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ANA PAULA KELM
Capacitação sócio-ambiental da rede de
suprimentos de uma empresa de cosméticos
São Paulo
2007
2
ANA PAULA KELM
Capacitação sócio-ambiental da rede de
suprimentos de uma empresa de cosméticos
Trabalho de formatura apresentado à
Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo para obtenção do
Diploma de Engenheiro de Produção
Orientador :
Professor Doutor
João Amato Neto
São Paulo
2007
4
FICHA CATALOGRÁFICA
Kelm, Ana Paula
Capacitação sócio-ambiental da rede de suprimentos de uma empresa de cosméticos / A.P. Kelm. -- São Paulo, 2007.
152 p.
Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.
1.Responsabilidade social 2.Gestão ambiental 3.Cadeia de
suprimentos I.Universidade de São Paulo.Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II.t.
Dedico esse trabalho aos meus pais, Edna e
Adolpho, que sempre fizeram o possível e o
impossível para que eu pudesse estudar nas
melhores instituições de ensino, desde minha
alfabetização até o presente momento.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho
de formatura e para a minha formação acadêmica, profissional e pessoal. Aos meus pais, Edna e Adolpho, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com
dignidade, não bastaria um “muito obrigada”. Afinal, eles se doaram inteiros e muitas vezes
renunciaram a seus sonhos para que eu pudesse realizar os meus. Agradeço ao professor João Amato Neto, meu orientador neste trabalho, pelos conselhos
desde o meu estágio na França até últimos momentos da elaboração deste trabalho no Brasil,
pela sua disponibilidade, e pela transmissão de seus conhecimentos e de sua experiência, a todos os professores do departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da
USP e aos professores do departamento de Management et Génie Industriel da École
Nationale des Ponts et Chaussées que contribuíram para a minha dupla formação acadêmica e
profissional, no Brasil e na França, a Ariane Thomas, minha chefa e tutora na L’Oréal, por ter me recrutado e me fornecido os
meios necessários para a realização desse projeto, ao meu pai, pela revisão do texto e pela ajuda na correção dos galicismos, a todos os meus amigos e colegas da Poli e da Ponts et Chaussées, que tornaram estes sete
anos de graduação os anos mais incríveis da minha vida, ao Fabio Cajú, pela amizade incondicional e pelo imenso companheirismo durante os três
anos que vivi na França, aos meus irmãos, Alexandra e Junior, por acreditarem em mim e me amarem
incondicionalmente, ao Patrick, por me fazer sonhar mais alto e por tanto contribuir ao meu amadurecimento como
ser humano.
8
RESUMO
As novas exigências do mercado classificam a responsabilidade sócio-ambiental
como um fator crítico de sucesso para as empresas que querem crescer e se estabelecer no
longo prazo. No entanto, um produto ou serviço só pode ser reconhecido como socialmente
responsável se todos os elos da cadeia de valor agirem de forma sustentável. Desta forma, a
designação da empresa e do produto ou serviço socialmente responsável passa a ser
incumbência não apenas de uma organização isolada, mas de toda a cadeia da qual ela faz
parte.
Alinhada a estas novas exigências, a empresa L’Oréal decidiu investir na
capacitação sócio-ambiental de seus fornecedores. Dentro deste contexto, o presente trabalho
de formatura delineia políticas e padrões de responsabilidade sócio-ambiental a serem
respeitados por toda a cadeia de suprimentos da L’Oréal. Para tanto, faz-se uma análise da
performance sócio-ambiental dos fornecedores do grupo, além de uma coleta e análise de
dados de campo e de dados publicados.
Palavras-chaves: responsabilidade social, gestão ambiental, rede de suprimentos.
10
ABSTRACT
The new market requirements consider corporate social and environmental
responsibility as a key performance indicator for companies willing to grow and achieve long-
lasting success. However, products and services are recognized as socially responsible only if
all rings of its supply chain behave sustainably. In this context, the concept of a social
responsible company, product or service becomes a duty of a whole chain, and not only a duty
of a single company.
Aligned to these new requirements, L´Oréal decided to invest in the improvement
of its suppliers’ performance in terms of social and environmental responsibility. In this
context, the present work delineates polices and standards in terms of social and
environmental responsibility that have to be respected by the whole company’s supply chain.
To achieve this aim, this work analyses L´Oréal suppliers’ profile, manages documental data
and addresses field surveys.
Key words: social responsibility, environmental management, supply network.
12
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Principais atores do setor mundial de cosméticos - faturamento com cosméticos em 2005 .................................................................................................................................. 25
Figura 2 - Localização geográfica das fábricas da L´Oréal ...................................................... 29 Figura 3 - Gestão da performance do fornecedor ..................................................................... 31 Figura 4 - Critérios de avaliação da performance dos fornecedores ........................................ 32 Figura 5 - Modelo de cadeia de relacionamento ...................................................................... 44 Figura 6 - Etapas do desenvolvimento do projeto .................................................................... 61 Figura 7 – Repartição dos resultados das auditorias sociais por departamento interno que
encomenda a auditoria ...................................................................................................... 67 Figura 8 - Repartição geográfica e anual das auditorias realizadas .......................................... 68 Figura 9 - Detecção das irregularidades mais freqüentes ......................................................... 71 Figura 10 - Irregularidades mais graves (em vermelho) e mais freqüentes (em laranja) ......... 72 Figura 11 - Satisfação dos fornecedores em relação ao nível de informações recebidas em
diferentes etapas do programa de auditorias sociais ......................................................... 95 Figura 12 - Plataforma de compartilhamento de informações, composta por 5 partes .......... 103 Figura 13 - Possível escala para avaliação da maturidade dos fornecedores ......................... 106 Figura 14 - Benefícios para os fornecedores resultantes da capacitação sócio-ambiental ..... 112 Figura 15 – Processo de obtenção do acordo (compromisso / assinatura) dos fornecedores
sobre o programa de auditorias sociais ........................................................................... 147 Figura 16 – Processo de encomenda da auditoria social à empresa terceirizada responsável
pelas auditorias (Intertek) ............................................................................................... 148 Figura 17 - Processo de acompanhamento da implementação do plano de ações corretivas . 149 Figura 18 - Processo de integração de novos fornecedores ao programa de auditorias sociais
........................................................................................................................................ 150
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Faturamento e marcas das quarto divisões de produtos da L’Oréal ........................ 27 Tabela 2 - Repartição dos fornecedores da L'Oréal .................................................................. 33 Tabela 3 - Elementos estruturais das redes de empresas .......................................................... 47 Tabela 4 - Classificação dos tipos de pesquisa ......................................................................... 55 Tabela 5 – Classificação dos resultados das auditorias sociais ................................................ 65 Tabela 6 - Países considerados de risco sob o ponto de vista sócio-ambiental ........................ 66 Tabela 7 - Repartição dos resultados das auditorias sociais realizadas .................................... 69 Tabela 8 - Síntese do benchmark dos principais documentos éticos privados consultados ..... 75 Tabela 9 - O pacto mundial e seus princípios ........................................................................... 80 Tabela 10 - Critérios operacionais identificados ...................................................................... 87 Tabela 11 - Exemplos de requisitos desejados e de requisitos de excelência ........................ 107 Tabela 12 - Convenções fundamentais da OIT ratificadas em 31 de dezembro de 2003 ....... 151
16
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AOP - Ásia, Oceania e região do Pacífico
CAP - Corrective Action Plan, ou plano de ações corretivas
CGA - Conditions Générales d’Achats, ou Condições Gerais de Compras e Pagamentos
DGA - Direction Générale des Achats, ou departamento corporativo de compras
EMAS – Eco Management & Audit System, ou Sistema de Eco-Gestão e Auditoria
ETI – Ethical Trading Initiative, ou Iniciativa Ética Comercial
ISO - International Organization for Standardization, ou Organização Internacional para
Normalização
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OIT - Organização Internacional do Trabalho
OHSAS - Occupational Health and Safety Assessment Series, ou série de avaliação de saúde e
segurança ocupacional
ONG - Organização não governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RSA - Responsabilidade Social e Ambiental
SC - Supply Chain, ou cadeia de suprimentos
SCM - Supply Chain Management, ou gestão da cadeia de suprimentos
SST - Segurança e Saúde no Trabalho
18
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 21 1.1. Definição do problema ............................................................................................. 21 1.2. Objetivo do trabalho ................................................................................................. 22 1.3. Estrutura do trabalho ................................................................................................ 22 1.4. O setor de cosméticos ............................................................................................... 23 1.5. Apresentação da empresa ......................................................................................... 26
1.5.1. Histórico e dados importantes .......................................................................... 26 1.5.2. Política de produção da L’Oréal ..................................................................... 28 1.5.3. O departamento de compras ............................................................................ 29 1.5.4. Célula Performance dos Fornecedores ............................................................ 30 1.5.5. Os fornecedores da empresa ............................................................................ 32
1.6. O Estágio .................................................................................................................. 34 2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA ...................................................................................... 35
2.1. A responsabilidade social: uma responsabilidade de todos ...................................... 35 2.2. A emergência de códigos de conduta e de documentos éticos ................................. 36 2.3. A internacionalização das empresas e a terceirização de serviços ........................... 37 2.4. O consumo consciente e responsável ....................................................................... 40 2.5. Os principais motivos da formalização ética ............................................................ 42 2.6. A nova visão sobre responsabilidade social das empresas ....................................... 43 2.7. A gestão socialmente responsável numa visão de rede integrada ............................ 44 2.8. Cadeias de Suprimentos (Supply Chain) .................................................................. 46 2.9. Reestruturação da Cadeia de Suprimentos ............................................................... 47 2.10. Casos de más praticas sociais e ambientais .......................................................... 48 2.11. Exemplo de boas práticas na área de responsabilidade social .............................. 51
3. METODOLOGIA ........................................................................................................... 55 4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ...................................................................... 57
4.1. O problema no contexto da empresa ........................................................................ 57 4.2. As etapas do projeto ................................................................................................. 59 4.3. Familiarização e análise do programa de auditorias sociais ..................................... 61
4.3.1. O programa de auditorias sociais e o perfil dos fornecedores ........................ 63 4.4. Benchmark de documentos éticos publicados por outras empresas ......................... 73 4.5. Busca de critérios operacionais para avaliação da responsabilidade sócio-ambiental .............................................................................................................................. 78
4.5.1. Referências Internacionais ............................................................................... 79 4.5.1.1. Pacto Mundial .......................................................................................... 79 4.5.1.2. Os princípios diretores da OCDE destinados às empresas multinacionais .............................................................................................................. 81 4.5.1.3. A declaração da OIT relativa aos princípios e diretos fundamentais no trabalho ........................................................................................... 81
4.5.2. Normas Internacionais ..................................................................................... 82 4.5.2.1. SA8000 ...................................................................................................... 82 4.5.2.2. ISO 14000 e EMAS (Eco Management & Audit System) ......................... 83 4.5.2.3. Norma OHSAS 18001 ............................................................................... 84
4.5.3. Referências Internas ......................................................................................... 84 4.5.3.1. Regulamento ético do grupo L’Oréal ....................................................... 84
20
4.5.3.2. Tabelas de avaliação dos fornecedores de matérias primas ................... 85 4.5.4. Critérios operacionais identificados ................................................................ 86
4.6. Definição dos níveis de desempenho ....................................................................... 87 4.7. Integração das particularidades dos fornecedores de matérias-primas .................... 88 4.8. Coleta, compilação e análise de dados de campo através de consultas a fornecedores, compradores e auditores ................................................................................ 92
4.8.1. Consulta aos fornecedores ............................................................................... 92 4.8.2. A elaboração do questionário destinado aos fornecedores ............................. 93 4.8.3. Consulta aos compradores .............................................................................. 94 4.8.4. Síntese das respostas recebidas ....................................................................... 95 4.8.5. Consulta aos auditores..................................................................................... 97
4.9. Validação do projeto pela diretoria da empresa ....................................................... 98 5. RESULTADOS DO TRABALHO .............................................................................. 101
5.1. Plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores ................ 101 5.1.1. Requisitos básicos .......................................................................................... 103 5.1.2. Os Valores-Chave .......................................................................................... 104 5.1.3. Requisitos desejados e de excelência: ........................................................... 105 5.1.4. Metodologia : ................................................................................................. 107 5.1.5. Descrição de boas práticas e de fracassos vivenciados ................................ 108
5.2. O código de conduta .............................................................................................. 108 6. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 113
6.1. Os benefícios, vantagens e melhorias sensíveis do projeto realizado .................... 113 6.2. Sugestões de melhorias .......................................................................................... 117 6.3. Próximas etapas...................................................................................................... 119
LISTA DE REFERÊNCIAS ............................................................................................... 121 APÊNDICE A – O código de conduta ................................................................................ 125 APÊNDICE B – Questionário para os fornecedores ........................................................ 133 APÊNDICE C – Questionário para compradores ............................................................ 137 APÊNDICE D – Minuta da reunião de apresentação do projeto para diretoria da empresa ................................................................................................................................. 141 ANEXO A – Mapeamento dos processos do programa de auditorias sociais da L’Oréal ................................................................................................................................................ 147 ANEXO B – Ratificação das convenções da OIT .............................................................. 151
21
1. INTRODUÇÃO
1.1. Definição do problema
A visão tradicional de que o objetivo das empresas é apenas a produção e a
acumulação de riquezas é conflitante com os valores que se firmam na sociedade. Em
decorrência, tem-se exigido que as empresas redimensionem o seu papel social, levando em
consideração não apenas os interesses dos acionistas, mas os de todos aqueles que afetam ou
são afetados por suas atividades (ARENSTEIN, 1999).
Vassalo (1999) afirma que a responsabilidade sócio-ambiental tem se firmado
como uma atitude exigida pelo mercado, configurando-se como um fator crítico para a
competitividade das empresas que quiserem crescer e se estabelecer no longo prazo.
Atualmente, o consumidor exige muito mais do que qualidade, preço competitivo, bons
serviços e marca forte. Ele quer comprar produtos de empresas com valores éticos, que
respeitem seus funcionários, protejam o ambiente e estejam comprometidas com a
comunidade.
No entanto, um produto só será legitimado como socialmente responsável pelo
consumidor final se todo o ciclo produtivo for construído de forma sustentável. Por isto, não
basta o fabricante almejar e implementar políticas e diretrizes internas para conseguir
excelência em responsabilidade social. A prática deve se estender a todos os elos da cadeia
produtiva. Caso contrário, devido ao contexto sistêmico, a empresa produtora corre o risco de
ser penalizada com a perda de uma boa imagem corporativa e de competitividade devido à
ineficiência da cadeia produtiva em que está inserida. Qualquer ponto fraco da cadeia
prejudica a imagem responsável do produto, desde o processo utilizado na extração de
matéria-prima até as práticas de venda utilizadas pelos varejistas.
Diante deste contexto, a empresa L’Oréal decidiu investir na capacitação social de
sua cadeia de suprimentos, de forma a compatibilizar os níveis de desempenho das práticas
sócio-ambientais de seus fornecedores com os padrões exigidos pelo grupo. No entanto, hoje
tais padrões não são claramente definidos pela empresa. Por este motivo, são necessários para
a L’Oréal:
22
- A definição, detalhamento e formalização destes padrões;
- A criação de mecanismos específicos de aprendizado no interior da cadeia,
propiciando a criação, circulação e difusão de informações que reforcem a capacitação da
cadeia e alavanquem o potencial dos agentes integrados.
1.2. Objetivo do trabalho
O objetivo deste trabalho de formatura é o de propor e desenvolver um conjunto de
ferramentas que contribuam para capacitação sócio-ambiental dos fornecedores da empresa
L’Oréal, de forma a se obter uma rede de suprimentos compatível com os critérios
internacionalmente reconhecidos em termos de responsabilidade sócio-ambiental.
1.3. Estrutura do trabalho
O presente trabalho de formatura está estruturado em 6 capítulos:
Este primeiro capítulo faz uma introdução ao trabalho, definindo o seu objetivo e
apresentando o problema abordado. Ainda neste capítulo é feita uma apresentação do setor de
cosméticos, da empresa na qual o trabalho foi desenvolvido e do estágio realizado pela autora.
No segundo capítulo, faz-se uma revisão da literatura sobre os principais temas
abordados neste trabalho e que serviram de base de sustentação para o estudo realizado e para
a justificação da relevância do tema.
O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada no projeto, descrevendo a
forma como o mesmo foi conduzido.
No quarto capítulo, a problemática tratada neste trabalho se torna mais concreta com
o detalhamento da situação e do problema e com o desdobramento de cada uma das etapas
que constituíram o projeto.
O capítulo cinco descreve os resultados e os produtos do presente trabalho.
23
Por fim, o capítulo seis, conclusivo, faz uma avaliação do trabalho realizado,
identificando os benefícios proporcionados pelo projeto e propondo possíveis melhorias às
ferramentas elaboradas. Além disso, é feita uma breve análise sobre as experiências
vivenciadas durante o desenvolvimento do trabalho.
1.4. O setor de cosméticos
Os principais atores internacionais do setor de cosméticos são as grandes empresas
transnacionais, que atuam geralmente em diversos segmentos da indústria – cosméticos,
perfumaria e higiene pessoal – e possuem ligações importantes com atividades químicas,
farmacêuticas e, em alguns casos, de alimentos, aproveitando-se das economias de escala e de
escopo decorrentes da proximidade da base técnica-produtiva e, sobretudo, comercial dessas
atividades (GARCIA; SALOMÃO, 2003).
Para Garcia et al., (2000), há uma clara tendência, convergente com a
internacionalização das empresas da indústria química, de que os produtos de maior valor
agregado – e de menor escala de produção – sejam produzidos nos países de origem (em
geral, países desenvolvidos). Isso se verifica, especialmente, no segmento de produtos de
luxo, cujas escalas de produção são significativamente mais reduzidas. Por outro lado,
produtos de uso mais generalizado tendem a ter sua produção mais internacionalizada, já que
em geral as empresas estabelecem os processos de fabricação junto aos mercados
consumidores (HIRATUKA, 2003, apud GARCIA; SALOMÃO 2003).
Segundo Garcia e Salomão (2003), as grandes empresas internacionais de
cosméticos podem ser divididas em 2 categorias, segundo a forma com a qual organizam suas
respectivas cadeias de valor.
A primeira é composta pelas grandes empresas diversificadas, que atuam na
indústria de cosméticos, e também em atividades correlatas como higiene pessoal, perfumaria,
farmacêutica e alimentos. Pela sua diversificação, essas empresas são capazes de se beneficiar
das economias de escala e de escopo, não apenas na manufatura, mas também, na
comercialização, que se verificam entre os diversos segmentos em que atuam. Dentre essas
grandes empresas destacam-se:
24
• Unilever, empresa anglo-holandesa, que atua nos setores de higiene pessoal,
cosméticos, alimentos, higiene, limpeza, óleos e margarinas, sorvetes e bebidas, e outros;
• Procter & Gamble, empresa americana que atua nos setores de produtos de
higiene pessoal, limpeza e cosméticos;
• Johnson & Johnson, empresa americana que atua nos setores de cosméticos,
higiene pessoal e limpeza;
• Colgate - Palmolive, empresa americana, que atua nos segmentos de produtos
para higiene bucal e pessoal.
A segunda forma de organização é composta pelas empresas com atuação
concentrada, que caracterizam suas estratégias pela participação expressiva dos produtos
cosméticos e perfumaria. Essas empresas concentram suas atividades produtivas e
tecnológicas na indústria de cosméticos. Geralmente os produtos são mais sofisticados, e a
escala de produção é menos importante do que os atributos relacionados à diferenciação.
Nesse caso, os atributos como a capacidade de inovação, a incorporação de novos princípios
ativos, a criação de novas embalagens, entre outros, são muito importantes. Entre as principais
empresas dessa categoria, encontram-se:
• L’Oreal, empresa francesa que será descrita mais adiante. Trata-se da empresa
onde este trabalho foi realizado;
• Shiseido, empresa japonesa, com operações concentradas em cosméticos,
produtos para banho e outros ligados ao setor (produtos para salões de beleza, alimentos para
saúde e beleza, entre outros);
• Estee Lauder, empresa americana, que possui entre suas principais marcas
Estée Lauder, Clinique, Aramis, Aveda, entre outras, além de ser licenciada das fragrâncias
Tommy Hilfiger e Dona Karan.
• Revlon, empresa americana que atua, exclusivamente, na indústria de
cosméticos.
25
Principais atores do setor de cosméticosFaturamento com cosméticos em 2005
(em bilhões de euros)
14.2 13.3
7.6
5.1 4.5 4.3 3.6 3.2 2.3 2.2 1.8 1.4 1.1
L'Oréa
lP&G
Unilev
er
Estée L
auder
Avon
Shiseid
o
Beirsd
ofJ&
JKAO
LVMH
L. Bran
ds
Colgate
Palmoli
ve
Chanel
Figura 1 - Principais atores do setor mundial de cosméticos - faturamento com cosméticos em 2005
Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido e adaptado pela autora
Para Garcia et al., (2000), a partir das estratégias das grandes empresas
internacionais de cosméticos, nota-se que os principais fatores de competitividade são os
ativos intangíveis, como:
- marca,
- capacidade de desenvolvimento e inovação,
- canais de comercialização e distribuição.
De um ponto de vista estrutural, o setor de cosméticos passa atualmente por uma
fase de aquisições e pela inserção de produtos naturais. A L’Oréal adquiriu assim a sociedade
francesa SkinEthic (desenvolvimento da reconstrução do tecido cutâneo humano), a rede
britânica de cosméticos éticos e não testados em animais, The Body Shop, e enfim a empresa
francesa Sanoflore (produtos ecológicos e biológicos). Já o grupo americano Johnson &
Johnson comprou a sociedade Laboratoires Vendôme.
Segundo dados da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,
Perfumaria e Cosméticos), no Brasil, o setor encerrou o ano de 2006 com faturamento de R$
17,3 bilhões, aumento de 14% em relação a 2005, levando o país a ocupar a terceira posição
26
no ranking mundial dos maiores consumidores de artigos de higiene e limpeza. Para 2007, a
previsão é de crescimento de 12%1.
1.5. Apresentação da empresa
1.5.1. Histórico e dados importantes
A origem do grupo L’Oréal data de 1907, quando o jovem cientista francês
Eugène Schueller criou uma formula de tintura de cabelos. Em 1909, ele criou a sociedade
francesa de tinturas inofensivas para o cabelo. Em 1939, ela se torna uma sociedade anônima
conhecida pelo nome de L’Oréal.2
Com um faturamento de 15,79 bilhões de euros em 2006, a L’Oréal se apresenta
como o líder mundial do mercado de cosméticos. Seus principais concorrentes no cenário
internacional são as empresas Proctor&Gamble, Unilever, Estée Lauder e Avon. O grupo
conta com mais de 60 mil colaboradores presentes em 58 países3.
O sucesso da empresa se exprime por um crescimento das receitas (+8,7% em
2006) superior ao crescimento do mercado mundial, fato que tem se repetido nos últimos 20
anos. Um dos pontos fortes do grupo se traduz pelo investimento intenso em pesquisa e
desenvolvimento: a empresa ocupa o primeiro lugar em patentes depositadas no setor de
cosméticos. O grupo possui cerca de 20 mil patentes em vigor no mundo, das quais 569
depositados em 2006. A cada ano, cerca de 4000 novas formulas são desenvolvidas. Só em
2006, a empresa investiu 533 milhões de euros em pesquisa, o que corresponde a cerca de 3%
do seu faturamento neste mesmo ano3.
1 Dados divulgados na revista Portal Fator Brasil, em 10 abril 2007. Disponível em <http://www.revistafatorbrasil.com.br>. Acesso em: 5 maio 2007. 2 Fonte: Intranet L’Oréal 3 Fonte: Relatório anual L’Oréal 2006. Disponível em: <http://www.loreal-finance.com/>. Acesso em: 15 março 2007.
27
Além disso, a L’Oréal é a única entre seus concorrentes a possuir uma forte
presença em todos os canais de distribuição do setor de cosméticos, atuando em todos os
quatro segmentos:
• produtos de luxo, encontrados em perfumarias, lojas especializadas e duty-free shops
em aeroportos;
• produtos para o grande publico, encontrados em supermercados, lojas de departamento
e outros varejistas;
• produtos profissionais, vendidos para salões de cabeleireiros e centros de beleza e
estética,
• cosmética ativa, com produtos específicos comercializados exclusivamente em
farmácias.
Assim, o catálogo de produtos do grupo é constituído por um painel de 19 marcas
internacionais, além de uma infinidade de marcas regionais. Estas marcas são agrupadas em 4
divisões, de acordo com o tipo do canal de distribuição e o preço dos produtos.
Canal de distribuição Faturamento (%) Principais marcas
Produtos para o grande público 53%
Produtos de luxo 25%
Produtos profissionais 14%
Cosmética ativa 8%
Tabela 1 - Faturamento e marcas das quarto divisões de produtos da L’Oréal
Fonte: Relatório anual L’Oréal 2006 – adaptado e traduzido pela autora
28
1.5.2. Política de produção da L’Oréal
A L'Oréal produz mais de 94% dos produtos vendidos pelo grupo; os 6% restantes
provêm de empresas terceirizadas ou subcontratadas4. Os casos de terceirização de
manufatura se restringem sobretudo a operações onde são necessárias tecnologias ausentes no
grupo. Pincéis presentes em rimeis e máscaras para os cílios são exemplos de produtos
fabricados por terceiros, dado que a L’Oréal não possui a tecnologia necessária à fabricação
destes itens. Os objetos promocionais (bijuterias, bolsas de plástico ou tecido, toalhas
camisetas e brindes em geral) também são feitos através da manufatura terceirizada.
Esta forte integração da atividade industrial no grupo garante o controle de seus
instrumentos industriais. Para a L’Oréal, o pleno domínio das operações industriais é um
aspecto primordial e estratégico para a garantia da qualidade dos produtos e uma alavanca
para a responsabilidade social na cadeia produtiva. Esta decisão estratégica também é
importante para proteger as inovações tecnológicas do grupo.
Outros aspectos fundamentais da política industrial do grupo são:
• Produzir mundialmente a qualidade desejada pelos consumidores
• Segurança, higiene e respeito ao meio ambiente
• Controle dos custos
• Ética e diversidade.
- Implantação das fábricas
A L’Oréal conta com 40 fábricas espalhadas pelo mundo. As fábricas são
dedicadas e especializadas por marcas (Lancome, Garnier, Vichy, ...) e tecnologia
(maquiagem, cremes, tinturas, etc…).
As fábricas de produtos mais sofisticados concentram-se na Europa (sobretudo na
França) e nos Estados Unidos. Já as fábricas especializadas em produtos de uso generalizado
(produtos para o grande público) encontram-se nas mais diversas regiões do globo,
procurando concentrar os processos de produção junto aos mercados consumidores. Isto 4 Fonte: Relatório anual L’Oréal 2006, p. 75.
29
permite ao grupo assegurar um abastecimento contínuo e flexível dos produtos. Em segundo
lugar, esta escolha traduz um aspecto importante da estratégia do grupo nos países
emergentes: a L’Oréal deseja aliar a sua presença comercial nos circuitos de distribuição à
instalação de plantas produtivas, criadoras de empregos e contribuidoras diretas ao
desenvolvimento. Por fim, a estratégia do grupo de produzir próximo ao mercado de consumo
constitui um meio de minimizar os custos com importações.
Além disso, a L´Oréal é contra a política de dumping social, marcada pela
concentração de instalações produtivas em regiões conhecidas pelo baixo custo de mão de
obra.
Figura 2 - Localização geográfica das fábricas da L´Oréal
Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido pela autora
1.5.3. O departamento de compras
Na L’Oréal, o departamento de compras é composto por duas estruturas distintas:
- uma estrutura operacional composta por compradores que trabalham nas fábricas
do grupo. Em permanente comunicação com os departamentos de logística e de produção das
fábricas da L’Oréal, os compradores devem garantir a disponibilidade das matérias primas e
30
dos artigos de condicionamento em suas fábricas. São eles que transmitem as ordens de
compra aos fornecedores, sendo responsáveis, dentre outras funções, pela escolha do
fornecedor e pela negociação dos preços. Desde 2006, estes compradores se organizam em
torno de 7 centros de compras (sourcing centers), que garantem uma certa centralização do
setor, propiciando economias de escala, homogeneização das informações, maior controle e
poder de negociação.
- uma estrutura funcional, corporativa e transversal, conhecida como “Corporate
Purchasing” (departamento corporativo de compras), responsável pela definição da estratégia
mundial de compras do grupo e pela gestão dos riscos envolvidos. Ela busca desenvolver uma
política de compras baseada na criação de valor, na inovação, na diferenciação em relação aos
concorrentes e em parcerias numa relação win-win com os fornecedores. As células que fazem
parte do Corporate Purchasing são as seguintes:
• Equipamentos industriais,
• Matérias primas,
• Artigos de condicionamento (embalagens),
• Sistema de Informação,
• Custos Indiretos,
• Performance dos fornecedores.
1.5.4. Célula Performance dos Fornecedores
Pertencente ao departamento “Corporate Purchasing”, esta é a célula onde o
presente trabalho foi desenvolvido.
O objetivo da célula Performance dos Fornecedores, transversal a todo o setor de
compras, é definir e assegurar um acompanhamento da política mundial de gestão da cadeia
dos fornecedores no médio e longo prazo.
As seguintes tarefas fazem parte das funções desta célula:
- Redação e implementação de procedimentos, regulamentações e documentos
gerais destinados aos fornecedores
31
- Definição de indicadores capazes de medir e acompanhar a evolução da
performance dos fornecedores em escala mundial, assegurando a perenidade da supply chain
da L’Oreál.
O sistema de avaliação da performance dos fornecedores permite ao grupo:
- Medir a performance dos fornecedores
- Priorizar e orientar as ações dos compradores e identificar os melhores
fornecedores
- Gerenciar a evolução da performance dos fornecedores.
Na verdade, encontrar um fornecedor com um bom desempenho é uma tarefa
relativamente simples. No entanto, assegurar que a performance deste fornecedor é
sustentável e que ele continuará a apresentar todas as garantias e a segurança necessárias à
L’Oreál com o passar do tempo é uma tarefa muito mais complicada. Em outras palavras, não
é suficiente encontrar um fornecedor que se adapte aos critérios exigidos pela L’Oréal no
instante t, mas é necessário obter garantias de que ele conservará seu desempenho no instante
t+1. Isto exige um grande trabalho de análise, de acompanhamento e de ações em
permanência.
Por exemplo, uma empresa que baseia seu preço competitivo na utilização abusiva
de sua força de trabalho não apresenta uma performance sustentável. A produtividade e a
qualidade do trabalho de seus funcionários tendem a diminuir, afetando negativamente a
qualidade dos produtos ou dos serviços prestados. O nível de renovação do quadro de
funcionários também tende a ser alto, o que inviabiliza a capitalização do conhecimento, o
treinamento e o desenvolvimento dos funcionários.
Figura 3 - Gestão da performance do fornecedor
Fonte: elaborada pela autora
32
Os 5 critérios de avaliação da performance dos fornecedores utilizados na L’Oréal
são os seguintes: responsabilidade social e ambiental (RSA), qualidade, logística, inovação e
competitividade.
Figura 4 - Critérios de avaliação da performance dos fornecedores
Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido pela autora
O presente trabalho de formatura contempla unicamente o critério RSA.
1.5.5. Os fornecedores da empresa
A estratégia da empresa voltada para a produção de seus próprios produtos,
evitando a utilização da manufatura terceirizada, resulta em uma complexa cadeia de
fornecedores. A indústria da L’Oréal conta hoje com cerca de três mil fornecedores em seu
portfolio (este número não compreende os fornecedores de objetos promocionais5).
Os fornecedores são divididos nas seguintes categorias : 5 Os fornecedores de objetos promocionais não foram considerados no total por tratar-se de fornecedores aos quais são feitos pedidos pontuais. Na maioria dos casos, trata-se de fornecedores que receberam um único pedido da L’Oréal.
33
a) Fornecedores de matérias-primas: são os fornecedores dos princípios ativos das
fórmulas da L’Oréal, de seus componentes químicos, vitaminas, etc. Muitos destes
fornecedores têm uma relação próxima com o departamento de Pesquisa e Desenvolvimento,
em busca de uma constante colaboração direcionada para a inovação através da diferenciação
dos produtos existentes e do lançamento de novos produtos.
b) Fornecedores de artigos de condicionamento: são os fornecedores de
embalagens, tais como frascos, potes, bisnagas, tampas, tubos, vaporizadores, caixas, rótulos e
etiquetas.
c) Produção em terceiros: como mencionado anteriormente, apenas 6% dos
produtos da L’Oréal provem da manufatura terceirizada.
d) Custos indiretos: categoria que engloba fornecedores de produtos ou serviços
que não estão diretamente ligados à produção, tais como empresas de restauração, jardinagem,
segurança, etc.
e) Fornecedores de equipamentos industriais: são os fornecedores de equipamentos
industriais presentes nas fábricas da L’Oréal.
Embalagens Matérias-
primas
Manufatura
terceirizada
Custos
indiretos
Objetos
promocionais
Número de
fornecedores 620 677 400 972
Estimativa:
4000
Tabela 2 - Repartição dos fornecedores da L'Oréal
Fonte: Apresentação ao Comex (comitê executivo) da L’Oréal realizada em 12 julho 2007.
34
1.6. O Estágio
O presente trabalho de formatura foi realizado na empresa L’Oréal, em Paris,
durante um estágio em tempo integral no período entre 1 de março e 1 de agosto de 2007,
dentro do programa de diploma duplo firmado entre a Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo e a Ecole Nationale des Ponts et Chaussées. O estagio se desenvolveu no
departamento corporativo de compras, mais precisamente na divisão responsável pela
avaliação da performance dos fornecedores do grupo.
A missão da autora dentro do grupo L’Oréal se desenvolveu em 3 frentes de
trabalho:
- o acompanhamento do programa de auditorias sociais (que será explicado mais
adiante);
- a concepção da estrutura de uma plataforma de informações sobre
responsabilidade social e ambiental a ser compartilhada com os fornecedores do grupo;
- a elaboração do código de conduta responsável a ser respeitado por todos os
fornecedores do grupo.
35
2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA
Este capítulo traz a revisão bibliográfica sobre os principais temas e conceitos de
literatura abordados neste trabalho. A intenção aqui não é tratar de maneira exaustiva os temas
apresentados, mas apenas de situar o leitor com algumas referências importantes sobre os
assuntos abordados.
2.1. A responsabilidade social: uma responsabilidade de todos
Nos últimos anos, temos assistido a uma multiplicação das iniciativas das
empresas no ramo da responsabilidade social. Estas ações por parte das empresas ultrapassam
a simples prescrição legal e se concretizam através de ações em favor do meio ambiente e
projetos filantrópicos e assistenciais direcionados à comunidade. A essas ações, soma-se a
criação de ferramentas que asseguram a promoção de uma política de desenvolvimento
sustentável dentro das próprias empresas: trata-se de adesões a iniciativas internacionais que
visam à promoção dos direitos humanos, elaboração de códigos de condutas, de documentos
éticos e de relatórios específicos baseados na lógica do “triple bottom line6”.
O conjunto destas iniciativas é resultado de uma nova configuração social e
econômica na qual o direito (especialmente o direito do trabalho), deixam de ser uma
responsabilidade exclusiva do Estado. Como indica a Declaração Universal, os direitos do
homem devem ser protegidos pelos Estados, mas também pelos indivíduos e órgãos da
sociedade, o que inclui as empresas. A divisão de responsabilidades evolui: cada vez mais, os
tratados internacionais dos direitos do Homem criam obrigações – mesmo que indiretas – para
as empresas. As convenções da OIT, por exemplo, definem uma obrigação direta às empresas
de não praticarem a discriminação e de respeitarem a liberdade de associação dos salariados.
6 A performance global de uma empresa está baseada em três dimensões: a performance econômica, a performance ambiental e a performance social.
36
A meio caminho entre a regulamentação e a auto-regulação, um conjunto de
ferramentas, normas e recomendações criadas a partir de iniciativas das empresas
multinacionais sobre a responsabilidade social caracterizam o conceito do “soft law”. Desta
forma, os códigos de conduta e os demais documentos éticos se situam no chamado infra
direito, no qual o não-restritivo e o obrigatório andam lado a lado, sem que se possa dissociar
um do outro (GRUPO ALPHA, 2004).
2.2. A emergência de códigos de conduta e de documentos éticos
O Grupo Alpha (2004) destaca três fases – ou ondas – que caracterizam o
surgimento dos códigos de conduta.
A primeira onda de códigos de conduta e documentos éticos data da década de 30,
quando certas organizações profissionais norte-americanas elaboraram algumas normas para
reger as relações entre seus membros aderentes, assim como a relação destes membros com
colaboradores externos. Isto permitiu a estas organizações regulamentarem elas mesmas suas
atividades, o que as evitou de adotar uma regulamentação pública mais restritiva. Os códigos
de conduta desta época mencionavam apenas algumas regras relacionadas a certas atividades
como a publicidade.
Durante os anos 70, duas organizações internacionais elaboraram princípios
destinados às empresas multinacionais. Primeiramente a OCDE elaborou em 1976 as
Diretrizes para Empresas Multinacionais. Tais diretrizes são recomendações dos governos às
empresas multinacionais, que definem princípios e padrões de cumprimento voluntário, de
acordo com as legislações nacionais, visando promover uma conduta empresarial responsável.
No ano seguinte, a OIT elaborou a Declaração Tripartite de Princípios sobre as Empresas
Multinacionais e a Política Social. Ambos os códigos internacionais abrangem questões sobre
as relações de trabalho e os direitos humanos. No entanto, a adesão a estes códigos por parte
das empresas possui um caráter estritamente voluntário.
Por fim, a terceira onda de códigos de conduta ocorreu nos anos 90. Os códigos
desta época foram elaborados por meio de iniciativas de associações, de organizações não
governamentais e sobretudo pelas próprias empresas multinacionais. Estes códigos de conduta
37
e documentos éticos publicados neste contexto diferem daqueles emitidos pelas organizações
pelo fato de se originarem das iniciativas individuais das próprias empresas.
Tratam-se portanto de códigos de conduta privados ou de iniciativas nos locais de
trabalho, que abrangem um certo número de documentos heterogêneos, e na maioria dos
casos, específicos à natureza ou às preocupações de cada empresa. Tais documentos
propiciam a difusão de valores e revelam o comportamento deontológico destas empresas.
Segundo o Grupo Alpha (2004), a implementação de dispositivos deontológicos é
evidentemente desigual dentre os diversos países do globo. Ela é sem dúvida mais
desenvolvida em países anglo-saxões, nos países da Europa do Norte e no Japão. Na França,
estes dispositivos são fortemente influenciados por especificidades dos setores de atividades e
das regulamentações que regem estes setores. De modo geral, tais documentos éticos se
inserem hoje em um contexto sócio-econômico profundamente transformado.
2.3. A internacionalização das empresas e a terceirização de serviços
Smith (1996 apud Nogueira, 2007) discute três relações importantes ao fazer um
balanço da globalização, regionalização e emprego impulsionado principalmente pelos
agentes empresariais que tomam as decisões de comércio e de investimento.
A primeira delas é estabelecida entre a integração econômica e a formação dos
blocos entre países e regiões que produz na prática e na ideologia um mundo sem fronteiras
combinado com a flexibilização da produção. Isto implica em uma relação perversa que
desloca processos de produção do Primeiro Mundo para fora em busca de trabalho intensivo,
de baixo custo e de baixa qualificação7.
A relação analisada por Smith é uma relação entre vantagens comparativas,
competitivas e a questão do emprego. A vantagem comparativa articula fundamentalmente
eficiência e baixo custo. No entanto, para um país (e por que não para uma empresa?), é muito
mais importante ter vantagem competitiva que, segundo Porter, articula produtividade e
inovação. Esta vantagem competitiva puxa a qualificação do emprego e tende a elevar a renda 7 Nota da autora: este fenômeno não se aplica apenas às questões sociais, mas também às questões ambientais, em um contexto onde as empresas se deslocam em busca de países onde as regulamentações ambientais não são severas.
38
e o bem estar social. Estas são variáveis importantes na avaliação do crescimento econômico e
empresarial e do próprio emprego. No entanto, é inegável a existência do problema da
precariedade do emprego em deslocamentos globais, que em muitos casos têm em vista
apenas as vantagens de cunho comparativo.
Por fim, a terceira relação complexa discutida é entre a globalização, a empresa
competitiva e o emprego. Para Smith (1996 apud Nogueira, 2007, p. 302) a nova competição
acarretou mudanças na organização das grandes empresas com a diminuição de seu tamanho,
com drástica redução de custos e de postos de trabalho (downsizing), com a formação de redes
e subcontratações de serviços e fornecedores. O resultado foi um deslocamento de atividades
de baixa qualificação para regiões de baixos salários e manutenção da alta qualificação nas
matrizes e nas regiões de altos salários.
Para o grupo Alpha (2004), o contexto da globalização traz uma revolução sócio-
econômica significativa, sobretudo no que diz respeito a uma certa desregulamentação
econômica, na qual os Estados assistem a uma progressiva limitação de seu poder regulador
face às empresas multinacionais. Tais empresas, cuja importância no cenário econômico
internacional cresce continuamente, assistem ao aumento progressivo de seu poder de
negociação, de influência e de regulamentação social.
Como afirmou o Diretor Geral da OIT em seu relatório destinado à 89ª edição da
Conferência Internacional do Trabalho, ocorrida em 2001 em Genebra, nos encontramos “em
um mundo onde a desregulamentação, a privatização e o não compromisso do Estado
transferiram o poder de decisão da esfera pública à esfera privada. Desta forma, o mundo dos
negócios, e particularmente as empresas, se encontram diante de cenário no qual as discussões
referem-se inevitavelmente aos padrões laborais”8 .
A este contexto, somam-se as profundas transformações da organização da
produção, como por exemplo a terceirização em cascata9 e o aumento significativo da
concorrência. Alem disso, o foco das empresas tem se orientado cada vez mais à relação com
o cliente, a fim de adaptar continuamente a oferta de bens e de serviços às expectativas dos
clientes que não param de evoluir. Desta forma, a organização do trabalho como um todo se
transforma. A empresa hierarquizada imersa em um ambiente estável se transforma em uma
rede de empresas que adotam um modelo de produção flexível. Assim, um conjunto de
8 Organização Internacional do Trabalho, “Reduzir o déficit de trabalho decente: um desafio mundial”, Relatório do diretor geral da Conferência Internacional do Trabalho, 89a seção, Genebra, 2001. 9 Subcontratação de um empresa por parte de outra empresa já subcontratada.
39
organizações economicamente dependentes mas juridicamente independentes se agrupam ao
redor de uma organização que dita as regras. Nos dias de hoje, a terceirização e a
subcontratação num contexto de redes de empresas ganham uma importância significativa em
determinados setores. No setor automotivo, por exemplo, elas representam cerca de 70% do
valor total da produção. Em outros setores industriais, elas podem representar algo entre 50 e
70% deste valor (GRUPO ALPHA, 2004).
Portanto, esta evolução se baseia em dois fenômenos intimamente ligados
(GRUPO ALPHA):
- uma internacionalização crescente das empresas multinacionais, com
implantação das mesmas em países onde o desenvolvimento e a evolução dos direitos dos
trabalhadores não é uma questão prioritária;
- um recurso recorrente à subcontratação e à terceirização de serviços que
transformam profundamente a organização do trabalho, que favorecem a dispersão das
coletividades e que acarretam em uma política de degradação social através da organização
caracterizada pelas subcontratações em cascata.
Neste contexto, as normas que regulam as atividades e o trabalho das várias
empresas subcontratadas por uma empresa devem ser explícitas e coerentes com os padrões
desejados pela empresa contratante. Desta forma, devido aos países onde existe um déficit de
regulamentação pública quanto às relações laborais ou onde a lei em vigor é muito severa, a
empresa contratante introduz suas próprias normas para regulamentar e regular a organização
do trabalho de acordo com suas necessidades e princípios. Estas normas são destinadas não
apenas aos colaboradores internos da empresa, mas também a seu conjunto de fornecedores e
de empresas subcontratadas.
Os documentos éticos se inserem nesta evolução profunda de práticas das
empresas, onde o objetivo não é o de desregulamentar, mas sim de regulamentar de uma outra
forma. Esta outra forma leva em consideração certos interesses das empresas multinacionais
que não podem ser contemplados pelas intervenções públicas. Este fenômeno marca o
surgimento da “soft law”.
40
2.4. O consumo consciente e responsável
Segundo a pesquisa de Responsabilidade Social das Empresas – Percepção e
Tendências do Consumidor Brasileiro (2000), realizada pelo Instituto Ethos10 e o Jornal Valor
Econômico, no Brasil, 57% dos consumidores consideram se uma empresa é boa ou ruim em
função da sua responsabilidade social. 35% dos consumidores não só do Brasil mais em todo
o mundo espera que a empresa melhore a sociedade. Ainda, os consumidores recompensam e
punem as empresas pela sua responsabilidade social. Recompensam a empresa ao comprar os
seus produtos e ao recomendá-la a seus conhecidos. Punem ao não comprar seus produtos e
ao não recomendá-la. 35% dos consumidores brasileiros e 49% dos consumidores dos Estados
Unidos agem dessa forma.
Neste contexto, as empresas multinacionais foram obrigadas a se adequarem às
novas exigências que ultrapassam as preocupações financeiras de curto prazo dos acionistas.
Para responder às exigências financeiras de forma sustentável, as empresas passaram a
considerar em suas decisões questões relacionadas às crescentes preocupações sociais dos
consumidores – cidadãos mais conscientes das condições laborais sob as quais certos produtos
são fabricados. Hoje em dia, a boa administração deve ser resultado de uma conduta correta.
Esta nova restrição às empresas multinacionais ganhou importância em meados
dos anos 90, quando elas foram obrigadas a se confrontarem com novos interlocutores, as
organizações não governamentais, que concentraram seus esforços na denúncia de práticas
abusivas de determinadas empresas quanto a questões ambientais, quanto ao respeito dos
direitos humanos, e quanto à corrupção.
A partir desta época, um grupo importante de consumidores desenvolveu uma
maior consciência das desigualdades econômicas e sociais existentes, exigindo um nível
maior de responsabilidade em seus atos de consumo e conferindo mais importância ao
comportamento ético das empresas (BUENDÍA; COQUE; GARCÍA, 2001). Diante desta
situação, surgem inúmeras iniciativas que se agrupam sob a denominação de Economia
10 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1998, que tem como associados algumas centenas de empresas em operação no Brasil, de diferentes portes e setores de atividade. A entidade tem como missão mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável.
41
Alternativa Solidária e que dão origem a uma mesma filosofia que posiciona elementos
sociais, políticos, culturais e ecológicos no mesmo patamar que os aspectos puramente
econômicos (COQUE; MÉNDEZ, 1998). Assim, o Comercio Justo, a Agricultura Ecológica
e a Banca Ética são exemplos de iniciativas que surgem com o objetivo de introduzir um
comportamento ético nas pautas de consumo, sobretudo nos países do norte. (VILANOVA,E.;
VILANOVA,R., 1996)
Diante desta realidade, surge um novo enfoque de marketing que considera os
aspectos do consumo responsável, ético e ecológico. O marketing social implica as empresas
na identificação das necessidades, desejos e interesses do público alvo, de forma a administrá-
los de maneira efetiva e de preservar no longo prazo o bem estar dos consumidores e da
sociedade. (KOTLER, 1995).
A Teoria do Comportamento do Consumidor, segundo os estudos conduzidos por
Lancaster, nos apresenta a figura de um consumidor que busca maximizar a sua utilidade no
momento em que se confronta com uma decisão de consumo. Desta forma, é possível assumir
que, na maximização de sua utilidade, os consumidores consideram a importância de uma
série de atributos tangíveis e intangíveis, que incluem não apenas aspectos como o preço e a
qualidade dos produtos, mas também outros como a origem e as condições de fabricação e
comercialização e o respeito a uma série de valores sociais e ambientais. (BURNS, 1995)
Diversos autores admitem que, com níveis iguais de todos os demais atributos,
todos os consumidores prefeririam produtos mais ecológicos e solidários (CAMPOS et al,
2002).
As empresas multinacionais foram obrigadas a se adaptarem, em pouco tempo, a
estas novas exigências sociais. Afinal, as empresas multinacionais não estão dispostas a
arriscarem seu capital imagem, fundamental à sua saúde financeira.
Desta forma, o movimento do consumo ético também foi um dos fatores que
contribuíram ao surgimento de códigos de conduta privados nestes últimos anos.
42
2.5. Os principais motivos da formalização ética
Iniciada devido à evolução nos modos de produção e de consumo e incentivada
pela questão da boa gestão da imagem da marca, a formalização ética é uma resposta a
inúmeros outros aspectos que serão mencionados neste capítulo.
A maior parte das empresas que se lançaram nesta iniciativa são empresas de
grande porte. Seu tamanho e extensão geográfica limitam e complicam a troca de informações
e a constituição de uma cultura comum. Desta forma, a formalização ética constitui um
instrumento importante para o desenvolvimento interno e o amadurecimento dos valores da
empresa e para a difusão dos mesmos para todos os colaboradores espalhados pelo mundo.
Além disso, as empresas multinacionais que atuam em setores especialmente
críticos quanto à exposição social (trabalho infantil, etc.) e ambiental (indústrias químicas,
petróleo, produtoras de cimento, etc.) tem um grande interesse em se proteger contra riscos de
acusação.
Sendo assim, a combinação de uma infinidade de razões conduz as empresas a
elaborar e divulgar um ou mais documentos que retomem as preocupações das empresas e da
sociedade.
Estas razões podem ser classificadas em duas categorias (GRUPO ALPHA, 2004):
- as razões defensivas, tais como busca de auto-regulação da empresa, moralização
da empresa, melhora da reputação da empresa, reação a escândalos, pressão dos acionistas,
pressão dos consumidores e reação à elaboração de uma nova lei ou regra.
- as razões ofensivas, tais como adoção de um novo modelo de administração e de
tomada de decisão, aumento do marketshare, clarificação ou amadurecimento dos objetivos
da empresa, descentralização do poder de decisão, diferenciação em relação aos concorrentes,
estratégia de fidelização dos clientes e controle comportamental dos colaboradores internos e
externos.
43
2.6. A nova visão sobre responsabilidade social das empresas
As novas exigências para a manutenção da competitividade das empresas vêm
trazendo para a gestão, implicações de cunho mais amplo e sistêmico de forma que as
oportunidades de negócio oferecidas pelas atuais condições econômicas geram consigo, uma
forte demanda por uma nova postura social global (KREITLON, QUINTELLA, 2001). Nesse
sentido, o conceito de responsabilidade social das empresas vem se consolidando de forma
cada vez mais multidimensional e sistêmica, buscando interdependência e interconectividade
entre os diversos stakeholders11 ligados direta ou indiretamente ao negócio da empresa
(ASHLEY; COUTINHO; TOMEI; 2000; ASHLEY, 2001).
Portanto, a política de responsabilidade social das empresas deixa de se focalizar
em ações e projetos filantrópicos e assistenciais direcionados à comunidade e começam a
adotar uma visão de redes de relacionamento. Esta visão é desenvolvida a partir de padrões de
conduta aplicáveis à totalidade das atividades da empresa e de seus colaboradores internos e
externos. Isto se dá através de um conjunto de políticas, práticas e programas gerenciais que
perpassam por todos os níveis e operações do negócio e que facilitam e estimulam o diálogo e
a participação permanentes com os stakeholders. Cria-se assim uma interação entre os
diversos agentes sociais não abarcando somente os aspectos econômicos, como vem
acontecendo classicamente na administração, mas também incluindo relações de confiança e
normas éticas (ASHLEY, 2001).
Tal postura fundamenta-se em políticas e diretrizes para os mais diversos
stakeholders que requer um compromisso de toda a organização, envolvendo todos os níveis
hierárquicos, da alta administração ao nível operacional, afetando toda a estrutura
organizacional, uma vez que pressupõe novos conceitos, valores e técnicas gerenciais.
Portanto, necessita ser incorporada à estratégia da empresa, refletida em desafios éticos nas
dimensões econômica, ambiental e social para otimizar as oportunidades de negócio
(ZADEK, 1998).
11 O termo stakeholder, parte interessada ou interveniente, refere-se a todos os envolvidos em um processo, por exemplo, clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, comunidade, etc
44
2.7. A gestão socialmente responsável numa visão de rede integrada
Embora o conceito de responsabilidade social empresarial venha sendo discutido e
pesquisado intensamente na administração, pouca interação tem tido tais estudos com o
campo da gestão da cadeia de suprimentos. Ambos, apesar de serem áreas de conhecimento
recentes, vêm trilhando caminhos de pesquisa autônomos, um voltado para o gerenciamento
interno e outro para o gerenciamento externo (CARTEER; JENNINGS, 2000, p. 125, grifo
nosso).
Entretanto, o atual arranjo sistêmico que vem sendo exigido das empresas, requer
também uma nova compreensão de responsabilidade social, que não mais poderá estar
centrada unicamente no fabricante e em suas políticas sociais. A designação de empresa e de
produto socialmente responsável passa a ser incumbência não apenas de uma organização
isolada, mas de toda a cadeia produtiva da qual ela faz parte (ALIGLERI, L.M,; ALIGLERI,
L.A; CÂMARA, 2002).
Figura 5 - Modelo de cadeia de relacionamento
Fonte: (WOOD; ZUFFO, 2001, p. 231)
Não há como caracterizar uma empresa como socialmente responsável se o seu
fornecedor atua de forma ambientalmente agressiva ou utiliza padrões de conduta antiéticos,
bem como se o seu distribuidor pratica discriminação racial ou não apresenta condições
mínimas de segurança no trabalho.
A responsabilidade social deve ter uma abordagem baseada no entendimento de
que os elos da cadeia são altamente interdependentes e operam segundo a teoria de sistemas,
45
onde a otimização das partes não significa necessariamente a otimização do todo. O produto
só será legitimado como socialmente responsável pelo consumidor final se todo o ciclo
produtivo for construído de forma sustentável. (ALIGLERI, L.M,; ALIGLERI, L.A;
CÂMARA, 2002).
Não basta o fabricante almejar e implementar políticas e diretrizes internas, para
conseguir excelência em responsabilidade social. A prática deve se estender aos fornecedores,
distribuidores e varejistas, evitando ações precárias e muitas vezes predatórias em questões
ligadas ao social. Caso contrário, devido ao contexto sistêmico, a empresa produtora corre o
risco de ser penalizada com a perda de uma boa imagem corporativa e de competitividade
devido à ineficiência da cadeia produtiva em que está inserida. Qualquer ponto fraco da
cadeia prejudica a imagem responsável do produto, desde o processo utilizado na extração de
matéria-prima até as práticas de venda utilizadas pelos varejistas. Desta forma, a consistência
de uma cadeia em questões ligadas ao social é igual à resistência de seu elo mais fraco
(FERREIRA, 2007). Wood Jr e Zuffo (1997) reforçam esta idéia ao afirmar que as
organizações estão deixando de ser sistemas relativamente fechados para tornarem-se
sistemas cada vez mais abertos. Suas fronteiras estão se tornando mais permeáveis e, em
muitos casos, difíceis de identificar.
Sendo um sistema de gestão interorganizacional que envolve a integração de
diversos processos de negócios, desde as fontes de suprimentos até o consumidor final, tal
interação significa uma profunda alteração de valores, já que há necessidade de alinhamento
de processos-chaves, extrapolando os limites da empresa (VENANZI, 2000).
É evidente que o envolvimento das várias empresas da cadeia com a questão social
não será uniforme, apresentando particularidades segundo determinantes sociais,
tecnológicos, geográficos e econômicos e variando conforme a pressão social sofrida pela
empresa (ALIGLERI; BORINELLI, 2001). Entretanto é imprescindível, para o início do
processo de gestão em cadeia da responsabilidade social, que o fabricante ou o
distribuidor – aquele cuja legitimidade precisa ser mais claramente defendida e
demonstrada ou aquele que pertença a setores altamente competitivos ou que exerça
maior poder político sobre a cadeia – delineie políticas de atuação em conjunto com os
outros stakeholders (VENANZI, 2000, p. 87, grifo nosso).
46
No processo produtivo, a empresa transformadora deve gerir seus processos
internos aproximando as fronteiras funcionais com questões ligadas a responsabilidade social,
de forma a exigir dos stakeholders uma continuidade das políticas delineadas.
2.8. Cadeias de Suprimentos (Supply Chain)
Segundo o dicionário da APICS (American Production Inventory Control Society),
uma cadeia de suprimentos pode ser definida como:
• os processos que envolvem fornecedores-clientes e ligam empresas desde a
fonte inicial de matéria-prima até o ponto de consumo do produto acabado;
• as funções dentro e fora de uma empresa que garantem que a cadeia de valor
possa fazer e providenciar produtos e serviços aos clientes
Vejamos também algumas outras definições relevantes:
Para o Supply Chain Council, uma supply chain abrange todos os esforços
envolvidos na produção e liberação de um produto final, desde o primeiro fornecedor do
fornecedor até o último cliente do cliente.
Chistopher (1998) define a cadeia de suprimentos como uma rede de organizações
que estão envolvidas através de ligações a jusante (downstream) e a montante (upstream) nos
diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e serviços
liberados ao consumidor final.
No entanto, Lamming et al. (2000) afirmam que o termo cadeia é uma metáfora
imperfeita para tratar de assuntos da SCM, visto que elas raramente apresentam um
comportamento linear. Seguindo esta mesma linha, um conjunto de autores na área
(principalmente britânicos) prefere utilizar a expressão Rede de Suprimentos (Supply
Network), ao invés de Cadeia de Suprimentos (Supply Chain). Mesmo alguns autores que
utilizam a expressão supply chain reconhecem que, estritamente falando, uma SC não é uma
47
cadeia de negócios com relacionamentos um a um, mas uma rede de trabalho (network) com
múltiplos negócios e relacionamentos.
Britto (2002) ilustra o conceito de redes de empresas através da associação de
elementos morfológicos gerais das redes a elementos constitutivos das redes de empresas,
conforme a tabela abaixo:
Elementos morfológicos
gerais das redes Elementos constitutivos das redes de empresas
Nós Empresas ou atividades
Posições Estrutura de divisão de trabalho
Ligações Relacionamento entre empresas (aspectos qualitativos)
Fluxos Fluxos de bens (tangíveis) e de informações (intangíveis)
Tabela 3 - Elementos estruturais das redes de empresas
Fonte: BRITTO (2002, p. 352)
Neste trabalho, os assuntos de responsabilidade social e gestão ambiental serão
discutidos dentro da realidade de uma rede de suprimentos. O principal elemento constitutivo
das redes de empresas que será trabalhado é o relacionamento entre empresas.
2.9. Reestruturação da Cadeia de Suprimentos
Segundo Pires (2004), nos últimos anos, uma das tendências mais notáveis na área
da SCM é o processo de reestruturação e de consolidação da base de fornecedores e de
clientes, promovido por diversas empresas que, geralmente, são líderes em suas cadeias de
suprimentos. O objetivo principal deste movimento é definir um conjunto de empresas (tanto
fornecedoras quanto clientes) com as quais se deseja realmente construir uma verdadeira
parceria.
Pires (2004) enfatiza que nessa reestruturação, um ponto fundamental é a
identificação e o alinhamento de competências, de forma que o resultado possa proporcionar
uma distinção positiva perante a concorrência e consumidores finais.
48
No entanto, mais do que o alinhamento de competências, o alinhamento de valores
organizacionais é um ponto crucial na relação com os fornecedores e na construção de
parcerias.
O instituto Ethos (2000) afirma que, cada vez mais, a empresa socialmente
responsável envolve-se com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos
estabelecidos e trabalhando pelo aprimoramento de suas relações de parceria. Cabe à empresa
transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes de sua cadeia de
fornecedores, tomando-o como orientador em casos de conflitos de interesse. A empresa deve
conscientizar-se de seu papel no fortalecimento da cadeia de fornecedores, atuando no
desenvolvimento dos elos mais fracos.
Desta forma, empresas socialmente responsáveis buscam transmitir seus princípios
de responsabilidade e sustentabilidade a seus parceiros. Para que sejam estabelecidos contrato
e parcerias, é necessário que tais valores sejam partilhados e respeitados por ambas as partes.
2.10. Casos de más praticas sociais e ambientais
Mais e mais utilizada nos últimos anos, a expressão sweatshops (literalmente,
fábricas do suor) indica uma situação de exploração extrema dos trabalhadores, caracterizada
por um salário abaixo do mínimo necessário à sobrevivência, pela ausência de garantias ou
proteção trabalhista, pela exploração de crianças, por condições de trabalho perigosas para
saúde ou por abusos físicos e psicológicos que ocorrem no local de trabalho.
Segundo reportagem divulgada em 10/05/2004 pela Com Ciência12, revista
eletrônica de jornalismo científico, as denúncias internacionais contra os sweatshops crescem
a cada ano, formando uma triste antologia que retrata inúmeros casos de exploração de
trabalhadores: mulheres forçadas a tomar contraceptivos ou submetidas a testes de gravidez e
que são demitidas em caso de resultado positivo, trabalhadores expostos a substâncias tóxicas,
ameaçados e demitidos em caso de protestos, forçados a turnos de trabalho de até 19 horas ou
impedidos de abandonar o trabalho por meio de vigias armados.
12 Disponível em <http://www.comciencia.br>. Acesso em 7 outubro 2007.
49
De acordo com a organização Global Echange13, trabalhadores em El Salvador
envolvidos na produção de tênis que nos EUA custam cerca de 140 dólares, ganham 24
centavos de dólar a cada sapato produzido. Na China, trabalhadores morreram vítimas de
sweatshops, devido a uma doença que ganhou o nome de "guolaosi": morte súbita por hiper-
trabalho. Porém, ao contrário do que se pensa, os sweatshops não são realidades exclusivas
dos países do sul. Eles são comuns em muitos países do leste europeu e também existem nos
EUA. De acordo com a ONG CorpWacht14, em Los Angeles, dois terços dos imigrados que
trabalham na confecção de roupas não recebem o salário mínimo garantido pela lei.
Ao mesmo tempo em que as sweatshops foram se difundindo, também cresceu na
opinião pública mundial um sentimento de indignação contra essa prática ilegal. Muitas Ongs
se especializaram na luta contra os sweatshops. Em 1997, um relatório confidencial da
companhia multinacional Nike, divulgado pelo CorpWacht, ganhava destaque nas capas de
jornais do mundo inteiro, mostrando que os trabalhadores de uma fábrica ligada à
multinacional, no Vietnã, eram submetidos a condições de trabalhos duríssimas. A Nike
admitiu as acusações meses depois, na tentativa de atenuar a queda de vendas e das ações.
Nos anos seguintes, as companhias acusadas de envolvimento na prática de sweatshops
cresceram, incluindo, de acordo com a organização Sweatshop Watch15, as multinacionais
Levi's, Tommy Hilfiger, American Eagle, Calvin Klein, Gap, Wal-Mart, Polo-Ralph Lauren,
Kmart e muitas outras. A Disney foi também acusada de exploração dos trabalhadores. De
acordo com The National Labor Committee16, uma Ong baseada em Nova York, os
trabalhadores da fábrica Shah Makhdum, em Bangladesh, que produz camisetas da Disney,
são submetidos a períodos de trabalho ininterrupto de até 15 horas, 7 dias por semana
(CASTELFRANCHI, 2004).
A maioria das companhias nega as acusações feitas pelas Ongs, alegando o
respeito das leis trabalhistas locais sobre salário mínimo ou, mais freqüentemente, negando
suas responsabilidades: a maioria das fábricas são terceirizadas, com donos locais, e as
multinacionais afirmam não ter controle nem conhecimento sobre o que acontece dentro
delas.
13 Disponível em <http://www.globalexchange.org>. Acesso em 7 outubro 2007. 14 Disponível em <http://www.corpwatch.org>. Acesso em 5 outubro 2007. 15 Disponível em <http://www.sweatshopwatch.org/>. Acesso em: 5 outubro 2007. 16 Disponível em <http://www.nlcnet.org/>. Acesso em: 20 setembro 2007.
50
Com a realização das Olimpíadas de Atenas 2004, várias organizações e sindicatos
se juntaram para lançar a campanha "Jogue limpo nas Olimpíadas", pedindo que as empresas
de moda esportiva respeitem os direitos dos trabalhadores e assumam o compromisso com a
eliminação das sweatshops e da exploração infantil (CASTELFRANCHI, 2004).
No campo de más práticas ambientais, um caso amplamente explorado pela mídia,
sobretudo européia, foi o exemplo do naufrágio do petroleiro “Erika”, em dezembro de 1999,
na região da Bretanha, França, causando um derramamento de óleo no Atlântico que atingiu
cerca de 400 quilômetros do litoral francês. Trata-se da maior catástrofe ambiental da história
da França, com derramamento de cerca de 19 mil toneladas de combustível, e enormes danos
à fauna e à flora locais. As perdas das economias das regiões atingidas pelo desastre
ambiental foram estimadas em um bilhão de euros (UOL NOTÍCIAS, 2007).
A companhia petrolífera francesa Total, proprietária da carga, teve sua imagem
totalmente descredibilizada com este acidente que evidenciou a sua falta de responsabilidade
no que se refere a sua política de segurança ambiental.
A empresa Total não era a proprietária do navio, mas apenas de sua carga. Para
todos os assuntos referentes ao frete de embarcações, a empresa subcontratava os serviços da
empresa italiana Rina, organismo de verificação, que havia dado seu aval ao navio Érika,
apesar de suas condições precárias, de sérias corrosões e zonas deterioradas. Por ser um navio
em condições limitadas, ele já havia sido recusado pelas companhias Shell e BP (British
Petroleum), fortes concorrentes do grupo Total.
Este episódio demonstra que o grupo Total não foi capaz de integrar em sua
política de frete o controle sobre as atividades das empresas terceirizadas para este fim. No
entanto, tais práticas eram essenciais para a garantia da segurança no transporte marítimo e
para a prevenção à poluição. Esta falta de controle do nível de responsabilidade das
sociedades subcontratadas resultou, para o grupo Total, em uma multa de 375 mil euros
(Noticiário Euronews, 12/02/2007). Ainda pior, mas não facilmente mensurável, é a
degradação e a descredibilização da imagem do grupo.
51
2.11. Exemplo de boas práticas na área de responsabilidade social
Esta seção descreve o projeto UNICEF17-Ikea para combater o trabalho infantil,
um excelente exemplo de responsabilidade social corporativa. A autora teve a oportunidade
de participar de reuniões com membros da Unicef e com a diretora de responsabilidade da
empresa sueca Ikea - multinacional que projeta, fabrica e vende mobiliário residencial – para
discussão e compreensão deste projeto de combate ao trabalho infantil em comunidades da
Índia.
De acordo com a UNICEF (2005), na Índia, aproximadamente 14% das crianças
entre 5 e 14 anos de idade estão envolvidas em atividades de trabalho infantil, incluindo
produção de bens, freqüentemente de baixo custo, para exportação direta por grandes
empresas multinacionais. A maioria dessas crianças trabalha no setor informal da economia,
muito além do alcance de fiscalização institucional, e freqüentemente em casas de família,
realizando trabalho subcontratado.
Quais são as implicações para as empresas e seus trabalhadores infantis
empregados indiretamente? Desde o início da década de 90, empresas multinacionais
começaram a incluir políticas contra o trabalho infantil em seus códigos de conduta
corporativos. O Grupo Ikea fornece um exemplo de como o setor privado pode realizar
negócios nos países em desenvolvimento de modo socialmente responsável, utilizando como
estrutura a Convenção sobre os Direitos da Criança.
Para garantir que nenhuma criança seja empregada em qualquer nível da cadeia de
fornecimento, a Ikea criou o ‘Modo Ikea de evitar o Trabalho Infantil’, um código de conduta
que se aplica a todos os seus fornecedores. O código exige que todos os fornecedores
reconheçam a Convenção sobre os Direitos da Criança. Além disso, para garantir que todos
sigam o código, os empregadores da Ikea fazem visitas regulares aos fornecedores para
verificar se não há crianças trabalhando nos recintos, e auditores independentes realizam
inspeções não programadas no mínimo uma vez por ano. Como resultado, fornecedores locais
que querem atrair negócios devem comprometer-se com os códigos corporativos, que são
baseados em leis locais e nacionais relativas à criança e à idade mínima de emprego. 17 O Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF - foi criado no dia 11 de dezembro de 1946, por decisão unânime, durante a primeira sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas. Sua missão é promover o bem-estar da criança e do adolescente, com base em sua necessidade, sem discriminação de raça, credo, nacionalidade, condição social ou opinião política.
52
O UNICEF e a Ikea uniram forças para implementar esse código de conduta no
estado de Uttar Pradesh, na Índia. Em 2000, o UNICEF desenvolveu a Fase 1 da Iniciativa
Bal Adhikar-Ikea, cobrindo 200 comunidades em que a Ikea produz tapetes atualmente. Uttar
Pradesh responde por cerca de 15% das crianças trabalhadoras do país (UNICEF, 2005).
Essas crianças estão empregadas em maior número no setor informal, trabalhando em casas.
A indústria de tapetes de Uttar Pradesh contribui com aproximadamente 85% das exportações
de tapetes da Índia, e é altamente descentralizada, com famílias marginalizadas das áreas
rurais constituindo grande parte da mão-de-obra de tecelagem (UNICEF 2005).
O projeto fundamenta-se na convicção de que o trabalho infantil não pode ser
eliminado simplesmente por meio da retirada da criança da situação de trabalho, ou com o fim
dos contratos de fornecimento de uma multinacional, uma vez que a criança simplesmente
passaria a trabalhar para outro empregador. Em vez disso, o problema é enfrentado
combatendo-se as causas básicas do trabalho infantil – como dívidas nas comunidades
marginalizadas, desemprego entre adultos, pobreza e o direito da criança à educação primária
de qualidade.
Para isso, a Ikea e o UNICEF utilizam duas linhas de ação estratégicas, que
alcançam simultaneamente crianças trabalhadoras e suas famílias. As mulheres da
comunidade, principalmente as mães, foram incumbidas da criação de grupos de auto-ajuda
para mulheres. Ester grupos permitiram que as mulheres escapassem das taxas de juros
extorsivas praticadas por agiotas locais. Dispondo de seus próprios recursos, as famílias não
são mais forçadas a procurar ajuda de agiotas quando precisam de dinheiro para
medicamentos, educação de seus filhos e casamento, ou quando desejam iniciar seu próprio
negócio. Quando as famílias se livram de dívidas, ficam menos propensas a mandar suas
crianças para o trabalho (UNICEF, 2005).
As necessidades educacionais das crianças também são solucionadas por meio de
campanhas de matrículas escolares e de centros de aprendizagem alternativos. Graças a essas
campanhas anuais, aproximadamente 50 mil crianças, entre 6 e 12 anos de idade, que não
freqüentavam a escola, foram identificadas em uma pesquisa familiar e levadas para o sistema
escolar formal (UNICEF, 2005).
Centros de aprendizagem alternativos são uma estratégia específica, com prazo
determinado, para alcançar crianças excluídas, concentrando-se em crianças entre 8 e 13 anos
de idade. Com o objetivo de realmente integrar essas crianças ao sistema educacional formal,
53
103 centros de aprendizagem alternativos foram abertos nas comunidades da Fase 1 do
projeto. Desde seu início, cerca de 6.300 crianças foram beneficiadas por esses centros
(UNICEF, 2005). Esforços estão sendo realizados para estabelecer centros de aprendizagem
alternativos em outras comunidades. Em meados de 2002, a Ikea – que já estava apoiando a
Iniciativa Bal Adhikar- Ikea contra o Trabalho Infantil em dois quarteirões do distrito de
Jaunpur, na parte leste de Uttar Pradesh – assumiu o desafio de alcançar e proteger todos os
bebês e todas as gestantes nos 21 quarteirões nesse distrito.
A Iniciativa da Ikea para agregar a Rotina de Imunização alcançou cobertura de
imunização para um total aceitável da população de mais de 50 mil bebês e gestantes, em sete
quarteirões, compreendendo cerca de mil comunidades, no distrito de Jaunpur. Com o
governo estadual apoiando a Iniciativa Rotina de Imunização, espera-se que os quarteirões
restantes sejam cobertos em fases ao longo do ciclo de quatro anos do projeto (UNICEF,
2005).
54
55
3. METODOLOGIA
Este capítulo apresenta a forma como o projeto foi conduzido, explicando os
procedimentos utilizados na produção dos dados.
Gonsalves (2001) classifica a pesquisa segundo diferentes critérios: segundo seus
objetivos, segundo seus procedimentos, segundo suas fontes de informação e segundo a
natureza dos dados. Estes critérios são detalhados no quadro abaixo.
Tipos de pesquisa segundo os objetivos
Tipos de pesquisa segundo as fontes de
informação
Tipos de pesquisas segundo os
procedimentos de coleta
Tipos de pesquisa segundo a natureza dos
dados
Exploratória Descritiva
Experimental Explicativa
Campo Laboratório
Bibliográfica Documental
Experimento Levantamento Estudo de caso Bibliográfica Documental Participativa
Quantitativa Qualitativa
Tabela 4 - Classificação dos tipos de pesquisa
Fonte: GONSALVES (2001, p. 64)
No que se refere ao tipo de pesquisa segundo os objetivos, optou-se pela execução
de uma pesquisa exploratória. A pesquisa exploratória foi selecionada por ser o tipo de
pesquisa mais indicado para o desenvolvimento e esclarecimento de idéias, com o objetivo de
oferecer uma visão panorâmica e uma primeira aproximação a um determinado fenômeno
ainda pouco explorado.
Quanto às fontes de informação utilizadas, duas abordagens foram selecionadas. A
primeira é a pesquisa documental. A pesquisa documental assemelha-se a pesquisa
bibliográfica. No entanto, as fontes que a constituem são documentos e não apenas livros
publicados e artigos científicos divulgados, como é o caso da pesquisa bibliográfica. Desta
forma, o desenvolvimento do trabalho contemplou consultas a normas, (tais como a
ISO14000, OHSAS18001 e a SA8000), a convenções da OIT, a documentos internos
publicados pela L´Oréal, a códigos de conduta criados por diversas empresas privadas, entre
outros. A outra abordagem selecionada constitui a pesquisa de campo, tipo de pesquisa que
pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada. Este método foi
escolhido por viabilizar o conhecimento direto da realidade de forma rápida e econômica. No
56
entanto, ele também apresenta desvantagens, tais como a ênfase nos aspectos perspectivos,
pouca profundidade e limitada apreensão do processo de mudança. A pesquisa de campo do
presente trabalho envolveu o envio de questionários a fornecedores e a compradores da
empresa L`Oréal, além de entrevistas com fornecedores e auditores sociais e o
acompanhamento destes auditores durante a realização de auditorias.
No que diz respeito ao procedimento de coleta de dados, além do levantamento e
da pesquisa documental, já retratados, a pesquisa participativa foi incluída no projeto. Trata-se
de uma pesquisa que propõe a participação efetiva das partes envolvidas no processo de
geração de conhecimento, o que é considerado um processo formativo. O desenvolvimento do
projeto, coordenado pela autora, contou com a participação de diversos funcionários de
diferentes departamentos da L´Oréal (por exemplo, recursos humanos; pesquisa e
desenvolvimento; ambiente, saúde e segurança), além de colaboradores externos
(fornecedores, agencias de comunicação, empresas de auditorias, empresas reconhecidas por
suas boas práticas sociais e ambientais). Estes agentes, chamados a participarem a reuniões de
desenvolvimento e de validação do projeto, contribuíram com seus conhecimentos e opiniões.
Quanto à natureza dos dados coletados, a metodologia empregada privilegiou uma
abordagem qualitativa, dado que a temática da responsabilidade sócio-ambiental constitui um
universo de difícil quantificação. A investigação qualitativa foi considerada mais adequada
por envolver valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões e por adequar-se a
aprofundar a complexidade de fatos e processos particulares e específicos a indivíduos e
grupos. A abordagem qualitativa é empregada, portanto, para a compreensão de fenômenos
caracterizados por um alto grau de complexidade. No entanto, algumas análises quantitativas
dos resultados do programa de auditorias sociais do grupo L´Oréal serviram de suporte para
identificação do perfil global do fornecedor da empresa em termos de suas práticas sociais e
ambientais.
57
4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
4.1. O problema no contexto da empresa
As exigências do grupo L’Oréal quanto aos padrões laborais a serem respeitados pelos
fornecedores do grupo estão descritos no capítulo 4 das Condições Gerais de Compras e de
Pagamentos do grupo L’Oréal. Ao entrar para o portfolio de fornecedores do grupo, o
fornecedor deve assinar este documento, reiterando assim seu compromisso em respeitar com
rigor essas obrigações e fazer com que elas sejam respeitadas por seus próprios fornecedores.
Com o objetivo de fiscalizar o cumprimento deste compromisso, a L’Oréal pode
mandar realizar auditorias sociais por órgãos subcontratados habilitados, que trabalham
segundo um caderno de encargos preciso e sob absoluto sigilo.
Desde o início do programa de auditorias sociais implementado pela L’Oréal em sua
rede logística, o capítulo 4 das Condições Gerais de Compras, abaixo transcrito, tem sido o
instrumento utilizado pelo grupo para comunicar a seus fornecedores os padrões sociais
requeridos. No entanto, ele se releva superficial, incompleto e pouco detalhado.
Veja abaixo a transcrição integral do capítulo 4 das Condições Gerais de Compras.
4) SUBCONTRATAÇÃO, TRABALHO FORÇADO, PENITENCIÁRIO, PERIGOSO, DISSIMULADO E TRABALHO DE MENORES O FORNECEDOR declara expressamente que cumpre as obrigações sociais e fiscais
conexas a seus estatutos e, mais particularmente, respeita as disposições da Lei n°97-210 de 11 de março de 1997 relativas ao reforço da luta contra o trabalho dissimulado. O FORNECEDOR se compromete a apresentar, quando da conclusão do presente
contrato, os documentos previstos no artigo R.324-4 do Código Trabalhista para comprovar o cumprimento por parte do FORNECEDOR das disposições acima citadas, tal clausula contratual sendo substancial. A apresentação desses documentos constitui-se em condição resolutória para o presente. Ocorrendo descumprimento, o presente contrato será reputado como nunca firmado. O FORNECEDOR deverá estar em conformidade com todas as leis e
regulamentações em vigor e respeitar os princípios dos Convênios fundamentais da OIT, a saber C29 e C105 sobre a abolição do trabalho forçado, C138 e C182 sobre a eliminação do trabalho infantil, C100 e C111 sobre a igualdade e C87 e C98 sobre a liberdade sindical. Mais particularmente, o FORNECEDOR certifica e atesta que nenhum produto comprado pela L’Oréal e fabricado pelo FORNECEDOR ou por qualquer fornecedor deste, foi fabricado, montado ou acondicionado recorrendo-se ao
58
trabalho forçado, penitenciário (salvo na esfera de um programa de reinserção durante a pena), perigoso, dissimulado e/ou ao trabalho de menores de 16 anos. Ciente de que tal limite etário é mais severo que o limite imposto pelo convênio C138 da l’OIT. O FORNECEDOR somente poderá fornecer produtos que atendam a todas as
condições impostas pelas leis e regulamentações do país no qual são produzidos. O FORNECEDOR reconhece que, em caso de transgressão da presente estipulação,
a L’Oréal poderá, entre outras medidas, pôr fim imediatamente ao presente contrato e cessar quaisquer relações comerciais com o FORNECEDOR sem caber nenhuma responsabilidade futura da L’Oréal com relação ao FORNECEDOR.
Fonte: Condições gerais de compras e de pagamentos da L’Oréal
Muitos são os problemas acarretados pela comunicação parcial, ineficiente e
superficial das normas exigidas.
Em primeiro lugar, o fornecedor não é capaz de identificar as suas falhas, dado que
muitos dos padrões verificados durante as auditorias sociais não estão relatados no capítulo 4
das CGA. Ele se concentra em questões ligadas aos dos padrões laborais e aos direitos
humanos, não abordando aspectos relacionados à saúde e à segurança no ambiente de
trabalho, ao meio ambiente e ao sistema de gestão dos negócios.
Além disso, os padrões aí relatados não são suficientemente detalhados, gerando
dívidas e fazendo com que o fornecedor não saiba como agir para adequar-se às normas.
Com isso, muitos dos fornecedores se sentem injustiçados ao serem taxados como
não-conformes após a realização das auditorias sociais, dado que os padrões exigidos são mal
comunicados e são, muitas vezes, mais rigorosos do que aqueles previstos pelas leis locais.
Esta insatisfação do fornecedor se agrava pelo fato de os custos das auditorias de
acompanhamento18 serem pagos pelos próprios fornecedores.
Obviamente, o objetivo da auditoria não é o de taxar o fornecedor como não
conforme. No entanto, ela serve para indicar quais são as irregularidades que devem ser
corrigidas de forma a melhorar a performance social da rede de suprimentos do grupo.
Porém, esta abordagem voltada para a capacitação através da correção de falhas
revela-se extremamente dispendiosa. Faz-se necessário portanto uma abordagem preventiva,
na qual a capacitação do fornecedor anteceda o momento da auditoria. Para tanto, é necessário
18 Quando irregularidades significativas são constatadas durante uma auditoria social, uma nova auditoria, chamada de auditoria de acompanhamento, deve ser realizada dentro de um período de 90 dias a partir da data da realização da auditoria inicial. A auditoria de acompanhamento verifica a implementação do plano de ações corretivas estipulado no momento da auditoria inicial. Vale lembrar que os custos da auditoria social inicial são integralmente pagos pela L’Oréal, enquanto os custos da auditoria de acompanhamento são de responsabilidade do próprio fornecedor.
59
informar e estimular o fornecedor e oferecer-lhe ferramentas que dirijam seus esforços para a
redução do hiato de competências.
Neste contexto, mais do que uma formalização dos padrões exigidos, faz-se necessário
uma revisão e uma redefinição destes padrões. Também são fundamentais a reunião e
estruturação destes padrões de forma a se viabilizar a circulação e a difusão destas
informações dentro de toda a rede de fornecedores. Mais ainda, faz-se necessário uma
reflexão sobre mecanismos ou ferramentas que culminem no amadurecimento dos
fornecedores e na compatibilização de suas práticas com os padrões delineados.
Desta forma, identificou-se a necessidade de elaborar uma ferramenta capaz de:
- Aumentar o nível de conhecimento do fornecedor sobre os padrões internacionais em
termos de responsabilidade social e ambiental,
- Sensibilizar o fornecedor sobre a importância dos aspectos sócio-ambientais;
- Ajudar o fornecedor a avaliar o seu desempenho atual quanto aos quesitos sociais e
ambientais necessários;
- Indicar ao fornecedor meios de como se adequar às boas práticas sociais e ambientais
e propor uma parceria para ajudá-lo a adotar medidas corretivas a eventuais irregularidades ou
dificuldades encontradas, melhorando assim o nível de maturidade da supply chain da L’Oréal
com relação a aspectos sócio-ambientais;
- Proteger o grupo L’Oréal de faltas graves cometidas por seus parceiros e
colaboradores externos.
A elaboração desta ferramenta constituiu a missão da autora dentro do grupo L’Oréal.
4.2. As etapas do projeto
Em um momento inicial, o desenvolvimento do projeto se focou na criação de um
código de conduta responsável para os fornecedores do grupo L’Oréal. O código de conduta
seria a ferramenta capaz de responder os objetivos mencionados. No entanto, durante o
processo de criação do código de conduta, chegou-se à conclusão de que a elaboração deste
60
documento seria insuficiente para a cobertura de todos os objetivos propostos. Desta forma, o
perímetro do projeto passou a abranger a criação de uma plataforma mais ampla de
compartilhamento de informações sobre responsabilidade sócio-ambiental com os
fornecedores, chamada de Business Partner Sustainability Tool Box. O código de conduta
passou a ser apenas uma das partes que compõem esta plataforma.
Durante sua missão dentro da L’Oréal, a autora se dedicou à concepção da estrutura
geral desta plataforma, composta por 5 documentos que serão descritos mais adiante (no
capítulo 5 – Resultados). No entanto, devido à curta duração da missão da autora dentro do
grupo, não houve tempo hábil para o desenvolvimento efetivo de todas as partes que
compõem a plataforma. Apenas uma parte foi efetivamente criada. Trata-se do código de
conduta responsável, documento que contém os requisitos básicos em termos de práticas
sócio-ambientais a serem respeitados pelos fornecedores. A elaboração deste documento,
incluindo a definição de seu escopo e de seu conteúdo, constituiu grande parte da missão da
autora dentro do grupo. Os demais documentos que compõem a plataforma, apresentada à
diretoria do grupo e aprovada pela mesma, serão elaborados em um futuro próximo, por
outras pessoas do departamento de avaliação da performance dos fornecedores.
Assim, as etapas que se sucederam durante o desenvolvimento deste trabalho de
formatura foram as seguintes:
- Familiarização com o programa de auditorias sociais e análise de seus resultados,
- Benchmark de documentos éticos publicados por outras empresas,
- Busca de critérios operacionais na área de responsabilidade sócio-ambiental,
- Definição dos níveis de desempenho,
-Coleta e análise de dados de campo através de consulta a fornecedores, compradores
e auditores,
- Integração das particularidades dos fornecedores de matérias-primas,
- Apresentação e validação do projeto pela diretoria do grupo.
61
Figura 6 - Etapas do desenvolvimento do projeto
Fonte: elaborada pela autora
Cada uma destas etapas será descrita a seguir.
4.3. Familiarização e análise do programa de auditorias sociais
A primeira parte da missão da autora no departamento de Avaliação da Performance
dos Fornecedores consistiu na compreensão do contexto do Ethical Sourcing e do programa
de Auditorias Sociais implementado pela L´Oréal junto a sua cadeia de fornecedores. O
primeiro passo foi a leitura e a análise dos procedimentos de realização e de acompanhamento
das auditorias sociais, das condições gerais de compra e de pagamentos presentes nos
contratos assinados pelos fornecedores, leitura das convenções da OIT sobre direito do
trabalho, sobre segurança e saúde no trabalho, além da análise de normas sociais aditáveis tais
como a SA8000.
A missão foi enriquecida pela participação da autora nas seguintes atividades:
- auditorias sociais realizadas nas fábricas de fornecedores da L´Oréal, acompanhando
os auditores em cada uma das etapas das auditorias;
- visitas às fábricas da própria L´Oreál para observação da implementação dos
quesitos de responsabilidade social nas plantas industriais do grupo;
- reuniões com membros da Unicef para melhor compreensão da complexidade da
questão do trabalho infantil no mundo atual;
- participação em cursos de formação direcionados aos auditores sociais da empresa
Intertek;
Familiarização com o programa de auditorias sociais + análise de seus resultados
Benchmark de documentos éticos
Busca de critérios operacionais
Definição dos níveis de desempe-nho
Coleta e análise de dados de campo
Aprovação e validação do projeto
Integração das particularida-des dos fornecedores de matérias primas
62
- conferência organizada pelo grupo SGS19 para empresas engajadas em práticas de
responsabilidade sócio-ambiental;
- reuniões com a diretora da área de responsabilidade sócio-ambiental da marca
BodyShop (marca reconhecida por suas práticas ecológicas);
- reuniões com a diretora de responsabilidade social da empresa sueca IKEA, para
compreensão do programa contra o trabalho infantil desenvolvido pela empresa junto a
comunidades da Índia onde a IKEA produz tapetes;
- e por fim, diversas reuniões com fornecedores e colaboradores internos dos mais
diversos departamentos da L’Oréal.
Ao longo do processo de familiarização com o programa de auditorias sociais, a autora
assumiu uma série de tarefas operacionais relacionadas ao acompanhamento do programa, à
análise dos resultados das auditorias de uma forma global e da evolução das estatísticas do
número de auditorias realizadas em cada setor e cada país. Foram elaborados painéis de bordo
para o monitoramento das estatísticas relacionadas à detecção de irregularidades nas plantas
dos fornecedores, de forma a facilitar a identificação das causas mais freqüentes. Estes painéis
de bordo passaram a ser utilizados como ferramentas importantes no monitoramento do
programa de auditorias sociais.
Os resultados de todas as auditorias realizadas são armazenados em uma base de
dados. Antes da realização deste projeto, a utilização desta base de dados, feita pelos
compradores, ocorria fundamentalmente de forma pontual. O acesso a essa base de dados por
parte dos compradores permite a eles integrarem estes resultados em suas decisões de
compras no momento da escolha do fornecedor. Ela também é uma ferramenta fundamental
para o acompanhamento do processo de correção das irregularidades encontradas nas plantas
produtivas dos fornecedores. O desenvolvimento deste projeto, que fez um estudo dos
resultados globais contidos nesta base, serviu para disseminar a análise global e sistemática
dos dados contidos na base como uma ferramenta importante na gestão do programa de
auditorias sociais. Indicadores tais como freqüência das diferentes classes de irregularidades,
ou número de fornecedores não-conformes por ano, por país e por divisão, passaram a ser
acompanhados de forma sistemática pelos responsáveis regionais do departamento de
compras.
19 Intertek e SGS são empresas líderes no mercado mundial de inspeções, auditorias e certificações.
63
Esta sensibilização e familiarização com os princípios e os fundamentos do programa
de auditorias sociais, contato com os fornecedores auditados, compreensão de suas reações e
de suas expectativas foram absolutamente indispensáveis para a realização do presente
trabalho de formatura. Esta etapa permitiu o mapeamento do perfil dos fornecedores e a
identificação do nível de maturidade dos mesmos quanto às suas práticas sócio-ambientais.
4.3.1. O programa de auditorias sociais e o perfil dos fornecedores
O objetivo principal do programa de auditorias sociais do grupo L’Oréal é de
selecionar os fornecedores que mantêm relações comerciais com a L’Oréal, de forma a se
trabalhar somente com empresas responsáveis quanto aos quesitos sociais e ambientais. Este
programa possibilita:
- a avaliação da performance do fornecedor em termos de responsabilidade social e
ambiental, performance esta que se torna factual e mensurável;
- o estabelecimento de relações comerciais apenas com fornecedores que são
merecedores e que compartilham os mesmos valores que os praticados pelo grupo L’Oréal;
- a promoção da melhora contínua da supply chain da L’Oréal.
Dentro do contexto do desenvolvimento sustentável, a L’Oréal exige que seus
fornecedores respeitem as normas laborais aplicáveis às suas atividades.
Hoje o grupo concretiza este compromisso através do capítulo 4 das Condições Gerais
de Compras e de Pagamento, um contrato padrão apresentado aos fornecedores, o qual
estipula que estes devem se conformar à legislação local e às Convenções da OIT relativas ao
trabalho infantil, ao trabalho forçado, à discriminação e à liberdade de associação. Os
fornecedores devem também velar pelo cumprimento destas normas por seus próprios
fornecedores.
Para garantir que estas normas sejam respeitadas, a L’Oréal promove a realização de
auditorias sociais nas plantas produtivas de seus fornecedores. Desde 2002, as empresas
Bureau Veritas e Intertek, empresas terceirizadas e especializadas no setor de auditorias,
64
realizaram mais de 900 auditorias independentes20 com o objetivo de controlar a
conformidade dos fornecedores em relação às normas laborais. As auditorias são semi-
anunciadas: o fornecedor não é informado sobre o dia exato em que sua fábrica será auditada.
A empresa auditora divulga ao fornecedor um período de 30 dias dentro do qual a auditoria
será realizada. Dependendo do número de empregados e do tamanho (área) da fábrica, a
auditoria pode se estender por 1 ou 2 dias. As auditorias são compostas por 5 etapas:
- uma reunião de abertura, na qual o auditor se apresenta à pessoa da empresa que o
recebeu e explica em linhas gerais como será o desenrolar da auditoria,
- uma inspeção de documentos específicos que devem estar presentes na fábrica
auditada (regulamento interno, contratos de trabalho, holerites, registros sobre emissão de
poluentes, etc.);
- entrevistas com funcionários;
- visita para inspeção das instalações da fábrica;
- uma reunião de fechamento, na qual o auditor apresenta ao fornecedor um resumo
dos resultados constatados. Durante esta reunião, o auditor e um ou mais membros da
empresa fornecedora elaboram juntos um plano de ações corretivas caso alguma
irregularidade tenha sido constatada.
Os critérios que regem os princípios chave das auditorias realizadas foram inspirados
pela norma SA8000. Os 10 temas verificados durante as auditorias são os seguintes:
- Trabalho infantil;
- Trabalho forçado;
- Saúde e segurança no ambiente de trabalho;
- Liberdade de associação;
- Não-discriminação;
- Práticas disciplinares;
- Assédio e abuso sexual e moral;
- Pagamento de salários e benefícios;
- Duração da jornada de trabalho e horas extras;
- Política de subcontratação.
Todas as lacunas constatadas são objeto de diálogo entre a L’Oréal e o fornecedor para
o estabelecimento de um plano de ações corretivas. No caso de infrações consideradas graves,
20 Fonte: Base de dados interna da L’Oréal, acessada em 26/06/2007.
65
como por exemplo casos envolvendo trabalho infantil, nenhum novo pedido é feito ao
fornecedor até que se comprove que as medidas corretivas foram implementadas.
Escala de avaliação dos resultados das auditorias
Irregularidade Ação
Satisfatório Ausência de irregularidades, boas práticas
Manutenção das relações comerciais
Melhora requerida Problemas isolados Relações comerciais podem ser mantidas. Nova auditoria deve ser planificada.
Melhora importante requerida
Problemas sistemáticos e recorrentes
Interrupção temporária das relações comerciais. Nova auditoria deve ser planificada no prazo de 90 dias.
Tolerância zero Trabalho infantil (menores de 16 anos), trabalho forçado, trabalho perigoso com risco de morte imediata.
Interrupção das relações comerciais até que medidas corretivas sejam comprovadas. No caso de trabalho infantil, acompanhamento das crianças.
Acesso negado Negação (parcial ou total) de acesso às instalações, a documentos e a entrevistas a trabalhadores.
Nova auditoria deve ser planificada. Segundo acesso negado = tolerância zero
Tabela 5 – Classificação dos resultados das auditorias sociais
Fonte: Relatório de desenvolvimento sustentável L´Oréal 2006 – traduzido pela autora
Vale lembrar que todos os centros de distribuição e as fábricas pertencentes ao grupo
L’Oréal também foram auditados de acordo com os mesmos princípios e procedimentos das
auditorias realizadas nas plantas dos fornecedores. Este fato é importante para conferir
legitimidade ao programa de auditorias sociais implementado pelo grupo. Afinal, não se pode
exigir dos fornecedores padrões que não são cumpridos pelo próprio grupo.
A postura do grupo não é a de cortar relações com fornecedores que apresentem
irregularidades, mas sim de cortas relações apenas com aqueles fornecedores que não estejam
dispostos a corrigir suas falhas. O objetivo do programa é portanto capacitar os fornecedores
quanto às suas práticas sócio-ambientais, acompanhando-os na correção das irregularidades.
O perímetro do programa de auditorias sociais do grupo L’Oréal foi definido de forma
a englobar as seguintes categorias de fornecedores:
66
- os fornecedores de artigos de condicionamento (embalagens), de matérias-primas, de
artigos promocionais que operem em países considerados de risco (veja a seguir a lista de
países considerados de risco),
- empresas terceirizadas que atuem nas áreas de segurança, limpeza e jardinagem e
que operem nos países considerados de risco,
- todos as empresas de manufatura terceirizada, independentemente de sua localização.
Países considerados de risco Argentina África do Sul Bulgária Bangladesh
Bolívia Dubai Croácia Brunei Brasil Egito Eslováquia Cambodia Chile Gana Eslovênia China
Colômbia Israel Estônia Hong Kong República Dominicana Quênia Hungria Índia
Equador Lesoto Letônia Indonésia Honduras Maurício Lituânia Macau México Marrocos Polônia Malásia
Nicarágua Suazilândia Romênia Paquistão Paraguai Rússia Filipinas
Peru Sérvia Coréia do Sul Uruguai Turquia Sri Lanka
Venezuela Ucrânia Taiwan Guatemala Tailândia
Singapura Vietnam
Tabela 6 - Países considerados de risco sob o ponto de vista sócio-ambiental
Fonte: Intranet L’Oréal
Os riscos sócio-ambientais apresentados pelos fornecedores variam de acordo com
seu tipo de atividade e com sua localização.
Os fornecedores localizados em países em desenvolvimento são claramente mais
sensíveis a riscos sociais do que aqueles localizados em países desenvolvidos. Por exemplo, 5
dos 9 casos de trabalho infantil constatados desde o começo do programa de auditorias sociais
ocorreram na China. Um outro caso foi detectado na Síria e outros dois no México21.
Os riscos sócio-ambientais variam também de acordo com o tipo de atividade do
fornecedor. Por exemplo, funcionários de uma indústria química podem estar expostos a
materiais inflamáveis ou explosivos, a um local de trabalho insalubre, etc. Da mesma forma,
21 Fonte: base de dados interna da L’Oréal, acessada em 26/06/2007.
67
funcionários de uma industria de mão de obra intensiva são mais susceptíveis a problemas
relacionados a longas jornadas de trabalho e a um número excessivo de horas-extras.
Uma análise dos resultados das auditorias sociais feita pela autora revelou que a
freqüência e a gravidade dos riscos sociais verificados nas auditorias sociais se correlacionam
com o setor da L’Oréal que encomenda a auditoria (centrais de distribuição, fábricas e
departamento de objetos promocionais22). O gráfico abaixo mostra que os fornecedores do
setor de objetos promocionais apresentam resultados mais críticos do que os fornecedores dos
outros dois setores.
Figura 7 – Repartição dos resultados das auditorias sociais por departamento interno que encomenda a auditoria
Fonte: elaborado pela autora a partir da base de dados interna, acessa em 26/06/2007.
Isto se justifica pela relação não-perene do departamento de objetos promocionais
com os seus fornecedores. Os pedidos feitos por este departamento são, na maioria dos casos,
pedidos pontuais ligados a uma campanha de promocional específica e pontual, onde o
critério ganhador de pedido ainda é quase sempre o custo dos objetos encomendados. Afinal,
a produção destes objetos não exige mão de obra especializada nem uma tecnologia
diferenciada. Este tipo de relação com o fornecedor é conhecido pelo termo one shot
business. Boa parte dos fornecedores caracterizados por este perfil localiza-se em países como
o Bangladesh, a Índia e a China, onde as condições sociais de trabalho não constituem uma
preocupação prioritária.
22 Bijuterias, bolsas, toalhas e camisetas são exemplos de objetos promocionais. Trata-se de objetos que fazem parte de kits promocionais vendidos em datas especiais como natal, dia das mães, dia dos namorados ou campanhas de marketing específicas. Visto que a L’Oréal não possui a tecnologia necessária à produção destes itens, eles são encomendados.
68
Assim, o departamento de objetos promocionais, ao contrário dos outros
departamentos de compras do grupo, não busca estabelecer uma relação perene e win-win
com os seus fornecedores. Ao contrário, o departamento de P&D, por exemplo, considera
primordial o estabelecimento de parcerias com seus fornecedores, visando o desenvolvimento
de novos produtos e de tecnologias inovadoras. Desta forma, o departamento de objetos
promocionais é o departamento com maior número de casos de auditorias com resultado
“tolerância zero”, geralmente ligados ao trabalho infantil. Este tipo de infração é considerado
extremamente grave pelo grupo L’Oréal.
Por fim, vale lembrar que, devido a uma questão de imparcialidade e de
homogeneidade, os procedimentos para a realização das auditorias sociais são aplicados de
forma igual a todos os fornecedores submetidos às auditorias sociais, independentemente do
tipo de fornecedor e da sua localização. Esta homogeneidade é fundamental para a
credibilidade e a integridade do programa de auditorias sociais, afinal, todos os fornecedores
auditados devem ser tratados e inspecionados da mesma forma, impedindo qualquer tipo de
discriminação ou privilégio. Além disso, a adoção dos mesmos critérios para a inspeção de
todos os fornecedores é imprescindível para que os fornecedores possam ser comparados.
Desde o inicio do programa de auditorias sociais, ocorrido em 2002, a L’Oréal já
efetuou 906 auditorias.
Figura 8 - Repartição geográfica e anual das auditorias realizadas
Fonte: elaborada pela autora em 26/06/2007 a partir da base de dados interna
69
2002 - 2005 2006 2007
Satisfatório 8 62 40
Melhora requerida 29 164 169
Melhora importante requerida 70 174 103
Tolerância Zero 6 5 2
Acesso Negado 21 31 22
Total 134 436 366
Tabela 7 - Repartição dos resultados das auditorias sociais realizadas
Fonte: elaborada pela autora em 26/06/2007 a partir da base de dados interna
Antes de iniciar a elaboração do código de conduta destinado aos fornecedores do
grupo, a autora efetuou uma análise sobre as auditorias já realizadas na cadeia logística do
grupo, seus processos e seus resultados, de forma a identificar as áreas mais críticas e mais
susceptíveis a irregularidades.
As primeiras observações que foram feitas se focalizaram sobre a assinatura do
termo de compromisso legal ético e social pelos fornecedores. Ao assinar este compromisso, o
fornecedor afirma estar de acordo com o programa de auditorias sociais e com suas
exigências. O processo de obtenção destas assinaturas está representado no anexo A.
Cerca de 4%23 dos fornecedores contatados se recusaram a assinar o termo de
compromisso sobre os princípios das auditorias sociais
Consultas feitas junto aos fornecedores e a compradores da L’Oréal revelaram que
as principais causas de recusa de assinaturas são as seguintes:
- participação não significativa da L’Oréal no faturamento do fornecedor
(participação esta que não justifica os esforços despendidos pelo fornecedor para a realização
da auditoria, tais como disponibilização de pelo menos uma pessoa para recepção dos
auditores, disponibilização de documentos específicos e de alguns funcionários para
entrevistas, etc.)
- fornecedor incapaz de respeitar os padrões exigidos pela L’Oréal;
- fornecedor contra o princípio de ser auditado por um de seus clientes.
23 Dado obtido através da análise das informações contidas na base de dados interna.
70
- fornecedor não disponível a assumir um compromisso em nome de seus próprios
fornecedores (exigência estipulada no termo de compromisso).
Paralelamente, o número de auditorias com resultado “Acesso Negado”
representam uma porcentagem significativa do total de auditorias realizadas: 8%23. As razões
mais freqüentes que justificam este fato são as seguintes:
- ausência ou falta de disponibilidade da pessoa designada para receber o auditor
Isto se intensifica devido ao fato de as auditorias serem semi-anunciadas, ou seja, elas não
ocorrem em uma data marcada (elas podem ocorrer em qualquer dia dentro de um intervalo de
30 dias pré-estipulado). Sendo assim, é possível que a(s) pessoa(s) designadas para receber o
auditor não esteja disponível no dia da auditoria. Isto ocorre principalmente em pequenas
empresas, onde uma ou poucas pessoas estão aptas a receber os auditores;
- fornecedor contra o princípio da auditoria ;
Tanto no caso de fornecedores que se recusam a assinar o termo de compromisso
quanto no caso de fornecedores que se recusam a receber os auditores, a disponibilização de
um documento voltado para o compartilhamento de informações e capaz de transparecer a
vontade do grupo L’Oréal em acompanhar seus fornecedores em um processo de melhoria
contínua pode contribuir à aceitação do princípio do programa de auditorias sociais. Esta é
mais uma das missões a ser cumprida pela elaboração do código de conduta responsável.
No gráfico a seguir, encontra-se um resumo da análise feita pela autora para a
identificação das irregularidades mais freqüentemente detectadas pelas auditorias.
71
Figura 9 - Detecção das irregularidades mais freqüentes24
Fonte: elaborada pela autora a partir de informações contidas na base de dados interna25
O gráfico acima mostra claramente que os três eixos mais problemáticos quanto à
freqüência das irregularidades são os seguintes:
- Saúde e Segurança no ambiente de trabalho (Health and Safety) : tratam-se, por
exemplo, de casos de estocagem de produtos perigosos em condições inapropriadas,
extintores de incêndio quebrados ou ausentes, saídas de emergência bloqueadas, ruído
excessivo no local de trabalho, etc.;
- Duração da jornada de trabalho e horas extras excessivas (Hours of work):
tratam-se, por exemplo, de jornadas de trabalho mais longas do que as determinadas por lei,
ausência de pelo menos um dia de repouso por semana, etc.;
- Pagamento de salários (Compensations and benefits): trata-se de funcionários
remunerados a uma taxa inferior à taxa estipulada pela lei, pelo mercado ou pelo contrato de
trabalho.
24 O resultado final da auditoria equivale a pior nota dentre as notas obtidas para cada capítulo. Sendo assim, o resultado final de uma auditoria só será “Satisfatório” caso todos os capítulos tenham sido considerados satisfatórios. Caso um relatório seja composto por um capítulo com resultado “Melhora significativa requerida” e todos os demais capítulos com resultado “Satisfatório”, o resultado final da auditoria será “Melhora significativa requerida”. 25 Análise baseada nos resultados das 436 auditorias sociais realizadas em 2006.
72
Quanto à gravidade das irregularidades, os eixos mais críticos são os seguintes:
- Trabalho infantil;
- Assédio sexual ou moral,
-Trabalho forçado.
Figura 10 - Irregularidades mais graves (em vermelho) e mais freqüentes (em laranja)26
Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido e adaptado pela autora
É fundamental que estas fontes de irregularidades sejam explicitadas no código de
conduta.
26 As porcentagens representadas no canto superior direito das fotos representam a porcentagem de ocorrência das irregularidades mencionadas dentre o total de irregularidades detectadas desde o início do programa de auditorias sociais.
73
4.4. Benchmark de documentos éticos publicados por outras empresas
Passada a fase de familiarização com os programas de auditorias sociais, iniciou-se
o processo de benchmark dos códigos de conduta e dos documentos éticos divulgados por
outras empresas.
O benchmark permitiu a identificação dos assuntos abordados e a observação da
forma de apresentação (interface) e do nível de detalhe destes documentos.
O quadro a seguir mostra uma síntese das características dos documentos que se
revelaram mais significativos dentre todos os documentos consultados.27 28
27 Onze temas foram identificados na análise. Os campos em cinza identificam a menção do tema no documento correspondente, enquanto os campos em branco significam que o tema não é abordado pelo documento em questão. * Os códigos de conduta consultados para a elaboração da tabela foram encontrados na Internet, nos websites oficiais das empresas listadas na tabela. 28 Siglas para as referências internacionais contidas na tabela: UN (United Nations), ILO (International Labour Organization), UDHR (Universal Declaration of Human Rights), ETI (Ethical Trading Initiative), SAI (Social Accountability International), EMAS (Eco Management and audit system), OHSAS 18001(Occupational Health and Safety Assessment Series), WBCSD (Worldwide Business Council for Sustainable Development), OECD (Organization for Economic Co-operation and Development), SA 8000 (Social Accountability).
74
Setor Nome do
documento Pági-nas
Temas Referên-cias
Comentários
Trabalho infantil Estagiários / aprendizes
Discri-mina-ção
Tra-ba-lho força-do
Horas de trabalho
Liberda-de de associa-ção
Abuso e assédio
Meio ambien-te
Saúde e segurança
Audito-rias
Ações correti-vas
Bens de consumo, tecidos, roupas
Levis Levi Strauss & Co. Global Sourcing and Operating Guidelines (GSOG)
3 Idade superior a 15 anos ou idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória
60 horas/ semana, pelo menos 1 dia de repouso a cada 7 dias
UN, UDHR, ILO
Documento breve e sintético, muitas referências ao TOE - (Terms of Engagement)
Bens de consumo, tecidos, roupas
Levis Terms of engagement Guidebook (TOE)
70 Idade superior a 15 anos ou idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória
Não mais do que 60 horas/semana (48 horas regulares + 12 horas-extras), média de 1 dia de repouso a cada 7 dias
A cada capítulo, tabelas com exemplos de não-conformidades e ações corretivas
UN, UDHR, ILO
Detalhado, interface/apresentação atrativa, documento baseado em trabalhos com ONGs e na experiência da empresa. Contem exemplos de parcerias que funcionaram
Roupas Gap Gap Inc. Code of conduct
4 14 anos ou idade mínima exigida pela lei (a que for maior)
Programas de trabalho e estudo
Não mais do que 60 horas/semana, pelo menos 1 dia de repouso a cada 7 dias
Breve menção no capítulo “Factory”
UN, UDHR, ILO -
Extremamente prescritivo.
Tecnolo-gia, microcomputadores
A-pple
Apple Supplier code of conduct
6 Maior idade entre as seguintes: 15 anos, idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória, idade mínima permitida por lei
Superior a idade mínima, inferior a 18 anos
Um dia de repouso a cada 7 dias
Auto-avaliações e/ou monitores externos podem visitar o local
ILO, UDHR, SAI, ETI, ISO 14000, EMAS, OHSAS 18001
Bem dividido em capítulos. Menção a sistemas de gestão para garantir conformidade ao código. Prescritivo.
Tecnologi-a, redes, acessórios, comunica-ção
Cisco Cisco Supplier code of conduct
11 Maior idade entre as seguintes: 15 anos (ou 14 anos se permitido por lei), idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória, idade mínima permitida por lei
- Não mais do que 60 horas/semana (incluindo horas-extras), exceto em situações não usuais ou de emergência. Pelo menos um dia de repouso a cada 7 dias
Auto-avalia-ções periódi-cas, docu-mentos devem ser apresen-tados para compro-
UDHR, SAI, ETI
Adoção do EICC (Eletronic industry code of conduct). Prescritivo.
vação da confor-midade
Cosméticos
Body Shop
The Body Shop code of conduct for suppliers
2 Sem menção a uma idade específica,referência ao programa da ETI
- 48 horas/semana, média de 1 dia de repouso a cada 7 dias
Saúde e higiene
Convenções da ILO
Prescritivo. Adoção do código da ETI
Artigos esportivos
Nike Nike code of conduct
1 Idade superior a 18 anos para produção de calçados. Idade superior a 16 anos para produção de roupas e acessórios. 15 anos para outros casos
- - Não mais do que 60 horas/semana, um dia de repouso a cada 7 dias
- - - Tradução em 19 idiomas. Código incompleto
Bens de consumo, alimenta-ção, higiene pessoal
P&G Sustainabili-ty Guidelines for supplier relations
12 15 anos ou idade estipulada pela lei local
- Tema citado, mas sem maiores precisões
- - Apresentação atrativa. Código generalista. Apresentação dos valores da empresa. Contem carta do CEO.
Bens de consumo, higiene pessoal, alimentação
Unile-ver
Business Partner code
1 Tema citado, mas sem precisões
- - Tema citado, mas sem maiores precisões
Colabo-ração com fornece-dores para ajudá-los a construir compe-tências, para benefí-cios mútuos
Conveções da OIT p/ trabalho infantil
Documento sintético. Valor contratual (assinatura dos fornecedores é requerida). Iniciativa para elaboração de um código em parceria com outras empresas.
Higiene pessoal, farmácia,
Jonh-son & Jonh-son
Standards for Responsi-ble External Manufacturing
3 Empregados com idade superior a 16 anos
- Tema citado, mas sem maiores precisões
Mencionado no capítulo “Mana-gement systems”
- Documento sintético
Móveis, acessórios para casa
IKE-A
Ikea IWAY 10 15 anos ou idade estipulada pela lei local
- Não mais do que 60 horas/semana (48 horas regulares + 12 horas-extras), pelo menos 1 dia de repouso a cada 7 dias
Capítulo sobre poluição das águas e poluição sonora
Melho-ria contínua
Lista completa de referências úteis na primeira página do código
Excelente compromisso entre extensão/nível de detalhes. Sumário e referências internacionais na primeira página
Tabela 8 - Síntese do benchmark dos principais documentos éticos privados consultados
76
A diversidade de documentos consultados serviu como base de reflexão para a
determinação não apenas do escopo e do conteúdo do código de conduta, mas também do seu
modo de apresentação.
As questões que decorreram do benchmark são questões-chave sobre a estrutura do
documento ético a ser elaborado para os fornecedores. Elas foram levantadas pela autora e
serviram como objeto de reflexão em reuniões que contaram com a participação dos membros
do departamento de Avaliação da Performance dos Fornecedores. Em um momento
posterior, estas mesmas questões foram levantadas e discutidas em reunião junto à diretoria
do grupo L’Oreál. As reflexões provocadas pela discussão destas questões foram importantes
para o direcionamento do projeto. As questões são as seguintes:
- O código de conduta ético destinado aos fornecedores do grupo L’Oréal deve ser
um documento sintético e simples, com apenas uma página (como o caso do código da Nike),
ou ele deve ser um documento mais preciso, extenso e elaborado (como o caso do TOE –
Terms of Engagement – elaborado pela Levis?
- Qual deve ser o nível de detalhe das informações fornecidas? Por exemplo, o
código deve precisar o peso máximo que um trabalhador pode carregar no exercício de suas
funções, ou, de forma mais genérica e abrangente, mencionar que o fator ergonomia deve ser
levado em consideração no estabelecimento dos procedimentos de trabalho?
- O documento deve se focalizar na transmissão dos valores da empresa e se ater a
princípios genéricos (como é o caso da Procter & Gamble), ou deve ser preciso sobre os
padrões exigidos (como por exemplo, a Apple)?
- Porque não adotar um código de conduta já elaborado por uma instituição
internacionalmente reconhecida na área de responsabilidade sócio-ambiental? O grupo
BodyShop o fez ao adotar o código ético elaborado pela ETI (Ethical Trading Initiative).
- Seria possível iniciar um movimento conjunto das empresas que se destacam no
setor de cosméticos? As empresas do setor de eletrônica elaboraram o EICC (Electronic
industry code of conduct), adotado por mais de 25 empresas, dentre elas Adobe, Dell, IBM,
HP, Kodak, Phillips, Microsoft, Sony, Xerox, etc. Da mesma forma, grandes varejistas do
mercado mundial, tais como Carrefour, Metro, Tesco e Wall Mart, juntaram seus esforços
77
para elaborarem um código de conduta comum, conhecido como o GSCP (Global Social
Compliance Programme). Este documento se encontra em curso de elaboração1.
- Será que o documento deve se restringir a uma lista de padrões a serem
respeitados pelos fornecedores da L’Oréal, ou ele deve abranger também exemplos de boas
práticas na área sócio-ambiental e de meios que podem ser utilizados para lograr o
cumprimento dos padrões exigidos? (Não se restringir ao “o quê”, mas também abordar o
“como”). A empresa Adidas, por exemplo, elaborou um guia extremamente completo com
diversas fotos e exemplos de medidas a serem tomadas dentro do ambiente de trabalho de
uma indústria visando o respeito dos padrões laborais.
- Seria útil incluir no código uma lista de referências internacionais que serviriam
como fonte de informação suplementar para os fornecedores que desejam ir além dos padrões
básicos? Esta foi uma idéia implementada pela empresa sueca IKEA, considerada pela revista
“Ethisphere Magazine” como a empresa mais ética do ano de 2007.
- Qual é o tipo de linguagem a ser adotado? O código deve conter uma linguagem
mais técnica, ou deve-se privilegiar uma linguagem simples e acessível? A linguagem adotada
deve ser prescritiva (como por exemplos nos códigos da Gap e da ETI) ou uma linguagem
baseada em recomendações e voltada para o compartilhamento de informações e benefícios
mútuos?
- Quem serão os leitores do documento final? Os diretores, gerentes ou
trabalhadores das empresas fornecedoras?
- Qual deve ser a interface do documento? Ele deve ser composto exclusivamente
por um texto (como os documentos da GAP, ETI, Apple, Johnson & Johnson), ou ele deve ter
um formato mais atrativo enriquecido por fotos, ilustrações e diagramas? Pode-se considerar a
elaboração de uma plataforma interativa publicada na Internet, no website do grupo L’Oréal.
- O código deve possuir um caráter contratual (assinatura obrigatória) ou apenas
informativo dentro do contexto do programa das auditorias sociais? As empresas AXA e
Unilever, por exemplo, conferem um caráter contratual a seus códigos de conduta destinados
a seus colaboradores externos.
- Qual deve ser o nome do documento? Ele deve simplesmente ser chamado de
“Código de conduta”, ou deveria o seu nome incluir os conceitos de parceria,
responsabilidade, sustentabilidade e ética? Seguem abaixo alguns exemplos encontrados:
1 Informação obtida através da empresa Intertek, em 15/05/2007.
78
Supplier Code of Conduct (Nike, Apple, Cisco, Body Shop)
Business Partner Code (Unilever)
Sustainability guidelines for suppliers’ relations (P&G)
Standards for Responsible External Manufacturing (J&J)
Terms of Engagement Guidebook (Levis)
Global sourcing and Operating guidelines (Levis)
4.5. Busca de critérios operacionais para avaliação da responsabilidade
sócio-ambiental
A definição do conteúdo do código de conduta exigiu a consulta de inúmeras
referências e documentos sobre a temática da responsabilidade ambiental. Afinal, o código de
conduta é um documento que carrega o nome do grupo L’Oréal e que deve ser construído
sobre uma base concreta de referencias reconhecidas.
Ao final da realização deste trabalho, os documentos recolhidos e consultados ao
longo da missão foram organizados e reunidos, dando origem a uma pequena biblioteca sobre
o tema responsabilidade sócio-ambiental, colocada a disposição dos funcionários da L’Oréal.
O objetivo desta iniciativa é o de capitalizar os conhecimentos adquiridos, disponibilizar uma
fonte de informação sobre as questões sócio-ambientais e os padrões laborais, além de incitar
o interesse dos colaboradores internos a estes assuntos de grande importância no mundo atual.
O objetivo deste capítulo não é o de apresentar uma lista exaustiva das referências
internacionais e normas sobre o assunto. Ele visa descrever brevemente os documentos que
contribuíram de forma substancial à definição do conteúdo e dos critérios operacionais do
código de conduta e o valor agregado por cada um destes documentos.
A contribuição desta seção do trabalho não deve ser confundida com a
contribuição do capítulo “Referências Bibliográficas”. Este último traz à tona um
embasamento teórico que define conceitos utilizados no desenvolvimento do trabalho,
explicando o que é a responsabilidade social e ambiental e qual é o seu papel e a sua
relevância dentro das empresas no contexto econômico atual. A presente seção, por sua vez,
traz referências que foram importantes para a definição dos critérios operacionais de avaliação
do desempenho das empresas na área sócio-ambiental. Sendo assim, ela traz referências que
79
procuram responder às seguintes questões: quais são os temas e critérios que devem ser
concretamente incluídos no código de conduta (por exemplo, governança, saúde e segurança
no trabalho, direitos trabalhistas, liberdade de associação, ética e corrupção, uso de animais
para testes em laboratórios)? Quais os temas pertinentes? Como classificar estes temas e
agrupá-los em capítulos? Como avaliar o desempenho do fornecedor em cada um dos
assuntos abordados?
Desta forma, esta etapa de consultas a referências resultou na catalogação e
compilação de temas e critérios operacionais a serem incluídos no código de conduta. A
seguir, são apresentadas as principais referências utilizadas, assim como a contribuição destas
referências.
4.5.1. Referências Internacionais
4.5.1.1. Pacto Mundial
O Pacto Mundial (ou Global), do inglês “Global Compact”, é resultado de um
convite efetuado ao setor privado pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para
que juntamente com algumas agências das Nações Unidas e atores sociais, contribuísse para
avançar a prática da responsabilidade social corporativa, na busca de uma economia global
mais sustentável e inclusiva. As agências das Nações Unidas envolvidas com o Pacto Global
são o Alto Comissariado para Direitos Humanos, Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD)
Esta iniciativa, lançada em setembro de 2000, contava na época com cerca de 50
companhias conscientes da responsabilidade que tem o setor privado na promoção da
responsabilidade social corporativa. Atualmente, o Pacto Mundial é composto por mais de 3
mil empresas de 116 países, dentre as quais 55% são grandes companhias2.
2 Fonte: <http://www.pactoglobal.org.br>, acesso em 5 maio 2007.
80
O objetivo do Pacto Mundial é encorajar o alinhamento das políticas e práticas
empresariais com os valores e os objetivos aplicáveis internacionalmente e universalmente
acordados. Estes valores principais foram separados em dez princípios-chave, nas áreas de
direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção.
Princípios de Direitos Humanos 1. Respeitar e proteger os direitos humanos; 2. Impedir violações de direitos humanos;
Princípios de Direitos do Trabalho 3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho; 4. Abolir o trabalho forçado; 5. Abolir o trabalho infantil; 6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho;
Princípios de Proteção Ambiental 7. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; 8. Promover a responsabilidade ambiental; 9. Encorajar tecnologias que não agridem o meio ambiente.
Princípio contra a Corrupção 10. Combater a corrupção em todas as suas formas inclusive extorsão e propina.
Tabela 9 - O pacto mundial e seus princípios
Fonte: <http://www.pactoglobal.org.br/>. Acesso em: 5 maio 2007.
A L’Oreál é signatária desta iniciativa. Vale lembrar que a adesão das empresas ao
Pacto Mundial possui caráter voluntário. Desta forma, o Pacto Mundial não é um instrumento
regulatório, um código de conduta legalmente obrigatório ou um fórum para policiar as
políticas e práticas gerenciais. Também não é um porto seguro para as empresas participarem
sem demonstrarem real envolvimento e resultados. Trata-se de uma iniciativa voluntária que
procura fornecer uma estrutura global para a promoção do crescimento sustentável e da
cidadania, através de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras.
Concretamente, o Pacto Mundial contribuiu à realização do presente projeto pois
ele forneceu os princípios diretores que serviram de guia para a elaboração do código de
conduta. Desta forma, o código de conduta engloba o respeito aos direitos trabalhistas e os
princípios de proteção ambiental. O princípio contra a corrupção foi incluído em um capítulo
que faz referência à responsabilidade nos negócios (responsible behavior business- Ethics).
81
4.5.1.2. Os princípios diretores da OCDE destinados às empresas multinacionais
Os princípios diretores da OCDE - Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico - destinados às empresas nacionais (de 1976, revisados em
2000) contribuíram ao presente trabalho por meio de suas recomendações formuladas pelos
governos e destinadas às empresas multinacionais. Estas recomendações cobrem 9 áreas
relacionadas à conduta das empresas (princípios gerais, publicação de informações, emprego e
relações profissionais, meio-ambiente, luta contra a corrupção, interesses dos consumidores,
ciência e tecnologia, concorrência e fiscalização).
Apesar do caráter puramente voluntário da implementação destas recomendações
por parte das empresas, os Estados que aderiram a estes princípios têm o dever de promover e
auxiliar a implementação destes princípios nas empresas.
4.5.1.3. A declaração da OIT relativa aos princípios e diretos fundamentais no trabalho
A declaração da OIT relativa aos princípios e direitos fundamentais no trabalho
(1998) contribuiu ao projeto através das suas normas fundamentais de trabalho anunciadas nas
convenções da OIT. Esta declaração impõe aos Estados, mediante adesão, o respeito de 8
convenções fundamentais:
Convenção n° 87 sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical (1948)
ratificada por 142 Estados dentre 177 membros ;
Convenção n° 98 sobre o direito de organização e de negociação coletiva, (1949)
ratificada por 154 Estados dentre 177 membros ;
Convenção n° 29 sobre o trabalho forçado (1930), ratificada por 163 Estados
dentre 177 membros;
Convenção n° 105 sobre a abolição do trabalho forçado dos penitenciários (1957),
ratificada por 161 Estados sobre 177 membros ;
82
Convenção n° 138 sobre a idade mínima (1973), ratificada por 131 Estados dentre
177 membros ;
Convenção n° 182 sobre as piores formas de trabalho infantil (1999) ratificada por
147 Estados dentre 177 membros;
Convenção n° 100 sobre a igualdade de remuneração (1951) ratificada por 154
Estados dentre 177 membros ;
Convenção n° 111 sobre a discriminação (1958), ratificada por 159 Estados dentre
177 membros.
O caráter obrigatório da declaração da OIT para todos os Estados membros é uma
maneira de se fazer valer certas regras sociais, mesmo que a não-ratificação de muitos países
é uma realidade nos dias de hoje (veja anexo B).
Atualmente, o capítulo 4 das Condições Gerais de Compras e de Pagamentos da
L’Oréal exige que seus fornecedores respeitem as convenções acima mencionadas. No
entanto, este capítulo apenas menciona o número das convenções a serem respeitadas, não
explicando em detalhes qual os requisitos descritos nestas convenções. O código de conduta
trará as regras destas convenções incorporadas ao seu conteúdo.
4.5.2. Normas Internacionais
4.5.2.1. SA8000
Norma uniforme e auditável, a SA8000 é uma certificação publicada em 1998 e
desenvolvida pela SAI (Social Accountability International) que especifica uma série de
exigências na área de responsabilidade social. Seu objetivo é o de melhorar o ambiente de
trabalho e o de combater a exploração dos trabalhadores.
A SAI é um organismo sem fins lucrativos consagrado ao desenvolvimento, à
implementação e à vigilância de normas de responsabilidade social. Ela se compromete a
assegurar que as normas e o sistema de avaliação de conformidade de sejam acessíveis e
respeitados.
83
Concretamente, esta norma forneceu ao projeto uma base de critérios e de
padrões a serem requeridos nas seguintes áreas:
- Trabalho infantil ;
- Trabalho forçado ;
- Saúde e segurança ;
- Liberdade sindical e direito à negociação coletiva;
- Práticas disciplinares ;
- Tempo de trabalho ;
- Remuneração ;
- Sistema de gestão interna (política, comitê de direção, comunicação externa,
controle de fornecedores e de terceiros, capacidade de responder a inquietudes e de adotar
medidas corretivas, etc.)
4.5.2.2. ISO 14000 e EMAS (Eco Management & Audit System)
A norma ISO 14000, reconhecida mundialmente, e a norma EMAS, reconhecida
na Europa, constituem referenciais que permitem aos agentes sócio-econômicos avaliar suas
atividades face ao meio-ambiente, firmar seu compromisso face a esta temática e implementar
medidas voltadas para a proteção do meio-ambiente.
Concretamente, estas normas contribuíram para o projeto com uma série de
exigências relativas à elaboração, à implementação, à atualização e à avaliação de um sistema
de gestão ambiental.
As exigências ambientais retidas focam-se nos seguintes aspectos :
- Planificação (objetivos, alvos e programas);
- Aplicação e funcionamento (recursos, papéis, responsabilidade e autoridade,
competências, formação e sensibilização, comunicação, documentação, controle operacional e
resposta a situações de urgência).
- Controle (vigilância e mensuração, avaliação da conformidade, ações corretivas e
preventivas, controle dos registros, auditoria interna, revisão da direção)
84
4.5.2.3. Norma OHSAS 18001
A OHSAS 18001, que significa Occupational Health and Safety Assessment
Series, é uma especificação que fornece às organizações os elementos de um Sistema de
Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Lançada em 1999 e revisada em 2007, a
OHSAS 18001 especifica os requisitos para um sistema de gestão da SST, para permitir que
qualquer tipo de organização controle de forma mais eficaz seus riscos de acidentes e doenças
ocupacionais e melhore seu desempenho em SST.
As mudanças trazidas na versão de 2007 em relação à primeira versão de 1999
refletem a vasta utilização e experiência com a OHSAS 18001 em mais de 80 países, através
de cerca de 16.000 organizações certificadas3.
Uma das principais alterações na norma é a ênfase muito maior dada à saúde do
que somente à segurança, além da expressiva melhoria no alinhamento da nova norma à ISO
14001:2004 (para permitir às organizações o desenvolvimento de sistemas integrados de
gestão).
OHSAS 18001 contribuiu ao presente projeto com elementos dentro das seguintes
áreas:
- Planificação da identificação de perigos, avaliação e controle de riscos;
- Exigências legais e outras exigências.
No entanto, vale lembrar que esta norma não indica padrões de performance em
matéria de saúde e segurança, mas apenas exigências relativas ao sistema de gestão para se
atingir níveis satisfatórios de saúde e segurança.
4.5.3. Referências Internas
4.5.3.1. Regulamento ético do grupo L’Oréal
3 Fonte: Publicação do QSP - Centro de Qualidade, Segurança e Produtividade, disponível em <http://www.qsp.org.br/manual_sst.shtml>. Acesso em 15 junho 2007.
85
Voltado para os colaboradores internos da L’Oréal, este documento lista os valores
e diretrizes que orientaram o desenvolvimento do grupo e contribuíram para a formação de
sua reputação de mais de um século. Os funcionários da L’Oréal devem se comprometer a
agir em coerência com estes valores fundamentais e continuar a transmiti-los.
Evidentemente, este documento contribuiu com os princípios diretores que
permearam a elaboração do código de conduta para os fornecedores. Devido a uma questão
de legitimidade, o código ético interno do grupo L’Oréal constituiu a espinha dorsal do
documento elaborado para os fornecedores, dado que as exigências da L’Oréal em relação a
seus fornecedores não podem ser mais rígidas do que aquelas destinadas a seus próprios
colaboradores internos.
O conteúdo deste documento ético interno ao grupo é composto pelos seguintes
capítulos:
- Respeito do direito,
- Respeito à pessoa humana,
- Parceria com clientes, distribuidores e fornecedores,
- Princípios de lealdade e integridade.
4.5.3.2. Tabelas de avaliação dos fornecedores de matérias primas
Elaboradas pelo departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do grupo L’Oréal e
validadas pela Pricewaterhouse Coopers, estas tabelas permitem o mapeamento da situação
do fornecedor de matéria prima segundo uma escala de avaliação (Ação inexistente,
Compromisso, Implementação, Avaliação, Melhoramento). Os critérios avaliados nestas
tabelas são os seguintes:
- Governança,
- Responsabilidade social,
- Saúde e segurança,
- Meio-ambiente,
- Equidade nas relações comerciais,
- Direitos humanos,
- Empregabilidade e formação.
86
Atualmente, estas tabelas foram testadas em alguns fornecedores pilotos sob a
forma de uma ferramenta de auto-avaliação. Desta forma, estes fornecedores auto-avaliam sua
performance relativa a cada um dos critérios acima mencionados e enviam suas respostas ao
departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, que em seguida, trata os dados recebidos. Tais
respostas servem de base de diálogo entre a L’Oréal e estes fornecedores.
O departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da L’Oréal estabelece parcerias e
relações muito próximas com os fornecedores de matérias-primas na busca de novos
ingredientes, novas fórmulas e princípios ativos. Por este motivo, parte da equipe deste
departamento participou intensamente da elaboração do código de conduta aos fornecedores.
Maiores detalhes sobre o a contribuição prestada pelo departamento de P&D serão fornecidos
no capítulo 4.7 - Integração das particularidades dos fornecedores de matéria prima.
4.5.4. Critérios operacionais identificados
As consultas às referencias permitiram a identificação de uma série de critérios
operacionais em termos de responsabilidade sócio-ambiental. Os critérios retidos estão
listados na tabela abaixo:
A. Conformidade às leis aplicáveis e a regulamentos padrões
B. Padrões laborais B1 Trabalho infantil B2 Trabalho forçado e involuntário B3 Liberdade de associação e negociação coletiva B4 Não discriminação B5 Horas de trabalho B6 Salários e benefícios B7 Assédio e abuso C. Saúde e segurança C1 Ambiente de trabalho C2 Preparação para situações de emergência C3 Acidentes e doenças D. Meio ambiente D1 Sistema de gestão ambiental
87
D2 Programa preventivo contra poluição D3 Manuseio de materiais perigosos D4 Redução do uso de recursos D5 Emissões atmosféricas D5 Gestão de resíduos e efluentes D7 Proteção da biodiversidade E. Comportamento responsável do negócio E1 Anti-Corrupção E2 Justiça nos negócios F. Sistemas de gestão F1 Comprometimento e responsabilidade F2 Melhoria contínua
Tabela 10 - Critérios operacionais identificados
Fonte: elaborada pela autora
4.6. Definição dos níveis de desempenho
Após a definição dos critérios operacionais a serem incluídos no código de
conduta, definiram-se os níveis de desempenho exigidos para cada um dos critérios.
Alguns dos níveis de desempenho são facilmente quantificáveis. Este é o caso, por
exemplo, do trabalho infantil, onde a idade mínima admitida foi de 16 anos, mesmo em países
onde a legislação local estipule uma idade inferior. O critério horas de trabalho também pode
ser facilmente quantificado: em reunião com o departamento de recursos humanos,
estabeleceu-se que as horas de trabalho regular não poderiam exceder os limites de 8 horas
por dia e de 48 horas por semana. Em caso de horas extras, estas não podem ultrapassar o
limite de 12 horas por mês e devem ser de caráter voluntário. No entanto, outros critérios são
subjetivos e por isso, não podem ser quantificados. Este é o caso, por exemplo, do critério
Comprometimento e responsabilidade, que faz parte do capítulo F - Sistemas de gestão.
Para cada um dos critérios, desde os facilmente quantificáveis até os mais
subjetivos, os níveis de exigência foram definidos e explicados.
A definição dos níveis de desempenho baseou-se em dois pilares:
- a consulta a documentos e normas que forneceram informações sobre os padrões
internacionalmente reconhecidos (as principais referências consultadas foram detalhadas no
capítulo precedente);
88
- reuniões com gerentes e diretores da L’Oréal (por exemplo, do departamento de
recursos humanos, de saúde e segurança e de desenvolvimento sustentável) para se conhecer
os níveis de desempenho exigidos pela empresa e implementados dentro dela.
Os níveis de desempenho estabelecidos podem ser consultados no apêndice A, que
contém a versão atual do código de conduta.
4.7. Integração das particularidades dos fornecedores de matérias-
primas
Durante o desenvolvimento do projeto, o departamento de Pesquisa e
Desenvolvimento apresentou pontos significativos de desacordo em relação ao conteúdo do
código de conduta e à estrutura da plataforma de compartilhamento de informações com os
fornecedores. Este fato exigiu um grande trabalho em conjunto com este departamento, a fim
de adaptar o projeto às suas necessidades e reivindicações. Este seção traz maiores detalhes
sobre o trabalho desenvolvido junto ao departamento de P&D.
Dentro da L’Oréal, são dois os departamentos que estão constantemente em
contato com os fornecedores:
- o departamento de compras, em contato constante com todos os fornecedores do
grupo, possuindo uma visão global de toda a cadeia de suprimentos e dos diferentes perfis e
níveis de maturidade de cada uma das classes de fornecedores. Ao acompanhar a evolução da
performance dos fornecedores, o departamento de compras (sobretudo a divisão corporativa
deste departamento) prioriza uma abordagem voltada para as dimensões processos e
organização das empresas fornecedoras.
- o departamento de P&D, em contato constante com os fornecedores de matéria prima
para estabelecer parcerias com estes fornecedores objetivando o desenvolvimento de novos
produtos e de inovações nos processos produtivos. Em geral, os fornecedores de matérias-
primas orientados para a inovação são fornecedores considerados de excelência. Trata-se, na
maioria dos casos, de grandes empresas com as quais a L´Oréal tem grande interesse em
estabelecer uma relação perene a fim de garantir uma constante renovação e diferenciação de
seus produtos. Neste contexto, o departamento de P&D privilegia uma abordagem voltada
para os produtos das empresas fornecedores.
89
Algumas das peculiaridades relacionadas a estes fornecedores de matérias-primas
diferem de forma importante do universo dos demais fornecedores do grupo. Por exemplo,
este tipo de fornecedor é especialmente sensível a aspectos como implementação de uma
gestão ambiental eficiente, proteção da biodiversidade, fontes renováveis de energia,
bioacumulação4, biopirataria5 ou realização de testes com animais em laboratórios.
Fornecedores que possuem meios para investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento são em
geral grandes empresas estruturadas e que podem (e devem) destinar verbas para as
problemáticas aqui mencionadas. No entanto, estas preocupações são hoje pouco
desenvolvidas em uma parcela importante de fornecedores da L´Oréal, sobretudo em
empresas de pequeno e médio porte e empresas de mão de obra intensiva localizadas em
países em desenvolvimento.
Tais especificidades ligadas a estes fornecedores de matérias-primas motivaram o
departamento de P&D a desenvolver em 2005 seu próprio referencial de avaliação dos
fornecedores. Trata-se de uma tabela de avaliação validada pela Pricewaterhouse Coopers.
Esta tabela permite o mapeamento da situação atual dos fornecedores de matéria-prima
segundo uma escala de avaliação (ação inexistente, comprometimento, implementação,
avaliação, melhoria) no que diz respeito a critérios tais como :
- Governança e responsabilidade social das empresas
- Segurança, saúde e higiene
- Meio ambiente
- Eqüidade das relações comerciais
- Direitos humanos
- Empregabilidade e formação
4 Bioacumulação é o processo através do qual os seres vivos absorvem e retêm substâncias químicas no seu organismo. Este processo implica várias etapas na cadeia alimentar e diferentes tipos de alimentação. À medida que se sobe no nível trófico, maior será a quantidade de químicos acumulados no ser vivo uma vez que este, para além dos compostos que o seu organismo já absorveu, vai ainda concentrar os que provêm da alimentação. Verifica-se que nos animais predadores os valores de concentração são mais elevados que nos animais dos quais estes se alimentam. Inúmeros são os perigos que advêm para as gerações vindouras pois ao longo da vida uma mulher armazena certas substancias em seus tecidos e as libera, em parte, no momento da gravidez e da amamentação. 5 Exploração, manipulação, exportação e/ou comercialização internacional de recursos biológicos que contrariam as normas da Convenção sobre Diversidade Biológica, de 1992. O termo biopirataria, lançado em 1993 por uma ONG, procurava alertar sobre o fato que recursos biológicos e conhecimentos de comunidades tradicionais de agricultores ou indígenas estavam sendo apropriados e patenteados por empresas multinacionais e instituições científicas.
90
Esta tabela, que hoje é utilizada pelo departamento de P&D como uma ferramenta
de auto-avaliação dos fornecedores, serviu como uma fonte de informação importante para a
elaboração do código de conduta. Diversas dimensões listadas na tabela e que não faziam
parte do perímetro do código foram integradas ao documento mediante pedido da P&D.
Dentre eles destacamos a proteção da biodiversidade, a importância de um sistema de gestão
ambiental e a justiça e a equidade nas relações comerciais.
No entanto, muitas das dimensões presentes nesta tabela se revelam muito severas
quando se considera a cadeia de suprimentos da L´Oréal de uma forma global. Por este
motivo, alguns dos pedidos feitos pelo departamento de P&D reivindicando a inclusão de
certos assuntos no código de conduta, depois de discutidos em reuniões interdepartamentais
da L´Oréal, não foram considerados legítimos. Afinal, o código de conduta destina-se a todo o
conjunto de fornecedores do grupo, não se devendo priorizar as especificidades de uma
categoria de fornecedores em detrimento das demais.
Por trabalhar exclusivamente com fornecedores de excelência, o departamento de
P&D desenvolveu um método muito severo de avaliação de seus fornecedores. Estender este
mesmo método de avaliação para todos os demais fornecedores aniquilaria grande parte da
cadeia de suprimentos do grupo.
Diante das inúmeras reivindicações da equipe de P&D, diversas reuniões foram
realizadas com os colaboradores deste departamento com o intuito de se negociar e se
encontrar um equilíbrio no que diz respeito aos aspectos a serem incluídos no código de
conduta. Assuntos tais como bioacumulação e testes realizados em animais não entraram no
escopo do documento, pois são muito específicos e exigem um nível de maturidade quanto às
práticas ambientais ainda não atingido por grande parte dos fornecedores do grupo. Além
disso, a inclusão de assuntos como estes tornaria o código de conduta excessivamente longo e
técnico, o que contraria as diretrizes estabelecidas em reunião com a diretoria do grupo. Tais
assuntos podem (e devem) ser posteriormente retomados no momento da definição dos
requisitos que farão parte do documento Requisitos desejados e de excelência (que será
explicado mais adiante, no capítulo 5.1.3).
Outro aspecto evocado durante estas reuniões diz respeito à forma de difusão do
código de conduta e dos outros documentos que constituirão a plataforma de
compartilhamento de informações com os fornecedores.
O departamento de P&D reivindicou a difusão do código de conduta sob a forma
de uma ferramenta de auto-avaliação, forma já utilizada pelo departamento na difusão da sua
tabela de avaliação dos fornecedores de matéria prima. Ou seja, os fornecedores deveriam
91
identificar o seu nível de conformidade a cada um dos quesitos exigidos e em seguida
transmitir estas informações à L´Oréal sob a forma de uma tabela. A empresa AXA, grupo
multinacional atuante na área de serviços de seguros, previdência, poupança e transmissão de
patrimônio, também adota esta metodologia para a difusão do “The sustainable development
procurement toolbox”, código de conduta ética e responsável elaborado pela empresa e
destinado a seus fornecedores. Tal procedimento permite uma verdadeira troca de
informações e diálogo com os fornecedores, possibilitando a compreensão de suas
necessidades e um melhor acompanhamento do seu processo de evolução. Em contrapartida,
dada a magnitude do número de fornecedores afetados pelo projeto da L’Oréal (cerca de 3000
fornecedores), este procedimento exigiria grandes esforços e investimentos na criação e
capacitação de uma estrutura capaz de receber e processar as informações recebidas, tornando
o projeto inviável.
O departamento de compras defendeu a difusão do código sob a forma de um
documento informativo a ser consultado pelos fornecedores, transmitindo-lhes os quesitos
internacionais e aqueles exigidos pela L´Oréal em termos de responsabilidade sócio-
ambiental, sensibilizando-os sobre a importância da temática da responsabilidade sócio-
ambiental no contexto mundial atual e sugerindo meios que levem a evolução da empresa
fornecedora nesta área.
Esta última foi a forma de difusão escolhida devido às seguintes razões :
- A auto-avaliação pode não ser representativa da real situação do fornecedor. De
fato, há fornecedores que não ousariam assinalar uma não conformidade à L´Oréal por receio
de punição.
- Os fornecedores possuem diversos outros clientes que solicitam o preenchimento
de inúmeros formulários, questionários, enquetes, etc. A multiplicação deste tipo de iniciativa
aumenta a carga de trabalho dos fornecedores.
- O trabalho de coleta e de análise das respostas dos fornecedores implica em uma
carga enorme de esforços e investimentos para o grupo L´Oréal para a criação e a manutenção
de uma estrutura capaz de assegurar a gestão e a capitalização das informações recebidas.
- A implementação desta auto-avaliação acarretaria em um atraso significativo
para a validação e a implementação do projeto de elaboração do código de conduta .
Em resumo, as diversas reuniões de trabalho feitas com os colaboradores da
equipe de P&D trouxeram os seguintes aspectos positivos para o projeto :
- Um código de conduta mais completo, principalmente no que diz respeito aos
aspectos de responsabilidade ambiental. Anteriormente à intervenção deste departamento, o
92
projeto estava mais orientado para uma abordagem social. A primeira versão do código de
conduta apresentava quesitos sociais bem explicados e detalhados, enquanto os aspectos
ambientais, alem de presentes em menor numero, eram abordados de forma mais superficial.
- A utilização de fontes bibliográficas anteriormente não consultadas, tais como a
Convenção sobre a Diversidade Biológica (UNEP 1995), a Washington Convention on
International Trade in Endangered Species of faune and flora (CITES 1973), a UICN World
conservation Union Red list of threatened species (UICN), a Stockholm Convention on
Persistant Organic Pollutants (2001), a Convention on Long-Range Transboundary Air
Pollution (1979) e a Basel Convention of the control of transboundary movements of
harzadous wastes and disposal (1992).
4.8. Coleta, compilação e análise de dados de campo através de consultas a
fornecedores, compradores e auditores
4.8.1. Consulta aos fornecedores
Uma etapa importante para a elaboração do código de conduta para os
fornecedores foi a consulta aos próprios fornecedores, para identificação de suas
necessidades, opiniões e dificuldades encontradas dentro do contexto do programa de
auditorias sociais e de gestão sócio-ambiental em suas empresas.
A consulta aos fornecedores se concretizou via o envio de um questionário a todos
os fornecedores do grupo que já haviam participado de pelo menos uma auditoria social
encomendada pela L’Oréal nos anos de 2006 e 20076, totalizando 580 formulários enviados.
O objetivo principal do envio destes formulários foi a coleta de informações para a
elaboração do código de conduta. No entanto, aproveitou-se esta oportunidade de contato
direto com os fornecedores para se atender a outros dois objetivos:
- Coleta de informações para aprimoramento do programa de auditorias sociais
6 Para os fornecedores auditados em 2007, foram considerados apenas os fornecedores auditados antes do mês de maio, mês em que os formulários foram enviados.
93
- Coleta de informações para avaliação da prestação de serviços da empresa
Intertek, terceiro responsável pela realização das auditorias nas fábricas dos fornecedores.
Através da análise das respostas recebidas, foi possível compreender como os
fornecedores vivenciaram a auditoria social e conhecer a opinião deles sobre as informações
por eles recebidas durante o processo de auditoria social, conhecer suas necessidades e os
impactos deste programa em seus negócios.
4.8.2. A elaboração do questionário destinado aos fornecedores
A elaboração, difusão e análise das respostas recebidas constituíram um sub-
projeto significativo e relativamente longo dentro da missão da autora no grupo L’Oréal.
O primeiro passo para a elaboração do formulário foi uma sessão de brainstorming
organizada pela autora, que contou com a participação de sua tutora e de uma outra integrante
do departamento Performance dos Fornecedores. O objetivo era o de se repertoriar as
questões que poderiam fazer parte do questionário. As questões deveriam ser capazes de
extrair o máximo de informações e de incitar o fornecedor a se lembrar dos aspectos que lhe
foram especialmente críticos durante todo o processo de auditoria social, desde a fase do
contato prévio com a empresa Intertek para agendamento da auditoria, até a verificação da
implementação do plano de ações corretivas em caso de detecção de irregularidades durante a
auditoria.
As questões selecionadas foram organizadas pela autora em uma primeira versão
do formulário, composta por três páginas. No entanto, esta versão foi modificada diversas
vezes, até que se chegasse a uma versão que não ultrapassasse uma página. Um questionário
longo poderia desmotivar o fornecedor a respondê-lo. Uma versão final foi então aprovada
pela responsável do departamento corporativo de compras antes da difusão do questionário. A
versão final deste questionário destinado aos fornecedores se encontra no apêndice B.
O principal canal utilizado para a difusão do documento foi o correio eletrônico.
Dos 580 fornecedores contatados, 131 responderam às perguntas, o que resulta em uma taxa
de retorno de 23%.
A síntese das respostas obtidas será apresentada adiante, na seção 4.8.4.
94
4.8.3. Consulta aos compradores
Além dos próprios fornecedores, os compradores da L’Oréal também foram
consultados, pois estes são os agentes da empresa que mais conhecem os fornecedores e que
acompanham continuamente suas evoluções.
Os compradores baseados nas fábricas do grupo L’Oréal são os responsáveis pelo
envio aos fornecedores do pedido de comprometimento ao programa de auditorias sociais
(trata-se de um documento que deve ser assinado pelo fornecedor atestando sua aprovação ao
programa). São também os compradores que encaminham à Intertek o pedido de realização da
auditoria. Esta implicação e participação dos compradores no programa de auditorias sociais é
considerada pelo grupo L’Oréal como uma das grandes forças do programa. Afinal, as
pessoas que transferem os pedidos de compra aos fornecedores (ou seja, os compradores) são
as mesmas pessoas que encomendam as auditorias sociais à Intertek. A implicação dos
compradores neste processo os estimula a considerar os resultados das auditorias sociais como
um fator importante no momento da decisão sobre qual será o fornecedor ganhador de um
determinado pedido. É deste fato que resulta o verdadeiro impacto do programa de auditorias
sociais dentro da cadeia de suprimentos do grupo.
Dado a grande implicação dos compradores no programa de auditorias sociais da
L’Oréal e o seu contato regular com os fornecedores do grupo, eles constituem um grupo
importante de pessoas capazes de contribuir para a elaboração do código de conduta, para o
aprimoramento do programa e para a validação da prestação de serviços da Intertek.
Desta forma, um questionário destinado aos compradores foi elaborado com o
intuito de se viabilizar a coleta de opiniões dos mesmos. Para tanto, foram seguidas as
mesmas etapas utilizadas no momento da elaboração do questionário para os fornecedores. A
versão final do questionário enviado encontra-se no apêndice C.
117 compradores receberam este formulário. Destes, 40 enviaram suas respostas,
ou seja, 34%.
95
4.8.4. Síntese das respostas recebidas
Esta seção apresenta uma síntese integrada das respostas recebidas por parte dos
fornecedores e dos compradores da L’Oréal. Dada a convergência das respostas destes dois
grupos, elas serão apresentadas conjuntamente.
Esta convergência se deve principalmente ao fato de os fornecedores transmitirem
com freqüência aos compradores as suas impressões e opiniões relacionadas às auditorias
sociais. O envio destes formulários constituiu por sua vez uma ocasião para que estas
informações fossem transmitidas ao departamento corporativo de compras.
Por solicitação da empresa, o resultado bruto da análise quantitativa das respostas
recebidas não será divulgado na íntegra. As conclusões aqui apresentadas são
fundamentalmente resultado da análise quantitativa e qualitativa das respostas recebidas.
Dentre os fornecedores consultados, cerca de 20% não se mostraram satisfeitos
quanto ao nível de informações recebidas da L’Oréal e da Intertek durante as diferentes etapas
do programa de auditorias sociais. Veja o gráfico abaixo, que retrata o nível de satisfação dos
fornecedores no que diz respeito às informações recebidas antes, durante e após a realização
da auditoria social.
Figura 11 - Satisfação dos fornecedores em relação ao nível de informações recebidas em diferentes etapas do programa de auditorias sociais
Fonte: elaborado pela autora
96
Outros aspectos identificados nas respostas recebidas foram os seguintes:
a) Os fornecedores desejam ser informados com antecedência sobre os padrões
exigidos pela L’Oréal e verificados durante as auditorias. No geral, os momentos que seguem
a chegada do auditor no local da auditoria são momentos de apreensão e inquietude para os
fornecedores, que não sabem o que esperar do desenrolar da auditoria.
b) As ferramentas de comunicação sobre o processo das auditorias não são
adequadas. Por ferramentas de comunicação entendem-se os documentos padronizados
enviados aos fornecedores para informar-lhes sobre a realização da auditoria e sobre o
resultado obtido após a auditoria. As inadequações referem-se à falta de informações
consideradas importantes pelos fornecedores (por exemplo, a quem se deve enviar a
comprovação da implementação do plano de ações corretivas), à linguagem utilizada
(considerada excessivamente prescritiva) e ao idioma utilizado (alguns documentos foram
traduzidos em 5 línguas, mas outros só estão disponíveis em inglês e em francês).
d) Os compradores necessitam de maior formação sobre argumentos que podem
ser utilizados para convencer o fornecedor a se comprometer com o programa de auditorias
sociais.
e) O grau de gravidade das irregularidades é comunicado tardiamente. De fato, a
gravidade das irregularidades encontradas é comunicada apenas no relatório final da auditoria,
enviado ao fornecedor dias após a realização da auditoria.
f) o processo de acompanhamento após a realização da auditoria é excessivamente
longo (por exemplo, o intervalo entre a auditoria inicial e a auditoria de acompanhamento é
muito longo) e as regras de validação das medidas corretivas não são bem definidas.
g) A auditoria social é, no geral, percebida pelo fornecedor como uma
oportunidade para melhorar as condições sociais de sua fábrica.
h) A performance dos auditores da Intertek quanto aos quesitos profissionalismo,
nível de conhecimento, capacidade de escuta e imparcialidade foram considerados
satisfatórios.
Dentre os aspectos citados, os quatro primeiros confirmam a importância do
desenvolvimento do código de conduta e da plataforma de compartilhamento de informações
com os fornecedores.
97
4.8.5. Consulta aos auditores
Os auditores, agentes importantes no processo de auditoria social, também foram
consultados durante o processo de elaboração do código de conduta e de busca do
aprimoramento do programa de auditorias sociais.
O contato com os auditores ocorreu durante uma semana de formação organizada
pela empresa Intertek para os seus auditores que trabalhavam no programa da L’Oréal. A
participação da autora a esta formação possibilitou a familiarização com as principais
dificuldades encontradas pelos auditores e fornecedores no momento da realização da
auditoria.
Os principais aspectos constatados foram os seguintes:
- O fornecedor encontra-se freqüentemente inquieto e ansioso no momento da
chegada do auditor dado que sua empresa será colocada à prova durante a auditoria. Esta
inquietude se deve principalmente ao não conhecimento por parte do fornecedor dos critérios
que serão avaliados e dos padrões exigidos. Isto pode se traduzir por uma acolhida hostil por
parte da empresa auditada. Sendo assim, muito tempo (cerca de uma hora, segundo os
auditores) e energia do auditor são consumidos para tranqüilizar o fornecedor e fornecer-lhe
informações sobre o desenrolar da auditoria, sobre os critérios avaliados e os modos de
avaliação. A economia deste tempo, viabilizada pelo fornecimento prévio destas informações
aos fornecedores, seria preciosa para que a auditoria fosse feita com mais calma e para
diminuir o número de auditorias que terminam após o horário previsto.
- Os auditores necessitam de documentos de suporte para facilitar sua
comunicação com os fornecedores, sobretudo no que diz respeito às explicações sobre o
processo da auditoria e sobre os aspectos verificados. Esta necessidade leva alguns auditores a
apresentarem aos fornecedores no inicio da auditoria, por iniciativa própria, documentos tais
como o relatório de desenvolvimento sustentável publicado pela L’Oréal, as condições gerais
de compras e pagamentos e o regulamento ético da L’Oréal. Na verdade, este regulamento
ético é um documento destinado exclusivamente aos funcionários da L’Oréal, e não deveria
ser divulgado fora da empresa. Os auditores foram orientados a não mais divulgarem este
documento.
- Os auditores da Intertek representam o nome e os valores da L’Oréal diante das
empresas auditadas. Quando reportado à funcionária da L’Oréal responsável pelo programa
de auditorias sociais este fato foi encarado com surpresa. Até então, acreditava-se que os
98
auditores representassem o nome e os valores da empresa Intertek diante dos fornecedores.
No entanto, ao se apresentarem aos fornecedores no inicio da auditoria como agentes que
vieram realizar uma auditoria encomendada pela L’Oréal, os auditores passam a veicular a
imagem do grupo. Isto traduz a importância de se formar cuidadosamente os auditores e de
muni-los com boas ferramentas de comunicação.
4.9. Validação do projeto pela diretoria da empresa
Valores corporativos e ética nos negócios são questões que envolvem governança.
Por este motivo, a elaboração do código de conduta deve contar com o comprometimento e o
entusiasmo da diretoria da empresa. Os diretores devem ser regularmente informados sobre o
desenvolvimento do projeto. Por isso, durante o desenvolvimento do projeto, foram realizadas
duas reuniões de apresentação e discussão do trabalho com a diretoria.
Estavam presentes a estas reuniões: a diretora de compras da L’Oréal, o
responsável pelo departamento de desenvolvimento sustentável do grupo L’Oréal, o
responsável pelo departamento de gestão dos objetos promocionais, o diretor do departamento
de P&D, dois colaboradores da equipe de P&D, a responsável pelo programa de auditorias
sociais internas realizadas nas fábricas da L’Oréal, o responsável EHS (Environment, Health
and Safety) da L’Oréal, o diretor das centrais de distribuição da L’Oréal, a diretora de
responsabilidade social da marca BodyShop, um representante da empresa Intertek (empresa
terceirizada responsável pela execução das auditorias sociais), assim como a tutora da autora
dentro da empresa, responsável pelas auditorias sociais realizadas em toda a supply chain do
grupo.
O objetivo destas apresentações foi a validação do projeto assim como a coleta de
opiniões e críticas construtivas sobre os documentos desenvolvidos e formalmente
apresentados, de forma a enriquecê-lo e completá-los. Os comentários coletados foram
analisados e integrados ao projeto.
Na primeira reunião, validou-se:
- a elaboração de um código de conduta único para todos os fornecedores do
grupo;
99
- a elaboração de uma plataforma de compartilhamento de informações mais
ampla, composta por 5 documentos que serão descritos no capítulo 5.2.
Durante esta primeira reunião, foram apresentadas e discutidas as questões
levantadas no momento da execução do benchmark de documentos éticos elaborados por
outras empresas, estabelecendo-se as diretrizes que nortearam o projeto.
Na segunda reunião, foi apresentado o código de conduta elaborado. Após as
reuniões, a autora assegurou o trabalho de coleta, análise e síntese dos comentários sobre o
documento apresentado e fornecido durante a reunião. Os comentários coletados, que
serviram para o aperfeiçoamento da versão apresentada, referiam-se principalmente aos
seguintes aspectos:
- a pertinência de certos capítulos, como por exemplo a seção relacionada a testes
em animais, assunto delicado e que pode prejudicar a imagem do grupo. Este assunto foi
excluído do escopo do código de conduta.
- a legitimidade de certos requisitos exigidos, por exemplo a imposição de uma
duração máxima de 8 horas da jornada de trabalho e a obrigação de no mínimo um dia de
repouso a cada sete dias. Este último padrão foi considerado muito severo, e por isso, optou-
se por exigir uma média de pelo menos um dia de repouso por semana.
- a linguagem utilizada. Grande parte dos leitores do código de conduta sugeriu a
utilização de uma linguagem mais acessível e menos técnica. Para tanto, decidiu-se que após
o termino da elaboração do código de conduta, com o escopo e o conteúdo já definidos, o
texto será revisado por uma agência de comunicação chamada Sancroft. Esta é a agência
responsável pela revisão e tradução dos relatórios anuais e relatórios de desenvolvimento
sustentável publicados pelo grupo.
Tais reuniões constituíram um grande desafio para a autora, que há pouco tempo
dentro do grupo, se confrontou a membros da diretoria com dezenas de anos de experiência
no grupo para apresentar-lhes um novo assunto.
A minuta da segunda reunião pode ser encontrada no apêndice D.
100
101
5. RESULTADOS DO TRABALHO
5.1. Plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores
A análise das referências internacionais e sobretudo o benchmark dos documentos
éticos publicados por outras empresas revelaram que não existe um modelo padrão que
caracterize os códigos de conduta das empresas. A sua elaboração pressupõe uma reflexão
sobre os valores da empresa e de sua estrutura organizacional. O código de conduta necessita
de customização para poder responder às necessidades da empresa em questão.
A grande diversidade dos documentos consultados fez o projeto evoluir: o
perímetro de atuação, até então focado na elaboração de um código de conduta responsável
com padrões a serem respeitados pelos fornecedores do grupo, passou a englobar a concepção
de uma plataforma mais ampla de compartilhamento de informações com os fornecedores. O
código de conduta, se não acompanhado de uma plataforma mais robusta de informações, não
seria capaz de cobrir os seguintes objetivos propostos:
- Sensibilizar o fornecedor sobre a importância dos aspectos sócio-ambientais;
- Aumentar o seu nível de conhecimento do fornecedor sobre os padrões
internacionais em termos de responsabilidade social e ambiental,
- Ajudar o fornecedor a avaliar o seu desempenho atual quanto aos quesitos sociais
e ambientais necessários;
- Indicar ao fornecedor meios de como se adequar às boas práticas sociais e
ambientais e propor uma parceria para ajudá-lo a adotar medidas corretivas a eventuais
irregularidades ou dificuldades encontradas;
- Indicar aos fornecedores já conformes aos requisitos básicos formas de progredir
e melhorar ainda mais sua performance sócio-ambiental
Discussões realizadas entre os membros do departamento de Performance dos
Fornecedores revelaram que a elaboração de um código de conduta caracterizado pela
descrição dos requisitos básicos a serem respeitados em termos de práticas sócio-ambientais
não seria capaz de cobrir todos os objetivos acima mencionados. Tais requisitos, reunidos sob
102
a forma de um código de conduta, constituem uma parte chave do projeto, mas não podem
corresponder à sua totalidade.
Desta forma, todo o conhecimento acumulado no desenvolvimento do projeto
culminou na concepção de uma plataforma de compartilhamento de informações com os
fornecedores, que recebeu o nome de Business Partner Sustainability Tool Box, composta por
5 documentos
- Requisitos básicos (código de conduta)
- Valores-chave
- Requisitos desejados e de excelência.
- Metodologia
- Casos de boas práticas e de fracassos na área sócio ambiental.
Vale lembrar que a estrutura desta plataforma é o resultado de inúmeras discussões
e reflexões baseadas, sobretudo, na grande diversidade quanto à forma e ao conteúdo dos
documentos éticos analisados na fase de benchmark. Tal estrutura foi apresentada em reunião
a diretores, a membros de diversos departamentos da L’Oréal (recursos humanos, P&D,
compras, marketing, desenvolvimento de embalagens e gestão de objetos promocionais),
assim como a colaboradores externos (Sancroft - agência de comunicação e Intertek –
empresa terceirizada especializada na área de auditorias sociais). Os comentários, críticas e
sugestões destes atores, incorporadas à estrutura concebida pela autora, foram fundamentais
para o aprimoramento da mesma. Desta forma, a estrutura abaixo apresentada corresponde a
uma estrutura previamente validade pela direção do grupo L’Oréal.
Dentre os abaixo descritos, apenas o primeiro foi elaborado durante a missão da
autora no grupo L’Oréal. Os demais documentos concebidos como parte integrante da
plataforma de compartilhamento de informação com os fornecedores ainda se encontram em
uma fase de projeto e deverão ser elaborados em uma fase posterior.
A figura abaixo representa as cinco partes que compõem a estrutura concebida
pela autora. Cada uma destas partes será descrita a seguir.
103
Figura 12 - Plataforma de compartilhamento de informações, composta por 5 partes
Fonte: elaborado pela autora
5.1.1. Requisitos básicos
Trata-se de uma lista de requisitos básicos na área de responsabilidade sócio-
ambiental a serem respeitados pelos fornecedores do grupo. Ela corresponde ao código de
conduta descrito até o presente momento deste trabalho de formatura, parte fundamental da
missão da autora dentro do grupo L’Oréal. Este é o primeiro documento a ser elaborado
dentre os cinco documentos que constituem a plataforma. Sua elaboração constitui um
momento voltado para a reflexão sobre os padrões a serem requeridos, sobre o conteúdo e
detalhamento de cada um destes padrões e sobre seus impactos para os fornecedores. Sua
extensão será de aproximadamente dez páginas.
A versão integral deste documento, elaborado durante a missão da autora dentro do
grupo L’Oréal, se encontra no apêndice A. Os outros quatro documentos que compõem a
plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores e que serão descritos a
seguir ainda não foram elaborados. Em sua missão, a autora concebeu a estrutura da
plataforma, indicando quais são os documentos que dela farão parte. No entanto, a curta
104
duração da missão da autora dentro da L’Oréal (apenas cinco meses) inviabilizou a elaboração
efetiva de todos os documentos da plataforma. Os demais documentos serão elaborados num
futuro próximo por outros membros integrante da equipe Performance dos Fornecedores.
5.1.2. Os Valores-Chave
Considerado como o coração da plataforma, trata-se de um documento de uma
única página que contem os princípios diretores que traduzem os valores da empresa na área
de responsabilidade sócio-ambiental. Trata-se de uma comunicação ágil e direta, facilmente
compreendida, cuja leitura deve tomar poucos minutos do leitor.
Os outros quatro documentos da plataforma devem se manter coerentes aos
valores-chave descritos neste documento.
Quanto a sua elaboração, este documento decorrerá do primeiro documento acima
descrito, dado que eles devem abranger o mesmo escopo. Ele corresponderá a uma versão
generalista e resumida do primeiro documento. A idéia é de tratar os temas ligados à
responsabilidade sócio-ambiental de forma mais profunda e completa durante a elaboração do
primeiro documento, e em seguida, resgatar o essencial em um outro documento sintético,
generalista e de compreensão imediata.
A idéia do formato deste documento foi inspirada no condigo de conduta da Nike,
documento simples de uma única página e traduzido em 19 línguas, e no Supplier Guiding
Principles (SGP7) elaborado pela Coca-Cola, documento direto de uma página traduzido em
10 idiomas. Os princípios do Pacto Mundial e os princípios diretores da OCDE são fontes
importantes para a elaboração deste documento.
7 Disponível em <http://www.thecoca-colacompany.com/citizenship/supplier_guiding_principles.html>. Acesso em: 3 maio 2007.
105
5.1.3. Requisitos desejados e de excelência:
Durante a pesquisa realizada na fase de elaboração do código de conduta para os
fornecedores, uma série de boas práticas em termos de responsabilidade sócio-ambiental
foram repertoriadas. No entanto, nem todas estas boas práticas puderam ser incluídas no
código de conduta por trataram-se de práticas que exigem um grande nível de maturidade e de
investimento por parte dos fornecedores. A inclusão de tais práticas no documento de
requisitos básicos aniquilaria grande parte da cadeia de suprimentos do grupo. Surgiu então a
idéia de reunir estas práticas desejadas e de excelência em um outro documento.
Trata-se de um documento destinado aos fornecedores que queiram ir além da
conformidade aos requisitos básicos. O objetivo é o de permitir ao fornecedor avaliar sua
maturidade em termos de responsabilidade social e seu nível de colaboração com a L’Oréal na
busca da uma performance sócio-ambiental , se identificando como:
- Fornecedor emergente: são aqueles fornecedores que se esforçam na
implementação de ações voltadas para o desenvolvimento sustentável, que respeitam os
requisitos básicos e que oferecem à L’Oréal a possibilidade de obtenção de informações
complementares quanto às suas práticas nesta área.
- Fornecedor voluntário: são aqueles fornecedores que implementam de forma
sistemática ações voltadas para o desenvolvimento sustentável e responsável, que enviam ao
grupo L’Oréal documentos específicos sobre suas práticas, que possuem uma gestão sócio-
ambiental estruturada ou que correspondem aos requisitos desejados.
- Fornecedor líder: fornecedores que respeitam os critérios de excelência e que são
dotados de comprometimento (por exemplo, que são signatários do Pacto Mundial),
certificações na área sócio-ambiental (por exemplo SA8000 ou ISO14001), com padrões de
excelência disponíveis e com boas notas de agências de avaliação extrafinanceira,
106
Figura 13 - Possível escala para avaliação da maturidade dos fornecedores
Fonte: <http://www.axa.com/en/responsibility/socialresponsibility/suppliers/> - adaptado pela autora
Além de permitir que fornecedor avalie o seu nível de maturidade, o principal
objetivo deste documento é o de indicar caminhos para que ele possa evoluir de uma categoria
à outra.
O escopo deste documento é o mesmo do documento Requisitos Básicos. Desta
forma, para os capítulos evocados no documento Requisitos Básicos (vide tabela 9), também
farão parte do documento Requisitos desejados e de excelência, porém com padrões mais
rigorosos. Neste documento estes padrões seriam classificados em duas categorias distintas
segundo a maturidade das ações sócio-ambientais: os padrões desejados (associados aos
fornecedores voluntários) e os padrões de excelência (associados aos fornecedores líderes).
Por exemplo, em termos de gestão de consumo energético, um fornecedor
emergente deve ser capaz de controlar seus níveis de consumo e de respeitar os padrões
impostos pela lei. Um fornecedor líder, que vai além dos padrões básicos, busca implementar
programas voltados para a utilização de fontes renováveis de energia.
Requisitos básicos Requisitos desejados Requisitos de excelência A - Conformidade às leis aplicáveis e aos regulamentos padrões
O fornecedor conhece e respeita as leis e regulamentos aplicáveis a sua atividade
O fornecedor possui um sistema para se manter informado sobre mudanças e atualizações das leis e regulamentações aplicáveis a sua atividade
O sistema de atualização do fornecedor compreende a comunicação formal e sistemática das atualizações para colaboradores internos e externos
B - Trabalho e direitos humanos
Ausência de crianças com idade inferior a 16 anos
O fornecedor possui um sistema que impede o
O fornecedor possui um sistema para remediar
107
B1 Trabalho infantil
O fornecedor não utiliza trabalho juvenil (entre 16 e 18 anos) com nível de escolarização abaixo do nível correspondente à idade do jovem. Contratos de estagiários e aprendizes devem estar protegidos por contratos que respeitem os padrões locais impostos pela lei (por exemplo, sem trabalho noturno, proibição de carregar pesos excessivos)
recrutamento de crianças com idade inferior a 16 anos. Este sistema inclui a verificação de documentos de identidade com foto ou equivalente. Os trabalhadores juvenis são submetidos a exames médicos de acordo com os regulamentos locais e no mínimo uma vez ao ano
potenciais causas de trabalho infantil (por exemplo programa para manutenção da renda na família da criança, para afastamento da criança da área de trabalho e para a escolarização da mesma) O fornecedor disponibiliza ao trabalhador juvenil meios para estimular e facilitar sua escolarização (por exemplo, auxílio transporte, horas de trabalho flexíveis)
Tabela 11 - Exemplos de requisitos desejados e de requisitos de excelência
Fonte: elaborado pela autora
Este documento representa um passo importante na direção de uma iniciativa de
inclusão e de reconhecimento do fornecedor de acordo com a maturidade dos esforços
realizados na busca da responsabilidade sócio-ambiental. Esta iniciativa viria contrabalançar a
escala de avaliação dos resultados das auditorias sociais (acesso negado, tolerância zero,
melhora requerida, melhora significativa requerida, satisfatório), que hoje passa a impressão
de uma iniciativa de exclusão.
5.1.4. Metodologia :
Trata-se de um documento que descreve, através de textos e fluxogramas, a
metodologia do processo de entrada de um fornecedor no portfolio de fornecedores do grupo
assim como o processo de realização das auditorias sociais. Neste documento, serão indicados
o corpo de regras e as diligências que regem estes processos, quais são os documentos que
devem ser do conhecimento do fornecedor (por exemplo as Condições Gerais de Compras e
de Pagamentos, e em breve, os Requisitos Básicos).
No que diz respeito à descrição do processo de realização das auditorias sociais,
este documento apresentará as etapas da auditoria (reunião de abertura, consulta de
documentos, visita à fábrica, entrevistas com funcionários e reunião de fechamento), os
108
documentos que deverão ser colocados à disposição dos auditores no dia da realização da
auditoria, o questionário8 a ser respondido pelo fornecedor antes da realização da auditoria, os
possíveis resultados da auditoria social e suas implicações assim como o processo do
estabelecimento de um plano de ação corretiva em caso de detecção de irregularidades
durante a auditoria.
5.1.5. Descrição de boas práticas e de fracassos vivenciados
Experiências vivenciadas dentro das fábricas da L’Oréal e projetos pilotos
desenvolvidos juntos aos seus fornecedores constituem uma rica base de casos a serem
compartilhados com os colaboradores e conjunto de fornecedores. O objetivo de agrupar estas
experiências em um documento é o de permitir aos fornecedores de utilizarem lições
aprendidas durante estas experiências pare melhorarem as condições de trabalho em suas
próprias fábricas.
Um caso interessante de um projeto piloto esta sendo desenvolvido junto à
empresa Rexam, maior fornecedor de embalagens do grupo, na sua fábrica localizada na
região de Shenzen, na China. O objetivo deste projeto piloto é o de resolver problemas
relacionados às horas excessivas de trabalho9, problemas estes detectados durante a auditoria
social encomendada pelo grupo L’Oréal e realizada nesta fábrica.
5.2. O código de conduta
O desenvolvimento do projeto culminou na elaboração de um código de conduta,
documento que descreve regras e padrões a serem respeitados pelos fornecedores no que diz
respeito às suas práticas sócio-ambientais. O documento elaborado se encontra no apêndice A. 8 Este questionário dirige ao fornecedor perguntas sobre o tamanho da fábrica, número de funcionários e setor industrial onde atua o fornecedor. Tais informações são importantes para que se determine o número de auditores que participarão da auditoria em questão e a duração da auditoria. 9 Além de ser uma das causas mais freqüentes de irregularidades detectadas durante as auditorias sociais, a problemática relacionada às horas excessivas de trabalho e dias de repouso insuficientes é uma das mais criticas no que se diz respeito à implementação de um plano de ações corretivas.
109
O código é uma ferramenta importante no estabelecimento e articulações dos
valores corporativos, responsabilidades, obrigações e ambições éticas que regulamentam a
organização, a forma como ela opera e interage com outros agentes.
Este código de conduta repercute sobre o grau de formalização do arcabouço
contratual que regula as relações entre a L’Oréal e os seus fornecedores, interferindo na forma
dos relacionamentos entre estes agentes. Britto (2002) associa a funcionalidade do arcabouço
contratual a três propriedades:
a) Em primeiro lugar, este arcabouço teórico deve definir um conjunto de
mecanismos de coordenação com vistas a se atingir determinados objetivos pelas partes
envolvidas;
b) Em segundo lugar, ele deve contemplar mecanismos de prevenção contra a
adoção de posturas oportunistas dos agentes que estabelecem a relação;
c) Em terceiro lugar, ele deve incluir mecanismos de incitação à adoção de um
comportamento eficiente pelas partes envolvidas.
Vale lembrar que o código de conduta é um documento destinado a todos os
fornecedores do grupo, e que portanto deve-se adequar a diferentes perfis: empresas de
pequeno, médio e grande porte, empresas localizadas nos mais variados países, com diferentes
culturas, legislações, poder econômico, níveis de qualidade de vida, custos de mão de obra,
etc. A compreensão destas diferenças10 foi fundamental para a elaboração deste documento.
Essa heterogeneidade da rede de suprimentos em questão afeta a velocidade de transformação
de seus agentes, velocidade esta que varia de acordo com a capacidade dos agentes ajustarem
seu comportamento a partir dos estímulos recebidos.
Aspectos importantes considerados na elaboração do código foram os seguintes:
- Análise do perfil dos fornecedores para identificação dos fatores que necessitam
de maior orientação,
- Utilização de referências sobre ética, responsabilidade social e gestão ambiental
internacionalmente reconhecidas,
- Apoio e implicação da diretoria da empresa, 10 Por exemplo, os sindicatos independentes são ilegais na China. O governo chinês reconhece um único sindicato, chamado de ACFTU (All-China Federation of Trade Unions), subordinado a autoridades locais do Partido Comunista. Em contrapartida, nos países ocidentais em geral, a existência de sindicatos independes exercem um papel fundamental na liberdade de associação e na negociação coletiva dos trabalhadores. Outro exemplo refere-se aos testes e ensaios realizados em animais. Enquanto diversos países se manifestam contra a utilização deste testes e ensaios (como por exemplo, a Inglaterra, que em 1998 decretou a proibição de testes em animais no processo de fabricação de cosméticos), outros (como por exemplo a China) alegam que estes testes ainda são fundamentais para a garantia da segurança dos produtos.
110
- Participação de diferentes equipes da empresa,
- Consulta direta a fornecedores, compradores e auditores para refinamento do
projeto.
No entanto, apesar de ser uma ferramenta importante, a existência de um código de
conduta por si só não é suficiente para uma mudança efetiva de comportamento. O código de
conduta só se torna uma ferramenta efetiva quando inserido em um contexto de
disseminação comprometida, implementação, monitoramento e aderência em todos os
níveis da organização. Somente neste contexto o comportamento dos agentes será
influenciado pela ferramenta.
Desta forma, as etapas importantes na implementação do código de conduta
são as seguintes:
- Endosso e aprovação
Garantir que o código de conduta seja aprovado e endossado pelo presidente da
organização
- Integração
Implementar uma estratégia que integre o código de conduta na gestão da rede de
suprimentos
- Circulação e distribuição
Enviar o código de conduta para todos os fornecedores em um formato legível e
acessível. Disponibilizar o documento no website da empresa.
- Interação
Dar a todos aqueles que receberam o código a oportunidade de enviar seu
feedback, suas dúvidas ou comentários. Todos os fornecedores devem saber como reagir
quando confrontados a uma potencial transgressão do código
- Afirmação
Ter procedimentos para compradores e supervisores da L’Oréal que assegurem
que eles assim como suas equipes entendem e aplicam as provisões do código de conduta e
levantam questões ainda não cobertas por ele.
111
- Contratos
Assegurar a aderência obrigatória ao código, incluindo referências ao código nos
contratos assinados pelos fornecedores.
- Revisão constante
Adotar um procedimento de constante revisão e atualização do código.
- Aplicação rigorosa
Fornecedores devem estar cientes das conseqüências geradas pela transgressão do
código
- Treinamento e formação
Elaboração de programas de formação e treinamento para fornecedores,
compradores e auditores sobre os aspectos contidos no código de conduta.
- Tradução
Traduzir o código para que ele possa ser entendido e utilizado por empresas que
não tenham pleno domínio da língua inglesa.
- Relatório Anual
Reproduzir ou inserir uma cópia do código no relatório anual para que os
stakeholders e o público em geral conheçam a posição da companhia sobre questões ligadas à
ética nos negócios e à responsabilidade sócio-ambiental.
A implementação efetiva do código de conduta como uma ferramenta de
capacitação sócio-ambiental traz benefícios não apenas para a L’Oréal, mas para todos os
agentes da sua cadeia de suprimentos. Os benefícios para os fornecedores se encontram na
figura abaixo.
112
Figura 14 - Benefícios para os fornecedores resultantes da capacitação sócio-ambiental
Fonte: QUAINTANCE, MURDOCH (2006, p.5) – traduzido pela autora.
Avaliação e melhoria das condições de trabalho e da gestão ambiental
Melhora da produtividade
Melhora da qualidade
Minimização dos riscos
Adequação às expectativas dos consumidores
Construção de relacionamentos de longo prazo
Novas oportunidades de negócio
Transformação em um fornecedor de excelência
•Identificação de riscos •Encontro de soluções •Empresa alinhada aos padrões da L’Oréal
•Redução de riscos de danos aos trabalhadores • Redução de riscos de acidentes •Menor risco de atrasos •Maior eficiência •Maior capacidade de atrair e reter talentos
•Consumidores confiam na L’Oréal quanto à aquisição de produtos feitos sob condições dignas, por pessoas cujos direitos, saúde e segurança são respeitados, e sem agressão ao meio ambiente
•Empresas querem compras de fornecedores que respeitem os direitos laborais e o meio ambiente •Manter-se a frente dos competidores •Criação de novas oportunidades no mercado mundial
113
6. CONCLUSÃO
Este trabalho é um exemplo de uma iniciativa que se insere no conceito de uma
nova sensibilidade social, de cunho cada vez mais sistêmico e ampliado, que impulsiona uma
maior complexidade na gestão organizacional, deslocando o conceito de responsabilidade
social para uma visão de redes de relacionamentos que permeia toda a cadeia produtiva.
6.1. Os benefícios, vantagens e melhorias sensíveis do projeto realizado
A realização deste trabalho culminou na concepção de uma plataforma de
compartilhamento de informações sobre responsabilidade sócio-ambiental com fornecedores e
na elaboração de um código de conduta responsável adaptado às necessidades da empresa
onde o trabalho foi realizado. Estas ferramentas, quando divulgadas, deverão estimular o
amadurecimento da responsabilidade sócio-ambiental da cadeia de suprimentos da empresa,
compatibilizando os níveis de desempenho das práticas sócio-ambientais dos fornecedores
com os padrões reconhecidos internacionalmente e exigidos pelo grupo. O trabalho culminou
na definição destes padrões, que anteriormente não eram nítidos.
Este trabalho constituiu um grande desafio tanto para a empresa quanto para a
autora, dado que a integração da responsabilidade sócio-ambiental numa rede de
relacionamentos ainda é um tema novo, e por isso, há poucos modelos e ferramentas
destinados ao desenvolvimento e à análise do tema. Embora o conceito de responsabilidade
social venha sendo definido de forma a abarcar um número crescente de stakeholders, os
indicadores para suportar tal envolvimento ainda não se encontram consolidados (ALIGLERI,
L.M,; ALIGLERI, L.A; CÂMARA, 2002). Esta indefinição dos elementos analíticos que
permitem a visualização das dimensões e relacionamentos de uma empresa responsável
tornaria restritiva uma análise quantitativa dos impactos do projeto. Embora ainda não se
possam mensurar os ganhos do projeto no plano econômico, outras vantagens empresariais
resultantes estão implícitas, tais como o incremento da credibilidade frente à sociedade,
melhora na fluidez do processo de compras e o reforço positivo da imagem corporativa.
114
Giosa (2001) considera essencial estimular cada vez mais as grandes, médias,
pequenas e micro corporações no combate aos problemas sociais. Da mesma forma, Martins
(2007) acredita que a atuação do Estado nas questões sociais é muitas vezes limitada por
problemas gerenciais e financeiros, devendo ser complementada tanto por empresas privadas
como pelo terceiro setor. O projeto desenvolvido pela autora se insere exatamente neste
contexto, culminando na criação de um código de conduta com padrões sociais e ambientais a
serem respeitados pelos fornecedores do grupo L’Oréal. Tal ferramenta impactará a
organização e o modo de produção ou prestação de serviço de cerca de 3000 empresas
fornecedoras do grupo L’Oréal, haja vista que tais empresas - pequenas, médias e grandes e
atuantes em diversos setores da economia - deverão se adequar aos padrões listados no
código.
Esta ferramenta (o código de conduta) representa um marco dentro da política de
gestão da responsabilidade social na cadeia de suprimentos do grupo L’Oréal. Até então, esta
política se caracterizou:
- pela verificação, através do programa de auditorias sociais, da conformidade dos
fornecedores em relação aos requisitos sociais exigidos.
- pelo acompanhamento das correções das irregularidades encontradas durante as
auditorias.
Com a chegada do código de conduta, os fornecedores serão informados de
antemão sobre os requisitos exigidos. Com isso, a abordagem do programa deixa de se basear
na detecção e na correção de irregularidades e passa a oferecer ao fornecedor uma ferramenta
de capacitação na área sócio-ambiental que permite a sua adequação aos padrões
reconhecidos antes da realização da auditoria. Esta abordagem preventiva permitirá uma
redução do número de irregularidades detectadas em auditorias e dos custos gastos pela
L’Oréal no monitoramento da correção das irregularidades.
A adequação prévia dos fornecedores aos padrões sócio-ambientais também
fluidificará o processo de compras da L’Oréal. Isto se deverá à redução dos casos de
interrupções temporárias das relações comerciais que hoje ocorrem com fornecedores cujas
auditorias obtêm resultado “tolerância zero” ou “melhora significativa requerida”. Estas
interrupções ocorrem entre o momento da detecção da irregularidade e o momento da
comprovação da implementação de um plano de ações corretivas.
O projeto também trouxe à L’Oréal a formalização dos padrões sócio-ambientais
valorizados e implementados pelo grupo. North (1991), ressalta a importância das normas e
restrições que estruturam a interação social, econômica e política e as classifica em duas
115
categorias distintas: as restrições informais (por exemplo, sanções, tabus e costumes) e as
regras formais (por exemplo, constituições, leis e contratos). O projeto da autora permitiu que
os padrões sócio-ambientais que devem vigorar na cadeia de suprimentos da L’Oréal
entrassem para a categoria das regras formais. Sem esta formalização, a comunicação destes
padrões a todos os agentes da cadeia de suprimentos torna-se inviável.
A formalização e a documentação de tais padrões também têm um papel
fundamental na proteção da imagem corporativa do grupo: o código de conduta constitui uma
ferramenta tangível para a proteção do grupo contra faltas graves cometidas por seus
fornecedores. Para Zoboli (1999), a imagem da empresa não pode ser vilipendiada ou
reduzida à simples peça publicitária uma vez que ela representa um ativo econômico sensível
à credibilidade que inspira. A dimensão ética é uma parte decisiva dentro do conceito de
qualidade que a empresa apresenta à sociedade.
A elaboração do código de conduta também conferiu maior importância aos
aspectos de ordem ambiental dentro dos critérios de avaliação da performance dos
fornecedores. Anteriormente à elaboração do projeto, a avaliação do nível de maturidade do
desenvolvimento sustentável do fornecedor se concentrava na avaliação de aspectos relativos
à responsabilidade social, tais como respeito dos direitos trabalhistas, liberdade de associação,
representatividade e negociação coletivas, remuneração e duração da jornada de trabalho,
condições de saúde, segurança e higiene dentro do ambiente de trabalho, etc. O projeto
resultou na inclusão de critérios voltados para a proteção do meio ambiente dentro do
contexto de avaliação da sustentabilidade dos fornecedores, tais como existência de um
sistema de gestão ambiental, existência de um programa preventivo contra poluição (controle
das emissões atmosféricas e dos efluentes), proteção da biodiversidade e redução do uso de
recursos. Isto conferiu um maior equilíbrio entre o peso dado ao monitoramento dos aspectos
sociais e dos aspectos ambientais. Vale lembrar que parte dos critérios listados no código
advém de critérios que hoje são verificados durante as auditorias. No entanto, novos critérios
foram identificados e incluídos no escopo do projeto. No futuro, as auditorias serão
reestruturadas de forma a integrarem a avaliação da conformidade dos fornecedores a estes
novos critérios.
O projeto também contribuirá ao bom desenrolar das auditorias sociais, facilitando
o trabalho dos auditores. Isto se deverá à diminuição da ansiedade e da inquietude dos
fornecedores durante a realização das auditorias, haja vista que hoje eles recebem informações
insuficientes sobre os padrões exigidos, sobre os documentos a serem fornecidos aos
auditores e sobre o processo (etapas) da auditoria. Isto resultará numa economia de tempo e
116
de energia dos auditores. Além disso, eles disponibilizarão de um novo documento de suporte
na comunicação com os fornecedores.
O aumento da sensibilização e do nível de conhecimento dos fornecedores quanto
aos padrões sócio-ambientais reconhecidos internacionalmente constitui uma conquista chave
do projeto. O código de conduta e, futuramente, toda a plataforma de compartilhamento de
informações com os fornecedores, frutos de um extenso trabalho de pesquisa sobre o tema,
reunirão informações preciosas sobre práticas sócio-ambientais, podendo servir como uma
ferramenta útil na integração destas práticas na gestão das empresas fornecedoras. Este
aspecto é especialmente importante para os pequenos e médios fornecedores, que nem sempre
têm acesso a este tipo de informação e que raramente recebem estímulos efetivos à inclusão
da responsabilidade sócio-ambiental na gestão de seus negócios.
Além de contribuir à sensibilização dos fornecedores, o projeto também contribuiu
à sensibilização de diversos funcionários internos à L’Oréal quanto à temática da
responsabilidade sócio-ambiental e sua importância. O desenvolvimento do projeto dependeu
da contribuição e da aprovação de funcionários das mais diversas áreas que foram
interpelados a participarem de reuniões e a contribuírem para o projeto por meio do
compartilhamento de suas opiniões, conhecimentos e experiências. Pessoas que participaram
do projeto testemunharam que seu envolvimento no projeto teve um papel importante na sua
conscientização sobre a gestão socialmente responsável, que atribui às empresas a obrigação
de colaborar e melhorar o bem estar da sociedade, porque desempenham um papel
fundamental dentro do contexto social. Isto contribui para a valorização da imagem da
empresa por parte dos funcionários, constituindo uma alavanca de motivação. Para atrair e
reter talentos, as empresas não podem se restringir à oferta de bons salários e benefícios. Elas
devem investir na comunicação daquilo que elas aportam para a sociedade. Assim como
consumidores refletem sua crescente preocupação com as questões sócio-ambientais em suas
decisões de compra, os funcionários também refletem estes mesmos valores na motivação e
eficiência com que realizam o seu trabalho diário.
117
6.2. Sugestões de melhorias
O código de conduta evoluiu bastante desde a primeira versão. Comentários e
sugestões de membros de outros departamentos da L’Oréal, de fornecedores e de auditores
sociais foram importantes para o aperfeiçoamento deste documento. No entanto, ele ainda
pode e deve ser melhorado.
• Dentre as melhorias possíveis, propõe-se a revisão do documento por pelo
menos uma instituição ou ONG reconhecida na área práticas sócio-
ambientais. Sabe-se hoje que a mídia e as ONGs têm um papel
fundamental na repercussão e na sensibilização da sociedade sobre
questões referentes ao comportamento de empresas privadas. Os exemplos
são inúmeros. Todos se lembram das campanhas de boicote sofridas pela
Nike, conduzidas por diversas organizações não-governamentais de todo o
mundo, em protesto pelas condições de trabalho apregoadas pelos
fornecedores. Como resposta, a Nike trocou seus fornecedores pois sua
marca é decisiva para o valor de seus tênis. Além de atacar as más práticas
das empresas privadas, as ONGs também questionam a legitimidade e
eficácia das ações sociais e ambientais destas empresas. Daí provem a
importância da revisão do documento por ONGs, para que esta iniciativa
da L’Oréal possa ganhar o apoio desta categoria. Em contrapartida, a
divulgação do código de conduta a uma instituição externa ou ONG
anterior à divulgação oficial do documento é considerado pela diretoria do
grupo como um aspecto delicado.
• Uma outra melhoria sugerida é o aprimoramento dos formulários enviados
aos fornecedores. Estes formulários foram de grande valia para a sugestão
de idéias quanto ao aprimoramento do programa de auditorias sociais. No
entanto, as questões relacionadas ao código de conduta foram tratadas de
forma mais superficial. Eles não contribuíram de forma significativa para a
definição do conteúdo do código. Sua maior contribuição constituiu a
118
confirmação da necessidade de se desenvolver um documento suporte que
definisse os padrões exigidos pelo grupo, pois os fornecedores
manifestaram claramente a necessidade de conhecerem quais são os
critérios sobre os quais eles são avaliados. Uma versão mais detalhada
poderia ter sido distribuída a alguns fornecedores-chave para enriquecer o
projeto. Como o formulário foi distribuído a um numero grande de
fornecedores, optou-se por uma versão mais sucinta, de forma a não
desestimular o fornecedor a respondê-lo e a racionalizar os esforços de
coleta e tratamento das respostas recebidas.
• Por fim, ressalta-se que o foco do projeto constituiu o desenvolvimento dos
documentos éticos apresentados no capítulo “Resultados”. No entanto, os
documentos por si só não garantem o alcance dos objetivos propostos. Haja
vista o caso do Brasil, que apesar de ter uma legislação social e trabalhista
protetora, há muito tempo permanece como um estado de mal-estar social.
Uma atenção especial deve ser dada ao processo de implementação destes
documentos. Tal processo foi brevemente descrito no capítulo
“Resultados”, mas ele deve e pode ser trabalhado em maior profundidade.
A realização deste trabalho também permitiu a identificação de melhorias a serem
implementadas dentro da organização:
- Minimizar as relações pontuais com fornecedores, reforçando uma política
voltada para relações perenes,
- Melhorar a base de dados e o sistema de arquivamento dos resultados das
auditorias sociais em termos de interface e de confiabilidade dos dados disponíveis,
- Atribuir a gestão do relacionamento com os fornecedores a um único
departamento, tornando mais clara para o fornecedor a política do grupo e eliminando rixas
internas,
- Atualizar constantemente os manuais e fichas de procedimentos,
- Investir na comunicação de suas ações na área de responsabilidade sócio-
ambiental aos funcionários da empresa,
- Investir na formação dos auditores.
119
6.3. Próximas etapas
Apesar de todo o trabalho desenvolvido, o código de conduta ainda não está pronto
para sua divulgação pública e oficial.
As etapas de definição e de validação do perímetro e do conteúdo do código já
foram concluídas. No entanto, o formato e a apresentação do documento ainda devem ser
aprimorados.
Desta forma, a próxima etapa do desenvolvimento do código de conduta consiste
na revisão do texto feita por uma agência de comunicação. O objetivo desta revisão é garantir
uma linguagem clara, acessível e livre de erros. Esta agência também será encarregada pela
formatação e diagramação do documento, conferindo uma aparência atrativa graças à inclusão
de cores, imagens, fotos, etc. O orçamento apresentado pela empresa Sancroft (uma
reconhecida consultoria em responsabilidade corporativa) para a realização destas tarefas já
foi aprovado. Esta é a empresa que revisa os relatórios anuais e os relatórios de
desenvolvimento sustentável publicados pela L’Oréal. A L’Oréal é uma empresa que dá muito
valor ao marketing e à aparência. Por essa razão, todas as publicações da empresa devem ter
uma apresentação impecável. Uma versão eletrônica também será divulgada no website da
empresa. A idéia consiste na disposição de uma versão interativa, com animações e links que
guiem o leitor a capítulos desejados, a outros documentos da L’Oréal relacionados ao assunto
e a outras fontes de informações e referências na área de responsabilidade sócio-ambiental.
Em seguida, o documento deve ser traduzido para outros idiomas para enfim ser
oficialmente divulgado para o conjunto de fornecedores do grupo.
Todo este trabalho corresponde ao desenvolvimento de uma das cinco pétalas que
compõe a plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores. Outras
frentes de projetos devem ainda ser constituídas para que os outros quatro documentos sejam
elaborados (valores-chave, requisitos desejados e de excelência, metodologia, casos de boas
práticas e de fracassos na área sócio-ambiental).
120
121
LISTA DE REFERÊNCIAS
ALIGLERI, L.; BORINELLI, B. Responsabilidade social nas grandes empresas da região de Londrina. In: Encontro da ANPAD, 25, 2001, Campinas, Anais…, Rio de Janeiro: Associação nacional dos programas de pós-graduação em administração, set. 2001. ALIGLERI, L.M.; ALIGLERI, L. A.; CÂMARA, M. R. G. Responsabilidade social na cadeia logística: uma visão integrada para o incremento da competitividade. In: Encontro de estudos organizacionais, 2., 2002, Recife. Anais... Recife: Observatório da Realidade Organizacional: PROPAD/UFPE : ANPAD, 2002. ARENSTEIN, L. Responsabilidade social de empresas e suas vantagens competitivas. Trabalho de formatura da Escola Politécnica da USP, São Paulo, 1999. ASHLEY, P. A.; COUTINHO, R. B. G.; TOMEI, P. A. Responsabilidade social corporativa e cidadania empresarial: uma análise conceitual comparativa. In: Encontro da ANPAD, 24, Florianópolis. Anais..., Florianópolis: Associação nacional dos programas de pós-graduação em administração, set 2000. ASHLEY, P. A. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2001. BRITTO, J. Cooperação industrial e redes de empresas. In: KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia industrial: fundamentos teóricos e práticos no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002. BURNS, S. Fair Trade: A Rough Guide for Business. Reino Unido: Twin Trading, 1995. BUENDÍA, I.; COQUE, J.; GARCÍA, J.V. Comercio Justo: la ética en las relaciones comerciales dentro de un entorno globalizado. Distribución y Consumo, n. 56 (fevereiro-março), pp. 23-33, 2001. CAMPOS, M. I.; JIMÉNEZ-RIDRUEJO, Z.; GUTIÉRREZ, P.J.; LÓPEZ, J. Estudio sobre la distribución comercial minorista en Valladolid: tendencias y previsiones, Madrid, 316 p., 2002. CARTER, C. R.; JENNINGS, M. M. Purchasing’s contribution to the socially responsible management of the supply chain. Center for advanced perchasing studies, 2000. Disponível em: <http://www.ism.ws/files/SR/capsArticle_PurchasingsContribution.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2007.
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CASTELFRANCHI, Y. Sweatshops: uma realidade em expansão. Revista Com Ciência, 10 maio 2004. Disponível em <http://www.comciencia.br/200405/reportagens/08.shtml>. Acesso em: 9 setembro 2007. CHRISTOPHER, M. The agile supply chain: competing in volatile markets. Industrial Marketing Management, v. 29, 2000. COQUE, J.; MÉNDEZ, G. La gestión del Comercio Justo. ISF Revista de Cooperação, n.11 (inverno), 1998. FERREIRA, B. S. Supply chain management: fundamentos e soluções de software. Disponível em: <http://www.straight.com.br/artigos/a_logistica.htm>. Acesso em: 15 ago. 2007.
GARCIA, R. et al. Indústria de cosméticos: elementos para uma caracterização de sua estrutura e dinâmica com base num enfoque de cadeia produtiva. Campinas, IE/UNICAMP, 2000.
GARCIA, R.; SALOMÃO, S. Relatório setorial preliminar: a indústria dos cosméticos. FINEP, DPP, 2003 GIOSA, L. A lei social. Guia Exame de boa cidadania corporativa, São Paulo, v.754, n.24, p. 30, nov.2001. GONSALVES, E. P. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. Campinas: Alínea, 2001. GRUPO ALPHA, centro de estudos econômicos e sociais. Chartes éthiques et codes de conduite : état des lieux d’un nouvel enjeu social. Marseille, 2004. INSTITUTO ETHOS / JORNAL VALOR ECONÔMICO. Responsabilidade social das empresas - percepção e tendências do consumidor brasileiro. Versão 2000. Disponível em:< http://www.ethos.org.br>. Acesso em: fevereiro 2007. KOTLER, P.; AMSTRONG, G. Marketing: an introduction. Englewood Cliffs: Prentice-Hall International, 1994.
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KREITLON, M. P.; QUINTELLA, R. H. Práticas de accountability ética e social: as estratégias de legitimação de empresas brasileiras nas relações com os stakeholders. In: Encontro da ANPAD, 25, 2001, Campinas, Anais…, Rio de Janeiro: Associação nacional dos programas de pós-graduação em administração, set. 2001. LAMING, R. Japanese supply chain relationship in recession. Long Planning, no 33, 2000. MARTINS, R. B. [sem título]. Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/>. Acesso em: 18 maio 2007. NOGUEIRA, A. J. F. M. Relações de trabalho e internacionalização no Brasil. In: FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. (Org.). Internacionalização e os países emergentes. São Paulo: Atlas, 2007. PIRES, S. R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos. São Paulo: Atlas, 2004. NORTH, D. C. Institutions. Journal of Economic Perspectives, 5, winter, 1991, pp.97-112. QUAINTANCE, J; MURDOCH, H. A workbook for suppliers in China – Cadbury Schweppes. Trabalho apresentado ao Comex Cadbury Schweppes, novembro 2006, Londres. Não publicado. UNICEF. Trabalho infantil e responsabilidade social corporativa: o projeto UNICEF-Ikea para combater o trabalho infantil. 2005. Disponível em <http://www.unicef.org/brazil/sowc06/cap4-dest5.htm>. Acesso em: 10 outubro 2007. UOL NOTÍCIAS. Começa na França julgamento de supostos responsáveis por naufrágio do "Erika". Paris, 12/02/2007. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/02/12/ult1807u34704.jhtm>. Acesso em: 5 julho 2007. VENANZI, D. Análise dos ganhos das novas configurações na indústria automotiva e a gestão da cadeia de suprimento. São Paulo, 2000. Dissertação de Mestrado em Engenharia da Produção – Centro Universitário Sant’Anna. Disponível em: <http://www.cvlog.net/teses.htm>. Acesso em: 21 ago. 2007. VILANOVA, E. e VILANOVA, R. Las otras empresas. Madrid: Talasa, 1996.
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WOOD JR T.; ZUFFO P. K. Supply chain management: uma abordagem estratégica para a logística. In: Encontro da ANPAD, 25, 2001, Campinas, Anais…, Rio de Janeiro: Associação nacional dos programas de pós-graduação em administração, set. 2001. ZADEK, S. Balancing performance, ethics, and accountability. Journal of Business Ethics, v.17, n. 13, p. 1421-1441, oct. 1998. ZOBOLI, E. L. C. P. A Ética nas Organizações. Instituto Ethos Reflexão, São Paulo, ano 2, n.4, março 2001.
125
APÊNDICE A – O código de conduta
BUSINESS PARTNER SUSTAINABILITY STANDARDS
Summary A. Compliance with applicable laws, regulations standards B. Labour standards B1. Child labour B2. Involuntary and forced labour B3. Freedom of Association and Collective Bargaining B4. Non discrimination B5. Working hours B6. Compensation & benefits B7. Harassment & abuse C. Health & Safety C1. Workplace environment C2. Emergency preparedness C3. Injury and illness D. Environment D1. Environmental management system and pollution prevention program D2. Hazardous materials use D3. Air emissions D4. Waste management and effluents D5. Resource use reduction D6. Biodiversity protection E. Responsible Business Behaviour (Ethics) E1. Anti-corruption E2. Fairness in business and competition F. Management Systems F1. Company commitment and management accountability F2. Continuous Improvement A. Compliance with applicable laws, regulations standards L’Oreal’s suppliers must conform to all applicable national and legal requirements. These policies and procedures shall also conform to the provisions of the relevant ILO conventions. L’Oreal’s suppliers shall make sure their own suppliers and/or subcontractors operate in full compliance with local and national law of their respective countries of manufacture.
126
B. Labour standards L’Oréal’s business activities are committed to uphold the human rights of workers, and to treat them with dignity and respect as understood by the international community. B.1. Child Labour B.1.1 The company shall not recruit any employees under the age of 16 years old unless local minimum age law stipulates a higher age for internship or apprenticeship, work or mandatory schooling, in which case the higher age shall apply. B.1.2. All policies and procedures regarding child labour and young workers shall conform to the provisions of the relevant ILO conventions. B.1.3 If child workers are found in the employment of the company, a sensitive solution shall be sought that puts the best interests of the child and maintain the wages in the family. B.1.4 Young workers under the age of 18 shall not be employed in hazardous conditions regarding their age or development and according to legal restrictions on the nature and volume of work performed. This includes handling chemicals and operating heavy machinery. B.1.5 Young workers under the age of 18 shall not be employed at night. B.1.6 If young workers are employed, the employer must comply with any applicable legal restrictions and any legal requirements regarding permission to work or schooling. B.1.7 The company shall have an efficient system to verify and register its employees age (for example archive of copies of employees’ identity cards with photo) B.2. Involuntary and Forced Labour B.2.1 All forms of forced and bonded labour are forbidden in accordance with ILO Conventions. B.2.2 Involuntary prisoner labour that violates basic human rights is also forbidden. B.2.3 Employees shall not be required to lodge ‘deposits’ or their identity papers by their employer. B.2.4 Employees shall be free to leave their employer after giving reasonable notice. B.2.5 Employees shall be free to leave the place of work at the end of their shift. B.2.6 Contracts shall not impose conditions that restrict the workers’ ability to voluntarily end their employment including substantial fines or loss of residency papers by workers leaving employment.
127
B.3. Freedom of Association and Collective Bargaining B.3.1 The lawful rights of all workers to form and join trade unions of their choice and to bargain collectively shall be recognised. B.3.2 Employers shall adopt an open attitude towards the activities of trade unions and their organizational activities. B.3.3 Workers representatives shall not be discriminated. B.3.4 Workers representatives shall have access to the workplace to carry out their representative functions. B.3.5 In situations or countries in which the rights regarding freedom of association and collective bargaining are restricted by law, the employer shall facilitate the development of parallel means of independent and free organization and bargaining (in accordance with ILO conventions). B.4. Non discrimination B.4.1 All terms and conditions of employment should be based on an individual's ability to do the job, not on the basis of personal characteristics or beliefs. B.4.2 The employer shall not engage in or support discrimination in hiring, compensation, access to training, promotion, termination, discipline or retirement on the basis of gender, age, religion, race, caste, social background, disability, ethnic and national origin, nationality, membership in workers’ organizations including unions, political affiliation, sexual orientation, pregnancy, marital status or any other personal characteristics B.5. Working Hours B.5.1 Working hours comply with national laws and industry collective agreement, whichever affords greater protection. B.5.2 Working hours should not be more than 8 hours per day and 48 hours per week, as well as 12 hours of overtime. B.5.3 At least one day off for every 7 day period on average should be provided. B.5.4 Overtime shall be voluntary. B.5.5 Every worker shall be entitled of annual paid holiday as per law requirement. B.6. Compensation & Benefits B.6.1 Wages paid for a standard working week shall be at least the minimum wage required by local or national law or the industry minimum collective agreement standard, whichever is higher.
128
B.6.2 The employer shall provide all legally required benefits to all workers. B.6.3 Overtime hours worked shall be paid at a premium according to national and local laws. B.6.4 Deductions shall be fair, legal and reasonable in proportion to the total wage according to local law. B.6.5. All workers shall be provided understandable information about the conditions in respect of wages before they enter employment. B.6.6. All workers shall be provided with the details of their wages for the pay period concerned each time that they are paid. B.7. Harassment & Abuse B.7.1 Every employee shall be treated with respect and dignity. B.7.2 Employers must not engage in or tolerate physical abuse or discipline, the threat of physical abuse, sexual or other harassment and verbal abuse, abusive tone or language or other forms of intimidation. C. Health & Safety Recognized management systems such as OHSAS 18001 and ILO Guidelines on Occupational Safety and Health were used as references in preparing this code and may be a useful source of additional information. C.1. Workplace environment C.1.1 The employer shall provide a safe, clean and healthy working environment, bearing in mind the prevailing knowledge of the industry and of any specific hazards. C.1.2 The employer shall take adequate steps to prevent accidents and injury to health arising out of, associated with, or occurring in the course of work, by minimising, so far as is reasonably practicable, the causes of hazards inherent in the working environment. C.1.3 All workers shall have free access to adequate, clean toilet facilities, unlimited access to clean and safe drinking water. C.1.4. All workers shall receive regular and recorded health and safety training and that such training is repeated for new and reassigned workers. C.1.5.Machine-safeguarding requirements, interlocks and barriers are to be provided and properly maintained for machinery used by workers.
129
C.1.6. Potential safety hazards, including chemicals, are to be controlled through proper procedures and maintenance. Workers should be provided with adequate Personal Protective Equipment free of charge. C.1.7 Physically-Demanding-Work worker exposure to physically demanding tasks, including manual material handling and heavy lifting, prolonged standing and highly repetitive or forceful assembly tasks is to be identified, evaluated and controlled. C.2 Emergency Preparedness C.2.1 Emergency situations and events are to be identified and assessed, and their impact minimized by implementing emergency plans and response procedures, including: emergency reporting, employee notification and evacuation procedures, worker training and drills, appropriate fire detection and suppression equipment, adequate exit facilities and recovery plans. C.2.2 Employers shall provide sufficient fire exits and safety equipment according to local law. C.3 Injury and Illness C.3.1 Procedures and systems are to be in place to manage, track and report occupational injury and illness. C.3.2 A proper follow up of injury and illness cases should be investigated to eliminate their causes. D. Environment Suppliers are expected to operate in an environmentally responsible and efficient manner and shall understand and minimize adverse impacts on the environment. Recognized management systems such as ISO 14001 or EMAS were used as references in preparing the present code and may be a useful source of additional information. They may provide mechanisms to monitor, manage, and improve performance regarding environmental requirements. D1. Environmental Management System and Pollution Prevention program D.1.1 Suppliers should have an environmental policy with precise principles, objectives and targets. This policy should be periodically reviewed in order to keep its topicality, suitability and effectiveness. D.1.2 All environmental permits, licenses, information, registrations and restrictions are to be obtained, maintained and kept current and their operational and reporting requirements are to be followed according to law requirements.
130
D.1.3 Environmental impacts should be considered on transportation used for logistics purposes. D.1.4 Constant efforts should be made in order to reduce wastes, effluents and air emissions whenever possible. D.2 Hazardous Materials Use D.2.1. Whenever possible, suppliers shall avoid the use of hazardous materials – chemical, biological and physical - and use less harmful materials instead of more hazardous materials. D.2.2 If hazardous materials are essential, systems should be in place to minimize their use. Once minimized, reuse and recycling should be optimized. Systems shall be in place to evaluate the use, production, release and safe disposal of hazardous materials and hazardous waste D.2.3 All environmental information related to raw materials and intermediate materials shall be used to protect the environment from hazards. Suppliers are expected to manage this information in an appropriate manner including the provision of information about operating procedures. D.3 Air Emissions D.3.1. Air emissions of volatile organic chemicals, aerosols, corrosives, particulates, oxides of sulphur and nitrogen, greenhouse gases, ozone depleting chemicals and combustion by-products generated from operations are to be characterized, monitored and controlled prior to discharge. D.4 Waste Management and Effluents D.4.1.Systems shall be in place to ensure the safe handling, movement, storage, recycling, reuse or disposal of waste. Any waste with the potential to adversely impact human or environmental health is to be managed and controlled prior to proper disposal. D.5 Resource Use Reduction D.5.1 Overuse of all types, including water and energy, are to be reduced or eliminated by practices such as modifying production, maintenance and facility processes, materials substitution, conservation, recycling and re-using materials. D.5.2 Supplier should encourage efforts to use renewable sources and recycled material. D.6 Biodiversity Protection Biological diversity concerns the variety of all life forms - different plants, animals, microorganisms, the genes they contain, and ecosystems of which they form a part. The biodiversity on marine, aquatic and other types of environments can be reduced by processes such as habitat degradation and population decline or extinction. L’Oréal considers that the responsible biodiversity stewardship is a fundamental business issue. L’Oréal is fully concerned by this issue and encourages its suppliers to minimize adverse impacts on biodiversity.
131
E. Responsible Business Behavior (Ethics) Suppliers are expected to conduct their business in an ethical manner and always act with integrity. The ethics elements are: E.1. Anti-Corruption E.1.1 All Corruption, extortion and embezzlement are prohibited. E.2 Fairness in business and competition E.2.1 Bribes, illegal inducements, or other means of obtaining undue or improper competitive advantage are not to be offered or accepted. E.2.2 Standards for fair business practices, fair advertising and fair competitive practices are to be upheld. E.2.3 Operations of prospecting, selection, withdrawal and use of natural resources, especially in areas with sensitive community issues, have to be carried out with the principles of respect and equitable sharing of benefits. F. Management Systems F.1 Company Commitment and Management Accountability F.1.1 L’Oréal suppliers should inform L’Oréal and other stakeholders about environmental and health and safety issues with regard to the company’s activities. F.1.2 Suppliers are encouraged to have a management system to facilitate compliance with this code and continuous improvement. F.1.3 The supplier is expected to demonstrate commitment to the concepts of this code, for example by clearly identifying a company representative responsible assigned to ensure the implementation of this code and allocation of appropriate resources. F.1.4 Suppliers are expected to provide to their employees appropriate training for relevant aspects of this code. F.2 Continuous Improvement F.2.1 Suppliers are expected to have written standards, performance objectives, targets and implementation plans. F.2.2 L’Oréal encourages its suppliers to continuously improve by taking necessary corrective actions to improve their performance with regard to the issues covered by this document.
132
International References - The Universal Declaration of Human Rights (UN 1948) - Global Compact - Fundamental Principles of Rights at Work (ILO Declaration, June 1998) - Convention on the Rights of the Child (UN 1989) - Minimum Age Convention, and Worst Forms of Child Labour Convention (ILO conventions 138 and 182) - Forced Labour Convention, and Abolition of Forced Labour Convention (ILO Conventions 29 and 105) - Freedom of Association and Protection of the Right to Organise Convention, Right to Organise and Collective Bargaining Convention (ILO Conventions 87 and 98) - Equal Remuneration Convention, and Discrimination (Employment and Occupation) Convention (ILO Conventions 100 and 111) - Occupational Safety and Health Convention, and Occupational Safety and Health Recommendation (ILO Conventions 155 and Recommendation 164) - Rio Declaration on Sustainable Development (UN 1992) - Convention on Biological Diversity (UNEP 1995) - Washington Convention on International Trade in Endangered Species of wild fauna and flora (CITES, 1973) - IUCN World conservation Union Red List of threatened species (IUCN) - Stockholm Convention on Persistent Organic Pollutants (2001) - Basel Convention on the control of transboundary movements of hazardous wastes and their disposal (1992) - Convention on Long-Range Transboundary Air Pollution (1979) International Norms - SA 8000 - OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) - ISO 14000 - EMAS (Eco-Management and Audit Scheme)
L’OREAL Business partner sustainability standards Acknoledgment /Agreement Form
Original Form to be returned by the supplier completed and signed Name of Supplier : ……………………………………………………………………………….. Address : …………………………………………………………………………………………… City, ZIP Code, Country : ……………………………………………………….……………..…. Tel /Fax :…………………………………… E-mail …………………………………………….. Contact Name / Title : ……………………………………………………………………………… I, the undersigned, declare that I have read the L’Oréal Code of Conduct enclosed very carefully and that I meet all the requirements described in the Code of Conduct. In case I do not meet all the requirements described yet, I will take the necessary measures by .... / .... / ..........
________________________________ Signature supplier
(Preceded by 'read and approved') This Code of Conduct was signed on .... /.... /........... in ...........................................................
133
APÊNDICE B – Questionário para os fornecedores
134
135
Name: Company: Address:
Function: Country: Audit day:
1 - Did you receive enough information with regards to L’Oréal Social Audit program? (Check the cell corresponding to your choice) Before the audit Yes No
During the audit Yes No
After the audit Yes No
2- How do you evaluate auditors’ attitude with regards to the following issues: Professionalism Good Satisfactory Insufficient Bad
Expertise Good Satisfactory Insufficient Bad
Ability to listen Good Satisfactory Insufficient Bad
Fairness Good Satisfactory Insufficient Bad
3 – Was the Opening Meeting clear, precise and broad in terms of scope and content? If no, please, comment your answer.
Yes, totally Yes, partially Not really Not at all
4 – Was the Closing Meeting clear, precise and broad in terms of scope and content? Were the audit team recommendations relevant? If no, please comment.
Yes, totally Yes, partially Not really Not at all
5 - Were exchanges with the audit team beneficial to you? If it is not the case, please, precise your reasons.
Yes Yes in most
cases Just sometimes Not at all
6 - Did you encounter any confidentiality issue (for example with regards to the information collected or the pictures taken)? If yes, please, precise it.
Yes No
7 - Other comments, critics or suggestions:
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
136
137
APÊNDICE C – Questionário para compradores
138
139
Name: Service: L’Oréal site:
Function: Country:
1 - Did you receive enough information from L’Oréal team with regards to the following issues of L’Oréal Social Responsibility program? (Check the cell corresponding to your choice) Process Yes No
The audit itself Yes No
CAP and follow up Yes No 2- Apart from the three aspects mentioned above, what other information would be useful for you?
3 - Did you receive enough information from Intertek with regards to the audit request, the 30-day open period during which the auditors arrive unannounced and the audit corrective action plan?
Before the audit Yes No
After the audit Yes No
Answering on time Yes No 4 - How do you evaluate the audit request process?
Good Satisfactory Insufficient Bad
What are its strong points? And what are the points to be improved? Please, specify these points in the frame below.
5 - How do you evaluate Intertek central office attitude with regards to the following issues:
Professionalism Good Satisfactory Insufficient Bad Ability to listen Good Satisfactory Insufficient Bad Answering delay Good Satisfactory Insufficient Bad 6 – Do you use the audit reports as a tool to facilitate a goal-oriented communication and cooperation with L’Oréal suppliers?
Yes No
7 – How do you evaluate the process compliance regarding the social audits?
Good Satisfactory Insufficient Bad
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
Comments:
140
8 - Were exchanges with suppliers beneficial to L’Oréal Social Responsibility program? If it is not the case, please, specify your reasons.
Yes Yes in most cases Just sometimes Not at all
9 - Other comments, critics, suggestions or specific issues:
Comments:
Comments:
141
APÊNDICE D – Minuta da reunião de apresentação do projeto para diretoria da empresa
de/from : Ariane THOMAS / Marie DELECRIN / Ana Paula KELM
à/to : B. LAVERNOS; L.GILBERT; N. LESELLIER; C. DUREL; P. SIMONCELLI; A. JUNINO; R. TEXTORIS, B. DE SENNEVILLE; S. GHISONI; C. DUCLAUX; C. LIEBON (Intertek); S. CLANCY (Body Shop); E. MATHIEU (Sancroft). Copie/copy : H. TRAUTMANN ; R. BARRE ; Z. MANSDORF P.I. : E. LULIN ; L. ARMAND Aulnay-sous-Bois, le 11 juillet 2007
objet/subject : Minutes of L’Oréal suppliers’ code of conduct kick-off meeting
First of all, we thank you all for your presence and participation during the Code
of Conduct kick-off meeting on June 26th.
The elaboration of the Suppliers’ Code of Conduct is part of our sustainable
development procurement strategy, which aims are:
• Continually strengthen our suppliers’ awareness, skills and commitment with a
view to measuring and driving their performance in terms of social and
environmental standards in order to achieve an industry-leading performance
level.
• Secure L’Oréal operations from its suppliers infractions in terms or labour
conditions and environmental management
The subjects covered by our meeting were:
1) Presentation and validation of the “Business Partner Sustainability Tool Box”
structure
2) Presentation and validation of the key points and Business Partner
Sustainability Standards (Business Partner Sustainability Standards = BPSS =
code of conduct) scope and content
3) How to involve and commit suppliers
4) Project work-flow
5) Code of conduct validation by external stakeholders
1, avenue
Eugène Schueller
BP 22
93601 Aulnay-sous-Bois tél. : 01 48 68 93 96
fax : 01 48 68 89 37
142
Hereafter, you will find some more details about the mentioned subjects:
1) Business Partner Sustainability Tool Box
The Business Partner Sustainability Tool Box is a tool to help suppliers in need of support
as they move towards best practices on sustainable development. It is composed by 5
pillars:
1.1) Key points : One-paged document, it summarizes all L’Oréal strong values that must be respected by
our suppliers.
The key-points scope includes the following issues:
Governance: this section talks about compliance with applicable laws and regulation
standards, company commitment, management systems and continuous improvement
Labour and Human Rights: this chapter ensures that workers are treated under decent
working conditions. Its issues concern child labour, forced and involuntary labour, freedom
of association and collective bargaining, non discrimination, working hours and
compensations and benefits.
Health and Safety: this section ensures that risks to people's health and safety from work
activities are properly controlled. Its scope includes the following subjects: workplace
environment, emergency preparedness, injury and illness.
Environment: this section ensures that suppliers control its impacts on environment and
operate in an environmentally responsible procedure. Its subjects are environmental
management system, pollution prevention program, air emissions, waste management
effluents, resource use reduction and biodiversity protection.
143
Responsible Business Behaviour: it concerns corruption and bribery, fair competition and
wish for no bio-piracy.
BN: Animal Welfare: as this issue concerns only a small number of suppliers, it was
decided during the meeting that this subject should no more make part of the code of
conduct scope
1.2) Basics Standards (Business Partner Sustainability Standards) = code of conduct Covering the same scope of the key points, this chapter concerns a detailed and technical
description of the standards to be respected. With a length of around 10 pages, the draft
of this document was presented during the meeting. It still has to be simplified in order to
comprehensible more comprehensible for your suppliers.
1.3) Expectations This chapter presents a list of expected and desired standards for suppliers willing to go
further than the basic standards. It will raise suppliers’ awareness regarding strategic
steps to achieve premium practices in terms of labour conditions and environmental
management.
1.4) Methodology This chapter consists of an explanation about all documents provided to suppliers
(communication kits, ethical commitment letter, etc.) and about the social audit process
and its related documents. It may also contain a FAQ (frequent asked questions) section,
as well as L’Oréal and auditing company contact details (e-mail, phone number).
1.5) Best-practices and failures The aim of this chapter is to share with suppliers concrete cases already experienced by
L’Oréal. We believe that the analysis of past experience may be a powerful tool for
suppliers to improve their performance.
2) Presentation and validation of “key points” and “Business Partner Sustainability Standard” scope and content
You will find here after the discussed and accorded issues about the “key points” and the
“code of conduct” scope during our kick-off meeting.
Governance (in chapter Governance) => Governance meaning is not clear enough for
most people. For this reason, this term should be avoided in the code of conduct. It should
be replaced by “Management Accountability” and may be placed at the end of the
144
document. The “Compliance with applicable laws” section may be placed at the beginning
of the code.
Continuous Improvement (in chapter Governance) => the code should express L’Oréal
wish towards its suppliers’ continuous improvement; it should not be considered
mandatory
Labour standards x Human Rights (in chapter Labour and Human Rights) => the
expressions “Human rights” has a too wide meaning. For the time being, we should prefer
the expression “Labour Standards”
Biodiversity (in chapter Environment) => this aspect should be kept, but its current version
has to be simplified.
The code should not express suppliers’ obligation towards biodiversity protection, but
L’Oreal’s wish regarding its protection.
It was proposed to provide suppliers with a list of “forbidden materials” that could
potentially damage biodiversity
NB: Whistleblower Protection (in chapter Responsible Business Behaviour) and Animal
Welfare (in Animal Welfare chapter) => as these subjects were too specific; we have
decided to suppress them from the BPSS scope.
3) How to involve and commit suppliers
What should be our strategy to encourage suppliers to adhere to our program and make
use of tools we are developing for them?
The first step to answer these questions is to think about the profile of those who will read
L’Oréal documents. For whom are we writing this code? L’Oréal suppliers’ CEO’s, site
manager or workers?
Should we develop specific tools to be diffused among our suppliers’ workers?
During the meeting we have also evoked the possibility of conferring a contractual
character for L’Oréal code of Conduct. Should our suppliers sign a commitment letter
attesting their compliance with this code?
4) Project work-flow
The first two steps of the project, that are already completed, are the following:
- Definition of basic standards
- Definition of the “Business Partner Tool box” structure
145
The next steps are:
- Tool Box completion
- Validation by steak holders
- Roll out
- Animation in the duration
5) Code of conduct validation by external stakeholders
The validation of all documents by external steak-holders is a crucial issue to avoid
problems in terms of L’Oréal exposure. We should ask for organisations and suppliers
with different profiles to revise your documents before their publication. We should use the
same validation process than the Ethical Charter.
Pending issues:
The R&D department requests the diffusion of the document based on a self-assessment
model. It implicates the collection of suppliers performance self-evaluation concerning
standards stated in the BPSS. This request is to be detailed as a specific project. .
Next steps and deadlines The suppliers’ code of conduct elaboration will be managed as a project. The project team
would comprise of: R. BARRE, S. CLANCY, H. TRAUTMANN, N. LESELLIER, A.
JUNINO, C. DUREL, S. GHISONI, R. TEXTORIS, A. THOMAS and M. DELECRIN.
Regular meetings shall be held at least every month in order to guarantee validation and
completion of each step of the project.
The management steering committee in charge of the strategic decisions is composed by:
B. LAVERNOS; W.BROCKWELL; B.de SENEVILLE ; L. GILBERT; E.LULIN ;
Z.MANSDORF; P.SIMONCELLI.
Project Roadmap: Stakeholders selection and involvement: September 2007
Revised code of conduct: October 2007
Pilot with selected suppliers: October to December 2007
Next kick-off meeting: January 2008
146
147
ANEXO A – Mapeamento dos processos do programa de auditorias sociais da L’Oréal
Compromisso legal, ético e social dos fornecedores do Grupo L’Oréal p g p
ComentáriosFornecedor DT ou DAFComprador
Lista dos fornecedores da entidade
Preparo e envio de correspondências com A/R
para cada fornecedor
Aceitação e formalização do
compromisso legal, ético e
social
Devolução do Formulário “Compromisso Legal,
Ético e Social” assinado
Registro do compromisso do fornecedor e da data da
assinatura
Arquivamento do Formulário assinado
Acompanhamento da consolidação dos fornecedores “sob compromisso
legal, ético e social”
Verificação para que 100% dos fornecedores “ativos” tenham formalizado seu
compromisso
Qualquer problema deve ser transmitido
à DGA
Modelos de correspondência
“Compromisso legal, ético e social” disponíveis pela
intranet DGA
Devolução em 15 dias
!
Figura 15 – Processo de obtenção do acordo (compromisso / assinatura) dos fornecedores sobre o programa de auditorias sociais
Fonte: Intranet L’Oréal
148
Figura 16 – Processo de encomenda da auditoria social à empresa terceirizada responsável pelas
auditorias (Intertek)
Fonte: Intranet L’Oréal
149
Acompanhamento do "Corrective Action Plan "
Fornecedor DGAComprador
envio ao fornecedor do modelo de correspondência
relativo à gravidade dos resultados (quadro CAP)
Definição de um plano de ação com a fábrica em questão
Plano de ação aplicado pela Fábrica
Informação comprador e pedido de nova auditoria
O relatório é transmitido nos 5 dias seguintes à
auditoria
!
Em caso de resultados inaceitáveis, ou seja , "Zero Tolerance" ou "Need Major
Improvement" => interrupção das produções para L'Oréal
Cópia das correspondências
enviadas ao fornecedor em caso de "Zero Tolerance", "Major
Improvement" ou "Access Denied"
Correspondência CAP
Atualização do quadro centralizado (disponível
por intranet)
Acompanhar o quadro do "Corrective Action Plan' (CAP) conf. capítulo 4.1.
Resultado "SATISFACTORY" = FIM
Recepção do relatório de auditoria
tomada de conhecimento do relatório de auditoria
Pedido de auditoria
!
Figura 17 - Processo de acompanhamento da implementação do plano de ações corretivas
Fonte: Intranet L’Oréal
150
Compromisso Ético e Social e Auditorias Sociais de novos fornecedores
Comprador
Constituição do dossiê de avaliação do fornecedor,
incluindo aspectos sociais
Fornecedor Comentários
Proposta para novo fornecedor que entra
Carta de compromisso ético e social e aceitação do princípio de auditoria
Lista das fábricas e dos locais de implantações
Procedimento de avaliação e de acompanhamento das fábricas
quanto aos aspectos sociais, mais particularmente
Interesse do fornecedor confirmado ?
sim
não
Fim
Implementação de auditorias sociais na(s) fábrica(s) em
questão
resultados aceitáveis?
sim
Procedimento de entrada em short list e
decisão de iniciar o negócio
não
Fim
= "Major Improvement" => entrada em short lista
suspensa, nenhum negócio atribuído, pedido de
regularização e nova auditoria às custas do fornecedor
Zero Tolerance?
sim
não
lembrar que a definição de "Zero Tolerance" também
inclui os casos de reincidência de "Access
denied" e / ou de reincidência de "Major
Improvement"
Figura 18 - Processo de integração de novos fornecedores ao programa de auditorias sociais
Fonte: Intranet L’Oréal
151
ANEXO B – Ratificação das convenções da OIT
Ran-king* País
Convenções fundamentais da OIT ratificadas em 31 de dezembro de 2003** Trabalho Forçado Liberdade Sindical Discriminação Trabalho Infantil C. 29 C. 105 C. 87 C. 98 C. 100 C. 111 C. 138 C. 182
1 Estados Unidos 25/09/1991 02/12/1999 2 Suíça 23/05/1940 18/07/1958 25/03/1975 17/08/1999 25/10/1072 13/07/1961 17/08/1999 28/06/2000 3 China 02/11/1990 28/04/1999 08/08/2002 4 Japão 21/11/1932 14/06/1965 20/10/1953 24/08/1967 05/06/2000 18/06/2001 5 Rússia 23/06/1956 02/07/1998 10/08/1956 10/08/1956 30/04/1956 04/05/1961 03/05/1979 25/03/2003 6 Noruega 01/07/1932 14/04/1958 04/07/1949 17/02/1955 24/09/1959 24/09/1959 08/07/1980 21/12/2000 7 Polônia 30/07/1958 30/07/1958 25/02/1957 20/10/1954 25/10/1954 30/05/1961 22/03/1978 09/08/2002 8 República
Tcheca 01/01/1993 06/08/1996 01/01/1993 01/01/1993 01/01/1993 01/01/1993 19/06/2001
9 Hungria 08/06/1956 04/01/1994 06/06/1957 06/06/1957 08/06/1956 20/06/1961 28/05/1998 20/04/2000 10 Turquia 30/10/1998 23/03/1961 12/07/1993 23/01/1952 19/07/1967 19/07/1967 30/10/1998 02/08/2001 11 Coréia do Sul 08/12/1007 04/12/1008 28/01/1999 29/03/2001 12 Canadá 14/07/1959 23/03/1972 16/11/1972 26/11/1964 06/06/2000 13 Brasil 25/04/1957 18/06/1965 18/11/1952 24/04/1957 26/11/1965 28/06/2001 02/02/2000 14 Taiwan Não membro da OIT 15 Hong Kong Não membro da OIT 16 África do Sul 05/03/1997 05/03/1997 19/02/1996 19/02/1996 30/03/2000 05/03/1997 30/03/2000 07/06/2000 17 Singapura 25/10/1965 25/10/1965 30/05/2002 14/06/2001 18 Índia 30/11/1954 18/05/2000 25/09/1958 03/06/1960 19 Arábia Saudita 15/06/1978 15/06/1978 15/06/1978 15/06/1978 08/10/2001 20 Austrália 02/01/1932 07/06/1960 28/02/1973 28/02/1973 10/12/1974 15/06/1973
Tabela 12 - Convenções fundamentais da OIT ratificadas em 31 de dezembro de 2003
Fonte: GRUPO ALPHA (2004, p. 72) * Por ordem de importância das exportações em 2002 – Fonte: INSEE ** Fonte: OIT