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- Internet e Eleições 2014 - I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Anais I Workshop Internet e Eleições 2014

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Anais do I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Política, Novas Mídias e Opinião Pública do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Tema: Internet e Eleições 2014. 9 e 10 de abril de 2015. UFPR: Curitiba, 2015. 162 páginas. ISSN: 2359-6481

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APRESENTAÇÃO

O workshop “Internet e Eleições 2014”, realizado nos dias 9 e 10 de

abril de 2015, na Universidade Federal do Paraná – Campus Reitoria, é a

primeira edição do evento de apresentação de trabalhos da linha de

pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião

Pública, do Programa de Pós-graduação em Ciência Política (PPGCP) da

UFPR.

O tema “Internet e Eleições 2014” abriga os projetos de pesquisa em

andamento por parte dos alunos e professores da graduação e do programa

de pós-graduação. Já a data do workshop foi escolhida pela proximidade

com outro evento promovido pelo PPGCP, a palestra “Deliberação e

Internet”, ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Fabrino Mendonça (UFMG) no dia

10 de abril.

Nesta primeira edição, foram apresentados estudos de três grupos de

pesquisa vinculados ao programa: CPOP, GEIST e NEPRI. São trabalhos de

doutorandos, mestres e mestrandos do PPGCP, além de alunos da

graduação de Ciências Sociais e de outros programas de pós-graduação da

UFPR, como o da Comunicação (PPGCOM).

Esperamos que os Workshops anuais contribuam para a troca de

conhecimento entre os alunos, da graduação e da pós, e que o debate e a

exposição dos trabalhos desenvolvidos nos grupos enriqueçam as pesquisas

e contribuam para o desenvolvimento destas e de outras novas.

Boa leitura!

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Anais do I Workshop da Linha Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública: Internet e Eleições 2014. Curitiba, 9 e 10 de abril de 2015. 162 páginas. ISSN: 2359-6481. https://issuu.com/workshop-ccpnmop

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SUMÁRIO

A COBERTURA ELEITORAL POR MEIO DO FACEBOOK:

Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo nas eleições presidenciais de 2014

Bruno Fernando da Silva e Anne Caroline Pellizzaro.............................................................7

WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES:

Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha presidencial de 2014

Fernanda Cavassana, Isabele Mitozo e Michele Massuchin.................................................25

#FALANDO_SOZINHO:

Uma análise do comportamento outlier nas postagens sobre a campanha presidencial das páginas de mídias tradicionais no Facebook

Jaqueline Buckstegge, Ricardo Dantas, Bruno Nichols e Sérgio Tramujas.............................36

FACEBOOK E AS ELEIÇÕES DE 2014:

Um estudo sobre os posts e os comentários nos jornais regionais brasileiros sobre os principais candidatos à presidência

Regiane Lima e Romer Santos.............................................................................................46

CAMPANHAS ONLINE E REDES SOCIAIS:

O uso do Facebook pelos Senadores eleitos em 2014

Isabele Mitozo e Miriane Rodrigues....................................................................................58

PARTIDOS E REDES SOCIAIS:

Análise da ação dos partidos brasileiros no Facebook

Leonardo Rocha..................................................................................................................74

PARTIDOS POLÍTICOS E INTERNET:

Os websites partidários e o eleitorado jovem paranaense nas eleições de 2014

Fabrícia Vieira.....................................................................................................................86

PADRÕES DE LONGA DURAÇÃO DE E-CAMPANHA NO BRASIL:

Uma análise empiricamente orientada (1998-2014)

Marcio Carlomagno e Sérgio Braga....................................................................................101

A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA GOVERNANÇA DA INTERNET:

Do direito à privacidade ao direito à participação

Thaíse Kemer............................................................ ......................................................129

O USO E A IMPORTÂNCIA DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2014 NO BRASIL

Nilton Cesar M. Kleina....................................................................................................140

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A COBERTURA ELEITORAL POR MEIO DO FACEBOOK:

Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo nas eleições presidenciais de 20141

Bruno Fernando da Silva2

Anne Caroline Pellizzaro3

RESUMO

O trabalho insere-se entre os estudos de comunicação política dedicados a análise da cobertura eleitoral pelos portais jornalísticos. O objetivo é comparar a maneira com que os portais Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo noticiaram a disputa presidencial de 2014 através de suas páginas oficiais na rede social Facebook durante o período eleitoral. A hipótese é que estes veículos possuem diferentes linhas editoriais, que tornam distintos os espaços destinados aos diferentes temas jornalísticos. Em relação as valências destinadas aos candidatos, espera-se que haja similaridade na cobertura, visto que os jornais declaram-se imparciais, não assumindo posição política. Os resultados apontam para uma cobertura eleitoral intensa da Folha de S. Paulo, ao contrário de Estadão e O Globo. Já quando trata-se do formato da cobertura dos candidatos, Folha e Estadão realizaram uma cobertura equitativa, com O Globo fornecendo tratamento diferenciado a um dos candidatos.

Palavras-chave: Comunicação Política; Cobertura Eleitoral; Eleição Presidencial; Facebook.

Introdução

Os meios de comunicação constituem uma ferramenta muito importante na

sociedade atual, capaz de promover um intenso debate no espaço público, propiciando as

trocas de informações para o alcance de todos, suprimindo as barreiras geográficas,

culturais e linguísticas. Os estudos a respeito dos meios de comunicação de massa

sempre foram objetos de discussão, pois, buscava-se compreender o que os meios

representavam e quais eram os efeitos que a mídia poderia produzir nas pessoas.

Nesta pesquisa, inserida nos estudos de comunicação política, pretende-se

analisar a cobertura eleitoral pelos portais jornalísticos O Estado de São Paulo (Estadão),

Folha de S. Paulo e O Globo em suas páginas do Facebook, durante as eleições

1 Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em

Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 2 Mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. Bacharel em Ciência Política pelo

Centro Universitário Uninter (2013). Contato: [email protected] 3 Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. Bacharel em Ciências Sociais pela

Universidade Federal do Paraná (2013) e em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2012). Contato: [email protected]

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presidenciais de 2014, em relação aos candidatos Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio

Neves. O período de coleta de dados compreende-se apenas ao período eleitoral, de

01/07/2014 a 31/10/2014 (cinco dias após a realização do segundo turno). O objetivo

deste trabalho consiste em comparar a maneira com a qual estes jornais noticiaram a

disputa eleitoral através de suas páginas na rede social Facebook, tanto em termos de

espaço à cobertura quanto no formato adotado para noticiar os candidatos.

A hipótese é que os jornais, por possuírem diferentes linhas editoriais, fornecem

diferentes espaços destinados aos variados temas jornalísticos. No que tange o formato

da cobertura atribuída aos candidatos, espera-se que haja similaridade na cobertura, uma

vez que os veículos de comunicação no Brasil assumem a postura de imparciais (CERVI

et al, 2011).

O trabalho divide-se em três partes. Na primeira, reservada a uma discussão

teórica, são abordadas algumas teorias gerais da mídia, passando pelo estudo dos novos

meios de comunicação e alguns resultados de pesquisa empírica que servem como

parâmetro para os dados que serão expostos. A segunda parte será dedicada à análise

dos dados, onde serão verificados: a) quais os temas gerais que foram veiculados nos

portais; b) os temas de campanha mais adotados; c) a quantidade de citações aos

candidatos nas páginas dos portais no Facebook; e, por último, d) a valência atribuída aos

presidenciáveis pelos portais. A terceira parte destina-se as conclusões que esta pesquisa

permite aferir.

1. Discussão conceitual

Os meios de comunicação são tanto o principal canal de acesso dos cidadãos às

informações de que precisa para agir na esfera política quanto o principal instrumento dos

líderes políticos para a divulgação de suas mensagens, projetos, temas para a agenda

pública, em suma, para a batalha política crucial, a construção de vontades coletivas (ou,

dito de outra maneira, a luta pela hegemonia) (MIGUEL, 2000). Ocupa uma posição

central na arena política das sociedades contemporâneas (MIGUEL, 2000). Além disto,

representa um espaço onde a realidade política pode ser ampliada e que, por

consequência, impacta a democracia (CERVI, 2006).

No que tange as eleições, sabe-se que há uma expressiva variação das intenções

de voto dos candidatos durante o período eleitoral, as causas desta variação estão

ligados a fatores externos, como, por exemplo, às campanhas produzidas pelos

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candidatos, a cobertura que a imprensa faz das campanhas, os eventos, os

acontecimentos (políticos, econômicos ou sociais), todas essas causas apontadas se

fundam na forma em que os eleitores utilizam as informações políticas para tomarem suas

decisões e definirem o voto (MUNDIM, 2010).

Os meios de comunicação na cobertura eleitoral possuem duas opções, a

primeira consistente em assumir uma ideologia política e a segunda se autoproclamar

como um veículo de comunicação imparcial. A mídia brasileira tende a optar pelo segundo

caminho, ou seja, declaram-se imparciais na produção da notícia (AZEVEDO, 2001;

CERVI et al, 2011). Na cobertura eleitoral é necessário, portanto, que haja um cuidado

para que o meio midiático ofereça para o leitor informações completas e neutras,

inclusive, devendo-se atentar aos candidatos à reeleição, que tendem a ocupar mais as

notícias, justamente por fazerem parte da atual gestão (CERVI et al, 2009).

A mídia possui um papel relevante no debate eleitoral, atua nos momentos que

antecedem, durante e subsequentes à campanha, propiciando muitas das vezes uma

prestação de contas. É neste ponto que entram os jornais, porque como uma importante

mídia tradicional, são capazes de agendar temas e enquadra-los de modo a dar maior

ênfase a determinados assuntos relacionados à política. Em relação aos formatos

impresso e online é importante fazer uma distinção, no primeiro, prepondera à atividade

de seleção de fatos durante o processo de produção da notícia, no segundo, a

noticiabilidade valoriza a resposta mais rápida dada aos fatos (BORGES, 2008).

A internet integra as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC),

constituindo-se como uma importante fonte de transmissão de informação. Oferece um

recurso capaz de atingir cada vez mais uma participação virtual ativa, bem como

fortalecer o processo democrático (MAIA, 2001; GOMES, 2005; PEIXOTO e RIBEIRO,

2009; FREIRE e SALES, 2010). Atua como uma mídia no sentido restrito do termo, isto é,

um suporte tecnológico para a comunicação, capaz de mobilizar os recursos da escrita,

imagem e som, em razão do caráter multimídia (MAIGRET, 2010). Por este motivo a

demanda por informações na internet é motivada pela praticidade, rapidez e comodidade

de acesso tendo em vista que a linguagem digital permite que ela seja guardada,

armazenada, recuperada, processada e transmitida, dinamizando o seu fluxo e alterando

os modos de disseminar o conhecimento (BARBALHO, 2004).

As relações sociais não estão mais limitadas à esfera local onde acontecem, elas

são invariavelmente influenciadas pela cultura e expressão de indivíduos que estão em

múltiplos lugares, uma vez que a rede permite a conexão imediata entre pessoas de

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dessemelhantes nacionalidades, sendo o tempo e distância entraves superados (LEMOS,

2010). Desta forma, as mídias, tais como jornais impressos, revistas, televisão, rádios,

migram no todo ou em parte seu conteúdo na internet, objetivando uma circulação maior

da notícia. Assim, os veículos de comunicação planejam estratégias para atrair leitores

para a plataforma web. Uma dessas estratégias consiste em postar links para as

principais notícias em redes sociais como o Facebook e o Twitter. As mídias sociais

potencializam o efeito de circulação das notícias, pois possibilitam o compartilhamento

destas matérias pelos usuários em seus perfis pessoais (ZAGO e BASTOS, 2013).

Desta forma, sintetizando a contextualização a respeito das novas mídias, temos

que estas acrescentam para o debate eleitoral. Inclusive, é possível ver a utilização das

novas mídias nas eleições atuais, sejam através dos portais informativos em plataforma

web para a circulação de informações, sejam através de redes sociais (sites pessoais dos

candidatos, Facebook, Twitter, Instragram, dentre outros) (MASSUCHIN e CERVI, 2012).

Os meios de comunicação representam, portanto, uma ferramenta capaz de

transmitir informações aos leitores, e para que esta relação seja democrática é necessário

que aquilo que é repassado, seja feito de forma objetiva e imparcial, principalmente

quando relacionado a cobertura eleitoral.

Tecidas essas breves considerações a respeito da teoria dos meios de

comunicação, bem como das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC),

passamos a uma revisão dos estudos empíricos que, assim como esta pesquisa,

analisam a cobertura eleitoral.

A relação jornal impresso e cobertura eleitoral era analisada frequentemente

pelos estudiosos da área da comunicação política. Posteriormente, com o avanço da

internet, os jornais impressos perderam um pouco da força, dando lugar ao estudo dos

portais e das redes sociais. Porém, muitas conclusões a respeito da análise dos jornais

impressos e da cobertura eleitoral podem servir como base para os conteúdos web. Neste

ponto, destacamos alguns resultados de pesquisas para traçar um comparativo com os

dados que serão apresentados neste trabalho.

Cervi, Souza e Barretta (2011) analisaram como o jornal Folha de S. Paulo cobriu

as eleições presidenciais em 2006 e 2010. Concluíram que no ano de 2006 o jornal FSP

dispôs de um tratamento diferenciado em relação aos candidatos Lula e Alckmin, porque

ainda que tenha oferecido uma cobertura semelhante aos candidatos presidenciais, o

ritmo de crescimento nas aparições no Jornal foi maior para Lula do que para Alckmin. No

entanto o candidato do PSDB teve um crescimento maior das matérias com valência

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positiva. Já no ano de 2010, o tratamento dispensado aos candidatos presidenciais Dilma

e Serra foi semelhante, não apresentando diferenças significativas quanto ao número de

citações e valência positiva, porém a valência negativa mereceu destaque, porque

enquanto Serra teve um crescimento no número de matérias com valência negativa no

período pré-eleitoral e primeiro turno, com queda no segundo, a candidata Dilma teve um

crescimento tanto no primeiro, quanto no segundo turno. Assim, os autores concluíram

que a imparcialidade se deu apenas no volume da cobertura, porque através dos dados

estatísticos foi possível observar um tratamento diferenciado entre os candidatos à

presidência do PT e PSDB nas eleições de 2006 e 2010.

Saisi (2011) analisou o papel da imprensa através dos jornais Folha S. Paulo e O

Estado de S. Paulo na campanha presidencial de 2010. A autora concluiu que os jornais

deram espaço apenas aos candidatos que ocupavam os primeiros lugares das pesquisas.

E apesar de não se posicionar claramente a favor de determinado candidato, os veículos

impressos criaram mitos políticos para relacionar aos candidatos presidenciáveis, por

exemplo, “Dilma a mãe da política”.

Estas pesquisas ilustram apenas uma parcela dos estudos de comunicação

política, havendo ainda várias outras vertentes, principalmente em relação à ferramenta

das redes sociais (PENTEADO, 2012; FERREIRA e VELOSO, 2014; RAMALDES, 2012;

MARTINS e DA SILVA, 2015; LUNES, 2012), como será o objeto de estudo deste

trabalho. Destaca-se que as mídias sociais são utilizadas tanto pelos candidatos à

disputa, quanto pelos portais de informação. Em ambas as formas se objetiva uma maior

aproximação com o usuário, e mais uma circulação ampla das notícias relacionadas à

disputa eleitoral.

Na seção seguinte é apresentada a análise dos dados empíricos no que tange à

cobertura eleitoral feita pelos portais jornalísticos Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo

durante as eleições presidenciais de 2014, através de suas páginas na rede social

Facebook.

2. A cobertura eleitoral em números

A análise dos dados da cobertura eleitoral está dividida em dois momentos: no

primeiro são apresentados os números gerais quanto aos temas predominantes nas

postagens dos portais e o tipo de cobertura dada à campanha; já no segundo, o foco é na

maneira com que os candidatos foram tratados, tanto em termos de espaço destinado

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quanto em valência. Vale lembrar que o presente trabalho analisa apenas o conteúdo

presente nas postagens das páginas do Facebook dos portais e não no conteúdo das

matérias jornalísticas ao qual a postagem levava. Portanto, trata-se do material escrito

para apresentar a notícia aos usuários da rede social.

O método empregado para a pesquisa foi a análise de conteúdo a partir de

estatísticas descritivas. Para indicar relação entre as variáveis, adotou-se o teste do Qui-

quadrado, indicado para observar se a distribuição dos casos dentro das categorias deu-

se de maneira independente (ou seja, uma variável não exerceu influência sobre a outra)

ou dependente (no caso de uma variável estar relacionada à outra). Nos casos em que o

Qui-quadrado apontou dependência estatística entre as variáveis foram realizados mais

dois testes adicionais. O primeiro deles é o Cramer’s V, indicado para apontar a força da

relação entre as variáveis. Já o segundo teste indica os pares de categorias que estão

estatisticamente associadas e que, portanto, fazem com que as variáveis relacionem-se.

A este teste dá-se o nome de Resíduos Padronizados.

A primeira variável utilizada no trabalho foi denominada “tema geral’. Com ela é

possível observar os assuntos que estiveram mais presentes nas publicações dos três

veículos selecionados para a pesquisa e também o espaço que a campanha presidencial

recebeu. Tendo em vista a relevância deste tema, espera-se que os portais tenham

promovido o agendamento desta discussão no debate público. Para a codificação das

postagens foram adotadas treze possibilidades temáticas, são elas: campanha eleitoral,

político-institucional, economia, saúde, educação, violência e segurança, infraestrutura

urbana, meio ambiente, carentes e minorias, variedades e cultura, internacional, esportes

e ético-moral. Ressalta-se que nesta codificação todas as publicações que mencionavam

um dos três principais candidatos à presidência (a saber, Dilma Rousseff, Aécio Neves e

Eduardo Campo / Marina Silva) foram consideradas como campanha eleitoral. Já as

postagens que tratavam de eleições regionais ou que não citavam nenhum dos principais

candidatos foram classificadas como político-institucional.

A tabela 1 sumariza as principais informações a respeito da aparição dos temas

gerais nas postagens da Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo.

TABELA 1 - Temas gerais por página de portal

Temas Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total

Variedades

N 1.596 1.411 1.336 4.343

% 29,3% 28,9% 37,6% 31,3%

Rp -2,60 -2,97 6,70

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Político institucional

N 634 593 419 1.646

% 11,6% 12,1% 11,8% 11,9%

Rp -0,46 0,59 -0,13

Campanha eleitoral

N 882 431 154 1.467

% 16,2% 8,8% 4,3% 10,6%

Rp 12,78 -3,73 -11,44

Esportes

N 538 565 301 1.404

% 9,9% 11,6% 8,5% 10,1%

Rp -0,54 3,21 -3,09

Internacional

N 503 312 486 1.301

% 9,2% 6,4% 13,7% 9,4%

Rp -0,32 -6,80 8,37

Economia

N 289 539 155 983

% 5,3% 11,0% 4,4% 7,1%

Rp -4,92 10,40 -6,10

Saúde

N 154 271 210 635

% 2,8% 5,6% 5,9% 4,6%

Rp -6,02 3,19 3,71

Violência

N 233 176 133 542

% 4,3% 3,6% 3,7% 3,9%

Rp 1,40 -1,06 -0,50

Ético-moral

N 166 139 120 425

% 3,0% 2,8% 3,4% 3,1%

Rp -0,05 -0,85 1,07

Infraestrutura urbana

N 192 165 42 399

% 3,5% 3,4% 1,2% 2,9%

Rp 2,84 2,09 -5,96

Meio-ambiente

N 125 143 80 348

% 2,3% 2,9% 2,2% 2,5%

Rp -0,98 1,87 -0,97

Educação

N 79 78 70 227

% 1,5% 1,6% 2,0% 1,6%

Rp -1,06 -0,20 1,55

Carentes e minorias

N 55 59 51 165

% 1,0% 1,2% 1,4% 1,2%

Rp -1,21 0,13 1,34

Total N 5.446 4.882 3.557 13.885

% 100% 100% 100% 100%

Qui-quadrado: 800,947 (sig. 0,000)

Cramer's V: 0,170 (sig. 0,000)

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

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Na tabela 1 é possível observar que o tema variedades e cultura predominou nas

postagens para os três portais. Ao todo, foram 4.343 postagens, que representam 31% do

total publicado. O veículo que mais abordou esta temática foi O Globo, com 37,6% das

suas entradas, seguido por Folha de S. Paulo, com 29,3% e Estadão, com 28,9%. Em

variedades e cultura são encontradas notícias sobre celebridades, cinema, previsão do

tempo, humor, dentre outros. Em seguida aparece político institucional como o segundo

tema mais noticiado, com 11,9% do total da soma dos portais.

A campanha eleitoral aparece como terceiro tema mais abordado, entretanto, isto

deve ser ponderado para cada veículo de maneira diferente, já que o tema ganhou

notoriedade específica entre eles. Na página da Folha de S. Paulo no Facebook, por

exemplo, à campanha presidencial aparece como o segundo tema mais noticiado, com

16,2% das postagens. No Estadão, por sua vez, ela é o quinto objeto mais tratado, com

8,8%, atrás de variedades e cultura, político-institucional, esportes e economia. Já no

Globo, apenas 4,3% das publicações referiam-se ao tema campanha eleitoral, atrás de

temas como variedades e cultura, internacional, político-institucional, esportes, saúde e

economia. Ou seja, a terceira colocação ocupada pela campanha eleitoral está muito

ligada ao elevado número de entradas feitas pela Folha de S. Paulo e do Estadão.

O teste do Qui-quadrado, com sig. 0,000 (abaixo do limite crítico de 0,050 a um

intervalo de confiança de 95%), indica que há dependência entre as variáveis e que

portanto a distribuição dos casos não é aleatória. Já o coeficiente do Cramer’s V de 0,170

pode ser interpretado como uma relação de 17% entre as variáveis portal e tema geral, ou

seja, uma baixa relação entre as variáveis.

Em relação aos resíduos padronizados, apresentados na tabela de maneira

abreviada como “Rp”, estes devem ser entendidos como um valor padronizado (ou seja,

transformados para uma mesma dimensão) que indica se um par de categorias têm mais

ou menos casos do que o esperado em uma distribuição independente. Este valor só

apresenta valor estatístico se seu coeficiente estiver acima de ±1,96. Em outras palavras,

os resíduos que superam esta marca são considerados os casos sobre representados (se

acima de 1,96) ou sub-representados (se acima de -1,96) na tabela. Os três maiores

resíduos de cada portal foram realçados para facilitar a sua visualização. O maior valor,

de 12,78, aparece para a Folha de S. Paulo e o tema campanha eleitoral. Isto indica que

há uma grande concentração de casos neste par de categorias e que este tema está

representado acima do que seria esperado tendo em vista a forma com que estão

distribuídos os casos. Na sequência aparece o resíduo de -11,44 para O Globo, na

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mesma temática do anterior, comprovando que o espaço destinado à campanha foi

significativamente baixo nas postagens deste portal. Já o terceiro maior resíduo é do

Estadão, com o tema economia e um valor de 10,40, sugerindo alta publicação nesta

temática. Entretanto, em relação à cobertura eleitoral, o resíduo do Estadão é negativo e

estatisticamente significativo (-3,73). Neste sentido, a aparição da campanha eleitoral nas

postagens do Estadão teve uma presença baixa.

Ademais, pode-se concluir que mesmo com o alto volume de postagens para

variedades e cultura, o único portal que apresenta um resíduo positivo e significativo para

este tema é O Globo, que tem mais casos do que era esperado. Este fato, somado a alta

presença de postagens sobre questões internacionais, sugere que a escolha editorial do

portal dentro do Facebook não foi de privilegiar o debate público quanto às eleições

presidenciais, mas sim de abordar temas menos substantivos. O Estadão, mesmo com

elevado percentual de entradas destinadas à cobertura eleitoral, também optou por

destacar outros temas que não campanha, como economia e esportes. Por fim, a Folha

de S. Paulo foi o veículo que mais privilegiou a campanha eleitoral entre os três portais,

sendo decisiva para que o tema fosse o terceiro mais citado no total.

Em seguida, analisa-se a forma com que a campanha eleitoral foi abordada dentro

das postagens dos três portais. Com esta variável pretende-se indicar se cobertura

eleitoral, quando ocorre, é em verdade de temas realmente decisivos para fomentar o

debate público ou questões superficiais4. Esta variável somente é codificada quando a

anterior, tema geral, foi classificada como campanha eleitoral e ela apresenta oito

possibilidades válidas. São elas: i) evento de campanha, quando a postagem apenas

informa a agenda do candidato ou por ele esteve; ii) imagem política do candidato, ao

exibir o lado do candidato enquanto homem público; iii) imagem pessoal do candidato, ao

mostrar questões privadas do candidato; iv) imagem administrativa do candidato, nos

casos em que o competidor é apresentado pelas suas realizações enquanto gestor; v)

imagem do governo em disputa, quando são apresentadas na postagem questões

referentes ao governo federal; vi) imagem da campanha e eleitores, para notas sobre os

eleitores ou prazos relacionados a campanha em geral; vii) resultados pesquisa, ao tratar

de pesquisas eleitorais; por fim, viii) justiça eleitoral, em enunciados destinados a

divulgação de processos e decisões da justiça eleitoral.

4 Considerou-se para esta pesquisa temas relevantes: imagem política do candidato, imagem administrativa

do candidato, imagem do governo em disputa e justiça eleitoral. Os demais, por sua vez, foram considerados temas de menor importância para a qualidade do debate público.

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A tabela 2 sumariza as estatísticas descritivas quanto aos temas de campanha

tratados nas postagens e os respectivos veículos que a abordaram.

TABELA 2 - Temas de campanha por páginas dos jornais

Tema de campanha Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total

Imagem política dos candidatos

N 229 183 40 452

% 31,5% 50,3% 32,3% 37,2%

Rp -2,53 4,10 -0,90

Imagem da campanha e eleitores

N 133 54 15 202

% 18,3% 14,8% 12,1% 16,6%

Rp 1,10 -0,83 -1,23

Agenda de campanha

N 122 32 22 176

% 16,8% 8,8% 17,7% 14,5%

Rp 1,62 -2,85 0,96

Resultados de pesquisas

N 88 26 23 137

% 12,1% 7,1% 18,5% 11,3%

Rp 0,66 -2,34 2,42

Imagem administrativa dos candidatos

N 50 29 11 90

% 6,9% 8,0% 8,9% 7,4%

Rp -0,53 0,40 0,60

Imagem pessoal dos candidatos

N 63 15 7 85

% 8,7% 4,1% 5,6% 7,0%

Rp 1,70 -2,07 -0,57

Imagem do governo em disputa

N 27 22 2 51

% 3,7% 6,0% 1,6% 4,2%

Rp -0,64 1,72 -1,40

Justiça eleitoral

N 16 3 4 23

% 2,2% ,8% 3,2% 1,9%

Rp 0,60 -1,48 1,08

Total N 728 364 124 1.216

% 100% 100% 100% 100%

Qui-quadrado: 68,219 (sig. 0,000)

Cramer's V: 0,167 (sig. 0,000)

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

De saída é possível constatar que o tema mais noticiado pelas páginas dos portais

no Facebook foi imagem política dos candidatos, com 37,2% dos 1.216 posts sobre

campanha eleitoral, seguido de imagem da campanha e eleitores (16,6%), agenda de

campanha (14,5%) e resultados de pesquisas (11,3%). Considerando a classificação dos

assuntos proposta para este trabalho, pode-se afirmar que a cobertura nas postagens dos

portais foi majoritariamente composta de temas incipientes, que não contribuem para a

qualidade do debate público.

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O teste do Qui-quadrado apontou novamente para a existência de dependência

entre as variáveis, ou seja, a distribuição dos casos entre as categorias não se deu de

forma aleatória, mas sim por meio da influência de uma variável sobre a outra. Já o

Cramer’s V aponta para uma relação de 16,7% entre variáveis (muito próximo a de 17%

constatada para tema geral e portal, na tabela 1). Mais uma vez o coeficiente indicou uma

baixa relação entre as variáveis. Em relação aos resíduos padronizados, verifica-se o

maior valor (4,10) para o portal Estadão e o tema imagem política dos candidatos, ou

seja, analisando o conjunto de casos a maior sobre representação está neste par de

categorias. Tendo em vista que este é um tema relevante para o debate e que o Estadão

destinou mais da metade de suas postagens a ele (50,3% do total), é possível afirmar que

a página deste portal no Facebook contribuiu para o debate público, agendando temas

relevantes. Ao todo, 63,2% das postagens do Estadão foram tematizadas em relação aos

temas considerados importantes para o debate. Corroborando mais ainda com esta

afirmação estão os resíduos negativos e estatisticamente significativos de agenda de

pesquisa (-2,85) e resultados de pesquisas (-2,34). Eles apontam para uma quantia

menor de casos do que a esperada caso a distribuição dos casos fosse independente.

A Folha de S. Paulo, por sua vez, apresentou apenas um resíduo significativo. O

valor de -2,53 em imagem política do candidato mostra que este portal esteve sub-

representado nesta categoria. A soma dos quatros temas considerados de menor

relevância para o debate atingiu 55,9% das postagens, indicando que a cobertura da

Folha de S. Paulo, apesar de intensa se comparada aos demais veículos, foi

predominantemente constituída de temas que agregam menor qualidade ao debate

público. Neste mesmo sentido aparece O Globo, apresentando 53,3% das postagens a

temas de menor profundidade. Os resíduos padronizados apontam para uma

concentração de casos no tema resultados de pesquisas (também considerado tema de

menor importância para o debate público).

Destas duas primeiras variáveis analisadas é possível concluir que a Folha de S.

Paulo foi o portal que mais destinou postagens ao tema campanha eleitoral. Contudo, a

opção do veículo não foi privilegiar temas de maior relevância, destinando espaços

semelhantes para questões superficiais e profundas do debate eleitoral. Já o Estadão,

mesmo apresentando menos informações sobre a corrida presidencial, quando o fez foi

sobretudo por meio de notícias relevantes para o debate. Por fim, O Globo deu mínimo

atenção para a campanha e privilegiou temas mais rasos, pouco contribuindo para o

debate público na rede social Facebook.

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Encerradas as análises quanto a tematização dos portais, passa-se para a

segunda parte do estudo, em que o foco é a forma com que os veículos noticiaram os

candidatos em termos de espaço dado e às valências destinadas a eles.

A tabela 3 contém a quantidade de citações que cada um dos três principais

candidatos recebeu nas postagens dos portais no Facebook. Cabe lembrar que o estudo

leva em conta tanto o primeiro quanto o segundo turno da eleição presidencial e que o

período compreendido da coleta de dados foi de 01/07/2014 a 31/10/2014 (quinto dia

após a realização do segundo turno das eleições).

TABELA 3 – Quantidade de citações aos candidatos nas páginas do Facebook

Candidato Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total

N % N % N % N %

Dilma Rousseff 458 40,0% 237 40,1% 87 43,1% 782 40,3%

Eduardo / Marina 363 31,7% 199 33,7% 52 25,7% 614 31,7%

Aécio Neves 325 28,4% 155 26,2% 63 31,2% 543 28,0%

Total 1146 100% 591 100% 202 100% 1939 100%

Qui-quadrado: 4,860 (< 11,070)

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP)

A primeira informação que atrai atenção na tabela 3 é quanto ao número de

citações do candidato Aécio Neves. Este, mesmo tendo disputado o segundo turno contra

a candidata Dilma Rousseff, foi menos citado que Marina Silva (esta, derrotada logo no

primeiro turno das eleições. Enquanto Aécio recebeu 543 menções nas postagens dos

três portais (28% do total), Marina teve 614 citações (31,7%). A candidata Dilma, por sua

vez, como já era possível esperar, foi a concorrente mais lembrada. Acredita-se que este

fato seja explicado em razão do acumulo do cargo de Presidente da República e

candidata à reeleição. Portanto, era a figura de maior visibilidade, sendo mencionada

tanto enquanto ocupante do cargo máximo do Estado brasileiro quanto competidora na

eleição.

No que concerne à cobertura que cada veículo deu aos candidatos, apenas O

Globo apresenta números distintos, fornecendo maior espaço a Aécio Neves (31,2% das

citações) do que a Marina Silva (25,7%). Já a cobertura de Folha de S. Paulo e Estadão

foram muito semelhantes, já que Dilma tem praticamente o mesmo percentual de

citações, Aécio recebeu 28,4% do espaço no primeiro e 26,2% no segundo e Marina tem

31,7% das menções na Folha de S. Paulo e 33,7% no Estadão. A similaridade dos portais

na quantidade de citações aos candidatos é comprovada pelo teste Qui-quadrado, que

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apresentou coeficiente de 4,860 (muito abaixo do limite crítico de 11,070 para um

intervalo de confiança de 95%). Ou seja, não é possível afirmar que existem diferenças

estatisticamente significativas na distribuição dos casos. Em outras palavras ainda, uma

variável não está produzindo efeito sobre a outra, já que a mudança em uma categoria de

dada variável não produz alteração sobre a outra.

Diante disso é possível afirmar que os portais citaram de forma semelhante em

suas postagens os candidatos de oposição ao governo, muito embora apenas um deles

tenha disputado os dois turnos da eleição. Já a candidata à reeleição teve maior número

de menções, o que sugere-se como resultado de seu duplo-papel desempenhado durante

o período eleitoral. Em seguida serão apresentados os números em relação à valência

recebida pelos três candidatos.

TABELA 4 - Valências de Dilma na Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo

Valência Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total

Positiva

N 92 33 17 142

% 20,1% 13,9% 19,5% 18,2%

Rp 0,97 -1,53 0,30

Negativa

N 124 56 23 203

% 27,1% 23,6% 26,4% 26,0%

Rp 0,47 -0,70 0,09

Neutra

N 230 132 47 409

% 50,2% 55,7% 54,0% 52,3%

Rp -0,62 0,72 0,22

Equilibrada

N 12 16 0 28

% 2,6% 6,8% 0,0% 3,6%

Rp -1,09 2,58 -1,76

Total N 458 237 87 782

% 100% 100% 100% 100%

Qui-quadrado: 15,993 (sig. 0,14)

Cramer's V: 0,101 (sig. 0,14)

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

A tabela 4 sumariza a distribuição das valências destinadas à Dilma nas postagens

dos três portais. Como é possível visualizar, a maior concentração de casos está em

valências neutras, que em nenhum dos casos aparece com menos da metade das

valências Ou seja, em relação as postagens dos portais, a cobertura para a candidata

Dilma foi em sua maior parte neutra. O teste do Qui-quadrado mostra que a distribuição

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dos casos não aleatória e que há dependência entre as variáveis, mas o Cramer’s V

aponta para uma baixíssima relação entre elas (10,1%). Os resíduos padronizados, por

sua vez, apontam para uma concentração de casos acima do esperado apenas em

relação à valência neutra e o portal Estadão.

Ao olhar apenas para os percentuais, vê-se uma pequena tendência dos portais em

citar mais negativamente do que positivamente a candidata Dilma. Tanto Folha de S.

Paulo quanto O Globo apresentam 7% a mais de menções negativas do que positivas,

enquanto que no Estadão este valor sobe para 10%. Entretanto, conforme antecipado,

não há uma forte relação entre estas duas variáveis e os resíduos padronizados não

apontam para uma concentração de casos estatisticamente significativa associada a uma

valência positiva ou negativa e um portal.

TABELA 5 - Valências para Aécio na Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo

Valência Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total

Positiva N 77 25 15 117

% 23,7% 16,1% 23,8% 21,5%

Negativa N 88 33 10 131

% 27,1% 21,3% 15,9% 24,1%

Neutra N 149 89 36 274

% 45,8% 57,4% 57,1% 50,5%

Equilibrada N 11 8 2 21

% 3,4% 5,2% 3,2% 3,9%

Total N 325 155 63 543

% 100% 100% 100% 100%

Qui-quadrado: 10,785 (sig. 0,095)

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

Na tabela 5 encontram-se as distribuições de valências para o candidato Aécio

Neves. O que se vê novamente é uma cobertura majoritariamente neutra e com poucos

casos de valência equilibrada. O teste do Qui-quadrado indica um coeficiente de 10,785,

abaixo do limite crítico, que impede a afirmação de que os casos estão se distribuindo de

maneira dependente entre as categorias, ou seja, não há relação estatisticamente

significativa entre as variáveis. Nestes casos, não há indicação estatística de realização

de testes como o Cramer’s V e os resíduos padronizados, já que a relação entre as

variáveis é baixa.

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A principal novidade entre as menções dedicadas a Aécio dizem respeito a

cobertura feita pelo portal O Globo. Neste veículo, apesar do domínio de citações neutras,

a valência positiva supera a negativa em praticamente 8%, enquanto que na Folha de S.

Paulo as negativas são superiores as positivas em pouco mais de 3% e em pouco mais

de 5% no Estadão. Este novo elemento mantém O Globo como uma página que destoou

das demais na cobertura eleitoral de 2014, isto porque, além de ter dado maior espaço

para Aécio do que os outros dois portais analisados, este veículo inverte a lógica até

então apresentada de predomínio de citações negativas aos candidatos.

TABELA 6 - Valências para Eduardo/Marina nas postagens do Facebook

Valência Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total

Positiva N 56 32 7 95

% 15,5% 16,1% 13,5% 15,5%

Negativa N 87 41 10 138

% 24,0% 20,6% 19,2% 22,5%

Neutra N 213 120 35 368

% 58,8% 60,3% 67,3% 60,0%

Equilibrada N 6 6 0 12

% 1,7% 3,0% 0,0% 2,0%

Total N 362 199 52 613

% 100% 100% 100% 100%

Qui-quadrado: 3,994 (sig. 0,678)

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

Por fim, a tabela 6 apresenta as valências de Eduardo Campos/Marina Silva

durante a cobertura eleitoral no Facebook. Como já havia sido constatado para os dois

primeiros candidatos, as menções destes três portais foram em sua maioria neutra,

seguida de negativa, positiva e equilibrada. Para Marina Silva observa-se o mesmo

quadro do apresentado para Dilma Rouseff: todos os portais citaram mais a candidata de

maneira negativa do que positiva (diferentemente do que foi visto em relação a Aécio

Neves). Em relação ao teste do Qui-quadrado, mais uma vez o coeficiente apontou para

ausência de dependência entre as variáveis, tornando inútil a realização do Cramer’s V e

dos resíduos padronizados.

No que tange às valências dedicadas pelos portais, por meio do Facebook, aos

candidatos, notou-se que a atuação da Folha de S. Paulo e Estadão foi muito semelhante:

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ambos destacaram mais negativa do que positivamente os candidatos quando estes

foram mencionados. Já O Globo tratou de maneira semelhante Dilma e Marina, mas

dedicou mais valências positivas do que negativas a Aécio. Infelizmente não foi possível

aprofundar as análises por meio dos métodos estatísticos adotados para a pesquisa, já

que o teste Qui-quadrado não apontou dependência entre as variáveis nos casos das

valências de Aécio e Marina.

Notas conclusivas

Através deste trabalho tentou-se realizar alguns apontamentos quanto à forma com

que as páginas de Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo no Facebook cobriram as

eleições presidenciais de 2014. Uma primeira conclusão informa que os dois últimos

portais não deram grande destaque em suas publicações à campanha eleitoral,

noticiando-a de maneira lateral. A cobertura do O Globo, entretanto, apresentou um

percentual ainda menor de postagens, privilegiando temas como variedades e cultura e

internacional. A Folha de S. Paulo, por sua vez, deu destaque positivo e estatisticamente

significativo à corrida presidencial, sendo o portal que mais contribuiu com o debate

eleitoral em termos gerais.

Os temas de campanha foram utilizados como um segundo critério para medir o

quanto as postagens dos portais contribuíram para o debate público. Nesta variável foi

possível constatar que o Estadão foi o único a privilegiar os temas aqui classificados

como contendo maior quantidade de informações para o debate público. A Folha de S.

Paulo, mesmo sendo o veículo que mais agendou a campanha eleitoral, dedicou menor

espaço para temas de maior relevância. Já O Globo distribui de maneira quase que

igualitária a quantidade de entradas para temas relevantes e de menor importância, mas

foi ainda estes que predominaram.

Em relação à quantidade de citações e valências, o comportamento dos três

veículos foi muito semelhante. O único portal a apresentar comportamento distinto foi O

Globo ao ter citado mais vezes Aécio Neves do que Marina Silva e a destinar mais

valências positivas do que negativas a Aécio. Um fato que chamou atenção foi a

quantidade elevada de citações que Marina recebeu nos três portais, que somados

superaram as citações a Aécio (candidato este que este esteve presente no segundo

turno eleitoral, ao contrário de Marina.

De maneira geral é possível afirmar que Folha de S. Paulo e Estadão tiveram um

comportamento semelhante na cobertura eleitora através do Facebook, com a diferença

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de que o tema assumiu maior preponderância no primeiro do que no segundo, mas que a

maior quantidade de entradas relevantes esteve no segundo. Pelas informações das

quais este trabalho dispõe pode-se afirmar que a cobertura destes dois portais foi

imparcial, de maneira geral, já que a mesma política crítica foi adotada para os três

candidatos. Já O Globo contribui de maneira menos efetiva ao debate, dedicando pouco

espaço à corrida presidencial, noticiando temas menos relevantes em relação a

campanha e dedicando espaço e valência diferenciada somente ao candidato Aécio

Neves.

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WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES:

Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha

presidencial de 20145

Fernanda Cavassana de Carvalho6

Isabele Batista Mitozo7

Michele Goulart Massuchin8

RESUMO

Devido à adesão dos veículos de comunicação às redes sociais, o debate público passa a ter nova arena para seu desenvolvimento. O presente trabalho tem por objetivo analisar como os comentadores da página d’O Estadão no Facebook se comportaram como comentadores de posts que faziam menção direta a, pelo menos, um dos três principais presidenciáveis em 2014, também mencionando tais candidatos, durante o primeiro turno. Procura-se, especificamente, verificar 1) que posturas esses webleitores mais tomaram durante a discussão (se monológica ou recíproca em relação a outros comentadores) e 2) se eles persuadiram, progrediram ou radicalizaram no decorrer do debate. Para tanto, a metodologia adotada foi a análise de conteúdo quantitativa, tendo-se utilizado testes estatísticos para verificar as relações tanto entre a página observada e o perfil de seu comentador em relação às categorias das variáveis estudadas, assim como a relação entre cada categoria e a citação dos candidatos no comentário. Como resultado, pode-se observar que o Estadão, além de possuir um comentador mais propício ao debate, agrega mais eleitores dispostos a persuadir, mas, com maior tendência à radicalização, quando mencionam Dilma Rousseff, e ao progresso, quando citam Eduardo Campos ou Marina Silva.

Palavras-chave: Debate público; Eleições Presidenciais 2014; O Estado de S. Paulo; Facebook

Introdução

Os estudos acerca das relações entre internet e debate público têm se voltado para um

novo campo a princípio mais aberto e, portanto, propício a discussões: as redes sociais

digitais. Se observarmos, por exemplo, a quantidade de trabalhos que têm sido

apresentados nos últimos congressos e publicados em periódicos da área de internet e

política, é notável o quanto as investigações acerca, especialmente, de Facebook e

Twitter estão crescendo e tornando-se tendência.

Este trabalho, por sua vez, endossa essa subárea e procura estudar a relação

específica entre o debate que o jornalismo suscita, atualmente, entre seus webleitores, a

partir do momento em que adentra as redes sociais, em que é permitido a atores sociais

5 Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em

Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 6 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, PPGCOM-UFPR.

[email protected] 7 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected]

8 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos –

UFSCAR. [email protected]

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comentarem o que é postado pelas páginas dos veículos de comunicação. De forma mais

específica, o objetivo do artigo é apresentar uma investigação acerca de como se

comportou o comentarista-eleitor dos posts difundidos pela página d’O Estadão no

Facebook tendo como metodologia a análise de conteúdo quantitativa, que terá como

foco a análise das variáveis 1) postura do comentador (se responde ou não a outros

comentadores), conforme classificação de Dahlberg (2002) e 2) reflexividade, seguindo o

que teoriza e aplica Jensen (2003), em seu estudo. Tais variáveis serão, ainda, cruzadas

com a citação de cada candidato, a fim de indicar quando o diálogo se desenvolve de

forma mais ampla em relação à citação de um candidato, assim como o tipo de

reflexividade que mais se expressa nessa mesma relação.

O período em estudo comporta 13 semanas que compõem o primeiro turno das

eleições presidenciais (julho-setembro/20149) e tem como unidade de análise os

comentários que mencionavam diretamente ao menos um dos três principais

presidenciáveis, feitos a posts que, igualmente, citavam um deles. Assim, trabalhou-se

com 63.730 comentários. Os resultados apresentam que O Estadão, além de ser um

veículo que gera debate entre os comentadores de seus posts no Facebook, também

agrega distintos posicionamentos políticos dos eleitores enquanto comentadores.

1. Jornalismo e debate nas redes sociais online

O jornalismo pode ser considerado um elemento imprescindível ao jogo político,

interferindo na forma como a política se desenvolve (MONT’ALVERNE; MARQUES, 2013)

e no debate público, sendo até chamado por alguns de novo “quarto poder”, como uma

espécie de “poder moderador” (ALBUQUERQUE, 2000). Sua forma de alcançar o leitor,

porém, foi durante muito tempo unilateral: os veículos de comunicação de massa

assumiam o papel de emissores, enquanto ao público restava a função de receptor da

mensagem.

Esta visão do poder dos veículos de mídia passa a ser superada quando

consideramos características próprias da comunicação via web, como a descentralização

da produção de conteúdo, a multidirecionalidade e a interatividade. É fato que a internet

possibilitou grandes mudanças na comunicação em comparação com as mídias de

9 São considerados os comentários feitos aos posts, sobre a disputa presidencial, de 1 de julho a 29 de

setembro de 2014. O dia 30 de setembro faz parte da semana 14, última semana do primeiro turno, não incluída nesta análise, porque o banco de outubro encontra-se em fase de finalização.

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massa, como a televisão e o rádio, mas, assim como o público está presente na internet,

os veículos tradicionais também estão. Na rede, exploram as ferramentas possíveis para

compartilhar seu produto – a notícia – muitas vezes com o conteúdo modificado pela

interação de seu leitor, ativo, principalmente, nas redes sociais.

Assim, a presença dos veículos jornalísticos na web, e em suas diversas

plataformas como o Facebook, acaba propiciando uma nova configuração da forma a

partir da qual a audiência recebe e interage com o que é publicado. E esse é um fator

importante quando se pretende estudar debate público, já que, agora, o leitor não é mero

receptor a discutir com parentes ou vizinhos acerca do que o jornal pautou: ele pode

questionar diretamente a notícia, bem como debater com outros webleitores online.

A interatividade do webleitor com o jornal traz novas possibilidades para

pesquisas que desejam compreender a influência do conteúdo jornalístico no debate

público. Em redes sociais digitais, por exemplo, os comentários nos posts dos veículos

podem se tornar objetos que revelem, ao menos em parte, como se dá a recepção da

notícia compartilhada. Na perspectiva de Braga (2006), há um sistema de interações

sociais sobre a mídia, caracterizado por uma circulação diferida e difusa, que se dá após

o consumo da informação midiatizada. As pessoas passam a comentar e debater o que

viram na mídia e, a partir disso, “as proposições circulam evidentemente trabalhadas,

tensionadas, manipuladas, reinseridas nos contextos mais diversos” (BRAGA, 2006,

p.28).

Portanto, a partir de Braga (2006), os comentários dos webleitores em posts de

jornais nas redes sociais devem ser considerados como um dispositivo deste sistema de

interação social. Os dispositivos são formas socialmente geradas e tornadas

culturalmente disponíveis, “lugares materiais ou imateriais nos quais se inscrevem

(necessariamente) os textos” (MOUILLAUD apud BRAGA, 2006, p.40). O autor ainda

ressalta que a ocorrência dessas interações diretamente na mídia em que o conteúdo é

veiculado é importante, porque, deste modo, as interações podem ter efeitos sociais e

culturais mais abrangentes. Atualmente, a internet é a mídia mais escolhida para a

ocorrência destes dispositivos e as redes sociais potencializam tais ocorrências.

Se, por um lado, a possibilidade de interação entre jornal e webleitor existe, há

também a interação entre leitores, em que eles podem desenvolver uma conversação

(DAHLGREN, 2005) e, inclusive, tornarem-se politicamente ativos. Embora algumas

estratégias tenham apenas sido transportadas dos media tradicionais aos media digitais

(MARQUES et al., 2013), como a capacidade de enquadrar notícias, esses webleitores

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têm se tornado agentes cada vez mais importantes para a dinâmica da comunicação via

web, uma vez que podem escolher o veículo de comunicação que vão ler, pois os jornais

romperam com a barreira da distância estando em ambiente online e, portanto, concorrem

pela audiência entre si. Do mesmo modo, os leitores podem decidir conversar mais com

outros internautas que com as notícias, como apresentou o trabalho de Cervi (2013).

Os sites de redes sociais, mais especificamente, tomaram tanto o primeiro plano

das campanhas eleitorais quanto o da circulação de notícias jornalísticas. Isso porque,

além da maior potencialidade de circulação de conteúdo em relação aos websites e

portais, as redes agregam mais seguidores, pois são gratuitas ao usuário (o que não é o

caso de todos os portais jornalísticos, como a Folha de S. Paulo) e são consideradas,

pelo próprio público, um importante canal para se informar (BRASIL, 2014)10.

2. O Estadão no Facebook: análise dos comentários em posts do primeiro turno da campanha presidencial de 2014

Tendo como base a breve discussão teórica realizada na seção anterior, este

paper se concentra em compreender como os webleitores d’O Estadão agem na condição

de comentadores dos posts desse jornal em sua página oficial no Facebook.

A escolha da referida página como aquela a ser tomada para observação deu-se,

primeiramente, pela constatação em trabalho anterior (MITOZO; MASSUCHIN;

CARVALHO, 2015) do quanto O Estado de S.Paulo se destacou em relação aos outros

quality papers nacionais, Folha de S. Paulo e O Globo (MONT’ALVERNE; MARQUES,

2013), quanto ao notado maior nível de reciprocidade que seus comentadores

apresentaram.

Em segundo lugar, é interessante observar como O Estadão, sendo um jornal que

possui tradição em deixar explícito seu posicionamento político, assim como de destacar

o fato de separar opinião de informação, agrega mais reciprocidade entre os

comentadores. Por outro lado, vale ressaltar que esse jornal possui o portal online mais

democrático, por ter sido o primeiro dentre aqueles três maiores jornais nacionais a abrir a

possibilidade de se comentar, nele, suas notícias (CERVI, 2013).

10

A Pesquisa Brasileira de Mídia (BRASIL, 2014) aponta o Facebook como o site/rede social mais acessado pelos brasileiros em dias de semana e nos finais de semana, bem como o site/blog/rede social mais acessado pelo público para se informar.

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O jornal O Estado de S. Paulo, durante o primeiro turno11 das eleições de 2014,

publicou em seu perfil no Facebook 3.747 posts, dos quais consideramos 276 como

pertencentes ao tema “Campanha Eleitoral”, por citarem um dos três principais candidatos

à Presidência da República12. A partir disso, a análise a seguir traz algumas

características do debate público nestes posts, pela investigação de 63.730 comentários,

que totalizam as citações dos principais candidatos pelo próprio público no ato de

comentar.

2.1. A postura do comentador

Primeiramente, observou-se a postura que o comentador d’O Estadão adota. A

postura é um dos fatores que Dahlberg (2002) aponta como importante categoria de

análise indicativa de predisposição ao debate. Assim, o autor estuda a reciprocidade de

comentários. Classificamos, ainda, como fez Sampaio et al. (2010), a ausência dessa

resposta como postura monológica.

O Gráfico 1, abaixo, mostra a frequência de comentários monológicos e recíprocos

encontrados entre os webleitores da página d’O Estadão no Facebook.

GRÁFICO 1 – Postura dos comentadores nos posts d’O Estadão FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR

11

Considerando as 13 semanas aqui analisadas. 12

Até agosto consideramos os nomes de Aécio Neves, Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Em agosto e setembro, passamos a considerar o nome de Marina Silva.

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Como se pode ver, há uma predominância de comentários em que os webleitores

conversam sozinhos, o que representa 74% do total. De qualquer forma, se olharmos

para a proporção apresentada entre esses e aqueles em que houve reciprocidade, 26%

do total, há uma diferença significativamente menor entre as duas categorias em relação

aos outros grandes jornais de circulação nacional, conforme apresentado em estudo

anterior (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015)13. Assim, mesmo que O Estadão se

apresente como veículo de posição política conservadora explícita, ele agrega

comentadores mais dispostos a responder, de alguma forma, outros internautas.

Em relação à pluralidade de citação dos candidatos pelos comentadores dos posts

desse jornal, era esperado que Dilma Rousseff fosse a mais citada, tanto por ser a

candidata à reeleição como por ocupar concomitantemente ao período eleitoral a

Presidência da República em um momento de escândalos políticos, um dos maiores

temas a pautar o jornalismo. O que surpreende é o fato de que houve equilíbrio entre as

citações da incumbente e de Eduardo Campos/Marina Silva.

GRÁFICO 2 – Total de citações dos candidatos em comentários d’O Estadão14

FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.

É certo que a tragédia que vitimou Campos causou alta na produção de

comentários, mas não de forma a causar a vantagem das citações dele e de Marina sobre

13

A Folha de S. Paulo teve 82,4% dos comentários monológicos e 17,6% recíprocos. Os dados são ainda mais negativos para O Globo: 91,6% de comentários monológicos e somente 8,4% recíprocos. 14

É importante ressaltar que a soma desses valores ultrapassa o total de comentários em estudo (63.730), pois há comentários que citam mais de um candidato, o que se deve considerar em todas as análises que seguirão neste paper.

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aquelas de Aécio Neves, que agregou pouco mais que a metade de menções da mais

citada. Chegamos aqui à constatação de que Aécio Neves foi o menos citado nos

comentários sobre campanha n’O Estadão, aparecendo em apenas 26,7% dos 63.730

comentários analisados.

Quando se observa a expressão da reciprocidade em relação à citação dos

candidatos, pode-se constatar que os internautas estiveram mais dispostos a conversar

sozinhos, não importando que candidato estivessem mencionando. Os Gráficos 3, 4 e 5,

abaixo, mostram a correlação que existe entre a postura adotada pelos comentaristas e

as citações dos candidatos.

GRÁF.3– Postura X Dilma GRÁF.4 – Postura X Aecio GRÁF.5 Postura X Edu/Marina

FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

É interessante observar que, proporcionalmente, os comentadores mais propícios

ao debate foram aqueles que mencionavam Dilma Rousseff, seguidos, novamente, de

Eduardo Campos/Marina Silva. Vale informar que o maior ou o menor número de

menções não teve influência sobre a proporção de comentários que apresentaram

postura recíproca, embora tenha havido a coincidência em relação à ordem dos

presidenciáveis. Por outro lado, a análise não se resume a essa observação e alguns

dados adiante mostrarão que, mesmo respondendo a outros comentários, o webleitor não

necessariamente apresenta-se como um debatedor no sentido que Jensen (2003), à luz

dos conceitos habermasianos, identifica, justamente por não expressar de forma mais

ampla o que se desejaria em um debate aberto e respeitoso.

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2.2. A reflexividade nos comentários

Assim, passa-se ao estudo de uma variável que complementa aquela anterior por

proporcionar, mesmo que de forma mais restrita, uma visão qualitativa à análise quanti

aqui desenvolvida: o tipo de reflexividade apresentada nos comentários. Como dito

anteriormente, essa variável ajuda a investigar como essa maior reciprocidade foi

expressa entre os comentadores d’O Estadão: tentou-se mais 1) persuadir; 2) progredir,

apresentando informações complementares ao debate; ou 3) radicalizar, comportando-se

de forma desrespeitosa durante a discussão.

Tab.1 - Tipo de reflexividade do comentador n’O Estado de S. Paulo

Frequência Porcentual Porc. Válida

ESP Válido Persuasão 16427 25,8 52,5

Radicalização 10224 16,0 32,7

Progresso 4619 7,2 14,8

Total 31270 49,1 100,0

Ausente 32460 50,9

Total 63730 100,0

FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

Como exposto na Tabela 1 acima, a categoria “persuasão” foi aquela mais utilizada

pelos comentadores, representando 52,5% das ocorrências. Em seguida, a radicalização

apareceu em 32,7% dos casos, superando “progresso”, que representou apenas 14,8%

do total. É importante lembrar que muitos comentários não apresentaram qualquer

reflexividade e, portanto, decidiu-se trabalhar apenas com a percentagem válida.

GRÁFICO 6 – Tipo de reflexividade dos comentadores FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

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Conforme foi feito com a postura do comentador, analisa-se, também, o tipo de

reflexividade que os comentadores apresentaram ao mencionar cada candidato. Tendo

atentado anteriormente sobre a ausência de relação entre ser recíproco e apresentar-se

mais polido no debate, observando a tabela a seguir, pode-se ter uma percepção mais

nítida desse fenômeno. Os resíduos padronizados permitem a constatação de que o

comentarista que citou Dilma Rousseff, se, por um lado, esteve mais propenso a ler e dar

continuidade à discussão, por outro, apresentou-se como aquele que mais radicalizou o

debate. A incumbente é a única cujo resíduo é alto positivo (22,5), destoando dos outros

candidatos, que apresentam baixos negativos, principalmente de Eduardo

Campos/Marina Silva (-17,8).

Tab. 2 - Tipo de reflexividade em comentários que citam candidato

Cita candidato no comentário

Dilma Aécio Edu/Marina Total

Reflexividade Radicalização N 6845 2329 3081 12255

Rp 22,5 -8,8 -17,8

Progresso N 2200 1142 2470 5812

Rp -5,5 -5,05 10,2

Persuasão N 7356 5318 7779 20453

Rp -14,4 9,5 8,3

Total 16401 8789 13330 38520

FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

Os comentadores que mais estiveram abertos ao progresso, preocupando-se, pois,

em inserir novas informações e, assim, reforçar a argumentação, foram aqueles que

citaram Eduardo Campos/Marina Silva (10,2). Perceba-se que os outros candidatos

tiveram resíduos padronizados negativos bem próximos, o que caracteriza aqueles que os

mencionaram com um perfil, em relação a essa categoria, bem similar.

GRÁF.7 – Reflexividade X Dilma GRÁF.8 – Reflexividade X Aécio GRÁF.9–Reflexividade X Edu/Mar

FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.

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Por fim, os comentadores que mencionam Dilma Rousseff são também os únicos

que estão menos dispostos a persuadir ou serem persuadidos, pois os resíduos para essa

categoria ficaram com baixo negativo (-14,4), em contraste com os altos positivos de

Aécio Neves (9,5) e Eduardo Campos/Marina (8,3). Isso implica dizer que os

comentadores que fizeram menção a Aécio foram aqueles mais dispostos a persuadir

outros debatedores. Os gráficos acima (GRAFs. 7, 8 e 9) ilustram bem as diferenças e

semelhanças que os números da Tabela 2 já apontaram.

Considerações finais

Apesar de, entre os comentários analisados, o debate nos posts d’O Estado de S.

Paulo apresentar quase três vezes mais comentários monológicos do que recíprocos,

esses comentaristas tendem a apresentar mais reciprocidade, especialmente na

comparação direta com o debate realizado nos comentários na Folha e n’O Globo no

mesmo período (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015). Porém, só esse dado não é

suficiente para se afirmar que o diálogo flui entre os comentadores na página do veículo e

que há um debate construtivo entre os participantes.

Esta análise preliminar identificou algumas características do webleitor que

comenta no Facebook d’O Estadão. Pode-se verificar que a grande maioria tende a tentar

convencer, persuadir, o outro e apenas 7% progridem no debate. Há ainda um número

alto de comentadores que tendem à radicalização, interrompendo o diálogo e se fechando

às ideias de outros comentadores, muitas vezes, agredindo-as.

Em relação à citação de candidatos nos comentários, observa-se que há muito

mais radicalização quando Dilma Rousseff é citada e mais progresso quando há

referência a Eduardo Campos ou Marina Silva. Esse trabalho também apontou que estes

nomes pautaram bem mais o debate entre os comentadores, eleitores, do que o nome de

Aécio Neves, presente em menos de 27% dos comentários.

A análise apresentada neste trabalho leva à conclusão de que ainda há muitas

investigações a serem realizadas, a fim de traçar-se um perfil de comentador, mesmo na

página de um único veículo jornalístico dentro do Facebook. Mesmo que se possa

perceber como um comentador se comporta quando cita determinado candidato, não se

pode depreender totalmente esse comportamento, pois isso exigiria nova modelagem do

banco de dados, para identificar que comentários citaram apenas um dos candidatos e

em que temáticas tal perfil poderia ser observado.

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Nada impede que trabalhos futuros venham a tomar isso como ponto de partida

para nova análise, uma vez que é interessante perceber como o leitor-eleitor se põe no

debate, quando suas opiniões e crenças serão postos à prova por outros debatedores.

Referências

ALBUQUERQUE, A. Um outro “quarto poder”: imprensa e compromisso político no Brasil. In: Contracampo, n.4, pp. 23-57, 2000.

BRAGA, J. L. A sociedade enfrenta sua mídia. São Paulo: Paulus, 2006.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. – Brasília: Secom, 2014. Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/livro-pesquisa-brasileira-de-midia_internet-pdf/view. Acesso em: Janeiro de 2015.

CERVI, E. U. Como os webleitores do “Portal Estadão” comentaram a eleição de Dilma Rousseff em 2010: uma discussão sobre os participantes do debate público em campanhas eleitorais nos novos meios de comunicação. In: Explanans, vol.2, n.1, pp. 75-99, Jan-Jun/2013.

DAHLBERG, L. Net-Public Sphere Research: Beyond the 'First Phase'. In: Euricom Colloquium: Electronic Networks and Democracy. Nijmegen: The Netherlands, 2002.

DAHLGREN, P. Internet, public spheres and political communication: Dispersion and deliberation. In: Political Communication, vol. 22, n. 2, pp. 147-162, 2005.

JENSEN, J. L. Public Spheres on the Internet: Anarchic or Government-Sponsored – A Comparison. In: Scandinavian Political Studies, v. 26, n. 4, 2003.

MITOZO, I.B.; MASSUCHIN, M.; CARVALHO, F.C. Características do debate político-eleitoral no Facebook: Os comentários do público em posts jornalísticos nas eleições presidenciais de 2014. Anais do VI Compolítica, Rio de Janeiro, 2015.

MONT’ALVERNE, C.; MARQUES, F.J. Jornalismo político e imagem pública: Dilma Rousseff nos editoriais do jornal O Estado de S. Paulo. In: Contracampo, Vol. 28, n. 3, pp. 92-115, 2013.

SAMPAIO, R.C.; MAIA, R.C.; MARQUES, F.P.J.A. Participação e deliberação na internet: Um estudo de caso do Orçamento Participativo Digital de Belo Horizonte. In: Opinião Pública, Campinas, vol. 16, n. 2, pp.446-477, Nov/2010.

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#FALANDO_SOZINHO:

Uma análise do comportamento outlier nas postagens sobre a campanha

presidencial das páginas de mídias tradicionais no Facebook15

Jaqueline Kleine Buckstegge16

Ricardo Dantas Gonçalves17

Bruno Washington Nichols18

Sérgio Roberto Serafim Tramujas19

RESUMO

Entender os espaços criados pelas redes digitais como novas arenas para o debate público implica em compreender quem são os atores presentes na interação. O presente trabalho buscar analisar como internautas altamente participativos reagem à campanha presidencial de 2014 a partir do agendamento feitos por alguns medias tradicionais selecionados em níveis nacional e regional. Foram analisados 82.281 comentadores das páginas do Facebook de onze jornais durante os meses de julho, agosto e setembro de 2014 e destacados 456 outliers. A hipótese testada e verificada foi de que tais comentadores não detém nenhum tipo de estratégia discursiva e apenas induzem uma impressão de “clima geral” do debate, majoritariamente em favor de algum dos candidatos.

Palavras-chave: debate online; Facebook; eleições presidenciais; comportamento político.

1. Introdução

A análise do debate público em relação à esfera política, em especial em períodos

de campanha eleitoral quando a temática ganha maior visibilidade nas diversas

dimensões informacionais, torna-se cada vez mais multifacetada conforme criam-se

ferramentas para o acompanhamento da opinião eleitoral on e off-line. A distribuição de

conteúdo também se complexifica e não é mais possível isolar os media tradicionais da

construção na web.

15

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), da Universidade Federal do Paraná. 16

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná. Bolsista CAPES

e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected] 17

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná. Bolsista CAPES

e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected] 18 Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná. Bolsista Fundação Araucária e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected] 19 Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected].

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Ainda existe resistência, no entanto, para considerar a produção na internet como

parte real do debate público off-line. Como destaca Marques (2006), no entanto, não é

possível descartar a produção de opinião feita na web pela simples justificativa de

“irracionalidade” presente nos discursos. O autor afirma que

Se são diversas as ressalvas à internet enquanto esfera pública, por outro lado

não se pode negar que muitos debates só se concretizam por causa do advento

desta modalidade de comunicação. (...) o debate racional entre cidadãos comuns,

por exemplo, se não acontece na internet, também não parece acontecer

rigorosamente fora dela. Em outros termos, deve-se considerar que, funcionando

mal ou bem, pelo menos o ambiente digital abre a oportunidade para a exposição

de opiniões e formação de arenas conversacionais, instâncias antes pouco

prováveis ou mais difíceis de se realizarem (MARQUES, 2006, p. 183)

Opinião pública, dentro do debate contemporâneo, deve ser entendida como a soma

de conjuntos de indivíduos que não se conhecem entre si, mas levam em consideração a

possibilidade de que a opinião ou a ação do outro, sobre temas públicos, seja próxima à

sua. (CERVI, 2013, p.80). Tal afirmação pode encontrar matriz nas causalidades sócio-

psicológicas apresentadas por Noelle-Neuman (2003) que explica a formação, alteração e

continuidade da opinião pública, bem como seus efeitos e funções a partir de três

premissas: i) a sociedade ameaça com isolamento e exclusão os indivíduos que se

desviam do consenso; ii) os indivíduos, por sua vez, têm medo, em grande parte

subconsciente e provavelmente com causa genética, de serem isolados; iii) este medo do

isolamento faz com que as pessoas tentem constantemente mensurar quais opiniões e

comportamentos – o clima de opinião – são aprovados ou desaprovados pelo seu meio

social.

Nesse sentido, os indivíduos que percebem sua opinião como sendo a da maioria as

expõem com confiança. E, na contramão, os que se percebem em minoria expressam-se

com cautela ou se colocam em silêncio, desse modo, reforçando a opinião como fraca até

que, em última instância, ela desapareça ou sobre apenas a um “núcleo duro” de

indivíduos que se agarrem a tal opinião. Na lógica de Noelle-Neuman a opinião pública

tem muito poder advindo da própria natureza social do homem – i.e o medo do

isolamento. E assim, a característica forte do fenômeno é a de controle social, que tem

como fim garantir um nível suficiente de consenso social sobre os valores e objetivos

comuns à sociedade criando um laço entre o indivíduo e a sociedade. De outra maneira,

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para que a coesão do sistema seja mantida, a sociedade ameaça com o isolamento

aqueles que violam o consenso social que a mantém viva. (NOELLE-NEUMAN, 2003)

Temos, portanto, que o debate público se coloca como momento em que os

participantes do público “medem” suas opiniões frente às dos demais. Ou seja, o espaço

de debate é um ambiente de interação usado para expor, medir proximidade e reformular

posições (CERVI, 2013).

A opinião pública, segundo Cervi (2013), é um fenômeno de caráter transitório

depende de comportamentos próprios e dos outros, de sentimentos e percepções. Nesse

sentido, mudanças nos elementos do debate, tais como a divulgação de novas

informações sobre o tema, tem poder de alterar a opinião pública (CERVI, 2013, p.80).

Esse ponto da discussão sobre a opinião pública é especialmente relevante para este

estudo, que busca nas divulgações digitais de resultados de pesquisas eleitorais analisar

o comportamento dos debatedores, aqui entendidos como comentadores das páginas

oficiais dos media tradicionais.

2. Materiais e Métodos

Para a análise do comportamento dos comentadores das páginas de mídias

tradicionais no Facebook, foram coletados postagens e comentários de três jornais

nacionais (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo) e oito regionais (A

Tarde/BA, Correio Brasiliense/DF, Correio do Estado/MS, Diário do Pará/PA, Gazeta do

Povo/PR, O Estado de Minas/MG, O Povo/CE, Zero Hora/RS).

Foi utilizado pela coleta o software gratuito de indexação automática Netvizz, que

extrai bancos de dados a partir de páginas do Facebook em períodos pré-determinados

pelo coletador. O Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública

(CPOP/UFPR) realizou coletas semanais, de 07 de Julho a 09 de Novembro de 2014,

resultando em dois bancos de dados principais.

O primeiro, das postagens, totalizou 34.618 entradas de posts das páginas pré-

definidas. O segundo, que utiliza os comentários como unidade de análise, soma mais de

onze milhões de textos comentados dentro das respectivas postagens.

Como forma de especificar a pesquisa, foi selecionado o tema “campanha eleitoral”

dentre as postagens, considerando apenas a eleição presidencial, e a partir deste corte,

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39

foram definidos como objeto apenas os comentários que mencionam explicitamente

alguma das três campanhas. Isso reduziu a coleta inicial a 2.595 postagens.

Para compreender a produção dos debatedores no espaço online objeto da

pesquisa, os comentários foram analisados a partir de duas dimensões: (i) forma do

comentário (ex.: elogio ou crítica) e (ii) reflexividade (progresso, persuasão,

radicalização).

O terceiro nível de análise, criado posteriormente para este trabalho, é o dos

comentadores20 – os “donos dos comentários” – que citam um dos três candidatos

principais em seus textos. Somam-se, nessa categoria, 81.825 debatedores com

frequência de comentários que variam entre 1 vez e 847 vezes. Com uma produção muito

mais intensa, foi criada uma categoria de comentadores classificada como “outliers”, que

engloba indivíduos que postaram de 52 a 847 comentários.

Como recorte temporal para análise de comentários e comentadores, o trabalho

delimitou o intervalo do primeiro como entre os meses de julho e setembro. A partir destas

três bases (postagens, comentadores e comentários), os dados foram analisados através

de software estatístico, buscando testes que se adequassem às variáveis categóricas e

contínuas encontradas.

3. Análise dos dados

Uma vez considerado como base de análise as postagens sobre a campanha

presidencial de 2014 e seus respectivos comentários, dentro do intervalo do primeiro

turno, foi possível resumir o banco de dados a 25.318 publicações, com 82.281

comentadores e 262.017 comentários que citam pelo menos uma das três candidaturas.

A análise de dados a seguir descreve a categoria outlier em comparação ao

restante dos comentadores, apresentando principalmente seu comportamento em relação

à variável reflexividade e suas categorias persuasão, progresso e radicalização. Para um

panorama geral do agendamento produzido em relação à campanha presidencial, o

Gráfico 1 apresenta a distribuição de postagens classificadas como “campanha eleitoral”.

20

Definimos como “comentador” o perfil pessoal de Facebook, coletado como variável “dono do comentário”.

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40

O pico de visibilidade da campanha presidencial presente na semana21 7 pode ser

explicado pelo acidente aéreo que resultou no falecimento do presidenciável Eduardo

Campos. E a semana 10 indica o início dos debates eleitorais.

3.1. Dos comentadores

Para análise da primeira dimensão proposta por este trabalho, a dos comentadores,

a variável binária “outlier” foi utilizada como grupo controle para descrever as

características gerais do banco.

Tab. 1 – Comparação entre Outliers e outros Comentadores

Outlier

Não Sim

Média Comentadores Máximo Mínimo Desvio padrão

Comentários Total

Média Comentadores Máximo Mínimo Desvio padrão

Comentários Total

Comentários 2,64 81825 51,00 1,00 4,50 215615 101,76 456 847,00 52,00 78,01 46402

Dilma 1,34 81825 49,00 0,00 2,70 109288 51,34 456 584,00 0,00 55,48 23410

Aécio ,65 81825 45,00 0,00 1,95 53123 30,90 456 382,00 0,00 39,19 14089

Marina ,97 81825 49,00 0,00 2,34 79726 41,02 456 730,00 0,00 50,29 18704

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).

21

A divisão das semanas para a pesquisa se deu da seguinte forma: (1) 01 a 07 de Julho, (2) 08 a 14 de Julho, (3) 15 a

21 de Julho, (4) 22 a 28 de Julho, (5) 29 de Julho a 04 de Agosto, (6) 05 a 11 de Agosto, (7) 12 a 18 de Agosto, (8) 10 a

25 de Agosto, (9) 26 de Agosto a 01º de Setembro, (10) 02 a 08 de Setembro, (11) 09 a 15 de Setembro, (12) 16 a 22

de Setembro, (13) 23 a 29 de Setembro, e (14) 30 de Setembro

GRÁFICO 1 – Número de postagens do subtema “campanha eleitoral por semana FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).

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41

Como é possível observar pela Tabela 1, existe uma tendência mais dispersa dentre

os comentadores considerados outliers no que diz respeito à produção no debate,

possuindo uma média de 101,76 comentários por comentador, no entanto um desvio-

padrão de 78,01 comentários. Mesmo representando apenas 0,55% dos comentadores de

postagens da campanha eleitoral, eles são responsáveis por 17,71% das entradas que

fazem menção a algum candidato.

Em relação a tais citações, observa-se o esperado. A presidente Dilma Rousseff

recebe o maior número de citações, em grande parte devido ao exercício do mandato,

seguida de Marina Silva e Aécio Neves. É interessante ressaltar que, após o falecimento

do candidato Eduardo Campos e a substituição da campanha do PSB por Marina Silva,

esta se manteve em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção eleitoral, obtendo

grande visibilidade na mídia. O quadro apenas se reverteu na quinta-feira prévia ao dia da

eleição, quando Aécio Neves assumiu segundo lugar e garantiu seu lugar no segundo

turno.

Uma das principais característica dentre os outliers, no entanto, também na relação

entre postagem e comentários, pode ser verificada pela variável “sobrevivência” que

indica a diferença entre o dia que a postagem foi publicada pela página e o dia em que o

comentário foi feito.

Tab. 2 – Tempo (dias) entre Postagem e Comentário

Outlier

Não Sim

Média 0,34 0,25

Máximo 7,00 1,17

Mínimo 0,00 0,00

Desvio padrão 0,58 0,20

Contagem 81825 456

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR)

Como é possível observar na Tabela 2, enquanto comentadores em geral podem

levar até uma semana para comentar a mesma postagem, o número máximo encontrado

no estrato dos outliers não chega a dois dias.

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42

Para compreender como tal proporção de comentários de outliers se comportou ao

longo do primeiro turno da eleição, o Gráfico 1 apresenta a média de comentários por

semana.

Fica evidente um pico na média de comentários pelos outliers na semana que vai de

12 a 18 de Agosto (semana 7), nas semanas que vão 26 de Agosto a 08 de Setembro

(semanas 9 e 10) e, posteriormente, na semana de 16 a 22 de Setembro (semana 12).

Uma das hipóteses explicativas para o ocorrido é a coincidência com os três primeiros

debates presidenciais, que ocorreram, respectivamente, em 26 de Agosto, 1º e 16 de

Setembro. Tornou-se uma tendência durante os dias de debate presidenciais que os

comentadores utilizassem o espaço das postagens, mesmo que estas não tratassem do

tema, para posicionar-se em relação à performance dos candidatos. Para a semana 7,

assim como nas postagens, o aumento na média é atribuído ao falecimento de Eduardo

Campos.

3.2 Dos comentários

Tal concentração na média de comentários nas semanas dos debates eleitorais

destaca um primeiro aspecto dos comentadores de maior intensidade, mas ainda não

GRÁFICO 2 – Média de comentários de comentadores outliers por semana FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).

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43

elabora sobre a forma dos comentários. Para isso, a distribuição de médias controladas

temporalmente foi aprofundada, agora ponderando a variável reflexividade.

O gráfico 3 controla os comentários pela reflexividade de seus textos. Assim como já

observado nas frequências agregadas, fica claro que os picos foram gerados pelos

comentários da categoria “Outro”. No entanto, cabe uma ressalva: considera-se essa

categoria válida, dado que a partir da observação dos dados, essa categoria,

predominantemente, representa os comentadores que “falam sozinhos”, só buscam expor

suas próprias opiniões, sem apontar participação no debate que não buscam persuadir,

agregar com novas informações e nem radicalizar.

Os comentários incluídos na categoria “Outros” demonstram o padrão de maior

disparidade. O maior pico, na nona semana, indica que a média de comentários por

GRÁFICO 3 – Média de comentários de comentadores outliers por semana controlados por Reflexividade FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).

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comentadores outliers ultrapassou os 60 sempre apresentando auge nas semanas dos

debates.

Estabelecido que os comentadores outliers tendem a apenas expor sua opinião, sem

reciprocidade, cabe compreender o formato de suas exposições, mais especificamente,

se elogiam ou criticam os candidatos. A Tabela 3 apresenta a distribuição de comentários

de comentadores outliers controlando a sua reflexividade e forma.

Tab. 3 – Relação entre Reflexividade e Forma para os Outliers

Reflexividade do Comentário

Total

Persuasão Progresso Radicalização Outro

Fo

rma

do

Co

men

tário

Elogio ao

Candidato

n 26070 4690 3012 61020 94792

RP 17,0 -46,2 -110,7 78,5

Elogio

Outros22

n 693 431 98 307 1529

RP 16,2 23,5 -11,1 -15,3

Crítica ao

Candidato

n 26218 12433 34178 43243 116072

RP -14,8 12,2 84,3 -48,0

Crítica

Outros

n 5848 5270 7242 6948 25308

RP -5,3 57,6 36,3 -45,2

Total n 58829 22824 44530 111518 237701

(V de Cramer = 0,232, Qui-quadrado = 38.496,49)

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR)

É possível perceber que existe uma maior concentração de “elogio ao autor” na

categoria “outros” de reflexividade, o que reforça que o posicionamento expositivo dos

comentadores outliers tende a ser positivo.

22

As categorias critica ou elogio “outros” são resultado do agrupamento de: autor, governo, internauta e portal. Aqui

utilizados como controle, uma vez que seu n é muito reduzido.

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45

4. Comentários Finais

A partir do objetivo de analisar o comportamento outlier no debate online de mídias

tradicionais nas eleições presidenciais de 2014, foi possível constatar que, primeiramente,

existiram quatro momentos em que a participação deste estrato mostrou-se mais intensa:

o falecimento do candidato Eduardo Campos e os três primeiros debates eleitorais

presidenciais.

A categoria desviante apresentou altos níveis de produção no debate, no entanto,

como hipótese do trabalho, foi possível verificar que tal participação não implicou na

construção da arena de discussão, mas sim na exposição de seus posicionamentos. Com

característica de participar do debate quase que imediatamente após a publicação das

postagens, os outliers não buscaram recursos argumentativos, nos formatos de

persuasão, progresso ou radicalização. Ainda, tiveram como forma predominante de seus

comentários o elogio a um dos candidatos citados.

Referências

CERVI, E. U. Como os webleitores do “Portal Estadão” comentaram a eleição de Dilma Rousseff em 2010: uma discussão sobre os participantes do debate público em campanhas eleitorais nos novos meios de comunicação. Explanans, v. 2, n. 1, p. 75–99, 2013.

MARQUES, F. P. J. A. Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil. Opinião Pública, v. 12, n. 1, p. 164–187, 2006.

NOELLE-NEUMAN, Elisabeth. La espiral del silencio: opinion publica, nuestra piel social.

Barcelona: Ed. Paidós, 2003

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46

FACEBOOK E AS ELEIÇÕES DE 2014:

Um estudo sobre os posts e os comentários nos jornais regionais brasileiros sobre

os principais candidatos à presidência23

Regiane Soares Lima 24

Romer Mottinha Santos 25

RESUMO

Tendo em vista a importância da internet e das redes sociais digitais nas eleições 2014 no Brasil, o presente trabalho trata sobre a cobertura eleitoral (postagens) e a interação dos internautas por meio de comentários, em relação aos principais candidatos à presidência: Dilma Rousseff (PT); Aécio Neves (PSDB); Eduardo Campos & Marina Silva (PSB), na timeline do Facebook de jornais regionais do Brasil. O trabalho apresenta parte dos resultados obtidos pela pesquisa de acompanhamento da cobertura jornalística na rede social digital Facebook, no período eleitoral de 2014 no Brasil, obtidos através do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP) da UFPR. Os objetivos são: identificar o volume de informações disponibilizado pelos jornais e verificar quem são os destinatários dos comentários quando ao menos um candidato à presidência é citado e qual a forma predominante do comentário, que pode ser de elogio, com explícita menção positiva ou crítica com explícita menção negativa. Os dados apresentados sobre a interação dos internautas via comentários são relativos ao primeiro turno da eleição 2014, que foram coletados do dia 01 de julho até 29 de setembro. A metodologia utilizada é quantitativa e de análise de conteúdo, que permite identificar a categoria dos destinatários dos comentários, bem como a forma de comentário atribuído.

Palavras-chave: Comunicação Política, Cobertura eleitoral, Eleição 2014, Candidatos à

presidência, Opinião Pública.

1. Introdução

A mídia com o processo de redemocratização iniciado em 1980 passou a ocupar

um papel político na sociedade. O público utiliza os recursos disponibilizados pela mídia

para fazer interpretações e construir significados dentro das sociedades contemporâneas,

e é através de uma agenda, onde são selecionadas as notícias relevantes para a pauta

midiática, que os meios de comunicação de massa ocupam uma centralidade e

importância na construção de debates no espaço público.

Nos últimos anos a web 2.0 possibilitou uma nova reconfiguração nos meios de

comunicação online. A segunda geração da internet lança pressupostos de interatividade,

a distinção entre informação e opinião está cada vez mais difícil visto que os cidadãos têm

23

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo núcleo de pesquisa CPOP, da Universidade Federal do Paraná. 24

Graduanda em Ciências Sociais, Universidade Federal do Paraná - UFPR, [email protected] 25

Mestre em Ciência Política, Universidade Federal do Paraná - UFPR, [email protected]

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a possibilidade de colaborar, construir e participar dos conteúdos produzidos nos meios

de comunicações. Dentro deste novo cenário, o jornalismo se adequou para abranger

esse movimento onde os consumidores de informações passam a contribuir na produção

da notícia.

O chamado jornalismo participativo não é um movimento que nasceu com a web,

visto que o público consumidor sempre buscou contribuir com as pautas vias cartas,

ligações e e-mail. Segundo Aroso (2013) a web contribuiu para “novos contornos com a

Internet e com a facilidade de acesso às ferramentas de produção, publicação,

cooperação e partilha de informação”. Neste sentido as redes sociais digitais têm ocupado

um espaço de ferramenta do jornalismo, o qual tem que se adaptar à rápida evolução e

influência da web. Para Catarina Rodrigues (2010), as redes sociais digitais se tornaram

um tipo de ferramenta que auxilia a atividade jornalística:

O número de utilizadores de redes como o Twitter e o Facebook permite equacionar questões fundamentais no jornalismo como o relacionamento com as fontes, a ampliação, valorização e distribuição de conteúdos, a fidelização dos leitores e a velocidade informativa (RODRIGUES, 2010, p. 1).

No Brasil, segundo dados da Pesquisa Brasileira de Mídia de 2014, a internet é o

meio de comunicação que mais cresce entre os brasileiros. A pesquisa anual é divulgada

pela Secretária de Comunicação Social da Presidência da República que traz os hábitos

de consumo de mídia pela população brasileira. Na pesquisa foi aferido que “pelo menos

um quarto da população (26%) faz uso do meio nos dias da semana com uma intensidade

diária de 3h39 de 2ª a 6ª feira e de 3h43 no final de semana” (BRASIL, 2014). O acesso à

internet é mais comum entre os jovens, moradores de grandes centros urbanos e os

estratos de maior renda e escolaridade. A rede social digital Facebook na pesquisa é o

site mais acessado pelos entrevistados durante a semana e nos finais de semana para se

informar. Observar e estudar como os jornais se comportam nas redes sociais digitais é

fundamental para entender a lógica jornalística na web e a lógica de participação dos

internautas.

O Facebook é a maior das redes sociais digitais na Internet. Nascida em 2004, esta

rede social digital é hoje em dia o segundo site mais visitado na Internet, apenas atrás do

Google. Já cedo as instituições científicas e as universidades perceberam a importância

de uma rede social desta magnitude para a amplificação das suas mensagens

(SANCHEZ; GRANADO; ANTUNES, 2014, p. 10). O uso do Facebook tornou-se comum e

cotidiano entre determinados segmentos da população, mesmo que sua cobertura ainda

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seja limitada, não se pode negar que podem exercer uma influência bastante importante

entre os usuários (MORENO; MENDIZÁBAL, 2013, p. 399-400).

Os dados da cobertura eleitoral foram coletados no período eleitoral de 2014, entre

os meses de julho e outubro, por meio do aplicativo netvizz do Facebook dos seguintes

jornais: A Tarde (BA), Correio Brasiliense (DF), Correio do Estado (MS), Diário do Pará

(PA), Estado de Minas (MG), Gazeta do Povo (PR), Jornal da Manhã (PR), O Povo (CE) e

Zero Hora (RS) e os dados da interação dos internautas através dos comentários são do

primeiro turno da eleição 2014, coletados do dia 01 de julho até 29 de setembro. A

metodologia utilizada é quantitativa e de análise de conteúdo, que permite identificar a

categoria dos destinatários dos comentários, bem como a forma de comentário atribuído.

A problematização consiste na formulação das seguintes perguntas: Qual o destinatário

predominante nos comentários postados pelos internautas no período eleitoral em 2014

nos posts dos jornais? Qual a forma de comentário que os internautas priorizaram nos

comentários? A hipótese desta pesquisa é que os internautas postaram seus comentários

em maior parte destinado aos candidatos à presidência priorizando a explícita menção

negativa/crítica aos mesmos.

2. O papel da mídia

Os meios de comunicação de massa selecionam quais são as noticias relevante

para a pauta midiática, há então uma espécie de seleção dos fatos. A isto, dá-se o nome

de agendamento. Éric Maigret (2010) explica que:

Uma agenda é uma hierarquia de prioridades, uma lista de problemas em jogo classificados por importância crescente, e que se pode apreender, por exemplo, enumerando em dado momento os assuntos tratados na imprensa e a quantidade de tempo no ar e/ou de linhas que eles geram, ou, para os cidadãos, efetuando sondagens de opinião e entrevistas (MAIGRET, 2010, p. 311).

A centralidade da mídia na vida humana, seja como fonte de entretenimento,

informação ou instrumento de trabalho, é uma das características mais marcantes do

século XX (LIMA, 1996). No Brasil com o inicio do processo de redemocratização em

1985, a mídia se tornou um ator importante que atua conjuntamente com os atores

políticos. Os meios de comunicação de massa exercem um papel fundamental na

democracia brasileira. Cervi (2006) explica que:

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A mídia é o espaço onde uma versão da realidade, que pode ser a realidade política, passa a ser ampliada. Isso tem um impacto significativo para a democracia, pois na mídia alguns temas são "iluminados", enquanto outros, não abordados, perdem espaço na arena pública. A informação e sensibilização dos homens, que geram as possibilidades de mudança nas preferências, dependem do grau de proximidade das mensagens com a realidade dos receptores mais interessados nos temas – os líderes de opinião. Quanto mais distantes ou estranhos forem os conteúdos, menor a capacidade de modelar a consciência dos indivíduos que entram em contato com as mensagens, seja direta ou indiretamente, no segundo estágio da comunicação (CERVI, 2006, p. 49).

Nessa linha de pensamento os meios de comunicação massa dentro das

sociedades democráticas exercem o papel central de divulgar informações, ideias,

noções, através de temas, que possam situar os públicos do mundo real, porém a mídia

segue uma lógica própria de interesses e muitas vezes essa lógica pode impactar a

construção de um espaço público. Segundo Castro (2006):

Assim, as possibilidades de constituição de espaços públicos – múltiplos, plurais, democráticos – que possam articular dimensões argumentativas e deliberativas ao campo da operação política dependem enormemente das condições de visibilidade acerca das questões, dos sujeitos e de suas ações que são proporcionadas pelo sistema de mídia. (CASTRO, 2006, p.140).

Em seu artigo: “Dilemas para a Construção do Espaço Público Brasileiro:

Controvérsias Midiáticas”, Maria Céres P. S. Castro, apresenta considerações do

posicionamento da mídia para a constituição de um espaço público. Para a autora: “Vale

dizer que os modos operatórios da mídia, presentes no processo de construção

democrática, são relevantes para a compreensão dos dilemas atuais da constituição do

espaço público” (CASTRO, 2006).

A autora ainda acrescenta que a mídia vem exercendo um papel de fiscalizador, as

críticas voltadas para a operação do Estado que mantém uma cultura patrimonialista e

clientelista, são temas frequentes nos discursos dos media. A visibilidade desses

discursos e a sua propagação, para a autora:

“... acaba se estendendo aos organismos que, no interior da sociedade, podem constituir uma esfera pública em que os interesses plurais constitutivos de uma sociedade democrática se tornam visíveis, interagem, disputam legitimidade e adesão e possibilitam a constituição de normas e regras públicas.” (CASTRO, 2006, p. 143)

A ação política acaba sendo constantemente criticada e desqualificada pela mídia.

A superficialidade em tratar assuntos relativos à cultura pública, a política e os serviços

prestados pelo Estado gera no interior da sociedade um sentimento de insatisfação e “o

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sensacionalismo e o escândalo tornam-se meios de captura da atenção do receptor e

mostram-se eficazes como procedimento de consagração na esfera midiática” (CASTRO,

2006).

A crítica feita pela mídia deve ser levada em consideração, pois são fundamentais

as informações que são repassadas para o público de ordem política ou não. O que se

espera é uma imparcialidade, pois essa crítica constante acaba por idealizar o setor

privado, a sua capacidade de realização e dinamismo. Ainda segundo Castro:

“... a crítica aos equívocos da ação política, a critica à ação do Estado corrobora uma visão privatista do mundo, e ambas, lamentavelmente, diminuem as chances de que elementos essenciais de constituição de uma cultura pública e de expressão de uma cidadania emancipada se fortaleçam” (CASTRO, 2006, p. 144).

As críticas da mídia ao Estado devem ser analisadas pelo público. Não é objetivo

deste trabalho criticar simplesmente os meios de comunicação e deixar de lado a

importância dos mesmos para a construção de questões e significados para o debate.

Entender a lógica jornalística de produção se faz necessária para compreender a

discussão que posteriormente acontecerá no debate público.

3. Análise dos dados

Este trabalho está dividido em duas partes, primeiramente será feita uma análise

dos posts publicados por todos os veículos nos meses que correspondem a cobertura

eleitoral para entender a lógica de produção jornalística na rede social digital e

posteriormente, será feita uma discussão sobre a interação dos internautas via

comentários que é o obejeto central deste trabalho.

Ao todo, foram analisadas nesta pesquisa 19.824 postagens publicadas na página

do Facebook de todos os veículos no período de 01 de julho ao dia 31 de outubro de

2014. As frequências apresentadas são dos conteúdos compartilhados na página da rede

social digital. É importante ressaltar que nem todo conteúdo produzido pelo jornal é

compartilhado com os internautas via Facebook, há uma seleção de notícias para ocupar

este espaço virtual. Essas notícias ganham visibilidade por estarem divulgadas no site

web do jornal e em forma de post no Facebook.

Foram selecionados pelo menos um jornal regional de cada região geográfica do

Brasil, sendo três da região sul, um da região sudeste, dois da região nordeste, dois da

centro-oeste e um do norte do país. Busca-se na pesquisa observar a produção

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jornalística compartilhada na rede social digital, comparando os veículos e regiões entre

si.

A tabela 1 expõe a produção na rede em número de postagem durante a

campanha eleitoral. Ao observamos a tabela, podemos constatar que cada veículo

compartilha um número variável de conteúdo no período. Enquanto o jornal Zero Hora

(RS) publicou 4189 (21,1%) do total de postagens, o Jornal da Manhã (PR) representa

apenas 2,4% dos posts com 467 noticias compartilhadas. Publicar menos ou mais

conteúdo em redes sociais não é a problemática desse trabalho, cada jornal possui uma

estrutura de organização e uma linha editorial independente, como também opta em

publicar noticias mais locais ou regionais, não alcançando um grande número de

seguidores além dessa limitação.

Tab. 1 – Frequências das Postagens

Jornal Frequência Porcentagem

A TARDE 1319 6.7 %

CORREIO BRASILIENSE 2207 11.1 %

CORREIO DO ESTADO 1383 7.0 %

DIÁRIO DO PARÁ 2778 14.0 %

GAZETA DO POVO 2891 14.6 %

JORNAL DA MANHÃ 467 2.4 %

O ESTADO DE MINAS 1899 9.6 %

O POVO 2691 13.6 %

ZERO HORA 4189 21.1 %

Total 19824 100%

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Há uma aproximação entre os jornais Correio Brasiliense (DF), Diário do Pará (PA),

Gazeta do Povo (PR) e O Povo (CE), nos seus números totais de posts, esses jornais

representam 53.3% do banco de dados, com médias de postagem no período de 13,3%.

Os jornais A Tarde (BA), Correio do Estado (MS) e O Estado de Minas (MG), juntos

representam 23,3% do banco, com médias de postagens de 7,7%. Considerando os

jornais e a média de posts no período, podemos classificá-los em jornais com alto, médio

e baixo volume de publicações na rede social digital Facebook.

Para comparar qual foi a distribuição dos posts de cada jornal entre os meses do

período analisado, a Tabela 2, através do cruzamento de informações, mostra o número

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de postagens por mês de cada jornal no período. O interessante dessa tabela é mostrar

que o compartilhamento de notícias varia pouco, em todos os jornais, porém há alguns

casos que devem ser destacados.

Tab. 2 – Frequência das Postagens por mês

Mês Total

Julho agosto setembro outubro

A TARDE N 250 244 248 577 1319

% 19,0% 18,5% 18,8% 43,7% 100,0%

CORREIO BRASILIENSE N 577 560 454 616 2207

% 26,1% 25,4% 20,6% 27,9% 100,0%

CORREIO DO ESTADO N 519 323 261 280 1383

% 37,5% 23,4% 18,9% 20,2% 100,0%

DIÁRIO DO PARÁ N 979 759 616 424 2778

% 35,2% 27,3% 22,2% 15,3% 100,0%

GAZETA DO POVO N 710 646 719 816 2891

% 24,6% 22,3% 24,9% 28,2% 100,0%

JORNAL DA MANHÃ N 125 132 79 131 467

% 26,8% 28,3% 16,9% 28,1% 100,0%

O ESTADO DE MINAS N 539 440 368 552 1899

% 28,4% 23,2% 19,4% 29,1% 100,0%

O POVO N 979 731 395 586 2691

% 36,4% 27,2% 14,7% 21,8% 100,0%

ZERO HORA N 879 930 947 1433 4189

% 21,0% 22,2% 22,6% 34,2% 100,0%

Total N 5557 4765 4087 5415 19824

% 28,0% 24,0% 20,6% 27,3% 100,0%

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Alguns jornais apresentaram padrões semelhantes de cobertura jornalística, no

decorrer do mês com poucas variações do percentual de publicações, o jornal Gazeta do

Povo (PR) e Correio Brasiliense (DF) não variou muito no período, concluindo que a linha

editorial segue uma estrutura com mínimos e máximos posts por mês. Em contrapartida, o

jornal A Tarde (BA) mantém nos primeiros três meses uma média de 247 posts, e no mês

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de outubro as notícias na rede digital dobram, já O Correio do Estado (MS) e Diário do

Pará (PA) reduziram a quantidade de posts publicados na rede mês a mês. Para mostrar

de maneira mais clara, o comportamento dos jornais no período, o Gráfico 1 abaixo traz

informações quanto ao número de postagens nos meses de cada jornal. Utiliza-se o

gráfico nesse caso para fique mais visível o comportamento de cada jornal.

Gráfico 1 – Número de Postagens nos meses

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Primeiramente deve-se ressaltar que a linha pontilhada que divide o gráfico

verticalmente é a média, que será nosso ponto de referência para analisar cada caso. Os

jornais se concentram próximo à linha. Os jornais Correio do Estado e Jornal da Manhã

ficaram bem abaixo da média de publicações, no caso do Jornal da Manha os

compartilhamentos de noticias na rede digital não ultrapassaram 200 posts nos meses. As

linhas que liga os meses dos jornais Diário do Pará e O Povo são as mais espaçadas,

significando uma variação constante nos meses. O Estado de Minas, Correio Brasiliense

e A Tarde com algumas similaridades não compartilharam mais que 700 posts na rede

digital.

O jornal Zero Hora junto com a Gazeta do Povo são os únicos que ficaram acima

da média de posts em todo o período, enquanto o Zero Hora apresenta julho, agosto e

setembro com número de posts mais próximos, outubro se distancia com o maior número

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de posts com mais de 1.400 publicações no mês. Já a Gazeta do Povo apresentou um

número de publicações concentradas entre 600 e 800 posts publicados, mostrando um

determinado padrão na sua cobertura jornalística.

Com relação aos comentários dos internautas sobre as postagens dos jornais

relacionados podemos verificar que não há uma correspondência proporcional do número

de posts com o número de comentários. Como os comentários coletados foram apenas

dos que citavam pelo menos um dos principais candidatos à presidência em 2014,

consideramos natural que a cobertura de um jornal não seja proporcional ao número dos

comentários, visto que cada jornal segue um padrão de cobertura próprio. Os jornais que

apresentaram o maior número de posts no Facebook no período, conforme a Tabela 1,

foram pela ordem: I) Zero Hora (4189, 21,1%); II) Gazeta do Povo (2891, 14,6%); III)

Diário do Pará (2778, 14,0%); IV) O Povo (2691, 13,6%); e V) Correio Brasiliense (2207,

11,1%). Todavia, os comentários dos internautas apresentaram um volume distinto do

número de posts na timeline do Facebook, conforme a Tabela 3, pois o número de

comentários do jornal O Povo somou mais da metade de todos os outros no período

eleitoral, com 7136 registros (54%). Ou seja, a timeline do jornal O Povo foi a que

apresentou maior atividade de comentários por parte dos internautas com relação aos

jornais regionais relacionados nesta pesquisa.

Tab.3 – Número de comentários por jornal

Frequência Porcentual Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulativa

Válido

ATARDE 343 2,6 2,6 2,6

CORREIOBRASILIENSE 2201 16,7 16,7 19,3

CORREIODOESTADO 540 4,1 4,1 23,4

DIARIODOPARA 302 2,3 2,3 25,7

GAZETADOPOVO 997 7,6 7,6 33,3

JORNALDAMANHA 3 ,0 ,0 33,3

OESTADODEMINAS 13 ,1 ,1 33,4

OPOVO 7136 54,1 54,1 87,5

ZEROHORA 1644 12,5 12,5 100,0

Total 13179 100,0 100,0

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Com relação aos destinatários dos comentários foram 6081 (46,1%) destinados

aos candidatos e 5383 (40,8%) sem destinatário específico, conforme a Tabela 4. Estes

dados indicam que os usuários demonstraram interesse específico para o destinatário de

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seus comentários na timeline dos jornais regionais, com pouco interesse em destinar os

comentários à campanha (0,4%), ao portal (ao jornal) (1,0%), ao autor do post (1,8%), ao

governo (1,8%).

Tab. 4 - Destinatário do comentário

Destinatário Frequência Porcentual

ao autor 237 1,8%

ao candidato 6081 46,1%

à campanha 48 0,4%

ao governo 235 1,8%

aos internautas 412 3,1%

ao portal 133 1,0%

ao tema 650 4,9%

sem destinatário 5383 40,8%

Total 13179 100,0%

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Ao observarmos, na Tabela 5, os formatos dos comentários dos internautas na

timeline dos jornais regionais em que verificamos ao menos uma citação de um dos

principais candidatos à presidência em 2014, o predomínio foi de crítica ao candidato com

5975 (45,3%) dos comentários e logo em seguida elogio ao candidato, com 4876 (37%).

Esses dados demonstram que os internautas priorizam o debate sobre os candidatos,

deixando em segundo plano elogios ou críticas ao governo, ao autor, aos internautas, ou

ao portal no período eleitoral.

Tab.5 - Formato do comentário

Frequência Porcentual Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulativa

Válido

elogio ao autor 31 ,2 ,2 ,2

elogio ao candidato 4876 37,0 37,0 37,2

elogio ao governo 22 ,2 ,2 37,4

elogio aos internautas 9 ,1 ,1 37,5

elogio ao portal 5 ,0 ,0 37,5

crítica ao autor 543 4,1 4,1 41,6

crítica ao candidato 5975 45,3 45,3 87,0

crítica ao governo 245 1,9 1,9 88,8

crítica aos internautas 313 2,4 2,4 91,2

crítica ao portal 149 1,1 1,1 92,3

Formato indefinido 1011 7,7 7,7 100,0

Total 13179 100,0 100,0

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

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Ao final deste trabalho relacionamos alguns achados com relação aos posts e

comentários coletados da timeline do Facebook dos jornais regionais do Brasil no período

eleitoral de 2014. Primeiro que o número de posts varia em volume de um jornal para o

outro, mas há um número aproximado de postagens entre os jornais, com exceção

apenas do Jornal da Manhã com poucos posts e comentários. Segundo, os jornais

tiveram postagens que variaram mês a mês no período eleitoral, mas não

necessariamente tiveram mais postagens em outubro. Terceiro, o número de comentários

foi de grande diferença observado de um jornal para o outro, o que sugere uma pesquisa

minuciosa para verificar este comportamento. E em quarto verificamos que os

destinatários dos comentários predominaram entre os candidatos ou sem candidato

específico, tendo como formatos em sua maior parte ou de elogio ou crítica ao candidato.

O que demonstra que os internautas optam por comentar preferencialmente sobre os

candidatos em posts dos jornais regionais, que citam ao menos um dos candidatos.

4. Considerações Finais

As publicações no Facebook podem proporcionar uma nova forma de análise sobre

cobertura eleitoral dos jornais nos estudos de Comunicação e de Ciência Política. Este

trabalho utilizou um recorte de uma coleta de pesquisa para este teste. A problematização

desta pesquisa consistiu na formulação das seguintes perguntas: Qual o destinatário

predominante nos comentários postados pelos internautas no período eleitoral em 2014

nos posts dos jornais regionais? Qual a forma de comentário que os internautas

priorizaram em seus comentários?

Os resultados demonstram que podemos corroborar a hipótese desta pesquisa de

que os internautas postaram seus comentários em maior parte destinado aos candidatos

à presidência priorizando a explícita menção negativa/crítica aos mesmos. Todavia é

importante mencionar que o número de comentários que priorizou a explícita menção

positiva/elogio aos candidatos foi de grande volume também. Isso demonstra que os

internautas não tem a preocupação e o interesse exclusivo em apenas criticar os

candidatos na rede social digital Facebook, pois grande parte compartilha comentários

positivos, o que proporciona um equilíbrio entre negativo e positivo no debate online.

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Referências

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BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. & GASKEL, George. Pesquisa Qualitativa Com Texto, Imagem e Som. Editora Vozes: Petrópolis – RJ, 2003.

CASTRO, Maria Ceres. Dilemas para a constituição do espaço público brasileiro: controvérsias midiáticas In: Mídia, Esfera Pública e Identidades Coletivas. UFMG, 2006.

CERVI, Emerson Urizzi. Opinião Pública e Política no Brasil: O que o brasileiro pensa sobre política e porque isso interessa à democracia. Tese de Doutorado em Ciência Política do IUPERJ. Rio de Janeiro, 2006

LIMA, V. Os mídia e o cenário de representação da política, Lua nova, São Paulo, 16 dez. 1996.

MAIGRET, Éric. Sociologia da comunicação e das mídias. São Paulo: Editora Senac, 2010.

MORENO, Alejandro; MENDIZÁBAL, Karla Yuritzi. O uso da redes sociais e o comportamento político no México. In: TELLES, Helcimara; MORENO, Alejandro (Org.). Comportamento eleitoral e comunicação política na América Latina: o eleitor latino-americano. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.

RODRIGUES Catarina. Novas fronteiras do jornalismo: comunicação individual na era global. Universidade da Beira Interior, Portugal, 2008

SANCHEZ, Ana; GRANADO, António; ANTUNES, Joana Lobo. Redes Sociais para Cientistas. Lisboa: Nova Escola Doutoral – Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa, 2014.

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CAMPANHAS ONLINE E REDES SOCIAIS:

O uso do Facebook pelos Senadores eleitos em 201426

Isabele Batista Mitozo27

Miriane Pires Rodrigues28

RESUMO

O surgimento das plataformas online trouxe inovações ao estilo de comunicação desenvolvido entre representantes e representados. Refletindo acerca dessa nova ferramenta política, este trabalho visa a analisar como se deu a utilização dos sites de redes sociais, mais especificamente o Facebook, pelos candidatos eleitos ao Senado Federal, em 2014, a fim de perceber como se deu a inserção das campanhas nas mídias digitais, no contexto da Web 2.0, desde o provimento de informações ao conteúdo em que, de fato, se investiu. Como resultado, percebe-se que as campanhas estão muito mais interessadas em publicar agenda e compreender a participação dos eleitores na campanha como chamada a fazer “selfies” com os candidatos ou mudar o avatar de seu perfil que, de fato, investir em transparência, tendo em vista que todos esses concorrentes já ocuparam cargos eletivos.

Palavras-Chave: Campanhas online, Facebook, Senadores.

Introdução

O advento das redes sociais como ferramentas de comunicação trouxe grandes

avanços à comunicação política. Assim, era esperado que o marketing político passasse a

utilizar esses novos canais para alcançar os eleitores, como se pode ver de maneira mais

clara desde a campanha de Barack Obama à Presidência norte-americana, em 2008, que,

por tão inserida no meio digital, foi mesmo caracterizada como campanha “pós-web” por

Gomes et al. (2013).

Tendo em vista a apropriação de estratégias desse modelo pelas campanhas

brasileiras, pretende-se desenvolver um trabalho cujo objetivo é analisar os perfis que os

candidatos eleitos ao Senado Federal, em 2014, tiveram na rede Facebook a fim de

perceber como se caracterizou a inserção das campanhas nas mídias digitais em nível de

Web 2.0. A escolha se deu pela concentração de maior conteúdo nessa rede social que

nos sites de campanha e as observações realizadas consistiram em saber 1) como as

campanhas gerenciaram três dimensões apontadas pela literatura como aquelas que

26

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Instituições, Comportamento Politico e Novas Tecnologias – GEIST, da Universidade Federal do Paraná. 27

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected] 28

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected]

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foram alteradas com a campanha em ambiente online: provimento de informações, oferta

de mecanismos de participação, e promoção da transparência (MARQUES et al., 2013).

O corpus empírico a ser analisado, portanto, é constituído pelos posts difundidos através

da página oficial no Facebook dos 27 candidatos eleitos ao Senado, coletados a partir do

aplicativo Netvizz. Essa escolha deveu-se ao fato de as pesquisas se concentrarem mais

nas eleições para os cargos do Poder Executivo, deixando de lado as mudanças que

podem ser percebidas, atualmente, em uma campanha online a um cargo legislativo como

o Senado, cuja escolha é também majoritária, e a especialização, constatada por

observação prévia, de muitas das campanhas daqueles que se elegeram para essa Casa.

Assim, o trabalho se estruturará em três seções: 1) Discussão teórica acerca das

campanhas online, especialmente daquelas já realizadas no contexto da Web 2.0; 2)

análise da utilização do Facebook nas eleições brasileiras de 2014, pelos candidatos

eleitos ao Senado Federal; e, por fim, 3) considerações finais acerca do fenômeno

estudado.

1. Campanhas eleitorais em ambiente online: da Web 1.0 à interatividade na era da

‘Política 2.0’

A utilização de plataformas de comunicação online pelo campo da política tem se

tornado cada vez mais comum. Especificamente, as campanhas são os períodos em que,

atualmente, se pode observar de forma mais ampla a apropriação dessas “novas”

ferramentas. Isso se deve ao fato de que plataformas online oferecem “uma gama de

estilos de comunicação, que podem desenvolver laços mais fortes entre legisladores e

seu eleitorado”, por exemplo (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013, p. 191 – tradução

própria)29.

A entrada das campanhas em ambiente online se iniciou em meados dos anos

1990, pelo investimento em websites, através dos quais as campanhas divulgavam

materiais e agenda dos candidatos, com leves traços de chamada à participação,

caracterizada pela disponibilização, entre os candidatos mais ousados (MARQUES;

SAMPAIO, 2013), de endereços eletrônicos, os e-mails, através dos quais os cidadãos

poderiam estabelecer contato com a equipe de campanha. A utilização real dos e-mails,

no entanto, servia mais à atividade de “mala-direta”, i.e., a veiculação de e-mails para

29

[...] a range of conversational-style communication, that can develop stronger ties between the legislator and his or her constituents.

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grupos de cidadãos. Nesse caso, além da precariedade de letramento digital e de

investimento nessa modalidade de campanha, pela obscuridade de seu potencial efeito

sobre a votação, aqueles candidatos ou representantes que ofereciam esse tipo de canal

não pretendiam usar o e-mail como ferramenta de interatividade, gerando, em vez de

empatia, nova insatisfação ao eleitorado.

A corrida presidencial norte-americana disputada por Bill Clinton e George Bush,

em 1992, pode ser considerada a pioneira na utilização de websites, embora, ainda, muito

limitada a limites de velocidade de internet e resumida à atividade panfletária (AGGIO,

2013), constituindo-se, desse modo, como mera transposição das estratégias offline para

o ambiente online, sem inovações.

No contexto brasileiro, somente em 2002 e 2006 os websites passaram a ser

utilizados para fins de campanha, e neles se podiam encontrar desde os jingles às

propostas dos candidatos, como ferramenta complementar ao Horário Gratuito de

Propaganda Eleitoral (HGPE), para veicular, inclusive, o que não poderia aparecer na

televisão, já que não havia muita fiscalização no ciberespaço àquela época (MARQUES;

SAMPAIO, 2010). Assim, as campanhas não pareciam “se preocupar em explorar os

mecanismos de interação e colaboração que o meio [digital] permite” (PENTEADO, 2012,

p. 44).

É certo que alguns fatores, tais quais exclusão digital, receio à falta de controle da

repercussão do conteúdo e ausência de especialização no trato com as plataformas

online, contribuíram para o atraso da implantação de estratégias desse tipo, no Brasil e

em outros países, onde esse tipo de tecnologia ainda engatinhava em sua implantação.

A campanha de Barack Obama, desde as primárias, à Presidência dos Estados

Unidos foi, sem dúvidas, um grande marco para novas modalidades de campanha online:

a inserção dos sites de redes sociais (SNS, conforme nomenclatura original: social

network sites). A contratação de um dos fundadores da rede Facebook, Chris Hughes,

traria grandes inovações ao modo de comunicação estabelecido entre candidato e

eleitores. A ideia, então, era aproximar Obama do eleitorado norte-americano da maneira

mais ampla possível. Os investimentos não foram escassos e o candidato, além de ter

sua própria rede social (My.BO), conseguiu se inserir em outros grupos bem específicos,

como o BlackPlanet (grupo de negros), AsianAve (para descendentes de asiáticos) e

MiGente (destinado a latinos) (GOMES et al., 2009).

A possibilidade de compartilhamento de conteúdo, portanto, passa a dar às

campanhas a função de proporcionar a mobilização do eleitorado, o que se tornou tema

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61

central das pesquisas relacionadas a essa área na última década (AGGIO, 2013). Houve

quem não acreditasse, contudo, que os SNS poderiam vir a substituir os websites nas

campanhas, por atenderem a diferentes propósitos (GULATI, 2007 apud AGGIO, 2013).

Eles servem a diferentes propósitos, como fornecer a possibilidade de cidadãos, distantes geograficamente, se identificarem e formarem comunidades de interesse que podem planejar ou inserirem-se em atividades presenciais tradicionais. Não obstante isto, os media sociais possibilitam que as campanhas circulem informações, conteúdos, notícias, respostas, pronunciamentos e debates através de simples publicações de links associados a sites de armazenamento gratuito de arquivos audiovisuais como o Youtube (AGGIO, 2013, p. 116).

Observando-se as campanhas atuais, contudo, pode-se constatar que há uma

adoção decrescente dos websites, pois a utilização de redes sociais parece ter ampliado

tanto o acesso quanto a circulação de conteúdo. O Facebook, o youtube e o twitter têm

servido como objeto de pesquisa para a explicação de alguns fenômenos relacionados à

comunicação política através da internet, atualmente (PENTEADO, 2012; VEERGER;

HERMAN, 2011; MARQUES et al., 2014; BACCHINI et al., 2013). É certo que grande

parte dos trabalhos se concentra em observar a relação entre representação e novos

media e pensa a possibilidade de se estabelecer um tipo de representação direta

(COLEMAN, 2005), i. e., um contato mais próximo e contínuo entre mandatários e

mandantes, a fim de fortalecer a confiança da esfera civil na esfera política, legitimando

as atividades e a própria constituição do centro de decisão.

Pensando além da adoção das plataformas digitais como instrumento de marketing

político e observando o conteúdo em que se investe em uma campanha online, pode-se

constatar que ocorreram mudanças significativas acerca do conteúdo que se espera ver

nas redes dos candidatos. Marques e Sampaio (2010) já afirmavam que o advento das

campanhas na web trazem novos padrões de comunicação política tendo em vista os

custos que essa abertura digital da campanha aos eleitores, em relação às exigências

cada vez maiores que são demandadas dos candidatos, e o apelo quanto à real eficiência

do uso da internet.

Assim, os autores afirmam que os principais quesitos cobrados nessas campanhas

são 1) provimento de informação política, uma vez que ela é o fator estimulante aos

outros domínios a serem observados; 2) motivação à participação, já que esse é o grande

fator novo que a internet pode trazer às campanhas: a interação com a audiência; e 3) a

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transparência, a partir da qual os cidadãos podem “saber os limites de influência que suas

contribuições têm” (MARQUES; SAMPAIO, 2010, p.216).

É interessante perceber, como também foi apontado por esses autores, que tais

exigências vêm daquelas direcionadas aos representantes, já eleitos. Pensando no caso

cujo estudo é apresentado neste paper, faz sentido que tais demandas estejam

presentes, uma vez que todos os candidatos ao Senado Federal já ocuparam cargos

eletivos. Dessa forma, podem-se agregar às análises do conteúdo apresentado pelas

campanhas online categorias como Homestyle Information e Impression Management,

respectivamente, informações ligadas às ações realizadas pelo candidato enquanto

representante (como incumbente ou exercendo outro cargo) e gerenciamento de imagem

pessoal, quando o candidato expõe dados pessoais, como passar a impressão de ser um

bom pai (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013).

Partindo das reflexões acima expostas, a seção seguinte procura observar mais de

perto o caso brasileiro e como as eleições no país se apropriaram das ferramentas digitais

para desenvolverem melhor esse elo prévio entre cidadãos e representantes, assim como

o conteúdo e as ações que proporcionam através desse meio, visto que a Web 2.0, ou

seja, a era de interação humana mediada pelas tecnologias digitais (STROMER-GALLEY,

2000), estabelece novas diretrizes comunicacionais, tendo adentrado todas as esferas da

política, mesmo que ainda haja um receio de contato, por parte das elites políticas, com a

esfera civil.

2. O uso do Facebook nas eleições brasileiras: uma análise da campanha dos 27

eleitos ao Senado Federal

Como se pode perceber, há alguns anos a internet tem servido de espaço para o

desenvolvimento de campanhas políticas. As últimas eleições brasileiras mostraram que,

embora ainda haja ampla lacuna na utilização desse meio, a chamada Web 2.0 pode

servir de importante plataforma tanto para a divulgação de conteúdo de campanha quanto

para o debate público, sendo este o ponto que caracteriza a diferença fundamental entre

os media digitais e os tradicionais.

No Brasil, as potencialidades das plataformas online só começaram a ser

exploradas após 2009, quando a lei eleitoral nacional passou a incluir em seus artigos e,

assim, permitir essa modalidade de campanha (MARQUES et al., 2013). Essa nova

utilização, mesmo que pós-campanha de Obama à Presidência dos EUA, em 2008, inicia-

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se de forma precária e muito cautelosa, o que suscita várias questões, tais como: 1) que

impacto eleitoral esses novos media poderiam causar; 2) se uma paridade de campanha

poderia ser instaurada, já que a disparidade de tempo no Horário Gratuito de Propaganda

Eleitoral (HGPE) poderia ser sanada pela propagação de conteúdo online; 3) quão

mobilizado o eleitorado poderia ser; 4) que interações poderiam ser suscitadas a partir do

desbravamento das redes sociais online; dentre outras (AGGIO, 2013).

Observando os trabalhos produzidos acerca da utilização de plataformas digitais

pelas campanhas eleitorais, percebe-se que eles têm se concentrado em estudar o

desenvolvimento das e-campanhas para cargos do Poder Executivo, especialmente à

Presidência da República, ou mesmo a estudar a utilização desse ambiente pelos

representantes (STROMER-GALLEY, 2000; MARQUES et al., 2010; GOMES et al., 2009;

IASULAITIS, 2013; CERVI; MASSUCHIN, 2013; BACCHINI et al., 2012; BECHER, 2013).

O único trabalho encontrado com estudo de candidatos ao Senado, ainda assim, aliado às

candidaturas aos governos estaduais, é aquele de Braga et al. (2013), que analisa as

campanhas online nas eleições de 2010.

Desse modo, tem-se apontado que, gradativamente, as campanhas vão

oferecendo mais acesso aos cidadãos, em um movimento que parece ter caminhado da

teoria de Norris (2001) de “pregar para os convertidos” àquela de Gibson et al. (2003), de

“pregar através dos convertidos”. Essa passagem pode se confirmar ao se observar o

modo como as campanhas ocorriam na época em que os websites eram a grande

ferramenta digital e as novas possibilidades alcançadas pelo uso de sites de redes sociais

(SNS), em que as ações dos usuários complementam e ampliam aquelas das próprias

páginas oficiais de campanha. Nesse caso, a participação da audiência chega mesmo a

ser “essencial no processo de produção de conteúdo interativo e compartilhado”

(PENTEADO, 2012, p. 42).

O caso do Facebook é ainda mais específico, pois essa rede proporciona três

ações aos usuários: compartilhar, curtir e comentar. Isso tudo além da nova atividade que

ao cidadão foi permitida: postar seu próprio conteúdo, inclusive, na página de seu

candidato. Mesmo que algumas assessorias de postulantes aos cargos eletivos, por outro

lado, bloqueiem a postagem de usuários na página oficial, como uma espécie de

gerenciamento de conteúdos, a fim de não prejudicar o desenrolar planejado para a

campanha, os internautas ainda desenvolvem estratégias para driblar esse controle, como

a criação de perfis falsos, os chamados fakes, ou a utilização de imagens de posts oficiais

para a criação de “memes”.

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Por essa razão, além do fato de o Facebook ser, atualmente, a rede social online

mais utilizada pelos brasileiros, conforme dados da Pesquisa brasileira de mídia (BRASIL,

2014), esta pesquisa decidiu observar o desenvolvimento de campanhas através dessa

SNS. Mais especificamente, propõe analisar como as páginas dos candidatos eleitos ao

Senado Federal em 2014 (Gladson Cameli – AC, Collor – AL, Omar Aziz – AM, Davi

Alcolumbre – AP, Otto Alencar – BA, Tasso Jereissati – CE, Reguffe – DF, Rose de

Freitas – ES, Ronaldo Caiado – GO, Roberto Rocha – MA, Antônio Anastasia – MG,

Simone Tebet – MS, Wellington Fagundes – MT, Paulo Rocha – PA, José Maranhão –

PB, Fernando Bezerra – PE, Elmano Férrer – PI, Álvaro Dias – PR, Romário – RJ, Fátima

Bezerra – RN, Acir Gurgacz – RO, Telmário Mota – RR, Lasier Martins – RS, Dário Berger

– SC, Maria do Carmo – SE, Serra – SP e Kátia Abreu – TO) se comportaram em relação

ao volume de conteúdo postado e em que tipo mais se investiu. Assim, as categorias de

análise serão 1) provimento de informação política, 2) motivação à participação, 3)

transparência (MARQUES; SAMPAIO, 2010), 4) Homestyle information e 5) Impression

management (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013).

Embora as assessorias de campanha já reconheçam a importância dessa

ferramenta, ou, ao menos, a necessidade de competir por atenção com os outros, a peer-

pressure (MARQUES; SAMPAIO, 2010; VICENTE-MERINO, 2007), nem todos os

candidatos investiram na modalidade “página” no Facebook: Omar Aziz possuía apenas

um perfil pessoal: José Maranhão, apenas um perfil que o classifica como “negócios”: e

Paulo Rocha não utilizou essa rede social online em sua campanha.

Assim a distribuição de postagens das páginas dos 24 candidatos que investiram

na plataforma em estudo, i.e., apenas posts provenientes da equipe de campanha,

ocorreu de forma quase homogênea, havendo poucas disparidades entre candidatos,

mesmo que expressivas, como se pode observar na Tabela 1, abaixo.

Tabela 1: Total de posts (04/07 a 06/10/2014)

Frequência Percentual

ACIR GURGACZ 287 3,3

ÁLVARO DIAS 1183 9,5

ANTONIO ANASTASIA 237 1,9

COLLOR 527 4,2

DÁRIO BERGER 395 3,2

DAVI ALCOLUMBRE 295 2,3

ELMANO FÉRRER 480 3,8

FÁTIMA BEZERRA 1426 11,4

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65

FERNANDO BEZERRA COELHO 567 4,5

GLADSON CAMELI 466 3,7

KÁTIA ABREU 322 2,5

LASIER MARTINS 591 4,7

MARIA DO CARMO 164 1,3

OTTO ALENCAR 574 4,6

REGUFFE 6 0,

ROBERTO ROCHA 308 2,5

ROMÁRIO FARIA 519 17

RONALDO CAIADO 466 3,8

ROSE DE FREITAS 439 3,4

SERRA 152 1,2

SIMONE TEBET 369 3,0

TASSO JEREISSATI 590 4,7

TELMÁRIO MOTA 17 0,1

WELLINGTON FAGUNDES 423 3,4

TOTAL 10803 100.0

FONTE: As autoras

A partir dessa tabela, pode-se perceber que as campanhas que mais investiram em

postagens foram, respectivamente, aquelas de Fátima Bezerra (1426) e Álvaro Dias

(1183). Lasier Martins (591) vem logo em seguida, mas não se distancia como aqueles da

média de posts dos outros candidatos. Por outro lado, de forma bastante díspar, Reguffe

e Telmário Mota não tiveram expressividade em sua campanha pelo Facebook: além de

postarem pouco, esse conteúdo não se concentrou em um período de campanha, como,

p.ex., na reta final, o que poderia ter ajudado a atrair seguidores.

2.1. O conteúdo das postagens

A primeira categoria a ser analisada é a informação político-eleitoral que os

candidatos dispuseram em suas respectivas páginas. Como se pode observar no quadro

abaixo (QUADRO.1), os candidatos tiveram perfis diferentes de publicação de conteúdos.

Quadro 1 – Tipo de conteúdo compartilhado pelas páginas dos candidatos

SENADOR TOTAL

INFO PART TRANP HOMESTYLE IM

ACIR Count 219 16 22 54 9 287

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66

Std. Residual

4,2 ,4 14,7 8,1 -8,4

ÁLVARO DIAS

Count 254 5 9 45 200 698

Std. Residual

-7,3 -5,1 2,1 -,1 -,8

ANASTASIA

Count 119 1 0 9 104 159

Std. Residual

2,9 -2,5 -1,0 -,4 8,0

COLLOR

Count 293 49 6 45 38 458

Std. Residual

1,8 5,3 1,7 2,7 -8,6

DÁRIO

Count 249 63 16 50 14 394

Std. Residual

1,5 9,6 8,4 4,8 -9,7

DAVI ACOLUMBRE

Count 190 3 0 12 178 295

Std. Residual

1,6 -3,1 -1,4 -1,7 9,4

ELMANO

Count 382 42 2 35 10 495

Std. Residual

5,8 3,4 -,7 ,5 -11,4

FATIMA BEZERRA

Count 392 12 1 85 335 1426

Std. Residual

-14,9 -7,1 -2,7 -,9 -4,7

FERNANDO BEZERRA

Count 406 6 0 53 340 567

Std. Residual

4,5 -4,3 -1,9 2,6 12,8

GLADSON CAMELI

Count 130 3 0 5 125 376

Std. Residual

-5,8 -3,7 -1,6 -4,0 1,0

KÁTIA ABREU

Count 205 57 0 26 4 322

Std. Residual

1,5 10,0 -1,5 1,1 -9,5

LASIER

Count 384 50 0 0 17 591

Std. Residual

2,4 3,6 -2,0 -6,2 -12,1

MARIA DO CARMO

Count 153 0 2 29 124 164

Std. Residual

6,1 -2,9 ,9 5,6 10,5

OTTO ALENCAR

Count 476 5 0 30 444 486

Std. Residual

11,8 -4,0 -1,8 -,3 24,4

REGUFFE

Count 5 2 0 1 3 6

Std. Residual

,8 3,1 -,2 1,0 ,9

ROBERTO ROCHA

Count 166 18 0 6 167 308

Std. Residual

-,8 ,6 -1,4 -3,2 7,6

ROMÁRIO

Count 277 32 4 46 122 519

Std. Residual

-1,2 1,1 ,3 2,1 -2,8

RONALDO CAIADO Count 288 36 0 14 28 466

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67

Std. Residual

1,2 2,5 -1,7 -3,0 -9,5

ROSE DE FREITAS

Count 273 1 0 37 224 439

Std. Residual

1,3 -4,5 -1,7 1,5 7,9

SERRA

Count 96 33 0 7 9 152

Std. Residual

,9 9,1 -1,0 -,9 -5,5

SIMONE TEBET

Count 144 9 0 20 122 255

Std. Residual

-,2 -1,1 -1,3 ,8 5,1

TASSO

Count 115 29 1 5 0 314

Std. Residual

-4,9 3,3 -,7 -3,4 -9,8

TELMÁRIO MOTA

Count 6 0 0 0 5 18

Std. Residual

-1,3 -1,0 -,3 -1,1 -,2

WELLINGTON FAGUNDES

Count 301 17 0 16 295 423

Std. Residual

3,7 -1,0 -1,7 -2,2 14,7

Total 9618

FONTE: As autoras.

As categorias em que todos apresentam um perfil similar são “provimento de

informação” e “transparência”, com investimentos inversamente proporcionais, no total.

Na categoria “provimento de informação”, houve alta concentração de posts,

havendo resíduos padronizados negativos (fora do padrão de distribuição) apenas para

Álvaro Dias, Fátima Bezerra, Gladson Cameli e Tasso Jereissati. Quem mais se destacou

com resíduo alto positivo foi Otto Alencar (11,8).

O candidato à reeleição Álvaro Dias, por exemplo, durante o período eleitoral

postou muitas informações políticas acerca de seu posicionamento contrário ao Governo

Federal, bem como deu ênfase à temática da corrupção no Executivo nacional e em

empresas públicas. O político deu muita ênfase à sua opinião em relação às políticas

governamentais, e um pouco menos a suas atitudes enquanto Senador da República.

De maneira geral, as páginas postavam muitas informações sobre sua trajetória

política, sua agenda de campanha, sobre suas crenças e bandeiras individuais e menos

sobre suas propostas e seus projetos.

Em relação à categoria “motivação à participação”, o desempenho das campanhas

dos senadores em estudo podem ser destacados como bastante positivos apenas em três

casos, que apresentaram resíduos padronizados destoantes dos outros da tabela: Kátia

Abreu (10,0), Dário Berger (9,6) e José Serra (9,1).

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O resultado é alarmante quando se observa a categoria “transparência”: com

exceção apenas de Acir Gurgacz (com 22 posts) e Dário Berger (com 16 posts), essa

categoria esteve ausente das campanhas. Os resíduos padronizados nesse quesito são

significativos e positivos apenas para os dois candidatos já mencionados (14,7 e 8,4,

respectivamente) e para Álvaro Dias (2,1), sendo que este beira a margem de distribuição

normal.

Em relação ao quesito “homestyle”, em que o candidato apresenta feitos de quando

ocupava cargo público, destaque expressado pelo cálculo dos resíduos, apenas para as

campanhas de Acir Gurgacz (8,1), Dário Berger (4,8) e Maria do Carmo (5,6). Nessa

temática, apenas Lasier Martins não investiu.

A última das categorias, muito ligada aos estudos sobre personalização da política,

momento em que a candidatura se volta para a construção da imagem do candidato como

cidadão comum, apresentou investimento de todas as campanhas, com exceção de

Tasso Jereissati, cuja página não publicou nada a respeito da vida do senador. Por outro

lado, houve apenas dois destaques: Otto Alencar (Rp. 24,4) e Wellington Fagundes (Rp.

14,7).

A maior evolução do manejo da plataforma por parte das assessorias de campanha

online foi a percepção de que postagens com imagens são propícias a circularem mais.

De um modo geral, 71,5% das postagens usaram imagem. A Tabela 2 mostra como cada

candidato usou desse recurso, em relação ao total de posts em sua página.

Tabela 2: Proporção de imagens compartilhadas em relação ao total de posts

Frequência Percentual

ACIR GURGACZ 223 78

ÁLVARO DIAS 674 57

ANTONIO ANASTASIA 159 67

COLLOR 446 84,6

DÁRIO BERGER 307 78

DAVI ALCOLUMBRE 207 70

ELMANO FÉRRER 336 70

FÁTIMA BEZERRA 1243 87

FERNANDO BEZERRA COELHO 472 83,2

GLADSON CAMELI 376 81

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69

KÁTIA ABREU 250 77

LASIER MARTINS 451 76

MARIA DO CARMO 134 82

OTTO ALENCAR 486 84.6

REGUFFE 2 33,3

ROBERTO ROCHA 227 73,7

ROMÁRIO FARIA 1200 57

RONALDO CAIADO 333 71,4

ROSE DE FREITAS 330 75

SERRA 97 63,8

SIMONE TEBET 255 69

TASSO JEREISSATI 292 49,5

TELMÁRIO MOTA 5 29,4

WELLINGTON FAGUNDES 367 86,7

TOTAL 8872 71,5

FONTE: As autoras.

Como se pode observar, Wellington Fagundes, Collor e Fernando Bezerra

praticamente basearam sua campanha na comunicação imagética, apresentando os

maiores índices de uso dessa estratégia (mais de 80%). Reguffe e Telmário Mota, que já

tinham apresentado poucas postagens, também não apresentaram uma campanha bem

treinada em relação ao que foi compartilhado, pois apresentaram os menores índices de

uso de imagens (33,3% e 29,4%, respectivamente).

Conforme observado, a utilização do Facebook nas campanhas dos senadores foi

intensa. As campanhas, mesmo que ainda em processo de aprendizagem em relação às

estratégias que funcionam para entrar em contato com o eleitor, progrediram e investiram

em estratégias, no Facebook, que possibilitavam a maior visibilidade possível do

candidato. As propostas (i.e., o provimento de informação política), contudo, ficaram em

segundo plano, tendo havido um maior investimento em postagens com imagem

estampada, o que é uma estratégia garantida de maior probabilidade de angariar curtidas

e comentários. Na campanha de Gladson Cameli, senador eleito pelo Acre, por exemplo,

houve grande concentração de postagens que faziam referência a datas comemorativas e

desejos de “bom dia” aos seguidores. Na mesma proporção, houve um incentivo da

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70

campanha para que as pessoas enviassem fotos e mensagens de apoio ao candidato, o

que, cuidadosamente, recebia respostas da equipe de Gladson.

Outras campanhas, como a de Lasier Martins, investiram em fazer fotos dos

eventos offline, disponibilizar o álbum na timeline e chamar os seguidores a se

encontrarem e copiarem as fotos em que apareciam. Essa estratégia, considerada de

participação, é, entretanto, bastante limitada à compreensão de participação como

simples apoio presencial ao candidato. Em um contexto de Web 2.0, i.e., a era da

interação, esse pensamento ainda soa muito retrógrado a uma campanha que se diga

inserida nas redes sociais.

Outra possibilidade pouco explorada pelas campanhas, apesar de ser uma

atividade em alta no Facebook30, foi a criação de “eventos”, atividade à parte da timeline,

para aos quais se podem fazer convites a seguidores e esses a seus amigos, como forma

de divulgação da agenda do candidato. Na timeline da página eram divulgadas as

carreatas, os encontros, as convenções de partido em que o candidato estaria e havia

uma convocação dos apoiadores, mas faltou às equipes um pouco mais de letramento

digital em relação ao manejo da plataforma.

A própria oferta de uma página em rede social já se caracteriza como uma oferta

de mecanismo de participação. O problema se encontra na restrição da visibilidade dessa

participação, pois, quando se verifica que dos 24 candidatos analisados 14 (i.e. 58%

deles) tinham sua página bloqueada para postagens dos internautas, percebe-se que o

receio que Stromer-Galley (2000) apontava no início do século, em relação à interação,

ainda é concreto.

A maior deficiência das campanhas, por sua vez, é a falta de investimento tanto em

informação estritamente política, incluindo atividades prévias e futuras dos candidatos,

como representantes, e, principalmente, na transparência que poderia ser veiculada

através desses perfis. Isso, além de driblar o filtro jornalístico e os enquadramentos dados

por essa esfera acerca de possíveis atividades ocultas dos candidatos, fortaleceria a

confiança dos eleitores nas candidaturas. Porém, ainda há uma grande resistência das

campanhas nesse quesito.

Assim, percebemos que os assessores de campanha acabam dando mais ênfase a

postagens com informações imagéticas e menos atenção ao debate, que pode se

caracterizar pelo conjunto de informação política, de campanha ou não, motivação à

30

Observe-se a onda de eventos fake criados nessa rede em meados do segundo semestre de 2014.

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71

participação e, especialmente no caso de candidatos que já exerceram cargos eletivos,

transparência.

3. Considerações finais

A partir da análise realizada aqui, pode-se constatar que as campanhas tomaram

novas formas a partir do advento dos media digitais, em especial os sites de redes

sociais. Essa mudança, contudo, ainda não parece ter alcançado um patamar adequado a

fim de que se explorem possibilidades maiores, em relação ao desenvolvimento de novas

estratégias, que elas proporcionam. O próprio fato de a equipe de muitos candidatos

bloquearem a página da campanha às postagens dos seguidores já demonstra que,

espelhando-se no que acontecia ainda na primeira década do século XXI, as elites

políticas ainda estão fechadas ao diálogo e à possibilidade de deliberação acerca do que

os cidadãos desejam e aquilo que é possível realizar, dentro das possibilidades do

mandato e das atribuições de um senador, como no caso estudado.

A transparência foi o recurso menos utilizado nas campanhas no Facebook e a

participação foi pouco explorada pelos senadores. Houve poucas iniciativas dos

candidatos em buscar a opinião dos eleitores e poucas chamadas a participação. Apenas

alguns senadores, como Collor, Dário Berger, Lasier Martins, Roberto Rocha e Katia

Abreu, exploraram um pouco mais a ferramenta de participação, quando pediam a opinião

dos eleitores sobre possíveis temas para debater no rádio e/ou tv com os adversários, ou

com o lançamento de campanhas, como foi o caso da senadora Katia Abreu que

chamava a população para “abraçar o Tocantins” postando sobre o amor que tinham por

aquele estado. Outros meios de motivação à participação foram convites para o

compartilhamento e divulgação de matérias, sair em caminhadas e carreatas, postar fotos

com o candidato, dentre outros. Mas não houve casos em que o político levantasse a

opinião dos eleitores sobre temas polêmicos, por exemplo, o que poderia ajudá-lo a

elaborar suas propostas e projetos.

Desse modo, um fator importante a ser notado é se, em campanhas online,

“candidatos e eleitores estão interagindo genuinamente entre si em processos de

deliberação ou se a maioria das pessoas, na verdade, apenas têm acesso aos artefatos

que contêm apenas aquilo que os candidatos desejam que os cidadãos vejam, leiam ou

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acreditem” (STROMER-GALLEY, 2000, p. 119 – Tradução própria)31. Participação, nesse

caso, parece estar sendo entendida, ainda, como chamada a caminhadas, postagem de

fotos de apoio e, portanto, está longe de alcançar uma construção colaborativa de

projetos.

É difícil precisar o quanto a campanha online, neste caso, através do Facebook,

reverteu-se em votos para esses candidatos (o que foge do escopo deste trabalho),

sobretudo porque há fatores externos bastante influentes, como o financiamento de

campanha. No entanto, “embora haja um vivo debate sobre o quanto as e-campanhas

replicam características das campanhas off-line ou contribuem para uma mudança

fundamental no discurso democrático” (VEERGER et al., 2011), é visível que a web se

tornou uma ferramenta importante para a maior inserção dos cidadãos nos processos

políticos, como se pôde observar melhor no último pleito brasileiro.

Referências

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31

[...] candidates and people are genuinely interacting with each other in a process of deliberation, or if the most people can get is the artifacts of what candidates want citizens to see, read or believe.

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PARTIDOS E REDES SOCIAIS:

Análise da ação dos partidos brasileiros no Facebook32

Leonardo Caetano da Rocha33

RESUMO

O trabalho aborda as relações entre partidos políticos e internet no Brasil, mais especificamente como tais instuições atuam junto ao Facebook, em períodos não eleitorais. A relevância da pesquisa, encontra-se na necessidade dos partidos agirem de forma efetiva dentro das novas mídias, pelo grande impacto que as mesmas possuem no âmbito social, especialmente nas relações políticas, voltando nosso olhar para como se instiga a prática democrática para além dos períodos eleitorais. A literatura concernente a área e os estudos de caso referentes a atuação partidária na rede, nos demonstram as principais preocupações dos teóricos sobre os impactos da web no campo político, bem como as tendências de ações das instituições partidárias, sendo assim, temos como hipóteses: I – os partidos tendem a atuar na internet no sentido da difusão da informação; II – não há padrões de ação diferentes quando contrastados partidos de tamanho e ideologia diferentes; III – existe um considerável grau de personalismo nas ferramentas. A metodologia tem base em Gibson & Ward (2000), submetendo as ferramentas partidárias a análise a partir de um conjunto de variáveis que conformam quatro dimensões de análise. Os resultados apontam para uma subutilização dos potenciais interativo e mobilizador da internet, um uso mais efetivo pelos partidos de esquerda e a um grau não acentuado de o personalismo.

Palavras-chave: Partidos políticos, Internet, Redes Sociais, Facebook.

1. Introdução

O presente artigo provém de um dos capítulos da dissertação de mestrado do

autor, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da

Universidade Federal do Paraná no ano de 2014.

Nosso objeto de análise é a relação entre política e internet. Mais especificamente

buscamos compreender a atuação dos partidos políticos junto as novas TICs no contexto

brasileiro, em especial as redes sociais, focalizando os períodos não eleitorais.

Dentre nossos objetivos, buscamos demonstrar qual o sentido da ação das

instituições partidárias nas redes sociais, ou seja, se as mesmas têm aproveitado os

potenciais interativos e mobilizadores das mesmas ou apenas têm atuado no sentido da

difusão da informação, reproduzindo a lógica das mídias tradicionais. Além disso, temos

como pretensão observar se existem padrões de uso entre os partidos brasileiros,

levando em conta diferenças relativas ao tamanho e ao posicionamento no espectro

político. Por fim, iremos mensurar o grau de personalismo nas ferramentas em referência,

32

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo grupo de pesquisa Instituições, comportamento político e novas tecnologias, da Universidade Federal do Paraná. 33

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná – [email protected].

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explicitando se os conteúdos veiculados nas mesmas possuem foco nas instituições em si

ou em seus líderes.

A relevância deste estudo encontra-se, em primeiro lugar, no contexto de falta de

legitimidade por que passam os partidos políticos de uma perspectiva global (Dalton &

Wattenberg, 2000), fato que se acentua quando tratamos da realidade brasileira, como

demonstrado no forte caráter antipatidário exposto nas manifestações de Junho de 2013

no Brasil. Isto posto, os indivíduos, sobretudo os mais jovens, têm encontrado na web um

meio para atuação política desvinculada das instituições tradicionais, em especial através

das redes sociais, tendo em vista o potencial que as mesmas possuem em propiciar um

ambiente de debate e mobilização política. Tais fatos ficam explícitos quando olhamos

exemplos de importantes movimentos políticos contemporâneos que tiveram sua origem

nas redes, tais como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street.

Com efeito, após a presente introdução, faremos um breve balanço da literatura e

explicitaremos as hipóteses e a metodologia empregada. Numa terceira seção

apresentaremos os dados e a análise para então concluirmos.

2. Revisão teórica, hipóteses e metodologia

A internet, assim como os demais meios de comunicação quando se

desenvolveram, provocou modificações significativas no processo comunicativo, e, por

consequência, nas relações sociais como um todo. O campo político não está alheio a

este processo, uma vez que, como mencionado, a web tornou-se espaço fértil para ações

de caráter político.

Neste contexto, os indivíduos que se propuseram a analisar os possíveis impactos

da introdução das novas mídias nas relações políticas, produziram perspectivas diferentes

quanto ao processo descrito (NORRIS, 2000).

A vertente dos ciberotimistas, acreditava que a internet poderia revolucionar o

campo político, produzindo uma radicalização da prática democrática ao aproximar os

cidadãos dos espaços de poder e de seus representantes, criando mecanismos de

deliberação e acirrando as disputas entre as instituições partidárias (LILLEKER et al,

2010, DUDGE, 1996, NEGROPONTE, 1995 apud BRAGA et al, 2009). Por outro lado, os

ciberpessimistas entendiam que as novas mídias apenas se adequariam a lógica política

vigente, reproduzindo em seu meio as relações já existentes nesta esfera, como por

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exemplo, com a mais eficiente utilização por parte das instituições políticas com maiores

condições estruturais (SCHWEITZER, 2005, SMALL, 2008, VACCARI, 2008).

Entre os dois polos, encontram-se os cibermoderados, entendendo que a web pode

causar modificações significativas nas relações políticas, contudo, sem produzir

modificações estruturais. Nas relações interpartidárias, as instituições ditas menores

poderiam lançar mãos de recursos com o intuito de equilibrar as disputas, mas haveria

uma tendência a um uso mais efetivo pelas grandes instituições (EINSENBERG, 2003,

ROCHA & NICOLÁS, 2013).

Os estudos de caso centrados na ação dos partidos no meio digital, observam a

existência de certos avanços mas que pouco modificam as relações políticas

estabelecidas. Em suma, os partidos tendem a utilizar a internet como forma de

divulgação de informações em detrimento a um viés mais interativo e mobilizador,

havendo forte moderação das ferramentas utilizadas e conteúdos veiculados, as disputas

entre os partidos sofrem pouca influência, posto que mesmo que os partidos menores

tenham espaço não dispensado à eles nas mídias tradicionais, os partidos maiores

utilizam os recursos da web de forma mais eficiente em geral (BLANCHARD, 2006,

GIBSON & WARD, 2000, SILVA, 2012, VACCARI, 2008).

No Brasil a realidade não é diferente, pois ainda que observamos um crescimento

na utilização das novas mídias, elas se mostram pouca interativas e intensamente

controladas pelas direções. Contudo, não se observa grandes diferenças na ação digital

quando comparamos partidos grandes e pequenos, ou de tendências ideológicas distintas

(MARQUES, 2005, BRAGA et al, 2009).

Isto posto, as hipóteses que servem como base para este trabalho são: a) Os

partidos políticos brasileiros utilizam as redes sociais como meio de difusão de

informações, em detrimento a perspectivas interativas e mobilizadoras; b) Não existem

significativas diferenças no uso entre partidos de tamanho e posição no espectro

ideológico diferentes; c) Existe um grau relevante de personalismo nas páginas partidárias

nas redes sociais.

Para verificarmos a validade das hipóteses, utilizaremos como base o modelo

criado por Gibson & Ward (2000) e desenvolvido posteriormente por outros autores

(SILVA, 2012, VACCARI, 2008). Dessa forma, nossa metodologia é composta por quatro

dimensões de análise, Difusão da informação, Interação, Mobilização e Sofisticação,

cada uma destas contempla uma série de variáveis a partir das quais se atribui um valor

em acordo com a existência e a qualidade do emprego dos recursos na ferramenta

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analisada. Podemos então, extrair índices de uso, tanto geral, quanto para cada dimensão

de análise, bem como para um item específico, como no caso do personalismo.

Nosso universo de análise contém as fan pages oficiais das direções nacionais dos

32 partidos políticos brasileiros com registro no Tribunal Superior Eleitoral. Destes 32 não

foram encontradas as páginas de PTB e PCdoB, ressaltando que outros três partidos,

PTC, PRP e PPL, estavam com suas páginas fora do ar34. Tal fato indica que, apesar de

ser uma ferramenta intensamente disseminada dentre os cidadãos brasileiros, cinco

partidos, ou seja, mais de 15% da totalidade de instituições partidárias no Brasil, sequer

possuem tal ferramenta. Dessa forma, retiramos estas cinco agremiações para o cálculo

dos índices uma vez que as mesmas receberam a qualificação “0” em todas as

variáveis35, fato que abaixaria todos os índices e poderia enviesar o entendimento sobre o

uso das redes sociais pelos partidos.

3. Partidos e Facebook no contexto não eleitoral

Após a análise das páginas obtivemos os seguintes índices gerais e para cada

dimensão de análise:

Tab. 1 Índices de uso do Facebook pelos partidos políticos brasileiros36

Ferramenta Difusão da informação Interação Mobilização Sofisticação Índice geral

Facebook 3,3 1,9 0,8 5,2 2,8

Fonte: Autor

Observamos índices baixos presentes nas dimensões e, por consequência, um

índice geral igualmente baixo, alcançando apenas a marca de 2,8. Isto posto, podemos

inferir que, de uma perspectiva geral, a utilização da ferramenta em referência pelos

partidos brasileiros ainda é consideravelmente precária.

Voltando nosso olhar para as dimensões de análise, ficam claros os baixos índices

e a sobreposição da dimensão Difusão da informação em relação a Interação e

Mobilização, estando praticamente dois pontos acima da primeira e três da segunda.

34

Ressalta-se que a presente análise ocorreu no primeiro semestre de 2014. 35

Apenas na variável Grupos todos os partidos receberão a qualificação “10” uma vez que os grupos independem da existência de uma fan page. 36

Os valores pouco mudariam caso fossem inclusos os índices dos partidos sem página ou que estão com as mesmas fora do ar, a maior variação seria em Sofisticação que cairia 0,6. Os valores com os 32 partidos seriam: Difusão da informação 2,9; Interação 1,7; Mobilização 0,7; Sofisticação 4,4; Índice geral 2,4.

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Leva-se em conta que o índice de Difusão da informação é de apenas 3,3, entretanto

Interação alcança o patamar extremamente baixo de 1,9, e Mobilização alcança uma

marca praticamente nula, inferior a 1,0.

Portanto, aqui também verificamos que apesar de índices baixos no sentido da

difusão da informação, esta forma de ação sobrepõe-se sobre os vieses interativos e

mobilizadores, ou seja, os partidos mesmo que de forma deficiente utilizam o Facebook

como meio para difundir informação subutilizando demais potenciais da ferramenta.

Confirma-se, assim a primeira hipótese.

Com relação à dimensão Sofisticação, esta atinge um índice muito próximo da

média. Como as páginas são as mesmas para todos os partidos, fica claro que os

recursos possíveis de serem utilizados para incrementar, sobretudo seus posts, ainda não

são empregados de maneira ostensiva pelas organizações partidárias no Brasil.

Gráf. 1: Índices de uso do Facebook pelos partidos políticos brasileiros

Fonte: Autor

Isolando as variáveis de maior e menor destaque dentre as dimensões, temos

respectivamente: Difusão da informação - Cores e símbolos 8,1 e Agenda 0; Interação -

Grupo 10 e Videoconferência 0; Mobilização - Manifestações 1,6 e

Contribuição/Produtos/Divulgação de materiais 0; Sofisticação - Tamanho dos textos 8,5 e

Quantidade de áudios 0,1.

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79

Isto posto, passamos a buscar as relações entre os índices encontrados e

diferenças entre as insituições partidárias, tendo como base tamanho e ideologia37,

Tab. 2: Correlações entre tamanho e os índices de uso das fan pages partidárias

Fonte: Autor

Conforme o teste, nenhum índice possui um nível de significância mínimo em

relação a tamanho. O índice de difusão é o que mais se aproxima de uma relação

significante, apresentando um índice médio de correlação negativo, ou seja, em favor dos

partidos maiores.

Tab. 3: Correlações entre ideologia e os índices de uso das fan pages partidárias Correlations

ESPECTRO

IDEOLÓGICO

Índice

Difusão

Índice

Interação

Índice

Mobilização

Índice

Sofisticação

Índice

Geral

ESPECTRO

IDEOLÓGICO

Pearson

Correlation

1 ,191 ,035 ,672** ,282 ,534**

Sig. (2-

tailed) ,339 ,861 ,000 ,154 ,004

N 27 27 27 27 27 27

Fonte: Autor

Neste ponto encontramos uma correlação bastante relevante. A relação entre o

índice geral de uso do Facebook com a posição ideológica dos partidos aponta um grau

interessante de significância. Ao mesmo tempo aponta um índice de correlação positivo

de 0,534, isso implica em uma correlação média mas quase chegando a uma correlação

alta. Quanto mais a esquerda melhor a utilização da rede social pelo partido, ou seja, os

37

O posicionamento destes partidos se deu pela representatividade na Câmara Federal quanto ao tamanho, e de acordo com Becher & Braga (2013), quanto a ideologia. Para um maior detalhamento ver Rocha (2014).

Correlations

TAMANHO

Índice Difusão

Índice Interação

Índice Mobilização

Índice Sofisticação

Índice Geral

TAMANHO Pearson Correlation

1 -,340 -,177 ,161 ,274 -,083

Sig. (2-tailed)

,082 ,378 ,423 ,167 ,680

N 27 27 27 27 27 27

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partidos de esquerda tendem a utilizar melhor o Facebook quando comparados aos de

centro e direita, e os de centro tendem a utilizar de forma mais eficaz em relação aos de

direita.

No quadro também fica explicita uma correlação ainda mais significativa e forte

quando isolado apenas o índice de mobilização. O índice de correlação atinge um nível

considerado alto, superior a 0,60, e também positivo. Dessa forma, podemos afirmar que

há uma alta tendência dos partidos de esquerda utilizarem mais o Facebook como forma

de mobilização em relação aos partidos de centro e direita, ao passo que os de centro

também tendem a utilizar a ferramenta no sentido da mobilização mais do que os de

direita. As duas correlações de destaque estão representadas nos gráficos subsequentes.

Gráf. 2: Correlação entre o índice geral de uso e ideologia nas fan pages dos

partidos políticos brasileiros

Fonte: Autor

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Gráf. 3: Correlação entre o índice de mobilização e ideologia nas fan pages dos partidos brasileiros

Fonte: Autor

Com efeito, podemos confirmar apenas parcialmente a segunda hipótese, uma vez

que, quando focalizamos tamanho, não observamos padrões distintos de uso para

partidos maiores e menores, entretanto, no quesito ideologia fica explícito um padrão mais

eficiente de uso por parte dos partidos de esquerda.

Por fim, no que concerne ao grau de personalização38 nas fan pages partidárias,

obtivemos os seguintes índices.

Tab. 4: Índices de personalização nas fan pages dos partidos brasileiros

Índice geral da variável “Referências aos líderes”

Índice geral da variável “Links para páginas de líderes”

Índice geral de personalização

6,2 1,8 4,0

Fonte: Autor

38

Para mensurar o grau de personalização foi elaborado um índice específico, a partir de duas variáveis específicas presentes na dimensão de análise Difusão da informação. Para um maior detalhamento ver Rocha (2014).

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Os dados evidenciam um grau de personalização pouco inferior a média,

alcançando 4,0. Neste ponto fica claro certo contraste, posto que a variável Referências

aos líderes alcança um valor mais de 4,0 superior a variável Links para páginas de

líderes, a qual promove uma queda no índice geral. Portanto, mais uma vez não podemos

confirmar incisivamente a terceira hipótese, posto que com um índice inferior a média não

podemos dizer que as páginas dos partidos no Facebook têm um caráter quase

exclusivamente personalista.

Entretanto, não podemos deixar de pontuar a intensidade de referências aos

líderes nas páginas, sendo que 12 dos 27 partidos tiveram mais de 20 referências em

seus últimos 30 posts. Neste prisma, o viés personalista existe e possui força, mas não se

configura como a principal função dos partidos brasileiros junto às redes sociais.

Para concluirmos, fazemos uma breve análise particular dos índices alcançados

pelos partidos. Nesse sentido, destacaremos as instituições que obtiveram os melhores e

piores resultados.

Gráf. 4: Índices das dimensões de análise das fan pages de cada partido brasileiro

3,44 4,3

5,64,6 4,6 5

3,44

1,2

4,3

2,8 2,84

5,3

2,8 2,5 2,8 2,53,1

4

1,8

3,73,1

1,81,2 1,2

2,7 1,1

4,41,1

4,4

2,2 1,1

2,21,6

4,4

1,1

1,6 1,6

1,6

1,1

1,1 2,2 1,1 2,22,2

1,6

1,1

2,2

1,6

1,6

1,1 1,6

3,1

3,7

0,6

2,5

0

00,6 1,8

0,6 0,6 0,6

1,2 1,20

0

1,2

1,2

1,2 00

0,6

1,8

0,6

0

0

00

66 5 5 5

6 5,85

6 6 66 6 6

5

65

5,86 5

4

5

3

4

5

53

Índice de difusão da informação Índice Mobilização Índice Interação Índice Sofisticação

Fonte: Autor

Entre os três partidos de maior destaque no Facebook aparecem dois

ideologicamente considerados de esquerda e um de centro. Com índices muito próximos,

PSTU e PSOL lideram no índice geral. O primeiro que é um pequeno partido de esquerda

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com presença em alguns meios no campo sindical e estudantil, parece aproveitar a

internet como espaço para difundir suas ideias e mobilizar a militância já que não desfruta

de espaços nas mídias tradicionais. Para o segundo pode-se dizer o mesmo, sobretudo

com relação a mobilização, contudo, é um partido que vem crescendo nos últimos anos,

tendo representação no congresso nacional, dirigindo cidades, inclusive uma capital39, e

obtendo votações relevantes nos pleitos presidenciais.

Por fim aparece o PT, partido que detém o governo federal há mais de uma década

e que deu origem aos dois partidos anteriormente citados. Com origem na esquerda e

aproximação ao centro nos últimos tempos, apesar de aparecer entre os três melhores,

possui um índice muito abaixo se considerado seu tamanho e relevância no âmbito

político nacional. O partido se destaca pelo seu índice de Interação juntamente com

PSDB e PEN, já na primeira dimensão de análise destaca-se o PSD ao passo que em

Sofisticação, além de PSTU e PSOL, temos diversos partidos de médio porte40 dividindo a

melhor qualificação.

O conjunto dos partidos de menor destaque abarca três instituições consideradas

de direita, duas de médio e uma de pequeno porte. Ressaltamos aqui que a distância

entre o partido de maior e menor destaque é de apenas 2,4, demonstrando que não há

uma grande diferença no uso entre os partidos. Os dois melhores partidos entre os de

menor destaque são PROS e PP. O primeiro é uma nova agremiação fundada em 2013

sob forte influência de indivíduos ligados a igrejas neopentecostais, mas que já nasceu

influente com 20 Deputados Federais. O segundo corresponde a uma sigla que se

modificou ao longo do tempo, mas possui tradição na direita brasileira, e

coincidentemente, forma junto com o PROS um bloco parlamentar na Câmara dos

Deputados, configurando a terceira maior bancada da casa.

4. Conclusão

Buscamos no presente trabalho descrever o estágio de utilização de uma das

principais ferramentas do âmbito digital, a rede social Facebook, por parte das instituições

partidárias brasileiras. Destacamos o período não eleitoral pela menor preocupação da

literatura com o mesmo, e por entendermos ser importante compreender a ação

comunicativa virtual dos partidos para além das eleições.

39

Macapá (AP), Prefeito Clécio Luis. 40

PSB, PPS, PV, PSDC, PCO, PRB, PR, PEN e SDD.

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Com efeito, destacamos com base na literatura, os principais pontos analisados nos

estudos concernentes a relação partidos e internet, construindo as hipóteses que

nortearam a pesquisa. Por intermédio da metodologia apresentada, observamos que o

principal sentido do uso da web pelos partidos brasileiros é relativo à difusão da

informação, subutilizando os elementos diferencias da internet, vale dizer interação e

mobilização, comprovando nossa primeira hipótese.

No que diz respeito as eventuais diferenças no uso, ficou explicito que não existem

grandes distinções quando contrastados instituições de tamanhos diferentes. Todavia, no

tocando a ideologia, os partidos de esquerda apresentaram índices de uso mais efetivos

quando comparados aos de centro e direita, o que fica ainda mais acentuado quando

destacamos o quesito mobilização. Portanto, comprovamos apenas parcialmente a

segunda hipótese. Quanto a personalização, foram encontrados índices relevantes, mas

não a ponto de inferirmos que este seja o foco principal da ação nas ferramentas

analisadas.

De uma forma geral podemos dizer que o uso das novas mídias pelos partidos

brasileiros no período não eleitoral ainda é bastante precário, ou seja, a efetividade de

uso não está a altura da importância que as redes sociais tem apresentado no processo

comunicativo contemporâneo, bem como nos processos de discussão e mobilização

política. Além disso, as instituições tendem a atuar neste meio com a lógica proveniente

das mídias tradicionais, com efeito, utilizam tal espaço como um meio de difusão da

informação em detrimento ao potencial interativo e mobilizador do mesmo. Fica explícito

com isso, a dificuldade das direções partidárias em abrir espaços dialógicos com os

cidadãos, buscando um diálogo mais efetivo e a construção de pautas em conjunto com

os segmentos da sociedade.

Referências bibliográficas

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PARTIDOS POLÍTICOS E INTERNET:

Os websites partidários e o eleitorado jovem paranaense nas eleições de 201441

Fabrícia Almeida Vieira42

RESUMO

No campo político a internet é um instrumento que proporciona a interação entre eleitores e partidos políticos a partir dos recursos de diálogo disponíveis nas páginas dos websites. De acordo com a Secretaria Nacional da Juventude (2013) a internet é o segundo meio de comunicação mais utilizado como fonte de informação e comunicação pela juventude. O objetivo desta pesquisa é entender como os partidos do PT, PMDB e PSDB utilizam os websites para interagir e mobilizar os jovens eleitores paranaenses no período eleitoral das eleições de 2014. Para isso foi selecionado o período de 01 a 30 de setembro para realizar-se o acompanhamento do uso dos websites partidários pelos respectivos partidos. O método utilizado para a coleta de dados baseia-se em dois tipos de análise: a análise formal e a funcional dos portais. As evidências coletadas mostram que os websites partidários são subutilizados como instrumento de mobilização e interação com a juventude. Tal resultado pode ter como explicação o fato de tais estratégias estarem mais presentes nas redes sociais pessoais dos candidatos – facebook, twitter e websites pessoais - em detrimento aos websites partidários.

Palavras-chave: Websites; Partidos Políticos; Internet; Eleições.

1. Política, eleições e internet

O objetivo desta pesquisa é entender como os partidos do PT, PMDB e PSDB

utilizam os websites para interagir e mobilizar os jovens eleitores paranaenses no período

eleitoral das eleições de 2014.

O interesse nesta pesquisa decorre do fato de que nos últimos anos no Brasil, e

exclusivamente no estado do Paraná, houve um avanço de pesquisas na área da Ciência

Política e da Comunicação Social que buscam identificar a adaptação dos partidos

políticos junto à internet (DORNELLES, 2005; IASUALAITIS, 2007; ROCHA & NICOLÁS,

2012; CARVALHO, 2013). Entre as principais preocupações que norteiam as pesquisas

realizadas estão: i) saber como os partidos políticos se utilizam dos recursos de interação

e de comunicação que a internet oferece; ii) identificar o público alvo que os partidos

políticos procuram atingir; iii) comparar o uso da internet pelos diferentes partidos

políticos. Há um consenso entre uma parte considerável destas pesquisas de que os

partidos políticos ainda não se adaptaram totalmente a utilização da internet, aproveitando

41

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Instituições, comportamento político e novas tecnologias (GEIST), da Universidade Federal do Paraná. 42

Mestranda de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná, [email protected].

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pouco os recursos que essa tecnologia disponibiliza. Em comum os estudos tem

mostrado que os websites partidários são mais utilizados para a comunicação

intrapartidária – militantes e membros do partido – e para a autopromoção do

candidato/político (GIBSON ET AL, 2003; DORNELLES, 2005; BLANCHARD, 2006;

IASULAITIS, 2007; NICOLÁS, 2009, ROCHA & NICOLÁS, 2012; FILHA & RIEGER,

2013).

A principal tecnologia fruto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação

(NTICs) é a internet. Segundo Eisemberg (2003, p. 491) a internet pode ser entendida

como uma “rede mundial de computadores” formando uma sociedade de rede. Ou seja, a

internet é um meio de comunicação que permite acesso de várias pessoas de qualquer

lugar do mundo. Permite a aproximação das pessoas diminuindo a “distância efetiva entre

as pessoas, aproximando-as e dando a impressão de vivermos em uma enorme aldeia

composta por todos os internautas” (EISEMBERG, 2003, p. 497).

No âmbito político a possibilidade de interação que a internet proporciona pode

fortalecer o processo democrático participativo, incluindo a participação via online do

eleitor nos assuntos políticos. Segundo Stromer-Galleu, autora utilizada por Aggio, a falta

de meios de aproximação e de debate entre eleitores e candidatos pode ser corrigida

através da utilização da internet (STROMER-GALLEU, 2000, apud AGGIO, 2010, p. 80-

84). Entretanto, Aggio expõem que as iniciativas para estabelecer aproximação, diálogo,

discussão entre eleitores e representantes são poucas (AGGIO, 2010, p. 86).

Assim, os websites partidários, objeto de estudo desta pesquisa, são considerados

como espaços de interação, informação e mobilização e os partidos políticos podem usar

essa ferramenta como um instrumento para diferentes fins. Usá-lo para informar e educar

o eleitor acerca da conduta eleitoral, mobilizar e recrutar eleitores, circular informações

negativas a respeito dos adversários ou reunir todos estes artifícios em um único

ambiente (STEFFEN, 2006, p. 5). Neste contexto é que se insere a proposta desta

pesquisa. A eleição é um momento de interação entre eleitores e partidos num regime

político democrático. Os candidatos e partidos têm o período da campanha eleitoral para

dialogar com os eleitores e mostrar suas propostas, para convencer o eleitorado de que

vale a pena atribuir o voto a eles. Dornelles assegura que está tecnologia é capaz de

melhorar a imagem partidária e pode promover a captação dos jovens (2005, p. 18 e 19).

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88

2. Metodologia

Procura-se aqui nesta pesquisa responder a seguinte pergunta: de que forma os

partidos do PT, PMDB e PSDB utilizam os websites partidários para manter interação e,

consequentemente, mobilizar os eleitores jovens paranaenses em um período eleitoral?

A pesquisa tem por objetivo verificar, de maneira comparativa, se os partidos

políticos utilizam os websites partidários como ferramenta de campanha. Visando

identificar, de forma mais específica: i) se os recursos de participação nas páginas dos

websites (como, por exemplo, chats, fóruns, e-mail) estão ativos; ii) identificar se a

juventude é prioridade na construção das páginas dos websites partidários; iii) identificar

qual partido, dentre os analisados, buscou disponibilizar informações sobre a importância

do voto; iv) identificar quais são as estratégias de aproximação que os websites

partidários estabelecem com o segmento jovem; v) verificar se as páginas da juventude

partidária interagem mais com os jovens se comparada as páginas dos partidos políticos.

A análise dos websites partidários foi realizada durante o período eleitoral

selecionado – 01/09 a 30/09 - com relação à disputa pelo o cargo de Governo do

Paraná43. Os partidos que foram selecionados são: PT, PSDB e PMDB. Isso porque,

conforme Braga; França e Nicolás (2009, p. 195), são partidos institucionalizados e com

grande representatividade parlamentar no Paraná. Além disso, em âmbito estadual a

candidata do PT (Gleisi Hoffmann) contou com o apoio do governo federal; entre 2010 e

2014 o Governo do Paraná foi ocupado pelo PSDB (Beto Richa) e este buscou a

reeleição; e anteriormente quem o ocupava o cargo era o PMDB (Roberto Requião).

A juventude foi selecionada já que, como sugere a Secretaria Nacional da

Juventude (2013, p. 7), são necessários mais estudos voltados à compreensão da

participação dos jovens na política. Dados da pesquisa realizada pela Secretaria Nacional

da Juventude (SNJ) revelam que entre os jovens brasileiros de 15 a 29 anos a internet é o

segundo meio de comunicação mais utilizado para a busca de informações e se para se

comunicar (56%), ficando atrás apenas da televisão (83%).

O método que será utilizado para a coleta dos dados se baseia em Iasulaitis

(2007) a partir de duas categorias de análise: a análise formal e a análise funcional44. A

análise formal, de acordo com Iasulaitis (2007, p. 15), baseia-se nos seguintes índices:

43

A metodologia foi aplicada aos websites partidários paranaenses do PT, PSDB e PMDB e, simultaneamente, nas páginas da Juventude dos mesmos partidos. 44

A análise formal irá identificar qual é a acessibilidade do website, a qualidade do design, facilidade na navegação e a atualização das páginas. A análise funcional irá identificar qual o grau de participação,

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89

Acessibilidade – elementos que permitem a maior disponibilidade dos conteúdos do

website como, por exemplo, opções de download;

Navegação – elementos que facilitam a busca;

Atualização – nível de inserção de notícias e novos conteúdos;

Design – analisada com relação aos quadros, opções multimídia e ícones

animados.

A análise funcional baseia-se nos seguintes índices:

Informação – apresentação de informações sobre os candidatos, coligação,

procedimentos de urna eletrônica, proposta de governo, notícias e eventos políticos;

Mobilização – opções que permitem aos internautas apoiarem e serem voluntários

dos partidos políticos;

Integração – estrutura que permite coordenar a comunicação interna dos partidos,

como por exemplo, a presença de intranet;

Participação – elementos que geram interesse político no internauta;

Interação – itens que permitem a interação entre os usuários da web com os

candidatos e coordenadores da campanha, como, por exemplo, a presença de sala de

bate-papo; e-mail; fóruns (AGGIO, 2010, p. 130).

Cada variável será compilado como presente (1) ou ausente (0), sendo dividida a

quantidade de itens encontrados em cada website pelo número total de itens de cada

índice. O resultado dessa divisão é o quociente de índice (entre 0 e 1, do qual 0 significa

que não foi identificado nenhum dos elementos nos websites; e 1 significa que todos os

elementos foram identificados nos mesmos) para cada categoria (IASULAITIS, 2007, p.

16). Quando o website apresentar índice entre 1 e 0,70 pode-se dizer que o índice é

satisfatório; quando ficar entre 0,69 e 0,40 o índice é regular; e quando ficar entre 0,39 a 0

o índice é insatisfatório45.

interação, integração, mobilização e informação que o website apresentou no período da coleta. As variáveis sofreram algumas alterações. Originalmente, a análise funcional integrava o item interação (salas de bate-papo, e-mail, entre outros) no item de participação, sendo analisados em um único índice. Para melhor exposição e análise dos dados, optou-se em separar – participação e interação. Portanto, o item interação foi incluído na categoria funcional, baseado na metodologia exposta por Aggio (2010, p. 130). 45

Classificação estipulada pela autora para facilitar o entendimento dos índices.

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90

3. Análise dos websites partidários

3.1. Análise formal

A análise formal permite verificar o quanto às informações são acessíveis ao

internauta, se as opções de busca funcionam bem e se as informações são atualizadas

diariamente. E, através do design do website é possível identificar o público alvo do

partido político. Observe o gráfico a seguir:

Fonte: A autora.

A acessibilidade de um website está relacionada com a disponibilidade e o acesso

a notícias e artigos, comentar, imprimir e baixar artigos e compartilhar informações em

redes sociais. O website partidário do PSDB apresentou o maior índice com 0,50, o PT

com 0,33 e o PMDB não pontuou neste item. De modo geral, os dados coletados mostram

que o índice de acessibilidade é de regular para ruim.

A navegabilidade compreende funções para facilitar a navegação do internauta.

Todos os websites partidários apresentaram o mesmo índice de 0,17, com apenas o

campo de busca em funcionamento, como é possível observar no Gráfico 1. No quesito

navegabilidade os websites foram classificados como insatisfatórios devido o índice.

O website partidário do PSDB foi o que mostrou maior periodicidade na atualização

das notícias, com média de 4 atualizações ao dia. O PT apresentou média de 1 notícia

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por dia e o PMDB com média de 0,5 notícias por dia - menos de uma notícia por dia. Isso

significa que o PSDB, durante o período selecionado, apresentou maior preocupação em

informar os webleitores se comparado aos demais websites. O website do PT informou

pouco e quando se aproximou do dia da votação (a partir do dia 24/09) nenhuma

informação passou a ser divulgada em seu website. O PMDB não utilizou seu respectivo

website para informar o internauta/eleitor, já que divulgou poucas notícias.

Quanto ao conteúdo das informações o PSDB focou na divulgação das

ações/agenda do candidato e nos resultados de pesquisa de opinião – resultados estes

favoráveis ao candidato Beto Richa -, informações sobre os debates televisivos e

sabatinas. O website do PT, divulgou as ações/agenda da candidata Gleisi Hoffmann nas

cidades do Paraná e informações negativas relacionadas ao PSDB e ao Governador e

candidato Beto Richa. As informações no site do PMDB compreendem assuntos mais

gerais da campanha, como propostas do candidato Roberto Requião.

O item de estética/design agrega fatores de multimídia, demostrando como a

página está preparada para despertar o interesse dos visitantes. Além disso, os itens da

característica design contribuem para a navegação e acessibilidade do website. Como

mostra o Gráfico 1, o website do PT e do PSDB apresentaram o índice de 0,38 e o PMDB

apresentou o índice de 0,08. Todos com índices insatisfatórios. Dentre os websites

partidários analisados não houve utilização de recursos gráficos, ícones animados,

notícias com sentido de humor ou ironia, estes recursos podem atrair o segmento jovem.

No website do PT foi identificado o ring tone da campanha de Gleisi Hoffmann, ou seja,

músicas da campanha que podem ser utilizadas como toque no celular. Mas, não foi

identificada a utilização de imagens para o compartilhamento nas redes sociais - facebook

e twitter - ou protetor de tela, por exemplo. Portanto, a juventude não foi o público alvo na

construção das páginas dos websites partidários.

3.2. Análise funcional

A partir da análise funcional se procurou saber qual o grau de participação,

interação, informação, mobilização e integração que os websites partidários analisados

apresentaram durante o período eleitoral. Observe o gráfico 3:

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Fonte: A autora.

Com relação ao item de participação o website com maior índice foi o PT com 0,29,

o website do PSDB e do PMDB ficou com índice de 0,14. Em geral, o item de participação

é insatisfatório. O diferencial do website do PT foi o item cadastramento para recebimento

de boletim da campanha. O diferencial do website do PMDB foi o recurso de comentar

notícias, mas vale lembrar que o comentário primeiro passa por uma avaliação, depois de

24h o comentário poderia ou não ser divulgado, dependendo da avaliação.

Quanto a variável interação o website partidário do PSDB foi o que apresentou o

maior índice, com 0,50, o website do PT ficou com índice de 0,30 e do PMDB com 0,10. O

website do PSDB foi o único que disponibilizou sala de bate-papo “Conversa com os

Brasileiros”, porém está opção esteve mais direcionada a campanha presidencial. Ou

seja, não foi usado como uma ferramenta exclusiva para o eleitor paranaense interagir

com o partido. Todos os websites analisados apresentaram a opção de enviar e-mail

(sugestão, críticas, dúvidas, demandas sociais). No primeiro dia da coleta (01/09/2014) foi

enviado um e-mail46 para os websites e somente o PT e do PSDB responderam com uma

mensagem automática no mesmo instante. O website partidário do PMDB não respondeu

o e-mail.

O website do PT e do PSDB disponibilizaram janelas para interação com às redes

sociais. O PT se focou no facebook, assim, quando o partido divulgava alguma

informação/notícia no facebook automaticamente divulgava em seu website. O mesmo

procedimento ocorreu no website do PSDB, mas este focou na janela do twitter.

46

O conteúdo do e-mail direcionado ao website dos partidos políticos foi indagando sobre a juventude partidária (sede, como ingressar, ações).

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No quesito informação os websites partidários do PSDB e do PT apresentaram

índices regulares, com 0,50 e 0,44 respectivamente, e o website do PMDB aparece com

índice de 0,13 (insatisfatório). O website do PSDB foi o único que apresentou notícias e

fotos do candidato ao governo Beto Richa e a candidata à vice-governadora Cida

Borghetti. No website do PT a candidata ao governo Gleisi Hoffmann aparece ao lado do

ex-presidente Lula e da candidata à presidência Dilma Rousseff, mas o vice-governador

Haroldo Ferreira não é mencionado. Sendo o único website com a divulgação da agenda

da candidata.

No website do PMDB não foram localizadas notícias ou informações referentes ao

candidato Roberto Requião e a candidata à vice-governadora Rosane Ferreira. Nem

mesmo fotos do candidato foram divulgadas. O PMDB não utilizou o website como fonte

para informar os internautas/eleitores sobre o candidato ao Governo. O PSDB e o PT

disponibilizaram o programa de governo e informações referente as realizações dos

respectivos candidatos, como mostra a tabela 7 (em anexos).

Com relação ao item de integração, como mostra o Gráfico 3, o website do PT e do

PSDB ficaram com índice de 0,22 e o website do PMDB ficou em 0,11, índices estes

classificados como insatisfatórios. Em todos os websites analisados foram

disponibilizados links de referência as redes sociais dos partidos políticos, demonstrando

que as ferramentas de web 2.0 integram os websites partidários.

O diferencial do website do PT foi disponibilizar um link para uma organização da

educação: Fundação Perseu Abramo, fundada em 1996 pelo próprio Partido dos

Trabalhadores. A Fundação possui o objetivo de desenvolver práticas de debates políticos

e ideológicos, para a elaboração de pesquisas e estudos47. A diferença do website do

PSDB foi a menção ao blog do candidato Beto Richa. No website do PMDB só foi

localizada a referência às comunidades virtuais, direcionando o internauta/eleitor ao

facebook e twitter do partido.

De acordo com o Gráfico 3 os índices de mobilização foram regulares e ruim,

respectivamente, o PT com 0,50, o PSDB com 0,57 e o PMDB 0,07. O website do PT é o

único que divulgou o calendário de eventos da candidata Gleisi Hoffmann e que dispõem

o download do ring tone de campanha. Este é um item capaz de mobilizar o

internauta/jovem.

O website do PSDB é o único que incentiva o internauta a acessar o blog do

candidato Beto Richa, divulgando as atividades do partido/candidato nas cidades. Todos

47

Fundação Perseu Abramo. Disponível em: http://novo.fpabramo.org.br/. Acessado em: 01/09/2014.

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os websites incentivam o internauta a participar das comunidades online, como facebook,

twitter, youtube. O voluntariado online foi disponibilizado nos websites do PT e PSDB (Ver

tabela 9 em anexos).

Com relação às seções temáticas (juventude, mulheres, entre outros), dentro da

variável de mobilização, o website do PT apresenta a seção da Juventude do PT (JPT)

diretamente na primeira página, na parte superior da tela, com fácil localização. A página

da Juventude do PSDB (JPSDB) se encontra na parte inferior do website, com mais

dificuldade na localização, se comparado ao website do PT. O website do PMDB não

apresenta seções temáticas, a página da Juventude do PMDB (JPMDB) é localizada em

um link separado48. Todas as páginas da juventude apresentaram índices insatisfatórios

para todas as variáveis (participação, interação, informação, integração e mobilização).

Durante o período da coleta, a página da JPT foi encontrada totalmente

desatualizada, a última notícia atualizada foi no dia 12 de março de 2014. A página possui

um pequeno texto informativo referente a JPT e o endereço eletrônico do Secretário da

Juventude. Não há a utilização de nenhum recurso interativo (sala de bate papo, charges,

links para redes sociais, vídeos), que possa contribuir para despertar o interesse do

segmento jovem. Desta forma, a fácil localização da página da Juventude não contribui

para atrair o eleitor/internauta jovem devido à falta de atualização e manutenção da

página.

A página da JPSDB foi encontrada praticamente na mesma situação, com a última

notícia atualizada em 22 de agosto de 2013. Não há informações quanto aos ideais da

JPSDB, não há recursos interativos como (sala de bate papo, charges, links para redes

sociais, vídeos). No quadrante direito da tela há links relacionados com as eleições

presidenciais de 2014, como agenda do candidato, material de campanha para

downloads, aplicativo para celular com dados das últimas notícias das eleições. Este

último pode ser considerado um recurso para incentivar o segmento jovem a acompanhar

as eleições.

A página do JPMDB possui informações sobre o estatuto da juventude, Comissão

Executiva Nacional e do Diretório Municipal, por esse motivo o índice de informação ficou

em 0,13. Há incentivo para participação nas mídias sociais – twitter, facebook, youtube –

da juventude, a página possui banners e galeria de fotos. Entretanto, a última notícia

atualizada foi em 21 de outubro de 2013. A página disponibiliza a filiação à Juventude do

PMDB, descrevendo o passo a passo do processo da filiação. Dentre as páginas da

48

Disponível em: http://www.jpmdb.org.br/. Acessado em: 01/09/2014.

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95

Juventude analisadas, a página da JPMDB é a que mais promoveu mobilização e

interação com a juventude. Mas nenhuma das páginas é utilizada como um meio de

proximidade entre o partido e os internautas/eleitores jovens.

Para uma visualização mais ampla das condições encontradas nos websites

partidários foi realizada uma classificação dos índices, de modo a demostrar se os itens

encontrados foram satisfatórios, regulares ou insatisfatórios. Quando o website apresentar

índice entre 1 e 0,70 pode-se dizer que o índice é satisfatório; quando ficar entre 0,69 e

0,40 o índice é regular; e quando ficar entre 0,39 a 0 o índice é insatisfatório. Observe a

tabela a seguir:

Tabela 1: Classificação dos websites: análise formal

PARTIDO CLASSIFICAÇÃO Análise formal dos websites partidários

Acessibilidade Navegação Atualização Estética/design

PT

Satisfatório

Regular

X

Insatisfatório X X

X

PSDB

Satisfatório

X

Regular X

Insatisfatório

X

X

PMDB

Satisfatório

Regular

X

Insatisfatório X X

X

Fonte: A autora.

Os dados demonstram que na análise formal todos os websites analisados

apresentaram índices insatisfatórios para a categoria acessibilidade, navegação e

estética/design, somente na categoria atualização em que o website do PT e do PMDB

ficaram com a classificação regular e o PSDB foi satisfatório. Isso quer dizer que a

circulação de informação foi prioridade em detrimento dos recursos de multimídia e que

facilitam a navegação na página.

A tabela 2 demonstra a classificação da análise funcional dos websites partidários.

Tabela 2: Classificação dos websites: análise funcional

PARTIDO CLASSIFICAÇÃO Análise funcional dos websites partidários

Participação Interação Informação Mobilização Integração

PT

Satisfatório

Regular

X X

Insatisfatório X X

X

PSDB

Satisfatório

Regular

X X X

Insatisfatório X

X

PMDB Satisfatório

Regular

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Insatisfatório X X X X X

Fonte: A autora.

De acordo com os dados acima, o website do PT apresentou classificação

insatisfatória para as categorias: participação, interação e integração. As categorias de

informação e mobilização ficam com a classificação regular. Assim, é possível perceber

que o website do PT não aproveitou os recursos de interação e participação, sendo estes

fatores que possibilitam o estabelecimento da aproximação e diálogo entre partido e

jovem/internauta. No website do PSDB as categorias de participação e integração foram

classificadas como insatisfatórias. No quesito interação, informação e mobilização a

classificação foi regular. Demonstrando que o website do PSDB esteve mais preocupado

em disponibilizar recursos de interatividade, como sala de bate-papo, por exemplo. O

website do PMDB apresentou todas as categorias classificadas como insatisfatórias,

demonstrando que o website partidário não foi utilizado para promover aproximação com

o jovem/internauta.

4. Considerações finais

A atual democracia representativa reascende a pertinência da existência de um

fluxo contínuo e plural de informações necessárias para o processo deliberativo de

decisões políticas, como o que ocorre durante uma eleição (MANIN, 1995; HABERMAS,

2006). É neste contexto democrático deliberativo que se insere a importância da internet e

de seus recursos – websites, twitter, facebook, blogs – em atuarem como fórum que

subsidiam o internauta/eleitor com informações permitindo a interação e a participação

dele no desenrolar do processo eleitoral.

O objetivo central da presente pesquisa foi identificar como os websites partidários

são utilizados pelos partidos políticos para interagir e mobilizar o segmento jovem, no

contexto das eleições de 2014, para o cargo do Governo do Paraná. De acordo com a

análise formal e funcional que procedemos nesta pesquisa é possível afirmar que os

websites partidários são subutilizados no sentido de mobilização e interação do setor

jovem.

De acordo com o Gráfico 3 os recursos de interação nas páginas dos websites

(como, por exemplo, chats, fóruns, e-mail) estavam ativos. Os websites investigados

apresentaram opção de envio de e-mail, sendo que somente o PT e o PSDB responderam

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com uma mensagem automática. O website do PSDB foi o único que apresentou sala de

bate-papo em funcionamento. Com poucos recursos de interação em funcionamento, não

é possível afirmar que os websites partidários investigados foram utilizados pelos partidos

para estabelecer interação com os eleitores. Manin (1995) afirma que em uma democracia

do público os meios de comunicação são uma arena aberta e global que possibilitam uma

democracia deliberativa, ou seja, funcionam como um canal de debates. Porém, os

websites dos partidos analisados não são utilizados com esse fim, ou seja, com o objetivo

de ser um ambiente de interação com o eleitor.

Outro objetivo proposto foi entender se os jovens são público alvo na construção

dos websites partidários. Os websites partidários não aproveitaram os recursos de

interação e multimídia, que podem ser utilizados para atrair a juventude. Nenhum website

analisado, no período da coleta, se preocupou em disponibilizar informações referente ao

voto. Este assunto é de extrema importância e interesse para os jovens, como afirma

Dornelles (2005, p.16).

A presente pesquisa também se propôs identificar quais são as estratégias de

aproximação que os websites partidários estabelecem com o segmento jovem. É possível

afirmar a partir dos dados coletados que os websites partidários não adotam estratégias

de aproximação com os jovens. Os índices de design ficaram muito baixos, PT (0,38);

PSDB (0,38) e PMDB (0,08), como mostrou o Gráfico 1. E as páginas da juventude

estiveram desatualizadas. Manin também afirma que a imagem dos candidatos é um dos

fatores que podem determinar as escolhas dos eleitores. Os websites partidários podem

aumentar a visibilidade dos candidatos, porém nas páginas da juventude nenhuma

informação sobre os candidatos foi divulgada.

O último objetivo da pesquisa foi identificar se nas páginas da juventude partidária

há maior mobilização jovem se comparada as páginas dos websites partidários. Os dados

apresentados permitem concluir que nem mesmo a juventude partidária esteve

preocupada em interagir com o eleitorado jovem ao manter suas páginas totalmente

desatualizadas e sem qualquer recurso interativo e participativo, com todos os recursos

insatisfatórios.

Portanto, os websites partidários não buscaram mobilizar e interagir com o setor

jovem. Mas fica o questionamento: se 83% dos jovens entendem que a política é

importante e 56% dos jovens utilizam a internet para se informar (SNJ, 2013), porque os

partidos políticos não utilizam seus respectivos websites com o intuito de interagir com

esse segmento da sociedade?

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Uma possível explicação para esse resultado pode ser extraída da pesquisa de

Stromer-Galley (2000), citada por Aggio (STROMER-GALLEY, 2000 apud AGGIO, 2010,

p. 86-88). Stromer-Galley percebeu a ausência da funcionalidade de participação e

interação em sua pesquisa sobre os websites partidários americanos nas eleições de

1996 e 1998. Assim, ao realizar uma entrevista com os coordenadores de campanha,

compreendeu que essas funcionalidades não são utilizadas estrategicamente. Isso

porque não há um número significativo de pessoas para responder todos os e-mails e as

salas de bate papo tornam-se um veículo de “perda de controle”, devido à alta exposição

do candidato e possíveis mensagens negativas que podem repercutir em outros meios de

comunicação (STROMER-GALLEY, 2000, apud AGGIO, 2010, p. 86 a 88).

Outra possível explicação para essa pergunta é a personalização do uso das

ferramentas da internet. O sistema eleitoral majoritário tende a favorecer a

personalização, no sentido de que as estratégias adotadas durante a campanha eleitoral

são individualistas, isto é, a imagem do candidato é mais ressaltada do que a imagem

partidária (QUADROS, 2012, p. 2-4). Desta forma, as redes sociais – facebook e twitter -

e sites pessoais podem ter sido mais utilizadas em detrimento aos websites partidários.

Este argumento é reforçado por Vieira, Cardoso & Ton (2014), que demonstraram a

aderência à internet pelos candidatos a Deputado Estadual do Paraná - mais

especificamente no facebook, twitter e website pessoal. Os dados coletados pelos

pesquisadores mostraram que de um universo de 848 candidatos, 51% possuíam algum

tipo de página na internet e 49% não possuíam nenhum link. Cerca de 49% dos

candidatos possuem facebook, enquanto 10% dos candidatos apresentaram páginas do

twitter e 11% de websites pessoais (VIEIRA; CARDOSO; TON, 2014, p. 6). Esses dados

sugerem que talvez a subutilização dos websites partidários como instrumento de

interação e mobilização em períodos eleitorais, como identificado nesta pesquisa, tenha

como explicação o fato de tais estratégias estarem mais presentes nas redes sociais dos

candidatos.

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PADRÕES DE LONGA DURAÇÃO DE E-CAMPANHA NO BRASIL:

Uma análise empiricamente orientada (1998-2014)49

Márcio Cunha Carlomagno50

Sérgio Braga51

RESUMO

As últimas campanhas eleitorais brasileiras se caracterizaram pelo uso e incorporação maciça da internet e das mídias sociais como ferramenta de propaganda pelos candidatos. Nesse sentido, as eleições de 2014 consolidaram esta tendência, com virtualmente todos os candidatos aos cargos majoritários e a grande maioria dos candidatos a cargos proporcionais utilizando a internet e algum tipo de mídia social (especialmente Facebook e, em seguida, o Twitter) como ferramenta de comunicação e interação com os cidadãos de uma maneira geral. A questão a ser colocada, portanto, não é se os candidatos estão usando as tecnologias digitais como ferramenta de campanha, mas como eles a estão utilizando e quais os padrões e efeitos de uso de tais ferramentas de e-campanha na organização dos pleitos eleitorais. Nossa intenção nesse paper é contribuir para o debate sobre o tema apresentando dados sistemáticos sobre o uso das mídias sociais e da internet pelos candidatos nas últimas campanhas eleitorais brasileiras (especialmente a partir de 2006, quando estes dados passaram a ser compilados de maneira mais precisa), e analisando os padrões de uso das tecnologias digitais ao longo do tempo pelas diferentes categorias de candidatos.

Palavras-chave: Internet e política, e-campanhas, análise longitudinal, eleições brasileiras.

1. Introdução

As últimas campanhas eleitorais brasileiras se caracterizaram pelo uso e incorporação

maciça da internet e das mídias sociais como ferramenta de propaganda pelos

candidatos. Nesse sentido, as eleições de 2014 consolidaram esta tendência, com

virtualmente todos os candidatos aos cargos majoritários e a grande maioria dos

candidatos a cargos proporcionais utilizando a internet e algum tipo de mídia social

(especialmente Facebook e, em seguida, o Twitter) como ferramenta de comunicação e

interação com os cidadãos de uma maneira geral. A questão a ser colocada, portanto,

não é se os candidatos estão usando as tecnologias digitais como ferramenta de

campanha, mas como eles a estão utilizando e quais os padrões e efeitos de uso de tais

ferramentas de e-campanha na organização dos pleitos eleitorais. Nossa intenção nesse

paper é contribuir para o debate sobre o tema apresentando dados sistemáticos sobre o

49

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014”. Este artigo apresenta resultados de pesquisa desenvolvida no âmbito do GEIST/Grupo de Pesquisa em Instituições, Comportamento Política e Tecnologias Digitais da UFPR, coordenada pelo prof. Sérgio Braga, e intitulada: Elites políticas e tecnologias digitais: uma análise longitudinal do uso da internet nas eleições para as prefeituras e para as Câmaras Municipais das capitais dos estados nos pleitos e 1998 a 2018. 50

Mestre em Ciência Política (UFPR), [email protected] 51

Doutor em Desenvolvimento Econômico, DECIPOL/UFPR, [email protected]

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uso das mídias sociais e da internet pelos candidatos nas últimas campanhas eleitorais

brasileiras (especialmente a partir de 2006, quando estes dados passaram a ser

compilados de maneira mais precisa), e analisando os padrões de uso das tecnologias

digitais ao longo do tempo pelas diferentes categorias de candidatos. Procuraremos em

nossa comunicação fornecer evidências que nos permitam demonstrar as seguintes

proposições básicas: a) consolidou-se no Brasil nos dois últimos pleitos um padrão "pós-

web" de campanhas eleitorais, com uso intensivo de mídias sociais articuladas às

plataformas-base de e-campanha dos candidatos (os websites); b) Facebook e Twitter,

por seu baixo custo e fácil acesso, se tornaram as ferramentas digitais preferidas dos

candidatos desde o pleito de 2012, ultrapassando os websites como ferramenta de e-

campanhas; c) houve uma atenuação progressiva do "digital divide" ao longo dos

sucessivos pleitos, com as desigualdades entre os diferentes subgrupos de candidatos se

atenuando ao longo do tempo, havendo portanto uma tendência à "equalização"; d)

embora as mídias sociais não possam em geral ser consideradas como "preditoras" dos

resultados eleitorais, especialmente nas eleições proporcionais, em nível majoritário a

relação entre o uso das mídias sociais e votação é mais intensa na medida em que há

correlação significativa entre presença online dos diferentes candidatos e resultados

eleitorais, o que implica afirmar que a intensidade do uso das mídias sociais já pode ser

considerada um antecipador de certos comportamentos off-line; e) aumento da

intensidade da interação online nas plataformas virtuais, especialmente o Facebook, que

passou a ser a plataforma preferida pelos candidatos para interagir com os eleitores,

embora os padrões observadores de interação online por intermédio dessa plataforma

entre os diferentes subgrupos de candidatos seja bastante distinto.

Este artigo é, portanto, uma tentativa inicial de sistematização empírica de dados

longitudinais sobre as e-campanhas brasileiras, e também da maneira pela qual a

literatura existente sobre o tema apreendeu a evolução do emprego das tecnologias

digitais nas e-campanhas brasileiras. Vamos apresentar dados sobre algumas dimensões

do uso da internet pelos candidatos a fim de verificar algumas tendências nos últimos

anos, e apontar algumas inovações feitas, especialmente na última campanha eleitoral.

Utilizaremos os seguintes indicadores: a) uso de websites de campanha e de algum tipo

de midia social pelos candidatos às eleições majoritárias; b) frequência de uso das mídias

sociais mais utilizadas, tais como Facebook, Twitter e Canal do Youtube; c) Nível geral de

interatividade observada nas principais mídias sociais; d) desigualdades existentes no uso

das tecnologias digitais por candidatos localizados em diferentes regiões do país e em

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diferentes tipos de partidos, agregados; e) evolução dos gastos em internet nas

campanhas eleitorais a partir de 2002; f) relação entre intensidade de uso das mídias

sociais e padrões de votação nas últimas eleições brasileiras. Sublinhe-se que

concentraremos nosso estudo nas eleições para cargos majoritários (governadores e

senadores), pelos seguintes motivos: (i) estas eleições fornecem um “n” intermediário

entre as eleições presidenciais (com reduzido número de candidatos) e as eleições

proporcionais para deputados federais e estaduais (com número acentuado de

candidatos, que dificulta a coleta sobre o uso das tecnologias digitais); (ii) elas nos

possibilitam “nacionalizar” a análise, permitindo um estudo comparativo mais abrangente

do uso da internet pelos candidatos em diferentes contextos socioeconômicos; (iii) ainda

são escassos estudos abrangentes e agregados sobre as e-campanhas nesses níveis

administrativos.

Além disso, procuraremos sistematizar alguns dados existentes em literatura

secundária sobre as eleições brasileiras a partir de 1998, quando a internet passou a ser

utilizada de forma mais sistemática como ferramenta de campanha no Brasil. Como

método para a sistematização da literatura utilizaremos a tipologia de campanhas

eleitorais sugerida por Wilson Gomes em seus trabalhos, agregando por nossa conta

alguns estágios intermediários às três principais etapas sugeridas pelo autor. Como se

sabe para Gomes podemos subdividir a campanha nas etapas pré-web, protoweb web e

pós-web, cujas características podem ser assim sistematizadas:

QUADRO 1 -

CARACTERÍSTICAS

Pré-web Ausência de uso de websites. Os candidatos usam outras

ferramentas de comunicação com o eleito, tais como e-mail

e newsletter

Protoweb Sites estáticos e com pouca interação. O uso do e-mail já

começa a se difundir, de maneira tímida, de modo que as

campanhas eleitorais ainda tinham natureza claramente off-

line.

Web As principais (ou únicas) plataformas virtuais dos candidatos

são os websites. As atividades partem de sites vinculados a

bancos de dados empregados para arquivo e acesso a

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discursos, panfletos e outros materiais de campanha. Esse

material de campanha tende a reproduzir o conteúdo off-

line. Observam-se algumas experiências de interação e

participação através dos websites.

Pós-Web Surge depois da criação das redes sociais e de seu uso

maciço por alguns candidatos e políticos. O website do

político deixa de ser o elemento central ou único da

estratégia de comunicação dos candidatos e passa a ser um

centro difusor e de oferta de credibilidade a informações

difundidas por outras mídias. Os candidato interagem com

os cidadãos nas mídias sociais e não no website.

Fonte: Gomes et al. (2009)

Além disso, para estruturar nossa análise dos mecanismos de interação nas e-

campanhas procuraremos aplicar uma versão ligeiramente modificada do modelo de

interatividade formulado por FERBER et. AL. (2008) no estudo dos mecanismos de

interação entre elites políticas e cidadãos ordinários propiciados pelas novas tecnologias,

especialmente a internet. De acordo com estes autores, a introdução das ferramentas da

Web 2.0 como blogs, chats, comunidades virtuais e redes sociais no contexto legislativo

ensejaram o estudo de novas formas de comunicação, diferentes das sugeridas pelas

aplicações da Web 1.0 que se apóiam em um monólogo top-down de transferência de

informações. Além dos modelos de comunicação de duas vias, Ferber et al (2007)

propõem “a three-way model of communication”, mais apropriado para encorajar a

deliberação pública. O autor utilizou o modelo quadripartido de ciber-interatividade de

McMillan (2002) e construiu “a six-part model of Cyber-Interactivity”, baseando em seis

níveis de interação: (i) monólogo; (ii) diálogo responsivo; (iii) feedback; (iv) resposta

controlada; (v) discussão mútua; (vi) debate público/deliberação.

Combinando os indicadores utilizados por estes autores, nossa hipótese básica é a

de que as e-campanhas no Brasil evoluíram de um grau pré-web com baixo grau de

interatividade em 1998 (monólogo), para um grau pós-web com alto grau de interatividade

(debate público), embora experiências mais avançadas de deliberação online e de debate

sobre políticas públicas nas eleições brasileiras ainda sejam uma exceção no atual

contexto das e-campanhas brasileiras.

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2. Tecnologias digitais e campanhas eleitorais no Brasil: um breve histórico.

Embora no caso das campanhas eleitorais norte-americanas já existam desde

1996 (CORRADO, 1996) estudos sobre o uso da internet, no caso do Brasil, podemos

afirmar que apenas com a campanha eleitoral de 1998 teve início o uso da internet. De

nosso conhecimento, os estudos mais sistemáticos sobre esta fase inicial das e-

campanhas no Brasil são os de Rodrigo Garcia Fernandez (Fernandez, 2005, 2005a)

onde o autor busca aplicar uma versão ligeiramente modificada do modelo de análise de

conteúdo de proposto por Ward & Gibson (2001) para examinar 50 websites de

campanhas eleitorais na Internet para cargos executivos nas eleições de 1998, 2000 e

2002. As conclusões de Fernandez são as mesmas de outros estudos produzidos à

época (e. g. BIMBER & DAVIS, 2003), ou seja, a pouca presença de ferramentas de

participação e interatividade mais sofisticas no Web e a predominância de mecanismos

"top down" de comunicação política virtual entre os candidatos e os eleitores. Além do

mais o autor aponta, como característica específica do caso brasileiro, uma maior

"personificação" (ou personalização) das mensagens políticas divulgadas através dos

websites.

Após o pleito de presidencial de 1998, tivemos as eleições de outubro de 2000 para

prefeitos, onde a internet teve pouco impacto e provocou poucos estudos (cf. CARNEIRO,

2002). Os estudos pioneiros sobre internet neste período, além do de Rodrigo Garcia

Fernandes já citado, concentraram-se em mapear o papel que meios alternativos às

mídias tradicionais tinham no agendamento das grandes questões relacionadas à mídia.

A este respeito, destacam-se os estudos de Alessandra Aldé e Juliano Borges (2004)

sobre o papel da internet e dos websites dos candidatos no agendamento de notícias nas

mídias tradicionais, e a dissertação de mestrado de César Steffen sobre os websites dos

candidatos à presidência nas eleições de outubro de 2002. Segundo o autor, "Notamos,

assim, que os espaços da campanha eleitoral de 2002 via Internet são exatamente isso,

espaços de campanha eleitoral, e não promovem - ou buscam promover - uma relação

mais direta com o eleitor, mas apenas e tão somente construir mais um espaço de

enunciação de discursos e propostas pelos candidatos". (p. 18). Ainda segundo o autor,

"A maior novidade deste processo reside, em nossa opinião, na possibilidade de

montagem do discurso pelo eleitor a partir da seleção das ofertas de interação e na

permanência dos discursos e informações num mesmo espaço sem as limitações

temporais impostas pela legislação eleitoral" (p. 19).

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Após o pleito de 2002 passaram a surgir estudos mais sistemáticos sobre o uso da

internet nas eleições no Brasil e, pela primeira vez, se fornecem dados sistemáticos e

agregados sobre o uso das diferentes tecnologias digitais pelos candidatos as eleições

brasileiras. Paradigmático dessa fase são os estudos de Francisco Brandão Júnior

(BRANDAO JUNIOR, 2005, 2008, 2009) onde são fornecidas as primeiras informações

agregadas sistemáticas sobre o uso da internet pelos candidatos no Brasil e o de Adriane

Figueirola Martins (MARTINS, 2006) sobre as estratégias persuasivas de José Fogaça e

Raul Point no segundo turno da do pleito, em outubro de 2004. A principal conclusão a

que chega a autora é que a campanha na Web agrega algo em relação ao conteúdo

transmitido via HPEG e desempenha papel relevante no processo eleitoral. Segundo a

autora, "apesar da Internet ser acessada somente por uma pequena parcela da

população, e não apresentar um espetáculo de imagens e sons tal qual a televisão, pôde-

se evidenciar nesta pesquisa que os sites realmente apresentavam características

persuasivas capazes de seduzir os internautas. Tal afirmação tem validade uma vez que

a principal estratégia persuasiva utilizada pelos websites de Fogaça e Pont era a

informação textual, a qual possibilita a busca de informações sobre os candidatos pelo

eleitor" (p. 113).

Após de 2006, além de ferramentas tais como emails e websites, outras

tecnologias entram na agenda de estudos sobre e-campanha: os Blogs e o Orkut, que dá

origem aos artigos pioneiros de (PENTEADO et. Al., 2006), Vera Chaia (2007) e Barros

Filho, Coutinho e Safatle (2007) sobre esta rede social (COUTINHO, 2007). Segundo

estes autores embora no Brasil os nível de inclusão digital ainda sejam reduzidos em

comparação com outros países, "a internet é um canal de comunicação (...) que

apresenta importantes possibilidades em termos de mobilização e engajamento dos

eleitores mais envolvidos com a política, notadamente os mais jovens. A utilização

crescente da rede, para além dos sítios de organizações midiáticas e políticas

tradicionais, indica um processo (ainda incipiente no Brasil) de formação de novos

espaços complementares à esfera pública tradicional. Embora ainda restrito aos mais

jovens e escolarizados, esse fenômeno ocorre independente da vontade dos meios de

comunicação tradicionais e dos partidos políticos, e não depende de sua aprovação para

acontecer. Entretanto, apesar da diversidade de fontes de informação oferecidas pela

Rede, as comunidades tendem a conectar-se apenas com sítios e comunidades de

opiniões similares e a reprimir manifestações dissonantes, o que pode gerar uma menor

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pluralidade de opiniões entre os eleitores que usam apenas os sítios de comunidades e

blogs como fonte de informação sobre a campanha" (op. Cit.).

As eleições municipais de 2008 também deram origem a vários estudos que

mostravam o uso intensivo da internet por determinados candidatos e a emergência das

primeiras experiências participativas de importância no espaço virtual, inclusive com

acentuado uso de algumas mídias sociais por alguns candidatos, apesar da ambiguidade

ou proibição da legislação eleitoral (BRAGA et. al, 2008). Entretanto, apesar de algumas

inovações introduzidas no pleito de 2008, é somente no pleito de 2010 que as tecnologias

digitais apresentam maior grau de difusão entre os candidatos, por dois motivos básicos:

a) em primeiro lugar, pela queda das restrições dos tribunais eleitorais ao amplo uso da

internet pelos candidatos; b) em segundo lugar, e estreitamente relacionado ao primeiro

fator, pelo bem-sucedido exemplo da campanha presidencial de Barack Obama no pleito

de novembro de 2008, que provocou uma euforia no campo do marketing político eleitoral

e também entre os analistas políticos pelo mundo afora. Como afirma um estudioso da

matéria, "de acordo com a legislação nacional, até 2009 só eram permitidas

manifestações por candidatos e por sua equipe em websites oficiais de campanhas.

Mesmo redes sociais com considerável penetração no país nas eleições de 2008, como o

Orkut, não puderam ser utilizadas naquela ocasião. Essa regra limitou de maneira

excessiva as possibilidades de inovações nas campanhas, o que ajuda a explicar o baixo

número de estudos sobre o tema até 2008. [...] Todas estas modificações evidenciaram a

singularidade das eleições de 2010, nas quais foram realizadas campanhas online

significativamente maiores e mais inovadoras" (MARQUES, 2011: p. 18). Entretanto,

como pudemos ver, mesmo antes do pleito de 2010, de fato um divisor de águas na

histórica das e-campanhas eleitorais brasileira, já existiam vários estudos sobre o tema,

inclusive mostrando que os candidatos inventavam formas criativa de driblar a legislação

eleitoral, as utilizando intensamente.

A partir de 2010, seja em virtude da maior liberalidade da legislação, seja em

virtude das inovações no campo das e-campanhas, foi cada vez mais intenso o uso das

tecnologias digitais nas eleições brasileiras. Este movimento está sintetizado no quadro

anexo a este artigo, destacando os principais momentos dessa expansão em direção ao

um estágio pós-web, níveis mais acentuados de interação on-line. Feito esse breve

resumo do estado da arte sobre e-campanha no Brasil, podemos agora nos concentrar na

apresentação de dados empíricos sobre a evolução objetiva do emprego das tecnologias

digitais nas eleições brasileiras nos últimos anos.

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3. Tendências do uso da internet nas campanhas eleitorais no Brasil

Como dissemos anteriormente, este artigo é uma primeira tentativa de

sistematização empírica de dados longitudinais sobre as e-campanhas brasileiras. Ele

busca sistematizar alguns dados sobre campanhas eleitorais no Brasil, tanto de fontes

secundárias como de fontes primárias, a partir das pesquisas que efetuamos deste 2008

sobre o uso da internet pelos candidatos, especialmente nas eleições majoritárias

brasileiras com vistas a mapear de maneira abrangente as principais inovações trazidas

pelo emprego das tecnologias digitais nas eleições brasileiras.

Vamos apresentar dados sobre algumas dimensões do uso da internet pelos

candidatos a fim de verificar algumas tendências nos últimos anos, e apontar algumas

inovações feitas na campanha mais recente de outubro de 2014. Utilizaremos os

indicadores mencionados acima, sendo o primeiro dele a frequência simples de uso de

websites e mídias sociais pelos candidatos a cargos majoritários ao longo do tempo.

GRAFICO 01: USO DE WEBSITES DE CAMPANHA E DE ALGUM TIPO DE MIDIA

SOCIAIS PELOS CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS

FONTE: Elaboração própria.

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Pelo gráfico, podemos observar que desde 2002, quando começaram a ser

efetuadas mensurações mais sistemáticas do uso de websites e mídias sociais pelos

candidatos (Brandão Júnior, 2008), houve uma grande expansão no uso de tais

ferramentas nas eleições majoritárias, embora tal expansão não tenha sido linear. No

caso das últimas eleições, nota-se inclusive um decréscimo no uso de websites em

virtude da fácil disponibilidade e acesso de mídias sociais para os candidatos, mesmo de

partidos com menos recursos políticos e regiões com o eleitorado menos incluído

digitalmente. Com efeito, se verificarmos as causas desse grande decréscimo no uso de

websites pelos candidatos aos governos estaduais e ao senado nas últimas eleições,

podemos verificar que eles se devem principalmente ao excesso de candidatos de

pequenos partidos com menos recursos políticos e a candidatos menos competitivos

nestas últimas eleições. [TABLE]

Outro indicador agregado da difusão do uso das midias sociais nas eleições

brasileiras é a frequência com que as mídias sociais mais difundidas tais como Facebook,

Twitter e canal do Youtube foram utilizadas pelos diferentes candidatos. Estes dados

estão resumidos nos gráficos seguintes.

GRÁFICO 2: FREQUÊNCIA DE USO DAS MÍDIAS SOCIAIS MAIS UTILIZADAS, TAIS COMO FACEBOOK, TWITTER E CANAL DO YOUTUBE (n=1515)

FONTE: Elaboração própria.

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Como observado, as mídias sociais começaram a ser utilizadas com mais

frequência somente a partir de 2010, quando a legislação eleitoral brasileira permitiu o

uso de mídias pelos candidatos. Desde então nota-se uma acentuada progressão no uso

das principais midias sociais, destacando-se o Facebook, com a grande maioria dos

candidatos possuindo fanpages nessa rede desde as eleições para prefeito de 2012.

Nota-se também uma acentuada preferência pelo Facebook entre os candidatos, ao

contrário da expectativa gerada por muitos de que o twitter iria ser a midia preferida em

virtude de sua facilidade em promover a comunicação de "um para muitos". Isso pode ser

um indicador também de que os candidatos estão preferindo interagir com os apoiadores

mais próximos das candidaturas, configurando um padrão de "pregar através dos

convertidos", ao invés de preferir uma estratégia de comunicação eleitoral em grande

escala interagindo com os eleitores como um todo. Por fim, verifica-se um forte declínio

do uso de Websites e Twitter nas últimas eleições, fato que pode ser atribuído, no caso

dos websites, à proliferação de candidatos de pequenas legendas sem recursos políticos

e com baixo grau de competitividade eleitoral, enquanto que em relação ao Twiter, como

afirmamos acima, podemos lançar a hipótese de que temos a preferência de um padrão

de "pregar através dos convertidos" pelos candidatos e o apego a um padrão mais

“enunciativo” e “top down” de comunicação política.

Outro aspecto a ser analisado é a existência ou não de um "digital divide" no uso

das tecnologias digitais mais relevantes (Websites e Facebook) pelos candidatos e seu

comportamento ao longo do tempo. Isso nos permite também abordar uma questão mais

substantiva: estaria havendo uma tendência à "normalização" (repetição dos padrões

existentes no mundo offline) ou uma "equalização" (maior igualdade de oportunidades)

nos padrões de competição política digital entre os candidatos ao longo do tempo? Não

se trata de uma questão fácil de ser respondida, e ela tem de ser respondida em vários

níveis correspondentes aos vários significados do termo "digital divide" (material, societal

e cognitivo). Neste texto, abordaremos apenas um deles, que são os níveis material e

societal. Para abordá-lo, criamos um indicador que consiste na diferença entre as regiões

com o maior percentual de candidatos usuários de algum tipo de ferramenta digital

(Websites e Facebook) e as regiões com menor percentual de usuários. Apenas a título

de exemplificação, seguem os dados para a última eleição, para os governos estaduais e

senadores, na medida em que não faz sentido calcular o indicador para a eleição

presidencial, dado que trata-se de uma circunscrição única.

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TABELA 01: INDICES DE INCLUSÃO DIGITAL NAS ÚLTIMAS NOVE ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS BRASILEIRAS (2008-2014).

Esta tabela é apenas para ilustrar a forma como construímos o indicador. O mais

importante para os fins da análise diacrônica empreendida neste artigo é o

comportamento do índice ao longo do tempo, que pode ser sumarizado no gráfico abaixo:

GRÁFICO 3: DESIGUALDADES EXISTENTES NO USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS POR CANDIDATOS LOCALIZADOS EM DIFERENTES REGIÕES DO PAÍS.

Fonte: Elaboração própria.

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Como verificamos pelo gráfico acima, há um acentuado decréscimo na fratura

digital entre as diferentes regiões do país ao longo do tempo, com as diferenças variando

de um pico de 54,6% nas eleições para as prefeituras de 2008 até um mínimo de 18,6 nas

eleições para os governos estaduais em 2014. O mínimo de diferença ocorreu no pleito

para as prefeituras das capitais de outubro de 2012, quando a desigualdade de uso das

tecnologias digitais ficou em apenas 15,0%, embora no caso das cidades do interior as

diferenças fossem significativamente maiores.

Por fim, resta um último indicador que é o nível de interatividade observada nas

eleições. Para tanto, procuramos mensurar o grau em que os candidatos interagem como

os eleitores na última semana eleitoral tal como evidenciado pelo indice de presença no

Facebook (amigos + seguidores + falaram), número de seguidores no twitter e de

visualizações em vídeos no youtube.

GRAFICO 4: NÍVEL GERAL DE INTERATIVIDADE OBSERVADA NAS PRINCIPAIS MÍDIAS SOCIAIS.

Fonte: elaboração própria

Estes dados dão uma evidência adicional da transição do Twitter para o Facebook

como a principal mídia social de campanha eleitoral nas últimas eleições. Com efeito, o

pico de interações no twitter comparativamente às outras mídias ocorreu no pleito para a

presidência da República de 2010, onde os candidatos que usaram twitter tiveram uma

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média de cerca de 370.000 seguidores, com uma movimentação no Facebook inclusive

inferior àquela verificada em canais de Youtube. Nas eleições para prefeito de 2010, o

Twitter continou a provocar uma impacto relativo maior que o Facebook, embora o

número de usuários não tenha mais sido o maior. Por fim, o Facebook ultrapassa o twitter

no pleito de 2014, sendo a midia social mais utilizada tanto em termos do percentual de

candidatos que utilizaram esta mídia quanto do número médio de seguidores que cada

um tem online.

Outra forma de avaliar a importância que as campanhas eleitorais têm dado às

ferramentas digitais enquanto recurso de comunicação para atingir o eleitorado é verificar

os gastos de campanha. Se a ferramenta realmente importa para aqueles que planejam

como chegar ao eleitor e conquistar o seu voto, a lógica é que exista um investimento na

área, a despeito deste ser um meio relativamente mais barato em comparação com

demais mídias.

Os dados que apresentaremos a seguir sobre esta questão são fruto de um

trabalho de compilação de 17 diferentes bancos de dados fornecidos pelo TSE, que

abarcam sete eleições52 brasileiras ao longo de 12 anos, de 2002 a 2014. Vamos

começar analisando os valores globais a cada ano, a fim de demonstrar a crescente

importância que a área ganhou ao decorrer do tempo.

GRAFICO 5: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS E PROPORCIONAIS (2002 A 2014)

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

52

Agregamos, aqui, os gastos lançados em qualquer uma das três modalidades possíveis: “pelo candidato” “pelo comitê” e “pelo partido”. Para a análise em tela esta distinção é desnecessária.

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114

Percebe-se que os investimentos em internet pelas campanhas durante o período

eleitoral acompanha o crescimento da área no Brasil, demonstrado pelos dados a respeito

de sua utilização. Até 2008, este investimento era relativamente baixo e a campanha de

2010 é o ponto de virada, onde ocorre o maior salto quantitativo. Interessante notar que

este crescimento ocorreu também para as campanhas municipais (crescimento de mais

de 3 vezes de 2012 em relação a 2008), embora naturalmente as campanhas locais

tenham menos recursos do que as campanhas nacionais.

Os dados sobre 2014 são ainda interessantes por registrar uma marca

impressionante: na soma de todos os candidatos foram gastos quase R$ 50 milhões de

reais (R$ 49.344.709,37, para ser preciso) apenas com os itens relacionados a “internet”.

Se lembrarmos daquele argumento que esta é uma mídia substancialmente mais barata

do que suas alternativas, este número é impressionante – embora seja apenas 1% do

total de R$ 5 bilhões de reais gastos na campanha eleitoral daquele ano.

A seguir, vamos demonstrar, por meio dos dados separados por cargo, que,

embora a maior parte destes recursos venha das campanhas presidenciais, a utilização

se dá em todas as frentes.

GRAFICO 6: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET POR CARGOS

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE

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Naturalmente, as campanhas majoritárias (presidente, governador e prefeito)

utilizam mais as ferramentas de internet, mas os valores para deputados estaduais e

federais não ficam a dever. Curiosamente, os candidatos a senador gastam menos com

internet do que os a deputado federal, indicando algum tipo muito peculiar de campanha

eleitoral para este cargo.

Ainda é importante pontuar sobre este gráfico o altíssimo investimento realizado

pelos candidatos a prefeito em 2012, que supera em valor absoluto o de governadores em

2014. Isto é uma importante evidência de que a internet como ferramenta de campanha é

utilizada também na esfera local e municipal.

O gráfico a seguir versa sobre a divisão regional dos gastos com estas ferramentas

e pode nos dizer muitas coisas sobre a tese da diminuição do digital divide regional.

GRAFICO 7: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET POR REGIÃO

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

Estes dados corroboram outros apresentados neste artigo, com o mesmo

movimento. Como se percebe na evolução histórica, até 2008 apenas sudeste e sul se

destacavam na área. Em 2010, o nordeste já apresenta o mesmo nível de investimento

em internet do que o sul, embora norte e centro-oeste ainda estejam atrás. O grande salto

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acontece em 2014. O nordeste apresenta quase o triplo de investimento em internet do

que o sul, ao passo que norte e centro-oeste investem no mesmo patamar. É bem

verdade que o sudeste continua sendo a região que mais gasta com a área, mas é

preciso relativizar que os custos das campanhas em alguns estados desta região são

superiores aos demais estados, refletindo o alto custo de vida (e de campanha) de

estados como São Paulo ou Rio de Janeiro. De qualquer forma, esta é outra clara

evidência da diminuição drástica do digital divide brasileiro, ao menos no que toca ao uso

da internet pelas campanhas eleitorais. Se no passado algum tipo de senso comum

poderia acreditar que estados e regiões que estas ferramentas não importariam nem eram

utilizadas em estados com menor desenvolvimento econômico, os dados de 2014 estão aí

para desfazer esta crença.

Em estudos anteriores (BRAGA, 2013), analisando as eleições municipais de

capitais brasileiras de 2012, as mídias sociais tiveram baixa correlação com a votação

final, não sendo boas preditoras dos resultados eleitorais dos candidatos. Nós

questionamos, aqui: será que o mesmo se repete quando tratamos de eleições a nível

estadual ou, neste caso, a relação é mais intensa?

A seguir, apresentamos os resultados a partir dos quais podemos afirmar que, nas

eleições para governador e senador, ao contrário do nível municipal, existe uma

correlação positiva de nível moderado. Testamos como variável dependente um índice de

presença no Facebook, construído a partir dos likes na fanpage e do campo “pessoas

falando sobre isso”, disponibilizado pelo próprio Facebook.

Na primeira tabela, testamos a correlação tanto com a votação final total quanto

com a votação percentual obtida. Embora a votação tenha sido a mais significativa, nos

testes seguintes utilizamos a votação percentual por ser o método mais correto de

estabelecer um parâmetro comparativo entre os candidatos, além de podermos dialogar

com a literatura que já utiliza esta variável.

TABELA 2: CORRELAÇÃO ENTRE INDICE DE PRESENÇA NO FACEBOOK E VOTAÇÃO.

Correlações

Cargo Índice de

presença FB

Votação final Votação

percentual

GOVERNADOR

Correlação de Pearson 1 ,567** ,361

**

Sig. (2 extremidades) ,000 ,000

N 165 165 165

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117

SENADOR

Correlação de Pearson 1 ,484** ,375

**

Sig. (2 extremidades) ,000 ,000

N 167 167 167

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

TABELA 3: COEFICIENTES DE REGRESSÃO ENTRE ÍNDICE DE

PRESENÇA NO FACEBOOK E VOTAÇÃO

Cargo Coeficientes não

padronizados

Coeficientes

padronizados

t Sig.

B Erro padrão Beta

GOVERNADOR

(Constante) 10443,327 8777,459 1,190 ,236

Votação

(percentual) 1665,909 337,453 ,361 4,937 ,000

SENADOR

(Constante) -12479,076 12820,884 -,973 ,332

Votação

(percentual) 2580,195 496,596 ,375 5,196 ,000

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

GRAFICO 8- DIAGRAMAS DE DISPERSÃO: VOTAÇÃO DOS CANDIDATOS x RESULTADO ELEITORAL.

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118

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

Como podemos perceber por meio do r2 nos gráficos (em .130 para governadores

e .141 para senadores) existe uma correlação fraca entre os dois fenômenos. Embora não

seja um valor alto, comparativamente, é maior do que a literatura prévia havia encontrado.

Acreditamos que dois fatores são importantes para explicar estes níveis acima do

apontado anteriormente. Primeiro, a validade do campo “pessoas falando sobre isso” –

introduzido pela plataforma Facebook em meados de 2013 –, que contribuiu para que as

correlações fossem mais altas do que se considerados apenas os seguidores. Isto implica

em afirmar que ter visibilidade na plataforma é mais importante do que apenas o número

total de seguidores e um melhor preditor. Segundo, por as eleições majoritárias de nível

estadual atraírem mais atenção midiática (somado a um possível efeito da polarização

ideológica ocorrida em 2014 no nível presidencial), as pessoas potencialmente tendem

mais a apoiar publicamente (seguir no Facebook) candidatos a cargos de maior

visibilidade (governador, senador) do que aqueles de nível municipal.

Por fim, podemos abordar um ponto final. Alguém poderia argumentar que a

simples conexão (ter seguidores) não implicaria em necessária conexão e interação entre

as fanpages e usuários de mídias sociais. Por isso, coletamos por meio de softwares

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específicos todas as interações realizadas durante o primeiro turno das eleições de 2014,

nas fanpages de 140 candidatos a governador presentes no Facebook. O gráfico a seguir

mostra os resultados divididos por mês e região.

GRÁFICO 9: SOMA DAS INTERAÇÕES REALIZADAS NO FACEBOOK DE 140

CANDIDATOS A GOVERNADOR DURANTE A CAMPANHA ELEITORAL DE 2014

Fonte: elaboração própria

Duas conclusões podemos tirar disto. Primeiro, as pessoas passam a dar mais

atenção aos políticos na reta final de campanha, em setembro. Segundo, esta é outra

prova contundente daquilo que estamos argumentando neste texto: a redução do digital

divide brasileiro. Embora o sudeste tenha índices elevados desde julho, nos últimos dias

de campanha o nordeste tantas interações quanto – e muito superior às demais regiões,

como o sul. Baseado nisto e nos dados sobre gastos de campanha, o nordeste parece

apresentar uma tendência para ocupar, junto com o sudeste, o posto das regiões com

maior utilização destas ferramentas.

4. Conclusões

Vimos neste artigo alguns dados empíricos sobre o uso da internet nas campanhas

eleitorais no Brasil. O primeiro ponto a ser observado é o de que, não obstante o

ceticismo inicialmente observado por alguns analistas no tocando à utilização das

tecnologias digitais nas eleições, estas tornaram-se uma plataforma de campanha

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amplamente difundida entre os candidatos, com praticamente todos os candidatos com

alguma presença online. Nesse sentido, Twitter e Facebook foram um divisor de águas na

história dos padrões de interação online entre candidatos e cidadãos: ao reduzir os custos

operacionais e técnicos de possuir uma plataforma online, tornando possível a qualquer

cidadão leigo ter um perfil e interagir online, tais ferramentas praticamente

universalizaram o uso das tecnologias digitais como ferramenta de campanha e de

interação online entre cidadão e elites políticos. Entretanto, como é evidente, nem todos

optam por estar online e, para os que estão online, observamos diferentes padrões

empíricos de interação. A nosso ver, o fenômeno chave a ser explicado é porque houve o

decréscimo de websites, twitter e youtube, enquanto o Facebook se manteve constante.

Os dados permitem levantar algumas hipóteses, mencionadas acima. A nosso ver, além

da difusão das mídias no mundo off-line, há uma razão mais substantiva para seu uso

desigual: os estrategistas de campanha preferem se "comunicar através dos convertidos"

do que uma "comunicação direta com o eleitor". Por isso não usam ou usam pouco o

twitter, exceto em alguns países onde o uso do twitter ainda é maior (e mais intenso) do

que o do Facebook.

Seja como for, os resultados agregados líquidos de nossa pesquisa, sintetizados

no Anexo a este paper, aprontam para uma evolução de um padrão mediano “protoweb

com baixo grau de interatividade e mecanismos top down de e-campanha”, no pleito de

outubro de 1998, para a difusão de um “estágio pós-web de e-campanha com alto grau de

interatividade”, conforme procuraremos demonstrar com outros estudos que se seguirão a

este paper.

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121

ANEXO: PERIODIZAÇÃO SOBRE ELEIÇÕES E INTERNET NO BRASIL COM

INDICAÇOES BIBLIOGRÁFICAS DE ESTUDOS EXEMPLARES.

ANO ELEIÇÕES CARACTERÍSTICAS

GERAIS DO PLEITO

PRINCIPAIS INOVAÇÕES E

EVENTOS ASSOCIADOS À

INTERNET

2014: Eleições para

presidente, governos

estaduais, 1 senador,

deputados federais e

estaduais

- Ascensão dos pequenos

partidos de direita e

fragmentação do sistema

partidário. Derrota do PT e

dos partidos de esquerda nas

eleições proporcionais.

- Facebook torna-se a

principal ferramenta de

campanha e de organização

do debate público na internet;

- Websites se tornam menos

frequentes, menos interativos

e mais pobres, sendo

produtores de conteúdos a

serem difundidos em mídias

sociais;

- Amplos debates no twitter

sobre temas de campanha

2012: eleições para prefeitos

e vereadores

- Vitória da situação e de

partidos aliados à base

governista nas eleições.

Todos os prefeitos se

reelegem, exceto Luciano

Ducci (PSB) em Curitiba.

- Padrão web avançado e

pós-web primitivo, com uso

de mídias sociais com baixo

grau de interatividade e baixo

potencial mobilizador;

2010: Eleições para

presidente, governos

estaduais, 2 senadores,

deputados federais e

estaduais

- Dilma Rousseff (PT) eleita

presidente derrotando José

Serra(PSDB)

- Momento favorável à

situação. Maioria dos

governadores é reeleita.

- Primeira eleição sem

restrições legais ao uso das

mídias sociais no Brasil, com

várias experiências

inovadoras.

- Marina Silva utiliza

intensamente a internet nos

pleitos eleitorias obtendo

18% dos votos válidos

- Uso de twitter por José

Serra e demais candidatos; O

twitter é a ferramenta de

interação preferida do twitter.

- Padrão "web" avançado,

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122

com websites mais

sofisticados e interativos.

Experiências "pós-web"

iniciais.

- Iniciativas de controle civil

online (Sampaio, 2012)

2008: eleições para prefeitos

e vereadores

- Experiência de Barack

Obama nos EUA. Início de

um padrão "pós-web",

altamente mobilizador e

interativo de uso das mídias

sociais

- PT sofre algumas derrotas

importantes em eleições

muncipais, tais como São

Paulo.

- Padrão web mais avançado

(4/5)

- No Brasil, destacam-se as

experiências de Gilberto

Kassab (PFL) e Fernando

Gabeira (PV) no uso da

internet (Braga, 2010).

- Uso da internet em escala

subnacional caracteriza-se

por padrões tradicionais,

veiculando práticas de

natureza clientelista (Braga,

2013)

- Primeiras experiências de

participação digital on-line e

de "falas cidadãs"

2006: eleições para

presidente, governos

estaduais, 1 senador,

deputados federais e

estaduais

- Lula é reeleito na onda do

crescimento econômico e o

PT recupera-se do escândalo

do mensalão, elegendo a

maior bancada na Câmara

dos Deputados.

- Padrão Web intermediário

(2). Algumas midiais sociais

como o Orkut passam a ser

utilizadas, mas sem

processos de discussão e

deliberação muito

aprofundados.

2004: eleições para prefeitos

e vereadores

- Esquerda ganha as eleições

para prefeito em cidades

importantes, como São

Paulo, embora sofra o

desgaste do "escandalo do

mensalão".

- Padrão Web primitivo. -

Estratégias persuasivas de

Raul Pont e José Fogaça

(Martins, 2006).

2002: eleições para

presidente, governos

estaduais, 2 senador,

deputados federais e

estaduais

- Lula (PT) é eleito presidente

da República derrotando

José Serra (PSDB).

Ascensão de governos

estaduais de centro-esquerda

- Padrão Web primitivo (1) .

Destaque para o site de Lula

e do Instituto Cidadania.

Apesar do site primitivo, teve

1.3 milhões de acessos

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- Internet e Eleições 2014 - I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública

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123

- Estágio web de campanha

eleitoral. A maioria dos

candidatos à presidência usa

websites de campanha,

embora com poucas

ferramentas de interatividade.

únicos e 13 milhões de

acessos durante a

campanha.

2000: eleições para prefeitos

e vereadores

- Marta Suplicy elege-se

prefeita de São Paulo

derrotando Paulo Maluf.

Ascensão dos partidos de

esquerda nos pleitos

municipais, crise do modelo

de desenvolvimento

"neoliberal" e da bancada

governista do governo FHC

- Padrão web primitivo de e-

campanhas. Websites pouco

informativos e interativos,

personalização da

comunicação política e fluxos

de comunicação "top down"

(Carneiro, 2006) [cf.]

1998: eleições para

presidente, governos

estaduais, 1 senador,

deputados federais e

estaduais

- FHC (PSDB) é reeleito

presidente da República no

Brasil. Vários

- Estágio proto-Web:

primeiras experiências de uso

da internet nas eleições no

Brasil, com sites estáticos e

sem mecanismo de

interatividade (Steffen, 2002).

- Resolução n.º

20.106 do TSE começa a

regulamentar o uso da

internet nas campanhas

eleitorais, estabelecendo

várias restrições a seu uso.

Propaganda pode ser feita

apenas nos websites e não

em outras redes.

1996: eleições para prefeitos

e vereadores

- Sem registro do uso da

internet nas campanhas

eleitorais brasileiras.

- Estágio pré-web de

campanha.

1994: eleições para

presidente, governos

estaduais, 1 senador,

deputados federais e

estaduais

- primeiras experiências de

uso da internet nos EUA

- FHC (PSDB)é eleito

presidente no Brasil. Sem

registro do uso de internet

nas campanhas eleitorais

- Estágio pré-web de

campanha.

Predomínio das mídias

tradicionais.

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- Internet e Eleições 2014 - I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública

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124

brasileiras.

1989: eleições para

presidente, governos

estaduais, 1 senador,

deputados federais e

estaduais

- Collor (PRN) é eleitor

presidente.

- Amplo predomínio das

mídias tradicionais na

campanha eleitoral.

ANO ELEIÇÕES CARACTERÍSTICAS

GERAIS DO PLEITO

PRINCIPAIS INOVAÇÕES E

EVENTOS ASSOCIADOS À

INTERNET

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A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA GOVERNANÇA DA INTERNET:

Do direito à privacidade ao direito à participação

Thaíse Kemer53

RESUMO

O objetivo do trabalho é analisar os princípios defendidos pela política externa brasileira relativamente ao direito à privacidade na era digital e à democratização da da Internet. Essas temáticas ganharam novo destaque em junho de 2013, quando foram noticiadas revelações de espionagem realizadas pelos Estados Unidos em correspondências de diversos chefes de Estado, entre os quais a Presidenta Dilma Rousseff, bem como em empresas do Brasil. Para alcançar essas metas, o artigo será dividido em três seções, que versão sobre: (1) a evolução do conceito de governança da Internet; (2) a Governança da Internet na Política Externa Brasileira e; (3) o direito à privacidade. Na conclusão, argumenta-se que a diplomacia brasileira tratou o caso da espionagem de forma produtiva, buscando tanto defender o direito à privacidade quanto propondo formas mais democráticas e inclusivas para a participação dos cidadãos e dos países na governança da Internet.

Palavras-chave: Política Externa Brasileira; Privacidade; Governança da Internet.

Introdução

Num mundo crescentemente globalizado, a Internet, ao interconectar diferentes

culturas, desafia uma ordem mundial baseada exclusivamente na soberania estatal e nas

fronteiras geográficas, e cria novas arenas de atuação internacional para o Brasil

(LUCERO, 2011, p. 11). Uma das ilustrações mais recentes desse fenômeno pode ser

encontrada nas denúncias de espionagem noticiadas pela imprensa internacional em

junho de 2013, segundo as quais os Estados Unidos violaram correspondências de

diversos Chefes de Estado, entre os quais a Missão Permanente do Brasil junto às

Nações Unidas e a Presidenta do Brasil Dilma Rousseff (PLANALTO, 2013).

Nesse contexto, considerando-se que o tema da governança da Internet motivou

um crescente esforço político internacional do Brasil, o ponto de partida para a discussão

é discussão sobre a evolução do conceito de governança da Internet, bem como da

relevância desse conceito para a Política Externa Brasileira. Em seguida, será analisado o

direito à privacidade e sua relação com a política externa brasileira e com a

democratização da governança da Internet.

53

Thaíse Kemer é mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NEPRI/UFPR). Email: [email protected].

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1. A evolução do conceito de governança da Internet

A compreensão do conceito de governança da Internet na contemporaneidade

pode ser enriquecida mediante uma breve digressão ao contexto que assistiu ao

nascimento dessa tecnologia. De acordo com Kurbalija (2005), a Internet começou como

uma iniciativa governamental quando, no final da década de 1960, os Estados Unidos

criaram a Rede da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de

Defesa (DARPANet), cujo objetivo era a concepção de uma forma de comunicação capaz

de resistir a possíveis ataques nucleares (KURBALIJA, 2005, p.10-15). Nesse sentido, o

caráter intrinsecamente descentralizado da rede era compatível com o cenário

internacional da Guerra Fria, uma vez que seria uma forma de evitar a perda de dados

que poderia advir de eventuais ataques a pontos do sistema.

Apesar de ter sido gestada na esfera governamental, a Internet teve um caminho

diverso de outras tecnologias, pois prescindiu, em seus primórdios, de um planejamento

governamental centralizado (KURBALIJA, 2005, p.10). Nas palavras de Kleinwächter

(2007):

Enquanto inovações tecnológicas mais antigas, como o telégrafo ou a transmissão por rádio, em princípios do século XX foram imediatamente objeto de regulação governamental na forma de leis de telecomunicações e de transmissão, não houve atividades governamentais comparáveis quando da emergência da Internet. A regulamentação necessária era principalmente de natureza técnica e feita por técnicos, provedores e usuários da Internet (KLEINWÄCHTER, 2007, p. 41).

Nesse contexto, e de forma aparentemente paradoxal, a expressão que se

consolidou para a Internet, tecnologia gestada com grande impulso do governo

americano, não foi o termo “Governo”, mas, sim, “Governança”, introduzido na década de

1980 e utilizado para designar, principalmente, a gestão técnica dos recursos centrais

para o funcionamento da Internet, como nomes de domínio, endereços IP, o sistema do

servidor raiz e protocolos de Internet (KURBALIJA, 2005, p.10).

A partir daí, o uso da Internet progressivamente se ampliou para outros usuários,

ao ponto de haver a fundação, em 1986, da Força-Tarefa da Engenharia da Internet

(IETF), uma comunidade de designers de rede, operadores, vendedores e pesquisadores

preocupados com a evolução da arquitetura e da operação da Internet (IETF, 2014). Na

esteira desse processo, oobservaramm-se as primeiras iniciativas com vistas à

centralização do processo de planejamento para a Internet. Nesse sentido, em 1993, a

Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NSF) terceirizou o desenvolvimento

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131

do Sistema de Nomes de Domínio (DNS) para a Network Solutions Inc. (NSI), empresa de

consultoria de tecnologia fundada em 1979 no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos.

Com isso, a Network Solutions tornou-se a primeira e única registradora de nomes de

domínio até 1999, quando a indústria de nomes de domínio foi aberta à competição

(NETWORKSOLUTIONS, 2015). Conforme Kurbalija (2005, p.10; 2007, p. 197 - 198),

essa iniciativa dos Estados Unidos desencadeou uma verdadeira “Guerra dos DNS”, uma

vez que entidades internacionais, como a Internet Society54, buscaram, por anos, que a

gestão do DNS retornasse ao domínio público.

Na esteira desse processo, é criada, em 1998, a ICANN (Internet Corporation for

Assigned Names and Numbers) uma organização sem fins lucrativos que coordena as

funções da IANA (Internet Assigned Numbers Authority), as quais se relacionam a

serviços técnicos críticos para o funcionamento da Internet, como é o caso do Sistema de

Nomes de Domínio (DNS) (ICANN, 2012). Segundo Kurbalija (2007), com a criação da

ICANN, a Internet Society logrou um maior controle público da gestão do DNS; no

entanto, segundo o autor, os interesses dos Estados nacionais e da comunidade da

Internet permaneceram os pontos fracos da governança da ICANN55 (KURBALIJA, 2007,

p. 198).

Do seio desse debate emerge, portanto, um crescente interesse por parte dos

governos sobre a temática da Governança da Internet. Nesse sentido, do ponto de vista

das relações internacionais, é relevante destacar a analisar de Marques e Pinheiro (2013),

as quais enfatizam que a informação pode ser utilizada como um recurso de poder por

determinados países, os quais podem deter: “… o controle das tecnologias de informação

e comunicação e da própria informação, como forma de exercício de poder” (MARQUES

E PINHEIRO, 2013, p. 117). Corroborando essa argumentação, ABDENUR (2014)

recorda que, não obstante a ICANN ser uma organização sem fins lucrativos, argumenta-

se que sua localização nos Estados Unidos - e, portanto, sua submissão ao direito

54

A Internet Society é uma associação sem fins lucrativos, criada em 1992, com atuação internacional, que tem por objetivo promover liderança no desenvolvimento dos padrões Internet, bem como fomentar iniciativas educacionais e políticas públicas ligadas à rede mundial entre computadores (ISOC, 2015). 55

De acordo com a revista The Economist (2014), em março de 2014, o Departamento de Comércio Americano, ao qual a ICANN está submetida, afirmou que pretendia acabar com seu papel na gestão do DNS até, preferencialmente, setembro de 2015. No entanto, conforme aponta a publicação, para a autora do livro “The Global War for Internet Governance”, Laura DeNardis, da Universidade Americana de Washington, a gestão dos nomes e números, ainda que seja uma parte crítica da governança da Internet, constitui apenas um de seus aspectos, a qual deve considerar também tanto a míriade de organizações que trabalham no tema quanto o enfrentamento de desafios crescentes à liberdade de expressão e aos direitos de propriedade intelectual (ECONOMIST, 2014).

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norteamericano - pode possibilitar a esse país uma vantagem competitiva no que

concerne à Internet.

Essa discussão propiciou o terreno fértil para que o tema fosse incluído no contexto

das conferências realizadas no seio das Nações Nações Unidas. Nesse sentido, em 2003

é realizada a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, a qual é realizada em duas

fases, a saber: (i) em Genebra, na Suíça, de 10 a 12 de dezembro de 2003, com o

objetivo de desenvolver as fundações de uma Sociedade da Informação para todos; (ii)

em Tunis, na Tunísia, de 16 a 18 de novembro de 2005, com o propósito de por em

prática o Plano de Ação de Genebra, bem como outros acordos e mecanismos de

financiamento na área de governança da Internet (WSIS, 2005a).

De acordo com Lucero (2011, p. 76 - 80), a Agenda de Tunis, documento emanado

por ocasião da segunda fase, deu publicidade ao conceito de governança da Internet que

pauta as atividades internacionais contemporâneas nessa temática:

Governança da Internet é o desenvolvimento e aplicação por governos, setor privado e sociedade civil, em seus respectivos papéis, de princípios comuns, normas, regras, processos decisórios e programas que moldam a evolução e o uso da Internet (WSIS, 2005).

Nota-se, portanto, que dos seus primórdios aos dias atuais, o conceito de

governança da Internet ampliou-se para abranger uma multiplicidade crescente de atores.

De acordo com a União Internacional de Telecomunicações, em 2012, 41,3% da

população mundial estava conectada à Rede Mundial de Computadores, número que,

conforme a instituição, só tende a crescer (ITU, 2013, p. 8). De fato, Oppermann (2012, p.

12) destaca que, na atualidade: (i) serviços de todos os tipos estão disponíveis na

Internet, a qual pode ser acessada por um número cada vez mais significativo de

equipamentos; (ii) cada vez mais serviços públicos passam ser fornecidos pelos Estados

aos cidadãos por meio da Internet. Esse contexto torna a segurança uma questão central

tanto ao nível individual quanto ao nível coletivo (OPPERMANN, 2012, p. 12), de forma

que a participação dos Estados nas discussões sobre a Internet constitui característica

inescapável das relações internacionais no século XXI.

2. A Governança da Internet na Política Externa Brasileira

A preocupação com a democratização da governança da Internet reflete os anseios

do governo brasileiro participar de forma proativa e propositiva do processo mais amplo

descrito na seção anterior, no qual a Internet pode ser concebida não apenas como

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instrumento central para o aprimoramento científico e tecnológico das sociedades

modernas, mas também como oportunidade para a construção de uma ordem

internacional inclusiva, em que todos os países tenham iguais oportunidades de acesso.

Nesse sentido, a busca pela democratização da Internet pode ser compreendida a partir

de uma perspectiva mais ampla da Política Externa Brasileira, a qual buscou,

tradicionalmente, participar da elaboração das normas internacionais. A esse respeito,

Cervo (2008, p. 27) descreve a valorização do multilateralismo normativo - que

corresponde à construção de uma ordem internacional baseada em regras transparentes

e emanadas de negociações multilaterais - como um dos padrões de conduta que

compõem o acumulado histórico da diplomacia brasileira.

A reação aos episódios de espionagem de 2013 evidencia um claro exemplo da

busca, pela diplomacia brasileira, desse multilateralismo normativo, o qual é materializado

por um novo ímpeto do protagonismo internacional do Brasil na governança da Internet

(MRE, 2013a). Em discurso na 68º Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro

de 2013, a Presidenta Dilma Rousseff enfatizou que as interceptações de comunicações

nacionais constituíam, além de grave de violação dos direitos humanos e das liberdades

civis, matéria que afeta a totalidade da comunidade internacional, na medida em que diz

respeito a todos os cidadãos do mundo (PLANALTO, 2013). Nesse sentido, a Presidenta

defendeu, na ocasião, o estabelecimento de mecanismos multilaterais para a rede

mundial capazes de garantir princípios como:

1. Da liberdade de expressão, privacidade do indivíduo e respeito aos direitos humanos.

2. Da Governança democrática, multilateral e aberta, exercida com transparência, estimulando a criação coletiva e a participação da sociedade, dos governos e do setor privado.

3. Da universalidade que assegura o desenvolvimento social e humano e a construção de sociedades inclusivas e não discriminatórias.

4. Da diversidade cultural, sem imposição de crenças, costumes e valores. 5. Da neutralidade da rede, ao respeitar apenas critérios técnicos e éticos, tornando

inadmissíveis restrições por motivos políticos, comerciais, religiosos ou de qualquer outra natureza. (PLANALTO, 2013).

À época do discurso, tais princípios não constituíam novidade para a legislação

brasileira, uma vez que foram objeto de resolução de 2009 do Conselho Gestor da

Internet no Brasil (CGI), intitulada “Princípios para a Governança e uso da Internet no

Brasil (CGI.br/RES/2009/003/P)56. No entanto, o cenário internacional propiciou o

56

O CGI foi criado por meio do Decreto nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, com vistas, entre outros, a: (1) estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil; (2) elaborar diretrizes para a execução do registro de Nomes de Domínio e a alocação de Endereço IP (Internet

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lançamento de nova luz ao tema, de forma que tais princípios motivaram a atitude

protagônica da política externa brasileira relativamente à governança da Internet.

Nesse contexto, após o discurso na Assembleia Geral, Brasil e Alemanha, cuja

Primeira-ministra, Angela Merkel, também havia sido alvo espionagem digital, elaboraram

uma Proposta de Resolução para a Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual foi

aprovada em novembro de 2014, com o título “O Direito à Privacidade na Era Digital”

(ONU, 2014). Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, essa resolução:

(...) demonstrou o reconhecimento, pela comunidade internacional, de princípios universais defendidos pelo Brasil, como a proteção do direito à privacidade e à liberdade de expressão, especialmente contra ações extraterritoriais de Estados em matéria de coleta de dados, monitoramento e interceptação de comunicações (MRE, 2013b).

Na esteira desse processo, o Brasil sediou, em 23 de abril de 2014, a conferência

NETMundial – Encontro Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança da Internet.

O encontro, que foi organizado em uma parceria entre o Comitê Gestor da Internet no

Brasil (CGI.br) e a 1Net57, teve como foco a elaboração de princípios de governança

internacional da Internet e a proposta de um roteiro para sua evolução futura

(NETMUNDIAL, 2014).

É interessante sublinhar ainda que os acontecimentos internacionais tiveram

grande impacto também no plano do Direito Interno Brasileiro. Nesse sentido, após as

denúncias de espionagem, a Presidenta Dilma Rousseff solicitou a tramitação da proposta

do Marco Civil da Internet em regime de urgência constitucional, a qual estava há dois

anos na Câmara dos Deputados (SENADO FEDERAL, 2013). Com isso, o Marco Civil foi

aprovado por meio da Lei no. 12.965, de 23 de abril de 2014 - mesmo dia em que teve

início a NETMundial -, estabelecendo os princípios, as garantias, os direitos e os deveres

para o uso da Internet no Brasil (PLANALTO, 2014). Desse contexto, é válido afirmar que

as ações nacionais e internacionais do Brasil se coadunaram em torno do propósito de

concretizar os princípios mencionados pela Presidenta Dilma Rousseff no contexto do

discurso da Assembleia Geral das Nações Unidas de 2013.

Protocol) e; (3) promover estudos que permitam a manutenção do nível de qualidade técnica e inovação no uso da Internet (CGI, 2014). 57

A 1Net é um fórum que reúne entidades internacionais dos vários setores envolvidos com a governança da Internet. Para maiores informações: http://1net.org/

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3. O Direito à privacidade

O avanço das tecnologias da Internet, com impactos em todas as searas da vida

particular e da vida pública, impõe novos desafios ao Direito Internacional (DI)

contemporâneo. Se, por um lado, o DI enfrenta uma escassez de normas no que se refere

à espionagem eletrônica (ABDENUR, 2014; SENADO FEDERAL, 2014, p. 28), por outro,

as denúncias de violação de correspondências oficiais do Brasil e de outros países em

2013 revelam a violação a um direito já internacionalmente consagrado: o direito à

privacidade. De fato, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 dispõe, em

seu artigo 12:

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.

Na esteira da declaração de 1948, o Pacto Internacional sobre os Direitos e Civis e

Políticos (PIDCP), preconiza em seu artigo 17:

1. Ninguém poderá ser objetivo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e reputação.

2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas. (PLANALTO, 1992)

Após a PIDCP, no que se refere ao âmbito regional, a Convenção Americana de

Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica (1969),

ratificada pelo Brasil em 1992, afirmou, em seu artigo 11:

1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.

2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas (PLANALTOb, 1992).

Ainda que abundem as normativas internacionais relativas ao direito à privacidade,

é importante sublinhar que a eficácia de normas depende da atuação discricionária dos

Estados nesse sentido. Para ilustrar esse argumento, e considerando as denúncias de

espionagem norteamericanas em 2013, observe-se a interação dos Estados Unidos com

algumas das normas de Direitos Humanos existentes no Direito Internacional

contemporâneo: (1) PIDCP: se, por um lado, o PIDCP possui como mecanismo de

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monitoramento o Comitê de Direitos Humanos58, ao qual os Estados Unidos estão

submetidos, por outro, um de seus Protocolos Adicionais, que permite receber

reclamações de indivíduos, não foi ratificado pelo Estado norteamericano (SENADO

FEDERAL, 2014, p. 28); (2) Pacto de San José da Costa Rica: os Estados Unidos apenas

assinaram o Pacto de San José da Costa Rica de 1969, sem, contudo, ratificá-lo até os

dias atuais (CIDH, 2015). Esses exemplos ilustram o fato de que a defesa do direito à

privacidade, na esfera internacional, depende, em grande medida, da vontade dos

Estados em assegurá-lo.

Essa tarefa não é simples, sobretudo porque, em tempos de terrorismo, o direito à

privacidade é, por vezes, visto como um direito que deve ser balanceado com o direito

dos Estados de garantir sua defesa e segurança. Para ilustrar esse argumento, é

importante recordar que, após as denúncias de espionagem de 2013, o presidente dos

Estados Unidos, Barack Obama, discursou, por ocasião da 68º Assembleia Geral das

Nações Unidas, de 2013:

E, da mesma forma que nós revisamos a forma pela qual nós implementamos nossas extraordinárias capacidades militares de forma a atingir nossos ideais, nós começamos a revisar a forma pela qual coletamos inteligência, de forma que possamos balancear adequadamente as legítimas preocupações de segurança dos nossos cidadãos e aliados com as preocupações com a privacidade que são compartilhadas por todas as pessoas59.

No entanto, as ações do Brasil em matéria de Política Externa permitem afirmar

que o direito à privacidade e o direito à segurança nacional devem não apenas ser

balanceados, mas respeitados em sua integralidade. A esse respeito, note-se, em

primeiro lugar, que o Brasil compromete-se com a assunção e o respeito das normas às

quais se vincula, adotando, tradicionalmente, uma postura legalista, no sentido de buscar

o respeito aos acordos internacionais e ao direito internacional público (CERVO, 2008).

Com base nessa premissa, e considerando-se que o Brasil (1) ratificou as principais

convenções internacionais em matéria de direitos humanos da atualidade; (2) tem acordo

de Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal com os Estados Unidos, por meio

do qual Partes se obrigam a prestar assistência mútua em matéria de investigação,

58

De acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, o Comitê de Direitos Humanos é um órgão composto por experts independentes que monitoram a implementação do Pacto de Direitos Civis e Políticos. Todos os Estados-Partes são obrigados a submeter relatórios periódicos ao comitê a respeito da forma como esses direitos estão sendo implementados (OHCHR, 2015). 59

Tradução livre da autora. Trecho original em inglês: “And just as we reviewed how we deploy our extraordinary military capabilities in a way that lives up to our ideals, we’ve begun to review the way that we gather intelligence, so that we properly balance the legitimate security concerns of our citizens and allies with the privacy concerns that all people share” (WHITE HOUSE, 2013).

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inquérito, ação penal, prevenção de crimes e processos relacionados a delitos de

natureza criminal (SENADO FEDERAL, 2014, p. 44; PLANALTO, 2001), conclui-se que as

ações do Brasil no plano internacional buscam a convivência os direitos à privacidade e à

segurança nacional.

A busca ativa pela democratização da governança da Internet é a forma

encontrada pelo Brasil de mostrar que tais direitos são de fato, compatíveis e harmônicos.

De fato, conforme destaca Abdenur (2014), o Brasil busca situar essa discussão em

diversas instâncias da concertação político-diplomática nos quais atua, seja no plano

regional, com a coordenação de iniciativas no âmbito da UNASUL60, seja no plano

multilateral, com iniciativas como a organização da Conferência NETmundial e a proposta

de resolução aprovada no âmbito das Nações Unidas. Dessa forma, o direito à

privacidade e a democratização da governança da Internet encontram-se estreitamente

vinculados para a Política Externa Brasileira contemporânea.

4. Considerações Finais

Partindo do caso de espionagem envolvendo os Estados Unidos, a diplomacia

brasileira buscou fazer valer um direito não apenas dos cidadãos do país, mas um direito

de toda a humanidade. Nesse sentido, conforme destacou o ex-Chanceler Luiz Alberto

Figueiredo Machado, a defesa do direito à privacidade - essencial para a preservação da

liberdade de expressão e opinião e para a democracia - insere-se em um contexto mais

amplo da promoção dos direitos humanos e, portanto, deve ser prioritária nas ações dos

Estados (MRE, 2013c). Esse argumento é parte fundamental para compreender a

importância da atuação do Brasil pela construção de um novo modelo de governança da

Internet, que seja democrático, multilateral e inclusivo.

Dessa forma, num contexto em que a Internet ganha cada vez mais relevância em

diferentes áreas da vida contemporânea, a diplomacia brasileira tratou o caso da

espionagem de forma produtiva, buscando tanto defender o direito à privacidade quanto

propondo formas mais democráticas e inclusivas para a participação dos cidadãos e dos

países na governança da Internet.

60

Após reunião em Lima, no Peru, no dia 9 de Agosto de 2013, Ministros das Comunicações e

representantes de 11 países-membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) fizeram uma

declaração conjunta por meio da qual rejeitaram qualquer ato de intercepção de comunicações sem a

autorização das autoridades competentes (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2012).

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Page 140: Anais I Workshop Internet e Eleições 2014

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O USO E A IMPORTÂNCIA DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS NAS ELEIÇÕES

DE 2014 NO BRASIL

Nilton Cesar Monastier Kleina61

Resumo: As eleições realizadas em 2014 no Brasil foram marcadas pelo uso de redes sociais pelos

candidatos a todos os cargos em disputa, confirmando que a internet se transformou definitivamente em

uma ferramenta eleitoral no país. Junto com a aplicação dessa plataforma, que resulta em uma

convergência de mídias, novas perspectivas podem surgir na política nacional – ou ao menos um novo

mercado na divulgação de propostas e chamados ao voto. O presente artigo dedica-se a catalogar e

analisar os aplicativos para tablets e smartphones Android desenvolvidos e disponibilizados por

candidatos a Deputado Federal, Senador e presidente da República. O objetivo é definir se esse tipo de

plataforma já é utilizado no pleito em questão, qual o conteúdo normalmente veiculado e se há um bom

recebimento por parte da população em relação a essas ferramentas.

Palavras-chave: Eleições; Campanha Política; Internet; Dispositivos Móveis; Android.

Introdução

Desde o sucesso do exaustivamente estudado caso de sucesso Barack Obama em 2008,

que revolucionou o uso da internet e das mídias sociais na campanha eleitoral dos

Estados Unidos e do mundo (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009; LOCK,

BALDISSERA, 2010) com uma proposta inovadora de convergência de conteúdo e

atuação em rede, os olhos da academia e dos marqueteiros responsáveis por alavancar a

popularidade e a imagem de candidatos voltaram-se a essa nova forma de divulgação. O

que aconteceu foi a adaptação de uma ferramenta antes vista como uma ferramenta de

relacionamentos à comunicação política, e emerge dessa constatação um

questionamento sobre a aplicabilidade ou não de tal resultado em outras plataformas

tecnológicas, épocas e nações.

Isso porque os estudos sobre marketing político e campanhas na internet

adentram somente no campo das redes sociais – especialmente Facebook, Twitter,

Instagram e YouTube – e dos sites de campanha, que são as plataformas mais utilizadas

e com números concretos e consideráveis vindos de pesquisas anteriores, deixando de

fora uma possibilidade que já é considerada pela área da tecnologia como uma cultura

61

Jornalista, mestrando no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (PPGCOM/UFPR), na linha de pesquisa em Comunicação, Política e Atores Coletivos. [email protected]

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própria (GOGGIN, 2011): os aplicativos direcionados a dispositivos móveis, sejam eles

tablets ou smartphones.

O objetivo do presente artigo é catalogar e analisar os aplicativos para o sistema

operacional Android utilizados como ferramenta de campanha nas eleições de 2014 no

Brasil para cargos executivos e legislativos. De posse dos dados, pretende-se refletir

sobre a efetividade dessas ferramentas de busca por votos, além de possibilidades de

uso de tais produtos e serviços em futuros pleitos nacionais.

O processo de criação e idealização do presente trabalho ocorreu durante

discussões acerca do marketing eleitoral na internet, em um misto de curiosidade e

vislumbre de possibilidade sobre o uso de aplicativos nas eleições de 2014, logo após o

final do primeiro turno. Ao levar a questão para a sala de aula, obteve-se somente uma

resposta positiva, mas ainda abstrata, no sentido de “há um certo candidato utilizando,

talvez até outros, mas poucos detalhes a respeito”. Tal comentário, que confirmava a

existência de um objeto de pesquisa e da falta de interesse (porém não da relevância)

gerado pelo tema, serviu como pontapé inicial para o desenvolvimento da pesquisa.

Na seção metodológica, que consiste em uma tabela comparativa, são levados em

conta dados como análise de conteúdo, número de downloads (ou seja, popularidade e

possibilidade de sucesso) e, já em um campo qualitativo, a avaliação da interface

estrutural e do conteúdo veiculado pelos aplicativos. As demais seções que antecedem à

análise em si, dedicadas a um breve histórico sobre a campanha digital online no Brasil e

ao mercado atual do sistema operacional móvel Android no país, servem não só como

reforços teóricos e metodológicos, mas também como justificativa para a realização do

presente trabalho.

1. Internet e dispositivos móveis em campanhas eleitorais

Ainda não há o desenvolvimento de uma vasta teoria do uso político e eleitoral de

aplicativos para dispositivos móveis. Apesar de certos artigos e capítulos já analisarem

casos isolados e ainda não tão relevantes desde 2009 (WALTON, DONNER, 2011), a

literatura analisada a seguir coincide com o trabalho positivo do novo marketing político e

eleitoral desenvolvido para a era digital, além do uso da internet em campanhas eleitorais.

Assume-se, portanto, que os conceitos aplicados às páginas na internet dos candidatos

em campanha transportem-se ao menos parcialmente aos dispositivos móveis – assim

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como aconteceu durante a transição das estratégias de meios tradicionais, como rádio e

televisão.

A ideia aqui não é recapitular historicamente as campanhas que utilizaram a

internet como meio de divulgação e agregação, mas sim focar nos aplicativos e notar de

que modo a rede de computadores contribuiu na área eleitoral. Casos de sucesso a

serem estudados e comparados não faltam, como o já citado trabalho de Barack Obama

envolvendo sites e redes sociais, garantindo visibilidade ao então senador (LOCK,

BALDISSERA, 2010), e o pioneirismo de Jesse Ventura com os bulletin boards (AGGIO,

2011), hoje equivalentes às páginas do Facebook.

Nota-se, portanto, que junto à popularização da internet para uso acadêmico, lazer

e comunicação, cresceu também o interesse político no veículo. Gradativamente,

campanhas “passam a incorporar pouco a pouco os dispositivos da Web em suas

estratégias de comunicação, ampliando o escopo de ação da equipe de marketing

político” (PENTEADO, 2012, p. 42). Penteado (2012) alega que o marketing político

tradicional altera-se para se adaptar, utilizando as novas ferramentas e o espaço virtual

sob novas perspectivas durante as eleições.

De um modo geral, a internet garante vantagens aos partidos, “facilitando canais

informais de feedback (similares a enquetes mais sistemáticas e grupos de foco),

mobilizando fontes como serviços voluntários e doações financeiras, promovendo

discussão interna e debates sobre propostas políticas” (NORRIS, 2003, p. 26). Ações que

antes exigiriam maior disposição e tempo livre por parte dos eleitores tornam-se

acessíveis, a poucos cliques e segundos de distância. A internet “possibilita uma

informação contínua, ininterrupta e de fontes variadas que podem ser acessadas de

qualquer local e a qualquer hora” (LOCK, BALDISSERA, 2010, p.13). Outro ponto positivo

do uso dessas ferramentas é a facilidade no acesso: os aplicativos de candidatos não

costumam ser pesados, mesmo que carregados de conteúdo escritos, e são bem

visualizados tanto em smartphones quanto tablets, ou seja, qualquer tamanho de tela.

Norris (2003) acredita que a função primária dos sites de campanha vão ao

encontro dos objetivos dos demais veículos de comunicação eleitoral — ou seja, “mirando

informar, persuadir e mobilizar apoio, seja a partir de discursos de liderança, panfletos

eleitorais, textos à imprensa, comerciais pagos de TV, transmissões gratuitas do partido

ou sites partidários” (p. 27). Vale ressaltar que a política norte-americana diferencia-se

bastante da brasileira em seu sistema, por conta de ações como votação facultativa,

doações de campanha, configuração do horário eleitoral e sistema de primárias. Ainda

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assim, as formas de publicidade desenvolvidas nos Estados Unidos estão cada vez mais

presentes nas campanhas eleitorais brasileiras. É o que Albuquerque (1998) chama de

“americanização da política”. Essa discussão alega que o marketing político brasileiro

absorve diversos elementos das eleições norte-americanas, importando técnicas e

linguagens. Junto com características próprias, os partidos transformam o processo

eleitoral e as ações de comunicação.

Aggio (2011) define e analisa dois tópicos que o pesquisador considera questões

chave no estudo de campanhas eleitorais em rede: a interatividade e o ativismo.

1) Interatividade: a possibilidade de construção de ambientes digitais que

possibilitem a interação entre eleitores e, eventualmente, entre estes e os

candidatos.

2) Ativismo: recursos que possibilitem novas formas ou maneiras já

conhecidas, porém otimizadas, de ativismo dentro das campanhas. (p. 179).

No caso dos aplicativos, mesmo antes de realizar a análise dos exemplos das

eleições brasileiras de 2014, é possível afirmar que ambos os pontos estão presentes no

uso de tais ferramentas – independentemente da efetividade. A interatividade se faz

presente na possibilidade de envio de críticas, sugestões e mensagens para o próprio

candidato, função que pode ser adicionada aos softwares móveis no Android. Essa

prática pode não render uma resposta direta, mas a existência de um serviço já indica ao

menos essa possibilidade. A seção de comentários na loja virtual Google Play, plataforma

em que é possível comprar e baixar apps, é outro exemplo de ambiente que proporciona

interação entre eleitores. Ainda assim, como bem afirma Strommer-Galley (2000), ainda

não há uma predileção por interações diretas entre candidatos e eleitores, por motivos

como possibilidade de perder o controle da comunicação, não poder realizar discursos

ambíguos de campanha e elas oprimem a campanha em si, caso a equipe não saiba lidar

corretamente com todos os meios digitais.

Ainda assim, o tipo de interação “humano-humano” é fundamental para a

deliberação pública, que serve para identificar problemas, criar políticas e determinar

como implementar soluções (STROMMER-GALLEY, 2000). Penteado (2012) acredita que

a interatividade “imprime uma lógica comunicativa diferenciada, colocando desafios para o

marketing político, que precisa aprender a se apropriar desse novo espaço e dos novos

dispositivos comunicacionais que produzem formas de interação mais participativa” (p. 41-

42).

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Já o ativismo é identificado quando os aplicativos fornecem plataformas de

disseminação de mensagens durante a campanha, seja na forma de compartilhamento de

postagens ou do apoio em redes sociais ou a partir de mensagens prontas enviadas via

mensagem de texto ou serviços de bate-papo.

Os aplicativos encontram-se também no escopo do que é chamado pós-web

(GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009). Esta é a terceira fase das campanhas que

utilizam a internet — após a proto-web, que ainda descobria o email e só servia como

mecanismo de correspondência, e a web, já com sites de campanha e bancos de dados

(que agregam inclusive doações). Nessa campanha pós-web,

"os conteúdos em páginas web já não são o centro das operações de persuasão e mobilização. Nesse novo padrão, as páginas são principalmente centros distribuidores de tráfego que remetem para sítios de compartilhamento de vídeo ou de fotos, para sítios de relacionamento e para sítios de compartilhamento de atualização online, dentre outras ferramentas on-line, e o modus operandi da campanha é cooperativo, ao par com o espírito da internet 2.0 no que se refere a convocar e pressupor a participação dos internautas na produção dos conteúdos e nos procedimentos de difusão viral de informações e de mobilização" (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009).

No trabalho citado, que conceitua rapidamente as três fases e analisa o caso de

Barack Obama nas eleições presidenciais de 2008, os aplicativos não são citados – tais

produtos ainda não eram tão populares as próprias plataformas mobile ainda não

apresentavam números tão expressivos. Ainda assim, de acordo com a descrição acima,

eles se encaixam perfeitamente na situação do pós-web.

Apesar de serem dignos de tantos elogios, não é correto pensar que os aplicativos

promoverão uma revolução imediata no modo de fazer campanha: Goggin (2011) nota o

potencial cultural dos gadgets, sem deixar de acentuar a falta de estudos relativos ao

tema ao ressaltar que na área “há falta de trabalho desenvolvido e compreensão sábia,

parte por conta do reino historicamente especializado da tecnologia da telecomunicação e

das políticas de mídia, das quais os dispositivos móveis derivam” (p. 155).

O caso analisado por Donner e Walton (2011) pode ser considerado um dos

pioneiros no setor. Objeto de estudo da dupla, a campanha da África do Sul nas eleições

de 2009 reserva algumas semelhanças adicionais com o Brasil. Em diferentes

proporções, o país africano também convive com desigualdade social ao mesmo tempo

em que é um polo de tecnologia e startups (pequenas empresas). Naquele período, as

comunicações por dispositivos móveis ainda engatinhavam em uso e eram restritas a uma

pequena parcela da população com maior poder aquisitivo — e sites móveis de

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campanha, aplicativos mensageiros e redes sociais dominavam a comunicação eleitoral.

Programas relativos aos próprios candidatos, entretanto, sequer foram citados na

pesquisa. Tal comparação ajuda a indicar que a tendência de “americanização”, ao

menos para o lado da internet móvel, parece caminhar a passos largos para acontecer em

vários cantos do mundo.

Em uma pesquisa feita em 2012 sobre as eleições do mesmo ano nos Estados

Unidos, Duggan e Smith notam que aplicativos de celular não se mostraram efetivos ao

conectar candidatos, partidos e grupos de eleitores. De acordo com o levantamento feito

pela dupla, 45% dos norte-americanos com direito a voto usam apps, mas só 8% “usam

programas relacionados a um candidato, partido ou grupo de interesse para conseguir

informações sobre a campanha durante a temporada eleitoral” (p. 2). Mas, se a

popularidade de aplicativos ainda é relativamente baixa, a pesquisa nota que há uma alta

taxa de uso de celulares para verificação ou postagem de comentários em redes sociais

(45% e 18%, respectivamente), checagem sobre a veracidade de informações sobre

candidatos (35%) e busca por notícias e informações atualizadas do pleito (27%).

De uma forma ideal, esses aplicativos não devem ser usados somente como uma

reprodução em telas menores de um conteúdo já existente, apostando em originalidade e

conteúdos direcionados ao mobile. Ou seja, servir “não apenas como uma adaptação da

propaganda da TV e dos jornais, mas potencializar ao máximo suas capacidades

comunicacionais, tornando-a uma ferramenta de engajamento, colaboração e participação

política” (LOCK, BALDISSERA, 2010, p. 9).

Ainda na campanha norte-americana entre Barack Obama (candidato à reeleição)

e Mitt Romney (representante da oposição selecionado pelos republicanos), o uso de

aplicativos foi bastante notável. O curioso é notar como as estratégias adotadas foram

diferentes, apesar de ambos reconhecerem a importância e a possibilidade de uso dessas

plataformas. De acordo com a análise de Petronzio (2012), o maior investimento

surpreendentemente foi feito pelo candidato republicano: além de gastos com publicidade

posicionada nas plataformas Android e iOS, foram lançados os aplicativos Mitt, Mitt's VP,

Romney-Ryan e Mitt Events. Essa prática de lançar mais de um app por candidato,

preferindo segmentar as funções em vez de lançar somente um software agregador, foi

pouco adotada no Brasil, como mostrará a pesquisa a seguir. Obama apostou nos

aplicativos Dashboard (uma forma de procurar formas de ativismo) e Obama for America

(informações sobre o candidato e possibilidades de interação). Apesar da menor

quantidade, foi o que mais arrecadou com aplicativos móveis – e saiu vitorioso na eleição.

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Paralela aos aplicativos dos dois candidatos, a plataforma Mobile Politics, também

lançada para dispositivos móveis, serviu como ponte principal naquele ano entre

candidatos e eleitores. O serviço também recolheu dados importantes, como o fato de que

80 milhões de pessoas nos Estados Unidos acessariam informações políticas críticas na

tomada de decisão de voto via smartphones (PETRONZIO, 2012).

No Brasil, a utilização de aplicativos mobile foi usada de forma pouco chamativa ou

até inexistente nas eleições de 2010, já que não há registros dessa atividade — os

próprios dispositivos necessários para reproduzi-los, como tablets e smartphones, ainda

eram pouco populares e de preço nada acessível. Já o uso da internet em si também

começou tardiamente, mas já mostra sinais de progresso. Impulsionados pelo efeito

Obama, Ao quantificar e qualificar o uso de mídias sociais, sites e outras plataformas

online de interação entre candidatos e eleitores no pleito nacional de 2010, Braga (2011)

notou que, "embora utilizadas num estágio ainda embrionário (...), as ferramentas

disponibilizadas pelas novas tecnologias aos candidatos indicam potencialidades e

tendências futuras que muito provavelmente devem se concretizar nos próximos pleitos

eleitorais" (p. 72). A existência cada vez maior de candidatos com contas ativas em sites

como Twitter e Facebook, além dos aplicativos a serem analisados neste trabalho, são

evidências favoráveis à evolução citada.

2. Android, um mercado em ascensão

O sistema operacional móvel da Google, batizado de Android, foi escolhido como

única fonte de análise do presente trabalho por uma série de motivos a serem

desenvolvidos nesta seção, como o fato de ser a plataforma mais vendida no Brasil (e no

mundo, apesar de não dominar o ranking de todos os países) e por conta da facilidade no

desenvolvimento e postagem de programas na loja oficial. Foram preteridos o iOS, da

Apple, e o Windows Phone, da Microsoft.

A preferência é comprovada em pesquisas de institutos como o IDC Brasil.

Tomando como base os relatórios mais recentes62, o mercado de tablets e smartphones

com sistema operacional Android já está consolidado no Brasil e no mundo, com as

vendas em uma constante ascensão. No país, em agosto de 2014, 92% dos smartphones

vendidos eram Android. Os 8% restantes são divididos entre o Windows Phone, que em

62 Números completos disponíveis em: http://www.idcbrasil.com.br/releases/news.aspx?id=1730)

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fevereiro estava na segunda colocação, o iOS, que costuma crescer no último trimestre,

com o lançamento de uma nova geração de iPhones, e os feature phones, que são

celulares que até possuem acesso à internet, mas funções bem menos limitadas e um

sistema operacional rudimentar.

Ainda de acordo com dados do IDC Brasil63, no segundo período de abril e junho

de 2014, foram vendidos 13,3 milhões de smartphones, um aumento de 22% em relação

ao mesmo período do ano passado. Mais de 90% dos aparelhos funciona a partir do

sistema operacional citado. A venda de phablets, que são dispositivos intermediários

entre os tablets e os celulares (por polegadas), também está em alta: até 5 milhões de

unidades devem ser vendidas em 2014. Os tablets foram os únicos aparelhos que

sofreram uma redução nas vendas trimestrais, caindo 12% do primeiro para o segundo,

mas com ascensão semestral de 21% em relação a 2013. Tal relato tem explicação: a

Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, impulsionou a venda de aparelhos como

televisores e celulares — e agora, passado o torneio, os números devem retornar à

normalidade de crescimento

Outro argumento incentivador ao uso de aplicativos na campanha está no período

diário dedicado ao uso dos dispositivos móveis, que passou a ser mais intenso: ele não é

mais somente um aparelho para efetuar ou receber ligações ou enviar mensagens em

SMS. Com os aplicativos e a possibilidade de acessar email e sites da internet, torna-se

uma verdadeira central de trabalho, comunicação e entretenimento. O desenvolvimento

dos hardwares, isto é, a melhoria na potência de processadores e quantidade de memória

RAM, entre outros componentes, permite ainda mais espaço, poder e flexibilidade para o

desenvolvimento de softwares (GOGGIN, 2011, p. 150. Tradução nossa).

Tal uso da internet em celulares é um grande potencial a ser explorado,

especialmente entre a população mais jovem. Os dados discutidos a seguir foram

retirados do relatório Juventude Conectada64, da Fundação Telefônica Vivo em parceria

com o IBOPE, o Instituo Paulo Montenegro e o Núcleo das Novas Tecnologias da

Comunicação Aplicadas à Educação Escola do Futuro-USP. Ela entrevistou 1.440 jovens

de 16 a 24 anos a partir de um questionário sobre hábitos de uso da rede. A pesquisa foi

realizada de setembro a outubro de 2013. O telefone celular é o equipamento preferencial

de acesso à internet. A conexão é intensamente utilizada por jovens de todas as classes

63

A pesquisa completa pode ser acessada em: http://br.idclatin.com/releases/news.aspx?id=1713 64

A pesquisa completa pode ser acessada em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Sete-em-

cada-dez-jovens-acessam-internet-pelo-celular.aspx

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socioeconômicas (42% dos brasileiros). Ainda de acordo com a mesma pesquisa, lazer e

atividades de comunicação são as ações cotidianas preferenciais dos jovens na internet.

Ainda assim, 40% dos entrevistados faz pesquisas sobre informações em geral

diariamente ou em quase todos os diase 36%. A política também é um interesse

constante — ou ao menos reconhecido — pela faixa pesquisada. Na pesquisa, 64% dos

jovens responderam que concordam totalmente ou parcialmente com o item “Procuro

aprender sobre causas sociais, ambientais e políticas pela internet”.

Vale ressaltar ainda uma das vantagens dos tablets e smartphones em relação à

internet de computadores de mesa ou laptops, a portabilidade: com uma conexão WiFi ou

um plano de dados de operadoras (2G, 3G ou 4G), é possível acessar a loja digital da

Google Play e efetuar o download de novos aplicativos — sendo que vários podem ser

acessados sem precisar de uma rede. Essa é a máxima do que Goggin (2011) chama de

“computação ubíqua”, que significa uma ligação constante e onipresente com redes

eletrônicas. Mas, se por um lado, tal possibilidade resulta em “profundas ramificações

socioculturais” (p. 149), ainda há muito trabalho a ser feito: o mesmo autor acredita que a

infraestrutura de mídias móveis ainda é “bagunçada, parcial e contingente” (IDEM, p.

149).

Goggin (2011) acredita que a computação ubíqua não trará tantas funções e

informações novas. O trabalho da conexão ininterrupta é fazer com que as tarefas sejam

executadas de forma fácil e rápida, exigindo menor esforço por parte dos usuários – o que

já é uma grande diferença. A comparação é com o computador pessoal, que trouxe uma

série de maneiras renovadas de realizar tarefas como escrever textos e entreter-se com

jogos, porém sob uma nova dinâmica.

Porém, o mercado de dispositivos móveis não é formado somente por pontos

positivos – caso contrário absolutamente todos os candidatos seriam donos de um

aplicativo na Google Play e todos seriam bem-sucedidos, o que não é o caso, como será

confirmado a seguir. Além do já citado alcance ainda limitado da população, alguns

obstáculos no desenvolvimento podem impedir a produção desses programas ou

convencer partidos e candidatos a não adotarem tal prática na campanha.

É claro que, assim como no caso dos sites de campanha (NORRIS, 2003), é

possível que voluntários realizem sem custos o desenvolvimento do aplicativo, embora

seja necessário um conhecimento bastante específico da plataforma para que o resultado

seja de qualidade e a manutenção, se possível, aconteça de modo constante. Essa,

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entretanto, pode ser uma alternativa viável para partidos de menor poder aquisitivo ou que

não recebam altas quantias privadas de financiamento de campanha.

Enquanto a popularização dos aplicativos de candidatos parece não ocorrer, ao

menos os dispositivos móveis marcam presença na campanha eleitoral. O mensageiro

WhatsApp, que permite a troca de mensagens de texto ou multimídia sem custos (exceto

o plano de internet móvel ou WiFi) foi bastante utilizado para campanha, incluindo a

prática de spam, disseminação de correntes e chamados ao voto. Além disso,

ferramentas para tablets e smartphones de cunho eleitoral atingiram sucesso relativo na

loja virtual. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou o aplicativo Apuração Eleições

2014 65 para que brasileiros acompanhassem a divulgação dos resultados durante os dois

turnos do pleito. O aplicativo teve entre 1 milhão e 5 milhões de downloads na Google

Play.

Mas o valor pode ser considerado baixo, se comparados aos serviços de maior

sucesso na plataforma. Essencialmente voltado ao público brasileiro, o aplicativo de rádio

e reprodução de áudios Palco MP3 possui entre 10 milhoes e 50 milhões de downloads.

Já o WhatsApp, que é o mensageiro mais utilizado da plataforma Android, contabiliza de

500 milhões a 1 bilhão de downloads.

3. Os aplicativos de candidatos nas Eleições 2014

Esta seção metodológica consiste em uma tabela quantitativa com dados relativos

aos aplicativos lançados pelos candidatos às eleições brasileiras de 2014 na plataforma

Android. Com o objetivo de limitar o escopo da pesquisa, optou-se por catalogar somente

os produtos individuais e oficiais de candidatos, excluindo softwares móveis de partidos e

eventuais produtos de eleitores sem relação com a campanha.

Para a produção da tabela, foi realizada uma coleta de dados pelo site da Google

Play, a loja oficial de aplicativos para Android, em pesquisa realizada pelo autor. A

pesquisa foi efetuada sob o termo “deputado federal”, sendo que toda a rolagem da tela

foi efetuada com o objetivo de utilizar todos os elementos filtrados pela busca. Tal método

é efetivo não só para o caso de aplicativos com o cargo no nome, como “Deputado

Federal Hugo Leal”, mas também quando as duas palavras aparecem somente na

descrição do produto. No caso dos presidenciáveis e candidatos ao Senado, devido ao

65

Disponível para download em https://play.google.com/store/apps/details?id=br.jus.trese.divulga&hl=pt_BR

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150

menor número de envolvidos, a pesquisa deu-se nominalmente, ou seja, ao procurar pelo

nome de cada candidato. A partir dos primeiros resultados obtidos, obteve-se um acervo

já considerável de exemplos – e, na seção relativa aos desenvolvedores (com outros

trabalhos realizados por eles) e nos aplicativos sugeridos (naturalmente ligados às

eleições), foi possível encontrar ainda mais resultados.

Em uma análise prévia, verificou-se uma série de semelhanças entre os aplicativos

feitos pelos mesmos desenvolvedores. Por conta da alta quantidade de programas

coletados, decidiu-se por uma tabela limitada: um exemplo de cada desenvolvedor foi

selecionado já que os produtos criados pelo mesmo profissional diferem muito pouco

entre si, tornando a análise individual algo redundante. Quando a programação é feita por

uma mesma empresa, eles variam somente em dois aspectos: a) a identidade visual, que

envolve o nome, as cores (normalmente relacionados ao partido) e a foto do candidato; b)

o conteúdo, com as devidas propostas, a biografia, os envios multimídia e as

possibilidades de contato – no caso de exceções, elas serão contabilizadas e

posteriormente desenvolvidas. A título de curiosidade e documentação, é possível

consultar a lista completa da pesquisa com todos os aplicativos obtidos na seção de

Anexos deste trabalho.

Os parâmetros dispostos na tabela envolvem as seguintes informações: o nome do

candidato, o partido político, o cargo desejado, o estado da candidatura, o número de

downloads na Google Play, a contagem de avaliações e comentários na loja, o espaço

que o aplicativo ocupa na memória do dispositivo, o conteúdo disponibilizado nos ícones

clicáveis e o contato em outras plataformas digitais.

Ao todo, foram coletados 64 aplicativos de Android. A divisão dos aplicativos por

cargos é a seguinte: 48 sobre deputados federais, 10 sobre senadores e 6 relativos a

candidatos à presidência. Nota-se, portanto, que a quantidade de deputados federais com

aplicativos é maior – algo esperado, por conta do maior número de candidatos totais. Já

os postulantes à presidência da República praticamente ignoraram tal plataforma,

enquanto o número de senadores com aplicativos na Google Play também é baixo, porém

em maior proporção.

As categorias foram selecionadas com base em uma análise prévia das páginas de

aplicativos, de acordo com a relevância dos conteúdos a serem analisados. Dados de

identificação básicos (nome do aplicativo, desenvolvedor, partido e Estado do candidato)

foram escolhidos para catalogar cada ferramenta. As categorias quantidade de downloads

e interações – avaliações e comentários na página da Google Play – foram selecionadas

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151

para notar a recepção do público ao serviço e o sucesso do produto. Por fim, uma

descrição das seções e os contatos disponíveis no aplicativo é necessária para uma

análise mais elaborada dos conteúdos presentes. Para a catalogação, cada aplicativo foi

instalado em um smartphone e devidamente consultado.

Partidos de maior verba e maior representatividade na câmara são os que mais

estão presentes no mercado de dispositivos móveis, ao menos nos cargos pesquisados.

Já aqueles de posicionamento característico de esquerda (PSTU, PCB, entre outros),

direita (PROS) e de baixa ou nenhuma participação legislativa (PRTB, PSDC e demais)

estão ausentes desse segmento ou com participação mínima – o que indica a

transposição dos mesmos valores da política tradicional para a política online, sem a tão

desejada igualdade e paridade de participantes na rede.

Há o reconhecimento de que a coleta não representa a totalidade dos aplicativos

existentes no Brasil relativos aos candidatos às Eleições 2014, já que nem todos os

programas podem ser encontrados pelo método de busca realizado. Ainda assim, os

métodos de pesquisa são capazes de filtrar os apps por popularidade – ou seja, aqueles

que não foram atingidos pela coleta são praticamente irrelevantes no cenário estudado.

No caso dos candidatos à presidência da República, foi detectada uma baixa

presença dos políticos. Curiosamente, os dois candidatos que possuem participação entre

os aplicativos para Android, Aécio Neves e Marina Silva, cunharam a campanha

baseando-se em pretextos de mudança e renovação – o tucano para vencer a candidata

à reeleição, Dilma Rousseff, e Marina sob ideais do que ela conceitua como “nova

política”.

Tab. 1 – Os aplicativos para Android dos candidatos à presidência do Brasil em 2014

Candidato Partido / Estado

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Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

152

Aécio 45 Realidade

Aumentada

PSDB 100 a 500 11 / 6 20 MB Ohmar Tacla Realidade Aumentada

Nenhum

Marina Silva 40

PSB 1.000 a 5.000

134 / 55 0,67 MB Blu Sky Aplicativos

Sobre Marina, Conheça o

Beto,

Twitter, Facebook,

Presidente Plano de Governo, Deixe seu Recado, Agenda, Canal de

vídeos, Sites e Links, Apoio

40, Desenvolvedor,

Compartilhe

YouTube, site oficial,

e-mail, telefone

Prog. De Governo Marina Silva

PSB 100 a 500 11 / 4 1,9 MB VirtualPape Início, Acervo, Baixados, Opções

Nenhum

Clique 40 PSB 1.000 a 5.000

201 / 68 6,9 MB R8 Tecnologia Fotos, Galeria 40

Facebook, Instagram,

Twitter, WhatsApp

Fonte: Google Play e produção do autor

Em ambos os casos, não foram encontrados somente um aplicativo oficial, mas sim

uma série de ferramentas com funções diferentes. Tanto Aécio quanto Marina Silva

possuem serviços em separado para compartilhamento de fotos, lazer ou consulta ao

programa de governo. Essa estratégia, embora ocupe mais espaço no aparelho, é

interessante por fazer com que uma verdadeira rede de softwares seja desenvolvida em

torno do candidato.

Os candidatos ao Senado estão em um meio termo. A quantidade de candidatos

com aplicativos é baixa (somente 5,4% do total) e, desta vez, é identificado o padrão

visual e estrutural nos serviços oferecidos – ou seja, propostas, biografia do candidato,

conteúdo multimídia e possibilidades de contato.

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Tab. 2 - Os aplicativos para Android dos candidatos ao Senado no Brasil em 2014

Candidato Partido/

Estado Downloads

Avaliações/

Comentários Tamanho Desenvolvedor Conteúdo Contato

E o Bernal?

(Alcides Bernal)

PP/MS 100 a 500 9 / 5 7,4 MB Geleia.Mob Apps Alcides Bernal, Bernal e VC

Nenhum

Espalhe

133 (Lucélio

Cartaxo)

PT/PB 10 a 50 5 / 0 0,96 MB Midia Sync Nenhum

(apagado após as eleições)

Nenhum

(apagado após as eleições)

Fátima131 (Fátima

Bezerra)

PT/RN 100 a 500 26 / 7 4 MB Ideia Software #Compartilhe Nenhum

Magela 133

(Geraldo Magela)

PT/DF 50 a 100 5 / 3 21 MB Pepper Interativa Magela, Bandeiras,

Notícias, TV Magela 133, Agenda, Colabore, Materiais de

campanha, Ouça o jingle

Facebook, Twittr,

Flickr, Instagram, YouTube,

site

Marcelo Serafim

PSB/AM 1 a 5 1 / 1 10 MB Márcio Heli & Diogo Said

Perfil, Fotos, Você no mandato, Gabinete, Links importantes,

Vídeos

Facebook, Twitter, telefone

Neucimar

22 (Neucimar

Fraga)

PV/ES 50 a 100 2 / 1 3,5 MB SAMUS Início, Perfil,

Multimídia, Participe

Twitter, Facebook

Romário PSB/RJ 1.000 a 5.000

112/46 4 MB Traki Mobile Home, Agenda, Notícias,

Participe

Twitter, Facebook,

Instagram, Flick,

YouTube

Ronaldo Caiado

DEM/GO 10 a 50 10 / 8 10 MB Twopix Tecnologia Home, Notícias, Projetos Facebook, Twitter,

Flickr,

Instagram, YouTube,

telefone, email, site

Senador

Gim (Gim Argello)

PTB/DF 100 a 500 16 / 10 9,6 MB MobilizeBrasil.com Sobre, Nossos

Desafios, Perguntas, Lista de

Mensagens

Twitter,

Facebook, Flickr,

YouTube,

site, email

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Todos Pelo

Maranhão (Roberto

Rocha)

PSB/MA 100 a 500 17 /7 3,7 MB Rede6 Todos pelo Maranhão, Perfil dos Candidatos,

Plano de Governo, Envie sua Contribuição,

Candidatos da

Coligação,

Localização de COmitês,

Participe da Campanha, Fotos

e Vídeos, Notícias, A

Coligação, Sobre App

Facebook,

YouTube, Twitter,

Instagram, WhatsApp

Fonte: Google Play e produção do autor

Por fim, no caso de quem disputa vagas a Deputado Federal, a quantidade de

aplicativos identificados é maior – mas a proporção cai consideravelmente, dado ao alto

número de candidatos, com apenas 0,67% dos candidatos presentes na Google Play.

Tab. 3 - Os aplicativos para Android dos candidatos a Deputado Federal no Brasil em 2014

Candidato Partido / Estado

Downloads Avaliações/ Comentários

Tamanho Desenvolvedor Conteúdo Contato

Ademir Camilo

PROS / MG

50 a 100 1 / 0 4 MB Traki Mobile Home, Agenda, Notícias, Participe

Facebook, YouTube, site

Afonso 1200

PDT / RS 10 a 50 7/2 1,9 MB BBM – Broadcast

Mobile Media

O Cidadão Afonso, Propostas

para Mudar, #webcidadao,

#eugostodepolitica, Artigos de

Opinião, Enquetes,

Preferência, Podcasts, Favoritos

Nenhum

Alex Matos Federal

4043

PSB / SP 10 a 50 0 / 0 1,2 MB Streaming Profissional

Jingle Facebook, Site, Twitter

André de Paula 5555

PSD / SP 10 a 50 1/1 4,6 MB Up to Date Eventos

Perfil, Trajetória, Propostas,

Agenda, Deixe seu Recado, Tirar

Fotos, Fotos, Compartilhadas

Site, Facebook, Instagram, YouTube

App da Cris/Cristin

a Félix

PT / PR 100 a 500 22 / 13 13 MB Dreams&Innovati on Ltda.

A Cris, Propostas, Música, Fotos

Facebook, Twitter,

YouTube, WhatsApp,

Email

Arthur Maia SD / BA 10 a 50 3/1 10 MB Mobigap Mobile Home, Ações, Notícias, Perfil, Jingle e Fotos

Facebook, Twitter,

YouTube, Instagram e

Flickr

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Artur Bruno PT / CE 5 a 10 0 / 0 9 MB MobilizeBrasil.co m

Home, Nossos Desafios, Redes (Fotos e Vídeos), Sobre/Notícias,

Cadastro

Twitter, Facebook,

Portal

Aureo 7733 SD / RJ 5 a 10 0 / 0 14 MB Miguel de Souza Carino

Início, Agenda, Projetos,

Propostas, Notícias, Vídeos,

Congressos

Facebook, Instagram,

Twitter, Fale com o Áureo

Dep. Dr. Michel

PP / DF 50 a 100 07/mar 5,7 MB Gabriel Seabra Leis, Vídeos, Fotos,

Compartilhe, 11.190, Notícias,

Agenda

Twitter, Facebook, YouTube Telefone,

Email, Endereço

Dep. Hugo Motta

PMDB/PB

100 a 500 20/jun 11 MB EASYWEB Início, Notícias, Proposições,

Fotos, Sonoras

Facebook, Twitter, Site,

Email, Instagram, Entre em Contato

Deputada Luciana

PC do B/PE

100 a 500 08/mai 9,2 MB MobilizeBrasil.co m

Home, Nossos desafios,

Pergunta e resposta, Contato,

Cadastro

Twitter, Facebook,

Youtube, blog e site mobile

Deputada Jaqueline

PMN/DF 1 a 5 0 / 0 9,4 MB SC 21 Media Notícias, Eventos, Sobre, Rede J,

Checkin, Locais, Postar, Wall

Email, Twitter, Facebook,

Site, Telefone, Endereço

Deputado Antonio

Elisandro

PSB / RS 50 a 100 05/mar 4,6 MB Disk Cidadão Biografia, Agenda, Notícias, Projetos,

Vídeos

Skype, Facebook,

Twitter

Deputado Arolde de Oliveira

PSD / 100 a 500 02/jan 4,7 MB VELASCO TI Perfil, Redes (Fotos, Vídeos), Notícias, Indique

Twitter, Facebook, site

e blog

Deputado Arthur Maia

SD / BA 10 a 50 0 / 0 2,3 MB Mobigap Mobile Home, Notícias, Ações, Contato

Twitter, Facebook, YouTube, Telefone,

Email, Endereço

Deputado Federal

Hugo Leal

PROS/RJ

50 a 100 03/fev 5,2 MB Imperion Apps Biografia, Atuação, Notícias,

Saiu na mídia,

Endereço, Email,

Telefone, Site, Twitter,

Facebook

Deputado Jonathan de Jesus

PRB / RR

10 a 50 0 / 0 3,1 MB Traki Mobile Notícias, Ações, Home

Twitter, Facebook,

Youtube, Site, Email,

Telefone, Endereço

Deputado Luiz

Martins

PDT / RJ 10 a 50 4 / 0 5,6 MB Fattoria Web Últimas Notícias, Perfil, Defesa do

Consumidor, Galeria de Fotos,

Vídeos

Twitter, Facebook, YouTube, Formulário

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Deputado Marcon

PT / RS 10 a 50 02/jan 2,9 MB Dionilso Marcon Apresentação, Propostas, Links recomendados, Receba nosso

newsletter e SMS

YouTube,Twitter, Facebook,

site

Deputado Popó

PRB/BA 5 a 10 0 / 0 4 MB Traki Mobile Home, Agenda, Notícias, Participe

Instagram, Flickr,

Facebook, Twitter,

YouTube

Deputado Renzo Braz

PP/MG 10 a 50 0 / 0 5,3 MB INSTAPPS Nenhum Nenhum

Dr. João Deputado Federal

2200

PR / RJ 10 a 50 01/jan 12 MB Rubensjr.com.br

Dr. João, Agenda, Fale Comigo!

Blog, Facebook, Instagram, YouTube

eder mauro 5500

PSD / PA 10 a 50 02/jan 8,2 MB TV Multimídia Biografia, Propostas, Jingle,

TV 5500

Facebook, YouTube,

Flickr

FELIPE CARRERA

S FEDERAL

4004

PSB / PE 10 a 50 1 / 0 4,5 MB Up to Date Eventos

Sobre Felipe, Propostas,

Agenda, Deixe seu recado, Tirar

Fotos, Fotos Compartilhadas

Facebook, Instagram,

Twitter, Flickr

Flávia Morais 1212

PDT /MG 5 a 10 0 / 0 13 MB Art Rio Eventos E Publicidade

Minha História, Fotos, Eventos,

Nosso jingle, Sua Sugestão, Fotos

Facebook, Twitter,

Instagram, YouTube

Gláuber Braga

PSB / RJ 10 a 50 0 / 0 2,1 MB Designtec Comunicação

Biografia, Projetos, Notícias, Opine, Contato,

Projetos, Notícias, Opine, Contato

Facebook, Twitter,

Youtube, Instagram,

Email, Telefone, Endereço

Jerônimo 1313

PP/RS 10 a 50 0 / 0 14 MB Vinicius Zanus Quem é Jerônimo?,

Trajetória Pública, Agronegócio, Combate a Corrupção,

CINDRA, Esporte e Educação,

Questão indígena, Transporte,

Notícias, Jingle, CD: De pai para

filho, Fala, Jerônimo!

Facebook, Twitter,

Instagram, Site, Email, Telefone, Endereço

João Daniel - 1311

PT / SE 50 a 100 08/mai 5,4 MB Junior Moura MST, Perfil, Calendário,

Notícias 1311

Facebook

Joyce Matias -

4099

PSB / DF 10 a 50 0 / 0 2,2 MB SRJ Propostas, Rede, História

Site, Facebook, Youtube,

Instagram, Twitter,

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157

Julio Lopes RJ

PP / RJ 50 a 100 0 / 0 4,5 MB ExpressApps Conheça, Mensagens,

Notícias, Fotografe,

Contato, Galeria, Trens Metrô,

Barca

Facebook, Twitter,

Youtube e Instagram

Marco Antonio Cabral

PMDB/RJ

100 a 500 19/out 7,1 MB Editorall Digital Studio

Perfil, Propostas, Agenda, Notícias,

Fale Comigo, Colabore, Cola,

Compartilhe

Nenhum

MARIO MOREIRA

PSDB/PA

50 a 100 03/jan 1,5 MB TV Multimídia Biografia, Propostas, Fotos, Carta ao Produtor

Facebook, YouTube, site

Mendes Thame

PSDB/SP

50 a 100 0 / 0 5,8 MB Usina de Apps Biografia, Pesquisa, Eventos,

Localização, Mensagens

Facebook, Twitter, Youtube

Paulo Pimenta

PT / RS 100 a 500 13/jul 9,6 MB MobilizeBrasil.co m

Sobre, Nossos Desafios,

Pergunta, Lista de Mensagens, Perfil

Nenhum

Puty PT / PA 50 a 100 0 / 0 9 MB MobilizeBrasil.co m

Home, Nossos desafios, Redes (Fotos e Vídeos), Sobre/Notícias,

Cadastro

Facebook, Twitter, site e

blog

Renato Rabelo

PC do B/BA

10 a 50 03/jan 6,1 MB MobilizeBrasil.co m

Home, Nossos desafios, Contato,

Redes (Fotos e Vídeos),

Sobre/Notícias, Cadastro

Twitter, Facebook, site

Roney Nemer 1515

Federal

PMDB/DF

10 a 50 04/mar 14 MB Cyberh Marketing

Digital

Perfil, Fotos Facebook, Twitter, Site,

Email, Telefone, Endereço

Serginho Cardoso

2025

PSC / SP 10 a 50 3 / 0 3,1 MB José Carlos Siqueira

Realizar é a diferença, Indique

um amigo, Frases, Enquete,

Fale Conosco, Vídeos

Facebook, Twitter,

Google+, LinkedIn,Pinter

est, site, telefone, endereço

SIMPLÍCIO ARAÚJO

7777

SD/MA 50 a 100 03/fev 2,6 MB ALC AGÊNCIA DIGITAL

Conheça, Notícias, Jingles,

Agenda, Informativos, Cadastre-se

Facebook, Twitter,

Instagram, Flickr,

Telefone

Tonho dos Couros 4469

PRP / ES 50 a 100 04/jan 4,9 MB EASTY MEDIA Perfil, Agenda, Multimídia,

Participe, Notícias

Facebook, YouTube,

Twitter

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Vote 4388 Nelson

Bugalho

PV / SP 1 a 5 0 / 0 3,3 MB WIN by NET Agenda, Compartilhe,

Colabore, Vote 4438, Contato

Facebook, site

Walter Ihoshi

PSD / SP 10 a 50 3 / 0 4,9 MB InoveSis Walter Ihoshi, Jingle, Bandeiras defendidas por Walter Ihoshi

Nenhum

Weverton 1212

DF / MA 100 a 500 18/mai 12 MB Igor Leonardo Salomão de

Sousa

Biografia, Notícias, Áudios,

Contato

Twitter, Facebook, Instagram

#Sou1515 PMDB/ RN

100 a 500 22/ago 5,5 MB IdeiaSoftware Agenda, Realizações de

Fafá, Personalize sua foto

Facebook, Instagram,

Twitter

Fonte: Google Play e produção do autor

Os desenvolvedores Traki Mobile e MobilizaBrasil.com foram identificados como os

mais presentes. Esse aspecto é esperado, já que os profissionais que se especializam na

produção de aplicativos para políticos montam um modelo pronto e oferecem o serviço a

candidatos. Por outro lado, a encomenda em massa pode “engessar” o formato das

ferramentas, fazendo com que muitos deles sejam parecidos demais em estrutura, sem

apostar em originalidade ou pontos para convencimento do eleitor, variando somente no

conteúdo.

Nota-se ainda que contratar os serviços de um desenvolvedor que não possua

trabalhos parecidos na área passar a impressão de um serviço amador ou até inacabado,

como é o caso de Marcelo Serafim – a página do aplicativo na Google Play não oferece

informações sobre o conteúdo, mas o serviço em si conta com os mesmos tipos de

conteúdo e contato que a maioria das demais ferramentas. Como resultado, uma

quantidade bastante reduzida de downloads foi realizada em período eleitoral.

4. Conclusão

Ao analisar os dados coletados para o presente artigo, nota-se que o uso de

aplicativos para dispositivos móveis nas Eleições 2014 no Brasil é um mercado possível e

que pode render bons frutos, mas ainda mal utilizado ou pouco aproveitável. O exemplo

encaixa-se na teoria de “americanização da política” descrito por Albuquerque (1998).

Até mesmo os mais populares em downloads e avaliações na Google Play

possuem uma taxa de downloads pouco relevante (especialmente se comparados ao

número total previsto de votos necessários para vencer uma eleição). Além disso, esses

materiais não são exclusivos ou muito otimizados para o mobile, sendo meras

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reproduções dos sites. Levando em conta que o próprio uso de sites de campanha e de

candidaturas podem ter recebido críticas no início do uso justamente por conta da falta de

originalidade da produção de conteúdo, que já era encontrado em mídias tradicionais, é

possível esperar que, se adotados, esses programas de dispositivos móveis adquiram

uma identidade própria com o passar das campanhas e tornem-se um destaque da

campanha eleitoral nas chamadas novas mídias. O mercado do Android já é muito

popular no Brasil e tende a ser ainda maior, o que prova que ele não deve ser ignorado.

Os conteúdos dominantes são os mesmos dos sites de campanha e das redes

sociais, que são formas mais tradicionais de campanhas eleitorais online: a biografia do

candidato, uma lista de propostas, projetos e realizações (caso o político já ocupe ou

tenha ocupado algum cargo), informações de contato, possibilidades de adesão à

campanha ou compartilhamento de mensagens e postagem de fotos, áudios e vídeos da

campanha. Como todos eles estão disponíveis naturalmente na internet, na forma dos

perfis desses candidatos ou na versão mobile das páginas de campanhas, é questionável

se os atuais conteúdos são realmente relevantes para o eleitor, seja ele indeciso ou com

o voto já definido no candidato em questão. As próprias formas de contato são as

mesmas, apostando somente nas redes sociais mais populares do momento, como

Twitter, Facebook, YouTube e Instagram. Para efeitos de comparação, Obama utilizou 16

mídias sociais e criou uma plataforma própria de interações entre eleitores (GOMES,

FERNANDES, REIS, SILVA, 2009).

Portanto, fica a dúvida sobre que tipo de conteúdo criar para ser veiculado

diretamente nos aplicativos. Vários deles já apresentam menos textos que o comum,

aspectos visuais de qualidade e foco em multimídia, mas isso parece não ser o suficiente

para atrair o público. Os jogos e passatempos mostram-se bastante populares na Google

Play, e a criação de uma atividade lúdica e de lazer junto com o setor informativo da

ferramenta pode ser a solução para prender usuários de todas as idades, sejam eles

eleitores ou filhos e netos de eleitores. É questionável, entretanto, se esse tipo de

conteúdo seria levado em conta pelos candidatos, já que pode encarecer o serviço de

desenvolvimento e exigir maior preocupação e cuidado com a ferramenta móvel. Por fim,

a publicização do aplicativo deve ser massiva, tanto em meios online, como nas redes

sociais do candidato, a meios tradicionais massivos, como no Horário Gratuito Público

Eleitoral (HGPE). Ou seja, por mais que a internet queira ser designada como uma “nova

mídia” livre de correntes e interesses dos meios de comunicação de massa, ela pode não

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funcionar separadamente e necessitar de uma divulgação mais ampla para garantir

visibilidade.

Nota-se ainda, a partir de uma análise superficial dos comentários (que envolvem

somente elogios e palavras de apoio), que as pessoas que fazem o download desses

aplicativos já têm alguma intenção política em relação ao candidato, como a garantia do

voto, ou certo grau de aproximação com o candidato e com o partido. Dessa forma, trata-

se de um conteúdo com um horizonte muito limitado de transmissão de mensagens e

aproximação dos eleitores, capturando e convencendo somente quem já estava parcial ou

totalmente decidido em relação às eleições – é o que Pippa Norris (2003) fala sobre

“pregar aos convertidos”. Dificilmente, eleitores indecisos buscariam nos aplicativos os

dados sobre biografia, propostas e realizações de vários candidatos para efeitos

comparativos, já que veículos tradicionais (o Horário Gratuito Político Eleitoral no rádio ou

na televisão, os sites de campanha ou do candidato e as redes sociais) têm notável

preferência. Ainda assim, a autora argumenta que os efeitos não são somente negativos,

já que essas plataformas podem ser usadas para que uma base eleitoral definida discuta

estratégias e dê continuidade às mobilizações e ações de comunicação. Não é possível

definir se isso acontece nos aplicativos para Android dessas eleições, mas a possibilidade

da autora não deve ser descartada. Ainda assim, não há como concluir se a prática dos

aplicativos será popularizada nas próximas eleições (regionais, de 2016, ou nacionais, de

2018), se a quantidade de downloads aumentará ou se tais ferramentas terão uma

importância vital no convencimento do eleitorado. Porém, a popularização dos sistemas

Android e a já existência desse serviço no período eleitoral de 2014 já indica que eles ao

menos estarão presentes, em menor ou menor quantidade e relevância.

Referências

AGGIO, Camilo. Internet, Eleições e Participação: Questões-chave acerca da participação e do ativismo nos estudos em campanhas online. In: MAIA, Rousiley C. M.; GOMES, Wilson; MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida (Org.). Internet e Participação Política no Brasil. Porto Alegre: Editora Sulina, 2011, p. 175-193.

ALBUQUERQUE, A. “Spots Políticos: Americanização da Propaganda Política Brasileira?”, In: Textos de Cultura e Comunicação (39). Salvador, dezembro de 1998, pp. 113-31.

BRAGA, Sérgio. O uso da Internet nas campanhas eleitorais: o balanço do debate e algumas evidências sobre o Brasil. In: REVISTA USP, São Paulo, n.90, p. 58-73, junho/agosto 2011.

GOGGIN, Gerard. Ubiquitous apps: politics of openness in global mobile cultures. In: Digital Creativity, 22:3, 2011, p. 148-159

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GOMES, WILSON; FERNANDES, Breno; REIS, Lucas; SILVA, Tarcizio. "Politics 2.0": A campanha on-line de Barack Obama em 2008. In: Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 29-43, out. 2009

LOCK, Matheus, BALDISSERA, Rudimar. Comunicação política on-line: estratégias de administração da visibilidade no ambiente da Web 2.0. In: IV Congresso Brasileiro Científico de Comunocação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp). 20 a 22 de maio, Porto Alegre-RS, 2010

NORRIS, Pippa. Preaching to the Converted?: Pluralism, Participation and Party Websites. In: Party Politics vol. 9, nº 1, 2003, p. 21-45.

PENTEADO, Claudio Luis de Camargo. Facebook e campanha eleitoral digital. In: Revista Debate, Belo Horizonte, v.4, n.4, jul. 2012, p.41-53.

_______________________________. Marketing político na era digital: perspectivas e possibilidades In: Revista USP, São Paulo, nº 90, p. 6-23, junho/agosto 2011.

PETRONZIO, Matt. The Rise of Mobile in Election 2012. Disponível em: <http://mashable.com/2012/10/02/mobile-election-2012>. Acesso em 29 de outubro de 2014.

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WALTON, Marion, DONNER, Jonathan. Mobile-mediated Publics in South Africa's 2009 Election. In: Mobile Communication: Dimensions of Social Policy / James E. Katz (org.). New Jersey: Transaction Publisher, 2011.

Outras referências

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SMITH, Aaron, DUGGAN, Maeve. The State of the 2012 Election - Mobile Politics. Disponível em: <http://pewinternet.org/Reports/2012/Election-2012-Mobile.aspx>. Acesso em 29 de outubro de 2014.

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