ALGUMAS VISÕES ACERCA DA CONTABILIDADE AMBIENTAL NO BRASIL - OK

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ALGUMAS VISES ACERCA DA CONTABILIDADE AMBIENTAL NO BRASIL* RIBEIRO, Caroline do Amaral. Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil. Acadmica ltimo ano do curso de cincias contbeis. Atualmente realizando intercmbio estudantil na Universidad Nacional de Rosario. Domiclio: Estrada dos Pans, n1905. CEP 97105-030. Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected] ** ROSSATO, Marivane Vestena. Universidade Federal de Santa Maria. Prof. Dra. das disciplinas de Contabilidade Ambiental e Social do curso de Cincias Contbeis. Domiclio: Rua Floriano Peixoto, n 1184, 6 andar. Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. (55) 55-3220.9260

RESUMO

O agravamento dos problemas ambientais alterou profundamente as exigncias do mercado consumidor, que passou a preocupar-se com a composio dos produtos e a forma como so produzidos. Os clientes esto cada vez mais informados e predispostos a comprar e usar produtos que respeitem o ambiente. Corroborando, exerce sobre a empresa tambm a fora de investidores, que passaram a preocupar-se com as polticas internas das empresas e seus reflexos na sociedade, e, de governos, que adotam mecanismos rgidos contra a poluio ambiental por meio de leis, normas, multas e at sanes penais. Dessa forma, para alcanar um novo padro aceito globalmente, de desenvolvimento sustentvel, as empresas, situadas em pases desenvolvidos ou no, necessitam integrar seus interesses econmicos responsabilidade ambiental. Tal integrao acarreta uma nova gesto dos recursos naturais, possibilitando no apenas a eficincia, mas tambm a eficcia da atividade econmica, em busca da diversidade e a estabilidade do meio ambiente. Para demonstrar tais atitudes de gesto e implementao da responsabilidade ambiental na empresa, surge o ramo da Contabilidade Ambiental, uma vez que seu dever identificar e avaliar os eventos econmicos e financeiros, relacionados com o meio ambiente, capazes de afetar o estado patrimonial e o resultado das entidades contbeis. Conhecer os rumos tomados em outros pases, com relao ao meio ambiente, pode vir a ser de grande ajuda no momento de serem traados os novos caminhos para a contabilidade ambiental na Argentina. No Brasil, a contabilidade ambiental entendida pela maioria dos pesquisadores como um complemento contabilidade patrimonial medida que afeta o patrimnio das empresas. Nesse sentido, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar resumidamente qual o atual tratamento da contabilidade ambiental no Brasil, expondo alguns dos conceitos j definidos entre pensadores e pesquisadores e apresentando as duas normas profissionais que regulam sobre a divulgao ambiental no pas, a Norma de Procedimento de Auditoria (NPA) n. 11, que tem por objetivo estabelecer os liames entre a contabilidade e o meio ambiente e a Norma Brasileira de Contabilidade Tcnica (NBC T) n 15, que estabelece procedimentos para evidenciao de informaes de natureza social e ambiental. Palavras-chave: Contabilidade Ambiental; Gesto Ambiental; Desenvolvimento Sustentvel. Responsabilidade Ambiental;

1. INTRODUO Durante a dcada de 60 aconteceu a chamada conscientizao dos problemas ambientais, onde surgiram os primeiros movimentos ambientalistas, gerando preocupao entre a sociedade internacional. Devido a isso, em 1972, a Organizao das Naes Unidas (ONU) resolve promover a Conferncia sobre o Meio Ambiente de Estocolmo, na qual se constroem os primeiros alicerces para a criao do Programa Das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Em 1983 a ONU cria a Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) que realizou um profundo estudo, apresentando, no ano de 1987 o informe Our Common Future (Nosso Futuro Comum), o qual estabeleceu estratgias de longo prazo para um Desenvolvimento Sustentvel. Tal expresso, porm, ficou consagrada durante a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, mais conhecida como Rio-92, ou ECO-92. Definido pela ONU como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraes satisfazerem suas prprias necessidades, o principal objetivo do desenvolvimento sustentvel criar um modelo econmico capaz de gerar riqueza e bem estar social, preservando os recursos naturais, ou seja, integrar trs componentes bsicos: o econmico, o social e o ambiental. Atualmente, para as empresas manterem-se num mercado global altamente competitivo, devem estar atualizadas e dispostas a promover mudanas em suas polticas, deixando de lado a viso simples de maximizao de lucros para procurar alcanar objetivos simultneos de lucratividade, crescimento e responsabilidade scioambiental. Dessa forma, as instituies devem passar a considerar as questes ambientais como novas oportunidades de negcios, ao invs de entenderem como ameaas, afinal o desenvolvimento ou crescimento econmico e a gesto ambiental no so conceitos antagnicos, mas podem ser complementos. Porm, somente nos ltimos anos que o meio empresarial passou a atentar para tal modelo, e isso ocorreu principalmente pelo crescimento da conscientizao da sociedade, que passou a preocupar-se com a composio dos produtos e a forma como so produzidos. Os clientes esto cada vez mais informados e predispostos a comprar e usar produtos que respeitem o ambiente e, como destaca Ribeiro (2006, p. 2) o cliente quem define regras, padres e qualidade, dado que suas opes so amplas e variadas, tanto no que se refere qualidade dos produtos, como ao onde, quando, por quanto e de quem comprar. Outros setores tambm exercem fortes presses ao meio empresarial, como os investidores, que procuram por companhias com maiores transparncias de suas atividades; O governo, que ao adotar praticas coercitivas como leis, regulaes, multas e at sanes penais, exige adaptaes por parte das entidades; Bancos e fornecedores, que passam a avaliar as empresas atravs das suas atividades e; Auditores, que devem incluir em suas anlises e seus pareceres as variveis de natureza ambiental, se forem relevantes. Para satisfazer a todos esses usurios, as empresas devem no apenas se adaptar a essas mudanas, como tambm, ressalta Ribeiro (2006), demonstrar o que est sendo feito. Uma vez que a contabilidade tem o dever de identificar e avaliar os eventos econmicos e financeiros, esta possui as ferramentas necessrias para contribuir na identificao da interao entre agentes econmicos com o meio ambiente, capazes de afetar o estado patrimonial e seus resultados financeiros, atravs da Contabilidade Ambiental.

Conhecer os rumos tomados em outros pases, com relao ao meio ambiente, pode vir a ser de grande ajuda no momento de serem traados os novos caminhos para a contabilidade ambiental na Argentina. Nesse contexto, a pesquisa realizada apresentou como questo problema o desconhecimento a cerca de como a questo ambiental est sendo tratada contabilmente em outros pases, para o caso especfico desta, no Brasil. No Brasil, a contabilidade ambiental entendida pela maioria dos pesquisadores como um complemento contabilidade patrimonial medida que afeta o patrimnio das empresas. A partir da problemtica exposta, o estudo realizado perseguiu o objetivo geral de apresentar resumidamente o atual tratamento contbil despendido aos gastos de natureza ambiental, bem como ao passivo ambiental, pela Contabilidade Ambiental no Brasil. Especificamente, levantar e discutir as normas brasileiras expedidas pelos rgos reguladores sobre o tratamento contbil dos gastos de natureza ambiental, traduzido na identificao, no reconhecimento e evidenciao contbil. Para atendimento aos objetivos propostos, utilizou-se da tcnica de pesquisa denominada pesquisa bibliogrfica. Para Lakatos e Marconi (1991), a pesquisa bibliogrfica caracteriza-se por ser realizada em documentos ou fontes secundrias e, ainda abranger toda bibliografia tornada pblica ao tema de estudo. Possui como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito e comentado sobre determinado assunto. Possibilita, assim, o exame de um determinado tema sob o novo enfoque ou abordagem. Favorece que se chegue a concluses inovadoras em relao s tendncias conceituais ou abordagem com que determinado assunto foi estudado. A anlise bibliogrfica desenvolvida com base em material j elaborado, constitudo principalmente de livros e artigos cientficos e tem por finalidade colocar o pesquisador em contato com o que j se produziu a respeito de seu tema de pesquisa (PDUA, 2004). Desse modo, foi realizado levantamento detalhado dos requisitos exigidos pelas normas contbeis ambientais vigentes no Brasil. Tal levantamento deu-se junto literatura especializada sobre Contabilidade Ambiental, bem como junto a sites dos rgos reguladores, como o caso do IBRACON e Conselho Federal de Contabilidade do Brasil. 2. CONTABILIDADE E A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL A Resoluo do Conselho Federal de Contabilidade n 774 de Dezembro de 1994 define como objetivo cientfico da Contabilidade a correta apresentao do Patrimnio e anlise das causas das suas mutaes. Para Iudcibus (2004) a Contabilidade uma cincia informativa, essencialmente utilitria, no sentido de que responde, por mecanismos prprios, a estmulos de vrios setores da economia. Nesse contexto, Tinoco e Kraemer (2004) definem a Contabilidade como um sistema de mensurao, avaliao e divulgao, centrado nos usurios da informao, destinado a prov-los com demonstraes contbeis, permitindo anlises de natureza econmica, financeira, social e ambiental das empresas. Os problemas ambientais fazem necessria a adoo de solues pelas organizaes, melhorando a qualidade ambiental de suas atividades, produtos e servios. Alm de melhorar a imagem da organizao, a adoo de uma poltica de gesto ambiental, pode gerar outros benefcios para as empresas. Diante disso, Castro e Snchez (2007) enfatizam:[...] el medio ambiente es un factor conpetitivo, y esto conlleva benefcios de mercado. Una poltica ambiental bien concebida puede ayudar a reducir costes, generar benefcios marginales y adems

posicionar a la empresa en el mercado, con ventajas competitivas frente a otras sin una poltica ambiental estabelecida.

Dessa maneira, as empresas em busca de novas oportunidades, passaram a preocupar-se com a varivel ambiental em seus processos, promovendo mudanas na relao organizao-meio ambiente, considerando este um fator competitivo com o qual se pode obter resultados positivos. Por tudo isso, o meio ambiente tornou-se uma funo estratgica, que deve ser incorporadas na poltica das organizaes. Uma das mudanas mais significativas com relao s organizaes que integraram uma gesto ambiental como poltica interna, ou seja, de responsabilidade ambiental, tem sido a adoo de atitudes pr-ativas a defensivas, prevenindo antes de precisar corrigir. Nesse sentido Ribeiro e Martins (1998, apud KRAEMER, 2002) dizem que as demonstraes contbeis podem ser a ferramenta adequada para evidenciar tais atitudes, principalmente porque nestas esto contidas todas as informaes pertinentes situao patrimonial e desempenho da empresa em um determinado perodo. A adio das informaes de natureza ambiental enriqueceria tais demonstraes, resultando aos usurios, conforme Tinoco (2001, p.25) em melhor planificao de efetivos, melhor avaliao de custos e receitas, alm da melhor abordagem das aes a empreender, ou seja, melhores avaliaes para a tomada de decises. 2.1 A Contabilidade Ambiental Esse ramo da contabilidade surgiu nos anos 70, quando as empresas passaram a dar mais de ateno aos problemas do meio ambiente, porm somente foi reconhecida como ramo da cincia contbil em fevereiro de 1998, com a finalizao do Relatrio Financeiro e Contbil sobre o Passivo e Custos Ambientais pelo Grupo de Trabalho Intergovernamental de Contabilidade e Relatrios. Conforme Tinoco e Kraemer (2004, p. 32):a contabilidade deveria buscar responder a esse novo desafio, atendendo aos usurios interessados na atuao das empresas sobre o meio ambiente, subsidiando o processo de tomada de deciso, alm das obrigaes com a sociedade no que tange questo ambiental.

Pode-se definir como objetivo da contabilidade ambiental: identificar, mensurar e esclarecer os eventos e transaes econmico-financeiros que estejam relacionados com a proteo, preservao e recuperao ambiental, ocorridos em um determinado perodo, visando evidenciao da situao patrimonial de uma entidade. Note-se que a terminologia ambiental dever ser adicionada contabilidade patrimonial, seguindo os conceitos, princpios e postulados da cincia contbil, de forma destacada nas j existentes demonstraes financeiras, ou seja, deve ser apresentada com ttulos especficos, e para isso alguns termos devem ser definidos: a) Ativos Ambientais: So constitudos por todos os bens e direitos possudos pela empresa, que visam preservao, proteo e recuperao ambiental. Assim, o ativo ambiental pode ser entendido como os gastos ambientais capitalizados e amortizado durante o perodo corrente e os futuros, porque satisfazem os critrios para reconhecimento como ativos (RIBEIRO, 2006, p. 63). Como ressalta Kraemer (2000) os Ativos Ambientais podem ser: os estoques dos insumos, peas, acessrios, etc. utilizados no processo de eliminao ou reduo dos nveis de poluio; os investimentos em mquinas, equipamentos, instalaes, etc., adquiridos e/ou produzidos com inteno de amenizar os impactos causados ao

meio ambiente; os gastos com pesquisas visando o desenvolvimento de tecnologias modernas, de mdio e longo prazo, desde que constituam benefcios ou aes que iro refletir nos exerccios seguintes. b) Despesas Ambientais: Iudcibus (2004, p. 168) diz que despesa, em sentido restrito, representa a utilizao ou o consumo de bens e servios no processo de produzir receitas. De forma geral, pode-se dizer que o fato gerador da despesa o esforo para produzir receita. Consideram-se despesas ambientais, os gastos envolvidos com o gerenciamento ambiental, consumidos no perodo e incorridos na rea administrativa. Entre as despesas ambientais incorridas nas empresas, podem-se citar o tratamento de resduos; Tratamento de emisses; Descontaminao; Restaurao e; Materiais auxiliares e de manuteno de servios. As despesas ambientais dividem-se em: despesas operacionais e despesas no operacionais. As despesas operacionais so as supracitadas e as despesas no operacionais, conforme Tinoco e Kraemer (2004, p. 187), so as que decorrem de acontecimentos ocorridos fora da atividade principal da entidade, como multas, sanes e compensaes de terceiros. c) Custos Ambientais: Para Ribeiro (2006) os custos ambientais so os recursos utilizados pelas atividades desenvolvidas identificveis como relacionadas ao controle, preservao e recuperao do meio ambiente. Como exemplos de custos ambientais tm-se: tratamento de resduos dos produtos; Disposio dos resduos poluentes; Recuperao ou restaurao de reas contaminadas; Mo-de-obra utilizada nas atividades de controle, preservao ou recuperao do meio ambiente; Depreciao dos equipamentos e mquinas utilizados para controle e preservao do meio ambiente. Segundo Tinoco e Kraemer (2004), a Contabilidade Ambiental ao identificar, avaliar e imputar os custos ambientais permite aos gestores adotar procedimentos para a reduo de tais custos. d) Passivos Ambientais: Referem-se, segundo Martins e De Luca (1994), a benefcios econmicos que sero sacrificados em funo de obrigaes contradas perante terceiros para preservao e proteo ao meio ambiente. Tm origem em gastos relativos ao meio ambiente, que podem constituir-se em despesas do perodo atual ou anteriores, aquisio de bens permanentes, ou na existncia de riscos de esses gastos virem a se efetivar (contingncias). Os passivos ambientais ficaram conhecidos pela sua conotao negativa, ou seja, as empresas que os possuem agrediram o Meio Ambiente, e tm que pagar indenizaes a terceiros, multas ou recuperar reas afetadas (RIBEIRO e GRATO, 2000 apud TINOCO E KRAEMER, 2004). No entanto, os Passivos Ambientais no tm origem apenas em fatos de conotao negativa, conforme ressaltam os autores Tinoco e Kraemer (2004, p. 178):podem originar-se de atitudes ambientalmente responsveis, como decorrentes da manuteno de sistema de gerenciamento ambiental, os quais requerem pessoas para sua operacionalizao, aquisio de insumos, mquinas, equipamentos, instalaes para seu funcionamento. Sendo tais investimentos financiados por fornecedores ou por instituies de crdito, a companhia contrair exigibilidades de cunho ambientais, classificadas como Passivo Ambiental.

e) Contingncias Ambientais: Segundo Ribeiro e Lisboa (2000, apud TINOCO E KRAEMER, 2004, p. 182), as contingncias ambientais passivas podem apresentar as seguintes caractersticas:a) cumprimento de exigncias legais: quando atende s imposies legais ou face a penalidades (recuperao ambiental, multa por infrao a legislao pertinente). b) indenizao a terceiros por prejuzos causados: quando h deposio de resduos ou elementos txicos no meio ambiente. c) preveno em relao a eventos inesperados: no caso de indstrias poluentes, a preveno acontece a medida que se criam meios para evitar a externalizao da poluio.

Se na data de encerramento das demonstraes contbeis houver fortes indcios de perda total ou parcial de ativos, ou da incorrncia de obrigaes, a proviso para contingncias deve ser constituda, desde que o montante possa ser estimado. Caso contrrio, como enfatiza Ribeiro (2006), devero constar das notas explicativas a natureza de tal perda, a razo pela qual ela no pde ser mensurada e seus possveis efeitos sobre os resultados da empresa. f) Receitas Ambientais: De acordo com Iudcibus (2004, p. 168), receita a expresso monetria do valor de bens e servios oferecidos pela entidade, que provoca ingressos no ativo e patrimnio lquido [...]. Dessa forma, pode-se considerar como receitas ambientais a prestao de servios especializados em gesto ambiental; a venda de produtos elaborados de sobras de insumos do processo produtivo; a venda de produtos reciclados; a receita de aproveitamento de gases e calor; a reduo do consumo de matria-prima; a reduo do consumo de gua ou energia. Entretanto, conforme salienta Rossato (2006), importante salientar que o objetivo da implantao da gesto ambiental no gerar receita para a empresa, e sim, desenvolver uma poltica responsvel acerca dos problemas ambientais. Mas isso no impede que a empresa tire algum proveito econmico deste processo. Na seqncia, so apresentadas as normas que estabelecem a ligao entre contabilidade e meio ambiente no Brasil, bem como uma breve discusso. 2.2 As Normas Ambientais Brasileiras Como anteriormente citado, a contabilidade ambiental e a contabilidade patrimonial devem estar integradas, para a melhor comunicao da real situao organizacional. Ribeiro e Martins (1998, apud TINOCO E KRAEMER, 2004) ressaltam que a adio das informaes de natureza ambiental nas demonstraes contbeis, viria a enriquecer tais demonstraes, pois nestas esto contidas todas as informaes pertinentes situao patrimonial e ao desempenho da empresa em determinado perodo. Para Tinoco (2001), evidenciar as preocupaes sociais da empresa em suas demonstraes financeiras, alm de justificar seus objetivos sociais, melhora a sua imagem aos olhos do meio ambiente, porm, de acordo com o referido autor:Isso implica responsabilidade e dever de comunicar com exatido e diligncia os dados da sua atividade, de modo que a comunidade e os distintos ncleos que se relacionam com a entidade possam avali-la, compreend-la e, se entenderem oportuno, critic-la.

Nesse sentido, duas instituies brasileiras de contabilidade publicaram importantes normas de divulgao das informaes de cunho ambiental.

2.2.1 NPA 11 Em 1996, o ento Instituto Brasileiro de Contadores, (IBRACON, atual Instituto dos Auditores Independentes do Brasil) votou e aprovou a Norma e Procedimentos de Auditoria n. 11 Balano e Ecologia - (NPA 11), com o objetivo de estabelecer os liames entre a Contabilidade e o Meio Ambiente. A referida norma estabelece critrios para os elementos do Ativo e Passivo Ambiental, para a apresentao das demonstraes contbeis e tambm retrata alguns parmetros para a Auditoria Ambiental. Tais critrios sero tratados a seguir. a) Ativos Ambientais De acordo com a referida norma, os elementos patrimoniais que compreendem os ativos ambientais devem ser apresentados sob ttulos e subttulos especficos nas demonstraes contbeis; Assim, a NPA 11 classifica como elementos do Ativo Ambiental: a) Imobilizado, no que se refere aos equipamentos adquiridos visando eliminao ou reduo de agentes poluentes, com vida til superior a um ano; b) Diferido, no que tange aos gastos com pesquisas e desenvolvimento de tecnologias a mdio e longo prazos, desde que envolvam benefcios que se reflitam por exerccios futuros; c) Estoques, quando relacionados com insumos do processo de eliminao dos nveis de poluio. d) Outros componentes, como empregos e impostos gerados, obras de infraestrutura local como escolas, creches, reas verdes e ajardinadas, buscando o desenvolvimento e a valorizao da regio, e que, eliminando o Passivo Ambiental, a empresa produz ativos no local. b) Passivos Ambientais Para a NPA 11, o passivo ambiental toda agresso que se pratica ou praticou contra o Meio Ambiente e consiste no valor dos investimentos necessrios para reabilit-lo, bem como multas e indenizaes em potencial, portanto, continua a norma, uma empresa tem Passivo Ambiental quando ela agride, de algum modo ou ao, o Meio Ambiente, e no dispe de nenhum projeto para sua recuperao, aprovado oficialmente ou de sua prpria deciso. Para atender s exigncias legais atualmente em vigor no Brasil, as empresas potencialmente poluidoras devem elaborar projetos de proteo ambiental, alm de obter licena prvia, de instalao e de operao junto aos rgos fiscalizadores. Alm das multas cabveis nos casos de descumprimento das normas legais, esto outros riscos para a empresa, como paralisao temporria ou permanente dos negcios. Dessa maneira, a referida norma institui trs passos para determinar a real interao da empresa com o Meio Ambiente e, assim atender as exigncias legais existentes. Os passos so os seguintes: 1 passo: efetuar levantamento do Passivo Ambiental, trabalho feito por especialistas, que tem por objetivo detectar problemas ambientais que a empresa produz no ar, na terra e no solo. 2 passo: estabelecer um plano de ao que possa diminuir ou eliminar a poluio provocada, denominado Plano Diretor do Meio Ambiente, que deve demonstrar os impactos ambientais e o cronograma fsico e financeiro do plano para controle. Este plano deve ser submetido aos rgos fiscalizadores para aprovao, e, caso positivo, passa a ser instrumento de eliminao do Passivo Ambiental da empresa, desde que

se execute tambm o Ativo Ambiental, ou seja, sua parte positiva. O plano deve ainda conciliar as solues tcnicas mais recomendadas ao menor custo e no menor prazo de execuo. 3 passo: a execuo propriamente dita do controle ambiental, conforme prevista no Plano Diretor. O descumprimento dessa etapa torna a empresa inadimplente em relao ao Meio Ambiente, sujeitando-a, s sanes legais e s aes da comunidade. Assim, as empresa que no reconhecerem, atualmente e no futuro, os encargos potenciais do Passivo Ambiental, na realidade estaro apurando custos e lucros irreais. c) Divulgao das Informaes nas Demonstraes Contbeis A referida norma dispe que, em caso de as aes da empresa resultar em danos ao Meio Ambiente, a apresentao dos Ativos e Passivos Ambientais dever ser registrada nas Demonstraes Contbeis, sendo recomendado que os valores correspondentes sejam apresentados em ttulos contbeis especficos identificando, numa segmentao adequada, o Ativo Imobilizado Ambiental, Estoques Ambientais, Diferidos Ambientais, etc., bem como os Passivos ambientais, como Financiamentos Especficos, Contingncias Ambientais definidas, etc. Dessa maneira, a norma revela que o objetivo da Contabilidade e da Administrao da empresa dever ser a revelao da sua posio ambiental, dentro dos parmetros de divulgao das Demonstraes Contbeis. Porm, a norma retrata outra forma de tornar pblico a posio da empresa com o Meio Ambiente, atravs da apresentao de Notas Explicativas, informando sua poltica ambiental adotada, valor das amortizaes/depreciaes, despesas ambientais debitadas do resultado do exerccio, passivo contingente e cobertura de seguros, Plano Diretor elaborado, seus cronogramas fsicos e financeiros, emprstimos especficos contrados e sua amortizao programada. d) Auditoria Independente Ao auditor independente compete, de acordo com a norma, examinar as revelaes contidas nas Demonstraes Contbeis, e se certificar que os elementos ambientais esto refletidos nas peas contbeis e sua nota explicativa. No caso das contingncias, para as empresas reconhecidas como poluidoras, o auditor dever, de acordo com a Resoluo CFC n. 700/91 NBC T 11, item 11.2.15, assegurar se as contingncias foram devidamente identificadas e reportadas pela administrao da entidade, na elaborao das demonstraes contbeis, com apresentao de Nota Explicativa especfica. Porm, se a empresa no apresentar os informes requeridos sobre as contingncias, e, consideradas sua expresso e relevncia, o auditor independente dever adotar as normas previstas no item 11.3.7 tambm da Resoluo CFC n. 700/91 NBC T 11, optando por um pargrafo de nfase, ou parecer com ressalva, ou, at mesmo, parecer adverso, pela omisso ou inadequao da divulgao. A norma institui tambm como procedimento recomendvel a Auditoria Ambiental, visando transparncia dos informes, sua compatibilizao e avaliao dos riscos de comprometimento da continuidade da empresa. Assim como tornar claro, atravs de mapeamento e melhor conhecimento dos riscos ambientais, outros itens do Ativo Ambiental, pela quantificao e registro de ativos tangveis e intangveis, que se relacionem, interajam ou sofram efeitos da poluio. No somente, cabe aos auditores ambientais determinar as repercusses sobre os valores dos patrimnios envolvidos nas aquisies, fuses e incorporao de empresas. e) Retorno do Investimento Ambiental

Para concluir, revelam-se os aspectos de que trata a NPA 11 sobre o retorno do investimento ambiental, onde diversos aspectos positivos so determinados para as empresas ao adotam a gesto ambiental. Muitas empresas j se valem de seus programas de proteo ambiental para as suas campanhas publicitrias, com resultados positivos em suas imagens e receitas. Atravs de linhas de crdito especficas, as empresas tambm realizam reduo dos impactos ambientais negativos e/ou modernizam-se atravs da aquisio de novos equipamentos e tecnologias de produtos e processos. Ao determinar a realidade entre entidade e Meio Ambiente, a empresa revelar no apenas um problema oneroso, mas como uma oportunidade de contribuio para a melhoria da qualidade de vida humana e de ser considerada como um investimento industrial diante de seus usurios internos e externos e pblico em geral. 2.2.2 NBC T 15 A Norma Brasileira de Contabilidade Tcnica n. 15, foi aprovada em 19 de agosto de 2004, estabelecendo parmetros para a divulgao de informaes de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar sociedade a participao e a responsabilidade social da entidade. Entende-se por informao de natureza ambiental, a interao da entidade com o Meio Ambiente. A NBC T 15 institui como forma de divulgao a Demonstrao de Informaes de Natureza Social e Ambiental, de modo complementar s demonstraes contbeis e no se confundindo com as notas explicativas. Para tal, as informaes contidas na mencionada demonstrao podem ser extradas ou no da Contabilidade, de acordo com os procedimentos determinados pela norma e, para efeito de comparao, devem ser apresentadas as informaes do exerccio atual e do exerccio anterior. Pelo presente trabalho tratar-se de uma breve apresentao da legislao contbil brasileira concernente rea ambiental, sero discorridas somente caractersticas da referida norma no que tange divulgao de informaes de natureza ambiental. Na presente norma, de acordo com o item 15.2.4, nas informaes relativas interao da entidade com o meio ambiente, devem ser evidenciados: a) investimentos e gastos com manuteno nos processos operacionais para a melhoria do meio ambiente; b) investimentos e gastos com a preservao e/ou recuperao de ambientes degradados; c) investimentos e gastos com a educao ambiental para empregados, terceirizados, autnomos e administradores da entidade; d) investimentos e gastos com educao ambiental para a comunidade; e) investimentos e gastos com outros projetos ambientais; f) quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos contra a entidade; g) valor das multas e das indenizaes relativas matria ambiental, determinadas administrativa e/ou judicialmente; h) passivos e contingncias ambientais. Alm destas informaes, a entidade pode acrescentar ou detalhar outras que julgar relevantes. A NBC T 15 dispe ainda sobre a responsabilidade tcnica das informaes contbeis, que deve recair sobre o profissional Contador, devidamente registrado em Conselho Regional de Contabilidade. Em caso de referncias no contbeis, ou seja, qualitativas, as informaes devem ser indicadas e possurem evidenciados os critrios e controles utilizados para garantir a integridade de tais informaes. A responsabilidade sobre tais referncias pode ser compartilhada com especialistas.

A Demonstrao de Informaes de Natureza Social e Ambiental deve ser objeto de reviso por auditor independente, e ser publicada com o relatrio deste, quando a entidade for submetida a esse procedimento.

3. CONCLUSO Este trabalho foi realizado com o objetivo de apresentar aos profissionais e pesquisadores argentinos qual o atual tratamento da contabilidade ambiental no Brasil. Apesar de a ateno para esta rea ainda ser insuficiente, a passos lentos a Cincia Contbil vem adaptando-se ao mundo empresarial, e este se adapta ao mundo globalizado. Nesse sentido, a realizao de tal trabalho se justificou pela importncia da troca de informaes para novos conhecimentos em ambos os pases. Esse cambio de informaes entre pesquisadores vem dando lugar a um grande nmero de iniciativas para o desenvolvimento, implementao e melhoria contnua desse ramo da cincia contbil. Sem embargo, no existem ainda critrios comuns e geralmente aceitos a respeito da contabilidade ambiental, pois, por esta ser uma perspectiva recente do mundo desenvolvido, ainda h muitas barreiras a romper. Por esta razo, trabalhos nesta rea devem ser amplamente difundidos e discutidos entre todos os meios interessados, mas principalmente pesquisadores, professores e estudantes, pois a pesquisa universitria a base para a formao de novos intelectuais. Nesse intuito, que recentemente no Brasil foi instituda a obrigatoriedade de aplicao da disciplina de Contabilidade Ambiental em todos os cursos de Cincias Contbeis. Finalmente, vale ressaltar que cabe aos rgos reguladores a funo de regular a aplicao da contabilidade ambiental como obrigatria por parte das empresas, assim, no somente cada empresa deve caminhar por si s para um mundo socialmente responsvel, como a nao conjuntamente.

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