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7/18/2019 Ana Ferreira Dias - Entrevista Matilde Campilho http://slidepdf.com/reader/full/ana-ferreira-dias-entrevista-matilde-campilho 1/7 Entrevistas Matilde Campilho 6 de Junho de 2014 Ana Dias Ferreira Até há umas três semanas eu nuna tinha ouvido o nome Matilde Campilho! "#o sa$ia %ue a Matilde andava entre o &io de Janeiro e 'is$oa a enher adernos de versos e o$serva()es! Mas depois aterrou*me na seretária um livro hamado Jóquei + e os poemas lá dentro atropelaram*me os dias omo um avalo de orrida! ,or%ue a Matilde esreve om ur-ênia+ om um ritmo %ue enontrou o seu lu-ar numa l.n-ua transatl/ntia %ue está al-ures no meio do oeano+ e esreve uma poesia+ nessa mistura de ,ortu-al e rasil+ %ue tanto serve para alar de amor omo da torida do Flamen-o! "estes poemas+ reunidos em livro na ole(#o de poesia oordenada por ,edro Meia+ o 3nverno %ue %uer enher a$e(a de domin-os5 é arrasado em seis linhas e aredita*se proundamente %ue esta oisa da ale-ria ainda vai dar muito erto5! "una tinha enontrado assim uma maturidade dos 0 om uma ener-ia t#o adolesente+ mas se alhar é omo a Matilde esreve e os poetas s#o os novos ro%ueiros! Enontrámos*nos para onversar so$re o livro num aé no Chiado+ e a%ui ia a vers#o ompleta entrevista %ue saiu na 7ime 8ut 'is$oa de 29 de Maio! Jóquei é apresentado por Pedro Mexia como um álbum de Verão e de facto é como se o Inverno aqui não tivesse grandes hipóteses. á eras uma pessoa do sol! ou o "io de aneiro teve alguma coisa a ver com isto# Já era+ totalmente! Aliás+ essa oi uma das ra:)es por%ue i%uei t#o enantada om o &io! ;empre ui sol! 3nverno para mim+ %uase in-ia %ue n#o eistia! ,assei sempre metade dos meus anos em ne-a(#o+ até %ue apareeu o &io de Janeiro! $omo é que apareceu# Foi %uase por aaso! Eu andava sempre para trás e para a rente+ nuna parava muito em ,ortu-al mas tam$ém nuna iava muito tempo nos s.tios para onde ia! E %uando apareeu um pro<eto no &io+ eu ui+ e uma oisa %ue era para ser 1= dias iou! "a pele! %irias que o Verão do livro é também metafórico# Porque há aqui um certo maravilhamento& a ra'a humana brilha! as palmeiras brilham! há muita alegria. 7em muito a ver om o espanto! >uase a deender*me do 3nverno+ a deender*me de uma erta triste:a %ue há no pa.s+ prourei sempre o lado laro! ? en-ra(ado por%ue oi muito a poesia %ue me ensinou a prourar o lado laro! As hist@rias+ o inema+ tudo a%uilo 7udo é uma possi$ilidade de $rilho! E eu prourei isso+ no rasil+ no %ue estava a ler+ e tentei tra:ê*lo n#o s@ para o livro mas para a vida!

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EntrevistasMatilde Campilho6 de Junho de 2014Ana Dias Ferreira

Até há umas três semanas eu nun a tinha ouvido o nome Matilde Campilho! "#o sa$ia %ue aMatilde andava entre o &io de Janeiro e 'is$oa a en her adernos de versos e o$serva()es! Masdepois aterrou*me na se retária um livro hamado Jóquei + e os poemas lá dentro atropelaram*me osdias omo um avalo de orrida!

,or%ue a Matilde es reve om ur-ên ia+ om um ritmo %ue en ontrou o seu lu-ar numal.n-ua transatl/nti a %ue está al-ures no meio do o eano+ e es reve uma poesia+ nessa mistura de

,ortu-al e rasil+ %ue tanto serve para alar de amor omo da tor ida do Flamen-o! "estes poemas+reunidos em livro na ole (#o de poesia oordenada por ,edro Me ia+ o 3nverno %ue %uer en her

a$e(a de domin-os5 é arrasado em seis linhas e a redita*se pro undamente %ue esta oisa daale-ria ainda vai dar muito erto5! "un a tinha en ontrado assim uma maturidade dos 0 om umaener-ia t#o adoles ente+ mas se alhar é omo a Matilde es reve e os poetas s#o os novos ro%ueiros!En ontrámos*nos para onversar so$re o livro num a é no Chiado+ e a%ui i a a vers#o ompleta entrevista %ue saiu na 7ime 8ut 'is$oa de 29 de Maio!

Jóquei é apresentado por Pedro Mexia como um álbum de Verão e de facto é como se oInverno aqui não tivesse grandes hipóteses. á eras uma pessoa do sol! ou o "io de aneiroteve alguma coisa a ver com isto#

Já era+ totalmente! Aliás+ essa oi uma das ra:)es por%ue i%uei t#o en antada om o &io!;empre ui sol! 3nverno para mim+ %uase in-ia %ue n#o e istia! ,assei sempre metade dos meusanos em ne-a(#o+ até %ue apare eu o &io de Janeiro!$omo é que apareceu#

Foi %uase por a aso! Eu andava sempre para trás e para a rente+ nun a parava muito em,ortu-al mas tam$ém nun a i ava muito tempo nos s.tios para onde ia! E %uando apare eu um pro<e to no &io+ eu ui+ e uma oisa %ue era para ser 1= dias i ou! "a pele!%irias que o Verão do livro é também metafórico# Porque há aqui um certo maravilhamento&a ra'a humana brilha! as palmeiras brilham! há muita alegria.

7em muito a ver om o espanto! >uase a de ender*me do 3nverno+ a de ender*me de umaerta triste:a %ue há no pa.s+ pro urei sempre o lado laro! ? en-ra(ado por%ue oi muito a poesia

%ue me ensinou a pro urar o lado laro! As hist@rias+ o inema+ tudo a%uilo 7udo é uma

possi$ilidade de $rilho! E eu pro urei isso+ no rasil+ no %ue estava a ler+ e tentei tra:ê*lo n#o s@ para o livro mas para a vida!

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Porque é que di(es que foi a poesia que te ensinou# )u melhor! porque é que achas que maisnaturalmente a tua forma de di(er as coisas é a poesia#

Foi por um on<unto de oisas! Come ei a ler muita poesia+ %ue n#o era uma oisa muitonormal aos 20 e tal anos! "o &io tinha muitos ami-os %ue es reviam e ome ei a olhar para a

poesia tam$ém om um olhar di erente+ sem distan iamento! A%uilo estava ali+ e a partir dali erauma ponte para os outros tam$ém n#o estarem t#o distantes+ mesmo os %ue <á estavam mortos! E eu <á es revia+ es revia sempre+ e a%uela orma+ %ue a inal n#o é uma orma nem uma @rmula+ p

ui per e$endo ao lon-o do aminho %ue há mil dentro da%uela+ pare eu*me estranhamente a maislivre! Apesar de pare er %ue tem um es%uema+ a poesia a:ia*me muito mais sentido+ prin ipalmen pelo ritmo! A minha es rita tinha muito ritmo e en ai ava na poesia!* curioso di(eres que é a forma mais livre porque no livro tanto temos poemas que t+m tr+s

versos como são escritos em prosa! em avalanche.8 livro oi es rito ao lon-o de vários anos e por isso orresponde a alturas e a leiturasdi erentes! ? inevitável haver al-uma ontamina(#o om o %ue se lê+ e se eu estava a ler os poetas $eat+ por e emplo+ naturalmente vinham*me te tos mais ompridos+ en%uanto se estivesse a lerhaiBus+ a onte ia o inverso! 7am$ém tinha a ver om o %ue via lá ora! s ve:es era uma en urradade oisas+ s ve:es era mais almo!)utra forma de liberdade é o que pode estar dentro de um poema! e tu brincas logo com issono in,cio. -qui tanto temos os grandes temas! como um lac/ 0 %ec/er ou o ácidodesoxirribonucleico. $omo é que tu encaras um poema! de forma a que ele possa abrigar essascoisas todas#

Com o respeito devido mas sem erim@nia! m poema pode muito $em ser so$re um la B De Ber ou uma Co a*Cola por%ue a vida tem isso! Apesar de haver respeito+ n#o havia

distan iamento entre os poemas e eu no pro esso de tra$alho! Ent#o por%ue n#o apare erem os-estos do dia*a*dia+ os orredores do supermer ado+ os mer-ulhos na praia+ misturados om tudoa%uilo %ue eu estava a aprender de mais meta .si oG "o rasil há muito isso+ e eu lem$ro*me de

i ar surpreendida no ome(oH ent#o mas ele está a a:er um poema a um su o de a$a a iG 3sso podeG1obretudo porque há uma certa seriedade quando se fala em poesia.

A palavra poesia é a%uela oisa %ue ouvimos na es ola desde pe%uenos omo al-o solene!IFa: uma vo: -rave H a-ora vamos estudar 8s ,oetas! >ue lon-eK Ent#o n@s+ %ue temos umatradi(#o de -randes poetas+ muitos deles muito lássi os! Eu onse-uia*me apro imar mais depressadL8s Maias+ pare ia %ue me di:iam mais respeito! E de repente+ lendo outras oisas+ ora da es ola

tu per e$es %ue tudo a%uilo se pode+ por%ue a poesia é tudo isso lá ora! >uando as pessoas me per-untamH mas tu és o %uêG ,oeta+ poetisa+ es ritoraG

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) que é que respondes#,oeta!

2 o que é que te provoca essa resposta#Era uma oisa %ue no prin .pio 7eve muito a ver om o rasil+ lá está! 7enho muitos

ami-os %ue s#o m si os ou poetas+ e a%uilo era muito natural! Em onversa+ estamos no $ote o+al-uém per-unta o %ue é %ue a:esG5+ al-uém di: eu sou poeta5+ e a onversa anda! A%ui <á eraum $o adinho di erente! ;e me per-untam o %ue é %ue a:esG5 e eu di-o eu sou poeta5+ per-untam de novoH sim+ está $em+ mas 5 No<e em dia di-o tran%uila+ mas oi uma oisa %uedemorei a masti-ar por%ue se alhar é mais á il dar uma pro iss#o %ue possa vir num art#o! ?a%uela oisa de li-ar a mar ar uma onsulta e per-untaremH "omeG 7ele oneG ,ro iss#oG5! Eurespiro sempre antes! Depois di-o+ <á di-o sem medo+ mas respiro! ;empre espera da rea (#o!

3á reac'ão#s ve:es há uma -ar-alhadinha! Mas isso é $om+ rir é $om+ a ideia tam$ém é essa!rincar com a poesia#

;im+ sempre om respeito+ omo eu di:ia+ omo nas $oas rela()es!3á um poema! logo o primeiro! que tem 4cara de 5hitman6.

Ná muitos nomes de outros poetas lá no meio e é sempre uma oisa meio de oi mestre5!Mas é isso+ é oi mestre5 e n#o I a: uma vo: séria H $oa tarde mestre+ omo estáG5! ? om respeie om amor!7eralmente o que é que está na origem de um poema#

Eu tinha um ami-o %ue di:ia %ue eu es revia tanto o tempo todo %ue era imposs.vel n#o sair pelo menos um poema! Como a%ueles rolos de 6 oto-ra ias em %ue pelo menos uma tinha %ue sa $oa! ,or%ue eu sempre andei+ desde %ue me lem$ro+ om um aderninho no $olso e a reparar! E estamistura de rua O por%ue eu ando muito na rua+ vou a asa para dormir O+ om muita leitura+ era%uase inevitável %ue n#o desse al-uma oisa es rita!8uando olhas para esses cadernos! onde escreves de forma imediata! encontras poemasprontos a publicar ou há muito um trabalho de limar as coisas em casa#

Ná! 8s adernos s#o diários de via-em+ depois a%uilo passa por um -arimpoH olhar+ ver+ris ar! Muitos deles s#o s@ o$serva(#o+ o %ue n#o dei am de ser al-uns dos poemas!2ra para tentar perceber o teu processo de escrita. Porque quem l+9

A ha %ue é imediato!:ão sei se imediato! mas rápido. ;rgente.

Muitas ve:es os poemas s#o es ritos muito em ima do a onte imento+ por%ue omo estou

sempre lá ora e passo muito tempo nos a és+ a oisa a onte e a.! Das =0 oisas %ue est#o noaderno+ há um poema %ue nas e ali+ na%uele Pni$us+ om a letra tremida! ,or isso sim+ muitos de

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s#o a%ui e a-ora+ e eu a ho %ue isso se vê! Em$ora o a%ui e a-ora se<a trai(oeiro! ,or%ue está $em+ eu es revi a%ui e a-ora mas há %uanto tempo ele estava a a onte er+ om as leituras %ue estaa a:er e as in luên ias %ue re e$o sem per e$erG%irias que o portugu+s do "io a<udou = alegria do livro# -gora disseste >nibus em ve( de

autocarro! que é uma palavra mais leve.,elo menos é mais urta QrisosR!

Mas a<udou#;im ? a mesma l.n-ua+ mas realmente a%uele sota%ue deles é mais solar! 7em mais -in-a+

é mais h mido! ? mais tudo o %ue a idade é! "@s somos um $o adinho mais sérios+ mas n#odei amos de ter palavras mais $onitas+ %ue pare em ter sido pensadas om mais tempo! Am$as têm

oisas in r.veis! A-ora se a<udou ale-riaG A<udou+ omo tudo o resto %ue o &io de Janeiro tem!

Pegando numa palavra! porque é que o livro se chama óquei# Porque é que não se chamapor exemplo astronauta! que =s tantas escreves que é 4a palavra mais incr,vel de todas6#Eu andei muito tempo om o t.tulo para trás e para a rente+ por%ue o livro ala de várias oisas+ e e

podia ter pu ado uma delas mas isso ia redu:i*lo um $o adinho! ;e eu lhe hamasse Ser#o+as pessoas iam esperar isso! E uma ve:+ estava a alar so$re avalos e houve um ami-o %ue medisseH todo o poema é um poema so$re um avalo5! E a%uela rase+ %ue na altura nem me e: musentido+ i ou a%ui atrás da orelha! Até %ue um dia apare eu*me a palavra <@%uei e eu -osteiimediatamente dela+ mesmo %ue n#o %uisesse di:er nada! ,rimeiro %ue tudo+ a hei $onitoapai onar*me pela palavra+ antes de %ual%uer oisa! ? omo apai onares*te por uma pessoa s@ por%ue ela é $onita e depois lo-o se vê! E ui andando na%uilo e ome ei a pensar no pr@prio do <@%uei! A ideia %ue eu tenho das orridas de avalos+ %ue onhe(o pou o+ é %ue eles em prin .p%uando se metem na%uilo %uerem muito -anhar+ he-ar ao im da orrida e ser o melhor+ se alharn#o prestando assim tanta aten(#o ao avalo! Mas om o passar do tempo eles v#o*se apai onando é pelo avalo+ e he-a uma altura em %ue -anhar ou perder <á n#o importa+ <á n#o é uma orrida+ n#há orrida nenhuma! ;ou eu e o avalo+ e vamos em$ora! E a%uilo tudo e: sentido! >uando ele di:

todo o poema é um poema so$re um avalo5 m poema é um avalo! E isto n#o é orridanenhuma+ n#o é para ser melhor do %ue a%uele %ue eu li+ isto é para ir andando+ no ritmo dos poemas+ atrás dos poemas+ e se eles %uiserem he-ar meta he-am+ se n#o %uiserem n#o he-amA hei %ue a%uilo a:ia sentido para mim e ent#o disseH olá J@%uei!

Matilde $ampilho! encantada com espetáculo do mundo!httpHTTUUU! esarea! om!$rTsem*ate-oriaT%uem*$ri-a* om*$i ho*perdeT

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,or &i ardo Siel

Fa(o uma pre-unta e a:*se um silên io! E per e$o %ue Matilde olha por ima dos meus om$ros emdire(#o ao 7e<o! ar alh#o ali+ in r.vel5+ di: om ar de satis a(#o! Estava a vê*lo e me distra.+des ulpa5+ ompleta! Al-uém es uta o omentário+ apro ima*se e di: %ue é realmente $onito o $ar o a passar! E ela re or(a+ pronun iando $em as s.la$asH ? lindo5! Solta a olhar para mim+amea(a responder so$re suas in luên ias literárias+ mas desiste! ,re ere voltar a um assunto maisinteressanteH o en antamento diário %ue tem om a vida+ e %ue transpare e em seus poemas! 7ávendo omo a paisa-em mudaG ? disso %ue eu estava alando! "#o tem <eito! E a %uantidade de paisa-ens %ue a%uilo Io $ar o transporta+ a %uantidade de pessoas de pa.ses di erentes %ue v#oaliG5+ di: apontando para o rio! ? por isso+ por%ue o espetá ulo do mundo O pe-ando emprestado a

rase de &i ardo &eis O é sempre al-o novo e poderoso+ %ue essa portu-uesa de 1 anos anda alerta+omo se lê em ,rimeira hora em %ue o ilho do sol $rin ou om hum$inhos5+ poema pu$li ado

em Jóquei, seu livro de estreiaH

Meu %uerido+ s árvores alam! 8s ti-res orrem olimp.adas em pistas muito mais in r.veis do %uea%uelas eitas de imento laran<a! sain olt ve:es em+ o sorriso de sain olt ve:es mil! Amatemáti a n#o é di . il se vo ê omparar tudo ao apare imento de ardume! Al-uns rutos nas eno h#o+ outros aem dos ramos! ? pre iso estar atento!5

;e<a no &io de Janeiro ou em 'is$oa+ idades aonde nos ltimos %uatro anos tem dividido seutempo+ Matilde Campilho estará atenta! 'evará onsi-o um aderno para anotar o %ue para muitos éa rotina+ mas %ue para ela é deslum$rante otidiano! s ve:es os meus ami-os até i am irritados!,á+ <á tá $om de se espantar+ n#oG Mas é %ue isto muda todos os dias5+ ar-umenta! 7am$ém tem aver om ter sa.do muito de al-uns lu-ares+ de sentir saudade de al-uns lu-ares! 8 mundo n#o meansa+ e n#o é uma oisa de rian(a! 8 mundo n#o ansa as rian(as por%ue elas n#o tem

ons iên ia dele! Sou tendo um pou%uinho de ons iên ia do mundo+ <á tenho 1 anos! Já andei pelo mundo um pou%uinho5+ di:+ e diverte*se om a rase %ue a a$a de pronun iar! ;im+ um pou%uinho+ por%ue o mundo é -rande demais5+ a res enta!,ara essa portu-uesa a ario ada %ue <á morou na 3tália+ na Espanha e em Mo(am$i%ue+ ver omundo om olhos de espanto é al-o natural+ a: parte de seu D"A Qe oi poten iali:ado om oen ontro om o &ioR+ mas tam$ém é um op(#o! A ho %ue é uma es olha! 8 mundo é o$viamente $om e mal+ há dias %ue a -ente onse-ue ver mais o $om+ e outros mais o mal5! E mesmo %uando as

oisas n#o saem $em+ %uando pare e %ue a vida onspira ontra+ trata*se de es olher a lente %ue

usada na /mera! Vra i amente o mundo n#o i ou mais eio! ? minha vida %ue está mais oda! ?uma es olha! Es olher o mais $onito ou o mais eio+ sa$endo %ue eles est#o lá os dois+ eles est#osempre lá+ no mesmo lu-ar! "a paisa-em ou nos seremos humanos! Eu tenho oisas $oas e máse atamente a a$itarem a%ui ao mesmo tempo+ o %ue deito pra ora+ e omo a<o+ é uma es olhadiária!5 - poetaMatilde Campilho nas eu em 'is$oa em 1W92+ estudou literatura e oi a Floren(a para aprender pintura %uando ainda estava pro ura de uma vo:5! Sia<ou+ onhe eu muitos lu-ares+ mas oi pe&io %ue se en antou! m amor um tanto %uanto previs.vel O os ami-os di:iam %ue eles tinham tudoa ver+ %ue eram a ara um do outro O + mas %ue demorou para a onte er! Foi s@ em 2010 %ue a portu-uesa onhe eu a tal idade maravilhosa! 3a para i ar s@ duas semanas+ oi i ando! Desdeent#o+ tem um pé á e outro lá+ divide*se entre a o pPr do sol de 'is$oa e o amanhe er do &io! Foi

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no rasil %ue ome(ou a levar mesmo a sério essa oisa da es rita! Foi onde des o$riu*se Qouassumiu*seR poeta! Durante anos pensou %ue o %ue es revia em seu aderno ossem apenas notasdistra.das so$re o mundo5+ mas pou o a pou o oi per e$endo %ue ali estava o em$ri#o de sua poesia+ %ue ali estava sendo or<ado seu estilo! 8s vários ami-os es ritores serviram de in entivo+ eMatilde ome(ou a re%uentar sess)es de leitura nas noites do &io+ até %ue um dia atreveu*se a leral-o seu! Foi tam$ém nesse épo a %ue ome(ou a lan(ar no Fa e$ooB seus versos! Fa:ia+ so$retudo+

para os ami-os+ por%ue o orreio demorava+ e mandar postais a todo o tempo era aro+ e havia aur-ên ia de omuni ar*se! Depois vieram os v.deo*poemas Qnarrados por ela e om ima-ens+ e sve:es al-um som de undoR+ %ue eram omo re ados %ue ela lan(ava aos mais pr@ imos+ sem o pro$lema do uso horário e do usto das hamadas! 8s v.deos olo ados no Xoutu$e e trapolaram o

.r ulo dos ami-os e o nome Matilde Campilho ome(ou a soar entre os a:edores e os leitores de poesia! Até %ue he-ou o momento de a:er um livro! ;entou*se diante do omputador e um anodepois nas eu o Jóquei, pu$li ado em ,ortu-al pela 7inta da China em maio e ainda sem previs#ode he-ar ao rasil! ri-uei om ele+ :an-uei*me om ele! 'em$ro da primeira ve: %ue vi o

Jóquei + %ue pe-uei ele na m#o+ na editora+ %ue penseiH aram$a+ oste um ilho da m#e! Fostein r.vel+ i:este*me ompanhia para n#o sei %uantos lu-ares+ mas a-ora pa:! ? omo %uando vo êen ontra um e *amante! En ontram*se+ %ue $om+ mas a-ora vai!5Mas antes de parir o livro+ Matilde passou por outro pro esso+ o de assumir*se poeta! Eu tinhamuito medo dessa oisa de estar a ima+ num patamar5+ onta! "#o onse-uia di:er %ue era poetaen%uanto eu pr@pria a hava %ue a%uilo estava li-ado a um mito+ a uma riatura maior! ;ou s@ aMatilde %ue tam$ém $e$e Co a*Cola e tam$ém vai praia e dá mer-ulhos5! A som$ra de Cam)es ede ,essoa eram+ por ve:es+ antasmas %ue assustavam! Como para uma <ovem es ritora in-lesa é;haBspeare+ e empli i a! ,or isso+ Matilde optou por respeitar aos -randes nomes da poesia portu-uesa+ mas n#o venerar em demasia os -randes! Al-o omo entra a.+ senta*te ao meu lado etoma um a é omi-o!5 Foi s@ %uando o Jóquei <á ia em ase muito avan(ada %ue ela teve ora-emde di:erH sou poeta! Esse tra$alho oi o ei o onstante dos ltimos anos+ ent#o a hei %ue era <ustodi:er sou poeta! "#o sei se é a minha pro iss#o+ se é mais ou menos do %ue isso+ sei %ue preen he o

eu sou5! Empre-o teve Qe temR váriosH editora+ produtora+ <ornalista! Mas seu tra$alho é+ a-ora temlaro+ a poesia!

- poesia Jóquei é um ál$um de ver#o+ de ine ,edro Me ia+ o editor da 7inta da China %ue pu$li a Matilde!;#o de:enas de poemas divididos em ap.tulos Qal-uns em prosaR sem uma temáti a dominante!7alve: ha<a+ isso sim+ um otimismo e uma esperan(a %ue paira so$re Q%uaseR todos os versos! Námila-res! Depois do sur-imento da $aleia solitária+ depois dos .r ulos de en<amin+ depois dodesdo$ramento do poema Y3Y+ depois do $erlinde de ;eZmour Vlass sendo -irado no dedo do <o-ador de $as%uete+ me di-a+ omo n#o a reditar no $rilho natural %ue diariamente resplande e no peito da terraG em+ seu rosto de espanto rente ao sorvete de moran-o numa tarde de domin-o é amano$ra %ue pu a o lustro pele do planeta! en:inho+ estamos invertendo a pro e ia de Eliot!Estamos urando o res riado de Madame ;osostris+ e esta oisa da ale-ria ainda vai dar muito

erto5+ es reve Matilde num poema em prosa! Em Eu <á es uto os teus sinais5+ outro poema dolivro+ ela di:H No<e se eu pudesseT eu voltava idade! T;@ para $ei<arT a idade na $o a!5 "uma primeira leitura <á evidente %ue para Matilde n#o há ronteiras+ n#o há a divis#o do portu-uês%ue se ala em ,ortu-al e no rasil! "#o há espa(o para o purismo+ nem assunto proi$ido+ nemestrutura ou orma a ser se-uida! "um mesmo poema onvivem l.n-uas Q 7he roses are lovelZ!Fa:es alta+ meu hapa5 ou Xou are the ;unshineT o mZ li eT e onversar onti-o de manh# é t#o $om5R e sota%ues Q 8 $rasileiro a ha %ue o amor é importante porra+ eu á n#o a ho nada+ s@ uarranhando poemas+ alinhando on hasR e podem i-urar armas+ ou a tor ida do Flamen-o+ ou aroda -i-ante de ConeZ 3sland[ ou -l@$ulos vermelhos+ o pe$olim+ a Federa i@n ru-uaZa deEs-rima+ tudo isso numa atmos era de erta insolên ia+ otimista e atrevida Q Era apa: de atravessa

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a idade em $i i leta para te ver dan(ar!TE issoT di: muito so$re minha ai a torá i a!5REssa aparente espontaneidade dos es ritos da portu-uesa podem dei ar uma ima-em de %ue s#oversos %ue nas em om a ilidade+ rutos de um lash+ %ue a $ele:a deles é $ruta e natural e %ue ne essitam de polimento! Mas Matilde desmente essa vers#o! So ê n#o ima-ina %uanto tempo eu passei em $i$liote as+ %uanto tra$alho deu a:er esse livro5+ onta a poeta+ %ue re ordar $ri-as5%ue teve om os versos! 7eve uma altura %ue até me :an-uei om o livro+ e lhe disseH a ho %ue tunem se%uer mere es estar no mundo5+ ri!,ortanto+ a poesia de Matilde é muito mais estudada e ere$ral do %ue uma primeira ima-em pode passar! 7ento %ue o aleat@rio+ no tra$alho+ a onte(a pou o! "a vida sim+ muito! Mas no tra$alho+isto n#o é de todo uma oisa despreo upada+ aleat@ria! 7udo isso tinha um sentido+ um momento! A poesia é eita um monte de oisas+ de leituras+ mas muito de vida lá ora! E na minha vida lá orasim eu permito+ a$solutamente+ o aleat@rio! Mas no tra$alho n#o+ é uma oisa super pensada!58 sur-imento de Matilde Campilho oi um pe%ueno terremoto+ sem v.timas+ mas om estruturasa$aladas+ no mundo literário portu-uês! A r.ti a ao seu livro de estreia oi avora$il.ssima! Foi

lassi i ado por um a adêmi o %ue es reve no <ornal Público omo um a onte imento pre ioso eml.n-ua portu-uesa5! Fala*se em des onstru(#o do poema+ em um mer-ulho numa nova di (#o5+ emruptura+ na des o$erta de um novo mundo numa anti-a l.n-ua omum5 e até em inau-ura(#o deum novo momento! Mas mais importante do %ue isso é o ato de o livro ter es-otado em menos dedois meses e <á estar na se-unda edi(#o! Mesmo sem ter sido ainda pu$li ado no rasil+ tam$émdesse lado do Atl/nti o os versos da portu-uesa <á e oamH oram pu$li ados na Folha de ;! ,aulo eno Vlo$o+ e ele$rados pela r.ti a!'eio seu Jóquei e+ n#o sei $em por %ue Qmas talve: intuoR me vem a$e(a o 7ropi alismo+ e penso%ue possivelmente ela se<a s@ uma entre várias pessoas+ %ue pode ser O e o alá se<a O %ue em,ortu-al e no rasil neste momento este<a a ser ermentado al-o novo+ rompedor+ desa iador dos

/nones+ %ue em $reve e plodirá $em diante de nossos olhos[ al-o %ue no ome(o seráin ompreendido+ depois+ ele$rado! ,enso nisso tudo e re ordo uma rase %ue Caetano dei ou-ravada emVerdade Tropical H Eu sentia ale-ria por IVil$erto Vil e istir+ por ele ser preto+ por eleser ele+ e por minha m#e saudar tudo isso de orma t#o direta e t#o trans endente! Eraevidentemente um -rande a onte imento a apari(#o dessa pessoa+ e minha m#e este<ava omi-o ades o$erta5! A apari(#o de Matilde Campilho tam$ém a mim me pare e um -rande a onte imento+e sinto ale-ria por ela ser mulher+ e portu-uesa+ e por ter amado e dei ado*se amar tanto pelo rasil!? uma pessoa t#o $onita+ viva e autênti a %uanto seus poemas Qo %ue n#o é pou a oisaR+ e reiosin eramente %ue vale a pena este<ar essa des o$erta!