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8/16/2019 Alteridade Em Fernando Pessoa
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OS “EUS” DE FERNANDO PESSOA PARA (RE) PENSAR A EDUCAÇÃO
MULTICULTURAL: A CONFLUÊNCIA TEÓRICA DA ALTERIDADE NA POESIA
Fernando Jorge Santos Farias1
Resumo:
O entrelaçamento dos heterônimos de Fernando Pessoa com a teoria multicultural apresenta
indicativos que apontam para a realização de algumas reflexes te!ricas e a necessidade de uma
pr"tica pedag!gica em que se tem como direcionamento a apropriação da teoria multicultural#
$ssim% o tra&alho o&'etiva discutir a possi&ilidade de se fazer uso da produção heteron(mica
fernandina para ampliar a compreensão de educação multicultural e refletir so&re os )eus* de
Fernando Pessoa% expressando multiculturalismo# +rata,se de um estudo explorat!rio com um
enfoque qualitativo e a&ordagem cr(tico,dial-tica% caracterizada pela reflexão so&re o
posicionamento de alguns autores que se voltam a tem"tica analisada# .ntre os resultados de nossa
reflexão% destaca,se a necessidade de um modelo educacional que este'a comprometido com os
)silenciados* tanto na escola /curr(culo0 como na sociedade de modo geral# Sinaliza assim% que tal
anseio pode ganhar em&asamento na utilização dos heterônimos do poeta portugus# 2esta forma% o
estudo conclui que se deve dar continuidade a compreenses respons"veis por conscientizar
educadores/as0 e educandos/as0 de uma educação multiculturalmente comprometida% assim como h"a sugestão para os educadores/as0 de que estes se apropriem de outras vias de entendimento de uma
eq3idade social e educacional que não elimina o diferente e possi&ilita a visualização do ser no
outro% contemplando as pr"ticas de alteridade por meio da poesia#
Paa!"as#$%a!e: 4eterônimos pessoano# 5ulticulturalismo# $lteridade po-tica
I&'"ou*o
6este tra&alho procuraremos desenvolver uma reflexão te!rica em que o&servamos a
necessidade de se apropriar da teoria multicultural cr(tica via&ilizando a alteridade# Para tal
realização% procuramos fazer uso dos heterônimos de Fernando Pessoa% uma vez que
1 Pedagogo e concluinte da .specialização em .studos 7ing3(sticos e $n"lise 7iter"ria pela 8niversidade do .stado doPar", 8.P$# 9 .ducador Popular dos Pro'etos .ducação Popular :om :rianças e $dolescentes da ;lha do Outeiro <;SS$=>P$ e Sa&eres da +erra da $mazônia Paraense < .ducação do :ampo# Faz parte do 6?cleo de .ducação PopularPaulo Freire < 6.P>P$# $tualmente% direciona,se a estudos relacionados aos Sa&eres :ulturais e a .ducação na
$mazônia# nando'farias@Aahoo#com#&r
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compreendemos neste escritor% pontos representativos de uma miscelBnea cultural% muitas vezes%
pro&lematizada pela diferença social# ;nicialmente% pontuaremos algumas discusses em torno da
educação multicultural cr(tica e em seguida% destacaremos um ponto de poss(vel conexão entre a
teoria multicultural e a produção de heterônimos pessoano em que neste momento% perce&emos a
questão da alteridade po-tica# Para destacar mais o que propomos% traçamos um terceiro ponto em
que discutimos a questão dos heterônimos para evidenciar a multiplicidade na concepção>id-ia
tra&alhada pelo poeta portugus% a ponto de destacar nesta% a aceit"vel tarefa de us",la em sala de
aula% em &usca de educação multicultural cr(tica% caracterizada por perce&er os anseios do outro a
partir de seus referenciais e não dos nossos#
Poes+a ,e"&a&+&a e +&'e"$u'u"a+ae $"-'+$a: a a'e"+ae em .ues'*o
O estudo do multiculturalismo cr(tico na poesia de Fernando Pessoa direcionou,se para a
produção heteron(mica pessoana avistando,a como um poss(vel recurso na compreensão da teoria
multiculturalista do curr(culo escolar% compreendendo,a como possi&ilidade de construir caminhos
direcionados a valorização e respeito C cultura% raça% etnia% classe social% gnero e concepção de
mundo muitas vezes pertencentes ao outro# .nfaticamente% afirmamos que a relevBncia de estudar
esse procedimento - pautada por n!s% no fato de ser perce&(vel uma sociedade cada vez mais
individualista% em que se procura valorizar somente o )eu*% ignorando,se as questes do outro#
O&servamos que os temas )multiculturalismo* e )poesia pessoana* podem ressignificar a
pr"tica pedag!gica% no que tange C relação dos fatos sociais com as representaçes sim&!licas da
expressão po-tica# .sse procedimento suscita nos alunos o interesse pela poesia% e% so&retudo% o
respeito e valorização dos )silenciados* ou )diferentes*% como um aspecto da cidadania# D luz da
teoria multiculturalista% entendemos ser poss(vel nos dias atuais% a solidariedade e o respeito ao
diferente% compreendendo todo e qualquer pluralismo de id-ias somado C autonomia quer se'a
individual% quer se'a coletiva% refletindo em algo presente em n!s seres humanosE a nãouniformização#
$ssim% o espelhamento da teoria multiculturalista com a po-tica fernandina teve como
pressuposto te!rico a concepção de interculturalidade cr(tica% uma vez que esta discute como
podemos entender e at- resolver os pro&lemas gerados pela heterogeneidade cultural% pol(tica%
religiosa% -tnica% racial% comportamental% econômica% '" que temos um conv(vio marcado pela
diferença% reconhecendo que para o multiculturalismo% em uma visão mais cr(tica% os su'eitos
sociais>educacionais nunca seriam>serão tipos identit"rios )puros*# :a&e ainda a sugestão de Santos
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/GG10% ao destacar a necessidade de se reconhecer Cs diferenças dentro das diferenças sendo isto
essencial para que não se recaia em generalizaçes e homogeneizaçes das mesmas# 2e fato%
concordamos que as s(nteses culturais fazem com que todos se'am constitu(dos no hi&ridismo#
$o lidar com o m?ltiplo% o diferente% o diverso e o plural% o multiculturalismo encara as
identidades plurais como a &ase de constituição das sociedades# 7eva em consideração a
pluralidade>diferença de raças% gneros% religies% sa&eres% culturas% linguagens e outras
caracter(sticas identit"rias para sugerir que a sociedade - m?ltipla e que tal multiplicidade deve ser
incorporada aos curr(culos e pr"ticas pedag!gicas% por exemplo#
So& a !tica do multiculturalismo cr(tico% o reconhecimento do outro tem um significado
mais complexo e profundo# Seguindo o pensamento de 4eller /s>d apud Siqueira% GGH0% isto quer
dizer que as formas alternativas de vida do outro% são de nosso interesse% ainda que não vivamosessas formas# O respeito pelo outro% não admite força% violncia ou dominaçãoI admite sim o
di"logo% o reconhecimento e a negociação das diferenças# .stamos tam&-m nos referindo aqui C
)democracia dial!gica* discutida por ilddens /s>d apud Siqueira% GGH% p#0% a qual significa o
Kreconhecimento da autenticidade do outro% cu'as opinies e id-ias estamos preparados para ouvir e
de&ater% como um processo m?tuo*#
=elacionamos% assim% o multiculturalismo cr(tico com o engenho multifacetado% no que
concerne a :aeiro% :ampos e =eis% os heterônimos de Fernando Pessoa# Para uma melhorcompreensão deste estudo% passamos a apreciar% outros aportes te!ricos multiculturais% destacando
neles o pluralismo s!cio,cultural,educacional e% em seguida% realizaremos um )enlace* com a
produção heteron(mica fernandina% expondo assim% a necessidade de estudarmos tal produção em
uma perspectiva multicultural cr(tica via&ilizadora da alteridade#
6este sentido% podemos dizer que a articulação entre as pol(ticas de igualdade e as pol(ticas
de identidade se constitui em uma das dificuldades da modernidade capitalista% pois estas foram
reduzidas a um simplismo não aceit"vel# +anto as pol(ticas redistri&utivas% quanto Cs pol(ticasassimilacionistas aca&am por transformar as representaçes culturais em universais negando as
diferenças culturais% -tnicas% raciais% sexuais% etc# Sendo assim% devemos &uscar soluçes para uma
pol(tica de igualdade de identidade% na maioria das vezes% discrepantes% o&servando as diferenças
em que se assentam# 2esta forma% fazemos coro a ponderação de Santos /1LLL% p#M10 ao afirmar que
)+emos o direito de ser iguais sempre que a diferença nos inferiorizeI temos o direito de ser
diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza*#
H
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4" de se considerar% no entanto% os m?ltiplos e dif(ceis o&st"culos para que ha'a a
consolidação desses pressupostos# O primeiro o&st"culo consiste na normalização antidiferencialista
que na modernidade capitalista redunda na questão da diferença e no reconhecimento de
desigualdadeI um outro o&st"culo - o recorte epistemol!gico% em que as diferenças são
reconhecidas por uma forma de conhecimento que não as reconhece /Santos% 1LLL0# 2iante deste
quadro% o educador tem como tarefa% segundo Freire /1LNH apud Oliveira% GG1% p#1N0 *$ &usca da
unidade na diversidade tratando a educação numa dimensão interdisciplinar e intercultural%
articulando sa&er% vivncia% escola e comunidade% tendo a cotidianeidade um papel fundamental
/###0*#
8m outro o&st"culo a ser vencido pelo imperativo multicultural - a pol(tica de identidade
que est" pautada em trs processos &"sicosE a diferenciação% a auto,referncia e o reconhecimento#$ diferenciação - o processo de separação entre o eu e o outro% entre n!s e os outros% - o oposto do
processo de exclusãoI apesar de am&os envolverem a separação do eu e do outro no processo de
diferenciação a inversão da separação% longe de ser imposta% - uma conquista#
$ auto,referncia - o momento especular da criação da identidade como nos mitos de
origem% nos rituais% s(m&olos% valores e hist!rias partilhadas como elementos de referncia para a
construção desta identidade# O reconhecimento ao contr"rio do processo de exclusão% necessita
/re0conhecer o outro para se constituir# Sa&emos que estes processos não são f"ceis de seremalcançados% pois os sintomas de desigualdade e de exclusão da sociedade capitalista ainda se
constituem em fortes &arreiras para a construção de uma sociedade mais democr"tica e igualit"ria#
Queremos com isso dizer que como o multiculturalismo cr(tico est" pautado em um ideal de
valorização da diferença e da identidade% - necess"rio que se superem os o&st"culos que impedem
seus ideais#
$ partir desta questão% perce&emos a necessidade de retomar uma indagação de 5ello
/GGM% p#110 ao pro&lematizar a diversidade>diferenças em que o mundo moderno e glo&alizado seencontraE )5as% como viveremos 'untos% em um mundo glo&alizado% com culturas diferentesR*#
$vistamos assim% diferentes indiv(duos em sociedades diversificadas e% estando direcionados
a analisar e achar soluçes para esses diversos )eus*% em conv(vio social>educacional%
principalmente% - que se faz coerente apreciar e estudarmos os heterônimos pessoano% uma vez que
o&servamos no escritor portugus a caricaturização e dramatização de (mpares concepçes de
mundo% de diversas culturas e de diferentes indiv(duos por meio de sua produção heteron(mica% ou
se'a% a resposta ao questionamento acima mencionado pode ser o&tida depois de usarmos como
M
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recurso mo&ilizador>conscientizador do )não uniformismo humano* os trs principais )seres*
criados% que são )diferentes* e ao mesmo tempo )iguais*% apresentados por um ?nico criador# +al
compreensão nos envolve em um outro pro&lemaE 5as% como pode um indiv(duo ser um e v"rios ao
mesmo tempoR
6este sentido% o&'etivando responder esta indagação% tomamos por resposta C an"lise de
JordãoI Oliveira /1LLL% p#G0 ao conclu(rem que o poeta de Mensagem )despo'a,se do eu pessoal%
vestindo v"rias personas /personalidades0 po-ticas% vivendo dialeticamente quase todas as
possi&ilidades do ser,em,poeisa*#
;lustrando tal entendimento% enfatizamos os trs maiores heterônimos de Fernando Pessoa%
analisados pelas autoras supracitadasE $l&erto :aeiro% =icardo =eis e Tlvaro de :ampos# :aeiro -
um ser que )fez apenas o curso prim"rio% possui um lirismo instintivo% sem qualquer idealização oumistificação /###0 um poeta essencialmente sensorial% mostra,se avesso a pensar o mundo% quer antes%
senti,lo U###V defende a simplicidade da vida* /p#LG,L10#
O m-dico =icardo =eis )acredita que a felicidade consiste na tranq3ilidade do esp(ritoI o
cumprimento do dever U###V% a generosidade e a fraternidade devem nortear a vida de todos% pois a
vida se resume a &reves momentos* /p#LH0# J" Tlvaro de :ampos% - um )homem de extrema
sensi&ilidade% nele coexistem% em conflituosa permanncia% o opiômaco% o engenheiro naval% o
pederasta% o &&ado% o exilado < para quem o mundo exterior pesa como uma condenação aodegredo* /p#LW0#
$ nosso ver% a produção po-tica de Fernando Pessoa pode ser entendida como a
sensi&ilidade da diversidade>diferenças no mundo em que a alteridade ganha espaço em car"ter
po-tico# $l-m de perce&er os outros% Pessoa na maioria das vezes% )vivia* indiv(duos que
necessitavam>necessitam se expressar% encontrando tanto na poesia como na imaginação% su&s(dios
para tal intento# .ntendemos que a pr"tica de se )multifacetar* tra&alhada pelo poeta>autor
portugus% corresponde C prestação de representatividade e respeito a muitos indiv(duos presentesnaquela sociedade# 8sar,se /ou ser usado0 para exteriorizar o que um m-dico% um indiv(duo
&uc!lico e tantos outros mais queriam dizer% demonstra não s! valorização C cultura individual ou
coletiva% mas acima de tudo% capacidade po-tico,intelectual#
=eiterando as supracitadas peculiaridades>afirmaçes e empregando genericamente a
denominação )poesia*% como fez omes J?nior /GG% p#M0% podemos afirmar que )Pessoa
teatralizou a poesia criando eus po-ticos% aos quais se denominou heterônimos% uma vez
constatada a conferição de sentimentos e atitudes criados*# $o tratar da produção po-tica e ensa(sta
W
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de Fernando Pessoa% omes J?nior /GG0 compreende que o poeta portugus foi o maior (cone do
5odernismo portugus% ressaltando sua capacidade de con'ugar uma pluralidade estil(stica pautada
em uma dicção extremamente particular% com o movimento modernista em&alado na li&erdade ao
processo de criação art(stica% pr!prio do ide"rio da $rte 6ova% no limiar do s-culo XX#
Para omes J?nior /GG0 a fragmentação de personas /personalidades0 fernandina pode ser
vinculada irremiscivelmente ao teatro% o que - constatado por 5ois-s /s>d a pud omes J?nior%
GG% p#M0% que destaca )a admiração extremada que o poeta portugus mantinha por ShaYespeare*%
acarretando no entrecruzamento entre poesia e teatro#
.m ?ltima an"lise% ressalta omes J?nior /GG% p#W0 a hermenutica como condição para
que se esta&eleça C heteron(mica de Fernando Pessoa# :onforme suas o&servaçes% )somente a
interpretação de texto pessoano possi&ilitar" a percepção das vises de mundo que correspondem Cs personalidades dos heterônimos# U###V 9 na e pela palavra que% pronta para ser interpretada% que eles
se ver&alizam% para constitu(rem seres distintos*# O autor encerra seu entendimento concordando
com 6unes /1LLL a pud omes J?nior% GG% p#W,Z0 compreendendo o pro'eto de arquitetura
heteron(mica pessoana como o )ha&itar poeticamente% o existir assegurado pela palavra*# Quanto a
sua empreitada na heteron(mia% compreende o autor que se tratou do )aprimoramento do ser no
outro*#
Perce&emos uma grande discussão em torno dos )porqus* destes heterônimosE quais ascausas que os originaram% o que pretendia Fernando Pessoa com essa multiplicidade de indiv(duos e
tantas outras indagaçes que permeiam a o&ra de um engenho multifacetado# O&'etivando uma
melhor evidncia do intento fernandino% &uscamos apoio na an"lise de 6icola /1LLW% p#10 ao
destacar alguns pontos consideravelmente expressivos na compreensão dos heterônimos pessoano#
Para o autor% quatro pontos merecem destaque# São elesE
1) A consciência da pluralidade, as várias personalidades vividas pelo poeta em seu mundo
interior, expressas nos fragmentos:S plural como o universo[
Sinto,me m?ltiplo# Sou como um quarto com in?meros espelhos fant"sticosque torcem para reflexes falsas uma ?nica anterior realidade que não est"em nenhuma e est" em todas#
$ cada personalidade mais demorada% que o autor destes livros conseguiuviver dentro de si% ele deu uma (ndole expressiva% e fez dessa personalidadeum autor% um livro% com as id-ias% as emoçes e a arte dos quais% ele o autorreal% nada tem
2) A tentativa de representar a multifacetada vida portuguesa, pontuada assim:
Z
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Sendo n!s portugueses conv-m sa&er o que - que somos#O &om portugus - v"rias pessoas#
6unca me sinto tão portuguesamente eu como quando me sinto diferente demim < $l&erto :aeiro% =icardo =eis% Tlvaro de :a&emos% Fernando
Pessoa% e quantos mais havidos ou por haver#
3) A tentativa de converter-se em toda uma literatura, caracterizada no excerto:
:omo uma falta de literatura% como h" ho'e% que pode um homem de gniofazer senão converter,se% ele% em uma literaturaR :omo tal falta de gentecoexist(vel% como h" ho'e% que pode em homem de sensi&ilidade fazersenão inventar os seus amigos% ou quando menos% os seus companheiros deesp(ritoR
) !ernando "essoa era, essencialmente, um poeta dramático, evidenciado na afirma#$o:
O ponto central da minha personalidade como artista - que sou um poetadram"ticoI tenho continuamente% em tudo quanto escrevo% a exaltação (ntimado poeta e a despersonalização do dramaturgo# \ôo outro < eis tudo#
$ssim% considera o autor que Fernando Pessoa vale,se de uma incomum faculdade de mudar
o Bngulo de an"lise% assumindo novas perspectivas dial-ticas% originando em seus heterônimos#
2esta forma% o autor pe em relevo que )Pessoa se de&ruça so&re si e so&re o mundo como se fosse
seres incont"veis% postados em diferentes Bngulos mentais% procurando dali ver a realidade% U###V uma
s-rie de contas,ente ligados por um fio,mem!ria* /p#LH0# :ontinua ainda afirmando que foi
somente a multiplicação do poeta em outros poetas que possi&ilitou ao escritor portugus )conhecer
a realidade e aspirar a uma ut!pica totalidade* /p#LH0#
5ois-s /1L% p#LW0 continua apontando para a necessidade pessoana em satisfazer sua
li&erdade autorizadamente contradit!ria# 2estaca o autorE
inventando,se outros% que extra(a do pr!prio )eu*% deixava de ser
contradit!rio% uma vez que não - contradição o fato de cada heterônimo pensar por conta pr!pria% diferentemente dos outros% como se fossem personalidades vividas e autônomas U###V no final% e no fundo% uma l!gica preside o aparecimento dos heterônimos#
+ra&alhando ainda a questão dos heterônimos de Fernando Pessoa% o autor conclui sua
an"lise considerando queE
$ criação /heteron(mica0 continua sendo sua e com toda a originalidadeinerente# .% ao mesmo tempo% pode,se compreender que% ao gerar os
N
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heterônimos% Pessoa refletia um estado de coisas culturalmenterevolucion"rio% ou pelo menos repleto de significativas mudanças /p#LL0
Pensamos% assim% ser fundamental o enlace dos muitos )eus* presentes na poesia do poeta
da %de Mar&tima% com uma teoria que apregoa o di"logo com um grande n?mero de culturas e
concepçes de mundo% al-m do respeito e valorização das não semelhanças% sendo pr"ticas
elementares para a criação de novas relaçes sociais#
2esta forma% compreendemos a necessidade da construção de caminhos a partir de uma
an"lise que sugere uma compreensão e realização da eq3idade social sem eliminação do diferente#
O cerne do multiculturalismo cr(tico -% portanto% o desafio C naturalidade com que normas e
diferenças se apresentam na sociedade# $ desconstrução dessas normas e diferenças% nos discursos%linguagens% nos relacionamentos% implica a necessidade de pro'etos que possam ir al-m de
den?ncias e que incluam estrat-gias no sentido de colocar em destaque o car"ter de construção
dessas noçes% de forma a desafi",las% como o estudo aqui sugereE a utilização da poesia para
realização de uma compreensão e aplica&ilidade da teoria multicultural cr(tica% compreendida esta
como facilitadora da alteridade#
Co&$us*o
8m tra&alho voltado para a formação>pr"tica de professores% que &usque sensi&ilizar
docentes e futuros docentes para a diversidade>diferença cultural% pode% em muito% contri&uir para a
construção da cidadania cr(tica e -tica em>de futuras geraçes% de modo que a cincia se'a utilizada
como meio da superação da mis-ria humana e de &usca ativa da felicidade% por interm-dio da
valorização do m?ltiplo% do plural e do diverso#
O multiculturalismo como horizonte de tra&alho docente>discente não - um complemento do
curr(culo escolarE deve% ao contr"rio% impregnar estrat-gias% conte?dos e pr"ticas normalmente
tra&alhados em aula pelo professor>aluno# 6esse sentido% mais uma vez% reforçamos o papel do
professor /e do aluno conscientizado0 como pesquisador constante de sua pr"tica% construindo% no
seu cotidiano% perspectivas multiculturais que resultem em discursos alternativos% que valorizem as
identidades% que assumam a pluralidade dos modos de se fazer cincia e que desafiem a construção
dos estere!tipos e recusem,se a congelar o )outro*% quase sempre estatizando estes com um
)resfriamento* com as id-ias e valores de uma cultura dominante> hegemônica# $ssim% a partir da
discussão at- aqui tra&alhada% sugerimos um olhar so&re os espaços sociais e escolares%
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impregnando,se estes de princ(pios valorizadores do outro% capazes de verdadeiramente criarem
espaços para a alteridade#
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S;Q8.;=$% 4ologonsi Soraes # Mu'+$u'u"a+smoE +olerBncia ou respeito pelo outroR Jornal )$
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