Anais do I Simpósio Nacional Marxismo Libertário

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Anais do I Simpósio Nacional Marxismo Libertário

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Perspectivas e Tendncias da Autogesto Social

Ncleo de Pesquisa Marxista

NPM

Perspectivas e Tendncias da Autogesto Social

Realizao:Ncleo de Pesquisa Marxista (NPM / UEG)

Apoio:Grupo de Pesquisa Dialtica e Sociedade (GPDS / UFG)

ISSN:

Diagramao:Mateus Vieira Orio

Capa:Adriana Mendona

De 9 a 11 de junho de 2010 Universidade Federal de Gois - Campus II

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I Simpsio Nacional Marxismo Libertrio

Comisso Organizadora:Cleito Pereira dos Santos Diego Marques Pereira dos Anjos Edmilson Ferreira Marques Hugo Leonardo Cassimiro Jaciara Reis Veiga Jos Santana da Silva Lisandro Braga Lucas Maia Marcos Augusto Marques Atades Nildo Viana Veralucia Pinheiro

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Sumrio

.Apresentao................................................................................................ 5 Programao geral ........................................................................................6 Comunicaes .............................................................................................. 7 ndice de Comunicaes.......................................................................... 260

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ApresentaoO NPM - Ncleo de Pesquisa Marxista, da Universidade Estadual de Gois, promove o I Simpsio Nacional Marxismo Libertrio, cuja temtica central ser Perspectivas e Tendncias da Autogesto Social, objetivando articular pesquisadores, estudantes, militantes e outros interessados em desenvolver a teoria marxista e trabalhar seu carter libertrio e emancipador, indissoluvelmente ligado ao processo de luta pela libertao humana e instituio de uma sociedade radicalmente diferente, fundada na autogesto social. Neste sentido, o Simpsio, que ser o primeiro de uma srie, elegeu o tema "Perspectivas e Tendncias da Autogesto Social", objetivando focalizar a contribuio do marxismo libertrio para a realizao da aspirao humana, a realizao da utopia autogestionria. O Simpsio contar com Conferncias, Mesas Redondas e Sesses de Comunicaes. Ser realizado em Goinia, nos dias 09, 10 e 11 de junho de 2010, nas dependncias da Faculdade de Cincias Sociais que se localiza no Campus II (Samambaia) da UFG, no setor Itatiaia.

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ProgramaoDia 09: 08:00 - 11:00: Conferncia de Abertura: Marx e a Autoemancipao Proletria Dra. Lcia Bruno/USP. 14:00 - 17:00: Seminrios Temticos.

Dia 10:

08:00 - 11:00: Mesa Redonda: Tendncias do Marxismo Libertrio Rosa Luxemburgo e a Espontaneidade Revolucionria Gabriel Vitullo/UFRN. Comunismo de Conselhos e Revoluo Proletria Nildo Viana/UFG. Os Situacionistas e a Revoluo Total Cludio R. Duarte/USP. 14:00-17:00 Seminrios Temticos.

Dia 11:

08:00-11:00: Mesa Redonda: Experincias Libertrias e Perspectivas da Autogesto Conselhos Operrios nas Revolues Russa e Alem Cludio Nascimento. O Movimento Piquetero e as lutas na Argentina em 2001: Autogesto Proletria, Contradies e Limites Lucas Maia dos Santos/UEG. Conselhos Operrios e Maio de 1968 Jos Carlos Aguiar Brito. 14:00 Confraternizao

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A mercantilizao da msica e suas consequncias para o artistaAnderson Lucas Novaes1 [email protected] Resumo: A msica popular no mbito da indstria cultural, produto a ser comercializado, e para que esse comrcio seja rentvel as grandes indstrias da msica realizam polticas de lucros cada vez mais distintas, acentuando a perca de autonomia do msico compositor. O msico contemporneo, inserido na dinmica da diviso social do trabalho, encontra-se cada vez mais na situao de mero intrprete da msica axiolgica. A partir dessas constataes que buscaremos analisar o atual panorama da msica e de seus realizadores, desde o msico compositor e/ou intrprete s grandes empresas fonogrficas. Palavras-chave: msica popular; indstria cultural; padronizao e mercantilizao.

O presente trabalho tem por objetivo analisar o processo da produo musical popular contempornea, visto que as classes dominantes buscam a naturalizao dos seus valores, fazendo com que sejam reproduzidos em grande escala. A msica como instrumento cultural inserido na dinmica capitalista, figura-se como mera mercadoria. Com isso, as grandes empresas do setor musical buscam formas que possibilitem a mercantilizao de seus produtos, sendo que, a industrializao dos processos de produo, se torna a forma mais rentvel para a divulgao de seus valores. Com o desenvolvimento do capitalismo e o surgimento do que Theodor Adorno classificou como indstria cultural, a msica passa a ser monoplio das

Anderson Lucas Novaes graduando em Histria e integrante do Ncleo de Pesquisa Marxista pela Universidade Estadual de Gois.

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empresas especializadas na sua produo, as grandes gravadoras. Assim ento se justifica a padronizao da msica, que se d atravs da especializao e do tipo de tcnicas empregada na produo de uma msica (MARQUES, 2007, p.70). A criao dessas novas tcnicas, elaboradas por especialistas e tcnicos musicais, com o fim de padronizar a msica para ser comercializada, o que vai garantir de acordo com os valores axiolgicos2 a qualidade musical. Em conseqncia dessa padronizao e da produo em srie, h no mercado uma extenso de msicas com grande qualidade tcnica, mas, ao mesmo tempo, sem nenhuma qualidade crtica.

Ao relegar a qualidade a segundo plano, a produo artstica capitalista, mais uma vez, demonstra sua hostilidade para com a arte, pois esta passa a ter sua existncia determinada pela produo mercantil e por suas contradies e, tanto por um motivo quanto pelo outro, a qualidade e a especificidade da produo artstica subordinada aos ditames do capital e da burguesia. (VIANA, 2007a, p.25)

Portanto, percebe-se que a tcnica expresso dos valores dominantes, e conseqentemente as msicas que a utilizam passam a ser valoradas pelos que a produzem e pelos meios difusores, marginalizando a msica de cunho crtico. O resultado disto o fato do predomnio de msicas atuais serem desprovidas de contedo crtico, limitando-se apenas aos atributos estticos. A racionalizao, conceito muito utilizado por Max Weber, outro fator importante para a compreenso da msica inserida no sistema capitalista. Para Weber, h uma crescente racionalizao da msica, caracterizado na especializao das esferas que possuem lgica prpria e se fundamentam na calculabilidade de seus fatores tcnicos. O artista profissional quem emprega esta racionalidade em sua lgica prpria, sendo ele o suporte do desenvolvimento musical. Desta forma, podemos perceber que o processo de racionalizao da msica ocidental ocorre de acordo com a concepo weberiana de autonomizao das esferas que passam a ter uma lgica prpria e que impulsionada pelos sujeitos da ao racional da esfera.

A concepo de valores axiolgicos, aqui utilizado a desenvolvida por Nildo Viana, na qual se caracteriza o conceito axiologia como o padro de valores determinantes numa sociedade. (Ver, VIANA, Nildo. Os Valores na sociedade moderna. Braslia, Thesaurus, 2007. p.33).

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(VIANA, 2007a, p.39 e 40). Os msicos possuem diversos valores e por conviver num contexto onde se fundem e existem valores antagnicos, eles vo expressar esses mesmos valores nas msicas que produzir, hora, distante, hora prximo de seus valores autnticos. (MARQUES, 2007, p.64). Nota-se no msico contemporneo, a marginalizao de sua perspectiva axionmica3, esse processo se d pela diviso social do trabalho, que no mbito musical, torna o msico um profissional, que inserido em um processo de produo rgido e autoritrio, ditado pelas indstrias fonogrficas, constrange o msico a produzir msicas de baixo contedo crtico, pois s com essas mesmas composies se faz possvel o nico sucesso, no mais artstico e sim profissional.

Para Marx, com o processo de expanso capitalista da diviso social do trabalho que surge a arte 'enquanto tal'. A arte sofre um processo de autonomizao, surgindo o ento chamado artista profissional, ou seja, surge uma camada de especialistas na produo de arte. Disto tambm decorre o surgimento da ideologia de uma arte 'pura' 'autnoma'. (VIANA, 2007a, p.63).

Cabe-nos discutir, ento, quem integra essa camada de especialistas da produo da arte, mais especificamente da msica. Na msica popular os responsveis pela sua padronizao e comercializao so as grandes indstrias fonogrficas, que j possuem mais de um sculo de histria e transformaes na suas bases de produo. Aps o advento do gramofone a indstria fonogrfica apresentar uma mutao constante nos seus modos de difuso da msica, atingindo o rdio, o cinema e a televiso, sem constar suas transformaes no mecanismo responsvel pela sua reproduo, do vinil ao armazenamento digital. Porm cabe-nos aqui discutir apenas brevemente essas mudanas, pois o objetivo desse trabalho se d especificamente em discutir o processo de produo. O processo de produo da msica tambm vem se alterando constantemente

A perspectiva axionmica aquela que no se pauta em reproduzir os valores dominantes, e tenha por finalidade produzir uma expresso da classe explorada. (Ver, VIANA, Nildo. Os Valores na sociedade moderna. Braslia, Thesaurus, 2007).

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assim como seus mecanismos de reproduo, segundo Adorno o processo de produo organizado e dirigido segundo o modelo industrial ocupou o campo inteiro do consumo musical, substituindo o que a idia da produo artstica tencionava (In: DIAS, 2000, p.30). Podemos afirmar que, aps o processo de padronizao da msica, tornando-a mercadoria de consumo esttico, a msica popular deixa de adquirir valores artsticos, folclricos e intrnsecos aos artistas compositores sendo substitudos por esquematismos, planejamentos e tcnicas industriais que fornecem ao pblico consumidor produtos praticamente idnticos, que so garantia de lucros extraordinrios s majors4 da indstria fonogrfica. O msico compositor perde espao na indstria fonogrfica para os intrpretes, os mesmos possuem pouca ou quase nenhuma qualidade tcnica. Fato que se justifica devido ao critrio de seleo desses intrpretes, a escolha do intrprete se d atravs do julgamento puramente esttico na maioria dos casos, para Adorno esses intrpretes da indstria cultural, so aqueles que falam os jarges com facilidade, espontaneidade e alegria como se fosse linguagem que ele, no entanto, h muito reduziu ao silncio. Eis a o ideal do natural neste ramo. (Adorno & Horkheimer, 1985, p.120). A representao desses intrpretes fundamental para a indstria fonogrfica, pois os mesmos reproduzem a imagem de um modelo ideal, que vai da voz ao vesturio, fazendo com que a indstria da msica se alie com outros setores da indstria cultural aumentando seus faturamentos, que vo de direitos autorais aos de imagem. A utilizao desses intrpretes acentua as pssimas condies de trabalho do msico compositor, que alm de ter que se aliciar a uma grande gravadora para reproduzir suas msicas, tendo que em muitos casos dividir ou dar todos os seus direitos de autoria sobre a msica, agora no possui nem se quer os ganhos de imagem nos meios difusores. A partir dessa diviso do trabalho na msica notamos a profissionalizao de uma categoria na produo musical, de msico compositor, ou seja, aquele que apenas compe as msicas sobre os padres culturais prestabelecidos, para que outro contratado, o intrprete, tambm conhecido como

Termo utilizado por Mrcia Tosta Dias para caracterizar as grandes empresas da indstria musical. Ver, DIAS, 2000.

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astro ou dolo possa reproduzir. Para melhor entendermos o processo de produo da msica popular e no quanto essa produo retira do msico sua capacidade de produo artstica, temos um trecho de Mrcia Tosta Dias, onde, ela demonstra a cadeia produtiva da msica popular brasileira nos anos 70:

Reservada transnacional ou s empresas nacionais de grande porte, essa linha de produo continha as seguintes etapas: concepo e planejamento do produto; preparao do artista, do repertrio e da gravao; gravao em estdio; mixagem, preparao da fita master; confeco da matriz, prensagem/ fabricao; controle de qualidade; capa/embalagem; distribuio; marketing/divulgao e difuso. (DIAS, 2000, p. 65).

Notamos nesse trecho a nula participao do msico-artista, temos a clara concepo de produto industrializado nas palavras de Mrcia Tosta Dias, toda a produo de um lbum musical fica reservada a setores de produo, sendo eles, econmicos, artsticos, de execuo e difuso. Cabe ao msico contemporneo especializar-se em uma dessas reas e ser constrangido ao trabalho remunerado por uma grande gravadora ou empresa do setor musical, sua essencialidade como artista substituda pela sua mo-de-obra qualificada, sendo seu servio, ento, terceirizado pela indstria fonogrfica:

O artista no tem lugar na empresa; o cast no existe espacialmente nela. Apesar de conferir a necessria essencialidade ao processo, o artista, paradoxalmente, no faz parte da indstria. Ela passa por ela, negocia, grava o seu disco, trabalha muitas vezes arduamente na divulgao do produto. Oferece gratuitamente seu savoir faire, seu talento, sua personalidade artstica, seu nome, sua imagem, at quando o negcio se mantenha interessante para todas as partes envolvidas, caso contrrio, ser substitudo. (DIAS, 2000, p.72)

Analisamos at aqui as relaes de trabalho na dinmica da produo da msica popular gerida pelas majors da indstria musical, porm h um campo crescente de oposio ao modelo industrial fornecido por essas majors, so as

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produes alternativas ou independentes. As grandes produes de softwares de gravao, aliadas ao aumento do acesso a internet e um grande pblico insatisfeito com os produtos musicais, nos ltimos anos vm proporcionando um novo panorama para a produo musical, as indstrias fonogrficas, que, como j havamos citado, geria a produo e reproduo da msica popular, produziram novas tecnologias de gravao mais rentveis, que, articuladas maior acessibilidade a internet vem ocasionando uma renovao no cenrio musical, podendo abrir espao para as produes que venham contrapor msica mercantil. Alm de prospectar seu espao num mercado fechado a novas mercadorias, a produo independente sempre ofereceu ao msico a possibilidade de, se no extinguir, ao menos minimizar o controle tcnico sobre o trabalho na msica. (DIAS, 2000, p.140). A msica alternativa vem se configurando no cenrio contemporneo como uma forma de refgio ao msico, que mesmo dependendo dos hardwares e softwares produzidos pelas grandes indstrias no processo de produo, no dependem da grande gravadora nos processos de pr-produo intervindo no que, ou em como ser gravado e divulgao. A internet possui papel fundamental na divulgao, os meios difusores clssicos, rdio e televiso, so conhecidos por serem os meros divulgadores da msica das majors que, por sua vez, financiam a manuteno desses meios atravs do jab5. O msico independente, ou seja, aquele que no depende diretamente das grandes gravadoras para produzir e reproduzir seu trabalho possui atualmente grande parte da produo musical, forando com que at mesmo a televiso, meio clssico de difuso da msica industrial ceda um espao ainda que pequeno de sua programao para a divulgao do cenrio independente. Intitulado de indie6, pelos meios de comunicao. cada vez mais freqente nas matrias televisivas a apario dessa produo indie, essas aparies acarretam alguns problemas ao cenrio alternativo, muitos desses artistas acabam seduzidos por contratos de produo e5

Jab ou Jabacul, designa a oferta de favores financeiros em troca de promoo e divulgao. (SHUKER, 1999, p.180)

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divulgao das empresas fonogrficas causando um retrocesso no processo de autonomia produtiva, tornando a msica novamente dependente dos grandes oligoplios da msica. Se analisarmos com ateno esse processo de terceirizao do msico popular para com esses oligoplios, percebemos que a indstria fonogrfica acaba aumentando seus lucros, pois a mesma no precisa custear encargos do processo de produo, que feito totalmente pelo msico, apenas cabem s empresas da msica o papel da divulgao do produto que mais lhe convir. Podemos afirmar que cabe ao msico independente, emancipar-se em todos os campos: da produo divulgao. Para isso o msico independente j conta com alguns dos fatores essenciais sua existncia, que so os meios de produo e divulgao a um pblico que busca algo diferenciado do que apresentado cotidianamente pelos oligoplios culturais. Notamos assim, que a msica enquanto manifestao artstica e cultural, s pode ser isenta dos valores axiolgicos se produzidas na perspectiva independente dos meios e atributos da msica mercantil, sendo que, alguns dos fatores que do existncia a essa msica contestatria j esto em vigor, cabendo aos msicos assimilar esses fatores e utiliz-los para uma emancipao social e revolucionria, contrapondo-se a perspectiva individualista na busca por sucesso profissional.

Bibliografia ADORNO, Theodor. HORKHEIMER. Max. A dialtica do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. DIAS, Mrcia Tosta. Os donos da voz: Indstria fonogrfica brasileira e mundializao da cultura. So Paulo: Boitempo, 2000. SHUKER, Roy. Vocabulrio de msica pop. Traduo de Carlos Szlak. So Paulo:

Termo utilizado pelos meios de comunicao para designar a msica independente, ou seja, a que no depende de uma gravadora no processo de produo.

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Hedra, 1999. VIANA, Nildo. A Esfera Artstica: Marx, Weber, Bourdieu e a Sociologia da Arte. Porto Alegre: Zouk, 2007. VIANA, Nildo (org) Indstria Cultural e Cultura Mercantil. Rio de Janeiro: Corifeu, 2007. VIANA, Nildo. Os Valores na sociedade moderna. Braslia, Thesaurus, 2007.

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I Simpsio Nacional Marxismo Libertrio Mundializao do capital e a (de)formao do trabalho em Gois1Angelo Rafael Nascimento Nunes Graduando em Cincias Econmicas/UEG/PVICUEG/[email protected] Eliezer da Silva Freitas Graduando em Cincias Econmicas/UEG/PBICUEG/[email protected] Resumo: O presente trabalho prope-se contribuir a discusso e reflexo entre formao humana e (des)qualificao no mundo do trabalho, ao analisar o profundo processo de desencadeamento da reestruturao produtiva, sobretudo nas ltimas trs dcadas, sob o ttulo de Mundializaao do Capital2. Frente s transformaes, evidencia um intenso processo de flexibilizao/precarizao das relaes de trabalho e tendem a iludir qualquer promessa integradora a uma nova morfologia da classe trabalhadora3 no sistema produtivo. Assim, a partir das contribuies de Marx e outros autores de formaes marxistas para a compreenso e crtica, busca-se elucidar que a classe trabalhadora passa por mutaes e cada vez mais se afasta de articulaes do saber tcnico/cientfico, tornando-se apndice4 no sistema produtivo. Palavras-chave: Trabalho, qualificao, autonomia, subordinao. Abstract: This paper aims to contribute to discussion and reflection between human development and (dis)qualification in the world of work, considering the profound process of triggering the restructuring process, especially in the last three decades, under the title "Mundialization of Capital . Forward to change, shows an

O presente trabalho possui como pontos de partida as Pesquisas Efeitos da mundializao no desenvolvimento regional no Brasil: a construo do Territrio de Acumulao de Trabalho de Gois e a (re) afirmao do subdesenvolvimento brasileiro(concluda) e Anpolis no contexto de acumulao territorial do trabalho em Gois, realizadas na Universidade Estadual de Gois/UEG Unidade de Cincias Socioeconmicas e Humanas/CSEH, atravs do Ncleo de Estudos e Pesquisas Econmicas/NEPE. 2 Sobre este assunto ver: CHESNAIS (1996 e 2005). 3 Conceito de Ricardo Antunes (1995 e 1999) 4 Esse processo esta bem mais caracterizado nos "Manuscritos econmicos e filosficos" de 1844 (ver Marx, 1994, 201-210 e 1970).

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intense process of relaxation / precariousness of labor relations and tend to evade any promise integrating a new "morphology of the working class" in the productive system. Thus, from the contributions of Marx and other authors of Marxist formations for understanding and criticism, seeks to clarify that working class goes through changes and increasingly moves away from the joints of the technical / scientific knowledge, becoming in Appendix production system. Keywords: Work, qualification, independence, subordination.

Introduo O presente trabalho prope-se contribuir a respeito das novas exigncias no mundo do trabalho no concerne da qualificao profissional e suas relaes no profundo processo de desencadeamento da reestruturao produtiva, sobretudo nas ltimas trs dcadas, tais reflexos geraram modificaes econmicas, sociais e, sobretudo geogrficas, sob o ttulo, Mundializao do capital Chesnais(1994, p13), a uma nova configurao do capitalismo mundial e nos mecanismos que comandam seu desempenho de regulao, assim como a formao que, baseado no desencadeamento repulso e atrao da fora de trabalho, Perroux (1977), proporcionando, a formao de territrios econmicos de Haesbaert (2006), e uma tendncia a um desenvolvimento desigual do espao, em Harvey (2004). Estas transformaes alteraram o padro de atuao dos governos e a formao de um intenso processo de precarizao das relaes de trabalho, constituindo novas formas de racionalizao no mundo do trabalho coerente s relaes de comando do oligoplio mundial, assim como, estabelecendo formas segmentadas, estratificadas, hierarquizadas e muitos menos a garantia de polticas de pleno emprego. O ponto principal que perpetua na pauta de discusso dos governos, que o desemprego possui ligao com a incapacidade adaptativa do trabalho, diante das intensas transformaes, por isso, uma das dificuldades de comparao devido natureza e diversidade das sociedades, decorrente do grau de pluralidade ou de outras formas de desenvolvimento alcanado por eles, designado pelos diferentes perodos

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de sua evoluo. Talvez por isso, reproduziu as diferentes teorias e/ou abordagens, que proporcionam maior ou menor grau de explicao referente ao mercado de trabalho. Com base no exposto, so definidos, nesta verso, os postulados da anlise marxista perante as questes do mundo do trabalho, buscando o seguinte questionamento: A qualificao dos trabalhadores garante a insero no mercado de trabalho e permanncia nele?

1- Mutaes do trabalho: A emergncia de novos perfis profissionais no Brasil As alternativas que foram buscadas no Brasil, baseados nos preceitos do Consenso de Washington, refletiram o baixo crescimento econmico e o alargamento do mercado de trabalho fragmentado, em torno de suas estruturas, principalmente o crescente contingente de desempregados. Sendo assim, o aumento das terceirizaes e outras formas de relaes da fora de trabalho, trouxeram impactos de precarizao sem precedentes, dotado pelo resultado da forte presso de flexibilizao dos trabalhadores e as suas remuneraes. No Brasil, havia assim uma bifurcao, de um lado, o padro de desenvolvimento com os processos de excluso do outro lado, traado por fortes caractersticas de segregao social. Este contingente amplia a tendncia de pauperizao da classe trabalhadora, tendo assim, precondies aos processos de submisso do trabalho mediante as relaes de expanso e espoliao capitalista. Para Marx, o fator importante era evidenciar a pauperizao relativa da classe trabalhadora, uma vez que, o aumento do nvel salarial no cresce na mesma na mesma proporo do que as riquezas de produo capitalista. A anlise de Marx , essencialmente, ao fator do salrio relativo5.

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As formas como estes processos se restabeleceram a lgica mundializada, propagou uma das preocupaes de parte dos capitais de que, a reintegrao de atividades, o emprego e a qualificao da mo-de-obra era fundamental ao desenvolvimento da fora de trabalho mais valorizada e diversificada. Assim, Angela Amaral (2005), explica que, a qualificao profissional reaparece no mpeto de recompor o capital, bem como, uma necessidade da fora de trabalho, ao analisar o campo histrico, abriga a bandeira de reintegrao da educao como estratgia para o enfrentamento do desemprego. A incoerncia entre a educao e trabalho, sob a lgica da Mundializao do Capital, designa o mecanismo de alienao do trabalhador. A conexo entre o conhecimento produzido socialmente e os processos de produo da essncia no contexto das relaes sociais capitalistas guiada principalmente pelo aspecto da diviso entre trabalho manual e trabalho intelectual, deste modo, o conhecimento apresentado a servio das classes dominantes economicamente. Sendo assim, o que se apresenta da classe dominante , segundo Paiva (2001), mensurar a educao como fonte de crescimento econmico, mas de obter formas de aprendizagem adaptativas em um mundo cada vez mais complexo. Neste sentido, na dcada de 90 at hoje, observou-se que o enfrentamento adaptao da fora de trabalho ligado s novas exigncias da produo, principalmente impulsionada pela competitividade e produtividade no Brasil, foram implementadas diversas polticas de qualificao profissional. O documento da Confederao Nacional da Indstria (CNI), evidencia os processos de formao do trabalhador contemporneo de acordo as demandas especficas no mercado de trabalho:

A categoria salrio relativo prescrita por Marx, em 1847. A importncia desta categoria foi descoberta por Marx a partir da leitura dos textos de David Ricardo. Um dos grandes mritos de Ricardo ter examinado, fixado como categoria, o salrio relativo ou proporcional. At ento, o salrio sempre fora considerado algo simples, e o trabalhador, em conseqncia, um animal. Karl Marx, Teorias da mais-valia: histria crtica do pensamento econmico, p.850. Volume II. So Paulo: Difel, 1980.

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O setor produtivo requer trabalhadores cada vez mais capacitados e qualificados. Disso decorre a necessidade de identificar quais as competncias dos perfis profissionais desenhados para atender s novas demandas da indstria. O processo no estanque, mas de grande sinergia: assim como a educao contribui para o avano da indstria, esta, por sua vez, retribui provocando mudanas no ambiente educativo. (CNI, 2007, p.8)

A partir deste entendimento, os setores produtivos incorporam como frente dominante para a atribuio de ocupaes de acordo com a lgica capitalista, evidenciando o crescimento econmico. Em conjunto, tais caractersticas leva a afirmar as colocaes de Braverman (1977), acerca da quais, a qualificao profissional se acentua como caracterstica decrescente, quando relaciona insero de um agregado maior de conhecimento cientifico ao processo de trabalho, possuindo intensa desconexo entre execuo do trabalho e concepo, sendo assim, o autor discute, se o contedo cientifico e educado, nas relaes do trabalho, tendem para um plano mediano ou para a polarizao. Dessa forma, o autor salienta que, quanto maior o incremento da cincia no processo do trabalho, menor o entendimento nos processo de produo. Dessa forma, as mudanas ocorridas sob uma nova lgica de produo e reproduo Mundializado, ao disseminar [...] uma maneira de nomear essa necessidade do ajustamento do trabalhador moderno sua tarefa (CASTEL, 1998, p. 517), emerge a classe trabalhadora com perfil diferenciado, coerente de um novo homem, disposto a submeter s condies de trabalho impostas diante do contexto produtivo. (HARVEY, 1993).Antunes (1999) em sua analise, descreve que o trabalho multifuncional, polivalente6, principalmente em uma estrutura mais horizontalizada, de base integradora entre empresas, incluindo as empresas terceirizadas, tem como propsito a

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reduo do tempo de trabalho. De fato, o modelo de qualificao apresentados pelas prprias corporaes empresariais, buscam garantir a confiana dos trabalhadores, que atendem em uma economia flexvel. Portanto:

Um processo de organizao do trabalho cuja finalidade essencial, real, a intensificao das condies de explorao da fora de trabalho, reduzindo muito ou eliminando tanto o trabalho improdutivo, que no cria valor, quanto suas formas assemelhadas, especialmente nas atividades de manuteno, acompanhamento, e inspeo de qualidade, funes que passaram a ser diretamente incorporadas ao trabalho produtivo. (ANTUNES 1999, p.53).

A nova concepo de insero da classe trabalhadora define-se de um esforo individual, instituindo a flexibilizao como padro dominante do capitalismo, para enquadrar as aes transformadoras. Frente a esta situao, os capitais e os governos tendem a destruir os direitos do trabalho e rebaixar cada vez mais os trabalhadores que no se enquadram aos requisitos, ao passo que, o contingente qualificado uniformizado e desvalorizado pelas foras capitalistas.

2 Consideraes sobre o mercado de trabalho formal em Gois Na seo anterior observamos que os processos educacionais no contexto dos fenmenos socioeconmicos, associados com a acumulao de capital e as relaes de poder existentes, representam o carter predatrio na forma de atuao, nas demais sees iremos analisar que Gois, assim como Anpolis, indica um cenrio de conflitos e contradies nas relaes de capital e trabalho, produzindo um processo

necessrio colocar as diferenciaes quanto ao uso dos termos do trabalhador polivalente do trabalhador multifuncional. Enquanto o primeiro submetido a maior nmero de rotinas/tarefas em adio s que realiza, sem que com isso ocorra maior intelectualizao do trabalho, o segundo exposto a situaes complexas, que requerem maior atuao cognitiva (Salermo, 1996).

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de enfeixamento, h uma nova funcionalidade nas relaes capitalistas. O cenrio de Gois apresenta sinais de dinamismo na indstria, no que se trata a gerao de empregos, porm, voltados para as ocupaes de baixo teor tcnicocientifico, legitimando o processo de desindustrializao precoce7 vivido no pas, ao mesmo tempo, amputando Gois a uma dinmica de gerao de empregos da fora de trabalho voltados para os setores que compensam a atividade industrial8. Paralelamente a este quadro, de centralizao, fragmentao e outras formas que ressurgem no mercado de trabalho, tendem ineficcia de Gois superar as condies de atraso tcnico-cientfico em relao ao centro dinmico do pas, leiase o Sudeste. Nota-se, tal situao em que se encontra o mundo do trabalho goiano, este no difere do cenrio atual evidenciado, tambm, no centro dinmico do pas, quando relacionada gerao de ocupaes voltadas para o setor de Servios e seus subsetores de atividade9, onde se verifica sua importncia para a gerao de empregos, bem como a evoluo da contratao atpica ou flexvel, onde tal instrumento, muito utilizado em todas as escalas do espao de produo capitalista, intensifica o uso da fora de trabalho, alterando o carter inclusivo do mercado de trabalho, tornando-o um ambiente criador/gerador de incertezas e de intensificao da redundncia do Trabalho. Com o intuito de discutir alguns destes elementos, a prxima seo busca alimentar a discusso sobre o mercado de trabalho de Anpolis frente ao cenrio exposto.

Ver RICUPERO (2007) Ver MOREIRA et.alli. (2008) 9 Sobre esta discusso, ver POCHMANN (2001)8

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3 Consideraes sobre o mercado de trabalho formal Anpolis Sendo assim, de acordo com os dados da RAIS/ MTE, para o perodo 20002008, o municpio apresenta dificuldades em manter um ritmo crescente na captao de novos trabalhadores, indicando uma tendncia manuteno dos atuais nos postos de trabalho gerados. Ou seja, no h dificuldade em se gerar empregos formais, j que no perodo em questo houve um acrscimo de cerca de 75%, mas as caractersticas desta dinmica de gerao de emprego , no mnimo, interessante. Uma das informaes que contribui para a anlise dessa afirmao a varivel Tipo de Admisso. Verifica-se que houve um aumento de 42% na categoria Admisso no Primeiro Emprego, enquanto que as categorias Reemprego (que significa admisso de empregado com emprego anterior) e No admitido no ano (que significa que os trabalhadores j estavam presentes na empresa, quando da informao para a RAIS), aumentaram em 100% e 71%, respectivamente. Em termos de participao destas categorias no total dos postos de trabalho formais gerados no municpio, os dados mostram que enquanto no ano de 2000, Admisso no Primeiro Emprego representava 8,9% do total dos postos de trabalho, em 2008 esta categoria passa a representar 7,1%; enquanto que as duas outras categorias que representavam 27% e 62%, respectivamente, em 2000, passam a representar 30,7% e 60,5% do total gerado no municpio em 2008. Ou seja, o mercado de trabalho de Anpolis pouco dinmico no que se refere aquisio de novos trabalhadores. O que acontece de fato a manuteno dos postos com rotatividade e/ou manuteno de trabalhadores, entende-se no criao de empregos, mas uma mera alternncia de ocupaes dos trabalhadores propriamente dita. O que se observa a articulao dos vnculos empregatcios representados por contratos com prazo/tempo determinados. O grfico 1 mostra a evoluo dos contratos atpicos e/ou flexveis e dos contratos com prazo/tempo indeterminados (tpicos) em Anpolis.

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I Simpsio Nacional Marxismo LibertrioGrfico 1 Anpolis - Evoluo dos tipos de vnculos 2000 a 2008 em %

410 360 310 260 210 160 110 60 10 TPICOS FLEXVEIS (ATPICOS) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1 1 9,1 16,5 16,1 14,1 21,8 34,8 39,1 48,9 65,3

75,6 161,0 161,9 227,6 309,2 279,9 390,4 TPICOS FLEXVEIS (ATPICOS)

Fonte: RAIS/MTE Elaborao: Centro de Estudos sobre Trabalho, Territrio e Desenvolvimento/CeTTeD-CSEH/UEG Observao: Ano de 2000 representa a base = 100.

Observa-se no grfico 1 que, o vnculos de trabalhadores atpicos e/ou flexveis, cresce de forma expressiva, frente as mesmas caractersticas dos municpios expressivos no Brasil, neste sentido, o mercado de trabalho anapolino se expressa em um processo de precarizao sem precedentes da fora de trabalho. O ponto de partido ento que, a intensa formao de trabalhadores inseridos no mercado de trabalho com contratos de prazo determinado, gera reflexos diretos nos rendimentos, assim, observa-se que em Anpolis 73,5% dos trabalhadores formais recebem entre 1 a 3 salrios mnimos, em 2008. No perodo 2008-2000, houve um aumento de 79,7% no nmero de trabalhadores situados nesta faixa e de 85,8% no nmero de trabalhadores situados na faixa de 0,5 a 3,0 salrios mnimos. A faixa de rendimentos mdios que vai de 3,01 a 7,0 salrios mnimos que em 2000 representava 18% do total dos empregos formais gerados, em 2008 concentrava 14,5% do total dos trabalhadores formais. Queda tambm verificada na faixa de rendimentos mdios de 7,01 a 20,0 salrios mnimos: de uma representao de 6% do total dos postos de trabalho gerados em 2000, para 4,9% em 2008. Defini-se ento, com a expanso de contratos de curto prazo e uso redundante da fora de trabalho, representado pela baixa oxigenao dos postos de trabalho (baixa insero de novos trabalhadores), ocorre uma concentrao de trabalhadores

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recebendo baixos salrios. De acordo com os dados da RAIS, no municpio de Anpolis, haviam 22.102 empregados formais em 2003 e, 36.248 no ano de 2008, perfazendo um saldo de 14.146 empregados formais no referido perodo, significando um aumento de 64% no nmero de trabalhadores nessas ocupaes. Alm disso, a participao das ocupaes passou de 46,3 % para 51,7 % em relao ao total de empregos gerados no municpio. Quanto escolaridade, verifica-se que houve uma evoluo ntida na participao de trabalhadores dos servios com ensino mdio de 24%, e uma leve evoluo nas demais ocupaes com essa escolaridade.Gr fic o 7 - A n p o lis - P r in c ip a is o c u p a e s c o m e n s in o m d io c o m p le to 2 0 0 3 a 2 0 0 8 - % e m r e la o a o to ta l 2 0 ,0 0 1 8 ,0 0 1 6 ,0 0 1 4 ,0 0 1 2 ,0 0 1 0 ,0 0 8 ,0 0 6 ,0 0 4 ,0 0 2 ,0 0 0 ,0 0 2003 2004 E s c ritu r rio s T ra b a l h a d o re s d o s s e rvi o s T ra b a l h a d o re s d e fu n e s tra n s ve rs a is Ve n d e d o re s e p re s ta d o re s d e s e rvi o s d o c o m rc io 2005 2006 2007 2008 1 ,2 1 3 ,3 3 3 ,7 0 1 ,5 6 3 ,7 3 1 ,9 1 5 ,1 6 5 ,3 2 5 ,5 4 5 ,8 8 3 ,9 2 2 ,4 3 5 ,7 9 4 ,0 9 2 ,8 0 5 ,7 5 4 ,2 8 3 ,5 9 1 5 ,2 2 1 7 ,1 6 1 5 ,5 6 1 7 ,5 9 1 7 ,6 9 1 8 ,8 2

Fonte: RAIS/MTE Elaborao: Centro de Estudos sobre Trabalho, Territrio e Desenvolvimento/CeTTeD-CSEH/UEG

Segundo os dados da RAIS, houve uma reduo no nmero de trabalhadores com ensino fundamental completo nas principais ocupaes. Elevou-se o nmero de trabalhadores com maior grau de instruo, no caso de trabalhadores com ensino superior completo, passou de 955, em 2003, para 2.956 em 2008, ou seja, um aumento de 209,5%.

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Consideraes Finais Esta discusso bastante difundida, no vis da qualificao e as competncias, colocam como uma das principais preocupaes para a insero do indivduo no mercado de trabalho e a permanncia nele. A insero de tecnologias e os processos de Mundializao do Capital tendem impor novas formas de racionalizao no mercado de trabalho, diante das intensas transformaes e reformulaes no setor de servios e industriais. de fato notar que, a lgica nesta dinmica de ascenso profissional torna-se como fator culminante de enfeixamento de processo. A combinao frente a nova morfologia da classe trabalhadora evidenciam para uma realidade complexa e multifacetada. Tais caractersticas conduzem a reafirmao das limitaes para melhorias de salrios, pelo resultado do profundo desencadeamento de reestruturao em escala global, em consolidao de hegemonia neoliberal, cujos resultados na maior parte dos trabalhadores foram o aumento da instabilidade do trabalho, reduo dos salrios, precarizao do trabalho e dos vnculos de emprego, bem como a elevao das desigualdades e da excluso social. Assim, h de se verificar que mesmo os pases subdesenvolvidos, no caso o Brasil, adquirissem o padro de qualificao difundido, o sistema capitalista no daria conta de absorver todo este contingente de trabalhadores, pois o mercado de trabalho no para todos, evidenciando a afirmao da oferta ilimitada de mo de obra, uma vez que este processo tendem a achatar os salrios e inibir que o trabalho se contraponha de maneira organizada ao capital.Nestes termos, o mercado de trabalho goiano, em especial Anpolis, reside de uma funcionalidade dos contratos atpicos, e a afirmao de que: as relaes interativas entre a melhoria nas condies de vida e o aumento do nvel de escolaridade no so fatores determinantes. O que se observa tambm, que a escolaridade pouco influencia nas essncias dos salrios e das ocupaes dos trabalhadores, entendendo-se que, os campos educacionais se adquam acumulao do Capital, via o aumento da explorao do trabalho, nos termos aqui apresentados.

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A escolarizao como mecanismo central na constituio do capitalismo

A escolarizao passou a ser pensada como mecanismo central na constituio da nova ordem mundial, ela se tornou um dos mecanismos de controle e hierarquizao dessa nova ordem social. Assim, vo se criando espaos especializados onde o sujeito vai ser educado sob a tutela do Estado, tendo ento uma educao sistematizada e disciplinada de acordo com o interesse fabril, ou seja, a limitao da autonomia da criatividade e de uma imposio cultural. Permanecendo a escola como instrumento repressivo e mediador entre Estado moderno, a burguesia e a classe trabalhadora. A escolarizao ps-revoluo e instalao da sociedade burguesa industrial emergente surgem de forma mais intensa no processo de industrializao, principalmente na segunda fase da revoluo industrial na qual o conhecimento cientfico passa a ser fundamental para obter inovaes tcnicas necessrias ao desenvolvimento industrial capitalista. Na primeira fase da revoluo industrial a Inglaterra ainda estava frente da grande expanso econmica por que parte das inovaes tcnicas no dependiam de conhecimento cientifico avanado, o momento histrico ainda permitia que homens prticos, experientes e de bom senso estivessem frente da grande expanso econmica, que se caracterizava com produtos como o carvo e o ferro e o seu smbolo maior era a construo da estrada de ferro. A construo dessas estradas permitiu uma ligao geogrfica e possibilitou que o progresso industrial emergente se espalhasse por outros pases o que no impediu uma desigualdade na industrializao e uma crescente taxa de emprego e migrao, o que traria enormes problemas para os pases devido a grande concentrao de pessoas no espao urbano e as duras jornadas de trabalho essas condies permitem uma crescente acumulao do capital nas mos dos grandes homens de negcios.

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Mas, a partir do momento histrico em que o processo de industrializao apresenta uma nova e revolucionria tecnologia, ocorrendo ento a segunda fase da revoluo industrial baseada na indstria qumica e eltrica o mundo ver novas e grandes transformaes como, por exemplo, a indstria de corantes artificiais que nasceu de um laboratrio dentro de uma fbrica assim como os explosivos e a fotografia que mais tarde iro criar uma estreita relao com o laboratrio de pesquisa onde o professor ser um elemento importante, vinculando historicamente indstria e sistema educacional, pois o poderio industrial ir direcionar o sistema educacional de acordo com as suas necessidades e pretenses. Nos Estados Unidos o laboratrio comercial j surgia juntamente com as indstrias telegrficas e se tornariam famosos atravs de Thomas Alva Edison. Os norte-americanos percebem ento a importncia do investimento na escolarizao em massa para a formao de engenheiros, dessa forma produziam engenheiros de acordo com as necessidades reais. J os alemes valorizavam as escolas secundarias, fugindo ento da escola clssica e criando a escola tcnica. Os franceses apostavam numa escolarizao elitizada de alto nvel. Com a descoberta de novas matrias-primas encontradas fora da Europa, Inglaterra e Blgica so golpeadas na corrida de modernizao industrial, os norteamericanos j conseguem novos usos para o petrleo atravs do processamento qumico, e foram exatamente os norte-americanos que propiciaram o avano na engenharia de produo em massa, como a mquina de costura, os matadouros de Cincinnati e Chicago, dessa forma ficava evidente a superioridade tecnolgica dos norte-americanos na produo em massa. Pases como a Inglaterra e Blgica que no tinham um sistema educacional avanado passaram a ter dificuldades em se sustentarem como uma economia moderna, os pases pobres como a Sucia, mas que tinham um bom sistema educacional passaram a encontrar maior facilidade para iniciar o desenvolvimento industrial. A educao escolarizada, sistematizada, passa a ser fundamental para essa nova ordem burguesa que utilizar o princpio de que a educao direito de todos e

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dever do estado, e foi a partir da capacidade de melhoria e aperfeioamento do sistema educacional que o mundo passou a vivenciar grandes transformaes, o que se buscava a partir de ento no era a originalidade cientfica, mas a capacidade de compreender e manipular a cincia. O que mais interessava naquele momento de efervescncia industrial e grande expanso econmica acelerada pelo ferro e carvo era mais desenvolvimento e menos pesquisa, assim as inovaes com o auxilio da tecnologia vo se convertendo facilmente em maquinaria o que se tornou numa das maiores inovaes industrial, a produo em massa de maquinaria e a maior parte desse avano, nesse novo modelo de produo veio dos Estados Unidos demonstrando a sua superioridade em produo de massa. A escolarizao passou a ser pensada como mecanismo central na constituio da nova ordem mundial, ela se tornou um dos mecanismos de controle e hierarquizao dessa nova ordem social, da qual o sujeito social e poltico aquele que venceu a ignorncia, a barbrie, aquele que aprendeu a nova racionalidade esse ter se feito homem moderno. Assim vo se criando espaos especializados onde o sujeito vai ser educado sob a tutela do Estado. Nesses espaos o sujeito ter ento uma educao sistematizada e disciplinada de acordo com o interesse fabril, ou seja, a limitao da autonomia da criatividade e de uma imposio cultural, a escola permanecer como instrumento repressivo e mediador entre Estado moderno, a burguesia e a classe trabalhadora. Assim, os chamados sistemas nacionais de ensino sero organizados em meados do sculo XIX, consolidando os ideais da burguesia de liberdade e igualdade entre os homens e inculcando na nova sociedade em formao, os seus princpios e valores. A escola cumpre historicamente a funo social de perpetuar e manter valores, moral e a ideologia de uma classe sobre as demais. Para tanto se utiliza de um instrumento, o professor. Instrumento por que em todo esse processo educacional de enculcamentos e privaes, o professor alienado e desumanizado do seu trabalho.

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Educar passa a ser fundamental para o estado, assim, o princpio de que a educao direito de todos e dever do estado parte afirmativa dos interesses da nova classe que se instala no poder: a burguesia, para atender aos interesses dessa nova classe, que rompe com o antigo regime de servido, e precisa da organizao e estruturao de uma nova pedagogia, a pedagogia liberal burguesa, ir ajudar a consolidar a sociedade democrtica, na qual os homens, antigos sditos, agora sero transformados em cidados. necessrio ento romper com a ignorncia e transformar os homens em indivduos livres e esclarecidos. Frente a essa nova condio, o professor ter o papel de mediador entre a classe dominante e entre as classes dominadas, utilizando como meio de dominao o conhecimento sistematizado historicamente produzido pela humanidade e quo importante para a sociedade democrtica burguesa que esse professor inicie o enquadramento de valores, moral e ideologia j nos primeiros anos escolares. Assim, os professores tm si consolidado como o elemento de mediao na hierarquizao da dominao poltico e cultural. Nessa perspectiva compreensvel o desempenhar da funo professor na instituio escolar, tendo em vista que a escola se constitui em uma instituio com o objetivo de preparar, formar e ofertar mo-deobra qualificada ao mercado de trabalho capitalista, e ao mesmo tempo assegurar a mobilidade social necessria em uma sociedade de classes e supostamente de direitos. As prticas e teorias pedaggicas vm contribuindo para legitimar e ocultar os plos antagnicos na base das sociedades capitalistas. Podemos observar que desde a Revoluo burguesa industrial continua sendo maior o numero dos que esto margem da sociedade, do que os eleitos, os educados e civilizados. Nos ltimos anos a escola tem sido alvo de constantes crticas por parte de vrios segmentos da sociedade, mas para entender a lgica de funcionamento da escola, necessria a compreenso do processo histrico que a envolve, desde um tempo mais remoto, quando a burguesia ascende ao poder e se estrutura enquanto

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classe dominante. Essa nova classe sente a necessidade de organizar um espao onde primeiramente seus filhos possam receber instruo, posteriormente os filhos dos trabalhadores, para que se tornem trabalhadores qualificados, atendendo a nova demanda de mercado de trabalho, consolidando a sociedade capitalista. Todas essas grandes mudanas e transformaes advindas com o avano industrial e a crescente urbanizao ainda no so suficientes para se ter uma idia do avano do capitalismo. Com a instalao da nova ordem econmica e poltica, certo que no a lugar para todos na lgica do sistema que precisa de uma constante expanso e de novos mercados consumidores. Nas cidades, a pobreza torna-se uma ameaa pblica devido as suas grandes concentraes em um mesmo espao de ocupao territorial. O surgimento de bairros populosos e as condies mnimas de sobrevivncia obrigam os administradores de cidades a pensar em formas de contenso de possveis distrbios, pois o pobre urbano no pertencia a esse mundo industrial. Assim, o pobre urbano perdia at mesmo as suas antigas tradies e prticas, que haviam trazido do campo ou da cidade pr-industrial, no novo ordenamento urbano essas prticas e tradies j no tinham relevncia. Referncias Bibliogrficas HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital. So Paulo: Paz e Terra, 1988. SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia: teorias da educao, curvatura da vara, onze teses sobre educao e poltica. 33. ed. revisada. Campinas: Autores Associados, 2000.

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Limites da experincia do zapatismoDiego Marques

Entre a rejeio e a negao do estado: a experincia do EZLN Este trabalho se utilizar da distino entre rejeio da tomada do poder do Estado e negao do poder do Estado para tentar entender as experincias do EZLN. Partiremos do pressuposto, resssaltado pelo EZLN, de que o movimento no tem por objetivo tomar o poder do Estado, mas sim o de lutar por determinadas reivindicaes que se expressam genericamente nas idias de democracia, liberdade e justia; mas no nos deteremos neste ponto, pois se a revoluo social obra dos prprios trabalhadores e de que esta se baseia na construo da autogesto social, iniciando com o dominio da produo, mas se estendendo ao domnio da totalidade da organizao social, implicando a necessria destruio do Estado, como instrumento que para as relaes de produo baseada em classes sociais, especialmente a importncia que tem na sociedade capitalista. Nesse sentido pretendemos analisar a experincia do EZLN apartir dessa dinmica entre rejeio e negao do poder do estado para entendermos possveis contribuies do movimento transformao radical da sociedade capitalista. No dia 1 de janeiro de 1994, um levante armado coloca em cena o EZLN com uma estratgia que aparentemente ambgua: primeiramente eles recorrem Constituio Mexicana que diz: A soberania nacional reside essencial e originalmente no povo. Todo poder pblico emana do povo e se institui em benefcio dele. Em qualquer tempo, o povo tem o inalienvel direito de alterar ou modificar a forma de seu governo para justificar a ao que tomaro: a declarao de guerra ao exrcito federal que hoje tem Carlos Salinas de Gortari como chefe mximo e ilegtimo (1 DECLARAO). No seu comunicado de aparecimento eles fazem uma crtica situao degradante das comunidades do Estado de Chiapas; e tambm uma crtica ao sistema poltico mexicano baseando-se na diferenciao entre relaes reais, onde predomina o ditador, das relaes formais, ideolgicas que pregam que o poder

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emana do povo. Esta crtica e a ao de se sublevar situam o EZLN dentro dos debates a respeito da transformao da sociedade. Gande parte deste debate est construdo sobre uma separao entre partido e vanguarda poltica, de um lado, e os sujeitos histricos reais do outro (que so as classes sociais), assumindo o estado o papel de importante instrumento para uma eventual revoluo social e construo de uma futura sociedade comunista. Esta era a frmula hegemnica e salvadora no debate da esquerda, a que se dizia vanguarda do proletariado. No entanto, uma questo ficava em evidncia na estratgia poltica do EZLN e logo se tornou ponto central nas anlises sobre o movimento. Ante esse consenso sobre estratgia poltica, surge o EZLN como uma nova fora social que se diferenciaria das outras tanto por seu contedo (campons indgena), quanto por suas novas proposies de estratgia politica. O diferencial do EZLN seria que ele prope a no tomada do poder do estado mexicano. Mas prope a no tomada do poder do estado para atingir que objetivo? A revoluo comunista no , pois tal grupo jamais se definiu como comunista. Nossa hipotesse aqui ser a de que eles pretendem um retorno do estado nacional forte e desenvolvimentista sob a signa do nacionalismo revolucionrio dos anos 30, 40 e 50; porm com alguns elementos novos, sendo o principal deles trazer para o debate poltico noes como de democracia, diversidade, participao popular, que se expressa na trasformao, que eles almejam, no que chamam de sistema poltico de partido nico (2 Declarao) que seria o grande causador da pobreza mexicana.

A recusa do estado e novas estratgias polticas Desde a primeira Declarao da Selva Lacandona at os mais recentes documentos, o EZLN jamais se colocou como objetivo poltico a tomada do poder do Estado como momento necessrio para se realizar qualquer mudana na sociedade Mexicana. Como alternativa, e que seria uma inovao nas formas de estratgia e organizao dos movimentos sociais, propunha em todos os seus discursos trazer para o debate a importncia da democracia como forma de organizao tanto do movimento quanto um dos principais remdios para a nao Mexicana. Caberia ao EZLN, juntamente com outros grupos da sociedade Mexicana articular

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Uma fora poltica que possa organizar as demandas e propostas dos cidados para que quem mande, mande obedecendo. Uma fora poltica que possa organizar os problemas coletivos, mesmo sem a interveno dos partidos polticos e do governo. No necessitamos pedir permisso para sermos livres. A funo do governo prerrogativa da sociedade e seu direito exercer esta funo. Uma fora poltica que lute contra a concentrao da riqueza em poucas mos e contra a centralizao do poder. Uma fora poltica cujos integrantes tenham como nico privilgio a satisfao do dever cumprido (4DECLARAO)

O principal papel da democracia seria o de separar o joio do trigo, assim, os grupos que praticam a destruio total da nao seriam marginalizados das decises dos governos que ficariam a cargo dos interessados na reconstruo do pas. Objetiva-se com isso trazer a iniciativa poltica a todos os cidados mexicanos que devem se ater s eleies, mas no somente nelas, mas participarem de todos os momentos que influenciam na elaborao das decises polticas. Ao lado da participao intensa dos cidados, o EZLN prope que a existncia dos partidos polticos deve ser limitada a aqueles que tenham uma base real, os cidados participantes. O EZLN deixa claro que suas concepes polticas e organizativas no os levam a participar diretamente da poltica partidria, mas tambem no quer dizer que suas concepes sejam sinnimo de antipartido, no eleitoral, mas tambm no antieleitoral (MARCOS APUD HILSENBECK, 2007, pg. 170). Os partidos complementariam a participao democrtica, criando assim uma nova forma de relao polticaUma nova poltica cuja base no seja o embate entre organizaes polticas e sim o embate de suas propostas polticas com as diferentes classes sociais, pois o exerccio da titularidade do poder poltico depender do seu apoio real. Dentro desta nova relao poltica, as diferentes propostas de rumo e de sistema (socialismo, capitalismo, social democracia, liberalismo, democracia crist, etc.) devero convencer a maioria da Nao de que sua proposta a melhor para o pas (2 Declarao).

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O prprio movimento fez grandiosas campanhas para a aprovao de algumas leis no Congresso, principalmente na poca da elaborao das leis sobre direitos indgenas, que, contudo, s passaram quando os pontos mais importantes foram negados, tais como a questo das autonomias. Portanto, no mbito da elaborao de leis o EZLN tambm no faz nenhuma objeo ao seu carter, desde o primeiro momento se mostraram de acordo com que se faa uma nova Constituio e que nela se incorpore as principais demandas dos mexicanos e garanta o cumprimento do Artigo 39 (4 DELCARAO). Em decorrncia disso tudo (democracia, defesa das leis, partidos) o EZLN carrega um forte apelo nacionalista, se identificando mesmo com todos os heris da nao que ao longo da histria combateram e morreram em defesa da ptria, na verdade a luta pela democracia necessariamente deve envolver a figura mtica dos heris nacionais, resgatando os ideais por quais eles lutaram: Hoy en las calles da la ciudad de Mxico desfilan las tropas de la usurpacin. Pretenden engaar al pueblo de Mxico presentndose como un ejrcito popular, como el Ejrcito Mexicano. Aqu el nico ejrcito mexicano es el EZLN (DOCUMENTOS Y COMUNICADOS, p. 41) Apesar de defenderem veementemente a nao mexicana, o que implica a defesa de certos padres que so nacionalmente reconhecidos, o EZLN se utiliza como um dos pontos bsicos de suas reivindicaes a defesa da diversidade, da multiplicidade de manifestaes, de opresses e de lutas que existem na sociedade Mexicana; seria este outro ponto de ruptura com as antigas prticas polticas dos movimentos sociais que teram neligenciado outras formas de opresso que no fossem a opresso levada contra o trabalhador pelo capital. Para Di Felice o movimento fundamentalmente marcado pela heterognese e a multiplicidade (DI FELICE, 2002, pg. 31); respondendo a uma reportagem sobre a verdadeira indentidade de Marcos o porta-voz do movimento afirma ser umGay em San Francisco, negro na frica do Sul, asitico na Europa, chicano em San Isidoro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indgena nas ruas de San Cristbal, chavo banda em Neza, rockeiro na CU [campus da UNAM], judeu na Alemanha, ombudsman na Sedena [ministrio da

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Perspectivas e Tendncias da Autogesto SocialDefesa], feminista nos partidos polticos, comunista na ps guerra fria, preso em Cintalapa, pacifista na Bsnia, mapuche nos Andes, professor na CNTE, artista sem galeria nem portiflios, dona de casa num sbado noite em qualquer bairro em qualquer cidade de qualquer Mxico (...) Tudo o que incomoda o poder e s boas conscincias, isso Marcos. (MARCOS apud FIGUEIREDO, 2003, pg. 206/7).

Resumindo, censo comum que a deciso pela no tomada do poder do estado se torna ento a grande contribuio que o EZLN traria para a prtica poltica e para atransformao social, assimOs zapatistas defendem uma clara recusa forma de poltica enfocada no poder Estadocntrico e, deste modo, eles se deslocam do paradigma que entendia a conquista do poder estatal como condio sine qua non para uma mudana radical da sociedade (...) Os zapatistas abandonam a concepo de vanguarda em que as massas esto, eternamente, presas aos seus interesses imediatos e no conseguem universaliz-los, sendo dependentes do esclarecimento de uma camada dirigente (HILSENBECK, 2007, pg.171/2)

Jhon Holloway afirma que essa recusa da tomada do poder seria o foco das inovaes que o EZLN traz para as luta dos movimentos sociais, abandonando o nacionalismo, a canalizao da revolta, reproduo da lgica do poder, hierarquizao e disciplinamento dos projetos (HOLLOWAY, 2003); estas seriam caractersticas das antigas formas de lutas guiadas pelos partidos, sindicatos, pequenos grupos conspiratrios que tinham como objetivo a tomada do poder estatal.

Apontamentos para abolio do Estado Porm no devemos nos deter na recusa de tomada do poder do estado para compreendermos as experincias do EZLN. Pelo que expusemos fica claro que o EZLN faz uma defesa de certas relaes sociais que se assentaram com o domnio das

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relaes de produo capitalistas, tais como a nao, democracia, partidos, constituio e se formos alm veremos que em nenhum momento desde o levante o EZLN se definiu como um grupo que luta pela transformao radical da sociedade e que se baseie no projeto de reconstruo comunista. Nesse sentido uma afirmao do EZLN esclarecedora: O problema do poder no saber quem ser o titular do cargo e sim quem o exerce. Se o poder exercido pela maioria, os partidos polticos se vero obrigados a confrontar-se com esta maioria e no entre si (2 declarao). Apesar de considerarmos uma tarefa difcil, no nos reportaremos aqui s bases sociais que do legitimidade a este poder; pelos limites do nosso trabalho nos concentraremos na problemtica do estado: em seu carter e em como este interfere nas aes do EZLN. O desenvolvimento das relaes de produo teve no Estado Mexicano um forte instrumento, na medida em que este conseguiu subordinar diversos grupos e classes sociais em torno de um projeto nacional de desenvolvimento das foras produtivas e das relaes de produo capitalistas (MARTNEZ, 2009; BUSTOS, 2008), contudo, tal processo teve como ponto de partida a prpria sociedade mexicana, na formao das classes sociais que queriam a implantao das relaes de produo capitalistas em seu pas, e que o conseguiram na forma de um capitalismo subordinado aos pases imperialistas, que desenvolvia o pas ao mesmo tempo em que tirava suas principais riquezas, tendo assim no Estado e nas elites mexicanas um forte aliado. Ao tempo em que amadurecia estas relaes de produo foram surgindo contrapartidas dos grupos sociais atingidos por este processo, as primeiras manifestaes contra este processo aconteceram j em fins do sculo XIX, nas minas e fbricas urbanas, e perpassaram toda a histria mexicana no desenrolar do sculo XX, com os camponeses, operrios urbanos, estudantes e indgenas. Estas manifestaes foram acompanhadas por uma intensa campanha repressiva por parte dos grupos que desejavam o avano destas relaes de produo, primeiramente se armaram e foram eles prprios os defensores destas relaes, os antecedentes e o prprio desenrolar da denominada Revoluo Mexicana de 1910 nos provam isso, com os intensos e duradouros massacres de camponeses, indgenas, estudantes e operrios realizados pelos famosos caudilhos, apoiados inclusive por foras estrangeiras, tambm como quando o exrcito norte-americano foi utilizado na represso s manifestaes dos mineiros e quando deu seu apoio a Carranza na tomada do poder. E quando o Estado Mexicano estava suficientemente instrumentalizado para reprimir e reproduzir as

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relaes de prodeo capitalistas passou a fazer isto com destreza nica, comprovada pelo desenvolvimento mexicano posterior (com as duradouras represses aos movimentos camponeses durante os trinta anos precedentes ao levante do EZLN (MONTEMAYOR, 1997), o massacre na Praa de Tlatelolco em 1968, as investidas contra os movimentos dos trabalhadores ferrovirios, somente citando os mais conhecidos e representativos exemplos da fora repressiva do Estado Mexicano. Contudo, como qualquer outro Estado, ele no teve a eficcia de ser sua ao somente medida pelo seu potencial repressor, foi ao mesmo tempo ideolgico, pois tentou se transformar em grande eficcia em condutor do desenvolvimento nacional (BUSTOS, 2008), articulador da identidade mexicana e seu culto ao indgena imaginrio (MONTEMAYOR, 1997). Por isso tudo no compreendemos a afirmao de Cecea que segundo qual para os atuais movimentos latino-americanosLa nacin en esa vertiente de inteleccin es el equivalente de la comunidad grande, pero una comunidad poltica, resultado de la lucha. Es una construccin de la resistencia, no de la sumisin. Por lo tanto, sus lmites son expandibles. No es una comunidad cercenadora sino potenciadora, que puede a la vez reclamar las fronteras para protegerse de los intentos colonizadores y disolverlas para articularse con otros pueblos en lucha (CECEA, 2008, 55)

Assim, acreditamos que esta seja uma concepo ideolgica de nao, dado que por mais que houvesse representaes das lutas dos grupos oprimidos na formao da nao Mexicana (e o prprio carter de nao subjugada contribui para isso em favor de um sentimento nacional, melhor manipulvel pelas elites locais) estas representaes foram apropriaes das classes dominantes, no correspondendo subordinao real, e que na verdade d motivo de ser das prprias resistncias (destruio das comunidades, represses aos movimentos contestadores, polticas voltadas aos interesses das classes dominantes, etc.).Como vimos a nao uma forte referncia no discurso do EZLN. A nosso ver

isto ocorre por dois motivos. Primeiramente: seu levante teve como determinao

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fundamental as transformaes pelas quais estavam passando a sociedade mexicana com a instaurao do regime de acumulao integral; Se antes existia um discurso de que haveriam alguns espaos para os trabalhadores hoje j no existe mais; as polticas integracionistas foram totalmente abandonadas; o capitalismo transnacional est devorando algumas fraes da burguesia e economia nacionais, embora algumas fraes tenham ganhado muito com o sucateamento da economia mexicana; e a militarizao das questes sociais evidente. No caso especfico de Chiapas o regime de acumulao integral coloca em curso um processo de intensificao da explorao que se baseia na reatualizao da legislao penal com relao criminalizao dos movimentos sociais (HILSENBECK, 2007), retirada de direitos conquistados (como o acesso s terras ejidais) e garantia s empresas multinacionais o controle sobre as terras de Chiapas e de investimentos (MORFN, 2000). Ou seja, todo o referencial sobre o qual se assentou a sociedade mexicana durante quase todo o sculo XX foi abandonado; a aparente diminuio do papel do Estado significaria mesmo a diluio da nao; da o forte apoio que recebeu o EZLN da pequena burguesia mexicana, afinal seriam eles a resposta da nao agresso do Tratado Norte-Americano de Livre Comrcio (NAFTA, em ingls). Em segundo lugar, trata-se de um movimento campons que reivindica que suas terras no sejam tomadas pelas grandes empresas (estrangeiras e nacionais) e que estes mantenham os direitos tradicionais sobre elas, baseando-se no artigo 39 da constituio Mexicana que garantia a posse s comunidades das terras tradicionais, ejidos. A invaso sobre as terras tradicionais expressa como sendo um atentado contra as lutas dos heris da nao, que garantiram os domnios dessas terras desde a campanha pela Independncia, passando pela revoluo de 1910 e se afirmando com o Estado integracionista dos anos 30, 40 e 50. Por isso os zapatistas so produto de 500 anos de resistncia. nesse sentido que compreendemos que para o EZLN o importante levar adiante uma luta contra o neoliberalismo, que est destruindo nao, e no propriamente contra o capitalismo [...] los zapatistas piensan que, en Mxico la recuperacin y defensa de la soberana nacional es parte de una revolucin antineoliberal [] piensan que es necesaria la defensa del Estado nacional frente a la globalizacin (MARCOS, APUD HILSEBBECK, p. 174). Na anlise de um grupo

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Mexicano que se autodenomina grupo socialismo libertrio (GSL) o EZLN confunde neoliberalismo com capitalismo, e assim sua crtica ao neoliberalismo tem como principal consequncia um resgate do estado integracionista poisse lleva adelante un discurso patriotero, que conduce, junto con la errnea equiparacin del antineoliberalismo como anticapitalismo, a la conclusin de que la lucha debe ser por la soberana nacional y no por la emancipacin de la clase trabajadora. Conclusin que lleva al programa zapatista a la defensa de la burguesa nacional, aorando el viejo nacionalismo revolucionario de los aos 30s 40s y 50s. (GSL, p. 9)

Acreditamos que essa prtica resultante da estratgia do EZLN em se pautar somente na recusa da tomada do poder do estado, sem ter uma contrapartida que se baseia na destruio do seu poder: obviamente, agindo de tal forma no se pode chegar na negao das relaes sociais (baseadas na propriedade privada) sobre a qual o Estado se assenta, pois o Estado surge como uma das organizaes construdas pela classe dominante para auxili-la na manuteno das relaes sociais que tem no poder poltico:Uma relao social de dominao de classe com a mediao da burocracia (organizao e classe social). Por isso o poder poltico surge com o aparecimento da sociedade de classes. O estado (poder poltico) no um fim em si mesmo (embora procure ser) mas sim um meio para atingir determinado fim: manter e reproduzir as relaes de produo dominantes (VIANA, 2003, pg. 15).

No mbito do Estado os grupos oprimidos no possuem poder de deciso, somente podem reivindicar certas demandas, que a depender da luta de classes, podem ser atendidas ou no. Esta estrutura do Estado se reproduz nos partido polticos, que como vimos no so rechaados por completo pelo EZLN, que reproduzem em miniatura a forma hierrquica das relaes sociais desenvolvidas no interior do estado (TRAGTEMBERG, 2006) Analisando a sexta declarao e a Outra campanha empreendida pelos

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zapatistas o GSL destacam as seguintes afirmativas do EZLN sobre a) O Estado: el Estado mexicano ha abandonado su deber de cuidar do bem comum (MARCOS APUD GSL, p. 8) b) Constituio: que reconozca los derechos y libertades del pueblo, y defienda al dbil frente al poderoso (MARCOS APUD GSL, p. 7) c) Capital nacional: () algunas de las bases econmicas de nuestro Mxico, que eran el campo y la industria y el comercio nacionales, estn bien destruidas y apenas quedan unos pocos escombros que seguro tambin van a vender (MARCOS APUD GSL, p. 5) d) As foras militares: El pacto de Chapultepec significa convertir al Estado mexicano en un Estado policiaco, donde incluso el ejrcito, el ejrcito federal mexicano va a asumir las condiciones de una polica interna, se acab la soberana nacional si ganan ellos, los ejrcitos ya no van a servir para defender al pas en caso de una invasin externa, van a servir para defender a los ricos de la gente pobre (MARCOS APUD GSL, p. 8) e) E sobre um projeto poltico vitorioso: () una parte de esta historia singular es la del imperdonable pueblo cubano, el ltimo en independizarse y el primero en ser libre en nuestro continente (MARCOS APUD GSL, p. 9) E concluem que tais proposies no passam de uma teoria burguesa do Estado. Um pouco diferenciada das outras formas de Estado burgus, mas no evoluem para alm de uma outra forma de estado burgus, que contemple uma alternativa real para a emancipao humana; ficam atnitos entre o leninismoestalinismo e uma concepo democrtico-liberal, se tornam reformistas.

Consideraes finais Cecea pontua que os projetos de autonomia desenvolvidos pelo EZLN so

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respostas das ineficincias do Estado paternalista Mexicano (CECEA, 2008), ou seja, no uma resposta negadora da existncia do Estado, mas surge como uma tentativa de sanar os problemas que no so resolvidos pelo Estado. neste ponto o limite do EZLN. Como decorrncia da estratgia de no se abolir o poder do estado (somente rejeit-lo) que no se cria um plo de poder negativo ao estado, tal como as manifestaes antiglobalizao; no se pauta em reconstruir um poder de baixo em negao ao outro, o poder do estado, a partir da dominao dos meios de produo e transformao das relaes de produo: se somente h encontros, passeatas, reunies, manifestaes e fiesta de la diversidad (CECEA, 2008, p.56) e se no se quer destruir o estado e construir novas formas de relao poltica ento se torna compactuante com as atuais relaes sociais; s as questiona e pressiona para aperfeioamento das polticas pblicas, menos opresso, garantia a certos direitos. Assim, organizao assume carter reivindicativo e no revolucionrio: En vez de unrepertorio de formas de organizacin y de lucha, lo que yo encuentro en estos movimientos es una avalancha cambiante de todas las formas combinadas que dificulta la accin de los dominadores por su alto grado de inventiva y de imprevisibilidad (CECEA, 2008, 53), isto , desenvolve-se as lutas, mas sem um objetivo claramente definido, da as ambiguidades. Tal como fez Emiliano Zapata quando se sentou na cadeira da presidncia, juntamente com Pancho Vila, a atitude do ezln de recusa do poder; mas tal recusa (seguida pela no estratgia de abolio do poder central) abriu espao para uma reao das classes dominantes, dando novo flego para a instaurao e concretizao das relaes de produo capitalistas no Mxico; repetindo tal estratgia no conseguir o ezln nada mais do que ajudar na manuteno das relaes de produo capitalistas, abalada com a radicalizao da luta de classes aps as transformaes geradas pelo regime de acumulao integral (retirada de direitos dos trabalhadores, aumento da corrupo, liberalizao da economia aos capitais estrangeiros, aumento da represso militar, etc.). O EZLN tem duas sadas: aprofundar as transformaes (decises polticas pela assemblia, tentativa de quebra com o personalismo, recusar tomar o poder para si, respeito s diversidades, etc) que colocou na luta, ou se manter na defesa de um estado nacional burgus; com a radicalizao da luta de classes estas

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duas opes se tornam contraditrias entre si, ou melhor, a opo pelo estado nacional se mostra claramente conservadora.

Referncias BRIGE, Marco; DI FELICE, Massimo (ORGS). VOTN-ZAPATA: A marcha indgena e a sublevao temporria. So Paulo: Xam, 2002. BUSTOS, Rodolfo; MEDINA, Rafael; LOZA, Marco. Revoluo Mexicana: antecedentes, desenvolvimento, conseqncias. So Paulo: Expresso Popular, 2008. CECEA, A. E. Hegemonia, emancipaciones y politicas de seguridad en Amrica Latina: dominacin, epistemologias insurgentes, territorio y descolonizacin. Lima: programa democracia y tranformaion global, 2008. EZLN. Documentos y Comunicados. Mxico: Ediciones Era, 1995. GENNARI, Emlio. Terra e Liberdade! O grito de Zapata corre o mundo Seleo de textos e comunicados do Exrcito Zapatista de Libertao Nacional 1994 1998. Disponibilizado pelo projeto Xojobil. Grupo Socialismo Libertrio. La sexta declaracin y la otra campaa: Un programa y un proyecto para la continuidad del capitalismo. Retirado do stiolibrepensamiento.wordpress.com

HILSENBECK, Alexander. Abaixo e Esquerda: uma Anlise Histrico-Social da Prxis do Exrcito Zapatista de Libertao Nacional. So Paulo, 2007, dissertao de mestrado em Cincias Sociais - Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, Campus de Marlia. HOLLOWAY, John. Mudar o mundo sem tomar o poder: o significado da revoluo hoje. So Paulo: Viramundo, 2003. MARTNEZ, Ricardo. Sobre la nueva fase zapatista: La Sexta, tica y horizonte histrico; retirado deste sitio http://www.rebelion.org/noticia.php?id=19636 dia 27/07/2009 s 18:58 MONTEMAYOR, Carlos. Chiapas La rebelin indgena de Mxico. Mxico: Editorial Joaqun Mortiz, 1997

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MORFN, Elizabeth. El capital nacional y extranjero en Chiapas. In: Chiapas, n 9, Mxico: Era, 2000, Mxico TRAGTENBERG, Maurcio. Reflexes sobre o Socialismo. So Paulo: editora Unesp, 2006 VIANA, Nildo. Estado, democracia e cidadania: a dinmica da poltica institucional no capitalismo. Rio de Janeiro: Achiam, 2003.

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Lnin: em defesa do partidoLa comprensin plena y completa del marxismo no es posible ms que en relacin con una prctica revolucionaria (Anton Pannekoek) Diego Marques Indiscutivelmente a figura de Lnin marcou o desenvolvimento histrico do sculo XX: suas estratgias polticas foram utilizadas por pequenos grupos conspiratrios em quase todos os pases em que o capitalismo a se desenvolvendo; porm, necessrio irmos alm do heri idolatrado por grupos que encaixam sua frmula poltica na realidade da luta de classes, e de igual modo, da identificao automtica (que feita por certos grupos como forma de deslegitmar as lutas dos trabalhadores revolucionrios sob a pecha de totalitarismo leninista) desta estratgia poltica como sendo a nica forma possvel dos trabalhadores revolucionrios se organizarem e lutarem por seus interesses. Por estratgia poltica leninista entendemos: a) Uma concepo de organizao interna que se baseia na separao entre dirigentes e dirigidos, expressa no ideal de vangurada; b) Ter em mente o objetivo central de tomada do poder estatal; Tal estratgia poltica foi resumida assim:Educando o partido operrio, o marxismo forma a vanguarda do proletariado, capaz de tomar o poder e de conduzir todo o povo ao socialismo, capaz de dirigir e de organizar um novo regime, de ser o instrutor, o chefe e o guia de todos os trabalhadores, de todos os exploradores, para a criao de uma sociedade sem burguesia, e isto contra a burguesia (LNIN, 2007, p. 44/5)

Mais adiante discutiremos quais foram os reais objetivos desta estratgia poltica1; no momento nos ateremos ao objetivo central do texto: que o de

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demonstrar os vnculos entre esta estratgia poltica (e ao longo prazo seus objetivos reais) e as formulaes filosficas de Lnin.

Uma fora estranha determina nossa conscincia: o materialismo (burgus) de Lnin No livro Materialismo e Empiriocriticismo Lnin tenta desenvolver uma idia fundamental: a de que a concepo materialista se baseia no predomnio da matria, do mundo exterior, sobre a conscincia, a idia, o esprito. Tal concepo seria a grande rival histrica do idealismo, que segundo Lnin reivindica a determinao da conscincia sobre as coisas externas, sendo a idia a geradora do mundo ou os complexos de sensaes que dariam significado ao existente, dependendo da terminologia utilizada pelo seguidor. Resgatando Engels, diz Lnin, que em matria de filosofia somente h dois campos: os materialistas e os idealistas sendo que a diferena fundamental entre estas concepes reside no fato de que para os materialistas a natureza o primrio e o esprito o secundrio, e para os idealistas o inverso (ENGELS, APUD LNIN, 1982, p. 25). Esta a idia central do texto de Lnin, que ele a repetir das mais variadas maneiras, porm sem jamais aprofundar suas anlises, no sentido de que vale mais deslegitimar as idias expostas pelos alvos da crtica; e quando tenta aprofundar suas anlises o faz introduzindo as contribuies que as cincias da natureza dariam para o entendimento da realidade, posto que sendo a matria que possui a primazia sobre o esprito sobre ela que devemos focar nossa anlise. A respeito da ao do ter sobre os nossos nervos, que dependendo de sua disposio no espao produzem a sensao desta ou daquela cor, diz Lnin que a teoria do conhecimento materialista se baseia na investigao sobre a ao das matrias que provoca sobre ns determinadas sensaes:

Como foi se evidenciando com o desenvolvimento histrico tal estratgia este intimamente ligada s necessidades histricas e peculiaridades russas para o desenvolvimento do capitalismo nesse pas.

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E isto o materialismo: a matria, agindo sobre os nossos rgos dos sentidos, produz a sensao. A sensao depende do crebro, dos nervos, da retina, etc..., Isto , da matria organizada de determianda maneira. A existncia da matria no depende das sensaes. A matria o primrio. A sensao, o pensamento, a conscincia so o produto mais elevado da matria organizada de uma maneira particular. Tais so os pontos de vista do materialismo em geral, e de Marx-Engels em particular (LNIN, IDEM, p. 41/2)

Mais adiante veremos se essa realmente a concepo de materialismo histrico para Marx. O que nos importa neste momento fazermos uma considerao sobre um elemento que fica claro nesta citao de Lnin, o papel que cabe s cincias da natureza na teoria do conhecimento marxista. Sendo a sensao as imagens ou reflexos das coisas (LNIN, IDEM, p. 31) cabe ao materialismo, baseado nas afirmaes das cincias da natureza (que adotou espontaneamente o materialismo), descobrir a verdade absoluta, existente independentemente dos seres humanos. Como consequncia, Lnin realiza uma deformao tal no pensamento de Marx, e no materialismo histrico e dialtico, que a categoria de absoluto passa a existir, na medida em que a humanidade vai tomando contato com 2 ela, atravs das leis que vai descobrindo :O pensamento humano , pela sua natureza, capaz de nos dar, e d, a verdade absoluta, que se compe da soma de verdades relativas. Cada degrau, no desenvolvimento da cincia acrescenta novos gros a esta soma de verdade absoluta (LNIN, IDEM, p. 101)

Lnin tenta inserir a noo de prtica como elemento fundamental para a teoria do conhecimento, mas o faz de forma extremamente vaga, utilizando-se de termos como ao, necessidade de manuteno da vida; porm, no demonstra

Viana (2007) explica que em Marx a noo de lei diferenciada do seu uso nas cincias da natureza; trata-se antes de tendncias, de que algo ocorra, pois a ao humana pode evitar, retardar, precipitar o deenvolvimento.

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como concretamente se realiza essa prtica, quais so as relaes sociais em que se desenvolvem e que somente no seu interior onde possvel a reproduo de determinadas prticas. Na verdade, para Lnin a prtica tambm reflexo das verdades objetivas na medida em que o xito da prtica humana somente pode acontecer se houver correspondncia das nossas representaes com a natureza objetiva das coisas que percebermos (LNIN, IDEM, p. 105). Ou seja, a atividade sensvel humana (prxis), como criadora do mundo social jogada de lado, substituda por uma atividade contemplativa do mundo exterior; Lnin retrocede algumas centenas de anos no debate sobre a relao entre ser e cosncincia3, e d de ombros aos postulados bsicos que Marx articula para o materialismo histrico e dialtico, em contraposio ao materialismo burgus, no distante ano de 1845, nas famosas teses sobre Feuerbach: A realidade, o mundo sensvel so tomados apenas sobre a forma do objecto [des Objekts] ou da contemplao [Anschauung]; mas no como atividade sensvel humana, prxis, no subjectivamente (MARX, INTERNET). O que podemos verificar que o objetivo de Lnin com tais idias antes se manifestar contra o absolutismo do Estado Kzarista e a ideologia religiosa que lhe d sustento; contra as foras que gerariam o pensamento religioso (abstrao, esprito, idealismo) Lnin acha necessrio inverter a relao: agora a matria o sujeito gerador do mundo, ela mesma anterior ao seres humanos, portanto, lhe d as condies de existncia. A fora que Lnin pretende combater no est tanto na sociedade Russa, mas no mundo extraterreno e se personifica no Kzar. Pela simplicidade das argumentaes de Lnin, isto para no entrarmos nos termos de Korsch a respeito do texto de Lnin: frrago de despropsito, de incomprensin y de atraso en general; no precisamos nos debruar em prolongados debates a respeito do verdadeiro carter do materialismo histrico e dialtico. Na pequena citao anterior de Marx podemos compreender os princpios do mtodo materialista; a atividade sensvel humana a criadora de todas as relaes sociais, coisas, fenmenos e tudo o que envolva a sociedade. No estamos previamente

Holloway (2003) demonstra que Lnin tinha sim contato com as principais obras tericas produzidas no Ocidente e que, portanto, deve ser minimizado o peso das condies histricas e sociais da Rssia no seu pensamento.

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condicionados por qualquer fora que no seja as relaes sociais concretas, apartir da prxis transformamos a natureza e a ns mesmos, ou seja, toda a atividade humana se desdobra por causas que so exclusivamente terrenas: o mundo sensvel a atividade humana sensvel prtica (MARX, INTERNET) A prxis humana que constri relaes sociais que se baseiam em classes sociais, que so relaes sociais onde determinados grupos se apropriam do trabalho e do produto do trabalho de outros grupos e que tm no Estado uma fonte de reproduo dessas relaes sociais, dado o carter conflitivo que assume essas sociedades. A partir da anlise histrica construmos algumas categorias de anlise do real, para as sociedades classistas as pricipais so: foras produtivas que englobam a fora de trabalho, meios de produo e meios de distribuio (VIANA, 2007b, pg. 79); relaes sociais de produo que correspondem s relaes de trabalho e de distribuio (VIANA, idem, pg. 80); e as formas de regularizao que so determinadas relaes sociais reais realizadas por indivduos reais que utilizam determinados meios materiais com o objetivo de reproduzir as relaes de produo dominantes e que so engendradas pelo modo de produo dominante (VIANA, idem, pg. 76). Em nenhum momento do trabalho de Lnin encontramos tal metodolgia de anlise, isto , partir da dinmica das classes e da luta entre essas classes; ao contrrio, encontramos uma anlise passiva que registra e relata o que certo ou errado, do ponto de vista do materialismo burgus que prega. Ao analisar as obras sem c