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Organizadores Cecília Bueno
Juliana Silveira dos Santos Mariana Silva Ferreira
Natalie Olifiers
Anais do III Simpósio de Ciências do Meio Ambiente
Rio de Janeiro Universidade Veiga de Almeida
2019
Organizadores Cecília Bueno
Juliana Silveira dos Santos Mariana Silva Ferreira
Natalie Olifiers
Anais do III Simpósio de
Ciências do Meio Ambiente
Rio de Janeiro Universidade Veiga de Almeida
2019
Realização:
Patrocínio:
Patrocinadores:
Mestrado Profissional em
Ciências do Meio Ambiente
Universidade Veiga de Almeida
Reitora
Beatriz Balena
Pró-Reitora de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Inovação Caterine Fagundes
Coordenadora do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente
Cecília Bueno
Editora-chefe do Núcleo de Publicações Renata Luiza Feital de Oliveira
Biblioteca Central Katia Cavalheiro
III Simpósio de Ciências do Meio Ambiente
Coordenação-Geral Cecília Bueno
Comissão Organizadora
Felipe Brasil Juliana Silveira dos Santos
Mariana Silva Ferreira Natalie Olifiers
Ricardo Martínez Tarré
Comitê Técnico-Científico Anderson Amendoeira Namen (UVA/UERJ)
Cleyton Martins da Silva (UVA) Felipe Brasil (UVA)
Felipe Martello (UFAC) Fernanda Fortes Westin (COPPE-UFRJ)
Hugo Freire (UFG) Isaac Gabriel Gayer Fialho da Rosa (UVA)
João Carlos Pena (UNESP-Rio Claro) Juliana Silveira dos Santos (UVA/UFG)
Lakshmi Juliane Vallim Hofstatter (UFSCAR) Maraisa Gonçalves (UNIFESP- São José dos Campos)
Maria de Lurdes Costa Domingos (UVA) Mariana Silva Ferreira (UVA)
Milene Amâncio Alves Eigenheer (UENF/Associação Mico Leão Dourado) Natalie Olifiers (UVA)
Nilza Rogéria de Andrade Nunes (PUC-RJ) Pavel Dodonov (UFBA)
Priscila da Silva Lucas (UENF) Rafaela Aparecida da Silva (SEAS- RJ)
Ricardo Martínez Tarré (UVA) Viviane Japiassú Viana (UVA) Wladmir H. Motta (CEFET-RJ)
Monitores
João Luiz de Caires Souza Leandro Castro Tripodi
Gabriela Sales Fabiano Sbano Vitor Manuel Ferreira
Laís Moreira Lopes Mariana de Carvalho Gomes
Isabella Cristina Lacerda Serpa
SUMÁRIO
Prefácio...........................................................................................................................11
Resumo das palestras....................................................................................................13
Barragens de Rejeitos - Estabilidade da Estrutura. Orlando Sodré Gomes............................................................................................14
Plano Nacional de Segurança de Barragens e Ações Vigentes. Júlio César da Silva................................................................................................14
Aspectos de Governança e Compliance relacionados a Segurança de Barragens. Claudio Humberto Pinheiro Ramalho....................................................................14
Percepções sobre a macropoluição e seus riscos ambientais. Rodrigo Ornellas Meire..........................................................................................14
Restauração de paisagens e ecossistemas no Brasil: contexto, resultados e oportunidades. Renato Crouzeilles.................................................................................................15
Poluição Ambiental. Cristiane Fiori.........................................................................................................15
Avalanche de problemas: aspectos psicossociais em situações pós-desastre. Maria de Lurdes Costa Domingos..........................................................................16
Águas no Rio de Janeiro: entre a escassez e as enchentes. O que fizemos para chegar a esse ponto e o que podemos fazer para revertê-lo? Alexander Silva de Resende...................................................................................16
Gatilhos, recompensas e a rotina da restauração no estado do Rio de Janeiro. Ciro Moura.............................................................................................................16
Artigos Completos.........................................................................................................17
Sessão
Sociedade, Educação e Ambiente
DECRESCIMENTO ECONÔMICO E O BEM VIVER NA AMÉRICA LATINA. Lorena Martins Medronho, Sérgio Ricardo da Silveira Barros.............................19 LOGÍSTICA REVERSA DE FANTASIAS E ADEREÇOS DE CARNAVAL DESCARTADOS APÓS DESFILE NO SAMBÓDROMO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Carlos Roberto Oliveira de Araújo, Felipe da Costa Brasil...................................30
ARDUINO COMO FERRAMENTA PARA CIDADES INTELIGENTES E SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA DE COMPOSIÇÃO DE UMA ESTAÇÃO DE MONITORAMENTO AMBIENTAL PARA UM JARDIM DE CHUVA. Leonardo Menezes Kaner, Thaiene Ferreira dos Santos França, Viviane Japiassú Viana......................................................................................................................45 A ECOLOGIA DA EXPRESSÃO: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL VIA CORPOREIDADE. Lídia Maria Pia Andreoni Scognamiglio, Cecília Bueno.......................................58 ECOFEMINISMO EM NEGÓCIOS SOCIAIS: EXPLORANDO DIFERENÇAS NA CADEIA PRODUTIVA DO LICURI E DO BABAÇU. Carlos Roberto Oliveira de Araújo, Maria de Lurdes Costa Domingos................72 PERFIL PARASITOLÓGICO DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA DO CENTRO E ARREDORES, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL. Gustavo Lopes Neto, Maria Eduarda Lima Josua de Jesus, Raphael do Amaral Azevedo, Yago Reis Barcellos, Natalie Olifiers....................................................87 “ESSE QUERER DO CUIDAR, DO PRESERVAR PARA O FUTURO E PARA
A GENTE TAMBÉM”: IMPLEMENTAÇÃO DE UMA PROPOSTA EDUCACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. Lucia Helena Varela Neves, Cecília Bueno, Natalie Olifiers..............................106 CONSTRUÇÃO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Bernardo Cavalcanti de Almeida, Liliane Jucá Lemos da Silva Porto, Cleyton M. da Silva.................................................................................................................119
JOGO DIDÁTICO DEFESA EM AÇÃO: UM RECURSO PARA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E EDUCAÇÃO EM REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES. Joanna Mendes de Oliveira, Lívia Maria Ferreira Barcellos, Pollyanna Soares Liberatori Batista, Viviane Japiassú Viana..........................................................133
Sessão
Monitoramento, Qualidade ambiental e Gestão de resíduos
REMOÇÃO DE FÓSFORO EM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ESGOTO SANITÁRIO A PARTIR DO REÚSO DE LODO DE ETA: DISCUSSÕES INICIAIS E PROPOSTA DE ENSAIOS. Débora Camargo Strada, Fernanda da Silva Bicoski, Hernane Teixeira da Silva, Cristovão Vicente Scapulatempo Fernandes........................................................147
ADSORÇÃO DE CÁDMIO (II) EM SOLUÇÃO AQUOSA UTILIZANDO BIOCHAR DE PLANTA ÁQUATICA. Ellen Jessica Monteiro Pereira Campos, Fabiana Soares dos Santos, Gilmar Clemente Silva, Thiago Queiroz Jardim Rodrigues.............................................165 LEVANTAMENTO DE DESCARTE INADEQUADO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE DE CABO FRIO-RJ. Fernanda Lourenço Campos Fonseca, Anderson Amendoeira Namen, Izabella Christynne Ribeiro Pinto Valadão.......................................................................171 UMA ANÁLISE DOS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS ATRAVÉS DOS APARELHOS CELULARES. Ana Carolina Leite Salles, Marcelo Côrtes Silva, Eduardo d’Ávila Bernhardt...187 REMOÇÃO DE NÍQUEL A PARTIR DE SOLUÇÕES AQUOSAS UTILIZANDO ZEÓLITAS FAUJASITAS NANOESTRUTURADAS. Rodrigo Silva Teixeira, Mendelssolm Kister de Pietre, Fabiana Soares dos Santos, Djanyna Voegel de Carvalho Schmidt.................................................................198 O DESAFIO DA GOVERNANÇA AMBIENTAL NA IMPLANTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE ESTRATÉGICA. Cláudio Maximiano M. de Souza.........................................................................216 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO RIO BRANDÃO NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA/RJ. Kelly Cristina da Silva Nascimento, Danielle C.R.M. dos Santos, Denise de Castro Bertagnolli................................................................................................235
Sessão
Monitoramento, Legislação Ambiental e Conservação da Biodiversidade
ESTUDO SOBRE O FENÔMENO DE ILHAS DE CALOR NOS BAIRROS DE BANGU, CAMPO GRANDE E IRAJÁ, CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Rafael de Freitas Moura, Cleyton M. da Silva.....................................................250
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA REGIÃO DA GRANDE TIJUCA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Fernando Lúcio Esteves de Magalhães, Cleyton Martins da Silva......................267
RELEVÂNCIA DO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO NA MITIGAÇÃO DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS. Danilo P. Moreira Junior, Cecília Bueno, Cleyton M. da Silva...........................278
CONFORMIDADE LEGAL AMBIENTAL: FERRAMENTA IMPORTANTE PARA A COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS, ALÉM DA SIMPLES PRESTAÇÃO DE CONTAS PARA MANTER A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL. Vanilson Fragoso, Daniel Paz..............................................................................290
MONITORAMENTO DA FAUNA SILVESTRE ATROPELADA DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA, RIO DE JANEIRO, RJ. Carlos Felipe Eiras Gherardi, Juliana Silveira dos Santos, Cecília Bueno..........301 MAPEAMENTO DOS ATROPELAMENTOS DE CERDOCYON THOUS (LINNAEUS, 1766) EM UMA RODOVIA DO SUDESTE BRASILEIRO. Hiago Alexsander de Lima, Cecília Bueno..........................................................313
Anais do III SICIMA ISBN 978-85-5459-123-6 Simpósio de Ciências do Meio Ambiente
Universidade Veiga de Almeida
8 e 9 de novembro de 2019
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Prefácio
Foi com muita satisfação que o Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente realizou, nos dias 08 e 09 de novembro de 2019, o III Simpósio de Ciências do Meio Ambiente (III SICIMA), na Universidade Veiga de Almeida, Campus Tijuca. O Simpósio faz parte da agenda de eventos promovidos pelo Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente e tem como objetivo principal debater temas atuais da área de Ciências Ambientais.
A programação do III SICIMA contou com uma série de debates, palestras e mesas redondas com professores e profissionais das áreas de planejamento, saúde, educação e meio ambiente. As apresentações orais do evento foram subdividas em três sessões que abrangeram os temas: sociedade, educação, ambiente; monitoramento, qualidade ambiental, gestão de resíduos, legislação ambiental e conservação da biodiversidade.
Desta forma, é com grande satisfação que disponibilizamos os Anais do evento que servirão como registro do III SICIMA. Agradecemos a todos os participantes do III Simpósio em Ciências do Meio Ambiente e esperamos todos vocês no próximo evento, em 2021.
Comissão Organizadora III SICIMA
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Resumo das palestras
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Palestrante: Orlando Sodré Gomes (Especialista em Gerenciamento de Riscos e Desastres /Prefeitura do Rio de Janeiro) Título: Barragens de Rejeitos - Estabilidade da Estrutura Resumo: O que é e pra que serve uma Barragem de Rejeitos, Quais os tipos e suas funções e Quais os sistemas de monitoramento e inspeção e Quanto a segurança, quais os seus riscos de colapso.
Palestrante: Júlio César da Silva (Professor de Engenharia Civil -UERJ/UVA) Título: Plano Nacional de Segurança de Barragens e Ações Vigentes Resumo: A Política Nacional de Segurança de Barragens foi editada em 2010 e depois dos desastres de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, as mudanças que precisam ser implementadas nela vêm sendo discutidas. Essa política, inclui um Plano Nacional de Segurança de Barragens. Depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, foi divulgado um estudo, que mostrou os impactos desse tipo de tragédia na saúde das populações. Logo, deseja-se aprofundar a discussão e debater as relações entre a Política Nacional de Segurança de Barragens e Ações Vigentes no país.
Palestrante: Claudio Humberto Pinheiro Ramalho (Geo-estação Consultoria Ltda) Título: Aspectos de Governança e Compliance relacionados a Segurança de Barragens Resumo: Serão abordados aspectos relacionados a governança corporativa e compliance das corporações em relação aos aspectos técnicos, com impactos diretos nos desastres ambientais.
Palestrante: Rodrigo Ornellas Meire (Professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro) Título: Percepções sobre a macropoluição e seus riscos ambientais Resumo: A palestra abordará a dinâmica ambiental de poluentes orgânicos persistentes. Estas substâncias apresentam relativa persistência ambiental, ampla dispersão atmosférica e, mesmo distantes de suas fontes de origem, apresentam relevantes efeitos
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tóxicos no homem e demais seres vivos, dentre eles, como interferentes endocrinos. Nesta palestra abordaremos também os principais resultados desenvolvidos recentemente por nosso grupo de pesquisa, com ênfase no transporte atmosférico de agrotóxicos e demais poluentes emergentes em áreas urbanas e unidades de conservação na região sudeste e sul do Brasil. Concluo esta apresentação, apresentando perspectivas futuras para novos estudos voltados ao monitoramento ambiental de poluentes.
Palestrante: Renato Crouzeilles (Instituto Internacional para a Sustentabilidade – IIS/RJ) Título: Restauração de paisagens e ecossistemas no Brasil: contexto, resultados e oportunidades Resumo: A palestra abordará a dinâmica ambiental de poluentes orgânicos persistentes. Estas substâncias apresentam relativa persistência ambiental, ampla dispersão atmosférica e, mesmo distantes de suas fontes de origem, apresentam relevantes efeitos tóxicos no homem e demais seres vivos, dentre eles, como interferentes endocrinos. Nesta palestra abordaremos também os principais resultados desenvolvidos recentemente por nosso grupo de pesquisa, com ênfase no transporte atmosférico de agrotóxicos e demais poluentes emergentes em áreas urbanas e unidades de conservação na região sudeste e sul do Brasil. Concluo esta apresentação, apresentando perspectivas futuras para novos estudos voltados ao monitoramento ambiental de poluentes.
Palestrante: Cristiane Fiori (Professora coordenadora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Veiga de Almeida) Título: Poluição Ambiental Resumo: A poluição marinha tem sido razão de preocupação de toda sociedade mundial. A preservação da qualidade de vida do planeta passa necessariamente pelo cuidado com os oceanos, pois são os reguladores do clima no planeta, além de serem fontes de riquezas e alimentos. A poluição marinha é consequência do seu uso indiscriminado e do falso pensamento de que a capacidade do mesmo de receber dejetos e resíduos era ilimitada. O crescimento populacional, associado ao desenvolvimento, a exploração dos recursos do mar e a crença na infinitude destes recursos pelo homem, tem alterado significativamente os níveis de poluição nos mares.
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Palestrante: Maria de Lurdes Costa Domingos (Professora de Psicologia – Universidade Veiga de Almeida e Universidade Federal Fluminense) Título: Avalanche de problemas: aspectos psicossociais em situações pós-desastre Resumo: A consciência de que seremos cada vez mais atingidos por desastres naturais e fabricados é consequência da vivência dos frequentes acidentes de alto impacto sobre a natureza e as populações que nela habitam. Levantar aspectos psicossociais envolvidos nesta temática é urgente. Analisar e discutir problemas psicossociais pós-desastres permite avançar no delineamento de estratégias que visem à minimização dos efeitos de desastres de alto impacto.
Palestrante: Alexander Silva de Resende (EMBRAPA - Agrobiologia) Título: Águas no Rio de Janeiro: entre a escassez e as enchentes. O que fizemos para chegar a esse ponto e o que podemos fazer para revertê-lo? Resumo: A ideia é a de contar a história da escassez (frequente) e o excesso (pontual) da água no Rio de Janeiro, passando pela função de aquedutos e dos chafarizes na cidade do Rio de janeiro, passando pela necessidade de transposição do rio paraíba do sul na década de 1950 para formar o sistema light -cedae, como se deu a história da degradação do estado, que impacto isso causa em nossa água (tanto por questões ligadas a processos erosivos como de esgoto lançado in natura) e qual o papel de cada um de nós para reversão desse processo.
Palestrante: Ciro Moura (Instituto Estadual do Ambiente – INEA) Título: Gatilhos, recompensas e a rotina da restauração no estado do Rio de Janeiro Resumo: Pretende-se abordar o recente histórico, presente e o futuro da restauração no estado do Rio de Janeiro dentro da perspectiva do licenciamento ambiental no estado e as interações entre os seus diversos atores. Serão discutidos temas como os entraves e as alavancas da restauração no estado, assim como, o Sistema Estadual de Monitoramento e Avaliação da Restauração (SEMAR).
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Artigos Completos
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Sessão: Sociedade, Educação e
Ambiente
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DECRESCIMENTO ECONÔMICO E O BEM VIVER NA AMÉRICA LATINA
Lorena Martins Medronho¹ & Sérgio Ricardo da Silveira Barros¹
¹Universidade Federal Fluminense, Rua Passos da Pátria, nº 152-170, Rio de Janeiro, cep: 24210-240,
Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: A questão econômica e ambiental latino-americana é, de modo geral,
perpetuada a partir do olhar do colonizador: aquele que vem ditando modos operantes
em busca do desenvolvimento econômico. Esta relação, típica de Centro e Periferia vem
impondo lógicas, hábitos e culturas aos 20 países da América Latina, que em nenhum
momento foram questionados se gostariam ou não de promover desenvolvimento
econômico a partir da modernidade. Nesse espectro, diversas culturas vêm revendo
modos operantes, como o neoliberalismo, o estado constitucional de direito, a felicidade
paradoxal - própria do capitalismo -, dentre outros. O objetivo deste projeto é pautar
uma ampla discussão conceitual sobre os termos propostos, fornecendo esclarecimentos
acerca da posição latino-americana sobre decrescimento econômico e bem viver – que
são alternativas às questões levantadas. Para isso, foram realizadas buscas em livros e
artigos indexados nos temas decrescimento econômico, natureza e cultura, colonialismo,
ecossocialismo, entropia ambiental e o bem viver na américa latina, construindo o
arcabouço teórico necessário para construção de um panorama abrangente acerca dos
temas citados, reconhecendo que natureza e mão de obra não estão aqui para servir o
capital, sendo inviável a manutenção de suas respectivas mercantilizações.
Decrescimento econômico trata do reconhecimento de que não há recurso infinito para
uma economia exponencial, enquanto se alinha às discussões periféricas de
colonialidade pré-definidas pelo capitalismo e as relações de poder, caminhando junto
ao Bem Viver, num processo de independência e libertação do paradigma eurocêntrico
como modo de existir no mundo. Ecologia e economia se entrelaçam nas relações
coletivas e individuais, então é preciso que estes conceitos, saberes e conhecimentos se
validem cientificamente e socialmente para populações e povos, nas cidades, campos e
florestas.
Palavras-chave: decrescimento econômico, bem viver
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Introdução
A questão econômica e ambiental latino-americana é, de modo geral, perpetuada
a partir do olhar do colonizador: aquele que vem ditando modos operantes em busca do
desenvolvimento econômico. Desenvolvimento este conceitualmente pautado em
lógicas globalizadas, assumindo que qualquer país é atemporal e se situa em contextos e
territórios semelhantes. Atualmente, grande parte dos países latinos anseiam por este
desenvolvimento – a nível nacional, regional e/ou individual – de modo a espelhar-se
nos mesmos países que uma vez os colonizaram, almejando respectivos modos de vida.
A nível nacional e regional, países e estados buscam tornar-se mais ricos, industriais e
tecnológicos; a nível individual, indivíduos querem tornar-se, mais que cidadãos,
consumidores. O desenvolvimento econômico é organizado a partir de um viés de
promessa futura, que faz com que estes e outros países, estejam insistentemente à
procura de uma expressão coletiva que não necessariamente diz respeito à cultura e
hábitos locais (ACOSTA, 2019).
Essa lógica, própria de países e culturas atravessadas por outras lógicas e outras
culturas colonizadoras, diz respeito à negação a tudo que precede qualquer ocupação
externa – ou “descobrimento” europeu (ESCOBAR, 2005). Diferente dos Estados
Unidos da América, Canadá e até mesmo o norte do México, a maior parte dos países
latinos não foi povoada para ocupação de espaço, mas também - e principalmente –
explorada, sob diversas ordens. O Brasil teve seu território, cultura, povos e corpos
explorados, vandalizados, ressignificados e apropriados, forçosamente. Para diversos
países da América Latina, houve uma tremenda e desenfreada exploração de seus
recursos naturais pelo e para capital estrangeiro, isto é, recursos naturais para que países
colonizadores tornem-se mais ricos e respeitados, anulando qualquer possibilidade de
desenvolvimento das colônias (PRADO JÚNIOR, 2011). Assim iniciou o que
posteriormente, ambientalistas, economistas, historiadores e outros pesquisadores,
chamaram de relação entre Centro e Periferia.
As relações de Centro e Periferia existem em qualquer ambiente capitalista, onde
haverá desigualdade no modo de tratamento, existência e oportunidades. Num sentido
global, países desenvolvidos são considerados países de Centro e países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, países Periféricos; de forma tal que a
Periferia estaria sempre conectada, de maneira desigual e exploratória, ao Centro – e o
Centro à Periferia numa posição confortável e superior -, próximo ao colonialismo,
reconhecendo as diferenças e mudanças que ocorreram desde então (LEFF, 2001), estas
relações podem se dar em cidades, famílias, regiões, prédios e outros espaços. Neste
modelo, os países de Centro necessitam dos países de Periferia para que possam
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desenvolver-se infinitamente, ao passo que os países subdesenvolvidos também estão
em busca do desenvolvimento econômico. Para a economia, este desenvolvimento é
infinito, mesmo que pautado pela exploração e utilização de recursos naturais, os
recursos naturais, no entanto, são finitos. Esta dinâmica causa restrições: “Atividades
econômicas transformam o meio ambiente e o meio ambiente alterado constitui uma
restrição externa para o desenvolvimento econômico e social” (ALTVATER, 1995,
p.26). Os recursos naturais eventualmente entrarão em entropia - deixarão de estar
disponíveis -, sendo impossível, portanto, manter este modo de crescimento econômico
no nível ambiental.
O Decrescimento Econômico surge, principalmente após a discussão ambiental
se aflorar em meios de pesquisa e eventos ao redor do mundo, sobretudo na Europa, na
década de 1970 aos dias de hoje. Compreende a impossibilidade de Desenvolvimento a
todos os países no mundo - sobretudo países do Sul -, uma vez que os recursos naturais
são finitos e estão inseridos em um sistema de partilha desigual. Economistas como
Nicholas Georgescu-Roegen, Serge Latouche e Juan Martínez-Alier, iniciaram no
século XX e XXI, a discussão sobre a necessidade econômica de desenvolvimento,
defendida por países Centrais com histórico de colonização, alegando a impossibilidade
de que um projeto com estas justificativas possa se afirmar com igualdade e
independência entre os países de Norte e Sul (MARTÍNEZ-ALIER, 2007). Desse modo,
o Decrescimento Econômico busca questionar quais atores são beneficiados pela lógica
desenvolvimentista, a partir da demonstração econômica de finitude dos recursos
naturais e da discussão sociológica dos atores sociais envolvidos neste processo, além
de propôr uma nova ordem econômica baseada no fortalecimento do mercado local e
das relações locais.
O Bem Viver “ressurge” na América Latina para pôr em análise este modelo de
desenvolvimento pautado em lógicas externas e, sobretudo, questionar sua aplicação em
países essencialmente oprimidos e colonizados, sendo uma das possíveis propostas no
mundo que caminham junto ao Decrescimento Econômico. Entretanto, diferente deste,
o Bem Viver não surge após o início das discussões empíricas e matemáticas na ciência
ambiental e econômica, ele na realidade, antecede a todas estas, sendo originário de
povos indígenas - amazônicos e andinos, principalmente - e se organiza como um
projeto político, social e cultural centenário de resistência a todo genocídio indígena na
América Latina (ACOSTA, 2019). Não apenas como utopia, mas como um projeto de
vida em sociedade, o Bem Viver busca voltar às origens indígenas latino-americanas de
modo a reinventar o modo operante, voltando-se para si, como forma de reatar o laço
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entre natureza e cultura, a partir de um Estado com base plurinacional e de uma
economia sólida pautada na fortificação do mercado local.
Sendo assim, o objetivo do projeto – ainda em formação - é o de pautar uma
discussão social e política acerca da posição econômica latino-americana sobre
decrescimento econômico, uma vez que o histórico de colonização e suas relações
presentes com outros países os tornam periféricos, em uma posição portanto, desigual.
Além disso, o projeto busca compreender o cenário atual do Bem Viver na América
Latina no sentido prático e político, principalmente para Equador e Bolívia, que vem
trazendo intensas discussões sobre estes conceitos e vivências.
Desenvolvimento metodológico
Para o desenvolvimento do presente artigo foram realizadas buscas em livros e
artigos publicados em periódicos internacionais e nacionais indexados em ordem de
importância ao projeto, nos temas decrescimento econômico, bem viver na américa
latina, colonialismo, ecossocialismo, entropia ambiental e natureza e cultura. As
informações foram organizadas na ordem explícita e debatidas periodicamente, gerando
conteúdo desordenado, para que posteriormente, a discussão pudesse ser embasada e
atravessada por diversos conceitos e lógicas, gerando uma ordem acadêmica para novas
apresentações e debates.
A partir da revisão bibliográfica realizada, foi possível construir o arcabouço
teórico, necessário à construção de um panorama abrangente acerca dos temas citados e
que permitiu, assim, elaborar algumas das proposições apresentadas.
Resultados e Discussão
A mercantilização da vida e da natureza é base para início da crise civilizatória
na qual Enrique Leff fala, em 2001. É importante reconhecer que natureza e mão de
obra não estão aqui para servir ao capital; diferente disso, todos as esferas de vida
precisam ser respeitadas e livres dentro do ambiente político, social, ambiental e
ecológico. Dito isto, é importante reconhecer que o objetivo do desenvolvimento
econômico não é qualidade de vida, conforme muito se sustenta.
O desenvolvimento econômico é pautado pelo Estado Constitucional de direito,
que é por sua vez, sustentado pelo capitalismo e pela modernidade. Não há Estado
Constitucional de direito sem capitalismo, tampouco capitalismo sem o mesmo, na
atualidade. Embora este busque a democracia e, portanto, a igualdade de direitos e
vozes individuais em um mesmo espaço, é importante salientar que as origens do
Estado Constitucional de direito se dão pelo Estado Nacional e, portanto, pelo
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eurocentrismo. O Estado Nacional surge para formação de um Estado nação, de modo a
excluir culturas e povos originários, submetendo-os a uma única nação, a uma única
língua, a uma única moeda, igualdade de direitos e vozes portanto, para corpos
específicos. Sendo assim, a importância em questionar o desenvolvimento enquanto
proposta global é uma atividade que deve ser posta em xeque, principalmente nos países
latinos, e, que vem sendo questionada pelos povos originários, através do Bem Viver
(ACOSTA, 2019).
O programa de desenvolvimento econômico é, mais que tudo, um programa de
modernidade. Desse modo, tão importante quanto questionar o desenvolvimento, é
questionar o que é ser moderno. Segundo Latour (1994), o homem e a antropologia
iniciam este conceito com a dicotomia entre moderno e selvagem, a partir do estudo de
povos e culturas assim consideradas - em geral, comunidades tradicionais e indígenas.
Com esta metodologia, os povos originários nunca poderiam ser considerados modernos
e por isso, nunca poderiam desenvolver-se, já que este é um ofício apenas daqueles que
se adequaram ao Estado Moderno e mais posteriormente, ao Estado Constitucional de
direito. Sendo assim, além da exclusão de diversos povos no processo de
desenvolvimento econômico, há também o reconhecimento de que os seres modernos
nunca poderiam ser selvagens, e portanto, nunca poderiam ser analisados
antropologicamente, uma vez que estariam sendo analisados por eles mesmos, os
colocando em um papel de culturalmente desenvolvidos, já que o desenvolvimento
econômico não fala apenas sobre relações em escalas regionais e continentais, mas
também interpessoais e individuais.
A modernidade, portanto, é aquilo que opta por ciência e tecnologia,
reconhecendo as mazelas que esta escolha pode causar para a sociedade, cultura e
natureza, é aquilo que reconhece as possíveis - e prováveis - consequências de suas
ações, mas opta por ciência e tecnologia, ou seja, opta por desenvolvimento econômico,
ignorando as estreitas relações territoriais, espaciais e sociais.
Além disso, os dois conceitos – modernidade e desenvolvimento – coexistem no
tempo e espaço em busca de felicidade. Apesar do termo apresentar diversos
significados dependendo da cultura observada; para o capitalismo, felicidade está
diretamente atrelada ao desenvolvimento econômico. Quanto mais desenvolvido um
país é, mais felizes são - ou deveriam ser – seus indivíduos, pressupondo que melhor
seria a eficiência na conversão de recursos naturais em vidas longas e felizes.
A felicidade, seguindo esta lógica, se daria excepcionalmente em países
desenvolvidos a partir de um bem-estar material, individual e momentâneo. Diferentes
pesquisadores, como Hobsbawn (2002), Bauman (2001), Lipovetsky (2007) e Latour
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(1994), atualmente estão a se debruçar no estudo da relação entre modernidade,
desenvolvimento e felicidade; reconhecendo o quão paradoxal estas podem ser. A
felicidade para o desenvolvimento econômico, é uma felicidade quantificada,
materializada e medida estatisticamente, sem subjetividade. O bem-estar é substituído
pelo bem-possuir, sem que possam ser contabilizadas no PIB outras ações imateriais do
que é sentir-se feliz, já que os únicos valores capazes de serem considerados no PIB, são
preços.
Apesar disso, em 2006 e 2009, a ONG britânica New Economics Foundation
criou um novo conceito de medição: o índice de felicidade, que analisou três variáveis:
o bem-estar vivido – por eles mesmos -, expectativa de vida e pegada ecológica. Nesta
análise, países em desenvolvimento atingiram posições principais, conforme a Tabela
abaixo.
Tabela 1. Índice de Felicidade 2006
Lugar País Índice
1º Vanuatu 68,21
2º Colômbia 67,24
64º Brasil 49,9
150º EUA 28,83
178º Zimbabwe 16,64
Fonte: New Economics Foundation
Tabela 2. Índice de Felicidade 2009
Lugar País Índice
1º Costa Rica 76,1
2º República Dominicana 71,8
9º Brasil 61,0
114º EUA 30,7
143º Zimbabwe 16,6
Fonte: New Economics Foundation
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Assim, pode-se observar segundo a tabela, que a felicidade, apesar da
modernidade, do Estado Constitucional e do capitalismo, permanece sendo um estado
de espírito subjetivo que não diz respeito necessariamente a lógicas materiais, uma vez
que países periféricos ou subdesenvolvidos, como Vanuatu, Colômbia, Brasil, Costa
Rica, República Dominicana e outros, estão numa posição consideravelmente acima ao
EUA, que é um país essencialmente desenvolvido. Desse modo, pode-se questionar
afinal se o desenvolvimento econômico vem, conforme proposto, disponibilizando
recursos e projetos para geração de uma sociedade mais feliz e satisfeita ou, ao
contrário, afastando países desenvolvidos de um bem-estar social e subjetivo. Além
deste, outros índices, como a Felicidade Nacional Bruta, instituída na Constituição de
Butão ou a World Happiness Report desenvolvido pela ONU foram criados em busca
deste questionamento.
A sociedade, segundo Bauman (2001), permanece desde a modernidade, na
busca incessante pelo desenvolvimento tecnológico, em uma lógica de liquidez e
descarte, de modo a ressignificar a subjetividade de felicidade no cotidiano,
materializando não apenas máquinas, mas corpos, espaços e tempos. Esta busca ao
progresso e a associação direta de felicidade ao desenvolvimento econômico entram em
choque quando reconhecemos que para que o desenvolvimento econômico se mantenha,
é preciso que haja recursos naturais. Pode-se inferir, portanto, que “A economia deve
submeter-se à ecologia. Por uma razão muito simples: a Natureza estabelece os limites e
alcances da sustentabilidade e a capacidade de renovação que possuem os sistemas para
autorrenovar-se. Disso dependem as atividades produtivas. Ou seja, se se destrói a
natureza, destroem-se as bases da própria economia.” (ACOSTA, 2019, p.129). Sendo
assim, uma vez que a entropia é uma realidade, a infelicidade coletiva, num sistema
capitalista moderno e desenvolvimento, também.
O decrescimento econômico está associado, portanto, à alegria de viver, à
desmercantilização de tudo que está ou poderia ser mercantilizado, e à busca pelo fim
da exclusão, partindo do pressuposto que uma sociedade decente não produz excluídos
(LATOUCHE, 2012). Segundo Latouche, o decrescimento econômico precisa partir de
8 R’s: reavaliar, reconceituar, reestruturar, relocalizar, redistribuir, reduzir, reutilizar e
reciclar. Feito isto, os passos para uma sociedade democrática e justa podem ser
possíveis, reconhecendo justiça em ordem coletiva, não individual, já que a justiça
numa sociedade desenvolvimentista cumpre seu papel proposto: o individual, mas não
finaliza exclusões coletivas, lutas de classe, segregação, ecocídios e genocídios em seu
território.
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Numa sociedade moderna, “(...) para que o pobre saia de sua pobreza, o rico
estabeleceu que, para ser como ele, o pobre deve agora pagar para imitá-lo: comprar até
seu conhecimento, marginalizando suas próprias sabedorias” (ACOSTA, 2019, p.60). A
saída do pobre de sua pobreza, portanto, pode ser reconhecida globalmente como a
busca pelo desenvolvimento ou a busca pela ocidentalização e submissão ao
pensamento hegemônico de Centro. Com o recorte ao nó górdio entre natureza e cultura
(LATOUR, 1994), se deu a justificativa de atrocidades a milhões de indígenas em todo
território latino. Atrocidades físicas, psicológicas e territoriais, já que não há capitalismo
e desenvolvimento sem a uniformização do espaço territorial. O desenvolvimento
econômico busca eliminar agriculturas tradicionais em diversidades de cultivos,
adaptando-as a monocultura para satisfação do mercado externo, do mesmo modo que o
faz com culturas e povos, unificando-os a um único modo operante (LEFF, 2001). Com
a monocultura das terras, ocorre a entropia do solo, feito isto, a busca pelo
desenvolvimento segue com a ocupação de novos espaços, em lógicas continuamente
destrutivas e mercantis, onde o gozo do “benefício” se dá para e pelo colonizador.
Os países de Periferia necessitam produzir, não apenas para si, mas para o outro,
já que são os países desenvolvidos que importam o que é gerado e cultivado em
território latino, para agregar valor tecnológico e econômico, gerando novos produtos,
que são diversas vezes comprados pelo próprio país periférico que exportou a matéria
prima base.
O investimento em ciência e tecnologia na Periferia é, quase sempre, menor que
o que se gasta em investimento industrial no setor primário, para desenvolvimento e
crescimento econômico, mesmo que estejamos atualmente em um momento pós-
industrial. Isto é, países considerados desenvolvidos não são mais considerados países
industriais, portanto o desenvolvimento não se organiza mais a partir da industrialização
e sim, de tecnologia. Ainda assim, países periféricos mantém a lógica de exportação da
matéria prima e compra do produto final.
Desse modo, a América Latina se organiza em um espectro de
subdesenvolvimento, em busca de capital de consumo e felicidade ou bem-estar social.
Entretanto, se a economia destes países, e portanto, seus recursos naturais, estão
determinantemente conectados aos países desenvolvidos a partir da compra de produtos
e/ou matéria prima, é ilusório pensar que o desenvolvimento em algum momento será
alcançado, uma vez que os países desenvolvidos permanecem se desenvolvendo,
aumentando o desnível entre Centro e Periferia.
Diante deste cenário, movimentos sociais da Patagônia ao norte do México
iniciaram um processo contínuo de questionamento ao sistema, no sentido histórico e
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político. Há relatos de diversos países, como Chile, Argentina, Bolívia, Equador,
Guatemala, Peru, Cuba, Brasil, Costa Rica, Panamá, dentre outros, que, principalmente
a partir do início dessa década, vem questionando esta lógica opressora de
desenvolvimento. De uma maneira geral, os países citados buscam voz para povos
indígenas e tradicionais, que participam ativamente de todo este processo, defendendo
que o projeto social, político, econômico, cultural e filosófico do Bem Viver, que já é
feito há mais de 600 anos por povos andinos e amazônicos - mapuches, guarani,
quechua, kunas, shuar, chiapas, etc -, a partir de uma cosmovisão própria. Todos estes
povos, entretanto, junto aos imigrantes africanos, foram radicalmente excluídos do
Estado, já que não foram tratados como nação, segundo o Estado Constitucional de
direito e o Estado Moderno.
Segundo Acosta (2019), o Bem Viver parte do princípio que o desenvolvimento
pautado numa lógica ocidental de disputa nunca poderá ser exercido, já que estará
sempre conectado a outras nações, que são essencialmente colonizadoras e
exploratórias. O Bem Viver crê no fortalecimento da cultura e comércio local com
autonomia e desenvolvimento próprio, junto a natureza, reconhecendo as diferenças
como unidade coletiva. Bolívia e Equador foram mais radicais neste processo e
transformaram seus Estados, em Estados Plurinacionais e instituíram os Direitos da
Natureza em suas Constituições, entretanto, o desenvolvimento econômico continua
sendo base para manutenção das relações políticas no país, apesar dos direitos indígenas
e da natureza terem aumentado. Esta percepção atualmente vem sendo questionado por
pesquisadores como Acosta (2019), que vê o Bem Viver atualmente como um modo de
apropriação em diversos setores políticos na América Latina, em um movimento
estatista, que precisa ser combatido.
Enquanto Bolívia e Equador mantém o neo-extrativismo em um estado
populista e nacional, que busca a transferência dos recursos para projetos sociais, Peru,
Colômbia e Chile, mesmo que dialogando em movimentos sociais com a lógica do Bem
Viver, permanecem com o neo-extrativismo para desenvolvimento econômico a partir
de um governo neoliberal não populista, que vem gerando poucos impactos sociais
positivos e inúmeros conflitos socioambientais.
É importante salientar que, apesar do debate sobre Decrescimento Econômico e
Bem Viver ser essencialmente socialista no que diz respeito ao discurso, ambos os
conceitos têm como um dos fundamentos o reconhecimento de que, tanto o capitalismo,
quanto o socialismo ou comunismo mantém-se na luta desenfreada por
desenvolvimento econômico. A partir de bases e lógicas diferentes, ambos os sistemas
permanecem com a exploração da natureza, tratando-a como objeto e meio de obtenção
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de respeito global, a partir da utilização de seus recursos naturais. Sendo assim, o
Decrescimento Econômico e o Bem Viver auto denominam-se ecossocialistas, já que,
conforme explícito anteriormente, o discurso é pautado por um pensamento socialista,
mas não o bastante para serem tratados de forma simplista como socialistas.
Conclusão
O caminho para o Decrescimento e o Bem Viver na América Latina é lento, mas
segue em transformação e luta. Conquistas sociais e institucionais vêm sendo feitas, e os
conceitos vêm sendo difundidos por todo o globo. Além do Bem Viver, outras culturas
apresentam lógicas semelhantes como organização original de troca e existência, como
a Ubuntu na África do Sul e as Svadeshji, Swaraj e Apargrama, na Índia. Todas falam,
sobretudo, da negação à necessidade de se seguir lógicas definidas por países e culturas
que não falam sobre a origem territorial destes locais. Decrescimento econômico trata
do reconhecimento histórico de que muitos países em toda América, África e Ásia
sofreram – e sofrem - um processo de colonização exploratória, que, posteriormente,
lhes rendeu anos de exclusão e negação às culturas locais e originárias, além da extrema
negação à natureza, a partir do não reconhecimento do ser humano como parte desse
cosmos. Sem natureza, não há vida e sem vida, não há indivíduo ou coletivo, não há ser
humano. Decrescimento Econômico e Bem Viver caminham juntos num processo de
independência e libertação do paradigma eurocêntrico como modo de existir no mundo.
Ecologia e economia se entrelaçam nas relações coletivas e individuais, então é preciso
que estes conceitos, saberes e conhecimentos se validem cientificamente e socialmente
para as populações (urbanas, campesinas, indígenas, tradicionais, etc).
Referências
ACOSTA, A. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. 1 ed.
São Paulo: Editora Elefante, 2019.
ALTVATER, E. O preço da riqueza. 1 ed. São Paulo: Editora Unesp, 1995.
BAUMAN, S. Modernidade Líquida. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
ESCOBAR, A. O lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou pós-
desenvolvimento?. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias
Sociales, 2005.
LATOUCHE, S. Convivialidade e decrescimento. Ano 10, nº 166, Instituto Humanitas
Unisinos, 2012.
LATOUR, B. Jamais Fomos Modernos. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.
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LEFF, E. Ecologia, Capital e Cultura: Racionalidade Ambiental, Democracia
Participativa e Desenvolvimento Sustentável, 1 ed. Santa Catarina: EDIFURB, 2001.
LEFF, E. Epistemologia Ambiental, 1 ed. São Paulo: Cortez, 2001
MARTINEZ-ALIER, J. Ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens
da valoração, 2 ed. São Paulo: Editora Contexto, 2007.
New Economics Foundation. Happy Planet Index, Inglaterra, 2006. Disponível em:
<https://neweconomics.org/uploads/files/54928c89090c07a78f_ywm6y59da.pdf>,
acesso em setembro de 2019.
New Economics Foundation. Happy Planet Index 2.0, Inglaterra, 2009. Disponível em:
<https://web.archive.org/web/20090710205843/http://www.happyplanetindex.org/publi
c-data/files/happy-planet-index-2-0.pdf>, acesso em setembro de 2019.
PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil Contemporâneo. 1 ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
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LOGÍSTICA REVERSA DE FANTASIAS E ADEREÇOS DE CARNAVAL
DESCARTADOS APÓS DESFILE NO SAMBÓDROMO NA CIDADE DO RIO
DE JANEIRO
Carlos Roberto Oliveira de Araújo¹ & Felipe da Costa Brasil1
¹Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente, Universidade Veiga de Almeida (UVA), Rua
Ibituruna, 108, Rio de Janeiro, 20271-020, Brasil
E- mail: [email protected]
Resumo: A produção e o descarte de resíduos da indústria do carnaval, gerados nos
cinco dias de desfile na cidade do Rio de Janeiro, se torna de grande expressão devido
ao grande número de fantasias e adereços descartados e sem uma nova utilidade. A
logística reversa no carnaval está diretamente relacionada à proteção ambiental e a
sustentabilidade, através das práticas de não geração, redução e reuso dos materiais. O
objetivo deste trabalho foi o de experimentar e analisar a possibilidade de reutilização
de resíduos de fantasias e adereços descartados no carnaval do ano de 2019, e de
materiais doados pelo GRES Estácio de Sá. Neste trabalho procurou-se constatar a
viabilidade técnica e econômica da reutilização dos materiais considerados “lixo” pelas
escolas de samba. O trabalho foi realizado no barracão da GRCESMirim Nova Geração
do Estácio de Sá, durante o período de janeiro a março do ano de 2019. Diversas
técnicas foram utilizadas para triar os materiais e confeccionar as fantasias e alegorias,
tais como: medidas antropométricas, utilização de grampos, amarras, fixação e triagem
de materiais e esculturas. Os resultados deste trabalho demonstraram que os principais
componentes de fantasias e adereços que podem ser utilizados para o reaproveitamento
de materiais pelas escolas de samba do Rio de Janeiro são: tecidos, aviamentos,
costeiros, armações, plumagem e esculturas. Pode-se constatar que a reutilização de
fantasias e adereços é viável uma vez que os materiais descartados tem vida útil longa.
Por outro lado, os resultados indicam a necessidade de introdução da temática ambiental
e dos 4Rs para os futuros projetos de construção do carnaval carioca. Os resultados
deste trabalho poderão contribuir para uma perspectiva mais crítica e salutar da Liga
Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial e dos profissionais envolvidos
com a temática ambiental.
Palavras-chave: Resíduos, Sustentabilidade, Meio ambiente, Carnaval.
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Introdução
A produção e o descarte de resíduos gerados pela indústria do carnaval durante
os cinco dias anuais de desfile na Passarela do Samba, na cidade do Rio de Janeiro,
pode ser considerado um fenômeno, por ser grande o volume envolvido de fantasias e
adereços considerados inúteis pela própria indústria. O fator de maior importância para
o carnaval utilizar os 4 Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Repensar) é o da viabilidade
econômica. Convergem, todos eles, para a proteção ambiental e a sustentabilidade do
desenvolvimento, pois se referem à economia de energia, matérias-primas e água e à
redução da poluição do subsolo, do solo, da água e do ar. Desde sempre o carnaval
produz resíduos; no entanto a quantidade e a composição dos materiais destes resíduos
mudaram muito ao longo do tempo. As maravilhas tecnológicas trouxeram
desenvolvimento para as Escolas de Samba, para gerar beleza e “impacto” ao se
apresentarem na Avenida e satisfazer o desejo do carnavalesco, diretores e
componentes, mas contribuiu para o aumento de resíduos após o desfile, sem
preocupação com sua destinação final.
A NBR ISO 14.001/2015, da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), é uma ferramenta criada para auxiliar empresas a identificar, priorizar e
gerenciar seus riscos ambientais como parte de suas práticas usuais. A Norma faz com
que a empresa dê uma maior atenção às questões mais relevantes de seu negócio. A ISO
14.001 exige que as empresas se comprometam com a prevenção da poluição e com
melhorias contínuas, como parte do ciclo normal de gestão empresarial e conceitua
“resíduo” como partes que sobram de processos derivados das atividades humanas e
animais e de processos produtivos, como a matéria orgânica, o lixo doméstico, os
afluentes industriais e os gases liberados em processos industriais ou por motores.
A Lei n°12.305/2010, que constituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), é o meio pelo qual – como esclarecem Keller & Cardoso (2014) – o Brasil
assumiu um compromisso hierárquico da destinação dos resíduos, optando por priorizar
a reutilização e reciclagem, o que diminui significativamente resíduos que serão levados
aos aterros sanitários e aos demais métodos de destinação – os chamados rejeitos. São
resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e
recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não
apresentam outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada, tal
como conceituado pelo artigo 3°, inciso XV da referida Norma.
Para os efeitos da Lei 12.305/2010, a logística reversa é um instrumento de
desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações,
procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos
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sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. As legislações que
proíbem o descarte indiscriminado de resíduos no meio ambiente e estimulam a
reciclagem de recipientes de alimentos e bebidas, assim como de materiais de
embalagem, incentivam o processo da logística reversa (BOWERSOX & CLOSS,
2001).
Descarte de resíduo de fantasia e adereço
A Praça da Apoteose, localizada na Rua Marquês de Sapucaí, no bairro do
Estácio, na cidade do Rio de Janeiro, no final da Passarela do Samba – Sambódromo – é
transformada anualmente em um grande depósito de resíduos de fantasias e adereços de
carnaval, que serão coletados pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana
(COMLURB) como resíduo comum. Os principais resíduos descartados são os adereços
de costas (costeiro) e cabeça por serem elementos de fantasia de grande volume
(Figura1), difícil transporte e armazenamento em domicílio. Após cada desfile, há uma
corrida de quem recolhe as melhores fantasias e adereços antes que o caminhão de
“lixo” faça a coleta que não é seletiva e sim compactada (Figura 2). É possível verificar
a existência de comércio negro, feito na dispersão, com a venda e aluguel dos resíduos
resgatados na Praça da Apoteose (Figura 3). Se houvesse a responsabilidade de cada
agremiação ou um posto coletor coletivo, os resíduos seriam melhores aproveitados
evitando a comercialização e provavelmente o novo descarte. O caminho mais prático
para as Escolas Mãe é doar os resíduos e sobras de confecção para suas filhas – Escolas
Mirins - como forma de se livrar do “lixo” do carnaval passado e não a utilização dos 4
Rs. Se os presidentes das Escolas Mirins não recolherem os materiais doados, o destino
será o caminhão de lixo. Para que as Filhas recolham os materiais doados – esculturas,
fantasias, sobras de aviamentos e tecidos – precisam ter meio de transporte.
As Escolas Mãe não têm a preocupação de transportar os materiais até a
Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro, local onde funciona o
barracão das Escolas Mirins. Esses materiais poderiam ser recolhidos em posto criado
pela organização do espetáculo em cumprimento à Lei nº 12.305/2010, sabendo-se que
tais materiais têm vida útil para serem aplicados em outros carnavais, podendo ser
formado um almoxarifado para atender a todas as agremiações; evitando os riscos
inerentes de impacto sobre o meio ambiente. Neste contexto, o objetivo deste trabalho
foi utilizar resíduos descartados no carnaval no ano de 2019, e de materiais doados pelo
GRES Estácio de Sá – Grupo Especial – para o GRCESMirim Nova Geração do Estácio
de Sá. Assim, será possível disseminar sementes através de aplicação dos 4 Rs
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(REPENSAR, REDUZIR, REUTILIZAR, RECICLAR), disponibilizando
conhecimentos e técnicas, para desenvolvimento de produtos no carnaval que seja
economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Como
afirmam Zaneti e colaboradores (2009), poderíamos pelo menos pensar em soluções
parcialmente sustentáveis, para um sistema de gestão de resíduos orquestrados pelo
poder público. Hoje, com os recursos tecnológicos, grande parte da população pode ter
acesso às informações de como empregar os 4 Rs, que podem trazer benefícios
ambientais e econômicos para toda a sociedade.
Este trabalho se nutre da experiência de construção de fantasias e adereços
utilizando resíduos coletados na Praça da Apoteose durante o carnaval do ano de 2019,
para o GRCESMirim Nova Geração do Estácio de Sá. Estes experimentos poderão
contribuir para uma perspectiva mais crítica e salutar da Liga Independente das Escolas
de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro (LIESA), da Liga das Escolas de Samba
do Rio de Janeiro (LIERJ), da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro
(Riotur), da Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro (AESM-Rio) e
dos profissionais envolvidos com a temática ambiental e, em particular, com o descarte
de resíduo de fantasias e adereços de carnaval após o desfiles. Santos (2010) afirma que,
a partir de 1984, a construção do sambódromo, no governo de Leonel Brizola, ajudou a
concretizar a chamada “libertação econômica” das escolas. E com a criação da Liga das
Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), iniciou-se a chamada “era empresarial”,
em que as escolas passaram a gerir diretamente seus interesses, suas disputas e seus
desfiles. De acordo com esse autor, a primeira administração municipal de César Maia,
em 1992, trouxe outra mudança importante, com o compromisso do prefeito de
“privatizar” o carnaval carioca. Desde então a Liga das Escolas de Samba do Rio de
Janeiro (LIESA) é a grande responsável por toda a administração do desfile das escolas
de samba. Com base na informação de Santos (2010), pode-se entender que o
responsável pela destinação final, criação de Posto de Coleta e orientação para as
agremiações que compõem a Liga, ficaria sob a responsabilidade da Liga das Escolas de
Samba do Rio de Janeiro (LIESA). Sendo assim, haveria a necessidade de dispor de
normas e campanhas educativas com os componentes e turistas que desfilam nas
Escolas, para tentar evitar maior poluição das ruas durante os dias de desfiles na
Passarela do Samba. Nestes tempos em que a informação digital assume um papel cada
vez mais relevante, o ciberespaço, a multimídia e a internet serviriam à educação para a
cidadania, representando a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para
transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida
(JACOBI, 2003).
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O processo de tomada de consciência do ser humano é diferenciado segundo os
lugares, as classes sociais, as situações profissionais e os indivíduos; todavia, essa
conscientização deve englobar a coletividade e não ser uma extensão da defesa dos
próprios interesses (ZILIOTTO, 2003).
Os resíduos encontrados em grande quantidade na Praça da Apoteose,
considerada como área de grande impacto para o carnaval e a interação entre os termos
Antes/Depois e Controle/Impacto, são compostos pelos materiais utilizados na
confecção dos produtos, contendo plásticos, acetatos, poliéster e aviamentos sintéticos,
que são de grande impacto ao meio ambiente, devido ao longo tempo para a sua
decomposição. A reciclagem é um sistema de recuperação de recursos projetados para
recuperar, reutilizar e repensar resíduos, transformando-os novamente em substâncias e
materiais úteis a sociedade, que poderíamos denominar de matéria secundária. O fator
de grande importância para o carnaval utilizar os 4 Rs (REPENSAR, REDUZIR,
REUTILIZAR, RECICLAR) é o da viabilidade econômica. Convergem, todos eles,
para a proteção ambiental e a sustentabilidade do desenvolvimento, pois se referem à
economia de energia, matérias-primas, água e à redução da poluição do subsolo, solo,
da água e do ar (RIBEIRO & LIMA, 2000). Portanto, podemos concluir que o carnaval
causa grande impacto ambiental com os resíduos descartados incorretamente ao final de
cada desfile.
Desta forma o objetivo deste trabalho foi o de experimentar e analisar a
possibilidade de reutilização de resíduos de fantasias e adereços descartados no carnaval
do ano de 2019, e de materiais doados pelo GRES Estácio de Sá - grupo especial - para
a confecção de novas fantasias para a GRCESMirim Nova Geração do Estácio de Sá.
Material e Métodos
Área de Estudo
Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mirim (GRCESMirim) NOVA
GERAÇÃO DO ESTÁCIO DE SÁ, no carnaval de 2019. O barracão fica localizado na
Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro (AESM), sob o viaduto 31
de março – Linha Lilás – no bairro do Catumbi, na cidade do Rio de Janeiro, atrás da
Praça da Apoteose, no final da Passarela do Samba. Dezesseis Escolas Mirins fazem
parte da Associação, das quais quatorze são filhas das grandes Escolas (Grupo A e
Especial) e duas são autorais.
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Experimento
1.1 - A primeira etapa do trabalho consistiu em uma triagem nos sacos e
caixas que contêm materiais considerados resíduos doados pela Escola Mãe (Figura
4) e resíduos resgatados nas áreas da Praça da Apoteose após desfiles do ano
anterior: tecidos, aviamentos, plumas, passamanarias, arabescos em madeira,
costeiros etc.
1.2 - Para a confecção de quatro fantasias, foram utilizados resíduos de
tecidos, aviamentos e passamanarias: um Destaque de chão (Figura 5) e três
Intérpretes (Figura 6), sendo aplicadas as técnicas:
• Tomada de medidas dos componentes com o auxílio de fita métrica;
• Modelagem bidimensional dos figurinos;
• Tecido plano e malharia;
• Corte e costura dos figurinos;
• Utilizadas máquinas de costura reta e overloque industrial (Figura 7).
• Bordados e passamanarias foram costurados.
1.3 - Para a confecção de três alegorias foram utilizados resíduos de tecidos,
aviamentos e plumas de acetato, gravatas e escultura (Figura 8). Sendo aplicadas as
técnicas:
• Encapar (Figura 9) com amarração (cortar tiras de tecido e enrolar no objeto
desejado sem fazer uso de cola quente, cola fria, cola de contato e cola de sapateiro);
• Grampear (Figura 10) (com o grampeador de tapeçaria - Rocama);
• Utilizar pregos e martelo;
• Fixar no isopor (Figura 11).
• Usar cola de contato ou cola fria – sapateiro – somente para fixar poucos
elementos em quantidade mínima – 3 gotas em cada elemento -, por haver fixação com
cola menos tóxica (Figura 12).
Resultados e Discussão
Os resultados serão apresentados de forma conjunta com as discussões, por meio
de uma análise comparativa entre descartes e a aplicação dos 4 Rs (REPENSAR,
REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR).
A princípio pensava-se em comprar materiais para a confecção das fantasias e
construção das alegorias do GRCESMirim Nova Geração do Estácio de Sá. Após a
seleção dos materiais existentes nos sacos e caixas, foi possível aplicar os 4 Rs, não
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havendo a necessidade da compra de novos materiais. De posse dos desenhos das
alegorias e figurinos, seguiu-se a paleta de cores definida pelo carnavalesco da Escola,
sendo a primeira alegoria nas cores vermelha, branco e dourado; a segunda nas cores
azul e branca. As cores definidas têm por objetivo a comunicação visual em movimento
para contar a história proposta pelo carnavalesco. Na construção das alegorias e
fantasias houve a preocupação em aplicar os 4 Rs, demonstrando ser possível ter
produtos de qualidade e efeito luxuoso com ações sustentáveis.
O carnaval das Escolas de Samba, seja do Grupo Especial, A e B, mobiliza uma
rede de atividades, inseridas em diferentes cadeias produtivas, que se beneficiam direta
e indiretamente do carnaval. Destaca-se o leque de fornecedores dos materiais
necessários para a confecção das fantasias e adereços. Os tecidos e aviamentos para a
produção das fantasias, adereços e alegorias podem ser divididos em quatro grandes
grupos, como classifica Matos (2016): o primeiro grupo é constituído por matérias
primas que são específicas para o carnaval, que conferem cor, brilho e textura às
fantasias e adereços; o segundo grupo é constituído por insumos básicos como madeira,
ferragens, isopor, plástico, fibra, vidro etc. Um terceiro grupo é constituído por
máquinas e equipamentos. Por fim, o quarto segmento de atividades produtivas
mobilizadas é o de instrumentos musicais, destacadamente os percussivos, mas também
os instrumentos de corda e sopro, além de equipamentos de captação, mixagem e
ampliação de som (MATOS et al., 2016).
Os principais resíduos descartados na Praça da Apoteose são os adereços de
costas (costeiro) e cabeça por serem elementos de fantasia de grande volume, difícil
transporte e armazenamento em domicílio. A quantidade de resíduos de fantasias
descartadas a cada dia de desfile, de forma irregular, causa uma série de impactos ao
meio ambiente, devido à quantidade de materiais poluentes, não biodegradáveis e
produtos químicos utilizados na confecção de fantasias e adereços. Esses materiais
devem ser recolhidos em um posto criado pela organização do espetáculo, sabendo-se
que tais materiais têm vida útil para serem aplicados em outros carnavais, sendo
formado um almoxarifado para atender a todas as agremiações; com a diminuição dos
impactos sobre o meio ambiente. A intenção deste trabalho é de disseminar sementes
através de aplicação dos 4 Rs (REPENSAR, REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR),
divulgando conhecimentos e técnicas para desenvolvimento de produtos no carnaval
que seja economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável.
Conclusões
Analisando os materiais dos grupos um e dois, podemos concluir que o carnaval
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causa grande impacto ambiental com os resíduos descartados incorretamente ao final de
cada desfile, pois há falta de estrutura para recolher os resíduos em coleta seletiva,
política reversa e fiscalização, tratando-se tudo como resíduos comuns – coleta
compactada – não realizando a disposição final de forma coerente, de modo a atender à
ideia de desenvolvimento sustentável. Não se pode perder a atenção ao problema por se
tratar de resíduos de carnaval. O fenômeno exige ser visto como um problema que
aparece com vigor nos quatro dias de desfile. A disposição final destes resíduos e as
substâncias neles agregadas podem poluir o solo e chegar aos lençóis freáticos, afetando
o ambiente.
Sendo assim, há a necessidade de haver normas e campanhas educativas com os
componentes e turistas, e criação de locais especiais para recepção dos resíduos de
fantasias e adereços. Os produtores do espetáculo devem aprimorar as dimensões
técnicas de responsabilidade pela limpeza do espaço público e de educação ambiental.
O presente trabalho mostrou que, com a adoção dos 4Rs, a quantidade de
resíduos de fantasias e adereços pode passar a ser considerada um elemento importante
como suporte aos serviços de limpeza urbana realizados pela Companhia Municipal de
Limpeza Urbana (COMLURB). Esse procedimento irá contribuir para reduzir os
impactos negativos ao meio ambiente.
Referências de Imagens – (Acervo pessoal)
Figura 1. Descarte após desfile.
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Figura 2. Coleta dos resíduos.
Figura 3. Mercado negro de fantasias.
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Figura 4. Triagem de materiais.
Figura 5. Fantasia pronta.
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Figura 6. Fantasia dos Intérpretes.
Figura 7. Costura.
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Figura 8. Alegorias prontas.
Figura 9. Encapamento.
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Figura 10. Grampo.
Figura 11. Fixar no isopor.
Figura 12. Bola colada com cola.
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ARDUINO COMO FERRAMENTA PARA CIDADES INTELIGENTES E
SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA DE COMPOSIÇÃO DE UMA ESTAÇÃO DE
MONITORAMENTO AMBIENTAL PARA UM JARDIM DE CHUVA
Leonardo Menezes Kaner1, Thaiene Ferreira dos Santos França1 & Viviane Japiassú Viana1
1Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna, Nº 108, Rio de Janeiro, cep: 20271-020, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: O acelerado avanço tecnológico dos últimos anos tem possibilitado a redução
de custo e de tamanho dos componentes eletrônicos tornando-os mais acessíveis.
Também vem crescendo a cultura de compartilhamento de códigos de programação,
softwares e projetos de forma gratuita e com código aberto. Neste cenário destaca-se o
Arduino, uma placa eletrônica criada para facilitar a criação de protótipos eletrônicos.
Quando associado a sensores, ele permite o desenvolvimento de projetos de robótica e
‘Internet das Coisas’ (IoT) que podem contribuir substancialmente no processo de
transição urbana para a proposta de cidades inteligentes e sustentáveis. Neste sentido,
este artigo apresenta uma breve revisão bibliográfica sobre monitoramento ambiental
usando Arduino associado a sensores. Ele também apresenta uma proposta de
composição para uma estação de monitoramento ambiental que está em
desenvolvimento com a finalidade de monitorar aspectos ambientais de um jardim de
chuva instalado recentemente na Fundição Progresso (Centro, Rio de Janeiro/RJ). Os
parâmetros a serem monitorados foram definidos tendo em vista os benefícios
ambientais que podem ser obtidos com um jardim de chuva, relativos à melhoria da
qualidade do ar e à retenção de águas pluviais nas camadas drenantes, com redução de
volume e de velocidade no escoamento superficial. Os modelos de sensores foram
selecionados a partir dos parâmetros escolhidos para serem monitorados e da facilidade
de uso, calibração e acesso aos componentes, conforme relatado na bibliografia
consultada. Os códigos inseridos no ambiente de programação integrado (IDE) foram
obtidos na comunidade online. Assim, foi possível adquirir componentes a um custo
muito mais baixo do que o das soluções usuais e testar o funcionamento de cada um
deles separadamente, cumprindo-se o objetivo desta etapa da pesquisa.
Palavras-chave: Monitoramento Ambiental, Arduino, Jardim de Chuva, Cidades
Inteligentes.
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Introdução
Com o avanço da internet e da robótica, bem como o barateamento e a redução
do tamanho de componentes eletrônicos, as inovações tecnológicas estão, cada vez
mais, presentes nas cidades, a fim de otimizar sistemas e serviços. Estas inovações são
representadas pelo desenvolvimento de objetos inteligentes, autoconfiguráveis e capazes
de interagir com a rede virtual (Internet das Coisas) (OEA, 2018).
Neste contexto, os objetos inteligentes e a Internet das Coisas (IoT), têm sido
amplamente difundidos como alternativa para coleta, monitoramento e gestão de dados,
além do controle remoto de equipamentos, componentes e infraestruturas nas cidades,
nas indústrias e nas residências (FERNANDES e ANDRADE, 2018).
Este cenário contribui para o estabelecimento das cidades inteligentes, que
segundo Viana (2019):
Para ser considerada uma cidade inteligente, a cidade deve ser
inovadora, na medida em que monitora e integra todos os
aspectos críticos de infraestrutura urbana (vias, transportes,
energia, água, edificações, etc.), utilizando as tecnologias de
informação e comunicação, promovendo a participação da
população e o incentivando ecossistema empreendedor, para
promover a eficiência das operações e dos serviços urbanos de
modo a: otimizar recursos enquanto maximiza os serviços aos
cidadãos, melhorando qualidade de vida, gerando empregos e
renda, e reduzindo as desigualdades.
Uma das tecnologias presentes nos objetos inteligentes é o Arduino, que é “uma
plataforma de computação física ou embarcada, ou seja, um sistema que pode interagir
com seu ambiente por meio de hardware e software” (MC ROBERTS, 2011).
As maiores vantagens do Arduino são a facilidade de utilização, que permite que
qualquer pessoa crie projetos com a placa, e o baixo custo, que torna a tecnologia mais
acessível. O hardware e o software utilizados por ele são de fonte aberta, ou seja, os
usuários compartilham seus conhecimentos e códigos de forma gratuita, e qualquer
pessoa pode acessar essas informações e utilizá-las em seus projetos (BANZI; SHILOH,
2015). O Arduino tem se mostrado uma tecnologia versátil e de baixo custo, podendo
ser utilizado para diversas finalidades (MOREIRA et al., 2018).
Um exemplo prático é quanto ao uso de novas técnicas de drenagem urbana
sustentável, buscando minimizar ou até eliminar problemas de escoamento superficial e
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inundações através da criação e popularização de sistemas de controle e monitoramento
como os chamados ‘jardins de chuva’, que usam a plataforma eletrônica Arduino.
Representando uma técnica de drenagem urbana sustentável, os jardins de chuva
são canteiros compostos por camadas de alta permeabilidade e material orgânico
coberto de vegetação, que interceptam parte da água pluvial reduzindo a velocidade e o
volume do escoamento superficial. Eles também funcionam como filtros atuando na
retenção de poluentes contribuindo para que o sistema de drenagem urbana lance águas
menos poluídas nos rios (MELO, 2011).
Devido às características das camadas que o compõem, o jardim funciona como
uma esponja que suga a água pluvial, enquanto bactérias e microrganismos existentes
no solo removem poluentes trazidos pelo escoamento superficial. Adicionalmente, o uso
das plantas aumenta a evaporação e a remoção dos poluentes do solo e do ar
(CORMIER; PELLEGRINO, 2008).
Com o uso de sensores de umidade, temperatura, poluentes atmosféricos, dentre
outros, pode-se encontrar as condições ideais para a manutenção dos jardins,
maximizando o crescimento e qualidade das plantas e garantindo a sua função na
drenagem urbana (BANZI; SHILOH, 2015). Além disso, quantificar os benefícios
oferecidos pelas infraestruturas verdes configura um importante elemento para que elas
sejam adotadas em maior quantidade e escala nas cidades.
Neste contexto, objetiva-se, com este trabalho, apresentar possibilidades para o
desenvolvimento de uma estação de monitoramento ambiental de baixo custo usando o
Arduino para acompanhar a evolução de um jardim de chuva implementado na
Fundição Progresso, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro. Os parâmetros
que se propõe monitorar a partir deste jardim são relativos à qualidade do ar, presença
de chuva, temperatura e umidade do ar e do solo.
Espera-se que, com o desenvolvimento e a implementação de tal estação, seja
possível evidenciar e quantificar benefícios que soluções baseadas na natureza,
contemplando infraestruturas verdes como essa, podem oferecer às cidades.
Material e métodos
A primeira etapa deste trabalho consistiu em realizar uma revisão bibliográfica
sobre os serviços ecossistêmicos prestados pelos jardins de chuva (para seleção dos
parâmetros que deveriam ser monitorados) e sobre o monitoramento ambiental com o
uso do Arduino associado a sensores de baixo custo (para identificação da viabilidade
de monitoramento dos parâmetros selecionados).
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Em seguida, foram adquiridos a Placa Arduino e os sensores, estudada a
estrutura dos códigos de programação utilizados na IDE (ambiente de programação
integrado) do Arduino e realizada uma busca na internet por códigos abertos e
bibliotecas a serem inseridos no IDE para o funcionamento dos sensores. Nesta etapa
destacamos os repositórios GitHub e thingiverse (plataformas de hospedagem de
código-fonte e site dedicado ao compartilhamento de arquivos de design digital,
respectivamente), além do próprio site do Arduino.
Por fim, foram montados os circuitos físicos, como no exemplo da Figura 1, e
incluída a programação de cada sensor separadamente para testes dos códigos coletados.
Figura 1. Projeto físico com o sensor de chuva. Fonte: Autores, 2019. Legenda: (a)
Placa Arduino Uno; (b) Sensor de chuva; (c) Display LCD 16x2.
A junção de todos os códigos, testes, calibração e instalação estão previstas nas
próximas etapas do projeto.
Resultados e discussão
Contextualização do monitoramento ambiental com o uso do Arduino
Os jardins de chuva são sistemas de biorretenção que além dos benefícios
relatados, também contribuem para a melhoria da qualidade do ar e a mitigação das
ilhas de calor, além de valorizar as propriedades em torno de 20% (MELO, 2011;
PRINCE GEORGE’S COUNTY, 2007). Sendo assim, o uso de sensores permite
quantificar as melhorias ambientais a partir de estações de monitoramento nessas áreas,
como explicado a seguir.
Para o monitoramento de temperatura podem ser utilizados diversos tipos de
sensores associados ao Arduino, tanto analógicos quanto digitais. Martinazzo e Orlando
(2016) após testarem dois sensores analógicos (um termistor e um LM35) e um digital
(DS18B20), observaram que o digital teve mais estabilidade nas leituras de temperatura.
(a)
(b)
(c)
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Sousa et al. (2015), analisaram e compararam a eficiência de três tipos de
sensores para a determinação da umidade do solo em diferentes profundidades: TDR
PRIME PICO IHP T3 da fabricante alemã INKO Micromodultechnik GmbH, o sensor
de umidade YL-69 fabricado pela E-BEST e o sensor MO750 fabricado pela Extech
Instruments Corporation. Os autores relatam que a sonda ou sensor TDR foi a mais
eficiente para leituras de profundidades acima de 10 cm, mas na profundidade de 0 a 5
cm não apresentou respostas satisfatórias. O sensor MO750 foi eficiente, mas incapaz
de realizar leituras com umidades acima de 20%. Já o sensor YL-69, embora seja menos
preciso do que o MO750 e necessite de mais testes para avaliar sua eficiência, não
apresentou as limitações dos outros dois testados, realizando leituras em todas as
profundidades e teores de umidade medidos.
Em relação a sensores de umidade do solo, Jiménez (2018), ao propor uma
metodologia de calibração para o sensor YL-69, verificou uma alta correlação entre os
valores estimados por este sensor em comparação aos valores obtidos pelos modelos
5TE e EC-5. A autora concluiu que a precisão do YL-69 na medição da umidade
volumétrica foi boa para todos os solos testados em sua pesquisa (argissolo vemelho-
amarelo, espodossolo humilúvico, neossolo regolítico e latossolo amarelo).
O Núcleo Estudantil de Inovação Tecnológica - i9 (2016) da UDESC campus
Joinville, disponibilizou em seu portal na internet as instruções do passo a passo para a
montagem de uma estação meteorológica para o monitoramento de chuva, temperatura e
de umidade do ar usando dois sensores associados ao Arduino. A divulgação deste
projeto e de outros no site do i9/UDESC incluindo o circuito físico e o código de
programação demonstra a ação da comunidade acadêmica no sentido de facilitar e
popularizar o desenvolvimento de soluções como estas no Brasil. Esta é uma importante
contribuição, tendo em vista que ainda há dificuldade em encontrar materiais detalhados
sobre o tema em português, já que a maioria do material compartilhado na internet
encontra-se em inglês.
Outra iniciativa de destaque no contexto do monitoramento meteorológico com
componentes de baixo custo e código aberto é a sensebox. Desenvolvida na Alemanha
ela vem sendo utilizada em projetos no mundo todo. Os criadores disponibilizam, além
dos códigos e orientações para a montagem, cadernos educacionais para professores
desenvolverem projetos educacionais montando a estação com seus alunos. Segundo o
site da iniciativa, atualmente existem 5176 senseboxes instaladas em diferentes
continentes, sendo 16 delas no Brasil. Juntas estas estações já realizaram 3.434.577.865
medições (SENSEBOX, 2019), o que demonstra como projetos de código aberto podem
engajar pessoas a aderirem às causas ambientais promovendo a ciência cidadã.
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Bueno (2015) realizou o controle de iluminação e temperatura (com o sensor
LM35) pela plataforma Arduino via internet e celular com um aplicativo desenvolvido
no app inventor. O objetivo do autor foi automatizar o controle destes elementos em
uma residência, o que conseguiu com sucesso a um custo 80% mais baixo do que o
valor cobrado no orçamento de empresa prestadora deste tipo de serviço. Este resultado
evidencia que a montagem de circuitos com Arduino de fato possibilita a aplicação da
internet das coisas (IoT) com baixo custo.
No Brasil, os padrões de qualidade do ar são estabelecidos pela Resolução
Conama nº 491/2018, que revogou e substituiu a Resolução Conama nº 3/1990. A
resolução regulamenta os seguintes parâmetros: partículas totais em suspensão (PTS),
fumaça, partículas inaláveis (MP10 e MP2,5), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de
carbono (CO), ozônio (O3), dióxido de nitrogênio (NO2) e chumbo (PB), (MMA, 2019).
Assim, órgãos ambientais do país (estaduais e municipais) têm realizado o
monitoramento destes parâmetros em ambientes urbanos visando o estabelecimento de
políticas públicas e ações que possam melhorar a qualidade do ar, sobretudo no
ambiente urbano. No Rio de Janeiro, são realizadas campanhas de monitoramento pela
prefeitura e pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Levando em conta esses padrões de qualidade supracitados, Machado (2017)
desenvolveu e testou um sistema de monitoramento da qualidade do ar por meio de
microssensores aplicado ao conceito de cidade inteligente. Em sua pesquisa após a
realização de testes e calibração, foram monitorados material particulado (MP2,5),
temperatura e umidade do ar nas proximidades do Lago Igapó II em Londrina (PR). Os
componentes utilizados para a montagem do sistema foram: uma placa Arduino, um
sensor de temperatura e umidade DHT22, fabricado pela empresa chinesa Aosong, um
sensor de partículas DSM501A, fabricado pela empresa coreana Samyoung S&C,
módulos de comunicação Ethernet (módulo Shield Ethernet W5100) e Wi-Fi (módulo
Wi-Fi ESP8266-01), fonte de energia e uma carcaça de acrílico desenvolvida para
proteger os circuitos eletrônicos das intempéries.
O autor relata a importância de instalar a plataforma em área sombreada para
minimizar o impacto da incidência de radiação nas leituras de temperatura e umidade do
ar. Ele também destaca a vantagem do baixo custo do sistema montado que custou
R$388,50 em contrapartida ao equipamento usualmente utilizado que ele afirma custar
R$ 25.000,00, um valor quase 65 vezes mais alto.
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Proposta de Estação de Monitoramento Ambiental
O Jardim de chuva (Figura 2) que se pretende monitorar foi instalado em
setembro de 2019 na Fundição Progresso, centro do Rio de Janeiro. Nele foram
plantadas espécies nativas da mata atlântica escolhidas com a finalidade de atrair
biodiversidade e promover ações de educação ambiental. Desta forma, ele conta com
frutíferas, plantas alimentícias não convencionais (PANCs), espécies ritualísticas, dentre
outras.
Figura 2. Jardim de chuva da Fundição Progresso - Local de implantação futura da
estação de monitoramento ambiental. Fonte: Autores, 2019.
Tendo em vista a pesquisa bibliográfica e os recursos disponíveis, optou-se por
monitorar parâmetros relativos à qualidade do ar (MP2,5, CO, O3, CO2,
hidrocarbonetos), chuva, temperatura e umidade do ar e do solo no jardim de chuva da
Fundição Progresso.
Considerando-se os resultados obtidos por Sousa et al. (2015) e Jiménez (2018),
e o custo-benefício do equipamento, verificou-se que o sensor YL-69 (Figura 3)
constitui uma alternativa viável para a medição de umidade no solo do jardim de chuva.
Se possível, a medição de umidade será realizada em diferentes camadas e
profundidades do solo, visando compreender como se dá o processo de infiltração e
drenagem da água pluvial no sistema estudado.
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Figura 3. Sensores de material particulado e de umidade do solo. Fonte: Autores, 2019.
Legenda: (a) Sensor de material particulado; (b) Sensor de umidade do solo.
Os sensores de gases selecionados são da família MQ-x (Figura 4), produzidos
por fabricantes internacionais. Segundo Pires (2018) eles são de baixo custo, rápidos e
de longa vida útil. No Brasil, eles podem ser adquiridos em lojas de robótica ou em
plataformas de vendas online (nacionais e internacionais).
Figura 4. Sensores de gases da família MQ-x. Fonte: Autores, 2019. Legenda: (a)
Frente dos sensores de CO (esquerda) e hidrocarbonetos (direita) (b) Verso destes
sensores.
A Tabela 1 apresenta a lista dos componentes da estação de monitoramento
ambiental que está sendo montada com o custo de aquisição. Cabe destacar que é
possível adquirir todos eles a preços ainda mais baixos se comprados em sites que
vendem produtos importados da China.
(a)
(a) (b)
(b)
(b)
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Tabela 1. Componentes de uma Estação de Monitoramento Ambiental
Componente Fabricante Função Custo
Arduino Uno R3
com cabo USB Arduino
Controle das funcionalidades
programadas na IDE R$ 59,60
Display LCD 16 x
2 com módulo seria
I2C
-
Apresentação visual dos valores lidos e
outras informações da estação de
monitoramento e informação
R$ 39,80
Protoboard de 830
pontos Solderless
Ampliar as possibilidades de conexões
para montagem dos circuitos R$ 28,90
Placa cartão SD - Conexão do cartão SD com o arduino R$ 8,90
Cartão SD de
64GB -
Armazenamento dos dados registrados
pela estação R$ 50,00
Sensor de chuva - Monitoramento de chuvas R$ 19,80
Sensor MQ-4 Flying-Fish Monitoramento de Metano (CH4),
Propano (C3H8) e Butano (C4H10) R$ 17,80
Sensor MQ-7 Flying-Fish Monitoramento de monóxido de
carbono (CO) R$ 29,80
Sensor MQ-131 Flying-Fish Monitoramento de ozônio (O3) R$ 180,00
Sensor DSM501A Samyoung
S&C
Monitoramento de material particulado
– MP10 e MP2,5 R$ 79,80
Sensor DHT22
AM2302 Aosong
Monitoramento de temperatura
ambiente R$ 50,00
Sensor higrômetro
YL69 + YL-38 - Monitoramento de umidade do solo R$ 12,80
Bateria comum de
9 V - Alimentação da estação R$ 6,40
Cabo adaptador de
bateria 9 V com
plug 4 – 2,1mm
- Conexão da bateria com a placa arduino R$ 3,80
Custo total R$ 583,60
Cabe destacar que é possível que o projeto ainda passe por melhorias e
adaptações, bem como pela inclusão de outros parâmetros de monitoramento.
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Conclusões
A pesquisa realizada mostrou a disponibilidade de sensores compatíveis com
Arduino para a medição e o monitoramento de todos os poluentes atmosféricos citados
na legislação ambiental como de monitoramento obrigatório. Foi evidenciado também
que, com esta proposta de estação de monitoramento, o custo de aquisição de
componentes e montagem de uma estação e monitoramento ambiental é
substancialmente mais baixo do que as soluções usuais. Identificou-se ainda que alguns
sensores demandam processo de calibração e que será preciso realizar testes antes da
efetiva implementação da estação no local a ser monitorado.
Tendo em vista que os autores não possuem conhecimentos avançados de
programação, e que por este motivo, os elementos cruciais que viabilizaram os
resultados desta pesquisa, até o momento, foram a obtenção de códigos abertos,
protótipos e projetos com Arduino. Estes elementos são disponibilizados online
gratuitamente através da comunidade de desenvolveres e cientistas em caráter nacional
e internacional.
Os próximos passos desta pesquisa consistirão em juntar todos os códigos dos
sensores na IDE, calibrar os sensores, montar a base da estação de monitoramento
ambiental usando a CNC do FabLab para então instalar estação no Jardim de Chuva da
Fundição Progresso, monitorar os parâmetros ambientais e avaliar os resultados.
Espera-se que nas próximas etapas do trabalho seja possível quantificar a
contribuição dos jardins de chuva (através da leitura e registro dos parâmetros
escolhidos para monitoramento), a fim de ressaltar seus benefícios ecossistêmicos no
tocante à melhoria da qualidade do ar nas cidades e sua dinâmica quanto à drenagem da
água pluvial, caso sejam implantados em larga escala.
Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq pelo financiamento do Projeto ‘Meninas e Mulheres na
RRD: Ciência, tecnologia e educação para a redução de riscos de desastres
socionaturais’ no contexto da Chamada CNPQ/MCTIC Nº 31/2018 - Meninas nas
ciências exatas, engenharias e computação. Sendo coordenado também pela
coordenadora do projeto ‘Que chuva é essa?’, do qual os autores são integrantes, o
projeto em questão é responsável pela aquisição dos componentes da estação de
monitoramento ambiental que está sendo montada pelos autores e irá usar o modelo de
estação em ações junto a escolas municipais.
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A ECOLOGIA DA EXPRESSÃO: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL VIA CORPOREIDADE
Lídia Maria Pia Andreoni Scognamiglio¹ & Cecília Bueno¹
1Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente, Universidade Veiga de Almeida (UVA), Rua
Ibituruna, 108, Rio de Janeiro, 20271-020, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: Essa dissertação reflete sobre a corporeidade enquanto suporte para uma nova
consciência ambientalista, fundada na religação entre corpo-mente-transcendência.
Nessa abordagem holística, o corpo é percebido enquanto o meio ambiente essencial do
ser humano, estando ligado ao meio ambiente coletivo e ao corpo da terra. Nesse
âmbito, propomos a sistematização de uma metodologia que promova o
autoconhecimento e desenvolva a expressão, a sensibilidade estética e as habilidades de
comunicação. Juntamente ao levantamento bibliográfico para a dissertação, foi proposto
um curso de formação visando desenvolver as competências necessárias à
conscientização da corporeidade e articulando essa perspectiva com a ecologia. De
acordo com os resultados obtidos nas análises quantitativas e qualitativas antes, após e
durante a realização do curso, constatou-se notável crescimento no desempenho
expressivo, motor e comunicacional dos alunos, aliado a uma compreensão sistêmica do
ambientalismo. Dessa forma, acreditamos que a educação ambiental via corporeidade
pode contribuir para a transformação do comportamento global frente ao meio
ambiente, integrando o humano à natureza.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Corpo e Comunicação, Pedagogia da
Corporeidade, Educação Somática.
Introdução
O tema dessa dissertação gira em torno da elaboração de um pensamento
sistêmico que percebe a depredação ambiental como reflexo de uma crise de valores que
apartou o indivíduo de si próprio, ou seja, de seu corpo. Nessa perspectiva, refletimos
sobre uma nova educação ambiental, transpassada pelo conhecimento do corpo
enquanto logo da experiência, da percepção, da cognição, da motricidade, da expressão,
da comunicação e da arte. A perspectiva da corporeidade, articulada à perspectiva
ecológica pode desenvolver as competências necessárias para lidar com as complexas
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questões da Era do Antropoceno, formando agentes de mudança social e arautos de uma
nova consciência ambiental.
Objetivo geral
O objetivo geral da dissertação é refletir sobre a problemática ambiental
enquanto uma crise de valores provocada pelo afastamento do ser humano de si próprio,
ou seja: de seu corpo. Nesse sentido, pensamos na corporeidade enquanto suporte para
uma nova consciência ambientalista, transpassada por um pensamento complexo,
fundado na religação entre corpo-mente-transcendência.
Objetivos específicos
a) Promover a educação ambientalista via corporeidade, através de uma
pedagogia transpassada pelo conhecimento do corpo enquanto logos da experiência, da
percepção, da cognição, da motricidade, da expressão, da comunicação e da arte.
b) Desenvolver as competências necessárias à conscientização da
corporeidade, compreendendo as complexas questões da modernidade de forma
sistêmica e articulando a perspectiva da corporeidade com a ecologia.
O conhecimento via corporeidade
A causa ambiental é o grande desafio do século XXI, já que a nossa residência, o
planeta Terra, encontra-se gravemente ameaçado pela depredação do meio ambiente,
que afeta grande parte das espécies, atingindo a própria espécie humana (CARVALHO,
2006; JUNQUEIRA; KAWASAKI, 2017; DALLA; FACINA, 2017). Todas as questões
que afetam nossa moradia, o planeta Terra, são de caráter ecológico, devendo levar em
consideração a complexidade dos sistemas envolvidos, a multiplicidade de seus
componentes (físicos, químicos, biológicos, ecológicos, humanos e sociais), a não-
linearidade dos fenômenos subjacentes e as diferentes escalas espaciais e temporais de
suas causas e efeitos (BOFF, 1993; MACHADO, 1999; ZOCH, 2018).
Na visão ecológica, a crise ambiental é percebida como sintoma de uma crise
civilizatória multidimensional, fruto de um conjunto de ações danosas que a
humanidade vem causando ao longo dos tempos. A transformação do atual modelo
civilizatório exige uma revolução ética, econômica, política, social e cultural para
transformar os modelos de convivência, de gestão empresarial, de distribuição de
riqueza e de consumo. Por fim, a nova moradia ecológica deve hospedar cidadãos
alfabetizados em relação à preservação do ambiente, conscientes de suas
responsabilidades individuais, capazes de pensar sistemicamente nas questões
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planetárias ao mesmo tempo em que agem localmente para mitigar os impactos
ecológicos globais (MACHADO, 1999; LIMA, 2004; CAPRA, 2006; MORIN, 2010).
Essa transformação demanda a implantação de uma nova estrutura, cujos pilares são: o
despertar de uma nova ética ambientalista pela indução a mudança de valores ,atitudes e
comportamento; a reformulação do sistema educacional, interligando os saberes para
refletir sobre a complexidade das questões contemporâneas; pela reestruturação da
informação, incluindo os meios de comunicação e seus vários suportes e linguagens,
para comunicar a nova ética ambientalista de forma massiva, abrangendo o maior
número de indivíduos (BOFF, 1993; KAPLÚN, 1999; LIMA, 2004; CAPRA, 2006;
CARVALHO, 2004; RODRIGUES; COLESANTI, 2008; MORIN, 2010; TOTH et al.,
2012; ZOCH, 2018).
A mudança de valores demanda a transição de um paradigma mecanicista, com
sua tendência à quantificação, previsibilidade, controle e competição, para um novo
paradigma fundado na interconexão profunda entre o homem e a natureza (CAPRA,
2006; MORIN, 2010; ZOCH, 2018). A visão mecanicista influenciou todos os níveis de
realidade e percepção, gerando uma dessacralização do universo; separou-se o espírito
da matéria, o corpo da mente, a filosofia da ciência, as ciências humanas das ciências
exatas. A razão paira por sobre as demais atividades cognitivas e percepções, que foram
descartadas como meras superstições. Por fim, separou-se o sujeito pensante e o meio
ambiente, que passa a ser objeto de dominação e predação (MORIN, 2002;
SOMMERMANN, 2006; IJUIM; TELLAROLI, 2008; ZOCH, 2018). No paradigma
ecológico, a concepção de um mundo fragmentado avança para um sistema uno,
formado por complexas constelações, sem hierarquias, sem ligações privilegiadas. A
separação entre o sujeito pensante e a coisa extensa fica prescrita, posto que o ser não
pode estar isolado de seu sistema e já não se pode compreender alguma coisa de modo
autônomo (SOMMERMAN, 2001; MORIN, 2006; GATTAS; FUREGATTO, 2007).
O novo paradigma demanda uma compreensão holística do universo, através de
um pensamento complexo e sistêmico que possui características dialógicas, reflexivas e
hologramaticas. Por ser dialógico, enfatiza a unidade que permeia todas as coisas; por
ser reflexivo, encontra-se aberto às mudanças, à diversidade, à novas leituras, num
processo de revisão continua; por ser hologramatico, fundamenta-se no conceito de
ecossistema que constitui uma malha integradora entre todos os seres vivos ;
compreende as inter-relações que permeiam os sistemas e organizações, observando a
integração entre o todo e as partes (JACOBI, 2005;CAPRA, 2006; MORIN, 2010;
ALIGLERI, 2011, SCONAMILIO, 2018). O pensamento complexo implica em um
novo enfoque interdisciplinar, que articula a ciência, a arte e a espiritualidade,
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propondo a aproximação entre universidade e sociedade, o direito à informação por
parte de todos os cidadãos, a convivência com a diversidade e o exercício de valores
biocentricos. O novo inventário de valores e atitudes soma-se à valorização de todas as
formas de conhecimento produzido ao longo da história para formar o Homem
Universal, percussor de uma nova cidadania globalizada (MACHADO, 1999;
SOMMERMAN 2001; CAPRA, 2006; FIGUEIREDO, 2006; BERNARDES; PRIETO,
2010; MORIN, 2010; ZOCH, 2018).
A Educação Ambiental constitui a própria base operativa do novo paradigma:
ela emerge como o elemento que se inscreve na própria educação e perpassa os
diversos conteúdos, formatando o tecido comum que norteia o novo pensamento. Cabe à
Educação Ambiental o papel de substituir a relação predadora por uma relação
integradora entre o ser humano e a natureza (ANGOTTI; AUTH, 2001 MORIN, 2010;
CARVALHO, 2015). Nesse âmbito, a educação ambiental via corporeidade configura-
se como um novo aporte transdisciplinar, perpassado pelo conhecimento do corpo
enquanto organismo cognoscente, perceptivo, sensitivo, que se encontra intimamente
ligado ao mundo, à linguagem e à história social. Todas as manifestações humanas são
possíveis pelo fato de sermos corpo; espaço tanto biológico quanto simbólico,
transpassado por práticas de saber, de poder, de subjetivação, o corpo é a evidência de
que existimos e nos relacionamos (MACHADO, 1999; SOMMERMAN 2001;
(HEEMANN; HEEMANN, 2003; NÓBREGA, 2005; CAPRA, 2006; FIGUEIREDO,
2006; MARIN, 2006 BERNARDES; PRIETO, 2010; MORIN, 2010; ZOCH, 2018).
A racionalidade mecanicista em torno da corporeidade é questionada por
filósofos e cientistas que, desde as primeiras décadas do século XX, vem refletindo
sobre o caráter indissociável das relações entre corpo, ambiente, sociedade, afetividade,
arte e comunicação (JOÃO; BRITTO, 2004; NÓBREGA, 2005; FIGUEIREDO, 2006;
NEUENFELDT; MAZZARINO, 2016). O filósofo Merleau-Ponty (1999), em sua obra
clássica denominada A Fenomenologia da Percepção, propõe uma visão de existir no
mundo mediado pela corporeidade, assumindo que a percepção é uma experiencia
produzida pelos sentidos do corpo enquanto organismo cognoscente, aonde o interno e o
externo, o biológico e o fenomenológico se comunicam (MACHADO, 1999;
NÓBREGA, 2005). O pensamento de Merleau-Ponty embasa os biólogos Humberto
Maturana e Francisco Varela (2001) na formulação da Teoria da Autopoiese como um
estudo sobre os seres vivos a partir de suas relações com o entorno e pelo
entrelaçamento entre as ações biológicas e os fenômenos sociais (MENDES;
NÓBREGA, 2004; NÓBREGA, 2005; MERLINO, 2014). Um organismo vivo, ou seja,
autopoiético, é um sistema dinâmico que interage constantemente com o meio em que
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vive para produzir continuamente a si mesmo, recompondo de maneira incessante os
seus componentes desgastados através de processos auto regenerativos, auto produtivos
e de automanutenção da vida (VARELA, 2001; MENDES; NÓBREGA, 2004;
NÓBREGA, 2005; MERLINO, 2014).
A noção de autopoiese ultrapassou o domínio da biologia e transformou-se num
importante instrumento de investigação e de conhecimento; neste âmbito, o pensamento
complexo pressupõe a necessidade de conceber o real enquanto um entrelaçamento de
redes autopoiéticas que se auto organizam a partir de suas interações. Essas permutas,
interações e correspondências, organizadas por meio de redes são o que podemos
apreender por comunicação (KAPLÚN, 1999; DIAS et al., 2016; MIKLOS et al.;
2018). Para Csordas (2002), a comunicação é transpassada pelo corpo enquanto um solo
existencial da cultura que articula sujeito, objeto, conhecimento, subjetividade,
alteridade, em um processo visceralmente corporal. A visão fenomenológica influencia
o conceito de topofilia definido por Tuan (1980), fundamentado na experiência
enquanto a maneira através da qual o indivíduo percebe a realidade; a experiencia, por
sua vez, está atrelada aos sentidos do corpo. O autor postula que a percepção dos
indivíduos frente ao meio ambiente é demarcada por padrões socialmente construídos
que guiam as escolhas, ações e condutas que modelam a superfície terrestre
(BACCEGA, 2000; HEEMANN; HEEMANN, 2003). O conceito de percepção
ambiental introduzido pela topofilia é considerado fundamental para compreender as
ligações entre os seres humanos e o meio ambiente, uma vez que a percepção de um ato
danoso ao meio ambiente depende de uma percepção valorativa: se a percepção é falha,
os juízos e raciocínios chegarão a conclusões falhas e equivocadas. Portanto, é
necessário orientar a percepção ambiental dos indivíduos e comunidades,
desenvolvendo os juízos corretos acerca do meio ambiente (MACHADO, 1999;
MARIOTTI, 1999; CASCAIS, et al., 2011; LOVATTO, 2011; NEUENFELDT;
MAZZARINO, 2016).
Uma vez que o espaço é expressivo e simbólico, a fenomenologia aponta o viés
estético como um saber essencial na construção do saber geográfico (MARIN, 2006;
DA NÓBREGA, 2008). Dessa forma, a arte é um portal de iniciação à percepção; ela
tem o poder de potencializar a relação empática do indivíduo para consigo mesmo, para
com o outro, para com os demais seres. A apreensão da arte conduz para além da
objetificação da natureza e pressupõe uma interação ser humano-mundo (MARIN,
2006; DA NÓBREGA, 2008; BARBOSA, 2009). Ao longo do século XX, importantes
artistas corroboram a teoria fenomenológica, segundo a qual o ato de conhecer não se dá
por representações mentalistas, mas pela experiencia corporal (SOUZA, 2016). Rudolf
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Laban (1978) deduziu que seria possível compreender as motivações para os
movimentos humanos ao observar o que se move, onde se move, quando se move, como
se move e por que se move (ALMEIDA; FLORES-PEREIRA, 2013; GOMES-DA-
SILVA, 2014). A partir dessas observações, Laban (1978) concluiu que a variabilidade
do caráter humano deriva da multiplicidade de atitudes possíveis em relação ao mover-
se. Essa decodificação precisa dos movimentos contribuiu imensamente para o
desenvolvimento da dança, da dramaturgia e da teledramaturgia contemporâneas,
fundamentando a relação entre o indivíduo e a câmera nas diversas expressões
audiovisuais como o cinema, a televisão e a internet (LABAN, 1978; GOMES, 2011;
ALMEIDA; FLORES-PEREIRA, 2013; GOMES-DA-SILVA, 2014; SCONAMILIO,
2017).
Na perspectiva educacional-terapêutica corporal, a fenomenologia influencia
diversas abordagens somáticas que, mesmo diferindo em suas metodologias,
evidenciam que a conscientização corporal pode levar à insights e descobertas,
proporcionando uma experiência de autoconhecimento transformadora e potente. O
Rolfing configura-se como um sistema de reeducação postural e do movimento que
apresenta uma abordagem integrativa, baseada na harmonização entre o corpo e a
gravidade terrestre. O alinhamento do eixo corporal com a gravidade terrestre
potencializa uma expressão mais ampla de mover e de ser, que se traduz em uma nova
atitude existencial; a experiência de uma nova postura pode ser um caminho para
ampliar a percepção, transformar padrões de relação, numa adaptação mais inteligente e
sensível ao ambiente (MERLINO, 2014; SOUZA, 2016; SCONAMILIO, 2017).
A partir dessa malha de saber epistêmico, podemos definir a educação como um
fenômeno que permite o afloramento das prerrogativas da corporeidade, reordenando as
dualidades modernas entre natureza e cultura, sujeito e sociedade, corpo e mente. O
entrelaçamento destas experiencias se dá pelo movimento e permite a formatação de um
campo de conhecimento multidisciplinar, capaz de fomentar um novo projeto
civilizatório (HEEMANN; HEEMANN, 2003; LOUREIRO, 2004; NÓBREGA, 2005;
CAPRA, 2006; MARIN, 2006; DA NÓBREGA, 2008; GOMES, 2011; GOMES-DA-
SILVA, 2014; NEUENFELDT; MAZZARINO, 2016; SOUZA, 2016; SCONAMILIO,
2017).
Material e Métodos
Segundo Coll (1997), os conteúdos de ensino podem ser elencados em três
categorias: os conteúdos conceituais correspondem aos aportes científicos necessários
para uma atuação social; os conteúdos atitudinais correspondem aos valores que
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embasam os conhecimentos científicos, e os procedimentos compreendem as técnicas e
os métodos para aplicá-los. De acordo com essa prerrogativa, os conteúdos conceituais
da pesquisa são constituídos por um levantamento bibliográfico em obras de pensadores
da complexidade, tais como: Capra, Morin, Goswami, Boff, entre outros. Essa
dissertação também recolheu um mosaico de reflexões e debates destinados a configurar
uma identidade na Educação Ambiental, através de valores, ações, projetos e legislações
na área ambiental brasileira. Nesse âmbito, podemos elencar os pesquisadores Isabel
Cristina de Moura Carvalho, Campos, Marin, entre outros. Em relação aos temas
envolvendo a comunicação, a percepção, a educação somática e a corporeidade, são
referências as obras de Mario Kaplun, Merleau Poty, Tuan, Teresinha Petrucia da
Nobrega. Ida Rolf, Rudolf Laban, entre outros.
Os conteúdos atitudinais da pesquisa foram propostos através de um curso para a
formação de educadores ambientais, com o objetivo de fomentar nos alunos a
capacidade de entender as complexas questões da modernidade de forma sistêmica,
articulando a perspectiva da corporeidade com a ecologia. Os procedimentos do curso
foram ambientados no Método de Organização Muscular da Expressão (OMEX)
desenvolvido por Maria Pia Sconamilio (SCONAMILIO,2018). O percurso desse
aprendizado inicia pelo reconhecimento do corpo através dos movimentos, dos gestos,
da voz e desemboca na percepção da própria imagem: a maneira como nos
comunicamos, como expressamos nossas emoções, o que informamos através de nossa
postura e atitudes. Por fim, introduz-se o estudo da comunicação e expressão através do
viés estético e da teatralidade, como instrumentos para a formação de comunicadores de
massa, capazes de veicular seu discurso de forma clara, interessante e assimilável para
qualquer tipo de público (SCONAMILIO, 2018). O curso também disponibilizou uma
sequência de vídeos abordando diversas questões ambientalistas, cujos temas foram
colocados em discussão durante os encontros presenciais.
Em relação à coleta de dados, foram utilizadas múltiplas técnicas que
valorizaram as experiencias, as manifestações e relatos dos alunos, a partir de respostas
colhidas em questionários, de acordo com levantamentos quantitativos e qualitativos.
As investigadoras foram consideradas observadoras-participantes, uma vez que se
desdobraram nos papéis de facilitadoras do curso e autoras da metodologia aplicada.
Resultados e Discussão
A formação reuniu um grupo multidisciplinar, formado por indivíduos oriundos
de diversas áreas, apresentando características heterogêneas em termos de instrução,
configuração social e econômica. O tema da corporeidade foi apresentado enquanto uma
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experiência sensível, embora desvalorizada no âmbito escolar, por conta da supremacia
de um enfoque exclusivamente racional. Refletimos sobre a concepção fragmentada do
corpo, fundamentada na crença de que o fisico age, a mente pensa e o coração sente;
constatou-se que a palavra “corpo” remete à parte material do sistema exclusivamente, e
que não dispomos de um termo linguístico que defina sua abrangência. Neste âmbito,
debatemos sobre as implicações desse paradigma no atual modelo civilizatório,
vislumbrando uma concepção holística, na qual o corpo sente, pensa e age de forma
integrada. A partir da reconexão interna do observador, seria possível retificar suas
percepções e modificar o observado, criando elos empáticos entre o humano e a
natureza (CAPRA, 2006; SCONAMILIO, 2017).
Foram propostas vivências práticas contidas no Método de Organização
Muscular da Expressão, buscando a religação entre corpo e mente, através do equilíbrio
consciente entre o movimento, o sentimento e a expressão. A experiencia implicou na
conscientização da respiração, dos gestos, da voz, do ritmo e fluência das palavras em
um fluxo orgânico de expressão. Observou-se a estreita conexão entre o eixo corporal e
a gravidade terrestre, buscando um padrão de postura corporal equilibrado. Por fim,
verificou-se a ligação entre a musculatura e a psique, observando que cada emoção
desenha uma determinada forma corporal, alterando o padrão respiratório. Como
exemplo prático, os alunos vivenciaram a tristeza e a alegria através de comandos
musculares e respiratórios, observando que a tristeza encurta a inspiração e alonga a
expiração: as costelas se fecham e se abaixam, o tórax se enrola e tomba. Opostamente,
a alegria possui ênfase inspiratória, elevando e ampliando as costelas, expandindo o
peito (SCONAMILIO, 2017). Essas experiências buscaram retirar o aluno de um
entendimento puramente racional e conscientizá-lo de que é possível falar com o corpo
e através do corpo.
Na sequência do processo, os alunos refletiram sobre questões ambientalistas,
por intermédio de rodas de conversa e debates acerca dos tópicos elencados nos vídeos
do curso:
• A importância da educação ambiental sistêmica e transdisciplinar para a
gestão de questões complexas do Antropoceno.
• A crise ambiental enquanto uma crise profunda de valores humanos.
• A integração das artes no contexto educativo.
• A pedagogia da corporeidade como força propulsora para a
transformação de atitudes humanas ambientais.
A partir dessas discussões, foi proposta uma apresentação individual para expor
impressões em relação às temáticas abordadas, utilizando os recursos técnicos e
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dramáticos necessários para o desenvolvimento de uma boa comunicação. No âmbito
técnico, foi requerida a conjugação da expressão corporal, gestual e vocal em um fluxo
harmônico. No âmbito dramático, foi requerida a criação de uma apresentação
carismática, fundada na capacidade de construir ideias, relativizá-las e expressá-las,
promovendo uma boa relação com o entorno.
De acordo com essas prerrogativas, desenvolvemos questionários de avaliação
(preliminar e final), contendo os seguintes temas:
1) Expressão corporal: postura, gestos, movimentos.
2) Expressão vocal: dicção, projeção
3) Habilidades de comunicação: segurança, desempenho.
4) Avaliação da metodologia: desenvolvimento pessoal, desenvolvimento
profissional e conhecimentos sobre a cultura ambientalista.
A partir dos resultados obtidos, constatou-se notável crescimento no
desempenho expressivo, motor e comunicacional dos alunos, aliado a uma compreensão
do ambientalismo de forma sistêmica, relacionando corporeidade e ecologia. Tais
resultados são corroborados pelos dados estatísticos, pela observação da pesquisadora e
pelas considerações dos estudantes sobre a metodologia aplicada, tais como
transcrevemos:
Estudante A - “A metodologia da corporeidade é importante para o
desenvolvimento pessoal, independente de raça, credo, instrução, posição econômica e
social, devendo ser aplicada de forma mais ampla na formação de educadores
ambientais”.
Estudante B - “A metodologia da corporeidade contribui para o reconhecimento
das potencialidades do nosso instrumento mais significativo- o corpo- e contribui para
tornar a pessoa mais orgânica, no sentido de promover a elaboração de uma consciência
que vai além da simples racionalização do real”.
Estudante C - “Através da linguagem do corpo, podemos transmitir
conhecimentos de forma mais clara e relevante”.
Estudante D - “Fiquei surpreso ao perceber a intima conexão entre o eixo do
corpo e o eixo gravitacional da terra; nossa educação ensina as matérias de forma
compartimentada e não percebemos o que é obvio e natural. Acho que isso interfere em
nossa atitude em relação ao meio ambiente”.
Estudante E - "Este curso foi fundamental para me dar confiança em relação à
conexão arte-ambientalismo. As leituras e a linha argumentativa sobre percepção da
natureza-corpo foram muito interessantes e me embasam para seguir adiante nesta ideia.
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A conexão cultura-ambiente é tão intrínseca, mas ao mesmo tempo não percebida! É
sutil, exige percepção dos sentimentos, do corpo! Demanda autoconhecimento “.
Não obstante, verificamos que uma pequena porcentagem da amostragem (um
indivíduo, ou 7% da amostragem), não perceberam melhorias em si próprios e não
estabeleceram pontes entre corporeidade e ecologia. Desta forma, é necessário assumir
que existem desafios para implantação de novas metodologias de ensino; a estrada é
longa e sinuosa, e os passos deverão ser ajustados conforme a velocidade dos passos dos
atores envolvidos.
Conclusões
A educação contemporânea tem como desafio a integração do ser humano ao
meio ambiente, através da substituição de um paradigma racional e mecanicista por um
paradigma da complexidade, que compreende a realidade de forma holística, através do
entrelaçamento entre corpo-mente-espírito. Neste âmbito, a educação ambiental via
corporeidade configura-se como um novo aporte transdisciplinar que se processa a um
nível filosófico e experiencial. Essa nova forma de ensino pode e deve fazer parte
integrante do ensino das ciências, desenvolvendo competências criativas, estéticas,
motoras, técnicas, relacionais e culturais, ampliando os horizontes do conhecimento
rumo à formação do indivíduo consciente, responsável, coerente, expressivo, criativo,
comunicativo e arauto de uma nova ética ambiental.
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ECOFEMINISMO EM NEGÓCIOS SOCIAIS: EXPLORANDO DIFERENÇAS
NA CADEIA PRODUTIVA DO LICURI E DO BABAÇU
Carlos Roberto Oliveira de Araújo1 & Maria de Lurdes Costa Domingos1,2
1Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente, Universidade Veiga de Almeida (UVA), Rua
Ibituruna, 108, Rio de Janeiro, 20271-020, Brasil
2LATEC/Universidade Federal Fluminense; Rua Miguel de Frias 9 – Icaraí – CEP: 24020-000, Niterói,
Rio de Janeiro.
E- mail: [email protected]
Resumo: Observando-se as potencialidades da cadeia produtiva do babaçu e do
licuri na caatinga baiana, o objetivo deste trabalho é discutir a relação entre
ecofeminismo e negócios sociais, observando atividades de grupos comunitários
distintos com produtos e sub-produtos dos cocos licuri e babaçu. Considerando
uma proposta bioecológica do desenvolvimento humano e não humano como
parâmetro teórico, destaca-se a importância de priorizar uma cosmovisão ecológica
na condução de trabalhos essencialmente respeitosos com a vida. Esta pesquisa,
caracterizada como pesquisa-ação, em fase exploratória, contou com a observação
participante e com rodas de conversa como métodos investigativos. O público-alvo
da pesquisa foram quatro comunidades baianas que trabalham com a produção do
babaçu e do licuri. Resultados preliminares desta incursão mostram que a
exploração de produtos do bioma da caatinga baiana tende a promover o
fortalecimento das famílias produtoras locais, alinhadas em certo nível com a
perspectiva de negócios sociais. Porém, destaca-se que o grau de autonomia e de
produção das comunidades visitadas não é homogêneo. Conclui-se que a
valorização das coletoras e das artesãs que vivem dos produtos do bioma da
caatinga baiana integra-se numa cadeia de trabalho e de significados cuja
investigação precisa ser mais explorada.
Palavras-chave: Ecofeminismo, Licuri, Babaçu, Ecologia Profunda.
Introdução
Petrini, Sherer & Back (2016) observam que os negócios com impacto social são
uma alternativa aos modelos tradicionais de mercado, posto que estão em busca do
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desenvolvimento sustentável. Os autores fundamentam distinções conceituais,
destacando diferenças na concepção europeia (empresa social), americana (negócio
social) e dos países em desenvolvimento (negócios inclusivos), com a particularidade
de, no Brasil, negócios inclusivos ser uma subcategoria de negócios sociais. Posto isto,
assume-se neste texto o conceito de negócios sociais, relevando-se uma preocupação
central com a redução da pobreza e a inclusão social numa perspectiva de longo prazo.
Os autores afirmam que a inovação prevista na execução de negócios sociais tem como
finalidade, para além da viabilidade financeira, a geração de valor ambiental e social
dos envolvidos da cadeia produtiva. Isto significa também que os objetivos sociais a ser
alcançados por projetos nesta direção devem se inspirar na sustentabilidade, cobrindo os
custos de operação, com os lucros excedentes reinvestidos no próprio negócio e gerando
bem-estar e inovação continuamente, e para todos, a longo prazo. Além disso, a
articulação entre inovação e desenvolvimento local através dos negócios sociais, na
perspectiva de Nascimento et al. (2012), considera uma relação que contribui
positivamente para a melhoria de uma comunidade e sua região, principalmente quando
se dá a criação de novas oportunidades, novos produtos, novos processos e novos
mercados, sendo uma estratégia inovadora para o crescimento descentralizado dos
grandes polos econômicos.
No entanto, se os negócios sociais são uma fonte de valorização cultural, a
preocupação com a perda de identidade comunitária neste processo também está
presente. Neste sentido, Bestetti & Mourad (2018) alertam para a importância de
preservar as características que definem um território, através da valorização da
dinâmica econômica e do fortalecimento da identidade cultural local, para que não se
descaracterizem as particularidades de uma região com “novas identidades”, em geral
externas e percebidas como melhores. A prevalência do econômico sobre o simbólico é
reconhecida pelos autores como um possível problema decorrente do processo de
formação do polo da palha do Licuri, nas regiões secas e áridas da Caatinga baiana.
Tal preocupação encontra respaldo na dificuldade de desconstruir a
racionalidade econômica que agrava a crise ambiental da atualidade, ao mesmo tempo
em que impulsiona a elaboração de práticas sustentáveis mais cuidadosas com a
preservação do planeta (KROHLING & SILVA, 2019) em crise.
Lovatto et al (2010) dissertam sobre a casuística filosófica da crise ambiental,
identificando, como principais causas vários problemas: a redução da natureza à matéria
prima; o surgimento de uma civilização científica e tecnológica que se funda sobretudo
na perda da ligação ontológica entre sujeito e objeto; as grandes tendências filosóficas
do século XX que agiram como empecilho da formação de um acordar, privilegiando a
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racionalidade instrumental, e, por último, o primado da dimensão econômica intrínseca
à economia capitalista industrial ocidental como paradigma para as relações sociais
internacionais. Esse processo faz com que apenas um terço da população global
consuma mais que os outros dois terços que sobrevivem em condições subumanas.
No enfrentamento deste desequilíbrio, De Almeida (2018) destaca o lugar da
mulher na proteção da natureza, observando o avanço de tal articulação como o
desmonte de um modelo patriarcal calcado no uso utilitarista do meio ambiente e do
papel que ela tem no resgate de uma cosmovisão ecológica, restabelecendo conexões
desfeitas entre o meio natural e social.
Para Lovatto et al (2010), antigamente o homem adorava a terra como Mãe
generosa, elemento feminino venerado e respeitado como progenitora. Era a época em
que reinavam as Deusas e o papel das mulheres tinha destaque. O autor lembra que, na
pré-história, homens e mulheres viviam em harmonia. Elas não eram detentoras de mais
poder que os homens, pois ambos viviam em regime de complementaridade. Nesse
período, época em que a agricultura era a principal atividade da humanidade,
acreditava-se que a mulher tinha poderes mágicos, o dom da vida, sua fecundidade
levando à fertilidade dos campos. Havia, portanto, uma associação direta entre natureza,
mulher e agricultura. Aos poucos esse entendimento sofreu intensas transformações,
principalmente devido ao avanço da ciência e ao fortalecimento do modelo patriarcal.
Neste contexto, completa Lovatto, o feminino passou a ser considerado inferior, de
menor valia, a ser dominado e usufruído.
Fazendo a associação entre a dominação da mulher e da natureza, Araripe (2018)
acredita que a compreensão do conceito ecofeminismo seguiu tendências históricas
diferentes. A perspectiva clássica, aproximava as mulheres da natureza. A essencialista,
colocava-as como vítimas da destruição da natureza. A construtivista, observava a
construção histórico-social da relação entre mulher e natureza, afastando-se de
explicações inatistas e valorizando as relações sociais e históricas de poder. Para a
autora, a responsabilidade das mulheres com a sobrevivência da família, por exemplo,
decorre da tradição e da divisão social do trabalho.
Di Ciomo (2003) reforça esta posição, afirmando que as questões de gênero são
construídas pela sociedade numa interação de informações entre natureza e cultura.
De Almeida (2018) defende que o ecofeminismo identifica-se com uma visão de
mundo mais holística, exigente de uma mudança no modo de pensar, perceber, com
adoção de valores menos imediatistas e reducionistas, típicos do capitalismo utilitarista.
Para esta autora, as divergências estratégicas afirmadas nas linhas ecofeministas
ganham consenso quando as mulheres se unem para preservar o meio ambiente natural e
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gerar qualidade de vida, humana ou não-humana. Além disso, os ensinamentos e ideais
de Bem Viver e Ecofeminismo são comuns, destacando nessa conjugação a resistência
contra um modelo de desenvolvimento insustentável que impacta a sobrevivência da
vivência comunitária digna. Embora isso nem sempre seja reconhecido, as mulheres
teriam um papel importante nesse movimento.
Funari & Pereira (2017) defendem a necessidade de observar as condições
concretas e os condicionantes ideológicos que atravessam as questões de gênero porque,
ao desconstruí-los, é possível promover a transformação social ecologista e a igualdade
de gênero. Em relação à questão ambiental, De Almeida (2018) observa que problemas
ecológicos são complexos, envolvendo situações interdependentes e interligadas a
fatores econômicos e de desenvolvimento, que evidenciam processos de opressão sócio-
histórica, muitas vezes desiguais.
Além disso, no ecofeminismo também se admite que as mulheres não compõem
um grupo homogêneo. Os grupos femininos apresentam diferenças impostas pela
divisão de classes, com as mulheres da base da pirâmide social sofrendo mais com a
escassez de recursos ambientais, agravado pelo modo predatório da civilização atual. Os
movimentos ecofeministas no mundo em geral, e no Brasil em particular, têm unido
mulheres em torno de causas ambientalistas como a privação de água, uso
indiscriminado de agrotóxicos ou sementes transgênicas, agricultura familiar e
extrativismo local, pois elas são as primeiras a ser afetadas quando ocorrem problemas
ecológicos. Na América Latina o ecofeminismo está associado à pobreza e à defesa de
grupos vulneráveis, que sofrem com a destruição da Natureza: “Na América Latina,
particularmente no Chile, Brasil, México, Uruguai, Bolívia, Argentina, Peru e
Venezuela [...] o ecofeminismo latino americano se caracteriza por um interesse pelas
mulheres pobres, a defesa dos indígenas, vítimas da destruição da Natureza”
(LORELEY, 2009, p.14).
Em oposição ao modelo exploratório que torna a Natureza um objeto para usar
seus recursos naturais, humanos e não humanos, de maneira predatória, um modelo
capaz de proporcionar o desenvolvimento bioecológico saudável sugere ampliar a
relação do indivíduo com os ambientes numa construção de progressiva complexidade,
orientada por princípios éticos alicerçados numa cosmovisão ecológica de integração e
conexão entre o meio natural e social (LORELEY, 2009). Trata-se, portanto, de
perseguir modelos alternativos a propostas que separam o homem da Natureza.
A ecologia profunda, na medida em que sugere a reinterpretação e a recolocação
do homem na Natureza, pode ser apontada como alternativa no conjunto de melhorias
que se espera ver implementadas no mundo. Nesta perspectiva, a mudança do
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comportamento humano diante da Natureza está condicionada ao reconhecimento do
primeiro como parte integral e indissociável da segunda (LOVATTO et al, 2011). Sem
esta reconstituição seria difícil promover a sustentabilidade.
Krohling & Silva (2019) observam que, pelo menos desde meados do século
XX, fala-se em sustentabilidade e em desenvolvimento sustentável, em como as
sociedades devem se organizar e evoluir sem prejudicar umas às outros e sem impedir
que as gerações futuras tenham direito à sobrevivência. Os autores afirmam que estes
conceitos são entendidos, em geral, como uma necessidade de preservação dos recursos
naturais – não da Natureza em si – para garantir a sobrevivência humana,
desconsiderando que a própria Natureza pode ter o direito de sobreviver. A Ecologia
profunda adota uma perspectiva ecocêntrica, considerando todos os elementos
existentes no planeta Terra como detentores de dignidade e direito de existência,
inserindo numa totalidade como sujeitos éticos todas as criaturas viventes.
Com base no exposto, há que se levar em consideração que o
ecodesenvolvimento exige que nossas atividades retomem a integração seres humanos-
Natureza. Posto isto, o principal objetivo deste texto é discutir a relação entre
ecofeminismo e negócios sociais, observando como distintos grupos comunitários
trabalham com os produtos e sub-produtos dos cocos licuri e babaçu.
Material e Métodos
Caracterizado como pesquisa-ação, este trabalho apresenta dados sobre a fase
exploratória em que se encontra o delineamento do estudo proposto. Para Martins &
Theóphilo (2016) esta modalidade de pesquisa tem sido associada à investigação
participante com o propósito de agir de forma planejada sobre os problemas, com os
atores sociais envolvidos participando ativamente na elucidação da realidade em que
estão inseridos. Estima-se, nesta proposta, não só identificar os problemas, mas também
envolver os pesquisados na experimentação das soluções em situações reais. Os autores
observam quatro grandes fases deste trabalho, são elas: exploratória, pesquisa
aprofundada, ação e avaliação. O texto aqui apresentado encontra-se na primeira fase, a
exploratória, onde se dão as discussões em grupo com membros do campo com a
finalidade de identificar um problema. As discussões, é importante observar, podem ser
simples conversas ou prolongar-se em entrevistas, individuais ou coletivas.
Neste caso, foram priorizadas a observação participante e rodas de conversa
como métodos investigativos. O primeiro porque proporciona ao pesquisador fugir de
ambientes artificiais, e, imerso no campo de trabalho, ele pode identificar mais
facilmente o simbolismo dos comportamentos não manifestos. O segundo, devido à
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ênfase dada ao diálogo para coletar dados e à memória como matéria-prima despertada
pela conversa com os pares (MOURA & LIMA, 2014). No caso aqui relatado, as
questões norteadoras das rodas de conversa foram perguntas abertas direcionadas para
duas grandes áreas associadas aos produtos e sub-produtos do licuri e do babaçu:
relações de trabalho e geração de renda. Nas próximas etapas da pesquisa estão
previstos seminários entre pesquisador e pesquisados para entendimento dos dados e
direcionamento da investigação (aprofundamento), difusão dos resultados e sua
discussão com cada grupo participante (ação) e avaliação de ações implementadas pelos
grupos com fins de verificar pontos estratégicos, mobilização, geração de propostas e
conhecimentos, avanços do projeto e qualidade do trabalho (avaliação) (MARTINS &
THEÓPHILO, 2016).
Caracterização da Amostra da Pesquisa
A amostra desta investigação contou com a participação de quatro comunidades,
sendo três da Mesoregião do Centro Norte Bahiano, mais especificamente os
municípios de Caldeirão Grande, Serra da Carnaíba e Caém, todas na Microregião de
Jacobina, e uma da Microregião de Senhor do Bonfim, a comunidade de Itiúba. Quanto
à localização, à densidade demográfica, ao índice de desenvolvimento humano (IDH),
distribuição de renda e fator trabalho, os participantes apresentam o seguinte perfil:
a) Caldeirão Grande está a 430 metros de altitude e tem como coordenadas
geográficas, latitude 11° 0' 32'' Sul e Longitude, 40° 18' 7'' Oeste. (CIDADE-BRASIL,
2019) O município se estende por 455,2 km², com 12.491 habitantes, segundo censo de
2010. O IDHM da região (0,573) é inferior ao da Bahia (0,660) e ao do Brasil (0,727).
A renda per capita média do município cresceu 97,64% nas últimas duas décadas,
passando de R$ 106,89, em 1991, para R$ 122,43, em 2000, e para R$ 211,26, em 2010.
A taxa média anual de crescimento nesse período foi de 3,65%. Especificamente, a taxa
média anual de crescimento foi de 1,52%, entre 1991 e 2000, e 5,61%, entre 2000 e
2010. A proporção de pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita inferior a
R$ 140,00 (a preços de agosto de 2010), passou de 81,21%, em 1991, para 73,90%, em
2000 e para 52,34%, em 2010. A evolução da desigualdade de renda nesses períodos,
tomando como base o Índice de Gini, passou de 0,44, em 1991, para 0,61, em 2000, e
para 0,55, em 2010. Quando se compara os indicadores referentes a indivíduos
extremamente pobres das realidades municipais, estaduais e nacionais a situação desta
região é negativa: respectivamente 52,34% em Caldeirão Grande, 28,72% na Bahia e
15,20% no Brasil. Em relação ao indicador Trabalho, destaca-se que entre 2000 e 2010,
a taxa de atividade da população de 18 anos ou mais (população economicamente ativa)
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passou de 57,09% em 2000 para 65,30% em 2010. Simultaneamente, a taxa de
desocupação (população economicamente ativa desocupada) passou de 12,93% em
2000 para 8,65% em 2010. (ATLAS BRASIL, 2013).
b) Campo Formoso faz parte, junto com o município de Pindobaçu, da Serra
da Carnaíba. O município de Campo Formoso se estende por 7 258,6 km² e contava
com 66 616 habitantes no último censo. A densidade demográfica é de 9,2 habitantes
por km² no território do município. Situado a 552 metros de altitude, as coordenadas
geográficas municipais são latitude 10°30’41” sul e longitude 40°19’21” oeste
(CIDADE-BRASIL, 2019); Com base em dados do Censo de 2010, o IDHM de Campo
Formoso foi considerado baixo (0,586), ocupando a 4495ª posição entre os 5.565
municípios brasileiros. Do escore alcançado, a dimensão que mais contribuiu com seu
IDHM foi Longevidade, com índice de 0,749, seguida de Renda, com índice de 0,566, e
de Educação, com índice de 0,475. A renda per capita média local cresceu 156,58% nas
últimas duas décadas, passando de R$ 105,25, em 1991, para R$ 178,76, em 2000, e
para R$ 270,05, em 2010, uma taxa média anual de crescimento nesse período de
5,08%. A taxa média anual de crescimento foi de 6,06%, entre 1991 e 2000, e 4,21%,
entre 2000 e 2010. A proporção de pessoas pobres, com renda domiciliar per capita
inferior a R$ 140,00 (a preços de agosto de 2010), passou de 83,55%, em 1991, para
65,17%, em 2000, e para 46,53%, em 2010. A evolução da desigualdade de renda nos
períodos, Índice de Gini, passou de 0,57, em 1991, para 0,63, em 2000, e para 0,57, em
2010. No quesito trabalho, entre 2000 e 2010, a taxa de atividade da população de 18
anos ou mais (percentual da população economicamente ativa) passou de 60,65% em
2000 para 65,03% em 2010. Ao mesmo tempo, a taxa de desocupação (referente ao
percentual da população economicamente ativa desocupada) passou de 10,53% em 2000
para 7,89% em 2010. (ATLAS BRASIL, 2013).
c) Caém é um município situado a 549 metros de altitude, cujas
coordenadas geográficas são Latitude: 11° 5' 11'' Sul e Longitude: 40° 25' 13'' Oeste.
Com 548,2 km², o município contava com 10.368 habitantes e densidade demográfica
de 18,9 habitantes por km² no censo de 2010 (CIDADE-BRASIL, 2019). Caém
registrou, em 2010, um IDHM de 0,546. As dimensões que mais contribuíram para este
índice foram Longevidade, com índice de 0,701, seguida de Renda, com índice de
0,535, e de Educação, com índice de 0,434. Estes índices colocam Caém na 5253ª
posição entre os 5.565 municípios brasileiros. A renda per capita média do município
cresceu 168,86% nas últimas duas décadas, passando de R$ 83,12, em 1991, para R$
121,08, em 2000, e para R$ 223,48, em 2010. Isso equivale a uma taxa média anual de
crescimento nesse período de 5,34%. A taxa média anual de crescimento foi de 4,27%,
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entre 1991 e 2000, e 6,32%, entre 2000 e 2010. A proporção de pessoas pobres, com
renda domiciliar per capita inferior a R$ 140,00 (a preços de agosto de 2010), passou de
85,84%, em 1991, para 70,39%, em 2000, e para 49,42%, em 2010. A evolução da
desigualdade de renda nesses dois períodos, segundo o Índice de Gini, passou de 0,45,
em 1991, para 0,57, em 2000, e para 0,54, em 2010. (ATLAS BRASIL, 2013).
d) O município de Itiúba se estende por 1 722,7 km² e contava com 36 113
habitantes no último censo, ocorrido em 2010. A densidade demográfica é de 21
habitantes por km². Situado a 570 metros de altitude, Itiúba apresenta as seguintes
coordenadas geográficas: Latitude: 10° 40' 38'' Sul, Longitude: 39° 51' 18'' Oeste
(CIDADE-BRASIL, 2019). Segundo dados do Atlas Brasil (2013) o IDH deste
município foi definido em 0,544, em 2010. A dimensão que mais contribuiu para este
resultado foi Longevidade, com índice de 0,775, seguido de Renda, com índice de 0,521
e Educação, com índice de 0,398. A renda per capita média de Itiúba cresceu 75,34%
nas últimas duas décadas, passando de R$ 117,02, em 1991, para R$ 136,12, em 2000, e
para R$ 205,18, em 2010. A taxa média anual de crescimento nesse período foi de
3,00%. Especificamente, este índice foi de 1,69%, entre 1991 e 2000 e 4,19%, entre
2000 e 2010. A proporção de pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita
inferior a R$ 140,00 (preços de agosto de 2010), passou de 78,87%, em 1991, para
71,32%, em 2000, e para 54,50%, em 2010. A desigualdade de renda nesses períodos,
observando-se o Índice de Gini, passou de 0,51, em 1991, para 0,63, em 2000, e para
0,56, em 2010.
Licuri e Babaçu: matriz para negócios sociais
Destaca-se que em cada um dos territórios de Caldeirão Grande, Campo
Formoso, Caém e Itiúba foi visitado um ator social. O critério de escolha dos
participantes foi o trabalho com produtos e subprodutos do licurizeiro ou do babaçu e
deles resulta parte da geração de renda destas comunidades. Atendendo a este critério, o
Quilombo de Raposa em Caldeirão Grande, o grupo de Jirau, localizado em Cáem e as
Artesãs de Itiúba, em Itíuba trabalham com o coco e derivados do licurizeiro. Diferente
deles, a Associação de Serra da Carnaíba, em Campo Formoso, dedica-se a produzir
derivados do coco do babaçu.
Bestetti & Mourad (2018) observam que a palmeira do Licuri, também
conhecida como palmeira sertaneja é encontrada especialmente nas regiões secas e
áridas da Caatinga. O licurizeiro sofre forte pressão das atividades humanas, como o
desmatamento, as queimadas, a mineração e a pecuária. É utilizado de forma
extrativista, sendo seus frutos usados para alimentação animal e humana e as folhas na
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produção de artesanato. O extrativismo não florestal do licuri é uma das alternativas
para geração de renda dos moradores do semiárido, além de representar uma fonte
alternativa de nutrição imprescindível para estes grupos. Além disso, seu uso já é parte
do contexto cultural da região, sendo usado em larga escala pelas populações rurais para
a confecção de vassouras, esteiras, cestas, balaios e bolsas utilitárias para o trabalho no
campo. As fibras para uso na atividade artesanal são retiradas das folhas, orientadas por
planos de manejo, e podem ser desfibradas para confecção de cestas, tecidas com o
auxílio de uma agulha, ou apenas destaladas e secas, sendo trançadas.
O babaçu também é reconhecido como meio de subsistência das famílias
extrativistas e para a economia do país. Segundo Porro (2019) ele foi considerado o
segundo produto florestal não madeireiro no país, após o açaí, até 2011. O fruto também
foi a matéria-prima de boa parte do óleo industrializado das cozinhas do Meio-Norte
brasileiro até ser substituído, nos anos 70, por óleos não saturados e com menor custo de
produção, como o óleo de soja, por exemplo. Carvalho & Macedo (2019) destacam o
valor do babaçu para a alimentação e para medicina popular, mas também na confecção
de materiais de limpeza, cosméticos e artesanato. Destaca-se assim, conforme
expressam os autores, como fonte de emprego e renda familiar, principalmente para
aquelas famílias com elevado índice de vulnerabilidade social, em geral com problemas
de saúde e vivendo em moradias precárias.
Ecofeminismo: o conhecimento de grupos heterogêneos
As práticas de trabalho das quatro comunidades participantes desta pesquisa são
majoritariamente femininas entre os grupos visitados, tanto naqueles cuja subsistência é
derivada do licuri, quanto nos que vivem do babaçu. No que tange à expressão
“negócios sociais”, nenhuma das participantes adota esta nomenclatura, porém podemos
afirmar que as atividades que desenvolvem se encaixam nesta categoria, pois o manejo
destes produtos contribui para a melhoria da comunidade e da região (NASCIMENTO
et al, 2012).
Na consideração da abertura para promover inovação nos produtos, como
característica dos negócios sociais, verificou-se maior comedimento da comunidade de
Caldeirão Grande e mais ousadia nas comunidades de Campo Formoso, Caém e Itiúba.
Sobre este item aparece o sentimento de identificação com a atividade, que remete à
própria identidade, necessariamente uma prioridade a ser fortalecida de maneira
conjunta com o ofício realizado (BESTETTI & MOURAD, 2018). Diferente dos outros
grupos, em Caldeirão Grande, ser quilombola expressa-se como identidade marcante,
que parece timidamente extensiva à realização de negócios, mesmo aqueles que aqui
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denominamos sociais. A identificação com o formato típico de negócios está mais
presente nos outros grupos, sendo a abertura para a inovação parte deste processo. Em
Caém, por exemplo, os produtos do licuri se integram à venda de verduras orgânicas,
fortemente associada à agricultura local, característica dos negócios sociais. Sobre isto,
Valle (2019) afirma que os vínculos artesanato e a terra representam destrezas de
uma pedagogia ecofeminista, pois revelam a variedade epistemológica do mundo e,
sobretudo, evidenciam que a vida se rege por obrigações que existem para garantir a
dignidade humana de todas/os, umbilicalmente amarrada na sua relação com a terra e
com tudo o que ela significa. Nesta integração, a autora entende que as mulheres podem
buscar alternativas e soluções para as necessidades e desejos na realidade local,
realizando em seus espaços de vida práticas de artesania, desde saberes reapropriados,
de fortalecimento dos vínculos relacionais à ampliação de atuação-participação das
mulheres agricultoras em toda a dimensão de suas atividades. Assim, as práticas de
artesania e pedagogias ecofeministas vão no contra fluxo tanto do androcentrismo
quanto do antropocentrismo do pensamento racional moderno, instrumentalizado pelo
regime do capital financeiro global.
Por outro lado, em Campo Formoso verificou-se a entrada de elementos típicos
da automação do capitalismo tradicional, com a recente adoção de maquinário para
separar automaticamente as partes do coco do babaçu. A casca é comercializada como
biomassa, as amêndoas moídas transformam-se em farinha e o óleo vendido puro ou
convertido em sabão e cosméticos. Neste processo, há que se atentar para a importância
de fortalecer a conexão do grupo com a natureza para não se cair num processo típico de
industrialização exploratória e reducionista, sem cuidados com o meio natural
(KROHLING & SILVA, 2019).
Finalmente, em Itiúba, foi possível observar um grupo fortemente identificado
com artesanato desenvolvido a partir das folhas do licuri. Cestas, bolsas, porta-copos,
centros de mesa e outras peças trançadas pelas mulheres da associação rendem o
dinheiro para sua subsistência e já definem uma marca reconhecida pelo mercado como
característica delas. Processa-se aqui um trabalho cuja atividade já expressa uma
identidade do grupo (BESTETTI & MOURAD, 2018), observado não só na própria
organização do processo produtivo, mas também no auto-reconhecimento como marca
dos produtos executados e abertura para processos de inovação.
Resultados e Discussão
Os dados preliminares levantados por esta pesquisa mostram que a exploração
de produtos do bioma da caatinga baiana tende a promover o fortalecimento das
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famílias produtoras locais de maneira distinta, mas alinhando a iniciativa delas à
proposta de negócios sociais para reduzir a situação de pobreza e promover a
preservação ambiental e a inclusão social (PETRINI, SHERER & BACK, 2016).
Constituída por artesãs, predominantemente mulheres, dedicadas ao manejo de produtos
extraídos das palmeiras do Licuri e do Babaçu, elas podem facilmente se identificar com
o movimento ecofeminista, afetado pela conservação e pela destruição da Natureza
(LORELEY, 2009). Ao contar histórias de sobrevivência, de resistência, de geração de
renda e de amizade associadas ao trabalho com o Licuri ou com o Babaçu, suas vidas se
misturam com os tempos e movimentos da vida que flui no bioma da caatinga.
Merece destaque a importância dada por Nascimento et al (2012) à positividade
dos negócios sociais para gerar novas oportunidades, produtos, processos e mercados,
com esta inovação promovendo um crescimento descentralizado fora dos megacentros
urbanos. Foi possível perceber a vontade de agregar novas ideias e produtos, com
distinção entre os grupos, até porque eles são heterogêneos: as quilombolas de
Caldeirão Grande têm uma produção interna, mais artesanal; o grupo de Caém, com
foco na agricultura rural, tem maior diversidade de interesses e produtos; a associação
de Campo Formoso está num estágio de industrialização produtiva diferenciado, com
suas máquinas para separar e quebrar o coco do babaçu; o grupo de Itiúba, especializou-
se no artesanato com a palha do licuri e já se identifica como marca nessa área. Esta
diferenciação faz pensar sobre que tipo de inovação seria efetivamente
ecodesenvolvimento para cada grupo investigado. Isto toca em outra questão, colocada
por Nascimento et al. (2012), que trata do crescimento descentralizado associado à
expansão dos negócios sociais. A oportunidade de trabalho e a geração de renda são
fatores relevantes para fixar as pessoas à Terra. A atração pelos centros urbanos foi
bastante comentada nas rodas de conversa promovida nesta fase exploratória,
especialmente referida aos jovens que não tem oportunidade de trabalho na sua região
ou não desejam seguir as atividades dos pais. Este ponto também é comentado por Porro
(2019) ao observar a redução do número de mulheres jovens dedicadas à quebra do coco
devido às condições penosas neste processo e à baixa rentabilidade do trabalho
realizado.
A relação entre ecofeminismo e a terra apareceu de maneira mais evidente entre
o grupo quilombola e o de Caém, neste inclusive casos de pessoas que voltaram à região
depois de tentar a vida na cidade grande. Em Campo Formoso foi ao contrário, o
pertencimento identificado como “forasteiro”. A maioria é imigrante. A pessoa chegou
sozinha ou com a família, atraída pelo extrativismo de esmeraldas de Serra da Carnaíba.
Enquanto os maridos seguem a vida no garimpo, elas se dedicam ao Babaçu: extraem
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óleo, vendem as cascas do babaçu para biomassa, fazem farinha que usam na
gastronomia e trabalham, em menor escala, com a palha, produzindo artesanato. Em
Itiúba, as mulheres trançam histórias de vida em cestas e balaios, contam que
aprenderam a técnica com uma índia que viveu na região anos atrás, passam a arte umas
às outras, mas também se queixam da renovação do grupo, com as jovens distantes do
artesanato.
Destaca-se, com isto, que o ecofeminismo está presente nos negócios sociais
observados e que esta relação tem forte associação com a sustentabilidade. Conforme
observado por Lovatto et al. (2010) o incentivo à sustentabilidade tem relação intrínseca
com as mulheres à agricultura e ao artesanato, e a valorização de suas atividades pode
ser reconhecido como um agente transformador de respeito ao equilíbrio da natureza.
Por outro lado, os dados também sugerem que é importante entender que na associação
entre ecofeminismo e negócios sociais há que se identificar particularidades. Em
comum, nos grupos aqui apresentados pode-se registrar diferenças históricas, raciais,
culturais, sociais e econômicas que aparecem como identidade nas canções quilombolas,
nas lutas feministas de Caém, nos litros de óleo vendidos para todo o país quando as
“forasteiras” saudosas de casa saem de Campo Formoso e nas conversas religiosas em
Itíuba. Estas diferenças registram diferentes graus de autonomia das comunidades
visitadas, observado como um movimento não homogêneo.
Conclusão
Destacamos neste estudo a importância de relacionar o ecofeminismo ao
desenvolvimento de negócios sociais, para identificar como as mulheres que trabalham
com produtos da cadeia produtiva do babaçu e do licuri se percebem quanto ao grau de
identificação com as atividades desenvolvidas e com seu papel ecológico. Ainda em
fase exploratória, os dados não foram suficientes para verificar o grau de consciência
dos grupos acerca de seu valor para a ecologia, mas foi possível ver que não são grupos
homogêneos. Embora as atividades que desenvolvem tragam a convivência com a terra,
a compreensão de uma cadeia de produtos, o contato com os movimentos e tempos da
natureza para executar seu trabalho, as comunidades investigadas são atravessadas pelas
mazelas de um contexto macrossistêmico tipicamente capitalista: a cultura de
exploração dos recursos naturais com desvalorização do trabalho realizado por artesãs
locais; segmentação de produtos integrados em uma cadeia produtiva mais ampla por
vezes descontextualizada; homogeneização política e cultural da vida rural, são alguns
destes processos. Com exceções, estas manifestações são limitantes e por vezes
desdobram-se em êxodo rural, dificuldade para envolver os jovens no trabalho dos pais,
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admiração exacerbada pela vida cosmopolita, valorização de hábitos tipicamente
urbanos entre outros elementos.
Esta pesquisa-ação foi marcada por rodas de conversa e isso permitiu levantar
intrincadas questões culturais, de gênero, raça e geração de renda nas diferentes
comunidades que vivem da cadeia produtiva do babaçu e do licuri de maneira mais
sutil. As atividades com estes produtos são realizadas com mão-de-obra
predominantemente feminina e tendem a reproduzir a dinâmica de exploração e
dominação histórica do sistema patriarcal-capitalista tradicional. Porém, também foram
reconhecidas resistências a este processo, presente principalmente no grupo feminista,
com mulheres engajadas em lutas sociais, de raça, gênero e de direitos, contra a
violência e o uso de agrotóxicos, tão radicalizados pelo capitalismo exploratório e ávido
pelo consumo em massa.
Conclui-se que o ecofeminismo pode ser trabalhado através da valorização das
coletoras e das artesãs que vivem dos produtos do bioma da caatinga baiana e que seu
trabalho engloba princípios de negócios sociais, mas cujos significados ainda não estão
bem definidos. Mais esclarecimentos exigem o avanço para as outras fases da pesquisa-
ação: pesquisa aprofundada, ação e avaliação são sugeridas para entender melhor o
contexto foco deste trabalho.
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PERFIL PARASITOLÓGICO DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA DO
CENTRO E ARREDORES, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL
Gustavo Lopes Neto1, Maria Eduarda Lima Josua de Jesus1, Raphael do Amaral Azevedo1, Yago Reis
Barcellos1 & Natalie Olifiers1
1Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna, Nº 108, Rio de Janeiro, CEP: 20271-020, Brasil
E-mail: [email protected]; [email protected]
Resumo: No Centro da cidade do Rio de Janeiro e em seus bairros vizinhos, o número
de pessoas vivendo nas ruas aumentou muito nos últimos anos devido aos problemas
econômicos que vêm afetando o país. Com isso, o número de populações em situação
de rua também aumentou. Com este agravante, a disseminação das parasitoses
intestinais representa um risco ainda maior, principalmente em centros urbanos. Neste
contexto, o objetivo deste trabalho foi investigar o perfil parasitológico de populações
em situação de rua a partir de fezes coletadas diretamente do ambiente no Centro da
cidade do Rio de Janeiro. Foram analisadas um total de 175 amostras por método de
concentração de flutuação com solução de açúcar e sedimentação com éter-formol.
Cinquenta e três amostras foram positivas (prevalência de 30,3%; 95%IC:
23,72−37,68%); Ascaris lumbricoides (5,1%; 2,60−9,61%), Trichuris trichiura (1,7%;
0,47−5,02%), Necator americanus (3,4%; 1,51%−7,33%) e Giardia lamblia (18,3%;
13,07−24,80%) foram encontrados nas amostras. Foi possível evidenciar a circulação de
parasitos intestinais na região estudada, fazendo um alerta à necessidade da adoção de
medidas mitigadoras quanto à saúde destas pessoas, bem como de descontaminação das
áreas públicas. Na impossibilidade de realizar um estudo com fezes frescas fornecidas
diretamente pelos hospedeiros, o método utilizado neste estudo mostrou-se viável para
estudos parasitológicos e detecção da presença de parasitos no ambiente.
Palavras-chave: parasitologia, helmintos, protozoários, Rio de Janeiro.
Introdução
O estudo da biologia dos parasitos é fundamental para traçar os modos de
transmissão e disseminação das doenças parasitárias e assim estabelecer as medidas
necessárias à sua profilaxia (GOULART e LEITE, 1978). Dentre os parasitos
comumente encontrados em populações humanas, estão os helmintos e protozoários. Os
helmintos e protozoários são parasitos intestinais, vivendo pelo menos parte de suas
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vidas no intestino de seus hospedeiros, local onde se alimentam e se reproduzem
(FERREIRA, 2014). Os helmintos constituem um grupo muito numeroso de animais,
incluindo espécies de parasitos dos filos Platyhelminthes, Nematoda e Acanthocephala
(NEVES, 2016). No Brasil, de modo geral, os helmintos são de ampla distribuição
geográfica, sendo encontrados em zonas rurais ou urbanas. De acordo com o ambiente
requerido e a respectiva espécie de parasito, esses helmintos podem apresentar altas
prevalências onde são mais precárias as condições sócio-econômicas da população
(THYSSEN et al., 2004).
Os protozoários englobam os organismos protistas eucariotas unicelulares.
Dentre os protozoários intestinais, podemos citar Giardia lamblia − parasito
responsável por causar a giardíase − e algumas amebas patogênicas, como a Entamoeba
hystolitica, causadora da amebíase. Mundialmente, o grupo dos protozoários possui
mais de 60.000 espécies conhecidas, mas apenas algumas dezenas podem infectar o
homem (NEVES, 2016).
Mesmo considerando o risco de infecção e transmissão entre pessoas, ainda não
se dá uma real importância para as muitas doenças causadas por esses patógenos no
Brasil, pois muitas destas doenças atingem geralmente as classes mais pobres da
população. Por esse motivo, muitas delas acabam sendo enquadradas como doenças
negligenciadas, que são doenças endêmicas de populações de baixa renda, as quais não
recebem investimento e atenção adequados (GARCIA et al., 2011).
Segundo dados da Agência Nacional de Águas, 45% da população brasileira não
possui tratamento de esgoto e quase 35 milhões de brasileiros não tem acesso à água
potável (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2018). Assim, existem muitas áreas mais
pobres que não são contempladas com saneamento básico, o que facilita a disseminação
dos parasitos no ambiente, aumentando assim o risco de infecção da população. Esses
locais geralmente são frequentados e servem de moradia para a parcela mais pobre da
população, pessoas que não possuem conhecimento quanto à existência dos parasitos e
menos ainda dos meios de transmissão desses organismos. Essas pessoas, por falta de
informações e de condições básicas de higiene, acabam entrando em contato com água,
alimentos e com o solo contaminado com os ovos, larvas (helmintos) ou oocistos
(protozoários) de parasitos e, com isso, ocorre a infecção das mesmas e a transmissão
desses organismos.
Portanto, os parasitos gastro-intestinais tendem a ser prevalentes em populações
em situação de rua, justamente por acometerem populações mais pobres e sem acesso a
saneamento básico, gerando inúmeros malefícios. Segundo Moitinho (2000), no
entanto, são reconhecidas as dificuldades de combate às parasitoses intestinais, seja
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pelos altos custos financeiros exigidos para o saneamento básico e para o tratamento
com medicamentos específicos, seja pelas dificuldades de mudanças de práticas
comportamentais errôneas, as quais podem ser observadas principalmente em
populações carentes, como populações em situação de rua.
No Centro da cidade do Rio de Janeiro e em seus bairros vizinhos, o número de
pessoas vivendo nas ruas aumentou nos últimos anos devido aos problemas econômicos
que afetam o país, como ocorreu no bairro Glória, vizinho ao Centro, onde nos últimos
anos os números foram praticamente triplicados de 2013 a 2017 (BBC RJ, 2017). Em
abril de 2017, o número de pessoas vivendo nas ruas da cidade chegou a 14.150, de
acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos - contra
5.580 em 2013 (CARNEIRO, 2017). Com isso, o número de moradores de rua também
triplicou no Centro do Rio de Janeiro em três anos (RIO DE JANEIRO, 2017). Esta
região possui uma grande quantidade de pessoas circulando pelas vias diariamente,
prédios comercias, ambientes compostos por uma grande quantidade de parques, praças
e áreas verdes.
Mesmo considerando que os parasitos intestinais representam um risco para a
população e são um problema para a saúde pública, ainda são raros os trabalhos que
abordam a questão da saúde das pessoas em situação de rua (AGUIAR; IRIART, 2012,
GOMES, 2002). Já foram realizados estudos com o intuito de estabelecer a prevalência
das helmintoses intestinais em populações carentes, muitas vezes residentes em abrigos
comunitários; porém, as populações de rua sem o acesso a essas condições não têm sido
contempladas com a mesma ênfase (GOMES, 2002; SOUZA, 2007). Essa escassez de
estudos gera uma carência de informação sobre os perfis parasitológicos da população
em situação de rua, o que dificulta o tratamento das mesmas, podendo gerar graves
problemas para a saúde destas pessoas; além disso, permite que os parasitos continuem
circulando no ambiente, podendo dessa forma infectar qualquer outra pessoa que
transite no local, bem como estas podem levar o ciclo infeccioso para suas próprias
residências. Portanto, tais estudos são de suma importância para que ciclos de
transmissão sejam reconhecidos e medidas mitigadoras realmente eficazes sejam
tomadas.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi investigar o perfil parasitológico da
população em situação de rua no Centro da cidade do Rio de Janeiro, analisando
amostras de fezes coletadas no ambiente. Para tal, foi calculada a prevalência de ovos,
larvas de helmintos e oocistos de protozoários presentes nas amostras coletadas. Espera-
se que os resultados deste trabalho possam servir de base para a criação de medidas
mitigadoras aplicadas a esta parcela da população e ao ambiente onde se encontram,
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contribuindo assim para a diminuição do número de indivíduos infectados, redução da
contaminação dos ambientes públicos e, por consequência, diminuição da transmissão
de parasitos intestinais na área estudada.
Material e métodos
Coleta
Entre abril de 2018 e agosto de 2019, foram coletadas amostras fezes frescas do
ambiente no Centro da cidade do Rio de Janeiro e arredores (Figura 1).
Aproximadamente 3g de fezes de cada amostra foram coletadas e conservadas em tubo
falcon 15mL, contendo previamente 10mL de formol 10%, identificadas,
georreferenciadas utilizando o Google Maps e então levadas ao laboratório de Biologia
da Universidade Veiga de Almeida para análise. Foram consideradas fezes frescas
aquelas que tinham o aspecto mais úmido, com a maior presença de moscas e insetos
em geral e consistência mole, quando comparadas às fezes ressecadas comumente
encontradas. Para a diferenciação entre fezes humanas e a de outros animais, foram
avaliadas a morfologia externa das fezes, localização e o conteúdo, como a presença de
pelos e insetos. Posteriormente, foi realizada a análise do perfil parasitológico da
amostra, tendo em vista que alguns parasitos são exclusivos de humanos, da mesma
forma que outros são encontrados exclusivamente em outros animais. Para a coleta das
amostras, foi utilizado equipamento de proteção individual, incluindo luvas de
procedimento e máscara respirador N95.
Para evitar pseudoreplicação, os locais de coleta de fezes foram diversificados
(Figura 1), cobrindo uma área extensa em eventos de coleta curtos. Esses locais foram
selecionados por representarem áreas de grande circulação de pessoas em geral, não só
próximo de centros comerciais, como também em áreas de lazer.
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Figura 1. Mapa dos locais de coleta utilizados durante o estudo, no bairro Centro e em
seus arredores, Rio de Janeiro. Fonte: o próprio, modificado a partir de imagem do
Google Earth Pro, 2019.
Análise das amostras e dados
As análises das amostras coletadas foram realizadas com o uso de técnicas
modificadas de flutuação com solução de açúcar e sedimentação com éter-formol a
partir de Foreyt (2011). A combinação de técnicas durante as análises teve como
objetivo diminuir os resultados falso-negativos; portanto, aumentar a acurácia
diagnóstica, principalmente em casos de baixa carga parasitária, uma vez que a
utilização combinada de várias técnicas com fundamentos distintos é indicada para
detectar infecções intestinais causadas por parasitos, considerando sua variabilidade
morfológica e biológica (MENDES, 2005).
A gravidade específica da solução de açúcar foi 1,27, sendo aferida com
hidrômetro da marca Fisher Scientific; aproximadamente 2mL de formaldeído eram
adicionados à solução, a fim de impedir o crescimento de fungos. A técnica de éter-
formol foi baseada no protocolo de Foreyt (2011), com alteração quanto ao número de
centrifugações, não tendo sido realizada a etapa de centrifugação com água. Após a
realização da técnica de sedimentação por éter-formol, a solução de flotação foi
adicionada ao tubo, completando o mesmo e, então, uma lamínula foi colocada no topo
do tubo com o intuito de que os ovos ficassem fixados na mesma; após 20 minutos, a
lamínula era sobreposta a uma lâmina para a análise sob o microscópio.
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Os ovos/oocistos e/ou larvas de parasitos encontrados foram posteriormente
identificados. Para a análise, as lâminas foram observadas em microscópios biológicos
da marca Bel Photonics, com aumentos de 40x e 100x para encontro dos ovos (oocistos
foram procurados em aumento de 400x) e então aumentos de 400x e 1000x para registro
fotográfico.
Os resultados foram expressos em valores de porcentagem total e por grupo
(prevalências) de parasito gastro-intestinal encontrado. Foi utilizado o programa
Quantitative Parasitology 3.0 (ROZSA, REICZIGEL e MAJOROS, 2000) para cálculos
de prevalência com intervalos de confiança de 95%, utilizando-se o método Sterne -
Wald (REICZIGEL, 2003).
Resultados e discussão
Foram analisadas um total de 175 amostras de fezes humanas, das quais 53
amostras foram positivas (prevalência de 30,3%; 95%IC: 23,72−37,68%). Nove
amostras do total apresentaram ovos do nematódeo Ascaris lumbricoides (5,1%;
2,60−9,61%). Foram encontrados também ovos da espécie de nematódeo Trichuris
trichiura em três amostras (1,7%; 0,47−5,02%). Seis amostras foram positivas para o
encontro do nematódeo Necator americanus (3,4%; 1,51%−7,33%). Foram também
encontrados oocistos de protozoários Giardia lamblia em 32 amostras (18,3%;
13,07−24,80%).
A prevalência total deste estudo foi superior a de Barcellos (2019), o qual obteve
a prevalência de 12,9% (95% IC; 6,65%−22,72%) com amostras coletadas também no
Centro do Rio de Janeiro. A prevalência encontrada também foi superior a encontrada
por De Jesus (2019) em sua pesquisa com amostras coletadas no bairro Glória, vizinho
ao Centro e também amostrado neste estudo, onde a prevalência encontrada foi de 26%
(95%IC: 15,55−39,92%). Os três estudos, incluindo este, utilizaram a mesma
metodologia em amostras coletadas em bairros similares, localizado no Centro e na
Zona Sul (Glória) do município do Rio de Janeiro. Assim, é provável que a região como
um todo tenha prevalências de parasitos bem similares, dado que a população e seus
hábitos em ambos os bairros provavelmente sejam semelhantes.
A intensa circulação de pessoas, principalmente em momentos de lazer e horário
comercial, configura um cenário de transmissão potencial. Apesar disso, a lavagem das
vias públicas com a água de reuso, bem como enchentes podem espalhar ovos e oocistos
e maximizar a transmissão, quando associados ao fator principal de transmissão, que é a
ausência de condições sanitárias adequadas à população em situação de rua (DE JESUS,
2019). A reunião em grupos nas ruas, dividindo os alimentos, utensílios e espaços para
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dormir pode facilitar a circulação dos enteroparasitos, como cita Gomes (2002) em seu
trabalho também envolvendo parasitoses intestinais com o mesmo público alvo.
Ascaris lumbricoides
O nematódeo Ascaris lumbricoides, vulgarmente conhecido como lombriga, é a
espécie mais bem conhecida entre os nematódeos que infectam humanos, sendo o
parasito intestinal mais frequente no mundo (CAMPOS, 2002; MACEDO, 1999). A
infecção por A. lumbricoides ocorre com frequência variada em virtude das condições
climáticas, ambientais e, principalmente, do grau de desenvolvimento socioeconômico
da população (NEVES, 2016). As prevalências elevadas de A. lumbricoides em diversos
estudos, como 42,3% em mulheres residentes de uma comunidade metropolitana do Rio
de Janeiro (COSTA-MACEDO, 1999) e 19,5% em populações de rua frequentadoras de
oito abrigos também do Rio (GOMES, 2002), estão associadas a precárias condições
sanitárias, constituindo importante indicador do estado de saúde de uma população.
Silva et al. (1997) aponta que o Brasil está inserido no grupo dos locais mais com maior
prevalência por A. lumbricoides, sendo a infecção detectada em cerca de 39% da
população. As crianças são as mais acometidas e apresentam as repercussões clínicas
mais significativas da infecção parasitária, o que pode ser observado em diversos
estudos (SILVA, 2011; INNOCENTE; OLIVEIRA; GEHRKE, 2009; MACEDO,
1999). Durante as coletas das amostras neste trabalho, diversos grupos de indivíduos em
situação de rua foram observados, porém, não foram observadas crianças com grande
frequência nos grupos.
Considerando as características principais para o estabelecimento de um ciclo e
possível transmissão de A. lumbricoides, o encontro deste parasito na população de rua
estudada já era esperado, corroborando os resultados de Gomes (2002). Este autor
utilizou amostras de fezes de 82 indivíduos em situação de rua, obtendo a alta
prevalência de 48,8%. O alto número de infectados deve ser interpretado levando-se em
conta que as amostras foram cedidas diretamente pelos indivíduos e não coletadas do
ambiente, como ocorreu neste estudo no qual a prevalência foi de 5,1%.
Fêmeas adultas de A. lumbricoides produzem cerca de 200 mil ovos por dia
(Figura 2), os quais são expelidos com as fezes na forma não embrionada, não
infectante, podendo sobreviver no solo por mais de um ano, quando em condições
adequadas. Isto mostra a grande resistência do ovo no ambiente, o que pode explicar o
fato de serem encontrados em amostras deste estudo (MASSARA, 2003; MARKELL,
JOHN e KROTOSKI, 2003).
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Além da resistência, ovos de A. lumbricoides possuem grande capacidade de
aderência a superfícies, representando um fator importante na transmissão do parasito
(MASSARA, 2001). Uma vez presente no ambiente, estes ovos não são removidos com
facilidade por lavagens. Segundo Massara (2003), ovos de A. lumbricoides são
resistentes a diversos fatores terapêuticos (MASSARA, 1988; MASSARA et al., 1991),
químicos (PESSOA e MARTINS, 1982) e ambientais (GOULART et al., 1985). Eles
têm sido encontrados em resíduos de esgotos, mesmo após o tratamento (AMARAL e
LEAL, 1940; GOULART et al., 1984), em sanitários de escolas públicas (COELHO et
al., 1999), em cédulas monetárias (LEVAI et al., 1986) e em chupetas (PEDROSO,
1997). Esses dados mostram a amplitude do problema da contaminação ambiental por
ovos de A. lumbricoides. A cápsula espessa do ovo, em razão de sua membrana
mamilonada, facilita a aderência a superfícies; já a última camada e sua constituição
proteica confere grande resistência a condições adversas do ambiente (CIMERMAN,
2005; NEVES, 2016; MARKELL, JOHN e KROTOSKI, 2003).
Figura 2. Ovo fértil de Ascaris lumbricoides observado com o aumento de 100x. Fonte:
o próprio.
A resistência dos ovos associada à ausência de saneamento básico maximiza a
transmissão desse parasito, tendo em vista que ocorre através da ingestão de água e
alimentos contaminados. A população em situação de rua está em contato direto com o
ambiente possivelmente contaminado, com as mãos no chão e em seguida na boca e,
muitas vezes, em contato com alimentos que já estiveram em lixeiras.
Trichuris trichiura
T. trichiura é um nematódeo que causa a tricurose em humanos, sendo
transmitido pela via fecal-oral, através da ingestão de água ou alimentos contaminados;
as crianças as mais comumente infectadas (NEVES, 2016). As larvas escapam da casca
do ovo embrionado e na porção superior do intestino delgado penetram nas vilosidades
intestinais, lá permanecendo de três a dez dias, onde sofrem mudas até chegarem no
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ceco e no colo ascendente; as larvas atingem a maturidade sexual e iniciam a postura de
ovos entre um a três meses após a infecção do hospedeiro, podendo viver por até 20
anos (GOULART e LEITE, 1978; VERONESI e FOCACCIA, 2005).
O ovo de Trichuris trichiura possui sua casca formada por três camadas
distintas, as quais favorecem a resistência destes ovos a fatores ambientais (Figura 3;
NEVES 2016; CIMERMAN, 2005). Em condições ambientais favoráveis, os ovos de T.
trichiura contendo as larvas infectantes podem permanecer viáveis por cerca de duas a
três semanas, assim como os ovos de Ascaris lumbricoides, o que explica o fato de
terem sido encontrados em amostras coletadas diretamente do ambiente neste estudo
(SILVA et al., 1991).
Figura 3. Ovo de Trichuris trichiura, observado com aumento de 400×. Note seu
formato elíptico característico com poros salientes e transparentes em ambas as
extremidades, preenchidos por material lipídico. Fonte: o próprio.
Neste trabalho foi encontrada uma prevalência baixa de T. trichiura (1,7%). A
infecção de T. trichiura é amplamente distribuída na população humana, variando entre
600 a 800 milhões de pessoas infectadas globalmente (NEVES, 2016). Atualmente, a
população com maior risco de adquirir a infecção por este nematódeo no Brasil vive na
periferia de centros urbanos e não em áreas rurais (NEVES, 2016). Dentre a maioria das
infecções ocasionadas por helmintos, Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura são os
parasitos mais frequentes, sendo comum existir associação de infecção entre eles, uma
vez que as condições exigidas para o desenvolvimento dos ovos de ambas as espécies
são semelhantes, principalmente quando se encontram em áreas de clima quente e
regiões com saneamento básico precário (ARAÚJO e FERNANDEZ apud VIEIRA e
GOMES, 2017). Essas parasitoses possuem o mesmo mecanismo de transmissão e
podem ser evitadas a partir de medidas profiláticas em comum (VIEIRA e GOMES,
2017). Os resultados deste trabalho corroboram com relatados na literatura (VIEIRA e
GOMES, 2017; GOMES et al., 2002; QUADROS et al., 2004; MOITINHO et al.,
2000; DE JESUS, 2019) quando afirma-se a ocorrência de infecção por A. lumbricoides
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e T. trichiura em sua maioria; contudo não foram observadas neste estudo amostras
poliparasitadas por ambas.
A prevalência neste estudo foi baixa, confrontando resultados obtidos por
Gomes (2002), que obteve a prevalência de 32,9% com indivíduos em situação de rua
no Rio de Janeiro, com os resultados de Silva (2017), o qual encontrou prevalência de
36% dos casos de vítimas de parasitoses no Rio Grande do Sul e com o estudo de
PIMENTEL et al. (2002) com moradores do entorno do Aterro Sanitário de Itaoca- SG,
onde a prevalência de Trichuris trichiura encontrada foi uma das maiores (36,27%).
Contudo, os resultados de Moitinho (2000), em crianças e adultos residentes em um
núcleo habitacional de Maringá também não foram altos, com prevalência de 3,5%.
Souza (2007) encontrou ovos de helmintos em seu trabalho realizado em praças
públicas da Zona Sul do Rio de Janeiro, analisando de cinco a oito pontos de coleta,
utilizando o total de 600g de amostra de solo por praça. Como resultado, em 8 praças
analisadas todas estavam contaminadas. Neste contexto, embora a análise de fezes
coletadas diretamente do ambiente possa ter subestimado as prevalências em
decorrência da degradação de parte dos ovos, os resultados aqui encontrados estão
dentro da variação já registrada em outros estudos.
Necator Americanus
Esta espécie de parasito é uma das responsáveis pela causa da doença chamada
de ancilostomíase, conhecida popularmente como amarelão. Ovos do parasito Necator
americanus foram encontrados em três das nove áreas escolhidas durante o estudo
(Figura 4). A infecção por este parasito no homem ocorre através da pele,
principalmente pelos pés, local por onde a larva L3 penetra no organismo do hospedeiro
(MORASSUTTI et al., 2013). Isto pode ser um fator importante para explicar a
presença de ovos desse parasito nas fezes analisadas, já que a maioria das pessoas em
situação de rua costuma andar descalço ou com chinelo, mantendo os pés expostos e
muitas veze em contato direto com o solo. Ainda, como normalmente as fezes são
concentradas em determinados locais, a transmissão entre indivíduos e a reinfecção
podem ser favorecidas. Segundo Cavaliere (2019), estes parasitos podem chegar a viver
de 4 a 5 anos no interior de seu hospedeiro e, durante a vida, as fêmeas podem produzir
até 9 mil ovos por dia. Estes ovos são eliminados para o ambiente juntos com as fezes
da pessoa infectada e, no ambiente se transformam em larvas infectantes, prontas para
penetrarem pela pele de um novo hospedeiro.
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Figura 4. Ovos de Necator americanus (aumento de 40×) obtidos de fezes coletadas no
Centro da cidade do RJ entre 2018 e 2019. O ovo tem forma ovalada, casca fina e
transparente e um espaço largo e claro entre a casca e o conteúdo dos ovos. Fonte: o
próprio.
O número de amostras positivas com N. americanus encontradas neste trabalho
foi similar ao encontrado no trabalho de Gomes et al. (2002), que verificou a ocorrência
de helmintos intestinais em população de rua presente em abrigos da cidade do Rio de
Janeiro. De 82 amostras analisadas no trabalho de Gomes, 07 foram positivas para ovos
de ancilostomídeos. Segundo (VALENTE, 2013), a espécie N. americanus é a espécie
mais distribuída no mundo, incluindo as regiões da América Central e do Sul. Logo, é
comum que a presença dos ovos deste parasito seja uma das mais altas nos diferentes
trabalhos feitos através de amostras de fezes.
Giardia lamblia
Giardia lamblia é um protozoário pertencente a ordem Diplomonadida e gênero
Giardia, o qual é constituído por seis espécies; destas, apenas G. lamblia (também
designada como G. intestinalis ou G. duodenalis) pode infetar os seres humanos
(LOPEZ-ROMERO, 2015; CRAVO, 2016), tornando-se o agente causador da giardíase.
Neste estudo, foram observados cistos da espécie (Figura 5). A parede cística os torna
resistentes a certas variações de temperatura e umidade e também à ação de produtos
químicos empregados como desinfetantes. Internamente, no citoplasma, podem ser
visualizados dois ou quatro núcleos (REY, 2002; NEVES, 2016; MARKELL, JOHN e
KROTOSKI, 2003). A resistência dos oocistos é comprovada com a observação dos
mesmos neste estudo, tendo em vista que foram provenientes de amostras humanas
coletadas diretamente do ambiente.
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Figura 5. Cisto de Giardia lamblia, observado com a objetiva de 1000x, o qual
apresenta uma parede externa glicoproteica com espessura que varia de 0,3 a 0,5 μm,
conferindo resistência ao mesmo. Fonte: o próprio.
Ainda hoje, dentre os principais parasitos intestinais que infectam o homem, o
protozoário Giardia destaca-se como um dos mais frequentemente observados nos
exames parasitológicos em diferentes regiões do mundo, especialmente em países em
desenvolvimento, onde a prevalência pode chegar a 50% (CRAVO, 2016; NEVES,
2016). Além disso, é comumente encontrado em regiões de clima temperado, mas com
prevalências normalmente mais baixas (ANDRADE et al., 2016). A incidência mundial
provavelmente está em torno de 500.000 casos por ano (REY, 2002).
Populações que vivem em condições precárias em relação ao saneamento básico
são as mais afetadas por Giardia lamblia, principalmente a população infantil, as quais
são mais suscetíveis a tais infecções pelo fato de seus hábitos serem pouco higiênicos
(CARDOSO, SANTANA, AGUIAR, 1995; ZANOTTO, 2015) ou ainda não possuírem
tais hábitos consolidados, além do maior contato com o solo (G/HIWOT et al.. (2014).
Silva et al. (2010) também afirmam que a presença deste parasito é mais frequente entre
a faixa etária de 0 a 10 anos, o que pode ser um fator para justificar a baixa prevalência
dos ovos deste parasito, já que não foi contatada a presença de crianças nos grupos que
ocupavam as áreas de coleta.
A alta prevalência (70,4%) de Giardia duodenalis encontrada no estudo de
AULER et al. (2018), com crianças em idade escolar de Guarapuava - PR, pode estar
associada a provável contaminação da rede pública de abastecimento de água, visto que
este protozoário pode resistir à ação do cloro adicionado à água tratada. Com isso, era
esperado um número maior de amostras positivas neste estudo, considerando que a
população de rua tende a não ter acesso à água tratada e condições básicas de
saneamento.
Acredita-se que a prevalência deste protozoário nas amostras analisadas neste
estudo possa estar subestimada, devido a possíveis erros de identificação nas análises,
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uma vez que a detecção de cistos de protozoários é difícil quando comparados aos ovos
de helmintos, por serem menores e mais facilmente confundidos com artefatos presentes
nas amostras. Esta possibilidade pôde ser analisada posteriormente, já que novas
amostras foram coletadas e analisadas para a área de estudo. Com isso, as prevalências
de G. lamblia na população em situação de rua provavelmente são maiores do que as
encontradas nesta amostragem, como relatado por Barcellos (2019) e De Jesus (2019)
em seus estudos.
Conclusão
Este trabalho constata a circulação de parasitos intestinais na região do Centro
do Rio de Janeiro e alerta para a necessidade da adoção de medidas para o tratamento
destas pessoas, bem como de descontaminação das áreas públicas.
O uso de fezes coletadas diretamente do ambiente pode ter subestimado as
prevalências dos parasitos, uma vez que pelo menos parte dos ovos/oocistos pode ter se
degradado até o momento da coleta (MACEDO, 2010; BARCELLOS, 2019; DE
JESUS, 2019). No entanto, na impossibilidade de realizar um estudo com fezes frescas
coletadas e fornecidas diretamente pelos hospedeiros, este método mostrou-se viável
para estudos parasitológicos, eficaz na detecção da presença de parasitos no ambiente e,
portanto, do risco de transmissão para a população em geral que circula pelo Centro do
Rio de Janeiro, embora os próprios moradores de rua sejam os mais expostos a estes
parasitos. Embora as prevalências possam ser subestimadas, para minimizar este
problema, pode-se coletar um número maior de amostras, por um tempo maior nas áreas
amostradas, aumentando assim a precisão, acurácia e confiabilidade dos resultados
obtidos.
A prevalência de parasitos neste estudo também pode ser considerada baixa
quando relacionada à faixa etária da população em situação de rua estudada, tendo em
vista que raramente foi constatada a presença de crianças nos locais de coleta, como
observado por Barcellos (2019) e De Jesus (2019) em seus respectivos estudos em
regiões similares. As crianças são as principais vítimas dos parasitos intestinais,
sobretudo em menores de 5 anos (FERREIRA, 2014; FONTBONNE et al., 2001;
VASCONCELOS et al., 2011).
A fim de controlar e/ou cessar os casos de infecções gerados por esses parasitos,
inicialmente seria preciso que as pessoas em situação de rua fossem levadas a pontos de
acolhimento, onde seriam identificadas e receberiam cuidados básicos, como
alimentação de qualidade e água tratada, livre da presença de ovos de parasitos. Além
disso, é necessário que todas essas pessoas possam ter o acompanhamento de médicos
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habilitados com o intuito de saber o real estado de saúde de cada indivíduo e,
posteriormente, ministrados medicamentos para a eliminação dos parasitos.
Não foi possível observar um número considerável de projetos com populações
em situação de rua na literatura, mesmo representando um alto potencial de
contaminação, não só para o grupo em si, como também para todos os que circulam
nesses grandes centros urbanos. Independente das limitações encontradas ao longo deste
estudo, este mostrou a circulação de importantes parasitos no ambiente e, portanto,
chama a atenção para a necessidade de medidas de profilaxia e remediação, tanto para a
desinfecção da população, quanto do ambiente. Idealmente, estas medidas devem ser
realizadas concomitantemente ao monitoramento contínuo do ambiente e das pessoas
em situação de rua para a presença de parasitos.
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“ESSE QUERER DO CUIDAR, DO PRESERVAR PARA O FUTURO E PARA A
GENTE TAMBÉM”: IMPLEMENTAÇÃO DE UMA PROPOSTA
EDUCACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Lucia Helena Varela Neves1, Cecília Bueno1 & Natalie Olifiers1
1Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente, Universidade Veiga de Almeida (UVA), Rua
Ibituruna, 108, Rio de Janeiro, 20271-020, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: A educação ambiental torna-se relevante para o meio ambiente devido a relação predatória do homem com a natureza. Refletir sobre a necessidade de transformar o paradigma de exploração dos sistemas e seus serviços, como se fossem renováveis indefinidamente, é papel também da escola, pois neste ambiente se aprende a trabalhar e a pensar alternativas em torno das questões ambientais. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é implementar um projeto educacional transdisciplinar voltado ao meio ambiente, estimulando nas e nos estudantes uma compreensão dos problemas existentes, de suas responsabilidades e do seu papel crítico como cidadãos, desenvolvendo as competências e valores necessários para a condução de uma postura diferenciada que leve em conta o equilíbrio entre necessidade e consumo. Foi desenvolvida abordagem predominantemente qualitativa com utilização de metodologia de pesquisa-ação, cujo foco é colocado na investigação da possibilidade de encontrar multiplicadores de atitudes sustentáveis, concentrando-se na observação do trabalho implementado junto a quatro turmas de terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Brigadeiro Newton Braga. Para tal, utilizaram-se inúmeras atividades direcionadas, tais como: oficinas, palestras de especialistas, discussões de casos, debates, aulas de campo e rodas de conversa, objetivando descrever e testar metodologias de ensino utilizadas para a sensibilização dos/as estudantes sobre questões ambientais, estimulando assim a construção de um comportamento consciente, crítico e responsável para conservação do meio ambiente. Verificou-se que dentre todas as atividades desenvolvidas, as oficinas pedagógicas e aulas de campo, foram as metodologias mais significativas favorecendo uma postura ativa dos/as estudantes, estimulando maior participação e envolvimento na construção de aprendizagem. Observou-se que ao tornarem-se protagonistas, aumentaram a conscientização do sentimento de pertencimento da natureza, gerando multiplicadores de atitudes sustentáveis. Conclui-se, então, que essas estratégias de ensino podem ser uns dos caminhos para se trabalhar a Educação Ambiental. Palavras-chave: Educação Ambiental, Sustentabilidade, Transdisciplinaridade, Ensino Médio.
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Introdução
O planeta Terra está diante de uma expressiva devastação de ecossistemas
naturais devido à relação predatória do homem com a natureza. Os recursos naturais
vêm sendo explorados como se fossem ilimitados e disponíveis a todo o momento,
trazendo como consequência os problemas ambientais. Por isso, a população humana,
como parte da natureza, deve buscar maneiras e instrumentos adequados de utilizar os
recursos naturais para suprir suas necessidades atuais, sem comprometer a capacidade
de atender as necessidades das gerações futuras, isto é, ir ao encontro do
desenvolvimento sustentável (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO /CMMAD, 1991).
A origem desse cenário caótico remonta ao século XVIII, no início da
Revolução Industrial (SANTOS, 1996). A partir de um processo simultâneo de
desenvolvimento tecnológico e da utilização indiscriminada dos recursos naturais,
geridos como se fossem infindáveis, ocorreu uma grande transformação da paisagem
natural, que foi sendo modificada em função das necessidades da acumulação
capitalista.
Ao longo dos séculos XX e XXI, a escassez dos recursos hídricos, telúricos e
atmosféricos, as mudanças climáticas, os prejuízos à biodiversidade cada vez mais
intensificados pela ação humana (Nascimento; Campos, 2011) são alguns dos impactos
negativos que aparecem como elementos de um contexto assustador, promovendo a
discussão tanto de suas causas quanto do seu enfrentamento.
Por isso, pensar a prática educacional no presente momento é um imperativo
imposto pela realidade em que vivemos, tornando-se imprescindível a realização de
projetos de Educação Ambiental com uma abordagem transdisciplinar direcionada para
a resolução de problemas, contribuindo para o envolvimento ativo de todas e todos os
estudantes, permitindo que o processo educacional se torne mais prático e significativo,
estabelecendo uma maior interdependência entre e o ambiente natural e social (FREIRE,
2011).
Dessa forma, a abordagem do meio ambiente na escola passa a ter um papel
articulador dos conhecimentos nas diversas disciplinas, num contexto em que os
conteúdos são ressignificados (Jacobi, 1998), elucidados de forma transdisciplinar, não
se limitando ao espaço escolar. O ideal é que o fazer pedagógico não se restrinja a um
único caminho, mas faça o entrelaçamento de várias estratégias que mais demonstrem
serem adequados a se alcançar os objetivos pretendidos.
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Acredita-se que essa sensibilização possa estimular a preservação ambiental,
incentivando os/as estudantes a reconhecerem a importância dos recursos naturais,
despertando neles/as a promoção de hábitos saudáveis e cuidado com o meio ambiente.
Assim, torna-se imprescindível para o desenvolvimento da consciência
ambiental, buscar práticas e estratégias que estimulem a participação ativa dos/as
estudantes, nas mudanças de valores, habilidades, atitudes, posturas críticas para que
eles/as e as futuras gerações usufruam o meio ambiente, de forma sustentável
(UNESCO, 1997).
Diante dos fatos expostos acima, foi implementado o projeto de pesquisa,
batizado de: “Esse querer do cuidar, do preservar para o futuro e para a gente
também”: implementação de uma proposta educacional para a conservação do meio
ambiente, a partir de uma fala de um dos estudantes em uma roda de conversa. A
proposta de intervenção foi desenvolvida no chão da escola, contribuindo para criar nas
novas gerações a consciência crítica e a necessidade de mudanças de valores e posturas
perante a situação que vem sendo construída.
A partir dessa perspectiva, uma série de práticas pedagógicas com os/as
estudantes das quatro turmas de terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Brigadeiro
Newton Braga, explicitando as etapas de construção e operacionalização, durante o ano
letivo. Tal propósito insere o presente estudo na pesquisa de intervenção, cujo foco é
colocado na investigação da possibilidade de estimular nos/nas estudantes, a
consciência crítica diante dos problemas socioambientais e transformá-los/as em
agentes multiplicadores para toda comunidade escolar.
Freire (1992) chamava a atenção para o diálogo, buscando um novo caminho
para o educador que se pretende trilhar seus ensinamentos em uma construção coletiva,
lendo o mundo a partir de leituras conjuntas, como práxis libertadoras dos sujeitos.
Assim, esta pesquisa teve como escopo atividades desenvolvida tanto no espaço escolar
quanto no ambiente natural1, empregando estratégias interativas e diversificadas.
Dessa forma, oportuniza-se uma educação dialógica, onde os "conhecimentos do
mundo" entrelaçam-se aos "conhecimentos científicos" por meio da pesquisa. O
professor assume, nessa proposta educativa, uma postura dinâmica, levando os
estudantes a exporem seus posicionamentos, ficando evidente o sentido da Educação
Ambiental (NUNES et al., 2003).
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi implementar um projeto
educacional transdisciplinar voltado ao meio ambiente, testando metodologias de ensino
1 Entendo por ambiente natural os locais onde foram realizadas as visitas técnicas orientadas fora
da escola, tais como: Restinga da Marambaia e Arboreto Jardim Botânico.
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utilizadas para a sensibilização dos/as estudantes sobre questões ambientais,
estimulando assim a construção de um comportamento consciente, crítico e responsável
para conservação do meio ambiente, de suas responsabilidades e do seu papel crítico
como cidadãos.
Procedimentos Metodológicos
O presente estudo é uma pesquisa de intervenção no Colégio Brigadeiro Newton
Braga (CBNB), situado na Ilha do Governador, no município do Rio de Janeiro-RJ. É
uma escola assistencialista do Comando da Aeronáutica, fundada em 1959, com
aproximadamente 1500 alunos, que cursam o Ensino Fundamental e Médio. Em
princípio, o colégio surgiu com o objetivo de educar e formar os filhos dos civis e dos
militares da Força Aérea Brasileira. Atualmente, o corpo discente é formado por alunos
oriundos de concurso público; filhos de militares e civis do Comando da Aeronáutica; e
crianças e adolescentes das comunidades próximas, que ocupam as vagas
remanescentes, na sua grande maioria, de famílias de classe média, classe média baixa e
classe trabalhadora da Zona Norte da cidade.
A pesquisa, ao longo do ano letivo de 2018, concentrou-se na observação do
trabalho implementado junto às quatro turmas de terceiro ano do EM faixa etária de 18
a 20 anos, totalizando 120 estudantes, em fase terminal do Ensino Básico. Para melhor
entender os participantes, cabe lembrar que, em sua grande maioria, vislumbram
possibilidades de entrar em uma universidade através do ENEM ou ingressar na carreira
militar. Além disso, possuem carga horária integral, com pouco tempo livre para se
envolverem em projetos.
O caminho escolhido foi uma abordagem qualitativa com a utilização da
metodologia de pesquisa-ação, cujo foco é colocado na investigação de uma
possibilidade de encontrar multiplicadores de atitudes sustentáveis, associando-se a ação
com atividade de pesquisa e pressupõe que os envolvidos sejam sujeitos ativos em todo
desenvolvimento (TOZONI-REIS, 2008), utilizando-se estudo de caso (Yin, 2005), de
caráter interpretativo, valorizando as manifestações, intervenções, observações,
interpretações, produções, criatividades e descrições de relatos durante o
desenvolvimento dos procedimentos metodológicos, combinando-se a utilização de
questionários estruturados e padronizados com justificativas opcionais considerando-se
fundamentais para a obtenção dos dados e resultados.
Os questionários foram realizados com o consentimento dos/as
estudantes/monitores, aprovados pelo Comité de Ética, contendo itens objetivos a fim
de facilitar as respostas, e também, questões com justificativas para que eles/as
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pudessem se posicionar com maior liberdade de expressão, possibilitando informações
adicionais e espontaneamente relatadas. Esclareceu-se que não haveria identificação e,
por isso, eles poderiam responder de maneira livre, sem constrangimentos ou inibições.
Por ser aplicado pela pesquisadora durante as rodas de conversa, o processo foi
enriquecido com a observação do comportamento dos/as estudantes na hora da
aplicação, com a finalidade de perceber quaisquer reações.
Para tal, utilizaram-se inúmeras atividades direcionadas, tais como: oficinas,
palestras de especialistas, discussões de casos, debates, aulas de campo, rodas de
conversa e feira de artesanato. Cada etapa de intervenção foi registrada e as
transformações atitudinais dos discentes observadas durante pesquisa a partir de rodas
de conversa e avaliações participativas.
Neste sentido a EA precisa ser trabalhada na escola por meio de metodologias
motivadoras e que envolva os estudantes com a temática discutida. De acordo com
Freire (1997), os processos educativos devem ser dinâmicos e precisam estimular a
criatividade dos estudantes.
Pesquisas empregando intervenções diversificadas costumam gerar enorme
quantidade de dados. Tal aspecto leva a fazer escolhas quanto ao material a ser
focalizado e discutido e àquele que figurará apenas como pano de fundo da
investigação. Esse tipo de recorte foi feito a partir das respostas dos estudantes onde na
primeira pergunta do primeiro questionário, pediu-se para escolher as duas intervenções
mais motivadoras e as apontadas por eles/as foram as oficinas pedagógicas e as aulas de
campo, por isso essas foram priorizadas para análise de dados e resultados.
As oficinas foram desenvolvidas nos 2 Laboratórios de Biologia do Colégio
Brigadeiro Newton Braga, onde a existência de mesas redondas agregou um
conhecimento circular a cada uma das oficinas propostas. Foram realizadas sete
oficinas, na Semana do Meio Ambiente e seis na Feira de Cultura:
Semana do Meio Ambiente
Oficina 1: “Fermentação: os microrganismos são sempre prejudiciais?”
Oficina 2: “Dando luz ao mundo dos insetos: vagalumes”
Oficina 3: “Produtos de limpeza sustentáveis: limpando de maneira diferente”
Oficina 4: “Terra: planeta água”
Oficina 5: “Plantas medicinais: a farmácia natural”
Oficina 6: “Erosão: a importância dos vegetais”
Oficina 7: “Plantas Carnívoras: as armadilhas da natureza”
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Feira de Cultura
Oficina 8: “Lixo: caminho para sustentabilidade”
Oficina 9: “Impactos da humanidade no meio ambiente”
Oficina 10: “Alimentação Saudável e Sustentável”
Oficina 11: “Biochef”
Oficina 12: “Mundo dos Insetos: baratas de Madagascar”
Oficina 13: “Planeta Animal”
No momento de culminância das oficinas, convidou-se toda comunidade escolar,
com distribuição prévia do horário em que cada série iria participar. Depois, as turmas
foram divididas em grupos menores, passando, assim, por todas as oficinas
desenvolvidas pelo/as estudantes. Cada grupo de estudantes/participantes recebeu o
material listado, seguindo as instruções dos/as monitores que são estudantes do 3º ano
do Ensino Médio, que já passaram por essas oficinas em anos anteriores.
Para averiguar a efetividade das oficinas, foi elaborado um questionário aplicado
aos estudantes responsáveis pelas oficinas antes e após a realização dessas, onde foram
feitas perguntas associadas diretamente com os temas desenvolvidos nas oficinas
pedagógicas.
Quanto às aulas de campo, num primeiro momento, foram desenvolvidas aulas e
atividades partilhadas no CBNB pelas professoras de História e Biologia, tais como:
projeções de vídeos, debates, registros e evolução histórica, caracterização dos fatores
bióticos e abióticos e comparação da visão histórica com a biológica dos diferentes
locais.
As aulas de campo subsequentes foram realizadas: na Restinga de Marambaia,
passando na praia da Reserva e Canal das Tachas, e no Jardim Botânico, onde no trajeto
paramos na Lagoa Rodrigues de Freitas, todos locais situados no município do Rio de
Janeiro. Escolheram-se dois tipos de ambientes naturais: preservados e degradados,
levando em conta que a observação de ambientes antagônicos poderia facilitar a
sensibilização do alunado diante da devastação da paisagem, consolidar os
conhecimentos teóricos construídos em sala de aula e estabelecer uma relação mais
próxima e um maior engajamento a respeito de temas socioambientais. Nesta proposta
ocorre uma imersão no ambiente em estudo, no caso, as várias relações ambientais
(bióticas e abióticas), os registros históricos, bem como as interações com as atividades
antrópicas.
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Resultados e Discussão
No intuito de comprovar a aprendizagem foram aplicados dois questionários
semiestruturados aos 80 estudantes que participaram do projeto de pesquisa. O primeiro
questionário (Quadro 1) foi realizado no final de todas as atividades executadas com o
objetivo de testar as metodologias de ensino utilizadas que mais sensibilizaram os/as
estudantes e avaliar a construção de aprendizagem. O segundo questionário (Quadro 2)
foi aplicado antes e após as oficinas pedagógicas, onde foram feitas perguntas
associadas diretamente com os temas desenvolvidos nas oficinas pedagógicas.
Analisando o grau de aprendizagem e comparando as respostas dos/as estudantes de
uma forma geral, percebeu-se que antes da realização das oficinas, houve marcação de
29% da reposta na opção “não sei”, distribuídas nas perguntas: 1, 3, 4, 5, 6 e 7, e, além
disso, 70% dos/as estudantes deixaram em branco o espaço para justificativa que era
opcional. Após a realização das oficinas, no entanto, verificou-se que não houve
nenhuma marcação de resposta na opção “não sei” e todos/as justificaram com clareza,
com respostas bem elaboradas e com exemplos criativos e selecionados por eles/as. A
partir desses dados, conclui-se que as oficinas pedagógicas foram de grande valia, e
resultaram em aprendizagem dos/as estudantes.
Quanto ao primeiro questionário, na primeira questão (Figura 1), pediu-se para
assinalar duas atividades que os/as estudantes mais gostaram, dentre as realizadas
durante o projeto no decorrer do ano letivo. Verificou-se que as alternativas mais
assinaladas foram as oficinas pedagógicas e visitas técnicas orientadas ou aulas de
campo (99%), metodologias ativas de aprendizagem, respaldando as escolhas das
atividades feitas pela pesquisadora para análise de dados e discussão da pesquisa.
Quanto às justificativas, responderam que essas atividades favorecem maior interesse,
porque estimulam maior participação e envolvimento na construção de aprendizagem.
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Figura 1. Atividades realizadas que mais motivaram os/as estudantes do terceiro ano do
Ensino Médio do Colégio Brigadeiro Newton Braga
Fonte: Autora, 2019
Dando continuidade a análise, na terceira questão, solicitou-se o grau de
motivação dos/as estudantes do terceiro ano do EM nesse projeto educacional,
atribuindo valores de 1 a 5, sendo (1) o valor menor e (5) valor máximo. Verifica-se que
o maior grau atribuído foi o relacionamento com a professora. Esse elo é fundamental
para que haja um maior engajamento dos/as estudantes nos projetos educacionais e
como consequência melhor aprendizagem. Nas justificativas, eles/as explicaram que a
pesquisadora/professora é proativa, seu entusiasmo contagia e estimula a participação
de todos/as nas atividades propostas, enriquecendo a troca de conhecimento e
experiência, com aprendizado dinâmico e descontraído.
O segundo maior grau escolhido foi o interesse pela aprendizagem, escolha
coerente com o maior grau atribuído, o relacionamento com professora, justificado
pelos seus relatos quanto às características da educadora associado ao estímulo pela
aprendizagem com a utilização de metodologias motivadoras, contribuindo para o
envolvimento ativo de todas e todos, convertendo o sistema educativo mais vital e
realista.
Continuando a análise de dados, na quarta questão (Figura 2), abordou-se a
contribuição das oficinas pedagógicas na construção da aprendizagem. O resultado
reforça a resposta da questão anterior, a aprendizagem torna-se significativa, quando o/a
educador torna-se mediador, buscando o diálogo em uma construção coletiva (FREIRE,
1992).
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Figura 2. Respostas dos/as estudantes monitores em relação a contribuição das oficinas
pedagógicas do projeto de Educação Ambiental na construção da aprendizagem. Fonte:
Autora, 2019.
Através dessas atividades desenvolvidas, percebemos uma maior motivação e
participação dos/as estudantes, assim como, as possibilidades de reflexão sobre os
vários aspectos, envolvendo o uso dos recursos naturais. Puderam, assim, inferir que as
oficinas pedagógicas promoveram uma melhor compreensão sobre os assuntos
abordados, à medida que proporcionou aos mesmos um contato mais direto e prático.
Reforçando a escolha feita pela pesquisadora para a análise de dados, na quinta questão,
perguntou-se sobre a relação das aulas de campo com a melhoria de conscientização dos
impactos ambientais. Obteve-se um resultado concordante em 100%, em que todos/as
estudantes responderam que houve contribuição e justificaram que nos ambientes
naturais, conseguem vivenciar a aprendizagem, interiorizando através das explicações
feitas pela pesquisadora e por tudo que observaram nos ambientes antagônicos.
Dando sequência a análise de dados, na oitava questão, perguntou se aplicariam
os conhecimentos obtidos durante a realização do projeto no seu cotidiano. Um ponto
forte que pode ser destacado foi quanto à transferência de conhecimento adquirido com
o projeto para o cotidiano deles/as, resultado muito positivo, pois houve unanimidade
(100%) nas respostas de todos/as estudantes. Assim, cabe aos educadores buscar
atividades ativas, significativas e inovadoras que provoquem os/as estudantes a serem
agentes ativos em sua própria construção de conhecimento.
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Conclusões
O propósito deste trabalho foi sensibilizar os/as estudantes para a construção de
conhecimentos significativos que pudessem mudar o olhar e consequentemente, o
comportamento diante dos problemas ambientais. Para tal, descreveu-se e testaram-se
metodologias que priorizassem repensar, refletir, dialogar e contextualizar sobre
questões do meio ambiente que estavam inseridos, aumentando o sentimento de
pertencimento.
Neste trabalho desenvolveram-se discussões de casos, rodas de conversa, aulas
práticas e de campo, debates, palestras, feira de artesanato, oficinas pedagógicas, dando
lugar para que o protagonismo dos/as alunos/as associado à prática, criassem uma
atmosfera favorável para a construção de um comportamento consciente e diferenciado.
Esse processo demandou tempo, mas gerou grandes transformações na relação do
alunado entre si, com a disciplina de Biologia e com a própria professora.
Observou-se que, ao desenvolver metodologias, tornando os estudantes sujeitos
de sua prática, passando a pensar, a refletir, a dialogar, a criar e a contextualizar, ocorria
uma maior conscientização em relação ao seu papel diante do planeta, constatando-se
que houve sensibilização e aprendizado dos/as estudantes envolvidos neste trabalho,
evidenciado pelo envolvimento pessoal, participação, relatos e respostas dos
questionários.
Sendo assim, acredita-se que essas estratégias de ensino afloram nos/as
estudantes uma nova visão de preservação e valorização do meio ambiente,
possibilitando a criação de novos meios de interação socioambiental usufruindo mais
racionalmente do meio natural.
Referências
CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO (CNUMAD). Agenda 21. São Paulo: Secretaria de Estado
do Meio Ambiente, 2001.
FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação – Uma introdução
ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980, 2001.
JACOBI, P. R.; OLIVEIRA, J. F.; CASCINO, F. Educação, meio ambiente e
cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998.
_____________. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do
Oprimido. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
_____________. Pedagogia do oprimido. 17. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
_____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
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43ºed. São Paulo, Ed. Paz e Terra, 2011.
NASCIMENTO, J.L e CAMPOS, I.B. Atlas da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
Nascimento, J.L e Campos, I.B. Atlas da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção em Unidades de Conservação Federais. Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 2011. Em Unidades de Conservação
Federais, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
2011.
NUNES, A.F. et al. O uso de trilha monitorada na Educação Ambiental e conservação
ambiental In: MOSTRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UEG. PRÓ-
REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE GOIÁS, 1., 2003. Anápolis. Anais... Anápolis: Universidade
Estadual de Goiás, 2003. CD Rom.
SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São
Paulo. Hucitel. 1.996
TOZONI-REIS, M.F.C. Educação Ambiental: natureza, razão e história. 2. ed.
Campinas: Autores Associados, 2008.
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Educação Ambiental: as grandes orientações da Conferência de Tbilisi.
Brasília: IBAMA, 1997.
Yin, R. Estudo de Caso. Planejamento e Métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.
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Quadro: 1
Questionário: 1
PROJETO EDUCACIONAL: MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
Querido/a estudante conto com sua contribuição para participar dessa pesquisa.
Obrigada!!!!
Responda de acordo com o que for pedido.
1-Dentre as atividades realizadas do projeto, durante o ano letivo de 2018 no CBNB, assinale as
duas que você mais gostou? ( ) palestras ( ) feira de artesanato ( ) rodas de conversa ( )
oficinas pedagógicas ( ) debates e discussão ( ) aulas de campo. Justifique:
______________________________
2-Durante a realização das oficinas, qual o ciclo de ensino do CBNB participante que você
sentiu maior motivação? ( ) ensino fundamental l ( ) ensino fundamental ll ( ) ensino
médio
3-Observei um grande envolvimento e motivação dos/as estudantes do terceiro ano do EM nesse
projeto educacional, numere os itens abaixo, atribuindo valores de 1 á 5 de acordo com o grau
de motivação para você, sendo (1) o valor menor e (5) valor máximo. ( ) o tema ( ) a
aprendizagem ( ) a socialização ( ) pontos extra ( ) o relacionamento com a professora
4-Em relação às oficinas pedagógicas realizadas na Semana do Meio Ambiente e na Feira
Cultural, houve contribuição para construção da sua aprendizagem? ( ) sim ( ) sim,
parcialmente ( ) não ( ) não, parcialmente ( ) não observado. Justifique:______________
5-As visitas técnicas orientadas à Restinga de Marambaia e ao Arbóreo do Jardim Botânico
contribuíram para aumentar a sua conscientização em relações aos impactos ambientais? ( )
sim ( ) sim, parcialmente ( ) não ( ) não, parcialmente ( ) não observado.
Justifique:________________________
6-Qual o grau de interesse dos/as estudantes pelo tema Meio Ambiente e Sustentabilidade? ( )
elevado ( ) bom ( ) regular ( ) baixo ( ) não observado. Justifique: ________
7-Nos conteúdos das suas disciplinas os professores do CBNB abordaram conhecimentos sobre
Educação Ambiental? ( ) sim ( ) sim, parcialmente ( ) não ( ) não, parcialmente ( ) não
observado.
8-Você aplicará os conhecimentos obtidos durante a realização do projeto: Sustentabilidade, no
seu cotidiano? ( ) sim ( ) sim, parcialmente ( ) não ( ) não, parcialmente ( ) não
observado.
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Quadro: 2
Questionário: 2
O questionário abaixo foi aplicado antes e após as realizações das oficinas pedagógicas no
ano de 2019.
Querido/a estudante,
Gostaria de contar com a sua participação para responder a essa pesquisa que tem como
objetivo investigar a importância de metodologias ativas na aquisição de conhecimento no
projeto de pesquisa de Educação Ambiental.
Você não se identificará, assim, responda de maneira sincera e espontânea,
Pois não há respostas certas ou erradas.
Obrigada.
CONSIDERANDO SEU CONHECIMENTO, COLOQUE DENTRO DOS
PARÊNTESES, AO LADO DE CADA AFIRMATIVA, O NÚMERO QUE
CORRESPONDE A SUA OPINIÃO, SENDO:
(1) concordo ( 2 ) concordo em parte (3) não sei (4) discordo em parte ( 5) discordo
Justificando sua opinião.
1-Os microrganismos são prejudiciais aos seres vivos e ao meio ambiente. ( )
Justifique:__________________________________________________________________
2-O desmatamento contribui para erosão e assoreamento. ( )
Justifique:__________________________________________________________________
3-As plantas carnívoras são importantes para o equilíbrio dos ecossistemas. ( )
Justifique:__________________________________________________________________
4-Todo vegetal tem princípio ativo na cura de doenças. ( )
Justifique:__________________________________________________________________
5-Todo resíduo é lixo e tem que ser descartado em local adequado. ( )
Justifique:__________________________________________________________________
6-Os produtos de fabricação caseira trazem menos poluição ambiental do que os
industrializados. ( )
Justifique:__________________________________________________________________
7-Os vagalumes, joaninhas e esperanças são insetos encontrados no seu cotidiano. ( )
Justifique:__________________________________________________________________
8-As espécies exóticas sempre competem com as espécies nativas. ( )
Justifique:
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CONSTRUÇÃO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS PARA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
Bernardo Cavalcanti de Almeida1, Liliane Jucá Lemos da Silva Porto2 & Cleyton M. da Silva1, 3
1Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna, Nº 108, Maracanã, Rio de Janeiro, cep: 20271-020,
Brasil.
2CRN Engenharia, Diretoria, Avenida Nilo Peçanha, Nº 50, Sala 208, Rio de Janeiro, cep: 20020-906,
Brasil.
3Universidade Federal do Rio de Janeiro, Avenida Athos da Silveira Ramos, Nº 149, Bloco A, Sala 402,
Centro de Tecnologia, Cidade Universitária, Rio de Janeiro, cep: 21941-909, Brasil.
E-mail: [email protected]
Resumo: As questões ambientais tem sido cada vez mais discutidas e retratadas na modernidade, especialmente no que diz respeito ao Aquecimento Global e as Mudanças Climáticas, cujas discussões se tornaram recorrentes em vista das consequências evidenciadas pelas mudanças no clima em diferentes contextos (ambientais, sociais, políticos e econômicos). Neste âmbito, a Educação Ambiental se tornou uma necessidade para a abordagem e busca de soluções tanto para esta quanto para outras questões ambientais do mundo moderno, sendo recomendada à nível nacional pelos Parâmetros Curriculares Nacionais nos mais variados níveis de ensino. Assim, a fim de auxiliar na compreensão sobre a situação das mudanças no clima, bem como fomentar a reflexão sobre a utilização de materiais didáticos alternativos dentro de sala de aula, uma História em Quadrinhos (HQ) foi elaborada através com o auxílio de ferramenta da Web 2.0, a plataforma Pixton, uma vez que dispõe de elementos visuais que facilitam tanto a assimilação do conteúdo quanto a reflexão sobre o mesmo. Para tanto, foi escolhido como público-alvo o Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª série), com possibilidade de aplicação do material didático elaborado nas áreas de Ciências Naturais, Geografia e Meio Ambiente, muito embora não se evidencie impedimentos sobre a sua utilização nos demais níveis de ensino. Desta forma, neste artigo, faz-se possível perceber e entender a importância da utilização de materiais didáticos como forma de estimular a consciência ambiental em crianças, e oportuniza o desenvolvimento de trabalhos futuros sobre o tema. Palavras-chave: Educação, Histórias em Quadrinhos, Efeito Estufa, Educação
Ambiental.
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Introdução
A constante interação do homem com o meio em que vive, tendo sido
intensificada pelas diversas atividades que compõem os processos de urbanização e
desenvolvimento, tem promovido um acréscimo no uso dos recursos, na geração de
resíduos, poluição da água e deterioração da qualidade do ar (SILVA; ARBILLA,
2019), que consequentemente têm se constituído em grandes questões ambientais do
mundo moderno.
Outrossim, muitas das atividades antrópicas, tais como a queima de
combustíveis fósseis, mudanças no uso da terra, destinação de resíduos, agropecuária,
uso de fertilizantes e desmatamento (SILVA et al., 2019; SILVA; CORRÊA;
ARBILLA, 2016), têm contribuído para o aumento na concentração de Gases de Efeito
Estufa (GEE), elevando a temperatura média da superfície terrestre, o que pode ser
chamado de efeito estufa intensificado, levando a ocorrência do aquecimento global
O aquecimento global tem sido uma das questões ambientais mais discutidas
pela comunidade científica em todo o mundo, e isso é devido à sua criticidade e alcance,
sendo considerado um problema ambiental de escala global. Segundo o
Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), o aquecimento global, provocado
pelas elevadas concentrações de GEE, seria o principal responsável pelas mudanças no
clima do planeta, o que provocaria a intensificação de diversos fenômenos atmosféricos,
bem como outros em outras matrizes ambientais, tais como acidificação dos oceanos,
derretimento das calotas polares, elevação dos níveis dos oceanos e perda da
biodiversidade (IPCC, 2007; ARTAXO, 2014).
Jacobi et al. (2011) sugerem que as mudanças culturais e na correlação entre as
ações do cotidiano e as emissões de GEE seriam os principais desafios acerca do
entendimento das mudanças climáticas e da busca de soluções para as suas
consequências.
Neste contexto, estudos apontam a Educação Ambiental como o principal
instrumento de conscientização individual e coletiva sobre as questões ambientais,
permitindo a construção de valores e mudanças de comportamento da sociedade e
assegurando a participação integral desta na gestão ambiental (ALVES; GUTJAHR;
PONTES, 2019; SILVA, 2019).
Entretanto, a escolha de materiais didáticos que apresentem linguagem adequada
para a sensibilização dos educandos torna-se um fator de extrema importância para o
processo de ensino-aprendizagem, no que tangem à materialização dos conteúdos e
alcance dos objetivos propostos (BANDEIRA, 2009; VILLAÇA, 2009; KAMEL;
ROCQUE, 2006).
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Assim, a busca e seleção de um material didático compreendem a necessidade de
que estes apresentem demandas sociais atuais e que este desperte a curiosidade do
aluno, possibilitando a valorização de suas experiências individuais e coletivas, ainda
que fora dos muros escolares, permitindo que o aluno seja o principal agente na
construção do conhecimento. Estudos sugerem que o material didático deve ser lúdico,
entusiasmante, passível de releituras e estimulador de novas criações (CARUSO;
CARVALHO; SILVEIRA, 2002).
Kawamoto e Campos (2014) destacam, neste âmbito, o uso de Histórias em
Quadrinhos (HQ) como recurso didático, constituindo uma técnica notável do aumento
do interesse e da compreensão por parte do aluno, já que permite a associação de
ilustrações ao texto em um mesmo material
Assim sendo, o objetivo deste trabalho é compreender a elaboração de histórias
em quadrinhos como material didático para Educação Ambiental (EA), com o uso de
ferramentas da plataforma Web 2.0.
Materiais e Métodos
Escolha do tema para Educação Ambiental
A Terra é aquecida pela energia proveniente da luz do Sol. Segundo Silva
(2012), de 100% da radiação que incide sobre o planeta, apenas 51% alcança a
superfície terrestre, aquecendo-a. Tal qual demonstrado na Figura 1, que representa um
diagrama do balanço energético na Terra.
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Figura 1. Diagrama esquemático do balanço energético na Terra. Fonte: Adaptada de
Martins, Pereira e Echer (2004).
Uma vez aquecida, a superfície terrestre emite energia na forma de calor, sendo
cerca de 15 % desta absorvida por gases, os Gases de Efeito Estufa (GEE), retornando
posteriormente à superfície e à atmosfera ainda por meio de calor. A este processo de
balanço energético e absorção de calor, denomina-se Efeito Estufa, sendo este o
responsável pela manutenção da temperatura média da Terra.
O aumento nas concentrações de GEE, que se correlaciona a diversas atividades
antrópicas, sobretudo a queima de combustíveis fósseis, agropecuária, desmatamento e
produção e destinação de resíduos (MOREIRA JÚNIOR et al., 2017), resulta em uma
maior quantidade de calor absorvido, intensificando o efeito estufa, e aumentando a
temperatura média do planeta, o aquecimento global.
Estudos sugerem que nos últimos 100 anos a temperatura média da Terra tem
sido elevada para além da sua normalidade, tendo como consequência a variação na
troca de energia e umidade entre os diferentes meios, sendo estes fatores determinantes
para a observação de variações no clima regional e global (IPCC, 2007; ARTAXO,
2014; OLIVEIRA; ALVES, 2014; RAMOS et al., 2008).
As alterações de energia e umidade em diferentes meios resultam perturbações
no ciclo hidrológico do planeta, elevação no nível dos oceanos, redução da
disponibilidade de água para o consumo, desequilíbrio ecossistêmico, perda de
biodiversidade, desertificação, transtornos na agricultura, deslocamento de culturas,
impactos à saúde e ao bem-estar, entre outros (IPCC, 2007; PINTO et al., 2010;
JACOBI et al., 2015).
Assim, Silva (2019) aponta as mudanças climáticas como um dos grandes
problemas ambientais enfrentado pela sociedade na atualidade, indicando a necessidade
de tratativa deste tema por meio da EA.
A abordagem das mudanças climáticas como um tema transversal de EA
possibilita a discussão e a reflexão, bem como o questionamento e a proposição de
soluções para os problemas referentes às mudanças do clima.
Construção de Histórias em Quadrinhos (HQs) por meio de ferramentas da Web 2.0
Estudos indicam que os materiais de cunho didático devem permitir uma
abordagem o mais concreta e contextualizada possível, devendo ser capaz de provocar
ou garantir a necessária interatividade do processo ensino-aprendizagem através de uma
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linguagem dialógica que torne a sua leitura e compreensão leve e motivadora, sendo
assim, eficientes em seus propósitos (SALLES, 2005)
Na prática da Educação Ambiental, Rodrigues e Colesanti (2008) destacam que
a compreensão da responsabilidade da sociedade sobre o meio ambiente seria
propulsada por meio de conteúdo visual que, quando presente em um dado material
didático possa auxiliar na intervenção docente no sentido da construção do
conhecimento de modo participativo e emancipatório.
Neste contexto, as Histórias em Quadrinhos (HQs), que apresentam textos
acompanhados de ilustrações, permitem que os alunos melhor se apropriem dos
assuntos e histórias quando estes são retratados em seu cotidiano de forma interativa,
possibilitando novas modalidades de assimilação de conteúdo, reflexão e mudanças de
comportamento (LISBÔA; JUNQUEIRA; DEL PINO, 2008).
A utilização de HQs para a transmissão de informação já é realizada por jornais
há mais de um século, no entanto, até então a sua construção exigia habilidade de seus
criadores, e os recursos para a edição de imagens eram limitados. Com o advento da
Web 2.0, a construção e utilização de HQs tiveram as suas perspectivas ampliadas com
o desenvolvimento de suportes que permitam uma maior democracia no processo de
construção de HQs (NICOLAU; MAGALHÃES, 2010).
Neste cenário, muitos sites têm desenvolvido softwares e ambientes virtuais de
trabalho que permitem a seus usuários criar as suas próprias HQs de maneira simples,
rápida e objetiva, tais como o StripGenerator, ToonLet, ToonDoo, StripCreator e o
PixTon (NICOLAU; MAGALHÃES, 2010).
Dentre os citados, destaca-se o PixTon ou PixTon Comic, que se trata de um
aplicativo da Web 2.0, com suporte em português e que permite a criação de HQs com
bandas desenhadas e digitais, de forma rápida e gratuita, através de ferramentas como,
por exemplo, arrastar e soltar (ANTUNES; GIL, 2016; NICOLAU; MAGALHÃES,
2010).
O PixTon está disponível, em modalidades gratuita e não-gratuita, e se baseia
em um sistema de drag-and-drop totalmente online, que dispõe personagens, cenários,
adereços e balões de fala dentro de um conjunto de painéis, não requisitando que os
usuários da plataforma possuam habilidades consideráveis na área da arte ou do desenho
(CARVALHO, 2014). Em continuidade, PixTon, funciona nos principais navegadores
de internet (Internet Explorer e Google Chrome) e plataformas modernas (MAC,
Windows, Chromebooks, Linux, iOS e Android), e pode ser utilizado como ferramenta
de fácil acesso para a construção de material didático e pedagógico, uma vez que os
recursos para a utilização desta são consideradas de fácil aquisição.
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Deste modo, para este trabalho, utilizou-se o PixTon para a elaboração de um
material didático a ser utilizado como ferramenta para uma abordagem mais
contextualizada na Educação Ambiental, sobretudo no que diz respeito ao Aquecimento
Global e às Mudanças Climáticas.
Resultados e Discussão
A elaboração e construção de HQs para abordagem e contextualização do tema
Mudanças Climáticas foram planejadas tendo em vista os Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) com a
possibilidade de aplicação nas áreas de Ciências Naturais, Geografia e Meio Ambiente
(BRASIL, 1998a; BRASIL, 1998b; BRASIL, 1998c), em que a abordagem do tema
poderia contribuir para o desenvolvimento emancipatório e crítico do aluno (BRASIL,
1998a)
Após a escolha do tema, uma história e um enredo foram elaboradas, para que
posteriormente estes pudessem ser ilustrados e narrados por meio de uma HQ por meio
de acesso e utilização do PixTon no endereço eletrônico http://www.pixton.com/br/, e
através de uma conta gratuita.
A ideia desenvolvida conta a história de uma criança que, após assistir uma aula
sobre Efeito Estufa e Mudanças Climáticas, vislumbra e enfrenta, em seus sonhos mais
profundos diversas situações decorrentes das consequências das Mudanças Climáticas,
tais como variações extremas de temperatura, desertificação, escassez de água e
intensificação de fenômenos atmosféricos.
A história tem o seu término com o despertar da criança, em um momentâneo
alívio após perceber se tratar de um pesadelo, porém diante da frustração e tristeza ao
entender que muitas dessas consequências já estão a acontecer na realidade.
Sob um olhar mais crítico, a construção da HQ pode ser dividida e observada em
quatro conjuntos distintos, cada qual representando uma figura com uma sequenciação
de quadrinhos, como pode ser vista na Figura 2, Figura 3, Figura 4 (subdividida em
Figura 4a e Figura 4b) e Figura 5.
A visualização da HQ na íntegra e com melhor resolução pode ser feita através
da plataforma Pixton no link https://pixton.com/hq:jslcxxbi.
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Figura 2. A inserção do leitor no contexto da HQ. Fonte: Os autores.
No primeiro conjunto de quadrinhos, apresentado na Figura 2, a história se
assemelha a realidade tal como ela é, de modo a fazer com que o leitor seja capaz de se
enxergar no lugar do personagem e de interligar os fatos que se seguem com a sua
realidade.
Neste sentido, para que o educando se conecte à história, ele precisa se sentir
representado e desenvolver uma espécie de vínculo com o contexto retratado nos
quadrinhos, o que lhe permite entender melhor a narrativa da história, possibilitando um
avanço na construção de sua identidade.
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Figura 3. Levantamento dos temas. Fonte: Os autores.
No segundo conjunto, na Figura 3, buscou-se tratar dos temas intrínsecos ao
entendimento da HQ, tais como Efeito Estufa, Aquecimento Global e Mudanças
Climáticas, utilizando-se de linguagem simples e ilustrações para facilitar o
entendimento do leitor acerca do tema.
Diante da figura de um professor conversacional e de uma aula interativa
fazendo uso de um laptop, no qual todas as crianças se mantiveram atentas a explicação
e confortáveis com a didática aplicada (conforme demonstrado no sexto e último
quadrinhos da Figura 3), o leitor pode associar a ludicidade da aula à aprendizagem dos
alunos.
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Ao optar pelo lúdico, o educador, principalmente na Educação Infantil,
possibilita que a criança se sinta disposta a participar das atividades escolares e a
perpassar seus conhecimentos a outrem.
Figura 4a. O primeiro acesso a ludicidade dos temas. Fonte: Os autores.
Com o terceiro conjunto (Figura 4a e Figura 4b), na Figura 4a há uma transição
do real para o imaginário, a qual acontece de forma lúdica e minuciosa a fim de que o
leitor adentre no imaginário do personagem e perceba os pormenores dos temas
discutidos.
No momento após a transição, o qual ocorre imediatamente após a abertura dos
olhos do personagem, o entendimento da história é passível de seguir por um caminho
diferente do proposto, isto é, em vez do leitor compreender que o personagem está
sonhando, ele pode deduzir que o personagem tenha de fato despertado, o que em nada
impede o transcorrer da história.
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Desta forma, já dentro do imaginário do personagem, as consequências das
Mudanças Climáticas surgem paulatinamente dentro de sua rotina, o que pode ser
observado em continuidade na Figura 4b.
Figura 4b. A ludicidade das consequências das Mudanças Climáticas. Fonte: Os
autores.
Em sequência à Figura 4a, a Figura 4b evidencia as consequências das
Mudanças Climáticas de forma crítica e surrealista, perpassando por todo o trajeto
concernente à rotina do personagem até a escola.
No imaginário do personagem, os quadrinhos começam na Figura 4a com a
ausência de água e na Figura 4b apresentam-se outras consequências, como aumento da
temperatura, desertificação, tempestades, inundação, frio intenso e instabilidade
climática.
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A imagem que se pretende passar com o personagem dando continuidade ao seu
trajeto, mesmo diante dos mais variados intempéries, trata-se de um aluno com foco e
determinação para aprender.
Figura 5. Reflexão acerca das Mudanças Climáticas na realidade. Fonte: Os autores.
No último conjunto, a Figura 5 remete o leitor a reflexão, uma vez que nos três
últimos quadrinhos, o personagem, ao acordar do pesadelo e perceber que os
acontecimentos por ele vividos não estavam apenas no seu imaginário, permite que o
leitor assimile as consequências das Mudanças Climáticas e faça as devidas
comparações com a realidade.
Além disso, tal constatação possibilita ao leitor a percepção de que as ações
antrópicas são responsáveis pelas Mudanças Climáticas e, embora as consequências das
Mudanças Climáticas não estejam na mesma escala do apresentado na HQ, viabiliza a
associação dos acontecimentos da HQ com os acontecimentos da realidade.
Conclusões
As questões ambientais têm ganhado notoriedade no mundo contemporâneo, e
dentre elas se destacam as Mudanças Climáticas, sendo estas decorrentes das atividades
antrópicas, sobretudo daquelas que promovem o aumento das emissões de gases de
efeito estufa e o consequente aquecimento global.
Neste contexto, este trabalho contribuiu com a discussão acerca da relevância da
Educação Ambiental na tratativa destas questões, bem como no processo de seleção e
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construção de recursos didáticos alternativos lúdicos e de linguagem simples, tais como
a elaboração de Histórias em Quadrinhos por meio de ferramentas da Web 2.0, a
plataforma Pixton, com o intuito de abordagem do tema das Mudanças Climáticas.
Diante da importância da utilização de um material didático, a História em
Quadrinhos retratada neste artigo serve a seu propósito, e fomenta o desenvolvimento
de trabalhos futuros acerca da temática.
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elaboração de uma cartilha educativa socioambiental e suas possíveis aplicações na
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JOGO DIDÁTICO DEFESA EM AÇÃO: UM RECURSO PARA DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA E EDUCAÇÃO EM REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES
Joanna Mendes de Oliveira1, Lívia Maria Ferreira Barcellos1, Pollyanna Soares Liberatori Batista1 &
Viviane Japiassú Viana2
1Universidade Veiga de Almeida – UVA, Discente de Engenharia Ambiental, integrante do Projeto de
Pesquisa e Extensão “Que chuva é essa?”
2Universidade Veiga de Almeida – UVA & Centro Universitário Augusto Motta – Unisuam, Profa Dra. e
Coordenadora do Projeto de Pesquisa e Extensão “Que chuva é essa?”
E-mail: [email protected]
Resumo: Inundações e movimentos de massa representam um grande desafio ao planejamento das cidades, pois além de serem recorrentes, tendem a se intensificar diante da falta de infraestrutura, resultando em graves impactos socioeconômicos. No Brasil, as chuvas intensas somadas à ocupação irregular em áreas de risco tornam estes desastres mais graves e frequentes. Contudo, os conceitos associados à redução de riscos de desastres (RRD) ainda são pouco compreendidos pela sociedade. Mesmo assim, ainda são escassos os recursos de divulgação científica abordando este tema com linguagem acessível e sem perder a qualidade técnico-científica. Logo, projetos que se dediquem a atender esta demanda podem contribuir significativamente para a educação ambiental voltada à RRD. Esta foi a motivação para a produção do jogo de cartas “Defesa em Ação” que trabalha a temática de forma leve e interativa. O
desenvolvimento do jogo envolveu reuniões do grupo de pesquisa e rodadas de testes para validação e aperfeiçoamento do material, além de levantamento bibliográfico sobre riscos e desastres socioambientais e sobre divulgação científica, complementado pelo mapeamento de recursos interativos já existentes. Com vinte cartas de situação, quatro cartas especiais e uma roleta para o sorteio da categoria da rodada, busca-se promover a discussão entre jovens e adultos acerca de situações de risco de inundações e movimentos de massa nas cidades, e medidas para a redução destes riscos. Com mecânica similar à do jogo Super Trunfo, o objetivo é ter o menor número de cartas ao final. Para isso, os jogadores competem considerando a pontuação de suas cartas (em %) na categoria indicada pela roleta para cada rodada. O jogo está sendo validado pela defesa civil e disponibilizado para aplicação no ensino formal e informal. Assim, espera-se contribuir para a divulgação e popularização do tema. Palavras-chave: Redução de riscos de desastres; Divulgação científica; Jogos didáticos; Defesa Civil.
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Introdução
A 3ª Conferência Mundial sobre Redução do Risco de Desastres, realizada em
março de 2015 em Sendai no Japão, teve como resultado a assinatura do “Marco de
Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030”. Este novo marco sobre a
RRD enfatiza a importância da formação e educação sobre a redução do risco de
desastres para a ampliação do conhecimento de funcionários do governo de todos os
níveis, sociedade civil, comunidades, voluntários e setor privado sobre o tema. Dentre
os princípios norteadores do documento está a necessidade de engajamento e
cooperação de toda a sociedade, com empoderamento e participação inclusiva, acessível
e não discriminatória. Neste processo, a atuação da comunidade científica é reconhecida
como essencial para a produção de informações confiáveis e a divulgação dos
conhecimentos sobre os riscos (VIANA & FORMIGA-JOHNSSON, 2017; UNISDR,
2015).
Maricato e Mendes (2015) relatam que a divulgação científica utiliza recursos,
técnicas e processos para a veiculação de informações científicas e tecnológicas ao
público em geral. Os autores destacam a importância do uso de canais e linguagens
acessíveis que levem a informação ao alcance dos mais variados públicos e perfis.
Contudo, embora tenham ganhado visibilidade na mídia devido aos desastres
ocorridos no Brasil nos últimos anos, os conceitos associados à gestão e à redução de
riscos de desastres, bem como os fenômenos envolvidos, as medidas estruturais e não
estruturais relacionadas, ainda são pouco compreendidas pelo público em geral, levando
à falta de engajamento da população nas soluções empreendidas pelos órgãos
competentes e pela academia.
Ainda são escassos os recursos de divulgação científica que abordam as
informações relacionadas ao tema com linguagem acessível e sem perder a qualidade
técnico-científica. Neste sentido, projetos que preencham esta lacuna podem contribuir
significativamente para a redução de riscos de desastres ao subsidiarem ações de
educação ambiental nos ambientes formal e informal. Para isso, é importante que sejam
utilizadas fontes confiáveis e que seja estimulado o pensamento crítico sobre o assunto,
apresentando a realidade brasileira, além dos exemplos mundiais (VIANA, 2018).
Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivos destacar a importância da
divulgação científica na ampliação da cultura de redução de riscos de desastres, levantar
recursos didáticos existentes para tal e produzir um novo recurso para apoio na
disseminação desta temática junto às partes interessadas, de modo a fortalecer a
resiliência das cidades e comunidades em relação aos riscos de desastres.
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Material e Métodos
O projeto aqui apresentando foi desenvolvido em cinco etapas. A etapa 1
consistiu em revisão bibliográfica sobre riscos ambientais e desastres socioambientais
como forma de possibilitar maior aprofundamento teórico no assunto, além da busca
pelo arcabouço teórico sobre a divulgação científica em redução de riscos de desastres
(RRD).
A etapa 2 compreendeu o levantamento de recursos interativos (oficinas, jogos,
vídeos, histórias em quadrinhos, pôsteres, realidade virtual, realidade aumentada, etc.) já
existentes e utilizados para a divulgação científica sobre a temática do projeto e/ou
possam ser adaptados.
A etapa 3 envolveu a produção de um novo recurso didático para aplicação nas
oficinas interativas sobre RRD promovidas pelo projeto de Pesquisa e Extensão “Que
chuva é essa?” do qual as autoras são integrantes.
Na etapa 4, a fim de aprimorar e validar os produtos criados, aplica-se a
submissão do jogo a encontros acadêmicos para teste de jogabilidade e experiência do
usuário. O jogo também está sendo validado pela equipe da defesa civil da cidade do
Rio de Janeiro para que o produto final colabore também com as ações desta instituição.
A etapa 5, em andamento, consiste na aplicação do jogo em oficinas interativas
sobre RRD promovidas pelo projeto de Pesquisa e Extensão “Que chuva é essa?” no
qual as autoras são integrantes, bem como a sua divulgação em eventos acadêmicos e
científicos.
Por fim, todo o material do jogo, acompanhado das instruções e orientações para
aplicação será disponibilizado gratuitamente no site do projeto e pode ser acessado pelo
link https://quechuvaeessa.wixsite.com/home.
Resultados e Discussão
Estudos científicos evidenciam o aumento exponencial dos danos humanos,
materiais e ambientais associados a desastres socionaturais ao longo das últimas
décadas em países do mundo todo (VIANA, 2016). No Brasil, dentre os elementos que
contribuem para que este aumento também seja uma realidade, podemos destacar: a
instalação de populações de baixa renda em áreas de risco, o aumento da densidade
populacional nas cidades, a deficiência na infraestrutura urbana e no planejamento
urbano, além da governança debilitada decorrente da falta de recursos e preparo dos
órgãos competentes. Estes fatores contribuem também para a propagação das
desigualdades sociais e o declínio dos ecossistemas, tornando ainda mais vulneráveis as
pessoas e estruturas expostas aos riscos de desastres, e impondo barreiras para que as
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cidades brasileiras se tornem mais inteligentes, resilientes e participativas (VIANA E
FORMIGA-JOHNSSON, 2017; UNISDR, 2015).
Adicionalmente, grande parte da população ainda desconhece as causas efetivas
destes fenômenos e, por vezes, ignora a contribuição de seus hábitos e decisões diários
na intensificação ou na redução de riscos de desastres (RRD). Mesmo diante deste
cenário, o levantamento realizado nesta pesquisa indicou que ainda são escassos os
recursos de divulgação científica disponíveis no país para que o tema seja trabalhado em
diferentes contextos, adotando linguagem acessível sem perder a qualidade técnico-
científica. Logo, projetos que contribuam para cobrir essa lacuna podem contribuir
significativamente para a RRD (VIANA, 2018).
O projeto aqui apresentado se concentra nos riscos de desastres associados aos
processos e fenômenos hidrológicos e geológicos de origem exógena, tratando de
inundações e movimentos de massa. Estes, quando manifestados nas cidades, resultam
em impactos socioeconômicos, perdas e danos às vidas humanas que se refletem em
custos aos cofres públicos e traumas na população (JHA, BLOCH E LAMOND, 2012).
As inundações podem ser classificadas como: cheias, quando o nível d’água
ultrapassa o leito do corpo hídrico (Figura 1); alagamentos, quando o sistema de
drenagem urbana não consegue escoar o volume de água pluvial provocando acúmulos
de água que impactam a mobilidade local; ou enxurradas, quando em ambos os casos, o
escoamento ganha velocidade e energia, sendo capaz até mesmo de arrastar pessoas e
estruturas (CEMADEN, 2017).
Figura 1. Inundação em Barra Mansa (RJ) após as chuvas de janeiro de 2000. Fonte:
COSTA, 2001.
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Por sua vez, os movimentos de massa são “movimentos de descida de solos e
rochas sob o efeito da gravidade, geralmente potencializado pela ação da água”
(CEMADEN, 2017). De acordo com as características do fenômeno eles podem ser
classificados em deslizamentos, escorregamentos, corridas de massa dentre outros,
como ilustrado na Figura 2.
Figura 2. Principais tipos de movimentos de massa. Fonte: CEMADEN, 2017.
Tais eventos têm tomado proporções catastróficas nas cidades brasileiras, tendo
em vista agravantes como as ocupações irregulares em locais íngremes e alterações
antrópicas diretas, tais como: mudança no sistema de drenagem, disposição de resíduos
inadequada e cortes de taludes (CEMADEN, 2017).
A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), promulgada pela Lei
Federal nº 12.608/2012, pressupõe a integração com políticas públicas de áreas
transversais à temática, tais como educação, ordenamento territorial, meio ambiente,
gestão de recursos hídricos, geologia, dentre outras, visando a promoção do
desenvolvimento sustentável. Ela determina que é de competência compartilhada entre
os entes federativos (União, Estados e Municípios) o desenvolvimento da consciência
nacional acerca dos riscos de desastre e o estímulo à prevenção visando evitar ou
minimizar a ocorrência de desastres no país.
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A PNPDEC altera as diretrizes e bases da educação nacional determinando a
obrigatoriedade de inclusão dos princípios da proteção e defesa civil e da educação
ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios dos currículos do ensino
fundamental e médio. Constam ainda dentre os seus objetivos a orientação das
comunidades para a adoção de “comportamentos adequados de prevenção e de resposta
em situação de desastre” e promoção da autoproteção (BRASIL, 2012).
Assim, a política tem motivado a elaboração de manuais e oficinas sobre as
dinâmicas naturais e antrópicas do meio ambiente, por parte dos entes federados
(SULAIMAN & JACOBI, 2013). Entretanto, para que haja a absorção e a propagação
do conhecimento científico pela população, que é a grande prejudicada pelos episódios
supracitados, é imprescindível que sejam criadas condições de acessibilidade, de modo
que a população seja abrangida e esteja apta a dialogar sobre o assunto,
independentemente de poder aquisitivo, local de residência e classe social
(CAMARGO, 2015).
Neste sentido, é preciso atentar para o fato de que a popularização da ciência
pressupõe a “tradução” da linguagem técnica utilizada em meio acadêmico para um
vocabulário acessível ao público leigo, através do uso de recursos e tecnologias que
propiciem o aprendizado prático, a fim de esclarecer fenômenos e estimular a reflexão
da sociedade sobre o tema (ALBAGLI, 1996). Socorro (2017, p.17) destaca ainda os
desafios relativos à “disponibilidade de espaços físicos adequados para promover a
divulgação” e a falta de “apoio na publicação de materiais impressos e digitais para
divulgação entre o grande público”.
Recursos para a divulgação científica
O uso de recursos didáticos para transmissão do conhecimento científico é de
extrema importância, tendo em vista seu potencial visual e interativo que é capaz de
reforçar ainda mais a compreensão do conteúdo abordado. À vista disso, Oliveira (2009)
considera que o uso de imagens que resumem conteúdos e instigam o leitor e/ou ouvinte
com diagramas e animações seja uma prática saudável, desde que estas não ocultem
processos envolvidos e outras informações relevantes para o assunto. O autor explica
que a interação do público-alvo com as ideias e suas abstrações têm grande valor para
absorção do conteúdo, mas ressalta que a realização de uma interação física e
participativa traz resultados ainda melhores para transmissão do conhecimento
científico.
A este respeito, cabe salientar a atuação das autoras deste artigo na concepção e
na mediação de oficinas interativas do Projeto de Pesquisa e Extensão ‘Que chuva é
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essa?’ desde o ano de 2018. As oficinas ‘Se preparem que lá vem chuva’ (Figura 3) e
‘Alerta de cheias’ (Figura 4) têm sido ofertadas em eventos de divulgação científica, tais
como a 2ª Conferência Brasileira de Aprendizagem Criativa (CBAC) e o ‘Sábado da
Ciência’ promovido pelo Espaço Ciência Viva – ECV – Figura 5. Durante a mediação
das oficinas foi possível constatar, empiricamente, a veracidade das afirmações de
Oliveira (2009), conforme descritas anteriormente.
Figura 3. Oficina “Se preparem que lá vem chuva” no evento “Sábado da Ciência da
SNCT – Ciência para Redução das Desigualdades” realizado em outubro de 2018 no
Espaço Ciência Viva – ECV. Fonte: Acervo pessoal, 2018.
Figura 4. Oficina “Alerta de cheias” na 2ª Conferência Brasileira de Aprendizagem
Criativa - CBAC. Fonte: Acervo pessoal, 2019.
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Figura 5. Oficina “Alerta de cheias” no evento “Sábado da Ciência da SNCT – As
Incríveis Mulheres Cientistas” realizado em agosto de 2019 no Espaço Ciência Viva –
ECV. Fonte: Acervo pessoal, 2019.
No que se refere às tecnologias aliadas, destaca-se a internet como uma
excelente fonte de pesquisa, que também possibilita a popularização de materiais e
informações com agilidade e em grande escala. Por isso, é através dela que muitos
docentes vêm divulgando informes científicos com linguagem simples, seja por meio de
vídeos expositivos, podcasts, histórias em quadrinhos (HQs) ou ilustrações.
Produção do jogo didático ‘Defesa em Ação’
Para a criação de um recurso didático em forma de jogo e capaz de operar como
um canal de comunicação compreensível e abrangente, foram considerados os seguintes
aspectos: tema a ser abordado, público-alvo, número de jogadores, duração e
complexidade do conteúdo. Com isso, escolheu-se a temática baseada em situações de
desastres causadas por movimentos de massa e inundações, com jovens e adultos como
público-alvo, baixo número de jogadores (dois até quatro), curta duração e
complexidade baixa a média do conteúdo. A partir dessa ponderação optou-se, em
primeiro momento, pela criação de um jogo de cartas físico de cunho simplório, porém
agregador e que funcionasse similarmente ao Super Trunfo.
O jogo criado chama-se “Defesa em Ação” contendo vinte cartas de situação de
desastres e quatro cartas especiais, dentre estas: Resiliência, Sistema Nacional de
Proteção e Defesa Civil (SINPDEC), Interdição e Acúmulo de danos. Para a dinâmica
do jogo, o mesmo conta com uma roleta para a escolha de características dos
fenômenos, cujas possibilidades são: Intensidade, Susceptibilidade, Danos, Magnitude,
Reversibilidade e Recuperação. Tais características darão o rumo do jogo, uma vez que,
na rodada, compete-se pela melhor pontuação, ou seja, a maior porcentagem de
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Reversibilidade e Recuperação da situação de desastre e a menor porcentagem de
Intensidade, Susceptibilidade, Danos e Magnitude da situação de desastre. Sendo assim,
seu objetivo é descartar o maior número de cartas de situação possíveis através da
competição pela melhor posição, na característica da rodada. Vence o jogo quem
terminá-lo com o menor número de cartas de situação de desastres no seu “bolo de
descarte”.
As vinte cartas de situação são compostas por eventos de origem hidrológica e
geológica que, muitas vezes, causam desastres nas cidades devido à união com fatores
como, baixa infraestrutura, falta de planejamento urbano, sistemas de drenagem
obstruídos por resíduos sólidos urbanos, entre outros. Sendo assim, cada uma dessas
situações possui seis características particulares, seja devido ao local de ocorrência ou
às condições meteorológicas, como se observa nas Figuras 6 e 7, as quais recebem um
percentual (%) de acordo com a situação mencionada na carta e, por se tratarem de
características que imprimem uma piora progressiva à situação, almeja-se que estas
tenham o menor percentual possível, com EXCEÇÃO das categorias de
REVERSIBILIDADE e RECUPERAÇÃO, pois quanto mais reversível e recuperável é
essa situação, melhor de se lidar ela é.
Figura 6. Carta de Situação: Mortes
por Soterramento. Fonte: Elaborado
pelas autoras.
Figura 7. Carta de Situação:
Carreamento de Resíduos Sólidos.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
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Figura 8. Carta Especial: Resiliência.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Figura 9. Carta Especial: Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil
(SINPDEC). Fonte: Elaborado pelas
autoras.
Figura 10. Carta Especial: Acúmulo de
Danos. Fonte: Elaborado pelas autoras.
Figura 11. Carta Especial: Interdição.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
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Por sua vez, as cartas especiais (Figuras 8, 9, 10 e 11) contêm ações que
almejam salvar, dar uma nova chance, acumular danos ou fazer com que os
participantes passem por situações de interdição, ficando sem jogar por uma rodada. O
objetivo destas é fazer o jogador utilizar os conceitos, aprendendo com eles, além de
aplicá-los estrategicamente na partida. Vale ressaltar que caso as quatro cartas especiais
sejam jogadas em uma única rodada TODAS elas perderão seu efeito, devendo ser
iniciada uma nova rodada com o giro da roleta. No caso de duas ou três cartas especiais
jogadas na mesma rodada, vale o efeito da maior em ordem de hierarquia, sendo: 1º
Resiliência, 2º SINDEC, 3º Acúmulo de Danos e 4º Interdição.
Primeiramente, para iniciar o jogo, deve-se embaralhar as vinte e quatro cartas e
distribuí-las entre os participantes, sendo: 2 jogadores – cada um com 12 cartas; 3
jogadores – cada um com 8 cartas; 4 jogadores – cada um com 6 cartas. Feito isto, deve-
se girar a roleta das características e esperar parar em uma das seis possibilidades. Após
a seleção da caraterística, todos os participantes devem jogar sua melhor carta para a
mesma, como nos exemplos a seguir:
▪ A característica da rodada é a de Danos, logo, todos devem tentar utilizar a carta
de situação que tem a menor porcentagem de danos para ganhar a rodada. Vence
a rodada quem tiver a menor porcentagem de Danos e perde quem tiver a maior
porcentagem de Danos, levando as cartas da rodada, que devem ser guardadas e
abaixadas na mesa para a contagem final.
▪ A característica da rodada é Intensidade, logo, todos devem tentar utilizar a carta
de situação que tem a menor porcentagem para ganhar a rodada. Nesta rodada,
um dos jogadores utilizou a carta da SINPDEC, logo, o mesmo poderá girar a
roleta novamente e não precisará submeter uma carta de situação, ficando imune
aos impactos da rodada. Dessa vez, a nova característica sorteada foi a
Susceptibilidade, logo, vence a rodada quem tiver a menor porcentagem de
Susceptibilidade na carta que foi jogada na mesa e perde quem tiver a maior
porcentagem de Susceptibilidade na carta que foi jogada na mesa, levando as
cartas da rodada, que devem ser guardadas e abaixadas na mesa para a contagem
final.
O vencedor será aquele jogador que, ao final da partida, obtiver o menor número
de cartas de situação acumuladas em seu bolo de descartes, mostrando-se mais resiliente
e bem preparado para as situações de desastres que podem ser causadas por eventos
hidrológicos e geológicos mais comuns nas cidades.
Conclusões
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A consolidação do jogo Defesa em Ação possibilitou que fosse alcançado o
objetivo proposto de aplicação do conteúdo teórico previamente estudado na construção
de um recurso didático para a divulgação científica sobre redução de riscos de desastres.
Vale salientar que o referido jogo ainda poderá passar por adaptações, após rodadas de
validação junto ao grupo de pesquisa e a Defesa Civil.
Os próximos passos do projeto consistem na aplicação do jogo em atividades de
divulgação científica com jovens e adultos e avaliação dos resultados, além do
desenvolvimento de outros recursos didáticos com o mesmo objetivo, porém com
diferentes abordagens (jogos de tabuleiro, histórias em quadrinhos, vídeos, entre
outros). Com uma possível introdução do jogo Defesa em Ação nas atividades de
conscientização e treinamentos da Defesa Civil, espera-se que haja um aprimoramento
da transmissão de conteúdo sobre a resiliência das cidades, facilitando o aprendizado e
absorção dos ensinamentos.
Por fim, ressalta-se a importância de ações educativas voltadas para a redução de
riscos de desastres, as quais são capazes de mudar o olhar da população e das partes
interessadas em relação ao seu meio de vida, aguçando o pensamento crítico sobre as
situações que as cidades vivem diariamente, principalmente no que diz respeito à
infraestrutura urbana, ao acesso ao saneamento básico e à necessidade de disseminação
de uma cultura preventiva.
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Sessão:
Monitoramento,
Qualidade ambiental e
Gestão de resíduos
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REMOÇÃO DE FÓSFORO EM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO BIOLÓGICO
DE ESGOTO SANITÁRIO A PARTIR DO REÚSO DE LODO DE ETA:
DISCUSSÕES INICIAIS E PROPOSTA DE ENSAIOS
Débora Camargo Strada1, Fernanda da Silva Bicoski1, Hernane Teixeira da Silva2 & Cristovão Vicente
Scapulatempo Fernandes1
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Paulo Gama, 110- Farroupilha, Porto Alegre, RS,
CEP:90040-060, Brasil
2Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rua Francisco Xavier, 524- Maracanã, Rio de Janeiro, RJ,
CEP:20550-900, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: O fósforo é um nutriente essencial à vida e, ao mesmo tempo, dependendo de
sua concentração, pode ser considerado um poluente devido ao seu potencial para
eutrofização de corpos aquáticos. Embora os processos de remoção de fósforo por
precipitação química sejam eficientes e bem consolidados nos processos de tratamento
de esgotos, apresenta-se neste estudo uma proposta que preconiza o reúso do lodo de
Estação de Tratamento de Água – ETA na remoção de fósforo em Estações Biológicas
de Tratamento de Esgotos por lodos ativados. O presente estudo pretende, portanto,
alertar e motivar os gestores do saneamento, para aplicação desta alternativa através de
discussões iniciais e proposta de uma série de ensaios que possam viabilizar e garantir
eficiência e economicidade em processos reais. A sequência de ensaios proposta
baseou-se em revisão bibliográfica e a partir de resultados realizados em ensaios de
bancada para avaliar a possibilidade de aplicação do lodo da ETA no tratamento de
esgotos, tanto para remoção de fósforo, quanto uma forma de pós-tratamento do próprio
lodo. Como forma de viabilização em escala real e garantir uma viabilidade técnica e
econômica que sustente os princípios de projeto, se integrou estes estudos a uma
proposta mais abrangente visando à utilização das variáveis de influência do lodo no
processo de tratamento de esgotos.
Palavras-chave: Estações de tratamento de esgoto, Remoção de fósforo, Resíduos de
ETA, Reúso de lodo.
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Introdução
Fósforo e nitrogênio são nutrientes das águas naturais, mas quando em
quantidades excessivas, podem causar desequilíbrios ao meio. Os fertilizantes utilizados
na agricultura e as águas que entram em contato com frigoríficos são ricos destes
elementos, entretanto a maior fonte de nutrientes está associada aos esgotos domésticos.
Por serem essenciais em processos de crescimento celular são potencializadoras no
processo de eutrofização e, portanto, precisam ter suas entradas controladas nos corpos
hídricos (VON SPERLING, 1996).
Os lodos de ETAs, geralmente provenientes dos decantadores e filtros, são
comumente dispostos diretamente no manancial, sem tratamento prévio. A Norma
Brasileira (NBR) 10004:2004 classifica os lodos de ETAs como resíduos sólidos e,
portanto, devem ser dispostos e tratados conforme critérios definidos por lei. Devido às
características desses resíduos, os órgãos ambientais determinam que os lodos das ETAs
sejam recolhidos e dispostos de forma apropriada. As formas mais comuns de
adequação da disposição deste lodo exigem algum tipo de preparação que podem
envolver adensamento, desaguamento, estabilização e higienização, dependendo do
destino (VON SPERLING, 2001). Estes processos costumam ocorrer em leito de
secagem, manta geotube ou centrífuga, requerendo posterior transporte até um aterro
sanitário, o que envolve um alto custo de investimento e operação (OMOTO, 2009).
Existem vários estudos e aplicações para o reúso do lodo de ETA, porém, é importante
que se avalie possibilidades para adequação das diversas situações, considerando a
variedade de processos, as áreas disponíveis e as características dos resíduos. O desafio
das empresas de saneamento na busca da destinação adequada do lodo das ETAs,
prezando a viabilidade técnica, econômica e ambiental, motiva a investigação de
melhores métodos ou tecnologias para seu reúso.
Devido à baixa biodegradabilidade, o fósforo é de difícil remoção através de
processos tradicionais, diferentemente do que ocorre em tratamento de nível terciário
(METCALF & EDDY, 2003). Atualmente, a precipitação química é uma das
tecnologias de maior emprego industrial na remoção de fósforo, caracterizada por
processos onerosos devido à elevada demanda por insumos químicos, além de produzir
lodos com altas concentrações de metais pesados (PRATT et al., 2012). O processo
ocorre com a adição de um sal de um metal bivalente ou trivalente, onde um fosfato de
metal insolúvel é separado por sedimentação (RITTMANN et al., 2011). Os compostos
mais utilizados são FeCl3, Fe2(SO4)3, FeSO4 e Al2(SO4)3 escolhidos em função da
eficiência de remoção, qualidade do lodo formado e custos (METCALF & EDDY,
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2003). Existe, portanto, a necessidade de se buscar novas alternativas para tratamentos
complementares que removam os nutrientes do esgoto.
Diante da necessidade de adequação dos processos do setor do saneamento,
vislumbra-se uma alternativa para reúso de lodo de ETA em estações de tratamento de
esgoto (ETE). Foram observadas algumas experiências internacionais positivas e alguns
casos de estudos e aplicações no Brasil. No Canadá, na província de Quebec, várias
ETEs recebem lodo de ETA para tratamento conjunto com os esgotos domésticos e
industriais proporcionando atendimento nos padrões de lançamento de fósforo sem
adição de produtos químicos ou melhoria no tratamento biológico para remoção de
fósforo. Experimentos com reúso de lodo de ETA em ETEs de lodos ativados obtiveram
melhorias significativas de remoção de fósforo na África do Sul (GALARNEAU;
GEHR, 1999). Já na Suécia, algumas análises observaram reduções de fósforo de 47 %
para 57%, após recebimento de lodo de ETA na ETE (HARRI et al., 2003 apud
OMOTO, 2009). Segundo Miranda (2007) a prática reduz a quantidade de resíduos de
ETA que necessitam de tratamento e disposição final e, além disso, é mais comum a
ETE dispor de unidades específicas para tratamento de lodo.
A proposta deste estudo foi motivada pela necessidade crescente de
gerenciamento de um dos resíduos do saneamento, o lodo de ETA, e das
potencialidades oferecidas para seu reúso, como a remoção de fósforo em esgotos
sanitários. Com a finalidade de motivar os gestores do saneamento na busca de
alternativas que possibilitem o reúso de lodo de ETA, propôs-se etapas de ensaios,
obtidas a partir de revisão bibliográfica, para análise de viabilidade de aplicação do lodo
de ETA na remoção de fósforo em efluente de estações de tratamento biológico de
esgoto por lodos ativados convencional. Desta forma, compilou-se os resultados de
autores que realizaram ensaios com lodo de ETA, cujo objetivo comum foi a remoção
de fósforo em efluentes, sugerindo-se uma proposta sequencial de ensaios quali-
quantitativos que podem ser utilizados de forma a viabilizar a aplicação em escala real.
Material e Métodos
Este estudo é uma revisão de bibliografia através da qual foi feita a análise e a
integração da literatura publicada sobre a remoção de fósforo em estação de tratamento
biológico de esgoto sanitário a partir do reúso de lodo de ETA. As buscas iniciais foram
realizadas no Portal de Periódicos CAPES/MEC, Google Scholar, PubMed, Science
Direct e, posteriormente, através de referências citadas nos artigos encontrados. Nas
bases, foram combinadas as palavras-chave: remoção de fósforo com lodo de ETA,
WTP sludge in WWTP, estações de tratamento de esgoto por lodos ativados, resíduo de
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ETA, reúso de lodo de ETA em ETE. Também foram pesquisados alguns conceitos
teóricos em alguns livros renomados sobre tratamento de água e esgoto, como Von
Sperling (1997), Von Sperling (2001), Von Sperling (1996) e Metcalf & Eddy (2003).
Estudos acadêmicos como, Ali et al. (2012), Dabrowski (2001), Chao (2006) e Omoto
(2009), foram importantes na conceituação de remoção de fósforo por adsorção e na
vinculação com o potencial de remoção de fósforo a partir do lodo de ETA. Também se
utilizou informações de ANA (2017) e Von Sperling (1997), constatando-se que utilizar
o sistema de lodos ativados convencionais como referência daria maior aplicabilidade à
proposta.
Na seleção das referências bibliográficas, se priorizou os estudos que
levantassem a questão da eficiência da remoção de fósforo nos testes, como Chao
(2006), Scalize (2003), Wagner, Wiechetech e Széliga (2019) e Marguti, Ferreira e
Piveli (2018). Algumas considerações sobre a forma de remoção e transporte de lodo,
foram embasados em Scalize (2003), Omoto (2009), Carvalho (2000), Miranda (2007),
Wagner, Wiechetech e Széliga (2019) e Marguti, Ferreira e Piveli (2018) que abordaram
a vantagem do lançamento do lodo de ETA diretamente nas redes de esgoto, do uso de
remoção de lodo mecânica e da constância na remoção. Por sua vez, foram excluídas
deste estudo, as alternativas de reúso de lodo para outras finalidades, com processos de
adensamento anteriores ao descarte na rede ou de métodos de remoção de fósforo em
outros setores que não fossem o esgotamento sanitário. Destacamos ainda, que não
foram abordados processos anaeróbios de tratamento de esgoto ou processos aeróbios
constituídos de várias etapas, que possam atingir a eficiência esperada, através de
remoção biológica do fósforo.
Resultados e discussão
Os resultados e discussões seguem apresentados nos parágrafos que seguem,
juntamente com alguns referenciais teóricos que deram suporte às considerações
técnicas que visam a aplicabilidade do método. Entretanto, estes pontos deverão ser
devidamente detalhados, posteriormente, em uma etapa final de aplicação em projeto
técnico, no caso de interesse dos órgãos de saneamento, pois cada sistema de tratamento
possui suas especificidades e deve ser avaliado de forma individual para garantir
viabilidade técnica e econômica. As duas primeiras etapas analíticas, propostas na
Tabela 1, são gerais para aplicação em qualquer tipo de sistema de tratamento por lodos
ativados convencional. Para melhor contextualização são apresentados alguns conceitos
fundamentais e levantadas as etapas ou variáveis envolvidas no processo desde a
geração do lodo de ETA até seus efeitos no tratamento de esgoto.
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Discussões iniciais para aplicabilidade do processo
As características do lodo de ETA variam com as propriedades da água bruta, os
tipos de produtos químicos e a tecnologia empregada no tratamento. Há variação de
acordo com a qualidade do corpo hídrico e até mesmo dentro do mesmo manancial
podem ocorrer variações sazonais como alterações na turbidez e na quantidade de
sólidos. Em geral, os coagulantes utilizados são à base de sais de ferro e alumínio. Há
ainda produtos de outras fases do tratamento como carvão ativado, alcalinizantes e cloro
proveniente de pré-cloração que influenciam na composição do resíduo. O tipo de
decantador, o sistema de remoção do resíduo (manual ou mecânico), o tempo de
decantação são particularidades que alteram as características do lodo. Por causa desta
variabilidade do resíduo, é extremamente importante que o lodo deva ser caracterizado e
não é conveniente extrapolar os dados de um resíduo para outro (SCALIZE, 2003).
O transporte do resíduo de ETA até a ETE via rede coletora é a forma mais
utilizada por ser mais econômica. Porém, em alguns casos, existe a possibilidade deste
transporte através de sistemas de recalque ou caminhões-tanque. A escolha da via de
transporte deve se dar de acordo com a distância entre a ETA e a ETE e a quantidade de
resíduo transportado (SCALIZE, 2003). De forma a compatibilizar o estudo com
regiões mais urbanizadas, onde há maior geração de lodo dos sistemas de abastecimento
e, ao mesmo tempo, as estações de esgoto exigem mais produtos para a remoção do
fósforo, as análises do presente estudo baseiam-se no transporte via rede coletora.
Omoto (2009) ressalta a vantagem técnica de adicionar o lodo de ETA no esgoto bruto
por possuir melhor logística de recebimento desde que seja feita a análise de
biodegradabilidade para validar o uso. O lançamento dos resíduos de ETA nas redes
coletoras deve atentar para alguns requisitos necessários para que não haja prejuízos no
tratamento de esgoto. Devem ocorrer algumas adequações em relação a equalização da
vazão, neutralização do pH do resíduo, uniformidade na concentração do resíduo
através de um fluxo homogêneo, além de observar as concentrações totais de sólidos,
metais pesados ou outros componentes indesejáveis (SCALIZE, 2003).
É essencial que o resíduo da ETA chegue à ETE de forma homogênea, para isso
é necessária uma equalização dos resíduos a partir do controle da vazão. Os
decantadores convencionais são comuns devido à simplicidade, boa eficiência na
remoção de partículas e baixa sensibilidade a sobrecargas. Visando o aumento da
produção de água em estações convencionais ou quando a área disponível inviabiliza a
construção de decantadores clássicos, são utilizados os decantadores de alta taxa com
fluxo laminar (lamelar) (MIRANDA, 2007). Os decantadores convencionais apresentam
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variações em seus constituintes e concentrações e seus sólidos são despejados em forma
de pulsos (SCALIZE, 2003). Nos decantadores superpulsator o expurgo do lodo ocorre
de maneira automática, por sifonamento forçado, em intervalos programados de tempo
(MIRANDA, 2007). A característica da extração contínua de lodo pode ser uma
vantagem visto que a extração em intervalos regulares propiciaria um fluxo mais
homogêneo. O estudo de Wagner, Wiechetech e Széliga (2019) com lodo de ETA
Actiflo® foi realizado com remoção contínua do material sedimentado no decantador
através de um raspador de fundo mecanizado. Posteriormente, o lodo era encaminhado a
um hidrociclone para a separação da microareia, reutilizada no processo, somente então,
o lodo resultante foi encaminhado à rede coletora de esgotos. Ainda que o lodo tenha
sofrido uma preparação intermediária, é evidente o benefício de algum sistema de
remoção mecânico em termos de aplicabilidade de processo.
Segundo Carvalho (2000) a rede de esgoto geralmente é projetada com
declividade adequada para o transporte de sólidos sanitários, em geral, sendo suficientes
para os resíduos de ETA. Não são observados problemas de deposição de sólidos para
velocidades mínimas de 0,8 m.s-1 ou concentração de sólidos menor que 3%
(TSUTIYA E HIRATA, 2000 apud SCALIZE, 2003). Nos testes realizados por Omoto
(2009) os sólidos existentes não alteraram o escoamento do efluente nem interferiram
no bombeamento fato justificado pelos sólidos no lodo da ETA serem suficientemente
finos. Deve ser considerado ainda que o lodo da ETA é constituído de uma
concentração baixa de matéria orgânica biodegradável e uma alta concentração de
sólidos suspensos inertes. Logo, ao lançar o lodo na ETE, ocorre um incremento dos
sólidos em suspensão, porém mantêm-se a mesma quantidade de matéria orgânica. Em
sua pesquisa, o autor verificou que o lodo de ETA reage tanto no esgoto bruto (com
maior intensidade), quanto no esgoto tratado além não alterar a biodegradabilidade do
efluente e contribuir no tratamento sedimentando algum material de interesse.
Wagner, Wiechetech e Széliga (2019) analisaram a disposição do lodo da ETA
Actiflo® em uma ETE composta de upflow anaerobic sludge blanket (UASB) e lagoa
de polimento, via rede coletora de esgotos, de modo a avaliar a viabilidade dessa
alternativa quanto ao impacto causado na eficiência do processo de tratamento da ETE.
O estudo verificou que o lançamento na rede de esgotos é uma alternativa viável de
disposição do lodo do decantador da ETA Actiflo®. A pesquisa realizada por Omoto
(2009) testou o efeito do lodo de ETA, lançados diretamente nas redes de esgoto, sobre
o tratamento na ETE a partir de ensaios em escala de bancada e escala real. Os
resultados comprovaram que o lodo da ETA exerce contribuições positivas ao
tratamento, principalmente para os parâmetros físico-químicos. Portanto, os artigos
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contribuíram levantando a vantagem descarte do lodo diretamente na rede de esgoto e
fornecendo subsídios para a proposta de testes que verificam os efeitos desta
consideração. Vale destacar ainda, que os testes em escala real de Wagner, Wiechetech
e Széliga (2019) estão sendo aplicados nos processos da empresa de saneamento
SANEPAR, no Município de Ponta Grossa. O que motiva o uso da alternativa
corroborando com o objetivo dos autores.
Scalize (2003) estudou em estação piloto a influência da disposição de lodo de
ETA em colunas de sedimentação e verificou que o sobrenadante da coluna apresentava
uma melhora nos parâmetros: cor, turbidez, Sólidos Suspensos Totais (SST), Sólidos
Suspensos Voláteis (SSV) e Demanda Química de Oxigênio (DQO), além de redução
bacteriológica. Na segunda fase do trabalho, adicionou o lodo da ETA numa estação
com lagoa de aeração seguida de lagoa de sedimentação; foi verificado melhora na
qualidade em termos de Demanda Química de Oxigênio (DQO), Demanda Bioquímica
de Oxigênio (DBO), Sólidos Suspensos Totais (SST), turbidez, cor, amônia, nitrato,
Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK) e fósforo total. A tese trouxe como resultados a
amplitude de parâmetros necessários para o acompanhamento adequado dos processos,
além de diversas contribuições nas discussões sobre necessidade de caracterização dos
resíduos de ETA, transporte e equalização dos resíduos para utilização em ETE.
Diante do exposto, ressalta-se a importância da caracterização dos resíduos de
uma forma individualizada, pois as composições, tamanho e características gerais dos
mesmos são sensíveis às variações no processo. Foram atribuídas vantagens em dispor o
lodo de ETA diretamente na rede de esgoto, desde que sejam feitas equalizações de
vazão e testes de biodegrabilidade na ETE. Identificou-se o benefício do uso de
decantadores com sistema contínuo de remoção de lodo, como forma de obter uma
vazão na entrada da ETE constante, além da vantagem da extração mecânica em relação
a manual. No início do estudo foi evidenciada uma série pontos positivos no caso da
aplicação do método, identificadas na Figura 1 como forças, que deve ser ponderada em
termos de custo-benefício considerando as principais fraquezas relacionadas. As
fraquezas referem-se às possíveis limitações através de custos que não compensem os
benefícios ambientais e econômicos expostos pelos autores. Portanto, todos esses
pontos apresentados na Figura 1 devem ser criteriosamente avaliados nas devidas
etapas.
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Figura 1. Forças e fraquezas relacionadas à aplicação da alternativa em estudo.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Princípio do funcionamento do sistema de lodos ativados e manutenção da biomassa
ativa
O Sistema de lodos ativados é utilizado mundialmente no tratamento de esgotos
sanitários e industriais, em operações onde são requeridos uma elevada qualidade do
efluente tratado e reduzidos requisitos de área (VON SPERLING, 1997). No Brasil, o
tratamento com lodos ativados convencional está entre os processos mais utilizados
abrangendo a maior parte da população atendida por ETE (ANA, 2017). Na Figura 2 é
apresentado um esquema ilustrativo desse sistema. A escolha para aplicação de ensaios
em sistema de lodos ativados convencional levou em consideração que, embora seja um
processo pouco utilizado em relação ao número de ETEs existentes no País (110), este é
um dos mais eficientes, abrangendo 24% da população atendida por ETE (cerca de 16,5
milhões de pessoas), significando uma vazão maior de tratamento onde é possível
incorporar maior volume de lodo de ETA (ANA, 2017).
Figura 2. Esquema ilustrativo de um sistema de tratamento por lodo ativado
Fonte: Adaptado de Von Sperling, 1997.
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Segundo Von Sperling (1997), no reator aeróbio, dependendo das condições
operacionais, ocorrem as reações bioquímicas de oxidação da matéria orgânica e da
matéria nitrogenada. A biomassa se desenvolve a partir da utilização do substrato
presente. No decantador secundário ocorre a sedimentação de sólidos e
consequentemente a clarificação do efluente. Os sólidos sedimentados ao fundo do
decantador são recirculados para o tanque de aeração com a finalidade de manter a
biomassa ativa. O lodo excedente deve receber tratamento adicional, usualmente
compreendendo adensamento, estabilização e desidratação.
Destaca-se ainda que nas ETEs com sistema de lodos ativados, os
microrganismos responsáveis pela estabilização da matéria orgânica necessitam de
outros nutrientes, além da matéria orgânica na forma de carbono orgânico, para manter
suas atividades metabólicas. Dentre esses nutrientes destacam-se o nitrogênio e o
fósforo que devem estar presentes em concentrações acima da mínima requerida para os
microrganismos (VON SPERLING, 1997). O monitoramento realizado por Marguti,
Ferreira e Piveli (2018) verificou que a eficiência da remoção de matéria orgânica da
ETE ABC permaneceu acima de 90% com a prática de descarte do lodo de ETA, sendo
que houve aumento na eficiência de remoção de sólidos no tratamento primário e não
foi observada inibição microbiológica no tratamento secundário.
Processo de remoção do fósforo com lodo de ETA
Uma alternativa para a remoção do fósforo são as tecnologias de adsorção, pois
são baseadas na acumulação de fósforo na interface entre as fases da água contaminada
e do adsorvente sólido através do desequilíbrio de forças de atração (ALI et al., 2012).
A adsorção física pode ocorrer a partir das interações de Van der Waals universais, ou
através de ligações químicas entre a molécula de adsorvente e o poluente adsorvido
(DABROWSKI, 2001). Devido à composição do lodo de ETAs ter, em geral, presente
óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, pode-se assegurar que apresenta elevado
potencial para remoção de fósforo por adsorção, além da estrutura amorfa deste lodo,
característica que aumenta a área superficial dos sais de alumínio em comparação com a
forma cristalina (STUM, 1992; BASTA, 1996; GALLIMORE et al., 1999; ELLIOT et
al., 2002; REIS, 2002 apud CHAO, 2006). Observa-se ainda que o lodo de ETA possui
um residual de floculante que remove o fósforo na forma de fosfato de alumínio por
favorecer a sedimentação do mesmo (OMOTO, 2009). Considerando, portanto, que o
insumo para o processo é obtido através do reaproveitamento de um resíduo, os custos a
serem contabilizados neste reúso envolveriam apenas a forma de transporte e possível
preparação do lodo.
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Marguti, Ferreira e Piveli (2018) estudaram a aplicação de lodo de ETA em
ETE, em escala real, avaliando o impacto do descarte do lodo da ETA Rio Grande, que
utiliza sulfato férrico como coagulante, na ETE ABC de lodos ativados. Ambas as
estações são instalações que trabalham em larga escala no estado de São Paulo. O
monitoramento foi realizado nas duas plantas com uma série de análises realizadas sem
a presença do lodo de ETA na ETE de 2005 a 2006 comparados com os dados
analisados de 2007 a 2008 com o descarte do lodo de ETA no processo de tratamento de
esgoto. Mesmo com a complexidade das variáveis dos processos, constatou-se que não
houve impactos negativos críticos com a instalação do método de tratamento de lodo de
ETA em ETE. Apesar da pesquisa não ter como foco a remoção do fósforo, a eficiência
de remoção deste aumentou em 74% com a presença de lodo de ETA na ETE (Figura
3).
Figura 3. Representação do experimento de Marguti, Ferreira e Piveli (2018). Fonte:
Adaptado de Marguti, Ferreira e Piveli (2018).
Chao (2006) avaliou, através de ensaios de bancada, a possibilidade e a
eficiência de remoção de fósforo do efluente secundário (final) de um sistema
convencional de lodos ativados, com o uso de lodo de uma estação de tratamento que
utiliza sulfato de alumínio como coagulante e polímero como auxiliar de coagulação e
obtendo boas eficiências de remoção. A pesquisa despertou para o potencial de remoção
de fósforo por adsorção existente na interação do lodo de ETA com o efluente de esgoto
em tratamento. Os principais ensaios de bancada, propostos neste estudo, foram
embasados nesta tese, devido às características do processo estarem associadas às
condições estabelecidas para aplicação em escala real (Figura 4).
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Figura 4. Representação do experimento de Chao (2006). Fonte: Adaptado de Chao
(2006).
Proposta para estudo de viabilidade técnica e econômica em escala real
A proposta inicial de viabilização do estudo para escala real, parte da utilização
de lodo bruto, proveniente de decantador convencional ou do tipo pulsator, de ETAs
que utilizem os coagulantes à base de sais de ferro e alumínio. Os testes iniciais são
indicados em dimensão de bancada, com o intuito de validar a redução de fósforo total,
utilizando-se diferentes proporções de lodo de ETA e efluente de ETE, em diferentes
tempos de contato, e com a finalidade de obter a concentração de maior eficiência na
remoção de fósforo, porém, que mantenha a quantidade mínima requerida para o
desenvolvimento dos microrganismos. A caracterização dos insumos é importante para
quantificar a incorporação de elementos que não estão contidos no esgoto sanitário e
que podem ocasionar influência no processo de tratamento.
A escolha da característica do lodo de ETA teve como base os testes de bancada
realizados por Chao (2006) que apresentaram resultados satisfatórios, de até 100%, na
remoção de fósforo solúvel, em efluente tratado de sistema de lodos ativados. Foram
realizados testes utilizando lodo de uma estação de tratamento de água, que utiliza
sulfato de alumínio como coagulante. Os parâmetros analisados para o lodo de ETA
foram: pH, fósforo solúvel e total, sólidos totais, alumínio, cádmio, chumbo, cobre,
mercúrio e zinco. Já para o efluente de ETE foram: DBO, fósforo total e solúvel,
cádmio, chumbo, cobre, cromo, ferro total e solúvel, manganês total, mercúrio, zinco,
série nitrogenada, sulfato e sulfeto. Complementarmente, Scalize (2009) realizou
ensaios para caracterização do afluente e efluente da ETE-Piloto, segundo os seguintes
parâmetros: DQO, DBO, remoção de DQO (%), remoção de DBO (%), pH,
condutividade elétrica, sólidos totais, sólidos totais fixos, sólidos voláteis, sólidos
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suspensos totais, sólidos suspensos fixos, sólidos suspensos voláteis, sólidos dissolvidos
totais, sólidos dissolvidos fixos, sólidos dissolvidos voláteis, sól. sedimentáveis,
turbidez, cor, cloreto, nitrogênio amoniacal, nitrato, nitrito, nitrogênio total kjeldahl,
fosfato total e metais.
Omoto (2009) avaliou a influência do lodo de ETA no efluente doméstico a
partir de levantamento de dados em três testes diferentes: atividade do lodo da ETA no
efluente tratado e bruto (Teste 1); Efeito da floculação na biodegradabilidade do
efluente (Teste 2); ensaio in loco em uma estação de tratamento (Teste 3). Os resultados
obtidos para o teste 1, em bancada, demonstraram que no esgoto tratado ocorreu um
aumento da turbidez devido à presença de sólidos finos no lodo, enquanto os sólidos
sedimentados (mL.L-1) apresentaram um aumento maior, comprovando que o material
adicionado tem atividade no esgoto tratado, aumentando a eficiência do tratamento.
Para o teste 2, em bancada, observou-se que as condições de agitação antes da
inoculação não interferiram nos resultados da biodegradabilidade do efluente. Já para o
teste 3, em escala real, a adição do lodo da ETA na ETE atribuiu as mesmas
características do que foi observado em laboratório. A turbidez foi reduzida, entretanto
o parâmetro mais alterado foi o índice de fósforo, reduzindo em torno de 35%. Outros
parâmetros tiveram pouca variação, não afetando as condições de operação da ETE.
Outro fato a salientar é que os sólidos existentes não alteraram o escoamento do efluente
mantendo a eficácia do bombeamento e não ocasionando acúmulo no poço ou danos ao
rotor da bomba.
Scalize (2003) na segunda fase de seu estudo, em uma estação piloto de esgotos,
composta de lagoa de aeração seguida de lagoa de sedimentação, avaliou a influência do
esgoto tratado que sofreu tratamento com resíduo de ETA, verificando que houve
melhora na qualidade do efluente final em termos de DQO, DBO, SST, turbidez, cor,
amônio, nitrato, NTK e fosfato total. Os parâmetros ST, SDT, cloreto, nitrito,
condutividade e pH não apresentaram diferenças significativas. Em relação ao exame
microscópico não houve influências negativas no licor misto das lagoas de aeração. O
lodo formado nas lagoas de sedimentação piloto apresentou-se em maior quantidade na
lagoa que recebeu resíduo da ETA. Baseado neste estudo não foi verificado
interferências que possam impedir o lançamento do resíduo na estação estudada.
As sugestões da sequência de ensaios partiram de um princípio de
economicidade, levando em consideração ETEs já estabelecidas com tratamento
convencional por lodos ativados, o reúso de um resíduo, a restrição dos valores
máximos permitidos para lançamento de efluentes, ocorrido nas últimas décadas, e a
possível redução de investimentos em modificações estruturais de processos já
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consolidados. Posteriormente, testes para determinação da taxa de consumo de oxigênio
também deverão ser realizados, pois este ensaio permite avaliar a velocidade dos
processos metabólicos nos sistemas aeróbios com lodo em suspensão, podendo ser
utilizado para determinação da toxicidade (OMOTO, 2009). Finalmente deverão ser
consideradas as questões que envolvem adequações no projeto operacional da ETE bem
como a viabilidade econômica e operações para transferência do lodo da ETA. A
proposta dos ensaios é apresentada na Tabela 1. Considerando o estudo dos autores e a
Resolução CONAMA n° 430, de 13 de maio de 2011, sugere-se que os ensaios de
caracterização de ambos insumos contemplem a análise de todos os parâmetros
abordados nesta Resolução, para esgoto sanitário, como forma de antecipação ao
balanço material do processo e garantia do atingimento dos padrões máximos de
lançamento de efluentes sanitários. Recomenda-se ainda, de forma a assegurar os
resultados, que os ensaios sejam realizados por laboratórios reconhecidos ou acreditados
pelos órgãos indicados nesta resolução.
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Tabela 1. Proposta sequencial para determinação da viabilidade técnica e econômica
ETAPA VARIÁVEIS DE PROCESSO
PARÂMETROS DE CONTROLE
RESULTADOS ESPERADOS
1- BANCADA: TESTE DE JARROS
Lodo bruto (ETA) Efluente bruto (ETE) Tempo de mistura (contato)
pH Concentração de fósforo Alcalinidade
Eficiência na remoção de fósforo
2-BANCADA: TESTE DE JARROS
Lodo bruto (ETA) Efluente bruto (ETE) Lodo Ativado (ETE) Tempo de mistura (contato)
pH Concentração de fósforo Alcalinidade Taxa de consumo de oxigênio Série de sólidos Série nitrogenada Teor de incorporação do lodo de ETA Índice volumétrico do lodo
Eficiência na remoção de fósforo, sem inativação da biomassa Manutenção da eficiência de nitrificação Manutenção da eficiência de remoção de carga orgânica
3-ESCALA REAL
Transporte do lodo Adequação do projeto às operações unitárias da ETE Custos operacionais
Análise de projeto de redes de esgoto para determinar a velocidade de escoamento do lodo através de redes coletoras Análise de projeto para definir local de aplicação e mistura do lodo de ETA com o esgoto Análise da limitação de introdução de oxigênio no sistema aerado Análise do dimensionamento para recebimento de acréscimo de lodo no decantador secundário Caracterização do lodo final para tratamento e destinação do lodo excedente
Viabilidade técnica e econômica
Fonte: Elaborado pelos autores.
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A proposta de ensaios para aplicação em escala real levou em consideração,
portanto, os estudos dos autores que obtiveram resultados satisfatórios para remoção de
fósforo em esgoto sanitário utilizando lodo de ETA. A primeira etapa consiste em
avaliar a eficiência de remoção de fósforo pelo tempo de contato do esgoto bruto com o
lodo de ETA. A segunda etapa incrementa a avaliação de possível interferência do lodo
de ETA no lodo biológico de forma a dar garantia da manutenção dos demais processos
oxidativos. A variação nas proporções de lodo bruto (ETA), lodo bruto (ETE) e lodo
ativado (ETE), avaliados nos diferentes tempos de contato, possibilitarão a obtenção de
dados quantitativos de lodo de ETA necessários para um ponto ótimo de remoção do
fósforo garantindo a manutenção da biomassa. Os valores obtidos permitirão avaliar se
o lodo gerado em determinada ETA estará adequado à quantidade demandada para a
remoção de fósforo nas condições anteriormente estipuladas. Por fim, faz-se necessário
um estudo direcionado ao projeto das redes de transporte do lodo, onde se aplicaria o
processo, bem como das adaptações necessárias a estas operações, que deverá ser
validado individualmente devido às especificidades de cada sistema de tratamento. As
adaptações de projeto podem requerer custos adicionais que deverão ser comparados
com os custos de tratamento e destinação do lodo de ETA, bem como polimento do
efluente com pós tratamento físico-químico utilizando insumo com maior grau de
pureza. Estas etapas subsidiarão avaliações de maior confiabilidade à viabilidade
técnica e econômica deste estudo.
Conclusões
O presente estudo pretendeu contribuir para a gestão dos sistemas de
saneamento, instigando técnicos e gestores no fomento à realização dos ensaios
propostos e intenção de viabilização da aplicação deste processo em escala real,
demonstrando através de estudos de outros autores que pode ser uma alternativa viável
para remoção de fósforo em ETE e agregação de valor ao lodo de ETA. Visando os
princípios de robustez e economicidade, optou-se pela referência de ETA que utilize
decantadores convencionais ou tipo pulsator e ETE de lodos ativados. Foram
levantados os principais aspectos que devem ser avaliados para que se tenha êxito na
aplicação do método bem como uma proposta sequencial de ensaios obtida a partir da
compilação dos dados de revisão. Almeja-se, desta forma, que as estações de tratamento
de esgotos e estações de tratamento de água sejam planejadas de forma integrada,
considerando o lodo de ETA como insumo, de valor agregado, a ser utilizado no
processo de tratamento de esgotos, para remoção de fósforo. Sinaliza-se, portanto, a
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possibilidade de uma alternativa econômica sustentável, com reúso de resíduo, para fins
de atendimento legal e preconizando a economia de recursos financeiros e ambientais.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de
Financiamento 001 e da Agência Nacional de Águas (ANA) através do Projeto
CAPES/ANA AUXPE N°. 2717/2015 - Portaria CAPES nº 206, de 04 de setembro de
2018. Agradecemos ao Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em
Gestão e Regulação de Recursos Hídricos -PROFÁGUA da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pelo
apoio técnico científico oferecido, e a ANA e a CAPES pelo apoio ao PROFÁGUA
aportado até o momento.
Referências
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tratamento de esgoto com reator anaeróbio recebendo lodo de estação de
tratamento de água Actiflo®. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
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ADSORÇÃO DE CÁDMIO (II) EM SOLUÇÃO AQUOSA UTILIZANDO
BIOCHAR DE PLANTA ÁQUATICA
Ellen Jessica Monteiro Pereira Campos1 , Fabiana Soares dos Santos1, Gilmar Clemente Silva1& Thiago
Queiroz Jardim Rodrigues1
¹Universidade Federal Fluminense, Av. dos Trabalhadores, nº 420 – Vila Santa Cecília. Volta Redonda,
RJ, Brasil
Email: [email protected]
Resumo: A crescente preocupação com o lançamento de efluentes contendo metais
pesados no meio aquático, trouxe a busca por métodos alternativos de remoção de alta
eficiência. A poluição por metal pesado é uma das principais fontes de poluição no
ambiente aquático, o cádmio (Cd) é um metal comumente encontrado em águas
residuais de processos industriais e é considerado um metal tóxico e carcinogênico. O
biochar que consiste em um produto da pirólise de uma biomassa se torna uma
alternativa sustentável na adsorção de metais pesados de solução aquosa. O presente
estudo objetivou analisar o potencial do biochar da planta aquática Pistia stratiotes na
remoção de Cd (II) de soluções aquosas por adsorção e verificar o efeito da temperatura
de pirólise sobre a adsorção. Foram testadas as massas de 0,15 e 0,25 gramas do biochar
nas temperaturas de 400°C, 500°C e 600°C, para as concentrações de 10 mg.l-1 e 80
mg.l-1. A partir dos resultados foi possível verificar que os biochars produzido a 500°C
e 600°C apresentaram maior potencial de remoção e que a massa de 0,15 gramas é
suficiente para remoção de 90% dos íons de cádmio da solução aquosa. Assim, o
biochar revela-se um material promissor para adsorção de metais pesados devido seu
alto poder de remoção, podendo vir a ser utilizado na prática em descontaminação de
efluentes.
Palavras-chave: Pistia Stratiotes, Metal Pesado, Biossorção, Remediação
Introdução
A presença de metais pesados no meio aquático se tornou um grande problema
ambiental devido a sua alta toxicidade e a bioacumulação que estes promovem na
cadeia alimentar (LEE et al, 2019). O cádmio é um metal pesado tóxico e carcinogênico
de ampla aplicação industrial, sendo utilizado na produção de baterias, pigmentos,
indústrias automobilística, telecomunicações, chapas de ferro e aço, dentre outras. Pode
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entrar no ambiente a partir de fundição e refino de zinco, combustão de carvão, resíduos
de minas, produção de ferro e aço e do uso de fosfato de rocha e lodo de esgoto como
fertilizantes (MOHAN et al, 2014).
Existem diversos métodos para remoção de metais de efluentes, mas muito
destes são caros, pouco eficientes e geram resíduos secundários. Ao longo dos anos a
tecnologia de remediação vem evoluindo em busca de um método alternativo de baixo
custo e mais eficiente, e o foco de pesquisas tem se voltado para sistemas
ambientalmente amigáveis para remoção de metais pesados de efluentes (ADENIYI e
IGHALO, 2019). A utilização da biomassa de plantas e de mircrorganismos tem sido
uma alternativa sustentável e eficiente na remoção destes (FENG et al., 2017).
Macrófitas aquáticas têm sido amplamente estudadas para esta finalidade, por serem
uma biomassa natural, renovável e que se proliferam de forma abundante nas zonas
litorâneas do mundo, além de possuir capacidade de adsorção de contaminantes
variados como os metais pesados (SARASWAT e RAI, 2010). O processo de adsorção
consiste em uma operação o qual o soluto de uma solução, denominado adsobarto, é
migrado para a superfície do adsorvente, que é o material que possui a capacidade de
reter uma ou mais espécies de moléculas ou íons presentes na solução. Este método é
considerado, atualmente, como o mais econômico, eficiente e seletivo para remoção de
metais pesados de efluentes contaminados, devido a sua capacidade de remover
poluentes mesmo a baixas concentrações e pela disponibilidade variada de materiais que
possam ser utilizados como adsorvente (VARDHAN et al, 2019). A utilização do
biochar como adsorvente vem ganhando ênfase devido ao seu comprovado poder de
remoção de íons metálicos de soluções aquosas. O biochar é um produto rico em
carbono originado de biomassa carbonizada por pirólise, podendo ser produzido a
diferentes temperaturas de pirólise, que irão produzir uma infinita variedade de biochar
que pode ser utilizado desde como combustíveis a adsorventes (GOH et al., 2019).
Assim, este trabalho teve como objetivo analisar o potencial do biochar da planta
aquática Pistia stratiotes na remoção de íons Cd (II) de soluções aquosas por adsorção e
verificar o efeito da temperatura de pirólise sobre a adsorção.
Material e Métodos
Os experimentos deste trabalho foram realizados no Laboratório de Solos da
Universidade Federal Fluminense (UFF), situada na cidade de Volta Redonda, Rio de
Janeiro. Plantas da macrófita aquática alface d'água (Pistia stratiotes) foram coletadas
no Lago do Instituto de Química da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ). Em seguida, essas plantas foram lavadas em água corrente e, posteriormente,
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em água deionizada, sendo levadas à estufa de circulação forçada de ar a 65°C até
atingirem peso constante. Essas plantas foram trituradas em moinho com peneira de 2
mm de malha, para aumento da superfície específica e consequente aumento da área
exposta à solução contaminada por metais pesados. Essa biomassa seca foi utilizada na
preparação do biochar, que foi produzido através da pirólise, onde esse material foi
colocado em tubo de vidro e mantido em forno mufla sob condições limitadas de O2,
mantendo um fluxo de N2 de 200 ml.min-1 .
O experimento foi conduzido com uma rampa de aquecimento de 10ºC min-1 até
atingir a temperatura final desejada, permanecendo nesta temperatura por um período de
60 minutos. Visando testar o efeito da temperatura de pirólise na eficiência de adsorção
foram produzidos biochar da planta aquática Pistia stratiotes,o qual foi preparado para
três temperaturas diferentes de pirólise, 400°C, 500°C e 600°C. O experimento de
adsorção do Cd (II) foi realizado em um sistema o qual foi preparado uma solução
estoque de 500 mg.l-1 de cobre utilizando o sal nitrato CdNO3. H2O, e desta preparou-se
soluções com concentrações de 10 e 80 mg.l-1. A partir destas, foram dispostos 100 ml
de cada solução do metal em erlenmeyers, onde foi misturada com massas diferentes do
adsorvente, 0,15 e 0,25 gramas do biochar, de cada temperatura, e colocado no agitador
rotativo na velocidade de 200 rpm. Alíquotas foram coletadas em intervalos de tempo
de 5, 10, 30, 60, 120, 360, 720, 1440, 2880,4320, 5040 e 5760 minutos, a fim de se
obter a quantidade de massa ideal para a melhor adsorção do metal. A taxa percentual
de remoção R% do metal em solução foi determinada utilizando a equação:
𝑅% =(𝐶𝑜−𝐶𝑒)∗100
𝐶𝑜
Em que, Co e Ce são as concentrações inicial e final do metal em solução (mg.l-1),
respectivamente.
Resultados e Discussão
Na Figura 1 observa-se que para a concentração de 10 mg.l-1, nos biochars
produzidos a 400 °C e 500°C, o aumento da massa não aumentou a eficiência de
remoção, obtendo para a massa de 0,15 gramas porcentagem de 94,7% e 99,4%,
enquanto que para 0,25 gramas de adsorvente obteve 88,9% e 97,4%, respectivamente
para as duas temperaturas. Segundo Cibati et al (2017), o aumento da massa pode causar
agregação e insaturação dos sítios de sorção, explicando assim a menor eficiência em
massas mais elevadas.
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Figura 1. Porcentagem máxima de adsorção de Cd(II) nas concentrações de 10 e 80
mg.l-1 contendo diferentes massas do biochar produzidos a 400°C, 500°C e 600°C.
Para o biochar de 600°C o aumento da massa implicou em um aumento na
remoção de íons de cádmio, podendo ser explicado devido ao aumento da dosagem
promover um maior número de sítios ativos para adsorção de cádmio (PARK et al,
2019). Para a concentração de 80 mg.l-1, observa-se que, para o biochar produzido a 400
ºC houve aumento na adsorção de Cd(II) usando maior quantidade de massa (0,25g).
Para os biochars produzidos a 500 e 600 ºC, não houve diferença significativa entre
eficiência de adsorção, mostrando que a massa de 0,15 gramas é suficiente para reduzir
a concentração de Cd(II) em solução.
Comparando a temperatura de produção do biochar, observa-se que houve um
aumento significativo nas concentrações de Cd(II) adsorvidos pelos biochars produzidos
a maiores temperaturas (500 e 600 0C). Em concentrações mais elevadas de Cd(II) (80
mg.l-1) o biochar produzido a 600 0C apresentou maiores porcentagens de Cd(II)
adsorvidas enfatizando o efeito da temperatura de produção do biochar no aumento da
capacidade de adsorção de íons. Nota-se que o biochar produzido a 400°C foi o que
apresentou menor eficiência comparada aos outros que atingiram remoção acima de
90%, que pode ser relacionado a maior quantidade de hidrogênio, ao menor o teor de
carbono e ao fato do tamanho dos poros serem menores em relação aos outros biochars
(CIBATI et al., 2017). Com o aumento da temperatura pirolítica, o teor de carbono
aumenta, enquanto os teores de oxigênio e hidrogênio diminuíram, aumentando o poder
de adsorção (CHEN et al., 2008).
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Chun et al., 2004 obteve resultados semelhantes ao analisar o biochar de
resíduos de plantações na temperaturas de 300°C, 500°C e 700°C e observou que a altas
temperaturas o resíduos são quase completamente carbonizados e exibem uma área
superficial relativamente alta, pouco carbono orgânico, baixo teor de oxigênio e baixa
quantidade de grupos superficiais polares. Em contraste, os biochars obtidos a baixas
temperaturas são apenas parcialmente carbonizados e mostram as propriedades da
superfície oposta em cada um dos aspectos citados anteriormente. Li et al. (2015), que
produziu o biochar da planta aquática aguapé, a temperatura de 200 a 700°C, obteve
resultados o qual a capacidade de adsorção de Cu(II) aumentou com o aumento da
temperatura de pirólise, obtendo melhor eficiência com o biochar de 700°C.
Conclusões
Com base no estudo, a macrófita aquática Pistia stratiotes demonstrou ser um
biosorvente efetivo na remoção dos íons de Cd (II), e foi constatado que a temperatura
de pirólise na produção do biochar é um fator importante que contribuiu para o aumento
da eficiência de remoção dos metais. Este estudo demonstrou que os biochars de 500°C
e o de 600°C foram mais eficientes que o de 400°C. Para a concentração de 10 mg.l-1 a
utilização do biochar de 500 °C com 0,15 gramas foi o suficiente para remover 99,4%
dos íons metálicos e para a concentração de 80 mg.l-1 o biochar de 600°C se mostrou
mais eficiente não demonstrando diferença significativa entre as massas de 0,15 gramas
e 0,25 gramas, obtendo remoção de 99,5% e 99,7% respectivamente.
O biochar da planta aquática Pistia stratiotes possui grande potencial de
adsorção de íons metálicos, como o Cd (II), de meio aquático, revelando-se um material
sustentável e promissor para adsorção de metais pesado devido seu alto poder de
remoção, podendo vir a ser utilizado na prática em descontaminação de efluentes.
Referências
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leaves: An empirical review. Journal Of Environmental Chemical Engineering,
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and zinc adsorbent: Study of the effect of pyrolysis temperature, pH and hydrogen
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VARDHAN, Kilaru Harsha; KUMAR, Ponnusamy Senthil; PANDA, RamesC.. A
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future perspectives. Journal Of Molecular Liquids, [s.l.], p.197-203, jun. 2019.
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LEVANTAMENTO DE DESCARTE INADEQUADO DE RESÍDUOS DE
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE DE CABO FRIO-RJ
Fernanda Lourenço Campos Fonseca1, Anderson Amendoeira Namen1, 2& Izabella Christynne Ribeiro
Pinto Valadão3
1 Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna, nº108, Tijuca - Rio de Janeiro, 20.271-020, Brasil
2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier, nº 524 - Maracanã, Rio de
Janeiro, 20550-900, Brasil
3 Universidade Federal Fluminense, Rua Miguel de Frias, nº 9- Icaraí, Niterói, 24220-900, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: Esse trabalho busca comparar os resultados quantitativos do descarte
inadequado de resíduos de construção e demolição (RCDs) em três bairros do município
de Cabo Frio – RJ, que possuem diferentes características em termos de expansão.
Foram realizadas visitas in loco nos bairros Jardim Excelsior, Ville Blanche e Portinho,
com coleta de dados e registros fotográficos dos pontos de disposição irregular. As
zonas de descarte foram quantificadas por bairro e classificadas pela localização do
descarte, destacando-se os descartes realizados em vias públicas, em terrenos baldios,
em pontos de drenagem e em áreas de interesse ecológico, paisagístico ou científico. Os
descartes também foram classificados pelas classes de resíduos identificadas no
montante de RCD disposto e pelo volume estimado de resíduos descartados. Para o
cálculo do volume estimado uma metodologia própria foi proposta. Foi elaborado um
mapa contendo os pontos identificados, permitindo assim a visualização das áreas com
maior ocorrência de despejos. As informações apresentadas nos indicadores associadas
ao mapeamento podem contribuir para uma análise da problemática dos descartes
inadequados de RCDs e para elaboração de estratégias para a melhoria do problema
apresentado.
Palavras-chave: Descarte de resíduos, Indicadores, Resíduos de Construção Civil,
Reciclagem.
Introdução
Dos resíduos sólidos gerados pela sociedade em suas diversas atividades,
aproximadamente 50% são oriundos da construção (MMA, 2017). A preocupação com
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a geração de RCDs atinge vários países do mundo, que têm se engajado em buscar
melhorias e soluções para esta questão. Em 2012, China, Índia, Estados Unidos, França
Alemanha e Reino Unido estavam entre os maiores geradores de RCDs no mundo
(AKHTAR; SARMAH, 2018).
Segundo dados de um Relatório da Comissão Nacional de Desenvolvimento e
Reforma na China, o país gerou em 2013 cerca de um bilhão de toneladas de RCDs.
Além deste, outro relatório da Aliança Estratégica de Inovação Tecnológica para a
Indústria de Reciclagem de Resíduos da China aponta que o país produziu entre 1,55 e
2,50 bilhões de toneladas por ano, valor este que representa duas a três vezes mais
geração de RCDs que toda a União Europeia (DUAN; LI, 2016).
Analisando os Estados Unidos, os RCDs gerados no país incluem atividades de
construção, reformas e demolições de edifícios, estradas e pontes. A Agência de
Proteção Ambiental dos EUA (U. S. EPA) estimou que 548 milhões de toneladas de
RCDs foram gerados no país em 2015 (U. S. EPA, 2018).
Na França, o setor de construção civil gera em torno de 15% do total de resíduos
gerados, o que equivale a 50 milhões de toneladas por ano. Desses resíduos, 65% são
provenientes de demolições, 28% de reformas e 7% são novas construções. Estima-se
que menos de 50% destes RCDs são reciclados (MCTRACT, 2018).
Já o Reino Unido apresentou, entre 2004 e 2012, índices de geração de resíduos
da construção em torno de 100 milhões de toneladas por ano, superando os índices de
resíduos domésticos (em torno de 30 milhões de toneladas por ano em 2012), de
resíduos industriais e comerciais (aproximadamente 50 milhões de toneladas por ano em
2012) e outros não especificados. O Reino Unido tem uma geração expressiva de RCDs
em relação à União Europeia, tendo produzido em 2012 1,573 kg de RCDs per capita,
enquanto que a União Europeia, composta por 27 países, teve no mesmo período a
geração de 1,638 kg de RCDs per capita (DEFRA, 2015).
No Brasil, segundo a ABRELPE (2018), os municípios coletaram cerca de 45
milhões de toneladas de RCDs em 2017, representando uma geração de cerca de 600
gramas de resíduos por habitante por dia. Alguns estudos vêm sendo realizados nos
últimos anos, visando analisar situações de disposição irregular de RCDs
(PASCHOALIN FILHO; DIAS; CORTES, 2014; KAWATOKO; SILVA, 2015;
KLEIN; DIAS, 2017; DA COSTA et al., 2017). Essa disposição tem causado enchentes,
perda de infraestrutura de drenagem por entupimento de galeria e assoreamento de
canais, além da proliferação de vetores, poluição e aumento de custos da administração
pública (MAYORGA et al, 2009; ABRECON, 2015; KLEIN; DIAS; 2017). Cabe
ressaltar que somente 54,8% dos municípios brasileiros possui um Plano Integrado de
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Resíduos Sólidos, sendo que da totalidade dos municípios que possuem esse plano,
82,1% são tratados individualmente, não havendo um planejamento que integre grupos
de municípios em seu entorno (IBGE, 2017).
São considerados resíduos de construção e demolição (RCDs) os resíduos
provindos de reformas, construções, reparos e demolições de obras de construção civil,
assim como os resíduos gerados na preparação e escavação do solo. Entre eles estão
incluídos vários materiais, muitas vezes chamados de entulhos de obras, metralha ou
caliça, segundo define a resolução 307 (CONAMA, 2002), alterada pelas resoluções n.º
348 (CONAMA, 2004), 431 (CONAMA, 2011), 448 (CONAMA, 2012) e 469
(CONAMA, 2015). Segundo a resolução 448, os RCDs não podem ser descartados em
áreas de "bota-fora", em lotes vagos, em encostas, corpos d'água, em áreas protegidas
por lei e em aterros de resíduos sólidos urbanos (CONAMA, 2012). Estes materiais são
classificados como (CONAMA, 2002):
• Classe A: Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, de
construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de
infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; resíduos de construção,
demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos,
telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; resíduos de processo de
fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-
fios etc.) produzidas nos canteiros de obras.
• Classe B: Resíduos recicláveis para outras destinações, tais como
plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas
imobiliárias e gesso (Redação dada pela Resolução nº 469/2015).
• Classe C: Resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação
(Redação dada pela Resolução n° 431/11).
• Classe D: Resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais
como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde
oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações
industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham
amianto ou outros produtos nocivos à saúde (Redação dada pela Resolução n° 348/04).
O mapeamento de pontos de disposição de resíduos da construção civil é uma
forma de auxiliar órgãos públicos na implementação do Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos e estimular empresas de reciclagem de RCDs a aplicarem
o princípio dos 3R’s, reutilizando e reciclando materiais que atualmente geram poluição
ambiental e visual e causam prejuízos para a sociedade. Este mapeamento pode
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contribuir para a definição de pontos de entrega voluntária, também conhecidos como
PEVs, em locais estratégicos (OLIVEIRA; PASCHOALIN FILHO, 2016).
Ressalta-se que a reciclagem de RCDs e sua reutilização na própria construção
civil, como matéria-prima alternativa, contribui para a redução da superexploração de
jazidas minerais de extração de recursos naturais não renováveis. Ademais, a carência
de locais para a deposição desses resíduos, fazendo com que as distâncias entre os locais
de demolição e as áreas de disposição sejam cada vez maiores, implica na oneração dos
custos de transporte. A reciclagem contribui também para a ampliação da vida útil dos
aterros, especialmente em grandes cidades, em que a construção civil é intensa e há
escassez de área para deposição (BRASILEIRO; MATOS, 2015).
Dentro dessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo geral comparar os
resultados do descarte inadequado de RCDs de três bairros do município de Cabo Frio,
com diferentes características em termos de expansão. Mais especificamente, a pesquisa
busca levantar pontos onde há ocorrência de descarte irregular de RCDs em três
diferentes bairros da cidade, apresentando-se:
▪ Indicadores referentes à quantidade de ocorrências de acordo com as
características do local de descarte;
▪ A classificação dos materiais descartados de acordo com a norma
CONAMA 307 (2002);
▪ A estimativa dos volumes de RCDs descartados em cada bairro;
▪ O mapeamento dos pontos de descarte inadequado identificados no
estudo.
Material e métodos
O município de Cabo Frio, objeto desse estudo, é o município de maior
expressão regional, tanto em área territorial como em número de habitantes, e contribui
significativamente na geração de resíduos na Região dos Lagos, seguido pelo município
de São Pedro da Aldeia, que somados respondem por 80,84 % do total de resíduos
sólidos gerados (CARLOS JÚNIOR et al., 2012). Dados da Prefeitura Municipal de
Cabo Frio (PMCBF, 2017), indicam que durante a alta temporada no verão, milhões de
turistas passam pela cidade, ocupando 95% da rede hoteleira. Ao longo do ano a
ocupação hoteleira chega a 60%. Em função do acréscimo no fluxo de visitantes na
cidade de Cabo Frio durante a alta temporada, ocorre a ampliação na geração dos
resíduos sólidos urbanos (RSUs) e RCDs. O município apresenta, segundo a Secretaria
de Estado do Ambiente, um índice de geração per capita de 0,90kg/habitante/ano de
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RCDs, aproximadamente 50 por cento superior à média nacional, sendo seu quantitativo
estimado em 126,44 t/dia (SEA, 2013).
São consideradas como áreas de proteção permanente em Cabo Frio os
manguezais e as áreas estuarinas, as dunas, a vegetação de restinga, as nascentes e as
faixas marginais de proteção de águas superficiais, os sítios arqueológicos pré-históricos
e históricos, entre outros (SECFA, 2018). A zona costeira, as coberturas vegetais
nativas, as ilhas costeiras, o Canal do Itajuru e a Laguna de Araruama, entre outros, são
consideradas áreas de interesse ecológico, paisagístico e científico, devendo ser
preservados seus atributos essenciais, conforme define o artigo 182 da Lei Orgânica
Municipal de Cabo Frio (SECFA, 2018).
Para a realização deste estudo os seguintes bairros, localizados na zona central
do município, foram visitados: Jardim Excelsior, Ville Blanche e Portinho. O bairro
Portinho possui área aproximada de 800 km2. Beira o Canal do Itajuru, o Canal Palmer
e parte da Laguna de Araruama. Este bairro contém uma área com vegetação
característica de mangue, além de sítios arqueológicos. Possui construções antigas e
atualmente passa por expansão (Loteamento Novo Portinho), com grande aumento de
empreendimentos imobiliários. O bairro Ville Blanche, cujas construções são, em sua
grande maioria, antigas, contém quase 14 hectares de área, não possuindo lotes sem área
construída. Já o bairro Jardim Excelsior, tem área estimada de aproximadamente 44
hectares e apresenta construções antigas mescladas a novos empreendimentos, além de
terrenos ainda sem imóveis construídos. A região visitada pode ser visualizada na
Figura 1.
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Figura 1. Mapa com a localização dos bairros Portinho, Ville Blanche e Jardim
Excelsior, situados no município de Cabo Frio/RJ onde foram realizadas as coletas de
pontos de descarte inadequado de RCDs. Fonte: Google Maps (adaptado).
Os dados contendo a caracterização das disposições irregulares de RCDs foram
coletados no período de 05 de abril de 2018 a 16 de maio de 2018. Neste intervalo
foram realizadas visitas in loco por todas as ruas dos bairros analisados e os pontos que
continham disposição irregular de RCDs foram fotografados e catalogados em uma
planilha desenvolvida no programa Excel, onde informações referentes ao material
descartado e ao local de descarte foram registradas para posterior análise e extração de
indicadores. Os seguintes dados foram registrados:
▪ A data da coleta e o endereço do ponto de descarte, contendo o nome da
rua, o número, o bairro, o município e o estado;
▪ As classes de resíduos identificadas e a descrição dos materiais
identificados para cada classe, sendo: para Classe A, os solos, cerâmicos, concreto,
argamassa e peças pré-moldadas em concreto; para Classe B, os plásticos, papéis,
papelão, vidros, madeira, metais, gesso e embalagens vazias de tintas; para Classe C, os
materiais sem tecnologia de reciclagem ou recuperação; para Classe D, as tintas, os
solventes, óleos, amianto, resíduos radiológicos ou industriais; para Outros, os resíduos
provenientes de podas, resíduos domiciliares, inservíveis, entre outros;
▪ A imagem do resíduo;
▪ A especificação do volume;
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▪ A criticidade do local do descarte: se era área de interesse ecológico,
paisagístico ou científico e a descrição da área de interesse; se o descarte estava
próximo a ponto de drenagem; se o descarte foi feito em via pública ou calçada e se o
descarte foi feito em terreno baldio;
▪ A localização georreferenciada do ponto.
A localização de cada ponto foi marcada com a utilização da função de envio da
localização do aplicativo WhattsApp, e transcrita posteriormente tanto para a planilha,
para registro dos dados, quanto para o aplicativo Google Maps, para a marcação da
localização de cada ponto no mapa do município, permitindo assim que o mapa de
pontos de descarte inadequado fosse gerado.
A análise posterior dos dados coletados foi realizada a partir da elaboração de
gráficos de caráter quantitativo, considerando os volumes descartados, com o intuito de
obtenção de informações comparativas agrupadas por diferentes parâmetros, como
bairro analisado, classe do RCD ou característica da área de descarte. A geração dos
gráficos foi realizada por intermédio do recurso de geração de gráficos dinâmicos
disponibilizado no Excel.
Devido à impossibilidade de retirada e medição do volume dos materiais
descartados, foram realizadas observações in loco e análises visuais dos registros
fotográficos, estimando-se os volumes descartados de cada ponto. Utilizou-se como
referência uma caçamba de 5m3 (Figura 2), considerando-se, como critério de volume
para cada ponto de descarte, as seguintes medidas: ¼ de caçamba ou menos de RCDs;
½ caçamba de RCDs; ¾ de caçamba de RCDs; 1 caçamba de RCDs e mais de uma
caçamba de RCDs, sendo que para mais de uma caçamba de RCDs foram estimadas as
respectivas quantidades de caçambas em cada ponto identificado.
Figura 2. Modelo de caçamba adotado. Fonte: O Autor.
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Resultados e discussão
Foram detectados 69 pontos de descarte inadequado nos três bairros visitados,
sendo 9 pontos na Ville Blanche, 52 pontos no Portinho e 8 pontos no Jardim Excelsior.
Em relação aos locais de descarte, foi possível constatar que a maior parte dos resíduos
foram descartados em terrenos baldios nos bairros Jardim Excelsior e Portinho. Já o
bairro Ville Blanche, que não possui terrenos baldios, teve a totalidade de descartes
inadequados feitos nas calçadas. No bairro Portinho foram identificados descartes em
áreas de importância ambiental, paisagística e científica, como os manguezais, o entorno
da Laguna de Araruama, o entorno do Canal Palmer e os sítios arqueológicos. No
Jardim Excelsior não foram constatados descartes próximos a bueiros nem descartes em
áreas de importância ambiental relevante. No bairro Ville Blanche houve maior
incidência de disposição de RCDs sobre bueiros, favorecendo entupimentos e
problemas de drenagem das vias (Figura 3).
Figura 3. Local de descarte de RCDs por bairro. Fonte: O Autor.
Como o bairro Portinho está em processo de urbanização, a quantidade de obras
é maior e, consequentemente, há maior descarte de resíduos; porém, como o bairro
possui muitos terrenos baldios, os moradores acabam utilizando essas áreas como “bota-
fora”, descumprindo o que define a resolução 448 (CONAMA, 2012) sobre disposição
de resíduos sólidos da construção civil. A expansão do bairro pode ser observada na
Figura 4.
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Figura 4. Vistas aéreas do bairro Portinho em 2004 (esquerda) e em 2017 (direita).
Fonte: Google Earth (Adaptado).
Os resíduos dos pontos identificados também foram classificados de acordo com
a sua composição. Observa-se maior incidência de resíduos da classe A nos três bairros,
seguida de proporção significativa de resíduos da classe B. O bairro Jardim Excelsior
apresentou a presença de resíduos classe A em 7 pontos (87,5% dos pontos), 5 pontos
continham resíduos classe B (62,5% dos pontos) e em 2 pontos foram identificados
outros resíduos, como podas, inservíveis e resíduos domiciliares (25% dos pontos). No
bairro Portinho foi identificada a presença de resíduos classe A em 51 pontos (98,1%
dos pontos), 36 pontos continham resíduos classe B (69,2%) e em 12 pontos foram
detectados outros resíduos (23,1% dos pontos). No bairro Ville Blanche, os 9 pontos
identificados continham resíduos classe A (100% dos pontos), 8 pontos apresentaram
resíduos classe B (88,9% dos pontos) e foram identificados inservíveis e resíduos
domiciliares em 5 pontos (55,6% dos pontos). Também foram detectados 3 pontos com
resíduos classe D, provavelmente em função de reformas para modernização dos
imóveis, visto que este é um bairro constituído de construções mais antigas. Foram
identificados descartes de telhas de amianto. Não foram observados resíduos da classe C
em nenhum dos três bairros. O comparativo da quantidade de ocorrências de cada classe
de resíduo por bairro é apresentado no gráfico na Figura 5.
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Figura 5. Comparativo entre ocorrências por tipo de RCD e por bairro. Fonte: O Autor.
Na Figura 6 são apresentados registros fotográficos do descarte inadequado de
RCDs próximo à Laguna de Araruama, no bairro Portinho (imagem da esquerda), e
próximo a bueiros do bairro Ville Blanche (imagem da direita).
Figura 6. Descarte inadequado de RCDs próximo à Laguna de Araruama (Bairro
Portinho) e próximo a bueiros (Bairro Ville Blanche). Fonte: O Autor.
Na Figura 7 é apresentado um gráfico contendo a quantidade de pontos de
descarte inadequado por bairro, agrupados de acordo com o volume de RCDs
encontrado, considerando-se a utilização de uma caçamba de referência de 5m3. Pode-se
notar que em todos os bairros predominam pontos de descarte caracterizados pela
ocorrência de pequeno volume de RCDs (¼ de caçamba ou menos). No entanto, é
possível identificar locais contendo alto volume de RCDs, especialmente nos bairros
Jardim Excelsior e Portinho.
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Figura 7. Indicador do volume total estimado de RCDs por bairro. Fonte: O Autor.
Estas somas representam aproximadamente 246,25m3 de RCDs descartados no
Portinho, 46,25m3 de RCDs descartados no Jardim Excelsior e 20m3 descartados no
bairro Ville Blanche (Figura 8). Cabe ressaltar que no bairro Portinho foram detectados
2 pontos com aproximadamente 2 caçambas de entulhos, 4 pontos com
aproximadamente 3 caçambas, 2 pontos com aproximadamente 4 caçambas e um ponto
com aproximadamente 5 caçambas. Já no bairro Jardim Excelsior havia um ponto com
aproximadamente 4 caçambas e outro com aproximadamente 2 caçambas de entulhos.
Figura 8. Indicador do volume total em m3 estimado de RCDs por bairro. Fonte: O
Autor.
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No mapa apresentado na Figura 9, são identificados os pontos de descarte
inadequado de RCDs nos bairros Jardim Excelsior, Ville Blanche e Portinho.
Figura 9. Mapeamento dos pontos de disposição inadequada de RCDs nos bairros
Jardim Excelsior, Ville Blanche e Portinho – Cabo Frio – RJ. Fonte: Google Maps
(Adaptado).
Conclusões
A falta de envolvimento e conscientização da população quanto aos impactos
ambientais gerados pelo descarte inadequado dos RCDs agravam os problemas
decorrentes desta ação, pois o aumento de áreas de “bota-fora” e entulhos facilitam o
alojamento e a proliferação de animais peçonhentos e vetores. Além disso, descartes
próximos a bueiros obstruem as canalizações de drenagem, prejudicando o escoamento
das águas pluviais, contribuindo para as inundações das vias do município. Os
investimentos realizados pela administração municipal são direcionados para corrigir as
consequências do descarte inadequado e da falta de implantação de programas de
gerenciamento, em vez de focar na causa raiz dos problemas.
Comparando-se as áreas envolvidas por este estudo, há uma maior ocorrência de
descarte inadequado em bairros que se encontram em fase de urbanização. Em bairros
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onde há grande incidência de terrenos baldios há uma maior ocorrência de áreas “bota-
fora”. Em contrapartida, em bairros com plena ocupação imobiliária, o descarte
inadequado ocorre em vias públicas. Observou-se que há uma predominância de
disposição de RCDs classe A seguidos de RCDs classe B, além da presença de resíduos
domiciliares, inservíveis e podas em alguns pontos, portanto os agregados recicláveis
necessitarão de separação prévia para serem reaproveitados. Ademais, notou-se que no
bairro mais antigo houve a disposição inadequada de telhas de amianto, classificadas
como RCD classe D.
Foram registrados descartes em áreas de importância ambiental, paisagística e
científica, como os manguezais, o entorno da Laguna de Araruama, o entorno do Canal
Palmer e os sítios arqueológicos. Também foi constatada a incidência de descartes sobre
bueiros e bocas de lobo. Como os bairros analisados são bairros residenciais afastados
do centro e dos pontos turísticos do município, a fiscalização não é praticada com a
frequência necessária, pois os pontos de descarte identificados permaneceram com
resíduos durante todo o período de observação, de aproximadamente um mês. Os
bairros com possibilidade de ter novas construções geram maior volume de RCDs do
que o bairro onde há plena ocupação, caso em que as residências sofrem pequenos
reparos e reformas pontuais, gerando um volume menor de resíduos.
O mapeamento dos pontos de descarte inadequado pode auxiliar na definição de
locais mais propícios para a implantação de PEVs. Esta ação beneficia a população em
seu entorno, visto que facilita o descarte de resíduos em locais adequados, ao invés do
despejo clandestino em locais inapropriados, além de permitir a segregação de resíduos
inertes antes de sua disposição final. Dessa forma, o índice de materiais reciclados pode
aumentar e, consequentemente, a vida útil dos aterros. Para que a implantação de PEVs
seja bem-sucedida, programas de educação ambiental e de fiscalização deverão ocorrer
em paralelo.
Cabe ressaltar a importância de se realizar, em futuros trabalhos, uma análise da
relação do volume de resíduos dispostos irregularmente por habitante em cada bairro, a
partir de um levantamento das populações estratificadas por bairro. Outra sugestão para
trabalhos futuros, consiste em analisar a relação de despejos irregulares de acordo com o
perfil socioeconômico da população de cada bairro, o que poderia auxiliar a tomada de
decisão, através da indicação de áreas prioritárias para realização de projetos de
educação ambiental. Estas análises não foram realizadas neste trabalho por não haver
acesso às informações necessárias, uma vez que atualmente estão disponibilizadas
apenas informações do município como um todo.
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Sugere-se ainda, para futuras pesquisas, além do levantamento de dados de todos
os bairros do município de Cabo Frio, a ampla divulgação dessas informações. Assim,
campanhas de educação ambiental poderiam ser planejadas por bairro, a partir do
levantamento das áreas mais impactadas. A conscientização dos pequenos e grandes
geradores quanto às classes de RCDs deve ser trabalhada, visando uma bem-sucedida
implantação de PEVs. Soma-se a estas ações um trabalho de fiscalização não somente
corretivo, mas principalmente preventivo, de modo a coibir os descartes irregulares e
assim promover o sucesso do programa de gerenciamento de RCDs. O mesmo trabalho
pode ser expandido para outros municípios.
Agradecimentos
Esta pesquisa obteve subsídios da Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino
Superior Particular (FUNADESP).
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Demolição. Pesquisa Setorial 2014/2015: A reciclagem de resíduos de
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Consultoria e Assessoria Técnica de Engenharia à SEA para Elaboração de
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Resíduos Sólidos – Tomo I. Ecologus Engenharia Consultiva, 2013. Disponível em
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s_2015_final.pdf>. Acesso em 24 de fev. 2019.
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UMA ANÁLISE DOS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS ATRAVÉS DOS
APARELHOS CELULARES
Ana Carolina Leite Salles1, Marcelo Côrtes Silva2 & Eduardo d’Ávila Bernhardt1
1Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna, Nº 108, Rio de Janeiro, cep: 20.271-020: , Brasil
2Universidade Federal do Rio de Janeiro, Avenida Carlos Chagas Filho, Nº 373, Rio de Janeiro, cep:
21.941-590, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: Resíduo de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE) ou Resíduo
Eletroeletrônico é o termo designado para aparelhos descartados e obsoletos. O volume
de resíduo eletrônico é o que mais cresce no mundo. O Brasil produziu um total de 1,5
milhões de toneladas, 2016. Torando-se o segundo maior gerador desse resíduo no
continente americano, atrás dos Estados Unidos, que produziram 6,3 milhões de
toneladas no mesmo ano. O aparelho celular faz parte dessa categoria de resíduo, pela
presença de metais pesados e raros, com grandes riscos ambientais e sociais. O presente
trabalho tem como objetivo realizar uma análise dos materiais utilizados na produção
dos modernos aparelhos celulares da marca Apple para identificar seus impactos
socioambientais e sua valoração econômica. O método empregado tem como elemento
norteador a literatura, sobre a linha de pesquisa resíduo eletrônico elaborada com
consulta a artigos em revistas, livros didáticos, dissertações, teses, projetos e páginas na
internet. O resultado da análise indicou aspectos relevantes sobre o avanço tecnológico
dos aparelhos celulares, e a fabricação em massa das exigências do mercado, buscando
extrair metais perigosos prejudicais a saúde humana e do meio ambiente, em alguns
momentos chegando ao limite de nossas reservas. Contudo, há meios mais adequados
de destinação, como a mineração urbana, gerando emprego e menos impacto ambiental.
Palavras-chave: Resíduo Eletroeletrônico; Aparelhos Celulares; Gestão de Resíduo;
Mineração urbana.
Introdução
Amplos aspectos da vida moderna foram influenciados pela Revolução
Industrial, com advento de novas tecnologias que se tornaram facilitadores do cotidiano,
mas ao mesmo tempo trouxeram consequências ao meio ambiente e à saúde humana. A
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Primeira Revolução Industrial ocorreu em meados do século XVIII, na Inglaterra. Era
frequentemente relacionada ao trabalho pesado e insalubre na indústria têxtil, tendo
como diretriz tecnológica principal o uso da máquina a vapor (MERLO; LAPIS, 2007).
Ela trouxe modificações significativas no estilo de vida e novas tecnologias para a
época. O desenvolvimento fabril continuou ao longo dos anos com a Segunda
Revolução Industrial, no final do século XIX e início do século XX, nos EUA. Neste
período a eletricidade passou aos pouco a fazer parte das cidades e a alimentar os
motores das fábricas, configurando-se pela aplicação científica do trabalho e produção
em série. Foi período da disseminação do modelo taylorista/fordista de organização do
trabalho, da rígida aplicação das tarefas e da racionalização da produção (MERLO;
LAPIS, 2007).
Esses modelos estabeleceram a produção e consumo em massa na sociedade, ao
apresentar novos aparelhos domésticos e portáteis, como o celular. Um dos primeiros
aparelhos de celular foi o DynaTAC 8000X lançado em 1983 pela Motorola que iniciou
o uso comercial da telefonia celular no Estados Unidos e no mundo (ABREU, 2005). O
surgimento desse novo produto e a demanda de serviços ofertados a ele associada,
acarretou em crescente concorrência criando diversos aparelhos com alta capacidade de
funções, como o Blackberry, um telefone inteligente (smartphone). Este item
assemelhava-se a um computador pessoal, porém em formato menor, similar aos
modernos dispositivos. Era destinado ao público empresarial que tinha a necessidade de
acesso a e-mails e internet. Após 24 anos, a empresa Apple reinventa o conceito de
smartphone lançado no mercado, apresentando um celular com atividades básicas e
inteligentes (COUTINHO, 2014).
Embora integrados à vida atual, estes aparelhos possuem características
singulares, como alta produção e curto período de uso, devido à obsolescência
programada e perceptível, e destinação inadequada. Quando eles estragam ou tornam-se
obsoletos viram resíduo eletrônico e o seu descarte se torna um problema devido aos
fatores citados e à complexidade e toxicidade dos seus componentes. No entanto, parte
dos elementos presente nestes resíduos eletrônicos pode retornar para a cadeia de
produção, por deter viabilidade econômica.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é uma lei (Lei nº 12.305/10),
que norteia os setores públicos e privados na transparência do gerenciamento do
resíduo, que prevê redução de resíduo, tratamento de rejeitos, coleta seletiva, logística
reversa e responsabilidade compartilhada (BRASIL, 2010). Dentro dessa política há
breves menções sobre o resíduo eletroeletrônico e de como proceder em relação ao seu
descarte.
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O lixo eletrônico é o resíduo cujo volume mais cresce no mundo (AWASTHI
et al., 2018). O Brasil produziu um total de 1,5 milhões de toneladas, 2016. Torando-se
o segundo maior gerador desse resíduo no continente americano, atrás dos Estados
Unidos, que produziram 6,3 milhões de toneladas no mesmo ano (BALDÉ et al., 2017).
O objetivo do estudo aqui apresentado é realizar uma análise dos materiais
utilizados na produção dos dos modernos aparelhos, utilizando a empresa Apple como
exemplo para identificar os impactos socioambientais e sua valoração econômica.
Os objetivos específicos são:
- Identificar os principais elementos presentes nos modernos aparelhos celulares
- Analisar quais as funções desempenhadas por estes componentes e
elementos nos aparelhos e sua formar de extração no meio ambiente.
- Relatar como as empresas buscam essas matérias-primas para fabricar os
aparelhos.
- Identificar quais componentes/elementos possuem viabilidade de reuso.
Material e Métodos
Nesta pesquisa foram estudados os aparelhos celulares, da marca Apple, por
abranger uma robustez de informações disponíveis através das sucatas, com o auxílio de
literatura específica BASEL Convention, 2011 no Guidance document on the
environmentally sound management of used and end-of-life mobile phones.
Neste trabalho é apresentada uma revisão da literatura sobre a linha de pesquisa
resíduo eletrônico elaborada com consulta a artigos em revistas, livros didáticos,
dissertações, teses, projetos e navegações pela internet. A pesquisa nestas publicações se
concentrou nas palavras resíduos eletroeletrônicos e aparelhos celulares, relacionadas
aos efeitos socioambientais e viabilidade econômica.
Resultados e Discussão
Componentes e tecnologias dos aparelhos modernos
Os aparelhos são compostos por componentes primordiais para seu
funcionamento (Tabela 1).
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Tabela 1. Análise dos aparelhos modernos.
COMPONENTES E TECNOLOGIAS IPHONE
Display/Tela touch screen
Bateria (durabilidade) > 30min
Bateria (tempo de carregamento) 1-2 horas
Bateria (componente) íon de lítio
Placa de circuito interno placa reduzida
Antena escondido no aparelho
Acessórios > 1
Funções conversação, mensagens instantâneas,
apps
Capa alumínio
Fonte: Elaborado pela autora, a partir de SENA, 2012.
Nos celulares mais modernos, como os iPhones, há registros dos seus
elementos a partir das sucatas, encontrado no Guidance document on the
environmentally sound management of used and end-of-life mobile phones (BASEL
CONVENTION, 2011) (Tabela 2).
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Tabela 2. Porcentagem dos elementos e localidade nos Smartphone.
SUBSTÂNCIAS LOCALIZADO NO
CELULAR
% ENCONTRADA NO APARELHO
INLCUINDO A BATERIA
COMPONENTES PRIMÁRIOS
Plástico Gabinete e PCI 40 Vidro Telas e Chips 20
Cobre (Cu) PCI, Fios, Conectores e
Bateria 10
Níquel (Ni), Hidróxido de Potássio, Cobalto (Co) e Carbono (C)
Bateria 1 - 10
Alumínio (Al) Gabinete, Estruturas e
Bateria 3
Aço e Metais ferrosos Gabinete, Estruturas, Bateria e Carregador
10
Estanho (Sn) PCI 1 COMPONENTES MENORES
Bromo (Br), Chumbo (Pb), Manganês (Mn),Tântalo (Ta), Tungstênio (W) e Zinco (Zn)
PCI
0,1 - 1
Cádmio (Cd) Baterias Crômio (Cr) Gabinetes e Estruturas Polímero de Cristal Líquido
Tela
Lítio (Li) Baterias Prata (Ag) PCI e Gabinete Titânio (Ti) Estrutura e Gabinete
COMPONENTES MICRO Antimônio (Sb) PCI e Gabinete < 0,1 Arsênio (As) e Gálio (Ga) LED
COMPONENTES MICRO
Bário (Ba), Bismuto (Bi), Cálcio (Ca), Paládio (Pd), Rutênio (Ru), Estrôncio (Sr), Enxofre (S), Ítrio (Y) e Zircônio ( Zr)
PCI
< 0,1 Berílio (Be) Conectores Flúor (F) Baterias Ouro (Au) Conectores e PCI Magnésio (Mg) Gabinete
Fonte: BASEL Convention, 2011.
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O percentual é baixo na maioria dos elementos, mas são essenciais para a
produção dos aparelhos, já que permitem o desempenho dos dispositivos modernos.
Criando, uma comunicação entres os componentes e os elementos, como a placa de
circuito impresso, que é o componente mais importante de um celular, pois conecta
todos os componentes do aparelho com a CPU (sigla em inglês Central Processing Unit)
Unidade Central de Processamento (SENA, 2012).
Nos aparelhos antigos as placas eram formadas por uma típica placa-mãe, sendo
colocadas em camadas aumentando o consumo de bateria. Com a nova placa, o número
de camadas diminui, permitindo ampliar a duração da bateira e uso do aparelho que
oferta entretenimento. Contudo, sua complexidade permanece nas placas atuais, devido
o uso dos novos elementos descobertos que promovem todo o conjunto das novas
aplicações, causando maléficos à saude humana e ao meio ambiente, devido a
exploração excessiva dos elementos para fabricação em massa (RODRIGUES, 2007;
SENA, 2012).
O visor tem em sua estrutura óxido de índio-estanho, porém o índio é um
elemento escasso na natureza, encontrado nas jazidas da China que está limitando as
explorações (HAMANN, 2011). A indústria do telefone móvel investiu num display
touch screen, na qualidade e na forma da tela, mas ela pode chegar ao fim. Por isso as
grandes empresas buscam um elemento substituto para alcançar o mesmo desempenho
de transparência e condutividade elétrica (SENA, 2012 apud CROW, 2011).
A bateria é um dos componentes principais do celular, pois fornece a
eletricidade através da conversão de energia química em elétrica (MOTA; PINTO,
2010). Os celulares antigos eram de níquel-cádmio, a densidade de energia dos
aparelhos era baixa não sendo possível usá-los por período prolongado. A bateria do
iPhone é feita de íon de lítio, componente que permite maior densidade de energia e
deixa o celular bem mais leve. A capacidade das novas baterias proporciona mais tempo
para utilizar o aparelho, mas com as telas tipo touch screen e a variedade de funções,
como o entretenimento dos aplicativos, essas baterias são usadas ao limite, sendo
necessário recarregar frequentemente (TRINDADE, 2006; SENA, 2012).
A antena dos antigos aparelhos permitiam enviar e receber sinais de rádio
frequência, proporcionava somente a conversação. No iPhone, além da conversação, ela
é usada para a conexão à internet e o GPS (Global Position System).
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Extração dos elementos dos aparelhos analisados
Com o avanço da tecnologia na comunicação o estilo de vida do ser humano foi
modificado, resultando no aumento da extração dessas substâncias do meio ambiente,
levando nossas reservas mundiais de matérias-primas ao limite.
A mineração desses recursos não renováveis alteram intensamente a área
minerada e as áreas vizinhas. Isso causa impactos como a degradação visual da
paisagem, poluição do ar (gases e poeiras) e contaminação das águas pela lama da
atividade mineradora(SILVA, 2007). A exploração feita pelas empresas de telefonia
móvel não é clara, pois não se encontra disponível nenhum documento oficial acessível
ao consumidor em relação a esse processo. Contudo, sites jornalísticos e documentários,
relatam alguns aspectos de como essa extração é realizada.
A China controla os metais de terras raras, que recebem esse nome devido a sua
dificuldade de extração, mas talvez o país mais explorado seja a República Democrática
do Congo na África, com exploração em ouro, cobre, estanho, urânio, coltan (mistura de
minerais que é usada na maioria dos eletrônicos portáteis) e cobalto (MAIA, 2017). A
extração desses minerais é indispensável para a fabricação dos celulares, mas causa
conflitos humanitários e ambientais.
O documentário Blood in the Mobile (2010), apresenta a dificuldade do cineasta
Frank Piasecki Poulsen em tentar abordar os executivos diretamente ligados à questão.
Ele partiu em uma viagem com o intuito de mostrar a realidade da exploração dos
minerais e as circunstâncias dos conflitos gerados por demanda dos fabricantes de
celulares. O documentário mostra a vida das pessoas que estão trabalhando perto de
mineradoras e se submetem a condições precárias e violência para coletar
aproximadamente 1 grama de qualquer mineral.
Retrata os danos que a exploração causa à saúde humana e ao meio ambiente,
enquanto pessoas do mundo todo, seduzidas pelos novos lançamentos da indústria,
compram estes produtos sem a devida informação da origem de seus componentes.
Reciclagem dos elementos dos aparelhos analisados
O aparelho celular tem a durabilidade maior do que a vida útil média de dois
anos, devido ao alto desempenho dos metais (RUBIO, 2018). Estima-se que possa ter
até 60 elementos da tabela periódica no resíduo eletrônico (BALDÉ et al., 2017). O
resultado é devido a falta de infraestrutura de telecomunicações (NASCIMENTO;
XAVIER, 2018). Neste cenário, os países que consume e produzem esse tipo de
resíduo, usufruem de importantes fontes secundárias com elementos valiosos em
quantidades suficientes, dispondo de minas urbanas (XAVIER; GIESE; LINS,2018).
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O conceito de mineração urbana, no qual os resíduos podem ser modificados em
recursos e contribuir para a reinserção da cadeia produtiva (ARORA et al., 2017).
Quando executado possibilita recuperar elementos valiosos e críticos mitigando ou
eliminando os impactos negativos (XAVIER; GIESE; LINS,2018). Apresenta um índice
de reaproveitamento de 95% (SENA, 2012).
No Brasil, a recuperação dos metais a partir dos resíduos eletrônicos dos
aparelhos celulares usados é um processo pouco explorado e ainda não há tecnologia em
escala de produção. Por isso, parte do material é separado e enviado para países como
África e Ásia, numa alternativa de baixo custo. A outra opção é enviar para um depósito
de lixo, seja aterro sanitário ou lixão, causando danos ambientais e desperdiçando seu
valor econômico.(BALDÉ et al., 2017). O fato principal é a segregação e
reprocessamento adequado dos materiais recebidos, o que expressa que deve haver
tecnologia propícia.(NASCIMENTO; XAVIER, 2018).
Contudo, a empresa UMICORE na Bélgica, “é capaz de retirar até 17 tipos
diferentes de metais, são eles: ouro, prata, paládio, platina, ródio, irídio, rutênio, cobre,
chumbo, níquel, antimônio, bismuto, selênio, telúrio, arsênio e índio” (HAGELÜKEN,
2008).Além da presença de chumbo na solda e dos aditivos antichamas, que requer uma
atenção para os riscos relacionados à saúde dos trabalhadores no momento da
recuperação desses metais. Essa técnica também é praticada nos Estados Unidos (SIPI
Metals Corp.), Cingapura (Cimelia) e Japão (Dowa Eco-System Co. Ltd.).
De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, o reaproveitamento de uma tonelada de
celulares renderia: 3,5 kg de prata; 130 kg de cobre e 340g de
ouro. A concentração de ouro na placa de circuito impresso é
superior à encontrada no minério de ouro bruto. Em cada
tonelada de resíduo da placa de circuito impresso é possível
extrair 17 gramas de ouro. Já na mineração de ouro a quantidade
extraída varia de 0,4-12 gramas por tonelada de minério
(CARVALHO, 2018).
Isso acontece porque na fabricação de equipamentos eletrônicos são utilizadas
matérias-primas preciosas que podem ser reaproveitadas por meio da mineração urbana.
Mesmo sendo recuperadas pequenas quantidades do mineral ainda é rentável, pois
descarta-se milhões de toneladas de celulares por ano.
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Conclusões
O telefone celular do tipo smartphone é um aparelho eletrônico de comunicação
e entretenimento amplamente difundido em nossa sociedade planetária. Sua utilidade,
conforto e praticidade são inegáveis e importantes, mas o crescimento desenfreado de
usuários levou à necessidade de novas tecnologias, fazendo com que o mercado
enxergasse uma nova oportunidade de negócio não se preocupando com as
consequências que iriam surgir.
É um novo desafio da era da informação, pois a cada novo modelo lançado o
anterior se torna obsoleto e pode virar resíduo. A mineração urbana é uma forma
adequada de destinação final, uma atividade que reduz a quantidade destinada aos
aterros sanitários ou lixões e tem por objetivo aproveitá-los como fonte de matéria-
prima. Dessa forma os materiais são reinseridos no ciclo de vida de algum produto,
agregando valor econômico ao resíduo, criando novas formas de emprego e limitando
práticas ilegais de destinação, compra e venda em outros países.
É necessária uma base legal transparente com informações detalhadas sobre
como o produto é fabricado, com quais componentes e como estes são importados ou
exportados, alertando sobre os males que podem causar à saúde humana e ao meio
ambiente.
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REMOÇÃO DE NÍQUEL A PARTIR DE SOLUÇÕES AQUOSAS UTILIZANDO
ZEÓLITAS FAUJASITAS NANOESTRUTURADAS
Rodrigo Silva Teixeira¹ , Mendelssolm Kister de Pietre1, Fabiana Soares dos Santos1 & Djanyna Voegel
de Carvalho Schmidt2
¹Universidade Federal Fluminense, Av. dos Trabalhadores, Nº420, Volta Redonda, RJ, cep:27255-125,
Brasil
2Universidade Federal Fluminense, Rua Dsembargador Ellis Hermydio Figueira, Volta Redonda, RJ,
cep: 27213-145, Brasil.
E-mail: [email protected]
Resumo: O grande avanço da industrialização em conjunto com a pressão de uma
sociedade cada vez mais consumista e necessitada de produtos provenientes de
indústrias, a problemática da destinação dos resíduos e rejeitos gerados se tornou muito
importante. Setores industriais importantes utilizam-se de metais pesados durante
diversos processos em suas linhas de produção, fato que contribui com a preocupação
em torno de possíveis acidentes ambientais e contaminações com metais pesados. Neste
contexto, a utilização de zeólitas como material adsorvente para remoção de metais
pesados, graças as suas características adsortivas, se torna extremamente promissora.
Dos diversos tipos existentes de zeólitas, pode-se destacar as da família faujasita, que
possuem elevada capacidade de inserção de Al, grande área superficial e um elevado
volume de poros, aumentando seu potencial adsortivo. No presente trabalho, a partir de
zeólita faujasita com nanoestruturas bem definidas, foi testada a remoção de íons Ni2+
em solução aquosa, variando-se alguns parâmetros operacionais tais como pH, tempo de
contato, massa do adsorvente e concentração do adsorvato para garantir uma maior
eficiência adsortiva. Aliado aos estudos cinéticos, que resultaram em melhores
adequações aos modelos de pseudo-segunda ordem, e a construção das isotermas de
adsorção, que melhor se adequaram ao modelo de Langmuir, obteve-se o melhor
entendimento dos mecanismos envolvidos nas interações adsorvato-adsorvente.
Conseguindo atingir eficiências de remoção próximas de 80%, o processo adsortivo
utilizando-se de zeólitas da família faujasita se justifica para retirada de níquel em meio
aquoso, e mostra o quão eficiente são as zeólitas na remoção de metal pesado.
Palavras-chave: Remoção de metais pesados. Faujasita. Troca Iônica. Metais pesados.
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Introdução
Com o constante avanço da industrialização, puxado por uma dependência cada
vez maior da sociedade de se ter produtos em uma velocidade muito acima do ritmo de
produção que se conseguiria com trabalhos manuais, algumas problemáticas foram
sendo contextualizadas de forma que o debate sobre suas consequências deveriam ser
urgentemente discutidas (GEVORGYAN, 2016). A disposição e o despejo dos rejeitos
gerados desses processos causam danos severos ao meio ambiente afetando toda a
sociedade. Dentre os muitos efluentes industriais gerados a partir de diversos processos
e que são potenciais causadores de graves problemas ambientais, encontram-se os
metais pesados.
A contaminação dos recursos hídricos por metais pesados é um grande problema
mundial, tendo sua fonte de contaminantes provenientes de diferentes ramos industriais
tais como: produção de fertilizantes, metalurgia, processos de mineração, fabricação de
baterias e indústria de tingimento de têxteis. Esses processos são largamente utilizados
na sociedade, o que torna preocupante a destinação de seus efluentes (SDIRI et al.,
2012). Com densidade e toxicidade elevada, a contaminação toma proporções
alarmantes visto que os metais pesados são biomagnificantes, acumulando-se na cadeia
alimentar conforme aumenta-se o nível trófico (AGUIAR et al., 2002).
Com intuito de amenizar a ocorrência de problemas ambientais e regulamentar
as práticas potencialmente poluidoras, a maioria dos países atualmente possuem regras e
leis mais rígidas para o gerenciamento de resíduos a fim de evitar e também
responsabilizar possíveis culpados em casos de acidentes ambientais (MARGULIS,
1996). No Brasil, tem-se a Resolução CONAMA Nº 430/2011 que estabelece condições
e padrões para lançamentos de efluentes, definindo também diretrizes para gestão dos
mesmos. Refletindo a grande demanda por procedimentos de eliminação ou redução da
concentração de efluentes contaminados por metais pesados, diversas técnicas são
estudas com intuito de minimizar esse tipo de contaminação.
Dentre as várias técnicas existentes, destaca-se a utilização da adsorção para
remoção de metais pesados de meios aquosos. A troca iônica é interessante por ser
relativamente simples e segura na aplicação, de acordo com as condições operacionais
empregadas. Neste contexto, a utilização das zeólitas como material adsorvente na
remoção de metais pesados se mostra promissora por suas características estruturais
favorecerem propriedades que são importantes para bons resultados em uma adsorção,
como uma grande área superficial, sítios ativos abundantes, existência de poros e
cavidades em sua estrutura e ainda possuir vantagens em sua síntese de se obter um
material com uma estrutura mais especifica, aumentando assim a seletividade
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dependendo do íon que se deseja adsorver (AL DWAIRI, IBRAHIM e KHOURY,
2014; AGUIAR et al., 2002). A boa capacidade de adsorção e troca iônica que as
zeólitas possuem são as grandes responsáveis pelos bons resultados obtidos em estudos
com remoção de metal pesado em soluções. Os processos de adsorção são processos de
transferência de massa, onde um material presente em um fluido, chamado de adsorvato
ou adsorbado, se deposita em uma superfície, chamada de adsorvente ou adsorbente.
Existe também o processo inverso, que o adsorvato é removido do adsorvente, chamado
de dessorção (MASEL, 1996).
Zeólitas são aluminossilicatos cristalinos hidratados de estrutura aberta,
geralmente contendo metais alcalinos ou alcalinos terrosos como contra íons. São
formados por uma rede tridimensional de tetraedros interligados, contendo canais e
cavidades de dimensões moleculares. Seus tetraedros são constituídos por unidades do
tipo TO4, como [SiO4] ou [AlO4]-, através de compartilhamento de átomos de oxigênio
que ligam-se entre si formando unidades secundárias de construção. Possuem uma
grande diversidade e complexidade devido a diferentes maneiras pelas quais essas
unidades de construção podem se ligar ao formar as estruturas tridimensionais
(GRECCO et al., 2013). As zeólitas da família faujasita tem sido extensivamente
estudadas graças a sua grande aplicação industrial no craqueamento de diversos
hidrocarbonetos. São utilizadas em mais de 95% dos casos no mercado de catálise e as
refinarias de petróleo consomem grandes quantidades deste tipo de material na
fabricação da gasolina a partir do óleo cru nos processos de craqueamento catalítico em
leito fluidizado (HILDEBRANDO et al., 2012). São conhecidas por possuírem uma alta
estabilidade térmica, poros com grandes diâmetros e com uma estrutura rígida além de
apresentarem uma acidez elevada (BRECK, 1974).
Estudos realizados com zeólitas da família faujasita demonstram resultados
muito satisfatórios em sua utilização na remoção de metais pesados em soluções
aquosas. Ajustando parâmetros como temperatura, pH, concentração do adsorvato,
dosagem do adsorvente e o tempo de contato para adsorção de metais, foram obtidos
resultados promissores na utilização da faujasita como adsorvente, possibilitando
avanços em direcionar pesquisas para seu uso como um remediador ambiental em
situações de contaminação por metais pesados em ambientes aquáticos (LTAJEF et al.,
2015).
Em processos de adsorção, os modelos cinéticos proporcionam um maior
entendimento dos mecanismos envolvidos em todo processo, podendo ser empregados
para determinar os mecanismos de adsorção e possíveis etapas envolvidas, como
transferência de massa e reações químicas que possam ter ocorrido (ADEBISI et al.,
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2017; GUPTA e BHATTACHARYYA, 2011).
Uma isoterma de adsorção é uma curva que descreve o fenômeno que governa a
retenção ou mobilidade de uma espécie no meio poroso/aqueoso a uma temperatura e
pH constantes. Os parâmetros das isotermas e suas relações termodinâmicas são
frequentemente utilizadas para interpretar os mecanismos presentes na adsorção e as
propriedades do adsorvente utilizado. Com varias isotermas desenvolvidas a fim de
representar dados referentes aos equilíbrios de adsorção, as de Langmuir e de
Freundlich são as mais utilizadas principalmente devido à sua simplicidade (SHEN et
al., 2018).
Com isso, este trabalho propõe-se a estudar os parâmetros envolvidos no
processo adsortivo da zeólita faujasita na remoção de níquel de soluções aquosas.
Através da variação de pH, dosagem utilizada da zeólita, concentração inicial da
solução metálica e o tempo de contato entre as espécies, avaliar as melhores condições
para uma maior eficiência de todo processo, e estudar o comportamento cinético e o
levantamento de isotermas de adsorção para maior entendimento de todo processo.
Material e Métodos
Testes de adsorção
Todos os testes de adsorção foram realizados no Laboratório de Solos e Água da
Escola de Engenharia Metalúrgica de Volta Redonda, Universidade Federal
Fluminense.
Os testes de adsorção foram realizados com o preparo de soluções de sais de
nitrato do metal Níquel (Ni) com concentração variando-se de acordo com o que será
relatado mais adiante. O pH das soluções foram lidos e delas foram retirada alíquotas de
500 µL em quintuplicatas de cada solução.
Foram testadas individualmente 120 mL das soluções de metal em béqueres de
250 mL, sob agitação magnética constante à temperatura ambiente. Após determinado
tempo contendo a mistura da solução metálica com uma dosagem específica de zeólita,
a agitação foi cessada e retirou-se alíquotas de 500 µL da solução.
As alíquotas retiradas foram diluídas para a faixa linear de trabalho e analisadas
por espectroscopia de absorção atômica para a determinação das concentrações dos íons
metálicos. Através da diferença entre as concentrações inicial e final dos íons metálicos
em solução, foi obtida a quantidade de metal que foi adsorvida pela zeólita. Utilizou-se
um espectrômetro de absorção atômico SpectrAA 55B da Varian para as análises
realizadas.
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A eficiência do processo de adsorção foi calculada a partir da Equação (1):
𝐄𝐟𝐢𝐜𝐢ê𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐀𝐝𝐬𝐨𝐫çã𝐨 (%) = 𝐂𝐨−𝐂𝐟
𝐂𝐨× 𝟏𝟎𝟎 Equação (1)
Onde Co e Cf correspondem, respectivamente, às concentrações inicial e final
(mg.L-1) dos íons do metal em solução. As capacidades de adsorção no equilíbrio e no
instante t podem ser calculadas, respectivamente, pelas Equações (2) e (3):
𝐪𝐞 =𝐂𝐨−𝐂𝐞
𝐦× 𝐕 Equação (2)
𝐪𝐭 =𝐂𝐨−𝐂𝐭
𝐦× 𝐕 Equação (3)
Onde Co, Ce e Ct são, respectivamente, as concentrações (mg.L-1) das soluções
inicial, no equilíbrio e no instante t, m é a massa de zeólita (g) e V é o volume da
solução (L).
A fim de se determinar o pH que proporciona a maior eficiência do processo,
realizou-se testes com soluções metálicas individualmente, em temperatura ambiente,
para pH iniciais de 3, 4, 5 e 6 a partir de soluções de concentração aproximada de 40
ppm dos íons metálicos. Para o ajuste do pH inicial, utilizou-se de soluções de ácido
nítrico (HNO3) ou hidróxido de sódio (NaOH). Utilizando-se de uma dosagem de 50 mg
de zeólita, a solução permaneceu em agitação pelo período de 1 hora, com alíquotas
retiradas em quintuplicata. As análises de concentração das soluções antes e após o
processo adsortivo foram realizadas por espectrometria de absorção atômica.
O efeito da dosagem de adsorvente utilizado no processo adsortivo foi avaliado
variando-se a quantidade de zeólita utilizada entre 0,025 g e 0,1 g. Para soluções de
aproximadamente 44 mg.L-1 dos íons metálicos, testou-se massas de 0,025, 0,05, 0,075
e 0,1 g de zeólita, com a retirada de alíquotas em quintuplicata da solução antes e após
adsorção. Foram utilizadas 120 mL de cada solução metálica que ficou sob agitação
constante em contato com o adsorvente pelo período de 60 minutos. O pH inicial
utilizado para cada metal foi o de melhor resultado obtido para cada espécie metálica.
Avaliou-se a influência da concentração inicial da solução dos metais no
processo de adsorção variando-se a mesma na faixa entre 15 e 150 mg.L-1. Os testes
foram realizados individualmente, à temperatura ambiente, utilizando-se a melhor
massa de zeólita obtidas anteriormente além do melhor resultado obtido nos estudos do
efeito do pH para cada metal. O adsorvente ficou em contato sob agitação constante,
com 120 mL de cada solução, pelo período de 60 minutos com a retirada de alíquotas
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em quintuplicata das soluções antes e após adsorção.
A influência do tempo de contato entre as espécies adsorvidas e o adsorvente foi
avaliada com a variação do tempo de agitação de 5 a 240 minutos. Os testes foram
realizados individualmente com 120 mL de solução metálica, massa de zeólita, pH
inicial da solução e concentração de metais que obtiveram os melhores resultados nos
estudos descrito anteriormente. Foram retiradas alíquotas de 500µL em duplicata
durante o decorrer do tempo para que não excedesse mais do que 5% do volume total da
solução inicial.
Estudo cinético
Através dos testes de tempo de contato, é possível realizar o estudo cinético com
os resultados obtidos, compreendendo melhor o processo adsortivo através da melhor
adequação nas formulas linearizadas das equações de pseudo-primeira e pseudo-
segunda ordem (equações 4 e 5 respectivamente).
𝐥𝐧(𝒒𝒆 − 𝒒𝒕) = 𝒍𝒏𝒒𝒆 − 𝑲𝟏𝒕 Equação (4)
𝒕
𝒒𝒕=
𝟏
𝑲𝟐𝒒𝒆𝟐
+𝒕
𝒒𝒆 𝐄𝐪𝐮𝐚çã𝐨 (𝟓)
Onde qt e qe são as quantidades de adsorvato por massa de adsorvente (em mg/g)
no instante t (em minutos) e no equilíbrio, respectivamente, K1 e K2 são as taxas de
adsorção (min-1) e t é o tempo (minutos).
Com a análise dos resultados obtidos nas aplicações dos modelos de pseudo-
primeira e pseudo-segunda ordem, com a comparação dos coeficientes de correlação
linear (R²) e da comparação entre os valores de capacidades adsortivas no equilíbrio (qe)
e experimental, é possível a identificação de qual modelo melhor descreve o processo
adsortivo para cada metal. Assim, o modelo que apresentar o R² mais próximo de 1 e
uma maior proximidade entres os valores de qe teórico e experimental será o que
melhor caracterizará o processo adsortivo estudado.
Levantamento das isotermas de adsorção
Através dos testes de concentração inicial, é possível realizar o levantamento
das isotermas de adsorção com os resultados obtidos, compreendendo melhor o
processo adsortivo através da melhor adequação nas formulas linearizadas das
equações de Langmuir e Freundlich (equações 6 e 7 respectivamente).
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𝑪𝒆
𝒒𝒆=
𝟏
𝑲𝑳.𝒒𝒎+
𝑪𝒆
𝒒𝒎 Equação (6)
Onde Ce é a concentração do adsorvato no equilíbrio (mg.L-1), qe é a quantidade
de adsorvato em massa de adsorvente (mg/g), qm é a quantidade máxima de adsorvato
em unidade de massa do adsorvente para uma cobertura de monocamada (mg/g) e KL é
a constante de adsorção de Langmuir (L/mg). Plotando um gráfico da sua forma
linearizada, de Ce/qe vs Ce, determina-se o valor da constante de Langmuir e a
capacidade adsortiva máxima a partir dos coeficientes linear e angular, respectivamente
(GHAFFARI et al., 2017).
𝐥𝐨𝐠 𝒒𝒆 = 𝒍𝒐𝒈 𝑲𝑭 +𝟏
𝒏𝒍𝒐𝒈 𝑪𝒆 Equação (7)
Onde qe é a quantidade de adsorvato em massa de adsorvente (mg/g), KF é a
constante de Freundlich (mg/g), n é um indicador de intensidade de adsorção e Ce é a
concentração do adsorvato no equilíbrio (mg/L). Plotando um gráfico da sua forma
linearizada, de log qe versus log Ce, determina-se o valor da constante de Freundlich
(KF) e o valor de 1/n a partir dos coeficientes angular e linear, respectivamente
(GHAFFARI et al., 2017).
Resultados e discussão
Testes de pH inicial
O pH inicial da solução é um dos fatores mais importantes para a obtenção de
uma boa eficiência de adsorção, já que sua variação pode afetar a carga superficial do
adsorvente e ocasionar a precipitação e/ou complexação dos contaminantes (YUREKLI,
2016). O efeito do pH inicial da solução metálica com a zeólita foi analisado e
construiu-se o gráfico de eficiência de adsorção dos íons em função do pH, demonstrado
na Figura 1. O tempo de contato foi de 60 minutos.
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Figura 1. Efeito do pH da solução na adsorção de Ni2+. Fonte: Autoria própria.
Em meio muito ácido, geralmente há um excesso de H3O+ na solução, e ocorre
uma competição com as espécies catiônicas dos metais em solução pelos sítios ativos do
adsorvente, resultando numa menor adsorção para valores de pH mais baixos, o que
justifica o comportamento do níquel (CHEN et al., 2017). Estes íons H+ acabam sendo
adsorvidos tanto pela alta mobilidade quanto pelo seu excesso.
Pela análise dos resultados obtidos, o comportamento mostra que os melhores
resultados de eficiência para o níquel são com a utilização do pH 6. A eficiência de
remoção de íons níquel aumentou continuamente com o aumento do pH, até pH=6,0.
Nesse caso, deve-se frisar que em pH=6,0 verificou-se a formação da solução turva, que
pode ser atribuído a precipitação do Ni(OH)2. Essa situação não foi observado em pH
menores, portanto, o pH=6,0 não é adequado para estudos de adsorção. Com isso,
através dos resultados obtidos, determinou-se que o valor de pH =5,0 será utilizado nos
testes seguintes. Esse valor é exatamente o pH natural da solução não sendo necessário
o ajuste de pH com ácidos e/ou bases.
Testes de dosagem de zeólita
Para determinação da dosagem adequada de zeólita para o processo adsortivo de
cada metal, foram realizados os testes para o níquel. Através dos experimentos
realizados e dos resultados obtidos, construiu-se o gráfico de eficiência de adsorção dos
íons em função da dosagem de zeólita, demonstrado na Figura 2.
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Figura 2. Efeito da dosagem de zeólita na adsorção de Ni2+. Fonte: Autoria própria.
Os resultados obtidos por Yurekli (2016) com zeólitas NaX impregnadas com
polisufano em forma de membrana, associaram esse tipo de comportamento do níquel
(II) com o raio iônico (0,69 nm), juntamente com os valores de eletronegatividade,
sendo 1,99. Merrikhpour e Jalali (2013) observaram o mesmo comportamento para essa
faixa de dosagem utilizando-se de bentonita como material adsorvente na adsorção de
Ni2+, Pb2+, Cd2+ e Cu2+. Segundo os autores, a eficiência de remoção dos metais
aumentou com o aumento da dosagem de adsorvente. Após uma dada dosagem,
verificaram um decaimento de eficiência para dosagens mais altas, devido a
inicialmente um aumento da disponibilidade de sítios ativos e também devido à
formação de agregados das partículas do sólido, consequentemente, diminuindo a área
superficial do material, resultando em maior restrição difusional aos sítios de troca
iônica. Tal comportamento de decréscimo com altas dosagens não é observado, mas a
tendência vista na Figura 2 é de que com dosagens mais altas do que as que foram
estudadas, esse comportamento seria observado. Entretanto, não fez-se os testes em
dosagens maiores uma vez que a partir de 0,100 g de material já ocorre a precipitação
de Ni(OH)2, mascarando a adsorção.
Com os resultados obtidos de uma eficiência crescente para o níquel (II) e um
alto valor de pH final observado para dosagem de 0,100 g, que proporciona precipitação
de hidróxido de níquel em solução, estipulou-se que os testes posteriores seriam
realizados a uma dosagem de 0,075 g de zeólita.
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Testes de concentração inicial da solução metálica
A fim de determinar o efeito da concentração inicial da solução metálica sobre a
eficiência da remoção foram preparadas soluções com diferentes concentrações de
níquel. A partir dos dados obtidos nos experimentos, utilizando-se dos melhores
parâmetros ate então obtidos, construiu-se o gráfico de eficiência de adsorção dos íons
em função da concentração da solução inicial, estão demonstradas na Figura 3.
Figura 3. Efeito da concentração da solução inicial na adsorção de Ni2+. Fonte: Autoria
própria.
Um aumento na eficiência de remoção seguido de um decaimento com o
crescimento da concentração inicial da solução utilizada. Jiang et al. (2010), com a
utilização de caolinita como material adsorvente, observaram comportamentos
semelhantes na adsorção de níquel. Os autores correlacionam os valores mais baixos de
eficiência para concentrações mais altas com a saturação dos sítios ativos e
indisponibilidade dos mesmos para adsorção de maiores quantidades de cátions
metálicos ainda presentes em solução.
O comportamento para o níquel (II) em nosso trabalho pode ser explicado por:
com a crescente concentração dos íons pode aumentar a força de direcionamento, que
facilita o processo de transferência de massa da solução metálica para a zeólita, mas
uma vez alcançada a capacidade máxima adsortiva do sólido, não há mais sítios ativos
disponíveis para acomodar mais íons. Então, quando sob concentrações mais elevadas, a
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eficiência é menor por um reflexo dessa ocupação máxima atingida (JIANG et al., 2010;
MUKHERJEE, BARMAN e HALDER, 2018).
Testes de tempo de contato das espécies
O teste do tempo de contato entre adsorvato e adsorvente é um parâmetro
importante para terminação de quanto tempo é necessário para que o sólido alcance o
equilíbrio da adsorção das espécies metálicas. Alíquotas, em duplicata, foram retiradas
em 5, 10, 20, 30, 40, 60, 120 e 240 minutos corridos de contato entre as espécies. Os
resultados obtidos geraram o comportamento observado na Figura 4. Os parâmetros
usados foram determinados a partir dos resultados obtidos anteriormente, sendo assim,
pH natural, 75 mg de zeólita e concentrações das soluções iniciais de aproximadamente
30.
Figura 4. Efeito dos tempos de contato na adsorção de Ni2+. Fonte: Autoria própria.
Com base na Figura 4, percebe-se claramente um primeiro estágio consistindo
de uma rápida adsorção nos primeiros 30 minutos, seguido pela formação do patamar. A
rápida adsorção nos primeiros minutos pode ser atribuída a maior disponibilidade dos
sítios de adsorção da zeólita que, num segundo estágio, se torna constante devido à
saturação (provável ocupação total) dos sítios ativos.
Comumente, os testes que avaliam o efeito do tempo de contato entre adsorvato
e adsorvente demonstram uma rápida adsorção, sucedida por uma eficiência
praticamente constante, que indica a chegada ao equilíbrio. Muitos autores consideram
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que essa rápida primeira fase do processo adsortivo deve-se a grande disponibilidade de
sítios ativos na superfície do sólido, e conforme os sítios são preenchidos, a adsorção
vai desacelerando, caracterizando a segunda fase do processo que pode ser atribuído à
difusão intrapartícula ou até mesmo uma difusão dentro dos próprios poros e cavidades
das zeólitas. Os poros e supercavidades de 0,74 e 1,24 nm, respectivamente, das zeólitas
(estrutura Faujasita) são maiores que os raios hidratados dos íons metálicos (0,404 e
0,401 nm, para o níquel e chumbo, respectivamente), o comportamento observado é
condizente com o esperado de uma rápida saturação. No equilíbrio, geralmente não há
variações consideráveis na eficiência de adsorção exatamente pela saturação dos sítios
ativos do material adsorvente (LIU et al., 2017; NEKHUNGUNI, TAVENGWA e
TUTU, 2017).
Estudo cinético
O estudo da cinética de adsorção dos metais adsorvidos pelas zeólitas foi
realizado através dos modelos de pseudo-primeira, pseudo-segunda ordens e do modelo
de difusão intrapartícula para maior compreensão do mecanismo do processo adsortivo.
Os valores de K1 e K2 foram obtidos através dos coeficientes angulares das retas dos
gráficos criados apresentados na Figura 5, e os valores de qe para pseudo-primeira e
pseudo-segunda ordem foram calculados a partir de seus coeficientes lineares. A Tabela
1 apresenta os valores cinéticos e os coeficientes de correlação linear obtidos para cada
modelo cinético empregado.
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Figura 5. Cinética de (a) pseudo-primeira e (b) pseudo-segunda ordem para adsorção de
Ni2+ com zeólita faujasita. Fonte: Autoria própria.
Tabela 1. Parâmetros cinéticos da adsorção dos metais pela zeólita faujasita.
Modelo Pseudo-primeira ordem Pseudo-segunda ordem
qe exp K1 (min-1) qe (mg.g-
1) R2 K2 (min-1) qe (mg.g-1) R2
33,09 0,0408 9,5900 0,8495 7,0960.10-3 34,9650 0,9995
qe = capacidade adsortiva no equilíbrio. K1 = constante de cinética de pseudo-primeira
ordem. K2 = constante de cinética de pseudo-segunda ordem.
Fonte: Autoria própria.
Apresentando qe experimental com o valor de 33,09 e valores de R² apresentados
na Tabela 1. Os resultados mais coerentes indicam que o modelo de pseudo-segunda
ordem melhor se ajusta aos estudos. Isso significa que a etapa limitante do processo é a
quimissorção, correspondendo ao processo de troca iônica entre os íons metálicos
presentes em solução e os íons de sódio que estão presentes na estrutura zeolítica
(AMARASINGHE e WILLIAMS, 2007).
Sprynskyy et al. (2006), estudando a adsorção dos metais chumbo, níquel, cobre
e cádmio pela zeólita natural clinoptilolita, também observaram uma melhor adequação
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do processo adsortivo no modelo de pseudo-segunda ordem, apesar de terem obtidos
valores próximos com os modelos de pseudo-primeira ordem também. Oliveira et al.
(2017) e Pratti et al. (2019) com zeólita β obtiveram para o níquel melhores adequações
também para o modelo de pseudo-segunda ordem com bom resultados dos parâmetros
cinéticos. Mostrando assim que os resultados obtidos são coerentes com os observados
na literatura.
Isotermas de adsorção
A fim de se analisar o processo de adsorção ocorre em mono ou multicamada, foram
utilizadas as isotermas de Langmuir e Freundlich. As isotermas de Langmuir
forneceram a capacidade adsortiva máxima da zeólita (qm) e a constante de Langmuir
(KL) através dos coeficientes angular e linear, respectivamente, dos gráficos
demonstrados na Figura 6, referentes a cada íon metálico. Com as isotermas de
Freundlich, foi possível obter a constante de Freundlich (KF), a partir do coeficiente
linear.
Todos esses parâmetros, juntamente com os coeficientes de correlação linear (R²),
referentes aos gráficos das isotermas, estão presentes na Tabela 2.
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Figura 6. Isotermas de (a) Langmuir e (b) Freundlich para adsorção de Ni2+ utilizando-
se de zeólita faujasita. Fonte: Autoria própria.
Tabela 2. Parâmetros das isotermas de adsorção dos metais pela zeólita faujasita.
Langmuir Freundlich
qm (mg.g-1) KL R2 KF (mg.g-1) R2
44,5831 0,7945 0,9977 13,0173 0,6627
qm= capacidade adsortiva máxima na monocamada. KL= constante de Langmuir. KF=
Constante de Freundlich.
Fonte: Autoria própria.
Para os resultados obtidos, o modelo que mais se ajusta, com o R² mais próximo de
1, é o de Langmuir. Sendo assim, a adsorção dos cátions metálicos ocorre na
monocamada, decorrente de reações químicas na superfície homogênea do sólido
adsorvente, sem interação entre os cátions durante a ocupação dos sítios, sugerindo
assim que o processo é controlado por quimissorção, possivelmente, troca iônica
(BHATTACHARYA et al., 2015). Roshanferkr rad et al.(2014) com nanofribras de
álcool polivinílico/zeólita X apresentaram resultados coerentes com os obtidos neste
trabalho, apresentando um melhor encaixe no modelo de Langmuir para o processo
adsortivo do níquel.
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Conclusões
Os estudos adsortivos para remoção de metais pesados utilizando zeólitas,
particularmente da família faujasita se mostram muito promissores. Com a variação dos
parâmetros envolvidos na adsorção de níquel em meio aquoso, foi possível obter uma
ótima eficiência de remoção, chegando a valores variando na faixa de 80% na retirada
de cátion metálico em solução. Através do estudo cinético foi possível chegar a
conclusão que todo processo é regido pela troca iônica, com a etapa limitante do
processo sendo a quimissorção, e com as isotermas de adsorção se adequando melhor a
Langmuir, conclui-se que o processo ocorre com preenchimento de monocamadas sem
interação entre os cátions durante a ocupação dos sítios ativos.
Todos esses estudos dos parâmetros envolvidos ajudam a melhor compreensão
do processo, podendo esse conhecimento ser aplicado em tratamento de efluentes
contendo metal pesado, ou até mesmo em um processo de remediação ambiental. Visto
nesse trabalho e na literatura, a utilização de zeólitas é bastante eficaz na remoção de
metais pesados de meios aquosos, tornando a pesquisa desses processos de troca iônica
bastante interessantes e com diversas aplicações.
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O DESAFIO DA GOVERNANÇA AMBIENTAL NA IMPLANTAÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS: A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE
ESTRATÉGICA
Cláudio Maximiano M. de Souza1
1Pontifícia Universidade Católica – PUC-Rio, R. Marquês de São Vicente, 225 - Gávea, Rio de Janeiro -
RJ, 22451-900
E-mail: [email protected]
Resumo: Os programas e projetos governamentais, das três esferas, quando
apresentados à população beneficiária, costumam vir, muitas vezes, acompanhados pelo
descrédito. A imprensa nacional, como um todo, tem explorado muito essa situação. A
população coloca em dúvida, por exemplo, os prazos previstos pelos governos para a
execução de determinada obra e até mesmo a possibilidade de ela sequer ser concluída;
o prazo de vigência de certo projeto social ainda que seja de vasta amplitude (aluguel
social, renda mínima, remédios gratuitos, etc.); e melhorias na merenda escolar, dentre
outras iniciativas estatais. Por certo, muitas ações e muitos investimentos públicos
poderiam ser avaliados mutuamente, inclusive com a participação dos seus cidadãos.
Cabe aos governos – desde que as vaidades de gestores e técnicos permitam tal
iniciativa - incentivarem essa parceria colaborativa com a sociedade e o mercado.
Parece não existir outro caminho frente ao emaranhado de demandas da sociedade, de
recursos escassos dos governos e da vontade/necessidade de o mercado produzir. Não
parece tarefa fácil de ser executada, mas a mesma precisa ser colocada em prática, sem
demora, pelas três esferas de governo. Um exemplo poderia ser a gestão de resíduos
sólidos em uma bacia hidrográfica. O tema resíduos sólidos poderia envolver, em uma
bacia hidrográfica, os setores necessários à governança, já que se trata de um tema que
diz respeito a todos cotidianamente.
Palavras-chave: governança; resíduos sólidos; saneamento; gestão territorial.
Introdução
Este artigo objetiva ressaltar o importante e necessário papel que a governança
tem a desempenhar, em termos de políticas públicas, na gestão de resíduos sólidos da
sub-bacia do rio Iguaçu, integrante da bacia da Baía de Guanabara.
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Todavia, a implementação da governança – nova capacidade de governar
territórios (SILVA, 2018) - requer um entendimento da complexidade dos desafios a
serem enfrentados. Tais desafios envolvem conflitos locais e até regionais - disputas
por recursos financeiros; questões político-partidárias; e formas de atuação dos
municípios distintas entre si.
Na governança, três interlocutores têm destaque estratégico, a saber: poder
público, setor empresarial e sociedade civil. A esses três interlocutores cabe, de forma
simétrica e democrática, a responsabilidade pelas etapas típicas do ciclo de um projeto,
quais sejam: a de planejamento; a de execução e monitoramento pari passu das ações; e
a de avaliação final de desempenho, a qual caracteriza os erros e acertos de um dado
empreendimento.
Para o estabelecimento da conexão entre esses três partícipes, pela via da
governança, adota-se a bacia hidrográfica como unidade territorial de atuação. Concebe-
se a bacia como espaço público com enorme potencial e protagonismo para caracterizar-
se como um espaço político. Afinal nela residem cerca de 2,6 milhões de habitantes,
que podem, de forma colaborativa, viabilizar transformações socioambientais e
institucionais.
As bacias dispõem, cada uma, de identidades e peculiaridades daquele lugar, que
é único. Várias são as características que particularizam as bacias: vazão hídrica;
capacidade de infiltração; microclima; dimensões territoriais; cobertura vegetal, etc.
Ademais, há, ainda, aspectos sociais a serem considerados – densidade demográfica,
oferta de serviços públicos, infraestrutura de saneamento, dentre outros - e aspectos
econômicos, tais como instalação de plantas industriais; atividades agropecuárias, etc.
Entende-se que esses três entes citados, em conjunto e de forma colaborativa,
dispõem de condições para avaliar e hierarquizar, sistematicamente, políticas públicas
para seu território. Avalia-se que os três, de forma solidária e co-participativa, sabem
delimitar os resultados possíveis de serem atingidos no âmbito das políticas públicas.
Em outros termos, a governança possibilita a participação democrática das partes
interessadas.
Planejamento e gestão do território: ações que não têm produzido contrapartida estatal
Nas últimas décadas tem havido, por parte da população brasileira, desconfiança
com relação a assuntos que digam respeito aos governos – seja federal, estadual ou
municipal. A população, de antemão, não tem se pautado em informações e orientações
oriundas de órgãos públicos. Em algumas situações, são recebidas até de forma jocosa.
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Em outras palavras, os governos – e por conseguinte suas estruturas e agentes –não
estão sendo levados a sério.
Os programas e projetos governamentais, das três esferas, quando apresentados à
população beneficiária, costumam vir acompanhados pelo descrédito. A população
coloca em dúvida, por exemplo, os prazos previstos pelos governos para a execução de
determinada obra e até mesmo a possibilidade de ela sequer ser concluída; o prazo de
vigência de certo projeto social ainda que seja de vasta amplitude (aluguel social, renda
mínima, remédios gratuitos, etc.); e melhorias na merenda escolar, dentre outras
iniciativas estatais.
Os questionamentos e afirmações comuns da população costumam ser da
seguinte ordem: “será que vai acontecer mesmo?”; “será que eles têm recursos para tudo
isso?”; “até quando isso vai acontecer?”; “isso só vai acontecer até as eleições”;
“quando trocar o prefeito, isso vai acabar”. A gestão pública encontra-se em situação
crítica, haja vista que tais comentários surgem em conversas cotidianas, em veículos de
imprensa e em mídias sociais.
Aparentemente, a população está, a cada dia, mais convencida de que não
consegue obter dos governos aquilo que lhe é de direito como cidadão e também como
contribuinte dos encargos que lhe são cobrados. Ou, de acordo com Claval (1978),
quanto ao cidadão que tem direito a serviços públicos, “ o contrato social não pode ter
outra finalidade, se for verdadeiramente racional, senão a de garantir a todos a liberdade
de agir e o direito de possuir”.
Os órgãos de imprensa têm destacado, quase que cotidianamente, uma apatia da
sociedade com os governos em geral e nos mais variados temas – praticamente todos:
saúde, educação, segurança pública, saneamento básico, etc. Assim, pode-se afirmar
que, numa democracia estável, “o poder só é legítimo se exercido em nome de uma
coletividade que se considera comunidade” (CLAVAL, 1978).
Ao se referir ao modelo de estabilidade oferecido pelas grandes democracias em
fins do século XIX e início do século XX, o geógrafo francês afirmou que “se nada
parece mudar no nível político, as sociedades se vêem às voltas com transformações tão
notáveis que a longo prazo as instituições não podem mais desempenhar seu papel”
(CLAVAL, 1978). É preciso que os governos busquem alternativas para se efetuarem as
mudanças necessárias e urgentes, requeridas pela sociedade.
Os governos – em suas três escalas – necessitam rever e atualizar caminhos
administrativos e optar por aqueles que levem suas instituições a cumprirem seus
respectivos papéis sociais. Por certo, não se está reivindicando aqui a ampliação da
máquina pública, considerada pela sociedade como muito maior do que os serviços
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públicos que oferece, e nem tampouco sobre a ampliação de suas competências. Muito
pelo contrário, a proposta é pela busca da descentralização nas decisões e pelo aumento
da participação de outros setores da sociedade nas soluções coletivas. Dito de outra
forma,
A ampliação da competência do Estado torna de tal
maneira pesado o sistema administrativo que a
centralização absoluta de todas as decisões é cada
vez mais contestada: os atrasos e erros se
multiplicam. As políticas de descentralização, a
concessão de autonomias mais ou menos acentuadas
e a reconquista do federalismo são as respostas a
essa evolução (CLAVAL, 1978).
Cunha (2007) destaca que a percepção, em nível internacional, dá conta de que
nos últimos 30 anos, “o governo vem se tornando mais ineficiente, agigantando-se,
consumindo mais recursos proporcionalmente aos serviços efetivamente prestados à
sociedade, deixando de atender expectativas quanto ao que seria socialmente desejável”.
Em um nível mais global, ou seja, de amplo espectro e, ao fazer referência à
dimensão das áreas submetidas a uma mesma autoridade, Claval (1978) também destaca
que o consenso no âmbito das nações foi abalado, dando espaço ao “reaparecimento de
vínculos locais e regionais”.
Da mesma forma, nos limites do federalismo brasileiro, tais vínculos deveriam
ser incentivados pelos três entes governamentais, de forma, inclusive, a se atuar em rede
frente às funções do Estado.
Aliás, no que tange às funções do Estado, devemos mencionar a necessidade
constante de “investimento social” (onde se insere a infraestrutura de saneamento, por
exemplo); a expectativa do “consumo social” (como a educação e saúde); e o controle
do “gasto social” (expresso na máquina pública), (FONT; RUFÍ, 2006 apud O’Connor,
1981). O compartilhamento de tais funções, entre os governos, agrega valor ao serviço
ofertado e otimiza os recursos públicos. Em havendo descentralização de atividades,
como proposto anteriormente, outros atores da sociedade têm de ser agregados.
Ao mencionar as dificuldades de os governos redirecionarem o rumo de políticas
públicas e regulamentarem as relações intergovernamentais, a socióloga Celina Souza
(2006) destaca que “existe uma distância entre os dispositivos constitucionais e as
circunstâncias políticas e econômicas, com as últimas prevalecendo sobre os
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mandamentos constitucionais”. A nosso ver, dado o momento de acúmulo de demandas
da sociedade, do insucesso das políticas públicas em geral, do descrédito da população
frente a ações estatais e da necessidade de otimização de recursos, o que se requer é a
aproximação de tais dispositivos constitucionais àqueles político-econômicos.
Para Souza (2006):
o objetivo do federalismo cooperativo está longe de
ser alcançado por duas razões principais. A primeira
tem a ver com as diferentes capacidades dos
governos subnacionais de implementarem políticas
públicas, dadas as enormes desigualdades
financeiras, técnicas e de gestão existentes. A
segunda é a ausência de mecanismos constitucionais
ou institucionais que regulem as relações
intergovernamentais e que estimulem a cooperação,
tornando o sistema altamente competitivo.
No entanto, um primeiro passo foi dado em 2005 com a possibilidade de
constituição de consórcios públicos, entre entes governamentais, através da Lei Federal
no 11.107/2005 que foi, posteriormente, regulamentada pelo Decreto Federal no 6.017/
2007. Esse instrumento institucional permite aos municípios mecanismos formais
indutores do diálogo e da cooperação entre entes federados (SOUZA, 2006).
O ente governo estadual enfrenta dificuldades para atuar administrativamente
com o vigor exigido pelo federalismo. Como a redução de receitas – inclusive para
amortizar dívidas com a União – e as relações diretas entre os governos federal e
municipais limitam a capacidade de iniciativas dos governos estaduais, inclusive quanto
a investimentos em infraestrutura de saneamento (SOUZA, 2006), torna-se necessário
aos governos estaduais identificar alternativas relativas à gestão que os fortaleçam
perante os municípios. Trata-se de uma crise que vem ocorrendo no âmbito estadual.
Além das questões, anteriormente citadas, quanto aos estados federados, há
ainda outro aspecto que merece ser destacado. No que diz respeito às metrópoles, a
Constituição de 1988 transferiu para os estados a competência para a instituição de
regiões metropolitanas, sem, no entanto, oferecer mecanismos para a construção de
sistemas de governança. Quanto a essa peculiaridade constitucional, Garson (2009)
destaca
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a falta de uma política de desenvolvimento urbano
que articulasse a União, os estados e os municípios
em torno de projetos de interesse comum. As
mudanças institucionais ao longo da década de 90 e
sua expressão financeira – aumento das
transferências da União para estados e municípios –
concentraram-se na área das políticas sociais, em
particular da saúde e educação, não contribuindo
para reverter o comportamento não cooperativo em
ações na área urbana.
Para complementar a afirmativa de Garson, a também economista Araújo
(2006), de Pernambuco, ressalta que “a transferência de responsabilidades, em geral,
não foi acompanhada pela preparação e pelo fortalecimento dos municípios e dos
agentes locais”. Isto é, as responsabilidades foram sendo, paulatinamente, repassadas
aos demais entes sem a devida e necessária preparação administrativa, orçamentária e
de qualificação daqueles a quem cabia a operacionalização do que fora planejado na
esfera superior da estrutura da Federação.
Em resumo, a escala local, ou seja, as administrações municipais, não recebem
da União e do seu Estado os subsídios essenciais para fazer valer o conceito do
federalismo, que pressupõe colaboração mútua e compartilhamento de ações entre esses
três níveis.
Relevância de políticas públicas estruturantes para o território fluminense: oportunidade
contemporânea na gestão ambiental
O ente federado estado do Rio de Janeiro tem uma Região Metropolitana cujos
municípios, historicamente, não colaboram entre si. Não tem havido parcerias
consistentes, exceto no que diz a serviços de saúde pública1. As administrações locais
não desenvolveram, ao longo dos anos, a prática do associativismo, da colaboração e da
parceria. E é importante ressaltar que há, nesse território, muitas demandas, muitos
conflitos e muitas soluções que poderiam ser analisadas, ponderadas e equacionadas em
conjunto. Os limites dessa região englobam os contornos da bacia da Baía de
Guanabara.
1 Iniciativa, reconhecidamente, bem-sucedida é o CISBAF - Consórcio Intermunicipal de Saúde
da Baixada Fluminense, com Sede no município de Nova Iguaçu. Disponível em: http://www.cisbaf.org.br. Acesso em: 15 jul. 2019.
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No entanto, parece que há, por parte dos agentes locais, uma indiferença para
com seus circunvizinhos, a despeito da expressiva quantidade de problemas sociais,
econômicos, ambientais e sociais que são comuns a todos os municípios integrantes
dessa metrópole.
Ao que tudo indica, conforme mencionado anteriormente, a população que
reside em tão grande área urbana estaria apática e desinteressada nos temas que dizem
respeito ao coletivo.
De acordo com Alzamora,
para devolver la confianza a los ciudadanos en la
política se requiere impulsar nuevas formas de
participación en la sociedad. La participación en los
diversos ámbitos sociales sobre las decisiones que
les afectan educará a los ciudadanos en el sentido
de la responsabilidad (ALZAMORA, 2014 apud
BACHRACH, 1973).
De fato, a população fluminense moradora da metrópole precisa ser
impulsionada a participar ativamente dos projetos, a querer se inteirar das angústias
urbanas que a todos afeta e a deliberar sobre as ações necessárias a uma vida melhor na
grande área urbana. Com isso, amplia-se e fortalece-se o sentido da responsabilidade
cidadã. Há setores da sociedade civil - tais como, associações de moradores, comitês de
bacias hidrográficas, ONGs, etc. - que já atuam pró-ativamente em questões coletivas.
Em busca das melhores soluções para o cotidiano na metrópole fluminense, há
de serem estabelecidas novas estratégias de organização e de ação político-territorial. A
governança poderá contribuir enormemente.
Claval (1978) chama a atenção para o seguinte fato: “as fórmulas que preveem
uma divisão das funções políticas entre vários níveis são certamente mais eficazes do
que o centralismo” (CLAVAL, 1978). A governança apresenta como premissa básica a
atuação equânime entre três níveis para o cumprimento de funções políticas – poder
público; mercado; e sociedade civil.
Um primeiro passo foi dado já há algumas décadas, quando, por exemplo, os
organismos multilaterais de crédito passaram a exigir a participação dos potenciais
beneficiários em algumas etapas da execução dos empreendimentos por eles
cofinanciados. Essa exigência se concretiza, por exemplo, através de reuniões
sistemáticas com os “Comitês Gestores de Bairro”, obrigatórios de acordo com os
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contratos de empréstimos de recursos financeiros. Essa tem sido uma diretriz do BIRD,
do BID e da CAF2, mas ainda não é suficiente. A participação da sociedade tem de ser
muito mais vigorosa e atuante. Além disso, ainda há de se agregar o setor privado.
Nesse sentido, afirma a socióloga Celina Souza (2006):
a municipalização não tem se restringido aos
governos como provedores de políticas sociais, mas
também às comunidades locais. Vários programas
federais e outros financiados com recursos de
agências multilaterais exigem a constituição de
conselhos comunitários para o repasse de recursos”.
Tais temas, com suas respectivas complexidades, deixam claro que as soluções
mais adequadas, sustentáveis e democráticas passam pela discussão entre vários
beneficiários, que disponham das mesmas condições para as deliberações requeridas.
Mais do que atuação dos técnicos – do aparelho estatal – é imprescindível a
participação de outros agentes que, igualmente, são decisivos, além de serem os efetivos
usuários-beneficiários.
O Governo do estado do Rio de Janeiro estipulou algumas metas ambiciosas em
seu Plano Estadual sobre Mudanças Climáticas, de 2012, a serem cumpridas nos
próximos anos. A título de exemplificação, foram destacadas duas metas: uma relativa a
esgotamento sanitário, outra a tratamento de resíduos sólidos (Quadro 1).
Ante as metas definidas, a serem atingidas até 2030, entende-se, por oportuno, a
indagação sobre como pretenderia o governo estadual chegar a tais resultados propostos.
Cogita-se que o atingimento dessas metas só seria possível com a efetiva cooperação do
setor empresarial, das administrações municipais e da sociedade como um todo.
2 O BIRD é mais conhecido como Banco Mundial. BID - Banco Interamericano de
Desenvolvimento. CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina (nova denominação para Cooperação Andina de Fomento).
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Quadro 1
Metas Estaduais de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima
Mitigação
Esgotamento sanitário Redução de 65% em 2030
relativamente a 2005* Tratamento de resíduos
sólidos
Adaptação
Controle de inundações e
recuperação ambiental de
bacias hidrográficas
Ampliar de 40 para 400km
lineares através de projetos
e obras em margens de rios
Fonte: PEMC, 2012 - *kg CO2 eq./ano
Adaptação do autor.
A título também de ilustração e ainda com relação a projetos relacionados ao
estado do Rio de Janeiro - e para limitar-se a notícias recentes, publicadas na imprensa,
destaque-se uma referente a projetos de política de segurança pública - tema
considerado da mais alta relevância. De acordo com a página eletrônica G1, foram
consumidos R$ 25 milhões em três projetos que não funcionam ou funcionam
parcialmente como, por exemplo, “Câmeras de Segurança” e “Emergência RJ” 3.
A Constituição de 1988 reconheceu os municípios como membros da federação,
dificultando a legitimação dos estados como órgãos de coordenação de ações
metropolitanas. Ademais, após 1988, coube aos estados e municípios maior autonomia
para captação de recursos – através de impostos, por exemplo (GARSON, 2009).
Atualmente, e por alguns anos, o estado do Rio de Janeiro não poderá participar
de ciclos de captação de recursos – nacionais e internacionais - em função de sua adesão
ao Programa de Ajuste Fiscal4 celebrado em 2017 com a União. Mais uma vez fica
consignada a fragilidade do ente regional para dar suporte aos entes locais – municípios.
Nota-se, portanto, tratar-se de incongruências do próprio federalismo, que deixa os
municípios sozinhos para equacionar problemas locais e regionais.
Ademais, a despeito dos obstáculos anteriormente apontados, acrescenta, ainda,
Garson, economista e especialista em planejamento urbano e regional, que “a falta de
legitimidade dos estados para usar mecanismos de coerção – leis estaduais e outros
3 Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/07/22/rj-tem-projetos-de-politicas-de-seguranca-que-nao-saem-do-papel.ghtml. Acesso em: 22 jul. 2019.
4 O Programa de Reestruturação e de Ajuste Fiscal contém, em síntese, metas relativas a dívidas, receitas, arrecadação e gestão pública. Disponível em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br. Acesso em: 25 jul. 2019.
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instrumentos que levem a uma ação coordenada – reforça a necessidade de buscar
incentivos que estimulem a cooperação”. A governança pode, perfeitamente, promover
a coesão entre municípios contíguos, utilizando-se a bacia hidrográfica como território
para a ação política e estratégica.
Como afirma Oliveira (2007), ao se referir à cultura de planejamento no Brasil
“ainda não acordamos para a realidade complexa do que é o processo de planejamento”.
Acrescente-se, isto posto, que não acordamos, também, para as etapas subsequentes que
afetam os processos de execução, de monitoramento constante e de avaliação de
desempenho de políticas públicas.
Governança ambiental como nova conduta frente ao território: gestão participativa e
colaborativa
A sociedade tem demandado constantemente, e cada vez mais, a atuação do
poder público para a ampliação e melhor oferta de serviços aos cidadãos – sejam eles
serviços relativos à saúde, educação, segurança pública, habitação, recuperação de piso
asfáltico, vigilância sanitária, dentre outros. Tais demandas são originárias,
consequentemente, da baixa qualidade dos serviços ofertados.
Há situações em que, em alguns lugares, os serviços são até inexistentes - como
coleta de resíduos sólidos e sua adequada disposição final, de acordo com a legislação
vigente. Quase que diariamente, matérias jornalísticas divulgam demandas da
sociedade por serviços públicos eficientes.
A propósito, com relação à disposição inadequada de resíduos, cabe destacar a
informação, da Superintendência Federal de Agricultura-RJ, de que se estima para a
Região Metropolitana do Rio de Janeiro cerca de 100 “lixões”5 ou vazadouros, que
estão proibidos por lei desde agosto de 2014.
Em outros termos, afirma-se que os problemas avolumam-se, a cada dia, ante a
inércia do poder público – independentemente da escala desse poder, seja federal,
estadual ou municipal. Da parte dos governos, as respostas oficiais, divulgadas pela
imprensa, indicam, com frequência, que providências estão sendo adotadas ou que há
carência de recursos financeiros para a realização ou conclusão de dado
empreendimento.
Com base nas informações citadas anteriormente, acredita-se que, a cada dia, os
governos atendem menos – e, via de regra, ainda assim, de modo insuficiente - as
5 Informação no 34/SISA-RJ/DDA-RJ/SFA-RJ/MAPA, Processo no 21044.004629/2018-20,
documento interno do MAPA/Brasil.
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demandas dos cidadãos. Por certo, a cada dia, aumenta a insatisfação, dos mesmos
cidadãos frente à atuação dos governos. Algo precisa mudar, ou, de acordo com Claval
(1978), parece que “o contrato torna-se um acontecimento do futuro”.
O acordo da prestação de serviços, de forma competente, entre as esferas de
governo e o cidadão apresenta-se, com o passar das últimas décadas, cada vez mais
pusilânime e incoerente com as contribuições tributárias pagas pela sociedade. Seria a
governança o novo acordo para uma atuação digna e justa nos territórios locais? A
governança reúne os atores em torno de problemas comuns e em busca de soluções
socioambientais, democraticamente definidas.
Aos governos e à sociedade, há necessidade de se unir, de forma pragmática, um
terceiro elemento, de maneira que a gestão territorial possa ser compartilhada entre
aquele que regula e cobra tributos; entre aquela que é potencial beneficiária dos serviços
públicos; e aquele que torna concreto os anseios dos dois entes anteriores.
Toda vez que os homens partilham de papéis
idênticos e ocupam um lugar análogo na vida de
relação, aproximam-se pelos seus interesses e pelos
seus problemas: têm pontos comuns e constituem
objetivamente conjuntos homogêneos, coletividades
(CLAVAL, 1978).
Uma referência geográfica que contribui na constituição da parceria tripartite é a
bacia hidrográfica, que dispõe de elementos que dizem respeito a todos os parceiros. O
principal elemento é a disponibilidade e qualidade da água por eles consumida/utilizada.
Conforme Claval (1978), “para que a solidariedade dos membros das coletividades se
torne ativa, é preciso que tenham consciência daquilo de que dispõem em comum”.
A governança - que, necessariamente, reúne poder público, sociedade e setor
empresarial com prerrogativas idênticas e democráticas de deliberação e com
responsabilidades simétricas - pode estabelecer essa nova hierarquia das instâncias
políticas. A governança viabiliza um novo modelo de atuação nos territórios a partir de
parcerias estabelecidas entre os três segmentos que neles – nos territórios - regulam,
coabitam e exercem atividades econômicas.
Entende-se que devido à proximidade geográfica em nível regional e local, e aos
problemas comuns, torna-se menos complicado estabelecer uma nova arquitetura
político-institucional a partir da solução apontada por Claval quanto à bacia
hidrográfica.
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Com relação ao tema, Costa e Costa (2016) destacam que os estudos sobre
políticas sociais - educação, saúde, etc. - têm suscitado grande interesse em geral. No
entanto, chama a atenção para o fato de que a esses estudos falta “interesse pelas
transformações do aparelho de Estado, do surgimento e do aparecimento de instituições,
da expansão das estruturas encarregadas de implementar esses benefícios”.
A governança permite, democraticamente, aos seus integrantes, possibilidades
equânimes, “onde os interessados na decisão, na ação de interesse público, são
participantes do processo decisório” (TENÓRIO e SARAIVA, 2007).
A governança deve ser entendida, lato sensu, como uma “prática gerencial que
incorpore a participação da sociedade no processo de planejamento e implementação de
políticas públicas” (TENÓRIO e SARAIVA, 2007). Os outros dois segmentos –
governos e setor produtivo – já atuam na prática gerencial, pois um efetua o
planejamento e o outro executa o que lhe foi contratado. Nessa prática gerencial, falta,
por certo, aquele que é o beneficiário do serviço público e que tem de desempenhar o
verdadeiro papel de fiscalizador dos empreendimentos, sem deixar de lado, também, a
importante fase do planejamento, em que são definidas as prioridades.
É fundamental a identificação de fatores que dificultam a cooperação, como, por
exemplo a disputa por recursos financeiros (devido à centralização em nível nacional) e
os conflitos político-partidários.
Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, são notórios tais conflitos,
principalmente na área da Baixada Fluminense. Há de se supor que na sub-bacia do rio
Iguaçu – integrante da bacia da Baía de Guanabara e onde residem cerca de 2,6 milhões
de pessoas – estejam presentes conflitos de toda ordem: sociais, políticos, institucionais
e ambientais. Como a pesquisa ainda está em curso, o mapeamento desses conflitos
ainda encontra-se em fase de elaboração.
Certamente por conhecer, em profundidade, a realidade brasileira, Araújo (2006)
afirma que “promover o desenvolvimento local e impulsionar a descentralização num
país onde os recursos destinados ao financiamento das políticas públicas ainda são
pouco descentralizados constitui um grande desafio”.
No federalismo brasileiro, há de ser equacionada a questão da descentralização
de recursos6 para a escala regional, Estados, e local, municípios, inclusive para
6 De acordo com o seminário PEC do Pacto Federativo, promovido pela FGV-Rio, em 26/04/19,
há, no momento, quatro temas que são de Estado e não de Governo: reforma da previdência; reforma tributária; reforma patrimonial (venda de estatais); e pacto federativo. Segundo os palestrantes, esse último – que envolve as relações entre as três esferas de poder – vai ganhar grande dimensão nos próximos meses. Com o novo Pacto Federativo, as atribuições dos entes públicos e a distribuição de recursos, proporcional às responsabilidades, estarão melhor definidas.
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fortalecê-los. A vida cotidiana, com seus dilemas e suas soluções, se passa nos
municípios. Neles deve ser, democraticamente, definido o uso dos recursos públicos,
contando para tal com aqueles agentes – estatais e não estatais – que conhecem a
realidade in situ.
gestões públicas multiescalares devem priorizar a
ideia de que naturezas e sociedades produzem meio
ambientes cujo jogo de forças consonantes e
dissonantes pode promover a qualidade de vida e a
justiça social (SILVA, 2014).
Entende-se que não há outro caminho. Sem coparticipações, contrapartidas e
parcerias éticas, não será possível estabelecer-se a modalidade governança em um dado
território, haja vista que “uma governança sustentável só é obtida através da
cooperação” (SILVA, 2018).
As etapas de planejamento, execução e avaliação de empreendimentos públicos
requerem, para serem bem-sucedidas, a parceria constante dos três segmentos: esferas
de poder; setor privado; e sociedade. Estas etapas dão dimensão ao espaço político
almejado.
A confiança mútua e parceria se iniciam pelo planejamento das ações e
atividades de determinado projeto, tendo em conta que “o processo de planejamento é
um processo político que depende de informações precisas, transparência, ética,
temperança, aceitação de visões diferentes e vontade de negociar e buscar soluções”
(OLIVEIRA, 2007). É nessa etapa que se inicia, de fato, a governança com o objetivo
de se construir um discurso único e de se viabilizar a harmonização do espaço comum.
Governança ambiental a partir da escala local: a bacia hidrográfica como unidade
estratégica para a construção de um espaço político
Ao se referir ao uso do espaço, Claval destaca que “a primeira característica do
mundo contemporâneo é o lugar que nele ocupam as organizações capazes de operar em
vários pontos e servir a uma clientela numerosa e dispersa” (CLAVAL, 1978). Pode-se
entender que essas organizações são os atores sociais já citados anteriormente.
Ao se referirem à globalização e localização, os geógrafos espanhóis Font e Rufí
(2006) afirmam, categoricamente, se tratarem de dois processos – sociais, econômicos e
políticos – determinantes no mundo contemporâneo. Assim sendo, para sedimentar tal
afirmativa, acrescentam ainda que
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são maioria os autores que argumentam que a
globalização, contrariamente do que se poderia
supor, estimula a consolidação do local, de lugares,
uma vez que gera mecanismos de homogeneização.
Para a globalização, os lugares são pontos de
territorialização, de materialização.
Tendo em vista o mundo globalizado em que se vive, parece acertado o
investimento na consolidação da governança em escala local, ou seja, dos municípios.
Para efeito de planejamento – e talvez até de uma certa lógica territorial – pode-se
dispor de uma bacia hidrográfica como unidade territorial básica de planejamento. É em
uma bacia – qualquer que seja – que se dá a materialização citada pelos autores.
Ao se atuar em várias bacias – espaço onde a vida ocorre (SILVA, 2017), chega-
se aos limites de dado município e até mesmo a municípios vizinhos. Nessa progressão,
pode-se chegar à escala regional de atuação.
No âmbito das bacias hidrográficas, pode-se implantar a modalidade
governança, de maneira que
as novas regiões, institucionalizadas ou não, podem
responder a muitas tipologias de entidades
territoriais e de identidades [...] são, enfim, espaços
que assumem parte da função de lugar em um
mundo que tende à globalização (FONT; RUFÍ,
2006).
Dessa forma, fica evidenciado que uma bacia hidrográfica é um espaço público,
apto a ser concebido como um espaço político em potencial. Todavia, requer-se a
adesão, a participação e a colaboração participativa dos agentes que nela, mais ou
menos intensamente, atuam. A governança tem a capacidade de reunir tais agentes
visando à participação de todos - de forma simétrica e democrática.
Dois dos fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos7 asseguram
que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implantação da citada Política e
7 A Lei Federal no 9.433, de 08/01/1997cria a mencionada Política Nacional e também o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9433.htm. Acesso em: 27 jul. 2019.
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que também a gestão de tais recursos “deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades”.
Para mais além, a governança, que tenha por base referencial uma bacia
hidrográfica que se estenda por mais de um município, favorece à gestão de espectro
regional com o objetivo primeiro de se encontrarem soluções para problemas comuns,
ou seja, cooperação intermunicipal. Em outros termos, a governança, no contexto de
uma bacia hidrográfica, tem o atributo de incentivar a cooperação na escala local, de
forma a otimizar ações regionais e, por conseguinte, recursos públicos.
A partir da edição da Lei Federal no 11.107/2005 relativa à constituição de
consórcios8, “torna-se cada vez mais frequente o recurso a estratégias de consorciação
para atuação em espaços territoriais e institucionais mais amplos” (ARAÚJO, 2006). No
entanto, apesar do avanço, reconhecidamente importante com a aprovação dessa lei,
registra-se que a gestão compartilhada só é permitida entre os entes da federação.
De toda sorte, sem dúvida, “quanto mais horizontais forem as decisões entre os
municípios envolvidos, maiores serão as chances de maior sucesso na gestão das coisas
comuns aos territórios” (SILVA, 2017).
A amplitude de uma bacia, que pode englobar, total ou parcialmente, territórios
de municípios limítrofes, associada à governança, permite atuação regional na busca por
soluções factíveis e, por tanto, voltadas à efetiva definição de políticas públicas.
Apesar das características contemporâneas da governança, registre-se que, nas
metrópoles, os conflitos estão sempre potencializados em virtude de algumas
configurações, tais como a disputa por recursos da federação; as ambições político-
partidárias de gestores públicos; questões de ordem estritamente pessoal entre gestores
de municípios circunvizinhos, etc.
As regiões metropolitanas – como a do Rio de Janeiro, por exemplo –
apresentam uma quantidade expressiva de externalidades (poluição do ar, da água etc.) e
bens públicos em suas infraestruturas (redes de água e esgotamento sanitário, aterros
sanitários compartilhados etc.), (KLINK, 2009). Desse modo, em áreas densamente
ocupadas há, por conseguinte, uma relação estreita entre o uso do solo e a coletividade,
que não é, normalmente, pacífica e aceita por todos.
Nessa linha de raciocínio, o arquiteto urbanista, Klink aborda, com muita
precisão, as nuances dos limites territoriais em um espaço urbano:
8 Lei Federal no 11.107, de 06/04/2005, posteriormente regulamentada pelo Decreto Federal no
6.017, de 17/01/2007. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11107.htm. Acesso em: 27 jul. 2019.
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as questões relacionadas ao uso e ocupação do solo e
o desenvolvimento de cadeias produtivas, por
exemplo, representam temas cujo limite geográfico
extrapola e transborda os limites administrativos de
cada cidade. Da mesma forma, a segurança pública,
as bacias hidrográficas limpas e baratas e a presença
de um conjunto de redes urbanas técnicas (água,
saneamento, transporte) têm características nítidas
de bens públicos com elementos de indivisibilidade
e não exclusividade (KLINK, 2009).
Ante tal assertiva, a bacia hidrográfica representa a conexão entre os entes da
escala local, pois há, dentro de seus limites, temas comuns a todas às administrações, à
sociedade que nela reside e às empresas que dela se utiliza dos seus recursos naturais e
de sua mão-de-obra residente. A infraestrutura de uma bacia, que pode e deve ser
compartilhada de forma colaborativa entre todos; o uso e a ocupação do solo; as cadeias
produtivas, inclusive as agropecuárias, devem ser objeto de preocupação e atenção de
todos: poder instituído, mercado e sociedade civil.
Certamente, não é por outro motivo que Silva destaca a necessidade de se
Identificar arquiteturas territoriais (bacias
hidrográficas, zoneamentos e ordenamentos
ecológico-econômicos e regionais) que possam pôr
em cheque o atual modelo engessado de federalismo
no Brasil (SILVA, 2014 apud SILVA, 2011, 2012,
2013).
Através da governança - enquanto modalidade contemporânea de atuação no
território – pode-se ter como elemento de vínculo uma bacia hidrográfica que
compreenda um conjunto de municípios, ainda que nesses ocorram entre si certas
disputas e conflitos. No território de uma bacia hidrográfica, pela via da governança
bem sedimentada, é possível - e fundamental - a realização de um zoneamento
ecológico-econômico. A governança pode tornar concreto, na estrutura do federalismo
centralizador, um novo modelo de atuação no território.
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A governança é um instrumento de gestão do território que pode possibilitar o
usufruto coletivo de bens ecológico-ambientais (SILVA, 2014). A bacia tem a
capacidade de ser o eixo de ligação entre a governança e seus interlocutores.
Uma bacia hidrográfica – enquanto escala de poder - é um espaço político em
potencial dada a sua natureza. É, portanto, um território adequado para a definição de
políticas públicas em uma sociedade do século XXI, ou dito de outra forma, “os
territórios são arenas da política cotidiana (portanto há perdas, ganhos e convencimentos
sobre prioridades diversas)” (SILVA, 2017). Silva (2017) afirma ainda que a
governança – enquanto política de Estado – pode engendrar “a coparticipação dos atores
nas práticas espaciais, o que legitima as gestões do território”.
Nesse sentido, está sendo empreendida uma pesquisa acadêmica cuja tese é o
uso da governança para a adequada gestão de resíduos sólidos na bacia hidrográfica do
rio Iguaçu. No âmbito da pesquisa, diagnósticos estão sendo elaborados, entrevistas
estão sendo conduzidas e trabalhos de campo estão sendo realizados.
Considerações finais
No decorrer deste artigo, procurou-se demonstrar que os municípios – enquanto
escalas locais – têm de ser os gestores prioritários das questões espaciais.
Reconhece-se, no entanto, que coexistem, em uma mesma região,
administrações municipais de diferentes portes sob os aspectos socioeconômico,
ambiental e institucional. Mas por outro lado, há problemas comuns à espera de
soluções coletivas. Assim, os municípios, de maneira colaborativa e participativa,
precisam superar os obstáculos para o equacionamento de tais problemas comuns –
locais e regionais. Um desses obstáculos é, por exemplo, a inadequada gestão de
resíduos sólidos. Não se pode esquecer que uma gestão inadequada de tais resíduos
propicia problemas ambientais na qualidade da água da bacia e também no entupimento
das redes esgotamento sanitário e de drenagem.
Para tanto, propõe-se a utilização da governança, no âmbito da unidade
territorial bacia hidrográfica, de forma que os municípios participem, em cooperação, de
projetos integrados.
A governança necessita englobar, necessariamente, três interlocutores que serão
os responsáveis pela definição de prioridades, pela execução dos projetos e pela sua
avaliação final. Esses entes são o poder público, o setor empresarial (ou o mercado) e a
sociedade civil. A participação dos três segmentos tem de ser equânime e democrática.
Busca-se, enfim, contemplar, de fato, a participação dos três interlocutores para
que se atinja uma governança sustentável.
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AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO RIO BRANDÃO NO MUNICÍPIO DE VOLTA
REDONDA/RJ
Kelly Cristina da Silva Nascimento¹, Danielle C.R.M. dos Santos¹ & Denise de Castro Bertagnolli¹
¹Universidade Federal Fluminense, Av. dos Trabalhadores, nº 420, Vila Santa Cecília. Volta Redonda,
RJ, cep: 27225-125, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: A água é um dos recursos naturais mais importantes e utilizados pelo ser
humano, porém sua distribuição apresenta-se de forma desigual no território brasileiro.
Os efeitos desta má divisão e a falta de preservação ambiental acarretam problemas
relacionados com a escassez. A bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul está localizada
em uma região de grande relevância nacional, devido elevada concentração
populacional e diversidade industrial existente e, abrange os estados de Minas Gerais,
Rio de Janeiro e São Paulo. Um dos municípios o qual banha o rio Paraíba do Sul é a
cidade de Volta Redonda, marcada pelo seu corte sinuoso, servindo como referência
territorial e paisagística. A cidade possui diversos rios e córregos que deságuam no rio
Paraíba do Sul, sendo o principal afluente o rio Brandão, que foi empregado como área
de planejamento do traçado da Vila Operária na instalação da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN). Com o crescimento populacional, o rio Brandão vem sofrendo diversas
modificações em seu percurso, as quais afetaram sua qualidade. Logo, torna-se
necessário um estudo acerca dos parâmetros físico-químicos para a caracterização da
qualidade da água deste rio, além de estudos da várzea para que contribuam para o seu
gerenciamento ambiental. As amostras foram coletadas em 3 pontos diferentes da
cidade e realizaram-se análises de temperatura, pH, condutividade, turbidez,
alcalinidade, cloretos, dureza e sólidos totais. Com os resultados obtidos neste estudo
percebeu-se que os valores encontrados estão de acordo com os limites estabelecidos
pela Resolução CONAMA nº 357, mostrando que a qualidade do rio não está afetada.
Palavras-chave: Monitoramento da água, Poluição ambiental, Qualidade da água, Rio
urbano.
Introdução
O Brasil é abundante em recursos hídricos, sendo detentor de 12% da água doce
superficial disponível mundialmente. No entanto, sua distribuição não é uniforme, o que
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acaba ocasionando problemas de escassez em certas regiões menos privilegiadas ou
com alta demanda de uso de água, sendo assim necessário um gerenciamento deste
recurso (BRASIL, 2007).
A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul é considerada uma das mais
importantes no âmbito Federal, abrangendo uma das regiões mais desenvolvidas do país
constituídas pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em sua
extensão há 184 municípios, sendo que 36 estão parcialmente inseridos na bacia.
Ao longo do seu percurso, o rio Paraíba do Sul é subdividido de acordo com
características físicas distintas em relação à disponibilidade, demanda e qualidade do
recurso, além do uso e ocupação do solo. O Município de Volta Redonda está inserido
em seu trecho médio inferior (BRASIL, 2001).
Localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, a cidade de Volta Redonda
teve seu crescimento populacional apressado devido à implantação da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) nos anos 40. A expansão acelerada causou inúmeros
problemas ambientais devido à falta de planejamento e estruturação do Município, que é
composto por inúmeros riachos e córregos que constituem a malha hidrográfica do Rio
Paraíba do Sul, bem como de receptores naturais, tendo o rio Brandão como um dos
seus principais afluentes (MOREIRA; PAULA, 2012).
O elevado desenvolvimento urbano ao longo das margens do Rio Brandão
ocasionou adversidades ambientais como a impermeabilização de áreas que atuavam
como amortecimento de vazões, inconvenientes com a diminuição da sua calha,
degradação e retirada da mata ciliar a qual deveria ser presente em todo seu leito, bem
como o assoreamento do rio (COPPECT, 2006).
Outrossim, a funcionalidade da mata ciliar é a proteção dos rios, nascentes,
corpos d’água, lagos e lagoas, e devido ao crescimento urbano desenfreado, a ocupação
das áreas de várzea se tornou problema ambiental, nos lugares das matas ciliares é
possível encontrar avenidas e ruas, as quais impactam diretamente na qualidade do rio,
seja pela escassez de água, processos de erosão e assoreamento, ou ainda pela perda da
qualidade da água, além de estarem sujeitas a inundações (CARMO; BONETTO,
2016).
Dessa maneira, pode-se analisar o nível de qualidade de um corpo hídrico
através de parâmetros físico-químicos, os quais possibilitam intervenções a serem
tomadas a fim de manter as condições da qualidade em níveis correspondentes à sua
classe (GONÇALVES, 2009).
O presente trabalho teve como objetivo realizar o monitoramento dos parâmetros
físico-químicos relacionados à qualidade da água em diferentes trechos do rio Brandão,
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além da consolidação das características da várzea do rio em meio rural e urbano, a fim
de auxiliar na percepção e sensibilização para os problemas ambientais adquiridos ao
longo dos anos com o avanço populacional e industrial.
Materiais e Métodos
Os procedimentos metodológicos foram subdivididos em três etapas: estudo da
área, monitoramento de campo com duas amostragens ao longo do ano de 2019 e
análises físico-químicas.
Área de estudo
A área estudada foi o rio Brandão, que delimita a divisa entre os municípios de
Volta Redonda, Barra Mansa, Rio Claro e Piraí, localizados na região Sul Fluminense
do Estado do Rio de Janeiro (MOREIRA; PAULA, 2012).
O rio possui sua nascente entre o vértice de dois morros, na Fazenda da
Cabeceira do Brandão situada no distrito de Getulândia em Rio Claro/RJ, seu curso
passa por inúmeros bairros situados na cidade de Volta Redonda, e recebe na região
nobre da cidade, no bairro Vila Santa Cecília, o córrego Cachoeirinha, seu principal
afluente (COPPETEC, 2006).
Por ser considerado um dos principais responsáveis pela drenagem urbana, em
1994, a Prefeitura Municipal chegou a defini-lo em seu plano diretor como área de
expansão da cidade (MELLO, 2006). O rio Brandão tem seu curso próximo ao antigo
lixão desativado da cidade, cuja operação perdurou entre os anos de 1987 e 2012,
gerando inúmeros passivos ambientais que se agravaram ao longo dos anos, e que
segundo o Ministério Público Federal, ocasionou danos ambientais como a
contaminação do lençol freático, solo e vegetação do entorno devido à produção de
chorume (SETTA, 2016).
Monitoramento de campo
A área foi escolhida para o estudo por possuir ao longo do leito do rio
intervenções paisagísticas devido ao crescimento populacional da cidade, sofrendo com
a necessidade de se impermeabilizar áreas para o desenvolvimento urbano, eliminando
grandes áreas que seriam os reservatórios naturais para o amortecimento da vazão e que
se tornaram incompatíveis com as dimensões das canalizações implantadas
(MOREIRA; PAULA, 2012).
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Os pontos para avaliação ambiental foram definidos de acordo com a relevância,
pela acessibilidade do local para as amostragens e pela influência urbana e rural, dentre
os quais temos:
Ponto RB 01 – Trecho a jusante da nascente do rio Brandão na estrada
Getulândia – Volta Redonda (Latitude: -22,518505; Longitude: -44,102458).
Ponto RB 02 – Trecho do rio Brandão localizado na saída da Área de Relevante
Interesse Ecológico (ARIE) Floresta da Cicuta, no Bairro Siderópolis (Latitude: -
22,540083; Longitude: -44,087139).
Ponto RB 03 – Trecho do rio Brandão, localizado na Rua Lions Club, no Bairro
Vila Santa Cecília (Latitude: -22,520716; Longitude: -44,089422).
A localização dos pontos foi caracterizada com a utilização do Google Earth
(Figura 1).
Figura 1. Pontos de coleta do rio Brandão. Fonte: Google Earth, 2019
Coleta das amostras
As amostragens ocorreram em períodos de seca, a fim de evitar efeitos da
diluição das águas, e em épocas de cheia para efeitos de comparação. As datas da coleta
aconteceram em 15 de março e 13 de julho de 2019.
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Definiram-se os seguintes parâmetros físico-químicos para caracterização da
qualidade da água: pH, temperatura, turbidez, condutividade, sólidos totais,
alcalinidade, dureza e cloreto. Dentro de cada ponto, foram coletadas 5 amostras e
analisou-se em triplicata. Ao final, para melhor visibilidade e discussão dos resultados
obtidos construiu-se gráficos para cada indicador monitorado.
Para caracterizar as possíveis interferências da chuva no período de estudo,
foram selecionados alguns dados pluviométricos visando conhecer a quantidade de
precipitação ocorrida. As informações da precipitação acumulada foram retiradas da
Rede Hidrometeorológica Nacional, através do site do Sistema Nacional de Informações
de Recursos Hídricos, que a partir de pluviômetros automáticos realizam a verificação
diária dos volumes de algumas cidades.
Utilizaram-se os resultados do monitoramento das estações de UHE Nilo
Peçanha Res. Tocos Barramento (Código F/P: 58345000/02244103), localizada no
município de Rio Claro/RJ, tendo como responsável e operador a Light, e da estação do
UEL Santa Cecília Volta Redonda (Código F/P: 58305000/02244160), situada no
município de Volta Redonda/RJ, durante os meses de fevereiro e julho de 2019.
Durante o monitoramento realizado no mês de março de 2019, foram registradas
precipitações nos dias anteriores entre 10 e 50 mm, enquanto que no mês de julho de
2019 não houve apontamento de precipitação nas estações no dia anterior, sendo estes
dados importantes nos resultados obtidos, como observado na Figura 2.
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Figura 2. Volume acumulado de precipitação das Estações UHE Nilo Peçanha e UEL
Santa Cecília. Fonte: BRASIL, 2019
Foram utilizados baldes coletores de 5L, previamente limpos e descontaminados,
lavando-se os mesmos com a própria água do rio no momento da amostragem, para
evitar contaminação cruzada. Para cada ponto (1, 2, 3) utilizou-se um balde específico e
identificado. A profundidade para a retirada da amostra foi de 20 a 40 cm
aproximadamente.
As leituras de temperatura foram verificadas in loco, com um termômetro da
marca Incoterm previamente calibrado. Posteriormente, as mesmas foram armazenadas
em frascos plásticos de polietileno de 1L, previamente limpos e descontaminados com
solução etanólica 1% de ácido nítrico.
Os frascos contendo as águas para estudo foram levados imediatamente para o
laboratório para a realização das verificações do pH, turbidez e condutividade, com os
equipamentos pHmetro (mPA 210 – MS Tecnopon), turbidímetro (AP 2000 –
PoliControl) e um condutivímetro (mCA 150 – MS Tecnopon) previamente calibrados.
As medidas de alcalinidade, cloreto e dureza total foram feitas através do método
titulométrico e as dos sólidos suspensos, pelo método gravimétrico.
Todas as análises seguiram os procedimentos técnicos do manual Standard
Methods for the Examination of Water and Wasterwater (APHA, 1998).
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Resultados e Discussão
Os pontos de coleta definidos para a pesquisa possuem características
específicas que podem influenciar na qualidade da várzea e da água do rio. O curso do
rio Brandão perpassa por estradas, propriedades privadas e públicas da cidade de Volta
Redonda, possuindo áreas com maior ou menor arborização, incidência de urbanização
e declives.
No primeiro ponto (RB 01), a jusante da nascente, o tamanho da várzea é
extenso, com arborização de pequeno e grande porte, além de gramíneas e arbustos, não
foram observadas áreas de desmatamento próximo a mata ciliar e foram percebidos
poucos efeitos da ação antrópica próximo a margem, bem como reduzido assoreamento
das margens; isto deve-se ao fato de se tratar de uma área rural e particular (Figura 2).
Seguindo o caminho do rio Brandão, a maior parte dele até a saída posterior a
ARIE, alterna-se em tamanho da várzea, características arbóreas. Antes de adentrar a
ARIE, o rio caminha próximo ao antigo lixão da cidade, desativado em 2012. A
operação perdurou de 1987 até sua desativação, totalizando 27 anos de atividade,
recebendo cerca de 169,4 toneladas diárias de resíduos coletados, em uma área de cerca
de 175.950 m², gerando inúmeros passivos ambientais, tais como a contaminação do
lençol freático, solo e vegetação da ARIE da Cicuta (SETTA, 2016).
Após a entrada e até o momento de saída da ARIE, o maior interferente do rio
são os animais, por se tratar de uma área de preservação ambiental, restrita a pesquisas
científicas, visitas técnicas e educação ambiental. Após a saída da ARIE, adentra a
cidade e consequentemente sofre com o crescimento populacional e intervenções, como
o estrangulamento da seção do rio, canalização e modificação da mata ciliar. Em alguns
trechos ao longo do rio, é notável a modificação da estrutura da várzea, realizadas para
o atendimento das necessidades do crescimento urbano. A falta de áreas verdes ao longo
da margem do rio é visível, resultando na redução da capacidade de infiltração da água
no solo, com aumento do escoamento superficial, o que possibilita inundações em
épocas de chuva.
No RB 02, observa-se o declive do terreno, bem como um intenso assoreamento
da margem esquerda, além da presença de tubulações de escoamento advindo da parte
urbanizada, na margem direita, limite com uma área de preservação, nota-se maior
presença de vegetação (Figura 2).
No ponto RB 03, considerado o de maior modificação de sua várzea devido os
efeitos do crescimento da cidade, observa-se o estreitamento de seu curso, áreas
assoreadas e com escoamento de tubulações de drenagem das vias urbanas (Figura 3).
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Figura 3. Pontos de coleta no rio Brandão. Fonte: Acervo Pessoal, 2019
Os parâmetros físico-químicos são dados importantes para a caracterização da
qualidade da água contribuindo para a identificação de poluição das águas (Figuras 4 e
5).
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Figura 4. Resultados obtidos de temperatura, condutividade, pH e turbidez nos pontos
RB01, 02 e 03, nos meses de março e julho de 2019. Fonte: Próprio autor, 2019
Diante dos resultados obtidos de temperatura nos trechos RB 01, 02 e 03,
observa-se que as medidas da água nos dias de monitoramento apresentaram variações
de 2 a 4 ºC entre si, nas duas amostragens realizadas. Segundo a resolução CONAMA
no 357 de 2005, não há limites máximos estabelecidos para o parâmetro. É notória a
diferença entre os valores dos meses estudados que podem ser justificados por funções
naturais como incidência solar diretamente no rio, além do efeito da estação climática,
como também observado por Alves e colaboradores (2008), onde na estação de cheia, o
clima é mais quente e a temperatura da água se encontra maior, ocorrendo de forma
inversa na estação seca, por possuir temperaturas mais amenas.
Com relação ao pH foi observado que não atingiram o valor máximo permitido
pela resolução CONAMA no 357 de 2005 de 6,0 a 9,0, em água doce de Classe 1,
encontrando-se próximos à neutralidade. Nos diferentes meses de estudo, observou-se
uma diferença nos resultados que pode ser justificada pela influência do tipo do solo e
erosão das áreas que cercam o rio, características da zona urbana, se assemelhando aos
encontrados por Fonseca (2018), os quais indicam que as possíveis fontes de poluição
existentes não foram suficientes para alterar significativamente a qualidade deste
parâmetro.
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Como a resolução CONAMA no 357 de 2005 não estabelece limites máximos
para a condutividade, pode-se considerar que os valores encontrados são satisfatórios,
demonstrando que não há excesso de sais dissolvidos no rio. Em média, os teores de
condutividade em águas naturais variam na faixa de 10 a 100 μS.cm-1 e, em ambientes
poluídos por esgotos domésticos ou industriais, os valores podem variar na faixa dos
1000 μS.cm-1 (BRASIL, 2014).
As concentrações obtidas para a turbidez se encontram dentro do valor máximo
permitido pela resolução CONAMA no 357 de 2005, estipulado em 40 NTU para águas
doces de Classe 1. Observa-se que, na primeira verificação realizada no mês de março,
obtiveram-se resultados maiores que nas do mês de julho. No ponto RB 03, foi
encontrada a maior concentração de turbidez dos pontos coletados, devido ao maior
índice de erosão da margem, que com a alta pluviosidade carreou as partículas do solo
para o rio, além dos efeitos de ressuspensão dos sólidos maximizados. Os resultados
encontrados são similares aos obtidos por Sardinha e colaboradores (2008).
Figura 5. Resultados obtidos de alcalinidade, dureza, cloreto e sólidos totais nos pontos
RB01, 02 e 03, nos meses de março e julho de 2019. Fonte: Próprio autor, 2019
Os teores de alcalinidade encontrados no mês de março foram maiores quando
comparados ao mês de julho, possivelmente devido ao período chuvoso, os valores mais
altos podem ser justificados pelo arraste das partículas de compostos e sais que podem
contribuir para a elevação destes valores, corroborando com os obtidos por Brandelero
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(2008), no qual o aumento da quantidade de carbonato associa-se ao aumento de matéria
orgânica presente no rio.
Foram observadas pequenas concentrações de cloreto nas águas analisadas, bem
abaixo do limite máximo estabelecido pelo Ministério da Saúde na Portaria nº 5 de
2017, relacionada ao padrão de potabilidade para consumo humano, em relação a
resolução CONAMA no357 de 2005, não se tem valores máximos estipulados para este
parâmetro. Os resultados corroboram os detectados por Farias; Neto; Limas, (2011) em
que os teores obtidos estão dentro do permitido pela legislação e justifica-se a diferença
dos teores devido à proximidade com os lançamentos de efluentes, que afetam a
concentração nos corpos de água.
Segundo a classificação dada, as águas a partir da dureza total verificada, pode-
se dizer que a água do rio Brandão é de dureza moderada, sendo enquadrada entre 50 e
150 mg.L-1 de CaCO3 de acordo com a classificação da FUNASA (BRASIL, 2014). Os
resultados obtidos para o parâmetro foram maiores no mês de março, possivelmente
devido a maior incidência de chuvas que, por conta dos processos erosivos, tendem a
aumentar o arraste de partículas do solo para o rio, sendo similares aos de Siqueira;
Aprile; Migueis, (2012) ao estudar o rio Parauapebas.
As verificações de sólidos totais nos pontos estudados foram maiores no
primeiro monitoramento, no mês de março, nos pontos RB 02 e 03 justificado pela
erosão das margens e da alta pluviosidade. Os resultados obtidos corroboram aos
encontrados por Silva; Werle (2007), de que as concentrações de sólidos totais
diminuem em época de seca, devido a um menor arraste de sedimentos transportadores
pela erosão da mata ciliar, e que é acentuada em época de chuvas.
Contudo, observa-se que os resultados obtidos se encontram dentro dos limites
permitidos pela legislação, mas é importante ressaltar que a reintegração dos rios e das
várzeas urbanas a paisagem é para fortalecer a cultura local, na qual agrega inúmeros
benefícios paisagísticos a cidade, além da valorização do desenho urbano (PORATH,
2003).
A infraestrutura verde é indispensável para a renovação do ambiente urbano,
para retomada dos serviços essenciais prestados pela natureza. Esta infraestrutura verde
compreende vários elementos, como corredores verdes, parques, ruas e praças, que
estão relacionados com a proteção destes sistemas naturais, mantendo a qualidade da
água dos rios e a mata ciliar preservada (MORSCH et al, 2017).
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Conclusões
Diante dos resultados encontrados, o rio Brandão não apresentou concentrações
acima dos limites máximos permitidos pela legislação em nenhum dos parâmetros
analisados durante as duas coletas realizadas. As alterações verificadas são consideradas
normais, devido aos focos de poluição diferenciar-se nos pontos, e da proximidade
urbana como nos pontos B e C.
As variações climáticas influenciaram nos resultados obtidos, de acordo com o
mês da amostragem devido ao fator de diluição e velocidade com que a água percorre o
curso do rio ocasionando a agitação das águas resultando em maior teor de sólidos e sais
dissolvidos na água.
Segundo os monitoramentos, apesar do rio Brandão estar localizado em uma
região industrializada, o mesmo possui qualidade elevada quanto aos parâmetros
analisados neste estudo.
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Sessão:
Monitoramento,
Legislação Ambiental e
Conservação da
Biodiversidade
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ESTUDO SOBRE O FENÔMENO DE ILHAS DE CALOR NOS BAIRROS DE
BANGU, CAMPO GRANDE E IRAJÁ, CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Rafael de Freitas Moura1 & Cleyton M. da Silva1,2
1Universidade Veiga de Almeida, Campus Maracanã, CEP 20271-020 Rio de Janeiro-RJ, Brasil
,2Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Físico-Química. Instituto de Química, CEP
21941-909 Rio de Janeiro-RJ, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: Todas as atividades relacionadas ao dia a dia dos seres humanos possuem
influência direta com o meio ambiente, principalmente, com o clima local. Como
consequência dessa alteração, os efeitos maléficos sobre a saúde da população podem
não ser compreendidos ou até não conhecido pela mesma, como é o caso da ilha de
calor urbano (ICU). Esse estudo tem como objetivo analisar o microclima urbano nos
bairros de Bangu, Campo Grande e Irajá utilizando os parâmetros meteorológicos de
temperatura, radiação solar, direção e velocidade dos ventos, juntamente com os
parâmetros da forma urbana. Após cada análise, o cruzamento de cada resultado é capaz
de gerar um maior conhecimento sobre cada bairro, identificando ou não a existência de
ilha de calor urbano (ICU). Para refinar a série dados foi utilizada a linguagem R, em
seguida, foram gerados dados tipo boxplot para interpretação. A análise das formas
urbanas de cada bairro foi feita através do Google Earth, em função de retratar de forma
fiel as condições reais de cada local. Após obter os resultados é razoável afirmar a
existência de ilhas calor urbano em Bangu, Campo Grande e Irajá, todas ocorridas
principalmente à noite. A conclusão também apontou que os bairros de Campo Grande
e Irajá se tornaram mais quentes em relação a Bangu ao final dos últimos anos em
estudo, fato confirmado pela extensão da urbanização aliado a falta de planejamento
urbano.
Palavras-chave: Planejamento urbano, Linguagem R, Google Earth, Ilha de calor
urbano.
Introdução
Atualmente, mais da metade da população do planeta reside em áreas urbanas e
estima-se que até 2050 cerca de 70 % da população viverá em cidades de tamanhos
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variados, afirma a United Nations (UN, 2019). De acordo com a projeção do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019), a população brasileira irá alcançar a
marca de aproximadamente 228 milhões de pessoas em 2060, quando atualmente, já
conta com mais de 209 milhões de habitantes.
Cunha e Silva (2018), comprovam que o déficit habitacional no Brasil é um
problema crônico e ao mesmo tempo agudo, apesar de muitas políticas públicas de
redução dessa desigualdade já terem sido tomadas pelo governo. Os autores ainda
indicam um movimento migratório referente ao planejamento habitacional do
“Programa Minha Casa Minha Vida”, que em função do estoque habitacional
economicamente valorizado em cidades médias, orientaram um movimento em direção
a municípios menores e de interior.
Essa característica habitacional também promove a ocorrência de impactos
ambientais, sendo estes discutidos por Amorim (2019), que em seu artigo, sugere que os
bairros periféricos de habitações populares que possuem terrenos pequenos e
densamente construídos apresentaram as maiores temperaturas ao comparar com outros,
que em alguns casos embora a densidade construída seja alta, possuem cobertura
vegetal arbórea nas calçadas e até mesmo dentro dos lotes.
A infraestrutura urbana das cidades, através das ruas asfaltadas, predominância
de áreas concretadas, circulação de veículos automotores e verticalização das
edificações tornam-se grandes agentes modificadores do clima urbano. Todo esse
complexo sistema altera a umidade relativa do ar, a temperatura, o regime dos ventos e
a incidência de radiação solar, gerando assim um resultado que proporciona uma
sensação térmica elevada (SILVA; CARDOSO, 2019).
Segundo Barlow (2014), tradicionalmente, a ilha de calor urbano é investigada
usando medições locais, como forma de obter uma temperatura justa através das
estações meteorológicas automáticas. Oke (2017), propõe outros processos que poderão
ser usados sozinhos ou combinados, para obter uma melhor precisão da realidade local,
sendo assim, as metodologias são: a) as observações de campo, que inclui o uso de
estações fixas e móveis e as técnicas de sensoriamento remoto; b) a modelagem física,
que inclui a teoria de similaridade, os modelos com experimentos em laboratório e os
modelos ao ar livre; c) a modelagem numérica, que inclui as equações governantes do
modelo, os modelos de clima urbano em escala local e micro e os modelos urbanos de
mesoescala; e, d) os modelos empíricos, que se baseiam em uma relação estatística entre
diferentes sistemas, obtidos por observações de campo ou por modelos mais
sofisticados e inclui aqueles que simulam os fluxos de calor latente e sensível.
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Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), sendo considerada a
segunda maior e mais importante região metropolitana do país, a formação e a
existência do fenômeno de ilhas de calor ainda são muito pouco discutidas, ainda que a
percepção de calor extremo seja constante em muitas áreas da cidade do Rio de Janeiro,
principal município da RMRJ.
Kasay et al. (2011) indicam uma predominância de temperaturas mais elevadas
em diferentes bairros da zona norte e parte da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
Tais regiões pertencem ao grupo de bairros com maiores densidades demográficas da
cidade. Outrossim, tais regiões têm sofrido alterações substanciais quanto ao processo
de urbanização e uso do solo, que quando não oriundas de um prévio planejamento, e
associadas à topografia das referidas regiões, favorecem a formação e evolução de ilhas
de calor.
Nesse contexto, este trabalho tem como principal objetivo investigar a existência
e formação de ilhas de calor urbano, nos bairros de Bangu, Campo Grande e Irajá, todos
da cidade do Rio de Janeiro, levando-se em consideração os elementos naturais e físicos
que compõem a estrutura urbano-ambiental das ditas regiões. Outrossim, ainda é
objetivo deste manuscrito, promover a obtenção de dados, por meio da associação de
metodologias comuns para a abordagem deste tema, tais como o estudo de parâmetros
meteorológicos, com uma análise das formas urbanas, utilizando a ferramenta Google
Street View.
Materiais e métodos
Para o estudo da formação e existência do fenômeno de ilhas de calor em bairros
da cidade do Rio de Janeiro foram conjugados 3 (três) procedimentos: a) análise das
formas urbanas para a caracterização bioclimática, para a escolha dos locais de estudo;
b) aquisição de dados de séries temporais das estações meteorológicas dos bairros em
estudo; e, c) tratamento estatístico descritivo, com elaboração de gráficos comparativos.
a) Análise das formas urbanas para a caracterização bioclimática:
O primeiro passo foi a escolha das áreas para desenvolver o estudo, que foi
baseada nas relações heterogêneas das configurações da forma urbana e de perfis de uso
e ocupação do solo. Sendo assim, foram escolhidas áreas de elevadas densidades
demográficas, sendo estas reconhecidas por elevadas temperaturas (KASAY et al.,
2011).
Em seguida, como forma de restringir ainda mais as áreas, foram delimitados
diâmetros de 4 km a partir da localização de cada Estação de Monitoramento, sendo esta
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considerada a distância de abrangência de cada estação. Dentro dessa área de alcance
foram avaliados os atributos da forma urbana, considerando a rugosidade e porosidade,
densidade e ocupação do solo, horizontalidade e verticalidade, propriedade dos
materiais, permeabilidade, vegetação e massa d’água.
Todos os parâmetros selecionados são importantes para elaborar um resultado
mais preciso de quanto o efeito das construções pode influenciar positivamente ou
negativamente o microclima local. Ao associar as características da forma urbana com
os resultados posteriormente obtidos, por meio do tratamento estatístico, é possível
verificar se determinada região é favorável ou não à existência de ilha de calor urbano, e
assim associar com as condições de conforto humano.
O software Google Earth Pro oferece de forma gratuita um modelo
tridimensional do globo terrestre constituído a partir do mosaico de imagens de satélites.
Sendo assim, é possível gerar mapas em duas ou três dimensões e até mesmo simular
uma interação com os locais utilizando a ferramenta Street View, sendo esta empregada
neste trabalho para analisar os atributos das formas urbanas.
b) Aquisição de dados de séries temporais das estações meteorológicas dos
bairros em estudo:
A segunda etapa consiste em captar os dados de temperatura do ar, radiação
solar, direção e velocidade dos ventos junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente
(SMAC). Esses registros são gerados pelas Estações Automáticas de Monitoramento de
Qualidade do Ar e Meteorologia da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro. Cada
parâmetro possui medições a cada 10 minutos durante o dia e a série temporal de dados
corresponde aos meses de janeiro, fevereiro e março entre os anos de 2012 e 2017.
Para a comparação com os dados dos locais de estudo, também tomou-se os
dados das Normais Climatológicas para a cidade do Rio de Janeiro, tendo sido estes
dados gerados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e são divididos em
dois períodos, entre os anos de 1931 até 1960 e 1961 até 1990.
De acordo com a World Meteorological Organization (WMO, 2019), as Normais
Climatológicas são definidas como valores médios calculados para um período
relativamente longo e uniforme, compreendendo no mínimo 30 (trinta) anos
consecutivos. De acordo com a WMO existem também as Normais Provisórias, cujas
médias representam um curto período, baseados em observações que se estendam sobre
um período mínimo de 10 anos consecutivos.
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c) Tratamento estatístico descritivo, com elaboração de gráficos comparativos:
A terceira etapa é constituída pelo tratamento estatístico que foi realizado pela
linguagem de programação R, com caráter quantitativo e com o intuito de obter os
valores das medianas, médias e desvios padrões. Deste modo é possível conciliar a
análise de significância para os conjuntos de dados não paramétricos e uma análise
estatística multivariada.
Com relação a linguagem de programação, a criação do software ocorreu de
forma colaborativa, com isso, o uso da ferramenta acontece de forma gratuita, bem
como o uso de pacotes, que conferem ao programa uma vasta gama de dados e funções.
A linguagem R fornece uma extensa variedade de técnicas estatísticas tais como:
modelagem linear e não linear, testes estatísticos clássicos, análise de séries temporais,
classificação, agrupamento e técnicas gráficas altamente extensíveis.
Para a elaboração dos gráficos boxplot, foi utilizado o método de estatística
descritiva como tratamento dos dados. Essa etapa inicial da análise utilizada descreve e
resume os dados. Devido a disponibilidade de uma grande quantidade de dados obtidos,
esse método computacional é eficiente.
Com a finalidade de avaliar os meses que geram os maiores índices médios de
radiação solar foram selecionados os meses de janeiro, fevereiro e março, entre os anos
de 2012 e 2017 de cada bairro em estudo. Também foram selecionados os parâmetros
de direção e velocidade dos ventos, porém, a série temporal ficou restrita aos anos de
2015 a 2017, devido a inconsistência dos dados. O objetivo é avaliar qual a
predominância dos ventos e se existe tendência de índices elevados de calmaria.
Resultados e discussões
A análise das formas urbanas para a caracterização bioclimática realizada em
diferentes áreas da cidade do Rio de Janeiro permitiu a escolha de três bairros de
elevada densidade demográfica, sendo dois (02) bairros da Zona Oeste (Bangu e Campo
Grande), e um (01) bairro da Zona Norte (Irajá), conforme demonstrado na Figura 1.
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Figura 1. Localização e diâmetro de representatividade das Estações de Monitoramento
da RMRJ em estudo. Fonte: Adaptado de Google Earth Pro (2019).
Os bairros selecionados são reconhecidos por séries de dados de elevadas
temperatura e percepção de desconforto térmico por parte da população. Outrossim, a
seleção destes bairros está condicionada à existência de redes de monitoramento para a
aquisição de dados de parâmetros meteorológicos (temperatura, umidade relativa do ar,
radiação solar, e direção e velocidade do vento), uma vez que se compreende a
necessidade fundamental destes para a análise do fenômeno de ilha de calor.
Assim sendo, considerando a escolha dos bairros de Bangu, Campo Grande e
Irajá, a área de estudo fora delimitada por meio do traçado de diâmetros de 4 km a partir
da localização de cada Estação de Monitoramento, em que em:
Bangu – Rua Magnólia, s/n (Espaço de Desenvolvimento Infantil Prof.ª Tânia
Maria Larrubia Gomes). Latitude 22°53'16.53" S - Longitude 43°28'15.91" O.
Campo Grande – Praça Maina, n°1 (Escola Municipal Che Guevara). Latitude
22°53'10.25" S - Longitude 43°33'24.12" O.
Irajá – Praça Nossa Senhora da Apresentação. Latitude 22°49'53"71 S -
Longitude 43°19'36.71" O.
Cabe mencionar que as etapas de a) análise das formas urbanas para a
caracterização bioclimática; b) aquisição de dados de séries temporais das estações
meteorológicas; e, c) tratamento estatístico descritivo, todas descritas no item anterior
foram realizadas em modo integrado e combinado.
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Análise das formas urbanas para a caracterização bioclimática:
De um modo geral, os bairros de Bangu, Campo Grande e Irajá apresentam
características semelhantes de desenvolvimento urbano (INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2019). No entanto, a análise dos parâmetros
selecionados (rugosidade e porosidade, densidade e ocupação do solo, horizontalidade e
verticalidade, propriedade dos materiais, permeabilidade, vegetação e massa d’água)
sendo realizada com o auxílio da ferramenta Google Street View, é que determinou a
escolha dos pontos de estudo, revelando as singularidades e diferenças entre os bairros
de estudo, sendo assim apresentadas no Quadro 1.
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Quadro 1. Parâmetros de forma urbana para a caracterização bioclimática
Formas urbanas Bangu Campo Grande Irajá
Efeitos negativos em meio urbano
Rugosidade baixa
baixa (Centro) regular (às margens)
baixa (Centro) regular (às margens)
atenua a velocidade dos ventos
Porosidade baixa
baixa (Centro) regular (às margens)
baixa (Centro) regular (às margens)
impede o fluxo de vento entre as casas
Densidade e Uso e ocupação do solo
alta alta alta diminui o albedo, impermeabiliza os espaços
Horizontalidade e Verticalidade das construções
horizontal
horizontal (às margens) / vertical (Centro)
horizontal (às margens) / vertical (Centro)
maior exposição dos materiais e do pedestre a radiação solar (perfil vertical) e maior taxa de turbulência e maior concentração de calor e poluentes (perfil horizontal)
Propriedade dos materiais
básico básico básico
maior retenção de calor ao longo do dia (concreto, telha de fibrocimento ou cerâmica, asfalto e alvenaria)
Permeabilidade baixa
baixa (Centro) regular (às margens)
baixa redução da vegetação
Vegetação baixa regular regular ausência de sombras e redução da evapotranspiração
Massa d'água inexistente inexistente inexistente dificuldade em diluir os poluentes atmosféricos urbanos.
Para a análise padronizada dos itens foram investigadas todas as quadras em um raio de 4 km a partir da Estação de Monitoramento.
Fonte: Autor (2019).
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Análise de dados de séries temporais das estações meteorológicas dos bairros em
estudo:
Bangu
O resultado gerado através da análise gráfica para o mês de janeiro, mostrou que
a temperatura começa a aumentar a partir das 6:30 horas da manhã, com médias entre
24 oC e 26 oC. Na parte da tarde, o ápice de temperatura ocorre às 13:00 horas, com
variação entre 31 oC e 36 oC. Esses valores começam a diminuir ao longo da tarde e
durante a noite a temperatura varia entre 25 oC e 30 oC.
Fevereiro apresenta uma semelhança quanto a temperatura e a partir de 6:30 da
manhã os valores de temperatura começam a se elevar, com variações entre 25,50 oC e
27 oC. A tendência de aumento de temperatura é notável, pois os valores médios variam
entre 35 oC e 40 oC, com picos observados às 14:00 horas. Ao longo da tarde a
temperatura diminui gradativamente, no entanto, à noite os registros médios giram em
torno de 26 oC e 31 oC.
Em março, a temperatura matinal encontra-se entre 25 oC e 27 oC, valores
registrados a partir das 7:30 da manhã. Às 13:00 horas, os valores de temperatura
atingem o pico, resultando médias em torno de 32 oC e 34 oC. O horário noturno, é
composto por valores parecidos com o matinal e a temperatura varia entre 25 oC e 26 oC.
Os valores aqui observados já ultrapassam as Normais Climatológicas do Rio de
Janeiro a partir das 6:30 da manhã. Para efeito comparativo, o valor calculado pelo
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), para as Normais Climatológicas aponta
fevereiro como sendo mês mais quente, com médias de 26,10 ºC e 26,60 ºC, nos
períodos de 1931-1960 e 1961-1990, respectivamente. No entanto, o artigo mostra o
valor de 27 ºC registrado para o mesmo mês.
Os meses de fevereiro e março de 2016 e o primeiro trimestre de 2017 não foram
apresentados nesse estudo em função da não consistência dos dados de monitoramento.
Os dados experimentais mostram que a radiação solar nos últimos anos possui as
maiores médias mensais e o mês de fevereiro tem sido o destaque, com índice máximo
observado de 950 Wm2 em 2017. Os valores de radiação solar apresentam uma elevação
a partir das 6:00 da manhã com valores entre 100 Wm-2 e 150 Wm-2, cuja ocorrência é
estabelecida principalmente nos meses de janeiro e fevereiro dos anos em estudo.
Nos meses de janeiro as direções predominantes foram Oeste e Sudeste/Oeste.
Em março as direções observadas foram Leste, Oeste e Leste/Oeste. Essas tendências
foram consideradas nas três faixas horárias de observação de 6:00 – 12:00, 12:00 –
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20:00 e 20:00 – 6:00. A variação da velocidade ocorreu entre 3,5 m/s até 9,7 m/s, ou
seja, ventos caracterizados como sendo fracos e duros segundo a Escala Beaufort
(SOUSA, 2014). As maiores velocidades tiveram presença muito pontual no registro da
Estação e uma porcentagem muito baixa no índice de calmaria na região.
A resposta natural para amenizar os altos valores de temperatura é o vento, no
entanto, ao entrar em meio urbano ele sofre alterações em seu direcionamento,
intensidade, fluxo, velocidade e pressão. Com base nesse conceito foi possível
identificar através dos dados obtidos que o vento possuí uma tendência Leste e/ou
Oeste, com algumas pequenas variações Oeste e Sudeste/Oeste e índice de calmaria
baixo, considerando a Escala Beaufort < 0,3 m/s abaixo de 5% durante os anos em
estudo em Bangu.
A tendência de direção do vento observada aliada ao baixo nível de calmaria
pode ser explicada pelo fator geográfico, visto que, Bangu está situado entre o Maciço
do Gericinó e o Maciço da Pedra Branca. Sendo assim, o bairro está exposto ao Efeito
Venturi (SOUSA, 2014), ou seja, o vento sofre uma canalização em função dos Maciços
e consequentemente provoca um aumento da velocidade dos ventos o que induz a
predominância supracitada, justificando assim o maior valor medido durante os anos em
estudo, que foi de 9,7 m/s em janeiro de 2017.
Campo Grande
Em janeiro, as temperaturas observadas no início da manhã tendem a se elevar a
partir das 6:30, com médias variando entre 25oC e 29oC. Ao iniciar a tarde, a partir de
13:30, a temperatura atinge o ponto máximo, pois alcança médias entre 32oC e 40oC. À
noite, os valores médios giram em torno de 25oC e 32oC.
No mês seguinte, os maiores valores de temperatura matinal representam a faixa
entre 27oC e 28,50oC, a partir das 6:30, com variação de apenas 1,50oC, sendo a menor
variação encontrada em Campo Grande, para os meses em análise. Em contrapartida, a
parte da tarde apresentou valores médios bem elevados, compreendidos entre 35oC e
39oC no horário de 14:30. As temperaturas noturnas tiveram também um padrão
elevado com valores na faixa de 27,50oC e 30oC, com isso, o mês de fevereiro foi
considerado o mais quente em comparação com janeiro e março.
O último mês em análise apresenta os menores valores diurnos com relações aos
meses anteriores, com variação entre 25,50oC e 28oC notadas a partir das 7:30 da
manhã. Entre o meio dia e 14:30 horas, os valores variam entre 32oC e 38oC,
configurando a maior diferença entre os meses em análise, marca alcançada como sendo
fator atípico, já que o mês é marcado pelo fim do verão.
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Ao comparar esses resultados com as Normais Climatológicas é possível
verificar diferenças de 1,9 ºC até 3,1 ºC na amplitude térmica, considerando somente o
primeiro horário de incidência solar, ou seja, às 6:00 da manhã. No horário noturno a
comparação é mais crítica, pois a amplitude varia entre 3,4 ºC e 6,1 ºC, ao comparar
com as médias mensais das Normais Climatológicas.
Os dados de radiação solar do ensaio mostram que os meses de janeiro
apresentaram uma tendência de aumento considerando as médias de radiação solar,
saltando de 500 Wm2 para 800 Wm2 entre os anos de 2016 e 2017, respectivamente. O
mês de fevereiro é o mês que possui a maior incidência e as maiores médias, ao se
comparar com os outros meses em estudo. Os valores médios podem variar de 700 Wm2
a 900 Wm2, considerando o horário de maior intensidade do fluxo de energia. Os picos
dos valores em todos os bairros correspondem ao horário entre 12:30 e 13:30, para os
meses de janeiro, fevereiro e março.
Entre os meses de janeiro e março, foi possível identificar um padrão na
velocidade dos ventos em que os registros apontam valores de 0,5 e 2,0 m/s. Com
relação a direção foi observado a tendência Sudoeste/Nordeste e Sudoeste ao longo dos
anos em estudo. Em função da observação sobre a velocidade do vento, o índice de
calmaria foi relevante, fato esse que gera impactos negativos na área em análise. Foi
observado que o relevo também possui influência direta no resultado observado,
portanto, impactando negativamente na redução da temperatura no bairro e
consequentemente em seus índices de conforto térmico humano.
Irajá
As manhãs de janeiro em Irajá apresentam valores estáveis de temperatura, em
torno de 25 oC e 27 oC a partir das 6:30 da manhã. Entretanto, a tarde os valores
aumentaram de forma expressiva, as médias registradas nos gráficos apontam
temperaturas entre 32,5 oC e 38 oC a partir das 13:30. Durante o início da noite é
possível visualizar maiores valores em relação a manhã, a temperatura teve uma
variação entre 25 oC e 32 oC.
Em fevereiro, as temperaturas médias diurnas representam valores entre 25 oC e
27 oC, porém, o último valor é encontrado com a maior frequência ao longo dos anos
em estudo, tornando as manhãs desse mês as mais quentes. Como consequência, as
temperaturas no horário da tarde também são elevadas, a variação notada é de 37 oC até
41 oC. Seguindo a lógica vista nessa evolução de temperatura, as noites se tornaram
mais quentes em Irajá, com temperatura média em torno de 27 oC a 31 oC.
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Março é caracterizado pelo final do verão, porém as temperaturas tiveram
médias altas. Pela manhã, a partir das 7:30 os valores encontrados variam entre 25 oC e
27,50 oC. Durante o horário da tarde esses valores tendem a subir, e com isso os valores
giram em torno de 34,50 oC e 36 oC. Com o passar da tarde, a temperatura tende a
diminuir e chega aos valores médios de 25 oC a 27 oC durante a noite.
Confrontando as médias das Normais Climatológicas com os registros aqui
avaliados, em mais uma ocasião é possível afirmar que os valores matinais e noturnos
superam os valores históricos. A amplitude observada possuí uma grande faixa de
variação ao longo do dia e durante a noite esses valores flutuam entre 1 ºC até 6,1 ºC.
Sendo assim, é possível afirmar que as construções e a dinâmica urbana influenciam
negativamente nesses valores.
Os meses de janeiro tiveram valores médios de radiação solar com uma
tendência de aumento nos valores médios ao longo do dia. Em 2016, as médias
apresentam picos entre 600 Wm-2 e 800 Wm-2, no horário entre 11:00 e 13:30. Em
contrapartida, em 2017, as variações médias aumentaram para 800 Wm-2e 1000 Wm-2
entre o mesmo horário mencionado anteriormente. No mês seguinte, os valores
mantiveram um ritmo crescente de evolução, com máximos observados variando entre
900 Wm-2 e 1000 Wm-2.
No trimestre em estudo, o primeiro horário e o último apresentaram velocidades
entre 0,5 m/s e 1,5 m/s e direções Norte/Nordeste e Oeste/Leste. Já o segundo horário
que representa a faixa de 12:00 – 20:00, a direção constante observada foi Sul com
velocidades variando de 2,5 m/s e 7,6 m/s.
De forma contrária a influência negativa do relevo, em Irajá, a direção e a
velocidade do vento tiveram um comportamento diferente ao comparar com os outros
bairros em estudo. Com isso, foi possível concluir que o horário de 20:00 – 6:00, com
direção predominante Leste e/ou Oeste e com velocidade entre 1 m/s e 2 m/s, não traz
resultados expressivos para a amenização das altas temperaturas nesse horário, fato esse
que justifica o bairro apresentar os maiores valores deste mesmo parâmetro ao longo
dos anos em pesquisa.
Análise Global
Através das medições de radiação solar em que os valores flutuam entre 700
Wm-2 e 1000 Wm-2 no horário da tarde nos bairros, é possível afirmar que os valores
desse parâmetro têm uma forte influência no calor sensível dos bairros em função da
dinâmica no meio urbano, contribuindo de forma negativa no conforto térmico,
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principalmente à noite, quando o calor sensível pode ser mais entendido pela população
em função da ausência do Sol.
A radiação solar possui papel fundamental na formação de poluentes
fotoquímicos como por exemplo o ozônio, portanto, em dias de maior incidência de
radiação a tendência é de elevação das concentrações desse poluente. Como resultado,
a possibilidade de contribuição para a retenção de calor ao minimizar as trocas
radiativas entre as construções e a abóboda celeste.
Os valores de temperatura começam a apresentar elevação a partir das 6 horas da
manhã nos bairros em estudo e possuem uma variação entre 25 ºC e 29 ºC. Entre às
12:00 e 14:00 horas, os valores observados estão entre 36º C e 41º C, sendo os mais
extremos durante os dias. Já à noite, posteriormente a 2 e 5 horas após o pôr do sol, as
estações meteorológicas registraram medidas entre 25 ºC e 32 ºC nos bairros de Irajá,
Campo Grande e Bangu.
Este trabalho permitiu a elucidação de determinados aspectos após a análise dos
resultados, sendo o primeiro, a eficácia do software Google Earth Pro para qualificar as
formar urbanas. A segunda descoberta foi a influência da topografia nos parâmetros de
velocidade e direção dos ventos em Campo Grande e Bangu, principalmente. Em Irajá,
os altos valores de temperatura encontrados podem refletir a influência antrópica, visto
que, o raio de influência delimitado abrange um trecho da Avenida Brasil, a rodovia
mais poluída do Estado. O último aspecto positivo, foi a utilização somente de 5 anos de
representatividade para observar tendências nos bairros em estudo, afirmando assim que
as transformações microclimáticas estão acontecendo de forma rápida.
As carências observadas no estudo foram a ausência de dados de alguns
parâmetros referentes as Estações Meteorológicas da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, fato esse que pode causar interferência para estudos mais profundos nas
regiões. Outro fator negativo observado foi a hiato entre as atualizações das fotos aéreas
ou do Street View em alguns pontos. Essa ocorrência prolonga o tempo de análise das
formas urbanas e com isso, caso o estudo contemple muitos bairros, o tempo necessário
para averiguação do item em questão irá aumentar consideravelmente.
Ao comparar este estudo com outros trabalhos que utilizam outras metodologias
consideradas tradicionais, é razoável afirmar que há vantagens na análise das formas
urbanas por meio do Google Street View. Com relação aos parâmetros meteorológicos,
é interessante ressaltar as análises de radiação solar, direção e velocidade dos ventos,
sendo este último parâmetro o que apresentou padrões não identificados em outros
estudos do mesmo tema.
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Ao considerar futuros esforços para estudo do tema em questão, torna-se de
grande valia a compilação de metodologias para entender o fenômeno. Essa conclusão
vem através da experiência adquirida com os resultados obtidos, visto que, a variações
dos parâmetros ocorrem de maneira rápida, mesmo com relação ao aparato urbano. É
possível atrelar novas ferramentas para a análise e compreensão do efeito de ilha de
calor urbano, fato esse que torna mais complexo e ao mesmo tempo mais preciso com a
realidade.
As Figuras 2, 3 e 4 fazem referência aos parâmetros de temperatura, radiação
solar, direção e velocidade dos ventos, respectivamente. Como forma de sintetizar a
exposição dos gráficos foram selecionadas apenas algumas figuras representativas que
fizeram parte da análise.
Figura 2. Boxplot do parâmetro meteorológico de Temperatura. Fonte: Autor (2019).
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Figura 3. Boxplot do parâmetro meteorológico de Radiação Solar. Fonte: Autor (2019).
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Figura 4. Rosa dos ventos modelada em três horários distintos. Fonte: Autor (2019).
Conclusões
A ferramenta Street View do Google Earth Pro teve um bom desempenho nas
análises das formas urbanas e ajudou a identificar que os itens de densidade e uso e
ocupação do solo são altos em Irajá, Campo Grande e Bangu. Essa constatação dá
origem a outra verificação, a baixa permeabilidade urbana e a reboque, o baixo albedo
em ambos os bairros, ou seja, essas dimensões urbanas são beneficiadas para que exista
um armazenamento de calor de duas maneiras. A primeira é através do aumento da
superfície ativa absoluta para a troca de energia e a segunda é do aumento do abrigo
contra o vento e consequentemente a diminuição da perda de calor sensível pelo
transporte turbulento dos ventos.
Em função da exposição ao longo do dia dos materiais constituintes do “cânion
urbano”, através da lei da conservação de energia, esses elementos armazenam o calor
sensível e quanto menor o albedo, maior a capacidade de retenção. Esse conceito aponta
um mecanismo complexo de reflexão dentro do aparato urbano, refletindo a radiação de
ondas curtas e longas em função do albedo e emitindo radiação de ondas longas pelo
conceito de emissividade das propriedades radiativas.
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É razoável afirmar que os locais em estudo sofrem o efeito da ilha de calor
urbana, principalmente à noite, horário no qual os efeitos são mais perceptíveis ao ser
humano. Os bairros de Irajá e Campo Grande apresentam uma tendência evolutiva nos
valores de temperatura diurna e noturna ao longo dos anos em estudo. Esses valores
resultam em uma ultrapassagem em relação a Bangu nos anos de 2015, 2016 e 2017,
assim a ordem de bairros mais quentes fica sendo Irajá, Campo Grande e Bangu.
Referências
AMORIM, M. C. C. T. Ilhas de calor superficiais: frequência da intensidade e variabilidade espacial em cidade de clima tropical continental. Geo UERJ, Rio de Janeiro, n. 34, 40959 ed., abr./2019.
BARLOW, J. F. Progress in observing and modelling the urban boundary layer. Urban Climate, United Kingdom, v. 10, n. 2, mar./2014.
CUNHA, T. A.; SILVA, M. S. Evidências de imprecisão nas políticas habitacionais brasileiras: o caso de São Paulo. urbe, Revista Brasileira Gestão Urbana, v. 10, n. 1, jan./abr./2018.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (Brasil). Projeções da população: Brasil e unidade da federação. Brasil: IBGE, 2019.
Kasay, D. F. et al. Mudança no uso e cobertura do solo e sua influência na temperatura de superfície: um estudo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO (SBSR), 15., 2011, Curitiba. Anais [...]. Foz do Iguaçu: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 2011. p. 752-759. Disponível em: http://marte.sid.inpe.br/col/dpi.inpe.br/marte/2011/06.27.18.52/doc/p0978.pdf. Acesso em: 10 out. 2019.
Oke, T. R. et al. Urban Climates. United Kingdom: Cambridge University Press, 2017. SILVA, S. M.; CARDOSO, C. O campo termo-higrométrico: análise intraurbana no
bairro de Campo Grande, Rio de Janeiro. Geo UERJ. n. 34, 40950. ed. abr./2019. Sousa, J. P. M. A influência da forma urbana na ventilação natural: um estudo de
caso no Cais José Estelita. 2014. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Urbano) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014.Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/13979. Acesso em: 8 out. 2019.
United Nations (USA). World Urbanization Prospects: The 2018 Revision. New York: UN, 2019.
World Meteorological Organization (Switzerland). WMO Guidelines on the Calculation of Climate Normals. Geneva: WMO, 2019.
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IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA REGIÃO DA GRANDE
TIJUCA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Fernando Lúcio Esteves de Magalhães1 & Cleyton Martins da Silva 1,2
1Mestrado em Ciências do Meio Ambiente, Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna, Nº 108, Rio
de Janeiro, CEP: 20271-020, Brasil.
2Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dep. de Físico-Química. Instituto de Química, Rio de Janeiro,
CEP: 21941-909, Brasil.
E-mail: flmagalhâ[email protected]
Resumo: Desde a sua fundação, a cidade do Rio de Janeiro foi caracterizada pela
intensa urbanização no ambiente natural. Nesse processo, foram identificadas várias
obras estruturais de engenharia, como aterros de lagoas e de porções litorâneas,
mudanças na rede de drenagem e o desmatamento de encostas e sua ocupação.
Considerando essas intervenções, associadas à topografia e ao clima em que a cidade
está inserida, com chuvas intensas e de elevadas temperaturas, a cidade do Rio de
Janeiro tem a ocorrência de inundações urbanas com grande frequência, principalmente
nos meses de verão. Tais eventos são percebidos principalmente nos bairros que
compõem a Grande Tijuca, na zona norte da cidade, que sofrem constantemente com as
inundações e os problemas sociais, econômicos e ambientais. Assim sendo, o principal
objetivo deste trabalho é avaliar o histórico de chuvas e seus impactos na referida região
da Grande Tijuca, e propor uma relação de tais eventos com as mudanças climáticas
percebidas na mesma. Desta forma, a abordagem desta temática fomenta a discussão e
tomadas de ações nas áreas de gestão e planejamento das cidades em um contexto de
adaptação aos eventos climáticos extremos.
Palavras-chave: Enchentes; Planejamento Urbano; Mudanças Climáticas; Grande
Tijuca.
Introdução
O clima é composto de diferentes forças que agem sobre o globo, tanto aquelas
provenientes do sol (radiação solar) quanto aquelas originadas no interior do planeta
(DIAS et al., 2009). Neste contexto, destacam-se as intervenções humanas, que em um
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processo de modificações de uma dinâmica natural preexistente, interferem no
equilíbrio do clima do planeta.
Dentre as ações antrópicas de grande relevância o clima do planeta ressaltam-se
aquelas relacionadas às alterações no efeito estufa, sendo este um fenômeno natural que
permite a manutenção da temperatura média da Terra, e que devido ao aumento das
emissões dos gases responsáveis por este fenômeno, tem sido intensificado, resultando
em um “aquecimento global”, sendo este último uma das grandes questões ambientais
da atualidade.
Com efeito, as consequências do aquecimento global são cumulativas e podem
ser visualizadas, por exemplo, através do desaparecimento de gelo do Ártico e de
diversos outros lugares do planeta, como o topo dos picos mais altos do mundo, e de um
desregramento climático cada vez maior e imprevisível, com lugares ao redor do mundo
batendo constantemente recordes de temperaturas altas, secas, tempestades tropicais
cada vez mais intensas, com inundações, deslizamentos de terra, etc, acompanhado,
ainda, de um aumento do nível dos oceanos e do nível médio de temperatura do globo
terrestre. A tais efeitos, soma-se, ainda, a perda da biodiversidade global.
Grande parte destes efeitos são decorrentes, principalmente, do ciclo
biogeoquímico da água, também conhecido como ciclo hidrológico. Brevemente, em
um sistema em equilíbrio, a energia solar aquece a superfície terrestre e causa a
evaporação das águas presentes nos oceanos, lagos e rios, a transpiração vegetal
também se soma ao fenômeno e o vapor resultante é transportado pelo movimento das
massas de ar.
Sob condições adequadas, há a condensação desse vapor, juntamente com
partículas de poeira e eventualmente gelo, formando nuvens que, por sua vez, podem
resultar em precipitação, transportando a água de volta à superfície terrestre. Essa
precipitação será dispersa de várias formas. Inicialmente, sua maior parte fica retida no
solo e na vegetação do local onde a gota d’água caiu, futuramente infiltrando através
dos poros em direção ao lençol freático. Porém, em caso de o solo se encontrar saturado
ou impermeabilizado, sua capacidade de infiltração reduz significantemente e o
escoamento superficial aumenta. A tendência desse escoamento superficial é chegar aos
rios, lagos e oceanos, restabelecendo a ordem natural do ciclo. A Figura 1 representa a
esquematização completa dos elementos e fenômenos de um ciclo hidrológico,
conforme descrito.
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Figura 1. Representação do Ciclo Hidrológico. Fonte: Adaptado de SoBiologia, 2019.
Com efeito, Mendonça (2015) discute acerca dos impactos do aumento nas
emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, e consequente aumento da temperatura
média global, bem como de outras ações antrópicas, sobre o ciclo hidrológico, onde
acredita-se que o regime de precipitação anual venha ser modificado e a ocorrência de
eventos climáticos extremos venham se mais intensos e frequentes.
Desde 1950, são observadas mudanças tanto nos padrões de ocorrência, quanto
na magnitude de eventos meteorológicos e climáticos extremos, e constata-se que tais
mudanças são influenciadas pelas ações antrópicas, por exemplo, a variação e amplitude
de temperaturas, o aumento dos níveis dos mares, e a ocorrência de precipitações
severas em determinadas regiões (IPCC, 2014).
Nesse sentido, a probabilidade estimada para a ocorrência de um evento extremo
de origem natural ou antrópica, se associa às características de severidade do mesmo.
No caso dos eventos de origem natural de elevada severidade, como as enchentes, sua
ocorrência tende a ser inversamente proporcional a sua magnitude, ou seja, este tipo de
evento é pouco frequente em relação àqueles que são considerados constantes em um
determinado local e tempo histórico.
De acordo com Marengo (2009), um evento extremo se manifesta como valores
discrepantes para as variáveis climáticas, em relação a um estado climático médio, isto,
em escalas temporais que se apresentam em dias, até em milênios. Contudo, os mais
impactantes para as atividades humanas são aqueles de curto e médio prazos, ou seja,
aqueles eventos relacionados ao tempo e ao clima, respectivamente. Assim, a
capacidade de resposta abarca tanto a atenuação de prováveis danos materiais, como
para a infraestrutura das cidades, quanto imateriais a saber: danos à saúde, mortes, perda
histórica e o obscurantismo da identidade cultural.
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Eventos climáticos extremos seriam percebidos principalmente em cidades
tropicais (RIBEIRO, 2010), uma vez que estariam mais sujeitas às chuvas intensas,
capazes de promover deslizamentos de encostas e enchentes. Neste contexto, encontra-
se a cidade do Rio de Janeiro e a região metropolitana em que esta encontra-se inserida.
A cidade do Rio de Janeiro possui uma área territorial de 1.200,255 km2 e
população estimada de aproximadamente 6.720.000 de habitantes (IBGE, 2019), com
elevada concentração populacional vivendo em encostas e em edificações que não
obedecem critérios técnicos adequados , colocando em risco seus habitantes, sobretudo
com a ocorrência de chuvas intensas , em que as águas ganham maior velocidade e força
para acelerar os processos erosivos, assorear corpos d’água e provocar alagamentos
(RIBEIRO, 2010).
Dentro do contexto urbano da cidade do Rio de Janeiro, uma das áreas de
recorrência histórica de eventos de inundações é a região conhecida como Grande
Tijuca (da COSTA et al., 2018).
Desta forma, o principal objetivo deste trabalho é avaliar o histórico de chuvas
na região da Grande Tijuca, proporcionando uma correlação deste com as mudanças
climáticas já percebidas na região.
Em outro aspecto, o presente trabalho permite a retomada da discussão sobre os
efeitos das mudanças climáticas, bem como a necessidade de tomadas de ações
adaptativas a esses eventos em um âmbito de gestão e planejamento urbano.
Materiais e Métodos
Caracterização do local de estudo
A Região da Grande Tijuca está localizada na zona norte da cidade do Rio de
Janeiro e compreende os bairros de Praça da Bandeira, Maracanã, Tijuca, Vila Isabel,
Andaraí, Grajaú e Alto da Boa Vista, todos situados entre o Maciço da Tijuca e a Baía
de Guanabara (DA COSTA, 2018), conforme demonstrado na Figura 2.
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Figura 2. Mapa da cidade do Rio de Janeiro, com destaque na região da Grande Tijuca.
Fonte: Adaptado de Google Earth, 2019.
A região possui como principais rios formadores da sub-bacia, o rio Maracanã, o
rio Joana, o rio Trapicheiros, o rio Comprido e o rio Papa Couve (MAMEDE et al.,
2015). A região é caracterizada pelas altas temperaturas, bem como elevadas umidade e
precipitação, principalmente nos meses de verão (DA COSTA, 2018). No mesmo
âmbito, Fernandes et al. (2006) caracteriza a região como clima definido como tropical
de altitude, com precipitação média anual em torno de 2.200 mm e temperatura média
anual de 22 ºC.
A transformação contínua desta região, no que tange o uso do solo, visto que os
referidos bairros apresentam elevada densidade populacional, caracterizada por
populações mais pobres e de carência de infraestrutura urbana, contribui para o
desenvolvimento de condições favoráveis ao aumento erosivo em encostas e de
descargas líquidas e sólidas em canais fluviais (FERNANDES et al., 2006).
A cidade do Rio de Janeiro dispõe de um Plano Municipal de Saneamento
Básico (RIO DE JANEIRO, 2015), que tem por objetivo o manejo adequado e
sustentável das águas pluviais, visando o controle de enchentes na cidade do Rio de
Janeiro e assegurando a saúde pública, a segurança da vida e do patrimônio público e
privado, em atendimento à Lei Federal nº 11.445/2007, tendo sido baseado e adaptado
do Plano Diretor de Manejo de Águas Pluviais do Rio de Janeiro de 2009, o qual tem,
em sua essência, a utilização de infraestrutura cinza em controle de enchentes,
projetando a canalização de rios e reservatórios como principais medidas de mitigação a
esse impacto.
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Entretanto, apesar da existência dos ditos planos, a região da Grande Tijuca
apresenta ocorrências históricas de cheias de rios, e consequentes alagamentos,
ocasionados pelo seu regime fluvial característico (com bacias de drenagem de
pequenas áreas e encostas de declives acentuadas) associados às condições de
precipitação.
Dados de precipitação pluviométrica
Para fins deste artigo, as precipitações constituem um dos mais importantes
componentes do ciclo hidrológico, formando o elo entre a água da atmosfera e a água do
solo, principalmente com respeito ao escoamento superficial. Assim sendo, o presente
estudo utilizou os dados de precipitação pluviométrica, disponíveis no Sistema Alerta
Rio, que dispõe de dados de fenômenos atmosféricos em diferentes Regiões da cidade
do Rio de Janeiro, sobretudo para a região de estudo. Os dados estão disponíveis no
endereço www.sistema-alerta-rio.com.br.
O Sistema Alerta Rio pertence à Fundação Instituto Geotécnico do Município do
Rio de Janeiro (GEO-RIO), que por sua vez, possui uma rede meteorológica da GEO-
RIO correspondendo a 33 estações instaladas em diferentes áreas da cidade do Rio de
Janeiro, cobrindo uma área de 1200.279km2.
Neste estudo foram analisados os dados para o bairro da Tijuca para os anos de
1997 – 2014.
Resultados e discussão
De modo a melhor compreender os fenômenos de precipitação pluviométrica
ocorridos na região da Grande Tijuca e, posteriormente, correlacioná-los às mudanças
climáticas, o presente estudo recorreu aos dados disponíveis no Sistema Alerta Rio, para
o período de 1997 até 2014 para o bairro da Tijuca.
A Figura 3 apresenta um gráfico contendo os registros de chuvas mensais para o
referido período, onde é possível perceber uma maior incidência das chuvas no período
úmido, compreendido entre os meses de setembro a março, e que se referem às estações
de primavera e verão.
Variações com elevados índices pluviométricos são frequentemente registrados
para esta época do ano na região. E dentre os anos registrados observa-se um maior
índice, cerca de 520 mm para o mês de fevereiro de 1998.
Entretanto, observa-se, de um modo geral, uma alteração nos regimes de chuva,
com aumento de incidência de elevados níveis de precipitação no mês de abril. Tal fato
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é ratificado pelos altos índices pluviométricos no mês de abril para os anos de 2010 e
2011, em que foram registrados para a região, respectivamente, cerca de 500 e 460 mm
de precipitação.
Ainda é possível observar que até o ano de 2005, os dados registrados para o
mês de abril eram menores que 200 mm de chuva, e após o referido ano, valores acima
de 200 mm foram registrados com determinada frequência.
O inverso ocorre para os meses de janeiro e fevereiro, que tiveram ao longo do
período analisado, uma diminuição nos valores observados de mm de chuva.
Tais dados podem refletir uma consequência das mudanças climáticas, que
conforme discutidas anteriormente, proporcionam dentre outros efeitos, alterações no
regime de chuvas de uma dada região, trazendo inúmeras implicações, tais como
enchentes, deslizamentos de encostas, proliferação de vetores, além de outros problemas
socioeconômicos para a região.
Figura 3. Histórico de chuvas no bairro da Tijuca, de 1997 a 2014. Fonte: Adaptado de
Alerta Rio, 2019.
Não obstante, além do período analisado, na Figura 3, outros dados indicam
valores extremos para o mês de abril em período recente, 2019, em que foram
registrados valores de cerca de 300 mm em diferentes bairros cariocas, dentre eles,
bairros compreendidos na região da Grande Tijuca.
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A Figura 4 e a Tabela 1, demonstram dados de um noticiário da época (04/2019)
em que elevados valores de precipitação pluviométrica foram registrados, segundo
dados do Alerta Rio, em um período de apenas 24h.
Figura 4. Noticiário das chuvas de abril de 2019. Fonte: Climatempo, 2019.
Na Figura 4 é possível observar que o Sistema Alerta Rio apontava para o mês
de abril, uma média de chuva geral de aproximadamente 102 mm, e que no referido
episódio (abril de 2019), tais valores superaram os 300 mm em vários bairros.
Tabela 1. Chuva extrema no Rio de Janeiro. 10 maiores volumes de chuva acumulados
em 24 horas (até 16h30 de 09/04/19). Fonte: Adaptado de Climatempo, 2019.
Posição Cidade Data Chuva (mm)
1º Sumaré 09/04/2019 360
2º Rocinha 09/04/2019 343,4
3º Alto da Boa vista 09/04/2019 341,2
4º Barra/Barrinha 09/04/2019 335,2
5º Jardim Botânico 09/04/2019 334,4
6º Copacabana 09/04/2019 329,4
7º Vidigal 09/04/2019 312,2
8º Barra/Rio Centro 09/04/2019 311,4
9º Jacarepaguá/Cidade de Deus 09/04/2019 289,6
10º Tijuca/Muda 06/04/2019 286,0
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A Tabela 1 dispõe de dados dos 10 maiores volumes de chuva acumuladas em
24h. Cabe ressaltar, conforme apontado anteriormente, elevados valores registrados para
o mês de abril, quando até 2005 tais valores não superavam 200 mm acumulados
mensais, o que ratifica as alterações no regime de chuvas da região.
Conclusões
As mudanças climáticas despontam como um dos principais desafios a serem
enfrentados na contemporaneidade seja em razão das suas consequências físicas seja
pelos impactos sociais que delas advém. Não obstante tal problemática, a
imprevisibilidade dos eventos extremos traz consigo a ideia de prevenção amplamente
discutida pelas ciências ambientais, pois através dessa prática as perdas podem ser
minimizadas na chamada sociedade de risco.
Ademais, as enchentes urbanas não são um fenômeno específico de
determinadas localidades, podendo ocorrer em diversas áreas urbanas do Brasil e do
mundo. Tal problemática foi evidenciada neste artigo com a análise dos índices
pluviométricos da Grande Tijuca, em que os dados revelaram elevados índices, bem
como alterações nos regimes de chuva, para a dita região.
Tais eventos, desta forma, podem estar associados às mudanças climáticas
percebidas não somente na região, mas em um âmbito global. Outrossim, o processo de
urbanização, estando diretamente relacionado a grandes intervenções no ambiente,
intensifica a questão das enchentes urbanas e suas consequências.
Como se não bastassem as diversas condicionantes relatadas, esse complexo
quadro se agrava em função da forte desigualdade socioeconômica existente na área de
estudo, com a população pobre sofrendo de forma mais incisiva as consequências
negativas do fenômeno das inundações.
Desta forma, este estudo permitiu uma contribuição à discussão da temática,
fomentando o surgimento de outros estudos que proporcionem tomada de ações para a
mitigação dos problemas vivenciados pelos habitantes da Grande Tijuca e de outras
áreas que sofram com inundações.
Referências
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m.br/documentos/relatorios-de-chuva/>, acesso em 26 agosto 2019.
CLIMATEMPO, 2019. Disponível em: <https://www.climatempo.com.br/alerta-
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Processos Hidrológicos e Erosivos. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, v.
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Plano Municipal de Saneamento Básico da Cidade do Rio de Janeiro - Drenagem e
Manejo de Águas Pluviais Urbanas. Disponível em:
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RELEVÂNCIA DO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO NA
MITIGAÇÃO DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS
Danilo P. Moreira Junior 1, Cecília Bueno 1, Cleyton M. da Silva 1, 2
1Universidade Veiga de Almeida, Campus Maracanã, CEP 20271-020 Rio de Janeiro-RJ, Brasil.
2Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Físico-Química. Instituto de Química, CEP
21941-909 Rio de Janeiro-RJ, Brasil.
E-mail: [email protected]
Resumo: Em um mundo de constantes mudanças em que as questões ambientais têm
sido evidenciadas, sobretudo aquelas relacionadas às emissões atmosféricas e suas
consequências, as áreas verdes urbanas têm se destacado como fundamentais para a
manutenção da qualidade do ar, da saúde e bem-estar da população, bem como para o
crescimento sustentável das cidades. Neste trabalho, foi estudado o papel do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) na mitigação de poluentes atmosféricos,
apresentando e discutindo dados de estudos de concentrações de Gases de Efeito Estufa
(GEE) e Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), e determinando-se as concentrações
de Material Particulado (MP). As concentrações para as três classes de poluentes
atmosféricos (GEE, COVs e MP) determinadas no JBRJ foram menores do que aquelas
obtidas em outros locais de amostragem, em áreas tipicamente urbanas da cidade do Rio
de Janeiro. Tais resultados indicam o transporte e alcance de poluentes atmosféricos até
o JBRJ, bem como a possibilidade de absorção dos poluentes por áreas verdes, tais
como o JBRJ. Assim sendo, este trabalho evidencia o papel do JBRJ e de outras áreas
verdes urbanas na mitigação dos efeitos da poluição atmosférica, corroborando com a
importância na manutenção destas áreas em ações de planejamento urbano.
Palavras-chave: Poluição atmosférica; Qualidade do ar; Áreas verdes urbanas; Jardim
Botânico.
Introdução
As questões ambientais têm ganhado notoriedade nas últimas décadas. Em
grandes centros urbanos, como a cidade do Rio de Janeiro, onde a atividade econômica
é mais intensa, e em associação à grande concentração populacional, os impactos
ambientais são observados com maior intensidade e frequência. A cidade do Rio de
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Janeiro é a principal cidade da segunda maior região metropolitana do país, a Região
Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), sendo a detentora da segunda maior
concentração de população, de veículos, de indústrias e de fontes emissoras de
poluentes do país, e que associadas à topografia da região, tendem a gerar problemas
locais de poluição do ar (INEA, 2016).Muitas substâncias e compostos podem estar
presentes em uma atmosfera tipicamente urbana, podendo trazer prejuízos à saúde
humana e integridade do meio ambiente. Dentre os diferentes poluentes atmosféricos
existentes destacam-se aqueles associados diretamente às atividades antrópicas, tais
como Gases de Efeito Estufa (GEE), Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) e Material
Particulado (MP) (BAIRD, 2002).
Os GEE são assim conhecidos pelo seu poder de absorção de ondas no espectro
do infravermelho térmico, permitindo a retenção de calor, e consequentemente
contribuindo para formação do fenômeno natural de efeito estufa. A intensificação do
efeito estufa, sendo associada diretamente ao aumento da concentração de GEE na
atmosfera, tem levado ao desenvolvimento do que a comunidade científica denominou
como aquecimento global e mudanças climáticas. Dentre os GEE de maior relevância
encontram-se o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O)
(SILVA, 2016a).
Os COVs são definidos como compostos que possuem carbono em sua
composição e que participam de reações fotoquímicas na atmosfera (EPA, 1999;
SILVA, 2016b). Os COVs podem estar presentes na atmosfera naturalmente, como
produto de processos metabólicos de vegetais, como o isopreno, por exemplo. Contudo,
em uma atmosfera urbana os COVs são principalmente emitidos pelas atividades
antrópicas, como a queima de combustíveis fósseis pela frota veicular ou ainda por
perdas evaporativas. Vários COVs têm diferentes capacidades de formação de ozônio
troposférico, sendo este um grande problema ambiental atmosférico urbano (SILVA,
2016b).
Além da participação na formação de ozônio troposférico, determinados COVs
apresentam impactos diretamente negativos sobre a saúde humana e de outros animais,
como os BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos) (SILVA, 2016b). Outra classe
de compostos de interesse atmosférico refere-se aos materiais particulados, que são
partículas sólidas ou líquidas, mantidas suspensas no ar devido ao seu tamanho e massa.
Tais partículas podem estar associadas a diversos outros poluentes (químicos e
biológicos), implicando em efeitos adversos em diferentes organismos. Quanto menor o
tamanho das ditas partículas, maior seu alcance nos organismos. Assim, o material
particulado, é então classificado de acordo com o seu tamanho, para partículas com
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diâmetro aerodinâmico até 10 μm (PM10) e para partículas com diâmetro aerodinâmico
até 2,5 μm (PM2,5), sendo estas últimas consideradas as mais perigosas, uma vez que
podem chegar aos alvéolos pulmonares e causar danos cardiovasculares e neurológicos
(BAIRD, 2002).
Neste contexto, destaca-se o papel das áreas verdes urbanas, que dentre as suas
múltiplas funções, evidencia-se o poder de mitigação dos efeitos da poluição
atmosférica e fenômenos meteorológicos, impactando diretamente na qualidade do ar e
de vida da sociedade (VIEIRA, 2004). A cidade do Rio de Janeiro, localizada na região
litorânea sudeste do país, possui seu território caracterizado por áreas cobertas pelo
bioma da Mata Atlântica e apresenta uma área de cobertura vegetal de cerca de 34 %,
com amplas áreas de cobertura secundária, reservas ecológicas, áreas protegidas e de
reflorestamento, tais como o Parque Nacional da Tijuca, considerada a maior floresta
secundária urbana do mundo, e o Parque Estadual da Pedra Branca, considerado a maior
floresta urbana primária do mundo (MOREIRA JUNIOR et al, 2017).
Próximo ao Parque Nacional da Tijuca encontra-se o Jardim Botânico do Rio de
Janeiro (JBRJ), localizado na zona sul do município, é uma das áreas verdes mais
preservadas da cidade, nele podem ser observadas cerca de 6.500 espécies (algumas
ameaçadas de extinção), distribuídas por uma área de 54 hectares, ao ar livre e em
estufas. Além disso, uma área importante do JBRJ é ocupada por espécies nativas da
Mata Atlântica (JBRJ, 2017).
Até o presente têm sido publicados poucos trabalhos abordando a composição da
atmosfera na Mata Atlântica (Parque Nacional da Tijuca) (AZEVEDO et al., 1999;
CUSTODIO et al., 2010) e, um número menor ainda (apenas dois estudos) foram
obtidos no JBRJ (MOREIRA JUNIOR et al, 2017; SILVA et al., 2016a), de modo que
este último se apresenta como um local de interesse de pesquisa em diversas áreas das
ciências ambientais.
Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi apresentar e discutir dados já
publicados de poluentes atmosféricos (GEE e COVs), em combinação com dados de
MP obtidos por este trabalho, de modo a evidenciar o papel do JBRJ frente aos
impactos da poluição atmosférica na cidade do Rio de Janeiro.
Materiais e métodos
Descrição do Local de Estudo
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) (coordenadas 22°58′03″S e
43°13′26″W) compreende uma área verde total de 137 hectares, sendo que a parte não
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manejada corresponde a uma área em regeneração da Floresta Pluvial Atlântica
Secundária, vizinha ao Parque Nacional da Tijuca e a parte do Arboreto do JBRJ
constituída de 54 hectares de área cultivada e abriga aproximadamente 9 mil exemplares
de 1500 espécies das quais apenas 30% são nacionais, principalmente da Mata
Atlântica, Cerrado e Amazônia. O JBRJ encontra-se tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1937. Em 1991, a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, considerou-o como Reserva da
Biosfera. Como reconhecimento pela sua importância científica, foi rebatizado como
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1998, ficando afeto ao
Ministério do Meio Ambiente. Em 2001, foi criada a Escola Nacional de Botânica
Tropical e, em 2002, tornou-se uma autarquia federal. Em 2008 foi criado o Centro
Nacional de Conservação da Flora, formalizado nos eventos de comemoração dos 200
anos, num esforço para integrar a pesquisa à tomada de decisão ambiental (JBRJ, 2017).
O JBRJ é um ambiente com emissões biogênicas significativas, mas, ao mesmo
tempo, impactado pelas emissões urbanas, é circundado pelas ruas Jardim Botânico, que
tem grande circulação de veículos leves e ônibus, e pela rua Pacheco Leão, área
residencial com trânsito moderado. O setor leste é circundado pela encosta da Mata
Atlântica e algumas residências. Na área manejada (Arboreto) há interferência humana,
seja poda de árvores, corte de grama, transplante de exemplares e cultivo de certas
espécies em estufas. As espécies vegetais encontram-se organizadas de forma de
facilitar o estudo botânico, o manejo e a conservação. Estão divididos em canteiros de
famílias botânicas, biomas (Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Restinga) estufas e
áreas vizinhas, como cactário, bromeliário e orquidário. A visitação acontece
geralmente nessa área. O restante do JBRJ, como já mencionado, é uma área em
regeneração da Floresta Pluvial Atlântica Secundária, vizinha ao Parque Nacional da
Tijuca. Na Figura 1 é mostrado um mapa com a localização do JBRJ.
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Figura 1. Localização do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (adaptado de Google
Maps).
Coleta e análise de amostras
Gases de Efeito Estufa (GEE)
As concentrações de gases de efeito estufa (GEE) foram determinadas em 2016
e 2017 em estudo publicado por Moreira Junior et al. (2017), usando metodologia
previamente desenvolvida, implementada, validada e detalhada por Silva et al. (2016a).
Brevemente, esse método estabelece os procedimentos gerais para a coleta de GEE
usando seringas de polipropileno e sua análise por cromatografia a gás com múltiplos
detectores (Detector por Condutividade Térmica – DCT/Detector por Ionização de
Chama – DIC/Detector por Captura de Elétrons – DCE), coordenados por uma série de
válvulas e loops de amostragens, que permitem o direcionamento da amostra aos
diferentes detectores (SILVA et al., 2016a), conforme demonstrado na Figura 2.
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Figura 2. Procedimento de coleta e análise de GEE (adaptado de Moreira Junior et al,
2017).
Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
As concentrações de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) foram
determinadas em 2015 em estudo publicado por SILVA et al. (2016b), usando o
Método U.S.EPA TO-15. (EPA, 1999), e em que as amostras de ar são coletadas usando
canisters (bujões de aço inox) previamente limpos e evacuados, e posteriormente
analisadas por cromatografia a gás acoplada a um espectrômetro de massas (CG CP
3800, CG/EM Modelo Agilent-7890A). O sistema de coleta e análise é mostrado na
Figura 3.
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Figura 3. Procedimento de coleta e análise de COVs (adaptado de da Silva et al,
2016b).
Material Particulado (MP)
As amostras de Material Particulado, partículas de até 2,5 µm, (MP2,5) foram
obtidas por meio de Amostrador de Grande Volume (AGV) (Energética), conforme
demonstrado na Figura 4.
Figura 4. Amostrador de Grande Volume.
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Brevemente, o AGV MP2,5, puxa uma certa quantidade de ar ambiente através de
um filtro, instalado dentro de uma casinhola de abrigo, durante o período de
amostragem, de 24 horas. A vazão imprimida pelo aparelho, em torno de 1,13 m-3 min-1,
e a geometria da entrada da cabeça de separação favorecem a coleta de apenas partículas
com diâmetro aerodinâmico ≤ 2,5 μm.
As partículas são coletadas num filtro de microquartzo, equilibrado e pesado
antes (tara) e após (bruto) a amostragem a fim de se determinar o ganho de massa da
amostra. Os filtros empregados são específicos para uma eficiência mínima de 99 %
para a coleta de partículas FDO (Ftalato de Dioctil) de 0,3 μm.
O filtro é previamente aquecido a 600 ºC durante quatro horas, equilibrado a
temperatura de 25 ºC num dessecador e posteriormente pesado utilizando uma balança
de precisão, antes e após a coleta para se determinar o ganho líquido em peso (massa).
O volume de ar amostrado, corrigido para condições padrão (25 °C, 760 mmHg), é
determinado a partir da vazão medida e do tempo de amostragem.
A concentração de partículas de até 2,5 μm em suspensão no ar ambiente, MP2,5,
é computada dividindo-se a massa de partículas coletada pelo volume de ar amostrado e
é expressada em microgramas por metro cúbico (μg m-3).
As amostras foram obtidas em um ensaio preliminar, ainda não publicado pelo
Grupo de Cinética Aplicada à Química Atmosférica e Poluição, em 2017.
Resultados e discussão
Gases de Efeito Estufa (GEE)
As amostras para a determinação dos três principais GEE no JBRJ (CO2, CH4 e
N2O) foram obtidas em duas campanhas de amostragem, uma no período de inverno (21
a 28 de junho de 2016) e outra no período de verão (29 de janeiro a 03 de fevereiro de
2017), de modo a abranger dois períodos com características climáticas distintas,
conforme estudo publicado por Moreira Junior et al (2017). As concentrações de CO2,
CH4 e N2O, para a campanha de inverno, foram 505 ppm, 1,86 ppm e 265 ppb,
respectivamente, e para a campanha de verão, 393 ppm, 1,88 ppm e 313 ppb. Moreira
Junior et al (2017), no mesmo trabalho, ainda reportaram dados destes GEE para área
urbana da cidade do Rio de Janeiro e ainda para outras áreas verdes e centros urbanos de
outras cidades do Brasil (Belém, Brasília, Curitiba e São Paulo)
Neste contexto, os autores indicam que as concentrações de CO2 determinadas
no JBRJ foram menores do que aqueles obtidos nos outros pontos de amostragem (áreas
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urbanas e áreas verdes) tanto no Rio de Janeiro quanto nas demais cidades, em ambas as
campanhas.
Quanto ao CH4, os dados demonstram que os valores obtidos no JBRJ, apesar de
serem consistentes com outros repostados no mesmo estudo, bem como em outras áreas
urbanas no mundo, estariam associadas à localização do ponto de amostragem, sendo
este localizado próximo a pequenos córregos que descem da encosta da Mata Atlântica.
Em relação aos dados de N2O, estes são condizentes aos demais valores
apresentados no referido trabalho, sendo maiores para as campanhas de verão, o que
poderia ser atribuído ao aumento da atividade metabólica de bactérias responsáveis pela
fonte natural deste composto.
Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
As amostras de COVs foram obtidas no período de março a maio de 2015, em
dois diferentes pontos de amostragem no JBRJ (setor das Palmeiras Imperiais (6) e setor
do Bromeliário (36)), conforme publicado por SILVA et al (2016b), e demonstrado na
Figura 5.
Figura 5. Mapa do JBRJ e pontos de amostragem de COVs.(adaptado de SILVA et al.,
2016b).
Os autores indicam a determinação de 43 COVs de C4 – C12, em que os
compostos mais abundantes são apresentados na Tabela 1.
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Tabela 1. Principais COVs considerando a abundância mássica
(adaptado de SILVA et al., 2016b).
Compostos Palmeiras
Imperiais
Bromeliário
Datas 28/03/2015 28/03/2015 04/05/2015 15/05/2015
1-buteno 2,08 3,45 4,59 2,89
benzeno 1,60 2,17 6,14 3,59
etilbenzeno 0,23 0,56 1,76 0,64
isobutano 2,24 4,53 7,09 4,19
isopentano 3,17 3,85 15,75 5,61
isopreno 6,06 3,16 11,27 3,76
m+pxilenos 0,39 0,67 1,69 0,67
butano 2,29 5,95 9,12 3,82
heptano 2,78 2,60 6,01 2,75
hexano 3,76 10,25 18,91 12,01
pentano 3,14 3,70 13,82 4,76
o-xileno 0,27 0,44 1,22 0,46
tolueno 1,86 3,32 13,52 5,29
trans-
buteno
1,35 2,08 3,80 2,17
Os autores descrevem que os valores determinados para os compostos
aromáticos no JBRJ foram semelhantes aos obtidos por outros estudos em áreas verdes
e áreas urbanas, tais como Curitiba. Quando considerados os valores para BTEX
(benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos), os autores sugerem que os valores
encontrados no JBRJ seriam maiores do que aqueles obtidos por Custódio et al. (2010)
na Floresta da Tijuca, em que apontam valores inferiores a 2,5 e 1,85 µg m -3 para
benzeno e tolueno, respectivamente. Quanto aos xilenos e etilbenzeno, os dados
publicados por Custódio et al. (2010) apresentam valores abaixo do limite de detecção.
Frente aos resultados analisados por Silva et al. (2016b), os autores apontam a
importância das áreas verdes, sobretudo aquelas áreas mais densas, como a Floresta da
Tijuca, como sumidouros de poluentes atmosféricos em ambientes tipicamente urbanos.
Matertial Particulado
As amostras foram coletadas no período março a maio de 2017, pelo presente
estudo. Os resultados apresentaram valores médios 5,25 µg m -3± 2,28 no JBRJ. Para o
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mesmo período, o Grupo de Cinética Aplicada à Química Atmosférica e Poluição,
obteve valores médios superiores (9,64 µg m -3± 1,94) em outros pontos de amostragem
na cidade do Rio de Janeiro (Ilha do Fundão). Estes resultados, ainda preliminares,
demonstram o alcance desta classe de poluente atmosférico nas regiões internas do
JBRJ, sendo estes poluentes oriundos de atividades antrópicas.
Conclusões
Os dados apresentados demonstram o alcance e impacto da poluição atmosférica
junto às áreas verdes. Outrossim, os dados apresentados ratificam o importante papel da
vegetação na mitigação da poluição do ar urbano, bem como a importância dos parques
e florestas urbanas não só desde o ponto de vista estético e de lazer, mas também para a
melhoria da qualidade do ar e, consequentemente, da saúde da população.
Neste contexto, o JBRJ além de seu valor para as características estéticas e
paisagísticas da cidade do Rio de Janeiro, também apresenta um importante papel no
desenvolvimento da ciência, ressaltando a enfatizando a importância da flora, visando à
conservação e o reconhecimento da importância da biodiversidade.
Em outro aspecto, os dados apresentados sugerem a necessidade de maiores
estudos para a realização de campanhas de monitoramento, com o objetivo de esclarecer
o papel e contribuição do Jardim Botânico com a qualidade do ar da cidade do Rio de
Janeiro.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Grupo de Cinética Aplicada à Química Atmosférica e
Poluição, com sede no Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
pela cessão de dados e equipamentos para a produção deste trabalho.
Referências
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extractable organic matter in aerosols from urban areas of Rio de Janeiro city,
Brazil. Atmos. Environ. 33: 4987-5001. 1999.
BAIRD, C. Química Ambiental. 2. ed. Porto Alegre: Bookman. 2002.
CUSTODIO, D., GUIMARÃES, C.S., VARANDAS, L., ARBILLA, G. Pattern of
volatile aldehydes and aromatic hydrocarbons in the largest urban rainforest in the
Americas. Chemosphere 79:1064-1069. 2010.
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2015. Disponível em:
http://www.inea.rj.gov.br/cs/groups/public/@inter_dimfis_gear/documents/documen
t/zwew/mtmx/~edisp/inea0131852.pdf. Acesso em 20 de setembro de 2019.
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MOREIRA JÚNIOR, D. P.; SILVA, C. M., BUENO, C; CORRÊA, S. M.; ARBILLA,
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Biomas Brasileiros. Revista Virtual de Química, 9 (5), 2032 -2051. 2017.
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N2O: A Case Study for the City of Rio de Janeiro Using a New Sampling Method.
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S.M., ARBILLA, G. Volatile organic compounds in the atmosphere of the
Botanical Garden of the City of Rio de Janeiro. Bull. Environ. Contam. Toxicol.
97:653-658. 2016b.
VIEIRA, P. B. H. "Uma visão geográfica das áreas verdes de Florianópolis, SC: estudo
de caso do Parque Ecológico do Córrego Grande (PECG)." Trabalho de Conclusão
de Curso, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC. 2004.
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CONFORMIDADE LEGAL AMBIENTAL: FERRAMENTA IMPORTANTE
PARA A COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS, ALÉM DA SIMPLES
PRESTAÇÃO DE CONTAS PARA MANTER A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL
Vanilson Fragoso1,2 & Daniel Paz1,2
1Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna, Nº 108, Rio de Janeiro, cep: 20271-020, Brasil 2 SIG Consultoria e Assessoria Ltda., Estrada dos Três Rios, N° 1767 – Sala 203, Rio de Janeiro, cep:
22745-004, Brasil
E-mail: [email protected] ; [email protected]
Resumo: A relação entre gestão ambiental e conformidade legal já vem de longa data.
Como preconizado pela ISO 1400, o respeito à legislação é reconhecidamente um dos
pilares de sustentação de Sistemas de Gestão Ambiental. O surgimento da ISO 31000,
norma internacional que trata de gestão de riscos trouxe um olhar para a análise
integrada de risco do negócio. Entretanto, toda essa tratativa e suas interfaces não
parecem estar sendo bem conduzidas e demonstradas por parte das empresas. Os
autores, por meio de observação direta sobre 5 empresas de diversos segmentos de
elevado potencial poluidor, monitoraram os bancos de dados de legislações ambientais e
avaliaram como e quão eficaz tem se mostrado essa gestão. O banco de dados de
legislações desenvolvido pela empresa SIG Consultoria, nomeado SIGLEG, foi o
utilizado. A metodologia propôs o acompanhamento da eficácia e acuracidade do
preenchimento por parte das empresas contemplando as etapas de acesso, identificação,
análise de pertinência, atualização, análise e interpretação e verificação de
conformidade legal. Foi avaliado de que forma as empresas fazem uso desses dados,
transformando-os em informações para posterior análise crítica e tomada de decisão.
Foram escolhidos exemplos de falhas ou ausências de preenchimento, somados a não
atendimento a legislações ambientais e não cumprimento de planos de ações sempre
preservando os nomes das empresas. Os resultados evidenciaram situações de riscos e
vulnerabilidade ambiental, as quais essas empresas estão expostas. Apesar de
conseguirem manter as suas certificações voluntárias, que é de fato positivo, as
empresas não vêm conseguindo demonstrar benefícios consistentes relacionados à
garantia de conformidade legal e consequente gestão adequada de riscos, contribuindo
assim para a competitividade requerida.
Palavras-chave: Requisitos legais, compliance ambiental, auditoria, stakeholders.
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Introdução
A relação entre a gestão e a conformidade legal ambiental já vem de longa data.
Segundo Porter (1986, p 22), a essência da formulação de uma estratégia competitiva é
relacionar uma companhia ao seu meio ambiente. Embora o meio ambiente relevante
seja muito amplo, abrangendo tanto forças sociais como econômicas, o aspecto
principal do meio ambiente da empresa é a indústria ou as indústrias em que ela
compete. A estrutura industrial tem uma forte influência na determinação de regras
competitivas do jogo, assim como das estratégias potencialmente disponíveis para a
empresa. Forças externas à indústria são significativas principalmente em sentido
relativo; uma vez que as forças externas em geral afetam todas as empresas na indústria,
o ponto básico encontra-se nas diferentes habilidades das empresas em lidar com elas.
Ainda, de acordo com Porter (1999), a visão que prevalece ainda é: ecologia
versus economia, ou seja, de um lado estão os benefícios sociais que se originam de
rigorosos padrões ambientais, e de outro lado, estão os custos da indústria com
prevenção e limpeza - custos estes que, neste enfoque, conduzem à altos preços e baixa
competitividade.
De acordo com o estabelecido na Lei Federal N.º 6.938, de 31 de agosto de
1981- Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências.
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que
direta ou indiretamente: e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos
A ISO 14000 foi desenvolvida pelos países membros da International Standard
Organization em base voluntária e consensual, com o objetivo de permitir a certificação
de sistemas de gestão ambiental por terceiros. Foi criada em resposta à necessidade das
empresas de melhorar o desempenho ambiental, estimular a prevenção da poluição e
aprimorar a conformidade com as diferentes legislações ambientais (ALMEIDA, 2007).
A ISO 14001:2015 especifica os requisitos para um sistema de gerenciamento
ambiental que uma organização pode usar para aprimorar seu desempenho ambiental.
A ISO 14001:2015 destina-se ao uso por uma organização que busca gerenciar suas
responsabilidades ambientais de maneira sistemática que contribua para o pilar
ambiental da sustentabilidade. A ISO 14001:2015 ajuda uma organização a alcançar os
resultados pretendidos de seu sistema de gestão ambiental, que agregam valor ao meio
ambiente, à própria organização e às partes interessadas. Consistentes com a política
ambiental da organização, os resultados pretendidos de um sistema de gestão ambiental
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incluem: melhoria do desempenho ambiental; cumprimento de obrigações de
conformidade; consecução dos objetivos ambientais.
(https://www.iso.org/standard/60857.html, acessado em 07/10/2019)
Segundo Milaré (2001), as normas da série ISO 14000 visam a resguardar, sob o
aspecto da qualidade ambiental, não apenas os produtos, como também os processos
produtivos. É um grande passo para a produção sustentável. Há, porém, uma limitação,
que não parece insuperável. Como organização técnico-científica não governamental, a
ISO não pode, evidentemente, legislar. Suas normas são de caráter suasório, sem força
jurídica, a menos que o Poder Público lhes confira tal virtude adotando-as no bojo de
instrumentos legais. Contudo, a seriedade de normas ISO, elaboradas com critérios
insuspeitos de valor técnico e científico reconhecido universalmente, confere às mesmas
uma autoridade inconteste. Embora não sejam na teoria, obrigatórias, acabam por se
impor, na prática, tornando-se referência necessária.
Não obstante, a industrialização e o desenvolvimento não precisam estar
necessariamente associados com perdas e prejuízos ao meio ambiente. Os aspectos
ambientais presentes em tais atividades podem e devem ser gerenciados a fim de
controlar e reduzir os impactos e as consequências (BACKER, 1995).
O ajuste competitivo das empresas em face da imposição da globalização
econômica e o quadro de exigências do mercado levou as empresas à incorporação do
Sistema de Gestão Ambiental (SGA) como estratégia de negócio (DONAIRE, 1995).
A questão é se as corporações globais atuarão a tempo de oferecer soluções de
negócios a problemas globais, ou se seus executivos permanecerão essencialmente
reativos e defensivos sobre suas funções na sociedade. Será que os líderes corporativos
visarão somente a reduzir os danos quando forçados por regulamentos ou pela
vergonha? Ou eles agarrarão as crescentes oportunidades de negócios para obter bons
resultados – de fato, para desempenhar melhor – empreendendo iniciativas de cunho
social? (LASZLO, 2008)
Foram consideradas as interfaces explícitas presentes nas cláusulas “entendendo
as necessidades e expectativas de partes interessadas” e “ações para abordar riscos e
oportunidades” onde são citados de forma literal o tema requisitos legais e outros
requisitos. Vale o registro de que, na ISO 14001:2015, existem duas cláusulas
específicas sobre o tema requisitos legais e outros requisitos e que ainda em várias
outras cláusulas também há referências explícitas e implícitas ao tema. Com base no
propósito desse trabalho optamos pela escolha dessas duas cláusulas mencionadas.
Esse trabalho procurou alertar as empresas sobre a importância da manutenção
de sua situação de conformidade legal realmente demonstrável e crível como uma das
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condições fundamentais para contribuir para sua competitividade frente ao cenário que
se apresenta.
Em que medida as empresas certificadas na ANBT NBR ISO 14001, que
teoricamente devem demonstrar o atendimento aos requisitos legais e outros requisitos
pertinentes de acordo com uma das premissas consagradas do sistema de gestão
ambiental, sabem o quanto isso representa para a garantia de sua competitividade?
Até que ponto algumas das mudanças propostas pela versão 2015 da ISO 14001,
como por exemplo, a introdução das novas cláusulas citadas anteriormente está sendo
suficiente para garantir situação de conformidade legal ambiental ampla requerida para
as empresas?
Material e Métodos
Esse trabalho contemplou 5 empresas de segmentos de elevado potencial
poluidor a saber, farmacêutico, hoteleiro, químico, transporte e engenharia. O período
coberto foi de 5 anos e foram preservados os nomes das empresas que serviram de base
para o desenvolvimento, resultados, discussões e conclusões apresentados. Os dados
foram analisados e avaliados por meio de observação direta dos autores sobre o
processo de acompanhamento da eficácia e acuracidade do preenchimento por parte das
empresas contemplando as etapas de identificação, análise de pertinência, atualização e
verificação de conformidade legal apresentados pelo banco de dados nomeado SIGLEG
desenvolvido pela empresa SIG Consultoria.
Conforme representado na Figura 1, o respeito à legislação é um dos três pilares
consagrados para a estruturação do SGA associado aos outros dois de prevenção de
poluição e de melhoria contínua.
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Figura 1. Pilares do sistema de gestão ambiental.
Apresentamos no Quadro 1 as interfaces presentes entre as cláusulas
“entendendo as necessidades e expectativas de partes interessadas” e “ações para
abordar riscos e oportunidades” com o tema específico requisitos legais e outros
requisitos.
Quadro 1. Interfaces entre cláusulas da ISO 14001 com o tema requisitos legais
e outros requisitos.
Requisito da ISO 14001:2015 Citações do tema requisitos legais e outros
requisitos
Entendendo as necessidades e
expectativas de partes interessadas
A organização deve determinar:
c) quais dessas necessidades e expectativas
são, ou podem se tornam seus requisitos
legais e outros requisitos
Ações para abordar riscos e
oportunidades / Generalidades
Ao planejar o sistema de gestão ambiental, a
organização deve considerar:
- requisitos legais e outros requisitos;
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Foi usada como metodologia base os resultados decorrentes da abrangência e
eficácia da aplicação do banco de dados de requisitos legais e outros requisitos
SIGLEG, por meio de processos de auditorias e consultorias. Este banco de dados é
uma ferramenta para o gerenciamento dos requisitos legais relacionados aos aspectos e
impactos ambientais decorrentes dos processos e atividades relacionados às empresas. A
seguir, são apresentadas as principais etapas para esse processo.
Figura 2. Etapas para o gerenciamento de requisitos legais e outros requisitos.
Apresentamos, na Figura 3, o processo de gerenciamento dos requisitos legais
com a identificação dos atores envolvidos nas diferentes etapas. Para o levantamento
dos requisitos legais aplicáveis são considerados, dentre outros, os processos de
licenciamentos ambientais e o levantamento de aspectos e impactos ambientais das
atividades das referidas empresas. Os requisitos legais são validados, geralmente, pelas
áreas de meio ambiente das empresas que avaliam a conformidade em conjunto com as
demais áreas responsáveis. Nas situações de não atendimento as empresas devem
avaliar o risco, considerando suas sistemáticas de gerenciamento de riscos. Nesta etapa,
também é considerada a análise de quais necessidades e expectativas das partes
interessadas são, ou podem se tornar seus requisitos legais. Esta etapa é fundamental
para a avaliação do desempenho ambiental das empresas.
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Figura 3. O contexto, especificação de etapas e os principais atores.
Legenda Figura 3: AIA - Aspectos e Impactos Ambientais; RL - Requisito
Legal; LV - Lista de Verificação; MA – Meio Ambiente; PA - Plano de ação
A fim de demonstrar a justificativa para a utilização de uma ferramenta como o
SIGLEG, apresentamos a seguir, por meio do dashboard, uma base de dados de
requisitos legais e outros requisitos contendo centenas de legislações ambientais
desdobradas em milhares de obrigações pertinentes a uma indústria química situada no
Município do Rio de Janeiro – RJ.
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Neste dashboard são apresentadas as principais informações pertinentes à
empresa. Dentre elas destacam-se os requisitos legais aplicáveis e suas respectivas
obrigações, os planos de ação que objetivam corrigir e/ou prevenir uma irregularidade e
gráficos que demonstram o nível de avaliação e atendimento aos requisitos legais.
Figura 4. Dashboard base de dados de requisitos legais indústria química. Fonte:
SIGLEG.
Resultados e Discussão
Embora as versões anteriores de 1996 e 2004 da ISO 14001 já apresentassem as
cláusulas para identificação, acesso, análise de pertinência e avaliação de conformidade
de requisitos legais e outros requisitos, estas versões ainda não dispunham das novas
cláusulas “entendendo as necessidades e expectativas de partes interessadas” e “ações
para abordar riscos e oportunidades”. Essas ausências, em certa medida, respondem
porque muitas das empresas não conseguiam demonstrar de forma crível e continuada
seu desempenho na forma de conformidade legal na abrangência requerida.
Essas ausências, contudo, foram reparadas por meio da inclusão dessas cláusulas
na versão 2015 da ISO 14001, e mesmo assim, na abrangência de observação direta dos
autores nesse trabalho, não foi possível perceber significativa melhoria da demonstração
do desempenho ambiental de conformidade legal por parte das empresas avaliadas.
A seguir, apresentamos por meio da Figura 5, o fluxo que permite a sequência
em que os dados devem ser corretamente transformados em informações, estas
informações analisadas criticamente, possibilitando assim a adequada tomada de
decisão por parte das empresas. Irregularidades legais são detectadas, tratadas por meio
de planos de ações, possibilitando assim o gerenciamento adequado dos riscos conforme
apropriado.
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Figura 5. Fluxo dados, informações, análise crítica e tomada de decisão.
A seguir, apresentamos por meio da Tabela 1, resultados dos bancos de dados
das empresas escolhidas contemplando o atendimento aos requisitos legais,
acompanhamentos dos planos de ações e associação aos riscos como apropriados.
Tabela 1. Comparativo de 5 empresas que utilizam o SIGLEG.
Segmento N° de
requisitos
não
atendidos
N.º de
requisitos
atendidos
N.º de
plano de
ação em
atraso
N.º de
plano de
ação
concluído
N.º de
requisito
com
identificação
de riscos
Farmacêutico 77 362 103 242 0
Hotelaria 68 214 10 81 0
Química 195 332 44 79 0
Transporte 814 5 141 5 4
Engenharia 437 253 56 107 0
Fonte: SIGLEG
Tomamos por base, para essa análise consolidada, a Tabela 1 onde apresentamos
algumas situações específicas que foram escolhidas das empresas alvo do trabalho.
Alertamos, contudo, que esse tipo de análise se caracteriza por alterações constantes, ou
seja, situações de conformidade e não conformidade legal ambiental se alteram ao longo
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do tempo, mediante circunstâncias diversas e ações de adequação por parte das
empresas.
Podemos destacar os seguintes resultados que demonstram e potencializam
vulnerabilidades e riscos para as empresas em função do gerenciamento inadequado das
legislações ambientais:
✓ N.º significativo de requisitos não atendidos - valores entre 77 a 814.
Quantidade significativa de requisitos legais não atendidos,
independentemente do número total de requisitos aplicáveis para todas as
empresas avaliadas;
✓ N.º significativo de planos de ações em atraso - valores entre 10 a 141.
Quantidade significativa de planos de ações em atraso se comparados aos
planos de ações concluídos para todas as empresas avaliadas;
✓ Ausência e número baixo para requisito com identificação de riscos -
valores de 0 e 4. Incoerente esses números diminutos e até ausência de
identificação riscos mediante significativos número de requisitos não
atendidos e planos de ações em atraso.
Conclusões
Utilizar um banco de requisitos legais e outros requisitos a fim de obter e manter
as certificações das empresas com base na ISO 14001 é, de fato, um dos resultados
esperados para esse investimento. Entretanto, esse benefício não pode ser considerado o
mais relevante dentre todos os possíveis.
Foi possível concluir que a gestão de conformidade legal ambiental demonstrada
pelas empresas não tem se mostrado eficaz a fim de garantir à proteção do meio
ambiente, à eficácia nas operações, às boas práticas de governança corporativa e à
imagem reputacional, ou seja, criar e proteger valor para todas as partes interessadas.
Situações inadequadas como notificações e interdições oriundas de ações dos órgãos de
controle ambiental, elevado número de não atendimento a requisitos legais e outros
requisitos, apenas para citar algumas, demonstraram o quão insuficiente está sendo
utilizada essa ferramenta e o processo de gestão de conformidade legal ambiental e
riscos como um todo. Inequivocamente, abrir mão desses benefícios contribui para que
as empresas não se mantenham competitivas em seus segmentos de atuação.
Referências
ALMEIDA, Fernando, Os desafios da sustentabilidade. Ed. Elsevier, 2007. 142p.
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MONITORAMENTO DA FAUNA SILVESTRE ATROPELADA DO PARQUE
NACIONAL DA TIJUCA, RIO DE JANEIRO, RJ
Carlos Felipe Eiras Gherardi1, Juliana Silveira dos Santos1, 2 & Cecília Bueno1
1Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente, Universidade Veiga de Almeida (UVA), Rua
Ibituruna, 108, Rio de Janeiro, 20271-020, Brasil
2Laboratório de Genética & Biodiversidade, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de
Goiás, 74690-900, Goiânia, Goiás, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo: As estradas matam milhões de animais silvestres que tentam se movimentar em paisagens fragmentadas. Os atropelamentos são contínuos em grandes rodovias, contudo, as estradas também causam danos quando estão presentes dentro ou próximas a áreas protegidas, principalmente localizadas em centros urbanos. No Brasil, este problema é frequente no Parque Nacional da Tijuca que fica no meio da área urbana da cidade do Rio de Janeiro. Buscando reduzir os atropelamentos da fauna silvestre que reside no parque e seu entorno, no ano de 2013 foi proposto um projeto de monitoramento de atropelamento da fauna silvestre. Neste sentido, o objetivo deste estudo é apresentar os primeiros e inéditos resultados do monitoramento de seis anos de atropelamento da fauna de vertebrados silvestres no Parque da Tijuca. Para isso foram realizadas análises descritivas dos registros multitemporais de atropelamento, foram analisadas informações complementares e os registros foram espacializados a fim de descrever o padrão espacial desses eventos e identificar áreas hotspots de atropelamento no parque. Os resultados mostraram que a presença de estradas em alguns setores do parque aumenta a frequência de atropelamentos, evidenciando que medidas de mitigação precisam ser tomadas a fim de minimizar os impactos dessas estruturas à vida selvagem do parque. Os grupos taxonômicos com maior registro de atropelamento foram: mamíferos (52,1%), répteis (40,2%), aves (4,1%) e anfíbios (3,6%). Os setores A e B concentraram as maiores frequências de atropelamento, no entanto, o mapa de densidade mostrou que por unidade de área, o setor A concentra os maiores índices de atropelamento. A partir desses dados já foi possível caracterizar as rotas mais sensíveis para diferentes grupos taxonômicos e identificar medidas simples de mitigação. No futuro, iniciativas como essa podem servir de ponto de partida, para definir estratégias de mitigação de atropelamento de vertebrados silvestres em outros parques urbanos. Palavras-chave: Parque urbano, Monitoramento de atropelamento, Vida selvagem, Fragmentação.
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Introdução
A perda e a fragmentação do habitat são os principais responsáveis pelo declínio
das populações e extinção de espécies (ASCENSÃO; NIEBUHR et al., 2019;
COLLINSON et al., 2019). Além das atividades agrícolas, o aumento da infraestrutura
urbana e consequentemente das estradas também tem causado impacto à vida selvagem.
As estradas reduzem a conectividade das paisagens, que é um elemento essencial da
paisagem, uma vez que, permite que processos ecológicos importantes para a
manutenção da biodiversidade ocorram como o fluxo gênico e a migração sazonal
(ASCENSÃO; NIEBUHR et al., 2019; COLLINSON et al., 2019). Um efeito direto das
estradas é que essas infraestruturas atuam como barreira nas paisagens, impedindo que
os organismos se movimentem na busca por recursos ou para reprodução e acabam
causando a morte de muitos organismos que tentam se locomover, principalmente
devido à colisão com automóveis (BUENO et al., 2013). Desta forma, todos os anos as
estradas tem causado a morte de milhões de animais silvestres (ASCENSÃO; KINDEL
et al., 2019; RYTWINSKI et al., 2016) e atualmente podem ser consideradas como o
principal fator antrópico responsável pela mortalidade de vertebrados terrestres em
escala global (TEIXEIRA, 2011).
Diversas iniciativas têm sido propostas para mitigar os impactos das estradas à
vida selvagem. Entre essas iniciativas, o monitoramento contínuo das estradas é o
primeiro passo, uma vez que, permite identificar quais espécies são mais afetadas pela
presença dessas infraestruturas. Posteriormente, são definidas as medidas que podem
diminuir os atropelamentos com foco nessas espécies (RYTWINSKI; FAHRIG, 2012).
Neste sentido, são propostas medidas simples como o aumento de placas para
sinalização da presença de vida selvagem, dispositivos para o monitoramento da
velocidade e a inclusão de passagens ecológicas aéreas e subterrâneas (CIOCHETI et
al., 2017; COLLINSON et al., 2019). O tipo de medida varia entre grupos taxonômicos
(RYTWINSKI et al., 2016), todavia, na literatura ainda não se tem um consenso sobre a
efetividade dessas medidas para a conservação da vida selvagem em paisagens
antropizadas (CIOCHETI et al., 2017; COLLINSON et al., 2019). Além disso, a
maioria das pesquisas que vêm sendo realizadas tem como foco de estudo grandes
rodovias e acabam esquecendo o impacto da presença dessas infraestruturas dentro ou
próximo a áreas protegidas.
As áreas protegidas têm como função principal proteger espécies de fauna, flora,
habitats e garantir a manutenção de processos ecológicos. No entanto, o alto
investimento em ecoturismo, o crescente aumento de visitantes a áreas protegidas tem
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implicado no aumento do número de atropelamentos de fauna e, consequentemente,
contribuído significativamente para a perda da biodiversidade em áreas protegidas em
diferentes partes do mundo (COLLINSON et al., 2019). Esses impactos podem ser
ainda maiores, quando as áreas protegidas ficam dentro ou próximas a centros urbanos,
circundadas por estradas que permitem o acesso livre de diferentes meios de transporte.
No Brasil, este problema é frequente no Parque Nacional da Tijuca (PARNA Tijuca)
que é um dos parques mais visitados do País, recebendo aproximadamente 3 milhões de
visitantes por ano. O PARNA Tijuca foi criado em seis de julho de 1961 e está
localizado dentro da cidade do Rio de Janeiro-RJ, sudeste do Brasil. O parque tem uma
área total de 39,51 km² e abriga um grande maciço de Mata Atlântica preservada
(Parque Nacional da Tijuca, 2019), que é um dos principais hotspots de biodiversidade
do mundo (MYERS et al., 2000).
Em março de 2013, com o apoio dos funcionários do PARNA Tijuca, foi criado
um projeto para monitorar o atropelamento da fauna silvestre do parque. Neste projeto
são registradas, catalogadas e descritas as ocorrências de atropelamento nas principais
estradas do parque e nas estradas que circundam o parque, a fim de que, no futuro seja
possível identificar medidas específicas de mitigação de atropelamento da fauna do
PARNA Tijuca. Além do monitoramento contínuo, o projeto tem como meta criar um
guia técnico para auxiliar na identificação de lugares apropriados para a alocação de
placas de sinalização e passagens ecológicas, uma vez que, o parque não dispõe de
nenhum sistema de apoio que permita definir a localização eficiente desse tipo de
instrumento. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar os primeiros e
inéditos resultados do monitoramento de seis anos de atropelamento da fauna de
vertebrados silvestres no PARNA Tijuca. A partir desses dados foi possível caracterizar
as rotas mais sensíveis (hotspots de atropelamento) para diferentes grupos taxonômicos
dentro do PARNA Tijuca. No futuro, iniciativas como essa podem servir de ponto de
partida, para definir estratégias de mitigação de atropelamento de vertebrados silvestres
em outros parques urbanos.
Material e Métodos
Área de estudo
O estudo foi realizado nas estradas do Parque Nacional da Tijuca, localizado no
município do Rio de Janeiro. O Parque Nacional da Tijuca (PARNA Tijuca ou PNT) é
uma Unidade de Conservação situada no meio da área urbana do município do Rio de
Janeiro (Figura 1A e B), compartimentada em quatro setores: Floresta da Tijuca (A),
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Serra da Carioca (B), Pedra Bonita/Pedra da Gávea (C) e Pretos Forros/Covanca (D)
(Figura B1). O Parque Nacional protege a maior floresta de Mata Atlântica em área
urbana do mundo, com 39,51 km² de extensão. As estradas que cortam o PARNA
Tijuca são utilizadas por carros de passeio, motocicletas, ciclistas e pedestres.
Figura 1. Localização da área de Estudo. A) Estado do Rio de Janeiro e localização do
Parque Nacional da Tijuca; B) Parque Nacional da Tijuca e os respectivos setores que
compartimentam o parque. Fonte: Imagem de satélite Google Earth.
Monitoramento contínuo de atropelamentos da fauna silvestre
A coleta dos dados foi realizada com o uso de carro ou moto, à baixa velocidade
(30 km/h), bicicleta e a pé, durante o horário diurno, entre 8 h e 17 h, três vezes por
semana durante os anos de 2013 a 2019. Além dos integrantes do projeto, voluntários
do curso de ciências biológicas e os funcionários do parque auxiliaram na coleta dos
dados, recolhendo os animais atropelados e guardando em um freezer para preservação.
Os animais foram recolhidos com a utilização de luvas e colocados em sacolas plásticas
etiquetadas a fim de identificar a procedência do animal.
A coleta dos animais armazenados foi realizada quinzenalmente. Sendo que os
animais armazenados foram levados para a Universidade Veiga de Almeida, onde foram
identificados, preparados e direcionados para as coleções do Museu Nacional do Rio de
Janeiro. A partir dos dados coletados foram realizadas outras pesquisas científicas. A
ocorrência de atropelamento de fauna foi registrada a partir da coordenada geográfica
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utilizando as informações registradas nas etiquetas. Todas as informações como data,
horário, localização, estação do ano, coordenada geográfica e outras informações
auxiliares são registradas em formato digital.
Análise dos dados
Para caracterizar os atropelamentos da fauna silvestre do PARNA Tijuca foram
realizadas análises descritivas utilizando como referência a frequência de atropelamento
durante todo o período analisado. As análises foram realizadas por espécie, grupo
taxonômico, setor do parque, classificação de ameaça de extinção utilizando como
referência a lista de espécies ameaçadas de extinção da International Union for
Conservation of Nature (IUCN) e o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção (ICMBIO, 2018). Inicialmente, para identificar as áreas “hotspots de
atropelamento” os pontos de atropelamento foram espacializados dentro de cada setor
do parque e foi gerada uma estimativa de densidade por Kernel utilizando como
referência toda a área do parque e todos os registros de atropelamento. Esta abordagem
espacial serviu para caracterizar o padrão de atropelamentos dentro do parque,
permitindo quantificar a intensidade do processo que está sendo analisado em toda a
área de estudo. Para isso, cada observação (neste caso os pontos de atropelamento) foi
ponderada pela distância em relação a um valor central.
Resultados e Discussão
No período de março de 2013 a julho de 2019 foram registrados um total de 169
animais atropelados. Apesar deste número não representar uma quantidade alarmante
para todo o período analisado, ASCENSÃO et al. (2019) enfatizam que este tipo de
informação multitemporal é fundamental para que os efeitos indiretos das estradas, isto
é, extinções massivas do passado, extinções locais e fortes efeitos de barreira não sejam
mascarados. Os grupos taxonômicos que tiveram maior índice de atropelamento foram
os mamíferos com 88 ocorrências (52,1%), répteis com 68 (40,2%), aves com 7 (4,1%)
e anfíbios com 6 ocorrências (3,6%) (Figura 2). Sendo que, dos 88 mamíferos
atropelados, as três espécies mais registradas foram quatis (Nasua nasua), com 15
indivíduos atropelados, macaco-prego (Sapajus nigritus) e gambá-de-orelha-preta
(Didelphis aurita), ambos com 12 indivíduos cada.
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Figura 2. Frequência de atropelamentos no PARNA Tijuca, de acordo com diferentes
grupos taxonômicos durante os anos de 2013 a 2019.
Essas espécies são razoavelmente abundantes no PARNA Tijuca e cada vez mais
estão acostumadas com a presença humana. Possivelmente essas espécies são atraídas
pelos restos de alimentos que ficam nas lixeiras e são alimentadas pelos turistas que
acabam atraindo os animais para próximo das estradas. Neste contexto, nossos
resultados podem indicar que em áreas protegidas urbanas, além de fatores como home
range, capacidade de deslocamento, tamanho do corpo e idade que foram descritos por
(RYTWINSKI et al., 2016), a presença humana aliada a falta de programas de educação
ambiental pode ser um fator determinante para a maior ocorrência de atropelamentos.
Adicionalmente, os resultados mostraram que dos 68 répteis atropelados, 61 são
serpentes, a maioria do gênero Bothrops. Sendo que, durante o período analisado foram
registrados 13 indivíduos atropelados, provavelmente atraídos pelo calor do asfalto.
Também foram registradas quatro jibóias (Boa constrictor) atropeladas (Figura 3A). O
tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) é um dos mamíferos frequentemente
atropelados no parque (Figura 3B). As Figuras 3C e D mostram o registro de outros
animais atropelados recolhidos pelo projeto nos diferentes setores do parque, como o
sapo (Rhinella ornata) e o gavião-carijó (Rupornis magnirostris).
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Figura 3. A – Jibóia (Boa constrictor) atropelada recolhida pelo projeto; B -
Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) atropelado encontrado morto na estrada; C –
Sapo (Rhinella ornata), atropelado no setor A; D – Gavião-carijó (Rupornis
magnirostris), atropelado no setor B. Fonte: Acervo do Projeto.
A Figura 4 mostra a frequência dos atropelamentos de animais silvestres dentro
de cada setor do PARNA Tijuca. No setor B ocorreu o maior número de
atropelamentos, com 91 registros. Neste setor, o trânsito de veículos é mais intenso e
também este é o setor mais visitado por turistas e que concentra o maior número de
estradas (Figura 6). O setor A, concentra o segundo maior número de atropelamentos,
com 73 registros. Este setor concentra a área de floresta mais afastada da ocupação
humana, assim, possivelmente deve abrigar uma grande quantidade de animais. No
entanto, é o segundo setor mais visitado do parque e tem a segunda maior concentração
de estradas (Figuras 4 e 6). No setor C e D foram registrados 3 e 2 atropelamentos,
respectivamente. Esses setores são áreas de grande ocupação humana (Figura 1), porém
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tem poucas estradas (Figura 6). Também esses setores são compostos por afloramentos
rochosos e vegetação menos densa, características que tendem a reduzir o número de
espécies e também a presença de espécies mais sensíveis.
Figura 4. Frequência de atropelamentos de vertebrados silvestres em cada setor do
Parna Tijuca. AD: refere-se às ocorrências de atropelamento registradas entre os setores
A e D do parque, que são setores adjacentes.
A Figura 5 mostra as frequências de atropelamento em relação a categoria de
ameaça de extinção de acordo com as listas da IUCN e MMA e estação do ano. Como
pode-se observar a maioria dos registros foram para espécies na categoria LC (Least
Concern – segura ou pouco preocupante) para as duas classificações. No entanto, de
acordo com as duas listas foram registradas espécies nas categorias NT (Near
Threatened) e VU (Vulnerable), que podem ser consideradas com risco de extinção,
pouco preocupante e ameaçada, respectivamente. Durante o período analisado, a maior
frequência de atropelamento foi registrada na primavera. Estes dados serão analisados
com mais cautela por grupo taxonômico e também por traits de acordo com as espécies
registradas, para que seja possível entender qual o padrão de comportamento/traits das
espécies teve maior influência neste resultado. Neste contexto, RYTWINSKI et al.
(2016) evidenciaram que grupos de espécies com específicos traits ou históricos de vida
tendem a formar grupos específicos propensos a respostas negativas em relação à
presença de estradas.
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Figura 5. Frequência de atropelamentos de acordo com o grau de ameaça de extinção
das espécies catalogadas na lista da IUCN e do MMA, e também em relação a estação
do ano. Le-sê: LC: Segura ou pouco preocupante ou Least Concern; SC: sem categoria,
ou seja, não identificamos a espécie registrada em nenhuma das listas; NT: Quase
ameaçada ou Near Threatened; NE: Não avaliada ou Not Evaluated; EN: Em perigo ou
Endangerede VU: Vulnerável ou Vulnerable.
A Figura 6 mostra o mapa de densidade de pontos de atropelamento por unidade
de área (a unidade do mapa é metros). Como pode-se perceber mesmo que no setor B
tenha sido registrada a maior frequência de atropelamentos, no setor A por unidade de
área ocorreram mais atropelamentos, principalmente nos setores em que a presença de
estradas é maior, indicando que medidas de mitigação precisamser tomadas
principalmente neste setor e na parte que liga os setores A e B.
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Figura 6. Densidade de atropelamentos nos diferentes setores do PARNA Tijuca.
Conclusões
A presença de estradas aumenta a frequência de atropelamentos no parque
PARNA Tijuca, evidenciando que medidas de mitigação precisam ser tomadas a fim de
minimizar os impactos dessas infraestruturas à vida selvagem que reside no parque. Os
mamíferos e répteis são os grupos taxonômicos mais afetados por atropelamentos no
parque e os setores A e B são os setores onde ocorreram mais atropelamentos. Nossos
resultados precisam ser melhor investigados a fim de que se possa relacionar o padrão
do comportamento das espécies/grupos taxonômicos mais afetados (ex: capacidade de
deslocamento, busca por parceiros, sensibilidade a alterações antrópicas e etc), tempo,
estação do ano e a presença das estradas. Além disso, as áreas hotspots de
atropelamento serão melhor analisadas a partir do software Siriema que foi
desenvolvido especialmente para esta finalidade e tem um algoritmo mais robusto.
Entretanto, os resultados já enfatizam a necessidade de um trabalho contínuo de
sensibilização aos visitantes do parque e de educação ambiental. O próximo passo é
investigar com mais detalhe o comportamento das espécies/táxons em que foram
registrados mais atropelamentos, a fim de identificar medidas de mitigação eficientes
focadas para essas espécies/grupos e ajudar de uma forma direta na gestão do parque.
Essas informações também serão relacionadas com a informação de estação do ano. As
placas de alerta, assim como, as lixeiras que estão no parque vêm sendo
georreferenciadas para que seja possível identificar algum padrão dos eventos de
atropelamento em relação à distância desses objetos.
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Além disso, é importante ressaltar que a cidade do Rio de Janeiro está entre as
capitais mais violentas do Brasil e que esse fator limita um completo monitoramento em
toda a extensão do PARNA Tijuca. Comunidades limítrofes ao parque estão entre as
mais violentas da cidade, sendo dominadas pelo tráfico de drogas e armas, tornando
assim algumas áreas do parque de extremo risco para acessar. Alguns exemplos de
locais perigosos são a estrada do Sumaré, no setor B, pelas proximidades com as
comunidades do morro da Formiga, Chacrinha, Liberdade e Turano, estrada mirante
Dona Marta, no setor B, pela proximidade com morro Santa Marta e estrada Grajaú-
Jacarepaguá, limite entre os setores A e B, pela proximidade com comunidades da
Covanca e complexo do Lins de Vasconcelos.
Entretanto, a partir desses resultados já foi possível apontar os grupos mais
ameaçados por atropelamentos no PARNA Tijuca, assim como, identificar as áreas que
necessitam de algum tipo de intervenção. Esses dados são inéditos e servirão no futuro
para guiar iniciativas de mitigação e gestão com foco na ocorrência de atropelamento de
vertebrados silvestres no PARNA Tijuca. Adicionalmente, podem servir de base para
iniciativas de monitoramento e gestão em outros parques urbanos.
Agradecimentos
C.F.E.G e C.B agradecem a administração e aos funcionários do PARNA Tijuca
pelo apoio a pesquisa, informando os locais que ocorrem os atropelamentos, coleta dos
animais e também pela disponibilidade do local para manter os animais congelados. C.B
e J.S.S recebem bolsa de pesquisa da Funadesp (processo nº 1700428). J.S.S recebe
bolsa de pós-doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) pelo Projeto COFA/PELD financiado pelo MCT/CNPq/CAPES
(processo nº 441278/2016-7). O trabalho recebe licença do SISBIO para coleta das
carcaças (nº 36699-6).
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MAPEAMENTO DOS ATROPELAMENTOS DE CERDOCYON THOUS
(LINNAEUS, 1766) EM UMA RODOVIA DO SUDESTE BRASILEIRO
Hiago Alexsander de Lima1& Cecília Bueno1
1Universidade Veiga de Almeida, Rua Ibituruna n°108, Rio de Janeiro, CEP 20271-020
Email: [email protected]
Resumo: O atropelamento de animais silvestres hoje é uma importante causa da perda
de biodiversidade. A espécie Cerdocyonthous é uma das espécies mais afetadas por
atropelamentos em todo Brasil, mesmo assim não são feitas medidas específicas para a
conservação da espécie. O objetivo do presente trabalho foi mapear os atropelamentos
de Cerdocyonthous e observar sua distribuição na BR-040 Rio de Janeiro/Juiz de fora,
indicando as áreas onde o mesmo circula. Foram encontrados 101 animais atropelados
ao longo da BR-040, onde os municípios com maior número de atropelamentos foram
Matias Barbosa (n=19) e Duque de Caxias (n=19), a maioria dos cachorros-do-mato foi
encontrado na estação seca (68,31%), enquanto (31,78%) no período chuvoso. As
regiões de Matias Barbosa e Duque de Caxias merecem atenção devido ao número de
animais encontrados, e medidas mitigadoras como faunoduto e telamento. Além disso,
ações educativas são importantes para mudar estes números.
Palavras-chave: Atropelamento, Cachorro-do-mato, Rodovias.
Introdução
Um novo ramo que surgiu na ecologia foi a Ecologia de Estradas, com o
objetivo de entender os impactos ecológicos que as vias causam onde são inseridas
(FORMAN & ALEXANDER, 1998; FORMAN et al. 1998; FORMANet al.
2003;SANTOS et al. 2014). A atenção com a perda da biodiversidade por
atropelamento no Brasil é recente, pois os primeiros trabalhos são de 1995 (ROSA et al,
2012). Contudo, atualmente estes estudos vêm evoluindo cada vez mais e consolidando
uma nova área de pesquisa aplicada. Neste contexto a ecologia de estradas está inserida
na ecologia, seguindo os conceitos da Biologia da conservação e biogeografia,
tornando-se uma das principais linhas da ecologia moderna (ROSA et al, 2012).
No Brasil, a rede rodoviária tem cerca de 17 milhões de quilômetros (GRUPO
EXECUTIVO DE INTEGRAÇÃO DA POLÍTICA DE TRANSPORTES 2014), que
possuem um alto custo e deficiências. Este é o principal meio de transporte do Brasil,
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por onde são transportados cerca de 85% da população e produtos brasileiros
(MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES – MT, 2004). Estima-se que 475 milhões de
vertebrados silvestres sejam atropelados todos os anos nas rodovias e estradas do país
(CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS, 2014).
Nas últimas décadas, os atropelamentos se tornaram mais importantes que a caça como
causa direta de mortalidade de vertebrados pelo homem (FORMAN & ALEXANDER,
1998) já que não selecionam suas vítimas.
No Brasil, apesar de recentes artigos terem sido publicados nos últimos anos
com foco nos mamíferos (BAGER, 2006; MELO E SANTOS-FILHO, 2007;
COELHOet al., 2008; ZALESKI et al., 2009) ainda assim estudos sobre ecologia de
rodovias, principalmente quando relacionam a mortalidade por atropelamento com a
conservação ambiental são insuficientes (CACERES et al, 2012). O cachorro-do-mato
(Cerdocyonthous) é uma das espécies mais afetadas pelas rodovias em todo o Brasil
(REZINI, 2010), ainda assim não são feitas ações específicas para a conservação da
espécie. Ações relevantes incluem medidas de prevenção de atropelamentos não só em
uma pequena parte, e sim ao longo de todas as rodovias onde há relatos de
atropelamentos de fauna. É importante a conscientização e sensibilização dos motoristas
em relação ao respeito do limite de velocidade nas rodovias, pois alguns atropelamentos
podem ocorrer de forma acidental, mas também de forma proposital, principalmente
quando se trata de répteis (RODRIGUES et al., 2002) (SECCO et al, 2014).
Apesar de ser uma espécie com o status de risco de extinção no nível LC (menos
preocupante) (IUCN, 2018) é de extrema importância projetos para auxiliar na
conservação das populações desta espécie, pelo fato de ser uma espécie considerada
como legítima dispersora de sementes, pois ela as consome e defeca sem causar danos a
germinação (CHEIDA, 2002), essa característica tem uma importante implicância na
conservação, pelo fato de auxiliar na manutenção e regeneração de diversos tipos de
formações vegetais (FARIA-CORRÊA, 2004).
Ainda são poucos trabalhos publicados sobre a distribuição dos atropelamentos
de Cerdocyonthous, visando medidas mitigadoras para a preservação da espécie em
áreas cercadas por rodovias. O objetivo do presente trabalho é mapear os
atropelamentos de Cerdocyonthouse observar sua distribuição ao longo da BR-040,
trecho Rio de Janeiro/Juiz de Fora, indicando as áreas da paisagem onde o mesmo
circula, além de propor medidas de mitigação para este impacto.
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Material e métodos
A rodovia BR-040 percorre o corredor de biodiversidade da Serra do Mar,
seguindo do município de Duque de Caxias (população estimada de 890.997
habitantes), no estado do Rio de Janeiro, até Juiz de Fora, em Minas Gerais (população
estimada de 563.769 pessoas) (IBGE 2018) (Figura 2). O trajeto da rodovia cruza a área
de proteção ambiental Petrópolis e um trecho da Reserva Biológica do Tinguá, subindo
a Serra de Petrópolis, onde corta o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, região
de Mata Atlântica. O monitoramento da fauna silvestre atropelada na BR-040 é
realizado por um biólogo, um assistente, e pelos inspetores de tráfegos treinados pelo
Projeto Caminhos da Fauna,o que permite um monitoramento de 24h/dia, durante o ano
todo, com a velocidade de 40 km/h. Este projeto teve início em abril de 2006 (BUENO,
2009).
Os cachorros-do-mato foram coletados atropelados na BR-040 a partir do km
125 (Rio de Janeiro) até o km 773 (Juiz de fora) totalizando 180,4 km, entre o período
de agosto/2007 a agosto/2018, os espécimes foram georreferenciados utilizando o GPS
Garmin GPSMAP 60CSx.Os animais coletados foram levados congelados para o
Laboratório de Ecologia da Universidade Veiga de Almeida. Identificados por número
de campo, taxidermizados e depositados na coleção de mamíferosdo Museu
Nacional/UFRJ, onde foram depositados na coleção de mamíferos. O
georreferenciamento foi realizado com um GPS Garmin GPSMAP 60CSx As
coordenadas foram inseridas em Excel para realização de mapas através do programa
ArcGis 10.1 (R) da ESRI (Figura 3).
A partir do mapa desenvolvido em ArcGis 10.1 (R) da ESRI, a paisagem do
entorno da rodovia foi analisada e construída uma tabela emexcel 2016 com as
informações dessa paisagem, separada nas categorias: margem composta por vegetação
aberta, vegetação florestal, rios e construções. Após esta construção, foi realizado o
teste de Shapiro-Wilk com a ferramenta estatística Past3 utilizando os dados brutos e
log-transformados para verificar a normalidade dos dados com o critério (p>0,05), após
comprovada a normalidade foi realizado o teste paramétrico ANOVA – um critério
(p<0,05) no programa Excel 2016 para avaliar se a variação de atropelamentos entre os
anos estudados foi significativa.Foi analisada também a correlação entre a média de
VMDm (variação do volume médio mensal de veículos) nos anos de 2011 a 2015 com
os atropelamentos de C.thous.Os dados são do Departamento nacional de infraestrutura
de transporte (DNIT 2017) e a correlação foi realizada no programa Excel 2016, assim
como a regressão linear entre o número de atropelamentos de C.thous e a população
estimada nos municípios em que a BR-040 atravessa (IBGE, 2018).
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Resultados e discussão
Foram plotados 101 cachorros-do-mato ao longo do mapa da BR-040 entre os
anos de 2007 a 2018, no qual em 2007 (n=3), 2008 (n=5), 2009 (n=8), 2010 (n=10),
2011 (n=23), 2012 (n=10) 2013 (n=8), 2014 (n=12), 2015 (n=10), 2016 (n=3), 2017
(n=7) e 2018 (n=2).A frequência de ocorrência de atropelamento foi de 45% (Tabela 1),
porem esse valor pode estar sendo subestimado levando em conta que muitos dos
animais são atropelados e arremessados para fora da pista, enquanto outros podem ter se
ferido com a colisão e vindo a morrer fora da rodovia (MELO & SANTOS-FILHO,
2007).
O presente trabalho apontouuma taxa de atropelamentos de 0.005, enquanto
CARVALHO (2014) registrou uma taxa de 0,086. Esta diferença certamente é devida
ao monitoramento feito no presente trabalho ter sido constante (24 h/7), sendo esse tipo
de monitoramento raro na literatura.
Configuração da paisagem da BR-040, trecho Duque de Caxias/ Juiz de fora
Em relação a margem esquerda e direita (sentido RJ-MG), o maior número de
indivíduos encontrados foram em uma margem composta por vegetação aberta (n=56
margens esquerda, n=60 margens direita), vegetação florestal (n=32 margens esquerda,
n=27 margem direita), rios (n=9 margem esquerda, n=6 margem direita) e construções
(n=4 margem esquerda, n=8 margem direita).
Os rios são importantes recursos para a população de cachorro-do-mato da
região, mas a frequência de animais encontrados atropelados nas margens que são
compostas por rios é baixa porque a área da paisagem composta por corpos D'Água é de
apenas 0,4% da paisagem total (Tabela 3).
A alta frequência de animais encontrados atropelados nas margens compostas
por vegetação aberta e vegetação florestal é devida a paisagem ser de grande parte
composta por essas duas classes, no qual são ambientes em que favorecem os hábitos de
vida do cachorro-do-mato (Tabela 1).
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Tabela 1. Caracterização da margem esquerda e direita dos atropelamentos.
Margem Direita (RJ -> MG)
Construções Rio Vegetação
aberta
Vegetação
florestal
Margem
Esquerda
RJ->MG
Construções 0,0% 0,0% 1,0% 3,0% 4,0%
Rio 0,0% 1,0% 3,0% 5,0% 8,9%
Vegetação
aberta
6,9% 4,0% 41,6% 3,0% 55,4%
Vegetação
florestal
1,0% 1,0% 13,9% 15,8% 31,7%
7,9% 5,9% 59,4% 26,7% 100,0%
Número de animais atropelados nos municípios da BR-040, trechoDuque de
Caxias/Juiz de fora
De acordo com a disposição dos atropelamentos de C. thous nos municípios
analisados a partir da plotagem de animais no mapa da BR-040 (Figura 3), Matias
Barbosa (km 810) e Rio de Janeiro (km 125) são os municípios com maior número de
animais atropelados (n=19), seguidos por Três Rios (km 18) (n=14), Simão Pereira (km
815) (n=14), Petrópolis (km 82) (n=14), Areal (km 38) (n=13), Comendador Levy
Gasparian, RJ (km 10) (n=6) e Juiz de Fora (km 795) (n=2) (Figura 4).
As características das maiores ocorrências no município de Matias Barbosa
devem ser levadas em consideração os hábitos deste animal relacionados à vegetação da
região. Ao analisar o terreno deste município, observa-se a presença do Rio Paraibuna,
formações de vegetação herbácea e a presença de pequenos fragmentos de mata. De
forma geral, a presença deste tipo de vegetação no município de Matias Barbosa é
favorável aos hábitos de forrageio (animal onívoro e oportunista) do cachorro-do-mato,
pois este animal prefere bordas florestais e ambientes mais abertos (DE MELO
BEISIEGEL, 2013), como observada na Figura 1.
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Figura 1. Mapa da distribuição do cachorro-do-mato ao longo do trecho monitorado na
BR-040 trecho RJ/JF.
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Figura 2. Distribuição dos atropelamentos de Cerdocyon thous nos nove municípios
cortados pela BR-040
Correlação de atropelamentos com o volume de trafego na BR-040
De acordo com a Figura 3 não houve correlação entre a média do volume de
trafego na BR-040 por mês entre os anos de 2011 a 2015 e os atropelamentos de
Cerdocyonthous (R²= 0,1303, p=0.2491) onde janeiro (n=2) tem um volume de tráfego
de 16.273; fevereiro (n=1) e o volume de trafego de 14.590; março (n=4) e o volume de
trafego de 13.671; abril (n= 6) e o volume de trafego de 14.906; maio (n=7) e o volume
de trafego de 13,769; junho (n=6) e o volume de trafego de 13.775; julho (n=10) e o
volume de trafego de 15.038; agosto (n=9) e o volume de trafego de 13.408; setembro
(n=6) e o volume de trafego de 13.847; outubro (n=6) e o volume de trafego de 14.436;
novembro (n=4) e o volume de trafego de 13.133 e dezembro (n=1) e volume de trafego
de 14.678.
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Figura 3. Correlação entre o volume de trafego por mês e os atropelamentos de
Cerdocyonthous na BR-040 Rio de Janeiro/Juiz de fora.
Relação do número de atropelamentos com a população humana estimada
Não foi encontrado relação entre o número de atropelamentos de
Cerdocyonthous com a população estimada nos municípios no qual a BR-040 atravessa,
em que Duque de Caxias possui uma população estimada de 890,997 (n=19); Petrópolis
de 298,235 (n=14); Areal de 12,123 (n=13); Três rios de 79,402 (14); Comendador
Levy Gasparian de 8,336 (n=6); Juiz de fora de 563,769 (n=2); Matias Barbosa de
14,449 (n=19) e Simão Pereira de 2,651 (n=14) (R²: 0.003) (Figura 8), o resultado teve
essa configuração pelo motivo de Simão Pereira ter apenas 2,651 de população estimada
mas teve 14 atropelamentos, em comparação Levy Gaspariancontém 8,336 de
população e apenas 6 atropelamentos e Juiz de fora com 563,769 com apenas 2
atropelamentos. Esse número de atropelamentos em Juiz de fora ocorre pelo fato de Juiz
de fora ter uma diminuição do habitat da espécie Cerdocyonthous.
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Figura 4. Regressão entre a população humana estimada dos municípios analisados e os
atropelamentos de Cerdocyonthous.
Considerações Finais
Durante os anos de monitoramento o ano que teve mais ocorrência de animais
atropelados foi 2011, enquanto os de menor ocorrência foram 2016 e 2017.
A região da BR-040 entre Duque de Caxias e Juiz de fora é predominada por
formações herbáceas (56,3%) e formações florestais (29,2%), no qual favorece o
cachorro-do-mato que é generalista e oportunista, circulando facilmente em áreas
abertas e bordas de floresta, usando assim a rodovia como área para circulação.
Mediante resultados apresentados, observa-se que os trechos de Matias Barbosa
e Duque de Caxias merecem atenção, por concentrarem o maior número de
atropelamento dos cachorros-do-mato.Juiz de Fora apresentou o menor número,
certamente pela forte pressão que as áreas urbanas em que causa a diminuição do habitat
do animal, assim diminuindo a população do mesmo nessa região.
Os dados do presente trabalho podem auxiliar em futuros estudos que
investiguem essa variação temporal de atropelamentos e apontam também para
necessidade de mitigação da rodovia, através de telamento e faunodutos. Campanhas
educativas são apoios importantes, reforçando a necessidade da atenção do motorista
para fauna e estimulando os mesmo na redução da velocidade.
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