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ALIMENTAÇÃO: NUTRIÇÃO SAUDÁVEL NA ADOLESCÊNCIA · tais hábitos, além de despertar nos adolescentes o interesse sobre como ter uma alimentação saudável, fazendo-os compreender

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1. Especialista em Biologia: Morfofisiologia Humana, Reprodutiva e Comportamental (FAFIJAN), Professora de Ciências do Colégio Professor Izidoro Luiz Cerávolo – Apucarana, Pr.

2. Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática (UEL), Licenciatura Plena em Biologia (FIES), Docente do Departamento de Biologia Geral (UEL).

ALIMENTAÇÃO: NUTRIÇÃO SAUDÁVEL NA ADOLESCÊNCIA

Autor: Neucides Maria Andrade Weidmann 1

Orientador: MsC Patrícia de Oliveira Rosa da Silva 2

Resumo

Durante a adolescência a alimentação merece uma atenção especial, uma vez que esta interfere diretamente no desenvolvimento social, biológico e psicológico dos jovens. Em concordância com os problemas de saúde que a sociedade está sofrendo, alguns decorrentes de uma alimentação pobre em nutrientes e extremamente industrializada, a mídia influencia com padrões estéticos absurdos. Este trabalho tem como objetivo identificar quais são os hábitos alimentares dos alunos da 6ª série (7º ano) do Colégio Prof. Izidoro Luiz Cerávolo, por meio de atividades dinâmicas e instigantes para os jovens, bem como ensiná-los, através de ações educativas, que pequenas mudanças alimentares podem trazer inúmeros benefícios. O trabalho busca, também, apresentar e esclarecer o que são os transtornos alimentares, principalmente a anorexia, bulimia e a obesidade, fazendo assim uma “ponte” entre a instituição educacional e os temas de saúde. A receptividade e a participação dos alunos foram notáveis e mostraram que a maioria tem conhecimento sobre o que seria uma alimentação saudável, sabendo dos malefícios do consumo exagerado de alimentos e bebidas industrializados e dos famosos “fast foods”, mesmo sendo estes seus alimentos “preferidos”. Concluindo que ainda faltam iniciativas que saiam da tendência tradicional em relação ao conteúdo e à forma de expô-los, mostramos aos adolescentes que eles precisam e podem ter hábitos alimentares realmente saudáveis, sem que isso se transforme em algo complexo ou limitado. Isso permitiu que nos aproximássemos deles e, consequentemente, obtivéssemos um melhor aproveitamento.

Palavras-chave: Adolescência; Alimentação; Nutrientes; Transtornos alimentares.

1 Introdução

A variedade de opções alimentares, bem como a influência, nem sempre

positiva, de fatores sociais e culturais, estão acarretando mudanças nos hábitos

alimentares da população. Observa-se um quadro já preocupante que tende a piorar

se nada for feito.

Ao verificar o tipo de alimentação dos adolescentes de hoje, deparamo-nos

com um quadro, normalmente, angustiante, devido à preferência dos mesmos por

fast-foods, alimentos hipercalóricos e pobres em nutrientes. Faltam regras quanto

aos horários de alimentação e há até mesmo omissão das refeições básicas,

provocando consequências sérias que nem sempre são de conhecimento de todos,

tais como obesidade, transtornos alimentares, problemas psicológicos e saúde

fragilizada.

Em contrapartida, temos uma mídia que supervaloriza a imagem

estereotipada, a aparência, sem considerar as condições para alcançá-la; ao mesmo

tempo que incentiva o consumo de alimentos hipercalóricos, sem qualquer valor

nutritivo.

Quais são os hábitos alimentares dos estudantes durante a adolescência?

Essa é a pergunta que orienta este projeto. Os pesquisados foram os alunos da 6ª

série (7º ano) do Colégio Prof. Izidoro Luiz Cerávolo. Nosso objetivo foi de identificar

tais hábitos, além de despertar nos adolescentes o interesse sobre como ter uma

alimentação saudável, fazendo-os compreender os princípios básicos e também sua

importância para um bom desenvolvimento biológico e psicológico. Esperávamos (e

tivemos nossas expectativas correspondidas) que, através de uma metodologia mais

dinâmica e atraente (a qual foi embasada na Pedagogia Histórico-crítica, de

Gasparin (2009)), os alunos conseguissem associar os conhecimentos científicos

aprendidos na escola com o seu cotidiano, modificando hábitos e costumes

prejudiciais ao organismo.

Entendemos que este trabalho justifica-se não só por ser um conteúdo

importante na aprendizagem dos jovens, mas também por ser uma forma de auxiliar

na saúde dos mesmos, consequentemente também na de seus familiares.

Para isso, os alunos participaram, num primeiro momento, de uma pesquisa,

por meio da qual houve a formulação de cardápios, para a verificação dos seus

hábitos alimentares e conhecimentos sobre o assunto. Numa segunda etapa, foi

feita uma explanação dinâmica de alguns assuntos, como pirâmide alimentar,

nutrientes, transtornos alimentares e outros, sempre contando com a participação

ativa dos alunos. A metodologia utilizada está detalhada na seção dedicada a ela.

Os resultados encontrados, que serão posteriormente descritos, mostram

que a maioria dos alunos tem uma alimentação razoável, mas ainda faltam alguns

hábitos saudáveis, como aumentar o número de refeições durante dia e diminuir a

quantidade de alimentos e bebidas industrializados ricos em carboidratos e

gorduras.

1.1 Fundamentação Teórica

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica Ciências (PARANÁ,

2008, p. 40-41), a educação tem como objetivo a formação integral do indivíduo,

inserindo-o na sociedade, a fim de que este possa compreendê-la e,

consequentemente, torná-la melhor. Entende-se que o saber do aluno só será

realmente consolidado quando o mesmo perceber as possíveis relações entre o que

o ele já conhece e o que há de novo, sem que para isso o educador precise somente

expôr os conteúdos.

Nosso trabalho tem como referência as pesquisas feitas na década de 90,

em que pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos,

desenvolveram uma nova versão de pirâmide alimentar, que leva em consideração a

saúde em sentido amplo e não focando apenas na nutrição, como propõe a pirâmide

alimentar tradicional. A principal mudança na nova pirâmide é que em sua base

estão a prática de atividade física e o controle de massa corpórea. Outra alteração

foi a de que os carboidratos foram substituídos por alimentos integrais. Arroz,

macarrão, pães e massas, na nova pirâmide, devem ser consumidos

moderadamente, pois são alimentos que perdem sua capacidade nutricional,

podendo levar a problemas cardiovasculares, entre outros, se consumidos em

excesso (FAVALLI; PESSÔA; ANGELO 2009).

A seguir, apresentamos as duas pirâmides citadas. A Figura 1 representa o

conceito mais antigo, já a Figura 2, uma adaptação desse conceito.

Figura 1 – Pirâmide alimentar antiga

Fonte: www.diadiaeducacao.pr.gov.br

Figura 2 – Nova Pirâmide alimentar (adaptada)

Fonte: Favalli, Pessôa e Angelo (2009)

O Ministério da Saúde criou o Guia Alimentar (BRASIL, 2005) para a

população brasileira, cujo objetivo é orientar as pessoas para escolhas saudáveis.

Na versão “de bolso” encontram-se 10 passos para uma alimentação saudável:

1-Faça pelo menos 3 refeições (café-da-manhã, almoço e jantar) e 2 lanches saudáveis por dia. Não pule refeições. 2- Inclua diariamente 6 porções do grupo do cereais (arroz, milho, trigo, pães e massas), tubérculos, como as batatas e raízes como a mandioca nas refeições. Dê preferência aos grãos integrais e aos alimentos na sua forma mais natural. 3- Coma diariamente pelo menos 3 porções de legumes e verduras como parte das refeições e 3 porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches. 4- Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, 5 vezes por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e bom para a saúde. 5- Consuma diariamente 3 porções de leite e derivados e 1 porção de carnes, aves, peixes ou ovos. Retirar a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da preparação torna esses alimentos saudáveis. 6- Consuma no máximo,1 porção por dia de óleos vegetais, azeite, manteiga ou margarina. 7- Evite refrigerante e sucos industrializados, bolos, biscoitos, doces e recheados, sobremesas e outras guloseimas como regra da alimentação. 8- Diminua a quantidade de sal na comida e retire o saleiro da mesa. 9- Beba pelo menos 2 litros (6 a 8 copos) de água por dia. Dê preferência ao consumo de água nos intervalos das refeições. 10- Torne sua vida mais saudável. Pratique pelo menos 30 minutos de atividades física todos os dias e evite as bebidas alcoólicas e o fumo. (BRASIL, 2005, p. 17)

Para Silva, Costa e Ribeiro (2005), o homem, na atual sociedade, possui

muitas opções de alimentação, que são influenciadas por diversos fatores, como a

condição social, a cultura, os costumes raciais e até mesmo fatores religiosos. Tudo

isso, frequentemente, leva a erros e a maus hábitos alimentares. Complementando

esse pensamento, Braga, Molina e Cadê (2007) expõem que a busca por um ideal

de beleza, que atualmente é o de um corpo magro e bem delineado, se faz cada dia

mais notório, principalmente na adolescência. Nessa fase, precisamos ter uma

preocupação ainda maior, pois esse é um período de crescimento, desenvolvimento

e transformação do corpo. Assim, deficiências alimentares e ausências nutritivas

podem causar graves problemas, como por exemplo, os transtornos alimentares e

doenças causadas pela falta de determinados nutrientes. (FONSECA; CASTELO,

2008).

Ao observar mais atentamente os hábitos alimentares da maioria dos

adolescentes encontramos um quadro preocupante: a preferência por alimentos

calóricos e pobres em nutrientes, dietas sem orientações adequadas, omissão de

refeições e maus hábitos alimentares. Tal quadro vem acarretando transtornos

alimentares, tais como: obesidade, problemas psicológicos e cognitivos e uma saúde

bastante debilitada. (BRAGA; MOLINA; CADÊ, 2007)

Barbosa (2007) destaca que a diminuição do número de refeições e,

consecutivamente, da qualidade das mesmas são justificadas pelo ritmo da vida

moderna. Fatores como distância, tempo disponível para as refeições e ideologias

estéticas, influenciam nas escolhas. Porém, outro dado interessante apontado pela

autora é o de que essa ausência de refeições não significa ficar sem comer, ou seja,

as pessoas “beliscam”, comem “besteirinhas”, nada que adquira um status de

refeição.

Outra preocupação referente aos hábitos alimentares, não só dos

adolescentes, mas da população em geral é fornecido por Longo-Silva, Toloni e

Taddei (2010). Os autores apontam estudos recentes sobre o excesso de açúcar em

alimentos industrializados, como bolachas, bolos, bebidas artificiais e cereais

matinais. No entanto, a quantidade de fibras encontrada nos mesmos está num

percentual abaixo do indicado, segundo as necessidades nutricionais.

Para Eisenstein et al. (2000), é essencial salientar junto aos adolescentes a

importância de uma nutrição para o desenvolvimento e crescimento saudável.

A adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta,

caracterizada pelas intensas mudanças corporais da puberdade e pelos impulsos

dos desenvolvimentos emocional, mental e social (EISENSTEIN et al., 2000, p.263).

Estes autores destacam que é importante resgatar os bons hábitos alimentares,

aumentado ou diminuindo a quantidade de nutrientes básicos, conforme o caso,

tendo como objetivo o desenvolvimento saudável através de medidas simples. Para

isso, ele salienta que é preciso fazer uma investigação para identificar os indivíduos

que estão ultrapassando os limites, correndo riscos nutricionais, desenvolvendo por

vezes transtornos como anorexia, bulimia nervosa ou obesidade, que ocorrem com

frequência na adolescência. A saúde pública pode intervir, nestes problemas

alimentares, através de ações preventivas educacionais, propondo hábitos

alimentares saudáveis, que possam atingir a todos os indivíduos e seus familiares. A

mídia também tem um papel muito importante na divulgação dessas ações.

É importante mostrar aos adolescentes, afirmam Gambardella, Frutoso e

Franch (1999), que o consumo de alimentos tipo fast-foods não é proibido. O que

pode atrapalhar na dieta é a freqüência do consumo, uma vez que esse tipo de

alimentação, normalmente, apresenta alta quantidade de energia e baixa quantidade

de ferro, vitaminas e fibras.

As medidas que podem auxiliar nessa melhora, ao contrário do que se

imagina, não são complexas, Trancoso, Cavalli e Proença (2010) citam, por

exemplo, que o consumo adequado do café da manhã pode melhorar a sensação de

saciedade e assim diminuir a ingestão de calorias no dia. Já a ausência dessa

refeição inviabiliza as atividades matinais.

Segundo Ossucci (2008), a escola é considerada um ambiente ideal para

desenvolver atividades que possibilitem ao educando apropriar-se de hábitos

alimentares saudáveis, bem como entender a relação de algumas doenças com a

alimentação desequilibrada. Quando a instituição decide desenvolver atividades

dando oportunidade para discussão e reflexão sobre o tema, os adolescentes

participam e demonstram interesse. Entretanto, para isso, eles têm que sentir

segurança e confiança para expor seus hábitos alimentares, sem medo de

recriminações, para que esse tema chegue até sua família, a fim de que ao longo do

tempo ocorram mudanças nos hábitos alimentares inadequados.

1.2 Metodologia

Este projeto foi desenvolvido com os alunos da 6ª série (7º ano), do Ensino

Fundamental, período vespertino, no Colégio Estadual Prof. Izidoro Luiz Cerávolo,

na cidade de Apucarana, PR. Este colégio recebe alunos vindos de famílias com

diferentes condições financeiras, o que tornou este trabalho ainda mais enriquecido

de informações.

As atividades desenvolvidas foram fundamentadas segundo a pedagogia

histórico-crítica de Gasparin (2009). Esse tipo de pedagogia ultrapassa a sala de

aula e, nessa perspectiva, professores e alunos passam a ter um novo

posicionamento em relação ao conteúdo e à sociedade. Cada conteúdo é visto de

forma não linear, ou seja, nas suas contradições, ligações com outros conteúdos da

mesma disciplina ou de outras disciplinas. Com base nessa proposta pedagógica,

expomos a metodologia de trabalho, a seguir.

1.2.1 Prática social inicial do conteúdo

Para Gasparin (2009), o professor, nesta etapa, conversa com seus

educandos sobre o conteúdo a ser trabalhado, questionando o que sabem e como o

relacionam com a prática social e o que gostariam de saber mais sobre o assunto.

Assim consegue determinar o ponto inicial de que o aluno deverá partir para

aquisição do conhecimento, bem como o nível a que pode chegar.

Inicialmente, foi proposta uma investigação sobre os hábitos alimentares do

cotidiano dos estudantes, que desenvolveram críticas a respeito dos seus hábitos

alimentares. Por meio de alguns questionamentos a respeito do tema “Alimentação

Saudável”, tais como: “O que o aluno sabe sobre a alimentação saudável? Quantas

refeições realizam por dia? Quais os alimentos que consomem com maior

frequência, no café da manhã, almoço, lanche e jantar? O que mais gostam de

comer em cada refeição? Quantas vezes se alimentam por dia? Com isso, pode-se

verificar o conhecimento que o aluno já possuía dos conteúdos a serem estudados,

antes da explicação do professor.

Os alunos copiaram os questionamentos listados no quadro de giz,

responderam em seus cadernos, iniciando um debate para o qual todos puderam

contribuir. Com base nessa discussão, foi proposto a todos que elaborassem um

cardápio com suas principais refeições e os alimentos mais comuns no seu dia- a-

dia. Para finalizar essa etapa, assistiram aos vídeos: “Alimentação Saudável” e “Por

que devemos nos alimentar bem”. Após a exibição, realizaram um relatório sobre o

que consideraram mais importante sobre os filmes, destacando as informações de

que não tinham conhecimento.

1.2.2 Problematização

A problematização é o elemento de ligação entre a prática e a teoria, é o

momento de começar a trabalhar com o conteúdo sistematizado. Através da

problematização, o aluno será desafiado a buscar o conhecimento. Este é o caminho

que Gasparin (2009) nos aponta para uma aprendizagem significativa. O objetivo da

problematização é selecionar as principais questões levantadas na etapa anterior, a

respeito dos conceitos, e como tais conceitos podem ser trabalhados de forma mais

profunda e sistematizada pelo conteúdo curricular.

Para isso, os alunos analisaram os cardápios elaborados, identificando

acertos e erros na alimentação e os principais problemas de uma alimentação

inadequada. Com base no conhecimento que já possuíam sobre o assunto,

discutiram seu tipo de alimentação, especificando alguns itens que julgavam não

estarem de acordo com uma alimentação equilibrada, chegando a algumas

conclusões a respeito de seus hábitos alimentares.

Os alunos receberam o modelo de uma pirâmide alimentar em branco que

foi completada baseando-se em seu cardápio, colocando na base da pirâmide os

alimentos que eles mais consumiam e no seu topo os que consumiam

esporadicamente. Continuando as atividades, eles receberam também uma figura

contendo uma alimentação saudável e fizeram um desenho que continha alimentos

não saudáveis.

Em seguida, responderam a algumas perguntas que buscavam investigar o

que era para eles alimentos “não saudáveis” e por que os classificavam dessa

forma. Durante o desenvolvimento dessa etapa, os alunos construíram uma urna,

em que depositaram algumas perguntas ou depoimentos que foram discutidos com

todos, dando oportunidade de maiores esclarecimentos sobre o assunto.

1.2.3 Instrumentalização

“A instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo sistematizado é

posto à disposição dos alunos” (GASPARIN, 2009, p.51). Segundo o autor, na fase

da instrumentalização ocorre o confronto entre aluno-conteúdo-aprendizagem, com

mediação do professor. Momento este que o educando tem possibilidade de

vivenciar etapas do conteúdo, com possibilidade de reestruturar, analisar e comparar

o seu conhecimento cotidiano com o cientifico.

Para que ocorresse a instrumentalização, os alunos conheceram os grupos

dos nutrientes, sua função no organismo e as suas principais fontes, reconhecendo

a importância de uma alimentação saudável.

Sobre os transtornos alimentares, os alunos receberam materiais diversos

(revistas, textos, jornais, vídeos) que continham informações a respeito dos

transtornos mais comuns, como: bulimia e anorexia. Após essa instrumentalização,

os alunos reuniram- se em grupo, onde puderam conversar sobre o assunto e

produzir textos informativos e cartazes que foram distribuídos nos murais do Colégio.

1.2.4 Catarse

Gasparin (2009) afirma que a catarse é o momento em que o aluno

sistematiza de forma total ou parcial os conteúdos que conseguiu apropriar-se.

Fazendo uma leitura total daquilo que antes era fragmentado, a apropriação desse

conteúdo se dá por meio da construção social, com base nas necessidades

cotidianas, para atender a demanda de classes ou grupos sociais, destacando seu

nível de entendimento com verdadeiro significado.

Após a exposição dos conteúdos, os alunos foram capazes de reconhecer

hábitos alimentares saudáveis e as consequências de uma alimentação

desequilibrada. Foi realizado um levantamento de todos os conteúdos envolvidos

nas etapas anteriores. Depois disso, os alunos receberam um questionário para ser

respondido individualmente, abordando todos os conteúdos trabalhados, como as

seguintes indagações: “Você costuma trocar almoço por lanches? Consome

frequentemente verduras e legumes? Consegue reconhecer nutrientes?”

1.2.5 Prática social final do conteúdo

Para Gasparin (2009), professor e aluno, nesse momento, passaram de um

estágio com menor compreensão científica para uma fase de maior clareza. Deve

existir um novo posicionamento em relação à prática social do conteúdo que foi

adquirido, isso exige uma ação real.

O educando adquire um novo comportamento diante de determinado

conteúdo que antes ele não dominava. A partir daí, ele demonstra o seu novo nível

de conhecimento em relação à prática social inicial e deverá colocar esse novo

conhecimento em prática.

Para essa fase final, o aluno deverá ser capaz de comparar a prática social

inicial com a atual, vivenciando uma possível alimentação saudável, identificando os

conceitos que foram incorporados ao seu cotidiano.

A professora, juntamente com os alunos, organizou um lanche saudável.

Cada um ficou responsável por trazer um alimento já pré-estabelecido, numa das

salas do colégio foram expostos os diversos trabalhos realizados durante o

desenvolvimento do projeto com a educadora fazendo uma pequena explanação

sobre os alimentos e sua importância. Alguns alunos também tiveram a

oportunidade de falar sobre a finalização do projeto e a relevância do mesmo em

sua rotina. Estiveram também presentes no evento algumas mães, a equipe

pedagógica do colégio, funcionários, professores e alunos. Todos puderam realizar

um lanche agradável e saudável.

1.3 Resultados

Após a realização das atividades propostas, fizemos algumas interpretações

acerca da alimentação e conhecimentos sobre o assunto, a partir dos dados dos

alunos da 6ª série (7º ano), do Colégio Prof. Izidoro Luiz Cerávolo.

A pesquisa revelou que a maioria dos alunos realiza quatro refeições diárias,

e o número mínimo de refeições realizadas é de três, conforme o Gráfico 1:

Gráfico 1 - Número de refeições realizadas diariamente.

O Ministério da Saúde criou o Guia Alimentar (BRASIL, 2005), uma forma

mais “fácil” de levar alguns dados sobre alimentação saudável à população

brasileira, entre eles, encontramos a especificação de que o correto seriam pelo

menos três refeições (café-da-manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por

dia.

Segundo Barbosa (2007), a recomendação encontrada em livros e

pesquisas é que se façam pelo menos seis refeições ao dia, porém algumas

pesquisas apontam uma situação bem distinta. As pessoas, na época atual, fazem

três ou no máximo quatro refeições, sem diferenças significativas entre gêneros,

faixas etárias ou condições financeiras. As razões apontadas por alguns grupos para

essa discrepância entre o que é recomendado e o que se pratica na realidade são a

55%

45%Quatro refeições

Três refeições

de que as pessoas não têm mais o tempo disponível, levando em conta a agitação

do mundo moderno, bem como o fato de sempre buscarem por corpos mais magros.

O fato de as pessoas declararem realizar um número menor de refeições por

dia não significa que elas ficam longos períodos sem se alimentar, ao contrário, tudo

indica que o “beliscar”, “comer porcarias” são práticas comuns, porém não são

consideradas como uma refeição. (BARBOSA, 2007)

Em relação ao café da manhã, há uma diversidade de alimentos consumidos

entre os alunos da 6ª série (7º ano) do Colégio Prof. Izidoro Luiz Cerávolo, tais

como: pão, bolachas, bolos, cereais, leite, café, achocolatado e sucos.

Segundo Barbosa (2007), o café da manhã não é considerado uma refeição

familiar, normalmente não se encontram todas as pessoas da família, muito embora

seja normalmente feita em casa. Em sua pesquisa, a autora observou que o café é

considerado a refeição mais importante para maioria dos respondentes, porém está

longe de ser uma refeição substanciosa. Eles relataram uma alimentação leve pela

manhã e infelizmente pobre em alguns nutrientes.

Trancoso, Cavalli e Proença (2010) destacam que o consumo adequado do

café da manhã pode auxiliar no controle de peso, sua ausência, no entanto,

inviabiliza a elevação da glicemia, processo necessário para realização das

atividades matinais. Estudos comprovam que os alunos que realizam corretamente

essa refeição conseguem um melhor desempenho cognitivo e efeitos positivos sobre

a memória e a atenção.

Quanto ao almoço e o jantar, 100% dos estudantes relataram consumir arroz

e feijão frequentemente. O Gráfico 2 mostra que a maioria dos jovens tem o costume

de, normalmente, almoçar, sem fazer substituições com lanches ou outros tipos de

alimentos.

Gráfico 2: Substituição de almoço por lanche

Este hábito alimentar corrobora com a recomendação feita pelo Guia

Alimentar (BRASIL, 2005, p. 3): “Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo

menos, cinco vezes por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa

de proteínas e bom para a saúde”.

O consumo de proteínas, especificamente, a carne vermelha é bastante

comum, como podemos observar no Gráfico 3:

Gráfico 3: Consumo de carne vermelha

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Frequentemente Raramente Nunca

mero

de a

lun

os

Substitui almoço por lanche?

0

2

4

6

8

10

12

Frequentemente Raramente Nunca

Qu

an

tid

ad

e d

e a

lun

os

Consumo de carne vermelha

As proteínas são componentes presentes na estrutura celular, tecidos,

anticorpos e vários hormônios do ser humano. Favalli, Pessôa e Angelo (2009)

explicam que algumas proteínas (enzimas) fazem parte do metabolismo, digestão e

respiração. As proteínas também podem ser utilizadas como fonte de energia,

quando necessário. Em excesso, transformam-se em gordura e são armazenadas

no tecido adiposo, as mesmas são formadas por estruturas denominadas

aminoácidos. Nosso organismo não produz todos os tipos de aminoácidos, alguns

são adquiridos somente através dos alimentos, sendo que os de origem animal são

grandes fontes de proteínas. Segundo Eisenstein et al. (2000), as necessidades

máximas de proteínas durante o estirão da puberdade são de 12 a 15% do total

calórico para as meninas e de 15 a 20% nos meninos.

As proteínas de origem animal, em geral, são consideradas uma fonte

completa. As de origem vegetal são incompletas, porque não contêm todos os

aminoácidos essenciais nas quantidades necessárias, com exceção da soja

(GEWANDSZNAJDER, 2009). Algumas fontes de proteínas: ovos, carnes peixes,

leite e seus derivados, feijão, soja, lentilha etc.

O consumo de verduras e legumes, segundo as respostas dos alunos, de

certa forma nos surpreendeu, pois os mesmos relatam consumir frequentemente

esse tipo de alimento, tão essencial para a saúde, como mostra o Gráfico 4.

Gráfico 4: Consumo de verduras e legumes.

Frequentemente Raramente Nunca

Gomes (2007) explica que algumas evidências apresentadas pelo Relatório

Mundial da Saúde de 2003 apontam que a baixa ingestão de frutas, verduras e

legumes está entre os 10 principais fatores de risco que contribuem para a

mortalidade no mundo, uma vez que o consumo adequado das mesmas pode

prevenir doenças crônicas não-transmissíveis, como as doenças cardiovasculares e

alguns tipos de câncer.

O Guia Alimentar (BRASIL, 2005) indica que seja consumido, diariamente,

cereais (arroz, milho, pães e massas), dando preferência aos grãos integrais e os

alimentos na sua forma mais natural. Há também a recomendação de que verduras,

legumes e frutas sejam consumidos diariamente, pelo menos em três porções.

Quando questionados sobre o que consideravam como alimentos não

“saudáveis”, 95% citaram como exemplo a pizza, refrigerante, batata frita e lanches,

alegando que se trata de alimentos muito gordurosos, com excesso de carboidratos,

o que ocasiona aumento de peso e outros males à saúde. 80% dos alunos

concordaram que estes devem ser consumidos com moderação, a fim de se ter uma

alimentação equilibrada. As ilustrações (Figuras 3 e 4) mostram algumas atividades

desenvolvidas pelos alunos e seus entendimentos sobre o assunto:

Figura 3 – O que são alimentos saudáveis e “não-saudáveis” da Aluna 1.

Figura 4 - O que são alimentos saudáveis e “não-saudáveis”da aluna 2.

Em relação à escolha dos alimentos “preferidos”, 55% dos alunos

declararam “gostar” mais dos alimentos “não saudáveis”.

Gráfico 5: Que tipo de alimentação você prefere?

35%

55%

10%

Alimentos considerados saudáveis

Alimentos considerados "não saudáveis"

Os dois tipos de alimentos

Gambardella, Frutoso e Franch (1999) afirmam que consumo de alimentos,

como os fast-foods, não são totalmente proibidos, o que pode prejudicar a dieta do

adolescente é a freqüência com que se consome, por ser uma alimentação que,

normalmente, tem alta quantidade de energia e baixa quantidade de ferro, vitaminas

e fibras. Gambardella, Frutoso e Franch (1999) apresentam, ainda, alguns estudos

sobre a alimentação de grupos de adolescentes brasileiros, onde encontramos

carência na ingestão de produtos lácteos, frutas e hortaliças e excesso de açúcar e

gordura.

O Gráfico 6 apresenta que a maioria dos alunos considera a sua

alimentação como “razoável” , somente 5% acham que ela é “ruim”.

Gráfico 6: Como considero minha alimentação

A resposta desse gráfico nos foi apresentada em outras atividades, nas quais

pudemos perceber que os jovens que participaram da pesquisa têm conhecimentos

sobre as possíveis “falhas” na alimentação, pois a maioria declarou que reconhece o

consumo excessivo de refrigerantes, sucos industrializados, bolos, biscoitos, doces

e guloseimas.

Longo-Silva, Toloni e Taddei (2010) alertam que estudos recentes apontam

um excesso de açúcar em alimentos industrializados, como bolachas, bolos, bebidas

artificiais e cereais matinais. No entanto, a quantidade de fibras encontrada nos

alimentos industrializados está num percentual abaixo do indicado segundo as

necessidades nutricionais, o que preocupa quando levamos em consideração a

baixa ingestão de frutas, hortaliças, legumes e cereais integrais.

25%

70%

5%

Boa Razoável Ruim

Durante o projeto muitos desafios foram enfrentados. Certamente um

trabalho mais amplo, envolvendo ainda mais as famílias e outras disciplinas

conseguiria ter uma resolutividade maior. Porém, respostas como as apresentadas

nas imagens (Figuras 5 e 6) nos fazem perceber que valeu a pena a dedicação, o

empenho e a responsabilidade em apresentar um tema que é, ao mesmo tempo,

atual e tão comentado pela mídia, e no entanto, tão difícil na prática.

Figura 5 – Atividade final da aluna 3.

Figura 6 – Atividade Final da aluna 4.

Os alunos demonstraram através desse feedback e de comentários feitos

em sala de aula, que fizeram algumas mudanças nos seus hábitos alimentares e

que passaram as informações apreendidas aos seus familiares. Com isso,

entendemos que muitos dos nossos objetivos iniciais foram concretizados.

1.4 Considerações Finais

Ao depararmo-nos com os atuais problemas referentes à alimentação, desde

quadros graves como os de obesidade, anorexia, até questões observadas no dia-a-

dia, como a má alimentação, a falta de frutas e verduras ou omissões de refeições,

vemos que se trata de uma problemática que precisa ser abordada por diversos

meios, não se tratando somente de uma questão de saúde.

A escola como um ambiente onde o aluno passa boa parte do seu dia,

recebendo tantas informações e conhecimentos, tem grande potencial na missão de

ensinar e fazer com que os estudantes compreendam como a alimentação pode

tornar- se saudável sem ser totalmente restritiva.

Este projeto buscou ultrapassar o campo educacional, com o intuito de

melhorar a qualidade de vida dos alunos na sua casa. Entendemos que essa troca

de conhecimentos entre a professora e os alunos tenha sido ativa, muito além da

sala de aula, pois compreendemos, com base na pedagogia histórico-crítica, que o

conteúdo realmente adquire significado para o aprendiz quando se torna algo do

cotidiano. Por esse motivo, entendemos que o projeto buscou ser algo atrativo,

dinâmico, que “falasse” a linguagem do público-alvo, dos jovens.

Finalizamos este artigo com a expectativa de que mais trabalhos sejam

desenvolvidos e estudados abordando esse tema, que é tão importante e tão atual.

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