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ANA CAROLINA BRANDT DE MACEDO ESTUDO COMPARATIVO MORFOLÓGICO E IMUNOHISTOQUÍMICO ENTRE DIFERENTES MÉTODOS DE TRATAMENTO DA CONTUSÃO MUSCULAR DE GASTROCNEMIO EM RATOS CURITIBA 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ANA CAROLINA BRANDT DE MACEDO

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  • ANA CAROLINA BRANDT DE MACEDO

    ESTUDO COMPARATIVO MORFOLGICO E

    IMUNOHISTOQUMICO ENTRE DIFERENTES

    MTODOS DE TRATAMENTO DA CONTUSO

    MUSCULAR DE GASTROCNEMIO EM RATOS

    CURITIBA 2014

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  • ANA CAROLINA BRANDT DE MACEDO

    ESTUDO COMPARATIVO MORFOLGICO E

    IMUNOHISTOQUMICO ENTRE DIFERENTES MTODOS DE

    TRATAMENTO DA CONTUSO MUSCULAR DE

    GASTROCNEMIO EM RATOS

    Tese apresentada como requisito parcial para a obteno do Ttulo de Doutor em Educao Fsica do Programa de Ps-Graduao em Educao Fsica, do Setor de Cincias Biolgicas da Universidade Federal do Paran.

    Orientadora: Profa. Dra. Anna Raquel Silveira Gomes Coorientadora: Profa. Dra. Lucia de Noronha

  • iii

  • iv

    Dedicatria

    Aos meus pais, marido e filhos

  • v

    AGRADECIMENTOS

    A Deus,

    Ao meu marido Rafael Michel de Macedo, que me incentivou a iniciar o doutorado

    mesmo com um beb pequeno. Obrigado por ser meu amigo, meu companheiro,

    meu amor, por me ajudar nos momentos mais difceis dessa caminhada. Sem voc

    esse sonho no seria possvel;

    Aos meus filhos Leonardo, Gabriel e Pedro que so a razo do meu viver;

    Aos meus pais que sempre me apoiaram e me incentivaram a terminar essa

    caminhada;

    A minha orientadora Anna Raquel Silveira Gomes que me aceitou como orientanda

    e realizou meu sonho de trabalhar com pesquisa experimental. Voc um exemplo

    de pessoa, profissional e pesquisadora. Obrigada por me apoiar nos momentos

    difceis e acreditar que meu trabalho seria possvel, mesmo com tantas dificuldades

    que passamos;

    minha coorientadora Lucia de Noronha que tornou possvel a realizao desse

    trabalho;

    A minha grande amiga e companheira Julye Leiko Ywazaki, por todo ensinamento e

    ajuda durante a parte prtica do meu trabalho. Sem voc nada seria possvel.

    Obrigada pela fora em todos os momentos de dificuldades. S ns sabemos o que

    passamos... Serei eternamente grata....

    Aos meus alunos da Unibrasil, em especial a Sibelly Blum Gonalves, Jaqueline

    Pacheco, Tallyta Camargo, Carolina Canturio e Fabrizio Conduta pelo auxlio no

    laboratrio;

  • vi

    A minha Sogra Sandra Maria Michel de Macedo que ajudou a cuidar dos meus

    filhos;

    A minha irm Ana Paula Brandt Mielke pela ajuda no meu primeiro ano com o meu

    filho pra que eu pudesse cursar as disciplinas;

    PUC-Pr pela utilizao do laboratrio de Patologia;

    A Unibrasil pelo emprstimo do biotrio e laboratrio de fisiologia;

    Ao CNPQ pelo apoio financeiro.

  • vii

    PARTE I

    RESUMO

    O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos agudos do alongamento aps contuso do

    gastrocnmio de ratos. Foram selecionados 33 ratos Wistar machos (8 semanas,

    219 35g) que foram divididos em 4 grupos: Controle (GC,n=3)- intacto; Leso (GL,

    n=10); Alongamento (GA, n=10); Leso e Alongamento (GLA, n=10). O

    gastrocnmio direito (GD) foi submetido contuso. O alongamento do GD foi

    realizado manualmente, 4 repeties de 30s, durante 5 dias, iniciado 72h aps a

    leso. Aps 1 semana, os ratos foram pesados e os msculos de ambas as patas

    foram retirados para anlise do peso e comprimento muscular, nmero e

    comprimento dos sarcmeros. O peso corporal final aumentou em todos os grupos.

    O peso, comprimento muscular e nmero de sarcmeros em srie (NSS) do GL

    foram maiores que o GA. Porm, NSS do GLA foi superior ao GA. O comprimento

    dos sarcmeros do GA foi maior que os demais grupos. Conclui-se que a contuso e

    alongamento no interferiram no ganho de peso corporal. O alongamento induziu

    sarcomerognese em msculos lesados, porm, no modificou o msculo hgido.

    Palavras-chave: sistema musculoesqueltico, leses, exerccios de alongamento

    muscular, sarcmeros, ratos.

  • viii

    PARTE I

    ABSTRACT

    The aim of this study was evaluated the acute effects of stretching after

    gastrocnemius contusion in rats. It was selected 33 Male Wistar rats (8 weeks,

    21935g) were divided into 4 groups: Control (GC, n=3)- intact, Lesion (GL, n=10);

    Stretching (GS, n=10): Lesion and stretching (GLS, n=10). The right gastrocnemius

    (GR) was submitted to contusion. The stretching on GR was performed manually, 4

    repetitions of 30s each day, for 5 consecutive days, beginning 72 h after contusion.

    One week later, the rats were weighed and both were removed for investigation of

    muscle length, serial sarcomere number and sarcomere length. The final body weight

    increased in all groups. The muscle weight and length, serial sarcomere number

    (SSN) of GL were greater than GS. However, the SSN of GLS was higher than GS.

    The sarcomere length of GS was higher than all groups. It was concluded that the

    contusion and stretching doesnt affect the body weight gain. The stretching induced

    sarcomerogenesis in injured muscle, but did not modify the healthy muscle.

    key-words: muscle skeletal system, injuries, muscle stretching exercise,

    sarcomeres, rats.

  • ix

    PARTE II

    RESUMO

    Objetivo: comparar os efeitos do alongamento e/ou ultrassom teraputico, na

    morfologia e imunohistoqumica muscular aps contuso em ratos. Metodologia:

    Ratos albinos machos (n=35, 8-9 semanas, 27114g), foram divididos em cinco

    grupos: Grupo Controle (GC, n=03); Grupo Leso (GL, n=8); Grupo Leso +

    Ultrassom (GLUS, n=8); Grupo Leso + Alongamento (GLA, n=8); Grupo Leso +

    Ultrassom + Alongamento (GLUSA, n=8). O gastrocnmio direito foi submetido

    contuso. A aplicao do ultrassom foi iniciada 72h aps a contuso e os

    parmetros utilizados foram: modo pulsado 50%, 0,5 W/cm2, 5 min. Foram

    realizadas 5 aplicaes, uma por dia, durante 5 dias consecutivos. No 10o dia foi

    iniciado o alongamento passivo manual do MG direito, 4 repeties de 30s, com 30s

    de repouso entre cada repetio, 1 vez por dia, de segunda sexta-feira, por 2

    semanas, totalizando 10 aplicaes. Aps 22 dias, os ratos foram pesados e os

    msculos de ambas as patas foram retirados para anlise do peso e comprimento

    muscular, nmero e comprimento dos sarcmeros, rea de seco transversa e

    porcentagem de colgeno (I e III), rea da desmina e laminina. A anlise dos

    resultados foi realizada por meio da ANOVA post hoc Tukey e para valores no

    paramtricos foi usado Kruskall Wallis (p

  • x

    na rea de laminina. Concluso: os protocolos de interveno no interferiam no

    ganho de peso corporal dos animais. A associao do ultrassom com o alongamento

    foi determinante para a sarcomerognese, porm, somente o alongamento preveniu

    o aumento de colgeno nos msculos lesados. O ultrassom associado ao

    alongamento melhorou a regenerao muscular.

    Palavras-chave: sistema msculo esqueltico, leses, exerccios de alongamento

    muscular, terapia por ultrassom, desmina, laminina.

  • xi

    PARTE II

    ABSTRACT

    Objective: compare the effects of therapeutic ultrasound and/or stretching on muscle

    morphology and imuno-histochemical after rat muscle contusion. Methodology: Male

    albin rats (n=35, 8-9 weeks, 27114g) were divided in five groups: control group (CG,

    n=3); lesion group (LG, n=8); lesion + ultrasound group (LUG, n=8); lesion +

    stretching group (LSG, n=8); lesion + ultrasound + stretching group (LUSG, n=8).

    The right gastrocnemius was submitted by contusion. The ultrasound was initiated

    after 72h of contusion in 50% pulsed mode, 0,5 W/cm2, 5 min. It was realized 5

    applications, once a day, during 5 consecutive days. In the tenth day, the passive

    stretching was initiated (4 stretches lasting 30s each with 30s of rest), once a day,

    during 2 weeks, totalizing 10 applications. Initial and final body weight, muscle weight

    and length, number and length sarcomere, muscle fiber cross sectional area,

    percentage of collagen (I e III), laminin and desmin were evaluated after 22 days.

    The statistical analysis was made by ANOVA post hoc Tukey to parametric values

    and Kruskall Wallis to non-parametric values (p

  • xii

    Key-words: muscle skeletal system, injuries, muscle stretching exercise , ultrasonic

    therapy, desmin, laminin.

  • xiii

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1- Representao esquemtica do processo de regenerao muscular 33

    FIGURA 2- Desenho esquemtico da interao das clulas inflamatrias com o

    msculo lesado

    36

    FIGURA 3- Protenas auxiliadoras na manuteno do sarcmero 60

    FIGURA 4- Mecanismos envolvidos no msculo submetido a uma carga

    mecnica intensa e resposta adaptativa da matrix extracelular

    61

    FIGURA 5- Desenho esquemtico da laminina demonstrando a organizao

    dos seus domnios 111 e 121.

    63

    FIGURA 6- Receptores de laminina 211 e sua ligao com as integrinas e

    distroglicanas. Adaptado de DURBEEJ, 2010.

    65

    FIGURA 7- Fluxograma do estudo- Parte I 67

    FIGURA 8- Contuso do msculo gastrocnmio 68

    FIGURA 9- Alongamento manual passivo do msculo gastrocnemio direito 69

    FIGURA 10- Msculo gastrocnmio sendo manipulado com pinas ultrafinas

    para o isolamento das fibras musculares

    70

    FIGURA 11- Fotomicrografia de uma fibra muscular isolada (Objetiva de 100x) 71

    FIGURA 12- Efeito do alongamento no peso muscular do gastrocnmio de

    ratos

    73

    FIGURA 13- Comprimento muscular dos sarcmeros de gastrocnmio de ratos 74

    FIGURA 14- Estimativa do nmero dos sarcmeros dos gastrocnmios dos

    ratos

    75

    FIGURA 15- Comprimento do sarcmero dos gastrocnmios dos ratos 76

    FIGURA 16- Fluxograma do experimento 82

    FIGURA 17- Aplicao do ultrassom no msculo gastrocnmio direito. 83

    FIGURA 18- Aparelho de ultrassom e o cabeote utilizados 84

    FIGURA 19- Pesagem do msculo na balana 85

    FIGURA 20- Mensurao do comprimento muscular com o paqumetro 85

    FIGURA 21- - Desenho esquemtico da diviso do msculo gastrocnmio para

    posterior anlise histomorfomtrica

    86

    FIGURA 22- Corte histolgico transversal do msculo gastrocnmio para

    mensurao da ASTFM por meio do programa Image Pro Plus 4.0

    88

  • xiv

    FIGURA 23- Lminas com cortes histolgicos transversais do msculo

    gastrocnmio coradas com Sirius Red

    90

    FIGURA 24- Blocos receptores amostrais 91

    FIGURA 25- Mapeamento do bloco amostral 91

    FIGURA 26- Cmera mida contendo os cortes histolgicos com o anticorpo 92

    FIGURA 27- Fotomicrografia de cortes histolgicos transversais do

    gastrocnmio com reao imunohistoqumica para desmina

    94

    FIGURA 28- Imunohistoqumica para laminina 95

    FIGURA 29- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom no peso muscular do

    gastrocnemio de ratos

    97

    FIGURA 30- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom no comprimento muscular

    do gastrocnemio de ratos

    98

    FIGURA 31- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom na estimativa do nmero

    de sarcmero em srie (enss) do msculo gastrocnemio de ratos

    99

    FIGURA 32- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom no comprimento do

    sarcmero do msculo gastrocnmio de ratos

    100

    FIGURA 33- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom na rea de seco

    transversa das fibras do msculo gastrocnmio de ratos

    101

    FIGURA 34- Cortes histolgicos da ASTFM do msculo gastrocnmio dos ratos 102

    FIGURA 35- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom na porcentagem do

    colgeno do msculo gastrocnemio de ratos

    104

    FIGURA 36- Cortes histolgicos da porcentagem de colgeno do msculo

    gastrocnmio dos ratos

    105

    FIGURA 37- Lminas da porcentagem de desmina do msculo gastrocnemio

    de ratos

    107

    FIGURA 38- Lminas da porcentagem de laminina do msculo gastrocnemio

    de ratos

    109

  • xv

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1- Efeito do alongamento no peso corporal dos ratos 72

    TABELA 2 Efeitos do ultrassom e/ou alongamento no peso

    corporal dos ratos.

    96

    TABELA 3- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom na rea de

    desmina do msculo gastrocnemio dos ratos

    106

    TABELA 4- Efeitos do alongamento e/ou ultrassom na rea de

    laminina do msculo gastrocnmio dos ratos

    108

  • xvi

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1- Perfil histoqumico das unidades musculares do

    gastrocnmio (adaptado de BURKE et al., 1973).

    31

    QUADRO 2- Espessuras necessrias para cada tecido para reduzir 50%

    da energia ultrasnica (HOOGLAND, 1986)

    44

    QUADRO 3- Resposta dos Fisioterapeutas sobre os parmetros utilizados

    para tratamento (Adaptado de WONG et al., 2007)

    50

    QUADRO 4- Uso do ultrassom e seu nvel de evidncia durante as fases

    do processo de cicatrizao e reparo (MICHLOVITZ et al., 2012).

    51

  • xvii

    LISTA DE ABREVIAES

    ADM- amplitude de movimento

    ADP- adenosina difosfato

    ASTFM- rea de seco transversa das fibras musculares

    ATP- adenosina trifosfato

    ATPase- Ac- Adenosina trifosfatase acetato veronal

    ATPase EDTA: adenosina trifosfatase cido etilenodiamino tetra-actico

    Ca+2- clcio

    CR- contrair- relaxar

    CRC- contrair- relaxar- contrair

    ENSS- estimativa do nmero de sarcmeros em srie

    FGF - fator de crescimento de fibroblasto

    FKN- fractalquina

    FNP- facilitao neuromuscular proprioceptiva

    GA- grupo alongamento

    GC- grupo controle

    GLA- grupo leso + alongamento

    GL- grupo leso

    GLUS- grupo leso + ultrassom

    GLUSA- grupo leso + ultrassom + alongamento

    HE- hemotoxilina eosina

    HGF- fator de crescimento hepatcito

    HSPs- protenas de choque trmico

    Hz- hertz

    IGF- fator de crescimento similar a insulina

    IL-1- interleucina 1

    IL-6- interleucina 6

    KHz- kilohertz

    MCR- manter-contrair-relaxar

    MCP-1- protena 1 quimioatraente de moncito

    MDC- quimiocina derivada de macrfagos

    MG- msculo gastrocnmio

  • xviii

    MGD- msculo gastrocnmio direito

    MPO- mieloperoxidase

    ms- milissegundos

    m/s- metros por segundo

    Na+1- sdio

    NaCl- cloreto de sdio

    NaDH- nicotinamida nucleotideo desidrogenase

    NO- xido ntrico

    SDH- desidrogenase succinica

    SOD- superxido dismutase

    TGF- fator de transformao do crescimento

    TnC- troponina C

    TNF- fator de necrose tumoral

    TnI- tronina I

    TnT- troponina T

    UST- ultrassom teraputico

    VEGF- NO- fator de crescimento endotelial vascular - xido ntrico

    VEGF- fator de crescimento endotelial vascular

    W/cm2- watts por centmetros quadrados

    PAR- receptor ativador de plasminognio tipo uroquinase

    PA- uroquinase;

  • xix

    SUMRIO

    1. INTRODUO 22

    2. OBJETIVOS 25

    2.1 OBJETIVO GERAL 25

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS 25

    3. HIPTESES 26

    4. REVISO BIBLIOGRFICA 27

    4.1 ESTRUTURA DO SISTEMA MUSCULOESQUELETICO 27

    4.2 MSCULO GASTROCNMIO 29

    4.3 LESO MUSCULOESQUELETICA 31

    4.4 REGENERAO MUSCULOESQUELETICA 32

    4.4.1 Fase inflamatria 33

    4.4.2 Fase proliferativa 37

    4.4.3 Fase de remodelao 39

    4.5 DIAGNSTICO E TRATAMENTO DA CONTUSO MSCULO

    ESQUELTICA

    40

    4.6 CARACTERSTICAS TCNICAS DO ULTRASSOM TERAPUTICO 42

    4.6.1 Efeitos biofsicos do ultrassom 43

    4.6.2 Interao do ultrassom com o tecido 47

    4.6.3 Ultrassom e contuso muscular 49

    4.7 ALONGAMENTO 49

    4.7.1 Alongamento e contuso muscular 55

    4.8 ARQUITETURA MUSCULAR 57

    4.9 DESMINA 59

    4.10 LAMININA 62

    PARTE I 66

    5. MATERIAL E MTODO 66

    5.1. ANIMAIS E GRUPOS EXPERIMENTAIS 66

    5.2 PROTOCOLO PARA PROMOVER A CONTUSO MUSCULAR 67

  • xx

    5.3 PROTOCOLO PARA O ALONGAMENTO DO MSCULO

    GASTROCNMIO

    68

    5.4 ORTOTANSIA DOS ANIMAIS E RETIRADA DOS MSCULOS 69

    5.5 ESTIMATIVA DE SARCMEROS EM SRIE E COMPRIMENTO

    DOS SARCMEROS

    69

    5.6 ANLISE DOS RESULTADOS 71

    6 RESULTADOS 72

    6.1 PESO CORPORAL 72

    6.2 PESO MUSCULAR 73

    6.3 COMPRIMENTO MUSCULAR DO GASTROCNMIO 73

    6.4 ESTIMATIVA DO NMERO DE SARCMEROS EM SRIE 74

    6.5 COMPRIMENTO DOS SARCMEROS 75

    7 DISCUSSO 76

    8 CONCLUSO 80

    PARTE II 81

    9 MATERIAL E MTODO 81

    9.1 PROTOCOLO PARA PROMOVER A CONTUSO MUSCULAR 83

    9.2 PROTOCOLO PARA A TERAPIA POR UST 83

    9.3 PROTOCOLO PARA O ALONGAMENTO DO MSCULO

    GASTROCNMIO

    84

    9.4 ORTOTANSIA DOS ANIMAIS E RETIRADA DOS MSCULOS 84

    9.5 PROCEDIMENTOS PARA ANLISE HISTOMORFOMTRICA 86

    9.5.1 Parafinizao do Material (Michalany, 1998) 86

    9.5.2 Colorao dos Cortes Transversais com Hematoxilina e Eosina-HE

    (Michalany, 1998)

    87

    9.5.3 Anlise da rea de Seco Transversa das Fibras Musculares-

    ASTFM (Histomorfometria) (Torres et al, 2009)

    87

    9.5.4 Colorao com Sirius Red (Michalany, 1998) 89

    9.5.5 Anlise do Tecido Conjuntivo (Biondo-Simes et al, 2005) 89

    9.6 IDENTIFICAO DO NMERO E COMPRIMENTO DOS

    SARCMEROS EM SRIE (Gomes et al., 2006)

    90

    9.7 ANLISE IMUNOHISTOQUMICA (WAKAMATSU et al., 1995) 90

  • xxi

    9.8 ANLISES DOS RESULTADOS 95

    10 RESULTADOS 95

    10.1 PESO CORPORAL 95

    10.2 PESO MUSCULAR 96

    10.3 COMPRIMENTO MUSCULAR DO GASTROCNMIO 97

    10.4 ESTIMATIVA DO NMERO DE SARCMEROS EM SRIE

    (ENSS)

    98

    10.5 COMPRIMENTO DOS SARCMEROS 99

    10.6 REA DE SECO TRANSVERSA DAS FIBRAS MUSCULARES

    (ASTFM)

    100

    10.7 ANLISE DOS COLGENOS I (MADURO) E III (IMATURO)

    (PICROSIRIUS

    103

    10.8 DESMINA 106

    10.9 LAMININA 108

    11 DISCUSSO 110

    11.1 PESO CORPORAL 110

    11.2 PESO MUSCULAR 111

    11.3 COMPRIMENTO MUSCULAR, ESTIMATIVA DO NMERO DE

    SARCMEROS EM SRIE, COMPRIMENTO DOS SARCMEROS

    112

    11.4 REA DE SECO TRANSVERSA DAS FIBRAS MUSCULARES

    (ASTFM)

    115

    11.5 ANLISE DO COLGENO (PICROSIRIUS) 116

    11.8 DESMINA E LAMININA 118

    12 CONCLUSES 121

    13 APOIO FINANCEIRO 122

    14 APOIO TCNICO 123

    15 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 124

    ANEXOS 150

    ANEXO I 151

    ANEXO II 153

  • 22

    1. INTRODUO

    A prtica esportiva tem se tornado cada vez mais frequente ao longo dos

    anos e com isso aumenta-se a exigncia do esforo fsico dos atletas de alto nvel,

    podendo acarretar leses musculoesquelticas (SMITH et al., 2008).

    A contuso e as distenses envolvem 90% das leses esportivas, sendo a

    contuso em torno de 60% (SMITH et al., 2008). Apesar da grande prevalncia

    dessas leses no ambiente esportivo, h poucos estudos clnicos sobre o tratamento

    dessas leses, podendo ser devido aos diferentes graus de severidade da leso e

    tambm por acometer msculos diversos, sendo difcil a padronizao de

    tratamentos (JARVINEN et al., 2005; 2007).

    A contuso leso causada por trauma direto no musculoesqueltico, que

    aplica fora compressiva sobre o tecido muscular (JARVINEN et al., 2007). Essa

    leso resulta em: ruptura capilar, sangramento local e gera resposta inflamatria.

    Pode alterar a rea (diminuio da rea de seco transversa das fibras dos tipos I e

    II) e a incidncia dos diferentes tipos de fibras (diminuio das do tipo II e aumento

    das hbridas) (MINAMOTO et al., 2001), o que pode comprometer o desempenho

    muscular. Os msculos mais comumente envolvidos so: o quadrceps e o

    gastrocnmio, devido a colises diretas durante a prtica da atividade fsica e

    tambm em virtude desses msculos cruzarem duas articulaes e serem

    predominantes fsicos (TOUMI et al., 2006; FERNANDES et al., 2011).

    O grau da contuso depende da severidade da leso, podendo ser

    classificada em leve, moderada ou grave. Nas contuses leves (grau 1) ocorre

    pouco edema e dor, com mobilidade articular quase normal, sem alterao na

    marcha. Nas moderadas (grau 2) surge edema moderado e dor difusa, com

    diminuio da capacidade de contrao muscular. Nas graves ou severas (grau 3) o

    quadro doloroso e o espasmo muscular so mais intensos, h perda completa da

    funo e a marcha claudicante (JARVINEN et al., 2005; FERNANDES et al.,

    2011).

    O reparo rpido e completo da leso muscular alvo da traumatologia e

    medicina esportiva. Segundo Smith et al. (2008), devido aos diversos fatores

    envolvidos na leso muscular, sugere-se que um nico tratamento no seja

    suficiente para o tratamento global de todos os tipos e fases da contuso. A

  • 23

    recuperao da contuso msculo esqueltica tem sido estudada em experimentos

    animais, por meio de modelos desenvolvidos para mimetizar as alteraes

    musculares causadas por este tipo de leso, dentre estes citam-se: a crioleso

    (MIYABARA et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2006); a lacerao (PIEDADE et al., 2008)

    e a mecnica por trauma direto (STRATTON et al., 1984; MINAMOTO et al., 2001).

    No presente estudo optou-se pelo modelo por trauma direto, j que a

    crioleso e a lacerao exigiriam inciso na pele, sendo difcil a aplicao do

    ultrassom teraputico, pois segundo Agne (2009) seria necessria a colocao de

    uma almofada especial de gel descartvel ou uma fina pelcula plstica (papel filme)

    para evitar o contato direto do cabeote sobre a ferida. Alm disso, os modelos de

    crioleso e/lacerao poderiam aumentar o risco de infeco no local da contuso

    e/ou sutura, prejudicando o seguimento do protocolo experimental constitudo pelo

    tratamento com ultrassom e/ou alongamento muscular (PESTANA et al., 2012).

    Ainda, o projtil utilizado para gerar o trauma mecnico, para induzir a

    contuso muscular no presente estudo, possua superfcie plana, sendo que tm

    sido descrito que somente com este tipo de superfcie possvel alcanar leso

    uniforme, segundo Smith et al. (2008).

    Poucos estudos clnicos ou experimentais tm sido feitos comparando os

    diferentes tratamentos da contuso (NOONAN; GARRETT, 1999). Vrias tcnicas

    de interveno fisioteraputica so utilizadas para acelerar o processo de reparo

    muscular e o reestabelecimento da funo, tais como: crioterapia (SCHASER et al,

    2010); o ultrassom teraputico (UST) (PIEDADE et al., 2008; SHU et al., 2012);

    L.A.S.E.R. (FALCAI et al., 2010); plasma rico em plaquetas (RETTIG et al., 2013); a

    mobilizao precoce e exerccios (JARVINEN et al., 2005 e 2007).

    Dentre estas teraputicas destacam-se as intervenes com UST (JARVINEN

    et al, 2007) e com alongamento (TORRES et al., 2012). Porm, ambas apresentam

    baixo nvel de evidncia quanto a sua eficcia (REURINK et al., 2012; MASON et al.,

    2012). Jarvinen et al. (2005) realizaram trabalho de reviso envolvendo 170 artigos

    relacionando leses musculares e tratamento com medicao, UST e fisioterapia

    convencional. Quanto a teraputica com o ultrassom, os autores concluem que

    apesar de recomendado para tratamento, seu nvel de evidncia quanto a eficcia

    baixo. Em trabalho experimental, Wilkin et al. (2008) avaliaram a eficcia do UST

    para o tratamento de leses agudas de gastrocnmio de ratos perante as medidas

    de desfecho: rea de seco transversal do msculo; massa muscular;

  • 24

    concentrao total de protenas. Os resultados encontrados, quando comparados ao

    grupo controle, revelaram que a administrao do UST no trouxe maiores

    benefcios para a regenerao do msculo lesionado.

    J Torres et al (2012) realizaram metanlise envolvendo 35 trabalhos, 651

    pacientes, com o objetivo de verificar e eficcia da interveno com massagem (n=

    137), crioterapia (n=158), alongamento (n=184) e exerccios de baixa carga

    (n=192), para o tratamento da leso muscular induzida por treinamento fsico. O

    desfecho do estudo demonstrou que apenas a massagem apresentou resultado

    estatstico positivo de melhora para as medidas de desfecho dor e capacidade

    funcional, contrariando as expectativas principalmente relacionadas a eficcia do

    alongamento. Hwang e colaboradores (2006) verificaram, atravs de estudo

    experimental em ratos, os efeitos do alongamento passivo nas fases inflamatria,

    regenerativa e proliferativa e concluram que todos os grupos alongados (iniciados

    no 2, 7 e 14 dia) mostraram melhora significativa na regenerao e fora

    muscular, sendo os melhores resultados obtidos quando se iniciou o alongamento

    no 14 dia.

    Portanto, sabe-se que tanto o UST quanto os exerccios de alongamento so

    largamente utilizados no tratamento da leso muscular, porm ainda no existe

    consenso sobre quando e como se deve prescrever o ultrassom, o alongamento e

    ainda se a associao destas duas estratgias teraputicas poderia favorecer o

    mecanismo de regenerao muscular esqueltica. Assim, o presente estudo teve

    como objetivo comparar os efeitos do UST teraputico e/ou alongamento, na

    contuso muscular em ratos.

    O presente estudo foi dividido em 2 partes: I e II. A parte I consistiu em avaliar

    os efeitos agudos do alongamento aps contuso na morfologia do gastrocnmio de

    ratos. A parte II teve como objetivo investigar os efeitos do UST e/ou alongamento

    no tratamento da contuso muscular do gastrocnmio em ratos.

  • 25

    2. OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVOS GERAIS

    - Avaliar os efeitos agudos do alongamento aps contuso muscular em ratos.

    - Avaliar os efeitos do ultrassom e do exerccio de alongamento na regenerao do

    msculo gastrocnmio de ratos aps contuso.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Avaliar o peso corporal e peso muscular;

    - Medir o comprimento muscular;

    - Contar o nmero de sarcmeros em srie;

    - Estimar o comprimento dos sarcmeros;

    - Mensurar a rea de seco transversa das fibras musculares;

    - Quantificar a porcentagem de tecido conjuntivo;

    - Analisar as protenas desmina e laminina.

  • 26

    3. HIPTESES

    H0- O UST e o alongamento no afetaro a histomorfometria e sarcomerognese do

    msculo gastrocnmio aps contuso muscular;

    H1- O UST e/ou o alongamento no afetar a rea de seco transversa, somente

    aumentar sarcomerognese e favorecer o processo de regenerao do msculo

    gastrocnmio aps contuso;

    H2- O UST e/ou alongamento impedir a proliferao do tecido conjuntivo aps a

    contuso muscular;

    H3- O UST e/ou alongamento aumentar a quantidade de desmina aps a contuso

    muscular, favorecendo o processo de regenerao muscular;

    H4- O UST e/ou alongamento no modificar a quantidade de laminina, indicando

    melhora no processo de regenerao.

  • 27

    4. REVISO BIBLIOGRAFICA

    4.1 ESTRUTURA DO SISTEMA MUSCULOESQUELTICO

    O sistema musculoesqueltico formado pelas fibras musculares, que so

    clulas longas, cilndricas, multinucleadas e com dimetro em torno de 10 a 100 m

    (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). Segundo Lieber (2002), a mensurao do

    dimetro da fibra importante, pois pode determinar a fora da fibra, sendo que a

    mudana em sua medida pode sugerir alterao em nvel muscular.

    O msculo envolvido externamente por uma membrana de tecido

    conjuntivo, o epimsio. Cada fibra muscular contm vrias fibrilas paralelas, as

    miofibrilas, que preenchem o citoplasma (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). As fibras

    musculares presentes no msculo so separadas por septos, que agrupam de dez a

    cem fibras musculares em fascculos, tambm oriundos de tecido conjuntivo que so

    chamados de perimsio (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). Este tem a funo de

    envolver o ventre muscular para proteger e manter as fibras e fascculos

    organizados para potencializar a ao muscular (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012).

    Tanto o epimsio quanto o perimsio contm quantidades maiores de fibras de

    colgeno tipo I (fibras colgenas propriamente ditas) que fibras reticulares (formadas

    por colgeno tipo III) (KETEYIAN; FOSS, 2000). Cada fibra muscular existente no

    feixe est envolvida pelo endomsio onde h predomnio de fibras reticulares

    (KETEYIAN; FOSS, 2000).

    A miofibrila tem como caracterstica a presena de estriaes transversais

    (visveis ao microscpio) e por este motivo o sistema msculo esqueltico

    designado estriado. Ela formada por dois tipos de miofilamentos proticos: o

    grosso que formado pela miosina e o fino que formado pela actina, troponina e

    tropomiosina. Cada miofibrila contm cerca de 1500 filamentos de miosina e 3000

    filamentos de actina (GUYTON; HALL, 2006). Estes miofilamentos se interdigitam

    formando o sistema contrtil e sua unidade bsica, o sarcmero (BERNE; LEVY,

    2009). O sarcmero representa a unidade funcional da fibra muscular e da miofibrila,

    pois a mnima estrutura capaz de gerar tenso e est localizado entre duas linhas

    Z consecutivas (AIRES, 2012).

    As miofibrilas so interconectadas por protenas especializadas conhecidas

    como filamentos intermedirios e o maior deles a desmina. A desmina possibilita

  • 28

    um sistema de suporte citoesqueltico que permite eficiente carga mecnica de

    fora gerada de uma miofibrila a outra (LIEBER, 2002).

    Ao microscpio eletrnico de transmisso, a disposio dos filamentos

    identifica a visualizao de faixas ou bandas. A faixa escura anisotrpica e recebe

    o nome de banda A; a faixa clara isotrpica e recebe o nome de banda I e na

    regio central de cada banda I existe uma linha transversal escura chamada de linha

    Z. Na regio central da banda A existe outra faixa, a faixa H, cuja parte central fica a

    linha M (AIRES, 2008). A banda A formada principalmente por filamentos proticos

    grossos, a miosina; a banda I formada pela parte dos filamentos finos que so

    invadidos pelos filamentos grossos e a banda H formada somente por miosina.

    (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). A linha M formada por 2 protenas: a enzima

    creatina fosfoquinase e uma protena prpria da linha M (KIERSZENBAUM; TRES,

    2011).

    As protenas mais encontradas no sistema musculoesqueltico, responsveis

    pela contrao muscular so: a miosina, a actina, a tropomiosina e a troponina

    (AIRES, 2008).

    O filamento grosso formado por aproximadamente 200 molculas de

    miosina. Existem pequenas quantidades de outras protenas, dentre elas encontra-

    se molcula de titina presente em cada metade do filamento grosso (BERNE; LEVY,

    2009). A titina responsvel pela tenso passiva, assim como pelo alinhamento e

    manuteno da miosina no centro do sarcmero. Est organizada como uma ligao

    elstica entre a miosina e a linha Z (HOROWITS et al., 1986). constituda por duas

    regies: uma que se encontra na banda A do sarcmero, a qual se comporta de

    forma rgida quando a fibra muscular alongada; e outra que liga a miosina linha

    Z, na banda I, nica regio funcionalmente elstica, quando o sarcmero alongado

    (WANG et al., 1985, FURST et al., 1988; ITOH et al., 1988; WHITING et al., 1989).

    A miosina a protena mais abundante da clula muscular, representando

    aproximadamente 25% do contedo total protico. A miosina presente do subgrupo

    chamado classe II ou miosina convencional, que uma miosina sarcomrica, est

    associada ao processo de contrao muscular (CAMMARATO et al., 2008).

    A molcula de miosina formada por uma cauda e uma cabea. Aps ligeira

    protelise, a miosina pode ser dividida em meromiosina leve (cauda) e meromiosina

    pesada (cabea). A cabea possui locais especficos para combinao de ATP e

    dotada de atividade ATPsica (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). A cauda da

  • 29

    molcula se associa para formar o filamento grosso. O restante da molcula, ou

    seja, a cabea e a poro em forma de brao entre as dobradias se projetam

    lateralmente a partir do filamento grosso. Estas projees so denominadas pontes

    cruzadas, as quais projetam-se em nmero de trs a partir do filamento grosso

    (BERNE; LEVY, 2009).

    A actina uma protena globular, formada por duas cadeias de monmeros

    globulares torcidos uma na outra em dupla hlice (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012).

    Cada monmero de actina possui uma regio que interage com a miosina

    (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). Os filamentos de actina ancorados

    perpendicularmente em cada lado da linha Z exigem polaridade opostas

    (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). Existem muitas molculas de ADP presas na

    cadeia de actina e estas so os pontos ativos nos filamentos de actina que vo

    interagir com a miosina durante a contrao muscular (GUYTON; HALL, 2006).

    A tropomiosina uma molcula longa e fina, com duas cadeias polipeptdicas

    enroladas uma na outra formando uma - hlice (AIRES, 2012). As molculas unem-

    se umas as outras pelas extremidades para formar filamentos longos e localizam-se

    entre sulcos existentes entre 2 filamentos de actina-F (JUNQUEIRA; CARNEIRO,

    2012). Esta posio impede a interao da actina com a miosina quando a miofibrila

    no est contrada (AIRES, 2012).

    A troponina uma protena globular que fica presa s molculas de

    tropomiosina. um complexo de 3 subunidades: TnT (responsvel pela fixao a

    tropomiosina), TnC (troponina de controle e que tem grande afinidade com os ons

    clcio) e TnI (cobre o stio ativo da actina onde ocorre a interao entre a actina e a

    miosina) (AIRES, 2012).

    O msculo gastrocnmio constitudo por todas as protenas citadas acima e

    considerado msculo ideal para ser utilizado como modelo na contuso muscular,

    pois possui fibras musculares mistas, grande, o que diminui a chance de leso

    ssea durante a contuso, e frequentemente lesionado durante a prtica esportiva

    (SMITH et al., 2008). Suas caractersticas sero apresentadas no prximo item.

    4.2 MSCULO GASTROCNMIO

    O gastrocnmio, msculo mais superficial no compartimento posterior da

    perna, forma parte da proeminncia da panturrilha (GRAY et al., 2010). formado

  • 30

    por dois ventres paralelos e muito parecidos, sendo denominados de gmeos. Esses

    ventres recebem o nome de poro lateral (gmeo externo) e poro medial (gmeo

    interno) (GRAY et al., 2010). No msculo do rato, a parte lateral apresenta

    subunidade lateral, intermediria e medial e a parte medial no apresenta

    subdivises (BENNET, 1988). Superiormente, o gastrocnmio se fixa na epfise

    distal do fmur: a poro lateral no epicndilo lateral, e a poro medial no

    epicndilo medial. As cabeas se unem na margem inferior da fossa popltea, onde

    formam os limites nfero-lateral e nfero-medial dessa fossa mais ou menos na

    metade da perna. Os dois ventres do gastrocnmio se continuam inferiormente por

    um tendo potente que o tendo calcneo, o qual vai se prender na tuberosidade

    calcanear. Tanto o gastrocnmio lateral quanto o medial so inervados por ramos

    motores separados originados do nervo tibial (GRAY et al., 2010).

    A sua ao, por ser msculo biarticular, a de flexo da perna e flexo

    plantar do p. Como suas fibras so principalmente verticais, as contraes do

    msculo gastrocnmio produzem movimentos rpidos durante a corrida e o salto.

    Embora o msculo gastrocnmio atue em ambas as articulaes, a do joelho e a

    talocrural, no pode exercer seu poder total em ambas as articulaes ao mesmo

    tempo (GRAY et al., 2010).

    Quanto a composio dos tipos de fibras, o gastrocnmio misto (Smith et

    al., 2008). Segundo Smith et al. (2008) o msculo ideal para se estudar

    experimentalmente a contuso. Em relao aos tipos de fibras, o estudo de Burke et

    al. (1973) verificou o perfil histoqumico das unidades motoras do gastrocnmio e

    encontrou os resultados presentes no QUADRO 1.

    No presente trabalho optar-se- pela contuso mecnica na poro medial do

    gastrocnmio, pois esta no apresenta subdivises e a mais acometida em

    traumas humanos (SEGAL; SONG, 2005). As fases do processo de cicatrizao e

    reparo da contuso muscular sero abordadas a seguir.

  • 31

    QUADRO 1- Perfil histoqumico das unidades musculares do gastrocnmio (adaptado de BURKE et al., 1973). Tipos de unidades musculares

    Tipo FF

    (rpida)

    No classificada Tipo FR (rpida) Tipo S (lenta)

    ATPase miofibrilar Alta Alta Alta Baixa

    ATPase- Ac Intermediria Intermediria Baixa Alta

    ATPase- EDTA Baixa Baixa Baixa Alta

    NADH Baixa Intermediria Intermediria-alta Alta

    SDH Baixa Intermediria Intermediria-alta Alta

    Esterase Alta Alta Baixa

    Lactato

    desidrogenase

    Alta Alta Baixa

    Gordura neutra Baixa Baixa Alta

    Enzima Glicognio

    Sintase

    Alta Alta Baixa

    Fosforilase Alta Alta Baixa

    FF- fibras rpidas sensveis fadiga; FR- fibras rpidas resistentes a fadiga; S- fibras lentas; ATPase- adenosina trifosfatase. ATPase- Ac: adenosina trifosfatase acetato veronal ; ATPase EDTA: adenosina trifosfatase cido etilenodiamino tetra-actico; NADH- nicotinamida nucleotideo desidrogenase; SDH- desidrogenase succinica;

    4.3 LESO MUSCULOESQUELETICA

    A leso musculoesqueltica pode ser gerada por dano direto como a

    lacerao e contuso ou por dano indireto como isquemia, denervao e estresse

    (NOOMAN; GARRETT, 1999). Segundo Jarvinen et al. (2007), 90% das leses

    musculares so causadas por contuso. Geralmente o processo de leso e de

    reparo similar independente do tipo de leso (HWANG et al., 2006).

    Os sinais e sintomas comuns da contuso so dor localizada durante os

    movimentos, edema, equimose, hematoma devido ao sangramento e limitao do

    movimento derivada de um aumento da sensibilidade muscular causada pela leso,

    pelo espasmo muscular e pelo hematoma (JARVINEN et al., 2005).

    Aps uma leso, o msculo inicia o processo de reparo altamente organizado,

    de forma a prevenir a perda de massa muscular (GROUNDS et al., 2002).

  • 32

    4.4 REGENERAO MUSCULOESQUELTICA

    Segundo Lieber (2002), o sistema musculoesqueltico um dos tecidos mais

    adaptveis do corpo humano. O processo de regenerao semelhante

    miognese, porm, as clulas que participam inicialmente so as clulas satlites,

    ao invs das progenitoras miognicas. Semelhante a miognese, as clulas

    precursoras mononucleadas musculares, conhecidas como clulas satlites, so

    ativadas, os mioblastos migram para o local da leso, se diferenciam, se proliferam e

    fundem-se para formar os pequenos miotubos, que unem-se a outros miotubos, para

    formar maiores e estes diferenciam-se para constituir uma nova fibra ou reparar a

    lesada (HUARD et al., 2002).

    O processo de regenerao da leso muscular dividida em 3 fases: a de

    destruio ou inflamatria, a proliferativa e a de remodelamento. A fase destrutiva

    caracterizada pela ruptura da miofibrila e formao de hematoma. A fase reparativa

    consiste de inmeros processos, como: fagocitose do tecido muscular lesado,

    regenerao do msculo estriado, produo de tecido conjuntivo e revascularizao.

    A fase de remodelamento o perodo de maturao das miofibrilas regeneradas, da

    reorganizao do tecido e do reestabelecimento da capacidade funcional do

    msculo (FIGURA 1) (JARVINEN et al., 2005). Interaes entre o sistema

    imunolgico e musculoesqueltico podem desempenhar um papel significativo na

    modulao do curso da contuso e seu subsequente reparo (SMITH et al., 2008).

  • 33

    FIGURA 1- Representao esquemtica do processo de regenerao muscular esqueltica, adaptado de LIEBER (2002). Cels- clulas.

    4.4.1 Fase inflamatria

    A fase inflamatria inicia-se com a destruio de parte das clulas musculares

    e de pequenos vasos sanguneos. caracterizada pela formao de hematoma,

    necrose tissular, degenerao e resposta inflamatria. As clulas inflamatrias e

    citocinas tm acesso direto ao local da leso. A magnitude do processo inflamatrio

    depende de 2 fatores: da gravidade da leso e do grau de vascularizao do tecido

    no momento da leso (SMITH et al., 2008). Esse processo posteriormente

    amplificado pela ativao e migrao de clulas satlites e por partes de fibras

    necrosadas, liberando vrias substncias que servem como agentes quimiotteis do

    extravasamento de clulas inflamatrias (JARVINEN et al., 2005).

    Vrios modelos de leso tm estabelecido pelo menos dois mecanismos de

    morte celular em micitos danificados, chamados de necrose e apoptose. Apoptose,

    ou morte celular programada, processo essencial para a manuteno do

    desenvolvimento dos seres vivos, sendo importante para eliminar clulas suprfluas

    Fibra lesada

    Fibra muscular normal

    Proliferao e migrao

    Fuso dos mioblastos

    Cels inflamatrias

    Cels satlites Lmina basal

    Sarcolema

  • 34

    ou defeituosas (GRIVICICH et al., 2007). No 2 dia de leso, as fibras necrticas so

    limitadas pela formao de uma "banda de demarcao", uma condensao de

    material citoesqueltico, que delimita a parte necrosada das fibras a partir de partes

    no-necrticas, sendo os macrfagos responsveis por este processo (SMITH et al.,

    2008).

    Imediatamente aps a leso, acontece uma vasoconstrio primria. Aps,

    ocorrer vasodilatao e aumento da permeabilidade a fluido e protenas, em

    decorrncia da ao da histamina, da prostaglandina E2 (PGE2), da bradicinina e

    dos perxidos de hidrognio. A histamina liberada a partir de mastcitos presentes

    na rea danificada. Um segundo efeito desta liberao de histamina localizada, o

    aumento da permeabilidade capilar no lado da leso via alargamento dos poros

    capilares endoteliais. Outro mecanismo para a vasodilatao guia do "fator de

    crescimento endotelial vascular- xido ntrico sintase (VEGF-NO). O VEGF pode ser

    secretado por fibroblastos, clulas endoteliais e moncitos/macrfagos em resposta

    hipxia, estresse oxidativo, fatores de crescimento e citocinas, e ativa o xido

    ntrico e trajeto do xido ntrico sintase para facilitar a vasodilatao (SMITH et al.,

    2008). Este aumento da permeabilidade do sarcolema, leva ao aumento do influxo

    de clcio para o meio intracelular e acarreta ativao de proteases dependentes de

    clcio (ARMSTRONG, 1990). Tambm existem protenas, as de choque trmico

    (Heat Shock Proteins-HSPs), que so chaperonas com a funo protetora para

    poupar a degradao (GETHING, 1996).

    As primeiras clulas a chegarem ao local da leso so os neutrfilos, fazendo

    pico em 24 horas podendo durar at 5 dias, e em seguida os macrfagos (tipo ED1+

    e ED2+), com a funo de remover o tecido necrtico e liberar citocinas para

    modular a quimiotaxia (TIDBALL, 1995). Neutrfilos so clulas imunolgicas que

    predominam no local do tecido lesado, possuem a funo de fagocitose, limpeza do

    tecido necrtico, liberao de citocinas inflamatrias como a IL-6 (interleucina 6) e o

    TNF (fator de necrose tumoral) e ainda podem gerar radicais livres (SMITH et al.,

    2008). A IL-6 uma citocina ubiquitina intercelular associada com o controle e

    coordenao da resposta imunolgica, podendo estar envolvida na degradao

    protica e leso muscular (TOUMI et al., 2006). O TNF tem papel na regenerao

    dos msculos, como a inibio de sua atividade durante o processo de cicatrizao,

    resultando em ligeiro dficit na fora do musculoesqueltico regenerado (JARVINEN

    et al., 2005). Outros fatores de crescimento como FGF (fator de crescimento de

  • 35

    fibroblasto), IGF (fator de crescimento similar a insulina), TGF- (fator de

    transformao do crescimento), HGF (fator de crescimento hepatcito), IL-1

    (interleucina-1) so tambm expressados no msculo lesado (FIGURA 2)

    (JARVINEN et al., 2005). Esses fatores so potenciais ativadores das clulas

    precursoras miognicas (clulas satlites) e importantes na fuso dos miotubos

    dentro das miofibras maduras multinucleadas, durante o processo de regenerao

    (JARVINEN et al., 2005).

    Embora seja aceito que citocinas (fator de necrose tumoral, IL-1 e IL-6) sejam

    essenciais no processo inflamatrio, seu exato papel ainda no est claro (SMITH et

    al., 2008). A diminuio do nmero de clulas dos neutrfilos ocorre em funo do

    aumento dos macrfagos, sendo que estes fagocitam o material necrtico da fibra

    muscular, por meio de enzimas lisossmicas, num perodo de 48 horas aps a leso

    (JARVINEN et al., 2005; HWANG et al., 2006).

    Alm disso, os macrfagos liberam fatores que atraem fibroblastos para a

    rea e que incrementam a deposio de colgeno. No 3 dia, clulas satlites entre

    a lmina basal so ativadas nos mioblastos. Assim, a depleo dos macrfagos tem

    consequncia negativa no processo de cicatrizao, incluindo regenerao reduzida

    das clulas musculares, diferenciao das clulas satlites e crescimento das fibras

    musculares (TOUMI et al., 2006).

    As clulas satlites, que esto localizadas perifericamente entre o sarcolema

    e a lmina basal, esto tipicamente quiescentes, mas na leso da fibra muscular,

    elas iniciam rapidamente sua diviso e recolocao no tecido lesado (LIEBER,

    2002). H grande evidncia que as clulas satlites representam a populao de

    clulas tronco que podem diferenciar-se em clulas musculares ou outro tipo de

    clulas (LIEBER, 2002). A ativao das clulas satlites musculares durante

    crescimento e reparo, assemelha-se a fase embrionria de vrias maneiras,

    incluindo a induo de fatores de regulao miognica como a myoD e myf-5

    (TOUMI et al., 2006).

    As clulas satlites migram para a regio da leso e entram em ativao,

    proliferao e diferenciao em mioblastos, que ao fundirem-se formam miotubos.

    Esses se fundem com a regio terminal da clula muscular lesada que sobreviveu

    ao trauma inicial. Em miofibrila regenerada, os ncleos das clulas satlites

    novamente unidas, inicialmente so centralizados e migraro posteriormente para

  • 36

    assumir a localizao perifrica (TOUMI et al., 2006). Nos humanos, a regenerao

    total requer 6 meses enquanto nos ratos, so 2 meses (LIEBER, 2002).

    FIGURA 2 Desenho esquemtico da interao das clulas inflamatrias com o msculo lesado (adaptado de TIDBALL, 2005). NO- xido ntrico; PAR- receptor de ativador de plasminognio tipo uroquinase; PA- uroquinase; MCP-1- protena 1 quimioatraente de moncito; FKN- fractalquina; MDC- quimiocina derivada de macrfagos; VEGF- fator de crescimento endotelial vascular; SOD- superxido dismutase; NO- xido ntrico; MPO- mieloperoxidase; TGF- fator de transformao do crescimento; TNF- fator de necrose tumoral.

    Alguns componentes da matriz extracelular, como a laminina, a fibronectina e

    o colgeno desempenham importante papel na manuteno das clulas satlites no

    estado quiescente, na regulao da proliferao e na fuso delas (CHARG;

    RUDNICK, 2004).

    Os moncitos so importantes, pois se diferenciam em macrfagos, que so

    essenciais para o processo de reparo e podem realizar a funo dos neutrfilos. Os

  • 37

    macrfagos contribuem para a regenerao pela inflamao e pelos fatores de

    crescimento. sugerido que, alm de seu papel na fagocitose, as clulas

    imunolgicas como macrfagos e neutrfilos desempenham papel fundamental na

    mediao de reparao muscular, quer diretamente pela secreo de fatores de

    crescimento, ou indiretamente atravs do recrutamento de outros tipos de clulas

    (SMITH et al., 2008).

    Os macrfagos possuem outras funes alm da fagocitose. Seus subtipos

    ocorrem de acordo com a ocorrncia nos diferentes tipos de tecidos: ED1+ (maioria

    dos moncitos e macrfagos), ED2+ (macrfagos residentes principalmente vistos

    nos tecidos) e ED3+ (macrfagos usualmente presentes no tecido linfide). Sugere-

    se que os macrfagos podem alterar de um subtipo a outro dependendo do

    microambiente. Na leso muscular, o ED2+ e ED3+ aparecem depois do ED1+ e

    no so considerados importantes no processo de fagocitose. O ED2+ o maior

    contribuinte para formao de mioblastos e miotubos. Este subtipo serve como

    maior fonte de fatores de crescimento e citocinas que promovem cicatrizao

    (SMITH et al., 2008).

    Durante esta fase de fagocitose ou de digesto, muitos componentes

    celulares so afetados. Miofibrilas perdem sua regularidade e aparecem

    desorganizadas perto da linha Z. Os filamentos de actina e miosina iniciam a perda

    de sua regularidade e podem entrelaar-se com o processo citoplasmtico do

    macrfago (LIEBER, 2002).

    Verifica-se a importncia da fase inflamatria para o processo de cicatrizao

    e reparo muscular (SMITH et al., 2008). Os neutrfilos e macrfagos desempenham

    papel muito importante na fagocitose. As clulas satlites tambm so importantes

    na formao de novos miotubos (LIEBER, 2002). Aps essa fase, ou

    concomitantemente, inicia-se a fase proliferativa (JARVINEN et al., 2007).

    4.4.2 Fase proliferativa

    A fase proliferativa inicia-se aps 72 horas da leso e o perodo em que se

    forma o tecido de granulao e envolve a atividade de 3 tipos de clulas:

    macrfagos, fibroblastos e clulas endoteliais. Esta fase pode ser dividida em 3

    partes: reepitelizao, fibroplasia e angiognese (MANDELBAUM et al., 2003).

  • 38

    A primeira fase do reparo a proliferao envolvendo o tecido epitelial e

    conjuntivo. Faz-se a migrao de queratincitos no danificados das bordas da

    ferida e dos anexos epiteliais e os fatores de crescimentos so responsveis pelo

    aumento da mitose e hiperplasia do epitlio. No tecido conjuntivo ocorre a

    fibroplasia (aumento no nmero de fibroblastos) e formao da matriz que

    importante para a formao do tecido de granulao. Essa depende do fibroblasto

    que alm de sintetizar colgeno, produz elastina, fibronectina, glicosaminoglicanas e

    proteases (MANDELBAUM et al., 2003). A segunda fase a proliferao dos

    fibroblastos, que pode s vezes ser excessiva, resultando na formao de tecido

    cicatricial denso entre o msculo lesionado. Primeiramente, produzido o colgeno

    mais fraco, o tipo III e depois o tipo I (KANNUS et al., 1992). Em alguns casos,

    usualmente associado com o maior trauma muscular ou particularmente com

    rerupturas, a cicatriz pode criar barreira mecnica que consideravelmente atrasa ou

    mesmo completamente restringe a regenerao de miofibras atravs das leses gap

    (JARVINEN et al., 2005).

    A cicatriz de tecido conjuntivo no local da leso o ponto mais fraco da leso

    precoce aps o trauma, mas sua fora de tenso aumenta consideravelmente com a

    produo de colgeno tipo I. A estabilidade mecnica do colgeno atribuda

    formao de ligaes cruzadas intermoleculares durante a maturao do tecido.

    Aproximadamente 10 dias aps o trauma, a maturao da cicatriz tem alcanado o

    ponto no qual prximo do ponto mais fraco da leso, e se a carga falha, a ruptura

    geralmente ocorre entre o tecido muscular adjacente ao novamente formado, as mini

    junes msculo-esquelticas entre as miofibras regeneradas e o tecido cicatrizado

    (JARVINEN et al., 2005).

    A ltima fase da proliferao a angiognese, o fluxo sangneo

    gradualmente estabelecido e esse processo envolve o brotamento inicial de clulas

    endoteliais que crescem para dentro da rea lesada, ramificando-se, eventualmente

    unindo-se aos brotos adjacentes, para formar circuitos capilares quando so

    canalizados (BALBINO et al., 2005). Inicialmente, so formados vasos imaturos e

    permeveis que posteriormente amadurecem.

    Neste processo, o papel da VEGF (fator de crescimento endotelial vascular)

    bem estabelecido (SMITH et al., 2008). Mioblastos esquelticos que expressam

    VEGF esto associados com formao capilar aps leso isqumica/reperfuso no

    tecido cardaco em ratos (SMITH et al., 2008). A vascularizao da rea lesionada

  • 39

    o primeiro sinal de regenerao e pr-requisito para subsequente recuperao

    morfolgica e funcional na leso. Os novos capilares brotam dos troncos

    sobreviventes dos vasos sanguneos em direo ao centro da rea lesionada, para

    prover rea um adequado suprimento de oxignio, subsequentemente capacitando

    metabolismo energtico aerbio para miofibras regeneradas. Novos miotubos tem

    poucas mitocndrias e somente moderada capacidade de metabolismo aerbio, mas

    tem claramente aumento no metabolismo anaerbio. No entanto, durante os

    estgios finais de regenerao, metabolismo aerbio constitui os principais trajetos

    energticos para as miofibras multinucleadas (JARVINEN et al., 2005).

    A fase de proliferao caracterizada pela diferenciao e renovao dos

    tecidos. Os mioblastos se fundem para formar miotubos multinucleados que se

    fundem a miofibrilas danificadas. A fuso de mioblastos e posterior crescimento para

    constituir miofibrilas com ncleo centralizado resultam no restabelecimento da

    arquitetura muscular dentro de um perodo de duas a trs semanas (HAWKE et al.,

    2001).

    Formam-se novos vasos, prolifera-se tecido conjuntivo, epitelial e os

    fibroblastos (JARVINEN et al., 2005). Aps essa fase inicia-se a de remodelao

    para o amadurecimento desses novos tecidos (JARVINEN et al., 2005).

    4.4.3 Fase de remodelao

    Na fase de remodelao, ocorrem reformulaes dos colgenos (aumento no

    dimetro das fibras de colgeno e na fora tensora), melhoria nos componentes das

    fibras colgenas e reabsoro de gua, que permite o aumento da fora da cicatriz e

    diminuio da sua espessura (MANDELBAUM et al., 2003). O tecido de granulao

    torna-se mais fibroso e menos vascular at se tornar tecido fibroso denso

    (MANDELBAUM et al., 2003). As fibras colgenas reorientam-se ao longo das linhas

    de tenso aplicadas leso, resultando assim em maior resistncia tnsil do tecido

    (BALBINO et al., 2005).

    Jarvinen e Sovari (1975) reportaram que excessiva produo de tecido

    conjuntivo pode inibir a regenerao completa da fibra muscular, geralmente

    deixando a recuperao funcional incompleta. A reduo da fibrose pode ser uma

    maneira para melhorar a cicatrizao aps a leso. O fator de transformao do

    crescimento (TGF-1) est presente quando h o aparecimento de fibrose do lado

  • 40

    lesado, via ativao do miofibroblasto. A decorina, que uma proteoglicana humana,

    conhecida como fator antifibrtico e pode ser utilizada para melhorar a

    recuperao, porm, este um mtodo de tratamento no fisiolgico, invasivo e

    caro (HWANG et al., 2006).

    A ltima fase do processo de cicatrizao e reparo caracterizada pelo

    amadurecimento do tecido muscular, reorganizao e reorientao das fibras

    colgenas e da completa regenerao tecidual (BALBINO et al., 2005).

    O conhecimento sobre as fases do processo de cicatrizao e reparo crucial

    para a determinao do tratamento mais adequado para a leso muscular.

    4.5 DIAGNSTICO E TRATAMENTO DA CONTUSO MSCULO ESQUELTICA

    O diagnstico da contuso realizado atravs de exame fsico e clnico bem

    como por meio de exames complementares como tomografia computadorizada,

    ressonncia magntica e ultrassonografia (LOPES et al., 1994). As imagens so

    capazes de identificar o msculo acometido, as dimenses da leso (extenso,

    seco transversa), a localizao (miotendnea, ventre muscular, insero ssea) e

    presena ou no de hematoma (FERNANDES et al., 2011).

    O diagnstico clnico da leso muscular inicia-se com a investigao

    detalhada sobre a histria do trauma. A avaliao fsica deve ser iniciada entre 12

    horas e 2 dias ps leso e deve incluir a inspeo, a palpao, a amplitude de

    movimento, a fora muscular, a avaliao postural e a anlise da marcha

    (KERKHOFF et al., 2013). Na inspeo deve ser observada a presena de

    hematomas, edemas, cicatrizes, hiperemia e deformidades visveis. Na palpao

    deve ser verificada a presena de dor, deformidade e aumento de temperatura

    (FERNANDES et al., 2011).

    A ressonncia magntica apresenta alta sensibilidade e especificidade e

    permite identificao das caractersticas anatmicas (dimenses da leso, seco

    transversal/longitudinal, localizao do hematoma). A presena do edema pode

    permanecer visvel por seis a dez semanas. A ultrassonografia o exame essencial

    para caracterizar as rupturas das fibras musculares e tem sido reconhecida como o

    melhor mtodo para diagnosticar a contuso, no entanto, examinador dependente

    (JARVINEN et al., 2007).

  • 41

    Exames complementares de sangue tambm podem auxiliar na preveno e

    no diagnstico da leso muscular. A anlise das concentraes dos nveis

    plasmticos de CK (creatinofosfoquinase) amplamente utilizada no meio

    desportivo para quantificao da reao inflamatria produzida pelo esforo fsico

    (e/ou trauma direto) na musculatura estriada esqueltica. Valores 3 vezes acima do

    basal sugerem alto risco de leso muscular (MOUGIOS, 2007). A troponina I e o

    Aspartato Aminotransferase podem tambm servir como indicadores de leso,

    porm so menos utilizados que a CK (NOAKES, 1987). Alm disso, a fadiga

    metablica decorrente do acmulo de acido ltico pode gerar gestos esportivos

    compensatrios e resultar em leses musculares. Desta forma, a sua avaliao

    associada do cortisol basal podem contribuir para o diagnstico precoce de

    excesso de treinamento e definir estratgias de recuperao metablica (LOMAX;

    MACCONNEL, 2003).

    Em relao ao tratamento, diferentes tcnicas de interveno fisioteraputica

    so utilizadas para acelerar o processo de reparo muscular e o restabelecimento da

    funo, tais como: crioterapia (PRICE) (SCHASER et al., 2007); o UST teraputico

    (PIEDADE et al., 2008; SHU et al., 2012); L.A.S.E.R. (FALCAI et al., 2010); plasma

    rico em plaquetas (RETTIG et al., 2013); a mobilizao precoce e exerccios

    (JARVINEN et al, 2005; 2007).

    Imediatamente aps a leso recomendada a utilizao do PRICE (proteo,

    gelo, elevao e repouso) ou o P.O.L.I.C.E. (proteo, carga ideal, elevao e gelo)

    (BLEAKLEY et al., 2012) at o 7 dia. O objetivo minimizar a dor, a inflamao, o

    edema e oferecer melhores condies para o processo de cicatrizao e reparo

    (KANNUS et al., 2000; SCHASER et al., 2007).

    Aps 3-5 dias podem ser realizados exerccios isomtricos, mobilizaes

    ativas e passivas (JARVINEN et al., 2005; LOPES et al., 1994). A mobilizao

    precoce a primeira recomendao para o trauma muscular aps 3-5 dias da leso

    e pode ser realizada primeiramente por exerccios isomtricos, seguido de exerccios

    isotnicos e finalmente treinamento isocintico (JARVINEN et al., 2005). A

    progresso dos exerccios deve ter como parmetro o limite da dor, isto , deve-se

    progredir desde que o indivduo consiga realizar a mxima contrao sem dor

    (JARVINEN et al., 2005).

    Jarvinen et al. (2005) relataram que a mobilizao induz o crescimento mais

    rpido e intenso dos capilares nas bordas celulares da leso, particularmente nos

  • 42

    primeiros estgios da cicatrizao. Aps o perodo de imobilizao ou repouso (24

    horas), os exerccios ativos isomtricos devem ser realizados gradualmente, tendo

    como limite o quadro lgico. Podem ser realizados exerccios de alongamento de 10

    a 15s com intervalo de 1 minuto. Porm, segundo Smith et al. (2008) no est claro

    qual volume ou intensidade do exerccio pode exacerbar a fase destrutiva, atrasar ou

    promover a fase de reparo ou incrementar a fase de remodelao. Ainda, em reviso

    sistemtica recente tambm foi concludo que existem poucas evidncias para a

    prescrio de alongamento e exerccios de baixa intensidade para o tratamento da

    leso muscular (TORRES et al., 2012).

    Quanto a teraputica com o ultrassom, Jarvinen et al. (2005) concluram que

    apesar de recomendado para tratamento, seu nvel de evidncia quanto a eficcia

    baixo. Em trabalho experimental, Wilkin et al (2004) avaliaram os efeitos do UST

    para o tratamento de leses agudas de gastrocnmio de ratos, perante as medidas

    de desfecho: rea de seco transversal do msculo; massa muscular;

    concentrao total de protenas. Os resultados encontrados, quando comparados ao

    grupo controle, revelaram que a administrao do UST no trouxe maiores

    benefcios para a regenerao do msculo lesionado.

    As revises sistemticas tambm apontam evidncias cientficas reduzidas

    sobre os tratamentos recomendados para a leso muscular esqueltica, o que

    justifica investigaes com estudos experimentais com ratos bem como ensaios

    clnicos randomizados (REURINK et al., 2012; MASON et al., 2007 e TORRES et al.,

    2012).

    4.6 CARACTERSTICAS TCNICAS DO ULTRASSOM TERAPUTICO

    O UST a modalidade teraputica de aquecimento profundo e definido

    como formas de onda acstica de frequncia superior s que podem ser detectadas

    pelo ouvido humano, ou seja, aquelas cujas frequncias so superiores a 20 kHz.

    produzido pela converso da energia eltrica em energia mecnica pelo cristal

    piezoeltrico, presente no transdutor (cabeote), que se expande e contrai quando a

    corrente eltrica passa sobre ele (HAAR, 2007).

    Segundo o estudo de Vieira et al. (2012), o UST considerado importante

    recurso para a prtica clnica para os Fisioterapeutas, sendo utilizado em 75% dos

    tratamentos. Porm, nesse mesmo estudo, foi constatado nvel muito baixo de

  • 43

    conhecimento dos parmetros do UST e seus efeitos biolgicos pelos profissionais

    que o utilizam.

    Os princpios fsicos do UST so baseados na natureza das ondas sonoras,

    frequncia, modo de transmisso e intensidade (MICHLOVITZ, 2012).

    As ondas sonoras so de origem mecnica e em virtude disto precisam de um

    meio para se propagar. Tm a propriedade de reflexo, refrao, absoro e

    penetrao. So de natureza longitudinal, ou seja, a direo de propagao

    paralela onda, sendo essa onda transportada em meios lquidos no-viscosos

    (MARTINEZ et al., 2000).

    A frequncia definida como o nmero de oscilaes por segundo,

    expressa em Hz e determina a profundidade de penetrao em razo inversa, na

    qual, quanto maior a frequncia menor a profundidade de penetrao e vice-versa.

    As frequncias utilizadas terapeuticamente so de 1 MHz (atinge tecidos at 5 cm

    de profundidade) e 3 MHz (at 1 cm de profundidade) (LOW; REED, 2001). Cada

    frequncia determina atenuaes diferentes nos tecidos. A atenuao refere-se

    propriedade que a onda ultrassnica possui de perder 50% da sua energia quando

    ultrapassa certa profundidade de tecido. Hoogland (1986) descreveu as espessuras

    necessria em cada tipo de tecido para a perda de 50% da energia ultra-snica, nas

    frequncias de 1 e 3 MHz, a qual utilizada para determinar a intensidade ideal para

    tratamento (QUADRO 2).

    O modo de transmisso pode ser contnuo ou pulsado. No modo contnuo a

    energia liberada 100% do tempo, sendo responsvel pelos efeitos trmicos. No

    pulsado, a energia transmitida em pulsos, sendo responsvel pela reduo dos

    efeitos trmicos e pela produo dos efeitos no-trmicos. A frequncia de pulsao

    dos aparelhos situa-se entre 16, 48 e 100 Hz e a porcentagem de pulsao de 5, 10,

    20 e 50%. A produo de calor diretamente proporcional a porcentagem de

    pulsao (BAKER et al., 2001).

    4.6.1 Efeitos biofsicos do ultrassom

    Os efeitos biofsicos decorrentes da aplicao do UST podem ser divididos

    em duas classes: trmicos e no-trmicos (mecnicos). Essas duas classes no

    ocorrem separadamente, porm, so maximizadas ou minimizadas de acordo com a

    forma de gerao: contnua ou pulsada (STARKEY, 2001).

  • 44

    QUADRO 2- Espessuras necessrias para cada tecido para reduzir 50% da energia ultrassnica (HOOGLAND, 1986)

    1 MHz Tecido 3 MHz

    Esp

    essu

    ras

    11,1 mm Pele 4 mm

    50 mm Gordura 16,5 mm

    9 mm Msculo 3 mm

    6,2 mm Tendo 2 mm

    6,0 mm Cartilagem 2 mm

    2,1 mm Osso __

    Os efeitos trmicos acontecem principalmente na aplicao do UST contnuo.

    O UST pode elevar a temperatura tecidual em profundidades de 5 cm ou mais. Para

    alcanar os efeitos trmicos, a temperatura tecidual deve aumentar de 1 a 4 C,

    mantendo-a entre 40-45 C por pelo menos 5 min (DYSON, 1987). Draper et al.

    (1993) demonstraram um aumento de aproximadamente 5 C de temperatura no

    msculo gastrocnmio de humano aps aplicao do ultrassom contnuo 1,5 W/cm2

    durante 10 min.

    O aquecimento determinado de acordo com a frequncia, intensidade,

    durao de tratamento e ngulo de aplicao (STARKEY, 2001). Tambm

    determinado pela atenuao nos tecidos, que varia diretamente com a quantidade

    de protena, ou seja, tecido com alto contedo protico como ossos, cartilagem,

    msculos e tendes, descritos em ordem decrescente, absorvem mais o UST e,

    portanto, atenuam mais a onda ultrassnica (LOW; REED, 2001). O UST

    rapidamente absorvido pelo peristeo que se torna significativamente quente. Como

    resultado, estruturas adjacentes ao osso ganham calor no tratamento ultrassnico

    por conduo e pelo fluxo sanguneo local (KITCHEN; PARTRIDGE, 1990).

    O meio de contato entre o cabeote e a pele tambm influencia na quantidade

    de aquecimento no tecido (PAULA, 1994). Estudo realizado por Draper et al. (1993)

    comparando a tcnica de contato com gel e a tcnica subaqutica revelou que a

    primeira aumentou quase quatro vezes mais a temperatura comparada com a outra

    tcnica e que o gel o melhor meio de contato para tratar tecidos de 3 cm de

    profundidade.

    Em consequncia aos efeitos trmicos, o UST diminui a percepo dolorosa

    (MUFTIC; MILADINOVIC, 2013), aumenta a taxa metablica, aumenta o fluxo

  • 45

    sangneo (DRAPER et al. 1995), aumenta a extensibilidade dos tecidos ricos em

    colgeno (REED; ASHIKAGA, 1997), altera a atividade contrtil do

    musculoesqueltico (KARNES; BURTON, 2002) e altera a velocidade de conduo

    nervosa sensorial e motora (HAYLE et al.,1981)

    Muftic e Miladinovic (2013) avaliaram os efeitos do UST na dor de pacientes

    com desordens musculoesquelticas. Foram includos no estudo 68 pacientes com

    dor crnica localizada na coluna e nas grandes articulaes dos membros

    superiores e inferiores. Os pacientes receberam 10 aplicaes de UST no local da

    dor de 1 MHz, contnuo, sendo que em um grupo foi aplicada a intensidade de 0,4

    W/cm2 por 8 min e no outro grupo 0,8 W/cm2 por 4 min. A dor foi avaliada pela

    escala visual analgica e foi encontrada diminuio dolorosa em ambos os grupos

    porm sem diferena significativa entre eles. Esses autores justificam o efeito

    analgsico pelos efeitos trmicos do ultrassom, ou seja, aumento da atividade

    metablica dos tecidos, aumento da circulao e consequentemente relaxamento

    das estruturas rgidas dos tecidos moles.

    Em relao ao aumento da taxa metablica e fluxo sanguneo, Draper et al

    (1993) em estudo no msculo de humanos, verificaram que aps 10 min de UST

    contnuo com intensidade de 1,5 W/cm2, a temperatura do gastrocnmio, medida

    por microagulha hipodrmica conectada a um medidor termopar, aumentou 5 C a 3

    cm de profundidade. Fabrizio et al. (1996) constataram que as intensidades de 1

    W/cm2 e 1,5 W/cm2 na frequncia de 1 MHz, no modo contnuo aumentaram

    significativamente o fluxo sanguneo no msculo trceps sural de humanos em

    relao a outras intensidades sob frequncia de 3 MHz. Em contrapartida, Robinson

    e Buono (1995) utilizaram o UST no modo contnuo, 1 MHz e 1,5 W/cm2 durante 5

    min e no encontraram aumento do fluxo sanguneo do antebrao em humanos.

    Para a verificao do aumento da extensibilidade foi realizado estudo no qual

    aplicaram o UST de 1 MHz, 1,5 W/cm2 durante 8 min, nos ligamentos colaterais

    mediais e laterais do joelho em humanos (REED; ASHIKAGA, 1997). Foi observada

    melhor extensibilidade nesses ligamentos quando comparados aos indivduos no

    tratados.

    Em relao alterao da atividade contrtil, Karnes e Burton (2002),

    encontraram melhora significativa da fora muscular aps leso muscular

    (provocada por contraes excntricas) do msculo extensor longo dos dedos de

    ratos aps a estimulao com UST (1 MHz, contnuo, subaqutico, 0,5 W/cm2).

  • 46

    Hayle et al. (1981) verificaram os efeitos do UST na velocidade de conduo

    do nervo braquial em humanos. O UST foi aplicado em 10 sujeitos na frequncia de

    1 MHz, 1 W/cm2 durante 5 a 20 min at atingir um aumento de temperatura de 1,2

    C. Foi encontrada diminuio da latncia da conduo nervosa em decorrncia dos

    efeitos trmicos do ultrassom.

    Os efeitos mecnicos causados pelas ondas ultrassnicas produzem

    alteraes mecnicas, qumicas e o fenmeno da cavitao (HAAR, 2007). Essas

    ondas fazem com que as molculas situadas no caminho do feixe oscilem de

    maneira cclica diretamente proporcional a intensidade de sada do transdutor. Essa

    oscilao molecular vai permitir o movimento das partculas de um lado para outro

    da membrana, causando aumento da permeabilidade e das taxas de difuso atravs

    da membrana celular. Consequentemente haver facilidade na passagem de clcio,

    potssio, sdio e de outros ons e metablitos para dentro e fora da clula, pelo

    aumento da permeabilidade da membrana (STARKEY, 2001).

    A cavitao o efeito vibracional nas bolhas de lquidos provocado pelo feixe

    ultrassnico, que causada pela compresso e expanso da onda durante os picos

    de alta e baixa presso, respectivamente (HAAR, 2007). Durante a aplicao do

    UST, pode haver ocorrncia de cavitao instvel ou estvel. A cavitao instvel

    pode provocar colapso celular. Se existirem picos de alta presso quando for

    aplicada a alta intensidade, pode causar danos aos tecidos e induzir a produo de

    radicais livres. A cavitao estvel benfica, produzindo fluxo unidirecional de

    fluidos tissulares, como nas membranas celulares, causando efeitos fisiolgicos

    importantes: sntese de colgeno, secreo de agente quimiotxicos (mastcitos),

    maior sntese de protenas (fibroblastos), aumento da captao de clcio nos

    fibroblastos, mudanas na motilidade celular (clulas endoteliais) e alvio da dor

    (STARKEY, 2001).

    Segundo Behrens e Michlovitz (2006), as intensidades baixas no modo

    pulsado favorecem a cicatrizao dos tecidos epiteliais, conjuntivo e sseo. As

    mesmas autoras relataram que as intensidades de 0,1 a 0,5 W/cm2, pulsado 20%,

    beneficiam a cicatrizao e que intensidades maiores que 0,8 W/cm2 retardam a

    cicatrizao.

  • 47

    4.6.2 Interao do ultrassom com o tecido

    Tem sido descrito que o UST acelera a fase de cicatrizao tissular, atuando

    na fase inflamatria, proliferativa e de remodelagem (MAXWELL, 1992).

    Na fase inflamatria, o UST estimula a liberao de substncias como a

    histamina pela degranulao dos mastcitos, importantes para o reparo tissular. A

    degranulao dos mastcitos pode ser iniciada por um aumento no transporte de

    Ca+2 atravs da membrana, induzida pela perturbao da membrana pelo UST

    (DYSON, 1987). Segundo Young e Dyson (1990), a frequncia de 0,75 MHz a

    mais efetiva para a liberao destas substncias nesta fase. Portanto, uma das

    aes do UST a pr-inflamatria.

    O estudo de FYFE e CHAHL (1980), no qual foi induzido edema no tecido

    abdominal de ratos com injeo subcutnea de nitrato de prata e tratado com UST

    pulsado (0,75 MHz, 0,5 W/cm2, 20 ou 50%, 2 a 4 min), verificou menor

    extravasamento do lquido plasmtico, medido pela quantidade de infiltrao de

    corante, expressa em absorbncia.

    Na fase proliferativa, geralmente trs dias aps a leso, o UST estimula a

    ao dos macrfagos, clulas que liberam fator que estimula a proliferao dos

    fibroblastos e o aumento das clulas endoteliais, em reposta a nveis teraputicos de

    UST (0,5 W/cm2) (YOUNG, 1998). Os fibroblastos so os produtores principais de

    tecido conjuntivo e so responsveis pela contrao da ferida. Estes, quando

    expostos terapia ultrassnica, estimulam a sntese de colgeno, protena fibrosa

    que proporciona ao tecido conjuntivo mais fora de tenso. No modo contnuo, foi

    registrado aumento de 20% na secreo do colgeno, enquanto que no modo

    pulsado houve aumento de 30% (YOUNG, 1998).

    Byl et al. (1993) compararam a utilizao de alta intensidade de UST (1,5

    W/cm2, modo pulsado 20%, 1 MHz, 5 min) com baixa intensidade (0,5 W/cm2, modo

    pulsado, 20%, 1 MHz, 5 min na deposio de colgeno em incises induzidas em

    porquinhos da ndia e revelaram que a baixa intensidade facilita a deposio de

    colgeno e a fora de trao da ferida, quando o tratamento continuado por duas

    semanas ou mais. Contudo, tanto a baixa (0,5 W/cm2) quanto a alta intensidade (1,5

    W/cm2) utilizadas nas primeiras semanas aumentam a contrao da ferida.

    O estudo de Enwemeka et al. (1990) verificaram que o UST de 1 MHz, 0,5

    W/cm2, 5 min por 10 dias, aumentou significativamente a fora de tenso e a

  • 48

    capacidade de absoro de energia do tendo lesado de Aquiles em coelhos,

    concluindo que o UST acelera o processo de reparao. No estudo de Da Cunha et

    al. (2001), aps compararem os efeitos do UST contnuo e pulsado aps tenotomia

    do tendo de Aquiles em ratos, verificaram que o modo pulsado resultou em melhor

    organizao e agregao das fibras de colgeno. Em contrapartida, Roberts et al.

    (1983) concluram que o modo pulsado impediu a cicatrizao da tenotomia de

    Aquiles em coelhos. No estudo de Larsen et al. (2005) utilizaram vrias intensidades

    do UST pulsado, 3 MHz, no tendo de Aquiles de coelhos e verificaram que no

    houve nenhuma melhora da cicatrizao no local da ruptura, mas por outro lado,

    observaram diminuio da rigidez articular, melhora da carga de ruptura e

    extensibilidade mensurada atravs de um dispositivo mecnico.

    Na fase de remodelao que pode durar de meses at anos o arranjo e tipo

    de colgeno mudado (KITCHEN; BAZIN, 1998). Algumas fibras so removidas de

    suas localidades e depositadas em outras e as fibras de colgeno do tipo III so

    substitudas pelo tipo I em resposta s interpretaes dos fibroblastos ao estresse

    mecnico provocado no tecido (DYSON, 1987). O efeito do UST vai depender da

    fase em que foi iniciado o tratamento, pois quanto mais precoce a aplicao, melhor

    os seus efeitos (KITCHEN; BAZIN, 1998). Como visto, o UST estimula a

    remodelao e reorientao do colgeno ao longo das linhas de tenso (MAXWELL,

    1992).

    Porm, apesar de todos os efeitos citados acima, Gam e Johannsen (1995)

    realizaram meta-anlise de 293 artigos publicados desde 1950 sobre os efeitos do

    UST nas desordens musculoesquelticas e observaram pouca evidncia cientfica

    na sua utilizao. Robertson et al. (2001) avaliaram 35 artigos sobre a aplicao do

    UST em patologias diversas no perodo de 1975 a 1999 e verificaram que somente

    10 artigos continham as metodologias adequadas para validar a eficincia do

    ultrassom. No entanto, s foi encontrado benefcio do UST em 2 artigos, um para

    sndrome do tnel do carpo (EBENBICHLER et al., 1998) e outro para tendinite

    calcificante do ombro (EBENBICHLER et al., 1999) . No artigo para sndrome do

    tnel do carpo foi verificada melhora na conduo nervosa, na dor e na

    funcionalidade fsica e no artigo para tendinite calcificante do ombro foi verificada

    melhora do quadro lgico.

    Em 2007, Wong e colaboradores realizaram pesquisa com 213

    Fisioterapeutas da rea ortopdica sobre a utilizao do UST e sua importncia na

  • 49

    prtica clnica. Em relao as indicaes clnicas, 83,6% utilizam para diminuir as

    inflamaes (tendinite, bursite), 70,9% para aumentar a extensibilidade os tecidos,

    52,5 % para incrementar o processo de cicatrizao, 49,3% para diminuir a dor,

    35,15% para diminuir o edema. Tambm foi questionado sobre os parmetros

    utilizados para tratamento e encontrou-se uma diversidade de informaes que

    esto demonstradas no QUADRO 3. Verifica-se a falta de consenso sobre os

    parmetros ideais para tratamento, sendo importante a realizao de pesquisas para

    tal.

    4.6.3 Ultrassom e contuso muscular

    Diversos estudos j foram realizados com o objetivo de avaliar a eficcia do

    UST nas contuses musculares, porm, ainda no h consenso (MARKET et al.,

    2005; WILKIN et al., 2004; BASSOLI et al., 2001; PIEDADE et al., 2008; REURINK

    et al., 2012; MASON et al.; 2012). A maioria deles utilizou o UST pulsado de baixa

    intensidade, pois esta a indicao da literatura para o tratamento imediato neste

    tipo de leso. O QUADRO 4 demonstra os nveis de evidncia da aplicao do UST

    nas diferentes fases do processo de cicatrizao e reparo (MICHLOVITZ et al.,

    2012).

    Reher et al (1999) afirmaram que o UST pode promover a produo de

    inteleucinas 8, fator de crescimento de fibroblastos (FGF) e fator de crescimento

    endotelial vascular (VEGF), o qual promove a angiognese e contribui para o reparo

    muscular.

    No estudo de Market et al. (2005) utilizaram o UST de 3 MHz no modo

    contnuo, com intensidade de 0,1 W/cm2, associado ou no a caminhadas, para

    avaliar o processo de regenerao do msculo gastrocnmio em ratos. Foram

    investigados a massa muscular, a concentrao de protenas contrteis, a rea de

    seco transversa das fibras musculares (ASTFM), o nmero de ncleo por fibra e a

    densidade mionuclear e no foram encontrados resultados estatisticamente

    significativos. Wilkin et al. (2004) utilizaram o UST pulsado 20% de 3 MHz,

    intensidade de 1 W/cm2 tambm no msculo gastrocnmio lesado de ratos. Foram

    avaliados os mesmos parmetros do estudo anterior e tambm no encontraram

    diferenas estatisticamente significativas.

  • 50

    QUADRO 3- Resposta dos Fisioterapeutas sobre os parmetros utilizados para

    tratamento (Adaptado de WONG et al., 2007)

    Parmetro Dor Inflamao Extensibilidade Cicatrizao Edema

    Frequncia:

    tecidos

    superficiais

    1 MHz 14.0% (17) 10.1% (15) 15.8% (23) 13.5% (14) 11.1% (9)

    3 MHz 86.0% (104) 89.9% (133) 84.2% (123) 86.5% (90) 88.9% (72)

    Frequncia:

    tecidos profundos

    1 MHz 95.0% (113) 94.0% (140) 93.9% (139) 95.2% (99) 93.9% (77)

    3 MHz 5.0% (6) 6.0% (9) 6.1% (9) 4.8% (5) 6.1% (5)

    Intensidade:

    tecidos

    superficiais

    2 W/cm2 5.8% (6) 6.7% (8) 6.5% (8) 6.3% (6) 4.5% (3)

    Intensidade:

    tecidos profundos

    2 W/cm2 8.0% (8) 7.4% (9) 10.4% (13) 6.2% (6) 3.1% (2)

    Modo de

    operao

    Pulsado 20% 7.9% (11) 26.5% (44) 1.2% (2) 16.8% (21) 37.5% (36)

    Pulsado 50% 17.1% (24) 44.0% (73) 5.3% (9) 30.4% (38) 44.8% (43)

    Contnuo 75.0% (105) 29.5% (49) 93.6% (160) 52.8% (66) 17.7% (17)

  • 51

    QUADRO 4- Uso do ultrassom e seu nvel de evidncia durante as fases do

    processo de cicatrizao e reparo (MICHLOVITZ et al., 2012).

    FASE EFEITO NVEL DE EVIDNCIA

    Inflamatria Libera fatores de crescimento in vitro e

    em modelos animais

    5

    Angiognese promovida pelo UST

    pulsado- modelo animal

    5

    Proliferativa Angiogense promovida pelo UST

    pulsado- modelo animal

    5

    Fibroplasia promovida pelo UST

    pulsado- modelo animal

    5

    Remodelamento Elevao de temperatura pelo UST

    contnuo

    Pouca evidncia

    No entanto, Bassoli et al. (2001), utilizando a frequncia de 1,5 MHz, pulsado

    100 Hz, intensidade de 0,016 W/cm2 encontraram neovascularizao da rea,

    aumento de miofibroblasto, mitose das clulas satlites e acelerao da

    regenerao no msculo glteo mximo de rato lesionado por contuso.

    Corroborando com esse estudo, Piedade e colaboradores (2008) avaliaram a

    aplicao do UST pulsado no msculo gastrocnmio lacerado de ratos e observaram

    aumento significativo na quantidade de miotubos na zona de regenerao, aos 14

    dias, no grupo tratado com UST. Nesse mesmo trabalho observaram o aparecimento

    precoce de fibras de colgeno tipo I aos 4 dias aps a leso, com melhor arranjo

    estrutural e alinhamento dos miotubos em formao, no grupo tratado com UST.

    Em um artigo de reviso publicado em 2011, Fernandes et al. relataram que

    h poucas evidncias na utilizao do UST em contuso. Assim, estudos que

    investiguem os efeitos do UST bem como a associao com o exerccio, so

    importantes para evidenciar a prtica clnica.

    4.7 ALONGAMENTO

    Os exerccios de alongamento muscular esto entre os mais comumente

    utilizados na reabilitao e na prtica esportiva. So tcnicas utilizadas para

  • 52

    aumentar a extensibilidade musculotendnea e do tecido conjuntivo muscular e

    periarticular, contribuindo para aumentar a flexibilidade, amplitude de movimento e

    comprimento msculo tendneo (HERBERT; GABRIEL, 2002; GAJDOSIK, 2001;

    FELAND et al., 2001).

    Existem basicamente trs tcnicas de alongamento: balstico, esttico e

    facilitao neuromuscular proprioceptiva (FNP) (ZAKAS et al., 2005; NELSON;

    BANDY, 2004). Alm dessas, outras podem ser adicionadas como: alongamento

    passivo (o indivduo no contribui para gerar a fora de alongamento); ativo-passivo

    (o alongamento completado por uma fora externa); ativo-assistido ( completado

    pela contrao ativa inicial do grupo de msculos agonistas); ativo (realizado pelo

    prprio indivduo) (ALTER, 2004).

    O alongamento balstico est associado com movimentos de balanar, saltar,

    ricochetear e movimentos rtmicos (ALTER, 2004). No mtodo esttico, o membro

    mantido em posio estacionria em seu maior comprimento possvel por um

    perodo de 15 a 60s (ZAKAS et al., 2005; FELAND, 2001, BANDY; IRON, 1997). A

    FNP definida como um mtodo de promover ou acelerar o mecanismo

    neuromuscular pela estimulao dos proprioceptores (KNOTT; VOSS, 1968).

    Utilizam a resposta fisiolgica de inibio recproca na qual a contrao isomtrica

    de um msculo seguida de relaxamento e inibio de seu antagonista, com o

    objetivo de estimular os mecanismos neurais de contrao e relaxamento (MATTES,

    1996). Tambm pode envolver uma contrao isomtrica de um msculo alongado,

    seguido de um alongamento maior, ativa ou passivamente (BANDY; IRON, 1997),

    com padres de movimento em espiral e diagonal (SURBURG; SCHRADER, 1997).

    Entre as tcnicas de alongamento pela FNP, citadas por Surburg e Schrader

    (1997) esto: Contrair-Relaxar (CR), Manter-Relaxar (MR), Contrair-Relaxar-Contrair

    (CRC), e Manter-Relaxar- Contrair (MRC). Assim, o alongamento pela FNP tornou-

    se uma modalidade comumente utilizada para induzir relaxamento muscular e assim

    superar a resistncia ao movimento e posteriormente aumentar a ADM da

    articulao (FERBER et al., 2002; COELHO, 2007). Porm, segundo Feland et al.

    (2001), o alongamento esttico o mais utilizado, pois mais simples e confortvel,

    para idosos.

    No estudo de Bandy e Iron (1997), realizado em humanos, verificou-se que o

    tempo de manuteno de 30s foi eficaz para aumentar a flexibilidade dos msculos

    isquiotibiais de adultos jovens. Os mesmos autores, posteriormente, analisaram a

  • 53

    quantidade de repeties que deveria ser realizado o exerccio por dia e no

    encontraram diferenas entre os grupos que realizaram 3 vezes ao dia e o que

    realizou somente uma vez. Zito et al. (1997) verificaram que o alongamento passivo

    mantido durante 15s no aumentou a ADM do tornozelo. Roberts e Wilson (1999)

    compararam o alongamento mantido 5s, repetido 9 vezes e mantido 15s, por 3

    vezes, ambos realizados 3 vezes por semana durante 5 semanas, em universitrios

    praticantes de atividade fsica, concluindo que o segundo grupo foi mais eficaz no

    aumento da ADM passiva e ativa de flexo de quadril e flexo e extenso de joelho.

    Sobre o nmero de repeties para realizao do alongamento, Taylor et al.

    (1990) relataram em estudo experimental com coelhos, que so necessrias no

    mnimo 4 repeties para alterar a extensibilidade da unidade msculo tendo.

    O estmulo de alongamento transmitido para o meio intracelular por

    mecanismo denominado mecanotransduo (DEYNE, 2001). Este mecanismo inclui

    uma cascata de reaes que transmite o estmulo desde a matriz extracelular

    (endomsio), passando pelo sarcolema, atingindo as protenas do costmero, sendo

    transmitido at a linha Z e o ncleo da clula, ativando a expresso gnica e sntese

    proteica, desencadeando o processo de miofibrilognese (DEYNE, 2001; PEVIANI

    et al, 2007; SANGER et al., 2002). Microscopicamente, podem ser observadas

    mudanas morfofuncionais provocadas pelo alongamento na clula, tais como:

    adio de sarcmeros em srie (WHATMAN et al., 2006; COUTINHO et al., 2004);

    aumento na ASTFM (COUTINHO et al., 2004); reorganizao molecular das fibras

    colgenas (COUTINHO et al., 2006); reduo do processo de fibrose e melhora na

    regenerao muscular (HWANG et al., 2006).

    Dessa forma, msculos encurtados e lesados podem adaptar-se aps o

    treinamento com exerccios de alongamento, associado ou no a recursos trmicos

    (KNIGHT et al., 2001; HWANG et al., 2006).

    A resistncia do comprimento passivo do msculo influenciada pela soma

    das protenas contrteis, no contrteis e tecido conjuntivo, que se adaptam s

    cargas impostas pelas demandas do alongamento (WEPPLER; MAGNUSSON,

    2010). Vrias teorias explicam o aumento da extensibilidade aps o alongamento,

    dentre elas: deformao viscoelstica e plstica, aumento dos sarcmeros em srie

    e relaxamento muscular (WEPPLER; MAGNUSSON, 2010). As deformaes

    plsticas e elsticas podem ocorrer no tecido conjuntivo quando submetido ao

    alongamento (Gajdosik, 2001), sendo que alteraes plsticas modificam a estrutura

  • 54

    do msculo e so mais duradouras (WILLY et al., 2001) e as elsticas retornam a

    forma original aps alguns minutos (TAYLOR et al., 1990; RYAN et al., 2008). Em

    relao aos sarcmeros em srie, estudos animais demonstraram aumento no