Ana Z. aonde vai você?

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O fundo do poço. Pode existir alguma coisa além dele? É o que Ana Z. vai descobrir, realizando uma viagem fantástica e conhecendo paisagens e figuras insólitas. Neste romance mágico, você vai acompanhar a trajetória de Ana por caminhos inesperados, rumo a um final surpreendente.

Citation preview

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    1/45

    m a r i n a c o l a s a n t i A N A Z .' ) ; A Q N D E V A I V O G E ?

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    2/45

    T E X T OE d i t o r

    F e rn a nd o P a ix aoA s s e s so r a e d i to r ia l

    C a rm e n L uc ia C am p o sP r e p a r a d o d e o c ig in a is

    R u th K lu sk a R o s aR e v i s a o

    C e l i a C r i s ti n ad a S il v aS u p le m en to d e I ei tn ra

    C a n d i d a B , V , G a n ch o e A n t o nio C a r lo s O l i v ie ri

    A R T EE d i t o r

    A r y A , N o r m a n haC a p a e i lu st ra co esM a r i na C o l as a nt iD i a g r a m a c a o

    A ry A , N o r m a n haF u k uk o S a i to

    A n to n i o U , D o m ie nc ioC o m p o s i d o

    E d so n V a nd er d e O l iv e i r aP a gi na ~ iio e m v id eo

    M a r c o A n to ni o F e r na nd es

    Impressa n a~ "~ 8 ' ; i c t od ' .

    IS BN 85 0 8 0 43 35 X2 0 0 2

    T o d o s o s d ir ei to s r e s er v a d os p e la E d it o ra A t ic aR u a B a r n a d e l g u a pe , 1 10 - C E P 0 15 07 -9 00

    C a i x a P o s t a l 2 93 7 - C E P 0 10 65 -9 70S a o P a u l o - S P

    T e l , : O X X 1 13 34 6 - 3 00 0 - F ax : O X X 1 13 27 7 - 4 14 6I n t e r n e t : h t t p : / / w w w . a t i c a . c o m . b re - m a i l : e d i t o r a @ a t i c a . c o m . b r .

    (),)))

    " )))

    \))))))))))

    , ). ))))

    \ )))

    , ))))))))) )) )

    )) D e repente,r o c e encontra u ma velhaJricotand o u m fio de aqu a8, ad iante , um hom em~zul m ontado num)amelo. Voce pode))ensar que se tra ta deym sonho e be lisca 0or6prio brace ...E sp an ta do , 'd es co bre q ue,~ao esta dorm indo e que)s im agens que ve sao.eais.

    o que acon teceria se are alid ad e s e re ve la ss ema is tan tastica do que aimaqinacao?E a partir de umas ituacao comum queAna Z . - pe rsonagemp rin cip al d es te liv rom aqico de M arina

    C ola sa nti -c i rcunstanciae xtra ord in a r ia , o nd e 0absurdo e 0 inesperados e to rn am p oss ive is.E e la ve rdade iramen tenao esta sonhando ...E rn b ar qu e ne ss a a ve n tu rasurpreen de nte jun to co mAna, para conhecer ummundo de multip les einc r ive is poss ib il idades .D es cu bra c om o,a tra ve s d a Iite ra tu ra .se in te rp ene tram son hoe rea lidade na vidade uma men ina queestacrescendo. Ao fina ld o liv ro , le ia ta rn be rnum a entrevis ta emque a escrito ra fa lasobre sua v ida e suaobra.

    http://www.atica.com.br/mailto:[email protected]:[email protected]://www.atica.com.br/
  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    3/45

    o F U N D O R E C O M E ~ O 79 )----------~----------)e n F I M 81~--~----------------)E N T R E V IS T A C O M M a r i n a C o l a s a n ti 83 )O B R A S D A A U T O R A 88 ' ) )..;;.....;;;..;.;.;......;.;;;~;.....;..;::;.....;:;...;...;.~----- ) )

    )) )

    ()- - )SUM ARIa:~A N A Z . 7 )C O M E C A N D O D O F U N D O 8 )T O U P E IR A Q U A S E C E G A , Q U A S E M U D A 1 1 . SM U lT O O U R O , S E M T E S O U R O 13 )E S S E L U G A R E D E M O R T E 17 ')D E G R A o E M G R A o A N A A V A N C A 24 I'),

    , )U M D E S E J O D E M U IT O S D E S E J O S 29 )~ O N _ D _ E _ E _ L A ~ S E _ M _ E _ T ~ E U ~ ? ~ 3 ~ 2 )Q U E M C O N T A U M C O N T O 34 )-----------------------M A IS C A R A Q U E U M C A M E L O 40 r )D E V E N T O E M P O P A 46--------------------~)D E V E N T O E M V E N T O 51----------------------)_ A ~ C I_ D A _ D _ E ~ S _ E M ~ IG ~ U A ~ L ~ 5 ~ 3 ~ )o Q U E O S O L H O S N A o V E E M 62 )U M S A L T O R U M O A s E S T R E L A S 68 )A A C ,A O IM P R E V IS T A 69--~-------------------)E R A U M A V E Z 0 O E S T E 72D E V O L T A A O C O M E ~ O 75 )

    I )

    , )

    ! )

    )))))

    )))))))))))))))))))))

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    4/45

    P a r a D a n i e la C o l a s a n ti ,m in h a s o b r in h a ( )

    )

    ( ))

    )))

    \ ))

    I )

    ))

    )

    )I )

    )))

    I )

    I )

    ))

    I )

    ))

    )-------------------------------------))))) E) sta hist6ria com e~a com Ana debrucada a)?eira de ~m ~o~o . A cho que chego u ali p~r acaso , m as nao po ssoJurar. N ao ser nem m esm o se 0 po~o esta num campo , ou num)jard im . A verdade e que nao sei nada da vida de Ana antes deste)m om ento . Sei que a letra Z e do seu sobrenom e, m as igno ro as) ou tr as le tr as . D e sc o nh ec o tu d o 0 m ais a re sp eito d ela. E u a e nco n-)tro co mo vo ces, p ela p rim eira vez, m en ina a beira de urn poco ,em qu e ag ora se d ebru ca.) Ana quer ver a agua no fundo . E p ro va ve l q ue q uis es se a te)ver 0 seu reflexo . M as nao ve. Po r m ais que o lhe, ve s6 um a escu-li~ao re~onda ~ comprida, com o urn tun.e l em pe. E nenhumb rilho la ernb aixo . E ntao co spe, para O UV lr0 barulho do cuspe)batendo na agua,) E talvez para o uvir m elho r que inclin a a cabeca urn po ucoJde lado e estica 0 pesco co . M as nesse gesto ... p laft! 0 co lar de)contas b rancas, con tas que eu vi bern antes d.e~a se inclinar, eque sao de m arfim , cada uma entalhada no feitio de um a ro sa ,)prende-se no bo tao da blusa , e parte-se. Num instante , uma)ap6s a outra, com o m eninas em fila ou go tas de cho ro , as contasyaem na escuridao do po~o . E Ana, sem tem po para reagir, ve)cada co nta to rnar-se um a m ancha branca, depo is m anchinhab ran ca, p on to b ra nco , p on tin ho , b ran co n en hu m.) L a em baixo , nada se m exe. N em A na ouve qualquer baru-)lho de agua,) "M eu co lar! " , pensa com fo rca, quase pudesse pesca-lo comseu desejo . M eio que cho ra, m eio que o lha em vo lta pro curando\o lu~ao . Po is so lucao tern que haver para co lar tao querido .) ]a vai esfregar o s o lh os para co m a lagrim a apagar a ard en-)cia , quando estes veern o s degraus, e nao querem m ais saber de/sfrega~ao . N ao sao degraus de verdade, feito o s da escada dacasa de A na. Sao degraus de ferro , escuro s de ferrugem , crava-)

    A n a Z .

    ))

    7

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    5/45

    ( ) )do s com o alcas nas paredes do poco . N ao tern urn ar m uito ani- ) )mado r, nem rnuito firme. M as e po r eles que Ana pode ir bus-car as co ntas do seu co lar. )

    Vam os descer com Ana. D evagar. Passar uma perna po r ) )c im a d o p oc o, te sta nd o 0 d eg ra u c om 0 pe , 0 co rp o a in da m eta de \ ) )para fo ra m etade para dentro . Ago ra a outra perna. Cu idado . ) )A beira do po~o e esco rregadia, as paredes sao cheias de lim o.Ana nao sabe se suas rnao s estao suando , ou se e a um idade do s: ) )d eg rau s, m as se gu ra firm e. O s p es ta te ia m. 0 c orac ao e sta m uito ) )m ais apressado qu e ela . U rn degrau. O utre. M ais urn . )- A final - diz Ana baix inho , tentando m inim izar a des-cida -, urn po co e s6 um a cham ine ao contrario . )

    Depo is d o s c in co p rim e ir os d eg ra us , s en te -s e m a is c o nf ia nte . ) )Nao em relacao ao po~o , mas em relacao ao s degraus. Ja sabe ) )que eles agiientam , p ode descer. S6 nao sabe 0 que a espera laembaixo . ) )

    D escendo , enquanto cuida de m anter 0 m ed o q uie tin ho )no fundo do estom ago , Ana perde a conta do s degraus. Sabe ) )que sao m uito s. O lha para cim a, pro curando ter um a ideia dad istan cia . V e, d os lad es, 0 escuro do poco , a boca la no alto , ) )re do nd a, lu rn in osa . E , a m edida que desce m ais, e m ais, 0 escuro : ) )parece crescer, a bo ca vai dim inuindo . A te ficar redondinha e ) )p eq ue na, esp ecie d e lu a clara em n eg ro c eu , A na esta ju stam en te ) )o lh an do p ara e la , q uan do 0 pe, ja aco stum ado com os degraus, 'leva urn su sto . D e rep ente, to co u 0 chao . ) )

    )

    C o m e c m d o d o f u n d o ) )) )) )

    C o m o s do ispes no chao e as rnao s ainda no s I ) )) )degraus, para po der fug ir depressa se fo r precise, A na ten ta ver ) )algum a co isa ao redo r. Esta tudo tao preto , que a principio naoco nsegue enxerg ar n em m esm o seus pes. Po rern, ao s p ouco s, o s ) )o lho s se aco stum am . E com o se a lua la no alto tivesse saldo de )tras de alguma nuvem , Ana comeca a entrever a presen~a de )um a p es so a s en ta da . ) )8 ) )

    ) ))

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    6/45

    ( ).- O la - diz a pesso a, com a delicadeza de quem acha )

    pe_rfeltam ente no rm al ver um a m enina chegar ao fundo do pr6- )pno po ~o .- O i - responde Ana, que ago ra distingue claramente I )um a senho ra de cabeca branca. \ )

    Po r cim a do seu trico , a senho ra so rri. Em punha duas agu- )lh as v erm elh as, g ran do nas, e 0 fio sai de dentro de urn balde.A na estranha. Po r que 0 balde? M as a pergunta que Ana trouxe Iconsigo la de cim a nao agiienta esperar, e pula na frente, antes'de qualquer outra. )

    - Po r acaso , a senho ra viu as contas do meu co lar caindoaqui embaixo ? - pergun ta com sua voz mais gentil. )

    - Ahhh! ?Eram contas?? - desapo ntada, a senho ra deixa )cair 0 tr~co no regaco . O lha para cim a, com o se pesquisasse )a qu ele d istan te p e.d a~ o d e ceu, E diz para si mesm a: - Que. )p~na.:. -. D epo is, para Ana: - Pensei que fo sse granizo .F iquei t~o content~! ... A ge~te bern que precisava de urn po uco ' )de gra01zo - suspira pensativa . - H i tanto tempo nao chove. i )

    E logo , vo ltando a so rrir: - M as se sao contas . .. devem )estar po r ai no chao , devem ter ro lado . Pro cure, m enina, pro cure ( )q ue v oce ach a... De co .co rasprim eiro , depo is de quatro - que se dane a )

    sU Jeua no s jo elho s -, Ana vai passando a m ao pelo chao , bus- ( )cand o as m anchas m ais claras, reco lhendo , um a po r um a, as ro sas ( )de marfim.ja tern tantas na palm a esquerda, que nem co nseguefechar o s dedo s. E nenhum a m ancha branca brilha m ais na escu- ( )r id a o. E n ta o s en ta -s e e , e n fi le ir ando a s c o n ta s, t en ta r ec ompor 0 co lar. ( ), ,M _aspo r ~ais que ajeite, que conte e tome a contar, nao )

    ha duvida, ~sta faltando um a. E logo a mais bonita, a m aio r,aquela que ficava bern no centro , a que ela go stava tanto de ali- )sa r c om 0 dedo . . ( )

    - Falta uma! - exclama, quase pensando em voz alta . )A senho ra , que ji havia retom ado seu trice, para outra vez, ' ')o bservando a d ecepcao de Ana. Que pergunta: '- A senho ra nao viu... I )- Nao , m inha filha, nao vi nao , eu estava trico tando ... ' )

    M as, se nao est a al, s6 pode ter sido urn do s peixes ... achou )bo n it a, e ngo l iu . \ )

    -) - Peixes??? Cade peixes, se nao tern agua nenhum a?) E Ana o lha em vo lta , naquele poco seco , quase querendocomprovar 0 q ue d iss e.) - Po is ai eque esta ' - exclama a senho ra, contente de

    ) poder enfim desabafar. - Eu falei, vo ce nem prestou atencao ...) A gui ?aO ch?,ve hi r:1 Uito , m ui~ issim o tem po . E m eu s p eix es,coitadinhos, ja nao tern com o vrver. Esto u trico tando para eles) este ultimo fio de agua que guardei no balde, m as ...) - Trico tando agua!?) - C laro , menina. V oce nao tern ideia de quantas co isasse podem fazer com urn fio d'agua. Pareee poueo , m as nao e.

    ) D a para urn bo rn co berto r, fresquinho , limpinho ... Nao tern) nada m elho r. So bretudo para peixes. E nao rasga, sabia?) - M as o nde estao o s peixes? - pergunta Ana, mais inte-ressada n~ sua co nta do que na utilidade de urn co berto r d'agua,

    ) - E isso , eles nao quiseram esperar eu aeabar ... Fo ram po r) ali, nessa aguinha do fundo - e a velha senho ra aponta arras de si.) Ana o lha para 0 c ha o. A giiin ha , e xa tame nte n ao se p od eriadizer. E pouco meno s que urn file te, pouco mais que uma um i-

    ) dade. M as para peixes esperto s, talvez ... A na aco mpanha co m 0) pe aquele m olhado , anda alguns passo s de o lhar eravado no chao ,) ~ao fo ss~ perder a tal aguinha o u pisar em algum peixe retardata-) no . E ers que, de repente, quando eu ja estava com medo delaesbarrar n a parede do po ~o , dam os de eara as duas co m um a aber-

    ) tura em . arco , ,em que nao haviamos reparado antes po r causa) da escuridao . E a entrada de uma especie de longo co rredo r, de) onde so pra urn vento zinho frio com o urn outono .)----------------------------------; T o u p e i r a q u a s e ( e g a , q u a s e m u d a)) Adiante pareee ate mais escuro que 0 resto .) M as Ana ago ra enxerga que nem gato . E , se tern medo , a von-i tade de ir em frente e mu ito m aio r. E stic an do 0 ro sto , quase a

    \ ) farejar 0 d es co nh ec id o, a ba ix a-s e u rn p ou co , p as sa p ela a be rtu ra ,co meca a avancar.)

    10 . ) ') .11I ) )) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    7/45

    I, )E d iferen te aqu i. A s paredes, em certo s trecho s, parecem )

    talhadas: na ro cha , sao asperas , em po eiradas. 0 chao e cheio de )p ed ra s, d e b ur ac os , c om p le tam en te ir re gu la r. E p r ec is o cu id adopara andar. E , po r to do lado , e stacas de m ade ira esco rando 0 I )te to e as paredes o brigam Ana a se aba ixar, se esgueirar. \ )

    "M elho r", pensa ela , querendo asso prar nas brasas da sua )co ra ge m q ue am eacam se ap ag ar. "S e e sta esco rad o, p elo m en osnao ca i na m inha cabeca.' )M al acabo u de pensar, p lo ft! U rn to rrao de terra cai bern )perto do seu pe. S ob re ssa ltad a, A na p ula p ara tras. A alturam esm o do s seus o lho s, u rn buraco apareceu na parede.Um ,b uraco pe qu en o, d e b eiras saltad as , q ue p arece m ov er-se , v orn i- )tando urn resto de lam a e cascalho . E de o nde surge prim eiro )l_ :!m aa tin ha , d ep ois, re pe ntin o e ra pid o, u rn fo cin ho d e to up eira . )E urn instan te , lo go ele se reco lhe. M as A na v iu 0 pelo , 0 nariz )barreado .

    "A on de sera q ue ela v ai?" , p ergu nta-se A na, im ag in an doo c on tin uo tra ba lh o d aq ue la s p atin ha s, 0 fo cin ho f orc eja nd o n oe s tr e it o e s cu r o ." Se ra q ue te rn p re ssa d e c he ga r a a lg um lu ga r? ", p erg un ta -s e a in da . " Ta lv ez a to ea d ela , o u ao s filh otes . O u sera q ue aind a r )

    e so lte ira e s6 cava, co rrendo , co rrendo , po rque e toupe ira e a )unica co isa que saber fazer e cava r?" ( )

    Bern que A na go staria deestar em um a daquelas h is t6 rias ,em que o s an im ais fa lam , cheio s de sabedo ria . Po deria te r en tao )u ma b ela co nv ersa esclare ced ora , ap re nd er tu do so bre a v id a e r )o s sen tim en to s das to upeiras. M as nao esta , a to upeira ja sum iu . \ )E ela p r6p ria tern m ais 0 que fazer adian te . )

    S 6 e ntao se d a c on ta d e q ue n ao se d esp ediu d a v elh a se nh o-ra . O lh a p ara tras , ten tad a. S eria u ma b oa d escu lp a p ara v oltar,d e si st ir d a p ro c ur a.A f rente , 0 n in el s er pe nte ia , te nta do r. B rilh a f ra ca , n o f un -d o, u ma c la rid ad e.

    "Bo bagem ", pensa A na, sen tindo crescer a vo n tade deexp lo rar. "E la estava tao in teressada no trice , nem percebeu que )eu sai, D e qualquer je ito , yo u. ter que vo ltar po r aqu i m esm o. f )Nao dem o ro , fa lo com ela depo is ." )

    E c on tin ua e m fre nte .12

    )) Lo go percebe que a luz nao vern do fundo _ 0 fu n d o ta l-v ez este ja lo ng e. V ern d e u ma cu rv a.) T ac, tac , vern tarnbern da curva urn estranho baru lho . A na)engo le em seco , co mo se estivesse co m sede. "A agua", pensa,)"faz m esm o um a falta eno rm e aqu i em baixo . E nao s6 para o s)p eix es" . C am in ha, v ai c heg an do cad av ez m ais p erto . T ac , tac ,faz-se m ais alto e a sp ero 0 b aru lh o. A na esta q uase ch eg an do .)Le va nt a u ma p ern a, d em oran do b ern m ais q ue 0 necessa r io , pa ra)p assar p or cim a d e u ma estac a. D ep ois, le nta men te , b ern len ta-)mente , 0 m a is le ntam en te p o ss iv el, v ira a c ur va .

    E q uase esb arra n um m in eiro .))-------------------------------------) M u i t o o u r o , s e m t e s o u r o)))

    )

    ))

    ,J

    ~ . Q ue e urn m ine iro ela sabe no ato ; p o rque es-) r a su jo co mo u rn lim pad or d e c ha min es , p orq ue u sa aq uele ca pa-cete co m lim p ada na cabeca e, so bretudo , po rque esta co m um alesp ecie d e p icareta n a m ao , tiran do p ed aco s d a ro ch a.) E , no exato m om enta em que sabe que e urn m ineiro ,)A na percebe tam bem que aquele estranho co rredo r e sim ples-m en te urn brace de m ina.) Tac, tae . En tao era este 0 ba ru lh o. A p on ta de fe rro d a p ica-) re ta batendo na parede de ro cha . 0 m ineiro traba lhando , com) aq u ele s o lz in h o p o rt at il n a te st a, t ir an d o p e da co s d a s t ri pa s d a t er ra .o so lz in ho v ira -se p ara A na , q ua se a o fu sc a, 0 ho mem diz) q ua lq ue r co isa , A na n ao en ten de d ire ito , v e 0 b rilh o d o s d en te s)_ com o brilham no ro sto tao preto de po ! D epo is 0 so lz inho)se deslo ca, e de no vo , tac , tac , a p icareta na pedra . 0 m ineiro) vo lto u ao se,u trab~ lho . .. _ O la _ d iz A na, respo ndendo a qualquer co rsa q ue ele) p oss a te r d ito , e m b o ra e le n ao p are ca e sp era r re sp osta .) D uran te algum tempo , A na acha graca em ficar o lhando .

    I ) O lh a c om o s o lh os, e nq ua nto c om a c ab ec a c on ve rsa p ara d en tro .o pensam ento dela nao vai em linha reta , bem -co mpo rtado .))

    )

    )

    ) 13)))

    ( ) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    8/45

    Pula do que esta vendo para 0 que esta sentindo , vo lta para 0 )q ue esta vendo , faz perg untas, da respo stas, vai e vern . E o tem potodo em purra ela para falar, e recom enda-lhe que fique quieta. )o p en sam ento de A naco nversaco m elam ais o u m en os assirn :' J

    "E le vai acabar dando com essa picareta no dedo ... Sera Jqu e e d ific il p ic areta r? ... E u so u e boba!", 0 pensamento ri de )alivio e superio ridade. "Co m tanto m edo , achando sei la 0 que,que depo is da curva tinha m onstro , assassino . .. M ina de que sera )esta, que s6 tern ele aqui? .. Sera que ele sai de no ite para do r- )m ir, ou a casa dele e aqui mesmo?... Casa sem cozinha? ... E )assim sozinho ... Carvao da em mina? Essa pedra e ta o p re ta ,parece mesmo carvao . M as pedra nao pega fogo que nem carvao , )nunca vi n inguern bo tar pedra na lareira ou no fogao ... Se eu )perguntar, vai achar que sou enxerida ... Eu nao falei que ele ia )acertar no dedo !? Tambern , com esse troco pesado ... M as bern )que eu queria perguntar de que que e essa m ina, e 0 que eleesta fazendo aqui, e po r que nao tern outro com ele trabalhando )junto , e ... " )

    A na nunca tern certeza, co m essa co isa de fazer perguntas.. )N unca sabe direito quando e para perguntar, e quando e qu evao achar que esta se m etendo o nde nao e chamada. Ela tern sem - )pre tan tas perguntas para fazer. E chamar, chamar de verdade, )n inguem cham a. Entao acaba se metendo assim m esmo . E umar )p erg un ta do ra a uto n om a .

    - Essa m ina aqui e de quem , hein? )Pro nto , Ana nao resistiu. N em podia, ja que nao fez fo rca )p ara resistir. M as 0 homem nao parece incom odado com a per- I )

    g unta. ]a chup ou 0 dedo amassado - co ragem dele, bo tar urn )dedo tao sujo na bo ca! -, e ago ra esta exam inando 0 pedacode pedra que tirou . )

    - Como , de quem e? -levanta a c abeca o lhando para Ana.. )- Quem e 0 do no ? E vo ce?- Dono? Que ideia ' - sacode a cabeca, e 0 s o lz in ho v ai )

    pr a c a e pra la, co mo se estivesse balancando na po nta de urn fio .- N ao tern dono nao . Quanto mais eu! - so rri com a ideia, )depo is fica serio . - A m in a esta aqui. Eu estou aqui. S6 isso . Eue sto u a qu i p orq ue s ou m in eiro , e o s m in eiro s tra ba lh am n as m in as .

    - Em ina de que?1 4

    ))))

    ) - Ouro .- O uro ?!?!?! !!!!!!!) Ana se espanta. Primeiro po rque sabe que ouro e precioso,) precio sissirno . N inguem fala em ouro como fala de qualquer) outra co isa, ninguern fala em ouro sem bo tar pelo menos urn) po nto de exclam acao .l. Segundo , po rque nunc a viu urn o uro taodiferente. 0 ouro que ela conhece e 0 das j6ias da mae e 0 do) r elog io do avo , aquele rel6gio que ninguern usa, nem 0 avo , e) que vive trancado numa caixa, no fundo de um a gaveta, senao) roubam porque e de ouro .

    - Tern certeza?) - O ra, garo ta, o lha aqui - 0 m in eir o e ste nd e 0 pedaco) d e ro cha para Ana, joga urn so l do meio -d ia bern em cima dele.) Ana ve uma co isa que brilha, la dentro , fin inha, que pode)ser do so l,/ q~e pod.e ser 0 ouro , m ~ .que An~ tern certeza, ah!tern , que e tao bo nito quanto 0 relo gio do avo .) - E p ara quem voce v ende?) - Voce e esqu isitam esm o! Q ue neg6cio e esse d e vender?)Nao vendo para ninguern , nao . .) O lha para ela, e Ana repara que o s o lho s sao limpo s, noro sto sujo . "O lho nao e que nem o relha", pensa ela, "i: ur n) bo cado dificil de sujar. A gente usa 0 dia inteiro e nem lava no) b anho !". M as ja ele continua: /) - 0 ouro n ao e para vender. E para o s peixes, P ara f az era s e sc am a s d ele s,

    ) E , diante da expressao de incredulidade de Ana: - Como) e que vo ce quer que eles tenham escam as do uradas, se ninguem)pegar 0 o uro p ara eles?Os peixes, de novo . Ana quase tinha se esquecido deles.JE m v oz alta co ntin ua 0 interrogatorio:) - Eles precisam desse ouro to do?) - Quem disse que eu tiro todo? S6 tiro 0 que eles usam .) E quanto sera que eles usam ? E como sera que ele faz asescam as? Eo que acontece co m as escam as depo is que urn peixe)m orre? E quanto dem ora urn peixe para m orrer? Peixe tern do en-)~ a? E xiste rem ed io p ara p eix e????? A na esta tao ch eia de p ergun -) ta s, q ue 0 peito parece com ichar. M as ja que nao pode pergun-ta r tu do 0 que quer saber, pergunta apenas 0 mais importante,)) 15))

    ) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    9/45

    - Vo ce v iu o s peixes passando po r aqui a cam inhode algum )lugar? E claro que ele nao viu, com o e que podia ver, se estava )de cara para a pedra, trabalhando?' )

    - E nao ouviu nada? ' )Ouvir como , se peixes nao falam nem fazem barulho ? M as )

    que ela nao se preo cupe, nao podem ter ido muito longe, sempernas e com essa falta de agua ... E tambem , aqui nao tern m ui-' )to s cam inh os, so aqu ele. E ap on ta. T udo 0 que ela tern que fazer )e ir em frente, pro curando nas po~as, no s mo lhado s. )

    - E voce, com o e que vai fazer, se o s peixes fo ram em bo ra? ( )Vai trabalhar para quem ? - pergunta ainda Ana.

    - Nao fo ram embo ra. Fo ram so ate algum lugar, procurar )agua. A co ntece, nas secas. D epo is vo ltam . E les precisam tanto )de m im , quanto eu deles. Eu espero . )

    A go ra A na p od eria rnu ito b ern ir arras d os p eixes, N ao tern ,m ais razao para ficar ali. M as faz que vai, e nao vai, po rque urndesejo enro sco u-se no seu to rno zelo feito um a co rda, e nao a'd ei xa s ai r. I )

    He si ta . Ab a ix a 0 queixo no peito . D epo is levanta a cabeca r )e, nu ma arran cad a, lib e ra 0 to rno zelo : )

    - Da uma escam a pra m im?o m in eir o p ara , d es co n fia do .- Pra que?- De Iernbranca. \ )- N ao posso . M esm o . Aqui nao se desperdica nada. Nao (

    se tira nada que nao se vai usar.- D esperdicio co isa nenhum a! Quem disse que nao vou ( )

    usar? Lernbranca e rnuito m ais iitil que escam a. V ou usar a vida )toda. Juro . ( )

    -~? )Q ue b on ito 0 so rriso do m ineiro ! E le se abaixa, abre um acaixa de ferro tao escura quanta a pedra, cheia de gavetinhas. I )Abre um a gavetinha. Estende a mao para Ana. ' )N a palm a, urn brilho quase transparente, um a agulhada I )de ouro . )

    - Cui dado para nao perder. E escam a de rab o d e filho te. r(

    16

    ))

    )

    \ ) '\' )

    -) Uma co isa ainda prende Ana. U rn desejo m ais. Ja que vai) ~ tras do s peixes, sera que 0 m inejro n~ o v= o u tr a la rn pa daigual a dele, para lhe em prestar? E pedir m urto , ela sabe, m as) nao vai dem orar, ja ja vo lta, e seria tao m ais facil co m aquela luz.1 0 m ineiro , que fica sempre ali so zinho , ano s a fio sem con-; versar co m ninguem , ja ~e sente ,am igo de A na, q~ase/ l~ tim o.E po r que nao em prestana um a lampada a um a am lga intim a?) A ssim , eapaeete lum ino so na cabeca, eseam a de filho te no) bo lso , A na se despede, e segue eam inho .) Aos poueos, tae, tae, 0 ru id o, q ue rec orn ec ou , e sm ae ee , v aific an do p ara tra s.)

    )-----------------------------------E s s e l u g a r e d e m o t t e))) E ja nao se ouve, quando Ana no ta que 0 teto) esta ficando cada vez m ais baixo , as paredes cada vez m ais pro xi-) m as. Tao baixo e tao proximas, que nao ha m ais estaeas. Aha) se abaixa, eam inha urn po uco , co lando bern o s braces no eo rpo .) Se abaixa m ais ainda, avanca quase de co co ras naquilo que ago ra. virou urn tunel apertado , o u uma especie de funil, Com no jo ,) sente teias de aran ha eo land o no s cab elo s, en co lh e 0 p es co c o b us -) cando a pro tecao da go la. "Pareco urn sapo ", pensa. E nem bern) e nc er ro u 0 pen sam ento , p erceb e q ue 0 a pe rto a ca bo u, n en humapo nta fria roca m ais nas suas co stas. A na saiu em algum lugar.) 0 negrum e e 0mesm o , m as um e sp a~ o m aio r a briu -se a o s eu re do r.) U rn cheiro diferente, m ais s een e sem mo fo . E a p rimei raco isa que A na pereebe. E calo r. A qui e bern rnais quente, aba-

    ) fado . Com lento cuidado , enquanto se po e de pe, Ana levant a) a cabeca, para ilum inar em vo lta.) 0 raio de luz doseu eapacete salta para dentro da eseuri-) gao , se estica to do , vai se m ovendo desim pedido co mo um a vara.E tao bonito , que Ana da uma balancada na cabeca s6 para ve-

    ) 10 desenhar 0 eseuro . E , num susto , e 0 co racao de Ana que) balanca e salta dentro do peito , esbarrando nas eo stelas. P or uminstante, 0 raio bateu num vulto braneo .))))

    1 7

    () )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    10/45

    A na se enco lhe to da, esco nde a luz co n tra 0 chao . M as, ( ')po r m ais qu ieta que fique, 0 ar parece sair do seu nariz com I )~ aru lh o d e v en tan ia , e ela tam pa 0 nariz e abre a bo ca, e ago ra (e 0 sangue batendo na sua cabeca que faz urn baru lhao , u rn )baru lhao tao grande que ela tern certeza de que 0 vu lto b ranco ' )e s~ a o u_ vin do , e a va nc a p ara e la , e v ai a ch a-Ia , v ai a ga rra -la , v ai, '! 'v al, v al.

    A na abraca seus jo elho s com tan ta fo rca que o s braces I )do em . E sta quase sen tindo a m ao do vu lto , a garra do vu lto , )crav an do a s u nh as n o seu p esco co . Q ua se. F alta p ou co . P ou qu is- \ )s im o . U rn m om enta s6 . M as falta . A quele m om enta passa .. )F ica faltando s6 m ais o u tro . M in im o m om ento . Q ue tarnbem .passa . N enhum passo se apro x im a. N enhum a garra se abate )so bre a su a n uc a. A na espe ra . 0 san gu e ja n ao b ate co m tan ta fo rca . )

    E n tao , bern devagarinho , A na levan t a a cabeca. E , nao )venda n inguern ao seu lado , deixa a luz pro curar a presen~aassustadora .P rim eiro , nada, s6 espaco preto . D epo is , um a m ancha )m ais clara . Um a parede. E pro n to ! A luz ba te nele no vam ente , )no hom em vestido de branco . A na v ira a cabeca depressa , des- )v ia a luz. Po rem , sem tan to m edo desta vez, co nsegu iu perce-b er qu e 0 o u tro esta de pe rfil, e nem se m exeu para o lhar para )ela . S ilencio . N ada aco n tece. ( )

    S6 a luz de A na com eca a se m ovim en tar. P erco rre len ta- )m en te a parede , ilum ina pequeno s desenho s desbo tado s que / 'nao hav ia ilum inado an tes, e chega a do is pes ca lcado s de san- ' )d alias . Im 6v eis. A lu z e 0 o lhar de A na so bem pelo s to rno zelo s,: )batem nas pregas brancas da ro upa. C on tinuam sub indo . E eis i )que A na ri sem risada, m eio trem ida po r den tro de aliv io e )g ra~a. N ao e urn hom em , e um a m ulher, e nao e gen te , e um apintu ra na parede. ( )

    A go ra que esta quase aleg re , A na po de chegar perto para )o ~har. A ro upa e com prida, m eio transpa ren te . O s pes estao ')v ir ad o s ~ a ra 0 lado , 0 ro sto e sta v ira do p ara 0 lado . A na ja v iu )u rn perfil co mo aquele , co m 0 o lho tao grande, m aqu ilado dep re to . J a v iu a qu ela fra nja g ro ssa , 0 enfeite na cabeca com um a )serpen te saindo bern no m eio da te sta . M as nao , nao po de se r. )A na m ove a luz ao lo ngo da parede. E a li esta , pin tado m ais18

    ) a dia nte , 0 ho mem que a assusto u tan to . V estido de, b ranco ele) tam bern, com um a ~arba ce rtinha ~ertinha, saindo com o urn. rabo da po n ta do queixo, eo co rp o v irad o d aq uele m esm o jeito .) S irn , A na ja viu figuras ass im to das de perfil, ja v iu no s liv ro s,) sabe m uito bern de que gen te se tra ta . V eio pa rar num m useu?') ~ a~ n~o tern ca rtazinho em luga r nenhum , nem extin to r deincend io , nao tern tom ado r de co n ta , e 0 chao e to d o escala-

    ) v rado . N ao , nao esta num rnuseu . Talvez en tao ... "M as nao ,) nao e possfvel!' N ao po sso acred itar!" , d iz um a m etade dela ,) enquan to a o u tra m etade ja esta acred itando . E lo go , espan ta -) das , as duas m etades se pergun tam jun tas: "C om o e que v im. p arar en tre o s eg Ip cio s? !" .) A desco berta da urn cansaco tao grande no s jo elho s de) A na, que ela quase quer sen tar. A h! se tivesse alguern com) quem falar, a lguern a quem pergun tar com o e po r que.

    )) 19

    ))

    \ ) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    11/45

    M as ji que esta so zinha, aproveita para ilum inar m ais aoredor . 0 te to , sustentado po r umas co lunas go rdinhas, nao em uito alto . A s paredes sao pintadas, cheias de sinais, figuras.T ern ca mp on eses c ortan do trig o, m ulh ere s to can do in stru men -to s, pesso as num a casa. Tern ate criancas, o u u mas p esso in haspequenas .

    "Tivesse balao, dava u ma hist6ria em quadrin ho s" , pensaAna divertida, ac om pan han do a s p in tu ra s.Pela po rta , sem po rta , ao fundo , Ana ve que esta sala da )para o utra sala . V ai ate la . Outras po rtas sem po rtas. Que dao \ )p ara o utra s sa la s. T od as p are cid as, to da s p in ta das, to das v azias.

    "Sera urn labirinto ?", pergunta Ana a si m esm a. "M asla birin to p ra q ue? "

    "O u sera um a tum ba?!!!"Tum ba, rum baa, tum baaa, repercute a palavra feito urn

    eco na cabeca de Ana. E la dentro 0 e co c omp le ta " sa rcO fa go ","murnia". E justamente no mom enta em que 0 medo da, )rm im ia alfineta toda a pele de Ana, que um a das aberturas seilum ina, como se o utra luz viesse vindo , e Ana ouve vozes. )

    "Ladroes de rum bas!", pensa, atro pelada po r novo susto . ' )Isso tam bern ela co nhece, viu no cinem a. "Cacado res de tesou- )o s!" Sao eles, certam en te . ( )

    D ep ressa , A na a pag a seu c ap ace te . Rapida s e e s co nde arras .de uma especie de pedra . (J

    E as vozes vern chegando . M ais perto , cada vez m ais per- ()to . A te q ue ... c lick . A sala to da se i lu min a d e b rilh an te lu z ele trica, ( JNessa luz inesper~da que a faz piscar varias ~eze:, ~na ( )

    ve do i s hom ens, de carruseta e calca branca, co mo d o IS med ic os ..Urn e baixo , ou tro alto , urn tern barba, 0 ou tro , bigodes, s6 ()urn deles usa 6culo s - ,E , apesar de diferentes, sao m uito pareci- ()do s. Com o se tivessem ensaiado , abrem suas m alinhas. T irampinceis, p otinho s, um a lu pa. 0 da barba pega urn banqu inho , " Jalto que estava num canto , e sobe nele bern dian te da parede, I:que com eca a encarar. 0 do s b igo des rem exe na malinha, tira I )urn embrulhinho de papel cinzento , senta-se no chao . O lhando ( )o s gesto s com que ele desfaz 0 embrulh inho , Ana sente que )sua co ragem esta despertando e ja se esp regu ica, p ronta para , )20

    ))

    )))

    )I )

    ) reassum ir. Po is ali, nas rnaos daquele hom em , surgiu do papeJ) tu do 0 que ela mais deseja nesse m omento : urn lindo sandui -c he d e m o rta de la .) - Ji que voces nao sao ladr6es de rumbas, 0 que sao ?

    ) - pergunta Ana, saindo do seu esconderijo .) U rn po tinho cai no chao , a dentada no sanduiche fica am eio cam inho , o s hom ens o lham surpreso s para A na.) - Llaaddrr66eess ddee ttuummbbaass??!! - exclam am) o s do is quase ao mesmo tem po .) D epo is, percebendo que afinal tra ta-se apenas de um a) m en in a cu rio ~a , 0 do po tinh o se refaz ?a surpresa, e acrescen tacom ar superio r: - Isso nao se usa m ats.) E 0 outro arrem ata: - N ao se usa, po rque nao tern m ais) 0 que levar, em tum ba nenhum a.) R i 0 Baixinho : - Levaram tudo , hi m uito te mp o.) - E ntao , v o ce s f az em 0 que? - a co ragem de Ana des-, ta mp ou 0 perguntador .) - E stam os tratando da re sta ura ca o - diz 0 Alto .) E Ana, contente de saber 0 que e restau racao : - D a tum ba?) - D a cuca - responde ele.

    Surpresa de Ana - De quem?Baixinho - Da no ssa.

    ) A lto - Es tavamos me io e sg o ta do s .) Baixinho - A vida entre o s vivo s e m uito cansativa.

    A lto - Sao baru lhento s dem ais.) Baix inho - E tao m etido s!) A lto - 0 pesso al aqui e mais d iscreto - o lha em vo lta.)- E m uito silencio so .

    B aixin ho - D ar, aceitam os esse trabalho .A lto - C onseguim os 0 p atr oc in io d e u rn n o vo r ef rig er an te .

    ) Ana, co rnecando a se irritar - M as que trabalho ?) Baixinho , com o quem esta repetindo uma obviedade -)De r es ta ur ac ao .) Ana, com ar esperto - D a cuca.A lto - N ao . D a rumba.

    )

    ( ) E rn uita restauracao para a cabeca d e um a m en ina. So bre-)tudo um a m enina fam inta , po sta dian te de urn hom em que)afunda o s dentes no seu pao com m ortadela . S6 a fom e e 0 chei-) 21)

    \ )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    12/45

    rinho de sandu iche po deriarn levar A na a tro car u rn m onte de \ )perguntas po r urn unico pedido . F eito em vo z baixa, encabu- I )la da , m as n ao m en os c on vin ce nte.

    - M e da um a mo rdidinha? )R etirado , de den tro da m alinha, outro sandu iche para

    e la , A na se nta-se e nc osta da a tal pedra , tira 0 capacete para (f ic ar m a is a vontade.

    I !,- C ade a rm im ia? - pergunta de bo ca cheia .- N o museu - responde 0 go rd inho . \ )- E o nde todas ficam - explica 0 m ag rinh o. E acrescen - \ )

    ta , apon tando com 0 queixo : - Antes ficava ai,A na , d esc on fia da : - Ai, onde?- A i mesm o , onde vo ce esta e nco stada. ' )- N essa pedra? \ )- P edra nada. Isso eo sarc6 fago , m en ina. I- D e gran ito - arrem ata 0 ou tro , querendo m esm o , )

    ImpreSSlOnar .o sarc 6fa go ! E e la a li, c om en do sa nd uic he c om o se estiv esse ' )num a lancho nete ou num piquenique. "Sera que e falta de res- \ )p eito ?", p ergu nta-se A na, sem m uita co nv iccao , m as d esen co s-. )tando do gran ito frio . E , em voz aha: - 0 dono era quem ?

    - 0 do no era um a dona - responde 0 primeiro- Um a rainha - completa 0 segundo . )N unca A na esteve tao perto de um a rainha, m esm o m orta, \ ')m esm o ausen te . Co mo senao tivesse v isto a sala an tes, Ana ,~

    o lha em vo lta , um a reverencia to da no va conduzindo seu o lhar. ( )Certam en te e ela a m ulher de branco que, percebe ago ra, esta I )p intada em tan to s lugares. Jo vem rainha de ro upa pregueada, ( )andando ao longo das paredes da sua tum ba com o andava nas, )sa las d o seu p alacio . O nd e andara ago ra? M orreu jo vem assim ?E 0 hom em , aquele da barba, seria 0 pai? Ou 0 marido ? A ( )m are das perguntas am eaca inundar a boca de Ana, tom ando )o lugar do sandu iche, que ja esta quase no fim . M as, livre da, )fo rne, e la se lem bra do que a trouxe.

    - V oces v iram uns peixes passando po r aqui? ' ,)- Peixes?! - pergun ta 0 prim eiro . '')- V o ce disse peixes? - insiste 0 segundo . D epo is, com o )

    se a pergunta fo sse co rriqueira : - Peixes, nao . N ao creio ter ')22

    ( )

    ) v isto nenhum peixe po r aqui. Tem os o utro s anim ais, se vo ce) qu iser - e apo nta para as centenas de figurinhas p in tadas nap ared e a o la do d a ra in ha d e b ra nc o, o rd en ad as fileira s d a e scrita

    ) egfpcia. - Temos ali um a agu ia , m ais em baixo urn abu tre .) .S er ve e st a l ag a rt ix a? O u p re fe re um a c o ru ja ? U rn c ac ho rr o t alv ez ...) . A na ja nao presta atencao . B icho s pintado s de nada lhea dian ta m. O lh a p ara 0 chao , e m ais seco que 0 d a m ina. A qui,) " d" na certa, seus pelxes nao tenarn po r que se em o rar.

    ) - E po r on de e que a g en te sai? - pergun ta , vendo que) 0 seg un do ja reto mo u seu trabalho .) -:- VV oo ccee jjaa vvaaii?? - perguntam os do is, nova-m e nte J un to s.

    ) S im , A na ja vai. A lgum tempo passou desde que deixo u) 0 p oco , d ev e ser no ite. E a esta h ora o s peix es sab e la o nd e e sta o.) - Sai po r a li - diz 0 primeiro .

    - N ao tern com o errar, e fic il - arremata 0 segundo .) - V oce sai daqui, anda ate ali, chega na prim eira en trada a) esquerda. N ao pega. Tambem nao e a prim eira a d ireita , 0) m elho r seria ir pela anteprim eira ... e urn bo rn ata lho . Senao-,vai em frente m esm o, m as nao m uito reto , ate chegar num lar-) g ui nh o a pe rta d o..;) Ana percebe que e m ais ficil p er de r-s e n as e xp lic ac oe s) do que no cam inho : D espedidas feitas, com eca pela d irecao) apon tada pelo s do is. , . .D aquela sala para outra m eno r, entrada a dire ita , nao) pega ,en t rada a e sq ue rd a, n ao p eg a, d ep ois u ma ra mp a, d eg ra us,) urn co rredo r, vira pra ca, sobe pra la , ou tra sala . "Sera que) m e perd i?", m ais um a salinha. "Po diam bo tar pelo m eno s) um a seta . .. Q ue calo rao !", anda m ais urn pouco , ou tra tam pa,Ana ja esta toda suada, pensa que e m elho r vo ltar, m as tern)certeza de que nao seria capaz de achar seu rum o ao con trario .) Afin al, v e l a a dia nte u rn p orta l p eq ue no , e ste c om p or ta . F ec ha da .) Ana empurra a po rta .

    E , de repente, com o se recebesse urn balde d 'agua na) c a ra , 0 so l se en to rna em cim a dela , urn calo r de fo rnalha lhe/)sobe pelas pernas, seus o lho s quase se fecham barrando tanta)luz, A sua frente, im ensa o ndulacao do urada, desdo bra-se em) pr eg as m a cia s 0 deserto .) 23))

    ))

    )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    13/45

    D e g r a o e m g r a o A n a a v a n c a)o queixo de A na nao cai, po rque esta bern ( )

    p reso no ro sto e, so bretudo , po rque A na nem abre a boca. I.C om o to da v ez q ue fic a m uito su rp re sa , fa z e xa ta me nte 0 co n tra-: )rio . Fechaapertado s o s labio s, para a su rp resa nao sair. )E a surp resa , que vinha atro pelando tudo , co rpo aden tro , .e obrigada a parar d iante daquela boca fechada, fica en talada I )na garganta . A na m al consegue resp irar. Af engo le , depoise ng ole o utra v ez , e mp urra nd o a su rp re sa g arg an ta a ba ix o, d ig e-rin do e la . A te re sp ira r d e n ov o, n orm alm en te .- 0 deserto . .. - m urrnura Ana cheia de adm iracao , ico mo qu em rep ete 0 no me de alguern irnpo rtante a quem estas e ndo ap re s en ta do . I- O eseeeerto o o oo oo o oo ! - g rita em segu ida, querendoim po r a pro pria vo z aquela im ensidao . \ )

    M as cada grao de areia parece sugar u rn pouqu inho da vo zd e A n a, e o g rito n ao c orr e, n ao e co a. C ai lo g o a li, a s eu s p es . E s om e .

    Ana nao sabe bern 0 que fazer. D a alguns passo s para afren te . P ara . A tum ba de o nde veio lhe parece po r u rn instante (rnais segura. Q uase tern saudade da sua escuridao . V ira-se , ve )d u as e n o~m e s e sc ul tu ra s d e p e dr a l ad ea n do 0 p orta l, d uas m ulh e- (res g igantescas co m cabeca de leao , que nao tinha v isto ao sair.Sente-se tao p eq uen a p etto delas! V ista daq ui, a tu mb a ja nao )p are ce a m esm a tu mb a, ji n ao lh eo fe re ce n en hum a intim id ad e, ( )E dizer que ela teve tan to m edo Iidentro .

    "0 m edo , v is to de fo ra" , pensa A na, "nao .e nem urn tan -tinho igual ao que a gen te sen te po r den tro ' , . I )A g or a, s o lh e re sta e nf re nta r 0 deser to .A na o lh a, pro teg e o s o lh os co m a m ao , ap erta as p alp ebras

    p ar a v en ee r a c la rid ad e, e a tr av es d as f re sta s d os o lh o s v ai s e a po s-sando ao s po uco s do que nunca hav ia v isto antes. (O unas, areia a perder de vista . "E com o um a praia que"> .nao acaba nunca, um a praia sem m ar" pensa ela . "Sem mar" . )A frase engancha no pensam ento de A na, que, sem saber bern2 4

    I )))

    ) ))')

    ) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    14/45

    po r que, repete "sern m ar. .. sem m ar. .. " . A te esbarrar no 6bvio : )sem mar e igual a sem agua. E isso ! N essa secu ra to da, nesse \im enso o ceano em p6, o n de teriam ido parar seus peixes? I. )

    "Ah! se precisasse apenas pro curar uma agulha null' )p alh eiro , co m o se ria ficil", pensa Ana desalen tada. )

    E sta ju stam en te s e p erg un ta nd o p or o nd e co rn ec ar, q ua nd opercebe que urn ho mem co m tres cabras vern vindo na sua direcao . )-

    "C om o fo i qu e n ao vi ele an tes?", pergu nta-se A na. "Tam-ibern, com essa claridade ... V ai ver, estava arras de uma duna." )

    Seja co mo fo r, e um a pessoa a quem pedir info rrnaco es. E , )s e a p rO l uma ...A go ra A na c on se gu e v e-lo m elh or. T urb an te n a c ab eca , um a' )

    roupona ate o s pes, de m angas com pridas, tudo meio fo lgado .. )m eio enro lado , m eio m arro nzado (' ' co mo aguenta tanta ro upa co m )esse calo r?"). U mcajado n a m ao . D eve ser um p asto r pasto rean dosuas cabras("com o se pasto reia onde nao tern pasto?"). M as )quando Ana ja de so rriso pronto vai d irig ir-se a ele, ele para. , )

    "Po r que sera que parou?" Vai Ana ao seu encontro , sem , )no tar um a nuvem de po eira, o u de areia, que se aproximadep ressa, v ind a la d e lo nge.

    A rm a de novo 0 so rriso . D esta vez 0 homem nem o lhap ara ela, lev an ta o s braces, agita as m ao s, faz sinal co m 0 cajado . )E a nuvem de po eira que vinha chegando para com urn baru lho ,de ferragens desco njuntadas, se desfaz ao s po uco s, deixando ver )urn velho onibus, cheio de gente. )

    o pasto r so be, em purtando as tres cabras para dentro . A na: )hesita. M as e m elho r urn onibus na mao , que dunas voando . E, )se seus peixes fo ram a algum lugar, na cena nao fo ram andando .A ntes qu e 0 m oto rista de a partida, A na tam bern so be. f

    Senta-se la no fundo , no ultim o lugar, en tre 0 pasto r e )uma velha que donne. 0 onibus esta tao cheio de bichos, que )p arece um a area de N oe so bre ro das. G alinh as nu ma cesta, cabras,cabrito s e cab ritin ho s, urn b od e, m ais g alin has nu ma b olsa, m aiscabras, tern ate um a especie de rapo sa p equ en a co rn grand es o re-lhas, no co lo de urn rapaz. E talvez po rque 0 6n ib us s ac o le jatanto , ou po rque parece que vai desm ontar-se a qualquer )m em ento , to do s o s bicho s cacarejam , balem , ro snam . E co mocheiram ! A inda bern que as janelas esrao abertas. A liis , po de ser )2 6 ,), )

    )

    ) a te q ue , e ste ja m fe ch :d as ,. m as 0 ar circula de qu alquer jeito , po r-qu e as janelas n ao tern vid ro s.,) Ana quer falar com 0 pasto r antes que ele tarnbern ado r-) rneca. Q uer perguntar o nde estao , ao nde vao , quer saber co isas.) Cutuca-o delicadam ente. Tao delicadam ente queele nem per-cebe. C utuca-o de no vo , co m m ais fo rca, Fo rca suficien te para

    ) que ele, que parecia estar co nversando com suas cabras, a o lhe') d e c ara fe ia . E e nta o , c om uma te rc eira te nta tiv a d e s or ris o, A n a fa la :) - Po r ~avo r, 0 se nh or p od eria m e d iz er...M as assim como seu gnto se perdeu no deserto , sua fala se) perde ago ra na algazarra. 0 ho mem franze as so brancelhas gro s-) sas num esfo rco para o uvir. Ana levanta m ais a vo z. 0 homem) tam pa o s o uvido s co m as m ao s. A na repete m ais baixo . 0 ho mem~ destam pa as o relhas, franze as so brancelhas e tam bem 0 nariz.) Uma cabra tenra subir no co lo dele. Ana repete sua frase. Ele) esta o cupado enxo tando a cabra. A na vai -repetir no vam ente, a) cabra m ordisca a m ao dela. A na desiste.))))))

    'o ))

    \ ))))

    I )

    ), )\ )\ )

    \ )) 27

    ()

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    15/45

    D esiste de falar e fazer-se o uvir. M as nao desiste de pedir( )info rm aco es. , . ( )V asculha no bo lso da saia, encontra urn co to co de lap is.Papel, nem pensar. O lha em vo lta, nao ve a m eno r po ssib ilidadeC )de achar naquele o nibus algo parecido . E ntao estica 0 pano da. )saia bern esticado capricha no desenho de urn peixe so bre 0 ')

    " Ip an o. D ep ois cutu ca 0 pasto r e m ostra para e le . 'A te que enf im, 0 p asto r so rriu ! N ao p arece ter reco nh ecid o: )

    o p eix e, m as g osto u d a b rin cad eira . T ira 0 lap is da m ao de Ana, \puxa 0 pedaco de pano que lhe sa i do turbante, puxa m ais, desen- ( )ro lan do u rn pe da co , alisa -o , e d esen ha n ele urn lag an o, co m e sca-m as quase iguais ao s do peixe, m as urn lagano . Ana faz que nao ( )com a cabeca, desenha outro peixe. 0 hom em ago ra ri, franca-I )m en te d iv ertid o. A rran ca n ov am ente 0 lap is, e desenha um acobra, cheia de escam as, m as um a cobra. Ana faz que nao coma cabeca. 0 hom em faz que nao com a cabe;a. E fie am o s do is,b alan can do a cab eca u rn p ara 0 outro , m eio para dizer que nao , )m eio aco mpanhando o s saco lejo s do o nibus, ro deado s pelo s bali- )do s das cabras. )

    A na d ecid e q ue pe dira in fo rrna co es n a p rim eira p arad a.A s d un as p assam la fo ra, todas iguais. 0 tem po passa ali ( )

    dentro , to do igual. A cabeca de A na pesa, pesam suas palpebras. \ )A na faz fo rca para nao do rm ir, afinal, nunca esteve antes no )deserto , quer ver bern, apro veitar tudo . M as 0 calo r e tan to , 0 )cansaco e tan to , que apesar do esfo rco e bern pro vave l que A natenha co chilado . Tern ate a im pressao de estar so nhando , ao ver )s urg ir in es pe ra da m en te , a le m d a ja ne la , p alm eira s, a rv ore s, a rb us- )t o s f lo r id o s, 0 azul rneio esco ndido de urn lago . "U rn o asis!", )g rita s eu c ora ca o e m p rim a ve ra .

    N o onibus, n inguern alem dela parece ligar para aquela )m aravilha de fresco r. "E ssa genre do deserto e estranha dem ais" , )pensa A na. E se levanta, s6 e la de pe em meio ao s passageiro s )in dife re ntes qu e d orm itam ab racad os a seu s an im ais. P ux a a (o r-d inha, faz sina l que quer saltar, vai passando po r c im a de cabras '),e galinhas. A rapo sa pequena o lha para e la m exendo suas gran- )des o relhas. 0 o nibus para, envo lto na nuvem . A na salta.

    Sua bo ca riso nha se enche de p6, ela engasga. E quandoa ca ba d e to s sir , 0 onibus se fo i. A na esta so zinha diante do o asis. ))

    )28

    )

    J)

    )----~--~--------~-----------),))

    ~ A tJas, as dunas. A fren te , o utro o ndejar. D e) f o lhas, talo s, galho s, que se do bram ao vento , dancantes c~m o-, aguas, E surg indo ali, bern na div isa o nde 0 d es ert o s e a qu ie ta) e lam be 0 verde, um a eno rm e acac ia em flo r.) E strem ecem as fo lhas, leves plum as, cin tila ao so lo am arelo) d as flo res. A na n un ca q uis tan to se ntar-se a so m b:-a d e u ma arv o-reo O lha para seus pes, e o s ve afundado s na are ia. O lha po uco s) m etro s adiante eve a gram a crescendo . E devagar, querendo que) a so mbra se po use na sua pele co mo urn po len , A na vai andando) ate chegar junto ao tro nco . . .M as 0 ar co ntin ua q uen te, e p or m ats q ue A na resp lfe fu nd o) para encharcar-se de che iro de m ato , se~ s pulm oes co n;i~ uam) a bra sa do s, s eu n ariz p are ce g ua rd ar 0 ch eiro a ba fa do d o o m bu s.) Ana sua, sem entender po r que, sentada sobre a gram a) escaldante. N em the chega 0 perfum e das flo res, ~ u 0 far~alhardas fo lhas. S6 ela, po rern, parece so frer co mo se ainda estrvesse) entre dunas. O s o utro s, as pesso as que ve acudindo a seus afaze-) res na qu ele en orm e jard im , pa re cem fresco s e satisfeito s.) "Que e isso , que estou com tanto calo r?", pergunta-se ela,r ec o st an d o -s e c o n tr a 0 t ronco .

    ) M as, catrapum ! Em vez do apo io do tro nco , Ana encontro u) 0 vazio e caiu de co stas, batendo co m a cabeca no chao .) Levanta-se, o lha, 0 tro nco esta ali. E sten de a m ao p ara to ea-

    10, a m ao a tra ve ss a 0 nada .) Ana aperta bern os lab io s. Surpresa nenhum a vai sair da) sua bo ca.) Novam ente estende a m ao sem nada encontrar, e se l evanta,da urn chute no tro nco , nao ha tro nco , ten ta pular para agarrar

    ) um a fo lha, s6 agarra 0 ar .) E continuaria nessas ten tativas, se nao fo sse in terrom pida)po r um a risada.) V ira-se . U ma m ulher go rd inha, com urn eJ.llta ro na cabeca,e st a a rr as d e la .)

    )

    U r n d e s e j o d e r n u it o s d e s e j o s

    29), )

    ) ) V ai andando e reparando nas casinhas brancas, nas tam a-

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    16/45

    - Q ual e a graca?' - ro sna A na, sem co ragem para esten - ) ,der a m ao e (nao) to car na m ulher. ) '. - N enhum a, desculpe.

    A m ulher p~ ro u de rir. S o rri apenas, descansando 0 can- ' )taro no chao . - E que vo ce nao sabe.- N ao sei 0 que?- Q ue est a num a m iragem .D esta vez, nao ho uve jeito de segurar o s lab io s fechado s, )

    e 0 espan to de A na sai bo ca afo ra .- M iragem ?Sente 0 su or e sc orre nd o p elo p esc oc o.- A qu i as c o isas s e v eem - d iz a m ulher -,m as nao sao . 'A na o lh a p ara a m ulh er, p ara 0 c an ta ro . A ch ad ifk il a cre dita r. )- N ao fique ai parada, com essa cara de espan to - diz

    a m ulher. - V am o s ate la em casa, no cam inho eu exp lico .A m ulh er suspen de 0 can taro a te a cabeca. )- Eu disse m iragem , para sim plificar - vai fa lando I )

    enquan to anda, acompanhada de perto po r A na. - M as vo cevai ver, e um a m iragem m eio especia l. ICam inha m ais urn pouco com andar o ndulan te para nao I )

    derram ar a agua. E com pleta : - A s co isas nao sao . M as a gen te ( )f az a s c ois as s erem .fA go ra elas V aGentre tufo s de lean dro s flo rid os. A na q uase ( )tro tando , po rque as vezes para , d istra ida po r um a bo rbo leta I )o u urn passaro , e n ao quer perder-se da m ulher. \ )

    - Enfim - diz esta com o se quisesse liv rar-se de um aexp licacao m ais com plicada -, vo ce esta no o asis do D esejo . ()H ib isco s, ro seiras em flo r, u rn tam arindo co pado . A na e (a m ulher pass am po r urn hom em que com e tam aras. A dian te , ( )o u tro rasga urn pao . U rn m e nino puxa urn burrico po r um a, )co rda. U rn pavao passeia , ex ib indo sua cauda. "Sera que nadad isso e?" , pensa A naincredula . E em voz alta : ( )

    - E 0 que deseja , esse o asis? ( )O utra vez, a m ulher ri.- E le nao deseja nada, sua bo ba. E le e 0 n o ss o d e se jo .D essa vez, as co isas ficaram dificeis de verdade para A na. ( )Q ue, po rern , vai segu indo a m ulher, com o s braces bern cola-r )

    do s no co rpo , de m edo de to car em algum a co isa e ela nao ser, ( )o u de to car e , de repen te , e la ser, e co nfund ir tudo m ais ainda. ( )3 0

    ))

    ,)

    )1

    Ii

    ) re iras, na lagartixa que sobe num tro nco .) - Q uer dizer que se eu desejar um a co isa ela aparece,) q ue n em /e ssa la ga rtix a?- E preciso m ais do que isso .) Po rern A na nem liga para a respo sta , po rque esta com e-) c ando a go star da ideia , e se o cupa em desejar u rn so rvete deFmora: , 0 m aio r so rvete de am oras que sua im aginacao conse-gu e w ar.) D eseja , deseja , sente a bo ca encher-se d ' agua, de tan to

    ) d esejo . E n ada. C ap rich a aind a m ais no d esejad o. E ain da n ad a.) N en hum so rv ete v ern in sta la r -se n a s ua m ao o u a do ca r s ua lin gu a.

    A n a s en te -s e tr aid a,- E menti ra . E tudo m entira . V o ce esta falando tudo) errado para m im - A na tern vo n tade de jogar-se no chao de)tan to d esap on tam en to , e espern ear, co mo q uan do era peq uen a.) - C alm a. A inda nao acabei - e a m ulher para .

    Chegaram dian te de um a casa, m as a m ulher nao levant a) a co rtina que co bre a po rta , nao faz m encao de en trar. V ira-se)p ara A na.) - U rn desejo so nao da. E m uito po uco . Se vo ce desejar)um a co isa , em segredo , so zinha, e ficar esperando , vai ter queesperar a v ida in te ira . M as se eu desejo m uito ter do is cam elo s ,) e se vo ce deseja 0 esterco do s m eus cam elo s para adubar sua)ro seira a fim de que cresca e cubra a parede da sua casa , e se)0 seu ho spede deseja que vo ce tenha um a casa para estar nela) e que tenha a parede reco berta po r um a ro seira bern adubadapara dar m ais flo res e to rnar a casa m ais fresca e m ais perfu -)m ada, perm itindo que ele descansebem da sua lo nga v iagem ,)en tao eu terei m eusdo is cam elo s, que estercarao sua ro seira ,)que sub ira pelas paredes da casa , que abrigara 0 h osp ed e, q uedo rm ira a no ire , que so nhara lancando as sem entes de urn)n ov o d esejo , irm ao d o desejo d esp on tado em algu m o utro so nh o,)p ara serem realizado s n o d ia seg uinte ju nto co m o utro s, e assim) po r d ia nte .O s o lho s da m ulher com o que so rriem .) - En tendeu , A na? - levan ta a co rtina , afas ta-se paraJdeixar A na passaro - A go ra , se ja m inha h6spede.)) 31))

    - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ' ) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    17/45

    ))n d e e l a s e m e t e u ?))

    Acompanhei Ana ate aqui, en trei com ela na )casa . Q uando sento u-se no banco , tem i que nao ho uvesse banco , )nenhum , e ela caisse no chao . M as A na dev e ter d esejado m uitoaq uela casa , que a m ulher tam bem desejav a, assim co mo a d ese-javam as ando rinh as que abrigavam seus ninh os so b as telhas, ea ro se ira que th e escalava a p arede , to rnando -a fresca e aco lhe- Jdora . 0 fa to e que A na sento u-se. V i quando com eu co alhada. )E a o uv i p erg un ta r.

    - C om o e que vo ce sabe m eu nom e?- Sei, po rque vo ce go sta que eu saiba. E po rque eu nao )

    d ese jaria ter n a m inha casa urn h6spede de q uem nao co nh ecesse )o n om e.V i A na m eter na bo ca m ais um a co lherada de co alhada.- A qui - d isse a m ulher -, to do m undo sabe 0 nom e )

    de to do m undo . Po rque ninguern deseja ser desco nhecido . )Tudo isso eu vi. A inda espere i ate m ais tarde, ate a ho ra )

    de A na ir de itar-se . S6 quando tive certeza de que do rm ia, nac am a e stre ita e lim p a, deixei-a, E fui trata r da m inha vida .

    D ern orei rn ais d o q ue p re ten dia , c on fesso m esm o q ue p asse i )alg un s d ias sem cu id ar d ela, o cu pa da q ue estav a co m m in has p ro -. )p rias co isas. Q uando v oltei, nao a enco ntrei m ais IiNem na )cam a. N em na casa .

    O nde teria se m etido ? P oderia perg untar a mulher, m as )nao go sto de co nversar com qualquer perso nagem . )

    E ntao , sa l a sua pro cu ra pelo o asis . Sem grande aflicao , )p orq ue n ao ac red itav a q ue A na tiv esse sa id o p ara 0 d eserto .

    E po rque nao havia em m im ansiedade m aio r, pude m ed em o rar en tre as b arrac as d o m erca do , p restan do a ten cao n o q ueco m ercian tes e freg ueses c om en tav am en tre si, e a beira do ria- )cho , o nde as lavadeiras co nversavam . N ada m elho r, para saber )do s passo s de um a estrangeira , do que o uvir 0 que fa lam as pes-so as do lugar. )32 , ))

    J

    ) D e fa to , desco b ri ate rnais do que esperava. N o m ercado ,u rn h om em de m anto listado d isse para 0 ven dedo r de fru tas:

    ) - Belo s lim o es tens ai nesse cesto .) - A h! - respo ndeu 0 vendedo r aje itando o s Iim o es -,) be lo s m esm o sao o s cabelo s da m e nina da to rre.) - C~belo s, cabel~s ... com tao lindas trancas que te~ :sn o ss asm e ru na s .. . N a o h a d e s er p o r c au sa d 0 5 c ab elo s q u e e la e sta la o) - M e co ntaram - e 0 vendedo r inclino u-se seg redando) -, que a vo z de la e m ais do ce que essas u vas.) M as a i o com prado r distraiu -se com as uvas, pro vou um a e ,) e ntre c ac he s e b ala nc a, n ao d is se ram m a is n ad a q u e m e in te re ss as se ., Segui com o s o lho s um a m oca bonita , de ca lcas bufantes,) 0 ro sto co berto po r u rn veu, R epare i que urn jo vem cam eleiro)tam bem o lhava p ara e la.) - Bon ita assim , s6 no harem do Sultao - d isse e le em) vo z a lta, quando a m oca ~asso~ a s eu lado~ .

    - 0 S ulta o n em Val mars para 0 harem ... tern o utra co tsa) com que se o cupar - respo ndeu e la, brejeira. - D izem que)na to ne passa as no ites em claro .) - G rande co isa - retruco u 0 rapaz -, com o ele, eu tam -)b em p as sa va ./ A diante , tres velhas co ch ichavam .) - O uvi d izer que 0 Suitao s6 t e rn o uvido s para ela - falo u)a m a is e nc urv ad a.) - Tern 0 que? - pergun to u a m ais enrugada.) - O uvido s, o uv ido s. Esta surda? - quase grito u a encur-v ad a, e nc urv an do -s e a in da m a is .) - Faz e le rnuito bern - co nclu iu a m ais desdentada. -)Q uem tern o uvid os, o uca! N ao e assim q ue d iz ia 0 P ro feta ?) E as tres sacudiram a cabeca.) A s lavade iras fo ram as que m e deram mais informacoes,Uma ensabo ad a e um a palavra , um a esfregada e um a frase , um a)en xa gu ad a e u rn m ex erico , e assim q ue e las p assa m se us d ias.) E assim elas co nversavam a b eira d o ria ch o, a s p ala vra s c or-yendo de um a a outra com o a agua entre as pedras:' J ~ E ~ queri.a e lavar. a ro upa de~a. D izem que e tudo fino, e m acro , so 0 m ars puro linho e a m ars rara seda.)) 33)

    )- V oce ia arranhar o s dedo s nas pedras precio sas do s bo r- l ))com m inha am iga, sab ia? - espera um a resp~s~a q ue nao ven:'

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    18/45

    d ad os , is so simlT odas rirarn , paran do po r u rn instante de bater as ro upas.- Parece que ela veio de muito lo nge, nao e daqui. )- G randes co isas... to do s v iem os de longe. )- N ao e daqu i, m as aqui e que se deu bern. V ive no )

    m a io r c o nf or to .- A te to rre tern pra ela .- A to rre fo i 0 S ultao q ue q uis.- N em fo i po r causa dela. Q ueria , faz tem po . M as quem

    e que ele ia bo tar la? S6 essa m enina, p ra saber tantah ist6ria.D ei u rn salto . Q ue n eg 6cio e ra esse d e h ist6 ria s? Q ue m te rn

    que con tar h ist6rias aqu i sou eu. )O lhei em vo lta . A char a to rre do palacio nao fo i dific il. )

    M ais alta que as tam areiras, s6 havia ela. En trar tam bern nao fo i )dificil, N ao h i gu ard as nem trancas nesse o asis.

    Subi lo ngas escadas em caraco l. N o alto , deitada sobre )c o xi ns , r ee nc o nt re i A n a.

    Q u e m c o n ta u r n c o n t oN ao esta tao diferen te quanto pensam as lava-deiras. N em esta coberta de pedras precio sas. A ro upa sim , )m udou . E 0 jeito dela , u rn pouco . Quando en tre i, parecia uma )

    m enina brincando de princesa. E era. )- Ana, 0 que e que voce esta fazendo aqui?!N ao re sisti, fa le i c om ela . E a primeira vez que the dirijo )

    a p alav ra a ssirn , d ireta me nte . M as tam be m, e la p asso u d os lim i-tes. D os m eus, quero d izer.- V oce nao sabe? Pensei que fo sse voce que tinha arm ado )

    i ss o tu d o ...- Eu?! Eu nao estava nem ai. )- Entao fu i eu m esma, desculpe. Sempre tive essa von- )tad e d e ser prin cesa, d e m orar n um a to rre. B rinqu ei m uito disso

    34 I

    \ )

    )))

    ))

    )))

    po rque eu estou s6 o lhando para ela . - F01 lSS0, e ss e d es ej o) - pavoneia-se . - A cho que nem tinha to rte nesse o asis. Eu e)q ue q uis.) - S6 vo ce?) - Bo rn , quer dizer, coincidiu, T in ha e sse S ultao , q ue ta m-b ern desejav a m uito ter um a princesa nu ma to rre. E um a p orcao) de gente , eu ache, que achava que ficava bonito , para urn o asis)de m iragem que nem esse, ter um a to rre com um a princesa den-)tro , que nem essa. Co rnbina, vo ce nao acha?) Eu nao quero achar nada. M eu papel nao e achar. M eup ap el e fic ar o bse rv an do , an otan do , e scre ve nd o, se m m e m ete r.) - E pron to . Ago ra ele vern me ver todas as no ites.) N ao faco m ais pergun tas. N ao que nao este ja interessada.)M as ten ho o utro s m eio s d e saber d as co isas.) V o lto para 0 m eu lu gar, fic o q uieta, e m sile nc io , d eix an do. A n a esqu ecer que esto u ali. E espero . E spero ate a no ite ch eg ar.) A s cigarras ao s pouco s se calam , cedendo 0 s il en c io p a ralo s g rilo s. La fo ra , o s vagalum es voam tao baixo , que parecem)11 :r io sa c endendo -s e no e scu ro .) E a lua ainda nao saiu, quando urn pajem en tra carregando/ u rn g ra nd e le qu e d e p lu ma s b ra nca s, o utro p aje m en tra p orta nd o)uma especie de baldaqu im . E 0 Sultao , co m suas babuchas de)ouro e seu m anto de prata, chega a s ala d a to rre .) O s do is pajens saem co rrendo . S6 0 S ulta o fic a, c om A na.) Onde sera que Ana aprendeu a receber, com tanta delica-deza, urn Sultao num a sala de to rre? La e st a e la , f az en d o- Ih e) um a p eq ue na m e su ra , a je ita nd o o s c ox in s. V ir a-s e p ara um a mesi-)nha, e serve cha de ho rte la de urn bu le que - estarei engana-)da? - e igualzinho aqueles do s servico sde ch i de rnen tirinha,)quando a gente brine a de boneca. M as 0 Sultao parece nao seim po rta r. T om a 0 cha segurando a alca pequena da pequena)x ka ra , r ec os ta -s e, e d iz :) - En tao , o nde fo i m esm o que ficam os ontem?) - E stavarno s no pon to em que 0 lo bo vai engo lir a vo v6)de Chapeuzinho . '

    - Ah! e isso m esm o , 0 lobo!)))

    35

    ( ) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    19/45

    o S ultao ajeita-se ain da m ais p ro fu nd am en te n os co xin s. )E Ana com e~a a contar como 0 lo bo engo liu a vov6. E como , )tendo fe ito a digestao, po s-se a pensar na sua vida de co medo rd e g en te , c he ga nd o a c on clu sa o d e q ue e sta va c an sa do d o m enu, .e m ais ainda da fero cidade. "N o fundo "; d isse 0 lo bo n a h isto -.ria de A na , "nasci para a arte". N em para pin tar, po re rn , nem )para escrever, nem m uito m eno s para dancar. "Serei rnusico ", , )estab elece u. E te nd o d ecid id o se u fu tu ro , d eix ou a casa d a v ov 6,tomando 0 cam in ho d a cid ad e d e B rem en . )

    N oite adentro , A na co nta para 0 atento Sultaoo encontro )do lo bo com o s outro s bicho s, burro , gato e galo , 0 abrigar-se )de to do s na casa da flo resta, a fuga do s ladro es que habitavam )a casa. E a manha ja e sta b af eja nd o 0 ho rizo nte, quando A nachega ao po nto em que to do s o s anim ais decidem esquecer B re- )m en, e ficar na casa da flo resta para sem pre . T odo s, m eno s 0 )g ato . Q ue ... )- A m anha ja vern , M ajestade. 0 galo , que nao e 0 de ')Brem en , c an ta . Amanha eu co nto 0 r es to d a h is t6 ria .

    U rn pajem entra co rrendo co m seu grande leque. 0 o utro )p aje m en tra co rren do c om seu b ald aq uim . )

    - A te am anha, Ana - diz 0 Sultao. )E sai co m o s do is pajens, batendo de leve so bre 0 rnarmore )a s b ab uc ha s d o ur ad as .Passa-se urn dia. A no ite vern . E na exata ho ra em que as )

    c ig arra s s e c ala m, e ntra m o s p a je ns. C la p, c la p, a nu nc ia m a s b a bu -: )ch as a ch eg ad a d o S ultao . )- O nde e m esmo que tinhamo s ficado ? - pergunta ele )ed ucad am en te, d ep ois d e to ma r seu ch i- Ah, sim . .. D eixando o s o utro s anim ais arras de si, 0 )

    gato sa iu entao pelo m undo . E estava ainda no co meco do cam i-.nho do m undo , quando ...

    E e nq ua nto a lu a a pare ce p or tras d as tam are iras, A na co ntacomo 0 gato fo i achado po r urn velho m oleiro e levado para 0

    )m oinho . E com o 0 m o leiro v eio a m o rrer, d eix an do 0 moinhopara 0 p rim ei ro f il ho , 0 b urro p ara 0 segundo , e 0 g ato p ara 0 )terceiro . M as que gato ! U rn gato capaz de calcar bo tas, falar e )tra nsfo rm ar seu d on o n o rico M arq ues d e C arab as. )36 ) J 37

    ) ))

    )O s grilo s h~ m uito se calaram . E 0 dia arnanhece, lo go no )

    )) que 0,m ar~ do , fin alm ,en te, v ai se. e xibir em p raca p ublica. E 0

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    20/45

    po nto em que o Jo vem M arques de C arabas cam inha para 0 altar )com a filha do R ei.. - O s gato s do oasis estao se espreguicando , M ajestade. E 'dia. Am anha eu continuo a hist6ria. )

    - Esta b ern , A na. A te amanha. - A s babuchas vaGbatendo )sobre 0 rnarrno re. - M as nao se esqueca de onde fico u - reco -menda 0 S ulta o a nte s d e sa ir. I )

    - Po de deixar, M ajestade, co nheco bern essa hist6ria )- responde Ana.E , m al acab a d e falar, ja esta so zinh a.N a no ite seuin te, a narracao de ~na revela ao Sultao que, )

    casa~o 0 Marques com a filha do R eI, nasceu-lhes urn lindo )rneruno. E0m e~ in /o .d a h isto ria. d e A ~ a v ern a se r a qu ele m esm o~ue, em outra histo ria bern m ats anuga, p lanta urn grao de fei- )J ao e .q ua nd o 0 p e nasce so be p or ele ate as n uv en s. M as, o lh an dopela janela arras do Sultao , A na, esta no ite, m ede suaspalavras )com cuidado m aio r que de co stum e. Q uer acabar alguns m om en- )to s antes da chegada da rnanha, para po der falar de o utro assunto )co m seu o uv i~ te cativ o. E ntao , an tes qu e 0 g ala ca nte , e la c on ta ,c omo 0 /m enm ? fo ge descendo pelo pe e com o 0 O gre quemo rava la em cirna v ern co rrendo arras dele e... )

    - S im p atic is sim a Ma je sta de , 0 g alo n o p ole iro ja e sta levan-: ')ta~do a ca~e~a. M as antes que ele cante, queria the perguntar: )sera q ue n ~o dav a p ara esq uecer aqu ele neg ocio d o carrasco ?

    - M inha do ce rnenina, vo ce sabe que nao po sso . 0 carrasco Ie~ t~ pro nto , s6 esperando a ho ra em que vo ce nao tiver m ais h is- I )to n a s p ara co n ta r. I )- M as 0 se nh or n ao d ese ja v er m in ha c ab eca c ortad a, d es eja ? ). - Eu nao . M as ele nao pensa em outra co isa. Esta com

    aq uela ro up a d e ex ecucao , n ov a em fo lh a, g uard ad a ha urn tem - 'pao , com seu lin do capuz negro , 0 machado reluzente Tern )ate urn aj~ dan te! E n un ca, nu nca carrasqu eo u nin gu ern S eja ')cornpreensrva.

    - C om pree nsiv a" . E facil ser co mpreensivo co m a cabeca )d o s o u tr o s.- Entenda Ana, nao e so ele. Fosse s o ele, nao tinha pro - )

    blem a. M as tern a m ulher dele, A po brezinha ja aviso u a familia I )38 )

    ))

    f ilh o , rm agme , 0 menino nunca VlU 0 p al tra ba lh ar, te rn a te v er-) go nha dele na esco la. E 0 aju dan te. E o s p aren tes d o aju dante.) T odo s querendo a m esm a co isa. E demais.) - M as 0 senhor e 0 Sultaol

    - Enquanto eles quiserem - diz 0 Sultao de si para si.) E , m ais alto : - Eu sei, eu sei, fo i culpa m inha - acrescentando)lo go ,1 defensivo -, m inha e do C onselho ! Q uisem os ter urn car-) r as co s o p a ra im p re ss io n ar a qu ele Em ir v is it an te . E f oi n is so q ue d eu .') 0 galo cant a la fo ra, U rn raio de so l entra na sala da to rre,,/ o s d ois p aje ns ja en tra ram hi algum tem po . 0 Sultao se levanta.) - A te am anha, Ana.) - Eu nao quero rno rrer!) . - Eu sei - 0 Sultao vai saindo . - M as seu desejo s6

    muito pouco .) Ana cho ra. Sem grande desespero , po rem , sem grandes) lagrim as. Po is ainda se lem bra de uma po rcao de histo rias, e)sabe que po de em ends-las, no ite apo s no ite, para alegria do Sul-) tao , e tristeza do carrasco . T ern tem po pela fren te. E , no tem po ,tu do p od e ac on te ce r.) N o ite seguinte, la vai Ana com seu cha, retomar a histo ria) o nde a havia deixado , do Ogre que vern descendo pelo pe de/eijao e do me nino que, chegando la embaixo antes dele, co rta) 0 talo bern junto da raiz, e da lanterna que havia roubado doO gre, e que ele esfrega, e.da qual sai urn ...

    ) Contando a seu m odo aquilo que ouviu contar tan tas vezes) no s m odo s do s o utro s, Ana calca bo tas de sete leguas e, quase/em se dar co nta, vai atravessando as no ites. A te ter atravessadotantas, q ue um a rn anh a, said o 0 S ulta o, p erc eb e te r a ca ba do se u

    )e sto qu e d e o gre s, fa das , m ad rin has , p rin cip es e p rin ce sa s. C om o)seca urn rio , secou a m em oria de A na. E po r m ais que se esfo rce,)nao enco ntra dentro de si nem m ais um a histo ria para co n tar.) D esta vez A na cho ra e cho ra, pensando no carrasco . Enso pao cetim d os co xin s. Q uase en so pa 0 tapete. Cho ra tanto , que as)la grim as, c om o a s h isto ria s, se ca m d en tro d ela.) Exausta, ainda murm ura: "0 m eu d esejo v ale. V ale s im" .)E ado rm ece d esejan do , d esejand o co m fo rca, n ao ser m aisp rin -cesa, n ao estar n a terre, sair d aqu ele o asis.))))

    3 9

    ) )

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    21/45

    Ana do rm e. No escuro do seu so no urn vento com eca a )s o pr ar . S o p ra 0 vento , cada vez m ais fo rte no so nho de A na, agi-tando as o ndas do deserto , engro ssando as dunas. E 0 d ors o d asdunas esta co berto de espuma vermelha com o sangue, que san- )gue nao e. Sao as flo res de leandro , o s h ibisco s, as ro sas todas )que crescem nas paredes enos m uros do o asis, paredes e muro s )que 0 vento, 0 m ar e a areia van levando de ro ldao .

    E q ua nd o 0 vento am ain a e 0 mar se aplaina, Ana aco rda. )Esta so zinha, vestida co m suas ro upas, deitada na areia apenas )o ndulada. Sem nada, nada ao redo r."Partiram todo s?", se pergunta, "O u sera que ado rm eci

    n o o nib us e so nh ei?".A o lo ng e, u ma carav an a se ap ro xim a.A na espera urn po uco , depo is vai ao seu enco ntro . E , com o )

    hav ia f ei to 0 ho mem das cabras, levanta o s braces, agita as m ao s, )fazend o sinal p ara q ue 0 p rim e ir o c ame le ir o p ar e.

    Com 0 gesto , um a flo r de acacia se desprende do s seus cabe- )lo s, v olte an do le nta a te 0 chao .

    M a i s c a r a q u e u r n c a r n e l oPara 0 prim eiro cam eleiro , ao sinal de A na. i )Para 0 segundo arras dele. 0 terceiro para. C om cham ado s, gri- I

    to s , e aquele estranho grunhido do s cam elo s, para, o ndeante, )to da a c ara va na .

    Ana o lha para cim a. Seus o lho s ardem . V e apenas uma )s ilh ue ta e sc ur a, re co rta da c on tr a 0 so l. D o alto , ele a o bserva, l )menina sozinha no meio do deserto . E sem que ela tenha dito )n ad a, c utu ca 0 pesco co do cam elo co m 0 p e, fazen do -o do braro s joelho s. 0 ho mem ago ra est a a a ltu ra d e ~ na .D iante dela, do is o lho s m uito preto s. E so 0 q ue a pa re cedaquele ro sto . 0 resto , nariz, bo ca, testa, tudo esta co berto po rurn pano azul, que se pro lo nga ate a cabeca, enro lando -se em )turbante.4 0

    )

    )

    )))))

    ))

    ( )))

    ))))))))))))))))) _ - ~)) N ao sao muita co isa do is o lho s. M ~s para.9uem esta per-. d id a no d eserto , a pro cura de alguns pelxes fu jo es, po dem ser)m aisim po rtan te s q ue tu do . D o is o lh os, e uma m ao q ue se e sten de .) Pela mao do hom em azul, A na so be arras dele, no cam elo .)Q ue sus to quando 0 bicho se levanta num tranco sacudido ,co mo se fo sse jo gar seus co nduro res para 0 alto ! M as 0 medo) de c air e se r d eix ad a p ara tra s p re nd e A na n a se la m ais q ue a s m ao s,) U rn grito do homem , repetido de bo ca em bo ca. E em)neio a ruido de m etais e co uro s se entrecho cando , a caravanase poe novam ente em m arc~a l~vand? A ~a.) Para o nde sera que val? E a pnmeira p erg unt~ qu e. A na)se faz, depo is de ter gasto 0 aliv io po r n ao estar m ars so zm h~ .)P ara alg um lug ar, certam en te, ela p ro pria se resp ond e. E co nn-;nu a seg uin d o 0 fio do seu pensam ent~. Carav~nas parte~ , ecaravanas chegam . D e lugares. D e aldeias, o u cidades. A te de) 4 1'))

    I )o asis. M as sem pre de o nde hi o utras pesso as, para co mprar co i-. ) )nuito evidente. Em plena marcha, a o rdem e gritada, to do s

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    22/45

    sas, para alim entar o s cam elo s, para receber o s cam eleiros e o sv ia ja nte s. 0 raciocfnio de Ana parece logico , tranquilizado r. (

    "Caravanas" , diz ainda para si m esm a, "sao com o a vio es.: )levando genre e em brulho s e m alas e co isas, s6 que pela areia. I )M ais seguras ate que avio es. A lem do mais, se o s peixes fo ram , )a algum lugar, nao ficaram andando a esm o no deserto . Segui-ram certam ente as ro tas das caravanas, e pararam ou passaram : ')pelo s m esm os lugares onde esta vai passar' . }

    Pensado isso , A na acaba po r tranquilizar-se de vez. Sua. )alm a reco lhe o s rem os, deixa-se levar. Ja que esta no rum o certo ,p o de de sp re o cupar -s e.

    E Ana corneca a tomar po sse do seu novo lugar, olhando )p ara tras p ara co ntar o s cam elo s, so rrin do p ara 0 outro cameleiro , )estudando o s desenho s na sela na qual esta sentada, medindo , )as co stas do cameleiro bern diante do seu nariz. O lha para o slad os, alisa co m 0 o lhar os rastro s que 0 vento deixou na areia. )E po rque seu pensam ento esta dispo nivel, lem bra de urn m esm o )gesto feito em outra o casiao , quando sua mao ali sou o s grao s )finissimo s de uma praia e ela pensou que, se fo sse meno r,pequena como urn tatui, m eno r ainda, nao acharia aqueles )grao s nada finfssimos, acharia gro ss os , eno rm es, verdadeiras [ )pedras entre as quais avancaria com dificuldade, escalando . A , )lem branca resvala, vo lta para perto , traz para A na a reco rdacao )da salada to rre, tao presente na sua mem6ria como se aindaestivesse entre as dunas, com seus m arm ores e suas sedas. E ja r )tao distante com o se as dun as a tivessem so terrado . ( )

    A partir deste ponto , 0 tempo co rneca a passar para Ana: )no ritm o das paras do s cam elo s. Sem pressa, ondulante , cheiode cintilaco es, igual a um tempo de mar. E sera neste mesm o )tempo que ela ira navegar em seus pensamentos esvaziado s de' )qualquer urgencia, enfileirando urn dia arras do outro , como ,)um a caravana de dias, ate 0 po nto de chegada.

    M as, entre cada dia, hi a no ite. E e quando 0 tempo no )deserto muda, e as co isas acontecem . )

    N ada lhe dizia que a no ire estava se anunciando , naquele )primeiro dia de viagem . 0 so l ainda nao tinha se po sto , mal, )chegava ao ho rizonte. M as para os caravaneiro s tudo parecia. ( )

    )2

    faram , ajo elham -se o s cam elos, o s hom ens descem , co rneca 0. trabalho de desm onte. Aquilo que era um a linha sinuo sa, espe-.:tie d e lo ng a serp en te av an can do o rg an izad a, d esdo bra-se. C ar-~as, em brulho s, vo lum es, cestas, o dres sao retirado s do s cam e-j o s . E ninguern diria que cada camelo pudesse carregar tantafo isa. O nde antes era silentio , incha a algazarra. T udo e rapido ,'po rque a no ite tern pressa de chegar. As pesso as co rrem . Cada1m tern seus afazeres. S6 Ana nao tern nenhum , e se ve quase:,esquecida, parada no rodam oinho de gentes e sons, sem saber)0 q ue fa ze r.

    Se ela nao sabe, sabem os outro s por ela . Quando a no ite,bnfim abre sua m anta escura, as fogueiras estao acesas diante)das tendas de couro verm elho , urn cheiro de com ida se arriscayo ar, alguern tan~e ~s co rdas d.e urn instrum ento .

    A na nao havia sido esquecida, Com 0 co rp o to do o nd ean -~e po r dentro como se ainda estivesse no alto do camelo , se ve)entada diante das chamas, urn prato de com ida na mao , urnJoberto r de la sobre o s ombro s. A no ite e fria no deserto . 0Jalo r da areia do rme cedo .

    N aquela primeira no ite, Ana pouco o lha, pouco ouve..R epara apenas que todos o s hom ens estao velado s de azul, eAue sua pele, 0 pouco que dela se pode ver, e mo rena. M asJsti to nta de sono , e ado rm ece depressa debaixo da tenda, aca-riciando a m aciez de urn tapete e pensando que aquela ondula-)~ao to da deve ser da agua do seu co rpo , que ainda nao se acalm ou.) A co rda com uma tigela de leite - cabra? camela? melho r)lao pensar - na mao , enquanto a mesma agitacao que mon-JO u 0 acam pam ento na no ite anterio r 0 desm onta . E , caravan aem m archa, co rneca urn novo dia.) M as na segunda no ite Ana ja se sente em casa. Pode aju-)lar, carregar, puxar as co rd a s para armar a tenda. Pode buscar- -y eu pra:_o , ped ir 0 c ob erto r, e .c om e~ ar a fa ze r p ~e rg un ta s.. Nao todas as que gostana. Po rque ela esta aprendendo a)se contro lar. E po rque seu anfitriao nao e do tipo falante.Parece ate que nao tern muito para contar, e nada a explicar.';M esm o com perguntas longas e respo stas curtas, po rern, um ayrta am izade com eca a se estabelecer entre o s do is.'J))

    4 3

    )E po r conta dessa arnizade que, dali a algumas no itesr ) ) _ Que neg6cio ?)

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    23/45

    Ana vai cair no seu velho vicio , e se intro rneter onde ninguem )a c ha in ou .. A rmadas as tendas, co rnido tudo 0 que havia nos prates,' )l impado 0 fundo do s prato s co rn urn resto de pao chato com o; )u rn a panquec a, hiurn bem -estar m anso enro scando -se no acam -. )p arn en to . C on versas, u rn can to , ro da s fo rm ad as p or qu em ain danao tern sono . E de uma dessas rodas urn hom em se levanta \ ')ve msen tar-se d ian te da fo gu eira d e A na, en tre ela e seu anfitriao . )Os do is ho rn ens conversarn nurna lingua que Ana nao, )entende. To rnam vinho , riern. G esticulam m uito . O lharn paraela urna vez, depo is outra. E entao parecem esquece-Ia, entre ti- )do s q~e estao co rn suas p r6prias palavras. , )

    E tarde quando 0 ho rnem se vai. M as a curio sidade rnan- )te ve A na a co rd ad a._ 0 que e que ele estava conversando? _ pergunta ao ' )seu ja quase am igo . )_ Veio fazer neg6cio _ responde ele sem encara-la, ')

    ))

    I)I )

    )( ')I )))

    I )) ) 1 ) )

    _ Neg6cio im po rtante _ diz 0 h ome rn , r et ic en te ._ Qual? _ Ana insiste ._ Co isa de ho rnern.

    ) _ Que co isa de ho rn ern e essa? _ a curio sidade ernpurra)A na co rn rn ais fo rc a._ Quer comprar vo ce _ entrega ele afinal.) Sera urn erro , ou seus o lho s brilharn divertido s, po r tras) da s p e st an a s?) _ Me comprar??! ! _ Ana esta tao surpresa que se esquece)d e en trar ern p an ico .

    _ O fereceu vinte carnelo s.) _ Isso e m uito ? _ pergunta Ana, que nunca antes tinha)se avaliado ern carnelo s. N o fundo , m as nem tao no fundo assim ,J en te -s e enva id e ci da .o ho rnern o lha para ela com displicencia: _ Eu nao dava)_ retruca.) V rna pausa. Curto silencio entre o s do is._ E pra que quer me co rnprar? _ vo lta Ana.

    _ Para casar vo ce co rn 0 f ilh o d ele ."Casar??!! 0 homern esta louco ! Eu nao quero casar!

    )Quero a rninha mae!", pensa Ana nurn susto . E grita: _ M as)e u s ou c ria nc a') _ 0 filho dele tarnbern e _ re~ate 0 ho rnern co ~ ?atu-ralidade. _ Com pra ago ra, casa depo is. G arante 0 negoc io .) 0 me do comeca a doer na garganta de Ana. ,) _ Voce nao vai me vender, vai? _ pergunta sem certeza)d e q ue re~ o uv ir a resp osta.) _ E claro que nao . ., A na ja esta se refestelando na gratidao , quando 0 hornern)azu l acre sce nta co mo se rev elasse u rn se gre do :) _ Os camelo s dele sao rnuito rnagro s.") D epo is ri, ri, batendo co rn a mao na coxa.

    Pobre Ana. E ela que se sentia a rnasco te da caravana!) Dessa no ite em diante, nao tern mais so ssego . Todo s o s

    I )dias, antes da caravana sair, vai para junto do s carnelo s do)h orn em , a pa lp ar-lh es a s c an ela s, v erific ar s e e sta o e ng ord an do .)E a no ite, escondida, tenta tirar a pouca co rnida que lhes dao .

    ))

    4 5

    ()

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    24/45

    o que m ais aum enta sua angusua e que nao en tende )nada de cam elo s. N ao tern a m eno r ideia de com o seja u rn , )ca me lo g ord o. O u m ag ro . E stu da -o s, te nta nd o d esc ob rir q ua ntacarne hi po r baixo daquele pelo que m ais parece urn tapete'velho e esfrangalhado jogado sobre a pele aspera . A palpa-o spo r desencargo de co nsciencia, o lha para .as co rco vas, descon- )fiando que ali esta 0 segredo do peso . M as con tinua cheia de Jin certezas. A pesar d e tan ta analise , a (m ica co isa d e q ue co nse-gue se certificar e que cam elo tern urn cheiro b rabo , que leva )urn tem pao p ara sair das rnao s. )

    D ep ois da co nv ersa daq uela n oite , 0 hom em azu l nunc a )m ais to cou no assun to . Teria d ito a verdade? Ana nao o usa per- )guntar. O bserva-o quando vai beber nas fogueiras do s o utro s )hom ens azuis, gesticulando e falando alto com o fez aquelano ite . 0 ve de vez em quando co nversar com 0 dono do s cam e: )lo s. N ao 0 perde de vista. M as em venda ou casam ento nunca )m ais se falo u. E A na se co nso la calculando que, quanto m ais Ja caravan a an da, m ais p ossib ilid ad es ex istem d os cam elo s em a- )grecerem. )

    )D e v e n t o e m p o p a ))Quanto an daram ate cheg ar ao s ro chedo s A na ' ~

    n a o s ab er ia d iz er . N em s ab e ri a d iz er s e s ao r oc h ed o s, p ro p ri am e n te ,o u pedras , o u nem m esm o pedras. P arecem m ais blo co s de areia )c alcific ad a, c laro s e p olid os c om o se ta nto s v en to s tiv esse m g asto )su as a re sta s, e no rm es se ix os d e rio d ep osita do s a li p or a gu as q ueha m uito se fo ram . Po is e a som bra dessas quase pedras, desco -bre A na ao se apro xim ar, q ue se p ro teg em as casas d e um a ald eia.

    C as as ta o b ra nc as e p olid as q ua nta 0 re sto , q ue c om 0 resto )as vezes se co nfundem . Casas que poderiam ser de qualquer )o utra aldeia , se dian te de cada po rta u rn hom em nao constru isse )u rn barco e um a mulher nao tecesse redes. , )

    ) 4 74 6

    ) ) H ' . , d Edi> Construto r de barco - a muita agua no mun o . eve

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    25/45

    "Para q ue b arco s, no d eserto ?", g ostaria A na de perguntan )e.nao pergunta , po rque seu cam elo ja se po e de jo elho s e 6 carne- )le iro d esc e a gil d a se la , esq uec en do -se d e e sten der-lh e a m ao .

    S6 eles ap eiam . 0 resto da caravan a co ntin ua parad o, lan-'c an d o s ob re 0 c hao su a so m bra c om prid a e a ta da c om o uma c ord a.C aes ladram nas p atas d os cam elo s. D as p ortas, o s h om ens o lh am , )parando po r urn instante seu trabalho , as m ulheres levantam a )cabeca, enquanto as rnao s co ntinuam co nduzindo a naveta emg e sto s h a mu it o d ec o ra d os . A t ra s d a s s ua s s ai as e sc o nd er n- se crian-' )cas pequenas. )

    O s passo s do ho mem azu l p arecem m ais largo s n a clarid ade. )E le c am in ha p ara um a d as c as as , es vo ac an do o s p an os d a s ua ro up a,g rand e ave estran ha n esse n inh o. E A na, qu e tro ta lo go arras, n ao )s a be ri a d iz e r 0 que e m ais escuro , se ele , o u sua som bra. Chega- )se a u rn do s ho mens. E ste po usa 0 facao c om que trabalha. )

    o barco , ago ra A na pode ve-lo de perto , nao e grande. )T ern urn feitio d iferen te de to do s o s qu e ela viu antes, co m ares-ta s sa lie nte s d os la do s, co m o b re ves a sa s e , n a p ro a, la nc an do -separa fo ra , urn esp igao serrilhado feito bico de peixe-espada. k )estrutu ra , que aparece no lado de den tro , deve ser de o sso s, o u )de algum a m adeira m uito dura - "m as o nde conseguiriam )m adeira aqu i?" , m atu ta Ana, o lhando aquela aridez o nde ape- )n as alg uns m ag ro s cip6 s se en ro scam feito serpen tes n a b ase dasg rand es p edras. R evestida d e co uro s em end ado s en cerado s p oli- )do s en grax ado s, lem bra u rn tam bo r, o u 0 ventre grav ido de cer- )to s anim ais. Talvez po r isso , co mo se fo sse urn gesto inev itavel )d ia nt e d o v is it an te , 0 hom em azul bate no lado do barco com a )m ao espalm ada, arran can do u rn so m seco e cav o.o co nstru to r d e barco so rri, ap ro van do co m a cab eca. S or- )riem e apro vam todo s o sou tro s constru to res, batendo com as )m ao s no s co stado s de seus barco s. E acom panhada po r aquele ')e stra nh o b ate r, c orn ec a en tre d es e 0 hom em azu l um a conversa )da q ual, m ais u ma vez , A na n ao co mpreen de p alav ra .H om em azu l- 0 som e bo rn . ')

    C o nstru to r de barco - Tern que ser. U rn barco e com o )u rn in stru men to . O u c om o u rn c op o. S 6 p re sta se 0 som fo r d ireito . )

    H om em a zu l- C om u rn so m d esse s, e nfre nta q ua lq ue r a gu a.4 8

    ))) \

    )haver agua m ais fo rte que o s m eus barco s. M as eu nunca so ube) d e nenhum a que pudesse co m eles.) Um a mulher - E o llie que no sso s barco s v iajam no mundo) todo . Ana gira a cabeca, de urn para 0 o utro , co mo se o lh an do) o s ro sto s pudesse penetrar no que dizem . M as co nversa que a)gen te nao em ende e bo la que qu ica longe, e .lo go som~. .) H om em azu l - Q uando eu era m en~o , cruzer u~ nono barco que m eu pai com pro u do s teus palS . E ra urn no de) m uita co rrenteza, m as m eu s p es cheg aram seco s d o o utro lado .) Co nstruto r de barco - M eu pai era urn grande co nstru to r)de barco s. ,) H om em azul - E m eu pai sem pre m e co ntava da vez emque fo i pescar co m m eu avo , no barco que ele co mpro u do s teus\v6s. 0 lago era verde e tra ico eiro , e m eu pai nunca esqueceu) da qu ele b arc o.)))))))))))))))) ~-) 4 9'))

    J

    ()Construto r de barco - M eu avo era urn grande construto~ ) )) M as a parada naquela aldeia, s6 ago ra Ana se d~ ~onta,

  • 5/13/2018 Ana Z. aonde vai voc?

    26/45

    d e b arc os.H omem azul - E meu avo dizia que antes dele, e antes )

    do pai dele, o s barco s desta aldeia ja eram famoso s em toda aT erra d o S ol E sc ald an te .

    Construto r de barco - ]a eram , ha muito temp o.A na go staria de dar um a vo lta , explo rar urn pouco a aldeia, )

    mas nao quer se afastar, nao quer perder nem uma fala, comose p ud ess e g ua rd a-Ia s in te ira s p ara d ec ifra r m ais ta rd e.H omem azul - Sernpre me perguntei como e que voces,sabem fazer barco s tao bons, nesse lugar tao sem agua,

    Construto r de barco - Eu aprendi com meu pai.Outro construto r - Que aprendeu com 0 pai dele. )A mesm a mulher - E para que agua? N6s nao fabricamos )

    rio s, n em m ares. Para faz er b arco s, b asta sa be r faze r ba rc os.o mesmo construto r- E isso fazemos melho r do que nin- )guem , . \

    Falou-se em agua. M as ela nao e sequer o ferecida, apesar:dos labio s seco s. A gua e precio sa dem ais nessa aldeia, para se o fe- )recer a visitantes. Lavam -se as m aos em leite de cabra - daque-las m esm as cabras cujo couro sera urn dia transfo rm ado em bar- )co s - a fim de que estejam limpas na ho ra de fechar a venda. )A conversa nao dem ora. E ficil chegar a urn aco rdo quandq )to dos sabem 0 valo r do que esta sendo nego ciado .

    E afinal, discutido e pago 0 preco , 0 homem azul faz urn )chamado , urn cameleiro se aproxima, 0 barco e icado , atado )junto a carga do camelo . Com ele, so be uma rede. )

    Em breve, a caravana o ndula, a m arch a reco meca, Em bo rasab en do q ue jam ais en co ntraria seu s p eix es p or ali, A na teria go s' )tado de ficar urn pouco mais, pelo meno s 0 tempo de co rnecai )a entender algum a co isa daquela gente. E riao s6 ela. Eu tam bern, )co nfesso , fiquei m eio frustrada. Sernpre yo u de carona nas per-guntas de A na, para saber das co isas. E dessa vez, com ela cala-da, acabei ficando eu tambem no escuro . Que gente e aquela, )e de o nde vieram seus antepassado s fazedo res de barco s, nuncasaberei. A visao deles, po rem , vai com igo , com o a rede, cheia )de vazio s. E me conso lo pensando que urn dia ainda apanho )alg um a co isa co m ela.5 0 t ))

    I )

    pao fo i po r acaso . N em fo i po r acaso que chegar~ ate lao No.deserto , sem po nto s de referencia , to do s ? S c am in ho s p ar ec emJreto s. Q uem p od eria d iz er, e ntao , d os d esv io s tracad os p elo c ara-:>V aneiropara alcancar 0 lugar que h~ tanto s ano s estava em sua)fo ta e co mprar 0 bar~o ?O ~ seus desejo s? /) Tanta devocao intim ida Ana, que so passado algum tempoo usa fa ze r su a p erg un ta .) - Pra que voce quer urn barco , no deserto ?) - Po rque se a viagem e longa, como saber qu~ndo yOU)precisar de urn barco ? E 0 deserto : .. 0 desetto . e m uito 10,ngo. - 0 homem se cala po r alguns minutos. D epo is c?m pl~ta. -1 .1as nem ele dura para sem pre - outra pausa. M ais baixo : -)E u rn b arc o b em -fe ito e urn tesouro em qualquer lugar. . .) - M as p ra que a rede, se a qui nao se pesca? - A .na mstste,)com um a ponta de angustia no co racao . Nao pelo desejo de t~-)bem po ssuir urn barco . M as pela percepcao de que algo , rnaior)que 0 barco , Ihe escapo u.) - A rede e urn presente - responde 0 hom em azul, quasejrritado po rque A na parece nao entender 0 valo r da sua com pra..E ironico , vo ltando levemente a cabeca para ela: - Pra que urn)b arc o, s em re de ?)

    )))

    D e v e n t o e m v e n t o) E a o lo ng o do av an car d a carav an a, q ue p ro sse-)g ue ap aren tem en te ig ual m as se~p re d ~e!~n te, ha u rn m om en takm que um a tem pestade de a!e1a.tem 1ll1ClO.) Impo ssivel marcar com precisao esse mom :nto . Uma tem -.pestade de areia pode com ecar com um a sensacao entre o s den-Jtes, d e ran ger, o u d e serrilh a