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    A TICA NO LIVRO DE AMS: O PROFETA DOS

    POBRES, FRACOS E OPRIMIDOS

    por Julio Cezar Lazzari Junior1

    Resumo: Injustia social no tem poca. Parece onipresente eatemporal. Ao ler o livro de Ams, temos a sensao dele ter sidoescrito em nossa gerao. Este documento que faz parte dasEscrituras dos judeus e dos cristos, um grito de protesto contra a

    injustia, opresso e indiferena. Ams foi um homem corajoso.Denunciou os abusos sociais dos homens poderosos de sua poca.No se intimidou com os perigos de se levantar contra reis esacerdotes. Protestou contra a diferena polar na distribuio deriqueza. Censurou a hipocrisia e a prtica religiosa destituda de amor,misericrdia e justia. Assim, seus vaticnios so usados por profetas,poetas e socialistas de todos os tempos, mesmo pelos que nuncaconheceram seus escritos, mas que repetem suas idias essenciais.Palavras-chave: Ams; injustia; direitos; pobres.

    Abstract: Social injustice havent time. It seems timeless andomnipresent. Reading the Book of Amos, we feel it has been written inour generation. This document is part of the Scriptures of Jews andChristians is a cry of protest against injustice, oppression andindifference. Amos was a brave man. He denounced the abuse ofsocial powerful men of his time. Do not if intimidated with the dangersto get up against kings and priests. Protested against the polar

    difference in distribution wealth. Criticized the hypocrisy and religiouspractice devoid of love, mercy and justice. Thus, his predictions areused by prophets, poets and socialists of all times, even by those whonever knew his writings, but repeated their key ideas.Keywords: Amos; injustice; rights; poor.

    1 Bacharel em Teologia, tecnlogo em Comunicao em Marketing, ps-graduado em Marketing

    Internacional (Uninove), ps-graduado em Cincias da Religio (PUC) e mestrando em Filosofia (USJT).

    E-mail:[email protected] .

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    A tica no livro de Ams: o profeta dos pobres, fracos e oprimidos

    [92]

    Introduo: fundo histrico da poca de Ams

    Ams foi um profeta que viveu na poca dos reis Uzias e

    Jeroboo II (cf. Am 1:1), do sul e do norte de Israel, respectivamente.

    Morava numa cidade chamada Tecoa, a qual ficava a dez quilmetros

    ao sul de Belm da Judia. Foi contemporneo dos profetas Osias e

    Isaas, segundo nos informam os livros dos prprios profetas nos

    primeiros versculos (cf. Os 1:1; Is 1:1; Am 1:1); tendo exercido o seu

    ministrio proftico entre os anos 786 e 746 a.C., de acordo com

    Champlin (cf. Champlin, 2001, p. 3505).2

    No estudou em escola deprofetas, no teve treinamento teolgico, mas era um homem do

    campo, simples, sendo chamado de boiadeiro, pastor e criador de

    sicmoros, uma rvore da famlia da figueira (cf. Hoover, 2008, p.79).

    O profeta Ams direcionou as suas profecias tanto para o reino

    do norte, cuja capital era Samaria (cf. Am 4:1), como para o reino do

    sul, cuja capital era Jud (cf. Am 2:4), bem como, tambm, para outras

    naes (cf. Am 1:3 2:3). Para situar o leitor no pano de fundo

    histrico que a Bblia fornece sobre a diviso de Israel em dois reinos,

    norte e sul, cito o trecho de um artigo de minha autoria, que explica

    sumariamente a situao:

    O reino unificado de Israel teve fim quando o reiSalomo faleceu e as tribos do norte foram at Roboo,o novo rei, pedir alvio na carga tributria. Roboo,seguindo o conselho impetuoso dos jovens quecresceram com ele, com palavras duras deu a entenderque no s manteria os altos impostos, como os

    2

    ABblia de Jerusalm (BJ) afirma que Ams pregou no perodo de 783 a 743 a.C. (p. 1246).

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    aumentaria, provocando grande revolta entre apopulao, liderada por Jeroboo, que veio a se tornar orei das tribos nortistas. A partir da houve separaoentre as tribos do norte e do sul, na poltica e na religioe, algum tempo depois, Samaria se tornou a capital doreino do norte, enquanto Jerusalm a capital do reino dosul (1 Rs 12). (Lazzari Junior, 2011, p. 31)

    Assim, o leitor pode ler a referncia bblica citada e conferir a

    informao fornecida pela Bblia Hebraica. Apesar da diviso poltica e

    religiosa provocada no antigo reino unificado, segundo a Bblia, e dodio e das guerras que tudo isso gerou3, a mensagem de Ams se

    dirige aos dois reinos, sem distino, como se ambos,

    independentemente de suas brigas, fossem responsveis diante de

    Deus pela forma como agiam. Ou seja, um povo poderia pensar mal

    do outro e Jud poderia ver Israel como apstata por ter abandonado

    o local oficial do culto divino, mas Ams trata ambos comoresponsveis por suas aes perante o prximo, como povos a quem

    Deus tem seus olhos atentos para suas obras.

    Ams exerceu o seu ministrio numa poca de prosperidade,

    mas de profundas inverses de valores e de princpios ticos.

    Segundo o texto bblico, Jeroboo II reinou em Samaria, norte de

    Israel, por 41 anos (cf. 2 Rs 14:23). Em sua poca, o territrio de Israel

    foi expandido (cf. 2 Rs 14:25,28). Do lado do sul, Uzias fez um grande

    reinado, ficando no poder por 55 anos4 (cf. 2 Cr 26:3). Uzias

    3 Para conferir uma das guerras entre os reinos do norte e do sul, ver 2 Cr 16.

    4 Segundo a Almeida revista e corrigida (ARC). E 52 anos, segundo a Bblia de Jerusalm (BJ) e outras

    tradues.

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    conquistou alguns territrios filisteus e rabes (cf. 2 Cr 26:6,7) e sua

    fama chegou at ao Egito (cf. 2 Cr 26:8). Ele tambm construiu torres

    na capital do sul, Jerusalm, cavou poos, fortificou o seu exrcito (cf.

    2 Cr 26:9-11) e at era um engenheiro da guerra, inventando armas

    para derrotar os seus inimigos (cf. 2 Cr 26:14,15).

    As referncias citadas nos do um claro cenrio histrico em

    que Ams se situava. A Bblia de Jerusalm(2008) tem um comentrio

    sobre Am 1:1, que cita um terremoto:

    Esse terremoto , talvez, atestado pelas escavaesarqueolgicas de Hasor, na Galilia superior; deve sersituado nos meados do sculo VIII a.C. De acordo comZc 14,5 (LXX), em conseqncia desse sismo, os valesforam obstrudos. (ibidem, p. 1612)

    Assim, se a data fornecida pelo comentrio da Bblia de

    Jerusalmest de acordo com a arqueologia para o terremoto citado

    no texto bblico, ento a data do terremoto seria a mesma em que o

    profeta Ams viveu, no sculo VIII a.C., como informamos no incio.

    A Bblia ainda nos fornece um cenrio onde havia muita

    prosperidade econmica, o territrio de Israel havia se alargado, a

    agricultura recebeu cuidados especiais (cf. 2 Cr 26:10), torres parasentinelas foram construdas e armas de guerra existiam em

    abundncia, o que dava bastante segurana para os israelitas.

    Embora na anlise espiritual Jeroboo II tenha sido reprovado (cf. 2 Rs

    14:24), no sentido poltico-econmico ele foi timo. Uzias, apesar da

    sua soberba ao final da vida, alargou os territrios israelitas e trouxe

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    prosperidade para o seu povo. A fama de Israel tinha se espalhado

    para outros pases. As promessas do pacto mosaico estavam se

    cumprindo e tudo parecia correr muito bem.

    Entretanto, a prosperidade, a fama e a segurana so coisas

    boas que buscamos, mas muitas vezes so seguidas de indiferena

    para com os pobres, soberba, egosmo e desejo de acumular mais e

    mais, custe o que custar. Isso no quer dizer que todos os ricos,

    famosos e prsperos tenham tais adjetivos negativos, mas sabemos

    que h uma tendncia muito grande do rico explorar o pobre e ignoraros direitos dos mais fracos. Os direitos conquistados pelos pobres e

    minorias foram adquiridos com muita luta, dificuldade, suor, lgrimas e

    sangue. neste cenrio de indiferena, explorao, desigualdade,

    injustia e falta de amor que o profeta Ams levanta a sua voz e

    convida os homens a se voltarem para Deus, que justo e no aceita

    que os direitos do prximo sejam violados.

    A tica de Ams no o permite ver atos de crueldade contra o

    prximo

    Vejamos o que diz o profeta sobre o enunciado do ttulo deste

    captulo:

    Assim diz o Senhor: Por trs transgresses de Gaza, epor quatro, no retirarei o castigo, porque levaram emcativeiro todos os cativos para os entregarem a Edom.(Am 1:6 ARC)

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    Os habitantes de Gaza tinham no trfico de pessoas uma

    prtica comercial comum. Segundo Champlin, eles

    capturavam comunidades inteiras especificamente como propsito de fazer lucro mediante o comrcio deescravos. Os cativos eram vendidos em leiles nosmercados de escravos em Edom. Dali, eram conduzidosa outras pores do mundo. (Champlin, 2001, p. 3510)

    Homens eram separados de suas esposas e filhos eram vendidos para

    outros povos. Edom, nao que descendeu de Esa, irmo de Jac,cooperava com este comrcio anti-humano. O trfico de pessoas era

    punido na Lei de Moiss com a pena de morte. Os homens de Gaza,

    conhecidos na Bblia como filisteus, aproveitavam-se das guerras que

    venciam, levavam homens como despojos a Edom, que os repassava

    para outras naes. Os srios, especialmente a capital Damasco,

    tambm cooperavam com o trfico de homens, levando-os tambm

    para Edom (Am 1:3). Alm do desespero da guerra, que deixa

    destruies irreparveis, mulheres e crianas tinham que ver seus

    maridos e pais sendo levados para outros pases. Eles nunca mais se

    veriam. Ams, vendo que a maldade tinha alcanado graus

    intolerveis, proclama que Gaza e Damasco seriam recompensadasno seu devido tempo, se no houvesse mudana de conduta.

    O profeta continua seu sermo ao dizer:

    Assim diz o Senhor: Por trs transgresses dos filhos deAmom, e por quatro, no retirarei o castigo, porquefenderam o ventre s grvidas de Gileade, para

    dilatarem os seus termos. (Am 1:13 ARC)

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    Assim diz o Senhor: Por trs transgresses de Moabe, epor quatro, no retirarei o castigo, porque queimou osossos do rei de Edom, at os reduzir a cal. (Am 2:1 ARC)5

    A expresso por trs transgresses dos filhos de Amom, e por

    quatro, no retirarei o castigo, significa que eles j tinham

    ultrapassado os limites. Para eles, os fins justificavam os meios. No

    havia qualquer princpio tico nas relaes internacionais. Mesmo em

    guerras, existem regras e limites. Amom ignorou tudo isso. Seuslderes praticavam atos de crueldade de modo intolervel. Ao fazerem

    guerras contra outras naes, com o objetivo de alargarem seus

    territrios, chegaram a abrir os ventres das mulheres grvidas. As

    pobres gestantes, alm de verem seus maridos e filhos assassinados

    em invases motivadas pela ganncia, eram brutalmente mortas,

    tendo seus ventres rasgados por homens sanguinrios, quearrancavam o feto com as mos, fazendo cesarianas precoces sem

    anestesia, com espadas afiadas, matando sem misericrdia. incrvel

    como o desejo por conquista cega os homens, fazendo-os

    ultrapassarem todos os limites da tica, da misericrdia, do respeito ao

    prximo. Ams no suportou saber de tais acontecimentos e sua

    indignao contra essa crueldade o levou a sentenciar o castigo da

    nao de Amom, visto que todos os limites j tinham sido

    5 Para o leitor que quiser conferir como a Bblia explica a origem dos povos amonitas e moabitas, ver Gn

    19:36-38, onde ambos teriam sido originados do incesto de L com suas duas filhas.

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    ultrapassados. A crueldade de Amom impedia Ams de ficar calado,

    ainda que oficialmente ele no fosse um profeta.

    Moabe no teve comportamento muito melhor do que seu

    irmo Amon. Nem mesmo os mortos eram respeitados. Existe algum

    mecanismo em nossa mente que nos leva a acharmos as pessoas que

    morrem melhores do que elas realmente foram. Talvez seja um

    recurso do nosso crebro que visa no guardarmos rancor dos

    falecidos, pelo menos esquecendo o que eles fizeram de mal. Mas os

    moabitas j tinham ultrapassado este estgio havia algum tempo. Osossos do rei de Edom tinham sido queimados. Os tmulos eram

    violados. Era uma forma cruel de desrespeitar a famlia e o povo de

    Edom. Champlin conjectura que

    talvez eles [os hebreus] embalassem a noo de quequalquer forma de cremao seria feita em detrimentodo esprito que estava no outro lado da existncia.(Champlin, 2001, p. 3511)

    Os moabitas, talvez querendo prejudicar os vivos e as almas que j

    tinham partido, queimaram os ossos do falecido rei6. Violar tmulos

    desrespeitar os sentimentos dos vivos, as crenas, a reverncia e

    sensibilidade que existem neste momento de dor. Ams tambm notolerou tal falta de sentimento e anunciou a sentena contra os

    moabitas, que tambm tinham ultrapassado os limites.

    6A Bblia de Jerusalm diz o seguinte: A incinerao, que devia tornar a alma infeliz na outra vida, era

    para o semita crime abominvel. (p. 1614).

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    Ams fala sobre os direitos dos pobres

    E se deitam junto a qualquer altar sobre roupas

    empenhadas, e na casa dos seus deuses bebem ovinho dos que tinham multado (Am 2:8 ARC)

    Os homens ricos da sociedade israelita antiga no saam no

    prejuzo em circunstncia alguma. Criavam meios de ganhar dinheiro

    de todas as formas e arrancar o mximo que podiam dos menos

    favorecidos. Quando a explorao chegava ao limite, a ponto do pobreno ter mais de onde tirar recursos, at mesmo suas roupas eram

    penhoradas como garantia. A Lei de Moiss exigia que a restituio de

    uma roupa penhorada fosse feita antes do pr-do-sol (cf. Ex 22:26-27).

    Entretanto, esse preceito da Lei era ignorado pelos rprobos, os quais,

    certamente, achavam brechas na lei para executar tudo o que

    desejavam.O profeta continua a registrar suas queixas:

    Fazei ouvir isso nos palcios de Asdode, e nos palciosda terra do Egito, e dizei: Ajuntai-vos sobre os montesde Samaria, e vede que grandes alvoroos no meiodela, e os oprimidos dentro dela. (Am 3:9 ARC)

    E derribarei a casa de inverno com a casa de vero; eas casas de marfim perecero, e as grandes casastero fim, diz o Senhor. (Am 3:15 ARC)

    No reino do norte havia opresso contra o pobre. Isso estava

    chegando aos ouvidos das outras naes. A prosperidade econmica

    conquistada por Jeroboo II no chegava ao povo. Como costuma

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    ocorrer na histria, o rico esmaga o pobre. O padro tico do profeta o

    impulsionava a protestar contra a distribuio injusta de riquezas, a

    qual levava o pobre a ficar mais pobre, como costuma acontecer

    principalmente em pases subdesenvolvidos. Devemos ter em mente

    que Israel era uma nao pequena e limitada, em comparao com as

    grandes potncias. Tal falta de estrutura levou a prosperidade

    econmica a no beneficiar a nao como deveria. Ams pinta um

    quadro onde os ricos viviam em casas de marfim, enquanto os pobres

    eram oprimidos. No s as casas, mas at as camas eram feitas destematerial caro e precioso (Am 6:4). Segundo Champlin, a arqueologia

    evidencia que nesta poca

    seus leitos eram decorados com engastes demrmores, com representaes de lrios, veados, lees,esfinges e figuras humanas aladas. Foi um perodo de

    vida ociosa, riqueza, arte e lassido moral. (Champlin,2001, p. 3505)

    Os ricos so acusados de no fazerem o que reto, ou seja,

    de no exercerem o direito (cf. Am 3:10). Eles no s entesouravam

    riquezas, como tambm violncia e destruio. a filosofia dos fins

    que justificam os meios. O prazer era o fim principal das vidas desteshomens, ainda que para alcanar este alvo tivessem que pisar nos

    pobres e oprimidos. Ams enxergava Yahwehcomo um Deus justo,

    piedoso, bondoso, que no tolerava o acmulo injusto de riquezas. A

    sua lei revelava-o como um ser que cuida dos pobres e ordenava que

    o seu povo fizesse o mesmo.

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    O cenrio visto por Ams vvido, forte, terrvel. Os ricos, que

    viviam em tranquilidade absoluta (cf. Am 6:1), perderiam tudo o que

    tinham e seus bens seriam dissolvidos. O prprio inimigo de Israel

    seria o executor da justia, fazendo-o colher exatamente aquilo que

    plantou. As fortalezas seriam derrubadas e os palcios saqueados

    (Am 3:11). Os ricos injustos eram os maiores alvos das duras crticas

    do profeta boiadeiro. Na poca em que ele profetizou, Israel ainda no

    tinha sofrido sob os cativeiros assrio e babilnico, os quais quase

    extinguiram os descendentes de Jac da face da Terra. Ams anunciaque os ricos opressores seriam os primeiros a serem levados para o

    cativeiro (cf. Am 6:4-7). Segundo algumas referncias bblicas, sua

    predio se cumpriu poca do cativeiro babilnico, onde o primeiro a

    ser preso foi o rei, junto com seus filhos (cf. 2 Rs 25:5-7), seguido

    pelos sacerdotes (cf. 2 Rs 25:18) e pela cpula real (cf. 2 Rs 25:19).

    Tudo isso acontece paralelamente destruio do templo, do palcio

    real, dos muros da cidade e das casas dos homens poderosos em

    Jerusalm (cf. 2 Rs 25:9,10). O simples profeta, homem sem muita

    cultura, trabalhador do campo, anuncia o futuro dos homens

    poderosos e opressores, os quais ignoravam princpios ticos nas

    relaes interpessoais, deixando de lado o rfo, a viva, o pobre, epensavam apenas em enriquecer, acumular bens, cultivar o prazer,

    no se importando se tudo aquilo era conquistado s custas do

    trabalho dos que possuam muito pouco e no tinham qualquer direito

    de aproveitar as coisas boas da vida. A semente da opresso havia

    sido plantada e no devido tempo eles colheriam esses frutos.

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    A queixa do profeta segue livre curso:

    Portanto, visto que pisais o pobre, e dele exigis um

    tributo de trigo, edificareis casas de pedras lavradas,mas nelas no habitareis; vinhas desejveis plantareis,mas no bebereis do seu vinho. (Am 5:11 ARC)

    Uma das maneiras de empobrecer uma nao impondo uma

    alta carga tributria e no retribuir estes impostos em benefcios para

    as pessoas. Em muitos pases do mundo, em especial na frica, os

    lderes nacionais vivem vidas luxuosas, enquanto a populao sequertem o que comer. Enquanto estava no auge, Saddam Hussein vivia no

    luxo, tendo torneiras de ouro em seu palcio, enquanto os iraquianos

    sempre foram muito pobres. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro

    de Planejamento Tributrio (IBPT) a carga tributria ficou em 35,13%

    do PIB, em 2010 (cf. Alvarenga, 2011). Segundo o mesmo instituto, o

    brasileiro precisa trabalhar 149 dias por ano para pagar todos os

    impostos nas esferas federal, estadual e municipal. Para termos a

    noo de quanto trabalhamos, a pesquisa do IBPT aponta que nos

    Estados Unidos o trabalhador dedica 102 dias de trabalho em um ano

    para pagar tributos (cf. Falco, 2011). O salrio de um deputado

    federal, no nosso pas, de 26,7 mil reais, em junho de 2011 (cf.Bresciani, 2011). Por outro lado, dados do Censo 2010 do IBGE

    informam que 56% dos lares brasileiros tm renda per capita (por cada

    habitante do lar) menor que um salrio mnimo por ms 510 reais na

    poca em que a pesquisa foi realizada (cf. Mais da metade..., 2011).

    Se Ams vivesse em nossos dias, ele estaria protestando de maneira

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    veemente contra o quadro de injustia social e m distribuio de

    renda. Polticos de diversos cargos seriam alvos de sua crtica por

    causa da explorao por meio dos impostos e da no-devoluo

    destes recursos em benefcios.

    Ams continua a falar:

    Porque sei que so muitas as vossas transgresses, eenormes os vossos pecados: afligis o justo, tomaisresgate, e rejeitais os necessitados na porta. (Am 5:12

    ARC)

    Alm de serem tributados injustamente e explorados, os pobres

    tambm eram deixados de lado quando procuravam a justia. A porta

    o termo utilizado para falar do lugar de julgamento, onde os

    magistrados atuavam.7 Apesar da prosperidade, Israel era uma nao

    corrupta. Como costuma ocorrer, os pobres so preteridos na hora dereceberem o que tm direito. Os ricos afligiam o justo, subornando os

    juzes e comprando sentenas. O profeta no tolerou ver homens

    revestidos de autoridade sendo corrompidos de modo to baixo,

    tomando decises com base no poder aquisitivo dos indivduos. Se

    Ams vivesse em nossa sociedade, certamente ele teria muitos

    processos judiciais contra si. Isso porque as crticas dele no eram

    genricas, como dos apresentadores sensacionalistas de televiso,

    mas tinham nome e endereo. Ele no se intimidou em censurar os

    poderosos da sociedade, pois no estava interessado no que eles

    7 ANova verso internacional (NVI) traduz parte deste versculo assim: Vocs oprimem o justo, recebem

    suborno e impedem que se faa justia ao pobre nos tribunais.

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    tinham a oferecer. comum vermos Igreja e Estado andando de mos

    dadas para desfrutarem do poder que um pode proporcionar ao outro.

    Para um homem como Ams, isso seria impensvel. Ele no aliviaria

    os seus discursos pesados por interesses polticos. No podia ignorar

    que somente os pobres eram punidos, enquanto os ricos criminosos

    estavam em paz e tranquilos.

    Ams pe a sua cabea em risco ao defender os fracos e

    atacar os opressores. Quem est no poder no quer modificaes. As

    mudanas normalmente surgem como reivindicaes de quem noest satisfeito. Comumente h perseguio, censura, calnia e

    opresso. O poder estabelecido, geralmente da religio e do Estado,

    busca calar a boca destes profetas, sejam religiosos, sejam

    comunistas ateus, sejam filsofos, sejam quem forem. O sacerdote,

    representando a religio estabelecida, denuncia Ams diante do rei (cf.

    Am 7:10), pois o profeta tinha anunciado a espada contra Jeroboo II

    (cf. Am 7:9). O profeta convidado a se retirar do norte e ir para o sul

    (cf. Am 7:12,13). O que ele pregava incomodava a elite. Nenhum

    homem que se levante contra a corrupo do sistema deixa de ser

    perseguido. Nenhuma pessoa que tenha elevados padres ticos, que

    tem compaixo, vive em plena tranquilidade. O poder estabelecidovende a idia de que tudo est timo. A propaganda falsa costuma ser

    uma das armas do sistema corrupto, mentiroso e injusto.

    Ams era uma pessoa sensvel e inteligente, apesar de ter sido

    um homem simples. A sabedoria no vem apenas dos ttulos

    acadmicos, mas da vivncia. A inteligncia no escrava do

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    conhecimento, mas amiga da sensibilidade e da sensatez. O profeta

    no podia ficar quieto ao ver a nao prosperar em todos os sentidos,

    mas continuar sendo desigual.

    A religio vazia da gerao de Ams

    Apesar do cenrio de corrupo moral que existia em Israel

    poca de Ams, as pessoas no deixaram de ser religiosas,

    contrastando com o comportamento dos hebreus quando voltaram do

    exlio da Babilnia, onde at mesmo os sacrifcios da religio judaicaforam negligenciados (cf. Ag 1:3-9; Ml 1:6-8,12-14; 3:8-10). Todavia,

    na poca de Ams os preceitos da lei mosaica eram obedecidos com

    rigor e os rituais eram feitos com muita dedicao. Certamente os

    sacerdotes tambm participavam da corrupo moral que existia em

    Israel, mas ficavam satisfeitos porque o povo trazia os sacrifcios que

    estavam ordenados na Tor, os quais eram desfrutados por eles.

    As prticas religiosas dos contemporneos de Ams so

    descritas por ele. Vejamos:

    Aborreo, desprezo as vossas festas, e as vossasassemblias solenes no me do nenhum prazer.

    E, ainda que me ofereais holocaustos, e ofertas demanjares, no me agradarei delas: nem atentarei paraas ofertas pacficas de vossos animais gordos.Afasta de mim o estrpito dos teus cnticos; porque noouvirei as melodias dos teus instrumentos. (Am 5:21-23 ARC)

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    A tica no livro de Ams: o profeta dos pobres, fracos e oprimidos

    [106]

    Este discurso irritou a cpula sacerdotal, visto que os rituais do

    templo so tratados como inteis, pois eram feitos por uma gerao

    que vivia uma religio vazia, desprezando o amor ao prximo, o

    respeito, a justia. Os religiosos acreditavam que os sacrifcios por

    eles oferecidos cancelavam os seus pecados, as suas maldades,

    como se aps cada oferenda aos sacerdotes, as contas deles fossem

    zeradas. O profeta alfineta, com seus duros discursos, a conscincia

    de quem cria que rituais eram mais importantes do que carter. Pior

    ainda, ele censura os homens que acreditavam que os rituais dareligio permitiam a eles viverem de maneira injusta.

    Em contraste com o ritual vazio, Ams demonstra o que deve

    acompanhar a verdadeira religio: Corra porm o juzo como as

    guas, e a justia como o ribeiro impetuoso (Am 5:24 ARC). A

    religio cheia de rituais, metdica, com generosidade nas doaes

    para o templo, de nada valia se no houvesse amor ao prximo. O

    profeta exorta aos seus ouvintes e leitores de que nada vale ser

    religioso se no for justo. Nenhuma religio que oprime os pobres,

    fracos, minorias ou quem quer que seja boa. Ams certamente

    observava a hipocrisia daqueles homens ao terem aparncia de

    piedade. Em um paralelo a este assunto, embora contextualizando oritual ao da Igreja Catlica, Leonardo Boff diz o seguinte:

    Como celebrar dignamente, consoante a natureza doprprio gesto de Jesus, a eucaristia num mundo deinjustias e de violaes dos direitos humanos? Pode-seater-se somente ao aspecto pessoal de adorao? Queligao existe entre culto eucarstico e justia e

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    Espiritualidade Libertria, So Paulo, n. 3, 1. sem. 2011, pp. 91-111.

    [107]

    fraternidade? Esta questo nos coloca no corao dodiscurso proftico, no cerne da preocupao de S.Paulo quando fala da eucaristia, finalmente, no prprioensino de Jesus conservado pelo evangelista S.Mateus. (Boff, 1984, pp. 107-108)

    Boff contrasta o ato do sacrifcio de Cristo com a frase a

    natureza do prprio gesto de Jesus com a celebrao da eucaristia,

    que representa o ato do sacrifcio em prol de todos. O telogo

    questiona a ligao entre o rito e a ao, entre a prtica religiosa e a

    relao com o prximo, inclusive citando, alm do ensino de Jesus, o

    discurso de Paulo aos corntios, onde, segundo escreve o apstolo, os

    cristos participavam da Ceia mas ajudavam a aumentar o sofrimento

    de quem praticamente no possua nada (cf. 1 Co 11:17-22). A crtica

    de Boff se dirige ao mesmo tipo de pessoas que Ams censurou.

    Indivduos que se preocupavam mais com a religio do que com o serhumano que deve ser beneficiado por ela. Eram pessoas que

    acreditavam que Deus se importava mais com os ritos do que com a

    justia e a misericrdia.

    Para agravar ainda mais o baixo nvel da gerao da qual

    estamos falando, ela no queria qualquer tipo de mudana, pois sua

    vida confortvel, para aquela mentalidade, era sinal de aprovao

    divina. A liderana religiosa no queria receber qualquer tipo de

    repreenso (cf. Am 7:13). Talvez o sacerdote, com todo o

    conhecimento e pompa que tinha, tenha se sentido ultrajado ao ser

    corrigido por um simples homem do campo. Quem era ele para falar

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    A tica no livro de Ams: o profeta dos pobres, fracos e oprimidos

    [108]

    com tal ousadia? Aquela gerao era soberba (cf. Am 6:8) e nenhum

    discurso sobre tica a faria mudar sua conduta.

    Ams, com muita persistncia, convida os habitantes do norte a

    olharem para Calne, Hamate e Gate, para carem em si e enxergarem

    que estavam se superestimando (cf. Am 6:2). Calne e Hamate,

    localizadas ao norte de Ar, teriam sido dominadas pela Assria entre

    854 e 845 a.C., aproximadamente. Gate teria sido destruda por

    Hazael, rei de Ar, em 815 a.C. (cf. Champlin, 2001, p. 3524). Os

    samaritanos deveriam olhar para estas cidades e ver que o mesmoaconteceria a eles, se continuassem a serem prepotentes e injustos.

    Israel no tinha motivos para crer que era melhor do que estas

    cidades, as quais, na sua exaltao, foram humilhadas.

    A insistncia de Ams intil, pois os ricos daquela gerao

    continuariam esmagando os pobres e miserveis (cf. Am 8:4) e

    fazendo da justia algo amargo (cf. Am 5:7; 6:12). Aqueles que tinham

    tido oportunidade de estudar e ter uma criao diferenciada eram os

    mais insensveis. O conhecimento da Tor no os levou a terem bons

    princpios ticos e a serem homens de bem. A verdade ecoa sua voz

    atravs do boiadeiro, que repreendeu os reinos do norte e do sul de

    Israel, bem como as outras naes que ignoravam os direitos doprximo e cometiam barbaridades.

    Consideraes finais

    O cenrio visto e criticado por Ams se repete a todo o

    momento, em toda a histria. Este diagnstico pode nos causar um

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    Espiritualidade Libertria, So Paulo, n. 3, 1. sem. 2011, pp. 91-111.

    [109]

    profundo desnimo, mas, em meio maldade, sempre surgem

    homens protestando contra os poderosos opressores. Pessoas com

    ideologia, que no se vendem para o sistema.

    Elas aparecem em toda a parte. Podem ser crists,

    muulmanas, budistas ou sem religio. Mesmo sendo ateu, Karl Marx

    foi uma espcie de profeta da sua gerao, denunciando o que os

    profetas da Bblia j tinham criticado no passado. A Teologia da

    Libertao tambm ecoou as vozes dos mensageiros divinos para o

    nosso tempo, mostrando que a Igreja no pode se aliar elite e seesquecer dos pobres.

    A boca de Ams no foi amordaada. poca quiseram cal-

    lo, mas no conseguiram. Sua mensagem est espalhada em todos os

    lugares onde h injustia. Os seus representantes contemporneos,

    ainda que no conheam os seus escritos, continuam clamando contra

    os poderosos nos EUA, na frica, na Amrica Latina e em qualquer

    lugar onde haja desigualdade, opresso e misria. Os ricos, por mais

    que vivam no conforto, sempre sero incomodados por homens como

    Ams, pois a indignao contra a opresso no est limitada ao

    judasmo ou ao cristianismo. Ela brota em qualquer corao sensvel,

    em qualquer alma que no tenha sido deformada pela ganncia.A tica de Ams dizia que as necessidades humanas valiam

    mais do que os rituais da religio, ainda que estes ltimos no

    tivessem sido invalidados por ele, por si s, mas sim porque eram

    feitos sem conscincia, sem reflexo, desacompanhados da justia e

    do bom senso. Ao canonizarem este livro, o qual faz parte da Bblia

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    A tica no livro de Ams: o profeta dos pobres, fracos e oprimidos

    [110]

    Hebraica, os judeus reconheceram que ele estava certo e que seus

    antepassados foram repreendidos com justia. Esta atitude,

    certamente, fez do judasmo uma religio de irmandade, a qual busca

    a justia e o equilbrio social entre os seus membros. Que a voz de

    Ams continue ecoando em nossa sociedade, por meio de todos

    aqueles que so sensveis, inteligentes e tm ideais.

    Referncias bibliogrficas

    ALVARENGA, Darlan. (2011), Carga tributria foi de 35,13% do PIBem 2010, diz instituto. In: G1, 03 de maro de 2011, Economia.Disponvel na pgina:http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/03/carga-tributaria-foi-de-3513-do-pib-em-2010-diz-instituto.html. Acesso em: 07 dejunho de 2011.

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    descontado, diz Cmara. In: Estado, 19 de maio de 2011,Poltica. Disponvel na pgina:http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,salario-de-jaqueline-roriz-sera-descontado-diz-camara,721539,0.htm. Acesso em: 07de junho de 2011.

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