5
Alucinações: a origem e o fim de um falso paradoxo Hallucinations: the origin and ending of a false paradox Márcio Amaral 1 COMENTÁRIO 1 Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). Endereço para correspondência: Márcio Amaral Rua Santa Clara, 52/1213, Copacabana – 22041-010 – Rio de Janeiro, RJ E-mail: [email protected] Recebido 10/06/2007 Aprovado 18/11/2007 Há quase cem anos, desde a publicação da Allgemeine Psychopatologie por K. Jaspers (1913), diversas gerações de psicopatólogos vêm se debatendo com um aparente para- doxo: como continuar a classificar entre os transtornos da senso-percepção uma manifes- tação clínica que é caracterizada, por definição, pela ausência de relação com um objeto estimulador dos órgãos dos sentidos, ou seja, pela ausência de sensações e, em conse- qüência, de percepções? A definição clássica... resume muito bem... o paradoxo e o enigma das alucinações... deve ser uma ‘verdadeira percepção’ de uma falsa realidade... e isso é um escândalo lógico. ” (Ey, 1973) Dizemos que é inexata e até mesmo contraditória (a definição), já que uma percepção pres- supõe sempre a presença de um objeto capaz de afetar os sentidos.” (Goás, 1966) Se a percepção é um fenômeno sensorial que inclui um objeto estimulante e um sujeito receptor (!), como falar em percepção sem objeto? Eis um desafio conceitual que a patologia mental coloca à psicologia do normal.” (Dalgalarrondo, 2002) Encontramos na literatura recente um esforço para redefinir as alucinações, mas o que resultou foi uma expressão do mesmo contra-senso em estado bruto: “ A sensory experien- ce... without external stimulation of the relevant sensory organ... ” (Liester, 1998). Quando nos damos conta de que foi em torno desse tipo de transtorno, e também da atividade deliran- te, que a própria psicopatologia se foi constituindo e ampliando (Goás, 1966), o problema assinalado passa a se revestir de maior importância ainda. Nosso objetivo é demonstrar que esse falso dilema foi induzido por uma maneira mui- to alemã de filosofar, por uma falsa pista fornecida pelo idioma alemão e pela submissão intelectual em que caíram, principalmente a partir da segunda metade do século XIX, os pensadores latinos em relação àquilo que ficou conhecido por filosofia alemã. A ORIGEM DO FALSO PARADOXO A palavra alemã que designa uma percepção é wahrnehmung, a qual é composta pelo subs- tantivo wahr (verdade) e pelo verbo nehmen (tomar por). Dessa forma, e de acordo com o idioma, tudo aquilo que tomamos por verdade passa a ser tratado necessariamente como uma percepção. Nada mais natural que, a partir dessa terminologia, os pensadores alemães perdessem alguma flexibilidade na avaliação do fenômeno. Que diferença em relação ao termo latino que deu origem à palavra percepção em várias línguas, inclusive não latinas! Percipere significa tomar posse de, apoderar-se e, por isso mesmo, expressa muito melhor o que é o fenômeno da percepção e a relação que qual- quer ser vivo mantém com o meio que o circunda: existe um meio no qual vivem e é pelos órgãos dos sentidos que dele se “apoderam”, sofrendo a sua ação (não como mero recep-

Alucinação: a origem e o fim de um falso paradoxo

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Artigo do Jornal Brasileiro de Psiquiatria, tratando de conceitos e contexto histórico dos quadros de alucinação.

Citation preview

  • Alucinaes: a origem e o m de um falso paradoxo

    Hallucinations: the origin and ending of a false paradox

    Mrcio Amaral1

    COMENTRIO

    1 Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF).

    Endereo para correspondncia: Mrcio AmaralRua Santa Clara, 52/1213, Copacabana 22041-010 Rio de Janeiro, RJE-mail: [email protected]

    Recebido10/06/2007Aprovado

    18/11/2007

    H quase cem anos, desde a publicao da Allgemeine Psychopatologie por K. Jaspers (1913), diversas geraes de psicopatlogos vm se debatendo com um aparente para-doxo: como continuar a classicar entre os transtornos da senso-percepo uma manifes-tao clnica que caracterizada, por denio, pela ausncia de relao com um objeto estimulador dos rgos dos sentidos, ou seja, pela ausncia de sensaes e, em conse-qncia, de percepes?

    A denio clssica... resume muito bem... o paradoxo e o enigma das alucinaes... deve ser uma verdadeira percepo de uma falsa realidade... e isso um escndalo lgico. (Ey, 1973)

    Dizemos que inexata e at mesmo contraditria (a denio), j que uma percepo pres-supe sempre a presena de um objeto capaz de afetar os sentidos. (Gos, 1966)

    Se a percepo um fenmeno sensorial que inclui um objeto estimulante e um sujeito receptor (!), como falar em percepo sem objeto? Eis um desao conceitual que a patologia mental coloca psicologia do normal. (Dalgalarrondo, 2002)

    Encontramos na literatura recente um esforo para redenir as alucinaes, mas o que resultou foi uma expresso do mesmo contra-senso em estado bruto: A sensory experien-ce... without external stimulation of the relevant sensory organ... (Liester, 1998). Quando nos damos conta de que foi em torno desse tipo de transtorno, e tambm da atividade deliran-te, que a prpria psicopatologia se foi constituindo e ampliando (Gos, 1966), o problema assinalado passa a se revestir de maior importncia ainda.

    Nosso objetivo demonstrar que esse falso dilema foi induzido por uma maneira mui-to alem de losofar, por uma falsa pista fornecida pelo idioma alemo e pela submisso intelectual em que caram, principalmente a partir da segunda metade do sculo XIX, os pensadores latinos em relao quilo que cou conhecido por losoa alem.

    A ORIGEM DO FALSO PARADOXO

    A palavra alem que designa uma percepo wahrnehmung, a qual composta pelo subs-tantivo wahr (verdade) e pelo verbo nehmen (tomar por). Dessa forma, e de acordo com o idioma, tudo aquilo que tomamos por verdade passa a ser tratado necessariamente como uma percepo. Nada mais natural que, a partir dessa terminologia, os pensadores alemes perdessem alguma exibilidade na avaliao do fenmeno.

    Que diferena em relao ao termo latino que deu origem palavra percepo em vrias lnguas, inclusive no latinas! Percipere signica tomar posse de, apoderar-se e, por isso mesmo, expressa muito melhor o que o fenmeno da percepo e a relao que qual-quer ser vivo mantm com o meio que o circunda: existe um meio no qual vivem e pelos rgos dos sentidos que dele se apoderam, sofrendo a sua ao (no como mero recep-

  • J Bras Psiquiatr, 56(4): 296-300, 2007

    297Alucinaes: a origem e o fim de um falso paradoxoCOMENTRIO

    tor, bom que se assinale) e o modicando segundo as suas possibilidades. ainda a partir dessa tomada de posse que adquirem a capacidade de produzir representaes.

    A rigor, o contra-senso assinalado s existiria para ns latinos e essa , certamente, a razo pela qual os alemes nem se deram conta do problema que, involuntariamente, cria-ram para ns. Quer isso dizer, ento, que esse seria um mero problema de terminologia sem outras conseqncias? Certamente que no. Aquilo que tentaremos demonstrar, que o critrio germnico atrapalha a compreenso do fenmeno e a sua investigao.

    Como deveramos, ento, a partir do critrio implcito no termo latino, classicar as alu-cinaes? Naturalmente que entre as representaes, uma vez que so totalmente produ-zidas por aqueles que as sofrem, contrariamente s senso-percepes que so disparadas por estmulos do ambiente.

    J escrevemos sobre o assunto (Amaral, 1998), e vericamos, posteriormente, que pelo menos um outro autor brasileiro classicara as alucinaes entre as representaes (Paim, 1993), talvez inspirado por Mira y Lopes que, em 1943, havia denido assim uma alucina-o: uma imagem representativa (mnmica ou fantstica) que adquire os caracteres de sen-sorialidade necessrios para ser aceita pelo juzo de realidade como proveniente de um objeto exterior. Antes de todos eles, pelo menos um autor de lngua germnica havia se referido s alucinaes de maneira muito semelhante: Os produtos patolgicos da atividade represen-tativa (vorstellungsttigkeit) podem acabar por adquirir um carter de corporeidade (leibhaftig), como nossas prprias percepes, achando-se deslocadas para o espao externo (Lange, 1939). Esse autor, entretanto, continuou a classicar as alucinaes entre os distrbios da senso-percepo, em mais uma demonstrao da tpica diculdade de transpor a barreira termi-nolgica assinalada.

    Diante de tudo isso, poderamos nos perguntar: por que essas consideraes continua-ram perifricas em relao ao saber ocial na psicopatologia? A resposta a essa pergun-ta deve ser procurada, certamente, no fato de nenhum desses autores haver contraposto suas idias ao saber ocial e procedido crtica necessria evoluo de qualquer saber. O melhor exemplo para essa armao encontrado na ressalva feita por Nobre de Mello (1979) quando armou no pretender ... derrogar o que haja de realmente vlido e solida-mente estabelecido nesse terreno... apesar de sua elegante fenomenologia do ato perceptivo t-lo levado concluso de que ... denir alucinao como percepo sem objeto ou... sem o estmulo sensorial correspondente incorreto.

    A IMPORTNCIA E A SUBESTIMAO DA CAPACIDADE DE REPRESENTAR

    O mrito de bem caracterizar as representaes normais e de estabelecer suas diferenas em relao s senso-percepes todo de Jaspers. O seu clssico quadro sistematizando essas diferenas parece esgotar o assunto e certamente continuar a ser utilizado pelos tempos. O problema parece ter sido que ele permaneceu preso idia de que as repre-sentaes ocorreriam sempre em um certo espao interno e, por isso mesmo, nunca pro-duziriam um engano pleno quanto sua veracidade. Essa nos parece ser a razo pela qual o mximo a que ele conseguiu chegar quanto ao interesse clnico das representaes, ou seja, sua expresso como sintoma, prendeu-se quilo que denominou pseudo-alucinaes,as quais, apesar de continuarem ocorrendo no referido espao interno, teriam uma certa autonomia, ou seja, no seriam controladas pela vontade. Esse, apesar de ser um dos crit-rios essenciais para as pseudo-alucinaes, foi deixado de lado por todos os autores que consultamos, os quais se preocuparam apenas com a diferenciao entre as alucinaes e as pseudo-alucinaes, abandonando completamente os esforos levados a efeito por Jaspers para diferenciar esses ltimos fenmenos das representaes normais.

  • J Bras Psiquiatr, 56(4): 296-300, 2007

    298 Amaral M COMENTRIO

    Aquele critrio enrijecido aplicado s representaes, referente ao espao interno, en-tretanto, desaba completamente quando observamos as representaes visuais eidticas (ps-sensoriais) que podem ser projetadas em paredes ou no meio ambiente, como no caso do catador de mas descrito pelo prprio Jaspers e ainda na aparente sensao (representao) de permanecer embarcado que tem algum que esteve por muitas ho-ras no mar, o assim chamado mal de debarquement, muito bem caracterizado como uma pseudo-alucinao (Moeller e Lempert, 2007), uma vez que, por um lado, independe da vontade daquele que o sofre e, por outro, no tem poder de convencimento.

    H de assinalar ainda que tudo o que se refere a quaisquer representaes envolve a memria alm de uma nova organizao daquilo que foi um dia experimentado. exata-mente isso o que se pode depreender das palavras de Esquirol (1838):

    As falsas percepes dos alucinados so imagens e idias reproduzidas pela memria, asso-ciadas pela imaginao e personicadas pelo hbito.

    Nas alucinaes no existem sensaes ou percepes... uma vez que os objetos exterioresno atuam sobre os sentidos.

    As expresses evoluem e os termos acabam por se impor e consagrar, por isso, que no precisamos car a eles presos, mas essa observao de Esquirol deveria servir ao menos para que parssemos de denominar alucinaes manifestaes completamente normais e siolgicas como as representaes hipnaggicas e hipnopmpicas. Essa banalizao do termo alucinao (Alonso-Fernndez, 1976) tem sido muito prejudicial compreenso do fenmeno.

    H muito tempo nos perguntamos ainda quanto ao porqu do critrio para as aluci-naes: poder de convencimento na existncia do objeto no constar da lista de Jaspers. A resposta para essa questo est tambm implcita naquele mesmo falho princpio induzido pela lngua alem, uma vez que aquilo que tomado por verdadeiro (wahrnemung) tem, necessariamente, poder de convencimento.

    Essa maneira de abordar as percepes parece ser uma conseqncia natural da Crtica da Razo Pura de I. Kant a qual ensina ... a tomar o objeto numa dupla signicao, comofenmeno e como coisa em si mesma (Kant, 1787). Tendo em vista que a referida coisa em si seria inacessvel mente humana, no poderamos falar em tomar posse (percipere) do em torno a partir da experincia e dos rgos dos sentidos. Como haveria, ainda, uma distncia enorme entre tudo aquilo que percebemos e aquela que seria uma espcie de verdade ltima das coisas, at mesmo as percepes seriam sempre parciais e enganosas. A partir dessa perda de importncia do mundo sensvel, houve um deslocamento do interesse para aquilo que se passava com o sujeito na sua relao com o meio. Dessa forma, o critrio prin-cipal para a caracterizao de uma percepo, entre os alemes, passou a ser a crena na veracidade do experimentado, independentemente da existncia ou no de um objeto.

    Mais enftico do que Jaspers em refutar uma possvel relao entre as representaes e as alucinaes foi Bumke (1917) que teve, alm disso, a pretenso de delimitar o espao re-presentativo: ... as representaes so incompletas, mal delimitadas, oscilantes... e no podem ser projetadas no exterior. Em vez disso, se desenvolvem em pequeno (!) espao representativo... Parece haver uma separao entre esses dois processos que, na opinio de Jaspers, impossvel de romper. Em verdade, o mestre havia armado existir um abismo entre as representaes e os assim chamados distrbios da senso-percepo (van der Zwaard e Polak, 2001). Esse abismo, porm, parece-nos ser produto de um mero erro conceitual, uma vez que todas as funes humanas que conhecemos podem sofrem variaes sucientes para a caracteri-zao de sinais ou sintomas. Por que, em relao capacidade humana de representar, as coisas se dariam de maneira diferente?

    O modelo proposto por Jaspers implica necessariamente a existncia de trs grupos de fenmenos nesse campo: as percepes com objeto, as representaes e as percepes sem objeto. Entretanto, aqueles que o aplicam no se aprofundaram muito no estudo da poss-vel origem e natureza dessas ltimas. A nova forma de olhar os fenmenos aqui proposta resume-os a dois grupos e sugere que todos os sintomas e variaes extremas do normal

  • J Bras Psiquiatr, 56(4): 296-300, 2007

    299Alucinaes: a origem e o fim de um falso paradoxoCOMENTRIO

    observados nessa rea relacionam-se diretamente com a ilimitada capacidade humana de representar.

    Confrontemos agora os dois critrios assinalados, aplicando-os a uma formulao do prprio Jaspers, quando discutiu a possibilidade de ocorrer uma transio entre as aluci-naes e as pseudo-alucinaes: ... quando uma pseudo-alucinao se transforma em uma alucinao, ou quando se produz uma rica vida patolgica dos sentidos, durante a qual se com-binam os fenmenos (Jaspers, 1913).

    Antes de tudo, parece-nos bvia a aproximao que aqui feita entre as duas mani-festaes, uma vez que s existem transies entre coisas muito ans, no caso, duas formas de representao. No precisaramos de um terceiro e misterioso grupo de fenmenos. No seria, ainda, muito mais razovel pensar nessas possveis transies como variaes de intensidade dentro de um mesmo grupo de fenmenos (uma espcie de espectro das representaes) no qual a perda do juzo crtico caracterizaria a passagem de uma pseudo-alucinao para uma alucinao verdadeira?

    bom assinalar que no se est buscando abalar a importncia dos clssicos alemes, especialmente de Jaspers. Isso seria totalmente inconseqente, at porque ele continua a ser a nossa maior referncia. Aquilo que nos parece evidente a limitao que o idioma imps sua anlise do fenmeno das alucinaes da qual ns latinos no precisamos con-tinuar cativos.

    CONSEQNCIAS DA NOVA PROPOSTA DE CLASSIFICAO

    A libertao das representaes do connamento ao espao interno e dependncia da vontade a que foram relegadas por Jaspers permite que se lance um olhar muito diferente sobre os fenmenos que so habitualmente classicados como transtornos da senso-per-cepo. Assim, as iluses seriam fenmenos mistos: a partir de uma senso-percepo, em geral no muito ntida, seria associada uma representao tomada, ainda que momenta-neamente, como real. Curiosamente, um outro autor, que viveu entre ns, tambm esteve na pista da valorizao da capacidade humana de representar dos seres humanos quando, em sua denio das iluses, associou-as ao aporte de elementos representativos associados a uma senso-percepo verdadeira (Mira y Lopes, 1943).

    As pareidolias seriam tambm fenmenos mistos, apenas que, nesses casos, freqente-mente provocadas intencionalmente e nunca associadas a um engano.

    As alucinaes funcionais tambm seriam fenmenos mistos, mas aconteceriam asso-ciadas a um certo paralelismo, durante o qual a senso-percepo e a representao corres-pondente manteriam uma ntima relao, mas no se confundiriam.

    As assim chamadas pseudo-alucinaes, segundo aquele espectro proposto para as re-presentaes, seriam fenmenos intermedirios entre as representaes corriqueiras e as alucinaes. O que as diferenciaria das demais representaes seria sua independncia do controle volitivo, enquanto a manuteno do juzo crtico as diferenciaria das alucinaes verdadeiras. O critrio referente ao espao interno para a sua caracterizao, desmentido pelo mal de debarquement (Moeller e Lempert, 2007), perderia sua importncia.

    No jamais vu, aquele que o sofre no conseguiria bem parear uma representao (de uma situao ou ambiente conhecidos) senso-percepo correspondente, gerando o mal-estar e a estranheza caractersticos.

    Em relao ao dej vu ocorreria exatamente o contrrio: diante de uma situao nova, para a qual no h uma representao possvel (depois de uma intensa investigao), seria disparada a sensao de uma falsa representao (impresso de j ter vivido a situao anteriormente).

    A xao arbitrria de dois dos critrios para a caracterizao de uma representao(ocorrem sempre em um certo espao interno e so dependentes da vontade) pelos autores clssicos prejudicou muito a investigao desse tipo de fenmeno e gerou um

  • J Bras Psiquiatr, 56(4): 296-300, 2007

    300 Amaral M COMENTRIO

    falso paradoxo que vem desaando os estudiosos da psicopatologia h vrias geraes: como continuar a classicar entre os transtornos da senso-percepo as alucinaes, uma vez que um dos seus critrios fundamentais exatamente o fato de no estarem associa-das estimulao dos rgos dos sentidos por qualquer objeto? Por denio, se no h sensao, no pode haver senso-percepo. Totalmente arbitrrio nos parece ainda con-siderar as representaes fenmenos necessariamente normais, como tambm o zeram aqueles mesmos autores, uma vez que, em princpio, para todas as funes humanas que conhecemos, podem ocorrer variaes extremas e patolgicas. Dessa forma, e segundo a proposta aqui expressa, as alucinaes seriam representaes dotadas de todas as carac-tersticas de uma percepo normal, inclusive o poder de convencimento na existncia do objeto representado.

    REFERNCIAS

    Alonso-Fernndez F. Fundamentos de la psiquiatria actual. Madrid: Editorial Paz Montalvo, 1976.

    Amaral M. Psicopatologia e semiologia bsicas. Rio de Janeiro: Editora da UFF, 2004.

    Amaral M, Fontenelle L. As senso-percepes, as representaes e seus trantornos. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 47(12):641-46, 1998.

    Bleuler E. Psiquiatria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1985.

    Bumke O. Tratado de las enfermidades mentales. Barcelona: Francisco Seix Editor, 1917.

    Chalub M. Temas de psicopatologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.

    Cheniaux E. Manual de psicopatologia. Rio de Janeiro: G. Koogan, 2002.

    Dalgalarrondo P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto alegre: Artes Mdicas Sul, 2002.

    Delgado H. Curso de psiquiatria. Barcelona: Editorial Cientco-Mdica, 1969.

    Esquirol E. Des maladies mentales. New York: Arno Press A N. York Times Company NY, 1976.

    Ey H. Trait des hallucinations. Paris: Masson et cie, 1973.

    Gos MC. Temas de psiquiatria. Madrid: Editorial Paz Montalvo, 1966.

    Jaspers K. Allgemeine psychopatologie. Berlin-Heidelberg: Springer-Verlag, 1948.

    Jaspers K. Psicopatologia general. Rio de Janeiro: Atheneu, 1973.

    Kant I. Crtica da razo pura. So Paulo: Abril, 1974.

    Lange J. Psiquiatria. Madrid-Barcelona: Editorial Miguel Servet, 1942.

    Lange J. Kurzgefasstes Lehrbuch der psychiatrie. Leipzig: George Thieme-Verlag, 1939.

    Liester MB. Toward a new denition of hallucination. Am J Orthopsychiatry. 68(4): 656-9, Oct. 1998.

    Mello N. Psiquiatria. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1979.

    Moeller L, Lempert T. Mal de debarquement: pseudo-hallucinations from Vestibular Memory? J Neurol. 254(6):813-5, 2007.

    Mira y Lopes E. Manual de psiquiatria. Buenos Aires: Livraria Ateneo, 1943.

    Paim I. Curso de psicopatologia. So Paulo: Ed. Pedaggica e Universitria, 1993.

    Schneider K. Psicopatologia clnica. Madrid: Diana Artes Grcas, 1963.

    van der Zwaard R, Polak MA. Pseudohallucination: a pseudoconcept? A review of the validity of the concept, related to associated symtomatology. Comprehensive Psychiatry. 42:42-50, 2001.