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JOVENS PARTICIPAM DE SESSÃO NA AML Estudantes do Colégio Dom Bosco participam de projeto para exaltar escritores maranhenses. P.6 S ímbolos valiosos que guar- dam segredos e preciosida- des de quem as habita, as ca- sas poderiam significar uma caixa de memórias de uma vida intei- ra. Guardam tantas histórias que até daria para escrever um livro. A peda- goga maranhense Maria Theresa Soa- res Pflueger, professora aposentada da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), teve esta iniciativa.Viajou ao passado, revisitou residências onde morou em São Luís e escreveu “As ca- sas que habitam em mim: recorte de uma busca”, obra com 123 páginas que, de certa maneira, trazem infor- mações sobre os costumes da socie- dade maranhense a partir do olhar de uma família, em diferentes períodos. Com a pena do sentimentalismo, doses marcantes de saudosismo e, em cada página, visivelmente tocada por perdas que, somadas, ajudaram na motivação para a construção da obra, Theresa Pflueger divide seu livro em capítulos, e em cada um esboça uma história a partir de onde habitou. Co- meça pela residência da Rua do Sol e avança pela casa da Rua São João, a da Antônio Rayol, a de São José de Riba- mar, e também discorre sobre a resi- dência do bairro Cutim Anil. Esta últi- ma foi a primeira casa que a família Pflueger construiu no Brasil e na qual recebia com almoços e jantares ofere- cidos para pessoas da sociedade. “São memórias de minha infância, adolescência e da fase adulta. Come- cei a escrever aleatoriamente sobre o meu bisavô, Manoel Matias de Sousa, que foi um homem rico em todos os sentidos e chegou a ser sócio da anti- ga fábrica de tecidos Cânhamo. Mor- reu atropelado por um bonde. Na ver- dade, com este livro quero dizer que há um entrelaçamento das nossas ca- sas com as nossas vidas”, diz a autora. A infância de Pflueger foi desfruta- da na casa da tradicional Rua do Sol e esta, segundo ela, foi totalmente dife- rente das outras. O pai, Oswaldo Soa- res, era um tabelião colecionador de antiguidades e a família vivia cercada de lindas peças decorativas e também de moedas. “A residência era um estí- mulo à estética e, ao mesmo tempo, assustadora, pois havia inclusive um porão, cofres, íngremes escadas, entre outros elementos que se projetavam nos meus medos. Hoje, posso dizer que há em mim um pedaço de cada uma daquelas casas. Não somos ape- nas o que pensamos ser. Somos tam- bém o que lembramos e aquilo do que esquecemos”, conta ela, lembrando os ensinamentos do criador da psicaná- lise, Sigmund Freud, citado constan- temente no livro. Theresa Pflueger demorou um ano para concluir sua obra. Foi por meio de rabiscos que reconstruiu sua história, motivada inicialmente pela insistência do amigo professor Se- bastião Moreira Duarte. Até que ela resolveu tirar a pena da gaveta para revelar aos netos os causos da família, deixando um legado para sua árvore genealógica. Aos 79 anos, jamais es- quece os capítulos de sua união com o marido. Com Ernst Otto Pflueger causou-se no auge da juventude e ao lado dele se engajaria em diversos mo- vimentos artísticos. Os dois, apaixo- nados, viajaram pelo mundo. “Ele era um amante do teatro e da ópera, e eu amava a leitura. Foi um casamento perfeito”, orgulha-se. O livro “As casas que habitam em mim: recorte de uma busca” leva o lei- tor a um passeio no tempo e traz de- talhes primorosos da arquitetura re- sidencial em São Luís e também reve- la nuances de política e religião. Na orelha, a psiquiatra e psicanalista Lú- cia Bulcão de Carvalho, membro da Letra Freudiana do Rio de Janeiro, es- creve: “Lembranças antes encobertas e lembranças conscientes se enlaçam em descrições precisas, históricas e trá- gicas com relatos de hábitos, costumes e pessoais e familiares, da cidade na- tal e de além mar, tendo como pano de fundo vivências reais ou imaginá- rias legadas às casas que nela deixa- ram seu registro e que a habitam fa- zendo elo, referências, possibilitando encontros e apaziguamento”. São Luís, Quinta-feira, 24 de novembro de 2016 [email protected] Serviço O quê Lançamento do livro “As casas que habitam em mim: recorte de uma busca” Quando Hoje, às 19h Onde Jardim do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (Rua do Sol) Foto/Divulgação LIVRO reúne memórias afetivas da escritora “Não somos apenas o que pensamos ser. Somos também o que lembramos e aquilo do que esquecemos” UM BAÚ de memórias ACERVO fotografias com a família e com o marido Livro “As casas que habitam em mim: recorte de uma busca”, da pedagoga Maria Theresa Soares Pflueger, será lançado hoje, às 19h, no Jardim do Museu Histórico e Artístico do Maranhão

Alternativo 1CAPA:Layout 2O livro “As casas que habitam em mim: recorte de uma busca” leva o lei-tor a um passeio no tempo e traz de-talhes primorosos da arquitetura re-sidencial

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JOVENS PARTICIPAM DE SESSÃO NA AMLEstudantes do Colégio Dom Boscoparticipam de projeto para exaltarescritores maranhenses. P.6

Símbolos valiosos que guar-dam segredos e preciosida-des de quem as habita, as ca-sas poderiam significar uma

caixa de memórias de uma vida intei-ra. Guardam tantas histórias que atédaria para escrever um livro. A peda-goga maranhense Maria Theresa Soa-res Pflueger, professora aposentada daUniversidade Federal do Maranhão(UFMA), teve esta iniciativa. Viajou aopassado, revisitou residências ondemorou em São Luís e escreveu “As ca-sas que habitam em mim: recorte deuma busca”, obra com 123 páginasque, de certa maneira, trazem infor-mações sobre os costumes da socie-dade maranhense a partir do olhar deuma família, em diferentes períodos.

Com a pena do sentimentalismo,doses marcantes de saudosismo e, emcada página, visivelmente tocada porperdas que, somadas, ajudaram namotivação para a construção da obra,Theresa Pflueger divide seu livro emcapítulos, e em cada um esboça umahistória a partir de onde habitou. Co-meça pela residência da Rua do Sol eavança pela casa da Rua São João, a daAntônio Rayol, a de São José de Riba-mar, e também discorre sobre a resi-dência do bairro Cutim Anil. Esta últi-ma foi a primeira casa que a famíliaPflueger construiu no Brasil e na qualrecebia com almoços e jantares ofere-cidos para pessoas da sociedade.

“São memórias de minha infância,adolescência e da fase adulta. Come-cei a escrever aleatoriamente sobre omeu bisavô, Manoel Matias de Sousa,que foi um homem rico em todos ossentidos e chegou a ser sócio da anti-ga fábrica de tecidos Cânhamo. Mor-reu atropelado por um bonde. Na ver-dade, com este livro quero dizer quehá um entrelaçamento das nossas ca-sas com as nossas vidas”, diz a autora.

A infância de Pflueger foi desfruta-da na casa da tradicional Rua do Sol eesta, segundo ela, foi totalmente dife-rente das outras. O pai, Oswaldo Soa-res, era um tabelião colecionador deantiguidades e a família vivia cercadade lindas peças decorativas e tambémde moedas. “A residência era um estí-mulo à estética e, ao mesmo tempo,assustadora, pois havia inclusive umporão, cofres, íngremes escadas, entreoutros elementos que se projetavamnos meus medos. Hoje, posso dizerque há em mim um pedaço de cadauma daquelas casas. Não somos ape-nas o que pensamos ser. Somos tam-bém o que lembramos e aquilo do queesquecemos”, conta ela, lembrando osensinamentos do criador da psicaná-lise, Sigmund Freud, citado constan-temente no livro.

Theresa Pflueger demorou umano para concluir sua obra. Foi pormeio de rabiscos que reconstruiu suahistória, motivada inicialmente pelainsistência do amigo professor Se-bastião Moreira Duarte. Até que elaresolveu tirar a pena da gaveta para

revelar aos netos os causos da família,deixando um legado para sua árvoregenealógica. Aos 79 anos, jamais es-quece os capítulos de sua união como marido. Com Ernst Otto Pfluegercausou-se no auge da juventude e aolado dele se engajaria em diversos mo-vimentos artísticos. Os dois, apaixo-nados, viajaram pelo mundo. “Ele eraum amante do teatro e da ópera, e euamava a leitura. Foi um casamentoperfeito”, orgulha-se.

O livro “As casas que habitam emmim: recorte de uma busca” leva o lei-tor a um passeio no tempo e traz de-talhes primorosos da arquitetura re-sidencial em São Luís e também reve-la nuances de política e religião. Naorelha, a psiquiatra e psicanalista Lú-cia Bulcão de Carvalho, membro da

Letra Freudiana do Rio de Janeiro, es-creve: “Lembranças antes encobertase lembranças conscientes se enlaçamem descrições precisas, históricas e trá-gicas com relatos de hábitos, costumese pessoais e familiares, da cidade na-tal e de além mar, tendo como panode fundo vivências reais ou imaginá-rias legadas às casas que nela deixa-ram seu registro e que a habitam fa-zendo elo, referências, possibilitandoencontros e apaziguamento”. �

São Luís, Quinta-feira, 24 de novembro de [email protected]

ServiçoO quê Lançamento do livro “As casasque habitam em mim: recorte de umabusca” Quando Hoje, às 19h OndeJardim do Museu Histórico e Artísticodo Maranhão (Rua do Sol)

Foto/Divulgação

LIVROreúne

memórias afetivas da escritora

“Não somos apenas o quepensamos ser. Somos também o que lembramos e aquilo do que esquecemos”

UM BAÚ de memórias

ACERVOfotografias

com a famíliae com o marido

Livro “As casas que habitam em mim: recorte de uma busca”, da pedagoga Maria Theresa Soares Pflueger, será lançado hoje, às 19h, no Jardim do Museu Histórico e Artístico do Maranhão