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Samuel David Coto Faculdade Casper Líbero Curso de Fotojornalismo 10 de setembro de 2008

Alheio a mim

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Projeto de fotografia desenvolvida por Samuel Coto para o curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.

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Samuel David CotoFaculdade Casper LíberoCurso de Fotojornalismo10 de setembro de 2008

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Alheio a mim

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Prefácio

Insisto. Há dois mundos em mim. O primeiro, escondido, inútil e inteiramente meu por ser totalmente irreal. É o mundo vão do que compreendo com meu intelec-to. Uma névoa falsa de inteligência, atado e mesclado ao imaginário e obscuro. O lu-gar onde crio e destruo. O segundo, e mais interessante, é o mundo das coisas que me permeiam e me superam. As partes de mim que não me pertencem – que fogem com o que não sei entender. São idéias, lugares, pessoas. Tudo o que insiste em existir fora de mim. Alheio a mim.

Esta é uma coleção de fotos que resistem ao eu que imponho. Fotos que perten-cem ao mundo alheio. As crônicas que as acompanham são do único mundo que me pertence: o irreal. São histórias inventadas de pessoas que não conheço e nunca vou conhecer. Uma tentativa, muitas vezes frustrada, de dar sentido, o meu sentido, ao mundo.

Insisto. Há dois mundos em mim. E um não existe, não resiste, sem o outro.

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Uma menina pequena, perfeita, vê alma nos pés e foge do meu olhar.Passo rápido, inventando. A moreninha dos seus sonhos, é agora apenasmenina. Pequena e incompreensível. E a pequena do mundo não sabe queum dia vai crescer. Que um dia vem o vento, o sol, uma nuvem brancae perfeita. E outro dia vem o frio, a chuva, a escuridão abissal doscéus. Sim, a pequena do mundo não sabe que hoje olhar é sentir, e sentiré viver. Mas amanhã vem o tempo, com mãos geladas, anestesiantes – eo futuro é um eterno fugir e fingir. A pequena do mundo não sabe quesaber, como sei, é não saber nada. É ser grande, velado de falhas, triste.

O nome dela é Graça.Ou deveria ser.

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Divago, à procura de algo estranho, preciso. Se o começo dessa históriame leva à juventude pequena do olhar, não demoro em chegar ao que seique sou eu numa rua sem fim. Um dia, vou dar de cara com essa ruacomprida e deserta. E eu, com tudo o que sei e serei, terei resposta aodeserto que resta?

O nome dele é Manuel.Como Garrincha.

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Sonho incompleto. Uma cidade inteira passa por debaixo dos teus péssem que tu o vejas. A imensidão de tudo que te rodeia não chega a teachar. Já te ouço (ou sou eu que falo?) dizer: quero ser pequeno. Umaflor em meio à folhagem densa e inacabável.

Essa é a Rosa.

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Afinal, vivemos em uma cidade, ou em uma zona de guerra?

Sandro perambula despreocupado.

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Há quem parece não caber no mundo.

Nele não cabem nomes.

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Barulho confunde até o coração. A visão se vai com a razão. A superfíciebarulhenta é penosa e prosaica. Quem vive nela, quem vive por ela, estápreso ao ordinário. Você, que estreita a razão para melhor ver, ouvir,entender, é pobre e comum.

O seu nome é José.Talvez Zé seria melhor.

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O jornal se opõe, e eu me retraio. Que vida é essa que perambula fora domeu alcance? Como posso te dizer que o preto e o branco não contam hi-stórianenhuma? E nada está nas entrelinhas. Olha bem e verás que estássó. A ler um jornal inútil de um dia inútil. Inutilidade eterna de ter queviver. Quero resposta nas cores.

Cristiano é o nome do meu amigoperdido.

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Hoje fechei os olhos e tentei imaginar que tudo não passava de um sonho.Nos olhos cerrados me vi novo, simples e perfeito. Fechei os olhos paraabri-los. Hoje descobri que o que carrego é maior do que aquilo que sou.

Ricardo há muito tempo deixou deexistir.

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O devaneio pinta sua sombra de branco.

Carlos parece esquecer que, espelha-dos, somos todos negros.

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Com pavor, brinco de idéias, besteiras, futilidades – todos os clichês domundo. E nem nisto sou original. Se há histórias a serem inventadas,quem é que disse que sou eu quem as contará? Sou também, e principal-mente, aquela criança perdida. E minhas brincadeiras, minhas invenções,não saem na foto.

Esta é a Aninha

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