le da norma constitucional ;ia, com parcela respeitável lplicabilidade imediata do 544 e outra defendendo que

::ontida, dependente de inicial de vacilação, com

Ira outro posicionamento, tório Excelso à frente (par segundo o qual a norma ~ regulamentação através de

do em tão erudito debate, § 3° do artigo 192 da CF

:âm. Cível do TARGS em 09.03.1995, a i: "A Lei da Usura nunca foi revogada sua incidência nas operações de crédito

se ao Sistema Financeiro, de forma cumprindo os juros a dupla funçâo de

I e remuneração do capital (típica função orreção monetária, a súmula perdeu sua ssaporte para a usura." ositivo, 8' ed., Malheiros, p. 7031704. 1., Saraiva, p. 276/277.

dependa de regulamentação - não é esta a nossa compreensão do tema -, parece-nos que nenhuma norma válida autoriza o entendimento de que se possa praticar a usura livremente, vale dizer, as taxas de juros não estão liberadas para serem fixadas em quaisquer percentuais, ao alvedrio dos contratantes. A atribuição de fixar as taxas de juros é do Conselho Monetário Nacional, que não pode simplesmente demitir-se desta função e entregá-la aos bancos, para que estes a estabeleçam livremente. Todavia, foi exatamente isto o que fez o CMN através da Resolução n° 1.064, de 5.12.1985, onde se estabeleceu que as taxas de juros das operações financeiras são livremente pactuáveis entre as partes. Arrima-se tal Resolução exatamente no artigo 4° da Lei n° 4.595/64, ao entendimento de que o inciso IX daquele artigo ao utilizar a locução "sempre que necessário", estaria admitindo que, quando aquele Conselho não entendesse necessário impor limitação, as taxas de juros seriam livres.

Embora tal entendimento seja amplamente majoritário na jurisprudência, não nos parece que deva continuar prevalecendo. É que subsiste o limite geral do Decreto 22.626/33, o qual foi agasalhado pela Constituição em vigor. 46 Então, inexistindo limite fixado pelo CMN, deve ser respeitado o percentual de 12%, previsto naquele Decreto. É este o entendimento de Arnaldo Rizzardo, o qual afirma que "a taxa de juros, se fixada acima de 12% (doze por cento) ao ano, deverá estar autorizada pelo Banco Central do Brasil" e que inexistindo limite fixado pelo CMN "deve-se obedecer aos padrões comuns, regulados pelo Código Civil e pelo Dec. 22.626, art. 1.°.".47

Há algum tempo, o STJ reformulou o seu posicionamento acerca do assunto, adotando entendimento semelhante ao manifestado pelo Desembargador Arnaldo Rizzardo, ao menos em relação às cédulas de crédito rural, industrial e comercial, reguladas, respectivamente, pelo Decreto-lei n° 167, de 14 de fevereiro de 1967, Decreto~lei n° 413, de 09 de janeiro de 1969, e pela Lei n° 6.840, de 03 de novembro de 1980. Eis a ementa de

46 Cf. José Afonso da Silva, obra citada, p. 304. 47 Contratos de Crédito Bancário, ERT, 3' ed., p. 304.

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I

106 INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

um dos acórdãos pioneiros: "Em modificação de seu anterior posicionamento, vem entendendo a 4° T. ser defesa a cobrança de juros além de 12% (doze por cento) ao ano se não demonstrada, pelo credor, a prévia estipulação pelo Conselho Monetário Nacional das taxas de juros vencíveis para o crédito rural (art. 50 do Dec.-lei 167)".48

Mais recentemente, assim tem decidido o STJ:

"...lI - O Decreto-lei na 167/67, posterior à Lei na 4.595/64 e especifico para as cédulas de crédito rural, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados nessa modalidade de crédito. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano, prevista na Lei de Usura (Decreto 26.626/33), não alcançando a cédula de crédito rural o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula na 596/STF... ,,;49

"... I - Às cédulas de crédito industrial aplica-se o entendimento concernente ao mútuo rural, segundo o qual é defesa a cobrança de juros além de 12% ao ano se não demonstrada, pelo credor, a prévia estipulação, pelo Conselho Monetário Nacional, das taxas de juros vencíveis para o crédito industrial, correspondentes a data de

. - d 'd l "50,, A 'd l d 'd' . lemlssao a ce u a...; ... ce u a e cre lto comerClG , no tocante à limitação dos juros, tem a mesma disciplina da cédula de crédito rural (art. 50 da Lei na 6.840, de 03. I 1.80, c.c. o art. 50 do Dec. Lei na 413, de 09.01.69). À mingua de fixação pelo Conselho Monetário Nacional, incide a limitação de 12% ao ano prevista no Dec. na 22.626/33 (Lei

" 51de Usura)....

4> REsp. 103.3I9-RS. ReI. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. j. em 15.10.1996. publicado no Dl de 11.11.96. p. 43.728/9.

49 REsp. 169.843-RS. ReI. Min. Waldemar Zveiter. j. em 19.11.98. publicado no Dl de 05.04.1999. p.126.

50 REsp. 182.650-MG. ReI. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. j. em 29.11.1998. publicado no Dl de 01.03.1999. p. 337.

51 REsp. 180.306-RS. Rei. Min. Barros Monteiro, j. em 23.02.1999, publicado no DJ de 26.04.1999, p. 109.

AURISVALDO MELO SAMP,

É verdade que as industrial e comerei; próprias, estando subi de maneira explícil financiador vencerão Nacional fixar, toda arestos transcritos po modalidades de créd atribuição do CMN simultaneamente ao li tem entendido desta f decidiu que "No n abertura de crédito, sujeita ao limite est, 22.626/33)... ".52

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uns e não para Outl bancos. Sim, porque revogado pela Lei r realizadas pelas insti' Nacional,53 nenhum d ou da Lei n° 6.840/80 no aludido artigo reI Logo, aceitar a vigên cédulas de crédito run a sua vigência para tod

9. OUTRAS QUESTij

Ademais, a Medida artigo 1° da Lei n° 7. possibilitar seja manej

52 REsp. 176.322-RS, ReI. Min 19.04.1999, p. 139.

51 Conforme asseverou o Ministro SP, argumento que animou a

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO AURISVALDO MELO SAMPAIO

ficação de seu anterior ~er defesa a cobrança de mo se não demonstrada, ro Conselho Monetário "a o crédito rural (art. 5°

) o STJ:

7/67, posterior à Lei n° dulas de crédito rural, 1eional o dever de fixar modalidade de crédito.

ío governamental, incide vista na Lei de Usura !do a cédula de crédito meial consolidado na

o industrial aplica-se o I rural, segundo o qual é de 12% ao ano se não évia estipulação, pelo taxas de juros vencíveis spondentes a data de la de crédito comercial, n a mesma disciplina da ei n° 6.840, de 03. 11.80, 09.01.69). À mingua de o Nacional, incide a J Dec. n° 22.626/33 (Lei

j. em 15.10.1996, publicado no DJ

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j. em 29.11.1998, publicado no DJ

23.02.1999, publicado no Dl de

É verdade que as decisões supra referem-se aos crédito rural, industrial e comercial, que obedecem a disciplinas legislativas próprias, estando subordinados a diplomas legais que estabelecem, de maneira explícita, que as importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros às taxas que o Conselho Monetário Nacional fixar, todavia, o mesmo raciocínio que motivou os arestos transcritos pode ser validamente desenvolvido para outras modalidades de crédito bancário, vez que em todas persiste a atribuição do CMN de fixar o limite das taxas de juros simultaneamente ao limite geral do Decreto 22.626/33. Não tem entendido desta forma, entrementes, o STJ, que recentemente decidiu que "No mútuo bancário vinculado a contrato de abertura de crédito, a taxa de juros remuneratórios não está sujeita ao limite estabelecido pela Lei de Usura (Decreto n° 22.626/33)... ".52

Nos parece incoerente, a toda evidência, que se admita a vigência do limite da taxa de juros imposto pela Lei de Usura para uns e não para outros contratos de crédito celebrados pelos bancos. Sim, porque se o artigo 1° do Decreto 22.626/33 está revogado pela Lei n° 4.595/64 no que pertine às operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional,53 nenhum dispositivo dos Decretos-lei 167/67, 413/69, ou da Lei n° 6.840/80 repristinou o limite de taxa de juros previsto no aludido artigo relativamente aos contratos que disciplinam. Logo, aceitar a vigência do artigo l° da Lei de Usura para as cédulas de crédito rural, industrial e comercial implica em admitir a sua vigência para todos os contratos celebrados pelos bancos.

9. OUTRAS QUESTÕES QUE EXSURGEM DA MP 1820/99

Ademais, a Medida Provisória alterou a redação do inciso V do artigo 1° da Lei n° 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), para possibilitar seja manejado o aludido instrumento jurídico para dar

52 REsp. 176.322-RS, ReI. Min. Waldemar Zveiter, j. em 23.02.1999, publicado no DJ de 19.04.1999, p. 139.

53 Conforme asseverou o Ministro Oswaldo Trigueiro, ao relatar o Recurso Extraordinário 78.953­SP, argumento que animou a edição da Súmula 596 do STE

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combate aos danos morais e patrimoniais causados por infração da economia popular.

Revogou, a Medida Provisória n° 1820/99, o § 3° do artigo 4° da Lei n° 1.521, de 26 de dezembro de 1951 (Lei dos crimes contra a economia popular), o qual previa, nos casos de estipulação de juros usurários, a devolução singela da quantia paga em excesso, com os juros legais, a contar da data do pagamento indevido. Com a revogação do dispositivo citado, passa a reger a espécie o artigo 1°, inciso I, nos contratos civis de mútuo, e, nos contratos de consumo, o artigo 42, parágrafo único, do CDC, ambos prevendo a restituição igual ao dobro do que se pagou em excesso, importância à qual há de ser acrescida os juros legais e correção monetária.

Conjuminadamente à edição da MP, o Governo preparou um Projeto de Lei que pretende promover outras alterações na Lei n° 1.521/51, estas de natureza penal. Precisamente, pretende o Projeto aludido dar nova redação ao artigo 4° da Lei dos crimes contra a economia popular, inclusive para majorar a pena privativa de liberdade prevista em abstrato de seis meses a dois anos para dois a quatro anos de detenção, além de multa.

10. CONCLUSÃO

Em conclusão, podemos afirmar que, a despeito da expectativa que se seguiu ao anúncio da chamada "Medida Provisória da Agiotagem", os seus efeitos práticos serão extremamente modestos no combate a esta atividade, sendo certo que o seu alcance é bem mais estreito que o pretendido por aqueles que a conceberam, embora lhe caiba o inegável mérito de fazer ressurgir, no direito brasileiro, de maneira expressa, a cláusula geral da lesão enorme nos contratos civis.

A ESFINI

(CONSIDEJ

1. COLOCAÇÃO DO Pl

Em que pese o inegá' de 2 de junho de 1992 LIA), que foi editada pa Constituição Federal de cometidos pelo legislado jurisprudência, como aliá

lnquestionavelmente, aplicadores da LIA, advogados, juízes e adm segundo o nosso entel possibilidade de existên fato aliás alertado por ~

I Probidade Administrativa (Coment atualizada e ampliada, São Paulo