Amanda Battaglini

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  • 7/26/2019 Amanda Battaglini

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    FUNDAO ARMANDO ALVARES PENTEADO

    FACULDADE DE ECONOMIA

    O SALTO ECONMICO DA CHINA: CRESCIMENTO EMUDANA

    AMANDA BATTAGLINI SULEIMAN

    Monografia de Concluso do

    Curso apresentada Faculdade de

    Economia para obteno do ttulo

    de graduao em Cincias

    Econmicas, sob a orientao daProf. Peggy Beak.

    So Paulo, 2008

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    SULEIMAN, Amanda Battaglini. O DESENVOLVIMENTO ECONMICOCHINS PS 1949, So Paulo, FAAP, 2008, 45 p.(Monografia apresentada ao Curso de Graduao em Cincias Econmicas daFaculdade de Economia da Fundao Armando Alvares Penteado)Palavras-Chave: Crescimento, China, Reformas, Qualidade, Comrcio.

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    AGRADECIMENTOS

    Os meus mais sinceros agradecimentos a minha querida professora Peggy Beak pela

    orientao prestada, pela pacincia e pelo incentivo permanente na realizao desta

    monografia.

    Aos meus professores e professoras que me proporcionaram uma excelente formao.

    Ao Professor quilas Mendes, pela orientao adicional.

    minha me pela preocupao ededicaoe ao meu noivo Leonardo pelo incentivo epacincia.

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    RESUMO

    Esta Monografia examina a trajetria da economia chinesa nos ltimos anos e

    demonstra qual foi o processo de desenvolvimento seguido pelos chineses, que culmina

    em um vultuoso crescimento econmico atual. Suas reformas, sua projeo e sua

    abertura diante de um dos pases mais populosos do mundo.

    O tema central de investigao deste trabalho a razopara um desempenho to

    dspar da economia da China, pois enquanto o pas desbrava em crescimento o mundo

    desacelera. Sua trajetria desenvolvimentista e seus propsitos sero abordados neste

    trabalho, de forma a permitir ao leitor esclarecimentos sobre atuais conjunturas

    apresentadas pelo pas e suas relaes com o Brasil.

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    SUMRIO

    Lista de Tabelas

    Lista de Grficos

    INTRODUO...........................................................................................................01

    CAPTULO 1 - CONTEXTUALIZAO PS 1949

    1.1O apoio e o abandono do modelo sovitico..........................................................03

    1.2A Revoluo Cultural...........................................................................................09

    1.3As Primeiras Reformas.........................................................................................11

    CAPTULO 2 O CRESCIMENTO ECONMICO CHINS

    2.1Os primeiros sinais de crescimento......................................................................15

    2.2Vantagens e desvantagens do modelo de crescimento.........................................20

    2.3Perspectivas e a insero da China no GATT/OMC............................................21

    CAPTULO 3 RELAO BILATERAL

    3.1Um panorama das mudanas ocorridas na China atualmente..............................26

    3.2Desmistificao dos produtos chineses e a relao comercial com o Brasil........30

    3.3Perspectivas da relao Brasil-China...................................................................35

    CONCLUSO.............................................................................................................42

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................44

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Participao da Indstria pesada na China...................................................05

    Tabela 2

    Zonas Econmicas Especiais......................................................................14

    Tabela 3 - Indicadores de crescimento setorial, China 1952-95 (taxa de crescimento

    anual)............................................................................................................................18

    Tabela 4 - Intercmbio Comercial Brasil-ChinaFOB milhes.................................37

    Tabela 5 - Exportaes brasileiraspara a China. ........................................................38

    Tabela 6 - Importaes brasileiras da China................................................................40

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1- Exportaes Chinesas................................................................................20

    Grfico 2- Composio das exportaes do Brasil para a China (2002 a 2004).........24

    Grfico 3- Composio das importaes dos produtos chineses (2002 a 2004).........25

    Grfico 4- China: Investimento estrangeiro direto 1990-2006....................................28

    Grfico 5- BRASIL - Balana Comercial com a China - 1997-2007..........................31

    Grfico 6 - BRASIL - Saldo comercial do Brasil com a China, segundo o setor

    (1997-2007)..................................................................................................................32

    Grfico 7 - BRASIL vs. CHINA - Valor por Kg Exportado - 2000-2007...................33

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    INTRODUO

    Esta Monografia tem por objetivo examinar a trajetria da economia chinesa desde 1949

    at 2008. O desenvolvimento econmico da China, que deve ser entendido, dentre outros fatores

    por meio de um Estado-Nao forte, constitudo por um crescimento vultuoso nos ltimos anos.

    No captulo 1 foram abordadas as questes relacionadas aos grandes movimentos sociais

    que tinham por objetivo a auto-suficincia do pas e Revoluo instaurada por Mao Tse-tung,

    como medida de alavancar o enorme e potencial mercado consumidor.

    A importncia da dcada de 1970, com as reformas econmicas implantadas por Deng

    Xiaoping aos poucos foram mudando o funcionamento da estrutura econmica do pas.Primeiramente, suas reformas foram focadas no setor agrcola e na metade da dcada de 80, o

    setor industrial, passou por reformas que permitiram a entrada de empresas privadas para

    complementar as estatais. Foram criadas 14 cidades ao longo da costa com postura de abertura

    ao comrcio exterior e aos investimentos estrangeiros.

    As reformas atraram investimento estrangeiro direto sob forma de novas empresas,

    principalmente asjoint ventures e de capital estrangeiro, o que proporcionou o desenvolvimento

    das indstrias de tecnologia e de infra-estrutura.

    O captulo 2 trata da abertura econmica implantada na China. Esta demonstrou

    claramente a afinidade entre as polticas adotadas e a cultura local. Trata tambm das

    consequncias da insero do pas na Organizao Mundial do Comrcio (OMC) .

    O salto econmico nos anos 80 decorrenteda trajetria percorrida pela China durante os

    anos anteriores e sua relao com o Brasil - que neste perodo encontrava-se em

    desenvolvimento, assim como a maioria dos pases latino-americanos. A China, no mesmo

    perodo, desenvolveu seu mercado e economia sem atrelar-se diretamente s grandes potncias ehoje pode ser considerada uma destas.

    O captulo 3 se prope a examinar as caractersticas internas e mais atuais da China, com

    a finalidade de estabelecer suas relaes com o Brasil. E, por fim tratar da desmistificao dos

    produtos chineses - tidos como caracterizados pela predominncia de produtos sem qualidade.

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    Estes sero os pontos fundamentais adotados nesta Monografia, traando os caminhos

    trilhados pela China que vem passando por grandes transformaes internas ao longo dos anos,

    com o objetivo de expandir sua economia para patamares cada vez mais elevados.

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    CAPTULO 1

    CONTEXTUALIZAO PS 1949

    Este captulo busca mostrar as caractersticas estruturais da China. Est dividido em 3

    partes, abordando os aspectos da poca do plano quinquenal que obteve apoio da Unio

    Sovitica (URSS), os anos de Revoluo Cultural de forte influncia e por fim, o perodo

    caracterizado pelas Primeiras Reformas adotadas no pas.

    A China passou os ltimos 50 anos por um surto de progresso econmico. No perodo que

    antecedeu 1949 a economia chinesa estava baseada fortemente no setor agr cola, o setor

    industrial estava em seu processo inicial e a pobreza reinava tanto nas reas urbanas como nas

    rurais. Esse cenrio comeou a ser alterado a partir da instaurao da Repblica Popular da

    China, onde grandes esforos foram despendidos para a eliminao da pobreza e industrializao.

    1.1 O apoio e o abandono do modelo sovitico

    As relaes entre a revoluo chinesa e o Estado sovitico tiveram incio com a assinatura

    de um Tratado de Assistncia Mtua e Aliana, firmado em Moscou em fevereiro de 1950. A

    URSS compreendia o valor e a importncia da entrada da China para a seqncia de seu modelo,

    por esse motivo auxiliou no desdobramento de financiamentos e crditos a longo prazo na

    construo de projetos industriais de grande porte que se estenderam de 1950 at 1959. Mao Tse-

    tung alm de dirigente poltico partidrio, assumiu o papel de principal lderda revoluo chinesa

    e aliou-se URSS, integrando-se Guerra Fria, prioritariamente um conflito entre os Estados

    Unidos (capitalista) e a URSS (socialista).

    A contribuio sovitica concentrou-se principalmente em setores siderrgicos, produtos

    ligados ao petrleo, indstrias eltricas, mecnicas e atravs da importao de bens de capital e

    gros, viabilizando um salto industrial, pois havia o atraso na indstria de bens de consumo e na

    agricultura.

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    Segundo Hinton (1967), o processo interno de desenvolvimento da China Comunista

    passou por sete etapas. A primeira delas (1949-1952) consistiu na eliminao da oposio

    organizada, dando incio as reformas democrticas agrria e de reabilitao econmica. A

    segunda etapa (1953-55), marcou o perodo de consolidao, centralizao poltica e incio daindustrializao. A terceira etapa, (1955-1956), correspondeu ao auxlio de Mao Tse-tung no

    crescimento socialista, envolvendo uma acelerao da socializao da agricultura e do

    comrcio, alm de um forte aumento em investimentos industriais, acompanhados de concesses

    polticas como a campanha das Cem Flres, que ser mais detalhada mais a frente, assim como as

    etapas subsequentes do processo de desenvolvimento da China Comunista consistiu em crise

    poltica a quarta etapa, a quinta buscou promover uma mobilizao em massa de fora de

    trabalho rural para a criao de uma indstria rural, a subordinao da indstria pesada

    agricultura e indstria leve como sexta etapa e a stima e ltima etapa correspondeu a

    militarizao em 1964. (p. 83)

    A aliana chinesa com a Unio Sovitica foi importante para a mudana de estrutura, em

    particular a econmica, atravs da adoo do plano quinquenal de planificao centralizada e de

    uniformizao distributiva. A aproximao inicial da revoluo maosta com a URSS tornou

    inevitvel que a China Popular seguisse os passos da grande potncia socialista, adotando uma

    poltica econmica semelhante a dos soviticos, cuja nfase se dava na indstria pesada e na

    coletivizao das terras.

    A estratgia econmica industrial da China no perodo pr-reforma (1948-78) estava

    voltada para dentro e segundo Huijiong (1994) teve duas caractersticas marcantes: dar

    continuidade no processo de transferncia do sistema de produo privado para a propriedade do

    Estado e considerar o sistema de planejamento central como o mecanismo principal de

    implementao da estratgia econmica industrial. (p.14)

    A China deu incio a um sistema de planejamento central e a poltica industrial doPrimeiro Plano Quinquenal (1953-57) foi caracterizada por um modelo que priorizou a

    implantao da industria pesada no pas. O modelo de planejamento central foi adotado visando

    promover o desenvolvimento da economia chinesa que sofria da forte influncia do

    desenvolvimento da antiga URSS.

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    Pode-se verificar na tabela 1 que a participao da indstria pesada no valor bruto da

    produo industrial cresceu de 37,3% em 1953 para 48,4% em 1957.

    Tabela 1 - PARTICIPAO DA INDSTRIA PESADA NA CHINA

    Anos Participao dos bens de produo (%) Participao dos bens de consumo (%)1953 37,3 62,7

    1954 38,5 61,5

    1955 41,7 58,3

    1956 45,4 54,5

    1957 48,4 51,6

    Fonte: Departamento de Publicao de Estatstica da China. Relatrio anual da China, 1984. A Economia Mundialem transformao. Fundao Getlio Vargas (1994) 1 edio apud HUIJIONG, 1994, p.15.

    Esse intenso incentivo a indstria pesada gerou crescimento, desenvolvimento e melhoria

    das condies de vida do povo, principalmente da populao do campo. Como consequncia, aqueda de 11,1 % na participao da indstria leve no perodo de 1953 1957.

    No processo socialista do setor comercial buscou-se a auto-suficincia. Aeconomia de planejamento central caracteriza-se pelo sistema de alocaomaterial por parte do Estado. O setor comercial responsvel somente porprodutos agrcolas e outros bens de consumo. (HUIJIONG, 1994, p. 15)

    O Plano Quinquenal envolveu vrias reas como produo, alocao de material, trabalho

    e salrios. Foi implementado atravs de compras compulsrias e alocaes de produtos-chave em

    nvel nacional entre as provncias e as organizaes controladas pelo poder central.

    O principal instrumento de controle financeiro da economia da poca foi o oramento do

    Estado. Todos os assuntos financeiros e econmicos, inclusive a administrao da renda foram

    centralizados em 1950. O comrcio foi taxado de uma forma mais pesada do que a indstria e as

    alquotas tributrias para a indstria pesada eram menores do que as fixadas para a indstria em

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    geral. Com relao ao sistema bancrio chins no perodo de 1949-1957, o seu papel em relao

    s empresas era o de fornecedor de crdito para atender s diretrizes administrativas e realizar

    auditorias para garantir que este fosse utilizado para seu determinado objetivo.

    De acordo com Huijiong (1994) at o final de 1970, o sistema financeiro chins foi um

    sistema virtualmente monobanco, seguindo o modelo sovitico. (p. 20)

    Todas as operaes financeiras eram operadas por um nico banco, pois as outras

    instituies financeiras estavam ausentes do sistema. A principal instituio era o Banco Popular

    da China, que detinha todas as operaes de crdito comercial, industrial e para fins agrcolas (em

    mbito nacional).

    Em 1954 foi aprovada a primeira Constituio do novo regime, que definia a China como

    um Estado socialista, estruturado segundo os princpios do centralismo democrtico. Em maio de

    1956, iniciou-se a "campanha das cem flores", como uma tentativa de atrair a participao de

    intelectuais nos projetos de desenvolvimento. A poltica visou estimular os debates pblicos e

    diminuir o poder da burocracia partidria, porm o efeito foi o oposto, pois retomou a linha

    autoritria. O intuito da campanha foi representar uma experincia de liberdade,na expresso e

    na crtica, at ento desconhecida.

    Segundo Hinton (1967), foi neste contexto de uma breve diminuio do investimento

    industrial e obstculo s severas crticas ao regime por intelectuais, que se iniciou a quarta etapa

    do processo interno de desenvolvimento da China Comunista (1957-1958). Essa etapa ficou

    caracterizada como crise poltica, seguida de uma deciso inicial de mobilizao da mo-de-obra

    camponesa e descentralizao da economia, visando atingir um desenvolvimento sem as tenses

    do crescimento socialista. (p.84)

    A necessidade de acelerao do ritmo de desenvolvimento ainda era um problema a ser

    solucionado. Mas os resultados favorveis do plano quinquenal estimularam Mao em 1958 a

    iniciar um segundo plano, que ficou conhecido como "o Grande Salto para a frente". A quinta

    etapa (1958-1960), buscou promover uma mobilizao em massa da fora de trabalho rural para

    aumentar a produo, a rea cultivada e a criao de uma indstria rural, com a multiplicao das

    unidades produtivas de pequena escala das aldeias. A indstria do ao foi considerada prioridade

    mxima no perodo do Grande Salto para a frente. O programa obrigava a juno dos camponeses

    em grandes comunas agrcolas, instalao de siderrgicas de tecnologia rudimentar por todo o

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    pas, mas seu nico resultado foi a desorganizao da economia e a fome generalizada. Por um

    lado deu-se a abertura de canais de irrigao e recuperao de reas para plantio, construo de

    diques, mas por outro, a consequncia foi um fracasso contundente.

    Uma das primeiras medidas de correo foi a da reduo das comunas para a tera parte

    de seu tamanho original, visando uma melhor administrao e, para a criao de vnculos mais

    estreitos entre o trabalho desenvolvido pelos camponeses e suas respectivas remuneraes, o que

    posteriormente resultou em uma melhoria da produtividade e expanso da produo.

    As comunas assumiram a responsabilidade pela administrao local, coleta localde taxas, proviso de sade e educao, superviso da produo agrcola,construo industrial rural e atividade de servio na sua rea. A razo para issoresidia no extremo isolamento na poltica internacional e o reconhecimento danecessidade de um sistema econmico que sobrevivesse a uma guerra nuclear.Entre 1959 e 1961, cerca de 30 milhes de pessoas foram desviadas daagricultura para a siderurgia de fundo de quintal, fabricando cimento,construo e irrigao. Como resultado, a produo agrcolaper capita em 1961foi 31% menor do que a de 1957, a prioridade foi dada alocao de alimentospara as reas urbanas, e milhes de habitantes das reas rurais morreram de fome(Maddison, 1998, apud MEDEIROS 1999, p. 384 e 385).

    Em outras palavras, o Grande Salto envolveu uma mobilizao e explorao do emprego

    sem precedentes em particular na agricultura.

    Em 1958-1959, Mao Tse-tung foi afastado do cargo de Presidente da Repblica Popular

    da China. Aps a catstrofe do Grande Salto, a China ao longo dos anos 60, prosseguiu no

    processo de industrializao e deslocamento de plantas industriais para reas do interior, tendo

    em vista a estratgia de resistncia a uma potencial guerra com a URSS. Com a produo

    estagnada, a China iniciou uma ampla importao de gros.

    Medeiros (1999) afirma nessas condies de isolamento e restries de oferta agrcola

    que se desenvolve o perodo da

    revoluo cultural

    , com macio deslocamento da populaourbana para o campo. (p. 384)

    Em 1960 a China rompeu relaes com a Unio Sovitica, em virtude de sua discordncia

    diante da desestalinizao adotada por Kruschev. A ruptura teve duas origens: a luta pela

    hegemonia na direo do movimento comunista internacional e as disputas territoriais ao longo

    da fronteira comum.

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    O partido foi dividido em duas faces: a que defendia a pureza ideolgica do comunismo

    chins (representada por Mao Tse-tung, Lin Biao e apoiada pelo exrcito) e a segunda

    defendendo uma postura tecnocrtica, tendo como lderes Liu Shaoqi (Liu Shao-chi, presidente

    do Estado desde 1959, aps a renncia de Mao) e Deng Xiaoping.

    A China permaneceu em uma situao de grande isolamento na dcada de 60, devido

    reduo na importao de mquinas e equipamentos e o caminho substituio de importaes.

    Posterior a este perodo e devido s diversas consequncias causadas pela poltica do Grande

    Salto, o Partido Comunista Chins (PCC) deu incio sexta etapa (1960-1963), proclamando

    abertamente a subordinao da indstria pesada agricultura e indstria leve e fazendo

    importantes concesses aos camponeses. Essa etapa auxiliou na recuperao do pas, fazendo

    com que o PCC lanasse a sua stima e ltima etapa, a de militarizao em 1964. Esse processose deu atravs da introduo de uma disciplina militar em todas as organizaes pblicas,

    instituies de oficiais polticos e de foras armadas para supervisionar os chefes dessas

    organizaes.

    Foram adotadas medidas severas para a correo do problema. Lio Shaoqi foi nomeado

    presidente da Repblica Popular da China e Deng Xiaoping assumiu como secretrio-geral do

    partido.

    A China recebeu at 1960 US$ 2 bilhes de crditos a longo prazo da Unio Sovitica e

    aproximadamente do seu comrcio exterior era feito com o Bloco Comunista (importao de

    equipamento industrial e militar), principalmente com os soviticos. (HINTON, 1967, p.87).

    As restries cambiais da dcada de 60 foram consideravelmente aliviadas em 70, devido

    reentrada da China na Organizao das Naes Unidas (ONU), crescente capacitao das

    industrias chinesas no mercado de exportao e aos excedentes na produo de petrleo. A

    aquisio de tecnologia estrangeira comeou a ressurgir e o programa de importaes concetrou-

    se na capacitao interna, priorizando a fabricao de bens intermedirios, como fertilizantesqumicos, fibras sintticas, produtos qumicos, petroqumicos e aos finos.

    Huijiong (1994)afirma que esse vaivm entre a centralizao e a descentralizao do

    sistema de planejamento afetou bruscamente a poltica e estruturas industriais chinesas. ( p. 23)

    No mbito das medidas de descentralizao de 1957, grandes reas de atividade foram

    retiradas dos ministrios e realocadas nas provncias (dem, Ibdem).

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    Esses esforos praticados para a descentralizao foram ao longo do tempo abandonados,

    devido ao fracasso da poltica do Grande Salto. A recentralizao voltou tona em 1961, e

    durante o perodo da Revoluo Cultural as provncias tiveram maior influncia no planejamento

    da produo local, no financiamento e na distribuio de investimentos.

    A centralizao, a descentralizao e a auto-suficincia local, enfatizadas na poltica

    industrial fizeram com que todos os municpios e provncias se envolvessem em uma srie de

    atividades de produo.

    1.2 A Revoluo Cultural

    A Revoluo Cultural na China (ou, Grande Revoluo Cultural Proletria) nasceu do

    programa Grande Salto e foi um grande movimento social de radicalizao poltico-ideolgica

    que visava a auto-suficincia na Repblica Popular da China lanado em 1966 por Mao Tse-tung.

    A indstria de defesa foi muito incentivada neste perodo. O intuito da Revoluo Cultural

    foi combater o surgimento de classes e categorias privilegiadas, revitalizando o esprito da

    revoluo chinesa, e acabando com o modo de vida da cultura burguesa. Alm disso, a Revoluo

    pretendia tornar cada unidade econmica chinesa - fbricas e fazendas, em uma unidade de

    estudo e reconstruo do comunismo.

    Shaoqi e Deng Xiaoping comearam ento a desafiar o poder e prestgio de Mao Tse-

    tung, mas antes de algo ocorrer Mao declarou a idia de promover o crescimento e limpeza do

    cenrio poltico, econmico, ideolgico e organizacional da Repblica.

    Segundo Haesbaert (1994) para muitos, o passado tradicional e opressivo seria colocado

    finalmente em questo atravs da modernizao do pas na figura de Deng Xiaoping, que

    condenando o Bando dos Quatro pela violncia e fracasso da revoluo cultural, manteve os

    dogmas do maosmo: socialismo, ditadura do proletariado, direo do partido, marxismo-

    leninismo e pensamento Mao Tse-tung. (p.16)

    Milhares de estudantes, liderados por Jiang Qing, a esposa de Mao Tse-Tung, Wenyuan,

    Zhang Chunquiao e Wang Hongwen, grupo que ficou conhecido como o Bando dos Quatro,

    formaram as Guardas Vermelhas e iniciaram as perseguies polticas. No mesmo ano,

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    ocorreram expurgos, ataques e humilhaes de intelectuais e reacionrios. Universidades, escolas

    e fbricas ficaram fechadas durante anos a fim de combater a ideologia da hierarquia do saber.

    Nas escolas que permaneceram abertas no existiam mais provas e exames, pois eram tidos como

    exemplos de competitividade burguesa.

    O Bando dos Quatro foi uma designao atribuda a um grupo de quatro membros do

    Partido Comunista chins responsveis pela implementao da Revoluo Cutural.

    At 1969, a Guarda Vermelha expandiu sua autoridade, acelerou as aes de expurgos e

    tornou-se, portanto, a principal autoridade da China responsvel por proteger o regime contra os

    reacionrios burgueses. As pessoas que obtinham privilgios do sistema recebiam tarefas

    principalmente braais tanto nas fbricas quanto no campo, para conhecerem o dia-a-dia das

    pessoas mais simples. Em abril desse mesmo ano, seguindo ordens de Mao Tse-Tung, o Exrcito

    chins dissolveu a Guarda Vermelha.

    A China no foi totalmente abalada pelas reformas socialistas, pois, a reforma agrria, os

    avanos mdico-sanitrios e o maior acesso educao tiveram progressos frente extrema

    centralizao das decises, do planejamento econmico, corrupo dentre outras medidas que

    passaram a fazer parte do sistema e que contriburam para o fracasso dos anos negrosde 1959-

    61 e o da revoluo cultural de 1966-1969.

    Com a morte de Mao Tse-tung em 1976, a Revoluo Cultural teve o seu fim e em uma

    avaliao das experincias da construo socialista no prprio pas, o PCC (Partido Comunista da

    China) deliberou, em 1978, a alterao do modelo de construo socialista na China, lanando as

    bases tericas de outro, quando da reunio da 3 Sesso Plenria do XI Comit Central do PCC

    aprovou por proposio de seu principal mentor Deng Xiaoping um novo plano de reforma do

    sistema econmico.

    Hua Guofeng passou dirigente mximo da China e apesar de ter recebido a confiana de

    Mao, teve como primeiro ato a priso de seus seguidores (a Camarilha dos Quatro). Deng

    Xiaoping pediu oficialmente sua reintegrao, sendo aceito por Guofeng, e passou nos anos

    seguintes a dominar a poltica chinesa.

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    1.3 As Primeiras Reformas

    A estratgia chinesa de desenvolvimento econmico elaborada no final dos anos 70 estava

    subordinada aos objetivos polticos de reunificao do territrio e de luta contra o

    hegemonismo, principalmente o da Unio Sovitica. (MEDEIROS, 1999, p.396).

    A China conseguiu um crescente progresso econmico no perodo que abrangeu as

    dcadas de 50 70 e ao longo destas trs dcadas de experincia em desenvolvimento econmico

    percebeu-se que para obter-se ganhos econmicos era necessrio o uso extensivo de fatores

    produtivos, ou seja, investimentos muito elevados.

    Como observado pelo Banco Mundial:

    A despeito dessas viradas e mudanas de rota que engendraram algumasdramticas flutuaes econmicas, houve um substancial progresso em direoaos dois objetivos principais (a industrializao e a eliminao da pobreza). Aindustrializao foi muito rpida, principalmente como resultado de um elevadoritmo de investimentos, cuja totalidade foi financiada pela poupana interna. Aparcela da indstria no PNB (cerca de 40%) atualmente similar mdia dos

    pases em desenvolvimento de renda mdia. E o maior sucesso da China duranteas ltimas trs dcadas foi haver conseguido uma melhoria bem mais acentuadano atendimento das necessidades bsicas dos grupos de baixa renda, emcomparao maioria dos demais pases pobres. (Banco Mundial apudHUIJIONG 1994, p.25)

    Os primeiros anos do novo regime comunista foram voltados para a reconstruo do pas.

    Atender ao consenso formado pelos moradores do campo, a reforma agrria rural e implantao

    gradual das Zonas Econmicas Especiais (ZEEs) foi considerado passo inicial.

    As ZEEs eram espaos delimitados que dependiam basicamente da entrada de capital

    estrangeiro atravs de industrias, servios e comrcio e tinham como objetivo desenvolver uma

    economia voltada para a exportao em diversos setores.

    Para Huijiong (1994) o ano de 1979 foi considerado o ano-chave da mudana de

    abordagem na estratgia econmica industrial. (p. 14)

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    Foram criadas 14 cidades costeiras em 1984, todas abertas ao investimento estrangeiro,

    entre as quais as grandes metrpoles de Xangai, Pequim e Tientsin.

    Mao Tse-tung deixou uma herana complexa e ao mesmo tempo contraditria. Realizou

    alguns efeitos extraordinrios, como a conquista de seu poder a partir de uma base camponesa,

    unificando a China sob o domnio do Partido Comunista, mobilizando massas para seus

    objetivos; conseguiu exercer controle cultural, econmico e poltico sobre o pas mais populoso

    do mundo transformando a cultura clssica em uma cultura voltada para o futuro. No entanto,

    conduziu o pas a um estado prximo auma ruptura e com isso, a morte de milhes de pessoas.

    Em 1976 com a morte de Mao Tse-tung e posteriormente com a pris o dos seus principais

    seguidores, ocorreram mudanas no destino dos dirigentes chineses que, de qualquer forma

    acabaram sendo atingidos pela turbulncia da Revoluo Cultural. Deng Xiaoping em 1977

    voltou a assumir as funes de Vice-Primeiro Ministro. Juntamente com as suas funes de Vice-

    Presidente do Partido Comunista Chins (PCC) e de Chefe do Estado-Maior das Foras Armadas,

    Deng expandiu o seu poder. Este fato se tornou determinante para a sua consequente capacidade

    de implementar as reformas econmicas que transformaram a face da China a partir de 1978.

    Deng Xiaoping implementou um amplo programa de reformas que modificou

    completamente o carter do pas, principalmente, as estruturas do setor agrcola, atravs de

    acumulao de excedentes, incipiente economia industrial, cincia, tecnologia e servios nas

    zonas rurais. Esse programa ficou conhecido como as Quatro Grandes Modernizaes (da

    indstria, da agricultura, tecnologia e das foras armadas ou defesa) dando origem ao que se

    pode denominar de socialismo com caractersticas chinesas. Foi projetado por Chou En-lai e

    proposto por vrios dirigentes reformistas ainda antes da Revoluo Cultural.

    A nfase inicial foi dada na agricultura, onde o processo de entrega de terras aos

    camponeses teve incio, dissolvendo portanto as comunas agrcolas.

    Em reflexo a esta poltica, em maro de 1979 foi decidido um aumento de 20% dos

    produtos agrcolas. Por outro lado, a produo em comunas foi progressivamente substituda pelo

    estabelecimento de contratos com os produtores rurais, onde estes se viram obrigados a vender

    uma determinada quantidade da sua produo para o Estado.

    As reformas introduzidas por Deng Xiaoping a partir de 1978 mudaram o foco do

    planejamento industrial e tecnolgico para um esforo que inclui a desmilitarizao,

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    privilegiando as indstrias leves e de alta tecnologia. Deng reformou o Partido Comunista

    Chins, que at ento, possua fortes influncias de Mao Tse-tung e conseguiu dar incio relao

    com outros pases ocidentais, principalmente enfatizando a absoro de tecnologia e

    investimentos. Reiterou sua determinao em incorporar Hong Kong, Macau e Taiwan, atravsda aplicao do princpio Um pas, dois sistemas. O intuito desse princpio era que, aps a

    reunificao, Hong Kong e Macau (respectivamente antigas colnias do Reino Unido e de

    Portugal), apesar da prtica do socialismo na China continental, praticassem o capitalismo sob

    um alto nvel de autonomia.

    O programa de reformas procurou multiplicar laos comerciais para que os produtos

    chineses pudessem obter tecnologia estrangeira e a reestruturao da indstria foi uma estratgia

    para promover a eficincia e mudana de atitude em relao ao comrcio. No documento relativoao perodo de 1981-85 (Sexto Plano Quinquenal), estavam como tarefas bsicas o estmulo a

    produo agrcola, a produtos da industria leve, da industria txtil e de outros bens de consumo

    cotidianos para adaptao da demanda da sociedade.

    Em 1984, o princpio foi proposto para a aplicao em Hong Kong atravs de negociaes

    com a primeira-ministra britnica Margaret Thatcher quando o contrato de arrendamento dos

    Novos Territrios (incluindo Nova Kowloon) de Hong Kong para o Reino Unido expirasse em

    1997. O mesmo foi proposto para Macau nas conversaes com Portugal.

    As Zonas Econmicas Especiais (ZEEs) constituram o principal mecanismo de abertura

    da economia chinesa. Foram classificadas como regies economicamente livres, onde os

    princpios das reformas foram logo implementados. Criadas na segunda metade da dcada de 70

    junto ao litoral oriental da China, com o objetivo de propagar os ideais de modernizao e

    progresso, voltados basicamente para o setor industrial e exportador. Sua principal funo era

    estratgica, as cinco zonas criadas foram: a de Shenzen, um cinturo que cercava Hong Kong,

    Xiamen que estava localizada de frente para Taiwan, Zhuhai

    zona localizada junto a Macau,Shantou e Hainan.

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    Tabela 2 . Zonas Econmicas Especiais

    rea km Populao hab Ano de criao

    Shenzen 327,5 1 020 000 1980

    Zhuhai 121 190 000 1980

    Shantou 52,6 60 000 1980

    Xiamen 131 370 000 1980

    Hainan 34 000 6 540 000 1988

    Fonte: HAESBERT, 1994, p.34

    Contudo, as bases para a formao e consolidao das Zonas Econmicas Especiais

    foram: a participao forte do Estado, a abertura de capital estrangeiro, a produo industrial

    diversificada (voltada para as exportaes), a proximidade com as reas porturias e urbanas e a

    mo-de-obra abundante e barata. Entre 1979 e 1986 a China contribuiu com aproximadamente

    um quarto de seu oramento para a criao da infra-estrutura dessas zonas, pois os custos ainda

    no eram compensados pela entrada de capital estrangeiro.

    Desde os anos 70 o pas vem combinando uma rpida liberalizao econmica,

    concentrada nessas zonas, com a hegemonia do Estado na produo.

    Em sntese, a estratgia de desenvolvimento da China a partir de 1978 se baseou na

    reforma no modo de utilizao da terra, na promoo e expanso das exportaes, proteo do

    mercado interno, estmulo ao investimento estrangeiro, formao de joint ventures (grandes

    empresas estatais) e na indstria pesada sob o controle do planejamento central, na transiopara

    um sistema misto de preos, controlados pelo mercado.

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    CAPTULO 2

    O CRESCIMENTO ECONMICO CHINS

    O captulo 2 deste trabalho buscaenfatizar os avanos da China a partir do perodo das

    primeiras reformas, correlacionando o passado com o presente, ndices e taxas de crescimento.

    2.1 Os primeiros sinais de crescimento

    O desempenho da sia nos anos 80 foi amplo e generalizado. Economias distintas, tanto

    em termos de instituies quanto em termos de padro de desenvolvimento, como a ndia

    (fechada e continental) e Formosa, China e Tailndia cresceram a taxas muito elevadas.

    Numa perspectiva crtica, MEDEIROS demonstra que existem dois caminhos distintos de

    transio ao capitalismo, trilhados respectivamente pela China, Leste Europeu e ex-URSS.

    (MEDEIROS, 1999, p.380)

    Partindo dessas duas linhas de pensamento, de um lado existem os que atribuem o

    sucesso do modelo de crescimento chins s reformas, que foram ocorrendo de forma gradual.

    Essa abordagem deu nfase aos regimes de contratos realizados comos agricultores e ao papel da

    indstria rural. Nesse modelo, a explicao foi a busca da China por um trajeto focado nas

    inovaes institucionais, adaptadas s suas peculiaridades e histria, em contraste com o caminho

    percorrido pelos pases do Leste Europeu que buscaram instituies tpicas do capitalismo

    europeu.

    Por outro lado existe uma viso mais ortodoxa de desenvolvimento. Esta relata a falta deconsenso sobre as reformas e atribui o crescimento chins nos ltimos 20 anos a fatores como a

    acumulao de capital numa economia com baixo ndice de renda per capita inicial, oferta

    elevada de mo-de-obra rural e trabalho barato, alm de uma estrutura econmica

    descentralizada. (MEDEIROS, 1999, p. 380)

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    Para Liu Binyan:

    aos olhos dos camponeses privados de liberdade, que enfrentam dificuldadespara se alimentar e se vestir e que no tm o direito de se deslocar, o trem e seuspassageiros tornaram-se o smbolo de uma potncia inimiga: ele encarna opoder, a ociosidade da cidade, um povo de abnegados. (Binyam apudHAESBAERT,1994, p. 42)

    Essa viso foi caracterizada pelo aumento das desigualdades, devido diversos fatores,

    como exemplo, a revolta dos camponeses no sudoeste da China. Estes provocaram o

    descarrilamento de trens para roubarem as mercadorias, centenas foram fuzilados e o problema

    no foi resolvido.

    Para Medeiros o crescimento econmico ocorrido na China a partir das reformas de 1978,

    foi resultado de trs vetores: a estratgia americana de isolamento e desgaste da ex-URSS; a

    ofensiva comercial americana com o Japo; e uma complexa estratgia do governo chins,

    visando afirmao da soberania do Estado sobre o territrio e a populao atravs da

    modernizao da indstria. (MEDEIROS, 1999 p. 385).

    A insero geopoltica da China no confronto dosEstados Unidos com a ex-URSS foi, at

    1992, um fator essencial para a alavancada exportadora da China. Em 1985 o dlar passou porum processo intenso de desvalorizao e a ofensiva comercial dos EUA provocou amplo

    deslocamento de capital asitico para a China. Com o trmino da Guerra Fria, o contexto se

    transformou inteiramente, entretanto a China j havia alcanado condies econmicas

    estruturalmente distintas. Argumenta-se que o sucesso da estratgia econmica da China em

    relao aos seus fatores e condicionantes internos, deveu-se possibilidade de enfrentar uma

    srie de estrangulamentos econmicos e enfrentar de forma distinta os mecanismos de

    descentralizar o planejamento e concentrar o mercado.

    Nos anos 80, com a abertura da economia, a China beneficiou-se de decorrentes conflitos

    comerciais entre os Estados Unidos e o Japo. A expanso da sua capacidade de importar tornou-

    se restrio fundamental para o processo de industrializao. As exportaes da China nos anos

    iniciais da abertura foram intensivas em produtos primrios, como por exemplo, carvo, petrleo

    e gros.

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    Desde o perodo das reformas a balana comercial chinesa teve instveis supervits. Esse

    resultado foi revertido aps 1985, com o aumento do nvel das importaes de bens de capital e

    bens intermedirios.

    O setor industrial liderou a taxa de crescimento do emprego no perodo entre 1978 e 1991.

    Entre 1980 e 1983 o principal movimento ocorrido na China foi a excepcional expanso do setor

    primrio. A partir de 1983 e at 1988, a indstria leve e voltada produo de bens de consumo

    liderou o crescimento econmico e, como consequncia, a produo de bens de capital

    apresentou as taxas mais elevadas.

    A tabela 3 apresenta uma comparao do padro setorial de crescimento da China nos

    perodos anterior e posterior s reformas.

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    Tabela 3 - Indicadores de crescimento setorial, China 1952-95 (taxa de crescimento anual)1952-78 1978-95 Mudana na taxa de

    crescimento entre os

    perodos

    Produto Agrcola 2.20 5.15 2.95

    Emprego Agrcola 2.02 0.84 -1.18

    Produtividade 0.17 4.27 4.10

    Produto Industrial 9.29 8.82 -0.47

    Emprego Industrial 5.84 4.83 -1.01

    Produtividade 3.25 3.81 0.56

    Setor tercirio 4.18 7.86 3.68

    Emprego tercirio 3.20 6.73 3.53

    Produtividade 0.96 1.05 0.09

    PIB 4.40 7.49 3.09

    Emprego total 2.57 2.62 0.05

    Produtividade 1.78 4.74 2.96

    Impacto da mudana do

    emprego setorial no

    crescimento do produto

    0.92 1.44 0.52

    Fonte: Maddison apud MEDEIROS, 1998, p. 386

    Com a elevada taxa de crescimento ocorrida no pas o comportamento da populao foi se

    alterando, os padres de consumo comearam a mudar representativamente. Em 1978, o consumo

    limitava-se apenas a aquisio de bicicletas, rdios e mquinas de costura.

    De acordo com Singh (1993 apud MEDEIROS, 1999, p.387) a introduo de novos bens

    de consumo durveis foi, entretanto, extraordinria. A produo de geladeira, televiso, mquina

    de lavar e ventilador registrou taxas de crescimento explosivas entre 1978 e 1984 e elevadas entre

    1984 e 1990.

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    O investimento bruto esteve acima de 35% do PIB ao longo dos anos 80, com forte

    acelerao a partir de 1985, quando atingiu, durante trs anos seguidos, impressionantes taxas de

    40% da renda. As empresas estatais foram responsveis por um valor acima de 65% dos

    investimentos realizados, em sua maioria, na expanso da capacidade produtiva industrial e, emparticular, na expanso da oferta e alocao de energia eltrica. As empresas coletivas de vilas e

    municpios (Town and village enterprises) contriburam com uma parcela de 15% e o setor

    privado com 20%.1

    A poltica cambial de progressivas desvalorizaes da moeda chinesa contribuiu para um

    rpido crescimento das exportaes e para assegurar a competitividade internacional da produo

    do pas. As exportaes representaram em 1991 e 1992 aproximadamente 20% do PIB do pas

    (16,8% em 1993). Em 1980 elas no passavam dos 6%.

    A participao chinesa nas exportaes mundiais em um perodo de 23 anos (1980-2003)

    cresceu de 0,96 % para 5,86%. E o fluxo comercial passou de US$ 38 bilhes em 1980 para US$

    850 bilhes em 2003.

    1A expresso consagrada na literatura ocidental a township and village enterprise(TVE), aqui traduzida por

    Empresas Coletivas de Vilas e Municpios.

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    Grfico 1- Exportaes ChinesasTaxa de Crescimento (%)

    Fonte: OMC

    As exportaes foram o componente da demanda efetiva de maior dinamismo nos ltimos

    15 anos. Ainda que com grande oscilao no perodo entre 1984 e 1995, as exportaes em

    dlares correntes cresceram a uma taxa de 17% a.a, para um crescimento do PIB de 10,2% a.a.

    Esses resultados fizeram com que a parcela das exportaes chinesas nas exportaes mundiais

    passasse de 0,75% em 1978 para 3% em 1995 (World Bank, 1995, apud Medeiros, 1999, p. 387).

    A relao entre importaes e exportaes sobre o PIB passou de 17% em 1984 para 44%

    em 1995. Em 1978, esse nmero era 10%. Em 1985 a China exportou US$ 27,4 bilhes contra

    US$ 148,8 bilhes em 1995.

    O crescimento econmico chins alcanou a taxa de 7,49% a.a entre 1978 e 1995 e 10,2%

    a.a entre 1985 e 1995 e o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu de U$S 240 bilh es para U$S 1,4

    trilho entre 1978 e 2003.

    A participao das importaes chinesas na composio do PIB do pas passaram de 5%

    em 1978, para 30% em 2005. Esta participao foi maior do que a observada em pases em

    desenvolvimento como o Brasil e a ndia.

    De acordo com Medeiros (1999) a parte mais visvel das reformas e das mudanas

    estruturais chinesas foi a exploso dos investimentos diretos, que ocorreu nos anos 90. (p. 388)

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    At 1991 o Investimento Direto Estrangeiro permaneceu abaixo de 1% do PIB. Entre

    1978 e 1995, a principal fonte de divisas foram as exportaes. Nos anos 80, a segunda fonte de

    captao de divisas foi o emprstimo bancrio e credores oficiais. 2O investimento direto passou

    a ocupar a segunda posio somente em 1991 e em 1993 o ingresso destes investimentos j haviaatingido 5% do PIB.

    2.2 Vantagens e desvantagens do modelo de crescimento

    A China, no sentido prtico, no defendeu a privatizao, mas encorajou o

    desenvolvimento de diversos sistemas de propriedade. As empresas privadas tiveram papel muitoimportante no elevado ritmo de crescimento da economia rural. As TVE privadas, de 1984 a

    1991, apresentaram o maior ndice de crescimento no que diz respeito a emprego e produo. A

    parcela do valor bruto das empresas privadas desse grupo foi de 6,9% em 1984, tendo aumentado

    para 27% em 1991, o que demonstrou a grande vitalidade das empresas privadas rurais.

    Esse surto de crescimento das empresas privadas esteve relacionado intimamente s

    precondies sociais e econmicas impostas pela reforma econmica. No que diz respeito

    acumulao monetria rural, a reforma teve como consequncia a acumulao de recursos, quepor sua vez, forneceram fundos para a criao de empresas privadas. Essa acumulao se deu em

    decorrncia de trs fontes: as poupanas familiares, os fundos coletivos e aos emprstimos de

    bancos e cooperativas de crdito. A mo-de-obra era excedente no setor agrcola e a abolio do

    sistema de comunas eliminou todas as restries que enfrentavam a movimentao da fora de

    trabalho dos setores agrcolas para os no-agrcolas. Ou seja, isso resultou em maior

    disponibilidade de fora de trabalho para as empresas privadas e a tecnologia era comercializada

    gradualmente, o que facilitou um maior acesso ao mercado tecnolgico para estas empresas.

    Outros tipos de propriedade tambm tiveram ndices de crescimento muito elevados no

    perodo ps- reformas. Incluem-se as empresas de economia mista (de propriedade conjunta do

    Estado e de coletividades; do Estado e de indivduos; de coletividade e indivduos; de chineses e

    investidores estrangeiros) e empresas de propriedade estrangeira.

    2 Deve-se considerar que apenas a partir de 1978 a China passou a ser financiada internacionalmente.

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    Os altos investimentos em tecnologia, educao e elevao da faixa de pobreza surgiram

    como vantagens do modelo de crescimento chins.

    A industrializao chinesa foi acompanhada por mudanas estruturais no emprego e na

    urbanizao. Em 1978, 17,9% da populao era considerada urbana, e esse nmero passou para

    26,4% em 1990.

    Entre 1979 e 2002, o crescimento econmico retirou 400 milhes de pessoas da pobreza e

    o ndice de pobreza caiu de 49% para 6,9% da populao total.

    De acordo com Makino (1997) a mudana dos termos de troca entre a agricultura e

    indstria uma poltica deliberada do governo chins foi o principal mecanismo responsvel

    pela reduo da disparidade de renda entre as cidades e o campo, observada nos anos 80.

    Porm, como uma enorme desvantagem do modelo, pode-se citar que uma parcela

    crescente dessa expanso de fluxos migratrios das reas rurais para as reas urbanas no foi

    absorvida pelo emprego formal, o que formou um leque de atividades sub-remuneradas.

    A China atualmente (2008) passa por desafios, principalmente os que esto relacionados

    poluio ambiental, o desperdcio e a baixa taxa de reciclagem do pas, que conjuntamente,

    formam um obstculo ainda maior para o desenvolvimento sustentvel. O modelo de crescimento

    no considerado um modelo limpo, ou seja, trinta anos de industrializao conduziram a umaenorme contaminao das reservas de gua. A China cresceu de forma desordenada e sem

    preocupaes ambientais. Segundo dados do Ministrio da Sade (citados pela Agncia Nova

    China), 44% de toda a gua para o consumo humano fora das zonas urbanas j foram

    contaminadas.

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    2.3 Perspectivas e a insero da China no GATT/OMC

    O novo caminho de insero chinesa nas regras do comrcio internacional teve o seu

    incio em 1986, quando a China se candidatou para membro do GATT, instituio precursora da

    OMC (Organizao Mundial do Comrcio) que surgiu em 1995.

    A entrada da Repblica Popular da China Organizao Mundial do Comrcio (OMC)

    deu-se em 11 de dezembro de 2001 aps a aprovao de seus membros em Doha.

    As negociaes duraram aproximadamente 15 anos e a China teve a obrigao de

    cumprir todos os requisitos impostos pela OMC, tais como, fornecer e atualizar periodicamente

    informaes sobre o seu mercado, alm de negociar compromissos e concesses nas reas debens e servios - bilateralmente com cada membro da instituio - trabalhar em negociaes

    multilaterais referentes s regras que regem seu comrcio com o mundo. O pas fez diversas

    concesses aos seus parceiros comerciais, tornando-se o 143 membro da OMC, tendo sua

    insero se tornado um divisor de guas no comrcio multilateral.

    A China implementou uma srie de reformas para facilitar suas negociaes comerciais,

    como por exemplo, a eliminao de barreiras que protegiam seu mercado interno de outros

    pases, remoo das barreiras no tarifrias, a reduo de suas tarifas industriais de 24,6% para9,4%, a eliminao gradual de licenas e quotas de importao. Os direitos de importar, exportar

    e alocar as empresas estrangeiras foram firmados dentro dos modelos da OMC em decorrncia da

    clusula de no discriminao do Acordo Geral de Tarifas e Comrcio (GATT 1947 -General

    Agreement on Tariffs and Trade).

    Segundo estimativas do Banco Mundial, at dezembro de 2005 a participao da China no

    comrcio mundial triplicar, atingindo a marca dos 10% do volume global de trocas de

    mercadorias, devido a sua entrada na OMC. (Noronha, 2002, p.12)

    Do mesmo modo, a insero implicou na aceitao dos termos de todos os Tratados de

    Marraqueche, intimamente ligados s reas txteis, de propriedade intelectual, agricultura,

    normas sanitrias e fito sanitrias, investimentos, servios, subsdios, dentre outros.

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    Dos pases ocidentais, talvez nenhum tenha melhores condies para o estreitamento de

    relaes comerciais com a China do que o Brasil seja por suas caractersticas climticas ou por

    suas parcerias estratgicas.

    Grfico 2Composio das exportaes do Brasil para a China (2002 a 2004)

    P rod Ag rcolas 40%

    C ombus tveis

    Manufaturados 35%

    Minrios 23%

    Fonte: MIDIC/Secex, Fiesp

    Em volume, as trocas bilaterais em 2001, ultrapassaram a marca de US$ 1 bilho, o quecorrespondeu aproximadamente metade do supervit comercial global do pas no mesmo ano.

    Este crescimento das exportaes brasileiras ocorreu principalmente devido o aumento pela

    demanda no setor agrcola, mas tambm com forte contribuio do setor industrial, conforme

    observa-se no grfico 2.

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    Grfico 3Composio das importaes dos produtos chineses (2002 a 2004)

    87%

    11%2%

    Manufaturados

    Combustveis

    Prod Agrcolas

    Fonte: MIDIC/Secex, Fiesp

    Na composio das importaes dos produtos chineses os manufaturados so os principais

    itens da pauta, respondendo com a porcentagem de 87%. Por no dotar de caractersticas

    agrcolas, a importao de produtos agrcolas da China corresponde a 2%, conforme ilustra o

    grfico 3.

    Tanto o setor agrcola quanto o setor industrial tiveram amplos benefcios com a entrada

    da China na OMC. O setor industrial foi beneficiado pela reduo das tarifas no setor em

    aproximadamente dois teros e o setor agrcola trouxe maiores benefcios para as empresas

    produtoras e exportadoras agrcolas, as redues tarifrias ocorridas no setor superam muitas

    vezes as industriais, bem como pela vigncia do acordo sanitrio e fitossanitrio realizado com a

    OMC. Desta forma, a soja brasileira - maior item da exportao do Brasil para a China no

    perodo - aumentou a sua presena nos mercados, houveram previses de redues tarifrias para

    o leo de soja de 85% para 9%, para 3% a granel e para 5% a rao de soja, assim como os

    produtos de protena animal, em especial os granjeiros com redues tarifrias de 20% para 10%.

    Na rea de servios, incluindo bancos, seguros, transportes, telecomunicaes houve uma

    enorme liberalizao que facilitou a presena de agentes econmicos estrangeiros na China. Este

    passo estratgico foi muito importante para o acesso ao mercado chins, bastante diversificado e

    complexo.

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    CAPTULO 3

    RELAO BILATERAL

    Este captulo se prope a examinar ascaractersticas internas mais atuais da China, com a

    finalidade de estabelecer suas relaes com o Brasil. Tratar da desmistificao sobre os produtos

    chineses - tidos como produtos sem qualidade - e tambm sobre a relao dos investimentos,

    importaes e exportaes.

    3.1 Um panorama das mudanas ocorridas na China atualmente

    Os economistas em geral tm dado grande destaque importncia do crescimento

    econmico da China no ano de 2008 e nos prximos anos.

    Diante da alta inflacionria nos ltimos dez anos, que passou de 3% a.a para 5,4% a.a, o

    governo chins acionou uma srie de mecanismos visando conter este movimento de alta, entre

    eles adotou o congelamento de preos, a expanso da oferta de produtos no mercado domstico ea reduo do imposto de importao para alguns produtos como gros, petrleo e ao. De acordo

    com o governo chins, o Estado ter controle direto sobre os preos de gua, educao, sade e

    transportes pblicos, que devem permanecer estveis, mas produtos com variao diria de

    preos sofrero controle temporrio.

    Conforme apontou matria publicada no Relatrio Carta da China (2008a), estas medidas

    tenderam a favorecer os exportadores brasileiros de commodities.(p.7)

    O setor de alimentos tambm sofreu ajustes devido alta nos preosocasionada por um

    efeito sazonal de aumento do consumo interno, como consequncia da queda na colheita pelo

    perodo de seca. As importaes chinesas de soja subiram de janeiro a outubro de 2007 cerca de

    5% em relao ao mesmo perodo do ano anterior e o benefcio aos exportadores brasileiros veio

    por meio dessa relao.

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    Do ponto de vista dos exportadores chineses, a valorizao de commodities no mercado

    internacional provocou desequilbrio no abastecimento do mercado interno chins. Nesse sentido,

    foi anunciado aumento temporrio de tarifas aplicadas sobre as exportaes chinesas de 57 tipos

    de gros, inclusive a soja. De acordo com o Ministrio das Finanas, o imposto varia de 5% a25% e ser mantido at o final de 2008 .

    Com relao aos investimentos, o relatrio Destaque Dirio do Departamento de

    Pesquisas e Estudos Econmicos do Bradesco (2008) enfatizou que nos ltimos dez anos, a China

    recebeu um considervel montante de investimentos estrangeiros diretos (IED) e se tornou uma

    plataforma de exportaopara as mais diversas empresas. Entre 2000 e 2006, a China recebeu

    mais de US$ 396 bilhes em IED, tendo a poltica tributria contribudo muito para isto, pois at

    2007 as empresas estrangeiras pagavam uma alquota de 15% no imposto de renda, enquanto asempresas domsticas pagavam alquota de 33%. Com a aprovao da nova lei do Imposto de

    Renda de Pessoa Jurdica em 1 de janeiro de 2008, tanto as empresas domsticas quanto as

    estrangeiras passaram a ser tributadas com uma alquota de 25%, ou seja, o governo adotou quase

    que uma mdia entre as alquotas praticadas em relao s empresas domsticas e as estrangeiras,

    conseguindo a partir de ento um tratamento igualitrio.

    De acordo com o Destaque Dirio do Bradesco (2008):

    Entretanto, o cenrio no feio como parece para as empresasestrangeiras. Alm de o novo sistema tributrio usar uma alquota nica,que demonstra maior maturidade e transparncia, as empresas dos setoresde alta tecnologia, empresas focadas em pesquisas e as que invistam emprovnciasmais pobres continuaro a se beneficiar dos incentivos. Essasexcees corroboram o objetivo do governo chins de direcionar aeconomia para a produo de bens com maior valor adicionado e fazercom que a famosa frase Made in Chinaseja encontrada no apenas nostradicionais bens de consumo de baixo valor, como brinquedos, calados,roupas e mveis, mas tambm em produtos que envolvam tecnologia

    avanada. (p. 1)

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    Conforme se verifica no Grfico 4, os investimentos estrangeiros diretos so ascendentes

    desde 1990, com alguns poucos picos de oscilao. Entre 1990/2000 o crescimento foi de

    1067,62% versus um crescimento de 66,48% entre 1996/2006.

    Grfico 4 - China: Investimento estrangeiro direto 1990-2006US$ milhes

    Fonte: UNCTADElaborao: Bradesco, Destaque Dirio 10/03/2008

    Segundo matria do relatrio da Carta da China (2008a) a perspectiva que mesmo com a

    reduo dos impostos o governo no registre queda significativa de receita, pois os saltos nos

    lucros empresariais e o acelerado crescimento econmico proporcionaram aumento de cerca de30% da arrecadao fiscal em 2007, a maior das ltimas duas dcadas. (p.7)

    Mesmo com as polticas de congelamento de preos e de reajuste tarifrio para

    desacelerar a inflao, a China encerrou novembro de 2007 com um aumento de 6,9% no IPC

    (ndice de preos do consumidor) em relao ao mesmo perodo do ano anterior, foi o maior nvel

    em 11 anos. Atualmente (setembro de 2008) o IPC teve aumento de 4,6% comparado ao mesmo

    perodo de 2007. O combate inflao se tornou um dos maiores desafios, estando atualmente

    (agosto) no patamar de 6,5 %, o mais alto em quase 11 anos. Em dezembro de 1996, o indicador

    chegou a 7%. O salto inflacionrio chins atual (2008) deve-se, sobretudo, ao maior consumo de

    alimentos. Mas, a expectativa que mesmo com a reduo dos impostos a economia chinesa

    continue em crescente desenvolvimento e ascendncia, tanto que as projees de crescimento

    para este ano so de 8%.

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    Tambm de acordo com o Destaque Diriodo Bradesco (2008):

    No que diz respeito inflao, o resultado incerto, pois a queda da tributaopara as empresas domsticas e o aumento para as empresas estrangeiras jogamem direes contrrias. Entretanto, como as empresas estrangeiras dominam osetor exportador, a nova regra tributria deve causar presso sobre o preo dosbens exportados, que so intensivos em mo-de-obra, fazendo com que a Chinaexporte assim alguma inflao para o mundo caso no haja acelerao dosganhos de produtividade. Juntando-se a isso, temos a acelerao do processo deapreciao do Iuane, que j valorizou 3% apenas neste ano, aumentando aindamais os preos dos bens em dlares. (p.2)

    Olhando para outro aspecto relacionado s mudanas ocorridas na China atualmente,

    observamos a existncia de uma nova lei relacionada ao mercado de trabalho, adotada com o

    objetivo de regular os contratos de trabalho temporrio, garantindo que o trabalhador seja

    considerado temporrio somente se contratado para realizar alguma atividade especfica e o

    tempo de contratao seja no mximo de 6 meses. Tornou-se obrigatria a formalizao de

    contrato para trabalhadores que fiquem na empresa por um perodo superior a 1 ms.

    Nas contrataes acima de 6 meses necessrio a formalizao de um contrato,

    garantindo o pagamento de diversos benefcios ao funcionrio, tais como, penses, seguro

    desemprego, seguro sade, dentre outros. A elaborao do contrato formal auxiliou na preveno

    de mudanas repentinas dos acordos entre o empregador e o empregado durante a negociao,

    alm de ter facilitado a questo da fiscalizao do cumprimento de leis estabelecidas

    anteriormente, como por exemplo, limite de horas extras.

    Em casos de demisses de funcionrios que permaneceram na empresa em um perodo

    superior a dez anos, o empregador obrigado a pagar um salrio a mais para cada ano trabalhado.

    Aprovada em junho de 2007, mas em vigor desde 1 de janeiro de 2008, a nova lei garante

    menores taxas de desemprego, mas por outro lado h a preocupao dos empresriosna liberdade

    de contratar e demitir mo-de-obra pelo tempo que julgam necessrio, principalmente

    empresrios ligados a empresas de pequeno porte, que adotavam a contratao de mo-de-obra

    temporria e menos sofisticada.

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    3.2 Desmistificao dos produtos chineses e a relao comercial com o Brasil

    As etiquetas ou timbrados Made in Chinaesto estampados em produtos vendidos no

    mundo todo, cada vez em maior proporo.

    Segundo Marcelo Rehder, a era do produto barato de qualidade duvidosa da China

    acabou. Em cinco anos, os produtos manufaturados de alta tecnologia, os chamados hi-tech

    tornaram-se principal item da pauta de exportao chinesa. (REHDER, 2008, p.B)

    Os produtos chineses que durante anos foram intitulados como produtos baratos e de m

    qualidade foram sofrendo alteraes no meio do caminho.

    A competitividade dos produtos chineses tem inserido o pas asitico em mercados

    internacionais, cada vez mais substituindo fornecedores tradicionais de determinados pases.

    (CARTA DA CHINA, 2008b, p. 8)

    Em 2006 a China ultrapassou os Estados Unidos como o maior exportador de produtos de

    alta tecnologia. Segundo a Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    (OCDE) e o Comtrade (banco de dados de estatsticas sobre o comrcio internacional dasNaes

    Unidas), naquele mesmo ano os chineses exportaram US$ 343,9 bilhes versus US$ 323,8

    bilhes dos Estados Unidos.

    Jos Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da

    Fiesp, afirmou que uma falcia dizer que os produtos chineses so cpias baratas dos

    fabricados em outros pases: A China tem produtos bons, menos bons e ruins, como qualquer

    pas do mundo, mas a maioria j de alta tecnologia(COELHO apud REHDER, 2008, p.B)

    Atravs do ranking elaborado pela Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

    (2008), o setor de produtos eletrnicos, de aparelhos e equipamentos de comunicao foi o mais

    afetado pelo aumento das importaes chinesas, ultrapassando mercados tradicionais na oferta

    destes produtos como Estados Unidos, Alemanha e Japo.

    Aps uma trajetria de seis anos de consecutivos supervits comerciais com a China,

    conforme verifica-se no grfico 5, o Brasil registrou seu primeiro dficit anual em 2007. As

    importaes de produtos chineses superaram os US$12 bilhes contra US$ 1,3 bilho em 1997,

    um salto de quase treze vezes o volume de comrcio no intervalo de uma dcada, o que

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    ocasionou um dficit comercial com a China de US$ 1,9 bilho em 2007 e de janeiro a julho

    aquele ano atingiu US$ 964,4 milhes.

    Desde o dficit de 2007:

    Tm ocorrido manifestaes por parte do setor privado brasileiro para que hajamaior restrio entrada de produtos chineses no Brasil, em especial de bens deconsumo no-durveis, sob alegao de invaso da indstria nacional. Noentanto, anlise da pauta de importaes brasileiras da China demonstra que apauta de importaes brasileiras da China demonstra que a participao destesbens restringe-se a somente 8,7% das compras totais. A maioria dos importadosso bens intermedirios ou de capital (75,7%), que atuam como insumos produo nacional e auxiliam o desenvolvimento da indstria brasileira.(CARTA DA CHINA, 2008b, p.8)

    Grfico 5 -BRASIL - Balana Comercial com a China - 1997-2007(em US$ bilhes de 2007)

    Fonte:Fonte: COMTRADE, IBGE e OCDE; elaborao FIESP.DECOMTEC/FIESP 24/07/2008, p.5

    A preocupao dos empresrios brasileiros tornou-se um fato concreto aps o enorme

    dficit gerado com o pas asitico e a estratgia para a sua reduo deve ser direcionada

    Importaes

    Exportaes

    Saldo

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    diversificao e ampliao das exportaes brasileiras China e no exclusivamente ao controle

    destas. (CARTA DA CHINA, 2008b, p.8)

    Conforme se verifica no grfico 6, o resultado negativo da indstria de transformao foi

    o maior responsvel pelo dficit comercial do Brasil com a China, que em 2006 era de US$ 5,85

    bilhes crescendo 65,7 % at atingir US$ 9,69 bilhes em 2007. A valorizao do real perante o

    dlar tambm contribuiu para esse resultado.

    Grfico 6 - BRASIL - Saldo comercial do Brasil com a China, segundo o setor (1997-2007)

    Fonte: COMTRADE, IBGE e OCDE; elaborao FIESP.DECOMTEC/FIESP 24/07/2008, p.6

    No cenrio das exportaes de alta tecnologia, o Brasil no ultrapassou os US$ 9,7

    bilhes. Um grande elemento que contribuiu para isto foi o aumento do preo das commodities

    agrcolas e minerais nos ltimos anos, pois o valor mdio por quilo das vendas externasbrasileiras estagnou, enquanto o dos asiticos subiu.

    Pode-se verificar no grfico 7 que em 2000 o valor mdio por quilo das exportaeschinesas era igual ao do Brasil, ou seja, US$ 0,27 e subiu para US$ 0,87 em 2007, enquanto noBrasil subiu apenas para US$ 0,35 o quilo, ou seja, crescimento de 222% versus 29%respectivamente.

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    Grfico 7- BRASIL vs. CHINA - Valor por Kg Exportado - 2000-2007(em US$* por Kg)

    *Considera apenas os produtos com peso declarado.Fonte: COMTRADE, IBGE e OCDE; elaborao FIESP.DECOMTEC/FIESP 24/07/2008, p.17

    O aumento do valor por quilo exportado indica uma ascenso da participao de produtos

    mais sofisticados e estes passam a ser predominantes na nossa pauta de importaes, assim como

    no resto do mundo. Aproximadamente 48,4% das exportaes de produtos de alta tecnologia noano de 2006, referiam-se a aparelhos e equipamentos de comunicaes e 40,2% eram

    equipamentos de informtica e mquinas para escritrios.

    De acordo com o relatrio do Bradesco, continuaremos a ver produtos Made in China

    espalhados pelo mundo sque cada vez mais estampados em produtos mais elaborados e com

    tecnologia avanada. (p. 2)

    Apesar de criticar os produtos chineses ligados ao setor de mquinas e equipamentos

    (bens de capital) Luiz Aubert Neto, presidente da Associao Brasileira da Indstria de Mquinase Equipamentos (Abimaq) acredita que em dois ou trs anos a China ser a maior fornecedora

    dessa linha de produtos para o Brasil. (Neto apud REHDER, 2008, p.B3)

    Segundo o diretor da Fiesp, o ambiente de negcios no Brasil ainda muito menos

    favorvel produo do que na China. (Coelho apud REHDER, 2008, p.B)

    Brasil

    China

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    O consumo do governo brasileiro comparado ao da China 42% maior, o que influencia

    negativamente a carga tributria e a taxa de juros. A soma dos juros, a carga tributria mais o

    spread bancrio nacional provocam desestmulos aos investimentos. Como exemplo, enquanto na

    China, os investimentos representam atualmente 41,5% do Produto Interno Bruto, no Brasil esse

    nmero de aproximadamente 17,6%. No campo da cincia e tecnologiaos gastos da China com

    pesquisa e desenvolvimento dobraram subindo de 0,64% do PIB em 1997 para 1,33% em 2005.

    J no Brasil esse aumento foi de apenas 18 % passando de 0,7% para 0,83% do PIB. A

    participao dos produtos eletrnicos chineses no consumo brasileiro aumentou de 1% em 2000

    para 11,7% em 2006.

    Todos esses fatos levaram a situao de que ao longo dos anos, diversos produtos

    deixaram de ser produzidos localmente e passaram a ser importados da sia.

    Segundo Abdo Antonio Hadade, presidente da Indstria Brasileira de Televisores (IBT),

    a maioria dos componentes importados pelos fabricantes de televisores da Zona Franca de

    Manaus vem da China. A China atualmente (agosto de 2008) ocupa o terceiro lugar como

    fornecedor de mquinas e equipamentos para o Brasil, estando atrs apenas dos Estados Unidos e

    da Alemanha. Em 2000 o pas asitico estava em vigsimo primeiro lugar. (Hadade apud

    REHDER, 2008, p.B3)

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    3.3 Perspectivas da relao Brasil-China

    Os primeiros passos na aproximao entre os dois pases se deram no ambiente cultural

    com as exposies realizadas no Brasil: Guerreiros da China (2003), China da idade do bronze

    aos patrimnios mundiais (2004), Tesouros da China (2004) dentre outras.

    Em 2004 o Brasil esteve em solo chins, na cidade de Beijing, com a exposio Brasil

    Amazonas: tradies nativas, uma das maiores exposies estrangeiras organizada no Palcio

    Imperial, alm de espetculos de dana que permaneceram no pas durante cinco meses.

    O intuito foi reduzir a distncia cultural e geogrfica entre os dois pases para

    posteriormente fortalecer a parceria comercial.

    O comrcio sino-brasileiro ganhou impulso em 2001, quando a China voltou-seao Brasil em busca de novo fornecedor de matrias-primas necessrias manuteno de seu crescimento econmico. O Brasil registrou ainda naqueleano seu primeiro supervit comercial anual com o pas, resultado que se repetiuat 2006. As visitas do presidente Lula China e do presidente chins Hu Jintaoao Brasil em 2004 tambm contriburam para aproximao dos pases eintensificao das trocas comerciais sino-brasileiras. (CARTA DA CHINA,

    2008b, p. 40)

    O comrcio bilateral Brasil China est em trajetria de amplo crescimento. As

    condies de trocas realizadas entre os pases so distintas, pois a pauta de exportaes brasileiras

    para a China concentrada em poucos produtos bsicos, enquanto as importaes brasileiras de

    produtos chineses extremamente diversificada, com predominncia de produtos manufaturados.

    Com relao ao dficit em 2007, as aes adotadas pelo governo brasileiro para a sua

    reverso foram pautadas pelo lanamento da Agenda China, que teve como objetivo a

    intensificao e diversificao do comrcio bilateral e o incentivo a investimentos para ambos os

    pases. As atividades da Agenda da China tiveram incio em 2008 e se estendero at 2010,

    quando as exportaes brasileiras devero ser trs vezes superiores ao registrado no final de

    2007.

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    A China superou a Argentina em julho de 2008 e passou a ser o segundo maior parceiro

    comercial do Brasil. O fluxo comercial com os chineses atingiu US$ 24,7 bilhes de dlares nos

    sete primeiros meses de 2008 ficando atrs apenas dos Estados Unidos, sendo que o comrcio

    bilateral registrou novamente no mesmo perodo saldo deficitrio para o Brasil de US$ 1,54

    bilho, com um supervit comercial a favor do Brasil apenas em maio, em decorrncia de

    compensaes ocorridas em razo de distores em dados comerciais segundo o relatrio Macro

    China (2008) e tambm em funo da greve da Receita Federal em janeiro de 2008, ocasionando

    dificuldades no embarques de produtos importados. (p.5)

    O salto das exportaes brasileiras de soja para o mercado chins no primeiro

    semestre de 2008 foi responsvel por mudana no ranking dos maioresimportadores de produtos agrcolas brasileiros. Estados Unidos, que lideravam alista nos ltimos dez anos, perderam sua posio para a China e passaram aocupar a terceira colocao (Pases Baixos ficaram em segundo lugar).(MACRO CHINA, 2008, p. 6)

    A China em 2007 era a terceira colocada no ranking. Importou aproximadamente US$ 4,6

    bilhes em produtos agrcolas brasileiros na primeira metade de 2008, o que representa um

    aumento de 24% em relao ao mesmo perodo do ano anterior.

    Pode-se verificar na tabela 4 que as exportaes brasileiras para a China mantiveramritmo crescente em 2008, totalizando aproximadamente US$ 7,4 bilhes, uma variao de 50,7%

    em relao ao mesmo perodo de 2007. O aumento substancial das exportaes brasileiras para a

    China decorreu principalmente pela expanso das vendas de soja em gros e leos de soja, cujos

    valores exportados para a China aumentaram. Estima-se que os chineses compraram no primeiro

    semestre de 2008 cerca de 70% do total de soja previsto para todo o ano.

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    Tabela 4 - Intercmbio Comercial Brasil-China FOB milhesJaneiro a junho de 2008

    Exportaes Importaes Saldo ComercialPerodo 2008 2007 Var.

    (%)

    2008 2007 Var.

    (%)

    2008 2007 Var. (%)

    Jan 654,04 558,05 17,20 1.536,14 791,09 94,18 -882,10 -223,05 278,51

    Fev 760,43 546,32 39,19 1.325,53 702,62 88,65 -565,10 -156,31 261,53

    Mar 672,99 809,22 -16,84 1.283,44 943,30 36,06 -610,45 -134,08 355,29

    Abr 1.328,48 1.008,55 31,72 1.428,42 849,54 68,14 -99,84 159,01 -163,85

    Mai 2.307,58 919,78 150,88 1.607,91 968,90 65,95 699,97 -49,12 -1.524,28

    Jun 1.683,97 1.072,80 56,97 1.766,08 955,23 84,89 -82,12 117,57 -169,84

    Total 7.407,48 4.914,71 50,72 8.947,51 5.210,68 71,71 -1.540,03 -295,97 420,33

    Fonte: MDICMACRO CHINA, 2008, p.5

    Conforme se verifica na tabela 5, a exportao de pastas de madeira, papel e celulose

    apresentou um aumento considervel tanto em volume quanto em valor. A crescente demanda

    chinesa por estes produtos garantiu o montante de US$ 388,8 milhes e um aumento de 94,3%

    das vendas no perodo. Minrios, como nibio, mangans e cobre registraram tambm aumento

    na pauta de exportao de 162% em relao ao valor exportado no mesmo perodo de 2007,

    enquanto o minrio de ferro, sofreu reduo no primeiro trimestre em decorrncia dos protestos

    que paralisaram as ferrovias da Vale do Rio Doce, alm da greve da Receita Federal, terminando

    o primeiro semestre de 2008 com um aumento de 16,9% em relao ao mesmo semestre do ano

    anterior. As exportaes de petrleo apresentaram aumento significativo em valor, crescendo

    92,3% em relao ao mesmo perodo de 2007, porm o volume de vendas cresceu de uma forma

    mais modesta, 9,9%, demonstrando que a maior parte da ampliao do valor exportado foi

    resultado do alto preo do valor do combustvel nos mercados internacionais.

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    Tabela 5. Exportaes brasileiras para a ChinaPrincipais produtos ou famlias de produtosJaneiro a junho de 2008

    2008 2007Produtos oufamlias deprodutos

    US$ FOBmilhes

    Kg mil US$ FOBmilhes

    Kg mil

    Var. FOB(%)

    Var. Kg(%)

    Carnes e laticnios 2,8 708,5 9,7 9.152,7 -71,7 -92,3Soja em gro 2.832,9 6.748.555,7 1.478,2 5.539.011,0 91,6 21,8leo de soja 391,0 343.279,7 98,0 151.181,9 299,0 127,1Fumo 1,3 198,0 2,5 710,4 -48,2 -72,1

    Granito cortado ebruto

    36,9 221.155,2 31,7 241.589,9 16,2 -8,5

    Minrio de ferro 1.971,0 51.282.447,5 1.686,0 47.965.227,9 16,9 6,9Outros minrios(mangans, cobre,nibio etc.)

    125,0 377.397,7 47,7 162.316,7 162,1 132,5

    Petrleo ederivados

    518,1 879.209,0 269,4 799.988,8 92,3 9,9

    Produtos qumicos,orgnicos einorgnicos

    75,2 32.412,7 68,6 38.623,8 9,6 -16,1

    Couros e peles 214,7 60.646,4 256,4 75.872,2 -16,3 -20,1

    Pastas de madeira,papel e celulose

    388,8 671.345,7 200,1 429.492,5 94,3 56,3

    Produtos,semimanufaturadosde ferro e ao

    268,0 151.076,0 166,4 293.008,5 61,1 -48,4

    Mquinas,ferramentas eaparelhosmecnicos

    124,5 14.309,3 129,5 16.378,8 -3,8 -14,5

    Mquinas,ferramentas eaparelhos eltricos

    35,8 1.716,8 30,6 3.008,2 16,9 -42,9

    Partes ecomponentes paraveculos e tratores

    13,2 1.889,4 25,4 3.749,5 -47,9 -49,6

    Fonte: MACRO CHINA, 2008, p.6

    Conforme se verifica na tabela 4 (pgina 36), as importaes brasileiras provenientes daChina totalizaram US$ 8,9 bilhes no primeiro semestre de 2008 e tiveram um aumento de

    71,71% no perodo comparado a 2007.

    Pode-se verificar na tabela 6 que as mquinas eltricas e mecnicas foram exemplos de

    produtos que mais impactaram nas compras em detrimento da expanso da economia brasileira,

    US$ 1,02 bilho e US$ 773,7 milhes, respectivamente. Equipamentos e mquinas para a

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    construo civil foram os que apresentaram maior crescimento, cerca de 217% em relao ao

    primeiro semestre de 2007 e a importao de produtos qumicos orgnicos e inorgnicos tambm

    manteve crescimento acelerado, totalizando US$ 994 milhes no primeiro semestre de 2008, um

    crescimento de 120% em relao ao mesmo perodo do ano anterior. As importaes de coquesde hulha registraram crescimento de 154,5% em relao aos primeiros seis meses de 2007,

    aumento que segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia se deu pela ampliao de 18,4% do

    consumo domstico de produtos siderrgicos, em decorrncia do aumento da demanda dos

    setores de construo civil, automotivo e de bens de capital.

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    Tabela 6. Importaes brasileiras da ChinaPrincipais produtos ou famlias de produtosJaneiro a junho de 2008

    2008 2007Produtos ou famlias deprodutos US$ FOB

    milhesKg mil US$ FOB

    milhesKg mil

    Var. FOB(%)

    Var. Kg(%)

    Coques de hulha 313,6 789.082,1 123,2 767.745,3 154,5 2,8Produtos qumicosorgnicos e inorgnicos

    993,9 886.422,5 452,7 451.361,9 119,6 96,4

    Txteis e vesturio 688,3 160.044,6 438,8 119.687,1 56,8 33,7Calados 113,2 9.706,1 67,4 6.106,9 68,1 58,9Mquinas e aparelhosmecnicos e suas partes

    1.728,7 224.559,8 955,0 135.659,9 81,0 65,5

    Bombas, vlvulas eaparelhos de usodomstico(refrigeradores,fornos e mquinas de lavar)

    127,5 26.886,7 82,3 17.922,0 55,0 50,0

    Mquinas e equipamentospara construo civil

    118,1 31.726,0 37,3 14.566,1 216,9 118,0

    Mquinas e aparelhos daindstria txtil

    69,8 11.566,4 36,2 6.747,8 92,5 71,4

    Mquinas e aparelhos daindstria metalrgica

    91,7 25.070,8 43,5 13.538,9 111,2 85,2

    Mquinas de processamentode dados

    690,5 26.678,4 394,7 23.593,6 74,9 13,1

    Outras mquinas 86,1 18.621,3 32,4 7.854,2 165,4 137,1Mquinas e aparelhoseltricos e suas partes

    2.891,9 187.633,3 1.872,8 159.164,0 54,4 17,9

    Conversores,transformadores,acumuladores e geradoreseltricos

    152,2 13.460,2 86,3 11.130,5 76,4 20,9

    Eletrodomsticos 31,0 4.808,5 17,0 2.344,1 82,2 105,1Fornos e aquecedoreseltricos

    86,3 23.650,0 91,5 27.701,7 -5,7 -14,6

    Aparelhos eltricos paratelefonia

    992,1 10.250,3 503,7 5.495,6 96,9 86,5

    Aparelhos de som 228,8 19.849,4 218,2 23.250,3 4,9 -14,6

    Aparelhos de radiodifuso 361,5 19.643,0 261,7 17.798,3 38,2 10,4Condensadores eltricos eresistncias

    41,6 1.826,9 31,6 1.698,7 31,7 7,5

    Circuitos impressos 95,2 2.742,7 60,1 2.398,1 58,5 14,4

    Disjuntores, interruptores,suportes, lmpadas e outrosaparelhos para circuitoseltricos

    295,0 37.455,0 182,5 25.580,9 61,7 46,4

    Circuitos integrados 218,3 443,0 155,4 543,7 40,5 -18,5

    Outros equipamentoseltricos

    117,2 16.511,3 73,2 11.405,1 60,0 44,8

    Partes e componentespara veculos e tratores

    201,0 67.183,6 102,2 43.566,9 96,7 54,2

    Brinquedos 104,8 17.620,5 75,1 14.153,1 39,5 24,5Fonte: MACRO CHINA, 2008. p.7

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    Em suma, a China passou e vem passando por grandes transformaes internas ao longo

    dos anos, visando sempre a expanso da economia para patamares cada vez mais elevados, no

    sentido de uma maior igualdade scio-econmica, melhores condies de trabalho e de vida,

    incentivo produo de bens de alta tecnologia e de produtos de qualidade.

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    CONCLUSO

    O surgimento da China como potncia econmica mundial est entre os mais

    surpreendentes acontecimentos econmicos das ltimas dcadas. O comeo da transformao da

    economia foi decorrente das grandes reformas econmicas e abertura geral da economia.

    Tendo em vista as condies estruturais da economia chinesa desde o perodo pr-

    reformas at os dias atuais, partindo de uma economia com reduzida capacidade de importar,

    combinada com alta dependncia de importao de alimentos, e uma inflao relativamente

    constante durante muitos anos (em um patamar abaixo de 3% desde 1990), com exceo ao

    perodo de 2008, onde a mesma alcanou o patamar de 6,5% - o maior dos ltimos 11 anos, e

    ainda conseguiu promover crescimento do investimento interno.

    Desta forma, o trabalho demonstrou quais os objetivos e trajetos percorridos pela China

    para alcanar altssimas taxas econmicas de crescimento mdio mundial mesmo diante da atual

    desacelerao mundial.

    As reformas praticadas em 1978 alteraram os termos de troca favoravelmente

    agricultura e, ao mesmo tempo, liberaram a comercializao privada do excedente agrcola

    atravs das Zonas Econmicas Especiais (ZEEs) - regies com toda a infra-estrutura e umalegislao especial para atrair os investimentos estrangeiros diretos e tambm de empresas

    privadas chinesas.

    Desde o incio das reformas o governo chins demonstrou ter uma capacidade

    impressionante de interveno, explorando adequadamente as oportunidades que surgiram.

    O crescimento da produtividade e dos investimentos em bens de consumo no in cio da

    dcada de 80 foram fatores fundamentais para a taxa de crescimento ao longo dos anos seguintes.

    A admisso da China na OMC em 2001 colaborou para o processo de integrao do pas

    economia mundial e as regras multilaterais, demonstrando sua perseverana em converter-se em

    um pas de economia de mercado. Alm de fortalecer e consolidar a dimenso global da OMC, a

    entrada da China gerou mudanas estruturais em sua economia em meio ao processo de

    globalizao em curso.

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    Durante muitos anos a China experimentou uma srie de queixas dos mercados

    internacionais compradores, relacionadas baixa qualidade de seus produtos e ao desrespeito ao

    comrcio legal em funo da prtica intensiva de dumping, o que a fez rever a estes conceitos e

    metodologias. Atualmente seus produtos tm penetrado nos mercados mundiais com um grau deaceitao muito maior do que no passado, ou seja, os famosos Made in Chinaesto aos poucos

    perdendo associao com a pirataria e a baixa tecnologia.

    O rpido crescimento econmico tirou - em pouco mais de uma dcada - um grande

    nmero de chineses do estado de pobreza, embora ainda existam muitos pobres no pas, porm, a

    economia chinesa continua a crescer rapidamente e em altos patamares, especialmente devido aos

    investimentos e s exportaes.

    Mas necessrio observar que independentemente deste cenrio positivo, ainda existem

    obstculos a serem enfrentados, como por exemplo, os problemas relacionados ao meio ambiente

    e as leis trabalhistas, dentre outros. A poluio veio crescendo nomesmo ritmo que seu boom

    econmico e a China iniciou em 2008 algumas medidas de controle. A mdio prazo, esto sendo

    implementadas medidas para o desenvolvimento do mercado de trabalho e para o

    estabelecimento de garantias sociais.

    As relaes sino-brasileiras apresentam caractersticas muito importantes, pois mostra

    claramente que a unio destes dois pases tende a crescer nos campos do comrcio, da poltica e

    da cultura.

    Mesmo com estas particularidades, a China conseguiu se tornar uma potncia e seupapel

    na economia mundial provavelmente continuar a se tornar cada vez mais importante.

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