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Pág. 1 2 0 0 8 Actividades na área do AMBIENTE Enquadramento | http://projectocaboverde.no.sapo.pt/ EQUIPA RESPONSÁVEL: Salomé Matos Clara Flores Inês Amado Joana Nestor Rodrigues Vanda Simões COORDENAÇÃO: Margarida Marcelino

AMBIENTE · para proteger as tartarugas marinhas em 1999, nomeadamente as Caretta caretta ... governamentais e não governamentais ao trabalho efectuado, considera-se que

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Actividades na área do

AMBIENTE

Enquadramento | http://projectocaboverde.no.sapo.pt/ EQUIPA RESPONSÁVEL: Salomé Matos Clara Flores Inês Amado Joana Nestor Rodrigues Vanda Simões COORDENAÇÃO: Margarida Marcelino

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AMBIENTE Enquadramento das actividades

A Vila de Sal Rei tem sofrido desde 2001 grandes alterações devidas ao forte fluxo migratório de pessoas oriundas da Cidade da Praia, Guiné e Senegal, que se dirigem à Boavista para trabalhar na construção de grandes empreendimentos turísticos que desde essa data se estão a instalar na costa Este da ilha. Para alojamento de todas estas pessoas foi crescendo, de modo desordenado e sem as infra-estruturas mais básicas, o Bairro das Barracas, ocupando o espaço onde anteriormente estiveram as salinas que deram o nome à Vila de Sal Rei. À data, este bairro aloja mais de 2000 pessoas – uma elevada percentagem dos cerca 5000 de Sal Rei - em condições de vida e salubridade extremamente precárias. Os problemas ligados à acumulação de lixo, a águas estagnadas e a dejectos tornam este local um potencial foco infeccioso grave para toda a população de Sal Rei, comprometendo a sustentabilidade do desenvolvimento da Ilha e do Arquipélago, e trazendo apreensivas as autoridades, sem que contudo tenham encontraram soluções adequadas para lhes fazer face.

Pela natureza ainda resguardada e calma, com extensos areais, de toda a zona costeira da Boavista, esta ilha propicia condições para alimentação e “nursery” de muitas espécies marinhas, entre elas as tartarugas. No arquipélago de Cabo Verde encontram-se cinco das sete espécies de tartarugas marinhas identificadas a nível mundial, nomeadamente Caretta caretta, Lepidochelys olivacea, Eretmochelys imbricata, Dermochelys coriacea, Chelonia mydas). Todas estas espécies constam do Anexo I da Convenção CITES - Convenção Internacional sobre o Comércio Internacional de Espécies Selvagens de Flora e Fauna Ameaçadas de Extinção - e integram a lista vermelha da IUCN - União Internacional para a Conservação da Natureza – de espécies ameçadas de extinção (ou mesmo criticamente ameaçadas, como é o caso da Eretmochelys imbricata e da Dermochelys coriacea) cf. www.iucnredlist.org. Em Cabo Verde, o Projecto Natura 2000 iniciou actividades para proteger as tartarugas marinhas em 1999, nomeadamente as Caretta caretta (que desovam neste arquipélago), sendo o país que tem a terceira maior população desta espécie a nível mundial. No entanto essa importante tarefa tem sido levada a cabo sem integrar e envolver adequadamente a população local, constituindo um obstáculo à boa aceitação de algumas das proibições impostas a práticas tradicionais como a pesca para alimentação destes animais e dos seus ovos.

A conjugação e parceria com a Vereação de Ambiente da Câmara Municipal da Boavista (CMB), desde o início da organização e durante o desenvolvimento da actividade de ambiente, foram determinantes para o bom êxito do Projecto Cabo Verde também na dimensão ambiental. As reuniões do grupo organizador com o Vereador Dr. Joaquim Andrade e com a técnica Eng.ª Antonieta permitiram definir objectivos-chave conjugados com a actuação das autoridades municipais, facilitando a criação de sinergias tendo em vista o bem-estar da população de Sal Rei a médio-longo prazo.

Todas as actividades contaram também com o parecer e apoio da ONG de ambiente local, o Clube Ambiental da Boavista (CAB), na pessoa do seu dirigente Sr. Alexandre Monteiro.

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Número de pessoas abrangidas As actividades programadas foram dirigidas a todas as crianças e jovens de idades compreendidas aproximadamente entre os 4 e os 16 anos inscritos no Projecto Cabo Verde 2008 (no total aproximadamente 200) e directa ou indirectamente toda a Vila de Sal Rei foi alcançada pelas acções levadas a cabo. Objectivos Sensibilizar a população da Vila de Sal Rei para a sua responsabilidade:

- no esforço por um ambiente com qualidade e, consequentemente, pela melhoria da saúde, com particular incidência para a problemática dos resíduos sólidos;

- na conservação da diversidade biológica, nomeadamente de espécies em vias de extinção que escolhem a Boavista como habitat durante parte do seu ciclo de vida, mais concretamente as tartarugas marinhas.

Através de actividades lúdicas e simultaneamente pedagógicas, procurar passar as seguintes mensagens:

• Colocar o lixo no contentor, se possível dentro de sacos; • Não deitar lixo na rua nem no mar; • Não deitar as águas sujas nas ruas nem nos contentores; • Procurar incutir algumas práticas de higiene pessoal, tais como lavar as

mãos antes de comer, lavar os dentes, ferver ou desinfectar a água antes de beber ou cozinhar, não cuspir para a rua, ...

• Não caçar e não comer carne de tartaruga nem os seus ovos. Actividades desenvolvidas

As actividades de ambiente do Projecto Cabo Verde 2008 cumpriram, genericamente, os objectivos propostos.

Para se atingirem os objectivos propostos, diariamente entre as 16h30 e as 19h foram organizadas múltiplas acções de educação ambiental com as crianças e jovens do bairro – em média cerca de 100 -, de idades compreendidas entre os 4 e os 16 anos.

A incidência directa das actividades num público-alvo jovem resulta da experiência generalizada de que, na sociedade, são as crianças quem mais está empenhado em proteger o ambiente e, ao influenciarem os seus familiares para fazerem escolhas sustentáveis, são quem mais promove a mudança.

Sendo actividades de dinamização de um grupo muito numeroso, foi muito importante ter havido uma planificação rigorosa e muito diversificada prévia à estadia em Cabo Verde, associada a uma grande flexibilidade no local que permitiu uma adequação à realidade e às necessidades. Para um maior rendimento pedagógico e melhor acompanhamento personalizado dos participantes, foram criados 5 grupos, cada um dos quais com o nome científico das 5 espécies de tartarugas marinhas que existem em Cabo Verde.

A interacção com a Vila de Sal Rei foi muito grande, indo significativamente além da formação directa dos próprios participantes, dado o cariz de muitas das actividades levadas a cabo:

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DIA

DATA

ACTIVIDADES

LEMA DO DIA

1 01.08 Reunião do “núcleo duro” da actividade de ambiente com o Vereador do Ambiente da Câmara Municipal da Boavista, Dr. Joaquim Andrade, e a Técnica do Ambiente, Eng.ª Antonieta. Apresentação do Projecto Cabo Verde e das actividades propostas. Contextualização da realidade social e ambiental de Sal Rei, identificação de prioridades e inventariação das necessidades em material e em cooperação necessária de outras entidades.

-

2 02.08 Reunião com o Sr. Alexandre Monteiro, Director do Clube Ambiental da Boavista, CAB, para aferir o programa de actividades.

Programação diária das actividades de acordo com as reuniões efectuadas.

-

3 04.08 Repórteres do Ambiente:

Levantamento do bairro em grupos divididos por áreas, registando os aspectos positivos e negativos do ponto de vista ambiental e social.

Inquérito à consciência conservacionista dos habitantes de Sal Rei, face à captura de tartarugas para alimentação.

Registo num painel geral dos principais aspectos observados nas diversas zonas do bairro, transmitidos através dos porta-vozes de cada grupo, com discussão por todos os participantes.

Defender o ambiente é para toda a gente

4 5.08 Apanha selectiva de lixo na Vila de Sal Rei com equipamento adequado.

Contabilização separada de plásticos, papéis, latas.

Afixação e análise dos resultados apresentados sob forma gráfica.

Para limpar o que custa é começar, mas quando começamos nunca mais paramos

5 06.08 Realização de diversos jogos alusivos ao ambiente, muitos deles + jogos tradicionais adaptados ao ambiente: Jogo das Gotas de Água, das cadeiras, barra do lenço e Bowling.

Juntos a trabalhar o ambiente vamos ajudar

6 07.08 Apanha selectiva de lixo na praia do Estoril / João Cristóvão com equipamento adequado.

Contabilização separada de plásticos, papéis, latas.

Afixação e análise dos resultados apresentados sob forma gráfica e comparação com os resultados obtidos na Vila.

Praia limpa tem mais pinta

7 08.08 “Peddy-Paper” no bairro, com percursos e perguntas alusivas ao ambiente e à cidadania, com pedido de sugestões de melhoria ao Presidente da Câmara.

Limpeza é beleza

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DIA

DATA

ACTIVIDADES

LEMA DO DIA

8 09.08 Limpeza do ilhéu, chamando a atenção para o facto de que o lixo deitado no mar acaba em terra.

Se és amigo da Boavista não há sujidade que resista

9 11.08 Inquérito porta-a-porta sobre Saúde e Ambiente entre a população do Bairro das Barracas.

Se do lixo tratar a saúde vai melhorar

10 12.08 Jogos na escola: repetição dos realizados no dia 6/8, acrescentando um Jogo da Glória incluindo os conceitos tratados durante os dias anteriores.

Limpar? Prefiro não sujar!

11 13.08 Pintura de um mural na praça central de Sal Rei, alusivo ao ambiente e à conservação das tartarugas marinhas, utilizando os lemas e slogans do dias anteriores.

Mesmo a jogar, vamos limpar

12 14.08 Preparação da festa, com o ensaio do teatro alusivo à preservação das tartarugas marinhas.

Festa para toda a população de Sal Rei, com representação da peça de teatro, tipo musical, relativa à destruição vs protecção das tartarugas marinhas em Cabo Verde.

Intervenção da “Turtle Foundation” no recinto da festa com a colocação de cartazes alusivos à caracterização e à preservação das tartarugas.

-

Balanço e perspectivas futuras

Com base nas experiências recebidas do Projecto Cabo Verde na área do ambiente em anos anteriores, foi possível realizar um programa diversificado e eficaz em relação aos objectivos propostos. Notou-se uma clara melhoria na vertente organizativa e na assertividade das actividades empreendidas, tendo havido uma perfeita adequação entre o planeado e o que efectivamente foi levado à prática.

Por tudo isto e pela grande receptividade da população, das entidades governamentais e não governamentais ao trabalho efectuado, considera-se que será uma mais-valia a existência do “Projecto Cabo Verde 2009” na Ilha da Boavista.

Tendo em conta esta possibilidade, e a fim de manter o alto nível de qualidade do Projecto nos anos anteriores, foram identificados alguns aspectos que podem ser melhorados e âmbitos de acção que podem ser alargados:

1. Restaurar – rebocando, pintando e decorando com motivos alusivos ao ambiente - as instalações da OMCV, tendo presente que esse espaço é um infantário onde passam inúmeras crianças e seus familiares, que podem desde cedo “beber” a responsabilização pessoal na melhoria da qualidade do ambiente familiar e comunitário.

2. Rentabilizar a interface permanente com o oceano da Vila de Sal Rei,

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dirigindo muitas das actividades para a beira-mar, alertando as crianças para a sensibilidade dos ecossistemas da Boavista às pressões antrópicas.

3. Transmitir conhecimentos sobre o ambiente mais teórico-científicos, mas num contexto prático, p. ex. com aulas / actividades ao ar livre e em pequenos grupos.

4. Variar o tipo de jogos, introduzindo jogos tipo “Quiz”. Aproveitando o anfiteatro ao ar livre, proporciona-se simultaneamente a oportunidade para promover o trabalho organizado e em equipa, a disciplina e o cumprimento de regras; aqueles em que intervier uma parte escrita, serão também ocasião de melhorar a expressão escrita do português, língua oficial de Cabo Verde.

5. Fazer acções de formação para adultos ao final do dia, aproveitando o facto de estarem disponíveis e acompanharem os seus filhos em actividades lúdicas (p. ex. “Peddy-paper” familiar, conferências sobre temas específico, visionamento de algum filme comentado, …). Desta forma consideramos que os valores ambientais poderão ficar mais arreigados na sociedade boavistense.

6. Tendo sido constatado que os resíduos encontrados no ilhéu provinham não só da utilização doméstica mas também da actividade da construção civil, será este um grupo alvo a atingir, com meios que deverão ser oportunamente estudados.

7. Consideramos importante cruzar a acção de sensibilização ambiental com a área da saúde procurando reduzir comportamentos que penalizam o ambiente resultantes de um consumo de álcool excessivo (diariamente encontram-se espalhadas pelas ruas e muros centenas de garrafas de cerveja, etc.).

8. Por serem as zonas mais afectadas pela poluição, e por vezes as mais insalubres e esquecidas, pensamos que o futuro Projecto deverá fazer incidir mais a sua acção no Bairro das Barracas e na zona dos pescadores da Vila. Nesta última ainda se verificam costumes ancestrais avessos a comportamentos cívicos adequados, como o “balde das nove” – quando são deitados para o mar os dejectos e todo o tipo de lixo efectuado durante esse dia – e a convicção de que “o mar leva tudo”.

Durante a estadia na Ilha da Boavista no mês de Agosto de 2008, e tendo como objectivo apoiar e dar continuidade a actividades do tipo das empreendidas ao longo de todo o ano, a equipa de ambiente procurou transmitir todas as experiências adquiridas neste e noutros projectos semelhantes a diversos agentes de dinamização local:

• Antes de mais, à Vereação de Ambiente da CMB, que enquadrou tudo o que foi realizado;

• Ao CAB, com o qual se contou em várias actividades e ao qual se deixou algum material de apoio – a equipa de ambiente do Projecto Cabo Verde irá procurar potenciar o seu trabalho estabelecendo ligações entre esta ONG de ambiente caboverdiana com ONG de ambiente portuguesas, nomeadamente com o projecto de protecção do litoral “CoastWatch”;

• À Delegada Escolar recentemente nomeada (Dr.ª Élida Mosso), que de modo especial irá lidar com a população infantil e juvenil e seus formadores.

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Sugestões ao Presidente da Câmara de Sal Rei

Registam-se as principais sugestões para melhorar o ambiente em Sal Rei que foram dadas pelas crianças durante o “Peddy-paper” na Vila e dirigidas ao Presidente da CMB:

• Colocar mais caixotes e contentores para o lixo;

• Fazer uma recolha mais frequente do lixo dos contentores;

• Promover a recolha selectiva de resíduos: vidro, plásticos, latas, orgânico;

• Colocar casas de banho públicas, especialmente no Bairro das Barracas;

• Fazer lavadouros municipais.

Anexos:

I. Resultados das campanhas de recolha selectiva de lixo

II. Resultados do inquérito à consciência conservacionista da população

III. Resultados do inquérito sobre ambiente e saúde no Bairro das Barracas

IV. Registo fotográfico das actividades realizadas

V. Notícia sobre a actividade de ambiente no site da “Turtle Foundation”

VI. Apoios ao Projecto Cabo Verde 2008

ANEXO I

Resultados das campanhas de recolha selectiva de lixo

Durante as campanhas de recolha selectiva de lixo, durante uma hora na Vila de Sal Rei e de outra hora na Praia do Estoril, apanharam-se um total de 17.292 unidades.

A praia apresentou maior sujidade que as ruas Vila, sendo uma grande maioria resultante do despejo de entulho de obras de construção civil.

Tanto num caso como no outro o principal tipo de material recolhido foi o papel e cartão, seguido de plásticos e latas.

0

1 000

2 000

3 000

4 000

5 000

6 000

7 000

Plásticos Papel Latas

Unid

ades

de

lixo

Vila de Sal Rei Praia do Estoril

Unidades de plásticos, papel e latas recolhidas nas ruas da Vila de Sal Rei e na Praia do Estoril

ANEXO II

Resultados do inquérito à consciência conservacionista da população

Uma das primeiras actividades de ambiente do Projecto Cabo Verde 2008 na Boavista consistiu em nomear “repórteres do ambiente” às crianças participantes e, dividias em 5 zonas, fazer um levantamento dos aspectos positivos e negativos de Sal Rei, incluindo uma pergunta “termómetro” da consciência da população sobre o perigo de extinção das tartarugas marinhas. Das cinco zonas nas quais se fez o levantamento, foi considerado pelos participantes que três delas tinham mais coisas positivas que negativas, sendo que as duas zonas que tiveram mais coisas negativas a reportar foram a zona dos pescadores e o areal da praia, devido à maior sujidade desses espaços. Quanto às tartarugas marinhas, verificou-se que as pessoas inquiridas (25), apesar de terem consciência de que as tartarugas marinhas estão em extinção e que não devem ser mortas, a maioria ainda as consome na alimentação, desculpando-se com o facto de por vezes serem convidados e directamente não as matarem. O que indicia a necessidade de trabalhar mais em aspectos informativos e formativos da população.

Consciência conservacionista da população de Sal Rei

Come tartaruga?

sim52%

não48%

Acha bem ou mal?

Acho mal84%

Acho bem16%

ANEXO III

Resultados do inquérito sobre ambiente e saúde no Bairro das Barracas

DEFINIÇÃO DA AMOSTRA: Número de pessoas inquiridas: 51 Sexo:

feminino- 33; 65% masculino- 18; 35%

Idades:

Entre os 18 e os 51 anos, com particular incidência para a faixa etária dos 20 aos 30 anos ,que corresponde a 47,6% do total dos inquiridos.

Profissões:

Doméstica - 22; 43% Pedreiros - 11; 22% outros (vendedores, cozinheiros...) - 11; 22% não divulgaram - 6; 13%

Escolaridade:

nunca frequentou uma instituição de ensino – 3; 6% ensino primário – 21; 41% 2º ciclo – 6; 12% 3º ciclo – 5; 9% ensino secundário – 4; 8% não respondeu – 12; 24%

Origem:

A população do Bairro das Barracas é constituída na sua grande maioria por emigrantes, dos quais, segundo a nossa amostra, 76% é proveniente de outras ilhas do arquipélago de Cabo Verde. Os restantes 24% são nacionais de outros países africanos, sobretudo do Senegal e da Guiné-Bissau.

Notas relativas à definição da amostra:

Tendo como fundamento a nossa observação diária do Bairro das Barracas e suas particularidades, concluímos que a percentagem de pessoas do sexo masculino existente neste local é bastante superior à aqui apresentada; a amostra tem estes indicadores (indivíduos do sexo feminino - 33; 65%; indivíduos do sexo masculino - 18; 35%), à partida contrários à realidade, pois o questionário foi realizado à tarde, em horário laboral, altura em que muitos indivíduos do sexo masculino se encontravam a trabalhar nas diversas obras de construção existentes na ilha. Necessariamente limitado também pelo número de pessoas inquiridas, consideramos que este questionário permite ter, contudo, uma visão realista e exemplificativa do que acontece no Bairro das Barracas quanto a alguns aspectos ambientais e de saúde.

ANÁLISE AOS RESULTADOS DO INQUÉRITO

Partindo de uma análise cuidada dos dados obtidos no inquérito feito à população do Bairro das Barracas, é possível elaborar um pequeno texto no qual se expõem e se procura explicar o porquê desses mesmos resultados.

Começando pelos próprios dados da amostra, através dos quais conseguimos saber o tipo de realidade em análise, julgamos que convém salientar a proveniência dos habitantes do Bairro das Barracas. Como verificámos, a sua grande maioria vem de outras ilhas do arquipélago, onde há uma menor preocupação com os problemas ambientais e uma consciência cívico-ambiental muito menos desenvolvida. Pode-se dizer, com efeito, que estes emigrantes trouxeram alguns dos maus hábitos, já em si enraizados, para o Bairro e para a Vila de Sal Rei, em geral.

De facto, é possível perceber toda a problemática ambiental deste bairro (atentemos nos resultados obtidos: a inexistência de uma única casa de banho pública no bairro; praticamente a totalidade das habitações não possuem casa de banho; não há qualquer tipo de saneamento; não há um número suficiente de contentores do lixo para as necessidades do bairro...) à luz da sua história.

Inicialmente começou por ser um terreno concedido pela Câmara Municipal de Sal Rei aos emigrantes que chegavam à ilha para trabalharem na construção de vários hotéis que começavam a surgir. Com o "boom" turístico e consequente aumento do investimento estrangeiro na ilha, esse fluxo migratório foi crescendo, até aos dias de hoje, incessantemente. Contudo, o único local de residência para eles disponível, continuou a ser aquele terreno, onde se foram "amontoando" e crescendo como uma população completamente à margem da vila de Sal Rei. Pela extensão que possui passou a ser denominado por "bairro".

Tendo este cenário como "pano de fundo" facilmente se compreende os resultados obtidos neste inquérito.

Nota-se, apesar de tudo, da parte da população, alguma preocupação com a limpeza, higiene e, em última análise, com o próprio ambiente. Veja-se, por exemplo, que a totalidade dos inquiridos afirmou que limpava diariamente a sua casa, lava e desinfecta os alimentos antes de os ingerir; que a grande maioria tem caixote do lixo em casa (despejando-o de 2 em 2 dias) e indicou, como medida prioritária, tendo em vista a melhoria da qualidade ambiental do bairro, a colocação de mais contentores.

Tem caixote ou saco do lixo emcasa?

sim61%

não39%

Se sim, costuma estar fechado?

sim58%

não42%

De quanto em quanto tempo despeja o lixo?

1 a 2 42%

3 a 421%

5 a 74%

não responde

33%

Onde deita esse lixo doméstico?

rua 10%

contentor

(dentro de saco plástico)

49%

directamente

no content

or39%

noutro local2%

O que faz com os restos e qualquer outro lixo

proveniente de alimentos?

Deita fora22%

Dá aos Animais

78%

Com que frequência faz a limpeza da casa?

mensal2%

diária92%

não sabe /

não respond

e2%

semanal

4%

Quantos contentores e caixotes do lixo pensa que existem no seu

bairro?

1 a 560%

6 a 1020%

mais de 10

14%

não responde/não sabe6%

Considera que são os necessários?

sim45%

não 49%

não sabe6%

Onde sugere que se coloquem mais contentores para o lixo?

0 5 10 15 20 25

nos montes de areia

junto doscomputadores

fora do bairro

entrada do bairro

cantos do bairro

parte de cima dobairro

no meio do bairro,entre casas

não tem opiniãoformada

n.º de respondentes

Também é de realçar que a maioria dos entrevistados considere, que as péssimas condições ambientais em que se encontra o bairro, queixam-se dos maus cheiros frequentes das ruas, se devem, em grande parte, às acções dos próprios moradores (o hábito de deitar lixo para o chão...), mostrando, assim, que têm uma noção clara do que os rodeia.

As ruas que frequenta têm maus cheiros, associados à realização

de dejectos na rua ou à deterioração do lixo que aí

permanece?

não8%

sim92%

Se sim, por causa da recolha do lixo ser:

recolha indevida

16%

culpa das

pessoas56%

ambas as

respostas

18%

não sabe10%

Costuma deitar lixo para o chão?

sim29%

não57%

quando vejo

alguém apanho e coloco no lixo 14%

Se sim, porquê?

falta de contentor

es57%

preguiça26%

ambas as causas17%

É necessário referir, e relevar, um problema que se "abate" sobre toda a ilha, fazendo-se sentir com maior intensidade neste Bairro (pela sua pobreza, e inexistência de uma rede de saneamento): a falta de água. Atendendo às respostas que apuramos com o inquérito realizado, conclui-se que a água que utilizam tanto para beber, higiene, preparação de refeições compram-na no chafariz, que a maioria diz ser de boa qualidade, sem nunca se ter sentido afectado negativamente na saúde. Mais de metade da população desinfecta a água com lixívia ou ferve antes de a beber, o mesmo fazendo com os alimentos consumidos em cru.

Já quanto às águas residuais, dada a quase inexistencia de instalações sanitárias em casa e a total ausência de casas de banho públicas, a esmagadora maioria deita-as na rua, tendo alguns a preocupação de o fazer longe das casas.

Esta situação é uma das mais preocupantes do ponto de vista da saúde pública em Sal Rei, que chega mesmo a gerar mal estar entre a população do Bairro e a da Vila, cuja solução pode chegar a ter que passar pelo realojamento global noutros locais que se venham a construir de raiz, com as devidas condições.

Onde arranja água para consumo doméstico, incluindo

cozinha?

água mineral engarra

fada13%

outra8%

chafariz79%

Onde arranja água para a higiene?

chafariz

75%

outro25%

Já sentiu mal estar devido à ingestão de água?

frequentement

e20%

nunca52%rarame

nte4%

de vez em

quando22%

não respond

eu2%

Quais os sintomas devidos a

ingestão de água com má qualidade?

dor de barriga49%

diarreia39%

alergia6%

outros6%

Qual o tratamento dado à água antes de beber?

ferver6%

lixívia50%

nada44%

Desinfecta os alimentos consumidos em cru?

não14%

às vezes8%

sim78%

Tem casa de banho em casa?

sim20%

não80%

Onde costuma deitar as águas sujas?

rua37%

contentor

7%

outros2%

rua longe das

casas54%

Existem casas de banho públicas?

não sei8%

não92%

Quanto às questões que incidiam directamente sobre a saúde e a alimentação, registam-se algumas situações de apreensão, como o facto da maioria da população inquirida não ter as vacinas em dia, apesar de ter intenção de as regularizar.

Há, contudo, outros indicadores relativamente positivos, como o facto de a maioria ter afirmado tomar três refeições diárias e dar atenção especial à alimentação das crianças - apesar desta, na prática, se restringir quase exclusivamente a um maior cuidado com a higiene dos alimentos e da sua confecção.

Tem a vacinas em dia?

sim41%

não57%

não sabe /

não respond

e2%

Se não tem vacinas em dia, tenciona vacinar-se e às

crianças?

sim47%

não20%

não sabe / não

responde33%

Qual o N.º de refeições por dia?

1x2%

2x24%

4x12%

3x62%

Tem cuidado especial com alimentação das crianças?

sim68%

não22%

não sabe /

não respond

e10%

Cuidados com a alimentação das crianças

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

não usar muitas gorduras

lavar bem loiça

lavar biberão

cobrir a comida

dar alimentos variados

desinfectar alimentos

ferver água, desinfectar biberão, colocar lugar limpo

leite e iogurte

lavar as mãos

afastar mosquitos

não deixar brincar com lixo

usar lixívia

lavar alimentos

n.º de respondentes

A solicitação aos inquiridos de que sugerissem medidas para melhorar o ambiente do seu bairro reflectiu a consciência da prioridade que as questões relacionadas com os resíduos sólidos devem ter em Sal Rei. A maioria sugere aumentar o número de contentores do lixo, mas também aumentar a periodicidade da sua recolha por parte da Câmara.

0 5 10 15 20 25

realizar recolha mais frequente de lixo

sensibilizar e informar para os problemas doambiente e da saúde

não sabe / não responde

aumentar o n.º de contentores e caixotes do lixo

n.º de respondentes

ANEXO IV

Registo fotográfico de algumas actividades deAmbiente

Organização dos trabalhos por grupos, cada qual com um nome das 5 espéciesde tartarugas marinhas exsitentes na Boavista. Explicações previas e formaçãode grupos. Saída para actividades de rua:

Recolha selectiva de lixo na Vila De Sal Rei e na Praia do Estoril, contabilizandoe registando o número de elementos de cada tipo: plásticos, latas, papel ecartão:

Análise do resultado das quantidades totais de resíduos recolhidos:

Recolha de lixo no Ilhéu:

Inquérito sobre saúde e ambiente no Bairro das Barracas:

Teatro tipo “musical” representado na festa fina relativo ao ambiente e àprotecção das tartarugas marinhas:

Participação da “Turtle Foundation”

Pintura de um mural alusivo ao ambiente e à protecção das tartarugas marinhasna praça central de Sal Rei:

Christian Roder

27 August 2008 in: http://www.turtle-foundation.org

A Portuguese organization is active on Boavista this week. They offer a variety of environmental education activities to the kids of Sal Rei and vicinity - the sea turtles of Cape Verde getting special attention within their program. The team leaders together with the children painted beautiful sea turtles on one of the walls in the village centre. They also added sea turtle conservation slogans to the paintings.

During an event at the stadium the children performed turtle dances as well as turtle songs, telling stories about the sea turtle’s lives as well as man-made threats facing them. In agreement with the organization we grabbed the opportunity to present our sea turtle posters as well as our children’s painting competition in favour of the protection of sea turtles.

The kids obviously liked the event a lot. We can only hope that this generation will not be fond of killing sea turtles, no, instead they might be fond of standing up for the protection of these magnificent animals.

ANEXO V

ANEXO VI

APOIOS AO PROJECTO CABO VERDE EM 2008 (destacam-se os apoios directos à actividade de Ambiente)

Abbot Laboratórios, Lda. Agência Portuguesa do Ambiente Águas de Gaia, EM Associação Bandeira Azul da Europa Azimute - Educação, Trabalho e Desenvolvimento Banco BPI, S.A. Bastos e Viegas, S.A. Bom Calçado, Lda. Câmara Municipal da Boavista Carlos Manuel N. F. Santos Unipessoal, Lda. Casa Rodrigues Clube Ambiental da Boavista Costa Duarte - Corretor de Seguros, S.A. Dan Cake Portugal Delegação de Saúde da Boavista Delegação Escolar da Boavista Farmácia do Jardim Farmácia Laborinho Unipessoal, Lda. Farmácia Pisco Farmácia Saúde FASE - Estudos e Projectos, S.A. Fundação Bial Gertal, S.A. J.R. Automóveis, Lda. José de Mello, SGPS, S.A. Junta de Freguesia de Mira Junta de Freguesia de Santa Maria Macodal Comércio Transportes Materiais Construções Lda. Maria G.B. Moniz, Unipessoal, Lda. Montasa, Construções, Lda. Mota-Engil, SGPS, S.A. OMCV - Organização da Mulheres de Cabo Verde Polícia da Boavista Primor - Joaquim Moreira Pinto & Filhos, Lda. PROAFA - Serviços de Engenharia, S.A. Quinta do Sourinho, Lda. Renova - Fábrica de Papel do Almonda, S.A. Sogenave, S.A. Teixeira Trigo, Lda. Unicer, S.A. Vilarinho & Sousa, Lda