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Director: Ângelo Munguambe|Editor: Egídio Plácido | Maputo, 09 de Abril de 2020 |Ano XIV l nº 899 50,00MT E Z Sai às quintas ONDE A NAÇÃO SE REENCONTRA AMBEZ Comercial Terror volta ao Norte Caros assinantes A partir da próxima edição, e em respeito ao período de quaren- tena, o jornal Zambeze vai ser distribuído apenas em versão electrónica (zambeze.net e zam- beze.info). Por este meio, apela- mos aos nossos assinantes para que nos enviem os respectivos endereços electrónicos para que possam ter acesso ao Jornal. Processo das Dívidas Ocultas no TA Machatine sai e deixa batata quente Estado de emergência Há tentativa de colocar algemas na imprensa Avaliação da Nova Democracia Plano do Governo compromete metas

ambEz · 09 de Abril de 2020 z Onde a naçãO Se reencOntra ambEz

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Director: Ângelo Munguambe|Editor: Egídio Plácido | Maputo, 09 de Abril de 2020 |Ano XIV l nº 89950,00mt

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s

O n d e a n a ç ã O S e r e e nc O n t r aambEz

Comercial

Terror volta ao Norte

Caros assinantesA partir da próxima edição, e em respeito ao período de quaren-tena, o jornal Zambeze vai ser distribuído apenas em versão

electrónica (zambeze.net e zam-beze.info). Por este meio, apela-mos aos nossos assinantes para que nos enviem os respectivos

endereços electrónicos para que possam ter acesso ao Jornal.

Processo das Dívidas Ocultas no TA

Machatine sai e deixa

batata quente

Estado de emergência

Há tentativa de colocar algemas na imprensa

Avaliação da Nova Democracia

Plano do Governo compromete metas

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Machatine Munguambe já não é Presidente do Tribunal Administrativo. Ele deixa o cargo sem ter dado o desfecho do processo n.º 1/PGR/ 2015, de 12 de Agosto, relativo à dívi-da pública contraída pelas empresas ProÍndicus, EMATUM (Empresa Moçambicana de Atum) e MAM — Mozambique Asset Management, através de financiamento externo com ga-rantias do Estado. O Processo, que fora remetido àquela ins-tituição pela PGR em Janeiro de 2018, não chegou a respon-sabilizar administrativamente os nomes arrolados, ainda que tenha havido algumas detenções consideradas um simulacro.

Entretanto, no ano passado, Macha-tine Munguambe teria declarado ao público que

o órgão já reuniu elementos suficientes para “acusar com segurança” no processo re-lacionado às dívidas ocultas.

“Estamos em vias de concluir isto e nós vamos notificar os eventuais impli-cados”, declarou Machati-ne Munguambe à imprensa.

Munguambe dizia na al-tura que os últimos desenvol-vimentos no caso, que está a ser investigado pelas justiças moçambicana e norte-ame-ricana, deram origem a no-vas evidências, dados com os quais é possível “acusar com segurança” de ponto de vis-ta de infracções financeiras.

“Se nós tivéssemos julga-dos antes desta explosão, hoje seríamos anedota no mundo. Teríamos julgado com pou-cos dados”, referiu Machatine Munguambe, que apelou para a serenidade e para o respeito pela presunção de inocência.

“Até aos acordos e delibe-rações, temos de continuar a admitir que, por muito que pa-reça que fulanos de tal e beltra-

no estão implicados, pode vir a provar-se o contrário”, con-cluiu Machatine Munguambe.

O tempo foi passando, e o palavreado de Machati-ne não passou de promessas que não se concretizaram até 2020 que ele deixa o cargo.

Quem substitui Machatine?No lugar de Machatine

Munguambe, o Presidente da República nomeou a procu-radora-geral adjunta Lúcia Amaral para a presidência do Tribunal Administrativo (TA).

Lúcia Buinga Maximiano do Amaral é mais uma antiga estudante da classe de 1975 da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mon-dlane que ascende ao topo da magistratura em Moçambique.

Natural de Maputo e com 67 anos de idade, a recém-nomea-da presidente do TA é também outra das primeiras integrantes da Justiça em Moçambique, tendo trabalhado nas brigadas de Justiça Popular, que memó-rias pouco agradáveis trazem.

Lúcia do Amaral é magis-trada do Ministério Público desde os anos 80. Contudo, só em 1990 concluiu a licencia-tura em Direito na Universi-dade Eduardo Mondlane. Em

2004 foi indicada pelo parti-do Frelimo para o Conselho Constitucional (CC), depois de ter exercido os cargos de directora pedagógica do Centro de Formação Jurídica e Judici-ária, conselheira da Embaixa-da de Moçambique em França, conselheira na Embaixada de Moçambique em Moscovo e de directora-geral do Instituto Na-cional de Assistência Jurídica.

Desde 2009 que regressou ao Ministério Público, após um mandato como juíza con-

selheira do CC, onde ocupava o cargo de Procuradora-Geral Adjunta até à data da sua no-meação para o Tribunal que fiscaliza as Contas do Estado.

Machatine Paulo Marrenga-ne Munguambe, nomeado por Armando Guebuza em 2009 e reconduzido para o cargo em 2014, estava fora de mandato desde Novembro do ano passa-do e deixa o TA sem conseguir responsabilizar os funcionários do Estado que sistematicamente violam as mais elementares e fun-

damentais leis de Moçambique.O Tribunal Administrativo,

sob a presidência de Munguam-be, foi o primeiro órgão de so-berania a assinalar a ilegalidade e inconstitucionalidade das dí-vidas contraídas pelas empresas Proindicus, EMATUM e MAM, ainda em 2013, no entanto foi incapaz de responsabilizar os funcionários Públicos que du-rante o 2º mandato de Arman-do Guebuza protagonizaram o maior assalto aos cofres do Esta-do da História de Moçambique.

Constantino novela

Machatine Munguambe cessa sem ter movido sequer um pauzinho

Processo das dívidas ocultas abandonado nas gavetas do TA

zambEzEanUncIe nO Departamento Comercial

Contactos: (+258) 82 307 3450 (+258) 824576070 | (+258) 84 269 8181E-mail: [email protected]

[email protected]

Comercial

Quinta-feira, 09 de Abril de 20202 | zambeze | destaques |

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dÁvio david

Durante o estado de emergência

“Tentativa” de censurar imprensa é inconstitucional

Agudizam-se vozes na sociedade civil moçambicana que consideram imoral e inconstitucional a tentativa de “silenciar” a liberdade de imprensa, durante a vigência do estado de emer-gência. Segundo algumas vozes que vieram ao público, ao refe-rir que os órgãos de comunicação social que veicularem infor-mações sobre Covid-19 contrárias às oficiais serão sancionados se está a violar a Constituição da República de Moçambique.

O guru do Jorna-lismo moçam-bicano Tomás Viera Mário foi um dos pri-

meiros que se insurgiu con-tra a tentativa de “silenciar” a imprensa durante a vigên-cia do estado de emergência.

Através das redes sociais, Tomás Viera Mário escreveu que, no decreto do Governo que regulamenta a operacio-nalização do estado de emer-gência, vem consagrada uma norma impondo limitação de um direito fundamental, limi-te não imposto pela lei que se pretende operacionalizar. “Tra-ta-se de uma limitação a um direito fundamental da linha da frente: o direito dos cida-dãos à informação, que pressu-põe a liberdade de imprensa”.

Conforme se sabe, durante a vigência do estado de emer-gência, os órgãos de comuni-cação social que veicularem

informações sobre o Covid-19 contrárias às oficiais são san-cionados (nº5,do art.27, do De-creto 12/2020, de 2 de Abril).

Para Tomás Viera Mário, em torno desta disposição levantam-se inúmeras perple-xidades. A primeira e a mais importante delas reside, exac-tamente, no facto de se tratar, não de um comando interpreta-tivo de qualquer norma consa-grada no Decreto Presidencial, mas sim de criação de Direito.

“Em segundo lugar, trata--se de um limite (in) definido da forma mais ambígua que se possa imaginar, por não carac-terizar, nem de longe, a natureza do bem jurídico a proteger: em que consistiria “contrariar” in-formação oficial? Seria sancio-nada a publicação de um estudo ou de uma pesquisa científica com conclusões diferentes dos documentos oficiais? Numa pa-lavra: de que tipo legal se trata-ria? Em que lei do Estado e em

vigor tal crime está previsto?”, questiona Tomás Viera Mário.

Aliás, de acordo com Tomás Viera Mário, como se definiria o objecto “informações oficiais”? São as contidas no Boletim da República? Serão os Comuni-

cados de imprensa de órgãos do Estado? Entrevistas ou de-clarações de titulares de Ór-gãos Centrais do Estado? Ou os relatórios de qualquer entidade estatal, envolvendo uma mirí-ade de entidades, do Chefe do Estado ao Secretário do Bairro.

“Fiquemos com o benefício da dúvida, apelando no entan-to que este diploma seja devi-damente revisto, eliminando a norma contida na alínea (a) do seu número 27, por ser ilegal”, conclui Tomás Viera Mário.

MISA diz que Gabinfo não tem poder para limitar a imprensa

Por seu turno, o Instituto da Comunicação Social da Africa Austral (MISA) também já veio ao público afirmar que proce-deu, na manhã 6 de Abril, à in-terposição de uma providência cautelar ao Tribunal Supremo, através da qual se requer a de-claração expressa da imprensa ou comunicação social como um serviço essencial para os efeitos da implementação do estado de emergência; e a in-clusão dos delitos de impren-sa como actos urgentes, nos

termos do artigo 2 da Lei nú-mero 1/2020, de 31 de Março.

Na recente conferência de imprensa, a ministra da Justi-ça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida disse que “os órgãos de comunica-ção social públicos e privados devem reservar espaço na sua grelha de programação para informar sobre a pandemia do Covid-19, nos termos a definir pelo Gabinete de Informação (GABINFO), o que no en-tender do MISA não pode ser positivamente acolhido num Estado de Direito Democrático.

Para a nossa fonte, o GA-BINFO não possui jurisdição sobre a liberdade de impren-sa “mesmo da dos jornalistas do sector público, tal como se acha cristalino na norma do número 5 do artigo 48 da CRM. E, quando se preten-der que passe a ter, tal deverá ser empreendido por via da CRM, uma vez ser em sede desta que esses direitos fun-damentais se acham consig-nados”, lê-se no comunicado.

O MISA-Moçambique de-nuncia que ao referir-se que “os órgãos de comunicação social que veicularem infor-mações sobre Covid-19 con-trárias às oficiais serão sancio-nados” está-se, por um lado, a violar a Constituição à luz do dia, ao mesmo tempo que, por outro lado, se coloca toda uma comunidade em incer-teza e insegurança jurídicas, ao se fazer menção a sanções abstractas, qual legalização da arbitrariedade, o que é absolutamente inaceitável”.

Neste diapasão, o MISA--Moçambique insta aos ór-gãos de informação e seus profissionais a desempenhar as suas funções com respon-sabilidade, zelo e integridade, assumindo os valores do pa-triotismo como parte do seu trabalho, não compete ao Go-verno, muito menos ao GA-BINFO, ditar-lhes o que fazer, daí apelarmos ao Governo para que cuide da subtracção do Decreto número 12/2020, de 2 de Abril, de todas as normas que se acham em fla-grante desconformidade com a Constituição da República.

zambeze | 3Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 | destaques |

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Quinta-feira, 09 de Abril de 20204 | zambeze | destaques |

Grupos armados atacam distritos de Cabo Delgado

O primeiro ataque terá ocorrido na localidade de Me-angueleua, posto administrativo de Chitunda, em Mui-dumbe, onde o grupo terá feito reféns por algum tempo alguns residentes, antes de vandalizar uma igreja local.

“Eles en-t r a r a m pela ma-nhã [de s e g u n -

da-feira] e disseram à po-pulação que todos deviam aderir ao islamismo. Não ma-taram ninguém, apenas des-truíram uma igreja católica e levaram com eles quatro pes-soas”, disse uma fonte local.

Em contacto com a Lusa, o bispo de Pemba, Luiz Fer-nando Lisboa, disse que a população local fugiu para o mato e não sabe ao certo quais os danos deste novo ataque.

“A população fugiu para as matas e não tenho como saber o que realmente acon-teceu. Tive a mesma infor-mação [de que a igreja foi incendiada], mas não tenho detalhes nem confirmações”, afirmou Luiz Fernando Lisboa.

Outro residente contacta-

do pela Lusa conta que, já no início da tarde de hoje, o gru-po se terá deslocado para a aldeia de Muatide, no mesmo distrito, onde terá disparado vários tiros para o ar, sem, no entanto, fazer vítimas mortais.

Além de Muatide, segun-do as fontes, os insurgentes terão destruído várias casas em aldeias de Mueda, a 41 quilómetros de Muidumbe.

Diferentes fontes locais dis-seram à Lusa que a par dos ata-ques no distrito de Muidumbe, houve também, na segunda-fei-ra, uma incursão armada con-tra Bilibiza, mais de 100 qui-lómetros a sul e a cerca de 50 de Pemba, capital provincial.

Bilibiza é uma povoação onde está situada uma escola agrária atacada em Janeiro e de onde parte da população fugiu.

A Lusa contactou o porta--voz da Polícia moçambicana em Cabo Delgado, Augus-

to Guta, que não confirmou nem desmentiu a informação.

A província de Cabo Delga-do tem sido alvo de ataques de grupos armados que organiza-ções internacionais classificam como uma ameaça terrorista e que, em dois anos e meio, já fi-zeram pelo menos, 350 mortos, além de 156.400 pessoas afecta-das com perda de bens ou obri-

gadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.

No final de Março, as vilas de Mocímboa e Quissanga fo-ram invadidas pelo grupo, que destruiu várias infra-estrutu-ras e içou a sua bandeira num quartel das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.

Na ocasião, num vídeo distribuído na internet, um

alegado militante ‘jihadista’ justificou os ataques de grupos armados no norte de Moçam-bique com o objectivo de im-por uma lei islâmica na região.

Foi a primeira mensagem divulgada por autores dos ataques que ocorrem há dois anos e meio na província de Cabo Delgado, gravada numa das povoações que invadiram.

De novo

Amnistia preocupada com grupos armados e violações dos direitos humanos em Moçambique

A Amnistia Internacional (AI) alerta para a instabi-lidade política, presença de grupos armados e violência na província de Cabo Delga-do, norte de Moçambique, assim como para violações dos direitos humanos no país.

“A provín-cia de C a b o D e l g a -do con-

tinua a experienciar ataques armados por pessoas que se pensa serem membros do grupo extremista popularmente co-nhecido por Al-Shabab. Os ata-cantes invadem aldeias, ateiam fogo a casas, massacram alde-ões com machetes e roubam a sua comida”, começou por no-tar a AI, no seu relatório sobre os direitos humanos em 2019,

na entrada sobre Moçambique.A organização não-gover-

namental (ONG) de defesa dos direitos humanos assinala que “apesar do aumento da pre-sença militar na região, a sua resposta tem sido inadequada”.

“Os civis suspeitos de se-rem extremistas e jornalistas que relatavam os ataques fo-ram sujeitos a intimidação, prisão e detenções arbitrá-rias, tortura e outros maus tratos, e até mesmo execu-ções sumárias”, vinca a AI.

A ONG aponta o caso do empresário sul-africano Andre Hanekom, que em Janeiro de 2019 morreu “em circunstân-cias misteriosas sob custódia policial após ter sido alveja-do no braço e no estômago”.

“Uma série de eventos entre as forças de segurança, a justi-ça e os serviços de saúde cul-

minaram com a sua morte. As autoridades moçambicanas não conduziram quaisquer investi-gações às alegações de tortu-ra e à sua morte”, expôs a AI.

A AI assinalou que “hou-ve um aumento da repressão sobre a sociedade civil, jorna-listas, defensores dos direitos humanos e activistas em vés-peras das eleições de Outubro”.

“O Governo restringiu a li-berdade de imprensa, incluindo com a proibição da comunica-ção social em noticiar as actu-ais condições políticas e sociais em Cabo Delgado”, acrescenta a AI, que refere que “jorna-listas e investigadores foram hostilizados, intimidados, pre-sos e detidos por noticiarem o conflito em Cabo Delgado”.

O relatório hoje emitido referencia o “uso excessivo da força” pela polícia contra

uma centena de manifestantes em Quelimane, que terminou com a detenção de 15 parti-cipantes no protesto e de um jornalista que estava a fazer a cobertura da manifestação contra o governador da cidade.

No relatório, a AI diz também que recebeu “re-latos preocupantes” de de-tenções arbitrárias e tenta-tivas para a deportação de refugiados pelas forças de segurança de Moçambique.

“Em 17 de Janeiro, a po-lícia e os serviços de imigra-ção detiveram 11 refugiados e cinco requerentes de asilo da República Democrática do Congo [RDCongo] e da Etió-pia. A polícia e os serviços de imigração chegaram ao campo de Maratane durante a noite. À chegada, estes agentes agre-diram, algemaram e detiveram

os refugiados e requerentes de asilo sem mandado”, acu-sa a Amnistia Internacional.

A AI acrescenta que me-nos de uma semana depois, em 23 de Janeiro, o Governo de-portou sete homens do grupo.

“Não foram notificados com uma nota de deportação nem puderam contestar a legalida-de da sua deportação. Quando chegaram a Kinshasa, RDCon-go, os serviços de imigração negaram a sua entrada, uma vez que não tinham documentos, e foram enviados de volta para Moçambique. Em 26 de Janei-ro, os refugiados e os requeren-tes de asilo chegaram a Pem-ba, tendo sido imediatamente transferidos para a terceira es-quadra de Pemba, onde conti-nuavam no final do ano”, con-clui a Amnistia Internacional.

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Segundo Nova Democracia

Plano Quinquenal do Governo apresenta incongruências

O partido Nova Democracia diz que o Plano Quinquenal do Governo 2020-2024, ora aprovado pela Assembleia da Re-pública, apesar dos significativos avanços, apresenta arrestas gravosas que podem comprometer a realização das metas na-cionais dos próximos cinco anos. O Partido, que tem como pre-sidente Salomão Muchanga, refere que o PQG apresenta es-tatísticas contraditórias e pouco credíveis, senão fraudulentas para medir as realizações e o progresso, havendo situações nas quais as metas de 2019 são inferiores à linha de base de 2015 apresentada no PQG anterior ou, mais gravoso ainda, nas quais a linha de base de 2019 (situação actual) é inferior a linha de base de 2015, propiciando assim projecções irrealísticas.

Este partido, em jeito de contri-buição para a for-mação da opinião pública, em par-

ticular sobre as grandes ques-tões nacionais, avança que há ausência de um diagnóstico contextual, de uma avaliação profunda do exercício progra-mático anterior e de uma visão estratégica de unicidade capaz de conectar em cadeia lógica a missão, os objectivos, as me-didas de políticas e as metas

de cada prioridade através de uma teoria de mudança inter-ligada entre diferentes ministé-rios e sectores da governação.

Por exemplo, de acordo com a Nova Democracia, é pre-ocupante a intenção expressa no PQG de “nas estatísticas: Requalificar e integrar nas esta-tísticas de emprego todas as ac-tividades individuais e colecti-vas geradoras de rendimentos”. Esta decisão é gravosa e remete à ausência de uma estratégia para materializar o compromis-

so de criação de 2,952,907 em-pregos prometidos aos jovens em conformidade com o con-ceito de trabalho digno da OIT.

Tragicamente, subentende--se que a fórmula mágica para a criação de empregos é, pura e simplesmente, contabilizar toda e qualquer actividade geradora de renda como triunfalismo progressista, quer se trate de su-bemprego, actividade informal, precária, sazonal, temporária, infantil, xitique, ilícita, agiota-gem, negócio doméstico ou ac-tividade ambulante, actualmen-te em disputa com municípios.

A situação da pessoa idosa não merece qualquer atenção em todo o PQG. Determinadas acções que constam na narrativa dos ob-jectivos estratégicos não apre-sentam os correspondentes in-dicadores de medição na matriz.

Na primeira prioridade, nas acções que contribuem no âm-bito da Educação e Desenvol-vimento Humano, não estão inclusas medidas de política para fortalecer a valorização

e motivação dos professores; elevar o uso das línguas mo-çambicanas no processo de ensino-aprendizagem; repensar a planificação e gestão escolar para implementar padrões de qualidade desde o nível local

Por outro lado, há um pa-rágrafo no referido PQG que diz: “Elevada a consciência patriótica e de cidadãos dos moçambicanos e do seu bem--estar económico e social” e o ND refere que deveria respon-der em cadeia lógica à missão central “melhorado o bem-estar e a qualidade de vida das famí-lias moçambicanas como resul-tado da equitativa distribuição da riqueza nacional com mais empregos dignos para os cida-dãos, maioritariamente jovens, e de um melhor acesso e qua-lidade dos serviços básicos à população, num ambiente de unidade, paz, igualdade e de-mocracia à escala nacional”, conforme os princípios de gestão baseada em resultados.

“Paradoxalmente, este PQG não escapou do vício de arrolar,

sem qualquer inovação, todo um rol de actividades burocráti-ca e rotineiras dos diversos sec-tores de governação ao mesmo nível, incorporando a sua soma desintegrada nos objectivos específicos das prioridades”, refere o documento do ND.

Diz ainda a análise da ND que o PQG não planifica na óp-tica de género e nem faz uma abordagem transversal às ques-tões de grupos vulneráveis, que possibilitariam a medição do impacto desagregado so-bre grupos específicos (como os indicadores impactam mu-lheres e homens, crianças, jo-vens, idosos, e outros grupos vulneráveis). É preciso tomar as questões de género e de defi-ciência como dimensões desas-sociáveis na monitoria dos pro-gressos de indicadores seja da geração de emprego, provisão de água, edificação de infra-estruturas ou acesso à justiça;

Mais ainda, o PQG apresen-ta constantemente linha de base “zero” incluindo para indicado-res com progresso nos Progra-mas Quinquenais anteriores ou nos dados do INE, não permi-tindo uma medição realística. O recomendável seria antecipar a pesquisa de base e, para casos em que dados actualizados não estivessem disponíveis adoptar a abreviatura “N/A” ou o hífen

Pontos positivos do PQG

Não obstante, a ND aponta alguns pontos positivos que o Plano Quinquenal do Governo apresenta, tais como, O enqua-dramento da proposta de PQG orientado para prioridades es-tratégicas demonstra a vontade de entender o desenvolvimen-to num contexto mais global e articular políticas económicas e sociais, com enfoque para a população com mais dificul-dades. Nota-se uma evolução comparativa ao PQG anterior, na definição de metas, atribui-ção de responsabilidades pela sua concretização e definir in-dicadores estruturais qualitati-vos mais amplos que permitam medir o impacto de parte sig-nificativa das intervenções ao nível do objectivo estratégico.

Constantino novela

zambeze | 5Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 | destaque |

Page 6: ambEz · 09 de Abril de 2020 z Onde a naçãO Se reencOntra ambEz

Quinta-feira, 09 de Abril de 20206 | zambeze 6 | zambeze | opinião |

FICHA TÉCNICAFICHA TÉCNICA

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Grafismo: NOVOmedia, SARLFotografia: José Matlhombe Revisão: AM

Expansão: Adélio Machaieie (Chefe), Cell: 82-578 0802(PBX) 82-307 3450Publicidade: Esmeralda do Amaral Cell: 82-457 6070 | 84-269 8181 | 82-307 3450 (PBX) [email protected] Impressão: Sociedade do Notícias S.A

Editor: Egídio Plácido | Cell: 82 592 4246 ou 84 771 0584(E-mail. [email protected])

Redacção: Ângelo Munguambe, Egídio Plácido e Luís Cumbe

Colunistas: Sheikh Aminuddin Mohamad, Cassamo Lalá, Francisco Rodolfo e Samuel Matusse

Colaboradores: Dávio David e Elton da Graça

Director: Ângelo Munguambe | Cell: 84 562 3544(E-mail: munguambe2 @hotmail.comRegistado sob o nº 016/GABINFO-DE/2002

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MaputadasF r a n c i s c o r o d o l F o

COVID-19

“Estado de Emergência”: Há que acelerar a disseminação de informação nas comunidades…

• “Setodossoubessemoquãoédifícilgovernar,todosobedeceriam…”

ESTADO DE EMER-GÊNCIA está aí!... Os alunos e estudantes que estão em cada casa à espera do reinício das aulas estão pasmados com este novo bicho que o Presidente da República de Moçambi-que, Filipe Jacinto NYUSI, lançou com o aval dos Deputados da Assembleia da República, na noite de 31.3.2020, para evitar que esse bicho do Coronavírus, COVID-19, se transfor-masse numa calamidade nacional – aprovada a “ra-tificação” e aprovada por aclamação o ESTADO DE EMERGÊNCIA.

Na verdade, este bicho chamado ESTADO DE EMERGÊNCIA, muitos nunca tinham ouvido fa-lar, pois nós, como país, minimizamos a questão do patriotismo, esquecendo ensinar nas escolas e uni-versidades a Lei Mãe, esse livrinho que o Governador de Inhambnane, Daniel Chapo, quer que seja pre-servado o local onde em 1975, o Presidente da Re-pública (Popular) de Mo-çambique, Samora Moisés MACHEL, foi aprovada a primeira “Constituição da

República”, na Praia de Tofo.

A “Constituição da Re-pública”, que deveria ser ensinada para todos os níveis: primário, secundá-rio e superior, é ensinada, exclusivamente e com pro-fundidade, aos que cursam “Direito” ou como está na moda “Ciências Jurídicas”.

É, por isso, que encon-tramos chefes grandes com o seu Phd e amiúde ti-tulares de muitos cargos públicos e privados que não entendem patavina da or-ganização e funcionamento do Estado moçambicano, porque não têm e nunca leram a “Constituição da República”.

Parece que teremos de ir para lá, porque “se todos soubessem o quão é difícil governar, todos iriam obedecer” – é a máxima que sempre defen-demos nos nossos escritos.

OBEDECER para os que tem a tarefa de fazer cumprir as leis não sejam obrigados a usar “cham-boco”, porque, diga-se em abono da verdade, nem sempre a informação so-bre a COVID-19 chega em tempo útil às comunidades

longínquas.Quando a Directora Na-

cional de Saúde Pública, Dra. Marlene, dá diaria-mente aquelas “Conferên-cias de Imprensa”, muitos de nós sentadinhos no sofá, podemos estar convencidos que a mensagem está che-gando mesmo aqui perto.

Nem sempre isso acon-tece, porque alguns líderes comunitários não têm se-quer rádio-receptor para sintonizar a RM (Rádio Moçambique) e amiúde tem rádio, mas não tem pilhas, para escutar a “Rádio Co-munitária”.

É por isso, que nós advo-gamos que há que potenciar o ICS (Instituto de Comuni-cação Social) para divulgar através de altifalantes nas comunidades estas e outras mensagens.

A pior coisa é ter uma sociedade “não informada”, pois parece aquela mais característica da província de Nampula, de pretender “linchar” o pessoal de Saú-de com o argumento que “eles” é que propagam a “cólera”, por causa da não compreensão da palavra “coloro”, que se introduz na água para evitar a cólera.

Neste aspecto da CO-VID-19 a lição é de tal mag-nitude que mesmo as mega-lomanias do Presidente dos EUA, Donald TRUMP, que inicialmente menosprezava os males desta pandemia, caíram por terra, sendo hoje a “Terra do Tio Sam” aquela em que as pessoas estão morrendo, como con-sequência do alastramento da doença.

Se Donald TRUMP re-conhece tardiamente, mas já o seu “amigalhaço” Jair Bolsonoro, Presidente da República Federativa do Brasil está na “maka” per-manente com o Governador de São Paulo, por Bolsonaro desrespeitar os princípios da OMS (Organização Mun-dial de Saúde) e do Ministé-rio de Saúde daquele país. Bolsonaro é da opinião de que ninguém “fica em casa”, “vamos ao trabalho”…

Sobre a COVID-9 dizia a um amigo há dias que afinal o Sector mais prioritário e estratégico é o da Saúde. Veja que até os médicos cubanos, foram “acudir” a Espanha e Itália, mas Donald Trump com a sua “vaidade” e com medo do papão “comunista” prefere

manter as sanções contra Cuba. Sanções que visam estrangular Cuba (já há 60 anos). Sanções de todo tipo, incluindo de não im-portação de medicamentos, sanções que ele TRUMP diz a muitos países, se furarem “vão ver”. Vejam só. Até quando?...

Sobre o ESTADO DE EMERGÊNCIA muitos “chapeiros” da capital mo-çambicana paralisaram a actividade, com o argu-mento de que se não andar superlotados não vão ter receita para o combustível. Qual a saída? É melhor porque teremos menos mobilidade. Todavia, há que acautelar os que tra-balham…

Temos 30 dias (30 de Abril) para o ESTADO DE EMERGÊNCIA!... Ficar em casa é mais preferível do que 700 mortos por dia, que quanto a nós, com a mania dos “enterros” em detrimento de “cremar” ou “crematório”, teríamos os nossos Lhanguene e o novo Cemitério de Michafutene a arrebentar pelas costuras.

E mais para a próxima…Vamos cumprir as reco-

mendações…

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zambeze | 7Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 zambeze | 7| opinião |

AlmAdinA SheikhAminuddinMohamad

O que aprendemos do coronavírus?

Para uma pessoa v iver sossegada e tranquilamen-te neste Mundo, o que mais ne-

cessita é de estar satisfeita.Antes do surgimento da

Covid-19 vivíamos usufruin-do de inúmeras graças e fa-vores, assim como consta no Qur’án, Cap. 14, Vers. 34:

“E se tentardes enume-rar os favores de Deus, não o conseguireis. Certamente o Homem é (na generalida-de) injusto e muito ingrato”.

Mas a maioria de entre nós olhava para isso sem se aperceber do tesouro de que usufruíam. Achavam que era algo normal, uma rotina. Alguns até se sentiam ente-diados, e outros desejavam mudar toda a rotina da sua vida caso tal fosse possível.

E só hoje que estamos a viver num “Estado de Emer-gência”, caracterizado por um isolamento quase total, é que nos apercebemos que afinal, sair de casa quando nos ape-tecesse era uma bênção e favor de Deus. Percebemos que o swalaat (oração) na mesquita, a missa na Igreja, o comércio, a deslocação para o local de trabalho ou para a escola, a saudação efusiva com apertos de mão e abraços, o viajar, a ida ao café ou ao restaurante, a visita aos pais, aos filhos, aos familiares, aos amigos ou aos doentes, a participação em velórios e funerais, as

notícias alegres, o respirar sem receio, etc., tudo isso eram graças e favores de Deus.

Com esta pandemia Deus nos está mostrando o quão fra-cos e dependentes somos nós, e o quão forte Ele é. Agora sa-bemos qual é a nossa realidade, pelo que é já altura de parar-mos com a nossa arrogância.

A p r e n d e m o s c o m a pandemia , l ições de que jamais nos esqueceremos.

Levantemos as mãos em agradecimento, e oremos fer-vorosamente do fundo dos nossos corações, prestando todos os louvores a Deus por todos os favores e gra-ças que Ele nos concede.

Quando superarmos esta difícil situação por que passa-mos, queira Deus que seja em breve, lembrar-nos-emos sem-pre destes favores e continue-mos a prestar louvores a Deus antes de dormir, e também ao acordar, dizendo: “Todo o lou-vor e gratidão para Ti, ó Deus, assim como a Tua Majestade e o Teu Grande Poder merecem”.

Depois, cada um de nós que aproveite ao máximo do usufruto dessas graças e favores. Deve ir à Mesquita ou Igreja, visitar os pais e familiares, trabalhar com afin-co, antes que qualquer outra epidemia nos volte a assolar, sem que possamos tê-lo feito.

O Corona Vírus veio re-cordar-nos que há Alguém que manda em nós e neste Mundo, pois muitas vezes

quando a pessoa consegue fazer algo, mas mesmo assim não o faz, pode chegar-lhe um tempo em que, queren-do fazer, não o conseguirá.

O Corona é um vírus invi-sível a olho nu, muito frágil, mas que pôs em pânico o Mundo inteiro, até mesmo aos que se consideravam os mais fortes e “donos do Planeta”.

Com isso aprendemos que há coisas no Mundo que são invisíveis, mas que existem. Sem dúvida uma grande lição aos agnósti-cos que dizem não acreditar em Deus, por ser invisível.

Tomemos como exemplo a inteligência. Uma pessoa pode ser inteligente e outra não. Como é que podemos classifi-car as duas pessoas para che-garmos a tal asserção, uma vez que a inteligência é invisível?

Só de ouvirmos uma pessoa a falar, dizendo coisas lógicas e com sentido, classificamo-la de inteligente, enquanto uma outra pessoa que esteja a falar de coisas insensatas, classifi-camo-la de não-inteligente. As duas pessoas não estão na nossa presença, mas só de ouvi-las falar deduzimos qual das duas é mais inteligente.

Um outro exemplo. Existe uma realidade que a ciência aceita, e todos nós acreditamos nela: a gravidade. Esta também é invisível, mas acreditamos que existe, pois quando por exemplo chutamos uma bola para o ar, por enorme que

seja o impulso no chuto que a eleva para o ar, ela volta novamente para o chão. Por-tanto, temos que acreditar que a gravidade existe, apesar de não conseguirmos vê-la.

O Qur’án diz que Deus tam-bém é uma realidade existente no Mundo onde vivemos, não obstante não O consigamos ver, mas Ele é uma realidade que não pode ser refutada.

Para nós nesta vida, isto é como as outras realidades como por exemplo, a alma. É errado exigir vê-la, da mesma forma que, se alguém exige ver a gravidade, a resposta só pode ser a de que ela não pode ser vista, mas sim entendida, pois se se meditar um pouco perceber--se-á facilmente o fenómeno.

Um outro exemplo é o do incomensurável amor que os nossos pais nutrem por nós. Seria uma grande estupidez exigir ver tal sentimento, pois o amor é para ser sentido e percebido e não para ser vis-to. Deduz-se o amor dos pais pela sua atitude para connosco.

Portanto, segundo o Qur’án, se nos debruçarmos sobre este Mundo em que vivemos, com uma mentalidade aberta, sã e inteligente, não teremos outra alternativa senão aceitarmos a re-alidade de que de facto existe um Criador deste Universo, que o gere com toda a prudência. A esse Criador chamamos Deus, Allah, God, Dieu, Gud, Nungungulo, Kulukumba, Xikwembo, etc.

Apesar de não poder ser

visto, Ele é mais real do que as coisas que são visíveis, isto é, da maneira que nós vemos que este Mundo está a funcionar. Nele há leis infalíveis, há leis da natureza, e há disciplina. E estudamos tudo isso na ciência.

Por t anto, t e mo s p e l a frente apenas duas opções:

1 – Que tudo tenha sur-gido sem inter venção de quem quer que se ja ; ou

2 – Que existe Um Projec-tista que é o Criador de tudo.

C o n s t a n o Q u r ’á n , C ap. 52 , Vers . 35 – 36 :

“Ou foram criados a par-tir do nada, ou são eles os criadores (de si próprios)? Ou criaram os Céus e a Terra”?

E é óbvio que nada aparece por si próprio, nem se cria a si próprio. Uma casa, um carro, um avião, etc., não aparecem por si próprios. Deus criou todo este Universo e estabeleceu o Seu sis-tema. E quanto mais reflectirmos nisso chegaremos à conclusão e à convicção de que Deus existe, apesar de não conseguirmos vê--Lo, pois a Sua existência é mais real e mais certa do que tudo.

Vamos todos orar e pedir--Lhe que afaste esta pande-mia, pois só Ele o pode fazer.

C o n s t a n o Q u r ’á n , C a p . 3 9 , V e r s . 7 :

“Se fordes ingratos, então sabei que certamente Deus é independente de vós (e nem pre-cisa da vossa adoração), embora não (Lhe) agrade a ingratidão de Seus servos. Mas se agradecerdes, Ele estará satisfeito convosco”.

zambEzEanUncIe nO Departamento Comercial

Contactos: (+258) 82 307 3450 (+258) 824576070 | (+258) 84 269 8181E-mail: [email protected]

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Quinta-feira, 09 de Abril de 20208 | zambeze | opinião |

O impacto do coronavírus nas escolas de condução automóvel

cassaMo lalá* sobre o aMbiente rodoviário

As escolas de c o n d u ç ã o , tal como ou-tros estabe-l e c i m e n t o s

de ensino, ficaram proibi-das de ministrar aulas te-óricas e práticas, situação que praticamente provocou a paralisação total da acti-vidade. Esta determinação do Governo, que tem por finalidade defender a saúde dos cidadãos, prevenindo e reduzindo a possibilidade de contaminação entre as pessoas por este agente in-feccioso designado por co-ronavírus, é uma causa justa.

Estamos perante um grande desafio que é impos-to aos cidadãos moçambica-nos e às instituições públicas e privadas. Esta exortação

feita pelo Excelentíssimo Presidente da República e pelo Ministério da Saúde, clama pelo dever de cidada-nia de modo a que cada um cuide de si e ajude também a cuidar dos outros. Os mo-çambicanos são chamados a fazer uma frente a este inimigo comum de modo a combate-lo com as medidas de prevenção que têm a ver, principalmente, com a higie-ne das mãos e o distancia-mento entre as pessoas, para além do uso de máscaras.

Até aqui tudo bem, porém, existem outros factores que não foram ainda abordados de forma clara pelas nossas autoridades governamentais. Este factores têm a ver com a preservação dos empregos e o pagamento dos salários aos

trabalhadores que estão sem trabalhar e as suas empresas sem poderem angariar as re-ceitas para custear as despesas mensais de uma instituição.

As escolas de condução estão inseridas na classe das pequenas empresas, mas que estão espalhadas em todo o país, criando empregos e aju-dando a preparar os cidadãos a conseguir emprego. Como pequenas empresas que são, é com o valor das inscrições dos alunos que elas pagam os salários, pagam impostos às finanças, à segurança social, energia eléctrica, água, e ou-tras despesas correntes. Com as escolas de condução inac-tivas, sem receber o valor das matrículas dos alunos, no final do mês, não têm como pagar salários. Quando uma empre-

sa deixa de produzir o sufi-ciente para poder pagar salá-rios, está praticamente falida, uma vez que também não vai poder honrar com os outros compromissos já assumidos.

Não basta ao Governo fazer apelos para que as em-presas mantenham os em-pregos mesmo sem produ-zir, sem comparticipar com algumas medidas para que se consiga ultrapassar esta fase difícil, que vai pôr em perigo a economia do País.

A CTA avançou com a proposta de se suspen-der os contratos de traba-lho por 6 meses, que con-sideramos uma medida que pode ajudar imenso a man-ter os empregos, pelo me-nos nas pequenas empresas.

No final do mês teremos

os trabalhadores das escolas de condução a quererem re-ceber os seus salários, sem terem nada produzido, mes-mo sabendo que a escola não teve inscrições de alu-nos. Como se resolve este problema? Finge-se sim-plesmente que não existe? Como é possível não enca-rar-se este problema saben-do-se que no final do mês de Abril se vai constatar?

Pelos cenários que se vislumbram podemos consi-derar que as escolas de con-dução já estão praticamente falidas face a este desam-paro por parte do Governo.

*DIRECTOR DA ESCOLA DE

CONDUÇÃO INTERNACIONAL

Comercial

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zambeze | 9Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 zambeze | 9

H á muitas reflexões em torno do terror que se instalou em Cabo Delgado, sendo a mais rígida a de que se deve intensificar o combate ao terrorismo, conjugando esforços a todos os ní-veis internos e fora de fronteira, uma vez conhecidos os proble-mas de que padece a região e consequentemente o continente.

Moçambique sem dúvidas é uma terra de grandes oportunidades eco-nómicas, mas infelizmente há forças extremistas, ligadas ao terrorismo, que pretendem inviabilizar o processo de desenvolvimento, cometendo das mais piores diabruras e fomentando o caos nos distritos da famigera-da província nortenha de Cabo Delgado, curiosamente nesta mesma onde iniciou o processo de luta que conduziria o país à Independência em 1975.

Dizíamos que as opiniões dividem-se quanto à forma de contornar este mal que cresce que nem cogumelo, com relatos que em nada abonam para um país livre. Da forma como a informação nos chega, dá a entender que dia após dia os terroristas se apropriam da província, vilipendiando populações, fomentando a desgraça e afugen-tando os investidores, dando a feia ideia de se tentar criar a todo o custo um Estado dentro da província de Cabo Delgado.Face a este quadro, urge combater um fenóme-no que põe em perigo permanentemente a paz e a segurança das nossas populações.

Já há consciência de que é preciso combater este mal. O PR indicou Basílio Monteiro para SG do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, no sentido deste ter de saber lidar e assegurar a integridade territorial do país, o que pressupõe tomada de posições enérgicas para travar os mashababos que operam em Cabo Delgado.

Face a dimensão do problema do terrorismo no norte de Moçambique, urge traçar estratégias e apresentá-las ao PR sobre o combate cerrado ao terrorismo. Não estamos em tempo de esperar ordens ou decisões de Filipe Nyusi, ele que tem uma agenda carregada de mais outros problemas. Estamos em tempo de ver, isso sim, um Monteiro a sentar e a traçar um quadro sério, onde se destaca o fim da instabilidade,

onde o terrorismo não tenha espaço para cometer atrocidades. Basílio Monteiro, o Estado Maior General, a Força Aérea, e outras áreas militares afins, devem con-jugar esforços e estarem determinados a combater ao terrorismo, porque a instabili-dade periga o progresso e impede o país de avançar para o bem-estar do seu povo.

Estes órgãos de defesa devem estar unidos contra o terrorismo, um inimi-go que é preciso combater permanentemente e sem tréguas criando condições para que tenham efectivos que garantam a segurança das suas populações.

O país não pode ser parcelado a seu bel-prazer por extremistas sem horizonte. Impõe-se a estes órgãos de defesa, contactar especialistas em combate ao terroris-mo, abandonar negociatas de armas e de mercenários fanfarrões. Aos terroristas não deve ser dada tolerância. Eles são criminosos que não hesitam em matar civis.

O terrorismo mata e destrói no Norte. Em Cabo Delgado os velhos não dormem. As mulheres não cultivam seus campos com tranquilidade, as crianças acordam sobressaltadas pelo medo do terrorismo. Em Moçambique temos que respirar paz e, neste momento, as nossas atenções devem estar concentradas na prevenção a pandemia da covid-19. Já basta de tiros. Outrossim, o assun-to Cabo Delgado é por demais sensível. Somos da opinião que os órgãos de defesa, sob a batuta de Monteiro e seus sequazes, devem criar um gabinete responsável pela interacção com os órgãos de comunicação social, onde haja seriedade e rigor no tratamento de matérias militares. Os que aparecem a uivar nas tvs por ora, não passam de maltrapilhos que confundem a opinião pública.

Editorial

| opinião |

Terrorismo precisa de um chega pra lá!

Covid-19 e demagogia

Antes que todo o mundo comece a concordar comigo, apresso--me a levantar um ponto de mesa também para realçar que tudo o que escrevo ou digo é fruto da reflexão que faço sobre os méritos das questões e não porque tenho um posicionamento ideológico a defender. Tenho visto várias pessoas no facebook e no whatsApp a “convidarem” os Mozes ricos a doar parte da sua riqueza para aju-dar a combater à pandemia. Isto é demagogia e em tempos de cri-se pode ser problemático. Embora por enquanto improvável, mas não impossível, pode ser que um dia a mesma lógica leve pessoas a violarem a propriedade dos que estão melhor simplesmente por-que estamos em crise e todos têm direito à vida. Há assomos de ra-ciocínio que precisam de ser pensados antes de serem exprimidos.

A vida em comunidade implica o compromisso de cada um de nós com a sorte dos outros. O ideal de justiça coloca naquele que tem mais do que os outros uma espécie de peso na consciên-cia. Do ponto de vista ético, contudo, esse peso devia ser sentido por todos aqueles que têm mais do que necessitam para garantir a sua própria existência. Peter Singer, um filósofo australiano, co-locou este problema moral da forma mais radical possível quando nos colocou na obrigação moral de darmos tudo o que temos em ex-cesso para que os outros possam garantir a sua existência também. Ele girou a faca na ferida ao comparar a nossa indiferença ao so-frimento dos outros ao caso duma criança que se afoga num lago e nós não acudimos porque não queremos estragar a nossa roupa.

Este argumento mostra que o dever de ajudar recai sobre todos nós, não só sobre os ricos ou mais ricos ou ainda os que se tornaram ricos por via ilegal. Antes de fazer essa exigência cada um de nós devia perguntar a si próprio se precisa de tudo quanto tem neste mo-mento e se não faria sentido vender tudo o que não é essencial para a sua existência (DSTV, vestuário, bebidas alcoólicas, etc.) e doar o dinheiro ao Governo para comprar máscaras e kits de testagem.

A posição de Singer mistura várias abordagens éticas, desde a virtude (um acto é bom quando mostra o tipo de pessoa que somos – boa pessoa ou pessoa com virtudes humanas), passando pelo uti-litarismo (o que é bom é o que dá a maior felicidade ao maior nú-mero de pessoas) até ao consequencialismo (o que é bom é o que é bom nas suas consequências). Na prática política, as coisas não são assim tão simples como podem parecer. Normalmente, o com-promisso ético é garantido pela constituição a partir da definição dos direitos e liberdades das pessoas, mas acima de tudo, da defi-nição do dever que o estado tem em relação a cada um de nós. E aqui a porca torce o rabo, pois esse dever estatal esbarra em algu-mas liberdades fundamentais como, por exemplo, o direito à autono-mia, à propriedade, e à protecção contra a arbitrariedade do estado.

Por exemplo, com que direito podemos, a partir da constituição, exigir que os ricos nos acudam neste momento de crise? Como conci-liamos isso com o direito que eles têm ao que é seu, não importa como o adquiriram? E há também o problema da eficácia: não faz mais sen-tido que eles retenham o que têm para continuarem a garantir, através de empregos, a sobrevivência dos demais? Não faz mais sentido exigir que eles tenham um peso fiscal maior para que o estado crie reservas e em momentos de crise recorra a essas reservas para salvar vidas?

Não estou a querer ser desmancha-prazeres, nem defensor dos ri-cos. Estou a dizer que certos assuntos são importantes demais para serem tratados em forma de slogans indignados. Eu disponho de mui-to mais do que preciso para sobreviver, mas ainda não fiz nenhuma doação. Sou má pessoa? A reflexão que faço para ajudar a pensar o problema não conta como contribuição? Tenho algum direito de exi-gir de outros em melhores condições do que eu que façam o que faço (ou não faço)? E quem não fizer o que eu faço é má pessoa em virtu-de disso? Que tipo de Moz tenho em mente quando desenvolvo esse tipo de expectativa ética? Que tipo de estruturas políticas precisam de ser pensadas em Moz para que aquilo que esperamos hoje dos ricos faça parte do compromisso da nossa sociedade com a justiça social?

No fundo, quando digo que crise é uma oportunidade refiro-me a este tipo de coisas.

Temos aqui uma oportunidade para reflectir seriamente sobre o tipo de país que gostaríamos de ser. Sem demagogia que um dia ainda nos pode engolir...

elísio MacaMo

Page 10: ambEz · 09 de Abril de 2020 z Onde a naçãO Se reencOntra ambEz

O plano Quinquenal do Governo (PQG) para o período 2020/2024, aprovado semana passada em sede da Assembleia da República, vai dar prioridade as áreas sociais, tais como edu-cação, saúde, juventude, desporto, cultura e protecção social. Esta priorização tem como objectivos de base, a melhoria do bem-estar e da qualidade de vida das famílias moçambicanas; redução da pobreza e desigualdades sociais; criação de empre-go e promoção de um ambiente de paz, harmonia e tranquili-dade. Assim, prevê-se a alocação de 20 por cento do Orçamento do Estado para a educação, 15 por cento para a saúde e cons-trução de oito centros de formação profissional em todo o país.

De acordo com o Primeiro--Ministro, Car-los Agostinho do Rosário, a

dinamização da agricultura e a industrialização, associadas a acções nas áreas de energia, infra-estruturas, turismo e dos projectos de hidrocarbonetos, constitui a base para o alcance das metas de geração de em-prego previstas no PQG. Nes-ta área destaca-se a alocação de 10 por cento do Orçamen-to do Estado para continuar a expandir os perímetros irriga-dos e promover o uso susten-tável dos recursos hídricos, com vista ao aproveitamento integral das áreas agrícolas.

Com este investimento, pretende-se, igualmente, ex-pandir a assistência e a exten-são agrária rural, orientada para o acompanhamento so-

cial e produtivo das famílias, bem como promover o fomen-to agrário e pecuário, além do financiamento à produção.

Para a área da saúde, o Governo pretende continuar a expandir a rede sanitária e me-lhorar a qualidade dos serviços de saúde, para o que vai alocar 15 por cento do Orçamento de Estado para este sector. Pers-pectiva-se a conclusão e apetre-chamento dos hospitais gerais da Beira e de Nampula assim como dos hospitais provinciais de Lichinga e Maxixe; a cons-trução de 31 hospitais de nível distrital em todo o território na-cional, no âmbito da iniciativa presidencial “Um distrito, um hospital”, entre outras acções prioritárias para o sector, como a formação de pessoal médico e aquisição de equipamentos para as unidades sanitárias.

No que diz respeito à edu-

cação, o Primeiro-Ministro ex-plicou que o Executivo vai con-tinuar a expandir a rede escolar e melhorar a qualidade de en-sino, alocando 20 por cento do Orçamento do Estado para este sector; garantir a contratação de cerca de 48 mil professores para todo o Sistema Nacional de Ensino, contra cerca de 36 mil contratados no quinquénio passado; construir 3355 salas de aulas para o ensino primá-rio, que vão beneficiar cerca de 334 mil crianças; e 2000 salas de aulas para o ensino secundário, beneficiando 220

mil alunos. Está igualmente prevista a aquisição de 260.875 carteiras para cerca de um mi-lhão de alunos em todo o país.

Por outro lado, O PQG tem o seu enfoque nas áreas da ma-nutenção da paz, democracia e unidade nacional; crescimento inclusivo e sustentável; estabi-lidade social e económica; di-namização da produtividade e competitividade da economia; mudanças climáticas; promo-ção do empreendedorismo e inovação tecnológica; e boa governação e descentralização.

O programa aprovado pelo Parlamento está estruturado em três prioridades, nomeada-mente o desenvolvimento do capital humano e justiça social; impulso ao crescimento econó-mico, produtividade e geração de emprego; e fortalecimento da gestão sustentável dos re-cursos naturais e ambiente.

Entretanto, o documento foi aprovado no meio à dis-córdia por parte dos deputa-dos da Bancada Parlamentar da Renamo e do Movimento Democrático de Moçambi-que (MDM), que alegam que o Governo foi legitimado de forma fraudulenta nas eleições de 15 de Outubro de 2019.

Outras áreas

Nas infra-estruturas econó-micas e sociais, o enfoque vai para a construção, reabilita-ção e manutenção de estradas, pontes, barragens, sistemas de abastecimento de água e sanea-mento, bem como dos transpor-tes, comunicações e energia.

Nas pescas, prevê-se, entre outras acções, o aumento da produção do peixe, passando das actuais 421 mil toneladas por ano para 684 mil em 2024.

Quanto ao abastecimento de água, aponta-se a construção de 360 sistemas e 10.500 fontes, que irão beneficiar mais de cin-co milhões de pessoas nas zonas rurais, e a construção de 32 sis-temas nas vilas e cidades, para estabelecer cerca de 110 mil novas ligações domiciliárias, abrangendo 820 mil pessoas.

Para além destes sectores, o Primeiro-ministro referiu-se a outras apostas do Governo, no-meadamente a electrificação de todos os postos administrativos do país até ao fim do presente quinquénio, depois de se terem coberto as sedes distritais no mandato passado, estando pre-vista a construção de centrais a gás natural e painéis solares, as-sim como centrais mini-hídricas.

Na área de hidrocarbonetos, o objectivo é assegurar que os projectos contribuam para a ge-ração de mais energia eléctrica para o consumo nacional, produ-ção de fertilizantes para dinami-zar a agricultura e mais combus-tíveis líquidos e gás de cozinha.

O Executivo aposta ainda na acção combinada das políticas fiscal e monetária para manter a inflação baixa e preservar o va-lor do metical, bem como con-tinuar a estabilizar a economia e melhorar o desempenho do sector empresarial do Estado e prosseguir com a implementa-ção de reformas para catalisar o ambiente de negócios no país.

Plano quinquenal do Governo 2020

Governo prioriza áreas sociais

Constantino novela

Quinta-feira, 09 de Abril de 202010 | zambeze |naCional|

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Turismo aperta o cintoO sector do turismo em

Moçambique tenta manter o foco para enfrentar uma cri-se nunca vista, num país que tem uma forte dependência da entrada de divisas estran-geiras através dos ‘resorts’ e empreendimentos turísticos.

“O objec-t i v o a g o r a é mi-n i m i -

zar ao máximo os custos para poder passar esta temporada sem ter de ir ao custo prin-cipal: os trabalhadores. Não há despedimentos, mas esta-mos a mandar de férias quem tem de ir, a procurar reduzir custos”, explica Rui Mon-teiro, empresário do sector.

Apertar o cinto é ideia co-mum a quase todos os empre-sários do sector face às restri-ções de viagens provocadas pela pandemia da covid-19.

“A situação não está boa. Acho que não há sa-ída”, diz Emília Naiene.

A empresária gostava de “ver até onde isto vai, porque as pessoas não circulam, há medo

de circular”, mas a incerteza não deixa descobrir o horizonte.

“É só esperar e ter paciência, esperar até que a crise passe. Penso que vamos ter fé”, remata.

O sector do turismo deverá ser o mais afectado em Mo-çambique devido ao novo co-ronavírus, de acordo com um estudo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), principal associação patronal do país.

Praias de sonho banhadas pelo oceano Índico, parques na-turais e locais históricos estão vazios, num cenário que aconte-ce um pouco por todo o mundo.

Em Moçambique, no me-lhor dos cenários previstos pela CTA, as perdas no turismo equi-valem a um quinto de todo o prejuízo do sector empresarial.

No pior dos casos, pode ser o equivalente a um terço.

O estudo da confederação

patronal aponta para perdas entre 234 a 375 milhões de dólares (216 a 347 milhões de euros) em todo o sector empresarial do país, 53 a 71 milhões de dólares (49 a 65 milhões de euros) no turismo.

“Os dados de grande parte dos operadores do sector do turismo sugerem que tiveram perdas de cerca de 35% no mês de Janeiro, 45% em Fevereiro e 65% em Março face a iguais

períodos de 2019″, sublinha a pesquisa da CTA, basea-da em inquéritos à empresas.

Para fazer face à situação, a confederação patronal suge-riu na última semana a suspen-são dos contratos de trabalho durante seis meses (‘lay-off’) em que as empresas deixem de pagar os salários a 100%.

“Para evitar os impactos sociais que esta medida pode acarretar, propõe-se a aprova-ção de um pacote de subsídio aos trabalhadores”, cobrin-do toda a despesa salarial, o que pode ascender a 44,4 mi-lhões de euros, valor supor-tado pelo Estado e parceiros.

A instituição defende ain-da medidas fiscais, aduanei-ras e financeiras “aplicáveis a todos os sectores económicos e que devem ser implemen-tadas em função dos alertas do nível de gravidade do ris-co da pandemia da covid-19″.

No total, o “pacote de me-didas imediatas a serem im-plementadas para os sectores prioritários” proposto pela CTA tem um custo de 322,3 milhões de euros. (Lusa)

zambeze | 11Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 |naCional|

Comercial

Page 12: ambEz · 09 de Abril de 2020 z Onde a naçãO Se reencOntra ambEz

Quinta-feira, 09 de Abril de 202012 | zambeze | Centrais|

Mas, afinal, de onde provém a determinação de ser o homem a “cabeça” (chefe, líder), a quem a mulher lhe deve submissão (obediência), uma lei/costume, assumida, por muitas mulheres feministas e modernistas, como desajustada e combatida na so-ciedade? Modernas, sim, porque, neste meio, se considera que aquela lei costumeira e doutrina religiosa é qualificada de tra-dicional, ultrapassada, discriminatória, injusta e machista. Ali-ás, mesmo a própria cultura ocidental, ou seja, a religião cristã, tem dificuldades de assumir submissão da mulher ao homem, actualmente, como tal, na letra e no espírito da mensagem es-crita no livro sagrado, a Bíblia. Como membros da moderni-dade, os líderes religiosos (diáconos, padres/pastores e bispos) reinterpretam a mensagem aos Efésios 5: 24 (“As esposas es-tejam em tudo sujeitas a seus próprios maridos”), quando ela é clara e crua. Neste aspecto, deve-se reconhecer as diferentes interpretações que emergem das muitas igrejas cristãs criadas a partir de igrejas tradicionais (católica e protestantes), inter-pretam as escrituras bíblicas nos contextos culturais africanos, que possui estruturas socioculturais determinadas e consolida-das. Há muitas destas igrejas onde o termo submissão é inter-pretado à letra e a mulher não assume muitas das responsabi-lidades onde noutras são saudadas como libertação? Qual é, então, o real sentido do termo submissão de que muitos líderes religiosos alinham com os movimentos feministas ou libertários?

Queremos, neste debate, assumir a relação mulher – homem, no as-pecto relacional,

exactamente amorosa, o fun-damental vínculo que une estes dois seres para garantir a vida. É, pois, a relação amorosa que deve ser, acima de tudo, privilegiada e defendida pois é ela que garan-te o resto, incluindo a aspirada igualdade de que muitas mulhe-res modernistas/feministas se batem por assumir que a submis-são da mulher ao homem é um prejuízo para a mesma. Qualquer

proposta que ponha em causa a possibilidade de duma relação amorosa, aquela que garante, primeiro, a própria vida através da reprodução e, segunda, duma relação compreensível entre am-bos (homem e mulher por ser a sustentável, isto é, possível, não significando que tem de ser a ideal. O ideal de amor é aquela em que cada um deles, homem e mulher, experimenta a graça, a fé provada de que o/a outro/a o/a assume e dele/a gosta (ama) no (físico, material, social, cultural, formativo, ideológico, religioso, santo, pecaminoso, político, ét-

nico, racial, regional, histórico, etc.) natural, isto é, incondicio-nal, não dependendo, o amor, da sua sorte. Este nível /tipo de amor ideal é experimentado como uma graça, uma doçura que, vivida, o resto, a não ser o amor e as suas implicações são o que têm valor e que somente é o que vale viver e ser, incluindo a submissão por que recebeu a do-ação de graça. É que as proprie-dades /características desta graça amorosa são a sua gratuidade, isto é, o facto de o/a agraciado/a reconhecer não ter nada feito para esse benefício (graça); o amante: a identificação dum ente (pessoa ou personificada) doador dessa graça pelo seu sacrifício pessoal. Este ente é adjectivado por Cristo (este é o significa-do deste termo) e este, por ser Cristo, aponta um ente superior a quem ele serve (se submete) e que é a origem da possibilidade da graça; um ente superior que só pode ser o criador da/e a própria graça e todo-poderoso: Deus.

Estas (nossas) considera-ções ideológicas são defendidas pelo teólogo, filosofo, professor universitário e ex-sacerdote ca-tólico Leonard Boff, na sua “A graça libertadora do mundo”, de que, apesar de o homem já não se puder definir em termos de criaturidade, ou seja, de que ele já é e nunca sempre será na base do que foi criado pois é uma abertura, é “o que pode vir a ser” como resultado da sua capacidade criadora, (Boff) não deixa de indicar que o objectivo último da sua existência: a graça.

Esta introdução serve para sustentar a nossa hipótese da possibilidade de se descobrir uma saída positiva de quem (ho-mem e mulher) se encontre numa das “difíceis” situações anterio-res e contribuir para a explicação positiva do conceito submissão, isto é, aquele que satisfaz, como vimos, as camadas altas, assumi-do negativamente porque que, deixando ele de existir, as mu-lheres que não se submetem le-vam uma vida negativa. O versí-culo 24 para os mesmos Efésios justifica a submissão explicando que “Assim como a igreja está sujeita a Cristo, de igual modo as esposas estejam em tudo su-jeitas a seus próprios maridos”. “Que grossaria!”, dizem os mo-dernistas, incluindo os muitos cristãos. É que, na era dos di-reitos universais humanos, não se descrimina o papel de cada género para com o outro e essa visão, negada por muitas por ser julgada impositiva e achar que desconsidera os direitos huma-nos e universais. Porém, sobre esta super valorização do carác-ter universal, na modernidade, o Professor Boaventura de Sousa, um dos maiores defensores dos desfavorecidos, observa, sobre o discurso da igualdade, que “Te-mos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza [mas também] temos o direito a ser di-ferentes quando a igualdade nos descaracteriza”, o mesmo que afirmar que sem a diferença não se pode falar de igualdade e ao se promover a igualdade da mulher, deve-se também se referir as

suas diferenças ou as suas espe-cificidades da mulher em todos os domínios, para contrastar com muitos dos efeitos negativos do discurso igualitário que segun-do o mesmo Professor Santos, em que o “discurso generoso e sedutor sobre os Direitos Huma-nos coexistiu com atrocidades indescritíveis”. “Coexistiu” e/ou provocou e provoca muitos ma-les que resultam de um discurso de igualitarismo absoluto sem a contraparte de diferença de modo a promover uma relação sustentável que garanta a vida. Esta insustentabilidade reside na questão de “Quantos homens e mulheres modernistas, feminis-tas, que, na incapacidade de si mesmo, que a mulher o homem são uma chatice para uma vida a dois, muitas vezes, em generali-zação duma experiência negativa de convivência com alguém?”.

Da ciência humana, que nos permite rever estas questões, o paradigma Pós-Modernidade, defendido e divulgado pelo mes-mo Professor Boaventura de Sousa, é que se oferece para tal pois este paradigma consegue o que a ciência modernista nunca alcançou: a conjugação copula-tiva (e) dos fenómenos e a não disjuntiva (ou). É assim que se podem conjugar o elemento reli-gioso e o racional e se descobrir a sua intersecção, a possibilidade necessária de coexistência entre os pares / dualismos, aparente-

Do homem que é “cabeça” à igualdade e submissão da mulher (Conclusão)

alberto lote tCheCo

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zambeze | 13Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 | Centrais|

mente opostos como universal/particular, moderno/tradicional, submissão/poder. Assim, da sub-missão, de que somente se vê a fraqueza de quem se submete e o abuso do poder de quem sub-mete, ela deixa de o ser pois se pode tornar a atitude fundamen-tal de sobrevivência humana. Na mesma visão unilaterista, muitas vezes, a mensagem pacífica da religiosa é também assumida como fraca, com como se esta não tivesse em si o poder, aquele a que o Professor Boaventura o qualifica de “subversivo”, quan-do se ousa interpretar o mundo de acordo com a sua visão e não se acomodar nele, isto é, exer-cendo o direito de crítica. A sub-missão significa então, como se afirma no Efésios 24, a relação da pessoa com o ente do poder supremo, neste caso, o Absolu-to (Deus, Cristo) gerador e ele mesmo a graça, comportando--se, de acordo com este Absoluto que o amou pela graça como no que confessa o apóstolo Paulo em Gálatas 2:20: “Fui crucifi-cado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E essa nova vida que agora vivo no corpo, vivo-a exclusivamente pela fé no Filho de Deus, que me amou e se sacrificou por mim”. O homem assim como a mulher pode se submeter ao outro. É neste sentido que a religião de-saconselha o divórcio e outras

práticas contrárias, rebeldes.A utilização do discurso reli-

gioso cristão não deve ser visto como o único existente com es-tes valores e de igrejas pois mui-tos outros discursos religiosos, de outras religiões, incluindo o do Bantuísmo (a maior religião original e actual da África ne-gra, ao lado de outras religiões universais como Cristianismo e o Islamismo). Os termos Deus e Cristo são aqui assumidos no sentido boffiano em que Cristo é um adjectivo para quem ama pela graça (autodoação) e Deus, como origem e pai de Cristo, por isso, criador e todo-poderoso. Como se já referiu, a graça é ex-perimentada como um estado de imprevisibilidade, de desmere-cimento e, por isso, bênção e de agradecimento, e da vontade de se submeter a Cristo e se Deus, que se torna o Deus do agracia-do. O estado de graça remete, portanto, ao estado de desgraça, pois o agraciado assim se sente na graça que experimenta do seu amante. Assim se pode entender a tese boffiana de que não há gra-ça sem a desgraça ou que é/pode ser na desgraça que a pessoa agraciada experimenta e reco-nhece a graça, o Cristo e o deus a que os assume como Cristo e Deus pessoais. Portanto, situa-ções como a do ciclone Idai, em que a cidade da Beira e milhares dos seus habitantes foram atin-gidas dramaticamente por este

fenómeno natural, não podem ser assumidas como factores de descrença, mas o contrário: o ressurgimento da religiosidade, ou seja, o reconhecimento do po-der criador e todo-poderoso de Deus pois o homem reconhece a sua impotência de sobrevivência ante o poder destrutivo de Deus, e o salvo reconhecer nele o Cris-to que, tendo se salvo, mesmo no sofrimento e mortes dos seus entes queridos, sente a graça e se ajoelha, em sinal de submissão.

Assim, na fuga de uma situa-ção em que a mulher ou homem acha que o/a parceiro/a nada está a fazer, desde que não seja pela preguiça, pode estar a fugir da graça, da oportunidade de se sen-tir realmente amado exactamen-te por desmerecer, pois a graça, como afirma Boff, é gratuita, im-previsível e não dedutiva, isto é, ali onde a pessoa se vê incapaci-tada para modificar as relações, de se retirar da desgraça, por sua incapacidade ou do/a outro/a, se criam as bases para a graça, o amor gratuito. Feliz aquele que, pela fé, já assume que essa “des-graça” é uma graça ou a condi-ção para a graça pois, como en-sina Cristo Jesus, “se amais os que vos amam, que graça tem” ou seja, o ganhais?, nada, pois o que de mais e tudo queremos é graça ou seja, dizer obrigado. Na mesma ordem, “se fizerdes bem ao que vo-lo fazem, que graça tem? … Se emprestardes àque-

les de quem esperais receber, que graça tem?”, ao que Boff observa sobre o sentido destas palavras: “O sentido é óbvio: um amor assim não é gratuito e es-pontâneo [pois] recebe-se sem-pre uma recompensa. O amor ao inimigo (desgraça) é que tem graça (é encantador e belo)”. Seja este inimigo (que deixa de o ser) o teu marido ou esposa, se se submeter, isto é, cumprir as suas obrigações, por assim crer ser amado por Cristo, é que se pode (vir a) experimentar a gra-ça, o amor gratuito. E todos os actos contrários da aceitação da “desgraça” afastam essa possibi-lidade de graça e amor gratuito.

É assim que podemos assu-mir a submissão da mulher como acto de graça para ela mesma, sem que tal possa se orgulhar de qualquer outro poder de insub-missão para o seu próprio bem ou de uma igualdade de o reco-nhecimento da sua especificida-de na relação com o seu homem. Mas também o homem, que, no seu poder de dominar, ainda que o possa, fisicamente, é psicologi-camente, derrotado e experimen-ta frustrações quando também não possui esta qualidade de submissão, que é suportar a sua mulher e ver, nessa “desgraça”, a (oportunidade) da graça que o levará, um dia, a dizer “obri-gado” por a ter como esposa.

O foco na mulher como quem se deve submeter é que a mulher sofre uma dupla subor-dinação. Pode sofrer pelo poder superior (físico) do homem, ca-paz de o condicionar e humilhar, como Deus o faz através dos Ida e Covid-19. Aqui, não vale tan-to pensar em condicionalismos sociais e ver neles algum factor de determinar a sua condição natural como os elementos ci-vilizacionais como este dos di-reitos humanos, da instrução, da justiça que a protege e pune o homem transgressor, da mu-lher poderosa e capaz de se su-portar. Estes construtivos podem existir, mas quantas mulheres, no país e no mundo, são sus-tentadas pelos mesmos? E mes-mo nos espaços modernos onde eles vigoram, tal como acontece com o Covid-19, podem eclipsar e colocar o homem na sua con-dição natural como acontecem e vivem todos os animais onde impera a lei física do mais for-te. Não é assim o que acontece também nos espaços de conflitos armados onde é e tem de ser o homem a valer se pela sua força para defender a própria mulher

e, por esta situação, esta tem de ser submissa ao homem? Nós somos afinal animais humanos e a animalidade que relaciona os restantes animais também é a base da nossa humanidade. O Covid-19 serve esta nossa asser-ção de impotência e da crença na sorte para a sobrevivência, o que passa pela desconfiança aos poderes científicos e técni-cos que fizeram acreditar se o homem de sorte diferente da de outros animais que até podem sobreviver perante os poderes naturais destrutivos como as tempestades, vírus guerras, etc.

Concluindo, pode se afirmar que a submissão deve aos dois, homem e mulher, para uma vida feliz de ambos, mas não pode restar nenhuma dúvida que a submissão da mulher ao homem constitui um factor da sua pró-pria sobrevivência porque se as-sim não for, isso pode ressurgir um confronto com o homem e ela não só pode sair vencida. E esta submissão da mulher abran-ge, para a sobrevivência huma-na, vários papéis dela na sua re-lação com o homem, enquanto o principal papel do homem, pela sua natural “homenidade” (físi-ca, psicológica, intelectual, etc.) o de defender a mulher com todo o sacrifício, incluindo o de dor, derramamento de sangue e mor-te. Como então, não falar da dife-rença entre o homem e a mulher para os tornar amigos, compa-nheiros e suportáveis enquanto seres naturais e eternamente di-ferentes, pregando sempre uma igualdade sem diferença? É que com esta “igualização”(porque não considera as diferenças) não se prepara tanto a mulher, como o homem, para os momentos de crises “coronávicas”, aquelas em que, como o que aconteceu na cidade afectada pelo Idai, as construções humanas, incluindo a electricidade e comunicações, foram destruídas e os humanos, de repente, viveram situações de naturalidade, dependendo da sua sorte natural, pondo a nu a total fraqueza humana e a mulher, mais vulnerável, temendo o pior dos bandos de homens que já iam impondo a sua lei na base da força física como acontece nas zonas de guerra. Daí, a submis-são não é expressão de fraqueza, mas estratégica para a sobrevi-vência ante um poder superior e destrutivo/a que o/a submisso/a se sinta em graça amorosa e não a condicionada por algum outro poder, que é falso e autodestru-tivo para quem nele se apoia.

Do homem que é “cabeça” à igualdade e submissão da mulher (Conclusão)

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Quinta-feira, 09 de Abril de 202014 | zambeze | naCional |

ZoomJosé MatlhoMbe

roberto inguane

Surgiu em Dezembro de 2019 e logo se alastrou para vários cantos do mundo, até ser considerada pandemia. Além de tirar vidas, a Covid-19 mudou por completo a dinâmica mundial. A maioria das grandes cidades estão isoladas. Já não há eventos desportivos, culturais, políticos e académicos em vários países, pelo que, depois disto, a vida jamais será a mesma.

Moçambique não foge a esta reali-dade. Dias antes de ter

sido registado o primeiro caso do novo Coronavírus no país, já havia sido decre-tada a redução do número de pessoas no mesmo local, inicialmente para o máximo de 300 pessoas, o que obrigou a paralisação das aulas em todos os subsistemas de ensi-no. É na tentativa de arranjar soluções, quem sabe “ganhar tempo”, e avançar no seu plano analítico que o docente, jornalista e pesquisador, Leo-nel Matusse Jr., acredita que, neste momento de isolamen-to social, as redes sociais são a melhor solução para salvar o ano lectivo. ‘‘Tenho usado o WhatsApp para as orien-tações e o Google docs para

a partilha de ficheiros. Há outras opções como o Zoom meeting, entre outros. Estou a ponderar a abertura de um canal fechado no YouTube, só para estudantes. Há várias opções.’’, afirmou. Com isso Matusse dá a entender que é possível evitar que as ac-tividades académicas sejam paralisadas no seu todo.

As propostas sugeridas por Matusse Jr. para de-senfrear o impacto do vírus não se mostram distantes da realidade moçambicana. Vale lembrar que estamos diante de uma ‘‘geração ecranizada’’, uma era com pessoas expos-tas às telas. A vida académica dos últimos anos é carac-terizada por um cenário de estudantes que usam as redes sociais como WhatsApp para a partilha de conteúdos, os correios electrónicos e mais

aplicativos encurtadores de distâncias. A isto também se pode juntar o sistema de ensi-no à online. São as razões que levam Matusse Jr. a acreditar que esta seja uma possível so-lução para o problema impos-to pela Covid-19 à educação. ‘‘Anima-me pensar que já há vários cursos em níveis de licenciatura e mestrado que são feitos à distância. Aliás, o nosso Sistema Nacional de Educação lecciona neste sistema online.’’

Uma variável a não ser esquecida é que Moçambi-que é um país pobre, de uma ou doutra forma este factor viria a pesar nas propostas de Matusse Jr., foi a pensar na falta de meios para aderir a estas tentativas de livrar da ‘‘morte’’ a actividade aca-démica que Matusse Jr. teria afirmado ‘‘antes do acesso a internet, que pode signifcar, por exemplo, não ter megas, há o facto de não possuir um smartphone ou um compu-tador. Infelizmente, calculo, haverá excluídos. Caberá a nós professores encontrar soluções para estes casos. Pessoalmente, ainda não tenho.’’

Matusse Jr., em suas pa-lavras reconhece que há fac-tores que vão comprometer a inclusão social, este ainda faz menção de factores que vão colocar em questão o méto-do que deve ser usado para dar continuidade ao mundo académico. ‘‘O contacto pre-sencial, o gesto, o tom de voz, a possibilidade de, ao notar o franzir de um olhar, durante uma semana explicação, são elementos que me ajudam a perceber se tenho de mudar o vocabulário, a linguagem - o que quer que seja - para me fazer perceber.’’Portanto, fora de questões de disposição de meios, Matusse Jr. olha para outras questões, conforme o disposto acima. Ainda sobre o ponto de vista do uso das plataformas a serem usadas ‘‘confesso que desconheço a eficácia do método, é a minha primeira experiência com esta situação’’, explicou. Face ao contexto actual, Moçam-bique mostra-se frágil para travar a parada da activida-de académica forçada pela Covid-19, ‘‘ninguém estava preparado.’’

Matusse Jr., apesar do despreparo, prefere acreditar

que o mundo digital é respos-ta mais viável, ‘‘mostra-se ser o caminho mais eficaz.’’ Mais factores foram por ele chama-dos para evitar a ‘‘morte’’ do ano lectivo ‘‘pessoalmente, penso que o saber depende sempre da vontade que tenho de adquiri-lo. Se eu estiver curioso em entender melhor o mundo, se estiver preo-cupado em descobrir mais, infalivelmente, é viável. Eu comecei a comprar livros científicos depois da licencia-tura. Os livros que usei para o curso estavam em formato PDF. Imaginemos que o estu-dante, mesmo com a biblio-teca aberta e cadeiras vagas não vai lá, há-de, agora, ir a net à procura de respostas? Acho pouco provável. Ou seja, depende do estudante. Obviamente que o profes-sor tem de estar preparado para esclarecer e conduzir o estudante.’’Matusse Jr. con-sidera o interesse individual do estudante para aprender neste cenário. ‘‘É preciso esclarecer que este método exige muita responsabilidade de ambas partes, docentes e estudantes. Sobretudo do segundo grupo.’’

Educação não estava preparada para pandemia

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Kelly Mwenda

zambeze | 15Quinta-feira, 09 de Abril de 2020

A polícia da República de Moçambique, em Manica, re-cuperou, fim-de-semana, na cidade de Chimoio, uma via-tura que havia sido roubada na província de Nampula, a norte do país, na semana passada, acto que culminou com assassinato do condutor da mesma, quando os supostos mal-feitores logravam os seus intentos para se apoderar da via-tura pertencente a uma empresa de aluguer de automóveis.

Em conexão com o caso, a PRM em Manica de-teve este fim-de--semana um ci-

dadão de trinta e oito anos de idade que se encontrava na posse da referida viatura al-gures na cidade de Chimoio, por sinal, segundo a polícia, membro de uma quadrilha que se dedica a subtracção de via-turas nas províncias do norte do país, usando as províncias de Sofala, Tete e Manica como principais pontos de venda.

De acordo com o porta-voz da unidade provincial da PRM em Manica, Mateus Avelino Mindú, trata-se de um traba-lho conjunto da corporação das províncias de Manica e Nam-pula, este que culminou com a detenção de quarto cidadãos nacionais, sendo que outros três encontram-se nas celas do comando provincial de Nam-pula, ainda assim investigações correm com vista a neutralizar outros integrantes da suposta quadrilha, como afirma Mindú.

“Malfeitores há dias assas-sinaram um cidadão por sinal motorista de uma viatura de marca HILUX modelo D4D na província de Nampula, após o assassinato subtraíram a viatura de Nampula para Província de Manica. A polícia já em Chi-moio tomou conhecimento do facto, tendo lançando as suas linhas operativas que culmi-naram com a detenção de um dos integrantes e também a re-cuperação da viatura e a peça de expediente já foi lavrada, será encaminhada a instâncias competentes para posteriores seguimentos legais”, disse o porta-voz da PRM em Ma-nica Mateus Avelino Mindú.

O cidadão detido chamado Orlando Baptista disse que já

foi prisioneiro por doze dias em Cabo-delgado por atrope-lamento mortal de um menor, sobre o caso da viatura na sua posse, disse que saiu da pro-víncia de Nampula de Machim-bombo para prestar serviço de um senhor chamado Abacar Nazir, residente em Maputo, para buscar a viatura no posto administrativo de Inchope em Gondola para entregar a uma outra pessoa em Chimoio afim

de receber vinte mil meticais. “Eu estou aqui desde dia 21

de Março, e esse carro está aqui há três dias e eu estou preso porque fui levar esse carro no Inchope e não sabia que esse carro era roubado, um amigo que conheci na cadeia de Pem-ba me ligou de Maputo disse para eu levar o carro deixar no Chimoio, entregar a pessoa e a pessoa me dar dinheiro, vin-te mil só que não conhecia em casa dessa pessoa. É pela pri-meira vez que faço esse tipo de trabalho e eu não sabia que o dono foi assassinado, a polí-cia me localizou porque de re-pente fui ligado por um amigo para ir ao seu encontro, mas eu não sei de nada, sou inocente”,

Orlando Baptista, recusando as acusações que lhe pesam.

Abortada tentativa de rapto

Ainda em Manica, está sob custódia policial igualmente uma cidadã de 40 anos de ida-de, residente na cidade de Chi-moio, no bairro Nhamaonha, acusada de tentativa de rapto do seu sobrinho de três dias de vida para, alegadamente, tra-tamento de uma doença que a mesma acredita padecer nos membros inferiores de forma supersticiosa, há mais de cin-co anos e sem sinais de cura.

Trata-se de uma cidadã na-cional chamada Linda Zacarias, que tem dificuldades de se loco-mover por padecer de Elefantí-ase/Paquidermia, uma doença que lhe tira o sossego por mui-tos anos, a mesma teria recebido recomendações de um curan-deiro do bairro Nhamaonha para lhe trazer um cordão um-bilical fresco de modo a tratar a enfermidade, facto que levou a mesma a roubar nas mãos da sua cunhada o bebe recém-nas-cido para a retirada do órgão.

O bebé nasceu no dia 27 de Março passado e foi rouba-do três dias depois pela Linda Zacarias, essa que ficou com o petiz durante dois dias, tendo o alimentado com papa de farinha de milho, porém quando o leva para o referido medico tradicio-nal, a operação não ocorreu com sucesso, tendo o curandeiro queixado Linda às autoridades comunitários, estes que enca-minharam o caso para a polícia.

Falando a imprensa, a deti-da confessa que levou a crian-ça apenas para tirar o cordão

umbilical para tratar a sua do-ença com o curandeiro e poste-riormente devolve-la para sua mãe, pois não tinha a intenção de a fazer mal. “Eu acho que fui enfeitiçada, por isso fui ao curandeiro aí no meu bairro para me tratar disso aqui, só que ele disse que tinha que tra-zer um umbigo fresco, de um bebé que nasceu recentemen-te, por isso que levei o filho da minha cunhada para fazer isso, eu só fiquei com o bebé um dia só, não queria fazer mal por mais que não pedi e não fiz mal ao bebé, está aí bem vivo, eu não cometi crime nenhum eu”, afirmou Linda Zacarias.

Fátima Edmó de 18 anos de idade, que é mãe do referi-do bebé, disse que encontrou o seu filho na primeira esqua-

dra da cidade de Chimoio, quando pretendia meter quei-xa, pois acrescenta que não houve clareza por parte da sua cunhada, neste caso não levou o menor de forma pacífica.

“Ela chegou em casa e en-tregue a criança para pegar para eu lavar a roupa, mas quando terminei de lavar não encontrei a criança, vi assim já foi e co-mecei a correr a gritar e a per-guntar para as vizinhas e dizer que minha criança fugiu com minha cunhada e só fui lhe en-contrar aqui na esquadra, mas ela não avisou o que ela que-ria fazer com minha criança”, disse mãe do bebé roubado.

O porta-voz do comando provincial da PRM em Manica, Mateus Avelino Mindú, disse que a detenção é fruto de uma denúncia popular, pois a Linda Zacarias roubou a criança na área da jurisdição da primeira esquadra em Chimoio, pois a mesma irá responder pelo crime de tentativa de rapto de menor recém-nascido para fins obscu-ros e nesse momento corre um processo-crime para a sua res-ponsabilização. Mateus Mindú apela igualmente aos cidadãos da província de Manica para tra-tarem qualquer enfermidade nas unidades sanitárias, local com medicamentos apropriados.

| naCional |

Chimoio

Polícia recupera viatura roubada em Nampula

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Quinta-feira, 09 de Abril de 202016 | zambeze | naCional|

Segundo economista Sebastião Wamusse

Política fiscal expansionária seria alternativa no pós-pandemia

O economista Sebastião Wamusse aponta para a área do comércio como sendo a maior afectada pelo novo co-ronavírus em Moçambique. Por outro lado, os pais de fa-mílias e alguns comerciantes revelam estar a sentir na pele o impacto da covid-19 a nível económico e social.

Foi a partir de De-zembro do ano passado que o mundo começou a registar mudan-

ças com o surgimento do novo coronavírus. Hoje, o mundo conta com pelo menos 70 mil mortos, de acordo com dados oficiais, desde que a doença surgiu na China em Dezem-bro do ano passado. Moçam-bique, por sua vez, regista 10 casos positivos de infectados pelo vírus.O que mostra que a doença ainda não se propa-gou em larga escala no país.

Na tentativa de evitar a propagação da mesma, Mo-çambique encontra-se em es-tado de emergência decretado a 30 de Março pelo Presiden-te da República, Filipe Nyusi, facto que traz várias impli-cações em diferentes áreas.

Sendo a área económica uma das mais importantes, a nossa reportagem conversou com Sebastião Wamusse, eco-nomista, que apresentou as áreas de turismo, produção, educação, comércio internacio-nal, como sendo as afectadas em alto nível pela pandemia, destacando o comércio como sendo a maior de todas, sen-do afectadas não directamente pela doença, mas sim pelas me-didas de prevenção tomadas.

A nível internacional, diz a fonte, a doença poderá le-var à redução das exportações o que afectará várias áreas de produção no país, afectan-do tanto as empresas formais assim como informais, pois a economia moçambicana é baseada nas exportações.

ʺMuitas áreas serão afec-tadas, mas não com o mesmo poder que o comércio. O tu-rismo, por exemplo, é uma delas, olhando para os agentes de viagem, companhias aéreas e outros, que chegam a sofrer. Por outro lado, os restaurantes,

fábricas e outras indústrias que tinham maior número de traba-lhadores, gerando uma situação própria para a propagação do vírus, também terão que parar de funcionar”, explica a fonte.

Em síntese, avança que essa pandemia vai levar com que no final tenhamos uma produção menor, um nível de emprego menor no mercado, preços mais altos, os salários poderão au-mentar, a taxa de júris será mais alta, e o produto será menor.

A política fiscal expansionária seria sugestiva após a pandemia

Wamusse explica que após a pandemia haverá a necessidade de “puxar” a economia até o ní-vel onde estava antes ou acima. Para tal, o Estado deverá facili-tar a entrada de investimentos para que com esses investi-mentos se possa alcançar maior nível de rendimento agregado.

Uma medida sugestiva, segundo a fonte, seria uma política fiscal expansionária ou monetária expansionária, de forma a reduzir a taxa de juros, pagamento de impos-tos, com vista a aumentar a produção e reduzir o preço.

As economias dos países estão preparadas para pre-caver a decadência de uma possível crise económica

ʺDuvido que os governos não consigam preparar uma crise económica. Quando acon-teceu, por exemplo, a crise económica mundial de 1929, foi algo que ninguém espe-rava, porém foram aplicadas medidas sugeridas por um eco-nomista que hoje é conhecido hoje como o pai da economia. De lá para cá, muitos estudos e teorias foram desenvolvidosʺ, começa por explicar Sebastião Wamusse, que acredita que as economias dos países estarão preparadas para conseguir pre-caver uma decadência de crise.

O que pode acontecer a

nível internacional para ele é que a curto prazo haverá uma redução de rendimento, po-rém quando a pandemia bai-xar, pode se começar de novo, o que não será fácil, mas se os países optarem por políti-cas expansivas, certamente o rendimento será maior, o que vai depender das políticas aplicadas, porque deixando a economia por si só, sem apli-car política alguma, poderá ser difícil chegar pelo menos ao nível de produção anterior.

O facto de Moçambique ser um país consumidor e não produtor dificulta a eco-nomia moçambicana, porque qualquer política tomada vai depender do estado da econo-mia dos outros países com as quais realiza as exportações, no caso concreto da Áfri-ca do sul, pois grande parte dos produtos é exportada lá.

As famílias em agonia

Amélia Daniel, de 47 anos de idade, viúva e mãe de famí-lia, conta que esta pandemia traz um cenário nunca visto na história. ʺÉ difícil conviver com essa doença por ser es-tranha. Eu que trabalho como doméstica, parei desde que se decretou o estado de emer-gência, pois os meus patrões dizem estar a cumprir com as

medidas de prevenção. Sen-do assim não sei o que será de mim sem o salário, pois dele dependo para sustentar a mi-nha famíliaʺ, conta a fonte.

Avança ainda que, com a especulação dos preços dos produtos no mercado de bens e serviços, as dificuldades po-derão aumentar, pois, com pouco que ganha, só para o mês de Março foi difícil fazer o rancho, porque os preços dos produtos estão muito altos.

ʺOs preços estão insuportá-veis, há oportunistas no merca-do. Imagina a partir do próxi-mo mês que nem dinheiro terá? No meu caso, por exemplo, já não trabalho, dependendo do dia em que os meus patrões me chamam para ajudar num e ou-tro trabalhoʺ, colocou a fonte.

Ricardo Magul, pai de famí-lia, afirma que a pandemia es-tremece e sufoca a classe mais baixa da sociedade que depen-de da busca diária de menos de um dólar para consumir no mesmo dia. “Mas também re-força o convívio familiar. Mui-tos dedicam o período em que ficam em casa, como medida de prevenção da infecção pelo vírus, para cuidar da família’’.

Relativamente às especula-ções dos preços, segundo Fidel Nhacumbe, pai de família, os vendedores oportunistas de-viam medir as circunstâncias

em que opera o oportunismo. Estamos num período de di-ficuldades, se se aplica a es-peculação de preços, muitas famílias vão morrer a fome, porque vendedores não deviam se esquecer que existem famí-lias necessitadas que poderão ser directamente afectadas por essa especulação dos preços.

Eduardo Wati, de 66 anos de idade, vendedor no mer-cado central de Maputo há 31 anos, declara que, apesar de a pandemia afectar directamen-te a área comercial, sobretudo com a escassez dos produtos nos mercados, há uma neces-sidade por parte destes de re-dobrar os esforços, tomar as medidas simples de precaução e continuar com as suas acti-vidades mesmo sendo difícil. Pois só assim poderão bene-ficiar a si mesmos, sendo o comércio a base de sua sobre-vivência e ajudar a sociedade.

E quanto aos preços altos dos produtos, Wati declara que o Governo moçambicano devia aplicar regras nas alfândegas para haver isenção quanto aos produtos de primeira necessi-dade, ʺporque com o aumento dos preços, nós os vendedores não teremos a possibilidade de comprar para poder re-vender. Os vendedores for-mais e informais dependem do comércio do dia-a-dia”.

Dificuldades no controlo e gestão das crianças

Fidel Nhacumbe, pai de fa-mília, apresenta como grande dificuldade enfrentada por ele como pai de família, o difícil controlo é a gestão das crian-ças, pois estas gostam de se sentir livres e não pensam por si só. Sendo assim, há uma gran-de necessidade de atenção no acompanhamento das crianças.

“Parto do princípio de que as crianças estão seguras em casa, mas um problema se levanta: será que nós os pais estamos seguros nos nossos locais de trabalho e nos nossos meios de transportes?”, questiona a fonte para mostrar que nesses locais se não houver segurança, é fá-cil trazer problemas para os fi-lhos que estão seguros em casa.

valódia MaCueve

Sebastião Wamusse, economista

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zambeze | 17Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 | desporto|

Detalhes sobre inspecção feita no Estádio Nacional

Zimpeto aprovado temporariamente para acolher jogos da CAF

Entre os dias 10 e 12 de Março, uma missão da Confede-ração Africana de Futebol (CAF) efectuou uma visita inspec-tiva aos maiores estádios moçambicanos e que habitualmente acolhem os jogos da selecção nacional de futebol, nomeada-mente Estádio Nacional do Zimpeto (ENZI) e Estádio da Ma-chava. Da mesma saíram recomendações para que, sobretudo o Zimpeto, melhorem a sua apresentação e estejam em con-formidade com os padrões internacionais da CAF e FIFA.

LanceMZ teve aces-so ao relatório e apresenta a seguir as recomendações deixadas para que

o ENZI limpe o “cartão ama-relo” e possa acolher os jo-gos dos Mambas sem nenhum queixume por parte da CAF.

É um documento de 11 pá-ginas que dá conta que, após a visita, foi feita uma “aprovação temporária para uso em compe-tições CAF” (o tal cartão ama-relo, de que nos referíamos), “sujeita à implementação ime-diata das observações”, algo que deverá acontecer até 15 de Junho por forma a garantir que o “Estádio esteja disponí-vel para jogos da FIFA/CAF”.

Campo e áreas adjacentes do Zimpeto

O primeiro ponto que mere-ceu observação dos inspectores da CAF está relacionado com o “campo e áreas adjacentes” do ENZI, tendo a equipa constata-do que a “condição geral da rel-va deve ser melhorada e a sua superfície deve estar nivelada, verde e marcada claramente em branco”. Por outro lado, a “al-tura da relva está reduzida e a zona das grandes áreas precisam ser melhoradas e niveladas”.

Outra observação faz saber que “as marcações do cam-po devem ser simétricas em todo terreno do jogo, a irriga-ção do campo deve ser feita com maior frequência para manter o padrão de qualidade e os postes das balizas preci-sam ser pintados à branco”.

Um dos reparos mais vi-gorosos está relacionado com a iluminação do ENZI e os inspectores fazem saber que a mesma “precisa de melhorias

consideráveis”, acrescentando que “para jogos nocturnos, a capacidade LUX dos holofo-tes deve estar de acordo com os requisitos da CAF, a saber: um mínimo de 1200 LUX deve ser garantido em todo campo, cobrindo uniformemente to-das áreas do terreno de jogo; substituição de lâmpadas não operacionais; o sistema de ilu-minação deve ser verificado por uma empresa especializa-da, a fim de examinar a falha que causa o disparo das luzes.

Ainda relacionado com o campo de jogos, a missão da CAF recomendou para a “colocação de novos bancos de suplentes com padrão in-ternacional, modernos e con-fortáveis e a publicidade na parte de trás deve ser facil-mente alterável ou removível”.

Áreas das equipas, oficiais e árbitros

A missão da CAF fez uma vistoria as áreas das equipas oficiais e árbitros, tendo veri-ficado que os “vestiários das equipas devem ter um padrão de alta qualidade, com assentos e armários adequados, sendo necessárias as seguintes acções: instalação de um quadro táctico (quadro branco com canetas) no vestiário da equipa visitan-te, água quente e fria corren-do nos chuveiros e reparação dos chuveiros danificados no vestiário de ambas equipas”.

Para o vestiário dos ár-bitros, a equipa sugeriu que “deve ser de alto padrão de qualidade, com assentos e ar-mários apropriados”, para além de serem necessárias algumas obras idênticas a dos balneá-rios dos jogadores, devendo ainda ser colocada “gelei-ra, kit de primeiros socorros

e conectividade à internet”. Uma sala dedicada deve

estar disponível para os ár-bitros designados da CAF e deve incluir “uma mesa se-cretária, cadeira, impresso-ra, geleira, ar condicionado e conectividade a internet”.

O documento faz saber que não há instalações médicas para espectadores, ambulâncias to-talmente equipadas devem ser disponibilizadas nos dias dos jogos, algo que tem acontecido.

Áreas relacionadas com espectadores

A acomodação dos 42 mil espectadores que cambem no Zimpeto não passou desperce-bida aos olhos dos inspectores que deram conta que o “estádio deve receber um certificado de segurança e de incêndio, nos quais definirá a capacidade per-mitida para o estádio. Outra re-comendação indica que o “está-dio deve estar equipado com um sistema de emergência de ilu-minação aprovado pelas auto-ridades locais para uso no caso de falha geral da iluminação em qualquer parte do recinto.

A equipa que visitou o maior recinto desportivo do país recomendou que o “está-dio deve estar equipado com sistemas modernos electró-nicos de controlo de acesso e sistema mais de contagem au-tomatizados, que forneçam a

contagem dos espectadores em tempo real por sector e análise de dados ao VOC e impedir o uso de bilhetes falsificados s a superlotação. Ainda no con-trolo de acessos, recomenda--se a instalação de tornique-tes modernos com aparelhos de contagem automática”.

Os especialistas dizem que o “perímetro externo ou a cer-ca de vedação foi violado em muitos lugares e actualmen-te não tem uma finalidade de protecção”, facto que “tem várias implicações em dia de interregno de jogos, o público pode circular por onde qui-ser dentro da área do estádio, tornando o roubo e vanda-lismo uma prática comum”, tendo acrescentado que “todo equipamento de CCTV (câ-meras de vigilância) não fun-ciona e deve ser reparado”.

Área relacionada com a média

O local onde trabalham os jornalistas também mere-ceu uma avaliação por parte dos especialistas da CAF que constataram que “o estádio deve ter um Centro Media dis-ponível e deve estar equipado com mesas, fontes de alimen-tação, conexões de telefone/internet e uma televisão”.

Na área destinada aos fo-tógrafos (atrás da baliza), assentos, internet Wi-Fi, ex-tensões e cabos de energia

devem estar disponíveis. A “Tribuna Media” existen-te deve estar equipada com itens adicionais como mesas equipadas e com novas fon-tes de alimentação, instalação de novos assentos, conexões à internet (Wi-Fi) e deve-rá ser acessível directamente ao “Centro Media”, a zona de entrevistas rápidas (flash In-terview), a zona mista e a sala de conferências de imprensa.

Referir que foi constatado que a sala de conferências de imprensa existente não respei-ta os requisitos necessários, devendo estar equipada com pódio, plataforma de câmera, splitbox, sistema de som, co-nexão à internet (Wi-Fi), pelo menos 50 cadeiras para os re-presentantes dos media, um sistema de áudio profissional com microfones e alto-falantes.

Foi também vistoriada a área relacionadas com as trans-missões e difusão televisivas, e foi recomendado que “as posi-ções das câmaras devem estar alinhadas com a posição prin-cipal da câmara que deve estar exactamente alinhada com a linha intermediária do campo e a uma altura que forme um ân-gulo de 27 a 35º entre o plano horizontal e o ponto central”.

Por fim, a Missão da CAF anotou que a “falta de manuten-ção do estádio é uma preocupa-ção” que deve merecer a devida atenção de quem de direito”.

alfredo Júnior/lanCeMZ

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Final de investimento

ExxonMobil anuncia adiamento da decisãoA petrolífera norte-ame-

ricana ExxonMobil anunciou oficialmente o adiamento, sem prazo, da decisão final de investimento para o seu me-gaprojecto de gás natural na Área 4 no norte do país , onde a portuguesa Galp é parceira.

O a d i a m e n t o deve-se a um corte em 2020 nas despesas de capital em

30% e nas despesas operacio-nais em 15% devido à queda dos preços do petróleo e deri-vados, provocada pelo excesso de oferta e baixa procura com a pandemia da COVID-19.

“Uma decisão final de in-vestimento para o projecto de gás natural liquefeito (GNL) da bacia do Rovuma em Mo-çambique, prevista para o fi-nal deste ano, foi adiada”,

lê-se em comunicado acerca do empreendimento avalia-do entre 20 a 25 mil milhões de dólares (18,3 a 23 mil mi-lhões de euros), um dos maio-res previstos para África.

É um valor semelhante ao do megaprojecto da Área 1 da petrolífera francesa To-tal - que já disse continuar a avançar como previsto - so-bre os quais recaem as espe-ranças de Moçambique de dar fôlego à sua economia.

A ExxonMobil refere que “continua a trabalhar activa-mente com os seus parceiros e o Governo para optimizar os planos de desenvolvimen-to, melhorando as sinergias e explorando oportunidades re-lacionadas com o actual am-biente de custos mais baixos”.

Ainda dentro da Área 4, o desenvolvimento da platafor-ma flutuante Coral Sul prosse-

gue como previsto, acrescenta, com o navio em construção na Coreia do Sul e início de ex-ploração marcado para 2022.

A plataforma em mar alto vai fornecer 3,4 mi-lhões de toneladas por ano (mtpa) de gás liquefeito.

A extracção em mar e processamento em terra (pen-sínsula de Afungi) das ja-zidas Mamba, cuja decisão de investimento fica agora adiada, deverá fornecer 4,5 vezes mais, ou seja, 15 mtpa.

A Área 4 é operada pela Mozambique Rovuma Ven-ture (MRV), uma ‘joint ven-ture’ em co-propriedade da ExxonMobil, Eni e CNPC (China), que detém 70 por cento de interesse participati-vo no contrato de concessão.

A Galp, KOGAS (Co-reia do Sul) e a Empresa Na-cional de Hidrocarbonetos

(Moçambique) detém cada uma participações de 10%.

A ExxonMobil vai lide-rar a construção e operação das unidades de produção de gás natural liquefeito e infra-estruturas relaciona-das em nome da MRV, e a Eni vai liderar a construção e operação das infra-estrutu-ras upstream (a montante).

“Os fundamentos a longo prazo que sustentam os pla-nos de negócios da empresa não mudaram: a população e a procura de energia irão cres-cer e a economia irá recupe-rar. As nossas prioridades de alocação de capital também se mantêm inalteradas”, conclui DarrenWoods, CEO e presi-dente da ExxonMobil. (Lusa)

A agência de ‘rating’ Fitch considera que o per-dão da dívida em prepara-ção para os países pobres constitui um ‘default’ ape-nas se for aplicado aos cre-dores privados, isentando desta definição o incum-primento sobre a dívida entre entidades oficiais.

“Os pe-didos p a r a o alí-v i o

da dívida dos países de baixo rendimento afectados pelo novo coronavírus estão a avolumar-se, mas se o alívio for aplicado apenas à dívida detida pelos credores oficiais, não será classificado como um ‘default’ ao abrigo do nos-so critério para os ‘rating’ dos países”, explicam os analistas.

Numa nota de esclareci-mento sobre o perdão de dí-vida configura um Incumpri-mento Financeiro, a agência

de ‘rating’ acrescenta, no en-tanto, que “um ‘rating’ de de-fault poderia ser aplicado se, tal como está a ser discutido para os países vulneráveis, es-sas iniciativas também levas-sem a uma reestruturação da dívida aos credores privados”.

Em declarações recen-tes, o Fundo Monetário In-ternacional (FMI) e o Banco Mundial defenderam que os credores bilaterais oficiais, isto é, os países e as institui-ções financeiras multilaterais, deviam suspender os paga-mentos de dívida dos países elegíveis para apoio ao abrigo da Associação Internacional do Desenvolvimento, cujos 76 países incluem os lusófo-nos Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.

No entanto, ainda não é claro se defendem que os países não paguem os em-préstimos de outros países ou se esse ‘perdão’ deve ser estendido aos pagamentos

dos juros das emissões de dí-vida soberana, que tem sido o modelo mais usado pelos governos, nomeadamente os africanos, nos últimos anos.

A proposta oficial do FMI e Banco Mundial de-verá ser apresentada na pró-xima semana, durante os Encontros Anuais destas en-tidades, que se realizam pela primeira vez num modelo digital, devido às medidas de limitação da propagação da pandemia da covid-19.

Os ministros africanos, ainda em Março, pediram um perdão dos juros da dívida que seriam pagos este ano, mas numa segunda reunião com a directora executiva da Comissão Económica das Na-ções Unidas para África, Vera Swonge, alargaram o pedido para um perdão de dívida to-tal devido aos constrangimen-tos que o combate à pandemia da covid-19 acarreta para estes países, que enfrentam

igualmente um forte desequi-líbrio orçamental originado pela descida das matérias--primas e pelo consequente aumento do endividamento.

“As negociações sobre o alívio da dívida podem ser complexas, principalmente devido à importância cres-cente de credores fora do Clube de Paris, particular-mente a China, que não se incluiu em iniciativas ante-riores sobre o alívio da dí-vida”, escrevem os analistas da agência de ‘rating’ Fitch.

De acordo com o Banco Mundial, “dos 14 mil mi-lhões de dólares em paga-mentos do serviço da dívida bilateral que são devidos em 2020, só 4 mil milhões de dó-lares são devidos a membros do Clube de Paris, que são na sua maioria credores oci-dentais”, acrescenta a Fitch.

O grande problema, escrevem, é que “o coro-navírus acrescentou stress

financeiro aos já elevados níveis de dívida externa, e os líderes do FMI e do Ban-co Mundial já indicaram que uma reestruturação da dívida pode ser necessária”.

Nalguns casos, apontam, “os países credores podem fi-car relutantes em oferecer um alívio da dívida se a dívida devida aos credores privados não for também reestruturada, o que vai acrescentar tempo e complexidade ao processo”.

O novo coronavírus, res-ponsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 68 mil.

Dos casos de infec-ção, mais de 238 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto espa-lhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mun-dial da Saúde (OMS) a decla-rar uma situação de pandemia.

Fitch Ratings

Perdão da dívida só é “default” se incluir credores privados

Quinta-feira, 09 de Abril de 202018 | zambeze | eConoMia|

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zambeze | 19Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 | eConoMia|

COVID-19

Aeroportos de Moçambique perde dois milhões de dólares

Economista projecta contínua desvalorização do metical

A empresa Aeroportos de Moçambique está fortemen-te prejudicada pelo impacto do coronavirus, disse à VOA Saide Júnior, administrador do pelouro de Administra-ção, Finanças e Marketing.

Para ele o futuro, a curto e médio prazos, prome-tem ser muito duros, por causa

do impacto do coronavírus.Em Janeiro, a empre-

sa registou o movimen-to de 172 mil passageiros, mas, em Março, apenas 70 mil, nos voos domésticos, e cerca de 8 a 10 mil passa-geiros, nos internacionais.

Todas as companhias aé-reas internacionais que voa-vam para Moçambique can-celaram as suas operações e a quarentena, na África do Sul, também está a afectar de forma séria a facturação da-quela empresa moçambicana.

À excepção da Ethiopian Airlines, todas elas, incluindo a TAAG, angolana, cancela-ram os seus voos, mas a com-panhia etíope vai deixar de voar de uma a duas semanas.

A nível doméstico, fica-rão apenas a LAM e a Ethio-pian Mozambique Airlines.

“Em média a facturação mensal é de cerca de 4 milhões e 300 mil dólares, incluindo todas as rubricas. Uma queda de 55 a 60 por cento com ten-dência a baixar mais porque, na primeira quinzena de Mar-ço, ainda tivemos alguns voos internacionais e na última se-mana, não tivemos e agora, em Abril, não teremos nenhum voo internacional. E a situa-ção, na nossa perspectiva, as receitas vão baixar em cerca de mais ou menos 3 milhões de dólares”, revelou Saide Júnior

Ele acrescenta que, “no ce-nário pessimista, esta situação vai levar nove meses e, duran-te este período de nove meses, apenas as LAM e Ethiopian vão operar no mercado doméstico e a uma capacidade de mais ou menos cinquenta por cento”.

A situação piora quando se sabe do encerramento de fronteiras, na África do Sul.

A empresa fica sem poder facturar os 600 mil dólares que facturava mensalmente, depois de, nos últimos tem-pos, ter investido 500 milhões de dólares na construção, re-abilitação de modernização de diversas infra-estruturas.

Neste momento, a dívi-da à banca ronda os 235 mi-lhões de dólares americanos.

Por causa da crise, pro-

Fáusio Mussá, eco-nomista-chefe do Standard Bank, comentou sobre o PMI de Março:

“Moçambique declarou o esta-do de emergência, que entrou em vigor a partir de 1 de Abril. Esta medida destina-se a ajudar a conter a propagação da Co-vid-19. Embora haja uma gran-de probabilidade de que crie restrições aos negócios e à cir-culação, ainda não é conside-rada como o isolamento total.

Um dos efeitos esperados da pandemia da Covid-19 é a con-tinuação da desvalorização do MZN. No momento de redac-ção, o par USD/MZN estava a ser negociado a um nível oficial de 66,7, um aumento de 8,5% desde o final 2019 e um aumen-to homólogo de 4,3%. Aumen-támos a nossa previsão para o final do ano de 60,7 para 65,4 e consideramos que mesmo que se verifique um aumento aci-

ma dos 70, este será o tempo. É difícil imaginar um cres-

cimento do PIB muito superior ao valor homólogo de 2,2% re-gistado em 2019, dado os actu-ais desafios com a Covid-19, os quais estão a ser intensificados pelos desafios com a seguran-ça doméstica. É provável que a pandemia da Covid-19 exer-ça pressão sobre a balança de pagamentos devido aos baixos

preços das matérias-primas, possíveis atrasos na implemen-tação dos projectos de GNL na bacia do Rovuma e às perturba-ções na actividade económica.

As negociações para um programa do FMI também poderão ser negativamente afectadas, já que uma mis-são recente do FMI foi sus-pensa devido às restrições às viagens em todo o mundo.”

vocada pela Covid-19, não vão conseguir pagar e, nos próximos dias, vão ini-ciar tentar negociar com a banca a sua restruturação.

“O primeiro pedido que nós fizemos à banca é reestruturar os financiamentos, deixarmos de pagar, porque não havemos de conseguir pagar. O segun-do é o que eu disse: no limite, vamos precisar de apoio para manter a funcionalidade dos aeroportos e pagar salários. Se chegarmos a este limite, va-mos precisar, em média, mais ou menos, um milhão e 500 mil dólares mês para aguentar com os salários e a operação normal”, concluiu o adminis-trador do pelouro de Admi-nistração, Finanças e Marke-ting da Empresa Aeroportos de Moçambique, que tem 850 trabalhadores, e que paga 800 mil dólares americanos por mês, em salários. (Lusa)

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Lembrando a lenda

Saxofonista Manu Dibango

Hospitalizado há vá-rios dias, depois de ter sido testado positivo para a Covid-19, Manu Diban-go, saxofonista camaronês e lenda do afrojazz, mor-reu aos 86 anos na França.

A vida de Emma-nuel N’Djoke Dibango, mais conhecido como Manu Diban-

go, foi inteiramente dedicada à música. Ele ficou conhecido mundialmente com o sucesso de Soul Makossa, em 1972, que entrou para a história do jazz.

A música fazia parte do lado B de um disco de 45 ro-tações, cujo título principal era um hino para o time de futebol de Camarões na Copa Africana de Nações. Soul Makossa caiu nas graças de DJs de Nova York, e a canção conquistou os Estados Unidos.

Manu Dibango acusou Mi-chael Jackson de plágio numa música do álbum “Thriller”. Um acordo financeiro foi fir-mado colocando fim ao litígio.

Manu Dibango nasceu nos Camarões em 1933. Foi no co-ral do templo religioso, onde sua mãe era professora, que ele

aprendeu a cantar. Em casa, na vitrola dos pais, ele teve con-tacto com músicas francesas, americanas e cubanas, trazidas por marinheiros que desem-barcavam no porto de Douala.

Aos 15 anos, seu pai o en-viou para estudar na França. Foram três semanas de barco até chegar ao porto de Marse-lha onde desembarcou, como conta em sua biografia, com 3 kg de café na sua mochila. Mercadoria rara na França após a guerra, o produto rendeu di-nheiro suficiente para pagar um mês de pensão ao jovem.

Precursor da World Music

Elsa Mangue, essa voz de ouro!

Elsa Mangue era uma das principais estrelas da música de Moçambique e, em 1987, ga-nhou o Prémio de Música Rá-dio França Internacional (RFI). Foi a primeira cantora do país a ganhar um prémio mundial de música. Naquele ano, foi consagrada como “cantora re-velação africana”. Ela também ganhou prémios da Rádio Mo-çambique. “Fim de estrada”, “Tindjombo”, “Ma original” e “Xindzekwana” estão en-

tre as músicas mais conheci-das do público moçambicano.

Elsa Mangue era uma ar-tista engajada, preocupada em discutir questões sociais em seu trabalho musical. A violência, discriminação e marginalização da mulher são os principais te-mas da obra musical da artista, que, apesar da longa carreira, continuava a actuar em casas de pasto da capital moçambi-cana e arredores, mas de forma intermitente, devido à doença.

O jazz entrou na vida de Manu Dibango e nunca mais o deixou. O saxofone se tornou o seu ins-trumento favorito. Ele conheceu o também músico camaronês Francis Bebey, e juntos forma-ram um grupo que se apresen-tava em bares e casas nocturnas.

Ao deixar de fazer as provas para entrar na faculdade, seu pai deixou de sustentá-lo. Diban-go se mudou para a Bélgica, onde seu jazz ganhou contor-nos mais africanos em contacto com a comunidade congolesa local, em plena efervescência.

O Congo Belga decla-rou independência em 1960. Manu Dibango partiu para Léopoldville, (actual Kinsha-

sa), onde dirigiu uma casa nocturna e lançou o twist.

No início dos anos 1960, seu país, Camarões, estava em guer-ra civil e ele retornou à França, onde descobriu o rythmand blues e estrelas francesas da época como DickRivers e Nino Ferrer, que o contrataram como músico.

Nos anos 1990, Manu Di-bango gravou o álbum Waka-frika com os maiores suces-sos africanos, uma viagem de Dakar à Cidade do Cabo.

Youssou N’Dour, Salif Keita, Angélique Kidjo, Peter Gabriel participaram do projec-to. Outros álbuns foram ainda gravados por esse artista ge-nial, precursor da World Music.

Quinta-feira, 09 de Abril de 202020 | zambeze | Cultura|

Page 21: ambEz · 09 de Abril de 2020 z Onde a naçãO Se reencOntra ambEz

Grupo RMNuma mesa de café encon-

tro-me com Wazimbo, Pedro Ben e Otis(Alípio Cruz). À conversa junta-se IzidineFa-quirá, meu parceiro das li-des de comunicar pela rádio. Momentos depois, em local di ferente, outras conversas já com a Glória Muiangae com o Nassurdine Adamo.

Falar de Rádio é o mote para a nos-sa conversa. Dos problemas, das dificuldades, dos

anseios e da teimosia de mui-tos que, de um dia para outro, de soldado raso passam a ge-nerais. Aqueles que teimosa-mente (par ticularmente quan-do a classe é dos que dirigem) con tinuam a elevar bem alto a bandeira da mediocridade deixando que uma meia dúzia de novos profissionais bem intencionados e com mos-tras de querer aprender, sejam “engolidos” pelas atrocidades cometidas por essas inteligên-cias pardas. Atrocidades per-mitidas e que resultam na má qualidade de radiodifusão que a nossa rádio pública nos ofe-rece de bandeja, todos os dias.

Uma conversa com Wazim-bo, Alípio/Otis e Pedro Ben só podia desembocar na música e em especial no Grupo RM, ou não fossem eles do tempo dos primórdios desta banda de re-ferência. Uma banda que anda por aí, ensaiando de segunda a sexta-feira, no estúdio-auditório da Rádio Moçambique, por-que, como me dizia o autor de Nwahulwana, “não que-remos ficar enferrujados”.

Enferrujados não vão ficar, porque quem sabe não esquece. Agora que estão a ficar desmoti-vados, lá isso estão. Ao que sei, as actuações não acontecem. Para além da participação anual nos espectáculos de consagração do Ngoma Moçambique e do Top Feminino, o Grupo RM, ao longo dos últimos cinco anos, deve ter actuado uma meia dúzia de vezes e nada mais.

Falta um produtor que ide-alize um plano de trabalho, por forma a tirar o grupo desse marasmo do dia-a-dia. Há que definir objectivos a curto, médio e longo prazo e associar a esta acção os aspectos de natureza orçamental e de patrocínios. Parece-me haver (desculpem-

-me a fran queza) falta de von-tade política quando se deixa o GrupoRMmorrer de hibernação perene. Como se explica que compatriotas nossos, agindo e actuando como empresá rios e artistas a solo (StewartSuku-ma, Lizha James e outros, por exemplo) consigam disparar sucessos dentro e fora do país, e o nosso Grupo RM, espal-dado pelo Estado e Governo, não faça pelo menos o mesmo?

Até hoje ninguém se decide pelo lançamento dum CD que já está gravado há dois anos, faltando apenas a masterização e a produção da capa. Dizem-me (oxalá assim seja) que o tal CD a que me refiro, que anda arru-mado numa gaveta, pode vir a ser lançado em Outubro do próximo ano, no quadro das comemora-ções dos 40 anos da criação da Rádio Moçambique. Vamos ter de esperar, mas, do mal o menos.

Ao falar do Grupo RM lembrei-me da sua formação original, decorria, se a memória não me falha, o ano de 1979. Recordei-me de Alexandre Langa, José Mucavele, José Guimarães, Milagre Langa, Herme negildo da Conceição Daniel (Sox), Abel Chemane, ZecaTcheco, BillyCuca, Pedro Ben e Wazimbo. Lembrei-me de outros nomes que passaram pelo gru po como por exem-plo Totojinho, Paíto Checo, Otis, Isildo Gomes, ChicoAntónio, Mingas, Matcho-te, Lemon Pinto ou Virgílio.

Recordei-me do sucesso que foi a sua primeira apre sentação pública no Cine Teatro Gil Vicente, em Maputo, com direito à transmis-são directa para a Emissão Nacio-nal e de outros três momentos que me marcaram como pro fissional de Rádio, a saber: a digressão

feita pelo país (na companhia do saudoso Leite de Vasconcelos), tendo como destino as cidades da Beira, Quelimane, Guruè, Nampu-la, Tete e Pemba; a participação em 1983 na Se mana de Amizade Portugal-Moçambique, com actu-ações durante 15 dias no Casino

Estoril em Lisboa, ao tempo em que o nosso Embaixador em Portugal era o meu “chará” João Baptista Cosme, ou ainda nos 30 anos da Rádio Moçambique, com uma soberba actuação no IndyVillageem Maputo, e onde participaram, como convidados espe ciais, o Otise o Pedro Ben, antigos elementos da banda.

Um grupo com história que interrompeu a sua ac tividade por volta de 1985, tendo rea-tado em 2005, e que hoje anda perdido pelas quatro paredes dum estúdio, sem qualquer tipo de motivação que não seja con-tinuar a ensaiar e nada mais.

Sendo um grupo musical tutelado pela nossa rá dio pú-blica, importa saber que papel joga a RM neste processo. Por agora nenhum ou quase nenhum. Infe lizmente em situações desta natureza há os filhos e os entea-dos. O meu problema é saber (e eu não tenho resposta para isso) em que classe fica o Grupo RM? No dos filhos ou no dos entea-dos? Ou será que o imobilismo e comodismo, doença crónica do nosso funcionalismo público, já tomou conta do Grupo RM ?

A edição deste ano do Festival de Bubaque, o maior de música da Guiné-Bissau e que se realiza anualmente no arquipélago dos Bijagós, foi cancelada devido à pan-demia do novo coronavírus.

O festival, que deveria decorrer entre sexta-feira e domingo na ilha de Buba-que, vai ser substituído por

actuações dos músicos em directo nas redes sociais no sábado para animar os gui-neenses em isolamento so-cial, explicou a organização.

Dados divulgados pelas autoridades sanitárias apon-tam que na Guiné-Bissau o número de pessoas infecta-das com o novo coronavírus passou de 18 para 33, mas

com possibilidade de au-mentar nos próximos dias.

Para conter a propagação do novo coronavírus, as auto-ridades guineenses determina-ram várias medidas, ao abrigo do estado de emergência, no-meadamente o confinamento social e a limitação de circula-ção de pessoas e viaturas en-tre as 7h00 e as 11h00 locais.

Covid-19: Cancelado maior festival de música da Guiné-Bissau

zambeze | 21Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 | Cultura|

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zambeze | 23Quinta-feira, 09 de Abril de 2020 | ZaMbeZe rir|

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Mais mulheres nos sectores chaves da justiça

APM saúda nomeação de Lúcia do Amaral ao cargo de Presidente do TA

A Academia Política da Mulher (APM) acolheu com satis-fação a nomeação de Lúcia Fernando Buianga Maximiniano do Amaral para o cargo de Presidente do Tribunal Adminis-trativo (TA) no dia 30 de Março, o que eleva para quatro o número de mulheres que actualmente lideram órgãos cen-trais ao nível da Administração da Justiça no país, um marco que se verifica pela primeira vez na história de Moçambique.

Lúcia Amaral vem se juntar a Lúcia Ribeiro, Presiden-te do Conselho C o n s t i t u c i o n a l

(CC), Beatriz Buchili, Procu-radora Geral da República e a Helena Mateus Kida, Ministra da Justiça, Assuntos Constitu-cionais e Religiosos, todas no-meadas pelo Presidente da Re-pública em menos de um ano para ocuparem sectores-chave no sistema da Administração da Justiça em Moçambique.

“Para a Academia Política

da Mulher este é, por um lado, o reconhecimento de que a mulher é capaz de ocupar po-sições de liderança e dar a sua contribuição para o país, e por outro demonstra a sensibilida-de do Presidente da Repúbli-ca, Filipe Nyusi, em relação a agenda global do equilíbrio do género”, declarou Elisa Muianga, Gestora da APM.

A APM entende ainda que estas nomeações consolidam a presença da mulher na lideran-ça da administração da justiça e vão servir de encorajamento

para que mais mulheres invis-tam na formação e nas suas carreiras profissionais para conseguiram ascender a altos cargos de liderança, apesar das barreiras que enfrentam.

Muianga observa ainda que estas nomeações ocorrem num momento em que tem se regis-tado progressos significativos em termos da participação da mulher em diferentes cargos políticos, quer de nomeação presidencial, assim como de eleição. Aponta o crescimento de número de mulheres na As-sembleia da República que nes-te mandato também tem uma mulher na presidência como uma mais-valia para o país.

“O Presidente da Repúbli-ca fez e tem estado a fazer a sua parte. É nossa expectativa que estas mulheres eleitas e/

ou nomeadas desempenhem as suas funções de forma exem-plar e que aproveitem desta forte presença na liderança dos órgãos ligados à justiça e do parlamentopara influenciar aprovação de dispositivos le-gais que tomem em conside-ração a perspetiva do género”.

Apesar destes avanços, a Academia Política da Mulher reconhece que ainda há mui-

to por se fazer. “Por exemplo, apesar de o Conselho Consti-tucional ser liderado por uma mulher, ela é a única no ór-gão, num total de sete juízes conselheiros. O Tribunal Ad-ministrativo de um universo de doze juízes conselheiros apenas duas são mulheres.A mesma tendência se verifica na procuradoria e noutros ór-gãos de administração da jus-tiça. Esta realidade constitui desafio e é também uma opor-tunidade para que as mulhe-res continuem ainvestir para a conquista do seu espaço”.

Para melhorar a presença de mulheres nos diferentes órgãos de decisão, a APM de-fende ser necessário que sejam estabelecidos mecanismos le-gais que garantam a sua pre-sença em número significativo nos diferentes órgãos, incluin-do por exemplo a adopção de um sistema de cotas rigoroso, quer em cargos electivos assim como em órgãos de nomeação.

Em Moçambique, a Cons-tituição da República estabe-lece, no Artigo 36, o princí-pio da igualdade do género referindo que “O homem e a mulher são iguais perante a lei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural”. Mais ainda, as mu-lheres representam a maior parte do universo populacio-nal e de acordo com os dados do recenseamento eleitoral, representam o maior grupo da população eleitora. Mes-mo assim, estudos têm apon-tando que as mulheres ainda enfrentam barreiras para ter acesso a oportunidades ao ní-vel social, político e económi-co. Uma realidade que a APM espera que seja desconstruída, de forma que estas mulheres contribuam para a promoção do bem-estar da população.

O Presidente da República fez e tem estado a fazer a sua parte. É nossa expec-tativa que estas mulheres eleitas e/ou nomeadas desempenhem as suas funções de forma exemplar e que aprovei-tem desta forte presença na lide-rança dos órgãos ligados à justiça e do parlamento-para influenciar aprovação de dispositivos le-gais que tomem em consideração a perspetiva do género

Lúcia Amaral

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