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ANAIS DO III SEMINÁRIO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UFPEL ISSN: 2359-0785 A GEOGRAFIA FRENTE AO ATUAL CENÁRIO POLÍTICO, SOCIOAMBIENTAL E EDUCACIONAL BRASILEIRO Coordenação Geral: Adriano Luís Heck Simon Débora Pinto Martins Maurício Meurer Pelotas, 9 a 11 de Novembro de 2016

ANAIS DO III SEMINÁRIO DO PROGRAMA DE - … · PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UFPEL ISSN: ... O APLICATIVO POKÉMON GO E SUA ... convencimento alusivo a uma contribuição cunhada

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  • ANAIS DO III SEMINRIO DO PROGRAMA DE

    PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA DA UFPEL

    ISSN: 2359-0785

    A GEOGRAFIA FRENTE AO ATUAL CENRIO POLTICO,

    SOCIOAMBIENTAL E EDUCACIONAL BRASILEIRO

    Coordenao Geral:

    Adriano Lus Heck Simon

    Dbora Pinto Martins

    Maurcio Meurer

    Pelotas, 9 a 11 de Novembro de 2016

  • 471 III Seminrio do Programa de Ps-Graduao em Geografia da UFPEL

    Anais do III Seminrio do Programa de Ps-Graduao em

    Geografia da UFPEL : a geografia frente ao atual cenrio poltico,

    socioambiental e educacional brasileiro (9 a 11 de novembro de 2016) /

    Adriano Lus Heck Simon; Dbora Pinto Martins; Maurcio Meurer,

    organizadores. Pelotas : UFPel : PPGeo,2016.

    312p. : il

    ISSN 2359-0785

    DVD

    1. Geografia. 2.PPGeo. I Ttulo II Simon, Adriano Lus Heck III Martins,

    Dbora Pinto III Meurer, Maurcio

    CDD 980

    ANAIS DO III SEMINRIO DO PROGRAMA DE PS-

    GRADUAO EM GEOGRAFIA DA UFPEL

    A GEOGRAFIA FRENTE AO ATUAL

    CENRIO POLTICO, SOCIOAMBIENTAL E

    EDUCACIONAL BRASILEIRO

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Catalogao na Fonte: Patrcia de Borba Pereira CRB 10/ 1487

    UFPel

    As opinies e os conceitos emitidos, bem como a exatido, adequao e

    procedncia, as citaes e referncias, so de exclusiva responsabilidade dos

    autores.

    3 edio

    Pelotas, 2016

  • COORDENAO

    GERAL

    Adriano Lus Heck Simon

    Dbora Pinto Martins

    Maurcio Meurer

    COMISSO

    ORGANIZADORA

    Alex Sandro Amaral Pereira

    Anderson Rodrigo Estevam da Silva

    Anderson Weber Pereira

    Anelize Milano Cardoso

    ndrea Lemos de Oliveira Lopes

    Bianca Marques Maio

    Cludia Werner Flach

    Daniele Prates Macedo

    Domitila Theil Radtke

    Henrique Silva Gorziza

    Igor Armindo Rockenbach

    Juliandersson Victoria Alexandre

    Kainan Rodrigues dos Santos

    Maurcio Mendes Von Ahn

    Raissa Brum Gonalves de vila

    Rodrigo de Oliveira Siqueira

    Viviane Spiering

    COMISSO

    CIENTFICA

    Adriano Lus Heck Simon

    Csar Augusto Ferrari Martinez

    Dbora Pinto Martins

    Erika Collischonn

    Giancarla Salamoni

    Giovana Mendes de Oliveira

    Ligia Cardoso Carlos

    Liz Cristiane Dias

  • Lucas Manassi Panitz

    Maria Regina Caetano Costa

    Maurcio Meurer

    Moiss Ortemar Rehbein

    Robinson Santos Pinheiro

    Rosangela Lurdes Spironello

    Sidney Gonalves Vieira

    Alex Sandro Amaral Pereira

    Anderson Rodrigo Estevam da Silva

    Anderson Weber Pereira

    ndrea Lenise de Oliveira Lopes

    Anelize Milano Cardoso

    Bianca Marques Maio

    Cludia Werner Flach

    Daniele Prates Macedo

    Domitila Theil Radtke

    Henrique Silva Gorziza

    Igor Armindo Rockenbach

    Maurcio Mendes Von Ahn

    Realizao

  • Apresentao

    Apresentamos os anais do III Seminrio do Programa de Ps-Graduao

    em Geografia da UFPel (SEMPGEO), o qual teve como tema central A Geografia

    frente ao atual cenrio poltico, socioambiental e educacional brasileiro.

    O evento foi organizado pelo Programa de Ps-graduao em Geografia da

    Universidade Federal de Pelotas - PPGeo/UFPel. Objetivou-se proporcionar a

    integrao entre os discentes e docentes do Programa e tambm com demais

    instituies de ensino e pesquisa interessadas. Para tanto, buscou-se a socializao de

    trabalhos cientficos em desenvolvimento ou concludos e a criao de espaos de

    discusso sobre assuntos atuais no mbito da Geografia.

    O III SEMPGEO abriu inscries para apresentao de trabalhos nas

    modalidades oral (ps-graduao) e pster (graduao), condizentes com as linhas de

    pesquisa desenvolvidas no PPGeo/UFPel: (1) Ensino de Geografia; (2) Produo do

    Espao Urbano e Rural; (3) Anlise ambiental. Os trabalhos completos (modalidade

    oral) e os resumos (modalidade pster) foram avaliados, respectivamente, por

    professores e alunos do PPGeo/UFPel.

    Esta edio do SEMPGEO ocorreu entre os dias 09 e 11 de Novembro de

    2016, na cidade de Pelotas/RS, e revelou-se de suma importncia, pois propiciou a

    divulgao de conhecimentos e ampliou a interlocuo entre pesquisadores de

    temticas afins, bem como permitiu a divulgao dos trabalhos e das discusses

    realizadas no decorrer do evento.

    A comisso organizadora do III SEMPGEO agradece as contribuies

    submetidas a esses anais, assim como a presena de professores e alunos que

    propiciaram os debates em torno da temtica proposta pelo PPGeo/UFPel.

    Pelotas, 11 de novembro de 2016

    Comisso Organizadora

  • Sumrio

    Trabalhos completos

    EIXO 1: ENSINO DE GEOGRAFIA Pgina

    A GEOGRAFIA ESCOLAR DOS ANOS INICIAIS: SUA TRAJETRIA

    HISTRICA E ORIENTAES CURRICULARES COMO

    CONTRIBUIO NA FORMAO DE PROFESSORES

    Henrique S. Gorziza; Liz Cristiane Dias

    12

    COM A PALAVRA, OS SUJEITOS PROFESSORES: OS PROCESSOS DE

    ENSINAR GEOGRAFIA EM QUESTO

    Victria Sabbado Menezes; Nestor Andr Kaercher

    23

    ESPAOS DA EDUCAO: BREVES PROBLEMATIZAES A PARTIR

    DAS POLTICAS EDUCACIONAIS

    Andr Quandt Klug; Liz Cristiane Dias

    35

    ESTUDO DO MEIO: MOMENTOS FUNDAMENTAIS DESTE MTODO DE

    PESQUISA NO ENSINO

    Domitila Theil Radtke; Liz Cristiane Dias

    47

    O MUNDO QUE COMPREENDO ATRAVS DA GEOGRAFIA

    William Pollnow 56 OS MAPAS MENTAIS COMO RECURSO NA ANLISE DA PAISAGEM

    Raissa Brum Gonalves de Avila; Rosangela Lurdes Spironello; Liz Cristiane Dias 66 REPENSANDO A GEOGRAFIA NO CONTEXTO ESCOLAR: A

    CARTOGRAFIA SOCIAL COMO PROPOSTA METODOLGICA PARA

    O ENSINO MDIO

    Camila Paula de Souza; Liz Cristiane Dias

    78

    EIXO 2: PRODUO DO ESPAO URBANO E RURAL Pgina

  • A ESTRATGIA DA MONOCULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO

    DO PAS: PERIGOS DO ENFOQUE SETORIAL

    Rodrigo Torres Westendorff; Gustavo Neves Goularte; Eduardo Garcia Souza; Elaine

    Garcia dos Santos

    87

    ALTERAES DE USOS E ROTINAS DOS ESPAOS PBLICOS NA

    CIDADE DE PELOTAS A PARTIR DO APLICATIVO POKMON GO

    Anderson Pires Aires; Marco Antnio de Oliveira; Jerusa Cassal de Almeida; Erika

    Collischonn

    95

    FESTEJO DE NOSSA SENHORA DAS MERCS PORTO NACIONAL/TO:

    ASPECTOS COLORIDOS E LUMINOSIDADES Rosane Balsan; Carlos Eduardo Santos Maia

    106

    GEOGRAFIAS DA MOBILIDADE ACADMICA INTERNACIONAL: UMA

    REVISO DE LITERATURA

    Csar Augusto Ferrari Martinez 120

    O APLICATIVO POKMON GO E SUA LGICA E DISTRIBUIONO

    ESPAO URBANO DE PELOTAS NA FASE INICIAL

    Silvia Letcia Venske; Maurcio Mendes Von Ahn; Henrique Noguez da Cunha; Erika

    Collischonn

    132

    POLTICAS HABITACIONAIS: Uma anlise bibliomtrica

    Paula Neumann Novack; Rodrigo Hidalgo 142

    POR UMA GEOGRAFIA DO LAZER: REFLEXES SOBRE A

    CONFIGURAO ESPACIAL DOS ENCONTROS

    Luis Henrique Ferreira Dias; Giovana Mendes de Oliveira 156

    EIXO 3: ANLISE AMBIENTAL Pgina

    ANLISE METODOLGICA E INTERPRETATIVA DE MAPAS

    TEMTICOS: ESTUDO NA REA DE PROTEO DO GEOSSTIO DAS

    MINAS DO CAMAQU RS

    Maurcio Mendes Von Ahn; Rosangela Lurdes Spironello; Adriano Lus Heck Simon

    164

  • REAS DE PRESERVAO PERMANENTE E CONFLITOS DE USO DA

    TERRA EM ARROIO DO PADRE/RS

    Cludia Werner Flach; Mauricio Meurer 177

    COMPARATIVO DA VARIAO DA TEMPERATURA DO AR NO

    OUTONO DE 2016 NA CIDADE DE PORTO ALEGRE-RS

    Bianca Maio; Erika Collischonn 188

    MAPEAMENTO MORFOGRFICO DO RELEVO DA REA DE

    INFLUNCIA DO ESCUDO CRISTALINO NO MUNICPIO DE

    PELOTAS/RS

    Danilo da Silva Dutra; Moiss Ortemar Rehbein

    201

    PROPOSIO METODOLGICA PARA MAPEAMENTO

    GEOMORFOLGICO DA REA DE INFLUNCIA DA PLANCIE

    COSTEIRA DO RIO GRANDE DO SUL NO MUNICPIO DE PELOTAS/ RS

    Anderson Rodrigo Estevam da Silva; Moiss Ortemar Rehbein

    214

    Resumos

    EIXO 1: ENSINO DE GEOGRAFIA Pgina

    A CONTEMPORANEIDADE DA CONDIO IDEOLGICA DA

    EDUCAO CRITICADA POR LISE RECLUS

    Juliana Schwingel Broilo; Liz Cristiane Dias 227

    ATLAS GEOGRFICO MUNICIPAL: UMA PROPOSTA PEDAGGICA

    PARA O ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICPIO DE CANGUU/RS

    Karen Laiz Krause Romig; Rosa Elena Noal

    231

    FASCCULO DIDTICO: UMA PROPOSTA METODOLGIGA PARA

    ABORDAGEM DO CONCEITO DE PAISAGEM

    Rodrigo F. Azambuja; Andr Quandt Klug; Liz Cristiane Dias 235

    O CORDEL COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

    Luciano Martins da Rosa; Emelli da Silva Moreira; Liz Cristiane Dias 240

  • O PIBID COMO POLTICA PBLICA: PROBLEMATIZAES

    INTRODUTRIAS ACERCA DOS IMPACTOS E RESULTADOS DO

    PROGRAMA A PARTIR DOS ANAIS DO ENPEG SUL

    Gabriela Klering Dias; Andr Quandt Klug; Renata Cabral de Oliveira; Liz Cristiane Dias

    244

    PIBID GEOGRAFIA/UFPEL: A OFICINA ITINERANTE DE INICIAO

    CARTOGRFICA

    Fernanda do Amaral Burkert; Bianca Sousa Barbosa; Rosangela Lurdes Spironello 248

    POLTICAS PBLICAS PARA FORMAO DE PROFESSORES: Uma

    anlise histrica a partir da LDB de 1996

    Bianca Sousa Barbosa; Fernanda do Amaral Burkert; Liz Cristiane Dias 252

    UMA PROPOSTA DE INTERVENO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: O

    GAME AGE OF EMPIRES III COMO FERRAMENTA PEDAGGICA

    Fabiano Douglas de Souza; Liz Cristiane Dias 256

    UM OLHAR SOBRE SI: O PAPEL DAS NARRATIVAS NA FORMAO

    DOCENTE

    Renata Cabral de Oliveira; Gabriela Klering Dias; Liz Cristiane Dias 261

    EIXO 2: PRODUO DO ESPAO URBANO E RURAL Pgina

    CARACTERIZAO E PERCEPES DOS USURIOS DE

    CICLOVIAS EM PELOTAS: O CASO DAS AVENIDAS FERNANDO

    OSRIO E DOM JOAQUIM

    Marcio Daniel Lages Pinheiro; Lucas Manassi Panitz

    265

    FEIRA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE SO LOURENO DO SUL/RS:

    CARACTERIZAO DOS FEIRANTES

    Darwin Aranda Chuquillanque; Carmem Rejane Pacheco Porto 269

    O LEGADO DA IMIGRAO ITALIANA NA COLNIA MACIEL: DA

    COLONIZAO HERANA CULTURAL

    Cndida Senhorinha Portantiolo; Nelise Hrnke Devantier; Alexandre Borges Souza; Lucas

    Manassi Panitz

    273

  • OS MARCADORES GEOGRFICOS CULTURAIS DO ESPAO RURAL

    NAS COLNIAS DE ORIGEM POMERANA CANGUU/RS

    Paula Daiana Albrecht Pribe; Lucas Manassi Panitz 277

    REFLEXES SOBRE O USO DO TERRITRIO DAS EMPRESAS DE

    TECNOLOGIA DA INFORMAO NO RS

    Kethelyn Giulian Pedebos Oliveira; Giovana Mendes de Oliveira 282

    EIXO 3: ANLISE AMBIENTAL Pgina

    ANLISE SCIOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRFICA DO ARROIO

    DO PADRE

    Diandra Drawanz Bsel; Rosangela Lurdes Spironello 286

    FOTOGEOGRAFIA DAS FEIES ESTRUTURAIS E FORMAS DE

    ORIGEM DENUDATIVA DO SETOR CENTRAL DAS GUARITAS DO

    CAMAQU (RS)

    Mrlon Roxo Madeira; Adriano Lus Heck Simon

    291

    GUATTARI E MARTIN: UMA ANLISE DA ECOSOFIA EM A GUERRA

    DOS TRONOS

    Sheila Peres Sodr; Liz Cristiane Dias 296

    PROPOSTA METODOLGICA PARA AVALIAR A SENSAO

    TRMICA NAS RUAS CENTRAIS DE PELOTAS-RS

    Caio Vincius Oliveira Ferreira; Erika Collischonn 300

    TEMPERATURA MENSAL MDIA DE SUPERFCIE PARA PORTO

    ALEGRE/RS A PARTIR DE IMAGENS DO SATLITE MODIS

    Ricardo Brandolt; Caio Ferreira; Erika Collischonn 305

    USO E COBERTURA DA TERRA AOS REDORES DA ETE MIRANDA DO

    MUNICIPIO DE PASSO FUNDO - RS

    Alison Andr Domingues Teixeira; Eliane Munhz de Munhz; Henrique Noguez da

    Cunha; Adalberto Koiti Miura

    309

  • 11

    TRABALHOS

    COMPLETOS

  • III Seminrio do Programa de Ps-Graduao da

    Universidade Federal de Pelotas

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    A GEOGRAFIA ESCOLAR DOS ANOS INICIAIS: SUA TRAJETRIA

    HISTRICA E ORIENTAES CURRICULARES COMO CONTRIBUIO NA

    FORMAO DE PROFESSORES

    Henrique S. Gorziza Mestrando do Programa de Ps-graduao da UFPel

    [email protected]

    Liz Cristiane Dias Prof. Dra. do Departamento de Geografia da UFPel

    [email protected]

    1 INTRODUO

    Promover a construo de discusses sobre a Geografia Escolar nos Anos Iniciais nos

    permite perceber que, desde possveis prticas pedaggicas para com o processo de

    formao de professores, pode configurar um eficiente recurso para os cursos de formao.

    Dessa relao, elucidar o que previsto para esse componente curricular, enquanto

    metodologias e orientaes em contedos eficazes como base de construo de

    conhecimento s tendem a colaborar e acrescer s prticas educativas.

    Advindo desta aproximao com a Geografia Escolar dos Anos Iniciais com olhar

    voltado aos primeiros anos da escolarizao nos instiga a averiguar as fases que

    compreendem o processo que conduz ao panorama da disciplina de Geografia nesta etapa.

    Ao nos inteirarmos da temtica, de imediato, nos emerge a indagao de entender o

    sentido de problematizar acerca de uma Geografia, a qual o licenciado em Geografia no

    est apto a exercer, e sim, o profissional formado em Pedagogia. Pois, deste

    questionamento, atualmente, demandam diversas inquietudes. Principalmente, por parte

    desse professor que, uma vez formado pedagogo, deveria dispor de prticas polivalentes s

    cincias que configuram o currculo do cenrio que o mesmo ir atuar.

    Imbricado nesta demanda dos professores dos Anos Iniciais que denotam dificuldades

    na compreenso da linguagem geogrfica, caracterizada como complexa enquanto seus

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • III Seminrio do Programa de Ps-Graduao da

    Universidade Federal de Pelotas

    __________________________________________________________________________

    13

    contedos, que nos inclinamos a discutir a Geografia Escolar na conjuntura pertencente ao

    primeiro ciclo do ensino bsico. Porque ansiar o entendimento sobre a relevncia da

    aprendizagem em Geografia nos primeiros anos do Ensino Fundamental, em concomitncia

    das contribuies aos alunos quanto a do professor na sua formao inicial, nos concebe um

    convencimento alusivo a uma contribuio cunhada numa prtica educativa de qualidade.

    Partindo da premissa de que esses profissionais, no dotam de um domnio

    satisfatrio ao transmitir os contedos de Geografia que, por muito deles, muitas vezes,

    nunca foi visto anteriormente e da percepo da ausncia de didticas mais preocupadas

    com essa transmisso de contedos, em especfico, visa-se entender a razo desse dficit

    por meio de investigaes no momento da formao desses profissionais sob uma tica que

    resgate a trajetria deste componente curricular e suas diretrizes curriculares at o presente

    momento e alm de propiciar uma reflexo com mais afinco tal problemtica. Ou seja, a

    partir desse entendimento se pretende averiguar a relao da Formao de Professores com

    a Geografia dos Anos Iniciais e facultar uma atenta anlise como alternativa concernente

    melhoria sobre a abordagem geogrfica nesta etapa da escolarizao.

    O presente trabalho compreender discusses tericas que introduzem e caracterizam

    o contexto que se pretende analisar mediante as perspectivas relativas ao ttulo da temtica

    que tange uma valorizao sobre a formao de professores e a Geografia Escolar dos

    Anos Iniciais, iniciando com um breve histrico da mesma no Brasil em seguida do que

    ampara essa disciplina atravs dos Parmetros Curriculares Nacionais.

    2 METODOLOGIA

    Em concomitncia da justificativa e objetivo da proposta de trabalho, o primeiro

    momento procedimental decorreu da fundamentao terica que partiu de um consistente

    levantamento bibliogrfico procedente de obras advindas da comunidade de referncia que

    tratam sobre Geografia Escolar dos Anos Iniciais com um todo. Destarte a este

    levantamento, realizou-se uma anlise documental oficial dos Parmetros Curriculares

    Nacionais com os propsitos de alinhar a fundamentao terica aos objetivos e orientaes

  • III Seminrio do Programa de Ps-Graduao da

    Universidade Federal de Pelotas

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    augurados pelos PCNs. Apoiam-nos quanto a referida anlise documental, Ludke e Andr

    ao afirmar ser um instrumento eficaz na coleta de dados que ampara o pesquisador em

    fundamentais consideraes. No so apenas uma fonte de informao contextualizada,

    mas surge num determinado contexto e fornecem informaes sobre esse mesmo contexto.

    (1986, p. 39).

    A partir do delineamento metodolgico diante das problemticas do tema do estimado

    trabalho, na presena da pesquisa qualitativa como abordagem, esta nos proporcionar uma

    possibilidade de melhor operar e otimizar nossos dados de estudo dispondo de instrumentos

    de pesquisa para coletas de dados, por exemplo.

    3 RESULTADOS E DISCUSSO

    Refletir a Geografia Escolar dos Anos Iniciais demanda repensar seu trajeto histrico

    at os dias atuais. Embora muitos estudos sobre os anos iniciais vem sendo levantados, este

    assunto antepara uma apreciao cautelosa com relao as dificuldades que os professores

    defrontam-se na rotina escolar no referido nvel de ensino em todo pas. Dificuldades estas

    que decorrem desde a formao inicial, em que os pedagogos no adquirem um

    conhecimento terico mais consistente das disciplinas que ele, futuramente, como professor

    polivalente, ter de ministrar, neste caso, a disciplina de Geografia.

    Desta forma, o estudo a respeito das contribuies do ensino geogrfico na formao

    de professores pode ser mais bem compreendido a partir do olhar histrico sobre o percurso

    da Geografia nos anos iniciais que herda uma gama complexa quanto a sua insero na

    educao bsica.

    Ela que tem seu marco inicial, em 1934, quando foi criada na Universidade de So

    Paulo a Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas e promulgada sob a Lei

    Orgnica do Ensino Primrio e da Lei Orgnica do Ensino Normal, pelo Decreto-Lei n.

    8.529. Em 1946, sendo includa de acordo com a Escola Nova, que tinha o intuito de

    contribuir para um crescimento pleno do aluno, alm da funo de escrita e leitura. Em

  • III Seminrio do Programa de Ps-Graduao da

    Universidade Federal de Pelotas

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    15

    1961, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases LDB, n. 4.024, que ofereceu

    orientaes curriculares mais flexveis. Entretanto, em 1971 promulgada a Lei de

    Diretrizes e Bases LBD, n. 5.692, que alinhou o sistema educacional s intenes do

    governo condizentes aos princpios vividos na poca da Ditadura Militar. Neste momento, a

    Geografia era substituda pela disciplina de Educao Moral e Cvica EMC, que atendia

    com maior eficcia, os objetivos polticos e ideolgicos do governo. Aps, com a LDB de

    1971, a disciplina de Geografia junto com a disciplina de Histria, foi substituda pela

    disciplina de Estudos Sociais, imposta pelo regime autoritrio que ocasionava um

    desinteresse cultural.

    Na escola, procurou-se abolir pensar, fazer uma reflexo crtica, pois isso podia

    possibilitar novos conceitos, podia permitir descobrir o que no se via, o que no vinha ao

    encontro dos interesses do Estado (BERTIN, 2016).

    Nas dcadas de 1980 e 1990, movimentos passaram a protestar pelo fim da disciplina

    de Estudos Sociais e reaver as disciplinas de Geografia e Histria no currculo. Portanto,

    em 1993, a disciplina de Estudos Sociais extinta e, retomadas foram, as disciplinas de

    Geografia e Histria, conforme reporta (2011).

    Contudo, a Geografia passou a ser ensinada de modo descrito e memorizado. No

    levava em conta a uma didtica preocupada em priorizar o pensamento e desenvolvimento

    da criatividade diante dos fenmenos ocorrentes no mundo. Todavia, foi com a LDB de

    1996, n. 9394, que foi reestruturado o ensino do pas em moldes estipulados ao modelo de

    produo vigente, o capitalista, carecido de polticas pblicas educacionais mais eficazes

    competentes a um ensino mais qualificado, que, no ano prximo, em 1997, os Parmetros

    Curriculares Nacionais PCNs foram enunciados na premissa de orientar discusses nas

    escolas da Educao Bsica, trazendo objetivos e proposies didticas a todos os nveis da

    escolarizao. Neste momento, tambm, mister salientar a conquista da Geografia como

    espao legal no currculo dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

  • III Seminrio do Programa de Ps-Graduao da

    Universidade Federal de Pelotas

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    16

    Embora os PCNs terem assegurado um espao mais dedicado Geografia mediante

    ao que se previa at a dcada de 1990, ainda se prenunciava junto da Histria quando

    organizadas no documento em apreo. Foi ento que, atravs de reivindicaes das

    Associaes de Geografia e de Histria, a AGB e a ANPUH, em 1997, que a disciplina de

    Geografia, por vez, dissociou-se disciplina de Histria.

    Salienta-se para o presente trabalho, a delimitao at o perodo aludido dos

    Parmetros Curriculares como documento oficial. Posto que, suas orientaes validam o

    aporte necessrio aos professores da educao do pas, apesar de j constar como

    documento oficial preliminar, a Base Nacional Comum Curricular - BNCC, em sua

    segunda verso, publicada em abril do corrente ano.

    Considerar polticas pblicas enquanto orientaes a respeito do currculo do Ensino

    Fundamental, neste momento que se pensa a importncia da Geografia, extremante

    salutar. Principalmente por meio dos PCNs que se consolida como documento norteador

    no final da dcada de 1990 assumindo o carter a respeito de orientaes curriculares e,

    tambm, uma postura de centralizao nacional sobre as metodologias para prticas

    pedaggicas no pas. Assim, para corroborar o propsito dos PCNs em mbito nacional,

    Pontuschka diz:

    Como no caso de qualquer proposta sugerida por rgos oficiais, preciso

    ter o cuidado de no sacralizar um trabalho homogeneizado, aplicado a

    realidades diversificadas com as necessidades que lhes so peculiares. A

    nosso ver, propostas dessa natureza precisam ser um instrumento auxiliar

    do professor, contribuir para a reflexo sobre o seu plano de curso,

    baseada na realidade social da escola (PONTUSCHKA; PAGANELLI;

    CACETE, 2009, p. 76).

    Desta forma, pode-se j denotar o relativo cuidado que o professor deve tomar

    mediante ao que se conclui sobre a orientao citada, sobretudo com a disciplina de

    Geografia. Isso que nos impulsiona a refletir acerca da formao docente do profissional

    responsvel em ministrar nos anos iniciais. Pois este necessita de uma mnima erudio

    sobre as cincias presentes no currculo no referido nvel de ensino.

  • III Seminrio do Programa de Ps-Graduao da

    Universidade Federal de Pelotas

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    17

    Sobre tal domnio necessrio, os PCNs orientam, para a Geografia do ensino

    fundamental, uma srie de objetivos referentes construo de aprendizagem a partir da

    relao sociedade e natureza, em contexto ao espao e a paisagem, estabelecidos como

    categorias a esse aprendizado. So os objetivos consistem na capacitao dos alunos em:

    1) Conhecer a organizao do espao geogrfico e o funcionamento da

    natureza em suas mltiplas relaes, de modo a compreender o papel das

    sociedades em sua construo e na produo do territrio, da paisagem e

    do lugar; 2) identificar e avaliar as aes dos homens em sociedade e suas

    consequncias em diferentes espaos e tempos, de modo a construir

    referenciais que possibilitem uma participao propositiva e reativa nas

    questes socioambientais locais; 3) compreender a espacialidade e

    temporalidade dos fenmenos geogrficos estudados em suas dinmicas e

    interaes; 4) compreender que as melhorias nas condies de vida, os

    direitos polticos, os avanos tcnicos e tecnolgicos e as transformaes

    socioculturais so conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda

    no so usufrudas por todos os seres humanos e, dentro de suas

    possibilidades, empenhar-se em democratiz-las; 5) conhecer e saber

    utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia para compreender o

    espao, a paisagem, o territrio e o lugar, seus processos de construo,

    identificando suas relaes, problemas e contradies; 6) fazer leituras de

    imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informao, de

    modo a interpretar, analisar e relacionar informaes sobre o espao

    geogrfico e as diferentes paisagens; 7) saber utilizar a linguagem

    cartogrfica para obter informaes e representar a espacialidade dos

    fenmenos geogrficos; 8) valorizar o patrimnio sociocultural e respeitar

    a sociodiversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e

    indivduos e um elemento de fortalecimento da democracia (BRASIL,

    2001, p. 122).

    Perfazendo o que os PCNs orientam em vista da seleo e organizao dos

    contedos, o professor deve ser sensato em sua reflexo quanto a aplicabilidade das

    questes que concernem atravs dos contedos de Geografia como identidade do lugar,

    conscincia cidad, valorizao cultural, entre outros aspectos relevantes ao lugar vivido

    pelos alunos. Progredindo perspectiva de valorizao sobre questes que se importam

    com os valores de vida em sociedade, acompanham junto aos objetivos dos PCNs a

    efetivao bsica de conceitos do conhecimento geogrfico, como por exemplo, lugar e

    paisagem aliados s prticas pedaggicas na rotina escolar dos anos iniciais. Neste sentido,

    mais uma vez os PCNs fortalecem e orientam:

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    18

    No que se refere ao ensino fundamental, importante considerar quais so

    as categorias da Geografia mais adequadas para os alunos em relao

    sua faixa etria, ao momento da escolaridade em que se encontram e s

    capacidades que se espera que eles desenvolvam. Embora o espao

    geogrfico deva ser o objeto central de estudo, as categorias paisagem,

    territrio e lugar devem tambm ser abordadas, principalmente nos ciclos

    iniciais, quando se mostram mais acessveis aos alunos, tendo em vista

    suas caractersticas cognitivas e afetivas (BRASIL, 2001, p. 75).

    Alm desta importante considerao diante das categorias existentes nos contedos

    de Geografia, a preocupao para com a abordagem presente nos parmetros quando estes

    apontam direcionamentos s prticas pedaggicas no processo de ensino e aprendizagem.

    Assim os procedimentos metodolgicos das prticas pedaggicas nessa fase so visados

    pelos PCNs:

    Abordagens atuais da Geografia tm buscado prticas pedaggicas que

    permitam apresentar aos alunos os diferentes aspectos de um mesmo

    fenmeno em diferentes momentos da escolaridade, de modo que os

    alunos possam construir compreenses novas e mais complexas a seu

    respeito. Espera-se que, dessa forma, eles desenvolvam a capacidade de

    identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade,

    compreendendo a relao sociedade-natureza. Essas prticas envolvem

    procedimentos de problematizao, observao, registro, descrio,

    documentao, representao e pesquisa dos fenmenos sociais, culturais

    ou naturais que compem a paisagem e o espao geogrfico, na busca e

    formulao de hipteses e explicaes das relaes, permanncias e

    transformaes que a se encontram em interao (BRASIL, 2001, p. 77).

    Todavia, partimos do entendimento que tais orientaes, questionamentos e

    preocupaes previstas no referido parmetro, no se configuram como uma cartilha de

    regras, mas que sim, visam promover reflexes, quando amparadas de objetivos, categorias

    e orientaes, predispostas melhoria da educao nas disciplinas desta fase do ensino

    fundamental, neste ensejo, a disciplina de Geografia. Pertinente, tambm, aclarar que

    houve a identificao de diversas falhas nos PCNs, sobretudo no primeiro ciclo, na

    disciplina de Geografia. Portanto, cabe ao professor pedagogo, neste caso, estar atento s

    falhas apontadas no momento em que colocaro em prtica seu saber pedaggico.

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    No que se refere a Geografia dos Anos Iniciais, refletir o momento inicial da

    formao de professores nas instituies em que esses profissionais adquirem sua

    graduao no Curso de Pedagogia, se faz importante. Pois, somente discutir o tratamento

    dos contedos, por meio de documentos oficiais, no garante subsdios ao futuro

    profissional desta etapa de ensino.

    Sobre o momento da formao docente, pode-se perceber que prevalecem nos

    currculos dos cursos de Pedagogia, desde o incio sobre os estudos da Geografia Escolar

    no Brasil, pela professora Tomoko Iyda Paganelli, disciplinas voltadas a uma abordagem de

    prticas pedaggicas que ocupam maior tempo ao longo da formao. Consequentemente,

    estudos em torno das cincias das disciplinas que compem o currculo dos anos iniciais

    no dispem de um espao que vise uma maior erudio ao entendimento terico das

    demais cincias, mediante ao que Alves e Moura, em 2013, destacam:

    A importncia do professor que atua nos Anos Iniciais do Ensino

    Fundamental est pautada em sua formao, que, algumas vezes, deixa a

    desejar em aspectos de acadmico e cientfico. oportuno frisar os

    aspectos pedaggicos do ensino-aprendizagem que aluno est iniciando,

    principalmente, no processo de escolarizao e, formalmente, aprendendo

    a ler e a escrever. Os profissionais que ministram o ensino de matrias

    como Geografia, Histria, Cincias e Matemtica, nos seus cursos, esto

    restritos, h pouco tempo, a abordar todas estas disciplinas relacionadas.

    Assim, passivo que alguns professores que atuam nos Anos Iniciais do

    Ensino Fundamental, no tm conhecimento significativo do que seria

    importante trabalhar em Geografia, ou seja, no conseguem aplicar

    conceitos de Geografia por falta de conhecimento e/ou seu significado,

    tm ausncia de habilidades necessrias, ou, simplesmente, no

    constituem competncia para aplicar os contedos da Geografia. O que

    acarreta uma problemtica no que se refere ao ensino de Geografia

    (ALVES; MOURA, 2013, p. 270).

    Cientes da lacuna instaurada nesta conjuntura da educao bsica, com relao a

    compreenso dos conhecimentos geogrficos, todavia, recorre-se ao professor, que ,

    segundo Callai (1999) condutor do processo, e de facilitar para os alunos, pois ele no

    igual, pois tem todo um conhecimento, uma percepo para ser professor e tem, ainda, o

    controle do processo, que lhe delegado e do qual no pode abrir mo: A formao do

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    profissional. Posto isto, em vista das fenomenologias envolvidas cincia geogrfica,

    essencial do professor dotar de iniciativas que dizem respeito aos recursos adotados no

    ensino e aprendizagem em geografia para os primeiros anos na escola. Sobre este processo

    de ensino e aprendizagem, vale ressaltar a relevncia de refletir qual forma deve ser a mais

    apropriada enquanto a valorizao do desafio de educar num referido e especfico cenrio

    de sala de aula.

    4 CONCLUSES

    Ao nos aprofundarmos desse olhar sobre desdobramento da Geografia nos anos

    iniciais, no podemos deslembrar que as crianas, nessa fase do ensino, aprendem a ler e

    escrever e com a Geografia e a Histria, aprendem a ler o mundo e a escrever sobre ele,

    pois junto da alfabetizao, os conhecimentos geogrficos podem ser abordados e

    intervalados s demais disciplinas.

    Mediante ao que se expem, acrescido por Oliveira (2015), que o professor deve

    mediar caminho do ensino, como causa, e da aprendizagem, como consequncia. Faz todo

    sentido ento visar por um trabalho por meio do ensino de Geografia, que no esteja

    desunido vida dos alunos e, subsequente, que os direcione a leitura de mundo para que se

    consolide uma aprendizagem deveras significativa.

    Notoriamente que, da atuao docente em questo, ainda no possvel estimar com

    otimismo um domnio efetivo, pela parte dos pedagogos. Mas, a partir de aprimoramentos

    da problemtica em questo, o entendimento das bases de conhecimentos geogrficos

    constituir uma linguagem geogrfica, linguagem esta que servir como ferramenta para

    toda prtica de ensino vigente. Contudo, Cavalcanti (2012) afirma que, podemos conceber,

    mediante a uma anlise realizada, que os professores abertos e sensveis ao dilogo com

    seus alunos buscam contribuir para o processo de atribuio de significados aos contedos

    trabalhados, baseados em cada contexto especfico, de acordo com as representaes dos

    alunos, considerando suas capacidades individuais e de grupo. Ou seja, vai demandar deste

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    21

    docente o direcionamento a fim de promover a aprendizagem a partir da formao de

    conceitos quebrando tantos paradigmas entre conhecimentos cientfico, escolar e cotidiano.

    REFERNCIAS

    ALVES, Emerson Jhammes Francisco; MOURA, Gerusa Gonalves. Ensino de

    Geografia: Anlise da formao de de professores do (4 e 5) anos iniciais do Ensino

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    COM A PALAVRA, OS SUJEITOS PROFESSORES: OS PROCESSOS DE

    ENSINAR GEOGRAFIA EM QUESTO

    Victria Sabbado Menezes

    Mestre em Geografia - UFRGS

    [email protected]

    Nestor Andr Kaercher Doutor em Geografia Humana USP/ Professor do POSGEA - UFRGS

    [email protected]

    1 INTRODUO

    O presente trabalho constitui um recorte de uma dissertao de mestrado j

    finalizada (2016) concernente temtica do ensino de Geografia. Tem-se o intuito de

    investigar as bases de sustentao do fazer pedaggico de professores de Geografia. Isto ,

    busca-se ir s razes da ao pedaggica visando desvendar as concepes tericas de

    Geografia e de Educao dos educadores. Considera-se que o exerccio de (re)pensar a

    prtica docente deve estar aliado reflexo sobre os fundamentos que a embasam. Para

    tanto, sero analisadas e interpretadas entrevistas com os sujeitos pesquisados (professores

    de Geografia do ensino pblico estadual), as quais representaram um dilogo que permitiu

    compreender alguns aspectos de seus modos de pensar, ser e agir.

    Ressalta-se a necessidade de trazer tona as concepes epistmicas dos docentes

    em Geografia a fim de possibilitar um debate terico marcado por uma teia de relaes

    tecidas entre estas e a literatura cientfica. Pressupe-se que a ao reflexiva acerca dos

    significados construdos e reproduzidos em sala de aula pelos educadores permite a

    ressignificao da docncia. O respaldo terico da pesquisa encontra-se em autores que se

    dedicam ao estudo em ensino de Geografia e em Educao, principalmente Kaercher e

    Becker. As lentes tericas adotadas pautam-se na perspectiva, sobretudo, destes autores

    mencionados com o intento de analisar o contedo expresso nas entrevistas realizadas com

    os sujeitos da pesquisa.

    mailto:[email protected]:[email protected]

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    Pretende-se com este trabalho propiciar desacomodaes de pensamento e reflexes

    referentes prtica docente em Geografia a partir das contribuies daqueles que

    constroem diariamente este componente curricular no espao escolar. Ou seja, busca-se dar

    voz aos professores para que manifestem sua viso sobre os processos educativos e suas

    experincias. Repensar o ensino da Geografia escolar e a formao inicial docente requer

    uma aproximao da universidade com a escola atravs de um dilogo horizontal. Neste

    dilogo emergem concepes epistemolgicas que devem ser discutidas, o que constitui o

    objetivo central de tal trabalho, tendo em vista que a reforma do ensino deve levar

    reforma do pensamento, e a reforma do pensamento deve levar reforma do ensino

    (MORIN, 2008, p. 20).

    2 METODOLOGIA

    A pesquisa formada por dois momentos: a pesquisa terica e a pesquisa prtica.

    No primeiro momento verifica-se uma aproximao da pesquisadora com a produo

    cientfica existente acerca do seu tema de anlise. Assim, realizou-se uma reviso

    bibliogrfica a fim de fornecer um suporte terico ao trabalho. O outro momento

    corresponde a pesquisa de campo, um momento emprico, em que se busca uma

    aproximao com a realidade e o levantamento de informaes e esclarecimentos sobre o

    problema de pesquisa proposto. A tcnica empregada para constatar as concepes

    epistemolgicas dos sujeitos pesquisados foi a entrevista por pautas, a qual apresenta certo

    grau de estruturao, j que se guia por uma relao de pontos de interesse que o

    entrevistador vai explorando ao longo de seu curso (GIL, 1987, p. 117). Cabe esclarecer

    que os sujeitos da pesquisa correspondem a cinco professores de Geografia de Ensino

    Fundamental e/ou Mdio de 4 escolas estaduais de Pelotas.

    Para o tratamento dos dados levantados por meio das entrevistas adotou-se o

    mtodo de anlise do contedo. Este trabalha com a palavra, com o contedo do texto

    elaborado pelo sujeito pesquisado. Trata-se de um conjunto de tcnicas de anlise das

    comunicaes que visa obter indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia

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    de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo (variveis inferidas) destas

    mensagens (BARDIN, 1979, p. 42). Destarte, buscou-se construir reflexes derivadas do

    estabelecimento de relaes entre os referenciais tericos e os dados levantados na pesquisa

    de campo atravs das entrevistas.

    3 RESULTADOS E DISCUSSO

    A anlise das concepes de Geografia dos professores permite indicar duas

    categorias: cincia de sntese e cincia do espao. A ideia de cincia de sntese relatada por

    dois professores diz respeito ao entendimento de que envolve outras cincias e trata do

    mundo. Esta concepo marcou o discurso geogrfico tradicional em finais do sculo XIX

    at meados do sculo XX e corresponde a um entendimento superficial de Geografia, tendo

    em vista a ausncia de definio de um objeto de estudo. A crise da cincia geogrfica ps

    Segunda Guerra Mundial foi desencadeada, entre outros fatores, por este problema que,

    segundo Porto-Gonalves (1982, p. 72), diz respeito definio do solo terico da

    geografia, determinao do seu objeto cientfico. A partir disso, desenvolveram-se

    diferentes perspectivas no interior da Geografia cientfica. Contudo, as entrevistas revelam

    que ainda h uma presena forte desta concepo pouco esclarecedora de Geografia,

    mesmo com os avanos nas discusses tericas empreendidas na academia.

    Por outro lado, os educadores Mercedes e Humberto (nomes fictcios) concebem a

    Geografia como cincia do espao, de modo que ao considerar aspectos fsicos e humanos

    o aluno pode entender o espao em que vive. So os nicos sujeitos da pesquisa que se

    referem explicitamente ao objeto que garante a identidade da cincia geogrfica. Esta

    concepo que apresentam est de acordo com a afirmao de Suertegaray (2001, p. 2) de

    que o campo de atuao da Geografia est balizado pelo conceito de espao geogrfico.

    Constitui este, o conceito mais abrangente, por conseqncia o mais abstrato. Logo, estes

    demonstram uma clareza quanto ao objeto de estudo da Geografia. importante considerar

    que Raul tambm se refere ao espao, mas em outro questionamento da entrevista

    concernente utilidade da Geografia que ensina.

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    Suas respostas questo Para que serve a Geografia que ensinas? podem ser

    agrupadas nas seguintes categorias: formar cidado, entender o cotidiano/prprio espao,

    participar de concursos, dar contedo. Foi mais citado a importncia da Geografia ao

    relacionar com a vida dos estudantes a fim de que compreendam o cotidiano e seu prprio

    espao. Depreende-se que h um interesse expresso por um ensino de Geografia que seja

    significativo aos educandos, pois destacam a necessidade de estabelecer uma ligao dos

    contedos da disciplina com as vivncias espaciais deles. A categoria entender o

    cotidiano evidencia que a aprendizagem em Geografia assentada no conceito de lugar est

    no centro das preocupaes destes sujeitos. A categoria formar cidado est associada

    categoria anterior. Isto , defendem que a partir do entendimento do espao em que os

    alunos vivem, estes podem se tornar cidados crticos.

    Houve ainda respostas caracterizadas por uma viso conteudista do ensino de

    Geografia, como as categorias participar de concursos e dar contedo. Evidencia-se

    uma perspectiva utilitarista da disciplina escolar ao servir para concursos, mas legtima.

    Tambm exposto por Humberto de que o ensino serve para dar contedo, o que denota

    um carter transmissivo da disciplina. Destarte:

    Ao agir assim, direcionamos o foco do trabalho ao produto o contedo e

    abandonamos o compromisso fundante da docncia: possibilitar que o aluno

    aprenda e seja capaz de mobilizar suas aprendizagens em diferentes situaes. Ao

    apostar na transmisso de contedos de Geografia, relegamos a um segundo

    plano o que essencial, a possibilidade de agir na direo do conhecimento, na

    formao de competncia e atitudes com base nas quais os alunos se situem na

    complexidade do mundo com autonomia e identidade. (COSTELLA;

    SCHAFFER, 2012, p. 42)

    Pensar que a Geografia serve para dar contedo pode restringir a capacidade da

    disciplina de promover a reflexo e o pensamento crtico do discente. O objetivo do

    trabalho do professor, nessa perspectiva, consiste em abordar uma listagem de contedos

    com a turma. Assim, o contedo o fim do processo educativo e o ensino pauta-se na

    transferncia de conhecimento. Dar contedo tende a dificultar a construo do

    conhecimento a partir de uma relao horizontal entre os sujeitos da aprendizagem e se

    aproxima dos princpios de uma pedagogia diretiva. Por outro lado, salienta-se que se

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    depende tambm do que cada aluno far com este contedo, de modo que no impede que

    atue de maneira reflexiva sobre o conhecimento. Alm disso, Humberto e Vanessa tocaram

    em pontos para alm da Geografia, como a questo de, na condio de professor/a, ser

    exemplo para os alunos e dar uma amplitude de mundo aos mesmos no sentido de

    orient-los em suas decises profissionais futuras. Deixam claro que ser professor de

    Geografia no se limita a lidar com o conhecimento geogrfico, mas tambm atuar na

    formao pessoal de sujeitos.

    Quanto aos problemas que percebem no ensino de Geografia na escola pblica,

    alm do salrio baixo, os professores responderam: carncia de recursos na escola

    (Vanessa, Mercedes, Adriana), falta de vontade do aluno para aprender (Raul, Mercedes,

    Adriana), ausncia de suporte da famlia ao aluno (Raul, Mercedes), nmero elevado de

    discentes por turma (Vanessa), desvalorizao da escola (Mercedes), desvalorizao do

    conhecimento formal (Mercedes), dificuldade de lidar com a gerao da tecnologia

    (Mercedes), desmoralizao do profissional docente (Humberto). Notou-se que neste

    questionamento os professores tinham muito a dizer, pois apresentaram diversas

    dificuldades que enfrentam na sua prtica cotidiana.

    A falta de interesse e desmotivao dos educandos vista como uma das principais

    barreiras ao trabalho do professor. Afirmam que no h uma pr-disposio do aluno para

    aprender. Nas palavras de Raul: Eu tenho que fazer a criatura gostar de aprender, porque

    ningum aprende se no tiver com vontade de aprender. Diante disso, como fazer o aluno

    querer aprender? De acordo com Kaercher (2014, p. 63), para que seja possvel

    desenvolver o desejo do aluno em aprender preciso que o futuro professor tambm tenha

    este desejo. Nesse sentido, a postura assumida pelo educador deve ser tambm de busca

    pelo conhecimento e isso ser percebido pelos alunos e poder cativ-los.

    Evidentemente que todo docente gostaria de entrar em uma sala de aula cuja turma

    estivesse muito interessada e disposta aprendizagem. Contudo, o fato da realidade ser

    outra no significa que no pode ser modificada. Estimular os alunos a participarem da

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    aula, questionando-os, provocando-os e levando um material (mapa, globo, poesia, vdeo,

    msica, pintura) poder chamar a ateno dos mesmos. J a cpia do quadro como nica

    metodologia, por exemplo, que no exige o exerccio do pensar nem o envolvimento do

    educando na aula tende a intensificar seu desinteresse, conforme se constatou nas

    observaes das prticas.

    No questionamento acerca de como deve ser o ensino de Geografia, possvel

    elencar, a partir de suas respostas, trs categorias: metodologia, contedo e relao com

    outras reas. A maioria dos educadores esclarecem que deve-se utilizar metodologias

    diferenciadas com destaque para a questo visual, a qual desperta a ateno dos estudantes.

    Cabe destacar a importncia que os sujeitos (Vanessa, Mercedes, Humberto) concederam

    ao contedo. Humberto deteve-se ao contedo em relao uma questo de estruturao do

    currculo, porm Vanessa e Mercedes argumentaram acerca da relevncia do contedo no

    ensino de Geografia, de modo que a aplicao de diferentes metodologias no significa a

    eliminao do contedo. A preocupao de Mercedes em buscar novas metodologias sem

    desconsiderar o contedo para no tornar a aula vazia de conhecimento est associada

    ideia de evitar que suas aulas sejam como um pastel de vento, conforme denomina

    Kaercher (2007). Segundo o autor, a Geografia como pastel de vento vistosa e atraente

    por fora, mas com um recheio pobre. Isto , seria uma aula com metodologias inovadoras,

    mas frgil em reflexo.

    J Adriana aponta a necessidade de comunicao da Geografia com as outras reas

    das Cincias Humanas devido, sobretudo, a implantao do Ensino Mdio Politcnico no

    Rio Grande do Sul, o qual determina a avaliao dos alunos atravs das grandes reas do

    conhecimento. Para a professora, isso exige mudanas no ensino, bem como na formao

    docente na universidade. Logo, uma nova perspectiva que se apresenta para os

    professores estaduais do Ensino Mdio, a qual enfatiza o carter interdisciplinar e

    pressupe um contato mais prximo entre as disciplinas escolares.

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    29

    Quanto concepo de Educao dos professores, foi indagado sobre o papel do

    professor e do aluno no processo de ensino-aprendizagem. Diante das respostas, possvel

    reunir estas categorias: professor como transmissor de contedo, professor construtivista,

    aluno como receptor de contedo, aluno construtivista. Os educadores no apresentaram a

    ideia de professor mediador e professor orientador. A maioria dos professores (Raul,

    Vanessa, Humberto, Adriana), embora com algumas nuances, apresentou uma viso de que

    o papel do professor dar aula no sentido de levar os contedos da disciplina para o aluno,

    o qual deve aprender. Logo, o papel do aluno restringe-se a prestar ateno na exposio do

    docente, pois desta forma ir internalizar o conhecimento. Esta perspectiva identifica-se

    com a concepo de educao bancria, na qual a educao passa a ser o ato de

    depositar, no qual os alunos so os depsitos e o professor aquele que deposita. Em lugar

    de comunicar, o professor d comunicados que os alunos recebem pacientemente,

    aprendem e repetem (FREIRE, 1979, p. 41).

    Com exceo de Mercedes, os demais professores defendem um posicionamento

    relacionado epistemologia empirista. Conforme esta corrente, permanece inalterado o

    fato de que o conhecimento provm do exterior, do mundo dos estmulos/ o conhecimento

    a apreenso de uma verdade, e no sua construo (BECKER, 1993, p. 41). Assim, o

    conhecimento entendido como um produto, algo acabado e imutvel que pode ser

    repassado de um sujeito a outro. Mais que isso, comum perceber que os sujeitos

    pesquisados tratam de contedo geogrfico escolar como sinnimo de conhecimento

    geogrfico. Seriam noes semelhantes ou distintas? Considera-se que no h resposta

    certa, visto que depende da perspectiva adotada por cada sujeito. Sob o vis de um ensino

    que enxerga o contedo como o fim, este ser confundido com o conhecimento. Por outro

    lado, do ponto de vista de um ensino que pretende a construo do conhecimento

    geogrfico para possibilitar ao sujeito uma leitura de mundo crtica e autnoma, o contedo

    considerado o meio do processo educativo que fornecer subsdios para a construo do

    conhecimento. Portanto, o fazer docente est diretamente associado concepo de

    Educao do professor.

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    30

    Raul, por exemplo, no se refere ao termo conhecimento e sim informao.

    Pensar que o educador tem a funo de levar a informao ao aluno representa uma

    limitao do real significado do papel docente. O professor trabalha com o conhecimento

    que, para Morin (2005), corresponde problematizao da informao e a relao desta

    com o mundo do aluno. Dessa maneira, o conhecimento ultrapassa a noo de informao,

    pois exige estruturas tericas para dar sentido informao. O autor argumenta que se

    tivermos muitas informaes e estruturas mentais insuficientes, o excesso de informao

    mergulha-nos numa nuvem de desconhecimento (MORIN, 2005, p. 98). Por

    conseguinte, a escola constitui o espao de excelncia para evitar a formao destas nuvens

    de desconhecimento, de modo que o professor e alunos devem questionar, problematizar e

    confrontar as informaes visando construir o conhecimento e, num momento posterior, ter

    condies para atingir o estgio da sabedoria.

    A fala de Mercedes destoou das respostas apresentadas pelos demais professores.

    Apresentou uma viso de que professor e aluno exercem um papel ativo no processo de

    construo do conhecimento. Logo, se ope uma educao bancria assentada na

    pedagogia diretiva. Ressalta a interao entre educador e educando, enfatizando a relao

    dialgica. Seu pensamento est em consonncia com a epistemologia construtivista e a

    pedagogia relacional, pois considera que o conhecimento no algo dado, mas constitudo

    pela interao do indivduo com o meio fsico e social, com o simbolismo humano, com o

    mundo das relaes sociais; e se constitui por fora de sua ao (BECKER, 2001, p. 72).

    No tocante aos saberes necessrios ao professor, os sujeitos apontaram o saber

    disciplinar como necessrio ao docente, que corresponde ao domnio do contedo de

    Geografia. Os educadores citaram a importncia das estratgias metodolgicas (Humberto)

    e de ter uma boa relao (Adriana) e um jogo de cintura para lidar com as turmas (Raul e

    Mercedes). Estes elementos constituem o que se denomina de saber experiencial que

    consiste no saber proveniente das experincias prticas dos docentes. Nesse sentido,

    Gauthier (1998, p. 33) considera que a experincia e o hbito esto intimamente

    relacionados. De fato, aprender atravs de suas prprias experincias significa viver um

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    31

    momento particular, momento esse diferente de tudo o que se encontra habitualmente.

    Vanessa destacou ainda a relevncia de conhecer outras reas para estabelecer ligaes com

    a Geografia, e saber como transformar a informao em conhecimento. Destarte, os

    educadores defendem o saber disciplinar e experiencial como os principais para embasar as

    prticas educativas.

    Considera-se que para exercer a funo docente de forma plena necessrio um

    conjunto de conhecimentos. Este arcabouo de saberes envolve no somente o saber

    disciplinar e o da experincia, mas tambm o saber curricular, da tradio pedaggica, das

    cincias da educao e da ao pedaggica. A esses mltiplos conhecimentos acrescentam-

    se outros elementos que dizem respeito postura e personalidade do professor, como a

    sensibilidade, o respeito e valorizao do outro, a tica e a conscincia de seu

    inacabamento.

    Todos os professores entendem que h conhecimentos que so produzidos na prtica

    docente. Foram recorrentes s crticas universidade por no prepar-los para ministrar

    aula no sentido de como ensinar e por tratar de uma realidade que no a que se presencia

    no espao escolar. Contudo, nem todos apresentaram uma clareza quanto aos saberes

    produzidos no fazer docente, limitando-se s crticas. Vanessa, Mercedes e Humberto

    foram mais especficos e claros, pois a primeira destacou que percebeu na prtica a

    necessidade de uma relao mais prxima com os alunos; a segunda referiu-se escolha

    criteriosa dos materiais didticos, o reconhecimento do saber dos alunos e do palavreado

    que utilizam; e o terceiro discorreu sobre tarefas do professor como preencher uma

    chamada. Desse modo, as questes levantadas pelos sujeitos reforam que h aprendizados

    na prtica docente que contribuem para o desenvolvimento do seu trabalho em diferentes

    aspectos, seja no planejamento, na organizao, na comunicao com os alunos, na adoo

    de metodologias e tcnicas ou na prpria maneira de conceber o ensino e desencadear o

    processo pedaggico.

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    4 CONCLUSES

    A partir das consideraes explicitadas com base nas entrevistas com os sujeitos da

    pesquisa, percebe-se a presena forte de concepes de Geografia que se aproximam da corrente

    epistemolgica tradicional da referida cincia. Dos conceitos da Geografia (espao geogrfico,

    territrio, paisagem, regio e lugar) foram citados, direta ou indiretamente, o espao

    geogrfico (minoria dos sujeitos) e o lugar (maioria dos sujeitos) Cabe ressaltar que

    referncias ao contexto local de vivncia dos indivduos, em que classificou-se como

    pertencente ao conceito de lugar, foram predominantes nas vises de Geografia dos

    docentes. A concepo vaga de Geografia como cincia de sntese com afirmaes de que

    tudo Geografia tambm foi recorrente. No se pretende rotular os sujeitos pesquisados,

    mas a partir das anlises realizadas constatou-se que os mesmos apresentam uma

    epistemologia da Geografia frgil, pouca clara. Salvo excees, no se percebeu uma base

    epistemolgica consistente no que diz respeito cincia geogrfica.

    No que concerne s concepes de Educao, depreende-se que no h referncias

    elementos da epistemologia apriorista, de maneira que a maioria dos educadores adota a

    perspectiva empirista, apesar de algumas nuances de construtivismo. Isso ratifica o que

    Becker (1993) preconiza, pois ainda que os sujeitos se aproximem de outras posturas,

    no conseguem superar totalmente sua epistemologia empirista. Numa palavra,

    todos os docentes so, pelo menos em algum grau, empiristas. Ela , tambm, a

    postura mais claramente verbalizada; talvez por ser a que mais se aproxima do

    senso comum. Ou seja, aquela que professada aqum de qualquer

    questionamento. (BECKER, 1993, p. 39)

    As concepes tericas predominantes so pautadas em um ensino marcado pela

    transmisso de contedo, o qual entendido como fim do processo educativo. Ao mesmo

    tempo, a relao amigvel entre professor e aluno defendida por todos. No pretendem

    exercer o autoritarismo e consideram importante a participao dos alunos em aula.

    Reconhecem que as turmas so compostas por uma diversidade e heterogeneidade de

    indivduos e, para tanto, argumentam acerca da necessidade de desenvolver diferentes

    metodologias. Depreende-se que no h uma nica epistemologia que compe as

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    concepes tericas dos sujeitos pesquisados. Apesar da predominncia de concepes

    empiristas, estas se mesclam s outras vertentes. Contudo, o pluralismo epistemolgico

    identificado nas concepes tericas dos sujeitos est associado, em alguns momentos, com

    a confuso dos mesmos em relao sua viso de Educao. Diante disso, Como

    possibilitar com que os sujeitos estejam realmente cnscios dos eixos basilares de sua ao

    pedaggica e sejam capazes de concretizar suas intencionalidades? Seria a licenciatura uma

    das responsveis por este processo? Estes dvidas evidenciam que a problemtica em

    questo no est esgotada. Portanto, torna-se imprescindvel a continuidade e o

    aprofundamento destas investigaes.

    REFERNCIAS

    BARDIN, Laurence. Anlise de contedo. So Paulo: Edies 70, 1979.

    BECKER, Fernando. A epistemologia do professor: o cotidiano da escola. 10. ed.

    Petrpolis, RJ: Vozes, 1993.

    ______. Educao e construo do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001.

    COSTELLA, Roselane Zordan; SCHAFFER, Neiva Otero. A Geografia em projetos

    curriculares: ler o lugar e compreender o mundo. Erechim: Edelbra, 2012.

    FREIRE, Paulo. Conscientizao: teoria e prtica da libertao: uma introduo ao

    pensamento de Paulo Freire. So Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

    GAUTHIER, Clermont [et al.]. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporneas

    sobre o saber docente. Iju: EdUNIJU, 1998.

    GIL, Antonio Carlos. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. So Paulo: Atlas, 1987.

    KAERCHER, Nestor Andr. A Geografia escolar: gigantes de ps de barro comendo pastel

    de vento num fast food. Terra Livre, Presidente Prudente, v. 1 n 28, p. 28-44, Jan-Jun.

    2007.

    ______. Se a geografia escolar um pastel de vento o gato come a geografia crtica.

    Porto Alegre: Evangraf, 2014.

    MORIN, Edgar. Cincia com conscincia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

    ______. A cabea bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro:

    Bertrand Brasil, 2008.

    PORTO-GONALVES, Carlos Walter. A Geografia est em crise. Viva a Geografia! In:

    MOREIRA, Ruy (Org.) Geografia: teoria e critica; o saber posto em questo. Petrpolis:

    Vozes, 1982.

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    SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Espao Geogrfico Uno e Mltiplo. Scripta

    Nova. Revista Electrnica de Geografa y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona.

    N 93, 15 de julho de 2001.

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    ESPAOS DA EDUCAO: BREVES PROBLEMATIZAES A PARTIR DAS

    POLTICAS EDUCACIONAIS

    Andr Quandt Klug Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Pelotas

    [email protected]

    Liz Cristiane Dias Professora Doutora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pelotas

    [email protected]

    1 CONSIDERAES INTRODUTRIAS

    A relao entre o espao, enquanto objeto da cincia geogrfica, e a dimenso poltica

    que interfere e produz as relaes de poder e, portanto sociais, que se desdobram e se

    materializam no prprio espao, ainda constitui um tema de grande preocupao para as

    mais diferentes reas do conhecimento, especialmente para aquelas ocupadas com as

    relaes sociais e sua construo.

    Soja (1993, p. 30), explicitando o pensamento de Michael Foucault, j apontava para

    algumas problematizaes acerca da temtica ao destacar que a constituio histrica do

    espao era tambm a constituio histrica dos poderes, e, portanto, das relaes que so

    estabelecidas e reconfigurados, pelos prprios poderes atravs do espao. Neste sentido, o

    texto aborda a temtica a partir da perspectiva da produo dos espaos da Educao, ao

    indagar: De que forma as polticas educacionais produzem os Espaos da Educao?

    Diante de tal questionamento, desdobra-se o objetivo almejado ao longo do texto, que

    visa discutir a produo do espao escolar a partir das polticas educacionais, propondo

    algumas reflexes tericas ainda de carter introdutrio. Tais questes so oriundas de um

    trabalho de dissertao de mestrado, intitulado O Ensino Mdio Politcnico e a produo

    dos espaos da Educao: a recontextualizao da proposta em quatro escolas de Pelotas-

    RS, apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal de

    mailto:[email protected]:[email protected]

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    Pelotas (PPGeo-UFPel) no ano de 2016, da qual, so extradas algumas consideraes que

    permitem problematizar e relacionar as referidas temticas.

    Do ponto de vista metodolgico, o texto constitui-se de um breve ensaio terico, que

    foi orientado e desenvolvido de forma mais intensa ao longo do processo de construo da

    referida dissertao. Assim sendo, prope-se, a seguir, estabelecer a discusso a partir de

    trs tpicos distintos, a saber, inicialmente discutem-se os espaos da educao,

    encaminhando algumas possibilidades de reflexo, em seguida, problematiza-se a questo

    das polticas educacionais e sua forma de atuao nestes espaos, para por fim, tecer

    algumas consideraes sobre as relaes entre as dimenses discutidas nos tpicos

    anteriores.

    2. OS ESPAOS DA EDUCAO

    Pensar a produo do espao escolar, tendo em vista a dimenso poltica que

    atravessa e produz diferentes relaes neste espao, requer uma reflexo em relao a

    forma como as polticas educacionais produzem o prprio espao escolar, e

    consequentemente estabelecem determinadas relaes sociais no espao da escola, estamos

    apontando para uma dimenso poltica, que de acordo com Massey (2008) inerente ao

    prprio espao.

    Para Robertson, por sua vez, ao observarmos os espaos da educao a partir da

    perspectiva espacial estamos buscando um ponto de vista pelo qual observar como o

    espao da educao produzido e como ele poderia ser mudado (2013, p. 32), o que

    significa, apontar para alternativas mais complexas para a interpretao do prprio espao.

    Massey (2008, p. 30), aponta para a necessidade de entender o espao como um

    produto de inter-relaes o que implica em uma nova forma de conceb-lo at mesmo do

    ponto de vista poltico. Tal forma de conceber o espao requer tambm interpret-lo em sua

    dimenso relacional, ou seja, buscar entender as inter-relaes que produzem e constituem

    o prprio espao, isso requer de acordo com a autora, uma outra forma de compreender a

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    atuao de polticas no espao, uma forma que busque reconhecer no espao uma dimenso

    relacional do mundo, e desta forma, construir uma poltica que responda a tal dimenso.

    A poltica de inter-relaes reflete, portanto, a primeira proposio, de que o

    espao, tambm, um produto de inter-relaes. O espao no existe antes das

    identidades/entidades e de suas relaes. De um modo mais geral, eu

    argumentaria que identidades/entidades, as relaes entre elas e a espacialidade

    que delas faz parte so todas constitutivas (MASSEY, 2008, p. 30).

    Tal forma de interpretar o espao nos leva a algumas problematizaes acerca da

    temtica que constitui este trabalho, tendo em vista que o espao escolar produzido

    tambm e, portanto, a partir desse conjunto de identidades/entidades atuantes, podemos

    questionar:

    Quais so os atores que produzem efetivamente este espao?

    Quais so as identidades/entidades que tem voz no processo de produo

    deste espao?

    Como se articulam e recontextualizam em contextos espaciais especficos as

    polticas que exercem seu poder de normatizao sobre estes espaos?

    Neste sentido, Massey (2008, p.31) nos prope interpretarmos o espao tambm

    como a esfera de existncia da multiplicidade, tal forma de imagin-lo necessita, segundo

    a autora, do reconhecimento da diferena e da heterogeneidade que compem o prprio

    espao. Para ela, a simples meno da possibilidade desse reconhecimento necessita que

    assumamos a dimenso da espacialidade, que est intrinsecamente presente no

    reconhecimento das diferentes formas e singularidades que constituem o prprio espao.

    Outra noo importante acerca do espao trazido pela autora, diz respeito a imaginao do

    espao como em um constante processo nunca como um sistema fechado, implica a

    insistncia constante, cada vez maior, dentro dos discursos polticos, sobre a genuna

    abertura ao futuro (2008, p.31).

    Assim, a autora defende uma abertura radical em relao ao futuro, para ela apenas

    se o futuro for aberto haver campo para uma poltica que possa fazer a diferena e neste

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    sentido a histria e o espao devem ser compreendidos a partir de sua abertura para o

    futuro, pois,

    O espao jamais poder ser essa simultaneidade completa, na qual todas as

    interconexes j tenham sido estabelecidas e no qual todos os lugares j esto

    ligados a todos os outros. Um espao ento que no nem um recipiente para

    identidades sempre-j constitudas nem um holismo completamente fechado.

    um espao de resultados imprevisveis e de ligaes ausentes. Para que o futuro

    seja aberto, o espao tambm deve s-lo (MASSEY, 2008, p. 32).

    Em Lefebvre1, buscamos algumas ideias no sentido de compreender o espao como

    um produto. Para o autor o espao (social) um produto (social), e assim sendo, o

    espao contm relaes sociais (2006, p. 31), isto implica em compreender os espaos da

    educao como produtos da inter-relao de sujeitos sociais, individuais e coletivos, bem

    como, de diferentes instituies, por meio da sua atuao poltica. Para o autor,

    Visto que o espao assim produzido tambm serve de instrumento ao

    pensamento, como ao, que ele , ao mesmo tempo, um meio de produo, um

    meio de controle, portanto, de dominao e de potncia (poder) mas que ele

    escapa parcialmente, enquanto tal, aos que dele se servem. As foras sociais e

    polticas (estatistas) que o engendraram tentam control-lo e no conseguem;

    aqueles mesmos que levam a realidade espacial em direo a uma espcie de

    autonomia impossvel de dominar se esforam para esgot-lo, para fix-lo e o

    subjugar (LEFEBVRE, 2006, p. 31).

    Ao referir-se a forma como se produz o espao social, Lefebvre destaca o carter

    processual em que ocorre essa produo, bem como, destaca os locais polticos como

    propulsores de foras soberanas que produzem o espao. Na verdade, segue o autor, o

    espao social incorpora atos sociais, os de sujeitos ao mesmo tempo coletivos e

    individuais (LEFEBVRE, 2006, p. 36). Para ele, o espao social o da sociedade. O

    homem no v seno palavras; cada sujeito se situa num espao onde ele se reconhece ou

    ento se perde, do qual ele usufrui ou modifica. O sujeito , portanto, constitudo a partir

    1 Destaca-se que o dilogo entre autores como Lefebvre, (de influncia e orientao marcada pelo paradigma

    marxista), e Massey (cujas proposies se fundamentam em um paradigma, dito ps-moderno), dentre os

    demais autores, reflete o carter ensasta do texto. Tal dilogo, no tem por finalidade esgotar a discusso, e

    nem mesmo afirmar ainda, unicamente um, ou outro paradigma pelo qual se possa discutir a produo dos

    espaos da Educao. Propomos sim, algumas problematizaes introdutrias que em nossa compreenso

    podem abarcar reflexes convergentes, ainda que, a partir de paradigmas epistemolgicos e tericos distintos.

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    do espao social no qual se insere, tendo para isso espaos especficos para a sua formao

    no seio do conjunto do espao social.

    A partir desta exposio, faz-se possvel concordar com Robertson, ao afirmar que

    para que se possa levar adiante uma anlise espacial crtica em torno dos espaos da

    educao, faz-se necessrio encarar com seriedade alguns postulados acerca dessa temtica.

    1 as relaes sociais so latentes no espao e reproduzidas por meio de sistemas

    como a educao;

    2 os espaos da educao so um produto;

    3 espaos de educao so produzidos;

    4 espaos de educao so polimrficos;

    5 espaos de educao so geometrias dinmicas de poder e relaes sociais; e

    6 espaos de educao e subjetividades so o desfecho de uma interao dialtica

    (2013, p. 40).

    Neste sentido, e com base nestas afirmaes desdobram-se as reflexes a seguir, que

    objetivam caracterizar brevemente a forma pela qual a atuao das polticas no mbito

    educacional tem produzido os espaos da educao atualmente.

    3. AS POLTICAS EDUCACIONAIS

    Conforme destacado at ento, o espao um produto social, um produto de inmeras

    interelaes produzidas e reproduzidas por identidades/entidades distintas, neste sentido,

    buscamos problematizar a produo do espao escolar a partir da atuao das polticas que

    normatizam, regulam, e assim, portanto, produzem este espao.

    Retomamos inicialmente as ideias de Massey (2008, p. 258) ao afirmar que o

    espao, enquanto relacional e enquanto esfera da multiplicidade, tanto uma parte

    essencial do carter do compromisso poltico quanto perpetuamente reconfigurado por ele.

    Depreende-se da que, a atuao dos sujeitos no espao configura e reconfigura este espao,

    neste sentido, entram em cena os processos de produo do espao escolar, no apenas a

    partir dos sujeitos que o compem, mas tambm, a partir da atuao destes sujeitos em

    adequao as polticas que nele interferem.

    Faz-se necessrio to logo trazer tona, a discusso acerca do que estamos

    entendendo por poltica ao longo do texto, neste sentido, buscamos a contribuio de Ball

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    (1993), que longe de propor uma definio conceitual para o que seja propriamente uma

    poltica, busca compreender as polticas a partir de dois eixos distintos, a saber, a poltica

    como texto, e a poltica como discurso.

    Para o autor, no podemos compreender polticas como coisas, mas sim como

    processos e consequncias, o que coloca a discusso em torno da realizao de uma

    poltica ou proposta educacional em um nvel muito mais profundo do que aquele que

    busca verificar, ou melhor dizendo, avaliar se uma poltica educacional foi ou no

    implementada com sucesso, para Ball, esse tipo de discusso seria uma simplificao do

    estudo acerca das polticas, pois, compreenderia as polticas como um processo

    hiperracional e linear, em cujo final encontramos falhas de implementao (2015, p.

    165).

    De outro modo, o autor sugere a compreenso das polticas a partir do que ele

    denomina enactment, termo de difcil traduo, que para Mainardes e Marcondes (2009)

    representa a ideia de que as polticas so interpretadas e materializadas de diferentes e

    variadas formas, o termo traria assim a ideia de poltica em ao, ou seja, aquela que est

    sendo efetivamente desenvolvida e realizada nas escolas.

    Neste sentido, a anlise de polticas que busca inspirao nas concepes propostas

    por Ball afasta-se desta simplificao em torno da compreenso da atuao das polticas na

    constituio das relaes que compem e produzem o espao escolar, e busca compreender

    estas relaes no a partir apenas de uma concepo linear e dicotmica entre textos

    polticos e prtica, ou em termos de a poltica pensada e a poltica realizada, mas sim, busca

    reconhecer as especificidades que dizem respeito ao contexto em que as polticas so

    traduzidas e recontextualizadas em prticas a partir de um processo complexo.

    Desta forma, as polticas devem ser consideradas como um produto de influncias e

    interdependncias, resultantes da articulao entre lgicas globais, (distantes e com carter

    homogeneizante) e as lgicas locais, (particulares que caracterizam a heterogeneidade do

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    social) tencionando assim a relao entre estas duas lgicas (BALL, 2001, apud LOPES,

    CUNHA e COSTA, 2013, p. 393).

    A partir das ideias de Ball acerca das polticas, podemos tambm retornar a discusso

    acerca do espao escolar, a partir de Massey (2008, p. 258) que afirma O global to

    concreto quanto o lugar local. Se o espao deve, realmente, ser pensado relacionalmente,

    ento ele no mais do que a soma de nossa relaes e interconexes e a ausncia delas;

    ele tambm , absolutamente, concreto. Ora, se as interelaes do espao devem ser

    pensadas a partir da inscrio local at mesmo de esferas globais, esta afirmao nos

    oferece novas possibilidades de interpretao tambm do espao escolar.

    Assim, para Massey o espao global tambm concreto, e isto se d no prprio local,

    as polticas que produzem este espao tambm o so, conforme demonstra Ball, a partir da

    ideia de tensionamento entre as duas lgicas (local e global), no entanto, as polticas no

    so apenas uma realizao local de uma proposta global, so mais complexas que isso,

    envolvem atores e interpretaes locais, que do diferentes formas a sua realizao.

    O que se quer dizer com isso que, no intuito de pensarmos o espao escolar e a

    forma como as polticas atuam na produo deste espao, necessrio considerarmos as

    diferentes esferas que compem e articulam as lgicas de produo deste espao, sejam elas

    globais ou locais.

    Para Robertson e Dale (2011, p. 35) os processos de globalizao desafiam

    profundamente as molduras mentais que temos usado para entender os problemas de

    poltica educacional, tanto objetiva quanto subjetivamente. Neste sentido, investir

    criticamente na compreenso dos processos que envolvem a realizao das polticas e

    propostas educacionais, significa tambm no perder de vista o carter global que atua no

    sentido de produo destas polticas, bem como na construo de discursos que legitimam

    determinadas formas de pensar a Educao. De acordo com os autores,

    precisamos ir alm das molduras e da anlise da poltica educacional que

    continuam a considerar a educao como um empreendimento nacional que

    ocorre no mbito do que tem historicamente sido chamado de setor da

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    educao[...] novos atores, escalas e projetos esto sendo estrategicamente

    representados, levados em frente, mediados e institucionalizados, e que envolvem

    transformaes significativas no setor da educao (2011, p.35).

    A insero destes atores exerce influncia sobre a produo das prprias polticas

    educacionais, no entanto, conforme estamos problematizando at aqui, a realizao das

    polticas e, portanto, produo dos espaos da educao no se d de forma linear, e as

    polticas passam por alteraes no decorrer deste processo.

    Neste sentido, cabe retomarmos a ideia de Ball que busca compreender as polticas

    como texto e como discurso, em que ao problematizar esta concepo o autor prope, ao

    explicitar o que se deva compreender por poltica enquanto texto, um espao de abertura

    que prprio das polticas, para ele;

    crucial reconhecer que as polticas em si mesmas, os textos, no so

    necessariamente claros ou fechados, ou completos. Os textos so produtos de

    acordos em vrios estgios (em pontos de influncia inicial, nas micro polticas

    de formulao legislativa, no processo parlamentar e nas polticas e micro

    polticas de articulao de grupos de interesse). Eles so caracteristicamente os

    frutos de mltiplas (mas circunscritas) influncias e agendas (1993, p. 11,

    Traduo do autor).

    Nesta perspectiva, destaca o autor, que a realizao das polticas se d em contexto,

    muito embora elas proponham intervenes pessoais nas prticas, e muitos professores

    estejam interessados em ler e interpretar os textos polticos suas leituras e reaes no so

    construdas em circunstncias criadas por eles mesmos, desta forma, as polticas propem

    problemas a seus temas e assuntos, problemas que devem ser resolvidos em contexto

    (BALL, 1993, p. 12. Traduo do autor). Para o autor, os textos polticos normalmente no

    dizem exatamente o que fazer, mas criam circunstncias nas quais a extenso de opes

    disponveis para decidir-se o que fazer so restritas e modificadas, ou so apontados

    objetivos e resultados particulares (p.13), o que coloca entre parnteses a prpria

    autonomia daqueles responsveis por interpret-las.

    Ball prope ainda, a ideia de poltica como discurso, apropriando-se de algumas

    ideias de Foucault, para Ball o discurso possibilita criar uma atmosfera propcia para a

    produo de polticas contraditrias que refletem, a incoerncia entre as necessidades da

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    realidade social, e as necessidades construdas a partir do discurso acerca desta realidade.

    Desta forma, o discurso acaba por criar necessidades e demandas que no necessariamente

    retratam fielmente a realidade dos indivduos que esto inseridos neste processo.

    Para Ball, ns precisamos avaliar precisamente o modo pelo qual as totalidades das

    polticas, conjuntos de polticas relacionadas, exercem poder atravs da produo de

    verdade e de conhecimento, enquanto discursos (BALL, 1993, p. 14. Traduo do

    autor). Neste sentido, o autor prope novamente uma complexificao do processo de

    compreender as polticas, ou seja, busca uma abordagem mais profunda que no est

    explcita nos textos polticos, mas na intencionalidade de afirmao de certos discursos e

    certas formas de problematizar e resolver os problemas que compem o prprio discurso

    poltico acerca do contexto social.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Diante do exposto, considerar os espaos da educao como referncia analtica

    torna-se evidente e necessrio para compreender quais os processos esto produzindo e

    atuando sobre este espao, assim, negligenciar a dimenso do espao da educao ,

    portanto,

    No perceber a forma muito real, poderosa e significativa na qual as relaes

    sociais dentro da multiplicidade de espaos de educao sobrepostos esto

    constantemente sendo estratgica e espacialmente recalibradas, reorganizadas e

    reconstrudas para produzir uma geometria de poder muito diferente

    (ROBERTSON, 2013, p. 43).

    Problematizar a produo destes espaos tambm uma forma de insistir na

    possibilidade de novas formas de construo dos mesmos, formas que no estejam

    caracterizadas por imposies homogeneizantes que desconsideram os sujeitos e a sua

    atuao na produo desses espaos. No podemos assim persistir em um conjunto de

    conceitos que so incapazes de compreender a total enormidade das mudanas que foram

    propostas sob a rubrica da globalizao e o modo como o espao de educao foi

    radicalmente transformado conforme afirma Robertson (2013, p. 43), para que possamos

    outrossim aumentar

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