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ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

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Edição e Arte Final: José Ednilson Gomes de Souza JúniorRevisão: Neiva Albres de AquinoRealização: APILMS

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO OFICINAS Vocabulário Tecnológico da Libras................................................................... 02 Guia-Interprete para pessoas Surdacegas ...................................................... 04 Tenha “olho caro”: a Interpretação de Expressões Idiomáticas da Língua de Sinais Brasileira ......................................................................... 07 Técnicas de Interpretação Língua de Sinais para Português .......................... 17 Fundamentos da Tradução e Interpretação em Língua de Sinais ................... 19 Classificadores de Libras em Conteúdos Escolares ........................................ 21 PALESTRA Entre a Visibilidade da Tradução da Língua de Sinais e a (in)Visibilidade da Tarefa do Intérprete ...................................................... 23 Da Missão a Profissão: Produzindo Novas Experiências na Surdez ............... 46 Estudo Epidemiológico dos Distúrbios Ocupacionais Relacionados aos Membros Superiores nos Intérpretes de Surdos ................ 56 Saúde Mental e Qualidade de Vida do Intérprete de Libras ............................ 70 Tradução e Interpretação em Língua de Sinais como Objeto de Estudo: produção acadêmica brasileira: 1980 a 2006 .................... 78 Prolibras: A Formação e a Certificação do Intérprete de Língua de Sinais ....................................................................................... 105 RELATO DE EXPERIÊNCIAS DE INTÉRPRETES DE LIBRAS A Atuação do Intérprete de Libras no Sistema Educacional .......................... 106

A Atuação do Intérprete de Libras no Detran e Auto-Escola ......................... 109

A Atuação do Intérprete de Libras em Provas e Concursos .......................... 111

A Atuação do Intérprete de Libras em Conferência ....................................... 112

A Atuação do Intérprete de Libras no Interior do Estado ............................... 115

A Atuação do Intérprete de Libras no Sistema Judiciário e Policial ............... 117

A Atuação do Intérprete de Libras na Mídia .................................................. 119

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APRESENTAÇÃO

Nestas últimas décadas tem-se assistido ao fenômeno da globalização, em que ocorrem grandes movimentos de interação entre nações ou grupos determinados, que adentram esse milênio com boas perspectivas para seu desenvolvimento e grandes esperanças em seu futuro. Urge, então, a necessidade de momentos voltados para o resgate histórico de atuação de Profissionais Tradutores Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais em MS bem como a sua profissionalização e a busca por sua valorização.

O ponto relevante desse encontro foi a consolidação da ASSOCIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS TRADUTORES/INTÉRPRETES DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS DE MATO GROSSO DO SUL e o reconhecimento do profissional que atua no mercado ainda considerado amador, mas que necessita urgentemente de uma reestruturação e qualificação adequada.

Com o sistema cada vez mais competitivo a busca da qualidade dos serviços prestados torna-se uma meta prioritária para aqueles que desejam obter um melhor reconhecimento, o que só será possível através da união da classe, melhoria contínua da capacitação de interpretação e do nível de atendimento prestado ao surdo.

Nosso objetivo principal é prover ambiente propício para discussões, troca de experiências e conhecimentos entre os profissionais, fazendo com que se aproximem suscitando novas idéias na busca de sua profissionalização e valorização.

JOSÉ EDNILSON GOMES DE SOUZA JÚNIOR Presidente da APILMS

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OFICINAS

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VOCABULÁRIO TECNOLÓGICO DA LIBRAS

Milton Fernando Leonel Terrazas1

A idéia de fazer o Dicionário de LIBRAS para Informática 1.0 - DLI 1.0 -

surgiu durante meu curso de graduação em Tecnologia em Processamento de

Dados, quando me vi tendo de estudar e inventar os sinais para poder facilitar

meus estudos. Durante algumas conversas e experiências com outros alunos

surdos, intérpretes e professores. Decidi socializar o que já tinha em sinais com

os futuros alunos da minha área o que facilitaria muito não só o trabalho do

profissional intérprete, como também o aprendizado dos surdos. Nesses anos

de estudos, durante horas tive que estudar os significados das palavras, depois

de entendê-los trazia para o contexto lingüísticos da LIBRAS e fazia a

formação dos sinais.

A comunicação é hoje um fator imprescindível. Em se tratando de uma

relação professor-aluno, é mais importante ainda. A idéia de se criar um

dicionário de LIBRAS para área de informática/tecnologia veio para facilitar o

aprendizado, de futuros acadêmicos surdos, sendo também uma ferramenta de

consultas para professores e intérpretes. Dentro desse projeto estão os sinais

formulados durante o meu curso como: link, arquivo, programação, entre

muitos outros pesquisados, que totalizam 70 sinais.

Os surdos de hoje têm muitos problemas devido à precariedade da

comunicação, a sociedade ignora a LIBRAS e como conseqüência nós

sabemos muito pouco de Português.

Vivemos uma luta constante para não sermos alienados dos problemas

e atividades sociais. Dessa forma, muitos de nós já ingressamos em

faculdades, especializações e até em mestrados, nos deparando com

dificuldades ainda maiores.

Durante minha formação acadêmica as maiores dificuldade dos

intérpretes, que foram três durante o curso, foram em primeiro lugar não

dominar o assunto expositivo, pois suas formações eram em outras áreas.

1 Graduado em Tecnologia em Processamento de Dados e instrutor Surdo de Libras.

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Outro fator era não ter estabelecidos sinais específicos de informática. Assim,

juntos tivemos que estudar na formulação e pesquisa destes.

É muito importante essa inovação de cada área de ensino ter seus

termos técnicos traduzidos em Língua de Sinais, pois, como aluno surdo,

vivenciei a dificuldade da falta destes. Dividindo experiências com meus

colegas, verifiquei que todos estão passando pelas mesmas situações que

passei, seria inevitável o surgimento de trabalhos como estes, que acredito

futuramente já existiram em todas as áreas.

Hoje no mundo existem novas tecnologias na internet, televisão, etc, o

DLI 1.0 tem por objetivo ajudar aos surdos a acompanharem essas novidades

na área da informática. Pretendo somente ajudar meus colegas compartilhando

aquilo que criei, porque conhecedor das dificuldades relacionadas à falta de

comunicação e sinais específicos, sei que posso evitá-las aos futuros

estudantes da área de informática. Visando aprimorar cada vez mais o ensino e

a aprendizagem dos surdos, no Brasil.

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GUIA-INTÉRPRETE PARA PESSOAS SURDOCEGAS

Danielle Terezinha Mocelim1

Da comunicação e deslocamento dependem o contexto social do ser

humano, permitindo assim planejamentos e ações necessárias nos afazeres

cotidianos. Dessa forma, conhecer, entender e contribuir com esse sistema é

propiciar e criar oportunidades.

Comunicar-se de forma voluntária com qualquer pessoa e locomover-se

independentemente é desejo de todos, mas algumas vezes tais funções são

dificultadas por motivos alheios a essa vontade. Assim as pessoas que

apresentam concomitantemente dificuldades visuais e auditivas (surdacegas –

pré e pós-lingüísticas), convivem diariamente com tais dificuldades e para

superar essas barreiras, contam com o apoio de alguns recursos materiais,

tecnológicos e humanos específicos, dentre eles o guia-intérprete.

Guia-intérprete é aquele profissional que serve de canal de comunicação

e visão entre a pessoa surdocega e o meio no qual ela está interagindo (o

mundo). Sendo assim, esse profissional deve apresentar algumas habilidades

essências para que consiga transmitir todas as informações de modo fidedigno

e compreensível à pessoa surdocega. (Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e

ao Múltiplo Deficiente Sensorial, 2005)

Diante da significativa realidade, sobre as necessidades peculiares dos

surdocegos (pré-lingüísticos e pós-lingüísticos), o guia-intérprete deve ser um

profissional com graduação superior, titulação e certificação em cursos e

formações específicas, como: Orientação e mobilidade, formas de

comunicação utilizadas pelos surdocegos e adaptações de materiais.

O guia-intérprete precisa ser capaz de compreender as mensagens

através das diferentes modalidades de comunicação utilizadas pelos

surdocegos, contextualizar o sentido na língua de origem e destino para que

haja uma efetiva comunicação. Necessita possuir criatividade e habilidades

suficientes para descrever o que ocorre em torno da situação de comunicação

1 Terapeuta Ocupacional, Pós-Graduanda em Educação Especial e Guia-Intérprete do CAS/SED/MS.

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tais como: disposição e movimentação dos objetos e pessoas, características e

atividades envolvidas.

Este profissional atua em diversas situações formais e informais, sejam

elas realizadas em ambientes internos e externos, de cunho particular,

pedagógicas e culturais como: escolas, palestras, reuniões técnicas, igrejas,

fóruns judiciais, programas de televisão, domicílios, ruas, turismos e em

qualquer situação onde sejam necessárias comunicação e locomoção de

pessoas surdocegas.

Tem ainda o dever de proporcionar com segurança e tranqüilidade o

deslocamento e a mobilidade da pessoa surdocega no ambiente em que ela se

encontra, bem como em outros que por algum motivo ela necessite e deseje

estar. Lembrando que, toda pessoa possui características singulares,

habilidades, interesses e necessidades, que as diferem umas das outras, com

o surdocego esse também é um processo natural, e se este não contar com o

auxilio de um guia-intérprete eficiente, pode acarretar inúmeros prejuízos como:

não participar adequadamente de inúmeras atividades, não avançar em termos

educacionais, ficar desmotivados em eventos, pela falta de informações ou

porque a informação não lhes chega de forma satisfatória.

Precisa lembrar que é impossível ter profundo conhecimento a respeito

de tudo que cerca a humanidade, mas que é possível ter sensibilidade, estar

atento, e ampliar ao máximo sua bagagem cultural, para que a precariedade ou

a falta da mesma não seja impedimento ou barreira para a pessoa surdacega

se comunicar com desenvoltura, pois o guia-interprete é um instrumento que

permite seu desenvolvimento. Juntos, guia-intérprete e surdocego formam uma

equipe de trabalho como se fossem elos de corrente, onde cada um tem uma

função especial, e nesse percurso irão compartilhar muitas coisas particulares,

englobando caráter, personalidade, gostos e preferências, muitas vezes

encontrarão barreiras, e por isso necessitam ter e trabalhar a humildade, estar

bem física e emocionalmente para que a comunicação possa fluir

naturalmente.

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Bibliografia:

BRASIL, Grupo de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial- São

Paulo/SP

BUSCATÒ, j.m. Cómo desarrollar lãs relacionesinterpesonales. En Actas IV

Conferencia Estatal de Personas Surdociegas. Madrid: Asociación de

Surdociegos de España (2001)

MASINI, Elcie F. Salzano. Do sentido...pelos sentidos...para o sentido...-Niterói:

Intertexto; São Paulo: Vetor,2002

MORAL, Silvia Janaina. “Quebrando o Silêncio”Um breve documentário sobre o

mundo dos surdos- Ottoni Editora, Sorocaba 2005

JURGENS, Mary Rose. Confronto entre a criança surdacega e o mundo

exterior - Como tornar seu mundo viável através de estrutura organizada,

Projeto Horizonte- AHINSA/ PERKINS

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TENHA “OLHO CARO”: A INTERPRETAÇÃO DE EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA.

Neiva de Aquino Albres1

RESUMO: Tivemos como objetivo desenvolver um levantamento das expressões idiomáticas da LSB e desenvolver um estudo descritivo-analítico. Assumindo como ponto de partida a intuição de um falante nativo da língua, registrando 243 expressões comumente usadas por seus interlocutores surdos. Os vocábulos foram divididos em quatro categorias. a) LS e LP: expressões compartilhadas nas duas línguas com o mesmo significado; b) Língua Portuguesa e Língua de Sinais: mesma expressão com significados diferentes; c) LS e LP expressões diferentes com significados equivalentes, d) Expressões Idiomáticas específicas da Língua de Sinais.

INTRODUÇÃO

A palavra pode apresentar significados diversos dos encontrados no

dicionário, conforme o contexto na qual está inserida. A essa pluralidade de

significados dá-se o nome de polissemia. Ainda assim há os significados que

podem ser considerados sentidos denotativos, uso geral, comum, literal, para

finalidade prática, utilitária, objetiva, usual e outras com sentido conotativo uso

expressivo, diferente daquele empregado no dia-a-dia, depende do contexto.

Este último mais conhecido como sentido figurado.

A Língua de Sinais também apresenta conotação, pois utiliza-se das

figuras de linguagem para valorizar o texto, tornando a linguagem mais

expressiva. As figuras de linguagem podem estar relacionadas à escolha de

palavras, à estruturação da frase, à formulação das idéias ou à escolha de

fonemas de um texto (expressão, frase...) (MINCHILLO, TORRALVO,

PELACHIN, 2001)

1 Mestre pelo Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Fonoaudióloga, psicopedagoga, professora de surdos, intérprete de Libras. Diretora administrativa FENEIS/SP e professora assistente do curso de Letras/Libras UFSC no pólo USP - São Paulo.

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Page 13: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

SENTIDO DENOTATIVO

No Japão

aconteceu um terremoto

SENTIDO CONOTATIVO

Os vizinhos

estão “quebrando o

pau”

Tomamos como objeto de estudo a Comparação, Metáfora e metonímia. Há uma pequena diferença entre esses três processos Assim na

comparação estabelece a aproximação de dois seres (objetos, idéias,

realidades), por se perceber entre eles uma característica comum.

Gramaticalmente, a comparação é caracterizada pela presença de conectivos e

/ ou advérbios de intensidade. Já na metáfora a depreensão de uma

característica comum entre um ser e outro, pode determinar o emprego de uma

palavra no lugar de outra. Toda metáfora pressupõe uma comparação, cujos

elementos de comparação (nexos gramaticais) foram eliminados. Metáforas

simples fazem simples comparações, podem estar relacionadas à mudança de

sentido de uma palavra ou frase, como meter a mão em cumbuca, fazer das

tripas coração, estão relacionadas a imagens, como fumar como uma chaminé,

ficar de nariz torcido. Já nas metonímias substituem um elemento pela citação

de outro que lhe está relacionado, que lhe é próximo.

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Page 14: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

COMPARAÇÃO

METÁFORA

METONÍMIA

/ igual a/ parece com

Dinheiro voa

Cabelos brancos Há necessidade do uso de

termos de comparação: como, parece, tal qual.

Um termo substitui o outro Parte pelo todo

As publicações existentes sobre a LSB até o presente momento

apresentam o léxico de forma dura, sem discutir sua polissemia. A tradição

lexicográfica da produção da Língua Brasileira de Sinais é constituída da

produção de “dicionários” ou livros de Língua Brasileira de Sinais que

compilem os sinais por ordem alfabética ou por classes de palavras.

Parece não levar em consideração que as palavras e sinais têm carga

cultural, aditivadas com conotações que os membros da comunidade surda

atribuem.

Consideramos que pela característica objetiva e da língua de sinais, e

pela menor incidência de conectivos (preposições, conjunções) na fala

espontânea dos usuários da língua, é menos comum o uso da comparação em

detrimento ao uso de outras figuras de linguagem.

Tais evidências de uso da comparação talvez estejam no uso da língua

de sinais, em suas formas de narrar as histórias e/ou de adaptar histórias

clássicas, mas Karnopp (2006) denuncia que são praticamente inexistentes

textos que apresentem as narrativas que circulam entre surdos, contadas e

recontadas em língua de sinais.

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Page 15: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Assim, para construção da análise nos detemos apenas nas metáforas e

metonímias usadas para construção de expressões de uma língua,

respectivamente, que seriam instrumentos comparativos e relação de

proximidade ou vizinhança de sentidos que se transferem.

As expressões podem recorrer a diferentes analogias, como com as

partes do corpo, com animais, com termos de percepção, termos sensoriais,

termos de textura, termos de alimentação, termos de viagem/ deslocamento, as

emoções, estados mentais e atividades. Para este capítulo apresentaremos

apenas uma introdução a essas categorias e suas respectivas expressões na

Língua Brasileira de Sinais. Mas decidimos subdividir a apresentação em

quatro categorias que se referem mais ao processo analógico da Língua

portuguesa do que ao referente que é comparado. Coutinho (2000) já havia

registrado que as expressões idiomáticas da língua de sinais não são

necessariamente frases ou palavras iguais da língua portuguesa.

Faria (2005) já desenvolvera uma pesquisa semelhante, todavia na

perspectiva do leitor surdo ao tomar os textos escritos em português, fez a

opção por denominá-las de ‘fraseologismo’, pois são unidades lexicais com

mais de uma palavra. Procurou identificar a localização e interpretação de

pistas contextuais que levavam os alunos surdos a identificar blocos de

sentidos no processo de leitura. Constatou que para um trabalho com surdos é

necessário que se mostre a eles que “dentro dos diferentes contextos as

palavras mudam seu sentido original, “ressignificam” e surgem novas

possibilidades de interpretação, normalmente aceita pela comunidade que as

usa”. ( ibid, 2005, p.196)

Tomamos essa análise da interpretação, no sentido de procurar

identificar o objetivo da enunciação no contexto proferido. Consideramos que

os intérpretes de libras não podem se prender a relação palavra/sinal. Mas é

agente no processo de interpretação e esta passa por suas vivências e

constroe-se na subjetividade.

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Page 16: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Levantamos 243 expressões e as dividimos fazendo uma comparação

com a língua portuguesa

CATEGORIA EXEMPLO

1) Expressões compartilhadas nas duas línguas com significado equivalente:

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/AMOLAR/ : aborrecer,

importunar

2) Expressões compartilhadas nas duas línguas com significados diferentes

26

/COROA/

LP: mulher velha LS: pessoa entendida no assunto

3) Expressões diferentes com significados equivalentes

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LP: Te peguei no flagra

LS: /VER-HORA/ Existe uma correspondência perfeita de idéias, mas não nas formas usadas para representar essas idéias.

3) Expressões Idiomáticas específicas da Língua de Sinais

82

11

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0

50

100

150

Expressões idiomáticas da LibrasExpressões compartilhadas nas duas línguas com o mesmo significado;

Mesma expressão com significados diferentes

Expressões diferentes. Existe uma correspondência perfeita de idéias, mas nãonas formas usadas para representar essas idéiasExpressões Idiomáticas específicas da Língua de Sinais

Temos que aprofundar esse estudo, para tanto estamos procurando

trabalhar a luz da lingüística cognitiva. Wilcox (2004) e Wilcox e Jarque (2004)

apontam achados da pesquisa na lingüística cognitiva sobre Língua Americana

de Sinais e consideram essencial a análise da articulação entre metonímia,

metáfora e iconicidade.

Devemos fazer, neste momento, uma distinção entre língua e

modalidade. A língua é um sistema de uso e produto social, é um instrumento

do pensamento e de interação, está sempre em aberto e em construção. Não

há uma determinação unívoca dos significados do léxico “justamente porque se

determinam no discurso e pelo discurso adquirem novos matizes” (GERALDI,

2003, p. 78). Ao nos referirmos à modalidades, entendem-se canais por meio

dos quais as línguas são produzidas, e os principais são: o falado, o escrito e o

sinalizado (WILCOX, WILCOX, 2005).

Para a análise, delineou-se uma hipótese de partida. Se há essa forte

influencia, não seria apenas porque a língua é de modalidade gestual visual,

mas, sim, pela necessidade de concretizar as questões abstratas trazendo-as

para aspectos mais visíveis, ou melhor, sensitíveis aos seres humanos, como

uma aproximação conceitual de interpretação das questões mais abstratas.

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Page 18: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Essa modalidade gestual visual propicia a construção

da língua altamente ligada a iconicidade, pelo menos no diz

respeito à motivação inicial de ampliação do léxico. Se

analisarmos a construção do sinal para /PALHAÇO/,

encontramos o sentido denotativo (artista de circo que diverte

as pessoas) e sentido conotativo (cena ou ação ridícula).

Para construção do sinal utiliza-se a representação do nariz

de palhaço, relacionado à iconicidade. Recorta-se a parte

marcante da vestimenta de um palhaço, ou seja, o nariz

redondo e vermelho, e dele se constroe o léxico da língua.

Esse mesmo referente pode proporcionar em outro contexto discursivo o

sentido de prestar-se ao ridículo, ou até mesmo ser interpretado com a

expressão da Língua portuguesa “levar um bolo”, isso dependerá do contexto.

Neste exemplo identificamos um caminho para a construção da

expressão idiomática:

ICONICIDADE METONÍMIA METÁFORA EXPRESSÃO IDIOMÁTICA

Cabe ao intérprete na ação de seu trabalho não usar uma leitura

imediata, mas sim pensar em uma relação entre X e Y, buscando semelhanças

que viabilizem a metáfora na língua alvo, como um processo de decifração e

processamento analógico. A metáfora não precisa ser uma mínima palavra,

mas pode ser uma unidade semântica.

A metáfora é um processo pelo qual se transfere o significado próprio de

uma palavra para outra significação que lhe convém apenas em virtude de uma

comparação mental, como em: a chama do desejo, as luzes da alma. A

metáfora carrega dentro de si a oralidade, pertence à transmissão oral.

(CASULA, 2005)

Lakoff e Johnson (2003) afirmam que as metáforas têm sido pensadas

como fenômenos marginais, mas refutam essa idéia, pois consideram que as

metáforas são de importância vital para o próprio funcionamento da mente

humana, uma vez que sem a sua atuação constante, o pensamento em si se

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Page 19: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

tornaria impossível. Não a analisam apenas pelas suas características

relacionadas à linguagem, mas, sim, à própria atividade de cognição.

Esclarecemos que as expressões de uma língua podem recorrer às

metáforas (comparação) ou não. Por exemplo, boa sorte é uma expressão

idiomática em língua portuguesa compartilhada na LIBRAS, mas que não

recorre à metáfora, apenas é produzida por composição de duas palavras que

permanecem com seus sentidos isolados.

As metáforas podem tornar-se comum a ponto de ser considerado um sinal da Libras.

A metaforização é um processo de vasto uso na criação de léxico. Uma metáfora pode se vulgarizar a ponto de se converter em léxico. Em muitos casos, a percepção da origem metafórica chega a se dissipar. A metáfora lexicalizada, a rigor, deixa de existir como metáfora. (RADAMES, 2006)

Neves (1998) observou que as metáforas do cotidiano são usadas para

a produção do humor, geralmente com conotação sexual, como simples

comparação, mas como representação de experiências vividas.

As metáforas estão presentes em fábulas, contos e piadas de surdos que geralmente tematizam a importância da língua, cultura e identidade surda.

Revelam a situação bilíngüe social que os surdos vivem e criam humor a partir

das situações mais corriqueiras.

Após a apresentação das definições sobre as expressões idiomáticas da

Libras, passamos a construção da oficina para intérprete de Libras que

tematize o processo de transposição desses aspectos da língua de sinais para

a língua portuguesa e da língua portuguesa para a língua de sinais.

O objetivo principal foi de incluir os intérpretes nesse processo de

reflexão, caberia então propiciar situações de discussões entre os intérpretes e

surdos participantes, em que se pudesse contribuir com o processo de

interpretação, principalmente na interpretação da língua de sinais para língua

oral, uma solicitação antiga dos intérpretes.

Assim a dinâmica preparada para a oficina foi a formação de grupos (4

pessoas) e a distribuição de fichas que continham desenhos com expressões

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da Libras e frases com expressões em Língua Portuguesa. Incentivando os

grupos a discutir e apresentar as possibilidades de interpretação para a outra

língua, ao final sendo apresentado ao grupo todo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história da Língua de Sinais nos revela que ela foi por muito tempo

considerada pobre, e no período de uso da proposta educacional da

Comunicação Total foi subordinada à Língua Portuguesa. Atualmente estamos

em processo de descobrimento das riquezas e sutilezas da Libras.

Esse espaço de compartilhar as experiências dos intérpretes e surdos

pode contribuir para a melhor atuação dos intérpretes e o conseqüente acesso

à informação pelos surdos. A tomada de consciência das figuras de linguagem

existentes na Libras e a possibilidade de discussão (compartilhar) nos leva a

melhor compreensão do “mundo dos surdos”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARRION, Wellington. Expressões idiomáticas. Imaster. Acessado em 24/03/2005 <http://www.imasters.com.br/imprimir.php?cn=3220&cc=205> CASULA, Consuelo C. METÁFORAS - Para a Evolução Pessoal e Profissional. Rio de Janrito: Editora Qualitymark, 2005. COIMBRA, Rosa Lídia. Metáforas de perder e ganhar nos títulos de imprensa desportivos, in: ABREU, Luis Machado de (coord.) Diagonais contemporâneas das Letras Portuguesas, Avieiro, Fundação João Jacinto de Magalhães, 1996, pp. 161-169. FARIA, Sandra Patrícia. A metáfora na LSB e a construção dos sentidos no desenvolvimento da competência comunicativa de alunos surdos. Dissertação de mestrado do instituto de letras da Universidade de Brasília - UNB, 2005. _______Metáfora na LSB: debaixo dos panos ou a um palmo de nosso nariz? <143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=272&article=114&mode=pdf> Revista Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.178-198, jun. 2006.

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GERALDI, João Wanderley. In: XAVIER, Carlos Antonio e CORTEZ, Suzana (orgs.) Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística. São Paulo: Parábola, 2003 p.77-90. KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. Literatura, Letramento e Práticas Educacionais: Grupo de Estudos Surdos e Educação. <143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=272&article=114&mode=pdf> Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.98-109, jun. 2006 LAKOFF, O George e MARK, Johnson. Metáforas da Vida Cotidiana. Mercado das letras, 2002. NEVES, Marilene. Metáforas que nos Fazem Rir. IN: PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira (org) Metáforas do Cotidiano. UFMG, 1998. WILCOX, Sherman; WILCOX, Phillis Perrin. Aprender a ver. Editora Arara Azul: Rio de Janeiro, 2005. (Coleção Cultura e diversidade) RADAMES, Manosso. Elementos de retórica. acessado em 25/03/06 <http://www.radames.manosso.nom.br/retorica/metafora.htm>

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Page 22: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

TÉCNICAS DE INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUA DE SINAIS PARA LÍNGUA PORTUGUESA

Alessandro de Assis Rocha1

O que envolve a técnica de interpretar/traduzir?

Envolve um ato COGNITIVO-LINGÜÍSTICO ou ,seja, é um processo em

que o intérprete/tradutor estará diante de pessoas que apresentam intenções

comunicativas especificas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está

completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com

poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele

processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais,

gramaticais, semântica e pragmáticas na língua alvo, que devem se aproximar

o maximo da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o

intérprete/tradutor também precisa ter conhecimento técnico para que suas

escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de

interpretar/traduzir envolve processos altamente técnicos e complexos.

O que é técnica? O que poderia estar inserido em uma técnica?

É o procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm como

objetivo obter um determinado resultado, seja no campo da Ciência, da

Tecnologia, das Artes ou em outra atividade. Estes procedimentos não excluem

a criatividade como fator importante da técnica. A técnica implica no

conhecimento das operações, como o manejo das habilidades, tanto das

ferramentas como os conhecimentos técnicos e a capacidade de improvisação.

O mesmo que ferramenta, procedimento empregado para a utilização de

um método.

1ª ferramenta: Conhecimento prévio do assunto; Saber do que ele(a) vai falar

antes de traduzir (quando for apresentar um trabalho, em palestras, nos

FORUNS, delegacias, hospitais, etc...)

1 Graduado em História e Teologia, Pós-graduado em Ensino Especial, professor e Intérprete de Libras da APADA/DF e Presidente da APILDF.

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2ª ferramenta: Conhecer o surdo ou ter contato com o surdo (vivencia,

conhecer seus dialetos)

3ª ferramenta: Vocabulário amplo conhecer sinônimos (pra não ficar repetitivo –

ex: medo, pânico, aterrorizado).

4ª ferramenta: Cuidados com os vícios da língua portuguesa. (né, pois é, iai,

ele disse...).

5ª ferramenta: Ser fiel na tradução (fazer um paralelo entre a expressão e a

entonação).

6ª ferramenta: Tempo de movimento que se usa na língua de sinais fazendo

um paralelo com o ritmo da fala. Ex: isso é muito bom; foi muito bom te

encontrar.

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FUNDAMENTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS

José Ednilson Gomes de Souza Júnior1

A tradução e interpretação é uma prática necessária na humanidade

desde a Torre de Babel. Por meio do reconhecimento da Língua de Sinais

como meio legal de comunicação das comunidades surdas a participação

intermediadora do tradutor/intérprete tem sido cada vez mais evidente em

inúmeros espaços.

O que pretendemos nesta oficina é disponibilizar informações de modo

que a práxis do tradutor/intérprete de Língua de Sinais seja consolidada.

Mas quem é ou o que faz este profissional? O tradutor/intérprete de

Língua de Sinais é um intermediador lingüístico, ou seja, ele é o elo entre

interlocutores surdos a ouvintes. Jean Cohen oferece um esquema que nos

possibilita compreender este processo:

REMETENTE > Mensagem I > TRADUTOR/INTERPRETE > Mensagem II > DESTINATÁRIO

Este processo pode ser realizado de duas formas: Interpretação

Simultânea ou Interpretação Consecutiva. Além desses tipos de Interpretação

também podemos destacar a relais, retour e chochutage.

BARBOSA (1990) combinou elementos de estudos teóricos da tradução

já realizados e aglutinou um conjunto de procedimentos técnicos da tradução

que categorizam as escolhas do tradutor/intérprete. São elas:

1. Tradução Palavra-por-Palavra

2. Tradução Literal

3. Modulação

4. Equivalência

5. Omissão

6. Compensação

7. Explicação 1 Graduando em Comunicação Social e Normal Superior, Intérprete de Língua de Sinais e Presidente da APILMS.

19

Page 25: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

8. Reconstrução de Períodos

9. Melhorias

10. Transferência

11. Decalque

12. Empréstimos

Uma tradução ou interpretação poderá conter vários procedimentos

técnicos. Essas escolhas competem ao profissional e reflete diretamente na

qualidade do trabalho realizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

THEODOR, Erwin. Tradução – Ofício e Arte. São Paulo: Cultrix, 1976.

BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Procedimentos Técnicos da Tradução.

Campinas: Pontes, 1990.

20

Page 26: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

CLASSIFICADORES DE LIBRAS EM CONTEÚDOS ESCOLARES

Alessandra Souza da Cruz Daniel1

Renato Borges Daniel2

Classificador é um definidor que estabelece um tipo de concordância em

uma determinada língua.

Em Libras, os classificadores são configurações de mãos que,

relacionadas à coisa, pessoa e animais, funcionam como marcadores de

concordância. São formas que, substituindo o nome que as precedem, podem

vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação

do verbo.

Os classificadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é

marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as

duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número.

Os classificadores podem ser:

1. Classificador Descritivo: Refere-se ao tamanho, forma e textura. É usado

para descrever aparência de um objeto;

2. Classificador que especifica o tamanho e a forma de uma parte do corpo:

Refere-se ao tamanho, forma e textura de uma parte do corpo de um animal

ou pessoa;

3. Classificador de Parte do Corpo: Retrata uma parte específica do corpo em

uma posição determinada ou fazendo uma ação;

4. Classificador de Localização: Retrata um objeto em um determinado lugar

em meio a outros objetos;

5. Classificador Instrumental: Mostra como é usado algum objeto;

6. Classificador do Corpo: A parte superior do corpo do sinalizador se torna o

classificador que exprime o verbo da frase, especialmente os braços;

7. Classificador Semântico: Retrata um objeto em um lugar específico;

1 Instrutora Surda de Língua de Sinais. 2 Instrutor Surdo de Língua de Sinais.

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Page 27: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

8. Classificador do Plural: Ele indica o movimento ou a posição de um número

de objetos, pessoas ou animais;

9. Classificador de Elemento: Retrata o movimento de elementos ou coisas

que não são sólidas como: ar, água, fumaça, chuva, fogo, etc.;

10. Classificador de nome: Utiliza as configurações das mãos, do alfabeto

manual ou dos números, mas é parte de uma descrição.

Em uma interpretação existem algumas palavras que não possuem um

sinal próprio e é onde podem ser usados os classificadores. No contexto

escolar os classificadores são importantes em todas as disciplinas, na Física ou

na matemática, etc. Sabemos que para essas matérias muito dos conteúdos

são desprovidos de sinais correspondentes aos termos utilizados, mas a

explicação pode ser compreendida se usarmos os classificadores

corretamente. A expressão facial e corporal são itens indispensáveis para o

uso dos classificadores.

(Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES - www.ines.gov.br)

22

Page 28: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

PALESTRAS

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Page 29: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

ENTRE A VISIBILIDADE DA TRADUÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS E A (IN)VISIBILIDADE DA TAREFA DO INTÉRPRETE.

Andréa da Silva Rosa1

“A tradução é objeto privilegiado da prática(..).”

Silveira JR.(1983,p.33)

RESUMO:

O objeto do presente trabalho é discutir a prática do intérprete de língua de sinais, examinado pelo campo dos Estudos da Tradução; tais estudos abordam de diversas maneiras o que seja traduzir. Tomar esta perspectiva, no caso da educação de surdos, é uma novidade, uma vez que a tarefa do intérprete de sinais tem sido normalmente discutida a partir do enfoque da educação especial. Assim sendo, é usualmente considerado mediador da aprendizagem do aluno surdo (entendido como deficiente auditivo) na escola regular (entre alunos considerados “normais” porque falantes e ouvintes). A inexistência de estudos nessa direção, fez com que a autora definisse como objetivo, ainda que modesto, colaborar na produção de conhecimentos no campo da formação de intérprete de língua de sinais, fazendo de seu percurso um caminho possível para pensá-lo. Ao final, optou por assumir a visão de linguagem e tradução presentes no pós-estruturalismo, que traz a concepção de multiciplicidade dos significados, de participação dos sujeitos na construção destes, de suas diferentes leituras de mundo, e da desconstrução do mito da neutralidade do intérprete de língua de sinais.

PALAVRAS-CHAVES: Tradução, Intérprete de língua de sinais, formação.

A interpretação é a atividade mais antiga da história; os primeiros

intérpretes foram os hermeneutas, que se propunham a traduzir a vontade

divina para o povo.

Historicamente a interpretação é mais antiga do que a tradução, que depende da palavra escrita, mas ela se subtrai à quantificação documentada, uma vez que reside exclusivamente no âmbito da palavra falada. Apenas desde a invenção dos meios de gravação tornou-se possível documentar a ação dos intérpretes. (THEODOR, 1980, p.16)

Na Antiguidade, antes do Renascimento, os intérpretes raramente eram

mencionados; uma possível causa para esse fato era a primazia dada ao texto

1 Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp. Pedagoga/intérprete de língua de sinais – CEPRE/FCM/Unicamp. Docente do curso de Pedagogia da Universidade Paulista – UNIP.

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Page 30: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

escrito em relação à palavra oral. A posição social dos intérpretes pode

também explicar sua omissão nos anais da história: híbridos étnicos e

culturais, muitas vezes do sexo feminino, escravos ou membros de um grupo

social desprezado, isto é, cristãos, armênios e judeus que viviam na Índia

Britânica, esses intermediários não receberam nos registros históricos o

tratamento devido. (DELISLE e WOODSWORTH, 2003)

O conhecimento sobre o trabalho que os intérpretes de línguas orais

realizaram no passado tende a ser derivado de fontes tais como: cartas,

diários, memórias e biografias dos próprios intérpretes.

No passado, os usuários dos serviços de interpretação não distinguiam,

como fazemos hoje, entre as diferentes categorias de intérpretes: intérpretes

de conferências, de tribunal, acompanhamentos e comunitários. Esses

profissionais podem ser classificados de acordo com os vários papéis

desempenhados: a serviço do Estado ou de uma religião, em expedições de

descoberta ou conquista, a serviço de militares ou da diplomacia, muito

embora essas categorias às vezes se embaralhem. De qualquer modo, no

passado os intérpretes foram não só testemunhas da história, mas também

participaram do seu desdobramento. (DELISLE e WOODSWORTH, 2003)

A história dos intérpretes das línguas orais tem sido construída como

num mosaico de fatos. Entretanto, a história dos ILS ainda mal começou a ser

contada. O ILS até pouco tempo não era considerado como profissional, ou

seja, não era remunerado em qualquer situação, não tinha preocupação com

sua formação ou treinamento para o exercício da profissão. A história da

composição do ILS se embaralha com a própria história da língua de sinais.

Devido à inexistência de registros oficiais sobre a atuação do intérprete

de língua de sinais na sociedade, algumas lacunas provavelmente nunca

chegarão a ser preenchidas, especialmente com respeito àqueles períodos em

que as relações de poder conferiam demasiado prestígio à oralidade, proibindo

e desestimulando o uso da língua de sinais pela comunidade surda.

No Brasil, a profissão de intérprete ainda não é reconhecida e, por essa

razão, essa atividade abarcou profissionais de diferentes áreas, como:

pedagogos, fonoaudiólogos e pastores, entre outros. Vale ressaltar que esse

trabalho tem sido desenvolvido por profissionais que, em diversas situações,

realizam o trabalho de interpretação pelo envolvimento que possuem com os

25

Page 31: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

grupos e/ou organizações de surdos, pois nem sempre é possível esperar

remuneração (ROSA,2003).

Como resultado de este surgimiento “natural” de la interpretación, especialmente para personas sordas, se presentó y aún se da el hecho de que muchos jóvenes y niños oyentes hijos de padres sordos, quienes por esta situación son bilingües, han debido actuar como intérpretes aún desde edades muy tempranas, sin contar ni con la formación específica para tal fin ni con la mínima madurez requerida para enfrentar una tarea de la magnitud y responsabilidad que implica la interpretación. (PLAZAS, 2000, p. 130)

A interpretação em língua de sinais no Brasil é exercida, principalmente,

por pessoas que se tornam intérpretes de modo fortuito.

No Brasil a atividade de interpretação ocorre com maior freqüência nas

instituições religiosas; aliás, nesses lugares, a atuação do ILS tem sido uma

prática há décadas, mais exatamente desde o início dos anos 80, o que

explica que os melhores intérpretes de língua de sinais – salvo os filhos de

pais surdos - são oriundos das instituições religiosas.

Esse cenário começou a mudar quando as pessoas que atuavam, e

ainda atuam, em instituições religiosas começaram a ser convidadas a

intermediarem a comunicação entre surdos e ouvintes em congressos, mais

especificamente, sobre educação; posteriormente, muitos desses mesmos

intérpretes foram convidados a assumirem esse papel na sala de aula de

universidades e, mais recentemente, no ensino médio e fundamental, com

menor freqüência neste último. Porém, a sua presença ainda acontece como

concessão (e não dever) da instituição escolar. .

Até recentemente, a formação dos intérpretes acontecia exclusivamente

nos espaços religiosos, “formação” resultante da prática quase que diária da

atividade de interpretar.

Do ponto de vista do que se tem atualmente, a profissão de intérprete

de língua de sinais está ligada à Coordenadoria Nacional para Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, órgão governamental de cunho

assistencial. Segundo o Dicionário Houaiss (2003), “assistência” significa

amparo e proteção. Ou seja, o ILS é entendido pelo Estado como um

ajudador das pessoas surdas, diferentemente do tradutor/intérprete que está

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Page 32: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

enquadrado no 36º grupo no plano da Confederação Nacional das Profissões

Liberais (portaria no. 3264 de 27 de setembro de 1988 do Ministério do

Trabalho). Apesar de ser compreendida como uma profissão liberal, o trabalho

de tradutor/intérprete também não é regulamentado, como ocorre com o ILS.

A luta pela regulamentação da profissão de tradutor no Brasil data

desde de 21 de maio de 1974 e remonta à fundação da Associação Brasileira

de Tradutores - ABRATES. Os objetivos da ABRATES eram melhorar as

condições de trabalho do tradutor e aprimorar a qualidade profissional da

tradução. (ESQUEDA, 1999).

Em 1977 a ABRATES elaborou um projeto-lei para a regulamentação

da profissão no Brasil, que foi engavetado pelo Ministério do Trabalho. Uma

das razões da não aprovação da regulamentação da profissão do tradutor foi

justamente a necessidade da definição dos parâmetros da formação

acadêmica do tradutor, que está intimamente ligada à questão do que seja

traduzir e como se dá o ato tradutório. (ESQUEDA, 1999).

Vale ressaltar que um dos fundadores da ABRATES foi Paulo Rónai, e

o primeiro Conselho Deliberativo era constituído por: Aurélio Buarque de

Holanda Ferreira, Antônio Houaiss, Carlos Drummond de Andrade entre

outros.

O Sindicato Nacional de Tradutores - SINTRA foi criado a partir da

ABRATES, e tem dado continuidade na luta pela regulamentação da

profissão, orientando sobre tabelas de preços, cursos de aperfeiçoamento,

listas de discussão e outros para os tradutores e/ou intérpretes.

Interpretação

Atualmente tem-se pensado o trabalho do intérprete de língua de sinais

como um direito conquistado pelos próprios surdos de compreenderem, e

serem compreendidos, pela comunidade ouvinte, ou como resultado dos

movimentos das comunidades surdas frente à sua educação.

Todavia, a defesa da presença do intérprete de língua de sinais em

diversos segmentos da sociedade, e mais especificamente no campo da

educação, pode esconder discursos oralistas2.

2 A palavra oralista esta se referindo a ideologia oralista, que oferece susbtrato para a idéia que se deve se normatizar os surdos através do ensino da fala. O intérprete pode ser mais uma forma de normatizar a comunidade surda.

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Page 33: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A sociedade majoritária é ouvinte e usuária do português oral, não

conhecedora da língua de sinais, e nem se espera que todas as pessoas na

sociedade sejam fluentes na língua brasileira de sinais. Para possibilitar a

comunicação entre esses dois grupos lingüísticos existe o ILS. No meio

acadêmico, à prática tradutória escrita é denominada “tradução”, enquanto o

termo “interpretação” é utilizado para a referência à prática tradutória oral.

Ambos, los intérpretes de lenguas habladas y los intérpretes de lenguas de señas funcionan como mediadores entre miembros de diferentes grupos lingüísticos y culturales. No obstante, los intérpretes de lenguas de señas adicionalmente funcionan como mediadores entre miembros de una mayoria poderosa ( Los oyentes) y miembros de una minoria oprimida (Los sordos). Y muchos de los intérpretes de lenguas de señas, en virtud de su condición de oyentes son miembros de la mayoria poderosa. Este factor básico es de crítica importancia para entender el contexto en el cual trabajan los intérpretes. (PLAZAS, 2000, p. 135)

Diferente do tradutor, o ILS é visível, pois a língua de sinais se apresenta

numa modalidade visual-gestual; sendo assim, o ato interpretativo só pode

acontecer na presença física do ILS. Segundo Veras (2002), o intérprete é

tradicionalmente aquele que faz uma tradução ao vivo, usando a voz ou o

gesto, de corpo presente, representando como no teatro.

O prefixo INTER, na palavra intérprete, significa o que está entre uma língua e outra, pondo essas línguas em relação, criando uma afinidade entre elas. Os gestos da intérprete constroem o sentido do que digo; e ela depende disso que digo para sua construção, assim como dependo de seus gestos para que esta fala sobreviva. (VERAS, 2002).

O ILS viabiliza a comunicação entre surdos e ouvintes, identificando-se

com o orador, exprimindo-se na primeira pessoa, sinalizando e representando

suas idéias e convicções, buscando imprimir-lhes similar intensidade e mesmas

sutilezas que as do enunciados em português oral.

Interpretar nos es una simple transcodificación del mensaje en una nueva lengua; el principal reto de un intérprete consiste en transmitir el sentido del mensaje expresado

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Page 34: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

originalmente, en la lengua de destino. (PLAZAS, 2000, p. 131)

O trabalho do intérprete de língua de sinais consiste em pronunciar, na

língua de sinais, um discurso equivalente ao discurso pronunciado no

português oral (ou vice-versa).

O ILS trabalha em variadas circunstâncias, precisando ser capaz de

adaptar-se a uma ampla gama de situações e necessidades de interpretação

da comunidade surda, situações às vezes tão íntimas quanto uma terapia,

sigilosa como delegacias e tribunais, ou tão expostas como salas de aulas e

congressos. Existem vários tipos de interpretação, que podem ser consecutivas

ou simultâneas, sendo esta última a que contribui para a identificação imediata,

tanto do intérprete de língua oral como do ILS, por ser mais conhecida na

sociedade.

Na interpretação consecutiva, o intérprete senta-se junto à pessoa, ouve

uma longa parte do discurso e, depois, verte-o para uma outra língua,

geralmente com a ajuda de notas.

Na interpretação, o canal escrito pode servir de apoio à tradução simultânea, através da leitura prévia de resumos das conferências ou palestras a serem proferidas e/ou confecção de glossários, ou, no caso da tradução consecutiva, mais sistematicamente, pela tomada de notas, taquigráficas ou não. (AUBERT, 1994, p.63).

Embora, hoje em dia, a interpretação consecutiva tenha sido

amplamente substituída pela simultânea, continua a ser relevante em certos

tipos de reuniões, principalmente em: tribunais, almoço de trabalho, visitas a

locais de produção e investigação, ou ainda quando não existem equipamentos

adequados para a realização da interpretação simultânea. (DELISE e

WOODSWORTH, 2003).

No caso do ILS, a interpretação consecutiva ocorre quando este

profissional atua em situações de acompanhamento da pessoa surda, como:

consultas médicas, audiências em tribunal, entrevistas de emprego e sala de

aula.

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Page 35: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Todavia, o mais comum é o ILS fazer uso da interpretação simultânea,

ou seja, sinaliza a fala do ouvinte em tempo real, acompanhando, em frações

de segundos, o discurso produzido em português.

Nesse tipo de trabalho, não há espaços para pensar frases ou palavras

mais apropriadas; essa, aliás, é a diferença entre ser tradutor e ser intérprete.

Para algunos autores la características definitoria de la interpretación es que la transmisión del mensaje a la lengua de destino sea inmediata, lo que implica que el intérprete escucha un mensaje en una lengua y realiza el cambio del miso a la otra lengua con un breve lapso de tiempo de por medio, lapso apenas suficiente para oír y procesar el mensaje y al cual se le conoce por su nombre en francés: décalage. (PLAZAS, 2000, p. 132)

Mesmo quando o ILS conhece todas as palavras apropriadas, o ato

Interpretativo exige uma reação tão imediata que não há tempo para pensar:

faltam segundos, os sinais certos são lembrados uma frase mais tarde, quando

já não adiantam mais. Uma reação imediata apenas é possibilitada pela

combinação de conhecimento lingüístico das línguas envolvidas e a

capacidade e poder de decisão ultra-rápidos. (HOFMANN e LANG, 1987

p.271). Para realizar essa tarefa, é necessário ao intérprete de língua de sinais

conhecer os equivalentes entre as expressões típicas da língua de partida

(português) e as da língua de chegada (língua de sinais), nem sempre vertendo

em sinais todas as palavras pronunciadas pelo ouvinte, mas procurando

manter o sentido e buscando os efeitos produzidos pelo pronunciador do

enunciado oral (os mesmos efeitos possíveis por certos atos lingüísticos

marcados na prosódia, no corpo etc.).

A construção de frases na Libras possui regras próprias. Se compararmos com o português, observamos que em Libras não usarmos artigos, preposições, conjunções, porque esses elementos estão “dentro” do sinal. Modos e tempos verbais, sufixos e prefixos, são produzidos por movimentos das mãos no espaço, em várias palavras. Seria também impossível pensar em traduzir ao “pé da letra” uma frase sinalizada, para outra língua qualquer. (Por exemplo: em inglês, perguntamos: How old are you? (“quanto velho você é?”). Em português, corresponde a: “quantos anos você tem?”. Em Libras, sinalizamos: mão direita em “Y”, tocando de leve com o dedo

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Page 36: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

mínimo na altura do lado direito do peito, e uma expressão fácil da pergunta). (VALVERDE3, 1990 p.106.)

Nesse contexto, realizar interpretação para a língua de sinais não

significa sinalizar todas e/ou as mesmas palavras pronunciadas no português

pelo ouvinte, ou seja, ser literal. Assim sendo, é possível afirmar que ser

intérprete de língua de sinais é sinalizar, respeitando a estrutura gramatical da

língua de sinais, um discurso4 equivalente já dito no português, possibilitando,

dessa forma, a compreensão da mensagem pela comunidade surda. Ao ILS é

necessário tomar um tópico qualquer e entender a sua estrutura, estabelecer

um vocabulário em língua de sinais, habilidades estas sem as quais é

impossível interpretar.

Anderson (1978) describe la posición del intérprete como de potencial conflicto, en la cual el intérprete debe trabajar bajo presiones de tiempo, tensión mental y posible fatiga, mientras que toma decisiones rápidas. El intérprete pude desear ser simplemente un eco, pero los usuarios podrán intentar colocarlo en le papel de aliado o consejero. (PLAZAS, 2000, p. 136).

Isso leva, muitas vezes, a pessoa que pretende atuar como intérprete a

perceber que ela não teria condições de desempenhar profissionalmente essa

função.

Não se traduz, afinal, de uma língua para outra, e sim de uma cultura para outra; a tradução requer, assim, do tradutor qualificado, um repositório de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos poucos ampliando a aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor a que se destine seu trabalho. (CAMPOS, 1986, p. 27-28)

Nem sempre o profissional ILS tem consciência da necessidade de

atualização de assuntos gerais, o que se deve, principalmente, à concepção

assistencial de que se o surdo tiver alguma informação em LIBRAS já lhe é

4 Discurso, neste trabalho, será compreendido como [...]”colocação em funcionamento de recursos expressivos de uma língua com certa finalidade, atividade que sempre se dá numa instância concreta e entre um locutor e um alocutário.” (POSSENTI, 2001 p.64)

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Page 37: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

suficiente. Desse modo, é em parte compreensível que o trabalho do ILS ainda

esteja relacionado ao voluntariado. A presença do ILS não é considerada um

direito de cidadania, e sim um ato de benevolência as pessoas ainda

consideradas deficientes.

Penso o contrário: ao ILS é necessário estar em constante atualização

pois, como a comunidade surda pouco se beneficia dos meios de comunicação

de massa, uma vez que somente três canais de televisão possuem serviços de

legenda oculta5 e em horários pré-selecionados, são inúmeras as situações

em que o palestrante cita acontecimentos da atualidade para completar ou

significar a sua fala. Assim sendo, o ILS precisa estar pronto a esclarecer, para

a sua comunidade interpretativa, detalhes do assunto tratado pelo palestrante

ouvinte. Dessa forma, o assunto exposto sobrevive na língua de sinais.

Muitas vezes, a fim de estabelecer uma ponte entre as duas culturas a tradução tem que explicitar conhecimentos que são comuns entre os leitores do original, mas dos quais não partilham os leitores da tradução, por meio de notas de rodapé, glossários e outros recursos. (TRAVAGLIA, 2003 p.85).

As informações que são acrescidas pelo tradutor, nas notas de rodapé,

quase sempre acontecem, no caso do intérprete de língua de sinais, durante o

ato interpretativo.

Nessas situações, o intérprete terá que escolher entre ignorar o

desconhecimento do assunto pela comunidade interpretativa e seguir

interpretando todo o discurso - isto é, todo o discurso que for captado por ele -

ou interpretar menos informações do que está sendo dito e fazer com que a

idéia do palestrante seja de possível compreensão pela comunidade surda,

explicitando algumas informações já dadas como conhecidas pelos ouvintes e

acrescentando as novas, figuradas pelo palestrante.

O intérprete necessita fornecer pistas suficientes à interpretação e à

reconstrução do sentido na língua de sinais, tendo o cuidado, entretanto, de

não explicar excessivamente, para não restringir a compreensão dos surdos,

5 Os canais que oferecem esses serviços são: Rede Globo de Televisão, Rede RECORD de Televisão e Sistema Brasileiro de Televisão-SBT.

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Page 38: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

além da preocupação em não deixar conceitos totalmente desvinculados, que

vão dificultar ou até impedir o estabelecimento da coerência do discurso na

língua de sinais, ou seja, na língua de chegada.

Durante a interpretação, não raro, o ILS é interpelado pelo surdo, que

solicita esclarecimento sobre um sinal desconhecido. Normalmente, o

intérprete faz a opção por explicar o significado do referido sinal ou palavra que

possa ter sido soletrada por meio do alfabeto manual (datilologia).

Um exemplo disso ocorreu num congresso de alcance nacional, com

relação ao sinal inclusão. Após o ILS sinalizar repetidas vezes o sinal de

inclusão, muitos surdos presentes lhe perguntaram o significado daquele sinal.

O intérprete escolheu não continuar interpretando e, sim, esclarecer aos surdos

a que o orador estava se referindo quando mencionava a palavra “inclusão”.

Nessa ocasião, o palestrante fazia uso da palavra “inclusão” para

designar a entrada do aluno surdo na escola regular; inclusão, portanto,

significava surdos e ouvintes juntos na mesma sala de aula na escola regular,

qualificada como inclusiva. Depois de ter compreendido o significado do sinal,

um surdo formulou a seguinte pergunta para o palestrante: E, se o surdo quiser

estudar numa escola para surdos, ele pode escolher entre incluir-se ou não? O

entendimento da palavra, portanto, possibilitou a participação do surdo no

debate.

Porém, dessa opção, advém um questionamento freqüente: E o que

palestrante disse, durante o tempo em que o intérprete estava dando os

devidos esclarecimentos sobre a palavra inclusão, os surdos perderam? Em

meu ponto de vista, a minha resposta para essa situação especifica é não.

A perda estaria, a meu ver, em não compreenderem o contexto, a idéia

da mensagem do orador, em não poderem expor a sua opinião sobre a sua

própria educação, em não poderem estar incluídos pela palavra. O não-

esclarecimento ocasionaria uma suposta fidelidade e a ilusão de ser possível

transmitir tudo, durante o ato interpretativo. No momento em que o assunto foi

esclarecido, o discurso do orador ganhou sobrevida na língua de sinais. Vale

ressaltar que o sinal de inclusão surgiu devido à participação da comunidade

surda, com a presença do intérprete de língua de sinais, nos congressos sobre

a sua educação, nos quais este assunto tem sido abordado constantemente

pelos ouvintes. O próprio sinal de “inclusão” já seria, para parafrasear Derrida

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Page 39: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

(2002), uma sobrevida do discurso sobre a proposta de educação para os

surdos; ou seja, pela via da interpretação, os dizeres e os saberes produzidos

na língua de origem tem ecoado na língua de chegada, isto é, na língua de

sinais.

Em situações assim, o intérprete terá que escolher entre ignorar o

desconhecimento do assunto pela comunidade interpretativa e seguir

interpretando todo o discurso. Essa é sempre uma escolha conflitiva para o ILS

que, vale lembrar, em geral desempenha militância (política e /ou religiosa) no

campo da surdez.

Algumas vezes, por conta desse papel militante, muitas vezes se atribui

ao ILS a autoria do enunciado que ele próprio traduz, como se ele tivesse

ignorado o que o surdo tivesse sinalizado e criado seu próprio texto. Essa

atitude evidencia a desqualificação que se faz dos surdos, no que se refere a

sua capacidade de compreensão do assunto tratado; ao mesmo tempo, o

intérprete é desqualificado ao ser colocado no lugar do trapaceador ou traidor.

Além disso, existem outros fatos que impedem, ou dificultam, uma boa

interpretação, e que devem ser aqui considerados. Se o orador não tiver um

domínio da própria língua (português) e/ou do assunto, que lhe possibilite

expressar com clareza as suas idéias, ou seja, se a mensagem for emitida em

condições desfavoráveis na língua de partida, dificilmente será compreendida

pelo ILS. Freqüentemente, essa situação gera embaraço para o ILS e para os

surdos pois estes percebem a insegurança do próprio intérprete. Nesses casos,

os surdos tendem a interromper a interpretação e a pedir esclarecimentos.

Nessas situações, quando a platéia percebe que não está sendo

realizada uma interpretação coerente, é comum atribuir o fracasso ao ILS (às

vezes esse fracasso é mesmo da responsabilidade do próprio intérprete). E

haverá outros que irão atribuir a não-compreensão do assunto à falta de

capacidade da comunidade surda, reforçando o conceito da suposta

incapacidade do surdo. A responsabilidade pelo fracasso será julgada segundo

a concepção que as pessoas presentes têm sobre surdez, sobre a

interpretação e sobre comunidades surdas. Entretanto, nunca se questiona o

próprio orador, pois este já está revestido de imunidade (é falante da língua

majoritária, possui legitimidade institucional para falar - em geral, possui algum

título que o autoriza a estar na posição de palestrante ou professor/educador).

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Page 40: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Não podemos ignorar que o intérprete de língua de sinais raramente tem

acesso ao texto com antecedência, e, por essa razão, vai construindo a

interpretação na língua de sinais à medida que o orador vai expondo suas

idéias. Essa exposição, porém, nem sempre é seqüencial; usualmente, o

orador se perde na mensagem, dando voltas no assunto sem dar nenhuma

pista, o que deixa o intérprete perdido, nem sempre conseguindo retomar ao

texto. Nessas ocasiões, não raro, a platéia ouvinte também se perde. Quando

isso acontece, normalmente o ILS deixa de ser interlocutor/intérprete e torna-se

locutor na língua de sinais, criando, inventando seu próprio discurso, quando

conhece um pouco do assunto ou leu obras da pessoa que está com a palavra.

Assim, pode ser possível que ele, o intérprete, faça um discurso coerente e, de

modo geral, em concordância com o locutor ouvinte; caso contrário, o ILS

segue escapando totalmente da mensagem enunciada no português.

Os piores desses problemas, cabe notar, decorrem em geral de uma falsa noção de “liberdade” de alguns tradutores, que, no afã de se mostrarem “livres”, parecem esquecer a “necessidade” do cumprimento de um compromisso mínimo assumido para com o autor da obra original; tais traduções, em não raros casos, descambam para o plano de meras “variações” sobre o tema ou os temas do original, com toda a sua carga de conotações, além das suas especificidades denotativas. (CAMPOS, 1983 p.129)

Nem sempre, portanto, há equivalência entre os textos originais e os

vertidos em língua de sinais. O modo como o ILS entende que deva ser,

eticamente, seu papel também influi. Caso o ILS considere a língua

transparente e possível decodificar um único sentido no discurso, esse

intérprete realizará o seu trabalho da forma mais literal possível e, desse modo,

já estará agindo sobre o discurso, pois ignorar informações que seriam

necessárias para a compreensão da mensagem pelo surdo. O que lhe importa,

nesse caso, é a língua em si e não a compreensão e apropriação do surdo pelo

assunto exposto.

Em contrapartida, há aqueles que, partindo do pressupostos de que a sua

compreensão é a mais correta, realizam uma interpretação totalmente aleatória

em relação à fala do locutor ouvinte, criando seu próprio texto.

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Page 41: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Como vimos no item anterior, o ato interpretativo será efeito do

conhecimento que o ILS tem sobre comunidade surda, língua de sinais e

assunto versado.

Segundo Humberto Eco (1997), há uma grande diferença entre usar um

texto e interpretá-lo. O uso estende, sem nenhum parâmetro, o universo de

sentido do texto. A interpretação, ao contrário, respeita a coerência do texto, ou

seja, a unidade, a continuidade de sentido que ela possui e o contexto em que

está inserido. Se há algo para ser interpretado, a interpretação deve falar de

algo que deve ser encontrado em algum lugar, e de certa forma respeitado.

(ECO, 1987, p. 50).

Reportando-nos aos documentos da Coordenadoria Nacional para

Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE (BRASIL, 1996)

podemos dizer que, para o exercício da profissão de intérprete de língua de

sinais, são necessários três requisitos básicos: conhecimento sobre a surdez,

domínio da língua de sinais e bom nível de cultura.

“Conhecimento das implicações da surdez no desenvolvimento do indivíduo surdo” (BRASIL, 1996, p. 4)

Essa exigência, colocada pela CORDE, desmistifica a idéia de que o

intérprete de língua de sinais é neutro. Pois, como sabemos, há diferentes

concepções sobre a surdez e, ao cumprir esse requisito, o ILS já estará de

antemão constituído de um pré-conceito sobre a surdez e, conseqüentemente,

sobre a pessoa surda. Esta informação afetará diretamente a sua atuação

como intérprete.

A guisa de um rápido resumo, lembro que há dois modos distintos de se

entender a surdez. Para um deles, conhecida como clínico-terapêutica, a

surdez é vista como doença/déficit e o surdo como deficiente auditivo.

Considerando-se a surdez como um déficit, defende-se a tese de que a pessoa

com surdez necessita de um trabalho de reabilitação oral para suprir, ou sanar,

essa falta e, assim, ser “curada”. A “cura”, nos casos de crianças que nascem

surdas, está relacionada, na maioria das vezes, ao aprendizado da linguagem

oral, ficando implícito que, quanto melhor a sua fala for, melhor terá sido seu

processo de reabilitação. Nessa concepção, a língua de sinais é tida como

inferior à língua oral, e só é ensinada ao surdo quando adulto e quando este

não foi capaz de ser oralizado. (SILVA, 2000)

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Page 42: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Contrária à visão clínico–terapêutica, a visão sócio-antropológica utiliza

o termo “surdo” para se referir a qualquer pessoa que não escute,

independentemente do grau da perda (no melhor ouvido). Nesta visão, a

surdez é concebida como diferença e os surdos, como membros de uma

comunidade lingüística minoritária. Assume-se, nesta perspectiva, como direito

das crianças surdas o acesso à língua de sinais o mais cedo possível.

Considerar a surdez uma diferença implica, entre outras coisas, respeitar a

língua de sinais enquanto tal e aceitá-la como forma legitima de aquisição de

conhecimento pela pessoa surda. (SILVA, 2000).

A partir da escolha de uma dessas concepções, o ILS irá construir o

discurso em língua de sinais, podendo ser mais ou menos equivalente ao

discurso do ouvinte, dependendo do conceito que ele tem sobre surdez e,

conseqüentemente, sobre a língua de sinais.

No caso do intérprete de língua de sinais, se estiver inscrito na primeira

concepção, ou seja, na clinico-terapeutica, considerará o seu trabalho como

assistencial, se perceberá um ajudador que, no momento interpretativo, está

praticando uma boa ação. Por conta disso, geralmente aceita interpretar

gratuitamente, pois a sua satisfação está justamente em “ajudar os

necessitados”.

Normalmente quando se tem essa concepção, o intérprete pode sentir-

se perfeitamente à vontade para criar novos “sinais”, crendo estar ampliando o

“vocabulário das pessoas surdas”.

Essa atitude acarreta uma situação interpretativa de baixa qualidade, e

contribui para propalar vários estereótipos sobre os surdos, principalmente

aquele que diz que a língua de sinais pode ser aprendida facilmente e que é

simples. Do mesmo modo, pode endossar a classificação preconceituosa do

surdo usuário da língua de sinais como limitado em sua habilidade para

compreender e expressar pensamentos abstratos.

Quase sempre, quando um intérprete realiza um trabalho ruim, seja

utilizando a LS de maneira confusa ou simplista ou traduzindo o discurso de

uma pessoa com sinais ininteligíveis, é o surdo que se sente diminuído,

humilhado e desprezado intelectualmente.

Em contrapartida, se o intérprete tem como escolha a segunda

concepção, ou seja, tem a comunidade surda como minoria lingüística, a

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Page 43: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

postura durante o ato interpretativo será outra. Não se colocará, tão facilmente,

diante da comunidade surda como um protetor e sim de profissional da

tradução.

Terá, talvez, uma preocupação maior com a qualidade da interpretação,

e principalmente, terá menos (ou nenhum) preconceitos com relação a língua

de sinais. Essa atitude produzirá uma interpretação mais coerente e não

inferior a mensagem enunciada no português.

Ao se colocar como profissional da tradução, o intérprete de língua de

sinais tende a pesquisar sobre a sua atuação e a não se limitar a

aprendizagem decorrente da prática.

2.“Bom nível de cultura”, aqui neste trabalho compreendido como

conhecimento de mundo. ( BRASIL, 1996 p.4) Segundo Graça (2002), do ponto de vista da praticada tradução, a cultura

é, num sentido mais amplo, um lugar de conhecimento intersubjetivo que

permite atualizar, cada vez com mais eficácia, uma relação de equivalência

interlingual. A cultura permite intuir, reconhecer, experimentar ou investigar os

hábitos lingüísticos e extralingüísticos, as idiossincrasias e os mecanismos

inconscientes que podem estar por detrás da produção e recepção do texto de

partida e do texto de chegada. Segundo a autora este lugar de

operacionalidade é componente insubstituível da competência do

tradutor/intérprete.

Num sentido mais restrito, os conhecimentos adquiridos pelo intérprete

(ou a sua cultura) lhe permitem selecionar alternativas translatórias, nos casos

em que o contexto lingüístico e o contexto situacional não sejam suficientes,

porque, no ato tradutório, se atualizam horizontes de natureza ideológica,

lógica, emocional e textual.

De fato, nosso conhecimento de mundo é produto das nossas vivências

de cada dia, efeito de estudos, leitura e/ou experiências de vida. Adquirindo,

não se apresenta como uma espécie de massa desordenada e estática, mas

como algo dinâmico, que se renova e está disponível para ser ativado pelas

solicitações do cotidiano. (TRAVAGLIA, 2003).

Não me refiro, neste trabalho, às diversas experiências de mundo para

locutores diferentes dentro da mesma língua, mas considero o que poderia

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Page 44: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

ser comum e o que poderia ser diferente, numa esfera maior, para pessoas

pertencentes a diferentes grupos lingüísticos.

Os elementos lingüísticos que o texto oferece, porém, representam apenas uma parte daquilo que é necessário para que se possa estabelecer o seu sentido; a outra parte vem do conhecimento do mundo, esta espécie de grande dicionário enciclopédico do mundo e da cultura que temos na memória e que nos permite, então, fazer a ponte entre o lingüístico e o extralingüístico. (TRAVAGLIA, 2003 P.79)

Ao ouvirmos um discurso é o nosso conhecimento de mundo, com tudo o

que ele tem de complexo, que nos auxilia estabelecer as diversas ligações

necessárias para que esse mesmo discurso tenha significado, isto é, seja

coerente para nós. Para que possa ser compreensível, é necessário, pois, um

certo equilíbrio entre as informações “novas”, que constituem a própria razão

do discurso, e as informações “velhas”, isto é, os “dados” nos quais o receptor

ou público alvo vai ancorar-se para construir sentido.

Ao produzir um discurso, o locutor pressupõe que seu ouvinte

compartilhe de uma dose de conhecimentos que lhe possibilite entender o

assunto. Tanto é assim que, à medida que produz seu discurso, vai realizando

os ajustes necessários para evitar, ao mesmo tempo, o excesso de

informações novas e de informações supostas por ele velhas, o que tornaria o

discurso repetitivo e maçante para sua platéia. O público-alvo, ao ouvir o

discurso, situa-se, de certa forma, naquele circuito de conhecimentos

partilhados com o locutor do discurso original, o que lhe facilita a compreensão.

Quanto ao intérprete, que não deixa de ser um interlocutor especial, uma

vez que sua compreensão tem como objetivo a construção de um outro/mesmo

discurso na língua de sinais, podemos dizer que deve partilhar de uma dose de

conhecimento se não equivalente, pelo menos aproximada ao do receptor do

discurso original, isto é, da platéia ouvinte, mas também deve partilhar do

conhecimento da comunidade surda a quem está sendo destinada a

interpretação.

“A atividade tradutória é inerentemente intelectual – portanto, o exercício

intelectual, seu alicerce”. (ALFARANO, 2003, p. 37).

O ILS, na realidade, partilha dos dois mundos veiculados pelas duas

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Page 45: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

línguas: o do original (português) e o da interpretação (língua de sinais).

O ILS é quem se encarrega de (re)conciliar, num outro/mesmo discurso,

essas diferentes visões de mundo e, nessa mediação, estará presente a

própria visão de mundo do intérprete, que normalmente é um ouvinte, e iniciou

a sua participação na comunidade surda já na idade adulta.

3.3. “Domínio da língua de sinais, que compreenderemos como conhecimentos lingüísticos.”(BRASIL, 1996 p.4)

O intérprete em geral só adquire fluência na língua de sinais na

convivência com a comunidade surda. Vale lembrar que a oferta de cursos de

língua de sinais com instrutores surdos é bem recente; na cidade de Campinas,

especificamente, esses cursos começaram a ser divulgados em 19996.

Anteriormente a esse período, os cursos de língua de sinais eram oferecidos

por ouvintes que já realizavam trabalhos em instituições religiosas.

Normalmente, os cursos eram oferecidos gratuitamente.

Atualmente, existem, em algumas cidades brasileiras, tais como: Rio de

Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, cursos oferecidos pela

FENEIS, com instrutores surdos, que ensinam sobre gramática da língua de

sinais. Mas nem todos os intérpretes que atuam nas instituições de ensino

realizaram esses cursos; na sua grande maioria, a fluência da língua de sinais

está nas mãos daqueles profissionais que possuem constante contato com a

comunidade surda fora dos espaços institucionais, ou seja, nas associações,

shoppings e em eventos diversos.

Não podemos, de forma alguma, descartar como auxílio para os

intérpretes os dicionários de língua brasileira de sinais produzidos

recentemente. Existem dois dicionários em formato de CR-ROM: um produzido

por surdos do Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES7, na cidade

do Rio de Janeiro, e outro produzido pelo Governo do Estado de São Paulo8,

ambos oferecidos gratuitamente. E há ainda, produzido na USP, pelo

6 A principio o curso começou a ser oferecido na Faculdade de Educação da UNICAMP, no Centro de Pesquisas e Estudos em Reabilitação Prof. Dr. Gabriel Porto – CEPRE e posteriormente na Associação de Surdos de Campinas – ASSUCAMP. 7 Dicionário Digital da Língua Brasileira de Sinais – versão 1.0 – Secretaria de Educação Especial- SEESP-MEC-INES. 2002. 8 Dicionário de LIBRAS Ilustrado – Governo do Estado de São Paulo , junho de 2002.

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Page 46: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

pesquisador Capovilla9, o Dicionário Trilingüe da Língua Brasileira de Sinais,

que é composto por dois volumes, onde podemos encontrar a palavra em

português, o sinal em língua de sinais, a palavra em inglês e na escrita da

língua de sinais. É uma obra gigantesca, indispensável a todos os intérpretes.

E ainda há os vídeos de histórias infantis, em língua de sinais, produzidos por

surdos do INES, e também os vídeos produzidos pela LSBvideo, com histórias

infantis, fábulas, números e outros dados variados .

Todo esse material tem contribuído para o aperfeiçoamento do ILS, pois,

através desses recursos tecnológicos, os intérpretes se apropriam de conceitos

construídos para o estudo da língua de sinais tais como: classificadores,

expressão corporal, expressão facial, gramática e outros.

Também na convivência com os surdos, o ILS desenvolve o seu

conhecimento de sinais, que excede os seus aspectos formais e que abrange

os usos sociais dela (expressões idiomáticas, trocadilhos, etc) que dela são

constituídos. Durante o ato interpretativo, tais conhecimentos poderão ser

utilizados como recursos lingüísticos, na ocasião em que o locutor ouvinte fizer

uso de termo engraçado e que, não raro, nada significa para o surdo. Dessa

forma, é possível produzir-se, nos surdos, a mesma reação que se desejou

produzir na comunidade ouvinte.

O conhecimento lingüístico, ou seja, o conhecimento dos recursos de que dispõem tanto a língua de partida quanto a língua de chegada para concretizar a intenção comunicativa dos seus falantes é de inegável importância para o tradutor, uma vez que este parte de um objeto concreto e deve chegar a outro objeto concreto; trabalha a partir das marcas formais da língua de partida e deixa impressas marcas formais na língua de chegada. ( TRAVAGLIA, 2003, p. 78-79)

Uma questão bastante ignorada na formação de intérpretes de língua de

sinais é o quanto esse profissional deveria conhecer a língua portuguesa;

talvez seja pelo fato de: a) o não reconhecimento do direito do cidadão surdo

ter um profissional competente; b) a imagem desqualificada e assistencial do

ILS qualquer um serve; c) a LS é concebida como um código de segunda

9 Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilingue da Língua de Sinais Brasileira, Vol. I e I: Sinais de A à Z/ Fernando César Capovilla, Walkiria Duarte Rafathel: ( Editores) Ilustração: Silvana Marques. São Paul: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.

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Page 47: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

ordem em relação ao português – qualquer um que fale português e conheça

os sinais também serve.

Se o ILS não tiver conhecimento do português, provavelmente terá

dificuldade em ser coerente na construção do discurso em língua de sinais, ou

poderá omitir um trecho da mensagem, por não conhecer o vocabulário

exprimido pelo locutor.

La proficiência en las dos lenguas es un aspecto fundamental para el buen desempeño de la interpretación pues la falta de conocimiento del funcionamiento de la lengua de señas o de la lengua oral, en una situción particular de comunicación, poe ejemplo, cuando el intérprete se enfrenta a palabras técnicas que ignora o a expresiones propias de una de las dos lenguas que desconoce, pueden llevarlo a utilizar le lengua que domina con mayor fortaleza ante la situación, sacrificando la comprensión del receptor sordo o sordociego. ( PLAZAS, 2000, p. 135)

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Page 51: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

“DA MISSÃO À PROFISSÃO: PRODUZINDO NOVAS EXPERIÊNCIAS DA SURDEZ”

César Augusto de Assis Silva1

RESUMO: O objetivo desse artigo é expor, de maneira breve, alguns dados de minha etnografia sobre as relações do campo religioso brasileiro que se ocupa dos surdos e as transformações históricas pelas quais a surdez tem passado desde as últimas décadas do século XX. Procuro evidenciar como algumas instituições religiosas se destacam, por diferentes razões, e como a experiência missionária protestante parece desempenhar um importante papel por ter engendrado um modelo de intérprete, e nesse processo, contribuído para a conformação da surdez como diferença lingüística no espaço público.

PALAVRAS CHAVES: religiosidade; atividade missionária; formação de intérprete.

Desde quando me propus a realizar uma reflexão antropológica sobre

surdez e, para tanto, iniciei a minha etnografia em locais em que surdos se

encontram na cidade de São Paulo, shoppings e bares sobretudo, chamou-me

a atenção o grande número de ouvintes, amigos de surdos, presentes nesses

locais, que possuía trajetória religiosa protestante. Somado a isso, o fato de

somente haver intérprete televisivo, naquele momento, para apresentações

religiosas - missas da TV Canção Nova e cultos da Igreja Internacional da

Graça de Deus - e o fato de um número expressivo de intérpretes possuir

origem protestante fizeram com que eu percebesse a necessidade de realizar

uma reflexão que dialogasse as experiências do campo religioso brasileiro que

se ocupa dos surdos com as transformações pelas quais a surdez tem passado

desde as últimas décadas do século XX.

Não são poucas as instituições religiosas cristãs que possuem atividade

de congregação específica para os surdos. Essa prática está bastante

espraiada e é realmente difícil reconstruir com exatidão quais foram os

caminhos que permitiram sua proliferação. Entretanto, algumas instituições se

destacam, seja pelo seu pioneirismo, pela sua grande difusão ou pela

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Page 52: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

capacidade de criar modelos de comunicação entre surdos e ouvintes que não

parecem ter ficado restritos ao âmbito religioso.

O objetivo deste artigo é fazer uma brevíssima reflexão sobre o papel

que as experiências religiosas tiveram para fundar um modelo de intérprete de

língua brasileira de sinais (Libras). Para tanto, é necessário que primeiramente

nos perguntemos sobre o processo de constituição da atividade de

interpretação, desnaturalizando essa prática e nos lembrando que ela é

relativamente recente. Ademais, é necessário considerar que nem todas as

vertentes do cristianismo que se ocupam dos surdos formam intérpretes, não

havendo nenhuma relação necessária entre essas duas variantes. Portanto, a

questão que cabe compreender é por que algumas experiências religiosas se

obstinaram em formar intérpretes e por quais mecanismos essa prática parece

ter influenciado experiências seculares relacionadas à surdez.

Entre a enorme diversidade de instituições religiosas que se ocupam dos

surdos nos parece que quatro possuem um papel histórico de indubitável

destaque; quais sejam, a Igreja Católica, a Igreja Evangélica Luterana do

Brasil, a Testemunhas de Jeová e a Igreja Batista. Pretendo, de maneira breve,

fazer algumas considerações sobre essas experiências, justificando as razões

pelas quais vou me deter nas experiências protestantes.

Embora a Igreja Católica possua um papel basilar na história da surdez,

não nos parece que tenha sido essa instituição a primeira a colocar em questão

a necessidade de intérpretes para os surdos. Suas maiores contribuições foram

a fundação de escolas especiais ao longo do século XX, em diferentes regiões

do Brasil; a fundação de algumas associações de surdos, direta ou

indiretamente, por meio de padre Vicente Penido Burnier; e por fim, as

publicações do padre norte-americano redentorista Eugênio Oates sobre a

“linguagem das mãos” (Oates, 1988 [1969], 1990 [1961]), que parecem

constituir capítulos fundamentais da história da Libras.

A instituição religiosa de caráter milenarista Testemunhas de Jeová

possui também um notável destaque no campo religioso que se ocupa dos

surdos. Iniciou essa atividade em meados dos anos 1980 no Rio de Janeiro, e

tal como a experiência luterana e batista, que tratarei a seguir, também

1 Antropólogo doutorando em Antropologia Social pelo FFLCH/USP.

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Page 53: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

formava intérpretes de maneira pioneira. Entretanto, no final dos anos 1990 e,

paulatinamente, no presente século, essa instituição religiosa passou a

produzir incessantemente matérias em Libras e a realizar suas reuniões nessa

língua, tornando desnecessária a prática de interpretação, fundando as

“Congregação em língua de sinais” em alguns Salões do Reino. O foco deixou

de ser formação de intérpretes e passou ser a tradução de suas publicações e

a formação de preletores (surdos e ouvintes) fluentes em Libras, o que tem

consistido uma experiência ímpar na experimentação dessa língua. De

qualquer modo, a prática de interpretação ainda desempenha um importante

papel no período que antecede a fundação da “Congregação em Língua de

sinais”, e não são poucos os membros ouvintes dessa instituição que atuam

profissionalmente como intérpretes no meio secular.

A Igreja Evangélica Luterana do Brasil possui um papel histórico

fundamental no processo de formação de intérpretes. O pedagogo e Pastor

Ricardo Ernani Sander entre outros luteranos, já no início nos anos 1980 em

Porto Alegre, difundiram a prática de interpretação e a Comunicação Total, que

sucedeu as práticas oralistas, no meio luterano e laico. Embora seja necessário

levantar mais dados para compreender a importância dessa experiência e os

seus desdobramentos, sugiro que os limites da difusão da prática de

interpretação por essa experiência estejam dados pela sua concentração na

região Sul e pelo seu caráter de “protestantismo de migração alemã”

(Camargo, 1973).

A Igreja Batista, por razões semelhantes à experiência luterana, se

destaca nesse processo pelo pioneirismo da prática de interpretação. Segundo

relatos de informantes, a atividade missionária com surdos iniciou-se no final

dos anos 1970, em Campinas, com a vinda de missionários norte-americanos.

A difusão dessa prática se deu sobretudo por meio das Igrejas Batistas de

tradição histórica ligadas à Convenção Batista Brasileira. É possível que nem

toda a experiência batista com surdos seja oriunda dessa região, pois também

há relatos de jovens batistas brasileiros que visitaram os Estados Unidos e

tomaram conhecimento de tal atividade, o que os fez iniciar essa prática em

suas congregações. De qualquer modo, a influência norte-americana e a

iniciativa de jovens missionários são constantes nessa experiência, assim

como nas experiências luterana e da Testemunhas de Jeová.

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Page 54: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Para além do pioneirismo, a experiência batista se destaca por uma

série de outras razões. Foi sobretudo essa experiência que fez da atividade

missionária com surdos sinônimo de interpretação e liderança de Ministério.

Por conta disso, embora o objetivo fundamental do trabalho missionário seja

“converter” surdos para o cristianismo, indiretamente, essa instituição se tornou

uma grande formadora de intérpretes em diferentes regiões do Brasil.

Acampamentos e encontros pluridenominacionais e oficinas do pastor Marco

Antonio Arriens – de formação teológica batista, que esteve durante cinco anos

na Igreja do Evangelho Quadrangular - fizeram com que essa prática se

desdobrasse para todo o campo religioso brasileiro, não ficando restrita ao

âmbito batista. Somado a isso, a penetração considerável em médias e

grandes cidades brasileiras e o fato de ser “protestantismo de conversão”

(Mendonça, 1989; Camargo, 1973), ampliou a capacidade dessa prática se

multiplicar.

As experiências protestantes com surdos citadas, batista e luterana, e os

seus desdobramentos pentecostal, neopentecostal e adventista, são

formadoras por excelência de um modelo de intérprete que parece ter se

desdobrado para esfera secular. É precisamente disso que se trata esse artigo.

A partir da minha etnografia e entrevista com atores sociais que tiveram um

papel fundamental nesse processo, pretendo de maneira preliminar expor um

pouco desse argumento. Embora meus dados tenham sido coletados

sobretudo em Igrejas Batistas, descrevo essa experiência como protestante,

pois acredito que seja parte de um processo mais geral.

A experiência protestante: a fundação de um modelo de intérprete.

O modelo de atividade missionária com surdos que veio dos Estados

Unidos foi fundamentalmente do missionário de surdos que atua

necessariamente como intérprete, figuras que se tornaram indissociáveis na

experiência protestante. Coube a esse missionário se tornar um mediador

fundamental, transformando todos os sons da igreja em expressões visuais, ou

seja, em termos apreensíveis aos surdos.

É necessário considerar que essa experiência não se constituiu pela alta

hierarquia da congregação, mas pela base. Foram os jovens missionários,

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Page 55: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

alguns adolescentes, com um “chamado” que iniciaram esse trabalho, muitas

vezes contrariando os poderes estabelecidos na igreja. Geralmente, o

intérprete começou no fundo da igreja, ou nas galerias superiores, sentado;

paulatinamente, com o desenvolvimento dessa atividade e para permitir uma

maior funcionalidade da interpretação, ele veio para o palco ou para a frente do

palco, para se posicionar em pé; e os surdos tomaram as primeiras fileiras em

frente ao intérprete. O intérprete e os surdos fixaram os seus lugares na igreja,

muitas vezes contrariando a opinião de músicos, coral, diáconos, pastores e

outros membros, que se incomodavam com essa disposição espacial

privilegiada. Dada a distância entre intérprete e surdos, no momento do culto, o

meio de comunicação estabelecido foi essencialmente visual.

Ainda é necessário inventariar com precisão por quais meios intérpretes

e surdos garantiram um espaço no culto e uma sala no prédio com móveis e

materiais para o Ministério dos surdos. De qualquer modo, esse processo

parece ter sido uma importante conquista histórica, visto que surdos puderam

se conformar como um grupo diferente lingüisticamente com direitos na

congregação, ainda que, paradoxalmente, boa parte dos membros da

congregação possa não vê-los dessa maneira. Evidentemente, que o

intérprete-missionário, por conta de geralmente liderar o Ministério, teve um

papel político fundamental ao falar em nome dos surdos frente a uma

congregação ouvinte. Ele pôde se tornar um especialista em “cultura surda”,

cabendo a ele explicar aos demais membros que o surdo não é “surdo-mudo”

ou “deficiente auditivo”, que a Libras é uma língua, e não uma linguagem, e

tecer infinitas comparações entre surdos e ouvintes. É necessário lembrar que

em termos práticos, mesmo quando a comunicação dos surdos não era

reconhecida oficialmente como língua, ela foi utilizada como tal na experiência

protestante, por conta da prática de interpretação.

Devido a centralidade dessa atividade missionária ter sido o intérprete,

ele foi exercitado de maneira extenuante, em certos casos cotidianamente, e o

culto foi o local por excelência desse treino. Como tudo na experiência

protestante está no plano da oralidade, não havendo representação imagética

alguma, o intérprete teve que converter essa rica discursividade para termos

visuais. A interpretação das pregações, dos testemunhos, das leituras bíblicas,

50

Page 56: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

dos louvores, das orações e dos avisos permitiu o desenvolvimento de um

know how interpretativo que parece não ter paralelo em outros contextos.

Essa atividade de interpretação não era meramente técnica. Por estar a

serviço da missão cristã, o intérprete fez de seu corpo instrumento divino para

converter um “povo” e a interpretação constituiu um momento de adoração a

Deus. Por conta disso, geralmente a interpretação assumiu um caráter plástico

e performático, o que foi acentuado quando ela esteve colada aos louvores,

arte protestante por excelência. O carisma individual se tornou requisito

imprescindível para o sucesso dessa prática e, nesse processo, os intérpretes

colocaram em circulação uma estética da surdez e da Libras.

Para além da prática de interpretação, que implicou necessariamente

uma relação de intersubjetividade entre surdos e intérpretes, ou seja, um

acordo sobre os sentidos dos sinais, a própria prática protestante de conversão

radicalizou a experimentação da Libras como língua mediadora de relações.

Não foi por acaso que a Bíblia se tornou um livro com conteúdo bastante

sinalizado e as Escolas Bíblicas Dominicais constituíram local de trocas

lingüísticas riquíssimas e momento de comparabilidade entre português e

Libras. Isto ocorreu, pois está propriamente no cerne de toda atividade

missionária protestante a tradução lingüística como condição imprescindível

para o entendimento da Palavra pelos “povos não alcançados” pela missão

cristã (Almeida, 2006).

Ao fazer com que os surdos fossem vistos como um “povo” a ser

cristianizado, indiretamente a experiência protestante acabou por formar um

modelo de intérprete. Esse modelo consiste no intérprete que se posiciona em

pé, do lado oposto ao preletor; que interpreta para um público surdo,

independente de laços de sangue ou afinidade; que faz de seu carisma

individual um requisito fundamental de sua prática; que se tornou especialista

na conversão de som em imagem e português em Libras; que interpreta de

maneira plástica e performática; por fim e mais importante, que se tornou um

ator político fundamental nos processos de reivindicações dos direitos dos

surdos.

51

Page 57: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Desdobramentos para o meio secular.

A importância dessa experiência religiosa para a história da surdez foi

que esses intérpretes tornaram-se mediadores fundamentais entre surdos e a

sociedade civil mais ampla. Conteúdos de toda ordem, não somente religiosos,

foram traduzidos para Libras. Esses jovens passaram a interpretar em diversos

locais e instituições sociais, primeiramente voluntariamente e/ou a serviço da

missão cristã, e num segundo momento, profissionalmente. Tiveram um papel

crucial na mediação entre as reivindicações de um movimento social surdo e o

Estado, assim como entre os intelectuais dos Estudos Surdos2, em Simpósios

e Congressos, e a platéia surda. Atuaram em intermediação de conflito entre

surdos e autoridades oficiais (promotor, juiz, advogado, polícia, etc), bem como

entre surdos e pais e/ou professores. Estão desempenhando um importante

papel na reforma pedagógica em curso, que visa garantir o acesso à educação

em Libras para os surdos, bem como na inclusão de surdos em empresas que

os contratam para vagas de “deficientes”. Portanto, a conformação da surdez

como diferença lingüística no espaço público está diretamente vinculada a

atuação dos intérpretes.

A prática de interpretação inventada, desenvolvida, sistematizada e

treinada no interior das igrejas se desdobrou para a esfera secular. Os padrões

estéticos – como interpretar, com quais roupas e de quais cores, posicionando-

se em qual ângulo, em qual fundo, com quais velocidade e intensidade – e

éticos – o que e quando interpretar, tendo honestidade, sigilo, fidelidade,

confiabilidade – desenvolvidos no interior da experiência religiosa tornaram-se

técnicas da profissão. Ademais, a interpretação televisiva, primeiramente

treinada em transmissões religiosas católicas carismáticas e neopentecostais -

instituições mais afeitas com tecnologias de mídia (Mariano, 1999) - tornou-se

obrigatória em propagandas políticas e comunicações oficiais do Estado.

Evidentemente que nem todos os intérpretes vêm do meio religioso, é

necessário considerar que alguns parentes, namorado(as) e professores de

surdos também se tornaram intérpretes. Entretanto, não nos parece que outras

2 O que estou chamando de Estudos Surdos são publicações de lingüistas e pedagogos, que surgiram a partir dos 1990, que afirmam a Libras como língua e a necessidade de uma educação bilíngüe para os surdos. Como exemplo, livros de Ronice Quadros e Carlos Skliar.

52

Page 58: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

configurações sociológicas tenham desenhado um modelo de intérprete

dominante e feito espraiar esse modelo. Intérpretes que possuem origem laica,

provavelmente, tiveram que se associar com intérpretes de origem religiosa e

se enquadrar num modelo que veio dessa experiência.

Por conta dessa trajetória pioneira que garantiu ricas experiências, o

intérprete de origem religiosa, algumas vezes já desvinculado dessa

experiência, teve um importante papel na conformação do campo profissional.

Entre as razões que lhe confere uma certa proeminência, estão elas: ter se

tornado modelo para os intérpretes em formação, fora e dentro da igreja; ter se

tornado intérprete oficial de líderes do movimento social surdo; ter circulado na

tv entre famosos; ter se tornado intérprete de intelectuais dos Estudos Surdos;

ter sido contratado por partidos políticos e pelo Estado para interpretação

televisiva; estar se organizado em associações de classe e ter contato com

organizações semelhantes no exterior. Essa trajetória, que lhes confere status

e poder político, faz com que ele tenha legitimidade para a avaliação de outros

intérpretes.

Como essa tecnologia, a interpretação para Libras, foi desenvolvida para

atender os interesses da missão cristã, é possível que surjam algumas

contradições no momento em que ela é transbordada para o mundo secular

sob uma lógica de mercado.

Em termos bem gerais, a atividade missionária implicou numa relação

calcada na atividade de interpretação voluntária, sem tempo determinado;

interpretação essa motivada por uma ética cristã, em que o intérprete tinha o

dever moral de mostrar o que é certo e errado para o surdo, dando a sua

opinião de cristão. Ademais, o intérprete, de certo modo, desempenhou outras

atividades que não somente de intérprete, mas também de pastor, professor,

psicólogo, advogado, médico e protetor, ou seja, uma certa assistência esteve

presente. Evidentemente, que não estou querendo reduzir essa relação surdo-

intérprete a mero assistencialismo, já que o que melhor caracteriza essa

relação no interior da experiência religiosa é o partilhar de códigos

comunicativos.

Ao contrário da experiência religiosa, no mercado não pode haver

trabalho voluntário, o trabalho é pago por tempo determinado, até mesmo para

assegurar e legitimar a profissão. Nesse caso, a ética profissional é não

53

Page 59: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

mostrar o que é certo ou errado, a interpretação deve estar desvinculada de

qualquer doutrinação moral. Se na missão o intérprete deve refletir em seu

corpo a doutrina cristã, no mercado o intérprete deve pretender ser

transparente e neutro, esse é o seu dever técnico.

Evidentemente que nesse processo as expectativas dos surdos do que

deve ser um intérprete também devem se alterar, já que aquele modelo foi

construído conjuntamente com eles. O intérprete não é mais o protetor

missionário, que lembra dos seus compromissos, ajuda com suas obrigações,

está disponível em qualquer dia da semana ou em qualquer hora. Ele é tão

somente um profissional pago por determinado tempo para realizar uma

função. Por conta de essa relação assumir critérios comerciais, os surdos

podem escolher intérpretes que melhor se adeqüem aos seus hábitos

lingüísticos e gostos.

As alterações jurídicas recentes, o decreto federal 5626 de 22/12/2005,

parecem sinalizar reformulações na relação surdo-intérprete. Há agora

garantias jurídicas e institucionais para conformar a surdez como diferença

lingüística no espaço público, e nesse processo, intérpretes passam

definitivamente por um processo de profissionalização, com formação laica

específica. Nos parece que foi a consonância entre o movimento social surdo,

os Estudos Surdos e essa atividade missionária que forjaram essa nova

experiência da surdez. É necessário considerar que esse esforço de

secularizar a profissão não implica a diminuição da prática de interpretação na

experiência religiosa, já que diferentes instituições religiosas, em todo o

território nacional, permanecem formando intérpretes. De qualquer modo,

intérpretes, fora ou dentro da igreja, continuam tendo o papel crucial de

produzir novas experiências da surdez.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Ronaldo de. “Tradução e mediação: missões transculturais entre grupos indígenas”, in: MONTERO, Paula. Deus na aldeia: missionários, índios e medicação cultural. São Paulo: Globo, 2006.

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Page 60: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

CAMARGO, Cândido Procópio F. de. Católicos, protestantes e espíritas. Petrópolis: Vozes, 1973. MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo, Loyola. 1999. MENDONÇA, Antônio Gouveia. Um panorama do protestantismo atual. In: LANDIM, Leilah (org.) Sinais do Tempo: Tradições Religiosas no Brasil. Rio de Janeiro: Cadernos do ISER – Instituto de Estudos da Religião, nº 22, 1989. OATES, Eugênio. No silêncio da fé: catequese e oração na linguagem das mãos. Aparecida: Santuário, 1990 [1961]. ______________. Linguagem das mãos. Aparecida: Santuário, 1988 [1969].

55

Page 61: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DOS DISTÚRBIOS OCUPACIONAIS RELACIONADOS AOS MEMBROS SUPERIORES NOS

INTÉRPRETES DE SURDOS.

Eugênio da Silva Lima1

RESUMO: Os surdos comunicam-se entre si utilizando livremente a língua de sinais. Para promover a interação destes com o meio devido às políticas publicas de inclusão, a profissão de interpretes de sinais tem estado em evidencia. Esses utilizam repetitivamente o membro superior da cintura pélvica até acima da cabeça para a sinalização, predispondo ao desenvolvimento de problemas músculos esqueléticos devido à alta repetitividade de movimento, essas são chamadas lesões por esforços repetitivos. O objetivo deste estudo foi analisar as possíveis causas e fatores dos distúrbios ocupacionais que acometem os interpretes de Campo Grande, MS. Estes foram avaliados através de um questionário especifico sendo realizado um exame físico dos membros superiores, que era composto por avaliação postural de membro superior, dinamometria, goniometria e perimetria. Os resultados revelaram através do teste T-student e do qui-quadrado que algias nos membros superiores eram principalmente em 80% dos que trabalhavam há mais de 2 anos. Alem disso observou-se diminuição na força de preensão palmar do lado dominante nos interpretes com quadro álgico no ombro. Estes resultados sugerem que os fatores relacionados aos movimentos repetitivos em conjunto com posturas ergonomicamente incorretas, aumentam os riscos de distúrbios ocupacionais. Devido a esse fato observamos a necessidade de encaminhamentos futuros para se estabelecer protocolos de prevenção ergonômica dentro das instituições onde trabalham os interpretes a fim de evitar o desenvolvimento de patologias relacionadas ao trabalho repetitivo. PALAVRAS-CHAVES: Língua, Sinais, Membros superiores, Distúrbios ocupacionais. INTRODUÇÃO

No Brasil atualmente segundo o IBGE (2000), cerca de vinte e quatro

milhões de pessoas são portadoras de algum tipo de deficiência,

representando 14% da população, desse total cerca de 5,7 milhões são

portadoras de deficiência auditiva. Essa população convive no meio social com

uma comunicação livre conhecida como Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).¹

1 Fisioterapeuta.

56

Page 62: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

O profissional que promove a interação da pessoa surda com a

sociedade e a comunidade ouvinte é o intérprete. 6Estes tem ganhado espaço

e vem sendo contratados para atuar em todas as frentes de trabalho. ²

No Brasil em função da implantação das políticas de inclusão que

promovem a inserção dos surdos em escolas desde o ensino fundamental,

também em empresas e em outros setores, observou-se a necessidade desse

profissional na vida social do surdo promovendo assim a interação com a

comunidade ouvinte. 4

O Ministério da Educação e Cultura – MEC conceitua o intérprete ou

tradutor como sendo a pessoa que traduz de um língua para outra.

Tecnicamente, tradução refere-se ao processo envolvendo pelo menos uma

língua escrita. Assim, tradutor é aquele que traduz um texto certo de uma

língua para a outra. Esse profissional está completamente envolvido na

interação comunicativa social e cultural com poder completo para influenciar o

objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua

fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua

alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação

dada na língua fonte. 5

A ferramenta desse profissional é a linguagem de sinais, sendo que o

campo visual para o desenvolvimento dessa linguagem, abrange a área da

cintura pélvica até acima da cabeça , sendo as estruturas do membro superior

(pulso, região palmar, dorsal, região lateral, dedos mínimos, anulares, médios,

indicador, polegar e ponta dos dedos, antebraço, cotovelo, ombro) muito

utilizadas. Dessa forma é necessário que essas estruturas referidas estejam

biomecanicamente corretas para uma melhor performance durante a

sinalização.6,7

Em função da intensa utilização dos membros superiores como já

citado anteriormente nessa linguagem podem ser desenvolvidas alterações no

sistema musculoesquelético, devido ao uso repetitivo da sinalização com o

membro superior os chamados distúrbios ocupacionais.³

Essas não se relacionam somente com os intérpretes, pois, toda

atividade manual já utilizada por períodos prolongados pode desencadear as

lesões por esforços repetitivos (LER).

57

Page 63: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

As LER constitui problemas relacionados às patologias do trabalho e se

configura como um fenômeno universal de grandes proporções e em franco

crescimento. Tem sido considerada causadora de grandes distúrbios em

alguns centros urbanos, com prejuízos generalizados para pessoas,

organizações, Previdência Social e sociedade.8

Segundo normas técnicas sobre LER do INSS (1993), é uma

terminologia usada para determinar as afecções que podem acometer tendões,

sinóvias,músculos, nervos, fascias, ligamentos, de forma isolada ou associada,

com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo principalmente os membros

superiores, região escapular e pescoço, de origem ocupacional, decorrente de

forma combinada ou não do uso repetido de grupos musculares, do uso

forçado de grupos musculares e da manutenção de postura inadequada.25

Outros autores definem como disfunções que se manifestam

clinicamente através de sintomas, tais como, fadiga, sensação de peso e

queimação, que aparentemente decorrem de em desajuste entre a exposição a

uma demanda física e a capacidade individualmente do organismo a uma

reação. 9,10

Fatores de risco para a LER, seja, principais ou primários são: força,

repetitividade, postura e movimentos. Outros fatores são considerados como

risco para o surgimento de distúrbios ocupacionais em situações especificas,

tais como: vibração, compressão mecânica.¹¹

Autores relataram que em virtude da alta repetitividade de movimentos,

o uso de força excessiva e as posturas extremas e incorretas favorecem o

aparecimento de conjunto de lesões e disfunções que acometem os membros

superiores.11,12

A LER também esta associada a sintomas psicológicos e um baixo

nível de controle ergonômico no trabalho, contribuindo para que fatores

biomecânicos interfiram para o aparecimento dessa patologia. 13,14

A profissão de Intérprete tem sido identificada como risco para

problemas relacionados ao trabalho em função das formas de comunicação

manual exigirem uma função única dos membros superiores, com isso os

movimentos repetitivos de mão, punhos e braços são intensos podendo

desencadear transtornos biomecânicos.15,16

58

Page 64: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Até a presente data em revisão de literatura que abordam essa

temática encontramos estudos escassos para identificar as causas de doenças

ocupacionais nos intérpretes, pouco se sabe a respeito das complicações e

queixas que a língua de sinais realizados por esses profissionais pode causar

em relação a doenças ocupacionais, mas a idéia que se tem é que as

interpretações prolongadas sem um período de descanso também levam a um

risco de lesões nos membros superiores.13,17

Em função da Língua de Sinais ser desenvolvida através dos

movimentos dos membros superiores Cohn (1990) relata ser imprescindível à

investigação da presença ou não de distúrbios ocupacionais relacionado aos

membros superiores nos intérpretes de pessoas surdas a fim de apresentar

informações e estimular a prevenção de doenças ou lesões causadas por

diversos fatores ergonômicos.18,19

Contudo, a importância da implementação de estratégias para redução

de risco de doenças ocupacionais torna-se necessário, tendo em vista as

complicações musculoesqueléticas dos intérpretes já relatadas na literatura.

Faz-se necessário um estudo epidemiológico dos distúrbios ocupacionais

nestes profissionais na cidade de Campo Grande, MS, objetivando constatar

possíveis alterações nos membros superiores para posteriormente serem

implantadas estratégias para redução de risco dos distúrbios ocupacionais,

objetivando a melhoria na qualidade de vida profissional dos interpretes de

língua de sinais.

METODOLOGIA

A população previamente estudada foram 30 intérpretes de Campo

Grande – MS, escolhidos aleatoriamente em diversas instituições públicas e

privadas especializadas no trabalho com a pessoa surda, sendo de ambos os

sexos na faixa etária entre 20 e 47 anos. Entretanto 5 não atenderam as

necessidades e foram encaixados no critério de exclusão, após explicado os

objetivos do estudo todos assinaram um termo de consentimento informado.

Para a coleta dos dados foi elaborado um questionário constando dados

pessoais e perguntas objetivas sobre suas atividades de vida diária e

Profissional (tempo de profissão, dia e horas trabalhados).

59

Page 65: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Após a aplicação do questionário procedeu-se ao exame físico que

constava de goniometria da articulação do ombro, cotovelo e punho, perimetria

de braço, antebraço e dedos, dinâmometria de ambos os lados e teste de força

muscular e posteriormente coletado imagens através de câmera fotográfica

(Benq®, Taiwan, China) dos principais sinais que causam desconfortos nos

intérpretes.

Foram explicados os objetivos do estudo para os voluntários e a seguir

os que concordaram assinaram um termo de consentimento informado, como

critérios de exclusão foi estipulado que os voluntários não deveriam estar em

tratamento médico, ter sofrido traumas ou lesões nos membros superiores, ou

que sejam digitadores, pintores ou costureiras e que trabalhem num período

inferior a 5 horas diária. A pesquisa foi realizada no período de 22/08/2005 à

29/08/2005 em diversas instituições publicas e privadas (Escola Municipal

Arlindo Lima, Centro Apoio ao Deficiente da Audiocomunicaçao – CEADA,

Primeira Igreja Batista de Campo Grande, Centro de apoio ao Surdo – CAS,

Escola Estadual Vespasiano Martins, Escola Municipal Bernardo Franco Baís)

de Campo Grande,MS.

Na realização do exame físico com goniometria (CARCI, São Paulo,

Brasil), foram realizados mensurações da amplitude articular do ombro, braço,

cotovelo, antebraço e punho de ambos os lados estando os indivíduos em

posição ortostática, com o goniômetro colocado de forma que permitisse a

máxima angulação da amplitude do voluntário. A seguir foi realizado mesmo

processo para mensuração com fita métrica da circunferência muscular de

membro superior (braço, antebraço, mão, cinco e quatro dedos) utilizando a

distância de 7 centímetros. Para a verificação da força de preensão palmar

utilizamos o Dinamômetro Isométrico (JAMAR®, Nova York, E.U.A) onde os

participantes permaneceram sentados em uma cadeira com encosto, com o

braço junto ao corpo e cotovelo na angulação de 90º. o teste foi realizado 3

vezes em ambos os membros superiores sendo feita a média final das três

avaliações.

Em seguida procedeu-se a avaliação postural de membro superior

sendo realizada com o participante em posição ortostática em vista ântero-

posterior, postero-ânterior e de perfil observamos presença ou não de

assimetrias dos ombros, escapulas e ângulo de Tales. Também foi realizado

60

Page 66: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

teste muscular manual de Kendall (1974)20, para verificação e comparação de

alterações ou não quanto a força nos membros superiores dos interprete, este

teste foi realizado com o paciente sentado sendo aplicada sobre cada

musculatura especifica e em ambos os membros superiores.

Objetivando uma melhor identificação dos sinais que causam

desconforto a essa população foi solicitado ao voluntário que permanecesse

em posição ortostática e reproduzisse o (os) sinal (is) na linguagem de sinais

que proporcionasse algum tipo de desconforto, sendo este em seguida captado

por câmera fotográfica.

Os dados colhidos foram dispostos em tabelas e enviados para analise

estatística. Para tratamento estatístico foi utilizados o teste qui-quadrado e o T-

student independent e o programa estatístico eleito foi o Sigmastat versão 2.0.

RESULTADOS

Os resultados deste estudo mostram que dos 30 intérpretes que foram

voluntários somente 25 participaram sendo que 5 foram excluídos da pesquisa,

pois, não atenderam as necessidades estipuladas para o prosseguimento da

pesquisa. A idade dos participantes variou entre 20 e 47 anos, sendo a média

de 29,48±6,29 anos. Em relação ao sexo, 80% (n=20) dos entrevistados eram

do sexo feminino e 20% (n=5) eram do sexo masculino.

Quando questionados quanto ao tempo de profissão em anos que os

intérpretes exerciam o resultado foi de 4,51±3,39 anos. Em relação a carga

horária média de 7,12±2,26 horas por dia.

Com relação à pratica de atividade física apenas 36% (n=9) praticavam

regularmente sendo que 3,56±1,51 praticavam 1 vez por semana, e o restante

cerca de 64% (n=16) não praticavam nenhum tipo de atividade física.

Ao analisarmos o lado dominante do intérprete, verificamos que dos 25

entrevistados apenas 1 era canhoto e os demais destros e utilizavam sua

própria dominância para datilologia. Apenas 1 intérprete já havia realizado uma

tenorrafia no membro superior direito, especificamente no túnel do carpo

devido alta repetitividade de movimentos.

A pesquisa revelou que 36% (n=9) já foram submetidos a tratamento

fisioterapeutico desses apenas 15% (n=3) foram para os membros superiores,

61

Page 67: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

onde no tratamento fisioterapeutico visou à redução do quadro álgico e melhora

da força muscular dos membros superiores.

Em relação ao quadro álgico nos membros superiores 80% (n=20)

referiram dor, sendo que 65% (n=13) destes apresentavam dor localizada no

ombro. Na figura 1 é representado o valor percentual para cada segmento

corporal do membro superior que são mais afetados pela dor.

Os 20% (n=5) que não apresentaram quadro álgico nos membros

superiores eram do sexo feminino e isso tem grande significância em relação a

dinâmometria para as mulheres com dor e sem dor.

Questionados quanto ao tipo de dor cerca de 40% (n=8) dos intérpretes

relataram ser esta do tipo queimação, 30%(n=6) latejante, 25% (n=5) ardência

e 15% (n=3) pontada, sendo que uma grande parcela relatou intensidade leve

55% (n=11), 35% (n=7) relataram dor moderada e apenas 10% (n=2)

apresentavam dor do tipo forte. Os resultados quanto ao horário de acentuação

do quadro álgico após vários períodos de interpretação foi relatado pelos

intérpretes em 70% (n=14) como sendo no período noturno, e os demais foram

15% (n=3) no período vespertino, 10% (n=2) no período matutino e 5% (n=1)

relataram ser em períodos variados.

Questionamos sobre o caráter da dor sendo que esta foi considerada

por 80% (n=16) dos intérpretes como intermitente e 20% (n=4) relataram dor

constante. Em relação a afastamentos do trabalho apenas 12% (n=3) dos

entrevistados haviam sido afastados do trabalho por lesão grave ambos os

membros superiores compatível com lesões por esforços repetitivos.

Dos 25 entrevistados apenas 40% (n=10) relataram realizar sinal na

língua de sinais e que durante ou após a realização causaram desconforto,

sendo o sinal de “mundo” (representado na figura 2) relatado por 20% (n=5)

dos intérpretes. Outro sinal cerca de 15%(n=3) relataram que o sinal que

representa a letra “E” (apresentado na figura 3) é o que causa maior

desconforto para sinalizá-lo, e os sinais representando letra “X”, “E” e “G” foram

apresentados apenas por 1% dos intérpretes.

O fator desencadeante de dor em 90% (n=18) relacionasse com o ato

de sinalizar e apenas 10% (n=2) relataram que qualquer outro tipo de esforço

desencadeava dor nos membros superiores. A elevação do ombro acima de

90º de amplitude 65% (n=13) era o fator de exacerbação do quadro álgico nos

62

Page 68: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

membros superiores e 30% (n=5) eram por posturas incorretas durante a

sinalização.

Dos entrevistados, 40% (n=8) relataram que o quadro álgico nos

membros superiores interfere nas suas atividades de vida diária e profissional

No exame físico, 76% (n=19) apresentavam posicionamento normal do

ombro, 24% (n=16) apresentavam assimetria de ombro à direita e dor a

esquerda, e apenas 2 participantes apresentavam ângulo de Tales menor a

esquerda e escápula alada., sendo observado em postura ortostática em perfil,

ântero-posterior e postero-ânterior.

Na avaliação com dinâmometria, a preensão palmar média para

indivíduos do sexo masculino foi de 33,0±7,0 Kgf e 30,6±6,3 Kgf para os lados

direito e esquerdo, nas pessoas do sexo feminino a preensão média foi de

22,0±3,9 Kgf e 23,2±4,4 Kgf para os lados direito e esquerdo respectivamente.

Devido a grande quantidade de participantes do sexo feminino 80%

(n=20), o teste T-Student revelou na avaliação com dinamômetro que a

preensão palmar do lado direito das mulheres que relataram dor (22,0±0,9), foi

significantemente menor do que das mulheres que não sentiam dor (26,8±3,9;

p=0,03). Já para o lado esquerdo não houve diferença significativa entre as que

sentiam dor (22,0±0,9) e as que não relataram dor (21,5±0,9; p<0,05). Estes

dados estão representados na figura 4 em comparação de ambos os membros

superiores.

Em relação a goniometria, a amplitude de movimento das articulações

dos membros superiores avaliadas estavam dentro dos padrões de

normalidade em todos os examinados, corroborando com a literatura

(CIPRIANO, 1999)21 que descreve os padrões normais para amplitude articular

de membros superiores. O resultado obtido em relação a perimetria não

demonstrou haver diferença significativa quando comparado em ambos os

membros superiores o que mostra que a circunferência muscular de ambos os

lados tanto ombro, braço, antebraço, cinco dedos e quatro dedos se

mantiveram na sua normalidade.

Durante a avaliação da força muscular dos membros superiores

(ombro, braço, antebraço, cotovelo, punho e dedos) todos os avaliados

apresentavam grau 5 para força muscular, ou seja, segundo Daniels (1986)22

63

Page 69: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

completam todo arco de movimento vencendo a gravidade e a resistência

imposta pelo examinador.

DISCUSSÃO

O presente trabalho avaliou dentre a população de intérpretes para

pessoas surdas na cidade de Campo Grande, MS, as possíveis causas de

doenças ocupacionais que acometam essa população, utilizando como método

de análise avaliação física (incluindo goniometria, dinâmometria, perimetria e

avaliação postural). Foi aplicado um questionário especifico para coleta dos

dados, sendo estes considerado suficiente melhor identificação dos problemas

que afetam os intérpretes, já que representam dados fidedignos relatados pelos

avaliados.

Todos os participantes da pesquisa exercem a profissão de interprete

em determinadas instituições, seja ela escola, universidade, empresas por mais

de dois anos corroborando com os demais autores que relatam a incidência de

LER a partir de dois anos de trabalho.9

De acordo com nossos resultados verificamos que as pessoas do sexo

feminino são mais expostas a desenvolver doenças ocupacionais, justificando

assim esse resultado. Também um outro fato a ser considerado é que revela a

quantidade de mulheres interprete que na maioria das vezes são em grande

quantidade numa determina região.3,13,15,16,23

A faixa etária da população foi uma variável considerada em nosso

estudo, pois, importantes causas de distúrbios ocupacionais são detectadas de

acordo com a idade, observa-se que a idade entre 20 e 47 anos ocorre um

declínio no sistema fisiológico o que contribui para mal ajustes posturais

acentuando-se a tendência de doenças ocupacionais, sendo que a literatura

relata que idade entre 25 e 45 são fatores para o surgimento de distúrbios

ocupacionais.14,16,24

Corroborando-se com um relato da literatura nossos resultados foram

significantes em relação a prática de exercícios regular, onde são relatados

como fator de melhora do stresse e fadiga pelos interpretes, mas infelizmente a

pratica não regular se mostra ineficaz entre os interpretes o que promove o

surgimento de fatores para distúrbios ocupacionais.3

64

Page 70: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Continuando a análise, em relação a dominância foi constatada

preferência pelo lado direito e também ressalta a existência de maiores casos

de lesões por esforços repetitivos, onde na literatura esses dados são

escassos, até o presente momento.

Outra variável investigada em nossos estudos foi a realização de

intervenção cirúrgica nos membros superiores o que mostrou apenas um

tenorrafia do túnel do carpo. A literatura relata ser comum na pratica clinica

cirurgias que envolvam o canal do túnel do carpo em conseqüência da

descarga maior de movimentos repetitivos nessa região.7,16

Ao questionarmos sobre tratamento fisioterapeutico realizado pelos

intérpretes em virtude da LER nossos resultados demonstraram que quando

realizado o tratamento nos membros superiores apenas 15% (n=13) foram

executados simplesmente com o objetivo de reduzir quadro álgico e ganhar

força.19

Face exposto, em nosso estudo que o quadro álgico é uma das

principais causas de doenças ocupacionais, cerca de 80% da população

avaliada, corroborando com a literatura de que a causa primaria para o

surgimento de distúrbios ocupacionais são o quadro álgico juntamente com o

fator psicológico.14

Em contrapartida, autores revelam que os interpretes trabalham a mais

de um ano na profissão sem ter um cuidado especifico para o surgimento da

LER sem levar em consideração as causas futuras que isso pode acarretar no

seu sistema musculoesquelético.7,19 Causas essas que levam a exacerbação

do quadro álgico durante ou após a sinalização, onde na maioria dos casos são

acentuadas no período noturno, com quadro de dor latejante e intermitente. A

literatura relata que a dormência e a fadiga são revelados pelos intérpretes

como um fator que desencadeia a LER e até mesmos lesões nos tecidos moles

são causas dessa patologia.13,14

As elevações constantes do ombro acima de 90º associado a posturas

inadequadas por longos períodos foram relatadas por 65% (n=13) e 30% (n=5)

respectivamente, como uma agravante dos fatores de risco para o surgimento

dos distúrbios ocupacionais durante a interpretação (sinalização), o que mostra

que mesmo com a utilização dos membros superiores desde a cintura até

acima do ombro pelos interpretes se torna difícil a correção a menos que as

65

Page 71: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

instituições estipulem ou elaborem programas de prevenção ergonômicos, para

uma melhor interpretação, até por isso se faz necessários essas correções

para que os sinais não sejam mal elaborados e mal interpretados pelos

próprios surdos que são o publico alvo.19,23

O exame físico dos intérpretes 76% (n=19) apresentavam

posicionamento normal de ombro, sendo esta amostra compatível com os

parâmetros de normalidade, mas a literatura revela que esses quadros podem

se agravar devido a excessos de interpretações como possíveis assimetrias do

ombro, hipertrofia de determinadas musculaturas, retessamento de nervos

especificamente do túnel do carpo, pelo desenvolvimento excessivo das

articulações gleno-umeral e principalmente radio-carpal.14,16,24

Devido à abordagem pioneira de nosso experimento, os dados contidos

na literatura são escassos e fragmentados, o que mostra a relevância de

nossos ensaios.

Desta feita ao mensurarmos a força de preensão palmar através de

dinamômetro isométrico, observou-se dentro dos parâmetros de normalidade

para homens e mulheres um déficit na força de preensão palmar relacionado

ao lado dominante. Nossos resultados mostraram que a perda significativa de

força de preensão palmar nas mulheres que relataram quadro álgico foi menor

naquelas que não sentiam sintomas álgicos (p=0,03), isto ocorre por existir um

significativo número de mulheres interpretes e onde verifica-se os maiores

fatores de risco para problemas ocupacionais.

Ao serem avaliados para observação da amplitude articular, os

resultados revelam não haver alterações significativas dos parâmetros de

normalidade, corroborando com a literatura do Cipriano (1999)21. E a

mensuração da circunferência muscular com distancia de 7 centímetros

demonstraram estar de acordo com os parâmetros de normalidade.

Sendo assim, entendemos que a verificação dos fatores e causas que

contribuem para o dos distúrbios ocupacionais nos interpretes torna-se

imprescindível tendo em vista os dados escassos sobre essa população até o

momento, pois, verificamos que esse exercício profissional torna-os

susceptíveis a lesões por esforços repetitivos.

66

Page 72: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos neste estudo mostram que os distúrbios

ocupacionais relacionados aos membros superiores dos intérpretes estão

associados a um conjunto de movimentos repetitivos e posturas

ergonomicamente incorretas de toda a estrutura dos membros superiores,

fatores esses que se relacionam com os distúrbios ocupacionais, além disso, o

excesso de interpretações diárias sem intervalos para repouso dos interpretes

favorecem o aparecimento de lesões por esforços repetitivos.

Com os resultados desse estudo pretendemos mostrar aos

profissionais intérpretes a necessidade de conhecer os fatores risco

profissional e a importância da prevenção destes evitando assim o

aparecimento de LER e propor encaminhamentos futuros para programas de

Fisioterapia preventiva na questão ergonômica dentro de instituições para que

os interprétes trabalhem visando que se evite afastamentos ou até mesmo

dispensas do trabalho por afecções relacionadas aos trabalhos repetitivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Lira, G, A. O impacto da tecnologia na educação e inclusão social da pessoa portadora de deficiência auditiva. Boletins Técnicos do Senac, São Paulo; 2003; 29: 1-10, Set/Dez. 2. Famularo, R. Intervención del intérprete de lengua de señas/ lengua oral en el contrato pedagógico de la integración, Ed. Mediação, Porto Alegre, 1999. 3. Scheuerle, J. Work-Related Cumulative Trauma Disorders and Interpreters for the Deaf. Applied Occupational and Environmental Hygiene, Florida, 2000; 15: 429-434. 4. Lacerda, C,B,.F. de. Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos surdos. Caderno Cedes, 1998; 19: 68-80, Set. 5. Brasil, Ministério da Educação e Cultura – Secretaria de Educação Especial. Quadros, R. M. O tradutor e intérprete de Língua de Sinais e Língua Portuguesa. Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos, Brasília, 2003. 6. Campos, m, Costa, A.C. da Rocha; Stumpf, M.R.. Sistema de Representação Interna e Externa das Línguas de Sinais. II Congreso

67

Page 73: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Iberoamericano de Comunicación Alternativa y Aumentativa, Viña del Mar, Chile, Nov, 1996. 7. Stedt, J, D. Carpal Tunnel Syndrome: The Risk to Educational Interpreters. America Annals Deaf. United States, 1989; p. 223-226, July. 8. Mendes, R., Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Ed. Atheneu, 1995. 9. Gil Coury, H, J, C., Walsh, I. A. P., Pereira, E.C.L., Manfrim, G. M., Perez, L. Indivíduos Portadores de L.E.R Acometidos há 5 anos ou mais: um Estudo da Evolução da Lesão. Revista Brasileira de Fisioterapia, 1999; 3: 79-86. 10. Santos filho, S,B; Barreto, S,M. Atividade Ocupacional e Prevalência de dor Osteomuscular em Cirurgiões-Dentistas de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil: Contribuição ao debate sobre os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2001; 17: 181-193, jan/fev. 11. Bertoncello, D., Almeida, A., Alem, R. E. M., Walsh, P. A. I, Gil Coury, C. J. H. Importância da Intervenção Preventiva da Fisioterapia na Readequação Ergonômica e Analise Biomecânica de um Posto de Trabalho. Revista Fisioterapia em Movimento, 1999; 11: 89-96, out/mar. 12. Léo, J, A. Gil coury, H.J.C. Influência de Tarefas Manuais e Mecanizadas na Amplitude dos Movimentos do Punho e Antebraço. Revista Brasileira de Fisioterapia, 2001; 5: 41-47. 13. Feuerstein M; Fitzgerald T. Biomechanical Factors Affecting Upper Extremity Cumulative Trauma Disorders in Sign Language Interpreters. Journal of Occupational Medicine, United States, 1992; 34: 257-264, mar. 14. Leclerc, A., Chastang, J. F., Niedhammer, I., Landre, M. F., Roquelaure. Incidence of Shoulder Pain in Repetitive Work. Occupational Environmental Medical, Saint-Maurice, 2004; 61:39-44. 15. Podhorodecki, A, D; Spielholz, N, I. Electromyography Study of Overuse Syndromes in Sign Language Interpreters. Archives Physical Medicals Rehabilitation. New York, 1993; 74: 261-262, mar. 16. Stedt, J, D. Interpreter’s Wrist. Repetitive Stress Injury and Carpal Tunnel Syndrome in sign Language Interpreters. America Annals Deaf. United States, 1992; 137: 40-43, mar. 17. Meals R, Payne W, Gaines R. Functional Demands and consequences of Manual Communication. United States, Journal Hand Surgery. 1998; 13A: 686-691. 18. Cohn, L; Lowry, R; Hart, S. Overuse Syndromes of the Upper Extremity in Interpreters for the Deaf. United States. Journal Hand Surgery. 1990; 13: 207-209.

68

Page 74: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

19. Decaro J,J; Feuerstein M; Hurwitz T, A. Cumulative Trauma Disorders Among Educational Interpreters. Contributing Factors and Intervention. America Annals Deaf, United States, 1992; 137: 288-292, jul. 20. Kendall, Henry Otis; Kendall, Florence Peterson; Wadsworth, Gladys Elizabeth. Músculos: pruebas y funciones. Barcelona: Jims, 1974. p.284. 21. Cipriano, Joseph J; Janh, Warren T; White, Mark E. Manual fotográfico de testes ortopédicos e neurológicos. 3. ed. São Paulo: Manole, 1999. p.446. 22. Daniels, Lucille; Worthingham, Catherine. Provas de função muscular. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. p.184. 23. Smith, S, M; Kress, T, A; Hart, W, M. Hand/Wrist Disorders Among sign Language Communicator. America Annals Deaf, United States, 2000; 145: 22-25, mar. 24. REIS, J, R., Pinheiro, T. M. M., Navarro, A., Martin, M. M. Perfil da Demanda atendida em Ambulatório de Doenças Profissionais e a Presença de Lesões por Esforços Repetitivos. Universidade de São Paulo, Revista de Saúde Pública, 2000, 34: 292-298, jun. 25. Zilli, C. M. Manual de cinesioterapia/ginástica laboral: uma tarefa interdisciplinar com ação multifatorial. São Paulo: Ed. Lovise, 2002. 99 p.

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Page 75: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

SAÚDE MENTAL E QUALIDADE DE VIDA DO INTÉRPRETE DE LIBRAS

Sandro Teodoro Sandim1

RESUMO: Desenvolvemos uma análise das situações cotidianas que afetam a saúde mental do intérprete e dos processos de superação das dificuldades para manter-se a qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVES: saúde mental, qualidade de vida, intérprete de libras. Saúde Mental e Qualidade de Vida do Intérprete de LIBRAS

O tempo parece passar cada vez mais rápido. Os afazeres do cotidiano,

problemas e situações a serem resolvidas, compromissos, vida social, familiar

e vida profissional .

Com tantos afazeres e tanta correria, o nosso corpo começa a sentir-se

desconfortável com tudo isso. Mas será que é somente o corpo físico? E a

nossa mente, como reage?

Na verdade a mente humana é a primeira a sentir a sensação de

desconforto em relação ao corpo físico. Nosso cérebro emite sensações e

estímulos ao nosso corpo, dizendo que alguma coisa está errada.

A vida ativa e cheia de cobranças, em que nos encontramos hoje, onde

as inseguranças e incertezas são estampadas a cada amanhecer, nos levam

muitas vezes a não impor limites em nossos afazeres, e isso pode ser

perigoso, ainda mais se, aliado as tarefas que exigem certo esforço, de

atividade física ou mental.

Nestas circunstâncias, o indivíduo pode desencadear “doenças da

mente”, como patologias, stress, depressão, síndromes, transtornos e outros.

Sendo assim, a saúde mental e a qualidade de vida deste indivíduo,

estará seriamente comprometida em todos os aspectos.

Falaremos aqui sobre a saúde mental e a qualidade de vida do

Intérprete de LIBRAS. Para isso faz-se necessário compreender melhor o

significado de saúde mental e qualidade de vida.

1 Psicólogo e intérprete de língua Brasileira de Sinais.

70

Page 76: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

O que vem a ser Qualidade de Vida? Segundo BULLINGER e COIS 1993, o termo Qualidade de vida é bem

mais geral e inclui uma variedade potencial, maior que condições que podem

afetar a percepção do individuo , seus conhecimentos e comportamentos

relacionados com seu funcionamento diário não se limitando a sua condição de

saúde.

Para WHOQOL (World Health Organization Quality of Life) Qualidade de

Vida, se define na percepção do individuo em relação a sua posição de vida no

contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos

seus objetivos , expectativas, padrões, e preocupações.

Mas afinal, de modo claro, o que vem a ser qualidade de vida, ou vida

com qualidade?

Muitas respostas soam a mente, tais como: é ter muito dinheiro, ou é ter

tudo que eu preciso, ou mesmo ter muita saúde, e assim por diante. Mas é

necessário levar em conta, entre outros aspectos, a individualidade de cada

pessoa, a sua cultura e ambiente de vivencia, o tempo histórico vivido.

Apesar disso, no domínio da medicina e da psicologia tem havido uma

preocupação em avaliar os parâmetros que definem o que realmente vem a ser

uma vida boa, tendo-se focado quer na identificação dos domínios do

quotidiano que são relevantes para essa qualidade da vida, quer na

determinação das suas dimensões e das variações comportamentais e afetivas

associadas com as características pessoais e ambientais.

Com efeito, a avaliação da vida é considerada como uma medida das

ligações de uma pessoa à sua vida no presente, em resultado não apenas do

prazer e da ausência de desconforto, mas também da esperança, da crença no

futuro, dos propósitos, do sentido da vida, da persistência e da auto-eficácia.

Neste sentido, a avaliação da vida é o conjunto dos juízos, emoções e

projetos no futuro de onde decorre, entre outras, a idéia de quanto tempo se

deseja viver. Esta noção implica o modo como os fatores ambientais, pessoais,

os acontecimentos negativos e positivos, a doença expressa no corpo ou na

mente, contribuem, em conjunto, para o modo como as pessoas avaliam a sua

vida.

Desde os anos 70 que tem havido uma preocupação em investigar,

através dos indicadores sociais, os níveis de bem-estar, satisfação e qualidade

71

Page 77: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

de vida nas populações e identificar quais são os determinantes destes

estados.

Alguns dos resultados dessas investigações parecem demasiado óbvios:

os indivíduos são mais felizes em sociedades mais prósperas, quando estão no

topo e não no início da escalada social, quando são casados e quando têm

redes de suporte social adequadas.

Contudo, apesar destas generalizações simplistas e muita propaganda,

outros estudos têm demonstrado que este bem-estar social não é a condição

necessária para que se desenvolva um sentimento de bem-estar. Não só os

cidadãos não parecem mais felizes pelo fato de a economia dos seus países

estarem a aumentar o seu rendimento per - capita, como as pessoas que

ganham na loteria não parecem mais felizes do que a média das pessoas e

mesmo alguns doentes vivem de uma forma muito positiva e satisfatória com

as suas doenças consideradas pelas pessoas sadias como sendo

extremamente severas e indesejáveis.

Então o que será importante para que alguém se sinta bem?

Um recente estudo da OMS em 15 países distribuídos por vários

continentes, salienta que existem alguns indicadores universais para uma boa

qualidade de vida. Segundo esse estudo as pessoas valorizam alguns

aspectos práticos da vida como a possibilidade de desempenharem as

atividades do dia-a-dia de uma forma autônoma e sem moléstias físicas, a

possibilidade de ver e ouvir bem, de ter energia e ser capaz de se mover. Ao

contrário do que alguns poderiam pensar, quer a imagem corporal e a

aparência, quer a satisfação com a sua vida sexual não mereceram, a julgar

por esse estudo, um lugar de primazia.

O que vem a ser é Saúde Mental

Segundo OMS, saúde mental (HUMANA) = capacidade de, mediante a

interação harmônica de intenções passíveis de serem verbalmente

representadas, orientar o próprio comportamento de forma a, dentro das

limitações impostas pelo meio ambiente, obter o máximo possível de prazer e

de funcionalidade.

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Page 78: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Saúde mental é como nós pensamos, sentimos e agimos ao enfrentar as

situações da vida, é bom funcionamento dos processos psíquicos. É como

vemos a nós mesmos, nossas vidas e as pessoas que conhecemos e

queremos bem.

A saúde mental também nos ajuda a determinar como controlamos o

nosso estresse, como nos relacionamos com outras pessoas, como avaliamos

as nossas opções e como tomamos as nossas decisões. Como a saúde física,

a saúde mental é importante em todos os estágios da vida.

Problemas relacionados à Saúde Mental

Problemas de saúde mental nem sempre podem ser notados, mas os

sintomas podem ser reconhecidos. Alguns destes problemas são a depressão,

ansiedade, conduta, alimentação e distúrbios de hiperatividade e atenção.

Problemas de saúde mental afetam uma em cada cinco pessoas, em qualquer

momento. A saúde mental de uma pessoa não tem nenhuma relação com a

sua capacidade intelectual.

Cuidado com as doenças psicossomáticas

A palavra “psicossomático” (“psico” = “mente”, enquanto que “somático”

= “soma” = “corpo”), significa que algo atinge seu corpo produzindo sintomas

cuja causa é originada em processos mentais de pensamentos e sentimentos.

Conflitos mentais podem desencadear ou agravar sintomas ou doenças

como dor nas costas, dor muscular, dor de cabeça, certas doenças de pele, dor

nas articulações, colite ulcerativa, infecções freqüentes e tantas outras

enfermidades e sintomas.

Como saber se seus sintomas têm origem no corpo ou na mente? Que

caminhos tomar para adquirir saúde? Segundo o Psicoterapeuta César

Vasconcellos, podemos tomar os seguintes cuidados :

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Page 79: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

1. Submeta-se a um exame médico com clínico geral dando preferência ao

profissional que tem a visão do paciente como um todo, com as dimensões

física, mental e espiritual.

2. Se após o exame físico e de laboratório não houver causa física conhecida

que explique seus sintomas, considere submeter-se a uma avaliação

psicológica com psicólogo clínico ou psiquiatra.

3. Antes de tudo, se seus sintomas não são emergenciais ou graves,

modifique seu estilo de vida e verifique o que ocorrerá dentro de um a três

meses, e sua saúde. Modificações no estilo de vida incluem: eliminar

cafeína (bebidas “cola”, café, guaraná, chá verde, chá preto), eliminar

bebidas alcoólicas, adotar alimentação vegetariana, praticar exercícios

físicos diários (caminhadas diárias de 30 minutos pelo menos), ingerir água

pura entre as refeições, tomar duas refeições ao dia (desjejum e almoço)

substanciosas, e um lanche leve, se preciso, pelo menos três horas antes

de dormir à noite, não tomar líquidos às refeições, não beliscar entre as

refeições, expor-se ao sol 15 minutos diariamente, ir dormir no máximo 10

da noite em ambiente ventilado e escuro, descansar do trabalho regular um

dia por semana, etc. Com tais modificações em sua vida, sua saúde

melhorará muito e você poderá não mais necessitar de medicamentos

convencionais e sintomas poderão desaparecer.

4. Desordens psicossomáticas são defesas usadas pelo corpo para aliviar a

mente.

5. Desordens psicológicas são expressões de sofrimento.

6. Somos uma unidade corpo-mente-espiritualidade. Corpo afeta a mente e

vice-versa.

7. Saúde total tem que ver também com desenvolvimento espiritual. Deus nos

convida para nos dar uma mente espiritual que não é dependente de

cultura, posição social, riqueza material.

8. Cultive pensamentos positivos. “... tudo o que é verdadeiro, tudo o que é

honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o

que é de boa fama, se há alguma virtude”.

9. Cultive sentimentos bons como: compaixão, perdão, simpatia, bondade,

cooperação compreensão.

74

Page 80: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Hoje em dia, fala-se muito em saúde mental. Mas afinal, quais

seriam as dicas para se ter uma mente saudável?

Quem muda o corpo, muda também sua cabeça e suas emoções.

Mente e corpo estão baseados num elemento básico que é o oxigênio.

Portanto, um grande aliado é a prática de um exercício físico, de preferência

atividades cardiovasculares. Não podemos solidificar uma saúde mental, em

cima de um corpo débil, incapaz de reparar as perdas inerentes às próprias

necessidades diárias.

Ganho mental, emocional e espiritual.

É preciso fazer um contato com a natureza para se ter um ganho mental,

emocional e espiritual.

Ao correr ou caminhar, você entra em estado de meditação ativa, pois

quanto mais você envolve e exige do seu corpo fisicamente, mais você repousa

a sua mente e o seu cérebro, porque o cérebro se 'desobriga' de pensar. E isso

é meditação.

Procure um tempo para se desligar dos problemas cotidianos. Procure

os amigos para bater um papo, conversar assuntos agradáveis.

Em momentos de situações difíceis de enfrentar, procure não mergulhar

e se envolver somente nos aspectos negativos. Pare, pense, analise a

situação, faça as melhores escolhas. Procure relaxar e pensar positivo, sempre

há uma saída.

Sorrir é um ótimo remédio.

Ter fé em Deus. Estudos recentes descobriram no cérebro humano, um

ponto espiritual, chamado “Ponto de Deus”. Este ponto do cérebro é

responsável pela fé do ser humano. Desenvolver o lado espiritual, ( de forma

construtiva ) ajuda na saúde mental.

Estudando o processo teórico sobre qualidade de vida e saúde mental,

como então poderemos compreender o intérprete de LIBRAS neste contexto ?

Em que dinâmica este profissional se encaixa, em relação a sua saúde mental

aliada com sua qualidade de vida?

75

Page 81: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Sabemos hoje, que existe uma carência deste profissional, tanto no

mercado de trabalho, quanto no contexto social. Através de muitas lutas e

reivindicações, hoje se tem alcançado poucos, mais importantes avanços para

a inclusão, com isso a procura pelos cursos de LIBRAS vêem crescendo a

cada dia. Mas mesmo assim este número é considerado pequeno.

Pela carência do profissional, os intérpretes precisam se revezar, em

turnos de trabalho que muitas das vezes se tornam exaustivos, já que devem

conciliar, na maioria dos casos, o estudo e a obra religiosa ( já que muitos

intérpretes são orientados à sua formação em igrejas , para o atendimento

ministerial ). A problemática pode chegar ao ponto do intérprete “fugir” dos

surdos, dado ao seu cansaço físico e mental.

Outro fator importante é a questão da tradução do Português para Libras

e vise-versa. O intérprete precisa aperfeiçoar e desenvolver um processo

rápido e hábil de memória, cognição, percepção, motricidade e expressão

corporal, para que a tradução venha alcançar êxito, e a mensagem seja

fielmente transmitida.

Com essa dinâmica, muitos intérpretes, acabam por desenvolver certa

ansiedade, causada por vários fatores, como: cansaço mental, medo do

fracasso (em não entender ou não saber sinalizar corretamente ) dificuldades

na sinterização do Português x LIBRAS, entre outros. Esta ansiedade, pode

ser normal, desde que não se desenvolva de um estado passageiro e

momentâneo decorrente a situação, para um estado prolongado e duradouro,

onde há o perigo de desencadear vários tipos de problemas psicológicos,

como por exemplo, o indício de uma depressão.

Hoje a função do intérprete de LIBRAS, não é totalmente reconhecida,

como deveria. Não há plano de carreira, não há concursos públicos nem leis

que regularizem a situação do intérprete junto aos governos, já que as

estatísticas indicam que a grande parte dos intérpretes são funcionários

contatados pelos governos, para desempenharem a função de professor-

intérprete ( interpretar e auxiliar o aluno surdo junto ao processo de ensino-

aprendizagem nas instituições de ensino ), que em muitas das vezes não é

respeitado como profissional dentro da instituição de ensino por parte do corpo

docente.

76

Page 82: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Com este contrato, o profissional intérprete acaba que ao encerramento

das aulas, sendo dispensado, sem qualquer tipo de segurança das leis

trabalhistas (que negligenciam em relação a este s tipos de contratos

temporários), e sendo possivelmente contratado no início do próximo ano, ao

retornar o calendário escolar.

Sendo assim, como então se falar em qualidade de vida e saúde mental,

com tantas incertezas, inseguranças, e falta de instabilidade em seu campo de

trabalho?

Portanto, busquemos dentro de nós, a promoção do bem estar e a

crença que “somos aquilo que pensamos ser”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Center for Mental Health Services. Your Child’s Mental Health: What Every Family Should Know, 1998. DHHS Pub. No CA-000. Washington, D.C.: Services Knowledge Exchange Network, 20015. - Tradução em Português SOUZA, Cesar Vasconcellos de. www.wildwoodlsc.org DIAS, M.A.S. Saúde a Qualidade de Vida no Trabalho. SP: Bestseller, 1997.

DEJOURS, C. A loucura no trabalho. SP: Cortez, 1992 TEIXEIRA, João Marques. REVISTA SAÚDE MENTAL /VOLUME II, Nº2. MARÇO/ABRIL 2000 Editorial 06 / 07

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Page 83: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS COMO OBJETO DE ESTUDO: PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA: 1980 a 2006.

Neiva de Aquino Albres1

RESUMO Tivemos como objeto de estudo a categorização dos artigos, dissertações e teses produto de pesquisas elaboradas no Brasil a partir da década de 1980, que versassem sobre a interpretação em língua de sinais. Para tanto, selecionamos os trabalhos e desenvolvemos um mapeamento e construção de reflexões sobre estes textos e seus conteúdos. Neste artigo, indagou-se a localização temporal e institucional da pesquisa sobre interpretação em língua de sinais, bem como a identificação de tendências quanto aos possíveis campos de pesquisa dos trabalhos. Agrupamos os textos em sub-áreas conforme mapeamento proposto por Williams & Chesterman (2002) dentro dos Estudos da Tradução. Constatamos que os mesmos estão tendendo à área de atuação principalmente educacional, e de lexicografia. Verificamos a necessidade de inserção da área em outras instâncias de conversação como política, estudo comparado, entre outros. PALAVRAS CHAVES: estudos da tradução, intérprete de libras, pesquisas brasileiras. INTRODUÇÃO

Se traçarmos, historicamente, o percurso da preocupação com a

definição e o mapeamento do campo disciplinar estudos da tradução, o resgate

nos leva a perceber nas publicações pioneiras seus fundamentos na lingüística,

tanto no contexto nacional quanto no contexto internacional. O trabalho de

Holmes, apresentado inicialmente em 1972 em Copenhague e publicado em

1988, configura-se como o primeiro veículo a manifestar a tentativa de

definição da área de estudos que, segundo proposta do próprio Holmes,

poderia beneficiar-se da denominação “Estudos da Tradução”: em The name

and nature of translation studies (1988), a nova disciplina é apresentada à

comunidade científica, em uma comunicação numa sub-seção de Lingüística

Aplicada.

1 Mestre pelo Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Fonoaudióloga, psicopedagoga, professora de surdos, intérprete de Libras. Diretora administrativa FENEIS/SP e professora assistente do curso de Letras/Libras UFSC no pólo USP.

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Page 84: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A historia dos tradutores e intérpretes de língua oral não é recente, pois

a tradução no Brasil data a mais de 500 anos, mas o primeiro curso só foi

criado em 1968 na PUC –Rio, assim os estudos e formação destes

profissionais está praticamente entrando na maturidade neste momento.

(WYLER, 2004) Para Rónai (1952) a tradução até então era uma atividade que

se aprendia na prática e a custas dos leitores.

Aubert nos lembra que por muito tempo a tradução foi pensada como

uma estratégia pedagógica para aprendizagem de segunda língua, geralmente

quando utilizadas metodologias de gramática e tradução, considera que a “[...]

relativa recém-chegada à dignidade acadêmica, a teoria da tradução (por vezes

denominada como estudos Tradutológicos ou Translaition Studies) também

enfrenta situação de insegurança. (AUBERT, 2003: p. 11) Essa insegurança se

faz por conta do pouco tempo de cursos de tradução instituídos em

universidades, aproximadamente 30 anos, e escasso número de pesquisas

desenvolvidas em programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) com

linha de estudos específicos à tradução.

Em 1985, é criado o Grupo de Trabalho de Tradução da ANPOLL -

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística.

Em consonância com as tendências do cenário internacional, em 1997, a

ANPOLL cria os Grupos de Trabalhos Regionais de Tradução; o GTTRAD

Regional sediado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, lança o

primeiro número dos Cadernos de Tradução. Na USP, são lançados Cadernos

de Literatura em Tradução e a revista TRADTERM. (PAGANO E

VASCONCESSLOS, 2004) Provavelmente reflexo dos trabalhos em âmbito

internacional, pois começam a ser lançados periódicos sobre tradução e teorias

da tradução em 1995 e 1997 respectivamente.

Mas na ANPOLL, as discussões sobre língua de sinais e o processo de

interpretação da mesma esteve ligado ao grupo Trabalho Linguagem e Surdez,

que dentre oito linhas de pesquisa destaca uma específica: Questões de

tradução e interpretação.

Encyclopaedia of Translation Studies (Baker, 1998.) é considerado um

marco divisor de águas, pois aparece no período do “boom” dos Estudos da

Tradução. Os anos 90 período de institucionalização, dentro da academia, da

79

Page 85: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

formação de tradutores e intérpretes. Consideramos este marco

conseqüentemente pelo período de forte globalização.

No Brasil há uma vertente forte de estudo fundamentado no trabalho

descritivo, de sistematização dos procedimentos lingüísticos adotados nas

diferentes categorias de estudos tradutológicos derivadas da lingüística

comparada ou contrastiva (BARBOSA, 2004), como também nos estudos

historiográficos (WILER, 2004) que retratam o início da atividade de tradução

no Brasil.

Tivemos como objetivo a reconstrução, ainda que parcial, de

pressupostos históricos e teóricos relacionados à institucionalização dos

estudos da tradução no Brasil e principalmente da entrada dos temas de

interpretação de e para Libras, com vistas à elaboração de um histórico desse

campo de estudo.

No que concerne aos estudos da tradução e interpretação de e para

língua de sinais no Brasil, esse é um período inicial, influência também da

recente tentativa de implementação da perspectiva bilíngüe na educação de

surdos. Os estudos lingüísticos pertinentes às línguas de sinais se

preocuparam inicialmente em descrever a língua, já que o reconhecimento da

atuação do tradutor intérprete de língua de sinais se faz vinculada ao

reconhecimento da língua de sinais. A mesma foi reconhecida como língua em

diferentes municípios e estados do país a partir de 1995, mas em âmbito

federal a homologação do projeto de lei ocorreu no dia 24 de abril de 2002, que

reconhece a LIBRAS com língua oficial usada pela comunidade surda do

Brasil.

Como nas línguas orais, ocorre também com Libras, pois a prática de

tradução em língua de sinais brasileira precede o reconhecimento e os

estudos lingüísticos sobre a mesma (ALBRES, 2003). Mas, os tradutores e

Intérpretes de Língua de Sinais procuraram de alguma forma aprofundar-se

nessa atuação realizando Encontros para discutir a prática da interpretação

em Língua de Sinais.

80

Page 86: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

O Primeiro Encontro Nacional de Intérprete de Língua de Sinais foi no

Rio de Janeiro e data de 05 e 06 de agosto de 1988, o mesmo foi promovido

pela FENEIS com o objetivo de “levantar a necessidade de haver ILS e suas

funções perante a comunidade surda, uma tentativa de diminuição de

bloqueio de comunicação”. (FENEIS, 1988)

Desde então algumas entidades ligadas à atuação dos intérpretes,

como também as próprias associações de intérpretes existentes em alguns

estados como Mato Grosso do Sul e São Paulo têm realizado encontros com

temas relacionados à atuação dos mesmos. Dentre estes, poucos são os que

estão pautados em estudos vinculados a universidades, podemos citar os

desenvolvidos em Santa Catarina, como o Segundo Encontro de Intérprete de

Língua de Sinais de Santa Catarina com a temática Conhecendo a realidade

dos Intérpretes de Santa Catarina: Por um Futuro Profissional. Realizado na

UFSC dias 18 e 19 de junho de 2004, as mesas redondas apresentavam

discussões nas seguintes áreas: o trabalho atualmente desenvolvido pelos

intérpretes de língua de sinais no estado, a perspectiva dos surdos em

relação ao profissional intérprete de língua de sinais, como pode vir a ser o

trabalho dos intérpretes de língua de sinais, e formação continuada do

intérprete de língua de sinais. (Grupo de Estudos Surdos, 2004)

81

Page 87: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Conforme a programação desses encontros, pouco ou quase nada teve

de apresentação de estudos sendo resultados de pesquisas científicas sobre

a área da tradução e interpretação, os mesmos estão repletos de

apresentações sobre a prática ou a história de construção dessa profissão.

Constatamos que os tradutores intérpretes de língua de sinais têm

recorrido aos estudos dessa área, buscando a teorização que geralmente traz

exemplos do inglês/português ou francês/português, mas vale ressaltar que

os mesmos têm reconhecido a relevância da teoria em seu trabalho. Vide as

questões apresentadas e debatidas na lista de discussão2 via e-mail, como

também a criação de página dos intérpretes de língua de sinais por Pereira

(2000) que traz uma gama de referencias nacionais e internacionais sobre

teorias da tradução.

Barbosa (2004) considera que é da teoria, ou da teorização, que derivam

as práticas conscientes e se constroem verdadeiramente os profissionais. “A

teoria é importante na formação do tradutor, porque lhe confere um poder de

reflexão sobre sua vida profissional. Dá-lhe segurança nas tomadas de decisão

e nos posicionamentos profissionais [...]” (BARBOSA, 2003, p.59)

Há um projeto lei de regulamentação da profissão do tradutor e

intérprete de língua de Sinais Brasileira e Língua Portuguesa, em que prevê

também a criação de cursos para sua formação. No ano de 2005, no segundo

semestre, houve a criação de cursos para formação do Intérprete de Língua de

Sinais, na Universidade UNIMEP - SP e Estácio de Sá - RJ.

Após apresentar esse breve histórico, consideramos que um longo

caminho está por ser trilhado. Nos estudos sobre tradução foram desenvolvidos

mapas com subáreas possíveis para a tomada do objeto de estudo. Neste

trabalho tomamos como parâmetro de referência as categorias conjuntas

utilizadas em Classificação de pesquisas no CD – ETB segundo categorias da

Bibliography of Translation Studies e dos Translation Studies Abstracts

compilados por Pagano e Vasconcesslos (2004). Nesse trabalho, são

apresentadas 30 categorias dentro das quais podem ser desenvolvidas

pesquisas em tradução, reunidas na tabela que se segue:

2 http://www.interpretels.hpg.ig.com.br/

82

Page 88: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

1. Audio-Visual and Multimedia Translation

2. Bible and Religious Translation

3. Bibliographies 4. Community/dialogue/

public service interpreting

5. Conference and Simultaneous Interpreting

6. Contrastive and Comparative Studies

7. Corpus-Based Studies

8. Court and Legal Interpreting

9. Evaluation/Quality/Assessment/Testing

10. History of Translation and Interpreting

11. Intercultural Studies 12. Interpreting Studies 13. Literary Translation 14. Localization 15. Machine(aided)

Translation 16. Multi-category works 17. Process-oriented

studies 18. Research

Methodology 19. Screen translations 20. Signed Language

Interpreting

21. Specialized Translation

22. Technical and Legal Translation

23. Terminology and Lexicography

24. Translation and Cultural Identity

25. Translation and Gender

26. Translation and Language Teaching

27. Translation and the Language Industry

28. Translation Policies 29. Translation Theory 30. Translator/Interpreter

training

Tabela 1 – Classificação das pesquisas no CD – ETB segundo categorias da Bibliography of Translation Studies e dos Translation Studies Abstracts apud PAGANO E VASCONCESSLOS (2004) Estudos Brasileiros: mapa dos Estudos da interpretação em Língua de Sinais Brasileira

Levantamos os autores brasileiros que pesquisaram sobre a tradução e

interpretação em Língua de Sinais. Desenvolvemos o levantamento em bancos

de dados que compilem as pesquisas desenvolvidas nas universidades

brasileiras com publicações, ou seja, temos como fonte dissertação, teses e

livros, artigos apresentados em anais de congressos ou revistas da área de

educação de surdos, utilizamos também base de dados on-line em sites na

internet. Tomamos cuidados referentes aos artigos encontrados na internet,

pois a mesma é um canal sem censuras, tomamos como critério a seriedade e

rigor dos dados apresentados. Desenvolvemos uma seleção criteriosa dos sites

e páginas disponíveis, selecionamos apenas os sites institucionais

(essencialmente de universidade e centros de pesquisas) e de bibliotecas

virtuais.

Nos sites, constatamos que muitos dos trabalhos apresentavam apenas

o resumo, tanto como resenha ou sinopse, como indicado NBR 6028 (1990),

portanto estes constam apenas no levantamento e não no corpo de análise.

83

Page 89: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Descartamos também as produções de traduções, como por exemplo, os

vídeos de história infantil, pois as mesmas configuram-se em produção de

tradução, mas não no estudo da tradução com o desenvolvimento de análise

dessa prática.

Apresentamos a seguir o levantamento dos trabalhos encontrados,

organizamos conforme as sub-áreas eleitas dentro dos Estudos da Tradução

segundo Williams & Chesterman (2002). Resultando no cenário apresentado

na tabela abaixo, desconsideramos a categoria 20 Signed Language

Interpreting, pois todos os trabalhos selecionados referem-se à tradução em

língua de sinais:

CATEGORIAS No

01 Audio-Visual and Multimedia

Translation

Tradução Audiovisual e de

Multimídia -

02 Bible and Religious Translation Tradução Religiosa e Bíblica -

03 Bibliographies Bibliográfica -

04 Community/dialogue/ public service

interpreting

Interpretação de Serviço Público e

atendimento à Comunidade -

05 Conference and Simultaneous

Interpreting

Interpretação Simultânea de

Conferência -

06 Contrastive and Comparative Studies Estudo Contrastivo e

Comparativo 5

07 Corpus-Based Studies Estudos Baseados em Corpus -

08 Court and Legal Interpreting Interpretação Legal -

09 Evaluation/Quality/Assessment/Testing Teste de Qualidade, -

10 History of Translationand Interpreting História da Tradução e

Interpretação 7

11 Intercultural Studies Estudos Interculturais 1

12 Interpreting Studies Estudos de Interpretação 2

13 Literary Translation Tradução Literária 6

14 Localization Localização -

15 Machine(aided) Translation Tradução Automatizada 6

16 Multi-category works Trabalho com Múltiplas Categorias 3

17 Process-oriented studies Estudos Orientados -

18 Research Methodology Metodologia de Pesquisa -

84

Page 90: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

19 Screen Translations Tradução Fílmica e Televisiva 1

20 Signed Language Interpreting Interpretação de Língua de Sinais

Todos

21 Specialized Translation Tradução Especializada 50

22 Technical and Legal Translation Tradução Técnica e Legal -

23 Terminology and Lexicography Terminologia e Lexicografia 9

24 Translation and Cultural Identity Tradução e Identidade cultural 3

25 Translation and Gender Tradução e gênero -

26 Translation and Language Teaching Tradução e Ensino de Línguas -

27 Translation and the Language Industry A Tradução e Indústria da língua -

28 Translation Policies Políticas em tradução 3

29 Translation Theory Teoria da Tradução 1

30 Translator/Interpreter Training Formação de Tradutores e

Intérpretes 8

TOTAL 105

Tabela 2 – Classificação das pesquisas sobre tradução em língua de sinais, segundo Sub-áreas dentro da Bibliografia dos Estudos da Tradução e Estudos Abstratos de Tradução (Bibliography of Translation Studies and Translation Studies Abstracts), apud PAGANO e VASCONCESSLOS (2004).

Ao analisar os trabalhos desenvolvidos não se pretendeu tecer qualquer

juízo de valor das propostas, mas tão somente prosseguir na busca de um

maior entendimento sobre a organização interna dessas publicações, reunindo

elementos que permitam catalogá-las a partir da forma como elas vêm

analisando a atuação do tradutor e intérprete de Língua de Sinais no Brasil.

Assim, podemos ter uma visualização geral dos trabalhos. Dentre as 30

categorias, apenas em 14 tem trabalhos publicados na perspectiva da Língua

de sinais.

85

Page 91: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

01020304050

Produções sobre interpretação emLibras

Estudo Contrastivo e Comparativo História da Tradução e Interpretação Estudos de InterpretaçãoTradução literária Tradução Automatizada Trabalho com múltiplas categorias Tradução filmica e televisiva Tradução Especializada terminologia e lexicografia Tradução e Identidade cultural Políticas em tradução Teoria da TraduçãoFormação de Tradutores e Intérpretes

Ao desenvolver este levantamento surgiram alguns questionamentos:

a) Por que há quase um vácuo nos estudos sobre tradução de Língua de

Sinais anteriormente à década de 1990?

b) Porque alguns campos de estudos da tradução são mais evidentes?

c) Qual pesquisador, de que área (ciência) toma para si este objeto de

estudo?

d) Em que regiões do país são desenvolvidas e publicadas tais pesquisas?

e) Quais os meios de divulgação de tais estudos?

Verificamos quase um vácuo nos estudos sobre interpretação em língua

de sinais anteriormente à década de 1990. A “explosão” destes estudos se

concentra nos anos 90. Consideramos esse fato ser muito relevante, pois

nessa década há um grande número de estudos sobre a língua de sinais, a

descrição lingüística para que ela seja reconhecida legalmente no país como

tal.

O trabalho na perspectiva oralista proibia os sinais, já na Comunicação

Total se apresentam em formato de orientação aos professores preocupados

com o processo de interação, mas nesse momento a língua de sinais era

entendida com relação direta à fala. Os trabalhos na perspectiva bilíngüe

apresentam outra característica, a língua de sinais independente, e a

86

Page 92: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

transposição de uma língua portuguesa para língua de sinais e vice-versa

demanda diversos processos que fomentam a investigação. Assim a categoria

interpretação especializada é consideravelmente a mais estudada e publicada.

Discutiremos as outras questões concomitante a apresentação dos

dados, as publicações foram classificadas com base na categoria principal à

qual o trabalho pode ser associado. A classificação revela duas categorias que,

quantitativamente, se destacam: “história da tradução”, “área profissional”, as

demais categorias mostram subáreas emergentes, algumas delas em função

de desenvolvimentos tecnológicos que só se tornaram disponíveis na própria

década de 1990, como é o caso dos estudos para desenvolvimento de

tradução automatizada, como a construção de tradutores eletrônicos.

Identificamos a perspectiva da automatização do processo tradutório com o

projeto FALIBRAS em Alagoas e o XLIBRAS um ambiente virtual. (FUSCO,

2004; CORADINE, 2004) Há também o caso do projeto do Tradutor, onde se

vislumbra a criação de um boneco (um protótipo) que seja utilizado a princípio

nas escolas e futuramente como intérprete até em programas de TV, esse

projeto envolve uma equipe multidisciplinar. (FELIPE, 2002)

O estudo do léxico pode ser dividido em três ramos: lexicologia,

lexicografia e terminologia, embora sejam complementares. A primeira ocupa-

se dos problemas teóricos que embasam os estudos científicos do léxico. Já na

área de lexicografia voltados para técnicas de elaboração de dicionários,

encontramos uma dissertação (SOFIATO, 2005), mas o mesmo não foi

computado. Ou seja, selecionamos apenas os materiais que apresentam a

exposição dos sinais organizados por categorias, que funcionem como um

material de pesquisa específico à determinada área de interpretação.

Consideramos que os dicionários de língua de sinais são materiais importantes

de consulta aos tradutores intérpretes de Língua de Sinais, mas não os

classificamos como pertencente aos estudos da tradução. Sendo assim

identificamos principalmente dois trabalhos nos estudos de terminologia, pois

tomam como objeto de estudo o termo, a palavra especializada, os conceitos

próprios de determinadas áreas de especialidades (OATES, 1987; CAPOVILLA

E RAPHAEL, 2004/v1; 2005/v.2, v.3, v.4)

A classificação de Williams & Chesterman (2002) apresenta a

possibilidade de um trabalho estar em múltiplas categorias, consideramos dois

87

Page 93: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

dos trabalhos analisados como casos de trabalhos pertencentes a categorias

múltiplas. As combinações de categorias mais freqüentes são em “análise

contrastiva e comparada”, “história da tradução” e “área profissional”, como no

livro de Quadros (2004), dissertação de Leite (2004) e Rosa (2005) que

apresentam diversos capítulos.

Como citado anteriormente o maior número de trabalhos foram

categorizados como pertencendo à categoria principal “tradução especializada”

no total 50, sendo principalmente fruto pesquisas sobre interpretação em

ambiente acadêmico, conhecida também como atuação do intérprete

educacional e tendo como foco o processo inclusivo de aluno surdos em vários

níveis de escolaridade, estes são geralmente publicados em ANAIS de

Congressos de Educação.

Já os estudos sobre tradução literária são emergentes, pois alguns

grupos de pesquisas têm se dedicado à construção de material literário para

surdos. Conforme estudos anteriores (ALBRES, 2005) inicialmente foram

desenvolvidos Vídeos com narrativas em Libras, dentre estes se destacam o

INES e Editora Arara Azul, há também a equipe de pesquisa sobre Língua de

sinais e Educação de Surdos que tem desenvolvido livros com adaptações em

histórias clássicas escritas em sinais, como: Cinderela Surda e Rapunzel Surda

de Carolina Hessel, Fabiano Rosa e Lodenir Karnopp ; Adão E Eva e Patinho

Surdo de Fabiano Rosa e Lodenir Karnopp.

Todavia, para compor o corpus que esta sendo analisado

desconsideramos as publicações dos materiais em si, e selecionamos artigos

que discutissem o processo de construção da tradução e fizessem uma análise

critica, constatamos seis trabalhos nesta perspectiva Referente a categoria

“história da tradução”, encontramos um trabalho específico, mas podemos

considerar que outros também abordem temática, pois há os que estão em

múltiplas categorias.

A perspectiva histórica sobrepõe-se à literatura comparada, o discursos

teórico sobre a tradução em língua de sinais abandonam os leitores que atuam

como intérpretes de língua de sinais, os textos em sua maioria procuram

demarcar o caminho trilhado e pouco trazem de fundamento teórico. Aubert

(2003, p.12) considera que a vertente historiográfica é “de fundamental

importância para o entendimento da inserção da atividade tradutória nos

88

Page 94: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

percursos sociais e literários brasileiros e que têm, claramente, uma vocação

inerente para o esclarecimento da prática tradutória”.

Já os estudos de corpora, ou mesmo o “estudos contrastivos e

comparados”, são os estudos desenvolvidos mais recentemente destacando-se

no século XXI. Encontramos os livros de Coutinho (1996, 2000) e pesquisa de

Quadros (1999), Pires (1999) respectivamente são as principais referencias a

este estudo.

Os estudos parecem voltar-se para a tradução de textos literários.. Há

dois trabalhos na área da Literatura, RAMOS (2000) e KARNOPP (2004)

trabalham principalmente com a literatura infantil e a interpretação dos

clássicos da literatura mundial, desenvolvem uma reflexão do processo de

interpretação de textos na perspectiva de construção coletiva entre surdos e

ouvintes, para que os surdos tenham acesso à cultura socialmente

desenvolvida.

Para a questão inicialmente levantada, sobre quais pesquisadores, de

que área (ciência) tomam para si este objeto de estudo, constatamos que os da

área de educação apresentam um número maior de publicações e em segundo

lugar da lingüística. Mas os primeiros publicados concentravam-se nos estudos

de área de atuação, a educação e da construção da história da profissão, no

entanto o segundo grupo no processo da tradução e seus aspectos lingüísticos.

Consideramos esse fato, de um número maior de estudos realizados por

educadores é advindo do contato direto dessas questões diante da educação

de pessoas surdas e dos projetos de implementação de propostas bilíngües em

um momento inclusivo, onde se faz necessário o apoio do tradutor intérprete

em escolas inclusivas, proposta de âmbito nacional. Conforme orientações do

Programa Nacional de Educação de Surdos (MEC, 2002)

A esse momento vivido pela teoria da tradução, a Língua de Sinais

expressivamente da alteridade pode tomar seu lugar na dimensão institucional,

pois vivenciamos a necessidade da criação de cursos de formação específicos

para tradução e interpretação em Língua de Sinais, que potencializem a

teorização questionadora dessa prática. Consideramos que nas instituições de

ensino superior que trabalham com as vertentes: ensino, pesquisa e extensão

surgirão novas discussões e pesquisas nessa área tão específica.

89

Page 95: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

O exame da produção dos pesquisadores brasileiros revela aspectos

importantes, não apenas por meio das categorias contempladas na

classificação, mas também por aquelas que estão ausentes. Não foi registrado

nenhum trabalho em nenhuma das subdivisões no âmbito de estudos sobre

“bibliografia”, “metodologia de pesquisa”, “gênero”, “serviços de prestação

lingüística”, “políticas de tradução”. Observa-se a carência de estudos em

várias áreas.

Há certa regularidade na distribuição do campo temático com a área

(ciência) que toma para si este objeto de estudo, à grande incidência de estudo

sobre o intérprete educacional coincide com o elevado número de educadores

e fonoaudiólogos pesquisando. Constatamos também uma alta concentração

da produção do eixo Sul-Sudeste corroborado pelo maior número de

Universidades e de orientadores experientes nessa área.

Constatamos ainda que, referente aos autores, há uma construção de

trajetória dos pesquisadores, pois produzem várias obras ao longo dos anos,

tomando para si não só o objeto de estudo, mas também o foco para

aprofundamento. Geralmente um autor tem entre duas e quatro publicações na

mesma temática.

Os meios de Publicação dos estudos

01020304050

Meios de apresentação dos textosPesquisasRevistasAnais de Congressos, Seminários e EncontrosLivrossites institucionais

90

Page 96: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Dentre as pesquisas vinculadas à academia, encontramos uma de

iniciação científica, duas monografias de graduação, uma monografia de

especialização, nove dissertações de mestrado e uma tese de doutorado.

As revistas que apresentam tais artigos, são em sua maioria revistas

especializadas, em primeiro lugar com maior número de publicações sobre o

tema encontramos a Revista da FENEIS, logo depois Revista Espaço do INES

e depois encontramos na Revista Sentidos; outras apresentaram pelo menos

um artigo como a Revista de Iniciação científica da ULBRA, Revista on-line

Unicamp e um jornal da UFRJ.

Os Anais de Eventos dentre todos os meios de comunicação foram os

que mais apresentam artigos sobre a interpretação em Libras. Encontramos

apenas 3 livros específicos da área, mais 11 capítulos em livros organizados.

Os sites institucionais geralmente apresentam textos informativos sobre

eventos ou atuações dos intérpretes. Assim selecionamos apenas os que

disponibilizassem textos dissertativos com padrão de artigo. Encontramos as

produções nos sites da FENEIS, UFRJ, IST SINTRA.

Considerações Preliminares: caminhos da tradução em Língua de Sinais

A observação de alguns momentos relevantes na consolidação do

campo disciplinar dos Estudos da Tradução, a partir de obras publicadas,

sobretudo na década de 1990, corroboram a perspectiva de construção de

futuras pesquisas ao construirmos um panorama dos Estudos da Tradução em

Língua de Sinais.

O levantamento de dados, embora limitado, pois podemos não ter tido

acesso há algum estudo desenvolvido no país, nos proporcionou um

mapeamento importante, que possibilita traçar um percurso dos Estudos da

Tradução no país e das subáreas mais pesquisadas. Mas está longe de saturar

a questão, assim apenas nos mostra os caminhos que ainda estão por ser

trilhados.

Consideramos que os intérpretes de Libras estão sedentos por formação

e a precariedade de divulgação sobre esse campo empírico não contribui para

o desenvolvimento do profissional. Assim, esse levantamento pode ser

91

Page 97: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

compartilhado pelo site da Associação dos Profissionais Intérpretes de Libras

de Mato Grosso do Sul – APILMS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRES, Neiva de Aquino. Necessidades Educativas especiais dos alunos com surdez. In: Secretaria de Estado de Educação/MS. Educação Especial em debate. Caderno informativo. SED/MS, 2005. AUBERT, Francis Henrik. As (in)fidelidades da tradução: servidões e autonomia do tradutor. 2a ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1994. __________Conversas com tradutores: diálogos da prática com a teoria.In: BENEDETI, Ivone c.; SOBRAL, Adail (orgs). Conversas com tradutores: balanços e perspectivas da tradução. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.p. 07 a 15. AZENHA JUNIOR, João. Tradução técnica e condicionantes culturais: primeiros passos para um estudo integrado. São Paulo: Humanistas/ FFLCH/USP, 1999. BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Entrevista . In: BENEDETI, Ivone c.; SOBRAL, Adail (orgs). Conversas com tradutores: balanços e perspectivas da tradução. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. ___________Procedimentos técnicos da tradução. 2a ed., Campinas, SP: Pontes, 2004. BENEDETI, Ivone c.; SOBRAL, Adail (orgs). Conversas com tradutores: balanços e perspectivas da tradução. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. FENEIS. Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos. 1º Encontro Nacional de Intérprete de Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Folder, 1988. GRUPO DE ESTUDOS SURDOS- GES. Encontro de Intérpretes de Língua de Sinais de Santa Catarina. In: http://www.ges.ced.ufsc.br/iencontro.htm visitado em 2004 PAGANO, Adriana; VASCONCELLOS, Maria Lúcia. ESTUDOS DA TRADUÇÃO: PERFIL DA ÁREA. In: Anais do III Congresso Ibero-americano de tradução e interpretação. Novos tempos, velha arte: tradução, tecnologia, talento” 10 a 13 de maio de 2004. São Paulo: UNIBERO, 2004. PIPPER, Maria Cristinha. Intérprete de língua de sinais. In: <www.interpretels.html.com.br> visitado em 10-11 2000.

92

Page 98: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

RÓNAI, Escola de Tradutores, 1952, pg.10) WYLER, Lia. Línguas, poetas e bacharéis: uma crônica da tradução no Brasil. São Paulo: Rocco, 2004.

93

Page 99: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

ANEXOS

Levantamento das produções sobre tradução e interpretação de e para Língua de Sinais

CATEGORIA TRABALHOS 01 Audio-Visual and Multimedia Translation Tradução Audiovisual e de Multimídia 02 Bible and Religious Translation Tradução Religiosa e Bíblica 03 Bibliographies Bibliográfica 04 Community/dialogue/public service interpreting Interpretação de Serviço Público e atendimento a Comunidade 05 Conference andSimultaneous Interpreting Interpretação Simultânea de Conferência 06 Contrastive and Comparative Studies Estudo Contrastivo e Comparativo

5

COUTINHO, Denise Maria Duarte. Libras e língua portuguesa (semelhança e diferenças). Paraíba: Idéia Editora, 1996. COUTINHO, Denise Maria Duarte. Libras e língua portuguesa (semelhança e diferenças) Volume II. João Pessoa: Arpoador, 2000. PIRES, Cleidi Lovatto. Questões de fidelidade na interpretação em Língua de Sinais. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Santa Maria.1999. QUADROS, Ronice Muller de. Diversidade e unidade nas línguas de sinais: LIBRAS e ASL. In: Carlos Skliar. (Org.). Atualidade da Educação Bilíngüe para Surdos. 1 ed. Porto Alegre, 1999, v. 2, p. 195-207. SANTOS, Deize Vieira dos. Tradução e Interpretação entre Modalidades de Línguas Diferentes. Rio de Janeiro. 2003. Publicação Digital; Homepage: http://www.letras.ufrj/abralin.

07 Corpus-Based Studies Estudos Baseados em Corpus 08 Court and Legal Interpreting Interpretação Legal 09 Evaluation/ Quality/ Assessment/ Testing Teste de Qualidade, 10 History of

Translation and Interpreting História da Tradução e Interpretação

ALBRES, Neiva de Aquino. Construção do tradutor e intérprete de língua de sinais em Campo Grande – MS : condicionantes sociais e políticas. Relatório Histórico da Associação de profissionais Intérpretes de Língua de Sinais de Mato Grosso do Sul – APILMS. APILMS: Campo Grande, 2005.

COUTINHO, Denise Maria Duarte. Rever o Passado, olhar o presente para pensar no futuro. In: Seminário Desafios para o próximo milênio, 19 1 22 de setembro de 2000. Mesa Redonda: um olhar sobre a prática profissional (organização) INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro, 2000.

FELIPE, Tanya Amara ; Felipe, Tanya Amara . As Comunidades Surdas reivindicam por novas profissões: Instrutor de LIBRAS e Intérprete de LIBRAS . revista da FENEIS, Rio de Janeiro, p. 10 - 11, 20 set. 1999.

94

Page 100: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

7 KEHDI, Paulo. O mercado para intérpretes de libras cresce: um sinal de que a sociedade desperta para inclusão. In: revista Sentidos ano 6 no 35 (junho/julho) 2006.

SANDER, Ricardo. O Intérprete da LIBRAS - Um Olhar sobre a Prática Profissional In: Seminário Desafios para o próximo milênio, 19 a 22 de setembro e 2000. Mesa redonda: um olhar sobre a prática profissional. (organização) INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro, 2000. p. 80-84

PIRES, Cleidi Lovatto. In: Seminário Desafios para o próximo milênio, 19 a 22 de setembro e 2000. Mesa redonda : um olhar sobre a pratica profissional. (organização) INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro, 2000. VILHALVA, Shirley. Quando o intérprete de LIBRAS* atua: eu ouço. Disponibilizado em 30/06/2005 TVE Regional /MS o canal da inclusão http://www.tveregional.com.br/colunistas.php?IDc=9 visitado em 2005.

11 Intercultural Studies Estudos Interculturais

1

PERLIN, Gladis A cultura surda e os intérpretes de língua de sinais. Processos Tradutórios, Língua de Sinais e Educação Grupo de Estudos Surdos e Educação. < 143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=272&article=114&mode=pdf> Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.135-146, jun. 2006

12 Interpreting Studies Estudos de Interpretação

2

PIRES, Cleidi Lovatto e NOBRE, Maria Alzira . Uma investigação sobre o processo de interpretação em língua de sinais. IN: THOMA, Adriana da Silva e LOPES, Maura Corcini (org.) A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. PIRES, Cleidi Lovatto e NOBRE, Maria Alzira Intérprete em Língua de Sinais: um olhar mais de perto. In: ESPAÇO: informativo técnico-científico do INES. no 12 (doze). Rio de Janeiro: INES, 2000. Janeiro: INES, 1998.

13 Literary Translation Tradução Literária

6

KARNOPP, L. B. ; ROSA, Fabiano . Literatura Surda: uma abordagem lingüística. In: V Fórum de Pesquisa Científica e Tecnológica e X Salão de Iniciação Científica, 2004, Canoas. V Fórum de Pesquisa Científica e Tecnológica e X Salão de Iniciação Científica, 2004.

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95

Page 101: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

de tradução de textos da literatura para a Libras, realizado na faculdade de letras da UFRJ entre os anos de 1992 a 2000. In: Seminário Educação de Surdos: Múltiplas Faces do cotidiano Escolar, 22 a 24 de setembro de 2004. (organização) INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro, 2004.

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14 Localization Localização 15 Machine(aided

) Translation Tradução Automatizada

6

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16 Multi-category Works Trabalho coMúltiplas Categorias

m

QUADROS, Ronice Muller. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa / Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos – Brasília: MEC; SEESP, 2003.

3

LEITE, Emili Marques Costa. Os intérpretes de LIBRAS na sala de aula inclusiva. Mestrado do curso interdisciplinar de Lingüística aplicada. Faculdade de Letras – UFRJ, 2004. ROSA, Andréa da Silva. Entre a visibilidade da tradução da língua de sinais e a invisibilidade da tarefa do intérprete – Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP: UNICAMP, 2005.

17 Process-oriented Studies Estudos Orientados 18 Research Methodology Metodologia de Pesquisa 19 Screen

Translations ROSA, A. S. . Interprete de Língua de Sinais Televisivo: Possível Interlocutor da Comunidade Surda. In: INPLA, 2002, São Paulo. 12 InPLA: As Interlocuções na Linguistica Aplicada, 2002.

96

Page 102: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Tradução Filmíca e Televisiva

1

20 Signed Language

Interpreting Interpretação de Língua de Sinais

TODOS

21 Specialized Translation Tradução Especializada

50

ALBRES, Neiva de Aquino. Intérprete de Língua de Sinais: um olhar sobre as particularidades dentro do contexto educacional. GT10- Processo de Ensino, aprendizagem e educação especial. I encontro dos cursos de Pós-graduação (lato sensu) da Região Centro-Oeste. 19 a 21 de novembro de 2003. Campo Grande – MS, 2003. ALBRES, Neiva de Aquino. Interpretação da/para Libras no Ensino Superior: apontando desafios da inclusão. V Simpósio Multidisciplinar – UNIFAI. São Paulo. 23 a 27 de outubro de 2006. ALCÂNTARA, de Ilka. Os efeitos da interpretação na linguagem de uma criança surda. 2000. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ALCÂNTARA, Loraine; ROSSETTO, Elisabeth; SILVA, Soelge Mendes. O intérprete da LIBRAS na UNIOSTE: o reconhecimento de sua necessidade e os desafios a serem enfrentados. In: Congresso surdez e pós-Modernidade: novos rumos para a educação brasileira, 18 1 20 de setembro de 2002, organização INES, Divisão de Estudos e Pesquisas – rio de Janeiro, 2002. BRASIL-MEC A escolarização dos surdos In: BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Especial. Educação de surdos. vol. 2- A educação dos surdos fascículo 6 O aluno surdo na educação superior Brasília: MEC/SEESP, 1997 pp.287- 307. FELIPE, Tanya Amara . Escola Inclusiva e os direitos lingüísticos dos surdos. Revista Espaço, Rio de Janeiro, n. 7, 1997. FELIPE, Tanya Amara.A função do Intérprete na Escolarização do Surdo In: II Congresso Internacional do INES – VII Seminário Nacional do INES - Surdez e escolaridade: desafios e Reflexões, 2003, Rio de Janeiro. Anais do Congresso - Surdez e Escolaridade: Desafios e reflexões. 2003. p.87 – 98. FERNANDES, Eulália. A função do intérprete na escolarização do surdo. In: Surdez e escolaridade, Desafios e Reflexões. Anais do II Congresso Internacional do INES, 17-19 de setembro de 2003. FERREIRA, G. E. O perfil pedagógico do intérprete de língua de sinais no contexto educacional. Dissertação de Mestrado. UNIPAC, Bom Despacho/MG, 2002.

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99

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100

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22 Technical and Legal Translation Tradução Técnica e Legal

101

Page 107: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

23 Terminology and

Lexicography Terminologia e Lexicografia

09

ALBRES, Neiva de Aquino. Ampliação do léxico da libras na área educacional: classes gramaticais e escolas literárias http://www.institutosantateresinha.org.br/Gram%E1tica%20libras.htm acessado em 20/02/2006. BAHIA, Juracy Carlos (coord) Manual de sinais bíblicos: o clamor do silêncio. Rio de Janeiro: Missões Nacionais, 1991 CENTRO ESTADUAL DE ATENDIMENTO AO DIFICIENTE DA AUDIO COMUNICAÇÃO - CEADA . LIBRAS. Língua Brasileira de Sinais com dialeto regional de Mato Grosso do Sul. Campo Grande – MS: Editora Athenas, 2000. OATES, Eugênio. Aplicações religiosas as linguagem de sinais do Brasil. In: HOEMANN, Harry W.; OATES, Eugênio; HOEMAN, Shirley. Linguagem de sinais do Brasil. Porto Alegre: Centro Educacional para deficientes auditivos, 1983. CAPOVILLA, Fernando C; RAFHAEL, W. P. (editores) Enciclopédia de Lingua de Sinais Brasileira: o mundo do surdo em Libras.vol 1 Educação São Paulo: fundação Vitae: Fapesp: Capes: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. CAPOVILLA, Fernando C; RAFHAEL, W. P. (editores) Enciclopédia de Lingua de Sinais Brasileira: o mundo do surdo em Libras.vol 2 artes e cultura, esporte e lazer São Paulo: fundação Vitae: Fapesp: Capes: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. CAPOVILLA, Fernando C; RAFHAEL, W. P. (editores) Enciclopédia de Lingua de Sinais Brasileira: o mundo do surdo em Libras.vol 3 Famílai e relações familiares e casa São Paulo: fundação Vitae: Fapesp: Capes: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. CAPOVILLA, Fernando C; RAFHAEL, W. P. (editores) Enciclopédia de Lingua de Sinais Brasileira: o mundo do surdo em Libras.vol 4 Comunicação, religião e eventos São Paulo: fundação Vitae: Fapesp: Capes: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. CAPOVILLA, Fernando C; RAFHAEL, W. P. (editores) Enciclopédia de Lingua de Sinais Brasileira: o mundo do surdo em Libras.vol 8 Palavras de função gramatical São Paulo: fundação Vitae: Fapesp: Capes: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.

24 Translation and

Cultural Identity Tradução e Identidade cultural

ROSA, A. S. ; Souza, Regina Maria . Intérprete de Língua de Sinais e sua Tradução. In: XVII ENCONTRO NACIONAL DA ANPOLL, 2002, Gramado-RS. ANPOLL, p. 149, 24 a 28 de junho de 2002 ROSA, A S.; SOUZA, R. M. de. “Sobre a Tradução (da língua de sinais) e suas Fronteiras”. Cadernos de Resumos do 13º Intercâmbio de Pesquisas em Lingüística Aplicada. Realizado de 30 de abril a 03 de maio de 2003, p. na PUC-SP – São Paulo. Metodologias de Pesquisa em Lingüística Aplicada, 2003. p.147. SILVA,Valeria de Oliveira . A natureza da modalidade no discurso do intérprete em língua de sinais. Início: 2001.

102

Page 108: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

3 Dissertação (Mestrado em Mestrado em Letras da UERJ) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. (Orientador: Eulália Fernandes).

25 Translation and Gender Tradução e gênero 26 Translation and Language Teaching Tradução e ensino de línguas 27 Translation and the Language Industry A Tradução e a indústria de Língua 28 Translation

Policies Políticas em tradução

3

PEREIRA, Maria Cristina Pires. O que os contratantes de Intérprete de Libras deveriam saber. In: Revista da FENEIS ano V de 22 abril/junho de 2004. SANDER, R. E. . Código de ética dos intérpretes da libras. In: I Congresso Brasileiro de Educação de Surdos, 1999, São Paulo SP. Código de Ética, 1999.

SINTRA - Sindicato Nacional dos Tradutores. Tabela de honorários. Disponibilizado 2005 <http://www.sintra.org.br/institu/precos.php> visitado em 13-08-2005

29 Translation Theory Teoria da Tradução

1

PIRES, Cleidi Lovatto e NOBRE, Maria Alzira. Intérprete de Língua de Sinais: considerações preliminares. In: ESPAÇO: informativo técnico-científico do INES. no 10 (dez). Rio de Janeiro

103

Page 109: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

30 Translator/ Interpreter Training Formação de Tradutores e Intérpretes

8

FENEIS – FEDERAÇÃO NACIONAL DE Educação e integração de surdos. A importância dos intérpretes da linguagem de sinais. Rio de Janeiro: Feneis, 1988. FENEIS – FEDERAÇÃO NACIONAL DE Educação e integração de surdos. O que é o intérprete de língua de sinais para pessoas surdas? Belo Horizonte - MG: FENEIS, 1995. FENEIS.Intérprete.Disponível: http://www.feneis.com.br/interpretes/postura.shtml. Acesso em: 23 de agosto de 2004 PEREIRA, Maria Cristina Pires. A Formação e a Profissionalização do Intérprete de Libras. Revista da Feneis. Rio de Janeiro: 2003. PEREIRA, Paula Michelle da Silva. Diferenças e semelhanças entre os intérpretes de língua de sinais e sua formação. 2005. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Educação Especial) - Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Orientador: Cássia Geciauskas Sofiato ROSA, Andréa da Silva; SOUZA, Regina Maria . Aspectos da Formação do Intérprete de Língua de Sinais. In: XIX Encontro Nacional da ANPOLL, 2004, Macéio. Ciência Para o Brasil E a Área de Letras e Lingüística, 2004. p. 251-251. ROSA, Andréa da Silva, SOUZA, Regina Maria de. O lugar de Formação do Interprete de Língua de Sinais. 53 Seminário do GEL – 2005. Realizado em 28 a 30 de julho de 2005, São Carlos – SP. TESKE, Ottmar. A profissionalização dos intérpretes na universidade: espelhando as diferenças. In: Seminário Educação de Surdos: Múltiplas Faces do cotidiano Escolar, 22 a 24 de setembro de 2004. (organização) INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro, 2004. pp.75-84

104

Page 110: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

PROLIBRAS: A FORMAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

Maria Emília Borges Daniel1

Texto não disponibilizado pela palestrante.

1Doutora em Língüística, professora do Departamento de Letras do CCHS/UFMS e Coordenadora do PROLIBRAS em Mato Grosso do Sul.

105

Page 111: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

RELATO DE EXPERIÊNCIA

106

Page 112: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NO SISTEMA EDUCACIONAL

Dolores Alves Pereira de Britto1

Tenho experiência de contato com a comunidade surda há 15 anos,

mas como intérprete educacional há apenas 8. Hoje me sinto muito feliz pelas

conquistas realizadas por essa comunidade, ao longo desse tempo, dentre elas

o direito de freqüentar o ensino comum e poder ter a presença de um

profissional intérprete na sala de aula.

Em 1999, eu iniciei como intérprete educacional na Escola Municipal

Professor Arlindo Lima, era contratada do Estado e cedida para a Prefeitura.

Lembro-me que temia muito, pois este ano foi o início da inclusão da pessoa

surda no município, no Estado já acontecia desde 1997. Meu temor era

principalmente porque sabia que os profissionais que iriam nos recepcionar

eram totalmente alheios a esse trabalho, era novo também para mim, enfim os

desafios surgiriam com certeza!

Uma dos primeiros impasses foi a questão do professor achar que

estávamos ali na sala de aula como “espiões”, “fiscais” de seu trabalho, etc. e

também a desconfiança em relação à fidelidade da transmissão do conteúdo

ou mesmo em relação a estarmos “passando cola” ou não.

Um outro fato que ainda persiste é que na maioria das vezes os

alunos Surdos são dos intérpretes e não da escola ou do professor, ficando sob

nossa responsabilidade seu sucesso ou fracasso no aprendizado, na realidade

a escola ainda não aceitou o Surdo ou qualquer outro aluno com necessidades

especiais de fato, mas apenas de direito.

Acredito, porém, que estamos passando por mudanças que fazem

parte de um processo, e enquanto processo, elas não ocorrem de uma hora

para a outra.

Hoje percebo que já houve alguma mudança, temos buscado

formação profissional e somos capazes de confrontar e expor aos profissionais

que ainda não entendem nosso verdadeiro papel na sala de aula, que é a de

intermediar na comunicação entre a pessoa surda e o professor e também com

1 Graduada em Normal Superior e Intérprete de Língua de Sinais.

107

Page 113: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

os demais colegas de turma e escola. Acredito que agora com o Decreto 5626,

que institui a LIBRAS como disciplina e prevê formação para os intérpretes em

muito contribuirá para este processo e para o efetivo reconhecimento do nosso

trabalho profissional.

Através da nossa atuação como intérprete educacional o Surdo tem

tido a oportunidade de acompanhar os conteúdos utilizando-se de sua Língua,

a LIBRAS, apropriando-se dos conhecimentos com mais facilidade. Eles

interagem com o professor, os colegas e com a escola em geral. Na

experiência que tenho tido na maioria das vezes um bom número de colegas

se interessam em aprender a LIBRAS para se comunicar diretamente, isso é

uma das coisas faz com que o Surdo se sinta verdadeiramente inserido na

comunidade escolar, sabemos que ainda há um longo caminho a ser

percorrrido.

108

Page 114: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NO DETRAN E AUTO-ESCOLAS

Cláudia de Almeida Gonçalves1

Iniciei a interpretar libras a mais ou menos oito anos, o começo foi no

susto como a maioria dos intérpretes, já tive experiência de interpretar nas

mais diferentes situações, em vestibular, concursos, cursos, escolas, médico,

igreja, faculdade, palestras, congressos, entrevistas, auto-escola e atualmente

faço interpretações esporádicas quando necessário e interpreto junto ao Detran

do estado.

Minha primeira experiência de interpretar no trânsito foi junto a uma

auto-escola como contratada particular do surdo, mas isto foi antes da lei de

reconheceu a libras como língua e da regulamentação feita a posteriori.

Entrei como funcionária concursada no DETRAN/MS em fevereiro deste

ano, porém o órgão já possuía um contrato de que o CAS estaria enviando os

intérpretes quando necessários para a realização das provas tanto na capital

como no interior.

Todavia, certo dia apareceu um surdo para fazer prova escrita sem que

houvesse o agendamento ou a solicitação de intérprete, então por intermédio

de uma amiga descobriram que eu interpretava e me chamaram para

interpretar a prova.

Depois desse fato fui procurada pela responsável do setor de recursos

humanos que me perguntou se haveria a possibilidade de estar interpretando

junto ao DETRAN para eventuais necessidades, eu disse sim e logo depois fui

nomeada como interprete oficial do DETRAN/MS.

Hoje faço um atendimento ao surdo mais com relação aos serviços, tais

como atendimento pata renovação de CHN, licenciamento, exame médico,

etc...

Todavia essa função há de mudar, já fui comunicada de que quando se

tratar de interpretação na capital serei chamada a interpretar, até porque

sempre que solicitado os serviços de um intérprete é pago um valor pelos

serviços e o órgão não deseja arcar com muitos gastos.

1 Advogada e Intérprete de Língua de Sinais.

109

Page 115: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Mas o surdo que desejar tirar a carteira de habilitação nacional deverá

primeiro contatar a auto-escola, é ela a responsável por providenciar intérprete

e agendar seus exames no Detran solicitando inclusive o intérprete para o dia

da prova.

O Detran não se responsabiliza por intérprete na auto-escola porque se

trata de uma atividade privada que visa auferir lucro e, portanto, dever também

arcar com os riscos do negócio, ou seja, contratar um intérprete.

Por isso intérpretes, quando solicitados a interpretar em auto-escolas

solicite primeiro a elaboração e assinatura do contrato de prestação de

serviços, onde conste o valor a ser pago pelos seus préstimos, caso contrário

pode correr o risco de trabalhar de graça.

110

Page 116: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS EM PROVAS E CONCURSOS.

Cirley Vilanova Olah¹

Depois de muita luta o surdo hoje pode solicitar um intérprete de língua

de sinais para interpretar no vestibular, em provas e concursos.

Ao intérprete é pago um pouco a mais do que um fiscal comum. Não

temos outro intérprete para revezar quando precisamos tomar água, formos ao

banheiro até mesmo para um lanche. Caso precisa sair da sala, o surdo ficará

sozinho.

Há surdos que pedem para ler uma questão mais de uma vez, fazendo

com que ocupe todo o tempo disponível para realização da prova.

Quando tem redação no vestibular, nós explicamos o tema, e o surdo

desenvolve o assunto no rascunho, sendo posteriormente passado a limpo em

Língua Portuguesa.

Algumas instituições responsáveis em realizar vestibular e concurso não

possuem nenhum tipo de conhecimento sobre a surdez ou Língua de Sinais,

com isso nos deixa a vontade para fazermos nosso trabalho.

Neste tipo de trabalho, há candidatos que possuem nível escolar que

deixa a desejar e por isso o mesmo espera que o intérprete auxilie-o nas

respostas. Por preceitos éticos deixamos que ele mesmo exponha seus

conhecimentos.

Aqui no Mato Grosso do Sul, a instituição que precisar de um intérprete

de Libras deve procurar a APILMS - Associação dos Profissionais

Tradutores/Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais de Mato Grosso do Sul ou

o CAS – Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de

Atendimento às Pessoas com Surdez.

Ao surdo é dado o direito de utilizar o Intérprete de Língua de Sinais e

ele é o responsável por buscar esse e outros direitos garantidos. Além disso,

também lhe é assegurado o direito de usufruir de acréscimo de tempo na

realização das provas.

111

Page 117: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS EM CONFERÊNCIAS

Janete de Melo Nantes1

O intérprete de Língua de Sinais, conforme a Drª Ronice Muller de

Quadros descreve em seu livro intitulado O Tradutor e Intérprete de Língua de

Sinais e Língua Portuguesa, é o profissional que domina a língua de sinais e a

língua falada do país. No caso do Brasil, a Língua Portuguesa e a LIBRAS.

Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e

interpretação, o profissional precisa ter domínio dos processos, modelos,

estratégias e técnicas de tradução e interpretação.

Alguns preceitos éticos devem ser observados durante o ato

interpretativo: confiabilidade, imparcialidade, discrição, distância profissional,

fidelidade.

Além das línguas envolvidas o intérprete deve entender as culturas em

jogo, ter familiaridade com cada tipo de interpretação e com o assunto.

É importante que o intérprete seja capaz de identificar o tipo de discurso

em que está exposto a fim de executar um trabalho mais eficaz. Alguns tipos

de discursos existentes podem ser:

o narrativo – reconta uma série de eventos ordenados mais ou menos de

forma cronológica;

o persuasivo – objetiva influenciar a conduta de alguém;

o explicativo – oferece informações requeridas em determinado contexto;

o argumentativo – objetiva provar alguma coisa para a audiência;

o conversacional – envolve a conversação entre duas ou mais pessoas;

o procedural – dá instruções para executar uma atividade ou usar algum

objeto.

Certas situações exigem um posicionamento ético do profissional

intérprete e uso do bom senso na tomada de decisões. No caso de dúvidas faz-

se necessário refletir e conversar com outros intérpretes sobre o contexto da

1 Pedagoga, Pós-graduada em Educação Inclusiva, Intérprete de Língua de Sinais e Vice-presidente da APILMS.

112

Page 118: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

situação interpretativa sempre com base nos princípios éticos do código de

ética do tradutor/intérprete.

Exemplos de diferentes situações que podem surgir durante a atuação

do intérprete em conferências:

o Uma empresa contrata o serviço de um intérprete e depois se nega a

apagá-lo porque a pessoa surda não compareceu;

o O palestrante fala muito rápido;

o Quando interpretando e as luzes são apagadas e o intérprete não foi

informado que isso aconteceria;

o A platéia surda conhece o intérprete e conversa com ele durante a

interpretação;

o A platéia surda faz observações sobre a palestra para o intérprete;

o O intérprete foi colocado em uma posição inadequada com visualização

comprometida;

Em todas essas situações o intérprete deve agir com bom senso e expor

sua opinião a partir do conhecimento a respeito dos direitos dos surdos e do

papel do intérprete.

A contratação de um Intérprete de Língua de Sinais deve ser realizada

mediante a celebração de um contrato entre o profissional e o contratante. O

mesmo tem por objetivo assegurar os direitos do profissional Intérprete de

Língua de Sinais bem como garantir ao contratante o cumprimento dos deveres

do profissional na atividade a qual fora contratado.

Você pode encontrar no site da APILMS (www.apilms.org) um modelo de

contratação de Intérprete de Língua de Sinais disponível para download,

baseado nas clausulas do modelo de contrato recomendado pelo Sindicato

Nacional de Tradutores.

De acordo com Andréa da Silva Rosa coloca em seu texto intitulado “A

Presença do Intérprete de Língua de Sinais na Mediação Social entre Surdos e

Ouvintes”, o intérprete tem um papel de suma importância no processo de

conquista de espaço da comunidade surda na sociedade. Por isso o intérprete

deve ter o cuidado de não suprimir nem adicionar informações no discurso do

conferencista de forma que prejudique a comunidade surda fazendo com que

esta continue à margem da sociedade, sem conhecer seus direitos e deveres.

113

Page 119: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

O intérprete de Língua de Sinais precisa refletir constantemente sobre

sua prática buscando aprimorar-se cada vez mais e, em relação à interpretação

em conferências, ter consciência de que não está prestando um favor, mas

atuando como um profissional e deve comportar-se como tal, atendendo as

exigências do contratante, desde que não fira os preceitos éticos da profissão.

114

Page 120: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS NO INTERIOR DO ESTADO

Raquel Elizabeth Saes Quiles1

Primeiramente, devo destacar que sou de Dourados/MS e, portanto,

tenho condições de falar com exatidão apenas das experiências do meu

município. Quanto aos outros municípios do interior, temos algumas

informações pela troca de experiências que com o tempo acabamos realizando

com os outros intérpretes do Estado. Por isso, destaco que falarei pelo

município de Dourados, apesar de acreditar que a nossa realidade se reflete

também nos outros municípios.

Uma questão emblemática e que merece destaque é a dificuldade que

temos de capacitação continuada. A Secretaria de Educação, UNAI (Unidade

de Inclusão do Estado) e Universidades têm realizado cursos de LIBRAS para

os professores da Rede municipal e estadual e comunidade. A demanda tem

aumentado a cada ano; percebe-se que muitas pessoas têm se despertado

para a aprendizagem da LIBRAS. Não se sabe exatamente qual tem sido as

motivações dessas pessoas, mas para tanto, seria necessário a realização de

uma pesquisa mais aprofundada.

Apesar desses cursos oferecidos, percebo que ainda falta uma

continuidade dessas ações, bem como discussões teóricas mais

substanciosas, principalmente para os intérpretes que já têm uma caminhada

mais expressiva com a comunidade surda e possuem maior domínio da

LIBRAS. Essas pessoas acabam não tendo momentos de troca e possibilidade

de maior crescimento e estudo.

Penso que essa seja uma dificuldade devido ao fato de não haver no

interior um núcleo voltado para os intérpretes, de forma que os mesmos

precisam se reportar à capital para buscar a melhoria de suas formações.

Considerando que a grande maioria está em atuação, se torna inviável essa

capacitação, apesar de perceber que muitos têm buscado por conta própria o

aperfeiçoamento, participando de Pós-Graduações na área de Educação e

1 Pedagoga, Mestranda em Educação pelo Programa de Mestrado em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Campo Grande/MS.

115

Page 121: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Educação Especial, Congressos e Eventos que abordem a questão da

diferença. diversidade, surdez etc, cursos de LIBRAS que são oferecidos no

país, etc. Todavia, uma formação que seja contínua e não pontual, que

promova de fato um crescimento profissional voltado para a atuação do

intérprete, não acontece de forma permanente.

A atuação dos intérpretes no interior se dá principalmente no campo

educacional; existem profissionais bastante capacitados e interessados no

processo de aprendizagem e autonomia dos surdos. Os surdos estão inseridos

em praticamente todas as modalidades de educação: educação infantil, ensino

fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos, salas de recursos e

estão sendo acompanhados pela Secretaria de Educação e UNAI, órgãos que

contratam os intérpretes.

Existem também igrejas que têm realizado trabalhos consistentes com

os surdos, os atendendo no aspecto espiritual, familiar e social. Destaca-se que

grande parte dos profissionais que têm atuado com os surdos atualmente,

iniciaram suas formações nessas igrejas, a partir dos cursos que sempre foram

oferecidos nesses espaços.

Como em todo lugar, percebe-se que muitas pessoas ainda que não têm

noção nenhuma de quem seja o surdo, como é a sua língua, quais as

diferenças culturais e lingüísticas desse “grupo”, etc, o que significa que os

intérpretes juntamente com os surdos ainda têm muito a realizar.

De uma forma geral, apesar de perceber muitos avanços e considerar

que diante das dificuldades, o trabalho com surdos tem sido realizado e a

LIBRAS divulgada, saliento que ainda seja necessário que os intérpretes não

apenas do interior, mas de todo o Estado, se organizem para buscarem

soluções para os problemas cotidianos, para que Mato Grosso do Sul avance

ainda mais em suas ações, na busca de políticas públicas que sejam inclusivas

aos surdos e que também garantam uma carreira aos profissionais da LIBRAS,

de forma a reconhecê-los e valorizá-los no trabalho muitas vezes complexo que

os mesmos têm realizado.

116

Page 122: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NO SISTEMA JUDICIÁRIO E POLICIAL

Maria Tereza da Costa1

Falar sobre acesso a justiça é um grande desafio, entretanto, tratar

deste tema vinculado à pessoa surda constitui-se ainda, em desafio maior.

Não há dúvida de que desde os primórdios, a humanidade passa por um

constante processo evolutivo e com o surgimento da globalização, a sociedade

caminha rumo à evolução, em passos ágeis, visando garantir a sua própria

sobrevivência.

Em contraposição ao avanço tecnológico, figura o aumento considerável

das problemáticas sociais que tem colocado em “xeque” as políticas públicas,

ora implantadas, principalmente, aquelas voltadas ao atendimento das

especificidades afetas as pessoas com os mais diversos quadros de limitações

funcionais.

A abordagem direta da temática proposta, ou seja, o acesso da pessoa

surda aos órgãos pertencentes a justiça, traz a lume uma figura extremamente

importante, diria imprescindível, o profissional Tradutor/Intérprete de Língua

Brasileira de Sinais.

Conforme asseveram os doutores Mauro Cappelletti e Bryant Garth em

seu livro Acesso à Justiça, traduzido e revisado por Ellen Gracie Northfleet

“nenhum aspecto de nossos sistemas jurídicos modernos, é imune à crítica”.

Sendo assim, vale ponderar que para a obtenção de direitos e o

exercício de deveres é necessário, a priori, conhecer. Intentar uma ação na

esfera judicial sem o prévio conhecimento de direitos e de deveres, é no

mínimo, ingressar em aventuras jurídicas que levará a um caminho certo, o

desgaste.

E o que dizer do surdo nesse contexto? Sabemos que são pessoas

capazes, portanto, imputáveis, porém será que o surdo tem como os ditos

“normais” pleno conhecimento de como funciona o sistema jurídico neste país,

acredito que não!

1 Graduanda em Direito e Intérprete de Língua de Sinais.

117

Page 123: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Contrapondo as engrenagens jurídicas que funcionam a base de

português aos óbices de comunicação encontrados pelos surdos frente a

sociedade hodierna, que não vê problema algum em aprender inglês, muito

menos em utilizar o juridiquês, mas que, entretanto, apesar de ver a Língua

Brasileira de Sinais – LIBRAS, como uma língua espacial linda, impõe

obstáculos intransponíveis para a sua aceitação e conseqüente inclusão social

da pessoa surda em todos os aspectos, chega-se a uma única conclusão, há

que se avançar. Face a demanda apresentada, hodiernamente, órgãos ligados a justiça,

parecem despertar para a real necessidade de preparo, que tem por escopo o

atendimento a demanda específica apresentada.

Diante do quadro em tela ficam as seguintes indagações: Qual é a visão

da justiça acerca da pessoa surda? E a força policial, quais os procedimentos

adotados para o seu atendimento, seja como pessoa vitimizada ou acusada de

cometer algum ato antijurídico? E o profissional Tradutor/Intérprete de LIBRAS,

legalmente falando pode exercer tal função e se puder será que está

capacitado para atuar na esfera jurídica em que os liames são tão sutis?

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Page 124: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NA MÍDIA

Wellington Ortega1

Atuando como intérprete, desde 1998, tive a oportunidade de trabalhar

em diversos tipos de eventos, em salas de aula, e até mesmo para informes

publicitários e campanhas na mídia.

É exatamente sobre a minha atuação na mídia que eu irei relatar, falar

das experiências, dos fatos importantes e de pontos positivos e negativos de

quando um intérprete resolve atuar nessa linha da interpretação.

Dentre as várias atuações, há algumas que quero pontuar. A que eu

considero de maior destaque foi uma campanha publicitária realizada pelo

Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul intitulada “CIDADÃO POR

INTEIRO” que consistia na interpretação de uma história num formato

apropriado para pessoas com deficiência auditiva ou visual e as não-

alfabetizadas.

Quando recebi o texto com a proposta, aceitei imediatamente e coloquei-

me a estudar o texto, pois já imaginava que não seria um trabalho tão fácil,

juntamente com alguns amigos surdos elaboramos para os personagens os

sinais, quais seriam as melhoras maneiras para se transmitir a mensagem,

priorizando a língua de sinais, dentro da identidade surda. Baseamo-nos muitos

em materiais visuais da editora Arara Azul e vídeos da FENEIS.

As primeiras tentativas de filmagem fracassaram, pois não havia um

material adequado para a filmagem nem tão pouco um lugar apropriado. Tudo

estava sendo feito com uma câmara digital de uso doméstico nas

dependências do próprio TRE, não haveria edição de imagens e outros

recursos que só estariam disponíveis em uma produtora.

Uma semana antes do lançamento do projeto, fiquei sabendo que uma

produtora faria o uma nova filmagem para então dar a qualidade que a

campanha merecia. O que me chamou a atenção no momento da filmagem,

havia uma falta de conhecimento em LIBRAS por parte da produtora no

momento de fazer os encaixes de tempo da fala com a sinalização. Foi

1 Graduado em Letras, Pós-graduando em Educação Especial e Intérprete de Língua de Sinais.

119

Page 125: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

sugerido também que não se colocasse o famoso “quadradinho” no canto

inferior da tela com aquele fundo azul, como na maioria das vezes acontece e

sim a projeção do interprete diretamente na imagem do texto onde estavam os

personagens, enfim.

Para a minha surpresa no dia do lançamento e apresentação dos

materiais da campanha, bem como a projeção do vídeo, lá estava o

“quadradinho” minúsculo com uma resolução pior ainda. Pensando que a

interpretação seria projetada em um fundo diferente coloquei uma camisa de

cor preta e o resultado não foi dos melhores, pois no fundo azul, a imagem deu

uma conotação muito carregada, sem falar nos cortes da sinalização para que

a sinalização e o áudio fossem executados ao mesmo tempo.

Em uma outra experiência não tão diferente da primeira, no que se

refere ao trabalho da produtora, tive uma série de outros desafios. Logo pela

manhã recebi um telefonema, que perguntava se eu poderia fazer a

interpretação de um informe publicitário, aceitei sem questionar como seria e

quando seria ou o que seria sinalizado. Quando cheguei à produtora me fiz a

seguinte pergunta: - Por que eu não perguntei antes? Deparei-me com um

vídeo já pronto e que a sinalização seria sobreposta a imagem, para meu

desconforto não havia tempo para treinar, estudar ou sequer elaborar sinais.

O vídeo tinha a duração de cerca de onze minutos aproximadamente e

não era possível fazer cortes para editar posteriormente, pois eles afirmaram

que não saberiam o tempo exato da sinalização na hora dos encaixes. Até ai

tudo bem, o pior aconteceu quando me perguntaram se não tinha como não

fazer “essas caras”. Ficou provado mesmo que nada sabiam sobre a Libras.

As situações com que nos deparamos são inúmeras umas engraçadas

outras preocupantes, mas o que nos deixa felizes é que sempre de alguma

maneira tudo acaba se resolvendo e por pior que pareçam os surdos, ainda

assim, receberão as informações. As intenções são boas, os métodos

inadequados ou insuficientes, mas vale lembrar que mesmo errando, tentando

acertar estão fazendo algo.

120

Page 126: ANAIS - EXPRESSOÕES IDIOMÁTICAS

Realização

Secretaria de Estadode Educação

SEDSED CEADACentro Estadual de Atendimento ao Deficiente da Audiocomunicação

IGREJA BATISTA BELO HORIZONTEMinistério Mãos que Louvam

11 1- -0 1977MATO GROSSO

LUS OD

Arquitetura e Construções