38
AMÓS Introdução Plano do livro Capítulo 1 Capítulo 4 Capítulo 7 Capítulo 2 Capítulo 5 Capítulo 8 Capítulo 3 Capítulo 6 Capítulo 9 INTRODUÇÃO I. O FUNDO HISTÓRICO Amós, um dos maiores dos chamados profetas "menores" (Cornill o chama de uma das mais maravilhosas aparições na história do espírito humano), profetizou durante os dias de Uzias, rei de Judá e de Jeroboão II, rei de Israel. É impossível determinar o ano exato de sua profecia, mas provavelmente foi cerca de 760 A. C. A referência ao terremoto (1.1), que evidentemente tinha sido memorável (cf. a alusão de Zacarias ao mesmo, em Zc 14.5, muito tempo depois), não nos ajuda muito a fixar uma data absolutamente certa. Em 803 A. C., Adade-Nirari III, da Assíria, infligiu uma esmagadora derrota sobre a confederação síria. Esse enfraquecimento do vizinho nortista de Israel e subseqüente preocupação da Assíria com outros locais, deu a Jeoás e a seu filho, Jeroboão II, uma supremacia na parte norte da Palestina e na Síria provavelmente desconhecida por qualquer de seus predecessores. Israel estava novamente livre para apropriar-se de novos territórios e isso fez com o maior zelo, particularmente, às expensas da Síria. Todas as principais estradas estavam em suas mãos e Samaria, a capital, se tornou ponto de encontro dos mercadores que viajavam entre a Mesopotâmia e o Egito. Ali se juntavam as caravanas vindas de várias partes do mundo oriental e Samaria se tornou o empório de mercadorias de toda espécie. As crescentes atividades comerciais trouxeram a Israel enormes lucros e

Amos - N. Comentario

Embed Size (px)

DESCRIPTION

NOVO COMENTÁRIO DA BÍBLIA Intervarsity Press (Leicester, Inglaterra)

Citation preview

Page 1: Amos - N. Comentario

AMÓS

Introdução Plano do livro

Capítulo 1 Capítulo 4 Capítulo 7 Capítulo 2 Capítulo 5 Capítulo 8 Capítulo 3 Capítulo 6 Capítulo 9

INTRODUÇÃO I. O FUNDO HISTÓRICO Amós, um dos maiores dos chamados profetas "menores" (Cornill

o chama de uma das mais maravilhosas aparições na história do espírito humano), profetizou durante os dias de Uzias, rei de Judá e de Jeroboão II, rei de Israel. É impossível determinar o ano exato de sua profecia, mas provavelmente foi cerca de 760 A. C. A referência ao terremoto (1.1), que evidentemente tinha sido memorável (cf. a alusão de Zacarias ao mesmo, em Zc 14.5, muito tempo depois), não nos ajuda muito a fixar uma data absolutamente certa.

Em 803 A. C., Adade-Nirari III, da Assíria, infligiu uma esmagadora derrota sobre a confederação síria. Esse enfraquecimento do vizinho nortista de Israel e subseqüente preocupação da Assíria com outros locais, deu a Jeoás e a seu filho, Jeroboão II, uma supremacia na parte norte da Palestina e na Síria provavelmente desconhecida por qualquer de seus predecessores. Israel estava novamente livre para apropriar-se de novos territórios e isso fez com o maior zelo, particularmente, às expensas da Síria. Todas as principais estradas estavam em suas mãos e Samaria, a capital, se tornou ponto de encontro dos mercadores que viajavam entre a Mesopotâmia e o Egito. Ali se juntavam as caravanas vindas de várias partes do mundo oriental e Samaria se tornou o empório de mercadorias de toda espécie. As crescentes atividades comerciais trouxeram a Israel enormes lucros e

Page 2: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 2 uma poderosa classe comerciante se desenvolveu, o que teve largas repercussões sobre o resto dos habitantes.

Essa prosperidade comercial deu origem a um grande programa de edificação de "casa de inverno" e "casa de verão" (3.15), bem como "casa de marfim". Samaria contava com muitos palácios (3.10) que pertenciam não só ao próprio rei, mas aos ricos príncipes-comerciantes que se tinham enriquecido no comércio. Essas grandes casas se tornaram, antes de muito tempo, depósitos de toda espécie de luxos (3.12; 6.4). A oportunidade de enriquecer tornou os comerciantes ansiosos para aumentar seus lucros, tanto por meios honestos como por artifícios desonestos. Mostravam-se impacientes para com os sábados e as luas novas (8.5). Nesse tráfico mundano eram impelidos por suas mulheres, que exigiam luxos cada vez maiores (4.1).

O ditado que "o dinheiro corrompe" foi verdadeiramente exemplificado no reino do norte durante os dias de Jeroboão II. O desejo de riquezas teve resultados desastrosos, tanto para o comerciante como para o pobre aldeão. Os ricos príncipes-comerciantes se tornaram desmoralizados, corruptos e injustos; os pobres eram oprimidos, roubados e maltratados. Amós pertencia à classe pobre dos aldeões e provavelmente sabia, por amarga experiência própria, a que indignidades haviam sido sujeitados os pobres e oprimidos. Os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres tornavam-se cada vez mais empobrecidos. Qualquer propriedade possuída pelo pequeno proprietário tinha de ser vendida, devido à força bruta de circunstâncias adversas. Para Amós, pois, não havia justiça na terra. Os que emprestavam dinheiro tomavam as próprias roupas das pessoas para servirem de garantia pela dívida. Os juízes eram influenciados pelo suborno e isso significava vitória para a injustiça e derrota para a verdade (8.6). Nenhuma testemunha honesta podia ser encontrada nos tribunais. "O homem honesto perdia o direito da verdade, da propriedade e da vida". A piedade tornou-se uma qualidade rara e os pobres eram mantidos com as costas na parede (2.6). O pequeno proprietário independente e o proprietário aldeão, lutavam

Page 3: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 3 numa batalha perdida. As áreas menores de terreno eram absorvidas nas propriedades mais vastas.

No que dizia respeito à religião, os santuários de Betel e de Gilgal, especialmente o de Betel, estavam apinhados de adoradores. A adoração a Baal certamente havia sido suprimida por Jeú, o sucessor de Acabe, mas o espírito, se não a forma, havia permanecido nos santuários autorizados, onde supostamente Jeová era adorado. Ali o opressor do pobre, o rico a regalar-se em seus luxos, adorava com uma consciência embotada ou morta. Externamente tudo era feito de conformidade com a regra, mas não havia verdadeira adoração segundo a compreendemos hoje. Israel tinha cessado de viver perante Deus, tal como havia acontecido no deserto, sob Moisés, e agora estava meramente existindo para Deus. Os santuários talvez estivessem apinhados de adoradores, mas Deus não se achava presente. A superstição e a imoralidade tinham tomado o lugar da piedade e da sinceridade. A religião estava totalmente divorciada da conduta e passou-se algum tempo antes que Israel pudesse entender que essas duas coisas devem seguir paralelas. (Ver Apêndice I de Reis, pág. 391, "A Religião de Israel sob a Monarquia").

O reino de Jeroboão, portanto, era uma terra de extremos contrastantes: os ricos eram muito ricos e os pobres eram muito pobres. Sob tais condições era inevitável que crescessem a insatisfação e o desassossego. Conforme ficou demonstrado pelos acontecimentos subseqüentes, o país estava maduro para a guerra civil. Após a morte de Jeroboão houve três reis no espaço de um ano. Revolução seguia-se a revolução e no período de alguns poucos anos uma parte do reino de Israel havia desaparecido, enquanto que o restante se mantinha numa independência precária, dependendo da boa vontade da Assíria. Tais condições sociais não podiam prolongar-se indefinidamente; de fato, tinham em si mesmas a sentença de morte. Amós foi um daqueles homens que perceberam o fato. Ele percebeu a negra nuvem de julgamento surgir no horizonte. Havia forças sociais, morais e políticas em operação que realizariam a vontade de Deus e executariam o juízo

Page 4: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 4 que já tinha sido decretado. Israel, efetivamente, "um cesto de frutos de verão" (qayits), e seu fim (qeyts) não podia ser adiado (8.2).

II. O PROFETA Amós era nativo de Tecoa, uma pequena cidade cerca de dez

quilômetros de Belém. Não era cortesão como Isaías, nem sacerdote como Jeremias, mas pastor e cultivador de sicômoros. Por meio das comparações que ele freqüentemente empregou, fica claro que ele estava plena e pessoalmente familiarizado com as dificuldades e perigos da vida de boieiro. A vida lhe era difícil e havia pouco luxo. Por outro lado, seu negócio o levava certamente a cidades e mercados importantes onde, sem dúvida, se encontrava com caravanas de muitas terras. Um homem de seu calibre sempre mantém os ouvidos abertos para as notícias sobre homens e seus feitos em outros lugares. Isso explica seu surpreendente conhecimento sobre outras terras e outros povos. Conforme mostram os capítulos iniciais de seu livro, ele sabia muita coisa sobre a história, as origens e feitos das nações circunvizinhas. Devido a tais experiências e moldado por sua observação pessoal e condições na terra desenvolveu-se ele como homem duro e severo, grande combatente, legítimo campeão dos pobres.

Embora não pertencesse à linha de profetas, nem à escola de profetas, foi chamado, à semelhança de Eliseu, das atividades diárias de seus deveres para a dignidade do ministério profético. Não havia dúvidas em sua mente, nem deixava ele qualquer dúvida na mente de outros homens, que havia sido chamado por Deus, assim como Moisés tinha sido chamado, quando ocupado em tarefa semelhante à sua. Para Amós seu caso não foi que se tornou profeta a fim de ganhar a vida; mas se tratava de abandonar suas atividades para tornar-se profeta. Ele não fazia tentativa para esconder sua vida passada ou emprego e não se envergonhava de tornar conhecido seu nascimento humilde. O fogo de Deus queimava em sua alma e, à semelhança do apóstolo Paulo, séculos mais tarde, bem poderia ele ter dito "Ai de mim se eu não falar". Ele via

Page 5: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 5 a corrupção, o pecado e a vergonha do povo a quem Deus havia tirado do Egito e não podia fazer silêncio. A vereda para a qual foi chamado a palmilhar não era de sua escolha. O Deus das extremidades da terra, com Quem ele tinha comungado freqüente e longamente na solidão do deserto de Tecoa, tinha uma mensagem a Seu povo rebelde do norte e era por intermédio de Amós que essa mensagem de justiça e julgamento devia ser anunciada.

III. A MENSAGEM DO PROFETA A mensagem de Amós era de julgamento e punição quase sem

alívio. Embora nos últimos poucos versículos do livro relampejem algumas notas de otimismo, revelando a largueza da misericórdia de Deus através do trono davídico restaurado, a mensagem inteira, todavia, desse intrépido mensageiro de Deus, precisa ser incrustada no contexto de desastre iminente. Certamente que ele não agradava aos ouvidos populares, mas mantinha os olhos na mensagem divina que lhe cumpria proclamar. Pecado nacional conduz a julgamento nacional e quanto maiores o privilégio e a oportunidade de uma nação, maior também deve ser seu julgamento.

Tanto quanto dizia respeito ao Israel de Jeroboão, externamente tudo parecia estar em ordem, mas a condenação estava prestes a cair sobre todos. Assim como um leão se prepara para saltar sobre a presa, igualmente Jeová estava pronto para visitar Seu povo com julgamento. A terra inteira sentiria o impacto desse julgamento. Por muitas e muitas vezes Israel havia sido advertida, mas sem o menor proveito. Quando o povo continua a desviar os ouvidos da vontade de Deus, então tem de arcar com as conseqüências.

Em adição à corrupção moral que havia resultado em opressão social e em injustiça legal, havia a questão dos falsos santuários de Betel e Gilgal. Pois Deus abomina tão asquerosos rituais. Ele não tolerava suas festas, seus festivais e suas ricas ofertas. Pois tudo não passava de zombaria; tudo era estranho para Ele. No deserto, nos dias passados,

Page 6: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 6 nada disso havia. Qual a dose de influência era exercida sobre Amós, para ele ser contrário à adoração em Betel e Gilgal, pelo fato de ser ele do sul, não precisamos interrogar agora. Pouca dúvida pode haver, contudo, que tais santuários, estabelecidos pouco depois da divisão do reino salomônico, eram considerados, por todos verdadeiros "ortodoxos" do reino do sul, como abominações contra o Senhor. Tais santuários, anuncia o profeta, serão totalmente destruídos. Jeová já se encontrava ao pé do altar (9.1-4) e arruinaria totalmente o local.

Para esses pecados - expressos para com o homem por meio da opressão social e da injustiça, e para com Deus por meio das abomináveis práticas de Betel e Gilgal - só podia haver um resultado - Israel ser completamente rejeitada. Se o privilégio é a medida da responsabilidade, então a rebelião de Israel era imperdoável. Deus havia tirado Israel do Egito, tinha-o guiado pelo deserto e havia-lhe dado possessão de uma terra boa, além de ter posto profetas em seu meio. O castigo para sua transgressão devia ser proporcional à sua gravidade; portanto, Israel seria totalmente rejeitado. O fato que Jeová tinha tirado Israel do Egito agora não significaria mais que os outros fatos que retirara os filisteus de Creta e os sírios de Quir. A sentença já havia sido decretada e o julgamento seria executado prontamente. Como o carro de uma eira, assim Ele esmagaria a nação inteira (2.13-16).

A mensagem de Amós se fundamenta na firme convicção que Jeová é Deus de justiça. Essa justiça está em conflito com a injustiça do homem e havia-lhe declarado guerra. O resultado desse conflito seria o juízo mais severo possível contra o homem. O ensino de Amós é de caráter ético, mas, tal como os outros profetas do oitavo século antes de Cristo, ele não baseava seu ensino sobre o que havia de bom e reto no homem, mas sobre o que sabia sobre a natureza de Deus. Para Amós, portanto, o "pecado" é mais que a mera transgressão, mais que o mero lapso moral em vista de algum código estabelecido; é rebelião contra Deus. Israel estava em relação de aliança com Jeová. Essa relação impunha-lhe deveres e seu pecado consistia em haver repudiado os

Page 7: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 7 deveres inerentes a essa relação divino-humana. Israel se havia rebelado contra Jeová.

Embora cidadão do reino do sul, a mensagem de Amós era dirigida para e contra o reino do norte. De fato, ele foi o último profeta enviado ao reino do norte. No todo, bem pouco ele diz sobre seu próprio povo. Esse silêncio, contudo, não deve ser entendido como a querer ensinar que o reino do sul estava livre daqueles pecados que o profeta via no norte e que tão veementemente denunciava. Ele fora chamado para falar a Israel, que estava maduro para o juízo e se confinou quase exclusivamente a essa parte da nação.

Mas Amós também tinha algo a dizer sobre as nações circunvizinhas. Se condenava Israel por pecar contra uma lei que Deus lhe tinha tornado conhecida, por outro lado aplicava um padrão bem diferente para as nações que não estavam em relação de aliança com Deus. O que Amós via nas nações circunvizinhas era o espetáculo, capaz de partir o coração, de uma crueldade que ignorava todos os direitos humanos, que negava toda compaixão e que tornava as relações entre as nações semelhantes às lutas entre as feras. Para qualquer lado para onde o profeta olhasse, havia sempre algo ausente - a piedade natural do homem para com seu semelhante. E o que tornava pior a situação era a vantagem trivial que tal conduta proporcionava. Gaza vendeu uma vila inteira à escravidão para ganhar algum dinheiro. O rei de Moabe queima os ossos de um inimigo para satisfazer seus desejos de vingança. E assim continua a história. O senso de amizade do homem com o homem havia desaparecido. Tal mundo não podia continuar, pois a própria base de sua continuação já não existia.

Embora Amós não tivesse treinamento acadêmico, não foi ultrapassado por nenhum de seus sucessores no que diz respeito a vivacidade, vigor e simplicidade de linguagem. Seu estilo é simples, mas cheio de energia e elegância. O professor Robertson Smith defende Amós como mestre de puro estilo hebraico. Os termos que empregou eram todos familiares para seus contemporâneos, pois suas observações

Page 8: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 8 são todas derivadas da vida diária. Nenhum outro profeta nos forneceu tais metáforas tiradas da natureza com uma variedade tão fresca, vívida e variada. Ele se refere aos trilhos de ferro de debulhador (1.3), à tempestade (1.14); aos cedros e carvalhos com suas profundas raízes (2.9); ao leão faminto a rugir na floresta (3.4); à ave apanhada ao laço (3.5); ao pastor que sai em socorro da ovelha (3.12); aos anzóis e redes do pescador (4.2); às chuvas parciais (4.7); ao bolor e à ferrugem, às colinas e ventos ao nascer do sol, às estrelas, aos criadores lamentosos, aos terremotos, aos eclipses, ao grão peneirado numa peneira, ao refugo do trigo, às tendas consertadas, etc.

Tal foi esse grande profeta "menor". Vivendo perto de Deus ele conhecida a vontade do Senhor e tinha Sua mensagem. Embora não gozasse de popularidade, como de fato aconteceu a quase todo profeta de Israel, ele proclamava com zelo imorredouro a mensagem que Jeová lhe tinha confiado, pois, juntamente com Martinho Lutero, Amós poderia ter dito: "Não posso fazer outra coisa; portanto, ajuda-me, ó Deus".

PLANO DO LIVRO

I. PRÓLOGO - 1.1-2 II. DECLARAÇÃO DA DESTRUIÇÃO DAS NAÇÕES - 1.3-2.16 a. Damasco (Síria) (1.3-5) b. Gaza (Filístia) (1.6-8) c. Tiro (1.9-10) d. Edom (1.11-12) e. Amom (1.13-15) f. Moabe (2.1-3) g. Judá (2.4-5) h. Israel (2.6-16)

Page 9: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 9 III. PROCLAMAÇÃO DA MENSAGEM DO PROFETA - 3.1-6.14 a. Primeiro discurso (3.1-15) b. Segundo discurso (4.1-13) c. Terceiro discurso (5.1-6.14) IV. REVELAÇÃO DO DESÍGNIO DE DEUS - 7.1-9.10 a. A visão do gafanhoto devorador (7.1-3) b. A visão do fogo consumidor (7.4-6) c. A visão do prumo perscrutador (7.7-9) d. Interlúdio histórico (7.10-17) e. A visão do cesto de frutas de verão (8.1-14) f. A visão do Senhor sobre o altar (9.1-10) V. EPÍLOGO - 9.11-15

COMENTÁRIO Amós 1 I. PRÓLOGO - 1.1-2 As palavras de Amós (1). Há apenas um Amós no Antigo

Testamento e esse é o escritor deste livro. Sua ocupação era a de boieiro e pastor. A palavra empregada não é a usual roeh, mas noqed, que significa criador de uma espécie peculiar de ovelha do deserto, dotada de pernas curtas e cara feia, mas altamente valiosa devido à sua lã. Essa palavra só se encontra novamente em 2Rs 3.4, onde é traduzida como "contratador de gado". Até hoje há um provérbio árabe que expressa desprezo: "Vil como um naqqad". O que ele viu (1). A palavra chaxah era usada para a visão profética específica. O escopo dessa mensagem

Page 10: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 10 era a respeito de Israel. Amós foi profeta de Deus para o reino do norte e foi o último profeta enviado a esse reino. O profeta recebeu sua visão nos dias de Uzias (cerca de 791-740 A. C.), rei de Judá, e de Jeroboão II (cerca de 793-753 A. C.), rei de Israel. Na sentença seguinte essa profecia é limitada a dois anos antes do terremoto. É impossível, contudo, fixar o ano exato desse terremoto particular, mas que havia deixado uma profunda impressão é testificado pelo fato que, após muitas décadas, Zacarias se refere a ele (14.5).

O Senhor bramará... (2). Deus estava prestes a falar de modo dramático e quando Ele fala seguem-se certas conseqüências. A palavra bramar (sha'ag) tem o sentido do rugido do leão, quando salta sobre a presa. O julgamento de Deus, conforme Amós o via, não estava distante, mas já estava a caminho e logo se revelaria com todas suas espantosas conseqüências. Além disso, não viria de Betel ou de Gilgal, mas de Sião, o centro da autoridade religiosa, e de Jerusalém, o próprio lugar da habitação de Jeová, é que Sua voz seria ouvida.

Uma das conseqüências previstas é que secar-se-á o cume do Carmelo (2). O Carmelo, um promontório sobre o mar, com 400 metros de altura, ao sul da baía de Acre e cena dos grandes prodígios de Elias, é considerado como a mais frutífera e notável colina do norte. Seu nome, que quer dizer "terra-ajardinada", testifica quanto à sua fertilidade. Não admira, pois, que os pastores lamentar-se-ão, pois, se o Carmelo haveria de ressecar-se com a seca, que outras pastagens poderiam ser encontradas na terra?

Esses versículos iniciais nos fornecem a substância da mensagem de Amós. Não importa quão segura pareça a ovelha em seu suculento pasto, o rugido do leão indica quão enganosas podem ser as aparências. Israel estava-se alimentando em ricas pastagens e, pelo menos externamente, tudo parecia seguro; mas não era essa a realidade. O julgamento era iminente e, além disso, inescapável.

Page 11: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 11 II. DECLARAÇÃO DA DESTRUIÇÃO DAS NAÇÕES - 1.3-2.16 À semelhança da maioria dos outros profetas, Amós tinha oráculos

que eram contra determinadas nações estrangeiras. Mas, diferentemente dos outros profetas, porém, ele introduz esses oráculos para que precedam e conduzam à acusação contra seu próprio povo. Uma a uma são citadas pelo nome, são alistados seus pecados, e são condenadas. Em cada caso a fórmula seguida é a mesma: primeiramente seus crimes são nomeados e então são proclamadas as conseqüências. Os pecados, em quase cada caso, são pecados de relações estrangeiras - guerra arbitrária, massacre e sacrilégio.

A ocupação de Amós sem dúvida o levava a muitos mercados, onde se encontrava com caravanas vindas de muitas terras e assim ele deve ter aprendido muita coisa sobre as nações que rodeavam Israel e Judá. Ao expor e denunciar esses bárbaros ultrajes, Amós prepara o caminho para a verdadeira palavra de julgamento, que é dirigida contra Israel, cujos pecados são maiores que os daquelas nações, pois eram pecados não tanto contra outros povos, mas contra seu próprio povo e parentela. Outrossim, o pecado de Israel era mais grave que o das nações circunvizinhas em vista de seus privilégios e de sua luz recebida terem sido muito maiores.

a) Damasco (Síria) (1.3-5) Por três transgressões... e por quatro... (3). Desde os tempos

mais antigos têm sido feitas tentativas para encontrar significação simbólica para esses números, mas provavelmente se trata de tradução literal de uma expressão idiomática que significa "por muitos crimes". Moffatt traduz como "crime sobre crime", e T. H. Robinson como "por tantos crimes". A Síria inteira é abarcada por esta referência à sua capital, Damasco. A Síria era o vizinho mais importante de Israel e ficava na linha das conquistas da Assíria. Durante muitos anos, antes de

Page 12: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 12 Jeroboão II, Israel esteve engajada em guerra mortal contra a Síria e a menção de Damasco certamente chamava imediatamente a atenção. A fórmula não retirarei o castigo (lit., "não o farei voltar") é repetido em 1.6,9,11,13; 2.1,4,6.

Trilhos de ferro (3). Eram e continuam sendo, no oriente, e em muitos outros lugares, tábuas entalhadas e dotadas de dentes de ferro, puxadas por cavalos ou mulas sobre o grão amontoado. Dessa maneira, a palha era cortada em pequenos pedaços e o grão era libertado. De algum modo semelhantemente cruel a Síria havia tratado (trilharam) Gileade. Quando foi perpetrada essa barbaridade não é esclarecido, mas provavelmente foi praticada por Hazael, quando conquistou Gileade, nos dias de Jeú e Joacaz (2Rs 10.32 e segs.).

Porei fogo... (4). Fogo é, aqui, símbolo da guerra. O julgamento envolveria tanto a dinastia como o povo da Síria. Hazael e Ben-Hadade foram os dois mais cruéis opressores de Israel. A profecia que sua dinastia pereceria deve ter dado um prazer peculiar a Israel.

Quebrarei o ferrolho (5); isto é, Damasco seria aberta ao inimigo (cf. Dt 3.5). Biqueate-Áven (lit., "vale de idolatria") tem sido identificada de diversos modos. O prof. G. A. Smith a identifica com Baalbeque; outros pensam que a referência é ao largo e fértil oásis da própria Damasco.

Bete-Éden (5). Havia um lugar chamado Bit-adini (assírio para "casa de Éden") no médio Eufrates, e alguns eruditos bíblicos mantêm que esta é uma referência àquele lugar. O contexto, entretanto, exige algum lugar na região de Damasco, que até hoje é o paraíso do mundo árabe. Será levado em cativeiro (5), provavelmente se refere à orientação assíria no que diz respeito aos povos nativos que eram subjugados. Quir permanece não-identificada (a Vulgata tem "Cirene"). Segundo Am 9.7 essa era a pátria original dos sírios. Haveriam de retornar a ela quando deixassem de ser nação.

Page 13: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 13 b) Gaza (Filístia) (1.6-8) Do extremo norte o profeta se volta em seguida para o sul. Gaza

era a cidade mais sulista dos filisteus na beira do deserto, e na junção de rotas de caravanas. Provavelmente era sua posição estratégica que a fazia envolver-se profundamente no tráfico de escravos. Embora este oráculo seja dirigido particularmente contra Gaza, sem dúvida se refere também à Filístia inteira.

Levaram em cativeiro... (6). Uma instância típica de brutalidade. Não é dito aqui quais foram os cativos e nem a ocorrência é datada, mas os cativos foram vendidos aos edomitas. Assaltos dessa espécie, sem dúvida, eram suficientemente freqüentes naqueles dias (cf. 2Cr 21.16). Tal como no caso de Damasco, o julgamento cairia não apenas contra Gaza mas contra os baluartes dos filisteus também e o país inteiro seria visitado e assolado pelo fogo da guerra.

c) Tiro (1.9-10) Os crimes de Tiro (representando a Fenícia inteira, como Gaza

representava a Filístia) eram vender escravos e esquecer-se da aliança dos irmãos (9). O tráfico de escravos florescia não apenas entre os filisteus, mas igualmente entre os fenícios. É difícil dizer o que significa a aliança dos irmãos. Talvez se refira ao pacto entre Hirão e Salomão (1Rs 5.12; 9.13), ou, talvez, a algum outro pacto posterior. O castigo seria novamente o fogo, isto é, a guerra (10). Tiro foi destruída pelos assírios e mais tarde, outra vez, por Nabucodonosor. Alexandre, o Grande, a capturou e vendeu 30.000 de seus habitantes como escravos.

d) Edom (1.11-12) Edom já foi mencionada duas vezes (1.6,9) como participante dos

crimes de outras nações: agora a tempestade se abate contra ela.

Page 14: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 14 Perseguiu a seu irmão (11); isto é, Israel. Baniu toda a

misericórdia (11; lit., "endureceu sua compaixão"). É salientada a natureza perpétua e incansável desse ódio. Sempre houve grande inimizade entre Israel e Edom, particularmente após o exílio. O castigo aqui, como nos demais lugares, é novamente o fogo (guerra).

Temã (12; Ob 9), aparentemente, era um distrito ao norte de Edom, e Bozra era uma cidade de alguma importância.

e) Amom (1.13-15) O crime de Amom (13) é particularmente brutal e revoltante, mas

parecia ser bastante comum nas guerras semitas (cf. 2Rs 8.12; Os 13.16; Na 3.10), e não é totalmente desconhecido até os nossos dias. Para alargar suas fronteiras faziam guerra contra as crianças ainda não nascidas. As conseqüências seriam que Rabá, sua capital, cidade cerca de quarenta quilômetros ao nordeste do extremo norte do mar Morto seria assaltada e destruída (14) e o rei e os príncipes iriam para o cativeiro (15).

Amós 2 f) Moabe (2.1-3) Se os amonitas eram culpados do crime de declarar guerra contra

as crianças ainda não nascidas, os moabitas eram culpados do crime de declarar guerra contra um cadáver (1). O crime de Moabe foi contra o figadal inimigo de Israel, os edomitas; não obstante, o profeta condena-o por ter sido um crime vergonhoso contra a humanidade. A profanação do corpo era um grande sacrilégio aos olhos do mundo antigo. A alma (nephesh), no pensamento semítico, estava tão identificada com o corpo que queimar este era o mesmo que destruir aquela. A conseqüência seria que o fogo (guerra) ... consumirá os palácios de Queriote (lit., "das cidades"). Tem sido sugerido que Queriote, a capital de Moabe, talvez

Page 15: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 15 tenha consistido de diversas vilas absorvidas, como Londres, o que explica seu nome estar no plural, no original. Moabe pereceria em meio a tumulto, em meio ao ruído e fragor da batalha, e seu juiz, ou governante, provavelmente um rei vassalo nomeado por Jeroboão, juntamente com seus príncipes e nobres, igualmente pereceria.

g) Judá (2.4-5) O crime de Judá deve se observar não era, como no caso das

outras nações, contra o homem; mas era contra Deus (4). Rejeitaram a lei e, em conseqüência, não guardaram os seus mandamentos. Suas próprias mentiras (4); isto é seus deuses falsos. O castigo seguiria o padrão dos outros oráculos. Fogo (guerra) seria enviado contra todo o Judá, mas particularmente contra Jerusalém, onde os seus palácio (provavelmente todas as casas grandes) seriam destruídos.

h) Israel (2.6-16) Tendo preparado o caminho, chamando a atenção de Israel para

certos pecados cruéis de que seus vizinhos eram culpados, e tendo presumivelmente, despertado sua justa indignação contra eles, o profeta, agora, chega àquele que era seu propósito principal, a saber, denunciar os próprios pecados e crimes de Israel. Uma lista mais completa sobre estes é dada no caso de Israel do que no de qualquer das outras nações.

O primeiro crime é o da escravidão; vendem o justo por dinheiro (6). A lei permitia que um homem pobre vendesse a si mesmo como escravo (Lv 25.39; Dt 15.12), mas não sancionava a venda de um devedor insolvente, o que, evidentemente, está em foco aqui (2Rs 4.1; Ne 5.5). O pobre era vendido em troca de um par de sapatos (6) ou, como diríamos "por um nada". Outro de seus pecados é a cobiça. Os ricos se mostravam tão gananciosos que chegavam a suspirar pelo pó da terra sobre a cabeça dos pobres (7). O homem pobre (em heb., dallim,

Page 16: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 16 isto é, "fraco", "desfalecido", "magro") lançava sobre a cabeça um punhado de poeira, como sinal de sua miséria, mas o ganancioso senhor de terras desejava até mesmo aquela poeira, tão grande era a fome de terra dos ricos. A iniqüidade da injustiça vem em seguida.

Os poderosos e ambiciosos ricos pervertem o caminho dos mansos (7; em heb. anawim); isto é, os humildes seguidores de Jeová (Is 11.4), e para eles não havia justiça nos tribunais. Em adição a todos esses crimes, havia o mal da imoralidade. A prostituição no santuário era uma característica regular dos cultos cananeus e evidentemente fora introduzida nos santuários de Israel. Dt 23.17 proíbe estritamente essa prática iníqua. Sobre roupas empenhadas (8). A referência parece ser a penhores perdidos e aqui vemos novamente a acusação contra a ganância. À ganância e à desumanidade é adicionado o mal da intemperança (8b,12a). Os versículos 9-12 apresentam o pecado da indiferença de Israel para com tudo quanto Jeová tinha feito aos amorreus, a quem Ele desapossara, e a Israel, que Ele tinha tirado do Egito, guiara pelo deserto e fizera entrar na Terra Prometida. Em adição, havia levantado no seio da nação, profetas e nazireus - vidas consagradas e ascéticas. Quanto à lei dos nazireus ver Nm 6.1-21. Eles eram os separados, os consagrados, e faziam voto de total abstinência de bebidas alcoólicas. O maior pecado de Israel, porém, era o da intimidação (12b); diz Deus que aos profetas ordenastes (intimidastes) para que não profetizassem, para que suas consciências calejadas não fossem perturbadas.

Eis que eu vos apertarei (13). Segundo algumas versões, isso significaria que Jeová estava pressionado e sobrecarregado sob o peso dos graves e multiformes pecados de Seu povo (Is 43.24), ou ,seguindo esta versão, pode significar que Deus trilharia a nação como "um carro de trilhar pressionava os feixes que enchiam a eira" (N. H. Snaith). Porém, talvez a primeira interpretação seja a melhor, pois o pecado tem conseqüência não apenas para o pecador; mas afeta profundamente o próprio Deus.

Page 17: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 17 Os versículos 14-16 descrevem o inescapável julgamento que cairia

sobre todos. Nem o lépido de pés, nem o forte, nem o guerreiro e nem o cavaleiro conseguiriam escapar. Essa fuga inútil seria resultado da severidade da tempestade de vingança que havia rolado por cima dos países circunvizinhos e que agora estava atingindo Israel em toda a sua fúria. A predição foi cumprida na invasão assíria.

III. PROCLAMAÇÃO DA MENSAGEM DO PROFETA - 3.1-6.14 Nos quatro capítulos seguintes, Amós proclama, com maiores

detalhes, a mensagem vital que Deus lhe tinha dado para transmitir a Israel. A substância dessa mensagem já havia sido dada no Prólogo e, mais especialmente, em 2.6-16. Aqui o tema é desenvolvido em detalhes maiores. A mensagem, que expressa condenação quase sem alivio, toma a forma de três discursos, que são iniciados com as palavras Ouvi esta palavra (3.1; 4.1 e 5.1).

Amós 3 a) Primeiro Discurso (3.1-15) 1. AMÓS JUSTIFICA SUA REIVINDICAÇÃO DE SER

OUVIDO (3.1-8). Após um anúncio tão ousado e revolucionário de julgamento, nos versículos 1 e 2, atacando todo o orgulho e vanglória de um povo privilegiado, Amós prossegue para explicar seu aparecimento na cena. Palavras tão ousadas exigem alguma autenticação sobre a autoridade do profeta e, nos versículos 3-8, ele fornece, numa série de breves comparações, a base sobre a qual ele reivindicava ser ouvido. Todo efeito tem sua causa; seu aparecimento em Israel também tinha sua causa. As ilustrações apresentadas são quase todas tiradas da vida do deserto e da agricultura.

Page 18: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 18 Alguns eruditos têm sugerido que a expressão De todas as famílias

da terra (2; em heb., adamah; lit. "solo") foi usada propositadamente para "frisar a perversidade e mortalidade de todos eles".

Andarão dois juntos...? (3). Não é provável que dois homens se encontrem num deserto sem caminhos. Caso estejam andando juntos, pode-se concluir com segurança que assim está acontecendo por terem feito essa combinação.

Bramará o leão...? (4). O rugido de um leão significa que o leão saltou sobre sua presa, pois o leão, quando caça, faz silêncio até que sua presa tenha sido avistada. A inferência é que a voz de Amós era um sinal de que o julgamento de Jeová havia chegado.

Cairá a ave...? (5). O laço é a armadilha que se solta e prende o pássaro quando este toca no chamariz e o que a imagem quer salientar é que, assim como a ave capturada prova a existência do laço, igualmente a voz condenatória do profeta é uma indicação do desígnio de Deus.

Tocar-se-á a buzina...? (6). Quando a shophar (buzina de chifre) era tocada, o povo sabia que havia algo de significativo naquilo. O mesmo era verdade a respeito de alguma calamidade que sobreviesse a uma cidade: era um sinal que Jeová havia permitido a calamidade por algum motivo justo.

Por meio desses golpes interrogativos, Amós prepara o terreno para o verdadeiro ponto que queria fazer: Falou o Senhor Jeová, quem não profetizará? (8). Eis aqui o clímax desta seção. O aparecimento de Amós como profeta em Israel tinha a sua causa: Deus havia falado à sua alma; ele não podia deixar de falar. "Um homem não escolhe para ser profeta; é escolhido".

2. O APELO POR TESTEMUNHO (3.9-10). Ajuntai-vos... e vede... (9). Os vizinhos pagãos são chamados

para testemunhar a contenda dentro de Samaria, provocada pela brutal ganância e rapacidade dos ricos. Havia violência e furto, e as vítimas, sem dúvida, são os pobres indefesos. Os ricos, que viviam entesourado

Page 19: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 19 nos seus palácios a violência e a destruição (10), eram tão vis que pareciam incapazes de fazer o que era direito.

3. O ANÚNCIO DE JULGAMENTO (3.11-15). O agente desse

julgamento é descrito como um inimigo que cercará a tua terra, bloqueando-a por todos os lados. Cerca de 734 A. C., Tiglate-Pileser pilhou Gileade e a Galiléia e, cerca de 724 A. C., Salmaneser pilhou o norte de Israel. Samaria foi cercada por três anos e, finalmente, foi conquistada. Os palácios foram pilhados e os ricos e delicados foram levados ao cativeiro. A natureza desse julgamento incluía a diminuição das forças (11) e a deportação do povo (12). Este último ponto é vividamente ilustrado pelo profeta-pastor. Samaria seria quase totalmente destruída. Assim como um pastor às vezes pouco pode fazer, senão talvez recuperar os últimos restos de uma ovelha, assim também ninguém, executando alguns poucos pobres sobreviventes, escapariam da destruição em geral.

A menção de Damasco, no fim do versículo 12, levanta um ponto difícil. Damasco era, naturalmente, a capital da Síria, e o profeta já havia tratado a respeito dela. Alguns traduzem essa passagem como: "Assim os filhos de Israel, que habitam em Samaria, escaparão com o canto da liteira ou com a fazenda de Damasco de um divã" (conforme Ehrlich e outros). O quadro inteiro retrata miséria total para os poucos sobreviventes de Samaria. Os dois últimos versículos deste capítulo indicam a extensão do julgamento. Os santuários sagrados de Betel, edificados por Jeroboão I depois da divisão do reino, compartilharão da condenação de Samaria: haveria completa e total profanação do altar. A sorte que caberia aos ricos também caberia às suas mansões. A casa de inverno (provavelmente edificada para ser habitada durante o frio), juntamente com as casas de marfim (provavelmente com incrustações de marfim; mas cf. 1Rs 22.39), perecerão. Para o profeta-pastor, que conhecia as tribulações dos pobres, e que dormia debaixo do céu aberto

Page 20: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 20 de Deus, essas habitações elaboradas devem ter parecido como a própria encarnação do orgulho, da auto-indulgência e do desvio de Deus.

Amós 4 b) Segundo discurso (4.1-13) 1. AS MULHERES DE SAMARIA (4.1-3). Este discurso começa

com uma feroz e rigorosa denúncia contra as mulheres ricas de Samaria. O sarcasmo é sem paralelo. Aquelas mulheres opulentas e gananciosas são comparadas com vacas gordas e nédias de Basã, lugar famoso por suas pastagens e por suas raças de gado e ovelhas (cf. Dt 32.14; Ez 39.18). Não se importavam com outra coisa senão com suas vidas fáceis e seu preguiçoso luxo. Em sua louca carreira atrás de mais alimentos e bebidas, pisavam sobre tudo quanto era frágil e excelente. Os pobres eram oprimidos e os necessitados eram esmagados. Talvez isso não fosse feito diretamente, mas era-o indiretamente – por meio de seus maridos – pois luxo ocioso num dos extremos significa opressão e pobreza no outro.

Porém, como em todos os outros oráculos, esta denúncia contra o crime é imediatamente seguida por um anúncio a respeito de temíveis conseqüências.

Jurou o Senhor Jeová, pela sua santidade (2). A idéia transmitida pelo vocábulo santidade (qodesh) era reservada exclusivamente para Jeová. Portanto, essa expressão é equivalente a "por Si mesmo". O castigo seria o cativeiro. As mulheres de Samaria seriam levadas através de brechas abertas no muro; e, além disso, como gado bravo é levado com anzóis e seus descendentes (provavelmente filhas) com anzóis de pesca, isto é, argolas semelhantes a anzóis. Nos monumentos assírios os cativos são pintados arrastados com anzóis presos à boca.

A expressão vos lançareis para Hermom (3) tem causado bastante dificuldade aos comentadores. Pois, em algumas versões, em

Page 21: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 21 lugar de Hermom aparece "palácio", noutras, "Armênia", e noutras ainda, "monte Rimom". De qualquer modo, é indicada alguma sorte desagradável.

2. A ADORAÇÃO DE SAMARIA (4.4-5). Neste oráculo o

profeta ataca com mordente sarcasmo o vazio ritualismo dos santuários cismáticos de Israel. Os adoradores eram muito observantes dos detalhes na realização do ritual, ainda que a realidade moral e espiritual tivesse desaparecido inteiramente. A denúncia é semelhante à repreensão de Isaías contra Judá (Is 1.10 e segs.).

Tal zombaria, vazia e sem significado, divorciada de toda moralidade, pode apenas multiplicar as transgressões (4).

Cada manhã trazei os vossos sacrifícios, e de três em três dias os vossos dízimos (4b). Agiam com correção ao trazer seus sacrifícios matinais, mas, quanto ao trazerem dízimos de três em três dias, a sugestão é que usavam de três dias para trazer seus dízimos, um em cada uma das três grandes festividades; isto é, as festas dos pães asmos, da colheita e do armazenamento. A cena inteira, em Betel e Gilgal, era de febril atividade e intenso zelo - disso gostais (5). Os adoradores usavam de correção em tudo quanto pertencia à sua adoração, porém suas mãos estavam poluídas e seus corações eram perversos.

3. A IMPENITÊNCIA DE ISRAEL (4.6-13). Nos próximos

poucos versículos temos uma série de cinco oráculos, cada qual falando sobre algum desastre que sobreviera a Israel no mundo natural, e cada qual termina com o mesmo refrão que fala sobre a impenitência de Israel - contudo não vos convertestes a mim, disse o Senhor. O primeiro oráculo trata da fome.

Vos dei limpeza de dentes (6); isto é, por não haver nada para comer, os dentes não tinham ficado sujos de comida. Algumas versões antigas falam também em "embotar", sugerindo que os dentes tinham ficado sem corte devido ao desuso.

Page 22: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 22 O segundo oráculo trata da seca (7-8). A palavra para chuva é

geshem e, assim sendo, deve significar as chuvas pesadas de outono que ainda não tinham chegado quando as chuvas mais leves da primavera deveriam chegar; isso significava desastre para o país inteiro.

Os versículos 7b e 8, entretanto, parecem implicar que a seca não fora universal. Thomson, em certa ocasião, encontrou o terreno ao redor do vale do Jordão como um deserto, enquanto que em Tiberíades o terreno todo era como um paraíso de ervas e flores (The Land and the Book, pág. 395). Essas chuvas parciais parecem ser uma característica da Palestina.

Vagabundas (8); mais exatamente, "tropeçando" (como um bêbado), na fraqueza da sede. O terceiro oráculo tem como tema as pragas vegetais (9). As pragas aqui mencionadas eram suficientemente freqüentes na Palestina para servirem de lembrete sobre o julgamento. Em seguida vem a praga (10), que se diz ter sido originada no Egito (cf. Is 10.24,26).

Vossos mancebos matei à espada (10) pode referir-se a alguma invasão local, por parte de um adversário não identificado. A matança dos jovens, provavelmente deixados insepultos durante algum tempo (cf. o fedor dos vossos exércitos), bem poderia ter sido a causa da pestilência. De qualquer modo, a aflição fora terrível, ainda que tenha deixado Israel completamente impenitente. O último oráculo fala sobre o terremoto (11). Bem pode ser que esse tenha sido o terremoto referido em 1.1. Era suficientemente recente e ainda estava bem fresco nas mentes do povo. Muitos haviam perecido no terremoto, de Sodoma e Gomorra (Gn 19.24-28), como quando por ocasião da destruição e outros, como tições, foram arrebatados do incêndio.

Todas essas visitações não tinham conseguido seu alvo. Portanto, Deus iria fazer algo novo e Israel é exortado a: prepara-te... para te encontrares com o teu Deus.

O portanto, do versículo 12, evidentemente se refere ao que foi dito em 3.11. O último versículo é uma doxologia. O Deus que Israel

Page 23: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 23 teria do enfrentar é o Criador do visível (montes) e do invisível (vento); o qual sabe o que está no mundo; que pode alterar a ordem das coisas existentes; e que é superior a todos os altos da terra. Ninguém pode brincar com tal Deus.

c) Terceiro discurso (5.1-6.14) Amós 5 1. A TRÁGICA QUEDA DE ISRAEL (5.1-3). O terceiro discurso

de Amós começa com uma breve lamentação, em forma poética, na qual ele entoa a trágica queda de Israel.

A virgem (2) (que em Isaías representa Jerusalém e ocasionalmente alguma outra cidade, mas que aqui é aplicada à nação inteira de Israel), a quem Jeová amava, caiu, ou "se precipitou" (em heb., nitshah) contra o solo. E não apenas ela se despedaçara no solo; mas ficara abandonada. Não pode levantar-se novamente, pois ninguém existe que possa erguê-la.

A cidade da qual saem... (3); uma frase regular acerca do sair à guerra. Aparentemente, neste período, o exército saíra, não como nos tempos antigos, por tribos e famílias, mas por cidades e aldeias. Não admira que o profeta se lamente, pois que terra pode continuar existindo quando nove décimos de seus habitantes homens são destruídos na batalha?

2. O APAIXONADO APELO DE JEOVÁ (5.4-15). Por mais

trágica que possa ter sido a queda de Israel e além de qualquer ajuda humana, ainda havia esperança em Jeová, que pode fazer algo surgir do nada (cf. 4.13), contanto que a nação de Israel O busque (4). O apelo é lançado de forma negativa e positiva.

Não busqueis a Betel... Gilgal... Berseba... (5). Esses lugares nenhuma ajuda poderiam prestar. Não eram capazes de salvar a si mesmos; e, por implicação, como poderiam salvar a outros? "Gilgal

Page 24: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 24 provará o fel do exílio" (G. A. Smith) e Betel tornar-se-á iniqüidade (em heb. aven). Em realidade, Oséias chama o lugar de Bete-Áven (Os 4.15), isto é, "casa de iniqüidade".

Porém, Buscai ao Senhor (6). O motivo para esse apelo é dado em seguida - e vivei e para que não se lance na casa de José como um fogo. O fogo é o julgamento de Deus, e ai da casa de José (Efraim e Manassés) se esse fogo irrompesse, pois então consumiria a todos e ninguém seria capaz de apagá-lo (6).

Vós que converteis... (7); isto é, o povo em geral. Alosna (amargura) é uma planta da Palestina, regularmente empregada como sinônimo de amargura. Poucas coisas podem ser mais amargas que o arbítrio de um tribunal corrupto e comprado.

Esse mesmo tema prossegue nos versículos 10-13, mas ele exorta esses homens e mulheres a: Procurai (ao Criador) (8), ao mesmo tempo que introduz uma majestosa descrição, na forma de doxologia (cf. 4.13), Àquele que lança esse apelo. Os lábios são os do profeta Amós, mas a voz é a voz do próprio Jeová. Ele é o Criador das coisas enumeradas acima, o Transformador das coisas ao derredor (8), e o Defensor dos explorados (9).

Aborrecem... (10). A porta era o grande local de encontro, o centro dos negócios, como o "fórum" romano, e era o lugar onde os anciãos costumavam assentar-se para ministrar justiça (Dt 21.19). Tanto Jeremias (17.19; 19.2) como Isaías (29.21) repreenderam o povo estando no portão e indubitavelmente Amós fez a mesma coisa. Tais testemunhas, entretanto eram odiadas e abominadas. O versículo 11 descreve, quase numa sentença, o pecado e o castigo dos ricos. Roubando aos pobres seu próprio pão e esmagando-os, os ricos tinham sido capazes de edificar ótimas casas e plantar agradáveis vinhedos. Porém, o julgamento os alcançaria e não seriam nem capazes de habitar em suas casas nem de desfrutar do fruto de seus vinhais. Os pecados dos ricos não eram apenas numerosos, mas eram imensos (12). Não só os pobres eram esmigalhados e furtados, mas os justos eram afligidos e

Page 25: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 25 atacados. Que oportunidade tinha nesse caso a justiça? Peitas eram dadas por aqueles que podiam fazê-lo e os juízes corruptos se deixavam influenciar por elas. Portanto, o homem prudente ou sábio sentia que era mais aconselhável guardar silêncio; assim eram aqueles maus tempos (13). Os resultados pela busca do bem são indicados em seguida (14-15). A vida e a certeza da presença de Jeová se seguiriam. Acima de tudo, se a busca fosse acompanhada, como era necessário, por uma indignação genuína contra o mal e por um profundo amor pelo que é bom, resultando em justiça, então Jeová seria gracioso para com o resto de José (15).

3. O NEGRO DIA DE JEOVÁ (5.16-20). Tendo descrito a trágica

queda de Israel e apaixonado apelo de Deus, Amós descreve em seguida o negro dia de Jeová. O profeta sabia que a única esperança para Israel dependia de uma conversão genuína do povo ao Senhor, mas, durante todo o tempo, parece que ele sentia que não havia muita possibilidade que isso acontecesse. O mal estava por demais profundamente enraizado. Embora o julgamento pudesse ser desviado, sob certas condições, não era provável que isso sucedesse.

O dia do Senhor (18) estava a caminho e, quando ele chegasse, não traria luz, mas antes, trevas. Haveria lamentações nas ruas (das vilas e cidades) e em todos os caminhos (do interior). As carpideiras profissionais seriam chamadas para lamentar e o lavrador, que não tinha habilidade profissional para lamentar-se, não obstante seria convocado para juntar-se a elas (16). Na cidade, no interior, nos vinhais - tudo seria a mesma coisa. Ninguém poderia escapar dessas coisas (19).

4. O CULTO VAZIO DE ISRAEL (5.21-27). Os cultos profanos

dos santuários do reino do norte eram, evidentemente, praticados com grande assiduidade.

As festas (21; em heb., haggim; isto é, as três festividades em que todo homem deveria estar presente - cf. Êx 23.14,17), os

Page 26: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 26 holocaustos, as ofertas de manjares e as ofertas pacíficas (22), estavam todas presentes, mas faltava a justiça. A perversidade dessa separação fazia na separação entre a religião e a moralidade.

A mensagem do profeta, em sua pura essência, é sumarizada no versículo 24. Toda a paixão profética acha-se aqui encerrada. Era a mensagem suprema de Deus para uma época de corrupta moralidade social. No deserto, cuja idade áurea do passado era olhada com grande saudade pelos profetas, não tinha havido coisa alguma daquele elaborado ritualismo, segundo Amós parece deixar subentendido; não obstante, foi um período quando Deus vivia com o Seu povo.

Vosso Moloque, e o altar das vossas imagens (26), ou, mais provavelmente, "Sacute e Quevan", eram deuses assírios. Por meio de seu pecado e maus caminhos Israel tinha, por implicação, tornado seus os deuses da Assíria. O profeta contempla o futuro cativeiro de Israel na Assíria, além de Damasco (27). Ela acabaria aceitando esses ídolos na terra de seu cativeiro e assim tornaria explícito aquilo que antes tinha sido apenas implícito.

Amós 6 5. OS CALEJADOS RICOS DE ISRAEL (6.1-6). A prosperidade

e a paz relativa do país, juntamente com a adoração florescente em Betel e em outros santuários, tinham engendrado uma falsa segurança política. O povo, e particularmente os ricos comerciantes, estavam seguros (1). Essa mortal "segurança" se tinha espalhado, aparentemente, pelo reino do sul também, pois Sião (1) é emparelhada com Samaria na acusação do profeta. Porém, excetuando essa breve menção de Sião, o ataque do profeta se concentrava contra os calejados ricos de Samaria, os quais, por causa da posição social que a riqueza lhes proporcionava, se consideravam numa posição entre as primeiras nações, e aos quais vem a casa de Isarel! (1); ou seja, homens notáveis, os quais como quase sempre, estabeleciam os padrões, e aos quais o resto do povo procurava imitar.

Page 27: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 27 Em seguida o profeta convida o povo a dar uma olhada para

Calne, Hamate e Gate, três dos reinos vizinhos sobre os quais tinha sobrevindo o juízo (2). Àqueles calejados, indiferentes e iludidos ricos o profeta pergunta: pensais realmente que sois melhores que esses reinos e que podeis escapar ao julgamento? Vossas fronteiras são mais extensas que as fronteiras do resto do povo? Pensais efetivamente que estais em segurança, quando todos os demais, dentro e fora de Israel, correm perigos? Então, segue-se uma terrível exposição dos pecados dos ricos.

Os dias maus são postos à distância, fora de suas mentes; recusam-se a pensar a respeito, porém, tal atitude só lhes traria o lugar da violência, o dia de crise e julgamento, para mais perto, tornando-o ainda mais certo (3). Dormiam em camas de marfim e se deitavam em divãs - costumes esses que o profeta-pastor só podia considerar com o maior desprezo (4). A lassidão nos gestos acompanha a lassidão na moral (Horton). O alimento dos ricos consistia de "cordeiros novos e bezerros cevados" (Moffatt). Acusa o profeta: Vós cantais (em heb. parat; lit. "ululais") como bêbados que tentam cantar para suas orquestras. Assim como Davi havia introduzido a música na adoração divina, igualmente aqueles bêbados haviam inventado instrumentos para acompanhar suas vociferações em suas bebedeiras (5). Bebiam vinho em taças cheias e se ungiam com os melhores ungüentos, mas permaneciam indiferentes e não se incomodavam com a aflição de Israel - a aflição de todos os pobres oprimidos ao derredor e a aflição maior que já ia surgindo para eles no horizonte. Aqueles ricos possuíam tudo quanto queriam - riquezas, descanso, luxo, religião; porém, não tinham a única coisa de que realmente precisavam - um coração misericordioso e compassivo. Política e economicamente, Israel era próspera, mas moralmente, estava apodrecendo.

6. O IMINENTE JULGAMENTO CONTRA ISRAEL - (6.7-14).

O versículo 7 anuncia a natureza do julgamento - o cativeiro. Nesse julgamento os ricos reteriam sua proeminência; ir-se-iam entre os

Page 28: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 28 primeiros cativos (7). O resultado de seu julgamento seria cessação de todos os banquetes (7). Todavia, embora os ricos fossem os primeiros a sentir o impacto do julgamento; este não seria limitado a eles. Samaria inteira ficaria livre do povo, pois Deus abominava a cidade com todos os seus palácios, que eram o orgulho de Israel (8) - "a vanglória que havia substituído a verdadeira glória" (Prof. M.A. Canney).

Os versículos seguintes dão os resultados da queda de Samaria. O castigo seria tão severo que dificilmente restaria algum sobrevivente. Um parente visita uma casa na companhia de um amigo, a fim de sepultar os ossos de um parente seu. À pergunta: "Há ainda mais alguns ai?" a resposta do amigo, que estivera procurando a casa, será "Não". "Cala-te!", responde o parente. Deus estava irado; isso é claro bastante. Tal devastação só poderia ser provocada por Sua ira. Não deveria ser mencionado o Seu nome (10). Por mandamento de Jeová a casa grande (do rico) seria reduzida a fragmentos, e a casa pequena (do pobre), estando também no caminho do tufão, não podia escapar inteiramente do golpe, e seria fendida (11).

O versículo 12 apresenta novamente a razão para esse julgamento – a perversão da justiça. É falta de bom senso esperar que cavalos se atirassem precipício abaixo e igualmente falta de bom senso esperar lavrar a rocha, com bois: ambas as coisas terminariam em desastre. A palavra traduzida como bois é o único exemplo do plural de um substantivo coletivo que normalmente aparece no singular (isto é, b'qarim, em lugar do costumeiro baqar).

A terminação plural, entretanto, pode ser destacada para que se leia yam (mar), deixando bqr receber os pontos vocálicos ordinários. Nesse caso a sentença leria: "Pode-se lavrar ao mar com bois"? (isto é, babaqar yam em lugar de b'qarim) e algumas versões seguem essa possibilidade. Israel era culpada de um comportamento assim louco. Havia transformado a justiça em veneno e a retidão em alosna. Agora, tinha de agüentar as conseqüências - o julgamento (12). A iniqüidade, tal como aquela de que Israel era culpada, não era coisa de somenos, para ser desprezada; não

Page 29: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 29 obstante, era justamente assim que essa culpa era por eles considerada (13). Israel também se vangloriava de seu poder (13), mais Jeová estava levantando um povo (a Assíria) contra ela, e nenhum poder dos israelitas valeria alguma coisa contra os assírios naquele dia (14).

De nada (em heb. Lo-debar) e poderosos (em heb. Karnaim) eram cidades de Gileade, e muitos comentadores acreditam que esse versículo (13) se refere àquelas duas cidades que Jeroboão II conquistara da Síria. Israel estava-se regozijando e se vangloriando acerca de seus sucessos. Qualquer que seja o modo pelo qual interpretemos, a Assíria estava vingada contra Israel e a afligiria desde a entrada (isto é, fronteira) de Hamate até ao ribeiro da planície. Em outras palavras, a Assíria oprimiria Israel desde sua fronteira mais ao norte (Hamate) até o rio da planície, provavelmente o ribeiro do Egito, o limite tradicional de Israel, ao sul; sumarizando, a terra inteira.

IV. REVELAÇÃO DO DESÍGNIO DE DEUS - 7.1-9.10 A terceira parte do livro de Amós consiste de uma série de cinco

visões, que em sua natureza, são uma revelação do desígnio de Deus com respeito a Israel, em vista de sua rebeldia e impenitência. A terceira visão é seguida por um interlúdio histórico (7.10-17). O desígnio de Jeová, conforme o profeta já havia indicado mais de uma vez, era o julgamento. A princípio, devido à intercessão de Amós, tal julgamento é desviado (7.1-6), mas, conforme as visões se vão desdobrando, torna-se cada vez mais óbvio que tal julgamento era inevitável (7.7-9); além disso, era iminente (7.1-14) e inescapável (9.1-10).

Amós 7 a) A visão do gafanhoto devorador (7.1-3) O Senhor Jeová assim me fez ver (1). A revelação, da parte de

Deus, se tornara visão, da parte do profeta. Gafanhotos (1); isto é,

Page 30: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 30 locustas, que têm sido uma das mais freqüentes e mais destruidoras pragas da Palestina. Erva serôdia (1). A primeira "erva" tem início em outubro e prossegue por todo o inverno; por conseguinte, a erva serôdia surge na primavera, após as "últimas chuvas". Era essa erva mais tardia e mais rica que as locustas haviam devorado. Fora uma terrível calamidade, pois o próximo pasto não estaria pronto senão no próximo outono. A segada do rei (1) era, evidentemente, um tributo imposto pelos reis de Israel.

A visão da praga é seguida pela oração do profeta solicitando perdão, e essa oração, por sua vez, é seguida pelo perdão de Deus: Não acontecerá (3). O que não aconteceria, evidentemente, conforme tantas vezes é referido no capítulo primeiro, era a invasão assíria.

b) A visão do fogo consumidor (7.4-6) A segunda visão do profeta foi sobre um grande incêndio

consumidor que não apenas destruiria uma porção da terra (isto é, a terra prometida por Jeová a Israel), mas que também devoraria o grande abismo (4; em heb. tehom). Trata-se do abismo primevo da criação, o vasto acúmulo de águas sobre as quais se supunha que a terra flutuava, a fonte de todas as fontes e rios. Segue-se que se esse abismo fosse devorado a origem do todas as fontes e cabeceiras dos rios haveria de desaparecer. Isso significaria a seca, e a terra não aguada logo haveria de perecer.

Tal como em 7.1-3, a visão do profeta sobre a praga é seguida por uma oração, e essa oração conduz ao perdão de Jeová.

c) A visão do prumo perscrutador (7.7-9) As duas primeiras visões versam sobre calamidade na esfera da

natureza, mas esta jaz na esfera da religião e da política. O tecido inteiro da nação estava tão apodrecido que o colapso final era inevitável. O

Page 31: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 31 próprio Deus colocara o prumo. Israel fora medido, fora pesado, e fora achado em falta. Tão convencido estava o profeta da inevitabilidade do julgamento, que nem ao menos pôde orar pedindo um adiamento.

Os altos (9), isto é, os lugares sagrados da Palestina geralmente usados por Israel para uma mistura entre os ritos pagãos originais com a adoração a Jeová tornar-se-iam desolados; assim também sucederia aos santuários oficiais em Betel, Gilgal, etc. Os pilares, que sustentavam o edifício religioso de Israel, foram encontrados totalmente tortos pela linha de medir de Jeová e a tempestade do julgamento haveria de derrubar a todos por terra. O mesmo se aplicava à estrutura política; estava irreparavelmente torta e instável e inevitavelmente cairia, no dia da ira de Jeová - levantar-me-ei... contra a casa de Jeroboão (9).

d) Interlúdio histórico (7.10-17) É provável que a terceira visão tenha sido entregue por Amós ao

povo, no santuário de Betel. E foi nessa altura que Amazias, o sacerdote de Betel, o interrompeu. "O sacerdote, que não tinha consciência de qualquer poder espiritual com o qual fazer oposição ao profeta, alegremente se aproveitou da oportunidade fornecida pela menção ao rei e se valeu do invariável recurso de um estéril e invejoso sacerdotalismo: "Ele fala contra César" (G. A. Smith). Primeiramente Amazias se volta para o rei: Amós tem conspirado contra ti (10). Relembrando-se, talvez, de que a própria dinastia de Jeroboão, no tempo de Jeú, cerca de cem anos antes, havia sido elevada ao poder pelos grêmios proféticos sob Eliseu, não admira que Amazias tenha ficado apreensivo. Mas dessa vez a situação era mais séria. Não apenas o rei do país haveria de cair, mas o próprio país do rei também cairia - a nação inteira iria para o cativeiro (11). Não admira que a terra, segundo o sacerdote de Betel, não pudesse tolerar a gravidade desse oráculo. Mas, quaisquer que sejam os motivos, quer um senso de sua própria segurança quer apenas mero desprezo pela mensagem daquele profeta-pastor, o fato é que Jeroboão

Page 32: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 32 evidentemente não se incomodou com Amós. Amazias em seguida se volta contra o profeta (7.12-13). Amós é ordenado a voltar à sua própria nação e para ali ganhar o seu pão, pois Amazias julgou que Amós fosse um profeta profissional. Parece que Amazias empregou a palavra vidente (12; em heb., hozeh) em sentido desprezível: "Desaparece, visionário!" Betel era a capela e o palácio do rei; ali não queriam um profeta vindo de Judá.

Tendo Amazias terminado suas acusações contra Amós, chega a vez do profeta passar a responder ao sacerdote (14-15). Ele não tem tido qualquer conexão com quaisquer profetas; ele tinha sido pastor e cultivador de sicômoros. Deus o tinha chamado de entre o gado e o havia comissionado para dirigir-se ao próprio rebanho de Jeová. Porém, o homem que não tinha tido qualquer conexão com outros profetas, estava destinado a ter uma conexão bem definida e vital com os profetas, no futuro. Em seguida vem uma dupla declaração (16-17): uma dela diz respeito a Amazias e sua família, e a outra diz respeito à nação de Amazias.

A ordem para que o profeta não profetizasse, Não profetizarás (16), é contrastada com o mandamento de Jeová, assim diz o Senhor (17). Com amarga e penetrante ênfase, o profeta descreve as conseqüências da invasão e da derrota sobre a família do sacerdote. Sua esposa seria uma prostituta naquela mesma cidade onde por tanto tempo fora a dama principal, seus filhos seriam mortos e o próprio sacerdote pereceria numa terra imunda, ou seja, solo impuro, isto é, uma terra estrangeira. Quanto à própria nação, seria dividida, e seus habitantes seguiriam para o cativeiro.

Amós 8 e) A visão do cesto de frutas de verão (8.1-14) Nesta visão o profeta retorna para a iminência do julgamento.

Talvez tenha sido a palavra fim (em heb., qeyts), que levou Amós a ter

Page 33: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 33 esta visão sobre os frutos de verão (em heb., qayits). Israel se assemelhava a um cesto cheio de frutas maduras demais de verão, prontas para apodrecer.

Chegou o fim sobre o meu povo (2). Deus havia freqüentemente demonstrado piedade e fora paciente para com o Seu povo. O julgamento havia sido adiado por muitas vezes, mas desta vez a decisão era final e irrevogável. Nunca mais passarei por ele (2). Alguns dos resultados desse julgamento são indicados no versículo 3. Em lugar de cânticos haveria gritos no templo (ou «palácio») heykhal é ocasionalmente usada para designar um palácio real, e esse poderia ser seu sentido aqui. Do lado de fora estão os cadáveres dos mortos, espalhados, e esses seriam deixados em silêncio, sem sepultamento.

Amós volta então ao tema principal de sua profecia - a ganância sem paralelo dos ricos, a opressão insuportável contra os pobres, e o julgamento inevitável vindo do céu.

Os gananciosos e ricos senhores de terra buscavam destruir os miseráveis (4). Isso, provavelmente, significa que estavam a comprar as pequenas propriedades dos mais pobres, tornando-os assim inevitavelmente seus escravos. Tão gananciosos eram, que dificilmente podiam esperar até o sábado e a lua nova passarem. Balanças falsas e medidas falsas eram usadas para vender seus produtos, dando o mínimo possível pelo máximo que podiam extrair (5), "fazendo muito dinheiro", comprando o homem pobre em troco "de nada", e vendendo-o como escravo.

Não apenas isso, mas as cascas do trigo eram vendidas como se fosse bom produto (6).

Após a breve denúncia contra ganância tão sem paralelo, por parte dos ricos comerciantes, vem o anuncio - desta vez com grande inexorabilidade - sobre a certeza, a totalidade e as conseqüências do julgamento (7-14). A certeza do julgamento jaz no fato que Jeová, que havia jurado pela glória de Jacó (provavelmente um sinônimo para o nome sagrado) não perdoaria suas obras perversas (7).

Page 34: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 34 A totalidade do julgamento é indicada nas palavras levantar-se-á

toda como o grande rio (8). O julgamento assolaria a terra como um rio que transborda e inunda as suas margens. Israel seria rejeitada, seria varrido para fora de sua terra, e seria engolfado, isto é, desapareceria num país estrangeiro, como o Nilo inunda suas margens e carrega para o mar todos os objetos soltos (8).

O resto do capítulo trata de algumas das conseqüências desse julgamento. Primeiro, haveria trevas (9). Um eclipse do sol teve lugar em 763 A. C., e bem poderia ter inspirado esta passagem. Mas o profeta, obviamente, estava pensando em um dia ainda futuro. O dia de juízo, tão próximo e inevitável, seria realmente um dia sombrio para o povo de Israel. Seria um dia de trevas mais densas que qualquer eclipse do sol poderia produzir.

Em seguida, haveria lamentações (10). O julgamento que sobreveio produziu efetivamente essas lamentações (cf. Sl 137.1: "Junto aos rios de Babilônia nos assentamos e choramos, lembrando-nos de Sião").

Essa lamentação também não foi ordinária, mas foi como luto de filho único. Nenhuma linguagem pode expressar a agudeza e amargura dessa tristeza.

A fome foi outra das conseqüências do julgamento de Jeová (11). Somente que dessa vez não foi fome de pão, nem sede de água; mas seria uma fome espiritual - uma fome da Palavra de Deus, aquela mesma palavra que Israel havia desprezado e rejeitado.

Porém, seu pão não seria achado, não importando onde fosse rebuscado (12). "Na fome pela Palavra de Deus, os jovens são os que mais sofrem" (Horton). As pessoas idosas, olhando para o passado, podem viver das memórias; outro é o caso dos jovens: desmaiam e coisa alguma há para fazê-los reviver e muito menos para alimentar o homem íntimo (13). A conseqüência final do julgamento seria destruição completa dos idólatras.

Page 35: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 35 Aqueles que juram pelo delito de Samaria, isto é, pelo bezerro

de ouro estabelecido por Jeroboão I, ou, como dizem outras versões "pelo caminho de Berseba", como os muçulmanos juram pelo "sagrado caminho para Meca", cairão e não se levantarão mais (14). Seus ídolos seriam totalmente incapazes de ajudá-los naquele negro e espantoso dia de julgamento.

Amós 9 f) A visão do Senhor sobre o altar (9.1-10) Nesta última visão o profeta contempla um julgamento final e

inescapável. Amós viu Jeová, não como Isaías, "alto e sublime", rodeado por anjos e arcanjos, a transmitir uma mensagem de esperança para os impuros, mas antes, sozinho, em pé sobre o altar, e o mandamento que deu foi: Fere (1). Durante todo o tempo o julgamento vinha sendo declarado e estava iminente. Agora chegara o instante crucial. O julgamento, nesta visão, começa pela casa de Deus - o santuário de Betel, o centro da adoração nacional de Israel, e o próprio local que os israelitas religiosos consideravam como o lugar da habitação de Jeová, sagrado e inviolável. Isso demonstraria que Jeová não se encontra ali de modo algum. Fere o capitel (1; lit., "capitéis").

Visto que o telhado de uma casa era sustentado pelas colunas, os capitéís das colunas seriam feridos em primeiro lugar, para assegurar o colapso do edifício inteiro. O quadro é de um templo repleto de adoradores: subitamente rui o edifício inteiro sobre eles. Alguns, que por acaso estejam do lado de fora no momento, fogem aterrorizados, mas, quem assim fizer, não escapará; e qualquer que tiver conseguido fugir, não se salvará (1).

O julgamento os alcançará mesmo que cavem profundamente a terra ou subam até os próprios céus (2). Nem o cume do Carmelo, que era o asilo onde o gado era protegido por sanções religiosas (cf. Robertson Smith, Religion of the Semites), nem a profundeza dos

Page 36: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 36 mares, onde se encontra o temido leviatã ou monstro marinho (serpente), poderão escondê-los das mãos de Deus (3). Mesmo no cativeiro - "para Israel, uma distância da face de Deus tão terrível como o próprio Seol" (G. A. Smith) - não estariam em segurança, pois a espada do julgamento tinha ordens de matá-los ali. Tal era o julgamento inescapável, pois os olhos de Jeová já não estavam mais sobre eles para bem (4).

Nos versículos seguintes a ênfase é alterada, desviando-se do julgamento para o próprio Juiz. O julgamento seria e deveria ser conforme tinha sido pintado por causa da onipotência do Juiz: Ele é o Senhor dos Exércitos (5). Quando Deus tocar na terra, então o julgamento cairia conforme já tinha sido descrito em 8.8, como um poderoso e assolador dilúvio, como as águas inundantes do Nilo (5). O versículo 6 é um quadro do palácio de muitos andares de Jeová, que, "terraço após terraço chega até o céu". Porém, embora Sua habitação esteja tão lá em cima, Ele opera na terra e para o bem estar do homem. Tão longe quanto os olhos podem ver, Ele estabelecera Sua abóbada (em heb., aggudah, isto é, "côncavo", ou seja, algo encurvado na vasta abóbada hemisférica dos céus, como uma enorme cúpula, por sobra a terra. As águas do mar são por Ele chamadas (cf. 5.8), e Ele torna a derramá-las sobre a terra na forma de chuva.

O versículo seguinte deixa claro que, embora o Juiz de Israel esteja em relação especial para com a nação, essa relação depende, para sua continuação, da lealdade e da fidelidade da Israel. É verdade que Israel tinha sido tirado do Egito para ser povo especial a Deus, mas essa relação particular se baseava não tanto sobre esse fato como sobre a aliança que mais tarde foi estabelecida no deserto.

Afinal de contas, Deus também havia tirado os odiados filisteus da ilha de Creta (Caftor) e os sírios de Quir, de além de Damasco (7). O universalismo do profeta se origina em sua concepção de moralidade universal. Visto que Jeová era exaltado em retidão, era Ele o Governante e Juiz de toda a humanidade. Mas o Deus de toda a terra, que observava

Page 37: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 37 os destinos de todas as nações, não podia desculpar os pecados da Israel à base da uma relação de aliança. Seus olhos estavam contra este reino pecador (8), e os pecados cometidos contra a luz tinham da ser severamente punidos. O reino seria totalmente destruído, ainda que tivesse de ficar um remanescente (8). Essa é uma nota tão inesperada na profecia de Amós que muitos eruditos estão mais dispostos a não admitir esta seção final como genuína. Porém, nada de incoerente existe aqui. O julgamento proclamado, de princípio a fim, é duro, severo, todo-inclusivo, inescapável; porém, o céu negríssimo tinha algumas poucas estrelas. O julgamento de Israel seria da natureza de um processo de seleção.

Sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como se sacode grão no crivo (9).

Toda a palha haveria de perecer (Todos os pecadores do meu povo morrerão), mas o grão bom seria salvo (10).

V. EPÍLOGO - 9.11-15 O tema desta seção final é restauração. Note-se as frases chaves:

Tornarei a levantar, removerei e plantarei. Os poucos raios de luz, dos dois ou três últimos versículos, dão lugar ao nascer do sol de um novo dia, quando a profecia termina. Negra, realmente, foi a meia-noite desta mensagem, porém, o raiar do dia está próximo. O remanescente do cativeiro tornar-se-ia a ponta de lança da uma nova nação. Haveria uma grande restauração; e, antes de mais nada, uma restauração da casa de Davi (11).

Aquela seria a glória de um reino não dividido, quando o norte e o sul novamente estariam debaixo de um só rei, como nos dias de Davi. As brechas seriam consertadas e as ruínas seriam reconstruídas. Isso seria seguido pela restauração do reino (12). Israel viria a possuir uma vez mais o que restasse (o restante) de Edom a de todas as outras nações que Jeová conquistasse.

Page 38: Amos - N. Comentario

Amós (Comentário da Bíblia) 38 As nações que são chamadas pelo meu nome (12) é,

provavelmente, uma referência a todos os países que Davi tinha conquistado. A restauração da família davídica e da nação também significaria a restauração da terra (13). Tão fértil seria seu solo que o que lavra alcançará ao que sega, preparando o solo para a colheita seguinte. Em outras palavras, o tempo da semeadura e a colheita se seguiriam em rápida sucessão, e nenhuma interrupção nesse processo, por meio de seca ou qualquer outra praga, é contemplada.

As colinas, normalmente estéreis, também fariam sua contribuição para a prosperidade do povo, pois produziriam sua colheita de uvas - destilarão mosto (13).

E finalmente e acima de tudo, haveria a restauração do cativeiro (14-15). Cidades seriam reedificadas e habitadas; vinhedos e jardim seriam plantados e o povo desfrutaria de seu fruto; o próprio Israel seria plantado qual árvore na terra que lhe fora dada por Jeová, e nenhum desastre o desenraizaria novamente. A noite de tragédia e julgamento passaria para sempre da face da terra, pois Jeová, o Deus de Israel uma vez mais (teu Deus), havia assim desejado e declarado.

O. Bussey.