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Revista Brasileira de Educação 73 Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação * Marília Pontes Sposito Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo Trabalho apresentado na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999. “Nuvens de poeira quente anuviando minha lucidez” Fernando Pessoa, Odes marítimas Em 1977, Lúcio Kowarick publica no jornal Folha de S. Paulo o artigo “O mito da sociedade amorfa e a questão da democracia”, examinando os pressupostos autoritários e elitistas que orienta- vam as afirmações recorrentes sobre a passividade das classes populares e o caráter gelatinoso da so- ciedade civil. Reconhecia, naquela conjuntura ad- versa, o elenco de dificuldades presentes na orga- nização popular mas apontava, também, a existên- cia de outros momentos férteis em mobilizações. Considerava, assim, a necessidade de uma com- preensão diferençada da sociedade civil que permi- tisse, a despeito da fragilidade dos atores, do ca- ráter muitas vezes pontual das lutas e dos impedi- mentos de manifestações autônomas, reconhecer os caminhos a partir dos quais ela constituía de- mandas, lutava por direitos, propunha conflitos e orientações diversas daquelas formuladas pelas eli- tes. Sua conclusão reiterava uma concepção clara sobre a cidadania ao afirmar que “a ampliação e garantia dos direitos e deveres implícitos no exer- * Trabalho apresentado no GT Movimentos Sociais e Educação. Agradeço a leitura atenta, crítica e amiga de Maria Amélia Giovanetti, Juarez Dayrell e José de Souza Martins, que examinaram criteriosamente a primeira ver- são do texto, oferecendo críticas e sugestões valiosas. O tex- to esboça reflexão que resulta do projeto de pesquisa Ju- ventude e escolarização: uma análise da produção de conhe- cimentos, desenvolvido em conjunto com Sérgio Haddad, com o apoio do CNPq e da FAPESP. A parte da pesquisa sob minha responsabilidade produziu um balanço da pro- dução discente na Pós-Graduação, tanto em Educação como em Ciências Sociais, sobre os estudos de juventude (348 tra- balhos) e constituiu Banco de Notícias (1.448 registros) e Experiências Juvenis (1.533 registros), a partir de noticiá- rio de imprensa, em um período de dois anos (fevereiro de 1995 a fevereiro de 1997), compreendendo periódicos de todo o território brasileiro.

Algumas hipóteses sobre as

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Revista Brasileira de Educação 73

Algumas hipóteses sobre asrelações entre movimentos sociais,juventude e educação*

Marília Pontes SpositoFaculdade de Educação, Universidade de São Paulo

Trabalho apresentado na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999.

“Nuvens de poeira quente

anuviando minha lucidez”

Fernando Pessoa, Odes marítimas

Em 1977, Lúcio Kowarick publica no jornalFolha de S. Paulo o artigo “O mito da sociedadeamorfa e a questão da democracia”, examinando

os pressupostos autoritários e elitistas que orienta-vam as afirmações recorrentes sobre a passividadedas classes populares e o caráter gelatinoso da so-ciedade civil. Reconhecia, naquela conjuntura ad-versa, o elenco de dificuldades presentes na orga-nização popular mas apontava, também, a existên-cia de outros momentos férteis em mobilizações.Considerava, assim, a necessidade de uma com-preensão diferençada da sociedade civil que permi-tisse, a despeito da fragilidade dos atores, do ca-ráter muitas vezes pontual das lutas e dos impedi-mentos de manifestações autônomas, reconheceros caminhos a partir dos quais ela constituía de-mandas, lutava por direitos, propunha conflitos eorientações diversas daquelas formuladas pelas eli-tes. Sua conclusão reiterava uma concepção clarasobre a cidadania ao afirmar que “a ampliação egarantia dos direitos e deveres implícitos no exer-

* Trabalho apresentado no GT Movimentos Sociaise Educação. Agradeço a leitura atenta, crítica e amiga deMaria Amélia Giovanetti, Juarez Dayrell e José de SouzaMartins, que examinaram criteriosamente a primeira ver-são do texto, oferecendo críticas e sugestões valiosas. O tex-to esboça reflexão que resulta do projeto de pesquisa Ju-

ventude e escolarização: uma análise da produção de conhe-

cimentos, desenvolvido em conjunto com Sérgio Haddad,com o apoio do CNPq e da FAPESP. A parte da pesquisasob minha responsabilidade produziu um balanço da pro-dução discente na Pós-Graduação, tanto em Educação comoem Ciências Sociais, sobre os estudos de juventude (348 tra-balhos) e constituiu Banco de Notícias (1.448 registros) eExperiências Juvenis (1.533 registros), a partir de noticiá-

rio de imprensa, em um período de dois anos (fevereiro de1995 a fevereiro de 1997), compreendendo periódicos detodo o território brasileiro.

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cício da cidadania supõem, de imediato, a possibi-lidade não só de usufruir dos benefícios materiaise culturais do desenvolvimento, como também,sobretudo, o de debater os destinos desse desenvol-vimento” (Kowarick, 1977).

Compartilhando esse tipo de orientação, vá-rios pesquisadores na área da Educação passarama investigar a expansão do ensino público — ob-servada a partir do período populista e continua-da na década de 70 e 80 —, buscando uma novacompreensão desse processo. Ultrapassando o pres-suposto que radicava no Estado todas as orienta-ções e iniciativas1, esse campo de investigação pro-curava reconstituir a presença popular, mesmo quedifusa, nas principais mudanças observadas no sis-tema de ensino, tendo em vista sua democratiza-ção, particularmente a luta por oportunidades deacesso à escola pública (Bomfim, 1991; Campos,1985, 1991; Cunha Campos, 1989; Fuchs, 1992;Giovanetti e Costa, 1997; Sposito, 1984, 1993;Vianna, 1992).

Mas os significados mais amplos dessa noçãode democratização do direito à educação, conviven-do com a idéia dos direitos da cidadania e, assim,com a denominada tendência igualitária crescentenas sociedades modernas (Marshall, 1967), trouxe-ram, principalmente a partir do final da década de70, novos desafios para a reflexão acadêmica e paraa formulação de políticas públicas no Brasil. Nosrumos da lutas sociais contra a ditadura e na bus-ca de caminhos para a transição, nasce, nesse pe-ríodo, a idéia de participação da sociedade civil, so-bretudo dos grupos e movimentos organizados, naformulação, implantação e acompanhamento daspolíticas públicas, em especial na área social. Essaidéia teve sua tradução no âmbito mais amplo na

defesa dos Conselhos, fortemente debatidos na es-fera municipal (Doimo, 1990, 1995) e incorpora-dos na legislação federal em setores diversos comosaúde, assistência, direitos da criança e do adoles-cente e educação.

Nessa época, ganha força, no âmbito das lide-ranças sindicais do movimento docente e nas asso-ciações de educadores, a idéia da democratizaçãoda gestão escolar como fator essencial para a efe-tiva constituição de um sistema de ensino em sin-tonia com o desejo de democratização do Pais. Napesquisa, o tema da participação popular resultouna crítica dos canais tradicionais de relação da es-cola com os seus usuários, como associações oucírculos de pais e mestres, e, em conseqüência, nainvestigação de novos mecanismos de gestão cole-giada das unidades escolares como os conselhos deescola e a eleição direta de diretores (Bueno, 1987;Sposito, 1993; Avancine, 1990; Paro, 1995, 1998;Ghanem, 1992; Carvalho, 1991). Os estudos apon-tavam vários mecanismos presentes nas práticasescolares que impediam ou criavam sérias resistên-cias a uma efetiva gestão democrática da unidadeescolar.

No entanto, após alguns anos de experiênciademocrática no âmbito dos direitos políticos e deeventuais conquistas na esfera legal, os ritmos paraa efetivação de práticas democráticas na escola pú-blica têm sido desiguais, assim como em outras es-feras da vida coletiva na sociedade brasileira. Mes-mo com o arrefecimento da força da idéia da par-ticipação do ponto de vista das demandas dos ato-res coletivos, a pesquisa tem investigado algumasadministrações progressistas — em especial as mu-nicipais — que não abandonaram a importância dotema da gestão democrática da unidade escolar.Práticas inovadoras, muitas vezes isoladas, aindanão foram suficientemente conhecidas ou investiga-das no âmbito da pesquisa, constituindo uma áreaimportante de estudo no interior do tema Movi-mentos Sociais e Educação.

Mas outras interações entre esfera pública,movimentos sociais e educação podem ser objeto deestudo, em particular aquelas que incidem sobre o

1 Kowarick, em outros trabalhos, alertava para o con-teúdo autoritário das concepções vigentes, pois a atribui-ção de passividade ao povo brasileiro constituiu ingredien-te ideológico utilizado para justificar o intenso controle queo Estado historicamente exerceu sobre as iniciativas sociaise políticas das classes populares (1979).

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conjunto das práticas escolares2. Como afirma PaulBelanger, torna-se necessário alargar e transformara perspectiva vigente de uma educação para a de-mocracia, ampliando as fronteiras de uma perspec-tiva democrática restrita à política institucional,pois “educação para a democracia tende a carregarum estreito conceito de participação democrática.As fronteiras limitadas que caracterizam a cidada-nia em educação estão em relação com as teoriasdominantes, no mínimo na Europa ocidental, sobrea democracia representativa” (Belanger, 1993, p.19, tradução livre). Considera esse autor que o con-ceito de democracia foi sendo enriquecido nas úl-timas décadas mediante a incorporação de novosconteúdos extraídos sobretudo das lutas dos movi-mentos sociais e das novas configurações que tecema idéia de espaço público e sociedade civil. Para aacademia, o desafio residiria, assim, no exame dograu de absorção pelo conjunto das práticas esco-lares dos temas e processos que tratam, na esferapública, das novas formas de democracia, efetiva-das a partir das lutas sociais. O movimento de mu-lheres, analisado por Belanger, exprimiria, dentreoutros, um bom exemplo.

As relações vigentes entre homens e mulheresforam contestadas, transformaram-se em questõespúblicas sob o ponto de vista das desigualdades deacesso ao sistema de ensino, das dificuldades de in-serção e de reconhecimento no mercado de traba-lho, não obstante a igualdade formal nas habilita-ções profissionais oferecidas pelo sistema educati-vo. Os movimentos feministas criticaram o tipo deinteração entre os sexos, as concepções e práticassocializadoras na sala de aula, buscando superar adesigualdade entre os gêneros. Assim, além de pro-

curar formas alternativas de educação no interiordos próprios grupos, tradicionalmente concebidacomo educação popular, as demandas dos movi-mentos feministas, em alguns países, passaram aquestionar o cerne da atividade pedagógica e a in-fluenciar a natureza da proposta educativa oferecidapela escola. Esses atores constituíram um conjun-to importante de críticas ao padrão dominante desocialização de homens e mulheres, tentando cons-truir, ao mesmo tempo, um novo conjunto de orien-tações e modelos culturais. Embora de difícil aferi-ção, não se pode desconsiderar o seu impacto nacultura escolar, pois esses temas criaram um novoreconhecimento público da questão, propiciando,como Belanger afirma, um alargamento das fron-teiras das relações entre educação e democracia.

No Brasil, com a redemocratização foi possí-vel observar esforços mais acentuados envidadospelos movimentos negros em trazer para a arena pú-blica os problemas da discriminação racial3. Nesseconjunto de lutas, as questões concernentes ao sis-tema de ensino e à prática pedagógica da sala deaula foram trabalhadas, impondo rupturas com osilêncio até então observado no âmbito da educa-ção escolar. Os pesquisadores ligados ao movimen-to negro registraram, no decorrer dos anos 80, osvários seminários, publicações, que procuravam aconstrução de orientações comuns dos atores cole-tivos negros e a proposta de alternativas capazes deimprimir novas práticas nas relações intra-escola-res. Algumas das reivindicações chegam a ser incor-poradas em currículos do sistema público de algunsestados, municípios ou nas propostas inovadorasde formação de professores que vêm sendo estuda-das em poucas dissertações de mestrado na área daEducação. O conjunto dessas iniciativas tinha e temem vista a inclusão de temas relativos à populaçãoafro-brasileira no universo escolar, sua importân-

2 Boa parte da tradição dos estudos voltados para edu-cação popular no Brasil examinou os aspectos educativosda prática social. Alguns pesquisadores investigaram o ca-ráter educativo das lutas e o seu potencial no sentido deconstruir experiências novas capazes de produzir uma (re)-socialização dos sujeitos envolvidos (consultar Damasceno,1990, Brandão, 1984, 1984a, entre outros).

3 Não quero dizer com isso que a luta dos movimen-tos negros só se inicia com a democratização, afirmação queconteria lamentável equívoco histórico (cf. Gonçalves, 1998,1994; Pinto, 1993a, 1993b).

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cia histórica e cultural na formação da sociedadebrasileira e a explicitação das formas veladas da do-minação social vividas na relação com o branco, ex-pressas no preconceito e no racismo4.

Embora não seja possível inferir diretamenteo grau de impacto dessas orientações e, muito me-nos, afirmar que foram atenuadas as práticas cen-tenárias de racismo na sociedade brasileira, é ine-gável que essas demandas nascidas no interior dasações dos movimentos negros contribuíram paraprojetar a questão no âmbito da esfera pública,transformando-a em pauta necessária nas orienta-ções de qualquer reforma educativa proposta peloPoder Público nos últimos anos. Assim, importaressaltar com esses exemplos o impacto multiformedas ações dos movimentos sociais sobre a educaçãoe a escola pública, sendo, pois, difícil uma avalia-ção, do ponto de vista da produção do conhecimen-to, que procure apenas os resultados imediatos. Seusefeitos não são facilmente verificáveis, pois as prá-ticas são difusas e de pouca visibilidade, compreen-dendo um campo de conflitos que abriga orienta-ções em constante oposição ante o conjunto de re-lações sociais estabelecidas: homens e mulheres, ne-gros e brancos, minorias culturais e culturas domi-

nantes, entre outros5. Trata-se assim de alargar oshorizontes da pesquisa para além do estudo dospossíveis ganhos ou eventuais fracassos imediatosque as lutas dos atores coletivos encerram.

No entanto, em conjunturas de crise, diante deorientações que privilegiam interesses do mercadoem relação às demandas sociais, da retração do Es-tado nas políticas públicas de natureza social, dapersistência de problemas crônicos da escola brasi-leira, ao lado de novas questões, como a violência,e das dificuldades efetivas de construção de atorescoletivos que consigam produzir práticas e proje-tos alternativos ao conjunto de orientações antide-mocráticas vigentes, pode renascer um certo pessi-mismo que interfere na própria dinâmica do cam-po da pesquisa. Esse pessimismo não apenas reco-nhece dificuldades, mas pode negar qualquer possi-bilidade de organização e resistência da sociedadee se volta novamente para o Estado, único interlo-cutor sólido e confiável da “amorfa e desorganiza-da sociedade civil brasileira”6. Não sem razões, re-toma-se aqui a análise de Kowarick (1979), pois oesgotamento de algumas formas de luta que mar-caram o período da redemocratização e mesmo asdificuldades que marcam hoje a capacidade de mo-bilização de alguns setores antes combativos, comoé o caso do movimento de docentes (Vianna, 1999),

4 O nº 63 da revista Cadernos de Pesquisa da Funda-ção Carlos Chagas, Raça Negra e Educação, publicado em1987 reúne vários artigos sobre experiências de novas pro-postas curriculares. Consultar, ainda, Pinto, 1987; Gonçal-ves e Silva, s/d; Valente, 1995. Não posso, também, deixarde fazer referências à importância dos movimentos dos po-vos indígenas e dos esforços de articulação de redes da so-ciedade civil na proposta de novos rumos para a educaçãoindígena, sobretudo a partir da Constituição de 88. Esse seriaoutro exemplo da importância da ação dos movimentossociais na educação, não só pelo desenvolvimento de umaproposta específica para a educação das nações indígenas,mas por sua possível influência sobre as concepções e prá-ticas que afetam o conjunto do sistema escolar no Brasil. Sehá um pequeno e importante grupo de pesquisadores cons-tituído em torno do tema da educação dos povos indígenas(Silva, 1999), o mesmo não ocorre no interior da pesquisasobre os possíveis impactos dessas práticas no próprio sis-tema formal de ensino, destinado ao não-índio.

5 Nesse caso estou ancorada na definição de movimen-tos sociais de Alberto Melucci (1991, p. 20): “Um movimen-to social é uma ação coletiva cuja orientação comporta so-lidariedade, manifesta um conflito e implica a ruptura doslimites de compatibilidade do sistema dentro do qual a açãomesma se situa” (1991, p. 20). A definição de Melucci in-tegra campo de orientações que se inspira na análise pioneiradesenvolvida por Alain Touraine sobre os movimentos so-ciais (1975).

6 Esse pessimismo mereceria ser, de imediato, ate-nuado com o reconhecimento das iniciativas de administra-ções públicas progressistas em interlocução com atores co-letivos e demais forças sociais e pela incansável organiza-ção dos movimentos no campo e seu esforço em constituiralternativas educativas, como é o caso do Movimento dosSem-Terra.

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podem reiterar representações muito enraizadas nasociedade brasileira que se exprimem em uma pro-funda desconfiança da sociedade civil e de seus ato-res, mesmo que essa desconfiança não apareça re-vestida de elitismo como no interior do pensamentoconservador.

O ceticismo dominante pode ser traduzido tan-to em uma crença apenas no fortalecimento da açãoemanada a partir do Estado que não dialoga e des-conhece as forças sociais, como na incapacidade deobservação e de investigação de processos emergen-tes que, ao serem fluidos e pouco estruturados, di-ficultam uma nova compreensão da capacidade deação dos atores sociais. Essas últimas observaçõestornam-se ainda mais importantes, quando se levaem conta que o propósito deste artigo é a compreen-são das formas de ação coletiva dos segmentos ju-venis na sociedade brasileira, buscando novos ca-minhos para a investigação.

A constituição de atores jovense os processos de mutação nas

formas da ação coletiva

Parece à primeira vista apenas ausência de sen-satez, ou ao menos, falta de lucidez teórico-inves-tigativa, trazer para a discussão o tema dos atoresjuvenis em formação em meio a um quadro adver-so de recessão — que acentua a exclusão social —aliado ao reconhecimento da fragmentação e pul-verização das ações coletivas de setores mais orga-nizados da sociedade brasileira. Talvez agrave maisainda essa perspectiva, se for considerada a ondade violência que sempre aponta os jovens como pos-síveis responsáveis pelo seu crescimento e, de for-ma menos visível, o reconhecimento de sua extre-ma vulnerabilidade como vítimas da escalada docrime e do tráfico.

Por outro lado, os segmentos juvenis têm si-do caracterizados, nas últimas décadas, pela ex-trema acentuação de seus traços individualistas,pela apatia política e pelo desinteresse nas relaçõescom a esfera pública; seriam os jovens, assim, ape-nas a expressão radical de uma sociedade que es-

gotou as modalidades públicas da construção desujeitos e atores, voltando-se sobre si mesma, emum momento de exacerbação da esfera íntima e deinteresses de natureza individualista (Lasch, 1983,Sennett, 1978).

Antes de retomar as questões que incidem so-bre o objeto central da reflexão aqui empreendida,torna-se importante reconhecer que os caminhos dainvestigação e das teorias sobre os movimentos so-ciais se diversificaram e exigiram novos aportes dian-te do seu arrefecimento, observado a partir de mea-dos dos anos 80, não só no Brasil como em outrospaíses, e da emergência de novas modalidades depráticas e atores coletivos (Scherer-Warren, 1998).

Mais do que eventuais fatores conjunturaisadversos, algumas das alterações incidem sobre oaparecimento de fenômenos coletivos marcados pe-la violência, presente na exasperação de identida-des locais ou étnicas, e pelo crescimento do racis-mo em sociedades desenvolvidas. Ora, esse campodisjuntivo também ocorre no interior da ascensãodo individualismo que “fraciona as identidades e asculturas” (Dubet e Martuccelli, 1998, p. 223), in-duzindo, muitas vezes, a formulação de um quadrode reflexão que reduziria o restante das manifesta-ções coletivas a um estilhaçamento sem princípio,à simples formação de um “mercado” da ação co-letiva, não reconhecendo princípios novos, aindaque frágeis, de construção da democracia (1998).Novas modalidades de ação e de atores tendem aemergir, mas o caráter esparso das lutas sociais nãoimpediria que o agenciamento de dimensões essen-ciais da ação desse conta de sua estrutura de con-junto (idem)7.

7 Para Dubet e Martuccelli, há “lutas unidimensio-nais” que comportam mobilizações com característica sejareivindicativa, seja identitária, seja ainda em torno de temasnormativos e morais. Elas podem proceder seja do merca-do, da integração social, seja do individualismo moral. Ou-tras lutas seriam ambivalentes tentando combinar as dimen-sões instrumentais e comunitárias ou expressivas e instru-mentais. Outras procuram amalgamar de forma conjuntu-ral todas as dimensões da ação caracterizando-se como ex-

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Seria, pois, pertinente a inclusão do tema Ju-ventude8 no âmbito das investigações atuais sobreas ações coletivas e os movimentos sociais no Bra-sil? Esta empreitada propiciaria um olhar matiza-do e rico para abrir novas perspectivas para a com-preensão da escola pública no seu diálogo/confron-to com os atores coletivos?

Durante o século XX, os estudos sobre jovens,sobretudo a partir da década de 20 nos EUA coma Escola de Chicago, privilegiaram o exame dasdisfunções ou anomia para compreender condutasjuvenis próximas da delinqüência ou do crime arti-culadas muitas vezes em torno de grupos denomi-nados gangues.

Particularmente após a Segunda Guerra Mun-dial, novas orientações rompem com essa tradição9

e enfatizam o potencial contestador e rebelde pre-sente nos segmentos juvenis, dando origem a váriosestudos que examinaram, dentre outras, as moda-lidades de participação estudantil ou suas práticasculturais10. Mas um certo exame permanente da

condição juvenil enquanto problema social jamaisdesapareceu do horizonte de preocupações de vá-rios setores sociais e da produção acadêmica e tal-vez seja essa a sensibilidade atualmente dominante,sobretudo quando os problemas decorrentes da ex-clusão social — como o desemprego — e a violência,afetam principalmente os jovens pobres (Abramo,1997; Weinstein, s/d).

Parte das análises, cujo modelo simbólico mui-tas vezes está radicado em 1968, reconhece o arrefe-cimento do movimento estudantil que atinge gran-de parcela dos atuais alunos do ensino superior emédio, mas não considera o quadro de crise das for-mas tradicionais de ação no sistema político insti-tucional que atinge o conjunto da sociedade. Essacrise anuncia, há alguns anos, processos de mutaçãoque projetariam outras relações com o campo dapolítica, imprimindo novos significados à próprianoção de participação ou de militância política11.

Se considerarmos essas mudanças de nature-za mais ampla, os jovens não seriam portadores depráticas tão excepcionais. Pesquisas realizadas empaíses europeus, na década de 90, confirmaram cer-tas tendências como: o afastamento dos jovens —mas não a negação — dos sindicatos, mantendocom essas instituições apenas uma relação instru-mental e de exterioridade (Bauby e Gerber, 1996);a desconfiança em relação aos partidos, mas o reco-nhecimento de um interesse difuso sem a partici-pação correspondente (Ricolfi, 1997)12; e a busca

11 É preciso relembrar que a discussão em torno dosmovimentos sociais, no final da década de 60, estrutura umlongo debate teórico em torno da crise do sistema políticoinstitucional e da idéia da democracia representativa. Taismovimentos expressariam “um jeito novo de fazer política”em face do evidente desgaste das instâncias instituciona-lizadas, como os partidos e sindicatos.

12 A idéia de interesse sem a ação correspondente éapresentada por Ricolfi, a partir de pesquisa nacional queexamina o perfil dos jovens na Itália, realizada pelo IARDem 1996. É importante reconhecer que esse tipo de inves-tigação no Brasil é praticamente inexistente. Pesquisa da

pressões mais episódicas (1998). Por outro lado, a persis-tência dos conflitos em torno do mundo do trabalho, da lutapela terra e por direitos de justiça e cidadania precisa ser re-conhecida, sobretudo na sociedade brasileira. Ao invés deuma concepção evolutiva das formas de luta, considero quea coexistência de conflitos exprime a simultaneidade dostempos sociais, os seus ritmos diversos e sua mútua intera-ção, como apontou Lefebvre (1969) em suas análises sobrea formação econômico-social, retomada por Martins (1996).

8 Não é objetivo deste artigo reconstruir a discussãoem torno das ambigüidades da noção de juventude exami-nadas em outros trabalhos (Sposito, 1997, 1999). Reiteroapenas o caráter sócio-histórico do conceito que implica ne-cessariamente a adoção da perspectiva da diversidade paracompreender a heterogeneidade de situações e experiênciasque marcam a condição juvenil na contemporaneidade.

9 A contribuição original de Mannheim no estudo dosjovens e das gerações tendo em vista o exame do seu poten-cial de revitalização das relações sociais, certamente favo-receu para esse novo aporte (1968, 1973, 1982).

10 Os estudos culturais desenvolvidos em Birminghamconstituem referência importante no âmbito da temática dassubculturas juvenis.

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de uma política sem rótulos tradicionais que desig-nam posições de direita e esquerda (Muxel, 1997).Inegavelmente, esses estudos recuperam aspectosimportantes para a análise dos jovens nos anos 90no interior desse grande processo de mutação, masnão esgotam suas formas de ação e de compreen-são do mundo contemporâneo.

No Brasil, os estudos sobre juventude tiveraminício a partir das pesquisas sobre o movimentoestudantil na década de 60, desenvolvidas por Fo-racchi (1965, 1972).

Inspirada em seus trabalhos, a produção aca-dêmica na área tanto de Educação como de Ciên-cias Sociais, durante as décadas seguintes, tratoucom menor freqüência do tema, mas com poucovigor teórico e inovação, ao tentar compreender asalterações dessas práticas nos períodos mais recen-tes, marcado por um gradativo enfraquecimento dasformas tradicionais de mobilização e seu escassopoder de aglutinação de demandas e interesses doconjunto dos estudantes.

Alguns trabalhos empreenderam investigaçõessobre os anos 60/70, outros reiteraram análises des-ses estudos pioneiros, reconhecendo a crise da ca-pacidade mobilizadora estudantil, mas de certa for-ma assumindo como parâmetro o modelo da par-ticipação observado em anos anteriores, como jáapontava criticamente o trabalho de Helena Abra-mo, que analisou a nova cena cultural juvenil dosanos 80 (Abramo, 1994)13.

Em nosso país, observam-se claramente as di-ficuldades de compreensão da crise da participaçãoestudantil presentes em alguns estudos, mas é pre-ciso considerar que, ao lado dessa lacuna teórica,foi criado um leque de representações sociais nointerior do senso comum, que constituíram comomodelo de ação coletiva de jovens essas práticasde participação, excluindo outras possibilidades deanálise. Helena Abramo, ao fazer a crítica dessasconcepções, examina as novas formas de presençajuvenil nos anos 80 a partir de estudo realizado so-bre punks14 e darks. Ampliando o campo de conhe-cimento sobre os atores juvenis, o trabalho de Már-cia Regina Costa (1993) investigou uma modali-dade de sociabilidade marcada pela constituição desubjetividades conservadoras, como é o caso doscarecas de subúrbio15. A pesquisa desenvolvida porSouza (1999) com jovens de Florianópolis investi-gou as novas formas de militância dos anos 90, ten-tando contrapô-las a uma possível imagem míticaque se ancora no tipo de participação predominan-te nos anos 60.

Os poucos trabalhos produzidos nos anos 80e 90 sobre jovens em nosso país já mostraram umalargamento de seus interesses e práticas coletivas,acentuando a importância da esfera cultural quefomenta mecanismo de aglutinação de sociabilida-des, de práticas coletivas e de interesses comuns,sobretudo em torno dos diferentes estilos musicais.

UNESCO sobre violência, realizada com jovens do Rio deJaneiro, demonstra o grau de desconfiança desses segmen-tos diante das instituições do sistema político (cf. FSP 25/05/1999).

13 Dois estudos examinaram as mobilizações estudan-tis observadas nos anos 90, tentando compreender a suaespecificidade. O primeiro é a dissertação de mestrado de-senvolvida no Rio de Janeiro por Moraes (1995) sobre o mo-vimento dos “cara-pintadas”, que envolveu estudantes doensino fundamental e médio de escolas particulares. AnneMische (1997) também investigou em sua tese de doutora-do o movimento estudantil após o impeachment de Fernan-do Collor, possibilitando maior visibilidade a algumas enti-

dades representativas dos estudantes. Seu estudo tenta cons-truir um novo paradigma para a compreensão da identida-de estudantil, dialogando com as análises de Marialice Fo-racchi, ao apontar as diferenças entre os dois momentos e,por decorrência, as possíveis formas de sua compreensão.

14 As pesquisas de Janice Caiafa (1985) e Kemp (1993)também constituem importantes contribuições para o estudodo fenômeno punk no Brasil.

15 Outros estudos tentam compreender essas formascoletivas às vezes marcadas por condutas violentas que têmagregado jovens como é o caso das galeras funk no Rio deJaneiro (Guimarães, 1995) e galeras e gangues em Fortale-za (Diógenes, 1998).

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A cena juvenil, na expressão de Abramo (1994), seamplia e diversifica, sendo ocupada por manifesta-ções protagonizadas por punks, clubbers, roquei-ros, rappers, adeptos do reggae, funkeiros, entreoutros (Sposito, 1994b; Andrade, 1996; Dayrell,1999; Guerreiro, 1994; Cunha, 1993). Essas açõesjá acenam com vigor para uma inquestionável moti-vação dos jovens em relação aos temas culturais emoposição ao seu afastamento das formas tradicio-nais de participação política. Alguns grupos não selimitam aos aspectos centrais de sua atividade liga-da à música ou outras formas de expressão artísti-ca, mas também se dedicam aos trabalhos comuni-tários, envolvendo-se em atividades nos locais demoradia em interlocução com alguns segmentos or-ganizados da sociedade civil.

Mas é preciso admitir a existência de signifi-cativa diversidade de práticas coletivas entre os jo-vens, ainda pouco visíveis e escassamente investi-gadas. Algumas mais antigas e portadoras de umnovo significado dizem respeito à intensa produçãoe circulação de meios de informação recobertos pe-los fanzines, inovação da cultura underground punkdos anos 70 que perdura até os dias atuais. Aindano interior de interesses ligados à informação e co-municação estão as rádios comunitárias, a produ-ção de vídeos e, de forma mais recente, a formaçãode redes via Internet, agregando as mais diversasmotivações.

Inúmeros agrupamentos de natureza mais flui-da podem nascer a partir do local de moradia envol-vendo o lazer, entretenimento e esporte como estu-dou Nakano (1995) em favela da região da Gran-de São Paulo, ou a partir da ocupação de zonas maiscentrais da cidade, em geral no período noturno,transformando o tipo de interação com o tecidourbano. São os passeios de bicicleta, as caminhadas,os grupos de skate e de escalada em viadutos e pon-tes que negam o valor de troca predominante noespaço urbano e os ritmos da metrópole voltadapara o circuito de reprodução do capital, afirman-do a dimensão pública da cidade a partir do uso eda fruição (Lefebvre, 1978a, 1978b; Arroyo, 1997).As formas são fluidas, muitas vezes efêmeras, mas

traduzem importante marco de sociabilidade juve-nil ainda pouco estudado16.

Outra modalidade de experiência coletiva en-tre jovens que emerge com maior freqüência temsido um certo associativismo em torno de ações vo-luntárias, comunitárias ou de solidariedade, com-preendendo temas diversos como o combate à exclu-são, meio ambiente, qualidade de vida e saúde (in-formação sobre consumo de drogas, DST e AIDS).Menos investigadas, ainda, têm sido as novas formasde aglutinação juvenil que nascem do mundo dotrabalho, ultrapassando os marcos tradicionais darelação assalariada e da participação sindical; dentreelas destacam-se o interesse de jovens em formarempresas juniores e as cooperativas de autogestãosolidária. No conjunto de questões aqui apontadassobre as várias modalidades de inserção dos jovensna esfera pública, não estão contempladas as dimen-sões do mundo rural que têm realizado, por meiode seus atores, importantes movimentos de invençãocultural no interior da luta pela terra17.

Essa rápida descrição das ações, preservandoa diversidade dos interesses juvenis, propõe desa-fios para a sua compreensão, exige novas aproxi-mações teóricas e relativo esforço analítico, pois vá-rias delas vêm recobertas por outros fenômenos,como a violência e situações de risco18, criando umterreno difícil e muitas vezes movediço, sobretudo

16 Tedrus (1996) estuda as formas coletivas de socia-bilidade que nascem em torno do trabalho de adolescentese jovens desenvolvido nas ruas e Almeida (1996) contem-pla as interações de alguns grupos juvenis — rappers e as-trônomos amadores — no município de Diadema com opoder público local, tendo em vista assegurar formas diver-sas de apropriação coletiva da cidade.

17 Andrade (1998) estudou a formação da consciên-cia política dos jovens nos assentamentos, constituindo umdos raros trabalhos que examinam a temática da juventudeno campo.

18 Neste caso o estudo das torcidas organizadas de-senvolvido por Toledo (1996, 1997) e a pesquisa sobre gru-pos de grafiteiros e pichadores (Durand, 1997), surfistas emtrens ou ônibus constituem eixos investigativos importantes.

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Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação

quando se pretende superar os estereótipos e as ex-plicações lógico-causais que buscam quase sempreentender, por meio de simplificações apressadas,processos que aparecem de forma matizada e dife-rençada na realidade social.

Alguns eixos articuladores de açõescoletivas protagonizadas por jovens

Melucci (1991) inspira um bom ponto de par-tida para a construção de hipóteses em torno dasações coletivas de jovens, quando examina os con-flitos sociais contemporâneos, pois considera suasformas múltiplas, variáveis e os níveis diversos deintervenção no social19. Ressalto, preliminarmen-te, que um movimento social é um objeto construídopela análise e não coincide com as formas empíricasda ação. Nenhum fenômeno de ação coletiva ex-pressa uma linguagem unívoca ou desvela, de ime-diato, todas as dimensões em suas práticas, exigin-do do pesquisador um intenso trabalho de análise(Touraine, 1987; Melucci, 1991). Por outro lado,a perspectiva aqui adotada, especialmente por tra-tar-se de atores jovens, pressupõe que pode ocor-rer a “superposição entre comportamento desvian-te e movimentos sociais. As formas de controle segeneralizam, permeando a vida cotidiana e as es-colhas existenciais, e isto torna mais difícil, no planoempírico, a distinção entre protesto e marginali-dade...”. A oposição adquire, então, facilmente ascaracterísticas do desvio de comportamento. Sejaporque ela é muitas vezes obra de uma minoria; sejaporque tende a rejeitar a mediação regulada pelosistema político; seja, enfim, porque o controle so-bre a informação permite aos aparatos estigmati-zarem cada conduta conflitual, tornando frágeis oslimites que a separam da patologia (Melucci, 1991,

pp. 67-68). Para Alain Touraine “quando mais nosremontamos ao passado maior é a distância entreas forças opositoras — as quais são principalmen-te novas classes dirigentes em ascensão — e as for-ças excluídas, consideradas como impuras, crimi-nais e out-groups. Não vivemos neste momento ummovimento inverso? Quer dizer, hoje se mesclam oopositor e o desviado, de maneira lógica se pensar-mos que o dominador impõe determinada ordeme normalidade à sociedade inteira” (Touraine, 1987,p. 164).

Essas observações tornam-se importantes por-que um mesmo fenômeno apresenta modalidadesdiversas de expressão, muitas delas caracterizadaspela violência e, por essas razões, a conduta coleti-va em abstrato não pode definir a priori se ocorreuma prática dilacerada voltada para a destruição doator ou se há pelo contrário sinais de um estrutu-ração positiva de conflito. Fenômenos como o rap,o funk e a prática da pichação ou do grafite20 al-gumas vezes podem ser expressões da violência ouda delinqüência juvenil e da ausência de movimen-tos coletivos como, também podem, em outras si-tuações, desvelar o seu contrário, ou seja, a forma-ção de novos atores coletivos. Por essas razões, qual-quer aproximação generalizante, para afirmar quetodas as práticas envolvidas nesses fenômenos co-letivos juvenis seriam expressões ou da anomia so-cial, ou sinais do potencial contestador e rebelde dojovem na esfera pública, cria mais dificuldades doque auxilia na compreensão de realidades e conjun-turas sociais complexas.

Melucci também alerta para questões impor-tantes no estudo dos jovens enquanto protagonis-tas de conflitos. Para tanto, transcrevo suas obser-vações:

A interrogação implícita nas diversas pesquisas

sobre a condição juvenil é se os jovens são sujeitos

potenciais de ação coletiva antagonista. A pretensão19 “No passado, ocupar-se dos conflitos significava

analisar a condição social de um grupo e deduzir dela as cau-sas da ação. Hoje, é necessário identificar o campo de con-flitos em nível sistêmico e explicar, pois, como certos gru-pos sociais interferem em tal campo” (Melucci, 1991, p. 3).

20 Estabeleço aqui a distinção entre essas práticas, umavez que a primeira está mais próxima das condutas de ris-co e a segunda, das expressões artístico-culturais.

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Marília Pontes Sposito

ou a esperança é de encontrar resposta para esta in-

terrogação a partir de uma compreensão aprofunda-

da da condição e da cultura juvenil na sociedade con-

temporânea. Uma similar esperança é, porém, desi-

ludir-se porque se encontra com um problema insolú-

vel: como se passa da condição para a ação, como se

forma um movimento que tem por atores os jovens?

Não se sai do impasse senão invertendo os ter-

mos do problema. A ação não se deduz pela condição

social. Ocorre, ao contrário, mudar completamente o

procedimento. É necessário identificar em nível sistê-

mico os problemas que estão no centro dos conflitos

sociais, os campos sobre os quais se joga o confronto

para o controle de recursos decisivos. Só a partir da-

qui é possível perguntar-se quais elementos da con-

dição juvenil são suscetíveis de ativar, em certas con-

dições conjunturais, uma ação coletiva, transforman-

do este grupo em ator de conflitos. (Melucci, 1991,

p. 84, tradução livre)

Ao analisar as formas de ação coletiva pro-tagonizadas por jovens e de suas possíveis relaçõescom o campo de estudo dos movimentos sociais,parece mais apropriado tratá-las como redes con-flituosas que seriam “formas da produção cultural”ou seja, ativação de condutas em torno de confli-tos, mesmo que em práticas ainda emergentes (Me-lucci, 1997, p. 6)21. Por essas razões, procuro re-constituir um primeiro campo conflitivo que aglu-tina os jovens, propiciando a formação de atores,a partir do pólo consumo e produção cultural. Aemergência de conflitos sociais em torno da infor-mação, do campo simbólico e da extensão dos me-canismos de dominação e de disputa do controle dosrecursos culturais tem ocupado o interesse dos es-tudiosos dos movimentos sociais no interior dassociedades complexas e planetárias. O intenso cres-

cimento da indústria cultural a partir da SegundaGuerra Mundial e a formação de um mercado con-sumidor jovem já foram estudados por vários au-tores. A esfera do consumo cultural, momento im-portante no circuito das trocas sociais, seria, paraalguns estudiosos, propiciadora da construção dasidentidades juvenis (Madeira, 1986), sobretudodiante do enfraquecimento dos eixos que articula-riam práticas de identidade a partir do mundo dotrabalho (Paiva, Potengy e Guaraná, 1998).

A lógica de mercado que induz e subvencionao consumo, e a formação de um público ávido denecessidades construídas em torno de objetos e sím-bolos destinados apenas à sua fruição não esgotam,no entanto, o circuito cultural que pode caracterizarorientações e práticas dos segmentos juvenis. Nãoobstante a força do mercado, como afirma Canclini(1996), não é descabido vincular consumo e cida-dania, pois “é preciso desconstruir as concepçõesque julgam os comportamentos dos consumidorespredominantemente irracionais e as que somentevêem os cidadãos atuando em função da raciona-lidade dos princípios ideológicos” (p. 21). Para esteautor, a seleção e a apropriação de bens são feitasa partir de uma definição do que se considera pu-blicamente valioso; expressam, também, os modoscom que nos “integramos e nos distinguimos nasociedade, com que combinamos o pragmático e oaprazível” (idem).

Mas a diversidade de interesses que agregamos jovens inclui, além do consumo, a produção cul-tural que pode ser observada na formação de gru-pos musicais22 ou de outras formas de expressão,como a dança, o teatro e a poesia.

22 As escolhas dos estilos não é aleatória e poderá ar-ticular várias orientações. A adesão pode decorrer da ori-gem social: há estilos que tradicionalmente predominamentre jovens de classes médias como o rock, ou passam acontar com a sua preferência como o pagode; há outros quesensibilizam aqueles que vivem no limiar da exclusão, comoo rap, o pagode e o funk. Há modalidades que mobilizamde forma clara os jovens de origem negra e pobre como opagode e o rap. Ocorre também uma produção cultural alia-

21 Os estudos pioneiros de Blumer sobre as condutascoletivas também auxiliam na compreensão de alguns des-ses fenômenos, quando trata do tema dos movimentos ex-pressivos que não contemplam em suas formas de ação ob-jetivos instrumentais imediatos (Blumer, 1962).

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Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação

As inúmeras modalidades de aglutinação ju-venil em torno da música têm possibilitado a cons-tituição de identidades comuns, de linguagens e có-digos específicos que reúnem jovens em grupos, ca-nalizando interesses e formas de compreensão darealidade social.

Muitas das iniciativas vêm mescladas por uminteresse profissionalizante, pela busca de inserçãona indústria cultural, do sucesso e da performance;outras não estão facilmente dissociadas de práticasviolentas. No entanto, é preciso reconhecer que es-tilos musicais, sobretudo aqueles que se disseminamentre jovens pobres e em processo de exclusão, quevivem no mundo das grandes cidades, não se redu-zem a um mecanismo habitual da “sociedade deconsumo” ou “mercado jovem” (Dubet, 1987; Mar-tins, 1975). De alguma forma, “a expressão musi-cal traduz e testemunha uma certa experiência so-cial que se transforma no seu fundamento” (Spo-sito, 1994a, 1994b).

O momento da produção — compreendido naconstituição dos grupos musicais, por exemplo, quecriam músicas, inventam letras, acionam o corpoenquanto canal de expressão — recria as possibili-dades de entrada no circuito das trocas culturaispara além da figura do espectador passivo que con-diciona o modo dominante de mobilização dos re-cursos culturais da sociedade atual, no interior es-trito da lógica de mercado. Talvez, e aí residiria oseu aspecto mais relevante, tais práticas incidamsobre a própria constituição de sujeitos que am-pliam a sua esfera de autonomia, de reflexão e deinteração com o mundo23. Como afirma Touraine,

“é a partir do sofrimento do indivíduo dilaceradoe da relação entre sujeitos que o desejo de ser su-jeito pode se transformar em capacidade de ser umator social” (Touraine, 1997, p. 107).

Sendo assim, para além de uma compreensãoanacrônica e segmentar dessas manifestações queenvolvem a produção de estilos musicais, é precisolevar em conta, como afirma Lipsitz, ao examinara cultura juvenil nos anos 90, a importância dessasmanifestações presentes em um ambiente de criseque emerge com os processos de desindustrializa-ção, de reestruturação econômica e com o racismo.Em decorrência, alerta para o equívoco em tratá-las com os mesmos parâmetros que orientaram asanálises sobre as manifestações culturais dos anos60, pois essas novas modalidades constituiriam osespaços a partir dos quais os jovens falariam de simesmos, de sua solidão e dos processos de exclu-são a que são submetidos24.

Por essas razões, em que pese a sua diversida-de, essas práticas coletivas não poderiam ser lidas,em sua totalidade, como mero aparato reativo aoprocesso de marginalização ou de resposta à crise,na linha de um raciocínio ancorado na noção deanomia. Parte delas se dá, também, no campo defenômenos coletivos emergentes de sociedades comalta densidade de informação, onde a produção nãosomente diz respeito aos recursos econômicos, masinveste em relações sociais, símbolos, identidade enecessidades individuais, ampliando os aparatos dadominação (Melucci, 1991, p. 52).

da às peculiaridades do espaço urbano cuja lógica social desua apropriação não deixa de ser intrigante. Quais seriamas razões da força do rap em São Paulo e da rápida disse-minação do funk na cidade do Rio de Janeiro?

23 Embora de difícil definição, como afirma Morin(1995), a noção de sujeito não se confunde com a noção deindivíduo. Ela se constrói a partir das idéias de distância ede reflexividade, pois pressupõe a capacidade de distan-ciamento e de crítica dos papéis sociais. Compreende o es-paço da reflexão, sendo, assim, um princípio de autonomia

que resulta do trabalho de alguém sobre si mesmo (Dubete Wieviorka, 1995). Como afirma Alain Touraine o sujeitoé aquele que deseja ser um indivíduo capaz de criar uma his-tória pessoal, de dar um sentido ao conjunto das experiên-cias da vida individual, esta última construída, a partir dasdeterminações, pela procura da liberdade e pela experiên-cia de resistência (1995).

24 “A cultura jovem atual procede de uma premissadiferente. Ao invés de permanecer fora da sociedade, elatenta trabalhar através dela, explorando e exacerbando suascontradições em criar imprevisíveis possibilidades para ofuturo” (Lipsitz, 1994, p. 25, tradução livre).

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Duas expressões importantes, como exemplo,podem ser localizadas no rap e no funk. Não se trataaqui de resgatar suas formas de ação e as diferen-tes sensibilidades que cada um dos estilos aciona25,o modo como eles atraem e motivam o interesse ju-venil, as práticas de lazer e de entretenimento quegeram e o seu enraizamento social e étnico, pois sãocampos da produção cultural nascida nas periferiasde metrópoles como São Paulo, Fortaleza, Brasília— o rap — ou nos morros do Rio de Janeiro, comoo funk, traduzindo o mundo dos pobres e a expe-riência de dominação vivida sobretudo pelos negros.Não se trata, também, como já anunciado, de qual-quer intento generalizador que nega a complexidadedessas manifestações, sobretudo no Rio de Janeiro,que encerra, em alguns casos, inegáveis episódiosde violência.

Importa ressaltar, neste momento, que essesfenômenos indicam um modo peculiar de negaçãode mecanismos de dominação social e étnica queatinge os setores juvenis mobilizados em torno des-ses estilos. Alguns grupos buscam um mergulho nacultura de massas — não a sua negação ou recusa—, mas como produtores e não apenas consumido-res de produtos que se vendem no mercado. Dis-putam espaços na lógica da reprodução cultural,criando caminhos alternativos e alimentando umacerta cultura underground, típica dos movimentosculturais em sua fase inicial.

Ambos, mas de modo mais explícito no funk,trazem aspectos importantes para a análise, dian-te do seu caráter inicialmente belicoso, quando osbailes tornaram visíveis as brigas entre as galeras,muitas delas disputando e assegurando territóriospróprios de ação. Dessa forma, as fronteiras entrea manifestação juvenil e o mundo do crime e dotráfico no Rio de Janeiro, muitas vezes tênues, im-

puseram uma certa recusa social do fenômeno queinduziu a formação de um campo novo de confli-tividade capaz de provocar em parte dessas gale-ras juvenis formas diversas de organização, de ne-gociação com o mundo das instituições, incidindosobre a própria necessidade do reconhecimento desua legitimidade26.

O rap desvela sua produção cultural sobretudonas letras das músicas que denunciam a realidadeda exclusão do jovem pobre, sobretudo aquele deorigem negra. A fala áspera, que manifesta a fúriae a ira, assim como o tom duro e rude das letras,revela o desejo de resgatar o direito da palavra e dainvenção criadora sob a forma de relato malcom-portado e teatralizado do drama diário da vida27,muitas vezes negando os parâmetros dominantes dogosto e do consumo musical. Sua expressão socialpredominante é articulada a uma denúncia da ex-clusão e do racismo, visíveis na violência policial ena falta de alternativas para os jovens, sobretudoos pobres e negros. O rap é uma produção culturalque expressa certa liminaridade, como se produto-res de letras e público — igualmente jovem — esti-vessem, de modo constante, no limiar entre doismundos, o da legalidade, das instituições legitima-das pelas forças sociais (o trabalho, a escola, entreoutras), que não apresenta alternativas eficazes deinclusão, e o do crime ou do consumo e do tráficode drogas, que oferece vantagens fáceis e imediatas,

25 Sobre o funk consultar Vianna, 1988; Guimarães,1995; Midlej e Silva, 1995; Souto, 1997; Cecchetto, 1997.Sobre rap e hip-hop, consultar Herschmann, 1995; Sposi-to, 1994a, 1994b; Andrade, 1996; Diógenes, 1998; Guasco,1999.

26 Importante lembrar que, no mês de junho de 1999,centenas de grupos funk saíram às ruas na cidade do Riode Janeiro para reivindicar o seu reconhecimento como mo-vimento cultural.

27 A interessante pesquisa que vem sendo desenvolvi-da por Pedro Guasco (1999) tem procurado resgatar os ele-mentos de uma estética da periferia presente no rap. Partedas reflexões aqui esboçadas se inspira nos dados prelimi-nares de seu trabalho e nas discussões frutíferas com Ma-ria Lúcia Montes e José Guilherme Magnani por ocasião doexame de qualificação de Pedro. Transformado atualmen-te em estilo musical que ultrapassa os limites das periferiasurbanas, o rap também encontra adesão em outros setoressociais e, gradativamente, o seu estilo e trajes passam a serincorporados no consumo jovem.

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Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação

mas acenam, como destino, para a morte precoce.Assim como no funk, a violência se faz presente,constituindo a matéria bruta dos conteúdos das mú-sicas que retratam a experiência vivida, de tal for-ma que a adesão ou a recusa ao ilegal, ao marginalconstitui momentos que às vezes se imbricam.

As formas mais organizadas de articulação dospequenos grupos e as posses — crew — impulsio-nam a ação de seus membros em novas direções,sobretudo aquelas configuradas como comunitáriase de apoio a outras iniciativas de grupos organiza-dos dos bairros.

A variedade dos grupos, o seu caráter mais oumenos violento, a diversidade de experiências quepropiciam geram ritmos e possibilidades diferen-çados; constituem, de modo tenso e conflitivo, umcampo inovador da cultura, especialmente da mú-sica e da dança, com conseqüências diversas no âm-bito do fortalecimento de novas identidades indi-viduais e coletivas. Alargam-se, ao mesmo tempo,a possibilidade de auto-reconhecimento28, de refle-xão e compreensão do mundo na condição de su-jeito e a capacidade de estruturação do agir coleti-vo que, ao se iniciar pelas práticas culturais ou delazer, é, muitas vezes, ampliado para outras dimen-sões da vida. Podem decorrer desse tipo de mobi-lização cultural, mesmo que de forma fragmenta-da e incipiente, um outro modo de interação comas instituições socializadoras, como a escola, e novaatribuição de significados ao trabalho ligada à idéiade autonomia, cooperação e de solidariedade nãopredominante nas condições atuais do emprego29.

Uma segunda polaridade, bastante próxima damanifestação cultural em torno da música, pois ca-minha de forma integrada e concomitante, reside natentativa de construção de pautas de significadosalternativos às interpretações dominantes. Resga-ta-se a importância da palavra, como é o caso dosrappers, da circulação de idéias pela imprensa alter-nativa, como os fanzines e algumas das iniciativasem torno das rádios comunitárias, ou um outro sig-nificado para o jogo do corpo pela dança. Na apro-priação da palavra evidencia-se a necessidade de serecorrer à informação, ao conhecimento e, assim,propiciar uma explicação diferente daquelas pro-duzidas pelos grandes veículos formadores da opi-nião pública que asseguram uma certa homogenei-dade das interpretações30: “a cultura juvenil afirmacom força as necessidade comunicativas, mas rei-vindica também o direito de decidir quando e comquem se comunicar” (Melucci, 190, p. 74).

28 A constituição de uma identidade marcada pela au-to-estima, pelo reconhecimento da dimensão étnica — o po-vo negro — percorre também algumas ambigüidades, poistanto pode ocorrer a abertura dessa identidade coletiva parao campo conflitivo das relações de desigualdade e de domi-nação, como pode provocar, em algumas situações, umaconduta regressiva. A este respeito consultar as análises de-senvolvidas por Touraine (1987) e Castells (1999) sobre aidentidade.

29 As redes paralelas que recobrem novas modalida-des de profissionalização para esses setores juvenis, conde-

nados ao subemprego, aos processos mais permanentes deexclusão do mundo do trabalho ou, na melhor das hipóte-ses, ao trabalho precário, são muitas vezes mecanismos im-portantes de agregação desses jovens.

30 Caminho em direção diferente de Melucci, quan-do este autor introduz a idéia de que o silêncio do joveminstala uma dimensão antagônica com um mundo feito depalavras. No entanto, o autor reconhece que “o silêncio oua linguagem fragmentada, silábica, incoerente recobrem ou-tras representações pois indicam a afirmação de uma outrapalavra que não aceita ser mais separada das emoções” (Me-lucci, 1990, p. 86, grifos meus). Quando retomo a impor-tância da palavra, estou considerando uma outra forma deexpressão, diversa de algumas regras presentes na raciona-lidade instrumental dominante. Penso que, como o silênciodo jovem descrito por Melucci, no jogo corporal presentena música, sobretudo nas manifestações funk, outras lingua-gens são anunciadas e se opõem às rígidas demarcações entrea razão e a emoção. Uma certa recusa está pressuposta, poisa “racionalidade impessoal dos aparatos não dá espaço paraas emoções, convive com limites separados nos quais o sis-tema autoriza a fruição regulada de eros e do delírio. Nomodo dominante de expressão, os espaços e os tempos daexperiência emocional, afetiva, corpórea são circunscritosdistintamente, rigidamente separados daqueles da palavraracional” (Melucci, idem).

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Os dois eixos, sucintamente descritos, expri-miriam conflitividade típica das sociedades comple-xas que atinge os jovens, pois questionam os circui-tos da cultura e da informação enquanto agênciasde dominação. No entanto, vale a pena reiterar queo plano simbólico dessas orientações que criam an-tagonismos e significados divergentes em torno deum campo comum de historicidade, não se desligade outras relações sociais, como se a cultura se ins-crevesse em uma esfera autônoma desvinculada dosprocessos econômico-políticos que situam a gran-de massa dos jovens como excluídos, ou incluídosde modo subalterno (Martins, 1997), da riquezaproduzida socialmente e dos aparatos de poder.

Um terceiro eixo, menos investigado ainda,trata da ação voluntária e dos movimentos que en-volvem práticas de solidariedade, que vêm sensibi-lizando um conjunto crescente de jovens. Constituiobviedade a insuficiência das recorrentes explica-ções em torno da filantropia (leiga ou religiosa) quemobilizaria setores privilegiados em ações assisten-ciais voltadas para os pobres e excluídos. Muitopouco se investigou sobre essa modalidade de açãoque sensibiliza vários segmentos da sociedade e reú-ne um conjunto não desprezível de dificuldades poissua prática concreta vem revestida, como qualqueração coletiva ou movimento, de múltiplos signifi-cados (Isambert, 1996; Melucci, 1991, 1994, 1996).Enquanto categoria sociológica, a ação voluntáriaé aquela que implica a “adesão livre a uma formade solidariedade coletiva e o pertencimento a umarede de relações da qual se participa por escolha”(Melucci, 1991, p. 100). A gratuidade dos serviçosofertados revela o fato de que os benefícios econô-micos não constituem a base da relação entre os queparticipam. Como qualquer relação social, não es-tão desconhecidas as possíveis retribuições simbó-licas, de prestígio, auto-estima e poder presentes naação voluntária.

Mas a ação voluntária envolveria, também, oaltruísmo e a responsabilidade, exprimindo umamodalidade de participação nos problemas do mun-do, sobretudo diante dos que são excluídos, daque-les que sofrem ou são privados de alguns recursos

(Melucci, 1994. p. 117). Seu fundamento, recobertopela idéia do dom, explicita uma dimensão simbó-lica que diz respeito à pergunta, muitas vezes insur-gente nos tempos atuais, “por que ocupar-se como outro?”. Quando as relações dominantes estãomarcadas estritamente pela lógica do interesse oudo utilitarismo, esse tipo de indagação aponta umcampo de conflitos importantes em torno de valo-res antagônicos31.

A sensibilidade juvenil para a prática da açãovoluntária ainda está para ser investigada, pois mo-tiva não apenas os jovens oriundos de camadas mé-dias, sobretudo estudantes, mas também aquelesque se encontram no próprio limiar da exclusão,como é o caso de grupos musicais formados em tor-no do rap. O levantamento das iniciativas mais re-correntes protagonizadas por grêmios estudantis,principalmente na educação básica (particular oupública), revela um interesse por esse tipo de ação,manifestado em quadro bastante diversificado depráticas, que podem compreender tanto campanhascomo serviços voluntários. Explicita-se, assim, umcontraste significativo (e uma inevitável distância)com a experiência de organização e mobilização dasentidades estudantis que congregam as lideranças,adeptas de um militantismo politizado e articula-do em torno dos temas tradicionais do movimentoestudantil.

Buscando reunir alguns elementos para esbo-çar uma resposta diante do interesse juvenil pelaação voluntária, aponto aqui duas específicas orien-tações presentes nessas iniciativas: a primeira dizrespeito a uma possibilidade de ir além da denúncia,da crítica, privilegiando o agir, como se a mera de-

31 Há estudos recentes sobre movimentos, protago-nizados por adultos e mesmo por jovens, voltados para aquestão da criança e do adolescente em situação de exclu-são cujo eixo articulador da ação não diz respeito a moti-vações ou ganhos exclusivamente individuais de seus inte-grantes (Tommasi, 1996, Marques, 1999, Grandino, 1999).

Sobre trabalho juvenil voluntário consultar Novaes(1996).

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Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação

núncia ou a crítica não dessem conta da aspiraçãode ser ator na sociedade. Essa motivação traduz umcaminho voltado para uma modalidade concreta dedescoberta de um alter e da inevitável idéia de res-ponsabilidade e solidariedade que a acompanha.

A segunda orientação exprimiria uma dimen-são simbólica relevante na temporalidade que en-volve a ação voluntária, pois ela resgata o presentecomo momento fundamental capaz de articular pro-jetos e utopias de novas relações. As lutas de gera-ções jovens estudantis da década de 60 foram pro-fundamente marcadas por uma concepção de futuro— uma nova sociedade a ser construída, a força daidéia da revolução — a ser alcançada após um mo-mento forte de ruptura com a velha ordem.

Hoje, as relações entre passado e futuro sofre-ram profundas alterações. As sociedades complexasintroduzem diferenciações e descompasso no ritmodos tempos, como o tempo linear e cíclico analisa-do por Lefebvre (1972), o tempo objetivo e o tem-po da experiência subjetiva (Melucci, 1992). Vive-mos, como afirma Lechner (1990), e de modo cadavez mais dramático, o tempo como uma seqüênciade acontecimentos, de conjunturas, que não chegama se cristalizar em uma “duração”, quer dizer, umperíodo estruturado de passado, presente, futuro.Vivemos um “presente contínuo” (idem, 1990 p.113). O presente, sobretudo para os jovens, “tor-na-se uma medida inestimável do significado daexperiência de cada um de nós” (Melucci, 1997, p.8). A dissolução dos indivíduos no presente tambémtem sido examinada pela literatura diante da ausên-cia de perspectivas, pois os seres humanos não po-dem deixar de recordar e de projetar-se em direçãoao futuro, não há vida humana sem memória e semprojeto (Melucci, 1992). Mas se essa nova experiên-cia de tempo desmancha certezas e projetos ao frag-mentar ainda mais os indivíduos, não seria possí-vel recuperar na dimensão dessa temporalidade osentido do projeto?

Mesmo que de forma fragmentada, fluida einstável, na ação voluntária protagonizada pela ju-ventude há uma espécie de antecipação da utopia,anunciando hoje, e de forma profética, uma outra

possibilidade da vida em conjunto. Essa motivaçãoque emerge nas sociedades complexas e que encon-tra nos segmentos juvenis uma disponibilidade, mes-mo que difusa, conteria elementos antagonistas por-que desafiaria o poder, ao inverter a lógica domi-nante instrumental, construindo alternativas de sen-tido. Na experiência do agir altruístico, na apaixo-nada ação voluntária está presente uma recusa daracionalidade do cálculo, da eficiência da técnica,da maximização da relação fins e meios que se opõeà gratuidade do dom (Melucci, 1991).

Finalmente, considerando que se trata nestemomento de levantar hipóteses para a pesquisa so-bre os campos possíveis de conflito, resta examinar,de modo sucinto, o mundo do trabalho. Atingidosde forma mais intensa pelo desemprego em nossasociedade, os jovens vêm enfrentando dificuldadesnão desprezíveis de inserção profissional, ocorren-do um amplo processo de desassalariamento, comoanalisa Pochmann (1998).

As dificuldades de organização dos trabalha-dores assalariados em conjunturas de desemprego,a crise do sindicalismo, a emergência de modalida-des de ocupações novas e diferentes do empregoassalariado industrial já têm sido objeto de váriosestudos. A adesão dos jovens a uma forma de par-ticipação sindical via mundo do trabalho tem sidofraca mesmo para aqueles que hoje vivem a reali-dade cotidiana da fábrica. Não obstante a impor-tância do trabalho na constituição da sociabilida-de humana, é já reconhecida a dificuldade que essaatividade tem imposto para constituir atores jovens,sobretudo quando o emprego assalariado e indus-trial não ocupa a maior parte do contingente juve-nil que integra a população economicamente ativa.No entanto, por outros caminhos, a questão do tra-balho poderá vir a ser propiciadora de novas prá-ticas e, talvez, de um campo novo de conflito so-cial: as recentes experiências que nascem das for-mas de cooperação e autogestão que estão envol-vendo alguns segmentos juvenis. Aparecendo comouma alternativa ao desemprego, as iniciativas tam-bém contemplam novas concepções em torno dotrabalho e de suas formas de sociabilidade. As aná-

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lises desenvolvidas por Singer (1998) apontam umconjunto de valores que vem sendo construído: à ex-clusão imposta pelas novas modalidades da acumu-lação se responderia com práticas de inclusão; àcompetição como regra básica do mercado seriacontraposta à idéia da solidariedade; e, diante doisolamento e da fragmentação dos indivíduos se for-taleceria a aglutinação32. A interação entre as prá-ticas culturais e as experiências solidárias de traba-lho passam também a ocorrer, uma vez que algunsgrupos culturais ampliam suas referências para aação e tentam, assim, uma outra forma de integra-ção no mundo do trabalho33.

* * *

Esse horizonte de conflitos possíveis no inte-rior da ação coletiva juvenil deve ser reconstituí-do analiticamente no interior de experiências di-versas que se apresentam, na maioria da vezes, demodo fluido, disperso e submerso. Tal como Me-lucci (1991, 1996) aponta em seus estudos sobreos novos movimentos sociais, uma rede de intera-ções tem caracterizado essas práticas, marcadaspelo intenso grau de trocas sociais que propiciama construção de identidades comuns, de sentimen-tos de pertencimento e de canais de expressividade.

Os momentos de visibilidade são esporádicose respondem a problemas específicos, pois não háindícios de uma unificação em torno de um atorsocial privilegiado ou de apenas uma única dimen-são do sujeito; os movimentos são protagonizadospelas variadas formas que articulam os interessesjuvenis, sejam eles estudantes, rappers, skatistas,negros etc. Essa multiplicidade de formas pode ga-nhar visibilidade em algumas conjunturas ou emexperiências de organização de redes articuladas,sendo bem-sucedidas quando a diversidade e a au-tonomia dos grupos são preservadas, possibilitan-do a manutenção de mecanismos permanentes deconstituição da identidade coletiva de cada um dosgrupos envolvidos34.

Por outro lado, ocorre o desenvolvimento deformas múltiplas de participação onde o sujeito in-terage em vários grupos sem uma adesão integral etotal a apenas um, embora seja possível identificaruma forma de pertencimento que se torna às vezesdominante. Essas práticas configuram o que algunsautores têm estudado como formas novas de en-gajamento político e social em oposição à idéia deuma militância total (Barthélèmy, 1994). Mais ain-da, qualquer aspecto da vida que envolva a ação co-letiva não se desliga de uma busca de realização pes-soal. Tanto a dimensão coletiva como a individualse integram em uma mesma configuração que inci-de sobre as individualidades, pois o ator coletivo eo sujeito se constróem juntos (Touraine, 1997).

As dificuldades de constituição da ação cole-tiva juvenil não são poucas e tendem a ser atenua-das quando uma rede de apoio se consolida, querpela ação de ONGs, quer de movimentos sociais ousindicatos. Os recursos oferecidos por atores da so-ciedade civil podem retirar o grupo de seu isolamen-to ou fragmentação, mas criam, de modo rico, umnovo campo de conflitos que passa a exigir nego-

32 Grupo de estudantes universitários em São Paulo,com experiências de vida nos bairros da periferia da cida-de, criaram uma ONG — NAPES (Núcleo de Ação e Pes-quisa em Economia de Solidariedade) — para apoiar e de-senvolver projetos em torno de empresas ou cooperativasgeridos pelos trabalhadores. Parte das iniciativas foi volta-da para estimular o desenvolvimento de experiências que jáestavam em andamento. (Folha de S. Paulo, Folhateen, p.7-3, 26/07/1999). A ANTEAG também tem propiciado aformação de cooperativas ou empresas de autogestão, algu-mas delas com a presença de jovens.

33 Para Dayrell a produção musical juvenil dialoga,também, com o mundo do trabalho. quando os jovens daperiferia constróem o sonho de sobreviver através da mú-sica, estão também reivindicando uma nova inserção nomundo do trabalho, marcada por motivações de naturezapessoal que contemplam a paixão e a busca de autonomia(Dayrell, 1999).

34 Scherer-Warren (1998), analisando as tendênciasdas teorias contemporâneas sobre os movimentos sociais,aponta o caráter disperso das práticas sociais, autônomasentre si mas abertas ao intercâmbio e à cooperação.

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ciações. O movimento hip-hop em São Paulo cons-titui um bom exemplo dessa interação, quando en-controu tanto nos movimentos negros como em al-gumas ONGs apoio para uma melhor estruturaçãode suas atividades. No entanto, no interior de umquadro comum de interesses articulados em tornoda luta contra o racismo, emergem variadas concep-ções sobre as práticas que exprimem, entre outras,as diferenças geracionais, pois trata-se do encontrodo mundo adulto com o mundo jovem. Um fecun-do aprendizado se inicia, muitas vezes difícil, maseducativo para as partes envolvidas.

Juventude, escola e movimentossociais: relações possíveis

Retomar a reflexão sobre a escola a partir doângulo dos atores coletivos juvenis exige um breveolhar sobre a dificuldade que a condição estudan-til apresenta para a constituição de práticas coleti-vas sobretudo para aquela parcela que, do ponto devista de sua origem de classe, só recentemente teveacesso ao sistema de ensino regular.

Tendo em vista o conjunto das mudanças queafetaram as sociedades nos últimos anos e a própriaimportância do acesso à informação e ao conheci-mento como formas de dominação e controle so-cial, as análises sobre os novos movimentos sociaistenderam a enfatizar a importância dos sistemaseducativos e a escola como possíveis locus de con-flitos sociais (Touraine, 1987).

Após um período de silêncio desses setores,países europeus, como é o caso da França, passama ser palco de algumas mobilizações de estudantessecundaristas e do ensino superior, em meados dadécada de 80. Algumas investigações tentaram com-preender essas manifestações, que indicavam mu-danças diante das formas de luta estudantil obser-vadas na década de 60. Para Lapeyronnie (1992),que investigou o novo aluno do curso superior, asformas recentes de mobilização não indicavam aconstrução de atores coletivos em torno dos con-flitos da sociedade pós-industrial. Para esse autor,os movimentos dos anos 80 não conseguiram arti-

cular as manifestações massivas com a experiênciavivida, não ultrapassando o nível restrito da con-testação estudantil, sendo fluidas e efêmeras.

O processo intenso de massificação do ensinoque absorveu enorme contingente de jovens que nãoencontram na vida escolar respostas às suas prin-cipais demandas tem levado, na França, seguida-mente, estudantes secundaristas para as ruas emamplas manifestações. Ainda recentes, recobremelenco multifacetado de orientações, mas certamen-te não podem ser analisadas a partir dos referenciaisutilizados para a compreensão da experiência estu-dantil de 68 (Gerber, 1996). Esse movimento nas-cente recusa a liderança das entidades tradicionaise, muitas vezes, agrega outras condutas violentas,acarretando um horizonte bastante diversificadopara sua análise. No caso dos estudantes de liceus,cuja mobilização se intensifica a partir de meadosda década de 90, afirma Touraine (apud Castro,1999): “a um protesto massivo não se pode respon-der com simples adaptações administrativas; estasnão têm sentido se não organizam, ou ao menos nãotornam possível, uma mudança no sistema escolarcuja meta principal não pode mais ser a de transmi-tir a lei, mas ajudar os alunos a adquirir, em parti-cular pelo conhecimento, uma capacidade de açãoautônoma num mundo cuja desordem os ameaça”.

No Brasil, as mudanças observadas no siste-ma escolar em direção a um crescimento intenso nãoforam acompanhadas de transformações profun-das da prática escolar. As peculiaridades do proces-so de modernização econômica do País, o qual es-treitou as oportunidades ocupacionais em um mer-cado cada vez mais excludente, situam a educaçãopública, sobretudo a básica e a média, em condiçõesbastante desconfortáveis. No entanto, ressalto aquiapenas duas questões para efeito da análise a ser em-preendida: de um lado, o enfraquecimento da ca-pacidade de ação socializadora da escola sobre amaioria dos jovens, que mantêm com ela uma re-lação de distanciamento construído no interior dacondição de aluno, e, de outro, o predomínio deuma relação instrumental em que a busca de algu-ma certificação se torna o móvel fundamental do

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projeto escolar. Para aqueles que não estruturamuma experiência positiva com a instituição escolar,o seu processo de subjetivação ocorre fora ou con-tra a escola e a violência revela uma de suas facetas(Dubet, 1997).

A permanência das formas tradicionais da or-ganização estudantil — tanto as entidades nacionaiscomo as regionais — preenche, episodicamente, al-gumas funções de denúncia das políticas educativasmediante algumas mobilizações de massa, mas re-vela, também, sua enorme dificuldade em agregarnovos interesses e constituir bases efetivas de repre-sentatividade. Novos grêmios estudantis tendem aaparecer, nem sempre com possibilidades de atua-ção no interior da escola. Muitos promovem for-mas de sociabilidade em torno do lazer e do espor-te, de serviços voluntários ou campanhas. Emboracapazes de disseminar um associativismo em mol-des novos, são escassas as formas de conflitivida-de que nasceriam a partir da condição estudantil,stricto sensu, mesmo se se levar em conta que mui-tos são os temas que articulam a insatisfação dojovem perante a escola. Parece que a experiênciaescolar está. no momento, destituída de significadoscapazes de estruturar uma ação coletiva que propi-cie orientações comuns e ações de recusa aos me-canismos de exclusão ou às práticas pedagógicas,principalmente no ensino médio e fundamental35.

No entanto, diante de um ensino tão insatis-fatório, a violência, a indiferença ou o mero aban-dono seriam as únicas opções possíveis de ação paraos segmentos jovens? Ao que tudo indica, pode es-tar sendo delineado um caminho possível de açãocoletiva voltada para a questão escolar. Essa pos-

sibilidade nasce além dos muros escolares, no cir-cuito das várias formas da sociabilidade juvenil,sobretudo as culturais, examinadas neste artigo.

Não trato neste momento da necessidade evi-dente de maior porosidade da escola para com aspráticas culturais que compõem a vida dos segmen-tos juvenis, modalidades que eventualmente pode-rão contribuir para ressignificar a qualidade da ati-vidade pedagógica e o tipo de experiência construí-do por jovens no interior da escola. Essa é uma ques-tão relevante, mas procuro, agora, examinar umahipótese sobre a constituição de atores jovens emsuas relações com a educação escolar. A hipóteseaqui lançada diz respeito ao processo de formaçãodesses atores em seus grupos, que pode transformaro sentido da escola no projeto de vida, ao dar umnovo significado para o conhecimento, para a infor-mação e para a cultura (Sposito, 1994b). Na condi-ção de portadores de uma identidade coletiva cons-truída, na maioria das vezes, de forma distante douniverso escolar, pode haver um percurso de voltaà escola, não como aluno, isolado, mas como atorcoletivo. Esse novo encontro, difícil e tenso, enfrentaresistências da cultura escolar e de seus protagonis-tas — técnicos, professores e funcionários — tão oumais consistentes do que as práticas observadas naexperiência dos movimentos populares radicadosnos bairros em busca de uma participação maisdensa na vida escolar.

Uma possibilidade importante de ação domundo adulto escolar reside na sua capacidade dedialogar com essas forças que podem estar sub-mersas, às vezes, na própria sala de aula, nos pá-tios e corredores, sob a aparência do aluno passi-vo e distanciado. Trata-se de pensar a escola comomais um dentre os espaços propícios à constituiçãode sujeitos que tentam compreender sua presençano mundo e buscam construir projetos em condi-ções desafiadoras e adversas impostas pela socie-dade atual.

Se hoje é reconhecida uma profunda separa-ção entre a cultura escolar e o mundo dos jovens,quando a democracia for capaz de garantir um es-paço para que as vozes juvenis sejam ouvidas, a se-

35 A recente expansão do ensino médio poderá redun-dar em maior pressão de grupos de jovens pelo acesso aoensino superior público. Os sinais dessa mobilização já seregistram na discussão das cotas nos exames vestibulares,tanto para os egressos de escolas públicas como para aspopulações de origem negra. Nesse caso, os possíveis ato-res estruturariam suas demandas pelo acesso ao ensino, masnão necessariamente em torno da qualidade e do tipo deformação oferecidos pela Universidade.

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paração será menos provável e “movimentos juve-nis poderão tornar-se importantes atores na inova-ção política e social da sociedade contemporânea”(Melucci, 1997, p. 14).

MARÍLIA PONTES SPOSITO é professora da área deSociologia da Educação da Faculdade de Educação da Uni-versidade de São Paulo (FEUSP), onde obteve seu doutora-do, e presidente da Ação Educativa. É autora, entre outros,dos livros O povo vai à escola (São Paulo: Loyola, 1984) eA ilusão fecunda (São Paulo: Hucitec, 1993). Seus temas depesquisa têm sido os movimentos e as ações coletivas nocampo da educação, com ênfase mais recente nos gruposjuvenis.

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