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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO REGRAS GERAIS E DE TRANSIÇÃO PARA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA PARA O SERVIDOR PÚBLICO E A APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO ALINE MARTINS MACHADO Biguaçu (SC), junho de 2008

ALINE MARTINS MACHADOsiaibib01.univali.br/pdf/Aline Martins Machado.pdf · 2008. 10. 8. · estamos todos no mesmo barco, e compartilhando dessa experiência que será inesquecível

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPSCURSO DE DIREITO

REGRAS GERAIS E DE TRANSIÇÃO PARA A CONCESSÃO DA

APOSENTADORIA PARA O SERVIDOR PÚBLICO E A APLICAÇÃODA LEI NO TEMPO

ALINE MARTINS MACHADO

Biguaçu (SC), junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPSCURSO DE DIREITO

REGRAS GERAIS E DE TRANSIÇÃO PARA A CONCESSÃO DE

APOSENTADORIA PARA OS SERVIDORES PÚBLICOS E AAPLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

ALINE MARTINS MACHADO

Monografia submetida à Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito

parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito.

Orientador: Professor Márcio Roberto Paulo

Biguaçu, junho de 2008.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente quero agradecer a Deus por ter

concedido a possibilidade de estar aqui, e poder

compartilhar toda a sua criação.

Agradecer aos meus pais, por seu carinho,

paciência, afeto e compreensão nas horas mais

difíceis.

Agradecer ao meu namorado Anderson, por me

apoiar nas minhas decisões e compreender quando

não podia estar junto dele.

Agradecer ao meu amigos, que sem eles não teria

tido a força e garra suficiente para chegar ao fim

dessa jornada.

E agradecer aos meu colegas da faculdade, pois

estamos todos no mesmo barco, e compartilhando

dessa experiência que será inesquecível.

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DEDICATÓRIA

Quero dedicá-la aos meus pais que sem eles não

teria chegado até aqui, que tanto apoio me deram

nessa caminhada, que ainda está pela metade.

Dedicá-la ao meu namorado Anderson, que sem seu

amor e compreensão, não teria suportado a jornada

até a conclusão dessa monografia.

E dedicá-la aos meus amigos, especialmente:

Gisele, Daiane, Mariana, Maria e Aurineider amigas

que contarei sempre para todas as horas.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, junho de 2008

Aline Martins Machado

Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Aline Martins Machado, sob o título

Regras Gerais e de Transição para a Concessão de Aposentadoria para os

Servidores Públicos e a Aplicação da Lei no Tempo, foi submetida em 16/06/2008 à

banca examinadora composta pelos seguintes professores: Márcio Roberto Paulo

(Presidente), Carlos Alberto Godoy Ilha (Membro), Dirajaia Esse Pruner (Membro), e

aprovada com a nota 9,45 (nove vírgula quarenta e cinco).

Biguaçu, 16 de junho de 2008

Professor Márcio Roberto Paulo

Orientador e Presidente da Banca

Professora MSc. Helena Nastassya Paschoal Pítsica

Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF/88 Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988

RGPS Regime Geral de Previdência Social

LICC Lei de Introdução ao Código Civil

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

EC Emenda Constitucional

ART. Artigo

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu

trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Previdência Social: “A previdência social tem por finalidade assegurar aos seus

beneficiários meios indispensáveis de manutenção, em razão da inatividade, idade

avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e

reclusão ou morte dos segurados”. (SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 2.

ed. São Paulo: Editora Forense. 1 CD-ROM)

Seguridade Social: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de

ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar os

direitos atinentes à saúde, à previdência e à assistência social. É da competência

privativa da União legislar sobre a matéria.” (SILVA, De Plácido e. VocabulárioJurídico. 2. ed. São Paulo: Editora Forense. 1 CD-ROM)

Aposentadoria: “A aposentadoria constitui-se, sem dúvida, no mais importante

benefício previdenciário, entre todos os sistemas, dos mais variados países. Cuida o

benefício basicamente do reconhecimento legal de um direito a um período

indeterminado de descanso ininterrupto, período este que terá seu marco inicial em

o que se costuma denominar de evento determinante, e como marco final o seu

falecimento, e desde que a pessoa tenha cumprido com um rol de requisitos

estatuídos em lei”. (JORGE, Társis Nametala Sarlo. Manual dos benefíciosprevidenciários: benefícios do RGPS (INSS) e dos servidores públicos. Rio de

Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006. p. 171)

Direito Adquirido: “Direito adquirido é aquele sem possibilidade de ser alterado em

sua essência; isso é suscitado principalmente por ocasião do advento de lei nova

que modifique o direito. Se o titular reuniu os pressupostos elegíveis até a

superveniência da lei modificadora, está assegurado e não sofre a mudança

operada por essa última lei, que se destina naturalmente a casos futuros”.

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(MARTINEZ, Wladimir Novaes. Direito adquirido na previdência social. São

Paulo: LTr, 2000. p. 56)

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SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................12

ABSTRACT...............................................................................................................13

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................14

CAPÍTULO 1 - HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL E NOMUNDO.....................................................................................................................16

1.1 O NASCIMENTO DA CONCEPÇÃO PROTEÇÃO SOCIAL................................16

1.2 O INÍCIO DA PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL .................................................21

1.2.1 Lei Eloy Chaves ..............................................................................................23

1.2.2 Instituto de aposentadoria e pensões ..........................................................24

1.2.3 A criação do INPS e a Constituição Federal de 1967 ..................................28

1.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A SEGURIDADE SOCIAL ................33

CAPÍTULO 2 - REGRAS GERAIS PARA CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS NORGPS ........................................................................................................................38

2.1 TIPOS DE BENEFÍCIOS .....................................................................................38

2.1.1 Auxílio-doença................................................................................................38

2.1.2 Salário-família .................................................................................................42

2.1.3 Salário-maternidade .......................................................................................44

2.1.4 Auxílio-acidente..............................................................................................47

2.1.5 Pensão por morte ...........................................................................................49

2.1.6 Auxílio-reclusão .............................................................................................51

2.1.7 Serviço social .................................................................................................52

2.1.8 Habilitação e reabilitação profissional .........................................................52

2.2 APOSENTADORIA – CONCEITO.......................................................................53

2.2.1 Aposentadoria por invalidez .........................................................................55

2.2.2 Aposentadoria por idade ...............................................................................58

2.2.3 Aposentadoria por tempo de contribuição ..................................................59

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2.2.4 Aposentadoria especial .................................................................................63

CAPÍTULO 3 - REGRAS DE TRANSIÇÃO PARA A CONCESSÃO DEAPOSENTADORIA PARA OS SERVIDORES PÚBLICOS SEGUNDO A

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO ............................................................................67

3.1 EXPECTATIVA DE DIREITO ..............................................................................67

3.2 ATO JURÍDICO PERFEITO ................................................................................70

3.3 DIREITO ADQUIRIDO.........................................................................................72

3.4 REGRAS GERAIS E DE TRANSIÇÃO PARA A CONCESSÃO DE

APOSENTADORIA PARA OS SERVIDORES PÚBLICOS ABRANGIDOS POR

REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA...............................................................76

3.4.1 Emenda constitucional n. 20/1998 ................................................................76

3.4.1.1 Mudanças efetivadas nas aposentadorias do segurado do regime geral de

previdência social e do regime próprio de previdência social ...................................77

3.4.1.2 Mudança efetivadas em outros benefícios ....................................................79

3.4.1.3 Regras de transição ......................................................................................79

3.4.2 Emenda constitucional n. 41/2003 ................................................................81

3.4.2.1 Integralidade..................................................................................................82

3.4.2.2 Paridade ........................................................................................................83

3.4.2.3 Regras gerais e de transição implantadas pela emenda constitucional n.

41/2003 .....................................................................................................................84

3.4.3 Emenda constitucional n. 47/2005 ................................................................87

3.4.3.1 A aplicabilidade da emenda constitucional n. 47/2005 ..................................88

3.4.3.2 Regras Transitórias .......................................................................................88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................91

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..................................................................93

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RESUMO

A presente monografia tem por objetivo estudar as regras gerais e de

transição para que seja concedida a aposentadoria para o servidor público,

demonstrando através das modificações já feitas, o que é mais vantajoso para

aquele. No tocante à temática principal da pesquisa, verifica-se que as emendas

constitucionais editadas que modificaram a concessão da aposentadoria para os

servidores públicos, criaram regras para os que já tinham o direito adquirido, ou seja,

já reuniram todos os requisitos necessários para recebê-la, e regras para quem

ainda não possuía tais requisitos, impondo determinadas condições para alcançar a

sua concessão. Dessa forma, é preciso investigar quais regras foram implementadas

pelas emendas constitucionais e de que forma a doutrina brasileira explica a questão

hodiernamente.

Palavras-chave: Previdência Social. Aposentadoria. Regras de Transição.

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ABSTRACT

This paper aims to study the general rules and transition to be granted the

pension for the public server, demonstrating through the changes already made,

which is more advantageous for him. Regarding the main theme of the research,

noted that the constitutional amendments that changed edited the granting of

retirement for public servants, established rules for those who had already acquired

the right, or already met all the requirements needed to receive them la, and rules for

those who still did not have such requirements, imposing certain conditions to

achieve its concession. Thus, we must investigate what rules were implemented by

constitutional amendments and how the brazilian doctrine explains the issue today.

Keywords: Welfare. Retirement. Rules of Transition.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo das regras gerais e de

transição para a concessão do benefício da aposentadoria para os servidores

públicos , bem como a aplicação na lei no tempo.

O seu objetivo é explicar as últimas mudanças que sofreu o regime de

previdência próprio e quais foram as conseqüências de tais modificações.

Para tanto, iniciamos, no Capítulo 1, tratando do progresso histórico da

Previdência Social no mundo e no Brasil, trazendo os principais fatos que ensejaram

em diversas leis, várias utilizadas até hoje, bem como a evolução das Constituições

Federais, chegando até a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

mostrando como ela resguarda o sistema previdenciário em nosso país.

No Capítulo 2, tratamos dos benefícios e serviços do Regime Geral da

Previdência Social: auxílio-doença, salário-família, salário-maternidade, auxílio-

acidente, pensão por morte, auxílio-reclusão, serviço social e reabilitação

profissional. E explicamos em tópico próprio acerca das modalidades de

aposentadorias presentes no Regime Geral: aposentadoria por invalidez,

aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria

especial.

Já no Capítulo 3, apresentamos conceitos e como será feita a aplicação em

um caso concreto de três institutos presentes em nosso ordenamento jurídico, muito

utilizados quando se trata de benefícios da Previdência Social: direito adquirido,

expectativa de direito e ato jurídico perfeito. Ao final, explanamos a respeito das

últimas três emendas que trouxeram grandes modificações, no que tange à

aposentadoria do servidor público, que são: Emenda Constitucional n. 20/1998,

Emenda Constitucional n. 41/2003 e Emenda Constitucional n. 47/2005.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais,

na qual são apresentados pontos destacados, seguidos da estimulação à

continuidade dos estudos e das reflexões sobre as regras gerais e de transição para

a concessão da aposentadoria para os servidores públicos.

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Para a presente monografia foram levantadas as seguintes problemáticas:

1. Lei nova revogará lei anterior mantendo o direito adquirido?;

2. A nova lei cria regra de transição?;

3. O servidor poderá opinar pela regra mais vantajosa ao seu caso?.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação

foi utilizado o Método Dedutivo, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente,

da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL E NO MUNDO

O presente capítulo tem como escopo tratar da criação da Previdência Social,

seu desenvolvimento histórico no mundo, como aconteceu a implementação de tal

instituto em nosso país até a promulgação da CF/881.

1.1 O NASCIMENTO DA CONCEPÇÃO PROTEÇÃO SOCIAL

A concepção de proteção social, de acordo com o autor Fábio Zambitte

Ibrahim, surgiu dentro do âmbito familiar. Esta instituição já esteve mais forte do que

atualmente, pois, em tempos atrás, as pessoas conviviam em grandes

agrupamentos, sendo da responsabilidade dos mais novos cuidar dos entes mais

velhos da família.2

Porém, muitos idosos não tinham a sorte de possuir uma família, ou quem

pudesse lhe proteger. Por isso foi inevitável a ajuda exterior, dada por terceiros.3

Com a desagregação das famílias, ficou enfraquecida a forma de proteção

social que existe há muito tempo. Desta feita, outras maneiras de proteger foram

surgindo para suprir a primeira delas, mesmo que imperceptivelmente, como o

voluntariado de terceiros, que teve grande importância para resguardar a dignidade

da pessoa humana, fundamento este garantido pela CF/88.4

O doutrinador Feijó Coimbra assim nos fala sobre a proteção social no

passado:

E, se é certo que tais providências, adotadas no passado, não configuravamum sistema protetor, nem com elas se materializava, desde logo, um direitoassegurado ao cidadão protegido, um direito subjetivo à proteção, não émenos verdadeiro que valeram, esses ensaios de amparo, como o passoinicial de um longo caminho, a cujo termo ora se pretende chegar. Longa e

1 Doravante iremos usar essa abreviatura quando mencionarmos a Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil de 1988.2 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 9. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:Editora Impetus, 2007. p. 01.3 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 01.4 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 01.

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árdua foi a trilha a percorrer na tarefa de construir o edifício – agoratomando aparência majestosa – da proteção do homem contra os riscos.Em suas fases iniciais notam-se, apenas, pálidas tentativas de congregarrecursos e endereçá-los à assistência do desamparado, de par comincipientes ensaios de medidas para que se pudesse reuni-los, no esforçocomum de combate aos riscos a que sempre estiveram sujeitos.5

O progresso histórico da proteção social, contudo, será mais bem explicado

nos parágrafos seguintes.

A evolução histórica da proteção social no mundo é, usualmente, dividida em

três fases:

- fase inicial (até 1918): criação dos primeiros regimes previdenciários, comproteção limitada a alguns tipos de eventos, como acidentes do trabalho einvalidez;- fase intermediária (de 1919 a 1945): expansão da previdência pelo mundo,com a intervenção do Estado cada vez maior na área securitária;- fase contemporânea (a partir de 1946): aumento da clientela atendida edos benefícios. É o grau máximo do Welfare State, com a proteção de todoscontra qualquer tipo de risco social.6

Tal divisão foi feita, essencialmente, para uma melhor compreensão do

sistema. Desta maneira, é de suma importância que haja um entendimento das

partes mais importantes do progresso histórico da proteção social, não havendo

submissão a nenhuma divisão na doutrina.7

Primeiramente, como já afirmamos anteriormente, a proteção emanava da

família, com ajuda dos membros mais novos socorrendo os mais velhos. Porém tal

proteção é restrita, inclusive hodiernamente com a deterioração da organização

familiar. Outrora, era dada a proteção de forma adicional privativamente, onde um

específico conjunto de pessoas reunia-se espontaneamente para um cuidado mútuo

em virtude dos riscos sociais. Já os mais carentes, quem os ajudava era a

sociedade, de iniciativa própria.8

Uma das primeiras formas de proteção que surgiram foi a edição do Poor Law

Act9, em 19 de dezembro de 1601. Acerca de seu conteúdo, explica o autor:

Por outro lado, v. g., em 1601, fora editado o Poor Law Act, que, dentreoutras medidas, previa o pagamento de pequenos valores, de caráter mais

5 COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas,2001. p. 1-2.6 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 38.7 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 38.8 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 39.9 Significa lei dos pobres.

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paliativo, a desempregados doentes e de idade avançada. Trata-se demedida editada mais exatamente em 19 de dezembro de 1601, no reinadoda primeira rainha, Isabel I, da Inglaterra, filha de Henrique VIII. Referidoordenamento, ao instituir assistência paroquial aos pobres, criou, para o seucusteio, contribuições compulsórias, denominadas poor tax10, que vigirampor, aproximadamente, um século e meio. [...]11

No ano de 1891, a igreja manifestou seu receio acerca da proteção social,

exteriorizando tal temor na Encíclica Rerum Novarum, feita pelo Papa Leão XIII. A

igreja constantemente participou na evolução da seguridade social no geral,

cobrando sempre uma maior intervenção do Estado e do povo no campo social.

Muitas foram as outras encíclicas que tiveram grande consideração com o tema:

Quadragesimo Anno (1931), Divini Redeptoris (1937), Mater et Magistra (1961),

Pacem in Terris (1963), Guaudium et Spes (1965) e Laborem Excercens (1981).12

Mas, o início do fundamento do estudo previdenciário foi na Alemanha, no

ano de 1883, quando Otton Von Bismarck criou o primeiro sistema de seguridade

social.13 A respeito da obra de Bismarck, esclarece o professor:

Em 1883 e nos anos seguintes, na Alemanha, por obra de Otton VonBismarck surge o primeiro sistema de seguro social. Envolvia seguro-doença, seguro de acidentes do trabalho, seguro de invalidez e proteção àvelhice, mediante contribuição do Estado, dos empregados e dosempregadores, iniciando-se aí a tríplice forma de custeio, em prática atéhoje.14

Assim nasceu a proteção assegurada pelo Estado, sendo ele o recolhedor

das contribuições, que eram exigidas de maneira compulsória dos que participavam

do sistema securitário. Nesse sistema vemos os dois grandes traços dos regimes

previdenciários hodiernos: contributividade e obrigatoriedade de filiação.15

Sobre o nascimento da contribuição previdenciária feita por Bismarck, assim

nos fala o doutrinador:

Neste momento, tem-se o nascimento da prestação previdenciária comodireito público subjetivo do segurado. A partir do instante em que oEstado determina o pagamento compulsório de contribuições para o custeiode um sistema protetivo, o segurado pode exigir, a partir da ocorrência do

10 Significa contribuição do pobre.11 CORREIA, Marcus Orione Gonçalvez; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito daseguridade social. 2. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. p. 2-3.12 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 39.13 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p.23.14 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 23.15 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 39.

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evento determinante, o pagamento de seu benefício, não sendo lícito aoEstado alegar dificuldades financeiras para elidir-se a esta obrigação. 16

Em razão de existir tal direito subjetivo, o que Bismarck realizou em matéria

de seguridade, ficou como o ponto inicial da previdência social no mundo. Até tal

acontecimento, só havia sistemas securitários privados, não existindo proteção

alguma por parte do Estado.17

Só que a proteção se restringia apenas aos empregadores e os próprios

trabalhadores empregados que faziam sua contribuição através de uma poupança

compulsória. Ou seja, “[...] embora o seguro social fosse imposto pelo Estado, ainda

faltava a noção de solidariedade social, pois não havia a participação da totalidade

de indivíduos, seja como contribuintes, seja como potenciais beneficiários.” 18

A Constituição que primeiramente incluiu a Previdência Social foi a do México,

do ano de 1917, “[...] a qual indubitavelmente marcou nova fase no

constitucionalismo pela sua expressiva preocupação social, deu ao seguro social

status constitucional.”19 E, em 1919 a Constituição de Weimar também tratou de

Previdência Social, determinando que “[...] ao Estado incumbe prover a subsistência

do cidadão alemão, caso não possa proporcionar-lhe a oportunidade de ganhar a

vida com um trabalho produtivo (art. 163).”20

Nos Estados Unidos, no ano de 1935, quatro anos antes da segunda grande

guerra, foi realizado o Social Security Act. Tal ato, que ficou famoso por ter feito a

primeira menção acerca da seguridade social, mostrou o grande cuidado com os

menos favorecidos pelos regimes da previdência, preservando proteção social a

todos.21

O marco de maior relevância durante a evolução da proteção social, foi o

relatório Beveridge, no ano de 1942. Este relatório, que deu nome a um plano, foi

que originou a Seguridade Social, responsabilizando agora o Estado não só pelo

seguro social, mas por todas as proteções na área da saúde e do assistencialismo

social. Este plano foi feito por uma comissão interministerial de seguro social e

serviços afins, em julho do ano de 1941, objetivando mostrar possibilidades para a

16 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 39.17 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 40.18 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 7.ed. rev. São Paulo: Editora Ltr, 2006. p. 43.19 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 23.20 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 4.21 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 40.

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resolução de controvérsias após a segunda guerra mundial. O trabalho finalizou no

ano de 1942.22

A respeito do plano Beveridge, assevera o professor:

Em 1941, foi instituído o Plano Beveridge. Seu criador, Lord Beveridge,afirmava que o cidadão deveria Ter proteção social ‘do berço ao túmulo’. OPlano Beveridge foi um importante passo na consolidação dos sistemas deseguridade social. Não visava a atender apenas os trabalhadores, mas todaa sociedade, avançando, ainda mais, na idéia de universalização daseguridade social [...] Mantinha a tríplice forma de custeio, o quedemonstrava sua preocupação com o equilíbrio atuarial do sistema e davapossibilidades de vida longa aos planos recém-criados. 23

Assim, com este plano, quis-se que a sociedade contribuísse para um fundo

previdenciário, retirando-se parcelas deste fundo “para aqueles que venham a ser

atingidos por algum dos eventos previstos na legislação de amparo social.” 24

Há, portanto, duas formulações essenciais de proteção social, que existem

simultaneamente no Estado Contemporâneo logo após a segunda guerra mundial,

os dois, entretanto, têm como base a idealização da solidariedade e o

intervencionismo do Estado no controle da economia, havendo distinção em relação

à parcela da população receptora e a limitação da partilha do Estado no sistema

protetivo. Firmamos dessa maneira que, a partir deste momento, concretizou-se a

propagação dos direitos sociais, sendo assim reconhecidos como parte integrante

dos direitos fundamentais, evidenciados ainda mais na Declaração Universal dos

Direitos Humanos, no ano de 1948, em seu art. 25.25

Finalmente, há uma nova definição do papel do Estado, onde há o

reconhecimento dos direitos dos cidadãos.

Sobre o novo papel do Estado, destaca o doutrinador:

[...] Assim, embora o Estado Contemporâneo tenha evoluído, até mesmo emmaior escala que no período entre guerras, na dicção e proteção dosdireitos sociais no período que se estende do fim da Segunda GuerraMundial até a década de setenta do século XX, nos anos que se seguiram,as políticas sociais, em velocidades e escalas de grandezas diversas, demodo geral, sofreram retrações do ponto de vista protetivo, ou promocional.As razões que têm sido indicadas para esse processo são: o fim do ciclo deprosperidade econômica iniciado na década de cinqüenta e o crescimento

22 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 40.23 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 24.24 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.44.25 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.46.

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acentuado dos gastos públicos, aliado a fatores e diminuição dos postos detrabalho (automação) e demográficos. 26

Portanto, hodiernamente, o Estado não tem conseguido atingir com presteza

o seu papel de patrocinador das políticas sociais, pois não há verbas suficientes

para supri-las, muito embora, em países que ainda não alcançaram a mesma

competência no campo da proteção social, o momento atual é outro, ou seja, com a

diminuição de verbas públicas para as políticas sociais não conseguiram chegar,

assim, ao tão sonhado Bem-Estar Social.27

1.2 O INÍCIO DA PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL

A proteção social no Brasil seguiu praticamente o mesmo desenvolvimento no

plano mundial: foi primeiramente privado e voluntário, em seguida passou pela

mutualidade, chegando ao intervencionismo estatal.28

Inicialmente, a proteção social em nosso país tinha cunho beneficente e

assistencial, manifestando-se, primeiramente, no período colonial, quando foram

criadas as Santas Casas de Misericórdia, no ano de 1543 seguido pelas Irmandades

de Ordens Terceiras, chegando ao ano de 1785 em que foi instituído o Plano de

Beneficência dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais da Marinha.29

Além disso, vale citar a primeira instituição de previdência privada em nosso

país, o MONGERAL, Montepio Geral dos Servidores do Estado, no ano de 1835.30

Conforme o autor Antonio Carlos de Oliveira,

O primeiro texto em matéria de previdência social no Brasil foi expedido em1821, pelo ainda Príncipe Regente, Dom Pedro de Alcântara. Trata-se deum Decreto de 1° de outubro daquele ano, concedendo aposentadoria aosmestres e professores, após 30 anos de serviço, e assegurado um abono de¼ (um quarto) dos ganhos aos que continuassem em atividade.31

26 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.46.27 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.47.28 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 43.29 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.64.30 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 44.31 OLIVEIRA apud CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direitoprevidenciário. p. 64.

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Antes da Constituição de 1891, outros decretos para concessão de

aposentadoria foram feitos, entre eles: o Decreto n. 9.912-A, de 26 de março de

1888, que admitiu aposentadoria para os trabalhadores dos Correios, determinando

o tempo de serviço em 30 anos e a idade mínima de 60 anos para recebimento

daquela; o Decreto n. 221, de 26 de fevereiro de 1890, estabeleceu a aposentadoria

à empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil; e o Decreto n. 565, de 12 de

julho de 1890, expandiu a aposentadoria para os demais ferroviários do Estado.32

Deste modo explana os doutrinadores sobre a Constituição de 1891: “A

Constituição de 1891, art. 75, previu a aposentadoria por invalidez aos servidores

públicos.” 33

No ano de 1919 foi feita a Lei n. 3.724, que estabeleceu aos empregadores

responsabilidade quando o trabalhador sofrer acidente no emprego.34

Assim explana o autor Fábio Zambitte Ibrahim a Lei n. 3.724/19:

O Decreto-legislativo n° 3.724/19 criou o seguro de acidentes de trabalho noBrasil. Era incumbência do empregador, o qual deveria custear indenizaçãopara seus empregados, em caso de acidentes. Determinava o Decreto queo acidente de trabalho obrigava o empregador a pagar uma indenização aooperário ou à sua família. Eram excetuados apenas os casos de força maiorou dolo da própria vítima ou de estranho (art. 2°). A sistemática era precária,já que não se assegurava o pagamento de quantias mensais, mas sim umvalor único de indenização, que variava de acordo com o resultado doevento, desde incapacidade temporária até a morte. [...]35

Ainda, em 29 de novembro de 1892, foi elaborada a Lei n. 217, que instaurou

a aposentadoria por invalidez e pensão por morte aos empregados do Arsenal de

Marinha do Rio de Janeiro.36

Até este momento da história da previdência social no Brasil, não podemos

afirmar que existia realmente um regime previdenciário, haja vista que foram

publicados vários decretos e leis instituindo principalmente o instituto da

aposentadoria para determinadas classes trabalhadoras, e, também, não havia por

parte dos beneficiados contribuição durante o período que trabalharam. Dessa

32 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.64-65.33 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.65.34 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. rev., ampl. e atual.Rio de janeiro: Elsevier Editora, 2006. p. 7.35 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário.. p. 44.36 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 7.

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maneira, estabelecemos que não existia previdência social em nosso país até este

ponto da história.37

1.2.1 Lei Eloy Chaves

A maioria dos doutrinadores considera o Decreto Legislativo n. 4.682, de 24

de janeiro de 1923, denominado Lei Eloy Chaves, o início da Previdência Social no

Brasil. Ela deu origem às caixas de aposentadorias e pensões para os trabalhadores

de empresas ferroviárias que existiam na época, concedendo aposentadoria, pensão

por morte e assistência médica. Cada empresa possuía uma caixa de aposentadoria

e pensão.38

A respeito da Lei Eloy Chaves, assevera assim os professores:

A Lei Eloy Chaves é considerada o marco inicial da Previdência Social noBrasil, pois, a partir dela, surgiram dezenas e dezenas de caixas deaposentadorias e pensões, sempre por empresa. Assim, os benefícios daLei Eloy Chaves foram estendidos aos empregados das empresasportuárias, de serviços telegráficos, de água, energia, transporte aéreo, gás,mineração, entre outras, chegando a atingir o total de cento e oitenta e trêscaixas de aposentadorias e pensões, que, posteriormente, foram unificadasna Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados emServiços Públicos. 39

As Caixas, na realidade, não favoreciam a todos os que trabalhavam em

estradas de ferro, mas somente os empregados que realizavam seus serviços

mediante salário mensal, e os operários que lavravam por dia, que efetuavam

serviços de maneira permanente.40

O doutrinador Fábio Zambitte Ibrahim explana as principais peculiaridades

do Decreto legislativo n. 4.682/23:

Eram considerados empregados ou operários permanentes os que tinhammais de 06 (seis) meses de serviços contínuos em uma mesma empresa.[...]A Lei Eloy Chaves previa a aposentadoria por invalidez e a ordinária [...]As caixas ainda assumiram a responsabilidade pelo pagamento deindenizações em caso de acidentes do trabalhos (art. 16). A Lei também

37 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.65.38 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 7-8.39 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 8.40 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 44.

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trazia situação inusitada de perda de direito adquirido à aposentadoria,quando o beneficiário deixava de solicitá-la após 05 (cinco) anos da saídada empresa (art. 20).Também havia previsão de pensão para os dependentes, que eram ocônjuge, os filhos e os pais. [...] 41

A Lei Eloy Chaves, segundo os autores Castro e Lazzari:

[...] se assemelha ao modelo alemão de 1883, em que se identificam trêscaracterísticas fundamentais: (a) a obrigatoriedade de participação dostrabalhadores no sistema, sem a qual não seria atingido o fim para o qual foicriado, pois mantida a facultatividade, seria mera alternativa ao seguroprivado; (b) a contribuição para o sistema, devida pelo trabalhador, bemcomo pelo empregador, ficando o Estado como responsável pelaregulamentação e supervisão do sistema; e (c) por fim, um rol de prestaçõesdefinidas em lei, tendentes a proteger o trabalhador em situações deincapacidade temporária, ou em caso de morte do mesmo, assegurando-lhea subsistência. 42

As outras classes de trabalhadores não protegidas por esta lei, procuraram o

mesmo abrigo, expandindo, assim, o modo protetivo criado por ela. Entretanto,

ocorreu grande reforma dos regimes previdenciários após a revolução de 1930,

quando Getúlio Vargas tornou-se presidente do nosso país. Nesta época também foi

criado o Ministério do Trabalho, tendo como primeiro ministro Lindolfo Collor. Com

essa reforma previdenciária, as caixas de aposentadorias e pensões deram seus

lugares aos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), que, diferentemente das

caixas, organizavam-se por classes profissionais.43

1.2.2 Instituto de aposentadoria e pensões

Os Institutos de Aposentadoria e Pensões, por se organizarem em categorias

profissionais, tinham um alcance muito maior, de âmbito nacional. O primeiro a ser

criado foi o IAPM (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos) através do

Decreto n. 22.872, de 20 de junho de 1933.44

Acerca do IAPM, explana o professor:

41 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 44-4542 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.66.43 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 46.44 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.67.

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[...] O IAPM tinha personalidade jurídica própria, sede na capital daRepública, e era subordinado ao Ministério do Trabalho, Indústria eComércio, destinando-se a conceder ao pessoal da marinha mercantenacional e classes anexas os benefícios de aposentadoria e pensões. 45

Com a criação dos institutos, aumentou a intervenção do Estado no que diz

respeito à previdência, estabilizando o controle do Poder Público, haja vista que os

institutos eram autarquias regidas pela União, mas especificamente pelo Ministério

do Trabalho.46

Logo após a criação do IAPM, outros foram surgindo: o IAPC (Instituto de

Aposentadoria e Pensões dos Comerciários – Decreto n. 24.273/34) e o IAPB

(Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários – Decreto n. 24.615/34); o IAPI

(Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários – Lei n. 367/36); o IPASE

(Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado – Decreto-lei n.

288/38 ) e o IAPTEC (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em

Transportes e Cargas – Decreto-lei n. 775/38); o IAPFESP (Instituto de

Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos).47

Parte destes institutos entraram em vigor durante a vigência da Constituição

Federal de 1934, outros na Constituição Federal de 1937, e mais alguns ainda na

Constituição Federal de 1946. Falaremos algumas particularidades acerca de cada

Constituição no que diz respeito à previdência social.

Na Constituição Federal de 1934 foi instituída a forma tríplice de custeio,

contribuindo obrigatoriamente o Estado, o empregado e o empregador, conforme art.

12, § 1°, “h”. E foi, da mesma forma, a primeira Constituição a reportar-se à palavra

“previdência”, mas sem adjetivá-la de “social”. 48

Já a Constituição Federal de 1937, que foi outorgado no dia 10 de novembro,

sintetizou excessivamente no que concerne à matéria previdenciária. Conforme o

autor Sérgio Pinto Martins, “[...] Não evoluiu nem um pouco em relação às anteriores

ao contrário, regrediu.” Ainda há mais uma particularidade sobre a Constituição

Federal de 1937: ela utilizava a expressão “seguro social”, em vez de “previdência”

contida na Constituição anterior.49

45 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 46.46 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 46.47 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 47.48 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 9.49 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 10.

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Um ano antes da promulgação da Constituição de 1946, o decreto n. 7.526/45

definiu que deveria ser criado uma só instituição previdenciária social no país, o

Instituto de Serviços Sociais do Brasil (ISSB).50 Acerca de tal instituto, assegura o

doutrinador:

[...] O sistema cobriria todos os empregados ativos a partir de 14 anos,tendo um único plano de contribuições e benefícios. Houve a consolidaçãode todos os recursos existentes em um único fundo. O ISSB na prática nãofoi implementado, pois o governo Dutra não lhe cedeu os créditosnecessários. 51

Ainda sobre o ISSB, afirma os autores Castro e Lazzari:

No ano de 1945, o Decreto-Lei n. 7.526 tencionava o estabelecimento deum verdadeiro sistema de Previdência Social, com a tentativa deuniformização das normas a respeito dos benefícios e serviços devidos porcada instituto de classe, tendo nítida influência das diretrizes dos Relatóriosde Beveridge. Contudo, tal diploma não chegou a ser eficaz, por ausênciade regulamentação – que deveria ter normatizado a organização efuncionamento do que seria o Instituto dos Serviços Sociais do Brasil,instituição que nunca chegou a existir. 52

Com a promulgação da Constituição Federal de 1946 em 18 de setembro,

tentou-se organizar um sistema constitucional em matéria previdenciária. Também

foi nessa Constituição que falou-se pela primeira vez em “previdência social”,

sumindo a expressão anteriormente usada, “seguro social”.53 Durante a sua

vigência, vários decretos foram criados para uma melhor organização do sistema

que estava em vigor na época, entre eles:

O Decreto n 26.778, de 14-6-49, regulamentou a Lei n° 593, de 24-12-48,referente à aposentadoria ordinária, disciplinando a execução das demaislegislações em vigor sobre as CAPs.[...]O Decreto n° 32.667, de 1-5-53, aprovou o novo regulamento do IAPC,facultando a filiação de profissionais liberais como segurados autônomos.Houve uniformização e unificação das políticas legislativas sobreprevidência social a partir de 1940 em diante, com o Regulamento Geral dosInstitutos de Aposentadorias e Pensões, o que foi feito por meio do Decreto

50 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência Social. Disponível em:<http://www.mpas.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 08 ago.2007.51 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 10.52 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.67.53 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 26.

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n. 35.448, de 1°-5-54, uniformizando os princípios gerais aplicáveis a todosos institutos de aposentadorias e pensões. 54

Após todas as tentativas de regulamentação para a promoção de meios

capazes de instituir tantos as Caixas de Aposentadorias e Pensões e os Institutos de

Aposentadorias e Pensões, no ano de 1960, mais precisamente em 26 de agosto,

criou-se a LOPS (Lei Orgânica da Previdência Social – Lei n. 3.807/60). Porém,

continuavam fora da proteção social os rurais e os domésticos.55

O professor Fábio Zambitte Ibrahim assim fala sobre a LOPS:

[...] Sob sua égide, a Lei n° 3.807, de 26/08/1960, unificou toda a legislaçãosecuritária e ficou conhecida como a Lei Orgânica da Previdência Social –LOPS. Na verdade, a unificação da legislação foi um passo premeditado nosentido da unificação dos institutos. Essa tarefa ficaria sensivelmentefacilitada, se todos se submetessem a um mesmo regime jurídico. 56

Ainda sobre a Lei Orgânica da Previdência Social, afirma Sérgio Pinto

Martins:

A Lei n° 3.807, de 26-8-1960, Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS),padronizou o sistema assistencial. Ampliou os benefícios, tendo surgidovários auxílios, como: auxílio-natalidade, auxílio-funeral e auxílio-reclusão, eainda estendeu a área de assistência social a outras categoriasprofissionais. Não era a LOPS uma CLT. Era uma lei nova, que trazia novosbenefícios e disciplinava as normas de previdência social, em um conjunto.A CLT é a reunião de leis esparsas por meio de um decreto-lei. Não trazianada de novo, mas apenas compendiava as normas já existentes. Nãorevogou expressamente todas as leis anteriores sobre o tema, pois ficaramalgumas normas ainda em vigor. A LOPS deu unidade ao sistema deprevidência social. Não unificou os institutos existentes, mas estabeleceuum único plano de benefícios. Elevou o teto de salário-de-contribuição detrês para cinco salários mínimos. 57

A unidade do sistema previdenciário que efetivamente aconteceu com a

LOPS era mais que justificada, pois era muito dispendioso manter vários institutos.58

Acerca do fundamento para a criação da LOPS, assim diz o doutrinador:

Ainda que a criação dos institutos, por si só, já tivesse representado umaevolução do sistema, a consolidação total em uma única entidade erajustificável. A manutenção de diversos institutos gerava gastos elevados,

54 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 11.55 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.68.56 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 47.57 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 11.58 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 47.

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com diversas redundâncias no funcionamento, já que cada entidade deveriaexecutar as mesmas atividades.Também havia eventuais problemas com trabalhadores que mudavam decategoria, exercendo nova atividade. Nessas situações, freqüentemente ostrabalhadores deixavam um instituto e filiavam-se a outro, gerando algumdesgaste, quando não prejuízos financeiros.[...]Em abstrato, a unificação fez-se necessária, pois não era razoável amanutenção de variadas instituições estatais, exercendo exatamente amesma função, diferenciado-se somente pela clientela protegida. Era algopor demais custoso para um país tão carente de recursos. 59

Logo após o surgimento da LOPS, outras leis foram geradas criando novos

benefícios para os contribuintes, entre elas: Lei. n. 3.841/60 (dispõe sobre a

contagem recíproca do tempo de serviço prestado por funcionários à União,

autarquias e às sociedades de economia mista, para efeito de aposentadoria}; Lei n.

4.214/63 (dispõe sobre a criação do FUNRURAL – Fundo de Assistência ao

Trabalhador Rural); Lei. n. 4.266/63 (institui o salário-família do trabalhador); Lei n.

4.281/63 (institui abono especial, em caráter permanente, para aposentados de

Institutos de Previdência).60

No ano de 1965, com a produção da Emenda Constitucional n. 11, que

adicionou um parágrafo ao art. 157, definindo que “[...] nenhuma prestação de

serviço de caráter assistencial ou de benefício compreendido na previdência social

poderá ser criada, majorada ou estendida sem a correspondente fonte de custeio

total.”, instituindo, assim, o princípio da precedência da fonte de custeio.61

A LOPS foi modificada pelo Decreto-lei 66/66, mais notadamente no que diz

respeito aos segurados autônomos, garantindo que as empresas que se utilizarem

de trabalho autônomo deverão contribuir.62

1.2.3 A criação do INPS e a Constituição Federal de 1967

O Instituto Nacional de Previdência Social – INPS – foi criado através do

Decreto-lei n. 72, de 21 de novembro de 1966, unificando, assim, os institutos de

aposentadorias e pensões, e organizando a previdência no todo.63

A respeito do INPS, afirma o autor Fábio Zambritte Ibrahim:

59 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 47-48.60 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 11-12.61 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 12.62 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 12.63 COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 35-36.

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O Decreto-lei n° 72, de 21/11/1966, criou o Instituto Nacional de PrevidênciaSocial (INPS), o qual constituía entidade da administração indireta da União,com personalidade jurídica de natureza autárquica e gozava, em toda suaplenitude, inclusive no que se refere a seus bens, serviços e ações, dasregalias, privilégios e imunidades da União (art. 2°). 64

Da mesma forma, assegura os professores Castro e Lazzari:

Apenas em 1° de janeiro de 1967 foram unificados os IAP, com osurgimento do Instituto Nacional da Previdência Social – INPS, criado peloDecreto-lei n. 72, de 21.11.66, providência de há muito reclamada pelosestudiosos da matéria, em vista dos problemas de déficit em vários institutosclassistas. 65

Já na Constituição Federal de 1967, foi criado o seguro-desemprego, que até

esse momento não existia, estabelecido na regulamentação como auxílio-

desemprego.66

No mesmo ano da criação da Constituição Federal de 1967, elaborou-se a

Lei n. 5.316, em 14 de setembro, que incorporou o seguro de acidentes de trabalho

– SAT, à previdência social.67

Acerca do SAT, assevera o doutrinador:

A Lei n° 5.316, de 14/09/1967, integrou o seguro de acidentes de trabalho(SAT) à previdência social, fazendo assim desaparecer este seguro comoramo à parte. Tal conduta foi ao encontro das recomendações do planoBeveridge, o qual aconselhava a estatização deste seguro, além da suaunificação ao sistema previdenciário existente. O SAT unificado e deorganização estatal é de grande relevância para a efetividade do sistema,pois a organização privada deste não traz atendimento adequado a estademanda social. Tal conclusão é de fácil percepção, baseada naexperiência atual da atuação das seguradoras em geral, as quais poderiamresponsabilizar o empregador pelo acidente e tentar excluir suaresponsabilidade pelo pagamento de qualquer benefício. Estas falhas jáforam apontadas por Beveridge. 68

Muitas foram as legislações feitas a partir da elaboração do SAT até a

promulgação da Constituição Federal atualmente em vigor, sendo elas: Decreto-lei

n. 367/68 (tratava da contagem de tempo de serviço dos funcionários públicos civis

da União e das autarquias); Decreto-lei n. 564/69 (estendia a previdência social aos

64 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 48.65 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.69.66 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.6967 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 12.68 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 48-49.

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trabalhadores rurais, por meio de um plano básico); Decreto-lei n. 704/69

(complementava e ampliava o Plano Básico de Previdência Social Rural); Decreto-lei

n. 959/69 (discorria sobre o recolhimento da contribuição previdenciária, por parte

das empresas, sobre o trabalho autônomo).69

Sobre o Plano Básico de Previdência Rural, assim estabelece o autor:

O Decreto-lei n° 564, de 1/05/1969, o qual instituiu o Plano Básico da árearural, estendeu a proteção aos trabalhadores do setor agrário daagroindústria canavieira e das empresas de outras atividades que, pelo seunível de organização, pudessem ser incluídas (art. 2°).O plano básico de previdência social rural foi ainda ampliado pelo Decreto-lei n° 704, de 24/07/1969. Este determinava a inclusão dos empregados dasempresas produtoras e fornecedoras de produto agrário in natura eempregados dos empreiteiros ou de organização que, não-constituídos soba forma de empresa, utilizassem mão-de-obra para produção efornecimento de produto agrário in natura (art. 3°). 70

No dia 17 de outubro de 1969 entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 1.

A maioria dos doutrinadores dizem que esta emenda não trouxe grandes inovações

ao texto constitucional em relação à matéria previdenciária.71

O professor Sérgio Pinto Martins traz com mais detalhes as mudanças feitas

por tal emenda:

Vários incisos do art. 165 da Emenda Constitucional n° 1, de 1969, tratavamde previdência social. O inciso II, sobre salário-família aos dependentes. Oinciso XI, sobre descanso remunerado da gestante, antes e depois do parto,sem prejuízo do emprego e do salário. O inciso XVI, sobre previdênciasocial nos casos de doença, velhice, invalidez e morte, seguro-desemprego,seguro contra acidentes do trabalho e proteção da maternidade, mediantecontribuição da União, do empregador e do empregado. O inciso XIX, sobreaposentadoria da mulher aos 30 anos de trabalho, com salário integral. Oparágrafo único do art. 165 mencionava que nenhuma prestação de serviçode assistência ou de benefício compreendidos na previdência social seriacriada, majorada ou estendida, sem a correspondente fonte e custeio total.[...] 72

Dois anos após a criação da emenda constitucional n. 1, foi elaborada a Lei

Complementar n. 11, em 25 de maio de 1971, que estabeleceu o PRORURAL

(Programa de Assistência ao Trabalhador Rural), que substituiu o Plano Básico de

Previdência Social Rural. O trabalhador não precisava contribuir para receber os

69 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 12-13.70 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 49.71 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 13.72 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 13.

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benefícios que a lei assegurava, sendo eles: aposentadoria por velhice, invalidez,

pensão e auxílio-funeral.73

O doutrinador Fábio Zambitte Ibrahim explica algumas particularidades dessa

Lei:

A Lei Complementar n° 11, de 25/05/1971, instituiu o Programa deAssistência ao Trabalhador Rural (PRORURAL), de natureza assistencial,cujo principal benefício era aposentadoria por velhice, após 65 (sessentacinco anos) anos de idade, equivalente a 50% do salário mínimo de maiorvalor no País (art. 4°).Esta mesma lei complementar deu natureza autárquica ao FUNRURAL,sendo subordinado ao ministro do Trabalho e Previdência Social, assumindoa responsabilidade da administração do PRORURAL. Na mesma época, foiextinto o plano básico.74

O Brasil passou por mais um período de edições de leis ordinárias, leis

complementares e decretos, até uma nova reestruturação da legislação

previdenciária. Tal reestruturação fez-se através da Consolidação das Leis da

Previdência Social, decreto n. 77.077/76. Mas antes de nos atermos a ele, faremos

uma breve exposição do caminho feito pelos nossos legisladores até a promulgação

daquele.

O autor Sérgio Pinto Martins nos mostra em sua obra a maior parte da

legislação feita em matéria previdenciária, sendo elas:

O Decreto n° 69.919, de 11-1-72, regulamentou o Pro-Rural.A Lei n° 5.859, de 11-12-72, incluiu os empregados domésticos comosegurados obrigatórios da Previdência Social.A Lei n° 5.890, de 8-7-1973, fazia uma série de modificações no texto da Lein° 3.807 (LOPS). [...]A Lei n° 5.939, de 8-6-73, instituiu o salário-de-benefício do jogador defutebol profissional.A Lei Complementar n° 16, de 30-10-73, alterou o Pro-Rural.A Lei n° 6.025, de 25-6-1974, cria o Ministério da Previdência e AssistênciaSocial.A Lei n° 6.136, de 7-11-74, incluiu o salário-maternidade entre o benefíciosprevidenciários.[...]A Lei n° 6.179, de 11-12-74, criou o amparo previdenciário para os maioresde 70 anos ou inválidos, no valor de meio salário mínimo.[...]A Lei n° 6.195, de 19-1-1974, criou a infortunística rural.Versou a Lei n° 6226, de 14-7-75, sobre a contagem recíproca do tempo deserviço em relação ao serviço público federal e na atividade privada, paraefeito de aposentadoria.A Lei n° 6.243, de 24-9-1975, regulou a concessão do pecúlio aoaposentado que retornava à atividade ou que ingressava na PrevidênciaSocial após completar 60 anos de idade.

73 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 13.74 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 49.

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A Lei n° 6.260,de 6-11-75, instituiu benefícios e serviços previdenciáriospara os empregados rurais e seus dependentes.Criou a Lei n° 6.269, de 24-11-75, um sistema de assistência complementarao jogador de futebol.75

Ainda sobre o percurso dos diplomas legais previdenciários e a CLPS,

afirmam os professores:

Na década de 70, foram editados vários diplomas legais que trouxeraminovações importantes na legislação previdenciária, tais como: a criação dosalário-família, os empregados domésticos tornaram-se seguradosobrigatórios e o salário-maternidade passou a constar no rol dos benefíciosprevidenciários. Assim, com tantas normas legais em vigor tratando dePrevidência Social, houve a necessidade de reuni-las. Isso ocorreu atravésdo Decreto n° 77.077, de 24/01/1976, resultando na Consolidação das Leisda Previdência Social (CLPS). 76

A CLPS foi o meio pelo qual o Executivo reuniu todas as leis acerca da

previdência social, apensando todas elas em uma mesma norma.

Um ano após a Consolidação das leis da Previdência Social, através da Lei n.

6.439, foi instituído o SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Assistência

Social, que tinha como objetivo reorganizar a previdência social como um todo. Essa

mesma lei concebeu o INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da

Previdência Social e o IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência

e Assistência Social, um e outro incorporados ao SINPAS.77

Acerca do SINPAS, sustenta o doutrinador:

A Lei n° 6.439/77 instituiu o SINPAS (Sistema Nacional de Previdência eAssistência Social, buscando a reorganização da previdência social. OSINPAS agregava as seguintes entidades:I – Instituto Nacional de Previdência Social – INPS.II – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social –INAMPS.III – Fundação Legião Brasileira de Assistência – LBA.IV – Fundação Nacional do Bem –Estar do Menor – FUNABEM.V – Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social –DATAPREV.VI – Instituto de Administração Financeira da Previdência e AssistênciaSocial – IAPAS.VII – Central de Medicamentos – CEME.O SINPAS, o qual submetia à orientação, à coordenação e ao controle doMinistério da previdência e Assistência Social – MPAS, tinha a finalidade deintegrar a concessão e manutenção de benefícios, a prestação de serviços,

75 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 13-14.76 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 9.77 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 49-50.

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o custeio de atividades e programas e a gestão administrativa, financeira epatrimonial de seus componentes. 78

No mesmo ano de criação do SINPAS, regulamentou-se a hipótese de gerar

instituições de previdência complementar através da Lei n. 6.435, sendo que os

Decretos ns. 81.240/78 e 81.402/78 regulamentaram tal matéria, em relação às

entidades de caráter fechado e aberto.79

Em 1979, foi aprovado o Regulamento dos Benefícios da Previdência Social –

RBPS, através do Decreto n. 83.080 e expedido o Regulamento de Custeio da

Previdência Social, por meio do Decreto n. 83.081.80

Houve inovação na aposentadoria dos docentes através da Emenda

Constitucional n. 18, de junho de 1981. A aposentadoria seria integral, desde que o

tempo de serviço em funções de magistério seja de 30 anos de serviço, para

professores, e 25 anos de serviço, para as professoras.81

Reestruturou-se novamente a CLPS, através do Decreto n. 89.312/84, que

consolidou as leis já existentes e estabeleceu tipologia maior à vários segurados.82

Com o Decreto-lei n. 2.283/86 estabeleceu-se o seguro-desemprego, porém

foi revogado pelo Decreto-lei n. 2.284 no mesmo ano 83

Por fim, antes de adentrarmos nas mudanças feitas na Previdência Social

pelo Constituição Federal de 1988, nos falta citar o decreto n. 94.657/87 e a Portaria

n. 4.370/88, que conceberam o SUDS (Programa de Desenvolvimento de Sistemas

Unificados e Descentralizados de Saúde dos Estados), e instituíram regras que

complementaram as atividades deste programa.84

1.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A SEGURIDADE SOCIAL

A CF/88 instituiu a Seguridade Social, em seu Título VIII, Capítulo II, art. 194,

caput, onde diz que: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de 78 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. p. 49-50.79 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.70.80 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência Social. Disponível em: <http://www.mpas.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 08 ago 2007.81 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 15.82 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 15.83 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência Social. Disponível em:<http://www.mpas.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-E.asp>. Acesso em: 08 ago.2007.84 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 15.

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ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os

direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.”85

Sobre a CF/88 e a Seguridade Social, dispõem os autores:

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o sistema de SeguridadeSocial, como objetivo a ser alcançado pelo Estado brasileiro, atuandosimultaneamente nas áreas da saúde, assistência social e previdênciasocial, de modo que as contribuições sociais passaram a custear as açõesdo Estado nestas três áreas, e não mais somente no campo da PrevidênciaSocial. Porém, antes mesmo da promulgação da Constituição, já haviadisposição legal que determinava a transferência de recursos daPrevidência Social para o então Sistema Único Descentralizado de Saúde –SUDS, hoje Sistema Único de Saúde – SUS. 86

Nesse mesmo sentido, afirmam os professores:

A Constituição Federal de 1988 disponibilizou o Capítulo II, Título VIII –Ordem Social, para tratar da Seguridade Social. O art. 194 defineSeguridade Social como um conjunto integrado de ações de iniciativa dosPoderes Público e da sociedade, destinadas a assegurar os direitosrelativos à saúde, previdência e assistência social. Dessa forma,percebemos que a Seguridade é composta do seguinte tripé: saúde,previdência e assistência social. 87

Em seu art. 201, que trata do Regime Geral de Previdência Social (RGPS),

apresenta todos os benefícios que tal regime assegura aos seus filiados, bem como

as condições para as pessoas fazerem parte desse regime. Sobre este assunto,

Castro e Lazzari expõem o seguinte:

O Regime Geral de Previdência Social – RGPS, nos termos da Constituiçãoatual (art. 201), não abriga a totalidade da população economicamenteativa, mas somente aqueles que, mediante contribuição e nos termos da lei,fizerem jus aos benefícios, não sendo abrangidos por outros regimesespecíficos de seguro social.Ficam excluídos do chamado Regime Geral de Previdência: o servidorespúblicos civis, regidos por sistema próprio de previdência; os militares, osmembros do Poder Judiciário e do Ministério Público, e os membros doTribunal de Contas da União, todos por possuírem regime previdenciáriopróprio; e os que não contribuem para nenhum regime, por não estaremexercendo qualquer atividade. [...] 88

85 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 10.86 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.71.87 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 10.88 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.71-72

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No art. 198, a CF/88 discorre sobre a organização e funcionamento do

Sistema único de Saúde (SUS), assim como a origem das verbas empregadas para

compras de medicamentos, atendimentos hospitalares, etc. Acerca da saúde, direito

reservado pela CF/88 a todos os cidadãos, e de suas particularidades, asseveram os

doutrinadores:

Pelas ações na área da saúde, destinadas a oferecer uma política socialcom a finalidade de reduzir riscos de doenças e outros agravos, éresponsável o SUS (art. 198 da Constituição), de caráter descentralizado. Odireito à saúde, que deve ser entendido como direito à assistência etratamento gratuitos no campo da Medicina, é assegurado a toda apopulação, independentemente de contribuição social, para que se preste odevido atendimento , tendo atribuições no âmbito da repressão e prevençãode doenças, produção de medicamentos e outros insumos básicos, bemcomo ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde,participar da política e execução das ações de saneamento básico,incrementar o desenvolvimento científico e tecnológico, exercer a vigilânciasanitária e as políticas de saúde pública, além de auxiliar na proteção domeio ambiente (art. 200 da CF). [...] 89

Ainda sobre o SUS, de acordo com o art. 199 da CF/88, é possível a

prestação de serviços de saúde pela iniciativa privada, sem nenhuma restrição,

possibilitando ao SUS a participação complementar por intermédio de um contrato

de direito público ou convênio, porém vedando que recursos públicos sejam

destinados para auxiliar tais instituições privadas.90

Já o art. 203 da CF/88 traz a assistência social, que será prestada a quem

precisar, não exigindo, porém, contribuição por parte de quem necessite de tal

ajuda. A respeito dela, assim afirmam os autores:

No âmbito da Assistência Social, são assegurados, independentemente decontribuição à Seguridade Social, a proteção à família, à maternidade, àinfância, à adolescência e à velhice, o amparo às crianças e aosadolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho:a habilitação e reabilitação profissional das pessoas portadoras dedeficiência; e a renda mensal vitalícia - de um salário mínimo – à pessoaportadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meio desubsistência , por si ou por sua família (art. 203). É prestada por entidades eorganizações sem fins lucrativos, no atendimento e assessoramento aosbeneficiários da Seguridade Social, bem como pelos que atuam na defesa egarantia de seus direitos, segundo as normas fixadas pelo ConselhoNacional de Assistência Social – CNAS. [...] 91

89 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.72.90 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.72.91 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.73.

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Muitos direitos foram inseridos na CF/88, garantindo assim aos cidadãos a

segurança de que aqueles serão cumpridos por seus empregadores. Quanto a

esses direitos, estabelecem Castro e Lazzari:

Nesse ponto, é de se frisar que a Assembléia Nacional Constituinte, aodispor sobre a matéria em 1988, assegurou direitos até então não previstos,como por exemplo, a equiparação dos Direitos Sociais dos trabalhadoresrurais com os dos trabalhadores urbanos, nivelando-os pelos últimos; aampliação do período de licença-maternidade para 120 dias, comconseqüente acréscimo de despesas no pagamento dos salários-maternidade, e a adoção do regime jurídico único para os servidorespúblicos da Administração Direta, autarquias e fundações públicas dasesferas federal, estadual e municipal, unificando também, por conseguinte,todos os servidores em termos de direito à aposentadoria, com proventosintegrais, diferenciada do restante dos trabalhadores (vinculados ao RegimeGeral), que tinham sua aposentadoria calculada pela média dos últimos 36meses de remuneração. 92

No ano de 1990, o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social

(SINPAS) foi extinto. Nesse mesmo ano, entretanto, foi criado o Instituto Nacional do

Seguro Social (INSS), através da Lei. n. 8.029, sendo ele uma união entre o INPS e

o IAPAS, reunindo assim em um único órgão, custeio e benefício.93

A respeito do INSS, sustenta o professor:

O art. 17 da Lei n° 8.029, de 12-4-1990, permitiu a criação do INSS. ODecreto n° 99.350, de 27-6-1990, criou o INSS (Instituto Nacional do SeguroSocial), autarquia federal vinculada ao então Ministério do Trabalho ePrevidência Social, mediante a fusão do IAPAS com o INPS. O INSS passaa ter a finalidade de cobrar as contribuições e pagar os benefícios. Não hámais dois órgãos para cada finalidade, mas apenas um só.94

Ainda sobre o INSS, afirmam os doutrinadores:

Em 27/06/1990, o Decreto n° 99.350 criou o Instituto Nacional do SeguroSocial – INSS, órgão resultante do INPS e IAPAS, com as seguintesatribuições: promover a arrecadação, a fiscalização e a cobrança dascontribuições sociais destinadas ao financiamento da Previdência Social, naforma da legislação em vigor; e

92 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.73.93 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.73-74.94 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 16.

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promover o reconhecimento, pela Previdência Social, de direito aorecebimento de benefícios por ela administrados, assegurando agilidade,comodidade aos seus usuários e ampliação do controle social. 95

Em 1991, foram elaboradas as leis mais utilizadas em matéria previdenciária:

a Lei n. 8.212 que discorre acerca do custeio do sistema da seguridade social, e a

Lei n. 8.213, que traz os benefícios previdenciários, atendendo o art. 59 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).96

Ocorreram muitas alterações legislativas após a elaboração das leis

anteriormente citadas, sendo estas as principais: a Lei n. 8.742/93, que criou a

LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social); e a Lei n. 9.528/97, que deu fim a várias

aposentadorias especiais, dentre elas a do juiz classista da Justiça do Trabalho e do

jornalista.97

O Direito é uma ciência que sempre continuará em movimento, pois ainda irão

surgir muitas mudanças de grande relevância para sociedade atual, principalmente

no que diz respeito ao servidor público.

Na próxima premissa, iremos tratar acerca das regras gerais para concessão

de benefícios no Regime Geral de Previdência Social, principalmente no que tange à

aposentadoria.

95 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 10.96 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 16.97 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 16.

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CAPÍTULO 2

REGRAS GERAIS PARA CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS NO RGPS98

Este capítulo tem como escopo explicar os vários tipos de benefícios e

serviços existentes devidos aos segurados da Previdência Social do Brasil, dando

enfoque principalmente à aposentadoria como um todo.

2.1 TIPOS DE BENEFÍCIOS

A Previdência Social, que divide-se em Regime Geral da Previdência Social e

em regimes próprios dos servidores públicos, possui várias finalidades, sendo uma

delas a de conceder benefícios e serviços, chamados de prestações pela lei que os

regula, quando ocorrer a situação que dará direito a tais prestações.

Os benefícios e serviços concedidos pelo RGPS aos inscritos nele, conforme

o art. 18, incisos I, II e III e correspondentes alíneas, da Lei n. 8.213/91, são os

seguintes: aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por

tempo de contribuição, aposentadoria especial, auxílio-doença, salário-família,

salário-maternidade, auxílio-acidente, pensão por morte, auxílio-reclusão, serviço

social e reabilitação profissional.99

Vamos discorrer acerca de cada benefícios e serviços conferidos aos

segurados do RGPS, sendo que as várias espécies de aposentadoria serão

explicadas em tópico distinto.

2.1.1 Auxílio-doença

O benefício auxílio-doença está previsto no art. 201, I da CF/88 e no art. 59 a

64 da Lei n. 8.213/91, sendo devido ao segurado que, se for o caso, deverá

98 Doravante iremos usar essa abreviatura quando mencionarmos o Regime Geral de PrevidênciaSocial.99 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Regula sobre os planos de benefícios da previdênciasocial e dá outras providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.

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cumprir o período de carência exigido por lei, não poder mais exercer sua função

habitual por mais de quinze dias consecutivos.100

Conforme exposto, o auxílio-doença é benefício reservado à pessoa que não

possui temporariamente a capacidade laborativa ou não tem como continuar suas

atividades costumeiras.

O conceito de auxílio-doença é pacífico dentre a maioria dos doutrinadores.

Dessa maneira, iremos expor alguns desses conceitos para um maior entendimento

do presente tópico.

O autor João Ernesto Aragonés Vianna assim entende o auxílio-doença:

O auxílio-doença será devido ao segurado que ficar incapacitado para o seutrabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias consecutivos.Não é devido o benefício ao segurado que se filiar ao RGPS já portador dadoença ou da lesão invocada como causa para sua concessão, salvoquando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamentodessa doença ou lesão. O período inicial de 15 dias é denominado ‘períodode espera’. É disciplinado nos arts. 59 e seguintes da lei n. 8.213/91.101

Um outro conceito, só para complementação do anterior é feito pelo autor

Marco André Ramos Vieira:

O auxílio-doença, com previsão constitucional no art. 201, I da CF/1988 eregulado pela lei n° 8.213/1991, arts. 59 a 64, é devido ao segurado que,após cumprida, quando for o caso, a carência exigida, ficar incapacitadopara o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 diasconsecutivos. Esse benefício objetiva garantir a manutenção daremuneração dos segurados da previdência social por ocasião daincapacidade laborativa em virtude de doença ou lesão.102

Assim, entendemos que não receberá o auxílio-doença quem, ao se inscrever

no RGPS, já possuía doença ou lesão, só no caso em que a incapacidade acontecer

se tal lesão ou doença piorar ou for progressivamente agravando.

Para tal benefício ser concedido precisa-se de um certo número de

contribuições para que o beneficiário o receba, o período de carência.

De acordo com o professor, acerca do período de carência do auxílio-doença:

100 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.101 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 274.102 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. 6. ed. Niterói, Rio de Janeiro:Editora Impetus, 2006. p. 417.

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Carência: A ele faz jus o segurado que ultrapassar o período de carênciade 12 contribuições mensais ao sistema previdenciário (Lei n° 8.213/91, art.25, I). Observando o estipulado pelo legislador no inc. II do art. 26 da Lei n°8.213/91, os Ministérios da Previdência e da Saúde exararam a PortariaInterministerial n° 2.998, de 23-8-01, por intermédio da qaul especificamdoenças para as quais não é exigido cumprimento de período de carência.Referidas doenças são: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental,neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante,cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante,nefropatia grave, estado avançado da doença de Paget (osteítedeformante), síndrome da deficiência imonológica adquirida (Aids),contaminação por radiação e hepatopatia grave.103

Dessa maneira, para o segurado do RGPS receber o auxílio-doença, ele

deverá cumprir com o período de carência, que é de 12 contribuições pagas

mensalmente. O autor anteriormente citado ainda nos explicou acerca de doenças,

que por suas características, não necessitariam do pagamento de contribuições para

que o segurado receba o auxílio-doença.

Segundo o doutrinador Aristeu de Oliveira, para o benefício em questão ser

concedido, precisa-se de exame médico feito por perito da Previdência Social.

Porém, se a empresa onde o segurado trabalha possuir serviço médico particular ou

tem convênio, tal exame e o abono das faltas que correspondem aos 15 dias em que

o segurado não pôde trabalhar, será encargo daquela. E, quando superado os tais

15 dias, a perícia ficará a cargo da Previdência Social.104

Inicia-se o pagamento, consoante o art. 60, caput da Lei n. 8213/91, logo

após o décimo sexto dia em que o segurado empregado foi afastado de suas

atividades, e os outros segurados começam a receber o benefício a partir do dia que

começou o estado de incapacidade e enquanto este perdurar.

Acerca do início do pagamento do auxílio-doença, assim fala o autor:

O termo inicial do benefício pode ser (art. 60 e § 1°): a) regra geral, o 16°dia do afastamento para o segurado empregado e empresário. Neste caso,os primeiros quinze dias em que o segurado empregado estiver enfermocorrerão por conta da empresa; b) para os demais segurados é a data doinício da incapacidade; c) caso o requerimento seja protocolado depois de30 dias do afastamento, esta data estabelecerá o início do benefício.105

103 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. 11. ed. São Paulo: Ed. Atlas,2005. p. 117.104 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social. 13. ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2005.p. 436.105 THEISEN, Ana Maria Wickert et al. Direito previdenciário: aspectos materiais, processuais epenais. 2. ed. atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999. p. 98.

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Já em relação ao valor do benefício, conforme o art. 61 da Lei n. 8.213/91,

será de 91% do salário-de-benefício.106

A respeito do encerramento do benefício, conforme Odonel Urbano

Gonçalves, ele pode acontecer de quatro maneiras, sendo que três delas estão

presentes nos artigos 78, caput e 79, caput do Decreto n. 3.048/99:

Quatro são as formas de extinção: a) o reestabelecimento do segurado, queé a forma mais comum; b) a conversão em aposentadoria por invalidez,quando constatada a irrecuperabilidade do estado incapacitante, ou auxílio-acidente, se a seqüela implicar redução da capacidade funcional; c)habilitação do obreiro para o desempenho de outra atividade que lhegaranta a subsistência, após a realização de processo de reabilitaçãoprofissional; d) conversão em aposentadoria por idade desde que requeridapelo segurado e observada a carência exigida.107

Portanto, para o segurado deixar de receber o auxílio-doença, deverá estar

totalmente recuperado da doença que o levou a receber o benefício; ou não se

restabelecendo será aposentado por invalidez; ou receberá auxílio-acidente se ainda

resultar alguma anomalia que reduza a capacidade de trabalhar; e ainda, se o

segurado requerer a aposentadoria por idade desde que cumpridos todos os

requisitos.

Para encerrarmos a explanação sobre o auxílio-doença, iremos explicar

acerca do segurado empregado que, no Decreto n. 3.048/99, em seu art. 80,

discorre que aquele é considerado licenciado quando estiver recebendo o benefício.

A respeito do recebimento do auxílio-doença por segurado empregado, afirma

o doutrinador:

Conforme disposto no art. 80 do RPS, o segurado empregado em gozo deauxílio-doença é considerado pela empresa como licenciado. A empresaque garantir ao segurado licença remunerada ficará obrigada a pagar-lhedurante o período de auxílio-doença a eventual diferença entre o valor destee a importância garantida pela licença. De acordo com o previsto no art. 28,§ 9°, n da Lei n° 8.212/1991, a complementação do valor auxílio-doença,desde que extensiva a todos os segurados empregados da empresa nãointegrará o salário-de-contribuição.108

106 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.107 THEISEN, Ana Maria Wickert et al. Direito previdenciário: aspectos materiais, processuais epenais. p. 99.108 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 418.

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Dessa maneira, o segurado que estiver recebendo o auxílio-doença é

considerado pela empresa como licenciado, e se a empresa fornecer ao segurado

licença remunerada, ela ficará obrigada a lhe pagar durante o período do

recebimento do benefício a possível diferença entre o valor deste e o valor

assegurado pela licença.

2.1.2 Salário-família

Este benefício inicialmente foi criado através da Lei n. 4.266/63, e

hodiernamente está disposto na CF/88, em seus artigos. 7°, XII e 201, IV,109

estabelecendo que é direito do trabalhador urbano e rural receber o salário-família

por aquele possuir dependente e não ter renda suficiente para a sua subsistência.110

Também está previsto no art. 65 da Lei n. 8.213/91 e no art. 81 do Decreto n.

3.048/99 que o salário-família será pago mensalmente ao segurado empregado,

com exceção do doméstico e trabalhador avulso, de acordo com o número de

dependentes que possuir. Podem ainda receber tal benefício os aposentados por

invalidez ou por idade e demais aposentados que possuírem sessenta e cinco anos

ou mais de idade, se homem, ou sessenta anos ou mais de idade, se mulheres,

recebendo em conjunto com a aposentadoria.111

Portanto, o salário-família é direito do segurado empregado, afora somente o

empregado doméstico, porque o trabalhador avulso recebeu este benefício através

da Lei n. 5.480/68, estando assim defasado em parte o art. 65 da Lei n. 8.213/91.

Um conceito mais atualizado acerca do salário-família, é do autor Marco

André Ramos Vieira:

O salário-família é um dos benefícios da previdência social, previsto no art.201, inciso IV da CF/1988 e regulado pela Lei n° 8.213/1991, arts. 65 a 70.Visa auxiliar os segurados empregado e trabalhador avulso de baixa rendana manutenção da família.112

No mesmo sentido e completando o conceito anterior, assegura Ana Maria:

109 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.616-617110 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.111 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.112 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 422.

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É um benefício devido, mensalmente, aos segurados empregados, comexceção do doméstico, aos avulsos e aos aposentados que possuam filhosmenores de 14 anos ou inválidos. Para os segurados aposentados, exige-seque tenham mais de 65 anos de idade, para os homens, ou mia s de 60anos, para as mulheres, sendo o benefício pago juntamente com aaposentadoria. Tratando-se de empregado trabalhador rural, a idade éreduzida em cinco anos. Não fazem jus à prestação os seguradosempresários, autônomos, equiparados a autônomos.113

Assim sendo, o salário-família possui o intuito de melhorar a renda das

famílias carentes que possuam menores de 14 anos ou inválidos. Mas para a

concessão de tal benefício, existe a necessidade de cumprir determinados requisitos

exigidos pela legislação.

O art. 67 da Lei n. 8.213/91 e o art. 87 do Decreto n. 3.048/91 trazem os

requisitos necessários para receberem a prestação: é necessário apresentar a

certidão de nascimento dos dependentes ou documentos relativos aos equiparados,

o atestado de vacinação obrigatória anual, até os seis anos de idade, e comprovar a

freqüência por semestre dos dependentes, a partir dos sete anos.114 Dessa maneira,

para concessão do salário-família são necessários os documentos solicitados pelos

artigos anteriormente mencionados, senão haverá a perda do direito de seu

recebimento.

Em consonância com os artigos supra citados, entende dessa maneira o

autor:

O pagamento do salário-família será devido a partir da data daapresentação da certidão de nascimento do filho ou da documentaçãorelativa ao equiparado, estando condicionado à apresentação anual deatestado de vacinação obrigatória, até 6 anos de idade, e de comprovaçãosemestral de freqüência à escola do filho ou equiparado, a partir dos seteanos de idade.[...]Se o segurado não apresentar o atestado de vacinação obrigatória e acomprovação de freqüência escolar do filho ou equiparado, nas datasdefinidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social, o benefício do salário-família será suspenso, até que a documentação seja apresentada.[...] De acordo com a Portaria do MPAS n° 3.040/82 e art. 89 do RPS,para concessão do salário-família ao pai ou à mãe, por ocasião de suaadmissão na empresa, ou da solicitação da inclusão de nova cota, osegurado assina um termo de responsabilidade, comprometendo-se acomunicar de imediato a ocorrência dos seguintes fatos que determinam aperda do direito ao salário-família:

113 THEISEN, Ana Maria Wickert et al. Direito previdenciário: aspectos materiais, processuais epenais. p. 134.114 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência Social, edá outras providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.

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óbito do filho; cessação da invalidez de filho inválido; e sentença judicial que determine o pagamento a outrem nos casos dedesquite ou separação, abandono de filho ou perda do pátrio poder.115

Para finalizarmos a explanação acerca do benefício salário-família, este não

carece de um período de carência para ser concedido, de acordo com o art. 26, I da

Lei n. 8.213/91: “Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes

prestações: I - pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente;

[...]”116

2.1.3 Salário-maternidade

O salário-maternidade possui respaldo constitucional nos arts. 7°, XVIII

(licença-maternidade) e 201, II (salário-maternidade) e está previsto ainda no art. 71

e seguintes da Lei n. 8.213/91,117 que nos mostra uma breve explicação do salário-

maternidade, sendo devido para a segurada durante cento e vinte dias, iniciando no

período de vinte e oito dias antes do parto e a data da ocorrência deste.118

Assim, o salário-maternidade é um direito que a mulher possui quando estiver

grávida, mais precisamente, poderá usufruir de tal benefício a partir do 28° dia antes

do nascimento da criança, com duração de 120 dias, conforme a lei acima citada.

Um conceito sucinto sobre o salário-maternidade: “É um período remunerado,

destinado ao descanso da mulher trabalhadora, em virtude de nascimento de seu

filho ou adoção. Este período é de cento e vinte dias, podendo ser prorrogado em

casos excepcionais.”119

Ainda, como bem observou o legislador, possui o direito de receber também

tal prestação previdenciária a mãe adotiva e a guardiã judicial, em conformidade

com a Lei n. 10.421/2002, que incluiu o art. 71-A na Lei n. 8.213/91, onde também

será devido o salário-maternidade pelo intervalo de cento e vinte dias, se a criança

tiver até um ano de idade, de sessenta dias, se a criança possuir entre um e quatro

115 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social. p. 439 e 442.116 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.117 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 279.118 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.119 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 361.

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anos de idade, e de trinta dias, se a criança apresentar quatro a oito anos de

idade.120

Sobre este assunto, assim se manifesta os doutrinadores:

A partir da edição da lei n. 10.421, de 15.4.2002, que estende à mãe adotivao direito à licença-maternidade e ao salário-maternidade, alterando aConsolidação das Leis do Trabalho e a Lei n. 8.213/91, o benefício passoua ser devido nas hipóteses de adoção de criança até oito anos de idade.121

Portanto, a mãe adotiva e a guardiã judicial poderão receber o salário-

maternidade, porém com restrições no que diz respeito à idade da criança, conforme

a legislação, até os oito anos de idade.

Porém há casos em que a gestação tem um fim antes do previsto. Na

ocorrência de aborto não-criminoso, possuindo comprovação médica, conforme

exposto pelo art. 395 da Consolidação das Leis do Trabalho, a mãe poderá receber

o salário-maternidade122:

Art. 395. Em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestadomédico oficial, a mulher terá um repouso remunerado de 2 (duas) semanas,ficando-lhe assegurado o direito de retornar à função que ocupava antes deseu afastamento.123

Outro caso seria o do natimorto, ou seja, “[...] a criança que nasce sem vida,

ou que, nascendo com sinais de vida, não logrou respirar, e morreu”124, onde a mãe

também poderá receber o salário-maternidade, desde que a gravidez esteja no sexto

mês, de acordo com o art. 234, § 2° da IN INSS/DC n° 95, DOU de 7/10/2003.125

O salário-maternidade possui período de carência, que muda conforme a

categoria da segurada.126 Em conformidade com o art. 25, III da lei n. 8.213/91, as

seguradas que deverão contribuir com dez contribuições mensais são: a contribuinte

individual, segurada especial e segurada facultativa. Há ainda as seguradas que não

120 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.121 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.621.122 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 361.123 BRASIL. Decreto-lei n. 5.452, de 1° de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis doTrabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del5452.htm>. Acesso em: 02mar. 2008.124 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 2. ed. São Paulo: Editora Forense. 1 CD-ROM.125 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 428.126 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 279.

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precisam contribuir com as dez contribuições, segundo o art. 26, VI da Lei n.

8.213/91, que são: a segurada empregada, a segurada trabalhadora avulsa e a

empregada doméstica.

Por fim, explanaremos a respeito do valor do salário-maternidade. Consoante

o art. 72 da Lei n. 8.213/91, o benefício pago para a trabalhadora avulsa e a

segurada empregada será constituído em uma renda mensal que não será diferente

da sua remuneração integral. O salário-maternidade devido à segurada empregada

será pago pela empresa, conforme §1° do artigo anteriormente citado, e o da

trabalhadora avulsa será devido pelo INSS, de acordo com o §3° daquele artigo.

Já o valor devido às outras seguradas (contribuinte individual, facultativa,

segurada especial e empregada doméstica) está disposto no art. 73 da Lei supra

citada, que dessa maneira explica: para a segurada empregada doméstica, caberá o

valor correspondente ao seu último salário-de-contribuição; para a segurada

especial, caberá um doze avos do valor sobre o qual refletiu sua última contribuição;

e para as demais seguradas, caberá um doze avos da soma dos doze últimos

salários-de-contribuição, reunidos em um intervalo não superior a quinze meses. 127

De acordo com o artigo 73, o valor do benefício devido será remunerado pelo

INSS. Para complementar tais afirmações, assim afirma o doutrinador:

O valor do benefício varia de acordo com a categoria da segurada:I – para a segurada empregada ou trabalhadora avulsa consistirá numarenda mensal igual à sua remuneração integral.Cabe à empresa pagar o salário-maternidade devido à respectivaempregada gestante, efetivando-se a compensação, quando dorecolhimento das contribuições incidente sobre a folha de salários e demaisrendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhepreste serviço, devendo conservar durante 10 anos os comprovantes dospagamentos e os atestados correspondentes para exame pela fiscalizaçãoda previdência social.No caso de empregos concomitantes, a segurada fará jus ao salário-maternidade relativo a cada emprego.Nos meses de início e término do salário-maternidade da seguradaempregada, o salário-maternidade será proporcional aos dias deafastamento do trabalho.O salário-maternidade devido à trabalhadora avulsa será pago diretamentepela previdência social.II – para a segurada empregada doméstica, em um valor correspondente aodo seu último salário-de-contribuição;III – para a segurada especial, em um doze avos do valor sobre o qualincidiu sua última contribuição anual;

127 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.

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IV – para as seguradas contribuinte individual e facultativa, em um dozeavos da soma dos doze últimos salários-de-contribuição, apurados em umperíodo não superior a quinze meses.Em nenhuma hipótese o salário-maternidade será inferior ao valor do saláriomínimo.128

2.1.4 Auxílio-acidente

O auxílio-acidente é devido, conforme art. 86 da Lei n. 8.213/91, “[...] ao

segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de

qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para

o trabalho que habitualmente exercia.”129

Completando o artigo supra citado, garante os doutrinadores:

O auxílio-acidente é um benefício previdenciário pago mensalmente aosegurado acidentado como forma de indenização, sem caráter substitutivodo salário, pois é recebido cumulativamente com o mesmo, quando, apósa consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza –e não somente de acidentes de trabalho –, resultarem seqüelas queimpliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmenteexercia – Lei n. 8.213/91, art. 86, caput.130

Ainda, há o art. 104, caput do Decreto n. 3.048/99 que coloca os

pressupostos que ocasionarão o recebimento do auxílio-acidente e quais segurados

terão direito a este benefício: ele será concedido ao segurado empregado que

possuir seqüelas após a estabilização das lesões que aconteceram em razão de

acidente de qualquer natureza, que originem: redução da capacidade do trabalho

que rotineiramente exercia; redução da capacidade do trabalho que rotineiramente

exercia e que precise de um maior esforço para desempenhar o mesmo trabalho que

exercia ao tempo do acidente; não possuir mais a capacidade para exercer a mesma

atividade ao tempo do acidente, contudo podendo desempenhar outra, depois que

passar pelo processo de reabilitação profissional, quando indicados pela perícia do

INSS.131

Dessa maneira, o auxílio-acidente é devido, em caráter compensatório, para o

segurado empregado, segurado especial e trabalhador avulso, sendo que no artigo 128 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 281-282.129 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.130 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.611.131 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.

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acima citado possui os requisitos para o benefício ser concedido. Em

complementação, o decreto n. 4.032/2001, removeu o médico residente dentre

quem poderia receber o auxílio-acidente. O autor Marco André Ramos Vieira explica

o porquê da retirada do médico residente:

De acordo com o art. 195, § 5° da Constituição Federal, não se podeconceder benefício ou serviço sem a correspondente fonte de custeio total.Por tal motivo foram excluídos como beneficiários os médicos residentes,pois apara esse grupo, enquadrados na Previdência Social comocontribuintes individuais, não há a correspondente fonte de custeio.132

Já em relação ao período de carência, o art. 26, I da Lei n. 8.213/91 dispõe

que o auxílio-acidente independe daquele.

O recebimento do auxílio-acidente iniciará, conforme art. 86, § 2° da Lei n.

8.213/91, “[...] a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença,

independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo

acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria.”133 E, ainda,

conforme § 3° do mesmo artigo, “O recebimento de salário ou concessão de outro

benefício, exceto de aposentadoria, observado o disposto no § 5º, não prejudicará a

continuidade do recebimento do auxílio-acidente.”134

Com relação ao acúmulo de benefícios, anteriormente citado, os autores

Castro e Lazzari não interpretaram assim como está expresso no art. 86 da lei n.

8.213/91, tendo como base precedentes do STJ:

Segundo precedentes do Superior Tribunal de Justiça, não há óbice àacumulação do benefício previdenciário da aposentadoria como o auxílio-acidente desde que a moléstia tenha eclodido antes do advento da Lei n.9.528/97, por força da aplicação do princípio tempus regit actum (Resp. n.702.239/SP. 5ª Turma. Rel. Ministra Laurita Vaz, DJU de 1.4.2005). Ou seja,se for possível determinar que a incapacidade deu-se antes da normaproibitiva, não há falar em inacumulabilidade de auxílio-acidente eaposentadoria.Ocorrendo o evento ensejador do auxílio-acidente em data posterior àvedação da acumulação, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido queo auxílio-acidente não tem caráter vitalício, sendo imperiosa sua cessaçãocom o advento da aposentadoria de seu beneficiário (resp. n. 588.417/SP,5ª Turma, Rel. Ministro José Arnaldo Da Fonseca, DJU de 8.11.2004).135

132 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 436.133 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.134 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.135 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.615.

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Os autores ainda mencionaram que, com o advento da Lei n. 9.528/97, o

legislador pensou numa maneira de compensar a não-acumulação do auxílio-

acidente com a aposentadoria. Tal Lei modificou a Lei n. 8.213/91, aonde foi

acrescentado a respeito da compensação mencionada anteriormente, em seu art.

31: “[...] O valor mensal do auxílio-acidente integra o salário-de-contribuição, para

fins de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria, observado, no

que couber, o disposto no art. 29 e no art. 86, § 5º.”

Por fim, o valor do benefício será de, em conformidade com o art. 86, § 1°, da

Lei n. 8.213/91: “[...] cinqüenta por cento do salário-de-benefício e será devido,

observado o disposto no § 5º, até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou

até a data do óbito do segurado.”136

2.1.5 Pensão por morte

Esta prestação previdenciária possui respaldo legal no art. 74 da Lei n.

8.213/91, sendo devida aos dependentes do segurado falecido, aposentado ou não,

contando desde: a data do óbito, quando solicitada até trinta dias após aquele; da

data do requerimento, quando a pensão for pedida após os trinta dias de

falecimento; da data da decisão judicial, quando a morte for presumida.137

Um breve conceito da pensão por morte é fornecido pelos doutrinador: ”[...]

Benefício de trato continuado devido mensal e sucessivamente, ao conjunto de

dependentes do segurado, aposentado ou não, enquanto perdurar a situação de

dependência. [...]”138

Por conseguinte, a pensão por morte é devida aos dependentes do segurado

aposentado ou não, durante o tempo que perdurar a dependências daqueles, sendo

que o início do recebimento do benefício será a partir do óbito do segurado em até

trinta dias, por requerimento se passado o prazo anterior, ou por decisão judicial

quando a morte do segurado for presumida.

A respeito da morte presumida, o Decreto n. 3.048/99, em seu art. 112,

enuncia quais os caso de morte presumida para os dependentes receberem

136 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.137 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.138 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 122.

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provisoriamente a pensão por morte: quando sentença declaratória de ausência for

expedida por autoridade judicial, podendo receber a pensão a partir da data de sua

emissão; ou quando o segurado desaparecer em razão de catástrofe, acidente ou

desastre, podendo receber o benefício a partir da data do ocorrido, desde que

apresente prova hábil.139

Assim, se o segurado se ausentar e tal ausência for declarada por sentença

ou se o segurado desaparecer em razão de catástrofe, acidente ou desastre, sua

morte tornar-se presumida, e os dependentes poderão perceber o benefício

provisoriamente. Porém, conforme o parágrafo único do artigo anteriormente

referenciado, se o segurado reaparecer, a pensão por morte cessará, não

precisando que os dependentes devolvam os valores recebido, exceto quando

ocorrer a má-fé por parte deles.

Este benefício não possui período de carência, em concordância com o art.

26, I, da Lei n. 8.213/91. Para completar, afirmar os doutrinadores:

A concessão da pensão por morte, a partir da Lei n. 8.213/91 (cujos efeitosretroagiram a 5.4.91 – art. 145, caput), independe de número mínimo decontribuições pagas pelo segurado. Basta comprovar a situação desegurado para ser gerado direito ao benefício. Para os óbitos anteriores a5.4.91, a carência exigida pela legislação vigente era de 12 contribuiçõesmensais.140

O valor deste benefício está disposto no art. 75 da Lei n. 8.213/91, que assim

diz: “Art. 75. O valor mensal da pensão por morte será de cem por cento do valor da

aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse

aposentado por invalidez na data de seu falecimento, observado o disposto no art.

33 desta lei.”141 Ainda a respeito do valor da pensão por morte, assegura o

doutrinador: “Valor: Consiste numa renda igual a 100% do valor da aposentadoria

que o segurado recebia em vida; ou do valor da aposentadoria por invalidez, se

assim estivesse aposentado na data de seu falecimento.”142

Finalmente, a pensão por morte poderá ser dividida em partes idênticas se na

época do falecimento ou da morte presumida do segurado existir mais de um 139 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.140 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.615.141 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.142 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 123.

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dependente, em conformidade com o art. 77 da Lei n. 8.213/91. Ainda, no § 2 ° do

mesmo artigo, enuncia os motivos pelos quais a pensão por morte cessará: quando

morrer o pensionista; quando o filho ou equiparado se emanciparem ou completarem

21 anos, exceto o inválido; quando o pensionista inválido deixar de sê-lo.143

2.1.6 Auxílio-reclusão

O auxílio-reclusão está legalizado pela CF/88, em seu art. 201, IV e pela Lei

n. 8.213/91, no art. 80, sendo devido aos dependentes do segurado preso que não

estiver recebendo remuneração da empresa onde trabalha nem estiver percebendo

auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço.144

Um conceito para elucidar melhor acerca deste benefício, é fornecido desta

forma pelos doutrinadores: “É o benefício devido aos dependentes do segurado de

baixa renda, recolhido à prisão.”145

Por isso, o auxílio-reclusão é um benefício concedido aos que dependem de

alguém, que por algum crime ou contravenção, se encontra recolhido na prisão, que

possui vinculo com a Previdência Social porém não tem mais meios de sustentá-los.

Com relação ao período de carência, conforme o art. 26, I da Lei n. 8.213/91,

o auxílio-reclusão não depende de tal período para que os dependentes possam

recebê-lo.

O pagamento do auxílio-reclusão inicia-se, em consonância com o parágrafo

único do art. 80 da Lei n. 8.213/91, no ”[...] momento do efetivo recolhimento do

segurado à prisão, se requerido até trinta dias depois deste, ou na data do

requerimento, se posterior.”146

E por fim, o valor a ser pago as dependentes do segurado recolhido à prisão

será o mesmo da pensão por morte, quer dizer, 100% do valor ou da remuneração

da empresa em que trabalhava, ou do auxílio-doença, se estiver recebendo ou no

caso de estar aposentado.147

143 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.144 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.145 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 379.146 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 288.147 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 124.

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2.1.7 Serviço social

O serviço social está inserido na Lei n. 8.213/91, em seu art. 88 e no Decreto

n. 3.048/99, em seu art. 161, consistindo ele em uma atividade do seguro social,

visando orientar o beneficiário e apoiando na busca de soluções de problemas

pessoais e familiares, melhorando sua relação com a Previdência Social, resolvendo

problemas a respeito de benefícios, e quando for preciso, na aquisição de outros

recursos sociais da comunidade.148

O serviço social é um serviço concedido pela Previdência Social com o intuito

de esclarecer tantos aos segurados como aos dependentes seus direitos perante

aquela e ajudá-los a solucionar todos os conflitos que tiverem em função da relação

com Previdência Social.149

Para complementação do acima exposto e dos artigos citados, assevera o

doutrinador:

O “serviço social” consiste na prestação de esclarecimentos aosbeneficiários quanto aos seus direitos sociais e os meios de exercê-los. Afinalidade é colocar ao dispor do beneficiários orientação e apoiorelativamente à solução de seus problemas pessoais e familiares e ámelhoria de sua relação com a previdência social. Objetiva, ainda, encontrarsolução concernente à obtenção de benefícios. O serviço social vislumbra,por outro lado, abrir campo para que o beneficiário possa obter outrosrecursos sociais da comunidade.150

Para concluir, em conformidade com o §1° do art. 88 da Lei n. 8.213/91, o

serviço social concederá maior preocupação aos segurados com incapacidade

temporária, aos aposentados e pensionistas.

2.1.8 Habilitação e reabilitação profissional

Este serviço está discriminado no art. 89 e seguintes da Lei n. 8.213/91 e no

art. 136 e seguinte do Decreto n. 3.048/99, sendo este uma assistência prestada

pela Previdência Social, visando proporcionar aos segurados incapacitados total ou

148 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.149 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 300.150 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 139.

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parcialmente, obrigatoriamente, não precisando contribuir para tanto, meios para

possibilitar o seu reingresso no mercado de trabalho e na sociedade em que vive.151

Por conseguinte, a habilitação e reabilitação profissional foram instituídas

para ajudarem os incapacitados total ou parcialmente para trabalhar, e as pessoas

que portem alguma deficiência física a se readaptarem e se reeducarem, com a

finalidade de voltarem ao mercado de trabalho e conseguirem conviver melhor em

sociedade. Para usar tal serviço independe de período de carência e é

indispensável.

Finalmente e complementando o que foi anteriormente comentado e o artigos

citados, asseveram os doutrinadores:

É preciso não confundir os conceitos. A habilitação profissional tem porfinalidade habilitar o beneficiário, ou seja, dar capacidade profissional aquem não possuía. A reabilitação profissional, por outro lado, tem porobjetivo reabilitar o beneficiário, quer dizer, devolver a capacidadeprofissional a quem já tinha, mas, perdeu.Esses serviços são devidos em caráter obrigatório aos segurados, inclusiveaposentados e, na medida das possibilidades do INSS, que é o órgão daprevidência social responsável por sua prestação, aos seus dependentes.152

Assim, foram apresentados os benefícios e serviços disponibilizados pela

Previdência Social, em conformidade com o art. 18 da Lei n. 8.213/91 citado no

início deste capítulo.153 Porém, não expusemos ainda sobre a aposentadoria e suas

diversas formas, pois será o foco principal desta monografia e será tratado a partir

do próximo subtítulo.

2.2 APOSENTADORIA – CONCEITO

Antes de conceituarmos este benefício, iremos mostrar aonde ele está

inserido em nossa legislação. Primeiramente, a aposentadoria possui respaldo legal

no art. 7°, XXIV e art. 201, em seu §7°, da CF/88; no art. 18, inciso I, alíneas a, b, c e

d e art. 42 e seguintes da Lie n. 8.213/91; art. 43 e seguintes do Decreto n. 3.048/99.

Társis nos explica acerca da aposentadoria que:

151 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.152 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 301.153 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.

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A aposentadoria constitui-se, sem dúvida, no mais importante benefícioprevidenciário, entre todos os sistemas, dos mais variados países. Cuida obenefício basicamente do reconhecimento legal de um direito a um períodoindeterminado de descanso ininterrupto, período este que terá seu marcoinicial em o que se costuma denominar de evento determinante, e comomarco final o seu falecimento, e desde que a pessoa tenha cumprido comum rol de requisitos estatuídos em lei.154

Ainda, os autores Castro e Lazzari estabelecem a seguinte conceituação para

aposentadoria:

A aposentadoria é a prestação por excelência da Previdência Social,juntamente com a pensão por morte. Ambas substituem, em caráterpermanente (ou pelo menos duradouro), os rendimentos do segurado easseguram sua subsistência e daqueles que dele dependem.155

Além disso, para complementar o que já foi citado, o autor De Plácido e Silva

nos oferece um conceito breve de aposentadoria:

[...]Aposentadoria. Com o mesmo sentido de aposentação, o termo designa oato pelo qual o poder público, ou o empregador, confere ao funcionáriopúblico, ou empregado, a dispensa do serviço ativo, a que estava sujeito,embora continue a pagar-lhe a remuneração, ou parte dela, a que temdireito, como se em efetivo exercício de seu cargo.[...]156

Portanto, podemos entender que o benefício da aposentadoria é concedido a

todo segurado que contribui para a Previdência Social, na forma que a CF/88 e as

leis específicas determinam, aonde aquele passa a receber permanentemente até

seu falecimento o que contribuiu para o INSS, variando os tipos de aposentadorias

conforme profissão do segurado, idade, tempo de contribuição.

Porém, há quem diga que exista a desaposentação, ou seja, “[...] o direito do

segurado ao retorno à atividade remunerada. [...]”157 Mas o aposentado teria que

renunciar de sua aposentadoria atual para recomeçar a contagem, obtendo

novamente a mesma.

Falando sobre este assunto, Társis Nametala afirma que:

154 JORGE, Társis Nametala Sarlo. Manual dos benefícios previdenciários: benefícios do RGPS(INSS) e dos servidores públicos. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006. p. 171155 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.543.156 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1 CD-ROM.157 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.545.

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A desaposentação seria o direito do aposentado ao retorno a uma atividaderemunerada, desfazendo o ato da aposentadoria, para fins deaproveitamento futuro, no próprio regime em que está ou em outro regime.E nisto difere do mero retorno ao trabalho, onde o aposentado volta aexercer atividade, na qual, inclusive terá de contribuir, mas sem desfazerseu ato de aposentadoria, ou seja, continuando a receber os proventos deinatividade e ainda a remuneração pelo trabalho ativo prestado. [...]158

Assim, há a diferença entre o aposentado querer voltar ao trabalho, porém,

não deixando de lado a sua aposentadoria, e o aposentado que deseja realmente

não receber mais o benefício, voltando ao trabalho, começando novamente a

contagem do início para obter futuramente a aposentadoria.

Os autores citados concordam que pode ocorrer tal renúncia à aposentadoria,

[...] pois ninguém é obrigado a permanecer aposentado contra seuinteresse. E, neste caso, a renúncia tem por objetivo a obtenção futura debenefício mais vantajoso, pois o beneficiário abre mão dos proventos quevinha recebendo, mas não do tempo de contribuição que teve averbado.[...]159

Dessa forma, tanto Castro, Lazzari e Társis que tratam desse assunto com

grande propriedade, vislumbram que a desaposentação é opção do segurado

aposentado, principalmente nos casos onde obterá maior vantagem se deixar de

receber uma aposentadoria para poder perceber outra futuramente muito melhor.

A partir do próximo tópico, iremos discorrer sobre as quatro modalidades de

aposentadorias existentes em nosso ordenamento jurídico: aposentadoria por

invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição e

aposentadoria especial.

2.2.1 Aposentadoria por invalidez

A aposentadoria por invalidez possui respaldo legal no art. 42 e seguintes da

Lei n. 8.213/91 e no art. 43 e seguintes do Decreto n. 3.048/99, devida ao segurado

incapaz e insuscetível de reabilitação para exercer atividade que lhe garanta o

sustento, sendo paga enquanto aquele permanecer nessa condição.160

158 JORGE, Társis Nametala Sarlo. Manual dos benefícios previdenciários: benefícios do RGPS(INSS) e dos servidores públicos. p. 191-192.159 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.546.160 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008

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Completando o anteriormente citado, estabelece o doutrinador:

A aposentadoria por invalidez é um dos benefícios da previdência social,regulado pela Lei n° 8.213/1991, arts. 42 a 47. Visa substituir osrendimentos dos segurados que forem considerados incapazes para exerceratividade laborativa e não puderem ser reabilitados para atividade que lhegaranta a subsistência.161

Por isso, este benefício será devido ao segurado que não possuir mais

capacidade para trabalhar, quando não for possível a sua reabilitação para o serviço

que assegurava o seu sustento e de quem dependia dele, e durante o tempo em

que a incapacidade persistir.

A aposentadoria por invalidez possui período de carência de 12 contribuições

mensais, de acordo com o art. 25, I da Lei n. 8.213/91. Porém independerá de

carência a aposentadoria por invalidez causada por acidente, conforme art. 26, II da

Lei n. 8.213/91.

Para este benefício ser concedido pela Previdência Social, em conformidade

com o § 1° do art. 42 da Lei n. 8.213/91, “[...] dependerá da verificação da condição

de incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social,

podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua

confiança.”162

No mesmo sentido, assevera o doutrinador:

O aposentado por invalidez deve submeter-se a exame médico, a cargo daPrevidência Social, sob pena de ser sustado o pagamento do benefício,inclusive processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado, etratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão desangue, que são facultativos (art. 101 da Lei n° 8.213/91, com redação daLei n° 9.032). Não mais se exige que o segurado faça exame médico atécompletar 55 anos, mas o exame passa a ser periódico. Isso mostra que aaposentadoria por invalidez não é definitiva, em razão da necessidadeperiódica de exame médico.163

Mas, se o segurado possuir doença antes de estar filiado ao RGPS, não terá

direito de se aposentar por invalidez, somente se aquele se tornar incapaz em razão

161 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 391.162 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008163 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 327.

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do progresso ou exacerbação da doença preexistente.164 Tal situação está disposta

no § 2° do art. 42 da Lei n. 8.213/91.

O pagamento da aposentadoria por invalidez começará no dia seguinte ao do

encerramento do auxílio doença, conforme está disposto no art. 43 da Lei n.

8.213/91. Acerca do início da contribuição, estabelece o doutrinador: “Início: Os

pagamentos correspondentes são feitos a partir do dia imediato ao da cessação do

auxílio-doença. A remuneração dos primeiros 15 dias de afastamento da atividade

por motivo de invalidez é da responsabilidade da empresa.”165

Já com relação ao valor pago ao segurado, ele será de 100% do salário-de-

benefício, podendo adicionar 25% quando aquele precisar ser assistido por outra

pessoa. Isto está determinado pelos artigos 44 e 45 da Lei n. 8.213/91. A respeito do

valor da aposentadoria por invalidez, assegura o autor:

[...] Consiste a prestação em uma renda mensal de 100% do salário-de-benefício. Esse valor será acrescido de 25% se o aposentado carecer deassistência permanente de outra pessoa, acrescido devido ainda que ovalor da prestação atinja a máximo legal e será recalculado a cada reajustedo benefício.[...]166

Por fim, a cessação do recebimento da aposentadoria por invalidez se dará

nas formas dos artigos 46 e 47 da lei n. 8.213/91, sendo estes os motivos que

podem ensejar tal cessação: o aposentado que retornar espontaneamente para a

atividade que exercia; quando a recuperação ocorrer em até cinco anos, contando-

se da data do início da aposentadoria, ela cessará de imediato para o segurado

empregado que tiver direito a voltar à sua atividade anterior, valendo como prova

certificado de capacidade dado pela Previdência Social, e para os demais segurados

cessará após tantos meses que durarem a aposentadoria; e quando a recuperação

for parcial ou após cinco anos, ou se o segurado voltar a ser apto para trabalho

diferente do que exercia, a aposentadoria será assegurada: no seu valor integral

durante seis meses, contando-se da data da verificação da recuperação; reduzindo-

se 50%, após os seis meses; e reduzindo 75%, também após seis meses, sendo

que ao fim deste período cessará em definitivo.167

164 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 246.165 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 139.166 COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. p. 145.167 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:

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2.2.2 Aposentadoria por idade

A fonte legal deste benefício se encontra no art. 48 e seguintes da Lei n.

8.213/91 e no art. 51 e seguintes do Decreto n. 3.048/99, concedido ao segurado

que completar sessenta e cinco anos de idade, se do sexo masculino, ou sessenta

anos de idade, se do sexo feminino. No caso de trabalhadores rurais ou garimpeiros

que trabalhem em regime de economia familiar, a idade será reduzida em cinco

anos, tanto para homens quanto para mulheres.168

Um conceito, complementando o artigo acima citado, acerca da

aposentadoria por idade, assim explica:

A aposentadoria por idade é uma prestação previdenciária, pagamensalmente ao segurado que completar sessenta e cinco anos de idade,se do sexo masculino, reduzindo para sessenta anos para o trabalhadorrural, e à segurada que completar sessenta anos, reduzindo para cinqüentae cinco anos de idade para a trabalhadora rural.A redução de cinco anos aplica-se também aos segurados garimpeiros quetrabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar.169

Portanto, a aposentadoria por idade será devida ao segurado quando este

completar sessenta e cinco anos e para a segurada quando esta completar sessenta

nos. Quando for o caso de trabalhar rural ou garimpeiro que trabalhe em regime de

economia familiar, a idade para o homem e para a mulher reduzirá em cinco anos,

passando a se aposentarem com sessenta e cinqüenta e cinco anos,

respectivamente.

Este benefício possui carência de cento e oitenta contribuições mensais, em

conformidade com o art. 25, II da Lei n. 8.213/91.

A concessão da aposentadoria por idade se encontra no art. 49 da Lei n.

8.213/91. Sobre o início do pagamento deste benefício, expõe o autor:

Início: O benefício é devido ao segurado empregado, inclusive o doméstico,a partir da data do desligamento (extinção do contrato de emprego), quandorequerida até essa data, ou até 90 dias depois dela. Ou da data do pedidoquando não houver desligamento do empregado ou quando for postulada

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008168 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.169 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 325.

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após a exaustão do prazo de 90 dias do desligamento. Da data da entradado requerimento para os demais segurados.170

O art. 51 da Lei n. 8.213/91 fala acerca da aposentadoria compulsória,

requerida pela empresa, quando o segurado completar setenta anos de idade e o

período de carência solicitado pela legislação, quando do sexo masculino, e

sessenta e cinco anos mais o período de carência, quando do sexo feminino.

A respeito da aposentadoria compulsória, afirma o doutrinador:

Conforme disposto no art. 51 da Lei n° 8.213/1991, esse benefício pode serrequerido pela empresa, desde que o segurado tenha cumprido a carência,quando este completar 70 anos de idade, se do sexo masculino, ou 65, sedo sexo feminino, sendo compulsória para o segurado, caso em que serágarantida ao empregado a indenização prevista pela legislação trabalhista,considerada como data da rescisão do contrato de trabalho aimediatamente anterior à do início da aposentadoria.Essa aposentadoria é compulsória sob o ponto de vista do segurado; emrelação à empresa é opção desta requerer ou não a concessão dobenefício. Prova disto é a utilização do termo “pode” em relação aorequerimento (art. 51 da Lei n° 8.213/1991).171

Finalmente, sobre o valor desta prestação previdenciária, dispõe o art. 50 da

Lei n. 8.213/91 que aquele será de 70% do salário-de-benefício, acrescentando mais

1% a cada grupo de doze contribuições, não podendo exceder 100% do salário-de-

benefício.

2.2.3 Aposentadoria por tempo de contribuição

A aposentadoria por tempo de contribuição passou a ser denominada dessa

maneira em razão da Emenda Constitucional n. 20 de 1998, anteriormente chamada

aposentadoria por tempo de serviço.172 Acerca da denominação atual da

aposentadoria por tempo de contribuição, dispõe os doutrinadores:

A) Aposentadoria por tempo de serviço. A aposentadoria por tempo deserviço foi extinta após a Emenda Constitucional n° 20, de 15 de dezembrode 1998, tendo sido substituída pela aposentadoria por tempo de

170 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 114.171 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 398.172 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.568.

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contribuição. Porém, para pessoas já filiadas ao RGPS até esta data, otempo de serviço será contado como tempo de contribuição.173

Assim, a partir da Emenda Constitucional n. 20, a aposentadoria por tempo de

contribuição será concedida em conformidade com o art. 56 e seguintes do Decreto

n. 3.048/99 e do art. 201, § 7°, I da CF/88. O art. 56, caput do Decreto assim explica

a aposentadoria por tempo de contribuição: “Art. 56. A aposentadoria por tempo de

contribuição será devida ao segurado após trinta e cinco anos de contribuição, se

homem, ou trinta anos, se mulher, observado o disposto no art. 199-A.”

Ainda, para melhor elucidar sobre esta prestação previdenciária, nos

assevera Vieira: “A aposentadoria por tempo de contribuição, uma vez cumprida a

carência exigida, 180 contribuições mensais, será devida ao segurado homem após

35 anos de contribuição ou 30 anos de contribuição, se mulher.[...]”174

A aposentadoria por tempo de contribuição também sofreu modificações no

que concerne à aposentadoria do professor, de acordo com os §§ 1° e 2° do art. 56

do Decreto n. 3.048/99, podendo recebê-la somente os docentes que comprovarem

o exercício exclusivo, em sala de aula, função de magistério na educação infantil, no

ensino fundamental ou no ensino médio.175

Acrescentado o artigo acima citado, afirma o doutrinador:

Fica extinta, a partir de 16-12-98, a aposentadoria do professor ouprofessora universitária, aos 30 ou 25 anos, respectivamente, de efetivoexercício de magistério (Portaria n° 4.883, de 16-12-98, art. 2°, § 3°).O professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício dasfunções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental emédio terá direito à aposentadoria a partir de 30 anos de contribuição, sehomem, e 25 anos de contribuição, se mulher.176

Portanto, a aposentadoria por tempo de contribuição, após a edição da

Emenda Constitucional n. 20, passou a ser da seguinte maneira: depois de cumprido

o período de carência exigido pela lei, será concedida após 35 anos de contribuição

se for homem, ou 30 anos de contribuição se for mulher. No caso dos professores,

houve uma redução de cinco anos de contribuição, quando o exercício do magistério

173 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 329.174 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 400.175 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.176 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social. p. 399.

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for exclusivo, sendo que a professora deverá passar a contribuir por 25 anos, e o

professor por 30 anos.

O período de carência, como já anteriormente citado, será de cento e oitenta

contribuições mensais, de acordo com o art. 25, II da Lei n. 8.213/91. A respeito do

período de carência, estabelece Vianna: “A carência da aposentadoria por tempo de

contribuição é de 180 contribuições mensais. [...]”177

A regra para o início do pagamento deste benefício é a mesma da

aposentadoria por idade, ou seja:

Início: Data do desligamento do segurado empregado (extinção do contratode emprego, quando requerida até essa data, ou até 90 dias depois dela.Da data do pedido quando não houver desligamento ou quando requeridaapós ultrapassado o prazo de 90 dias do desligamento. Da data da entradado requerimento para os demais segurados.178

O valor a ser percebido pelo aposentado será em conformidade com os

artigos 57 e 39, IV do Decreto n. 3.048, sendo ele de: 100% do salário-de-benefício

aos trinta anos de contribuição para a mulher; 100% do salário-de-benefício aos

trinta e cinco anos de contribuição para o homem; e de 100% do salário-de-

benefício para o professor que contribuir por trinta anos e para a professora que

contribuir por vinte e cinco anos, desde que exerça função exclusiva de magistério

na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio.179

O tempo de contribuição, exigido para a concessão deste benefício, tem seu

conceito inserido no art. 59 do Decreto n. 3.048/99, sendo ele o tempo que conta-se

de data a data, do início até o dia do requerimento ou quando o segurado se desligar

de trabalho englobado pela Previdência Social, não se contando os períodos

estabelecidos em lei como a suspensão do contrato de trabalho, interrupção de

exercício e desligamento da atividade.180

Os autores utilizados conceituam todos da mesma maneira de acordo com

artigo acima citado. Assim, o tempo de contribuição seria o período contado do início

até o término do trabalho exercido pelo aposentado. Porém, há vários períodos que

177 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 254.178 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. p. 115.179 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.180 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.

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são contabilizados como tempo de contribuição, conforme exposto nos artigos 60 e

61 do Decreto n. 3.048/99. Acerca desses períodos, explicam os autores:

O art. 60 do Decreto n° 3.048/99 especifica, em seus vinte e um incisos, osperíodo que são contados para o RGPS como tempo de contribuição.Períodos em que o segurado recebeu determinados benefícios sãoconsiderados tempo de contribuição, conforme exemplificamos a seguir: período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ouaposentadoria por invalidez, entre períodos de atividade; período em que a segurada esteve recebendo salário-maternidade; período em que o segurado esteve recebendo benefício porincapacidade por acidente do trabalho, intercalado ou não.[...]O tempo de contribuição será considerado para cálculo do valor da rendamensal de qualquer benefício.181

Por último, iremos tratar da prova do tempo de contribuição, assunto esse

tratado no art. 62, caput do Decreto n. 3.048/99. Tal tempo é provado mediante

documentos que comprovem a prática de atividade nos períodos que serão

contados, devendo estes documentos ser atuais e que citem o início e o

encerramento de tal atividade e, no caso do trabalhador avulso, também precisará

da comprovação da duração da atividade e em que condição foi prestado.182

Ainda sobre a prova do tempo de contribuição, assevera o doutrinador:

A prova de tempo de serviço, considerado tempo de contribuição, conformevimos, observadas, no que couber, as peculiaridades do seguradocontribuinte individual que presta serviço de natureza eventual a uma oumais empresas e o que exerce por conta própria atividade econômica denatureza urbana e do segurado facultativo, é feita mediante documentosque comprovem o exercício de atividade nos períodos a serem contados,devendo esses documentos ser contemporâneos dos fatos a comprovar emencionar as datas de início e término e, quando se tratar de trabalhadoravulso, a duração do trabalho e a condição em que foi prestado.183

Os documentos a que se refere o art. 62, estão contidos em seu § 2°. Na falta

desses documentos, podem ser usados como prova declaração do empregador ou

preposto e outros que constam no § 3° do art. 62.

O art. 63 assevera que não é admitida prova testemunhal para comprovar o

tempo de contribuição, só nos casos de caso fortuito ou força maior.

181 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Cursode direito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. p. 335.182 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.183 VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de direito previdenciário. p. 405.

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2.2.4 Aposentadoria especial

Esta prestação previdenciária está contida no art. 64 e seguintes do Decreto

n. 3.048/99 e no art. 57 e seguintes da Lei n. 8.213/91, sendo devida aos segurados

empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual filiado a cooperativa de

trabalho ou produção, que estejam exercendo atividade sob condições especiais,

prejudicando assim a saúde ou a integridade física, durante quinze, vinte ou vinte e

cinco anos, de acordo com o caso.184

É dado um conceito acerca da aposentadoria especial por Társis Nametala,

que soma-se ao já dito pelos artigos anteriormente citados:

A aposentadoria especial nada mais é do que uma espécie de retiroantecipado, em relação a modalidade geral de aposentadoria. Isso ocorreem virtude de ter o segurado laborado em atividades que desgastam maisintensamente sua força de trabalho do que as demais atividades. Assim, ematendimento ao princípio da igualdade, em seu aspecto material, permite-seque aquele trabalhador possa retirar-se do mercado mais cedo do que orestante.185

Ainda, Sérgio Pinto Martins também formulou um bom conceito de

aposentadoria especial:

A aposentadoria especial é o benefício previdenciário decorrente dotrabalho realizado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade físicado segurado, de acordo com a previsão da lei. Trata-se de um benefício denatureza extraordinária, tendo por objetivo compensar o trabalho dosegurado que presta serviços em condições adversas à sua saúde ou quedesempenha atividade com riscos superiores aos normais.186

Dessa maneira, a aposentadoria será devida ao segurado empregado,

trabalhador avulso e contribuinte individual que seja cooperado filiado a cooperativa

de trabalho ou produção, quando exposto a circunstância que poderá prejudicar sua

saúde ou sua integridade física, podendo assim o segurado afastar-se

antecipadamente do trabalho, tendo seu tempo de serviço reduzido em razão dessa

exposição excessiva a agentes que o afetam.

184 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008185 JORGE, Társis Nametala Sarlo. Manual dos benefícios previdenciários: benefícios do RGPS(INSS) e dos servidores públicos. p. 215.186 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 360.

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O período de carência da aposentadoria especial será de 180 contribuições

mensais, de acordo com o art. 25, II da Lei n. 8.213/91.

A concessão da aposentadoria especial se dará conforme os §§ 1° e 2° do

art. 64 do Decreto n. 3.048/99, sendo que aquela dependerá da comprovação pelo

beneficiário junto ao INSS do tempo de trabalho duradouro, exercido em condições

específicas que afetem a sua saúde ou integridade física, e também da

comprovação da exposição a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou mais

de um deles que danifiquem a saúde ou integridade física do segurado, durante o

intervalo mínimo estabelecido em lei.187

Por isso, a aposentadoria especial será concedida ao segurado que

comprovar que trabalha permanentemente, em contato com os agentes nocivos

químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes que prejudiquem a saúde e

ou a integridade física, desde que perdure por 15, 20 ou 25 anos, que é o tempo

mínimo exigido pela legislação atual.

O INSS exige, para comprovar realmente que o segurado se expõe a agentes

nocivos, um documento chamado perfil profissiográfico previdenciário (PPP), que

conterá registro acerca das condições em que o segurado trabalha, monitoramento

realizado pela empresa e outros dados de cunho administrativo. Ele consta nos §§

2° e 8° do art. 68 do Decreto n. 3.048/99.

A respeito do PPP, assevera os doutrinadores:

Considera-se Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) o documentohistórico-laboral do trabalhador, segundo modelo instituído pelo InstitutoNacional do Seguro Social, que, entre outras informações, deve conterregistros ambientais, resultados de monitoração biológica e dadosadministrativos.[...]O PPP deverá ser elaborado pela empresa ou equiparada à empresa, deforma individualizada para seus empregados, trabalhadores avulsos ecooperados, que laborem expostos a agentes nocivos químicos, físicos,biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridadefísica.O trabalhador tem o direito de obter da empresa cópia autenticada do PPPem caso de demissão.188

O início do pagamento da aposentadoria especial será igual a da

aposentadoria por idade, em conformidade com o § 2° do art. 57 da Lei n. 8.213/91.

187 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.188 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.582.

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A renda mensal da aposentadoria especial, de acordo com o § 1° do art. 57

da lei n. 8.213/91 será de 100% do salário-de-benefício.

Finalmente, discorreremos sobre o segurado que labora em dois ou mais

empregos nas condições que ensejam a aposentadoria especial e sobre a

conversão do tempo trabalhado na condição especial para o tempo de atividade

comum. O art. 66 do Decreto n. 3.048/99 que dispõe acerca deste assunto, assevera

que o segurado que exercer duas ou mais atividades sucessivamente, que o sujeite

a condições específicas que afetem a sua saúde ou integridade física, não

completando o prazo mínimo para se aposentar em qualquer delas, tais períodos

serão incorporados após a conversão, sendo levada em conta a atividade

predominante.189 Este artigo traz a tabela que será utilizada para fazer a conversão

dos períodos trabalhados em condição especial.

Já o art. 70 traz a tabela para a conversão do tempo especial para o tempo

comum. A respeito desta conversão, estabelece o autor:

O art. 70 do Regulamento permite que seja feita a conversão do tempo deatividade sob condições especiais em tempo de atividade comum. Não há,porém, previsão legal para tanto. O regulamento é, portanto, ilegal, pois a leidispõe exatamente em sentido contrário. Entretanto, é mais favorável aosegurado e está sendo utilizado. [...]190

Ainda sobre este assunto, o autor Vianna explica como foi possível esta

conversão:

A expedição do Decreto n. 4.827/03 teve origem na Ação Civil Pública n.2000.71.00.030435-2, relativa à possibilidade de conversão de tempoespecial em comum a qualquer tempo. A sentença julgou procedente aação, confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O INSSobteve ganho de causa no Superior Tribunal de Justiça, ao argumento dailegitimidade do Ministério Público Federal para tutelar causasprevidenciárias. Mesmo assim, o Poder Público decidiu manter apossibilidade de conversão de tempo especial em comum, até hoje, aoargumento de que o § 5° do art. 57 da lei n. 8.213/91 não foi revogado.Entendimento contrário implicaria o cancelamento de dezenas de milharesde benefícios concedidos com fundamento na decisão judicial proferida nareferida ação civil pública.191

189 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.190 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 365.191 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. p. 264.

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Dessa maneira, encerramos este tópico, onde tratamos de cada espécie de

aposentadoria, suas particularidades e onde se encontram em nosso ordenamento

jurídico.

No próximo e último capítulo, discorreremos acerca das regras de concessão

e de transição para a concessão da aposentadoria para os servidores públicos, as

mudanças efetuadas pelas Emendas Constitucionais e a aplicação da lei no tempo,

explicando sobre direito adquirido, ato jurídico perfeito e expectativa de direito.

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CAPÍTULO 3

REGRAS DE TRANSIÇÃO PARA A CONCESSÃO DEAPOSENTADORIA PARA OS SERVIDORES PÚBLICOS SEGUNDO A

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Este capítulo explicará inicialmente a aplicação da lei no tempo, conceituando

cada elemento que auxilia a aquisição de direitos: direito adquirido, expectativa de

direito e o ato jurídico perfeito, bem como a aplicação destes em um caso concreto.

Por fim, discorrerá acerca das modificações implementadas pelas Emendas

Constitucionais n. 41/03 e n. 47/05 no que diz respeito à aposentadoria do servidor

público, para podermos retirar as respostas dos problemas levantados: se lei nova

revogará lei anterior, se a nova lei cria regra de transição e se o servidor poderá

opinar pela regra mais vantajosa ao seu caso para fins de concessão de

aposentadoria por tempo de contribuição no serviço público.

3.1 EXPECTATIVA DE DIREITO

Este instituto não está respaldado em lei, possuindo somente doutrina e

jurisprudência que o aplicam. Primeiramente, exporemos alguns conceitos de

expectativa de direito, para logo após demonstrarmos como ele é empregado

A primeira concepção que citamos é de Guilherme Tomizawa, que dessa

forma esclarece:

A expectativa de direito, sendo legítima, se situa no campo metajurídico dodireito. Na expectativa de direito não há nada a ser protegido ou quenecessite de proteção, pois, ainda se encontra em constante mutação outransformação. [...]192

192 TOMIZAWA, Guilherme. Definição e diferenças essenciais entre a expectativa de direito, o direitoadquirido e o ato jurídico perfeito. Mundo legal.com.br. Dez. 2003. Disponível em:<http://www.mundolegal.com.br/?FuseAction=Artigo_Detalhar&did=13947>. Acesso em: 02 de mar.2008.

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O próximo conceito é dado pelo doutrinador Rizzato Nunes, asseverando que

não podemos fazer confusão entre direito adquirido e expectativa de direito. Esta é

somente uma possibilidade para conseguirmos adquirir um direito, que depende de

determinados requisitos para ser implementado, consumado. Ela não tem garantia

contra lei futura.193

Já o autor Caio Mário Pereira, além do conceito, nos traz um diferenciação

entre direito adquirido e expectativa de direito:

Enquanto o direito adquirido é a conseqüência de um fato aquisitivo que serealizou por inteiro, a expectativa de direito, que traduz uma simplesesperança, resulta de um fato aquisitivo incompleto. [...] As expectativas dedireito, isto é, aquelas situações ou relações aderentes ao indivíduo,provenientes de fato aquisitivo incompleto, e por isso mesmo não integradasem definitivo no seu patrimônio, são atingidas sem retroatividade pela leinova, que passa a discipliná-las desde o momento em que começa avigorar. [...]194

Para De Plácido e Silva:

De expectar, do latim expectare (esperar), o mesmo que expectação, dolatim expectatio (esperança), entende-se a probabilidade ou possibilidadede vir uma pessoa a adquirir ou ter, em futuro, um direito, pertencente aoutrem, ou que somente passará a ser do expectante, quando realizadascertas condições ou advindos certos eventos.É uma esperança. E, nesta razão, não tem existência atual. Em relação aodireito é a mera possibilidade de vantagem que poderá, ou não, vir, peloque bem se distingue do direito atual, adquirido, que já é existente. E nãouma esperança de futura aquisição, em que se funda a expectativa.Desse modo, nem mesmo com o direito futuro se confunde, seja estedeferido ou não deferido.Na expectativa ainda não há direito, nem mesmo futuro; há simplespossibilidade de futura aquisição de direito.É o estado ou a situação de quem espera (esperança) adquirir algumacoisa. Spes debitum iri.Nesta razão, difere da faculdade, que é a capacidade para exercitar umdireito próprio.No direito futuro, embora a aquisição dependa de condição ou evento, já odireito existe, isto é, mesmo que se mostre direito condicional não se podedizer uma expectativa.Esta não se revela um bem jurídico, que deva ser protegido e defendido,enquanto que o direito, mesmo condicional, já possui um valor econômicosocial, constituindo elemento que se aprecia patrimonialmente. E de defesaassegurada.195

193 NUNES, Rizzato. Manual de introdução ao estudo do direito: com exercícios para sala de aulae lições de casa. 7. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. p. 231.194 PEREIRA, Caio Mário. Instituições de direito civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1997.p. 98.195 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1 CD-ROM.

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Por último, O doutrinador Wladimir Novaes Martinez nos oferece um exemplo

de expectativa de direito:

Expectativa de direito [...] é estágio preambular distinto do direito pleno. Dá-se exemplo com a pessoa filiada, inscrita, contribuinte, com qualidade desegurado e, às vezes, carência integralizada, mas ausente,concomitantemente, o evento determinante. Numa palavra, não preenchetodos os requisitos legais. Se a lei, em particular, não contemplar nenhumaoutra vantagem para a hipótese, não há direito, e o pretendente queda-sena mera esperança.196

Assim, após estas concepções, entendemos que a expectativa de direito não

possui proteção legal, pois é somente uma esperança de adquirir ou possuir um

direito. O segurado que não tiver cumprido os requisitos para obter um benefício, por

exemplo, terá a esperança de um dia poder alcançar tal direito.

Como é somente um desejo, a expectativa de direito é aplicada, por exemplo,

quando a pessoa não teve um direito adquirido reconhecido pelo Poder Judiciário.

Para demonstrar tal afirmação, buscamos esta jurisprudência no Superior Tribunal

de Justiça, que nos mostra o caso de uma segurada que pretendia receber o

benefício de pensão por morte:

RECURSO ESPECIAL. PENSÃO POR MORTE. PESSOA MAIOR DOSEXO FEMININO DESIGNADA NA VIGÊNCIA DO DECRETO Nº89.312/84. FALECIMENTO DA SEGURADA INSTITUIDORA NA VIGÊNCIADA LEI 8.213/92. EXPECTATIVA DE DIREITO.“A inscrição de dependente, maior, realizada antes da vigência da Leinº 8.213/91, que restringiu a designação aos menores de 21 anos e aosmaiores de 60, não gera direito adquirido, mas, tão-só, expectativa dedireito. Destarte, não assiste direito adquirido à ora recorrente.”Recurso conhecido, mas desprovido.197

No corpo do acórdão, o relator adotou as razões do parecer do Ministério

Público Federal, onde a subprocuradora fez menção a outras decisões que

entendiam da mesma maneira acerca da concessão de pensão por morte. Neste

caso, a segurada pretendia receber o benefício, porém, como o óbito ocorreu

quando já da promulgação da Lei n. 8.213/91, ela não possuía mais o direito de

196 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. Tomo I. 2. ed. São Paulo: LTr,2001. p. 124-125.197 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 495.191, da 2ª Turma do TribunalRegional Federal da 5ª Região, Brasília, DF, 02 de setembro de 2003. Disponível em:<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=495191&b=ACOR>. Acesso em: 10 de março de 2008.

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recebê-lo, pois a idade foi modificada. Existia somente a expectativa de poder

perceber a pensão quando ainda era vigente o Decreto n. 89.312/84.

Por isso, a expectativa de direito é a esperança que a pessoa tem de

futuramente poder obter o direito a um benefício, podendo ocorrer a impossibilidade

de tal obtenção.

3.2 ATO JURÍDICO PERFEITO

O ato jurídico perfeito está presente no art. 5°, XXXVI da CF/88, e no art. 6°, §

1° da Lei de Introdução ao Código Civil, que assim o conceitua: “Art. 6° [...] § 1º

Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em

que se efetuou. [...]”198

Para melhor compreensão do ato jurídico perfeito, mencionaremos alguns

entendimentos doutrinários. A primeira concepção é dada pelo doutrinador José

Adércio Leite Sampaio:

Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente aotempo em que se efetuou. É todo passado consumido no ato mesmo deproduzir-se. Tautológico por ênfase. [...]199

O conceito seguinte elaborado por Caio Mário Pereira esclarece que:

O primeiro aspecto se apresenta como o ato jurídico perfeito, que é o jáconsumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. É o atoplenamente constituído, cujos requisitos se cumpriram na pendência da leisob cujo império se realizou, e que fica a cavaleiro da lei nova.200

Maria Helena Diniz nos oferece um breve conceito de ato jurídico perfeito: “O

ato jurídico perfeito é o já consumado, segundo a norma vigente, ao tempo em que

se efetuou, produzindo seus efeitos jurídicos, uma vez que o direito gerado foi

exercido. É o que já se tornou apto para produzir os seus efeitos. [...]”201

Para o autor Rizzato Nunes:

198 BRASIL. Decreto-lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução ao Código CivilBrasileiro. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em:02 mar. 2008.199 SAMPAIO, José Adércio Leite. Direito adquirido e expectativa de direito. Belo Horizonte: DelRey Editora, 2005. p. 174.200 PEREIRA, Caio Mário. Instituições de direito civil. p. 98.201 DINIZ, Maria Helena. Lei de introdução ao código civil brasileiro interpretada. 13. ed. rev. eatual. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. p. 190-191.

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Ato jurídico perfeito é o ato praticado em certo momento histórico, emconsonância com as normas jurídicas vigentes naquela ocasião.Em outras palavras, é o ato já consumado, pelo exercício do direitoestabelecido segundo a norma vigente ao tempo em que ele foi exercido.202

Encerrando, o autor Alexandre Moraes, ao explicar sobre ato jurídico perfeito,

alude ao autor Celso Bastos, que dessa forma explica:

O ato jurídico perfeito é aquele que foi praticado e acabado segundo osditames de uma ordem legal vigente ao tempo de sua prática, que o regravade determinada forma.É aquele que se aperfeiçoou, que reuniu todos os elementos necessários asua formação, debaixo da lei velha. Isto não quer dizer por si só, que eleencerre em seu bojo um direito adquirido. Do que está o seu beneficiárioimunizado é de oscilações de forma aportadas pela lei nova.203

Com isso, o ato jurídico perfeito é aquele que já se consumou, já foi realizado

durante a vigência de lei pretérita, sendo que lei nova não terá como agredi-lo.

Com o propósito de elucidar como é aplicado o ato jurídico perfeito,

pesquisamos, e obtivemos um acórdão do Superior Tribunal de Justiça, onde no

caso em questão, ocorreu a afronta daquele:

CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ORDINÁRIO EMMANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIASUPLEMENTAR DE SERVIDORES INATIVOS. LEI ESTADUALMINEIRA N° 12.278/96. AFRONTA AO ATO JURÍDICO PERFEITO EAO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS.1. Recurso Ordinário cm Mandado de Segurança contra v. Acórdão quedenegou mandado de segurança ajuizado no intuito de obstar o descontomensal de 3, 5%, a título de contribuição previdenciária, sobre osproventos das aposentadorias dos recorrentes, advindo da Lei n°12.278/96.2. Ocorrência de violação ao ato jurídico perfeito e ao princípio dairredutibilidade de vencimentos, visto que, ao se aposentar, o servidoralcança uma condição jurídica definida pelas normas de aposentação emvigor à data de sua inativação.3. Inativo ou aposentado não assume as mesmas obrigações do servidorativo, porque não está investido em cargo público; a contribuiçãoprevidenciária é exigida dos servidores em atividade, conformeexpressamente determinará a legislação respectiva.4.Precedentes desta Corte Superior (RMS n° 9510/RS, 1a Turma, Rel.Min. Milton Luiz Pereira; RMS n° 9656/MG, deste Relator).5.Recurso provido.204

202 NUNES, Rizzato. Manual de introdução ao estudo do direito: com exercícios para sala de aulae lições de casa. p. 231-232.203 BASTOS apud MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 16. ed. São Paulo: Editora Atlas,2004. p. 107.204 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n. 13.033, doTribunal de Justiça de Minas Gerais, Brasília, DF, 06 de junho de 2002. Disponível em:<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=13033&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=2>. Acesso em: 10 de março de 2008.

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Durante a exposição dos fundamentos, o relator expôs entendimentos dados

por ele em outros processos no mesmo sentido, onde houveram cobranças durante

o período de inatividade do segurando, ocasionando assim a afronta ao ato jurídico

perfeito.

Por conseguinte, o ato jurídico perfeito é aquele que já foi efetivamente

realizado, onde os requisitos todos foram cumpridos, não podendo ocorrer

mudanças em razão da promulgação de lei nova.

3.3 DIREITO ADQUIRIDO

Primeiramente, iremos expor alguns conceitos acerca do direito adquirido,

instituto muito utilizado em nosso ordenamento jurídico, por possuir respaldo

constitucional (art. 5°, XXXVI da CF/88) e por também estar inserido na Lei de

Introdução ao Código Civil (art. 6°, caput e § 2° do Decreto-lei n. 4.657/42), que

trazem o direito adquirido dessa maneira, respectivamente: “Art. 5° [...] XXXVI – a lei

não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; [...]”.205

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídicoperfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.[...]§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, oualguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercíciotenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio deoutrem.206

Vários são os autores que conceituam o direito adquirido. Colocaremos

alguns conceitos deste instituto, pois, em seguida, mostraremos a sua aplicação em

um caso concreto. A primeira concepção nos é dada pelo autor Rizzato Nunes, que

assim nos diz:

Direito adquirido, como o nome sugere, é o que já se incorporoudefinitivamente ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito de direito.Em outros termos, o direito torna-se adquirido por conseqüência concreta edireta da norma jurídica ou pela ocorrência, em conexão com a imputaçãonormativa, de fato idôneo, que gera a incorporação ao patrimônio e/ou àpersonalidade do sujeito.Diz respeito, portanto, a certa ocorrência real e concreta, diante de normajurídica vigente em certo momento histórico.

205 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.206 BRASIL. Decreto-lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.

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Tal direito adquirido, uma vez incorporado ao patrimônio e/ou àpersonalidade, não pode ser atingido pela norma jurídica nova.207

O próximo conceito nos é dado pelo autor Caio Mário Pereira que entende-se

dessa foram os direitos adquiridos:

[...] Os direitos adquiridos, oriundos de fatos que se realizaram por inteiroem consonância com a lei velha e ao tempo de sua vigência, e seincorporaram definitivamente no patrimônio do sujeito não são alcançadospela lei nova, e, portanto, continuam a reger-se pela lei antiga, que destasorte estende o plano de sua eficácia por um tempo ulterior ao momento emque é revogada. [...]208

Em seguida, a autora Maria Helena Diniz discorre acerca do instituto ora

estudado:

Portanto, o direito adquirido consistiria na possibilidades de se extraíremefeitos de um ato contrário aos previstos pela lei atualmente vigente, ouseja, é aquele que continuaria a gozar dos efeitos de uma norma pretéritamesmo depois de já ter sido ela revogada. Implicaria o direito subjetivo defazer valer um direito, cujo conteúdo encontra-se revogado pela lei nova.209

O doutrinador Rui Ribeiro de Magalhães soube sintetizar o significado de

direito adquirido, nos afirmando que: “Adquiridos são os direitos definitivamente

incorporados ao patrimônio jurídico de uma pessoa, de sorte que ela não pode sofrer

qualquer alteração por norma jurídica posterior que lhe seja contrária. [...]”210

Raul Machado Horta explica de maneira mais profunda a utilização do direito

adquirido:

Como vantagem incorporada ao titular, a patrimonialização tornou-seinerente ao direito adquirido, criando situação individual e concreta. Asegurança jurídica do direito adquirido contra sua mudança e desfazimentocriou a regra técnica de defesa da posição vantajosa. Criação do direitoanterior, que o consolidou, o direito adquirido se antepunha ao direito novoe às mudanças decorrentes do novo direito. Expressão do direito novo, a leicomo norma abstrata dispunha de virtualidade de criar o direito adquirido e,ao mesmo tempo, através da sucessão legislativa no tempo, anular essedireito pela revogação do princípio que o constituíra no direito antigo. Airretroatividade das leis tornou-se a barreira protetora do direito adquirido,assegurando a permanência e a incompatibilidade entre o direito antigo e onovo direito legislativo. O direito adquirido representa a intangibilidade da lei

207 NUNES, Rizzato. Manual de introdução ao estudo do direito: com exercícios para sala de aulae lições de casa. p. 230.208 PEREIRA, Caio Mário. Instituições de direito civil. p. 98.209 DINIZ, Maria Helena. Lei de introdução ao código civil brasileiro interpretada. p. 199.210 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Introdução ao estudo do direito. São Paulo: Editora Juarez deOliveira, 2001. p 109.

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no tempo. A irrevogabilidade da lei é técnica de proteção desse direito,assegurando a indevassabilidade da matéria regulada na lei antiga.211

Já o doutrinador Reis Friedes compreende que o direito adquirido deriva do

ato jurídico perfeito e da coisa julgada:

Em termos efetivos, e consoante a legislação em vigor que regula oinstituto, por efeito, denomina-se direito adquirido todo direito que, derivadodo ato jurídico perfeito ou da coisa julgada, já tenha sido efetivamenteincorporado ao patrimônio do titular e, por esta razão – independente – doprévio e anterior pleno exercício (conceito próprio de direito exaurido) – nãomais pode ser subtraído do mesmo, em face do adevento de nova ordemjurídica normativa que regula, de forma diversa, a situação jurídicaanterior.212

Wladimir Novaes Martinez, em sua obra “Direito Adquirido na Previdência

Social” que trata do direito adquirido na Previdência Social, nos fornece esta

concepção:

Direito adquirido é aquele sem possibilidade de ser alterado em suaessência; isso é suscitado principalmente por ocasião do advento de leinova que modifique o direito. Se o titular reuniu os pressupostos elegíveisaté a superveniência da lei modificadora, está assegurado e não sofre amudança operada por essa última lei, que se destina naturalmente a casosfuturos.213

O autor José Adércio Leite Sampaio nos oferece uma conceituação em

sentido estrito e amplo:

[...] Em sentido estrito, consideramos direito adquirido o complexo desituações concretas e subjetivas, fundadas e esgotadas as hipóteses legaisde aquisição; em sentido largo, direito adquirido é, ademais, aquelasposições de vantagem que decorrem de um julgado irrecorrível; bem comosituações existentes e realizadas de acordo com a lei. [...]214

Por fim, De Plácido e Silva destrinça o direito adquirido:

Derivado de acquisitus, do verbo latino acquirere (adquirir, alcançar, obter),adquirido quer dizer obtido, já conseguido, incorporado.

211 HORTA, Raul Machado. Direito constitucional. 4. ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Del ReyEditora, 2003. p. 236.212 FRIEDES, Reis. Direito adquirido. Revista de direito do tribunal de justiça do estado do rio dejaneiro, Rio de Janeiro, n. 40, p. 25-28, jul./set. 1999.213 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Direito adquirido na previdência social. São Paulo: LTr, 2000. p.56214 SAMPAIO, José Adércio Leite. Direito adquirido e expectativa de direito. p. 84.

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Por essa forma, direito adquirido quer significar o direito que já seincorporou ao patrimônio da pessoa, já é de sua propriedade, já constitui umbem, que deve ser judicialmente protegido contra qualquer ataque exterior,que ouse ofendê-lo ou turbá-lo.Mas para que se considere direito adquirido é necessário que:a) sucedido o fato jurídico, de que se originou o direito, nos termos da lei,tenha sido integrado no patrimônio de quem o adquiriu;b) resultante de um fato idôneo, que o tenha produzido em face de leivigente ao tempo, em que tal fato se realizou, embora não se tenhaapresentado ensejo para fazê-lo valer, antes da atuação de uma lei novasobre o mesmo fato jurídico, já sucedido.O direito adquirido tira a sua existência dos fatos jurídicos passados edefinitivos, quando o seu titular os pode exercer. No entanto, não deixa deser adquirido o direito, mesmo quando o seu exercício dependa de umtermo prefixado ou de condição preestabelecida, inalterável a arbítrio deoutrem.Por isso, sob o ponto de vista da retroatividade das leis, não somente seconsideram adquiridos os direitos aperfeiçoados ao tempo em que sepromulga a lei nova, como os que estejam subordinados a condições aindanão verificadas, desde que não se indiquem alteráveis ao arbítrio de outrem.[...]215

Diante de todos esses conceitos, e em conformidade com a legislação que o

traz, consideramos que o direito adquirido é todo aquele direito que a pessoa já

possui, desde que já estejam presentes todos os requisitos necessários para exercê-

lo, protegido contra lei futura que possa prejudicá-lo.

Como falamos anteriormente, iremos mostrar como se aplica o direito

adquirido, no que tange ao Direito Previdenciário. Para isso, vamos utilizar um

acórdão do Supremo Tribunal Federal, pois é com a aplicação ao caso concreto que

poderemos compreender a teoria.

O acórdão que trouxemos trata do reconhecimento do direito adquirido para o

recorrente se aposentar, pois possuía todos os requisitos necessários: “EMENTA:

Aposentadoria: proventos: direito adquirido aos proventos conforme à lei vigente ao

temo da reunião dos requisitos da inatividade, ainda quando só requerida após a lei

menos favorável (Súmula 359, revista): aplicabilidade a fortiori, à aposentadoria

previdenciária.”216

No voto do relator, ele cita algumas súmulas e acórdãos que expõem a

aplicação do direito adquirido, chegando ele à conclusão de que realmente, no

presente caso, o acórdão recorrido estava contrariando o art. 5°, XXXVI da

CFRB/88, dando provimento ao Recurso Extraordinário.

215 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1 CD-ROM.216 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 262.082-3, do Tribunal RegionalFederal da 4ª Região, Brasília, DF, 10 de abril de 2001. Disponível em:<http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 10 de marçode 2008.

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Portanto, há a possibilidade, quando presentes todas as condições, do

segurado poder buscar um direito que já possuía, mesmo que tenha lei menos

vantajosas em vigor.

3.4 REGRAS GERAIS E DE TRANSIÇÃO PARA A CONCESSÃO DE

APOSENTADORIA PARA OS SERVIDORES PÚBLICOS ABRANGIDOS POR

REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA

Neste tópico apresentaremos as últimas mudanças constitucionais, as

emendas n. 20/1998, 41/2003 e a 47/2005, para a concessão da aposentadoria para

os servidores públicos. Apresentaremos as regras gerais trazidas por essas

emendas, e logo após as regras de transição.

3.4.1 Emenda constitucional n. 20/1998

A Emenda Constitucional n. 20 foi promulgada em 15 de dezembro de 1998 e

publicada no dia 16 deste mesmo mês e ano. Ela modificou o RGPS, o regime de

previdência dos servidores públicos, e o regime de previdência complementar.

A respeito da Emenda Constitucional n. 20, assegura o doutrinador:

Por isso não se pode negar que, diante da profundidade das modificaçõestrazidas pela EC 20/98, a mesma trouxe uma nova ordem constitucional-previdenciária, o que poderia ter levado, eventualmente, à declaração desua inconstitucionalidade. No entanto, tal não ocorreu, vindo, ao contrário,de ser confirmada validade da emenda pela sua consagração no usolegislativo (confecção de leis para adaptar o sistema à nova normatizaçãoconstitucional), no uso administrativo (obediência da administração às novasnormas) e mesmo no uso constitucional (edição da EC 41/03 e EC 47/05,em decorrência da EC 20/98).217

Ainda sobre a Emenda Constitucional n. 20, explica o autor:

A Emenda n. 20/98 alterou fundamentalmente os arts. 40 e 201 do corpopermanente da carta Magna de 1988, além de mudar o art. 202 e outrosdispositivos da lei Maior, impondo sérias restrições à fruição de benefíciosprevidenciários, particularmente em relação à aposentadoria por tempo deserviço.218

217 JORGE, Társis Nametala Sarlo. Manual dos benefícios previdenciários: benefícios do RGPS(INSS) e dos servidores públicos. p. 390.218 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Direito adquirido na previdência social. p. 107.

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Os tópicos seguintes irão discorrer sobre as mudanças mais importantes feita

por esta emenda na CF/88.

3.4.1.1 Mudanças efetivadas nas aposentadorias do segurado do regime geral de

previdência social e do regime próprio de previdência social

Conforme texto do Prof. Paulo Modesto, as principais mudanças ocorridas

nas aposentadorias são as seguintes:

a) mudança de enfoque de aposentadoria de tempo de serviço paratempo de contribuição;b) explicitação do princípio da contributividade e da exigência de equilíbriofinanceiro e atuarial;c) exigência de idade mínima para a aposentadoria por tempo decontribuição e por idade (regra permanente: integral, 60 anos, 35 anos decontribuição, homens; 55 anos, 30 anos de contribuição, mulher; exigênciaadicional para ambos: 10 anos no serviço no serviço público e 5 anos nocargo; idade-proporcional: 65 anos, homens, 60 anos, mulheres; exigênciaadicional para ambos: 10 anos no serviço público e 5 anos no cargo; regratransitória, sem a exigência de 10 anos de permanência no serviço público,integral: 53 anos, 35 anos de contribuição, homens, mais 20% do tempofaltante e 5 anos no cargo; 48 anos, 30 anos de contribuição, mais 20% dotempo faltante e 5 anos no cargo; proporcional: 53 anos, 30 anos decontribuição, homens, mais 40% do tempo faltante e 5 anos no cargo; 48anos, 25 anos de contribuição, mais 40% do tempo faltante e 5 anos nocargo).d) fim da aposentadoria especial para o professor universitário e daaposentadoria com tempo reduzido para magistrados, membros doMinistério Público e do Tribunal de Contas;e) extinção da aposentadoria proporcional voluntária por tempo deserviço para os novos servidores civis;[...]g) proibição expressa de acumulação de aposentadorias, ressalvada aaposentadoria em cargos acumuláveis;h) permissão de aplicação dos limites máximo do RGPS aos servidorestitulares de cargo efetivo na hipótese de regime de previdênciacomplementar específico, sendo o limite aplicável aos servidores ematividade na data da instituição do regime complementar apenas medianteprévia e expressa opção (matéria pendente de lei complementar).219

Ainda sobre as mudanças nas aposentadorias, destaca os doutrinadores:

Os trabalhadores que exercem atividades prejudiciais á saúde ou àintegridade física, devidamente comprovadas por laudo técnico, tiverammantido o direito a se aposentar com um tempo menor de contribuição,independentemente de idade.A situação dos trabalhadores rurais não muda. Continuam podendo seaposentar por idade, com cinco anos a menos do que os demais

219 MODESTO, Paulo. A reforma previdenciária e as peculiaridades do regime previdenciário dosagentes públicos. Revista brasileira de direito público, Belo Horizonte ano 1, n. 1, p. 141-174,abr./jun. 2003. A emenda constitucional n° 20/98 e a polêmica dos inativos.

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trabalhadores – 60 anos de idade para os homens e 55 anos para asmulheres.Os professores que comprovem exclusivamente tempo de efetivo exercíciodas funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental emédio preservaram o direito à aposentadoria especial, com vinte e cincoanos de regência de classe, no caso das mulheres, ou trinta anos, no casodos homens, sem observância do limite mínimo de idade. Os professores deuniversidades particulares têm duas opções: aposentarem-se com o mesmotempo de contribuição dos demais segurados, e sem limite de idade, ou seenquadrarem nas regras de transição, que permitem contar o tempo atualde magistério com acréscimo, mas exigem idade mínima.Para os professores que ainda não podem se aposentar serão exigidos 48anos de idade das mulheres e 53 anos dos homens. No caso dosprofessores vinculados ao Regime Geral – INSS, a opção de se aposentarpelas regras novas, sem idade mínima, pode ser mais vantajosa.220

O primeiro doutrinador teve seu foco voltado tanto para a aposentadoria por

tempo de contribuição, por idade e a do servidor público somadas as regras de

transição da aposentadoria deste. Já o que citamos dos outros dois autores foi com

relação à aposentadoria especial, a aposentadoria do trabalhador rural e a

aposentadoria dos professores de educação infantil, ensino fundamental, ensino

médio e universitários.

Podemos entender que, no que concerne à aposentadoria por tempo de

contribuição, para a sua concessão é necessário que a mulher contribua por 30 anos

e que o homem contribua por 35 anos. Já a aposentadoria por idade, a mulher irá se

aposentar com 60 anos, e o homem com 65 anos. Para a aposentadoria do servidor

público integral, há a necessidade da idade mínima e do tempo de contribuição, ou

seja, o homem se aposentará com 60 anos de idade e com 35 anos de contribuição;

já a mulher irá se aposentar com 55 anos de idade e com 30 anos de contribuição.

A aposentadoria especial (vide item 2.2.4) se manteve do mesma forma, com

um menor tempo de contribuição, sem idade mínima. A aposentadoria do

trabalhador rural também não foi modificada, aposentando o homem com 60 anos

de idade e a mulher com 55 anos de idade.

Os professores que somente exercem tal profissão na educação infantil, no

ensino fundamental ou médio, mantiveram a aposentadoria especial, qual seja, a

professora terá que exercer sua profissão por vinte e cinco anos, e o professor por

30 anos, não havendo uma idade mínima.

220 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.78.

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3.4.1.2 Mudança efetivadas em outros benefícios

Com relação à modificação feita pela Emenda Constitucional n. 20/98 em

outros benefícios, assim discorrem os doutrinadores:

A Emenda trouxe, basicamente, reduções de despesas no que tange aosbenefícios do regime geral, gerido pelo INSS, não tendo sido tomadaqualquer medida para o aumento da arrecadação. Assim, no mesmodiapasão, o salário-família e o auxílio-reclusão passaram a ser devidossomente a dependentes de segurados de “baixa renda” – entendidos assim,no texto da Emenda, os que percebiam mensalmente, até R$ 360,00 nadata da promulgação – e o salário-maternidade, único benefício que não eralimitado pelo “teto” do salário de contribuição, passou a Ter valor máximo deR$ 1.200,00 – da mesma forma que os demais benefícios do regime geral.Contudo, o Supremo Tribunal Federal, deferindo liminar em Ação Direta deInconstitucionalidade, suspendeu a eficácia da Emenda no que tange àlimitação do valor do salário-maternidade, mantendo o ônus da PrevidênciaSocial quanto ao pagamento integral do salário durante a licença à gestantede 120 dias, tal como antes; a decisão fundamentou-se na violação doprincípio isonômico.221

Dessa maneira, de acordo com os autores acima mencionados, com relação

aos benefícios, houve uma diminuição no custo destes, destacando-se o salário-

família e o auxílio-reclusão, que como já explicamos, serão devidos ao que

possuírem um baixo rendimento. Já o salário-maternidade, em razão da ADIn, foi

conservado que a Previdência Social é que pagaria este benefício para a gestante

durante a licença de 120 dias.

3.4.1.3 Regras de transição

As regras de transição para a concessão de aposentadoria para os segurados

filiados até a data da promulgação da Emenda Constitucional n. 20/98 estão

contidas no art. 9° desta, que dessa maneira dispõe:

Art. 9º Observado o disposto no art. 4° desta Emenda e ressalvado o direitode opção a aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para oregime geral de previdência social, é assegurado o direito à aposentadoriaao segurado que se tenha filiado ao regime geral de previdência social, atéa data de publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aosseguintes requisitos:I - contar com cinqüenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oitoanos de idade, se mulher; e

221 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.80.

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II - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; eb) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento dotempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir olimite de tempo constante da alínea anterior.§ 1º O segurado de que trata este artigo, desde que atendido o disposto noinciso I do caput, e observado o disposto no art. 4° desta Emenda, podeaposentar-se com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quandoatendidas as seguintes condições:I - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; eb) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cento dotempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir olimite de tempo constante da alínea anterior;II - o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a setenta porcento do valor da aposentadoria a que se refere o caput, acrescido de cincopor cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere oinciso anterior, até o limite de cem por cento.§ 2º O professor que, até a data da publicação desta Emenda, tenhaexercido atividade de magistério e que opte por aposentar-se na forma dodisposto no caput, terá o tempo de serviço exercido até a publicação destaEmenda contado com o acréscimo de dezessete por cento, se homem, e devinte por cento, se mulher, desde que se aposente, exclusivamente, comtempo de efetivo exercício de atividade de magistério.222

Acerca das regras de transição, assevera dessa forma o autor:

A regra de transição gera dois novos requisitos que devem ser atendidos,simultaneamente, para que os segurados possam obter a aposentadoria: a)idade mínima de 53 anos para os homens e de 48 anos para as mulheres; eB) um acréscimo de 20% do tempo que falta, no caso da aposentadoriaintegral por tempo de serviço, e de 40% para a aposentadoria proporcional.Ressalta-se que se, por exemplo, o segurado cumprir o tempo faltanteacrescido de 20% para a aposentadoria integral e não tiver implementado aidade exigida de 53 anos, não poderá requerer o benefício.[...]No concernente aos professores, a EC n° 20/98 consagrou no § 2° desteartigo, uma regra especial, ou seja, o tempo laborado até a publicação daEmenda sofrerá um acréscimo de 17%, se homem, ou 20 % para asmulheres. O motivo desta valoração diferenciada decorreu da constataçãoque com 30 anos o professor obtinha aquilo que reclamava 35 anos dosdemais segurados. Por isto, seu tempo de serviço já exercido vale mais,tendo de ser acrescido em 17%, no caso do professor e 20% para aprofessora (a origem dos 17% resulta do arredondamento, a maior, da razãoentre 30/35, ou 1,16666%). Após a realização desta conversão, então seaplicam as regras gerais válidas para os demais segurados.223

Portanto, as regras de transição trazidas pela Emenda Constitucional n. 20/98

dizem respeito a: aposentadoria integral, quando o homem possui 53 anos de idade

222 BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998. Modificao sistema de previdência social, estabelece normas de transição e dá outras providências. Disponívelem: < http://www0.dataprev.gov.br/sislex/paginas/30/1998/20.htm>. Acesso em: 02 mar. 2008.223 THEISEN, Ana Maria Wickert et al. Direito previdenciário: aspectos materiais, processuais epenais. p. 111.

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e que seja somado um adicional de contribuição de 20% e que a mulher deverá ter

48 anos e que seja somado o mesmo adicional de 20% anteriormente falado;

aposentadoria proporcional, mantendo as mesmas idades já citadas, mas o adicional

de contribuição será de 40%; e à aposentadoria dos professores existirá um

adicional de contribuição de 17%, no caso do professor, e de 20% no caso da

professora, se trabalharem somente nesta área.

As regras de transição permitidas pela Emenda Constitucional n. 20/98 vieram

para facilitar as mudanças feitas por esta, mudanças que posteriormente sofreram

alterações também em decorrência de outras duas Emendas Constitucionais: n.

41/2003 e a 47/2005.

3.4.2 Emenda constitucional n. 41/2003

A Emenda Constitucional n. 41 foi promulgada em 19 de dezembro de 2003,

mas entrou em vigor no dia 1° de janeiro de 2004, trazendo muitas modificações

acerca dos regimes próprios de previdência, no que tange à concessão de

benefícios, contribuição previdenciária, tanto para os servidores que estão na ativa,

quanto para os inativos e pensionistas.224

A respeito da Emenda Constitucional n. 41/2003, esclarecem alguns

doutrinadores que ela veio dar seguimento à reforma previdenciária, iniciada pela EC

n. 20/98:

Na verdade, a Emenda Constitucional 41/2003 veio concluir a reformaprevidenciária iniciada pela Emenda Constitucional 20/1998 no queconcerne á previdência social do servidor público. Nesse contexto, diversosdispositivos do art. 40 da CF foram mantidos, e as alterações procedidasatingem principalmente os seguintes aspectos: quebra da integralidadecomo critério de cálculo dos proventos de aposentadoria (a remuneraçãointegral do cargo efetivo deixa de ser a base de cálculo do valor daaposentadoria) e da paridade como parâmetro de reajuste dasaposentadorias e pensões (repasse automático dos aumentos dosservidores ativos para os aposentados e pensionistas), alteração do critériode cálculo do valor da pensão por morte, fixação de modo mais rigoroso doteto de remuneração, proventos e pensões, detalhamento das regras para acriação da previdência complementar e conseqüente aplicação do teto doRegime Geral de Previdência Social e previsão de instituição decontribuição previdenciária sobre proventos de aposentadoria e pensões.

224 MARTINS, Bruno Sá Freire. O direito adquirido e as contribuições previdenciárias. RevistaJurídica Consulex, Brasília, ano 8, n. 177, p. 64-65, maio 2004.

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Manteve a Emenda Constitucional 41/2003 o caráter contributivo daprevidência funcional e acrescentou a este a roupagem solidária.225

Os doutrinadores mostraram as várias mudanças feitas pela EC n. 41/2003,

porém, o tema principal será a reforma da concessão da aposentadoria para o

servidor público. Primeiramente trataremos acerca da modificação no que diz

respeito à integralidade e paridade e como atingem os requisitos para o servidor

público alcançar o direito ao seu benefício.

3.4.2.1 Integralidade

Para melhor entendimento, conceituaremos o critério da integralidade.

Marcelo Leonardo Tavares nos traz a seguinte concepção de integralidade:

O critério da integralidade (art. 40, parágrafos 3° e 7°, antiga redação)determinava que a base de cálculo da aposentadoria ou pensão por mortedeveria ser o valor da última remuneração do servidor em atividade, isto é,se um servidor homem, ao se aposentar compulsoriamente aos setentaanos de idade, possuísse 30 anos de contribuição, sua aposentadoria seriacalculada da seguinte forma: 30/35 do valor da última remuneração. Se aaposentadoria fosse integral, seria 100% desse valor. [...]226

Dessa forma, antes da EC n. 41/2003, a aposentadoria era calculada pelo

último valor da remuneração do servidor. Porém, hodiernamente, para quem entrar

no serviço público efetivo após a EC n. 41/2003, não possui mais esse direito.227

Para complementar o acima exposto, nos esclarece a Previdência Social:

INTEGRALIDADE E PARIDADEO valor dos benefícios é o último salário da ativa [...]Mantidas para quem tem direito adquirido às regras atuais. Para os demais,não vale mais como regra geral. Será concedida, excepcionalmente, apenascomo prêmio, para os atuais servidores que trabalharem até os 60 anos deidade, com 35 anos de contribuição (homens) ou 55 anos de idade, com 30anos de contribuição (mulheres). Em ambos os casos, será preciso contar20 anos no serviço público, 10 anos na carreira e 5 anos no cargo. [...]228

225 DIAS, Eduardo Rocha; MACEDO, José Leandro de. Nova previdência social do servidorpúblico. 2. ed. atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2006. p. 113-114.226 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário: regime geral de previdência social eregimes próprios de previdência social. 9. ed. rev. ampl. e atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen Iuris,2007. p. 389.227 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário: regime geral de previdência social eregimes próprios de previdência social. p. 389.228 MINSTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. A Nova Previdência Disponível em:<http://www.previdenciasocial.gov.br/reforma/11_25_02.asp>. Acesso em: 10 mar. 2008.

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Assim, a integralidade só é concedida quem já possuía os requisitos para se

aposentar antes da EC n. 41/2003, ou será concedido como prêmio para os

servidores que trabalharem até os 60 anos de idade e 30 anos de contribuição

(homens) e 55 anos de idade e 30 anos de contribuição (mulher), e ambos

precisarão possuir 20 anos de serviço público, 10 anos na carreira e 5 anos no

cargo.

3.4.2.2 Paridade

Já a respeito da paridade, elucida Tavares:

O critério da paridade (art. 40, parágrafo 8°) dispunha: “os proventos deaposentadoria e as pensões serão revistos na mesma proporção e namesma data, sempre que se modificar a remuneração dos servidores ematividade, sendo estendidos aos aposentados e aos pensionistas quaisquerbenefícios ou vantagens posteriormente concedidos aos servidores ematividade, inclusive quando decorrentes da transformação ou reclassificaçãodo cargo ou função em que se deu a aposentadoria ou que serviu dereferência para a concessão da pensão, na forma da lei.” Isto significa que ovalor das aposentadorias e pensões do serviço público deveria sermodificado sempre que revistas as remunerações dos servidores ativos,bem como deveria sofrer aumento decorrente de benefícios e vantagensremuneratórias conferidas aos servidores ativos.229

Ainda sobre a paridade, o autor nos ensina:

A paridade, critério de reajuste das aposentadorias e pensões segundo oqual os reajustamentos concedidos para os servidores ativos seriamautomaticamente repassados para os aposentados e pensionistas, tambémfoi quebrada pela Emenda Constitucional 41/2003. De fato, até 31.12.2003vigorava a regra de que “os proventos de aposentadoria e as pensões serãorevistos na mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificar aremuneração dos servidores em atividade, sendo estendidos aosaposentados e aos pensionistas quaisquer benefícios ou vantagensposteriormente concedidos aos servidores em atividade, inclusive quandodecorrentes da transformação ou reclassificação do cargo ou função em quese deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão dapensão, na forma da lei.” ( art. 40, § 8°, da CF). É dizer: o servidoraposentado tinha direito a todos os reajustes, como se em atividadeestivesse, e o valor das pensões por morte era reajustado como se oservidor falecido estivesse em atividade.230

229 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário: regime geral de previdência social eregimes próprios de previdência social. p. 389.230 DIAS, Eduardo Rocha; MACEDO, José Leandro de. Nova previdência social do servidorpúblico. p. 141.

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Deste modo, outrora a paridade servia para equiparar os proventos dos

aposentados e pensionistas com a remuneração do servidor em atividade. Agora,

com a sua retirada pela EC n. 41/2003, somente terá direito quem já tinha todos os

requisitos para se aposentar ou receber a pensão até a data da vigência da

Emenda, ou, como anteriormente explicado no tópico da integralidade, seria

concedido como um prêmio aos servidores atuais, desde que preencha os seguintes

requisitos: 60 anos de idade e 30 anos de contribuição (homens) e 55 anos de idade

e 30 anos de contribuição (mulher), e ambos precisarão possuir 20 anos de serviço

público, 10 anos na carreira e 5 anos no cargo.

Com estas breves explicações, passaremos agora às regras para concessão

das aposentadorias dos servidores públicos, implementadas pela EC n. 41/2003.

3.4.2.3 Regras gerais e de transição implantadas pela emenda constitucional n.

41/2003

A Emenda Constitucional n. 41/2003 fez muitas alterações no que diz respeito

à concessão da aposentadoria do servidor público, possuindo regras permanentes e

regras transitórias: As regras permanentes são:

1. Aposentadoria integral por tempo de contribuição - direito adquirido (art. 40,

§ 1º, III, “a” da CF/88, com redação dada pelo art. 1º da EC n. 20/98, combinado

com o art. 3º da EC n. 41/03):

a) provar a idade mínima de 60/55 anos (homem/mulher);

b) provar o tempo mínimo de contribuição de 35 anos para homem e 30 anos para

mulher;

c) provar o tempo mínimo de 10 anos de efetivo exercício no serviço público

(Municipal, Estadual, Distrital e/ou Federal);

d) provar o tempo mínimo de 5 anos de efetivo exercício no cargo em que estiver

solicitando aposentadoria.

2. Aposentadoria por idade (art. 40, § 1º, inciso III, alínea “b” da CF/88, com

redação dada pelo art. 1º da EC n. 20/98, combinado com o art. 3º da EC n. 41/03):

a) provar a idade mínima de 65/60 anos (homem/mulher);

b) provar o tempo mínimo de 10 anos de efetivo exercício no serviço público

(Federal, Estadual, Distrital e/ou Municipal);

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c) provar o tempo mínimo de 5 anos de efetivo exercício no cargo em que estiver

solicitando a aposentadoria. 231

Ainda sobre as regras permanentes, esclarece Tavares

Repetindo a redação do disposto no art. 3°, da EC n° 20/98, a EC n°41/2003 garante o direito adquirido à fruição de benefícios desde que osrequisitos seja implementados até a data da entrada em vigor da Emenda.Tecnicamente, deveria ser garantido o direito adquirido se os pressupostosfossem atendidos até a véspera da entrada em vigor dos novos dispositivos.Isto porque, com a vigência, aplicam-se as normas novas, e não as antigas.Da forma como foi redigido, contudo, se o servidor completar os requisitospara a aposentadoria ou falecer no dia da publicação da EC n° 41/2003(31/12/2003), fará jus à aplicação da legislação anterior.Assim, mesmo que não tenham requerido os benefícios, está garantida aaplicação das regras anteriores tão-só pela presença dos antigospressupostos legais para o gozo das aposentadorias.232

Dessa maneira, para o servidores de cargo efetivo que já tinham adquirido o

direito de se aposentar até a data da publicação da EC n. 41/2003, irão ser regrados

pela legislação anterior.

Já as regras transitórias são as seguintes:

1. Aposentadoria integral por tempo de contribuição (art. 6º da EC n. 41/03):

a) para quem ingressou no serviço público até 31/12/2003. Esta regra será aplicada,

ainda, aos servidores que reuniram os requisitos após a EC n. 41/03;

b) provar a idade mínima de 60/55 anos (homem/mulher);

c) provar o tempo mínimo de contribuição de 35 anos para homem e 30 anos para

mulher;

d) provar o tempo mínimo de 20 anos de efetivo exercício no serviço público

(Municipal, Estadual, Distrital e/ou Federal incluindo suas autarquias e fundações);

f) provar 10 anos de carreira;

g) provar o tempo mínimo de 5 anos de efetivo exercício no cargo em que estiver

solicitando a aposentadoria.

Esta regra trouxe novamente o direito à integralidade dos proventos, a

paridade remuneratória e a aposentadoria pela remuneração do cargo efetivo.233

231 PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. Aposentadoria. Disponível em:<http://www.portaldoservidor.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=124&Itemid=191#4103>. Acesso em: 10 mar. 2008.232 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário: regime geral de previdência social eregimes próprios de previdência social. p. 409.233 PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. Disponível em:<http://www.portaldoservidor.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=124&Itemid=191#4103>. Acesso em: 10 mar. 2008.

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2. Aposentadoria proporcional por tempo de contribuição (art. 2º, incisos I, II e

III, alínea “a” e “b”, § 1º da EC n. 41/03):

a) provar a idade mínima de 53/48 anos (homem/mulher);

b) provar o tempo mínimo de contribuição de 35 anos para homem e 30 anos para

mulher;

c) provar o tempo mínimo de 5 anos de efetivo exercício no cargo em que estiver

solicitando a aposentadoria;

d) provar 20% (PEDÁGIO) sobre o tempo de serviço faltante em 15/12/1998 para

completar 12.775 dias (35 anos) para homem e 10.950 dias (30 anos) para mulher.

Esta regra estabelece a média correspondente a 80% das maiores

remunerações (a partir de julho de 1994) atualizadas monetariamente, não há

paridade (lei específica definirá os critérios de reajustes) e a aposentadoria é pela

remuneração do cargo efetivo. As médias dos salários de contribuição possuem

abatimento de 3,5% (para quem completar o direito até 31/12/05) ou de 5% (para

quem completar o direito a partir de 01/01/06) por ano de antecipação em relação às

idades de 60/55 anos (homem/mulher).234

Sobre as regras transitórias, assevera Dias:

Registre- se que o art. 6° da Emenda Constitucional 41/2003traz apenasregra transitória para a manutenção da integralidade da remuneração comobase de cálculo da aposentadoria e do critério de reajuste da paridade, jáque o servidor por ele amparado preenche as condições para aposentar-sepelas regras do art. 40, § 1°, III, a ou § 5°.235

Ainda sobre as regras transitórias, afirma Pierdoná:

A Segunda situação é a dos servidores que ingressaram no serviço públicoaté a promulgação da EC n° 20/98, ou seja, até 16.12.98. O servidor, nessasituação, poderá aposentar-se quando, cumulativamente:1) tiver 53 anos de idade, se homem, e 48 anos de idade, se mulher;2) tiver 5 anos de efetivo exercício no cargo em que se der aaposentadoria;3) contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:a) 35 anos, se homem, e 30 anos, se mulher; eb) um período adicional de contribuição equivalente a 20% do tempoque, na data de publicação da EC n° 20/98, faltaria para atingir o limite detempo constante acima.

234 PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. Disponível em:<http://www.portaldoservidor.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=124&Itemid=191#4103>. Acesso em: 10 mar. 2008.235 DIAS, Eduardo Rocha; MACEDO, José Leandro de. Nova previdência social do servidorpúblico. p. 131.

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O servidor que cumprir as exigências para aposentadoria acima referidas,terá os seus proventos de inatividade reduzidos para cada ano antecipadoem relação aos limites de idade (60 anos, se homem e 55, se mulher) naproporção de 3, 5%, para aquele que completar as exigências paraaposentadoria até 31 de dezembro de 2005 e, de 5%, para aquele quecompletar as exigências a partir de 1° de janeiro de 2006.236

Por conseguinte, as regras de transição trazidas pela EC n. 41/2003 vieram

para manter determinados direitos aos que já possuíam (integralidade e paridade),

mas também trouxe regras para quem adentrou o serviço público até a data da

promulgação da EC n. 20/98, regras essas cumulativas, ou seja, para quem quer se

aposentar, terá que cumprir os requisitos já discriminados.

Passaremos agora ao exame da Emenda Constitucional n. 47/2005.

3.4.3 Emenda constitucional n. 47/2005

A Emenda Constitucional n. 47 foi promulgada no dia 5 de julho de 2005, mas

seus efeitos pretéritos já começaram no dia 1° de janeiro de 2004, em conformidade

com o art. 6° desta Emenda.237

A respeito da mudanças feitas pela EC n. 47/2005, elucida Dias:

A Emenda Constitucional 47/2005 não inovou muito quanto à previdênciafuncional: determinou, de maneira expressa, que as parcelas de caráterindenizatório não serão computadas para efeito do teto previsto no art. 37,XI, da CF (art. 37, § 11), facultou aos Estados e Distrito Federal, medianteemendas às respectivas Constituições e Lei Orgânica, fixar como limiteúnico, para fins de teto remuneratório e de proventos, o subsídio mensal dosdesembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a 90,25% dosubsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 37, § 12),estendeu a possibilidade de aposentadoria especial para os servidoresportadores de deficiência e que exerçam atividades de risco (art. 40, § 4°),elevou a faixa de imunidade dos aposentados e pensionistas portadores dedoença incapacitante para o dobro do teto do Regime Geral de PrevidênciaSocial (art. 40, § 21), trouxe regra transitória para quem era servidor na datada Emenda Constitucional 20/1998 aposentar-se voluntariamente com basena remuneração integral e mantendo a paridade de reajuste com idadesinferiores às previstas nas regras permanentes (60 anos, se homem, e 55anos, se mulher)238

236 PIERDONÁ, Zélia Luiza. A reforma de previdência dos servidores públicos – emendaconstitucional n° 41/03. Revista de Direito Social, Porto Alegre, ano. 4, n. 13, p. 94-97, jan./fev.2004.237 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.131.238 DIAS, Eduardo Rocha; MACEDO, José Leandro de. Nova previdência social do servidorpúblico. p. 115-116.

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Como bem explicaram os doutrinadores acima, não aconteceram muitas

modificações, mas a alteração significante para a nossa monografia diz respeito a

regra transitória, contida no art. 3° desta Emenda. Acerca desta mudança,

esclareceremos nos próximos tópicos.

3.4.3.1 A aplicabilidade da emenda constitucional n. 47/2005

A EC n. 47/2005 retroage à data de vigência da EC n. 41/2003, garantindo

uma transição menos gravosa aos servidores que possuíam esperanças de se

aposentarem nos requisitos que existiam até a EC n. 20/1998, mitigando os efeitos

da mudança não inserida na EC n. 41/20003. A EC n. 47 restabeleceu a paridade

plena para quem entrou no serviço público até 16/12/98. A seguir, as regras

transitórias instituídas pela EC n. 47/2005.239

3.4.3.2 Regras Transitórias

Permite ao servidor que ingressou antes do tempo previsto no mercado de

trabalho se aposentar mais rápido.

A modificação feita pela EC n. 47/2005 está presente em seu art. 3°, onde

traz os seguintes requisitos: Aposentadoria voluntária por redução de idade (art. 3º,

incisos I, II e III, e parágrafo único da EC n. 47/05):

a) provar a idade mínima de 60/55 anos (homem/mulher);

b) provar o tempo mínimo de contribuição de 35 anos para homem e 30 anos para

mulher;

c) provar o tempo mínimo de 25 anos de efetivo exercício no serviço público

(Municipal, Estadual, Distrital e/ou Federal incluindo suas autarquias e fundações);

d) provar 15 anos de carreira;

e) provar o tempo mínimo de 5 anos de efetivo exercício no cargo em que estiver

solicitando a aposentadoria;

239 PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. Disponível em:<http://www.portaldoservidor.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=124&Itemid=191#4103>. Acesso em: 10 mar. 2008.

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f) para o servidor que completar tempo de contribuição após 31/12/03 aplica-se a

redução de um ano na idade mínima para cada ano que exceder 35/30 anos

contribuição (homem/mulher).

Esta regra restabelece a integralidade dos proventos, a paridade

remuneratória e a aposentadoria pela remuneração do cargo efetivo.240

Sobre esta regra de transição, afirma o doutrinador:

A regra de transição do art. 3° da Emenda n. 47: a última regra de transiçãoa ser analisada é a mais recente. Aplica-se aos agentes públicos queingressaram no serviço público até 16.12.1998, e lhes assegura proventosintegrais e paridade plena, desde que satisfeitos todos os requisitos aseguir:- tempo de contribuição de 35 anos (h) ou 30 anos (m);- 25 anos de efetivo exercício no serviço público, 15 anos de carreira e 5anos no cargo;- idade mínima resultante da redução, relativamente aos limites do art. 40,§1 °, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, de um ano de idade paracada ano de contribuição que exceder a condição prevista no inciso II docaput do artigo.Trata-se da adoção da chamada “fórmula 95/85”: por esta, o que importa,para fazer jus à aposentadoria, é a soma da idade com o tempo decontribuição: se o ocupante de cargo efetivo ou vitalício do sexo masculinotiver idade mais tempo de contribuição igual a 95, e a do sexo feminino tiveridade mais tempo de contribuição igual a 85, independentemente da idademínima, fará jus à aposentadoria, desde que satisfaça as demais exigências(25 anos de serviço público, 15 anos de carreira e 5 anos no cargo em quepretende se aposentar).A essa hipótese não se aplicam mais: o “pedágio” (acréscimo sobre o tempode serviço faltante), que constava das regras de transição anteriores, nem oacréscimo fictício de 17% sobre o tempo já cumprido para professores emagistrados; bem como, o redutor que incidia sobre os proventos, daEmenda n. 41.É dizer, essa regra de transição assegura ao ocupante de cargo efetivo ouvitalício que preencha todos os requisitos estabelecidos, o direito de seaposentar com o valor da última remuneração do cargo em que permaneceupor cinco anos ou mais, bem como a paridade plena com os ocupantes decargo efetivo ou vitalícios em atividade, sem exigir, no caso das mulheres,nenhum tempo a mais do que antes da Emenda n. 20 já fosse exigido (30anos), e para os homens, exigindo apenas 5 anos a mais.241

E, ainda, sobre a regra de transição do art. 3° da EC n. 47/2005, assevera

Marcelo Leonardo Tavares:

Ao art. 3°, da EC n° 47/2005, produz uma modificação imensa no sistematransitório da Reforma Previdenciária. Aplica-se aos servidores queingressaram no serviço público antes da publicação da EC n°20/98 e

240 PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. Disponível em:<http://www.portaldoservidor.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=124&Itemid=191#4103>. Acesso em: 10 mar. 2008.241 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. p.130.

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possibilita o abatimento de um ano no requisito idade para cada ano a maisdo preenchimento do pressuposto do tempo de contribuição, desde que,concomitantemente, o servidor tenha trinta e cinco anos de contribuição, sehomem, e trinta se mulher, vinte e cinco anos de efetivo exercício no serviçopúblico, quinze anos na carreira e cinco anos no cargo em que se dará aaposentadoria.Esse servidor manterá a regra da integralidade no cálculo de seusproventos (baseado no montante da última remuneração) e a paridade(extensão das vantagens previstas para os ativos).242

A EC n. 47/2005 veio para diminuir os prejuízos, sofridos pelos servidores

públicos, trazidos pela EC n. 41/2003.243 Com a redação dada pelo art. 3°, preservou

os critérios da paridade plena e da integralidade para quem ainda não se aposentou

até a data da sua vigência, bem como trouxe a regra da idade mínima, onde o

servidor, que irá completar o tempo de contribuição após a data da publicação da

EC n. 41/2003, terá retirado um ano da idade mínima para se aposentar para cada

ano que extrapolar os 35 anos (homem) ou 30 anos (mulher) do tempo de

contribuição.

Somente houve o aumento no tempo efetivo do serviço público, que passou

de 15 anos (EC n. 41/2003) para 25 anos (EC n. 47/2005), e no tempo de carreira,

que era de 10 anos (EC n. 41/2003) e passou para 15 anos (EC n. 47/2005), sendo

mantido os 5 anos no cargo.

As reformas feitas no sistema previdenciário no que diz respeito ao servidor

público, vieram para trazer opções pela melhor situação para os que ainda não

solicitaram a aposentadoria, trouxeram muitas outras mudanças para todo os

regimes de previdência, e ainda manteve os direitos adquiridos de quem já possuía

todos os pressupostos para se aposentarem.

As reformas previdenciárias no Brasil visam sempre o equilíbrio financeiro e

atuarial, adequando o sistema às novas regras para que no futuro não tenhamos um

colapso no sistema previdenciário brasileiro.

242 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário: regime geral de previdência social eregimes próprios de previdência social. p. 409.243 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n.1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em:10 mar. 2008 .

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia jurídica teve como objetivo principal estudar as

principais modificações feitas pelas Emendas Constitucionais n. 20/1998, n.

41/2003, e n. 47/2005, principalmente no que tange à concessão da aposentadoria

para o servidor público.

Podemos observar que com a evolução histórica, explicada no primeiro

capítulo, o Direito Previdenciário está sempre em movimento. As mudanças feitas ao

longo do tempo trouxeram muitas benesses aos segurados tanto do Regime Geral

de Previdência Social quanto dos regimes próprios, podendo ser citadas as próprias

modificações realizadas pela CF/88, que possui capítulo próprio a respeito da

Seguridade Social, bem como o art. 7°, onde traz os direitos dos trabalhadores,

constando o direito à aposentadoria em seu inciso XXIV.

A aposentadoria, benefício presente na legislação previdenciária, bem como

na CF/88, como explicam os doutrinadores: “[...] é a prestação por excelência da

Previdência Social [...]”244, pois é dela que o segurado irá depender após cumprir os

requisitos de idade e tempo de contribuição, acrescentando também o tempo no

serviço público, tempo de carreira e de cargo, no caso dos servidores públicos.

Por isso, há a necessidade de se esclarecer as mudanças feitas pelos

legisladores no que concerne à aposentadoria, principalmente no que diz respeito a

expectativa de direito, ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito, pois muitos

segurados possuíam os requisitos, ou mesmo já tinham entrado com o

requerimento, porém não tinham a certeza se realmente iriam se aposentar.

Com a promulgação das Emendas Constitucionais n. 20/1998, n. 41/2003, e

47/2005, aconteceram modificações profundas, principalmente na concessão da

aposentadoria para o servidor público. Durante a pesquisa, notamos por parte dos

órgãos públicos a necessidade de explicar como se darão essas modificações, até

porque se não for feita uma leitura mais apurada, realmente muitos se confundirão.

A Emenda Constitucional n. 20/1998 mudou a idade e o tempo de

contribuição, no caso da aposentadoria por tempo de contribuição; além das regras

244 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 7.ed. rev. São Paulo: Editora Ltr, 2006. p. 543.

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de transição, trazendo o pedágio, ou seja, um acréscimo para o tempo faltante,

quando da promulgação desta, o segurado não tiver atingido a idade para se

aposentar.

A Emenda Constitucional n. 41/2003 extinguiu os critérios de paridade e

integralidade, bem como trouxe outras regras de transição, acrescentando a

necessidade de vinte anos de tempo de serviço público, dez anos de tempo na

carreira e cinco anos no cargo, fora a idade e o tempo de contribuição.

E a Emenda Constitucional n. 47/2007 trouxe outra regra de transição, mais

benéfica, para os que ingressaram no serviço público até a promulgação da Emenda

Constitucional n. 20/1998, restabelecendo a integralidade e paridade plena, porém

aumentando o tempo no serviço público (vinte e cinco anos) e o tempo na carreira

(quinze anos).

Portanto, as reformas na Previdência Social trouxeram ao servidor público

mais vantagens do que desvantagens, podendo ele optar pelo que for mais

proveitoso, porém não retirando direitos já adquiridos por aqueles que já tinham

preenchidos os pressupostos necessários para perceber a aposentadoria.

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