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ANA PAULA KELM

Capacitação sócio-ambiental da rede de

suprimentos de uma empresa de cosméticos

São Paulo

2007

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ANA PAULA KELM

Capacitação sócio-ambiental da rede de

suprimentos de uma empresa de cosméticos

Trabalho de formatura apresentado à

Escola Politécnica da Universidade

de São Paulo para obtenção do

Diploma de Engenheiro de Produção

Orientador :

Professor Doutor

João Amato Neto

São Paulo

2007

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4

FICHA CATALOGRÁFICA

Kelm, Ana Paula

Capacitação sócio-ambiental da rede de suprimentos de uma empresa de cosméticos / A.P. Kelm. -- São Paulo, 2007.

152 p.

Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.

1.Responsabilidade social 2.Gestão ambiental 3.Cadeia de

suprimentos I.Universidade de São Paulo.Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II.t.

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Dedico esse trabalho aos meus pais, Edna e

Adolpho, que sempre fizeram o possível e o

impossível para que eu pudesse estudar nas

melhores instituições de ensino, desde minha

alfabetização até o presente momento.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho

de formatura e para a minha formação acadêmica, profissional e pessoal. Aos meus pais, Edna e Adolpho, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com

dignidade, não bastaria um “muito obrigada”. Afinal, eles se doaram inteiros e muitas vezes

renunciaram a seus sonhos para que eu pudesse realizar os meus. Agradeço ao professor João Amato Neto, meu orientador neste trabalho, pelos conselhos

desde o meu estágio na França até últimos momentos da elaboração deste trabalho no Brasil,

pela sua disponibilidade, e pela transmissão de seus conhecimentos e de sua experiência, a todos os professores do departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da

USP e aos professores do departamento de Management et Génie Industriel da École

Nationale des Ponts et Chaussées que contribuíram para a minha dupla formação acadêmica e

profissional, no Brasil e na França, a Ariane Thomas, minha chefa e tutora na L’Oréal, por ter me recrutado e me fornecido os

meios necessários para a realização desse projeto, ao meu pai, pela revisão do texto e pela ajuda na correção dos galicismos, a todos os meus amigos e colegas da Poli e da Ponts et Chaussées, que tornaram estes sete

anos de graduação os anos mais incríveis da minha vida, ao Fabio Cajú, pela amizade incondicional e pelo imenso companheirismo durante os três

anos que vivi na França, aos meus irmãos, Alexandra e Junior, por acreditarem em mim e me amarem

incondicionalmente, ao Patrick, por me fazer sonhar mais alto e por tanto contribuir ao meu amadurecimento como

ser humano.

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RESUMO

As novas exigências do mercado classificam a responsabilidade sócio-ambiental

como um fator crítico de sucesso para as empresas que querem crescer e se estabelecer no

longo prazo. No entanto, um produto ou serviço só pode ser reconhecido como socialmente

responsável se todos os elos da cadeia de valor agirem de forma sustentável. Desta forma, a

designação da empresa e do produto ou serviço socialmente responsável passa a ser

incumbência não apenas de uma organização isolada, mas de toda a cadeia da qual ela faz

parte.

Alinhada a estas novas exigências, a empresa L’Oréal decidiu investir na

capacitação sócio-ambiental de seus fornecedores. Dentro deste contexto, o presente trabalho

de formatura delineia políticas e padrões de responsabilidade sócio-ambiental a serem

respeitados por toda a cadeia de suprimentos da L’Oréal. Para tanto, faz-se uma análise da

performance sócio-ambiental dos fornecedores do grupo, além de uma coleta e análise de

dados de campo e de dados publicados.

Palavras-chaves: responsabilidade social, gestão ambiental, rede de suprimentos.

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ABSTRACT

The new market requirements consider corporate social and environmental

responsibility as a key performance indicator for companies willing to grow and achieve long-

lasting success. However, products and services are recognized as socially responsible only if

all rings of its supply chain behave sustainably. In this context, the concept of a social

responsible company, product or service becomes a duty of a whole chain, and not only a duty

of a single company.

Aligned to these new requirements, L´Oréal decided to invest in the improvement

of its suppliers’ performance in terms of social and environmental responsibility. In this

context, the present work delineates polices and standards in terms of social and

environmental responsibility that have to be respected by the whole company’s supply chain.

To achieve this aim, this work analyses L´Oréal suppliers’ profile, manages documental data

and addresses field surveys.

Key words: social responsibility, environmental management, supply network.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Principais atores do setor mundial de cosméticos - faturamento com cosméticos em 2005 .................................................................................................................................. 25

Figura 2 - Localização geográfica das fábricas da L´Oréal ...................................................... 29 Figura 3 - Gestão da performance do fornecedor ..................................................................... 31 Figura 4 - Critérios de avaliação da performance dos fornecedores ........................................ 32 Figura 5 - Modelo de cadeia de relacionamento ...................................................................... 44 Figura 6 - Etapas do desenvolvimento do projeto .................................................................... 61 Figura 7 – Repartição dos resultados das auditorias sociais por departamento interno que

encomenda a auditoria ...................................................................................................... 67 Figura 8 - Repartição geográfica e anual das auditorias realizadas .......................................... 68 Figura 9 - Detecção das irregularidades mais freqüentes ......................................................... 71 Figura 10 - Irregularidades mais graves (em vermelho) e mais freqüentes (em laranja) ......... 72 Figura 11 - Satisfação dos fornecedores em relação ao nível de informações recebidas em

diferentes etapas do programa de auditorias sociais ......................................................... 95 Figura 12 - Plataforma de compartilhamento de informações, composta por 5 partes .......... 103 Figura 13 - Possível escala para avaliação da maturidade dos fornecedores ......................... 106 Figura 14 - Benefícios para os fornecedores resultantes da capacitação sócio-ambiental ..... 112 Figura 15 – Processo de obtenção do acordo (compromisso / assinatura) dos fornecedores

sobre o programa de auditorias sociais ........................................................................... 147 Figura 16 – Processo de encomenda da auditoria social à empresa terceirizada responsável

pelas auditorias (Intertek) ............................................................................................... 148 Figura 17 - Processo de acompanhamento da implementação do plano de ações corretivas . 149 Figura 18 - Processo de integração de novos fornecedores ao programa de auditorias sociais

........................................................................................................................................ 150

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Faturamento e marcas das quarto divisões de produtos da L’Oréal ........................ 27 Tabela 2 - Repartição dos fornecedores da L'Oréal .................................................................. 33 Tabela 3 - Elementos estruturais das redes de empresas .......................................................... 47 Tabela 4 - Classificação dos tipos de pesquisa ......................................................................... 55 Tabela 5 – Classificação dos resultados das auditorias sociais ................................................ 65 Tabela 6 - Países considerados de risco sob o ponto de vista sócio-ambiental ........................ 66 Tabela 7 - Repartição dos resultados das auditorias sociais realizadas .................................... 69 Tabela 8 - Síntese do benchmark dos principais documentos éticos privados consultados ..... 75 Tabela 9 - O pacto mundial e seus princípios ........................................................................... 80 Tabela 10 - Critérios operacionais identificados ...................................................................... 87 Tabela 11 - Exemplos de requisitos desejados e de requisitos de excelência ........................ 107 Tabela 12 - Convenções fundamentais da OIT ratificadas em 31 de dezembro de 2003 ....... 151

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AOP - Ásia, Oceania e região do Pacífico

CAP - Corrective Action Plan, ou plano de ações corretivas

CGA - Conditions Générales d’Achats, ou Condições Gerais de Compras e Pagamentos

DGA - Direction Générale des Achats, ou departamento corporativo de compras

EMAS – Eco Management & Audit System, ou Sistema de Eco-Gestão e Auditoria

ETI – Ethical Trading Initiative, ou Iniciativa Ética Comercial

ISO - International Organization for Standardization, ou Organização Internacional para

Normalização

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OIT - Organização Internacional do Trabalho

OHSAS - Occupational Health and Safety Assessment Series, ou série de avaliação de saúde e

segurança ocupacional

ONG - Organização não governamental

ONU - Organização das Nações Unidas

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

RSA - Responsabilidade Social e Ambiental

SC - Supply Chain, ou cadeia de suprimentos

SCM - Supply Chain Management, ou gestão da cadeia de suprimentos

SST - Segurança e Saúde no Trabalho

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 21 1.1. Definição do problema ............................................................................................. 21 1.2. Objetivo do trabalho ................................................................................................. 22 1.3. Estrutura do trabalho ................................................................................................ 22 1.4. O setor de cosméticos ............................................................................................... 23 1.5. Apresentação da empresa ......................................................................................... 26

1.5.1. Histórico e dados importantes .......................................................................... 26 1.5.2. Política de produção da L’Oréal ..................................................................... 28 1.5.3. O departamento de compras ............................................................................ 29 1.5.4. Célula Performance dos Fornecedores ............................................................ 30 1.5.5. Os fornecedores da empresa ............................................................................ 32

1.6. O Estágio .................................................................................................................. 34 2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA ...................................................................................... 35

2.1. A responsabilidade social: uma responsabilidade de todos ...................................... 35 2.2. A emergência de códigos de conduta e de documentos éticos ................................. 36 2.3. A internacionalização das empresas e a terceirização de serviços ........................... 37 2.4. O consumo consciente e responsável ....................................................................... 40 2.5. Os principais motivos da formalização ética ............................................................ 42 2.6. A nova visão sobre responsabilidade social das empresas ....................................... 43 2.7. A gestão socialmente responsável numa visão de rede integrada ............................ 44 2.8. Cadeias de Suprimentos (Supply Chain) .................................................................. 46 2.9. Reestruturação da Cadeia de Suprimentos ............................................................... 47 2.10. Casos de más praticas sociais e ambientais .......................................................... 48 2.11. Exemplo de boas práticas na área de responsabilidade social .............................. 51

3. METODOLOGIA ........................................................................................................... 55 4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ...................................................................... 57

4.1. O problema no contexto da empresa ........................................................................ 57 4.2. As etapas do projeto ................................................................................................. 59 4.3. Familiarização e análise do programa de auditorias sociais ..................................... 61

4.3.1. O programa de auditorias sociais e o perfil dos fornecedores ........................ 63 4.4. Benchmark de documentos éticos publicados por outras empresas ......................... 73 4.5. Busca de critérios operacionais para avaliação da responsabilidade sócio-ambiental .............................................................................................................................. 78

4.5.1. Referências Internacionais ............................................................................... 79 4.5.1.1. Pacto Mundial .......................................................................................... 79 4.5.1.2. Os princípios diretores da OCDE destinados às empresas multinacionais .............................................................................................................. 81 4.5.1.3. A declaração da OIT relativa aos princípios e diretos fundamentais no trabalho ........................................................................................... 81

4.5.2. Normas Internacionais ..................................................................................... 82 4.5.2.1. SA8000 ...................................................................................................... 82 4.5.2.2. ISO 14000 e EMAS (Eco Management & Audit System) ......................... 83 4.5.2.3. Norma OHSAS 18001 ............................................................................... 84

4.5.3. Referências Internas ......................................................................................... 84 4.5.3.1. Regulamento ético do grupo L’Oréal ....................................................... 84

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4.5.3.2. Tabelas de avaliação dos fornecedores de matérias primas ................... 85 4.5.4. Critérios operacionais identificados ................................................................ 86

4.6. Definição dos níveis de desempenho ....................................................................... 87 4.7. Integração das particularidades dos fornecedores de matérias-primas .................... 88 4.8. Coleta, compilação e análise de dados de campo através de consultas a fornecedores, compradores e auditores ................................................................................ 92

4.8.1. Consulta aos fornecedores ............................................................................... 92 4.8.2. A elaboração do questionário destinado aos fornecedores ............................. 93 4.8.3. Consulta aos compradores .............................................................................. 94 4.8.4. Síntese das respostas recebidas ....................................................................... 95 4.8.5. Consulta aos auditores..................................................................................... 97

4.9. Validação do projeto pela diretoria da empresa ....................................................... 98 5. RESULTADOS DO TRABALHO .............................................................................. 101

5.1. Plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores ................ 101 5.1.1. Requisitos básicos .......................................................................................... 103 5.1.2. Os Valores-Chave .......................................................................................... 104 5.1.3. Requisitos desejados e de excelência: ........................................................... 105 5.1.4. Metodologia : ................................................................................................. 107 5.1.5. Descrição de boas práticas e de fracassos vivenciados ................................ 108

5.2. O código de conduta .............................................................................................. 108 6. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 113

6.1. Os benefícios, vantagens e melhorias sensíveis do projeto realizado .................... 113 6.2. Sugestões de melhorias .......................................................................................... 117 6.3. Próximas etapas...................................................................................................... 119

LISTA DE REFERÊNCIAS ............................................................................................... 121 APÊNDICE A – O código de conduta ................................................................................ 125 APÊNDICE B – Questionário para os fornecedores ........................................................ 133 APÊNDICE C – Questionário para compradores ............................................................ 137 APÊNDICE D – Minuta da reunião de apresentação do projeto para diretoria da empresa ................................................................................................................................. 141 ANEXO A – Mapeamento dos processos do programa de auditorias sociais da L’Oréal ................................................................................................................................................ 147 ANEXO B – Ratificação das convenções da OIT .............................................................. 151

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Definição do problema

A visão tradicional de que o objetivo das empresas é apenas a produção e a

acumulação de riquezas é conflitante com os valores que se firmam na sociedade. Em

decorrência, tem-se exigido que as empresas redimensionem o seu papel social, levando em

consideração não apenas os interesses dos acionistas, mas os de todos aqueles que afetam ou

são afetados por suas atividades (ARENSTEIN, 1999).

Vassalo (1999) afirma que a responsabilidade sócio-ambiental tem se firmado

como uma atitude exigida pelo mercado, configurando-se como um fator crítico para a

competitividade das empresas que quiserem crescer e se estabelecer no longo prazo.

Atualmente, o consumidor exige muito mais do que qualidade, preço competitivo, bons

serviços e marca forte. Ele quer comprar produtos de empresas com valores éticos, que

respeitem seus funcionários, protejam o ambiente e estejam comprometidas com a

comunidade.

No entanto, um produto só será legitimado como socialmente responsável pelo

consumidor final se todo o ciclo produtivo for construído de forma sustentável. Por isto, não

basta o fabricante almejar e implementar políticas e diretrizes internas para conseguir

excelência em responsabilidade social. A prática deve se estender a todos os elos da cadeia

produtiva. Caso contrário, devido ao contexto sistêmico, a empresa produtora corre o risco de

ser penalizada com a perda de uma boa imagem corporativa e de competitividade devido à

ineficiência da cadeia produtiva em que está inserida. Qualquer ponto fraco da cadeia

prejudica a imagem responsável do produto, desde o processo utilizado na extração de

matéria-prima até as práticas de venda utilizadas pelos varejistas.

Diante deste contexto, a empresa L’Oréal decidiu investir na capacitação social de

sua cadeia de suprimentos, de forma a compatibilizar os níveis de desempenho das práticas

sócio-ambientais de seus fornecedores com os padrões exigidos pelo grupo. No entanto, hoje

tais padrões não são claramente definidos pela empresa. Por este motivo, são necessários para

a L’Oréal:

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- A definição, detalhamento e formalização destes padrões;

- A criação de mecanismos específicos de aprendizado no interior da cadeia,

propiciando a criação, circulação e difusão de informações que reforcem a capacitação da

cadeia e alavanquem o potencial dos agentes integrados.

1.2. Objetivo do trabalho

O objetivo deste trabalho de formatura é o de propor e desenvolver um conjunto de

ferramentas que contribuam para capacitação sócio-ambiental dos fornecedores da empresa

L’Oréal, de forma a se obter uma rede de suprimentos compatível com os critérios

internacionalmente reconhecidos em termos de responsabilidade sócio-ambiental.

1.3. Estrutura do trabalho

O presente trabalho de formatura está estruturado em 6 capítulos:

Este primeiro capítulo faz uma introdução ao trabalho, definindo o seu objetivo e

apresentando o problema abordado. Ainda neste capítulo é feita uma apresentação do setor de

cosméticos, da empresa na qual o trabalho foi desenvolvido e do estágio realizado pela autora.

No segundo capítulo, faz-se uma revisão da literatura sobre os principais temas

abordados neste trabalho e que serviram de base de sustentação para o estudo realizado e para

a justificação da relevância do tema.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada no projeto, descrevendo a

forma como o mesmo foi conduzido.

No quarto capítulo, a problemática tratada neste trabalho se torna mais concreta com

o detalhamento da situação e do problema e com o desdobramento de cada uma das etapas

que constituíram o projeto.

O capítulo cinco descreve os resultados e os produtos do presente trabalho.

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Por fim, o capítulo seis, conclusivo, faz uma avaliação do trabalho realizado,

identificando os benefícios proporcionados pelo projeto e propondo possíveis melhorias às

ferramentas elaboradas. Além disso, é feita uma breve análise sobre as experiências

vivenciadas durante o desenvolvimento do trabalho.

1.4. O setor de cosméticos

Os principais atores internacionais do setor de cosméticos são as grandes empresas

transnacionais, que atuam geralmente em diversos segmentos da indústria – cosméticos,

perfumaria e higiene pessoal – e possuem ligações importantes com atividades químicas,

farmacêuticas e, em alguns casos, de alimentos, aproveitando-se das economias de escala e de

escopo decorrentes da proximidade da base técnica-produtiva e, sobretudo, comercial dessas

atividades (GARCIA; SALOMÃO, 2003).

Para Garcia et al., (2000), há uma clara tendência, convergente com a

internacionalização das empresas da indústria química, de que os produtos de maior valor

agregado – e de menor escala de produção – sejam produzidos nos países de origem (em

geral, países desenvolvidos). Isso se verifica, especialmente, no segmento de produtos de

luxo, cujas escalas de produção são significativamente mais reduzidas. Por outro lado,

produtos de uso mais generalizado tendem a ter sua produção mais internacionalizada, já que

em geral as empresas estabelecem os processos de fabricação junto aos mercados

consumidores (HIRATUKA, 2003, apud GARCIA; SALOMÃO 2003).

Segundo Garcia e Salomão (2003), as grandes empresas internacionais de

cosméticos podem ser divididas em 2 categorias, segundo a forma com a qual organizam suas

respectivas cadeias de valor.

A primeira é composta pelas grandes empresas diversificadas, que atuam na

indústria de cosméticos, e também em atividades correlatas como higiene pessoal, perfumaria,

farmacêutica e alimentos. Pela sua diversificação, essas empresas são capazes de se beneficiar

das economias de escala e de escopo, não apenas na manufatura, mas também, na

comercialização, que se verificam entre os diversos segmentos em que atuam. Dentre essas

grandes empresas destacam-se:

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• Unilever, empresa anglo-holandesa, que atua nos setores de higiene pessoal,

cosméticos, alimentos, higiene, limpeza, óleos e margarinas, sorvetes e bebidas, e outros;

• Procter & Gamble, empresa americana que atua nos setores de produtos de

higiene pessoal, limpeza e cosméticos;

• Johnson & Johnson, empresa americana que atua nos setores de cosméticos,

higiene pessoal e limpeza;

• Colgate - Palmolive, empresa americana, que atua nos segmentos de produtos

para higiene bucal e pessoal.

A segunda forma de organização é composta pelas empresas com atuação

concentrada, que caracterizam suas estratégias pela participação expressiva dos produtos

cosméticos e perfumaria. Essas empresas concentram suas atividades produtivas e

tecnológicas na indústria de cosméticos. Geralmente os produtos são mais sofisticados, e a

escala de produção é menos importante do que os atributos relacionados à diferenciação.

Nesse caso, os atributos como a capacidade de inovação, a incorporação de novos princípios

ativos, a criação de novas embalagens, entre outros, são muito importantes. Entre as principais

empresas dessa categoria, encontram-se:

• L’Oreal, empresa francesa que será descrita mais adiante. Trata-se da empresa

onde este trabalho foi realizado;

• Shiseido, empresa japonesa, com operações concentradas em cosméticos,

produtos para banho e outros ligados ao setor (produtos para salões de beleza, alimentos para

saúde e beleza, entre outros);

• Estee Lauder, empresa americana, que possui entre suas principais marcas

Estée Lauder, Clinique, Aramis, Aveda, entre outras, além de ser licenciada das fragrâncias

Tommy Hilfiger e Dona Karan.

• Revlon, empresa americana que atua, exclusivamente, na indústria de

cosméticos.

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25

Principais atores do setor de cosméticosFaturamento com cosméticos em 2005

(em bilhões de euros)

14.2 13.3

7.6

5.1 4.5 4.3 3.6 3.2 2.3 2.2 1.8 1.4 1.1

L'Oréa

lP&G

Unilev

er

Estée L

auder

Avon

Shiseid

o

Beirsd

ofJ&

JKAO

LVMH

L. Bran

ds

Colgate

Palmoli

ve

Chanel

Figura 1 - Principais atores do setor mundial de cosméticos - faturamento com cosméticos em 2005

Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido e adaptado pela autora

Para Garcia et al., (2000), a partir das estratégias das grandes empresas

internacionais de cosméticos, nota-se que os principais fatores de competitividade são os

ativos intangíveis, como:

- marca,

- capacidade de desenvolvimento e inovação,

- canais de comercialização e distribuição.

De um ponto de vista estrutural, o setor de cosméticos passa atualmente por uma

fase de aquisições e pela inserção de produtos naturais. A L’Oréal adquiriu assim a sociedade

francesa SkinEthic (desenvolvimento da reconstrução do tecido cutâneo humano), a rede

britânica de cosméticos éticos e não testados em animais, The Body Shop, e enfim a empresa

francesa Sanoflore (produtos ecológicos e biológicos). Já o grupo americano Johnson &

Johnson comprou a sociedade Laboratoires Vendôme.

Segundo dados da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos), no Brasil, o setor encerrou o ano de 2006 com faturamento de R$

17,3 bilhões, aumento de 14% em relação a 2005, levando o país a ocupar a terceira posição

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no ranking mundial dos maiores consumidores de artigos de higiene e limpeza. Para 2007, a

previsão é de crescimento de 12%1.

1.5. Apresentação da empresa

1.5.1. Histórico e dados importantes

A origem do grupo L’Oréal data de 1907, quando o jovem cientista francês

Eugène Schueller criou uma formula de tintura de cabelos. Em 1909, ele criou a sociedade

francesa de tinturas inofensivas para o cabelo. Em 1939, ela se torna uma sociedade anônima

conhecida pelo nome de L’Oréal.2

Com um faturamento de 15,79 bilhões de euros em 2006, a L’Oréal se apresenta

como o líder mundial do mercado de cosméticos. Seus principais concorrentes no cenário

internacional são as empresas Proctor&Gamble, Unilever, Estée Lauder e Avon. O grupo

conta com mais de 60 mil colaboradores presentes em 58 países3.

O sucesso da empresa se exprime por um crescimento das receitas (+8,7% em

2006) superior ao crescimento do mercado mundial, fato que tem se repetido nos últimos 20

anos. Um dos pontos fortes do grupo se traduz pelo investimento intenso em pesquisa e

desenvolvimento: a empresa ocupa o primeiro lugar em patentes depositadas no setor de

cosméticos. O grupo possui cerca de 20 mil patentes em vigor no mundo, das quais 569

depositados em 2006. A cada ano, cerca de 4000 novas formulas são desenvolvidas. Só em

2006, a empresa investiu 533 milhões de euros em pesquisa, o que corresponde a cerca de 3%

do seu faturamento neste mesmo ano3.

1 Dados divulgados na revista Portal Fator Brasil, em 10 abril 2007. Disponível em <http://www.revistafatorbrasil.com.br>. Acesso em: 5 maio 2007. 2 Fonte: Intranet L’Oréal 3 Fonte: Relatório anual L’Oréal 2006. Disponível em: <http://www.loreal-finance.com/>. Acesso em: 15 março 2007.

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Além disso, a L’Oréal é a única entre seus concorrentes a possuir uma forte

presença em todos os canais de distribuição do setor de cosméticos, atuando em todos os

quatro segmentos:

• produtos de luxo, encontrados em perfumarias, lojas especializadas e duty-free shops

em aeroportos;

• produtos para o grande publico, encontrados em supermercados, lojas de departamento

e outros varejistas;

• produtos profissionais, vendidos para salões de cabeleireiros e centros de beleza e

estética,

• cosmética ativa, com produtos específicos comercializados exclusivamente em

farmácias.

Assim, o catálogo de produtos do grupo é constituído por um painel de 19 marcas

internacionais, além de uma infinidade de marcas regionais. Estas marcas são agrupadas em 4

divisões, de acordo com o tipo do canal de distribuição e o preço dos produtos.

Canal de distribuição Faturamento (%) Principais marcas

Produtos para o grande público 53%

Produtos de luxo 25%

Produtos profissionais 14%

Cosmética ativa 8%

Tabela 1 - Faturamento e marcas das quarto divisões de produtos da L’Oréal

Fonte: Relatório anual L’Oréal 2006 – adaptado e traduzido pela autora

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1.5.2. Política de produção da L’Oréal

A L'Oréal produz mais de 94% dos produtos vendidos pelo grupo; os 6% restantes

provêm de empresas terceirizadas ou subcontratadas4. Os casos de terceirização de

manufatura se restringem sobretudo a operações onde são necessárias tecnologias ausentes no

grupo. Pincéis presentes em rimeis e máscaras para os cílios são exemplos de produtos

fabricados por terceiros, dado que a L’Oréal não possui a tecnologia necessária à fabricação

destes itens. Os objetos promocionais (bijuterias, bolsas de plástico ou tecido, toalhas

camisetas e brindes em geral) também são feitos através da manufatura terceirizada.

Esta forte integração da atividade industrial no grupo garante o controle de seus

instrumentos industriais. Para a L’Oréal, o pleno domínio das operações industriais é um

aspecto primordial e estratégico para a garantia da qualidade dos produtos e uma alavanca

para a responsabilidade social na cadeia produtiva. Esta decisão estratégica também é

importante para proteger as inovações tecnológicas do grupo.

Outros aspectos fundamentais da política industrial do grupo são:

• Produzir mundialmente a qualidade desejada pelos consumidores

• Segurança, higiene e respeito ao meio ambiente

• Controle dos custos

• Ética e diversidade.

- Implantação das fábricas

A L’Oréal conta com 40 fábricas espalhadas pelo mundo. As fábricas são

dedicadas e especializadas por marcas (Lancome, Garnier, Vichy, ...) e tecnologia

(maquiagem, cremes, tinturas, etc…).

As fábricas de produtos mais sofisticados concentram-se na Europa (sobretudo na

França) e nos Estados Unidos. Já as fábricas especializadas em produtos de uso generalizado

(produtos para o grande público) encontram-se nas mais diversas regiões do globo,

procurando concentrar os processos de produção junto aos mercados consumidores. Isto 4 Fonte: Relatório anual L’Oréal 2006, p. 75.

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permite ao grupo assegurar um abastecimento contínuo e flexível dos produtos. Em segundo

lugar, esta escolha traduz um aspecto importante da estratégia do grupo nos países

emergentes: a L’Oréal deseja aliar a sua presença comercial nos circuitos de distribuição à

instalação de plantas produtivas, criadoras de empregos e contribuidoras diretas ao

desenvolvimento. Por fim, a estratégia do grupo de produzir próximo ao mercado de consumo

constitui um meio de minimizar os custos com importações.

Além disso, a L´Oréal é contra a política de dumping social, marcada pela

concentração de instalações produtivas em regiões conhecidas pelo baixo custo de mão de

obra.

Figura 2 - Localização geográfica das fábricas da L´Oréal

Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido pela autora

1.5.3. O departamento de compras

Na L’Oréal, o departamento de compras é composto por duas estruturas distintas:

- uma estrutura operacional composta por compradores que trabalham nas fábricas

do grupo. Em permanente comunicação com os departamentos de logística e de produção das

fábricas da L’Oréal, os compradores devem garantir a disponibilidade das matérias primas e

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dos artigos de condicionamento em suas fábricas. São eles que transmitem as ordens de

compra aos fornecedores, sendo responsáveis, dentre outras funções, pela escolha do

fornecedor e pela negociação dos preços. Desde 2006, estes compradores se organizam em

torno de 7 centros de compras (sourcing centers), que garantem uma certa centralização do

setor, propiciando economias de escala, homogeneização das informações, maior controle e

poder de negociação.

- uma estrutura funcional, corporativa e transversal, conhecida como “Corporate

Purchasing” (departamento corporativo de compras), responsável pela definição da estratégia

mundial de compras do grupo e pela gestão dos riscos envolvidos. Ela busca desenvolver uma

política de compras baseada na criação de valor, na inovação, na diferenciação em relação aos

concorrentes e em parcerias numa relação win-win com os fornecedores. As células que fazem

parte do Corporate Purchasing são as seguintes:

• Equipamentos industriais,

• Matérias primas,

• Artigos de condicionamento (embalagens),

• Sistema de Informação,

• Custos Indiretos,

• Performance dos fornecedores.

1.5.4. Célula Performance dos Fornecedores

Pertencente ao departamento “Corporate Purchasing”, esta é a célula onde o

presente trabalho foi desenvolvido.

O objetivo da célula Performance dos Fornecedores, transversal a todo o setor de

compras, é definir e assegurar um acompanhamento da política mundial de gestão da cadeia

dos fornecedores no médio e longo prazo.

As seguintes tarefas fazem parte das funções desta célula:

- Redação e implementação de procedimentos, regulamentações e documentos

gerais destinados aos fornecedores

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- Definição de indicadores capazes de medir e acompanhar a evolução da

performance dos fornecedores em escala mundial, assegurando a perenidade da supply chain

da L’Oreál.

O sistema de avaliação da performance dos fornecedores permite ao grupo:

- Medir a performance dos fornecedores

- Priorizar e orientar as ações dos compradores e identificar os melhores

fornecedores

- Gerenciar a evolução da performance dos fornecedores.

Na verdade, encontrar um fornecedor com um bom desempenho é uma tarefa

relativamente simples. No entanto, assegurar que a performance deste fornecedor é

sustentável e que ele continuará a apresentar todas as garantias e a segurança necessárias à

L’Oreál com o passar do tempo é uma tarefa muito mais complicada. Em outras palavras, não

é suficiente encontrar um fornecedor que se adapte aos critérios exigidos pela L’Oréal no

instante t, mas é necessário obter garantias de que ele conservará seu desempenho no instante

t+1. Isto exige um grande trabalho de análise, de acompanhamento e de ações em

permanência.

Por exemplo, uma empresa que baseia seu preço competitivo na utilização abusiva

de sua força de trabalho não apresenta uma performance sustentável. A produtividade e a

qualidade do trabalho de seus funcionários tendem a diminuir, afetando negativamente a

qualidade dos produtos ou dos serviços prestados. O nível de renovação do quadro de

funcionários também tende a ser alto, o que inviabiliza a capitalização do conhecimento, o

treinamento e o desenvolvimento dos funcionários.

Figura 3 - Gestão da performance do fornecedor

Fonte: elaborada pela autora

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Os 5 critérios de avaliação da performance dos fornecedores utilizados na L’Oréal

são os seguintes: responsabilidade social e ambiental (RSA), qualidade, logística, inovação e

competitividade.

Figura 4 - Critérios de avaliação da performance dos fornecedores

Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido pela autora

O presente trabalho de formatura contempla unicamente o critério RSA.

1.5.5. Os fornecedores da empresa

A estratégia da empresa voltada para a produção de seus próprios produtos,

evitando a utilização da manufatura terceirizada, resulta em uma complexa cadeia de

fornecedores. A indústria da L’Oréal conta hoje com cerca de três mil fornecedores em seu

portfolio (este número não compreende os fornecedores de objetos promocionais5).

Os fornecedores são divididos nas seguintes categorias : 5 Os fornecedores de objetos promocionais não foram considerados no total por tratar-se de fornecedores aos quais são feitos pedidos pontuais. Na maioria dos casos, trata-se de fornecedores que receberam um único pedido da L’Oréal.

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a) Fornecedores de matérias-primas: são os fornecedores dos princípios ativos das

fórmulas da L’Oréal, de seus componentes químicos, vitaminas, etc. Muitos destes

fornecedores têm uma relação próxima com o departamento de Pesquisa e Desenvolvimento,

em busca de uma constante colaboração direcionada para a inovação através da diferenciação

dos produtos existentes e do lançamento de novos produtos.

b) Fornecedores de artigos de condicionamento: são os fornecedores de

embalagens, tais como frascos, potes, bisnagas, tampas, tubos, vaporizadores, caixas, rótulos e

etiquetas.

c) Produção em terceiros: como mencionado anteriormente, apenas 6% dos

produtos da L’Oréal provem da manufatura terceirizada.

d) Custos indiretos: categoria que engloba fornecedores de produtos ou serviços

que não estão diretamente ligados à produção, tais como empresas de restauração, jardinagem,

segurança, etc.

e) Fornecedores de equipamentos industriais: são os fornecedores de equipamentos

industriais presentes nas fábricas da L’Oréal.

Embalagens Matérias-

primas

Manufatura

terceirizada

Custos

indiretos

Objetos

promocionais

Número de

fornecedores 620 677 400 972

Estimativa:

4000

Tabela 2 - Repartição dos fornecedores da L'Oréal

Fonte: Apresentação ao Comex (comitê executivo) da L’Oréal realizada em 12 julho 2007.

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1.6. O Estágio

O presente trabalho de formatura foi realizado na empresa L’Oréal, em Paris,

durante um estágio em tempo integral no período entre 1 de março e 1 de agosto de 2007,

dentro do programa de diploma duplo firmado entre a Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo e a Ecole Nationale des Ponts et Chaussées. O estagio se desenvolveu no

departamento corporativo de compras, mais precisamente na divisão responsável pela

avaliação da performance dos fornecedores do grupo.

A missão da autora dentro do grupo L’Oréal se desenvolveu em 3 frentes de

trabalho:

- o acompanhamento do programa de auditorias sociais (que será explicado mais

adiante);

- a concepção da estrutura de uma plataforma de informações sobre

responsabilidade social e ambiental a ser compartilhada com os fornecedores do grupo;

- a elaboração do código de conduta responsável a ser respeitado por todos os

fornecedores do grupo.

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2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA

Este capítulo traz a revisão bibliográfica sobre os principais temas e conceitos de

literatura abordados neste trabalho. A intenção aqui não é tratar de maneira exaustiva os temas

apresentados, mas apenas de situar o leitor com algumas referências importantes sobre os

assuntos abordados.

2.1. A responsabilidade social: uma responsabilidade de todos

Nos últimos anos, temos assistido a uma multiplicação das iniciativas das

empresas no ramo da responsabilidade social. Estas ações por parte das empresas ultrapassam

a simples prescrição legal e se concretizam através de ações em favor do meio ambiente e

projetos filantrópicos e assistenciais direcionados à comunidade. A essas ações, soma-se a

criação de ferramentas que asseguram a promoção de uma política de desenvolvimento

sustentável dentro das próprias empresas: trata-se de adesões a iniciativas internacionais que

visam à promoção dos direitos humanos, elaboração de códigos de condutas, de documentos

éticos e de relatórios específicos baseados na lógica do “triple bottom line6”.

O conjunto destas iniciativas é resultado de uma nova configuração social e

econômica na qual o direito (especialmente o direito do trabalho), deixam de ser uma

responsabilidade exclusiva do Estado. Como indica a Declaração Universal, os direitos do

homem devem ser protegidos pelos Estados, mas também pelos indivíduos e órgãos da

sociedade, o que inclui as empresas. A divisão de responsabilidades evolui: cada vez mais, os

tratados internacionais dos direitos do Homem criam obrigações – mesmo que indiretas – para

as empresas. As convenções da OIT, por exemplo, definem uma obrigação direta às empresas

de não praticarem a discriminação e de respeitarem a liberdade de associação dos salariados.

6 A performance global de uma empresa está baseada em três dimensões: a performance econômica, a performance ambiental e a performance social.

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A meio caminho entre a regulamentação e a auto-regulação, um conjunto de

ferramentas, normas e recomendações criadas a partir de iniciativas das empresas

multinacionais sobre a responsabilidade social caracterizam o conceito do “soft law”. Desta

forma, os códigos de conduta e os demais documentos éticos se situam no chamado infra

direito, no qual o não-restritivo e o obrigatório andam lado a lado, sem que se possa dissociar

um do outro (GRUPO ALPHA, 2004).

2.2. A emergência de códigos de conduta e de documentos éticos

O Grupo Alpha (2004) destaca três fases – ou ondas – que caracterizam o

surgimento dos códigos de conduta.

A primeira onda de códigos de conduta e documentos éticos data da década de 30,

quando certas organizações profissionais norte-americanas elaboraram algumas normas para

reger as relações entre seus membros aderentes, assim como a relação destes membros com

colaboradores externos. Isto permitiu a estas organizações regulamentarem elas mesmas suas

atividades, o que as evitou de adotar uma regulamentação pública mais restritiva. Os códigos

de conduta desta época mencionavam apenas algumas regras relacionadas a certas atividades

como a publicidade.

Durante os anos 70, duas organizações internacionais elaboraram princípios

destinados às empresas multinacionais. Primeiramente a OCDE elaborou em 1976 as

Diretrizes para Empresas Multinacionais. Tais diretrizes são recomendações dos governos às

empresas multinacionais, que definem princípios e padrões de cumprimento voluntário, de

acordo com as legislações nacionais, visando promover uma conduta empresarial responsável.

No ano seguinte, a OIT elaborou a Declaração Tripartite de Princípios sobre as Empresas

Multinacionais e a Política Social. Ambos os códigos internacionais abrangem questões sobre

as relações de trabalho e os direitos humanos. No entanto, a adesão a estes códigos por parte

das empresas possui um caráter estritamente voluntário.

Por fim, a terceira onda de códigos de conduta ocorreu nos anos 90. Os códigos

desta época foram elaborados por meio de iniciativas de associações, de organizações não

governamentais e sobretudo pelas próprias empresas multinacionais. Estes códigos de conduta

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e documentos éticos publicados neste contexto diferem daqueles emitidos pelas organizações

pelo fato de se originarem das iniciativas individuais das próprias empresas.

Tratam-se portanto de códigos de conduta privados ou de iniciativas nos locais de

trabalho, que abrangem um certo número de documentos heterogêneos, e na maioria dos

casos, específicos à natureza ou às preocupações de cada empresa. Tais documentos

propiciam a difusão de valores e revelam o comportamento deontológico destas empresas.

Segundo o Grupo Alpha (2004), a implementação de dispositivos deontológicos é

evidentemente desigual dentre os diversos países do globo. Ela é sem dúvida mais

desenvolvida em países anglo-saxões, nos países da Europa do Norte e no Japão. Na França,

estes dispositivos são fortemente influenciados por especificidades dos setores de atividades e

das regulamentações que regem estes setores. De modo geral, tais documentos éticos se

inserem hoje em um contexto sócio-econômico profundamente transformado.

2.3. A internacionalização das empresas e a terceirização de serviços

Smith (1996 apud Nogueira, 2007) discute três relações importantes ao fazer um

balanço da globalização, regionalização e emprego impulsionado principalmente pelos

agentes empresariais que tomam as decisões de comércio e de investimento.

A primeira delas é estabelecida entre a integração econômica e a formação dos

blocos entre países e regiões que produz na prática e na ideologia um mundo sem fronteiras

combinado com a flexibilização da produção. Isto implica em uma relação perversa que

desloca processos de produção do Primeiro Mundo para fora em busca de trabalho intensivo,

de baixo custo e de baixa qualificação7.

A relação analisada por Smith é uma relação entre vantagens comparativas,

competitivas e a questão do emprego. A vantagem comparativa articula fundamentalmente

eficiência e baixo custo. No entanto, para um país (e por que não para uma empresa?), é muito

mais importante ter vantagem competitiva que, segundo Porter, articula produtividade e

inovação. Esta vantagem competitiva puxa a qualificação do emprego e tende a elevar a renda 7 Nota da autora: este fenômeno não se aplica apenas às questões sociais, mas também às questões ambientais, em um contexto onde as empresas se deslocam em busca de países onde as regulamentações ambientais não são severas.

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e o bem estar social. Estas são variáveis importantes na avaliação do crescimento econômico e

empresarial e do próprio emprego. No entanto, é inegável a existência do problema da

precariedade do emprego em deslocamentos globais, que em muitos casos têm em vista

apenas as vantagens de cunho comparativo.

Por fim, a terceira relação complexa discutida é entre a globalização, a empresa

competitiva e o emprego. Para Smith (1996 apud Nogueira, 2007, p. 302) a nova competição

acarretou mudanças na organização das grandes empresas com a diminuição de seu tamanho,

com drástica redução de custos e de postos de trabalho (downsizing), com a formação de redes

e subcontratações de serviços e fornecedores. O resultado foi um deslocamento de atividades

de baixa qualificação para regiões de baixos salários e manutenção da alta qualificação nas

matrizes e nas regiões de altos salários.

Para o grupo Alpha (2004), o contexto da globalização traz uma revolução sócio-

econômica significativa, sobretudo no que diz respeito a uma certa desregulamentação

econômica, na qual os Estados assistem a uma progressiva limitação de seu poder regulador

face às empresas multinacionais. Tais empresas, cuja importância no cenário econômico

internacional cresce continuamente, assistem ao aumento progressivo de seu poder de

negociação, de influência e de regulamentação social.

Como afirmou o Diretor Geral da OIT em seu relatório destinado à 89ª edição da

Conferência Internacional do Trabalho, ocorrida em 2001 em Genebra, nos encontramos “em

um mundo onde a desregulamentação, a privatização e o não compromisso do Estado

transferiram o poder de decisão da esfera pública à esfera privada. Desta forma, o mundo dos

negócios, e particularmente as empresas, se encontram diante de cenário no qual as discussões

referem-se inevitavelmente aos padrões laborais”8 .

A este contexto, somam-se as profundas transformações da organização da

produção, como por exemplo a terceirização em cascata9 e o aumento significativo da

concorrência. Alem disso, o foco das empresas tem se orientado cada vez mais à relação com

o cliente, a fim de adaptar continuamente a oferta de bens e de serviços às expectativas dos

clientes que não param de evoluir. Desta forma, a organização do trabalho como um todo se

transforma. A empresa hierarquizada imersa em um ambiente estável se transforma em uma

rede de empresas que adotam um modelo de produção flexível. Assim, um conjunto de

8 Organização Internacional do Trabalho, “Reduzir o déficit de trabalho decente: um desafio mundial”, Relatório do diretor geral da Conferência Internacional do Trabalho, 89a seção, Genebra, 2001. 9 Subcontratação de um empresa por parte de outra empresa já subcontratada.

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organizações economicamente dependentes mas juridicamente independentes se agrupam ao

redor de uma organização que dita as regras. Nos dias de hoje, a terceirização e a

subcontratação num contexto de redes de empresas ganham uma importância significativa em

determinados setores. No setor automotivo, por exemplo, elas representam cerca de 70% do

valor total da produção. Em outros setores industriais, elas podem representar algo entre 50 e

70% deste valor (GRUPO ALPHA, 2004).

Portanto, esta evolução se baseia em dois fenômenos intimamente ligados

(GRUPO ALPHA):

- uma internacionalização crescente das empresas multinacionais, com

implantação das mesmas em países onde o desenvolvimento e a evolução dos direitos dos

trabalhadores não é uma questão prioritária;

- um recurso recorrente à subcontratação e à terceirização de serviços que

transformam profundamente a organização do trabalho, que favorecem a dispersão das

coletividades e que acarretam em uma política de degradação social através da organização

caracterizada pelas subcontratações em cascata.

Neste contexto, as normas que regulam as atividades e o trabalho das várias

empresas subcontratadas por uma empresa devem ser explícitas e coerentes com os padrões

desejados pela empresa contratante. Desta forma, devido aos países onde existe um déficit de

regulamentação pública quanto às relações laborais ou onde a lei em vigor é muito severa, a

empresa contratante introduz suas próprias normas para regulamentar e regular a organização

do trabalho de acordo com suas necessidades e princípios. Estas normas são destinadas não

apenas aos colaboradores internos da empresa, mas também a seu conjunto de fornecedores e

de empresas subcontratadas.

Os documentos éticos se inserem nesta evolução profunda de práticas das

empresas, onde o objetivo não é o de desregulamentar, mas sim de regulamentar de uma outra

forma. Esta outra forma leva em consideração certos interesses das empresas multinacionais

que não podem ser contemplados pelas intervenções públicas. Este fenômeno marca o

surgimento da “soft law”.

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2.4. O consumo consciente e responsável

Segundo a pesquisa de Responsabilidade Social das Empresas – Percepção e

Tendências do Consumidor Brasileiro (2000), realizada pelo Instituto Ethos10 e o Jornal Valor

Econômico, no Brasil, 57% dos consumidores consideram se uma empresa é boa ou ruim em

função da sua responsabilidade social. 35% dos consumidores não só do Brasil mais em todo

o mundo espera que a empresa melhore a sociedade. Ainda, os consumidores recompensam e

punem as empresas pela sua responsabilidade social. Recompensam a empresa ao comprar os

seus produtos e ao recomendá-la a seus conhecidos. Punem ao não comprar seus produtos e

ao não recomendá-la. 35% dos consumidores brasileiros e 49% dos consumidores dos Estados

Unidos agem dessa forma.

Neste contexto, as empresas multinacionais foram obrigadas a se adequarem às

novas exigências que ultrapassam as preocupações financeiras de curto prazo dos acionistas.

Para responder às exigências financeiras de forma sustentável, as empresas passaram a

considerar em suas decisões questões relacionadas às crescentes preocupações sociais dos

consumidores – cidadãos mais conscientes das condições laborais sob as quais certos produtos

são fabricados. Hoje em dia, a boa administração deve ser resultado de uma conduta correta.

Esta nova restrição às empresas multinacionais ganhou importância em meados

dos anos 90, quando elas foram obrigadas a se confrontarem com novos interlocutores, as

organizações não governamentais, que concentraram seus esforços na denúncia de práticas

abusivas de determinadas empresas quanto a questões ambientais, quanto ao respeito dos

direitos humanos, e quanto à corrupção.

A partir desta época, um grupo importante de consumidores desenvolveu uma

maior consciência das desigualdades econômicas e sociais existentes, exigindo um nível

maior de responsabilidade em seus atos de consumo e conferindo mais importância ao

comportamento ético das empresas (BUENDÍA; COQUE; GARCÍA, 2001). Diante desta

situação, surgem inúmeras iniciativas que se agrupam sob a denominação de Economia

10 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1998, que tem como associados algumas centenas de empresas em operação no Brasil, de diferentes portes e setores de atividade. A entidade tem como missão mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável.

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Alternativa Solidária e que dão origem a uma mesma filosofia que posiciona elementos

sociais, políticos, culturais e ecológicos no mesmo patamar que os aspectos puramente

econômicos (COQUE; MÉNDEZ, 1998). Assim, o Comercio Justo, a Agricultura Ecológica

e a Banca Ética são exemplos de iniciativas que surgem com o objetivo de introduzir um

comportamento ético nas pautas de consumo, sobretudo nos países do norte. (VILANOVA,E.;

VILANOVA,R., 1996)

Diante desta realidade, surge um novo enfoque de marketing que considera os

aspectos do consumo responsável, ético e ecológico. O marketing social implica as empresas

na identificação das necessidades, desejos e interesses do público alvo, de forma a administrá-

los de maneira efetiva e de preservar no longo prazo o bem estar dos consumidores e da

sociedade. (KOTLER, 1995).

A Teoria do Comportamento do Consumidor, segundo os estudos conduzidos por

Lancaster, nos apresenta a figura de um consumidor que busca maximizar a sua utilidade no

momento em que se confronta com uma decisão de consumo. Desta forma, é possível assumir

que, na maximização de sua utilidade, os consumidores consideram a importância de uma

série de atributos tangíveis e intangíveis, que incluem não apenas aspectos como o preço e a

qualidade dos produtos, mas também outros como a origem e as condições de fabricação e

comercialização e o respeito a uma série de valores sociais e ambientais. (BURNS, 1995)

Diversos autores admitem que, com níveis iguais de todos os demais atributos,

todos os consumidores prefeririam produtos mais ecológicos e solidários (CAMPOS et al,

2002).

As empresas multinacionais foram obrigadas a se adaptarem, em pouco tempo, a

estas novas exigências sociais. Afinal, as empresas multinacionais não estão dispostas a

arriscarem seu capital imagem, fundamental à sua saúde financeira.

Desta forma, o movimento do consumo ético também foi um dos fatores que

contribuíram ao surgimento de códigos de conduta privados nestes últimos anos.

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2.5. Os principais motivos da formalização ética

Iniciada devido à evolução nos modos de produção e de consumo e incentivada

pela questão da boa gestão da imagem da marca, a formalização ética é uma resposta a

inúmeros outros aspectos que serão mencionados neste capítulo.

A maior parte das empresas que se lançaram nesta iniciativa são empresas de

grande porte. Seu tamanho e extensão geográfica limitam e complicam a troca de informações

e a constituição de uma cultura comum. Desta forma, a formalização ética constitui um

instrumento importante para o desenvolvimento interno e o amadurecimento dos valores da

empresa e para a difusão dos mesmos para todos os colaboradores espalhados pelo mundo.

Além disso, as empresas multinacionais que atuam em setores especialmente

críticos quanto à exposição social (trabalho infantil, etc.) e ambiental (indústrias químicas,

petróleo, produtoras de cimento, etc.) tem um grande interesse em se proteger contra riscos de

acusação.

Sendo assim, a combinação de uma infinidade de razões conduz as empresas a

elaborar e divulgar um ou mais documentos que retomem as preocupações das empresas e da

sociedade.

Estas razões podem ser classificadas em duas categorias (GRUPO ALPHA, 2004):

- as razões defensivas, tais como busca de auto-regulação da empresa, moralização

da empresa, melhora da reputação da empresa, reação a escândalos, pressão dos acionistas,

pressão dos consumidores e reação à elaboração de uma nova lei ou regra.

- as razões ofensivas, tais como adoção de um novo modelo de administração e de

tomada de decisão, aumento do marketshare, clarificação ou amadurecimento dos objetivos

da empresa, descentralização do poder de decisão, diferenciação em relação aos concorrentes,

estratégia de fidelização dos clientes e controle comportamental dos colaboradores internos e

externos.

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2.6. A nova visão sobre responsabilidade social das empresas

As novas exigências para a manutenção da competitividade das empresas vêm

trazendo para a gestão, implicações de cunho mais amplo e sistêmico de forma que as

oportunidades de negócio oferecidas pelas atuais condições econômicas geram consigo, uma

forte demanda por uma nova postura social global (KREITLON, QUINTELLA, 2001). Nesse

sentido, o conceito de responsabilidade social das empresas vem se consolidando de forma

cada vez mais multidimensional e sistêmica, buscando interdependência e interconectividade

entre os diversos stakeholders11 ligados direta ou indiretamente ao negócio da empresa

(ASHLEY; COUTINHO; TOMEI; 2000; ASHLEY, 2001).

Portanto, a política de responsabilidade social das empresas deixa de se focalizar

em ações e projetos filantrópicos e assistenciais direcionados à comunidade e começam a

adotar uma visão de redes de relacionamento. Esta visão é desenvolvida a partir de padrões de

conduta aplicáveis à totalidade das atividades da empresa e de seus colaboradores internos e

externos. Isto se dá através de um conjunto de políticas, práticas e programas gerenciais que

perpassam por todos os níveis e operações do negócio e que facilitam e estimulam o diálogo e

a participação permanentes com os stakeholders. Cria-se assim uma interação entre os

diversos agentes sociais não abarcando somente os aspectos econômicos, como vem

acontecendo classicamente na administração, mas também incluindo relações de confiança e

normas éticas (ASHLEY, 2001).

Tal postura fundamenta-se em políticas e diretrizes para os mais diversos

stakeholders que requer um compromisso de toda a organização, envolvendo todos os níveis

hierárquicos, da alta administração ao nível operacional, afetando toda a estrutura

organizacional, uma vez que pressupõe novos conceitos, valores e técnicas gerenciais.

Portanto, necessita ser incorporada à estratégia da empresa, refletida em desafios éticos nas

dimensões econômica, ambiental e social para otimizar as oportunidades de negócio

(ZADEK, 1998).

11 O termo stakeholder, parte interessada ou interveniente, refere-se a todos os envolvidos em um processo, por exemplo, clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, comunidade, etc

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2.7. A gestão socialmente responsável numa visão de rede integrada

Embora o conceito de responsabilidade social empresarial venha sendo discutido e

pesquisado intensamente na administração, pouca interação tem tido tais estudos com o

campo da gestão da cadeia de suprimentos. Ambos, apesar de serem áreas de conhecimento

recentes, vêm trilhando caminhos de pesquisa autônomos, um voltado para o gerenciamento

interno e outro para o gerenciamento externo (CARTEER; JENNINGS, 2000, p. 125, grifo

nosso).

Entretanto, o atual arranjo sistêmico que vem sendo exigido das empresas, requer

também uma nova compreensão de responsabilidade social, que não mais poderá estar

centrada unicamente no fabricante e em suas políticas sociais. A designação de empresa e de

produto socialmente responsável passa a ser incumbência não apenas de uma organização

isolada, mas de toda a cadeia produtiva da qual ela faz parte (ALIGLERI, L.M,; ALIGLERI,

L.A; CÂMARA, 2002).

Figura 5 - Modelo de cadeia de relacionamento

Fonte: (WOOD; ZUFFO, 2001, p. 231)

Não há como caracterizar uma empresa como socialmente responsável se o seu

fornecedor atua de forma ambientalmente agressiva ou utiliza padrões de conduta antiéticos,

bem como se o seu distribuidor pratica discriminação racial ou não apresenta condições

mínimas de segurança no trabalho.

A responsabilidade social deve ter uma abordagem baseada no entendimento de

que os elos da cadeia são altamente interdependentes e operam segundo a teoria de sistemas,

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onde a otimização das partes não significa necessariamente a otimização do todo. O produto

só será legitimado como socialmente responsável pelo consumidor final se todo o ciclo

produtivo for construído de forma sustentável. (ALIGLERI, L.M,; ALIGLERI, L.A;

CÂMARA, 2002).

Não basta o fabricante almejar e implementar políticas e diretrizes internas, para

conseguir excelência em responsabilidade social. A prática deve se estender aos fornecedores,

distribuidores e varejistas, evitando ações precárias e muitas vezes predatórias em questões

ligadas ao social. Caso contrário, devido ao contexto sistêmico, a empresa produtora corre o

risco de ser penalizada com a perda de uma boa imagem corporativa e de competitividade

devido à ineficiência da cadeia produtiva em que está inserida. Qualquer ponto fraco da

cadeia prejudica a imagem responsável do produto, desde o processo utilizado na extração de

matéria-prima até as práticas de venda utilizadas pelos varejistas. Desta forma, a consistência

de uma cadeia em questões ligadas ao social é igual à resistência de seu elo mais fraco

(FERREIRA, 2007). Wood Jr e Zuffo (1997) reforçam esta idéia ao afirmar que as

organizações estão deixando de ser sistemas relativamente fechados para tornarem-se

sistemas cada vez mais abertos. Suas fronteiras estão se tornando mais permeáveis e, em

muitos casos, difíceis de identificar.

Sendo um sistema de gestão interorganizacional que envolve a integração de

diversos processos de negócios, desde as fontes de suprimentos até o consumidor final, tal

interação significa uma profunda alteração de valores, já que há necessidade de alinhamento

de processos-chaves, extrapolando os limites da empresa (VENANZI, 2000).

É evidente que o envolvimento das várias empresas da cadeia com a questão social

não será uniforme, apresentando particularidades segundo determinantes sociais,

tecnológicos, geográficos e econômicos e variando conforme a pressão social sofrida pela

empresa (ALIGLERI; BORINELLI, 2001). Entretanto é imprescindível, para o início do

processo de gestão em cadeia da responsabilidade social, que o fabricante ou o

distribuidor – aquele cuja legitimidade precisa ser mais claramente defendida e

demonstrada ou aquele que pertença a setores altamente competitivos ou que exerça

maior poder político sobre a cadeia – delineie políticas de atuação em conjunto com os

outros stakeholders (VENANZI, 2000, p. 87, grifo nosso).

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No processo produtivo, a empresa transformadora deve gerir seus processos

internos aproximando as fronteiras funcionais com questões ligadas a responsabilidade social,

de forma a exigir dos stakeholders uma continuidade das políticas delineadas.

2.8. Cadeias de Suprimentos (Supply Chain)

Segundo o dicionário da APICS (American Production Inventory Control Society),

uma cadeia de suprimentos pode ser definida como:

• os processos que envolvem fornecedores-clientes e ligam empresas desde a

fonte inicial de matéria-prima até o ponto de consumo do produto acabado;

• as funções dentro e fora de uma empresa que garantem que a cadeia de valor

possa fazer e providenciar produtos e serviços aos clientes

Vejamos também algumas outras definições relevantes:

Para o Supply Chain Council, uma supply chain abrange todos os esforços

envolvidos na produção e liberação de um produto final, desde o primeiro fornecedor do

fornecedor até o último cliente do cliente.

Chistopher (1998) define a cadeia de suprimentos como uma rede de organizações

que estão envolvidas através de ligações a jusante (downstream) e a montante (upstream) nos

diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e serviços

liberados ao consumidor final.

No entanto, Lamming et al. (2000) afirmam que o termo cadeia é uma metáfora

imperfeita para tratar de assuntos da SCM, visto que elas raramente apresentam um

comportamento linear. Seguindo esta mesma linha, um conjunto de autores na área

(principalmente britânicos) prefere utilizar a expressão Rede de Suprimentos (Supply

Network), ao invés de Cadeia de Suprimentos (Supply Chain). Mesmo alguns autores que

utilizam a expressão supply chain reconhecem que, estritamente falando, uma SC não é uma

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cadeia de negócios com relacionamentos um a um, mas uma rede de trabalho (network) com

múltiplos negócios e relacionamentos.

Britto (2002) ilustra o conceito de redes de empresas através da associação de

elementos morfológicos gerais das redes a elementos constitutivos das redes de empresas,

conforme a tabela abaixo:

Elementos morfológicos

gerais das redes Elementos constitutivos das redes de empresas

Nós Empresas ou atividades

Posições Estrutura de divisão de trabalho

Ligações Relacionamento entre empresas (aspectos qualitativos)

Fluxos Fluxos de bens (tangíveis) e de informações (intangíveis)

Tabela 3 - Elementos estruturais das redes de empresas

Fonte: BRITTO (2002, p. 352)

Neste trabalho, os assuntos de responsabilidade social e gestão ambiental serão

discutidos dentro da realidade de uma rede de suprimentos. O principal elemento constitutivo

das redes de empresas que será trabalhado é o relacionamento entre empresas.

2.9. Reestruturação da Cadeia de Suprimentos

Segundo Pires (2004), nos últimos anos, uma das tendências mais notáveis na área

da SCM é o processo de reestruturação e de consolidação da base de fornecedores e de

clientes, promovido por diversas empresas que, geralmente, são líderes em suas cadeias de

suprimentos. O objetivo principal deste movimento é definir um conjunto de empresas (tanto

fornecedoras quanto clientes) com as quais se deseja realmente construir uma verdadeira

parceria.

Pires (2004) enfatiza que nessa reestruturação, um ponto fundamental é a

identificação e o alinhamento de competências, de forma que o resultado possa proporcionar

uma distinção positiva perante a concorrência e consumidores finais.

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No entanto, mais do que o alinhamento de competências, o alinhamento de valores

organizacionais é um ponto crucial na relação com os fornecedores e na construção de

parcerias.

O instituto Ethos (2000) afirma que, cada vez mais, a empresa socialmente

responsável envolve-se com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos

estabelecidos e trabalhando pelo aprimoramento de suas relações de parceria. Cabe à empresa

transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes de sua cadeia de

fornecedores, tomando-o como orientador em casos de conflitos de interesse. A empresa deve

conscientizar-se de seu papel no fortalecimento da cadeia de fornecedores, atuando no

desenvolvimento dos elos mais fracos.

Desta forma, empresas socialmente responsáveis buscam transmitir seus princípios

de responsabilidade e sustentabilidade a seus parceiros. Para que sejam estabelecidos contrato

e parcerias, é necessário que tais valores sejam partilhados e respeitados por ambas as partes.

2.10. Casos de más praticas sociais e ambientais

Mais e mais utilizada nos últimos anos, a expressão sweatshops (literalmente,

fábricas do suor) indica uma situação de exploração extrema dos trabalhadores, caracterizada

por um salário abaixo do mínimo necessário à sobrevivência, pela ausência de garantias ou

proteção trabalhista, pela exploração de crianças, por condições de trabalho perigosas para

saúde ou por abusos físicos e psicológicos que ocorrem no local de trabalho.

Segundo reportagem divulgada em 10/05/2004 pela Com Ciência12, revista

eletrônica de jornalismo científico, as denúncias internacionais contra os sweatshops crescem

a cada ano, formando uma triste antologia que retrata inúmeros casos de exploração de

trabalhadores: mulheres forçadas a tomar contraceptivos ou submetidas a testes de gravidez e

que são demitidas em caso de resultado positivo, trabalhadores expostos a substâncias tóxicas,

ameaçados e demitidos em caso de protestos, forçados a turnos de trabalho de até 19 horas ou

impedidos de abandonar o trabalho por meio de vigias armados.

12 Disponível em <http://www.comciencia.br>. Acesso em 7 outubro 2007.

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De acordo com a organização Global Echange13, trabalhadores em El Salvador

envolvidos na produção de tênis que nos EUA custam cerca de 140 dólares, ganham 24

centavos de dólar a cada sapato produzido. Na China, trabalhadores morreram vítimas de

sweatshops, devido a uma doença que ganhou o nome de "guolaosi": morte súbita por hiper-

trabalho. Porém, ao contrário do que se pensa, os sweatshops não são realidades exclusivas

dos países do sul. Eles são comuns em muitos países do leste europeu e também existem nos

EUA. De acordo com a ONG CorpWacht14, em Los Angeles, dois terços dos imigrados que

trabalham na confecção de roupas não recebem o salário mínimo garantido pela lei.

Ao mesmo tempo em que as sweatshops foram se difundindo, também cresceu na

opinião pública mundial um sentimento de indignação contra essa prática ilegal. Muitas Ongs

se especializaram na luta contra os sweatshops. Em 1997, um relatório confidencial da

companhia multinacional Nike, divulgado pelo CorpWacht, ganhava destaque nas capas de

jornais do mundo inteiro, mostrando que os trabalhadores de uma fábrica ligada à

multinacional, no Vietnã, eram submetidos a condições de trabalhos duríssimas. A Nike

admitiu as acusações meses depois, na tentativa de atenuar a queda de vendas e das ações.

Nos anos seguintes, as companhias acusadas de envolvimento na prática de sweatshops

cresceram, incluindo, de acordo com a organização Sweatshop Watch15, as multinacionais

Levi's, Tommy Hilfiger, American Eagle, Calvin Klein, Gap, Wal-Mart, Polo-Ralph Lauren,

Kmart e muitas outras. A Disney foi também acusada de exploração dos trabalhadores. De

acordo com The National Labor Committee16, uma Ong baseada em Nova York, os

trabalhadores da fábrica Shah Makhdum, em Bangladesh, que produz camisetas da Disney,

são submetidos a períodos de trabalho ininterrupto de até 15 horas, 7 dias por semana

(CASTELFRANCHI, 2004).

A maioria das companhias nega as acusações feitas pelas Ongs, alegando o

respeito das leis trabalhistas locais sobre salário mínimo ou, mais freqüentemente, negando

suas responsabilidades: a maioria das fábricas são terceirizadas, com donos locais, e as

multinacionais afirmam não ter controle nem conhecimento sobre o que acontece dentro

delas.

13 Disponível em <http://www.globalexchange.org>. Acesso em 7 outubro 2007. 14 Disponível em <http://www.corpwatch.org>. Acesso em 5 outubro 2007. 15 Disponível em <http://www.sweatshopwatch.org/>. Acesso em: 5 outubro 2007. 16 Disponível em <http://www.nlcnet.org/>. Acesso em: 20 setembro 2007.

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Com a realização das Olimpíadas de Atenas 2004, várias organizações e sindicatos

se juntaram para lançar a campanha "Jogue limpo nas Olimpíadas", pedindo que as empresas

de moda esportiva respeitem os direitos dos trabalhadores e assumam o compromisso com a

eliminação das sweatshops e da exploração infantil (CASTELFRANCHI, 2004).

No campo de más práticas ambientais, um caso amplamente explorado pela mídia,

sobretudo européia, foi o exemplo do naufrágio do petroleiro “Erika”, em dezembro de 1999,

na região da Bretanha, França, causando um derramamento de óleo no Atlântico que atingiu

cerca de 400 quilômetros do litoral francês. Trata-se da maior catástrofe ambiental da história

da França, com derramamento de cerca de 19 mil toneladas de combustível, e enormes danos

à fauna e à flora locais. As perdas das economias das regiões atingidas pelo desastre

ambiental foram estimadas em um bilhão de euros (UOL NOTÍCIAS, 2007).

A companhia petrolífera francesa Total, proprietária da carga, teve sua imagem

totalmente descredibilizada com este acidente que evidenciou a sua falta de responsabilidade

no que se refere a sua política de segurança ambiental.

A empresa Total não era a proprietária do navio, mas apenas de sua carga. Para

todos os assuntos referentes ao frete de embarcações, a empresa subcontratava os serviços da

empresa italiana Rina, organismo de verificação, que havia dado seu aval ao navio Érika,

apesar de suas condições precárias, de sérias corrosões e zonas deterioradas. Por ser um navio

em condições limitadas, ele já havia sido recusado pelas companhias Shell e BP (British

Petroleum), fortes concorrentes do grupo Total.

Este episódio demonstra que o grupo Total não foi capaz de integrar em sua

política de frete o controle sobre as atividades das empresas terceirizadas para este fim. No

entanto, tais práticas eram essenciais para a garantia da segurança no transporte marítimo e

para a prevenção à poluição. Esta falta de controle do nível de responsabilidade das

sociedades subcontratadas resultou, para o grupo Total, em uma multa de 375 mil euros

(Noticiário Euronews, 12/02/2007). Ainda pior, mas não facilmente mensurável, é a

degradação e a descredibilização da imagem do grupo.

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2.11. Exemplo de boas práticas na área de responsabilidade social

Esta seção descreve o projeto UNICEF17-Ikea para combater o trabalho infantil,

um excelente exemplo de responsabilidade social corporativa. A autora teve a oportunidade

de participar de reuniões com membros da Unicef e com a diretora de responsabilidade da

empresa sueca Ikea - multinacional que projeta, fabrica e vende mobiliário residencial – para

discussão e compreensão deste projeto de combate ao trabalho infantil em comunidades da

Índia.

De acordo com a UNICEF (2005), na Índia, aproximadamente 14% das crianças

entre 5 e 14 anos de idade estão envolvidas em atividades de trabalho infantil, incluindo

produção de bens, freqüentemente de baixo custo, para exportação direta por grandes

empresas multinacionais. A maioria dessas crianças trabalha no setor informal da economia,

muito além do alcance de fiscalização institucional, e freqüentemente em casas de família,

realizando trabalho subcontratado.

Quais são as implicações para as empresas e seus trabalhadores infantis

empregados indiretamente? Desde o início da década de 90, empresas multinacionais

começaram a incluir políticas contra o trabalho infantil em seus códigos de conduta

corporativos. O Grupo Ikea fornece um exemplo de como o setor privado pode realizar

negócios nos países em desenvolvimento de modo socialmente responsável, utilizando como

estrutura a Convenção sobre os Direitos da Criança.

Para garantir que nenhuma criança seja empregada em qualquer nível da cadeia de

fornecimento, a Ikea criou o ‘Modo Ikea de evitar o Trabalho Infantil’, um código de conduta

que se aplica a todos os seus fornecedores. O código exige que todos os fornecedores

reconheçam a Convenção sobre os Direitos da Criança. Além disso, para garantir que todos

sigam o código, os empregadores da Ikea fazem visitas regulares aos fornecedores para

verificar se não há crianças trabalhando nos recintos, e auditores independentes realizam

inspeções não programadas no mínimo uma vez por ano. Como resultado, fornecedores locais

que querem atrair negócios devem comprometer-se com os códigos corporativos, que são

baseados em leis locais e nacionais relativas à criança e à idade mínima de emprego. 17 O Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF - foi criado no dia 11 de dezembro de 1946, por decisão unânime, durante a primeira sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas. Sua missão é promover o bem-estar da criança e do adolescente, com base em sua necessidade, sem discriminação de raça, credo, nacionalidade, condição social ou opinião política.

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O UNICEF e a Ikea uniram forças para implementar esse código de conduta no

estado de Uttar Pradesh, na Índia. Em 2000, o UNICEF desenvolveu a Fase 1 da Iniciativa

Bal Adhikar-Ikea, cobrindo 200 comunidades em que a Ikea produz tapetes atualmente. Uttar

Pradesh responde por cerca de 15% das crianças trabalhadoras do país (UNICEF, 2005).

Essas crianças estão empregadas em maior número no setor informal, trabalhando em casas.

A indústria de tapetes de Uttar Pradesh contribui com aproximadamente 85% das exportações

de tapetes da Índia, e é altamente descentralizada, com famílias marginalizadas das áreas

rurais constituindo grande parte da mão-de-obra de tecelagem (UNICEF 2005).

O projeto fundamenta-se na convicção de que o trabalho infantil não pode ser

eliminado simplesmente por meio da retirada da criança da situação de trabalho, ou com o fim

dos contratos de fornecimento de uma multinacional, uma vez que a criança simplesmente

passaria a trabalhar para outro empregador. Em vez disso, o problema é enfrentado

combatendo-se as causas básicas do trabalho infantil – como dívidas nas comunidades

marginalizadas, desemprego entre adultos, pobreza e o direito da criança à educação primária

de qualidade.

Para isso, a Ikea e o UNICEF utilizam duas linhas de ação estratégicas, que

alcançam simultaneamente crianças trabalhadoras e suas famílias. As mulheres da

comunidade, principalmente as mães, foram incumbidas da criação de grupos de auto-ajuda

para mulheres. Ester grupos permitiram que as mulheres escapassem das taxas de juros

extorsivas praticadas por agiotas locais. Dispondo de seus próprios recursos, as famílias não

são mais forçadas a procurar ajuda de agiotas quando precisam de dinheiro para

medicamentos, educação de seus filhos e casamento, ou quando desejam iniciar seu próprio

negócio. Quando as famílias se livram de dívidas, ficam menos propensas a mandar suas

crianças para o trabalho (UNICEF, 2005).

As necessidades educacionais das crianças também são solucionadas por meio de

campanhas de matrículas escolares e de centros de aprendizagem alternativos. Graças a essas

campanhas anuais, aproximadamente 50 mil crianças, entre 6 e 12 anos de idade, que não

freqüentavam a escola, foram identificadas em uma pesquisa familiar e levadas para o sistema

escolar formal (UNICEF, 2005).

Centros de aprendizagem alternativos são uma estratégia específica, com prazo

determinado, para alcançar crianças excluídas, concentrando-se em crianças entre 8 e 13 anos

de idade. Com o objetivo de realmente integrar essas crianças ao sistema educacional formal,

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103 centros de aprendizagem alternativos foram abertos nas comunidades da Fase 1 do

projeto. Desde seu início, cerca de 6.300 crianças foram beneficiadas por esses centros

(UNICEF, 2005). Esforços estão sendo realizados para estabelecer centros de aprendizagem

alternativos em outras comunidades. Em meados de 2002, a Ikea – que já estava apoiando a

Iniciativa Bal Adhikar- Ikea contra o Trabalho Infantil em dois quarteirões do distrito de

Jaunpur, na parte leste de Uttar Pradesh – assumiu o desafio de alcançar e proteger todos os

bebês e todas as gestantes nos 21 quarteirões nesse distrito.

A Iniciativa da Ikea para agregar a Rotina de Imunização alcançou cobertura de

imunização para um total aceitável da população de mais de 50 mil bebês e gestantes, em sete

quarteirões, compreendendo cerca de mil comunidades, no distrito de Jaunpur. Com o

governo estadual apoiando a Iniciativa Rotina de Imunização, espera-se que os quarteirões

restantes sejam cobertos em fases ao longo do ciclo de quatro anos do projeto (UNICEF,

2005).

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3. METODOLOGIA

Este capítulo apresenta a forma como o projeto foi conduzido, explicando os

procedimentos utilizados na produção dos dados.

Gonsalves (2001) classifica a pesquisa segundo diferentes critérios: segundo seus

objetivos, segundo seus procedimentos, segundo suas fontes de informação e segundo a

natureza dos dados. Estes critérios são detalhados no quadro abaixo.

Tipos de pesquisa segundo os objetivos

Tipos de pesquisa segundo as fontes de

informação

Tipos de pesquisas segundo os

procedimentos de coleta

Tipos de pesquisa segundo a natureza dos

dados

Exploratória Descritiva

Experimental Explicativa

Campo Laboratório

Bibliográfica Documental

Experimento Levantamento Estudo de caso Bibliográfica Documental Participativa

Quantitativa Qualitativa

Tabela 4 - Classificação dos tipos de pesquisa

Fonte: GONSALVES (2001, p. 64)

No que se refere ao tipo de pesquisa segundo os objetivos, optou-se pela execução

de uma pesquisa exploratória. A pesquisa exploratória foi selecionada por ser o tipo de

pesquisa mais indicado para o desenvolvimento e esclarecimento de idéias, com o objetivo de

oferecer uma visão panorâmica e uma primeira aproximação a um determinado fenômeno

ainda pouco explorado.

Quanto às fontes de informação utilizadas, duas abordagens foram selecionadas. A

primeira é a pesquisa documental. A pesquisa documental assemelha-se a pesquisa

bibliográfica. No entanto, as fontes que a constituem são documentos e não apenas livros

publicados e artigos científicos divulgados, como é o caso da pesquisa bibliográfica. Desta

forma, o desenvolvimento do trabalho contemplou consultas a normas, (tais como a

ISO14000, OHSAS18001 e a SA8000), a convenções da OIT, a documentos internos

publicados pela L´Oréal, a códigos de conduta criados por diversas empresas privadas, entre

outros. A outra abordagem selecionada constitui a pesquisa de campo, tipo de pesquisa que

pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada. Este método foi

escolhido por viabilizar o conhecimento direto da realidade de forma rápida e econômica. No

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entanto, ele também apresenta desvantagens, tais como a ênfase nos aspectos perspectivos,

pouca profundidade e limitada apreensão do processo de mudança. A pesquisa de campo do

presente trabalho envolveu o envio de questionários a fornecedores e a compradores da

empresa L`Oréal, além de entrevistas com fornecedores e auditores sociais e o

acompanhamento destes auditores durante a realização de auditorias.

No que diz respeito ao procedimento de coleta de dados, além do levantamento e

da pesquisa documental, já retratados, a pesquisa participativa foi incluída no projeto. Trata-se

de uma pesquisa que propõe a participação efetiva das partes envolvidas no processo de

geração de conhecimento, o que é considerado um processo formativo. O desenvolvimento do

projeto, coordenado pela autora, contou com a participação de diversos funcionários de

diferentes departamentos da L´Oréal (por exemplo, recursos humanos; pesquisa e

desenvolvimento; ambiente, saúde e segurança), além de colaboradores externos

(fornecedores, agencias de comunicação, empresas de auditorias, empresas reconhecidas por

suas boas práticas sociais e ambientais). Estes agentes, chamados a participarem a reuniões de

desenvolvimento e de validação do projeto, contribuíram com seus conhecimentos e opiniões.

Quanto à natureza dos dados coletados, a metodologia empregada privilegiou uma

abordagem qualitativa, dado que a temática da responsabilidade sócio-ambiental constitui um

universo de difícil quantificação. A investigação qualitativa foi considerada mais adequada

por envolver valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões e por adequar-se a

aprofundar a complexidade de fatos e processos particulares e específicos a indivíduos e

grupos. A abordagem qualitativa é empregada, portanto, para a compreensão de fenômenos

caracterizados por um alto grau de complexidade. No entanto, algumas análises quantitativas

dos resultados do programa de auditorias sociais do grupo L´Oréal serviram de suporte para

identificação do perfil global do fornecedor da empresa em termos de suas práticas sociais e

ambientais.

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4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

4.1. O problema no contexto da empresa

As exigências do grupo L’Oréal quanto aos padrões laborais a serem respeitados pelos

fornecedores do grupo estão descritos no capítulo 4 das Condições Gerais de Compras e de

Pagamentos do grupo L’Oréal. Ao entrar para o portfolio de fornecedores do grupo, o

fornecedor deve assinar este documento, reiterando assim seu compromisso em respeitar com

rigor essas obrigações e fazer com que elas sejam respeitadas por seus próprios fornecedores.

Com o objetivo de fiscalizar o cumprimento deste compromisso, a L’Oréal pode

mandar realizar auditorias sociais por órgãos subcontratados habilitados, que trabalham

segundo um caderno de encargos preciso e sob absoluto sigilo.

Desde o início do programa de auditorias sociais implementado pela L’Oréal em sua

rede logística, o capítulo 4 das Condições Gerais de Compras, abaixo transcrito, tem sido o

instrumento utilizado pelo grupo para comunicar a seus fornecedores os padrões sociais

requeridos. No entanto, ele se releva superficial, incompleto e pouco detalhado.

Veja abaixo a transcrição integral do capítulo 4 das Condições Gerais de Compras.

4) SUBCONTRATAÇÃO, TRABALHO FORÇADO, PENITENCIÁRIO, PERIGOSO, DISSIMULADO E TRABALHO DE MENORES O FORNECEDOR declara expressamente que cumpre as obrigações sociais e fiscais

conexas a seus estatutos e, mais particularmente, respeita as disposições da Lei n°97-210 de 11 de março de 1997 relativas ao reforço da luta contra o trabalho dissimulado. O FORNECEDOR se compromete a apresentar, quando da conclusão do presente

contrato, os documentos previstos no artigo R.324-4 do Código Trabalhista para comprovar o cumprimento por parte do FORNECEDOR das disposições acima citadas, tal clausula contratual sendo substancial. A apresentação desses documentos constitui-se em condição resolutória para o presente. Ocorrendo descumprimento, o presente contrato será reputado como nunca firmado. O FORNECEDOR deverá estar em conformidade com todas as leis e

regulamentações em vigor e respeitar os princípios dos Convênios fundamentais da OIT, a saber C29 e C105 sobre a abolição do trabalho forçado, C138 e C182 sobre a eliminação do trabalho infantil, C100 e C111 sobre a igualdade e C87 e C98 sobre a liberdade sindical. Mais particularmente, o FORNECEDOR certifica e atesta que nenhum produto comprado pela L’Oréal e fabricado pelo FORNECEDOR ou por qualquer fornecedor deste, foi fabricado, montado ou acondicionado recorrendo-se ao

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trabalho forçado, penitenciário (salvo na esfera de um programa de reinserção durante a pena), perigoso, dissimulado e/ou ao trabalho de menores de 16 anos. Ciente de que tal limite etário é mais severo que o limite imposto pelo convênio C138 da l’OIT. O FORNECEDOR somente poderá fornecer produtos que atendam a todas as

condições impostas pelas leis e regulamentações do país no qual são produzidos. O FORNECEDOR reconhece que, em caso de transgressão da presente estipulação,

a L’Oréal poderá, entre outras medidas, pôr fim imediatamente ao presente contrato e cessar quaisquer relações comerciais com o FORNECEDOR sem caber nenhuma responsabilidade futura da L’Oréal com relação ao FORNECEDOR.

Fonte: Condições gerais de compras e de pagamentos da L’Oréal

Muitos são os problemas acarretados pela comunicação parcial, ineficiente e

superficial das normas exigidas.

Em primeiro lugar, o fornecedor não é capaz de identificar as suas falhas, dado que

muitos dos padrões verificados durante as auditorias sociais não estão relatados no capítulo 4

das CGA. Ele se concentra em questões ligadas aos dos padrões laborais e aos direitos

humanos, não abordando aspectos relacionados à saúde e à segurança no ambiente de

trabalho, ao meio ambiente e ao sistema de gestão dos negócios.

Além disso, os padrões aí relatados não são suficientemente detalhados, gerando

dívidas e fazendo com que o fornecedor não saiba como agir para adequar-se às normas.

Com isso, muitos dos fornecedores se sentem injustiçados ao serem taxados como

não-conformes após a realização das auditorias sociais, dado que os padrões exigidos são mal

comunicados e são, muitas vezes, mais rigorosos do que aqueles previstos pelas leis locais.

Esta insatisfação do fornecedor se agrava pelo fato de os custos das auditorias de

acompanhamento18 serem pagos pelos próprios fornecedores.

Obviamente, o objetivo da auditoria não é o de taxar o fornecedor como não

conforme. No entanto, ela serve para indicar quais são as irregularidades que devem ser

corrigidas de forma a melhorar a performance social da rede de suprimentos do grupo.

Porém, esta abordagem voltada para a capacitação através da correção de falhas

revela-se extremamente dispendiosa. Faz-se necessário portanto uma abordagem preventiva,

na qual a capacitação do fornecedor anteceda o momento da auditoria. Para tanto, é necessário

18 Quando irregularidades significativas são constatadas durante uma auditoria social, uma nova auditoria, chamada de auditoria de acompanhamento, deve ser realizada dentro de um período de 90 dias a partir da data da realização da auditoria inicial. A auditoria de acompanhamento verifica a implementação do plano de ações corretivas estipulado no momento da auditoria inicial. Vale lembrar que os custos da auditoria social inicial são integralmente pagos pela L’Oréal, enquanto os custos da auditoria de acompanhamento são de responsabilidade do próprio fornecedor.

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informar e estimular o fornecedor e oferecer-lhe ferramentas que dirijam seus esforços para a

redução do hiato de competências.

Neste contexto, mais do que uma formalização dos padrões exigidos, faz-se necessário

uma revisão e uma redefinição destes padrões. Também são fundamentais a reunião e

estruturação destes padrões de forma a se viabilizar a circulação e a difusão destas

informações dentro de toda a rede de fornecedores. Mais ainda, faz-se necessário uma

reflexão sobre mecanismos ou ferramentas que culminem no amadurecimento dos

fornecedores e na compatibilização de suas práticas com os padrões delineados.

Desta forma, identificou-se a necessidade de elaborar uma ferramenta capaz de:

- Aumentar o nível de conhecimento do fornecedor sobre os padrões internacionais em

termos de responsabilidade social e ambiental,

- Sensibilizar o fornecedor sobre a importância dos aspectos sócio-ambientais;

- Ajudar o fornecedor a avaliar o seu desempenho atual quanto aos quesitos sociais e

ambientais necessários;

- Indicar ao fornecedor meios de como se adequar às boas práticas sociais e ambientais

e propor uma parceria para ajudá-lo a adotar medidas corretivas a eventuais irregularidades ou

dificuldades encontradas, melhorando assim o nível de maturidade da supply chain da L’Oréal

com relação a aspectos sócio-ambientais;

- Proteger o grupo L’Oréal de faltas graves cometidas por seus parceiros e

colaboradores externos.

A elaboração desta ferramenta constituiu a missão da autora dentro do grupo L’Oréal.

4.2. As etapas do projeto

Em um momento inicial, o desenvolvimento do projeto se focou na criação de um

código de conduta responsável para os fornecedores do grupo L’Oréal. O código de conduta

seria a ferramenta capaz de responder os objetivos mencionados. No entanto, durante o

processo de criação do código de conduta, chegou-se à conclusão de que a elaboração deste

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documento seria insuficiente para a cobertura de todos os objetivos propostos. Desta forma, o

perímetro do projeto passou a abranger a criação de uma plataforma mais ampla de

compartilhamento de informações sobre responsabilidade sócio-ambiental com os

fornecedores, chamada de Business Partner Sustainability Tool Box. O código de conduta

passou a ser apenas uma das partes que compõem esta plataforma.

Durante sua missão dentro da L’Oréal, a autora se dedicou à concepção da estrutura

geral desta plataforma, composta por 5 documentos que serão descritos mais adiante (no

capítulo 5 – Resultados). No entanto, devido à curta duração da missão da autora dentro do

grupo, não houve tempo hábil para o desenvolvimento efetivo de todas as partes que

compõem a plataforma. Apenas uma parte foi efetivamente criada. Trata-se do código de

conduta responsável, documento que contém os requisitos básicos em termos de práticas

sócio-ambientais a serem respeitados pelos fornecedores. A elaboração deste documento,

incluindo a definição de seu escopo e de seu conteúdo, constituiu grande parte da missão da

autora dentro do grupo. Os demais documentos que compõem a plataforma, apresentada à

diretoria do grupo e aprovada pela mesma, serão elaborados em um futuro próximo, por

outras pessoas do departamento de avaliação da performance dos fornecedores.

Assim, as etapas que se sucederam durante o desenvolvimento deste trabalho de

formatura foram as seguintes:

- Familiarização com o programa de auditorias sociais e análise de seus resultados,

- Benchmark de documentos éticos publicados por outras empresas,

- Busca de critérios operacionais na área de responsabilidade sócio-ambiental,

- Definição dos níveis de desempenho,

-Coleta e análise de dados de campo através de consulta a fornecedores, compradores

e auditores,

- Integração das particularidades dos fornecedores de matérias-primas,

- Apresentação e validação do projeto pela diretoria do grupo.

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Figura 6 - Etapas do desenvolvimento do projeto

Fonte: elaborada pela autora

Cada uma destas etapas será descrita a seguir.

4.3. Familiarização e análise do programa de auditorias sociais

A primeira parte da missão da autora no departamento de Avaliação da Performance

dos Fornecedores consistiu na compreensão do contexto do Ethical Sourcing e do programa

de Auditorias Sociais implementado pela L´Oréal junto a sua cadeia de fornecedores. O

primeiro passo foi a leitura e a análise dos procedimentos de realização e de acompanhamento

das auditorias sociais, das condições gerais de compra e de pagamentos presentes nos

contratos assinados pelos fornecedores, leitura das convenções da OIT sobre direito do

trabalho, sobre segurança e saúde no trabalho, além da análise de normas sociais aditáveis tais

como a SA8000.

A missão foi enriquecida pela participação da autora nas seguintes atividades:

- auditorias sociais realizadas nas fábricas de fornecedores da L´Oréal, acompanhando

os auditores em cada uma das etapas das auditorias;

- visitas às fábricas da própria L´Oreál para observação da implementação dos

quesitos de responsabilidade social nas plantas industriais do grupo;

- reuniões com membros da Unicef para melhor compreensão da complexidade da

questão do trabalho infantil no mundo atual;

- participação em cursos de formação direcionados aos auditores sociais da empresa

Intertek;

Familiarização com o programa de auditorias sociais + análise de seus resultados

Benchmark de documentos éticos

Busca de critérios operacionais

Definição dos níveis de desempe-nho

Coleta e análise de dados de campo

Aprovação e validação do projeto

Integração das particularida-des dos fornecedores de matérias primas

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- conferência organizada pelo grupo SGS19 para empresas engajadas em práticas de

responsabilidade sócio-ambiental;

- reuniões com a diretora da área de responsabilidade sócio-ambiental da marca

BodyShop (marca reconhecida por suas práticas ecológicas);

- reuniões com a diretora de responsabilidade social da empresa sueca IKEA, para

compreensão do programa contra o trabalho infantil desenvolvido pela empresa junto a

comunidades da Índia onde a IKEA produz tapetes;

- e por fim, diversas reuniões com fornecedores e colaboradores internos dos mais

diversos departamentos da L’Oréal.

Ao longo do processo de familiarização com o programa de auditorias sociais, a autora

assumiu uma série de tarefas operacionais relacionadas ao acompanhamento do programa, à

análise dos resultados das auditorias de uma forma global e da evolução das estatísticas do

número de auditorias realizadas em cada setor e cada país. Foram elaborados painéis de bordo

para o monitoramento das estatísticas relacionadas à detecção de irregularidades nas plantas

dos fornecedores, de forma a facilitar a identificação das causas mais freqüentes. Estes painéis

de bordo passaram a ser utilizados como ferramentas importantes no monitoramento do

programa de auditorias sociais.

Os resultados de todas as auditorias realizadas são armazenados em uma base de

dados. Antes da realização deste projeto, a utilização desta base de dados, feita pelos

compradores, ocorria fundamentalmente de forma pontual. O acesso a essa base de dados por

parte dos compradores permite a eles integrarem estes resultados em suas decisões de

compras no momento da escolha do fornecedor. Ela também é uma ferramenta fundamental

para o acompanhamento do processo de correção das irregularidades encontradas nas plantas

produtivas dos fornecedores. O desenvolvimento deste projeto, que fez um estudo dos

resultados globais contidos nesta base, serviu para disseminar a análise global e sistemática

dos dados contidos na base como uma ferramenta importante na gestão do programa de

auditorias sociais. Indicadores tais como freqüência das diferentes classes de irregularidades,

ou número de fornecedores não-conformes por ano, por país e por divisão, passaram a ser

acompanhados de forma sistemática pelos responsáveis regionais do departamento de

compras.

19 Intertek e SGS são empresas líderes no mercado mundial de inspeções, auditorias e certificações.

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Esta sensibilização e familiarização com os princípios e os fundamentos do programa

de auditorias sociais, contato com os fornecedores auditados, compreensão de suas reações e

de suas expectativas foram absolutamente indispensáveis para a realização do presente

trabalho de formatura. Esta etapa permitiu o mapeamento do perfil dos fornecedores e a

identificação do nível de maturidade dos mesmos quanto às suas práticas sócio-ambientais.

4.3.1. O programa de auditorias sociais e o perfil dos fornecedores

O objetivo principal do programa de auditorias sociais do grupo L’Oréal é de

selecionar os fornecedores que mantêm relações comerciais com a L’Oréal, de forma a se

trabalhar somente com empresas responsáveis quanto aos quesitos sociais e ambientais. Este

programa possibilita:

- a avaliação da performance do fornecedor em termos de responsabilidade social e

ambiental, performance esta que se torna factual e mensurável;

- o estabelecimento de relações comerciais apenas com fornecedores que são

merecedores e que compartilham os mesmos valores que os praticados pelo grupo L’Oréal;

- a promoção da melhora contínua da supply chain da L’Oréal.

Dentro do contexto do desenvolvimento sustentável, a L’Oréal exige que seus

fornecedores respeitem as normas laborais aplicáveis às suas atividades.

Hoje o grupo concretiza este compromisso através do capítulo 4 das Condições Gerais

de Compras e de Pagamento, um contrato padrão apresentado aos fornecedores, o qual

estipula que estes devem se conformar à legislação local e às Convenções da OIT relativas ao

trabalho infantil, ao trabalho forçado, à discriminação e à liberdade de associação. Os

fornecedores devem também velar pelo cumprimento destas normas por seus próprios

fornecedores.

Para garantir que estas normas sejam respeitadas, a L’Oréal promove a realização de

auditorias sociais nas plantas produtivas de seus fornecedores. Desde 2002, as empresas

Bureau Veritas e Intertek, empresas terceirizadas e especializadas no setor de auditorias,

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realizaram mais de 900 auditorias independentes20 com o objetivo de controlar a

conformidade dos fornecedores em relação às normas laborais. As auditorias são semi-

anunciadas: o fornecedor não é informado sobre o dia exato em que sua fábrica será auditada.

A empresa auditora divulga ao fornecedor um período de 30 dias dentro do qual a auditoria

será realizada. Dependendo do número de empregados e do tamanho (área) da fábrica, a

auditoria pode se estender por 1 ou 2 dias. As auditorias são compostas por 5 etapas:

- uma reunião de abertura, na qual o auditor se apresenta à pessoa da empresa que o

recebeu e explica em linhas gerais como será o desenrolar da auditoria,

- uma inspeção de documentos específicos que devem estar presentes na fábrica

auditada (regulamento interno, contratos de trabalho, holerites, registros sobre emissão de

poluentes, etc.);

- entrevistas com funcionários;

- visita para inspeção das instalações da fábrica;

- uma reunião de fechamento, na qual o auditor apresenta ao fornecedor um resumo

dos resultados constatados. Durante esta reunião, o auditor e um ou mais membros da

empresa fornecedora elaboram juntos um plano de ações corretivas caso alguma

irregularidade tenha sido constatada.

Os critérios que regem os princípios chave das auditorias realizadas foram inspirados

pela norma SA8000. Os 10 temas verificados durante as auditorias são os seguintes:

- Trabalho infantil;

- Trabalho forçado;

- Saúde e segurança no ambiente de trabalho;

- Liberdade de associação;

- Não-discriminação;

- Práticas disciplinares;

- Assédio e abuso sexual e moral;

- Pagamento de salários e benefícios;

- Duração da jornada de trabalho e horas extras;

- Política de subcontratação.

Todas as lacunas constatadas são objeto de diálogo entre a L’Oréal e o fornecedor para

o estabelecimento de um plano de ações corretivas. No caso de infrações consideradas graves,

20 Fonte: Base de dados interna da L’Oréal, acessada em 26/06/2007.

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como por exemplo casos envolvendo trabalho infantil, nenhum novo pedido é feito ao

fornecedor até que se comprove que as medidas corretivas foram implementadas.

Escala de avaliação dos resultados das auditorias

Irregularidade Ação

Satisfatório Ausência de irregularidades, boas práticas

Manutenção das relações comerciais

Melhora requerida Problemas isolados Relações comerciais podem ser mantidas. Nova auditoria deve ser planificada.

Melhora importante requerida

Problemas sistemáticos e recorrentes

Interrupção temporária das relações comerciais. Nova auditoria deve ser planificada no prazo de 90 dias.

Tolerância zero Trabalho infantil (menores de 16 anos), trabalho forçado, trabalho perigoso com risco de morte imediata.

Interrupção das relações comerciais até que medidas corretivas sejam comprovadas. No caso de trabalho infantil, acompanhamento das crianças.

Acesso negado Negação (parcial ou total) de acesso às instalações, a documentos e a entrevistas a trabalhadores.

Nova auditoria deve ser planificada. Segundo acesso negado = tolerância zero

Tabela 5 – Classificação dos resultados das auditorias sociais

Fonte: Relatório de desenvolvimento sustentável L´Oréal 2006 – traduzido pela autora

Vale lembrar que todos os centros de distribuição e as fábricas pertencentes ao grupo

L’Oréal também foram auditados de acordo com os mesmos princípios e procedimentos das

auditorias realizadas nas plantas dos fornecedores. Este fato é importante para conferir

legitimidade ao programa de auditorias sociais implementado pelo grupo. Afinal, não se pode

exigir dos fornecedores padrões que não são cumpridos pelo próprio grupo.

A postura do grupo não é a de cortar relações com fornecedores que apresentem

irregularidades, mas sim de cortas relações apenas com aqueles fornecedores que não estejam

dispostos a corrigir suas falhas. O objetivo do programa é portanto capacitar os fornecedores

quanto às suas práticas sócio-ambientais, acompanhando-os na correção das irregularidades.

O perímetro do programa de auditorias sociais do grupo L’Oréal foi definido de forma

a englobar as seguintes categorias de fornecedores:

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- os fornecedores de artigos de condicionamento (embalagens), de matérias-primas, de

artigos promocionais que operem em países considerados de risco (veja a seguir a lista de

países considerados de risco),

- empresas terceirizadas que atuem nas áreas de segurança, limpeza e jardinagem e

que operem nos países considerados de risco,

- todos as empresas de manufatura terceirizada, independentemente de sua localização.

Países considerados de risco Argentina África do Sul Bulgária Bangladesh

Bolívia Dubai Croácia Brunei Brasil Egito Eslováquia Cambodia Chile Gana Eslovênia China

Colômbia Israel Estônia Hong Kong República Dominicana Quênia Hungria Índia

Equador Lesoto Letônia Indonésia Honduras Maurício Lituânia Macau México Marrocos Polônia Malásia

Nicarágua Suazilândia Romênia Paquistão Paraguai Rússia Filipinas

Peru Sérvia Coréia do Sul Uruguai Turquia Sri Lanka

Venezuela Ucrânia Taiwan Guatemala Tailândia

Singapura Vietnam

Tabela 6 - Países considerados de risco sob o ponto de vista sócio-ambiental

Fonte: Intranet L’Oréal

Os riscos sócio-ambientais apresentados pelos fornecedores variam de acordo com

seu tipo de atividade e com sua localização.

Os fornecedores localizados em países em desenvolvimento são claramente mais

sensíveis a riscos sociais do que aqueles localizados em países desenvolvidos. Por exemplo, 5

dos 9 casos de trabalho infantil constatados desde o começo do programa de auditorias sociais

ocorreram na China. Um outro caso foi detectado na Síria e outros dois no México21.

Os riscos sócio-ambientais variam também de acordo com o tipo de atividade do

fornecedor. Por exemplo, funcionários de uma indústria química podem estar expostos a

materiais inflamáveis ou explosivos, a um local de trabalho insalubre, etc. Da mesma forma,

21 Fonte: base de dados interna da L’Oréal, acessada em 26/06/2007.

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funcionários de uma industria de mão de obra intensiva são mais susceptíveis a problemas

relacionados a longas jornadas de trabalho e a um número excessivo de horas-extras.

Uma análise dos resultados das auditorias sociais feita pela autora revelou que a

freqüência e a gravidade dos riscos sociais verificados nas auditorias sociais se correlacionam

com o setor da L’Oréal que encomenda a auditoria (centrais de distribuição, fábricas e

departamento de objetos promocionais22). O gráfico abaixo mostra que os fornecedores do

setor de objetos promocionais apresentam resultados mais críticos do que os fornecedores dos

outros dois setores.

Figura 7 – Repartição dos resultados das auditorias sociais por departamento interno que encomenda a auditoria

Fonte: elaborado pela autora a partir da base de dados interna, acessa em 26/06/2007.

Isto se justifica pela relação não-perene do departamento de objetos promocionais

com os seus fornecedores. Os pedidos feitos por este departamento são, na maioria dos casos,

pedidos pontuais ligados a uma campanha de promocional específica e pontual, onde o

critério ganhador de pedido ainda é quase sempre o custo dos objetos encomendados. Afinal,

a produção destes objetos não exige mão de obra especializada nem uma tecnologia

diferenciada. Este tipo de relação com o fornecedor é conhecido pelo termo one shot

business. Boa parte dos fornecedores caracterizados por este perfil localiza-se em países como

o Bangladesh, a Índia e a China, onde as condições sociais de trabalho não constituem uma

preocupação prioritária.

22 Bijuterias, bolsas, toalhas e camisetas são exemplos de objetos promocionais. Trata-se de objetos que fazem parte de kits promocionais vendidos em datas especiais como natal, dia das mães, dia dos namorados ou campanhas de marketing específicas. Visto que a L’Oréal não possui a tecnologia necessária à produção destes itens, eles são encomendados.

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Assim, o departamento de objetos promocionais, ao contrário dos outros

departamentos de compras do grupo, não busca estabelecer uma relação perene e win-win

com os seus fornecedores. Ao contrário, o departamento de P&D, por exemplo, considera

primordial o estabelecimento de parcerias com seus fornecedores, visando o desenvolvimento

de novos produtos e de tecnologias inovadoras. Desta forma, o departamento de objetos

promocionais é o departamento com maior número de casos de auditorias com resultado

“tolerância zero”, geralmente ligados ao trabalho infantil. Este tipo de infração é considerado

extremamente grave pelo grupo L’Oréal.

Por fim, vale lembrar que, devido a uma questão de imparcialidade e de

homogeneidade, os procedimentos para a realização das auditorias sociais são aplicados de

forma igual a todos os fornecedores submetidos às auditorias sociais, independentemente do

tipo de fornecedor e da sua localização. Esta homogeneidade é fundamental para a

credibilidade e a integridade do programa de auditorias sociais, afinal, todos os fornecedores

auditados devem ser tratados e inspecionados da mesma forma, impedindo qualquer tipo de

discriminação ou privilégio. Além disso, a adoção dos mesmos critérios para a inspeção de

todos os fornecedores é imprescindível para que os fornecedores possam ser comparados.

Desde o inicio do programa de auditorias sociais, ocorrido em 2002, a L’Oréal já

efetuou 906 auditorias.

Figura 8 - Repartição geográfica e anual das auditorias realizadas

Fonte: elaborada pela autora em 26/06/2007 a partir da base de dados interna

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2002 - 2005 2006 2007

Satisfatório 8 62 40

Melhora requerida 29 164 169

Melhora importante requerida 70 174 103

Tolerância Zero 6 5 2

Acesso Negado 21 31 22

Total 134 436 366

Tabela 7 - Repartição dos resultados das auditorias sociais realizadas

Fonte: elaborada pela autora em 26/06/2007 a partir da base de dados interna

Antes de iniciar a elaboração do código de conduta destinado aos fornecedores do

grupo, a autora efetuou uma análise sobre as auditorias já realizadas na cadeia logística do

grupo, seus processos e seus resultados, de forma a identificar as áreas mais críticas e mais

susceptíveis a irregularidades.

As primeiras observações que foram feitas se focalizaram sobre a assinatura do

termo de compromisso legal ético e social pelos fornecedores. Ao assinar este compromisso, o

fornecedor afirma estar de acordo com o programa de auditorias sociais e com suas

exigências. O processo de obtenção destas assinaturas está representado no anexo A.

Cerca de 4%23 dos fornecedores contatados se recusaram a assinar o termo de

compromisso sobre os princípios das auditorias sociais

Consultas feitas junto aos fornecedores e a compradores da L’Oréal revelaram que

as principais causas de recusa de assinaturas são as seguintes:

- participação não significativa da L’Oréal no faturamento do fornecedor

(participação esta que não justifica os esforços despendidos pelo fornecedor para a realização

da auditoria, tais como disponibilização de pelo menos uma pessoa para recepção dos

auditores, disponibilização de documentos específicos e de alguns funcionários para

entrevistas, etc.)

- fornecedor incapaz de respeitar os padrões exigidos pela L’Oréal;

- fornecedor contra o princípio de ser auditado por um de seus clientes.

23 Dado obtido através da análise das informações contidas na base de dados interna.

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- fornecedor não disponível a assumir um compromisso em nome de seus próprios

fornecedores (exigência estipulada no termo de compromisso).

Paralelamente, o número de auditorias com resultado “Acesso Negado”

representam uma porcentagem significativa do total de auditorias realizadas: 8%23. As razões

mais freqüentes que justificam este fato são as seguintes:

- ausência ou falta de disponibilidade da pessoa designada para receber o auditor

Isto se intensifica devido ao fato de as auditorias serem semi-anunciadas, ou seja, elas não

ocorrem em uma data marcada (elas podem ocorrer em qualquer dia dentro de um intervalo de

30 dias pré-estipulado). Sendo assim, é possível que a(s) pessoa(s) designadas para receber o

auditor não esteja disponível no dia da auditoria. Isto ocorre principalmente em pequenas

empresas, onde uma ou poucas pessoas estão aptas a receber os auditores;

- fornecedor contra o princípio da auditoria ;

Tanto no caso de fornecedores que se recusam a assinar o termo de compromisso

quanto no caso de fornecedores que se recusam a receber os auditores, a disponibilização de

um documento voltado para o compartilhamento de informações e capaz de transparecer a

vontade do grupo L’Oréal em acompanhar seus fornecedores em um processo de melhoria

contínua pode contribuir à aceitação do princípio do programa de auditorias sociais. Esta é

mais uma das missões a ser cumprida pela elaboração do código de conduta responsável.

No gráfico a seguir, encontra-se um resumo da análise feita pela autora para a

identificação das irregularidades mais freqüentemente detectadas pelas auditorias.

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Figura 9 - Detecção das irregularidades mais freqüentes24

Fonte: elaborada pela autora a partir de informações contidas na base de dados interna25

O gráfico acima mostra claramente que os três eixos mais problemáticos quanto à

freqüência das irregularidades são os seguintes:

- Saúde e Segurança no ambiente de trabalho (Health and Safety) : tratam-se, por

exemplo, de casos de estocagem de produtos perigosos em condições inapropriadas,

extintores de incêndio quebrados ou ausentes, saídas de emergência bloqueadas, ruído

excessivo no local de trabalho, etc.;

- Duração da jornada de trabalho e horas extras excessivas (Hours of work):

tratam-se, por exemplo, de jornadas de trabalho mais longas do que as determinadas por lei,

ausência de pelo menos um dia de repouso por semana, etc.;

- Pagamento de salários (Compensations and benefits): trata-se de funcionários

remunerados a uma taxa inferior à taxa estipulada pela lei, pelo mercado ou pelo contrato de

trabalho.

24 O resultado final da auditoria equivale a pior nota dentre as notas obtidas para cada capítulo. Sendo assim, o resultado final de uma auditoria só será “Satisfatório” caso todos os capítulos tenham sido considerados satisfatórios. Caso um relatório seja composto por um capítulo com resultado “Melhora significativa requerida” e todos os demais capítulos com resultado “Satisfatório”, o resultado final da auditoria será “Melhora significativa requerida”. 25 Análise baseada nos resultados das 436 auditorias sociais realizadas em 2006.

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Quanto à gravidade das irregularidades, os eixos mais críticos são os seguintes:

- Trabalho infantil;

- Assédio sexual ou moral,

-Trabalho forçado.

Figura 10 - Irregularidades mais graves (em vermelho) e mais freqüentes (em laranja)26

Fonte: Intranet L’Oréal – traduzido e adaptado pela autora

É fundamental que estas fontes de irregularidades sejam explicitadas no código de

conduta.

26 As porcentagens representadas no canto superior direito das fotos representam a porcentagem de ocorrência das irregularidades mencionadas dentre o total de irregularidades detectadas desde o início do programa de auditorias sociais.

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4.4. Benchmark de documentos éticos publicados por outras empresas

Passada a fase de familiarização com os programas de auditorias sociais, iniciou-se

o processo de benchmark dos códigos de conduta e dos documentos éticos divulgados por

outras empresas.

O benchmark permitiu a identificação dos assuntos abordados e a observação da

forma de apresentação (interface) e do nível de detalhe destes documentos.

O quadro a seguir mostra uma síntese das características dos documentos que se

revelaram mais significativos dentre todos os documentos consultados.27 28

27 Onze temas foram identificados na análise. Os campos em cinza identificam a menção do tema no documento correspondente, enquanto os campos em branco significam que o tema não é abordado pelo documento em questão. * Os códigos de conduta consultados para a elaboração da tabela foram encontrados na Internet, nos websites oficiais das empresas listadas na tabela. 28 Siglas para as referências internacionais contidas na tabela: UN (United Nations), ILO (International Labour Organization), UDHR (Universal Declaration of Human Rights), ETI (Ethical Trading Initiative), SAI (Social Accountability International), EMAS (Eco Management and audit system), OHSAS 18001(Occupational Health and Safety Assessment Series), WBCSD (Worldwide Business Council for Sustainable Development), OECD (Organization for Economic Co-operation and Development), SA 8000 (Social Accountability).

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Setor Nome do

documento Pági-nas

Temas Referên-cias

Comentários

Trabalho infantil Estagiários / aprendizes

Discri-mina-ção

Tra-ba-lho força-do

Horas de trabalho

Liberda-de de associa-ção

Abuso e assédio

Meio ambien-te

Saúde e segurança

Audito-rias

Ações correti-vas

Bens de consumo, tecidos, roupas

Levis Levi Strauss & Co. Global Sourcing and Operating Guidelines (GSOG)

3 Idade superior a 15 anos ou idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória

60 horas/ semana, pelo menos 1 dia de repouso a cada 7 dias

UN, UDHR, ILO

Documento breve e sintético, muitas referências ao TOE - (Terms of Engagement)

Bens de consumo, tecidos, roupas

Levis Terms of engagement Guidebook (TOE)

70 Idade superior a 15 anos ou idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória

Não mais do que 60 horas/semana (48 horas regulares + 12 horas-extras), média de 1 dia de repouso a cada 7 dias

A cada capítulo, tabelas com exemplos de não-conformidades e ações corretivas

UN, UDHR, ILO

Detalhado, interface/apresentação atrativa, documento baseado em trabalhos com ONGs e na experiência da empresa. Contem exemplos de parcerias que funcionaram

Roupas Gap Gap Inc. Code of conduct

4 14 anos ou idade mínima exigida pela lei (a que for maior)

Programas de trabalho e estudo

Não mais do que 60 horas/semana, pelo menos 1 dia de repouso a cada 7 dias

Breve menção no capítulo “Factory”

UN, UDHR, ILO -

Extremamente prescritivo.

Tecnolo-gia, microcomputadores

A-pple

Apple Supplier code of conduct

6 Maior idade entre as seguintes: 15 anos, idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória, idade mínima permitida por lei

Superior a idade mínima, inferior a 18 anos

Um dia de repouso a cada 7 dias

Auto-avaliações e/ou monitores externos podem visitar o local

ILO, UDHR, SAI, ETI, ISO 14000, EMAS, OHSAS 18001

Bem dividido em capítulos. Menção a sistemas de gestão para garantir conformidade ao código. Prescritivo.

Tecnologi-a, redes, acessórios, comunica-ção

Cisco Cisco Supplier code of conduct

11 Maior idade entre as seguintes: 15 anos (ou 14 anos se permitido por lei), idade mínima para cumprimento da escolaridade obrigatória, idade mínima permitida por lei

- Não mais do que 60 horas/semana (incluindo horas-extras), exceto em situações não usuais ou de emergência. Pelo menos um dia de repouso a cada 7 dias

Auto-avalia-ções periódi-cas, docu-mentos devem ser apresen-tados para compro-

UDHR, SAI, ETI

Adoção do EICC (Eletronic industry code of conduct). Prescritivo.

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vação da confor-midade

Cosméticos

Body Shop

The Body Shop code of conduct for suppliers

2 Sem menção a uma idade específica,referência ao programa da ETI

- 48 horas/semana, média de 1 dia de repouso a cada 7 dias

Saúde e higiene

Convenções da ILO

Prescritivo. Adoção do código da ETI

Artigos esportivos

Nike Nike code of conduct

1 Idade superior a 18 anos para produção de calçados. Idade superior a 16 anos para produção de roupas e acessórios. 15 anos para outros casos

- - Não mais do que 60 horas/semana, um dia de repouso a cada 7 dias

- - - Tradução em 19 idiomas. Código incompleto

Bens de consumo, alimenta-ção, higiene pessoal

P&G Sustainabili-ty Guidelines for supplier relations

12 15 anos ou idade estipulada pela lei local

- Tema citado, mas sem maiores precisões

- - Apresentação atrativa. Código generalista. Apresentação dos valores da empresa. Contem carta do CEO.

Bens de consumo, higiene pessoal, alimentação

Unile-ver

Business Partner code

1 Tema citado, mas sem precisões

- - Tema citado, mas sem maiores precisões

Colabo-ração com fornece-dores para ajudá-los a construir compe-tências, para benefí-cios mútuos

Conveções da OIT p/ trabalho infantil

Documento sintético. Valor contratual (assinatura dos fornecedores é requerida). Iniciativa para elaboração de um código em parceria com outras empresas.

Higiene pessoal, farmácia,

Jonh-son & Jonh-son

Standards for Responsi-ble External Manufacturing

3 Empregados com idade superior a 16 anos

- Tema citado, mas sem maiores precisões

Mencionado no capítulo “Mana-gement systems”

- Documento sintético

Móveis, acessórios para casa

IKE-A

Ikea IWAY 10 15 anos ou idade estipulada pela lei local

- Não mais do que 60 horas/semana (48 horas regulares + 12 horas-extras), pelo menos 1 dia de repouso a cada 7 dias

Capítulo sobre poluição das águas e poluição sonora

Melho-ria contínua

Lista completa de referências úteis na primeira página do código

Excelente compromisso entre extensão/nível de detalhes. Sumário e referências internacionais na primeira página

Tabela 8 - Síntese do benchmark dos principais documentos éticos privados consultados

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A diversidade de documentos consultados serviu como base de reflexão para a

determinação não apenas do escopo e do conteúdo do código de conduta, mas também do seu

modo de apresentação.

As questões que decorreram do benchmark são questões-chave sobre a estrutura do

documento ético a ser elaborado para os fornecedores. Elas foram levantadas pela autora e

serviram como objeto de reflexão em reuniões que contaram com a participação dos membros

do departamento de Avaliação da Performance dos Fornecedores. Em um momento

posterior, estas mesmas questões foram levantadas e discutidas em reunião junto à diretoria

do grupo L’Oreál. As reflexões provocadas pela discussão destas questões foram importantes

para o direcionamento do projeto. As questões são as seguintes:

- O código de conduta ético destinado aos fornecedores do grupo L’Oréal deve ser

um documento sintético e simples, com apenas uma página (como o caso do código da Nike),

ou ele deve ser um documento mais preciso, extenso e elaborado (como o caso do TOE –

Terms of Engagement – elaborado pela Levis?

- Qual deve ser o nível de detalhe das informações fornecidas? Por exemplo, o

código deve precisar o peso máximo que um trabalhador pode carregar no exercício de suas

funções, ou, de forma mais genérica e abrangente, mencionar que o fator ergonomia deve ser

levado em consideração no estabelecimento dos procedimentos de trabalho?

- O documento deve se focalizar na transmissão dos valores da empresa e se ater a

princípios genéricos (como é o caso da Procter & Gamble), ou deve ser preciso sobre os

padrões exigidos (como por exemplo, a Apple)?

- Porque não adotar um código de conduta já elaborado por uma instituição

internacionalmente reconhecida na área de responsabilidade sócio-ambiental? O grupo

BodyShop o fez ao adotar o código ético elaborado pela ETI (Ethical Trading Initiative).

- Seria possível iniciar um movimento conjunto das empresas que se destacam no

setor de cosméticos? As empresas do setor de eletrônica elaboraram o EICC (Electronic

industry code of conduct), adotado por mais de 25 empresas, dentre elas Adobe, Dell, IBM,

HP, Kodak, Phillips, Microsoft, Sony, Xerox, etc. Da mesma forma, grandes varejistas do

mercado mundial, tais como Carrefour, Metro, Tesco e Wall Mart, juntaram seus esforços

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para elaborarem um código de conduta comum, conhecido como o GSCP (Global Social

Compliance Programme). Este documento se encontra em curso de elaboração1.

- Será que o documento deve se restringir a uma lista de padrões a serem

respeitados pelos fornecedores da L’Oréal, ou ele deve abranger também exemplos de boas

práticas na área sócio-ambiental e de meios que podem ser utilizados para lograr o

cumprimento dos padrões exigidos? (Não se restringir ao “o quê”, mas também abordar o

“como”). A empresa Adidas, por exemplo, elaborou um guia extremamente completo com

diversas fotos e exemplos de medidas a serem tomadas dentro do ambiente de trabalho de

uma indústria visando o respeito dos padrões laborais.

- Seria útil incluir no código uma lista de referências internacionais que serviriam

como fonte de informação suplementar para os fornecedores que desejam ir além dos padrões

básicos? Esta foi uma idéia implementada pela empresa sueca IKEA, considerada pela revista

“Ethisphere Magazine” como a empresa mais ética do ano de 2007.

- Qual é o tipo de linguagem a ser adotado? O código deve conter uma linguagem

mais técnica, ou deve-se privilegiar uma linguagem simples e acessível? A linguagem adotada

deve ser prescritiva (como por exemplos nos códigos da Gap e da ETI) ou uma linguagem

baseada em recomendações e voltada para o compartilhamento de informações e benefícios

mútuos?

- Quem serão os leitores do documento final? Os diretores, gerentes ou

trabalhadores das empresas fornecedoras?

- Qual deve ser a interface do documento? Ele deve ser composto exclusivamente

por um texto (como os documentos da GAP, ETI, Apple, Johnson & Johnson), ou ele deve ter

um formato mais atrativo enriquecido por fotos, ilustrações e diagramas? Pode-se considerar a

elaboração de uma plataforma interativa publicada na Internet, no website do grupo L’Oréal.

- O código deve possuir um caráter contratual (assinatura obrigatória) ou apenas

informativo dentro do contexto do programa das auditorias sociais? As empresas AXA e

Unilever, por exemplo, conferem um caráter contratual a seus códigos de conduta destinados

a seus colaboradores externos.

- Qual deve ser o nome do documento? Ele deve simplesmente ser chamado de

“Código de conduta”, ou deveria o seu nome incluir os conceitos de parceria,

responsabilidade, sustentabilidade e ética? Seguem abaixo alguns exemplos encontrados:

1 Informação obtida através da empresa Intertek, em 15/05/2007.

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Supplier Code of Conduct (Nike, Apple, Cisco, Body Shop)

Business Partner Code (Unilever)

Sustainability guidelines for suppliers’ relations (P&G)

Standards for Responsible External Manufacturing (J&J)

Terms of Engagement Guidebook (Levis)

Global sourcing and Operating guidelines (Levis)

4.5. Busca de critérios operacionais para avaliação da responsabilidade

sócio-ambiental

A definição do conteúdo do código de conduta exigiu a consulta de inúmeras

referências e documentos sobre a temática da responsabilidade ambiental. Afinal, o código de

conduta é um documento que carrega o nome do grupo L’Oréal e que deve ser construído

sobre uma base concreta de referencias reconhecidas.

Ao final da realização deste trabalho, os documentos recolhidos e consultados ao

longo da missão foram organizados e reunidos, dando origem a uma pequena biblioteca sobre

o tema responsabilidade sócio-ambiental, colocada a disposição dos funcionários da L’Oréal.

O objetivo desta iniciativa é o de capitalizar os conhecimentos adquiridos, disponibilizar uma

fonte de informação sobre as questões sócio-ambientais e os padrões laborais, além de incitar

o interesse dos colaboradores internos a estes assuntos de grande importância no mundo atual.

O objetivo deste capítulo não é o de apresentar uma lista exaustiva das referências

internacionais e normas sobre o assunto. Ele visa descrever brevemente os documentos que

contribuíram de forma substancial à definição do conteúdo e dos critérios operacionais do

código de conduta e o valor agregado por cada um destes documentos.

A contribuição desta seção do trabalho não deve ser confundida com a

contribuição do capítulo “Referências Bibliográficas”. Este último traz à tona um

embasamento teórico que define conceitos utilizados no desenvolvimento do trabalho,

explicando o que é a responsabilidade social e ambiental e qual é o seu papel e a sua

relevância dentro das empresas no contexto econômico atual. A presente seção, por sua vez,

traz referências que foram importantes para a definição dos critérios operacionais de avaliação

do desempenho das empresas na área sócio-ambiental. Sendo assim, ela traz referências que

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procuram responder às seguintes questões: quais são os temas e critérios que devem ser

concretamente incluídos no código de conduta (por exemplo, governança, saúde e segurança

no trabalho, direitos trabalhistas, liberdade de associação, ética e corrupção, uso de animais

para testes em laboratórios)? Quais os temas pertinentes? Como classificar estes temas e

agrupá-los em capítulos? Como avaliar o desempenho do fornecedor em cada um dos

assuntos abordados?

Desta forma, esta etapa de consultas a referências resultou na catalogação e

compilação de temas e critérios operacionais a serem incluídos no código de conduta. A

seguir, são apresentadas as principais referências utilizadas, assim como a contribuição destas

referências.

4.5.1. Referências Internacionais

4.5.1.1. Pacto Mundial

O Pacto Mundial (ou Global), do inglês “Global Compact”, é resultado de um

convite efetuado ao setor privado pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para

que juntamente com algumas agências das Nações Unidas e atores sociais, contribuísse para

avançar a prática da responsabilidade social corporativa, na busca de uma economia global

mais sustentável e inclusiva. As agências das Nações Unidas envolvidas com o Pacto Global

são o Alto Comissariado para Direitos Humanos, Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (PNUMA), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização das Nações

Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e o Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD)

Esta iniciativa, lançada em setembro de 2000, contava na época com cerca de 50

companhias conscientes da responsabilidade que tem o setor privado na promoção da

responsabilidade social corporativa. Atualmente, o Pacto Mundial é composto por mais de 3

mil empresas de 116 países, dentre as quais 55% são grandes companhias2.

2 Fonte: <http://www.pactoglobal.org.br>, acesso em 5 maio 2007.

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O objetivo do Pacto Mundial é encorajar o alinhamento das políticas e práticas

empresariais com os valores e os objetivos aplicáveis internacionalmente e universalmente

acordados. Estes valores principais foram separados em dez princípios-chave, nas áreas de

direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção.

Princípios de Direitos Humanos 1. Respeitar e proteger os direitos humanos; 2. Impedir violações de direitos humanos;

Princípios de Direitos do Trabalho 3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho; 4. Abolir o trabalho forçado; 5. Abolir o trabalho infantil; 6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho;

Princípios de Proteção Ambiental 7. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; 8. Promover a responsabilidade ambiental; 9. Encorajar tecnologias que não agridem o meio ambiente.

Princípio contra a Corrupção 10. Combater a corrupção em todas as suas formas inclusive extorsão e propina.

Tabela 9 - O pacto mundial e seus princípios

Fonte: <http://www.pactoglobal.org.br/>. Acesso em: 5 maio 2007.

A L’Oreál é signatária desta iniciativa. Vale lembrar que a adesão das empresas ao

Pacto Mundial possui caráter voluntário. Desta forma, o Pacto Mundial não é um instrumento

regulatório, um código de conduta legalmente obrigatório ou um fórum para policiar as

políticas e práticas gerenciais. Também não é um porto seguro para as empresas participarem

sem demonstrarem real envolvimento e resultados. Trata-se de uma iniciativa voluntária que

procura fornecer uma estrutura global para a promoção do crescimento sustentável e da

cidadania, através de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras.

Concretamente, o Pacto Mundial contribuiu à realização do presente projeto pois

ele forneceu os princípios diretores que serviram de guia para a elaboração do código de

conduta. Desta forma, o código de conduta engloba o respeito aos direitos trabalhistas e os

princípios de proteção ambiental. O princípio contra a corrupção foi incluído em um capítulo

que faz referência à responsabilidade nos negócios (responsible behavior business- Ethics).

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4.5.1.2. Os princípios diretores da OCDE destinados às empresas multinacionais

Os princípios diretores da OCDE - Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico - destinados às empresas nacionais (de 1976, revisados em

2000) contribuíram ao presente trabalho por meio de suas recomendações formuladas pelos

governos e destinadas às empresas multinacionais. Estas recomendações cobrem 9 áreas

relacionadas à conduta das empresas (princípios gerais, publicação de informações, emprego e

relações profissionais, meio-ambiente, luta contra a corrupção, interesses dos consumidores,

ciência e tecnologia, concorrência e fiscalização).

Apesar do caráter puramente voluntário da implementação destas recomendações

por parte das empresas, os Estados que aderiram a estes princípios têm o dever de promover e

auxiliar a implementação destes princípios nas empresas.

4.5.1.3. A declaração da OIT relativa aos princípios e diretos fundamentais no trabalho

A declaração da OIT relativa aos princípios e direitos fundamentais no trabalho

(1998) contribuiu ao projeto através das suas normas fundamentais de trabalho anunciadas nas

convenções da OIT. Esta declaração impõe aos Estados, mediante adesão, o respeito de 8

convenções fundamentais:

Convenção n° 87 sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical (1948)

ratificada por 142 Estados dentre 177 membros ;

Convenção n° 98 sobre o direito de organização e de negociação coletiva, (1949)

ratificada por 154 Estados dentre 177 membros ;

Convenção n° 29 sobre o trabalho forçado (1930), ratificada por 163 Estados

dentre 177 membros;

Convenção n° 105 sobre a abolição do trabalho forçado dos penitenciários (1957),

ratificada por 161 Estados sobre 177 membros ;

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Convenção n° 138 sobre a idade mínima (1973), ratificada por 131 Estados dentre

177 membros ;

Convenção n° 182 sobre as piores formas de trabalho infantil (1999) ratificada por

147 Estados dentre 177 membros;

Convenção n° 100 sobre a igualdade de remuneração (1951) ratificada por 154

Estados dentre 177 membros ;

Convenção n° 111 sobre a discriminação (1958), ratificada por 159 Estados dentre

177 membros.

O caráter obrigatório da declaração da OIT para todos os Estados membros é uma

maneira de se fazer valer certas regras sociais, mesmo que a não-ratificação de muitos países

é uma realidade nos dias de hoje (veja anexo B).

Atualmente, o capítulo 4 das Condições Gerais de Compras e de Pagamentos da

L’Oréal exige que seus fornecedores respeitem as convenções acima mencionadas. No

entanto, este capítulo apenas menciona o número das convenções a serem respeitadas, não

explicando em detalhes qual os requisitos descritos nestas convenções. O código de conduta

trará as regras destas convenções incorporadas ao seu conteúdo.

4.5.2. Normas Internacionais

4.5.2.1. SA8000

Norma uniforme e auditável, a SA8000 é uma certificação publicada em 1998 e

desenvolvida pela SAI (Social Accountability International) que especifica uma série de

exigências na área de responsabilidade social. Seu objetivo é o de melhorar o ambiente de

trabalho e o de combater a exploração dos trabalhadores.

A SAI é um organismo sem fins lucrativos consagrado ao desenvolvimento, à

implementação e à vigilância de normas de responsabilidade social. Ela se compromete a

assegurar que as normas e o sistema de avaliação de conformidade de sejam acessíveis e

respeitados.

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Concretamente, esta norma forneceu ao projeto uma base de critérios e de

padrões a serem requeridos nas seguintes áreas:

- Trabalho infantil ;

- Trabalho forçado ;

- Saúde e segurança ;

- Liberdade sindical e direito à negociação coletiva;

- Práticas disciplinares ;

- Tempo de trabalho ;

- Remuneração ;

- Sistema de gestão interna (política, comitê de direção, comunicação externa,

controle de fornecedores e de terceiros, capacidade de responder a inquietudes e de adotar

medidas corretivas, etc.)

4.5.2.2. ISO 14000 e EMAS (Eco Management & Audit System)

A norma ISO 14000, reconhecida mundialmente, e a norma EMAS, reconhecida

na Europa, constituem referenciais que permitem aos agentes sócio-econômicos avaliar suas

atividades face ao meio-ambiente, firmar seu compromisso face a esta temática e implementar

medidas voltadas para a proteção do meio-ambiente.

Concretamente, estas normas contribuíram para o projeto com uma série de

exigências relativas à elaboração, à implementação, à atualização e à avaliação de um sistema

de gestão ambiental.

As exigências ambientais retidas focam-se nos seguintes aspectos :

- Planificação (objetivos, alvos e programas);

- Aplicação e funcionamento (recursos, papéis, responsabilidade e autoridade,

competências, formação e sensibilização, comunicação, documentação, controle operacional e

resposta a situações de urgência).

- Controle (vigilância e mensuração, avaliação da conformidade, ações corretivas e

preventivas, controle dos registros, auditoria interna, revisão da direção)

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4.5.2.3. Norma OHSAS 18001

A OHSAS 18001, que significa Occupational Health and Safety Assessment

Series, é uma especificação que fornece às organizações os elementos de um Sistema de

Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Lançada em 1999 e revisada em 2007, a

OHSAS 18001 especifica os requisitos para um sistema de gestão da SST, para permitir que

qualquer tipo de organização controle de forma mais eficaz seus riscos de acidentes e doenças

ocupacionais e melhore seu desempenho em SST.

As mudanças trazidas na versão de 2007 em relação à primeira versão de 1999

refletem a vasta utilização e experiência com a OHSAS 18001 em mais de 80 países, através

de cerca de 16.000 organizações certificadas3.

Uma das principais alterações na norma é a ênfase muito maior dada à saúde do

que somente à segurança, além da expressiva melhoria no alinhamento da nova norma à ISO

14001:2004 (para permitir às organizações o desenvolvimento de sistemas integrados de

gestão).

OHSAS 18001 contribuiu ao presente projeto com elementos dentro das seguintes

áreas:

- Planificação da identificação de perigos, avaliação e controle de riscos;

- Exigências legais e outras exigências.

No entanto, vale lembrar que esta norma não indica padrões de performance em

matéria de saúde e segurança, mas apenas exigências relativas ao sistema de gestão para se

atingir níveis satisfatórios de saúde e segurança.

4.5.3. Referências Internas

4.5.3.1. Regulamento ético do grupo L’Oréal

3 Fonte: Publicação do QSP - Centro de Qualidade, Segurança e Produtividade, disponível em <http://www.qsp.org.br/manual_sst.shtml>. Acesso em 15 junho 2007.

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Voltado para os colaboradores internos da L’Oréal, este documento lista os valores

e diretrizes que orientaram o desenvolvimento do grupo e contribuíram para a formação de

sua reputação de mais de um século. Os funcionários da L’Oréal devem se comprometer a

agir em coerência com estes valores fundamentais e continuar a transmiti-los.

Evidentemente, este documento contribuiu com os princípios diretores que

permearam a elaboração do código de conduta para os fornecedores. Devido a uma questão

de legitimidade, o código ético interno do grupo L’Oréal constituiu a espinha dorsal do

documento elaborado para os fornecedores, dado que as exigências da L’Oréal em relação a

seus fornecedores não podem ser mais rígidas do que aquelas destinadas a seus próprios

colaboradores internos.

O conteúdo deste documento ético interno ao grupo é composto pelos seguintes

capítulos:

- Respeito do direito,

- Respeito à pessoa humana,

- Parceria com clientes, distribuidores e fornecedores,

- Princípios de lealdade e integridade.

4.5.3.2. Tabelas de avaliação dos fornecedores de matérias primas

Elaboradas pelo departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do grupo L’Oréal e

validadas pela Pricewaterhouse Coopers, estas tabelas permitem o mapeamento da situação

do fornecedor de matéria prima segundo uma escala de avaliação (Ação inexistente,

Compromisso, Implementação, Avaliação, Melhoramento). Os critérios avaliados nestas

tabelas são os seguintes:

- Governança,

- Responsabilidade social,

- Saúde e segurança,

- Meio-ambiente,

- Equidade nas relações comerciais,

- Direitos humanos,

- Empregabilidade e formação.

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Atualmente, estas tabelas foram testadas em alguns fornecedores pilotos sob a

forma de uma ferramenta de auto-avaliação. Desta forma, estes fornecedores auto-avaliam sua

performance relativa a cada um dos critérios acima mencionados e enviam suas respostas ao

departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, que em seguida, trata os dados recebidos. Tais

respostas servem de base de diálogo entre a L’Oréal e estes fornecedores.

O departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da L’Oréal estabelece parcerias e

relações muito próximas com os fornecedores de matérias-primas na busca de novos

ingredientes, novas fórmulas e princípios ativos. Por este motivo, parte da equipe deste

departamento participou intensamente da elaboração do código de conduta aos fornecedores.

Maiores detalhes sobre o a contribuição prestada pelo departamento de P&D serão fornecidos

no capítulo 4.7 - Integração das particularidades dos fornecedores de matéria prima.

4.5.4. Critérios operacionais identificados

As consultas às referencias permitiram a identificação de uma série de critérios

operacionais em termos de responsabilidade sócio-ambiental. Os critérios retidos estão

listados na tabela abaixo:

A. Conformidade às leis aplicáveis e a regulamentos padrões

B. Padrões laborais B1 Trabalho infantil B2 Trabalho forçado e involuntário B3 Liberdade de associação e negociação coletiva B4 Não discriminação B5 Horas de trabalho B6 Salários e benefícios B7 Assédio e abuso C. Saúde e segurança C1 Ambiente de trabalho C2 Preparação para situações de emergência C3 Acidentes e doenças D. Meio ambiente D1 Sistema de gestão ambiental

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D2 Programa preventivo contra poluição D3 Manuseio de materiais perigosos D4 Redução do uso de recursos D5 Emissões atmosféricas D5 Gestão de resíduos e efluentes D7 Proteção da biodiversidade E. Comportamento responsável do negócio E1 Anti-Corrupção E2 Justiça nos negócios F. Sistemas de gestão F1 Comprometimento e responsabilidade F2 Melhoria contínua

Tabela 10 - Critérios operacionais identificados

Fonte: elaborada pela autora

4.6. Definição dos níveis de desempenho

Após a definição dos critérios operacionais a serem incluídos no código de

conduta, definiram-se os níveis de desempenho exigidos para cada um dos critérios.

Alguns dos níveis de desempenho são facilmente quantificáveis. Este é o caso, por

exemplo, do trabalho infantil, onde a idade mínima admitida foi de 16 anos, mesmo em países

onde a legislação local estipule uma idade inferior. O critério horas de trabalho também pode

ser facilmente quantificado: em reunião com o departamento de recursos humanos,

estabeleceu-se que as horas de trabalho regular não poderiam exceder os limites de 8 horas

por dia e de 48 horas por semana. Em caso de horas extras, estas não podem ultrapassar o

limite de 12 horas por mês e devem ser de caráter voluntário. No entanto, outros critérios são

subjetivos e por isso, não podem ser quantificados. Este é o caso, por exemplo, do critério

Comprometimento e responsabilidade, que faz parte do capítulo F - Sistemas de gestão.

Para cada um dos critérios, desde os facilmente quantificáveis até os mais

subjetivos, os níveis de exigência foram definidos e explicados.

A definição dos níveis de desempenho baseou-se em dois pilares:

- a consulta a documentos e normas que forneceram informações sobre os padrões

internacionalmente reconhecidos (as principais referências consultadas foram detalhadas no

capítulo precedente);

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- reuniões com gerentes e diretores da L’Oréal (por exemplo, do departamento de

recursos humanos, de saúde e segurança e de desenvolvimento sustentável) para se conhecer

os níveis de desempenho exigidos pela empresa e implementados dentro dela.

Os níveis de desempenho estabelecidos podem ser consultados no apêndice A, que

contém a versão atual do código de conduta.

4.7. Integração das particularidades dos fornecedores de matérias-

primas

Durante o desenvolvimento do projeto, o departamento de Pesquisa e

Desenvolvimento apresentou pontos significativos de desacordo em relação ao conteúdo do

código de conduta e à estrutura da plataforma de compartilhamento de informações com os

fornecedores. Este fato exigiu um grande trabalho em conjunto com este departamento, a fim

de adaptar o projeto às suas necessidades e reivindicações. Este seção traz maiores detalhes

sobre o trabalho desenvolvido junto ao departamento de P&D.

Dentro da L’Oréal, são dois os departamentos que estão constantemente em

contato com os fornecedores:

- o departamento de compras, em contato constante com todos os fornecedores do

grupo, possuindo uma visão global de toda a cadeia de suprimentos e dos diferentes perfis e

níveis de maturidade de cada uma das classes de fornecedores. Ao acompanhar a evolução da

performance dos fornecedores, o departamento de compras (sobretudo a divisão corporativa

deste departamento) prioriza uma abordagem voltada para as dimensões processos e

organização das empresas fornecedoras.

- o departamento de P&D, em contato constante com os fornecedores de matéria prima

para estabelecer parcerias com estes fornecedores objetivando o desenvolvimento de novos

produtos e de inovações nos processos produtivos. Em geral, os fornecedores de matérias-

primas orientados para a inovação são fornecedores considerados de excelência. Trata-se, na

maioria dos casos, de grandes empresas com as quais a L´Oréal tem grande interesse em

estabelecer uma relação perene a fim de garantir uma constante renovação e diferenciação de

seus produtos. Neste contexto, o departamento de P&D privilegia uma abordagem voltada

para os produtos das empresas fornecedores.

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Algumas das peculiaridades relacionadas a estes fornecedores de matérias-primas

diferem de forma importante do universo dos demais fornecedores do grupo. Por exemplo,

este tipo de fornecedor é especialmente sensível a aspectos como implementação de uma

gestão ambiental eficiente, proteção da biodiversidade, fontes renováveis de energia,

bioacumulação4, biopirataria5 ou realização de testes com animais em laboratórios.

Fornecedores que possuem meios para investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento são em

geral grandes empresas estruturadas e que podem (e devem) destinar verbas para as

problemáticas aqui mencionadas. No entanto, estas preocupações são hoje pouco

desenvolvidas em uma parcela importante de fornecedores da L´Oréal, sobretudo em

empresas de pequeno e médio porte e empresas de mão de obra intensiva localizadas em

países em desenvolvimento.

Tais especificidades ligadas a estes fornecedores de matérias-primas motivaram o

departamento de P&D a desenvolver em 2005 seu próprio referencial de avaliação dos

fornecedores. Trata-se de uma tabela de avaliação validada pela Pricewaterhouse Coopers.

Esta tabela permite o mapeamento da situação atual dos fornecedores de matéria-prima

segundo uma escala de avaliação (ação inexistente, comprometimento, implementação,

avaliação, melhoria) no que diz respeito a critérios tais como :

- Governança e responsabilidade social das empresas

- Segurança, saúde e higiene

- Meio ambiente

- Eqüidade das relações comerciais

- Direitos humanos

- Empregabilidade e formação

4 Bioacumulação é o processo através do qual os seres vivos absorvem e retêm substâncias químicas no seu organismo. Este processo implica várias etapas na cadeia alimentar e diferentes tipos de alimentação. À medida que se sobe no nível trófico, maior será a quantidade de químicos acumulados no ser vivo uma vez que este, para além dos compostos que o seu organismo já absorveu, vai ainda concentrar os que provêm da alimentação. Verifica-se que nos animais predadores os valores de concentração são mais elevados que nos animais dos quais estes se alimentam. Inúmeros são os perigos que advêm para as gerações vindouras pois ao longo da vida uma mulher armazena certas substancias em seus tecidos e as libera, em parte, no momento da gravidez e da amamentação. 5 Exploração, manipulação, exportação e/ou comercialização internacional de recursos biológicos que contrariam as normas da Convenção sobre Diversidade Biológica, de 1992. O termo biopirataria, lançado em 1993 por uma ONG, procurava alertar sobre o fato que recursos biológicos e conhecimentos de comunidades tradicionais de agricultores ou indígenas estavam sendo apropriados e patenteados por empresas multinacionais e instituições científicas.

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Esta tabela, que hoje é utilizada pelo departamento de P&D como uma ferramenta

de auto-avaliação dos fornecedores, serviu como uma fonte de informação importante para a

elaboração do código de conduta. Diversas dimensões listadas na tabela e que não faziam

parte do perímetro do código foram integradas ao documento mediante pedido da P&D.

Dentre eles destacamos a proteção da biodiversidade, a importância de um sistema de gestão

ambiental e a justiça e a equidade nas relações comerciais.

No entanto, muitas das dimensões presentes nesta tabela se revelam muito severas

quando se considera a cadeia de suprimentos da L´Oréal de uma forma global. Por este

motivo, alguns dos pedidos feitos pelo departamento de P&D reivindicando a inclusão de

certos assuntos no código de conduta, depois de discutidos em reuniões interdepartamentais

da L´Oréal, não foram considerados legítimos. Afinal, o código de conduta destina-se a todo o

conjunto de fornecedores do grupo, não se devendo priorizar as especificidades de uma

categoria de fornecedores em detrimento das demais.

Por trabalhar exclusivamente com fornecedores de excelência, o departamento de

P&D desenvolveu um método muito severo de avaliação de seus fornecedores. Estender este

mesmo método de avaliação para todos os demais fornecedores aniquilaria grande parte da

cadeia de suprimentos do grupo.

Diante das inúmeras reivindicações da equipe de P&D, diversas reuniões foram

realizadas com os colaboradores deste departamento com o intuito de se negociar e se

encontrar um equilíbrio no que diz respeito aos aspectos a serem incluídos no código de

conduta. Assuntos tais como bioacumulação e testes realizados em animais não entraram no

escopo do documento, pois são muito específicos e exigem um nível de maturidade quanto às

práticas ambientais ainda não atingido por grande parte dos fornecedores do grupo. Além

disso, a inclusão de assuntos como estes tornaria o código de conduta excessivamente longo e

técnico, o que contraria as diretrizes estabelecidas em reunião com a diretoria do grupo. Tais

assuntos podem (e devem) ser posteriormente retomados no momento da definição dos

requisitos que farão parte do documento Requisitos desejados e de excelência (que será

explicado mais adiante, no capítulo 5.1.3).

Outro aspecto evocado durante estas reuniões diz respeito à forma de difusão do

código de conduta e dos outros documentos que constituirão a plataforma de

compartilhamento de informações com os fornecedores.

O departamento de P&D reivindicou a difusão do código de conduta sob a forma

de uma ferramenta de auto-avaliação, forma já utilizada pelo departamento na difusão da sua

tabela de avaliação dos fornecedores de matéria prima. Ou seja, os fornecedores deveriam

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identificar o seu nível de conformidade a cada um dos quesitos exigidos e em seguida

transmitir estas informações à L´Oréal sob a forma de uma tabela. A empresa AXA, grupo

multinacional atuante na área de serviços de seguros, previdência, poupança e transmissão de

patrimônio, também adota esta metodologia para a difusão do “The sustainable development

procurement toolbox”, código de conduta ética e responsável elaborado pela empresa e

destinado a seus fornecedores. Tal procedimento permite uma verdadeira troca de

informações e diálogo com os fornecedores, possibilitando a compreensão de suas

necessidades e um melhor acompanhamento do seu processo de evolução. Em contrapartida,

dada a magnitude do número de fornecedores afetados pelo projeto da L’Oréal (cerca de 3000

fornecedores), este procedimento exigiria grandes esforços e investimentos na criação e

capacitação de uma estrutura capaz de receber e processar as informações recebidas, tornando

o projeto inviável.

O departamento de compras defendeu a difusão do código sob a forma de um

documento informativo a ser consultado pelos fornecedores, transmitindo-lhes os quesitos

internacionais e aqueles exigidos pela L´Oréal em termos de responsabilidade sócio-

ambiental, sensibilizando-os sobre a importância da temática da responsabilidade sócio-

ambiental no contexto mundial atual e sugerindo meios que levem a evolução da empresa

fornecedora nesta área.

Esta última foi a forma de difusão escolhida devido às seguintes razões :

- A auto-avaliação pode não ser representativa da real situação do fornecedor. De

fato, há fornecedores que não ousariam assinalar uma não conformidade à L´Oréal por receio

de punição.

- Os fornecedores possuem diversos outros clientes que solicitam o preenchimento

de inúmeros formulários, questionários, enquetes, etc. A multiplicação deste tipo de iniciativa

aumenta a carga de trabalho dos fornecedores.

- O trabalho de coleta e de análise das respostas dos fornecedores implica em uma

carga enorme de esforços e investimentos para o grupo L´Oréal para a criação e a manutenção

de uma estrutura capaz de assegurar a gestão e a capitalização das informações recebidas.

- A implementação desta auto-avaliação acarretaria em um atraso significativo

para a validação e a implementação do projeto de elaboração do código de conduta .

Em resumo, as diversas reuniões de trabalho feitas com os colaboradores da

equipe de P&D trouxeram os seguintes aspectos positivos para o projeto :

- Um código de conduta mais completo, principalmente no que diz respeito aos

aspectos de responsabilidade ambiental. Anteriormente à intervenção deste departamento, o

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projeto estava mais orientado para uma abordagem social. A primeira versão do código de

conduta apresentava quesitos sociais bem explicados e detalhados, enquanto os aspectos

ambientais, alem de presentes em menor numero, eram abordados de forma mais superficial.

- A utilização de fontes bibliográficas anteriormente não consultadas, tais como a

Convenção sobre a Diversidade Biológica (UNEP 1995), a Washington Convention on

International Trade in Endangered Species of faune and flora (CITES 1973), a UICN World

conservation Union Red list of threatened species (UICN), a Stockholm Convention on

Persistant Organic Pollutants (2001), a Convention on Long-Range Transboundary Air

Pollution (1979) e a Basel Convention of the control of transboundary movements of

harzadous wastes and disposal (1992).

4.8. Coleta, compilação e análise de dados de campo através de consultas a

fornecedores, compradores e auditores

4.8.1. Consulta aos fornecedores

Uma etapa importante para a elaboração do código de conduta para os

fornecedores foi a consulta aos próprios fornecedores, para identificação de suas

necessidades, opiniões e dificuldades encontradas dentro do contexto do programa de

auditorias sociais e de gestão sócio-ambiental em suas empresas.

A consulta aos fornecedores se concretizou via o envio de um questionário a todos

os fornecedores do grupo que já haviam participado de pelo menos uma auditoria social

encomendada pela L’Oréal nos anos de 2006 e 20076, totalizando 580 formulários enviados.

O objetivo principal do envio destes formulários foi a coleta de informações para a

elaboração do código de conduta. No entanto, aproveitou-se esta oportunidade de contato

direto com os fornecedores para se atender a outros dois objetivos:

- Coleta de informações para aprimoramento do programa de auditorias sociais

6 Para os fornecedores auditados em 2007, foram considerados apenas os fornecedores auditados antes do mês de maio, mês em que os formulários foram enviados.

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- Coleta de informações para avaliação da prestação de serviços da empresa

Intertek, terceiro responsável pela realização das auditorias nas fábricas dos fornecedores.

Através da análise das respostas recebidas, foi possível compreender como os

fornecedores vivenciaram a auditoria social e conhecer a opinião deles sobre as informações

por eles recebidas durante o processo de auditoria social, conhecer suas necessidades e os

impactos deste programa em seus negócios.

4.8.2. A elaboração do questionário destinado aos fornecedores

A elaboração, difusão e análise das respostas recebidas constituíram um sub-

projeto significativo e relativamente longo dentro da missão da autora no grupo L’Oréal.

O primeiro passo para a elaboração do formulário foi uma sessão de brainstorming

organizada pela autora, que contou com a participação de sua tutora e de uma outra integrante

do departamento Performance dos Fornecedores. O objetivo era o de se repertoriar as

questões que poderiam fazer parte do questionário. As questões deveriam ser capazes de

extrair o máximo de informações e de incitar o fornecedor a se lembrar dos aspectos que lhe

foram especialmente críticos durante todo o processo de auditoria social, desde a fase do

contato prévio com a empresa Intertek para agendamento da auditoria, até a verificação da

implementação do plano de ações corretivas em caso de detecção de irregularidades durante a

auditoria.

As questões selecionadas foram organizadas pela autora em uma primeira versão

do formulário, composta por três páginas. No entanto, esta versão foi modificada diversas

vezes, até que se chegasse a uma versão que não ultrapassasse uma página. Um questionário

longo poderia desmotivar o fornecedor a respondê-lo. Uma versão final foi então aprovada

pela responsável do departamento corporativo de compras antes da difusão do questionário. A

versão final deste questionário destinado aos fornecedores se encontra no apêndice B.

O principal canal utilizado para a difusão do documento foi o correio eletrônico.

Dos 580 fornecedores contatados, 131 responderam às perguntas, o que resulta em uma taxa

de retorno de 23%.

A síntese das respostas obtidas será apresentada adiante, na seção 4.8.4.

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4.8.3. Consulta aos compradores

Além dos próprios fornecedores, os compradores da L’Oréal também foram

consultados, pois estes são os agentes da empresa que mais conhecem os fornecedores e que

acompanham continuamente suas evoluções.

Os compradores baseados nas fábricas do grupo L’Oréal são os responsáveis pelo

envio aos fornecedores do pedido de comprometimento ao programa de auditorias sociais

(trata-se de um documento que deve ser assinado pelo fornecedor atestando sua aprovação ao

programa). São também os compradores que encaminham à Intertek o pedido de realização da

auditoria. Esta implicação e participação dos compradores no programa de auditorias sociais é

considerada pelo grupo L’Oréal como uma das grandes forças do programa. Afinal, as

pessoas que transferem os pedidos de compra aos fornecedores (ou seja, os compradores) são

as mesmas pessoas que encomendam as auditorias sociais à Intertek. A implicação dos

compradores neste processo os estimula a considerar os resultados das auditorias sociais como

um fator importante no momento da decisão sobre qual será o fornecedor ganhador de um

determinado pedido. É deste fato que resulta o verdadeiro impacto do programa de auditorias

sociais dentro da cadeia de suprimentos do grupo.

Dado a grande implicação dos compradores no programa de auditorias sociais da

L’Oréal e o seu contato regular com os fornecedores do grupo, eles constituem um grupo

importante de pessoas capazes de contribuir para a elaboração do código de conduta, para o

aprimoramento do programa e para a validação da prestação de serviços da Intertek.

Desta forma, um questionário destinado aos compradores foi elaborado com o

intuito de se viabilizar a coleta de opiniões dos mesmos. Para tanto, foram seguidas as

mesmas etapas utilizadas no momento da elaboração do questionário para os fornecedores. A

versão final do questionário enviado encontra-se no apêndice C.

117 compradores receberam este formulário. Destes, 40 enviaram suas respostas,

ou seja, 34%.

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4.8.4. Síntese das respostas recebidas

Esta seção apresenta uma síntese integrada das respostas recebidas por parte dos

fornecedores e dos compradores da L’Oréal. Dada a convergência das respostas destes dois

grupos, elas serão apresentadas conjuntamente.

Esta convergência se deve principalmente ao fato de os fornecedores transmitirem

com freqüência aos compradores as suas impressões e opiniões relacionadas às auditorias

sociais. O envio destes formulários constituiu por sua vez uma ocasião para que estas

informações fossem transmitidas ao departamento corporativo de compras.

Por solicitação da empresa, o resultado bruto da análise quantitativa das respostas

recebidas não será divulgado na íntegra. As conclusões aqui apresentadas são

fundamentalmente resultado da análise quantitativa e qualitativa das respostas recebidas.

Dentre os fornecedores consultados, cerca de 20% não se mostraram satisfeitos

quanto ao nível de informações recebidas da L’Oréal e da Intertek durante as diferentes etapas

do programa de auditorias sociais. Veja o gráfico abaixo, que retrata o nível de satisfação dos

fornecedores no que diz respeito às informações recebidas antes, durante e após a realização

da auditoria social.

Figura 11 - Satisfação dos fornecedores em relação ao nível de informações recebidas em diferentes etapas do programa de auditorias sociais

Fonte: elaborado pela autora

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Outros aspectos identificados nas respostas recebidas foram os seguintes:

a) Os fornecedores desejam ser informados com antecedência sobre os padrões

exigidos pela L’Oréal e verificados durante as auditorias. No geral, os momentos que seguem

a chegada do auditor no local da auditoria são momentos de apreensão e inquietude para os

fornecedores, que não sabem o que esperar do desenrolar da auditoria.

b) As ferramentas de comunicação sobre o processo das auditorias não são

adequadas. Por ferramentas de comunicação entendem-se os documentos padronizados

enviados aos fornecedores para informar-lhes sobre a realização da auditoria e sobre o

resultado obtido após a auditoria. As inadequações referem-se à falta de informações

consideradas importantes pelos fornecedores (por exemplo, a quem se deve enviar a

comprovação da implementação do plano de ações corretivas), à linguagem utilizada

(considerada excessivamente prescritiva) e ao idioma utilizado (alguns documentos foram

traduzidos em 5 línguas, mas outros só estão disponíveis em inglês e em francês).

d) Os compradores necessitam de maior formação sobre argumentos que podem

ser utilizados para convencer o fornecedor a se comprometer com o programa de auditorias

sociais.

e) O grau de gravidade das irregularidades é comunicado tardiamente. De fato, a

gravidade das irregularidades encontradas é comunicada apenas no relatório final da auditoria,

enviado ao fornecedor dias após a realização da auditoria.

f) o processo de acompanhamento após a realização da auditoria é excessivamente

longo (por exemplo, o intervalo entre a auditoria inicial e a auditoria de acompanhamento é

muito longo) e as regras de validação das medidas corretivas não são bem definidas.

g) A auditoria social é, no geral, percebida pelo fornecedor como uma

oportunidade para melhorar as condições sociais de sua fábrica.

h) A performance dos auditores da Intertek quanto aos quesitos profissionalismo,

nível de conhecimento, capacidade de escuta e imparcialidade foram considerados

satisfatórios.

Dentre os aspectos citados, os quatro primeiros confirmam a importância do

desenvolvimento do código de conduta e da plataforma de compartilhamento de informações

com os fornecedores.

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4.8.5. Consulta aos auditores

Os auditores, agentes importantes no processo de auditoria social, também foram

consultados durante o processo de elaboração do código de conduta e de busca do

aprimoramento do programa de auditorias sociais.

O contato com os auditores ocorreu durante uma semana de formação organizada

pela empresa Intertek para os seus auditores que trabalhavam no programa da L’Oréal. A

participação da autora a esta formação possibilitou a familiarização com as principais

dificuldades encontradas pelos auditores e fornecedores no momento da realização da

auditoria.

Os principais aspectos constatados foram os seguintes:

- O fornecedor encontra-se freqüentemente inquieto e ansioso no momento da

chegada do auditor dado que sua empresa será colocada à prova durante a auditoria. Esta

inquietude se deve principalmente ao não conhecimento por parte do fornecedor dos critérios

que serão avaliados e dos padrões exigidos. Isto pode se traduzir por uma acolhida hostil por

parte da empresa auditada. Sendo assim, muito tempo (cerca de uma hora, segundo os

auditores) e energia do auditor são consumidos para tranqüilizar o fornecedor e fornecer-lhe

informações sobre o desenrolar da auditoria, sobre os critérios avaliados e os modos de

avaliação. A economia deste tempo, viabilizada pelo fornecimento prévio destas informações

aos fornecedores, seria preciosa para que a auditoria fosse feita com mais calma e para

diminuir o número de auditorias que terminam após o horário previsto.

- Os auditores necessitam de documentos de suporte para facilitar sua

comunicação com os fornecedores, sobretudo no que diz respeito às explicações sobre o

processo da auditoria e sobre os aspectos verificados. Esta necessidade leva alguns auditores a

apresentarem aos fornecedores no inicio da auditoria, por iniciativa própria, documentos tais

como o relatório de desenvolvimento sustentável publicado pela L’Oréal, as condições gerais

de compras e pagamentos e o regulamento ético da L’Oréal. Na verdade, este regulamento

ético é um documento destinado exclusivamente aos funcionários da L’Oréal, e não deveria

ser divulgado fora da empresa. Os auditores foram orientados a não mais divulgarem este

documento.

- Os auditores da Intertek representam o nome e os valores da L’Oréal diante das

empresas auditadas. Quando reportado à funcionária da L’Oréal responsável pelo programa

de auditorias sociais este fato foi encarado com surpresa. Até então, acreditava-se que os

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auditores representassem o nome e os valores da empresa Intertek diante dos fornecedores.

No entanto, ao se apresentarem aos fornecedores no inicio da auditoria como agentes que

vieram realizar uma auditoria encomendada pela L’Oréal, os auditores passam a veicular a

imagem do grupo. Isto traduz a importância de se formar cuidadosamente os auditores e de

muni-los com boas ferramentas de comunicação.

4.9. Validação do projeto pela diretoria da empresa

Valores corporativos e ética nos negócios são questões que envolvem governança.

Por este motivo, a elaboração do código de conduta deve contar com o comprometimento e o

entusiasmo da diretoria da empresa. Os diretores devem ser regularmente informados sobre o

desenvolvimento do projeto. Por isso, durante o desenvolvimento do projeto, foram realizadas

duas reuniões de apresentação e discussão do trabalho com a diretoria.

Estavam presentes a estas reuniões: a diretora de compras da L’Oréal, o

responsável pelo departamento de desenvolvimento sustentável do grupo L’Oréal, o

responsável pelo departamento de gestão dos objetos promocionais, o diretor do departamento

de P&D, dois colaboradores da equipe de P&D, a responsável pelo programa de auditorias

sociais internas realizadas nas fábricas da L’Oréal, o responsável EHS (Environment, Health

and Safety) da L’Oréal, o diretor das centrais de distribuição da L’Oréal, a diretora de

responsabilidade social da marca BodyShop, um representante da empresa Intertek (empresa

terceirizada responsável pela execução das auditorias sociais), assim como a tutora da autora

dentro da empresa, responsável pelas auditorias sociais realizadas em toda a supply chain do

grupo.

O objetivo destas apresentações foi a validação do projeto assim como a coleta de

opiniões e críticas construtivas sobre os documentos desenvolvidos e formalmente

apresentados, de forma a enriquecê-lo e completá-los. Os comentários coletados foram

analisados e integrados ao projeto.

Na primeira reunião, validou-se:

- a elaboração de um código de conduta único para todos os fornecedores do

grupo;

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- a elaboração de uma plataforma de compartilhamento de informações mais

ampla, composta por 5 documentos que serão descritos no capítulo 5.2.

Durante esta primeira reunião, foram apresentadas e discutidas as questões

levantadas no momento da execução do benchmark de documentos éticos elaborados por

outras empresas, estabelecendo-se as diretrizes que nortearam o projeto.

Na segunda reunião, foi apresentado o código de conduta elaborado. Após as

reuniões, a autora assegurou o trabalho de coleta, análise e síntese dos comentários sobre o

documento apresentado e fornecido durante a reunião. Os comentários coletados, que

serviram para o aperfeiçoamento da versão apresentada, referiam-se principalmente aos

seguintes aspectos:

- a pertinência de certos capítulos, como por exemplo a seção relacionada a testes

em animais, assunto delicado e que pode prejudicar a imagem do grupo. Este assunto foi

excluído do escopo do código de conduta.

- a legitimidade de certos requisitos exigidos, por exemplo a imposição de uma

duração máxima de 8 horas da jornada de trabalho e a obrigação de no mínimo um dia de

repouso a cada sete dias. Este último padrão foi considerado muito severo, e por isso, optou-

se por exigir uma média de pelo menos um dia de repouso por semana.

- a linguagem utilizada. Grande parte dos leitores do código de conduta sugeriu a

utilização de uma linguagem mais acessível e menos técnica. Para tanto, decidiu-se que após

o termino da elaboração do código de conduta, com o escopo e o conteúdo já definidos, o

texto será revisado por uma agência de comunicação chamada Sancroft. Esta é a agência

responsável pela revisão e tradução dos relatórios anuais e relatórios de desenvolvimento

sustentável publicados pelo grupo.

Tais reuniões constituíram um grande desafio para a autora, que há pouco tempo

dentro do grupo, se confrontou a membros da diretoria com dezenas de anos de experiência

no grupo para apresentar-lhes um novo assunto.

A minuta da segunda reunião pode ser encontrada no apêndice D.

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5. RESULTADOS DO TRABALHO

5.1. Plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores

A análise das referências internacionais e sobretudo o benchmark dos documentos

éticos publicados por outras empresas revelaram que não existe um modelo padrão que

caracterize os códigos de conduta das empresas. A sua elaboração pressupõe uma reflexão

sobre os valores da empresa e de sua estrutura organizacional. O código de conduta necessita

de customização para poder responder às necessidades da empresa em questão.

A grande diversidade dos documentos consultados fez o projeto evoluir: o

perímetro de atuação, até então focado na elaboração de um código de conduta responsável

com padrões a serem respeitados pelos fornecedores do grupo, passou a englobar a concepção

de uma plataforma mais ampla de compartilhamento de informações com os fornecedores. O

código de conduta, se não acompanhado de uma plataforma mais robusta de informações, não

seria capaz de cobrir os seguintes objetivos propostos:

- Sensibilizar o fornecedor sobre a importância dos aspectos sócio-ambientais;

- Aumentar o seu nível de conhecimento do fornecedor sobre os padrões

internacionais em termos de responsabilidade social e ambiental,

- Ajudar o fornecedor a avaliar o seu desempenho atual quanto aos quesitos sociais

e ambientais necessários;

- Indicar ao fornecedor meios de como se adequar às boas práticas sociais e

ambientais e propor uma parceria para ajudá-lo a adotar medidas corretivas a eventuais

irregularidades ou dificuldades encontradas;

- Indicar aos fornecedores já conformes aos requisitos básicos formas de progredir

e melhorar ainda mais sua performance sócio-ambiental

Discussões realizadas entre os membros do departamento de Performance dos

Fornecedores revelaram que a elaboração de um código de conduta caracterizado pela

descrição dos requisitos básicos a serem respeitados em termos de práticas sócio-ambientais

não seria capaz de cobrir todos os objetivos acima mencionados. Tais requisitos, reunidos sob

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a forma de um código de conduta, constituem uma parte chave do projeto, mas não podem

corresponder à sua totalidade.

Desta forma, todo o conhecimento acumulado no desenvolvimento do projeto

culminou na concepção de uma plataforma de compartilhamento de informações com os

fornecedores, que recebeu o nome de Business Partner Sustainability Tool Box, composta por

5 documentos

- Requisitos básicos (código de conduta)

- Valores-chave

- Requisitos desejados e de excelência.

- Metodologia

- Casos de boas práticas e de fracassos na área sócio ambiental.

Vale lembrar que a estrutura desta plataforma é o resultado de inúmeras discussões

e reflexões baseadas, sobretudo, na grande diversidade quanto à forma e ao conteúdo dos

documentos éticos analisados na fase de benchmark. Tal estrutura foi apresentada em reunião

a diretores, a membros de diversos departamentos da L’Oréal (recursos humanos, P&D,

compras, marketing, desenvolvimento de embalagens e gestão de objetos promocionais),

assim como a colaboradores externos (Sancroft - agência de comunicação e Intertek –

empresa terceirizada especializada na área de auditorias sociais). Os comentários, críticas e

sugestões destes atores, incorporadas à estrutura concebida pela autora, foram fundamentais

para o aprimoramento da mesma. Desta forma, a estrutura abaixo apresentada corresponde a

uma estrutura previamente validade pela direção do grupo L’Oréal.

Dentre os abaixo descritos, apenas o primeiro foi elaborado durante a missão da

autora no grupo L’Oréal. Os demais documentos concebidos como parte integrante da

plataforma de compartilhamento de informação com os fornecedores ainda se encontram em

uma fase de projeto e deverão ser elaborados em uma fase posterior.

A figura abaixo representa as cinco partes que compõem a estrutura concebida

pela autora. Cada uma destas partes será descrita a seguir.

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Figura 12 - Plataforma de compartilhamento de informações, composta por 5 partes

Fonte: elaborado pela autora

5.1.1. Requisitos básicos

Trata-se de uma lista de requisitos básicos na área de responsabilidade sócio-

ambiental a serem respeitados pelos fornecedores do grupo. Ela corresponde ao código de

conduta descrito até o presente momento deste trabalho de formatura, parte fundamental da

missão da autora dentro do grupo L’Oréal. Este é o primeiro documento a ser elaborado

dentre os cinco documentos que constituem a plataforma. Sua elaboração constitui um

momento voltado para a reflexão sobre os padrões a serem requeridos, sobre o conteúdo e

detalhamento de cada um destes padrões e sobre seus impactos para os fornecedores. Sua

extensão será de aproximadamente dez páginas.

A versão integral deste documento, elaborado durante a missão da autora dentro do

grupo L’Oréal, se encontra no apêndice A. Os outros quatro documentos que compõem a

plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores e que serão descritos a

seguir ainda não foram elaborados. Em sua missão, a autora concebeu a estrutura da

plataforma, indicando quais são os documentos que dela farão parte. No entanto, a curta

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duração da missão da autora dentro da L’Oréal (apenas cinco meses) inviabilizou a elaboração

efetiva de todos os documentos da plataforma. Os demais documentos serão elaborados num

futuro próximo por outros membros integrante da equipe Performance dos Fornecedores.

5.1.2. Os Valores-Chave

Considerado como o coração da plataforma, trata-se de um documento de uma

única página que contem os princípios diretores que traduzem os valores da empresa na área

de responsabilidade sócio-ambiental. Trata-se de uma comunicação ágil e direta, facilmente

compreendida, cuja leitura deve tomar poucos minutos do leitor.

Os outros quatro documentos da plataforma devem se manter coerentes aos

valores-chave descritos neste documento.

Quanto a sua elaboração, este documento decorrerá do primeiro documento acima

descrito, dado que eles devem abranger o mesmo escopo. Ele corresponderá a uma versão

generalista e resumida do primeiro documento. A idéia é de tratar os temas ligados à

responsabilidade sócio-ambiental de forma mais profunda e completa durante a elaboração do

primeiro documento, e em seguida, resgatar o essencial em um outro documento sintético,

generalista e de compreensão imediata.

A idéia do formato deste documento foi inspirada no condigo de conduta da Nike,

documento simples de uma única página e traduzido em 19 línguas, e no Supplier Guiding

Principles (SGP7) elaborado pela Coca-Cola, documento direto de uma página traduzido em

10 idiomas. Os princípios do Pacto Mundial e os princípios diretores da OCDE são fontes

importantes para a elaboração deste documento.

7 Disponível em <http://www.thecoca-colacompany.com/citizenship/supplier_guiding_principles.html>. Acesso em: 3 maio 2007.

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5.1.3. Requisitos desejados e de excelência:

Durante a pesquisa realizada na fase de elaboração do código de conduta para os

fornecedores, uma série de boas práticas em termos de responsabilidade sócio-ambiental

foram repertoriadas. No entanto, nem todas estas boas práticas puderam ser incluídas no

código de conduta por trataram-se de práticas que exigem um grande nível de maturidade e de

investimento por parte dos fornecedores. A inclusão de tais práticas no documento de

requisitos básicos aniquilaria grande parte da cadeia de suprimentos do grupo. Surgiu então a

idéia de reunir estas práticas desejadas e de excelência em um outro documento.

Trata-se de um documento destinado aos fornecedores que queiram ir além da

conformidade aos requisitos básicos. O objetivo é o de permitir ao fornecedor avaliar sua

maturidade em termos de responsabilidade social e seu nível de colaboração com a L’Oréal na

busca da uma performance sócio-ambiental , se identificando como:

- Fornecedor emergente: são aqueles fornecedores que se esforçam na

implementação de ações voltadas para o desenvolvimento sustentável, que respeitam os

requisitos básicos e que oferecem à L’Oréal a possibilidade de obtenção de informações

complementares quanto às suas práticas nesta área.

- Fornecedor voluntário: são aqueles fornecedores que implementam de forma

sistemática ações voltadas para o desenvolvimento sustentável e responsável, que enviam ao

grupo L’Oréal documentos específicos sobre suas práticas, que possuem uma gestão sócio-

ambiental estruturada ou que correspondem aos requisitos desejados.

- Fornecedor líder: fornecedores que respeitam os critérios de excelência e que são

dotados de comprometimento (por exemplo, que são signatários do Pacto Mundial),

certificações na área sócio-ambiental (por exemplo SA8000 ou ISO14001), com padrões de

excelência disponíveis e com boas notas de agências de avaliação extrafinanceira,

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Figura 13 - Possível escala para avaliação da maturidade dos fornecedores

Fonte: <http://www.axa.com/en/responsibility/socialresponsibility/suppliers/> - adaptado pela autora

Além de permitir que fornecedor avalie o seu nível de maturidade, o principal

objetivo deste documento é o de indicar caminhos para que ele possa evoluir de uma categoria

à outra.

O escopo deste documento é o mesmo do documento Requisitos Básicos. Desta

forma, para os capítulos evocados no documento Requisitos Básicos (vide tabela 9), também

farão parte do documento Requisitos desejados e de excelência, porém com padrões mais

rigorosos. Neste documento estes padrões seriam classificados em duas categorias distintas

segundo a maturidade das ações sócio-ambientais: os padrões desejados (associados aos

fornecedores voluntários) e os padrões de excelência (associados aos fornecedores líderes).

Por exemplo, em termos de gestão de consumo energético, um fornecedor

emergente deve ser capaz de controlar seus níveis de consumo e de respeitar os padrões

impostos pela lei. Um fornecedor líder, que vai além dos padrões básicos, busca implementar

programas voltados para a utilização de fontes renováveis de energia.

Requisitos básicos Requisitos desejados Requisitos de excelência A - Conformidade às leis aplicáveis e aos regulamentos padrões

O fornecedor conhece e respeita as leis e regulamentos aplicáveis a sua atividade

O fornecedor possui um sistema para se manter informado sobre mudanças e atualizações das leis e regulamentações aplicáveis a sua atividade

O sistema de atualização do fornecedor compreende a comunicação formal e sistemática das atualizações para colaboradores internos e externos

B - Trabalho e direitos humanos

Ausência de crianças com idade inferior a 16 anos

O fornecedor possui um sistema que impede o

O fornecedor possui um sistema para remediar

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B1 Trabalho infantil

O fornecedor não utiliza trabalho juvenil (entre 16 e 18 anos) com nível de escolarização abaixo do nível correspondente à idade do jovem. Contratos de estagiários e aprendizes devem estar protegidos por contratos que respeitem os padrões locais impostos pela lei (por exemplo, sem trabalho noturno, proibição de carregar pesos excessivos)

recrutamento de crianças com idade inferior a 16 anos. Este sistema inclui a verificação de documentos de identidade com foto ou equivalente. Os trabalhadores juvenis são submetidos a exames médicos de acordo com os regulamentos locais e no mínimo uma vez ao ano

potenciais causas de trabalho infantil (por exemplo programa para manutenção da renda na família da criança, para afastamento da criança da área de trabalho e para a escolarização da mesma) O fornecedor disponibiliza ao trabalhador juvenil meios para estimular e facilitar sua escolarização (por exemplo, auxílio transporte, horas de trabalho flexíveis)

Tabela 11 - Exemplos de requisitos desejados e de requisitos de excelência

Fonte: elaborado pela autora

Este documento representa um passo importante na direção de uma iniciativa de

inclusão e de reconhecimento do fornecedor de acordo com a maturidade dos esforços

realizados na busca da responsabilidade sócio-ambiental. Esta iniciativa viria contrabalançar a

escala de avaliação dos resultados das auditorias sociais (acesso negado, tolerância zero,

melhora requerida, melhora significativa requerida, satisfatório), que hoje passa a impressão

de uma iniciativa de exclusão.

5.1.4. Metodologia :

Trata-se de um documento que descreve, através de textos e fluxogramas, a

metodologia do processo de entrada de um fornecedor no portfolio de fornecedores do grupo

assim como o processo de realização das auditorias sociais. Neste documento, serão indicados

o corpo de regras e as diligências que regem estes processos, quais são os documentos que

devem ser do conhecimento do fornecedor (por exemplo as Condições Gerais de Compras e

de Pagamentos, e em breve, os Requisitos Básicos).

No que diz respeito à descrição do processo de realização das auditorias sociais,

este documento apresentará as etapas da auditoria (reunião de abertura, consulta de

documentos, visita à fábrica, entrevistas com funcionários e reunião de fechamento), os

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documentos que deverão ser colocados à disposição dos auditores no dia da realização da

auditoria, o questionário8 a ser respondido pelo fornecedor antes da realização da auditoria, os

possíveis resultados da auditoria social e suas implicações assim como o processo do

estabelecimento de um plano de ação corretiva em caso de detecção de irregularidades

durante a auditoria.

5.1.5. Descrição de boas práticas e de fracassos vivenciados

Experiências vivenciadas dentro das fábricas da L’Oréal e projetos pilotos

desenvolvidos juntos aos seus fornecedores constituem uma rica base de casos a serem

compartilhados com os colaboradores e conjunto de fornecedores. O objetivo de agrupar estas

experiências em um documento é o de permitir aos fornecedores de utilizarem lições

aprendidas durante estas experiências pare melhorarem as condições de trabalho em suas

próprias fábricas.

Um caso interessante de um projeto piloto esta sendo desenvolvido junto à

empresa Rexam, maior fornecedor de embalagens do grupo, na sua fábrica localizada na

região de Shenzen, na China. O objetivo deste projeto piloto é o de resolver problemas

relacionados às horas excessivas de trabalho9, problemas estes detectados durante a auditoria

social encomendada pelo grupo L’Oréal e realizada nesta fábrica.

5.2. O código de conduta

O desenvolvimento do projeto culminou na elaboração de um código de conduta,

documento que descreve regras e padrões a serem respeitados pelos fornecedores no que diz

respeito às suas práticas sócio-ambientais. O documento elaborado se encontra no apêndice A. 8 Este questionário dirige ao fornecedor perguntas sobre o tamanho da fábrica, número de funcionários e setor industrial onde atua o fornecedor. Tais informações são importantes para que se determine o número de auditores que participarão da auditoria em questão e a duração da auditoria. 9 Além de ser uma das causas mais freqüentes de irregularidades detectadas durante as auditorias sociais, a problemática relacionada às horas excessivas de trabalho e dias de repouso insuficientes é uma das mais criticas no que se diz respeito à implementação de um plano de ações corretivas.

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O código é uma ferramenta importante no estabelecimento e articulações dos

valores corporativos, responsabilidades, obrigações e ambições éticas que regulamentam a

organização, a forma como ela opera e interage com outros agentes.

Este código de conduta repercute sobre o grau de formalização do arcabouço

contratual que regula as relações entre a L’Oréal e os seus fornecedores, interferindo na forma

dos relacionamentos entre estes agentes. Britto (2002) associa a funcionalidade do arcabouço

contratual a três propriedades:

a) Em primeiro lugar, este arcabouço teórico deve definir um conjunto de

mecanismos de coordenação com vistas a se atingir determinados objetivos pelas partes

envolvidas;

b) Em segundo lugar, ele deve contemplar mecanismos de prevenção contra a

adoção de posturas oportunistas dos agentes que estabelecem a relação;

c) Em terceiro lugar, ele deve incluir mecanismos de incitação à adoção de um

comportamento eficiente pelas partes envolvidas.

Vale lembrar que o código de conduta é um documento destinado a todos os

fornecedores do grupo, e que portanto deve-se adequar a diferentes perfis: empresas de

pequeno, médio e grande porte, empresas localizadas nos mais variados países, com diferentes

culturas, legislações, poder econômico, níveis de qualidade de vida, custos de mão de obra,

etc. A compreensão destas diferenças10 foi fundamental para a elaboração deste documento.

Essa heterogeneidade da rede de suprimentos em questão afeta a velocidade de transformação

de seus agentes, velocidade esta que varia de acordo com a capacidade dos agentes ajustarem

seu comportamento a partir dos estímulos recebidos.

Aspectos importantes considerados na elaboração do código foram os seguintes:

- Análise do perfil dos fornecedores para identificação dos fatores que necessitam

de maior orientação,

- Utilização de referências sobre ética, responsabilidade social e gestão ambiental

internacionalmente reconhecidas,

- Apoio e implicação da diretoria da empresa, 10 Por exemplo, os sindicatos independentes são ilegais na China. O governo chinês reconhece um único sindicato, chamado de ACFTU (All-China Federation of Trade Unions), subordinado a autoridades locais do Partido Comunista. Em contrapartida, nos países ocidentais em geral, a existência de sindicatos independes exercem um papel fundamental na liberdade de associação e na negociação coletiva dos trabalhadores. Outro exemplo refere-se aos testes e ensaios realizados em animais. Enquanto diversos países se manifestam contra a utilização deste testes e ensaios (como por exemplo, a Inglaterra, que em 1998 decretou a proibição de testes em animais no processo de fabricação de cosméticos), outros (como por exemplo a China) alegam que estes testes ainda são fundamentais para a garantia da segurança dos produtos.

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- Participação de diferentes equipes da empresa,

- Consulta direta a fornecedores, compradores e auditores para refinamento do

projeto.

No entanto, apesar de ser uma ferramenta importante, a existência de um código de

conduta por si só não é suficiente para uma mudança efetiva de comportamento. O código de

conduta só se torna uma ferramenta efetiva quando inserido em um contexto de

disseminação comprometida, implementação, monitoramento e aderência em todos os

níveis da organização. Somente neste contexto o comportamento dos agentes será

influenciado pela ferramenta.

Desta forma, as etapas importantes na implementação do código de conduta

são as seguintes:

- Endosso e aprovação

Garantir que o código de conduta seja aprovado e endossado pelo presidente da

organização

- Integração

Implementar uma estratégia que integre o código de conduta na gestão da rede de

suprimentos

- Circulação e distribuição

Enviar o código de conduta para todos os fornecedores em um formato legível e

acessível. Disponibilizar o documento no website da empresa.

- Interação

Dar a todos aqueles que receberam o código a oportunidade de enviar seu

feedback, suas dúvidas ou comentários. Todos os fornecedores devem saber como reagir

quando confrontados a uma potencial transgressão do código

- Afirmação

Ter procedimentos para compradores e supervisores da L’Oréal que assegurem

que eles assim como suas equipes entendem e aplicam as provisões do código de conduta e

levantam questões ainda não cobertas por ele.

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- Contratos

Assegurar a aderência obrigatória ao código, incluindo referências ao código nos

contratos assinados pelos fornecedores.

- Revisão constante

Adotar um procedimento de constante revisão e atualização do código.

- Aplicação rigorosa

Fornecedores devem estar cientes das conseqüências geradas pela transgressão do

código

- Treinamento e formação

Elaboração de programas de formação e treinamento para fornecedores,

compradores e auditores sobre os aspectos contidos no código de conduta.

- Tradução

Traduzir o código para que ele possa ser entendido e utilizado por empresas que

não tenham pleno domínio da língua inglesa.

- Relatório Anual

Reproduzir ou inserir uma cópia do código no relatório anual para que os

stakeholders e o público em geral conheçam a posição da companhia sobre questões ligadas à

ética nos negócios e à responsabilidade sócio-ambiental.

A implementação efetiva do código de conduta como uma ferramenta de

capacitação sócio-ambiental traz benefícios não apenas para a L’Oréal, mas para todos os

agentes da sua cadeia de suprimentos. Os benefícios para os fornecedores se encontram na

figura abaixo.

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Figura 14 - Benefícios para os fornecedores resultantes da capacitação sócio-ambiental

Fonte: QUAINTANCE, MURDOCH (2006, p.5) – traduzido pela autora.

Avaliação e melhoria das condições de trabalho e da gestão ambiental

Melhora da produtividade

Melhora da qualidade

Minimização dos riscos

Adequação às expectativas dos consumidores

Construção de relacionamentos de longo prazo

Novas oportunidades de negócio

Transformação em um fornecedor de excelência

•Identificação de riscos •Encontro de soluções •Empresa alinhada aos padrões da L’Oréal

•Redução de riscos de danos aos trabalhadores • Redução de riscos de acidentes •Menor risco de atrasos •Maior eficiência •Maior capacidade de atrair e reter talentos

•Consumidores confiam na L’Oréal quanto à aquisição de produtos feitos sob condições dignas, por pessoas cujos direitos, saúde e segurança são respeitados, e sem agressão ao meio ambiente

•Empresas querem compras de fornecedores que respeitem os direitos laborais e o meio ambiente •Manter-se a frente dos competidores •Criação de novas oportunidades no mercado mundial

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6. CONCLUSÃO

Este trabalho é um exemplo de uma iniciativa que se insere no conceito de uma

nova sensibilidade social, de cunho cada vez mais sistêmico e ampliado, que impulsiona uma

maior complexidade na gestão organizacional, deslocando o conceito de responsabilidade

social para uma visão de redes de relacionamentos que permeia toda a cadeia produtiva.

6.1. Os benefícios, vantagens e melhorias sensíveis do projeto realizado

A realização deste trabalho culminou na concepção de uma plataforma de

compartilhamento de informações sobre responsabilidade sócio-ambiental com fornecedores e

na elaboração de um código de conduta responsável adaptado às necessidades da empresa

onde o trabalho foi realizado. Estas ferramentas, quando divulgadas, deverão estimular o

amadurecimento da responsabilidade sócio-ambiental da cadeia de suprimentos da empresa,

compatibilizando os níveis de desempenho das práticas sócio-ambientais dos fornecedores

com os padrões reconhecidos internacionalmente e exigidos pelo grupo. O trabalho culminou

na definição destes padrões, que anteriormente não eram nítidos.

Este trabalho constituiu um grande desafio tanto para a empresa quanto para a

autora, dado que a integração da responsabilidade sócio-ambiental numa rede de

relacionamentos ainda é um tema novo, e por isso, há poucos modelos e ferramentas

destinados ao desenvolvimento e à análise do tema. Embora o conceito de responsabilidade

social venha sendo definido de forma a abarcar um número crescente de stakeholders, os

indicadores para suportar tal envolvimento ainda não se encontram consolidados (ALIGLERI,

L.M,; ALIGLERI, L.A; CÂMARA, 2002). Esta indefinição dos elementos analíticos que

permitem a visualização das dimensões e relacionamentos de uma empresa responsável

tornaria restritiva uma análise quantitativa dos impactos do projeto. Embora ainda não se

possam mensurar os ganhos do projeto no plano econômico, outras vantagens empresariais

resultantes estão implícitas, tais como o incremento da credibilidade frente à sociedade,

melhora na fluidez do processo de compras e o reforço positivo da imagem corporativa.

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Giosa (2001) considera essencial estimular cada vez mais as grandes, médias,

pequenas e micro corporações no combate aos problemas sociais. Da mesma forma, Martins

(2007) acredita que a atuação do Estado nas questões sociais é muitas vezes limitada por

problemas gerenciais e financeiros, devendo ser complementada tanto por empresas privadas

como pelo terceiro setor. O projeto desenvolvido pela autora se insere exatamente neste

contexto, culminando na criação de um código de conduta com padrões sociais e ambientais a

serem respeitados pelos fornecedores do grupo L’Oréal. Tal ferramenta impactará a

organização e o modo de produção ou prestação de serviço de cerca de 3000 empresas

fornecedoras do grupo L’Oréal, haja vista que tais empresas - pequenas, médias e grandes e

atuantes em diversos setores da economia - deverão se adequar aos padrões listados no

código.

Esta ferramenta (o código de conduta) representa um marco dentro da política de

gestão da responsabilidade social na cadeia de suprimentos do grupo L’Oréal. Até então, esta

política se caracterizou:

- pela verificação, através do programa de auditorias sociais, da conformidade dos

fornecedores em relação aos requisitos sociais exigidos.

- pelo acompanhamento das correções das irregularidades encontradas durante as

auditorias.

Com a chegada do código de conduta, os fornecedores serão informados de

antemão sobre os requisitos exigidos. Com isso, a abordagem do programa deixa de se basear

na detecção e na correção de irregularidades e passa a oferecer ao fornecedor uma ferramenta

de capacitação na área sócio-ambiental que permite a sua adequação aos padrões

reconhecidos antes da realização da auditoria. Esta abordagem preventiva permitirá uma

redução do número de irregularidades detectadas em auditorias e dos custos gastos pela

L’Oréal no monitoramento da correção das irregularidades.

A adequação prévia dos fornecedores aos padrões sócio-ambientais também

fluidificará o processo de compras da L’Oréal. Isto se deverá à redução dos casos de

interrupções temporárias das relações comerciais que hoje ocorrem com fornecedores cujas

auditorias obtêm resultado “tolerância zero” ou “melhora significativa requerida”. Estas

interrupções ocorrem entre o momento da detecção da irregularidade e o momento da

comprovação da implementação de um plano de ações corretivas.

O projeto também trouxe à L’Oréal a formalização dos padrões sócio-ambientais

valorizados e implementados pelo grupo. North (1991), ressalta a importância das normas e

restrições que estruturam a interação social, econômica e política e as classifica em duas

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categorias distintas: as restrições informais (por exemplo, sanções, tabus e costumes) e as

regras formais (por exemplo, constituições, leis e contratos). O projeto da autora permitiu que

os padrões sócio-ambientais que devem vigorar na cadeia de suprimentos da L’Oréal

entrassem para a categoria das regras formais. Sem esta formalização, a comunicação destes

padrões a todos os agentes da cadeia de suprimentos torna-se inviável.

A formalização e a documentação de tais padrões também têm um papel

fundamental na proteção da imagem corporativa do grupo: o código de conduta constitui uma

ferramenta tangível para a proteção do grupo contra faltas graves cometidas por seus

fornecedores. Para Zoboli (1999), a imagem da empresa não pode ser vilipendiada ou

reduzida à simples peça publicitária uma vez que ela representa um ativo econômico sensível

à credibilidade que inspira. A dimensão ética é uma parte decisiva dentro do conceito de

qualidade que a empresa apresenta à sociedade.

A elaboração do código de conduta também conferiu maior importância aos

aspectos de ordem ambiental dentro dos critérios de avaliação da performance dos

fornecedores. Anteriormente à elaboração do projeto, a avaliação do nível de maturidade do

desenvolvimento sustentável do fornecedor se concentrava na avaliação de aspectos relativos

à responsabilidade social, tais como respeito dos direitos trabalhistas, liberdade de associação,

representatividade e negociação coletivas, remuneração e duração da jornada de trabalho,

condições de saúde, segurança e higiene dentro do ambiente de trabalho, etc. O projeto

resultou na inclusão de critérios voltados para a proteção do meio ambiente dentro do

contexto de avaliação da sustentabilidade dos fornecedores, tais como existência de um

sistema de gestão ambiental, existência de um programa preventivo contra poluição (controle

das emissões atmosféricas e dos efluentes), proteção da biodiversidade e redução do uso de

recursos. Isto conferiu um maior equilíbrio entre o peso dado ao monitoramento dos aspectos

sociais e dos aspectos ambientais. Vale lembrar que parte dos critérios listados no código

advém de critérios que hoje são verificados durante as auditorias. No entanto, novos critérios

foram identificados e incluídos no escopo do projeto. No futuro, as auditorias serão

reestruturadas de forma a integrarem a avaliação da conformidade dos fornecedores a estes

novos critérios.

O projeto também contribuirá ao bom desenrolar das auditorias sociais, facilitando

o trabalho dos auditores. Isto se deverá à diminuição da ansiedade e da inquietude dos

fornecedores durante a realização das auditorias, haja vista que hoje eles recebem informações

insuficientes sobre os padrões exigidos, sobre os documentos a serem fornecidos aos

auditores e sobre o processo (etapas) da auditoria. Isto resultará numa economia de tempo e

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de energia dos auditores. Além disso, eles disponibilizarão de um novo documento de suporte

na comunicação com os fornecedores.

O aumento da sensibilização e do nível de conhecimento dos fornecedores quanto

aos padrões sócio-ambientais reconhecidos internacionalmente constitui uma conquista chave

do projeto. O código de conduta e, futuramente, toda a plataforma de compartilhamento de

informações com os fornecedores, frutos de um extenso trabalho de pesquisa sobre o tema,

reunirão informações preciosas sobre práticas sócio-ambientais, podendo servir como uma

ferramenta útil na integração destas práticas na gestão das empresas fornecedoras. Este

aspecto é especialmente importante para os pequenos e médios fornecedores, que nem sempre

têm acesso a este tipo de informação e que raramente recebem estímulos efetivos à inclusão

da responsabilidade sócio-ambiental na gestão de seus negócios.

Além de contribuir à sensibilização dos fornecedores, o projeto também contribuiu

à sensibilização de diversos funcionários internos à L’Oréal quanto à temática da

responsabilidade sócio-ambiental e sua importância. O desenvolvimento do projeto dependeu

da contribuição e da aprovação de funcionários das mais diversas áreas que foram

interpelados a participarem de reuniões e a contribuírem para o projeto por meio do

compartilhamento de suas opiniões, conhecimentos e experiências. Pessoas que participaram

do projeto testemunharam que seu envolvimento no projeto teve um papel importante na sua

conscientização sobre a gestão socialmente responsável, que atribui às empresas a obrigação

de colaborar e melhorar o bem estar da sociedade, porque desempenham um papel

fundamental dentro do contexto social. Isto contribui para a valorização da imagem da

empresa por parte dos funcionários, constituindo uma alavanca de motivação. Para atrair e

reter talentos, as empresas não podem se restringir à oferta de bons salários e benefícios. Elas

devem investir na comunicação daquilo que elas aportam para a sociedade. Assim como

consumidores refletem sua crescente preocupação com as questões sócio-ambientais em suas

decisões de compra, os funcionários também refletem estes mesmos valores na motivação e

eficiência com que realizam o seu trabalho diário.

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6.2. Sugestões de melhorias

O código de conduta evoluiu bastante desde a primeira versão. Comentários e

sugestões de membros de outros departamentos da L’Oréal, de fornecedores e de auditores

sociais foram importantes para o aperfeiçoamento deste documento. No entanto, ele ainda

pode e deve ser melhorado.

• Dentre as melhorias possíveis, propõe-se a revisão do documento por pelo

menos uma instituição ou ONG reconhecida na área práticas sócio-

ambientais. Sabe-se hoje que a mídia e as ONGs têm um papel

fundamental na repercussão e na sensibilização da sociedade sobre

questões referentes ao comportamento de empresas privadas. Os exemplos

são inúmeros. Todos se lembram das campanhas de boicote sofridas pela

Nike, conduzidas por diversas organizações não-governamentais de todo o

mundo, em protesto pelas condições de trabalho apregoadas pelos

fornecedores. Como resposta, a Nike trocou seus fornecedores pois sua

marca é decisiva para o valor de seus tênis. Além de atacar as más práticas

das empresas privadas, as ONGs também questionam a legitimidade e

eficácia das ações sociais e ambientais destas empresas. Daí provem a

importância da revisão do documento por ONGs, para que esta iniciativa

da L’Oréal possa ganhar o apoio desta categoria. Em contrapartida, a

divulgação do código de conduta a uma instituição externa ou ONG

anterior à divulgação oficial do documento é considerado pela diretoria do

grupo como um aspecto delicado.

• Uma outra melhoria sugerida é o aprimoramento dos formulários enviados

aos fornecedores. Estes formulários foram de grande valia para a sugestão

de idéias quanto ao aprimoramento do programa de auditorias sociais. No

entanto, as questões relacionadas ao código de conduta foram tratadas de

forma mais superficial. Eles não contribuíram de forma significativa para a

definição do conteúdo do código. Sua maior contribuição constituiu a

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confirmação da necessidade de se desenvolver um documento suporte que

definisse os padrões exigidos pelo grupo, pois os fornecedores

manifestaram claramente a necessidade de conhecerem quais são os

critérios sobre os quais eles são avaliados. Uma versão mais detalhada

poderia ter sido distribuída a alguns fornecedores-chave para enriquecer o

projeto. Como o formulário foi distribuído a um numero grande de

fornecedores, optou-se por uma versão mais sucinta, de forma a não

desestimular o fornecedor a respondê-lo e a racionalizar os esforços de

coleta e tratamento das respostas recebidas.

• Por fim, ressalta-se que o foco do projeto constituiu o desenvolvimento dos

documentos éticos apresentados no capítulo “Resultados”. No entanto, os

documentos por si só não garantem o alcance dos objetivos propostos. Haja

vista o caso do Brasil, que apesar de ter uma legislação social e trabalhista

protetora, há muito tempo permanece como um estado de mal-estar social.

Uma atenção especial deve ser dada ao processo de implementação destes

documentos. Tal processo foi brevemente descrito no capítulo

“Resultados”, mas ele deve e pode ser trabalhado em maior profundidade.

A realização deste trabalho também permitiu a identificação de melhorias a serem

implementadas dentro da organização:

- Minimizar as relações pontuais com fornecedores, reforçando uma política

voltada para relações perenes,

- Melhorar a base de dados e o sistema de arquivamento dos resultados das

auditorias sociais em termos de interface e de confiabilidade dos dados disponíveis,

- Atribuir a gestão do relacionamento com os fornecedores a um único

departamento, tornando mais clara para o fornecedor a política do grupo e eliminando rixas

internas,

- Atualizar constantemente os manuais e fichas de procedimentos,

- Investir na comunicação de suas ações na área de responsabilidade sócio-

ambiental aos funcionários da empresa,

- Investir na formação dos auditores.

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6.3. Próximas etapas

Apesar de todo o trabalho desenvolvido, o código de conduta ainda não está pronto

para sua divulgação pública e oficial.

As etapas de definição e de validação do perímetro e do conteúdo do código já

foram concluídas. No entanto, o formato e a apresentação do documento ainda devem ser

aprimorados.

Desta forma, a próxima etapa do desenvolvimento do código de conduta consiste

na revisão do texto feita por uma agência de comunicação. O objetivo desta revisão é garantir

uma linguagem clara, acessível e livre de erros. Esta agência também será encarregada pela

formatação e diagramação do documento, conferindo uma aparência atrativa graças à inclusão

de cores, imagens, fotos, etc. O orçamento apresentado pela empresa Sancroft (uma

reconhecida consultoria em responsabilidade corporativa) para a realização destas tarefas já

foi aprovado. Esta é a empresa que revisa os relatórios anuais e os relatórios de

desenvolvimento sustentável publicados pela L’Oréal. A L’Oréal é uma empresa que dá muito

valor ao marketing e à aparência. Por essa razão, todas as publicações da empresa devem ter

uma apresentação impecável. Uma versão eletrônica também será divulgada no website da

empresa. A idéia consiste na disposição de uma versão interativa, com animações e links que

guiem o leitor a capítulos desejados, a outros documentos da L’Oréal relacionados ao assunto

e a outras fontes de informações e referências na área de responsabilidade sócio-ambiental.

Em seguida, o documento deve ser traduzido para outros idiomas para enfim ser

oficialmente divulgado para o conjunto de fornecedores do grupo.

Todo este trabalho corresponde ao desenvolvimento de uma das cinco pétalas que

compõe a plataforma de compartilhamento de informações com os fornecedores. Outras

frentes de projetos devem ainda ser constituídas para que os outros quatro documentos sejam

elaborados (valores-chave, requisitos desejados e de excelência, metodologia, casos de boas

práticas e de fracassos na área sócio-ambiental).

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LISTA DE REFERÊNCIAS

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GARCIA, R. et al. Indústria de cosméticos: elementos para uma caracterização de sua estrutura e dinâmica com base num enfoque de cadeia produtiva. Campinas, IE/UNICAMP, 2000.

GARCIA, R.; SALOMÃO, S. Relatório setorial preliminar: a indústria dos cosméticos. FINEP, DPP, 2003 GIOSA, L. A lei social. Guia Exame de boa cidadania corporativa, São Paulo, v.754, n.24, p. 30, nov.2001. GONSALVES, E. P. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. Campinas: Alínea, 2001. GRUPO ALPHA, centro de estudos econômicos e sociais. Chartes éthiques et codes de conduite : état des lieux d’un nouvel enjeu social. Marseille, 2004. INSTITUTO ETHOS / JORNAL VALOR ECONÔMICO. Responsabilidade social das empresas - percepção e tendências do consumidor brasileiro. Versão 2000. Disponível em:< http://www.ethos.org.br>. Acesso em: fevereiro 2007. KOTLER, P.; AMSTRONG, G. Marketing: an introduction. Englewood Cliffs: Prentice-Hall International, 1994.

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KREITLON, M. P.; QUINTELLA, R. H. Práticas de accountability ética e social: as estratégias de legitimação de empresas brasileiras nas relações com os stakeholders. In: Encontro da ANPAD, 25, 2001, Campinas, Anais…, Rio de Janeiro: Associação nacional dos programas de pós-graduação em administração, set. 2001. LAMING, R. Japanese supply chain relationship in recession. Long Planning, no 33, 2000. MARTINS, R. B. [sem título]. Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/>. Acesso em: 18 maio 2007. NOGUEIRA, A. J. F. M. Relações de trabalho e internacionalização no Brasil. In: FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. (Org.). Internacionalização e os países emergentes. São Paulo: Atlas, 2007. PIRES, S. R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos. São Paulo: Atlas, 2004. NORTH, D. C. Institutions. Journal of Economic Perspectives, 5, winter, 1991, pp.97-112. QUAINTANCE, J; MURDOCH, H. A workbook for suppliers in China – Cadbury Schweppes. Trabalho apresentado ao Comex Cadbury Schweppes, novembro 2006, Londres. Não publicado. UNICEF. Trabalho infantil e responsabilidade social corporativa: o projeto UNICEF-Ikea para combater o trabalho infantil. 2005. Disponível em <http://www.unicef.org/brazil/sowc06/cap4-dest5.htm>. Acesso em: 10 outubro 2007. UOL NOTÍCIAS. Começa na França julgamento de supostos responsáveis por naufrágio do "Erika". Paris, 12/02/2007. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/02/12/ult1807u34704.jhtm>. Acesso em: 5 julho 2007. VENANZI, D. Análise dos ganhos das novas configurações na indústria automotiva e a gestão da cadeia de suprimento. São Paulo, 2000. Dissertação de Mestrado em Engenharia da Produção – Centro Universitário Sant’Anna. Disponível em: <http://www.cvlog.net/teses.htm>. Acesso em: 21 ago. 2007. VILANOVA, E. e VILANOVA, R. Las otras empresas. Madrid: Talasa, 1996.

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APÊNDICE A – O código de conduta

BUSINESS PARTNER SUSTAINABILITY STANDARDS

Summary A. Compliance with applicable laws, regulations standards B. Labour standards B1. Child labour B2. Involuntary and forced labour B3. Freedom of Association and Collective Bargaining B4. Non discrimination B5. Working hours B6. Compensation & benefits B7. Harassment & abuse C. Health & Safety C1. Workplace environment C2. Emergency preparedness C3. Injury and illness D. Environment D1. Environmental management system and pollution prevention program D2. Hazardous materials use D3. Air emissions D4. Waste management and effluents D5. Resource use reduction D6. Biodiversity protection E. Responsible Business Behaviour (Ethics) E1. Anti-corruption E2. Fairness in business and competition F. Management Systems F1. Company commitment and management accountability F2. Continuous Improvement A. Compliance with applicable laws, regulations standards L’Oreal’s suppliers must conform to all applicable national and legal requirements. These policies and procedures shall also conform to the provisions of the relevant ILO conventions. L’Oreal’s suppliers shall make sure their own suppliers and/or subcontractors operate in full compliance with local and national law of their respective countries of manufacture.

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B. Labour standards L’Oréal’s business activities are committed to uphold the human rights of workers, and to treat them with dignity and respect as understood by the international community. B.1. Child Labour B.1.1 The company shall not recruit any employees under the age of 16 years old unless local minimum age law stipulates a higher age for internship or apprenticeship, work or mandatory schooling, in which case the higher age shall apply. B.1.2. All policies and procedures regarding child labour and young workers shall conform to the provisions of the relevant ILO conventions. B.1.3 If child workers are found in the employment of the company, a sensitive solution shall be sought that puts the best interests of the child and maintain the wages in the family. B.1.4 Young workers under the age of 18 shall not be employed in hazardous conditions regarding their age or development and according to legal restrictions on the nature and volume of work performed. This includes handling chemicals and operating heavy machinery. B.1.5 Young workers under the age of 18 shall not be employed at night. B.1.6 If young workers are employed, the employer must comply with any applicable legal restrictions and any legal requirements regarding permission to work or schooling. B.1.7 The company shall have an efficient system to verify and register its employees age (for example archive of copies of employees’ identity cards with photo) B.2. Involuntary and Forced Labour B.2.1 All forms of forced and bonded labour are forbidden in accordance with ILO Conventions. B.2.2 Involuntary prisoner labour that violates basic human rights is also forbidden. B.2.3 Employees shall not be required to lodge ‘deposits’ or their identity papers by their employer. B.2.4 Employees shall be free to leave their employer after giving reasonable notice. B.2.5 Employees shall be free to leave the place of work at the end of their shift. B.2.6 Contracts shall not impose conditions that restrict the workers’ ability to voluntarily end their employment including substantial fines or loss of residency papers by workers leaving employment.

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B.3. Freedom of Association and Collective Bargaining B.3.1 The lawful rights of all workers to form and join trade unions of their choice and to bargain collectively shall be recognised. B.3.2 Employers shall adopt an open attitude towards the activities of trade unions and their organizational activities. B.3.3 Workers representatives shall not be discriminated. B.3.4 Workers representatives shall have access to the workplace to carry out their representative functions. B.3.5 In situations or countries in which the rights regarding freedom of association and collective bargaining are restricted by law, the employer shall facilitate the development of parallel means of independent and free organization and bargaining (in accordance with ILO conventions). B.4. Non discrimination B.4.1 All terms and conditions of employment should be based on an individual's ability to do the job, not on the basis of personal characteristics or beliefs. B.4.2 The employer shall not engage in or support discrimination in hiring, compensation, access to training, promotion, termination, discipline or retirement on the basis of gender, age, religion, race, caste, social background, disability, ethnic and national origin, nationality, membership in workers’ organizations including unions, political affiliation, sexual orientation, pregnancy, marital status or any other personal characteristics B.5. Working Hours B.5.1 Working hours comply with national laws and industry collective agreement, whichever affords greater protection. B.5.2 Working hours should not be more than 8 hours per day and 48 hours per week, as well as 12 hours of overtime. B.5.3 At least one day off for every 7 day period on average should be provided. B.5.4 Overtime shall be voluntary. B.5.5 Every worker shall be entitled of annual paid holiday as per law requirement. B.6. Compensation & Benefits B.6.1 Wages paid for a standard working week shall be at least the minimum wage required by local or national law or the industry minimum collective agreement standard, whichever is higher.

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B.6.2 The employer shall provide all legally required benefits to all workers. B.6.3 Overtime hours worked shall be paid at a premium according to national and local laws. B.6.4 Deductions shall be fair, legal and reasonable in proportion to the total wage according to local law. B.6.5. All workers shall be provided understandable information about the conditions in respect of wages before they enter employment. B.6.6. All workers shall be provided with the details of their wages for the pay period concerned each time that they are paid. B.7. Harassment & Abuse B.7.1 Every employee shall be treated with respect and dignity. B.7.2 Employers must not engage in or tolerate physical abuse or discipline, the threat of physical abuse, sexual or other harassment and verbal abuse, abusive tone or language or other forms of intimidation. C. Health & Safety Recognized management systems such as OHSAS 18001 and ILO Guidelines on Occupational Safety and Health were used as references in preparing this code and may be a useful source of additional information. C.1. Workplace environment C.1.1 The employer shall provide a safe, clean and healthy working environment, bearing in mind the prevailing knowledge of the industry and of any specific hazards. C.1.2 The employer shall take adequate steps to prevent accidents and injury to health arising out of, associated with, or occurring in the course of work, by minimising, so far as is reasonably practicable, the causes of hazards inherent in the working environment. C.1.3 All workers shall have free access to adequate, clean toilet facilities, unlimited access to clean and safe drinking water. C.1.4. All workers shall receive regular and recorded health and safety training and that such training is repeated for new and reassigned workers. C.1.5.Machine-safeguarding requirements, interlocks and barriers are to be provided and properly maintained for machinery used by workers.

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C.1.6. Potential safety hazards, including chemicals, are to be controlled through proper procedures and maintenance. Workers should be provided with adequate Personal Protective Equipment free of charge. C.1.7 Physically-Demanding-Work worker exposure to physically demanding tasks, including manual material handling and heavy lifting, prolonged standing and highly repetitive or forceful assembly tasks is to be identified, evaluated and controlled. C.2 Emergency Preparedness C.2.1 Emergency situations and events are to be identified and assessed, and their impact minimized by implementing emergency plans and response procedures, including: emergency reporting, employee notification and evacuation procedures, worker training and drills, appropriate fire detection and suppression equipment, adequate exit facilities and recovery plans. C.2.2 Employers shall provide sufficient fire exits and safety equipment according to local law. C.3 Injury and Illness C.3.1 Procedures and systems are to be in place to manage, track and report occupational injury and illness. C.3.2 A proper follow up of injury and illness cases should be investigated to eliminate their causes. D. Environment Suppliers are expected to operate in an environmentally responsible and efficient manner and shall understand and minimize adverse impacts on the environment. Recognized management systems such as ISO 14001 or EMAS were used as references in preparing the present code and may be a useful source of additional information. They may provide mechanisms to monitor, manage, and improve performance regarding environmental requirements. D1. Environmental Management System and Pollution Prevention program D.1.1 Suppliers should have an environmental policy with precise principles, objectives and targets. This policy should be periodically reviewed in order to keep its topicality, suitability and effectiveness. D.1.2 All environmental permits, licenses, information, registrations and restrictions are to be obtained, maintained and kept current and their operational and reporting requirements are to be followed according to law requirements.

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D.1.3 Environmental impacts should be considered on transportation used for logistics purposes. D.1.4 Constant efforts should be made in order to reduce wastes, effluents and air emissions whenever possible. D.2 Hazardous Materials Use D.2.1. Whenever possible, suppliers shall avoid the use of hazardous materials – chemical, biological and physical - and use less harmful materials instead of more hazardous materials. D.2.2 If hazardous materials are essential, systems should be in place to minimize their use. Once minimized, reuse and recycling should be optimized. Systems shall be in place to evaluate the use, production, release and safe disposal of hazardous materials and hazardous waste D.2.3 All environmental information related to raw materials and intermediate materials shall be used to protect the environment from hazards. Suppliers are expected to manage this information in an appropriate manner including the provision of information about operating procedures. D.3 Air Emissions D.3.1. Air emissions of volatile organic chemicals, aerosols, corrosives, particulates, oxides of sulphur and nitrogen, greenhouse gases, ozone depleting chemicals and combustion by-products generated from operations are to be characterized, monitored and controlled prior to discharge. D.4 Waste Management and Effluents D.4.1.Systems shall be in place to ensure the safe handling, movement, storage, recycling, reuse or disposal of waste. Any waste with the potential to adversely impact human or environmental health is to be managed and controlled prior to proper disposal. D.5 Resource Use Reduction D.5.1 Overuse of all types, including water and energy, are to be reduced or eliminated by practices such as modifying production, maintenance and facility processes, materials substitution, conservation, recycling and re-using materials. D.5.2 Supplier should encourage efforts to use renewable sources and recycled material. D.6 Biodiversity Protection Biological diversity concerns the variety of all life forms - different plants, animals, microorganisms, the genes they contain, and ecosystems of which they form a part. The biodiversity on marine, aquatic and other types of environments can be reduced by processes such as habitat degradation and population decline or extinction. L’Oréal considers that the responsible biodiversity stewardship is a fundamental business issue. L’Oréal is fully concerned by this issue and encourages its suppliers to minimize adverse impacts on biodiversity.

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E. Responsible Business Behavior (Ethics) Suppliers are expected to conduct their business in an ethical manner and always act with integrity. The ethics elements are: E.1. Anti-Corruption E.1.1 All Corruption, extortion and embezzlement are prohibited. E.2 Fairness in business and competition E.2.1 Bribes, illegal inducements, or other means of obtaining undue or improper competitive advantage are not to be offered or accepted. E.2.2 Standards for fair business practices, fair advertising and fair competitive practices are to be upheld. E.2.3 Operations of prospecting, selection, withdrawal and use of natural resources, especially in areas with sensitive community issues, have to be carried out with the principles of respect and equitable sharing of benefits. F. Management Systems F.1 Company Commitment and Management Accountability F.1.1 L’Oréal suppliers should inform L’Oréal and other stakeholders about environmental and health and safety issues with regard to the company’s activities. F.1.2 Suppliers are encouraged to have a management system to facilitate compliance with this code and continuous improvement. F.1.3 The supplier is expected to demonstrate commitment to the concepts of this code, for example by clearly identifying a company representative responsible assigned to ensure the implementation of this code and allocation of appropriate resources. F.1.4 Suppliers are expected to provide to their employees appropriate training for relevant aspects of this code. F.2 Continuous Improvement F.2.1 Suppliers are expected to have written standards, performance objectives, targets and implementation plans. F.2.2 L’Oréal encourages its suppliers to continuously improve by taking necessary corrective actions to improve their performance with regard to the issues covered by this document.

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International References - The Universal Declaration of Human Rights (UN 1948) - Global Compact - Fundamental Principles of Rights at Work (ILO Declaration, June 1998) - Convention on the Rights of the Child (UN 1989) - Minimum Age Convention, and Worst Forms of Child Labour Convention (ILO conventions 138 and 182) - Forced Labour Convention, and Abolition of Forced Labour Convention (ILO Conventions 29 and 105) - Freedom of Association and Protection of the Right to Organise Convention, Right to Organise and Collective Bargaining Convention (ILO Conventions 87 and 98) - Equal Remuneration Convention, and Discrimination (Employment and Occupation) Convention (ILO Conventions 100 and 111) - Occupational Safety and Health Convention, and Occupational Safety and Health Recommendation (ILO Conventions 155 and Recommendation 164) - Rio Declaration on Sustainable Development (UN 1992) - Convention on Biological Diversity (UNEP 1995) - Washington Convention on International Trade in Endangered Species of wild fauna and flora (CITES, 1973) - IUCN World conservation Union Red List of threatened species (IUCN) - Stockholm Convention on Persistent Organic Pollutants (2001) - Basel Convention on the control of transboundary movements of hazardous wastes and their disposal (1992) - Convention on Long-Range Transboundary Air Pollution (1979) International Norms - SA 8000 - OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) - ISO 14000 - EMAS (Eco-Management and Audit Scheme)

L’OREAL Business partner sustainability standards Acknoledgment /Agreement Form

Original Form to be returned by the supplier completed and signed Name of Supplier : ……………………………………………………………………………….. Address : …………………………………………………………………………………………… City, ZIP Code, Country : ……………………………………………………….……………..…. Tel /Fax :…………………………………… E-mail …………………………………………….. Contact Name / Title : ……………………………………………………………………………… I, the undersigned, declare that I have read the L’Oréal Code of Conduct enclosed very carefully and that I meet all the requirements described in the Code of Conduct. In case I do not meet all the requirements described yet, I will take the necessary measures by .... / .... / ..........

________________________________ Signature supplier

(Preceded by 'read and approved') This Code of Conduct was signed on .... /.... /........... in ...........................................................

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APÊNDICE B – Questionário para os fornecedores

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Name: Company: Address:

Function: Country: Audit day:

1 - Did you receive enough information with regards to L’Oréal Social Audit program? (Check the cell corresponding to your choice) Before the audit Yes No

During the audit Yes No

After the audit Yes No

2- How do you evaluate auditors’ attitude with regards to the following issues: Professionalism Good Satisfactory Insufficient Bad

Expertise Good Satisfactory Insufficient Bad

Ability to listen Good Satisfactory Insufficient Bad

Fairness Good Satisfactory Insufficient Bad

3 – Was the Opening Meeting clear, precise and broad in terms of scope and content? If no, please, comment your answer.

Yes, totally Yes, partially Not really Not at all

4 – Was the Closing Meeting clear, precise and broad in terms of scope and content? Were the audit team recommendations relevant? If no, please comment.

Yes, totally Yes, partially Not really Not at all

5 - Were exchanges with the audit team beneficial to you? If it is not the case, please, precise your reasons.

Yes Yes in most

cases Just sometimes Not at all

6 - Did you encounter any confidentiality issue (for example with regards to the information collected or the pictures taken)? If yes, please, precise it.

Yes No

7 - Other comments, critics or suggestions:

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

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APÊNDICE C – Questionário para compradores

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Name: Service: L’Oréal site:

Function: Country:

1 - Did you receive enough information from L’Oréal team with regards to the following issues of L’Oréal Social Responsibility program? (Check the cell corresponding to your choice) Process Yes No

The audit itself Yes No

CAP and follow up Yes No 2- Apart from the three aspects mentioned above, what other information would be useful for you?

3 - Did you receive enough information from Intertek with regards to the audit request, the 30-day open period during which the auditors arrive unannounced and the audit corrective action plan?

Before the audit Yes No

After the audit Yes No

Answering on time Yes No 4 - How do you evaluate the audit request process?

Good Satisfactory Insufficient Bad

What are its strong points? And what are the points to be improved? Please, specify these points in the frame below.

5 - How do you evaluate Intertek central office attitude with regards to the following issues:

Professionalism Good Satisfactory Insufficient Bad Ability to listen Good Satisfactory Insufficient Bad Answering delay Good Satisfactory Insufficient Bad 6 – Do you use the audit reports as a tool to facilitate a goal-oriented communication and cooperation with L’Oréal suppliers?

Yes No

7 – How do you evaluate the process compliance regarding the social audits?

Good Satisfactory Insufficient Bad

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

Comments:

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8 - Were exchanges with suppliers beneficial to L’Oréal Social Responsibility program? If it is not the case, please, specify your reasons.

Yes Yes in most cases Just sometimes Not at all

9 - Other comments, critics, suggestions or specific issues:

Comments:

Comments:

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APÊNDICE D – Minuta da reunião de apresentação do projeto para diretoria da empresa

de/from : Ariane THOMAS / Marie DELECRIN / Ana Paula KELM

à/to : B. LAVERNOS; L.GILBERT; N. LESELLIER; C. DUREL; P. SIMONCELLI; A. JUNINO; R. TEXTORIS, B. DE SENNEVILLE; S. GHISONI; C. DUCLAUX; C. LIEBON (Intertek); S. CLANCY (Body Shop); E. MATHIEU (Sancroft). Copie/copy : H. TRAUTMANN ; R. BARRE ; Z. MANSDORF P.I. : E. LULIN ; L. ARMAND Aulnay-sous-Bois, le 11 juillet 2007

objet/subject : Minutes of L’Oréal suppliers’ code of conduct kick-off meeting

First of all, we thank you all for your presence and participation during the Code

of Conduct kick-off meeting on June 26th.

The elaboration of the Suppliers’ Code of Conduct is part of our sustainable

development procurement strategy, which aims are:

• Continually strengthen our suppliers’ awareness, skills and commitment with a

view to measuring and driving their performance in terms of social and

environmental standards in order to achieve an industry-leading performance

level.

• Secure L’Oréal operations from its suppliers infractions in terms or labour

conditions and environmental management

The subjects covered by our meeting were:

1) Presentation and validation of the “Business Partner Sustainability Tool Box”

structure

2) Presentation and validation of the key points and Business Partner

Sustainability Standards (Business Partner Sustainability Standards = BPSS =

code of conduct) scope and content

3) How to involve and commit suppliers

4) Project work-flow

5) Code of conduct validation by external stakeholders

1, avenue

Eugène Schueller

BP 22

93601 Aulnay-sous-Bois tél. : 01 48 68 93 96

fax : 01 48 68 89 37

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Hereafter, you will find some more details about the mentioned subjects:

1) Business Partner Sustainability Tool Box

The Business Partner Sustainability Tool Box is a tool to help suppliers in need of support

as they move towards best practices on sustainable development. It is composed by 5

pillars:

1.1) Key points : One-paged document, it summarizes all L’Oréal strong values that must be respected by

our suppliers.

The key-points scope includes the following issues:

Governance: this section talks about compliance with applicable laws and regulation

standards, company commitment, management systems and continuous improvement

Labour and Human Rights: this chapter ensures that workers are treated under decent

working conditions. Its issues concern child labour, forced and involuntary labour, freedom

of association and collective bargaining, non discrimination, working hours and

compensations and benefits.

Health and Safety: this section ensures that risks to people's health and safety from work

activities are properly controlled. Its scope includes the following subjects: workplace

environment, emergency preparedness, injury and illness.

Environment: this section ensures that suppliers control its impacts on environment and

operate in an environmentally responsible procedure. Its subjects are environmental

management system, pollution prevention program, air emissions, waste management

effluents, resource use reduction and biodiversity protection.

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Responsible Business Behaviour: it concerns corruption and bribery, fair competition and

wish for no bio-piracy.

BN: Animal Welfare: as this issue concerns only a small number of suppliers, it was

decided during the meeting that this subject should no more make part of the code of

conduct scope

1.2) Basics Standards (Business Partner Sustainability Standards) = code of conduct Covering the same scope of the key points, this chapter concerns a detailed and technical

description of the standards to be respected. With a length of around 10 pages, the draft

of this document was presented during the meeting. It still has to be simplified in order to

comprehensible more comprehensible for your suppliers.

1.3) Expectations This chapter presents a list of expected and desired standards for suppliers willing to go

further than the basic standards. It will raise suppliers’ awareness regarding strategic

steps to achieve premium practices in terms of labour conditions and environmental

management.

1.4) Methodology This chapter consists of an explanation about all documents provided to suppliers

(communication kits, ethical commitment letter, etc.) and about the social audit process

and its related documents. It may also contain a FAQ (frequent asked questions) section,

as well as L’Oréal and auditing company contact details (e-mail, phone number).

1.5) Best-practices and failures The aim of this chapter is to share with suppliers concrete cases already experienced by

L’Oréal. We believe that the analysis of past experience may be a powerful tool for

suppliers to improve their performance.

2) Presentation and validation of “key points” and “Business Partner Sustainability Standard” scope and content

You will find here after the discussed and accorded issues about the “key points” and the

“code of conduct” scope during our kick-off meeting.

Governance (in chapter Governance) => Governance meaning is not clear enough for

most people. For this reason, this term should be avoided in the code of conduct. It should

be replaced by “Management Accountability” and may be placed at the end of the

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document. The “Compliance with applicable laws” section may be placed at the beginning

of the code.

Continuous Improvement (in chapter Governance) => the code should express L’Oréal

wish towards its suppliers’ continuous improvement; it should not be considered

mandatory

Labour standards x Human Rights (in chapter Labour and Human Rights) => the

expressions “Human rights” has a too wide meaning. For the time being, we should prefer

the expression “Labour Standards”

Biodiversity (in chapter Environment) => this aspect should be kept, but its current version

has to be simplified.

The code should not express suppliers’ obligation towards biodiversity protection, but

L’Oreal’s wish regarding its protection.

It was proposed to provide suppliers with a list of “forbidden materials” that could

potentially damage biodiversity

NB: Whistleblower Protection (in chapter Responsible Business Behaviour) and Animal

Welfare (in Animal Welfare chapter) => as these subjects were too specific; we have

decided to suppress them from the BPSS scope.

3) How to involve and commit suppliers

What should be our strategy to encourage suppliers to adhere to our program and make

use of tools we are developing for them?

The first step to answer these questions is to think about the profile of those who will read

L’Oréal documents. For whom are we writing this code? L’Oréal suppliers’ CEO’s, site

manager or workers?

Should we develop specific tools to be diffused among our suppliers’ workers?

During the meeting we have also evoked the possibility of conferring a contractual

character for L’Oréal code of Conduct. Should our suppliers sign a commitment letter

attesting their compliance with this code?

4) Project work-flow

The first two steps of the project, that are already completed, are the following:

- Definition of basic standards

- Definition of the “Business Partner Tool box” structure

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The next steps are:

- Tool Box completion

- Validation by steak holders

- Roll out

- Animation in the duration

5) Code of conduct validation by external stakeholders

The validation of all documents by external steak-holders is a crucial issue to avoid

problems in terms of L’Oréal exposure. We should ask for organisations and suppliers

with different profiles to revise your documents before their publication. We should use the

same validation process than the Ethical Charter.

Pending issues:

The R&D department requests the diffusion of the document based on a self-assessment

model. It implicates the collection of suppliers performance self-evaluation concerning

standards stated in the BPSS. This request is to be detailed as a specific project. .

Next steps and deadlines The suppliers’ code of conduct elaboration will be managed as a project. The project team

would comprise of: R. BARRE, S. CLANCY, H. TRAUTMANN, N. LESELLIER, A.

JUNINO, C. DUREL, S. GHISONI, R. TEXTORIS, A. THOMAS and M. DELECRIN.

Regular meetings shall be held at least every month in order to guarantee validation and

completion of each step of the project.

The management steering committee in charge of the strategic decisions is composed by:

B. LAVERNOS; W.BROCKWELL; B.de SENEVILLE ; L. GILBERT; E.LULIN ;

Z.MANSDORF; P.SIMONCELLI.

Project Roadmap: Stakeholders selection and involvement: September 2007

Revised code of conduct: October 2007

Pilot with selected suppliers: October to December 2007

Next kick-off meeting: January 2008

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ANEXO A – Mapeamento dos processos do programa de auditorias sociais da L’Oréal

Compromisso legal, ético e social dos fornecedores do Grupo L’Oréal p g p

ComentáriosFornecedor DT ou DAFComprador

Lista dos fornecedores da entidade

Preparo e envio de correspondências com A/R

para cada fornecedor

Aceitação e formalização do

compromisso legal, ético e

social

Devolução do Formulário “Compromisso Legal,

Ético e Social” assinado

Registro do compromisso do fornecedor e da data da

assinatura

Arquivamento do Formulário assinado

Acompanhamento da consolidação dos fornecedores “sob compromisso

legal, ético e social”

Verificação para que 100% dos fornecedores “ativos” tenham formalizado seu

compromisso

Qualquer problema deve ser transmitido

à DGA

Modelos de correspondência

“Compromisso legal, ético e social” disponíveis pela

intranet DGA

Devolução em 15 dias

!

Figura 15 – Processo de obtenção do acordo (compromisso / assinatura) dos fornecedores sobre o programa de auditorias sociais

Fonte: Intranet L’Oréal

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Figura 16 – Processo de encomenda da auditoria social à empresa terceirizada responsável pelas

auditorias (Intertek)

Fonte: Intranet L’Oréal

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Acompanhamento do "Corrective Action Plan "

Fornecedor DGAComprador

envio ao fornecedor do modelo de correspondência

relativo à gravidade dos resultados (quadro CAP)

Definição de um plano de ação com a fábrica em questão

Plano de ação aplicado pela Fábrica

Informação comprador e pedido de nova auditoria

O relatório é transmitido nos 5 dias seguintes à

auditoria

!

Em caso de resultados inaceitáveis, ou seja , "Zero Tolerance" ou "Need Major

Improvement" => interrupção das produções para L'Oréal

Cópia das correspondências

enviadas ao fornecedor em caso de "Zero Tolerance", "Major

Improvement" ou "Access Denied"

Correspondência CAP

Atualização do quadro centralizado (disponível

por intranet)

Acompanhar o quadro do "Corrective Action Plan' (CAP) conf. capítulo 4.1.

Resultado "SATISFACTORY" = FIM

Recepção do relatório de auditoria

tomada de conhecimento do relatório de auditoria

Pedido de auditoria

!

Figura 17 - Processo de acompanhamento da implementação do plano de ações corretivas

Fonte: Intranet L’Oréal

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Compromisso Ético e Social e Auditorias Sociais de novos fornecedores

Comprador

Constituição do dossiê de avaliação do fornecedor,

incluindo aspectos sociais

Fornecedor Comentários

Proposta para novo fornecedor que entra

Carta de compromisso ético e social e aceitação do princípio de auditoria

Lista das fábricas e dos locais de implantações

Procedimento de avaliação e de acompanhamento das fábricas

quanto aos aspectos sociais, mais particularmente

Interesse do fornecedor confirmado ?

sim

não

Fim

Implementação de auditorias sociais na(s) fábrica(s) em

questão

resultados aceitáveis?

sim

Procedimento de entrada em short list e

decisão de iniciar o negócio

não

Fim

= "Major Improvement" => entrada em short lista

suspensa, nenhum negócio atribuído, pedido de

regularização e nova auditoria às custas do fornecedor

Zero Tolerance?

sim

não

lembrar que a definição de "Zero Tolerance" também

inclui os casos de reincidência de "Access

denied" e / ou de reincidência de "Major

Improvement"

Figura 18 - Processo de integração de novos fornecedores ao programa de auditorias sociais

Fonte: Intranet L’Oréal

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ANEXO B – Ratificação das convenções da OIT

Ran-king* País

Convenções fundamentais da OIT ratificadas em 31 de dezembro de 2003** Trabalho Forçado Liberdade Sindical Discriminação Trabalho Infantil C. 29 C. 105 C. 87 C. 98 C. 100 C. 111 C. 138 C. 182

1 Estados Unidos 25/09/1991 02/12/1999 2 Suíça 23/05/1940 18/07/1958 25/03/1975 17/08/1999 25/10/1072 13/07/1961 17/08/1999 28/06/2000 3 China 02/11/1990 28/04/1999 08/08/2002 4 Japão 21/11/1932 14/06/1965 20/10/1953 24/08/1967 05/06/2000 18/06/2001 5 Rússia 23/06/1956 02/07/1998 10/08/1956 10/08/1956 30/04/1956 04/05/1961 03/05/1979 25/03/2003 6 Noruega 01/07/1932 14/04/1958 04/07/1949 17/02/1955 24/09/1959 24/09/1959 08/07/1980 21/12/2000 7 Polônia 30/07/1958 30/07/1958 25/02/1957 20/10/1954 25/10/1954 30/05/1961 22/03/1978 09/08/2002 8 República

Tcheca 01/01/1993 06/08/1996 01/01/1993 01/01/1993 01/01/1993 01/01/1993 19/06/2001

9 Hungria 08/06/1956 04/01/1994 06/06/1957 06/06/1957 08/06/1956 20/06/1961 28/05/1998 20/04/2000 10 Turquia 30/10/1998 23/03/1961 12/07/1993 23/01/1952 19/07/1967 19/07/1967 30/10/1998 02/08/2001 11 Coréia do Sul 08/12/1007 04/12/1008 28/01/1999 29/03/2001 12 Canadá 14/07/1959 23/03/1972 16/11/1972 26/11/1964 06/06/2000 13 Brasil 25/04/1957 18/06/1965 18/11/1952 24/04/1957 26/11/1965 28/06/2001 02/02/2000 14 Taiwan Não membro da OIT 15 Hong Kong Não membro da OIT 16 África do Sul 05/03/1997 05/03/1997 19/02/1996 19/02/1996 30/03/2000 05/03/1997 30/03/2000 07/06/2000 17 Singapura 25/10/1965 25/10/1965 30/05/2002 14/06/2001 18 Índia 30/11/1954 18/05/2000 25/09/1958 03/06/1960 19 Arábia Saudita 15/06/1978 15/06/1978 15/06/1978 15/06/1978 08/10/2001 20 Austrália 02/01/1932 07/06/1960 28/02/1973 28/02/1973 10/12/1974 15/06/1973

Tabela 12 - Convenções fundamentais da OIT ratificadas em 31 de dezembro de 2003

Fonte: GRUPO ALPHA (2004, p. 72) * Por ordem de importância das exportações em 2002 – Fonte: INSEE ** Fonte: OIT