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Universidade de Aveiro Departamento de Biologia 2015 Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ecologia Aplicada, realizada sob a orientação científica do Prof. Doutor António José Arsénia Nogueira do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e do Doutor Mário Rui Canelas Boieiro do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Universidade dos Açores. Ana Soraia Pinto Lopes Biodiversidade e ecologia de borboletas (Lepidoptera) e libélulas (Odonata) do Planalto Superior da Serra da Estrela Biodiversity and ecology of butterflies (Lepidoptera), and damselflies and dragonflies (Odonata) from the higher plateau of Serra da Estrela

Ana Soraia Pinto Lopes Superior da Serra da Estrela · Keywords Serra da Estrela, ecology, Odonata, Lepidoptera, Conservation Abstract Serra da Estrela has a high natural value due

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Universidade de Aveiro Departamento de Biologia 2015

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para

cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau

de Mestre em Ecologia Aplicada, realizada sob a orientação

científica do Prof. Doutor António José Arsénia Nogueira do

Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e do

Doutor Mário Rui Canelas Boieiro do Centro de Ecologia,

Evolução e Alterações Ambientais da Universidade dos

Açores.

Ana Soraia

Pinto Lopes

Biodiversidade e ecologia de borboletas

(Lepidoptera) e libélulas (Odonata) do Planalto

Superior da Serra da Estrela

Biodiversity and ecology of butterflies

(Lepidoptera), and damselflies and dragonflies

(Odonata) from the higher plateau of Serra da

Estrela

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DECLARAÇÃO

Declaro que este relatório é integralmente da minha autoria,

estando devidamente referenciadas as fontes e obras consultadas,

bem como identificadas de modo claro as citações dessas obras.

Não contém, por isso, qualquer tipo de plágio quer de textos

publicados, qualquer que seja o meio dessa publicação, incluindo

meios eletrónicos, quer de trabalhos académicos.

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O Júri

presidente

Prof. Doutora Ana Maria Rodrigues

Professora Auxiliar do Departamento de Biologia da Universidade de

Aveiro

Prof. Doutora Sónia Alexandra Paiva dos Santos

Investigadora Auxiliar do Centro de Investigação de Montanha –

CIMO da Escola Superior Agrária de Bragança

Prof. Doutor António Nogueira

Professor Associado do Departamento de Biologia da Universidade

de Aveiro

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Agradecimentos Ao Doutor Mário Boieiro, por proporcionar a oportunidade de

integração no projeto “Biodiversidade, endemismos e

espécies protegidas associadas às lagoas e cursos de água

da Serra da Estrela: valorização de um século de

aproveitamento hidroelétrico”, financiado pelo fundo EDP

para a biodiversidade 2011. Pelo excelente trabalho realizado

como orientador, pela disponibilidade e por todos os

conhecimentos partilhados.

Ao Professor Doutor António Nogueira pela orientação na

realização deste projeto, pela disponibilidade e pelo

conhecimento transmitido.

Aos meus colegas de trabalho de campo e amigos Sandra

Antunes e Hugo Figueiredo, pelo apoio, transmissão de

conhecimentos, risos e companheirismo.

Ao José Conde pela disponibilidade de apoio ao trabalho, pela

transmissão de conhecimentos, pelas brincadeiras e sorrisos

partilhados e claro pela amizade.

À Paula Mendes pela receção calorosa na sua casa, pelos

jantares fantásticos, pelas conversas, sorrisos e principalmente

pela amizade partilhada.

Ao Albano Soares, pelo apoio, pelos conhecimentos

transmitidos e pelo companheirismo.

À SPEN-Sociedade Portuguesa de Entomologia,

nomeadamente à Carla Rego, pelo encaminhamento para o

Doutor Mário Boieiro, que me permitiu dar o primeiro passo

para a realização desta tese.

À Fundação EDP pelo apoio financeiro cedido através do

Fundo EDP para a biodiversidade 2011.

Ao CISE-Centro de Investigação da Serra da Estrela, pelo

apoio logístico.

Aos meus pais pelo esforço realizado para me proporcionarem

a oportunidade da obtenção de um curso superior.

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Palavras-chave Serra da Estrela, ecologia, Odonata, Lepidoptera,

Conservação

Resumo A Serra da Estrela apresenta um elevado valor natural

devido à presença de habitats raros e a uma assinalável

biodiversidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar a

importância das diversas áreas do Planalto Superior da

Serra da Estrela para a conservação da natureza, através do

estudo de dois grupos bioindicadores, Odonata e

Lepidoptera. A metodologia de amostragem adotada

baseou-se na contagem de indivíduos adultos através de

transectos fixos com uma extensão de 150 m ao longo das

quatro tipologias de habitat em estudo: lagoas naturais,

barragens pequenas, barragens grandes e áreas terrestres

(pontos secos). Foram identificadas 55 espécies de

Lepidoptera nos 2301 indivíduos observados e 23 espécies

de Odonata entre os 2580 indivíduos registados. Destaca-se

a presença das espécies de Lepidoptera: Vanessa

virginiensis, Cyaniris semiargus e Coenonympha iphioides

e das espécies de Odonata: Aeshna juncea e Sympetrum

flaveolum, consideradas raras ou vulneráveis em Portugal.

Encontraram-se diferenças significativas na biodiversidade

de ambas as ordens entre as tipologias de habitat estudadas.

A riqueza e diversidade específica de borboletas foi maior

nas barragens de grandes dimensões devido,

principalmente, à existência de uma maior riqueza e

abundância de espécies de plantas nectaríferas. A

abundância e riqueza específica de libélulas foi maior nas

lagoas naturais e em algumas barragens pequenas

naturalizadas, onde a perturbação ambiental é reduzida.

Nestes habitats encontraram-se algumas espécies

estenotópicas e muito sensíveis à perturbação. Pela rica

diversidade de espécies presentes na Serra da Estrela com

estatuto de espécies vulneráveis, raras, protegidas por lei ou

endémicas, devem promover-se medidas de gestão

adequadas, sendo que a proteção dos habitats poderá ser a

de maior relevância.

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Keywords Serra da Estrela, ecology, Odonata, Lepidoptera,

Conservation

Abstract Serra da Estrela has a high natural value due to the presence

of rare habitats and a remarkable biodiversity. The aim of

this study was to evaluate the importance of different areas

of the upper plateau of Serra da Estrela for the conservation

of nature through the study of two bio-indicators groups,

Odonata and Lepidoptera. The sampling methodology was

based on the count of adult individuals, using fixed

transects with a length of 150 meters along four different

habitats: natural ponds, small dams, large dams and inland

areas (dry spots). In 2301 observed individuals, 55

Lepidoptera species were identified, and in 2580

individuals, 23 species of Odonata were identified. The

presence of Lepidoptera species Vanessa virginiensis,

Cyaniris semiargus and Coenonympha iphioides, and

Odonata species Aeshna juncea and Sympetrum flaveolum,

is noteworthy, since they are considered rare or vulnerable

in Portugal. Significant differences on the biodiversity of

both orders were found between the different types of

studied habitats. The biodiversity of butterflies was higher

in large dams, mainly due to the existence of a greater

richness and abundance of nectariferous plant species,

while the diversity of Odonata species was higher in natural

lakes and some small naturalized dams, where disturbance

levels are low. In these habitats exists some stenotopic

species, and also species very sensitive to disturbance. Due

to the high diversity of species present in Serra da Estrela

with the status of vulnerable, rare, endemic or protected by

the law, appropriate management measures should be

promoted, and the protection of habitats may be the one of

greatest relevance.

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i

Índice

Lista de figuras ............................................................................................................................................. ii

Lista de tabelas ............................................................................................................................................. v

Introdução ..................................................................................................................................................... 1

Material e Métodos ..................................................................................................................................... 12

Área de estudo .................................................................................................................................... 12

Trabalhos de campo ............................................................................................................................ 15

Análise estatística ............................................................................................................................... 16

Resultados e Discussão............................................................................................................................... 18

Análise faunística da ordem Lepidoptera nos diferentes habitats ....................................................... 18

Análise faunística da ordem Odonata nos diferentes habitats ............................................................ 23

Semelhanças na composição das comunidades de Lepidoptera nos diferentes habitats ..................... 28

Semelhanças na composição das comunidades de Odonata nos diferentes habitats........................... 30

Identificação de espécies de Lepidoptera indicadoras para os diferentes habitats .............................. 33

Identificação de espécies de Odonata indicadoras para os diferentes habitats ................................... 34

Identificação de áreas importantes para a conservação de borboletas e libélulas no Planalto Superior

da Serra da Estrela .............................................................................................................................. 36

Conclusões ................................................................................................................................................. 40

Referências bibliográficas ...................................................................................................................... 41

Anexo I ....................................................................................................................................................... 54

Anexo II...................................................................................................................................................... 55

Anexo III .................................................................................................................................................... 57

Anexo IV .................................................................................................................................................... 59

Anexo VI .................................................................................................................................................... 61

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ii

Lista de figuras

Figura 1 Andares bioclimáticos presentes na Serra da Estrela

(adaptado de Jansen, 2002)……………………………………………………………...2

Figura 2 Exemplos de habitats naturais raros presentes na Serra da Estrela: a) Turfeiras

- Covão da Clareza; b) Lagoa natural - Lagoa Redonda. Fotos de José Conde…………3

Figura 3 Sympetrum flaveolum - espécie de Odonata presente na Serra da Estrela com

elevado valor de conservação. Foto de José Conde…………………………………….10

Figura 4 Espécies de Lepidoptera com elevado valor de conservação em Portugal e na

Serra da Estrela: a) Cyaniris semiargus (rara em Portugal); b) Euphydrias aurinia (listada

na Diretiva de Habitats) e c) Satyrus actaea (presente na Serra da Estrela, acima dos

1200m). Fotos de Albano Soares (a,c) e Hugo Figueiredo

(b)……………………………………………………………………………….………11

Figura 5 Tipologias dos habitats em estudo: a) ponto seco; b) barragem de pequenas

dimensões; c) lagoa natural e d) barragem de grandes dimensões. Fotos de José

Conde……………………………………………………………………………….…..14

Figura 6 Localização do Parque Natural da Serra da Estrela em Portugal e distribuição

espacial dos locais de amostragem. Mapa adaptado do Google Earth®, usando o software

Quantum GIS®, versão

2.10.1………………………………………………………………………...…………14

Figura 7 Espaço de contagem e identificação de indivíduos (adaptado de Pollard, &

Yates, 1993)……………………………………………………………………………15

Figura 8 Descritores de diversidade da ordem Lepidoptera para os anos de 2013 e 2014,

referentes ao índice de Shannon-Wiener (H’), ao índice de Berger-Parker (d) e à

equitabilidade (Equi) pelo índice de Pielou. Tipologia de habitat 1- pontos secos; 2-

lagoas naturais; 3- barragens pequenas; 4- barragens de

grandesdimensões.……………………………...………………………………...…….20

Figura 9 Resultados dos descritores da diversidade da ordem Odonata para os anos de

2013 e 2014, referentes ao índice de Shannon-Wiener (H’), ao índice de Berger-Parker

(d) e à equitabilidade (Equi) pelo índice de Pielou. Tipologia de habitat: 1- pontos secos;

2- lagoas naturais; 3- barragens pequenas; 4- barragens de grandes

dimensões…………………………………………………………………………...….25

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iii

Figura 10 Análise de componentes principais (PCA) para determinar os principais

padrões de variação nos dados da ordem Lepidoptera. Análise da variação entre anos (a),

locais (b) e espécies que caracterizam a variação

(c)……………………………………………………………..………………………..28

Figura 11 Dendrograma da análise de ordenação dos locais de amostragem da ordem

Lepidoptera para as diferentes tipologias de habitat em estudo. Os códigos dos nomes dos

locais de amostragem (apresentados no Anexo V) incluem a indicação da tipologia de

habitat (PS - pontos secos; Nat - lagoas naturais; Bar - barragens pequenas; BarG -

barragens de grandes dimensões)……………………………………………………....29

Figura 12 Análise de componentes principais (PCA) para determinar os principais

padrões de variação nos dados da ordem Odonata. Análise da variação entre anos (a),

locais (b) e espécies que caracterizam a variação

(c)…………………………………………………………………………..…………...31

Figura 13 Dendrograma da análise de ordenação dos locais de amostragem da ordem

Odonata para as diferentes tipologias de habitat em estudo. Os códigos dos nomes dos

locais de amostragem (apresentados no Anexo V) incluem a indicação da tipologia de

habitat (PS - pontos secos; Nat - lagoas naturais; Bar - barragens pequenas; BarG -

barragens de grandes dimensões)………………………………………………………32

Figura 14 Análise IndVal para a ordem Lepidoptera. Vermelho: quartil 0-25%; Amarelo

avermelhado: quartil 25-50%; amarelo esverdeado: quartil 50-75%; Verde: quartil 75-

100%. Tipologias de habitat - 1: pontos secos; 2: lagoas naturais; 3: barragens pequenas;

4: barragens

grandes…………………………………………………….……………………………34

Figura 15 Análise IndVal para a ordem Odonata. Vermelho: quartil 0-25%; Amarelo

avermelhado: quartil 25-50%; amarelo esverdeado: quartil 50-75%; Verde: quartil 75-

100%. Tipologias de habitat - 1: pontos secos; 2: lagoas naturais; 3: barragens pequenas;

4: barragens

grandes………………………………………………………………………….………36

Figura 16 Resultados da análise de complementaridade da riqueza específica de

borboletas, libélulas e de ambos os grupos de insetos nos locais de

estudo………………………………………………………………………………..….37

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iv

Figura 17 Área mínima de conservação da riqueza específica de Odonata (a vermelho) e

Lepidoptera (a azul) na área de estudo, usando o método dos polígonos. Imagem adaptada

do Google

Earth®……………………………………………………………………………...…...38

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v

Lista de tabelas

Tabela 1 Média e amplitude dos valores da abundância relativa (N), da riqueza específica

(S), da equitabilidade (E) e dos índices de diversidade e de dominância (H’ e 1/d

respetivamente) de cada tipologia de habitat para a ordem

Lepidoptera…………………………………………………………………..…………19

Tabela 2 Resultados das análises de variância dos descritores da diversidade (lnN, lnS,

H’, Hmáx, E e d) entre as tipologias de habitat e os anos de amostragem para a ordem

Lepidoptera……………………………………………………………………………..21

Tabela 3 Média e amplitude dos valores da abundância relativa (N), da riqueza específica

(S), da equitabilidade (E) e dos índices de diversidade e de dominância (H’ e 1/d

respetivamente) de cada tipologia de habitat para a ordem

Odonata……………………………………………………………………….………...24

Tabela 4 Resultados das análises de variância dos descritores da diversidade (lnN, lnS,

H’, Hmáx, E e d) entre as tipologias de habitat e os anos de amostragem para a ordem

Odonata………………………………………………………………………………...27

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1

Introdução

As montanhas ocupam uma área de cerca 10.000 Km2, em Portugal, o que

corresponde a 11% da superfície emersa (Aguiar et al., 2009), e são consideradas um dos

ambientes mais frágeis do mundo (Diaz et al., 2003). Elas apresentam um papel

fundamental no que concerne aos serviços do ecossistema, sendo responsáveis pela

qualidade, quantidade e regularidade da água consumida pelas populações humanas, pelo

funcionamento do ciclo dos nutrientes e pelas regulações climáticas regionais (Aguiar et

al., 2009), sabendo-se que a sua importância ultrapassa os seus limites geográficos e se

estende muito além das áreas envolventes (Spehn et al., 2011). Além disso, as montanhas

constituem centros de biodiversidade endémica, abrigando espécies e ecossistemas

ameaçados (Aguiar et al., 2009) e proporcionam também serviços com valor económico,

enquanto espaços privilegiados para o turismo e para a produção agrícola e pecuária

(Spehn et al., 2011).

Ao longo dos tempos, foram diversos os promotores responsáveis pela alteração

deste ecossistema, conduzindo a uma mudança na sua estrutura, funções e serviços

prestados. Desses fatores destacamos como principais, a agro-pastorícia, as alterações do

uso do solo, as alterações climáticas, o fogo, as políticas e a legislação ambiental e por

fim, a coesão social e a identidade cultural (Aguiar et al., 2009).

A cordilheira Central Ibérica é um maciço montanhoso da Península Ibérica,

caracterizada por ser uma morfoestrutura do tipo “montanha de blocos” (Ribeiro, 1954),

com orientação de WSW-ENE. Possui cerca de 500 Km de extensão e 40 Km de largura

(Daveau, 1969; Vegas et al., 1990). Na parte ocidental desta cordilheira encontra-se a

Serra da Estrela, a montanha mais alta de Portugal Continental, constituída por planaltos

alongados na direção SW-NE, que se estendem por 115 Km de extensão e com uma

largura média de 25 Km, desde a Guarda até à Serra da Lousã (Daveau, 1969; Lautensach,

1932), alcançando na Torre a altitude máxima de 1993 m (Ribeiro, 1954).

Genericamente, pode-se dividir a Serra da Estrela em três andares bioclimáticos

(Figura 1): o basal, o intermédio e o superior (Pinto da Silva, & Teles, 1980). Segundo

Jansen (2002), o andar basal estende-se desde o sopé da montanha até cerca de 900 m de

altitude, contendo dois macrobioclimas: o mesomediterrâneo nas áreas mais húmidas,

onde se pode encontrar bosques perenifólios ou mistos de quercíneas perenifólias e

caducifólias, como o Quercus suber e o Q. rotundifolia, e o macrobioclima

mesotemperado onde dominam os bosques de carvalhos caducifólios, constituídos

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principalmente por Q. robur. Devido à elevada ocupação humana neste andar, a presença

destes bosques é cada vez menor, existindo uma significativa fragmentação e perturbação

dos mesmos, chegando a ser substituídos por outras formações vegetais como matos

rasteiros, prados abertos, etc. No andar intermédio, dos 900 m a 1600 m de altitude,

existem os macrobioclimas supratemperado e o supramediterrâneo. No macrobioclima

supratemperado, sob condições ideais, predominariam os bosques de Quercus pyrenaica

e de Betula celtiberica ou Taxus baccata, enquanto no macrobioclima supramediterrâneo

a vegetação natural potencial consistiria em bosques caducifólios ou mistos de quercíneas

(com Q. pyrenaica e Q. rotundifolia). Contudo, actualmente, devido à degradação dos

habitats, estas formações são escassas, encontrando-se substituídas por urzais, giestais e

caldoneirais. Por fim, acima dos 1600 m, situa-se o andar superior, onde existem os

macrobioclimas ortotemperado e criotemperado. A vegetação natural predominante

nestas áreas onde a ação do frio é mais intensa é constituída por zimbrais rasteiros,

caldoneirais pulviniformes de Echinospartum ibericum e cervunais. Verificam-se

também áreas de comunidades de rochedos, de cascalheira, turfeira, formações de

lagoachos, ribeiros e lagos. Em áreas mais degradadas, pelo fogo ou pastoreio por

exemplo, ocorrem sobretudo urzais e giestais (Jansen, 2002).

O gradiente altitudinal da Serra da Estrela possibilita a existência de um conjunto

significativo de habitats raros e protegidos por lei, alguns dos quais, no nosso país,

apresentam aqui a maior expressão (http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/ap/p-nat/pnse).

Alguns desses habitats naturais mais raros em Portugal, como as lagoas de altitude

e as turfeiras (Figura 2), ocorrem numa área denominada Planalto Superior da Serra da

Estrela. Este planalto, segundo Rocha et al., (2004), divide-se ainda em 2 grupos

Figura 1 Andares bioclimáticos presentes na Serra da Estrela (adaptado de Jansen, 2002).

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3

principais, o ocidental (Torre – Penhas Douradas) e o oriental (Alto da Pedrice – Malhada

Alta), que se estendem entre os 1450 e 1993 m.

No que concerne às lagoas de altitude, apesar de ocorrerem na Europa vários

sistemas de montanha onde estas se encontram bem representadas (Schmitt, 2009), em

Portugal (ou até mesmo na Península Ibérica) a sua representatividade é baixa, pois

apenas está representado por um conjunto de lagoas na Serra da Estrela e um pequeno

número na Serra do Gerês, facto que enaltece a singularidade das lagoas de altitude da

Serra da Estrela (www.icnf.pt).

A maioria destas lagoas originou-se durante a última glaciação, devido à erosão

provocada pelo gelo sobre a rocha matriz, sendo a sua presença favorecida pela baixa

permeabilidade dessa rocha. A localização das lagoas de altitude determina uma série de

condições ambientais que são tradicionalmente consideradas extremas para a vida. A

oligotrofia, que resulta da baixa erosão e do desenvolvimento limitado do solo, origina

águas bastante diluídas no que concerne aos nutrientes e componentes salinos, pelo que

os organismos residentes ficam expostos a condições extremas de osmorregulação. A

altitude é dos fatores que mais influencia a ocorrência de condições extremas (Catalan et

al., 2006). Esta influência na diminuição da espessura da atmosfera permite o aumento da

radiação e da incidência dos raios UV-B, expondo as lagoas, durante o período sem gelo,

a elevadas radiações prejudiciais (Catalan et al., 2006), e ainda interfere na dessecação,

na pressão atmosférica, no pH e na temperatura (Seufferheld et al., 2008).

A sensibilidade destes ecossistemas em conjunto com o seu isolamento e

afastamento das áreas de atividade humana elevada, proporcionam a estes locais

características essenciais para estudos sobre o passado e o presente relativamente a

a) b)

Figura 2 Exemplos de habitats naturais raros presentes na Serra da Estrela: a) Turfeiras - Covão da Clareza;

b) Lagoa natural - Lagoa Redonda. Fotos de José Conde.

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mudanças ambientais em grande ou pequena escala, assim como sobre a vida em

ambientes extremos (Catalan et al., 2006).

Como referenciado anteriormente, as montanhas são cruciais para o fornecimento

de água doce para as populações, em muitas partes do mundo. Portanto, é crucial

assegurar a gestão sustentável dos ecossistemas de montanha (Viviroli, & Weingartner,

2008). O seu estudo não é fácil, pois apresentam uma elevada complexidade ao nível da

geologia, da geomorfologia e do clima. Embora se encontrem em áreas isoladas, estas

podem mostrar influências antrópicas e climáticas (Schreier, 2003; Zektser, & Everett,

2004). A sua sustentabilidade está a ser afetada por diversos fatores como a crescente

demanda de água para usos urbanos, industriais e agrícolas, as mudanças no uso da terra

para a agricultura, floresta cultivada ou urbanização, a construção de barragens para o

abastecimento de água ou produção de energia hidroelétrica, as atividades recreativas e

alterações climáticas (Schreier, 2003). Por consequência, o Programa Hidrológico

Internacional da UNESCO prevê que as montanhas de elevada altitude funcionem como

reservatórios de água para os países e considera a hidrologia das zonas de montanha como

uma das questões mais essenciais para a investigação (Aureli, 2002), o que nos encaminha

para uma crescente consciencialização sobre a importância dos sistemas hidrológicos de

montanha, como a fonte de uma fração significativa dos recursos mundiais de água

(Marques et al., 2013) e para a realização de estudos sobre a gestão e conservação dos

recursos hídricos destas regiões, a fim de colmatar a escassez de dados e a má

compreensão dos mesmos.

A geomorfologia associada ao clima, aos habitats raros, ao tipo do relevo e a

exposição das encostas, proporcionam uma paisagem singular à Serra da Estrela (Moura,

2006). Cumulativamente, também oferecem um património natural e cultural de elevado

interesse, que permitiu a classificação de parte do maciço como Parque Natural, em 1976.

Mais tarde, em 1992, adquiriu o estatuto de Reserva Biogenética, e por fim, foi feita a

inserção da maioria das áreas da Serra da Estrela na Rede Natura 2000 (Martins, &

Silveira, 2008), com o intuito de conservação dos habitats e ambientes raros (Marques,

2006).

A nível nacional, a Serra da Estrela é um local emblemático por se encontrar

estreitamente associada à história da produção de eletricidade. O sistema eletroprodutor

da Serra da Estrela é um dos mais antigos de Portugal, contabilizando mais de um século

de existência (Serrano et al., 2014). Este sistema, à exceção da subestação instalada no

vale de Unhais, encontra-se exclusivamente instalado na parte superior da bacia do rio

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Alva – a denominada cascata da Estrela, beneficiando de diversos cursos de água que

percorrem um apreciável gradiente altitudinal para a produção de energia elétrica. Em

determinados locais, as lagoas naturais ou cursos de água existentes foram modificados

para a criação de reservatórios que originaram lagoas artificiais, permitindo o

armazenamento de água e a sua gestão para a produção de energia elétrica ao longo do

ciclo anual. Do ponto de vista ecológico, estas lagoas artificiais constituíram uma

oportunidade para a ocorrência de um número considerável de espécies, que usufrui

destes locais para a sua alimentação, repouso, reprodução ou para o desenvolvimento de

parte ou todo o seu ciclo de vida (Serrano et al., 2014).

Contudo, no que se refere às centrais hidroelétricas, sabe-se que estas acarretam

impactos não só ao nível estético, mas também na biodiversidade de montanha, pois

modificam o regime de caudais, promovem a redução da velocidade da corrente e

contribuem para o aumento da sedimentação (Bombino et al., 2014; Tortajada et al.,

2012). São ainda responsáveis pela alteração e destruição de habitats devido às

interrupções espaciais e temporais da continuidade das linhas de água, afetando tanto os

ecossistemas aquáticos como os terrestres envolventes. Por fim, causam efeito de barreira

à dispersão de muitos organismos, e aumentam a presença humana e os níveis de ruído

nas áreas em que são implantadas (Leitão et al., 2010). No entanto, atualmente não

existem estudos que estimem a importância destas lagoas para a conservação da natureza,

nem que avaliem o seu impacto nas comunidades envolventes (Serrano et al., 2014).

Apesar do potencial impacto negativo que a criação de albufeiras poderá ter tido, verifica-

se ainda a ocorrência no Planalto Superior da Serra da Estrela de um número significativo

de lagoas naturais de origem glaciária, que apresentam várias tipologias e que se

encontram em diferentes fases do processo de sucessão ecológica (Costa et al., 2004;

Serrano et al., 2014). À exceção da lagoa seca (na margem direita do rio Zêzere) que é de

natureza endorreica, as lagoas naturais integram as duas principais redes hidrográficas

existentes na serra, comunicando algumas delas entre si e com os afluentes dos rios Alva

e Zêzere (Serrano et. al., 2014). A biodiversidade associada a estes ecossistemas realçam

o seu valor para a conservação da natureza. A lagartixa-da-

montanha (Iberolacerta monticola (Boulenger, 1905)), o lagarto-d’água (Lacerta

schreiberi (Bedriaga, 1878)), o tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai (Lataste,

1879)) e a rã-ibérica (Rana iberica (Boulenger, 1879)), são alguns dos répteis e anfíbios

de grande importância que dependem destes ecossistemas. Podemos ainda observar a

petinha-dos-campos (Anthus campestris (Linnaeus,1758)), a gralha-de-bico-vermelho

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(Pyrrhocorax pyrrhocorax (Linnaeus,1758)) e a sombria (Emberiza hortulana

(Linnaeus,1758)), espécies que se encontram listadas no Anexo I da Directiva Aves. Nos

mamíferos destaca-se a presença da lontra (Lutra lutra (Linnaeus,1758)) e do rato-de-

água (Arvicola sapidus (Miller, 1908)) (Costa et al., 2004). As ordens de insetos com

maior relevância neste ambiente são Ephemeroptera, Odonata, Plecoptera, Hemiptera,

Coleoptera, Lepidoptera e Diptera (Hynes, 1970), evidenciando-se espécies como Aeshna

juncea (Linnaeus, 1758) (Odonata), Sympetrum flaveolum (Linnaeus, 1758) (Odonata),

Leuctra estrela (Aubert, 1962) (Plecoptera), Annitella amelia (Sipahiler, 1998)

(Trichoptera), Hydraena zezerensis (Díaz Pazos and Bilton, 1995) (Coleoptera), Zabrus

estrellanus (Heyden, 1880) (Coleoptera) e Monotropus lusitanicus (Baraud, 1976)

(Coleoptera), que possuem neste local as suas principais populações ou apresentam

estatuto de espécies ameaçadas (Farminhão et al., 2014).

A destruição e fragmentação dos ecossistemas, resultante das ações exercidas pelo

Homem, atua diretamente sobre a diversidade biológica, afetando a riqueza de espécies,

alterando os padrões de abundância, a sobrevivência de endemismos e também as

propriedades estruturais do ecossistema. Deste modo, a manutenção da biodiversidade é

um desafio importante para a conservação da natureza. Para uma melhor compreensão

dos impactos decorrentes de atividades humanas, a monitorização de determinados taxa

torna-se uma ferramenta de elevado valor, permitindo a obtenção de informações sobre a

gravidade dos efeitos da destruição e fragmentação, bem como a identificação de

prioridades de gestão e a avaliação do sucesso de medidas de conservação (Didham, 1997;

Kitching, 1994). Para McGeoch (1998) um bioindicador pode ser definido como uma espécie ou

um grupo de espécies que refletem o estado biótico e abiótico do meio ambiente que

representa, o impacto das mudanças ambientais sobre o habitat, comunidade ou

ecossistema, e ainda que indiquem a diversidade de outras espécies. Assim sendo, a

mesma autora classifica-os em 3 classes: indicadores ambientais (que avaliam mudanças

no ambiente físico-químico), indicadores ecológicos (que fornecem informação sobre o

impacto de determinados fatores sobre os ecossistemas) e indicadores de biodiversidade

(que dão indicação sobre a relevância do habitat para a conservação). A maioria dos

bioindicadores ecológicos e ambientais é identificada através do estabelecimento de uma

forte relação destes com características muito particulares do ambiente onde se inserem

(Davis et al., 2001; Kitching et al., 2000). Para serem consideradas bons bioindicadores,

as espécies ou grupos de espécies devem: ter uma ecologia e a taxonomia bem conhecida,

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incluir organismos especializados em certos requisitos do habitat, fornecer avisos

antecipados da ocorrência de mudança, ser de fácil observação e identificação, e o seu

estudo ser de baixo custo. Por outro lado, a sua resposta às alterações deverá refletir a

resposta de outras espécies da comunidade e apresentarem a capacidade de diferenciar

entre os ciclos ou tendências naturais e as provocadas por pressões antropogénicas

(McGeoch, 1998).

De entre os diversos grupos de bioindicadores, os invertebrados são bastante

solicitados, uma vez que diversas ordens e espécies possuem as características necessárias

ao estudo da qualidade ambiental. Estes podem indicar mudanças no ambiente através

das suas respostas a diferentes níveis da organização, desde o indivíduo até toda a

comunidade. Ao nível individual estes ainda podem servir como bioindicadores a curto

prazo das condições ambientais particulares, onde uma resposta a um estresse ambiental

particular pode ser demonstrada na sua fisiologia ou comportamento (Hodkinson, &

Jackson, 2005).

Independentemente dos ecossistemas em estudo, sejam montanhas ou planícies,

os princípios e as gamas no uso de invertebrados como bioindicadores para a gestão

ambiental são semelhantes (Hodkinson, & Jackson, 2005).

Nos últimos anos, verificou-se um esforço conjunto de muitos países europeus na

procura, organização e armazenamento do conhecimento sobre a biodiversidade,

incluindo a dos organismos invertebrados, e também na definição de prioridades de

conservação que orientem as estratégias para a conservação da natureza (p. ex. Borges et

al., 2010; De Jong et al., 2014).

Em Portugal, o conhecimento da biodiversidade de invertebrados dos

ecossistemas de montanha é ainda escasso. Contudo, apesar deste desconhecimento, a

Serra da Estrela, devido à sua extensão, localização, diversidade de habitats, entre outros

fatores, abrangerá seguramente o maior número de espécies conhecidas das várias áreas

protegidas existentes em Portugal (Serrano et al., 2014). Atualmente são conhecidas mais

de 1.000 espécies de plantas, 250 de vertebrados e cerca de 2.800 de invertebrados nesta

área protegida (http://www.cise.pt/). Vários grupos de organismos invertebrados apresentam

algumas espécies com estatuto de conservação desfavorável, por ostentarem raridade

local e/ou declínio populacional, justificando-se o desenvolvimento de ações de

conservação visando a sua recuperação.

Da fauna de invertebrados conhecida em Portugal, encontram-se na Serra da

Estrela diversos endemismos e algumas espécies muito raras, que apenas são conhecidas

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nesta área ou têm aqui as suas principais populações a nível nacional. Assim, destacam-

se várias espécies de artrópodes terrestres, na sua maioria insetos, que se encontram

associados aos habitats de alta montanha, mas também a ecossistemas naturais de menor

altitude (Bivar-de-Sousa et al., 2008; Ferreira et al., 2009; Grosso-Silva, 2000; Salgueiro,

2002; Serrano et al., 2014). Muitos desses insetos são particularmente raros e apenas

alguns se encontram protegidos por lei a nível internacional (Diretiva Habitats

92/43/EEC).

Deste modo, através do projeto “Biodiversidade, endemismos e espécies

protegidas associadas às lagoas e cursos de água da Serra da Estrela: valorização de um

século de aproveitamento hidroelétrico”, financiado pelo fundo EDP para a

biodiversidade 2011, pretendeu-se caracterizar as comunidades de macroinvertebrados a

fim de obter um aumento da informação ecológica e posteriormente proceder à definição

de propostas de gestão desses habitats. Em paralelo, desenvolveu-se a recolha de

informação sobre a biologia, ecologia e estatuto de conservação não só de espécies de

macroinvertebrados aquáticos (vários grupos taxonómicos), mas também de outros

grupos de insetos como as borboletas (Lepidoptera), as libélulas (fase adulta, Odonata) e

os escaravelhos terrestres (Coleoptera), por forma a contribuir para o esforço

internacional de salvaguarda das suas populações, principalmente das espécies

endémicas, raras ou protegidas por lei.

Os objetivos gerais deste projeto foram os seguintes:

- Conhecer e valorizar a biodiversidade de macroinvertebrados associada às lagoas

naturais e artificializadas do Planalto Superior da Serra da Estrela;

- Avaliar em que medida o sistema de aproveitamento hidroelétrico da Serra da Estrela

contribui para a biodiversidade da região;

- Avaliar a importância de cada uma das lagoas selecionadas para a conservação de

espécies endémicas, raras ou protegidas por lei;

- Avaliar o estado ecológico das lagoas existentes no Planalto Superior da Serra da Estrela

e recomendar medidas de gestão para esses espaços.

Para a prossecução destes objetivos foi adotada uma metodologia centrada no

estudo de diversos grupos taxonómicos, que utilizam as lagoas de modo distinto, pois

apenas com uma perspetiva abrangente se poderá fazer uma avaliação mais precisa da

relevância dos diferentes habitats para a conservação da natureza. Deste modo, foram

aplicadas técnicas de amostragem complementares para estudar os animais que vivem no

interior das lagoas e barragens (macroinvertebrados aquáticos), os que ocorrem nas suas

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margens ao nível do solo (artrópodes epígeos) e os que utilizam a vegetação envolvente

das massas de água (borboletas e libélulas).

Nesta tese, são apresentados e discutidos os resultados relativos a borboletas

(Lepidoptera: Rhopalocera) e libélulas (Odonata) grupos que se destacam por

apresentarem uma apreciável riqueza específica, incluindo algumas espécies raras, que

no nosso país são exclusivas da Serra da Estrela (Ferreira et al., 2009; Serrano et al.,

2014).

Sabe-se que os insetos constituem uma proporção substancial da riqueza de

espécies terrestres e da biomassa existente no planeta, desempenhando um papel

fundamental nos ecossistemas. Consequentemente, os estudos sobre estes organismos

como bioindicadores têm vindo a aumentar e a ganhar importância na comunidade

científica ( Kremen et al., 1993; Rosenberg et al., 1986). Dos diversos grupos

emblemáticos da Serra da Estrela, destacam-se as libélulas (ordem Odonata) e as

borboletas diurnas (ordem Lepidoptera; subordem Rhopalocera) devido aos valores de

riqueza específica com que ocorrem, à presença de espécies muito raras no nosso país e

aos relevantes papeis ecológicos que desempenham (Acquah-Lamptey et al., 2013a;

Čelik, 2007; Simaika, & Samways, 2011).

A ordem Odonata (Figura 3) encontra-se distribuída praticamente por todo o

Mundo, à exceção das regiões geladas permanentes, contando com aproximadamente

6.500 espécies. Em Portugal são conhecidas 65 espécies (Maravalhas, & Soares, 2013)

que se encontram, na sua maioria, associadas a zonas húmidas e de água doce, ocupando

um nicho trófico crítico nesses sistemas.

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Algumas espécies conseguem tolerar uma maior gama de condições, enquanto

outras são extremamente sensíveis a variações no ambiente onde estão inseridas. Este

grupo de insetos é historicamente bem estudado (Acquah-Lamptey et al., 2013b),

existindo uma grande quantidade de informação ecológica sobre diversas espécies, e são

relativamente fáceis de observar e identificar, o que facilita a amostragem das suas

populações e estudos da sua diversidade (Acquah-Lamptey et al., 2013a; Simaika, &

Samways, 2011). Importa ainda mencionar que as larvas desta ordem são relativamente

sedentárias e a sua longevidade pode ser superior a um ano. Como possuem tolerâncias

específicas para algumas variáveis associadas a perturbações ambientais são também

úteis em bioindicação. Pelas razões atrás citadas, diversos autores concluíram que os

Odonata são indicadores fiáveis na avaliação dos impactos decorrentes da perturbação

humana, razão que tem motivado a sua aplicação generalizada em ecossistemas aquáticos

em diversos pontos do Mundo (Acquah-Lamptey et al., 2013a; Clark, & Samways, 1996).

As borboletas diurnas (Lepidoptera; Rhopalocera) (Figura 4) apresentam uma

elevada riqueza específica, contando cerca de 18.000 espécies conhecidas no Mundo, e

ocorrendo em quase todas as regiões e numa grande variedade de habitats (Larsen, 1988).

Figura 3 Sympetrum flaveolum (Linnaeus,

1758)- espécie de Odonata presente na Serra

da Estrela com elevado valor de conservação.

Foto de José Conde.

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A ordem Lepidoptera apresenta um elevado valor económico, por possuir espécies

polinizadoras e indicadoras de biodiversidade e de qualidade ambiental (Chakravarthy et

al., 1997), fornecendo informação importante para a implementação de medidas de gestão

e conservação de ecossistemas. Os requisitos ecológicos para bons bioindicadores são, de

um modo geral, preenchidos por esta ordem (Čelik, 2007), uma vez que para a maioria

das espécies, a sua taxonomia e ecologia são bem conhecidas, são frequentemente

especializadas no que diz respeito às suas plantas hospedeiras e desempenham papéis

importantes nos ecossistemas. Além disso, são ativas durante o dia e, na maioria dos

casos, fáceis de identificar. Como indicadores, respondem rapidamente às mudanças

ambientais, tais como alterações climáticas ou a perturbação por atividades humanas

(Stefanescu et al., 2004). Por outro lado, o estudo da diversidade desta ordem pode servir

como um indicador da biodiversidade dessa região, uma vez que a riqueza de borboletas

está frequentemente relacionada com a diversidade de outros organismos, particularmente

com as plantas com as quais estão estreitamente associadas (Ehrlich, & Raven, 1964;

Holl, 1995; Kitahara et al., 2008). Diversos trabalhos de investigação têm sido realizados

utilizando este grupo como bioindicador, tendo sido particularmente útil na avaliação das

alterações ambientais devido a causas naturais ou ação antropogénica (Blair, & Launer,

1997; Kocher, & Williams, 2000). Estes estudos podem realizar-se ao nível de espécies

individuais, de taxa supraespecíficos ou comunidades, avaliando um ou mais grupos de

organismos numa ou em diversas tipologias de habitat, a fim de determinar prioridades

de conservação, monitorizar as alterações nas comunidades naturais ou identificar

necessidades de gestão ou recuperação dos habitats. A fiabilidade da informação

recolhida com estes bioindicadores depende da sua adequação à questão a ser investigada.

Figura 4 Espécies de Lepidoptera com elevado valor de conservação em Portugal e na Serra da Estrela: a)

Cyaniris semiargus (Rottemburg, 1775) (rara em Portugal); b) Euphydrias aurinia (Rottemburg, 1775)

(listada na Diretiva de Habitats) e c) Satyrus actaea (Esper, 1781) (presente na Serra da Estrela, acima dos

1200m). Fotos de Albano Soares (a,c) e Hugo Figueiredo (b).

a) b) c)

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Deste modo, para determinadas tipologias de habitat existem bioindicadores ambientais

mais adequados que outros (Gerlach et al., 2013).

No nosso país, o conhecimento existente sobre a biologia de vários grupos de

insetos é ainda muito escasso, não existindo estudos elementares sobre os seus hábitos

ecológicos, distribuições e a dimensão dos seus efetivos populacionais. Este

desconhecimento biológico constitui um sério obstáculo ao desenvolvimento de medidas

de gestão ambiental que permitam a conservação das suas populações. Assim sendo, foi

desenvolvido um conjunto de objetivos para melhorar o conhecimento sobre a biologia

das espécies de alguns grupos de insetos existentes na Serra da Estrela, nomeadamente as

libélulas (Odonata) e as borboletas diurnas (Lepidoptera - Rhopalocera), bem como na

avaliação da sua utilização como potenciais bioindicadores.

Neste capítulo, pretende-se avaliar a importância de diversas áreas do planalto

superior da Serra da Estrela para a conservação da natureza, através do estudo das

comunidades de dois grupos de insetos considerados bons bioindicadores (Odonata e

Lepidoptera). Numa fase inicial procurar-se-ão avaliar os padrões de biodiversidade

associados às lagoas naturais, barragens pequenas, barragens de grande dimensão e

pontos secos. Por outro lado, pretender-se-á avaliar se existem e quais são as espécies

características de alguma das tipologias de habitat estudado. Finalmente, com base nos

resultados obtidos com os dois grupos bioindicadores, identificar-se-á um conjunto de

áreas mais relevantes para a conservação da diversidade destes grupos no Planalto

Superior da Serra da Estrela, contribuindo para uma efetiva gestão da biodiversidade

destes espaços pelas entidades competentes.

Material e Métodos

Área de estudo

O presente estudo foi desenvolvido no Parque Natural da Serra da Estrela, situado

no centro-norte de Portugal, a uma latitude de 40º 2’N e longitude de 7º 35’W (Moura,

2006), mais especificamente na área correspondente ao Planalto Superior da Serra da

Estrela, onde se encontram diversas lagoas naturais e artificiais e os cursos de água que

delas derivam e integram a cabeceira da bacia do rio Alva (Serrano et al., 2014). Este

planalto, estende-se entre os 1450 e 1993 m e constitui uma área de elevado valor

biológico, geológico e paisagístico, razões que contribuíram para a sua classificação

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como Sítio de Interesse Comunitário, integrando a Rede Natura 2000, e apresenta também

o estatuto de Reserva Biogenética do Conselho da Europa (www.icnf.pt).

A Serra da Estrela apresenta um clima maioritariamente mediterrânico, com

influência atlântica, o que resulta em verões secos e quentes e invernos chuvosos, que

começam em outubro e prolongam-se até maio. A precipitação média anual atinge os

2500 milímetros nas áreas mais altas e é influenciada principalmente pela orientação da

vertente e a altitude, sendo menor no lado ocidental da montanha do que na parte oriental.

A média anual da temperatura do ar encontra-se abaixo dos 7 ºC na maior parte do

planalto e atinge os 4 ºC nas imediações do cume (Vieira, 2004).

As amostragens realizaram-se num conjunto diverso de lagoas naturais, barragens

(de pequena e grande dimensão) e ainda em “pontos secos” (Figura 5), isto é, áreas

afastadas de cursos de água. As lagoas naturais têm origem glaciar, resultaram da erosão

provocada pelo gelo sobre a rocha matriz e encontram-se distribuídas pelo Planalto

Superior. As lagoas artificiais resultaram da artificialização de lagoas naturais existentes

(p.ex. barragem da Lagoa Comprida) ou do emparedamento de áreas em vales (p.ex.

barragem do Vale do Rossim), diferindo entre si no grau de artificialização induzida ao

ambiente local. Dada a heterogeneidade das áreas ocupadas pelas lagoas artificiais,

optámos por dividi-las por duas categorias: “barragens pequenas” que apresentam uma

área inferior a 20 ha e “barragens grandes” quando a sua área é superior ou igual a 20 ha.

Os pontos secos correspondem a áreas terrestres afastadas de linhas de água (geralmente

> 500 m) que procuram traduzir a paisagem dominante no Planalto Superior da Serra da

Estrela, possibilitando avaliar comparativamente a relevância da biodiversidade das

lagoas no contexto da relativa homogeneidade de habitats terrestres deste planalto. A lista

dos locais amostrados é apresentada em anexo (Anexo I).

Os pontos de amostragem foram escolhidos tendo em consideração o

conhecimento existente sobre o Planalto Superior da Serra da Estrela, a diversidade

biológica que lhe está associada e a acessibilidade desses locais, encontrando-se

representados na Figura 6.

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Figura 5 Tipologias dos habitats em estudo: a) ponto seco; b) barragem de grandes dimensões; c) lagoa natural

e d) barragem de pequenas dimensões. Fotos de José Conde.

a) b)

c) d)

N

Figura 6 Localização do Parque Natural da Serra da Estrela em Portugal e distribuição espacial dos locais de

amostragem. Mapa adaptado do Google Earth®, usando o software Quantum GIS®, versão 2.10.1

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Trabalhos de campo

A amostragem das formas adultas das ordens Odonata e Lepidoptera foi realizada

entre os meses de junho e setembro, por ser este o período de atividade da maioria das

espécies desses grupos em áreas de elevada altitude. Nos dois anos de estudo (2013 e

2014) foi realizado um total de cinco sessões de amostragem nas diferentes áreas

selecionadas. A metodologia de amostragem adotada baseou-se na realização de

transectos fixos com uma extensão de 150 m para contagem dos insetos adultos ao longo

das margens das lagoas naturais e artificiais (pequenas e grandes) ou nas áreas terrestres

envolventes (pontos secos) dominadas por cervunal, zimbral ou matos baixos. O percurso

foi realizado a passo constante e lento, registando-se as espécies observadas num espaço

correspondente a um cubo de 5 m de lado (Figura 7), e, apenas quando ocorriam dúvidas

na identificação, os indivíduos foram capturados com o auxílio de uma rede entomológica

para identificação, sendo de imediato libertados. Esta metodologia tem sido aplicada

frequentemente em estudos de biodiversidade e ecologia de insetos voadores, pois fornece

uma boa estimativa dos valores de riqueza específica e abundância de um dado local

(Kitahara et al., 2008; Pollard, 1977; Pollard, & Yates 1993; Spitzer et al., 1997,

Stefanescu et al., 2009).

As amostragens realizaram-se entre as 10-18h, com condições climáticas

favoráveis, isto é, com uma temperatura exterior a variar entre os 15-35ºC, uma cobertura

de nuvens inferior a 75% e ausência de vento ou a existência de uma pequena brisa (até

ao máximo de 2 na escala de Beaufort (Metoffice, 2010).

Figura 7 Espaço de contagem e identificação de indivíduos (adaptado de Pollard, & Yates, 1993).

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Análise estatística

Os dados recolhidos durante os trabalhos de campo de 2013 e 2014 sobre a

abundância e distribuição das espécies de Lepidoptera e Odonata foram organizados em

ficheiros no software Excel do Microsoft® Office 2013, antes da realização das análises

estatísticas. Numa fase preliminar foram calculados os valores de riqueza específica (S)

e de abundância relativa (N) de cada local. Com base nesta informação calcularam-se três

índices que sintetizam informação relevante sobre a diversidade local:

- o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) é um dos índices de diversidade

mais frequentemente aplicados, embora não seja universalmente aceite, apresentando

forte ligação aos conceitos de entropia (Shannon, 1948). Este índice relaciona o número

de espécies de um local (riqueza específica) com a distribuição dos seus valores de

abundância através da seguinte fórmula:

Onde pi é a proporção de indivíduos da espécie i em relação ao total de indivíduos

amostrados.

- a equitabilidade (E) refere-se à regularidade na distribuição dos indivíduos pelas

espécies identificadas na comunidade em estudo. O índice utilizado para determinar a

equitabilidade foi o índice de Pielou e consiste na seguinte fórmula:

J = H' /H’max

Onde H’ é o valor máximo obtido pelo índice de Shannon-Wiener e H’max é o valor

máximo de H’ (Heip et al., 1998).

- o índice de Berger-Parker (d) é um índice de dominância e permite avaliar a

heterogeneidade das abundâncias relativas das várias espécies de um dado local. É um

índice simples, intuitivo e com significado biológico, razões que têm motivado a sua

ampla utilização (Berger, & Parker, 1970). Este índice relaciona a abundância de

indivíduos da espécie mais abundante (Nmáx) com o número de indivíduos de todas as

espécies (N) encontradas nessa área de estudo. A fórmula aplicada foi a seguinte:

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Frequentemente os resultados da dominância são apresentados na forma recíproca do

índice de Berger-Parker, ou seja, 1/d pois a sua interpretação é mais fácil.

Os cálculos dos vários descritores de diversidade (H’, E, d) foram realizados no

programa Species Diversity and Richness®, versão 4.0.

Tomando como base as tabelas de contingência com as observações de odonatas

e lepidópteros nos diferentes locais amostrados efetuou-se a análise aglomerativa por

locais e espécies com o objetivo de identificar padrões de associação. A análise

aglomerativa média (UPGMA) das espécies foi efetuada a partir do cálculo da matriz de

distâncias euclideanas entre espécies, enquanto que a análise aglomerativa dos locais teve

como base a matriz de correlação entre locais. As análises aglomerativas foram efetuadas

através da aplicação Minitab®, versão 16. Para complementar a informação indicada com

esta análise e na tentativa de identificar e interpretar melhor as associações presentes entre

tipologias de habitat e espécies procedeu-se à aplicação de técnicas de ordenação das

matrizes de distribuição de odonatas e lepidópteros por local. Utilizou-se a análise de

componentes principais (PCA) para a construção de combinações lineares com as

variáveis originais, e determinar os principais padrões de variação nos dados iniciais

(McPeek, 1990) relativamente ao ano de amostragem e às tipologias de habitat

amostradas. A análise de componentes principais foi efetuada com a aplicação Canoco®

para Windows, versão 4.5.

Utilizando como base os valores dos diversos descritores de diversidade (Anexos II e III)

efetuou-se a análise de variância (ANOVA) para um desenho experimental fatorial,

utilizando como fatores o ano e a tipologia de habitat.

Os cálculos foram efetuados através do módulo GLM (General Linear Model) da

aplicação Minitab®, versão 16, tendo-se efetuado comparações múltiplas (utilizando o

teste de Tukey) entre todos os níveis dos fatores que apresentaram diferenças

estatisticamente significativas. Todas as análises foram efetuadas para um nível de

significância de 0.05.

Procurou-se ainda identificar quais as espécies indicadoras de cada tipologia de

habitat através da aplicação do método IndVal (Dufrêne, & Legendre, 1997). Este

consiste inicialmente em métodos de classificação das unidades amostrais, para

identificar as espécies indicadoras de um ou vários locais ou tipologias de habitat, sendo

depois feita a sua validação estatística (Borcard et al., 2008; Dufrêne & Legendre, 1997).

O IndVal expressa o grau de especificidade e fidelidade (em %) de uma espécie

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relativamente a um local ou a um conjunto de locais de estudo e, por apresentar um claro

significado biológico, tem sido amplamente utilizado (Dai et al., 2006).

Finalmente pretendeu-se perceber qual o conjunto de áreas mais relevantes para a

conservação da diversidade das ordens em estudo no Planalto Superior da Serra da

Estrela, através de uma análise de complementaridade da riqueza específica de cada

ordem. Esta análise consiste na medida do grau de representação que uma área ou

conjunto de áreas possui para incluir a totalidade dos atributos (riqueza específica)

encontrados na área geográfica de referência (Pressey et al., 1993; Vane-Wright et al.,

1991). As análises de complementaridade foram realizadas separada e conjuntamente

para as ordens Odonata e Lepidoptera.

Resultados e Discussão

Análise faunística da ordem Lepidoptera nos diferentes habitats

Neste estudo foram assinaladas 55 espécies de borboletas dos 2301 indivíduos

registados (Anexo IV). Informação detalhada sobre a abundância e a riqueza específica

dos locais amostrados encontra-se sintetizada no relatório do projeto “Biodiversidade,

endemismos e espécies protegidas associadas às lagoas e cursos de água da Serra da

Estrela: valorização de um século de aproveitamento hidroelétrico”, financiado pelo

fundo EDP para a biodiversidade 2011 (Serrano et al., 2014). Importa destacar a presença

de um conjunto de espécies que são raras em Portugal, como as borboletas Vanessa

virginiensis (Drury, 1773), Cyaniris semiargus (Rottemburg, 1775) e Coenonympha

iphioides (Staudinger, 1870) (Maravalhas, 2003). A espécie V. virginiensis (Drury, 1773)

apenas ocorreu nas lagoas naturais, num único local de amostragem, enquanto que a

espécie C. semiargus (Rottemburg, 1775) encontrou-se em todas as tipologias, mas com

maior abundância nos pontos secos. Por fim, a espécie C. iphioides (Staudinger, 1870)

também está presente em todas as tipologias mas em baixos valores de abundância,

variando normalmente entre 1 e 2 indivíduos.

A família de Lepidoptera mais bem representada é a Nymphalidae, com 32

espécies. A sua representatividade pode dever-se ao facto de ser a família com maior

riqueza específica em Portugal e por possuir espécies com elevada capacidade de

adaptação ecológica (Jiggins et al., 1996) e de dispersão (Parandhaman et al., 2012).

Importantes, ainda que com menor representatividade, ocorreram as famílias Lycaenidae

(S=10), Pieridae (S=8), Hesperiidae (S=4) e por fim Papilionidae (S=1). Não se verificou

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a ocorrência de dominância de nenhuma espécie nos diferentes tipos de habitat, pois o

índice de Berger-Parker apresenta valores baixos, o que é corroborado pelo cálculo da

equitabilidade, que apresenta valores elevados, isto é, as comunidades apresentam

espécies com valores de abundância homogéneos (Tabela 1).

Tabela 1 Média e amplitude dos valores da abundância relativa (N), da riqueza específica

(S), da equitabilidade (E) e dos índices de diversidade e dominância (H’ e 1/d

respetivamente) de cada tipologia de habitat para a ordem Lepidoptera.

Para entender melhor as diferenças na diversidade de borboletas entre as

tipologias de habitat em estudo realizou-se a análise dos descritores de diversidade,

equitabilidade e dominância (Tabela 1, Figura 8, Anexo II).

A diversidade de espécies nas várias tipologias de habitat não se alterou de modo

significativo de um ano para o outro, apenas existindo diferenças de uma tipologia para

outra (Figura 8). Estas diferenças são explicadas na secção sobre as semelhanças das

comunidades entre as tipologias de habitat. Os pontos secos apresentam uma maior

dispersão dos dados de biodiversidade (medidas pelo índice H’), enquanto as barragens

pequenas são as mais constantes em relação a esses valores (Figura 8). Ao nível da

dominância de espécies, é nas barragens pequenas que esta é mais evidente, embora os

valores das médias sejam semelhantes entre as quatro tipologias de habitat (Tabela 1).

Todas as tipologias apresentam um valor alto de equitabilidade em ambos os anos.

Tipologia

N S H’ E 1/d

Média Amplitude Média Amplitude Média Amplitude Média Amplitude Média Amplitude

Pontos secos 39 9-102 12 5-22 2,07 1,78-2,78 0,86 0,61-0,94 0,29 0,14-0,45

Lagoas naturais 37 20-61 13 8-17 2,17 1,46-2,64 0,86 0,70-0,94 0,28 0,14-0,50

Barragens pequenas 45 16-99 15 10-21 2,35 2,06-2,63 0,87 0,78-0,95 0,24 0,14-0,45

Barragens grandes 52 25-81 18 9-25 2,53 1,99-2,89 0,87 0,78-0,94 0,21 0,11-0,32

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20

Figura 8 Descritores de diversidade da ordem Lepidoptera para os anos de 2013 e 2014, referentes

ao índice de Shannon-Wiener (H’), ao índice de Berger-Parker (d) e à equitabilidade (Equi) pelo índice de

Pielou. Tipologia de habitat 1- pontos secos; 2- lagoas naturais; 3- barragens pequenas; 4- barragens de

grandes dimensões.

A fim de complementar a informação do significado da variação entre anos e

tipologias de habitat, realizou-se uma ANOVA para os diferentes descritores de

diversidade (Tabela 2). Os resultados obtidos não permitiram detetar diferenças

significativas entre os anos de estudo mas permitiram identificar diferenças significativas

entre os pontos secos e as barragens grandes no que diz respeito à riqueza específica e à

diversidade máxima. As barragens de grandes dimensões apresentam maior riqueza e

diversidade em comparação com os pontos secos. Em nenhuma das análises se observou

existirem interações significativas entre tipologias e anos.

Tipologia

Ano

4321

20142013201420132014201320142013

3.0

2.5

2.0

1.5

H

Tipologia

Ano

4321

20142013201420132014201320142013

9

8

7

6

5

4

3

2

d

Tipologia

Ano

4321

20142013201420132014201320142013

1.0

0.9

0.8

0.7

0.6

Equi

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21

Tabela 2 Resultados das análises de variância dos descritores da diversidade de

abundância relativa, riqueza específica, índice de Shannon-Weaner, valor máximo do

índice de Shannon-Weaner, equitabilidade e índice Berger-Parker (lnN, lnS, H’, Hmáx,

E e d) entre as tipologias de habitat e os anos de amostragem para a ordem Lepidoptera.

Fator DF Variância F P

ln N

Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

46

0,5932 0,0895 0,1176 0,3370

1,76 0,27 0,35

0,168 0,609

0,79

(NS) (NS) (NS)

ln S

Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

46

0,5440 0,0016 0,0614 0,1252

4,34 0,01 0,49

0,009 0,909 0,691

(S)† (NS)

(NS)

H’

Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

46

0,5827 0,0298 0,1009 0,1235

4,72 0,24 0,82

0,006 0,626 0,491

(S)† (NS) (NS)

H’max

Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

46

0,5440 0,0016 0,0614 0,1252

4,34 0,01 0,49

0,009 0,909 0,691

(S)† (NS) (NS)

E

Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

46

0,0025 0,0036 0,0029 0,0044

0,56 0,83 0,67

0,642 0,366 0,577

(NS) (NS) (NS)

D

Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

46

4,2610 0,2000 1,7440 2,5110

1,7 0,08 0,69

0,181 0,779

0,56

(NS) (NS) (NS)

Resultado das comparações efetuadas através do teste de Tukey: † 1≠4- Pontos secos ≠ barragens grandes (inconclusivo para 2 e 3- lagoas naturais e barragens pequenas).

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22

O facto de as barragens de grandes dimensões possuírem maior riqueza em

Lepidoptera é um resultado inesperado, uma vez que estas áreas são mais perturbadas

pelo homem. Apesar desse aspeto negativo relacionado com a perturbação, a construção

de barragens levou à alteração da paisagem homogénea do Planalto Superior, oferecendo

uma maior heterogeneidade de recursos, proporcionando assim um impacto positivo para

a biodiversidade de borboletas. A heterogeneidade de microhabitats é considerada um

fator importante na relação da riqueza em espécies com a área (Janzen, & Schoener, 1968;

Tews et al., 2004). Spitzer et al. (1997) mostraram que a existência de perturbação

moderada pode ser positiva para as comunidades de borboletas, uma vez que os valores

de riqueza e diversidade específica foram consideravelmente maiores em locais

perturbados do que em áreas pristinas. Noutro estudo, Uehara-Prado et al. (2009)

concluíram que a fragmentação florestal também não interfere negativamente na

diversidade de espécies de borboletas, contrariamente ao que sucedia com outros grupos

taxonómicos. Ainda de acrescentar que diversos estudos mostram que a presença de

alterações na paisagem pode ser um importante mecanismo de manutenção de espécies

autóctones (Huston, 1994; Jacobs, 1988).

A maior riqueza de espécies de borboletas nas barragens grandes deve-se à

presença de uma maior diversidade e abundância de plantas nestas áreas. As plantas

nectaríferas, que se encontram na periferia das lagoas (e.g. ericáceas, leguminosas,

compostas), apresentam um papel fundamental proporcionando uma maior, mais

diversificada e estável disponibilidade de alimento para as borboletas (Holl, 1995). Por

outro lado, as plantas determinam a estrutura física do habitat, logo influenciam as

interações com as espécies animais que lhes estão associadas (sobretudo polinizadores e

herbívoros) e a distribuição destas (Lawton et al., 1987; McCoy, & Bell, 1991).

As lagoas naturais e as barragens de pequenas dimensões apresentam o mesmo

tipo de plantas nas suas margens, contudo estas ocorrem com uma abundância mais

reduzida devido ao perímetro destas também ser muito menor, quando comparadas com

as grandes barragens. Por outro lado, as lagoas naturais e as barragens pequenas

encontram-se mais isoladas, o que torna difícil a sua colonização e visitação por parte das

espécies de Lepidoptera. No que concerne aos pontos secos, estes apresentam uma maior

homogeneidade vegetal e em alguns casos, como nos cervunais, são pobres em plantas

nectaríferas. Estas razões justificam a baixa riqueza (S) e diversidade (H’) de borboletas

destes locais (Tabela 1).

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23

Diversos estudos têm concluído que as diferenças observadas na diversidade de

espécies de borboletas entre locais estão geralmente relacionadas com a diversidade e

abundância de plantas, uma vez que estas determinam a estrutura dos habitats e a

disponibilidade de alimento (Camero, & Calderón, 2007; Janzen, & Schoener, 1968).

Neste contexto, algumas atividades humanas em ambientes naturais homogéneos e com

baixa riqueza específica, como as áreas de alta montanha, podem contribuir para a

diversificação de nichos ecológicos, favorecendo a presença de espécies não

características e contribuindo assim para que apresentem maior riqueza específica do que

as áreas vizinhas não perturbadas (Uehara-Prado et al., 2009).

Análise faunística da ordem Odonata nos diferentes habitats

Neste estudo foram assinaladas 23 espécies de Odonata entre os 2580 indivíduos

observados (Anexo II). Informação detalhada sobre a abundância e a riqueza específica

dos locais amostrados encontra-se sintetizada no relatório do projeto “Biodiversidade,

endemismos e espécies protegidas associadas às lagoas e cursos de água da Serra da

Estrela: valorização de um século de aproveitamento hidroelétrico”, financiado pelo

fundo EDP para a biodiversidade 2011 (Serrano et al., 2014). De mencionar que as

espécies de Odonata A. juncea (Linnaeus 1758) e S. flaveolum (Linnaeus 1758), presentes

na Serra da Estrela, encontram-se no nosso país referenciadas como espécies muito raras,

uma vez que estão associadas a zonas de altitude (Maravalhas, & Soares, 2013). Em

Portugal, ambas as espécies foram apenas citadas em áreas acima dos 1000 m da Serra da

Estrela (Ferreira et al., 2009; Maravalhas, & Soares, 2013), embora A. juncea (Linnaeus

1758) tenha sido recentemente observada no Gerês (Albano Soares, pers. comm), facto

que necessita de confirmação. As duas espécies foram observadas em todas as tipologias

mas apenas no ano de 2013.

O grupo de Odonata melhor representado foi a sub-ordem Anisoptera com 13

espécies, das quais 7 pertencem à família Libellulidae. A sub-ordem Zygoptera está

representada por 10 espécies. O número mais elevado de espécies de Anisoptera pode ser

explicado pelo facto de a maioria dos locais de amostragem ser constituída por espaços

abertos com vegetação baixa e pouco complexa, apresentando grande luminosidade. Estas

espécies são dependentes destes fatores, pois necessitam deles para o desenrolar do seu

ciclo de vida (Corbet, & May, 2008; May, 1976; Resende, 2010). A dominância da família

Libellulidae é também mencionada em diversos trabalhos (Benazzoz et al., 2009;

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24

Dijkstra, 2013; Lawler, 2001; Suhling et al., 2005; Suhling et al., 2004). No que diz

respeito à sub-ordem Zygoptera, a família Coenagrionidae é a dominante (S=4). Esta

possui ampla distribuição e espécies com ciclos de vida curtos (Norma-Rashid et al.,

2001), conseguindo tolerar uma grande gama de habitats (Acquah-Lamptey et al., 2013b).

O baixo número de espécies de Zygoptera deve-se, normalmente, à sua baixa capacidade

de dispersão, à dependência de ambientes com uma estrutura de vegetação mais complexa

e ao facto de poucas espécies ocorrerem a altitudes elevadas (Acquah-Lamptey et al.,

2013b; Maravalhas, & Soares, 2013).

Os resultados faunísticos encontram-se sumarizados na tabela 3 para os dois anos

de amostragem.

Tabela 3 Média e amplitude dos valores da abundância relativa (N), da riqueza específica

(S), da equitabilidade (E) e dos índices de diversidade e dominância (H’ e 1/d

respetivamente) de cada tipologia de habitat para a ordem Odonata.

O estudo das comunidades de libélulas presentes nas diferentes tipologias de

habitat realizou-se através da análise dos descritores de diversidade, equitabilidade e

dominância (Anexo III). Os resultados são apresentados para cada tipologia (Tabela 3;

Figura 9) e ano de estudo (Figura 9).

Não se observam diferenças significativas nos descritores de diversidade dos

quatro tipos de habitat entre os anos de estudo. Os pontos secos são os que apresentam

menor diversidade e dispersão dos valores por habitat. As lagoas naturais destacam-se

pois apresentam maior diversidade, assim como as barragens pequenas, contudo estas

possuem locais com valores muito dispersos no que concerne ao ano de 2014. Por fim, as

barragens de grandes dimensões, apesar de possuírem locais com alguma diversidade, no

geral esta é baixa, comparativamente às restantes, e bastante diferente entre os locais.

Mas, no ano de 2014, existe um aumento notório da diversidade nesta tipologia ficando

mais próxima das lagoas naturais e das barragens pequenas.

Tipologia

N S H E 1/d

Média Amplitude Média Amplitude Média Amplitude Média Amplitude Média Amplitude

Pontos secos 14 1-69 3 1-5 0,55 0-1,24 0,77 0,34-1,00 0,4 0,43-1,00

Lagoas naturais 118 33-233 6 4-9 1,34 0,92-1,91 0,73 0,57-0,87 0,47 0,32-0,63

Barragens pequenas 70 6-284 6 2-9 1,23 0,33-2,07 0,72 0,44-0,99 0,53 0,21-0,90

Barragens randes 15 1-15 4 1-7 0,93 0-1,61 0,82 0,52-1,00 0,59 0,29-1,00

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25

A nível de dominância de espécies, verifica-se que não existe uma dominância

clara nas diferentes tipologias para o ano de 2013, já no ano de 2014 para as lagoas

naturais e para as barragens pequenas verifica-se a dominância de espécies para alguns

locais. Por exemplo, a espécie Anax imperator (Leach, 1815) na lagoa natural da

Francelha e na barragem pequena do Covão dos Conchos e a espécie Onychogomphus

uncatus (Charpentier, 1840) na lagoa natural Seca. Por fim, a maioria dos locais das

diferentes tipologias de habitat apresentam comunidades de libélulas com valores de

abundância semelhantes (Tabela 3).

Figura 9 Descritores de diversidade da ordem Odonata para os anos de 2013 e 2014, referentes ao índice

de Shannon-Wiener (H’), ao índice de Berger-Parker (d) e à equitabilidade (Equi) pelo índice de Pielou.

Tipologia de habitat 1- pontos secos; 2- lagoas naturais; 3- barragens pequenas; 4- barragens de grandes

dimensões.

As ANOVA dos descritores de diversidade (abundância de espécies, riqueza

específica e diversidade máxima) evidenciam a existência de diferenças significativas

entre os pontos secos (que se assemelham às barragens grandes) e as lagoas naturais (mais

semelhantes às barragens pequenas). As ANOVA não evidenciaram a existência de

interações entre tipologias e anos (Tabela 4).

Os Odonata são representados por espécies predadoras que habitam os

ecossistemas de água doce e a sua diversidade está frequentemente associada à riqueza e

Tipologia

Ano

4321

20142013201420132014201320142013

2.0

1.5

1.0

0.5

0.0

H

Tipologia

Ano

4321

20142013201420132014201320142013

5

4

3

2

1

d

Tipologia

Ano

4321

20142013201420132014201320142013

1.0

0.9

0.8

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

Equi

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26

estrutura da vegetação aquática e à qualidade ambiental dos corpos de água (Remsburg,

& Turner, 2009). Assim sendo, compreende-se a pobreza em espécies dos pontos secos,

ou seja, áreas afastadas de cursos de água. Nestes locais registaram-se sobretudo

indivíduos em movimento (dispersão, busca de alimento) de espécies com maior

capacidade de voo (por exemplo, as espécies Cordulegaster boltonii (Donovan, 1807) e

Libellula quadrimaculata (Linnaeus, 1758)). Os principais fatores para a maior riqueza

de libélulas nas lagoas naturais e nas barragens pequenas são a boa qualidade das suas

águas e o bom estado de conservação da vegetação aquática e das margens, que resultam

do facto destes locais estarem relativamente isolados e sujeitos a muito reduzida

perturbação humana. Algumas das pequenas barragens encontram-se também já

naturalizadas pois não sofrem manutenção há várias décadas e apresentam deficiências

no eficaz represamento de água. Por outro lado, alguns estudos sobre as comunidades de

odonatas mostram também uma relação positiva entre a riqueza de espécies e a duração

dos corpos de água (McCauley, 2006). A estabilidade de presença dos corpos de água nos

locais tem um efeito positivo sobre a diversidade específica de libélulas, pois são locais

de reprodução para as espécies mais abundantes e/ou frequentes dessas comunidades

(Dijkstra, & Lempert, 2003). As diferenças significativas na riqueza e abundância de

libélulas entre as lagoas naturais e as barragens grandes resultam sobretudo da maior

perturbação associada às últimas e da menor qualidade da água destas. Muitas espécies

estenotópicas ocorrem em ambientes naturais mais fechados e com vegetação mais

complexa, como se verifica nas pequenas massas de água com a espécie S. flaveolum

(Linnaeus, 1758). Por outro lado, espécies euritópicas como a C. boltonii

(Donovan, 1807) e a Libellula depressa (Linnaeus,1758), são menos sensíveis à

perturbação, conseguindo sobreviver em ambientes como as barragens de grandes

dimensões (Ilg, & Oertli, 2014). Por outro lado, a introdução de espécies exóticas de

peixes predadores (sobretudo Salmo trutta (Linnaeus,1758) e Oncorhynchus mykiss

(Walbaum, 1792)) nas grandes barragens da Serra da Estrela com o intuito de promover

o turismo da pesca desportiva e o recorrente repovoamento piscícola dessas barragens

pelos organismos estatais contribui também para o empobrecimento das comunidades de

libélulas. Diversos estudos têm demonstrado que a introdução de peixes exóticos em

sistemas lênticos contribuem para a perda de biodiversidade de macroinvertebrados

aquáticos nativos, com graves repercussões nas populações de adultos reprodutores

(Hassall et al., 2011; Knapp et al., 2009; Labaj et al., 2013; Tiberti et al.,2014).

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Tabela 4 Resultados das análises de variância dos descritores da diversidade de

abundância relativa, riqueza específica, índice de Shannon-Weaner, valor máximo do

índice de Shannon-Weaner, equitabilidade e índice Berger-Parker (lnN, lnS, H’, Hmáx,

E e d)

entre

as

tipologias de habitat e os anos de amostragem para a ordem Odonata.

Fator DF Variância F P

ln N Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

32

107,2490 0,8673 20,556 0,8476

12,65 1,02 2,43

<0,001 0,319 0,084

(S) † (NS) (NS)

ln S Tipologia

Ano

Tipologia*Ano

Erro

3 1 3

32

0,6785 0,0124 0,2298 0,1654

4,1 0,07 1,39

0,014 0,786 0,264

(S) ‡ (NS) (NS)

H’ Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

32

0,3445 0,2264 0,0261 0,1505

2,29 1,5

0,17

0,097 0,229 0,914

(NS) (NS) (NS)

Hmáx Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

32

0,6785 0,0124 0,2298 0,1654

4,1 0,07 1,39

0,014 0,786 0,264

(S) ‡ (NS) (NS)

E Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

32

0,0161 0,0231 0,0339 0,0238

0,68 0,97 1,42

0,573 0,332 0,254

(NS) (NS) (NS)

D Tipologia Ano Tipologia*Ano Erro

3 1 3

32

0,5520 11,9530

0,4395 0,6636

0,83 1,8

0,66

0,486 0,189 0,581

(NS) (NS) (NS)

Resultado das comparações efetuadas através do teste de Tukey: † 1=4≠3≠2(pontos secos=barragens grandes≠barragens pequenas≠lagoas naturais); ‡ 1≠2 (pontos secos≠ lagoas naturais ) (inconclusivo para 3 e 4- barragens pequenas e barragens grandes).

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28

Semelhanças na composição das comunidades de Lepidoptera nos diferentes

habitats

Através da Figura 10 (projeção dos dois primeiros eixos da análise de PCA)

verifica-se que o padrão de distribuição das amostragens associadas aos pontos secos e

lagoas naturais e das amostragens associadas às barragens pequenas e barragens de

grandes dimensões seguem o mesmo padrão que a distribuição do anos de 2014 e 2013,

respetivamente. As espécies que determinam a distribuição de amostragens ao longo do

eixo 1 são Brintesia circe (Fabricius, 1775), Colias crocea (Geoffroy, 1785), Plebejus

argus (Linnaeus, 1758), Satyrus actaea (Esper, 1781) e Hesperia comma (Linnaeus,

1758), e P. argus (Linnaeus, 1758), S. actaea (Esper, 1781) e H. comma (Linnaeus, 1758)

para o eixo 2. A espécie B. circe (Fabricius, 1775) encontra-se em todas as tipologias de

habitat e nos dois anos, ocorrendo com abundâncias semelhantes, mas baixas. As espécies

C. crocea (Geoffroy, 1785) e P. argus (Linnaeus, 1758) aparecem em todas as tipologias

e em quase todos os locais de amostragem em abundâncias elevadas comparativamente

com as outras espécies. Por fim, as espécies S. actaea (Esper, 1781) e a H. comma

(Linnaeus, 1758) estão em todas as tipologias, mas a sua presença é mais notória no ano

de 2014.

Figura 10 Análise de componentes principais (PCA) para determinar os principais padrões de variação nos

dados da ordem Lepidoptera. Análise da variação entre anos (a), locais (b) e espécies que caracterizam a

variação (c).

a)

b)

c)

0.0 2.0

-1.0

2.0

Ano = 2013

Ano = 2014

0.0 2.0

-1.0

2.0

Tipologi = 1

Tipologi = 2

Tipologi = 3

Tipologi = 4

-0.2 1.0

-0.6

0.8

A.io

A.urtica

A.cardam

A.adippe

A.oglae

A.pandor

A.paphiaA.cramer

B.circe

C.rubi

C.argiol

C.iphioi

C.pamphi

C.crocea

C.semiar

G.rhamni

H.comma

H.fidia

H.hermio

H.semele

H.statil

H.lycaon

I.feisth

I.lathon

L.boetic

L.maera

L.megera

L.sinapi

L.pirith

L.alciph

L.phlaea

M.jurtin

M.laches

M.russia

M.deioneM.nevadeM.parthe

N.antiop

N.polych

P.aegeri

P.brassi

P.napiP.rapae

P.argus

P.c-albu

P.icarusP.daplid

P.malvoi

P.tithon

S.actea

T.lineol

T.sylves

V.atalan

V.cardui

V.virgin

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29

Analisando o dendrograma referente às tipologias em estudo verificamos que

independentemente da similaridade do grupo, estes apresentam resultados heterogéneos

(Figura 11). A aparente falta de associações entre as comunidades de lepidópteros de uma

mesma tipologia de habitat deve-se em grande medida à estrutura espacial dos locais, isto

é, locais mais próximos (mas com habitats diferentes) são mais idênticos entre si do que

de locais mais afastados da mesma tipologia de habitat. Por exemplo, a comunidade de

borboletas da Lagoa do Ângelo (lagoa natural, Ang_Nat) assemelha-se mais às das

barragens (Conchos: Con_Bar) e ponto secos (Redonda: Red_PS) que lhe estão mais

próximos, do que com as das restantes lagoas naturais. Estes resultados evidenciam a

existência de comunidades associadas a uma região (que congrega vários tipos de habitat),

em virtude da boa capacidade de dispersão de borboletas, e onde os habitats com menor

riqueza específica incluem subgrupos das espécies que ocorrem nas tipologias de habitat

com maior número de espécies. Dentro de uma mesma área existe porém maior afinidade

entre locais do mesmo tipo de habitat. Como por exemplo, a grande afinidade das

comunidades de libélulas dos pontos secos da Fonte dos Perús (Fon_PS) e do Rodeio

Grande (Rod_PS), ou das barragens das Quelhas (Que_Bar) e do Serrano (Ser_Bar), ou

ainda das lagoas naturais Redonda (Red_Nat) e Seca (Sec_Nat). Mei_Bar

Ros1_BarG

Cur_Bar

Lag2_BarG

Fom_PS

Com_PS

Red_Nat

Sec_Nat

Lag1_BarG

Ros2_BarG

Comp1_BarG

Tor_PS

Rod_PS

Fon_PS

Ser_Bar

Que_Bar

Pen_PS

Esc_Nat

Comp2_BarG

Fav_Nat

Fra_Nat

Con_Bar

Ang_Nat

Red_PS

For_Bar

Per_PS

Cor_PS

17.79

45.19

72.60

100.00

Similarity

Figura 11 Análise aglomerativa dos locais de amostragem da ordem Lepidoptera para as diferentes

tipologias de habitat em estudo. Os códigos dos nomes dos locais de amostragem (apresentados no Anexo

V) incluem a indicação da tipologia de habitat (PS - pontos secos; Nat - lagoas naturais; Bar - barragens

pequenas; BarG - barragens de grandes dimensões).

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30

Semelhanças na composição das comunidades de Odonata nos diferentes habitats

Na análise de componentes principais (PCA) dos Odonata, os três primeiros eixos

explicam 89.1% da variância total das amostras Contudo, ao contrário do que aconteceu

com os Lepidoptera, não se observa nenhum padrão associando anos com tipologias

(Figura 12), observando-se uma maior dispersão dos dados em 2013 do que em 2014. As

espécies que determinam a distribuição de amostragens ao longo do eixo 1 são as espécies

A. juncea (Linnaeus, 1758), Enallagma cyathigerum (Charpentier, 1840) e Libellula

quadrimaculata (Linnaeus, 1758), apresentando um alto valor de correlação com os

mesmos. A espécie A. juncea (Linnaeus, 1758), ocorre apenas no ano de 2013 e nas

tipologias lagoas naturais, barragens pequenas e barragens grandes. Porém, enquanto que

para as duas primeiras tipologias esta espécie é abundante na maioria dos locais, para as

barragens grandes apenas ocorreu em dois locais e com um registo para cada um. No que

se refere à espécie E. cyathigerum (Charpentier, 1840), esta em 2013 apresentou uma

abundância elevada para as lagoas naturais, seguidas das barragens pequenas e por fim

pelos pontos secos. Em 2014 este padrão manteve-se, mas a abundância de espécies foi

menor. Por fim, a espécie L. quadrimaculata (Linnaeus, 1758) foi muito abundante para

as lagoas naturais e barragens pequenas. Nos pontos secos ocorre em menor número, mas

na maioria dos locais, enquanto que para as barragens grandes apenas ocorre em 2 locais,

com o registo de um e três indivíduos. No ano de 2014 não aparece nos pontos secos nem

nas lagoas naturais. Nas restantes tipologias aparece apenas num único local e com a

presença de um único individuo. A distribuição do eixo 2 é determinada pelas espécies

Lestes virens (Charpentier, 1825) e L. dryas (Kirby, 1890). A primeira, em 2013, ocorreu

em todas as tipologias de habitat, mas destacam-se os locais das lagoas naturais, uma vez

que apresentam maior abundância que as restantes. Em 2014 não aparecem nas barragens

pequenas e nas restantes tipologias a sua ocorrência consiste apenas num único local e

com um número de indivíduos baixo, variando de 1 a 4. A segunda espécie (L. dryas

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31

(Kirby, 1890)) ocorre apenas no ano de 2014, num único local dos pontos secos e apenas

com um indivíduo.

Em relação ao dendrograma das tipologias, existem quatro grupos de interesse

para uma similaridade de aproximadamente 55%, sendo o primeiro o mais relevante, uma

vez que estão presentes em todas as tipologias e quase na totalidade dos pontos (Figura

13).

A ocorrência da diferenciação das últimas tipologias de habitat apresentadas no

dendrograma pode ter ocorrido devido a espécies como a L. viridis (Vander Linden, 1825)

e a L. depressa (Linnaeus, 1758), que não se encontraram nestas tipologias ou então

devido a espécies como a C. tenellum (Villers, 1789 ) que apenas ocorreu uma única vez

nas barragens pequenas. A presença ou ausência de determinadas espécies está

-0.2 1.2

-0.2

0.8

A.cyanea

A.juncea

A.impera

B.irene

C.virgo

C.xantho

C.tenell

C.bolton

E.cyathi

I.graell

L.dryas

L.virens

L.viridiL.depres

L.quadri

O.uncatu

P.latipeP.nymphu

S.flaveo

S.fonsco

S.sangui

S.sp.

S.striol

-1.0 4.0

-1.0

1.5

Tipologi = 1 Tipologi = 2

Tipologi = 3 Tipologi = 4

-1.0 4.0

-1.0

1.5

Ano = 2013 Ano = 2014

Figura 12 Análise de componentes principais (PCA) para determinar os principais padrões de variação nos

dados da ordem Odonata. Análise da variação entre anos (a), locais (b) e espécies que caracterizam a

variação (c).

a) b)

c)

c)

c)

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32

geralmente relacionada com as características locais do habitat como a cobertura de

sombra (Dijkstra, & Lempert, 2003; Djikstra, & Lewington, 2006), o microclima

(Kalkman et al., 2008; Oertli, 2010) e a composição e estrutura da vegetação aquática e

das margens, pois estas fornecem não só alimento como refúgio para as comunidades de

invertebrados (Adamus et al., 2001; Zimmer et al., 2000) o que torna os pontos mais ou

menos interessantes para cada espécie. É notória a segregação de algumas das

comunidades de libélulas em função do seu habitat (Figura 13). As comunidades de

libélulas das barragens grandes e dos pontos secos apresentaram grande afinidade entre

si, caracterizando-se por apresentarem uma menor riqueza específica, na sua maioria

composta por espécies euritópicas e com boa capacidade de vôo (p. ex. O.

Uncatus (Charpentier, 1840)). Por outro lado, apesar de existir alguma afinidade entre

algumas das comunidades de lagoas naturais e de barragens pequenas (Figura 13), é

também notória a existência de comunidades muito características das lagoas naturais

(p.ex. Lagoacho das Favas: Fav_Nat). Algumas das pequenas barragens (p.ex. barragem

do Covão dos Conchos: Con_Bar) encontram-se de certo modo naturalizadas dada a

ineficiência que apresentam no represamento de água e a falta de manutenção das

estruturas edificadas. As comunidades de libélulas destas barragens apresentam uma

riqueza e composição específica comparável à das lagoas naturais (Francelha: Fra_Nat e

Escura: Esc_Nat), e acomodam diversas espécies mais exigentes do ponto de vista

ecológico (p. ex. L. quadrimaculata, E. cyathigerum, A. juncea e L.virens).

Cur_Bar

Con_Bar

Fra_Nat

Esc_Nat

Fav_Nat

Red_Nat

Sec_Nat

Ang_Nat

For_Bar

Ser_Bar

Que_Bar

Red_PS

Con_PS

Comp1_BarG

Comp2_BarG

Mei_Bar

Fom_PS

Lag1_BarG

Ros2_BarG

Lag2_BarG

Rod_PS

Fon_PS

Ros1_BarG

Tor_PS

Per_PS

33.52

55.68

77.84

100.00

Similarity

Figura 13 Análise aglomerativa dos locais de amostragem da ordem Odonata para as diferentes tipologias

de habitat em estudo. Os códigos dos nomes dos locais de amostragem (apresentados no Anexo V) incluem

a indicação da tipologia de habitat (PS - pontos secos; Nat - lagoas naturais; Bar - barragens pequenas;

BarG - barragens de grandes dimensões).

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33

Identificação de espécies de Lepidoptera indicadoras para os diferentes habitats

Observando os grupos associados aos resultados do IndVal, para as espécies de

lepidópteros, existem quatro grandes grupos, com uma semelhança superior a 50%. Por

sua vez para as tipologias de habitat existem três grupos, sendo que o primeiro engloba

os pontos secos e as lagoas naturais, pela presença de espécies em baixo número. As

barragens de grandes dimensões são as que menos espécies têm em comum com as

restantes (Figura 14). As tipologias de habitat um e dois (pontos secos e lagoas naturais)

caracterizam-se por apresentarem valores de IndVal, genericamente mais baixos. A

tipologia de habitat três (barragens pequenas) exibe valores mais elevados para um

pequeno grupo de espécies (10% a 42%). Por fim a tipologia de habitat quatro é a que

contém um maior número de espécies com valores mais altos de IndVal. Em relação à

ocorrência de espécies indicadoras, não existe nenhuma que responda de modo evidente

para a avaliação das quatro tipologias de habitat. Contudo, estudando apenas um ou dois

grupos de habitat, algumas espécies aumentam o seu valor indicador, nomeadamente

espécies estenotópicas, isto é, espécies que não conseguem sobreviver numa ampla gama

de habitats, tendo uma distribuição geográfica mais restringida (Dufrêne & Legendre,

1997). São exemplos espécies como a S. actaea (Esper, 1781) e a H. comma (Linnaeus,

1758). Estas são termófilas e mais características de ambientes terrestres de montanha ou

com pequenas massas de água (Maravalhas, 2003). As espécies Gonopteryx rhamni

(Linnaeus, 1758), Hipparchia statilinus (Hufnagel, 1766) e Lampides boeticus (Linnaeus,

1767), estão mais associadas às massas de água de maior dimensão, pois nestes locais

existe uma maior abundância de plantas hospedeiras, onde se desenvolvem as lagartas e

se alimentam os adultos. Vários estudos mostram a dependência dos Lepidoptera dos

recursos fornecidos por plantas específicas, tanto para as larvas como para os adultos e

como existe uma correlação positiva entre diversidade de espécies de borboletas e a

riqueza e/ou abundância de plantas presentes, nomeadamente nectaríferas (Croxton et al.,

2005; Kitahara, & Watanabe, 2003; Kitahara et al., 2008; Simonson et al., 2001).

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34

Espécie IndVal1 IndVal2 IndVal3 IndVal4

1 Iphiclides feisthamelii 5% 0% 3% 1%

2 Celastrina argiolus 6% 26% 13% 15%

3 Vanessa cardui 7% 22% 7% 6%

4 Argynnis aglaja 3% 0% 0% 4%

5 Argynnis paphia 6% 0% 0% 8%

6 Issoria lathonia 11% 33% 23% 7%

7 Thymelicus lineola 4% 0% 0% 2%

8 Melitaea nevadensis 11% 0% 0% 8%

9 Colias crocea 18% 32% 27% 24%

10 Anthocharis cardamines0% 0% 8% 0%

11 Pieris brassicae 0% 0% 11% 0%

12 Callophrys rubi 0% 0% 4% 0%

13 Melitaea deione 0% 0% 4% 0%

14 Gonepteryx rhamni 1% 2% 42% 8%

15 Leptidea sinapis 1% 2% 23% 6%

16 Argynnis adippe 3% 1% 22% 6%

17 Pieris rapae 14% 16% 39% 7%

18 Argynnis pandora 19% 14% 28% 14%

19 Hipparchia hermione 9% 26% 12% 29%

20 Lycaena phlaeas 10% 18% 11% 20%

21 Lasiommata megera 4% 4% 8% 14%

22 Pieris napi 0% 0% 6% 19%

23 Hipparchia semele 6% 5% 9% 26%

24 Pontia daplidice 4% 5% 8% 21%

25 Hyponephele lycaon 6% 8% 10% 21%

26 Coenonympha iphioides0% 3% 1% 10%

27 Coenonympha pamphilus1% 2% 0% 9%

28 Cyaniris semiargus 2% 1% 2% 6%

29 Pararge aegeria 0% 1% 2% 30%

30 Hipparchia statilinus 3% 3% 0% 45%

31 Aricia cramera 4% 4% 3% 37%

32 Lampides boeticus 0% 2% 0% 41%

33 Melitaea parthenoides0% 0% 0% 17%

34 Lasiommata maera 0% 0% 0% 25%

35 Polygonia c-album 0% 0% 0% 8%

36 Nymphalis polychloros0% 0% 0% 8%

37 Polyommatus icarus 5% 5% 5% 25%

38 Brintesia circe 14% 12% 9% 31%

39 Plebejus argus 8% 22% 26% 23%

40 Lycaena alciphron 19% 4% 1% 6%

41 Aglais urticae 24% 6% 0% 0%

42 Hesperia comma 29% 14% 11% 6%

43 Pyronia tithonus 1% 0% 9% 14%

44 Pyrgus malvoides 1% 3% 5% 7%

45 Melanargia lachesis 6% 3% 22% 21%

46 Aglais io 0% 0% 3% 3%

47 Melanargia russiae 0% 0% 4% 4%

48 Nymphalis antiopa 0% 1% 10% 10%

49 Leptotes pirithous 7% 7% 13% 13%

50 Thymelicus sylvestris 5% 0% 11% 14%

51 Hipparchia fidia 2% 5% 0% 0%

52 Maniola jurtina 1% 0% 3% 3%

53 Satyrus actea 32% 45% 7% 10%

Tipologia de habitat

Figura 14 Análise IndVal para a ordem Lepidoptera. Vermelho: quartil 0-25%; Amarelo avermelhado:

quartil 25-50%; amarelo esverdeado: quartil 50-75%; Verde: quartil 75-100%. Tipologias de habitat -

1: pontos secos; 2: lagoas naturais; 3: barragens pequenas; 4: barragens grandes

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Identificação de espécies de Odonata indicadoras para os diferentes habitats

Na análise dos dados do IndVal, percebe-se que para as espécies de Odonata

existem quatro grupos para uma semelhança superior a 50%. Nas tipologias de habitat

observamos três grupos diferentes sendo que o primeiro engloba os pontos secos e as

barragens de grandes dimensões, com uma elevada semelhança entre eles. As tipologias

de habitat um e quatro (pontos secos e barragens grandes) são as que mais se assemelham,

uma vez que, ambas apresentam um elevado número de espécies com valores de IndVal

baixos, variando entre os 0% e os 3%. A tipologia de habitat três (barragens pequenas)

aproxima-se mais da tipologia de habitata dois (lagoas naturais), pois os valores de IndVal

aumentam para algumas espécies, atingindo os 34%. Por fim, as Lagoas naturais são as

que mais se destacam e diferenciam das restantes, devido a exibirem valores de IndVal

superiores a 15% para a maioria das espécies e alcançando um máximo de 58%. As lagoas

naturais são as que possuem menos semelhança com os restantes, mas mais próxima das

barragens pequenas. Nestas duas tipologias de habitat ocorrem as espécies mais sensíveis,

com baixa capacidade de dispersão e altamente dependentes das massas de água presentes

entre a vegetação. Para os Odonata, não se verifica a ocorrência de espécies indicadoras

para a avaliação das quatro tipologias de habitat. Contudo, apenas para um dos grupos de

habitat (lagoas naturais) algumas espécies aumentam o seu valor indicador,

nomeadamente as espécies E. cyathigerum (Charpentier, 1840), L. virens (Charpentier,

1825) e L. dryas (Kirby, 1890). Espécies como a A. juncea (Linnaeus, 1758) e S.

flaveolum (Linnaeus, 1758) aumentam o seu valor indicador devido a possuírem uma

distribuição reduzida em Portugal. Sendo na Serra da Estrela que se encontram as suas

principais populações, enaltecendo a necessidade de conservação deste local. Para as

barragens pequenas, destacam-se as espécies L. quadrimaculata (Linnaeus, 1758) e Anax

imperator (Leach, 1815), com uma percentagem elevada em relação às restantes.

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36

Figura 15 Análise IndVal para a ordem Odonata. Vermelho: quartil 0-25%; Amarelo avermelhado: quartil 25-50%;

amarelo esverdeado: quartil 50-75%; Verde: quartil 75-100%. Tipologias de habitat - 1: pontos secos; 2: lagoas naturais;

3: barragens pequenas; 4: barragens grandes

Identificação de áreas importantes para a conservação de borboletas e libélulas no

Planalto Superior da Serra da Estrela

Através da análise de complementaridade (Figura 16) obteve-se o número mínimo

de sítios necessários para conservar a riqueza específica registada de borboletas, libélulas

e dos dois grupos em conjunto. Os resultados mostram que apenas são necessários seis

locais para conservar a riqueza de libélulas observada, mas já serão necessários nove se

quisermos apenas conservar a riqueza de borboletas.

IndVal1 IndVal4 IndVal3 IndVal2

Aeshnacyanea 1% 3% 12% 5%

Ceriagriontenellum 0% 0% 8% 0%

Sympetrumfonscolombii 2% 1% 28% 4%

Libellulaquadrimaculata 1% 0% 33% 18%

Lestesviridis 8% 0% 0% 0%

Sympetrumsanguineum 0% 8% 0% 9%

Calopteryxvirgo 1% 14% 4% 17%

Platycnemislatipes 1% 9% 3% 0%

Cordulegasterboltonii 3% 9% 3% 0%

Ischnuragraellsii 2% 3% 2% 2%

Libelluladepressa 0% 10% 0% 0%

Boyeriairene 1% 0% 16% 22%

Aeshnajuncea 0% 0% 21% 23%

Anaximperator 0% 0% 34% 39%

Onychogomphusuncatus 6% 1% 0% 20%

Sympetrumsp. 6% 1% 0% 23%

Pyrrosomanymphula 0% 0% 1% 7%

Calopteryxxanthostoma 0% 3% 6% 27%

Sympetrumflaveolum 2% 0% 2% 15%

Lestesdryas 0% 3% 2% 27%

Sympetrumstriolatum 0% 0% 0% 8%

Lestesvirens 0% 0% 1% 38%

Enallagmacyathigerum 1% 2% 21% 58%

Tipologia de habitat

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37

Figura 16 Resultados da análise de complementaridade da riqueza específica de borboletas,

libélulas e de ambos os grupos de insetos nos locais de estudo.

A conservação da riqueza específica de ambos os grupos de insetos necessita de

um mínimo de 12 dos locais estudados. Como era de esperar esta seleção de locais deverá

incluir uma mistura de barragens (grandes e pequenas) e lagoas naturais, uma vez que os

padrões de riqueza específica das duas ordens estão associados a tipologias de habitat

diferentes. Também se verificou que três locais de cada uma das tipologias - Lagoacho

das Favas (lagoa natural), Covão do Meio (barragem pequena) e Lagoa Comprida2

(barragem grande) - são muito importantes para a conservação de borboletas e libélulas

dado apresentarem valores de riqueza específica considerável e/ou exclusividade de

algumas espécies (Anexo VI e VII).

O Lagoacho das Favas é uma área particularmente rica em libélulas (S=15),

albergando um conjunto de espécies raras como A. juncea, S. flaveolum e S. sanguineum.

Já a barragem do Covão do Meio apresentou uma considerável riqueza específica (S=24),

um pouco inferior à assinalada na barragem do Vale do Rossim, mas contando com várias

espécies pouco frequentes na Serra da Estrela como as borboletas Argynnis adippe e S.

actaea.

A zona mais importante para a conservação das libélulas encontra-se mais

localizada na envolvente da Lagoa Comprida, incluindo as lagoas naturais adjacentes do

Ângelo, Escura e Favas, e a barragem do Covão dos Conchos, estendendo-se até à

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

S_ac

um

Nº de locais de amostragem

Riqueza específica(S)_acumulada_Lepidoptera Riqueza específica(S)_acumulada_Odonata

Riqueza específica(S)_acumulada_Total

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38

barragem do Covão do Meio para incluir duas outras áreas (Rodeio Grande e Covão do

Meio) relevantes para a conservação deste grupo de insetos (Figura 17). Para as

borboletas é necessário conservar um maior número de áreas e áreas mais distantes entre

si, uma vez que estas apresentam comunidades de borboletas com algumas espécies

exclusivas (p.ex. barragem do Vale do Rossim, barragem do Covão do Meio, Lagoa

Redonda (Figura 17).

Estes resultados evidenciam a necessidade de incluir áreas um pouco afastadas

entre si para conservar a riqueza específica de borboletas e libélulas, uma vez que as

comunidades destes grupos tendem a ser mais dissemelhantes quanto maior a distância

entre si. O aumento da dissemelhança na composição de comunidades com a distância é

um fenómeno bem estudado (Nekola & White, 1999; Steinitz et al., 2006), tendo sido

identificados vários fatores que contribuem para o grau de diferenciação das comunidades

com a distância, como a capacidade de dispersão e as condições ambientais.

Apesar de não existir uma grande distância entre os locais de amostragem mais

afastados (aproximadamente 10 Km) e sabendo que os dois grupos estudados apresentam,

de um modo geral, uma boa capacidade de dispersão, foi ainda assim possível identificar

Figura 17 Área de conservação correspondente a cada ordem. Legenda: Odonata

Lepidoptera

Imagem adapatada do Google Earth ®

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39

alguma heterogeneidade na riqueza e composição das comunidades de borboletas e

libélulas. Os locais de amostragem identificados como mais importantes para a

conservação de borboletas e libélulas (Anexo VI) e a área que definem (Figura 16 e Figura

17) encontram-se classificados como Reserva Biogenética pelo Conselho da Europa,

Zona Húmida de Importância Internacional no âmbito da Convenção RAMSAR, e Sítio

de Interesse Comunitário integrando a Rede Natura 2000. Apesar da existência destas

figuras legais de proteção é necessário desenvolver um conjunto de medidas

especificamente direcionadas para a conservação das borboletas e libélulas do Planalto

Superior da Serra da Estrela, a par de um programa de monitorização das suas populações.

As principais causas apontadas para a perda da biodiversidade estão diretamente

relacionadas com as perturbações de origem antrópica, nomeadamente: a destruição, a

fragmentação e a degradação dos habitats; a sobre-exploração de certas espécies ou

comunidades biológicas; a introdução de espécies exóticas e a disseminação de doenças

(Pité & Avelar, 1996; Meffe et al., 1997).Assim sendo deverão ser empregues medidas

de gestão pelas entidades competentes que culminem na conservação das populações de

espécies existentes. O controlo de espécies exóticas, o ordenamento das atividades

recreativas beneficiariam direta e indiretamente as populações em estudo. Contudo, a

medida de maior importância para a conservação de invertebrados é, a proteção dos seus

habitats (Brown, 1992).

Para finalizar, é necessário promover a sensibilização das populações para a

necessidade urgente de conservar a natureza, bem como dar continuidade aos importantes

trabalhos de ecologia e de inventariação da biodiversidade, pois só com um bom

conhecimento científico, alicerçado no reconhecimento da sociedade, poderemos

promover um desenvolvilmento sustentávele compatível com a preservação da

biodiversidade (Marques, 2006).

O Parque Natural da Serra da Estrela, apesar de ser uma área protegida tem sofrido

um conjunto de diversas ameaças. A alteração das atividades agro-silvo-pastoris

tradicionais, os fogos de grande intensidade, o turismo descontrolado, a introdução de

espécies exóticas piscícolas para a realização da pesca desportiva, o corte e o arranque de

vegetação ripícola, as alterações do regime de escoamento da água e a falta de

conhecimento e educação sobre o património natural existente, são os principais

problemas que interferem para a conservação destas áreas (Marques, 2006).

O fato de determinadas espécies ocorrerem em áreas protegidas, por si só, não

garante a proteção das mesmas (Pinheiro et al., 2010). Devido à ausência de informações

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40

detalhadas sobre as necessidades biológicas e ecológicas da grande maioria dos taxa de

invertebrados, a proteção do maior número possível de diferentes ambientes, torna-se a

opção mais prática para a conservação da diversidade que neles se encontra (New, 1997).

Conclusões

O presente estudo inclui-se num conjunto de trabalhos desenvolvidos no âmbito

do projeto “Biodiversidade, endemismos e espécies protegidas associadas às lagoas e

cursos de água da Serra da Estrela: valorização de um século de aproveitamento

hidroelétrico”, financiado pelo fundo “EDP para a biodiversidade 2011”, que procurou

valorizar, divulgar e aumentar o conhecimento científico sobre a biodiversidade de

macroinvertebrados da Serra da Estrela e responder a um conjunto de objetivos gerais e

específicos. Entre esses objetivos contava-se a avaliação da biodiversidade associada às

lagoas e barragens do Planalto Superior da Serra da Estrela através do estudo de vários

grupos taxonómicos, que utilizam esses espaços e as áreas envolvente de modo distinto.

Os resultados deste estudo reforçaram e complementaram as conclusões já obtidas

durante o referido projeto e tornaram evidente a necessidade de incluir grupos animais

com biologias distintas aquando da avaliação da relevância de diferentes habitats para a

conservação da natureza.

Tendo em consideração o principal objetivo desta tese – a avaliação dos padrões

de biodiversidade de borboletas e libélulas associados às lagoas naturais, barragens

pequenas, barragens de grandes e pontos secos – pudemos concluir que os padrões de

biodiversidade foram distintos para os dois grupos taxonómicos considerados. Por

exemplo, os padrões de diversidade de libélulas (que utilizam a vegetação das margens)

foram semelhantes aos obtidos com o estudo de macroinvertebrados aquáticos (que vivem

nas massas de água), onde se concluiu que as barragens de grandes dimensões são pobres

em diversidade e abundância relativa comparativamente às lagoas naturais e barragens

pequenas. Por outro lado, os padrões de diversidade de borboletas (que utilizam a

vegetação das margens para repouso, alimentação e oviposição) são idênticos aos obtidos

com os coleópteros carabídeos (que ocorrem no solo das margens, próximo da interface

terra-água) que ocorreram em maior abundância e riqueza em barragens de grandes

dimensões, sendo as barragens do Vale do Rossim e do Lagoacho, os locais de ocorrência

de muitas espécies exclusivas. O papel bioindicador destas espécies, refere-se à estrutura,

composição e grau de conservação da vegetação das margens, evidenciando aspetos

positivos das grandes albufeiras, quando a sua construção e manutenção não é

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acompanhada da destruição do coberto natural envolvente, nem fomente uma forte

pressão humana que perturbe ou destrua (por pisoteio, etc.) a vegetação das margens.

O bom estado de conservação destes habitats e o seu isolamento são determinantes

para a manutenção de uma riqueza específica elevada e a manutenção de populações de

espécies mais raras. Importa referir que embora a biodiversidade de borboletas e libélulas

dos pontos secos seja menor do que nos restantes habitats, nestas áreas ocorreram algumas

espécies raras no nosso país e características dos ambientes de montanha, com elevado

valor para a conservação da natureza. De entre as espécies encontradas destacam-se as

borboletas Apatura ilia (Denis & Schiffermüller, 1775), C. iphioides (Staudinger, 1870),

C. semiargus (Rottemburg, 1775) e S. actaea (Esper, 1781), referenciadas como

ameaçadas no nosso país e as libélulas A. juncea (Linnaeus,1758) e S. flaveolum

(Linnaeus,1758), extremamente raras em Portugal. Deste modo pudemos constatar que a

utilização de dois grupos-alvo distintos forneceram informação complementar sobre a

relevância de cada um dos tipos de habitat para a conservação da natureza no Planalto

Superior. Hoje em dia é fundamental, que a realização deste tipo de estudos inclua uma

variedade de grupos taxonómicos uma vez que os resultados obtidos com cada um deles

podem ser diferentes, fornecendo informação científica relevante e complementar que

deverá ser tida em consideração na gestão responsável destes espaços de elevado valor

natural.

Foram ainda identificadas áreas importantes para a conservação de borboletas e libélulas

no Planalto Superior da Serra da Estrela, as quais deverão merecer especial atenção das

entidades competentes, por forma a garantir a proteção efetiva destes locais. Dado o seu

elevado valor natural, estas áreas deverão ser alvo de programas de monitorização de

biodiversidade focados no estudo de borboletas e libélulas, entre outros grupos potenciais,

por forma a identificar atempadamente alterações nas comunidades naturais que ameacem

a biodiversidade da Serra da Estrela.

Desta forma procurou-se contribuir para o esforço nacional e internacional para o

melhor conhecimento da biodiversidade de invertebrados disponibilizando informação

relevante para a melhor gestão das populações de borboletas e libélulas da Serra da

Estrela.

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54

Anexo I

Anexo I.1 Locais de amostragem com indicação da tipologia e a respetiva cota de altitude

e localização (latitude e longitude no Datum Lisboa Hayford Gauss IGeoE).

Local Tipologia Altitude Latitude Longitude

Covão do Forno Artificial 1576m 377914.17 242218.00

Lag

oas

Covão do Curral Artificial 1475m 378140.37 241903.66

Covão dos Conchos Artificial 1636m 377345.75 244483.27

Lagoa do Covão das Quelhas Natural artificializada 1817m 373361.55 243032.25

Lagoa Serrano Natural artificializada 1798m 373405.87 242636.09

Lagoa do Covão do Meios Artificial 1657m 373957.64 242731.88

Vale do Rossim 1 (NE) Artificial de grandes dimensões 1435m 381341.40 246736.60

Vale do Rossim 2 (SO) Artificial de grandes dimensões 1450m 380985.00 245966.67

Lagoacho 1 (Oeste) Artificial de grandes dimensões 1433m 379571.20 243244.47

Lagoacho 2 (Sudeste) Artificial de grandes dimensões 1441m 379168.26 243443.05

Lagoa Comprida 1 Natural artificializada de grandes

dimensões

1603m 377382.13 241675.46

Lagoa Comprida 2 Natural artificializada de grandes

dimensões

1601m 376833.17 242956.74

Lagoa Seca Natural temporária 1625m 378187.31 242627.93

Lagoa Redonda Natural permanente 1616m 378070.46 243180.19

Lagoacho das Favas Natural temporária 1645m 377331.37 242198.38

Lagoa Escura Natural permanente 1670m 376381.48 242064.00

Lagoa do Ângelo Natural permanente 1738m 376158.51 242511.50

Lagoa da Francelha Natural permanente 1765m 373566.60 242474.42

Ponto

s se

cos

Corgo das Mós

1492m

381547.46

247574.14

Vale das Éguas 1477m 381373.19 247963.89

Vale de Perdiz 1425m 382289.39 245745.30

Erva da Fome 1457m 380480.91 244988.35

Lagoacho seco 1410m 380626.16 244042.90

Entre a Redonda e a Seca 1640m 378572.57 242842.79

Depois da Lagoa Seca a Oeste 1619m 378165.20 242536.28

Penha do Gato 1696m 375864.06 239825.61

Ponto seco dos Conchos 1706m 377198.01 244012.70

Torre 1927m 372219.45 243753.24

Fonte dos Perus 1867m 375156.46 243456.52

Rodeio Grande 1838m 374838.30 241684.81

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55

Anexo II

Anexo II.1 Valores da abundância relativa (N), riqueza específica (S), equitabilidade (E)

e índices de diversidade e dominância ( H’ e 1/d respetivamente) por local de tipologia

para a ordem Lepidoptera.

Tipologia Ano Local N S H' E (H'/H'max) d

1 2013 Cor_PS 67 21 2.69909 0.88654 6.7

1 2013 Per_PS 42 12 1.97994 0.79679 2.47059

1 2013 Fom_PS 99 22 2.73125 0.8836 7.07143

1 2013 Red_PS 18 11 2.21226 0.92258 3.6

1 2013 Pen_PS 39 19 2.7764 0.94293 5.57143

1 2013 Con_PS 10 6 1.64342 0.91721 3.33333

1 2013 Tor_PS 25 10 2.1025 0.91311 4.16667

1 2013 Fon_PS 9 5 1.42706 0.88668 2.25

1 2013 Rod_PS 25 10 1.96333 0.85266 2.77778

2 2013 Sec_Nat 22 8 1.66633 0.80134 2.2

2 2013 Red_Nat 20 11 2.15132 0.89717 4

2 2013 Fav_Nat 61 14 2.38013 0.90189 4.35714

2 2013 Esc_Nat 60 17 2.36354 0.83423 4.61538

2 2013 Ang_Nat 33 13 2.21883 0.86506 3.3

2 2013 Fra_Nat 54 15 2.3788 0.87842 4.5

3 2013 For_Bar 34 14 2.36392 0.89574 5.66667

3 2013 Cur_Bar 97 21 2.63051 0.86401 5.38889

3 2013 Con_Bar 40 13 2.07697 0.80975 2.5

3 2013 Que_Bar 21 12 2.37565 0.95603 7

3 2013 Ser_Bar 28 17 2.63251 0.92916 4.66667

3 2013 Mei_Bar 99 17 2.44255 0.86211 4.95

4 2013 Ros1_BarG 81 25 2.78664 0.86572 5.78571

4 2013 Ros2_BarG 44 22 2.89366 0.93614 7.33333

4 2013 Lag1_BarG 36 12 2.30815 0.92887 6

4 2013 Lag2_BarG 67 14 2.23403 0.84653 3.52632

4 2013 Comp1_BarG 25 9 1.9916 0.90642 3.125

4 2013 Comp2_BarG 67 18 2.41038 0.83393 3.52632

1 2014 PerPS 55 18 2.67035 0.92388 6.11111

1 2014 PenPS 12 7 1.82008 0.93533 4

1 2014 Com PS 51 8 1.27836 0.61476 2.21739

1 2014 Tor PS 35 13 2.09848 0.81814 3.18182

1 2014 Fon PS 14 6 1.53672 0.85766 2.33333

1 2014 Rod PS 18 7 1.69041 0.8687 2.57143

1 2014 EguPS 102 18 2.16987 0.75072 3.64286

1 2014 LagPS 34 14 2.39523 0.90761 5.66667

1 2014 SecPS 38 12 2.04364 0.82242 3.16667

2 2014 Sec_Nat 34 8 1.45738 0.70085 2

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56

Tipologia Ano Local N S H' E (H'/H'max) d

2 2014 RedNat 55 16 2.11925 0.76436 2.3913

2 2014 Fav_Nat 24 10 2.06883 0.89848 3.42857

2 2014 EscNat 29 16 2.6322 0.94937 7.25

2 2014 Ang_Nat 30 15 2.47089 0.91242 5

2 2014 Fra_Nat 22 10 2.16129 0.93864 5.5

3 2014 For_Bar 40 14 2.06321 0.7818 2.22222

3 2014 CurBar 54 17 2.45734 0.86733 4.5

3 2014 ConBar 40 14 2.1962 0.83219 3.33333

3 2014 QueBar 26 12 2.2913 0.92209 4.33333

3 2014 Ser_Bar 16 10 2.18732 0.94994 5.33333

3 2014 MeiBar 48 17 2.498 0.88168 4.8

4 2014 Ros1_BarG 66 22 2.80105 0.90618 5.5

4 2014 Ros2_BarG 45 20 2.77166 0.9252 9

4 2014 Lag1_BarG 45 18 2.57609 0.89127 4.5

4 2014 Lag2_BarG 70 24 2.77979 0.87468 5

4 2014 Comp1BarG 30 17 2.44212 0.86196 3.75

4 2014 Comp2BarG 45 15 2.40789 0.88916 5

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57

Anexo III

Anexo III.1 Valores da abundância relativa (N), riqueza específica (S), equitabilidade

(E) e índices de diversidade e dominância ( H’ e 1/d respetivamente) por local de

tipologia para a ordem Odonata.

Tipologia Ano Local N S H' E (H'/H'max) d

1 2013 Per_PS 2 2 0.693147 1 2

1 2013 Fom_PS 17 4 0.916068 0.660803 1.416667

1 2013 Red_PS 58 5 0.549265 0.341277 1.16

1 2013 Con_PS 13 4 1.031767 0.744263 1.625

1 2013 Fon_PS 1 1 0 - 1

1 2013 Rod_PS 2 1 0 - 1

2 2013 Sec_Nat 52 4 1.006924 0.726342 1.575758

2 2013 Red_Nat 141 7 1.478879 0.759994 2.711538

2 2013 Fav_Nat 233 8 1.562554 0.751429 2.588889

2 2013 Esc_Nat 193 5 0.921851 0.572778 1.595041

2 2013 Ang_Nat 95 6 1.166258 0.650901 1.9

2 2013 Fra_Nat 205 6 1.150377 0.642038 1.708333

3 2013 For_Bar 42 5 1.198078 0.744408 1.909091

3 2013 Cur_Bar 284 8 0.921263 0.443034 1.42

3 2013 Con_Bar 186 9 1.126477 0.512682 1.55

3 2013 Que_Bar 63 4 1.002698 0.723293 1.615385

3 2013 Ser_Bar 59 6 1.605473 0.896032 2.458333

3 2013 Mei_Bar 26 6 1.444208 0.806028 2.888889

4 2013 Ros2_BarG 2 2 0.693147 1 2

4 2013 Lag1_BarG 9 3 0.848686 0.772507 1.5

4 2013 Lag2_BarG 1 1 0 - 1

4 2013 Comp1_BarG 14 4 1.19734 0.863698 2.333333

4 2013 Comp2_BarG 14 6 1.611472 0.89938 3.5

1 2014 Per_PS 1 1 0 - 1

1 2014 Con_PS 69 4 1.121454 0.808958 2.3

1 2014 Tor_PS 1 1 0 - 1

1 2014 Fon_PS 5 2 0.500402 0.721928 1.25

1 2014 Rod_PS 6 4 1.242453 0.896241 2

1 2014 Lag_PS 1 1 0 - 1

1 2014 Sec_PS 5 3 1.05492 0.96023 2.5

2 2014 Sec_Nat 118 6 1.279064 0.713859 2.36

2 2014 Red_Nat 73 8 1.659696 0.798145 3.173913

2 2014 Fav_Nat 132 9 1.537343 0.699675 2.4

2 2014 Esc_Nat 33 4 1.102593 0.795352 1.736842

2 2014 Ang_Nat 45 5 1.341999 0.833831 2.647059

2 2014 Fra_Nat 91 9 1.907632 0.868201 3.033333

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Tipologia Ano Local N S H' E (H'/H'max) d

3 2014 For_Bar 30 2 0.325083 0.468996 1.111111

3 2014 Cur_Bar 6 2 0.450561 0.650022 1.2

3 2014 Con_Bar 88 9 1.716037 0.781002 3.142857

3 2014 Que_Bar 16 5 1.160186 0.720864 1.6

3 2014 Ser_Bar 26 6 1.768515 0.987027 4.333333

3 2014 Mei_Bar 14 9 2.069202 0.941735 4.666667

4 2014 Ros1_BarG 1 1 0 -! 1

4 2014 Ros2_BarG 11 5 1.46814 0.912207 2.75

4 2014 Lag2_BarG 8 4 1.213008 0.875 2

4 2014 Comp1_BarG 59 7 1.020223 0.524291 1.685714

4 2014 Comp2_BarG 29 6 1.222088 0.68206 1.705882

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Anexo IV

Anexo IV.1 Lista de espécies identificadas de cada uma das ordens estudadas

Espécies de Lepidoptera Espécies de Odonata

Aglais io Aeshna cyanea

Aglais urticae Aeshna juncea

Anthocharis cardamines Anax imperator

Argynnis adippe Boyeria irene

Argynnis aglaja Calopteryx virgo

Argynnis pandora Calopteryx xanthostoma

Argynnis paphia Ceriagrion tenellum

Aricia cramera Cordulegaster boltonii

Brintesia circe Enallagma cyathigerum

Callophrys rubi Ischnura graellsii

Celastrina argiolus Lestes dryas

Coenonympha iphioides Lestes virens

Coenonympha pamphilus Lestes viridis

Colias crocea Libellula depressa

Cyaniris semiargus Libellula quadrimaculata

Gonepteryx rhamni Onychogomphus uncatus

Hesperia comma Platycnemis latipes

Hipparchia fidia Pyrrosoma nymphula

Hipparchia hermione Sympetrum flaveolum

Hipparchia semele Sympetrum fonscolombii

Hipparchia statilinus Sympetrum sanguineum

Hyponephele lycaon Sympetrum sp.

Iphiclides feisthamelii Sympetrum striolatum

Issoria lathonia

Lampides boeticus

Lasiommata maera

Lasiommata megera

Leptidea sinapis

Leptotes pirithous

Lycaena alciphron

Lycaena phlaeas

Maniola jurtina

Melanargia lachesis

Melanargia russiae

Melitaea deione

Melitaea nevadensis

Melitaea parthenoides

Nymphalis antiopa

Nymphalis polychloros

Pararge aegeria

Pieris brassicae

Pieris napi

Pieris rapae

Plebejus argus

Polygonia c-album

Polyommatus icarus

Pontia daplidice

Pyrgus malvoides

Pyronia tithonus

Satyrus actea

Thymelicus lineola

Thymelicus sylvestris

Vanessa atalanta

Vanessa cardui

Vanessa virginiensis

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Anexo V

Anexo V.1 Lista de abreviaturas dos nomes dos locais de amostragem e da tipologia de

habitats.

Código dos

locais

Locais

Código da

Tipologia Tipologia

For Covão do Forno Bar Barragem pequena

Cur Covão do Curral Bar Barragem pequena

Con Covão dos Conchos Bar Barragem pequena

Que Covão do Quelhas Bar Barragem pequena

Ser Lagoa Serrano Bar Barragem pequena

Mei Covão do Meio Bar Barragem pequena

Ros1

Barragem do

Rossim 1 BarG Barragem de grandes dimensões

Ros2

Barragem do

Rossim 2 BarG Barragem de grandes dimensões

Lag1

Barragem do

Lagoacho 1 BarG Barragem de grandes dimensões

Lag2

Barragem do

Lagoacho 2 BarG Barragem de grandes dimensões

Comp1 Lagoa Comprida 1 BarG Barragem de grandes dimensões

Comp2 Lagoa Comprida 2 BarG Barragem de grandes dimensões

Sec Lagoa Seca Nat Lagoa natural

Red Lagoa Redonda Nat Lagoa natural

Fav Lagoacho das Favas Nat Lagoa natural

Esc Lagoa Escura Nat Lagoa natural

Ang Lagoa do Ângelo Nat Lagoa natural

Fra Lagoa da Francelha Nat Lagoa natural

Cor Corgo das Mós PS Ponto Seco

Per Vale de Perdiz PS Ponto Seco

Fom Erva da Fome PS Ponto Seco

Red Redonda Seco PS Ponto seco

Pen Penha do Gato PS Ponto seco

Con Conchos Seco PS Ponto seco

Tor Torre PS Ponto seco

Fon Fonte dos Perús PS Ponto seco

Rod Rodeio Grande PS Ponto seco

Egu Vale das Éguas PS Ponto seco

Lag Lagoacho Seco PS Ponto seco

Sec Seca seco PS Ponto seco

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Anexo VI

Anexo VI.1 Resultados da análise de complementaridade com indicação dos locais de

amostragem mais relevantes para a conservação de cada ordem, separadamente (Odonata

e Lepidoptera) e em conjunto, mais relevantes e a sua contribuição para a riqueza

específica acumulada (S_acum).

Número

de locais

S_acum

Lepidoptera

Locais

Lepidoptera

S_acum

Odonata

Locais Odonata S_acum

Total

Locais Total

1 34 Barragem do Rossim1

15 Lagoacho das Favas

36 Barragem do covão do Curral

2 41 Barragem do Rossim2

19 Barragem do

Covão dos

Conchos

52 Barragem da lagoa Comprida1

3 45 Barragem do

Covão do Meio

20 Lagoa do Ângelo 59 Barragem do

Rossim2

4 48 Lagoa Redonda 21 Rodeio Grande 63 Barragem do Rossim1

5 50 Erva da Fome 22 Barragem do Covão do Meio

66 Lagoa Redonda

6 52 Barragem do covão do Curral

23 Barragem da lagoa Comprida2

69 Barragem do Covão do Meio

7 53 Barragem do Lagoacho1

23 71 Barragem da lagoa Comprida2

8

54 Lagoacho das Favas

23 73 Lagoa do Ângelo

9 55 Barragem da lagoa Comprida2

23 75 Barragem do Lagoacho1

10 55 23 76 Rodeio Grande

11 55 23 77 Lagoacho das Favas

12 55 23 78 Barragem do

Covão dos

Conchos

13 55 23 78

14 55 23 78

15 55 23 78

16 55 23 78

17 55 23 78

18 55 23 78

19 55 23 78

20 55 23 78

21 55 23 78

22 55 23 78

23 55 23 78

24 55 23 78

25 55 23 78

26 55 23 78

27 55 23 78

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