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ORELHAS Todos traem, todos sabem, todos negam, todos fingem que acreditam. E assim caminha a Humanidade, aos trancos e barrancos, em direção a um nível maior de lucidez e de ho- nestidade que deve estar em algum lugar lá no fim do túnel.

Alternativas de relacionamento afetivo. DeRose

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Parece-nos que o componente mais dramático do relaciona-mento afetivo é o cerceamento da liberdade. Não é à toa que o termo esposa em espanhol significa algemas. Contudo, não é só o homem que se sente algemado pelo enlace afeti-vo. A mulher é até mais vitimada pelas convenções sociais, afinal, vivemos numa sociedade patriarcal, que se caracteri-za pela restrição da liberdade.É preciso que preservemos a liberdade, o nosso bem mais precioso. Entretanto, parece estar implícito que para nos re-lacionarmos afetivamente com alguém, precisaremos abrir mão da nossa liberdade. Isso não está certo.Mas, como usufruir da nossa liberdade sem magoar o outro? Como conceder liberdade ao outro sem nos violentarmos? É isso que vamos tentar descobrir durante o desenrolar deste livro.

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ORELHAS Todos traem, todos sabem, todos negam, todos fingem que acreditam. E assim caminha a Humanidade, aos trancos e barrancos, em direção a um nível maior de lucidez e de ho-nestidade que deve estar em algum lugar lá no fim do túnel.

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ALTERNATIVAS DE

RELACIONAMENTO

AFETIVO

PRIMEIRA UNIVERSIDADE DE YÔGA DO BRASIL

Al . Jaú, 2000 − Tel . (00 55 11) 3081-9821 − Bras i l Para conhecer nossos endereços a tual i zados , queira consul tar o s i te

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

ELABORADO PELO AUTOR

De Rose, L.S.A., 1944 -

Alternativas de relacionamento afetivo / De Rose. - São Paulo :

Editora União Nacional de Yôga ;

1. Comportamento 2. De Rose I. Título

CDD- 181.45

ISBN

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DeROSE

ALTERNATIVAS DE

RELACIONAMENTO

AFETIVO

UNIVERSIDADE DE YÔGA registrada nos termos dos artigos 18 e 19 do Código Civil Brasileiro sob o no. 37959 no 6o. Ofício

www.uni-yoga.org.br Al. Jaú, 2000 − Tel.(005511) 3081-9821 − Brasil

Endereços nas demais cidades encontram-se no final do livro.

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Copyright 2.002: De Rose, L.S.A.

1ª edição, 2.002.

Projeto editorial, criação da capa, digi-tação, diagramação:

De Rose, L.S.A.

Execução da capa: ERJ

Permitem-se as citações de trechos deste livro em outros livros e órgãos de Imprensa, desde que mencionem a fonte e que tenham a autorização expressa do autor.

Proíbe-se qualquer outra utilização, cópia ou reprodução do texto, ilustrações e/ou da obra em geral ou em parte, por qualquer meio ou sistema, sem o consentimento prévio do autor.

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SUMÁRIO Apresentação A felicidade O casamento Que opções temos? Repudiamos o modelo único Como tudo começou Matrimônio e patrimônio Monogamia Monogamia seqüencial Monogamia, poligamia ou uma terceira opoção? Poligamia e poliandria Casamento fechado Casamento aberto Casamento aberto multirrelacional Casamento sartreano O rótulo é que atrapalha Qual é o certo? Uma regra para a conduta sexual Com quem ter contato sexual? Cuidados com a saúde O que é fidelidade? Ciúmes A mentira tem pernas curtas As crises As brigas Como evitar brigas A importância de resistir à inveja Instabilidade emocional “Terminar” um relacionamento O próximo relacionamento Conclusão

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APRESENTAÇÃO Cada erro cometido é uma virtude adquirida.

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Nestes últimos quarenta anos, fui casado mais de dez vezes, algumas de “papel passado”, outras de forma natural; alguns relacionamentos foram fechados, outros abertos. Muitos de-les, quando terminados, resultaram em fortes amizades que já duram décadas. Considero, portanto, que estou mais qua-lificado para dissertar sobre o tema do que os teóricos da matéria. O intuito deste ensaio, obviamente, não é doutrinar, mas es-clarecer e romper paradigmas. Fornecer dados e informa-ções para que cada qual decida o que é melhor para si e mostrar que a forma convencional não é, necessariamente, a melhor maneira de realizarmos algo. A grande contribuição que espero poder oferecer é a de fazer com que as pessoas sejam mais felizes a partir da descoberta de que não deve haver uma única forma de relacionamento afetivo e sim de que cada ser humano deve ser livre para viver como quiser, desde que isso não prejudique ninguém.

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A FELICIDADE Felicidade ou infelicidade são efeitos ilusórios

de causas relativas à condição anterior. DeRose

Basta ver alguém chorando e poderemos apostar que a pes-soa em questão está nesse lamentável estado emocional jus-tamente por causa de quem deveria ser a fonte da sua felici-dade. Então, há algo errado aí. Há algo equivocado no con-ceito de relacionamento afetivo. Tudo o que buscamos é a felicidade. No entanto, nada pode ser mais contrário à felicidade que os constantes embates entre parceiros afetivos, os quais se verificam em pratica-mente todos os relacionamentos. As rusgas entre amantes, namorados ou cônjuges estão entre os conflitos que mais geram desgastes vitais. Se você tiver um desentendimento com um amigo ou colega de trabalho, poderá ficar aborrecido, decepcionado, revoltado. Mas não se sentirá tão miserável, abandonado, solitário e carente quanto se esse desentendimento tivesse sido com a pessoa que você ama. O fator que mais compromete o desempenho profissional e destrói carreiras, o que mais causa câncer, úlceras e enfartes, o que mais induz cidadãos pacatos à criminalidade passio-

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nal, são as brigas de casais. Será que conseguiremos uma fórmula que atenue esse panorama? Ainda que não fosse uma receita infalível, mas que apenas amenizasse nosso de-sespero, já seria justificável que fizéssemos uma tentativa. Parece-nos que o componente mais dramático do relaciona-mento afetivo é o cerceamento da liberdade. Não é à toa que o termo esposa em espanhol significa algemas. Contudo, não é só o homem que se sente algemado pelo enlace afeti-vo. A mulher é até mais vitimada pelas convenções sociais, afinal, vivemos numa sociedade patriarcal, que se caracteri-za pela restrição da liberdade. É preciso que preservemos a liberdade, o nosso bem mais precioso. Entretanto, parece estar implícito que para nos re-lacionarmos afetivamente com alguém, precisaremos abrir mão da nossa liberdade. Isso não está certo. Mas, como usufruir da nossa liberdade sem magoar o outro? Como conceder liberdade ao outro sem nos violentarmos? É isso que vamos tentar descobrir durante o desenrolar deste livro.

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O CASAMENTO Casamento deveria ser um dueto, não um duelo.

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O melhor é não se casar. Mas... quem consegue? Quase todo o mundo adquire, já na infância, uma fixação cultural pela instituição do casamento. Assim, mais cedo ou mais tarde, a maior parte das pessoas acaba se casando, seja formal ou in-formalmente. Ainda quando um não quer, o outro acaba conseguindo. Há um pensamento que diz que quando um não quer, dois não brigam. Contudo, há um outro que sentencia: Mas quando um quer... O mesmo aplica-se ao casamento. Quase sempre é o homem que não quer maiores compromissos, porém, as mulheres conseguem mover montanhas para conseguir o que desejam. Claro que há exceções dos dois lados, no entanto você não vê homens declarando publicamente “Ah! O meu ideal de vida é casar e ter filhos”. Será que isso se deve a causas cul-turais? Será biológico? Não importa. O fato é que esse com-portamento é observado. A desculpa de que elas fazem-no para não ficar sozinhas não convence ninguém, já que a solidão a dois é a pior. No filme Um caminho para dois, o jovem Peter Finch pergunta

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à adolescente Audrey Hepburn: “Por que pessoas casadas não conversam uma com a outra?” (Why married people don’t talk together?). Trata-se de uma comédia romântica muito bem feita, que documenta três fases na vida de um ca-sal. A primeira, quando ainda jovens, namorando. A segun-da, quando casados há pouco tempo. A terceira, quando já o casamento tinha uns bons anos. Pareciam três histórias dife-rentes, protagonizadas por três casais diferentes. Depois, o diretor do filme embaralhou as cenas e editou tudo alterna-damente. O resultado foi um portento da filmografia e da psicologia do matrimônio. Todo o mundo deveria assitir a esse documento antes (ou mesmo depois) de fazer besteira. Então, por que as pessoas se casam? Por lavagem cerebral. Afinal, nem cogitam se há outra opção de relacionamento fora daquele modelo único que a sociedade vigente nos im-põe. Não deveríamos casar-nos? Como seria o mundo, a socieda-de, a família? Um caos! Inquestionavelmente, o melhor é não casar, mas não conseguimos escapar dessa maravilhosa e, ao mesmo tempo, terrível experiência. Por isso, os anglo-saxões, que sabidamente têm o estômago fraco, muitas ve-zes, vomitam nas cenas dos filmes quando está chegando a hora do enlace. Você já notou que quando está acasalado (mesmo num sim-ples namoro) os amigos não o convidam tanto para sair? É como se afastassem-se polidamente para “não atrapalhar”. Fora isso, ainda há um bom número de casais que se fecham em copas e passam a declinar os convites dos amigos – con-vites esses que já não são tantos. O resultado disso é que o

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casal vai-se isolando por vontade própria e/ou vai sendo iso-lado por discrição dos demais. No entanto, se você se descasa ou fica sem parceiro(a) os amigos, freqüentemente, retornam e começam a convidá-lo outra vez. Parece, portanto, que há uma conspiração para que os casais fiquem sós, a saturar-se um ao outro com um excesso de invasão do espaço vital1. Isso acaba resultando mal. O que fazer? Descasar-se? Jamais! O desgaste de um final de relacionamento, mais ainda de um casamento, compensa qualquer esforço para evitar o rompimento, enquanto for possível. Então, o quê? Bem, podemos repensar o modelo de relacionamento.

1 Leia o capítulo A teoria do espaço vital, no livro Boas Maneiras no Yôga, deste autor.

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QUE OPÇÕES TEMOS? Não importa com quem se case,

você sempre acorda casado com outra pessoa. Anônimo

Na sociedade judaico-cristã-islâmica contemporânea só dis-pomos de praticamente uma opção: a monogamia. Será que a Civilização se desenvolveu durante mais de 10.000 anos com tantas alternativas de governo, de economia, de religi-ão, de filosofia, de tecnologia, mas não conseguiu descobrir outra forma de nos relacionarmos? Claro que sim. Muitas formas foram praticadas em diferentes culturas ao longo destes milhares de anos. O problema é que quando uma cul-tura adota determinado modelo, exige que todos os demais o acatem, desprezando o fato inegável de que cada ser huma-no tem suas necessidades e limitações.

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REPUDIAMOS O MODELO ÚNICO Para cada homem há uma verdade diferente.

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A fórmula mágica da felicidade talvez esteja em respeitar-mos a diversidade. Assim como respeitamos a diversidade religiosa e a diversidade étnica, é politicamente correto res-peitar a diversidade de preferências sexuais e de formas de relacionamento. Num momento histórico em que mesmo so-ciedades conservadoras acatam os casamentos homossexu-ais com direito até a cerimônia religiosa, é um privilégio do cidadão levantar a questão do reconhecimento dos modelos individualizados de relacionamento afetivo.

COMO TUDO COMEÇOU

Provavelmente, no paleolítico o homem vivia em bandos com a supremacia do macho alfa sobre os demais membros do seu clã. Seguindo os exemplos de vários tipos de mamí-feros, é possível que esse macho dominante tomasse para si o maior número de fêmeas que conseguisse administrar, ca-bendo as demais ao resto do bando. Certamente, os proce-dimentos variavam conforme o grupo, a época e o território. Nesse período, o Ser Humano tinha um comportamento bas-tante primitivo, o qual permitia o domínio pela força, como as demais bestas. Mais tarde, com os primórdios da Civili-

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zação, surgiram formas diversificadas de relacionamento. Surgiram os dois grandes troncos, matriarcalismo e o patri-arcalismo. Dentro deles, os modelos de casamento: mono-gamia, poligamia, poliandria etc.

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MATRIMÔNIO E PATRIMÔNIO As semelhanças etimológicas entre estas duas palavras fa-zem-nos pensar. Estariam, nos primórdios, relacionadas com o matriarcalismo e o patriarcalismo? Os conceitos atuais a-tribuídos a esses termos estariam contaminados pelo patriarcalismo, sistema no qual vivemos? O fato é que as duas idéias estão intimamente interligadas. As pessoas casam-se e, de certa forma, seus patrimônios amalgamam-se. E não só os delas. Muitas vezes são os pa-trimônios das famílias que crescem, reduzem-se, comprome-tem-se. Como o nome também é um patrimônio, ocorrem negociações matrimoniais a partir do quanto vale o nome de cada família. Negociações, proibições, grandes romances e ainda maiores tragédias, como as que Shakespeare nos rela-ta, são inevitáveis conseqüências da relação entre matrimô-nio e patrimônio. Embora nas grandes cidades essas forças encontrem-se hoje atenuadas, nas famílias provincianas ain-da constituem barreiras quase intransponíveis. Também é interessante meditar sobre a necessidade, no pas-sado, de se estabelecer regras precisas e muito rígidas sobre o relacionamento entre homem e mulher, tendo em vista a descendência e as heranças. Para quem iria o poder constitu-ído pelo patrimônio do nome de família, eventuais títulos

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nobiliárquicos, bens e terras? Com tantos valores em jogo, compreende-se que o tema matrimônio tenha sido tratado ao longo da história com tanta intolerância e dramaticidade.

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MONOGAMIA A monogamia foi, originalmente, uma boa idéia. Com ela, equilibravam-se numericamente as populações masculina e feminina, evitando confrontos entre os homens que ficassem sem parceiras. A monogamia ainda oferecia vantagens úni-cas para aquele período: evitavam-se as doenças sexualmen-te transmissíveis, para as quais não havia cura, e garantia-se a sucessão tanto genética quanto de bens e de títulos hierár-quicos. Era mesmo uma idéia genial. Tão genial que durou milênios. Um sucesso, indiscutivelmente. No entanto, o mundo mudou abruptamente nos últimos a-nos. Meu avô estudava à luz de velas porque a eletricidade não existia quando ele era criança. Meu pai já estudava sob a luz elétrica e andava de bonde. Meu filho, porém, estudou pela Internet, tinha seu computador, seu telefone celular e seu automóvel. No espaço de pouco mais que a idade de um homem, cerca de cem anos, o Ser Humano trocou a tração animal pelo veículo auto-móvel, passou a ouvir sons que vi-nham pelo ar e saiam de dentro de uma caixa chamada rá-dio, conseguiu se comunicar à distância por um aparelho te-lefônico, começou a voar num aeroplano de tecido e madei-ra, conheceu a fotografia, o cinema, a televisão, o vídeo, o computador, pisou na Lua e foi a Marte. Nunca na História

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ocorreram tantas mudanças, e tão relevantes, em tão pouco tempo. Com todas essas metamorfoses tecnológicas, sociais, cultu-rais e econômicas seria estultícia querer que as pessoas prosseguissem com um modelo de casamento feudal.

Por outro lado, se todas essas revoluções ocorreram no mundo em um lapso tão curto, nosso psiquismo precisa de mais tempo para se adaptar. O que fazer então?

Hoje, a monogamia tem demonstrado ser uma instituição fa-lida e mais do que isso, fonte de infelicidade, de mentira e de hipocrisia. Uma proporção avassaladora de pretensos monógamos trai sua proposta de manter contato com uma só pessoa. Todos traem, todos sabem, todos negam, todos fin-gem que acreditam. E assim caminha a Humanidade, aos trancos e barrancos, em direção a um nível maior de lucidez e de honestidade que deve estar em algum lugar lá no fim do túnel.

Quando conversava com uma amiga sobre esta modalidade comportamental, ela me contou uma anedota que ilustra a a-titude das pessoas desse grupo.

O psicanalista perguntou ao paciente:

– Você tem um relacionamento monogâmico?

Ele respondeu:

– Sim, tenho vários.

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Estatísticas não são confiáveis, contudo, há um estudo afir-mando que apenas 5% dos machos estado-unidenses, de fa-to, observam a monogamia estrita.

Será que vale a pena continuarmos nos enganando?

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MONOGAMIA SEQÜENCIAL Nada é desculpa. Tudo é pretexto.

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Tenho testemunhado muita gente declarando que é mono-gâmica e não compreende ficar com mais de uma pessoa, mas troca de parceiro quase que semanalmente. Convencio-namos denominar esse procedimento de monogamia se-qüencial. Apesar de ser muito comum, não creio que preci-semos analisar esta modalidade, pois ela já é bem descritiva por si só.

O que não compreendo é que essas mesmas pessoas criti-quem a outrem por adotar uma alternativa diferente da sua, e reajam com o mesmo moralismo daqueles que são, de fato, mais comedidos em seus relacionamentos. O que se verifica, então, é o padrão de tachar como imoral e inadmissível tudo o que for diferente dos seus costumes, sejam lá quais forem.

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MONOGAMIA, POLIGAMIA OU UMA TERCEIRA OPÇÃO?

A realidade é uma questão de ótica. DeRose

Biologicamente o Ser Humano não é monogâmico, porém vivemos em sociedade e não na selva. Criamos toda uma organização social baseada em sistemas de herança e res-ponsabilidade pelo sustento de família e filhos que, embora esteja obsoleta, ainda é vigente. Em algumas culturas vigora apenas juridicamente. Noutras é de fato necessária. O importante é que sejamos tolerantes e respeitemos a op-ção de cada um. Quantos milhões de pessoas têm sido per-seguidas e torturadas pela intolerância das maiorias religio-sas ou governamentais! Afinal, relacionamento afetivo é as-sunto privado. A forma pela qual as pessoas quiserem admi-nistrar sua família ou um eventual casamento não deve ser invadida pelo poder público. Assim, consideramos um anacronismo o fato de uma autori-dade interferir autorizando casamentos ou separações dos cidadãos. Contudo, rebanhos e mais rebanhos de cordatos cordeiros simplesmente não questionam isso e seguem pe-dindo autorização para se casar, tal como o faziam os cam-poneses aos senhores feudais.

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E os relacionamentos devem ser fechados ou abertos? Para cada pessoa há uma solução ideal, de acordo com a sua cul-tura, educação e lucidez. Depois de experimentar muitos ti-pos de relacionamento, estou convencido de que para mim, a fórmula perfeita é o relacionamento aberto. Acontece que isso exige maturidade, equilíbrio emocional. E não só de uma, mas de ambas as partes. É esperar demais da humani-dade atual. Paciência! Descubra você qual é a sua fórmula ideal e pratique-a com autenticidade, sinceridade e naturalidade. Vai ver que as pessoas terminam por aceitar e respeitar a sua opção, afinal, a vida é sua. Porém, precisa se assumir. Não apenas na se-xualidade, mas em tudo na vida você precisa se assumir. Com discrição, é claro. Essa é a chave da liberdade. Pessoas que não aplicam a norma da discrição acabam per-dendo espaço dentro da comunidade, porque não sabem se comportar e agridem as demais. Você pode fazer o que qui-ser, desde que com discrição.

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POLIGAMIA E POLIANDRIA Nunca se explique. Seus amigos não precisam

e seus inimigos não vão acreditar. Elbert Hubbard

No passado, em diversas épocas, em diversas religiões, pra-ticou-se tanto a poligamia (um marido com várias esposas), quanto a poliandria (uma esposa com vários maridos). Não me atreveria a recomendar nenhuma das duas opções para os nossos dias. Talvez noutra época, talvez noutro lu-gar. Na civilização ocidental contemporânea essa alternativa parece ser mais um complicador do que uma conveniência. Há pouco tempo assisti a um documentário sobre os mór-mons, religião que permite ao homem ter várias esposas. Depois de tanto tempo praticando a poligamia, chegaram à conclusão de que talvez fosse melhor abolir essa prática em face dos graves inconvenientes que observaram. Portanto, se o seu sonho é a poligamia ou a poliandria, acho bom pensar melhor. Talvez você esteja arranjando sarna para se coçar.

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CASAMENTO FECHADO2 As virtudes, como as nuvens, ao longe parecem sólidas.

DeRose

Para a esmagadora maioria essa é a única forma admissível e qualquer outra seria um absurdo. Nossa tendência é sem-pre considerar normal e correto aquilo com que estamos a-costumados e imoral, sacrílego, herético o que for diferente da nossa cultura. No entanto, se começarmos a viajar, não para consumir o universo de fantasia da indústria do turis-mo, mas se viajarmos de verdade, convivendo com os povos que visitarmos, interagindo com o mundo real de cada na-ção, perceberemos o quanto é mesquinho e tacanho o con-ceito de que diferente não é gente. Foi esse conceito que permitiu aos colonizadores invadir outros povos, destruir seus lares, estuprar suas filhas, torturar e matar a população e escravizar seus sobreviventes. Tudo, sem sentimento de culpa, afinal eles eram pagãos, hereges, infiéis, tinham parte com o diabo ou, simplesmente, “não tinham alma” como foi decretado pelos cristãos do século XVI com relação aos nos-sos índios.

2 Alguns leitores que não simpatizaram com os termos “casamento fechado” e “casamento a-berto”, sugeriram que os denominássemos relacionamento estático e relacionamento dinâmico. Outros, mais afeitos ao Yôga, sugeriram casamento tamásico e casamento rajásico. Esta no-menclatura nos permitiria inferir a existência de uma versão sáttwica. Como seria ela?

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Normalmente, as pessoas só concebem o casamento fechado e julgam qualquer outra opção inadmissível. Mas, isso tem trazido felicidade? Se para você a resposta é sim, essa deve ser a sua modalidade de matrimônio. Se a resposta é não, se-ria mais honesto procurar uma alternativa.

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CASAMENTO ABERTO Obstáculos e dificuldades fazem parte da vida.

E a vida é a arte de superá-los. DeRose

A primeira alternativa com que nos deparamos é a do casa-mento aberto. Ele, na verdade, não deixa de ser uma verten-te do casamento monogâmico, só que com atenuantes. Am-bos os parceiros mantêm uma relação afetiva estável e está muito claro para cada um dos dois que seu ponto de referên-cia no universo é a cara-metade. Entretanto, contam com o beneplácito do cônjuge para ter relações extraconjugais, o que, na opinião de muitos deles, enriquece o relacionamento e reforça os laços de amor, confiança e honestidade. Um efeito colateral interessante é que no relacionamento fe-chado, é comum as pessoas sentirem mais desejo de ficar com outras, porque isso é proibido. Em contrapartida, num relacionamento aberto esse impulso costuma ser bem me-nor. No casamento aberto há inúmeras variantes. Poder-se-ia di-zer que existem tantas quanto o número de casais, pois cada qual cria suas próprias normas de conduta de acordo com a respectiva cultura.

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Há os que concedem o respeito pela liberdade do parceiro, mas não querem saber de nada. “Faça o que você quiser, mas não quero ficar sabendo” é a regra. Outros, ao contrário, só ficam bem se estiverem a par de tu-do. “Não me esconda nada, quero saber o que está aconte-cendo” é a regra para este grupo. Ao longo de décadas acompanhando vários tipos de relacio-namento, verifiquei que os casamentos abertos são mais só-lidos. O casamento fechado vende uma imagem de solidez, mas é frágil. Num casamento fechado, chega o momento em que a novi-dade acabou e os parceiros já são antigos. Ora, sabe-se que o erotismo alimenta-se muito do elemento novidade. Enquan-to os parceiros não pulam a cerca, as coisas se sustentam com uma aparência consistente. No dia em que uma pessoa nova cruzar o caminho de um devoto do casamento fechado, ele simplesmente se desestruturará. É o fator novidade. Fi-cará apaixonado e, como não professa o relacionamento a-berto, terá que optar. Muitas vezes optará por uma pessoa extremamente inferior ao seu companheiro e, mais tarde, ar-repender-se-á amargamente pela tolice cometida.

Já num casamento aberto, conhecer outras pessoas – conhe-cer no sentido bíblico – tornará o fato algo banal, ao qual não se dará tanta importância. E, mesmo que tal experiência resulte numa paixonite, o que a meu ver deve ser evitado, ainda assim o casamento não ruirá, pois poderá ser preser-vado com tolerância e compreensão até que se consuma a chama da paixão. Afinal, se é paixão, passará. E nada se compara ao companheirismo, amizade e afeto de um rela-

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cionamento antigo. Um bom casamento resiste a tudo. E se não é bom, para quê mantê-lo?

Mas... É possível só nos apaixonarmos se quisermos? Claro que sim. Você só se apaixona se deixar o coração disponí-vel. Se assumir uma posição madura e equilibrada de não se apaixonar por ninguém fora do seu relacionamento estável, você não se apaixonará. Curtirá, usufruirá, mas não cairá (fall in love) nas armadilhas da paixão.

O casamento aberto multirrelacional Nos últimos anos vem crescendo a corrente comportamental que admite uma interpretação mais abrangente, mais social, do casamento aberto. Alguns estudiosos chamaram-na soci-ófila. Nós preferimos denominá-la multirrelacional. Termos complicados para designar uma proposta descomplicada de que a sexualidade pode ser exercida como atividade cultural e social. Nessa vertente, ao invés de simplesmente permitir que o parceiro tenha suas experiências longe do cônjuge, há o incentivo para que usufrua desses momentos ao lado e com a participação do seu parceiro ou parceira estável. Os defensores dessa interpretação opinam que ela minimiza ou até elimina o sentimento de exclusão, responsável pela tristeza experimentada por quase todo o mundo quando o parceiro está com outra pessoa. Eliminaria, igualmente, o clima de competitividade com aquela outra pessoa. Reduzi-ria, ainda, a incidência de um vínculo “romântico” pelas costas do titular. Tanto no caso do casamento aberto monogâmico, quanto no multirrelacional, é vital que qualquer dos parceiros só se en-

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volva com alguém de quem ambos gostem e que ambos a-provem. Nessas experiências heterodoxas, a pessoa mais liberal deve respeitar o timing da outra e não pressioná-la. Por outro la-do, precisa incentivá-la a tomar a iniciativa. Se você dividir tudo com o seu parceiro, isso, certamente, vai gerar mais carinho, mais confiança e mais amor entre os dois. Agindo assim, uma outra pessoa que eventualmente esteja compartilhando com o casal, normalmente torna-se grande amiga de ambos em vez de rival. Uma leitora, ao travar contato com uma das primeiras edi-ções eletrônicas deste livro, escreveu: “É muito melhor eu ir viajar e poder dizer a uma amiga: ‘cuide bem do meu mari-dinho’ do que não saber o quê e com quem ele vai fazer al-guma coisa.”

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CASAMENTO SARTREANO Em terra de cego, quem tem um olho... errou!

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Ficou célebre o casamento que o filósofo Sartre mantinha com sua esposa Simone de Beauvoir, mulher notável, escri-tora de uma inteligência raríssima. Para a época, década de 50, foi um escândalo. Só não teve conseqüências nefastas porque viviam em Paris e ambos eram intelectuais – casta à qual concedem-se exceções. Embora casados e fiéis, moravam separadamente, cada qual na sua casa. Fiéis eles eram, mas usufruiam da óbvia liber-dade que o fato de viver em sua própria casa proporciona. Portanto, fiéis de acordo com o conceito de fidelidade que exponho aqui. Foi um casamento bem sucedido e que serviu de inspiração para muita gente. Na década de 1970, no Rio de Janeiro, eu e minha quinta mulher chegamos à mesma conclusão: se as pessoas encas-quetassem que queriam casar-se, deveriam, pelo menos, mo-rar separadamente, cada um dono do seu próprio nariz, da sua geladeira, da sua televisão, do seu banheiro e da sua co-zinha. Um dia, ela dorme na casa dele. Outro dia, ele dorme na casa dela. Num terceiro dia, se acharem por bem, dorme cada qual sozinho, ou com quem quiser. Se ocorrer um es-

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tresse emocional, há sempre a possibilidade de cada qual ir para seu próprio lar. Já imaginou estar no meio de uma briga de casal, aquele drama que não termina, e você não poder dizer: “Querido, vá para a sua casa. Agora eu quero ficar so-zinha” ou vice-versa, porque a casa é dos dois e ambos têm o mesmo direito de estar ali? É por isso que mais casais do que você supõe partem para a agressão física como forma de extravasar o instinto territorial, sem o quê tal energia pode-ria resultar ainda mais perigosa.

O casal novo anseia por poder morar na mesma casa. Logo em seguida, começa a perceber que não foi uma boa idéia.

Se a decisão de morar cada qual na sua casa não foi tomada antes, agora que já moram juntos separar pode ter uma co-notação de rompimento. Não obstante, com carinho e com-preensão talvez consigam esse afastamento físico sem carac-terizar uma ruptura. Isso ocorreu no meu décimo casamento, na década de 1990. Após um ano morando na mesma casa, decidimos que seria uma boa experiência morarmos em ci-dades diferentes. Uma vez por mês ela viria passar um fim-de-semana comigo, uma vez por mês eu iria passar um fim-de-semana com ela e uma vez por mês nós viajaríamos jun-tos para uma outra cidade. Sobrava um week-end para nossa privacidade. O resto da semana comunicávamo-nos por tele-fone. Deu certo. Funcionou às mil maravilhas durante um tempo bem razoável e evitou que conflitos emocionais des-truíssem prematuramente nosso relacionamento.

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O RÓTULO É O QUE ATRAPALHA A gente se engaja ao dizer sim, ao dizer não e quando se cala.

Theodor Herzl

Qualquer vivente com mais de quinze anos de idade já teve a oportunidade de confirmar esse fenômeno comportamen-tal: enquanto a pessoa não galga uma posição de maior hie-rarquia, manifesta-se muito querida e suas boas qualidades exalam. No entanto, à medida que esse mesmo indivíduo vai conquistando um patamar mais importante, mais íntimo ou cujo rótulo deva lhe conceder determinados direitos (nem que isso seja só na própria imaginação), sua atitude muda e as garras começam a aparecer discretamente por sob a almo-fada macia das patas felinas. A máxima que afirma “o poder corrompe”, mostra-se verdadeira até no amor! Descrevendo assim, todo o mundo concorda. Mas não sei se compreende exatamente o que estou querendo dizer. Se vo-cê prestar atenção, vai notar que aquela pessoa com quem relacionava-se sem nenhum rótulo ou compromisso era um doce de tão cordata. Era compreensiva, não fazia cobranças, não reclamava de nada, não enchia o recipiente escrotal. Mas quando essa pessoa (homem ou mulher) foi elevada à categoria de titular, alguns azedumes começaram a transpi-rar. Você passou a perceber, não sem alguma decepção, que aquele ser humano tinha lá suas mesquinhezas. E quanto

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mais essa criatura for se sentindo dona do pedaço, mais irá tentando impor suas exigências. Ah! Mas é tão gratificante ouvir uma gracinha, tal como “deixa eu ser sua namorada?” ou “você é a minha mulher”. Gostoso, sem dúvida, é. No entanto, note que foi introduzi-do um elemento de posse (sua, minha), que é parte do pro-blema. A outra parte é o rótulo. “Mulher minha não age dessa forma, não permito!”, ou “É que ela estava se engra-çando com o meu namorado!” e coisas do gênero. Tudo deteriora-se apenas porque há uma posse, um rótulo e um paradigma atrelado a ele. Num dos meus casamentos, antes que se consumasse, a ga-tinha era minha amiga. Depois, amigona. Passamos a nos ver com mais frequência. Acabamos morando juntos. Anos depois, para agradar a família – é sempre assim – fizemos a bobagem de assinar os papéis. Impressionante! Já estávamos morando juntos. Nada mudou. Mas a partir do casamento “de papel passado” ela mudou bruscamente de comporta-mento e ficou careta, possessiva e ciumenta. O casamento foi por água abaixo. Se não sucumbíssemos à chantagem emocional da família, talvez tivéssemos continuado felizes para sempre. Por outro lado, alguns relacionamentos que não dispensa-vam suas indefectíveis brigas, quando tiveram retirado o ró-tulo de casamento voltaram a ser harmoniosos e seguimos amigos até hoje. Assim, independentemente do modelo de casamento adota-do, sempre haverá um pronome possessivo (meu, minha) e

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um rótulo que arrasta consigo N+1 toneladas de expectati-vas que nos esmagam e sufocam. No entanto, conheço muita gente que realizou o casamento tradicional e o está mantendo lindamente há dez, vinte ou trinta anos. Admiro e respeito isso.

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QUAL É O CERTO? Ninguém erraria se ouvisse os próprios conselhos.

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Certo é tudo aquilo que lhe trouxer felicidade, bem-estar, ausência de conflitos, tensões ou desgastes para você e para os demais. Certo não tem nada a ver com moral. Algo pode ser certo para determinada pessoa ou grupo de pessoas e ao mesmo tempo inadequado para outro indivíduo ou comuni-dade.

Dessa forma, devo recordar que este livro não tem a propos-ta de doutrinar ou convencer ninguém de alguma suposta “verdade”. Todo o nosso trabalho se caracteriza por não querer convencer ninguém de coisa alguma. Nossas disser-tações têm o objetivo apenas de chamar e acolher aqueles que já pensam da mesma forma e não sabiam que havia mais alguém que comungava as mesmas idéias. Ou, se exis-tiam, onde estavam essas pessoas. Se você é um desses cu-ringas, saiba que não é maluco, como os outros costumam tachar. Sua tribo está bem aqui.

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UMA REGRA PARA A CONDUTA SEXUAL

O tempora, o mores! (Ó tempos, ó costumes!) Provérbio latino

Poderia haver uma regra para a conduta sexual, mas que não fosse ditada pela moral? Em primeiro lugar, vamos entender o que é moral. O termo moral provém do latim mores, costumes. Ou seja, imoral não significa algo intrinsecamente reprovável e sim algo que não faz parte dos costumes. As pessoas não estão acostuma-das com tal ou qual procedimento e, por isso, estranham-no. Em 1962 tive um aluno que era general da reserva. Um dia, conversando comigo a respeito deste tema, disse-me ele que, a seu tempo, fora o primeiro carioca a não usar chapéu como parte da indumentária. Contou-me, indignado, que os transeuntes paravam-no na rua para insultá-lo por essa sua atitude imoral. Como poderia um senhor de respeito circular pelos boulevares do Rio de Janeiro sem chapéu? Hoje, achamos isso ridículo, mas cometemos exatamente a mesma atitude em uma constelação de outras circunstâncias, especialmente no que concerne à sexualidade.

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É interessante observar que mores, em latim, significa cos-tumes, mas more significa estupidamente, tolamente3. En-tão, haveria uma medida, uma regra, um padrão, que fosse menos sujeito à sazonalidade dos costumes e que pudesse servir de parâmetro universal, fora do tempo e do espaço? Parece-me que esse parâmetro pode ser detectado facilmen-te. Se conseguirmos excluir da sexualidade qualquer interfe-rência da moral, perceberemos que as normas de conduta sexual podem ser as mesmas aplicáveis à alimentação. Se você quiser uma regra universal para o sexo, compare sem-pre com a alimentação, tanto no que se refere à seletividade quanto à higiene, à etiqueta, ao refinamento. Uma pessoa é polida à mesa? Provavelmente se-lo-á na ca-ma. Como segura o garfo? Come feito um porco? Já sabe-mos como faz sexo. Você convidaria qualquer pessoa para almoçar? Quão seletivo você é com relação aos seus parcei-ros de jantar? Você só está autorizado(a) a fazer refeições com o seu cônjuge ou pode comer com os amigos(as)? Difícil admitir isso, não é mesmo? E, quanto mais velhos formos, mais árduo será, pois já cristalizamos um padrão de comportamento e tornamo-nos mais intolerantes para com os demais.

3 Segundo o Dicionário Latino-Português de Ernesto Faria, publicado pelo Ministério da Edu-cação e Cultura.

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COM QUEM TER CONTATO SEXUAL? A liberdade é o nosso bem mais precioso.

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Há algumas décadas, esta pergunta não teria razão de ser. Contato sexual tinha-se com o marido, e olhe lá! Depois, ti-nha-se com o noivo (na década de 60, quando alguém dizia que estava noivo todos entendiam que o casal já estava ten-do relações sexuais...). Mais tarde, tinha-se com o namora-do, mas esperava-se que fosse só com ele. Nos anos 70’s, transar era uma extensão da amizade: se era amigo, tinha que transar, caso contrário, seria uma evidência de que não era tão amigo assim. Na década de 80, surgiu o conceito de “amizade colorida”, a qual, todavia, compreendia uma certa exclusividade, conquanto sem muito comprometimento. Na década de 90, os adolescentes criaram o conceito de “ficar”: hoje ela fica com um conhecido, amanhã fica com outro, na festa ficou com aqueles três. E atualmente, como terá evolu-ído o comportamento sexual? Tenho verificado que após o ano 2.000 as pessoas de todas as idades estão mais liberadas e também mais amadurecidas, mais conscientes, mais assumidas. Agora a tendência é ter mais estabilidade, mais seletividade, menos parceiros, mais cuidados com sexo seguro, usando preservativos sempre.

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Por outro lado, há um consenso de que ter contato sexual é um ato social, para o qual dá-se prioridade aos amigos. Por-tanto, nem lá, nem cá. Nem o sexo ficou encarcerado no amor, restrito a uma única pessoa, nem ficou banalizado como há alguns anos, quando a sociedade praticava o cha-mado sexo casual, com pessoas das quais nem se sabia o nome. Hoje dá-se preferência a usufruir de um intercâmbio sexual com seus amigos, pessoas que elas conhecem e nas quais confiam. Pessoas pelas quais sintam algo, uma forte amizade, carinho, respeito, mas não forçosamente amor. Comparando com paradigmas pretéritos, creio que estamos fazendo progressos.

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CUIDADOS COM A SAÚDE … E no oitavo dia, destruiu Deus o Homem.

DeRose

Nos últimos anos está-se dando bastante atenção ao chama-do sexo seguro. Bem, seguro, nunca é totalmente. Mas quanto mais cuidados tomarmos, melhor. O que tornou-se imperdoável é a irresponsabilidade. O ter-mo promiscuidade passou a ter outro significado: agora, de-signa o contato sexual sem os necessários cuidados com a higiene e a saúde, os quais atualmente fazem parte da boa educação. Tal procedimento é justificável, pois ser um agente de doen-ças sexualmente transmissíveis equivale a ser um serial kil-ler, espalhando virus mortais para todo lado. Do jeito que as pessoas estão bem-informadas, quando corre a notícia de que um rapaz ou uma menina não toma as devi-das precauções, ninguém mais quer transar com ele ou ela. Compreende-se. Tal amante expressaria um amor “contagi-ante” – no mal sentido, é claro! Todos tremem de medo com a ameaça do HIV, porém a he-patite B é bem mais mortal – e mata mais depressa! Com HIV você ainda poderá viver cinco ou dez anos, talvez mais. Com hepatite B você vai embora em pouquíssimo tempo. E

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é mais contagiosa. Ninguém pega AIDS beijando, mas a hepatite B é contraída através do beijo. Ou seja: é muito mais perigosa. A grande ironia é que existe uma vacina para hepatite B, mas ninguém nem toma conhecimento. Se você é uma pessoa responsável, vá hoje mesmo tomar a sua vacina! E nada de transar sem preservativo.

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O QUE É FIDELIDADE? Todas as grandes idéias são perigosas.

Oscar Wilde

Ser fiel é não trair. Trair é mentir, é prometer que não fará uma coisa e fazê-la. Se um cônjuge declara que não vai co-mer doces para emagrecer e come, isso é traição. Se não foi assumido nenhum compromisso de abstinência sexual com relação a terceiros, o contato sexual não poderá ser classifi-cado como traição Seguindo esta linha de raciocínio, só existe traição no rela-cionamento fechado. O casamento aberto poderá estar livre dessa inconveniência, desde que haja maturidade, hones-tidade e amor. Para que mentir se não há repressão? Fidelidade não é apenas uma virtude comportamental a ser praticada na intimidade do casal. Trata-se de um valor de caráter aplicável a tudo na vida. Quanto menor a fidelidade com que você passa adiante um fato, menor a credibilidade que merecerá dos seus amigos, familiares, clientes, alunos, de todos, enfim. Uma pessoa fiel é alguém em cuja palavra e atitudes todos podem confiar. Mas isso também é questão de educação, pois o caráter se forja em casa, desde o berço.

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CIÚME A emocionalidade estupidifica.

DeRose

O ciúme nada mais é do que a soberba ignorância dos prin-cípios de espaço vital e, na mesma proporção, constitui uma grosseiríssima falta de educação para com o parceiro, bem como para com todos quantos sejam vitimados por presen-ciar a cena, ainda que ela seja apenas uma cara feia. Isso, sem falar nos amigos ou amigas que acabam envolvidos na ridícula ceninha de novela mexicana. Se você quer azedar seu relacionamento afetivo, a receita é infalível. Seja ciumento(a). Ou o relacionamento deteriora e vai cada um para o seu lado, ou acabarão sendo personagens das manchetes policiais. Ciúme é uma truculência psicológica sem desculpa. Ciúme não é causado pelo amor ao outro e sim por amor-próprio, amor-a-si-próprio.

UM EXEMPLO DE CIVILIDADE Certa vez, viajei para uma casa de campo com alguns cole-gas. Observando os jovens instrutores de SwáSthya Yôga, fiquei orgulhoso do comportamento deles. Deram um gran-

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de exemplo de civilidade e mostraram que, embora latinos, estão anos luz à frente dos escandinavos. Sempre que algum rapaz ou moça sentava-se ao lado de um casal, ao invés de os parceiros ignorarem o “intruso” e con-tinuarem no seu love, espontaneamente, começavam a dar atenção ao recém-chegado, conversando com ele, abraçan-do-o fraternalmente, fazendo um descontraído cafuné, en-fim, integrando-o ao casal. Olhei em volta e vi que isso estava ocorrendo com todos na sala, enquanto assistíamos a um filme em DVD. Comecei a prestar mais atenção e notei que essa atitude educada se re-petia o tempo todo, onde quer que estivéssemos, na piscina, na sauna, na sala de jantar. Seria tão mais civilizado se as pessoas conseguissem seguir esse exemplo!

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A MENTIRA TEM PERNAS CURTAS Creio, porque não vi.

DeRose

Mentir é a pior estratégia. O parceiro sempre descobre. Será que há alguma fórmula de relacionamento em que possamos estar livres dessa praga? Infelizmente, a resposta é não. O problema não está no tipo de relacionamento, mas no fator humano. É possível atenuar, mas bem difícil de erradicar. Num capítulo anterior declarei que desde que haja maturi-dade, honestidade e amor o casamento aberto pode estar livre da traição. Mas mentir é trair. Mesmo em relacionamentos abertos verificamos queixas sobre mentiras cometidas, num contexto em que elas seriam totalmente desnecessárias. Parece que o ser humano está tão condicionado a dissimular suas atitudes que mesmo não precisando, mente. Ou, pior: se não mentir, se não for às es-condidas, não sente prazer. Tem que ser proibido, caso con-trário perde a graça. No entanto, quem fizer essa opção deve assumir as conse-qüências. E elas são amargas. Num relacionamento fechado, compreende-se que a mentira seja institucionalizada (“todos traem, todos sabem, todos negam, todos fingem que acredi-tam”), pois não há outra saída. Contudo, mentir num rela-cionamento aberto fica mesmo anacrônico.

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JÁ ACONTECEU. E AGORA, COMO REAGIR? Tenho sido consultado por vários casais que passaram por esse inconveniente. Quase sempre, ao descobrir a mentira, a parte que foi vitimada por ela teve seus sentimento esfria-dos. Em alguns casos ocorreram rompimentos. Mas as pes-soas se amavam e sofreram com isso. Separar-se por causa de uma mentira é muita imaturidade. Como reagir então? Espero que os próximos capítulos possam contribuir com algumas reflexões.

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AS CRISES Deveríamos ser como as águas dos riachos

que, tranqüilamente, contornam os obstáculos. DeRose

Crises existirão sempre. Não será com a leitura deste livro ou adotando um outro sistema de relacionamento afetivo que elas serão eliminadas. O recomendável seria conseguir solucionar as crises o mais rápido possível (não lhe forne-cendo combustível – “não pondo lenha na fogueira”) e es-paçá-las o máximo que pudermos. Algumas pessoas acham que para solucionar as crises é ne-cessário ficar discutindo a relação, ficar remoendo, ficar ruminando. Isso mais facilmente instalará uma neurose, de-teriorará o vínculo de prazer em estar ao lado da pessoa a-mada e fará o problema tornar-se mais consolidado por ter-se-lhe dado muita importância. Por outro lado conversar com carinho e disposição para pen-sar com a cabeça do outro é de todo aconselhável. “Vem cá. Deixa eu te abraçar. Me conta o que está te entristecendo. Eu te amo. Tudo o que eu quero na vida é te fazer feliz. Se te magoei foi sem querer. Vou me empenhar para não re-petir o que te aborreceu.” Estas são algumas atitudes que poderão resolver a crise em poucas palavras e em pouco

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tempo. O fundamental é que os parceiros vejam no outro um aliado, um cúmplice. E por que as crises sempre existirão? Simplesmente, porque toda relação afetiva é de natureza emocional e, como já sa-bemos, a emocionalidade emburrece. O emocional não é ra-cional. Sua tendência é a oscilação entre o prazer e o des-prazer, pois, se não fosse assim, esse mecanismo de senti-mentos não conseguiria perceber a diferença entre esses dois estímulos e se anestesiaria. Noutras palavras, se você for fe-liz o tempo todo, acostuma-se e não percebe que está sendo feliz; se você for infeliz o tempo todo, analgesia-se e passa a não perceber mais a infelicidade. A oscilação é necessária para que o organismo emocional tome consciência da felici-dade. Lembre-se daquela máxima do Swásthya Yôga: “feli-cidade ou infelicidade são efeitos ilusórios de causas relati-vas à condição anterior.” Aceitando que as crises emocionais são naturais e não há como impedi-las, não as atribuiremos à nossa opção de rela-cionamento e deixaremos de questionar que “se tivéssemos optado por uma outra forma não brigaríamos”. Brigariam, sim. Não é o tipo de relacionamento afetivo que vai evitar brigas e reduzir as crises. É a educação de cada um. Quando dizemos educação, leia-se condicionamento refle-xológico. Ao ser educados pelo nosso ambiente cultural (pais, parentes, professores, amigos, colegas e a novela das oito), ficamos impregnados de determinadas reações condi-cionadas, respostas reflexas a situações do dia-a-dia. É a es-sa educação que nos referimos e é essa educação que vai de-terminar se você resolverá suas crises brigando ou fazendo carícias.

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AS BRIGAS O ser Humano é um animal insano

com breves momentos de sanidade. DeRose

As pessoas acham que brigar é normal. Os casais conside-ram brigar inevitável. Alguns psicanalistas adoram brigas de casal. Defendem que as brigas reforçam e consolidam o a-mor. Mas tudo isso será mesmo verdade? No momento em que duas individualidades começam a con-flitar-se, parece-nos muito mais sensato interpretá-lo como uma sinalização de que não deveriam prosseguir no relacio-namento. Divergências de opinião, sim, são normais. Mas para solu-cioná-las não é preciso disputar histericamente, levantar a voz, proferir agressões ou insultos4. Contudo, se os conflitos sinalizam que o relacionamento não deveria prosseguir, por que as pessoas insistem e conti-nuam juntas, brigando por anos ou décadas? Simplesmente, porque na maior parte dos segmentos culturais a estrutura social dificulta conhecer com intimidade outras pessoas de sexo oposto. Às vezes, terminar um relacionamento que foi

4 Certamente as propostas deste livro dirigem-se a um nível social e educacional diferenciado. Não vamos querer que pessoas rudes, que foram educadas num ambiente hostil, sejam poli-das ao se relacionar seja lá com quem for.

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tão difícil encontrar, significaria ficar meses ou anos em so-lidão. Se o indivíduo viver numa comunidade mais conser-vadora, trocar muito de relacionamento prejudicará sua boa imagem, ainda mais se for do sexo feminino. Pelo mundo afora, em alguns ambientes culturais, desfazer um casamen-to impediria definitivamente o sucesso profissional ou a e-leição a cargos públicos. Por outro lado, a maior parte das pessoas que se encontram não são tão especiais quanto a imagem que traçamos do Príncipe Encantado ou da Prince-zinha. Por isso, os simples mortais vão suportando tudo e acabam considerando normal, até porque seus amigos e pa-rentes padecem da mesma situação. O ideal seria: teve a primeira briga, está na hora de terminar esse relacionamento. Ou, se quiser preservar o atual relacio-namento, então não brigue. Solucione as divergências sem confronto. É muito simples resolver uma situação potenci-almente explosiva. Basta mudar o ponto de vista. Ao invés de partir para a agressão ou cara feia, parta para o carinho, palavras de amor, um chamego e pronto. Ambos relaxam e tem início um círculo de retribuições positivas. Se for mes-mo necessário conversar sobre a questão, deixe para mais tarde, quando os ânimos já tiverem se acalmado.

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COMO EVITAR BRIGAS Mais forte do que o que vence é o que consegue não brigar.

DeRose

Os conflitos entre seres humanos raramente têm um motivo racional. São quase sempre emocionais. E emocionais às raias da insanidade. Começam por causa de uma determina-da modulação da voz ou da imperceptível contração de um músculo facial, captado pelo inconsciente instintivo do in-terlocutor, o qual deflagrará todo um sistema de autodefesa e o humanóide responderá com causticidade. A partir daí, cada hominídeo se colocará dentro de uma for-taleza e tratará de defender os seus pontos de vista, tentando provar ao outro que está com a razão. O problema é que os dois estarão fazendo a mesma coisa, logo, não chegarão a parte alguma. A estratégia mais inteligente utilizada pelas pessoas bem-sucedidas é pensar com a cabeça do outro. A realidade é uma questão de ótica. Assim que você começar a aplicar es-ta tática, vai constatar o quanto é fácil não brigar. Usando esse recurso, você não estará sendo inferior ou mais fraco. Pelo contrário, estará dando os primeiros passos na arte de dominar o adversário, fazendo com que não o veja mais como agressor. Depois que ele não estiver mais na de-

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fensiva e o clima emocional for afetuoso, você conseguirá o que quer – sem confrontos! Os melhores generais foram os que venceram os inimigos sem apelar para o elevado custo das batalhas. Compare o custo/benefício de uma desgastante briga entre pessoas que se amam, a qual poderá durar horas infinitas ou até dias; poderá deixar seqüelas como uma mágoa para o resto da vida; poderá comprometer o desejo sexual; poderá até gerar um rompimento definitivo. Compare isso com o poder de estar no comando e descobrir que tipo de carinho, que tipo de fisionomia, que tipo de tom de voz, que tipo de frase, poderia derreter o parceiro e atirá-lo indefeso aos seus pés! Agora considere: quem é o mais forte, o que enfrenta ou o que consegue não brigar?

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A IMPORTÂNCIA DE RESISTIR À INVEJA

Só os amigos traem. Os inimigos não podem fazê-lo,

pois não confiamos neles. DeRose

Se você conseguir um bom relacionamento afetivo com o seu parceiro, o que não vai faltar são os falsos amigos e, principalmente, as falsas amigas que em conversas íntimas procurarão descobrir um ponto fraco para inocular ali a sua peçonha. Primeiramente, procure minimizar os pontos fra-cos. Depois, não deixe ninguém saber quais são eles. Dis-farce-os como se disso dependesse a sua própria vida – e ela depende mesmo! Quanto mais íntimo o amigo, mais perigoso será. Elimine o mau hábito de trocar confidências. Se isso for impossível, que suas confidências sejam pensadas dez vezes – e filtradas outras dez – antes de você entregar de mão beijada a sua vulnerabilidade, ainda que ao seu melhor amigo. Quando surgirem os inevitáveis comentários maldosos ex-cretados pelos amigos, dê um show de dignidade e mostre-se superior. Mostrar-se superior não é responder com garras afiadas sempre prontas a devolver a agressão. Também não é fingir que não escutou. Superioridade é deixar vir de den-

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tro aquela estrutura invulnerável e responder no ato com um gracejo tão espirituoso que o futriqueiro sinta-se levemente constrangido pelo comentário, mas acabe rindo, contagiado pelo seu bom humor ao tratar do caso. Isso, sim, é superio-ridade. Imagine a situação: sua melhor amiga lhe informa que fla-grou o seu parceiro com uma mulher em um shopping cen-ter. Faça uma cara inesperada pela fofoqueira. Levante as sobrancelhas, abra bem o olhos e num sorriso pergunte: – Era bonita? – Era linda, querida. – Ah! Que bom! Se fosse feia eu iria me ofender. E rindo, mude logo de assunto. Isso em geral faz com que a boateira perca a força e todos se descontraiam. Mas há al-gumas que não se dão por achadas e continuam insistindo no mesmo assunto. Nesse caso a saída é dizer, sempre sor-rindo, algo como: – Ô! Vê se você se toca. Não percebe que está sendo incon-veninente? E vire-lhe as costas. Depois desse show de superioridade, não vá engolir o anzol. Não vá se esquecer da razão para ter aplicado essa sofistica-da técnica de relações humanas e, mais tarde, brigar com o parceiro.

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INSTABILIDADE EMOCIONAL Tem gente que é como os balões:

lindos por fora, mas cheios de vento por dentro. DeRose

Certa vez, uma jovem chamada Luana começou a namorar um amigo meu e as coisas iam tão bem que eles, em comum acordo, decidiram morar juntos. Acreditando na palavra da menina, o jovem saiu da casa dos pais e alugou um aparta-mento, que pagaria com dificuldade. Ela foi passar o fim de semana na sua cidade de origem. Na semana seguinte, quan-do voltou, estava com a cabeça virada, não queria mais morar com ele e decidira voltar com o antigo namorado. Co-loque-se no lugar do garotão. Você consegue imaginar o que ele sentiu? E o quanto aquela menina caiu no conceito de todos? Não são só as mulheres que agem como princezinhas. Os homens também o fazem. Certa vez um conhecido meu fi-cou com uma amiga. Convidou-a a vir para São Paulo. Ela veio. Mas, nesse meio tempo, ele havia mudado de idéia! Quando ela chegou sentiu-se tão decepcionada, perdida e deslocada que correu para os braços dos amigos sinceros, os quais, felizmente, a nossa família proporciona aos montes.

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Não são casos isolados. Poderíamos preencher todas as pá-ginas deste livro com relatos dessa natureza, e o volume cresceria para 3.000 páginas. A questão é: por que alimentar falsas esperanças, jogando com os sentimentos do outro? O argumento das pessoas que perpetram essa atitude é o de que quando fizeram as juras de amor, elas eram sinceras. Mas, depois, mudou... Acontece que é exatamente isso que estamos discutindo a-qui. “Ah! Mudou, mudou. Tudo muda. Que é que eu vou fa-zer?” O que é que você vai fazer? Vai crescer, vai amadure-cer, antes de maltratar mais gente. É claro que quem comete uma atitude dessas acha que está por cima e que sempre es-tará. Que pode fazer e acontecer porque o mundo gira em torno dela. Entretanto, o mundo dá muitas voltas e amanhã essa pessoinha há de sentir o amargor de ser tratada da mes-ma forma. Tem gente que nunca aprende, mas esses vão-se queimando na consideração de todos os amigos. Precisam estar o tempo todo mudando de grupo, sem formar nenhuma amizade sóli-da.

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“TERMINAR” UM RELACIONAMENTO Pois as coisas findas,

muito mais que lindas, estas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Será que é necessário terminar um relacionamento? Não se-ria mais civilizado evoluir o relacionamento, transmutando-o em uma forma mais sutil, talvez uma oitava acima? Romper com uma pessoa, com quem compartilhamos tantos momentos de felicidade, tantas alegrias, tantos carinhos, é um ato de sofrimento atroz para ambas as partes. Então, por que perpetrá-lo? Já que estamos repensando o relacionamento, para evoluir como pessoas, por que não repensarmos também o momento em que esse mesmo relacionamento precisa de um tempo, ou de uma reciclagem? Acredito que as pessoas não devam afastar-se, privar-se do convívio de quem lhes deu tanto, apenas por estar numa ou-tra etapa da sua evolução, da sua vida, ou da sua sexualida-de. Devemos, sim, preservar esse relacionamento que agora extrapolou os limites da relação homem-mulher e alcançou patamares excelsos de dois seres que são mais do que casal, mais do que amigos, mais do que irmãos.

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É fundamental que ao concluir uma etapa do relacionamento e galgar uma outra, haja muita elegância e consideração. Ao invés do papelão que tanta gente faz ao se separar, discutindo que “isto é meu”, “não, não é”, que no lugar disso possam oferecer uma atitude de generosidade, da qual não se arrependerão jamais. Das ceninhas de mesquinharia, certamente, você se envergonharia para sempre.

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O PRÓXIMO RELACIONAMENTO Gosto das amizades quando formam pátina.

DeRose

Em alternativas mais vanguardeiras de relacionamento afe-tivo, tenho presenciado cenas em que o novo casal comete manifestações de afeto quando o(a) parceiro(a) do seu últi-mo relacionamento está presente. Cá entre nós, isso é uma falta de sensibilidade. Não custa comedir suas manifesta-ções de afeto com o novo parceiro quando estiver na pre-sença do anterior. É uma questão de delicadeza, de elegân-cia, de consideração humana. Compreendo que o(a) novo(a) parceiro(a) queira mostrar que “agora ele/ela é seu/sua”. Mas é falta de educação. Seja menos bicho e mais gente. Se ele é seu, realmente, você não precisa pregar um out-door na testa dele. Nem na sua! Isso é feio. Muito feio. E magoa, mesmo que já não haja mais nada entre eles.

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CONCLUSÃO Espero que este livro tenha cumprido a sua proposta: não catequizar para esta ou aquela linha de conduta, mas escla-recer, somar informações e fazer pensar. Os que pensam livremente, com freqüência imaginam-se so-zinhos e sem ter com quem compartilhar suas convicções. Às vezes, chegam a achar que são desajustados ou malucos, pois o resto do rebanho os faz sentir-se assim. A partir de então, camuflam tão bem seu comportamento e suas idéias que, quando estão ao lado de alguém que pense igual, não será reconhecido. Esse mimetismo, que moderadamente é uma saudável medida de segurança, se não for bem consci-ente poderá fazer com que seus semelhantes não se revelem e isso só fará aumentar a sensação de solidão, incompreen-são e desajuste cultural. Certa vez, uma jovem instrutora de Swásthya Yôga, de 18 anos de idade, escreveu-me uma linda cartinha, agradecendo pelos conceitos expostos nos meus livros e vídeos, pois de-volvera-lhe a auto-estima. Dizia, em seu texto, que sempre se sentira como o curinga do baralho e agora havia encon-trado um baralho em que todas as cartas eram curingas!

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A REGULAMENTAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE YÔGA 2

As palavras dela me emocionaram, pois essa é também a minha história. Se esse for o seu caso, você acaba de encon-trar a sua tribo.

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BIBLIOGRAFIA DE APOIO Tantra, a sexualidade sacralizada, DeRose Boas Maneiras no Yôga, DeRose Conversas na Varanda, Regina Navarro Lins

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RECOMENDAÇÕES FINAIS

Como despedida, deixo-lhe estas recomendações:

1. Comece agora mesmo a releitura deste livro, dando especial aten-ção aos trechos que já foram assinalados por você na primeira leitura. Releia com mais calma, saboreando cada parágrafo e parando para meditar e assimilar o seu conteúdo.

2. Conheça os demais livros da Coleção Uni-Yôga, especialmente os dois mais importantes: Yôga, mitos e verdades; e Faça Yôga antes que você precise. São obras que têm o poder de mudar a vida de uma pessoa.

3. Considere a possibilidade de tornar-se um instrumento para melho-rar, não só o seu karma, mas o destino de milhares de seres humanos, formando-se como instrutor de SwáSthya Yôga.

SE QUISER SABER MAIS Se você quiser saber mais sobre este e outros assuntos, recomendamos que participe do curso de formação de instrutores da Universidade de Yôga. Caso não seja possível participar pessoalmente, resta a alterna-tiva de fazer o curso pelos nossos livros, vídeos e CDs, cuja relação é divulgada no Anexo, que consta no final deste volume. Para começar, visite o nosso site, pois você já vai aprender muita coisa lá.

www.uni-yoga.org.br

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DeROSE 5

O site da Universidade de Yôga não vende nada. Mas contém uma quantidade inimaginável de informações e instruções – teóricas e prá-ticas – sobre o Yôga Antigo, Pré-Clássico, o mais completo que existe e que deu origem a todos os demais.

Não abrimos concessão aos modismos estereotipados, nem às inven-cionices comerciais, nem ao comportamento questionável de vender benefícios, terapias ou misticismos. O trabalho da Uni-Yôga é sério e nosso foco é o Yôga Ancestral, sua filosofia de autoconhecimento e a formação profissionalizante de bons instrutores que tenham essa mesma visão. Nossa Jurisdição atualmente compreende Brasil, Argen-tina, Portugal, Espanha, França e Inglaterra.

O site permite free downloads (sem ônus) de muitos livros e MP3 de vários CDs com música e com aulas práticas de Yôga, descontração, meditação, mantras, etc. Tudo sem custo algum. É o único site de Yô-ga com essas características.

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ALTERNATIVAS DE RELACIONAMENTO AFETIVO 6

ANEXO Esta é uma divisão suplementar, que não faz parte do livro,

destinada à divulgação do SwáSthya Yôga.