Upload
maluandrade
View
63
Download
19
Embed Size (px)
Citation preview
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO E A INFLUÊNCIA DE MITOS QUE DIFICULTAM O ATENDIMENTO ESPECIALIZADO
Luciene da Silva Andrade1
Scheilla Abud2
RESUMO: Nas últimas décadas vem ganhando destaque, no cenário educacional brasileiro, questões a cerca da necessidade de se investir na educação de pessoas portadoras de altas habilidades/superdotação. Essa parcela de alunos, que até bem pouco tempo era basicamente ignorada nas salas de aulas, começa a chamar atenção para suas necessidades de atendimento especializado. Por que, durante tanto tempo essa parcela e alunos com necessidades especiais ficou no obscurantismo? O que levou as pessoas envolvidas no processo educativo a não perceberem estes alunos? Questões como estas são abordadas neste trabalho, que trazem os mitos e crenças como principais entraves ao atendimento especializado de alunos portadores de altas habilidades/superdotação. Trata-se de uma abordagem bibliográfico, que tem como suportes autores como Cupertino (2008), Pérez (2003), Cropley (1993), Aranha (2004), Delpretto (2010), Alencar (s.d.) entre, e documentos eletrônicos ou bibliográficos que tratam deste assunto, como o Plano Nacional de Educação (2011), a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), que subsidiaram esta pesquisa.
Palavras-Chave: Altas Habilidades/Superdotação. Educação Especial. Mitos e Crenças.
ABSTRACT: In the last decades has been gaining attention in the Brazilian educational scenario, questions about the need to invest in education for people with high abilities / giftedness. This group of students, who until recently was largely ignored in classrooms, begins to call attention to their needs for specialized care. Why so long that portion and students with special needs was in obscurity? What led people involved in education to these students do not realize? Questions like these are addressed in this work, which brings myths and beliefs as major barriers to specialized care for students with high abilities / giftedness. This is a bibliographic approach, whose supporters authors like Cupertino (2008), Perez (2003), Cropley (1993), Spider (2004), Delpretto (2010), between, and electronic documents or bibliographic dealing with this subject such as the National Education Plan (2011), the National Policy on Special Education in the Perspective of Inclusive Education (2008), which supported this research.
Keywords: High Abilities / Giftedness. Special Education. Myths and Beliefs.
1 Acadêmica do curso de Especialização em Educação Especial com Ênfase no AEE.
2 Orientadora.
2
INTRODUÇÃO
Diferentemente da maioria dos países do mundo, a superdotação no Brasil é predominantemente ignorada, quando se trata da prática educacional. Órgãos encarregados do estabelecimento das diretrizes de Educação e Saúde têm como hábito incluí-la, quando deliberam sobre Educação Especial. Como nos casos das deficiências, a superdotação deve ser avaliada, oferecendo-se ao indivíduo condições educacionais adequadas ao seu potencial. Na prática, não é o que acontece, salvo em casos isolados muito raros. Num país pleno de carências, não se considera relevante o atendimento diferenciado a quem já foi privilegiado com um dom especial. Os superdotados estão escondidos nas salas de aula comuns, como se seus talentos fossem invisíveis. (CUPERTINO, 2008)
As dificuldades de se identificar alunos com altas habilidades/superdotação
em salas de aula do sistema regular de ensino. Quando se fala em atendimento
especializado a essas pessoas, a insipiência a cerca desse atendimento é ainda
maior, sobretudo num país como o Brasil, onde a discussão desta temática é
recente, pouco mais que duas décadas, sobretudo após a instauração da Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Brasil, 2008),
onde a Educação Especial é definida como modalidade de ensino que perpassa por
todos os níveis da educação básica de modo transversal, no que diz respeito à
atuação do atendimento especializado.
Embora o Plano Nacional de Educação (Brasil, 2001), deixe claramente
definido a população a ser atendida pela Educação especial, quando refere que
A educação especial se destina a pessoas com necessidades especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiência física, mental ou múltipla, quer de características como altas habilidades, superdotação ou talentos (BRASIL, 2001, p. 55)
Contudo, os distúrbios de aprendizagem ocupam o cerne da educação
inclusiva, mas a preocupação em incluir os altas habilidades/superdotação, é
apenas um vislumbre do que deveria ser. A lei, nestes casos, não parece ser a
regra, mas a exceção. Os NAAHs (Núcleos de Atendimentos aos AH/SD) são em
número muito reduzidos. Há considerável oferta de cursos para Libras (Linguagem
de Sinais), Braile (Leitura para cegos) ou de uso e aplicação de Tecnologias
Assistivas. O que fica patente uma política que avança em direção a inclusão dos
deficientes nas escolas, no mercado de trabalho, na sociedade de modo geral.
3
Também há leis que punem e garantem aos deficientes o direito de não serem
discriminados por sua condição limitada. Por outro lado, não se percebe o incentivo
governamental em avançar sistematicamente no que tange os portadores de altas
habilidades, o que gera controvérsia, pois, embora reconheça a existência desses
alunos, o sistema regular de ensino acaba por negar o direito dessas pessoas ao
atendimento especializado.
Por outro lado, o que tem sido amplamente discutido com relação ao aluno
que se destaca por um potencial superior é que o ambiente educacional típico não
está preparado para atender de forma adequada as necessidades desse aluno. De
modo geral, o ensino regular é direcionado para o aluno médio e abaixo da média, e
o superdotado, além de ser deixado de lado neste sistema, é visto, muitas vezes,
com suspeita por professores que se sentem ameaçados diante do aluno que
questiona, que os pressiona, muitas vezes, com suas perguntas e comentários.
Muitos dos problemas que se observam entre alunos que se destacam por um
potencial superior têm a ver com o desestímulo e frustração sentidos por eles diante
de um programa acadêmico que prima pela repetição e monotonia e também por um
clima psicológico em sala de aula pouco favorável è expressão do potencial
superior. A escola não responde de forma adequada aos alunos que apresentam
habilidades intelectuais superiores, o que ajuda a explicar a apatia e ressentimento
às vezes apresentadas por alunos. Neste sentido, Cropley apud Aencar destaca:
Um número substancial de criança superdotadas inicia a escola com altas habilidades expectativas e grande entusiasmo (como é o caso de maior partes das crianças), mas logo se tornam frustradas e entediadas. Muitas entram em uma espiral de desapontamento, passando a rejeitar a instituição escola e/ou a duvidar de suas próprias habilidades e mesmo seu valor como pessoa. Muitas lidam com esta questão por meio de isolamento, hostilidade ou agressividade. Mas podem também aprender em uma idade precoce que tais problemas podem ser evitados adotando de forma deliberada a tática de fingir que são rebeldes. Este é um problema especialmente freqüente entre meninas e membros de grupos minoritários, dada a forte pressão para se conformar aos valores antagonísticos à alta realização na escola. (CROPLEYapud ALENCAR, s.d, p. 4)
O interesse por este estudo, parte do fato de que estes alunos estão dentro
da área de atendimento educacional especializada, mas por estarem na
heterogeneidade do processo de ensino regular, na maioria dos casos não são
identificados como portadores de necessidades especiais. Não obstante, necessitam
4
ser estimulados para desenvolverem plenamente suas capacidades e
potencialidades, tal como os deficientes, que encontram pronto auxílio e
compreensão por parte dos profissionais da educação.
REFERENCIAL TEÓRICO
Embora muito já se tenha falado em educação inclusiva no âmbito do
atendimento especializado, o assunto não se extingue. A literatura a esse respeito é
muito vasta. Mas, na prática, essa política afirmativa ainda é vaga em muitos
setores.
Historicamente, a educação especial no Brasil3, teve seu inicio já no Império,
com uma política de segregação que colocava em unidades de ensino
especializado, os alunos com alguma deficiência. Não havia uma preocupação em
fazer a inclusão desses aprendizes, mas o de explicitar a “incapacidade” destes.
Contudo, não se pode negar a importância da criação de institutos para cegos,
surdos, “aleijados”, etc., pois que a partir de sua instituição já se começa a dar
mostras de preocupação para com essa parcela da população.
Contudo, não nos ateremos aqui em fazer levantamento de marcos
excludentes, mas dos avanços que se faz em direção a superar as deficiências,
sobretudo na inclusão desses alunos nas escolas regulares.
Também não nos preocuparemos em fazer um aprofundamento de cada lei
que mostrou-se relevante para o conceito de inclusão. Aqui se busca fazer um breve
recorte das leis que amparam a educação especial no âmbito da inclusão de alunos
com necessidades especiais nas escolas regulares.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
– MEC/2008: conceitua educação especial e define como público os alunos
3 Informações de acordo com o documento do Ministério de Educação – Secretaria de Educação
Especial (MEC/SEESP), a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), elaborado por um grupo de trabalho nomeado pela portaria nº 948/2007, entregue ao ministro da educação em sete de janeiro de dois mil e oito. A referida comissão foi composta por profissionais da Secretaria de Educação Especial/MEC e por colaboradores (pesquisadores na área da educação) que discutiram e construíram em conjunto as novas diretrizes que subsidiarão as práticas educacionais nas escolas de nosso país. (http://www.partes.com.br/educacao/politicanaconaldeeducacao.asp)
5
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação.
Decreto Nº 6571/2008: dispõe sobre o atendimento educacional
especializado, complementar para o ensino regular para os alunos público
alvo da educação especial e seu financiamento por meio do Fundo e
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação - FUNDEB;
Decreto 6949/2009: ratifica a Convenção da ONU Sobre o Direito de Pessoas
com Deficiência com status de Emenda Constitucional, que adota o
paradigma da educação inclusiva;
Resolução 4/2009 do Conselho Nacional de Educação: institui as Diretrizes
Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação
Básica, modalidade Educação Especial.
Como se pode perceber, de um lado temos leis que amparam e investem no
sentido de se superar as deficiências de alunos e inseri-los no mercado de trabalho
e na sociedade dita inclusiva. Por outro, temos exatamente o contrário. Parece que
há uma tentativa de se deixar cair no esquecimento a existência dos portadores de
Altas Habilidades/Superdotação.
Ao que tudo indica, embora se mantenha uma política de apoio a esse
público, muito falta para se compreender a dimensão filosófica e política a cerca da
educação inclusiva. A atual concepção que se tem sobre Direitos Humanos se
fundamenta na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, que
reconhece a dignidade de todas as pessoas na universalidade e indivisibilidade
desses direitos.
[...] universalidade, porque a condição de pessoa é requisito único para a titularidade de direitos e indivisibilidade, porque os direitos civis e políticos são conjugados aos direitos econômicos, sociais e culturais. (ARANHA, 2004, p. 2)
Ao conjugar esses valores, a Declaração introduz a noção de igualdade, que,
ampliando-se, pode ser evidenciada como direito à diversidade, que, apesar de
universal não pode vir a descaracterizar a pessoa como ser humano, pelo contrário.
É no reconhecimento e no respeito às diferenças que ações de cidadãs são
6
alavancadas e erigidas em nome da construção do ser, do contrário todas as ações
seriam anacrônicas e não teríamos evolução.
O respeito à diversidade, portanto, é o princípio institucional de qualquer
sociedade, onde às oportunidades sejam direitos garantidos dos cidadãos, portanto,
o princípio da equidade deve-se fazer presente no contexto formativo de cidadania.
E uma sociedade inclusiva deve se fundamentar numa filosofia que reconheça e
valorize a diversidade.
Dito de outro modo, as condições de igualdade não significam privilégios, mas
dar condições para que os desiguais sejam educados para a igualdade, ou seja,
para que todos sejam educados para a alteridade, para a equidade, onde a
limitação, ou superdotação, não seja fator determinante para que oportunidades
sejam negadas. O que se deve oportunizar são tratamentos diferenciados, mas não
quer dizer que oportunizar privilégios, mas garantias de condições apropriadas de
atendimento às peculiaridades, para que todos possam usufruir dos mesmos
direitos.
A Constituição federal do Brasil assume o princípio da igualdade como pilar
fundamental de uma sociedade democrática e justa,quando reza em seu caput do
seu Art. 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, residentes no país, a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (CF – Brasil,
1988).
Mas para que a igualdade seja real, ela precisa ser relativa, isto é, as pessoas
são diferentes, portanto suas necessidades são diferentes e diversas, são singulares
e precisam ser respeitadas e aceitas em suas singularidades.
Assim sendo, os princípios filosóficos que embasam a educação inclusão, no
âmbito do atendimento educacional especializado, não podem estar dissociados da
própria natureza individual do ser humano, do contrário, condena-se o ser humano à
condição de não-ser. Nega-se a condição de cidadão em sua plena abrangência que
engloba todo um processo de ressignificação diária de si mesmo e do outro.
A própria lei exige que sejam garantidas as condições apropriadas de
atendimento às peculiaridade individuais, de forma que todos possam usufruir de
oportunidades existentes, sem a existência de privilégios, mas de disponibilização
7
de tratamento diferenciado no sentido de atender às condições exigidas na garantia
de igualdade.
Historicamente,
Segundo Pérez (2003: 45), embora a lei determine prazos para a formação e
preparação de professores para o atendimento especializado, a parcela
correspondente aos alunos com altas habilidades/superdotação ainda é a mais
negligenciada. Um dos maiores entraves para a efetivação desse atendimento está
nos preconceitos que geram mitos e crenças descabidas para o paradigma
educacional vigente. E os mitos, fazem com que a educação não avance de forma
igualitária, mantendo na sombra e excluindo.
Assim, na contramão do sistema, os altas habilidades/superdotados, acabam
por serem mantidos na sombra ou sufocados com metodologias insipientes e
improfícuas. Tudo porque o maior empecilho ao seu desenvolvimento pleno é o
medo do novo, é a falta de informação.
Etimologicamente falando, de acordo com Petrelli (2011),
A palavra mito vem do grego μύθος, e deriva de dois verbos: do
verbo μύθος (contar, narrar, falar alguma coisa para os outros) e do
verbo μύθος (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para
os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. (http://www.algosobre.com.br/filosofia/mito-e-filosofia.html)
Portanto, o mito surge para explicar os fatos que fogem à compreensão
humana, mas que precisa ser repassado por outra pessoa para imprimir
verossimilhança, fidedignidade, embora nem sempre comprovado, mas que deve ser
narrado por alguém que goze de certa respeitabilidade e confiança, para ser aceito.
Assim de acordo com Pérez (2003, p. 47),
O sentimento de amor/ódio em relação às PAHs vislumbrava-se no Renascimento, quando os “gênios” eram alvo dele e dos mitos que a sociedade criara para estas pessoas. Assim como quem apresenta uma deficiência é alvo de pena e comiseração, quem manifesta uma aparente vantagem é alvo de inveja e agressão. O primeiro é privado de manifestar suas potencialidades, em detrimento de sua desvantagem, enquanto que, ao segundo, é negada a existência de suas reais desvantagens. A PAH é encoberta por um manto de inverdades que ofusca sua visualização e, em conseqüência, seu atendimento, cuja necessidade, chega a ser inclusive questionada.
8
Os alunos com altas habilidades/superdotação, não encontram barreiras pra
sua entrada nas escolas de ensino regular, a maioria deles passa despercebida. Um
dos maiores mitos que se tem notícias diz respeito ao teste de QI, que está
diretamente ligado à concepção de inteligência, em que, de acordo com Delpreto
(2010: 19), está focada apenas no desempenho acadêmico, linguístico e lógico-
matemático, deixando de fora as diferentes aptidões e formas de expressão de
criatividade destes alunos, por exemplo.
Nestes termos, pode-se dizer que os testes de QI acabaram por tornar-se
obsoletos, uma vez que reduziam a capacidade do estudante a termos clínicos, tão
somente, passível de ser enquadrado sob o enfoque único e excludente da
psicologia. A capacidade extraescolar do aluno era dissociada do projeto escolar e
sua atuação fora dela não era levada em consideração. O que revela um profundo
lapso e descuido desse tipo de aferição intelectual.
Algumas pessoas escolhem concentrar-se em atividades extra-curriculares, como esporte ou música, e não se preocupam muito com as notas na escola; outras podem escolher ocupações que são pessoalmente significativas, mas que nunca vão gerar uma renda igual à que poderiam ter em atividades menos significativas. (STERNBERG apud CUPERTINO, 2008, p. 32)
Mitos como estes, contribuíram muito para fortalecer a ideia e que os altas
habilidades/superdotados só poderiam manifestar-se em diferentes áreas do
conhecimento, mesmo que as oportunidades adequadas de escolarização lhes
fossem ofertadas. O que era levado em consideração era apenas o fator
filogenético.
Historicamente, os mitos [...] surgem para explicar situações ou pessoas reais que a lógica humana não consegue compreender e têm sua raiz no medo ao novo que todo ser humano enfrenta. (PÉREZ, 2003, p. 46)
O maior e mais forte aliado do mito é o desconhecimento. A falta de
informação leva a aceitar e acreditar que os mitos são reais e, logicamente,
verdades incontestes. Segundo Extremiana apud Pérez (2003, p. 47-49) , os mitos
que mais favorecem a disseminação da ignorância a cerca do atendimento a
pessoas com altas habilidades/superdotação, podem ser assim classificados:
1. O termo em si
A diversidade de variações e conceitos contribui, em muito, para a confusão
no momento de identificar o aluno com altas habilidades/superdotação. Exemplo
9
disso está na definição que a Política Nacional de Educação especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva, de janeiro de 2008:
Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande desenvolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse.
Por outro lado, pesquisadores de renomada fama internacional, ramificam
essa categoria em duas categorias distintas: os superdotados- os que se destacam
nas áreas de lingüística e matemática; e os talentosos, enfocando apenas as áreas
que a escola privilegia.
2. O desconhecimento de suas características
Reconhecer alunos portadores de altas habilidades/superdotação não é tarefa
das mais fáceis. Isso é perceptível no modo como a maioria das pessoas, que tem o
primeiro contato com este assunto, questionam. Outro fator, dos mais graves por
sinal, é a postura do professor que não consegue perceber as dificuldades
emocionais do aluno frente à inadaptação do método proposto em sala de aula de
ensino regular, ou quando questionado pelo aluno nos conteúdos propostos.
Também se constata a desinformação na afirmação de diretores, supervisores e orientadores (principalmente de escolas públicas) que, ao serem indagados sobre alunos com AHs nas suas escolas, costuma garantir que “não existem pessoas assim” nos seus cotidianos. (PÉREZ, 2003, p.49)
3. A confusão com outros termos
Não raro as pessoas confundem o termo altas habilidades/superdotação com
outros fenômenos intelectuais, como talento, maturação precoce, gênios, etc. Some-
se a isso, os distúrbios de aprendizagem face ao não envolvimento com as
atividades propostas, a falta de interesse pelos conteúdos ministrados, a total apatia
em participações coletivas e, ainda, a hiperatividade. Assim, o aluno é tachado de
preguiçoso, aluno problema, etc. Cognomes pejorativos que em nada ajudam no
desenvolvimento pleno das capacidades do aluno, muito pelo contrário.
4. Atitude de rejeição e prevenção
Por medo do desconhecido, as pessoas acabam incorrendo na atitude de
rejeitar, de prevenir-se contra o surgimento de pessoas que podem superar outras
10
em conhecimento e desenvolvimento de suas capacidades. É uma atitude comum
entre professores despreparados quando se sentem ameaçados em seus “saberes”
e contestados em seus conhecimentos.
METODOLOGIA
O presente trabalho é de cunho bibliográfico, cuja temática escolhida se
justifica pela insipiência de materiais nesta área de atendimento educacional
especializado. Prova disso são os NAAHs, que são em números reduzidos por todo
o território brasileiro.
Apesar da própria Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmar sobre a
existência de, pelo menos 8 milhões de pessoas portadoras de Altas
habilidades/superdotação existirem no Brasil, poucas são as pesquisas que se
inclinam em direção a este fenômeno. Exemplo disso é a falta de estudos
aprofundados na maioria de cursos de Especialização Educação Especial com
ênfase na Educação Inclusiva, talvez por falta de contingente preparado para atuar
nas salas de pós-graduação.
A maioria das escolas brasileiras, sobretudo as públicas, não declara seus
alunos portadores de altas habilidades/superdotação, mas, ao declarem-se como
escolas inclusivas, apontam alunos que apresentam algum tipo de deficiência.
Mesmo sendo de cunho bibliográfico, esta pesquisa traz inserções que
também refletem a experiência pessoal desta autora que, ao longo de 23 anos como
professora de escolas públicas e privadas, presenciou a passagem de mitos e
crenças errôneas no sistema de ensino, como alunos que questionavam demais era
porque queriam atrapalhar o bom andamento da aula; ou de que alunos com altas
habilidades/superdotação seriam o mesmo que autoditadas; ou, ainda, que só há
comprovada manifestação de altas habilidades/superdotação em áreas de
desenvolvimento cognitivo, que só podiam ser percebidas a partir de testes de QI.
Contudo,
Vivemos, entretanto, um período em que esse tipo de avaliação, se tomado exclusivamente, pode ser questionado, já que há outras maneiras de manifestar os talentos nas situações de vida. Algumas delas sempre foram mais fáceis de identificar: as voltadas para as
11
artes ou esportes, por exemplo. Não precisamos de psicólogos, pedagogos ou pareceres científicos para afirmar o talento de esportistas ou artistas como o jogador de futebol Ronaldinho ou o tenista Guga. Nem como o escritor Jorge Amado, o poeta Vinícius de Moraes ou o músico Tom Jobim. Entretanto, só diante de definições mais recentes das altas habilidades essas pessoas podem ser consideradas, como os grandes cientistas, “superdotadas”, ou seja, pessoas que ao longo de suas vidas atualizaram suas altas habilidades. (CUPERTINO, 2008, p. 26)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o que foi exposto ao longo deste trabalho, os mitos ainda estão
no topo dos entraves que dificultam o atendimento especializado aos alunos com
altas habilidades/superdotação.
Embora muito já se tenha falado, ainda falta muito a ser explorado neste
campo da educação inclusiva. Se os alunos com altas habilidades/superdotação tem
acesso garantido às escolas de ensino regular, por outro lado, dentro da escola é
que sua exclusão começa a ser sentida.
As barreiras existem em todos os níveis da vida e fazem parte da
aprendizagem e maturação do ser humano, contudo, se um aluno deficiente é
colocado em uma sala de aula de ensino regular, nós, enquanto professores,
tomamos o cuidado de preparar materiais que lhe permitam a acessibilidade, muitas
vezes tirando de nosso próprio bolso os recursos materiais para seu melhor
desempenho. O mesmo não acontece com alunos altas habilidades/superdotados,
salvo raras exceções.
Na verdade não temos um olhar mais apurado, mais desvelado para esta
parcela tão excluída dentro da educação inclusiva, cuja atitude se ampara num mito
de que o aluno superdotado não precisa de atendimento educacional especializado
porque pode aprender mesmo sema a ajuda do professor.
Contudo, embora a inclusão tenha dado acesso a todos para ingressar nas
escolas, estima-se que quatro milhões de pequenos gênios caminham incógnitos
pelos corredores das escolas brasileiras. São superdotados, mas ninguém repara
nas suas habilidades. Quando vistos, não raro são incompreendidos. Identificá-los,
12
compreendê-los e valorizar o que neles há de melhor é um problema não só na
escola, mas inclusive dentro de casa.
A falta de conhecimento e o despreparo dos profissionais da educação em
identificá-los ainda é o maior entrave. A idade mental pode ser superior, mas a
emocional é igual a qualquer uma da mesma faixa etária. Ela requer atenção e até
um eventual acompanhamento terapêutico, para não virar um problema entre os
colegas. Isso acontece porque é comum ao leigo no assunto confundir um
superdotado com um hiperativo, o que acontece porque ambos são muito agitados e
terminam sendo igualmente rotulados como crianças-problema. Pesquisadores por
excelência, rico em hipóteses, quase sempre confirmadas pela capacidade intuitiva,
esses alunos colocam em xeque a autoridade do professor, muitas vezes iletrados
no assunto e que, por isso mesmo, se mostram indiferentes ou hostis ao se
depararem com crianças irrequietas e contestadoras.
A sala de aula pode virar um ambiente de frustrações e fracassos se a escola
não for capaz de perceber que a origem das dificuldades está num talento
extraordinário e na capacidade acima da média. Para piorar, há o mito de que não
há superdotado nas classes sociais mais pobres, ou que uma pessoa com altas
habilidades necessariamente vai bem em todas as disciplinas. Este é um dos
estigmas por que passa o AH/SD, pois acaba por se tornar, se não escamoteado por
outras necessidades, torna-se invisível, completamente ignorado pela escola, pelo
sistema, pela sociedade.
As pesquisas continuam a largos passos sobre as deficiências, e os
investimentos seguem essa regra. Todavia, no que diz respeito aos AD/SH, ainda
falta muito para se fazer, para se equiparar aos avanços que se propõe aos
deficientes não que deva parar tais avanços a cerca de deficiências. Mas, ainda
assim, o investimento é baixíssimo se comparado às outras modalidades de
necessidades especiais.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Criatividade e Educação de Superdotados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
ARANHA, Maria Salete Fábio. Educação inclusiva: a fundamentação filosófica. v. 1. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004.
13
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC, 2008.
CUPERTINO, Christina Menna Barreto (Organização). Um olhar para as altas habilidades: construindo caminhos/Secretaria da Educação, CENP/CAPE. São Paulo: FDE, 2008.
DELPRETTO, Bárbara Martins de Lima. (org.) A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: altas habilidades/superdotação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação especial: [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 10. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da inclusão Escolar)
PÉREZ, Susana Graciela Pérez Barrera. Mitos crenças sobre as pessoas com altas habilidades: Alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Cadernos de Educação Especial, Santa Maria, RS, v. 2, n.22, p. 45 – 59, 2003.
PETRELLI, Humberto Zanardo. Mito e Filosofia. In: http://www.algosobre.com.br/filosofia/mito-e-filosofia.html. Acesso em: 23 de dezembro de 2012.