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Ciências do comportamento: teoria, método e aplicação COMPORTAMENTO EM FOCO Vol. 13 AMILCAR RODRIGUES FONSECA JÚNIOR ORGANIZADORES LUZIANE DE FÁTIMA KIRCHNER CÉSAR ANTONIO ALVES DA ROCHA

AMILCAR RODRIGUES FONSECA JÚNIOR LUZIANE DE FÁTIMA

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COMPORTAMENTO EM FOCO
II
Comportamento em foco, v.13: Ciências do comportamento - teoria, método e apli- cação. [recurso eletrônico] / organizadores: Amilcar Rodrigues Fonseca Júnior; Luziane de Fátima Kirchner; César Antonio Alves da Rocha. – São Paulo, SP: Associação Brasileira de Ciências do Comportamento, 2021.
129 p.
ISBN versão ebook (digital): nº 978-65-995704-0-7
1. Comportamento humano. 2. Comportamento - Psicologia. I. Fonseca Júnior, Amilcar Rodrigues. II. Kirchner, Luziane de Fátima. III. Rocha, César Antonio Alves da. IV. Associação Brasileira de Ciências do Comportamento
CDD – 150.1943
III
Organização deste volume Amilcar Rodrigues Fonseca Júnior (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Luziane de Fátima Kirchner (Universidade Católica Dom Bosco) César Antonio Alves da Rocha (Universidade de São Paulo)
Conselho editorial da Editora ABPMC Bruno Angelo Strapasson (Editor-chefe) César Antonio Alves da Rocha Claudia Kami Bastos Oshiro Daniel Afonso Assaz Hernando Borges Neves Filho
Projeto Gráfico e Editoração Associação Brasileira de Ciências do Comportamento
Projeto Gráfico Original Roberto Colombo (Portfólio)
Diagramação Carlos Rafael Fernandes Picanço (Contato)
Instituição Organizadora Associação Brasileira de Ciências do Comportamento
Pareceristas Ana Carmen Oliveira Universidade Presbiteriana Mackenzie e Núcleo Paradigma Ana Carolina Trousdell Franceschini Financial Services Culture Board (FSCB) Claudia Daiane Batista Bettio Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto (USP-RP) Fabiane da Silva Pereira Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) e A Comportamental - Ciência & Comportamento Felipe Pereira Gomes Centro Universitário de Votuporanga (UNIFEV) Jaume Ferran Aran Cebria UNIFACIMED Pedro Bordini Faleiros Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) Priscila Ferreira de Carvalho Kanamota Clínica Particular Renata Penna Borges Nunes Cambraia Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e Faculdade Anhanguera de Brasília (FAB) Vinicius Pereira de Sousa Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Associação Brasileira de Ciências do Comportamento (ABPMC), como foi re-
nomeada a até então Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental,
é uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em 1991, e tem por objetivos: (a)
Promover, na sociedade, a Analise do Comportamento como area de conhecimento e
como campo de atuação profissional por meio de sua divulgação e de procedimentos
para o continuo aperfeiçoamento da área; e (b) Criar condiçoes para o aperfeiçoamen-
to do conhecimento cientifico relacionado com análise do comportamento, de seus
processos de produção e de uso por parte dos analistas de comportamento no Brasil,
por meio de avaliação e critica sistematicas.
A ABPMC é constituida por pesquisadores, professores, profissionais que tra-
balham com Análise do Comportamento em suas diferentes dimensoes – pesquisa
básica, aplicada, conceitual e prestação de serviços – além de estudantes de psicologia,
medicina comportamental e de outras disciplinas relacionadas ao comportamento
humano. Atualmente congrega mais de 1.500 sócios distribuidos pela maioria dos
estados brasileiros. Entre as principais atividades da ABPMC está o Encontro Brasileiro
de Psicologia e Medicina Comportamental, realizado anualmente.
É considerado o maior fórum brasileiro de Análise do Comportamento e um
dos maiores do mundo. A ABPMC também mantém uma série de publicaçoes cien-
tificas: Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva (RBTCC), série
Comportamento em Foco (continuação da série Sobre Comportamento e Cognição),
ambas disponiveis online gratuitamente e bem avaliadas pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (Capes). A ABPMC também contribui
com outras instituiçoes cientificas, como Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC) e a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP).
Outra atividade de grande importância realizada pela ABPMC é o processo de
acreditação de analistas do comportamento no pais. Esta ação visa atender uma de-
manda da comunidade, que apresentou a necessidade de monitorar a qualidade da
prática do analista do comportamento brasileiro, favorecendo a escolha, pela comuni-
dade, de profissionais qualificados para o exercicio profissional nos diversos campos
de atuação em Analise do Comportamento.
Saiba mais sobre a ABPMC em www.abpmc.org.br
Conselho Fiscal 2021-2022
Conselho Consultivo 2021-2022
Diretoria da ABPMC 2021-2022
Giovana Veloso Munhoz da Rocha Sulliane Teixeira Freitas Angela de Loyola Silva Runnacles Tatiany Honório Porto Aoki Fernanda Chaves Pacheco Sorgatto Machado Kátia Daniele Biscouto de Souza
Rafael Ernesto Arruda Santos Vera Regina Lignelli Otero Adriano Luís Alves Watanabe (Suplente)
Ariene Coelho Souza Elisa Tavares Sanabio Heck Paula Inez Cunha Gomide Sandro Iêgo da Silva Santos Yara Kuperstein Ingberman Olavo de Faria Galvão
VI
Sobre a coleção Comportamento em Foco
Em 1997, a ABPMC iniciou a publicação da série Sobre Comportamento e Cognição,
que teve importante papel na disseminação do conhecimento produzido em Analise do
Comportamento no Brasil. Após 16 anos de publicação da série, a ABPMC mudou seu
formato, de impresso para digital e, em 2012, renomeou a série como Comportamento
em Foco. O objetivo principal da coleção Comportamento em Foco é disseminar o
conhecimento produzido pela comunidade de analistas do comportamento no Brasil,
por meio de coletâneas constituidas pelos trabalhos apresentados nos encontros anuais
da ABPMC sob forma de palestras, mesas redondas, simpósios, sessoes coordenadas,
minicursos e sessoes primeiros passos.
Também é objetivo contribuir na formação cientifica dos estudantes e profissio-
nais da área, por meio da avaliação das produçoes escritas dos autores. Cada volume
é constituido por um conjunto de textos que visa ampliar o acesso de diferentes seg-
mentos da sociedade ao conhecimento produzido pelas ciências do comportamento.
Os capitulos que constituem a coleção passaram pela revisão de pareceristas ad-hoc
convidados em processo de duplo-cego.
Os livros digitais de cada volume estão disponibilizados gratuitamente no site da ABPMC:
Sobre os autores deste volume
Ana Claudia Moreira Almeida Verdu Psicóloga (CRP 06/55548), Doutora em Educação Especial em 2004 pela Universidade
Federal de São Carlos, Mestre em Educação Especial em 2000 pela Universidade Federal
de São Carlos. Docente do Departamento de Psicologia desde 2000 e do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem desde 2005 na
Universidade Estadual Paulista. Membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
Sobre Comportamento, Cognição e Ensino. Desenvolve pesquisas em Análise do
Comportamento Aplicada, comportamento verbal e funcionamento simbólico.
E-mail: [email protected]
André Luiz Professor Adjunto na Universidade Positivo (Londrina). Psicólogo (CRP 08/30867) gradu-
ado pela Universidade Positivo - Curitiba (2015). Mestre em Análise do Comportamento
(2018) pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Doutorando em Análise do
Comportamento pela mesma instituição. Pesquisador colaborador no Laboratório
de Análise Experimental do Comportamento Humano da UEL. Contemplado com
bolsa CAPES-DS, nivel Mestrado, entre os anos de 2016 e 2018. Membro da Rede de
Colaboração Interinstitucional para Pesquisa e o Desenvolvimento das Terapias
Analitico-Comportamentais (REDETAC). Desenvolve pesquisas nas áreas de Resistência
do Comportamento à Mudança (Momentum Comportamental) e Custo da Resposta.
E-mail: [email protected]
Angelo Augusto Silva Sampaio Professor do Colegiado de Psicologia e Vice-Coordenador do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(Univasf). Coordenador da Liga Acadêmica de Análise do Comportamento (LiAAC).
Ex-presidente e ex-secretário da Comissão de Publicação e Editorial da Associação
Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC). Editor associado da
Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Membro do Think Tank
sobre cultura e Análise do Comportamento. Doutor em Psicologia Experimental
(USP), mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC-SP)
e graduado em Psicologia (UFBA). Estuda comportamento social, comportamento
verbal, evolução cultural, tratando principalmente dos processos envolvidos em me-
tacontingências e na cooperação, em especial o controle por instruçoes (ou regras).
E-mail: [email protected]
VIII
Ariela Oliveira Holanda Professora do Ensino Básico Técnico e Tecnológico no Instituto Federal do Paraná, campus
Londrina. Doutorado e Mestrado em Ciências do Comportamento pela Universidade de
Brasilia. Especialista em Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro
do Autismo pelo Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento.
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará. Atua nas áreas de Economia
Comportamental, Transtorno do Espectro do Autismo, Jogos de Tabuleiro e Educação.
E-mail: [email protected]
Augusto Cézar de Souza Neto Psicólogo (CRP 03/9409), mestrando em Psicologia pela Universidade Federal do Vale
do São Francisco, especialista em clinica analitica-comportamental pela Unijorge
(Salvador – BA). É docente da UniFTC, de Feira de Santana e psicólogo clinico. Atualmente
desenvolve estudos sobre Teoria das Molduras Relacionais e sua aplicação clinica.
E-mail: [email protected]
Bárbara de Sousa Ribeiro dos Santos Psicóloga (CRP 01/23084). Graduação pelo Centro Universitário de Brasilia (UniCEUB).
Especialista em análise comportamental clinica pelo Instituto Brasiliense de
Análise do Comportamento (IBAC). Atua como psicóloga clinica. Tem interes-
se em pesquisas na area de atitudes preconceituosas e comportamento alimentar.
E-mail: [email protected]
Carlos Augusto de Medeiros Psicólogo (CRP 01/7209), Doutor em Ciências do Comportamento pela Universidade
de Brasilia, Mestre em Processos Comportamentais pela Universidade de Brasilia.
Atua como docente de graduação e mestrado do Centro Universitário de Brasilia.
Também atua como Psicólogo Clinico e Diretor Geral da Pragmática: Psicoterapia
e Cursos. Atualmente, desenvolve pesquisas em comportamento verbal, cor-
respondência verbal, independência funcional, relaçoes de equivalência,
comportamento verbalmente governado e pesquisas de processo em clinica.
E-mail: [email protected]
Carlos Eduardo Costa Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (1994). Mestrado
(1997) e Doutorado (2004) em Psicologia Experimental pela Universidade
de São Paulo. Realizou estágio de Pós-Doutorado (2015) junto ao Programa e
Mestrado Profissional em Análise do Comportamento Aplicada, no Paradigma:
Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento (SP). Professor Associado da
Universidade Estadual de Londrina (UEL). Docente permanente do Programa de
Pós-Graduação em Análise do Comportamento na UEL. http://www.caecosta.com.br.
E-mail: [email protected]
Felipe Magalhães Lemos Psicólogo, doutorando em Psicologia pela UFSCar, Mestre em Gestão da Clinica
pela UFSCar e especialista em Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo
pela UFSCar. Atua como docente em Análise do Comportamento Aplicada ao TEA
na Censupeg, na Neurokind Roraima e no CBI of Miami e como Diretor Pedagógico
na Luna ABA. Atualmente desenvolve estudos sobre Análise Funcional e IISCA.
E-mail: [email protected]
Guilherme Corrêa Cabeças Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente
desenvolve estudos sobre Resistência do Comportamento à Mudança.
E-mail: [email protected]
Joshua Jessel Analista do Comportamento Certificado pelo BACB - Nivel Doutorado (BCBA-D). Analista
do comportamento licenciado do Estado de Nova York. PhD pela Western New England
University. Mestre pela University of Maryland, Baltimore County. Atualmente é pro-
fessor assistente no Queens College CUNY e dirige um ambulatório universitário para
crianças diagnosticadas com autismo que apresentam comportamento problema.
E-mail: [email protected]
Julia Röcker dos Santos Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente
desenvolve estudos sobre Resistência do Comportamento à Mudança.
E-mail: [email protected]
Lucas Ferraz Córdova Psicólogo, Doutor em Ciência do Comportamento pela Universidade de Brasilia, Mestre em
Psicologia pela Universidade de Brasilia. Atua como professor associado na Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia na UFMS. Coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Behaviorismo
Radical e Análise do Comportamento – GEPEBRAC. Atualmente desenvolve pesquisas em
comportamento verbal, independência funcional e comportamento verbal do cientista.
E-mail: [email protected]
Márcio Borges Moreira Psicólogo (CRP 01/15515), doutor em Ciências do Comportamento pela Universidade
de Brasilia, mestre em Psicologia pela Pontificia Universidade Católica de Goiás. Atua
como professor no Centro Universitário de Brasilia e diretor do Instituto Walden4.
Atualmente desenvolve pesquisas nas areas de automação de treinamentos para
profissionais e cuidadores que lidam com pessoas diagnosticadas com Transtorno
do Espectro do Autismo e formação e mudança de atitudes preconceituosas.
E-mail: [email protected]
em análise comportamental clinica pelo Instituto Brasiliense de Análise do
Comportamento (IBAC). Interessa-se pela pesquisa sobre formação e mudan-
ça de atitudes, terapias de exposição e terapia de aceitação e compromisso (ACT).
E-mail: [email protected]
Myenne Mieko Ayres Tsutsumi Psicóloga (CRP 08/26504), Mestre em Neurociências e Comportamento em 2017
pela Universidade Federal do Pará, Especialista em Neurociências em 2019 pela
Universidade Estadual de Londrina e doutoranda em Análise do Comportamento
pela mesma instituição. Atuo como docente no curso de Psicologia da Pontificia
Universidade Católica do Paraná campus Londrina e da Universidade Positivo/
Faculdade Positivo campus Londrina. Atualmente realizo pesquisas em Psicologia
Experimental sobre resistência do comportamento à mudança (Momentum
Comportamental), tratamentos baseados em evidências e Transtorno do Espectro Autista.
E-mail: [email protected]
XI
Patrícia Luque Doutora em Ciências do Comportamento e Mestre em Psicologia pela Universidade de
Brasilia (UnB). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasilia (CRP 01/10087)
e em Administração de Empresas pela UnB. Supervisora de estágio no Instituto Brasiliense
de Análise do Comportamento (IBAC). Psicóloga clinica desde 2004. Atualmente, desen-
volve pesquisas sobre comportamento do consumidor e economia comportamental.
E-mail: [email protected]
Raquel Neves Balan Estudante de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina e bolsista de Iniciação
Cientifica Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e
Tecnológico (CNPq).
E:mail: [email protected]
Verônica Bender Haydu Psicóloga, Doutora em Psicologia Experimental pela USP de São Paulo, Mestre em Psicologia
Experimental pela USP de São Paulo. Atua como professora na Universidade Estadual de
Londrina. Atualmente desenvolve estudos/atividades sobre terapia de exposição à realida-
de virtual, tecnologia de ensino, e pesquisas em análise experimental do comportamento.
E-mail: [email protected]
XII
Apresentação As ciências do comportamento agrupam um conjunto de ideias que lhes con-
ferem um modo apropriado, coeso e organizado de responder a perguntas como: “Como as pessoas se comportam?”, “Por que elas fazem o que fazem?”, “O que as move e o que as governa?”. Essas perguntas podem ser respondidas de várias maneiras, a partir de diferentes visoes sobre o ser humano e suas relaçoes com o mundo natural e social. Para o Behaviorismo Radical, filosofia que alicerça um sistema psicológico particular – a Análise do Comportamento –, um dos objetivos da ciência deve ser o de prover resultados praticos a partir de uma tentativa de apresentar ordenadamente os acontecimentos do mundo, dado o suposto de que esses acontecimentos se encontram relacionados entre si.
Assim sendo, os objetivos da Análise do Comportamento devem estar pautados na previsão e controle de eventos ambientais e comportamentais. É necessário, para tanto, identificar e descrever relaçoes funcionais entre eventos do ambiente e açoes do organismo, de tal maneira que a previsão e a mudança de tais relaçoes seja possivel, o que permite alterar a probabilidade de ocorrência do comportamento. Tais objetivos podem ser estendidos para a aplicabilidade da ciência comportamental em inúmeros contextos, valendo-se de seus conceitos para o planejamento de intervençoes eficazes. Este livro reúne trabalhos apresentados originalmente no XXIX Encontro Brasileiro de Psicologia e Medicina Comportamental, que versam sobre teoria, método e aplicação das ciências do comportamento para a resolução de problemas humanos.
Com o objetivo de apresentar, exemplificar e problematizar a proposta skin- neriana de comportamento verbal, Carlos A. Medeiros, Márcio B. Moreira e Lucas F. Córdova compartilham a autoria do Capitulo 1. Os autores discutem a definição de comportamento verbal enquanto operante mantido por reforços mediados por um ouvinte especialmente treinado por uma comunidade verbal. Em especial, as implicaçoes dessa definição para o entendimento de instâncias de comunicação com animais não humanos e máquinas. Ademais, discutem os limites dos operantes verbais propostos por B. F. Skinner. A partir dessas análises, é enfatizada a complexidade do comportamento verbal e a necessidade de exames conceituais mais cuidadosos sobre a tematica.
No Capitulo 2, Augusto Cézar de Souza Neto e Angelo Augusto S. Sampaio descre- vem, de uma maneira didática, como o comportamento governado por regras (CGR) pode ser definido a partir da Teoria das Molduras Relacionais (RFT - Relational Frame Theory). Para isso, os autores apresentam um breve histórico do conceito de CGR e da RFT, bem como uma definição de CGR segundo a RFT, e suas implicaçoes para a pesqui- sa e para o contexto clinico. São esclarecidas e exemplificadas as relaçoes arbitrárias e não-arbitrárias entre estimulos, enfatizando-se o responder relacional arbitrariamente aplicável (RRAA). Assim, as propriedades do RRAA (implicação mútua, implicação mútua combinatória e transformação de função de estimulo) também são descritas visando esclarecer os efeitos da regra no controle do comportamento humano. Não obstante, além de apresentarem evidências empiricas, os autores também argumentam
XIII
que a RFT permite explicar o uso de intervençoes sobre o comportamento verbal como ferramenta para a atuação clinica.
Márcio B. Moreira, Bárbara S. R. Santos e Michelli C. Cameoka são autores/as do Capitulo 3. Esse capitulo tem como objetivo discutir a interseção entre preconcei- to e controle de estimulos a partir da Análise do Comportamento. Os/as autores/as caracterizam o preconceito, em suas diversas expressoes, como um comportamento operante discriminado e apresentam pesquisas que ilustram o estado atual da discus- são sobre o tema – em especial, o sobre o preconceito racial. Em seguida, fornecem argumentos que dão suporte à concepção de que o preconceito é aprendido, sendo explicitada a sua inter-relação com os processos de discriminação de estimulos, sim- ples e condicional, generalização de estimulos e equivalência de estimulos. O exame apresentado explicita os beneficios mútuos do diálogo entre a Psicologia Social e a Analise do Comportamento.
O Capitulo 4 foi escrito por André Luiz, Julia R. Santos, Guilherme C. Cabeças, Carlos E. Costa, Ariela O. Holanda, Patricia Luque e Myenne M. A. Tsutsumi. Nele, é apresentada uma proposta metodológica para o estudo de variáveis relacionadas a comportamentos de prevenção durante pandemia de COVID-19, fundamentada na Economia Comportamental Operante. A proposta, baseada no uso de questionários online, focaliza duas principais variáveis: sunk-time e framing. De sua aplicação, es- pera-se avanços na compreensão de como as pessoas se comportariam em situaçoes hipotéticas envolvendo medidas de prevenção.
No Capitulo 5, as autoras Verônica B. Haydu e Raquel N. Balan apresentam a caracterização e um breve histórico do conceito de tecnologia comportamental, bem como o levantamento de estudos brasileiros que descrevem a aplicação da tecnologia comportamental nos contextos da educação básica e educação especial, saúde, esporte, direitos humanos, clinica, desenvolvimento sustentável e meio ambiente, e no contexto organizacional. Na sequência, as autoras descrevem alguns dos beneficios no uso das tecnologias comportamentais, e ressaltam que, embora exista uma grande quantidade de publicaçoes relacionadas ao tema, há uma carência de estudos que se utilizam do método cientifico para realizar a avaliação de sua eficácia.
O Capitulo 6 é de autoria de Carlos Augusto de Medeiros, e visa descrever as concepçoes filosóficas que embasam a Psicoterapia Comportamental Pragmática (PCP), e o que diferencia a PCP das demais vertentes de Terapias Analitico-Comportamentais (TAC). Alguns dos pontos destacados são: a PCP emprega terminologia exclusiva da Análise do Comportamento, e a implementação de técnicas de outras abordagens só terão utilidade se os efeitos puderem ser descritos em termos de variaveis de controle ambiental. Como pontos em comum da PCP em relação às outras vertentes da TAC, o autor descreve o externalismo, a postura ideográfica, e a necessidade de realização de análises funcionais individuais. Já os pontos apontados como divergentes são a redução do controle ostensivo comumente exercido pelos terapeutas comportamentais, e o uso do questionamento reflexivo para que o terapeutizando aprenda a analisar sozinho o próprio comportamento e os comportamentos das pessoas ao seu redor.
XIV
O Capitulo 7, escrito por Felipe M. Lemos e Joshua Jessel tem por objetivo apre- sentar a proposta de Análise de Contingência Sintetizada por Entrevista (IISCA), seguin- do como tópicos principais a sua definição, fundamentação teórica, objetivos, formas de avaliação, análise de efetividade e eficiência. De modo geral, os autores pontuam que a IISCA é um tipo de análise funcional guiada por uma entrevista semiaberta realizada com pessoas relevantes na vida do paciente, com aplicabilidade em diversos contextos, e que pode ser conduzida por analistas do comportamento ou até mesmo por professores ou cuidadores. Os objetivos da IISCA são demonstrar o controle sobre o comportamento-problema, obter linha de base para avaliar efeitos do tratamento, e identificar condiçoes motivacionais e reforços que historicamente fortaleceram o comportamento-problema. Trata-se de uma tecnologia relativamente nova e que tem apresentado resultados positivos pela sua utilidade prática, bem como pela sua eficácia em informar o tratamento e aceitabilidade social. Os autores destacam o caráter de flexibilidade do procedimento, que pode ser ajustado para atender às necessidades individuais de cada caso.
Por fim, de autoria de Ana Claudia M. A. Verdu, o Capitulo 8 tem como objetivo sistematizar dados sobre precisão de fala em crianças com deficiência auditiva e im- plante coclear apresentados em estudos sobre equivalência de estimulos. A análise proposta contemplou 17 estudos referenciados em documentos do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE). A caracterização proposta abarca as autorias dos trabalhos, as universidades envolvi- das, os tipos de estudos, os participantes, os materiais e procedimentos adotados, os delineamentos de pesquisa e os principais resultados derivados das intervençoes. Dá-se destaque à importância de que estudos futuros busquem intervir em contextos clinicos e educacionais, e que seja mantida uma comunicação frutifera entre a Análise do Comportamento e a Fonoaudiologia.
Os organizadores
César Antonio Alves da Rocha
XV
Sumário
Comportamento verbal: desafios conceituais da proposta de Skinner Carlos Augusto de Medeiros Márcio Borges Moreira Lucas Ferraz Córdova
17
Capítulo 2
O que é comportamento governado por regras para a Teoria das Molduras Relacionais Augusto Cézar de Souza Neto Angelo Augusto Silva Sampaio
32
Capítulo 3
Preconceito e controle de estímulos Márcio Borges Moreira Bárbara de Sousa Ribeiro dos Santos Michelli Carrijo Cameoka
44
Capítulo 4
Contribuições da Economia Comportamental Operante para situações de pandemia: uma breve introdução André Luiz Julia Röcker dos Santos Guilherme Corrêa Cabeças Carlos Eduardo Costa Ariela Oliveira Holanda Patrícia Luque Myenne Mieko Ayres Tsutsumi
59
XVI
71
89
Capítulo 7 IISCA, uma proposta de análise funcional Felipe Magalhães Lemos Joshua Jessel
100
Capítulo 8
Acurácia da fala em crianças com deficiência auditiva e implante coclear via tecnologias de ensino baseada em equivalência Ana Claudia Moreira Almeida Verdu
113
17
Keywords
verbal behavior; verbal community; media- tional reinforcement; topography; functional independence.
1 O presente capítulo é derivado de uma mesa redonda apresentada no XXIX Encontro Brasileiro de Psicologia e Medicina Comportamental e VI Encontro Sul-Americano, realizada no dia 04 de setembro de 2020, sob o título: Comportamento verbal: desafios conceituais da proposta de Skinner.
Resumo
Os objetivos deste capitulo são apresentar, exemplificar e problematizar conceitos e discussoes teóricas pertinentes à proposta de Skinner acerca do comportamento verbal. Incialmente, a própria definição de compor- tamento verbal como operante mantido por reforço mediacional provido por um ouvinte especialmente treinado em uma comunidade verbal foi debatida. Deu-se ênfase especial aos conceitos de reforço mediacional e comu- nidade verbal. A definição de comportamento verbal também será aplicada a instâncias li- mitrofes, como na comunicação com animais não humanos e máquinas. As definiçoes de estimulos e respostas verbais em diferentes categorias funcionais serão avaliadas quanto ao papel da topografia e da função. Por fim, a noção de independência funcional sera discutida com base em usos reificados dos operantes verbais, quando, na realidade, são meras categorias descritivas de instâncias verbais. Como conclusoes, o presente capitulo sugere a complexidade do tema e como a sua abordagem poderia se beneficiar de exames conceituais mais cuidadosos.
Abstract
The objectives of this chapter are to present, exemplify and problematize concepts and theoretical discussions pertinent to Skinner's proposal about verbal behavior. Initially, the very definition of verbal behavior as an ope- rant maintained by mediational reinforce- ment provided by a listener specially trained in a verbal community was debated. Special emphasis was placed on the concepts of me- diation reinforcement and verbal community. The definition of verbal behavior will also be applied to borderline instances, such as when communicating with non-human animals and machines. The definitions of stimuli and verbal responses in different functional cate- gories will be evaluated regarding the role of topography and function. Finally, the notion of functional independence will be discus- sed based on reified uses of verbal operants, when, in reality, they are mere descriptive categories of verbal instances. As conclusions, this chapter suggests the complexity of the topic and how its approach could benefit from more careful conceptual examinations.
Carlos Augusto de Medeiros (1) [email protected]
Márcio Borges Moreira (1) [email protected]
Lucas Ferraz Córdova (2) [email protected] (1) Centro Universitário de Brasília (2) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Comportamento verbal: desafios conceituais da proposta de Skinner1
Verbal behavior: conceptual challenges of Skinner's proposal
Comportamento verbal Carlos Augusto de Medeiros, Márcio Borges Moreira & Lucas Ferraz Córdova
Comportamento em Foco, v. 13, cap. 1 | 18
Ao propor analisar funcionalmente os comportamentos resumidos pelo rótulo de linguagem, Skinner (1957/1978) rompe com os modelos tradicionais oriundos da Filosofia, da Psicologia e da Linguística e defende a per- tinência da aplicabilidade das relações fun- cionais obtidas em estudos com não humanos para a descrição do comportamento verbal. Tal empreendimento, nas palavras de Skinner, se constitui em um exercício interpretativo.
Skinner (1957/1978) diferencia o seu tra- tamento ao tema das demais abordagens da linguagem por privilegiar o falante individual, ao invés de descrever regularidades de uma comunidade linguística. Skinner sugere que o exercício do analista do comportamento é ana- lisar funcionalmente as respostas verbais para fins de predição e controle do comportamento individual, ainda que as práticas de reforça- mento responsáveis pelo estabelecimento e manutenção de tais respostas sejam exemplos de práticas culturais.
De acordo com Skinner (1957/1978), as abordagens linguísticas tendiam a um viés es- truturalista das mais diversas instâncias verbais (e.g., frases, parágrafos, livros e poemas). Em outras palavras, a função das palavras em uma frase ou de radicais, sufixos e prefixos de uma palavra era inferida a partir da estrutura. A análise sintática e a busca das origens etimoló- gicas exemplificam abordagens estruturalistas da linguagem. A proposta de Skinner se difere por privilegiar a função em detrimento da es- trutura a partir da investigação do que contro- la o comportamento do falante ao emitir uma resposta verbal alvo de interesse, do mesmo modo como se faz com os comportamentos não verbais.
Skinner (1957/1978) sugere que o com- portamento verbal não se distingue dos ope- rantes não verbais pela sua natureza, de modo que os princípios comportamentais seriam
suficientes para analisá-lo e para descrever as relações funcionais a ele pertinentes. Todavia, o comportamento verbal recebeu tratamento diferenciado por Skinner, principalmente com a proposição de amplas categorias de operantes verbais definidas com base nas variáveis de controle e na topografia da resposta. A despei- to da defesa de Skinner de uma abordagem funcionalista na definição dos conceitos da ciência do comportamento, as definições de alguns operantes verbais por ele apresentadas privilegiam as topografias de respostas como elementos que os diferenciam.
O tratamento diferenciado dado ao com- portamento verbal por Skinner não foi bem re- cebido por muitos analistas do comportamen- to, como sugerem Michael (1984) e Medeiros (2002a; 2002b). Alguns simplesmente descon- sideraram a existência da obra, analisando os comportamentos verbais da mesma forma que analisavam os comportamentos não verbais. Outros, questionaram a utilidade e a perti- nência dos conceitos propostos. Porém, após quase 30 anos de atraso em relação à publica- ção do livro "Verbal Behavior", a proposta de Skinner passou a ocupar o léxico de analistas do comportamento.
Este capítulo tem por objetivo discutir algumas das controvertidas definições dos con- ceitos e teses propostas por Skinner e iniciar uma discussão com a comunidade acadêmica, a qual teria como meta, em um segundo mo- mento, a proposição de definições alternativas que tragam menos problemas conceituais para o seu uso e ensino – ao longo do texto são esbo- çadas algumas propostas de revisão conceitual. O presente capítulo não se propôs a debater e, muito menos, oferecer soluções para todos os problemas apontados. Na realidade, a meta foi promover o debate que se possa ter como resultado uma terminologia mais homogênea e com maior regularidade nos usos.
Comportamento verbal Carlos Augusto de Medeiros, Márcio Borges Moreira & Lucas Ferraz Córdova
Comportamento em Foco, v. 13, cap. 1 | 19
"comportamento reforçado pela mediação de outras pessoas" (p. 16).
Além da mediação de outras pessoas, Skinner enfatiza que o comportamento verbal se diferencia do não verbal pelo primeiro não manter relação geométrica ou mecânica com o ambiente, "de ele ser impotente contra o mundo físico" (Skinner,1957/1978, p. 16). A distinção entre comportamento verbal e não verbal com base nessas características ainda é utilizada em textos mais recentes (e.g., Barros, 2003; Passos, 2007; Xavier et al., 2017) sugerindo uma ade- quação da definição original de Skinner aos fenômenos atualmente estudados sob o rótulo de comportamento verbal.
Embora a definição de comportamento verbal continue sendo feita com base na media- ção de outras pessoas e com base na ausência de relações geométricas e mecânicas entre o comportamento verbal e as consequências por ele produzidas, gostaríamos de apresentar aqui alguns possíveis problemas com relação a essa definição, contrastando tal definição com as de- finições de alguns operantes verbais e alguns exemplos diferentes dos tipicamente utilizados em artigos e textos didáticos para ilustrar a de- finição. Gostaríamos de ressaltar que se trata de uma análise especulativa e não exaustiva de usos do conceito de comportamento verbal. Entendemos, e esperamos, que tais especula- ções possam gerar novas discussões acerca do conceito de comportamento verbal, auxiliando a ratificar, a retificar ou a aprimorar o uso do conceito de comportamento verbal tal qual foi cunhado por Skinner (1957/1978).
A Medição por Outra Pessoa
Com relação à mediação por outra pessoa, a definição mais sintética e usualmente re- produzida na literatura pode levar a algumas más compreensões. Entendemos que não
Inicialmente, será abordada a própria definição de comportamento verbal, assim como os conceitos relacionados a ela, como falante, ouvinte, reforçamento mediacional e comunidade verbal. Em seguida, serão aborda- dos os diferentes tipos de operantes verbais e como suas definições podem fracassar em não abranger as ocorrências e em excluir as suas não ocorrências. Por fim, será debatida a noção de independência funcional entre operantes verbais a partir do conceito de de erros de ca- tegoria (Ryle, 1969), de acordo com os quais se presume a existência dos operantes verbais a despeito das ocorrências que se destinam a resumir.
Considerações Sobre a Definição de Comportamento Verbal
Skinner (1957/1957) define o comporta- mento verbal como um comportamento ope- rante. Ou seja, trata-se de um comportamento estabelecido e mantido pelas suas consequên- cias (Catania, 1999/1999; Moreira & Medeiros, 2019). Todavia, diferentemente dos operantes não verbais, não são as alterações espaciais, temporais, mecânicas e geométricas produtos das respostas verbais as consequências que o mantêm e sim, os efeitos que tais alterações produzem no comportamento de outro indiví- duo, denominado ouvinte (Skinner, 1957/1978; 1974). Ocasionalmente, em alguns episódios verbais, falante e ouvinte podem ser a mesma pessoa (Baum, 2005/2006; Skinner, 1957/1978; 1974).
Skinner (1957/1978), ao estabelecer uma primeira distinção do comportamento verbal em relação a comportamentos não-verbais, aponta que comportamentos verbais são aque- les que "só são eficientes através da mediação de outras pessoas" (p. 16). Skinner define ex- plicitamente comportamento verbal como
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diferencial, todavia, nesse caso, estamos diante de um reforçamento diferencial social. Caso o violonista erre algum acorde ou toque um repertório não apreciado pela audiência, as consequências reforçadoras não serão apre- sentadas. Desse modo, certas respostas no ins- trumento serão reforçadas e outras não.
Nesse paralelo com o comportamento verbal, apenas o segundo tipo de consequência exerceria controle sobre a sua probabilidade de ocorrência, ainda que, as respostas verbais também alterem o ambiente de forma mecâ- nica, como no caso do primeiro tipo de refor- çamento do comportamento de tocar violão. Em outras palavras, mesmo que as respostas verbais produzam alterações mecânicas, como tocar violão, apenas as consequências sociais são responsáveis pela sua probabilidade de ocorrência futura.
Se contrapormos a definição de compor- tamento verbal, em termos de mediação por outra pessoa, há exemplos de comportamento verbal como alguém pedindo um copo d'água (e.g., Abreu & Hübner, 2012; Passos, 2003) em que o papel da mediação fica claro: o estímulo reforçador é a água e a água chega até quem a pede pela mediação de outra pessoa. Em última análise, a modificação no ambiente que mantém o comportamento de pedir um copo d'água é produzida por quem pega e entrega o copo, e não pelas palavras de quem pede o copo d’água (esse é um exemplo do operan- te verbal chamado de mando). No entanto, se considerarmos situações que envolvem outros tipos de operantes verbais com, por exemplo, um diálogo em um consultório clínico (e.g., Medeiros, 2002a; 2002b), ou qualquer conversa cotidiana, o que observaremos serão apenas pessoas conversando, sem que alguma delas altere o ambiente inanimado ao seu redor (e.g., pegar um copo com água, acender uma lâmpa- da ou ligar um ar-condicionado). Nesse caso, a
parece apropriado dizer que o comportamen- to verbal não produz mudanças no ambiente físico (Passos, 2003). Em primeiro lugar, para o Behaviorismo Radical, não há dicotomia entre ambiente físico e ambiente de outra natureza (Skinner, 1953; 1974). Ou seja, só existe ambien- te físico. Além disso, parece-nos que não seja apropriado dizer que o comportamento não muda diretamente o ambiente, na medida em que deixa marcas no papel na escrita ou produz ondas sonoras na fala, por exemplo (Catania, 1998/1999). Mas não são essas modificações que estabelecem e mantém o comportamento verbal e sim, os efeitos que produzem nos com- portamentos de ouvintes (Passos, 2003).
Um exemplo pode ajudar a esclarecer esse ponto. Uma pessoa tocando violão pode ter seu comportamento controlado por dois tipos de consequências: 1) Os sons que o con- tato de seus dedos com as cordas produz que, nesse caso, são produtos de relações mecâni- cas; 2) A atenção, os elogios e os aplausos de outras pessoas presentes enquanto ela toca. Poderíamos classificar o primeiro tipo como reforçadores não sociais, ou seja, aquelas mo- dificações no ambiente capazes de afetar a probabilidade futura de um comportamento sem a intervenção de outras pessoas. Caso o violonista erre o posicionamento de um dos dedos, provavelmente o som produzido não reforçará essa resposta, ou mesmo, exercerá funções punitivas sobre ela. Estaremos diante de um reforçamento diferencial não social, da mesma forma que ocorre quando aprendemos a abrir uma torneira moderna cujo mecanis- mo de funcionamento não consiste meramente girar algo no sentido anti-horário.
Por outro lado, a atenção, os elogios e os aplausos são consequências sociais (Baum, 2005/2006), ou seja, são efeitos de respostas nos comportamentos de outras pessoas. Podemos novamente nos deparar com um reforçamento
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e é mantido por reforçamento mediacional é improcedente. Ainda que se argumente que as mudanças nos comportamentos dos alunos que caracterizariam a sua aprendizagem seria um reforço social às respostas verbais do professor, não faz sentido afirmar que os alunos estejam alterando o ambiente espacial, mecânica e ge- ometricamente pelo professor.
As evidências científicas disponíveis de- monstram que vocalizações e contato do olhar, por exemplo, são eventos reforçadores para os comportamentos, verbais ou não, que os pre- cedem (e.g., Piazza et al., 1999). Ecóicos, tatos e intraverbais, portanto, não seriam comporta- mentos cujas consequências são mediadas por outras pessoas. A rigor, tais comportamentos não poderiam ser classificados como compor- tamentos verbais, tendo como base para defi- nição de comportamento verbal a mediação por outra pessoa. Obviamente, complexas in- terações entre membros de uma comunidade verbal são responsáveis pelo estabelecimen- to da função dos reforçadores condicionados generalizados. Não restam dúvidas de que os reforçadores generalizados têm o potencial de estabelecer e manter respostas verbais.
A definição de comportamento verbal com base na mediação por outra pessoa parece não englobar também situações nas quais o falante é o ouvinte de seu próprio comportamento (e.g., solilóquio). De acordo com Skinner (1957/1978, p. 88), ao se referir ao comportamento ecóico, desde que "um falante usualmente se ouve a si próprio e, assim, se estimula verbalmente, ele também pode fazer eco a si próprio. Tal com- portamento é potencialmente auto-reforçador se fortalecer a estimulação usada no controle do comportamento verbal próprio da pessoa" (Skinner chamou esse comportamento de auto- ecóico). Nesse caso, o estímulo discriminativo, a resposta e a consequência reforçadora são todos, em termos não técnicos, comportamentos
mudança ambiental que funciona como evento selecionador para os comportamentos de uma pessoa são mudanças no comportamento de outra pessoa. Nesse sentido, o comportamento de outra pessoa não é mediador de uma conse- quência, ele é a própria consequência, ou seja, a própria alteração no ambiente. Pesquisas que avaliaram o efeito reforçador da atenção sobre o comportamento (olhar, falar, tocar etc.) constituem um conjunto de exemplos da pro- posição de que o comportamento do outro não é mediador das consequências reforçadoras (pelo menos não em todos os casos), mas é a própria consequência reforçadora (e.g., Piazza et al., 1999; van der Mars, 2016).
Se contrapormos a definição de comporta- mento verbal, com base na mediação por outra pessoa, às definições de algumas categorias de comportamento verbal, encontraremos algu- mas incongruências. Os comportamentos ca- tegorizados como ecóicos, tatos e intraverbais, por definição, são comportamentos controla- dos, em termos dos estímulos consequentes, por consequências reforçadoras condicio- nadas generalizadas (Barros, 2003; Skinner, 1957/1978). Tais consequências, basicamente, são comportamentos de outras pessoas (e.g., dizer "Isso!", "Concordo", "Muito bem!"). Por exemplo, quando um professor leciona conte- údos à sua turma de forma expositiva, alguns alunos apenas mantêm o olhar em direção ao professor; muitos fazem anotações; outros me- neiam a cabeça; outros fazem "hum-hum"; e, ocasionalmente, alguém faz um comentário ou uma pergunta. Que mudanças os alunos fazem no ambiente pelo professor? Não faz sentido fa- larmos de reforço mediacional ou de uma ação indireta no ambiente como no mando. Sendo assim, na maioria dos operantes verbais (i.e., tatos, intraverbais, ecóicos, transcrições, textu- ais) a definição de comportamento verbal como aquele que age de maneira indireta no ambiente
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mas do físico, parecem ser irrelevantes para esta análise. Parece-nos razoável supor que, a rigor, tais princípios geométricos e mecânicos constituem a busca de uma "causalidade mecâ- nica" para o comportamento. Para a análise das variáveis que controlam um determinado com- portamento, conforme apontado por Skinner (1953), importa a relação funcional, importa a regularidade entre as ocorrências dos dois eventos em questão, e não como a natureza os produz. Além dos princípios geométricos e mecânicos, parece-nos também ser irrelevante para a análise identificar o agente que produziu a alteração (o acender da luz, por exemplo), o agente/ente que dispõem tais eventos no mundo – se foi, por exemplo, outra pessoa que ligou outro interruptor, se foi o Operador Nacional do Sistema ou mesmo se foi um software.
Digamos que alguém reze para chover e que tal comportamento seja seguido da chuva. A chuva, de alguma maneira, altera a probabili- dade do rezar, sendo que os eventos relevantes são o rezar e o chover. Dizer que não há rela- ções causais (princípios geométricos e mecâ- nicos) envolvidos nessa relação é, em última análise, uma afirmação baseada na correlação estatística/observada/inferida entre a ocorrên- cia desses dois eventos. Nesse sentido, parece ser irrelevante falar dos princípios geométri- cos e mecânicos que produzem o chover. Para efeitos da análise funcional do comportamento de rezar, nesse exemplo, parece ser irrelevan- te também identificar o "agente causador da chuva". No entanto, do ponto de vista de quem se comporta, rezando, teríamos um exemplo de comportamento verbal tal qual definido por Skinner, pois a chuva foi mediada por outro ser.
Se Maria diz para João "Acenda a luz, por favor", e João acende a luz, temos um exemplo com 100% de aderência à definição de compor- tamento verbal proposta por Skinner. É impro- vável que algum analista do comportamento
da mesma pessoa. Não há, na descrição dessa relação entre eventos, referência a um ambien- te físico inanimado (ambiente não-pessoa) ou um ambiente mecânico. Vale ressaltar que o conceito de ambiente, neste caso, é usado em oposição ao conceito de organismo.
Considerando-se que o raciocínio apre- sentado até aqui esteja correto, pelo menos par- cialmente, parece ser necessária uma revisão da definição de comportamento verbal para pro- mover maior aderências da mesma aos eventos tipicamente denominados em textos científi- cos como comportamento verbal, incluindo as próprias categorias formais de comportamento verbal. Nos parece que tal definição poderia prescindir do uso do termo "mediação". Nesse sentido, parece razoável dizer que, para dife- renciar comportamento verbal de não verbal, tal definição talvez devesse fazer referência a mudanças no comportamento de um organis- mo como sendo a mudança no ambiente rela- cionada à manutenção desse comportamento: o comportamento verbal é um comportamento operante cujas consequências mantenedoras são alterações no comportamento de um (outro) organismo.
Princípios Geométricos e Mecânicos
O efeito que o comportamento produz sobre o ambiente, sua consequência, é, via de regra, definido em termos de suas propriedades físicas (forma, intensidade etc.). A análise do efeito das alterações ambientais sobre o com- portamento prescinde do agente que produziu aquela alteração no ambiente (Passos, 2007). Se alguém pressiona um botão e uma luz é acesa, o pressionar o botão e o acender da luz são os eventos relevantes para uma análise fun- cional – os princípios geométricos e mecânicos envolvidos nessa relação, que, inclusive, não são da alçada do analista do comportamento,
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resultados impressionantes de interações entre primatas que, se ocorressem em humanos, não teríamos dúvida em classificá-las como verbais. Os sujeitos dessas pesquisas emitiram respos- tas que atendem aos critérios da definição de comportamento verbal e exemplificam tatos, mandos e comportamentos de ouvinte. Com relação a um vocabulário rudimentar, é possí- vel afirmar que os sujeitos compuseram uma comunidade verbal.
Existem ressalvas, todavia, quanto à ca- tegorização de tais resultados como evidência de interações verbais entre não humanos. A primeira delas é a de que não foi um grupo de primatas que criou a relação entre as topo- grafias de respostas ou símbolos selecionados e as variáveis de controle. Assim como não foi esse grupo de primatas que estabeleceu quais comportamentos de ouvinte seriam reforçados diante dos estímulos verbais. Essas relações foram criadas artificialmente pelos experi- mentadores. É possível questionar a ocorrência de comportamento verbal em não humanos justamente pela ausência de espontaneidade da criação de uma comunidade verbal, assim como, da inserção de novos membros nessa comunidade verbal. Todavia, não há, na defini- ção de comunidade verbal, nada que restrinja a existência de comunidades verbais artificiais ou a inserção de novos membros em tal comu- nidade por meio de ensino formal. Se houvesse, de fato, tais restrições, não poderíamos conside- rar pessoas fluentes em esperanto ou klingon como membros de uma mesma comunidade verbal.
Além disso, como observa Michael (1984), o fenômeno da "explosão da linguagem", comu- mente reportado em crianças por psicólogos do desenvolvimento, não foi observado em não humanos. Mesmo com extensos programas de treinamento, as respostas verbais observadas em não humanos eram equivalentes às de
diga que esse não é um exemplo de comporta- mento verbal. No entanto, se Maria disser para um assistente virtual (Siri, Google Assistente, Alexa, entre outros) "Acenda a luz, por favor", e o assistente virtual acender a luz, é possível que tenhamos divergências entre analistas do comportamento se esse é ou não um exemplo de comportamento verbal: o assistente não é uma pessoa. Sendo assim, parece-nos incorreto dizer que o assistente virtual seria um ouvinte discriminado ou mesmo que faça parte de uma comunidade verbal.
A introdução do papel do ouvinte talvez seja umas das principais contribuições de Skinner (1957/1978) em relação ao estudo da linguagem. No entanto, parece-nos que o papel do ouvinte seja importante para caracterizar o comportamento verbal como comportamen- to operante, no sentido de que é controlado por suas consequências. A ênfase, portanto, deveria ser na seleção por consequências, e não no agente que dispõe as consequências. Especificar organismo/pessoa/ouvinte na de- finição do comportamento verbal parece-nos ser desnecessário e anacrônico, vis-à-vis casos dos assistentes virtuais, entre outros. É possível fazer perguntas e ligar aparelhos falando com assistentes virtuais. Fazer distinções entre seres humanos e Inteligências Artificiais para definir comportamento verbal parece-nos ser, cada vez mais, contraproducente – assim como pa- rece-nos ser o caso para interações entre seres humanos e animais ou quaisquer outros entes. Em suma, não seria relevante o que ou quem diz "são cinco horas" após uma pessoa dizer "que horas são" – importaria, simplesmente, a consequência "são cinco horas".
O estudo de Savage-Rumbaugh (1984) fez uma análise com base nos conceitos propostos por Skinner (1957/1978) de diversos estudos que pretenderam ensinar linguagem a ani- mais não humanos. Esses estudos reportaram
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Comportamento, o que sempre foi desaconse- lhado por Skinner (1945; 1953; 1974).
Uma definição promissora de comuni- dade verbal deveria dar ênfase às práticas de reforçamento administradas por grupos de indivíduos. Tais práticas de reforçamento es- tabelecem as condições nas quais as respostas verbais têm probabilidade de serem reforçadas (e.g., estímulos verbais ou não; reforçadores generalizados ou específicos) e quais com- portamentos de ouvinte seriam reforçados na presença de determinados estímulos verbais. Como as comunidades verbais, com exceção dos idiomas inventados, se estabelecem de modo não planejado, as práticas de reforça- mento não possuem uma consistência absoluta, de modo que observaremos, com certa regula- ridade, comportamentos de falantes e ouvintes idiossincráticos.
Estímulo Verbal e Resposta Verbal: Definições Topográficas?
Considerando-se que a definição de com- portamento verbal poderia prescindir dos conceitos de mediação e de organismo, essa distinção de um operante verbal, em oposição operantes não verbais, pareceria cada vez mais caminhar para uma definição em termos mera- mente topográficos, o que, ao nosso ver, estaria mais próximo dos usos dos conceitos relacio- nados ao comportamento verbal encontrados na literatura científica, notadamente estímulo verbal e resposta verbal. Abaixo, seguem alguns exemplos que visam sustentar esse argumen- to: 1) "Note que há um discriminativo não- -verbal presente em ambos os exemplos (um objeto e um evento privado)" (Borloti, 2004); 2) "Se a situação antecedente for um estímulo discriminativo verbal (palavra escrita, falada, gestualizada)" (Borloti, 2004 p. 255); 3) "Entre o estímulo discriminativo verbal auditivo (o
crianças pequenas. Ainda assim, isso não muda o fato de que as respostas emitidas nesses estu- dos por não humanos estão de acordo com as definições de comportamento verbal.
Comunidade Verbal
Os debates acima ilustram a fragilidade do conceito de comunidade verbal, que é um aspecto central da definição de comportamento verbal. Skinner (1957/1978; 1974) não define comunidade verbal diretamente, fazendo men- ções a ela. Outros autores como Perterson (1978) e Baum (2005/2006) a definem como um grupo de pessoas que ocupam papéis de falantes e ouvintes. Já Passos (2003), faz menção aos com- portamentos de falante estabelecidos por con- tingências semelhantes. Barros (2003) e Skinner (1957/1978) também mencionam a comunida- de verbal como estabelecedoras contingências que modelam comportamentos de falante e ouvinte. Vargas (2003), assim como Skinner (1957/1978) e Baum (2005/2006), relaciona comunidade verbal à cultura. Praticamente todos os autores discutem a identidade entre a comunidade verbal e os grupos de pessoas que falam a mesma língua. Em resumo, as di- ferentes definições de comunidade verbal se referem a pessoas (não a animais não humanos ou a máquinas); a falantes e ouvintes; à cultura; às práticas de reforçamento e aos idiomas.
Do ponto de vista de definições funcionais, não parece compatível com o Behaviorismo Radical restringir comunidades verbais às pessoas, uma vez que, com base em critérios exclusivamente funcionais, outros organismos ou mesmo máquinas exibem instâncias que poderiam ser consideradas verbais se emiti- das por humanos. A relação da comunidade verbal com a cultura e com os idiomas também é problemática porque lança mão de concei- tos muito complexos e externos à Análise do
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Skinner (1957/1978, p. 108) como "um operante verbal, no qual uma resposta de certa forma é evocada (ou pelo menos reforçada²) por um objeto particular ou um acontecimento ou pro- priedade de objeto ou acontecimento". Tempos depois, Barros (2003, p. 77) definiu o tato como "respostas verbais, vocais ou motoras controla- das por estímulos discriminativos não-verbais e mantidas por consequências sociais quando existe correspondência, ou seja, identidade fun- cional (arbitrária e culturalmente estabelecida), entre o estímulo discriminativo e a resposta".
Skinner (1957/1978) utilizou os termos "acontecimento" ou "propriedade de objeto ou acontecimento" para se referir aos eventos antecedentes que exercem controle discrimina- tivo sobre um comportamento que, por conta desse tipo de controle, é chamado de tato. Tais eventos, conforme apresentado na definição de tato apresentada por Barros (2003), são de- nominados estímulos discriminativos não-ver- bais. Exemplos de estímulos discriminativos não-verbais geralmente são descritos como aspectos do ambiente que não sejam repostas verbais de outra pessoa ou do próprio falante (um copo, a temperatura, um objetivo em mo- vimento, precipitações atmosféricas etc.). Uma pessoa comendo uma fruta poderia, de acordo com a definição, ter a função de estímulo dis- criminativo não verbal para a resposta verbal de dizer "A pessoa está comendo uma fruta".
Um primeiro ponto a ser destacado é que, no exemplo acima, tanto a qualificação do es- tímulo "pessoa comendo fruta" como estímulo discriminativo não verbal, quanto a classifica- ção da resposta de dizer "A pessoa está comendo uma fruta" como verbal foram meramente topo- gráficas e esse parece ser o uso comum desses termos na literatura científica. Um segundo
som da palavra ouvida pela criança) e a res- posta verbal da criança (sua reprodução vocal do que ouviu), deve haver correspondência formal, exigência que fazemos para reforçá-la" (Passos, 2003, p. 203); 4) "Regra para Skinner (1969) é um estímulo discriminativo verbal que descreve uma contingência" (Scala & Kerbauy, 2005); e 4) "O principal estímulo discriminati- vo verbal usado na pesquisa, após tomarem conhecimento dos objetivos da pesquisa, foi a seguinte frase ‘Falem as primeiras idéias ou frases que lhe ocorrem quando escutam a frase Estudar e trabalhar na universidade’" (Teixeira et al., 2008, p. 184).
Note que, nos exemplos acima, o termo "verbal" é seguido de termos como "palavras", "frases", "ouviu", "falou", ou seja, o qualificador "verbal" não remete à função ou a qualquer outro aspecto explicitamente indicado na defi- nição de comportamento verbal. Cabe ressaltar aqui que atrelar a distinção de verbal e não verbal à topografia dos estímulos e das respos- tas não é incongruente com o apelo maior da proposta de Skinner de comportamento verbal, que é a de apresentar uma proposta de análise funcional de fenômenos relacionados à lingua- gem. A despeito de quais características distin- guiram um comportamento operante verbal de um comportamento operante não verbal, o mesmo continua sendo um comportamento operante e esse, ao nosso ver, é o grande dife- rencial da proposta de Skinner.
A definição do operante verbal "tato" parece ser particularmente interessante para analisarmos a distinção entre verbal e não-ver- bal, especialmente porque essa distinção não se aplica somente ao conceito de comportamento, mas também aos conceitos de estímulo (verbal) e resposta (verbal). O tato foi definido por
2 Na tradução para o português do livro "Verbal Behavior", encontra-se a palavra "reforçada". Todavia, uma tradução mais precisa seria "fortalecida", no sentido de que teria a sua probabilidade de ocorrência aumentada "por um objeto particular ou um acontecimento ou propriedade de objeto ou acontecimento".
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a partir da relação funcional da mesma com va- riáveis ambientais históricas e presentes. Uma das implicações no proposto por Skinner no livro Verbal Behavior é a de que o que se apren- de ao se aprender uma resposta verbal não é um significado (no sentido símbolo/referente) intrínseco à topografia, mas sim a emissão de uma dada resposta diante de uma determinada relação contingencial. Nas palavras do próprio Skinner (1977, p. 8) "Uma resposta verbal sig- nifica algo no sentido de que o falante está sob controle de circunstâncias particulares".
Skinner (1957/1978) afirma que o signi- ficado não é propriedade da variável depen- dente, isto é, da resposta verbal, mas sim da variável independente, ou seja, das condições sob as quais o comportamento ocorre. Com isso, enfatiza-se a busca por relações funcionais tanto da aquisição quanto da manutenção da resposta verbal em detrimento da busca por significados concretos como propriedades da palavra (Córdova, 2008; Moxley, 1997).
Tal noção leva a suposição de indepen- dência funcional entre operantes verbais. Skinner (1957), ao observar regularidades no comportamento, categorizou diferentes tipos de comportamentos verbais, tais categorias ele denominou de operantes verbais. Essas catego- rizações são feitas levando em consideração o tipo de variável controladora, o tipo de resposta, o tipo de consequência, o tipo de relação exis- tente entre a variável antecedente e a resposta. A categorização feita por Skinner leva em conta a topografia da resposta, mas primordialmente enfatiza a relação funcional da resposta com as variáveis ambientais. Skinner apresenta oito categorias funcionais, ou operantes verbais (i.e., ecóico, cópia, textual, tomar ditado, intraverbal, autoclítico, mando e tato).
A partir da concepção funcionalista de significado, uma mesma topografia de resposta verbal emitida em momentos distintos pode ser
ponto a ser destacado é que insistir em uma distinção entre verbal e não verbal, pelo menos com relação aos eventos antecedentes, parece ser desnecessário e/ou contraproducente. Não teríamos problema em definir uma fruta ou uma "pessoa comendo fruta" como um estímulo discriminativo não verbal (pelo simples fato de não ser uma pessoa falando ou gesticulando). Por outro lado, é provável que os exemplos abaixo gerem divergências ou dificuldades de análises para ser definir se são ou não casos de tato (para efeito de exemplo, considere que as consequências reforçadoras em todos os exem- plos são comentários que expressam concor- dância como "Isso mesmo!"): 1) Na presença de alguém falando sobre conceitos comportamen- tais, dizer "Que assunto legal"; 2) Após ler um poema, dizer "Que poema bonito"; 3) Após ser xingado, dizer "Que palavrão horroroso"; 4) Na presença de uma placa com o sinal de proibido fumar, dizer "É proibido fumar aqui".
Nos exemplos acima, temos estímulos que, topograficamente, se parecem com aquilo que chamamos de estímulos verbais e as respos- tas são topograficamente similares àquilo que chamamos de respostas verbais – especifica- mente, se parecem com tatos. Restringir o tato a controle por estímulos não verbais, sendo que tais definições parecem ser necessariamente topográficas, parece deixar de fora do concei- to eventos que deveriam/poderiam ser casos de tato. Caso tal proposta se mostre profícua, a distinção entre tatos e intraverbais ou entre tatos e ecóicos, por exemplo, seria topográfica e em relação ao estímulo antecedente.
Operantes Verbais e Independência Funcional
Como já dito, ao definir comportamento verbal como passível de ser descrito em um enquadre operante está sendo enfatizado que a ocorrência de uma dada resposta se explicaria
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mesma topografia uma vez que respostas com tal topografia não foram treinadas em função dessas novas variáveis.
Como apontado inicialmente, apesar de uma lacuna temporal significativa entre a pu- blicação do livro Verbal Behavior e estudos que investigaram a proposta apresentada, estudos sobre comportamento verbal passaram a ser cada vez mais frequentes entre as publicações analíticas comportamentais. No que diz respei- to aos estudos sobre independência funcional, observa-se um surgimento mais expressivo na literatura a partir do fim da década de 1960 (Guess, 1969). Na grande maioria (Lamarre & Holland, 1985; Hall & Sundberg, 1987; Twyman, 1996; Mousinho, 2004; Córdova, Lage & Ribeiro, 2007), os estudos com o foco na independência funcional entre operantes verbais caracteri- zam-se por inicialmente estabelecer respostas com uma determinada topografia com uma função específica (e.g. mando, tato, intraverbal) e testar se esse treino inicial levaria colateral- mente (sem treino específico) a emissão dessas respostas verbais sob o controle de variáveis características de outros operantes verbais. Com base nesses estudos, buscou-se apoio em- pírico à proposta feita por Skinner (1957/1978).
Os estudos sobre independência funcio- nal entre os operantes verbais tato e mando têm encontrado dados que corroboram parcialmen- te a proposta de Skinner (1957/1978). Contudo, em todos os estudos aqui apresentados, houve o surgimento de algum operante colateral em alguma fase do experimento (Gamba, Goyos & Petursdottir, 2014). Na grande maioria, esses resultados são normalmente explicados pela idade avançada dos participantes enquanto fator preditivo de maior repertório verbal. Tal explicação, apesar de coerente, é especulativa já que esses estudos não apresentaram um con- trole rigoroso sobre a história de reforçamen- to dos seus participantes. Gamba et al. (2014)
função de diferentes variáveis independentes. Uma mesma resposta verbal teria diferentes significados quando sob o controle de diferen- tes variáveis ambientais. Para Skinner, "Dizer que comportamentos têm significados distintos é apenas outra maneira de dizer que são con- trolados por variáveis distintas." (Skinner, 1969, p., 156). Uma criança pode emitir a resposta verbal "água" sob o controle de um estímulo discriminativo não verbal, sendo a resposta definida como um tato, ou pode essa mesma resposta estar sob o controle de uma operação estabelecedora. Já nesse caso, a resposta seria definida como um mando. Os operantes verbais mando e tato diferenciam-se por constituírem relações funcionais distintas, e nesse sentido, sendo relações de significados também distin- tas, mesmo apresentando respostas topografi- camente semelhantes.
A suposição da independência funcional, defendida por Skinner (1957), é extremamen- te importante para compreensão do desen- volvimento do repertório verbal. Isso porque, a partir do momento em que duas respostas verbais, topograficamente semelhantes, pos- suem variáveis controladoras distintas, essas seriam funcionalmente independentes entre si. Isso quer dizer que o treino responsável pelo estabelecimento regular da emissão de uma resposta de dada topografia sob contro- le funcional definidor de um dado operante verbal não resultaria na emissão de respostas de mesma topografia sob o controle funcional característico de outros operantes verbais. O que é aprendido ao se adquirir uma resposta verbal, não é a emissão de uma determinada palavra ou o significado intrínseco a ela, e sim uma função comportamental ou seja, a emissão de uma dada resposta na presença das variáveis ambientais necessárias. É de se supor então, que quando defrontada com variáveis ambien- tais outras, a criança não emita respostas com a
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comportamentais sendo unidas por algumas similaridades funcionais. Os elementos com- ponentes das definições dos operantes verbais não devem ser entendidos como exaustivos das fontes de controle sobre as emissões dis- cretas, mas como forma de categorização de diferentes comportamentos verbais. Operações estabelecedoras e reforço específico definem a categoria mando, mas não a totalidade da fonte de controle das respostas submetidas a essa categoria.
Assumir que o controle sobre as respostas verbais se restringe àquelas variáveis aponta- das na definição dos operantes verbais leva a uma expectativa de uniformidade nos dados de pesquisa sobre independência funcional não demonstrados pelos estudos da área. Parece claro, a partir de um entendimento de relação de contingência (Skinner, 1969), que se em duas contingências distintas, mando e tato, por exemplo, os elementos componentes diferem drasticamente, as respostas não apresentaram inter-relação funcional. Contudo, numa visão multideterminada os parâmetros definidores de cada operante compõem apenas parte da fonte de controle. No interior dessa rede de deter- minações, é possível/provável que os mesmos eventos componham a organização funcional de diferentes respostas, inclusive aquelas clas- sificadas em diferentes operantes. No exemplo anterior do mando "biscoito" onde o ouvinte se encontra com um pacote de biscoito em mãos aproxima o controle funcional daquele defini- dor do tato em função da presença de estímulo discriminativo não verbal.
A mudança de entendimento do papel do conceito de operantes verbais não muda a su- posição inicial de independência funcional, res- postas submetidas a controle funcional distinto exige treino específico. A principal implicação de tal mudança é o de levar a uma alteração no foco de análise para além das grandes variáveis
apontam ainda que questões procedimentais (e.g., falha em criar eventos que se caracterizam plenamente como operações estabelecedoras) podem ter sido responsáveis pelas falhas dos participantes nos testes dos operantes verbais não treinados.
Para além de questões puramente meto- dológicas, talvez um segundo fator, de ordem conceitual (Harzem & Milles, 1978), pode con- tribuir com a diversidade de dados da área. Tradicionalmente, operantes verbais são en- tendidos como comportamentos aprendidos, selecionados e mantidos no mesmo sentido de respostas discretas. É comum encontrar obser- vações como "O mando foi treinado" ou "O tato foi emitido". Contudo, como dito pelo próprio Skinner (1957/1978)" (...) relações funcionais são úteis, primeiramente apenas como um esque- ma classificatório, funcionando nesse sentido um pouco como os esquemas classificatórios da gramática." (p. 178). As definições dos operantes verbais (por exemplo o tato como o operan- te verbal que tem como controle antecedente estímulo discriminativo não-verbal e reforço generalizado) não abarcam a totalidade da in- tricada rede de relações funcionais as quais a emissão de uma dada resposta verbal se insere. A resposta verbal "biscoito", definida como mando, tem maior probabilidade de reforça- mento específico quando diante de um ouvinte que possui o objeto biscoito em mãos, fazendo com esse adquira função discriminativa. Essa é uma característica não presente na definição conceitual do operante mando (i.e., operante verbal controlado por operação estabelecedora e reforço específico) apesar de exercer controle funcional para essa resposta específica, e assim compor como já dito o significado da resposta verbal "biscoito".
Operantes verbais devem ser entendi- dos como categorias de padrões de contin- gências, que englobam diferentes relações
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Considerações Finais
A despeito da imensa e inegável contri- buição da proposta de Skinner acerca do com- portamento verbal, há problemas conceituais que ainda não passaram por uma avaliação mais cuidadosa. Além disso, a literatura da área tem utilizado a terminologia de maneira irrefletida, o que pode ter mantido, ou mesmo criado, novos problemas conceituais. O pre- sente capítulo não se propôs a debater todos, muito menos, oferecer soluções para todos os problemas apontados. Na realidade, a meta era promover o debate que possa ter como resulta- do uma terminologia mais homogênea e com maior regularidade nos usos. Alguns conceitos foram revistos ao longo do texto, para o quais sugeriram-se novas definições, como o próprio conceito de comportamento verbal, de comu- nidade verbal e de operantes verbais.
Boa parte da confusão aqui apontada decorre da complexidade do tema. O presen- te capítulo se ateve aos conceitos e discussões iniciais e já nos deparamos com grandes em- baraços conceituais. Certamente há temas mais áridos no livro para um exame desse tipo, como tatos e mandos ampliados, controle múltiplo e autoclíticos. Mas esses temas ficam para uma próxima publicação.
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