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ALGUNS ASPECTOS DA APLICAÇÃO DO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL - II 36

ALGUNS ASPECTOS DA APLICAÇÃO DO MÉTODO DA … · CONTABILIDADE 38 demonstrações financeiras consolidadas, nas quais as associadas são tratadas pelo MEP, e se uma empresa não

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ALGUNS ASPECTOS DA APLICAÇÃO DO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL - II

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3.Nas Normas Internacionais de Relato Financeiro (NIRF) o método da equivalência patrimonial (MEP) não é apresentado a propósito da contabilização das subsidiárias.

De facto, da NIC 27 – “Demonstrações Financeiras Consolidadas e Separadas” apenas constam os procedimentos da consolidação (junção da empresa-mãe e das subsidiárias) e do modo de apresentação nas contas separadas dos investimentos em subsidiárias, entidades conjuntamente controladas e associadas (cf. números 1 e 3).

Em conformidade com aquela NIC, na preparação das demonstrações financeiras separadas os investimentos em subsidiárias e em associadas são registados pelo custo ou de acordo com a NIC 39 – “Instrumentos Financeiros – Reconhecimento e Mensuração” (cf. número 38), não se aplicando, pois, em qualquer caso, o MEP.

Ainda em conformidade com a NIC 27, o tratamento nas demonstrações financeiras consolidadas das participações em associadas é efectuado de acordo com a NIC 28 – “Investimentos em Associadas” (cf. número 5 da NIC 27, sendo aplicado, relativamente às associadas, o MEP).

Nos casos em que uma empresa detém apenas participações em associadas, é aplicável a NIC 28, excepto em algumas circunstâncias (cf. números 1 e 5).

Parece, deste modo, poder concluir-se que, no âmbito das NIRF, se uma empresa tiver a característica de empresa-mãe tem

1.Na sequência do trabalho publicado, com análogo título, no recente

número 54, Julho-Setembro, da Revista Revisores _ Auditores, o

presente artigo tem por objecto o tratamento contabilístico das

designadas “transacções ascendentes “ e “transacções descendentes”

em relação com a aplicação do método da equivalência patrimonial

e no que se refere a empresas participantes e suas subsidiárias e

associadas.

2. No anterior artigo observa-se, de passagem e sem significado para

a substancial proximidade entre a consolidação e o MEP nas Normas

de Contabilidade e Relato Financeiro (NCRF), uma diferença no

tratamento dos resultados de transacções que ficam incluídos nos

“stocks”: enquanto no parágrafo 15 da NCRF 15 são totalmente

excluídos (como na consolidação), no parágrafo 46 da NCRF 13, não

se opta pela exclusão total daqueles resultados.

O presente trabalho é dedicado a esta questão: a mensuração dos

resultados dos exercícios abrangidos pelas operações, por efeito da

periodização.

Aproveita-se a oportunidade para estudar o modo de registo daqueles

resultados.

A exposição será apoiada por exemplos e servida pela apresentação

de alguns quadros.

José Rodrigues de Jesus Susana Rodrigues de Jesus REVISORES OFICIAIS DE CONTAS

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demonstrações financeiras consolidadas, nas quais as associadas são tratadas pelo MEP, e se uma empresa não for uma empresa-mãe e tiver participações em associadas aplica o MEP relativamente a estas.

Tanto num caso como no outro pode haver demonstrações financeiras separadas, onde não é aplicado o MEP – a característica destas demonstrações é, exactamente, a de não conterem a aplicação do MEP.

No domínio das NCRF, o processo é análogo no que respeita às contas consolidadas (cf. NCRF 15 – “Investimentos em Subsidiárias e Consolidação”), mas acresce o facto de o próprio MEP ser usado nas demonstrações financeiras chamadas individuais (também designadas, por vezes, estatutárias) - inclusivamente no que respeita ao registo contabilístico das subsidiárias, neste caso complementado nos termos que vão ser explanados (cf. números 8 e, por remissão deste, 14 e 15).

4.Nos termos da NIC 27 e da NCRF 15, os procedimentos de consolidação determinam que nas transacções intragrupo os rendimentos e gastos devem ser eliminados por inteiro, incluindo os lucros e prejuízos que sejam reconhecidos nos activos (cf. números 20 e 21 da NIC 27 e 14 e 15 da NCRF 15).

Os rendimentos e gastos que tenham sido reconhecidos nos activos e que tenham sido inicialmente eliminados são, naturalmente, reconhecidos como resultados aquando da saída daqueles activos (por exemplo, por venda ou depreciação).

Para simplificar a leitura, usar-se-á no texto a expressão “operações com “stocks”” ou idêntica para significar as operações em que “os lucros ou prejuízos sejam reconhecidos nos activos” mencionados nas NIC 27 e NCRF 15.

Sem entrar em pormenores, deve anotar-se que a hipótese de perdas nas vendas da participante à participada de bens que ficam em “stock” terá ou poderá ter tratamento diferente do que é dado no caso de ganhos (em termos simples: se a vendedora-participante aliena com prejuízo, este deve ser imediatamente assumido).

Neste trabalho, por comodidade, apenas de estuda a questão na vertente de ganhos nas transacções que determinam “stocks”.

Ver-se-á que, no âmbito das NCRF, os procedimentos adoptados na elaboração das demonstrações financeiras individuais conduzem a um resultado que é idêntico ao resultado apropriado pelos sócios da empresa-mãe nas contas consolidadas.

5.Da eliminação por inteiro dos rendimentos e gastos que não implicam “stocks” com reconhecimento de lucros ou prejuízos, decorre que nos “interesses que não controlam” (designação que, nas NIRF, substituiu a de “interesses minoritários”) é imediatamente reconhecida a parcela dos resultados correspondente àqueles rendimentos e gastos, naturalmente na proporção da participação, o mesmo acontecendo no resultado reconhecido para os efeitos dos titulares do capital da empresa-mãe.

Vejam-se os exemplos dos Quadro I e II, apresentados ao diante,

sendo o primeiro apresentado por mera ordem metodológica.

No caso do Quadro I, a empresa A é titular da totalidade das acções

representativas do capital social da empresa B (não havendo, pois,

interesses que não controlam).

No ano X, A debita juros a B no montante de 1 000 u.m., não sendo

estes juros capitalizados em B (não são, por exemplo, incluídos nos

custos dos inventários ou dos activos fixos tangíveis).

O resultado consolidado é nulo (o rendimento compensa-se

integralmente com o gasto) e é também nulo o resultado com a

aplicação do MEP, já que ao rendimento de 1 000 u.m. das contas

de A se contrapõe, nas mesmas contas, o resultado negativo do

mesmo montante do MEP, correspondente ao prejuízo da subsidiária.

O exemplo do Quadro II é em tudo análogo ao anterior, excepto

quanto ao facto de, agora, A participar no capital social de B em

apenas 70%.

Nas contas consolidadas compensam-se os rendimentos e os gastos,

mas, no seio do resultado agregado nulo, emerge um resultado

negativo atribuído aos interesses que não controlam – interesses

minoritários (IQNC-IM) de 300 u.m. e um resultado positivo do

mesmo montante de que são titulares os sócios de A (na prática, os

sócios de A emprestaram 30% do montante total a B e recebem

dos IQNC-IM de B 30% dos juros).

Nas contas individuais, segundo o MEP, a situação é análoga – há

um resultado de 300 u.m. em A, determinado pela diferença entre

o rendimento de 1 000 u.m. e o resultado negativo de 700 u.m.

advindo pelo MEP (70% do resultado negativo, de 1 000 u.m., nas

contas de B).

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A expressão de acordo com o MEP é idêntica – ainda neste caso de

operações sem “stocks” - nas contas consolidadas no que respeita

às participações em associadas e nas contas individuais, quer quanto

a subsidiárias como a associadas.

6.Passemos, agora, às situações em que há “stocks”, que podem ser

formados na participada, em consequência de transacções

descendentes, ou na participante, por efeito de transacções

ascendentes.

Anote-se, antes de mais, um pormenor terminológico.

Quando as NIRF e as NCRF definem o MEP, referem-se aos resultados

da participada que são incorporados pela participante (cf., por

exemplo, a definição inserida no número 2 da NIC 28).

Ora, nas transacções descendentes que determinam a formação de

“stocks” na participada não há, aquando do reconhecimento do

“stock”, a formação de resultados nesta (não podendo, assim, haver

qualquer resultado da participada que a participante possa colher),

pelo que não parece integralmente correcto referir, a este propósito,

a aplicação do MEP.

Pelo menos por mera comodidade de apresentação, usar-se-á a

expressão MEP para abranger também os casos das transacções

descendentes.

Há duas questões centrais no uso do MEP na hipótese de existência

de “stocks” – a quantificação e a expressão dos resultados e das

participações financeiras.

É importante referir a diferença de tratamento quando a relação é

com uma subsidiária (eliminação por inteiro do resultado, tanto nas

José Rodrigues de Jesus / Susana Rodrigues de Jesus / REVISORES OFICIAIS DE CONTAS

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contas consolidadas como nas contas individuais segundo o MEP)

ou com uma associada (eliminação na proporção da participação).

Na circunstância da relação de grupo, a NCRF 15 determina que, nas

contas individuais, se aplique o MEP e, além disso, se proceda à

cativação dos resultados não realizados no grupo e que permanecem

em “stock”: “8. Nas demonstrações financeiras individuais de uma

empresa-mãe, a valorização dos investimentos em subsidiárias deve

ser efectuada de acordo com o método de equivalência patrimonial,

aplicando-se, ainda, o disposto nos parágrafos 14 e 15”.

O segundo período do número 15 daquela NCRF – “Os resultados

provenientes de transacções intragrupo que sejam reconhecidos

nos activos, tais como inventários e activos fixos, são eliminados por

inteiro” – quer exactamente significar que os resultados da

participante apenas são nesta realizados após a venda pela

participada.

A expressão, no número 8 da norma, “aplicando-se, ainda” implica

que não se usa apenas o MEP, mas este e o complemento do número

15.

Pretendeu-se, afinal, com esta disposição que, na participante, os

resultados nas contas individuais fossem os mesmos que figuram

nas contas consolidadas.

De mencionar, também, que, nos citados números 14 e 15, quando

referidos às contas individuais, a referência à eliminação, de saldos,

transacções, rendimentos e ganhos e gastos e perdas intragrupo só

pode ser entendida, rigorosamente, quando se tenha querido, na

base, adoptar a mesma metodologia da consolidação de contas –

não pretende significar que, nas contas individuais, se façam aquelas

eliminações (o que não tem sentido), mas fica claro que se pretende,

no fim, ter o resultado das contas individuais idêntico ao das contas

consolidadas.

A NIC 28 especifica, naturalmente, no seu número 20, que “muitos

dos procedimentos apropriados para a aplicação do método da

equivalência patrimonial são semelhantes aos procedimentos de

consolidação”, o que é repetido no número 57 da NCRF 13.

Os resultados provenientes das transacções ascendentes e

descendentes são, porém, agora, tratados de modo diferente do que

consta relativamente à consolidação.

Na verdade, é estabelecido no número 22 da NIC 28 e no número

46 da NCRF 13 que, na relação com as associadas, os resultados

provenientes daquelas transacções são reconhecidos nas contas da

participante “somente na medida em que correspondam aos

interesses de outros investidores na associada, não relacionados

com o investidor” (redacção da NIC 28) ou, “apenas até ao ponto dos

interesses não relacionados da investidora na associada” (texto da

NCRF 13).

Em ambas aquelas normas se completa afirmando que a parte da

participada nos resultados da associada resultante daquelas

transacções é eliminada.

Não existe, assim, qualquer diferença no tratamento das associadas

nas contas consolidadas e nas contas individuais – sempre se aplica

o MEP e não há diferenças na sua aplicação.

Como se afirmou, no caso das transacções sem “stocks” o resultado,

pelo simples jogo das contas, é o correspondente à participação de

terceiros na participada – isso mesmo foi evidenciado logo nos

exemplos iniciais: por exemplo, a conjugação dos juros debitados

por uma empresa à outra (e registados como rendimentos e gastos

de juros nas respectivas contas) com o resultado segundo o MEP (e

contabilizado como tal na participante) implica que, finalmente, o

resultado da participada seja o montante dos resultados (positivos

ou negativos) inerentes à transacção com os terceiros.

Nos casos das vendas com “Stock” também acontece isso mesmo,

mas de modo diferido – o resultado na participante apenas é

reconhecido aquando da venda dos inventários, ou, no caso de outros

activos, pela venda ou amortização.

De sublinhar ainda uma gradação das dificuldades na aplicação do

MEP quando se trata de uma subsidiária ou de uma associada.

No caso da subsidiária, há o domínio da participada e,

consequentemente, o pressuposto da minuciosa informação

requerida (para a consolidação e para o MEP).

Na hipótese da associada o conhecimento não é, eventualmente,

tão fluído, havendo, pois, limitações apreciáveis no acesso à

informação que, certamente, careceria de indiscutível fiabilidade

(por exemplo, conhecimento da existência de “stocks” na participada,

nas transacções descendentes, e das margens de lucro na participada,

nas transacções ascendentes).

Nos números seguintes procurar-se-á estudar, com quatro exemplos,

este tema.

7. Comecemos por referir o tratamento das associadas, relativamente

às quais podemos encontrar, com actualidade prática, informações,

sugestões ou recomendações nos livros da Ernst & Young, KPMG

e Deloitte de que nos socorremos: Ernst & Young, International

GAAP 2011, General Accepted Accounting Practice under

International Financial Reporting Standards, Willey, 2011, páginas

685 e seguintes, KPMG, Insights into IFRS, KPMG´s practical guide

to International Financial Reporting Standards, 8th edition,

2011/2012, Sweet & Maxwell, 2011, páginas 391 e seguintes, e

Deloitte, iGAP 2011, A guide to IFRS reporting, Lexis Nexis, 2010,

páginas 2602 e seguintes.

Em todos estes textos é assinalado que a norma internacional não

fornece uma regra ou a indicação de modo de registo das operações,

no quadro do MEP.

8.No que refere às transacções descendentes aqueles textos fazem

reflectir a cativação (ou suspensão, ou adiamento, ou diferimento)

dos resultados (na parte proporcional) nas contas de vendas e de

custo das vendas (Ernst & Young e KPMG), apenas na conta de

custo das vendas (Ernst & Young), ou na conta de vendas (KPMG),

sendo sempre aqueles resultados registados, em contrapartida, na

conta do activo da participação financeira.

Será esta a melhor solução, designadamente no nosso contexto?

Será útil, especialmente, alterar os valores das contas de vendas e

custo das vendas? Ter-se-á reduzido o valor da participação pela

venda de bens que ficaram em “stock” na participada?

CONTABILIDADE

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José Rodrigues de Jesus / Susana Rodrigues de Jesus / REVISORES OFICIAIS DE CONTAS

Ou será preferível deixar que os registos nas contas de vendas e de custos das vendas sigam o seu curso normal e que, à parte, se cative o resultado não realizado das vendas como um proveito diferido (ou suspenso ou cativo), debitando conta autónoma apropriada de resultados?

Propendemos a crer que este último procedimento será o mais apropriado.

Desta forma, não se perturbariam os valores das contas de vendas e de custos das vendas, com as inerentes vantagens de controlo corrente e de compatibilidade com os montantes fiscalmente relevantes.

O que dizer do uso da conta das participações financeiras como contrapartida do débito da conta autónoma de resultados?

Esta questão envolve a concepção do rendimento ou ganho diferido na estrutura do balanço.

É certo que no SNC existem as contas “28 – Diferimentos”, com as subcontas “281 – Gastos a reconhecer” e “282 – Rendimentos a reconhecer”, que conduzem às contas de “Diferimentos” que se encontram no balanço, tendo aquela conta geral a anotação de que “compreende os gastos e os rendimentos que devam ser reconhecidos nos períodos seguintes”.

Constituirá, porém, o rendimento diferido por efeito da venda descendente descrita um passivo (cuja característica essencial é a de que a empresa tenha uma obrigação presente (cf. Estrutura Conceptual, número 59, do SNC)?De notar que, tanto nas NIRF como nas NCRF podemos encontrar no passivo elementos que, se bem se pensa, não constituem obrigações presentes.

Por exemplo, os ganhos diferidos que ficam no passivo nas transacções de venda seguida de locação, são diferidos e amortizados durante o prazo da locação (número 59 da NIC 17 e número 52 da NCRF 9).

Outro exemplo é o da consideração como passivo dos subsídios recebidos relacionados com activos, que nas NIRF “devem ser

apresentados na demonstração da posição financeira quer tomando o subsídio como rendimento diferido, …” (cf. número 24 da NIC 20).

Se for entendido que não pode ser um passivo o ganho diferido das vendas descendentes, parece que a solução deva ser a de subtrair tal ganho na conta do activo da participação financeira – salientando, todavia, que existe alguma incongruência, uma vez que a participação não sofreu qualquer perda.

Deve assinalar-se que nesta solução pode acontecer que a quantia do resultado positivo suspenso seja superior ao valor contabilístico da participação, o que determina considerações adicionais, como é descrito nas citadas publicações e que aqui nos dispensamos de transcrever.

Refira-se, ainda, que a utilização de uma conta do passivo para o ganho diferido pode, em alguns casos, influenciar de forma material os rácios da situação financeira.

Em qualquer caso, terá de ser efectuada a necessária divulgação, que deverá mencionar todas as quantias relevantes (vendas, custo das vendas, inventários, resultados).

9.Quanto às transacções ascendentes, nas citadas publicações recomenda-se que seja deduzido ao valor dos inventários (Ernst & Young e Deloitte) ou ao valor dos inventários ou ao da participação financeira (KPMG) a parte proporcional (à participação) do lucro registado na participada, por contrapartida de igual redução do lucro obtido directamente segundo o MEP, na prática neutralizando esse mesmo lucro.

Pode haver, pelo menos, três soluções:

- aumentar o valor da participação financeira por contrapartida de rendimentos de MEP e, simultaneamente, reduzir os inventários por débito desta mesma conta ou de uma conta específica de gastos que neutralize o rendimento de MEP (a primeira hipótese seria idêntica a simplesmente aumentar a participação financeira e reduzir os inventários);

- aumentar o valor da participação financeira por contrapartida de rendimentos diferidos;

- não efectuar qualquer registo.

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com o CMV de 1600 u.m., tendo B conservado no termo daquele

ano a totalidade das mercadorias adquiridas a A e vendido

integralmente as mesmas em X2.

O resultado consolidado no ano X1 é nulo, mesmo sendo a

participação apenas de 70%, pois as mercadorias não chegaram,

nem parcialmente, a sair do grupo e, assim, não é possível reconhecer

qualquer resultado agregado.

Também nas contas individuais de A do ano X1 o resultado é nulo,

podendo acrescentar-se que é também nulo o resultado em B, que

limitou a adquirir as mercadorias.

O resultado suspenso, de 400 u.m., fica registado a débito na conta

de resultados “Gastos e perdas por diferimento de ganhos com

subsidiárias diferidos” (que compensa os valores das contas de

vendas e de custo das vendas) por contrapartida do registo a crédito

na conta de rendimentos diferidos “Diferimentos-ganhos e perdas

em operações com subsidiárias diferidos”.

Pensamos que será preferível nada registar na conta de inventários (e na conta de custo das vendas que é subsequentemente movimentada aquando das posteriores vendas), deixando que aquela, pelas razões de controlo e fiscais já invocadas, mantenha o trato corrente.

Não afectar, também, a conta da participação financeira parece natural: se, em conformidade com o MEP, a participante não reconhece o lucro da venda que a participada lhe fez, também o valor da

participação financeira não deve ser aumentado por tal montante.

É certo que, deste modo, o valor da participação financeira não fica em consonância com a parcela do capital próprio da participada registada após a aquisição da participação – mas, julgamos, a necessária divulgação, que, em qualquer caso terá de haver, completará um melhor entendimento das contas na hipótese preferida.

Deve, igualmente, referir-se que, no contexto do MEP, se a participada distribuir à participante o lucro que esta ainda não considerou reconhecido, o que estará a acontecer, na prática, é, do ponto de vista da participante, uma distribuição de resultados da participada pré-existentes e, no limite, do capital da participada pré-existente à própria aquisição.

O registo numa conta de rendimentos diferidos tem os inconvenientes conceptuais e práticos já analisados.

10.Exposta, assim, a questão relativamente às associadas, passemos ao caso das subsidiárias.

Como este tema não é tratado nas NIRF, apenas podemos admitir que seria esperado dos autores citados tratamento idêntico ao mencionado quanto às associadas – sendo, também, igual o modo de expressão para que nos inclinamos a propósito das mesmas associadas.

Há, porém, na relação com as subsidiárias uma questão nova – nas NCRF os resultados são eliminados por inteiro na aplicação do MEP, tal como nas contas consolidadas.Assim, nas transacções descendentes é cativado o inteiro resultado da venda, ainda que a participante não seja titular da totalidade do capital da participada e nas transacções ascendentes a participante não reconhece qualquer parcela do resultado da venda da participante.

Em suma, o resultado nas contas individuais da participante é igual ao resultado apurado na consolidação – foi isto mesmo que se quis na NCRF 15, mediante os seus números 8, 14 e 15.

11.Os exemplos dos quadros seguintes procuram ilustrar as soluções que sugerimos, usando-se, para as contas não convencionais, designações cuja letra esteja próxima do objecto a retratar (e que, obviamente, teriam de ser simplificadas, no caso de adopção destas sugestões de registo).

Independentemente do acerto da solução, usa-se, nestes exemplos, uma conta do passivo para albergar os rendimentos ou ganhos diferidos.

Comecemos pelo exemplo do Quadro III, em que A detém 70% do

capital de B e no ano X1 vende mercadorias a B, por 2 000 u.m. e

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José Rodrigues de Jesus / Susana Rodrigues de Jesus / REVISORES OFICIAIS DE CONTAS

A reversão do diferimento ou reconhecimento final do resultado em

X2 expressa-se de forma análoga à indicada no número anterior.

13.Este número e o seguinte têm por objecto transacções ascendentes

– para não alongar o texto, supõe-se, no primeiro exemplo a mesma

relação societária enunciada no número 11, mas em que a venda se

realiza de B para A. O quadro V, seguinte, ilustra a expressão

contabilística.

Em X2, o resultado é reconhecido nas contas de A, tanto consolidadas

como individuais – nestas por reversão, digamos assim, dos registos

da suspensão do ano anterior: daí um registo de 400 u.m. a crédito

da conta “Diferimentos - ganhos e perdas em operações com

subsidiárias diferidos” e outro a crédito, do mesmo valor, numa conta

de rendimentos com a designação, por exemplo, de “Reversão de

gastos e perdas por diferimento de ganhos em operações com

subsidiárias”.

12.Admitindo, agora, o mesmo exemplo do número anterior, mas usando

uma participação de A em B de 20%, a expressão é em tudo idêntica,

sendo o valor da suspensão apenas de 20% do resultado, como se

expõe no quadro IV, seguinte.

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14.Sendo, agora, a relação com uma associada e usando os dados do

número 12, com a venda, porém, formulada de B para A, apresenta-

se a solução no quadro VI seguinte.

A alternativa, como de indicou, seria não registar o valor de 280 u.m.

– nem no activo, nem no passivo.

No ano X2, com a realização das vendas por A, o resultado de 280

torna-se reconhecido nas contas de A consolidadas e de A individuais

segundo o MEP, por reversão ou realização do diferimento de 280

u.m. do ano anterior; nas contas consolidadas emerge, também, o

valor de IM de 120 u.m. que não podia ser expresso no ano X1, dado

que a transacção tinha sido completamente eliminada, tanto para

os interesses de A como para os IQNC-IM, em B.

Há uma observação evidente: o ganho total na venda em B (que

está nos resultados de B) está no valor dos inventários em A - na

prática ter-se-á efectuado uma reavaliação das mercadorias no

interior do grupo.

O modo como está resolvida a questão no Quadro V corresponde a

assumir essa reavaliação na conta da Participação Financeira

(debitando-a pelo ganho) e a creditar, pelo mesmo valor, uma conta

do passivo de diferimentos – “Diferimentos - ganhos e perdas em

operações com subsidiárias diferidos”.

Como ficou assinalado, há outras soluções e não se pretende afirmar

que esta seja preferível.

Em X2, quando as mercadorias são vendidas em A, na contabilidade

desta é realizado o lucro suspenso de 80, debitando a conta do

passivo “Diferimentos - ganhos e perdas em operações com

associadas diferidos” por contrapartida de um crédito em Ganhos

do MEP.

15.É tempo de terminar, sublinhando, a título de conclusão, a diversidade

de situações nas relações entre participantes e participadas e o

respectivo cruzamento com os métodos utilizados na elaboração

das contas, tanto consolidadas como individuais.

Aquela diversidade é, de resto, compatível com diferentes

apresentações ou modos de expressar os resultados, merecendo

particular estudo os casos em que, com ou sem IQNC-IM, existem

ganhos incluídos nos activos fixos tangíveis e nos inventários.

O Sistema de Normalização Contabilística não mostra as soluções

práticas, designadamente com a atribuição de contas específicas

para albergar as soluções dos diferentes problemas.

Julga-se, aliás, conveniente que a CNC nem sequer venha a esmiuçar

quaisquer soluções a estes propósitos.

De facto, sendo muito diversas as situações e com diferentes graus

de materialidade, é desejável que se deixe aos preparadores e

auditores das contas a escolha do modo que de forma mais

transparente e eficiente mostre a realidade.

Em muitos casos o efectivo tratamento fino destes temas, sobretudo

na relação com as associadas e em que não haja materialidade,

apenas servirá para reduzir a compreensão das contas.

O presente estudo não pretende, obviamente, ser mais do que um

contributo para o estudo destas questões.

São temas miúdos, com a particularidade de versarem, muitas vezes,

quantias imateriais - isto não impede que os devamos ter presentes.