3
ALGUNS COMENTARIOS SOBRE O CONCEITO DE INCONSCIENTE NA PSICANÁLISE Esse artigo publicado em 1912 é resultado de uma contribuição de Freud a parte médica das Atas da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres. O objetivo principal desse artigo é a discussão dos múltiplos sentidos atribuídos à palavra “inconsciente”, com a distinção entre os empregos, de forma descritiva, dinâmica e sistemática. O primeiro sentido que é apresentado é o atribuído pelo campo da Psicanálise. Algo (uma representação mental) pode estar presente na minha consciência e no momento seguinte desapareça e, após um intervalo, reapareça inalterada na consciência, não por uma percepção sensorial, mas devido à memória. Durante esse intervalo supõe- se que esse conteúdo manteve-se latente na consciência. Daí surge a objeção da filosofia que afirma que sendo assim a representação mental não existiria como objeto da psicologia, e que se trata apenas de uma disposição física disponível para desencadear repetidamente a trajetória do mesmo fenômeno psíquico, a representação. No entanto essa objeção não se fundamenta já que ela apenas contorna o problema, agarrando- se à ideia de que “consciente” e “psíquico” são conceitos idênticos. Feitas essas considerações, “consciente” será apenas a representação que está sendo percebida e que está presente em nossa consciência. Dessa forma todas as representações latentes que tenhamos movido para supor que existam na dimensão psíquica, serão denominadas “inconscientes”. Assim representações inconscientes, são aquelas que não percebemos, mas que admitimos existir, com base em outras evidencias. Um exemplo que ilustra essa existência de representações inconscientes é o experimento realizado por Bernheim, onde

ALGUNS COMENTARIOS SOBRE O CONCEITO DE INCONSCIENTE NA PSICANÁLISE

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ALGUNS COMENTARIOS SOBRE O CONCEITO DE INCONSCIENTE NA PSICANÁLISE

ALGUNS COMENTARIOS SOBRE O CONCEITO DE INCONSCIENTE NA PSICANÁLISE

Esse artigo publicado em 1912 é resultado de uma contribuição de Freud a parte médica das Atas da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres.

O objetivo principal desse artigo é a discussão dos múltiplos sentidos atribuídos à palavra “inconsciente”, com a distinção entre os empregos, de forma descritiva, dinâmica e sistemática. O primeiro sentido que é apresentado é o atribuído pelo campo da Psicanálise. Algo (uma representação mental) pode estar presente na minha consciência e no momento seguinte desapareça e, após um intervalo, reapareça inalterada na consciência, não por uma percepção sensorial, mas devido à memória. Durante esse intervalo supõe- se que esse conteúdo manteve-se latente na consciência.

Daí surge a objeção da filosofia que afirma que sendo assim a representação mental não existiria como objeto da psicologia, e que se trata apenas de uma disposição física disponível para desencadear repetidamente a trajetória do mesmo fenômeno psíquico, a representação. No entanto essa objeção não se fundamenta já que ela apenas contorna o problema, agarrando- se à ideia de que “consciente” e “psíquico” são conceitos idênticos.

Feitas essas considerações, “consciente” será apenas a representação que está sendo percebida e que está presente em nossa consciência. Dessa forma todas as representações latentes que tenhamos movido para supor que existam na dimensão psíquica, serão denominadas “inconscientes”. Assim representações inconscientes, são aquelas que não percebemos, mas que admitimos existir, com base em outras evidencias.

Um exemplo que ilustra essa existência de representações inconscientes é o experimento realizado por Bernheim, onde uma pessoa é colocada em estado hipnótico e posteriormente despertada. Durante o estado hipnótico a paciente é levada a realizar tarefas em horários determinados, o exemplo meia hora depois. Após ser despertada e voltar ao seu estado de espirito normal, sem nenhuma lembrança do seu estado hipnótico , quando chega o horário combinado, a paciente vai executar o que foi ordenado, e esse ato é executado conscientemente, mas sem que a pessoa saiba por que o faz.

Dessa forma é possível dizer que aquela intenção estava disponível de forma latente ou inconsciente na psique e que se tornou consciente assim que a hora determinada chegou. É importante ressaltar que o que aparece na consciência é a representação do ato a ser executado e não a intenção do mesmo. Essa representação não tornou- se apenas objeto da consciência, tornou-se também ativa. Logo que a representação é percebida na consciência já foi transformada em ação. No paciente histérico há um grande numero de representações ativas, mas inconscientes, os sintomas são originados delas.

Page 2: ALGUNS COMENTARIOS SOBRE O CONCEITO DE INCONSCIENTE NA PSICANÁLISE

Agora não somente no campo descritivo o termo inconsciente ganha um sentido mais amplo. Ele não denomina somente as ideias latentes em geral, mas também aquelas com caráter dinâmico, aquelas que apesar de sua intensidade e atividade, se mantêm distantes da consciência. Assim o inconsciente, é uma fase inevitável que ocorre regularmente, os processos que constituem a atividade psíquica, e todo ato psíquico começa como um ato inconsciente e pode assim permanecer, ou pode desenvolver- se em direção à consciência, dependendo de encontrar ou não resistência.

A psicanálise baseia- se também na análise dos sonhos. Que pode ser descrito como uma cadeia de pensamentos que foi ativada pela operação psíquica diurna e, ao chegar a noite, retém parte da atividade. Durante a noite, essa cadeia de ideias, carregada de um pouco de atividade, consegue estabelecer conexões e interligar- se com uma tendência inconsciente, que desde a infância permanece recalcada e excluída de vida consciente. Daí esses aspectos inconscientes aparecem na consciência na forma de sonho. Então ocorrem três coisas com essas ideias: esses pensamentos passaram por transformações, disfarces e deformações que dão agora uma expressão; esses pensamentos ocuparam consciência num momento em que não deveriam tê- lo feito; uma parte do inconsciente, que sob outras circunstâncias não o faria, emergiu na consciência.

Para finalizar Freud afirma que o valor do inconsciente como signo, ou marca indicativa, ultrapassou a importância do seu significado como propriedade. O termo “o inconsciente” será tomado como o sistema que se revela por meio de um signo indicativo da inconsciência de cada um dos processos que o compõem.