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AMILCAR CABRAL REGRESSO Mamãe Velha, venha ouvir comigo O bater da chuva lá no seu portão. É um bater de amigo Que vibra dentro do meu coração A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva, Que há tanto tempo não batia assim... Ouvi dizer que a Cidade-Velha – a ilha toda – Em poucos dias já virou jardim... Dizem que o campo se cobriu de verde Da cor mais bela porque é a cor da esp’rança Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde. – É a tempestade que virou bonança... Venha comigo, Mamãe Velha, venha Recobre a força e chegue-se ao portão A chuva amiga já falou mantenha E bate dentro do meu coração! POEMA Quem é que não se lembra Daquele grito que parecia trovão?! – É que ontem Soltei meu frito de revolta.

AMILCAR CABRAL

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AMILCAR CABRAL

 

  REGRESSO Mamãe Velha, venha ouvir comigoO bater da chuva lá no seu portão.É um bater de amigoQue vibra dentro do meu coração A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,Que há tanto tempo não batia assim...Ouvi dizer que a Cidade-Velha– a ilha toda –Em poucos dias já virou jardim... Dizem que o campo se cobriu de verdeDa cor mais bela porque é a cor da esp’rançaQue a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.– É a tempestade que virou bonança... Venha comigo, Mamãe Velha, venhaRecobre a força e chegue-se ao portãoA chuva amiga já falou mantenhaE bate dentro do meu coração! 

 POEMA Quem é que não se lembraDaquele grito que parecia trovão?!– É que ontemSoltei meu frito de revolta.Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terra,Atravessou os mares e os oceanos,Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,Não respeitou fronteirasE fez vibrar meu peito... 

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Meu grito de revolta fez vibrar os peitos de todos os Homens,Confraternizou todos os HomensE transformou a Vida... ... Ah! O meu grito de revolta que percorreu o Mundo,Que não transpôs o Mundo, O Mundo que sou eu! Ah! O meu grito de revolta que feneceu lá longe,Muito longe,Na minha garganta! Na garganta de todos os Homens 

 ROSA NEGRA Rosa,Chamam-te Rosa, minha preta formosaE na tua negruraTeus dentes se mostram sorrindo. Teu corpo baloiça, caminhas dançando,Minha preta formosa, lasciva e ridenteVais cheia de vida, vais cheia de esperançasEm teu corpo correndo a seiva da vidaTuas carnes gritandoE teus lábios sorrindo... Mas temo tua sorte na vida que vives,Na vida que temos...Amanhã terás filhos, minha preta formosaE varizes nas pernas e dores no corpo;Minha preta formosa já não serás Rosa,Serás uma negra sem vida e sofrenteSer’as uma negraE eu temo a tua sorte! Minha preta formosa não temo a tua sorte,Que a vida que vives não tarda findar...Minha preta formosa, amanhã terás filhosMas também amanhã...... amanhã terás vida!

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ILHA -

 um poema de Amílcar Cabral – Praia, Cabo Verde, 1945 -

Tu vives — mãe adormecida —

nua e esquecida, seca, fustigada pelos ventos,

 ao som de músicas sem música das águas que nos prendem…

Ilha: teus montes e teus vales não sentiram passar os tempos e

 ficaram no mundo dos teus sonhos — os sonhos dos teus filhos —

a clamar aos ventos que passam, e às aves que voam, livres, as tuas ânsias!

Ilha: colina sem fim de terra vermelha — terra dura — rochas escarpadas tapando os horizontes,

mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!

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QUANDO TUDO ACONTECEU...

1924, 12 de Setembro: Nasce em Bafatá, Guiné - 1932: Vai para Cabo Verde - 1943: Completa no Mindelo o curso liceal - 1944: Emprega-se na Imprensa Nacional, na Praia - 1945: Com uma bolsa de estudo, ingressa no I. S. Agronomia, em Lisboa - 1950: Termina o curso e trabalha na Estação Agronómica de Santarém - 1952: Regressa a Bissau, contratado para os S. Agrícolas e Florestais da Guiné - 1955: O governador impõe a sua saída da colónia; vai trabalhar para Angola; liga-se ao MPLA - 1956: Criação em Bissau do PAIGC - 1960: O Partido abre uma delegação em Conacri; a China apoia a formação de quadros do PAIGC - 1961: Marrocos abre as portas aos membros do Partido - 1963, 23 de Janeiro: Início da luta armada, ataque ao aquartelamento de Tite, no sul da Guiné; em Julho o PAIGC abre a frente norte - 1970, 1 de Julho: O papa Paulo VI concede audiência a Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos; 22 de Novembro: O governador da Guiné-Bissau decide e Alpoim Calvão chefia a operação de "comando" "Mar Verde" destinada a capturar ou a eliminar os dirigentes do PAIGC sediados em Conacri: fracasso! - 1973, 20 de Janeiro: Amílcar Cabral é assassinado em Conacri.

 

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AMILCAR CABRAL!Canto Primeiro:

Eis que, então, numa remota Noite de Lisboa,Quiçá triste, quiçá ledo,Ébrio, recordo, recordamosDo Canto da Tchim Tabari,Parindo o teu País, o nosso PaísCom fórceps da tempestade.

CABRAL,Omi d’Afrika,Homem Africano,L’Homme d’Afrique,African Man!Valente Cavaleiro do batuque,E do funáná.É verdade que duvidas do nosso Bosque Natal,Das nossas vozes roucas, dos nossos coraçõesQue remontam mordazes,Dos nossos olhos de grogue, vermelhos,E das nossas Noites ígneas e flâmeas?

(Quiçáque as chuvas do Exíliotenham retesada a pele do Tamborda nossa voz, da tua voz!).

Cabral!...Cabral!...Cabral!...Acuso, acusamosOs maus modos do nosso sangue.É erro nossoSe a borrasca se levantaE nos desaprende inopinadamente contar pelos dedosE saudar efusivamente?

Sim, efectivamente,O Sangue é algo que vai, vem e retorna…E, o Nosso suponho (supomos) nos reconcilia se for proteladoApós alguma macumba.Que faire, Cabral, que faire, L´Homme d’Afrique ?Sin, kuse ki nu debe fase,Cabral, Omi d’Afrika?Na verdade, o Sangue é um Verbo Poderoso!

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Na bardadi, Sangui e un Verbu Pudiros!

Canto Segundo:

CABRAL, Amílcar Cabral,O Poema não é um trapiche.Não, efectivamente, não!...Pois que,Se as rimas são moscas nos pântanos, sem rimasToda uma estaçãoLonge dos pântanos,Nós te fazemos justiça:Rimos, bebemos e desertamos…

Nobre Coração!

Na nouca o Colar de Comandante da LuaEm torno do braço o rolo bem aneladoPelo laço do Sol.E, o teu peito, tatuado, como uma das feridas da Noite.Outrossim, então,Recordo (recordamos)…lucidamente…

Camarada e companheiroCABRAL, Omi d’Afrika!É seguramente um problema muito grave (?)As conexões da Poesia e da Revolução.O fundo condiciona a forma!Le fond conditionne la forme!

E se avisasse, outrossim do Desvio dialécticoPara que a forma assumisse a sua desforraComo uma acácia maldita sufoca o Poema.Porém, nãoNão onero (não oneramos) da conexão,Pois quePreferimos contemplar a Primavera. É a Revoluçãose assumindo exactamente, se assumindo,se assumindo…se assumindo…e as formas que se protelamnos nossos ouvidos, trauteando,copulando o Novo que no horizonte arvora,comendo os rebentosde férteis besouros exterminando a Primavera…

Canto terceiro:

Eh, Armun!Frére!Brother!Irmão!Para ti, instrui (Instruímos-te) em PássaroAve gleba d’África para intacto atravessarA mais escaldanteDas areias do deserto, do nosso Deserto.Ave coliou d’África para abortar as artimanhas

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Dos matagais e desafiar o motejoDa floresta:Libertador de aréquaPoupa aprumada de um Orgulho súbito,Pois que sabias voar…voar Alto…Alto.Majestoso Migrante!Sabias voar longe,Sobretudo, Alto e bem alto,Enlaçando de um só relance de olhos,Até à sua mais remota parcelaO nosso Património hereditário!Notre patrimoine héreditaire!Our Genetic inheritance!

Inspector dos sem herdeiros,Testador das fidelidadesacolhendo apenas Intimidade quotidianacom as esperanças desatentas eas vastas recordaçõescujo o favor nigelava no vazio ou dormia no reverso,a Graça lendária de cada um dos teus gestos,os nossos gestos…os nossos gestos… os nossos gestos…

Oh! Estela obsídia da Memória!Stèle obsidienne de la Memoire!

Homem do reescritoHomem viril e robusto oriundo das nossas abruptas rochas.

E a Egrégia Mensagem,Cabral, Amílcar Cabral de sempre…sempre…sempre…Através do pó dos confinsE do ventre e da vagaTu a tens em cima da cabeça, sempre…sempre…sempre…Na extremidade do braço fora do lodo e da lama,à bout de coeurpara além do Medo,Fiel à ordem íntima, evidentemente…

Canto Quarto:

Eu, Amílcar Cabral,Sou um simples Africano,Cumprindo o meu deverNo meu próprio País,No contexto do nosso tempo.

Sin mi, Amilkar KabralAmi e un sinplis afrikanuTa kunpri si diverNa si propi pais,Na kondison di nos tenpu.

Amílcar…Amílcar…Amílcar Cabral,Homem do Grito de Trovão, do grito de revolta,Homem AfricanoHomem UniversalHomem do Grito Planetário!

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Cabral…Cabral…Cabral…A nossa Nobreza é, evidentemente nãoDominar o nosso Povo,serPorém, o seu Ritmo eCoração;Não de apascentar as terras, quiçá como o grão de milhoApodrecer na terra, na tera burbur,Na tera bufa-bufa…Não se assumir a condição de cabeça do Povo,Sim, efectivamentea sua bocae o seu Búzio anunciador dos Novos Tempos.

Enfim,Quem poderá, te cantar, se não for o teu Irmão de Sangue?!Tu, Cabral, meu irmão negro,Nosso Irmão NegroDe mãos quentes, deitado, estendidoSob a areia e a morte…

“L’AUBE TRANSPARENTE D’UN JOUR NOUVEAU”Aurora transparente de um Novo Dia !

Sim,O Canto vasto do teu Sangue vencerá…A tua palavra palpitante os sofismas eMentiras.Nenhum ódio a tua alma sem ódio,Nenhum artifícioA tua alma sem artifício.

Oh! Mártir Negro, raça imortal, deixa-meDeixa-nosAsseverar as palavras que perdoam…

Dorme…Dorme…Dorme…Pois que,A nossa voz, as nossas vozes te embala.Irmão Negro, a nossa voz de cólera que embala a Esperança!Guerrilheiro cuja boca é flor que, altaneira canta.Oh! O deleite de viver após o Inverno!...(Oh! Délice de vivre aprés l’Hiver !)Te saúdo, Cabral,Te honoramos, CabralComo autêntico Mensageiro da Paz Universal !

Sangue, SangueO Sangue NegroDo meu Irmão, do nosso irmão, dos nossos Irmãos,Macula (maculam) a inocência dos nossos lençóis,Das nossas mantas…És (Sois) o suor onde banha a minha angústia(a nossa angústia)(as nossas angústias).És (sois), sim,O sofrimento que eurouquece a minha voz\ (a nossa voz)(as nossas vozes).E o meu coração,O nosso coração, os nossos corações

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Que clama(m) ao Azur e ao arbítrio de…

Não, não, CABRALNão és um morto gratuito,Ô Morto! Não…Não…Não!...O teu Sangue não é a água tépida.Espesso asperge a nossa EsperançaQue medrará no Crepúsculo.Não, não sois um morto gratuito. Tu, cavaleiro valoroso, um morto qualquer…Oh, Não…Não…És (sois) testemunha (Testemunhas) da África Imortal.Sim, sim (autênticas) Testemunhas do Mundo Novo que será amanhã (o Porvir) em todo oPlaneta, evidentemente!...

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Cabral

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/09/1924   -   20/01/1973

 Meu Camarada

Quando soubermos valorizar a

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tua dedicação, o teu sacrifício e o legado

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que nos deixaste, estaremos à altura de cam

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inharmos com os nossos próprios pés...

Etern

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a Saudade

Eterna gratidão

Eterna Referência

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Santiago, a maior ilha de Cabo Verde, pertence ao grupo do Sotavento. Estende-se por cerca de 75 km de comprimento, no sentido norte-sul e cerca de 35 km de largura, no sentido leste-oeste. Dista cerca de 50 km em linha reta da ilha do Fogo, a oeste, e 25 km da ilha de Maio, a leste. Administrativamente, está dividida em 6 concelhos. A cidade da Praia é ao mesmo tempo a capital do país e sua cidade mais populosa. A ilha de Santiago e a Praia tiveram extraordinário desenvolvimento desde a independência em 1975, tendo a população duplicado desde aquele ano. Uma das povoações mais antigas é São Domingos, em vale do mesmo nome, no interior da ilha.

A ilha dispõe do recentemente expandido (novembro de 2005) Aeroporto Internacional da Praia, com pista de 2.100 m de comprimento por 45 m de largura, altitude de 70 m MSL (Mean Sea Level, nível médio do oceano), código internacional "RAI". Situado a apenas 3 km do centro da cidade, o aeroporto recebe vôos internacionais procedentes da Europa (Lisboa, Paris, Amsterdam, Munique), da América do Sul (Fortaleza, Brasil), da América do Norte (Boston) e do continente africano, além dos vôos domésticos.

Ribeira Grande de Santiago, antes Cidade Velha, a 15 km a oeste da Praia, na costa, foi a primeira capital de Cabo Verde.

Cerca de 50 km a norte da Praia localiza-se a cidade de Assomada com o seu concorrido mercado e o Museu da Tabanka. A norte da ilha, a cerca de 75 km da Praia, está a vila do Tarrafal, praia de areias claras e palmeiras, com alguma estrutura turística. Nesse mesmo concelho está o antigo Campo do Tarrafal criado pelo Governo português do Estado Novo ao abrigo do Decreto-Lei n.º 26 539, de 23 de Abril de 1936.

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A variante do crioulo cabo-verdiano falada em Santiago recebe o nome popular de badiu, termo também utilizado para designar o natural dessa ilha. Publicada por Djuck (João Spínola) em 16:35 1 comentários

Fogo é uma das 10 ilhas que constituem o arquipélago de Cabo Verde. A ilha é vulcânica e é a mais saliente do grupo, devido à altitude do vulcão Pico do Fogo. O vulcão tem estado historicamente ativo e sua última erupção foi em 1995. Sua característica mais espetacular é uma cratera com 9 km de largura, com uma bordeira de 1 km de altura. A cratera tem uma fenda em sua parede oriental, e um grande pico eleva-se em seu centro. O cone central Pico constitui o ponto mais elevado da ilha (2 829 m) e seu cume é cerca de 100 m mais alto do que a bordeira da cratera que o circunda. Lava do vulcão tem alcançado a costa oriental da ilha em tempos históricos. Publicada por Djuck (João Spínola) em 16:31 0 comentários

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Brava é uma ilha e concelho do Sotavento de Cabo Verde. A sua maior povoação é a vila de Nova Sintra. O único concelho da ilha tem cerca de sete mil habitantes. Com 67 km², Brava é a menor das ilhas habitadas de Cabo Verde, e tem uma densidade populacional de 101,49/km². A ilha tem uma escola, um liceu, uma igreja e uma praça, a Praça Eugénio Tavares.

Quando a ilha foi descoberta, deram-lhe o nome de S. João. No entanto, algum tempo depois o nome foi alterado devido ao aspecto florido que a ilha tinha. Foi-lhe dado o nome "Brava" que significa "selvagem". Sendo "brava" um adjectivo, tal como "selvagem", "rebelde", "verde" ou outro adjectivo qualquer, o nome da ilha, ao contrário das outras todas, não vem regido da preposição

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"de", como é o caso de substantivos — nomes de coisas (Fogo, Maio, Sal) ou nomes de Santos (São Nicolau, Santa Luzia, São Vicente, etc.). O mesmo se passa com "ilha Terceira" nos Açores (e não ilha da Terceira). Até em crioulo existe essa diferença: diz-se Dja d' Sal, Dja r' Mai', Dja di Santiagu, Dja r' Fogu, mas nunca Dja di Braba, é sempre Dja Braba.