Alunos surdos severos e surdos profundos - compreensão da leitura no final do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    1/73

    Educao Bsica

    observatr i o dos apoios educat i vos

    Alunos Surdos Severos e Surdos Profundos:Compreenso da Leitura no Final do 1 Ciclo do Ensino Bsico

    Maria Joo Reis

    ncl eo de or i entao educat i va e de educao especial

    Fevereiro de 2002

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    2/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 1

    Educao Bsica

    NDICE

    AGRADECIMENTOS 2

    INTRODUO 3

    1. ENQUADRAMENTO GERAL DA PROBLEMTICA 41.1. OBJECTIVOS E QUESTES 6

    2. METODOLOGIA 82.1. POPULAO 82.2. INSTRUMENTO 8

    2.3. PROCEDIMENTOS 112.4. VARIVEIS INDEPENDENTES 15

    3. ENSINO BSICO: COMPETNCIAS GERAIS, ESSENCIAIS E ESPECFICAS 16

    4. LEITURA E SURDEZ 18

    5. RESULTADOS 225.1. DESCRIO E ANLISE DOS RESULTADOS 225.1.1. POPULAO 225.1.2. DESEMPENHO GLOBAL 255.1.3. DESEMPENHOS POR ITENS 295.1.4. DESEMPENHOS POR COMPETNCIAS 385.2. DISCUSSO DOS RESULTADOS 41

    6. CONCLUSES 48

    7. SUGESTES PARA A PRTICA PEDAGGICA 52

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 55

    ANEXOS 60ANEXO 1. ENUNCIADO DA PROVA 60ANEXO 2. INSTRUES DE APLICAO DA PROVA 67ANEXO 3. INSTRUES DE REALIZAO DA PROVA 70ANEXO 4. DADOS DE CARACTERIZAO DO ALUNO 72

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    3/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 2

    Educao Bsica

    Agradecimentos

    O nosso agradecimento a todos os profissionais das Unidades de Apoio Educao de

    Alunos Surdos que pela aplicao da prova utilizada neste estudo foram determinantes

    para a sua concretizao.

    Aos colegas das Direces Regionais de Educao pela colaborao prestada e pelo

    reconhecimento da importncia deste trabalho.

    A todos os alunos surdos. Razo de ser de tudo isto.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    4/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 3

    Educao Bsica

    Introduo

    O relatrio que agora se apresenta integra-se no Observatrio dos Apoios Educativos,

    sediado no Departamento da Educao Bsica, sob a responsabilidade do Ncleo de

    Orientao Educativa e Educao Especial.

    Pretendemos neste estudo caracterizar a populao escolar com surdez severa e surdez

    profunda, a frequentar o 4 ano da escolaridade bsica, no ano lectivo 2000/2001, em

    Unidades de Apoio Educao de Alunos Surdos. Pretendemos ainda, caracterizar o

    desempenho em leitura destes alunos, especificamente no respeitante compreenso,

    por referncia aos objectivos e competncias essenciais definidos para a Lngua

    Portuguesa, para o 1 ciclo do Ensino Bsico.

    O presente relatrio divide-se em sete captulos. No primeiro captulo faremos o

    enquadramento geral da problemtica, objectivos e questes que nortearam este

    trabalho; no segundo captulo definiremos a metodologia utilizada; no terceiro captulo

    abordaremos as competncias gerais, essenciais e especficas para a Lngua Portuguesa,

    definidas no Currculo Nacional do Ensino Bsico: competncias essenciais (M.E.,

    DEB, 2001); no quarto captulo faremos uma abordagem problemtica da leitura esurdez; no quinto captulo apresentaremos os resultados quanto ao desempenho global,

    ao desempenho por itens e ao desempenho por competncias de leitura, bem como, a

    discusso dos mesmos; no sexto captulo so apresentadas as concluses; finalmente, no

    stimo captulo, sero delineadas algumas sugestes para a prtica pedaggica,

    decorrentes deste estudo.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    5/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 4

    Educao Bsica

    1. Enquadramento geral da problemtica

    A leitura sem dvida uma rea crucial na educao de alunos surdos. Ler o veculo

    principal de acesso informao e ao conhecimento, bem como, de integrao

    sociocultural da populao surda. A compreenso do texto escrito, fundamental para

    qualquer pessoa e objectivo principal de todo o processo educativo, adquire uma maior

    relevncia naquelas que, como os surdos, se encontram privadas de um acesso por via

    auditiva informao, veiculada numa sociedade maioritariamente ouvinte pela

    linguagem oral.

    A surdez compromete a recepo da informao lingustica via auditiva e

    consequentemente, o desenvolvimento da linguagem oral. A expresso e a compreensodo oral, usos primrios da lngua, encontram-se assim comprometidas, condicionando o

    modo como as crianas aprendem a ler e os nveis de desempenho por elas alcanados.

    A linguagem escrita uma modalidade da lngua oral. Saber ler e escrever, usos

    secundrios da lngua, significa dominar uma representao da linguagem oral. O

    conhecimento, ainda que restrito, ou, pelo contrrio, o no conhecimento da dimenso

    oral da lngua, decisivo para a aprendizagem da respectiva modalidade escrita.

    A prtica pedaggica com alunos surdos tem-se baseado na hiptese de que a

    aprendizagem da leitura depende de processos de aquisio e domnio dos usos

    primrios da lngua oral. Uma vez que a criana surda evolu-se nesse domnio, seria

    possvel o desenvolvimento de metodologias facilitadoras da aprendizagem da leitura e

    da compreenso do texto escrito. Esses mtodos eram semelhantes aos utilizados com

    crianas ouvintes, reforando-se o apoio visual, o desenvolvimento do conhecimento

    vocabular, a correco de aspectos articulatrios e uma tentativa de adequao do ritmo

    de ensino s possibilidades da criana surda. Os resultados obtidos so hojereconhecidamente insuficientes.

    Os baixos nveis de desempenho em leitura e escrita dos alunos surdos tm sido referidos

    em vrios trabalhos realizados no mbito de linhas de investigao assentes no paradigma

    da deficincia. Estes trabalhos evidenciam capacidades e processos deficitrios destes

    alunos, por comparao com ouvintes. A investigao no domnio da surdez e literacia,

    ancorada no paradigma cultural, reporta-se sobretudo avaliao de modelos e programas

    bilingues.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    6/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 5

    Educao Bsica

    Neste trabalho, procuraremos caracterizar o desempenho em leitura dos alunos surdos

    severos e surdos profundos no final do 1 ciclo da Educao Bsica. A populao

    envolvida neste estudo coincidente com a totalidade destes alunos que frequentavam o

    4 ano de escolaridade, no ano lectivo 2000/2001, nas recentemente criadas Unidades de

    Apoio Educao de Alunos Surdos (Despacho n. 7520/98, de 6 de Maio).

    A utilizao de provas formais como meio de avaliao do desempenho de alunos

    surdos, conduz-nos necessariamente a uma discusso sobre o propsito dessa mesma

    avaliao e sobre o tipo de instrumento utilizado.

    Na nossa perspectiva, a avaliao de nveis de desempenho de populaes especficas

    no se dever limitar constatao de uma esperada desvantagem quantitativa dos

    resultados obtidos, por comparao com a populao majoritria, neste caso, a ouvinte.

    Procuraremos assim, caracterizar o desempenho global em compreenso da leitura, os

    desempenhos por itens e os desempenhos por competncias especficas de leitura, com

    o objectivo de procurar perceber de que forma lem os nossos alunos surdos.

    A discusso em torno dos instrumentos utilizados na avaliao destes alunos remete-nos

    para a sua especificidade lingustica e para a necessidade, ou no, de adequao da

    prova, de acordo com essa mesma especificidade. Os argumentos utilizados, quer nossituemos numa ou na outra perspectiva, parecem ser vlidos: por um lado, h que

    considerar aspectos estruturais da prova (exp. respostas de escolha mltipla), por outro,

    h que considerar objectivos curriculares e competncias essenciais, correspondentes a

    nveis de desempenho esperados no final do 1 ciclo da Educao Bsica. Na elaborao

    do instrumento de avaliao utilizado neste trabalho, procurmos conciliar ambas as

    perspectivas.

    A leitura uma tarefa interactiva entre o sujeito leitor, o objecto da leitura e o contexto

    em que a mesma ocorre. Nesta perspectiva, estamos conscientes que o facto de no

    avaliarmos, neste trabalho, os factores contextuais de ensino, como sejam: as

    metodologias; o tempo lectivo despendido em actividades de leitura; a formao e

    experincia profissional dos docentes; o interesse e tempo despendido pelos prprios

    docentes com a leitura e o espao fsico da sala de aula, constitui uma limitao do

    presente estudo.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    7/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 6

    Educao Bsica

    1.1. Objectivos e questes

    Os principais objectivos deste trabalho so:

    - Caracterizar a populao escolar com surdez severa e surdez profunda, no 4 ano

    do 1 ciclo do Ensino Bsico, em Unidades de Apoio Educao de Alunos

    Surdos, quanto idade, sexo, grau de surdez e modo de comunicao.

    - Caracterizar o desempenho em leitura, mais especificamente de compreenso da

    leitura, destes alunos, por referncia aos objectivos curriculares e s competncias

    essenciais definidos para a Lngua Portuguesa.

    Mais especificamente, so ainda nossos objectivos:

    - Procurar perceber as relaes existentes entre nveis de desempenho em leitura e

    as caractersticas especficas da populao estudada: sexo, idade, grau de surdez

    (severo ou profundo) e modo de comunicao (linguagem oral, lngua gestual,

    gesto natural).

    - Procurar identificar se nesta populao existem variaes de desempenho

    consoante as competncias especficas de leitura.

    - Procurar analisar, comparativamente, o desempenho em leitura da populao em

    estudo com o desempenho de populaes ouvintes envolvidas em estudos

    anteriores.

    Partimos das seguintes questes:

    - Em que medida, as caractersticas especficas dos sujeitos surdos influenciam o

    desempenho em leitura ?

    - Em que medida, o grau de surdez, traduzido num maior ou menor

    comprometimento ao nvel da linguagem oral, influencia o desempenho em

    leitura ?

    - Em que medida, o modo de comunicao, relacionado com o grau de surdez,

    influencia o desempenho em leitura ?

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    8/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 7

    Educao Bsica

    - Em que medida, a idade influencia o desempenho em leitura na populao

    estudada?

    - Sero os desempenhos em leitura de alunos surdos severos e surdos profundos,

    qualitativamente semelhantes aos de alunos ouvintes ?

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    9/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 8

    Educao Bsica

    2. Metodologia

    2.1. Populao

    A populao envolvida neste estudo coincidente com o universo dos alunos surdos

    severos e profundos a frequentar o 4 ano de escolaridade, em escolas de referncia das

    Unidades de Apoio Educao de Alunos Surdos do territrio continental portugus, no

    ano lectivo 2000/2001, num total de 77 sujeitos.

    2.2. Instrumento

    O instrumento de avaliao elaborado para este estudo visou, por um lado, a obteno

    de indicadores de desempenho na leitura, em alunos surdos severos e profundos, nofinal do 1 ciclo do Ensino Bsico e por outro, tendo por referncia os objectivos

    curriculares definidos no programa em vigor para a rea da Lngua Portuguesa, a

    identificao de desempenhos em diversos itens, respeitantes a competncias especficas

    no processo de compreenso de leitura (Anexo 1).

    Na elaborao da prova procurou-se respeitar a estrutura da Prova de Aferio de

    Lngua Portuguesa do 4 ano de escolaridade, partes I e II (leitura e compreenso da

    leitura), aplicada a nvel nacional no ano lectivo 1999/2000, de forma a poderem ser

    utilizados os mesmos critrios de classificao.

    Da prova constavam um texto narrativo, narrao sequencial de uma histria, e nove

    itens, respeitantes a objectivos curriculares e a subjacentes competncias especficas de

    leitura.

    A opo por uma narrativa prendeu-se com dois tipos de factores: a convico de que os

    textos narrativos literrios ocupam um lugar de destaque no trabalho da escola, sendo os

    mais representados, entre os textos literrios, nos manuais escolares (Alarco, 2001); os

    discursos narrativos apresentarem-se ao leitor como mais fceis de compreender dada a

    sua prpria estrutura e possibilitarem ao leitor, a partir da sua prpria experincia, uma

    antecipao do contedo do texto. Este ltimo factor corroborado pelos resultados

    obtidos no estudo nacional de caracterizao do Nvel de Literacia da Populao

    Escolar Portuguesa (Sim-Sim, I. & Ramalho, G., 1993) nos textos narrativos em

    comparao com os descritivos (60% e 55%, respectivamente, de respostas correctas).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    10/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 9

    Educao Bsica

    Foram tidos em ateno alguns aspectos decorrentes da especificidade lingustica da

    populao alvo, tanto a nvel vocabular como sintctico. No entanto, importa realar

    que procurmos que o nvel de exigncia da prova correspondesse ao do final do 1

    ciclo do Ensino Bsico, acautelando-se objectivos especficos e gerais terminais deste

    ciclo, para a Lngua Portuguesa.

    No que respeita avaliao de competncias especficas envolvidas na compreenso de

    leitura, a prova desenhada integrou questes de resposta mltipla ou aberta visando (i) a

    compreenso literal (verbatim e parfrase), (ii) a localizao da informao, (iii) a

    compreenso inferencial e (iv) a extraco da ideia principal.

    As questes de compreenso literal (i) tinham como objectivo a avaliao da apreenso

    da informao explicitamente contida numa passagem do texto, quer pela utilizao das

    mesmas palavras (verbatim), quer por outras palavras (parfrase). A localizao da

    informao (ii) exigia a mobilizao da capacidade para localizar informao especfica

    e, em circunstncias particulares, seriar e ordenar essa mesma informao. No

    respeitante compreenso inferencial (iii) baseava-se na capacidade de extrair

    informao no explicitamente expressa no texto, por processos de relacionamento com

    conhecimentos anteriores ou de generalizao da informao dada. Finalmente, a

    extraco da ideia principal (iv) requeria a compreenso global do texto e a capacidade

    de seleccionar uma frase que a sintetizasse (Tabela 1).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    11/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 10

    Educao Bsica

    Tabela 1. Prova: matriz de objectivos e competncias de leitura envolvidos nos diferentes itens.

    ITEM COD. OBJECTIVO COMPETNCIA

    1 Perso. Identificar as personagens de umtexto narrativo

    Compreenso literal.

    2 Situa. Explicar uma situao

    relacionada com uma

    personagem, indicando o motivo

    que a origina.

    Compreenso literal

    (verbatim).

    Localizao da informao.

    3 Selpal. Seleccionar palavras que

    descrevem a aco de umapersonagem.

    Compreenso literal

    (verbatim).Localizao da informao.

    4 Comp. Indicar a circunstncia em que

    ocorre um comportamento de

    uma personagem.

    Compreenso literal

    (verbatim).

    Localizao da informao.

    5 Rellog. Estabelecer uma relao lgica

    (verdadeiro/falso) entre

    acontecimentos narrados.

    Compreenso literal e

    inferencial.

    6 Esp. Explicar um estado de esprito de

    uma personagem, inferindo

    motivos de natureza objectiva

    e/ou subjectiva.

    Compreenso inferencial.

    7 Transc Transcrever um segmento

    textual.

    Compreenso literal

    (verbatim).

    Localizao da informao.

    8 Ord. Ordenar acontecimentos,

    respeitando a sua ocorrncia

    cronolgica na narrativa.

    Localizao da informao.

    9 Tit. Seleccionar de entre vrios, o

    ttulo mais adequado a um texto.

    Extraco da ideia principal.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    12/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 11

    Educao Bsica

    2.3. Procedimentos

    Numa primeira fase, efectuou-se o levantamento dos alunos surdos severos e profundos

    que no ano lectivo 2000/2001 frequentavam o 4 ano de escolaridade, em escolas de

    referncia de Unidades de Apoio Educao de Alunos Surdos. Esse levantamento foiefectuado junto das Direces Regionais de Educao.

    A partir dos dados levantados, foram distribudas as provas s escolas de referncia das

    Unidades de Apoio Educao de Alunos Surdos que integravam os alunos

    identificados, devendo as mesmas aplicar as provas num prazo de trs dias aps a sua

    recepo. As provas foram aplicadas prximo do final do ano lectivo (Maio), cerca de

    um ms antes da realizao das provas de aferio nacionais.

    Juntamente com as provas, foram enviadas instrues de aplicao da prova dirigidas

    aos docentes de apoio educativo, aplicadores da mesma, bem como, instrues para a

    sua realizao, dirigidas aos alunos (Anexos 2 e 3).

    A prova foi realizada individualmente, no devendo os aplicadores prestar qualquer tipo

    de auxlio para alm de esclarecimentos pontuais requeridos pelos alunos, por

    dificuldades de compreenso das instrues dadas. No caso das escolas que dispem de

    formadores de LGP e em que os alunos apresentam algum domnio da lngua gestual, asinstrues poderiam ser dadas em LGP.

    Foram recolhidos alguns dados de caracterizao dos alunos (Anexo 4), respeitantes s

    variveis definidas para este estudo:

    - Idade

    - Sexo

    - Grau de surdez

    - Modo de comunicao predominante: oral ou gestual (gesto espontneo ou LGP)

    A durao da prova foi de 45 minutos, o tempo que na prova de aferio nacional

    correspondeu execuo da 1 parte (compreenso da leitura e funcionamento da

    lngua). Em nenhuma situao deveria ser excedido o tempo concedido.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    13/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 12

    Educao Bsica

    Critrios de classificao

    semelhana da parte II da prova de aferio, a prova foi cotada numa escala de 0 a 40

    pontos.

    Cada item diz respeito a determinada competncia, sendo as resolues dos alunos

    classificadas de acordo com vrios nveis de respostas possveis para o item respectivo.

    Os critrios de cotao identificaram nveis de resposta em cada questo, pelo que a

    cotao mxima dos diversos itens no corresponde necessariamente a uma hierarquia

    de importncia relativa entre eles.

    Todos os itens cujas respostas implicavam recurso produo escrita foram

    classificados em funo da compreenso e interpretao, no se considerando, para

    efeito de cotao, os erros de construo frsica ou de grafia.

    A ilegibilidade da resposta anulou a atribuio de cotao em qualquer dos itens.

    S se consideraram correctas (C) as respostas apresentadas de forma que traduzissem

    uma inequvoca compreenso, dando lugar, neste caso, cotao mxima a atribuir aoitem em questo. Uma resposta que contemplasse apenas alguns dos elementos

    descritos na matriz foi considerada como parcialmente correcta (P/C). A cotao

    atribuda, neste caso, teve em conta o grau de aproximao ou de afastamento em

    relao descrio apresentada para a resposta considerada correcta. Atribuiu-se

    cotao 0 (zero) s respostas incorrectas ou muito incompletas (I) (Tabela 2).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    14/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 13

    Educao Bsica

    Tabela 2. Prova: matriz de classificao (C=correcto; P/C=parcialmente correcto; I=incorrecto) e

    pontuao dos diferentes itens.

    ITEM OBJECTIVO DO ITEM CLAS. RESPOSTAS: DESCRIO COTAO

    C Refere, s/ ambiguidade as duaspersonagens: nuvem, caracol.

    3

    P/C Refere uma personagem. 21

    Identificar as

    personagens de um texto

    narrativo

    I No refere nenhuma. 0

    C Assinala: no tinha nada que fazer. 3

    2

    Explicar uma situao

    relacionada c/ uma

    personagem, indicando o

    motivo que a originaI

    No responde ou assinala uma das

    outras alternativas.0

    C Transcreve do texto: ao faz de conta. 5

    3

    Seleccionar palavras que

    descrevem a aco de

    uma personagem. INo responde ou transcreve outras

    palavras.0

    C Assinala: no havia mais nuvens. 4

    4

    Indicar a circunstncia

    em que ocorre um

    comportamento de uma

    personagem.I

    No responde ou assinala uma das

    outras alternativas.0

    CAssinala c/ V: o dia escureceu.Assinala c/ F: ficou muito gorda;tapou a Lua; ficou triste.

    5

    P/C Assinala correctamente trsasseres.

    4

    P/C Assinala correctamente duas

    asseres.

    3

    P/CAssinala correctamente uma

    assero.2

    5

    Estabelecer uma relao

    lgica (verdadeiro/falso)

    entre acontecimentosnarrados.

    INo responde ou no assinala

    correctamente nenhuma assero.0

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    15/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 14

    Educao Bsica

    Tabela 2 (Cont.)

    ITEM OBJECTIVO DO ITEM CLAS. RESPOSTAS: DESCRIO COTAO

    C

    Explica o estado de esprito do

    caracol utilizando palavras suas e

    inferindo motivos p/ esse estado de

    esprito.

    5

    P/C Transcreve do texto a palavra:aborrecido.

    4

    6

    Explicar um estado de

    esprito de uma

    personagem, inferindo

    motivos de natureza

    objectiva e/ou subjectiva.

    INo responde ou apresenta

    explicaes no plausveis.0

    C

    Transcreve: ... porque, passado

    tempo, escureceu de triste que estava

    e comeou a choramingar sobre a

    terra.

    4

    P/C Transcreve apenas parte da ideia. 3

    7Transcrever um

    segmento textual

    INo responde ou transcreve outra(s)

    frase(s).0

    C

    Estabelece a ordem seguinte:1. Para se entreter a nuvem

    comeou a brincar ao faz deconta.2. Quando a nuvem se esticou a

    fazer de conta que era umcomboio, a nuvem tapou o sol.

    3. O dia escureceu.4. O caracol ficou aborrecido.

    A nuvem comeou a

    choramingar sobre a terra.

    5

    P/C Ordena correctamente as primeirastrs aces.

    3

    8

    Ordenar acontecimentos,

    respeitando a sua

    ocorrncia cronolgica

    na narrativa.

    I No responde; ordena outras aces. 0

    CEscolhe o ttulo: A nuvem e o

    caracol.5

    9

    Seleccionar de entre

    vrios, o ttulo mais

    adequado a um texto. I Escolhe outro ttulo. 0

    TOTAL 40

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    16/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 15

    Educao Bsica

    2.4. Variveis independentes

    Para este estudo foram definidas quatro variveis independentes: o sexo, a idade, o grau

    de surdez e o modo de comunicao. A cada uma das variveis independentescorresponderam diferentes nveis. No caso do sexo, a definio destes nveis

    correspondeu a razes bvias: o feminino e o masculino. No respeitante idade, dado

    que os indivduos se distribuam entre os 9 e os 15 anos de idade, definiram-se duas

    classes etrias: uma englobando os sujeitos com idade igual ou inferior a 10 anos, e a

    outra, os sujeitos de idade igual ou superior a 11 anos. A definio etria destas classes

    teve por base a idade normal de frequncia do 4 ano de escolaridade (9/10 anos).

    Relativamente ao grau de surdez, foram identificados os sujeitos com grau de surdezsevera e os sujeitos com grau de surdez profunda, dado serem estes os dois graus de

    surdez que correspondiam ao universo estudado. No que respeita ao modo de

    comunicao, foram definidos trs nveis: oral, lngua gestual portuguesa (LGP) e gesto

    natural.

    A definio destas variveis prendeu-se com as caractersticas da populao envolvida

    neste estudo que pensamos poderem estar relacionadas com os desempenhos,

    contribuindo assim, para a sua explicao enquanto varivel dependente e com a

    aceitao, ou rejeio, das hipteses previamente definidas.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    17/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 16

    Educao Bsica

    3. Ensino Bsico: competncias gerais, essenciais e especficas

    De acordo com Currculo Nacional do Ensino Bsico: competncias essenciais (M.E.;DEB, 2001) as competncias gerais sustentam-se num conjunto de valores e de

    princpios enunciados na Lei de Bases do Sistema Educativo e so concebidas como

    saberes em uso, necessrias qualidade da vida pessoal e social de todos os cidados,

    correspondendo a um perfil de sada do ensino bsico. A designao de competncias

    essenciais procura salientar os saberes que se consideram fundamentais, tanto a nvel

    geral como nas diversas reas do currculo. As competncias especficas dizem respeito

    a cada uma das reas disciplinares e disciplinas.

    Na disciplina de Lngua Portuguesa, necessrio garantir a cada aluno, em cada ciclo de

    escolaridade, o desenvolvimento de competncias especficas no domnio do modo oral

    (compreenso e expresso do oral), do modo escrito (leitura e expresso escrita) e do

    conhecimento explcito da lngua.

    Entende-se por leitura o processo interactivo entre o leitor e o texto em que o primeiro

    reconstri o significado do segundo. Esta competncia implica a capacidade dedescodificar cadeias grafemticas e delas extrair informao e construir conhecimento.

    Segundo este documento, considera-se indispensvel, ao longo da escolaridade bsica,

    perseguir os seguintes objectivos no desenvolvimento das competncias relativas ao

    modo escrito:

    - Criar autonomia e hbitos de leitura, com vista fluncia de leitura e eficcia na

    seleco de estratgias adequadas finalidade em vista;- Apropriar-se das tcnicas fundamentais da escrita, com vista desenvoltura,

    naturalidade e correco no seu uso multifuncional.

    Relativamente leitura, as metas de desenvolvimento definidas para o 1 ciclo do

    ensino bsico reportam-se aprendizagem dos mecanismos bsicos de extraco de

    significado do material escrito, e so as seguintes:

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    18/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 17

    Educao Bsica

    - Capacidade para decifrar de forma automtica cadeias grafemticas, para localizar

    informao em material escrito e para apreender o significado de um texto curto,

    - Conhecimento de estratgias bsicas para a decifrao automtica de cadeias

    grafemticas e para a extraco de informao de material escrito.

    Assim, no final do 1 ciclo da educao bsica, so esperados os seguintes nveis de

    desempenho (Sim-Sim e Ferraz; 1997):

    - Executar leitura silenciosa;

    - Ler com clareza em voz alta;

    - Identificar as ideias principais de um texto;

    - Localizar no texto a informao pretendida;

    - Antecipar contedos a partir de capas, gravuras, ttulos e primeiras linhas;

    - Tomar a iniciativa de ler.

    Para que as crianas atinjam os nveis de desempenho acima referidos, necessrio que

    o processo de decifrao (letra-som) esteja automatizado, o que constitui condio

    necessria para que a ateno possa ser disponibilizada para a extraco do significadodo escrito.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    19/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 18

    Educao Bsica

    4. Leitura e surdez

    A maioria dos alunos surdos revela baixos nveis de desempenho na leitura, inferioresaos dos seus pares ouvintes, derivadas tanto de dificuldades ao nvel de capacidades

    envolvidas em processos ascendentes, como descendentes.

    difcil determinar ao certo quais as variveis mais importantes e determinantes para o

    sucesso da leitura em crianas surdas. Crianas surdas filhas de pais surdos so

    frequentemente referidas como sendo melhores leitoras que as filhas de pais ouvintes.

    Este facto no pode no entanto ser encarado linear e univocamente. No deveremos

    assumir que a simples exposio a uma lngua gestual a nica explicao para as

    diferenas observadas. Muito provavelmente, outras variveis sero de equacionar:

    melhor aceitao e melhores expectativas dos pais surdos, relativamente a pais ouvintes,

    implicando processos de interaco comunicativa qualitativamente superiores e um

    mais adequado desenvolvimento scio-emocional.

    Para a maioria das crianas surdas, a aprendizagem da leitura coincidente com a

    aprendizagem da lngua, o mesmo dizer que para elas a conexo entre a palavra escrita

    e o respectivo significado no mediada pelo conhecimento e uso primrio da lngua,

    ou seja, no mediada por processos de representao fonolgica. Poderemos

    questionar-nos at que ponto podem os alunos surdos severos e profundos desenvolver

    competncias ao nvel do reconhecimento de palavras, a um nvel adequado. Este , sem

    dvida, um degrau necessrio construo do significado e proficincia na leitura.

    Independentemente das controvrsias tericas, parece ser inquestionvel que todas as

    crianas, incluindo as surdas, num processo de aprendizagem da leitura e escrita,necessitam compreender os princpios que regem o sistema alfabtico da escrita,

    necessitam ser capazes de estabelecer relaes entre fonemas e grafemas. A conscincia

    de que a fala pode ser segmentada em unidades e que estas so representadas por uma

    ortografia alfabtica, certamente uma tarefa difcil, ou mesmo impossvel, para estas

    crianas.

    Embora pudssemos esperar que os processos de descodificao fonolgica fossem os

    que mais problemas apresentariam para a grande maioria das crianas surdas,

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    20/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 19

    Educao Bsica

    verificamos que muitas delas apresentam nveis de competncia fonolgica

    surpreendentes. Embora essa competncia se verifique sobretudo em palavras em que a

    correspondncia grafema-fonema regular, existe uma considervel evidncia das

    crianas surdas desenvolverem estratgias de descodificao fonolgica, presentes

    sobretudo, em anos de escolaridade no iniciais. Este facto corrobora a hiptese de a

    aprendizagem em si, ser potencializadora de processos de anlise fonolgica, implcitos

    para as crianas ouvintes.

    Os trabalhos de Hanson e colaboradores (Hanson, 1989; Hanson e Fowler, 1987;

    Hanson, Liberman e Shankweiler, 1984, cit. Spear-Swerling, 1996) demonstraram que

    tal como nos ouvintes, a leitura nos surdos envolve capacidades de processamento

    fonolgico. Hanson sugere que os bons leitores surdos profundos so capazes deadquirir conhecimentos lingusticos, especificamente fonolgicos, por outra via que no

    a auditiva como seja, a leitura labial.

    Simultaneamente, as crianas surdas utilizam mais frequentemente e at mais tarde,

    estratgias holsticas, sendo o acesso ao lxico estabelecido directamente por via motora

    (gestual), quando a palavra em causa faz parte do seu lxico.

    O facto de os processos de reconhecimento de palavras serem mais lentos e menosautomticos nas crianas surdas, afecta igualmente a capacidade de utilizar informao

    sintctica, na medida em que estando a memria operativa sobrecarregada por processos

    de descodificao, no se encontra disponvel para o processamento de informao

    semntica, relevante no estabelecimento e compreenso de relaes entre unidades

    gramaticais.

    Um nmero importante de estudos aponta igualmente para a existncia de maiores

    dificuldades por parte dos surdos no que respeita construo de esquemas cognitivos,

    realizao de inferncias, activao de conhecimentos prvios e utilizao de

    capacidades metacognitivas. Esses mesmos estudos encontram correlaes

    significativas entre estas capacidades e a compreenso da leitura. O facto de os alunos

    surdos privilegiarem estratgias descendentes na leitura, sendo as capacidades nelas

    envolvidas deficitrias, conduz frequentemente a uma extraco errnea do significado.

    A capacidade de identificar e corrigir esse erro, quer atravs de processos inferiores,

    morfo-fonolgicos, quer atravs de processos superiores metacognitivos, conduz

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    21/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 20

    Educao Bsica

    necessariamente a uma dificuldade em compreender o que se l e em ampliar

    conhecimentos, j reduzidos partida.

    A problemtica da literacia e surdez no pode ser analisada luz de um nico

    paradigma terico. Se, por um lado, as teorias e modelos cognitivos da leitura nos

    ajudam a compreender e a constatar semelhanas ao nvel dos processos cognitivos

    envolvidos na tarefa de ler, por outro, no negligencivel o facto dessas mesmas

    teorias se reportarem ao funcionamento de leitores ouvintes, e como tal, assentes em

    conhecimentos lingusticos. A dificuldade, ou impossibilidade, de conseguir alcanar

    esses mesmos conhecimentos, para a grande maioria das crianas surdas, fundamenta os

    modelos bilingues.

    Os defensores de programas bilingues sustentam a possibilidade de que a aprendizagem

    da literacia poder ser feita pela mediao de uma lngua gestual e apenas por via dos

    usos secundrios da lngua (leitura e escrita). Esta hiptese pressupe a aprendizagem

    da lngua por via dos seus usos secundrios, sem os conhecimentos e usos primrios do

    oral (expresso e compreenso).

    Na aprendizagem de uma segunda lngua, cuja modalidade escrita seja alfabtica,

    importante o conhecimento das componentes fonolgicas e morfolgicas. Acresce aeste, o facto de que a compreenso e conhecimento do sistema alfabtico desempenha

    papel determinante da eficcia dos processos de reconhecimento de palavras, os quais,

    por sua vez, determinam processos superiores de compreenso. Importa saber se esta

    perspectiva se aplica de igual forma a sujeitos surdos.

    O uso de uma codificao fonolgica facilitador de um rpido e eficiente

    reconhecimento de palavras, o que conduz a um conhecimento funcional do sistema

    alfabtico, no qual se baseia a linguagem escrita. Se os leitores forem capazes de um

    eficiente reconhecimento das palavras, podero estar libertos para um processamento de

    nvel superior, de compreenso. O facto de os leitores surdos, inclusive os gestuantes,

    utilizarem uma codificao fonolgica, relevante da importncia que este processo

    poder ter para a leitura, quer se trate de indivduos surdos ou ouvintes. Para os leitores

    surdos, a aquisio e uso de informao fonolgica extremamente difcil. Seria pois

    esperado que leitores surdos utilizassem estratgias alternativas, visuais ou gestuais, se

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    22/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 21

    Educao Bsica

    estas fossem eficientes. No entanto, todos os dados parecem apontar para o facto de os

    bons leitores surdos no se apoiarem nesse tipo de estratgias.

    O nvel de conhecimento do oral , certamente, um factor determinante da possibilidade

    de as crianas serem capazes de uma representao fonolgica. O uso da dactiologia

    poder ajudar a criana surda a compreender que as letras so representaes de

    identidades que, na ausncia de audio no correspondem a sons, mas constituem a

    base da escrita alfabtica. Embora em idades precoces as crianas identifiquem as

    palavras, escritas ou por dactiologia, servindo-se de estratgias holsticas, parece que

    por volta dos 6 anos, as crianas surdas so capazes de analisar as suas componentes,

    unidades mnimas, no caso as letras em dactiologia, e de as fazer corresponder

    ortografia, ou seja aos grafemas (Hirsh-Pasek e Freyd, 1984).

    Poderemos assim concluir que basicamente os processos estruturais e estruturantes da

    aprendizagem e desenvolvimento da leitura so semelhantes tanto para ouvintes como

    para surdos, incluindo os que tm como primeira lngua uma lngua gestual, e cuja

    aprendizagem enquanto segunda lngua, se faz atravs da modalidade escrita.

    Fundamentalmente, parece serem necessrias experincias e conhecimentos bsicos ao

    desenvolvimento da literacia. Uma forma de perspectivar este conhecimento pensar naliteracia como um processo desenvolvimentista, scio-cognitivo interactivo, no qual

    existem interaces entre a criana, o escrito, o contexto e o adulto, mediador desses

    mesmos conhecimentos e aprendizagens.

    Para os surdos, quer aprendam a modalidade escrita de uma lngua como primeira ou

    segunda lngua, a possibilidade de desenvolverem capacidades litercitas, parece estar

    dependente de: (i) compreenso e aquisio do sistema alfabtico e das componentes

    morfofonolgicas; (ii) conhecimento e aprendizagem de outras componentes

    lingusticas, como sejam as vocabulares e as sintcticas; (iii) capacidade de organizar e

    activar conhecimentos prvios; (iiii) monitorizao da leitura por processos

    metacognitivos. Anteriores a estas, outras competncias, necessariamente crticas para

    esta populao, sero igualmente determinantes: a compreenso da funo, utilidade,

    organizao e convenes da escrita. Estes so domnios sobre os quais, pouco sabemos

    ainda, no que respeita a crianas surdas.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    23/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 22

    Educao Bsica

    5. Resultados

    5.1. Descrio e anlise dos resultados

    5.1.1. Populao

    A Fig.1 mostra a distribuio dos indivduos estudados segundo a varivel sexo,

    verificando-se que 47 eram do sexo masculino e 27 do feminino, ao que correspondem

    valores percentuais de 63,5% e 36,5%, respectivamente.

    Sexo

    Frequncia

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    55

    Masculino Feminino

    Fig. 1. Distribuio de frequncias por sexo.

    Relativamente idade, podemos observar (Fig. 2) que o espectro etrio se situava entre

    os 9 e os 15 anos. Numa anlise percentual das frequncias encontramos os seguintes

    valores: 12% (9 anos), 27% (10 anos), 26% (11 anos), 16% (12 anos), 7% (13 anos),7% (14 anos), 5% (15 anos).

    A distribuio dos indivduos pelas duas classes etrias definidas mostra que 61% dos

    sujeitos tm 11 ou mais anos de idade e 39%, 10 ou menos anos de idade.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    24/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 23

    Educao Bsica

    Idade

    Frequncia

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    22

    9 10 11 12 13 14 15

    Fig. 2. Distribuio de frequncias por idade.

    Verificamos que a maioria dos indivduos possua uma surdez de grau profundo (61%)

    enquanto que 39% apresentava uma surdez de grau severo (Fig. 3).

    Grau de surdez

    Frequncia

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    Profunda Severa

    Fig. 3. Distribuio de frequncias por grau de surdez.

    Como referido, na varivel modo de comunicao foram definidos trs nveis, segundo

    os quais os sujeitos foram caracterizados: oral, lngua gestual portuguesa (LGP) e gestonatural. Verificamos que s frequncias apresentadas na Fig.4 correspondem os

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    25/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 24

    Educao Bsica

    seguintes valores percentuais: 54% dos indivduos utilizavam predominantemente a

    linguagem oral, 39% a lngua gestual e aproximadamente 7%, o gesto natural.

    Modo de comunicao

    Frequncia

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    Oral LGP Gestual natural

    Fig. 4. Distribuio de frequncias por modo de comunicao.

    Tabela 3. Distribuio de frequncias segundo as diferentes variveis: sexo, classe etria, grau de surdez

    (Grau) e modo de comunicao (Com).

    Classe etria: = < 10 Classe etria. = >11

    Grau Com. Feminino Masculino SubTot. Feminino Masculino SubTot.

    Oral 0 7 7 2 2 4

    LGP 3 4 7 10 12 22

    Gest.nat. 0 0 0 3 2 5Profunda

    Sub Tot. 14 31

    Oral 6 9 15 3 11 14

    LGP 0 0 0 0 0 0

    Gest.nat. 0 0 0 0 0 0Severa

    Sub Tot. 15 14

    Total 29 45

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    26/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 25

    Educao Bsica

    Conforme podemos observar na Tabela 3, quanto ao modo de comunicao, a maioria

    dos indivduos surdos profundos mais velhos (= >11), de ambos os sexos, utilizava

    predominantemente a LGP (71%) e 16% o gesto natural, o que significa queaproximadamente 87% destes sujeitos, comunicam predominantemente atravs do

    gesto. Relativamente ao grupo dos indivduos surdos profundos mais novos (=

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    27/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 26

    Educao Bsica

    Independentemente do efeito das variveis independentes, a mdia de desempenho

    global de 23, com um desvio padro de 10. A moda situa-se em 34 e a mediana tem

    um valor de 25.

    A anlise do efeito do sexo no desempenho global (Fig. 6), no considerando as

    restantes variveis independentes, mostra que no se encontraram diferenas

    significativas (p> 0,05). Considerando a diferena entre os indivduos com surdez

    profunda e severa, independentemente das outras variveis (Fig. 7), verificou-se que a

    pontuao total obtida pelos sujeitos surdos severos foi significativamente superior (p0,05).

    Sexo

    Pontuao

    18

    20

    22

    24

    26

    28

    30

    32

    Masculino Feminino

    Fig. 6. Efeito do sexo no desempenho global.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    28/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 27

    Educao Bsica

    Grau de surdez

    Pontuao

    18

    20

    22

    24

    26

    28

    30

    32

    Profunda Severa

    Fig. 7. Efeito do grau de surdez no desempenho global.

    Classe etria (anos)

    Pontua

    o

    28

    29

    30

    31

    32

    = 11

    Fig. 8. Surdos severos. Efeito da classe etria no desempenho global.

    A anlise das cotaes totais obtidas pelos sujeitos surdos profundos, em funo da

    idade e modo de comunicao (Fig. 9, Tabela 4), revelou que os resultados obtidos

    pelos indivduos mais velhos com gesto natural foi a mais baixa de todas, sendo esta

    diferena significativa (p< 0,05) relativamente a todas as outras categorias, excepto

    dos indivduos mais velhos com comunicao oral. Para alm disso, os indivduos mais

    velhos apresentaram significativamente piores desempenhos do que os mais novos,

    independentemente do modo de comunicao (p< 0,05).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    29/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 28

    Educao Bsica

    Idade, Modo de comunicao

    Pontuao

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    11 Oral 10 LGP 11 LGP 10 Oral 11 Gest nat

    Fig. 9. Surdos profundos. Efeito da classe etria e do modo de comunicao no desempenho

    global.

    Tabela 4. Surdos profundos. Valores de probabilidade obtidos por um teste de comparaes mltiplas

    posteriori pelo mtodo de Tukey, para avaliao do efeito da classe etria e do modo de comunicao

    sobre a pontuao total das provas. ns= no significativo.

    Idade emodo de comunicao

    11 Oral 10 LGP 11 LGP 10 Oral 11 Gest. Nat.

    11 Oral --

    10 LGP ns --

    11 LGP ns ns --

    10 Oral p< 0,05 ns p< 0,05 --

    11 Gest. Nat. ns p< 0,01 p

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    30/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 29

    Educao Bsica

    5.1.3. Desempenhos por itens

    Como j foi referido, foram definidos trs graus de classificao (correcto, parcialmente

    correcto e incorrecto) aos quais corresponderam diferentes cotaes (0 a 5), com pesos

    igualmente diferentes. A Tabela 5. apresenta as frequncias e respectivos valorespercentuais relativos aos resultados obtidos em cada um dos itens da prova,

    independentemente do efeito das diferentes variveis independentes.

    Numa primeira anlise, constatamos que os itens em que uma grande maioria dos

    sujeitos obtiveram a cotao mxima, correspondente classificao correcto (C),

    foram o item 1 (identificao de personagens: Perso.) e o item 2 (explicao de uma

    situao: Situa.) com valores percentuais de 72% e 82%, respectivamente. Encontrmos

    igualmente outros itens nos quais as respostas classificadas como correctas foram

    superiores a 50%: 52 % para o item 7 (transcrio de um segmento textual: Transc.);

    55% para os itens 4 (explicao de um comportamento: Comp.) e 9 (seleco de um

    ttulo:Tit.); 57% para o item 3 (seleco de palavras: Selpal.).

    O nico valor correspondente a mais de 50% de insucesso, classificao de incorrecto

    (I), foi encontrado para o item 8 (ordenao cronolgica de acontecimentos: Ord.) com

    58%. Embora no apresentando o valor mais elevado de respostas incorrectas (42%), oitem 6 (explicao de um estado de esprito: Esp.) foi o que apresentou a mais baixa

    percentagem de respostas correctas (17%), facto explicvel pela elevada percentagem

    de respostas parcialmente correctas (41%).

    O item que apresentou o maior nmero de respostas parcialmente correctas (P/C) foi o

    item 5 (relao lgica entre acontecimentos: Rellog.), correspondente a 54%. Para o

    item 8 (ordenao de acontecimentos: Ord.) no foram encontradas respostas

    parcialmente correctas (0%), verificando-se que os sujeitos ou ordenam todos os

    acontecimentos respeitando a sua ocorrncia cronolgica (42%) ou no (58%).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    31/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 30

    Educao Bsica

    Tabela 5. Distribuio de frequncias por grau de classificao e cotao, e

    respectivos valores percentuais, por item da prova, independentemente do efeito

    das variveis independentes.

    ITEM CLAS./ COT. FREQUNCIA %

    1. Perso. C: 3

    P/C: 2

    I: 0

    53

    11

    10

    71,6%

    14,8%

    13,5%

    2. Situa. C: 4

    I: 0

    61

    13

    82,4%

    17,6%

    3. Selpal. C: 5

    I: 0

    42

    32

    56,7%

    43,2%4. Comp. C: 4

    I: 0

    41

    33

    55,4%

    44,6%

    5. Rellog. C: 5

    P/C: 4

    P/C: 3

    P/C: 2

    I:0

    25

    23

    10

    7

    9

    33,8%

    31,0%

    13,5%

    9,4%

    12,1%6. Esp. C: 5

    P/C: 4

    I:0

    13

    30

    31

    17,6%

    40,5%

    41,9%

    7. Transc. C: 4

    P/C: 3

    I:0

    39

    1

    34

    52,7%

    1,3%

    45,9%

    8. Ord. C: 5

    P/C: 3

    I:0

    31

    0

    43

    41,9%

    0%

    58,1%

    9. Tit. C. 5

    I: 0

    41

    33

    55,4%

    44,6%

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    32/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 31

    Educao Bsica

    As Tabelas 6. a 14. apresentam as mdias, respectivos desvios padro e medianas

    respeitantes aos desempenhos por itens, traduzidos em cotaes, de acordo com o efeito

    das diferentes variveis independentes.

    Tabela 6. Desempenhos no item 1 (Perso.): mdias, desvios padro (D.V.) emedianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 3 0,9 3Sexo

    F 2 1 3

    =< 10 3 0,5 3Cletar:

    => 11 2 1 3

    S 3 0,2 3

    Grau: P 2 1 3

    O 3 0,7 3

    LGP 2 1 3

    PERSO.

    Com:

    GN 0,8 1 0

    Tabela 7. Desempenhos no item 2 (Situa.): mdias, desvios padro (D.V.) e

    medianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANAM 3 1,5 4

    SexoF 3 1,5 4

    =< 10 4 1 4Cletar:

    => 11 3 2 4

    S 4 1 4Grau:

    P 3 2 4

    O 3 1 4

    LGP 3 1 4

    SITUA.

    Com:

    GN 2 2 0

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    33/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 32

    Educao Bsica

    Tabela 8. Desempenhos no item 3 (Selpal.): mdias, desvios padro (D.V.) emedianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 3 3 5Sexo

    F 3 3 5=< 10 3 2 5

    Cletar:=> 11 3 3 5

    S 3 2 5Grau:

    P 3 3 5

    O 3 2 5

    LGP 2 3 5

    SELPAL

    Com:

    GN 2 3 5

    Tabela 9. Desempenhos no item 4 (Comp.): mdia, desvio padro (D.V.)segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 2 2 4Sexo

    F 2 2 4

    =< 10 3 2 4Cletar:=> 11 2 2 4

    S 3 2 4Grau:

    P 2 2 4

    O 3 2 4

    LGP 2 2 4

    COMP.

    Com:

    GN 0 0 0

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    34/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 33

    Educao Bsica

    Tabela 10. Desempenhos no item 5 (Rellog.): mdias, desvios padro (D.V.) emedianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 4 1,5 4Sexo

    F 3 2 4

    =< 10 4 1 4Cletar:

    => 11 3 2 4

    S 4 1 4Grau:

    P 3 2 4

    O 4 1,5 4

    LGP 3 1,5 4

    RELLO.

    Com:GN 1 2 0

    Tabela 11. Desempenhos no item 6 (Esp.): mdias, desvios padro (D.V.) emedianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 3 2 4Sexo F 2 2 0

    =< 10 3 2 4Cletar:

    => 11 2 2 0

    S 4 2 4Grau:

    P 1 2 0

    O 4 2 4

    LGP 1 2 0

    ESP.

    Com:

    GN 0 0 0

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    35/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 34

    Educao Bsica

    Tabela 12. Desempenhos no item 7 (Transc..): mdias, desvios padro (D.V.) emedianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 2 2 4Sexo

    F 2 2 0=< 10 3 2 4

    Cletar:=> 11 2 2 0

    S 3 2 4Grau:

    P 1,5 2 0

    O 3 2 4

    LGP 2 2 0

    TRANS.

    Com:

    GN 0 0 0

    Tabela 13. Desempenhos no item 8 (Ord.): mdias, desvios padro (D.V.) emedianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 2 2,5 0Sexo

    F 2 2,5 0

    =< 10 3 3 5Cletar:=> 11 2 2 0

    S 2 2,5 0Grau:

    P 2 2,5 0

    O 2 2,5 0

    LGP 2 2,5 0

    ORD.

    Com:

    GN 0 0 0

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    36/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 35

    Educao Bsica

    Tabela 14. Desempenhos no item 9 (Tit.): mdias, desvios padro (D.V.) emedianas segundo o efeito das variveis independentes.

    ITEM VARIVEL MDIA D.V. MEDIANA

    M 3 2,5 5SexoF 2 2,5 0

    =< 10 4 2 5Cletar:

    => 11 2 2,5 0

    S 4 2 5Grau:

    P 2 2,5 0

    O 4 2 5

    LGP 2 2,5 0

    TIT.

    Com:

    GN 0 0 0

    Conforme podemos observar na Tabela 6, no item 1 (identificao de personagens) a

    mdia 3, cotao correspondente neste item classificao C (correcto), para os

    indivduos do sexo masculino, para os indivduos com idade igual ou inferior aos 10

    anos, para os indivduos com surdez severa e para os indivduos com comunicao oral.

    Nestes casos, o desvio padro sempre inferior a 1, correspondendo a pouca

    variabilidade de resposta. Para todos os outros grupos, a mdia inferior a 3, com

    desvio padro de 1. excepo dos sujeitos caracterizados como utilizando

    predominantemente o gesto natural, a mediana 3, o que significa que mesmo quando a

    mdia encontrada inferior a este valor, bastantes sujeitos obtiveram esta cotao, neste

    item.

    No que respeita ao item 2 (explicao de uma situao), Tabela 7, a cotaocorrespondente a C era 4, valor coincidente com a mdia dos resultados obtidos pelos

    sujeitos com idade igual ou inferior aos 10 anos e pelos sujeitos com surdez severa. Em

    ambos os casos o desvio padro 1. Tal como referido para o item anterior, tambm

    neste item, com excepo dos sujeitos caracterizados como utilizando

    predominantemente o gesto natural, a mediana encontrada corresponde ao valor da

    cotao mxima.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    37/73

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    38/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 37

    Educao Bsica

    Finalmente, quanto ao item 9 (seleco de um ttulo), Tabela 14, para o qual 5

    correspondeu classificao C, verificamos que os grupos que obtiveram a mdia 4

    (desvio padro 2) e a mediana 5, foram os seguintes: idade igual ou inferior a 10; surdez

    de grau severa; comunicao oral. Os restantes grupos obtiveram mdia 2 (desvio

    padro 2,5) e mediana 0, o que equivale a dizer que todos estes apresentaram uma

    grande variabilidade de desempenhos e que estes foram inferiores aos dos grupos acima

    referidos.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    39/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 38

    Educao Bsica

    5.1.4. Desempenhos por competncias

    Como j referimos, com base nos objectivos definidos para cada um dos itens da prova,

    foram identificadas competncias especficas de leitura. Como tambm referido, uma

    resposta que contemplasse apenas alguns dos elementos considerados na matriz foi

    considerada parcialmente correcta, o que significa que os valores de anlise do

    desempenho dos alunos no se esgota no somatrio dos valores correspondentes s

    cotaes mximas e mnimas atribudas a cada um dos itens. Parece-nos importante uma

    anlise comparativa dos valores referentes s respostas correctas e s respostas

    incorrectas, correspondentes s cotaes mximas e mnimas definidas para cada um

    dos itens da prova, na medida que traduz os nveis de desempenho por competncias de

    leitura: os melhores e os piores desempenhos.

    A Tabela 15 apresenta as frequncias e respectivos valores percentuais de respostas

    correctas encontrados para cada um dos itens, independentemente do efeito das

    diferentes variveis independentes.

    Tabela 15. Distribuio de frequncias e respectivos valores percentuais de respostas correctas (C) porcompetncia especfica de leitura e por item da prova, independentemente do efeito das variveisindependentes.

    COMPETNCIA ITEM (COD.) FREQUNCIA %

    Compreenso literal 1 (Perso.) 53 71,6

    Compreenso literal (verbatim) e

    localizao da informao.

    2 (Situa.)

    3 (Selpal.)4 (Comp.)

    7 (Transc.)

    8 (Ord.)

    61

    4241

    39

    31

    82,4

    56,755,4

    52,7

    41,9

    Compreenso inferencial 5 (Rellog)

    6 (Esp.)

    25

    13

    33,8

    17,6

    Extraco da ideia principal 9 (Tit.) 41 55,4

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    40/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 39

    Educao Bsica

    Como se pode verificar, a anlise comparativa do desempenho dos alunos por

    competncias de leitura revela-nos que ao nvel da Compreenso literal que os alunos

    obtm melhores desempenhos, nas categorias que envolvem Verbatim eLocalizao da

    informao, logo seguida da Extraco da ideia principal. excepo do item

    referente ordenao de acontecimentos respeitando a sua ocorrncia cronolgica na

    narrativa (item 8; Ord.), em todas estas categorias encontramos valores percentuais de

    respostas correctas superiores a 50%.

    Os valores mais baixos de respostas correctas reportam-se Compreenso inferencial:

    estabelecimento de relao lgica entre acontecimentos narrados (34%) e explicao de

    um estado de esprito de uma personagem, inferindo motivos de natureza objectiva e/ousubjectiva (18%).

    A Tabela 16 apresenta as frequncias e respectivos valores percentuais de respostas

    incorrectas encontrados para cada um dos itens, independentemente do efeito das

    diferentes variveis independentes.

    Tabela 16. Distribuio de frequncias e respectivos valores percentuais de respostas incorrectas (I) porcompetncia especfica de leitura e por item da prova, independentemente do efeito das variveisindependentes.

    COMPETNCIA ITEM (COD.) FREQUNCIA %

    Compreenso literal 1 (Perso.) 10 13,5

    Compreenso literal (verbatim) e

    localizao da informao.

    2 (Situa.)

    3 (Selpal.)

    4 (Comp.)

    7 (Transc.)

    8 (Ord.)

    13

    32

    33

    34

    43

    17,6

    43,2

    44,645,9

    58,1

    Compreenso inferencial 5 (Rellog)

    6 (Esp.)

    9

    31

    12,1

    41,9

    Extraco da ideia principal 9 (Tit.) 33 44,6

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    41/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 40

    Educao Bsica

    A anlise comparativa dos valores percentuais de respostas incorrectas, traduzindo os

    piores desempenhos por competncias de leitura, revela que em apenas um item,

    correspondente categoria Compreenso literal, ordenao de acontecimentos

    respeitando a sua ocorrncia cronolgica na narrativa (item 8; Ord.) encontramos um

    valor que traduz que a maioria dos alunos responde de forma incorrecta (58%).

    Relativamente Compreenso inferencial, onde encontrmos os valores mais baixos de

    respostas correctas, verificamos que no item implicando a capacidade de explicar um

    estado de esprito de uma personagem que encontramos um dos valores mais elevados

    de respostas incorrectas (42%). Comparando os valores encontrados para ambos os itens

    inscritos nesta categoria, podemos afirmar que aproximadamente metade dos alunosresponde de forma parcialmente correcta ao item 5, relao lgica entre acontecimentos,

    (54%) e que a maioria dos alunos responde ou correcta ou incorrectamente ao item 6,

    explicao de um estado de esprito de uma personagem (41%).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    42/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 41

    Educao Bsica

    5.2. Discusso dos resultados

    Num primeiro momento, caracterizmos a populao estudada, sendo que a maioria,

    64%, dos indivduos era do sexo masculino, 61% tinham idade igual ou superior a 11

    anos, 61% apresentavam uma surdez profunda e 39% uma surdez severa. A maior parte

    dos sujeitos, 54%, foi caracterizada como utilizando predominantemente a linguagem

    oral, 39% a lngua gestual e apenas 7%, o gesto natural.

    Os dados relativos idade e ao modo de comunicao merecem-nos alguma ateno.

    No que respeita idade, encontrmos um valor correspondente a uma maioria dos

    sujeitos, 61%, com idades superiores esperada para o 4 ano de escolaridade: 26% tm

    11 anos de idade, o que significa mais um ano do que o esperado, e 35% tm dois ou

    mais anos do que a idade prevista, o que parece traduzir uma tendncia para a reteno

    destes alunos no 1 ciclo do Ensino Bsico, a qual corresponder, para alguns, a uma

    frequncia de 9 anos neste ciclo. Esta mesma tendncia j tinha sido encontrada nos

    dados relativos populao escolar surda, recolhidos no ano lectivo de 1998/99 (cf.

    Relatrio dos Apoios Educativos, vol. III, DEB/NOEEE).

    Quanto ao modo de comunicao, a anlise das frequncias encontradas, tendo em conta

    as variveis idade e grau de surdez, revelam que a grande maioria dos alunos surdos

    profundos com idade igual ou superior aos 11 anos caracterizada como utilizando

    predominantemente o gesto (87%) e que destes, 71% utiliza LGP e 16%, o gesto

    natural. Este padro no igual para o grupo dos surdos profundos com idade igual ou

    inferior a 10 anos. Neste grupo, o nmero de sujeitos que utiliza LGP igual ao dos que

    utilizam a linguagem oral (50%). Estes dados podero indicar que a LGP introduzida

    tardiamente, sobretudo como estratgia remediativa das dificuldades e insucesso dos

    alunos surdos profundos.

    Ainda quanto ao modo de comunicao, constatmos que os alunos surdos severos so,

    na sua totalidade, caracterizados como utilizando a linguagem oral.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    43/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 42

    Educao Bsica

    Desempenho global

    A partir das frequncias por total de cotao, calculmos a mdia, respectivo desviopadro, moda e mediana. Constatmos que a mdia de desempenho global 23, com um

    desvio padro de 10. A moda situa-se em 34 e a mediana em 25. Estes resultados

    correspondem a uma taxa de 63,5% de provas com pontuaes iguais ou inferiores a 20,

    valor mdio de cotao da prova, e de 36,5% com pontuaes superiores a esse valor

    mdio, o que significa que uma clara maioria dos alunos surdos enfrenta dificuldades na

    compreenso da leitura.

    Tanto a mdia das pontuaes como os valores globais percentuais encontrados

    representam apenas indicadores do desempenho global. Por um lado, a variabilidade da

    populao estudada decorrente de factores intrnsecos, por outro, o facto das variveis

    se correlacionarem e existirem combinaes de nveis das variveis independentes sem

    observaes, no permitiu a anlise simultnea do efeito das diferentes variveis. A

    anlise preliminar do efeito do sexo e do efeito do grau de surdez, separadamente,

    independentemente das restantes variveis, mostrou que no se verificavam diferenas

    significativas no desempenho global de acordo com o sexo (p> 0,05), com pontuaesmdias de 25 e 22, respectivamente para rapazes e para raparigas, mas que estas

    existiam quanto ao grau de surdez (p< 0,001), com pontuaes mdias de 20 e 30,

    respectivamente para profundos e severos.

    Assim, no se encontraram, semelhana dos resultados obtidos noutros estudos

    ( Reading literacy, IEA; 1989-1992), diferenas nos desempenhos de rapazes e de

    raparigas. Encontrmos no entanto, diferenas significativas entre o desempenho global

    dos alunos surdos profundos e os alunos surdos severos, sendo estes os que melhor

    desempenho obtiveram. Estes dados comprovam que o grau de surdez afecta o

    desempenho em leitura e que os sujeitos com surdez severa apresentam melhores

    resultados que os sujeitos com surdez profunda.

    Os alunos surdos severos, todos eles com modo de comunicao oral, apresentaram os

    melhores desempenhos globais (pontuao mdia de 30).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    44/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 43

    Educao Bsica

    A anlise de varincia, utilizando como varivel independente a classe etria, revelou

    no se verificarem diferenas significativas entre classes etrias nos alunos surdos

    severos: pontuaes mdias de 31, na classe etria de idades inferiores ou iguais a 10 e

    de 29 na classe de idades iguais ou superiores a 11.

    A anlise do desempenho global dos alunos surdos profundos, de acordo com o efeito

    da classe etria e do modo de comunicao, mostrou serem os indivduos mais velhos

    (> =11), utilizadores de gesto natural, os que mais dificuldades revelaram (pontuao

    mdia de 6). Independentemente do efeito do modo de comunicao, foram igualmente

    os indivduos mais velhos os que tiveram piores desempenhos. Ao contrrio, os

    melhores desempenhos foram registados nos alunos surdos profundos mais novos (

    11 anos) os que em maior nmero utilizam LGP (71%); dos alunos mais novos (classe

    etria = < 10 anos) metade utiliza a linguagem oral e a outra metade LGP; 16% dos

    alunos mais velhos utilizam o gesto natural.

    A primeira considerao que estes dados nos merecem a de que, quanto ao modo de

    comunicao, existe uma clara distino entre surdos severos e surdos profundos. Uma

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    50/73

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    51/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 50

    Educao Bsica

    - Em que medida, o modo de comunicao, relacionado com o grau de surdez,

    influencia o desempenho em leitura ?

    Pela anlise dos dados, podemos concluir que o modo de comunicao influencia o

    desempenho global, sendo os alunos surdos severos, todos eles caracterizados como

    utilizando a linguagem oral, e os alunos surdos profundos com linguagem oral, os que

    melhor desempenho global apresentaram. Os alunos surdos profundos com gesto natural

    foram os que piores resultados obtiveram. Estes dados apontam para a o carcter

    decisivo da competncia lingustica oral no desempenho global em leitura, no universo

    em estudo.

    - Em que medida, a idade influencia o desempenho em leitura na populao

    estudada ?

    Conclumos ainda que independentemente das outras caractersticas, a idade influencia

    o desempenho na razo inversa, i.e., quanto mais velhos so os alunos, pior o

    desempenho, o que contraria a prtica e crena generalizadas na reteno, como

    estratgia conducente ao sucesso educativo.

    - Sero os desempenhos em leitura de alunos surdos profundos e surdos severos,

    qualitativamente semelhantes aos de alunos ouvintes ?

    A anlise de desempenhos por competncias especficas de leitura mostrou que na

    compreenso literal, nas categorias verbatim e localizao da informao que os alunos

    obtiveram melhores desempenhos. na compreenso inferencial que os alunos

    revelaram maiores dificuldades. O que nos permite concluir que o universo dos sujeitos

    implicados neste estudo, se comporta de forma qualitativamente semelhante ao de

    ouvintes envolvidos noutras investigaes (Caracterizao do nvel de literacia da

    populao escolar portuguesa, estudo realizado no mbito do Projecto Internacional

    Reading literacy, entre 1989 e 1992, e Provas de Aferio do Ensino Bsico, 4 ano,

    2000 - Relatrio Nacional).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    52/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 51

    Educao Bsica

    Gostaramos, finalmente, de referir que as interpretaes e concluses que retiramos

    deste estudo no podero deixar de ser equacionadas num determinado contexto

    sistmico. As Unidades de Apoio Educao de Alunos Surdos e o modelo bilingue

    subjacente, so ainda muito recentes, consequentemente, os alunos surdos envolvidos

    neste trabalho fizeram a maior parte do seu percurso escolar em escolas regulares

    segundo um modelo oralista. Todas as concluses que se possam extrair do presente

    estudo tero, necessariamente, que ser lidas luz desse paradigma educacional, e no

    esquecendo que possumos dados sobre os nveis de desempenho, ou mestria, dos

    alunos caracterizados como utilizadores preferenciais da Lngua Gestual Portuguesa.

    Ao elegermos para estudo um conjunto de caractersticas especficas, tanto dos sujeitos

    como da prova, temos conscincia que no as esgotmos, na medida em que outrasvariveis poderiam ter sido estudadas e outras anlises realizadas. Temos ainda

    conscincia que o facto de no avaliarmos variveis extrnsecas, como sejam os factores

    contextuais de ensino, constitui limitao ao presente estudo. A nossa opo assentou

    no que considermos essencial numa primeira abordagem problemtica da surdez e

    literacia, no actual sistema educativo portugus.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    53/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 52

    Educao Bsica

    7. Sugestes para a prtica pedaggica

    hoje incontestvel a importncia da leitura numa sociedade em que a informao por

    excelncia veiculada pela linguagem escrita. Deste facto decorre a necessidade de tornar

    os nossos alunos, surdos ou ouvintes, leitores competentes. Neste sentido, e tendo por

    base as concluses deste estudo, importa apresentar algumas sugestes que permitam

    introduzir melhorias qualitativas no ensino da literacia a alunos surdos.

    A operacionalizao de estratgias pedaggicas dever ter sempre em ateno a

    populao a que se destina, devendo-se, necessariamente, atender caracterizao do

    grupo e de cada um dos alunos, individualmente, nomeadamente no que respeita aomodo de comunicao e competncia lingustica.

    Aprender a ler exige que a criana evolua de uma fase inicial de reconhecimento de

    palavras apreenso do sistema alfabtico da escrita. Enquanto a criana ouvinte

    decompe e traduz as letras para os sons da fala correspondentes, no que respeita aos

    alunos surdos importa ter em ateno que este processo, pelo comprometimento ou

    ausncia da audio, no se faz de uma forma natural. Para estas crianas, aprender a ler

    implica a mediao do gesto, da lngua gestual ao nvel do reconhecimento global das

    palavras e do acesso ao significado, e do alfabeto manual, ao nvel da descodificao

    das palavras.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    54/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 53

    Educao Bsica

    Estratgias para o desenvolvimento da literacia

    (natureza e funcionamento da linguagem escrita)- Proporcionar criana experincias rotineiras de manipulao de produtos

    escritos;

    - Dialogar com as crianas sobre a escrita;

    - Basear as actividades na experincia lingustica dos alunos;

    - Basear as actividades no desenvolvimento de competncias cognitivas e

    lingusticas envolvidas na leitura;

    - Desenvolver actividades de leitura contextualizadas;

    - Utilizar diferentes tipos de texto;- Ler para os alunos;

    - Fomentar a leitura independente;

    - Implementar a correspondncia escrita entre alunos, e entre estes e o professor;

    - Desenvolver diferentes formas de registo escrito;

    - Implementar a leitura /escrita guiada;

    - Implementar a leitura partilhada a pares;

    - Implementar ateliers de escrita;

    Estratgias de abordagem do texto

    - Definir os objectivos de leitura de forma a que o aluno possa adequar nveis de

    compreenso e velocidade requeridas pelo texto;

    - Contextualizar e antecipar o contedo do texto de forma a que o aluno possa

    mobilizar conhecimentos prvios sobre o assunto;

    - Fomentar a autoverificao sistemtica da compreenso da leitura pelos alunos;

    - Organizar e sintetizar as ideias principais do texto;

    - Analisar e trabalhar as estruturas morfosintcticas do texto;

    - Relacionar e reformular contedos do texto com os conhecimentos prvios sobre

    o(s) assunto(s) lido(s).

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    55/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 54

    Educao Bsica

    Actividades de desenvolvimento de capacidades envolvidas na leitura

    - Actividades de reconhecimento global de palavras (desenvolvimento do

    vocabulrio visual):

    - Rotulagem de materiais;

    - Leitura e escrita de palavras familiares;

    - Preenchimento de frases com lacunas;

    - Antecipao de contedos previsveis;

    - Substituio de palavras por antnimos e sinnimos.

    - Actividades de traduo sequencial de letras em palavras(desenvolvimento da correspondncia letra/som):

    - Segmentao silbica (oral);

    - Reconstruo fonmica (oral);

    - Identificao de sons e respectivas letras iniciais de palavras;

    - Substituio de sons por letras (iniciais, finais e intermdias);

    - Segmentao de palavras com supresso de slabas e fonemas;

    - Reconstruo silbica a partir de material escrito.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    56/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 55

    Educao Bsica

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Alves Martins, M. & Quintas Mendes, A. (1986). Leitura da imagem e leitura da escrita:Um estudo psicogentico das diferentes conceptualizaes e estratgias de leituraem crianas de idade pr-escolar.Anlise Psicolgica, 5 (1), 45-65.

    Alves Martins, M. & Quintas Mendes, A. (1987). Evoluo das conceptualizaesinfantis sobre a escrita. Anlise Psicolgica 5 (4), 499-508.

    Alves Martins, M. (1989). A representao da palavra escrita em crianas de idadepr-escolar. Anlise Psicolgica, 7 (1-2-3), 415-422.

    Alves Martins, M. (1996). Pr-Histria da aprendizagem da leitura. ISPA. Lisboa.

    Alves Martins, M. (1998). Psicologia da aprendizagem da linguagem escrita.Universidade Aberta. Lisboa.

    Baker, S. & Baker, K. (1997). Educating children who are deaf or hard of hearing:bilingual-bicultural education. Website: http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html

    Besse, J. M. (1993). De lcriture produtrice la psychognse de la langue crite. InChauveau, M. Remond & E. Rogovas-Chauveau (Eds.),Lenfant apprenti lecteur:

    Lentre dans le systme crit, 43-72, INRP LHarmattan. Paris.

    Bonnet, C. & Richard, J. (1990). Trait de Psychologie Cognitive: cognition,representation, communication. Dunod. Paris.

    Castro Neves, M. & Alves Martins, M. (1994). Descobrindo a linguagem escrita, umaexperincia de aprendizagem da leitura e da escrita numa escola de interveno

    prioritria. Escolar Editora. Lisboa.

    Chauveau, G. & Rogovas-Chauveau, E. (1994). Les chemins de la lecture. ditionsMagnard. Belgique.

    Chauveau, G., Remond, M. & Rogovas-Chauveau, E. (Eds.) (1993). Lenfant apprentilecteur: Lentre dans le systme crit. INRP LHarmattan. Paris.

    Coll, C., M Coll, C., Palacios, J. & Marchesi, A. (1995).Desenvolvimento Psicolgico eEducao: Necessidades Educativas Especiais e Aprendizagem Escolar. Artes

    Mdicas. Porto Alegre.

    Coll, C., Martn, E., Mauri, T., Miras, M., Onrubia, J., Sol, I. & Zabala, A. (2001). O

    construtivismo na sala de aula. Edies Asa. Lisboa.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    57/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 56

    Educao Bsica

    Collins, N. (s/d). Metacognition and reading to learn. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 18/02/1999.

    Costa, M. A. (1989). Aprendera ler e a escrever, algumas implicaes. RevistaInternacional de Lngua Portuguesa, 2.

    Curto, L., Morillo, M. & Teixid, M., (1998). Escribir y leer: materiales curriculares para la enseanza y el aprendizaje del lenguage escrito, de tres a ocho aos.Edelvives. Barcelona.

    Delgado-Martins, M. R. (1989). Falar, escrever, ler, ouvir. Revista Internacional deLngua Portuguesa, 2, 59-61.

    Delgado-Martins, M. R. (1997). Como aprendem as crianas surdas a ler e a escrever.NOESIS, Out/Nov.

    Delgado-Martins, M. R., Ramalho, G. & Costa, A. (2000). Literacia e sociedade,contribuies pluridisciplinares. Editorial Caminho. Lisboa.

    Downing, J. & Fijalkow, J. (1984).Lire et raisonner. (Special Issues): Privat. Toulouse.

    Downing, J. & Leong, Ch. K. (1982). Psychology of reading. Collier Macmillan. New

    York

    Evans, C. (1998). Literacy acquisition in deaf children. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 25/07/2000.

    Fayol, M. (1999). Comprendre et produire des textes crits: lexample du rcit. Noprelo.

    Fayol, M. (1999).Lapprentissage de la lecture et de lcriture. No prelo.

    Fayol, M., Gombert, J.,Lecocq, P., sprenger-Charolles, L. & Zagar, D. (1992).Psychologie cognitive de la lecture. Presses Universitaires de France. Paris.

    Fernandes, J. (2001). Literacy it all connects. Website:http://www.clerccenter.gallaudet.edu/literacy/html. 18/08/2001.

    Ferreiro, E. & Teberosky A. (1980). Los sistemas de escritura en el desarollo del nio.Siglo Editores. Mexico.

    Ferreiro, E. & Teberosky, A.(1984). Psicognese da lngua escrita. Artes Mdicas.Porto Alegre.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    58/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 57

    Educao Bsica

    Giasson, J. (1993).A compreenso na leitura. Edies Asa. Lisboa.

    Holcomb, T. & Kreeft, J. (1992). ESL literacy for a linguistic minority: the deafexperience. Website: http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 23/04/2001.

    Iglesias, P., Uzquiano, M. & Madruga, J. (1997). Procesos de adquisicin y produccinde la lectoescritura. Aprendizaje Visor. Madrid.

    Iglesias, P., Uzquiano, M. & Madruga, J. (1997). Procesos de adquisicin y produccinde la lectoescritura. Aprendizaje Visor. Madrid.

    Johnston, J. & Shirley, A. (s/d). The effect of language development on the acquisitionof reading skills in the elementary mainstreamed hearig impared student.Website: http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 17/02/1999.

    Kuntze, M. (1998). Literacy and deaf children: the language question. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 05/05/2000.

    Magnuson, M. (2000).Infants with congenital deafness: on the importance of early signlanguage acquisition. Website: Http://www.gallaudet.edu/html. 2570772000.

    Marchesi, A. (1987). El desarrollo cognitivo y lingustico de los nios sordos. AlianzaPsicologa. Madrid.

    Marschark, M. (1993). Psychological development of deaf children. Oxford UniversityPress. Oxford.

    Mason, J. & McCormick, C. (s/d). An investigation of prereading instruction from adevelopmental perspective: foundations for literacy. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 19/02/1999.

    Maxwell, M. (s/d). Beginning reading and deaf children. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 17702/1999.

    Ministrio da Educao, Departamento da Educao Bsica (2000). Provas de aferiodo Ensino Bsico- 4 ano- 2000: Relatrio Nacional.

    Ministrio da Educao, Departamento da Educao Bsica (2001). CurrculoNacional.

    Ministrio da Educao, Departamento da Educao Bsica, NOEEE (1998/1999).Observatrio dos Apoios Educativos: Alunos Surdos.

    Ministrio da Educao, Departamento da Educao Bsica, NOEEE (1999). A

    especificidade da criana surda.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    59/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 58

    Educao Bsica

    Padden, C. (s/d) Deaf children and literacy. Literacy lessons. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 17/02/1999.

    Paul, P. (1998).Literacy and deafness: the development of reading, writing and literatethought. Allyn & Bacon. USA.

    Quadros, R. (1997). Educao de surdos: a aquisio da linguagem. Artes Mdicas.Porto Alegre.

    Ravn, T. (1999). Towards Danish: Developmental sequences in deaf and hearingimpared pupils. Acquisition of Danish as a second language. European days ofdeaf education. Proceedings. Orebro. Sweden.

    Schleper, D. (2001). Reading to deaf children: a look at the research. Website:http://www.clerccenter.gallaudet.edu/literacy/html. 18/08/2001.

    Schleper, D. (2001). Well, what do you expect? Website:http://www.clerccenter.gallaudet.edu/literacy/html. 18/08/2001.

    Schleper, dD (2001). Principles for reading to deaf children. Website:http://www.clerccenter.gallaudet.edu/literacy/html. 18/08/2001.

    Sim-Sim, I. & Ramalho, G. (1993). Como lem as nossas crianas? Caracterizao donvel de literacia da populao escolar portuguesa. Ministrio da Educao,Gabinete de Estudos e Planeamento.

    Sim-Sim, I. (1989). Literacia e alfabetizao: dois conceitos no coincidentes. RevistaInternacional de Lngua Portuguesa, 2, 62-66.

    Sim-Sim, I. (1994).De que que falamos quando falamos de leitura. Revista Inovao,7, 131-143.

    Sim-Sim, I. (1995). Desenvolver a linguagem aprender a lngua. Novas Metodologiasem Educao, 8. Porto Editora.

    Sim-Sim, I. (1997). A lngua materna na Educao Bsica. Competncias nucleares enveis de desempenho. Ministrio da Educao. Departamento da EducaoBsica.

    Sim-Sim, I. (1998).Desenvolvimento da linguagem. Universidade Aberta. Lisboa.

    Sim-Sim, I. (1999). Porque que que a literacia se escreve com um D. Revista daESES, 10, 22-35.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    60/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 59

    Educao Bsica

    Sim-Sim, I. (2000). O domnio do Portugus escrito- factor determinante no sucessoescolar dos alunos surdos. Comunicao apresentada no 1 Encontro Nacionaldas Unidades de Apoio Educao de Alunos Surdos. Vimeiro.

    Sim-Sim, I. Dos primrdios da leitura e da escrita ao conhecimento da estrutura

    nuclear da frase. No prelo.

    Smith, C. B. (s/d). Vocabulary instruction and reading comprehension. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 17/02/1999.

    Svartholm, K. (1994).Deaf Bilingualism. Hamburg Signum. Hamburg.

    Svartholm, K. (1998).Aquisio de segunda lngua por surdos. INES. Espao. Brasil.

    Wilcox, S. & Wilcox, P. (1991). Teaching ASL as a second language. Website:http://www.ed.gov/databases/ERIC-Digests/html. 23/04/2001.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    61/73

    obser vatr i o dos apoios educati vos 60

    Educao Bsica

    ANEXOS

    Anexo 1. Enunciado da Prova

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    62/73

    L o texto com ateno.

    Era uma vez uma nuvem. Era uma vez um caracol. A nuvemandava l no alto, a espreguiar-se muito vagarosa, muito

    preguiosa. O caracol andava c por baixo, a correr muito

    devagarinho, muito devagarinho, porque no sabia correr mais

    depressa. Andava sua vida o caracol.

    L no alto, a nuvem, porque no tinha nada que fazer, bocejava:

    - Ah, que dia chato este!Para se entreter, a nuvem comeou a brincar ao faz de conta.

    Como no havia mais nuvens, tinha de brincar sozinha.

    - Faz de conta que sou um cavalo- e um cavalo aparecia no cu.

    - Agora faz de conta que sou um palhao e a cara de um

    palhao, feito de nuvem, desenhava-se no cu azul.

    - Agora sou uma casa e uma casa nuvem surgia no cu.Entretinha-se assim.

    Mas, quando, a certa altura, se esticou e espreguiou mais e

    mais, a fazer de conta que era um comboio de mercadorias, a

    nuvem tapou o Sol. O dia escureceu.

    C em baixo, o caracol, que andava sua vida, suspirou,

    aborrecido:

    - Esta nuvem s faz disparates. o que acontece a quem no tem

    nada que fazer.

    Parece que ela, a nuvem, l em cima, o ouviu, porque, passado

    tempo, escureceu de triste que estava e comeou a choramingar

    sobre a terra. Antnio Torrado

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    63/73

    Responde ao que te pedido sobre o texto que leste.

    1. Quem so as personagens do texto ?

    2. Pe um X na frase que, de acordo com o texto, completa a

    seguinte afirmao:

    A nuvem bocejava porque

    ? tinha sono.

    ? no tinha nada que fazer.

    ? estava cansada.? tinha dormido muito.

    3. Para se entreter a nuvem comeou a brincar. Diz a que que a

    nuvem brincava.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    64/73

    4. Pe um X na frase que indica a situao em que a nuvem

    brincava sozinha.

    A nuvem brincava sozinhaquando

    ? estava triste.

    ? havia mais nuvens.

    ? ? no havia mais nuvens.

    ? ? lhe apetecia.

    5. De acordo com o texto pe um V nas frases verdadeiras e um F

    nas falsas.

    ? ficou muito gorda ?

    ? tapou a Lua ?

    ? ficou triste ?

    ? o dia escureceu ?

    Quando a nuvem

    se esticou e

    espreguiou,a fazer de conta

    que era um comboio

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    65/73

    6. Diz como se sentiu o caracol quando o dia escureceu.

    7. Copia do texto a frase que explica porque pareceu que a nuvem

    ouviu o caracol.

    ______________________________________________________

    8. Ordena as frases seguintes, de acordo com a ordem dos

    acontecimentos na histria, numerando-as de 1 a 5.

    O 1 deve corresponder ao primeiro acontecimento e o 5 aoltimo.

    ? Para se entreter, a nuvem comeou a brincar ao faz de

    conta.

    ? O caracol ficou aborrecido.

    ? O dia escureceu.

    ? A nuvem comeou a choramingar sobre a terra.

    ? Quando a nuvem se esticou a fazer de conta que era um

    comboio, a nuvem tapou o sol.

  • 8/7/2019 Alunos surdos severos e surdos profundos - compreenso da leitura no final do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    66/73