ALTERIDADE E AUTONOMIA: Noções em construção · PDF filerespeitando os princípios de alteridade e de autonomia dos indivíduos. ... Ensinar exige o reconhecimento e a assunção

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  • ALTERIDADE E AUTONOMIA: Noes em construo

    Autora: Nely Aparecida Rizzoli Moratelli Orientadora: Tnia Maria Rechia Schroeder

    RESUMO

    O presente artigo aborda questes referentes ao trabalho docente no espao da sala de aula, palco de tenses, e as dificuldades de desenvolvimento do trabalho do professor neste cenrio. Objetivando encontrar caminhos para melhorar as relaes interpessoais em sala de aula, desenvolvemos um projeto de interveno no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que teve como escopo propiciar aos professores do Colgio Estadual Alberto Santos Dumont em Cafelndia PR, um aprofundamento terico das noes de alteridade e autonomia a partir de Paulo Freire e Rubem Alves. Partimos do pressuposto de que para melhorar as relaes interpessoais em sala de aula necessrio conhecimento cientfico sobre o acolhimento das diferenas nos modos de ser e de viver de todos os membros da escola. A implantao do projeto realizou-se por meio de oficinas ancoradas na fundamentao terica, em filmes, imagens, poemas e msicas com professores das sries finais do Ensino Fundamental e Ensino Mdio, em razo de compreendermos a oficina pedaggica como uma metodologia de trabalho caracterizada pela construo coletiva de um saber, de anlise da realidade, de confrontao e intercmbio de experincias (CANDAU, 1999, p.23).

    Palavras-chaves: Trabalho Docente. Alteridade. Autonomia.

    Professora Pedagoga com formao em Pedagogia,Especialista em Orientao,Superviso e administrao escolar da rede estadual de educao do Paran,Colgio Estadual Alberto Santos Dumont - Ensino fundamental e mdio,Cafelndia,NRE Cascavel,PDE 2012/2013. Professora do curso de Pedagogia do campus de Cascavel e do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Estadual do Oeste do Paran. Doutora em Educao pela Universidade Estadual de Campinas.

    INTRODUO

    Para este trabalho escolhemos o tema da alteridade e da autonomia por

    compreendermos que a educao formal deve trabalhar de maneira a ensinar

    virtudes e no focalizar exaustivamente os "vcios".

    Advogamos que um indivduo que possui um nvel de autonomia baseado em

    princpios ticos e morais de convivncia de seu grupo social, certamente tomar

    decises que considerem o princpio da alteridade.

  • Pretendeu-se aqui que a formao dos professores no se restrinja a questo

    de domnio de contedos especficos de sua rea de atuao, mas uma reflexo

    contnua em torno de todas as variveis que ocorrem na sua prtica diria e que so

    difceis de prever, isto , as relaes interpessoais em sala de aula que, por vezes,

    so deveras conflituosas por falta de habilidade das pessoas envolvidas em

    respeitarem o outro.

    Para esse fim, entretanto, tornou-se necessrio que o professor tivesse

    elementos tericos nos quais pudesse apoiar-se cientificamente para fazer sua

    anlise e modificar, posteriormente, sua atitude.

    [...] A competncia tcnica cientfica e o rigor de que o professor

    no deve abrir mo no desenvolvimento do seu trabalho, no so

    incompatveis com a amorosidade necessria s relaes educativas. Essa

    postura ajuda a construir o ambiente favorvel construo do

    conhecimento onde o medo do professor e o mito que se cria em torno de

    sua pessoa vo sendo desvelados (OLIVEIRA apud FREIRE, 2001, p.11).

    Foi nosso propsito instaurar o debate sobre as noes de alteridade, como

    algo a ser construdo de forma efetiva na ao docente e contribuir para a

    implantao de aes que acolham as diferenas na vida em sociedade e na escola

    de forma autnoma como uma capacidade desenvolvida num ciclo contnuo de ao

    e reflexo por parte dos professores e alunos, no qual suas decises tenham

    consequncias reais na melhoria das relaes de convivncia, e a encontramos

    como ncleo dessa ao, a noo de responsabilidade.

    O trabalho da construo da autonomia fundada na alteridade, que se

    apresentou como um projeto, parte da constatao de que ainda no temos a

    autonomia configurada da forma como julgamos que ela deveria ser. Entretanto,

    temos j em nossas escolas algumas condies que podero ser exploradas, como

    ponto de partida de nosso caminho.

    O que se exigiu dos professores, para essa tarefa, foi, fundamentalmente, um

    maior aprofundamento sobre questes que norteiam as relaes interpessoais

    instrumentalizando-o com subsdios tericos e prticos na escolha de metodologias

    que favoream o processo de ensino e de aprendizagem em sala de aula, com uma

    conscincia crtica e o propsito firme de ir ao encontro das necessidades concretas

    de sua sociedade e de seu tempo histrico.

  • Esse trabalho tem a inteno de contribuir, modestamente, para a promoo

    de reflexes que auxiliem a todos os envolvidos no processo de ensino e

    aprendizagem escolar a compreenderem que a prtica pedaggica uma tarefa

    extremamente complexa que requer a habilidade de problematizar constantemente

    as contingncias da sala de aula. Para tanto, necessrio um trabalho sistemtico e

    contnuo para a formao de profissionais com competncias para ensinar

    respeitando os princpios de alteridade e de autonomia dos indivduos.

    ALTERIDADE E AUTONOMIA

    Ensinar exige respeito autonomia do outro, saber necessrio prtica

    educativa, e que se funda no inacabamento, fala do respeito do ser do educando:

    jovem, criana, adulto. A afetividade como respeito autonomia e dignidade

    emerge de uma exigncia radical constituda no relacionamento com o aluno, no

    encontro com o educando, pois o respeito autonomia e dignidade de cada um

    um imperativo tico, e no um favor que podemos ou no conceder uns aos outros.

    (FREIRE, 1999, p.66).

    relevante salientar que o professor necessita, alm de mtodos e tcnicas,

    ser cauteloso em cuidar do aspecto da sensibilidade humana de relacionamento e

    comunicao e busque sua prpria autonomia. De acordo com Alves... o professor,

    alm de exercer o ensino abstrato das disciplinas: preciso que ele se transforme

    num mestre de prazeres.... (ALVES, 2002, p.114).

    Assim o trabalho do professor no se reduz ao domnio de contedos

    especficos de sua rea de atuao, mas uma reflexo contnua em torno de todas

    as variveis que ocorrem na prtica diariamente e que so difceis de prever, isto ,

    as relaes interpessoais em sala de aula que, por vezes, so deveras conflituosas

    por falta de habilidade das pessoas envolvidas em respeitarem os princpios de

    alteridade e de autonomia.

    necessrio que o professor transcenda os limites que se apresentam

    inscritos em seu trabalho, superando uma viso reducionista da prtica, na qual os

    problemas se resumem a questes especficas do conhecimento curricular que,

    embora sejam muito importantes, necessrio refletir criticamente de modo a tomar

    conscincia de seu fazer pedaggico.

  • Xavier (2002) ressalta a necessidade de que o desenvolvimento do trabalho

    docente seja constantemente analisado, questionado, avaliado, confrontado de

    maneira a construir uma prtica pedaggica que promova aprendizagens de

    qualidade em sala de aula. Em razo disso, mister que o professor paute-se em

    conhecimento cientfico para proceder s anlises e modificaes de sua prtica.

    Paulo Freire (1998) argumenta que a docncia um exerccio educativo que

    deve estar orientado para a transformao por meio do dilogo. Mas um dilogo

    ousado, motivado por uma prtica inconformada com as injustias sociais e

    concomitantemente nutrida pelo profissionalismo e pelas virtudes inerentes a essa

    profisso.

    Da uma das caractersticas bsicas da docncia que trabalhamos nas

    oficinas: o dilogo, que formulado como eixo e selo da relao gnosiolgica

    (FREIRE, 1998, p.6).

    O professor precisa, portanto, assumir o dilogo como princpio orientador de

    sua prtica. Isto, em outras palavras, implica na abertura ao conhecimento e ao

    universo dos alunos, a fim de melhor compreend-los e com eles trocar

    conhecimentos.

    Implica igualmente na cooperao que decorre da diminuio de distncias

    entre professores e alunos, engendrando uma mtua transformao. Possibilidade

    que pode ser exercitada no contexto escolar principalmente no espao da

    construo do conhecimento nas oficinas pedaggicas.

    Iniciamos o trabalho com a apresentao do projeto de interveno e do

    cronograma de aplicao aos professores participantes. Foram realizados debates

    sobre a viabilidade de aplicao do material proposto e sobre a abordagem da

    oficina pedaggica que foi apresentada como uma metodologia de trabalho em

    grupo, caracterizada pela construo coletiva de um saber, de anlise da realidade e

    de confrontao e intercmbio de experincias (CANDAU, 1999).

    O projeto foi implantado em uma turma de professores de vrias disciplinas

    do Ensino Fundamental e Ensino Mdio do Colgio Estadual Alberto Santos Dumont

    de Cafelndia - Pr. As oficinas foram realizadas por meio de comparao e troca de

    experincias atravs de fundamentao terica e prtica, fazendo-se uso de textos

    dos autores aqui referidos, filmes, dinmicas, imagens, poemas e msicas.

    Enfocamos, para uma sensibilizao inicial, a valorizao de si mesmo cuja

    finalidade era a de despertar para a valorizao de si e encontrar-se consigo e com

  • seus valores. Para isso fizemos a dinmica do espelho, ouvimos a musica s o

    amor da Legio Urbana e assistimos os slides A fbula das pulgas. Discutimos a

    letra da musica fazendo um confronto com nossas realidades e com a fbula. Ao

    final compartilhamos como cada um se