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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
AMANDA NATÁLIA FERNANDES DE MEDEIROS
PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAÇÃO
DO BIM EM UM PROCESSO DE AUDITORIA DA ICE-
TCE/RN
NATAL-RN
2019
Amanda Natália Fernandes de Medeiros
Proposta de diretrizes para a implementação do BIM em um processo de auditoria da ICE-
TCE/RN
Trabalho de Conclusão de Curso na
modalidade Artigo Científico, submetido ao
Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos necessários para
obtenção do Título de Bacharel em Engenharia
Civil.
Orientadora: Profa. Ma. Laise Kelley Lemos
Barbosa
Coorientador: Prof. Dr. Reymard Sávio
Sampaio de Melo
Natal-RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Medeiros, Amanda Natália Fernandes de.
Proposta de diretrizes para a implementação do BIM em um
processo de auditoria da ICE-TCE/RN / Amanda Natália Fernandes de Medeiros. - 2019.
20f.: il.
Artigo (Graduação)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil,
Natal, 2019.
Orientadora: Ma. Laise Kelley Lemos Barbosa.
Coorientador: Dr. Reymard Sávio Sampaio de Melo.
1. BIM - Artigo. 2. Implementação - Artigo. 3. Fiscalização -
Artigo. 4. Obras públicas - Artigo. 5. Auditoria - Artigo. I.
Barbosa, Laise Kelley Lemos. II. Melo, Reymard Sávio Sampaio de.
III. Título.
RN/UF/BCZM CDU 624
Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429
Amanda Natália Fernandes de Medeiros
Proposta de diretrizes para a implementação do BIM em um processo de auditoria da ICE-
TCE/RN
Trabalho de conclusão de curso na modalidade
Artigo Científico, submetido ao Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil.
Aprovado em 29 de novembro de 2019:
___________________________________________________
Profa. Ma. Laise Kelley Lemos Barbosa – Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
___________________________________________________
Prof. Dr. Reymard Sávio Sampaio de Melo – Coorientador
Universidade Federal da Bahia
___________________________________________________
Prof. José Eugenio Silva de Morais Júnior – Examinador interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
___________________________________________________
Me. José Monteiro Coelho Filho – Examinador externo
Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte
Natal-RN
2019
RESUMO
PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO BIM EM UM
PROCESSO DE AUDITORIA DA ICE-TCE/RN
A implementação do BIM em obras públicas está se concretizando no âmbito federal
com a Estratégia BIM BR, instituída pelo Decreto Federal nº 9.377/2018, e espera-se que com
a evolução desse plano de metas e a visualização dos benefícios ao emprego adequado da
riqueza pública, haja a efetivação também nos âmbitos estadual e municipal. Rotineiramente
são evidenciadas irregularidades em obras no setor público, como sobrepreço/
superfaturamento, atrasos injustificáveis e projetos deficientes, resultando em danos à
população. Tendo em vista a grande quantidade de estudos da utilização do BIM no setor
privado e nas execuções de projetos e construções, o presente trabalho visa propor diretrizes
para a implementação do BIM também no âmbito do serviço público, especificamente na
atividade de fiscalização da Inspetoria de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado
do Rio Grande do Norte. O estudo de caso é constituído (i) da análise de uma entrevista
realizada com o corpo técnico do órgão, revelando dificuldades ou atrasos na execução da
fiscalização com o método de trabalho atual; (ii) da discussão para as soluções ou mitigações
dos problemas elencados com as ferramentas BIM; (iii) da proposta de diretrizes para a
implementação do BIM no órgão. As orientações indicadas vão desde o estágio de preparação
até o de implementação propriamente dita, com etapas de curto, médio e longo prazos. O
artigo contribui para o fomento de discussões sobre a implementação do BIM como uma
ferramenta de otimização do uso dos recursos públicos. Ademais, serve como referência para
orientar o órgão durante a implementação efetiva.
Palavras-chave: BIM. Implementação. Fiscalização. Obras públicas. Auditoria. Diretrizes.
ABSTRACT
PROPOSAL OF GUIDELINES FOR IMPLEMENTATION OF THE BIM IN AN ICE-
TCE/RN AUDIT PROCESS
The implementation of the BIM in public constructions is being realized at the federal
level with the BIM BR Strategy, instituted by Federal Decree 9.377/2018 and it will be
expected the implementation at the state and civic levels, with the evolution of this goals plan
and the benefits’ visualization to the appropriate use of public wealth. Usually are evidenced
irregularities in public sector, like constructions such as overpricing, unjustifiable delays and
disabled projects, resulting in damage to the population. Given the large amount of studies on
the use of BIM in the private sector, project execution and construction, this paper discusses
that implementation in the public sector specifically in the inspection activity of the External
Control Inspectorate of the Rio Grande do Norte Court of Accounts. The case study consists
of (i) the staff interview analysis, revealing difficulties or delays in carry out the inspection
with the current working method; (ii) the solutions or mitigations with BIM tools discussion
to problems listed; (iii) the proposed guidelines for the implementation of BIM in that public
agency. That guidelines range from the preparation stage to the actual implementation, with
short, medium and long terms steps. The article contributes to the fostering of discussions
about the implementation of BIM as a tool for optimizing the use of public resources. In
addition, it serves as a reference to guide the agency during the effective implementation.
Keywords: BIM. Implementation. Inspection. Public constructions. Auditing. Guidelines.
5
Amanda Natália Fernandes de Medeiros, graduanda em Engenharia Civil, UFRN
Reymard Sávio Sampaio de Melo, Prof. Dr., Departamento de Construção e Estruturas da UFBA
Laise Kelley Lemos Barbosa, Prof.ª Ma., Departamento de Engenharia Civil da UFRN
1. INTRODUÇÃO
O Building Information Modeling – BIM é um conjunto de políticas, processos e
tecnologia que, quando combinados, conseguem inserir uma metodologia de gerenciamento e
acompanhamento em projetos e serviços (CBIC, 2016). É um conceito que já vem sendo
disseminado nas diversas áreas de atuação da engenharia civil e discutido cientificamente,
apresentando vantagens, como a precisão do quantitativo de materiais e a prévia percepção de
interferências entre os elementos, e desvantagens, como o alto custo dos softwares (quando
comparados aos utilizados atualmente) e da capacitação dos profissionais, acontecendo
principalmente na área privada e, atualmente, havendo o início da disseminação no viés
público.
A difusão dessa metodologia em órgãos públicos brasileiros, no âmbito Federal, teve
seu início com a publicação do Decreto Federal nº 9.377/2018, instituindo a Estratégia BIM
BR e seu comitê gestor. Os objetivos que se aplicam com o enfoque do trabalho, estabelecidos
no Art. 2º do referido decreto, são: a coordenação e estruturação do setor público para a
adoção do BIM; a criação de condições favoráveis para esse investimento; e a proposição de
atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e contratações públicas com uso
do BIM. Ou seja, concluída a implantação da Estratégia BIM BR nos órgãos federais, espera-
se que haja uma extensão do processo às esferas Estadual e Municipal.
A adaptação à tecnologia não se trata de uma simples mudança, é necessário um
tempo de planejamento e ajustes do fluxo de trabalho, com tarefas como a capacitação dos
profissionais envolvidos, formação de grupos de frente, definição do nível de modelagem
adequado para cada produto e aquisição de ferramentas alternativas, além da tentativa de
superar a resistência à mudança pelo corpo técnico. Esse período justifica o prazo de
inicialização concedido pela Estratégia BIM BR.
Isto posto, dentre os órgãos estaduais do Rio Grande do Norte – RN com atuação na
construção civil, foi adotado o Tribunal de Contas do Estado do RN – TCE/RN, responsável
pela fiscalização da despesa pública da administração direta e indireta do estado e dos seus
municípios, como objeto deste estudo. Dessa forma, tendo em vista que existe uma razoável
quantidade de publicações sobre a disseminação do BIM em empresas e órgãos responsáveis
por executar obras e serviços de engenharia, com projetos e construção inseridos em seu rol
de atividades, a exemplo de Araújo (2011) e Porto (2018), trazer a análise para um órgão de
caráter fiscal, que irá receber o produto da modelagem e fiscaliza-lo, mostrou-se relevante.
Por ser dividido em diretorias, de acordo com as mais diversas áreas de atuação, foi
priorizado o trabalho da Inspetoria de Controle Externo – ICE deste órgão, designada a tratar
da utilização de recursos públicos em obras e serviços de engenharia. Por conseguinte,
qualificada pela importante tarefa de fiscalizar em caráter educativo e punitivo esta utilização
da riqueza pública, função geradora de grandes impactos na defesa do interesse da
Administração Pública, e comprometida pela defasagem de informações existente, a ICE
mostrou-se uma opção favorável, por carecer de domínio das informações de gerenciamento
de todas as fases de contratação de obras e serviços de engenharia.
Assim, este trabalho sugere, a partir da análise de um processo de auditoria pré-
determinado, propor diretrizes para a implementação do BIM no setor, com a intenção de
trazer maior clareza e transparência às informações recebidas, de estimular a implantação nas
demais atividades da diretoria, repercutir em progresso no desempenho dos trabalhos
realizados e, consequentemente, na garantia da utilização adequada dos cofres públicos. Para
6
isso, dispõe-se a caracterizar as etapas de execução deste processo e buscar as dificuldades em
desenvolvê-lo atualmente.
2. REVISÃO DE LITERATURA
A implementação do BIM no mercado da construção civil é acompanhada de
benefícios em todas as fases que envolvem uma edificação, mas também de dificuldades na
adaptação dos profissionais, o que se torna uma grande barreira para essa efetivação. De
forma geral, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC (2016), traz 21 principais
benefícios e funcionalidades BIM, dentre estas é destaca-se: a visualização 3D, o ensaio da
obra no computador, a extração automática das quantidades de um projeto, o rastreamento e
controle dos componentes e a integração das macrofases do ciclo de vida de um
empreendimento. O material divulgado pela CBIC ressalta que nem todas as funções citadas
são encontradas em todos os projetos e serviços e para cada um deve ser avaliado o nível de
desenvolvimento (Level of Development – LOD) requerido, variando em 5 níveis, sendo que o
sucessor engloba todas as características do anterior, como mostra a Figura 1.
Figura 1 - Níveis de desenvolvimento (LOD).
Fonte: Adaptado de CBIC, (2016).
Assim, por se tratar de uma mudança na forma de planejar e executar os serviços de
projeto e orçamento, bem como no acompanhamento e conferência das fases executadas e
medições da obra, envolvendo a necessidade de formação de uma nova concepção e de
integração e qualificação entre os profissionais, existe uma resistência por parte do corpo
técnico da construção civil, principalmente aqueles que já estão acostumados a buscar formas
corriqueiras de resolução, sem planejamento.
Trazendo para o contexto de obras públicas, Matos (2016) ressalta algumas
inconsistências processuais que, juntas, correspondem a 50% das detectadas em obras
públicas e ocorrem em 40% das auditorias do Tribunal de Contas da União – TCU no período
de 2011 a 2014, quais sejam: I) sobrepreço/superfaturamento, podendo ser reduzido com a
melhoria na qualidade do projeto e extração automatizada de quantitativos ligados ao custo
pela modelagem 5D, permitindo o controle de fluxo de caixa e faturamento; II) projeto
básico/executivo deficiente ou desatualizado, sanado pela modelagem 3D e 2D das pranchas
com detecção de interferências; III) existência de atrasos injustificáveis nas obras e serviços,
evitado pela modelagem 4D que avalia a construtibilidade da obra e testa diversos
7
sequenciamentos da construção, bem como as interferências entre cada atividade e o canteiro;
e IV) fiscalização deficiente ou omissa, elucidada pela quantidade de informações geradas
pelos itens anteriores.
No Brasil, o Exército Brasileiro é o pioneiro no trabalho com o BIM e já o utiliza
regularmente, assim como o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), e atualmente há
previsão pela Estratégia BIM BR de atingir todos os órgãos federais até 2021 (EXAME,
2018). Nesse contexto, alguns estados também já tomaram iniciativas. O estado de Santa
Catarina (SC) foi o pioneiro no âmbito estadual com o lançamento do Caderno de Projetos
BIM, para determinar a padronização e a formatação dos projetos: “Santa Catarina foi o
primeiro estado a definir um programa de implantação de BIM e deve exigir que a partir de
2015 os projetos sejam apresentados nesta plataforma, mas este procedimento ainda deve ser
regulamentado.” (AMORIM; KASSEM, 2015, p. 162). O estado do Paraná (PR) também
começou a se mobilizar para a atualização em 2014: “As primeiras noções do sistema foram
dadas aos funcionários da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Paraná (SEIL), do DER e
da Paraná Edificações em março. As palestras serviram para disseminar o conhecimento deste
novo conceito e juntar o uso da tecnologia avançada nos projetos de obras públicas.”
(PARANÁ, 2014). Em seguida, em 2015, o Departamento de Gestão de Projetos e Obras
(DGPO), subordinado à SEIL, instituíram o plano de metas para o período de 2015 a 2018, de
fomento à implementação do BIM.
Na região Nordeste a utilização continua preponderante no setor privado, mas algumas
atitudes do setor público podem ser vistas no estado da Bahia. O órgão está em processo de
desenvolvendo da implementação do BIM, com o objetivo de modernizar e agilizar os
processos de análises e liberação de licenças da Prefeitura de Salvador. (SALVADOR, 2018).
Para expandir essa atuação na região, os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia
(CREA), bem como os Sindicatos da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) promovem
regularmente eventos de atualização e disseminação da metodologia.
O Decreto Federal nº 9.377/2018, segundo Solen (2018), tem como finalidade preparar
o ambiente de forma adequada para o investimento e a difusão do BIM no Brasil e, em
sequência, haver a sua exigência de forma gradual no âmbito do Governo Federal. Trata-se de
uma sequência ao Decreto anterior, de junho de 2017, que instituiu o Comitê Estratégico de
Implementação do BIM, o qual deu início à discussão no país. O Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC), na publicação do livreto Estratégia BIM BR em 2018,
fala sobre a revelação do BIM como um novo paradigma em empreendimentos de arquitetura
e engenharia e apresenta benefícios ao mercado tanto do lado de quem executa, quanto do
lado do proprietário, como: I) incentivo ao desenvolvimento do setor da construção; II)
economicidade para as compras públicas; III) maior transparência aos processos licitatórios;
IV) otimização de manutenção e gerenciamento; V) aumento na confiabilidade dos custos e
no cumprimento dos prazos; e VI) redução da incidência de erros e imprevistos. A Figura 2
mostra o plano de metas (roadmap) dessa estratégia.
Quando o tema trata de licitações, já existem exemplos de obras que foram
executadas, em alguma etapa, com o uso do BIM, quais sejam: o Museu do Amanhã, alguns
estádios para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as instalações para as Olimpíadas de
2016. Amorim e Kassen (2015) enfatizam que isto só é possível com a utilização da
modalidade de Regime de Contratação Diferenciada (RDC), por permitir que o projeto seja
desenvolvido pelo contratado e pressupor que os projetistas trabalhem em conjunto com os
responsáveis pela execução. Quando comparam com a licitação tradicional, os autores
abordam que a separação entre concepção, planejamento e execução é o principal problema,
por segregar o conhecimento que o BIM pretende integrar. Similarmente, Solen (2018) expõe,
como justificativa para os problemas com atrasos e sobrecustos em obras públicas, os projetos
básicos de má qualidade encontrados nos editais de licitação. Para o autor, a tecnologia BIM
8
adotada em todas as fases de concepção e contratação potencializa a precisão,
compatibilização e transparência da construção.
Figura 2 - Plano de metas da Estratégia BIM BR.
Fonte: MDIC, (2018).
A proposta do BIM é atuar em todo o ciclo de vida de um empreendimento, desde a
sua concepção até a manutenção. Pontes (2011) conta que o modelo BIM é a referência de
informações de uma edificação e, estando aliado ao fomento do processo de manutenção,
profissionais de quaisquer áreas e em qualquer estágio do ciclo de vida do imóvel terão
contato com suas características.
Com o estudo sobre as etapas que necessitam ser contempladas para a implementação
do BIM, Chaves et al. (2014) verifica que é indicado, inicialmente, avaliar o impacto dessa
execução, considerando os riscos e o retorno do investimento. Segundo o estudo, isso pode
ser realizado com o mapeamento e a quantificação de problemas recorrentes ao longo de um
projeto e a definição dos objetivos que circundam essa implantação, tendo sempre em mente
que trata-se de um caminho longo, complexo e voltado a uma mudança na forma de trabalhar,
contando com conceitos de interoperabilidade, trabalho colaborativo e integrado e gestão de
mudança. Versando sobre orçamentos e quantitativos, Trindade e Santos (2017) abordam que
o uso do BIM trará estudos de viabilidade com mais informações, antecipando as decisões de
projeto de fases futuras para fases iniciais, estando o grau de detalhe do orçamento associado
ao nível de desenvolvimento do modelo.
Os benefícios são incontáveis, alguns já foram constatados pelo MDIC (2018), e de
forma específica para a maior qualidade e eficiência das auditorias públicas poderia haver
mais garantia da economicidade e confiabilidade no uso dos cofres públicos, da rapidez em
tomadas de decisão sem causar danos à população pelo longo tempo decorrido, redução de
erros e imprevistos pela não detecção de irregularidades, transparência para a execução da
fiscalização, celeridade aos trâmites processuais com a redução do tempo de busca por
informações omissas, celeridade às análises técnicas com o detalhamento e a visualização
9
gráfica intuitiva e, como consequência, maior eficácia na atuação do controle externo em todo
o estado.
Sob outra perspectiva, algumas limitações também são encontradas. Degasperi et al.
(2018) encontra como dificuldade para a implantação do BIM a falta de preparação dos
profissionais; o alto custo do software e dos equipamentos que o suportam, quando
comparados ao uso dos programas CAD; o baixo nível da indústria de pré-moldados no
Brasil, culpado pelo tempo elevado para modelar peças específicas que não serão utilizadas
em outros trabalhos; e o desafio em entender o conceito, mudar a rotina e mudar a cultura de
trabalho. Trazendo as limitações para o cenário em estudo, tendo em vista que ainda não há
perspectiva da obrigatoriedade de uso do BIM por órgãos estaduais e municipais, associado
ao custo para migrar para a tecnologia e ao assunto ainda não ser tão difundido neste âmbito,
a opção se torna pouco atrativa, considerando que poucos são os profissionais capacitados
nesta área atualmente.
Lima (2019) diz que a implantação do BIM nos órgãos da administração pública é
viável, mas apresenta entraves administrativos e financeiros, sendo essa implantação
dependente das atividades desenvolvidas, necessidades apresentadas e objetivos de cada
órgão. Ainda de acordo com ele, uma consultoria interna ministrando cursos, contribuiu
significativamente para a queda dos valores gastos e seus impactos financeiros.
3. METODOLOGIA
Método de pesquisa
O método de pesquisa utilizado foi o estudo de caso, que consiste em avaliar
qualitativamente o fluxo das etapas de um processo de auditoria e realizar a análise da
problemática envolvida para executá-las. Essa estratégia permite analisar pontos relacionados
às ferramentas BIM, tratados de forma ampla pela literatura, mas com uma perspectiva
inerente às atividades exercidas pelo órgão.
Caracterização do objeto
Particularmente no Rio Grande do Norte (RN), no âmbito do controle externo estadual
e na realidade de atuação atual, o TCE/RN (2019) fiscalizou, no período de abril a junho de
2019, um montante de R$144.918.129,31 (cento e quarenta e quatro milhões, novecentos e
dezoito mil, cento e vinte e nove reais e trinta e um centavos), sendo R$11.580.203,16 (onze
milhões, quinhentos e oitenta mil, duzentos e três reais e dezesseis centavos) um valor
potencial de economia e restituição ao erário em eliminação de restrições à competitividade,
falta de critérios objetivos em medições de serviços, aditivos questionáveis, superfaturamento
de serviços contratados e melhoria do processo de planejamento e orçamento.
Nesse cenário de fiscalização de obras públicas e contratos, Nogueira (2016) aponta as
principais irregularidades que acobertam o sobrepreço e/ou superfaturamento: quantitativo
inadequado, itens pagos em duplicidade, preços excessivos frente ao mercado e jogo de
planilha. Relacionado a isso, a autora observa que os principais benefícios apontados pelo uso
do BIM e que previnem essas irregularidades são: a maior qualidade do projeto com modelo
em 3D e com a maior interação e troca de informações entre os agentes do processo; a
possibilidade precisa e antecipada de visualização do projeto para a eliminação de dúvidas e
inconsistências; e a capacidade de automatizar a extração das quantidades dos elementos do
projeto e elencar os serviços que realmente serão necessários.
A ICE tem dois possíveis tipos de ações de fiscalização: as com ciclo de auditoria
planejado e as contínuas. A primeira trata-se de um trabalho inserido no Plano de Fiscalização
10
Anual e tem etapas bem definidas de planejamento e atuação, podendo ser subdividida em:
Auditoria de Regularidade, que analisa projetos técnicos, orçamentos, cronogramas e todos os
documentos envolvidos na contratação para chegar nas eventuais irregularidades veiculadas
por denúncias ou representações; e Auditoria Operacional, que analisa informações sobre
processos, características e resultados de um tema com o objetivo de aferir o desempenho da
gestão governamental e contribuir para aperfeiçoar a gestão pública. A Auditoria de
Regularidade é o objeto de estudo escolhido, por se tratar de uma atividade com maior
afinidade à análise de projetos de engenharia e busca por informações detalhadas no decorrer
do processo.
Definição das etapas do estudo
Estando o objeto definido em tratar da Auditoria de Regularidade, foi criado um
fluxograma geral ilustrando quais etapas são seguidas durante todo o trâmite do processo na
Inspetoria de Controle Externo, bem como quais funções atuam nessas etapas. Deste
fluxograma inicial foram evidenciadas as etapas que abrangiam o trabalho técnico de
engenharia e, a partir delas, foram criados novos fluxogramas, descrevendo suas etapas
específicas de execução, por se tratarem do principal objeto de estudo.
Os fluxogramas produzidos foram validados com o coordenador da unidade técnica
para garantir a veracidade dos esquemas em relação ao caminho real de execução do trabalho.
Estando em conformidade com as etapas da auditoria, os fluxogramas foram impressos e
entregues a 9 auditores do corpo técnico, com formação em engenharia civil, para que
analisassem a esquematização das etapas específicas e elencassem as dificuldades encontradas
ao realiza-las rotineiramente. Essa abordagem foi feita com formatação livre, podendo-se
constar respostas como textos, tópicos ou títulos, desde que pudessem ser entendidas e
relacionadas com as fases de execução das etapas da auditoria.
Diante da problemática aludida e da bibliografia encontrada com relação ao tema,
foram propostas diretrizes em um cenário de real implementação desta tecnologia na ICE-
TCE/RN.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sendo a incumbência da Inspetoria de Controle Externo do TCE/RN, de acordo com o
Art. 171 da Lei Complementar Estadual nº 464/2012, o controle e acompanhamento da
execução de obras e serviços de engenharia da administração direta e indireta do Estado e dos
Municípios, diariamente podem ocorrer os mais diversos escopos de trabalhos. Com isso, é
necessária a definição de um caminho a ser seguido de forma geral, independente do
problema a ser analisado, para guiar cada componente do corpo técnico sobre o
posicionamento a ser tomado. A Figura 3 ilustra todos os passos gerais que devem ser
seguidos desde a chegada de um processo à inspetoria, passando pelas decisões e pessoas que
precisam estar envolvidas, até o despacho final ou preliminar. Dentre tantas etapas
burocráticas e formais, pode-se destacar duas que são preponderantemente técnicas:
planejamento e execução da fiscalização.
11
Figura 3 - Fluxograma geral do processo de fiscalização da ICE/TCE-RN.
Fonte: Autor, (2019).
O planejamento trata de todo o conhecimento e análise preliminar sobre o órgão e o
tema que serão auditados, com vista à documentação comprobatória existente e o
levantamento das possíveis evidências de irregularidades ou ausência de informação, com o
objetivo de saber o que procurar durante a execução da verificação. As etapas usadas durante
a fase de planejamento acontecem conforme o ilustrado na Figura 4.
Como em qualquer tarefa, os profissionais encontram obstáculos inerentes à função, à
metodologia, à tecnologia empregadas e/ou ao próprio ambiente de trabalho. Para esta
primeira etapa as dificuldades elencadas, em ordem decrescente de incidência nas respostas da
entrevista, foram: ausência de informação ou de confiabilidade, deficiência na documentação
técnica, formato da documentação, lentidão no trâmite processual, ausência de tecnologia
adequada, ausência de planejamento, ausência de estudos técnicos, ausência de um histórico
de análise e ausência de etapas genéricas padronizadas, conforme mostra o gráfico da Figura
5.
A ausência de informação ou de confiabilidade abrange a pouca quantidade de
informações enviadas para um conhecimento efetivo do tema auditado e, as que são enviadas,
podem não ser confiáveis por não serem suficientes para a verificação real. O problema,
segundo os auditores, é recorrente durante a caracterização do objeto e do ambiente
organizacional, na busca por informações nas plataformas disponíveis e na análise do
orçamento.
12
Figura 4 - Fluxograma do processo de planejamento da fiscalização da ICE/TCE-RN.
Fonte: Autor, (2019).
Figura 5 - Dificuldades encontradas no planejamento da fiscalização pelos auditores do TCE/RN.
22,5%
10,0%
12,5%
15,0%
20,0%
7,5%
7,5%
2,5% 2,5% Ausência de informação ou de confiabilidade
Ausência de tecnologia adequada
Lentidão no trâmite processual
Formato da documentação
Deficiência na documentação técnica
Ausência de planejamento
Ausência de estudos técnicos
Ausência de um histórico de análise
Ausência de etapas genéricas padronizadas
Fonte: Autor, (2019).
Da mesma forma, outros dois problemas tratam da deficiência na documentação
técnica, encontrado durante a caracterização do objeto e do ambiente organizacional, na
análise do projeto básico e na análise do orçamento, e a ausência de estudos técnicos,
encontrado na análise preliminar do projeto básico e na análise do orçamento. Exemplos para
esses três pontos são: I) quantitativos sem memorial de cálculo; II) orçamentos sem
composições unitárias; III) medições com valores estimados; IV) relatos encontrados em sites
de notícias locais ou em denúncias não fundamentadas; V) projetos sem termo de referência
ou justificativa; VI) dimensionamentos sem critérios; e VII) projetos “reaproveitados” de um
local para outro sem estudos geotécnicos.
13
Em seguida, outros obstáculos que são justificados conjuntamente e foram
mencionados são: a ausência de tecnologia adequada para filtrar potenciais riscos e analisar
questões importantes e o formato da documentação recebida. Foi apontada a necessidade de
um software que auxiliasse na identificação e seleção de processos com alto índice provável
de irregularidade e foi reportada a utilização de documentos digitalizados ao invés de digitais,
projetos arquitetônicos e de engenharia recebidos de modo fragmentado em arquivos pdf e
planilhas orçamentárias e de medição recebidas em formato pdf ao invés de xls. O problema
foi apontado nas etapas de caracterização do objeto e do ambiente organizacional, produção
da matriz de planejamento, análise preliminar do projeto básico e análise do orçamento. Outro
ponto é a lentidão no trâmite processual, uma consequência da metodologia de trabalho com
processos físicos ou digitalizados, que acarreta demora na análise, na tramitação interna entre
setores do TCE/RN e no envio de documentação do jurisdicionado para o órgão. Esse
problema é mencionado na etapa de requisição de documentação.
Os outros três problemas relatados tratam de assuntos da gestão de processos,
recorrente na metodologia de trabalho do próprio setor: a ausência de planejamento da
fiscalização, a ausência de um histórico de análise dos processos e a ausência de etapas
genéricas padronizadas para analisar o processo. Esses pontos foram tratados pelos que os
mencionaram como um fruto da grande quantidade de processos distribuídos a cada um e do
pouco tempo para trata-los, sendo esses entraves também causados em consequência dos
anteriores citados, pois não permitem, de acordo com a jornada de trabalho atual, que se tenha
tempo para o próprio planejamento e para o armazenamento de um histórico de decisões de
referência (jurisprudência).
Em contrapartida, a execução da fiscalização trata da concretização do que foi
planejado, com a análise minuciosa de todo o material acumulado, resultando no
direcionamento para as possíveis evidências, seus responsáveis e a recomendação preliminar
ou final para o problema inicial. A Figura 6 ilustra todas as etapas dessa execução. Da mesma
forma que o planejamento, o processo produtivo também traz obstáculos identificados pela
equipe técnica, quais sejam, em ordem decrescente de incidência na entrevista: ausência de
planejamento, elaboração dos relatórios, lentidão no trâmite processual, ausência de projetos e
documentos relativos à obra, carência de instrumentos para a auditoria de campo, e definição
dos responsáveis pelos achados. A Figura 7 traz o gráfico quantitativo dessa abordagem.
Dentre os relatos sobre a execução da fiscalização alguns temas se repetem: a lentidão
no trâmite processual e a ausência do planejamento, também como consequência do pouco
tempo já evidenciado, já que todas as etapas do fluxograma geral são encadeadas, refletindo
os problemas do início no resultado e havendo consequências, por exemplo, durante visitas
técnicas sem a matriz de planejamento para indicar onde focar, tornando-a ineficaz. Outro
problema exposto foi o da elaboração dos relatórios de forma padronizada e intuitiva, para
que o entendimento do setor seja unificado.
Em seguida, a ausência de projetos e documentos relativos à obra, o que muitas vezes
causam incertezas sobre a execução dos serviços encontrados in loco, bem como o
dimensionamento de equipes e equipamentos. Este último também está ligado à ausência de
instrumentos para a auditoria de campo, para confirmar os parâmetros e medidas usadas no
termo de referência ou em algum projeto, como: laboratórios terceirizados para ensaios,
drones para obras de grande dimensão e dificuldade de acesso e ferramentas para conferências
geotécnicas. E a dificuldade na definição dos responsáveis pelos achados, causado pela falta
de alguns documentos ou precariedade na organização do órgão responsável.
14
Figura 6 - Fluxograma do processo de realização da fiscalização da ICE/TCE-RN.
Fonte: Autor, (2019).
Figura 7 - Dificuldades encontradas na execução da fiscalização pelos auditores do TCE/RN.
10%
20%
20%25%
10%
15%
Carência de instrumentos para aauditoria de campo
Lentidão no trâmite processual
Elaboração dos relatórios
Ausência do planejamento
Definição dos responsáveis pelosachados
Ausência de projetos e documentosrelativos à obra
Fonte: Autor, (2019).
Inicialmente é possível perceber que cada dificuldade elencada é consequência e causa
de outra, estando sua maioria, em tese, associada à organização, atualização e
compatibilização entre as informações acumuladas. Como uma forma de mitigar os problemas
e aumentar a eficiência das auditorias da ICE/TCE-RN e, assim, melhorar a organização do
ambiente de trabalho, é proposta a implementação do BIM. Dentre todas as características
trazidas pela CBIC (2016) e as indicadas como soluções para a fiscalização por Matos (2016),
algumas se destacam na amenização das dificuldades específicas desta pesquisa.
Considerando que durante o trajeto de planejamento, licitação, contratação, execução e
utilização de uma edificação, a auditoria pode estar presente em qualquer uma das fases, de
acordo com a necessidade demandada, e que, em qualquer uma dessas etapas que vá ser
fiscalizada, é necessário haver documentação e representação técnica, a utilização do BIM
pelo TCE depende da execução e contratação em BIM pelas prefeituras e secretarias do
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estado. Ademais, para que isso aconteça, é preciso que haja a atualização da Lei de Licitações,
conforme as modalidades propostas e suas exigências, tendo em vista que as proposições
atuais são vagas e fragmentam etapas de planejamento e execução da obra ou serviço de
engenharia em contratações distintas.
De toda forma, considerando a concretização do uso geral do BIM em breve, para o
trabalho exercido na ICE/TCE-RN são necessárias algumas etapas de preparação e
consolidação da implementação, apresentadas de forma concisa pela Tabela 1.
Tabela 1 – Diretrizes propostas para a implementação do BIM na ICE
Diretrizes de curto prazo
Participar de eventos educativos teóricos (palestras, cursos, etc.)
Analisar resultados já obtidos por outros órgãos (por exemplo, o TCU)
Avaliar internamente as necessidades de implementação
Reconhecer o nível de informação e tecnologia adequados
Realizar o planejamento de investimentos com cursos práticos, softwares e hardwares
Diretrizes de médio prazo
Designar um líder BIM e uma equipe interna de implementação
Promover a capacitação prática da equipe de implementação
Desenvolver um plano de implantação interno
Produzir fluxogramas e um guia de etapas para uma análise processual piloto em BIM
Diretrizes de longo prazo
Definir equipes de frente de trabalho multidisciplinar
Situar o restante da equipe técnica com uma noção inicial do novo fluxo de trabalho
Promover cursos práticos para os auditores
Criar um checklist preliminar com pontos essenciais a serem seguidos para cada tema
Definir o LOD 300 a ser cobrado para cada obra ou serviço de engenharia
Enumerar os incrementos de informação necessários
Produzir um manual de fiscalização em BIM
Prever reuniões para possíveis adequações Fonte: Autor, (2019).
Inicialmente é preciso compreender o que propõe a metodologia, sabendo que o fluxo
de trabalho atual seria completamente modificado. Esse contato inicial pode acontecer por
eventos educativos, palestras, cursos teóricos/informativos e análise de estudos de resultados
nos órgãos já utilizadores, inclusive nos do TCU, por se tratar do mesmo escopo de trabalho.
Com base nesse conhecimento teórico, pode haver uma avaliação interna das necessidades do
órgão a partir das atividades exercidas, reconhecendo o nível de informação e tecnologia
adequados para a análise do material em BIM, tendo em vista que não faz parte do propósito
da inspetoria a execução de projetos e construção. Nessa perspectiva, é sugerido o LOD 300,
por conter informações precisas suficientes de forma geométrica e não-geométrica.
Em seguida, sugere-se a realização do orçamento de cursos práticos, licenças de
softwares e, possivelmente, de hardwares adequados, de acordo com a avaliação do setor de
informática, para o planejamento de investimento, por se tratar de um órgão público. Um
próximo passo seria o desígnio de um líder BIM, bem como de uma equipe interna de
implementação, para que haja uma capacitação prática no software, possibilitando o manuseio
e a consulta aos documentos técnicos digitais nos novos formatos. Assim, com a associação
dos conhecimentos teóricos e práticos, esta equipe pode desenvolver um plano de implantação
interno, com metas e prazos para o restante da equipe técnica e possíveis setores terceiros
envolvidos, considerando que apenas os processos iniciados à época da implantação seriam
utilizados em BIM. Concomitante à produção do plano, a equipe também pode criar
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fluxogramas e etapas de uma análise processual piloto em BIM, para servir de guia quando a
atualização for repassada para os outros envolvidos.
Chegado o início concreto da implementação, é fundamental definir equipes de frente
de trabalho multidisciplinar, de acordo com temas afins de cada um. A equipe gestora pode
situar os outros auditores com explicações internas, bem como conceber uma noção inicial do
novo fluxo de trabalho e, ao longo do tempo, os servidores podem ser locados em cursos
práticos de forma pontual, para a compatibilização de todas as informações envolvidas,
inclusive a vertente coletiva. Estando as equipes preparadas, de acordo com o tema de
auditoria trabalhado, podem ser criados pontos essenciais que precisam ser analisados em
cada tipo de fiscalização, como um checklist preliminar; definidos os diferentes níveis de
desenvolvimento (LOD) 300 que deve ser cobrado nos projetos; e enumeradas a necessidade
de incremento de informações como cronograma, orçamento, contratos, convênios e outros.
Essas definições podem ser selecionadas, em diferentes tipos de conduta, e organizadas em
um manual de utilização, para ser referência para os próximos anos e para os próximos
servidores. Além disso, é indispensável prever reuniões de reanálise em um determinado
período de tempo, para possíveis adequações.
5. CONCLUSÃO
A disseminação do BIM vem acontecendo de forma gradativa entre as empresas de
projetos e construção atuantes no setor privado. Para o cenário de obras públicas se trata de
uma novidade que ainda está passando pelo período de disseminação, regido pela Estratégia
BIM BR. Esse procedimento é bem definido quando se trata de um órgão que apresenta
projetos e/ou os executa e, ainda assim, é resistida pela comodidade ou pelo alto custo dos
softwares. No tocante à natureza pública de auditoria já existe uma defasagem de informação
aliada à inerente dificuldade de análise e interpretação dos fatos.
Uma auditoria de regularidade, que pode ser embasada pelos mais diversos temas da
engenharia civil, é dividida em fases de atuação, entre elas vale salientar o planejamento e a
execução da auditoria. Para cada uma dessas fases, atualmente, são encontrados problemas
como omissão de informações, falta de confiança nos dados, alta demanda que impossibilita o
planejamento real da atividade, deficiência técnica e tecnológica, atrasos no trâmite
processual e incerteza de responsáveis, por exemplo.
Com o objetivo de resolver ou, pelo menos, mitigar alguns dos problemas relatados
pelos profissionais atuantes nessa área foi proposta a implementação do BIM, trazendo
soluções com: I) a visualização 3D; II) o quantitativo automático de materiais; III) a análise
da construtibilidade ou de possíveis interferências; IV) o planejamento de evolução da
construção junto com o canteiro de obras, entre outros. Por outro lado, também foram
mencionados novos entraves, como I) a necessidade de capacitação contínua; II) a despesa
com softwares onerosos; III) o desafio da mudança na forma de trabalhar; e IV) o baixo nível
da indústria de pré-moldados encontrada no Brasil.
Referindo-se à ideia de utilizar o BIM como mitigador dos atrasos e incoerências das
auditorias encontradas na ICE/TCE-RN, levando em consideração que a quantidade de
benefícios é mais representativa que a de limitações, que a disseminação da tecnologia já está
acontecendo no governo federal e com a ressalva que seria necessária uma mudança na Lei de
Licitações, algumas diretrizes são elencadas para curto, médio e longo prazos.
De curto prazo: participar de eventos educativos teóricos, analisar resultados já obtidos
por outros órgãos, avaliar internamente as necessidades de implementação, realizar o
planejamento dos investimentos necessários; de médio prazo: designar uma equipe interna de
implementação, promover a capacitação prática dessa equipe, desenvolver um plano de
implantação interno, produzir fluxogramas e um guia de etapas para uma análise processual
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piloto; e de longo prazo: definir equipes de frente de trabalho, situar o restante da equipe
técnica com uma noção inicial do novo fluxo, promover cursos práticos para os auditores,
criar um checklist preliminar com pontos essenciais, definir o LOD 300 a ser cobrado,
enumerar os incrementos de informações necessários, produzir um manual interno de
fiscalização em BIM e prever reuniões para possíveis adequações.
A implementação do BIM como tecnologia de execução e controle dos cofres públicos
em obras e serviços de engenharia promete trazer uma maior contenção de gastos e combate a
problemas de sobrepreço/superfaturamento, jogo de planilha, não execução de itens
contratados, medições estimadas e atraso na entrega de projetos de desenvolvimento
econômico-social como hospitais, escolas, estradas, barragens e praças, por exemplo.
Por mais que os resultados estejam limitados ao fluxo de trabalho de um setor de um
órgão específico, continuam sendo benéficos à discussão sobre a disseminação do BIM nos
mais diversos tipos de atuação do serviço público, além de servir de referência ou
embasamento para a iniciativa por parte de outros órgãos, com atividades diversas.
Outra limitação deste trabalho trata de haver apenas um estudo de caso que não foi
testado na prática, abordando apenas atitudes amplas e teóricas a serem seguidas caso haja a
necessidade de implementação.
Como sugestões para trabalhos futuros, em continuidade à pesquisa de uso do BIM no
serviço público, tem-se a avaliação do andamento e da adaptação de uma equipe quando da
implementação do BIM em suas atividades, inclusive para esta mesma equipe, quando houver
a prática do que foi proposto teoricamente; a análise de um processo de auditoria específico
com a utilização do BIM; e a definição do LOD adequado com base em dados reais.
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AGRADECIMENTOS
À equipe da Inspetoria de Controle Externo do TCE/RN pelo apoio e disponibilidade.