Amo-te Para Sempre - Fernando Alvim

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    Lista de autores, por ordem de sada dos contos:

    Pedro Paixo | Joo Tordo | Rui Zink | Lusa Costa Gomes | Eduardo Madeira | Ins Pedrosa

    Afonso Cruz | Gonalo M. Tavares | Manuel Jorge Marmelo | Mrio de Carvalho

    Dulce Maria Cardoso | Pedro Mexia | Fernando Alvim | Possidnio Cachapa | David Machado

    JP Simes | Rui Cardoso Martins | Nuno Markl | Joo Barreiros | Raquel Ochoa |

    David Soares | Pedro Santo | Onsimo Teotnio Almeida | Mrio Zambujal | Manuel Joo Vieira

    Patrcia Portela | Nuno Costa Santos | Ricardo Adolfo | Ldia Jorge | Srgio Godinho

    Para aceder aos restantes contos visite: Biblioteca Digital DN

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    Contos Digitais DN

    A coleo Contos Digitais DN-lhe oferecida pelo

    Dirio de Notcias, atravs da Biblioteca Digital DN.

    Autor: Fernando Alvim

    Ttulo: Amo-te Para Sempre

    Ideia Original e Coordenao Editorial:Miguel Neto

    Design e conceo tcnica de ebooks: Dania Afonso

    ESCRITORIO editora | www.escritorioeditora.com

    2012 os autores, DIRIO DE NOTCIAS, ESCRITORIO editora

    ISBN: 978-989-8507-21-1

    Reservados todos os direitos. proibida a reproduo desta obra por qualquer meio, sem o

    consentimento expresso dos autores, do Dirio de Notcias e da Escrit orio editora, abrangendo esta

    proibio o texto e o arranjo grfico. A violao destas regras ser passvel de procedimento judicial, de

    acordo com o estipulado no Cdigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos.

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    sobre o autor

    Fernando Alvim

    fundador e idelogo da revista 365, do Festival Termmetro, dos Monstros do Ano,

    do Festival Alternativo da Cano, da Grande Regata de Barquinhos a Remos e doTorneio de Golf para Nabos. J lanou mais de 5 livros em nome prprio e outros

    tantos pela editora que dirige, a Cego, Surdo e Mudo. criador e diretor da speaky.tv

    e colunista nos jornais I, metroe na revista Playboy. Apresenta, h mais de 10 anos,

    o programa Prova Oral, na Antena 3. Em televiso, apresentou os programas Curto

    Circuito, Cine XL, O Perfeito Anormal (criador), Boa Noite Alvim (criador), 5 Para

    a Meia-Noite e prepara agora o regresso para o nicio do ano. Desenvolve o blogue

    esperobemquenao.blogspot.com e o seu ltimo livro chama-se No s tu, sou eu(2012).

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    Amo-te Para Sempre

    Fernando Alvim

    Vou ser breve porque sei que no tm muito tempo. A minha histria esta, no

    uma histria que ir mudar as vossas vidas, nem to pouco ser referida nos jornais (a

    no ser neste), uma histria que mudou a minha, que me aconteceu a mim e decidi

    agora divulg-la porque tenho duas pessoas de arma em punho que a isso me obrigam.

    Eu conto, j disse. Foi num dia normal, tive um pequeno-almoo vulgar em que comi

    po de centeio e compotas variadas compradas na vspera. Adoraria dizer o tempo que

    fazia com pleonasmos sensacionais, mas honestamente no me lembro de como estava

    e no me importo com isso, apenas com estes quatro canos que me esto agora aponta-

    dos. A verdade esta: 1 Sa de casa; 2 Nesse dia tive reunies promissoras que mais

    tarde viriam a revelar-se incuas e escusadas; 3 No me lembro; 4 Lembro sim, no

    caminho para casa, ao final do dia, o que realmente pensava era em enfiar-me no sof

    (eu sei, vulgar, o que que querem?) e no ver telejornais e no acreditar em nada que

    me dissessem e fazer de conta que o mundo era sempre aquilo que me haviam dito parasonhar (sim clich, mas, com diabos, foi isto que aconteceu, no tenho rodriguinhos

    para encher o texto. Ou se calhar at tenho. Querem que o faa? Digam-me l. Posso

    fazer, no me custa nada. Querem ver? Olhem que lindo: o dia corria lento, os campos

    eram de uma imensido imensa e apadrinhavam o lago rfo que bracejava o dia ante-

    rior; por Deus, no me obriguem a isto, deixem-me l contar como foi). E foi assim: O

    telefone tocou uma, duas vezes e eu, segunda, atendi. Fi-lo a pensar que era uma ami-

    ga que me havia dito que num dia destes me haveria de dar um filho com o nome de

    Eduardo. No era. Era um amigo, sim, mas daqueles a quem dizemos que um dia vamosalmoar, sabendo que isso s uma desculpa para nunca o fazermos e andarmos para a

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    frente que os bancos fecham s trs. Disse-lhe que estava estafado, que j no sairia de

    casa, que me apetecia morrer, mas a sua insistncia e o meu bom dia capilar convence-

    ram-me do contrrio. Sa de casa, portanto, contrariado, portanto, como um puto a

    quem a me diz que ainda tem que fazer os deveres antes de ir para cama amuado,

    portanto mas fui. Fui mesmo. E depois de um jantar em que mais no fiz do que pedir

    a conta e dizer que se calhar j ia para casa, fui convencido por dois cristos no prati-

    cantes a ir sorver com delicada mincia um vinho branco do Douro primeiro Quinta

    do Pinto, depois Vila Real (eis o patrocnio desta histria) e depois um Licor Beiro

    com duas pedras de gelo (este conto est pago). A noite no ia longa, o meu amigo es-

    tava a atravessar uma fase complicada depois de ter ido para a cama com duas novatas

    raparigas ao mesmo tempo e, uma vez ali, s pensar nos filmes do Danny DeVito.

    Disse-lhe que se havia divorciado o DeVito, entenda-se que o meu preferido sem-

    pre tinha sido o Jackie Chan e que uma vez Deus me perdoe tinha feito amor com

    a minha mulher pensando na Bo Derek na cena em que ela d uma volta arena de

    cascais montada num cavalo e absolutamente desnudada. O meu amigo falou-me do

    milagre de Ftima, dos pastorinhos, da gua milagrosa e sob a gide da irm Lcia pediu

    gin para os dois, solicitando com percia profissional duas pedras de gelo. Foi a que ela

    entrou juro que foi a que ela entrou e, ao contrrio dos contos convencionais, no

    me apaixonei primeira vista porque nem sequer a vi. Tivesse visto e, sim, teria. Mas

    no vi. Vamos c ver, ouvi-a. Quando muito poder ter sido amor primeira audio.

    E isto porque foi indisfarvel a sua entrada, o ar atabalhoado com que o fizera, os doisaquecedores verticais no cho depois da sua passagem, o alarme a tocar em sinal de in-

    cndio, os seguranas a ocorrerem com celeridade ao local na tentativa de impedir que

    chamas consumissem, com fome de final de dia, a decorao de Halloween deixada na

    noite anterior. E com isto disse que era incio de Novembro (no fiz de propsito e se o

    digo porque de facto aconteceu). E quando se abeirou do bar e isto tambm ver-

    dade o meu instinto natural foi ligar aos bombeiros voluntrios mais prximos. E

    enquanto no a atendiam fixei-me nela e na indumentria csmica que trouxera e me

    fazia viajar para Marte, para a Lua e para aquele planeta que dizem ser igualzinho aonosso, mas a mil anos de distncia. H mulheres com a distncia deste planeta. E pen-

    sando nisto, lembrei-me que poderia convid-la a alinhar chacras um dia destes. Ela

    ainda no tinha parado de ajeitar-se desde que entrara como se o balco do bar fosse um

    espelho. Eu tambm no, como se estivesse ao espelho, a esse espelho, a compor o n

    da gravata instantes antes de ir para o casamento de um primo afastado. Perguntei-lhe

    de onde vinha, o que fazia ali, de onde era. Ela respondeu-me a tudo como se de um

    interrogatrio se tratasse. Perguntou-me: Devo responder a verdade, inspector? Disse-

    -lhe que sim, que o fizesse, caso contrrio o que ali me revelasse podia muito bem ser

    usado contra si um dia destes. Disse-lhe tambm isto: Oua, uma mulher to bonita, to

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    perspicaz, to inteligente e no entanto com a sua idade e sozinha, deve ter uma histria

    para me contar. Primeiro, silncio. Depois ficou a olhar para mim como se eu tivesse

    um pedao de comida entre os dentes. Depois recuou olhando sempre fixamente e, fi-

    nalmente, aps de uns bons dois minutos, quando pensava que tiraria spray de pimenta

    da carteira e premiria o dispositivo, decidiu rir-se e responder-me que sim (tinha, esto

    a ver). E, com verdade, contou-me a sua histria, mas jurei-lhe tanta confidencialidade

    que sou incapaz de aqui a reproduzir. (A literatura pode s vezes ter princpios, ouvi-

    ram? No tem que se contar tudo s porque se est a escrever. Isto de escrever no

    como estar embriagado. Um bbado sim, diz tudo tal como um louco. Alis, a diferena

    entre um louco e uma pessoa normal, que esta primeiro pensa e depois fala e o primei-

    ro faz justamente o oposto. Da gostar tanto do primeiro; enfim...). As horas passaram,

    j nem sequer estvamos no bar, j nem sequer estvamos no carro, j nem sequer est-

    vamos a tomar o pequeno-almoo, estvamos, isso sim, a ler os classificados no jornal e

    a comentar que os anncios de cariz sexual tinham mudado de estratgia. Anteriormen-

    te, em quase todos eles, anunciava-se com grande relevo que se daria uma segunda

    oportunidade. Disse-me: to nobre dar uma segunda oportunidade a algum, sobre-

    tudo quando tudo acaba tantas vezes de forma to precoce riu-se. No tenho dvidas

    respondi-lhe mas agora a estratgia mudou. As raparigas que aqui vendem o cor-

    po, no s do uma segunda oportunidade, como todas revelam que s ali esto por

    dificuldades econmicas. Acho que isso deve funcionar como um excitante para o pos-

    svel cliente. Pensar que pode ser uma oportunidade nica, que passada a crise e seno fosse ela no teria tamanha chance. Mas adiante. Aquele dia tinha acabado e os

    dias sucederam-se como j vem sendo hbito no calendrio. Os nossos encontros tam-

    bm. As conversas foram ficando cada vez melhores e insanas como se passssemos a

    vida a danar chuva e a faltar ao emprego. E o desejo? perguntam. O desejo tam-

    bm, mas no de uma forma plural, como eu desejaria. Era o meu desejo que crescia,

    entendem? E de que cada vez que a via, ele tornava-se insustentvel como o Ambiente

    para Al Gore. Pensam que no falo a srio, no ? Mas falo. Bastava um Ol, como es-

    ts? e era certinho que imaginava a sua boca na minha, um Podamos ir tomar qual-quer coisa e j estaramos na cama de um quarto de hotel em Innsbruck, um Tenho

    saudades tuas e roupas pelo cho no corredor de casa, Queres ir s compras? e amor

    ao ar livre perto das quedas de gua do rio Dunn. E o problema no era s isso no

    acontecer no era, no o problema, o grande problema quando amamos algum,

    que s essa pessoa nos poder dar o que queremos. E quando amamos algum o que dela

    queremos amor, do mesmo modo que quando vamos farmcia queremos medica-

    mentos. E houvesse um que nos fizesse esquecer quem amamos e no nos ama e aqui

    vos juro que o tomaria todo. As caixas que houvesse. Mas no havia. Nunca houve.

    Cheguei a dizer-lhe Temos 50 por cento para isto dar certo. So os meus 50 por cento.

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    Mas no havia forma de ela me dar percentagem, de negociarmos de algum modo um

    aumento, como tantas vezes fazem os lderes sindicais. O Armnio Carlos resolveria

    isto num tomo, mas eu no sou o armnio Carlos e duvido bem que a CGTP me pudes-

    se ajudar. At que um dia ela me disse Ouve, o problema no s tu. ela. Vou repetir.

    O que ela disse foi: O problema no s tu, ela. E nesse preciso instante, abriu o tele-

    mvel que trazia na mo e virando o visor para mim mostrou-me quem ela era (se no

    se importam, vou fumar um cigarro para vos contar esta parte). Eu sentado a pensar na

    vida. Eu a ver a foto e a pensar naquilo em que estava metido. Ou naquilo em que no

    estava. Eu a dizer ai a p*** da minha vida e a abanar muito com a cabea como se no

    tivesse entregue o boletim de voto. Eu a dizer c dentro muitos palavres, daqueles in-

    decorosos que merecem pimenta na lngua. Eu ou o resto de mim. Mais o resto. As

    coisas complicaram-se, sim. E a situao era delicada, sim. Alis, no me perguntem

    porqu, mas imaginei-me nesse preciso instante a ir ao mdico com ela para que este

    analisasse o nosso caso e depois de duas horas de impaciente espera no corredor, eis que

    o vejo a ele, ao mdico a sair do gabinete, com a sua bata branca, cerimonioso, dan-

    do circunstanciais bafos no cachimbo, de passada firme at chegar a mim e dizer-me em

    tom circunspecto: Oua, o prognstico muito reservado. V-se preparando para um

    cenrio eventualmente pior do que imaginava. E eu com as mos na cabea como se

    tivesse perdido a minha fortuna. Eu com as mos na cabea por no ter entregue o bo-

    letim do Euromilhes que tinha justamente os nmeros que agora haviam anunciado

    na televiso. Mas era ainda pior. Muito pior. minha frente no tinha esse boletimcom os nmeros mgicos, mas o telemvel dela e a fotografia que me apresentara. E a

    partir da era nela que pensava, em ambas, certo, mas sobretudo naquela fotografia e

    na forma como lhe poderia fazer uma circunstancial fotossntese. E nesse dia pensei: O

    que pode dar uma mulher a outra que eu no possa? Que comportamentos tero? De

    que falaro elas? O que gostaro de fazer quando esto juntas? E buscando as respostas

    com a rapidez que me parecia necessria, mergulhei no mundo feminino de uma forma

    que nunca antes experimentara. Comprei revistas de mulheres, li toda a espcie de ho-

    rscopos, visitei lojas e experimentei roupas justas, escutei conversas sobre personaltrainers, percebi finalmente porque andam sempre juntas, analisei minuciosamente

    como falam e de que falam, e cheguei concluso de que outra soluo no me restaria

    do que comportar-me como uma delas, para justamente ter uma delas. E foi o que fiz.

    E ao contrrio do que possam pensar, os resultados foram muito melhores do que eu

    prprio previra. Os dias passaram a ser mais intensos, as palavras mais acintosas, a con-

    versa mais fluida e exaltante, e de repente aumentmos para o dobro o tempo em que

    estvamos juntos, triplicmos as sadas, quadruplicmos os telefonemas e as mensa-

    gens, aumentmos tudo muitas vezes, tudo, tudo muito. Com excepo do que ela sen-

    tia por mim, que era muito pouco. E quando lhe perguntava se algo mudara, ela respon-

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    dia-me (esta parte deve ser ouvida com eco, em repeties cada vez mais distantes):

    Sabes que te faltar sempre qualquer coisa. Que tu no me podes dar o que ela d.

    Repitam: Sabes que te faltar sempre qualquer coisa. Que tu no me podes dar o que ela

    d. E eu ficava furioso e apetecia-me tomar todos os antidepressivos que houvesse no

    mundo. Convenhamos, a nossa relao era perfeita, os dias eram maravilhosos e eu

    sentia que tinha de fazer algo, uma jogada estonteante e imprevisvel que levantasse um

    estdio, dois at, o Maracan, Salt Lake, a Wembley Arena, e que de uma forma decisi-

    va e absoluta me tornasse mais pleno a seus olhos. E se era ela que eu queria a minha

    vida toda, o que quer que fizesse seria tambm para toda a sua vida. E foi ento que

    pensei: E se mudasse de sexo? Abandonasse este corpo em busca de outro? E se uma

    cirurgia me fizesse ficar mais completo ou, neste caso, mais completa aos olhos dela?

    Por que no? perguntei-me. Se a ela que eu quero, se de mulheres que gosta, pois

    eu serei a mulher mais inteira que alguma vez encontrar decidi. E assim fiz. E pensei

    que j nesta vida teria sido uma menina, porque me lembrava bem do meu progenitor

    me dizer frequentes vezes na infncia Um dia, quando cresceres, ainda vais ser um

    homenzinho. O que provava que o no era na altura e fez com que isto mais no fosse

    que um regresso s origens. E ento, tomada a deciso, disse-lhe em tom firme de quem

    no vai mudar de sexo coisssima nenhuma: Ouve, vou desaparecer por uns dias, tenho

    uma viagem importante a fazer. Daqui a duas semanas regresso e vers que sou tudo o

    que desejas e ainda no sabes. Como sempre riu-se, como sempre no acreditou em

    mim, como sempre duvidou que eu seria capaz e no juntou mais por cento aos meus50 por cento. Riu-se, foi o que fez. E acrescentou em tom jocoso que gostaria muito que

    esse dia chegasse, mas que haveria sempre algo que nos separaria, algo que me tornava

    incompleto. (Repetir como nos filmes: Sabes que te faltar sempre qualquer coisa. Que

    tu no me podes dar o que ela d!) A deciso estava tomada e eu sentado numa janela

    perto da asa esquerda, em direco a uma clnica de inquestionvel reputao que me

    prometera confidencialidade e ajuda na escolha de um novo nome prprio. Chegado a,

    ainda tentei ligar-lhe, ainda tentei que algo me demovesse, tive esperana que as suas

    chamadas no atendidas me dessem uma qualquer desculpa, me fizessem abdicar desteplano, como s vezes acontece com a chuva e o ginsio: Olha, est a chover, pronto,

    no vou ao ginsio. Mas isto no d para mudanas de sexo: Olha, est a chover, pronto,

    no vou mudar de sexo. Isto era s eu a ganhar tempo. A deciso estava tomada; se eu

    queria ser um homem, teria que ser uma mulher. Assim fiz. Deitei-me na sala de opera-

    es sabendo que dormiria como Pedro e acordaria como Snia. E mal acordei, nesse

    novo dia, imediatamente pensei em duas coisas: mudar o gnero no bilhete de identidade

    e ligar-lhe o quanto antes. E dando prioridade segunda por sempre ser ela a primeira

    liguei de forma sfrega o telemvel. E foi a, antes mesmo de conseguir marcar o seu

    nmero, que uma mensagem saltou no meu visor. Dizia isto: Cheguei concluso de que

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    te amo. Amo-te, ouviste? No mudes nada. Quero-te como s para toda a minha vida.

    Para sempre.

    Este texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia.

    Para aceder aos restantes contos visite: Biblioteca Digital DN

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