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ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR PROVOCADAS EM RATOS PELA ADMINISTRAÇÃO DIÁRIA E PROLONGADA DE UM AGENTE CURARIZANTE ANTONIO CARLOS ZANINI Hipersensibilidade à acetilcolina desenvolve-se na membrana do músculo estriado, seja como efeito da desnervação 3 . - 2 , seja pela administração repe- tida e prolongada de drogas que bloqueiam a transmissão do influxo ner- voso ao nível da junção neuromuscular Alterações funcionais da placa terminal são também encontradas na miastenia grave, afecção na qual ocorre diminuição da resposta muscular ao estímulo nervoso normal e maior sensibilidade à ação dos agentes curari- zantes 2 > 4 . 6 > 7 - 8 . 1 2 . 1 3 , com características morfofisiológicas entrevistas "> lG ' 27 . Embora tenha sido demonstrada a presença de substâncias com ati- vidade curarizante no soro de pacientes miastênicos 1 4 . 1 8 . 2 0 . 2 1 2 \ ainda não se conseguiu esclarecer o papel desempenhado por estas substâncias 17 . No presente trabalho tentou-se reproduzir, em ratos, um quadro seme- lhante ao da miastenia grave, administrando diariamente o dimetiléter da d- tubocurarina, em doses pequenas, a fim de se verificar se o bloqueio parcial e repetido da placa motora poderia induzir alterações funcionais persisten- tes. Procurou-se, outrossim, averiguar se ocorreria, com este método, um aumento da suscetibilidade dos animais à ação do mesmo bloqueador da junção neuromuscular. MATERIAL E MÉTODOS A ratos adultos, machos, com peso médio de 180 g, foi administrado durante 8 semanas, uma vez por dia, o iodeto do dimetiléter da d-tubocurarina (DMT)**, pela via intraperitoneal (i.p.). Foram utilizados 30 animais, divididos em 3 lotes. Os ratos do primeiro lote foram submetidos à dose de 5,5 gama/kg/dia; no segundo lote, foi utilizada a dose de 16,6 gama/kg/dia; ao último lote, controle, foi admi- nistrado soro fisiológico. O volume injetado foi sempre 1 ml. Tais doses foram escolhidas após testes preliminares comportando variação mais ampla da posologia (5,5 a 22,2 gama/kg i.p.) e do esquema de administração. A fim de se avaliar o grau de bloqueio da junção neuromuscular, estabeleceu-se uma série de provas de força muscular. O método baseou-se na capacidade do ani- mal suportar o seu próprio peso em condições diversas, que receberam graus variá- Trabalho realizado no Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Prof. Charles E. Corbett): * Professor Assistente. Nota do autor Agradecemos o auxilio prestado pela técnica Maria José Costa.

ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR … · a formação e o mecanismo de liberação do mediador químico n>23; b) ... Functional changes of the neuromuscular junction

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ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR

PROVOCADAS EM RATOS PELA ADMINISTRAÇÃO DIÁRIA

E PROLONGADA DE UM AGENTE CURARIZANTE

A N T O N I O CARLOS Z A N I N I

Hipersensibilidade à acetilcolina desenvolve-se na membrana do músculo

estriado, seja como efeito da desnervação 3 . - 2 , seja pela administração repe­

tida e prolongada de drogas que bloqueiam a transmissão do influxo ner­

voso ao nível da junção neuromuscular

Alterações funcionais da placa terminal são também encontradas na

miastenia grave, afecção na qual ocorre diminuição da resposta muscular ao

estímulo nervoso normal e maior sensibilidade à ação dos agentes curari-

zantes 2 > 4 . 6 > 7 - 8 . 1 2 . 1 3 , com características morfofisiológicas já entrevistas "> l G ' 2 7 . Embora tenha sido demonstrada a presença de substâncias com ati­

vidade curarizante no soro de pacientes miastênicos 1 4 . 1 8 . 2 0 . 2 1 • 2 \ ainda não

se conseguiu esclarecer o papel desempenhado por estas substâncias 1 7 .

No presente trabalho tentou-se reproduzir, em ratos, um quadro seme­

lhante ao da miastenia grave, administrando diariamente o dimetiléter da d-

tubocurarina, em doses pequenas, a fim de se verificar se o bloqueio parcial

e repetido da placa motora poderia induzir alterações funcionais persisten­

tes. Procurou-se, outrossim, averiguar se ocorreria, com este método, um

aumento da suscetibilidade dos animais à ação do mesmo bloqueador da

junção neuromuscular.

M A T E R I A L E M É T O D O S

A ra tos adu l tos , m a c h o s , c o m p e s o m é d i o de 180 g, fo i a d m i n i s t r a d o du ran t e 8

s emanas , u m a v e z p o r dia, o i ode to d o d ime t i l é t e r da d - t u b o c u r a r i n a ( D M T ) * * , pe l a

v i a i n t r ape r i tonea l ( i . p . ) . F o r a m u t i l i zados 30 an ima i s , d iv id idos e m 3 lo tes . Os

r a to s d o p r i m e i r o l o t e f o r a m s u b m e t i d o s à d o s e de 5,5 g a m a / k g / d i a ; no s e g u n d o

lo te , fo i u t i l i zada a d o s e de 16,6 g a m a / k g / d i a ; a o ú l t i m o lo te , c o n t r o l e , foi a d m i ­

n i s t r ado s o r o f i s i o l ó g i c o . O v o l u m e in je t ado foi s empre 1 ml . T a i s doses f o r a m

e s c o l h i d a s a p ó s tes tes p re l imina re s c o m p o r t a n d o v a r i a ç ã o ma i s a m p l a da p o s o l o g i a

(5 ,5 a 22,2 g a m a / k g i .p.) e d o e s q u e m a de a d m i n i s t r a ç ã o .

A f i m de se a v a l i a r o g r a u d e b l o q u e i o da j u n ç ã o n e u r o m u s c u l a r , e s t abe l eceu - se

u m a sér ie de p r o v a s de f o r ç a m u s c u l a r . O m é t o d o b a s e o u - s e na c a p a c i d a d e d o an i ­

m a l s u p o r t a r o seu p r ó p r i o peso e m c o n d i ç õ e s d iversas , q u e r e c e b e r a m g r a u s va r i á -

T r a b a l h o r e a l i z a d o n o D e p a r t a m e n t o de F a r m a c o l o g i a da F a c u l d a d e de M e d i c i n a

d a U n i v e r s i d a d e de S ã o P a u l o (Prof . Char les E. C o r b e t t ) : * P r o f e s s o r Ass i s ten te .

Nota do autor — A g r a d e c e m o s o a u x i l i o p re s t ado pela t é c n i c a Mar i a José Cos ta .

v e i s de O a 5 ( f i g . 1 ) : grau O — o r a to s o b e n u m b a s t ã o c o l o c a d o qua l ba r ra f ixa , c o n s e g u i n d o e l e v a r o seu peso c o m a s pa t a s d ian te i ras ; grau 1 — o r a to n ã o c o n ­s e g u e sub i r n o bas t ão , m a s ne le se m a n t é m s e g u r o n o m á x i m o p o r u m m i n u t o ; grau 2 — o a n i m a l ca i d o ba s t ão an te s de d e c o r r i d o s 5 s e g u n d o s , n ã o c o n s e g u i n d o s u p o r t a r o seu peso c o m as pa t a s d ian te i r a s ; grau 3 — o r a t o ca i de u m a g r a d e c o ­l o c a d a e m p o s i ç ã o ve r t i ca l , c o n d i ç ã o e m q u e u t i l iza as 4 p a t a s pa ra sus ten ta r t o d o o seu p e s o ; grau 4 — o a n i m a l ca i da g r a d e e m i n c l i n a ç ã o d e 46° , apenas supor ­t a n d o , nes ta p o s i ç ã o , u m a pa r t e d o seu p e s o ; grau 5 — o r a to p e r m a n e c e de i t ado , n ã o c o n s e g u i n d o l o c o m o v e r - s e n o p l a n o h o r i z o n t a l .

Os g r a u s de f o r ç a a c i m a desc r i t o s f o r a m t a m b é m e s t a b e l e c i d o s nos tes tes pre­l iminares , nos qua i s as m e d i d a s de f o r ç a m u s c u l a r e r a m fe i tas d i a r i a m e n t e an tes d a i n j e ç ã o e en t re 10 a 30 m i n u t o s a p ó s a a d m i n i s t r a ç ã o d o a g e n t e cu ra r i zan t e . M e d i a n t e es tes ensa ios inic ia is , v e r i f i c o u - s e q u e o m e l h o r p e r í o d o pa ra a a v a l i a ç ã o d a f o r ç a m u s c u l a r dos a n i m a i s era en t r e 15 e 20 m i n u t o s a p ó s a i n j e ç ã o da d r o g a e q u e tais d e t e r m i n a ç õ e s de l ô r ç a p o d e r i a m ser fe i tas a p e n a s u m a v e z po r s emana , a o i n v é s de d i a r i a m e n t e .

T o d o s os r e su l t ados f o r a m s u b m e t i d o s à aná l i s e de v a r i â n c i a e a o tes te de c o n ­

t ras te de T u k e y 2*.

R E S U L T A D O S

Os r e su l t ados da a d m i n i s t r a ç ã o d iá r ia e p r o l o n g a d a d o D M T f o r a m a v a l i a d o s

de a c o r d o c o m o m é t o d o desc r i to , pe lo c o n f r o n t o d a f o r ç a m u s c u l a r an tes e a p ó s a

i n j e ç ã o in t r ape r i tonea l da re fe r ida subs t ânc i a .

A s m e d i d a s de fo rça m u s c u l a r an tes da i n j e ç ã o da d r o g a , i n d i c a r a m ( q u a d r o 1

e 3 e t a b e l a s 1 e 3 ) d i m i n u i ç ã o p r o g r e s s i v a e s i gn i f i can t e da f o r ç a m u s c u l a r ( p -

0 , 0 1 ) . J£ de se no ta r , en t r e t an to , que nos r a tos s u b m e t i d o s à d o s e ma io r , i s to éí

d e 16,6 g a m a / k g / d i a , a f r aqueza m u s c u l a r m a n i f e s t o u - s e m a i s p r e c o c e m e n t e d o q u e

n o s s o b in f luênc ia de 5,5 g a m a / k g / d i a , a l é m de ser ma i s a c e n t u a d a a h i p o t o n i a .

E m c o r r e s p o n d ê n c i a c o m o e fe i to ma i s in tenso , o o s e r v o u - s e . e m a l g u n s ca sos , d imi ­

n u i ç ã o p e r m a n e n t e da f enda pa lpeb ra l .

A m e d i d a da f o r ç a m u s c u l a r , 15 m i n u t o s a p ó s a i n j e ç ã o d o D M T ( i . p . ) , m o s t r o u

q u e a d o s e de 5,5 g a m a / k g / d i a n ã o c a u s a a l t e r a ç ã o a p r e c i á v e l nas d e t e r m i n a ç õ e s

in ic ia is . C o m o d e c o r r e r da e x p e r i ê n c i a , en t r e t an to , essa m e s m a dose passa a p r o ­

duz i r b l o q u e i o m e n s u r á v e l ( q u a d r o 2 e t abe l a 2 ) , s endo p = 0,01. A dose de 16,6

g a m a / k g , p o r é m , c a u s o u b l o q u e i o de in tens idade v a r i á v e l j á às p r ime i r a s d e t e r m i ­

n a ç õ e s . E m méd ia , esse b l o q u e i o a u m e n t o u s i g n i f i c a t i v a m e n t e nas s e m a n a s s e g u i n ­

tes ( q u a d r o 4 e t a b e l a 4 ) , s endo p = 0,05. C o m p o r t a m e n t o p e c u l i a r t e v e u m ani ­

m a l que , s u b m e t i d o à dose de 16,6 g a m a / k g , n ã o ap re sen tou b l o q u e i o a p r e c i á v e l

a p ó s a p r ime i ra a d m i n i s t r a ç ã o d o c u r a r e ; na s e g u n d a semana , c o n t u d o , essa m e s m a

dose c a u s o u b l o q u e i o n e u r o m u s c u l a r c o m p l e t o , c o m m o r t e po r pa rada resp i ra tór ia .

C o m o p r o s s e g u i m e n t o da e x p e r i m e n t a ç ã o , o b s e r v o u - s e uma d i f e rença ent re os

d o i s lo tes de a n i m a i s s u b m e t i d o s à a ç ã o d o D M T . E n q u a n t o os ra tos q u e r e c e b i a m

5,5 g a m a / k g / d l a a p r e s e n t a r a m u m a u m e n t o s i gn i f i c a t i vo , e m b o r a d i sc re to , da in­

t ens idade d o b l o q u e i o n e u r o m u s c u l a r ( f i g . 2-A, q u a d r o s 1 e 2 ) , os q u e r e c e b i a m

16,6 g a m a / k g / d i a a p r e s e n t a r a m , a par t i r da 5» s e m a n a , u m a d i m i n u i ç ã o p r o g r e s ­

s iva e s i gn i f i can t e d o e fe i t o in ib idor da d r o g a ( f ig . 2-B, q u a d r o s 3 e 4 ) .

N o l o t e - c o n t r ô l e de a n i m a i s r e c e b e n d o d i a r i a m e n t e 1 ml d e s o l u ç ã o c l o r e t a d a

i s o t ô n i c a n ã o se o b s e r v o u a l t e r a ç ã o d o c o m p o r t a m e n t o , s a l v o a l g u n s r a ros c a s o s e m

q u e a f o r ç a m u s c u l a r b a i x o u pa ra o g r a u 1 ( q u a d r o 5 e t a b e l a 5 ) .

C O M E N T A R I O S

A diminuição da força muscular apresentada por ratos submetidos à ad­

ministração prolongada e diária do DMT, avaliada quando já cessou a ati­

vidade curarizante dessa droga, e a maior sensibilidade que os animais de­

senvolvem à ação bloqueadora do D M T podem ser relacionadas com o apa­

recimento de alterações funcionais provocadas pela ação repetida dessa subs­

tância sobre a junção neuromuscular.

Os resultados obtidos com a administração das doses de 5,5 gama/kg/dia

e 16,6 gama/kg/dia foram semelhantes nos dois lotes de animais, no que

concerne à diminuição da força muscular, avaliada 24 horas após a injeção

i.p. do DMT. Entretanto, a suscetibilidade à ação curarizante do DMT, de­

terminada logo após a injeção, mostrou um comportamento diverso desses

dois lotes: enquanto a dose de 5,5 gama/kg causou um aumento progressivo

do bloqueio neuromuscular nas 8 semanas de experimentação (fig. 2 -A) , o

efeito inibidor provocado pela dose de 16,6 gama/kg aumentou no início,

mas diminuiu significantemente após a 5* semana (fig. 2-B).

Numa tentativa para explicação desses resultados, pelo menos dois fe­

nômenos devem ser considerados: a) alterações pré-juncionais envolvendo

a formação e o mecanismo de liberação do mediador químico n > 2 3 ; b) alte­

rações da sensibilidade da placa terminal à aceti lcol ina 1 0 . 2 2 .

Assim, numa fase inicial, a ação repetida do D M T sobre a placa ter­

minal, impedindo a atividade normal do mediador químico, provocaria dimi­

nuição da sensibilidade da placa terminal à acetilcolina e alterações pré-

juncionais ao nível da terminação nervosa, o que explicaria a fraqueza mus­

cular progressiva e a maior sensibilidade à ação curarizante do D M T ob­

servada nos dois lotes de animais (fig. 2-A e 2-B).

Numa fase ulterior, observada somente no lote submetido à dose de 16,6

gama/kg quando os ratos apresentam bloqueio intenso da junção neuromus­

cular (quadro 4 e fig. 2-B), desenvolver-se-ia uma hipersensibilidade do mús­

culo à acetilcolina por um fenômeno semelhante ao da "desnervação farma­

cológica" i n , diminuindo em conseqüência a sensibilidade dos animais à ação

curarizante do DMT. Apesar desta menor suscetibilidade ao D M T , os ani­

mais continuam a apresentar fraqueza muscular, muito embora se pudesse

esperar uma melhora deste quadro, condicionada à hipersensibilidade da placa

motora à acetilcolina. Para explicar os resultados obtidos nesta fase da

experimentação, pode-se admitir que as alterações pré-juncionais na termi­

nação nervosa são persistentes e independem da sensibilidade da placa à ace­

tilcolina.

O acúmulo do D M T no organismo 1 5 pode ter influído nos resultados.

Entretanto, a diminuição do bloqueio neuromuscular causado pela dose de

16,6 gama/kg numa fase em que era bastante acentuada a fraqueza dos

animais (fig. 2-B) , sugere que, ao menos em parte, a administração repe­

tida do D M T provoca alterações funcionais da junção neuromuscular que

independem da presença do agente curarizante.

Baseado nos resultados obtidos em condições experimentais, pode-se su­

por que o aparecimento da sintomatologia da miastenia grave esteja rela­

cionado com a presença de substâncias curarizantes no sangue. Estas subs­

tâncias produziriam bloqueio neuromuscular discreto, porém constante, que

levaria a graus diversos de alterações morfofisiológicas, variáveis com a sus-

cetibilidade individual. A propósito já se demonstrou 2 6 , em ratos, que essa

suscetibilidade individual varia com a idade e o sexo.

Por outro lado, a melhora clínica obtida em miastênicos com a tera­

pêutica pela curarização p r o l o n g a d a 1 - 5 . 1 8 seria explicada pela hipersensibi-

1 idade da placa terminal à acetilcolina, em virtude da "desnervação farma­

cológica".

RESUMO

A ratos adultos, machos , foi adminis t rado durante 8 semanas, uma vez

ao dia, o iode to do dimet i lé ter da d- tubocurar ina ( D M T ) , pela via intra­

peri toneal . Os animais fo ram distr ibuídos e m 3 l o t e s : os do 1.°, r e cebe ram

5,5 g a m a de D M T / k g / d i a ; os d o 2.°, 16,6 g a m a / k g / d i a ; os d o 3.° ( c o n t r o l e ) ,

1 ml da so lução isotônica de c lo re to de sódio. A fo rça muscu la r dos ani­

mais foi avaliada u m a vez por semana, de a c o r d o c o m o m é t o d o descr i to n o

texto , antes e após a in jeção intraperi toneal da refer ida substância.

C o m o decor re r da exper imentação , observou-se q u e : a ) houve dimi­

nu ição signif icat iva da fo rça muscu la r dos animais, avaliada após esvaeci¬

m e n t o da at ividade curar izante do D M T ; b ) a de t e rminação da fo rça m u s ­

cular, feita l o g o após a injeção, mos t rou que a dose de 5,5 g a m a / k g / d i a

p rovoca u m aumen to da suscetibil idade dos animais à a ç ã o curar izante d o

D M T ; c ) o efe i to inibidor p r o v o c a d o pela dose de 16,6 g a m a / k g / d i a d e D M T

aumentou no iníc io mas diminuiu s ignif icantemente após a 5ª semana, mui ­

t o e m b o r a houvesse uma progressiva d iminuição da fo rça muscular , suge­

r indo independência entre os dois efei tos. C o m base nesses resultados, são

discutidos alguns fenômenos que p o d e m oco r r e r na ins ta lação e t ra tamento

da miastenia grave .

S U M M A R Y

Functional changes of the neuromuscular junction induced in rats by

a daily and prolonged ministration of a curare agent

Dimethy le the r o f d- tubocurar ine iodide ( D M T ) w a s adminis tered daily,

b y intraperi toneal route, t o adult male rats during 8 weeks . T h e animals

w e r e divided in three g r o u p s : the animals of the first g r o u p w e r e g iven

5.5 g a m a / k g / d a y o f D M T ; those of the second g r o u p w e r e given 16.6 g a m a /

k g / d a y ; the rats of the 3rd ( the cont ro l g r o u p ) , rece ived 1 c m 3 o f isotonic

saline solution. T h e animals muscu la r fo r ce was evaluated o n c e a w e e k

r ight before and after intraperi toneal inject ion of the drug.

Dur ing the course of the trial, it was n o t e d : a) a significant reduct ion

of the animals muscu la r force , evaluated after d isappearance o f the D M T

curar izing ef fec t ; b) measurements of muscu la r force , pe r fo rmed straight

after the injection, showed that a 5.5 g a m a / k g / d a i l y dose induced an in­

c rease of the animals susceptibi l i ty to the b lock ing act ion of D M T ; c ) the

inhibi tory effect induced b y D M T 16.6 g a m a / k g daily dose increased at the

beginning bu t decreased significantly after the 5th w e e k o f the trial, despite

a progress ive decrease in muscu la r f o r ce suggest independence of the t w o

effects . Based on these results, s o m e o f the phenomena that m a y o c c u r at

the heginning and during t rea tment of myas thenia gravis are discussed.

R E F E R Ê N C I A S

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Departamento de Farmacologia — Faculdade de Medicina da USP — Caixa Postal 2921 — São Paulo, SP — Brasil.