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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES NA ABORDAGEM DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA 1. Construção do vinculo terapêutico A relação terapeuta-cliente começa na entrevista inicial. De um lado está uma pessoa que busca ajuda, tendo em vista encontrar-se insatisfeita com o seu funcionamento no mundo e, do outro, uma pessoa, o terapeuta, que se propõe a ajudar o cliente a estabelecer transformações em si mesmo e em sua vida, via processo terapêutico. A constância dos encontros terapeuta-cliente, através das sessões, é que vai construir o vinculo terapêutico. A relação do cliente é caracteristicamente transferencial e essa transferência transformar- se-á em resistência à análise. As resistências são formas manifestas e específicas de cada pessoa se opor ao processo terapêutico, percebido como uma ameaça à pessoa do cliente. Na medida em que a análise vai se desenvolvendo, as resistências vão se tornando mais fortes porque a continuidade do processo faz com que o cliente se aproxime da situação original estruturadora do trauma. O vínculo terapêutico é caracterizado de um lado pela instalação da transferência positiva e/ou negativa do cliente para o terapeuta e, de outro lado, pela aceitação e reconhecimento de ser o alvo essa transferência e das conseqüências desse fato que passam pela utilização da transferência como elemento terapêutico e pelas possibilidades da contra-transferência. O vínculo é construído quando ambas as partes reconhecem-se como pessoas e cada uma sabe e exerce o seu papel no processo. A confiança de um no outro caracteriza a existência do vínculo. 2. Somos seres de passagens O ser humano faz diversas passagens durante a sua vida: do útero para a vida; do bebê para a criança, para o(a) menino(a), para o(a) adolescente, para o adulto, para a velhice, para a morte e para... Cada passagem inclui a presença e a influência de aspectos físicos, psíquicos, sociais, existenciais e espirituais. A forma de fazer essas passagens é muito peculiar a cada pessoa porque tem a ver com a sua história de vida. Essa história é composta por aspectos hereditários, psicológicos, sociais e espirituais.

Algumas considerações na abordagem da análise bioenergética

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES NA ABORDAGEM DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA 1. Construção do vinculo terapêutico A relação terapeuta-cliente começa na entrevista inicial. De um lado está uma pessoa que busca ajuda, tendo em vista encontrar-se insatisfeita com o seu funcionamento no mundo e, do outro, uma pessoa, o terapeuta, que se propõe a ajudar o cliente a estabelecer transformações em si mesmo e em sua vida, via processo terapêutico. A constância dos encontros terapeuta-cliente, através das sessões, é que vai construir o vinculo terapêutico. A relação do cliente é caracteristicamente transferencial e essa transferência transformar-se-á em resistência à análise. As resistências são formas manifestas e específicas de cada pessoa se opor ao processo terapêutico, percebido como uma ameaça à pessoa do cliente. Na medida em que a análise vai se desenvolvendo, as resistências vão se tornando mais fortes porque a continuidade do processo faz com que o cliente se aproxime da situação original estruturadora do trauma. O vínculo terapêutico é caracterizado de um lado pela instalação da transferência positiva e/ou negativa do cliente para o terapeuta e, de outro lado, pela aceitação e reconhecimento de ser o alvo essa transferência e das conseqüências desse fato que passam pela utilização da transferência como elemento terapêutico e pelas possibilidades da contra-transferência. O vínculo é construído quando ambas as partes reconhecem-se como pessoas e cada uma sabe e exerce o seu papel no processo. A confiança de um no outro caracteriza a existência do vínculo. 2. Somos seres de passagens O ser humano faz diversas passagens durante a sua vida: do útero para a vida; do bebê para a criança, para o(a) menino(a), para o(a) adolescente, para o adulto, para a velhice, para a morte e para... Cada passagem inclui a presença e a influência de aspectos físicos, psíquicos, sociais, existenciais e espirituais. A forma de fazer essas passagens é muito peculiar a cada pessoa porque tem a ver com a sua história de vida. Essa história é composta por aspectos hereditários, psicológicos, sociais e espirituais.

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3. Cada pessoa apresenta um caráter predominante Cada pessoa tem um padrão de comportamento que é um modo típico de se conduzir na vida, chamado caráter. O caráter é formado na primeira infância, considerando a experiência da pessoa desde a concepção até a vivência do Édipo. A história do indivíduo vai sendo registrada no aparelho psíquico e no corpo. Além de apresentar predominância de um caráter (padrão característico de comportamento), a pessoa possui qualidades ligadas a todos ou a algum outro tipo de caráter. Isso ocorre em função de todos passarmos pelas fases de estruturação de cada um dos caracteres. O caráter de uma pessoa é identificado pelo conhecimento da história e dinâmica familiares, da sua condição energética, da estrutura corporal e do padrão de resposta. Assim, a atitude de uma pessoa em relação à vida ou seu estilo característico reflete-se no seu comportamento, na sua postura e no como se movimenta. A Análise Bioenergética trabalha com a seguinte caracterologia: esquizóide, oral, psicopata, masoquista e rígido (histérica, fálico-narcisista, passivo-feminino, agressivo-masculino e obsessivo-compulsivo). Essa classificação diz respeito a posições de defesa nos níveis psicológico e muscular que a pessoa construiu para sobreviver. A Análise Bioenergética busca tornar consciente para o cliente os seus traços de caráter, como e quando se formaram a fim de que possa desenvolver a aceitação de sua história e para a diminuição do desperdício de energia investida na ilusão de concretizar um ego ideal. A simples consciência pura e simples da formação do caráter não tem força de mudança se os fatos e as idéias não forem recordados com os afetos a eles ligados. 4. A Bioenergética enfatiza o estudo da personalidade humana em termos de

processos energéticos do corpo O corpo é a concretização da existência e é a energia que o põe para funcionar. Assim, é preciso de energia para que a pessoa tenha vida e possa nela movimentar-se, utilizando os sentimentos e os pensamentos. A energia é produzida no corpo pelos processos de respiração e do metabolismo dos alimentos. É transportado através do sangue para todo o corpo. Essa energia circula em nós e nos permite a relação com o mundo, com o cosmos, estabelecendo a nossa interdependência com tudo o que existe abstrata ou concretamente. A forma de utilização da energia é peculiar para cada pessoa. A energia nos transforma em seres de movimento. O nosso movimento é resultante da ação muscular que, por sua vez, precisa de energia para efetuar toda e qualquer ação. Essa energia tem um movimento pulsátil, tal qual o universo: carga e descarga; expansão e recolhimento; contração e expansão. A quantidade de energia que uma peso tem e o modo como a utiliza refletem sua maneira

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de ser, o seu caráter. Um corpo com carga excessiva de energia reflete ansiedade, inquietação muscular; se está subcarregado pode indicar redução dos movimentos, depressão. A vinculação corpo-mente é estabelecida pela circulação energética. A tensão é resultante do acúmulo de energia. A descarga de energia pode ser contida por tensões musculares crônicas que são tensões contínuas sobre o corpo que a elas vai se adaptando. A extremidade superior do corpo (cérebro, olhos, ouvidos, boca, nariz) está ligada aos processos de carga energética; a extremidade inferior (região pélvica, genitais, pernas) está voltada aos processos de descarga. 5. Couraças A couraça é uma contração causada pelo freqüente represamento de energia num músculo ou num conjunto de músculos como uma forma que a pessoa encontrou para se proteger de ameaças internas ou externas. Os encouraçamentos musculares são formados na estruturação do caráter e consolidados na repetição do padrão de comportamento posterior. A Bioenergética caracteriza sete segmentos ou anéis de encouraçamento de conjuntos musculares: o ocular, o oral, o do pescoço, o torácico, o diafragmático, o abdominal e o pélvico. As couraças dão uma configuração corporal à pessoal coerente com o seu caráter e com as qualidades de outros igualmente presentes na pessoa. Isto quer dizer que as pessoas também são o que o seu corpo expressa. A consciência do corpo é um princípio básico da Bioenergética e o trabalho corporal objetiva diminuir as tensões musculares, amaciando os encouraçamentos, permitindo a evocação de conteúdos inconscientes reprimidos para o trabalho analítico. As couraças podem ser percebidas pela dor que provocam quando pressionadas. A Bioenergética trabalha com carga e descarga de forma a aumentar o nível de energia do indivíduo, a liberar a sua auto-expressão e a restaurar o fluxo de sentimentos do seu corpo. A ênfase é dada sempre à respiração, ao sentimento e ao movimento, aliada à relação do funcionamento energético atual do indivíduo com a história de sua vida. Esse procedimento vai aos poucos descobrindo as forças internas (conflitos) que fazem com que o indivíduo não funcione em seu potencial energético total.