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Ute Rasp AMBIENTE E SAÚDE EM ÁREA DE MANGUEZAL: o caso de Vila Velha - Itamaracá - PE Recife 1999 ORIENTADORA: Profa. Dra. Lia Giraldo da Silva Augusto Fundação Oswaldo Cruz Instituto Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva

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Ute Rasp

AMBIENTE E SAÚDE EM ÁREA DE MANGUEZAL:o caso de Vila Velha -

Itamaracá - PE

Recife 1999

ORIENTADORA:Profa. Dra. Lia Giraldo da Silva Augusto

Fundação Oswaldo Cruz Instituto Aggeu Magalhães

Departamento de Saúde Coletiva

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Ute Rasp

AMBIENTE E SAÚDE EM ÁREA DE MANGUEZAL:

O caso de Vila Velha, Itamaracá - PE

Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde Pública junto ao Departamento de Estudos em Saúde Coletiva – Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, sob orientação da Professora Dra. Lia Giraldo da Silva Augusto.

Recife, 15 de setembro de 1999

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R226a Rasp, Ute.

Ambiente e saúde em área de manguezal: o caso de Vila Velha de

Itamaracá-Pernambuco/Ute Rasp, Orientadora: Lia Giraldo da Silva Augusto. _ Recife, 1999.

230 f. : il.: tabs., quadros, mapa, gráficos, fotos.

Dissertação(Mestrado em Saúde Pública)- Departamento de Saúde Coletiva, Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, NESC/CPqAM/FIOCRUZ.

Inclui referências bibliográficas e anexos.

1.Saúde Ambiental. 2. Contaminação Química. 3.Riscos

Ambientais. 4. Poluição Ambiental. 5. Intoxicação por Mercúrio. 6. Manguezal. 7. Vila Velha, Itamaracá I. Augusto, Lia Giraldo da Silva (Orientadora) II. Título.

504CDU(2.ed.) Biblio./NESC

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AMBIENTE E SAÚDE: o caso de Vila Velha, Itamaracá - PE

Ute Rasp

BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________________

Prof. Dra Lia Giraldo da Silva Augusto

Dra. Adélia Cristina Pessoa Araújo

Dra. Otamires Alves da Silva

Recife, PE 1999

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A Ronaldo, Angélica,

Jarbas, Kitti,

Karin e Nick(o).

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“De todas as questões que hoje nos preocupam, a

mais fundamental, a meu ver, é a das relações

homem-Terra . (...) Urge que o homem tome

consciência da Terra, o planeta que o gerou, que o

alimenta, guia e cura...”

(Thomas Berry, O sonho da Terra; Ed. Vozes,1991 p.23 e 63)

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, os agradecimentos à Professora Dra. Lia Giraldo da Silva Augusto,

orientadora desta dissertação, pela ajuda na escolha do tema, pelo estímulo e pelo apoio

dado durante toda a fase de elaboração deste documento;

À Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, ao NESC e à FACEPE, pelo apoio

financeiro sem o qual não teria sido possível a realização desta pesquisa;

A todas as pessoas que compõem o núcleo habitacional de Vila Velha, pela atenção

dada durante as entrevistas e no período em que estive em seu convívio. Em especial, à

Dona Clarice, à Dona Maria do Carmo e ao Senhor Halid, pelo acolhimento e pelo calor

humano passado nas longas horas de conversas;

A Jan Bitoun (UFPE), por ter indicado valiosa bibliografia sobre o tema estudado;

A Tânia Lima (FUNDAJ), por ter acompanhado a fase de elaboração do projeto e pelas

idas ao campo, onde pude ter maiores contatos com lideranças comunitárias de Vila

Velha;

A Pedro Nepomuceno (Prefeitura de Itamaracá), pela indicações valiosas dentro da

Prefeitura do município na obtenção dos dados secundários;

Ao Professor Dr. João Paulo (UFRJ), que orientou parte da dissertação quando do

afastamento da orientadora, por motivo de viagem;

A professora Dra. Constança do Aggeu Magalhães, pelas valiosas dicas e pelas palavras

de incentivo;

A Danuza Teles (Itep), que muito colaborou quanto aos dados sobre poluição na área

estudada;

Ao professor Tarcísio Quinamo, do Departamento de Antropologia da Fundação

Joaquim Nabuco, por ter colocado à minha disposição os dados obtido em pesquisa

feita anteriormente na Vila Velha;

Às colegas do mestrado, por todos os momentos que partilhamos juntas;

v

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Aos professores do NESC, pela imensa contribuição teórica em todas as fases do curso;

Aos funcionários do NESC, que foram solidários em todos os momentos em que foram

solicitados;

A Secretaria de Saúde de Itamaracá, que, apesar de estar em fase de mudança de gestão,

dispensou a mim todas as informações possíveis sobre a saúde em Vila Velha e no

município como um todo;

Ao IBGE, pelo apoio de infra estrutura de informática colocada à minha disposição.

Ao Aggeu Magalhães, pela ajuda com os serviços de deslocamento até a Vila, e aos

motoristas, pela paciência e simpatia a mim dispensadas.

Especialmente, a Ronaldo, por apostar em mim e apoiar-me, não somente durante todos

os momentos desta pesquisa, como também em todos os momentos da nossa vida em

conjunto;

Enfim, agradeço a meus sogros pela confiança e apoio e aos amigos, pela paciência e

pelo tempo roubado de nosso convívio;

Agradeço a meus pais, pelo amor e pela formação oferecidos, sem os quais jamais

poderia ter aqui chegado, e à minha irmã, pelas inúmeras palavras de conforto nos

momentos difíceis...

Agradeço, por fim a todos que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a

construção deste trabalho.

vi

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SIGLAS

CETESB Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico de São

Paulo COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento e Abastecimento

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CONDEPE Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco

DATASUS Banco de dados do SUS

FACEPE Fundação de Amparo à Ciência do Estado de Pernambuco

FIDEM Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife

FUNDAJ Fundação Joaquim Nabuco

FUSAM Fundação de Saúde Amauri de Medeiros

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

CPRH Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ITEP Instituto de Tecnologia de Pernambuco

MS Ministério da Saúde

NESC Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva

ONG Organizações Não-Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PED Projeto de Execução Descentralizada

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – IBGE

PPSH Plano de Preservação dos Sítios Históricos da RMR

RMR Região Metropolitana do Recife.

SECTMA Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - PE

SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

SUS Sistema Único de Saúde

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco

UIPN União Internacional para a Proteção da Natureza

UNCED o mesmo que ECO-92: Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

UNEP Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

vii

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LISTAS DAS TABELAS

Pg

Tabela 1 CARACTERIZAÇÃO INDIVIDUAL DO GRUPO ESTUDADO Vila

Velha-PE, Dezembro de 1998 72

Tabela 2 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO AS RELAÇÕES DE TRABALHO Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

74

Tabela 3 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO AS ATIVIDADES Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

75

Tabela 4 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO FONTES DE ALIMANTAÇÃO Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

77

Tabela 5 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO O TIPO DE RELAÇÃO COM O MANGUEZAL Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

79

Tabela 6 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO AS SUAS OBSERVAÇÕES SOBRE O MANGUEZAL Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

80

Tabela 7 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE A SAÚDE E O TRABALHO NO MANGUEZAL Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

82

Tabela 8 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO A OCORRÊNCIA DE UMA OU MAIS QUEIXAS NOS PRINCIPAIS SISTEMAS Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

84

Tabela 9 CARACTERIZAÇÃO DOS SINTOMAS REFERIDOS SEGUNDO OS PRINCIPAIS SISTEMAS Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

85

Tabela 10 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO HÁBITOS Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

86

Tabela 11 DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS DE AGRAVOS À SAÚDE OCORRIDOS NA FAMÍLIA NOS ÚLTIMOS DOIS ANOS Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

87

Tabela 12 DISTRIBUIÇÃO DA CAUSA DE MORTE DOS PROGENITORES Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

88

Tabela 13 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO O ACESSO À ASSISTÊNCIA A SAÚDE Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

89

Tabela 14 CARACTERIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS SEGUNDO O HISTÓRICO GESTACIONAL DA ENTREVISTADA OU DAS ESPOSAS Vila Velha-PE, Dezembro de 1998.

91

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LISTA DE QUADROS

Pg

Quadro I ATIVIDADES ANTRÓPICAS E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NOS ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS BRASILEIROS

32

Quadro II QUADRO DEMONSTRATIVO DOS VALORES ALTERADOS REFERENTE AO MONITORAMENTO BIO-FÍSICO-QUÍMICO REALIZADO NAS 9 ESTAÇÕES DE COLETA DE AMOSTRAS DO CPRH, NO CANAL DE SANTA CRUZ (1986 e 1989)

53

Quadro III MICROPOLUENTES IDENTIFICADOS EM AMOSTRA DE SEDIMENTO DO CANAL DE SANTA CRUZ ,Janeiro de 1999

54

Quadro IV DIMENSÕES DO MANGUEZAL E DA ÁREA ESTUARINA NO CANAL DE SANTA CRUZ NO PERÍODO DE 1974 E EM 1991 (EM HECTARES)

55

LISTA DE GRÁFICOS

Pg

Gráfico 1 CONDIÇÕES DE POSSE DA CASA DOS PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

68

Gráfico 2 TIPO DE INSTALAÇÃO SANITÁRIA DOS DOMICÍLIOS DOS PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

68

Gráfico 3 ELIMINAÇÃO DE DEJETOS DOS DOMICÍLIOS DE PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

67

Gráfico 4 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO DESTINO DO LIXO DOMÉSTICO DOS MORADORES DE VILA VELHA (dezembro de 1998)

69

Gráfico 5 GRAU DE INSTRUÇÃO DOS PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

73

Gráfico 6 RENDA DOS PESCADORES DE VILA VELHA (1996) 73

Gráfico 7 PRINCIPAL MEIO DE TRANSPORTE PARA O ABASTECIMENTO DOMÉSTICO DOS DOMICÍLIOS DE PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

78

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LISTA DE FIGURAS

Pg

Figura 1 Mapa ilustrativo da Ilha de Itamaracá e do Canal de Santa Cruz comumente vista na região do Canal de Santa Cruz

48

Figura 2 Vista da extensão dos manguezais do Canal de Santa Cruz 49

Figura 3 Paisagem do manguezal 50

Figura 4 Mangue vermelho (Rhisophora mangle L) o tipo de mangue predominante na região.

51

Figura 5 Sacos plásticos presos nas raízes do mangue, fato bastante comum

56

Figura 6 Latas e restos plásticos vistos nas marés baixas 56

Figura 7 Vila Velha vista do Canal de Santa Cruz. Detalhe dos fundos da Igreja N. Sra da Conceição, marco histórico da Vila, na parte alta da Vila.

60

Figura 8 Porção baixa da Vila 61

Figura 9 Núcleo central da Vila onde são realizadas as festas e as atividades recreativas. Ao fundo, a Igreja de N. Sra. Da Conceição.

62

Figura 10 Trecho final da estrada que chega a Vila Velha 60

Figura 11 Sítios de coco onde vários moradores da Vila trabalham 63

Figura 12 Artesãos da Vila trabalhando 63

Figura 13 Mulher e criança trabalhando na catação de ostras na beira do Canal

64

Figura 14 Pescadores saindo para mais um dia de trabalho nas camboas do manguezal

64

Figura 15 Mini anfiteatro onde as pessoas assistem TV 65

Figura 16 Escola Municipal Luis Cipião, a única escola local. 65

Figura 17 Posto de Saúde local 66

Figura 18 Associação de Moradores local 66

Figura 19 Prédio onde situam-se o posto da TELEMAR (antiga TELPE) e a Unidade Produtiva das Doceiras de Vila Velha

67

Figura 20 Mulher trabalhando no aproveitamento da palha de coqueiro para a cobertura da sua casa

69

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RESUMO

O estudo dos reflexos do ambiente na saúde de famílias de pescadores que vivem dos

manguezais do Canal de Santa Cruz, em especial os residentes em Vila Velha, lugarejo

situado no município de Itamaracá (PE), foi o alvo desta pesquisa, onde foram

investigados fatores específicos desse ecossistema e do viver a vida nesse ambiente. A

estrutura econômica de boa parte da população desta Vila baseia-se, principalmente, na

atividade extrativista representada principalmente pela pesca e pela retirada de

moluscos, crustáceos, madeiras, frutas e plantas.

Diante da constatação da importância dos manguezais, berçários naturais de diversas

espécies marinhas costeiras, como provedores de alimentos para a subsistência das

populações ribeirinhas, foram estudadas as dinâmicas bio-sócio-ambientais

estabelecidas neste sistema, incluindo alguns indicadores de poluição e os aspectos de

preservação da saúde ambiental para a promoção da saúde humana.

Nesta pesquisa, foram levantadas as características das áreas estuarinas, de manguezais,

relacionando os impactos da ação antrópica neste meio. Os aspectos da população de

Vila Velha também foram levantados, no sentido de caracterizá-la e conhecer a sua

percepção do ambiente em que vive e trabalha. Levantou-se dados sobre o processo de

trabalho extrativista no manguezal e morbidade referida.

Constatou-se que existem impactos negativos, que podem levar a desequilíbrios

irrecuperáveis das dinâmicas bio-sócio-ambientais e, conseqüentemente, provocar danos

à saúde das pessoas que deles tiram a sua sobrevivência. Os principais problemas

observados foram: o destino inadequado do lixo; a pesca predatória; o desmatamento do

manguezal para fins imobiliários; e a poluição decorrente do processos produtivos no

entorno do Ecossistema.

Em conclusão, foram propostos indicadores ambientais e de saúde para programas de

vigilância em saúde e um gerenciamento sustentável dos recursos naturais disponíveis

naquela região, com o objetivo de contribuir para melhorar as condições de vida de

grupos populacionais que habitam o ecossistema dos manguezais, onde se torna

indispensável a preservação ambiental, da cultura e dos métodos tradicionais de vida

destas comunidades.

xi

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ABSTRACT

This study focus the environmental effect on health of fisher’s families that lieve near

of the mangrove of the Canal de Santa Cruz, especially of Vila Velha inhabitants in

Itamaracá City (Pernambuco State). Specific risk factors of this ecosystem and of live-

style in this enviroment were considered. The economic estruture into this Vilage is

based on fishing sea products, colection of wood, fruits and others.

The observation that the mangrove is very important like nutrition support for the

mangover-side populations. It was studied the bio-socio-environmental dinamic

stablished in this ecosystem, including indicators of polution and aspects of

environmental prevention to promove the health.

In this research, the main characteristic of the mangrove areas were associated with the

antropic actions. The aspects of the Vila Velha inhabitants were studied too, with the

objective to know the perception of the damages on environment. Data about work

process on the mangrove and the refered morbility to know the epidemiologic

behavior of this group.

The negative outcomes were showed and that are possible conducte a critical process

on the environment becaming itself unsustenable in the with negative impact on health

of the people living in this ecosystem. The main observed problems were: inadequate

destination of the waste, predatory fishing; lost vegetation and polution from

productive process arround the area.

In conclusion, it was proposed environmental and health indicators to a health

surviellance program and sustenable manager of the natural resources into this region to

contribute to improve the live conditions of mangrove-side inhabitants together the

protection of their cultural life.

xii

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SUMÁRIO

página

INTRODUÇÃO .................................................................................... 15 Breve histórico do pensamento ambientalista .................................. 15 Meio ambiente e processo saúde-doença: uma relação complexa ... 19

I - ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS................................ 21 1.1 Perspectiva social do ambiente. ................................................. 21 1.2 O ambiente e o desenvolvimento sustentável............................ 22 1.3 Saúde ambiental: um novo campo de investigação da saúde

pública ....................................................................................... 23 II– A IMPORTÂNCIA SÓCIO-AMBIENTAL DOS MANGUEZAIS

E A PERSPECTIVA DO USO SUSTENTÁVEL ...................... 26 2.1 A importância das áreas estuarinas ........................................... 26 2.2 Alterações intra-estuarinas........................................................ 27 2.3 O manguezal e a sua importância sócio-ambiental................... 28 2.4 Os tipos de utilização e impactos das ações antrópicas observadas nos estuários da RMR. ........................................... 29 2.5 A problemática do lançamento e da disposição de Resíduos no

ambiente aquático...................................................................... 32 2.6 Perspectivas de sustentabilidade dos manguezais .................... 34

III – PROBLEMATIZAÇÃO E OBJETIVOS................................... 35 3.1 Problematização ........................................................................ 35 3.2 Objetivo geral ............................................................................ 38 3.3 Objetivos específicos ................................................................ 38

IV – METODOLOGIA......................................................................... 39 4.1 Desenho do estudo ..................................................................... 39 4.2 Seleção da área de estudo........................................................... 39 4.3 População de estudo................................................................... 39 4.4 Instrumentos utilizados para a obtenção dos dados primários .. 41

4.4.1 questionário semi-estruturado........................................ 41 4.4.2 entrevista semi-diretiva.................................................. 43 4.4.3 observação...................................................................... 43

4.5 Obtenção de dados secundários ................................................. 44 4.6 Plano de análise.......................................................................... 44 4.7 Análise estatística dos dados...................................................... 45

V – RESULTADOS ............................................................................... 46 5.1 - Caracterização da área estudada ............................................... 46

5.1.1 –Características gerais da área estuarina da RMR .......... 46 5.1.2 - Caraterísticas da área estuarina do canal de Santa Cruz 47

5.1.3 - Problemas ambientais no Canal de Santa Cruz ............. 51

xiii

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5.1.4 – Ações desenvolvidas ou em desenvolvimento na área de

estudo ............................................................................ 57

5.1.5 – Principais características do município de Itamaracá e do

núcleo de Vila Velha ..................................................... 58

5.1.6 – Considerações históricas de Vila Velha e de Itamaracá 58

5.1.7 - Caracterização do núcleo habitacional de Vila Velha .. 59 5.2 – Caracterização da população estudada .................................... 71

5.2.1 – Características gerais .................................................... 71 5.2.2 – Caracterização das atividades de trabalho.................... 73 5.2.3 - Quanto ao acesso à alimentação ................................... 76 5.2.4 - A relação com o manguezal.......................................... 78 5.2.5 – Condições de saúde no município de Itamaracá e na

Vila ................................................................................ 80

5.2.5.1 – quanto a estrutura do serviço de saúde.......... 80

5.2.5.2 – quanto a percepção dos aspectos da saúde relacionados ao trabalho no manguezal ........ 81 5.2.5.3 – quanto às principais queixas de saúde da população de estudo em Vila Velha ............. 83

CONCLUSÕES...................................................................................... 93 DISCUSSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................. 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 101 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA.................................................. 105 ANEXOS

I – Modelo do Questionário aplicado II – Lista de perguntas da entrevista em fita k7 III – Prospecto de divulgação de empreendimento imobiliário em Vila Velha

iv

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INTRODUÇÃO

A pesquisa parte do principio de que a preservação da saúde ambiental e o

funcionamento equilibrado dos ecossistemas1 são extremamente importantes para a

promoção da saúde humana. Estudar as relações que estão estabelecidas em

ecossistemas distintos com a comunidade local, que com ele interage, é importante para

aprofundar o conhecimento do binômio saúde-ambiente. No caso desta investigação, o

foco escolhido foi o manguezal do Canal de Santa Cruz, por ser fonte de alimentos e

renda de famílias da comunidade de Vila Velha.

Para contextualizar esta investigação, faz-se necessário um breve histórico do

pensamento e dos movimentos sociais ligados ao processo de construção de uma

consciência ambientalista, que tem aflorado em nossa civilização ocidental neste final

de século.

BREVE HISTÓRICO DO PENSAMENTO AMBIENTALISTA

Segundo Colbi (apud Vieira, 1995), durante milênios as culturas humanas têm alterado

os ecossistemas, ao passo que os mesmos exercem simultaneamente pressões evolutivas

sobre a espécie humana e seus sistemas sociais. Nas últimas décadas, porém os seres

humanos promoveram uma mudança acentuada dos ecossistemas em geral, ameaçando

o funcionamento pleno dos mesmos, alterando-lhes o equilíbrio e a capacidade de

reprodução ecológica.

Sob o argumento do necessário crescimento econômico como forma de garantir bem-

estar social e diante de uma crença na abundância e inesgotabilidade dos recursos

naturais, o meio ambiente foi muito sacrificado em nosso país e na maior parte do

planeta, particularmente no século XX. No decorrer do processo dos esgotamentos

desses recursos, intensificou-se o pensamento ambientalista, sobretudo a partir da

década de setenta.

1 O ecossistema é entendido como uma unidade fundamental da ecologia. É uma associação de seres

vivos que povoam um determinado ambiente, interferindo-se e condicionando-se reciprocamente com esse meio ambiente através dos fluxos de energia e dos ciclos de matérias (Sobrinho, 1979).

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16

Cabe aqui, de acordo com Vincent (1995), recordar que as atitudes relacionadas à

ecologia não são novas. Para este autor:

“(...)mais exatamente, relacionam-se a uma conjunção sutil e

extremamente poderosa de atitudes frente à natureza que existiam no

pensamento europeu desde o final do século XIX. Apesar de sua ampla

promoção por vários grupos diferentes e politicamente diversos, ao

longo do século XX, foi a conjunção acidental de circunstâncias,

indivíduos e eventos nos anos 70 que propiciou um reenfoque dinâmico

do vocabulário ecológico”.

A título de exemplificação da afirmação acima descrita, nas últimas décadas do século

XIX, Haeckel (apud Vincent, 1995), influenciado pelo darwinismo, impactou não

apenas a comunidade científica mas também as religiosas e as literárias com as suas

afirmações sobre uma natureza como um organismo unificado e harmonioso, do qual os

seres humanos fazem parte. Esse organismo, para Haeckel, tinha muito a ensinar aos

homens em termos de organização da sociedade assim como as suas relações com a

natureza.

Outro movimento marcante para o desenvolvimento do pensamento ecológico, na

primeira metade deste século, refere-se àquele desenvolvido dentro do governo alemão

no período compreendido pelas décadas de 30 e 40 que segundo Vincent (1995) “

explorava com afinco a tecnologia de aproveitamento dos ventos, do gás metano e de

outras fontes de energia alternativa. Os alemães foram os primeiros a estabelecer

reservas naturais na Europa e a cultivar florestas decíduas em extensos programas de

reflorestamento. Além disso, faziam experiências, em larga escala, com agricultura

orgânica e biodinâmica”2.

Além das referências anteriormente citadas, o período marcado pelo crescimento

econômico que se deu após a II Guerra Mundial trouxe consigo a preocupação com a

poluição atmosférica e com o uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes, que

representam ainda na atualidade uma ameaça principalmente aos recursos naturais.

Esses fatos foram sendo observados pela comunidade científica3, num acentuado

2 O mesmo autor chama a atenção para o fato desse assunto não ser mencionado nos calorosos debates

dentro do ecologismo, revelando uma postura preconceituosa no interior desses movimentos.

3 O estudo da ecologia já existia há mais de um século mas, na comunidade acadêmica, só foi introduzido

na década de 50. Vale ressaltar que na mesma década surgiram a Teoria Geral dos Sistemas e a idéia de

ecossistema.

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movimento de discussão da questão ambiental, que levou à fundação da União

Internacional para a Proteção da Natureza (UIPN), em 1948, criada por um grupo de

cientistas vinculados a Organização das Nações Unidas (ONU), e à realização de sua

Conferência sobre Conservação e Utilização de Recursos, considerado o primeiro

grande e vitorioso acontecimento mundial do movimento ambientalista.

Já na década de 60, esse pensamento atinge outros segmentos sociais. Surgem assim as

Organizações Não-Governamentais (ONGs) ambientalistas de repercussão mundial e a

opinião pública começa a manifestar–se pela preservação ambiental.

Na década de 70, registram-se outros eventos como resposta às questões ambientais por

parte do sistema político (governos e partidos), com a convocação de diversas

conferências internacionais.

A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, foi considerada o segundo maior

acontecimento nesse campo. A partir desse momento, surgem as agências estatais de

meio ambiente. É fundado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(UNEP). Nessa época, também ressurge a controvertida corrente que propunha o

controle demográfico como meio de evitar o colapso dos recursos naturais, que,

segundo os especialistas, não estava muito distante. Por fim, na década seguinte, os

partidos verdes começam a atuar na maior parte das democracias ocidentais, em

particular na Europa.

Vale a pena ressaltar que, em meados da década de 70 até o início dos anos 80, mais de

130 países (UNCED-92, 1991) criaram órgãos específicos para tratar de assuntos

relativos ao meio ambiente. Foi nesse período que surgiram, no Brasil, as secretarias, os

órgãos federais e estaduais de proteção e controle do meio ambiente.

Em 1987, a Comissão Brundtland lança o relatório Our Common Future, integrando

atores do sistema econômico na discussão e trazendo para a década de 90 o

ambientalismo projetado sobre as realidades locais e globais, abrangendo os principais

espaços da sociedade civil, do Estado e do mercado.

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Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, bem

como no Fórum Global4 (Eco-Rio, 1993), discutiu-se a necessidade de uma ação ética

e comunicativa capaz de constituir um eixo civilizatório fundamental, onde exista maior

cooperação e solidariedade entre nações, povos, culturas, espécies e indivíduos (Leis,

1993, apud Leis & D’Amato, 1995).

Para Leis & D’Amato (1995), existe ainda um outro setor dedicado a discutir o tema.

Recentemente, a constante aparição da questão ambiental nos discursos de líderes

religiosos como João Paulo II e o Dalai Lama surge como indicador da gravidade do

problema passando a integrar a agenda de todos os países do mundo (ocidentais e

orientais).

Os sintomas reais, irreversíveis e inocultáveis de danos à vida humana e natural do

planeta são reconhecidos como decorrentes da descontrolada “ação civilizatória”,

principalmente no período que sucede a Revolução Industrial e as Revoluções

Tecnológicas. Essas trouxeram como resultado, entre outros, a toxidade radioativa dos

mares e da atmosfera; a escassez de água potável; a mudança climática global; a

desertificação; a extinção de diversas espécies animais e vegetais; o ressurgimento de

doenças já controladas (Dengue e Cólera); e o aparecimento de novas doenças, como

as viroses AIDS; Ebola, na África; e Sabiá, no Brasil.

Nos tempos atuais, surge no âmbito mundial uma nova idéia de crescimento, apoiado

no chamado desenvolvimento sustentável5 e no ecodesenvolvimento. Busca-se no

processo político-econômico modificar os padrões de produção e de consumo, de forma

a aproveitar melhor os recursos naturais, com menor impacto possível6 nos diversos

ecossistemas.

4 onde estiveram presentes cerca de 170 delegações governamentais, 50 intergovernamentais (FMI, OIT, UNESCO, entre outras) e mais de 500 não governamentais. Nela trabalharam 10.000 pessoas diretamente, agregaram-se cerca de 100.000 participantes no evento e nas promoções paralelas, em particular o Fórum Global. (website da Ecoforça - www.ecof.org.br)

5 A idéia de desenvolvimento sustentável baseia-se na do Relatório Brundtland lançado em 1987: “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as

futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades” (Brüseke, 1995). Baseia-se também na manutenção do estoque do capital dos recursos naturais como condição fundamental à organização e continuidade das atividades econômicas (Bryon, 1994)

6 Essa preocupação com a amenização dos impactos reforça o pensamento de Lowe & Goyder (1983) quanto a preocupação com problemas ecológicos que se acentuam principalmente próximo ao término de largos períodos de expansão ininterrupta:“ Uma vez satisfeitas as necessidades materiais de

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MEIO AMBIENTE E PROCESSO SAÚDE-DOENÇA: UMA

RELAÇÃO COMPLEXA

Segundo a Agenda 21, documento produzido durante a Eco/Rio, em 1992, e assistido

por todos os países signatários da ONU, grande parte das atividades humanas de

desenvolvimento afetam o meio ambiente, causando ou intensificando problemas de

saúde em populações humanas (ECO-RIO, 1993). Diante dessa constatação, destacam-

se, sobretudo, as atividades modernas direcionadas para a produção de riquezas

econômicas que, associadas à falta de planejamento e fiscalização dessas atividades,

acabam por desencadear sérios problemas de saúde nessas populações. Ficou evidente

nesse momento que os países ricos são os maiores poluidores, sendo a pobreza um fator

decorrente do modelo insustentável de desenvolvimento.

O mesmo documento que enfatiza os problemas ambientais também focaliza ações,

dentre outras, que possuem como meta a “saúde para todos” no processo do

desenvolvimento sustentável7. Como exemplos dessas ações, pode-se citar as

preocupações com: o atendimento das necessidades básicas de saúde, o controle de

doenças transmissíveis, os problemas de saúde urbana e a redução dos riscos para a

saúde provocados pela poluição ambiental.

A explicação do processo saúde-doença, assim deve ser buscada no conjunto dos

problemas estruturais do sistema econômico, nas relações sociais, nas políticas adotadas

pelos diferentes níveis de governo e nas relações do homem com a natureza. As relações

desses fatores (bio-sócio-ambientais) constituem um sistema complexo (Garcia,1986 e

1994; Duval, 1996).

Garcia (1994) desenvolve o conceito de sistemas complexos de forma útil para uma

abordagem integral de sistemas, tais como estes que relacionam saúde e ambiente. O

autor define um sistema complexo como aquele no qual os seus elementos constitutivos

são interdependentes e interdefiníveis, cuja explicação só é entendida nos processos de

relações funcionais entre eles. Dessa forma, o processo saúde-doença só pode ser

determinados setores da sociedade através de prosperidade econômica, as pessoas começam a

expressar preocupação com os “custos” da prosperidade e também com o ambiente “natural” que

agora têm tempo de desfrutar. Têm tempo, educação e segurança financeira para serem capazes de se

alarmar com o meio ambiente”. 7 De acordo com as definições do Relatório de Brundtland (Bryon, 1994).

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explicado num sistema onde interagem as dimensões biológicas, sociais, econômicas,

culturais e ambientais.

Por essa razão, esta investigação mesclou no seu método de investigação instrumentos

quantitativos e qualitativos, para entender como estão estabelecidas as relações entre a

saúde e o meio ambiente da comunidade alvo desta investigação.

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capítulo I

AAA SSSPPPEEECCCTTTOOO SSS TTTEEEÓÓÓ RRRIIICCCOOO SSS EEE CCCOOO NNN CCCEEEIIITTTUUU AAA IIISSS 1.1 - Perspectiva social do ambiente

O entendimento da natureza vem sendo modificado na história da humanidade. Os pré-

socráticos reconheciam a totalidade de “tudo o que é”, o que denominavam de physis.

Ela pode ser apreendida em tudo o que acontece: na aurora, no crescimento das plantas,

no nascimento de animais, plantas e dos homens. Compreende tudo o que existe,

inclusive os deuses. A partir de Sócrates, Platão e Aristóteles começa um processo de

desprezo pela physis e um privilegiamento do homem e da idéia. Esse pensamento

surgiu no apogeu da democracia grega e tornou-se dominante na época de crise do

regime social e político de Atenas (Gonçalves, 1990). Hoje, assim como no passado, a

reflexão se impõe em exato momento de crise, quando setores da sociedade repensam

seus fundamentos, seus valores e seu modo de ser. O movimento ecológico atual está

bem no centro dessas questões, e não é por acaso que tal problemática transita entre a

ciência, a filosofia e a política.

As relações entre sociedade e cultura criam um determinado conceito de natureza, ao

mesmo tempo em que instituem as relações sociais. Gonçalves (1990) apontou para o

fato da sociedade ocidental atual deslocar o homem da natureza. A expansão de

economias de mercado, baseada em alta produtividade e consumo, se deu , com maior

ou menor intensidade, em todas as nações, com efeitos negativos e devastadores sobre

as populações humanas, principalmente os grupos que dependiam e habitavam

ecossistemas frágeis (florestas tropicais, savanas, manguezais), causando ao mesmo

tempo empobrecimento social e degradação ambiental (Diegues, 1998).

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A pauperização dessas populações tradicionais como fruto desses processos, e muitas

vezes a miséria extrema, associada à perda de direitos históricos sobre áreas em que

viviam, tem levado a sobre-exploração dos recursos naturais (Diegues, 1998).

1.2 - O ambiente e o desenvolvimento sustentável

O conhecimento de que a natureza possui mecanismos de autorecuperação de desvios

no seu equilíbrio, associado à percepção de que as funções ecossistêmicas não podem

ser alteradas de forma inconseqüente pelas ações humanas, colocando em risco a sua

sobrevivência, trouxeram as discussões sobre a sustentabilidade. Este conceito em

construção traz a questão da responsabilidade das presentes gerações com às futuras,

conscientizando vários setores da sociedade a perceber e a pensar o meio ambiente de

forma prioritária neste final deste século (Cavalcanti, 1995).

Segundo Brüseke (1995), Maurice Strong foi quem utilizou, em 1973, pela primeira

vez, o conceito de ecodesenvolvimento como alternativa para uma política de

desenvolvimento, e Sachs (1986) foi quem, na mesma época, formulou os princípios

que norteiam os caminhos deste desenvolvimento, a saber:

a) a satisfação das necessidades básicas;

b) a solidariedade com as gerações futuras;

c) a participação da população envolvida;

d) a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral;

e) a elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito à

outras culturas; e

f) programas de educação.

Segundo ainda Brüseke, os constantes debates sobre o ecodesenvolvimento acabaram

por desencadear, o que atualmente é conhecido como desenvolvimento sustentável.

Em 1974, como resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e

desenvolvimento- UNCTAD e do Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas-

UNEP, foi lançada a Declaração de Cocoyoc cujas bases de discussão estavam calcadas

nos argumentos de que a pobreza gera desequilíbrios demográficos contribuindo para a

destruição ambiental, sobretudo nos países subdesenvolvidos (Ásia, África e América

Latina), levando a crer que os países industrializados altamente consumistas devessem

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contribuir para minimizar os efeitos do subdesenvolvimento reduzindo a poluição da

Biosfera, o que foi desmistificado posteriormente, como se verá adiante. Após

Cocoyoc, o aprofundamento dessa discussão resultou no relatório final do projeto da

Fundação Dag-Hammarskjöld, onde estão apontadas a problemática do abuso de poder

e sua interligação com a degradação ambiental. Brüseke (1995) ressaltou que os dois

movimentos enfatizaram a necessidade de mudanças estruturais na propriedade e nos

meios de produção agrícolas, e sustentaram a idéia do self-reliance, ou seja, a confiança

do desenvolvimento baseado na mobilização das forças produtivas. No entanto estes

dois movimentos sofreram rejeição por parte dos países industrializados, dos cientistas

e dos políticos conservadores (Brüseke, 1995).

Mas foi o Relatório de Brundland (resultado do trabalho da Comissão Mundial sobre o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento – UNCED), publicado em 1987, que deu um

enfoque global, quanto às complexas causas sócio-econômicas e ecológicas nos

problemas enfrentados pela humanidade. Neste documento, estão sublinhadas as

ligações entre economia, tecnologia, sociedade e política baseada no compromisso

ético das atuais gerações com relação as futuras. É um documento, ao contrário de

Cocoyoc e do Dag-Hammarskjöld, possui base diplomática que tece poucas críticas à

sociedade industrial e aos países industrializados, ganhando mais aceitação e servindo

de base para a realização da Eco-92, na Cidade do Rio de Janeiro. Este evento, por sua

vez, reconheceu a integração entre as questões de desenvolvimento sócio-econômico e

as transformações no meio ambiente, transformando-se numa agenda de compromissos

assumidos pela maioria dos governos participantes da ONU (Brüseke, 1995).

Esta agenda ficou conhecida como Agenda 21, expressa pela Declaração do Rio sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, buscando uma pauta comum de atuação em

diversos temas e entre os quais insere-se a preocupação com as relações entre saúde e

meio ambiente, que aparecem em diversos capítulos, em particular no 6 (Proteção e

promoção da saúde humana) e no 19 (Segurança química).

1.3 Saúde ambiental: um novo campo de investigação da saúde pública. A ampliação do conceito de saúde e ambiente ocorreu a partir da Primeira Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde (Otawa, Canadá, 1986) onde foi definida como

uma de suas linhas de atuação a construção de ambientes favoráveis à saúde. Após

Otawa realizaram-se inúmeras outras conferências como a de Adelaide (1988), a de

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Saundswall (1991), a de Santa Fé de Bogotá (1992) e a de Jakarta (1997), onde a

questão ambiental continuou presente nas discussões sobre a promoção da saúde.

No Brasil, já na década de 80 a preocupação ambiental constituiu-se num forte

movimento que resultou em um importante e moderno arcabouço jurídico-institucional

a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1999) representados

entre outros, pelos seguintes artigos:

Art. 23, incisos VI,VII e IX, que estabelece a competência comum da União, dos estados do Distrito Federal e dos municípios de proteger o meio ambiente, promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico, além de combater a poluição em qualquer de suas formas e preservar as florestas, a fauna e a flora;

Art. 225, no qual está assegurado que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações; e

Art., 200, incisos II e VIII, que fixa como atribuição do Sistema Único de Saúde – SUS – entre outras, a execução de “ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador” e “colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.

Outros dispositivos legais, que consideram a relação entre a saúde e o ambiente, foram

criados no Brasil, tais como o SISNAMA ( Sistema Nacional de Meio Ambiente) em

1981 e o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) em 1985, que

sistematizam uma série de normas, que protegem os interesses coletivos, quanto aos

problemas relativos à poluição acidental, impactos ambientais, entre outros (Ministério

da Saúde, 1999).

Um exemplo, são as preocupações com as questões do uso de clorofluorcarbono (CFC),

em produtos cosméticos, de higiene, perfumes, saneantes domisanitários, sob forma de

aerossóis, que comprometem a camada de ozônio da atmosfera, cujos efeitos esperados

sobre à saúde é o aumento de câncer de pele por exposição aos raios Ultra Violetas do

sol.

Em 1997, deu-se início ao projeto VIGISUS com o objetivo de estruturar os sistemas de

vigilância em saúde de acordo com as diretrizes do SUS, enfatizando a articulação entre

ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental; participação na formulação

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da política e na execução de ações de saneamento básico; colaboração na proteção do

meio ambiente, nele compreendido o do trabalhador; controle e fiscalização de serviços,

produtos e substâncias de interesse para a saúde; participação no controle e fiscalização

de produção, transporte, guarda e utilização de produtos psicoativos, tóxicos e

radioativos.

De modo geral, a OMS (1991) define saúde ambiental como sendo:

“ O equilíbrio ecológico que há de existir entre o homem e seu

meio para que seja possível seu bem estar. Esse bem estar se

refere ao homem em sua totalidade, não só saúde física, e sim a

saúde mental e um conjunto de relações sociais ótimas. Assim

sendo, se refere ao meio em sua totalidade, desde a moradia

individual do ser humano até toda ecossistema.”

Porém, apesar dos avanços nas legislações e nos debates teóricos, grupos

populacionais, sobretudo no terceiro mundo continuam expostos a contaminações

diversas no ambiente de trabalho, por falta de esgotamento sanitário, pela poluição

atmosférica, pela contaminação de alimentos entre muitos outros. Estes fatores

estão intimamente relacionados ao modelo econômico concentrador de renda e a

exploração irracional dos recursos naturais.

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capítulo II

AAA IIIMMM PPPOOO RRRTTTÂÂÂ NNN CCCIIIAAA SSSÓÓÓ CCCIIIOOO ---AAA MMM BBBIIIEEENNN TTTAAA LLL DDD AAA SSS ÁÁÁ RRREEEAAA SSS

EEESSSTTTUUU AAA RRRIIINNN AAA SSS EEE DDD OOO SSS MMM AAA NNN GGGUUU EEEZZZAAA IIISSS

Antes de entrar no tema referente aos manguezais propriamente dito, é importante

discutir algumas questões que ocorrem nas áreas estuarinas e as modificações que

ocorrem dentro deste ecossistema.

2.1 A importância das áreas estuarinas

Bryon (1994) descreve bem as áreas estuarinas sobretudo as que estão presentes na

RMR. Segundo essa autora as áreas estuarinas são àquelas que compreendem os

estuários e os manguezais. São sobre essas áreas que se assentam muitas cidades

brasileiras e entre elas o agrupamento de cidades que compõe a RMR de modo que a

crescente ocupação populacional observada nas regiões litorâneas vem a se constituir

um problema a ser investigado no que tange a discussão sobre a preservação desse

ambiente e das relações antrópicas que há muito ali encontram-se estabelecidas.

Alguns elementos aqui relacionados caracterizam a importância deste ambiente.

Segundo documento elaborado pela FIDEM (1983) observa-se que a produtividade dos

estuários é 20 vezes superior que a do mar aberto. Quanto ao manguezal, este

ecossistema produz 30 toneladas de matéria orgânica seca por hectare anualmente, o

que é superior a produtividade das florestas. Neste ambiente são encontrados elementos

de uma cadeia alimentar riquíssima onde os nutrientes são reciclados pela queda das

folhas e pela ação dos herbívoros, resultando numa combinação contínua dos elementos

minerais em matéria orgânica. Por outro lado, os animais e os vegetais são abundantes,

as raízes do mangue servem de proteção aos peixes na desova e defesa das crias, ao

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mesmo tempo que servem de substrato aos moluscos. Daí a definição de que nas áreas

estuarinas são encontrados os manguezais, berçário da vida marinha.

O estuário não é visto apenas como forma de desaguadouro de um rio no oceano ou

como mistura das águas ou ponto central da zona litorânea. Define-se, como sendo a

área marítima onde se misturam a água doce e salgada que, juntas, fluem para o mar

carreando nutrientes, materiais orgânicos e sedimentares (Guerra, apud Bryon, 1994).

Desta forma caracteriza-se como sendo uma das zonas mais ricas e biológicamente

ativas do planeta, permitindo a existência de uma grande variedade de espécies no meio

aquático e constituindo em importante fonte de alimento para o próprio homem. No

entanto, estas áreas encontram-se expostas às inúmeras agressões induzidas pelo homem

que atuam sobre o sistema de forma aguda e às vezes crônica. A mudança em um único

elemento dentro da cadeia natural deste ecossistema pode vir a causar grandes

transtornos o que vem a caracterizá-lo como sendo um ecossistema complexo e

bastante sensível. Outra característica fundamental é o fato deste ecossistema estar

constantemente a mercê do que acontece nos ambientes vizinhos1, pois tudo o que ali

acontece pode também vir a causar-lhe algum tipo de degradação.

2.2 Alterações intra-estuarinas

Segundo ainda , essa autora, “os resultados dos usos e modificações realizadas pelo

homem nas áreas estuarinas são de difícil determinação, face ao número insuficiente e

direcionamento das pesquisas”” (Bryon ,1994) . Para a autora é importante intensificar

pesquisas sobre a pesca (intensidade, período, técnica utilizada), o volume de produção

e quanto aos tipos e as espécies atingidas ou desaparecidas. Outro fato que também

merece atenção é a questão da destruição do ambiente e seus impactos tanto em âmbito

regional quanto em âmbito mundial no que diz respeito, principalmente, a produção de

pescados, crustáceos e moluscos. Além desses elementos deve-se levar ainda em

consideração as construções diversas e desordenadas ao longo do litoral bem como a

existência de “lixões”, como ocorre na RMR.

A autora chama atenção ainda para o fato de que deve ser observada a capacidade de

recuperação dos estuários, segundo a visão de vários estudiosos acerca deste tema . Ela

explica que “na natureza, a temperatura, a salinidade, e a corrente mudam com

1 Bryon (1994) aprofunda o assunto quando trata das alterações antrópicas nas áreas extra-estuarinas

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freqüência sem ocasionar perdas biológicas drásticas. No entanto, o caráter drástico e

mutável das alterações realizadas pelo homem nas áreas estuarinas reduz a eficiência

dessa elasticidade natural e tira deste ecossistema suas condições de sobrevivência, de

modo que nenhuma vida pode ser devolvida em manguezais aterrados.

2.3 O manguezal e a sua importância sócio-ambiental

Antes de avançar no tema é preciso fazer uma distinção entre mangue e manguezal.

Segundo os estudiosos, manguezal é o bosque, a floresta à beira-mar, o ecossistema, e

mangue a planta em si. O manguezal é o ecossistema localizado na interface da terra

com o mar. Mais específicamente, este ecossistema é composto por mangue, lavado e

apicum (Maciel, 1991apud Bryon, 1994). O Mangue vem a ser a espécie vegetal típica

que domina o manguezal. O lavado é a zona na frente do mangue, submerso em todas as

preamares, onde está presente flora e fauna abundante e diversificada. Apicum (ou

salgado) ocorre logo atrás do mangue, raramente aparece no interior do bosque, tendo a

presença de plantas abundantes, de pequeno porte, que invadem estas áreas marginais.

Vistas as definições feitas anteriormente, Bryon (1994) chama a atenção sobre a

observação do manguezal pelo leigo. Segundo a autora foi observado que para o leigo

“mangue, ou manguezal, é sinônimo de terreno pantanoso, sujo, atoladiço, destituído

de valor e sem se referir, necessariamente, a qualquer das espécies vegetais deste

ambiente”. Porém não é apenas o leigo que visualiza o ecossistema desta forma, vale

ressaltar que a legislação existente (Código Florestal e Resolução CONAMA 04/85)

também utiliza as duas palavras, mangue e manguezais, como sinônimas no transcorrer

dos seus textos.

Além da riqueza de vida que existe dentro do manguezal, este ecossistema também é

considerado um importante protetor das encostas, evitando a erosão provocada pela

intensa ação das ondas, além da drenagem do solo dos ecossistemas vizinhos.

A importância do manguezal dentro do estuário reside na exportação do material

orgânico para o oceano favorecendo a reprodução biológica. Nos manguezais estão

presentes vários organismos (fungos, bactérias, protozoários, entre outro) que

favorecem sobremaneira sua produção na medida em que estes invadem as folhas

caídas dos mangues ajudando a sua decomposição, alimentando vários outros

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organismos, complexos e ricos em variedades compondo, vários deles, uma cadeia

alimentar que contém o homem em seu ciclo.

Quanto à flora e a fauna (macroscópicas e microscópicas) do manguezal, estes

caracterizam-se pela presença de comunidades vegetais (mangue) e animais (crustáceos,

moluscos, peixes, aves, abelhas e microorganismos) adaptadas às condições do solo

salino e pobre em oxigênio, que se interligam através de adaptações morfológicas,

fisiológicas e reprodutivas, possibilitando-as viver em um ambiente muito instável.

Deste modo os seres do manguezal ali se reproduzem e vivem até a idade adulta

protegidos pelas raízes das árvores, produzindo material orgânico durante todo o ano,

revolvendo, exigenando o solo lamoso e, deste modo, contribuindo para o

desenvolvimento da população marinha.

Partindo das colocações feitas acima, o manguezal é visto nesta pesquisa como

patrimônio comum onde um conjunto de relações complexas devem ser conservadas e

direcionadas para o bem da própria sociedade que com ele se relaciona.

2.4 Os tipos de utilização e impactos das ações antrópicas observadas nos estuários

da RMR

O intenso processo de crescimento urbano da RMR que se deu ao longo do litoral, onde

também se encontram os maiores municípios, provocou a ocupação e o uso

descontrolado do solo; o uso indiscriminado dos recursos naturais locais, sobretudo nos

estuários e nos manguezais. Segundo Bryon (1994), os assentamentos humanos, a

expansão da malha urbana e o lançamento de esgoto e lixo em suas margens acabam

desencadeando:

a) prejuízo para o sistema de drenagem das cidades, favorecendo alagamentos

que se intensificam em épocas de chuvas;

b) aterros de manguezais e consequentemente “matando” este ecossistema;

c) perda da biodiversidade deste ecossistema pelos aterros, lançamentos de

produtos químicos e orgânicos;

d) quebra da produção de pescados, moluscos e crustáceos pela falta de

proteção aos estoques com relação à questão da falta de respeito ao período

de reprodução bem como das técnicas predatórias de pesca e captura;

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e) alterações costeiras em virtude da reconquista do mar pelos seus espaços

ocupados intensamente;

f) reflexos negativos na saúde da população (contaminações, transmissão de

doenças e distúrbios nos principais sistemas); e

g) comprometimento de atividades de pesca e coleta tanto de caráter econômico

quanto de subsistência de populações que tradicionalmente praticam estas

atividades.

Diante do exposto, torna-se importante discutir de forma mais acentuada os elementos

que contribuem para o desequilíbrio bio-sócio-econômico desse ecossistema

caracterizados pelos lançamentos de esgoto sanitário, de lixo urbano, de resíduos

industriais e agro-industriais.

¬ Os esgotos sanitários

Sabe-se que a RMR possui apenas 32% dos domicílios ligados à rede de esgotos2, que

por sua vez apresentam falta de manutenção sofrendo constantes rompimentos,

vazamentos e entupimentos. Esse fato acaba induzindo a parcelas da população a fazer

ligações clandestinas unindo as saídas de esgoto de suas residências às redes pluviais

destinadas exclusivamente ao escoamento das águas das chuvas para rios e par o mar.

Vistos estes dados, conclui-se que o volume de esgoto sem tratamento lançado nos

estuários é bastante elevado contribuindo para a redução do teor de oxigênio dissolvido

e consequentemente a morte de vários representantes da fauna aquática. Outra

conseqüência é a transmissão de doenças para a população como é o caso do cólera, das

doenças de pele, disenterias, verminoses, entre outros.

¬ Os despejos industriais e agro-industriais:

Segundo Bryon (1994) a RMR possui seis distritos industriais compostos por indústrias

de fertilizantes, têxteis, de papel e celulose, produtos químicos e metalúrgicos, além de

usinas de açúcar e destilarias de álcool. Não são raras as denúncias veiculadas pelos

meios de comunicação de lançamentos de resíduos no ecossistema estudados, por parte

dessas indústrias.

2 Censo Demográfico do IBGE – PE, 1994.

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Os impactos destes processos repercutem sobre várias formas tanto na flora e na fauna,

quanto nas populações que estão ligadas às áreas estuarinas. A elevação da quantidade

de substância químicas nocivas à algumas espécies poderão vir a contribuir para a

diminuição do estoque natural existente nesse ecossistema, atingindo as comunidades

que vivem da atividade da pesca e da coleta de moluscos e crustáceos. Desse modo,

serão sentidos impactos principalmente na economia e na alimentação dessas

populações. Por outro lado, existe o perigo também relacionado à saúde humana

através da ingestão de organismos contaminados por metais pesados3 .

Deve-se destacar também as ações referentes às industrias do açúcar e do álcool bem

como os processos desenvolvidos na prática agrícola. No primeiro caso, estima-se que

para cada litro de álcool produzido, obtêm-se dez ou mais litros de vinhoto. No ano de

1998 a produção pode ter atingido o patamar de 140 bilhões de litros nas áreas

canavieiras do NE. Apesar do fato do seu lançamento ter diminuído bastante em relação

à década de 70 e início da década de 80 bem como da descoberta do seu potencial como

fertilizante para o plantio da cana-de-açúcar, deve-se ater ao fato de que a sua aplicação

em excesso pode provocar: a) a salinização dos solos, devido aos elevados teores de

sódio e potássio; b) a contaminação dos recursos hídricos, provocando a morte de peixes

e de outros animais aquáticos; e c) o desequilíbrio da microbiota do solo (PNUD, 1999).

Quanto à agricultura, pode-se afirmar que os componentes da formulação dos

agrotóxicos e fertilizantes largamente empregados nas lavouras situadas fora da RMR

são trazidas pelas chuvas até o litoral contribuindo também para a poluição das áreas

estuarinas.

¬ O lixo urbano

Segundo o Censo de 1991 (IBGE, 1994), cerca de 72% dos domicílios da RMR

possuem coleta de lixo direta ou indiretamente. Apesar da coleta, o destino final é

inadequado ficando muitas vezes depositados a céu aberto, recebendo pouco ou

3 manipulados pelas indústrias químicas, siderúrgicas, metalúrgicas e de mineração.

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nenhum tratamento. A outra parte do lixo, cerca de ¼ do total, é depositada em terrenos

baldios, manguezais, rios e, em alguns casos, é queimada.

Essas afirmações permitem concluir que esse tipo de destinação do lixo traz

conseqüências bio-sócio-ambientais ao ecossistema em questão representadas pela

proliferação de insetos transmissores de doenças bem como a poluição dos rios,

manguezais e praias.

2.5 A problemática do lançamento e da disposição de Resíduos no ambiente aquático

Os ecossistemas aquáticos possuem a capacidade de reciclar nutrientes, purificar a água,

minimizar os efeitos de enchentes, conservar e ampliar os fluxos das águas, abastecer os

lençóis freáticos além de constituem fonte de abastecimento de água para a vida vegetal,

animal e humana. Porém, com o rápido aumento populacional observado em diversas

partes do planeta associadas ao intenso desenvolvimento industrial, comercial e

residencial, estes ecossistemas passaram a ser alvo de ações poluidoras conforme pode-

se observar no Quadro I, as quais estão relacionadas aos fertilizantes, agrotóxicos,

óleos, percolados tóxicos de aterros sanitários (local de disposição controlada de

resíduos sólidos), resíduos químicos de origem industrial e aos esgotos (Vazoller,

1996). Estes fatores trazem uma sobrecarga muito grande para a função auto-reparadora

destes ambientes.

Quadro I

ATIVIDADES ANTRÓPICAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NOS ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS BRASILEIROS

ATIVIDADES ANTRÓPICAS CONSEQUÊNCIAS

Irrigação Eutrofização

4 de lagos, rios, reservatórios,

estuários e águas costeiras

Lançamento de efluentes industriais Alteração no nível das águas e no ciclo

hidrológico

Lançamento de esgotos sanitários Alteração nas cadeias alimentares existentes

Produção e disposição de resíduos agrícolas Efeitos nocivos tóxicos aos sistemas

aquáticos

Produção e disposição de resíduos sólidos Aumento nos custos dos sistemas de

tratamento de águas de abastecimento Fonte: com base em TUNDISI & BARBOSA (1995) citado por Vazoller, 1996 .

4 Processo pelo qual um corpo aquoso torna-se altamente produtivo devido ao aporte maciço de

nutrientes (Suguio , 1992)

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Visto o acima referido, e com base no argumento de que a água é um recurso não

renovável e que necessita ser recuperado, torna-se interessante observar que apenas 10%

do total mundial de águas residuais estão sujeitas a algum tipo de tratamento enquanto

que o os outros 90% permanece no meio dependendo unicamente da capacidade de

auto-purificação dos sistemas aquáticos. Por outro lado, 10% de todas as bacias

continentais no mundo supre as necessidades de uso da água e dentro deste valor, 70% é

consumido na irrigação agrícola, 20% nos processos industriais, e o restante pelas

atividades domésticas e de agropecuária, entre outras (Griffiths, 1992 e Glazer &

Nikaido, 1995 apud Vazoller, 1996).

No caso brasileiro onde é grande o percentual de ecossistemas aquáticos sabe-se que

92% dos resíduos domésticos são ali lançados5 além dos resíduos industriais. Nestes

locais , como é o caso das áreas estuarinas, vivem comunidades tradicionais que retiram

do ecossistema a sua fonte de alimentação e de renda Os riscos ambientais oriundos

destes resíduos podem afetar a saúde dos que consomem frutos do mar contaminados.

Os resíduos mais comumente encontrados nos ambientes aquáticos são os sanitários e

os produzidos pela atividade agropecuária. Estes são constuituídos, em sua maioria, por

matéria de origem orgânica. Segundo Vazoller (1996) “um número significativo de

compostos sintéticos, ou xenobióticos, muitos dos quais são agrotóxicos, solventes

orgânicos ( como os PCBs) e compostos poli-aromáticos e halogenados, tais como as

dioxinastambém compõem a gama de poluentes orgânicos que persitem e acumulam no

ambiente. O caso dos PCBs (Bifenilas Policloradas) é um bom exemplo para ilustrar a

presença destes micropoluentes em ambientes aquáticos. Esta substância foi sisntetizada

pela primeira vez em 1981 por Schmidt & Schulz e só produzido comercialmente em

1929, mas é a partir daí intensificou-se o uso até os anos 50, sendo proibido pela OECD

( Organization Economic of the Contry Developed) (Tanabe, 1988), apesar disto até

hoje observa-se presença destes produtos em água, compondo até mesmo os parâmetros

de referência da Resolução CONAMA Nº 20, de 1986 para águas. Segundo Tanabe

(1988), conisderando-s todas as informações disponíveis relativas a distribuição e

comportamento dos PCBs nos ecosistemas, os mamíferos marinhos são provavelmente

os mais vulneráveis and possivelmente as maiores vítimas a longo prazo da toxicidade

dos PCBs, principalmente, os relativos a seus compostos derivados, tais como as

dioxinas, que são substâncias comprovadamente carcinogênicas.

5 (Tundisi & Barbosa, 1995 apud Vazoller, 1996)

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Continuando as observações de Vazoller (1986), “o utros importantes poluentes são os

inorgânicos que podem ocasionar efeitos prejudiciais ao meio ambiente, como é o caso

de várias formas de nitrogênio, fósforo e metais pesados. Particularmente, a

eutrofização dos sistemas aquáticos é ocasionada pela liberação de nitratos e fosfatos,

nutrientes que suportam o florescimento de uma enorme massa celular de algas no

corpo d'água receptor”, podendo dar origem a diversos fenômenos como o da maré

vermelha, no qual a proliferação de algas que produzem toxinas que são bioacumuladas

pelos organismos bivalves e tornam-se nocivos a saúde dos que se alimentarem destes

animais.

2.5 Perspectiva da sustentabilidade dos manguezais

A sustentabilidade desses manguezais está subordinada às formas de uso nele

observados (Bryon, 1994).

No presente estudo a forma de uso foi observada não somente sob a ótica econômica

vinculado ao valor comercial, mas também procurou-se analisar a idéia de conservação

e de legado às futuras gerações.

Quanto as formas de uso, podemos classificar em: a) uso direto de todos os produtos

possíveis de serem extraídos (incluindo fauna e flora); b) uso indireto, relativo às

funções ecológicas deste ambiente associadas a outros ambientes, incluindo o urbano; c)

uso opcional, àquele planejado para as gerações futuras; e d) uso de existência,

associado a idéia do simples fato de existir como ecossistema, tanto nos tempos atuais

quanto no futuro, num sentido amplo e totalmente desvinculado das necessidades

humanas (Bryon, 1994).

Com base em todas as afirmações feitas acima, pode-se perceber que a forma de uso

mais comum nos manguezais da área estudada estão relacionados ao uso direto,

consequentemente sem nenhuma preocupação com a sua sustentabilidade. O uso

indireto é feito de forma a desrespeitar as características ecológicas do sistema e o uso

opcional e de existência são completamente ignorados, também não contribuindo para a

sustentabilidade deste ecossistema.

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capítulo III

PPPRRROOO BBBLLLEEEMMM AAA TTTIIIZZZAAA ÇÇÇÃÃÃ OOO EEE OOO BBBJJJEEETTTIIIVVVOOO SSS

3.1 Problematização

Segundo Saenger, P. et all (1983) e Cintrón & Scaeffer-Novelli (1981), o Brasil possui

em seus 8.000 km de costa litorânea, somados às grandes ocorrências de áreas

estuarinas, aproximadamente 25.000 km2 de manguezais, o que representa 12,5% da

área mundial desse ecossistema. Os inúmeros estuários, com seus manguezais,

considerados como os mais férteis entre todos os ambientes, apresentam-se em diversos

estágios de conservação, uma vez que os mesmos são considerados como sendo um

ecossistema frágil e de fácil destruição pelas ações humanas.

Por outro lado, o Brasil possui suas grandes cidades assentadas no litoral, destacando-se

o fato de que 14 dos 17 estados banhados pelo mar têm as suas capitais na faixa

litorânea, sendo essa uma característica do processo de sua colonização. Entre eles o

estado de Pernambuco.

A Região Metropolitana do Recife-RMR possui oito áreas estuarinas, dentre as quais se

destaca a do Canal de Santa Cruz - maior área estuarina do estado, com seus 52km2,

abrangendo os municípios de Igarassu, Itapissuma e Itamaracá. Seus manguezais estão

em área de proteção ambiental, segundo a Lei Federal N.º 4771 do IBAMA, onde a

população se relaciona diretamente com o ambiente no seu dia-a-dia, sobretudo deles

tirando alimentos para sua sobrevivência.

Diante das características citadas anteriormente, selecionou-se o núcleo populacional de

Vila Velha situada ao sul do município de Itamaracá, por ser um local dentro da RMR e

próxima ao Grande Recife, onde muitos de seus habitantes estabelecem historicamente

uma relação direta com o manguezal local, podendo ser traduzida sobretudo numa

relação econômica voltada para a exploração de pescados e de coletas de moluscos e

crustáceos.

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Em linhas gerais, sabe-se que para a maioria dessa gente, as atividades acima

mencionadas são meios de subsistência e, muitas vezes, daí resulta a maior parte da

renda familiar.

Atualmente, essas atividades encontram-se sob a ameaça de declínio, onde a causa

encontra-se na possível degradação ambiental que pode ser observada na área. Não são

raras as denúncias de despejos de resíduos químicos industriais nos afluentes dos rios

locais, favorecendo a contaminação da fauna e flora dos manguezais dessa região.

Muitas são as reclamações sobre a diminuição da quantidade de peixes e crustáceos por

parte dos pescadores, que é agravada pelo desrespeito à prática tradicional, pois a pesca

predatória não guarda os períodos de reprodução e utiliza técnicas onde estão

envolvidos materiais explosivos. Especula-se, porém, que tal prática, em geral, é

realizada por grupos estranhos à comunidade.

Por outro lado é sabido que na área existe outro elemento de grande importância na

degradação ambiental: a especulação imobiliária que reduz áreas de manguezais com

sucessivos aterros promovidos para a construção de imóveis diversos, na tentativa de

intensificar a ocupação para indústrias, áreas de veraneio e exploração turística.

Diante desse quadro, as questões condutoras desta pesquisa foram: qual o perfil de

saúde da população de extrativistas residentes em Vila Velha (Itamaracá-PE) que

mantém estreita relação com o manguezal do Canal de Santa Cruz, e quais elementos

desse ambiente influenciam o estado de saúde dessa população?

O estudo dos reflexos do ambiente na saúde de famílias de pescadores que vivem dos

manguezais requer investigação de fatores específicos desse ecossistema e do viver

nesse ambiente. A associação do homem com o manguezal ocorre dentro de uma

estrutura econômica baseada principalmente na atividade extrativista caracterizada

pela pesca e pela retirada de moluscos, crustáceos, madeiras, frutas e plantas.

Dentro dessa concepção, o estudo da ocorrência de possíveis problemas de saúde nessas

populações não pode consistir unicamente na análise da cadeia agente-hospedeiro-meio

ambiente. Os problemas estruturais não surgem de uma consideração isolada dessa

cadeia ou de seus elementos, como um processo linear. Por essa razão, a pesquisa

enfocará a vida social no manguezal, como uma forma de integrar os elementos que

compõem cada um dos elos da cadeia do processo saúde-doença, no contexto da

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situação social, econômica, político, de trabalho e cultural dos indivíduos da

comunidade de Vila Velha, objeto deste estudo.

Uma vez citada a importância da preservação da saúde ambiental para a promoção da

saúde humana, torna-se necessário aprofundar os conhecimentos acerca das relações

que estão estabelecidas em ecossistemas distintos, no caso desta investigação, os

manguezais, berçários naturais de diversas espécies marinhas costeiras, além de serem

provedores de alimentos para a subsistência das populações ribeirinhas. Além dessas

características ressalta-se também, e com grande destaque, o fato de que os impactos no

manguezal são bons indicadores de poluição. Diante dessas afirmações, faz-se

necessário melhor conhecer as dinâmicas bio-sócio-ambientais estabelecidas nesse

sistema, para subsidiar os programas de saúde, educação ambiental e saneamento,

objetivando a melhoria das condições de vida dos grupos populacionais que ali vivem,

a preservação dos manguezais e o melhor controle das endemias.

A pesquisa partiu dos seguintes pressupostos:

1) Segundo dados existentes, há evidências de degradação ambiental no manguezal do

Canal de Santa Cruz, dadas por:

• Especulação imobiliária (ver folder no anexo I);

• Despejo de produtos químicos no canal por indústrias circunvizinhas à área de

estudo (CONDEPE/CPRH, 1982; CPRH, 1990 e 1996; e ITEP - comunicação

pessoal);

• Pesca predatória, com uso de bombas (Relato dos moradores da localidade);

• Destino inadequado do lixo (FUNDAJ,1998).

2) Há evidências na diminuição da produção de pescado, crustáceos e moluscos, pela

prática acima descrita, que afeta a qualidade de vida das pessoas, sobretudo na dieta

alimentar

3) O manguezal constitui uma importante fonte de alimento e de renda para as famílias

da vila.

4) A saúde das pessoas que utilizam o manguezal como fonte parcial ou total de

sobrevivência está ameaçada pelo uso não sustentável desse ecossistema.

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3.2 OBJETIVO GERAL

Estudar as relações entre o ambiente do manguezal do Canal de Santa Cruz e a saúde da

população residente na localidade de Vila Velha que vive de atividades extrativistas,

contribuindo para a indicação de ações integradas que promovam a conservação da

biodiversidade, o manejo dos ecossistemas e a melhoria das condições de vida dessa

população.

3.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Caracterizar a área de estudo, enfocando o impacto das atividades antrópicas no

manguezal;

• Caracterizar as condições de saúde da população de estudo, segundo a morbidade

referida e outros dados de morbi-mortalidade disponíveis no sistema de saúde local,

e aventar hipóteses relacionadas com fatores de risco ambientais;

• Apresentar sugestões de indicadores ambientais para a avaliação da saúde de

populações que vivem em ecossistemas vulneráveis, nesse caso o manguezal.

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capítulo IV

MMM EEETTTOOO DDD OOO LLLOOO GGGIIIAAA

4.1 DESENHO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo epidemiológico ecológico descritivo de caráter exploratório.

4.2 SELEÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A Unidade de Análise deste estudo tem um recorte espacial que corresponde ao núcleo

populacional de Vila Velha, situado no município de Itamaracá, pelo fato de ser uma

comunidade que apresenta famílias que historicamente estabeleceram relações de

sobrevivência com os manguezais do Complexo Estuarino do Canal de Santa Cruz. Esse

núcleo está situado no setor censitário rural n.º 18, estabelecido pelo IBGE para o

município de Itamaracá, situado na porção norte da Região Metropolitana do Recife

(RMR).

4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO

Foram visitados os 74 domicílios existentes no núcleo populacional de Vila Velha.

Foram incluídas todas as famílias1 da área selecionada que apresentassem pelo menos

um membro com atividades2 extrativas no manguezal, independente de sexo e com

1 A Família é compreendida, segundo os critérios do IBGE para PNAD após 1990, como sendo um

conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que mora só em uma unidade domiciliar. Entende-se

por dependência doméstica a relação estabelecida entre a pessoa de referência e os empregados domésticos e agregados da família, e por normas de convivência as regras estabelecidas para o convívio

de pessoas que moram juntas, sem estarem ligadas por laços de parentesco ou dependência doméstica. Consideram-se como famílias conviventes as constituídas de, no mínimo, duas pessoas cada uma, que

residam na mesma unidade domiciliar (domicílio particular ou unidade de habitação em domicílio

coletivo). 2 A atividade é compreendida como ocupação exercida durante pelo menos uma hora na semana: na

produção de bens do ramo que compreende as atividades da agricultura, silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura, destinados à própria alimentação e de pelo menos um membro da unidade domiciliar, segundo os critérios adotados pelo IBGE nas pesquisas do PNAD após 1990.

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idade superior a 10 anos3, com ou sem geração de renda. Todos entrevistados

responderam a um questionário (anexo I), semi-estruturado compondo o primeiro

grupo do estudo. As entrevistas deram-se no domicílio visitado. Os endereços foram

obtidos a partir do cadastro existente na Associação de Moradores de Vila Velha.

Quando foi observado mais de um membro com atividade extrativa no manguezal, deu-

se preferência àquele que no momento da visita tivesse atividade mais intensa e regular.

Assim, para cada família obteve-se um representante que compôs a população do

estudo.

Conforme o critério de inclusão, foram entrevistados um total de 42 indivíduos

representantes das famílias, correspondendo a 57 % do total de famílias existentes no

núcleo. Foram excluídas as famílias que não tinham componentes que exerciam

atividade extrativa no manguezal, totalizando 32 famílias (43 %). Vale ressaltar que

não houve recusa nem dificuldade de contato com os domicílios visitados. Todas

entrevistas foram realizadas pela autora.

Foram ainda selecionados dois outros grupos de indivíduos que responderam a

entrevistas semi-diretivas em áudio gravadas e que estão identificados como segundo e

terceiro grupo:

O segundo grupo correspondeu às lideranças locais, num total de duas pessoas: a única

agente de saúde do núcleo e um representante da associação de moradores. Essas

entrevistas tiveram o intuito de obter informações sobre suas impressões relacionadas à

saúde e ao ambiente.

Para cada um dos entrevistados foi desenhado um roteiro (ver anexo II), buscando-se

adaptar as perguntas à atividade ou ao papel que essas pessoas desempenham na

comunidade.

As questões elaboradas para o agente de saúde local focalizaram a saúde das pessoas da

localidade, envolvendo questões sobre os principais agravos, atenção primária, os tipos

de programas de saúde existentes, além da observação de relação entre os problemas de

saúde da comunidade com o ambiente do manguezal.

3 Segundo os critérios do IBGE a População Economicamente Ativa (PEA) é aquela composta pelas

pessoas de 10 a 65 anos de idade que foram classificadas como ocupadas ou desocupadas no período de

referência da pesquisa (dezembro de 1998).

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As questões elaboradas para o representante da associação dos moradores procuraram

enfocar aspectos de vida da vila: habitação, transporte, trabalho, destino final do lixo,

saneamento, atividade no manguezal, turismo, saúde e impactos ambientais.

O terceiro grupo correspondeu às pessoas idosas (com mais de 65 anos), antigos

moradores da vila e que tiveram no passado atividade extrativa intensa no manguezal.

Foram ouvidas duas pessoas: um pescador e uma catadora de moluscos e crustáceos que

também exercia função de parteira. Nesse grupo, houve uma recusa, a de uma senhora

de mais de 80 anos de idade, cuja família, através de um representante, faz parte do

primeiro grupo. Para os dois anciãos entrevistados, a intenção foi de resgatar

informações e impressões sobre a evolução histórico-ambiental do manguezal e sua

relação com as atividades humanas desenvolvidas pelas pessoas que habitavam e

habitam o núcleo e, ainda, recolher impressões sobre as condições de vida dessa gente

ao longo do tempo.

4.4 INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA A OBTENÇÃO DOS

DADOS PRIMÁRIOS

O método utilizou instrumentos de pesquisa tanto quantitativo como qualitativo, a

pesquisadora conduziu pessoalmente a aplicação dos instrumentos de coleta dos dados

primários. As entrevistas individuais foram obtidas como já exposto: para o primeiro

grupo através de questionários semi-estruturados; e para o segundo e terceiros, o uso

de gravador de fita K7 com roteiro previamente elaborado. A observação feita foi com

o tipo observador participante.

4.4.1 Questionário Semi-estruturado

Tendo em vista que o mesmo núcleo populacional deste estudo fora recentemente alvo

de pesquisa para o Gerenciamento Ambiental Participativo: desenvolvimento e

aplicação aos casos dos manguezais do Canal de Santa Cruz (FUNDAJ, 1998),

coordenado pela Fundação Joaquim Nabuco em parceria com a UFPE e UFRPE, que

apresenta uma série de dados sócio-econômicos, optou-se pela inclusão somente das

questões relacionadas ao processo produtivo, condições de vida, de saúde e de relações

com o ambiente do manguezal, pois os demais dados foram retirados das fontes

secundárias e que complementaram os dados deste estudo.

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Outra situação que favoreceu a utilização desses dados do estudo acima citado, sem o

risco de uma obsolescência, é o fato dessa comunidade ter baixa mobilidade migratória

das famílias nela residentes, sendo considerada um núcleo de população tradicional pelo

estudo acima mencionado, no qual o componente antropológico foi objeto de

investigação.

O questionário utilizado compreendeu 116 questões abertas e fechadas, abordando as

seguintes variáveis e seus respectivos indicadores (Considerou-se para cada variável

selecionada apenas os indicadores relacionados com a pergunta condutora e os objetivos

do estudo):

a) Caracterização pessoal dos entrevistados: nome, idade, endereço e tempo de

residência na localidade;

b) Condições de vida:

• destino do lixo. Procurou-se observar a existência de algum tipo de tratamento

do lixo produzido no local dando também atenção à comparação da situação atual

com o período da pesquisa acima referida;

• características acerca da alimentação: tipo de alimento e a forma de aquisição.

c) Processo de trabalho (mesmo que não remunerado): Levou-se em consideração

questões que identifiquem o local, a distância da residência, o trajeto, a função exercida,

o tempo de trabalho na função, o produto do trabalho, o tipo de contrato de trabalho e se

existe contribuição para a previdência social;

d) Percepção do manguezal: Procurou-se levantar dados sobre a percepção do

entrevistado acerca do habitat, através das seguintes questões: aproveitamento dos

recursos locais e da qualidade do ambiente por ele vivenciado. Nesse último caso, foram

feitas duas perguntas abertas: uma sobre os problemas percebidos no manguezal e outra

sobre as soluções que dariam para esses problemas;

e) Condições de saúde:

• História reprodutiva das famílias. Foram listadas as condições de nascimento e

de sobrevivência dos filhos, com o objetivo de levantar possíveis impactos

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decorrentes de atividades industriais no entorno do Canal de Santa Cruz. Nesse

momento, quando o entrevistado era um homem, buscou-se ouvir a esposa ou

companheira acerca dessas questões;

• Antecedentes mórbidos familiares. Procurou-se identificar o histórico das

doenças que acometeram a família do entrevistado nos últimos dois anos;

• Morbidade referida. Procurou-se levantar as queixas de saúde atuais do

entrevistado envolvendo os principais aparelhos e sistemas orgânicos;

• Foram levantadas ainda questões que envolvem problemas de ordem emocional

e hábitos (cigarro e bebidas alcoólicas), questões referentes à percepção do

entrevistado sobre a existência de relação entre a atividade executada no

manguezal e seu quadro de saúde, além de informações sobre o acesso à atenção à

saúde (assistência do agente comunitário, de postos de saúde, de pronto socorro e

de hospitais).

4.4.2 Entrevistas Semi-diretivas

Para as lideranças e anciãos da comunidade, foram aplicadas entrevistas semi-diretivas,

através de um roteiro que constou de palavras-chaves capazes de, a partir de respostas

espontâneas, gerar novas perguntas. As entrevistas foram gravadas em um gravador de

fitas K-7 e posteriormente transcritos e analisados os seus conteúdos.

Tais entrevistas foram elaboradas combinando perguntas fechadas, onde o entrevistado

responde objetivamente o que o entrevistador perguntou, e abertas, onde o entrevistado

tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, no intuito de obter informações

acerca de seus valores, atuações, opiniões e percepções sobre o local onde vive

(Minayo, 1983).

4.4.3 Observação

Foi feita a observação participante, mais especificamente o observador como

participante em alguns momentos da pesquisa. Esse tipo de observação é o momento

que enfatiza as relações informais do pesquisador no campo, buscando-se o cuidado

máximo para não influenciar as opiniões desenvolvidas pelos membros da comunidade,

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e observando o fato de que a “informalidade aparente”, se não for bem dirigida, pode

vir a prejudicar o conhecimento da realidade estudada (Minayo, 1983).

Tal técnica foi empregada para complementar as entrevistas, tendo sido feita a

observação através de acompanhamento de pessoas no seu local de trabalho; pernoite na

localidade para observar informações sutis sobre o fim do dia na comunidade;

alimentação no local, buscando acompanhar o cardápio habitual; observação, e

acompanhamento da ida e vinda de profissionais de saúde; observação sobre o

transporte local, além de interlocuções com vários moradores do local.

4.5 OBTENÇÃO DE DADOS SECUNDÁRIOS

Os dados secundários que compuseram a pesquisa foram obtidos de várias fontes:

a) Dados sobre saúde: Secretaria de Saúde do município de Itamaracá, banco de dados

do DATASUS ;

b) Dados sócio-econômicos e históricos: IBGE, FUNDAJ, PPSH, Associação dos

Moradores da Praia de São Paulo;

c) Dados sobre o ambiente estudados e mapas: CONDEPE, FIDEM, CPRH;

d) Pesquisa bibliográfica: Bibliotecas da UFPE, UFRPE, FUNDAJ, CONDEPE,

NESC, FIDEM, CPRH;

e) INTERNET.

4.6 PLANO DE ANÁLISE

Os dados, tanto os primários quanto os secundários, foram reunidos em tabelas e

quadros, com distribuição simples e relativa das variáveis e indicadores que foram

consideradas fundamentais para descrever a área e a população de estudo; com as

características que estão relacionadas aos campos da saúde e do ambiente e os processos

neles envolvidos, que permitiram as conclusões, discussão e elaboração de novas

perguntas e que possibilitem ainda a intervenção na área, buscando a promoção e a

prevenção na saúde e no ambiente nessa comunidade.

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Foram consideradas as variáveis, conforme acima exposto, no questionário semi-

estruturado. O agrupamento das variáveis e indicadores, para fins de caracterização,

descrição e análise dos eventos observados, foi feito segundo critério da autora, que

buscou apresentar os dados de maneira a explicitar os resultados para responder aos

objetivos deste trabalho.

4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS

Foi utilizado o programa EPIINFO 6.0, que permitiu organizar as variáveis e

indicadores e distribuí-los em freqüências, estimar média e desvio padrão das variáveis

quantitativas.

Não foi utilizada nenhuma amostra estatística, pelo fato da pesquisa de campo ter

alcançado o universo proposto na investigação: todos os representantes das famílias que

possuem um ou mais membros que exercem atividade extrativa no manguezal

responderam às perguntas do questionário.

Algumas variáveis foram reagrupadas e recodificadas em função de serem encontrados

novos dados na pesquisa de campo. Quanto às perguntas abertas do questionário,

procurou-se captar as informações registrando, codificando e agrupando os dados.

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capítulo V

RRREEESSSUUU LLLTTTAAA DDD OOO SSS

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA

5.1.1 Características gerais da área estuarina da RMR

A RMR, com seus 112 km de extensão, abrangendo 60 % do litoral pernambucano,

apresenta clima quente e úmido, amenizado pelas brisas marinhas e alísios de Sudeste,

com temperatura variando entre máxima de 280 C e mínima de 200 C. A costa apresenta,

como vegetação atual, fruteiras regionais (coqueiros, cajueiros, mangueiras) e os

mangues, que, por sua vez, foram descritos por Castro (1966), no que se refere ao seu

surgimentoo, da seguinte forma:

“Na verdade, foram os mangues os primeiros conquistadores desta terra.

Foram mesmo, em grande parte, os seus criadores. Toda esta vasta planície

inundável, formada de ilhas, penínsulas, alagados e pauis (...)”. “ Nela vindo

a desaguar, através da muralha dessas colinas(...)” “ grandes rios(...)”

“foram entulhando a fossa com materiais aluvionais: com a terra arrancada

de outras áreas distantes e trazida na enxurrada das suas águas. Pouco a

pouco foram surgindo, dentro da baía marinha, pequenas coroas lodosas,

formadas através da precipitação e deposição dos materiais trazidos dos rios.

E foi sobre estes bancos de solo ainda mal consolidados, mistura incerta de

terra e água, que se apressaram a proliferar os mangues - esta estranha

vegetação capaz de viver dentro da água salgada, numa terra frouxa,

constantemente alagada. Agarrando-se com unhas e dentes a este solo como

garras fincadas profundamente no lodo e amparando-se, umas nas outras,

para resistirem ao ímpeto das correntezas da maré e ao sopro dos ventos

alísios, que arrepiam sua cabeleira verde, os mangues foram pouco a pouco

entrelaçando suas raízes e seus braços numa amorosa promiscuidade, e foram

assim consolidando a sua vida e a vida do solo frouxo das coroas de lodo

donde brotaram. Com os depósitos aluvionais que se foram acumulando na

trama do labirinto de raízes do mangue e debaixo das suas copadas sobras

verdes, foi progressivamente subindo o nível do solo e alargando sua área sob

a proteção desse denso engradado vegetal.(...)”.

“Os mangues vieram com os rios e, com os materiais por estes

trazidos, foram os mangues laboriosamente construindo seu próprio solo,

batendo-se em luta constante contra o mar. Vieram como se fossem tropas de

ocupação e, em contato com o mar edificaram silenciosamente e

progressivamente esta imensa baixada aluvional hoje cortada por inúmeros

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braços de água de rios e densamente povoada de homens e caranguejos, seus

habitantes e seus adoradores”.

“Tendo os mangues realizado esta obra ciclópica, não admira que,

hoje, sejam eles divinizados pelos habitantes desta área, embora não saibam

os homens explicar como o mangue realiza este milagre de criar terra como

se fosse um deus. Mas os homens vêem, até hoje, crescer diante dos seus olhos

as coroas lodosas e transformarem-se, pela força construtora dos mangues,

em ilhas verdejantes, fervilhantes de vida.

“E vêem, assombrados, proliferarem em torno dos ilhas maiores

outras pequeninas, como que saídas durante a noite do seu próprio ventre, em

misteriosos partos da terra que o mangue milagrosamente ajuda.”

(Josué de Castro em O Ciclo do Caranguejo (1966:15)

De forma mais explícita, a topografia plana do litoral pernambucano, chegando a atingir

níveis abaixo do nível do mar, em contato com as águas oceânicas favorece o

surgimento de ambiente flúvio-marinho, permitindo a formação das áreas estuarinas1 e

criando condições para a presença dos manguezais.

Dentro da RMR são encontrados oito estuários, onde estão situadas as áreas mais

densamente ocupadas e onde também estão concentradas a maior parte das residências

e das atividades industriais, resultando em despejos de poluentes e desencadeando

desequilíbrios sócio-ambientais dos manguezais, entre eles os da área estuarina do

Canal de Santa Cruz.

5.1.2 Características da área estuarina do Canal de Santa Cruz

O Canal de Santa Cruz, situado acerca de 50 km de Recife, com 22 km de extensão e

1,5km de largura, separa a Ilha de Itamaracá do continente e encontra-se em terras dos

municípios de Itamaracá, Itapissuma, Igarassu e Goiana (este último fora da RMR).

Segundo o CONDEPE/CPRH (1982), os rios que se deságuam no seu percurso são:

Catuama e Carrapicho (ao norte); Botafogo e Arataca ( na porção nordeste); e Igarassu e

Maniquara (ao sul). As águas do Atlântico entram em seus domínios ao norte, pela

Barra de Catuama e, ao sul, pela Barra Sul, locais onde a profundidade pode variar em

torno de 10 a 17 metros. Dessa forma, o encontro das águas do oceano com as águas dos

rios que ali desembocam cria condições para a existência de manguezais (Fig. 1).

1 para um maior aprofundamento acerca das condições de formação das áreas estuarinas, consultar Bryon

(1994).

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Fig. 1 Mapa ilustrativo da Ilha de Itamaracá e do Canal de Santa Cruz

Quanto à composição sedimentar, encontram-se ali areia quartzosa e lama escura.

Quanto aos bancos de areia, esses encontram-se situados na parte central do canal nas

proximidades do rio Congo. Quando a maré diminui é comum a prática de coleta de

moluscos e crustáceos pela população que habita nas proximidades do canal.

O manguezal do Canal de Santa Cruz, o maior da RMR, circunda a ilha de Itamaracá na

porção oeste e o continente, em sua porção leste. A sua exuberância é visível em todos

os trechos que cercam o canal, revelando uma grande diversidade na composição da sua

flora e de sua fauna (Fig. 2 )

Figura 2

Vista da extensão dos manguezais do Canal de Santa Cruz

Segundo CONDEPE/CPRH (1982), as margens lamacentas do canal são ocupadas por

manguezais (Fig. 3 ), que são de grande importância para o equilíbrio do ambiente, além

do fato de estarem envolvidos na prática extrativista da comunidade local. Em linhas

gerais, esse tipo de vegetação é representada pelas seguintes espécies:

1. Rhisophora mangle L., ou “mangue-vermelho”: tipo mais comum, atinge grande

porte (19 metros de altura e 30 cm de diâmetro), resistente aos ventos e às forças das

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águas, servindo de proteção às outras espécies. Possui madeira avermelhada, habita

águas profundas, de preferência, mas vive nas águas mais baixas que vão até as

bordas do manguezal. A casca é rica em tanino2 e sua madeira é utilizada atualmente

para combustível e lenha (Fig. 4).

2. Conocarpus, ou “mangue de botão”: atinge altura em torno de 10 m. Sua madeira é

rija e durável, usada em construção e como lenha. Cresce rapidamente e habita as

áreas úmidas dos manguezais. Não possui tanino.

3. Laguncalária, ou “mangue branco” : alcança até 12 m de altura por 30 cm de

diâmetro; possui madeira esbranquiçada, dura, resistente, utilizada para lenha ou na

construção civil. Possui alta fecundidade e habita as águas de profundidade média.

4. Avicennia nítida Jacq., ou “mangue-canoé”: habita apenas as bordas úmidas dos

mangues e é de difícil reprodução. Possui madeira muito clara, atinge 11 m de altura

e 20 cm de diâmetro, é pouco resistente, mas possui alta quantidade de tanino.

Figura 3 Paisagem do manguezal comumente vista na região do Canal de Santa Cruz.

2 matéria prima utilizada nos curtumes para tornar os couros impermeáveis e também pelos pescadores

locais na preparação das redes de pesca.

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Foto gentilmente cedida pelo ITEP/LABTOX

Figura 4 Mangue vermelho (Rhisophora mangle L) o tipo de mangue predominante na região.

Com relação à fauna existente no canal, são inúmeros os representantes desse

ecossistema entre aves, peixes, insetos, crustáceos, moluscos e outros. A pesquisa não

irá aprofundar essa questão3, cabendo aqui apenas ressaltar a importância dentro da

cadeia alimentar e econômica da população local, que vive principalmente da captura e

pesca de algumas espécies de peixes, moluscos e crustáceos.

5.1.3 Problemas ambientais no Canal de Santa Cruz

Quanto aos problemas ambientais, a pesquisa feita polo CONDEPE/CPRH em 1982

identificou a existência de agentes poluidores na porção centro-setentrional do Canal de

Santa Cruz, decorrentes sobretudo de despejos domésticos, além de aterros para a

construção de indústrias, já caracterizando, desde aquela época, práticas devastadoras

sobre os ambientes de manguezais.

Nos anos de 1986 e 1989 foram realizados monitoramentos da qualidade das águas do

canal pelo CPRH. Após correção feita pela autora nos dados brutos do CPRH,

considerando a Resolução CONAMA Nº 20/1986 para classe 7 (águas salobras), cujo

3 Para aprofundar o assunto, consultar CONDEPE/CPRH (1982).

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valor de referência para mercúrio é de 0,1µg/litro, observou-se seis pontos com valores

acima do permitido (0,17; 0,44; 0,15; 0,46; 0,11 e 0,16 µg/litro), como pode ser visto no

quadro II.

Como antecedente, no ano de 1981, houve um acidente de derramamento deste metal

nas águas do canal próximo à Companhia Agro-industrial de Igarassu (CAI), que fica a

montante do Rio Botafogo, afluente do Canal de Santa Cruz. Por essa razão, a

Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico do estado de São Paulo

(CETESB), monitorou oito pontos de coleta na área durante aquele ano. Meyer (1996)

analisou novamente esses mesmos pontos no ano de 1996, detectando a presença de

mercúrio em taxas superiores ao permitido (CONAMA nº 20/1986) em três dos oito

pontos analisados por aquela empresa (0,60; 0,18 e 0,17 µg/L)

Quanto aos parâmetros relacionados com a poluição orgânica (oxigênio dissolvido

(OD), demanda biológica de oxigênio (DBO) e Coliformes Fecais), observou-se que os

valores das concentrações tem aumentado sensivelmente conforme se observa no ano de

1989(ver quadro II).

Em 1996, a CPRH divulgou outro relatório referente à qualidade das águas das bacias

hidrográficas pernambucanas. Naquele ano, restava apenas uma estação de coleta no

canal, situado sob a ponte que liga Itapissuma à Ilha de Itamaracá. Os resultados do

relatório indicaram que: as taxas de DBO estavam dentro dos padrões; as de OD

haviam caído 28 % ; e as de Coliformes Fecais haviam subido 62,0% em relação ao ano

anterior. Como conclusão, o relatório aponta decréscimo na qualidade das águas na

região estudada, sugerindo também que os altos índices de Coliformes Fecais seriam

provenientes do município de Itapissuma. É possível perceber, até os dias atuais, a

presença de lançamento de esgotos desse município nas águas do canal.

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Quadro II

QUADRO DEMONSTRATIVO DOS VALORES ALTERADOS (*) REFERENTE AO MONITORAMENTO BIO-FÍSICO-QUÍMICO REALIZADO EM NOVE

ESTAÇÕES DE COLETA DE AMOSTRAS NO CANAL DE SANTA CRUZ (1986 e 1989)

1986 1989 ELEMENTOS

Total de amostras coletadas

número de amostras alteradas

Total de amostras coletadas

Número de amostras alteradas

Nº % Valores Nº % valores OD (**) (mg/L)

48 0 0,0 _ 33 3 9,1 4,8/4,8 e 4,8

DBO (***) (mg/L)

48

2

4,2

5,7 e 6,1

32

2

6,3

5,7 e 8,7

Coliformes Fecais (Cf/100 ml)

42 0 0.0 _ 25 3 8,0 2.300, 3.000 e 3.000

Mercúrio

(µg/L)

26 6

23,1

0,17/0,44/0,15/0,46/ 0,11 e 0,16

16

1

6,2

0,12

Fonte: Relatório CPRH 1986/1989. (*) limites ou condições de aceitabilidade para a classe 7 (água salobra) segundo a Resolução CONAMA

nº 20 de 1986:

OD: não inferior a 5 mg/L

DBO: não superior a 5 mg/L

Coliformes: não deve exceder o limite de 1.000/100 ml

Mercúrio: teor máximo 0,1 µg/L = 0,0001 mg/L

(**) OD (oxigênio dissolvido)

(***) DBO ( demanda biológica de oxigênio)

Em 1999, técnicos do ITEP colheram amostras de sedimentos, ostras e de água no Canal

de Santa Cruz, nos meses de março (período tradicionalmente seco) e junho (período

tradicionalmente chuvoso), para avaliação da presença de componentes tóxicos no

ambiente estudado. Segundo dados preliminares dos técnicos, os resultados obtidos nas

amostras de água indicam ausência de agrotóxicos persistentes no meio ambiente, tais

como organoclorados e PCBs. Porém, ponderam que a ausência de chuvas nos últimos

meses pode estar influenciando nos resultados dessas análises, uma vez que a chuva

lava os solos cultivados e carreia esses componentes para as áreas litorâneas.

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O Quadro III mostra que para as amostras de sedimentos, também coletadas em janeiro

de 1999 pelos técnicos do ITEP e analisadas pelo Departamento de Física da UFRJ,

foram identificadas presenças de PCBs 4, resíduos de agrotóxicos e de hidrocarbonetos

aromáticos policíclicos. No entanto, a Resolução CONAMA Nº 20, de 1986, não

contempla valores de referência para sedimentos. Mas, se forem utilizados os valores de

água para a classe 7 (DDT menor que 0,001µg/L) e compararmos ao valor de DDT

observado em sedimento (0,007 µg/L), vai se verificar que a concentração encontrada

é muito mais elevada. Talvez por ser um organo-persistente, é que essa substância

aparece mais concentrada em sedimento. Pode-se considerar que a presença desses

produtos são indicadores de riscos para a vida dos animais marinhos e para a saúde das

pessoas que eventualmente consumam esses produtos com freqüência, pois passam a

integrar a cadeia alimentar.

Quadro III

MICROPOLUENTES IDENTIFICADOS EM AMOSTRA DE SEDIMENTO DO CANAL DE SANTA CRUZ , janeiro de 1999

MICROPOLUENTES

VALORES(em ng/L)

PCBs* 0,10

Heptacloro-epóxido 0,10

Lindano 0,57

Alfa-Endosulfan 0,26

Dieldrin 0,85

DDT** e metabólitos 7,26

PAHs***

¬ Naftaleno 2,4

¬ Fluoreno 208,76

¬ Fenantreno 9,9

¬ Fluoranteno 50,0

¬ Benzo[k]fluoranteno 23,33 Fonte: ITEPE comunicação pessoal (1999).

* PCBs - Bifenilos Policlorados

** DDT – 2,2, bis (p-clorofenil) 1,1,1 - tricloroetano

***PAHs - Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos.

Quanto à questão da preservação dos manguezais do Canal de Santa Cruz, Bryon (1994)

salienta as seguintes questões:

4 PCBs (Bifenilos Policlorados), também conhecidos como Ascarel, utilizados largamente em grandes

transformadores elétricos, um dos mais conhecidos entre os POPs (poluentes orgânicos Persistentes)

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a) Entre os anos de 1974 e 1991, em17 anos, houve uma redução de 15,3% da área de

menguezais do canal (ver Quadro IV );

b) Quando comparada às outras áreas estuarinas da RMR, a vegetação de mangue do

Canal de Santa Cruz é a que apresenta melhores condições, menos degradado, por

estar afastado da malha urbana. Até essa época, há muita área de manguezal, pouco

aterro, poucas habitações, restaurantes e vias, nenhuma marina.

c) Quanto ao acesso, existem poucas trilhas, poucas estradas de barro ou asfalto.

d) Quanto ao elemento hídrico, a existência de pouco lixo, despejo ocasional de esgoto

doméstico e pouco despejo de resíduos industriais e de usinas.

Quanto à questão do lixo, percebe-se que atualmente, em quase todo o manguezal,

existem resídous presos às raízes da vegetação e também depositados na areia,

conforme ilustram as figuras 5 e 6, decorrentes da precariedade dos serviços de coleta

de lixo do local e das proximidades, associados à falta de acesso à educação ambiental.

Não se deve desconsiderar que tais materiais também possam vir dos fluxos e dos

refluxos das marés, que acabam trazendo-os de outros lugares.

Bryon (1994) ressalta como agravante o fato da área estuarina estar localizada entre

vários municípios e, portanto, ser alvo de diferentes enfoques e direcionamento de uso

para a área.

Quadro IV

DIMENSÕES DO MANGUEZAL E DA ÁREA ESTUARINA DO CANAL DE SANTA CRUZ NO PERÍODO DE 1974 E EM 1991

(EM HECTARES) Áreas 1974 1984/88 1991 Estuarinas Manguezal Área est. Manguezal Área est. Manguezal área est.

Canal Sta.Cruz

3194.4

5656.3

2799.4

5328.5

2706.5

2523.6

Total RMR 7170.2 12133.7 6138.3 10887.9 5660.0 10356.3

Fonte: Bryon (1994).

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Figura 5 Sacos plásticos presos nas raízes do mangue, fato bastante comum

Figura 6 Latas e restos plásticos vistos nas marés baixas.

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5.1.4 Ações desenvolvidas ou em desenvolvimento na área de estudo

• Implantação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica nos Municípios de

Itamaracá e Itapissuma : possui como objetivo a viabilização, em escala piloto, da

implantação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica; manejo de recursos naturais

terrestres e aquáticos; coleta seletiva de lixo; turismo ecológico, histórico-cultural e

científico; comunicação e educação ambiental. Estão previstos recursos da ordem

de R$ 1.025.000,00 vindos do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos

e da Amazônia Legal e das diversas instituições envolvidas. Como participantes do

projeto estão: SECTMA, CPRH, FIDEM, MMA, Prefeituras Municipais de

Itapissuma e Itamaracá, UFPE, IPA, IBAMA, EMATER, EMPETUR, FUNDAJ,

UFRPE, SEBRAE e ONG's. (SECTMA, http://rosa.pop-

pe.rnp.br/sectma/categ6.htm)

• Projeto COSTA VERDE: proposta de geração de empregos através da promoção

do turismo integrado dos municípios de Paulista, Igarassu, Itapissuma, Itamaracá e

Goiana, explorando as potencialidades naturais, históricas e culturais da região. O

projeto segue os seguintes princípios: (1) garantir a geração de numerosos empregos

na região; (2) atender ao turismo externo e interno; (3) conciliar o turismo com o

lazer popular ; (4) preservar o meio ambiente, os sítios históricos e as atividades já

existentes - artesanato, culinária, pesca artesanal e outras manifestações culturais

populares no campo do folclore; (5) associar o apoio ao turismo às ações de

promoção do bem estar social de toda a população.

(http://www.elogica.com.br/users/peugenio/pub_19.htm, agosto de 1999)

• Gerenciamento Costeiro de Pernambuco: projeto coordenado pelo CPRH, com o

objetivo de avaliar e orientar o processo de ocupação e uso do solo, através do

planejamento participativo e da implementação de ações integradas de gestão da

zona costeira. O projeto visa dotar a sociedade de instrumentos de gestão que

possibilitem o aproveitamento, manutenção e recuperação da qualidade ambiental e

do potencial produtivo, visando a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes.

A área alvo desta investigação está localizada no Setor 1 (norte), que engloba os

municípios de Goiana, Itaquitinga, Itamaracá, Igarassu, Itapissuma, Araçoiaba,

Abreu e Lima e Paulista (CPRH/GERCO-PE, 1999).

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5.1.5 Principais características do município de Itamaracá e do núcleo de Vila

Velha

O Município de Itamaracá, na língua Tupi “pedra que canta”, atualmente é uma Ilha de

65 km2

, banhada pelo Oceano Atlântico, na porção oriental, e pelo Canal de Santa

Cruz, na porção ocidental.

Segundo os dados do IBGE5, o município possuía, em 1996, 13.799 habitantes (56,5%

homens e 43,5% mulheres), com densidade demográfica de 210 hab/km2.

Quanto aos aspectos do saneamento (MS/DATASUS, 1999) dos 2.237 domicílios

existentes em 1991, 66,7% deles possuíam fossa rudimentar, 1,2% fossa séptica sem

escoamento e o restante (32,1%) não possuía nenhum tipo de destinação para os dejetos

humanos. O abastecimento de água era servido pela rede geral a 56,5% dos domicílios e

o lixo era coletado direta ou indiretamente em apenas 23,5% dos domicílios, não

restando aos outros outra opção senão jogá-lo em terrenos baldios (59,2%), queimar

(14,4%), ou enterrar ou lançar nos rios/mar/manguezais (2,9%).

5.1.6 Considerações históricas de Vila Velha e de Itamaracá

Segundo Lopes (1989) em 1491, portugueses "moraram em Itamaracá e tinham aí

casas de alvenaria", conforme relato no Primeiro Processo Judicial, quando se

discutia, no Tribunal Bayone, na França, dos crimes do Navio La Pélerine.

Mais de oito anos antes da chegada do Donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte

Coelho Pereira, a Ilha já era habitada por portugueses. Em 1526, o Pe. Francisco

Garcia celebrava missa na Igreja de Na. Senhora da Conceição6, construída no

núcleo hoje conhecido como Vila Velha.

5 Censo demográfico de 1991 (IBGE, 1994) e contagem de população de 1996 (IBGE, 1997). 6 A igreja foi construída no sítio do fortim levantado pelos franceses no tempo de sua ocupação na Ilha,

no início do século XVI. Sua Irmandade somente foi legalizada em 1866, quando teve seu primeiro compromisso então legalmente aprovado, tendo sido depois dissolvida em 1907, quando o templo foi incorporado à Mitra Diocesana.

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A Vila foi fundada em 1534 por João Gonçalves, sendo construída no sítio de um

fortim, à margem do Canal de Santa Cruz, funcionando como Sede da Capitania de

Itamaracá.

Em 1540, a Feitoria de Itamaracá foi elevada à categoria de Vila pelo Governador João

Gonçalves. Daquela época até o final do século XVI foi o período de "ouro" da Ilha,

graças às riquezas obtidas pela grandiosa produção de açúcar de seus engenhos, que

deram origem, posteriormente, a bangüês, que produziam mel, açúcar bruto e

aguardente ( hoje conhecidos com os nomes de engenho São João e engenho

Amparo).

Nos primeiros anos do domínio holandês em Pernambuco, a Ilha foi invadida e

transformada em celeiro das tropas flamengas. Entretanto, o seu "Forte de Orange"

(construído pelos holandeses em 1631, que recebeu esse nome em honra ao Príncipe

holandês Frederico Henrique de Orange, tio de Maurício de Nassau, depois

Fortaleza de Santa Cruz de Itamaracá), permaneceu inexpugnável, tendo passado

ao domínio português sem ter sido derrotado (ASSPAULO, 1999).

Em 1763, D. João V comprou para coroa portuguesa todo território da Ilha.

Constituiu-se em Distrito em 01 de maio de 1866, pela Lei Provincial no. 676;

em município, no dia 31 de dezembro de 1958, pela Lei Estadual no. 3.338.

Emancipou-se a partir de 1 de janeiro de1959, desmembrando-se do município de

Igarassu em 15 de março de 1962 e sendo instalado em 17 do mesmo mês e ano, graças

ao projeto no. 67, de 14 de abril de 1958, aprovado pela Assembléia Legislativa de

Pernambuco, de autoria do Deputado, Senador e Governador Paulo Pessoa Guerra.

A partir de 17 de março de 1962, Itamaracá foi investida na categoria de cidade,

permanecendo assim até os dias atuais.

5.1.7 Caracterização do Núcleo Habitacional de Vila Velha

Segundo o IBGE, o núcleo é considerado como área rural para efeitos de

recenseamento, e está inserido no setor censitário número 18 do município de

Itamaracá

Vila Velha, também conhecida como Vila de Nossa Senhora da Conceição, considerada

sítio histórico na categoria de povoado antigo pelo PPSH (Plano de Preservação dos

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Sítios Históricos da RMR), é um pequeno núcleo situado em terreno elevado às margens

do Canal de Santa Cruz (fig.7, 8 e 9 ). O acesso é feito pela BR 104 e pela PE 35 que

liga a BR 104 ao município de Itamaracá. Em seguida, um pouco antes da entrada para a

Penitenciária Barreto Campelo, encontra-se uma placa indicando uma estrada de

paralelepípedos de aproximadamente 6,8 km que liga a PE 35 a vila (fig. 10), na parte

sul da ilha de Itamaracá. Vale salientar que na margem esquerda da estrada encontra-se

uma extensa área composta por resquícios de Mata Atlântica, atualmente conhecida por

Reserva Biológica do Engenho Amparo.

Figura 7 Vila Velha vista do Canal de Santa Cruz. Detalhe dos fundos da Igreja N. Sra

da Conceição, marco histórico da Vila, na parte alta da vila.

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Figura 8 Porção baixa da Vila

Figura 9 Parte central da Vila onde são realizadas as festas e as atividades recreativas.

Ao fundo, a Igreja de N. Sra. Da Conceição.

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Figura 10

Trecho final da estrada que chega a Vila Velha

Em Vila Velha a população vive de atividades agrícolas (Fig. 11), de eventuais

serviços “biscates” dentro e fora do município de Itamaracá, de artesanato (Fig. 12), da

catação de crustáceos e moluscos (Fig. 13) e da pesca de subsistência (Fig. 14), onde a

comunidade está englobada na Colônia de Pescadores do município de Itamaracá.

O povoado caracteriza-se espacialmente como sendo um núcleo composto por casas

localizadas em torno de uma área livre, descampada, onde se destaca, com grande

imponência, a igreja de Nossa Senhora da Conceição (fig. 9). Essa área é utilizada como

campo de futebol e eventuais festividades coletivas. Existe também ali um mini

anfiteatro ao ar livre, onde a comunidade se reúne para acompanhar os programas de

TV (Fig. 15).

A vila possui ainda uma escola (fig. 16), onde se desenvolvem atividades de ensino

primário para crianças e adultos; um posto médico (fig. 17), composto por um agente

comunitário de saúde e serviços médicos esporádicos; uma associação de moradores

(fig. 18); um posto de serviços da TELEMAR (antiga TELPE); uma Associação de

Doceiras (fig. 19); bares, barracas de produtos artesanais e gastronômicos além de uma

edificação destinada à Igreja Assembléia de Deus.

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Figura 11 Sítios de coco, onde vários moradores da vila trabalham

Figura 12 Artesãos da Vila trabalhando

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Figura 13 Mulher e criança trabalhando na catação de ostras na beira do Canal

Figura 14 Pescadores saindo para mais um dia de trabalho nas camboas do manguezal

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Figura 15 Mini anfiteatro ao ar livre onde as pessoas assistem TV

.

Figura 16 Escola Municipal Luis Cipião, a única do local.

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Figura 17 Posto de Saúde local

Figura 18 Associação de Moradores local

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Figura 19 Prédio onde situam-se o posto da TELEMAR (antiga TELPE) e a Unidade

Produtiva das Doceiras de Vila Velha

Segundo relatório do Projeto de Execução Descentralizada (FUNDAJ, 1998), realizado

no ano de 1996, pode-se observar no Gráfico 1 que as características das casas do

núcleo de Vila Velha são: 93% são próprias, dentre as quais 68% são confeccionadas

com taipa e cobertas com palha (Fig.20) ou com alvenaria cobertas com telha (32%);

possuem em média cinco cômodos, e abrigam uma família composta de pai, mãe e

filhos menores. Uma grande parcela das casas não está ligada à rede elétrica (40%), e

alguns possuem fogão a gás mas utilizam lenha para cozinhar.

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Gráfico 1

CONDIÇÃO DE POSSE DA CASA DOS PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

Fonte: FUNDAJ, 1998.

Ainda com relação ao dados dessa pesquisa, pode ser observado nos Gráficos 2 e 3, as

condições sanitárias das residências da Vila. No Gráfico 2, observa-se que 72,4% das

residências possuem instalações sanitárias no seu interior, sendo que nas restantes,

situam-se fora. No Gráfico 3, 79,3% das residências têm como solução final de seu

esgoto a fossa rudimentar, enquanto 10,3% lançam a céu aberto. Apenas 3,4% referiu

usar rede de esgoto e 6,9% referiu enterrar as fezes.

Gráfico 2

TIPO DE INSTALAÇÃO SANITÁRIA DOS DOMICÍLIOS DOS PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

Fonte: FUNDAJ, 1998.

93,1%

3,4%3,4%

Cedida

Alugada

Própria

72,4%

24,1%3,4%

Não tem

Individual dentro decasa

Individual fora decasa

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Gráfico 3

ELIMINAÇÃO DOS DEJETOS DOS DOMICÍLIOS DE PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

Fonte: FUNDAJ, 1998.

Figura 20 Mulher trabalhando no aproveitamento da palha de coqueiro para a cobertura

da sua casa

10,3%

79,3%

6,9%3,4% a céu

abertoRede deesgotoFossa

Enterra

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Quanto ao destino do lixo (gráfico 4), foi relatado nas entrevistas que o mesmo é

queimado (54,8% dos casos); feito em coletor (28,6%;); jogado nos terrenos baldios

(9,5%) e jogado diretamente no manguezal (7,1%)

Gráfico 4

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO DESTINO DO LIXO DOMÉSTICO DOS MORADORES DE VILA VELHA

( dezembro de 1998)

Em entrevista com um representante da associação dos moradores de Vila Velha, onde

exerce a função de Secretário, ficou evidente a existência de problemas de

abastecimento de água, devido à forte estiagem observada no final de 1998. A vila é

abastecida por um poço da COMPESA controlado por um funcionário da mesma

empresa.

O transporte local, ainda segundo o entrevistado, é fornecido pelas linhas de ônibus

municipal (Sossego) três vezes ao dia ( 6:40, 12:30 e 15:30) e pela Alex tur (6:30, 7:30,

10:30 e 15:30) não possuindo transporte em horário noturno, o que prejudica aqueles

que estudam em escolas de 1º grau maior e 2º graus no município de Itapissuma,

restando aos mesmos realizar o transporte em grupo, por meio de bicicletas. Outro meio

de transporte comum é o uso de Kombis e “bestas”7, que levam os moradores para a

feira de Itapissuma em dias de compras.

Quanto à segurança, de acordo com o representante da associação, as preocupações por

parte da comunidade se relacionam com as fugas de detentos dos presídios existentes

no município de Itamaracá, principalmente do Presídio Agrícola, situado nas

9,5% 7,1%

28,6% 54,8%

Queim ado

Recipiente Coletor

Terreno baldio

Manguezal

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proximidades da Vila, que passa a ser uma rota de fuga, tornando-se alvo de possíveis

ataques e ameaças.

Ainda segundo esse representante, as atividades de turismo, de responsabilidade da

EMPETUR, vêm sendo desenvolvidas pelo órgão sem a participação da comunidade

local, com intervenções na paisagem arquitetônica e ambiental, passando desse modo a

interferir nas atividades tradicionais do núcleo.

O turismo na vila é feito nos finais de semana e nos feriados, intensificando-se mais nos

períodos de dezembro a março (período do verão, férias e Carnaval). Em geral, o turista

não demora muito no local. A vila é um ponto de passagem para quem vem ou para

quem vai para outros pontos da Ilha de Itamaracá. O turista fica o tempo necessário para

observar os seus atrativos paisagísticos, comprar algumas peças de artesanato e saborear

a gastronomia local. Segundo o representante da Associação dos Moradores, a falta de

preparo na oferta dos serviços e a falta de “atrações da terra”, como “cirandas”,

dificulta o potencial turístico local.

Quanto à questão do uso da terra para fins de especulação imobiliária, o representante

da associação afirma que são poucas as investidas do setor, devido ao fato dos terrenos

próximos serem de proprietários particulares que ainda não desejam vendê-los. Durante

a realização da pesquisa, foi veiculado um anúncio através dos jornais locais a respeito

da construção do Privê Vila Velha, numa área de 160 m2 próximo ao núcleo da vila,

cujo empreendimento, segundo o entrevistado, não está obtendo sucesso (ver anexo III).

5.2 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA

5.2.1 Características gerais Pode-se observar na Tabela 1 que a maioria dos entrevistados são mulheres ( 81,0%);

idade preponderante na faixa de 20 a 29 anos (45,2%), sendo a idade média observada

de 33 anos (desvio padrão ± 11.3 anos); com tempo médio de residência de 28 anos

(desvio Padrão ± 11.3 anos), sendo que 81% das famílias reside há mais de 20 anos no

local.

7 Modelo de automóvel destinado a serviços de transportes comum em toda a RMR.

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Tabela 1

CARACTERIZAÇÃO INDIVIDUAL DO GRUPO ESTUDADO

Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

VARIÁVEIS N % Sexo

Masculino 8 19,0

Feminino 34 81,0

Total 42 100,0 Idade (em anos)

Menor de 20 3 7,1

Entre 20 e 29 19 45,2

Entre 30 e 39 9 21,4

Entre 40 e 49 7 16,7

50 em diante 4 9,6

Total 42 100,0 Tempo de Residência no Local (em anos)

Entre 0 e 09 3 7,1

Entre 10 e 19 5 11,9

Entre 20 e 29 17 40,5

Entre 30 e 39 11 26,2

Mais de 40 6 14,3

Total 42 100,0 Idade Média: 33 anos e Desvio Padrão de ± 11.6 anos

Tempo de residência médio: 28 anos e Desvio Padrão de ± 11.3 anos

Segundo o Gráfico 5, quanto ao grau de instrução dos chefes de família da vila,

estudados pela FUNDAJ (1998), 31 % são analfabetos; 17, 2% são alfabetizados e os

outros 51,8% estão entre os que possuem até o primeiro grau maior incompleto. Ainda,

segundo o Gráfico 6, produzido pela mesma pesquisa, 79,2% da população recebem

entre ¼ e 1 salário mínimo.

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Gráfico 5

GRAU DE INSTRUÇÃO DOS PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

Fonte: FUNDAJ, 1998.

Gráfico 6

RENDA DOS PESCADORES DE VILA VELHA 1996

Fonte: FUNDAJ, 1998.

5.2.2 Caracterização das atividades de trabalho

A Tabela 2 mostra que das 42 pessoas entrevistadas 97,6% trabalham por conta própria

e não pagam a previdência social, 52% trabalham apenas no manguezal e as outras 48 %

dividem as atividades no manguezal com outras na vila, no mar ou na agricultura. A

distância da casa para o local do trabalho varia entre 1 e 250 metros (66,7% dessas

pessoas), 500 metros (9,5%) e 1 km de distância (23,8%,). Todos os entrevistados vão a

pé para o seu trabalho. Quanto às atividades (tabela 3 ): 45,3% são apenas extrativistas.

10,3%

13,8%

27,6%17,2%

31,0%1º Grau MaiorIncompleto

1º Grau Menorcompleto

1º Grau Menorincompleto

Alfabetizado

Analfabeto

4 8 ,3 %

6 ,9 %

1 3 ,8 % 3 1 ,0 % E n tre ¼ e ½ s m

E n tre ½ e 1 s m

M a is d e 1 s m

N ã o c a b e /n ã ore s p o n d e u

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Além de catadores, 23,8% também são pescadores, 19% também prestam algum tipo de

outro serviço e 11,9% também trabalham na lavoura ou na criação de animais. Quanto

ao tempo de trabalho (tabela 3) a média é de 17, 8 anos, (dp.= 14, 5). Cerca de 35% da

população trabalha na função há aproximadamente 10 anos; outros 21,4 cerca de 20

anos; 30 anos (19%) e 32,8 a mais de 40 anos na função.

Ainda, na Tabela 3, referente à produção do trabalho, 42,9% deles produzem somente

crustáceos e moluscos, enquanto que os outras 57,1% produzem, alem desses produtos,

pescados, produtos agropecuários e serviços.

Tabela 2

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO AS RELAÇÕES DE TRABALHO

Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

VARIÁVEIS N %

Trabalham por conta própria

Sim 41 97,6

Não 1 2,4

Total 42 100,0

Contrato de trabalho

Conta própria 41 97,6

Assalariado 1 2,4

Total 42 100,0 Pagam Previdência Social

Não 41 97,6

Sim 1 2,4

Total 42 100,0

Local de trabalho

Apenas no manguezal 22 52,4

Manguezal e vila 9 21,4

Manguezal e mar 7 16,7

Manguezal e agricultura 4 9,5

Total 42 100,0

Distância da casa até o local de trabalho(m)*

Até 250 28 66,7

251 a 500 4 9,5

501 a 1000 10 23,8

Total 42 100,0 * média: 217 metros e dp. = 216.

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Tabela 3

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO AS ATIVIDADES

Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

Função no trabalho

Apenas catador 19 45,3

Catador e pescador 10 23,8

Catador e prestador de serviços 8 19,0 Catador, lavrador e criador 5 11,9

Total 42 100,0 Tempo de trabalho na função (anos)* Até 9 15 35,8 10 a 19 9 21,4 20 a 29 8 19,0 30 em diante 10 23,8

Total 42 100,0 Produto do trabalho Crustáceos/moluscos 18 42,9 Crustáceos/moluscos e pescados 10 23,8 Crustáceos/moluscos e serviços 8 19,0 Crustáceos/moluscos e produtos agropecuários 6 14,3

Total 42 100,0 * Tempo médio : 17,8 anos e desvio padrão de 14.562 anos.

Segundo a autora El-Deir (1998), as atividades de trabalho na Vila, relativas à pesca

artesanal e à catação de moluscos e crustáceos, dão-se nos manguezais e no estuário,

nunca no “mar aberto”. São realizadas geralmente a pé ou em embarcações. No

primeiro caso, os pescadores trabalham em zonas descobertas na maré baixa ou cobertas

com uma fina lâmina d’água utilizando instrumentos leves, de modo que possam

carregar sua produção até o local de tratamento sem maiores problemas. No segundo

caso, os mesmos utilizam a “baiteira”, espécie de canoa, para adentrar nas camboas

(zonas de reentrâncias dos manguezais), que em geral são de difícil acesso por terra.

Segundo essa autora, os instrumentos de trabalho utilizados são de propriedade de um

ou de vários membros da comunidade e a produção final é repartida de forma igual, sem

levar em consideração quem é o proprietário dos equipamentos e da embarcação. Em

geral, trabalham considerando o período de abundância dos peixes, moluscos,

crustáceos, além de outros animais, respeitando o período de procriação. A atividade de

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catação realizada pelas marisqueiras da Vila é exercida na foz do rio Paripe margeando

a parte interna do canal. Essas áreas são lamosas e apresentam grandes bancos de sururu

(Mytella falcata Orbigny e Mitella guyanensis Orbigny).

De acordo com observação feita nessa pesquisa, essas mulheres utilizam embarcação

para evitar ferimentos nas conchas cortantes destes moluscos. Além do sururu, coletam

também mariscos, ostras (Crassostrea rhizophorae) e taiobas (Iphigenia brasiliana).

Em geral, essas trabalhadoras permanecem grande parte do tempo expostas ao sol e

imersas na água salobra. Além desses produtos também são retirados: caranguejos

(Ucides cordatus cordatus Linnaeus), siris (callinectes) e camarões (Família Penaidae).

5.2.3 Quanto ao acesso à alimentação

Conforme se observa na Tabela 4, todos entrevistados produzem alimentos para seu

próprio consumo. Quanto ao tipo de produto, pode-se verificar que apenas 38,1 % dos

pescadores praticam a catação nos manguezais, enquanto que os outros 61,9%, além de

irem para o manguezal, também produzem outras fontes de alimentos como, peixes,

pequena lavoura e pequena criação de animais (porcos, bois e aves). Devido a

proximidade da vila, o município de Igarassu aparece como sendo o local preferido para

a compra de outros produtos alimentares (92,8%), cabendo aos outros 7,2% comprá-los

em outros municípios (Itapissuma e Paulista). Segundo o gráfico 7, para se deslocarem

até o local das compras o principal meio de transporte utilizado pelos moradores é o

carro ou a Kombi de aluguel (86,2%), restando aos outros 13,8% o uso de ônibus e

barco ou ir a pé (FUNDAJ, 1998). Para fazer as compras mensais, 42,8% das pessoas

gastam menos de R$ 100,00, 28,6 % gastam entre R$100,00 e R$ 150,00 e as outras

28,6%, gastam até RS$ 200,00, conforme ilustra a Tabela 4.

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Tabela 4

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO

SEGUNDO FONTES DE ALIMENTAÇÃO Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

VARIÁVEIS N %

Produção de alimentos para consumo próprio

Apenas crustáceos/moluscos 16 38,1

Crustáceos/moluscos e aves 11 26,2

Crustáceos/moluscos e peixes 5 11,9

Crustáceos/moluscos, aves e peixes 3 7,1

Crustáceos/moluscos e lavoura 2 4,8

Crustáceos/moluscos, lavoura e aves 2 4,8

Crustáceos/moluscos, lavoura e peixes 1 2,4

Crustáceos/moluscos, lavoura, aves e bois 1 2,4

Crustáceos/moluscos, lavoura, aves, bois e porcos 1 2,4

Total 42 100,0 Local onde fazem as compras

Apenas em Igarassu 28 66,7

Em Igarassu e em Itapissuma 5 11,9

Em Igarassu e na Vila 3 7,1

Em Igarassu, Itapissuma e na Vila 3 7,1

Apenas em Itapissuma 2 4,8

Apenas em Paulista 1 2,4

Total 42 100,0 Quanto gastam por mês (em R$)*

50,00 a 99,00 18 42,8

100,00 a150,00 12 28,6

150,00 a 200,00 12 28,6

Total 42 100,00 * Média de gasto mensal de R$ 110,00 e desvio padrão de R$ 47,00

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Gráfico 7

PRINCIPAL MEIO DE TRANSPORTE PARA ABASTECIMENTO

DOMÉSTICO DOS DOMICÍLIOS DE PESCADORES DE VILA VELHA (1996)

Fonte: FUNDAJ, 1998

5.2.4 A relação com o manguezal Como pode ser observado na Tabela 5, todos os 42 entrevistados aproveitam o

manguezal para retirada de produtos que compõem a alimentação da família, tais como:

crustáceos, moluscos, peixes, frutas, verduras e ainda a madeira para uso próprio. Por

outro lado, 57,1% deles referiram comercializar crustáceos, moluscos e peixes, para

compor a renda familiar. Por sua vez, a utilização para o lazer foi mencionado por

28,6%, com apenas 9,5% aproveitando as plantas para fins medicinais.

Quanto a percepção acerca do ambiente, verificou-se (Tabela 6) que mais da metade

(54,8%) dos entrevistados percebem o manguezal como um ambiente limpo. Outros

38,1 % discordam e o consideram sujo. Porém, uma outra parcela (7,1%) não referiu

nem um nem outro, e sim, que percebe apenas a fartura do manguezal. Por outro lado,

dos 42 entrevistados, 83,3% percebem problemas ambientais. O item mais citado

(91,4%) foi a elevada mortalidade de algumas espécies de crustáceos e moluscos,

seguido da preocupação com a poluição (28,6%), da pesca através do uso de bombas

(5,7%) e do desmatamento (2,8%).

Quanto às soluções dos problemas ambientais observados, a sugestão de mudança mais

mencionada pelos entrevistados refere-se a “medidas que coloquem fim ao ato de

86,2%

6,9%3,4%

3,4% Carro/Kom bi dealuguelÔnibus

Barco

À pé

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poluir” (40%), aumento da fiscalização, saneamento, pesquisa científica, mudança do

local dos despejos, educação ambiental e o fim do uso de bombas para pescar (Tabela

6).

Tabela 5

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO

O TIPO DE RELAÇÃO COM O MANGUEZAL Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

TIPO DE RELAÇÃO N %

Extrativismo para consumo próprio........ 42 100,00 Crustáceos/moluscos 27 64,2

Crustáceos/moluscos e peixes 8 19,0

Crustáceos/moluscos madeira, verduras e peixes 2 4,8

Crustáceos/moluscos e plantas 2 4,8

Crustáceos/moluscos e madeira 1 2,4

Crustáceos/moluscos e frutas 1 2,4

Crustáceos/moluscos verduras e peixes 1 2,4

Total 42 100,0

Extrativismo para vender..................... 24 57,1

Crustáceos/moluscos 17 40,5

Crustáceos/moluscos e peixes 7 16,7

Não retira 18 42,9

Total 42 100,00

Lazer ..................... ...................................... 12 28,6 Extrativismo para remédio caseiro............ 4 9,5 Em entrevista realizada com dois representantes de pessoas idosas, um homem e uma

mulher, que exerceram grande parte de suas vidas alguma atividade no manguezal, foi

constatada a percepção da diminuição da extensão da área do manguezal do Canal de

Santa Cruz, bem como da quantidade de animais que vivem nesse ecossistema como,

por exemplo, peixes, caranguejos, ostras e sururus. Os entrevistados citaram que em

períodos passados o manguezal era mais “limpo” e oferecia muitos produtos para

consumo e para a venda. Porém, para eles, em períodos atuais, o manguezal é

considerado “sujo” e “fraco” levando -se muito mais tempo para capturar animais do

que em épocas passadas e levando a uma vida de “sacri fícios” para os moradores da

Vila.

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Tabela 6

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO

AS SUAS OBSERVAÇÕES SOBRE O MANGUEZAL Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

OBSERVAÇÕES N %

Aspectos do manguezal

Consideram o manguezal limpo 23 54,8

Consideram o manguezal sujo 16 38,1

Consideram o manguezal farto 3 7,1 Total de entrevistados que responderam a questão 42 100,0

Problemas observados no manguezal* Alta mortalidade de crustáceos/moluscos 32 91,4

Poluição por fábricas, embarcações, esgoto e lixo 10 28,6 Pesca com uso de bombas 2 5,7 Desmatamento 1 2,8 Total de entrevistados que responderam a questão 35 83,3

Soluções para os problemas observados* Parar de poluir 14 40,0 Aumentar a fiscalização 6 17,7

Saneamento 6 17,7

Pesquisar a origem da poluição e da morte dos

animais

5 14,2

Mudar o local do despejo dos poluentes 5 14,2

Não sabe 5 14,2

Educação ambiental 4 11,4

Parar com o uso de bombas para pesca 1 2,8 Total de entrevistados que responderam a questão 35 83,3

* n.º de vezes que o item foi mencionado nas respostas dos entrevistados.

5.2.5 Condições de Saúde no município de Itamaracá e na Vila

5.2.5.1 Quanto à estrutura do serviço de saúde

Conforme dados do MS/DATASUS (1999) a rede ambulatorial, compreende, no

município, sete centros de saúde, um ambulatório de unidade hospitalar especializada,

duas unidades mistas e uma unidade não especificada.

Segundo entrevista com a única Agente Comunitária de Saúde, na Vila funciona há seis

anos um posto de saúde onde trabalham a entrevistada e uma auxiliar de enfermagem

que cuidam de pequenos atendimentos emergenciais tais como: realização de curativos,

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acompanhamento de gestantes, verificação de pressão, algumas vacinações, entre

outros. As visitas médicas são feitas de 15 em 15 dias, em média, por uma Pediatra, um

Clínico Geral e um Dentista. Em caso de urgência, o transporte de doentes para o

hospital municipal de Itamaracá é feito por uma ambulância ou por uma Kombi da

Prefeitura, que normalmente são solicitados através do único telefone público existente

no local.

5.2.5.2 Quanto à percepção dos aspectos da saúde relacionadas ao trabalho no

manguezal

A Tabela 7 mostra os resultados relativos às atividades exercidas no manguezal. Nesse

sentido, 21,4% consideraram o trabalho que exercem penoso. Com relação aos

problemas de saúde foi revelado que 50% não se consideram doentes, enquanto 16,7%

não souberam explicar os seus problemas de saúde; 14,2 % os atribuíram ao excesso de

trabalho; 9,5% a questões do cotidiano e outros 4,8% aos hábitos e à alimentação.

Quanto à questão referente ao fato do trabalho no manguezal ser nocivo para a saúde,

apenas 47,6% manifestaram-se a respeito. Os problemas mais citados foram os de pele

(25,0%), ossos (25,0%) e ginecológico (15,0%). Em seguida foram mencionados

também os seguintes: ferimentos, doenças respiratórias, doenças do sangue, fadiga,

contaminação, infecções, doenças dos sistema nervoso, problemas na visão e do

estômago. Por outro lado, o modo de adquirir doenças no trabalho em relação ao

manguezal, os mais citados foram o contato prolongado com o ambiente (45,0%),

seguido pelo excesso de trabalho (30,0%) e contato com agentes poluentes (20,0%).

Nesse caso, 5,03% não soube responder como adquiriram tais doenças.

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Tabela 7

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE A SAÚDE E TRABALHO NO

MANGUEZAL Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

ASPECTOS DE PERCEPÇÃO N % • Penosidade do trabalho Sim 9 21,4 Não 33 78,6 Total 42 100,0 • Origem dos problemas de saúde

Aborrecimentos, preocupações e tensões 4 9,5 Hábitos (bebidas alcoólicas e cigarros) 1 2,4

Muito trabalho 6 14,2

Má alimentação 1 2,4

Exposição a Poluição 2 4,8

Não sabe 7 16,7

Não acreditam ter problemas de saúde 21 50,0 Total 42 100,0

• Tipos de problemas de saúde *

De pele 5 25,0 Na coluna, ossos e no corpo 5 25,0 Ginecológicos 3 15,0

Ferimentos 2 10,0

Respiratório 2 10,0

No sangue 2 10,0

Fadiga 2 10,0

Contaminação 1 5,0

Infecções 1 5,0 No sistema nervoso 1 5,0 Nos olhos 1 5,0 No estômago 1 5,0 Total 20 47,6

• Razões de adoecer

Contato prolongado com o ambiente do manguezal 9 45,0

Muito trabalho 6 30,0

Contato com agentes poluentes 4 20,0

Não sabe 1 05,0 Total 20 47,6

* Para cada entrevistado que respondeu a pergunta houve uma ou mais referências.

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5.2.5.3 Quanto às principais queixas de saúde da população de estudo em Vila

Velha

As Tabelas 8 e 9 mostram as freqüências de queixas referidas. Cada entrevistado referiu

uma ou mais queixas. Os dados estão organizados por grupos, conforme o sistema

orgânico. As queixas do sistema ósteo-muscular foram as mais citadas (83,3%), das

quais a dor nas costas foi a mais freqüente (71,4%), seguida da dor nas juntas do corpo

(48,6%); formigamento nos membros superiores e inferiores (40,0 %) e caimbras

freqüentes (40,0%).

Vale ressaltar que, segundo a Agente de Saúde entrevistada, os casos de queixas

associadas ao trabalho no manguezal mais comuns estão relacionadas às dores no corpo,

principalmente nos membros inferiores, e aos problemas de pele.

Aos queixas neuropsicológicos corresponderam cerca de 71,4% das queixas. Entre

esses queixas o tipo mais freqüente foi o de dor de cabeça (80,0%), seguido de

nervosismo (63,3%) e tontura (43,3%). Também chamaram atenção as queixas de

fadiga crônica (36,7%); tremores nas mãos (33,3%) e dificuldade no sono (23,3%).

Considerando a idade média dos entrevistados (33 anos), os problemas relacionados ao

sistema cárdio-respiratório chamou a atenção (63,3%). Dentre eles, a palpitação

representou a principal queixa referida (58,3%); seguida pela dor no peito (50,0%) e

por outras queixas tais como: inchaço nos membros inferiores (45,8%); pressão arterial

alta (37,5%) e cansaço aos esforços (37,5%).

As queixas relativas ao sistema gênito-urinário representaram 28,6%. No caso de um

grupo com predominância feminina e com atividades nas quais ficam parte do tempo de

trabalho imersas na água salobra pode-se aventar uma hipótese de causalidade entre

esse fator de risco e as queixas apresentadas de infecção urinária (urina escura e

dificuldades para urinar). Quanto aos problemas sexuais relacionados a libido,

mereceria um estudo de tipo qualitativo para melhor elucidação.

A referência de queixas relativas ao sistema dérmico apenas foi feita por 19% dos

entrevistados. No entanto, dadas as condições de trabalho sob o sol e dentro da água,

seja salina ou salobra, com risco de exposição a agentes biológicos e/ou químicos,

esperava-se maior frequência destas queixas. Nesse sentido esse dado mereceria uma

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investigação com observação clínica, já que a população pode não estar valorizando

problemas de pele, considerando-os como um padrão de “normalidade”. As queixas

referidas se distribuem em alergia a produtos químicos e micoses. Manifestações

isoladas de sudorese representaram 38,1% das queixas de saúde. No entanto, pela

ausência de outras queixas com essas relacionadas, considerou-se um dado inespecífico,

e que poderia estar relacionado tanto a fatores infecciosos como a outros tais como as

condições climáticas e o trabalho sob sol.

Tabela 8

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO A OCORRÊNCIA DE UMA OU MAIS QUEIXAS NOS

PRINCIPAIS SISTEMAS ORGÂNICOS Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

SISTEMAS N % Ósteo-muscular 35 83,3

Neuro-psicológico 30 71,4

Cárdio-respiratório 27 63,3

Digestivo 26 61,9

Imunológico 16 38,1

Genito-urinário 12 28,6

Dérmico 8 19,0

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Tabela 9

DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS SEGUNDO OS PRINCIPAIS SISTEMAS ORGÂNICOS

Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

SISTEMAS N % Ósteo-muscular 35 83,3

Dor nas costas 25 71,4

Dor nas juntas do corpo 17 48,6

Formigamento nos braços/pernas 14 40,0 Caibras com frequência 14 40,0

Neuro-psicológico 30 71,4 Dor de cabeça freqüente 24 80,0

Nervosismo 19 63,3

Tontura 13 43,3

Fadiga crônica 11 36,7

Tremores nas mãos 10 33,3

Dificuldade de sono 7 23,3

Digestivo 26 61,9 Sensações desagradáveis no estômago 18 69,2

Azia 13 50,0

Náuseas 12 46,1

Má digestão 10 38,7

Dor abdominal 6 23,1

Diarréia 4 15,4

Cárdio-respiratório 24 63,3 palpitação 14 58,3

Dor no peito 12 50,0

Falta de ar aos esforço 9 37,5

Pressão alta 9 37,5

Inchaço dos pés/pernas 11 45,8

Gênito-urinário 12 28,6 Urina escura 7 58,3

Problemas sexuais de libido 6 50,0

Dificuldade para urinar 5 41,7

Sistema Dérmico 8 19,0 Alergia a produtos químicos 1 12,5

Micoses 7 87,5

Sudorese com freqüência 16 38,1 Outros* 14 33,3

* No item outros, 6 referiram problemas ginecológicos, 2 referiram dormência nas mãos e os outros 6 restantes cada um

citou uma dos seguintes problemas: amebíase, furúnculose, prisão de ventre, anemia, sistema nervoso e tireóide.

Quanto aos hábitos, foi observado que a maioria não é fumante (71,4%). 41,6% dos

fumantes consomem menos de 10 cigarros ao dia, e o restante (58,4%) consome

quantidades que variam entre 10 a 20 cigarros. Quanto à ingestão de bebidas alcoólicas,

a grande maioria (90,6%) nega esse hábito (Tabela 10).

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No que se refere às questões que aferem a dependência do álcool, das quatro pessoas

que admitiram o seu uso, três são homens e uma é mulher. Três sentem-se chateadas por

beberem; apenas uma usa a bebida na parte da manhã para diminuir o “nervosismo” ou

a “ressaca”; duas sente m-se chateadas quando alguém critica o seu modo de beber; e

todas sentem necessidade de diminuir o uso da bebida.

Tabela 10

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO HABITOS Vila Velha-PE, Dezembro de 1998.

HÁBITOS N (%) Fumo (cigarros)

Sim 12 28,6 01 a 10 cigarros/dia 5 41,6

11 a 20 cigarros/dia 7 58,4

Não 30 71,4 Bebida alcoólica

Sim 4 9,5

Não 38 90,5

Quanto aos problemas de saúde de familiares, a Tabela 11 mostra que 66,4% da

população referiu uma ou mais doenças. A principal referência foi para problemas

relacionados aos infecciosos (92,8%), entre esses, estão as infecções do aparelho

respiratório (50,0%), seguida pela dengue (7,7%). Outros problemas foram menos

referidos, tais como distúrbios circulatórios (10,7%); genito-urinário(10,7%); gastro-

intestinais (7,1%); distúrbios da glândula Tireóide (3,5%) e reumatismo (3,5%).

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Tabela 11

DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS DE AGRAVOS À SAÚDE OCORRIDAS NA FAMÍLIA NOS ÚLTIMOS DOIS ANOS (n=42)

Vila Velha-PE, Dezembro de 1998

QUEIXAS N % Referiram problemas de saúde:** 28 66,4 ¬ Imunológico:*

• Doenças do aparelho respiratório

superior de origem infecciosa

13 50,0

• Dengue 7 26,9

• Febre reumática 2 7,7

• Asma 1 3,8

• Cachumba 1 3,8

• Erizipela 1 3,8

• Micoses 1 3,8

Total 26 92,8 ¬ Distúrbios circulatórios* 3 10,7 ¬ Doenças do aparelho genito-urinário* 3 10,7 ¬ Distúrbios gastro-intestinais* 2 7,1 ¬ Distúrbios da glândula Tireóide* 1 3,5 ¬ Reumatismo* 1 3,5

Não referiram problemas de saúde** 14 33,3 * número de vezes que o evento foi citado, podendo uma pessoa citar uma ou mais queixas

** número de pessoas que responderam

Quanto aos antecedentes de óbitos dos progenitores, foi observado que 50,0% deles

referiram ter apenas um falecido, enquanto os outros 50,0% observaram que ambos, pai

e mãe, estavam vivos. Conforme pode ser visto na Tabela 12, a causa de morte do

progenitor falecido foi considerada separadamente: para o pai (n1=15) e para a mãe

(n2=10). Quanto às causas de morte no grupo dos pais, a mais referida foi o problema

de coração (26,6%); seguida por causa externa (13,3%) e outras referências de menor

freqüência (câncer, cirrose hepática, “derrame” e velhice). Para o grupo das mães,

foram os problemas do parto (33,3%), coração (22,2%) e devido idade avançada

(22,2%).

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Tabela 12

DISTRIBUIÇÃO DA CAUSA DA MORTE DOS PROGENITORES Vila Velha-PE, Dezembro de 1998.

CAUSA DA MORTE DOS PROGENITORES*

N.º de progenitores %

Relativas ao pai ¬ Com causa definida 10 66,7

Coração 4 26,6

Acidente 2 13,3

Câncer 1 6,6

Cirrose hepática 1 6,6

Derrame 1 6,6

Velhice 1 6,6

¬ Não sabe a causa 5 33,3 Total de pais 15 100,0

Relativas a mãe ¬ Com causa conhecida 9 81,8

Parto 3 33,3

Coração 2 22,2

Velhice 2 22,2

Asma elérgica 1 11,1

Derrame 1 11,1

¬ Não sabe a causa 2 18,2 Total de mães 11 100,0

A Tabela 13 mostra que, quanto ao acesso à assistência à saúde, a maioria (81,0%)

referiu utilizar o hospital municipal quando adoece. No período de realização da

pesquisa, 23,8% dos entrevistados referiram haver pessoas da família doentes no

domicílio. Quanto ao uso de medicamentos, 69,0% dos entrevistados negaram o uso no

momento da entrevista. Entre os que referiram o seu uso (31,0%), a razão citada foi por

motivo de “sentir f raqueza” (23,1%), seguida de prevenção da gravidez (15,3%) e para

o controle de hipertensão arterial (15,3%). Uma série de outras razões foram citadas

com menor freqüência, tais como: problema ginecológico; dor nas costas; osteoporose;

enjôo; febre reumática e pós–cirúrgico.

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Tabela 13

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO SEGUNDO O ACESSO À ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Vila Velha-PE, Dezembro de 1998.

VARIÁVEIS N % Local de Atendido

Hospital municipal 34 81,0

Posto de saúde local 8 19,0

Total 42 100,0 Doenças atuais no domicílio (familiares) 10 23,8 Uso de medicamento Sim

Não Total

Razão para o uso de medicamentos:

13 29 42

31,0 69,0 100,0

• Fraqueza 3 23,1 • Evitar gravidez 2 15,3 • Pressão alta 2 15,3 • Problema ginecológico 1 7,7

• Dor nas costas 1 7,7

• Osteoporose 1 7,7

• Enjôo 1 7,7

• Febre reumática 1 7,7

• Pós–cirúrgico 1 7,7

Total 13 100,0

O histórico gestacional foi obtido sempre diretamente da entrevista de mulheres

(n1=34), sendo elas o membro da família selecionado para a entrevista ou a

esposa/companheira, nos casos do homem ser o entrevistado (n2=8). Os dados podem

ser observados na Tabela 14. Das 34 mulheres entrevistadas, 31 possuem histórico

gestacional. Quanto ao número de filhos vivos, foi observado que três ou mais

corresponde a 65,5%. Quanto a realização de pré-natal, foi observado que 67,7% das

mulheres o fizeram praticamente para todas as gestações (95,2%). 47,6% referiu tê-lo

feito no próprio município para todas gestações e a maioria dos nascimento deu-se no

hospital do município (74,2%). Quanto a referência de óbitos fetais, 32,2% das

mulheres responderam afirmativamente, sendo que a maioria (70,0%) sofreu esse

evento em uma gestação e 30% em mais de uma. A razão mais mencionada foi a

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relacionada a “sustos e a borrecimentos” (70,0%), outras causas referidas foram:

problemas no útero (10,0%); aborto espontâneo (10,0%) e devido a esforços (10,0%).

Esse evento foi mais freqüente a partir da terceira gestação (50,0%). Quanto a

mortalidade no primeiro ano de vida, apenas duas das entrevistadas relataram esse

episódio, sendo que uma referiu a perda de um filho e outra de dois, sendo que os

motivos creditados por elas foram: “caroços por todo o corpo” , “dor de barriga” e

devido ao nascimento antes do tempo. Quanto a prematuridade apenas 19,4 % referiram

esse antecedente, a maioria ocorreu na primeira gestação (66,7%). Problemas de baixo

peso ao nascer foram referidos por 22,6% das mulheres, sendo esse um problema

sofrido com mais freqüência na primeira gestação (85,7%). 9,7% das mulheres

referiram ter filhos com alguma deficiência mental, a maioria ocorridas na terceira

gravidez (66,7%).

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Tabela 14

CARACTERIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS SEGUNDO O HISTÓRICO GESTACIONAL DA ENTREVISTADA OU DAS ESPOSAS (n=31)

Vila Velha-PE, Dezembro de 1998.

VARIÁVEIS N % • N.º de filhos vivos*

1 filho 4 11,8

2 filhos 7 22,7

3 filhos 12 38,7

4 filhos ou mais 8 25,8

Total 31 100,0

• Realização de Pré-Natal Sim 21 67,7

De todas as gestações 20 99,2

De algumas 1 4,8

Não

10 32,3

• Local da realização do Pré-Natal Todas as getações no município 10 47,6

Algumas no município e outras fora 6 28,6 Todas fora do município 5 23,8 Total 21 100,0

• Local do nascimento dos filhos

Todos no hospital 23 74,2

Alguns em casa e alguns no hospital 7 22,6

Todos em casa 1 3,2

Total 31 100,0 • Óbitos fetais

Sim 10 32,2 Em uma gestação 7 70,0

Em duas gestações 2 20,0

Em quatro gestações 1 10,0

Total 10 100,0 Não 21 67,8

Razão

Sustos e aborrecimentos 7 70,0

Problemas no útero 1 10,0

Perdeu naturalmente 1 10,0

Muito esforço 1 10,0

Total 10 100,0 De qual gravidez?

Primeira 2 20,0

Segunda 3 30,0

Terceira em diante 5 50,0

Total 10 100,0

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Continuação da tabela 14 • Óbitos no primeiro ano de vida Sim 2 6,5

1 filho 1 50,0

2 filho 1 50,0

Total

Não 2

29 100,0

93,5

Razão dos óbitos

Caroços por todo o corpo 1 33,3

Dor na barriga 1 33,3

Nasceu prematuro e morreu logo depois

Total 1

3 33,3

100,0

De qual Gravidez?

Primeira

Segunda

1

0

33,3

0

Terceira em diante 2 66,7

Total 3 100,0 • Prematuridade Sim 6 19,4

1 filho 4 66,7

2 filhos

Total

Não

2

6

25

33,3

100,0

80,6 De qual Gravidez?

Primeira 2 66,7

Terceira em diante 4 33,3

Total 6 100,0 • Baixo peso ao nascer

Sim 7 22,6 1 filho 5 71,4

2 filhos 2 28,6

Total 7 100,0

Não 24 77,4

De qual gravidez?

Primeira a quarta 6 85,7

Quinta em diante 1 14,3

Total 7 100,0 • Filho com algum defeito físico ou mental Sim 3 9,7

Não 28 90,3

Tipo de problema

Problemas mentais 3 100,0

Total 3 100,0

Gravidez

Terceira 2 66,7

Acima da décima 1 33,3

Total 3 100,0 * Média de filhos vivos: 3,8 e desvio Padrão: 2,888

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conclusões

Diante da abundância de recursos ainda existentes no manguezal do Canal de Santa

Cruz e da fragilidade deste ecossistema, constatou-se que o seu uso sustentável pela

comunidade de Vila Velha apresenta-se em situação de progressiva deterioração, que

pode ser observada pelos dados obtidos de avaliações biofísicas e físico-químicas

realizadas esporadicamente ao longo das últimas duas décadas, apesar de serem esparsas

e não sistemáticas. Principalmente pelas evidências de presença de mercúrio na água

para valores acima dos padrões de referência e de clorados em sedimentos.

Infelizmente, ainda não dispomos de análises em elementos biológicos da fauna e da

flora, particularmente em peixes, ostras e outros moluscos. Também não se têm dados

de avaliação toxicológica em pessoas que trabalham ou se alimentam de produtos

oriundos do manguezal.

Não há um processo de monitoramento contínuo das águas na região. No entanto, os

dados levantados e que estão disponíveis revelam que há impactos ambientais das

atividades antrópicas no manguezal do Canal de Santa Cruz. Foi observado que há

riscos de contaminação por poluentes químicos, devido à produção industrial a

montante dos rios que ali deságuam. Tal contaminação foi indicada pela análise de

mercúrio na água, que revelou diversos pontos e amostras com valores acima do

permitido pela Resolução CONAMA nº 20 (classe 7 – água salobra). Também há

contaminação orgânica, conforme os indicadores DBO, OD e coliformes fecais,

observados em diversas análises realizadas pela CPRH para os anos de 1986, 1989 e

1996, que mostram um processo em progressão. A ausência de saneamento básico no

núcleo de Vila Velha é importante fonte de poluição no manguezal pela falta de

disposição final dos dejetos humanos e para o lixo.

A população do estudo é composta por adultos jovens e fazem parte da população

tradicional da Vila, sendo que a escolaridade máxima encontrada foi a do primeiro grau

maior incompleto e com alto índice de analfabetismo.

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A renda proveniente da atividade tradicional está abaixo de um salário mínimo ao mês.

Os alimentos consumidos pelas famílias são parte oriundas do manguezal e parte

adquiridos no comércio local e nos municípios vizinhos.

Há, por parte da população, uma percepção de que o manguezal é um ambiente “limpo”.

Porém, há também a preocupação com a poluição, indicadas pela alta mortandade de

crustáceos e moluscos.

Os problemas de infra-estrutura ligados ao transporte, telefonia, abastecimento contínuo

de água, de saneamento, de segurança, de saúde, de educação e de preservação da

cultura local, são apontados como elementos que levam ao desequilíbrio sócio-cultural e

que são agravadas pelas ações antrópicas externas à Vila. Isto afeta o ecossistema e

compromete a sustentabilidade desta comunidade.

O conjunto de riscos que compõem a situação sócio-ambiental de Vila Velha e que

afetam a saúde, podem ser divididos em fatores de estresse e de contaminação

ambiental. Os problemas de saúde decorrentes das situações anteriormente referidas que

devem receber maior atenção são os relacionados aos esforços físicos, os neuro-

psicológicos, os gastro-intestinais, os de pele e os genito-urinários

As queixas cárdio-respiratórias necessitam uma maior investigação, pois a alta

freqüência de referência se dá em uma população relativamente jovem (33 anos em

média).

Quanto aos antecedentes de óbitos em progenitores, constatou-se uma diferenciação de

gênero. Os pais falecem principalmente devido aos problemas relacionados ao coração e

por causas externas. As mães falecem principalmente a problemas relacionados ao

parto e à idade avançada.

Quanto ao histórico gestacional foi observado que:

a) a maioria das mulheres entrevistadas têm três ou mais filhos;

b) as gestações, em sua maioria, são assistidas por exames de Pré-natal, e os partos são

realizados em hospitais do município;

c) há referência de perdas fetais (32%), principalmente na terceira gestação;

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d) houve pouca citação de problemas relacionados ao baixo peso ao nascer e de mortes

no primeiro ano de vida dos filhos, sugerindo que as condições das mães e de

assistência pré-natal são satisfatórias na Vila.

e) 10% de casos referidos de deficiência mental entre os filhos da entrevistadas

sugerindo uma maior investigação dessa problemática.

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ANEXO I

Modelo do questionário aplicado para o grupo I

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ANEXO II

Roteiro de perguntas feitas em entrevista com fita k7 para os grupos 2 e 3

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ANEXO III

Anúncio de venda de chácaras em Vila Velha veiculado junto ao Jornal do

Comércio de 16/04/98