Amanco - Ambiente - Estab CA-Zn Tuberias

Embed Size (px)

Citation preview

Regina Clia Zimmermann da Fonseca

O PVC e a sustentabilidade ambiental: marcos histricos e o caso Amanco Brasil.

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obteno do ttulo de mestre em Engenharia Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Fernando Soares Pinto SantAnna

Florianpolis 2004

ii

Aos meus amados filhos, Isabella e Luiz Alexandre, na esperana de um mundo melhor.

iii

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter-me dado sade, proteo, persistncia e capacidade; ao meu marido Alexandre pelo amor, pacincia e confiana; aos meus pais, Rosilda e Renato pela educao, maior presente, pelo continuado apoio e incentivo nesta ltima etapa e pelo carinho e ateno dados aos meus filhos; as minhas queridas irms, Claudia, o porto seguro e alegre em Florianpolis; Fabiane sempre presente e amiga nos momentos difceis; ao amigo e orientador Prof. Dr. Fernando SantAnna, pela confiana, pacincia e grande competncia na orientao desta dissertao; aos Prof.es Drs. Ariovaldo Bolzan e Henry Corseiul membros da banca examinadora, pela ateno e contribuio prestadas; ao meu gerente na Amanco Brasil, Clito Michels, pela confiana, oportunidade, amizade, incentivo e ajuda que, alm de tornar possvel a realizao do curso de mestrado, contemporizou as lacunas deixadas por minhas ausncias; ao diretor industrial da Amanco Brasil, Claudio Theilacker, que teve a inteligncia e sensibilidade necessrias busca de capacitao na rea ambiental, por acreditar em meu potencial e me confiar esta misso; aos demais diretores da Amanco Brasil, Paulo Schmalz, Andr Fauth, Pierre Roulet e Ronald Degen, por tambm confiarem em meu trabalho dando-me permisso para realiz-lo; aos meus colegas de trabalho, Leandro Caldart e Mrcio Cordeiro, pelas valiosas discusses e sugestes e Priscilla Passos, pelo companheirismo e disposio para ajudarme, suportando a sobrecarga de trabalho gerada pelas minhas ausncias;

iv

vice presidente de responsabilidade social e ambiental do Grupo Nueva, Maria Emlia Correa, que me confiou informaes extremamente importantes; aos colegas do Grupo Amanco, participantes do CMAP Comit de Materiais Amanco Plsticos, em especial a Victor Landazabal e Enrique Guzman; ao Instituto do PVC, em especial ao diretor tcnico, dison Carlos, que com grande conhecimento, revisou esta dissertao; aos fornecedores nacionais de resina de PVC, Braskem e Solvay e aos fornecedores de estabilizantes, Baerlocher, Chemson e Cognis, por sempre serem receptivos e dispostos a contribuir e em especial Antnio Rodolfo Jr., da Braskem, que muito contribui com a reviso desta dissertao; Prof Dr. Rosa Alice Mosimann, que me auxiliou na reviso dos textos de uma forma dinmica; aos demais familiares, professores e colegas da UFSC e da Amanco Brasil que, direta ou indiretamente, contriburam para a realizao desta pesquisa, meus sinceros agradecimentos!

v

SUMRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................ vii LISTA DE TABELAS ..............................................................................viii LISTA DE SIGLAS .................................................................................... ix RESUMO .................................................................................................... xi ABSTRACT ................................................................................................xii INTRODUO .......................................................................................... 13 CAPTULO 1: A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ................ 171.1 Relao entre sociedade, indstria e desenvolvimento sustentvel.............. 17 1.2 Desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade......................................... 22 1.3 A busca da sustentabilidade ambiental pelas empresas ............................... 28 1.3.1 Eco-eficincia ......................................................................................... 28 1.3.2 Ecologia industrial .................................................................................. 31 1.4 Anlise do ciclo de vida de produtos (ACV) .............................................. 34 1.4.1 Metodologia............................................................................................ 38

CAPTULO 2: O PVC E O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE . 412.1 PVC, o plstico verstil.............................................................................. 41 2.1.1 O PVC e suas aplicaes......................................................................... 42 2.1.2 Processos de produo do PVC ............................................................... 43 2.1.3 Compostos de PVC................................................................................. 45 2.1.4 Estabilizantes.......................................................................................... 45 2.1.5 Plastificantes........................................................................................... 49 2.2 PVC, um material questionado................................................................... 50 2.2.1 A polmica em relao ao PVC............................................................... 50 2.2.2 Anlise de ciclo de vida do PVC ............................................................. 56 2.3 PVC e sustentabilidade .............................................................................. 59 2.3.1 O livro verde do PVC ............................................................................. 61 2.3.2 VINIL 2010 ............................................................................................ 64

vi

CAPTULO 3: ESTUDO DE CASO

GRUPO AMANCO E

AMANCO BRASIL SA ............................................................................ 693.1 Histrico ................................................................................................... 69 3.2 A deciso de substituir os estabilizantes a base de chumbo ........................ 70 3.2.1 O estudo da Booz Allen Hamilton........................................................... 72 3.3 A estratgia para implementar a substituio.............................................. 76 3.3.1 O envolvimento do principal concorrente................................................ 76 3.3.2 O envolvimento dos produtores de estabilizantes .................................... 78 3.3.3 A participao do Instituto do PVC ......................................................... 78 3.3.4 O estudo das tecnologias ......................................................................... 79 3.3.5 O desenvolvimento paralelo de tecnologia .............................................. 80 3.3.6 O retorno aos produtores de estabilizantes............................................... 81 3.3.7 A definio da tecnologia........................................................................ 82 3.3.8 O envolvimento da cadeia produtiva brasileira ........................................ 84 3.3.9 O termo de adeso................................................................................... 85 3.3.10 O cronograma de implementao .......................................................... 85 3.4 Resultados da implementao do estabilizante Ca e Zn na Amanco Brasil . 86 3.4.1 Histrico do desenvolvimento em 2003................................................... 86 3.4.2 Cronograma de implementao na Amanco Brasil em 2003.................... 87 3.4.3 Estabilizantes homologados na Amanco Brasil ....................................... 89 3.4.4 Resultados dos ensaios com estabilizante Ca e Zn na Amanco Brasil ..... 89 3.5 Demais aes em busca da sustentabilidade ............................................... 91 3.5.1 Relatrio de Sustentabilidade .................................................................. 93

CONSIDERAES ................................................................................... 94 CONCLUSES ........................................................................................ 104 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 108 ANEXOS ................................................................................................ 115

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Ciclos biolgicos da natureza........................................................ 32 Figura 2 Fases de um ACV (ABNT NBR ISO 14040, 2001)....................... 38 Figura 3 O ciclo de vida do PVC segundo VINIL 2010............................... 65 Figura 4 Smbolo do VINIL 2010 encontrando o desafio ( meeting the challenge do of Desenvolvimento sustentvel

sustainable development) ............................................................. 66 Figura 5 O ciclo de vida do PVC a partir de uma perspectiva ambiental...... 74 Figura 6 Avaliao de riscos dos 16 impactos do ciclo de vida do PVC. (BAH e Amanco) .......................................................................... 75 Figura 7 Consumo de PVC no mundo e no Brasil e a produo de tubos e conexes....................................................................................... 79 Figura 8 Escala de impacto ambiental dos estabilizantes ............................. 83 Figura 9 Curva de aprendizado dos produtores de tubos e conexes e estabilizantes ................................................................................ 83 Figura 10 Cronograma de atividades da extruso ......................................... 87 Figura 11 Taxa de implementao dos compostos de extruso estabilizados com Ca e Zn .............................................................................. 88 Figura 12 Cronograma de atividades da injeo ........................................... 89 Figura 13 Evoluo dos custos dos compostos de extruso com Ca e Zn...... 90 Figura 14 Termo de adeso ........................................................................ 116

viii

LISTA DE TABELASTabela 1 Resumo comparativo entre competitividade e sustentabilidade ...... 26 Tabela 2 Aspectos da interao entre indstria e meio ambiente ................... 31 Tabela 3 Normas da srie ISO 14040 ............................................................ 37 Tabela 4 Relatrios tcnicos da srie ISO 14040........................................... 37 Tabela 5 Principais categorias de utilizao do PVC na Europa (1999) ......... 43 Tabela 6 Estudos de ACV em produtos de PVC nas reas mais importantes de aplicao................................................................ 58

ix

LISTA DE SIGLAS

Abiquim Associao brasileira da indstria qumica ABNT Associao brasileira de normas tcnicas ACRR Associao de municpios e regies para a reciclagem ACV Avaliao do ciclo de vida AMPE Associao dos produtores de plstico na Europa (Association of plastics manufacturers in europe) BAH Booz Allen & Hamilton BBP Butil benzil ftalato BP British Petroleum CEBDS Conselho empresarial brasileiro para o desenvolvimento sustentvel CEMPRE Compromisso empresarial para reciclagem CERES Coalizo para economias ambientalmente responsveis (Coalition for environmentally responsible economies) CETEA Centro de tecnologia de embalagem CFCs Clorofluorcarbono CNPq Conselho nacional de pesquisa DBP Di-butil ftalato DEHP Di-(2-etil-hexil) ftalato DFE Projetar para o meio ambiente (Design for environmental) DIDP Di-isodecil ftalato DINP Di-isononilo ftalato DJSD ndice mundial de sustentabilidade da Dow Jones (Dow Jones sustainability world indexes) DOP Di-octil ftalato ECPI Conselho Europeu para plastificantes e intermedirios (The European council for plasticisers and intermediates ) ECVM Conselho Europeu dos produtores vinlicos (The European council of vinyl manufactures)

x

EMCEF Federao Europia dos trabalhadores de minas, qumicas e energia EMPA Laboratrio federal Suo para testes e pesquisas (Swiss federal laboratories for testing and research) EPA Agncia de proteo ambiental Americana (Environmental protection agency). ESPA Associao dos produtores Europeus de estabilizantes (The European stabilisers producers associantions) EuPC Transformadores Europeus de plsticos (European plastics converts) GRI Iniciativa global de relatrios (Global reporting initiative) IARC Agncia internacional de pesquisa para o cncer (International agency for research into cancer) ISO International standarization organization MAFF Ministrio da alimentao e da pesca inglesa (UK Ministry of food and fisheries) MRI Instituto de pesquisas de Midwest (Midwest research institute) NCBE Centro nacional para negcios e ecologia (National centre for business and ecology) ONG Organizao no governamental OSHA Administrao de sade e segurana ocupacional (Ocupational safety and health administration) OSPAR Conveno para a proteo do meio marinho do atlntico nordeste PCBs Bisfenilas poli-cloradas PIB Produto interno bruto ppm Parte por milho PVC Policloreto de vinila REPA Anlise do perfil de recursos ambientais Setac Sociedade de qumica e toxicologia ambiental T&C Tubos e conexes TNS O caminho natural (The natural step) VCM Monmero do cloreto de vilila VOC Carbono orgno voltil WBCSD Conselho empresarial mundial para o desenvolvimento sustentvel (World Business Council for Sustainable Development)

xi

RESUMO

Na busca por um mundo sustentvel, exigir-se- maior ateno nas interaes entre indstria, meio ambiente e sociedade. Algumas alternativas surgem como instrumentos da indstria na busca da sustentabilidade ambiental, tais como a eco-eficincia e a ecologia industrial. A conscientizao da importncia da proteo ambiental, e os possveis impactos associados a produtos manufaturados e consumidos, aumentou o interesse no desenvolvimento de mtodos como a avaliao do ciclo de vida ACV, que estuda a vida de um produto desde a aquisio das matrias-primas, produo e uso, at a disposio final, sendo um passo de fundamental importncia para um gerenciamento sustentvel. A polmica sobre os impactos ao meio ambiente e sade humana causados pelo PVC policloreto de vinila, que tem sido alvo de ataques de organizaes ambientalistas como o Greenpeace, documentada em uma reviso com marcos histricos de alguns pases da Europa. Este trabalho aborda a postura da Comisso das Comunidades Europias e a postura das indstrias que se uniram para promover o desenvolvimento sustentvel do PVC. A deciso do Grupo Amanco, de voluntariamente substituir, no Brasil, o estabilizante de PVC base de chumbo e a estratgia utilizada para influenciar a cadeia produtiva do PVC brasileira abordada. Os motivos que levaram a empresa que opera na Amrica Latina a tomar a deciso de transformar o PVC em um material ambientalmente mais seguro foram postura pr-ativa, presso dos grupos ambientalistas que clamavam pela eliminao do PVC e os movimentos ocorridos na Europa, os resultados dos estudos de ACV, a disponibilidade de tecnologia alternativa de estabilizao e o comprometimento com o desenvolvimento sustentvel, objetivo definido em sua estratgia empresarial, viso e valores. As vantagens decorrentes desta deciso so o reconhecimento das partes interessadas como uma empresa socialmente responsvel e que preserva o meio ambiente, procurando competitividade com a ajuda do prprio meio ambiente. O resultado esperado o sucesso perante os clientes e o fortalecimento da marca pelo fato de utilizarem uma matria-prima ambientalmente mais segura. J o envolvimento da cadeia produtiva do PVC tornou-se uma estratgia muito importante para o encontro da sustentabilidade econmica. Palavras-chave: Policloreto de vinila PVC, sustentabilidade ambiental, Amanco, anlise de ciclo de vida ACV, estabilizantes.

xii

ABSTRACT

In the search for a sustainable world, more attention to the interaction between industry, environment and society is demanded. Some alternatives appear as instruments of industry in the search of environmental sustainability, such as eco-efficiency and industrial ecology. Awareness of the importance of environmental protection and the possible impact associated with manufactured and consumed products increases the interest in the development of methods as the evaluation of the life cycle assessment LCA. This method studies the life of a product from the acquisition of raw materials, production and use, until final disposal and it is of fundamental importance for sustainable management. Controversy about impact on the environment and the health of human beings caused by PVC polyvinyl chloride will be registered. PVC has been at the center of attacks by environmental organizations such as Greenpeace. A revision of historical landmarks of some countries of Europe will be made. The position of the Commission of the European Communities and also the position of industries that have joined through a voluntary agreement searching the challenge of the sustainable development for the PVC will be shown. The decision of the Amanco Group in Brazil, to substitute, the lead stabilizer of PVC and the strategy used to influence the productive chain of the Brazilian PVC is presented in a case study. The reasons that have motivated the company who operates in Latin America to make the decision to transform the PVC into an environmentally safer material were: the proactive position, the pressure of environmental groups and the movements occurring in Europe, the results of LCA studies, the availability of alternative technology of stabilization and the compromise with sustainable development, objective defined in its enterprise strategy, vision and values. The advantages of this decision are the recognition of shakeholders as a socially responsible company, that it preserves the environment, looking for competitiveness with the aid of the environment. Itself desired result is success with customers and the strength of the brand for the fact that they used raw material which is safer. Already the involvement of the productive chain of the PVC has become a very important strategy in the achievement of the economic sustainability.

Key words: polyvinyl chloride PVC, environmental sustainability, Amanco, life cycle assessment LCA, stabilizer.

13

INTRODUO

Durante muitos anos acreditou-se que os objetivos da indstria eram incompatveis com a preservao ou melhoria do meio ambiente. Nos dias de hoje essa convico est ultrapassada. As corporaes e as naes mais evoludas reconhecem que a melhoria da qualidade de vida vai envolver no somente as atividades industriais e as novas tecnologias, mas a busca por um mundo sustentvel, e a interao entre indstria, meio ambiente e sociedade. Sendo este fato conhecido das corporaes, cidados e governos, vm-se todos na contingncia de adotar uma postura responsvel nas atividades industriais, no apenas com a finalidade de resolver ou evitar problemas, mas de criar benefcios para as partes interessadas.1 O envolvimento da indstria , pois, crucial quando se busca a sustentabilidade. Algumas empresas demonstram, desde o incio, preocupao com a operao de suas fbricas ou com o processo, e buscam melhorar seu desempenho atravs de um sistema de gesto ambiental e da certificao ISO 14001. Outras esto indo mais alm: preocupando-se com o desempenho ambiental de seus produtos e com a comunidade que habita ao lado de suas fbricas. Estar consciente dos possveis impactos e conhecer a importncia da proteo ambiental, aumentou o interesse no desenvolvimento de mtodos para melhor compreender e reduzir estes impactos, como a Avaliao do Ciclo de Vida ACV. Ela visa compreender a origem das matrias-primas utilizadas, o destino dos produtos fabricados, os subprodutos e resduos do processo, bem como os efeitos para o meio ambiente das emisses geradas.

1

Tambm conhecidas como stakeholders.

14

Entender o ciclo de vida de um produto, contabilizando todas as correntes de entradas e sadas em uma cadeia de processos, um passo de fundamental importncia para um gerenciamento sustentvel. O PVC policloreto de vinila, material verstil de inmeras aplicaes, tem sido o centro de muitos debates e questionamentos, alvo de ataques de organizaes ambientalistas, especialmente na Europa, devido aos supostos impactos gerados no meio ambiente e sade humana ao longo do seu ciclo de vida. Esses questionamentos fizeram com que o PVC seja hoje um dos materiais mais estudados da histria recente. Neste contexto, o Grupo Amanco, empresa de capital suo que atua exclusivamente na Amrica Latina, fabricando, sobretudo, tubos e conexes, demonstra seu compromisso com o desenvolvimento sustentvel atravs da busca da sustentabilidade ambiental do PVC. Dentre vrias providncias, destacou-se a eliminao dos estabilizantes base de chumbo na Amanco Brasil, que influenciou a cadeia produtiva de tubos e conexes de PVC para promover a completa eliminao dos estabilizantes de chumbo, no Brasil, em um tempo muito inferior ao acordado pelas empresas europias (que se uniram em um acordo voluntrio: VINIL 2010) e, assim, buscar o desenvolvimento sustentvel do produto. Vrias dissertaes com estudos de casos de empresas j foram desenvolvidas no PPGEA, grande parte relacionadas ao desenvolvimento de sistemas de gesto ambiental e certificaes ISO 14001.2 Outras, que abordam aspectos relacionados ao ciclo de vida de produtos, esto em andamento. Este trabalho, em particular, marca o incio de estudos especficos sobre o PVC e uma empresa que busca a sustentabilidade de seus produtos. Quais as razes que levaram o Grupo Amanco a iniciar a busca da sustentabilidade ambiental do PVC? a questo a que pretendemos responder, ou seja: a resposta a esta questo o fundamento do presente estudo. Para atingir tal objetivo ser necessrio descobrir

2

WIDMER, Walter M. (1997), OLIVEIRA, Cristiano H. Sieber de (2000), entre outros.

15

as razes que levaram o Grupo Amanco a assumir postura de vanguarda, buscando a sustentabilidade ambiental do PVC; em que se basearam seus lderes para tomarem esta deciso, que estratgia foi usada e que tipo de vantagens esperam alcanar. Este caso desencadeou o estabelecimento de objetivos especficos como a discusso sobre a ferramenta de anlise de ciclo de vida de produtos e sua utilidade na busca da sustentabilidade ambiental, bem como a sua introduo no Brasil; a reviso bibliogrfica que descreveu os movimentos contrrios utilizao do PVC, a postura do governo e a resposta das indstrias na Europa; a discusso da sustentabilidade ambiental do material. Por outro lado, o caso do Grupo Amanco desvendou o papel do Brasil frente s tendncias mundiais, em especial frente Comunidade Europia, no que se refere utilizao de estabilizantes a base de metais pesados, permitindo-nos documentar este processo e analisar a deciso do Grupo Amanco de iniciar a transformao do PVC em um material ambientalmente mais seguro. A metodologia que ser aplicada nesta pesquisa de natureza terica e visa a responder questo e aos objetivos explicitados. A reviso bibliogrfica ser dividida em trs grandes captulos. O primeiro captulo abordar as relaes entre sociedade, empresa e desenvolvimento sustentvel, onde sero discutidos os conceitos de desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade. Na busca da sustentabilidade ambiental nas empresas, tcnicas como ecoeficincia, ecologia industrial e anlise de ciclo de vida de produtos tero prevalncia. No segundo captulo, ser apresentado o PVC. Atravs de fatos recentes ocorridos na Europa, ficar documentada a polmica sobre este material e seus desdobramentos. O governo

16

e a cadeia produtiva do PVC3 propuseram solues para fazer face presso de ONGs ambientalistas e da sociedade em geral. A deciso do Grupo Amanco, uma empresa multinacional transformadora de plsticos, de voluntariamente substituir no Brasil o estabilizante de PVC a base de chumbo, influenciando, assim, toda a cadeia produtiva brasileira4 apresentada sob forma de estudo de caso no terceiro captulo. Ele foi facilitado por ser a responsvel por este trabalho, funcionria da Amanco Brasil e ocupar o cargo de Coordenadora Nacional de Meio Ambiente, tendo anteriormente atuado como Coordenadora da Engenharia de Materiais e Coordenadora de Produo, funes exercidas na empresa h aproximadamente nove anos. Os relatos pois, fazem parte do cotidiano desta profissional. As consideraes finais e a concluso examinaro os resultados, comparando-os aos objetivos traados, alertando para a necessidade de se prosseguir na procura de substitutos menos agressivos para os estabilizantes a base de chumbo.

Dentro do escopo deste trabalho, fazem parte da cadeia produtiva do PVC na Europa: os fabricantes de resina de PVC, os fabricantes de estabilizantes e plastificantes e os transformadores de PVC, representados pelas suas Associaes Europias, ECVM, ECPI, ESPA e EuPC. 4 Dentro do escopo deste trabalho, fazem parte da cadeia produtiva do PVC no Brasil: os fabricantes de resina de PVC, os fabricantes de estabilizantes e os transformadores de tubos e conexes de PVC, que so associados ao Instituto do PVC.

3

17

CAPTULO 1: A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

1.1 Relao entre sociedade, indstria e desenvolvimento sustentvel

Toda atividade industrial uma resposta a um desejo ou necessidade da sociedade, termo que tem vrios significados. Do ponto de vista de sistemas industriais, ambos geram demanda de produto.5 As empresas, na busca de atender desejos e necessidades da sociedade (bens ou servios), devem adaptar-se s exigncias desta mesma sociedade, que cobra uma atuao mais responsvel em termos de proteo ao meio ambiente e responsabilidade social. Por outro lado, a empresa uma instituio que visa lucro, tendo o fator econmico peso elevado. Deste modo, o grande desafio das empresas a caminho do desenvolvimento sustentvel tem sido o de equilibrar os fatores econmico, ambiental e social. Seus planejamentos estratgicos devem conter, obrigatoriamente, os objetivos a que se propem nessas reas, que exigem acompanhamento na gesto do dia a dia. O desenvolvimento sustentvel foi definido em 1987, no relatrio Nosso futuro comum (tambm conhecido como relatrio Brundtland), como sendo aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraes satisfazerem suas prprias necessidades. 6 O trabalho da Comisso de Bruntland recomendou Assemblia geral da ONU que convocasse a II Conferncia Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992,

5 6

GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Industrial ecology. New Jersey: Prentice-Hall, 1995. COMISSO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO CMMAD, Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1991, p.46.

18

exatamente 20 anos depois da Conferncia de Estocolmo. Foi a Rio 92, entre 3 e 14 de junho, com a misso de estabelecer uma agenda de cooperao internacional, a Agenda 21, que pusesse em prtica, ao longo do sculo XXI, o desenvolvimento sustentvel no planeta.7 O mundo empresarial foi convocado a participar desta conferncia no Rio de Janeiro, obrigando as empresas a compreenderem o novo conceito e com ele assumirem um compromisso. Nos dois anos anteriores a Rio 92 o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentvel (WBCSD) o produto da viso e da preocupao de um pequeno grupo de lderes empresariais. 8 Em meados de 1990, Maurice Strong, secretrio-geral da Rio 92, pediu a seu principal conselheiro em indstria e comrcio que formulasse uma perspectiva global sobre desenvolvimento sustentvel do ponto de vista dos empresrios. O conselheiro era o rico industrial suo Stephan Schmidheiny. Como ex-controlador do grupo Eternit na Sua, um dos maiores fabricantes mundiais de amianto, Schmidheiny considerava ter tido sua quota de responsabilidade na produo de danos ambientais em nome da produo de riquezas. Passara suas aes adiante e agora, convertido causa ambiental, buscava maneiras de atrair os empresrios para a discusso de questes tradicionalmente vistas como assunto exclusivo de governos e grupos ambientalistas. Schmidheiny convocou 48 empresrios executivos de grandes empresas de 28 pases para produzir o documento pedido por Strong. O resultado de seu trabalho, publicado no incio de 1992, foi o livro-relatrio Mudando o rumo: uma perspectiva empresarial global sobre desenvolvimento e meio ambiente. 9 Mudando o Rumo apresenta a idia de justia econmica para as relaes entre as empresas e respectivas partes interessadas acionistas, empregados, consumidores,

7 8

ALMEIDA, Fernando. O Bom negcio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Cumprindo o prometido - casos de sucesso de desenvolvimento sustentvel. Traduo: Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Traduo de: Walking the talk. 9 ALMEIDA, Fernando. Op. cit.

19

fornecedores, vizinhos de bairro, comunidades, instituies, outras empresas, etc., numa relao de influncia mtua. Prope, tambm, uma combinao de comando-e-controle e auto-regulao, alm de criar novos conceitos como a eco-eficincia. Os empresrios reativos tornam-se pr-ativos nas reas ambiental, social e econmica; o mundo tripolar formado por: governo, sociedade e empresa. Os mercados abertos e competitivos fomentam, obrigatoriamente, a inovao e a eficincia e geram oportunidades para que todos melhorem suas condies de vida. Almeida (2002), considerou tmida a participao das empresas na Rio 92. No universo empresarial, a dimenso ambiental era vista, na melhor das hipteses, como um mal necessrio. No final dos anos 70, pelo menos um setor industrial j sentia no bolso ou melhor, nos balanos financeiros o custo do descaso ambiental. A indstria qumica mundial exibia o pior desempenho ambiental e de segurana de todos os setores industriais. Acusados de arrogantes, insensveis e irresponsveis, ameaados por centenas de aes judiciais reclamando indenizaes, acuados pelo crescente endurecimento das legislaes locais, os dirigentes do setor qumico mundial perceberam que era hora de mudar. A mudana comeou em 1985 com o programa Responsible Care, implantado em 1992 no Brasil pela Abiquim (Associao Brasileira da Indstria Qumica) e rebatizado de Atuao Responsvel.10 Dez anos depois da Rio 92, se questionou sobre as razes de algumas das principais corporaes do mundo que embora atradas pelo conceito do desenvolvimento sustentvel, admitem que ele ainda amplamente ignorado pela maioria das empresas em todo o mundo.11 O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel (CEBDS, 2002) afirma que houve, entretanto, uma maior participao dos lderes empresariais na Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel em Joanesburgo, na frica do Sul, realizada em agosto de 2002 (tambm conhecida como Rio+10),10 11

demonstrando que as

ALMEIDA, Fernando. Op. cit., p.18. HOLLIDAY, Charles ; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Op. cit., p. 18.

20

prticas ambientalmente corretas so viveis tecnologicamente, alm de serem bastante lucrativas para o setor produtivo.12 Holliday, Schmidheiny e Watts (2002) afirmam que a crescente presso do pblico, durante a dcada de 1990, em torno de assuntos relacionados aos direitos humanos e aos impactos da globalizao, forou as empresas a analisarem mais de perto o desenvolvimento sustentvel, especialmente sob o aspecto social. Shell, Nike e BP, por exemplo, estavam despreparadas para lidar com a capacidade dos consumidores de levarem suas preocupaes at as salas dos conselhos de administrao. Num mundo globalizado e transparente, o gerenciamento da reputao da empresa torna-se elemento central da gesto corporativa.13 consenso, entretanto, que a sociedade tende a apreciar, cada vez mais, o desenvolvimento sustentvel. A tendncia irreversvel. Desejos e necessidades podem ser modificados por vrios fatores sociais, restries econmicas, preocupaes relacionadas a perigos e impactos ambientais e o estado da tecnologia. O resultado a demanda por produtos e servios especficos. As corporaes industriais respondem a sua maneira sobre a disponibilidade de informaes, projetos e avaliaes para produzir os bens e servios solicitados.14 Holliday, Schmidheiny e Watts (2002) esto convencidos de que, visto como oportunidade e no como encargo, o desenvolvimento sustentvel vem demonstrando ser fonte de vantagem competitiva. Bill Ford, tetraneto de Henry Ford e agora chairmain da empresa, declarou em reunio da CERES (Coalizo para Economias Ambientalmente Responsveis) que participando de programas ambientais, suas empresas, confirmaram a forte convico de que alm de ser a atitude correta a preservao do ambiente fonte de vantagem competitiva e de grandes oportunidades de negcios. Capitalizando esses ativos, a empresa cria condies para avanos significativos como sucesso perante os clientes,12

CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SSUSTENTVEL. RIO + 10, a posio do CEBDS. Disponvel em: . Acesso em: 10 out. 2002. 13 HOLLIDAY, Charles ; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Op. cit., p. 18. 14 GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Op. cit., p. 17.

21

fortalecimento da marca, vantagem do pioneirismo e aumento da rentabilidade. O primeiro passo, contudo, o reconhecimento de que tanto a agenda poltica como a agenda de negcios esto impulsionando a mudana em busca da sustentabilidade e das oportunidades a ela inerentes.15 Lora (2000) percebeu que, em tempos de profunda preocupao da sociedade pelos problemas ambientais, as empresas esto deixando as posturas passivas e reativas para adotar um comportamento ambiental pr-ativo, transformando-o em oportunidade de negcios. Ao mesmo tempo em que a crise ambiental torna-se uma ameaa sobrevivncia do homem e da natureza, apresenta-se como oportunidade de continuar a vida com base em novos paradigmas. O meio ambiente deixa de ser um aspecto de nenhum ou pouco interesse, cuja nica preocupao era cumprir as obrigaes legais, e passa a ser uma fonte adicional de prestgio, eficincia e competitividade.16 O conceito do desenvolvimento sustentvel se difunde no meio governamental como no industrial. De acordo com COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS (2002), a Unio Europia assumiu, em todas as esferas, o compromisso de respeitar o princpio do desenvolvimento sustentvel: conseguir o difcil equilbrio entre proteo do ambiente, progresso econmico e desenvolvimento social. O objetivo geral aumentar a qualidade de vida e ao mesmo tempo proteger o ambiente para que, em todas as partes do mundo, as futuras geraes possam se desenvolver e prosperar. Mas reconhece ainda que, se os pases atuarem isoladamente, no ser possvel a salvaguarda do ambiente.17

15 16

HOLLIDAY, Charles ; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Op. cit., p. 18. LORA, Electos. Preveno e controle da poluio no setor energtico industrial de transporte. Braslia: ANEEL, 2000. 17 COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Opes para um futuro mais verde: a Unio Europia e o meio ambiente. Bruxelas: Servio da Publicaes Oficiais das Comunidades Europias, 2002.

22

1.2 Desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade

Segundo Leadbitter (2002), importante distinguir desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade. Desenvolvimento sustentvel o processo a enfrentar para chegar sustentabilidade: em outras palavras, o processo que conduz sustentabilidade,18 conceitos compartilhados por VINYL 2010 (2002)19 e Everard, Monaghan e Ray (2000)20. Os conceitos de desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade no so unanimemente aceitos. Barbieri (1997) considera a expresso desenvolvimento sustentvel formada por uma combinao de palavras contraditrias. O desenvolvimento evoca as idias de crescimento econmico, mudana do padro de vida da populao e tem base no sistema produtivo. O termo sustentvel de origem biolgica, ou seja, aplicvel apenas aos recursos renovveis que podem ser extintos pela explorao descontrolada, como cardumes de peixes e espcies vegetais das florestas naturais.21 De acordo com Coral (2002), os princpios do desenvolvimento sustentvel so vistos, muitas vezes, como conflitantes dentro do modelo da economia neoclssica. As empresas buscam resultados financeiros, aumento de fatias de mercado e, principalmente, sobrevivncia e manuteno de sua competitividade. O chamado custo ambiental ou custo das externalidades, no tem sido considerado, historicamente, como responsabilidade das empresas, pois o meio ambiente tratado como um bem comum disposio de todos.22

18 19

LEADBITTER, Jason. PVC and sustainability. Prog. Polym. Sci. 27 (2002) 2197-2226. VINYL 2010. The european PVC industry. Contributing to sustainable development. Brussels: The European Council of Vinyl Manufactures ECVM, The European Council for Plasticisers and Intermediates ECPI, The European Stabilisers Producers Associantions ESPA and European Plastics Converts EuPC, Aug., 2002. Disponvel em: . Acesso em: 29 dez. 2003. 20 EVERARD, Mark; MONAGHAN, Mike; RAY, Diana. PVC: an evaluation using the natural step framework. Bristol: The natural Step UK and Environmental Agency, 2000. 21 BARBIERI, Jos C. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratgias de mudana da Agenda 21. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. 22 CORAL, Elisa. Modelo de planejamento estratgico para a sustentabilidade empresarial. 2002. 282 f. Tese (Doutorado do Programa de ps-graduao de Engenharia de Produo). UFSC, Florianpolis, 2002.

23

A idia de desenvolvimento sustentvel parte da premissa de que necessria uma mudana no padro de consumo, j que sustentar o mesmo padro e expandi-lo uma idia utpica. Montibeller-Filho (2001) vai mais longe e estima que, ou se proporciona desenvolvimento ou se preserva o ambiente. As leis da economia no so as leis da natureza. A economia s vai ser ecolgica se comear a respeitar os ciclos naturais.23 Para Holliday, Schmidheiny e Watts (2002), o conceito bsico do desenvolvimento sustentvel nunca adquiriu fora suficiente para transformar-se em grito de guerra arrebatador e aglutinador entre o grande pblico ou mesmo entre grupos ambientalistas e desenvolvimentistas. O termo desenvolvimento, por exemplo, parece no agradar os ambientalistas. Para os desenvolvimentistas o conceito parece muito verde, com a sensao de que toda nfase recai sobre as necessidades do futuro, ficando esquecidas as do presente. Os governos no parecem receptivos j que o assunto no de um s ministrio, o que exigiria nveis de integrao em termos de pensamentos e aes inatingveis nas instituies pblicas nos dias de hoje. Situao semelhante acontece com os acadmicos.24 Para Montibeller-Filho (2001), o desenvolvimento sustentvel um mito. Segundo este autor, ele surgiu para contrapor-se idia de desenvolvimento econmico, que o crescimento econmico associado s transformaes da economia e da sociedade, principalmente na estrutura da distribuio de renda. J o desenvolvimento sustentvel agrega a idia do ambiental. Neste contexto, para que haja desenvolvimento econmico, necessrio ocorrer crescimento do PIB e melhoria da distribuio de renda; para que haja desenvolvimento sustentvel necessrio o crescimento do PIB e a melhoria da distribuio de renda, acrescidas da melhoria ambiental.25

23 MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. A Economia do desenvolvimento. Caderno digit@l de informao sobre energia, ambiente e desenvolvimento, entrevistas. Dez., 2001. Disponvel em: Acesso em: 20 jan. 2004. 24 HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Op. cit., p.18. 25 MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. Op. cit., p.23.

24

De acordo com Montibeller-Filho (2001), at o desenvolvimento econmico um mito, se for equivalente melhoria do padro de consumo em nveis do padro europeu, por exemplo. No caso especfico do Brasil, o desenvolvimento econmico na verdade nunca foi atingido, porque houve um crescimento da economia, com transformaes na economia, mas com um resultado social muito pouco abrangente. A melhoria por vezes precria por estar relacionada transferncia de problemas como, por exemplo, a reduo do consumo de energia devido terceirizao de produtos ou a reduo da contaminao ambiental exportando-se lixo para outros pases. Considerando, a humanidade como um todo, o desenvolvimento sustentvel, em escala global, um mito, inatingvel, um novo paradigma, contrapondo-se ao antigo desenvolvimento econmico.26 Segundo Coral (2002), o conceito da sustentabilidade est sendo desenvolvido e ainda no existe consenso, principalmente no que respeita sua aplicabilidade no escopo empresarial. Algumas empresas defendem a idia de que ser sustentvel no agredir o meio ambiente, detalhando o conceito de sustentabilidade ecolgica ou organizaes ecologicamente sustentveis. Neste caso, a sustentabilidade alcanada quando a extrao dos recursos naturais ocorre dentro da capacidade de reposio natural da base de recursos e, quando os resduos slidos transferidos para os componentes fsicos do sistema ecolgico no ultrapassam a capacidade de assimilao dos ecossistemas. Neste caso, existir conflito entre competitividade e sustentabilidade ecolgica, pois as empresas de sucesso esto sempre buscando distinguir-se de seus concorrentes e conseguir a maior fatia de mercado, nos limites de sua competncia tecnolgica e operacional. Da mesma forma, se uma empresa tiver os melhores processos de tratamento de efluentes e resduos ou utilizar tecnologias limpas, haver custos de produo adicionais. Se este valor no for percebido pelos seus clientes,

26

MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. Op. cit., p.23.

25

poder representar queda de competitividade e capacidade de sobrevivncia a mdio e longo prazos, o que fere o princpio de crescimento econmico do desenvolvimento sustentvel.27 Para SACHS (1993)28, a sustentabilidade, possui diferentes dimenses que podem ser analisadas individual ou coletivamente: a sustentabilidade social equivale a obter eqidade na distribuio de renda para os habitantes do planeta; a sustentabilidade ambiental depende da utilizao dos recursos naturais renovveis e reduo do uso dos recursos no renovveis; a sustentabilidade econmica conseqncia da reduo dos custos sociais e ambientais; a sustentabilidade espacial procura atingir uma configurao de equilbrio entre as populaes rural e urbana; a sustentabilidade cultural garante a preservao das tradies e pluralidade dos povos; O conceito amplo de sustentabilidade empresarial deve, pois, respeitar trs princpios bsicos: equidade social, crescimento econmico ou competitividade e equilbrio ambiental. S assim, segundo CORAL (2002), possvel conseguir o desenvolvimento sustentvel.29 A Tabela 1 apresenta de forma comparativa competitividade e sustentabilidade.

27 28

CORAL, Elisa. Op. cit., p.22. SACHS, Ignacy, Estratgias de transio para o sculo XXI: desenvolvimento e meio ambiente. So Paulo: Studio Nobel, Fundap, 1993. 29 CORAL, Elisa. Op. cit., p.22.

26

Tabela 1 Resumo comparativo entre competitividade e sustentabilidade Competitividade Sustentabilidade

Base em fatores econmicos e operacionais Base em fatores econmicos, sociais e ecolgicos Viso de mundo restrita empresa contra Viso de mundo mais ampla parceria as foras competitivas para obter vantagens competitivas Legislao ambiental=aumento dos custos Legislao ambiental=promoo da de produo inovao Tecnologias de produo tradicionais Tecnologias limpas de produo Questes do meio ambiente natural Questes do meio ambiente natural geralmente so vistas como ameaas geralmente so vistas como novas oportunidades Foco na reduo de custos e eficincia Foco na inovao operacional Individualidade Cooperao Fonte: CORAL (2002)30

Para Arajo (2002), a sustentabilidade uma forma de proteo aos recursos renovveis. Sua explorao deve restringir-se ao incremento natural do perodo, ou seja, mantendo a base inicial dos recursos. Para os recursos no naturais, petrleo, por exemplo, a sustentabilidade ser sempre uma questo de tempo, razo pela qual preciso buscar a otimizao na utilizao destes materiais. Neste sentido, as tecnologias alternativas devem ser incorporadas ao processo produtivo e investimentos em pesquisa devem ser considerados tanto pela iniciativa privada quanto pela pblica, na busca de alternativas aos recursos no renovveis.31 Algumas empresas comeam a se preocupar em medir a prpria sustentabilidade. Almeida (2002) argumenta que, como em todas as reas da empresa, medir a sustentabilidade para informar os tomadores de deciso e responder aos reclamos e expectativas das partes interessadas essencial. No basta uma empresa declarar-se

30 31

CORAL, Elisa. Op. cit., p.22. ARAJO, Alexandre Feller de. A Aplicao da metodologia de produo mais limpa: estudo em uma empresa do setor de construo civil. 2002. 121 f. Dissertao (Mestrado do Programa de ps-graduao em engenharia de produo). UFSC, Florianpolis, 2002.

27

ecoeficiente e socialmente responsvel. preciso provar que . Para isto, deve adotar indicadores, medi-los e apresent-los em relatrios. Um dos mais consistentes esforos para consolidar iniciativas e chegar a um consenso o do GRI32. Trata-se de um esforo internacional, iniciado em 1997 pelo CERES Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente e por diversas partes interessadas, para desenvolver e institucionalizar diretrizes e padres de relatrios de desempenho ambiental, social e econmico. Desde sua criao, o GRI envolve a participao ativa de empresas, ONGs, firmas de consultorias e associaes empresariais, sendo o WBCSD um de seus membros mais atuantes.33 medida que os conceitos de sustentabilidade se deslocam para a corrente dominante de gesto de ativos e que aumenta a demanda por fundos de sustentabilidade, os investidores buscam indicadores de criao de valor pelas empresas, alm dos parmetros econmicos convencionais. Segundo Holliday, Schmidheiny e Watts (2002), o ndice Mundial de Sustentabilidade da Dow Jones34 DJSD, criado em 1999, fornece um ndice global racional e flexvel para atuar como benchmarking 35 dos investimentos em empresas preocupadas com a sustentabilidade, identificando que criam valor para os acionistas a longo prazo, mediante o aproveitamento de oportunidades e o gerenciamento de riscos referentes ao desenvolvimento econmico, ambiental e social. As empresas se beneficiam deste processo, pois recebem o reconhecimento de importantes grupos de partes interessadas como lderes setoriais nas dimenses estratgicas econmicas, ambientais e sociais.36

GRI Global Reporting Initiative. ALMEIDA, Fernando. Op. cit., p.18. 34 DJSD Dow Jones Sustainability World Indexes. Para saber mais sobre o DJSD consulte . 35 Benchmarking uma ferramenta para comparar processos produtivos, produtos e servios com padres de excelncia absolutos e relativos para estabelecer metas e promover melhorias. 36 HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Op. cit., p.18.33

32

28

1.3 A busca da sustentabilidade ambiental pelas empresas

Na busca pela sustentabilidade ambiental, so muitas as opes empresariais. Duas dessas merecem ser destacadas por sua importncia e abrangncia: a eco-eficincia e a ecologia industrial.

1.3.1 Eco-eficincia

A eco-eficincia um conceito empresarial que busca a eficincia ecolgica e a eficincia econmica de processos, produtos ou servios. Segundo Holliday, Schmidheiny e Watts (2002), a contribuio bsica das empresas para o desenvolvimento sustentvel, fruto do trabalho de uma dcada, a eco-eficincia, termo criado por eles em 1992. O WBCSD define eco-eficincia como sendo:

o fornecimento de bens e servios precificados de maneira competitiva, capazes de satisfazer s necessidades humanas e de contribuir para a qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduzem progressivamente os impactos ecolgicos e o consumo de recursos durante todo o seu ciclo de vida, para nveis ao menos compatveis com a estimada capacidade de carregamento da Terra.37

Para Almeida (2002) uma filosofia de gesto empresarial que incorpora a gesto ambiental. Pode ser considerada uma forma de responsabilidade ambiental corporativa que encoraja as empresas de qualquer setor, porte e localizao geogrfica a se tornarem mais competitivas, inovadoras e ambientalmente responsveis. O principal objetivo da ecoeficincia fazer a economia crescer qualitativamente fazendo mais com menos, ou ainda fornecendo mais servios, funo e valor, ao invs de transformar mais materiais em energia e resduos.38

37 38

Idem, Ibidem. ALMEIDA, Fernando. Op. cit., p.18.

29

De acordo com o testemunho de Graedel e Allenby (1995), o conceito de ecoeficincia institudo por Stephan Schmidheiny, conseguiu que as corporaes que produzissem cada vez mais produtos durveis e servios, contabilizando continuamente, a reduo de recursos e poluio.39 H seis razes que levaram a esta mudana de comportamento: os consumidores esto exigindo, cada vez mais, produtos limpos; a regulamentao ambiental est cada vez mais rgida; os trabalhadores, justamente os melhores, preferem trabalhar em empresas com responsabilidade ambiental; os bancos facilitam emprstimos empresas que trabalham com a preveno da poluio; o seguro das companhias com responsabilidade social so mais vantajosos; novos instrumentos econmicos taxas, multas e tratados de permisso, esto obrigando as companhias a repensarem a responsabilidade ambiental. Holliday, Schmidheiny e Watts (2002)40 destacam quatro aspectos da eco-eficincia que a convertem em elemento estratgico indispensvel na economia de hoje: a desmaterializao, que prev a substituio de fluxos de materiais por fluxos de conhecimentos, produtos customizados ou personalizados. o fechamento dos ciclos de produo. Os Sistemas de produo estando fechados, no h gerao de resduos. O resduos de um processo so matria prima para outro. a ampliao dos servios, personalizando-os. Propor, por exemplo, aluguel de bens durveis aos clientes;

39 40

GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Op. cit., p.17. HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Op. cit., p.18.

30

a ampliao funcional: vender produtos mais inteligentes, com maiores capacidades funcionais.

Como colocar em prtica o conceito de eco-eficincia, de acordo com as recomendaes do WBCSD? Conforme Almeida (2002), a empresa pode viabiliz-lo atravs de quatro instrumentos: o sistema de gesto ambiental. Implementando-o, a empresa deve formalizar uma poltica de gesto baseada em preveno da poluio, atender requisitos aplicveis e procurar melhoria contnua. O sistema deve ser avaliado atravs de auditorias peridicas; a certificao ambiental, que o reconhecimento por parte de organismos credenciados, de que o sistema de gesto ambiental est de acordo com padres reconhecidos, como por exemplo a norma NBR ISO 14001; a anlise de ciclo de vida (ACV), ferramenta a ser detalhada no item 1.4; os processos de produo mais limpa (P+L), esta metodologia que visa reduzir ou eliminar a poluio durante o processo de produo. necessrio obedecer a trs etapas para esse fim: Housekeeping (arrumao da casa), que exige pouco ou nenhum investimento e em geral tem retorno imediato ou em curto prazo. A segunda etapa exige mudanas no processo de produo, com baixo ou mdio investimento e retorno em curto ou mdio prazo. Finalmente, a terceira etapa incorpora mudanas tecnolgicas e/ou de projeto de produto, sendo que o investimento econmico de mdio a grande e o retorno a mdio e longo prazo.41

41

ALMEIDA, Fernando. Op. cit., p.18.

31

Buscar a eco-eficincia , portanto, um processo ininterrupto de melhoria contnua. Mais do que um destino a ser alcanado, a eco-eficincia um caminho a ser percorrido.42 A intensificao dos esforos pela eco-eficincia, portanto, exigir um novo contrato entre a sociedade, os governos e as empresas.43

1.3.2 Ecologia industrial

A ecologia industrial busca a aproximar a indstria do meio ambiente, auxiliando na avaliao e minimizao de impactos. Ela envolve projeto de processo e produto numa perspectiva de competitividade de produto e interao ambiental na busca da sustentabilidade. A ecologia industrial preventiva, voltada para o futuro.

Tabela 2 - Aspectos da interao entre indstria e meio ambiente Atividade Remediao Tratamento, estocagem, disposio Ecologia Industrial FONTE: (GRAEDEL E ALLENBY, 1995).44 Tempo Passado Presente Futuro

possvel entender melhor a ecologia industrial comparando-a ecologia biolgica. Segundo Graedel e Allenby (1995), ciclos materiais so associados aos postulados primitivos dos ciclos biolgicos da historia dos primrdios da terra, conforme Fig.1:

Idem, ibidem. HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Stephan; WATTS, Phillip. Op. cit., p.18. 44 GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Op. cit., p.17. .43

42

32

Figura 1 Ciclos biolgicos da natureza

Tipo I linear. O fluxo de material de um estgio para outro independente de todos os outros fluxos; na entrada os recursos so ilimitados, na sada os resduos so ilimitados;

33

Tipo II quase-cclico. A multiplicao das formas de vida e a evoluo do sistema bitico como alternativa para o fluxo linear de materiais, retroalimentao e ciclos fechados fizeram o sistema mudar; a entrada de recursos e energia limitada, como a sada de resduos. Apesar de ser mais eficiente que o primeiro, no sustentvel (fluxos em uma direo);

Tipo III

cclico. Seu fluxo sustentvel. Os recursos e os resduos so

indefinidos, sendo o resduo de um processo o recurso de outro. A Ecologia industrial propem-se acompanhar a evoluo das indstrias do tipo I para o tipo II e finalmente para o tipo III, atravs do entendimento e da otimizao das interrelaes dos processo e fluxos envolvidos, ou seja, a transformao de atividades industriais a partir de sistemas no sustentveis em sistemas que se assemelham mais e mais a ciclos fechados ou sustentveis.45 Neste contexto, fazem parte do processo industrial quatro elementos distintos: o extrator ou produtor do material, o processador ou transformador de materiais, o usurio e o reciclador.46 atravs da reflexo e reavaliao dos processos de produo, pois, que as empresas tornam-se mais responsveis ambientalmente. A ecologia industrial pode ser dividida em dois grandes blocos: ecologia industrial especfica e ecologia industrial genrica. Na primeira parte so avaliados produtos especficos atravs de mtodos genricos conhecidos como anlise do ciclo de vida de produtos (ACV), que ser apresentado a seguir. Na parte genrica, depois do fluxo de material e dos impactos ambientais de um produto ou processo terem sido avaliados, so planejadas as estratgias de implementao. A

45 46

GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Op. cit., p.17. sempre considerando que o resduo no tem nenhum valor comercial e que se pode ser usado em outro processo no resduo, matria prima.

34

tcnica usada para esse fim o design for environment (DFE), tambm conhecido como eco-design.47 O DFE desenha produtos para a indstria considerando a funcionalidade, o manuseio e o sistema, na busca pela maximizao e reaproveitamento dos materiais. Esta etapa contempla os aspectos ambientais em todos os estgios do desenvolvimento de um produto, colaborando para reduzir o impacto ambiental e social durante o seu ciclo de vida. Em situaes ideais, processo e produto so desenvolvidos e introduzidos juntos para possibilitar uma integrao maior de todas as operaes industriais.48 Algumas das variveis consideradas no desenvolvimento do eco-design so: eficincia energtica, escolha de materiais de acordo com sua toxicidade e disponibilidade, origem dos materiais, minimizao de emisses e consumo, embalagem, transporte, instalao, manuteno, reciclagem, emisses no consumo, etc. A ecologia industrial reconhece a necessidade da evoluo contnua da tecnologia e o desenvolvimento de tecnologias ambientalmente apropriadas como um componente crtico para a transio para um mundo sustentvel. O ponto fundamental que, em qualquer tempo, a implementao da ecologia industrial e respectiva migrao para o desenvolvimento sustentvel envolver mudanas culturais, religiosas, polticas e sociais difceis e significativas.49

1.4 Anlise do ciclo de vida de produtos (ACV)

Compreender de onde vieram as matrias-primas utilizadas, para onde iro os produtos fabricados, os subprodutos e os resduos de processo, bem como os efeitos das emisses

47 48

GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Op. cit., p.17. GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Design for environment. New Jersey: Prentice-Hall, 1996. 49 GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Op. cit., p.17.

35

geradas para o meio ambiente, ou seja, entender o ciclo de vida de um produto atravs da contabilizao de todas as correntes de entradas e sadas de uma cadeia de processos, um passo de fundamental importncia para um gerenciamento sustentvel. Visando este resultado, comearam a surgir as primeiras metodologias de ACV no mundo. Segundo Chehebe (1998), os primeiros estudos de ACV tiveram incio em 1965, quando a Coca-Cola financiou uma pesquisa realizada pelo MRI (Midwest Research Institute) com o objetivo de comparar diferentes tipos de embalagens para refrigerante e determinar qual deles era mais adequado do ponto de vista ambiental. A metodologia utilizada neste estudo ficou conhecida como REPA (Resource and Environmental Profile Analysis), e foi aperfeioada em 1974, pelo MRI durante a realizao de um estudo para a agncia de proteo ambiental americana EPA (Environmental Protection Agency). Posteriormente foi desenvolvido na Europa, um procedimento similar conhecido como Ecobalano (Ecobalance).50 Em 1984, inspirados pelo REPA, o Instituto Suo EMPA (Swiss Federal Laboratories for Testing and Research), por solicitao do Ministrio de meio ambiente suo, tornou publico um banco de dados de ciclo de vida de uma srie de materiais ou contribuindo para a popularizao da metodologia. Verses aprimoradas da metodologia ou dos bancos de dados foram publicadas pelo EMPA em 1991 e em 1998. Outras fontes pblicas de dados que promovem o desenvolvimento da tcnica de ACV foram a de Franklin Associates, nos EUA e os estudos realizados por Ian Boustead na Inglaterra para a AMPE Association of Plastics Manufacturers in Europe, enfocando resinas plsticas.51

50

CHEHEBE, Jos Ribamar B. Anlise do ciclo de vida de produtos: ferramenta gerencial da ISO 14000. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1998. 51 MOURAD, Anna Lcia; GARCIA, Elosa E. C.; VILHENA, Andr. Avaliao do ciclo de vida: princpios e aplicaes. Campinas: CETEA/CEMPRE, 2002. .

36

Neste perodo, vrias metodologias foram desenvolvidas, tais como a de Graedel e Allenby(1995), na viso da Ecologia Industrial, que utiliza matrizes, o sistema VNCI desenvolvido pela indstria qumica da Holanda e o sistema EPS IVL/Volvo da Sucia. A proliferao de estudos de ACV dos produtos sem uma metodologia padronizada levou a certos exageros que quase chegaram a comprometer a imagem da ferramenta, principalmente devido ao potencial de marketing e de alguns estudos tendenciosos realizados e levados a pblico, causando impacto no mercado de produtos concorrentes.52 De acordo com Mourad, Garcia e Vilhena, (2002), esses fatos evidenciaram a necessidade urgente de padronizao da metodologia e do estabelecimento de critrios rgidos que disciplinassem a forma como estudos desse tipo deveriam ser conduzidos e levados ao conhecimento pblico.53 O primeiro documento com esta finalidade, e que mais tarde subsidiou os trabalhos de normatizao internacional da ISO, foi o Setac Guideliness for life cycle assessment: a code of practice,54 desenvolvido a partir de nove conferncias internacionais promovidos pelo Setac Society of Environmental Toxicology and Chemistry, entre os anos de 1990 e 1993.55 Segundo Krhlling (1999), no h dvida de que a padronizao da metodologia de avaliao de ciclo de vida foi decisiva para a aceitao e a significncia desta ferramenta no futuro. Em 1997, seus mais importantes princpios e requerimentos gerais foram estabelecidos pela norma internacional ISO 14040.56

GRAEDEL, T. E.; ALLENBY, B. R. Op. cit., p.17. MOURAD, Anna Lcia; GARCIA, Elosa E. C.; VILHENA, Andr. Op. cit., p.35. 54 A Setac, sociedade de qumica e toxicologia ambiental, publicou o guia para avaliao do ciclo de vida: um cdigo de prticas. 55 MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL. A Aplicao da anlise de ciclo de vida no Brasil. So Paulo: Ed. Tocalino, n. 41, p. 72-80, mar./abr. 2003.. 56 KRHLING, H. Life cycle assessments of pvc products: green guides to ecological sustainability. Bonn: Ecomed Publishers, Vol. 6, 1999.53

52

37

A Norma ISO 14040 foi internalizada no Brasil pela ABNT, em novembro de 2001, por meio da atuao do CB-38, o que certamente ir popularizar sua aplicao no Brasil.57 Normas mais detalhadas, relacionando os nveis individuais da avaliao de ciclo de vida j foram publicadas, tais como:

Tabela 3 Normas da srie ISO 14040 Norma ISO 14041 ISO 14042 ISO 14043 Nome Enviromental Management Life Cycle Assessament Goal and Scope Definition and Inventory Analysis Enviromental Management Life Cicle Assessament Life Cycle Impact Assessement Enviromental Management Life Cicle Assessament Life Cycle Interpretation Publicao 1998 2000 2000

Mourad, Garcia e Vilhena (2002),58 afirmam que a srie tambm contm trs relatrios tcnicos, exemplificando a utilizao das normas relativas ACV:

Tabela 4 Relatrios tcnicos da srie ISO 14040 Norma ISO TR 14047 ISO TR 14048 ISO TR 14049 Nome Illustrative examples on how to apply ISO 14042 Life Cycle Impact Assessment. (Technical report) Enviromental Management Life Cicle Assessament LCA data documentation format. (Technical report) Enviromental Management Life Cicle Assessament Examples for application of ISO 14041 to goal scope definition and inventory analysis (Technical report) Publicao Aprovado para publicao em15/06/2001

Texto em desenvolvimento 2000

57

ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS ABNT. NBR ISO 14040: Gesto ambiental avaliao do ciclo de vida princpios e estrutura. Rio de Janeiro, ABNT, 2001. 58 MOURAD, Anna Lcia; GARCIA, Elosa E. C.; VILHENA, Andr. Op. cit., p.35.

38

A ACV estuda os aspectos ambientais (como por exemplo, a utilizao de energia, matrias-primas, emisses de CO2, etc.) e os impactos potenciais (efeito estufa, chuva cida, nutrificao do solo e gua), atravs do ciclo de vida de produto (ou seja, do bero ao tmulo), da aquisio de matrias-primas produo, uso e disposio. A categoria geral de impactos ambientais inclui consideraes necessrias ao uso de recursos, sade humana e conseqncias ecolgicas.

1.4.1 Metodologia

Segundo a norma NBR ISO 14040,59 um estudo de ACV dividido em quatro fases:

Figura 2 - Fases de um ACV (ABNT NBR ISO 14040, 2001)

definio de objetivo e escopo:

esta fase corresponde ao planejamento do estudo que deve estar claramente definido pois toda a modelagem do estudo depende dele. necessrio saber a quem o estudo se destina, se os resultados sero de uso interno ou divulgados, se fornecer subsdio 59

ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS ABNT. Op cit., p. 37.

39

legislao ou se visar um programa de rotulagem ambiental. Quais sero as fronteiras do estudo, ou seja, quais processos e atividades sero includos ou excludos da anlise. Quais as categorias de impacto a serem avaliadas, os dados e a validao da qualidade dos dados a serem utilizados no estudo? Que definio da unidade funcional ser considerada? A unidade funcional uma referncia com a qual as entradas e sadas do sistema sero relacionadas e que permitir a expresso dos resultados. anlise de inventrio:

o inventrio de ciclo de vida de um produto - ICV, a fase que contempla o levantamento, a compilao e a quantificao das entradas e sadas de um dado sistema em termos de energia, recursos naturais e emisses para gua, terra e ar, considerando as categorias de impacto e as ferramentas definidas, com resultados ponderados pela unidade funcional. avaliao de impacto ambiental:

uma etapa que avalia a intensidade e o significado das alteraes potenciais sobre o meio ambiente associadas ao consumo de recursos naturais, de energia e da emisso das substncias relativas ao ciclo de vida do produto em estudo. A avaliao de impacto pode incluir trs etapas: classificao, caracterizao e ponderao. As duas primeiras so as etapas cientficas , enquanto que a ltima inclui julgamentos subjetivos, polticos ou normativos. De acordo com a norma NBR ISO 14040 (2001),60 no h nenhuma metodologia aceita de forma geral e irrestrita para a associao consistente. H necessidade de dados de inventrio com impactos potenciais especficos.

60

Idem, ibidem.

40

interpretao:

nesta fase, os resultados da anlise de inventrio e/ou avaliao de impacto so relacionados ao objetivo e ao escopo do estudo para se chegar s concluses e recomendaes. As concluses da ACV visam indicar melhorias ambientais por meio de identificao, avaliao e seleo de opes que permitam atingir esse fim. Quando os resultados da ACV destinam-se comunicao a qualquer terceira parte, isto , parte interessada que no seja o solicitante ou o executante do estudo, independentemente da forma de comunicao, deve ser preparado um relatrio de terceira parte. Esta anlise crtica, realizada por especialistas independentes, pode facilitar a compreenso e aumentar a credibilidade de estudos de ACV. Tambm importante citar que a relevncia do resultado ainda mais acentuada para os fatores ambientais crticos regio onde se aplica a ACV (como por exemplo local com muita pouca gua, concentrao de flora ou fauna versus chuva cida, etc). A avaliao de ciclo de vida , ento, uma importante ferramenta de eco-eficincia e ecologia industrial, que permite, atravs de balanos ambientais, avaliar os aspectos e impactos ambientais em cada fase da vida de um produto.

41

CAPTULO 2: O PVC E O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE

2.1 PVC, o plstico verstil

Segundo Boustead (1998), de todos os termoplsticos sintticos, o policloreto de vinila (PVC) provavelmente um dos polmeros, utilizados atualmente, com o mais antigo pedigree. A primeira produo do monmero de cloreto de vinila ocorreu em 1835 por Regnault na Frana e a primeira polimerizao ocorreu em 1872 por Baumann, que exps tubos fechados contendo o monmero luz do sol. As primeiras patentes para a produo de PVC foram obtidas em 1912 nos EUA, sendo que os primeiros pases a produzirem em plantas pilotos foram a Alemanha e os EUA no comeo dos anos 30.61 A produo e a utilizao em massa do PVC, entretanto, tiveram incio entre os anos 50 e 60.62 O PVC um dos plsticos mais comuns nos dias de hoje, sendo o segundo em volume de produo, atrs do polietileno.63 Sua principal matria-prima, o sal marinho, um recurso natural considerado inesgotvel, que corresponde a 57% da composio do polmero. Os 43% restantes, so de etileno, proveniente da nafta do petrleo ou do gs natural. O policloreto de vinila (PVC) um material constitudo por um polmero sinttico de frmula CH2=CHCl. O PVC tem, assim, a mesma estrutura que o polietileno, com exceo da presena de cloro.

61

BOUSTEAD, I. Eco-profiles of the European plastics industry. Report 6: Polyvinyl Chloride. Brussels: Association of Plastics Manufacturers in Europe APME, 2nd edition,1998. 62 COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Livro verde: aspectos ambientais do PVC. Bruxelas: Servio da Publicaes Oficiais das comunidades Europias, 2000. Disponvel em: . Acesso em: 28 dez. 2003. 63 GREENPEACE. Whats wrong with PVC? The science behind a phase-out of polyvinyl chloride plastics. [1997]. Disponvel em: . Acesso em: 29 dez. 2003.

42

Cerca de 35% do cloro resultante do setor da eletrlise dos cloretos alcalinos destinam-se ao PVC, constituindo, assim, a sua maior utilizao isolada. 64

2.1.1 O PVC e suas aplicaes

Os benefcios do PVC incluem excelentes propriedades de barreira para gua, resistncia mecnica combinada com baixos pesos, resistncia qumica, no combusto inerente (auto-extinguvel), propriedades de isolamento eltrico e versatilidade.65 A tabela 5 apresenta as principais aplicaes do PVC na Europa e respectiva percentagem de utilizao global. Suas muitas aplicaes so caracterizadas por uma grande variedade de durao, que oscila entre vrios meses e mais de 50 anos, no caso de alguns produtos de construo. As principais aplicaes do PVC, na Europa, ento no setor da construo, responsvel por 57% das utilizaes, sendo tambm neste setor que os produtos tm os tempos de vida mdios mais prolongados.66 De acordo com Wiebeck e Piva (1999), a diviso do consumo de PVC por aplicao, no Brasil, resumida em: 57% para tubos e conexes, 14% para laminados rgidos e flexveis, 7% em calados, 6% em embalagens, 6% em fios e cabos, 4% em perfis e 6% em outras aplicaes especficas.67

64 65

COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Op. Cit., p. 41. EVERARD, Mark; MONAGHAN, Mike; RAY, Diana. . Op. Cit., p. 22. 66 COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Op. Cit., p. 41. 67 WIEBECK, Hlio; PIVA, Ana Magda. Reciclagem mecnica do PVC: uma oportunidade de negcios. So Paulo: Instituto do PVC, 1999.

43

Tabela 5 - Principais categorias de utilizao do PVC na Europa (1999) Utilizao/aplicao Percentagem Tempo de vida mdio (anos) 10 a 50 1 17 11 21 12 2 a 10

Construo 57 Embalagens 9 Mobilirio 1 Outros aparelhos 18 domsticos Equipamentos eltrico 7 eletrnicos Veculos automveis 7 Outras 1 Fonte: (COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2000). 2.1.2 Processos de produo do PVC

O sal processado em soluo para produzir cloro, enquanto o leo craqueado para produzir etileno. Etileno e cloro so ento combinados para produzir dicloroetileno (EDC), o qual posteriormente processado para produzir o monmero do cloreto de vinila (VCM). O VCM ento polimerizado para produzir o policloreto de vinila (PVC), sob a forma de um p branco.68 Na produo do PVC, so utilizados dois processos fundamentais: a polimerizao do VCM em suspenso ( aproximadamente 80%) e a polimerizao em emulso. A produo do VCM a partir do etileno e do cloro, ou do etileno e do HCl, respectivamente, em grande parte realizada em processos industriais fechados. Podem verificar-se emisses de cloro, etileno, 1,2-dicloroetano, HCl, VCM e subprodutos clorados, incluindo dioxinas, para o ambiente de trabalho ou o ambiente exterior (ar e gua). Vrios destes produtos qumicos so substncias txicas bem conhecidas, sendo, por conseguinte, necessrias medidas rigorosas de controle das emisses por parte das empresas produtoras de resina de PVC. Esses processos nem sempre ocorrem nos mesmos locais de produo, desta forma, materiais intermedirios68

EVERARD, Mark; MONAGHAN, Mike; RAY, Diana. . Op. Cit., p. 22.

44

como o VCM e o EDC so transferidos entre fbricas.69 H vrias diretivas comunitrias aplicveis aos processos de produo do PVC e do VCM.70 Tal como em outros setores da indstria qumica, os processos de produo foram sendo continuamente aperfeioados ao longo dos anos. Determinaram-se as melhores tecnologias disponveis para a produo de VCM e PVC em suspenso, que levaram adoo de uma srie de valores-limite de emisso relevantes nas decises da OSPAR - Conveno para a Proteo do Meio Marinho do Atlntico Nordeste.71 A produo mundial de PVC excede, atualmente, as 27 milhes de toneladas por ano72 em 1965 eram apenas de 3 milhes , o que corresponde a cerca de um quinto da produo total de plsticos. O PVC , por conseguinte, um dos materiais sintticos mais importantes. A sua produo encontra-se, sobretudo, localizada nos EUA, na Europa Ocidental e na sia. Em 1998, a produo da Europa Ocidental foi de 5,5 milhes de toneladas (cerca de 26% da produo mundial). As taxas mdias de crescimento da produo de PVC, nos ltimos anos, tm variado entre 2 e 10%, com diferenas consoante as regies (mais elevadas na sia, mais baixas na Europa) e as aplicaes (mais elevadas para o PVC rgido, mais baixas para o flexvel). Os preos do PVC virgem so extremamente cclicos devido s variaes da oferta e da procura e dos preos das matrias-primas.73

69 70

EVERARD, Mark; MONAGHAN, Mike; RAY, Diana. Op. Cit., p. 22. COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Op. Cit., p. 41. 71 Idem, Ibidem. 72 NUNES, Luciano Rodrigues, concepo e org.; RODOLFO Jr., Antnio, coord. NUNES, Luciano Rodrigues; RODOLFO Jr., Antnio, ORMANJI, Wagner; Tecnologia do PVC. Consultoria e reviso tcnica: Elias Hage Jr., Eliezer Gibertoni, Jos Augusto Marcondes Agnelli, Luiz Antnio Pessan. So Paulo: ProEditores/Braskem, 2002. 73 COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Op. Cit., p. 41.

45

2.1.3 Compostos de PVC

O PVC um polmero muito verstil, com aplicao variada que exige distintas propriedades mecnicas. O que distingue o PVC dos demais polmeros a aditivao e a presena de cloro. A resina de PVC aditivada, ou combinada com uma ampla gama de aditivos, conhecida como composto de PVC. Estabilizantes, lubrificantes, auxiliares de processo, cargas, modificadores de impacto, pigmentos, plastificantes, e outros aditivos

incorporados resina de PVC, alm de lhe possibilitarem a processabilidade, conferem propriedades especficas para algumas aplicaes. O uso de estabilizantes e plastificantes (principalmente ftalatos) em quantidades bastante elevadas constitui uma caracterstica especfica do fabrico de PVC, em comparao com outros tipos de plstico. Todos os outros tipos de aditivos so igualmente utilizados, em graus variveis, nos outros materiais plsticos.74 A principal distino entre as numerosas aplicaes dos compostos de PVC so os compostos rgidos e os compostos flexveis. A flexibilidade conferida mediante a incorporao de plastificantes, que ser discutida com mais detalhes no item 2.1.5. Segundo a COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS (2000), o PVC

rgido correspondente a cerca de dois teros da utilizao total e o PVC flexvel equivalente a cerca de um tero dela.75

2.1.4 Estabilizantes

Os estabilizantes so um dos principais alvos de crticas de organizaes verdes, especialmente pelo fato de grande parte serem base de metais pesados. Eles so adicionados

74 75

Idem, ibidem. Idem, ibidem.

46

ao polmero de PVC com o intuito de prevenir a degradao provocada pelo calor e a luz ultravioleta que do origem a uma perda de cloro sob a forma de cido clordrico (HCl). Utilizam-se diferentes tipos de estabilizantes cujo teor, no produto acabado, varia de acordo com os requisitos tcnicos da aplicao pretendida. Os estabilizantes a base de chumbo so os mais utilizados atualmente, em especial o sulfato e o fosfito de chumbo. Em 1998 foram utilizadas, na Europa, cerca de 112 000 toneladas de estabilizantes, contendo aproximadamente 51 000 toneladas de chumbo metlico, o que eqivale a 70% do consumo global de estabilizantes. Com um consumo de chumbo prximo dos 1,6 milhes de toneladas na Europa, em 1995, os estabilizantes a base de chumbo correspondem, deste modo, a cerca de 3% do consumo total, usados principalmente em tubulaes, perfis e cabos.76 Os estabilizantes a base de cdmio ainda so utilizados por alguns fabricantes nos caixilhos de janelas em PVC, onde a sua utilizao ainda permitida pela legislao comunitria. Na Europa, a utilizao do cdmio diminuiu muito, de cerca de 600 t/a, em 1992, para 100 t/a, em 1997, e 50 t/a em 1998.77 Em 1998, foram utilizadas na Europa cerca de 14 500 toneladas de estabilizantes slidos base de misturas de metais e 16 400 toneladas de estabilizantes lquidos, em que os sistemas clcio/zinco e brio/zinco so os mais utilizados.78 Os compostos organoestnicos, com um consumo de 15 000 toneladas, representam cerca de 9,3% do consumo europeu de estabilizantes. Vrios tipos desses compostos, em especial misturas de mono- e di-organoestnicos, so utilizados principalmente em pelcula de embalagem rgida, garrafas, coberturas de telhado e laminados de construo claros e rgidos.79

76 77

Idem, ibidem. Idem, ibidem. 78 Idem, ibidem. 79 Idem, ibidem.

47

Everard, Monaghan e Ray (2000) afirmam que estabilizantes a base de metais esto normalmente presentes no PVC em propores de peso superiores a 2% sendo fisicamente ligados matriz do PVC, no podem ser removidos facilmente.80 Os compostos de chumbo, incluindo os usados no PVC, so quando em altas concentraes, em sua maioria, txicos para a reproduo, nocivos, perigosos para o ambiente (ecotxicos) e apresentam perigo de efeitos cumulativos. O chumbo persistente e alguns compostos de chumbo acumulam-se em determinados organismos. Os compostos de cdmio so nocivos e perigosos para o ambiente (ecotxicos), dentre os quais alguns so txicos e cancergenos (categoria 2). O cdmio persistente e alguns de seus compostos tambm acumulam-se em determinados organismos. Os dados relativos aos compostos

organoestnicos utilizados como estabilizantes no PVC revelam que o dioctil-estanho txico para o sistema imunitrio. Este efeito imunotxico no foi observado nos outros compostos organoestnicos utilizados como estabilizantes do PVC (dimetil-estanho, dodecil-estanho, monobutil-estanho). Os compostos dioctilestnicos apresentam um possvel risco ambiental em nvel local, no meio aqutico.81 H que fazer uma distino entre os perigos e os riscos das substncias qumicas. At a presente data, no foram concludas quaisquer avaliaes exaustivas de riscos sobre a utilizao dos compostos de cdmio e de chumbo como estabilizantes nos produtos em PVC. Uma avaliao de riscos sobre o cdmio e o xido de cdmio est em fase de concluso. Um estudo relacionado ao chumbo, ser encomendado pelos servios da Comisso.82 A toxicidade dos estabilizantes indicada pela Unio Europia para as substncias puras e no para os produtos de PVC que o contm em pequenas quantidades.

80 81

EVERARD, Mark; MONAGHAN, Mike; RAY, Diana. Op. Cit., p. 22. COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Op. Cit., p. 41. 82 Idem, ibidem.

48

No existe qualquer legislao comunitria sobre a utilizao de compostos de chumbo como estabilizantes. A Dinamarca, a Sucia, a ustria e a Alemanha exigiram mais restries, obrigatrias ou voluntrias, utilizao do chumbo e do cdmio, em especial como estabilizantes no PVC.83 Eles j esto sendo substitudos por estabilizantes base de clcio e zinco e os estabilizantes orgnicos com estanho. Os estabilizantes base de estanho no so aceitos na Europa como substitutos ao chumbo e ao cdmio. Os compostos de clcio e zinco apresentam, sem dvida, menor risco do que os compostos de chumbo e cdmio e no so, atualmente, classificados como perigosos. Razes tcnicas (qualidade dos produtos, normas, requisitos de ensaio) e econmicas (custos mais elevados) so barreiras atualmente, substituio geral dos estabilizantes nocivos. Prev-se que, nos prximos anos, a diferena de preo entre os estabilizantes a base de chumbo e os estabilizantes a base de clcio-zinco diminua em conseqncia das novas capacidades de produo que esto sendo viabilizadas. Os estabilizantes com estanho tm propriedades menos favorveis em termos ambientais e humanos.84 Novas frmulas livres de chumbo e a base de sistemas de clcio e zinco esto sendo desenvolvidas. Leadbitter (2002) comenta que esto emergindo os estabilizantes de base orgnicas (OBS), que foram desenvolvidos a pedido da Hydro Polymers que fez uma parceria com a Ciba additives GMbH e a produtora de tubos Wavin. 85 Companhias de gua ao longo da Europa usam tubos de PVC estabilizados com chumbo, h pelo menos 30 ou 35 anos. Exaustivos testes conduzidos pelas indstrias e autoridades reguladoras concluram que o estabilizante em questo apresenta um perigo negligencivel sade humana quando usado em tubos rgidos de PVC para gua potvel. Ademais, no passado, tubulaes metlicas de chumbo eram utilizadas para este fim.86

83 84

Idem, ibidem. Idem, ibidem. 85 LEADBITTER, Jason. PVC and sustainability. Op. Cit., p. 22. 86 NORSK HYDRO A. S. PVC and the environment 96. Oslo, Norway, 1995. ISBN82-90861-32-X.

49

2.1.5 Plastificantes

Os plastificantes so compostos de baixo peso molecular que se misturam com a matriz polimrica e so necessrios para fabricar produtos em PVC flexvel. Na Europa Ocidental produz-se cerca de um milho de toneladas de ftalatos por ano e aproximadamente 900 000 toneladas so utilizadas para plastificar o PVC. Em 1997, 93% dos plastificantes do PVC eram ftalatos. Os mais comuns so o ftalato de bis(2-etil-hexilo) (DEHP),87 o ftalato de di-isodecilo (DIDP) e o ftalato de di-isononilo (DINP). As quantidades de plastificantes adicionados ao polmero de PVC variam consoante as propriedades requeridas. Dependendo da utilizao final, o teor de plastificantes varia entre 15 e 60%, rondando, nas aplicaes mais flexveis, os 35 a 40%.88 Outros plastificantes, em especial os adipatos, os trimelitatos, os organofosfatos e o leo de soja epoxidado, tambm podem ser utilizados como amaciadores no PVC, mas representam apenas uma pequena frao dos plastificantes usados.89 As avaliaes de risco da UE sobre cinco ftalatos esto prximas da sua concluso: ftalato de dibutil (DBP), DEHP, DINP, DIDP e ftalato butil benzil (BBP). A publicao final da avaliao de risco sobre o DEHP esperada para o incio de 2004.90 O DEHP, o DINP e o DIDP tm um potencial de bioacumulao. As avaliaes de riscos chegaram concluso de que no havia preocupao quanto potencial acumulao de DBP, DINP e DIDP, enquanto os potenciais efeitos no ambiente esto ainda a ser avaliados para o DEHP e o BBP. Os ftalatos de cadeia longa tm pouca biodegradabilidade nas condies normais de tratamento das guas residuais e s se degradam parcialmente nas87 88

O DEHP tambm conhecido por DOP (Di-octil ftalato). COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Op. Cit., p. 41. 89 Idem, ibidem. 90 VINIL 2010. Desenvolvimento sustentado: Relatrio de progresso 2003. Bruxelas: Conselho Europeu dos produtores vinlicos ECVM, Conselho Europeu para plastificantes e intermedirios ECPI, Associao dos produtores Europeus de estabilizantes ESPA e Transformadores Europeus de plsticos EuPC, abr., 2003. Disponvel em: . Acesso em: 29 dez. 2003.

50

estaes normais de tratamento de lixiviados e guas residuais, onde se acumulam nos slidos em suspenso. Cientistas ainda estudam o efeito de alguns ftalatos, bem como os seus metablitos e produtos de degradao, podem causar efeitos nocivos na sade humana (em especial no fgado e nos rins, no caso do DINP, e nos testculos, no caso do DEHP). As potenciais propriedades de perturbao do sistema endcrino esto sendo avaliadas (COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2000).91 Em fevereiro de 2000, o IARC International Agency for Research into Cancer rebaixou a classificao do DEHP de 2B (possvel cancergeno para humanos) para 3 (no cancergeno para humanos), pelo fato de ter sido comprovado que o mecanismo atravs do qual o DEHP causa cncer em ratos no relevante para humanos (PLASTICS ADDITIVES & COUMPOUNDING, June, 2002).92

2.2 PVC, um material questionado

O PVC um material polmico, muitas vezes atacado e apontado como vilo, outras vezes defendido e elogiado. A discusso veio tona quando a organizao no governamental Greenpeace, no incio dos anos 90, comeou a debater o tema em alguns pases da Europa e lanou uma campanha mundial para banir o PVC.

2.2.1 A polmica em relao ao PVC

Segundo Leadbitter (2002), a maioria dos debates focada na incluso do cloro o elemento do diabo, segundo o Greenpeace, que gostaria de ver o por do sol para toda a qumica do cloro. Os argumentos esto relacionados s grandes conseqncias ou danos91 92

COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Op. Cit., p. 41. PLASTICS ADDITIVES & COUMPOUNDING. Health and environmental impact of phthalates. Oxford: Elsevier, volume 4, issue 6, June, 2002, p.28-29.

51

ambientais como a destruio da camada de oznio, causada primariamente pelos clorofluorcarbonos. A persistncia de qumicos sintticos tais como os PCBs (Bisfenilas policloradas) e a produo no intencional de dioxinas e furanos de processos industriais. tambm causam polmica. O uso de aditivos como os estabilizantes a base de metais pesados e de plastificantes como os ftalatos que se tornaram polmicos em razo da eventualidade de provocarem efeitos de disfunes hormonais tambm uma questo polmica. Um dos pontos mais importantes est relacionado ainda disposio final dos resduos de PVC.93 Em 2000 foi publicado o livro Pandoras Poison, que teceu crticas severas indstria global do cloro. Seu autor, um coordenador de pesquisas do Greenpeace, baseado no princpio da precauo, prope a eliminao do uso de qumicos derivados do gs cloro, como no caso do PVC (BOOZ ALLEN; HAMILTON, 2001a).94 De acordo com Everard, Monaghan e Ray (2000), o PVC um material controverso e tem sido atacado, principalmente pelo Greenpeace, que o considera inerentemente insustentvel e deveria ser eliminado assim que possvel.95 As maiores inquietudes do Greenpeace esto relacionadas com: a emisso de substncias txicas, especialmente organoclorados, associados com a produo, uso e disposio de produtos de PVC; a necessidade de muitos aditivos e a dificuldade secundria em reciclar e/ou dispor resduos de produto em PVC e, consequentemente, sua acumulao no meio ambiente. Segundo o prprio Greenpeace [1997], o PVC uma ampla fonte de quantidade e variedade de qumicos carcinognicos, causadores de disfunes hormonais e outros qumicos

93 94

LEADBITTER, Jason. Op. cit., p. 22. BOOZ ALLEN; HAMILTON. Assessment of environmental issues associated with the PVC industry and with Amancos role in it: Grupo AMANCO Executive summary. San Jose, May, 2001. (Documento interno). 95 EVERARD, Mark; MONAGHAN, Mike; RAY, Diana. Op. Cit., p. 22.

52

txicos. No pode fazer parte de uma sociedade ecolgica e deve ser rapidamente substitudo. O Greenpeace alega que todos os estgios do ciclo de vida do PVC envolvem descargas qumicas. Sua produo utiliza muitos qumicos txicos, tanto como matrias-primas quanto aditivos para torn-lo usvel. H tambm as emisses das vrios etapas dos processos de fabricao. Os aditivos podem ser lixiviados durante o uso e o PVC no pode ser disposto sem problemas de poluio ambiental.96 O Greenpeace justifica o que h de errado com o PVC no relatrio Whats wrong with PVC e se concentra em duas famlias de qumicos emitidas durante o ciclo de vida do produto: as dioxinas e os ftalatos, embora alerte ainda, para outras emisses perigosas, como metais pesados, VCM, EDC, organoclorados e organo-estanhos entre outros.97 As justificativas so: as dioxinas, incluindo TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-pdioxin, um dos qumicos de maior toxicidade conhecidos) e furanos, presentes tanto nas matrias-primas e

intermedirios quanto na incinerao. Estas substncias tm o potencial de passar atravs da placenta, causar cncer, provocar disfunes hormonais e ser imunotxicas; os plastificantes podem ser lixiviados ou sofrer aes biolgicas e contaminar o meio ambiente, especialmente a gua. So suspeitos de ter efeitos txicos na reproduo e disfunes hormonais. Segundo Preusker (1995), o debate pblico sobre o PVC diferiu em intensidade nos vrios pases da Comunidade Europia, dependendo da influncia dos organismos de proteo ambiental de cada pas. Deste modo, enquanto a situao parecia relativamente calma e com debates baseados em fatos na Inglaterra, Frana e Espanha, a discusso pblica na Alemanha,

96 97

GREENPEACE. Op. cit., p. 41. Idem, ibidem

53

ustria, Blgica e pases da Escandinvia era ainda muito violenta, resultando em inmeras restries ao PVC.98 Na Sucia, um estudo iniciado pelo governo, conhecido como aditivos perigosos, estabeleceu que alguns materiais seriam substitudos antes do ano 2000, o que envolveu mais de a metade das aplicaes do PVC. Os protestos da indstria do PVC no foram suficientes para convencer a indstria de embalagens da Holanda que, voluntariamente, renunciou ao uso do PVC em 1991. Esta renuncia, no entanto, contraditria com uma recente diretiva da Comunidade Europia sobre embalagens, que probe claramente qualquer discriminao contra quaisquer materiais. Os debates na ustria assemelham-se fortemente aos da Alemanha, onde restries ao uso do PVC em prdios pblicos foram impostas atravs de regulamentaes. Mas mesmo nos pases onde houve grande oposio ao PVC, existe agora uma grande tendncia de reverso do julgamento e de reavaliao do PVC sob alguns aspectos (PREUSKER 1995).99 Preusker (1995) comenta ainda, que na Blgica, esperava-se que a taxa ecolgica imposta s garrafas de PVC fosse revisada no final de 1995, dando igual tratamento a todos os plsticos. Na Holanda, o Ministrio de Meio Ambiente est revisando dados sobre o PVC, mesmo aps o acordo voluntrio renunciando ao seu uso. A concluso de que atualmente os debates sobre o PVC esto tomando outro rumo em todos os pases e uma nova considerao holstica deve ser aplicada ao PVC, desde a sua manufatura at o final da vida dos produtos. Na Alemanha, estas mudanas esto sendo alcanadas atravs da reavaliao ecolgica do material.100 Segundo Leadbitter (2002), na Inglaterra os ataques ao PVC se deram com o incio da campanha para banir as embalagens do material, organizada pelo Greenpeace. Os dois

98 99

PREUSKER, Werner. Germany and Europe re-evaluate PVC. In: Eurofabric 95, Cologne, 1995. Idem, ibidem. Idem, ibidem.

100

54

maiores produtores de PVC da Inglaterra, Hydro Polymers Ltd and EVC UK Ltd. e o conhecido grupo de varejistas representaram os dois extremos da cadeia do produto. Neste processo, os varejistas tiveram uma atuao efetiva de um grupo de presso, com a indstria do PVC inglesa respondendo-lhes s necessidades. Especialistas ambientais ingleses de instituies-chave facilitaram o processo. Embora a maior parte do processo tenha sido baseada na Inglaterra, o interesse pela questo foi crescendo na Europa e nos EUA.101 Em 1996, uma organizao chamada Media Nature organizou um seminrio, a pedido do grupo de presso