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III REUNIÃO EQUATORIAL DE ANTROPOLOGIA (REA) XII REUNIÃO DE ANTROPÓLOGOS NORTE E NORDESTE (ABANNE) “DIÁLOGOS INTERCULTURAIS NA PAN-AMAZÔNIA” PERÍODO: 14, 15, 16 e 17 de agosto de 2011 LOCAL: Universidade Federal de Roraima (UFRR)

Anais Iiirea Xii Abanne Numerado

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III REUNIÃO EQUATORIAL DE ANTROPOLOGIA (REA)

XII REUNIÃO DE ANTROPÓLOGOS NORTE E NORDESTE (ABANNE)

“DIÁLOGOS INTERCULTURAIS NA PAN-AMAZÔNIA”

PERÍODO: 14, 15, 16 e 17 de agosto de 2011

LOCAL: Universidade Federal de Roraima (UFRR)

COMISSÃO ORGANIZADORAProf. Carlos Alberto Marinho Cirino (Presidente)

Prof.ª Carmen Lúcia Silva LimaProf. José Carlos Franco de Lima

Prof. José Francisco Luitgards MouraProf. Marcos Antonio Braga Freitas

Prof. Marcos Antonio PellegriniProf.ª Marisa Barbosa Araujo Luna

Prof. Mauricio Elias ZoueinProf. Maxim Paolo Repetto Carreno

Prof.ª Olendina de Carvalho CavalcanteProfª Maria Alejandra Rosales

COMISSÃO REGIONALRodrigo de Azevedo GrunewaldElizabeth Maria Beserra Coelho

Julio Antoinette CavignacOdair Giraldin

Fabiano de Souza GontijoEsabelle Braz Peixoto da Silva

Jane Felipe BeltrãoFrank Nilton Marcon

Deise Lucy Oliveira MontardoFátima Regina Gomes Tavares

Cíntia Beatriz MullerCarlos Guilherme Octaviano do Valle

Jonatas Silva MenesesRenato Monteiro Athias

Silvia Aguiar Carneiro Martins Gilton Mendes dos Santos

Mariana Ciavatta Pantoja FrancoJosé Augusto Laranjeiras Sampaio

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA – UFRR

Reitor: Dr. Roberto RamosEndereço: Av. Ene Garcez, nº 2413, Bairro Aeroporto, CEP: 69304-000,

Boa Vista/RR.

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRRPró-Reitor: Dr. Luiz Alberto Pessoni

Pró-Reitoria de ExtensãoPró-Reitora: Profª. Msc. Geyza Alves Pimentel

Diretor de Pós-Graduação: Prof. Dr. Alberto Moura de Castro Núcleo Histórico Socioambiental - NUHSA

Coordenador: Dr. Carlos Alberto Marinho CirinoDepartamento de Antropologia

Coordenadora: Carmen Lucia Silva Lima

COMISSÃO CIENTÍFICACarlos Alberto Marinho Cirino (UFRR)José Augusto Laranjeiras Sampaio (UNEB)Max Maranhão Priosky Aires (UECE)Orlando Sampaio Silva (UFPA)Peter W. Schroeder (UFPE)Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFAM)Vânia Rocha Fialho de Paiva e Souza (UPE)

PROJETO GRÁFICO EDIAGRAMAÇÃO ELETRÔNICAHefrayn Lopes

CRIAÇÃO DE CAPAMaurício Zouein

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SUM

ÁR

IO

4 | APRESENTAÇÃO

5 | PROGRAMAÇÃO

6 | CONFERÊNCIAS

6 | MESAS REDONDAS

9 | FÓRUNS

11 | MINI CURSOS

13 | GRUPOS DE TRABALHOS

Há cerca de um ano, realizamos o I Encontro de Antropologia da UFRR, ocasião em

que a direção da Associação Brasileira de Antropologia – ABA se fez presente e, naquele

momento, surgiu a possibilidade de sediarmos a III Reunião Equatorial de

Antropologia/REA e a XIII Reunião de Antropólogos do Norte e Nordeste/Abanne. O

convite, no entanto, só foi formalizado depois da 27ª Reunião Brasileira de Antropologia

ocorrida no mesmo ano em Belém.

Para a Universidade Federal de Roraima e, especificamente, o Departamento de

Antropologia da UFRR era um desafio, considerando algumas peculiaridades na sua

realização, entre elas a superação da distância em relação a outros centros e regiões. Por

sua vez, a UFRR, criada há vinte dois anos, já oferecia condições estruturais para sediar

um evento dessa magnitude. No início, não pensávamos num evento com o número de

atividades que foram se construindo ao longo de sua organização. Aqui temos presentes

pesquisadores de Programas de Pós-Graduação de quase todos os estados, afora de

países vizinhos. O esforço para trazê-los foi grande.

Com o tema “Diálogos Intrerculturais na Pan-Amazônia”, essa REA e Abanne

buscam promover uma interlocução e produção de conhecimento acerca de temas

diversos, a partir de uma multiplicidade de perspectivas.

A III Reunião Equatorial de Antropologia e XII Reunião de Antropólogos Norte e

Nordeste/Abanne na UFRR marcam também a criação do nosso Instituto de

Antropologia – INAN ocorrida há dois meses, a criação do Curso de Graduação em

Antropologia, iniciado ano passado e um Mestrado Interinstitucional em Antropologia

iniciado uma semana antes desse evento, numa parceira com o Núcleo Histórico

Socioambiental-NUHSA/UFRR, Universidade Federal de Pernambuco-UFPE e Governo

do Estado de Roraima.

Nós, que fizemos parte da organização desse evento, a UFRR e demais parceiros,

desejamos a todos que estão vindo a Roraima um excelente de trabalho.

Comissão OrganizadoraA

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CONFERÊNCIAS

Abertura OficialData: 14/08/11Horário: 18:00 HorasLocal: Auditório do PRONAT

Conferencia 01Bela Feldman-Bianco (Presidente da Associação Brasileira de Antropologia)Entre Ciência e Política: Desafios Atuais da AntropologiaData: 14/08/11Horário: 18:30 HorasLocal: Auditório Auditório do PRONAT

Conferência 02Deborah Duprat (Sub-Procuradora da República)As Comunidades Remanescentes à Luz da Constituição de 1988Data:15/08/11Horário: 18:30 HorasLocal: Auditório Alexandre Borges

Conferência 03Fernando Garcia (Pesquisador Flasco/Ecuador)Del Reconecimiento de los Derechos Colectivos a su Aplicación: El caso de los Pueblos Indígenas y Afro Ecuatorianos. Data: 16/08/11Horário: 18:30Local: Auditório Alexandre Borges

MESAS REDONDAS

Data: 15/08/11 - Horário: 16:00 às 18 Horas

Povos e Comunidades Tradicionais: Etnicidade e Territorialização.Local: Auditório Auditório do PRONAT

Coordenador: Rodrigo de Azeredo Grünewald (UFCG)

Expositores: João Paheco de Oliveira (UFRJ), Henyo Trindade Barretto Filho (IEB) e Alfredo

Wagner Berno de Almeida (UFAM e UEA)

Os Desafios da Pesquisa Educativa Intercultural na América LatinaLocal: Auditório Ciclo BásicoCoordenador: Maxim Repetto (UFRR)Expositores: Maria Bertely (CIESAS – México), Luis Henrique Lopez (PROEIB ANDES – Bolívia; GTZ – Guatemala) e Jurg Gasché (IIAP – Peru)

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Fronteiras, Diálogos e Intervenção Social na Pan-AmazôniaLocal: Auditório Ciclo BásicoCoordenador: Jose Exequiel Basini Rodriguez (UFAM)Expositores: Márcia Regina Calderipe Rufino Farias (UFAM), Nelson Rodríguez Aguirre (Universidad Central de Equador) e Renato Monteiro Athias (UFPE)

Violência, Polícia e Prisão: possibilidades temáticas e metodológicas da pesquisa antropológica.Local: Auditório MedicinaCoordenador: José da Cruz Bispo de Miranda (UESPI)Expositores: Carlos Alberto Máximo Pimenta (UNIFEI), José da Cruz Bispo de Miranda (UESPI) e Milton Júlio de Carvalho Filho (UFBA)

Projetos culturais: interfaces, perspectivas e dilemas.Local: Auditório Ciclo Básico (3)Coordenador: José Carlos Franco de Lima (UFRR)Expositores: Alejandra Astrid Leon Cedeno (UEL) e Rosemeire Almeida (Associação Cornélia MEVH Viegle)

Revitalização de Línguas indígenas na América LatinaLocal: Auditório Alexandre BorgesCoordenador: Bruna Francheto (PPGAS – MN – UFRJ)Expositores: Inge Isichra (Proeibandes – UII), Elder José Lanes (PPGL – UFRR) e Bruna Francheto (PPGAS – MN – UFRJ)

Amazônia Caribenha em Perspectiva MultidisciplinarLocal: Auditório CCHCoordenador: Reginaldo Gomes de Oliveira (UFRR)Expositores: Renate De Bies (Anton de Kom Universitei van Suriname – AdeKUS) e Andrea Idelga Jubithana-Fernand (Anton de Kom Universitei van Suriname - AdeKUS)

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Data: 16/08/11 - Horário: 16:00 às 18 Horas

Ética em pesquisas antropológicasLocal: Auditório PronatCoordenador: Luiz Fernando Duarte (UFRJ)Expositores: Maria Helena Ortolan Matos (UFAM), Luiz Fernando Dias Duarte (UFRJ) e Jane Felipe Beltrão (UFPA)

Política Indigenista e FronteirasLocal: Auditório Ciclo BásicoCoordenador: Edson Damas da Silveira (NECAR)Expositores: Isaias Montanari Junior (UFRR), Helder Girão Barreto (TRF) e Argemiro Procópio Filho (UNB)

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Convívio nos Contatos Internos e Conflitos nos Contatos Externos entre os Povos Indígenas e a Sociedade Inclusiva no Nordeste de RoraimaLocal: Auditório Ciclo BásicoCoordenador: Orlando Sampaio Silva (UFPA)Expositores: Carlos Alberto Marinho Cirino (UFRR) e Roberto Cortez de Souza (UFPA-MPEG)

A etnologia de língua alemã e seu papel histórico para o estudo das culturas indígenas na Amazônia: uma avaliação com base em pesquisas recentesLocal: Auditório CCHCoordenador: Peter Schröder (UFPE)Expositores: Michael Kraus (UFMG), Marco Antonio Gonçalves (UFRJ) e Edwin Reesink (UFPE)

Características clave de las antropologías latinoamericanas en el pasado y el presente: hacia una panorámica comparadaLocal: Auditório MedicinaCoordenador: Fernando Garcia (FLACSO/Ecuador)Expositores: Alfredo Wagner Berno de Almeida (UFAM/ UEA)

As práticas de Perícia Antropológica em situações de conflito envolvendo Comunidades Tradicionais e EtniasLocal: Auditório Aklexandre BorgesCoordenador:Eliane Cantarino O´Dwyer (UFF)Expositores: Aderval Costa Filho (UFMG), Paulo Sérgio Delgado (UFMT) e Andréa Zhouri (UFMG)

Conhecimentos Tradicionais, Biodiversidade e Povos Indígenas na AmazôniaLocal: Auditório HidrosCoordenador: Renato Athias (UFPE)Expositores: Stanford Zent (Lab. Ecologia Humana/ Instituto Venezuelano de Investigaciones Científicas) e Juan Alvaro Echeverri (IMANI/ UNC)

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Data: 17/08/11 - Horário: 16:00 às 18 Horas

Situando o tráfico de pessoas na fronteira Norte do Brasil em perspectivaLocal: Auditório CCHCoordenador: Sidney Antonio da Silva (UFAM)Expositores: Adriana Piscitelli (PAGU/UNICAMP), Rafael da Silva Oliveira (UFRR) e Márcia Maria de Oliveira (UFAM)

Estudos Sobre Religião no N-NE: Estado da Arte e Visibilidade NacionalLocal: Auditório Alexandre BorgesCoordenador: Mísia Lins Reesink (UFPE)Expositores: Heraldo Maués (UFPA), Roberto Motta (UEPB) e Roberta Campos / Mísia Lins Reesink (UFPE)

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Diálogos Norte-Norte na antropologia equatorialLocal: Auditório Hidros Coordenador: Carlos Caroso (UFBA)Expositores: Antonio Motta (UFPE), Margarita Bolaños Arquín (Universidad de Costa Rica) e Maria Eugenia Bozzoli Vargas (Universidad de Costa Rica)

Etnografias da governança global: práticas de desenvolvimento em perspectiva multisituadaLocal: Auditório Ciclo BásicoCoordenadora: Kelly Cristiane da Silva (UNB)Expositores: Karenina Andrade (UFMG), Maria Barroso Hoffmann (UFRJ) e Kelly Cristiane da Silva (UNB)

Patrimônio Cultural e InterculturalidadeLocal: Auditório Ciclo BásicoCoordenadora: Deise Lucy Oliveira Montardo (UFAM)Expositores: Ananda Machado (UFRR), Shirlei Martins dos Santos (UFRR) e Geraldo L. Andrello (UFSCAR)

Unidades de conservação e diálogo com populações tradicionais: estratégias de manutenção da sociobiodiversidade.Local: Auditório PronatCoordenadora: Ana Beatriz Viana Mendes (UFMG)Expositores: Ronaldo Joaquim da Silveira Lobão (UFF), Eliana Simões (Coord. Núcleo de Áreas Marinhas da Fundação Florestal) e Thiago Mota Cardoso (IPE).

Movilizaciones Indígenas en América LatinaLocal: Auditório MedicinaCoordenador: Max Maranhão Piorsky Aires (UECE)Expositores: Miguel A. Bartolomé (INAH/México)Alicia M. Barabas (INAH/ México)

FÓRUNS

Data: 15 a 17/08/11Horário: 14:00 às 16 Horas

1 | Diálogo e multivocalidade na construção do conhecimento arqueológico sobre a Amazônia.Coordenador: Helena P. Lima (UFAM)Debatedores: Eduardo Góes Neves (USP), Carla Gibertoni Carneiro (USP), Bruno Marcos Moraes (UEA), Raoni Maranhão Valle (PPGARQ-MAE-USP), Marcia Bezerra (UFPA), Tereza Parente, Helena P. Lima (UFAM)Local: Auditório Ciclo Básico

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2 | Diálogos Interculturais nas Fronteiras Setentrionais do BrasilCoordenador: Eiiti Sato (UNB)Debatedores: Cleber Batalha Franklin (UFRR), Erick Cavalcanti Linhares Lima (TJ/RR), Haroldo Eurico Amoras dos Santos (UFRR) e Paulo Gilberto Facundes Vizentini (UFRG) Local: Auditório Ciclo Básico

3 | Mobilizações Indígenas ContemporâneasCoordenador: João Pacheco de Oliveira (UFRJ) Debatedores: Carlos Alberto Marinho Cirino (UFRR), Carlos Guilherme O. do Vale (UFRN), Kelly Emanuelly de Oliveira (UFPE) e Paulo Santilli – (UNESP) Local: Auditório Medicina

4 | Antropologias Nacionais em Diálogos TransnacionaisCoordenadores: Antonio Motta (UFPE) e Miriam Pillar Grossi (UFCS) Debatedores: Bela Feldman-Bianco (UNICAMP),Candice Vital (PUC/MG), Carmen Rial (UFSC), Christiano Key Tambascia (PAGU/UNICAMP), Fabienne Wateau (Univ.Nanterre Paris X/Paris), Fernanda Arêas Peixoto (USP), Germán Soprano (Univ. Nacional de la Plata), Gustavo Lins Ribeiro (UNB), Julie Cavignac (UFRN), Priscila Faulhaber Barbosa (MUSEU GOELDI) e Wilson Trajano Filho(UNB)Local: Auditório do CCH

5 | Indígenas na Cidade: Abordagens Multidisciplinares de Diversas SituaçõesCoordenadores: Carmen Lucia Silva Lima (UFRR) e Reginaldo Gomes de Oliveira (UFRR) Debatedores: Priscilla Cardoso Rodrigues (UFRR), Florêncio Almeida Vaz (UFRR), Estevão Martins Palitot (UFPB), Glademir Sales dos Santos (UEA), Raimundo Nonato F. do Nascimento (UFPE) Local: Auditório Ciclo Básico (3)

6 | Diálogos sobre Conflitualidade Social, Territorialidades e Fronteiras.Coordenador: Nashieli Rangel Loera (UNICAMP) Debatedores: Flávia Melo da Cunha (UFAM), Raúl Ortiz Contreras (UNICAMP) e Senilde Alcântara Guanaes – (UNILA) Local: CCH

7 | Mediação e Políticas de ReconhecimentoCoordenadores: José Maurício de P. A. Arruti (PUC/RIO) e Vânia Rocha F. de P. e Souza (UFPE)Debatedores: Rita de Cássia M. Neves (UPE), Paula Montero (USP), Melvina Araújo (UNIFESP), André Figueiredo (UFRJ), Rosa Acevedo Marin (UFPA), César Barreto (UFC), Miriam Hartung (UFSC) e Omar Thomaz (UNICAMP) Local: CCH

8 | Processos Socioculturais nas Fronteiras AmazônicasCoordenador: Francilene dos Santos Rodrigues (UFRR)Debatedores: Helion Povoa Neto (IPPUR-UFRJ), Mariana Cunha Pereira (UFG), José Carlos Alves Pereira (UNICAMP) e Luciana Miranda Costa (UFPA)

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Local: CCH9 | Antropólogos, Antropologias e Barragens: Estudos, Enfoques eContextos Recentes na Pan Amazônia.1ª Sessão: Ciência, planejamento e democracia: Barragens e Antropologia2ª Sessão: Barragens na Amazônia3ª Sessão: Barragens na Pan-AmazôniaCoordenadores: Andréa Zhouri (UFMG), Sonia Maria Barbosa Magalhães (UFPA) e Rosa Elizabeth Acevedo Marin (UFPA) Debatedores: Gustavo Lins Ribeiro (UNB), Edna Castro (NAEA/UFPA), Sonia Magalhães (NCADR/UFPA), João Akira (MPF), Marcelo Peidrafita Iglesias (AEPI/ACRE), Carlos Vainer (IPPUR/UFRJ), Aurélio Vianna (FORD), Ananda Machado (UFRR), Antonio Carlos Magalhães (UFPA), Luis Novoa (UFRR), Stephen Baines (UNB), Henri Acselrad (IPPUR/UFRJ), Alfredo Wagner Berno de Almeida (UFAM), Annelito Wesiyuma (Univ.Ind.Venezuela), Guilherme Carvalho (FASE), Maxim Rapetto (UFRR) e Roberto Guimarães (Peru)Local: Auditório Hidros

10 | Dilemas e Desafios da Formação dos Antropólogos nos Novos Cursos de Graduação no Brasil.Coordenador: José Maria Trajano Vieira (UFAM) Debatedores: Gilse Elisa (UFAM), Cristian Farias Martins (UFAM), Mirian Pillar Grossi (UFSC), Silvana de Souza Nascimento (USP),Widney Pereira de Lima (UFRGS), Neon Solim?es Paiva Pinheiro (UFAM), Mislene Metchacuna Martins Mendes (UFAM), Marcos Antonio Pellegrini (UFRR), Michel Justamand (PUC/SP), Senilde Alcântara Guanaes (UNILA), Eunice R. Durham (USP), Flavia Maria Silva Rieth (Univ. Fed. Pelotas), Julio Cezar Mellati (UNB) Local: Alexandre Borges

11 | Interdisciplinaridade: Diferentes Formas de Apreensão e Uso dos Recursos Naturais.Coordenador: Marcos José Salgado Vital (UFRR)Debatedores: Olendina de Carvalho Cavalcante (UFRR) e Muriel Saragoussi (GTA) Local: Auditório Pronat

MINI CURSOSLocal: Bloco do CCH

1 | O Trabalho Etnográfico em Perícias AntropológicasCoordenação: João Pacheco de Oliveira (UFRJ), Carlos Guilherme Otaviano do Valle (UFRN) e Paulo Santilli (UNESP)

2 | Antropologia e Pesquisa Educativa InterculturalCoordenação: Maxim Repetto (UFRR), Maria do Socorro Pimentel (UFRG) e Fabíola Carvalho (UFRR)

3 | Identidade entre o Brasil, Cuba e o Benin: enfoques transdisciplinares.Coordenação: Hippolyte Brice Sogbossi (UFSE), Sahily Borrero Marin (Asociación “Hermanos Saíz”, La Habana, Cuba)

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4 | A Abordagem Antropológica no Campo da Educação Escolar Indígena.Coordenação: Marcos Antonio Braga de Freitas (UFRR) e Carlos Alberto Marinho Cirino (UFRR-NUHSA)

5 | Proteção Ambiental e Patrimônio Cultural: Desafios e PossibilidadesCoordenação: Ana Beatriz Vianna Mendes (UFMG), Eliana Santos Junqueira Creado – (UFES) e Marisa Barbosa Araujo Luna (UFRR)

6 | Índios e a Cidade: Processos IdentitáriosCoordenação: Sérgio Augusto Domingues (UNESP), Raimundo Nonato Pereira da Silva (UFAM) e Rodrigo Barbosa Ribeiro – (UFU)

7 | Antropologia e Direitos Humanos: A Questão de Gênero e EtnicidadeCoordenação: Carmen Lúcia Silva Lima (UFRR), Ângela Celia Sacchi (FUNAI/DF) e Nelita Frank (NMR/SRT-RR)

8 | Línguas Indígenas em RoraimaCoordenação: Elder José Lanes (UFRR), Maria Odileiz Cruz (UFRR) e Manoel Gomes do Santos (UFRR)

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GT1 -JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE (PAG. 15)Local: Bloco do CCH

GT2-POVOS TRADICIONAIS: CONFLITOS E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS (PAG. 22)Local:Bloco do CCH

GT3-DILEMAS ÉTICOS E DIFICULDADES OPERACIONAIS: COMO ETNOGRAFAR PRÁTICAS E PENSAMENTOS MORALMENTE CONDENÁVEIS? (PAG. 27)Local: Bloco do CCH

GT4-FESTAS E CIDADES: TEORIA E METODOLOGIA DE UM CAMPO EM FORMAÇÃO (PAG. 36)Local: Bloco do CCH

GT5-AGENCIAMENTOS TERAPÊUTICOS E SISTEMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE: REDES, TRÂNSITOS E HIBRIDISMOSGT6- EDUCAÇÃO E CONFLITO INTERCULTURAL NA RELAÇÃO ENTRE POVOS INDÍGENAS E ESTADOS NACIONAIS (PAG. 42)Local: Bloco do CCH

GT6-EDUCAÇÃO E CONFLITO INTERCULTURAL NA RELAÇÃO ENTRE POVOS INDÍGENAS E ESTADOS NACIONAIS (PAG. 47)Local: Bloco do CCH

GT7-PATRIMÔNIO IMATERIAL, MEMÓRIA E IDENTIDADE (PAG. 55)Local: Bloco do CCH

GT8-OS ESTUDOS SOCIOESPACIAIS E OS DESAFIOS DIALÓGICOS DA ANTROPOLOGIA CONTEMPORÂNEA (PAG. 61)Local: Bloco do CCH

GT9-MIGRAÇÕES, FRONTEIRAS E GÊNERO (PAG. 66)Local: Bloco do CCH

GT10-A ETNOLOGIA INDÍGENA DA AMAZÔNIA E DO NORDESTE BRASILEIRO (PAG. 72)Local: Bloco do CCH

GT11-ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA E CULTURAS ESCOLARES (PAG. 77)Local: Ciclo Básico

GT12-REVISITANTO A ETNOLOGIA JÊ (PAG. 84)Local: Ciclo Básico

GT13-A ANTROPOLOGIA INDÍGENA EM CONTEXTOS DE INTERVENCÃO SOCIAL: LIMITES E POTENCIALIDADES (PAG. 89)Local:Ciclo Básico

GT14-CARTOGRAFIA SOCIAL: IDENTIDADES COLETIVAS, PROCESSOS DE TERRITORIALIZAÇÃO E CONFLITOS NA AMAZÔNIA (PAG. 96)Local:Ciclo Básico

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GT15-POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS NA PAN-AMAZÔNIA: TERRITÓRIOS E DIREITOS FACE ÀS INTERVENÇÕES DESENVOLVIMENTISTAS (PAG. 104)Local:Ciclo Básico

GT16-AS DIFERENTES IMAGENS DO EXTRATIVISMO NA AMAZÔNIAGT17- ANTROPOLOGIA, IDENTIDADES & POLÍTICAS PÚBLICAS (SOCIAIS) (PAG. 112)Local:Ciclo Básico

GT17-ANTROPOLOGIA, IDENTIDADES & POLÍTICAS PÚBLICAS (SOCIAIS) (PAG. 116)Local:Ciclo Básico

GT18-INTERCESSÕES DE GÊNERO, RAÇA E MOVIMENTOS SOCIAIS: OLHARES COMPARATIVOS SOBRE DIFERENTES REPRESENTAÇÕES (PAG. 125)Local: Núcleo NUPEPA

GT19-ANTROPOLOGIA DO SECULARISMO E DA MODERNIDADE RELIGIOSA (PAG. 131)Local: Núcleo NUPEPA

GT20-POLÍTICAS ETNOEDUCACIONAIS E IDENTIDADES NA PAN-AMAZÔNIA: FRONTEIRA, PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E CONSUMO (PAG. 138)Local: Núcleo NAPRI

GT21-IDENTIDADES SOCIAIS EMERGENTES NA PAN-AMAZÔNIA E NO NORDESTE: COMUNIDADES, TERRITÓRIOS E DIREITOS (PAG. 145)Local: Núcleo de Prática Jurídica

GT22-ETNOLOGIA DA AMAZÔNIA MERIDIONAL: INVESTIGANDO AS POPULAÇÕES INDÍGENAS NAS FRONTEIRAS ENTRE A FLORESTA E O CERRADO DO BRASIL CENTRAL (PAG. 149)Local: Instituto Insikiran

GT23-POPULAÇÕES TRADICIONAIS, TERRITORIALIDADES E ETNOCIÊNCIAS (PAG. 153)Local: Instituto Insikiran

GT24-IMAGENS SOBRE A AMAZÔNIA - UM OLHAR A PARTIR DA ANTROPOLOGIA VISUAL (PAG. 160)Local: Auditório: Alexandre Borges

GT25-OS INDÍGENAS E A CIDADE: PROCESSOS IDENTITÁRIOS, DIREITO E POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO URBANO (PAG. 165)Local: Instituto Insikiran

GT26-SÓCIOANTROPOLOGIA MARÍTIMA E PESQUEIRA (PAG. 173)

Local: Instituto Insikiran

GT27-ANTROPOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA (PAG. 178)Local: Instituto Insikiran

Gt28 -HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA: TEORIA E CAMPO NA AMAZÔNIA (PAG. 184)Local: Instituto Insikiran

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JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE

A juventude tem sido pensada na interseção entre dois temas clássicos das ciências sociais: geração e classe social. Metodologicamente, enfatiza-se a impossibilidade de compreender a juventude como categoria singular e a importância da comparação para a construção do conhecimento sobre os jovens. Existem alguns pontos consensuais entre pesquisadores que se dedicam a analisar as juventudes. O primeiro deles refere-se aos aparentemente contraditórios, conjuntos de sentidos relacionados aos jovens: eles são socialmente classificados como "problema social" e projeção societária de futuro.

Os estudos sobre a temática também são orientados pelo pressuposto de que além das estruturas de classe e das estratificações sociais que lhes são próprias, a sociedade moderna é constituída pela criação das faixas etárias e a consequente cronologização do tempo. A Escola, o Estado, o Direito são instituições organizadas com base no reconhecimento destas fases e na expectativa de institucionalização do curso da vida. Tais classificações são orientadas por representações sobre o envelhecimento natural, mas não determinadas por ele. É possível dizer que resultam de lutas simbólicas para a definição e legitimação do que é ser criança, adolescente, jovem, adulto e velho.

O principal objetivo do grupo de trabalho é propor e realizar análises comparativas, orientadas por metodologias qualitativas e quantitativas, que permitam compreender as singularidades e pluralidades da experiência juvenil contemporânea. O foco nas tensões entre as expectativas sociais e a experimentação subjetiva da juventude será privilegiado. Serão priorizados trabalhos teóricos e empíricos sobre identidade, educação, sexualidade, subjetividade, emoções, visões de mundo e estilos de vida.

A transformação das juventudes em problema de pesquisa foi o objetivo que nos conduziu a propor as primeiras edições deste grupo, na I e na II REA. O primeiro momento de internacionalização da proposta ocorreu na 8ª RAM.

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SESSÃO I- SEXUALIDADES E CORPORALIDADES

1- Tatuagens e juventude: reflexões sobre corpo e autonomia

Andréa Barbosa Osório (UFF)

Pesquisa realizada em um estúdio de tatuagem da cidade do Rio de Janeiro apontou para a predominância da prática na faixa etária dos 20 aos 29 anos. Cerca de 60% do público do estúdio é formado por jovens entre 16 e 29 anos. Por trás da sedução que a tatuagem exerce sobre a juventude, creio estar um processo de marcação social – sobre o corpo – de autonomia pessoal, na forma 'o corpo é meu e faço com ele o que quero', conforme várias vezes repetido por tatuados durante a pesquisa de campo. Este processo de autonomia foi nomeado na literatura dedicada ao estudo da tatuagem contemporânea como posse de si, conceito que remete à emergência de um processo de individualização, em que a tatuagem pode se apresentar como signo propício à uma prova pessoal (e social) de força e coragem ou como epíteto de uma rebelião silenciosa contra instâncias de controle do indivíduo, sobretudo a família.

JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE

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2- Entre o proibido e o permitido: sociabilidade homoerótica na praça da Gentilândia

Cícera Glaudiane Holanda (UFPE)

A vida cotidiana expressa diversas formas de vivências, que se inventam e reinventam num processo contínuo. A invenção ou reinvenção que será abordada neste trabalho trata das ações, representações e sentidos experimentados por um determinado público, em um lugar singular na urbanidade de Fortaleza: a praça da Gentilândia e seus frequentadores/as das noites de sextas entre os anos de 2004 e 2006, jovens (com a faixa etária variando entre 13 a 24 anos), que se aproximavam para estabelecerem desejos comuns, identificando-se com sensações e práticas semelhantes, ou melhor, pessoas identificadas entre si a partir do sentimento de pertencer a uma determinada orientação sexual. Esses jovens produziram uma imagem multifacetada, lugar de trocas afetivas território de sociabilidade onde os sujeitos romperam com um modelo heteronormativo e recriaram um espaço em que a homossociabilidade estaria presente e visível.

3- Sexualidade e juventude: Sociabilidades entre jovens universitários residentes em “repúblicas estudantis”

Carine Lavrador de Farias (UENF)

Esta pesquisa teve por objetivo compreender as formas de sociabilidades efetivadas por estudantes universitários, focalizando a relação entre o uso do tempo livre, grupos religiosos, as relações afetivas entre os jovens e por fim, a sexualidade. A partir das entrevistas e da observação participante investiguei sobre sexualidade, namoro, liberdade, e relatei que as vivências sexuais dos jovens, em alguns casos, trazem certas problemáticas. Tais problemáticas têm tido destaque nos veículos de comunicação de massa, o que pode ser percebido em diversas reportagens que tratam do assunto, campanhas, artigos acadêmicos, entre outros (Rosistolato, 2007). Principalmente no Brasil, enquanto a juventude é socialmente apresentada como sinônimo de liberdade e que residir em “república estudantil” ainda é um tabu, para a maioria. Devido a isto, procurei analisar os jovens através de aspectos pertinentes ao seu cotidiano e de suas culturas juvenis enquanto residente em “república estudantil”.

4- Reflexões sobre a experiência do corpo e da sexualidade entre jovens com deficiência física em Natal/RN

Fabíola Taíse da Silva Araújo (UFRN)

O presente resumo pretende apresentar uma reflexão acerca dos temas do corpo, e da sexualidade entre jovens com deficiência física em Natal/RN. O objetivo do nosso texto é entender como se dá a experiência do corpo e da sexualidade entre jovens com deficiência física que freqüentam a Associação dos Deficientes fisicos do RN (ADEFERN). Desejamos refletir sobre a problemática que envolve a construção das idéias de corpo-eficiente/deficiente, e como essas ideias refletem na experiência da sexualidade e saúde e doença. Os principais autores elencados para esse debate são Marcel Mauss, com a noção de técnicas do corpo, Merleau-Ponty com a ideia de experiência do corpo, Pierre Bourdieu, com a noção de habitus e Michel Foucault, de História da sexualidade. Nossa metodologia consiste em pesquisa etnográfica, entrevistas semi-estruturas e observação participante na ADEFE-RN. Pretendemos ainda expandir nosso campo para a Sociedade Amigos do Deficiente (SADEFRN) e para a companhia de Dança Contemporânea Gira Dança, grupo de Dança de Natal, que realiza um trabalho sobre os temas das corporalidades e de afetos, o mesmo é composto por dançarinos deficientes e "não deficientes".

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SESSÃO II- MÚSICA E CULTURAS JUVENIS URBANAS

1- Arte e Squats: a constituição das identidades punk no Rio de Janeiro

Fernanda Delvalhas Piccolo (IFRJ)

O presente trabalho é fruto da pesquisa em andamento “Cultura, visões de mundo e a constituição da identidade punk na sociedade urbana contemporânea”. A presente pesquisa torna-se fundamental, pois visa estudar as visões de mundo, a constituição da identidade de grupos punks, e como são estabelecidas as relações sociais entre eles e a sociedade abrangente. Neste trabalho, tem-se como objetivo compreender e analisar as visões de mundo e a constituição da identidade punk, mediante análise de duas ocupações/squats punk existentes no RJ. Para tal privilegia-se o método etnográfico. Os primeiros resultados apontam para uma mudança na identidade e no significado do que é ser punk. Se antes era sinônimo de vestir-se de preto, com cabelos moicanos, hoje, ser punk, para esses jovens, está “na cabeça”, em “ter atitude”, acreditar que “as coisas podem ser diferentes”. Para tais jovens o intuito dessas ocupações/squats é para, além de um local de moradia, “fins culturais”. Afirmam que são espaços auto-gestionados, mas que “têm regras” e “disciplina”. Apontam que expressar-se como punk ou identificar-se com esta visão de mundo é um fenômeno da juventude.

2- Nem deuses, venenos ou prisões: a nova cara do punk/ hard core no universo juvenil dos straight edges da capital paraense

Deylane Corrêa Pantoja Baía (UFPA)

Este trabalho trata do universo dos straight edges – jovens do meio punk/ hard core que abdicam do uso de “drogas” e assumem tal denominação e da articulação das suas práticas com novas formas de sociabilidade, identidade e comestibilidade. Objetivou-se identificar as discussões travadas com relação ao vegetarianismo, bem como, analisar os principais elementos que convergem para suas escolhas. Assim, partimos de sua ideologia alimentar, dando destaque para a compreensão dos gostos, dos hábitos, das representações, das práticas e das “repulsões” da alimentação vegetariana. Além disso, utilizaram-se referências sobre o surgimento do movimento punk no mundo e seu desenvolvimento no Brasil, para que fosse viável o entendimento do contexto no qual os straight edges estão situados. Durante a pesquisa, foi possível perceber que a “ideia straight edge”, como meus interlocutores a ela se referem, permite que cada um faça adaptações de acordo com suas experiências e posicionamentos individuais.

3- Dinâmicas e significados no rock metal underground de Fortaleza

Abda Medeiros (UFC)

Neste estudo busco compreender as dinâmicas no interior do rock Metal underground no qual estão inseridos os “metaleiros” (cujo significado é batedores de cabeça) da cidade de Fortaleza. Por underground, entende-se como um conjunto de práticas e saberes ligados ao estilo musical citado, cujas ações não possuem (ou possuem pouca) visibilidade nos meios de comunicação e que não se orienta pela lógica de mercado inerente à indústria cultural, mas, não exclui a possibilidade de recorrer a ela quando lhe for favorável, numa tentativa de elucidar os cruzamentos culturais, por meio dos descolecionamentos e da desterritorialização dos símbolos consumidos, variando conforme o contexto cultural no qual estes indivíduos estão inseridos (Canclini, 1998). O que é reivindicado pelos

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“metaleiros” é a demarcação de territórios, a formação de um público afinado com o rock Metal e a afirmação de um estilo de vida que caracterizam os modos de fazer rock Metal e de ser “metaleiro”, utilizados ora como estratégia de diferença, ora como situacional, articulados com outras identidades que estão em jogo e com as quais forma um sistema (Cunha,1985). A metodologia de pesquisa inclui informações e materiais que servem de elo entre os “metaleiros” e entrevistas que versam sobre o underground e as dimensões associativas que estabelecem nesse universo.

4- Identidades e Novas Formas de Sociabilidades: O Estilo de Vida Urbano de B-Boys em Mamanguape

Marco Aurélio Paz Tella (UFPB)

Meu propósito é apresentar resultados parciais de uma investigação em curso com grupos de jovens dançarinos de break em Mamanguape (cidade localizada no litoral norte paraibano, com pouco mais de 40.000 habitantes). Os objetivos da pesquisa, iniciada em 2010 dentro do Grupo Pesquisa Etnografias Urbanas - Diferenças e Alteridades (Guetu), são mapear, interpretar e comparar jovens que se organizam em grupos de break, a partir das redes sociais estabelecidas entre eles e com grupos de outras cidades paraibanas. Podemos identificar dois aspectos importantes nos jovens que estão ligados a esses grupos: a possibilidade de passar da invisibilidade para o reconhecimento social; e ao obter visibilidade, romper com a imagem estigmatizada socialmente construída. Os dois aspectos refletem e influenciam nas subjetividades, identidades e estilos de vida de jovens identificados com esta arte da cultura hip-hop.

5- A cena e o circuito da cultura da música eletrônica no espaço urbano de João Pessoa

Pedro Tadeu Faria D'Allevedo (UFPB)

A comunicação pretende apresentar elementos da cultura da música eletrônica, popularmente conhecida como cultura clubber e/ou raver. Destaca-se que esta cultura jovem nasceu na Inglaterra na segunda metade dos anos 1980, e a partir de seu local de origem estendeu seus tentáculos para diversas localidades do planeta, inclusive o Brasil. Observa-se a sua ocorrência também entre os jovens que residem na cidade de João Pessoa, contexto em que vem se desenvolvendo com notável pujança desde o final dos anos 1990, constituindo um circuito-cena que adquire visibilidade no espaço urbano por meio de festas, bares e casas noturnas que fazem parte intestina da vida noturna e do contexto cultural da cidade. A relevância do estudo está em descortinar a complexa trama de relações sociais que os atores afiliados a cultura e-music desenvolvem neste contexto urbano-social, no qual adotam um estilo de vida cujas práticas implicam o estabelecimento de atitudes nas quais formas e conteúdos internos promovem processos distintivos e hierarquizantes que permitem a dissociação das identidades, tanto individuais quanto grupais, por intermédio do gosto musical.

6- Os jovens usam a cidade: Um estudo sobre a pichação na cidade de João Pessoa.

Paulo Sergio dos Santos (UFPB)

Muitas vezes olhamos a juventude como um conjunto social formado por indivíduos que fazem parte de uma determinada fase da vida, ela é vista como uma aparente unidade que segue uma trajetória biográfica se situando entre a infância e a idade adulta. Só que não devemos nos prender a esta visão, pois, quando falamos em juventude devemos ter em mente a sua diversidade, ou seja, não devemos fazer uma imposição singular da ideia juventude, mas sim pluralizá-la. No meio urbano esta pluralidade é algo gritante, os jovens se valem de diversos meios de interação na cidade, em alguns casos esta interação ocorrerá de forma “transgressora”, é o caso da pichação, em que grupos juvenis se apropriam

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do espaço alheio para transmitir algo. Ao mesmo tempo em que utilizam esta manifestação para comunicarem, eles também interagem com a cidade que vivem, modificando-a, transformando-a. Assim o objetivo deste trabalho é mostrar como a pichação acontece em João Pessoa, enfocando como esses grupos juvenis interagem com a sociedade urbana que estão inseridos.

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SESSÃO III- JUVENTUDES POPULARES URBANAS E RURAIS

1- Juventudes populares e educação de nível superior: projetos de formação e campos de possibilidades.

Rodrigo Rosistolato (UFRJ)

A pesquisa “juventudes populares e projetos de escolarização de nível superior” tem por objetivo interpretar o discurso de jovens oriundos de famílias com baixo poder aquisitivo e reduzido capital cultural, que mesmo percebendo a precariedade de sua formação básica decidem potencializar seu capital escolar para dar sequência aos estudos, no nível superior. A investigação é realizada no único pré-vestibular popular da cidade de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. A metodologia utilizada é qualitativa. Pretende-se, neste texto, analisar as justificativas da opção por curso popular e as representações sobre as profissões escolhidas. Existem representações de senso comum que indicam que os estudantes oriundos das classes populares buscam “cursos alternativos” simplesmente porque são gratuitos. A pesquisa discute outros elementos que orientam a escolha do curso analisado.

2- Entre cotidianos e projetos: considerações sobre a constituição das identidades de jovem negra e quilombola em Capoeiras (RN)

Maíra Samara de Lima Freire (UFRN)

Este trabalho encontra-se em processo de elaboração e tem como intuito problematizar o lugar das jovens negras na “Comunidade de Capoeiras”, localizada no município de Macaíba (estado do Rio Grande do Norte), composta por cerca de 300 famílias que, nos últimos sete anos, iniciou processo de reconhecimento enquanto “comunidade remanescente de quilombo”. Partindo da percepção dessas jovens, sobre o que é ser jovem em uma comunidade étnica, compreendendo os diversos sentidos atribuídos a esta categoria e como essa se articulam com outras identidades como a de negra e quilombola no processo de construção política por que passa o grupamento familiar.

Quero pensar a participação (e ao mesmo tempo constituição) de uma juventude quilombola na implementação de um processo político- organizativo, o modo como essas jovens mulheres veem o processo de formação quilombola (desde o pertencimento a um grupo ao reconhecimento deste pertencimento). A pesquisa propõe pensar as jovens quilombolas enquanto “sujeitos políticos”, ativos no cotidiano do grupo e detentores de projetos individuais (como estudar e conseguir um trabalho) e sociais (como ter seus direitos étnicos reconhecidos). Compreendendo a identidade de jovem quilombola ao longo das redes sociais marcadas por processos políticos e históricos (no caso, a situação quilombola), acompanha-se a categoria jovem e quilombola articulada em diversos contextos e com múltiplos usos e significados, que são somados a outras diferentes identidades perceptíveis na prática e nos discursos das interlocutoras.

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3- Rabicheiros e bazuqueiros: identidades juvenis rurais na diáspora do agronegócio

Valéria Silva (UFPI)

Pesquisa desenvolvida em Sebastião Leal-PI, região tradicionalmente assentada nas práticas da agricultura familiar e recente fronteira agrícola monocultora, que objetiva interpretar as identidades juvenis no contexto das interrelações apontadas. Entendendo as identidades como movimentos de pertença, identificação e diferenciação que têm lugar nas relações sócio-culturais. A relevância do tema prende-se à magnitude e complexidade das mudanças ocorridas no campo piauiense a partir dos novos processos produtivos instalados, as quais se verificam não apenas quanto à situação econômica das localidades, mas fundamentalmente quanto às relações simbólicas experimentadas. A observação, a entrevista semi-estruturada e a fotografia tornaram possível visualizar que os jovens experimentam principalmente relações identitárias em trânsito, diaspóricas, provisórias, fragmentadas, recombinadas; funcionais às necessidades de adaptação às novas realidades, também de trabalho precarizado, que enfrentam.

4- Relações de pesquisa com jovens em diversos tempos e espaços do campesinato assentado na região de Marabá - PA.

Beatriz Maria de Figueiredo Ribeiro

O trabalho, de modo geral, visa contribuir para o entendimento dos modos de reprodução das famílias assentadas pelas políticas de reforma agrária, ressaltando as aparentes descontinuidades e ambigüidades estruturais presentes nestas políticas, bem como o processo de constituição e longa duração do campesinato brasileiro. Para isso, realizei o estudo sobre o campesinato por juventude. Considerei como principal interlocutor da pesquisa essa geração que está em posição de se integrar produtivamente na sociedade. Busquei, assim, realizar uma reflexão sobre a forma social do futuro da família camponesa. O texto enfatiza a idéia de uma “metodologia de andanças” ao extrapolar unidades espaciais restritas permitindo compreender as múltiplas possibilidades de pensar campesinato e juventude. Apresento a travessia metodológica do trabalho de pesquisa, a partir da descrição de uma metodologia que foca outras possibilidades de diálogos que não aquelas diretivas centradas na relação sujeito-objeto.

5- Experimentações subjetivas da juventude: o sonho de ser jogador de futebol

Radames Rogerio (UFC)

Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Esta é uma pergunta muito conhecida e disseminada no Brasil, por quê? Será apenas porque o Brasil é o “país do futebol”? É evidente que a forte presença desse esporte no imaginário coletivo brasileiro é um dado importante, mas acreditamos que outros contextos justificam que o sonho de tornar-se jogador profissional permeie tão intensamente às experimentações subjetivas de nossa juventude. Nesta comunicação, objetivamos refletir sobre como e porquê o futebol configura-se como um sonho comum da juventude do município de Fortaleza capital do Ceara. Uma hipótese importante aponta a possibilidade de vencer a pobreza como um dos grandes atrativos do futebol profissional. Os altos índices de desigualdade social no Nordeste e, particularmente, no Ceará justificam uma investigação que busque demonstrar a relação entre aspectos sócio-econômicos e imaginário juvenil na perspectiva também de uma etno-sociologia das emoções.

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6- Esporte Juvenil: um estudo entre os praticantes de Skate em João Pessoa-PB

Claudiovan Ferreira da Silva (UFPB)

O skate é um esporte que surgiu como uma prática ligada as manifestações juvenis e a busca pela exploração e apropriação diversa da cidade e de seus equipamentos. Ao longo do tempo o skate foi adquirindo os traços do esporte moderno (como define Norbert Elias). Nesta pesquisa buscou-se analisar o desenvolvimento do processo de esportivização em curso relacionado ao skate na cidade de João Pessoa-PB. O objetivo foi compreender e analisar de que maneira tal processo modifica as práticas cotidianas dos adeptos deste esporte, que são na sua grande maioria jovens, e quais representações os mesmos fazem das mudanças que vêm ocorrendo no universo do skate. Os praticantes deste esporte fazem desta prática um estilo de vida, que passa a abarcar cada vez mais o cotidiano destes jovens, o modo como se vestem, os locais que frequentam, a linguagem que utilizam, são maneiras de demonstrarem sua identidade e seu estilo de vida Na pesquisa utilizamos as técnicas metodológicas da antropologia e da sociologia.

7- Jovens indígenas em São Gabriel da Cachoeira- AM: relações e conflitos na cidade

Claudina Azevedo Maximiano (UFAM)

A proposta deste texto é pensar a partir das proposições de jovens indígenas as relações e situações de conflitos vividas por eles no contexto urbano, neste caso específico a cidade de São Gabriel da Cachoeira, situada na região do Alto Rio Negro, Estado do Amazonas. Partindo do conceito de compreender, perspectiva analítica desenvolvida por P. Bourdieu (1997), na perspectiva de tecer um diálogo visando iniciar uma reflexão a partir das falas dos adolescentes e jovens indígenas, sobre questões diversas de seu cotidiano na cidade. Discutindo temas como, identidade étnica, violência e formas de organização dos adolescentes e jovens indígenas na cidade. Destacando a questão da atração que a cidade exerce sobre esses agentes sociais e as diversas formas de relações que vão sendo construídas no contexto urbano.

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POVOS TRADICIONAIS: CONFLITOS E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS

Estudos produzidos por antropólogos acerca de povos tradicionais - como quilombolas, indígenas, faxinalenses, ribeirinhos, dentre outros - têm subsidiado políticas públicas relacionadas à titulação de territórios, assistência social e meio-ambiente, dentre outras. Tais estudos têm repercutido de forma significativa nas reivindicações de direitos no Brasil e na América Latina ao buscar potencializar a compreensão de diferentes saberes e sensibilizar profissionais envolvidos em práticas jurídicas e administrativas. Desafios estão postos à antropologia que, em diálogo com outros campos científicos como a história, geografia, direito e ecologia, é instigada a refletir acerca de processos de territorialização étnica, de interação entre comunidades tradicionais e meio-ambiente, movimentos sociais e políticas públicas. A região da Pan-Amazônia, assim como as regiões Norte e Nordeste do Brasil, revelam-se universos analíticos extremamente variados para a investigação uma vez que comportam um grande número de pesquisadores e universos em distintas situações de sobreposição de “fronteiras”: administrativas, de expansão de capital, de diversidade biosocioambiental, étnicas e sociais, e outras. Assim, a proposta deste GT é o de reunir pesquisadores que desenvolvam estudos sobre e com povos tradicionais centrando as discussões de cada sessão sobre um dos três eixos: a) antropologia do estado: desafios da (super)burocratização; b) antropologia e diálogos com outros campos disciplinares: obstáculos e potencialidades a partir de experiências de campo; e c) antropologia do direito: possibilidades de expressão da diversidade cultural em espaços jurídico e administrativos.

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SESSÃO I – ANTROPOLOGIA E DIREITO: DIÁLOGOS CRÍTICOS

1- Ação Direta de Inconstitucionalidade 3239: uma análise a partir da antropologia do direito

Cíntia Beatriz Müller (UFBA)

Tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI) movida pelo ex-Partido da Frente Liberal (PFL) contra o Decreto 4.887/2003, referente à regularização fundiária das comunidades quilombolas no Brasil. Ao longo da ADI diferentes atores passaram a juntar petições denominadas Amicus Curiae apresentando esclarecimentos sobre a questão à Corte. Levando-se em consideração que as ações judiciais são um espaço privilegiado de análise do embate de argumentos antagônicos proponho, neste artigo, analisar a partir da antropologia do direito os argumentos utilizados na disputa pelo convencimento dos Ministros do STF tomando por base material juntado à ADI por diferentes atores políticos e sociais.

2- Construindo o Pluralismo Jurídico no Brasil: A experiência de harmonia coercitiva do Povo Xukuru do Ororubá.

Sandro Henrique Calheiros Lôbo (UFPE)

Discutir como o Povo Xukuru do Ororubá tem construído e aplicado suas próprias normas jurídicas. Justificativa: O Povo Xukuru do Ororubá, grupo indígena localizado no Estado de Pernambuco, a partir do processo de territorialização iniciado no final da década de 80 do século passado, construiu mecanismos de tomada de decisão que asseguram a resolução de conflitos internos ao grupo por sua própria organização social. Esse processo possibilitou a construção de um sistema de justiça indígena que está em constante diálogo com o Estado, assegurando que se

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reconheça na prática uma pluralidade de ordens jurídicas existentes no Brasil, assegurando a autonomia dos povos indígenas frente ao Estado. Esse trabalho será uma oportunidade de estreitar o diálogo interdisciplinar entre a Antropologia e o Direito.

3- O caleidoscópio conservacionista: o SNUC como um acordo temporário no ambientalismo

Eliana Santos Junqueira Creado (UFES)Lúcia da Costa Ferreira (Unicamp)

Pensar-se-á a aprovação de um documento legal, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), como uma situação social na qual houve um acordo contingente entre posições ambientalistas no Brasil, sendo que o atributo da tradicionalidade e os direitos de povos e comunidades que habitam o interior ou o entorno de unidades de conservação é um dos maiores pontos de discordância. Grosso modo, as posições ambientalistas podem ser caracterizadas em dois pólos principais, dentre os quais há todo um rol das mais variadas combinações entre discursos e agências: (1) as centradas na manutenção da biodiversidade, na forma do enfoque sobre espécies e/ou ecossistemas; e (2) as centradas na defesa dos direitos de grupos sociais ou povos, afetados, direta ou indiretamente, pelas unidades de conservação. O chamado socioambientalismo, no Brasil, procura realizar uma conciliação entre ambas. Mas, no que diz respeito ao texto do SNUC, a divisão das duas posições é claramente perceptível.

4- Tratados internacionais, populações tradicionais e diversidade biológica

Ana Beatriz Vianna Mendes (UFMGAderval Costa Filho (UFMG)

Nossa proposta é apresentar um balanço histórico e analítico do arcabouço jurídico que regula a proteção ambiental e a proteção à diversidade cultural no Brasil a partir de uma leitura crítica, fundamentada na legislação brasileira, a respeito de algumas convenções internacionais ratificadas pelo Brasil que regulam a matéria, a saber: a Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (promulgada no Brasil em 1972), a da Diversidade Biológica (1998), a n°169 da Organização Internacional do Trabalho (2004), e a que trata da Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2007). A partir da análise desses documentos, procuraremos delinear uma trajetória da institucionalização desses temas em âmbito internacional e, sobretudo, seus reflexos e repercussões no Brasil. Finalizaremos com a análise da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (2007).

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SESSÃO II- CONFLITOS AMBIENTAIS, ARTICULAÇÃO POLÍTICA E POVOS TRADICIONAIS.

1- Os projetos de infraestrutura de grande escala em turismo (PGE-Tur) e as contraprogramáticas macrorregionais analisadas após a casuística 'UHE Belo Monte': populações tradicionais costeiras, etnodesenvolvimento e conflito territorial no litoral Ceará-Piauí-Maranhão

Potyguara Alencar dos Santos (UnB)

Propõe-se a apreciação de uma síntese dos resultados angariados em três anos de pesquisas etnográficas exploratórias e intensivas desenvolvidas junto a algumas populações tradicionais marítimas residentes no “litoral Ceará-Piauí-Maranhão”, macrorregião onde o Programa de Regionalização do Turismo (PRT), do Governo Federal, vem implementando o roteiro integrado em

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turismo Rota das Emoções. Procura-se discutir a ideia de impactação – esta por vezes referida às transformações perpetradas por grandes projetos em socioterritórios indígenas (Ramos, 2010; Baines, 2004; Oliveira, 2000; Little, 2002) – quando utilizada para pensar os projetos de infraestrutura de grande escala em zonas costeiras onde residem populações tradicionais. Aduz-se que a formação de redes estaduais de turismo comunitário, por exemplo, seriam ações contraprogramáticas efetivas aos grandes projetos, expressando a face de um projeto contra-hegemônico de etnodesenvolvimento (Batalha, 1995) gerido por proponentes locais.

2- Território canavieiro e identidade quilombola: Engenho Siqueira, um estudo de caso na Zona da Mata Sul de Pernambuco

Marli Gondim de Araújo (UFPE)Caio Augusto Amorim Maciel (UFPE)

O trabalho objetiva explicitar as compatibilidades culturais e técnicas entre a agroecologia e as práticas agrícolas de populações tradicionais, a partir de um estudo de caso na comunidade remanescente de quilombo do Engenho Siqueira, município de Rio Formoso, Pernambuco. Destacando os conhecimentos dos agroecossistemas litorâneos por parte desses “camponeses pescadores”, investiga-se a importância da conservação de suas práticas cotidianas em relação ao território para o desenvolvimento de modelos agroecológicos de produção. A relevância de uma possível interseção com o modelo de produção ecológico e sustentável é evidenciada em contraponto ao padrão monocultor e agroexportador da Zona da Mata Sul pernambucana, via plantation canavieira. A monotonia da paisagem agroindustrial justifica que se estude a agricultura diversificada da população negra rural remanescente de quilombo, de modo a estabelecer referências de práticas de manejo de ecossistemas mais sustentáveis para a região.

3- Política Partidária e Organização Social no alto Rio Negro: a experiência dos indígenas de São Gabriel da Cachoeira/AM

Jean Ricardo Ramos Maia (Unicamp)

As eleições em São Gabriel da Cachoeira, na região conhecida como Alto Rio Negro não difere, à primeira vista, das que ocorrem nos demais municípios do estado do Amazonas. A questão da política partidária no interior do estado é sempre tema de diversas contradições e quase nunca se enquadra fora dos parâmetros de quem pode pagar mais. A história dos indígenas e da FOIRN – movimento indígena no alto rio negro ressalta o papel da agência indígena apesar das tradicionais mazelas da política oficial. Meu objetivo neste artigo é demonstrar como as noções de organização social tradicional são mais importantes que outros aspectos, no jogo de legitimação e organização social de poder na região. Quero investigar se a eleição de 2008 representa para o movimento indígena um novo lugar de embate político ou apenas um evento isolado, sem maiores consequências. Para tanto, estarei analisando o perfil de vereadores da atual Câmara Municipal e alguns fatos das eleições de 2010.

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SESSÃO 3 – TERRITORIALIDADES TRADICIONAIS: POSSIBILIDADES E POLÍTICAS PÚBLICAS

1- Terra e Território: formas de territorialização Awa-Guajá do Gurupi ao Pindaré - Maranhão.

José Maria Mendes de Andrade (UFPA)

O povo Awa-Guajá, um dos últimos grupos indígenas da Amazônia Oriental ou Pré-Amazônia Maranhense que têm se orientado por um tempo e lugar diferenciado em função de sua mobilidade espacial para reprodução social, sejam os grupos de contato recente e/ou isolados. Porém, a situação de contato tem levado os grupos a (re) pensarem as diferentes formas de ocupar o território. A partir de uma interlocução permanente com o grupo e agentes externos nas aldeias procurei compreender as diferentes formas de territorialização do grupo. Sejam àquelas resultantes das relações e práticas interculturais e interétnica orientada por uma lógica espacial de uso da terra indígena como meio de produção; ou por uma simbólica que tem o território como lugar da reprodução físico-cultural, responsável pela atualização de práticas rituais, como é o caso do Oho Iwape, marcador social de constituição da pessoa Awa-Guajá.

2- Da invisibilidade à exclusão, da marginalidade às políticas públicas: os ciganos em foco como populações tradicionais

Erisvelton Sávio Silva de Melo (UFPE)

O texto tem por objetivo discutir como são constituídas e acionadas as relações de pertencimento e identidade nos espaços do discurso da emergência étnica, para as formulações de políticas públicas afirmativas e compensatórias a partir dos ciganos, enquanto grupo não territorializado. Pois, nas práticas sociais, como indivíduos de direitos com cidadania plena, partindo de uma base legal, eram ignorados devido à marginalidade e a invisibilidade, impostas ao longo da história por meio dos estigmas de minoria disseminados sobre eles. Assim, com a Portaria Ministerial n.º 2 de 17/01/ 2006, criou-se alguns grupos de trabalho para pensar e construir políticas para essas minorias sócio-excluídas. O GT Cigano é um desses grupos, responsaveis para modificar esta realidade, trabalhando em prol dos direitos humanos e étnicos dos ciganos enquanto população tradicional; sendo, os matérias produzidos e as ações executadas, uma base para fomentação das questões sobre o tema nos aportes da Antropologia Política, a partir das abordagens do conflito e da representação.

3- Direitos Territoriais ou Territórios de Direitos?

Carlos Eduardo Marques (Unicamp)

Propõe um debate sobre categorias ligadas a novos sujeitos de direitos, os quilombolas urbanos. Interessa inferir o modo como noções intrínsecas destes direitos, construídas no interior de cada grupo quilombola, dialogam com o ordenamento jurídico estatal na conformação de seu lócus étnico, ou seja, sua territorialidade. Pretende-se indagar como modos performativos (formas de sociabilidade) de ser, fazer e viver (Ex: o samba, o soul, a capoeira, o candomblé) se transmutam em novos direitos para essas comunidades quilombolas. Tal percepção poderá permitir a compreensão, por um lado, da relação entre sociabilidade, etnicidade e apropriação territorial urbana. Por outro lado, a relação entre Estado, direitos e sociedade diante destas novas identidades étnicas.

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4- Quilombos urbanos e rurais: relações, continuidades e semelhanças.

Laura Gomes Nascimento (UFBA)

Trata-se de um estudo comparativo entre quilombos em contextos urbanos e rurais, tendo como referência os quilombos rurais. A pesquisa consistirá em uma etnografia comparativa entre os contextos e se realizará por meio de um levantamento das características em ambos os casos, tendo como finalidade a identificação dos traços característicos das condições de emergência desses grupos étnicos em contextos urbanos e rurais. Justificativa: Verificando-se a existência de um número muito pequeno de trabalhos referentes ao estudo aprofundado da situação do quilombo na urbe, assim como de sua relação com outros grupos da sociedade envolvente e de suas próprias relações comunitárias étnicas, apresenta-se como urgente o desenvolvimento de trabalhos concernentes a essa temática, principalmente se levarmos em conta a atual emergência de um grande número de quilombos urbanos, e junto com ela, intensos embates políticos envolvendo diversos segmentos da sociedade, relacionados, principalmente, a disputas territoriais.

- Pôster 1: Estudo sobre as apropriações e expectativas do ofício de antropólogo na contemporaneidade: algumas considerações

Mariana de Oliveira Marchão (UnB)

A antropologia, desde a Constituição de 1988, vem realizando um papel importante dentro do Estado no que concerne ao diálogo entre justiça e sociedade, especialmente quando se trata de garantia dos direitos dos grupos minoritários. A atuação dos antropólogos nos órgãos estatais, ou em parceria com esses, já possui uma certa tradição de trabalhos relativamente consolidados, como é o caso da Procuradoria Geral da República que tem realizado uma parceria positiva com a antropologia (OLIVEIRA, 1994). Este trabalho buscará expor algumas reflexões acerca da atuação dos antropólogos especificamente no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que se dá mais precisamente no Serviço de Regulamentação de Territórios Quilombolas, outrora denominado DFQ. Se as comunidades tradicionais apresentam questões contemporâneas, em algum sentido também se faz pertinente reconhecer desafios da atuação da antropologia em suas questões contemporâneas, uma vez que essa atuação está inserida no âmbito das políticas públicas.

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DILEMAS ÉTICOS E DIFICULDADES OPERACIONAIS: COMO ETNOGRAFAR PRÁTICAS E PENSAMENTOS MORALMENTE CONDENÁVEIS?

Este grupo de trabalho pretende agregar etnógrafos cujos interlocutores ou problemáticas de estudo provoquem dificuldades ao desenvolvimento empírico e ao tratamento analítico à pesquisa, seja por desencadear dilemas éticos e morais ou apresentar obstáculos associados à sua divulgação. Além de propostas que abordam práticas correntemente denominadas de violentas ou que constituam alvo de repressão policial e condenação jurídica, buscamos reunir trabalhos em que a censura e a condenação moral aos sujeitos da pesquisa sejam fortemente sentidas pelo antropólogo. Pretendemos tematizar e debater o trabalho de campo e a construção da análise antropológica em função: a) dos problemas éticos ou morais concernentes ao estudo; b) de limitações e obstáculos de divulgação dos resultados (objetos empíricos que envolvam atividades ilegais, ilícitas ou condenáveis pelas moralidades hegemônicas e cuja divulgação de dados traria diversas ameaças ao etnógrafo e/ou aos seus interlocutores); c) da novidade do objeto de estudo (agrupamentos de existência recente e conformação dissonante em relação aos grupos, sociedades, culturas, objetos típicos, enfim, da antropologia pensada como ciência ortodoxa); e, decorrente do que precede, d) de eventuais insuficiências de conceitos disponíveis para dar conta das realidades vividas pelas pessoas a partir das quais se elaboram as etnografias (que contrariam ou não se deixam enquadrar nas linguagens conceituais enraizadas no discurso antropológico). O objetivo do GT, portanto, é o de exercitar e fazer circular a reflexão de encaminhamentos ou soluções para impasses da pesquisa antropológica, a saber, conceituais, de método e morais ou éticos.

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SESSÃO 1- ETNOGRAFAR SEXUALIDADESCoordenador: Jorge Mattar Villela Debatedor: Antônio Carlos Rafael Barbosa

1- Relações sexuais entre crianças

Patrícia dos Santos Begnami (UFSCar)

A infância é vista como uma das etapas da vida em que há dependência dos adultos é uma fase em que os seres não trabalham, não têm responsabilidades e não têm vida sexual, pois as crianças são tratadas como seres incompletos, seres em socialização e que necessitam de cuidados especiais, proteção e assistência. Porém, na pesquisa realizada na favela do Gonzaga, pude observar uma situação adversa, isso porque no Gonzaga as crianças fazem “besteirinhas”, isto é, mantém relações sexuais entre si e com os adultos, algo impensável para crianças. Dessa forma, nas discussões dessa pesquisa, as preocupações são baseadas nas questões éticas e na moral; em como expor publicamente esses dados e como lidar com algo que é visto como pertencente ao universo dos adultos, portanto, proibido para crianças. As “besteirinhas” das crianças são atitudes moralmente condenáveis pela grande parcela da população, mas o que fazer esses dados em mãos, denunciar? Ocultar? Seria eu, cúmplice dessa situação? O desafio particular é ouvir as crianças seriamente a despeito das imagens e dos pré-conceitos que muitas áreas lhes submetem.

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2- A sexualidade como delicada tarefa de pesquisa

Rose-France de Farias Panet (UFMA)

A presente pesquisa me fez percorrer o caminho sinuoso das questões do sexo e da sexualidade de um modelo sexual praticado entre os Canela chamado por eles de Krõõ Jô pi. Este ritual serviu de ponto de partida para minha reflexão construída e motivada pelo sentido da prática do Krõõ Jô pi e do sexo sequencial, termo empregado pelo antropólogo William Crocker, bem como da onipresença da sexualidade no quotidiano desta sociedade. Trata-se, o Krõõ Jô pi, de um tipo de sexo sequencial que consiste na prática sexual de vários homens com uma ou algumas mulheres, que acontece no encerramento dos rituais de iniciação masculina. Esta prática serviu de parâmetro explicativo de como a sexualidade é vivenciada entre os Canelas e como se dá a construção dos sexos sociais. Objetivos: Analisar o sexo como fenômeno estruturador e reprodutor da sociedade e da ordem social e como fenômeno de compreensão da relação entre homens e mulheres e questionar as dificuldades de abordagem do tema.Justificativa da relevância do Tema: Trabalhar com sexualidade, foi um desafio que caminhou lado a lado comigo. A característica dissonante da sexualidade Canela face à sexualidade vivenciada pelos não-indígenas da região foi por vários momentos questionada por mim no sentido de temer a exposição dos Canelas ao público menos familiarizado com as alteridades trabalhadas pela antropologia. Considerado pelos habitantes da região como prática moralmente condenável, o sexo sequencial e o Krõõ jõ pi servem de parâmetro de representação dos não-indígenas da região e de auto representação por parte dos Canelas que se definem 'como cachorros' quando o assunto é sexualidade.

3- “Se eu fosse você eu dava pra ele”: a ética da sedução na realização do trabalho de campo em uma casa de suingue

Manuela Vieira Blanc (UENF)

A partir da relação estabelecida entre a pesquisadora e seus “observados” durante a realização do trabalho de campo em uma casa de suingue carioca, e as estratégias de abordagem acionadas por ambos os atores, questões éticas e metodológicas se evidenciam. Ao mesmo tempo em que a escolha de um objeto caracterizado pela análise de práticas de foro íntimo – relações sexuais públicas e/ou grupais – põe em relevo as mais simplórias questões em torno da metodologia etnográfica, o faz a partir de situações extremas, sejam elas de cunho ético, relativista ou envolvendo a própria definição dos conceitos metodológicos. O que define o caráter participativo de uma observação? O desafio nesta proposta de discussão é, sobretudo, repensar uma dinâmica de pesquisa demarcada por uma relação de coqueteria constante em que pesquisadora e “nativos”, de acordo com interesses científicos e sexuais, respectivamente, negociam fronteiras relacionais.

4- Pesquisar homossexualidades masculinas: um primeiro ensaio sobre a problemática do distanciamento

Guilherme Rodrigues Passamani (UFMS)

Este trabalho é parte de uma pesquisa maior realizada no interior do Rio Grande do Sul (cidade de Santa Maria) entre 2002 e 2005 com homens jovens com práticas homossexuais. Destaco neste ensaio um ponto importante e nefrálgico na antropologia que é a construção do distanciamento, a produção e prática da alteridade em grupos urbanos de sociedades complexas. Estas são situações, sobremaneira, novas no cenário antropológico, haja vista que durante mais de um século a construção da alteridade na antropologia se deu a partir do contato com grupos humanos muito distantes geográfica e culturalmente. Ao problematizar homens jovens com práticas homossexuais do interior gaúcho, estou

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discutindo situações e comportamentos muito próximos a mim, o que exige uma série de cuidados éticos e cognitivos que, talvez, não fossem necessários aos nossos colegas mais clássicos. Este trabalho, então, presta-se a ser uma radiografia destes primeiros campos, com suas dúvidas, erros, acertos e, sobretudo, aprendizados, no universo das homossexualidades não-públicas em cenários tradicionais e conservadores.

5- Antropólogas no campo da prostituição: breves reflexões sobre o fazer etnográfico, risco e liminaridade no Litoral Norte da Paraíba

Silvana de Souza Nascimento (UFPB)

Pretendo fazer uma reflexão sobre a relação observador(a)/observado(a) a partir de espaços de prostituição feminina e travestir em Mamanguape, Litoral Norte da Paraíba. Essa reflexão faz parte de uma pesquisa financiada pelo CNPq que tem como objetivo compreender a dinâmica urbana e rural dessa região e analisar a complexidade de gênero de sua população. Em diferentes etapas da formação e faixas etárias, as pesquisadoras elaboraram estratégias de inserção em campo de modo a construir relações com as “nativas” em momentos específicos de sua rotina na prostituição (definida como periférica e realizada em lugares de fronteira), e tentar acompanhar suas constantes mobilidades, relações permeadas pela violência e uso do crack. Apesar da prostituição já ser uma questão em pauta nas pesquisas antropológicas, mostra-se necessário uma maior discussão acerca do lugar do(a) antropólogo(a) nesses espaços não convencionais, inclusive aspectos que envolvem negociações políticas e situações de risco.

6- Questionando o sujeito heróico da antropologia: desejos dissonantes

Suzana Moura Maia (UFRB)

Já há mais de vinte anos, antropólogos conhecidos como “pós-modernos” têm apontado para o caráter construído ou ficcional da etnografia. De acordo com eles, existe uma relação intrínseca entre o aparato conceitual ou teórico, a pesquisa de campo e a escrita etnográfica; e o resultado do projeto antropológico lida, necessariamente, com estes três momentos distintos e a relação entre esses. Preocupados em defender objetos/sujeitos de pesquisa que vivem em contextos de opressão, os antropólogos, muitas vezes, acabam por criar “personagens” cuja força heróica e capacidade de resistência são as qualidades que mais se destacam. Mas o que acontece quando os sujeitos da pesquisa são eles próprios opressores? O que acontece com outras esferas da existência que não se encaixam numa visão mais funcionalista de um sujeito regido por necessidades econômicas ou políticas? O que conceitos diversos, como desejo, podem acrescentar a uma compreensão e uma representação mais complexa dos sujeitos estudados pela antropologia? As reflexões que pretendo discutir nesta apresentação tiveram início no âmbito de minha pesquisa de doutorado sobre mulheres brasileiras na indústria sexual de Nova York, e tem se estendido para um questionamento mais amplo sobre o fazer antropológico em outros contextos de pesquisa. Presentemente, tenho realizado essas reflexões no âmbito do Programa de Pesquisa sobre Populações Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB), assim como no contexto de pesquisa sobre relações de gênero entre marisqueiras e pescadores numa comunidade quilombola do recôncavo baiano.

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Pôster: 1- “Aqui é um lugar onde se vende fantasias e desejos” – Percursos etnográficos na prostituição masculina no Rio de Janeiro

Victor Hugo de Souza Barreto (UFF)

Nesta comunicação pretendo refletir sobre minha experiência etnográfica em ambientes onde se exerce o mercado da prostituição masculina na cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa antropológica tem sido repensada nas últimas décadas a partir do questionamento de paradigmas que afirmavam a necessidade do distanciamento e da objetividade para a obtenção de resultados ditos científicos. Maneiras diversas para escapar a esses dilemas envolvem desde a indagação da autoridade etnográfica, bem como do comportamento dos antropólogos em campo, até reflexões sobre os modos de interpretação das realidades estudadas. Pesquisas realizadas no campo da sexualidade demandam reflexões acerca dessa temática, ainda mais quando se trata de indagar sobre o campo do sexo, ou o sexo no campo. Meu objetivo aqui é pensar nessas questões, tendo como ponto de partida a discussão sobre a subjetividade erótica dos pesquisadores em campo, sobre os impactos criados a partir de minha presença nesses locais enquanto antropólogo, seja sobre mim, seja sobre os sujeitos que observo e com quem dialogo, quanto á discussão sobre as questões éticas da pesquisa antropológica.

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SESSÃO 2- ETNOGRAFAR ILEGALISMOSCoordenadora: Jania Perla Diógenes de AquinoDebatedor: Jorge Mattar Vilela

1-Aborto provocado na região metropolitana de belém: dilemas na realização da pesquisa

Denise Machado Cardoso; Karen Gabriely Sousa Santos; Euniani Aparecida dos Santos Ramos; Glaucia Silva dos Santos (UFPA)

Este trabalho é resultado de investigação com mulheres que realizaram aborto na região metropolitana de Belém/PA. Em termos de atendimento de abortos, a legislação penal brasileira criminaliza a mulher que interrompe a gravidez, a exceção de situações específicas, mas se observa que há inúmeros casos de abortamentos à revelia do que determina a legislação vigente. Isso ocasiona sequelas, e até mesmo a morte das mulheres que abortam, e essa situação faz com que essa prática se torne um assunto polêmico, requerendo cautela em sua abordagem. Este estudo analisa as razões apresentadas por essas mulheres e os impactos do abortamento em seu estado físico e emocional de seu corpo. A análise prioriza os relatos de vida e percepções sobre o tema, além de aspectos ligados a marcadores sociais. Evidenciou-se que, muitas são as mulheres que praticaram e praticam a interrupção da gravidez, mas nem sempre elas estão dispostas a tratar desse tema devido a fatores sócio-culturais.

2- Contornos iniciais de impasses éticos e morais em uma etnografia feita com “estupradores”

Adalton José Marques (UFSCAR)

Neste paper apresento uma sistematização preliminar de dados etnográficos obtidos em meados de 2010 durante conversas com presos que se encontravam no Centro de Detenção Provisória - Pinheiros III (SP) à espera de julgamento ou já condenados pela prática dos crimes de estupro e/ou de atentado violento ao pudor (art. 213 e antigo art. 214 do Código Penal, respectivamente). Focando em suas descrições, argumentações e juízos acerca dos “motivos” e “influências” que os levaram a “estuprar” – no caso dos interlocutores confessos –, e acerca dos instantes que antecederam os acontecimentos que

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os levaram à prisão – no caso dos interlocutores que defendem serem inocentes –, mobilizo este pequeno quadro etnográfico, a título de encaminhamento preliminar de impasses éticos e morais, para evocar algumas críticas feministas (Henrietta Moore e Teresa de Lauretis), bem como para problematizar e trazer para o cerne do esforço antropológico o imperativo “levar a sério o nativo”.

3- Antropofagia, predação e socialidade guerreira: um experimento etnográfico de simetrização nas praias nordestinas

Leonardo Damasceno de Sá (UFC)

Este paper problematiza a troca de condição com uma pessoa guerreira. Propõe um relato de campo sobre a relação com um praticante de canibalismo simbólico e que se declarava predador de seus inimigos. Explicita a convivência com um interlocutor já morto, chamado José. Discute como a imaginação conceitual da antropofagia, implicada nesta relação, aponta para uma prática etnográfica de conhecimento como modo de interagir com uma socialidade de predação. Baseado em trabalho de campo intensivo e contínuo de dois anos em uma favela à beira-mar, habitada por 35 mil pessoas, na zona portuária, em Fortaleza, onde facções armadas provocam, há décadas, séries de homicídios, “tretas” em torno de quem é o “bichão” da favela, gerando assim fortes imputações e estigmas de violência e criminalidade de seus moradores na ordem simbólica da cidade. Os materiais estão organizados em minha tese de doutorado Guerra, mundão e consideração: uma etnografia das relações sociais dos jovens no Serviluz.

4- Dilemas e riscos na etnografia de um antropólogo e nativo

Greilson José de Lima (UFPE)

Este trabalho problematiza dois dilemas enfrentados na prática etnográfica realizada junto a emigrantes de uma pequena cidade da Paraíba, Esperança, que moram no bairro Vila São Luiz, Duque de Caxias - RJ. O primeiro diz respeito a minha condição de pesquisador e nativo, de ser da mesma cidade do grupo estudado, o que remete a uma experiência particular sobre a alteridade antropológica; e o segundo refere-se aos riscos enfrentados durante minha permanência em campo, tanto nas ocasiões em que tive acesso a informações de atividades ilícitas e corria o risco de ser visto como um potencial denunciador, como também nos momentos em que acompanhava os emigrantes no comércio de “Sacolão”,quando era necessário adentrar várias “favelas” cariocas controladas por grupos armados ligados ao tráfico de drogas. 5- Um estudo exploratório sobre os contextos de uso e modalidades de consumo de substâncias psicoativas na zona urbana de Juazeiro-BA

José Hermógenes Moura da Costa (UNIVASF)

Um estudo exploratório acerca do consumo de substâncias psicoativas, seus contextos e modalidades de uso, na zona urbana de Juazeiro-BA. Com o objetivo de identificar e caracterizar as modalidades de consumo dessas substâncias, seus contextos e cultura de uso, incluindo padrões, normas e sanções sociais, explorando as dimensões socioculturais do fenômeno, o perfil dos usuários, seus hábitos, práticas e representações. A questão das drogas não pode negligenciar temas como os significados atribuídos ao uso e a sua persistência; os distintos usos e as formas de vida relacionadas; as expectativas sobre os efeitos do uso; a identidade social do “usuário”, do “toxicômano”, do “traficante”. O estudo faz parte de uma perspectiva mais ampla, complementar às abordagens propostas no âmbito do Laboratório de Pesquisa Interdisciplinar sobre o Uso de Substâncias Psicoativas/UNIVASF.

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6- Um policial estudando a polícia: identidade e reflexividade

Fagner Pereira Vieira (UFAM)

O presente trabalho parte de uma discussão deste pesquisador levantada em seu trabalho de pós-graduação em antropologia social. Tem como objetivo levantar reflexões sobre pesquisadores/pesquisados que fazem parte dos mesmos campos de pesquisa, principalmente levando questões técnicas, metodológicas e éticas. As ações aqui relatadas estão voltadas à polícia militar de Roraima na qual este pesquisador faz parte. Sendo assim, dentro do processo formação do Estado Democrático as corporações policiais vêm sendo incessantemente cobradas no que tange à preparação do policial e a resolução de ocorrências. Outro fenômeno importante é que algumas corporações vêm despontando com a abertura, mesmo que limitada, para pesquisadores das mais diversas áreas e até mesmo membros da própria corporação. Portanto, ao pesquisar no universo em que estou inserido profissionalmente, várias implicações foram apresentadas, como por exemplo: há maior ou menor facilidade de distanciamento sendo eu um agente dentro deste campo, as entrevistas foram mais abertas já que falo e entendo “a linguagem policial”. Mesmo sendo abertas, acordos foram feitos, como por exemplo, nem tudo que for falado pode ser escrito e muito menos publicado ou gravado.

7- A produção de territorialidades alternativas no espaço urbano e o desafio da pesquisa de campo

Rogéria Campos de Almeida Dutra; Leonardo Francisco de Azevedo (UFJF)

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as dificuldades do trabalho de campo de uma pesquisa em andamento sobre as atividades do setor informal, particularmente o comércio de camelôs e comida nas ruas de Juiz de Fora/MG. A partir da investigação dos sujeitos envolvidos em atividades que se situam no limbo entre legalidade e ilegalidade, os pesquisadores se depararam com uma série de limitações em relação à coleta de dados oficiais e extra-oficiais, bem como na construção de uma postura ética na coleta e publicação de dados.Como filtrar e publicar informações que ora estão no campo da legalidade(como a permissão do comércio pela prefeitura e a participação na associação dos vendedores ambulantes da cidade), ora na ilegalidade(como a origem e garantia dos produtos comercializados e as formas de transporte e circulação desses sujeitos aos centros comerciais do país)?Estes são alguns dos dilemas encontrados no campo e que questionam constantemente a postura e ética do pesquisador

Pôster 1: (Des) apropriações do espaço urbano: discurso e práticas de justiça

Andressa Lidicy Morais Lima (UFRN)

O presente trabalho aborda através de pesquisa etnográfica os grupos sociais envolvidos no fenômeno das ocupações urbanas que vem modificando através de seus efeitos e ambiguidades as concepções do direito a moradia em algumas capitais brasileiras. Acompanhando a trajetória dos moradores e observando o discurso jurídico posicionado entre a tensão que atravessa um carrossel de estigmas, gerados, sobretudo pelo uso do termo invasão quando falamos de ocupação. Observa-se que percepções esses moradores têm sobre a legalidade e a ilegalidade dessa forma de habitação, bem como a rigidez constitucional gerada a partir do discurso jurídico frente ao direito a moradia, mediada pela utilização do espaço urbano como possibilidade de aproximação do ser cidadão, no intuito de conferir relevância e visibilidade aos grupos sociais envolvidos nesse importante fenômeno urbano. O tom exposto na pesquisa, aproximação e recusa desses interlocutores, o acesso a informações e, sobretudo a ética do antropólogo na elaboração e efeitos do texto etnográfico são alguns problemas enfrentados na construção deste trabalho.

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SESSÃO 3- ETNOGRAFAR INSTITUIÇÕESCoordenador: Jorge Mattar VillelaDebatedora: Jania Perla Diógenes de Aquino

1- “Para andar fora da lei é preciso ser honesto”: políticas da linguagem e desafios éticos no trabalho de campo com egressos do sistema penitenciário do Rio de Janeiro

Antonio Carlos Rafael Barbosa (UFF)

Nesta comunicação pretendo efetuar algumas considerações sobre as particularidades do trabalho de campo com egressos do sistema penitenciário do Rio de Janeiro, buscando explorar em que medida os impasses e escolhas que orientam nossas interações no campo são resultantes das tentativas de fundar “consensos morais” em torno da figura do pesquisador (e da pesquisa como “figuração”). Para isso, cabe examinar de que maneira alguns pressupostos de nossa linguagem analítica participam da construção de tais consensos, assim como avaliar as resistências opostas pelos informantes (ou suas desconfianças) a uma concepção jurídica do poder que garante autoria/autoridade às falas de “nativos” e “antropólogos”.

2- Mundo do crime e mundo do trabalho: pensando sobre os impasses da divulgação da pesquisa antropológica

Izabella Lacerda Pimenta (UFF)

A presente discussão se pauta no trabalho de campo que realizo no sentido de entender as estratégias que são utilizadas no processo de “ressocialização” por egressos, presos do regime aberto e/ou semi-aberto, bem como por pessoas que já estiveram envolvidas de alguma forma com atividades consideradas criminosas, especialmente aquelas relacionadas ao tráfico de armas e drogas. Ao acompanhar o cotidiano destes indivíduos dentro e fora do local de trabalho, é possível notar a combinação de moralidades hegemônicas, ou não, na construção de um novo estilo de vida, envolvendo a conjugação de práticas e valores associados tanto ao trabalho quanto ao crime. Escrever sobre esta fluidez envolve pensar as estratégias de divulgação do estudo, pois, para além destes indivíduos que são facilmente identificáveis a partir do local onde trabalham, conheço amigos, vizinhos e parentes que se mantêm atuantes no mundo do crime.

3- Etnografia e sigilo policial: como escrever sobre coisas que devem ser ditas com cautela?

Larissa Nadai (Unicamp)

Este trabalho tem por intuito refletir sobre os desafios que, como pesquisadores(as), enfrentamos quando temos como campo de estudo instituições oficiais do Estado, em particular, quando o material de pesquisa diz respeito a documentos e procedimentos da polícia civil. A partir de duas pesquisas distintas, uma realizada em Brasília, junto à Coordenação de Crimes Contra a Vida e outra realizada em Campinas, junto à Delegacia de Defesa da Mulher, discutiremos dilemas políticos, morais e éticos que perpassaram nossas etnografias. Dilemas esses que dizem respeito (a) às preocupações “nativas” com o que se pode publicizar e com as expectativas geradas pela pesquisa; (b) aos modos pelos quais “o pesquisador” veicula seus registros, tendo em vista tais preocupações; e (c) aos modos de se “dar voz aos nativos” e de “levar a sério” seus pontos de vista quando estudamos uma instituição que tem entre suas funções a de gerir vidas, “fazendo viver” algumas delas e “deixando morrer” tantas outras.

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4- Etnografar no Instituto Médico-Legal: reflexões metodológicas sobre os procedimentos de produção do morto pela polícia técnico-científica

Flavia Medeiros Santos (UFF)

O Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro (IML-RJ) é a burocracia pública submetida à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro e responsável pela realização de perícias Médico-Legais e emissão de laudos que subsidiem as investigações e o julgamento de processos criminais e cíveis sobre agressões físicas, acidentes, estupros, tentativas de homicídio, homicídios, suicídios e outras mortes consideradas violentas. Esse faz parte do grupo de instituições denominado Polícia Técnico-Científica. A partir da pesquisa etnográfica no Serviço de Necrópsia no IML-RJ para a elaboração de dissertação no PPGA-UFF, serão apresentados aspectos que se referem a como os agentes da sede do IML-RJ atribuem significados diversos às suas atividades de classificação e registro de cadáveres e transformam o fenômeno “morte” em um “registro policial”. Serão considerados o lugar da etnógrafa na pesquisa em um lócus “moralmente condenável”, “impuro” ou “contaminado”; a relação dos interlocutores com os cadáveres e os discursos produzidos sobre esses; e os dilemas metodológicos e éticos que implicam a realização e divulgação nesse contexto empírico.

5- As etnografias do Grupo Hybris

Jorge Mattar Villela (UFSCAR)

Desde há 3 anos jovens antropólogos iniciaram um processo de aglutinação em torno de dois professores de PPGAS do Estado de São Paulo. Suas teses e dissertações reunem uma motivação comum, embora os temas e objetivos empíricos sejam diversos. O interesse é o de investigar novos objetos de pesquisa a partir de novos pontos de vista, livres do trinômio Lei, Norma, Regra. Esta apresentação visa expressar os problemas enfrentados por alguns dos pequisadores, além de expor algumas reflexoes comuns ao grupo.

6- Conhecimento partilhado ou informação controlada? (Evitando ser “leva e trás” e “dois papo”): desafios para a etnografia em situações de luta, manutenção ou resistência ao poder

Mário Miranda Neto (UFRJ)

Este trabalho revisita práticas no esforço de etnografar grupos considerados criminosos. A partir da antropologia, limites do estado para olhar o crime são transpostos; todavia outros limites são apresentados: como fazer para que a lógica ou retórica científica de circulação de conhecimento se dê perante grupos que, por defesa frente a agentes do estado ou por conta de “neurose”, estabelecem o segredo e o respeito a “doutrina” como estruturante das relações de confiança e parte fundamental de sua teoria nativa? Positivamente a antropologia arregimenta e se difunde em diversos meios o que, inclusive, faz o método antropológico despertar interesse em campos diversos da atuação estatal. Poderia a antropologia ser agenciada? Teria a antropologia suas moralidades e tantos limites quanto o Direito ao lidar com o crime? A apresentação partirá do trabalho com bolsistas que eram presos (porém estudantes) num esforço de produção de conhecimento que denomino interlocução radical.

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Pôster 1: Cabeça de bem-estarista: tentando etnografar os “porões” da experimentação animal

Guilherme Antunes (UFSCAR)

O debate sobre vivissecção (o uso de animais vivos para fins científicos) no Brasil foi recentemente reaberto por novas legislações e pela crescente polarização dentro do movimento de defesa dos animais (abolicionismo x bem-estarismo). Entretanto, o caminho de entrada aos contextos em que se realizam práticas vivisseccionistas ainda é repleto de obstáculos de ordem ética, jurídica ou burocrática. O empreendimento etnográfico se depara com uma circunstância crucial: a alternativa de envolver-se com a causa animalista (leia-se “disfarçar-se” dela) como possível – porém improvável – acesso a comitês de ética, aulas práticas e biotérios nas universidades. Além de uma discussão sobre a conduta ética do etnógrafo diante do enfrentamento de um tema tão caro ao cenário acadêmico, a proposta também visa confrontar simetricamente a ciência vivisseccionista com o ativismo pró-animal, de modo a balizar uma reflexão sobre o estatuto das moralidades (contra-)hegemônicas contemporâneas.

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FESTAS E CIDADES: TEORIA E METODOLOGIA DE UM CAMPO EM FORMAÇÃO

O grupo de trabalho tem como objetivo reunir experiências de pesquisa e de reflexão teórica em torno do fenômeno da festa no contexto urbano. A discussão pretendida visa cotejar novos recortes temáticos, experimentos metodológicos inovadores e abordagens originais que tratem das festas urbanas em sua diversidade comercial, midiática, lúdica, política, religiosa, turística, etc. Busca-se, com isso, avaliar as potencialidades teórico-metodológicas do estudo desta temática no campo mais amplo da antropologia. Dessa forma, será possível observar o fenômeno da festa no contexto urbano não apenas como substrato das relações sociais, mas como meio de troca de experiências, de produção de significados e de construção de memórias coletivas que orienta a própria configuração de tais relações em recortes específicos da vida social. O grupo de trabalho deverá abranger experiências de pesquisa de caráter interdisciplinar sobre o tema em foco, mas que ao mesmo tempo proponham alguma interface com a abordagem antropológica.

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SESSÃO I: TERRITORIALIDADES URBANAS: SOCIEDADE E GRUPOS

1- Como se diverte a lapinha? O lazer dos moradores de um bairro popular de Salvador

Lorena Volpini (UFBA)

Esta pesquisa propõe um estudo das formas de entretenimento dos moradores da Lapinha, bairro popular na cidade de Salvador. No tocante a este tema um espaço privilegiado é reservado à festa, que constitui não apenas um momento de distração, de esquecimento das dificuldades, mas também, na sua dimensão de convívio, um espaço de sociabilidade e, enfim, um cenário privilegiado da expressão e da fruição cultural. Numa cidade onde as diferenças sócio-econômicas e a segregação sócio espacial persistem na dimensão da diversão, torna-se indispensável uma abordagem da festa que preste atenção a outro aspecto: às modalidades de apropriação e uso do espaço no lazer. Através do estudo e da descrição de momentos festivos, propõe-se uma reflexão sobre as práticas e as preferências do grupo estudado, considerando a dimensão da diversão como ponto de observação a partir do qual descortinam-se os cenários da sociabilidade urbana, espaço de inter-relações, co-presença e justaposição de modos de vida.

2- Migração, Identidade e territorialidade na festa junina em Natal-RN

Luciana Chianca (UFPB)

Trata-se aqui de apresentar as formas simbólicas de atualização das identidades citadinas, entre jovens de origem sócio-econômica desfavorecida. O resultado desse processo pode ser percebido através da observação de um dos rituais mais importantes da festa junina urbana; a quadrilha junina, tanto na sua forma tradicional quanto na sua nova apresentação. Dança oriunda da corte francesa, a quadrilha é originalmente “nobre”, mas hoje pertence ao patrimônio cultural popular do Nordeste do Brasil. Reinventando a versão “tradicional” da dança, os jovens citadinos “pobres” se apresentam prefrencialmente como “caipiras de luxo”, vestidos em seda, veludo e cetim. De que modo essa produção identitária é revelada na ordenação territorial da própria cidade de Natal?

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3- Crenças, espaço e sociabilidades: as negociações territoriais das populações afrodescendentes através da religião e festas em Porto Alegre-RS

Luciana de Mello (UFRGS)

A presença das populações afrodescendentes nas cidades perfazem o percurso da periferização das classes populares, até onde interessa sobretudo a especulação imobiliária, na medida que as regiões mais centrais e melhor localizadas das cidades são ocupadas pelas moradias das classes médias, pelo comércio e prédios e obras públicas - pela cidade oficial. Em Porto Alegre tal fenômeno se verifica através da observação de espaços periféricos às zonas então urbanizadas, locais geralmente sem infraestrutura, em sua antiga/inicial ocupação urbana. Verifica-se aqui, o que Michel De Certau nomina por estratégias e táticas, os saberes e as formas, elaborados e vividos cotidianamente através da cidade oficial pública aliada por vezes aos interesses privados de lucro, e das camadas populares que habitam a cidade marginal, invisível - banhados, áreas verdes, margens de cursos d'água. Mesmo esses locais apresentando péssimas condições ambientais, possibilitaram tanto a convergência dos sujeitos descendentes das várias etnias oriundas do continente africano, como a relativa proximidade com as oportunidades de trabalho e formas de obtenção de renda. E é através das religiosidades e sociabilidades, oportunizadas tanto pelas festas religiosas como pelos encontros sociais, que os sujeitos podem estabelecer e restabelecer vínculos de pertencimento, entre si, e com o lugar, para assim dar sentido às suas vidas. Em diversos bairros da cidade, habitados majoritariamente por uma ou outra população, pode-se verificar a existência de manifestações culturais específicas de cada grupo étnico/social. Em Porto Alegre, a ocupação, formal, de origem europeia concentrou-se, além da região central da cidade, em alguns bairros em especial, constituídos por clubes recreativos, escolas e grupos musicais de influência de suas etnias – alemães, italianos, poloneses. Do mesmo modo, as regiões onde as populações afrodescendentes ocuparam, foram berço, espaços de manutenção e reconstrução da identidade e laços étnicos, e caldeirão cultural das várias etnias africanas ali estabelecidas. Relativamente diferente a esta condição, um tradicional evento, celebrado especialmente por duas distintas crenças, acaba por convergir de certa forma, além de diferentes manifestações rituais - sagradas e profanas, também a fé e a sociabilidade, as populações branca e negra, ricos e pobres, política e crença, o formal e o informal. A celebração de Nossa Senhora de Navegantes - inicialmente do calendário católico, ou na perspectiva afrorreligiosa, da orixá Iemanjá -, possibilita, no decorrer dos ritos e festa, o encontro, conflito e negociação dos espaços, momentos e sentidos das duas diferentes cidades e seus urbanos.

4- O réveillon nos prédios, no calçadão e na praia: etnografia de uma festa de final de ano na “Nova Ponta Negra” em construção”

Rodrigo Pollari Rodrigues (UFAM)

Trata-se de análise antropológica de material etnográfico coletado em uma festa de final de ano na praia da Ponta Negra, em Manaus. O Reveillon na praia Ponta Negra costuma atrair grande número de pessoas provenientes de diferentes bairros da cidade que se concentram ao redor do Anfiteatro localizado no calçadão. Há também frequência de banhistas e povo de santo que permanecem na praia. Os moradores dos prédios geralmente acompanham a festa da varanda de seus apartamentos com vista privilegiada para o Rio Negro. Este ano não houve espetáculos musicais que foram transferidos para outro lugar na cidade devido a um projeto de “revitalização”, que interditou o anfiteatro e seu entorno. Ainda assim foi construída estrutura de palco para os adeptos de religiões africanas, que têm nas águas do Rio Negro um espaço sagrado de culto, especialmente no ano novo. Para efeitos de descrição etnográfica e análise, pretende-se nesta comunicação desvelar as múltiplas dimensões de espaço público de um lugar como a Ponta Negra, a partir das diversas “táticas” de apropriação do espaço exercidas por pessoas que freqüentam e moram neste lugar em um evento como o Reveillon.

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5- Espacialidade e perfomance nos maracatus Nação de Pernambuco: transitando entre o sagrado e o profano

Maximilano Carneiro da Cunha (UFPE)

Cerimônias religiosas e festas populares são ritos que podem, em um primeiro momento, parecer completamente distintas em seus propósitos e práticas. No entanto, ambas guardam semelhanças quanto ao aspecto comemorativo e à função de aglutinação e integração de pessoas através da música, dança e canto. Assim sendo, as cerimônias religiosas e as festas populares são complementares entre si e proporcionam às pessoas uma coesão coletiva e a liberação de suas vidas cotidianas, do mundo real e ordinário, a partir do momento em que as fazem ingressar no universo do extraordinário. O objetivo desta comunicação é compreender os Maracatus dentro do contexto básico de suas performances, que abarcam tanto o universo religioso como seus desfiles públicos durante o carnaval, pois isso possibilita um melhor entendimento das práticas socioculturais desses grupos e sua relação com a sociedade em geral.

6- “Festa de antigamente é que era festa”: memória, espaço e cultura numa comunidade camponesa do nordeste paraense

Cátia Oliveira Macedo (UEPA/IFPA)

Estudo da memória e da experiência ligadas a festas religiosas e não religiosas, vivenciadas ao longo do século XX, na comunidade camponesa do Igarapé Cravo, a 35 kilômetros do município sede Concórdia do Pará, na região nordeste do Pará. São discutidos, num primeiro momento, os relatos memorialísticos sobre festas religiosas, coletados em campo, nos anos de 2009 e 2010, entre agricultores aposentados da Vila do Cravo. Em seguida, são problematizados os dados oriundos da observação em campo da dinâmica das festas dançantes de aparelhagem do calendário anual da mesma localidade. Os resultados da pesquisa de campo são tomados como referência para uma reflexão sobre os liames culturais entre espaço e memória.

7- “Na marca das aparelhagens”

Ana Paula Mendes Pereira de Vilhena (UFPA)

Este trabalho propõe analisar as festas de aparelhagem em Belém do Pará a partir de seus jovens frequentadores, os quais formam grupos que se autodenominam fãs-clubes, galeras ou equipes. Meu objetivo é entender como suas relações de sociabilidade são influenciadas por práticas de consumo peculiares, nas quais constroem uma identidade baseada na convivência e na aceitação pelos demais. Os fãs-clubes, galeras e equipes encontram, no figurino e nas atitudes no ambiente das festas, formas visíveis de demonstrar prestígio e status, tais como: comprar vários “baldes de gelada”, ter o nome do grupo anunciado pelo DJ, encomendar uma música exclusiva para seu grupo, usar roupas de marcas caras e famosas, possuir moto ou carro equipados com som potente. São ações que lhes dão a sensação de poder e de sucesso perante seu grupo. Assim, pretendo entender em que medida esses hábitos reorientam sentidos convencionais das práticas de consumo em prol de elementos de reconhecimento de vínculos de sociabilidade entre eles, contribuindo assim para o debate sobre a juventude, consumo e sociabilidade dentro da cultura urbana.

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SESSÃO II- FESTAS “OFICIAIS”, MÍDIA E CONSUMO 1- O lazer é a festa do meu dia

Luciana Almeida Wilm (UFPA)

Este trabalho pretende abordar dois aspectos do cotidiano das feiras e mercados, principalmente a Feira do Ver-o-Peso e o Complexo de Abastecimento do Jurunas, em Belém do Pará, com o objetivo de levar em consideração diferentes acontecimentos que podem ser entendidos como festivos, sendo o primeiro: a simples forma de chamar os clientes usando frases de efeito, músicas e brincadeiras e o segundo: às organizações e articulações que fazem para a realizar o que normalmente chamam de “confraternização” entre os trabalhadores de um determinado setor da feira ou entre todos eles. Deste modo, analisar as feiras e mercados por meio de suas práticas festivas possibilita o entendimento dos diferentes graus de associações realizadas entre os próprios feirantes e entre eles e seus compradores.

2- Espacialização festiva em disputa: Estado, imprensa e promotores de festas de terreiros juninos em Belém nos anos 1970

Antonio Mauricio Costa (UFPA)

Resumo: Trata a pesquisa da disseminação espacial dos festejos juninos na cidade de Belém, ao longo dos anos 1970. Este foi um processo marcado por uma disputa desigual entre autoridades públicas, jornalistas e festeiros (promotores de festas juninas), detentores de graus diferentes de poder sobre o espaço urbano. A disputa situou-se em torno da presença dos terreiros juninos, arraiais das festas de São João, instalados na via pública ou em terrenos baldios, especialmente nos bairros periféricos. O debate sobre a autenticidade folclórica dos terreiros e sua adequação ao cenário urbano foi estampada nos periódicos de Belém durante as duas últimas fases da ditadura militar brasileira. A disputa oscilou entre medidas de controle e repressão dos terreiros tomadas pelas autoridades públicas; a posição contraditória dos jornalistas entre a hostilidade e o entusiasmo pelas festas; e o empreendedorismo dos festeiros nos bairros da periferia. Como resultado da contenda de idéias, textos, decretos e iniciativas empresariais produziu-se gradualmente novas formas de espacialização urbana dos festejos juninos ao longo da década.

3- Recorrências e (des)entendimentos nos discursos oficiais e modelos festivos das festas carnavalescas em Pernambuco

Hugo Menezes (UFRJ)

Resumo: Nos últimos anos, identidade, diversidade e multiculturalidade tornam-se categorias-chave, expressões usualmente acionadas por diversas instâncias do poder público em Pernambuco para construir o discurso oficial acerca das festas carnavalescas do estado e da cidade do Recife. O trabalho proposto, portanto, tem como objetivo discutir os usos de tais categorias dando relevo às ressonâncias na realização da festa. Para tanto, segue uma análise comparativa entre os discursos e os modelos festivos do Governo do Estado e da Prefeitura do Recife na busca por similitudes e divergências nos agenciamentos das ideias atuais de “pernambucanidade” que evocam identidade, diversidade e multiculturalidade como palavras de ordem mas, com entendimentos difusos sobre as mesmas.

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4- Boi bumbá de Parintins: a festa muito além da cidade

Wilson de Souza Nogueira (UFAM)

O festival folclórico de Parintins (AM), realizado desde 1967, na última semana do mês de junho, mobiliza milhares de turistas todos os anos. O evento tem como atrações os bois-bumbás Garantido e Caprichoso, que se apresentam em teatro a céu aberto por meio de temas relacionados aos povos amazônicos. Os bumbás utilizam-se das mais bem elaboradas tecnologias – da mecânica à cibernética – para se fazer presente no mundo midiático, no mundo espetacular do consumo. Pesquiso na perspectiva de verificar se as culturas amazônicas se afirmam ou se anulam no espetáculo. O evento causa impactos políticos e sociais na cidade e nas suas relações com outros lugares. Isso se deve, em grande medida, à visibilidade que a festa conquistou em razão do interesse da mídia – há dois anos é transmitida em rede nacional de TV.

5- Religiosidade, práticas votivas e indústria cultural: o caso da festa do Senhor do Bonfim, Salvador-BA

Luis Américo Silva Bonfim (CEPPEV-FVC)

Esta comunicação tem como objetivo apresentar parte dos resultados de um estudo sobre a expressão contemporânea da Lavagem do Bonfim. Partindo das relações referentes à consagração e pagamento de promessas, analiso a rede de interdependências que derivam deste ato espontâneo de fé: a manifestação íntima do vínculo devocional, as formas expressivas do dom (ex-votos), as hibridações entre cânones religiosos (católico e afro-brasileiro), as agências organizadoras do culto e suas construções institucionais e, por fim, a revelação da festa como produto da indústria cultural. Foi utilizado o método etnográfico, com a aplicação de protocolos de pesquisa comuns ao estudo de outros sítios devocionais, integrantes da minha tese de doutorado. A abordagem utilizada justifica-se pela necessidade de se compreender a festa como fato social total e sua importância na formação da imagem da cidade, estabelecendo uma vinculação entre as relações íntimo/compartilhado, público/privado, material/imaterial.

6- Carnaval em Pernambuco: a festa dos mascarados no contexto contemporâneo

Maria das Graças Vanderlei da Costa (UFPE)

As festas representam um exercício de convivência e sociabilidade. São instrumentos de realização pessoal e coletiva, possibilitando o fortalecimento individual e grupal. O carnaval pernambucano é um exemplo da dinâmica em que o homem compartilha coletivamente os momentos festivos. No município de Bezerros, no agreste, e em Afogados da Ingazeira e Triunfo, no sertão, as brincadeiras dos Papangus, Tabaqueiros e Caretas, respectivamente, representam a pândega dos mascarados carnavalescos que ao longo de sua história centenária transformaram-se em marco identitário dos lugares, interferindo no desenvolvimento local e regional. Nesse processo, estão envolvidos os brincantes, os moradores, os visitantes, o poder institucional, a indústria de lazer e turismo e as empresas midiáticas. Pretendo lançar um olhar sobre a importância da festa carnavalesca nesses municípios, observando valorosas questões como memória, tradição, produção de significados, comércio, turismo e construção identitária.

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7- O xote das meninas: alguns recortes sobre o São João em Aracaju

Paulo Santos Dantas (USP / UERN)

Há décadas, anualmente, no mês de junho, a cidade de Aracaju – Sergipe realiza as Festas Juninas. Diferente do Carnaval, onde um contexto de quebra da experiência diária se realiza, com as festas do mês de junho parece haver uma adequação do período à vida ordinária da cidade, que será totalmente enfeitada durante o período. Pode-se perceber, em meio aos passeios pela festa, que a utilização do seu espaço, bem como dos produtos postos à venda (bebidas e doces) ou à negociação (amizades, paqueras ou namoros), articula os encontros entre diversos tipos de sujeitos, que se reconhecem pelos modos como fazem uso daqueles espaços e do que consomem. O presente texto discute a Festa Junina de Aracaju do ponto de vista dos usos dos espaços que são mapeados pela venda de alguns tipos de bebidas alcoólicas, como o cravinho e o capeta. A atividade etnográfica aqui realizada reflete sobre o espaço da Festa Junina em Aracaju, entendendo-a a partir da fragmentação do território, visivelmente recortado pelo entorno de barracas de bebidas onde circulam sujeitos, estéticas, produtos e interesses específicos. Mulheres e homens que aí circulam, namoram e paqueram, dançam o xote das meninas ao mesmo tempo em que saboreiam bebidas doces ou afogadas em vodka.

- Pôster 1:Fotografias e festas em Rio Tinto (PB): aproximações antropológicas

Danilo Alex Marques de Farias (UFPB)

Este trabalho procura explorar relações entre festas e fotografias com base num acervo de imagens antigas reunidas na pequena cidade de Rio Tinto, no litoral norte do Estado da Paraíba. Por ocasião da festa de comemoração de cinquenta anos de emancipação política da cidade, em 2006, foi realizada uma exposição fotográfica com imagens oriundas de diversas famílias. Essa exposição foi montada na praça pública da cidade para os dias da festa, sendo posteriormente transferida para uma Biblioteca. Embora as temáticas das fotografias aí expostas apresentem conteúdos no mais das vezes políticos, notam-se diversas imagens que representam cenas festivas ocorridas no passado, sejam com motivação religiosa (Natal e outras) ou profana (Carnaval, etc.). Explorar a natureza destas representações festivas e fotográficas junto aos moradores foi o objetivo principal da pesquisa, que espera contribuir antropologicamente ao conhecimento da cultura local, sem deixar de refletir metodologicamente as relações entre festas e fotografias.

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Gt5- AGENCIAMENTOS TERAPÊUTICOS E SISTEMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE: REDES, TRÂNSITOS E HIBRIDISMOS

A ideia de itinerários terapêuticos remete a uma perspectiva que foca os processos, fluxos e movimentos implicados nas “decisões” terapêuticas. Da mesma forma, as redes de cuidado nos permitem compreender os trânsitos que se processam por entre as práticas oficiais de saúde. Essa ênfase no movimento é essencial permite que tomemos distância de uma perspectiva que entende o mundo cultural como algo constituído, explícito e exposto e nos aproxima de ideias como cultura, sujeito, sistema de saúde e o próprio itinerário, entendidas como verbos e não substantivos. São processos e não estados. A ideia de processo necessariamente remete para a incorporação das incertezas. Todo encontro terapêutico compreende variadas formas de agenciar corpos, discursos, afetos e expectativas. Neles, os limites e diferenças nunca estão plenamente definidos de antemão e, por essa razão, os sujeitos que chegam ao encontro terapêutico, sejam profissionais da saúde, terapeutas tradicionais ou usuários do serviço, estão engajados em diferentes discursos-saberes. Assim, pode-se pensar que os encontros terapêuticos se vivenciam num “espaço entre”; ou seja, um espaço caracterizado pelo hibridismo de novas composições dos agenciamentos. O objetivo deste GT, portanto, é propor uma discussão sobre os limites e as possibilidades analíticas dessas (e outras) categorias para a compreensão da diversidade dos agenciamentos mobilizados nos encontros terapêuticos no âmbito dos sistemas de atenção à saúde.

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SESSÃO I

1- Prevenção e confiança: um estudo sócio- antropológico sobre casais soro discordante em João Pessoa-PB

Arthur Silveira Guimarães (UFPB)Luana Santos Cunha (UFPB)

O avanço das terapias retrovirais e o amplo acesso ao tratamento do HIV/AIDS possibilitaram, a partir dos anos 90, maior sobrevida para os pacientes. Este fato representou uma ressignificação social da doença, já que a AIDS vem se deslocando da percepção de morte iminente para a representação de estado mórbido, ou seja, assume o status de doença crônica que requer contínuo tratamento. Esta condição reestruturou a vida social daqueles que convivem com HIV, tornando-se cada vez mais comum nas relações conjugais estáveis. Assim, o presente trabalho retoma a pesquisa intitulada Casais sorodiscordantes no Estado da Paraíba: subjetividade, práticas sexuais e negociação de risco, tendo essa, portanto, como foco de análise a modalidade conjugal, na qual um dos parceiros é portador do HIV e outro não. Propomos aqui refletir e analisar as transformações na vida sexual desses casais a partir da descoberta da sorodiscordância, focalizando o significado do preservativo e da confiança nestas relações.

2- Itinerários de cura: a adesão a práticas holísticas em saúde no processo de reconstrução subjetiva da enfermidade

Daniela Maria Barreto Martins (UNEB)

Este trabalho pretende apresentar alguns resultados da pesquisa de doutorado em andamento, no município de Jacobina-BA e entorno. Trata-se de um estudo da absorção de práticas holísticas

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em saúde, compreendendo seu papel na reconstrução subjetiva da enfermidade e as tramas sócio-culturais que as sustentam e legitimam, garantindo a sua efetividade no cotidiano dos grupos sociais. A compreensão da doença e cura, a partir do seu universo referencial mais abrangente, no que diz respeito às redes de relações e à ordem cultural, ao longo das pesquisas no âmbito da sociologia e antropologia, têm permitido repensar e situar de outras formas os domínios de uma visão acentuadamente biológica e naturalizada da doença. Concretamente, isso tem significado abrir reais possibilidades para a abordagem da enfermidade como realidade não apenas biológica, mas também sócio-cultural; e da cura como processo mediado por símbolos constituídos e compartilhados /reproduzidos num grupo. Como caminho metodológico elegível, os itinerários terapêuticos, apresentados na literatura como recurso de demonstração da busca por cuidados, oferecem uma importante e interessante via de acesso ao conteúdo significativo desta pesquisa, constituindo sua fonte principal, bem como eixo orientador das análises. É neste sentido que buscamos, a partir da análise dos itinerários terapêuticos, compreender como e em que situações as práticas holísticas são assimiladas ao longo da experiência da enfermidade. O foco desta pesquisa consiste em compreender a assimilação destas práticas em função do que representam nos itinerários terapêuticos, nas histórias de vida que relatam a busca da cura e as necessárias transformações pelas quais passam esses indivíduos, os encontros e desencontros na experiência-limite da enfermidade; e a participação das redes de sociabilidade nas quais se insere aquele que busca sua cura. Logo, o presente trabalho segue uma tradição hermenêutica no campo das ciências humanas, que prioriza a compreensão dos fenômenos a partir da forma como são relatados e significados pelos atores sociais.

3- Circularidade da saúde/doença entre a comunidade nossa senhora das graças e a cidade - Manacapuru/AM

Suzete Camurça (UNINORTE)

O presente trabalho aborda as concepções e práticas do cuidar da saúde na comunidade Nossa Senhora das Graças, área rural do município de Manacapuru, Amazonas, e na área urbana do município, envolvendo médicos e outros profissionais de saúde pertencentes ao hospital Lázaro Reis e à maternidade Cecília Cabral. Adotou-se a pesquisa etnográfica, por meio da qual se pode constatar a complementaridade de práticas diferentes, oriundas da medicina popular e do Sistema Público de Saúde. Percebeu-se que as práticas de saúde da comunidade estabelecem uma profunda troca material e simbólica com a cidade, na forma de troca de plantas medicinais, remédios alopáticos, os cuidados com vacinação, os partos realizados na maternidade, a procura por rezadores e pegadores de desmentidura na cidade e na comunidade, entre outros. Os rezadores têm papel significativo no tratamento de diversas doenças, e muitos pacientes procuram tanto estes especialistas de cura quanto os médicos, agindo de forma complementar às práticas dos profissionais do Sistema Público de Saúde.

4- Religiosidade afro-brasileira, cura e promoção da saúde: visões de um mesmo tema

Márcio Luiz Mello (FIOCRUZ/RJ)Simone Santos Oliveira (FIOCRUZ/RJ)

Resultado de uma pesquisa etnográfica num templo religioso afro-brasileiro (RJ), este trabalho busca compreender as relações da religiosidade com a saúde, enfocando as formas com que os indivíduos vivenciam a doença, o sofrimento, a dor e a cura. O modelo biomédico é incapaz de lidar isoladamente com a complexidade dos problemas de saúde, necessitando de uma visão das ciências sociais para integrar os conhecimentos biológicos, sociais e culturais na compreensão das doenças. Utilizamos o enfoque interpretativo de Clifford Geertz, admitindo o processo saúde-doença e a busca de práticas terapêuticas

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como parte de um “contexto” cultural que envolve (re)interpretações contínuas de significados. A prática religiosa tem complementado as práticas médicas oficiais, constituindo-se em lugares de acolhimento, de cura e de saúde. Apontamos para a necessidade de aprofundamento de estudos desta temática que venham a se somar enquanto possibilidades de “cura” às práticas biomédicas.

5- Tabus, sensibilidades e cuidados entre o povo-de-santo

Francesca Bassi Arcand (UFBA)

Na literatura sobre o Candomblé as quizilas são associadas a tabus previamente codificados (AUGRAS, 1987). Embora algumas quizilas possam ser amarradas a certos símbolos prévios, outras se descobrem através de ojerizas, alergias, intolerâncias, doenças e sensações negativas. A partir de uma pluralidade de referimentos vai se constituindo a identidade do iniciado. A eficácia da quizila é tributaria de um conjunto de agenciamentos (filhos-de-santo, orixás, elementos do mundo) capazes de mobilizar um simbolismo ad hoc que, para alem de um código, permite a objetivação, isto é, a auto-revelação e, portanto, uma naturalização, dos agenciamentos implicados. Objetivos: De acordo a uma etnografia debruçada sobre o “corpo que sente” (SURRALLES, 2004), nesta comunicação abordarei a questão dos tabus em relação a sensibilidades negativas, mostrando como o adepto avalia, num processo sempre em construção, a própria dimensão religiosa, promovendo ou preservando o próprio bem-estar.

- Pôster 1: “E seja o que deus quiser”: o risco e o medo na relação sorodiscordante

Clareanna Viveiros Santana (UFPB)

Este trabalho tem como objeto de pesquisa casais heterossexuais sorodiscordantes, em que um possui soropositividade para o HIV e o outro, não. Busca-se discutir como ocorre a relação de medo e de risco, presente em sua conjugalidade sorodiferente. Devido às novas formas de tratamento, como terapias anti-retroviral, a expectativa de vida de portadores aumentou e, consequentemente, vêm aumentando o número e a duração de relacionamentos entre casais de sorologia diferente. Os métodos utilizados foram observações participantes e entrevistas semi-estruturadas. Diante das questões levantadas nas entrevistas, surgiram alguns apontamentos acerca de como os casais gerenciam sua conjugalidade dentro da lógica do risco e do medo e como isso reflete nos atendimentos especializados pelos profissionais de saúde.

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SESSÃO II

1- Fechando a “porta do feto”: saúde reprodutiva e contracepção entre indígenas no Alto Rio Negro

Fabiane Vinente (Unicamp)

A literatura etnográfica sobre as populações ameríndias costumam descrever as práticas contraceptivas entre as mulheres indígenas como associadas ao uso de plantas tradicionais, entretanto, as transformações no modo de vida relacionadas ao contato com a sociedade nacional e com os serviços de saúde tem proporcionado o acesso a variadas metodologias de contracepção oriundas da biomedicina. A partir do ponto de vista de diversos sujeitos este trabalho pretende explorar as diferentes perspectivas sobre o tema entre indígenas, especialmente os habitantes do Rio Tiquié das etnias Tukano e Dessana. A contracepção aparece de várias formas: na fala de homens indígenas aparece como uma prática própria das mulheres brancas e associada ao egoísmo dos pekasã (os não-

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índios); na fala das mulheres indígenas mais jovens aparece como algo desejável, à medida que lhes permitiria evitar o desgaste econômico e físico associado às grandes proles; na visão das lideranças do movimento indígena organizado, a contracepção é tida como uma grave ameaça política que ameaça a continuidade dos povos indígenas.

2- Intermedicalidade: a relação entre práticas de saúde indígena e o trabalho das equipes multidisciplinares de saúde nos índios Truká e Xukuru.

Rita de Cássia Maria Neves (UPE)

As populações indígenas utilizam de diversas práticas terapêuticas e interpretações acerca de sua doença. O principal problema que procuramos responder neste trabalho é como as práticas de autoatenção, entre as quais incluímos as práticas biomédicas, atuam em diálogo ou em confronto com as Equipes Multidisciplinares de Saúde (EMS) nas áreas indígenas, possibilitando ou dificultando a execução da “atenção diferenciada” como proposta na legislação específica. Este trabalho é resultado de uma pesquisa, com financiamento da FACEPE, que visa caracterizar a articulação entre os saberes tradicionais e a biomedicina na atenção à saúde nos Povos Indígenas de Pernambuco. Neste texto apresentarei os resultados do trabalho realizado junto às EMS, nos índios Truká e Xukuru, Pernambuco. Quando falamos em atenção diferenciada, consideramos que a mesma deve ser pautada por um processo relacional de “tratamento e diálogo”, instrumento fundamental para avaliação da atual política de saúde indígena

3- Negociações, conflitos e complementaridade entre o sistema médico Sanumá-Yanomami e o sistema oficial de saúde.

Sílvia Maria Ferreira Guimarães (UNB)

Este trabalho pretende refletir sobre como os especialistas do sistema médico do povo indígena Sanumá, subgrupo da família lingüística Yanomami, os xamãs, denominados na língua Sanumá, sapuli töpö, pensam a interação com o universo da biomedicina, os processos e técnicas terapêuticas que são impostos a eles e como atuam diante de pacientes que vivenciam o itinerário terapêutico da biomedicina ao xamanismo Sanumá.

4- Itinerários terapêuticos e contextos sociais específicos

Dassuem Reis Nogueira (UFAM)Maria Luiza Garnelo Pereira (FIOCRUZ/AM)

Em nossa pesquisa etnográfica sobre adoecer de malária em Livramento-AM a partir da compreensão de itinerários terapêuticos e representações sociais acerca da doença, contextualizamos socialmente a atuação do serviço de controle por meio de seus funcionários e a visão dos usuários sobre esses e o serviço. Parte da equipe de saúde era originária e moradora de Livramento e partícipe com os usuários na mesma organização social, compõem redes políticas que influenciam na atuação assimétrica do serviço de saúde, distribuição de bens e informações. Ao mesmo tempo é por meio desses profissionais ligados ao posto que os moradores obtêm informações sobre a malária e é sobre eles que recaem (ou não) os créditos de confiança no serviço de saúde. Tal configuração influencia nas escolhas dos moradores, pois atuam a partir das possibilidades objetivas e redes sociais de que dispõem. Alguns moradores buscam atendimento noutro lugar e não confiam de todo nos serviços realizados por esses funcionários.

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5- Experiências religiosas, agenciamentos e Estratégia Saúde da Família

Fátima Tavares (UFBA)

O trabalho a experiência religiosa no espaço territorializado da Estratégia Saúde da Família partir de uma perspectiva não essencialista. Serão abordadas situações, contingências e passagens utilizando referências bibliográficas e dados etnográficos. Pretendo avaliar a potencialidade de dois conceitos: a) O conceito de “acontecimento” implica em considerar modos de individuação não subjetivados, mobilizados em situações em que intervém uma infinidade de mediadores. Podem ser corpos possuídos, imprecisos e transformados; lugares e eventos em sua ambiência humana, material e ecológica. b) Através do “agenciamento” exploro a ideia de que as experiências religiosas que emergem dos “acontecimentos” não compõem um núcleo duro a condensar pertencimentos e delinear fronteiras de convicções doutrinárias ou cosmológicas. Muito pelo contrário, são transformações que apontam para além das subjetividades, redefinindo corpos e ambientes.

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Gt6- EDUCAÇÃO E CONFLITO INTERCULTURAL NA RELAÇÃO ENTRE POVOS INDÍGENAS E ESTADOS NACIONAIS

O presente Grupo de Trabalho busca permitir a ampliação de espaços para exposição, reflexão e intercâmbio de experiências em pesquisas inovadoras referentes aos estudos interculturais, tanto no relativo à educação indígena, como intercultural, como, de forma mais ampla, aos conflitos interculturais inerentes à relação imposta aos povos indígenas pelos Estados Nacionais. Contaremos com a participação de trabalhos sobre diferentes regiões da América Latina, em especial da região amazônica: Brasil, Peru, Venezuela e Colômbia. Buscamos trazer a Roraima novos debates sobre educação intercultural, que contribuam na construção de propostas educativas condizentes para responder às necessidades das comunidades indígenas.

Neste contexto é que o Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena vem formando professores indígenas no Curso de Licenciatura Intercultural, sendo que no Brasil hoje são aproximadamente 23 cursos em diferentes instituições de ensino superior que contam com apoio do MEC. Esta pode ser uma oportunidade especial para que os estudos e pesquisas realizados no contextos desses cursos de formação superior possam dialogar. Buscamos, a partir da troca de experiências, ampliar o debate epistemológico e metodológico, de forma a buscar novos horizontes de compreensão e atuação.

Este GT se propõe aberto a experiências diversas, e em particular, permitirá a divulgação de trabalhos de estudantes do curso Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran e de outros cursos da Amazônia.

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SESSÃO I- ESTADO, AGENTES EDUCATIVOS, MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA INTERCULTURAL

Moderador: Maxim Repetto

1- Cidadanias diferenciadas em contextos interculturais: uma abordagem teórica

Geisel Bento Julião (PUC-SP)

Atualmente o termo cidadania apresenta vários significados em função das ideologias que a norteia, daí o costume de adjetivá-la com o objetivo de fixar um sentido mais concreto. Fala-se, então, em cidadania responsável, plena, ativa, intercultural, etc. Existem ao menos quatro aspectos que têm forçado intensos debates em torno do tema que são: a globalização, a multiculturalidade e pluralidade da sociedade atual, a concepção de Estado-nação uniforme e homogêneo e a necessidade de um desenvolvimento sustentável universal. Este artigo tem três objetivos: a) conceituar cidadania indígena; b) analisar o conceito de cidadania sob duas perspectivas teóricas: Liberal e Comunitarista; c) analisar a construção de currículos em escola indígena de Roraima como exercício de cidadania indígena. Sua relevância está em trazer para o contexto acadêmico o debate sobre os conceitos de Estado, nação, cidadania e construção curricular na perspectiva comunitarista.

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2- La Ecología Política Indígena en los Movimientos Indígenas

Josè G. Vargas-Hernàndez (University of Guadalajara)

El propósito de este trabajo es analizar el impacto que los movimientos sociales tienen en el reconocimiento de los movimientos indígenas, y mas específicamente en la ecología política indígena. El componente étnico de los movimientos indígenas se orienta a la conclusión que no pueden ser estudiados como otros movimientos sociales bajo un acercamiento teórico de la teoría de los movimientos sociales. Finalmente se analiza la tendencia de la trans nacionalización de los movimientos indígenas.

3- Discursos y agendas de educación en el pueblo mapuche en Chile: Conflictos interculturales, tensiones y desafíos para la concreción del proyecto de “autodeterminación”

Fabian Flores Silva (Universidad De Los Lagos, Chile)

Desde una perspectiva sociohistórica y etnográfica, el artículo caracteriza las principales agendas de educación desarrolladas por comunidades y organizaciones del pueblo mapuche en los últimos cinco años, y muestra cómo éstas han sido configuradas por dos proyectos que se hacen presente conflictivamente: El de autodeterminación propuesto por el movimiento Mapuche, y el de etnodesarrollo promovido por el Estado de Chile.

El análisis de las agendas de educación de diversos actores del pueblo Mapuche, y también de los escenarios socioculturales y políticos en el que éstas se despliegan, permitirá reflexionar sobre tres asuntos: La confluencia y tensión entre diversos proyectos de educación Mapuche, las posibilidades y límites para concretar el proyecto de “autodeterminación” proclamado por un sector del movimiento, y también, sobre los conflictos “interculturales” que estas agendas expresan, principalmente en la forma en que son tratadas por instituciones educativas y estatales.

4- Questionando a interculturalidade: conflitos e oposições na gestão pública da educação escolar indígena Fulni-ô em Águas Belas/PE

Adjair Alves (UFPE)

Do ponto de vista sócio-histórico e antropológico, não se pode negar que a relação entre poder público e as culturas indígenas tenham significado perdas culturais qualitativas para estas últimas. Isto tem ocorrido, por um lado, pela vulnerabilidade política das culturas indígenas frente ao poder do Estado, que impõe a elas uma dependência no campo da legislação, mas também, da economia, e por outro lado, pelas presunções de setores da sociedade civil que entendem como necessários, o processo de mudança, radical, como forma de assimilação e integração dessas culturas. Nosso estudo objetiva a análise das contradições desse processo, a partir das vivências etnográficas no aldeamento Fulni-ô em Águas Belas.

5- Filosofia indígena, valores sociais, território e currículo intercultural

María Alejandra Rosales Vera Barbosa(Insikiran/UFRR)

Subsidios para una metodologia de educación patrimonial alimentaria contextualizada con los indígenas de la ciudad de Boa Vista, en Roraima. La propuesta de estudio Subsidios para una metodología de educación patrimonial alimentaria contextualizada con los indígenas de la ciudad de Boa Vista, en Roraima tiene el objetivo de contribuir en la construcción de una metodología participativa de educación

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patrimonial, dirigida a los pueblos indígenas de Roraima. El plan de investigación, inicialmente, será realizado junto a los indígenas residenciados en Boa Vista y obedecerá las siguientes etapas: observación, registro, exploración, apropiación, validación/evaluación. En la actualidad, la concepción de patrimonio cultural alimentar está asociado a los conceptos de identidad, memoria, autonomía y soberanía alimentaria, es por esto que, conviene recordar que la necesidad identitaria y el deseo de memoria son factores determinantes en tiempos de globalización de la cultura. ¿Y como tratar de revalorización del patrimonio cultural en las culturas indígenas con esta realidad actual? Creemos que una metodología de educación patrimonial contextualizada sea un camino viable para contribuir con acciones y políticas de alcance nacional y regional en el enfrentamiento de este problema. Es necesario que el contexto local sea considerado, así como, la plena participación de los indígenas, tanto en los programas curriculares de las escuelas de la ciudad y de las comunidades indígenas, como en los proyectos de educación no-formal que tengan como foco el patrimonio cultural alimentar. El conocimiento crítico y la apropiación por los indígenas de su patrimonio cultural son factores indispensables en el proceso de revalorización de esos bienes inmateriales, en el fortalecimiento de su identidad y ciudadanía y principalmente, en la autonomia y gestión de sus territorios.

6- Sociedad nacional vs. Sociedad bosquesina: ¿Qué valores sociales enseñar en las comunidades y escuelas bosquesinas?

Jorge Gasche (IIAP – Peru)

Las investigaciones-acciones colaborativas sobre la educación indígena primaria que un equipo peruano llevó a cabo a mediados de los años 80, en Iquitos, desembocaron en la creación del Programa de Formación de Maestros indígenas especializados en Educación Intercultural y Bilingüe (FORMABIAP). En los primeros años de su realización (1987-97) se elaboró el método intercultural inductivo y la articulació intercultural de contenidos, sobre los que nos hemos expresados en textos anteriores. Esta experiencia, que a partir de 1997 se extendió a los maestros chiapanecos de la UNEM con el apoyo del CIESAS de San Cristóbal y México, luego a maestros en formación de las UPN de diferentes estados mexicanos, hasta, finalmente, llegar a los maestros de la UFRR y UFMN del Brasil, dejó fuera de sus alcances dos ejes de reflexión: 1. lo que se podría llamar la “filosofía indígena”, y 2. los valores sociales. En otras expriencias de programas interculturales tampoco encontramos planteamientos concretos y explícitos sobre el manejo y el lenguaje pedagógico con los que se podrían trabajar estos temas en la escuelas indígenas. Mi propósito es formular precisamente un planteamiento de este tipo, que permita un práctica pedagógica consecuente en las escuelas, sobre lo que llamo “los valores sociales bosquesinos”, que abarcan los valores sociales de las poblaciones amazónicas rurales, sean ellas indígenas, o mestizas, ribereñas y caboclas. Expondré una lista de estos valores con sus definiciones y sus referencias a las conductas personales e interpersonales observables, - lista que, de por sí, si se quiere llamarla así, circunscribe en términos objetivos (con los que cada sujeto bosquesino se puede identificar subjetivamente) lo que de ahora en adelante podríamos llamar “identidad bosquesina”. Este planteamiento, además, crea las bases objetivas de una solidaridad política y socio-cultural posible entre indígenas y mestizos/caboclos amazónicos, que comparten el mismo universo de valores sociales que, por el contrario, se distinguen claramente de los valores sociales urbanos y nacionales. Con nuestra exposición, ilustramos los avances de investigación realizados en el IIAP de Iquitos en los últimos 10 años.

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SESSÃO II- ESCOLAS, INFÂNCIA INDÍGENA E SOCIALIZAÇÃO SOCIOCULTURALModerador: Jorge Gasche

1- Educação Escolar Indígena e processos próprios de ensino-aprendizagem: reflexões a partir de alguns casos Jê.

Odair Giraldin (Universidade Federal do Tocantins)

Desde o início da década de 1990 a educação escolar vem se ampliando em diversos povos indígenas no Brasil, havendo maior ou menor universalização do acesso de acordo com os contextos políticos dos Estados e/ou municípios que administram a oferta. O preceito constitucional e as determinações legais de que a educação escolar indígena seja específica, diferenciada, intercultural e bilíngüe, esbarram na barreira sociocultural do pouco entendimento, por parte dos não-indígenas gerenciadores da educação escolar indígena, do que venha a ser o processo próprio de ensino e aprendizagem de cada povo. Nesta comunicação, a reflexão sobre esse contexto será feita a partir de experiências com pesquisa e extensão sobre a educação escolar indígena a partir dos povos Xerente, Krahô, Pykobjê, Ramkokamekrá-Canela e Apinaje. Argumentar-se-á que o entendimento claro dos processos próprios de ensino e aprendizagem de cada povo é condição sine qua non para a efetivação do preceito constitucional da educação escolar indígena.

2- De identificaciones e identidades: Niñas y niños indígenas trabajadores ¿Educación para la vida o violación de derechos?

Zulema Gelover Reyes(Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropologia Social/México)

El proyecto intenta dar cuenta de las “nuevas realidades” y otras no tan nuevas que se multiplican, en las y los niños indígenas se insertan en procesos identitarios complejos, algunos ambivalentes (Gasché, 2008a), en los que la cultura de origen y la cultura hegemónica se confrontan y la mayoría de las veces la primera pierde frente a la segunda, por ejemplo en el uso de la lengua, en la práctica de los usos y costumbres, en la organización comunitaria, en el tipo de producción y reproducción económica, para darle paso a la individualización social, a la macro-diversidad religiosa, política y a las tribus juveniles, a la influencia excesiva de los medios de comunicación, al desarraigo, a la ociosidad. Sostengo pues, que la escolarización misma les brinda a niñas y niños en contextos interculturales una vasta gama de posibilidades de cómo ser niño/adolescente/joven/hombre/indígena y niña/adolescente/mujer/indígena; aún si esta formación choca con las prácticas y socialización primaria que reciben en su familia, así, me remito al trabajo como una actividad, como un elemento más en la conformación de la persona y de su ciudadanía, confrontándolo con las nociones teóricas y los marcos legales que han caracterizado al trabajo mismo desde una visión completamente ajena a la de los sujetos en cuestión. Destaco que estas formas de hacer y ser que defienden “universalmente” a la Infancia, han sido impuestas por instituciones y sujetos de la sociedad hegemónica que han visto como objetos a los grupos sociales distintos a ellos sin analizar como en colectivo los niños y las niñas se construyen día a día observando, escuchando, preguntando, trabajando, imitando, jugando, haciendo desde la milpa, el fogón o la fiesta.

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3- Escolas indígenas, identidades e conhecimento: entre oportunidades e dificuldades

Max Maranhão (UECE)

Esta apresentação pretende analisar a produção cultural de escolas “diferenciadas” para indígenas no Nordeste brasileiro. Com base em investigação etnográfica entre os índios Tapebas, em Caucaia-CE, analiso de que modo as interações entre inúmeros agentes contribuem para a produção de um ideal pedagógico. Este ideal, e as práticas que constituem a escola, estão relacionadas com ação de agentes situados em tempos e espaços distintos (Igreja Católica, ONGs, pesquisadores, Estado etc), bem como a processos relacionados à regularização fundiária, a circulação de discursos sobre direitos humanos, direitos indígenas e políticas interculturais. Exploro como estas situações e agentes definem a noção de conhecimento indígena e como isto gera oportunidades e dificuldades para as escolas.

4- Posiciones políticas, jurídicas y ciudadanas en la educación intercultural en México:¿conflicto entre sociedades alternas o tolerancia multicultural?

Maria Bertely Busquets (CIESAS – México)

Se exponen las posiciones políticas y jurídicas que se dirimen en la relación entre las agencias globales, el Estado nacional y los educadores indígenas organizados desde Chiapas, a partir de la Red de Educación Inductiva Intercultural (REDIIN). Esta red involucra a profesores indígenas autónomos y oficiales de diversas entidades federativas de México. Las tensiones entre las nociones de conflicto intercultural o tolerancia multicultural implican actitudes heterónomas o autónomas con respecto a la relación entre el profesorado indígena y las agencias estatales; distintas vías para el ejercicio activo de los derechos individuales y colectivos; así como metodologías contrapuestas en cuanto a la direccionalidad de las políticas públicas: de arriba hacia abajo, o de abajo hacia arriba.

5- Los valores positivos de las sociedades indígenas ¿cómo abordarlos con profesores indígenas?

Rossana Stella Podestá Siri (Benemérita Universidad Autônoma de Puebla y Universidad Pedagógica Nacional 211, México)

En esta ponencia pretendo describir algunos aspectos relevantes que nos han permitido interaprender a los no indígenas con maestros indígenas (independientes y oficiales que forman parte de la Red Inductiva Intercultural -REDIIN) dentro de un programa de formación de maestros que pretende poner en práctica un nuevo paradigma de educación intercultural basado en el conflicto (Bertely, Gasché 2008). Los aspectos centrales de este entrenamiento los expondré a lo largo de este trabajo. Entre los objetivos se encuentra lograr un reposicionamiento del ser indígena frente a lo mestizo a partir del análisis de conceptos claves partiendo del de ambivalência, mismo que trabajamos a partir de las historias de vida y lingüísticas de los alumnos-maestros, entre otras estrategias que confluyen en esta transformación.

6- A pesquisa do calendário cultural e a construção de novas propostas curriculares nas escolas indígenas

Maxim Repetto (Instituto Insikiran / UFRR)Fabíola Carvalho (Instituto Insikiran / UFRR)

Apresentaremos os avanços e reflexões geradas no marco da pesquisa desenvolvida por dois projetos universitários de formação docente, ambos desenvolvidos no contexto do curso Licenciatura

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Intercultural da UFRR. Estes projetos são: a) PIBID Licenciatura Intercultural; e b) PET Intercultural. Ambos projetos vem realizando ações de formação, pesquisa e extensão universitária junto a comunidades e escolas indígenas e têm como marco teórico e metodológico a pesquisa do calendári cultural, em diálogo com a proposta educativa indutiva intercultural (Gasche e Bertely). Esta proposta de trabalho coloca em foco de debate os conhecimentos culturais em vista a transformar o currículo escolar para que esta integre valores e responda às necessidades sociais, comunitárias e ambientais que vivem as comunidades indígenas na atualidade.

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SESSÃO III- FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS, UNIVERSIDADE E INTERCULTURALIDADEModerador: Maria Bertely

1- Magistério Tapeba, Pitaguary e Jeninpapo-kanindé: consensos e dissensos no projeto de formação de docentes indígenas no Ceará

Rita Potyguar (UECE)

No movimento indígena, a luta por educação escolar é marcada por consensos e dissensos ligados aos diferentes lugares da escola nos projetos de sociedade dos grupos. Tal situação evoca também as relações de poder existentes nas suas (re)configurações sociais e políticas. Pensando nestas questões, investigo o Magistério Indígena Tapeba, Pitaguary e Jenipapo-Kanindé, sob três aspectos. No primeiro apresento as relações entre os professores e lideranças tradicionais das comunidades indígenas, nas quais estão em disputa os espaços de decisão desses grupos étnicos. Um segundo feixe de relações é aquele que diz respeito às interações e aos conflitos presentes entre as três etnias participantes do curso. Finalmente, no terceiro bloco, referencio a natureza das relações estabelecidas entre os índios e os órgãos de governo diretamente envolvidos com a execução do curso. Sob os três, busco evidenciar os conflitos interculturais que permeiam as várias formas de interação entre os indígenas e o estado.

2- A formação de professores indígenas e as relações interculturais no contexto da universidade pública brasileira

Marcos Antonio Braga de Freitas(Instituto Insikiran / UFRR)

O objetivo deste trabalho é perceber e analisar a trajetória na formação de professores indígenas do Curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima, mostrando de que forma as atividades didático-pedagógicas acontecem, bem como as parcerias e manutenção do curso; além das implicações socioculturais e educacionais das turmas de egressos do referido curso, em 2009 e 2010. Um outro aspecto nas relações interculturais e o diálogo com o Estado é a criação de cursos específicos para indígenas, visando atender as demandas dos povos e comunidades indígenas de Roraima. O curso de Licenciatura Intercultural foi criado em 2002 como respostas da universidade as demandas e lutas dos povos indígenas do Estado de Roraima. No âmbito da UFRR, há uma unidade acadêmica específica para tratar da educação superior indígena, com cursos específicos em que além da licenciatura, foi criado em 2009 a Gestão Territorial Indígena para formar e qualificar gestores indígenas para atuarem nas políticas para os territórios indígenas. Cabe destacar que as licenciaturas indígenas hoje é uma realidade nas instituições de ensino superior, tendo aproximadamente 23 cursos em andamento em nível nacional, resultado da luta dos indígenas, mas também uma mudança de postura do estado em relação a essas populações? Nesse sentido, é importante entender como se dá essa dinâmica e sua relação com o estado; além de percebermos as implicações na organização social das comunidades indígenas e na própria escola indígena, se propõe o presente trabalho.

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3- Educação Intercultural na Universidade do Estado de Mato Grosso: vivenciando as licenciaturas indígenas.

Sandra Maria Silva de Lima (Faculdade do Pantanal- FAPAN) Elias Renato da Silva Januário (Universidade do Estado de Mato Grosso)

As políticas educacionais para indígenas vieram de programas não governamentais nas últimas décadas do século XX pelo protagonismo por autonomia e conhecimento da sociedade brasileira. O Estado deve instrumentalizar essa qualificação, a Universidade do Estado de Mato Grosso foi pioneira na América Latina em oferecer licenciaturas específicas em Barra do Bugres em regime de formação em serviço nos dez semestres com etapas presenciais e intermediárias para formação superior. Objetivou a confecção de um mosaico intercultural com alunos de 12 etnias possibilitando diálogos sobre Direito Ocidental, Indigenista e Indígena, Sociambientalismo, Multiculturalismo e Pluralismo Jurídico considerando problemáticas sociais como criminalidade, alcoolismo, prostituição e drogas presentes nas aldeias. Para combatê-las necessitam de respeito e visibilidade aos costumes e diferenças culturais, à propriedade comunitária e gestão dos recursos ambientais. Revelou importante para desmistificar o monismo estatal e que práticas de integração e assimilação sejam abolidas para os povos indígenas exercitarem seus códigos de leis e valores.

4- A Educação Superior em Rondônia em contextos interculturais: desafios e perspectivas

Cristovão Teixeira Abrantes (Universidade Federal de Rondônia)Edineia Aparecida Isidoro (Universidade Federal de Rondônia)

José Joaci Barboza (Universidade Federal de Rondônia)

A presente proposta tem como objetivo descrever e analisar a constituição do curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural na Universidade Federal de Rondônia – UNIR, enfatizando as lutas das organizações indígenas pela constituição de um curso que atenda as necessidades históricas de uma educação que respeite a diversidade cultural e linguística e, atenda as demandas locais por um desenvolvimento econômico sustentável. Busca demonstrar a diversidade lingüística e cultural existente tanto no curso como nas escolas indígenas. Essa diversidade tem se constituído em objeto de reflexão e estudo por parte dos professores, que buscam compreender e construir propostas que deem conta tanto das trocas culturais existentes no curso como nas próprias comunidades e, que as mesmas não se constituam em exercício de poder nas relações interculturais. A proposta se justifica na medida em que reflete uma temática atual no que diz respeito á educação intercultural e, de modo especial, a educação superior indígena.

5 - Informática, formação de professores indígenas e interculturalidade

Jovina Mafra Santos (Instituto Insikiran / UFRR)

O texto analisa a experiência do ensino de informática durante a formação de professores macuxi, wapichana, ingaricó, taurepang, wai-wai e ye'kuana no Curso de Licenciatura Intercultural/ Insikiran/UFRR. O curso habilita professores indígenas em licenciatura plena com enfoque intercultural e transdisciplinar nas áreas de Ciências Sociais, Comunicação e Artes e Ciências da Natureza. Os professores indígenas sabem da importância das tecnologias nas sociedades atuais e sentem a necessidade de conhecer e dominar essa nova forma de linguagem presente hoje na educação e no dia a dia de algumas comunidades. A aquisição dessas novas ferramentas devem ser feitas de forma consciente e deve possibilitar a busca de novas alternativas de aquisição de conhecimentos. A proposta é que o professor indígena não somente adquira novos conhecimentos para desenvolver seus trabalhos

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acadêmicos, mas que possa desenvolver atividades e projetos de pesquisa interdisciplinares ou transdisciplinares com seus alunos em suas comunidades e com isso fortaleça a cultura desses povos. A formação buscou inserir as ferramentas da informática para a melhoria da qualidade do processo do ensino e aprendizagem do professor indígena. Neste contexto a internet é uma ferramenta importante como fonte de pesquisa. Nestas oficinas os professores indígenas têm a possibilidade de aprender a lidar com essa novas forma de linguagem e, também, de utilizar a internet como uma ferramenta pedagógica e de construção de Material educativo. A partir desta experiência discutiremos os alcances e desafios da educação intercultural.

6 - A licenciatura intercultural na UFG: aproximações e reflexões etnográficas

José Estevão Rocha Arantes (UFG)Mônica Pechincha (UFG)

Este trabalho visa realizar uma etnografia sobre o encontro entre indígenas-alun@s e professor@s da Licenciatura Intercultural na Universidade Federal de Goiás. Ao falarmos de encontro, estamos nos referindo à relação que se constitui entre os grupos étnicos participantes da Licenciatura Intercultural e os/as professores/as (outro grupo étnico?) que estão diretamente vinculadas ao curso. Partindo do pressuposto que este encontro provoca movimentos permeados pela esfera política, que se desenvolve em vários sentidos, é que lançamos algumas questões que “suleiam” nossa reflexão: como o “saber localizado” em bases epistêmicas diferentes, outras racionalidades (indígena e acadêmico-ocidentalizado) se relacionam? Quais as reações e provocações que emergem desse encontro? Como as relações de poder que estruturam historicamente a construção do conhecimento são sentidas/vivenciadas pelos atores envolvidos nessa formação? Espero aqui poder apresentar as facetas desse encontro, suas bases e os seus efeitos para cada agente envolvido.

7- Licenciatura Intercultural Indígena: possibilidades de diálogos com as novas tecnologias

Romy Guimarães Cabral (UEA)Claudina Azevedo Maximiano (UEA)

A presente abordagem traz a experiência da Licenciatura Intercultural Indígena, mediada por tecnologia, na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O curso atende 32 povos indígenas espalhados em 52 municípios do Estado. Atualmente, essa licenciatura está em processo de (re)elaboração no intuito de atender, especificamente, a demanda dos povos indígenas e do movimento indígena. Este artigo justifica-se pelas implicações na área da educação superior indígena mediada por tecnologia, face ao critério de interculturalidade, tendo como objetivo ampliar as discussões em torno dos desafios sobre a formação acadêmica e profissional dos professores indígenas.

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Gt7- PATRIMÔNIO IMATERIAL, MEMÓRIA E IDENTIDADE

O GT, em segunda edição na ABANNE, pretende reunir pesquisadores e técnicos atuantes na produção de conhecimentos e na formulação e/ou implantação de ações, projetos e programas no campo do patrimônio cultural imaterial de diferentes grupos sociais, compreendido, na legislação brasileira, como aquele que engloba ofícios e modos de fazer, celebrações, formas de expressão e lugares dotados de alta significação e relevância, com valor de referências culturais.

O objetivo é não só promover a circulação e atualização de conhecimentos produzidos no campo, mas também debater a variedade de ações visando o patrimônio imaterial em curso no Brasil, suas implicações, limitações e alcances, tanto do ponto de vista téorico-conceitual – considerando o 'inflacionamento' da categoria patrimônio – quanto político-social, considerando o potencial transformador de ações incidentes sobre conhecimento tradicionais, padrões duradouros de relações de gênero e trabalho, sistemas morais e direitos peculiares, entre outros. Abordando temática de crescente importância no país – uma vez que ações voltadas para o patrimônio imaterial têm se associado, frequentemente, a políticas afirmativas de identidades e de direitos intelectuais, à memória, a terras, a equipamentos culturais, entre outras afetas à Antropologia – o GT contribui para a reflexão e a ação em três eixos principais:

1. Patrimônio e identidades específicas – das relações entre memória e patrimônio em processos de (re)construção e fortalecimento de identidades de grupos específicos frente à sociedade abrangente;2. Patrimônio, organização e mudança social – das muitas experiências de intervenção social que pretendem conduzir grupos sociais determinados em processos de mudança em que pese o patrimônio cultural desses grupos;3. Patrimônio e seus ritos – da dimensão político-institucional dos processos de patrimonialização e da ritualização das relações entre diferentes interlocutores (Estado, grupos formais e informais, indivíduos).

SESSÃO I- PATRIMÔNIO E IDENTIDADES ESPECÍFICAS

1- Gambá: resultados preliminares sobre os tambores e ritmos do Baixo Amazonas

Cristian Pio Ávila (UFAM)

Esta apresentação planeja descrever os primeiros surveys realizados no Baixo Amazonas sobre a expressão conhecida como gambá. O gambá é descrito tanto como um ritmo, um tipo de dança como também uma espécie de instrumento percussivo (reconhecido como tambor) produzido em madeira nativa e coberto com pele de animais silvestres. Pode ser encontrado no interior de diversos municípios do Amazonas, principalmente entre comunidades ditas “caboclas, indígenas (sateré-mawê) e quilombolas. O gambá é expressão representativa dos grupos ribeirinhos, sendo locus importante das alianças históricas perpetradas entre esses diversos grupos. Por meio do gambá, e de seu trânsito por entre os rios do Baixo Amazonas (que viaja por meio da esmolagem) é possível se visualizar também as redes constituídas entre os diversos grupos ali residentes: indígenas, caboclos e ribeirinhos. São ao som do gambá que se reúnem as festas de santos, as alianças de casamento, as promessas de compadrio – todas acompanhadas de trocas materiais e culturais bastante interessantes ao conhecimento antropológico da região.

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2- Patrimônio doce: significância sociocultural do chouriço sertanejo

Maria Isabel Dantas (IFRN)

A partir de dados etnográficos, colhidos no Seridó do Rio Grande do Norte, sobre os saberes e fazeres associados ao chouriço – um doce feito com sangue de porco, rapadura, coco, farinha e especiarias – analisamos a relação entre essa prática cultural e as festividades locais e a sua importância para um tipo de economia doméstica fundamentada nos princípios do interconhecimento e da confiança. Trata-se de uma prática cultural geralmente dominada pelas mulheres, sendo percebida por muitos seridoenses como um patrimônio cultural alimentar. Os saberes e fazeres associados ao chouriço estão ligados a um estilo alimentar, a uma organização econômica, as formas de sociabilidades e de cooperação econômica. Como um bem patrimonial doce, o chouriço é um símbolo com o qual alguns seridoenses constroem sentimentos de pertencimento a um estilo alimentar, a uma cultura e a um lugar, o que sugere uma reafirmação de vínculos entre comida e cultura e sociedade, entre festa e comida.

3- A língua como patrimônio identitário dos Kaingang em São Leopoldo – RS/Brasil

Walmir da Silva Pereira (UNISINOS)Roseli Bernardo dos Santos (UNISINOS)

O povo Kaingang está concentrado no Brasil meridional, pertence à família linguística e cultural Macro Jê. Nosso estudo visa apresentar um recorte da distintividade identitaria dos Kaingang em São Leopoldo-RS, compreendendo a língua como patrimônio cultural, potencializador de conhecimentos e resistência, frente aos elementos exógenos da cultura ocidental. Neste contexto busca-se refletir sobre o universo cultural e histórico dos atores sociais tendo em vista os processos de interação entre os mesmos e suas vivências no espaço urbano. Na observação indaga-se sobre a permanência da comunicação através da língua materna, artefato patrimonial que ao longo dos séculos foi sensivelmente afetado pelo processo colonização. Nesta perspectiva, a metodologia de estudo de campo trata-se de observações etnográficas do cotidiano e entrevistas com os sujeitos indígenas da coletividade Kaingang de São Leopoldo.

4- Restrições alimentares entre etnias de Mato Grosso

Elias Renato da Silva Januário (UNEMAT)Gabrielle Balbo Crepaldi(UNEMAT)

As cosmologias indígenas representam modelos jamais vistos antes em sociedades humanas, esses conhecimentos são passados de geração para geração e são construídos através da observação e no dia a dia dessas comunidades, nesse sentido o presente artigo tem por objetivo conhecer as restrições alimentares existentes entre etnias Mato-Grossenses, com enfoque nas etnias de alunos da Faculdade Indígena Intercultural que foi o grupo alvo da pesquisa. A mesma foi de cunho etnográfico e de abordagem qualitativa com instrumentos metodológicos de entrevistas semi estruturadas a 35 alunos indígenas, com uma amostra de 18 etnias do Estado, nos anos de 2010 e 2011. Os resultados mostraram que as restrições ocorrem em períodos específicos como de reclusão, gravidez, alimentos destinados aos mais velhos, bem como alimentos que deram origem a etnia. É de fundamental importância que sejam realizadas ações governamentais que promovam a conservação e preservação dessas práticas culturais.

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5- Sociabilidades festivas em perspectiva: uma comparação entre Brasil e Portugal

Ulisses Neves Rafael (UFS)

A finalidade dessa apresentação é comparar as Festas dos Santos Populares, ou Festejos Sanjoaninos, modalidade que se inscreve na tradição dos velhos folguedos lusitanos de origem agrária, com uma ocasião festiva verificada no Brasil, também no mês de junho: a novena de Santo Antônio. O evento analisado, em particular, desenvolve-se na colina do bairro de Aracaju que leva o nome do santo e local onde se originou a capital sergipana; e o Forró Caju, que gira em torno das comemorações em homenagem a São João, mas onde predominam os aspectos mais profanos da celebraçãoA comparação, para além do caráter etnográfico, visa destacar, por um lado, a presença de elementos ligados à ordem, à hierarquia e à disciplina e, por outro, à anarquia, à desordem e à carnavalização que ressalta dos dois contextos, em situações homólogas. Para além do caráter etnográfico, a análise visa, ainda, destacar os processos através dos quais aspectos significativos das identidades dos dois países são constituídos por intermédio dessas ocasiões festivas.

Pôster: Relatos kanamari: memória e deslocamentos de um grupo indígena da Amazônia brasileira

Lilian Débora Furtado Lima (UFAM)

O presente trabalho trata dos resultados da monografia realizada sobre os Kanamari. Estes se autodenominam Tüküna e Canamari, estão localizados a oeste do Estado do Amazonas, somando-se 1654 indivíduos, pertencentes à família linguística Katukina. O grupo ao qual realizei minha pesquisa de campo, localiza-se no Rio Itaquaí, na Terra Indígena Vale do Javari, Aldeia Remancinho. Tem como principal objetivo, analisar os deslocamentos Kanamari ao longo dos anos a partir do contato, levando em consideração fontes etnográficas e etno-históricas e relatos Kanamari. Através de seus relatos vislumbramos várias motivações e alguns conflitos que influenciam na dinâmica dos deslocamentos, no “fortalecimento” de suas identidades e na sua relação com outros grupos, seja Kanamari, seja outro grupo étnico. Em suma, os resultados deste, forneceram dados qualitativos para uma análise posterior mais aprofundada e fundamentada, que pretendo realizar futuramente.

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SESSÃO II- PATRIMÔNIO, ORGANIZAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL

1- Edificando o invisível, preservando identidades em Vila de Abrantes, BA

Edmundo Fonseca Machado (UFS)

O artigo constitui-se como recorte de uma abordagem de cunho antropológico mais amplo, realizado no contexto festivo ao Divino Espírito Santo, ocorrido no período de Pentecostes de 2010 nessa localidade. Nesse sentido, tal contexto no qual a pesquisa antropológica foi se desenvolvendo, fez emergir o conteúdo a ser analisado nesse artigo, onde pelo inventário dos bens realizado pelos próprios abrantinos, considerando-os como patrimônio imaterial de sua cultura, este objetiva compreender como a memória destes moradores é utilizada na reconstrução de lugares e na preservação de identidades, possibilitando dessa forma, o entendimento dos valores cognitivos em torno das edificações de Vila de Abrantes, que distinguiriam visões de mundo distintas.

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2- Pankararu: o ressurgir de um povoLudmila Farias Ribeiro (UFPE)

O atual Nordeste do Brasil foi uma das primeiras regiões do país que passou pelo processo de colonização e contato interétnico. Os povos indígenas dessa região foram distribuídos entre diferentes aldeamentos e suas terras divididas entre posseiros e não índios, o que fez acreditar até meados do século XX quando se iniciou um movimento de emergência étnica, que os mesmos estavam extintos. O presente artigo apresenta um breve levantamento dos momentos do encontro, aldeamento, desaparecimento e ressurgimento do povo Pankararu que se encontra localizado na região Nordeste do Brasil, mais precisamente em Tacaratu a 453 km de Recife, sendo o principal foco os momentos do processo de emergência étnica e os meios utilizados para que tal acontecimento se concretizasse tendo em vista que semelhantes acontecimentos ainda ocorrem no Brasil e no mundo e da importância dos mesmos na auto-afirmação e no reconhecimento identitário desses grupos enquanto etnia diferenciada.

3- Brincando de bonecos: magia e mímese no Rio Piracicaba

John Cowart Dawsey (USP)

Neste ensaio procura-se ver como manifestações de cultura imaterial despertam uma memória involuntária da cidade. Às margens do Rio Piracicaba, nos arredores da Casa do Povoador, surgem os “bonecos do Elias”, vestidos de roupas caipiras e segurando varinhas de pescar. Imagens do passado articulam-se ao presente num momento de perigo. Histórias que se contam a respeito dos bonecos – que são “queimados, despedaçados e arremessados ao rio” – evocam, como imagens miméticas, dramas sociais vividos por “velhos barranqueiros” do rio. Através de comportamentos miméticos de quem imita suas imitações, moradores ganham forças para lidar com transformações urbanas que ameaçam desalojá-los das beiras do rio, revitalizando princípios de reciprocidade a partir de quais se tecem a vida social e as relações com o rio. Irrompendo ao lado de monumentos históricos, imagens de bonecos pescadores também impedem a obra de esquecimento que se produz, paradoxalmente, em projetos de “preservação da memória”.

4- Religiosidade na sociedade contemporânea e o desenvolvimento de um novo tipo de mercado: o turismo religioso

Melise Lima Lunguinho(UFCG)

Nos últimos anos, com a crescente diversidade religiosa,surge um fenômeno intitulado“pluralismo religioso”. Caracterizado pelo sincretismo,difusão de novas práticas, ou até mesmo, transformação e reformulação das antigas, essas “novas religiosidades” são marcadas por deslocamentos humanos, sejam eles individuais ou coletivos, instigados pela fé.A procura por milagre faz com que as pessoas realizem peregrinações constantes a esses locais. O presente trabalho lança uma discussão acerca do que se convencionou chamar de “turismo religioso”, elucidando as transformações sofridas pelo campo religioso em contraponto a esferas não-religiosas como o turismo e a política.Tomando para si a acepção de turismo religioso como sendo um segmento do mercado turístico que envolve negócios e lucros com a realização de romarias e peregrinações, ele constitui-se, por eventos que comemoram algum tipo de manifestação religiosa que independe da crença. Analisaremos as conseqüências advindas com esse fenômeno.

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5- Patrimônio Documental como fator relevante no estímulo do afloramento de Patrimônios Imateriais de grupos na luta pela legitimação de suas identidades e exercício da cidadania

Sônia Missagia Mattos (UFES)

Esta comunicação é fruto de pesquisas realizadas durante estudos pós-doutorais, pela CAPES, quando tive a oportunidade de encontrar um rico e inédito acervo documental, inclusive mapas, sobre a Aldeia de Iriritiba, Capitania do Espírito Santo, fundada por Padre José de Anchieta - atual cidade de Anchieta. Objetiva mostrar que tal Patrimônio além de fornecer subsídios para corroborar na legitimação de terras tradicionalmente ocupadas por um grupo que se auto-reconhece descendente dos habitantes da antiga Aldeia, ameaçados de migrar forçadamente, devido a implantação de mega Projetos de Desenvolvimento Econômico da indústria siderúrgica (VALE) - têm auxiliado na recuperação de Patrimônios (materiais e imateriais) e ambientais potencializando-os a rememorar pessoas, acontecimentos, nomes e lugares de alta significação para o grupo, como o antigo cemitério. Sendo de fundamental importância para acentuar o significado de vida em conjunto que se concretiza em mobilização de ações.

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SESSÃO III- PATRIMÔNIO E SEUS RITOS

1- Objetos em foco: Roquete-Pinto e uma coleção etnográfica do Museu Nacional (1912)

Rita de Cássia Melo Santos (PPGAS/MN/UFRJ)

Optei neste trabalho pela análise e descrição da coleção etnográfica formada, em 1912, por Roquette-Pinto, antropólogo do Museu Nacional, integrantes da CLTEMTA (Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas) e indígenas, alguns deles também funcionários da Comissão. A proposta apresentada é compreender os mecanismos pelos quais, no Brasil das primeiras décadas do século XX, tal coleção foi formada. Trata-se de uma tentativa de entender não apenas a operação de suas redes de fornecimento, de seus circuitos de troca e circulação, mas também dos valores e significados nela postos pelos atores sociais em jogo. Pretende-se com este artigo explorar as múltiplas dimensões (espaciais, temporais e simbólicas) da biografia social dos objetos que a compõe.

2- Patrimônio histórico e cultural laranjeirense: contatos e contrastes culturais entre materialidade e imaterialidade

Mario Cesar Pereira Oliveira (UFS)

A cidade histórica de Laranjeiras é referenciada pelo seu patrimônio arquitetônico tombado e também por possuir o maior número de grupos folclóricos do Estado de Sergipe. A categoria patrimônio unifica sua arquitetura e folclore como bens culturais e ao mesmo tempo os segmenta em materiais e imateriais. O trabalho se justifica na importância da análise conjunta, de caráter processual e relacional, do patrimônio material e imaterial da cidade e suas relações identitárias estabelecidas por seus usuários. O cenário histórico-arquitetônico do colonialismo se mostra apropriado para as apresentações dos grupos folclóricos de temática colonial, representativos das camadas sociais excluídas na estrutura social colonial e em suas formas arquitetônicas, mas que reforçam o caráter histórico da cidade, contrapondo-se e reciprocamente incentivando-se através do contraste e do contato cultural contínuo, resultando numa reconstituição simbólica mais completa da estrutura social de que são legados.

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3- Roraima e a historiografia pan-amazônica: descrição etnográfica da ocupação e desenvolvimento (1621-2009)

Lauro José de Albuquerque Prestes (UFPE)

O objetivo deste paper é a realização de uma análise teórica, desenvolvida a partir de uma abordagem histórico-antropológica, que toma como objeto de pesquisa a produção historiográfica desenvolvida por estudiosos que se propuseram a compreensão das questões fundamentais referentes à origem, ocupação e luta pela demarcação de territorialidades no Estado de Roraima (BRASIL). Os primeiros relatos revelam a tentativa de ocupação colonial e desenvolvimento econômico da Capitania do Grão-Pará que posteriormente resultou no projeto de exploração econômica da região, sustentada inicialmente pela mão-de-obra escrava indígena. As primeiras incursões científicas exploratória informavam as particularidades extrativistas e mineradoras da região do vale do Rio Branco, ainda no século XVII, estimulando posteriormente o estabelecimento da atividade pecuarista com a instalação de fazendas, bem como a necessidade de interligação destas terras com outros centros urbanos do país, projeto concretizado com a construção da BR–174. Nesse sentido, além de instrumentalizar a reconstrução historiográfica dos processos de ocupação e desenvolvimento, busca-se descrever os registros e marcas deixadas pelos diferentes agentes que se propuseram a empreitada de habitar as terras que hodiernamente pertencem ao então constituído Estado de Roraima, quais sejam: indígenas, missionários, fazendeiros, garimpeiros, migrantes e militares.

4- Memória e patrimônios culturais entre os Pankararu

Nilvânia Mirelly Amorim de Barros (UFPE)

Esta apresentação tem como objetivo discutir iniciativas da apropriação da memória, construída a partir de demandas pertinentes as reivindicações indígenas, como uma estratégia de definição e gestão da semântica cultural que entre outras possibilidades legitimam as afirmações étnicas. Esse aporte é manifestado nos atos e no discurso de lideranças e representantes indígenas, como no grupo de dança Pankararu Nação Cultural que é formado por jovens, adultos, homens e mulheres do povo Pankararu, que busca o fortalecimento etnocultural através do canto, da dança, da confecção de artesanato, da pintura corporal e da reafirmação da dança do Búzio. As ações realizadas pelos dançarinos e cantadores do Búzio Pankararu, aqui são colocadas como promotoras da “expansão” da memória indígena. Nessa perspectiva é colocada no domínio teórico dos estudos da etnicidade visto que a região nordeste do Brasil apresenta maior visibilidade no quadro de ressignificação dos elementos de afirmação étnica.

5- Por uma 'cultura do patrimônio': a construção do campo no Baixo Amazonas

Luciana Gonçalves de Carvalho (UFOPA)

Esta apresentação aborda os processos de criação de uma Divisão de Patrimônio Cultural no âmbito da municipalidade de Santarém a partir de trabalhos desenvolvidos entre a UFOPA e gestores públicos, privados, movimentos sociais, organizações não governamentais, produtores e outros mediadores culturais. Santarém é uma localidade central na região do Baixo Amazonas, e é rica em patrimônio cultural não preservado, em todas as dimensões: material e imaterial, com destaque para o patrimônio arqueológico que, há décadas, atrai atenções internacionais. É, por outro lado, foco de grandes empreendimentos públicos e privados voltados para o “desenvolvimento regional e nacional”: desde a construção de hidrelétricas, abertura de concessões em unidades de conservação até implantação de projetos turísticos que frequentemente confrontam a legislação de patrimônio cultural e impactam diversos grupos sociais detentores/produtores das expressões e práticas culturais de valor patrimonial.

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OS ESTUDOS SOCIOESPACIAIS E OS DESAFIOS DIALÓGICOS DA ANTROPOLOGIA CONTEMPORÂNEA

Os estudos sócio-espaciais ancoram-se na comunicabilidade reflexiva de comunidades do pensamento e comunidades acadêmicas que desejam perspectivar a produção social dos espaços. Esse interesse teórico-metodológico que inflecte na contemporaneidade sobre categorias de organização do mundo, como o espaço e o tempo, descreve o percurso e a convergência de diferentes áreas do conhecimento, na medida que aporta novas perspectivas que frutificam na interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, e em novos métodos, sujeitos a um permanente debate. Os processos sócio-espaciais configuram um problema inicial na medida em que nos colocam numa instância epistêmica elusiva, dentro de uma variedade de elementos que acham seu domínio no espaço das redes e dos fluxos, sejam esses econômicos, simbólicos ou políticos, junto a tradições de conhecimento e de saberes constituídos e transmitidos. Em outras palavras, o desafio apresentado suscita a pertinência de criar estratégias de pesquisa assim como instrumentos analíticos que sejam dinâmicos, para entender os movimentos que se originam nos contextos cambiantes das cidades pan-amazônicas e de América Latina.

A presente proposta constitui o primeiro empreendimento que a equipe de trabalho encaminha para ABANNE. No entanto, os proponentes veem abordando essa temática faz algum tempo, coordenando o Laboratório de Estudos Pan-amazônicos – Pesquisa e Intervenção Social – LEPAPIS/DAN/UFAM que possui uma linha de pesquisa intitulada Estudos sócio-espaciais. No que diz respeito à temática dos estudos sócio-espaciais, os membros da equipe, através das suas instituições de ensino superior são sócios efetivos da Rede de Estudos Sócio-espaciais - REDE que agrupa mais de 20 universidades latinoamericanas e europeias [email protected]. Atualmente a equipe desenvolve um projeto de Cooperação Internacional CAPES – UDELAR intitulado Cidades em perspectiva: Um estudo socioespacial sobre as cidades de Manaus e Montevidéu

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SESSÃO I- MEMÓRIAS, CONFLITOS E FLUXOS

1- Vivências urbanas em João Pessoa: sociabilidade, conflitos e usos do espaço na Praça Lauro Wanderley

Rafael Rodrigues Pontual (UFPE)

Este trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo Departamento de Ciências Sociais da UFPB em parceria com a Prefeitura Municipal de João Pessoa, Na ocasião desenvolvemos uma etnografia da Praça Lauro Wanderley, localizada no bairro dos Funcionarios I na cidade de João Pessoa/PB. A pesquisa buscou analisar o impacto do projeto de requalificação da praça na vida sócio-cultural do bairro, levando-se em conta as sociabilidades, práticas esportivas, violência, práticas culturais e educativas. Foi realizada uma observação participante na praça visitando-a em horários e dias diferenciados, além de entrevistas e conversas informais com seus usuários. Foi verificado que a requalificação trouxe mudanças significativas no convívio e na sociabilidade entre moradores, e entre moradores e estranhos. Houve um aumento da heterogeneidade social do bairro, gerando até certo ponto conflitos entre grupos diversos, mas ao mesmo tempo o sentimento de pertencer ao bairro se fortaleceu.

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2- As retomadas de terras na dinâmica territorial do povo indígena Tapeba

Ana Lúcia Farah de Tófoli (UFC)

A análise apresentada é o resultado da pesquisa de mestrado concluída em 2010, a qual teve como tema as retomadas de terras realizadas pelo povo indígena Tapeba, no município de Caucaia - CE. A pesquisa pautou-se, por um lado, em relatos etnográficos acerca da territorialidade Tapeba, da história das retomadas, da busca pelo reconhecimento étnico e territorial; por outro, na realização do mapeamento físico dos limites de cada retomada, no reconhecimento dos usos e alterações espaciais operados em tais áreas. Diante da lentidão nos processos de regularização fundiária e do avanço da urbanização sobre o território, as retomadas têm sido compreendidas pelos Tapeba como uma possibilidade de exercer maior controle na gestão territorial – em um contexto no qual as disputas do campo político se desdobram na dimensão espacial, em conflitos derivados dos múltiplos usos e interesses que se sobrepõem à territorialidade indígena, configurando uma dinâmica sócio-espacial em permanente mutabilidade.

3- Plaza Matriz, Plaza Constitución. La lucha de las nomiNaciones

Lelio Nicolas Guigou Mardero (UDELAR – Uruguay)

Indagamos las diferentes luchas simbólicas nomiNacionales, que se encuentran en la espacialidad generativa de la ciudad de Montevideo, llamada Plaza Matriz o Plaza Constitución. Establecida como una suerte de “socio-espacialidad móvil” del barrio Ciudad Vieja, ella misma – y el escenario que la rodea- conforman un ámbito en el cual la nomiNación (GUIGOU, 2008), sus conflictos y convivencias simbólicas, cristalizan en la monumentalización de acontecimientos políticos, religiosos y literarios. En esta “guerra de mapas”, geopolíticas y estéticas urbanas enfrentadas (GUIGOU, BASINI, 2010), asentamos nuestra investigación, considerando como constitutiva de la misma, las variadas producciones de sentido y de apropiación de los sujetos-ciudadanos que habitan esta Plaza, núcleo duro del Estado- Nación uruguayo.

4- O conceito de loucura entre homens e mulheres em um hospital psiquiátrico: diferentes representações

Nilton Miguel Aguilar de Costa (UnB)

Este trabalho propõe-se a investigar como profissionais não médicos de um hospital psiquiátrico percebem e interpretam as causas das psicopatologias de pacientes com que convivem, atentando, sobretudo, para as elaborações feitas sobre os gêneros. Tendo como ponto de partida as mudanças paradigmáticas no saber psiquiátrico constituído, sobretudo no que diz respeito às elaborações sobre as diferenças sexuais dos psicóticos, interpelei profissionais (enfermeiros, seguranças, servidores, etc.), que constituem o cenário social do ambiente hospitalar, investigando as representações que fazem dos transtornos mentais de pacientes, analisando o tráfico de conceitos que se dá nesse contexto. Não apenas os diferentes marcadores sociais inscritos no corpo desses agentes e seu contexto de vida não profissional, mas também os lugares que ocupam no cenário em questão, e a negociação que fazem entre si desses conceitos, mostram-se relevantes na maneira como elaboram sobre a causa da loucura.

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5- A questão espacial em feiras urbanas: O caso da reforma da Feira da Torre de Brasília - DF

Raoni Machado Giraldin (UnB)

O presente trabalho tem por finalidade a descrição e análise do processo de reforma da Feira da Torre de Brasília enfatizando a maneira como o espaço é entendido pelos comerciantes locais à luz da situação da transferência para novas instalações. Para isso, procurei entender como o espaço é socialmente entendido e simbolizado. Parto de estudos de antropologia dos fluxos para pensar a feira como um local estruturado por esses, sejam fluxos de pessoas, sejam de mercadorias. Tendo isso em vista, o problema que observo entre os feirantes diz respeito à maneira como eles entendem os fluxos dos quais o funcionamento feira depende, refletindo sobre a relação entre o ordenamento espacial e a eficiência da atividade comercial.

6- MAO-MON: Cidades em perspectiva

Jose Exequiel Basini Rodriguez (UFAM)

“Manaus – Montevidéu”, ou “Montevideo - Manaos” vincula-se ao mundo possível da pesquisa sistemática, através da perspectiva multifocal, como metodologia comparativa. Os contextos de alteridade, e as escalas diversas em questão podem ser confrontadas em laboratórios abertos ou demos, onde as topologias avançam sobre territórios emblemáticos da civilization e das civilizações, dentro e fora dos nodos e enclaves de duas importantes bacias continentais, isto é, a bacia do rio Amazonas e do rio da Prata. Trata-se de apresentar sucintamente os desafios do projeto binacional CAPES/UDELAR Cidades em perspectiva. Um estudo sócio-espacial sobre as cidades de Manaus e Montevidéu que atualmente coordenamos. A sua relevância baseia-se na posição descentralizada para comparar duas cidades diferentes desde o ponto de vista temporal e espacial, mas, com formas recorrentes de pensar os processos civilizatórios.

Espaço” e “Territorialidade”: as estórias de viagem dos ciganos “rom-kalderash”.

Ana Paula Casagrande Cichowicz (UFSC)

Numa pesquisa feita junto com os ciganos “rom - kaldersh”, cujo foco principal estava em apreender as narrativas orais contadas por eles sobre eles mesmos, observou-se que as categorias “espaço” e “território” são importantes para o modo como estes sujeitos apreendem-se como grupo. Para cumprir com os fins da pesquisa - que era pensar o modo como construíam suas identidades “rom” -; tornou-se fundamental discutir acerca do modo como esses sujeitos interagem nos limites territoriais de um Estado - nação do qual não se consideram parte, destacando a importância dos “relatos” a respeito de suas andanças para o modo que se instituem como “ser - no - mundo”. A proposta desta comunicação está em destacar a importância das “estórias de viagens kalderash”, para a apreensão que os atores desta pesquisa fazem da categoria “espaço”, quanto para o modo como se constroem como “sujeitos-rom”.

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SESSÃO II- ESPAÇOS URBANOS, REDES, TRANSFORMAÇÕES E CONHECIMENTOS NA AMAZÔNIA

1- Agenciamentos e apropriações espaciais na cidade de Manaus – Amazonas: as áreas de risco, a emergência de sinistros e o “aluguel social”

Daniel Tavares dos Santos (UFAM)

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A cidade de Manaus se configura como um caso singular no que diz respeito ao ordenamento territorial (ou ausência desse), uma profusão de atores sociais entram em disputa por parcelas reduzidas do espaço, a fim de garantir um de seus direitos fundamentais, o da moradia. Proliferam na cidade as “áreas de ocupação espontânea” (ou invasões, como a qualificam a mídia em geral), que devido a sua própria natureza se apresentam alijadas de qualquer equipamento social urbano. Muitas destas ocupações estão inseridas em áreas qualificadas como “de risco” e, devido tanto a causas ambientais quanto as decorrentes da intervenção humana, estão sujeitas à ocorrência de sinistros (alagações, desabamentos, incêndios). Pretende-se então, neste, pensar a partir de alguns casos de sinistros ocorridos nos últimos dois anos na cidade de Manaus, as ações desenvolvidas por algumas agências do estado, tais como o “aluguel social”, e a construção da ideia de uma política habitacional de âmbito municipal.

2- Transformações na socioespacialidade Tenharim – O tempo e o espaço dos jovens

Fernando Penna Sebastião (UFAM)

Em meu trabalho pretendo analisar a influência das transformações socioespaciais entre o povo Tenharim no que se refere aos processos tradicionais de transmissão de conhecimento, bem como a transmissão de conhecimentos tradicionais. O povo Tenharim faz parte do subgrupo Tupi-Kagwahiva e habita a região Sul do Amazonas, no eixo da BR230, Rodovia Transamazônica. No presente trabalho serão tratadas as questões relativas aos Tenharim da T.I. Marmelos. Sua localização atual reflete a primeira transformação significativa nas suas relações sociais, bem como na sua distribuição geográfica pelo território que ocupam. No período anterior a abertura da BR230 a maioria das aldeias estavam distribuídas ao longo do curso do rio Marmelos. Atualmente seis aldeias ficam às margens da BR230 e duas na Rodovia do Estanho.

No momento, jovens tenharim tem se deslocado para o município de Humaitá-AM com o objetivo de darem continuidade aos seus estudos. A estrada e agora a cidade passam a interagir com aspectos da vida Tenharim sendo fontes de transformações, adaptações e criações nas relações socioespaciais desse povo. Creio que uma melhor compreensão de como os Tenharim constroem suas relações nesse contexto podem contribuir com a identificação das perspectivas dessa dinâmica e verificar sua importância nas estratégias de relacionamento desse povo.

3- A interação do naturalista Henry Bates com a Natureza e a Cultura Amazônica

Jerônimo Alves (UFPA)

Ao se estudar os motivos que possibilitam a elaboração das teorias científicas modernas pelos homens de ciências, geralmente se enfatiza o papel das teorias precedentes que lhe servem de suporte. Ignora-se que a emergência de qualquer teoria depende de condições culturais mais amplas, como têm enfatizado Foucault, Latour e outros. O naturalista Henry Bates permaneceu no interior da floresta Amazônia durante 11 anos. Sua motivação científica é reconhecida. Entretanto, esse naturalista, educado na cultura inglesa e científica, dificilmente teria permanecido tanto tempo na Amazônia se, nela, não tivesse encontrado condições para sua permanência além da motivação científica. O objetivo da presente reflexão é analisar quais os aspectos da interação de Bates com a Natureza e a Cultura Amazônica favoreceram à sua permanência na região durante onze anos realizando pesquisas científicas

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4- Redes de pesca e pescadores em rede: estudo de caso da construção sócio-espacial de um grupo de pescadores do rio Negro, AM

Rafael Illenseer (UFAM)

É considerada rede como uma trama de nós diferenciados entre os pescadores artesanais (de diferentes escalas e finalidades), as instituições formais (normas, regras e leis) e informais (regras culturais e conhecimento), a história na região, a economia, os espaços de pesca e seus regimes de manejo (uso e acesso) e os peixes. O rio Negro forma um regime de direito de propriedade identitário e regional baseado na história, na economia e nos fluxos dos pescadores, que combinam diferentes direitos de propriedade (de acesso livre, do Estado, das comunidades, ou co-geridos com o Estado) como forma de resistência e manutenção de seus espaços, modos de vida, mesmo sob alto custo econômico e com relações assimétricas de poder de decisão sobre o território e o manejo da pesca. Desta maneira buscam ter o acesso aos seus espaços, mesmo que sob restrições ao passo que, utilizam das instituições para excluir grandes barcos de pesca provindos de Manaus.

5- Sócio-espacialidades em Manaus/AM: as transformações urbanas e a construção de uma imagem pública da cidade

Marcia Regina Calderipe Farias Rufino (UFAM)

Este paper pretende discutir as intervenções urbanas que têm tido lugar na cidade de Manaus/AM desde o século XIX e, atualmente, pelo Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – PROSAMIM, tomando a literatura produzida sobre o tema. As mudanças podem ser pensadas a partir de interesses de diferentes grupos e concepções, como a que predominou no auge da produção gomífera com a tentativa de construir uma “Paris nos Trópicos”. O atual “embelezamento” da cidade atinge os igarapés e beiras de rio que se converteram em ocupação urbana com significativa concentração populacional em bairros próximos a área central da cidade. Neste quadro de movimento e transformação, percebe-se uma pluralidade de perspectivas e diferentes lógicas que se sobrepõem, se cruzam, por vezes dialogam na construção de uma imagem pública da cidade. Nas diferentes perspectivas, a relação com os igarapés e rio faz parte da historia de seus moradores, seja pela negação, seja pela necessidade de viver próximo deles.

6-Lo intercultural un espacio para la epistemología transdisciplinar

Nelson Rodríguez Aguirre (UCE – Ecuador)

Los cambios sociales, económicos e institucionales en la región requieren un abordaje epistemológico. La tesis propuesta se orienta a contribuir desde la epistemología de la complejidad a repensar lo intercultural y afrontar la construcción social requerida. Se discute como la noción de la aculturación y las limitaciones del enfoque disciplinar para reconocer los problemas de la interculturalidad. Se explora el concepto de transdisciplinariedad mediante un enfoque que redefine a la ciencia como una red de conceptos sin jerarquías y que al mismo tiempo permite colocar en el mismo nivel del conocimiento científico a los otros saberes.

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MIGRAÇÕES, FRONTEIRAS E GÊNERO

O GT propõe-se a discutir a problemática das migrações nas regiões Norte e Nordeste, focando questões da migração em espaços fronteiriços nacionais e regionais percebidos como zonas de trocas e apropriações culturais; processos de arregimentação de mão-de-obra para o garimpo e para a exploração sexual; tráfico de pessoas; situações de refúgio e de intercâmbio cultural; proteção dos trabalhadores migrantes e sistema internacional de direitos humanos. Além dessas questões, o GT buscará discutir a problemática de gênero num contexto de crescente feminilização dos fluxos migratórios, seja do Brasil para países que conformam a Fronteira Norte, seja no sentido inverso, seja em comparação com fluxos interregionais, internacionais e transoceânicos.

Trata-se de uma proposta que pretende abordar a temática das migrações numa perspectiva interdisciplinar, já que o fenômeno da migração visto como um “fato social total”, permite fazer várias interpretações.

Nesta perspectiva, o GT pretende contribuir para fomentar os estudos migratórios em geral, com uma ênfase particular na Região Norte, onde a literatura sobre esta temática, a partir de um olhar antropológico, ainda é exígua, porém, promissora.

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SESSÃO I- GÊNERO, MOBILIDADE E TRÁFICO HUMANO NA FRONTEIRA NORTE.

1- Famílias transnacionais: migrações e redefinições de papéis de gênero na fronteira Brasil/Venezuela

Iana dos Santos Vasconcelos (UFRR)

O objeto deste trabalho é a constituição de famílias transnacionais, considerando que a mobilidade e o compartilhamento de valores criam e recriam relações sociais e familiares. Neste sentido, este trabalho consiste na análise do processo de reorganização familiar de migrantes brasileiros (as) na transfronteira Brasil/ Venezuela, uma vez que o cotidiano desse lugar permite novos arranjos simbólicos e contato com outros significados culturais. Parto de uma perspectiva das relações de gênero para refletir sobre a distinção da construção desse novo modelo familiar entre homens e mulheres, como os laços emocionais são caracterizados em relação à família, a diferenciação do acompanhamento e monitoramento da vida familiar a distância. Busco, ainda, analisar como este novo modelo familiar ou a constituição de família transnacional fortalece os laços pré-existentes, amplia as redes sociais e, em que medida, incorporar novos valores que modificam as relações poder.

2- Migração, gênero e religiosidade afro na fronteira pan-amazônica

Cristina Nascimento de Oliveira (UFRR)

A pesquisa pretende discutir aspectos relevantes dos cultos afro-brasileiros na fronteira pan-amazônica. Partimos do cenário compreendido pela cidade de Boa Vista, Roraima, para entender o fenômeno migratório de mulheres na Amazônia, sua fixação em uma região de fronteira e a ascensão enquanto lideranças religiosas dos cultos afro-brasileiros em um contexto marcado pela intolerância religiosa. O feminino é um elemento importante no sistema simbólico

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dos cultos afro-brasileiros: a mulher é quem detém o poder na maior parte das casas religiosas analisadas em Boa Vista. Tais mulheres ditam as regras no interior dessas comunidades e seus terreiros constituem-se em redes de apoio para outros migrantes em Roraima. Nessas comunidades são estabelecidos elos de parentesco que unem seus adeptos ao redor da liderança religiosa, constituindo novas famílias – as famílias-de-santo – mantendo e preservando novas identidades e garantindo maior segurança e fortalecimento emocional.

3- Elas fazem "Ploc"! Dinâmica do trabalho sexual nas áreas de garimpo da Guiana e Suriname

Rafael da Silva Oliveira (UFRR/ USP)

Desde o final dos anos 1980 o Suriname presencia um fluxo migratório, sem precedentes, de brasileiros em direção ao seu território. A corrida do ouro é o principal fator que vem atraindo levas de garimpeiros e redirecionando, também, toda a rede que o garimpo agrega, principalmente aquelas atreladas à constituição das corrutelas, atraindo pessoas (ou grupos) interessadas na criação de comércio, bares e night clubs que contratam, majoritariamente, mulheres de origem brasileira. O trabalho sexual em áreas de garimpo, conhecido entre os garimpeiros como ploc, assume peculiaridades no tocante a sua estrutura e dinâmica, no qual as trabalhadoras do sexo vivem em constante mobilidade entre as “casas de entretenimento” situadas nas cidades com vocação garimpeira e nos garimpos. Sendo assim, o estudo apresenta reflexões acerca da rede do sexo comercial dentro da estrutura dos garimpos da Guiana e do Suriname, a partir das territorialidades e discursos das mulheres envolvidas nessa rede.

4- Las paradojas del trafico y la trata de mujeres de la Amazonia brasileña con fines de explotación sexual en España

Marcia Maria de Oliveira (UFAM)

En la actualidade, según informes de la Organización Internacional del Trabajo, unos 55% de las victimas de la trata de personas en el mundo es constituido por mujeres, victimas de la explotación sexual comercial. El Brasil se presenta entre los principales países de origen de las mujeres traficadas y la Amazonía brasileña es la región con mayor cantidad de victimas y rotas del tráfico internacional de mujeres. Los estudios apuntan que gran cantidad de estas mujeres llegan a España donde están los principales mercados internacionales de la explotación sexual comercial, especialmente, en Andalucia. El estudio intenta compreender los dispositivos que hacen con que la práctica del tráfico de mujeres en la Amazonia brasileña esté naturalizado en las relaciones sociales, culturales y históricas, hacienda con que las involucradas permanezcan vulnerable a las estrategias de los traficantes internacionales. También problematiza los roles que mantienen y alimentan la industria del sexo en España.

5- Exploração e tráfico de crianças e adolescentes com fins de exploração sexual em fronteiras amazônicas: caminhando na beira da loucura

José Miguel Nieto Olivar (Unicamp)

Durante outubro e novembro de 2010 acompanhamos uma ONG paulista no levantamento das condições de vulnerabilidade para exploração e tráfico com fins de exploração sexual de crianças e adolescentes em tríplices fronteiras amazônicas. Tal diagnóstico tem como foco a ação do Estado, com o intuito de propor uma metodologia de atendimento para a SEDH. O campo foi dominado por narrativas nebulosas e cenas prenhes de silêncios e violências estatais. A partir de uma sensação de absurdo que permeou o trabalho da equipe -risos, mal-estares físicos, medos e incompreensões-, partimos para pensar os procedimentos através dos quais os temas tráfico e exploração sexual são apropriados e

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construídos localmente. Hoje esses temas mobilizam importantes setores políticos bem como grandes quantias de dinheiro e por tanto devem ser questionados nas suas formas capilares, que podem levar à vulnerabilização das populações que pretendem proteger, bem como à sobre-estigmatização de grupos ou redes já vulnerados.

SESSÃO II- MIGRAÇÃO INTERNACIONAL, MODO DE VIDA E IDENTIDADES

1- Repensando categorias dos estudos de migração: o caso da circulação dos jogadores de futebol

Carmen Rial (UFSC)

Através de uma pesquisa etnográfica multi-situada sobre a circulação transnacional de jogadores de futebol brasileiros, que vem sendo realizada desde 2003, discutimos algumas categorias analíticas dos estudos de emigração, notadamente a de emigração, a de fronteira e a de nacionalismo. Particular atenção é dada à circulação de jogadores de clubes do norte e nordeste.

2- “Nem tudo que reluz é ouro”: uma etnografia do modo de vida dos brasileiros na Venezuela

Francilene dos Santos Rodrigues (UFRR)

A migração de brasileiros para a Venezuela e a Republica da Guiana faz parte do processo de migração interna para Roraima acentuada, principalmente a partir dos anos 1970. Esses imigrantes, predominantemente nordestinos vieram em busca de terra para plantar, casa para morar e minas para garimpar. Com o fracasso dos projetos de colonização e assentamento e o declínio da garimpagem muitos emigraram para a Venezuela e para a República Cooperativista da Guiana para atuarem tanto nas atividades de extração mineral, como nas atividades de apoio à essa atividade como o comércio e os estabelecimentos de compra e venda de ouro e diamantes. Esse intenso e permanente fluxo de migração proporcionou a formação de grupos étnico-nacionais na Venezuela com a especificidade do domínio do ramo da mineração informal. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é descrever e a constituição do grupo étnico-nacional de brasileiros na Venezuela e a etnografia do mundo da mineração como atividade essencial e de atração dos migrantes brasileiros.

3- Migração internacional em Boa Vista: reconstruções identitárias em narrativas de imigrantes peruanos

Alessandra Rufino Santos (UFAM)

Este trabalho é parte dos resultados da monografia intitulada Trajetórias migratórias e identidades reveladas: A presença de peruanos em Boa Vista-RR e tem como objeto as (re)construções identitárias dos peruanos no processo da trajetória migratória para a cidade de Boa Vista. Neste sentido, foi através de entrevistas abertas, livres e semidirigidas e da observação participante, que foi possível compreender que embora os imigrantes peruanos estejam afastados de seu local de origem, eles não deixam de ter a cultura e a identidade nativa como referência. Contudo, eles também incorporam os elementos da cultura e da identidade do local de destino, possibilitando a ressignificação identitária, sobretudo, por meio de suas estratégias de sobrevivência. Logo, as redes sociais dos imigrantes peruanos ligadas à família e aos amigos tanto no local de origem quanto de destino, fortalecem os referenciais significativos do meio de origem, bem como a condição de sujeito imigrante.

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4- Percursos, Identidades e Fronteiras: reflexões sobre entrevistas com imigrantes colombianos em Manaus

Lúcia Marina Puga Ferreira (UEA/UFF)

Na presente comunicação trataremos da articulação entre memória, identidade, trajetória e relato de vida, como ferramentas de compreensão de entrevistas realizadas com imigrantes colombianos em Manaus, além de refletirmos sobre a produção, o uso e os limites da entrevista como parte do trabalho antropológico. Consideramos que a memória coletiva e individual é seletiva, herdada, estruturada pelas preocupações do momento, construída. Seguindo as pistas oferecidas por Fredrik Barth, afirmamos que a identidade é relacional, resultante de um trabalho de distinção e de construção de fronteiras em contextos de interação específicos. As trajetórias desses migrantes, captadas por nós principalmente por meio de entrevistas, retratam a maior variedade possível de situações. Cada percurso é tratado como único, e não um caso exemplar. Buscamos as singularidades (não os traços típicos), pois cremos que estas não são peças de um quebra-cabeças, mas pedaços de um universo de significação.

5- Migrações, Identidades Familiares e fronteiras territoriais enredadas no campo da saúde

Parry Scott (UFPE)

Este trabalho explora a relação entre migrações e construções identitárias familiares com base na preservação da conectividade na busca de saúde. Ele se divide em duas partes: a primeira discute os fundamentos de identidade familiar através de duas abordagens sobre migrações. A primeira refere à ideia das Estruturas Alimentares de Parentesco, discutido por Claude Meillasoux em Mulheres, Celeiros e Capitais, e o segundo aborda a Síndrome de Ulísses, referido por vários pensadores contemporâneos associados à prática de aconselhamento a migrantes. Argumenta que, em ambas as abordagens as referências à conectividade familiar criam a possibilidade de famílias servirem como veículo de contra-poderes às barreiras à mobilidade erguidas nas fronteiras entre países. Reconhecendo a multiplicidade de estratégias e campos pelos quais tais contra-poderes podem estar construídos, encerra sugerindo que o apelo e a busca de saúde formam um campo privilegiado para tornar mais permeáveis as fronteiras que separam territórios nacionais.

Pôster: 1- Corpos desterritorializados: lugar de memória, dor e sentido das refugiadas colombianas em Manaus

Alvaro Jardel Santos de Oliveira (UFAM)

Um fenômeno social nos fins do século XX e no começo do século XXI é o aumento dos deslocamentos compulsórios em diversas partes da sociedade dita globalizada. Uma peculiaridade desse fenômeno colombiano é a feminilização do refúgio ou do desplazamento humano. A Amazônia brasileira é a porta de entrada para muitas dessas mulheres e suas famílias que se refugiam com o imperativo de proteção das suas vidas. Nas grandes capitais amazônidas, como Manaus, as mulheres colombianas procuram recompor suas histórias de vida pessoal e social. Apesar das fissuras causadas na história de vida dessas mulheres e suas famílias elas seguem suas existências resistindo e criando possibilidades de vida em meio ao refúgio e ao desplazamento. O presente artigo procurará refletir sobre as possibilidades de sentido que essas mulheres dão às suas existências no refúgio.

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SESSÃO III- FRONTEIRAS, MOBILIDADE E TRABALHO

1- A migração internacional na Amazônia brasileira

Alberto Augusto Eichman Jakob (NEPO/UNICAMP)

Este trabalho tem como objetivo principal apresentar uma avaliação da imigração internacional na Amazônia Legal brasileira, dando especial ênfase aos migrantes provenientes de países que fazem fronteira com a Amazônia, como Peru, Bolívia, Colômbia e Paraguai. A ideia é analisar esses migrantes, comparando informações de idade, nível de escolaridade e de renda, sexo e ocupação no destino, assim como o período em que chegaram ao país. Também é mostrado o padrão de localização desses migrantes, se residem em municípios perto da fronteira, de grandes cidades, capitais estaduais ou não. Para isto, são utilizados dados do Censo Demográfico de 2000 e da Contagem Populacional de 2007 para uma análise bem atual.

2- Migração forçada e fluxos mistos na fronteira brasileira

Mariana Recena Aydos (IPPUR/UFRJ)

Temos como objetivo apresentar uma reflexão teórica sobre as categorias de refúgio, migração forçada e fluxos mistos, visando avançar na compreensão das ações do Estado Brasileiro frente ao fluxo migratório de colombianos para o Brasil e mais recentemente, como caso emblemático, o fluxo de haitianos. Atualmente estamos frente a novas modalidades na migração internacional, conformando um cenário onde as análises sobre o fenômeno migratório não devem ficar restritas às explicações de perspectivas puramente econômicas. Devemos nos atentar aos deslocamentos compulsórios devido a causas diversas, que se confundem por vezes com outros tipos de deslocamentos, formando fluxos mistos que não podem mais ter sua explicação ancorada na ideia de liberdade e escolha de ir e vir dos indivíduos. A discussão sobre coerção e a liberdade nas migrações internacionais mostram que dicotomias fundamentais nas conceituações de migração, antes tidas como estanques – coerção vs. escolha, violência vs. economia, etc. –, se mostram cada vez mais permeáveis uma no espaço da outra.

3- Mobilidade espacial e superexploração do trabalho na Amazônia Oriental

Gil Almeida Felix (UFF)

Nas últimas duas décadas têm sido constantes e cada vez mais frequentes as denúncias de trabalho escravo ou degradante envolvendo trabalhadores rurais no Brasil. Tais denúncias têm sido veiculadas como expressões do atraso, qualificadas como maneiras arcaicas de exploração que teriam lugar nos rincões atrasados do país e que, portanto, seriam substituídas e/ou superadas pelo desenvolvimento econômico e social ou por uma intervenção estatal qualificada. Este trabalho visa problematizar estas teorias a partir da análise de processos recentes de transformação do trabalho no meio rural brasileiro, em especial, a partir da análise do contexto do sudeste do estado do Pará. Neste sentido, a comunicação visa desenvolver uma reflexão teórica sobre as condições sociais que possibilitam modos específicos de superexploração da mão de obra de origem camponesa que se desenvolve na região e sua relação com os processos de acumulação e reestruturação capitalistas regionais e globais.

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4- Mobilidade do trabalho informal na fronteira urbana Brasil/Paraguay

Gislene Aparecida dos Santos (UFPR)

Ao longo dos 1.365 km de extensão entre Brasil (BR) e Paraguai (PY) localiza-se uma das maiores aglomerações urbanas fronteiriças do Cone Sul, as cidades de Foz do Iguaçu (BR) e Ciudad del Este (PY), onde circulam regularmente pessoas, bens, mercadorias e informações, legal ou ilegalmente. Em Foz do Iguaçu, à margem da Ponte da Amizade, no limite internacional entre BR e PY, localizam-se bairros periféricos com alta densidade demográfica, cujos habitantes são provindos, sobretudo, do PY. São migrantes que tentam fixar-se em Foz do Iguaçu e ou que transitam diariamente num ir-e-vir entre o PY e o BR. Entretanto, tal fluxo ainda que contíguo espacialmente, desenrola-se em espaços políticos nacionais distintos. Acordos provisórios, legislações migratórias são continuamente revistos e a circulação da população migrante neste espaço internacional extravaza-se de normas jurídicas. Tendo como foco a análise dessa situação fronteiriça o presente trabalho objetiva corroborar a uma reflexão teórica e metodológica direcionada a processos migratórios em zonas de fronteira internacional.

5-Condições sociais de migrantes em Manaus (1920-1945)

Silvia Maria Quintino Baraúna (UFAM)

A pesquisa procura observar as experiências sociais de imigrantes nacionais e estrangeiros na cidade de Manaus entre 1920 e 1945, e vai de encontro a inquietações que levam em consideração a pouca produção historiográfica referente às condições de vida e trabalho de imigrantes em Manaus no período mencionado. A partir da análise de jornais e livros de registros hospitalares conseguimos identificar migrantes trabalhadores entre nacionais e estrangeiros, bem como o tipo de trabalho que desenvolviam na cidade. Eram pessoas de várias áreas do nordeste, seringueiros que foram para a cidade por distintos fatores, e ainda estrangeiros, principalmente, europeus, homens e mulheres que enfrentaram uma cidade em plena crise da economia gomífera, inclusive, alguns viviam como indigentes. Além disso, analisamos dimensões relevantes envolvendo relações e práticas do cotidiano dos imigrantes na área urbana, imperceptíveis na memória local, principalmente, quando se trata de períodos posteriores à expansão do látex.

- Pôster 1: O trânsito de brasileiros na fronteira: relações de trabalho e modo de vida dos imigrantes brasileiros em Santa Helena do Uairén –Venezuela

Ana Paula Teixeira da Cruz (UFRR)

O presente trabalho tem como objetivo identificar as ralações sociais de trabalho e o modo de vida de brasileiros que vivem na cidade de Santa Helena de Uairén, na Venezuela. A imigração de brasileiros para a Venezuela tem estimulado o emprego e os negócios em âmbito local. Grande parte dos empregadores contrata brasileiros por falarem português, mas também por desempenharem de forma mais apropriada um atendimento mais personalizado aos consumidores brasileiros. Alguns empregam brasileiros de forma irregular e em algumas situações o trabalhador tem que se esconder da fiscalização. Essa situação de “irregularidade”, leva os brasileiros a construírem estratégias de sobrevivência que se refletem no modo de vida bastante peculiar, denominado por eles de “viver na corda bamba”.

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A ETNOLOGIA INDÍGENA DA AMAZÔNIA E DO NORDESTE BRASILEIRO

Percebidos como mundos paralelos que convergem apenas nos índices sociais e econômicos, a Amazônia e o Nordeste brasileiro facilmente são tomados como realidades etnográficas imiscíveis, uma vez que, a grosso modo, é relativa a diferença de grau de distinção cultural das sociedades indígenas aí presentes. Temas como contato, relações interétnicas, políticas de identidade, sociogênese, movimentos de reetnização e gerenciamento de relações com agências estatais têm dominado, por um lado, os estudos de etnologia indígena do Nordeste brasileiro no último quartel; por outro lado, cosmologia, ritual, variabilidade de morfologias sociais, dinâmicas de transformação, sistemas de parentesco e gerenciamento de relações com agências extra-humanas continuam a figurar como assuntos clássicos da etnologia indígena da Amazônia. Trata-se de duas tendências diversas e metodologicamente divergentes: a primeira, inspirada por um horizonte “externalista”, põe ênfase em processos coloniais de territorialização, categorização de grupos por atos administrativos e engendramento de unidades sociais face ao Estado-nação; a segunda, “internalista”, está voltada para as transformações que viabilizam a síntese de termos antitéticos a fim de garantir contiguidades estruturais por meio de diferentes gerenciamentos de alteridades. Não obstante tais tendências, cabe perguntar pelas membranas e intersecções entre as etnologias produzidas sobre ambas as regiões, seja por meio de estudos de comunidades emergentes na Amazônia, do xamanismo atinente ao complexo do toré no Nordeste, etc. Diante de tais considerações, o presente GT propõe reunir, aproximar e estimular o diálogo entre pesquisas sobre temas diversos que transpassem a etnologia indígena sobre as regiões em questão, procurando proporcionar um espaço de reflexão sobre sistemas ameríndios não comprometido com dicotomias do tipo “externalismo X internalismo” e em busca de confluências etnográficas – teóricas e metodológicas – sobre tais sistemas, na Amazônia e no Nordeste.

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SESSÃO I- RITUAL, ESTÉTICA E COSMOLOGIA

1- A música como tema de pesquisa entre povos indígenas da Amazônia e do Nordeste

Lígia Raquel Rodrigues Soares (UFAM)

A área de antropologia da música no Brasil nas três últimas décadas tem apresentado importantes produções etnográficas. Essas pesquisas produziram estudos tendo como tema central de investigação especialmente as músicas indígenas sejam do norte, nordeste e do sul do Brasil. Antes alguns temas eram especialmente circunscritos ao universo amazônico, em especial a questão cosmológica. Atualmente novas pesquisas e especialmente novos temas, como a música, tem proporcionado visualizar que através deles pode-se ultrapassar as fronteiras criadas entre a Amazônia e o Nordeste. Nesta comunicação, apresentarei como a música, mas em especial as pesquisas sobre músicas indígenas, tem se mostrado no cenário dos povos indígenas no Brasil, sejam eles da Amazônia ou do Nordeste.

2- Kuntanawa: ayahuasca, etnicidade e cultura

Mariana Ciavatta Pantoja (UFAC)

O trabalho abordará o uso ritual da ayahuasca por um grupo étnico em processo de reinvenção étnica. Trata-se dos Kuntanawa, povo do tronco linguístico Pano, julgado exterminado nas

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primeiras décadas do século XX pela expansão da produção de borracha nos altos rios amazônicos, em particular no atual estado do Acre (Brasil) e suas fronteiras com o Peru. No alvorecer do século XXI, descendentes de uma índia Kuntanawa, até então identificados como seringueiros mestiços, deram início a um processo de auto-reconhecimento étnico e também de luta por direitos territoriais. Neste duplo processo de reinvenção cultural, interno e externo, o uso ritualizado da ayahuasca tem desempenhado um papel de destaque tanto como “operador perspectivístico” da subjetividade Kuntanawa, quanto como identificador étnico no campo maior das relações interétnicas. Esta dupla entrada cultural da ayahuasca será objeto de etnografia e de reflexão teórica frente à questão da “etnicidade”.

3- Comparando redes interindígenas de trocas rituais (Submédio São Francisco e baixo Oiapoque)

Ugo Maia Andrade (UFS)

Trata-se de produzir uma síntese comparativa a partir de dois contextos etnográficos distintos de relações de trocas rituais interindígenas: o submédio Rio São Francisco (divisa BA/PE/AL) e o baixo Rio Oiapoque (fronteira Brasil/Guiana Francesa). Caracterizadas por suas respectivas literaturas etnológicas como antigas zonas de intensos diálogos interétnicos – experimentando densamente as presenças colonial e missionária – as regiões em pauta apresentam ainda hoje relevantes circuitos de trocas rituais que vão da complementaridade à dissensão provocada por acusações de feitiçaria. Tais permutas estão conectadas a outras de tipo matrimonial, comercial, etc., não configurando um domínio autônomo de relações intersociais. Contudo, dada a importância dos intercâmbios rituais nos registros das relações interindígenas em ambas regiões, faz-se necessário indagar e cotejar os princípios que os ordenam e suas transformações nas respectivas histórias regionais.

4- O mesmo e o outro: a caça e a comensalidades como regimes de transformação entre os Mbya Guarani

Rafael Fernandes Mendes Júnior (MN/UFRJ)

O objetivo deste trabalho é analisar algumas implicações da atividade venatória e da comensalidade na cosmologia Mbya Guarani no litoral sul do estado do Rio de Janeiro. Como em muitas sociedades amazônicas, o lugar conferido à caça desempenha entre os Mbya um papel fundamental na definição da noção de pessoa. A caça é muito mais que obtenção de alimentos; ela é, sobretudo, uma forma de se relacionar entre si e com outrem; paralelamente, a comensalidade orienta uma ética definidora da pessoa, onde a transgressão de seus limites implica riscos que podem conduzir a processos de aliança e transformação em pessoas outras, seja em animais, em espíritos e em mortos. Partindo de uma proposta teórica que sustenta que para muitos povos das terras baixas sul-americanas o universo é povoado por diversas espécies de sujeitos ou pessoas que o apreendem segundo pontos de vista distintos: o perspectivismo, tentarei mostrar como a caça e a comensalidade são importantes operadores cosmológicos entre os Mbya.

5- Notas sobre Profilaxias do Ser Indígena: uma abordagem introdutória entre os jovens índios Xokó da Ilha de São Pedro, Baixo Rio São Francisco – SE

Natelson Oliveira de Souza (UFBA)

A proposta de comunicação é parte de uma dissertação em elaboração, e o seu objetivo é apresentar sucinto panorama etnográfico sobre um tema narrado por jovens indígenas Xokó, povo que habita uma pequena ilha no Baixo Rio São Francisco. A comunicação trata de uma situação emblemática ocorrida entre os jovens e expõe um evento que faz referências indiretas à construção social da pessoa, do

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parentesco e da cultura. Não exatamente nos mesmos moldes em que tende a se apresentar em contextos amazônicos, mas que resguarda, em alguma medida, a noção de pessoa enquanto um processo continuado, e aporta uma complementação essencial aos limites do parentesco biológico, a fim de consolidar a cultura num coletivo social dado. Trata-se da situação de um jovem índio crescido na capital e que passa a viver, anos depois, na aldeia do povo Xokó. Tendo em vista a percepção da cidade grande como local potencial de 'impurificação' da pessoa, esse jovem é compelido, pelos outros jovens estabelecidos na aldeia, a passar por um processo de “profilaxia humana”, a fim de ser visto por todos como um “Xokó pleno”, portanto, habilitado a participar da cultura local em toda a sua dimensão.

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SESSÃO II- MEMÓRIA, IDENTIDADE E OLHARES CRUZADOS

1- Bravos x Bravos: a memória Sapará no vale do rio Uraricoera

Olendina de Carvalho Cavalcante (UFRR)

Esta proposta de trabalho pretende discutir as implicações da memória oral relativa à recomposição do etnônimo Sapará, registrada no vale do rio Uraricoera, Roraima. Presente na documentação histórica atinente ao século XVIII, esse etnônimo, como tantos outros, começou a, paulatinamente, cair em desuso durante o século XIX e chegou ao século XX referenciado a uma parentela vivendo entre os Makuxi e Taurepang, no médio Uraricoera. Tal evocação, nos dias que correm, guarda o sentido político do passado como diacrítico na luta por direitos territoriais e sociais. Ao longo do século XIX e início do século XX, os registros escritos representaram os índios do Uraricoera, como índios bravos, em oposição aos índios civilizados da região de campos e serras. Tais imagens foram apropriadas pelos índios dos campos e serras que passaram a designar os índios do Uraricoera pelo termo pejorativo jauaperi ou japiri, que denota a condição de índio bravo ou índio do passado. Porém, para aqueles que reivindicam uma relação de continuidade com os antigos Sapará do Uraricoera, o termo bravo assume aspecto positivo.

2- Política Partidária e Organização Social no alto Rio Negro: a experiência dos indígenas de São Gabriel da Cachoeira/Am

Jean Ricardo Ramos Maia (UNICAMP)

As eleições em São Gabriel da Cachoeira, na região conhecida como Alto Rio Negro não difere, à primeira vista, das que ocorre nos demais municípios do estado do Amazonas. A questão da política partidária no interior do estado é sempre tema de diversas contradições e quase nunca se enquadra fora dos parâmetros de quem pode pagar mais. A história dos indígenas e da FOIRN – movimento indígena no alto rio negro ressalta o papel da agência indígena apesar das tradicionais mazelas da política oficial. Meu objetivo neste artigo é demonstrar como as noções de organização social tradicionais são mais importantes que outros aspectos, no jogo de legitimação e organização social de poder na região. Quero investigar se a eleição de 2008 representa para o movimento indígena um novo lugar de embate político ou apenas um evento isolado, sem maiores conseqüências. Para tanto, estarei analisando o perfil de vereadores da atual Câmara Municipal e alguns fatos das eleições de 2010.

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3- Os índios da Reserva Caramuru-Paraguassu do sul da Bahia: memória, identidade, território e organização social

Jurema Machado de Andrade Souza (UFRB)

A criação da Reserva Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu teve por objetivo acolher Índios que mantinham primeiros contatos com frentes da sociedade regional, os Pataxó e Baenã; os Kariri-Sapuyá, compulsoriamente deslocados da porção sul do Recôncavo baiano, e mais contingentes Kamacan e Tupinambá. Contemporaneamente, esses índios são reconhecidos sob o etnônimo englobante de Pataxó Hãhãhãi e ocupam cerca de 17.000 ha dos 54.000 demarcados. Após a quase total expulsão da reserva, os Pataxó Hãhãhãi vêm empreendendo ações de “retomada”, onde prevalece uma certa demarcação de fronteiras étnicas entre os distintos grupos indígenas que estão estabelecidos na reserva.. Deste modo, cada um dos grupos é apreendido como uma “família étnica”, isto é, família genealógica e etnicamente definida. Através desse conceito e da história do contato tento compreender a territorialidade e as redes de relações estabelecidas pelos distintos grupos no que concerne à organização política e de parentesco.

4- "O Chamado do Pajé: identidades étnicas, xamanismo e história»

Edviges Marta Ioris

Esta proposta visa abordar os movimentos de reafirmação étnica e territorial que estão ocorrendo, desde finais da década de 1990, entre vários grupos indígenas na região do baixo Rio Tapajós, estado do Pará, assinalando sua emergência deflagrada por um processo de atualização histórica dos sistemas de relações simbólicas constituídas sobre suas representações xâmanicas. Assim, de uma perspectiva etnográfica, apresentará como este processo pode ser observado entre indígenas em três Terras Indígenas, localizadas em diferentes áreas geográficas. Os sistemas de representações xamânicas indígenas que permeiam ambas as situações permitem traçar uma rede de pajés que interagiam em momentos determinantes de suas histórias, os quais foram fundamentais para a conformação destas representações, assim, como para o movimento de emergência étnica. Focalizando esta triangulação, na qual se observa estreita relação entre as representações xamânicas e os movimentos de emergência étnica, discutir-se-á como estas representações tornam-se poderosas imagens no processo de atualização histórica, reinventando o passado e estabelecendo um novo horizonte étnico e cultural.

5- Um diálogo possível? Etnologias da Amazônia e do Nordeste brasileiro

Maria Rosário Gonçalves de Carvalho (UFBA)

Em 2000, quando a distinção entre os Índios da Amazônia e do Nordeste brasileiro era rigorosamente observada, elaborei, em colaboração (Carvalho & Souza, 2000), um artigo que buscava aproximá-los, no âmbito de uma perspectiva comparativa. Estou segura de que a experiência de campo na Amazônia ocidental colaborou para uma aparentemente pouco mais acurada percepção dos povos indígenas estabelecidos no nordeste e leste, ao tempo em que propiciou que eu identificasse certos pontos de confluência entre as duas. Nesta proposta de comunicação para a III REA/ ABANNE, o objetivo é (a) produzir uma reflexão sobre a falta de diálogo que persistiu – e ainda persiste, salvo por certas tentativas isoladas -- entre a etnologia amazônica e a etnologia do nordeste, partindo do suposto de que a linha divisória foi estabelecida tendo em vista o maior tempo de contato dos Índios do Nordeste, considerada a sua localização em área de colonização mais antiga e, consequentemente, a suposição de que estariam em via de extinção; e (b) avaliar o rendimento analítico passível de resultar de uma maior convergência entre as duas, não obstante as suas especificidades.

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6- Contribuições para sair da dicotomia 'internalistas' Vs 'externalistas' naantropologia que estuda os povos indígenas

Amiel Ernenek Mejía Lara (UNICAMP)

Tendo como referente os processos indígenas do nordeste, neste texto procuro explorar uma proposta teórica que saia do dilema das abordagens “internalistas” ou “externalistas”, partindo do pressuposto que ambos são percursos teóricos e analíticos que enfrentam dimensões diferentes de um mesmo problema. Isto é, as propostas que dividem a antropologia nesses termos não podem ser pensados como paradigmas totalizantes, muito pelo contrario, são parte de um acúmulo de debates que só em conjunto e em diálogo com outros referentes podem enfrentar o quebra-cabeça que os povos indígenas colocaram para antropologia. Nesse sentido procuro manter no trabalho um diálogo entre autores que no Brasil representam as posturas “internalistas” e “externalistas”, e autores que mantêm discussões paralelas no contexto latino-americano.

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GT11- ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA E CULTURAS ESCOLARES

SESSÃO I- ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO: DIÁLOGOS POSSÍVEIS

1- Usos e modos da abordagem antropológica para análise do universo escolar

Tatiana Arnaud Cipiniuk (UFF)

Proponho trazer neste artigo uma reflexão acerca das formas de utilização do método etnográfico para abordagem do tema que circunscreve a condição social de analfabetismo e de baixo nível de instrução formal. Em algumas das várias nuances de impossibilidades de acesso e permanência na escola se destaca: a importância valorativa da provisão familiar nuclear, mediante vinculações precoces em relação ao trabalho. Essas circunstâncias colocam em evidência a articulação entre o universo escolar público urbano, a antropologia e a pedagogia. Tal reflexão está fundamentada na análise da produção de pesquisa em teses, dissertações e artigos publicados nos portais da CAPES, ANPOCS, SBS e ABA, a partir do ano de 1996, período em que foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira.

2- Etnografia, culturas escolares e Antropologia Crítica

Eliana de Barros Monteiro (UNIVASF)

A presente comunicação visa refletir sobre metodologias que abarquem os estudos da antropologia e da educação, tendo a etnografia como ponte de diálogo entre os dois saberes. Para além da reflexão de que a educação é um fenômeno de reprodução social, entende-se aqui que esta, do contrário, é fonte de transformação social. Aí situamos o elemento do poder presente nas relações sociais e a visão de que a educação é eminentemente um acionar político, uma tarefa social. O diálogo de compreensões entre educação e antropologia, pois, pode nos levar a perceber quão cultural e político são as práticas educativas, assim como são também as práticas e as manifestações culturais no cotidiano dos grupos sociais. Situando a escola como cenário de observação de práticas culturais e educativas, considera-se que esta é mais que um campo de poder (Bourdieu, 2005), é uma extensão ativa da vida íntima de cada indivíduo, que leva a esses espaços suas histórias. A partir de um determinado tema de pesquisa, tem-se como desafio, então, pensar de que forma a etnografia pode servir como mecanismo de identificação das expressões presentes nas culturas escolares e, também, como a partir dela, outros métodos podem ser utilizados como formas a situar categorias de análise que contribuem para a produção de uma antropologia crítica da educação?

3- Educação escolar e identidades culturais: analisando o processo de construção de identidades a partir das práticas discursivas no contexto educacional

Raimundo Nonato Ferreira do Nascimento (UFPE)

O presente trabalho procura refletir sobre a influência das práticas discursivas no processo de construção da identidade no ambiente escolar. Assim sendo, tomo como objeto de análise, o discurso de uma professora de uma escola pública, da cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima, em que procuro problematizar o papel do discurso da professora na construção da identidade de seus alunos, ou seja, até que ponto o discurso produzido pelo professor em sala de aula pode influenciar na construção, afirmação ou negação de uma determinada identidade por parte de seus alunos. O objetivo desta reflexão é compreender como essas práticas atuam no

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processo de construção e/ou afirmação de uma determinada identidade. Nesta análise, tomo como referencia o princípio postulado por Moita Lopes de que a identidade é construída a partir das práticas discursivas e, das teorias de Hall e Castells, que afirmam que a identidade é algo inacabado e que está em constante processo de construção.

4- O educador e sua magia

Amurabi Oliveira (UFAL)

O diálogo entre a antropologia e a educação remete a uma longa tradição teórica, ainda que pouco explorada no país, no entanto, cada vez mais a questão cultural se coloca como uma problemática real a ser encarada pelos educadores. A antropologia tem buscado ultrapassar a simples utilização instrumental da etnografia pelas pesquisas escolares, trazendo uma real contribuição no âmbito do debate político, social e cultura em torno da educação. Propomo-nos aqui a refletir o lugar do professor ante a questão cultural no universo da sala de aula, desenvolvendo de que forma as situações são postas na realidade escolar, e como o educador traça estratégias para lidar com a diversidade cultural no universo de sala, realizando assim a sua “magia”. Partimos de entrevistas realizadas com docentes da educação básica e com licenciandos, articulando com as teorias antropológicas que buscam lidar com as sociedades ditas “complexas” e multiculturais.

5- Ritos, cultura e convivências escolares

José da Cruz Bispo de Miranda (UESPI)Samara Carolina Pereira Sousa (UESPI)

O objetivo deste trabalho é verificar através das práticas escolares a manifestação do rito e sua relação com a convivência escolar e a cultura da paz. O alcance desse objetivo exige o conhecimento do cotidiano escolar, a identificação dos ritos e sua correlação com a convivência entre os estudantes. A preocupação com essa problemática surgiu da inquietação em compreender como surgem os conflitos entre os jovens na escola. Parte-se do pressuposto que a modernidade modificou o rito e que a competição, a rivalidade, as lutas e as demonstrações de virilidade seguem o percurso da tradição e os limites da sociedade arcaica. Neste sentido, o trabalho antropológico utiliza-se de seus recursos teóricos e metodológicos para desvendar que comportamentos, práticas sociais e rituais existem e que tipo de sociedade demandam. A investigação é etnográfica, com ela se observa, escuta e registra. Outros instrumentos estão associados nesta pesquisa: a entrevista e a aplicação de formulários. A preocupação não é menor na fase de transcrição dos registros obtidos nas observações e na interpretação dos dados. Um dos resultados deste trabalho é a percepção de um cotidiano escolar burocrático, disciplinar e sem diálogo com os sujeitos da escola. Entre os jovens é visível a manifestação da competição e da rivalidade pautados, mesmo inconscientemente, numa prática ritualística. As situações descritas tem propiciado a constituição de comportamentos contrários ao modelo de gestão escolar e à reformulação das práticas pedagógicas.

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SESSÃO II- VER, OUVIR, SENTIR: ETNOGRAFANDO EM DIFERENTES ESPAÇOS ESCOLARES

1- Etnografia da Escola Integral em Paratibe Jozelito Alves Arcanjo (UFPE/SEC-PE)

A proposta deste trabalho é apresentar o resultado da pesquisa com base na descrição etnográfica de uma escola pública incluída no Programa de Educação Integral da Secretaria Estadual de Educação de

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Pernambuco que funciona no regime semi-integral no bairro de Paratibe, na cidade de Paulista-PE, área metropolitana do grande Recife, incluída no programa Governo Presente. A abordagem antropológica é trabalhada na perspectiva de compreender os procedimentos de sensibilização dessa comunidade para aceitação do Programa, seus impactos na escola e no grupo a quem atende, as razões que complexificam o desenvolvimento da proposta pedagógica. O objetivo é perceber quais as fronteiras, símbolos, sentidos e os significados que se explicitam nesse processo e como os fluxos se estabelecem entre a escola e o seu território de abrangência. Nosso objeto são as questões das identidades e diferenças perceber e compreender a diversidade de povos e culturas no território de abrangência de escola.

2- Entrando no campo da arte: a construção dos saberes artísticos em uma sala de aula

Christiane Aparecida Tragante (UFSCAR)

Como são construídos os saberes artísticos nas aulas de Arte? Esta questão norteou a etnografia realizada em uma 5ª série de uma escola pública do interior de São Paulo. Entendendo que as relações que as crianças travam com os objetos e conhecimentos artísticos são mediadas pela agência da professora e dos Cadernos didáticos, esta pesquisa buscou compreender a construção desses saberes e o papel dos agentes envolvidos no processo. Com a análise dos Cadernos e da forma como eles foram utilizados pela professora, constatou-se um jogo de forças entre os agentes que evidencia o campo artístico. Se por um lado, a ação dos alunos era subsumida pela agência dos Cadernos e da professora, por outro, foi possível notar a diligência das crianças em determinadas circunstâncias em atividades paralelas, comprovando que elas negociam, tanto quanto podem, inclusive os processos educativos nos quais estão inseridas.

3- Eleições e candidatos vistos pelos alunos do Ensino Fundamental: reflexões de política e antropologia e educação

Marcelo da Silva Araujo (UFF)

O relato apresenta uma experiência com alunos do 8º ano de uma escola municipal carioca. Localizada na interseção dos bairros Fazenda Botafogo e Acari, este último com um dos menores IDH do município, a escola é frequentada por adolescentes das comunidades do entorno. No período das eleições municipais de 2008, propus aos alunos uma pesquisa de intenção de voto junto aos colegas com 16 anos ou mais, objetivando captar as impressões sobre os limites e possibilidades da atuação do prefeito e quais os problemas que mais necessitariam de sua atenção, a partir da intenção declarada de voto. Os resultados indicaram o quão distantes estão os futuros eleitores da compreensão do papel básico do governante, além de reforçar o desequilíbrio entre os poderes Executivo (visto como todo poderoso) e Legislativo, característica de nossa formação patrimonialista, o que expressa, em nível micro, a realidade do conjunto dos eleitores brasileiros.

4- Construindo identidades, demarcando diferenças: as interações entre jovens rurais e urbanos no contexto escolar em um pequeno município

Maria de Assunção Lima de Paulo (UFRPE)

Para além de um espaço formal de transmissão e produção de conhecimentos, a escola constitui um espaço onde relações sociais e construção de identidades. Busco aqui discutir a escola como um espaço onde os jovens rurais e urbanos do município de Orobó constroem suas identidades e diferenças, demarcando a relação e a distinção entre o rural o urbano por meio de práticas e significados. Compreendendo o meio rural como multifacetário e multifuncional e atentando para a especificidade dos

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pequenos municípios nordestinos, busco contribuir com este artigo, para a compreensão da juventude rural como uma categoria socialmente construída e heterogênea, que pauta sua identidade na relação com o meio urbano, a partir do qual constrói a diferença como seu espelho. A observação participante em momentos de aula e intervalo, a análise situacional e a análise de redações elaboradas pelos próprios jovens serviram de instrumentos metodológicos para compreender as questões propostas.

5- Violência simbólica e cultura escolar: estudo etnográfico das práticas de ensino de sociologia no Rio de Janeiro

Andrey Cordeiro Ferreira (UFRRJ)Valena Ribeiro Garcia Ramos (UFF/SEEDUC-RJ)

Rosangela Bauer (SEEDUC-RJ)

Apresentaremos aqui resultados parciais de uma pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto "Sociologia e Autonomia" (voltado para compreensão das dinâmicas escolares e produção de material didático de sociologia na educação básica). Na pesquisa temos como orientação a idéia de que a violência simbólica (especialmente a ideia de hipossuficiência crônica do povo brasileiro) é um componente fundamental da formação da cultura escolar e das suas dinâmicas. A etnografia aqui proposta pretende a partir do estudo de caso de uma escola estadual, problematizar como as diferentes formas de violência simbólica se manifestam no cotidiano e condicionam a cultura escolar e práticas de ensino, e as formas de acomodação e resistência a essas relações. A pesquisa levada a cabo tem a proposta de conjugar a perspectiva antropológica focada nas práticas do cotidiano escolar (para compreender as formas de dominação na educação) com o desenvolvimento de novos processos educativos direcionados à autonomia

Pôster 1: Descaso ou escolha? Algumas notas sobre evasão no ensino superior na UFPA

Luiz Eduardo Santos do Nascimento (UFPA)Anna Barbara Cardoso da Silva (UFPA)

Ricardo da Silva Rodrigues (DPU-RO)

O estudo quer entender a construção da identidade universitária (IU), a partir dos motivos que influenciam/ou não a permanência no ensino superior. Entrevistou-se 21 alunos do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará entre 2005 e 2008, com questões qualitativas: o que significa ser universitário e o que influenciou ou não a permanência no curso. Dentre eles, 11 faziam mais de uma graduação e por vários motivos abandonaram o curso por outro. Pensando que ser universitário implica em ser conhecedor do que a universidade oferece, mas isto requer tempo e dedicação, que ficam vulneráveis com outro curso. Assim, a construção dessa IU relaciona-se com experiências vividas dentro/fora da IES, já que estar na universidade circula chances e escolhas entre um curso ou outro. Nesse estudo, o empoderamento é decisivo para possibilitar a inclusão social nas IES, pois interromper os estudos num curso de graduação significa valorizar um processo de escolhas e decisões a outro curso.

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SESSÃO III- EDUCAÇÃO INDÍGENA: OLHARES INTERCRUZADOS, ETNICIDADE, IDENTIDADE E EDUCAÇÃO

1- Experiências educativas entre os indígenas Zenú na Colômbia

América Larraín (UFSC)

O trabalho apresenta uma análise das reivindicações educativas do povo indígena Zenú, do caribe colombiano.O objetivo é refletir sobre os relatos de professores e alunos respeito das experiências e dificuldades na implementação de uma política educativa diferenciada (educação própria), à luz das condições e desafios que eles enfrentam no dia-a-dia e das expectativas da sociedade envolvente e do Estado. Algumas dessas experiências e dificuldades são o trabalho infantil, o casamento e a gravidez na adolescência, e a migração de jovens para as capitais próximas na procura de trabalho e melhores condições materiais.

2- Educação Indígena na comunidade Kaingang de São Leopoldo/RS: significado e contexto etnográfico no tempo presente

Diego Fernandes Dias Severo (UNISINOS)Walmir da Silva Pereira (UNISINOS)

Roseli Bernardo Silva dos Santos (IFRR/UNISINOS)

A educação entre os povos indígenas no Rio Grande do Sul tem sido percebida no cenário atual como um dos maiores desafios, tanto para os educadores indígenas como para os não indígenas, na luta para a efetivação das legislações existentes e ampliação dos direitos constitucionais. Neste sentido, o estudo evidencia uma descrição das práticas educativas vivenciadas na relação escola-comunidade do grupo étnico Kaingang na cidade de São Leopoldo, com o objetivo de entender qual o significado da escola para a cultura desse povo, partindo do reconhecimento de que a instituição escolar, em seu sentido formalista e colonizador, foi inicialmente imposta aos povos indígenas servindo como instrumento para “civilizar”. Na metodologia empregada trata-se de potencializar o contexto etnográfico e suas conexões com os elementos históricos e sociais do universo investigado.

3- Escola como espaço de valorização e afirmação da identidade étnica Pankararu

Warna Vieira Rodrigues (UFPE)

A proposta deste trabalho é refletir sobre a ideia de interculturalidade identificada nas atividades pedagógicas da Escola Pankararu Ezequiel, no Brejo dos Padres, Pernambuco. Se de um lado, temos a presença da cultura escolar nas comunidades indígenas, interferindo, de alguma forma, nos padrões socioculturais existentes, por outro lado, a proposta de educação diferenciada, permite a utilização de processos próprios de ensino e aprendizagem, na perspectiva da valorização e da afirmação da cultura e da identidade étnica. Cujo processo de apropriação do conceito de cultura passa por várias esferas de interpretação para finalmente ser concretizado em sala de aula. A dinâmica provocada por esse confronto pode acarretar inversões de posições e de significado como pode nos trazer a perpetuação de determinadas formas culturais. É nesse contexto de confronto que identificamos a dinâmica dos mecanismos de valorização e afirmação da identidade étnica Pankararu nos espaços de educação escolar.

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4- Escavando dados e memórias: pesquisas, escola e reelaboração cultural entre os Tabajara e Kalabaça de Poranga

Bruno Ronald Andrade da Silva (UFPE)

Os índios Tabajara e Kalabaça, do município de Poranga-CE, no intuito de construir saberes sobre a sua mobilização étnica, sensibilizaram-se para importância da “pesquisa” sobre as suas famílias na busca do fortalecimento de sua organização. Em 1998, com a criação da escola indígena no bairro Jardim das Oliveiras, propiciou-se um campo fecundo para o desenvolvimento de “pesquisas” que objetivavam entender como viviam os seus “antepassados”. Realizadas, sobretudo, pelos professores indígenas, as “pesquisas” propiciam uma reelaboração cultural que provocam ressonâncias em variados âmbitos da vida dos Tabajara e Kalabaça. O presente trabalho tem como foco analisar os processos da busca de um “jeito de ser” Tabajara e Kalabaça, tendo como cenário o impacto das “pesquisas” na escola indígena diferenciada. A pesquisa de campo e a análise de um circuito de pesquisas engendrado pelos índios são elementos que norteiam a metodologia para a interpretação deste trabalho.

5- Justificacion de um programa intercultural basado em estragias lúdicas que promuevan em el desarrollo social em los ninõs y ninas del centro de educacion inicial San Fransisco de Yuruaní, comunidad taurepán de Kumarakapay, minicipio Gran Sabana, Estado Bolívar, Venezuela

Adriana Nohemí Malpica Talavera (Universidad de Carabobo – Venezuela)

En esta ponencia mostramos la realidad que justifica el diseño de un programa intercultural basado en estrategias lúdicas que promuevan el desarrollo social en los niños y niñas del Centro de Educación Inicial San Francisco de Yuruaní, comunidad indígena taurepán de Kumarakapay, Municipio Gran Sabana, Estado Bolívar, Venezuela. Investigación de campo de tipo transaccional descriptiva, cuyo diseño responde a la modalidad de proyecto factible en sus fases: diagnóstico, factibilidad y diseño. La población está constituida por cinco (5) docentes. Para recabar la información se utilizó una escala tipo Likert, dirigida a los docentes, sometida a validación a través del juicio de expertos. La confiabilidad medida por el método alfa de Cronbach resultó alta y positiva. Los resultados del diagnóstico permitieron afirmar que el programa que se propone permitirá promover y satisfacer el desarrollo social de los niños y niñas del Centro de Educación Inicial San Francisco de Yuruaní.

6- Índios Apinayé e suas memórias educativas

Witembergue Gomes Zaparoli (Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão)

Esta pesquisa tem como objeto os saberes tradicionais dos velhos indígenas, e por objetivo descrever as memórias educativas dos Apinayé na aldeia São José – TO, Estado do Tocantins. A investigação – Memórias Educativas: narrativas contam os Apinayé – foi desenvolvida como pesquisa etnográfica, com base nos dados do cotidiano da comunidade. Fundamenta-se em uma descrição dos aspectos de natureza sócio-histórica e cultural presentes nos relatos dos velhos indígenas desse grupo. Utilizo da oralidade como um meio que cria seus próprios documentos e diálogos com a memória, entre a experiência do passado, o presente e a cultura. A realização desse tipo de pesquisa se caracteriza por estudar padrões de comportamento manifestos rotineiramente, em uma descrição/narrativa do cenário educativo e dos personagens sociais do espaço. Assim, a investigação busca responder aos interesses de compreender como a educação centrada na transmissão de experiências aos mais jovens é um cuidado que os velhos têm com o modo de vida de seu povo, visto como possibilidade pedagógica a serviço da reconstrução dos valores transmitidos pela oralidade dos guardiões.

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Pôster 2: Práticas cotidianas yanomami: contribuições para a construção de uma escola indígena diferenciada

Ana Maria A. Machado (ISA)

Ao final da década de 1990 na Terra Indígena Yanomami (TIY) - poucos anos após sua homologação – as raras experiências de educação escolar que até então ficavam restritas às poucas missões religiosas, se expandiram para outras regiões da TIY, sendo então promovidas por instituições laicas que iniciaram a implantação de escolas indígenas diferenciadas. Para algumas comunidades yanomami, esse foi o primeiro contato com a instituição escolar. A ausência de uma tradição escolar contribuiu para a criação de uma cultura escolar própria, construída através da relação híbrida das primeiras experiências de alfabetização com professores não indígenas e as características próprias do modo de ensino e aprendizagem yanomami. Este trabalho propõe apresentar descrições etnográficas sobre a aprendizagem

na escola da aldeia de Watorik?, de forma elucidar a plasticidade da escola yanomami e a construção de

uma cultura escolar própria, orientadas a partir de suas práticas de aprendizagem cotidianas.

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GT12- REVISITANTO A ETNOLOGIA JÊ

A presença dos povos Jê do Brasil Central marcou a constituição e história do campo da Antropologia no Brasil e da etnologia das terras baixas sul-americanas, a partir das etnografias de Curt Nimuendajú. Das pesquisas do Projeto Harvard-Museu Nacional, nos anos 1960-1970, emergiram estratégias descritivas e categorias analíticas importantes que estiveram no centro de uma das propostas mais fecundas no campo dos estudos ameríndios: a noção de pessoa. Desde então, novos estudos etnográficos, a renovação de perspectivas antropológicas e a experimentação que esses povos vêm conduzindo em sua relação com as mais diversas agências, abriram novas perspectivas para a compreensão dessas sociedades. Velhos e novos temas têm merecido especial atenção: do debate sobra a natureza dos segmentos residenciais ou casas que compõem as grandes aldeias características dos Jê Setentrionais, da reanálise dos sistemas de nominação, amizade formal e aliança matrimonial, às investigações sobre o impacto da monetarização, ao estudo da infância, dos processos de escolarização, e das interferências entre os regimes de conhecimento e criatividade nativos e o debate sobre direitos culturais e intelectuais. Mas se o conhecimento sobre essas sociedades têm assim se aprofundado e diversificado, a imagem que delas predomina na Antropologia é ainda aquela criada na década de 1970. Faz-se então urgente revisitar essas sociedades, atualizando essa imagem à luz das inovações conceituais no campo da etnologia das terras baixas, da diversificação das pesquisas e da perspectiva histórica propiciada por meio século de etnografia sistemática. Esta proposta de GT é criar um espaço para a catalisação das pesquisas que vêm sendo realizadas entre os povos Jê nos últimos 15 anos. Espera-se a contribuição tanto de trabalhos baseados em novas etnografias sobre cada um dos diversos povos Jê quanto de análises comparativas que proponham releituras das inúmeras temáticas relevantes para a compreensão dos vários povos deste grupo.

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SESSÃO I- REVISITANDO O DUALISMO EM DIVERSOS ASPECTOS

1- Dualismos em devir: repensando categorias junto com os Mebengokré-xikrin

Paride Bollettin (Università degli Studi di Perugia – Itália)

A proposta deste trabalho e de apresentar algumas questões relevantes das etnografias sobre os povos mebengokré. No específico quero focalizar o tema do dualismo, tanto na análise e construção da categoria de “pessoa” quanto nas da organização social, a partir de como foram se apresentando nos trabalhos sobre esses povos e na minha pesquisa de campo entre os mebengokré-xikrin do Bakajá. Em seguida pretendo reler esses dualismos à luz de algumas das elaborações mais atuais da etnologia, para ver como pode-se estabelecer um diálogo profícuo entre diferentes formas da focar essas temáticas. A intenção è demonstrar que seja possível traçar uma continuidade entre uma ideia de dualismo (diametral ou concêntrico, em equilíbrio ou disequilibrio) e a ideia de devir, ou seja que seja possível pensar aos dualismos como formas de organizar um devir histórico e social.

2- Gênero e dualismo entre os Akwen-Xerente

Clarisse Raposo (UFMG)

Pretendo confrontar as imagens de gênero percebidas entre os Akwen-Xerente com aquela literatura clássica sobre os grupos Jê. Ao considerar as relações estabelecidas entre homens e

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mulheres no seio de sua socialidade doméstica, bem como a abertura sintética do referido campo a outros universos relacionais, será possível atentar para a estrutura fractal que comanda a interação entre igualdade e alteridade na reprodução do coletivo propriamente humano denotado pelo termo akwen. Deverá ser explícita a existência de uma tensão entre a lógica concêntrica da incorporação da diferença na determinação desse coletivo, e o diametralismo que recorta todas as suas instâncias relacionais, reorganizando o universo cognático em termos de identidade e diferença. Homens e mulheres não reproduzem ali um meio inclusivo onde as diferenças são abolidas como resultado de seu engajamento. Não há síntese. Seu dualismo seria, pois, tanto um operador da abertura do socius, como um mecanismo de antitotalização.

3- Hoxwa. Um olhar sobre os palhaços cerimoniais krahô

Ana Gabriela Morim de Lima (UFRJ)

As problemáticas em torno do “corpo” e do “nome” são centrais para a reflexão da noção de pessoa Jê. Buscando desessencializar a oposição entre corpo e nome, o presente trabalho chama atenção ao papel do nome na fabricação dos “corpos de pessoas humanas”, entre práticas estabilizadoras e estados de alteração e metamorfose. O nome “veste” a pessoa, transmitindo além de parentes, comportamentos e conhecimentos cerimoniais específicos (e diferenciantes), constituindo um corpo em intensa ligação com o mítico e o ritual. O nome também compartilha dos aspectos da alma, sendo aquilo que sobrevive à pessoa na figura do personagem. A proposta é refletir sobre as noções de pessoa e humanidade Jê a partir dos personagens mítico-rituais, focalizando os hoxwa, palhaços cerimoniais Krahô que se apresentam na “Festa da Batata”, que como conta o mito foi aprendido com as plantas cultivadas. Um corpo grotesco, trickster por excelência, o hoxwa está imerso em complexos processos de mimese e alteridade.

4- Histórias de um gêmeo de si mesmo: relendo os movimentos messiânicos dos Krahô e dos Canelas

Daniel Mendes Fernandes (UAB-Unimontes)

Podemos afirmar que os movimentos messiânicos dos Krahô e Canela compõem um capítulo importante na Etnologia Jê, o qual é revisitado e ampliado desde as etnografias seminais de Melatti e Crocker. Nos últimos quarenta anos foram etnografadas histórias entre essas sociedades e os kupen, tendo como pano de fundo o mesmo dilema: pois os kupen somos nós, os brancos. Contudo, mesmo com todo o detalhamento etnográfico já realizado, essa temática e a própria categoria kupen ainda requerem mais atenção. Assim, ao revisitar a Etnologia Jê, meu objetivo é perceber algumas conexões entre a presença dos kupen, a série de acontecimentos dos ditos movimentos, o cerimonialismo, os contatos com seres míticos, questões entre gemelaridade e abertura para o outro, captura e cultura material. Trata-se de um embasamento para investigar a existência dos kupen e suas implicâncias na vida social dos Timbira e assim oferecer uma releitura de velhos temas Jê como pertinentes a questões de experimentos indígenas.

5- Sobre as categorias étnico-raciais entre os Xokleng

Kaio Domingues Hoffmann (UFSC e FUNAI)

Esta apresentação tem como objetivo refletir sobre as categorias étnico-raciais utilizadas pelos Xokleng – grupo jê meridional situado na TI Ibirama-Laklãnõ (SC). Entre os Xokleng é comum que as pessoas se refiram umas às outras utilizando categorias como “índio puro”, “mestiço” e “branco”. As concepções nativas envolvidas na utilização dessas categorias, no entanto, parecem apontar para uma refração do que concebemos sob o rótulo de racismo, atuando através de mecanismos de gradação reversíveis e

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relações de irredutibilidade de perspectivas entre os sangues “indígena” e “branco”, por exemplo. Tudo se passa como se essas categorias atuassem de forma posicional – ao invés de indicarem caracteres físicos e estáveis, elas apontam para relações que são construídas a partir de modos particulares da socialidade xokleng, ligadas às afecções do universo do parentesco e da linguagem – o que por sua vez remete à construção da pessoa e à noção de corpo entre aqueles ameríndios.

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SESSÃO II- REDES SOCIAIS E PARENTESCOS

1- A rede de parentesco e o sistema de aliança Kraho

Carlos Melo de Oliveira Paulino (FUNAI – Macapá)

A pesquisa de iniciação científica a ser apresentada tratou de realizar uma descrição e análise através de métodos computacionais da rede de parentesco e do sistema de aliança dos índios Kraho conforme dados coletados pelo pesquisador Julio Cezar Melatti ao longo da década de 60. O objetivo é, portanto, descrever e tentar compreender o funcionamento desse sistema de aliança retomando um tema de extrema relevância para a compreensão de qualquer sociedade e, nesse caso particular, já trabalhado por outros pesquisadores como Maria Elisa Ladeira e o próprio Melatti. Outro objetivo da apresentação é propor possibilidades de desenvolvimento dessa análise que envolvam o sistema de transmissão de nomes, as relações de amizade formal e análises comparativas com sistemas de outros povos Timbira e/ou outros povos de terminologia do tipo Crow.

2- Irmão, mais ou menos. Da importância da quase-similitude para a organização social Mebengokré (Caiapó-Xicrin)

Adolfo de Oliveira (UESC)

Pretendo analisar, a partir de uma perspectiva wittgensteiniana do uso pragmático da linguagem, os sentidos construidos em torno da noção de kamy, ou 'irmão-amigo', pelos Mebengokrés (Caiapós-Xikrins) do sul do Pará, em seus usos cotidianos do termo. Meu objetivo é mostrar que, longe de ser um referente de uma categoria classificatória (tal como comumente assumido tacitamente na etnologia Je), seu uso remete a uma prática de atribuição de qualidades específicas, que é fundamental para a compreensão da chamada organização social Mebengokré. Serão analisadas as práticas de uso cotidiano do termo e seus usos cerimoniais, tomados ambos aqui como comentários de caráter filosófico-teórico sobre as qualidades mencionadas.

3- Adoção-doação de crianças em uma sociedade Jê do Sul

Alexandro Machado Namem (UFRR)

Com o trabalho objetiva-se debater e refletir com os colegas do grupo sobre as concepções e práticas de adoção-doação de crianças entre os Laklãnõ, e, logo após a reunião, preparar um texto para tentar publicar como artigo. A proposta justifica-se pela importância de tais práticas e concepções na organização social e política desses ameríndios e suas implicações jurídicas na atualidade face ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O trabalho baseia-se em pesquisas que foram realizadas ao longo de 19 anos (1988-2007), durante os quais 27 meses em campo, na Terra Indígena Ibirama, localizada no alto vale do Itajaí, Estado de Santa Catarina (SC), onde vivem os Laklãnõ (mais conhecidos como Xokleng).

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4- Criando-se kafy: construindo corpos e pessoas Kaingang

Patricia Carvalho Rosa (Unicamp)

O trabalho tem por finalidade tratar sobre a temática da produção de corpos e pessoas, tendo como base etnográfica a experiência com coletivos indígenas Kaingang, grupo Jê Meridional, localizados no Estado do Rio Grande do Sul. A proposta do trabalho insere-se na discussão acerca dos saberes indígenas relativos ao corpo, sua fabricação e construção continuada, voltados simultaneamente para a produção de parentes e construção da pessoa como Kaingang. Nesse sentido, o texto propõe-se a discutir os regimes indígenas de conhecimento naquilo que tange ao fabrico de corpos, tendo na diferença entre atributos das metades patrilineares Kamé e Kairu um dos pilares de sua socialidade. Diferenças estas que devem ser administradas de modo que as relações afetivas e políticas criadas cotidianamente tornem-se positivas e produtivas de corpos humanos com características desejáveis, qual sejam, “corpos não pesados” e “mal feitos”, provocados pelo acúmulo de substâncias similares. Nesse processo, iniciado na gestação e continuado até o momento de morte da pessoa, articula-se ações inter e intrapessoais, que revelam notas sobre uma teoria Kaingang de substâncias, focadas na produção do kafy, caracterizado como um componente do corpo, um laço simultaneamente afetivo, corporal e político, efeito das trocas entre aqueles com quem se convive, que dura conforme o manejo das ações e relações constitutivas do corpo e da pessoa. Assim, esta proposta de trabalho pretende contribuir com novas etnografias sobre os Jê do Sul, colaborando no campo dos estudos ameríndios a partir da análise da noção de pessoa e produção de corpos produzida na perspectiva de uma antropologia do cotidiano indígena.

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SESSÃO III - IMAGENS, SONS, OBJETOS: A CULTURA NA HISTÓRIA

1- Música e cosmologia entre os TimbiraLígia Raquel Rodrigues Soares (UFAM)

As pesquisas desenvolvidas na área de antropologia da música no Brasil se iniciaram na segunda metade dos anos setenta do século XX e desde então este campo tem proporcionado uma certa floração de novos trabalhos. Essas pesquisas produziram estudos tendo como tema central de investigação especialmente as músicas indígenas. Com relação ao universo Jê alguns excelentes trabalhos foram produzidos. Esta produção, no entanto, ainda é muito pequena se comparada a outros povos indígenas no Brasil. Entre os trabalhos relativos ao universo Jê estão as pesquisas de Aytai sobre os Xavante (1985), Seeger sobre os Suyá (1987), Menezes Bastos sobre música Xikrín (1996). Nesta comunicação, apresentarei um estado da arte dessa produção na antropologia da música, buscando mostrar como outros temas não a música eram privilegiados entre os Jê, especialmente entre os Timbira. Argumentando que atualmente esse universo tem se modificado, darei ênfase à minha pesquisa atual de doutorado com a música e a cosmologia entre os Ràmkôkamekrá/Canela.

2- Sujeitos do próprio discurso: a cultura xavante através do cinema de Divino Tserewahú

Fernanda Oliveira Silva (UNIFESP)

O cinema desde sua criação é um meio altamente eficiente para transmissão de cultura e os índios brasileiros perceberam a potencialidade dessa arte como meio de comunicação, sendo assim, passaram a utilizá-la na defesa de sua cultura e como forma de comunicação com a sociedade envolvente. Em 1987, a partir da iniciativa do Centro de Trabalho Indigenista e do projeto Vídeo nas Aldeias abriu-se a

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possibilidade do contato dos indígenas com a câmera de vídeo. No início este trabalho consistia em propiciar trocas interétnicas, ou seja, a troca de imagens entre os diferentes povos indígenas, para com o tempo focalizar em oficinas de formação de realizadores indígenas. Este trabalho objetiva analisar de que maneira o realizador indígena Xavante Divino Tserewahú se apropria e se utiliza da linguagem fílmica para construir uma comunicação entre a cultura de seu povo e um público mais amplo.

3- A vida social de uma machadinha krahôJorge Henrique Teotonio de Lima Melo (UFRN)

A partir do conflito estabelecido no ano de 1986 entre o Museu Paulista da Universidade de São Paulo e um grupo de etnia krahô acerca da posse de um machado de pedra inscrito na cultura material desses últimos, buscamos compreender as relações engendradas entre dois grupos sociais distintos: um indígena e um de caráter acadêmico-administrativo. Foi realizada uma abordagem etnográfica multi-situada que busca complexificar a construção do processo social referido e as posições assumidas dentro da rede de relações, levando-se em consideração projetos políticos institucionais, projetos pessoais e trajetórias de vida sob uma perspectiva histórica. Pretendemos levantar discussões sobre a relação da formação dos museus histórico-científicos e etnográficos com práticas da disciplina antropológica, bem como os papeis sociais dessas instituições e os processos de significação de objetos de cultura material indígena.

4- Indígenas do tronco linguístico jê no mapa etno-histórico do Piauí, Brasil

Milton Florêncio de Oliveira (Fundação Cultural do Piauí)

Quando do período da ocupação pelos colonos a região do sertão de dentro, designação que compreendia as áreas remotas do nordeste do Brasil, os indígenas habitantes da região do Piauí foram dizimados, embora atualmente dois grupos remanescentes – Itacoatiaras, no município de Piripiri e Cariris, na cidade de Queimada Nova – tenham se auto-identificados como nativos e venham resgatando esta identidade. Desta forma, o intento do trabalho foi conhecermos as famílias linguísticas dos indígenas do período colonial piauiense, já que em diversas fontes documentais, como relatórios de viagens, crônicas e documentos oficiais, ficou o registro de diversas designações tribais, razão pela qual a etno-história para o conhecimento desses povos é fundamental. Com isto procedeu-se à identificação das famílias linguísticas e a elaboração do mapa etno-histórico dos nativos do Piauí, onde se constatou que a maioria das nações indígenas era Jê.

5- Algumas reflexões sobre temáticas antropológicas JêOdair Giraldin (UFT)

Nesta comunicação abordarei reflexões sobre os temas: 1)Aliança; 2)Cosmologia e Xamanismo; 3)Educação escolar e processos próprios de aprendizagem. O modelo apresentado por Maria Elisa Ladeira sobre um sistema de troca de nomes e troca de cônjuges entre os Timbira considera a troca onomástica com estimuladora de sistema matrimonial, mas não considera que nomes também são instituidores de amizade formal. Como para os Jê os serviços cerimoniais da amizade formal podem levar a serviços matrimoniais, como isso operaria nos Timbira? A imagem sóciocêntrica dos Jê inibiu reflexões sobre a cosmologia e sobre o xamanismo. Um exemplo contradiz essa imagem: os Xerente além de terem uma cosmologia e baseada em qualidades perspectivas, têm um xamanismo muito forte no qual o maracá tem uma função mágica nas sessões xamânicas (semelhante aos casos Tupi). Com a complexificação do contato, a relação com a educação escolar frente aos processos próprios de ensino e aprendizagem coloca-se como desafio o qual é percebido pelos próprios indígenas e a reflexões deles e da Antropologia sobre isso.

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A ANTROPOLOGIA INDÍGENA EM CONTEXTOS DE INTERVENCÃO SOCIAL: LIMITES E POTENCIALIDADES

O envolvimento de antropólogos em experiências de intervenção social tem muitas vezes contribuído para o avanço e fortalecimento da etnologia indígena tanto no Brasil quanto em outros países (como México, Colômbia, Canadá, Austrália, entre outros). Os desafios colocados a esses profissionais têm estimulado a formulação de novas questões e problemáticas, concorrendo para o delineamento de estratégias inovadoras de pesquisa e favorecendo uma troca frutífera com outros saberes, alargando o horizonte disciplinar.

Nas últimas três décadas as convenções internacionais (como a Convenção 169 da OIT, subscrita pelo Brasil em 2003, e a Declaração das Nações Unidas sobre os Povos Indígenas/2007) tem destacado fortemente a necessidade de respeito e proteção às manifestações culturais das populações autóctones. Tanto as legislações quanto às políticas indigenistas dos Estados Nacionais foram estimuladas a abandonar diretrizes puramente ocidentalizantes, de teor homogeneizador e desenvolvimentista, buscando elaborar programas assistenciais que contemplassem as especificidades dos povos e culturas com as quais trabalhavam. Agências internacionais de cooperação e fomento também contribuíram para abrir importantes espaços para a expressão e protagonismo indígena, inclusive no âmbito da própria sociedade civil.

A presença dos antropólogos nestas iniciativas, que em décadas anteriores fora um fato ocasional e setorizado, tornou-se algo regular e que veio a abarcar, em proporção crescente, as novas gerações de antropólogos formados pelos cursos de pós-graduação implantados no país. O GT aqui proposto visa justamente refletir sobre este fenômeno novo – a amplitude das experiências acumuladas por antropólogos e etnólogos em contextos exteriores à pesquisa científica. Para isso os textos propostos à discussão neste GT deverão examinar os diversos papeis que tais profissionais desempenham ou desempenharam em programas ou organismos de governo, em organizações não-governamentais, em programas de cooperação internacional ou em outros empreendimentos.

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SESSÃO I- ANTROPOLOGIA E INDIGENISMO

1- A antropologia norueguesa e a afirmação de direitos indígenas em arenas nacionais e transnacionais

Maria Barroso Hoffmann (UFRJ)

Esta comunicação pretende descrever a atuação dos antropólogos noruegueses em três frentes ligadas à obtenção de direitos indígenas: a primeira associada ao processo de afirmação do povo Sami enquanto povo indígena dentro do Estado norueguês; a segunda à construção de redes transnacionais de advocacy voltadas à defesa dos direitos indígenas no plano internacional; e a terceira à participação em programas de cooperação para o desenvolvimento junto a povos indígenas. Com o exame do caso norueguês busca-se contribuir para a análise do trânsito dos antropólogos por diferentes gramáticas, teóricas, burocráticas e políticas, bem como das implicações deste trânsito na constituição contemporânea de identidades nacionais e étnicas.

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2- As interfaces da antropologia e do indigenismo no Brasil

Stephen G. Baines (UNB)

Examinarei alguns dos papéis de antropólogos em relação ao indigenismo no Brasil. Desde o crescimento do movimento político indígena a partir dos anos 1970 e, sobretudo, após a Constituição de 1988, as organizações indígenas estão crescendo, e os antropólogos deixaram de agir como seus intermediários. Na última década houve um esforço por parte dos povos indígenas a profissionalizar os quadros das suas organizações. Mesmo que o papel do antropólogo em relação aos povos indígenas tenha mudado muito frente ao protagonismo indígena, existem funções importantes que antropólogos em ONGs de apoio aos povos indígenas desempenham, para documentação, treinamento e apoio a projetos indígenas, sobretudo na função de assessoria, como também em órgãos do governo, e empresas. Com a imposição de grandes projetos de desenvolvimento na Amazônia, como a UHE Belo Monte, o antropólogo enfrenta desafios cada vez maiores ao lidar com situações de extrema complexidade, e em que as pressões econômicas de grandes empresas exercem uma influência forte sobre as lideranças indígenas locais.

3- Antropólogos e ONGs na década de 80. O princípio de sua atuação

Mariana da Costa Aguiar Petroni (Unicamp)

Em novembro de 1978, duas mil pessoas se reuniram no teatro da PUC de São Paulo, com 190 moções contra o Projeto de Emancipação, que visava modificar o Estatuto do Índio, para permitir a emancipação, individual e coletiva, das comunidades indígenas. Como resultados desse processo foram criadas organizações não governamentais como a Comissão Pró-Índio, em que se juntaram antropólogos, médicos, jornalistas e estudantes que procuravam “defender o direito dos povos indígenas frentes às crescentes ameaças do regime ditatorial vigente naquela época”. Este trabalho, como parte de uma pesquisa maior, pretende examinar o papel desempenhado pelos antropólogos dentro e através dessas organizações, em um momento caracterizado por muitos autores como o período no qual se articula, pela primeira vez, um movimento indígena nacional; e no qual as organizações não governamentais representavam, essencialmente, a luta pela ampliação dos direitos civis.

4- Imagens, vozes e fricções/ficções internéticas/interétnicas: o(s) papel(eis) antropológicos na fronteira das relações entre estado e povos indígenas

Eduardo Vieira Barnes

Proponho apresentar o caso do processo de licenciamento ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico/AHE Belo Monte e o(s) papel(is) do(s) antropólogo(s) junto aos atores do Estado e dos povos indígenas. O Estado brasileiro é signatário de importantes diplomas legais, nacionais ou internacionais, os quais inscrevem a palavra consulta prévia junto aos povos indígenas acerca das ações e/ou intervenções do Estado junto às terras indígenas. Nesse contexto, os agentes do Estado apresentam estratégias e ações rumo à instalação do mega projeto. Espaço repleto de conflitos oriundos do avanço das fronteiras econômicas e simbólicas do Estado na Amazônia – desde a abertura da rodovia transamazônica aos tempos do Programa de Aceleração do Crescimento. Emerge, portanto, a possibilidade de se fazer uma reflexão sobre a antropologia no âmbito das oitivas indígenas – objeto de peças e registros que circulam na mídia escrita, falada ou nos megabites e/ou pixels cibernéticos.

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5- Etnologia e índios isoladosLino João de Oliveira Neves (UFAM)

Na linha da proposta do GT “A Antropologia Indígena em Contextos de Intervenção Social: limites e potencialidades”, de refletir sobre experiências etnológicas realizadas em contextos de pesquisas e trabalhos conduzidos junto aos povos indígenas, esta Comunicação pretende discutir o caso particular dos chamados “índios isolados”, buscando analisar, a partir da perspectiva do compromisso político, o papel da etnologia na compreensão dos povos sem contato, assim como as contribuições e limitações da ação profissional do etnólogo para o encaminhamento de propostas de intervenção voltadas a garantia de direitos e da integridade física e cultural desses povos. Esta Comunicação toma como ponto de partida as análises críticas e trabalhos de campo de diferentes agentes do indigenismo cujas contribuições dão corpo ao livro “Povos Indígenas Isolados na Amazônia: A luta pela sobrevivência”, coordenado por mim e Guenter Francisco Loebens, que se propõe a divulgar a dramática situação de ameaças e violências enfrentadas pelos povos indígenas isolados face a presença de projetos de desenvolvimento que atingem seus territórios e seus mundos.

6- Repartição de conflitos no rio Teles Pires

Rodrigo Theophilo Folhes (FUNAI)

A disputa pelo acesso e uso dos recursos naturais envolta em critérios estabelecidos na legislação ambiental e indigenista brasileira tem sido alvo de intensos debates nos diferentes segmentos de nossa sociedade. Temos assistido nos últimos anos uma intensificação dos projetos de desenvolvimento levados a efeito pelo governo brasileiro, sendo o mais conhecido e polêmico o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. Os estudos de impacto ambiental (EIA) inseridos no âmbito do processo de licenciamento ambiental costumam ser o alvo principal do jogo de interesses e conflitos que marcam o processo de apropriação e uso dos recursos naturais. Minha intenção nesse trabalho, enquanto assessor da FUNAI/CGGAM, é discutir o processo de produção do Componente Indígena do EIA, trazendo os casos concretos dos AHE do Rio Teles Pires. Nesse sentido, pretendo discutir a institucionalização do conflito a partir dos procedimentos técnicos adotados, os subterfúgios legais e o posicionamento dos povos indígenas Munduruku, Kayabi e Apiaká.

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SESSÃO II- TERRITÓRIOS

1- Terra Indígena Raposa Serra do Sol: impactos das políticas territórias indigenistas, ambientalistas e fronteiriças sobre os Ingarikó

Rodrigo Paranhos Faleiro (CEPPAC-UNB)

Entre os inúmeros e conflituosos episódios que tiveram como epicentro a Amazônia, o julgamento da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2009, adquiriu relevância para inúmeros atores sociais. Nesse julgamento, tendências e ideologias contraditórias compuseram cenários hegemônicos favoráveis e contrários à homologação daquele território indígena. Entre os argumentos apresentados, pairavam leituras singulares sobre a territorialidade, nacionalidade, identidade, soberania, etc., que, em grande parte, puderam ser revistas, confirmadas e aprimoradas naquele plenário, onde Ministros consolidavam uma decisão do Estado brasileiro sobre o tema. Assim, um “ato burocrático” que pretendia simplesmente reconhecer aos povos indígenas seu direito sobre aquele território nos termos da Lei, culminou em expor um debate há muito adiado: qual seria o projeto nacional do Brasil para

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Amazônia? E qual é o impacto das ações do Estado sobre os povos indígenas que habitam essa região? A partir dos impactos da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre os Ingarikó, etnia Kapon que vive ao norte da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e que mantém relativo isolamento geográfico em relação às demais etnias que aí vivem, pretendo discutir os impactos das políticas públicas indigenistas, ambientalistas e fronteiriças sobre a reivindicação do território tradicional desse grupo. Para tanto, parto do impacto da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre três recortes analíticos: a) o processo de homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol; b) a existência do Parque Nacional Monte Roraima em superposição ao território tradicionalmente ocupado pelos Ingarikó; e c) a presença militar no extremo norte da Terra Indígena. Esses três recortes de intervenção permitirão refletir sobre a participação de antropólogos na elaboração, apaziguamento e desfecho de determinadas ações estatais, bem como, possibilitarão repensar conceitos centrais nesse debate. Dentre os quais, vislumbramos os conceitos de territorialidade, ambiente e identidade, e seus impactos sobre as políticas públicas brasileiras, notadamente, algumas que estão relacionadas à etnicidade, meio ambiente, justiça social, direitos humanos, desenvolvimento econômico, segurança nacional, entre outras que produzem desdobramentos sobre grupos minoritários e tradicionais.

2- Cidadania apropriada, direitos protagonizados: a etnografia de processos do movimento indígena de luta pela terra e território como instrumento para a consolidação da figura da 'cidadania indígena’

Marcele Garcia Guerra (USP)

No contexto das novas constituições latino-americanas, com o reconhecimento jurídico-formal dos direitos dos povos indígenas, a apropriação de direitos no protagonismo da luta indígena por terra e território tradicionalmente ocupados transforma a relação Estados Nacionais-Povos Indígenas: os Estados passam a atuar pela manutenção e garantia da hetereogeneidade e não mais pela busca de uma homogeneidade etnocida. Essa nova dinâmica constrói um tipo próprio de cidadania intra-estatal: a cidadania indígena - que convive com o modelo absoluto de cidadania (legado liberal), porém relativiza-o ao garantir autonomia das pluralidades de identidades em um mesmo território tido como nacional. Este trabalho delineará esse contexto da experiência político-jurídica dos povos indígenas na relação com o registro da situação etnográfica, de modo que esta – como um espaço de compartilhamento de saberes – possa apresentar resultados da significância deste movimento de apropriação de direitos para a configuração de não apenas uma, mas sim de cidadanias indígenas (cidadanias pluriétnicas), vinculadas a cada processo de cada grupo no longo caminho da efetivação de direitos.

3- Os antropólogos e o caso da demarcação da Terra Yanomami

Clarisse do Carmo Jabur (UnB)

Como descrito por Niezen (2003), a “política da vergonha” (politics of shame) foi uma estratégia eficaz utilizada por povos indígenas para denunciar os abusos sofridos em seus países nos fóruns internacionais de direitos humanos. Dentro dessa estratégia, as principais “condutoras” de informação ao público via a imprensa foram as organizações não-governamentais. Criada em 1978, a Comissão Pró-Yanomami (CCPY), muniu de informações várias campanhas internacionais dando visibilidade à situação dramática em que vivia o povo Yanomami nos anos 80 e 90. O trabalho analisa o papel essencial que os antropólogos através da CCPY tiveram no processo de demarcação da Terra Yanomami, pressionando o governo e sensibilizando a opinião pública. É necessário também levar em consideração na análise que o envolvimento desses e de outros antropólogos na política indigenista nacional influenciou o próprio ethos da Antropologia brasileira, imprimindo uma marca que lhe é característica (RAMOS, 2010).

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ATUAÇÃO DE ANTROPÓLOGOS NO MPF

4- Para além das peças periciais: a atuação dos antropólogos peritos do Ministério Público Federal

Sérgio Brissac (MPF-CE); Márcio Martins dos Santos (MPF-TO)

O Ministério Público Federal (MPF) é um órgão do Estado brasileiro que conta atualmente com 26 antropólogos em seu quadro de servidores. Os autores atuam há seis anos no MPF, no Ceará e no Tocantins, e pretendem, a partir de sua experiência, refletir sobre as especificidades desta inserção profissional. Diferentemente do trabalho na PGR, em Brasília, onde a atribuição principal é a redação de pareceres técnicos e o acompanhamento de políticas públicas de alcance nacional, nos estados, os antropólogos do MPF têm um contato estreito e continuado com os grupos sociais com os quais trabalham: sobretudo indígenas e quilombolas. Há um amplo leque de situações nas quais atuam: conflitos internos e/ou externos aos grupos, regularização fundiária, degradação ambiental de territórios tradicionais etc. Apresentando aspectos desse trabalho múltiplo e indagações acerca das limitações desse ofício, intenta-se ampliar a discussão sobre a atuação dos antropólogos em contextos de intervenção social.

5- Cidadania e direitos indígenas no Estado de Roraima: reflexões a partir do trabalho do Ministério Público Federal

Leonardo Leocádio (MPF/RR)

Este artigo objetiva discutir como a formação do Estado de Roraima reproduz práticas sociais de exclusão do espaço público de indígenas a partir da não legitimação e reconhecimento das suas demandas por direitos. Tem como pressuposto observar como são criados discursos e símbolos que antagonizam com o respeito a culturas indígenas e com a garantia de direitos sociais e humanos por parte das comunidades que compõem o Estado. Dessa forma, o pano de fundo que se dá a discussão é a utilização de cidadania como mecanismo de reconhecimento individual atrelado a uma lógica de tratamento igualitário, no qual os órgãos públicos têm que se pautar, mas que reproduz antigos mecanismos de marginalização, ao visualizarmos tal noção a partir da perspectiva local. O material etnográfico que será analisado ao longo desse artigo foi produzido pelo trabalho que exerço como antropólogo do Ministério Público Federal em Roraima.

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SESSÃO III- ANTROPOLOGIAS APLICADAS

1- Os museus e a política das identidades: antropologia extramuros e os novos espaços do protagonismo indígena

Luiz Antonio de Oliveira (UFPE)

Campo de atuação tradicional do antropólogo, os museus têm se convertido, nos últimos anos, em importantes espaços políticos de disputas simbólicas. Do lugar de construção de memória e identidade nacional, tornou-se, contemporaneamente, espaço em que também se tecem ou são construídas outras narrativas identitárias. São as memórias e identidades plurais que se fazem presentes no campo museal, refletindo um novo cenário, tanto nacional quanto internacional, em que diversos atores políticos reivindicam o direito de participação na “política das identidades”. Sendo assim, a instituição museal tem se apresentado como destacado espaço em que o protagonismo indígena também é

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encenado. Os grupos indígenas passam a figurar como autores de discursos museológicos e práticas expográficas que constroem e celebram suas culturas, identidades e memórias. A atuação reflexiva e prática dos antropólogos neste contexto fazem pensar nas possibilidades de uma antropologia efetivamente simétrica.

2- El conocimiento antropológico como fin y como medio de intervención social. Reflexiones desde el campo de la Salud Pública.

Paula Estrella (CONICET/UBA/IIGG)

En este trabajo se presentan una serie de reflexiones sobre la construcción de conocimiento antropológico en el campo de la Salud Pública. Éstas son producto de la experiencia de trabajo de tres años en una residencia interdisciplinaria de Educación para la Salud en un Centro de Salud (Primer Nivel de Atención) de la ciudad de Buenos Aires. Los principales puntos que se discuten son las posibilidades de aplicación de la metodología antropológica y las particularidades de la mirada antropológica en el primer nivel de atención. Se presta especial atención a sus posibles aportes, y a los límites y conflictos que aparecen en las prácticas cotidianas de atención a poblaciones con diversidad étnica y cultural. Finalmente, se presenta un debate sobre los fundamentos de la denominada “antropología aplicada” en relación a la intervención social como finalidad de la producción antropológica.

3- Perfil indígena na previdência: uma experiencia de antropologia voltada à intervenção

Adalberto Rizzo de Oliveira (UFMA)

O trabalho analisa a pesquisa “PERFIL INDÍGENA NA PREVIDENCIA” realizada entre agosto de 2010 e março de 2011, por demanda do Ministério da Previdência Social, com objetivo de investigar as relações entre povos indígenas localizados na Região Nordeste – Apaniekrá e Ramkokamekra-Canela (Jê-Timbira), Teneheterara-Guajajara (Tupi) e Potiguara (Tupi) – e na Região Norte – Baniwa (Aruak), Tiriyó (Karib) e Sateré-Mawé (Tupi) e as políticas previdenciárias e assistenciais brasileiras. Toma como referência as diferentes tradições culturais, o tempo e situação de contato e o acesso desses povos aos benefícios previdenciários e assistenciais. A realização desses direitos sofre a clivagem de formas tradicionais e contemporâneas de exploração étnica perpetradas por comerciantes, agiotas e outros agentes. As dificuldades de implementação de políticas públicas mais gerais às populações indígenas, requererem do Estado e de suas agências (FUNAI, FUNASA, INSS e outras) a definição de políticas e modelos de ação específicos direcionados aos povos indígenas.

4- Traduzir sem trair: uma experiência antropológica no processo de tradução de informações do Programa Bolsa Família para línguas indígenas

Walison Vasconcelos Pascoal (UnB)

Este trabalho examina a participação de antropólogos em um projeto de apoio ao Programa Bolsa Família (PBF), cujo objetivo principal foi traduzir informações do PBF para as línguas de vários povos indígenas atendidos pelo Programa, em conformidade com as orientações estabelecidas na Convenção 169 da OIT. A atuação no projeto também visou um levantamento sobre a experiência do PBF no atendimento às famílias indígenas, e, assim, permitiu observar o espólio e as demandas acumuladas na confluência entre os equipamentos públicos dos 3 níveis de governo e as sociedades indígenas. Com a apresentação de alguns relatos etnográficos busca-se demonstrar a importância da visada antropológica na formulação das ações de assistência social voltadas para a população indígena.

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5- Terra indígena, casas indígenas: uma reflexão sobre prática antropológica e empoderamento étnico no Piauí

Hélder Ferreira de Sousa (UFPI)

O texto descreve as ações da Associação Indígena Itacoatiara de Piripiri, com o objetivo de participar de edital do Programa de Produção Social da Moradia, do Ministério das Cidades. Através dessa descrição busca elaborar uma reflexão – também a partir do fazer antropológico - sobre a forma como o Estado brasileiro e suas agências de fomento produzem formas estatais de relacionamento que, a todo o momento, consideram a importância de atender demandas de indígenas e comunidades étnicas, com o objetivo de reconstituir sua legitimidade política, em resposta às demandas de inclusão dos povos indígenas. Tal posição do estado, porém, coloca uma questão central: estas medidas revitalizam a legitimidade do Estado pelo seu potencial para melhorar a governabilidade democrática a partir da inclusão da diversidade multicultural, mas ao mesmo tempo trazem limitações aos processos de empoderamento dos sujeitos de direito.

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CARTOGRAFIA SOCIAL: IDENTIDADES COLETIVAS, PROCESSOS DE TERRITORIALIZAÇÃO E CONFLITOS NA AMAZÔNIA

Com a redefinição do Estado e de seus mecanismos tradicionais de intervenção, têm ocorrido modificações dos padrões tradicionais de relação política e, sobretudo, nas formas como as populações se relacionam com os aparatos de poder. Diversos autores têm chamado a atenção para a emergência de “novos movimentos sociais” caracterizados por uma “política de identidade” (Hobsbawm,1995:407). Foi exatamente o fator identitário e todos os outros fatores que levam as pessoas a se agruparem sob uma mesma identidade coletiva e a procederem a demandas face ao Estado. Nas últimas décadas, estas "formas organizativas", têm recorridos aos mapas como forma de encaminharem suas reivindicações e uma variedades de técnicas para a sua realização têm sido aplicada. Certamente que a análise pormenorizada desses processos sociais e destas realidades localizadas, que fazem da Amazônia um locus privilegiado de observação empírica, exige igualmente a produção de conceitos e noções operacionais próprias. Tal esforço de análise e compreensão tem sido empreendido por pesquisadores que compartilham técnicas de pesquisa concernentes à cartografia social. Tratando-se da disciplina antropologia, a cartografia social pode ser considerada um instrumento adstrito à etnografia, ou seja, uma descrição minuciosa das situações sociais e seus referidos espaços. A partir das experiências de pesquisa de cartografia social apresentadas, este GT objetiva analisar e evidenciar as definições expressas nos próprios resultados de pesquisas. Muitos resultados têm levantado formas de organização, territorialidades específicas, práticas de conservação, de produção, conflitos, formas de violência, práticas religiosas e demais expressões culturais. Trata-se de uma tentativa de compor uma visão de conjunto a respeito da diversidade de expressões culturais em diferentes regiões geográficas, sublinhando que estão todas elas referidas a uma política de desenvolvimento sustentável.

1- Memórias de gente valente: o Povo do Aproaga

Agnaldo Reis (SEDUC-FUNBOSQUE)

Nas últimas décadas vem mudando a perspectiva dos estudos antropológicos, no que concernem, as poderosas imagens memoriais aderidas às ruínas de um determinado lugar, consubstanciadas por narrativas de um tempo passado ainda presente. Antigas edificações que ao longo do tempo sofreram ações degradantes pelas intempéries de agentes naturais ou não. Espaços vislumbrados por uma ordem atemporal, que mesmo silenciados pelo abandono, pulsam um tempo de opulência econômica e de imposição de experiências simbólicas degradantes, vivenciadas por diferentes grupos humanos. O desafio então, do antropólogo diante destas paisagens perturbadoras, seria dotar as ruínas de significados, como representações de um cenário de antigos processos ocupacionais e das relações sociais, também reincorporadas a esse, dentro de fazendas agrícolas posicionadas nas margens dos imensos cursos d'água da região amazônica. Este é o caso do Aproaga e de pelo menos duas outras estruturas residuais de engenhos: Taperuçu e Santo Antonio, todos estabelecidos na área de influência espacial da vila de Sant'Ana do Capim, dentro do vale do rio Capim, na área limítrofe entre os municípios de Aurora do Pará e São Domingos do Capim, na região Nordeste do Estado do Pará, onde realizei minha pesquisa etnográfica intitulada: Os Meandros da Memória, um Mergulho no Imaginário às Margens do rio Capim. Neste sentido, o artigo aqui proposto corresponde a uma síntese do capítulo final da mesma, em que faço algumas reflexões sobre a memória de velhos das antigas (denominação conferida na região àqueles que têm o reconhecimento coletivo, quanto à capacidade de contar a história da mesma), tendo como foco as ruínas de um antigo engenho localizado na margem direita do rio Capim, procurando enfatizar, as imagens memórias que envolvem diferentes tempos

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relativos ao lugar, pois, estas ruínas dispõem de memórias do Capim como uma área de ocupação antiga, das relações sociais de domínio da mão de obra escrava empregada nos afazeres da grande fazenda, gemidos, que ressurgem para justificar o controle do outro e a produção açucareira, de aguardente, cacau, tabaco, arroz e outros. Lugar onde emergem memórias revigoradas por moradores identificados como quilombolas; imagens memórias sobre a Revolta do Capim, que envolveu a participação de escravos e agregados dos engenhos em um movimento sangrento do início da república, e que revigora elementos inerentes ao memorial cabano.A emergência de experiências passadas, presentes na memória em torno das ruínas do Aproaga, possibilitam o entendimento de quadro de reivindicações sociais sempre presente, em que o revigoramento da memória coletiva (Halbwachs 1990), constrói uma identidade pública, feita por sujeitos políticos, justificando, assim, as suas demandas por melhores condições de vida. Deste modo, em um lugar onde o ser preto, até pouco tempo, era sinônimo de baixar a cabeça, submeter-se a estigmas e estereótipos, hoje, se reafirma a importância, desses, no processo histórico da região, ampliando a sua visibilidade e seus horizontes possíveis de atuação. Consubstanciando assim, “uma questão que está em jogo aqui é a do papel e do potencial de grupos minoritários no contexto global” (Almeida 2004, p.34), em um permanente processo de negociação com o outro, neste cenário, um melhor entendimento e a valorização da valentia dos capienses, configurados pela gente do Aproaga, ajuda a resignificar as suas lutas por melhores condições de vida, como possivelmente pensaram alguns cabanos.

2- Cartografia social e conhecimentos tradicionais associados à reivindicação de territorialidades específicas no Baixo Rio Negro: os quilombolas do Tambor

Emanuel de Almeida Farias Jr (PPGAS-UFAM/NCSA-UEA)

A partir de 2003 os agentes sociais autodefinidos “remanescentes de quilombo da comunidade do Tambor”, localizada no rio Jaú, Novo Airão, Estado do Amazonas, passaram a se articular politicamente em torno de reivindicações que concernem à garantia do uso e controle dos recursos naturais e à demarcação e titulação de suas territorialidades específicas intrusadas pela criação do Parque Nacional do Jaú. Em 2006, os quilombolas solicitam ao Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, que fosse realizada uma oficina de mapas o que resultou na publicação do mapa situacional da referida comunidade. Os mapas situacionais são acompanhados de depoimentos dos agentes sociais que, dependendo da situação social, podem narrar sua história, um conflito ou acontecimentos míticos, propositalmente relatados a fim de respaldar um ponto de vista político, que pode ser uma reivindicação.

3- Conflitos territoriais e alianças políticas em Barcelos-AM

Elieyd Menezes (PPGAS-UFAM)

Em Barcelos-AM as mobilizações políticas em torno das identidades coletivas estão relacionadas com a percepção de agentes sociais de que é possível assegurar os direitos territoriais, que implica na reprodução, sobretudo, social de distintos povos e comunidades tradicionais. Uma dessas identidades coletivas se refere aos autodenominados piaçabeiros. Estes extraem a fibra da piaçaba, são também autodefinidos indígenas, ribeirinhos e são subordinados ao denominado patrão. As configurações sociais em Barcelos estão relacionadas a um conflito territorial ligada à demarcação da Terra Indígena. Neste sentido, não apenas os autodenominados piaçabeiros estão reivindicando seu território, mas também seus antagonistas, os denominados patrões, que estão se utilizando indevidamente de uma identidade coletiva, e se aliando a outras, como pescadores e trabalhadores rurais, conflitando com os primeiros em relação ao mesmo território reivindicado. Objetiva-se neste trabalho verificar como a partir de um conflito territorial emergem identidades coletivas e alianças políticas que refletem numa configuração dinâmica do território.

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4- “Quem não tem santo tem visagem”: a contribuição de santos e encantados na construção de territorialidades quilombolas na Baixada Maranhense

Davi Pererira Jr (UFBA)Dorival dos Santos (UFBA)

Este trabalho é fruto de pesquisas realizadas respectivamente nos anos de 2008 e 2009 em dois territórios quilombolas no Maranhão, Tramaúba, no município de Cajari e Itamatatiua em Alcântara. Os respectivos territórios constituem em situações de territorialides especificas, onde os agentes sociais desenvolveram formas próprias de se pensar e se relacionar com a terra e os recursos naturais. Santos católicos e seres encantados exercem papeis fundamentais no cotidiano de quem vive nesses locais. Compreender essas relações sociais estabelecidas entre os moradores e os “não humanos” é fundamental para entender a dinâmica social desses grupos. Os seres sobrenaturais reinventam a própria forma de acesso a terra. Constituem-se como elemento central nos processos de territorialização, protetores do ambiente natural e reguladores da utilização dos recursos naturais controlados pela comunidade. Eles aparecem ainda definindo funções, espaços e responsabilidades específicas dentro do território.

5- Política, mobilização social e administração pública: protestos e conflitos a partir do caso “meninos emasculados de Altamira”

Paula Mendes Lacerda (PPGAS-MN-UFRJ)

Este trabalho parte de uma investigação mais ampla sobre polícia, justiça e movimentos sociais a partir de um conjunto de crimes contra crianças que ficou internacionalmente conhecido como “caso dos meninos emasculados de Altamira”. Entre 1989 e 1994, quatro meninos tiveram sua genitália extirpada e foram mortos; três sobreviveram, apesar da gravidade de suas lesões; cinco desapareceram. Outras cinco crianças foram sequestradas, mas conseguiram escapar sem lesões físicas. As vítimas tinham idades entre oito e quinze anos. O Movimento de Mulheres de Altamira do Campo e da Cidade em articulação com a Prelazia do Xingu organizaram, em 1992, um “ato público” pelas ruas da cidade de Altamira com o objetivo de “conscientizar a população sobre a gravidade dos crimes” e “denunciar a omissão das autoridades”. Com a continuidade dos crimes, os familiares das vítimas se uniram em torno de duas frentes principais: a “luta por justiça” no caso dos meninos emasculados e a mobilização mais ampla em prol da criança e do adolescente na região da Transamazônica. Neste trabalho, serão analisadas as condições de possibilidade de surgimento do Comitê em Defesa da Vida da Criança Altamirense e o processo de organização das demandas apresentadas perante o “Estado”. O apoio e a participação dos religiosos ligados à Prelazia do Xingu e das ativistas do Movimento de Mulheres foram decisivos não apenas na articulação de um novo movimento social na região, como também moldaram os contornos das ações praticadas: as “caminhadas”, as “vigílias”, as “cartas-abertas à comunidade” expressam dimensões do conflito e possuem uma linguagem própria que se coloca tanto em relação de continuidade com as formas de mobilização já existentes na Amazônia, quanto expressa as feições específicas de uma nova frente identitária baseada nos laços de parentesco (são “mães”, “irmãs”, e “pais”) com as vítimas.

6- A construção do mapa indígena do médio Purus: cartografia como instrumento de mobilização social

Thereza Cristina C. Menezes (PPGAS-UFAM)

A proposta do trabalho é analisar o processo de construção de oficinas de mapeamento social realizadas em quatro municípios do médio Purus no Amazonas (Lábrea, Canutama, Tapauá e Pauini) ocorridas

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entre 2010 e 2011. As oficinas foram organizadas pelos representantes da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP) em parceria com organizações indígenas dos municípios. No total as oficinas reuniram cerca de duzentos indígenas registrando-se a presença de representantes da maior parte das terras indígenas e áreas com solicitação de demarcação na região. O objetivo da apresentação é demonstrar como as atividades contribuíram para reaglutinar o movimento indígena local ao promover o diálogo entre organizações locais, regionais e lideranças de diversas comunidades e aldeias, movimento que havia se dispersado com a desestruturação da antiga organização indígena (OPIMP) e permitindo as organizações construir uma agenda indígena de luta a partir das demandas surgidas nas oficinas.

7- Movimentos sociais, territorialidades e representação social da cidade de Belém

Solange Gayoso (UFPA), Marcos Vinicios da Costa Lima (SEMEC-SEDUC-IAGUA)Raymunda Negrão (IAGUA), Jurandir Santos de Novaes (Governo do Estado do Para

Maria Elvira Rocha de Sá (UFPA), Rodrigo Macedo Lopes (IAGUA)

Em Belém, agentes sociais se aglutinam em unidades de mobilização, objetivadas em movimentos sociais, que se organizam em torno de pautas específicas e que determinam as formas de apropriação e uso do território urbano. No presente trabalho pretende-se discutir a representação da cidade e as territorialidades de sete grupos específicos: indígenas, homossexuais, afrorreligiosos, negras e negros, catadores, pessoas com deficiência e idosos; para isso fazendo uso do mapeamento social onde são identificadas diferentes representações sociais da cidade.

8- Cartografia Patrimonial: narrativas orais, representações, e perspectivas de futuro na comunidade Tabalascada

Ananda Machado (UFRR)

A pesquisa que está em desenvolvimento. Nessa etapa estamos trabalhando os “mapas mentais” que pelas narrativas orais explicitam as relações entre os narradores da comunidade indígena Tabalascada e seu território, na busca de pontuar os momentos históricos vivenciados, seus lugares de memória e conflito. Através de técnicas teatrais como o tapete de histórias, recontaremos algumas narrativas com recursos visuais que organizam o espaço de forma que o público jovem possa entender os processos de desterritorialização e reterritorialização de sua Terra Indígena. Desejamos aprofundar o estudo dessas narrativas e do ato de divulgá-las para, a partir da análise desse material, buscar estratégias de reconstrução do futuro. A pesquisa quer contribuir com a qualificação de jovens pesquisadores indígenas que deverão passar a coordenar essas ações. A apresentação oral e o artigo serão ao mesmo tempo um relato de experiência e uma reflexão teórica sobre a importância de valorizar os conhecimentos macuxi e wapichana como patrimônio da comunidade Tabalascada (município do Cantá- RR).

9- A cartografia e os designados “mapeamentos participativos”

Patricia Maria Portela Nunes (UFF)

Disponho-me a analisar produtos cartográficos que resultam de em uma variedade de intervenções oficiais e voluntárias direcionadas à execução de planos, programas e projetos que fazem uso do conhecimento cartográfico como instrumento de gestão e planejamento do território e de seus recursos ambientais. Minha intenção é acionar uma perspectiva etnográfica a fim de descrever o sistema de relações sociais suscetível de ser observado a partir da dispersão dos agentes e agências que se dispõem a utilizar tais conhecimentos priorizando os chamados “mapeamentos participativos”.

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Trata-se em verdade de diferentes modalidades de mapeamento segundo a lógica de ação dos diferentes sistemas de agentes responsáveis pela elaboração e execução dos projetos ora enfocados: mapeamentos referidos a “planos de manejo em Unidade de Conservação”, a “etnozoneamentos em terras indígenas” ou a “identificação e demarcação de terras indígenas”, mapeamentos que objetivam colocar em discussão o “desenvolvimento local”; bem como experiências relativas a diferentes territorialidades que não dispensam a afirmação de identidades sociais, notadamente étnicas.

10- Dispositivos jurídicos e estratégias de identidade étnica:reflexões acerca de uma situação empírica

Arydimar Gaioso (UEMA/UFBA)

Em 2006 participei de uma pesquisa que tinha como objetivo mapear as comunidades remanescentes de quilombos no município de Caxias-Maranhão com o objetivo de produzir, junto com os agentes sociais, uma nova cartografia que levasse em conta suas próprias representações acerca de suas territorialidades. Foram mapeadas 18 comunidades quilombolas. O trabalho de campo nessas localidades permitiu realizar um mapeamento preliminar das próprias narrativas dos agentes sociais que acionam diferentes elementos que remetem à construção de uma percepção de direito que se fundamenta na identidade de quilombo e cujo conteúdo varia de comunidade para outra. Em nova etapa de análise, problematizo esses elementos utilizados pelos próprios agentes sociais como elementos de identidade étnica, de autodefinição enquanto comunidades remanescentes de quilombo e a relação com os dispositivos de reconhecimento legal de seus direitos no ordenamento jurídico nacional. Parto do pressuposto de que esses elementos produzidos não são imemoriais, resíduos, mas resultados do momento presente, em respostas a diferentes situações que estão sendo postas pelas agências governamentais. Mostro que, afirmar-se como quilombo pode ser percebido como estratégia de serem reconhecidos pelo Estado e como instrumento de ação política.

11- O uso da cartografia social e do diagnóstico rural participativo na representação territorial do PA Itatiaia

Angela Maria Adriano (UFV); Cleiton Silva Ferreira Milagres (UFV) Jose Ambrosio Ferreira Neto(UFV)

Este artigo foi desenvolvido com o propósito de inserir a cartografia social às técnicas do Diagnóstico Rural Participativo (DRP), objetivando envolver a comunidade na coleta e análise dos dados para a construção de um mapa participativo georreferenciado. A pesquisa foi desenvolvida no Projeto de Assentamento Itatiaia, situado no município de João Pinheiro, noroeste de Minas Gerais. O desenvolvimento da pesquisa se deu por meio do processo participativo em que os assentados se tornaram sujeitos ativos em todas as atividades realizadas. Para familiarizar os assentados com as ferramentas geoespaciais e para que eles pudessem compreender um pouco da linguagem cartográfica, realizou-se um processo de educação cartográfica no assentamento. Esse procedimento possibilitou que o conhecimento local fosse convertido em um mapa digital georreferenciado, permitindo aos assentados identificar, caracterizar, reconhecer e analisar os pontos por eles demarcados no mapa.

12- Etnografia do conflito: relatos dos “atingidos” pelo Complexo Madeira

Glaucia Baraúna (PPGAS-UFAM)

O presente trabalho propõe apresentar parte da etnografia que estou elaborando em meu trabalho de campo junto a “povos, comunidade tradicionais e trabalhadores da construção civil”, também

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denominados “atingidos” pelas obras do “Complexo Madeira”. Este trabalho tem como marco as grandes transformações propiciadas pelo PAC e o Complexo Madeira nos Estados de Rondônia e no Amazonas. Em destaque buscarei apontar os grandes problemas sociais surgidos antes e após o início dessas obras. A intenção é apresentar e descrever as histórias de vida desses agentes sociais, apresentando as suas vozes frente as mudanças que esta ocorrendo nessa região. Nesta comunicação, uma análise prévia do trabalho de campo será feita. Buscarei expor como fui construindo a relação de pesquisa, as dificuldades que encontrei ao estar em campo e como estou refletindo as situações encontradas. Possivelmente apresentarei um mapa das localidades conhecidas nesta pesquisa.

13- Os “produtores rurais” do Vale do Juruá –Acre

Maira Bueno de Carvalho (UNICAMP)

Com a crise da borracha, muitos seringais na Amazônia deram lugar a fazendas de gado e áreas de exploração de madeira. Outros transformaram-se, pela pressão dos próprios seringueiros, em reservas extrativistas. A quebra dos seringais também forçou o governo a estabelecer projetos de assentamento rural para realocar a população de seringueiros que deixava o interior da floresta rumo à cidade, mas não tinha condições de se manter em áreas urbanas. A agricultura tornou-se desde então a atividade mais praticada por esses seringueiros. No Vale do Juruá – Acre, inúmeras comunidades de pequenos agricultores se estabeleceram. A partir dos anos 1980, essas comunidades passaram a ser organizadas em torno de sociedades agrícolas e financiamentos públicos, resultado de uma política regional que tinha como objetivo o fortalecimento da agricultura familiar. No entanto, o elevado percentual de inadimplência entre os pequenos produtores, o aumento do desmatamento e o esgotamento do solo, ao mesmo tempo em que fortaleceu a identidade de “produtor rural”, gerou a desarticulação dessas comunidades.

14- Territorialidades e conflitos em fronteira: os Matsés na fronteira Brasil-Peru

Rodrigo Oliveira Braga Reis (INC-UFAM e UFPE)

A pesquisa, em andamento, insere-se na temática da relação entre etnicidade e nacionalidade como expressões identitárias interrelacionadas em um espaço sócio-cultural de fronteiras políticas entre países, neste caso: Brasil e Peru. As fronteiras configuram-se espaços em constante transformação, os quais possibilitam observar as estratégias dos Estados e das populações locais de definição e redefinição territorial. Constituem-se, portanto, em tema profícuo para análise dos processos migratórios, dos conflitos sociais e da formação de identidades étnicas, nacionais e transnacionais. Para tanto a utilização de técnicas de Cartografia Social apresenta-se como caminho viável para a construção de uma base empírica dos fluxos, mobilidade e assentamento dos Matsés na fronteira, de suas principais características socioculturais e da complexidade de suas relações étnicas e interétnicas.

15- Os usos sociais do termo “comunidade” no Vale do Madeira: a comunidade de São Miguel e comunidade do Alto Crato frente às políticas de Estado

Jordeanes do Nascimento Araujo (UFAM-Humaita)

A proposta deste trabalho é discutir como os “agentes sociais” (BOURDIEU, 1989) se apropriam e fazem uso do termo “comunidade” dentro de uma lógica em que os interesses afins e coletivos estão postos, e se projetam como forma de negociação junto às políticas de Estado. Lembrando Max Weber (1991) que toda ação social é sempre construída e orientada pelo comportamento de outros, seja esse passado, presente ou esperado como futuro, sendo determinada de modo racional referente a afins e a valores.

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Tal perspectiva pode nos apontar como os “agentes sociais” elaboram suas perspectivas referentes às políticas de Estado que são introjetadas via financiamento estatal ou via agências multilaterais. Desta forma, busca-se também refletir como o Estado instrumentaliza, operacionaliza conceitos analíticos e nativos, como “comunidade” “extrativismo”, “agricultura familiar” e outros, e os joga para o campo da “utilidade prática” transformando as práticas culturais de uso comum de povos e “comunidades' tradicionais em mera atividades práticas com interesse utilitário.

16- A capoeira na Amazônia: processo de territorialização e construção de identidades a partir do contexto belenense

Esmael Alves de Oliveira (PPGAS-UFSC)

Antropologia tem se debruçado em sua longa tradição histórica sobre grupos e atividades humanas que permitem a evidenciação da dinâmica da vida social. Neste sentido, ao propormos uma reflexão sobre a capoeira na cidade de Belém, temos sobretudo o intuito de percebê-la como um elemento importante no contexto das relações sociais e que permite que a dimensão política, estética e antropológica seja experimentada e atualizada. Assim sendo, numa perspectiva que entende as relações sociais como uma disputa simbólica e política de campos (Bourdieu, 2007) lançamos o desafio de pensar a capoeira como uma experiência social que organiza códigos simbólicos, demarca diferenças, edificam identidades e se territorializam por meio de estratégias de apropriação de determinados espaços e relações (Bourdieu, 2008). Pretende-se aqui, interpretar como a capoeira é inserida nos esquemas relacionais de mestres e grupos de capoeira, suas estratégias e historicidades que há mais de 100 anos são palco de disputas em Belém do Pará, transitando entre zonas tênues do social.

Para isso, um duplo desafio é proposto: primeiro, de perceber a capoeira como uma experiência urbana expressiva na cidade de Belém/PA, levando-se em conta sua importância antropológica, histórica e epistemológica. Segundo, de deslocar o olhar que observa a capoeira como esporte ou como prática para observá-la como uma experiência antropológica fundamental que expressa uma dialética em que as convenções sociais se entrelaçam, dialogam e se mesclam com o lado inventivo da criatividade humana (Roy Wagner, 2010). Tal escolha desvenda uma expressiva heterogeneidade em termos de concepções e de práticas da capoeira na cidade de Belém/PA, uma vez que ao mesmo tempo em que se apresenta como uma prática social que cria e recria identidades, também possibilita o surgimento, a marcação e a demarcação de territorialidades. Portanto, é possível vislumbrar através da capoeira a vivacidade e dinâmica próprias da agência humana, responsáveis pela constituição de estratégias, de identidades, de histórias, de culturas, de saberes e de territorialidades que fazem com que a vida social seja entendida como permanentemente construída e negociada.

17- Motivações da criminalidade: aspectos teóricos e práticos

Jarsen Luis Castro Guimarães (NAEA-UFPA)

A criminalidade e suas causas são estudadas há bastante tempo. Segundo Engel (2003) encontram-se vestígios de preocupação e reflexão acerca do fenômeno criminalidade em pensadores como Platão (“As Leis”), Aristóteles (“Tratado da Política”) e Thomas Morus (“Utopia”). Esses autores clássicos destacam tanto causas individuais como sociais, essas decorrentes de acumulação e da desigualdade, como motivadoras de crimes. Para Cerqueira e Lobão (2003 a), o estudo sobre as causas da criminalidade aborda o aspecto das motivações individuais e os procedimentos que levariam as pessoas a se tornarem criminosas. Estuda as relações entre as taxa de crime em função das variações nas culturas e nas organizações sociais. Beato Filho (1998) entende que as causas da criminalidade são provenientes de fatores de natureza econômica (privação de oportunidades, desigualdade social, etc.)

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ou são simplesmente atos criminosos consistentes em uma agressão ao consenso moral e normativo da sociedade, sem qualquer finalidade econômica. Em Cressey (1968) o comportamento criminoso deveria levar em conta a compreensão das motivações e do comportamento individual e a epidemiologia associada a tais comportamentos. Diante disso este trabalho busca estudar a motivação que leva o indivíduo preso, a cometer crime. É uma análise que parte das teorias existentes sobre a criminalidade relacionando-a as características socioeconômicas do preso, herança familiar e de interação social, que pretende contribuir para um maior entendimento da criminalidade. Faz uso de modelos econométricos probit para estudar a relação entre categorias de crimes e variáveis socioeconômicas, na Região Oeste do Pará, com foco no município de Santarém. Utiliza também a metodologia desenvolvida por Heckman (1968) relativo à correção do viés de seleção.

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Gt15- POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS NA PAN-AMAZÔNIA: TERRITÓRIOS E DIREITOS FACE ÀS INTERVENÇÕES DESENVOLVIMENTISTAS

Os conflitos localizados envolvendo aparatos de poder, cujas instituições de caráter econômico implantam seus programas e projetos como uma ordem a ser acatada a todo custo, tem se agravado até um ponto de extrema tensão. Barragens, base espacial, gasoduto, usinas de mineração, portos, aeroportos, ferrovias, hidrovias , rodovias e outros projetos, no momento de sua implantação tem gerado conflitos com as chamadas “populações tradicionais”. Embora não haja homogeneidade absoluta nas suas condições materiais de existência são momentaneamente aproximados e assemelhados baixo o poder nivelador da ação do Estado. Em outras palavras pode-se adiantar que as políticas governamentais têm propiciado elementos básicos à formação de composições e de vínculos solidários, que passam a nomear os novos agrupamentos, tais como: “atingidos por barragens”, “atingidos por base espacial”, “remanejados”, “deslocados”, “reassentados” e “assentados”.

Conflitos territoriais ocorridos na Pan-Amazônia, possuem configurações sociais que respondem a uma gama de situações e a cada dia apresentam novos contornos. O contexto fundiário impõe novas tentativas de usurpação de direitos territoriais e resultam em renovação de estratégias de enfrentamento do conflito. O presente GT objetiva afinar compreensões acerca dos conflitos encarados por povos tradicionais, relações identitárias inseridas no contexto e distintas relações entre território e territorialidade. Pretende-se ainda: ampliar o arcabouço teórico-empírico sobre territorialidades especificas, identidades coletivas e movimentos sociais na Pan-Amazônia, baseando-se na reflexividade sobre práticas e relações de pesquisa; cotejar as experiências dos atores políticos e coligir informações sobre as relações sociais dos agentes sociais afetados pela dinâmica de urbanização e industrialização que experimentam a questão da desterritorialização.

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SESSÃO I

1- Para não barrar o Rio Machado. os Arara e os Gavião contra os projetos hidrelétricos do Rio Machado

Renata Nóbrega(UNICAMP)

O trabalho abordará os conflitos envolvendo os povos indígenas Arara e Gavião, da Terra Indígena Igarapé Lourdes, e os interessados na viabilização dos projetos hidrelétricos do Rio Machado, em Rondônia, na Amazônia Brasileira. Inicialmente propostos na década de 1980, os projetos das usinas Ji-Paraná e Tabajara foram suspensos em meados nos anos 90, após intensa mobilização popular contrária à sua execução. Em 2007, os estudos de viabilidade foram reelaborados e em 2008, protocolou-se o pedido de licenciamento ambiental da Usina Tabajara, cujo processo encontra-se paralisado diante das ressalvas do Instituto Chico Mendes, uma vez que o projeto causará prejuízo direto ao Parque Nacional Campos Amazônicos, no sul do Amazonas. Em 2010, o projeto da Usina Tabajara foi incluído na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento e já conta com apoio de políticos locais e parte significativa dos moradores das regiões que serão atingidas pelo surto de “progresso econômico” desencadeado pela construção da hidrelétrica. Desde a década de 1980, os projetos hidrelétricos do Rio Machado desencadearam intensa mobilização popular, envolvendo as populações ameaçadas, movimentos sociais, sindicatos, pesquisadores, etc. Se fossem construídos, esses

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empreendimentos causariam graves prejuízos aos Arara e aos Gavião, com a inundação de seu território e as consequências ambientais e sociais das alterações no curso do rio Machado, que banha suas terras. Desde as primeiras movimentações em torno desses projetos, os Arara e os Gavião engajaram-se em uma mobilização que já dura mais de vinte anos e permanecem dispostos a enfrentar mais uma vez a ameaça das barragens. Frente às estratégias para a viabilização das usinas Ji-Paraná e Taajara, baseadas no mascaramento do seu potencial de destruição e no silenciamento da mobilização popular contrária às barragens, os Arara e os Gavião têm se empenhado em denunciar mais uma tentativa de expropriação de seu território e de violação de seus direitos. A mobilização indígena tem implicações políticas que extravasam a luta anti-barragem e se configura em uma “política cultural”, tal como proposto por Alvarez, Dagnino e Escobar (2000), na medida em que os Arara e os Gavião contestam as noções dominantes de acerca do “desenvolvimento” e da “natureza” implicadas nos projetos hidrelétricos do Rio Machado e reivindicam para si uma condição de igualdade perante os brancos. Para esses povos indígenas, a luta anti-barragem tem se constituído em um espaço privilegiado de exposição de suas demandas e de questionamento da condição subalterna atribuída a eles pelos brancos, se configurando em luta por reconhecimento e autonomia, na qual o território é parte fundamental.

2- Instruções de Manuais (Tooklist) das empresas: discurso de quilombolas e VALE sobre "medidas compensatórias»

Joseline Simone Barreto Trindade (PPGAS/UFPA)

Empresas do setor de mineração têm elaborado documentos de referência para tratar sobre os conflitos e a intervenção nas "comunidades" de sua área de influência (stake holders). Categoriais sociológicas são incorporadas nesses documentos elaborados por cientistas sociais a serviço das empresas em países como África, Ásia e América do Sul. Na Colômbia e no Brasil esses Manuais iniciam-se com estudos sobre seu conteúdo e implementação. O mais recente Manual - traduzido pela Companhia VALE divulga e executa formas de procedimento e do relacionamento com as "comunidades". Estes são ferramentas de treinamentos de funcionários das empresas. Em novembro de 2010, ocorreu uma audiência no Ministério Publico Federal com objetivo de discutir o termo de ajuste entre quilombolas de Jambuaçu, em Moju e a Vale. A instalação de três minerodutos e de uma linha de transmissão de energia provocaram danos ao território quilombola (destruição de roçados, derrubada de castanheira, perda de igarapés e trecho do rio Jambuaçu) e tem sido contra esses danos, a visão de irresponsabilidade da VALE no cumprimento de acordos e indenizações que ocorreu essa reunião no MPF. Os discursos de quilombolas, dos representantes da VALE e do Ministério Público, abordando o que sejam as "medidas compensatórias" por esses danos é o objeto deste artigo que busca compreender as estratégias e as ações das empresas concebidas num sistema de disciplinamento expressos nos Manuais.

3- Políticas de desenvolvimento e a criminalização dos movimentos sociais e de lideranças quilombolas e indígenas

Helciane de Fátima Abreu Araújo (UEMA)

A violência física e simbólica (BOURDIEU, 1998) com que são reprimidos indivíduos, grupos e povos que tensionam o poder dominante, nos diferentes processos históricos das sociedades, tem sido objeto de interesse das ciências sociais, desde sua origem. Em tempos contemporâneos, urge compreender como o fenômeno, qualificado como “criminalização dos movimentos sociais” se manifesta em um Estado Democrático de Direito – o caso brasileiro - articulado com a dinâmica do capital em sua face mundializada. O presente artigo visa mostrar como essa contradição se materializa no conflito que se estabelece, entre grupos econômicos e gestores públicos, de um lado, e movimentos sociais, comunidades quilombolas e povos indígenas, de outro, no estado do Maranhão. A partir da análise de

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diferentes práticas de criminalização desses agentes sociais, o estudo oferece elementos para a análise da grande contradição entre as lutas pela garantia da igualdade formal – com o reconhecimento dos direitos sociais, garantias civis e prerrogativas cidadãs - e as pressões do avanço do capitalismo, bem como das estratégias de resistência desses agentes face às violências praticadas.

4- Vale x Quilombolas: disputas territoriais no Corredor de CarajásSislene Costa da Silva

A construção e funcionamento da Estrada de Ferro Carajás, nos anos 1980, mudou substancialmente a dinâmica social, econômica, cultural e ambiental dos municípios que atravessam no Maranhão e Pará, causando uma série de conflitos resultantes dos mais variados motivos (desmatamentos, crescimento populacional desenfreado, aparecimento de trabalho escravo e infantil, atropelamentos etc) e em confronto com diferentes grupos sociais (indígenas, assentados, pescadores etc). Atualmente, essa estrada passa por um processo de duplicação que atualiza velhos conflitos, mas que também apresenta novos contornos e atores. A partir da descrição de situação empírica que coloca em confronto Vale S.A. – detentora da concessão da Estrada de Ferro Carajás – e quilombolas dos territórios Monge Belo e Santa Rosa, localizados nos municípios maranhenses Itapecuru-Mirim e Anajatuba, pretendo trazer para o debate a contestação de direitos territoriais que ameaça a continuidade dos referidos grupos sociais.

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SESSÃO II

1- Políticas desenvolvimentistas e conflitos socioambientais na fronteira Brasil-Peru (Alto Juruá)

José Pimenta (UnB)

Na última década, as discussões dos governos dos diferentes países da América do Sul sobre a “Iniciativa de Integração Regional Sul Americana – IIRSA”- fortaleceram a importância geopolítica dos espaços fronteiriços, principalmente das fronteiras amazônicas, para a integração e o desenvolvimento econômico regional. Esses espaços passaram a ser foco de novos projetos desenvolvimentistas e integracionistas capazes de construir as bases de uma economia regional comum. Nesse contexto, a fronteira Brasil-Peru passou a ser uma das mais afetadas pela nova fase desenvolvimentista do IISA e do PAC. Uma série de ações, como a construção de grandes obras de infra-estrutura (ponte, rodovia), já foram implementadas e outras estão sendo planejadas para promover uma rápida integração econômica entre os dois países. Tomando como foco a região do Alto Juruá, esta comunicação procurará refletir sobre as políticas desenvolvimentistas para a integração da fronteira Brasil-Peru e suas conseqüências para a populações tradicionais da região.

2- Reforma agrária, Amazônia Legal e desenvolvimento sustentável

Poliana Oliveira Cardoso(UFV)

Este trabalho tem por objetivo analisar uma nova forma de organização dos projetos de reforma agrária, que se baseia na valorização das práticas extrativistas e comunidades tradicionais na Amazônia: os Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS). Este estudo busca contribuir para a compreensão dos processos socioambientais que envolvem a dinâmica da reforma agrária, refletindo sobre as diferentes vertentes que abordam a sustentabilidade dos assentamentos rurais na região amazônica. A discussão será sustentada pelo estudo de caso do PDS Nova Bonal, localizado no município de Acrelândia, no estado do Acre.

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3- Territórios cambiantes na faixa de fronteira Mato Grosso-Bolívia

João Ivo Puhl (UEMT e Unisinos)

Investigando processos de ocupação e territorialização na faixa de fronteira Brasil/Bolívia em Mato Grosso, deparamo-nos com a problemática relação de populações tradicionais com as forças armadas nacionais que intervém nas dinâmicas territoriais estabelecidas desencadeando câmbios profundos nas formas de vida dessas comunidades, marcadas por tensões internas, negociação e conflito com forças do entrono. Utilizando fontes escritas, relatos orais e observação em campo, analisamos estas relações nas comunidades: Corixa em Cáceres, AI - Chiquitana Portal do Encantado em Porto Esperidião, Santa Mônica e Cantão em Vila Bela. Encontramos nuances que indicam especificidades decorrentes da composição étnica das populações, dos seus usos e costumes, do nível de organização interna dos agrupamentos, do tempo histórico do estabelecimento dos destacamentos militares, das mudanças nas estratégias políticas na condução das relações entre militares e populações do entorno. Estas diferenças indicam distintas formas de territorialização. Este trabalho tem por objetivo analisar a relação das comunidades chiquitanas localizadas na fronteira Brasil-Bolívia e as políticas nacionais de controle de fronteira.

4- Conflitos territoriais e identidades coletivas frente às políticas desenvolvimentistas e o avanço do agronegócio na Amazônia brasileira

Antonio João Castrillon Fernández (PNCSA/UFAM)

Nas últimas décadas a Amazônia brasileira tem sido foco de inúmeras políticas econômicas e desenvolvimentistas, com destaque para a implantação de grandes projetos como hidrelétricas, estradas, hidrovias, mineradoras e o avanço de atividades ligadas ao agronegócio, especialmente na produção de grãos, matérias primas para produção de biodiesel, plantios de espécies madeireiras e pela pecuária. Estas atividades, de uma maneira geral, sobrepõem áreas tradicionalmente ocupadas por povos e comunidades tradicionais, gerando diferentes situações de conflitos, mas também de mobilização de diferentes identidades coletivas em luta pelos direitos territoriais. Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise dos conflitos e das mobilizações desencadeadas pelos processos de territorialização com efeitos homogeneizantes, conduzidos pelo avanço do agronegócio na Amazônia, sobre os processos de territorialização específicas de povos e comunidades tradicionais, marcados por identidades coletivas e formas específicas de uso a apropriação dos recursos naturais. Procura-se, ainda, refletir sobre a relação que se estabelece entre identidades coletivas, processos de territorialização específicas e as estratégias do agronegócio na mobilização de terra e capital na Amazônia brasileira.

5- Territórios quilombolas face à expansão do dendê no Pará

Rosa Elizabeth Acevedo Marin (UFPA)

Desde a entrada do século XXI, a economia mundial registra elevação geral do preço das commodities: ferro, soja, dendê, uma das explicações para a aceleração da corrida pelas terras na Amazônia e a campanha de desterritorializaçao de povos e comunidades tradicionais (ALMEIDA e ACEVEDO, 2008). Igualmente, registra-se no mercado mundial a busca de sementes para os laboratórios de biotecnologia enquanto é anunciada a bioindústria como a “grande indústria do planeta” registrando expansão acelerada, de acordo com as notícias mais recentes. Nesta onda, no Estado do Amazonas foi implantado o Centro de Biotecnologia e definiu-se como função do Pólo de Biotecnologia desenvolver pesquisa científica para identificar as matérias primas da biodiversidade regional com interesse econômico. A segunda notícia oficial de relevo é o lançamento do “Programa de Biodiesel para o Amazonas: dendê”

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com investimento previsto na ordem de um milhão de reais. Neste artigo examina-se o avanço de empreendimentos da indústria de biodiesel no Estado do Pará e as limitações/dificuldades de conciliar as estratégias empresarias com as dos agentes sociais (quilombolas, colonos, pequenos produtores). Nesta reflexão situam-se os conflitos entre povos e comunidades tradicionais e as empresas do campo da biotecnologia no Pará. Para tratar do impacto das políticas da bioindústria e os territórios de povos tradicionais realiza-se uma estratégia de mapeamento, analisando, primeiro, as estratégias empresarias e segundo, interpretando os processos sociais de territorialização dos agentes sociais que possuem e reclamam direitos sobre os recursos da biodiversidade frente às crescentes ameaças de desterritorialização.

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Sessão IIICoordenação:Raquel Wiggers (UFAM)Luciana Braga Silveira (UFLA)

1- Trajetória e mobilização das famílias assentadas nos projetos de reforma agrária no Estado de Roraima

Carlos Alberto de Souza Cardoso (UFRR)

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa realizada sobre os Projetos de Assentamento de Reforma Agrária no Estado de Roraima, na qual é possível fazer o exame da realidade concreta vivenciada em cinco projetos de assentamento rural, vinculados à Superintendência Regional do INCRA em Roraima, SR 25. Para tanto, essa análise privilegia a observação das condições reais de produção e vida encontradas nos assentamentos desse estado, dando especial ênfase à trajetória e mobilização das famílias organizadas pelo movimento sindical rural e pelos movimentos sociais rurais. Além de verificar as condições de infraestrutura e de produção dos referidos projetos.

2- Sacralização da luta pela posse da terra e ritualização de lideranças sindicais como estratégia de mediação entre camponeses e Estado na Amazônia brasileira

Edimilson Rodrigues de Souza (UFES)

Este artigo tenta descrever as articulações de agentes mediadores em conflitos agrários frente aos aparelhos do Estado, apontando os reflexos e efeitos de enfrentamentos históricos entre atores regionais na formação de lideranças populares e das identidades do campesinato na fronteira amazônica. Sobretudo a partir das relações entre índios, camponeses, latifundiários, Estado e Igreja Católica pós-1970. Mapeando espaços de violência no campo na região do Araguaia paraense, para pensar as lutas pelo reconhecimento de direitos sobre a terra e uso de recursos naturais, que se configuram enquanto estratégias (im)pertinentes de mediação em espaços de tensão e resistência. Possibilitando relacionar memória e trajetória com a construção de identidades sociais que são permeadas por conflitos e lutas em busca da afirmação dos grupos e de direitos territoriais.

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3- O processo participativo do licenciamento ambiental de grandes empreendimentos de infra-estrutura como um mecanismo de mediação entre interesses e visões de mundo conflitantes no processo de tomada de decisões

Raimer Rodrigues Rezende (Universidade de Utrecht e Centro de Estudos e Documentação Latino-Americanos, Países Baixos)

Mega-projetos como a Usina de Belo Monte dão visibilidade a um antigo debate: sobre como políticas de desenvolvimento na Amazônia devem lidar com conflitos de interesses e visões de mundo divergentes. Faz-se evidente a necessidade de mediação de conflitos e da inclusão de diferentes grupos na tomada de decisão. A partir do estudo do licenciamento ambiental das usinas de Santo Antônio e Jirau, este artigo analisa o que impede que o processo de licenciamento de grandes empreendimentos de infra estrutura proporcione um mecanismo de participação pública capaz de auxiliar na mediação de interesses e visões de mundo.Este artigo é baseado nos resultados de uma pesquisa de mestrado em Desenvolvimento Sustentável, Gestão e Políticas Ambientais que incluiu 3 meses de trabalho de campo, principalmente em Rondônia. A dissertação foi premiada pela Associação Holandesa de Estudos Latino-Americanos e do Caribe - NALACS - como melhor dissertação de 2009 sobre tema relacionado à América Latina.

4- Políticas territoriais na Amazônia: poder tutelar estatal e transformações sociais e econômicas de produtores agroextrativistas do rio Sucunduri (AM)

Pedro Fonseca Leal (UFOPA)

Neste trabalho, apresento uma análise dos efeitos das políticas oficiais de integração e colonização, implantadas no período do Regime Militar (1964-85), e da atual política de criação de unidades de conservação, voltadas à Amazônia. Para tanto, foco o estudo nos processos de mudança vivenciados por produtores agroextrativistas localizados, desde a década de 1940, às margens do rio Sucunduri, município de Apuí (AM), que, na década de 1970, vê seu território cortado pela rodovia Transamazônica; nos anos de 1980, parte de suas áreas de uso é incorporada ao Projeto de Assentamento Dirigido Rio Juma, criado em 1982, por agentes do INCRA; e, no ano de 2005, o restante de suas áreas de uso é atingido pela Floresta Nacional do Jatuarana e pelo Parque Nacional Juruena. Tais investimentos governamentais impõem, pela ação tutelar de agentes estatais, aos produtores agroextrativistas, formas específicas de territorialidade, comprometendo sua reprodução social.

5- Reforma Agrária e Projeto de Assentamento Agroextrativista: uma comunidade rural no sul do Amazonas

Raquel Wiggers (UFAM)

O paper foi baseado em pesquisa de campo na Comunidade Santa Maria Auxiliadora no sul do Amazonas, recentemente transformada em Assentamento Rural pelo INCRA. Localizada às margens do Rio Ipixuna, em Humaitá, tornou-se Assentamento Rural (PAE) em 2007. O objetivo é discutir relações entre políticas de reforma agrária no Brasil e a forma de criação desse assentamento, que legalizou terras onde algumas famílias florestinas vivem e trabalham há pelo menos duas gerações. Interessa neste estudo ressaltar aspectos culturais destas famílias florestinas que utilizam a floresta e seus recursos de forma sustentável e os objetivos da reforma agrária promovida pelo INCRA.

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6- Repensando a categoria de assentamentos rurais

Luciana Braga Silveira (UFLA)

Os estudos sobre assentamentos rurais no Brasil têm se mostrado muito importantes para a compreensão da política agrária e da estrutura fundiária brasileira, assim como para o entendimento do papel e das formas de atuação dos movimentos sociais do campo e os conflitos sociais gerados neste contexto. Especificamente, quando falamos dos assentamentos rurais da região norte do país, outras questões entram em jogo, como a relação das chamadas populações tradicionais e os grandes fazendeiros, o desmatamento da floresta amazônica, o problema da grilagem de terras. Tendo em vista, a relevância dessas discussões para o entendimento da questão agrária no país, esse trabalho busca problematizar a categoria de assentamentos rurais a partir da experiência do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Santa Maria Auxiliadora, em Humaitá AM. Pretende-se pensar como a territorialização de um espaço como assentamento rural e a nova condição dos posseiros como assentados instaura uma série de novas relações e sociabilidades, com efeitos internos e externos ao grupo estudado. A interação entre distintas racionalidades relativas aos agentes das instituições públicas e aos “assentados” na implementação das políticas voltadas para os assentamentos são objeto de análise.

Pôsteres: 1- Juventude e Políticas Públicas em Rorainópolis: uma questão de identidade

Antonio de Souza (UFRR)

Além de outros atributos, o papel fundamental que norteia o eixo executor das políticas públicas é também a afirmação contínua da identidade do grupo para a qual é direcionada. Compreendemos o grau de importância que as políticas públicas têm para a região amazônica, englobando sua mega diversidade; por outro lado, entendemos também que essas políticas não podem ser pautadas em grandiosos projetos sem que não haja uma interação direta com o público alvo. Partindo dessa premissa, acreditamos que as políticas públicas se tornam mais eficientes quando estruturadas dentro de uma metodologia que parta do especifico para o geral. É nessa perspectiva que surge a inquietação de pensar as políticas públicas de maneira mais especificas, direcionada para grupos específicos, o que transmite uma percepção mais pé no chão, com uma possibilidade mais plausível de atingir seus objetivos. Uma das consequências, quando as políticas públicas conseguem atingir diretamente seus objetivos, é que gera uma continuidade afirmativa da identidade do grupo atingido por elas, e considero um desses grupos a juventude que mora no campo, que pela falta de tais políticas acabam escolhendo a cidade como meio de sobrevivência, onde muitos deles acabam reconfigurando sua identidade. A continuidade de uma juventude no campo seria possível se houvesse políticas públicas específicas a elas, e essa percepção é fruto de trabalhos de campo já realizados junto aos jovens de Rorainópolis.

2- Santa Maria Auxiliadora: um estudo sobre a organização familiar de um assentamento do INCRA no Sul do Amazonas

Larissa Vitor do Nascimento (UFAM )

Este trabalho tem como proposta investigar as formas de organização familiar e de vizinhança em um assentamento do INCRA no Sul do Estado do Amazonas. O objeto desta pesquisa encontra-se na comunidade ribeirinha Santa Maria Auxiliadora, que se localiza no entorno da Floresta Nacional (FLONA) Balata Tufari, porção Sul do estado do Amazonas, às margens do Rio Ipixuna no município de Humaitá. Este assentamento foi implementado em 2009 como uma unidade agrícola familiar em um

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projeto de Assentamento Agro Extrativista (PAE), a comunidade Santa Maria Auxiliadora já existia antes de ser um assentamento do INCRA, o líder da comunidade foi quem deu início ao processo para criação da agrovila. O estudo das relações de parentesco nessa comunidade se faz importante para compreender como processo de implantação desse Assentamento foi desenvolvido.

3- RDS do Juma: uma tentativa de responsabilidade socioambiental

Wender Felix de Araújo; Rafael Vieira Amorim (UFAM)

A proposta tem por objetivo analisar como a Fundação Amazonas Sustentável busca estabelecer um compromisso junto aos povos tradicionais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma (RDS do Juma), com a implementação do Projeto para Redução de Emissões do Desmatamento (RED). Nosso interesse na RDS do Juma é motivado principalmente pelo debate sobre as responsabilidades socioambientais (desmatamento, produção sustentável, melhoria da educação, saúde, comunicação e transporte nas comunidades) uma vez que essa Unidade de Conservação, localizada no estado do Amazonas, é, hoje, um referencial nacional e internacional para a discussão de RED.

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AS DIFERENTES IMAGENS DO EXTRATIVISMO NA AMAZÔNIA

O aviamento é uma forma de exploração colonial que se tornou amplamente difundida na Amazônia a partir do século 19. Embora o poder econômico da borracha tenha perdido sua posição no mercado internacional, os patrões, donos das terras e seringais, continuaram mantendo seus negócios até a década de 1980, quando novos personagens entram em cena. O modelo do aviamento expandiu e transformou-se num esquema de trocas que envolve diferentes formas de reciprocidade e simbolismo. Encontra-se tão enraizado no modus operandi dos povos amazônicos que, paradoxalmente, podemos encontrá-lo atualmente em formas sofisticadas como o das “cantinas” do mercado solidário ribeirinho no Juruá ou na cosmologia dos Paumari do Rio Purus. Este GT propõe explorar as memórias e as experiências contemporâneas dos povos indígenas sobre o extrativismo e as formas de produção material e simbólica da vida na floresta. Busca ampliar o conjunto de imagens que visam dar conta das redes de saberes e pessoas que se estabelecem por meio da circulação de produtos e mercadorias.

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SESSÃO I

1- Memórias ameríndias e o extrativismo. Diálogo interdisciplinar da Etnologia e Arqueologia sobre os modos de vida na floresta tropical

Marta Amoroso (USP)

A “topofilia” – relação dos homens com a o ambiente – justificou todo um conjunto de investimentos teóricos da Arqueologia e da Antropologia nos anos 1950 e 1960 que se firmavam na linha dos constrangimentos que o ambiente das Florestas Tropicais impunha às populações ameríndias. Esta visão determinista, que submete as ações das populações nativas de um lado às forças hegemônicas do ambiente e de outro às forças da exploração comercial, marca a reflexão que se fez e ainda se faz sobre o extrativismo enquanto forma preponderante de subsistência na Amazônia. A apresentação focaliza as formas do extrativismo praticadas pelos Mura (rio Preto do Igapó-Açú, AM) a partir de novos parâmetros da reflexão antropológica, como o tema do multinaturalismo (E. Viveiros de Castro) e das redes de socialidade que os Mura estabelecem com os moradores das cidades.

2- Extrativismo, donos e patrões para os Chiquitano no Vale do Alto Guaporé, fronteira Brasil e Bolívia

Verone Cristina da Silva (USP)

O povo indígena Chiquitano que vive no Brasil é falante da língua isolada chiquitana e ocupa uma parte do Sudoeste do Estado de Mato Grosso, fronteira Brasil e Bolívia. Muitas famílias trabalharam até a década de 1970 na extração do látex da borracha (Hevea brasiliensis) e da poaia (Cephaelis Ipecacuanha), através do sistema de aviamento. As embarcações transportavam pelo rio Guaporé produtos como borracha, poaia, tecidos, gado, madeira, cana-de-açúcar, aguardente e, ainda, cereais das roças dos Chiquitano. As estradas não oficiais de Vila Bela da Santíssima Trindade até território boliviano foram também utilizadas pelos “marreteiros da borracha” para o deslocamento da matéria-prima. O extrativismo mobilizou trocas, comércio, nominações e relações. O sentido de “patrão” indica uma categoria relacional, que opera entre os chiquitano a partir de uma posição de alteridade ocupada por fazendeiros, soldados ou quilombolas, e que contribui na diferenciação externa dos chiquitano (nós-eles).

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3- A substituição de cultivos ilícitos na Amazônia colombiana: o “desenvolvimento” e os povos indígenas no meio do conflito armado

Carlos Andrés Uscátegui Vargas (Universidad de Chile)

O texto apresenta uma proposta de pesquisa cujo objetivo é reconhecer os impactos das políticas de erradicação e substituição de cultivos ilícitos (coca, papoula, maconha) junto com a aparição de empresas e organizações que se inserem nos discursos globais de “desenvolvimento”, “sustentabilidade” e “comércio justo”, envolvendo populações indígenas na Amazônia colombiana. Procura-se identificar as transformações geradas pelo encontro dos novos discursos do desenvolvimento emitidos desde os âmbitos global e nacional, no âmbito local, na vida das populações indígenas, que têm encontrado nos cultivos ilegais o único modo de garantir sua própria sobrevivência, perante a falta de alternativas laborais e produtivas que permitam sua inserção na legalidade. A proposta visa aportar novos elementos para a abordagem de uma das maiores problemáticas da Colômbia, a qual se desenvolve na fronteira geopolítica com o Brasil.

4- O circuito de mercadorias na região do PurusAngélica Maia Vieira; Ingrid Daiane Pedrosa (UFAM)

A exemplo de outras regiões amazônicas, a bacia do rio Purus foi alvo de grandes investidas, principalmente, das empresas extrativistas que atuavam do chamado “Ciclo da Borracha” entre os séculos XIX e XX. O esquema do Sistema de Aviamento consistia, basicamente, do abastecimento dos seringais com mercadorias, bens e alimentos industrializados. Este modelo é marcado pela relação desigual e eternal entre patrões e extrativistas, cujo modelo moldou a ampla forma de sociabilidade que marcou intensamente a história econômica e social da Amazônia. Para compreender o aviamento no rio Purus, propomos como fonte primária os arquivos da empresa J.G.Araújo, a mais proeminente empresa comercial atuante na Amazônia durante o século XIX. A J.G.Araújo se configura como uma das maiores empresas aviadoras no ramo do extrativismo. E com base na sistematização da documentação pesquisada– Livros de Carga, Diários de Navegação, Cartas Comerciais, Lioros de Castanhas – propomos realizar uma análise relativa à implantação e manutenção da rede social e de movimentação das mercadorias ligadas à indústria extrativista no Rio Purus. Todavia, realizaremos também uma conexão entre a documentação da empresa J.G.Araújo e os arquivos do Serviço de Proteção aos Índios - SPI. De modo que se torne possível a construção do cenário extrativista da época, atestando a influência direta do sistema extrativista na região e o envolvimento dos seringalistas, seringueiros e populações indígenas que se encontravam na extensão do Rio Purus.

5- Estrutura do sistema de aviamento no PurusAdmilton Freitas das Chagas Pinto (UFAM)

A proposta desta comunicação é compreender o sistema de aviamento, estrutura composta pela casa aviadora, o seringal e seringueiro, dentro de uma dinâmica de circulação de costumes, trocas de produtos, consolidando a interação entre as microrregiões do Purus e a cidade de Manaus. A rede de aviamento garantiu o escoamento da produção de borracha firmando uma cadeia de circulação das mercadorias no interior da selva para as cidades de Belém e Manaus. As casas aviadoras atuaram na consolidação de infraestrutura, logística, transporte a vapor, linha de crédito e mão de obra. Esses fatores condicionaram rotas permanentes de um dos maiores centros produtor de borracha da Amazônia, interligando a região do Purus ao mercado internacional. As “Casas Aviadoras” aparecem como modelo institucionalizado de aviamento, recebem do seringal os carregamentos de borrachas em seus armazéns na cidade e fornece para o seringalista a credito todas as variedades de produtos, estocados no barracão no meio da selva. Uma espécie de banco ou empresa, presente no mercado de

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exportação e importação e financiando intensos negócios nos seringais a casa aviadora representa a princípio este senhor comercial. O Purus detinha aproximadamente 400 seringais, chegando a representar de 30% a 40%, da produção de borracha. A partir destes índices a JG Araújo manteve suas atividades pelo interior amazônico por mais de cem anos. Encontramos os registros do Purus em cinco livros de caixa, arquivos de viagem da empresa, mostram o grande quantitativo do comércio naqueles seringais. Euclides da Cunha já apontava o Purus como o maior exportador de seringa de todos os rios da Amazônia. As empresas aviadoras sempre tiveram como negócio mais lucrativo a borracha, porém os demais produtos amazônicos acompanharam o comércio de exportação extrativa e a variedade de produtos naturais do Purus, um dos fortes polos extrativos amazônicos.

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SESSÃO II

1- Entre a margem e o centro: agroextrativismo, troca e reciprocidade em um seringal acreano

Karine Lopes Narahara (UFRJ)

Com a queda econômica da borracha houve um esvaziamento dos seringais do sudoeste amazônico, especialmente dos centros. Porém, no seringal Porongaba, Médio Iaco (AC), quase todos grupos domésticos residem no centro. Analisando os circuitos de troca e reciprocidade ligados ao agroextrativismo, a pesquisa busca compreender as motivações que levam os moradores a permanecerem no seringal. A castanha é a principal fonte de recursos financeiros, enquanto a criação de gado funciona como patrimônio e herança. O extrativismo de castanha, de borracha, a agricultura e a criação de animais estabelecem circuitos de troca e de reciprocidade que (re)criam laços entre as casas, especialmente os circuitos de dons. Nesses circuitos, ganham relevo as relações estabelecidas entre casas aparentadas. Se o parentesco é, por um lado, a base sobre a qual os mecanismos de reciprocidade são estabelecidos, por outro, tais mecanismos (re)criam laços de parentesco, viabilizando a vida entre a margem e o centro.

2- O velho aviamento e as modernas cantigas do Mercado Solidário no Médio Juruá

Gilton Mendes dos Santos (UFAM)

O Juruá foi um dos afamados rios dos longos anos do ciclo de coleta da Amazônia. O sistema de aviamento ali fincou suas bases, sustentando inúmeros seringais e uma densa população de seringueiros. Com sua derrocada, em finais dos anos 1980, os velhos seringais dão lugar e formação às chamadas comunidades extrativistas, que, depois de assistidas pelos regatões, os quais abundavam em águas do Juruá até recentemente, passaram a ser abastecidas pelas cantinas do mercado ribeirinho solidário. A estrutura desse novo sistema encontra-se, por sua vez, assentada no velho modelo de troca entre bens industrializados (mercadorias) e bens naturais (produção), frutos da coleta e da agricultura. A presente comunicação objetiva apresentar o itinerário dessa modernização e suas implicações sociais no Médio Juruá.

3- O “trabalho de meia” como estratégia produtiva dos artesãos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã - Médio Solimões

Marília de Jesus da Silva e Sousa (UFAM)

Esta comunicação resulta de um recorte da dissertação de mestrado sobre saberes e modos de fazer objetos artesanais nas comunidades ribeirinhas de Belo Monte, São José do Urini e Sítio Cachimbo,

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situadas na RDS Amanã. O estudo etnográfico identificou a produção de um repertório de artefatos (paneiro, peneira, balaio, remo entre outros), empreendidos por 23 famílias através de diferentes estratégias produtivas. O sistema de “trabalho de meia” é uma das estratégias que adquire importância decisiva no processo produtivo dos objetos artesanais. É regido pela divisão de tarefas entre o “artesão produtor” e o “fornecedor da matéria-prima”. Para sua efetivação são formadas redes locais de cooperação baseadas em laços de parentesco e compadrio que estabelecem uma dinâmica peculiar à produção e a circulação dos objetos. São relações de reciprocidade que podem promover tanto o fortalecimento da sociabilidade local como conflitos e rupturas nas relações caso acordos sejam quebrados.

4- De patrões e parceiros de troca: os Aparai e Wayana meridionais e a extração de balata na Amazônia Oriental

Gabriel Coutinho Barbosa (UFSC)

Do fim do século XIX a meados do XX, muitos Aparai e Wayana meridionais (caribe) se engajaram nas frentes extrativistas de balata, trabalhando para patrões e comerciantes não-índios em regime de aviamento. Os Aparai e Wayana têm uma apreensão positiva dessas relações, marcada pelo saudosismo. Isso aponta para um modo distinto de compreensão indígena de transações que costumam ser descritas como desiguais e explorativas pela literatura. Em seus relatos, os Aparai e Wayana referem-se a patrões, comerciantes e balateiros por meio de categorias que se opõem em diversos sentidos. De um lado, os termos pãna, pawana e -epe, que remetem à relação essencialmente equilibrada de parceria de troca, baseada na oferta recíproca de presentes e gentilezas. De outro, os vocábulos esemy, poeto e peito, relacionados a “donos”, “mestres” e posições de subordinação. Tal ambiguidade resulta da confluência de dois fatores: a complexidade dessas relações construídas historicamente, assim como o repertório indígena de categorias relacionais irredutíveis às nossas conceituações.

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GT17- ANTROPOLOGIA, IDENTIDADES & POLÍTICAS PÚBLICAS (SOCIAIS)

No Brasil a partir do final da década de 1980 alcança visibilidade movimentos sociais contrários à ordem hegemônica do capital. Nesse contexto político há um resgate da moral da solidariedade e de pertencimento social no campo dos movimentos sociais. Ao longo deste processo, como contraponto às políticas de corte neoliberal, há a institucionalização das políticas públicas de transferência e geração de renda tais como: o Programa Bolsa Família (PBF), o Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF), Microfinanças e Economia Solidária. Neste sentido, o objetivo do GT Antropologia, Identidades & Políticas Sociais é congregar pesquisadores que realizam pesquisas empíricas e reflexões teóricas nas interfaces entre Antropologia, as políticas públicas e as identidades em suas várias nuanças, tais como, gênero, étnica, religiosa, profissional, dentre outras. Neste sentido, algumas reflexões são relevantes: Quais as ressonâncias das políticas sociais, por exemplo, nas configurações de gênero, visto que, nesses programas há uma significativa participação das mulheres? Quais as ressonâncias das referidas políticas em comunidades camponesas? Comunidades pobres urbanas? Ribeirinhas? Sociedades indígenas? Ciganos? Quilombolas? Como tais comunidades (re) significam as referidas políticas? E, dialeticamente, como tais políticas remodelam as identidades? Ademais, o GT propõe a problematização sobre questões éticas do ofício do antropólogo em sua atuação no campo das políticas (com maior impacto na região Nordeste e Norte), nas interfaces entre o campo acadêmico, os movimentos sociais e o Estado. Da perspectiva epistemológica, o GT propõe refletir criticamente sobre o papel da disciplina como produtora de conhecimento acadêmico e extra-acadêmico que permite analisar tais políticas a partir da perspectiva disciplinar e em sintonia com a visão de mundo dos referidos grupos, em um processo dialógico e simétrico, como diria Roberto Cardoso de Oliveira.

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SESSÃO I- POLÍTICAS E IDENTIDADES: INDÍGENAS E QUILOMBOLAS

1- Política Indígena e o EstadoAndrezinho Fernandes Cruz (UFAM)

Neste trabalho buscamos compreender o modo de atuação e inserção das lideranças indígenas nas diversas instâncias do Estado e esferas governamentais (Secretarias, Fundações e Organizações) e de como as lideranças mantinham contato com suas organizações de base - Organizações e Associações indígenas, razão pela qual, tomamos a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) como foco desta pesquisa. Como principais fontes de análise, utilizamos documentos e entrevistas realizadas com lideranças indígenas que participam ou participaram da construção e implementação das políticas públicas para os povos indígenas, bem como, discursos proferidos em eventos como as Conferências Regionais e Nacionais Indigenistas, realizadas no Rio Negro (Hotel Ariaú Tower) e em Brasília, que trataram da questão indígena. O arcabouço teórico-metodológico está embasado em um enfoque processual, examinando-se as configurações sociais e redes de interdependência entre os agentes.

2- Política partidária e organização social no Alto Rio Negro: a experiência dos indígenas de São Gabriel da Cachoeira/Am

Jean Ricardo Ramos Maia (UNICAMP)

As eleições em São Gabriel da Cachoeira, na região conhecida como Alto Rio Negro não difere, à primeira vista, das que ocorrem nos demais municípios do estado do Amazonas. A questão da política partidária no interior do estado é sempre tema de diversas contradições e quase nunca se

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enquadra fora dos parâmetros de quem pode pagar mais. A história dos indígenas e da FOIRN – movimento indígena no alto rio negro ressalta o papel da agência indígena apesar das tradicionais mazelas da política oficial. Meu objetivo neste artigo é demonstrar como as noções de organização social tradicionais são mais importantes que outros aspectos, no jogo de legitimação e organização social de poder na região. Quero investigar se a eleição de 2008 representa para o movimento indígena um novo lugar de embate político ou apenas um evento isolado, sem maiores consequências. Para tanto, estarei analisando o perfil de vereadores da atual Câmara Municipal e alguns fatos das eleições de 2010.

3- Políticas e identidades no Rio Negro/AM: apropriação e re (significação)

Mauro Gomes da Costa (FAPEAM)/ FSDB)

O trabalho aborda a apropriação de conhecimentos, valores, costumes e instituições ocidentais e os modos como a cultura não-indígena foi ressignificada e usada para a (re) afirmação de identidades e autodeterminação do movimento indígena no Rio Negro/AM. A teoria antropológica da perda cultural indígena definitiva negligenciou as mediações envolvidas nas situações de contato. Autores como Gruzinski (2003), Bernand (2001/2006) analisam os “arranjos culturais” presentes nas relações entre índios e a cultura ocidental. As perspectivas da etno-história evidenciam o protagonismo indígena frente à sociedade nacional (Cunha, 1992; Viveiros de Castro e Cunha, 1993; Wright, 1999/2004; Albert, 2002; Pompa, 2003; Montero, 2006). Discutir as formas como a escola, os serviços de saúde, a institucionalização das Organizações Indígenas, a atuação executiva e parlamentar (re) configuram as identidades e, dialeticamente, como tais políticas são (re) significadas são os objetivos deste trabalho.

4- Os gestores de projetos indígenas: configurações da política indígena e indigenista na região do Médio Solimões

Inara do Nascimento Tavares (UFAM)

Este texto objetiva apresentar algumas reflexões sobre a configuração (Elias, 1994) da política indigenista e os rearranjos da política indígena tomando por campo etnográfico o curso de formação de Gestores de Projetos Indígenas do Corredor Central da Amazônia PDPI/MMA (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas/ Ministério do Meio Ambiente). O curso realizou-se no período de fevereiro de 2009 a fevereiro de 2010, e a política indigenista executada nesse curso orientou suas ações pelos princípios de “gestão, participação e projetos indígenas”. Destaco esses conceitos no intuito de compreender a lógica da política pública. Para a análise da política indígena, considero os indígenas formados pelo curso a partir de sua trajetória (Bourdieu, 1996). Optei pelos indígenas da região de Tefé (T.I Barreira da Missão) e Alvarães (T.I Marajaí). Posto isso, a tentativa é apresentar como se estabelece as relações no campo da política pública voltada aos povos indígenas – o curso de gestores - e como o movimento indígena - através dos indígenas que fizeram o curso - se relacionam com esses diversos conceitos, agentes e agências.

5- A categoria raça na arena das identidades Tatiane Pereira Muniz (UFBA)

A problematização da noção de raça, no contexto do multiculturalismo, aparece como um imperativo irrefutável, uma vez que está consolidada como categoria estruturante das relações sociais sendo, frequentemente, acionada na definição dos parâmetros de participação democrática e plural. O estabelecimento de políticas de reparação de recorte racial, bem como, a recente aprovação do Estatuto de Igualdade Racial, no Brasil, é fruto da permanente negociação política e disputa simbólica, nas quais “raça” aparece enquanto discurso, amparado em argumentos biológicos, sociais e políticos e como objeto controverso do biopoder. A investigação de como “raça” é acionada pelas diversas esferas da sociedade -

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dentre elas os movimentos sociais, o Estado e a mídia - podem fornecer pistas sobre as representações sobre essa categoria, na atualidade, bem como elucidar como a interface entre políticas públicas de recorte racial e os movimentos sociais contribuem para a constante remodelação das identidades.

6- Políticas públicas de cultura em uma comunidade quilombola

Ana Claudia Cruz da Silva (UFF)

O conceito de cultura é central para a Antropologia e tem se tornado cada vez mais central também para a sociedade ocidental. Seu uso tem se intensificado em diferentes domínios da sociedade em que ele possuía uma participação marginal, como a economia e a política. E pode-se dizer que no Brasil, especialmente nos últimos anos, parte dessa intensificação se deve ao investimento, por parte de governos, principalmente o federal, em políticas públicas de cultura. A proposta desta comunicação é refletir sobre a implementação de políticas públicas que visam a geração de emprego e renda numa comunidade negra situada num município do interior do Estado do Rio, cujos membros habitam prédios que outrora foram habitados pelos escravos da fazenda, dos quais eles são considerados descendentes. Tais políticas estão ancoradas na reprodução da cultura de seus antepassados, portanto, na 'cultura' escrava, que se pretende que também seja 'preservada'.

7- Reconhecimento de comunidades remanescentes de quilombos e transformações socioculturais

Sabrina D'Almeida (UNIFESP)

O reconhecimento étnico de grupos como comunidades remanescentes de quilombos nos dias de hoje é permeado por conflitos e impasses. Apesar deste processo constituir-se numa conquista histórica que projetou estes atores na política nacional como sujeitos políticos e de direitos, ainda pouco se conhece sobre como estas comunidades vivem após conquistarem o reconhecimento e titulação de suas terras e as implicações de políticas públicas afirmativas em suas dinâmicas sócio-culturais. Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as mudanças ocorridas na sociabilidade dos moradores do Quilombo Morro Seco a partir de seu reconhecimento oficial como remanescentes de quilombos, bem como analisar de que maneira as políticas públicas destinadas a esses grupos, mais especificamente o artigo 68 do Ato das Disposições Costitucionais Transitórias, se relacionam com esses processos identitários.

8- Novas possibilidades narrativas: a construção de identidades negras no quilombo de Santana-PE

Francisco Carlos Lucena (ISES)

A comunidade quilombola de Santana localiza-se em Salgueiro, sertão de Pernambuco. Tem uma população de aproximadamente 399 habitantes. A pesquisa objetiva estudar as novas formas de compreensão da identidade negra em Santana. Ela tem revelado um intenso debate e reflexividade sobre a mistura racial, a noção de raça, a valorização do ser negro e o significado de quilombo. O trabalho de campo sinaliza elementos importantes de ressemantização da identidade negra. Entre esses elementos, destacamos o processo de auto-reconhecimento da comunidade como quilombola, a inserção de políticas públicas ligadas à valorização do ser negro, as redes de contatos entre Santana e instituições públicas e ONGs e o acesso significativo de pessoas da comunidade a formação universitária na região, implicando novos patamares de escolaridade e, eventualmente, a formação de lideranças e mediações políticas.

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9- Corpo, saúde e doença: um estudo de caso sobre as ações da Rede de Religiões Afro brasileiras e Saúde em Belém do Pará.

Selma de Souza Brito (UFPA)

Neste trabalho proponho-me discutir alguns aspectos das metodologias de ação que a Rede de Religiões Afro brasileiras e Saúde desenvolvem dentro das casas de culto em Belém do Pará, a partir da relação entre as representações de saúde e doença dentro da cosmovisão religiosa afro-brasileira, “a medicina dos terreiros” e a medicina “oficial”, considerando nesse ínterim os modos como poder público, nas chamadas Ações afirmativas para população negra dialoga nesse aspecto específico que são essas “duas” medicinas. O que pretendo não é perceber essa inter relação por meio da dicotomia medicina dos terreiros versus medicina cientifica, mas sim saber como a Rede ao passo que articula suas práticas religiosas e terapêuticas dentro dos terreiros também possibilita ressignificar suas ações a partir de informações do Sistema Único de Saúde (SUS).

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SESSÃO II- PARTE I. POLÍTICAS SOCIAIS, MULHERES E JOVENS

1- Violência doméstica e familiar: casos de violência contra mulheres idosas em Belém do Pará

Julia Glaciele dos Santos Souza (UFPA)

O presente trabalho diz respeito a uma pesquisa realizada em período de graduação e aborda a violência psicológica e patrimonial contra mulheres idosas na cidade de Belém do Pará. A partir de depoimentos e de visitas ao programa Universidade da Terceira Idade (UNITERCI) vinculado à Universidade Federal do Pará busquei analisar esses tipos de violência doméstica e familiar, assim como as relações de gênero que estão inseridas neste contexto. Considerando o compromisso do Estado brasileiro de coibir, prevenir e erradicar a violência contra a mulher, firmado em conferências internacionais e nacionais, tendo em vista a instituição da Lei 11.340/06, a Lei Maria da Penha. Além disso, coube enfatizar o papel das universidades da terceira idade na promoção de uma melhoria na qualidade de vida da população idosa como uma instituição que visa à divulgação da Lei Maria da Penha e, nesse âmbito, dos direitos das mulheres idosas.

2- Sobre os programas direcionados à juventude: uma etnografia do ProJovem Adolescente

Hildon Oliveira Santiago Carade (UFBA)

Esta comunicação é fruto de uma etnografia realizada numa turma de beneficiários do Pro Jovem Adolescente – programa direcionado aos jovens de 15 a 17 anos, que estejam (ou vistos como estando) numa “situação de risco social” -, localizada no Alto das Pombas, bairro popular da cidade de Salvador. Meu objetivo é investigar o circuito de relações estabelecidas pelo Programa, quais sejam a sua inserção no bairro, as relações com a família, com as instituições públicas e o poder local. Tendo em vista o fato de o Programa ser considerado o pilar da provisão à juventude carente do país, sendo preferencialmente direcionado aos jovens cujas famílias são beneficiadas pelo Bolsa Família, este estudo almeja estabelecer uma abordagem alternativa às análises baseadas na eficácia e/ou eficiência de uma política pública, interessando-se em saber como os indivíduos produzem, reproduzem e ressignificam aquilo que foi para eles projetado em um desenho institucional de política social.

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2- Um antropólogo no CRAS: políticas de assistência social diferenciada

Ninno Amorim (Universidade Federal de Rondônia)

O presente trabalho é fruto de uma experiência profissional vivida no Centro de Referência em Assistência Social - CRAS, no município de Acaraú-CE, durante o primeiro semestre de 2009. A inserção do antropólogo na equipe do CRAS, geralmente composta por psicólogos e, majoritariamente, por assistentes sociais, se deu por conta da existência de duas aldeias indígenas da etnia Tremembé nos limites do município. Em linhas gerais, o trabalho destinado à equipe do CRAS limita-se à realização de visitas às comunidades, anotação das reivindicações mais urgentes e encaminhamento das demandas para a Secretaria Municipal de Assistência Social. A formação do cientista social, e do antropólogo em particular, com uma enorme discussão sobre teorias, métodos e técnicas de pesquisa, constitui o diferencial da atuação desse profissional em campo. O trabalho do antropólogo, mais habituado a pesquisar e a construir um conhecimento sobre as populações estudadas, se viu diante de um novo desafio: o da intervenção política, trabalhar noções de cidadania, providenciar documentação da população atendida para se credenciar junto a órgãos de fomento, enfim, se envolver num processo de organização social com um propósito específico e orientado pelas políticas oriundas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. O desafio de lidar com toda a documentação do Programa Bolsa-Família, Pró jovem, Pronaf e tantas outras siglas que aos poucos vão se tornando familiar.

PARTE II- POLÍTICAS PÚBLICAS NO CAMPO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

3- Economia solidária e catadores de materiais recicláveis em Salvador: políticas públicas e a enunciação de identidades no Brasil

Lara Santos de Amorim (UFPB/Litoral Norte)

Essa comunicação pretende realizar uma reflexão antropológica sobre a identidade de catadores (as) de Salvador - BA e a política pública adotada para a formação de catadores de materiais recicláveis no Brasil. Em 2010, fui coordenadora de campo da pesquisa qualitativa em uma pesquisa nacional de Avaliação do Projeto de Fortalecimento do Associativismo e do Cooperativismo dos Catadores de Materiais Recicláveis: formação para autogestão, assistência técnica e mobilização, empreendida pela Fundação Banco do Brasil – FBB, em ação conjunta com o Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Entre os estados brasileiros visitados, tive a oportunidade de realizar pesquisa em profundidade com catadores representantes do Movimento Nacional em Salvador – BA, na sede do Instituto Pangea. A partir destas conversas foi possível traçar algumas das enunciações de identidades que se configuram nesta relação entre poder público e movimento sociais. Meu objetivo é, portanto, refletir, a partir de uma abordagem etnográfica, sobre como se dão algumas enunciações e discursos que os entrevistados fazem de suas próprias identidades.

4- Políticas públicas e finanças solidárias: os desafios da geração de renda na Paraíba e na Amazônia

Victoria Puntriano Zúñiga (UFPB)Alicia Ferreira Gonçalves (UFPB)

Este trabalho objetiva realizar uma reflexão acerca dos desafios enfrentados na geração de emprego e renda e as práticas democráticas exercidas nas comunidades periurbanas situadas na região Norte, (Estado do Pará) e no Nordeste, (Estado da Paraíba), a partir de uma perspectiva comparativa com ênfase no desenvolvimento e sustentabilidade das comunidades. Trata-se de uma aproximação

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etnográfica que tem como foco a política dos Fundos Rotativos Solidários (FRS), no âmbito das finanças solidárias e sua atuação no fortalecimento das dinâmicas presentes nas comunidades, neste caso específico, a solidariedade se apresenta como elo que pode evitar a desagregação no tecido social e possibilitar a sua emancipação.

Pôsteres: 1- A política social dos Fundos Rotativos Solidários e as suas ressonâncias na vida dos agricultores

Fabricia Fulgêncio (UFPB)Alicia Gonçalves (UFPB)

O trabalho tem como objetivo apresentar o esboço de uma política social financiada pelo Banco do Nordeste do Brasil em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária. A pesquisa empírica realizou-se no Agreste da Paraíba, compreendendo dois municípios da região, Remígio e Casserengue, no qual esses são contemplados com a política dos Fundos Rotativos Solidários. Essa política visa o desenvolvimento de pequenas comunidades de camponeses com o financiamento de recursos públicos que em tese praticam a autogestão destes recursos, formando uma poupança e que decidem (re) investir em prol da própria comunidade. Essa política social articula-se com a perspectiva da economia solidária, visando o combate a pobreza e a desigualdade regional por meio da geração de trabalho e renda. Dessa maneira a finalidade da pesquisa etnográfica buscou mostrar a visão dos sujeitos sobre a política social, os limites e as potencialidades da política na comunidade, e principalmente o impacto que essa causou em suas vidas cotidianas. Portanto as experiências empíricas corroboram o funcionamento da política em pequenas comunidades de agricultores no Agreste Paraibano.

2- Políticas Sociais: contribuições nas interfaces das relações de gênero e Identidades em comunidades no Alto Sertão Paraibano

Celly Souza dos Santos (UFPB)Alicia Ferreira Gonçalves (UFPB)

O presente trabalho está vinculado à pesquisa de caráter etnográfico de uma política social de finanças solidárias, os Fundos Rotativos Solidários (FRS), que contemplam comunidades camponesas no “Alto Sertão Paraibano”. O recorte empírico são comunidades de assentados situadas no entorno do Município de Santa Cruz no sítio Tigre. A finalidade deste trabalho é realizar uma reflexão antropológica sobre as interfaces das políticas sociais em detrimento com as relações de gênero. Abordando os possíveis impactos dentro da perspectiva da (re) significações nas relações de gênero no cotidiano das artesãs e alguns dados empíricos da pesquisa que sinalizaram efeitos de uma política social que não são direcionadas especificamente para mulheres, mas conseguiu inserir as mesmas em uma nova participação e atuação dentro das comunidades.

3- Faces da Economia Solidária: desenvolvimento social e Fundos Rotativos Solidários

Aline Myrtes de Souza Vieira (UFPB)Alicia Ferreira Gonçalves (UFPB)

O presente trabalho é fruto da pesquisa etnográfica “Avaliação dos Fundos Rotativos Solidários no Estado da Paraíba”, a qual avalia a atuação da política dos fundos rotativos solidários. O foco desta análise concentra-se nos Municípios de Remígio e Casserengue que se localizam no Agreste da Paraíba. As comunidades que fomentam a pesquisa têm diferentes relações, modos de administração e organização desta política social, a atuação da economia solidária é representada a partir destas

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atuações que geram impacto no desenvolvimento social local. O desenvolvimento social é exposto segundo as perspectivas dos sujeitos inseridos nesta prática. O processo de autonomia, sustentabilidade social e econômica é resultante de novo significado da família, trabalho, educação e conscientização das pessoas.

4- Os Fundos Rotativos Solidários como uma política de desenvolvimento rural sobre a ótica dos seus participantes

Michele Nunes Rufino (UFPB)Alícia Ferreira Gonçalves (UFPB)

Neste trabalho irei abordar algumas questões levantadas no Projeto de Pesquisa “Avaliação dos Fundos Rotativos Solidários no Estado da Paraíba”, que é uma pesquisa de caráter etnográfico que visa o desenho e a aplicabilidade dessa política dentro das comunidades rurais no “Alto Sertão Paraibano”. Irei deter-me ao desenvolvimento local sobre duas óticas, a ótica institucional da instituição fomentadora que requer dessa política resultados mais quantitativos, e abordarei o desenvolvimento local segundo a perspectiva do próprio participante, observando os condicionantes locais que os afetam diretamente e indiretamente o desenvolvimento, retardamento ou ainda o que poderá promover a estagnação em cada comunidade (como o Programa Bolsa Família-PBF, por exemplo), assim tento uma visão mais qualitativa da referida política segundo o sujeito participante.

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SESSÃO III- POLÍTICAS PÚBLICAS NO CAMPO E NA CIDADE

1- Políticas de Desenvolvimento Territorial Rural no Semiárido da Paraíba

Mônica Laura Caroli Ervolino (PRODEMA – UFPB)

A Indicação Geográfica é um selo distintivo vinculado diretamente ao território de procedência do produto, que agregado a este, além da viabilidade econômica, pode contribuir para o desenvolvimento territorial. O arroz vermelho produzido no Vale do Piancó na Paraíba está em processo de obtenção de IG, é um caso bastante expressivo pelo caráter tradicional do arroz vermelho e sua produção em pequena escala, por agricultores familiares. Desta forma pretende-se avaliar o impacto deste primeiro registro de IG na Paraíba, uma proposta que vai de encontro ao desenvolvimento rural, com o tema da multifuncionalidade da agricultura: manejo dos recursos naturais, práticas solidárias, sistemas de organização no trabalho e manifestações culturais tradicionais (WANDERLEY, 2004), mas precisa ser avaliado quanto as suas consequências reais para o meio ambiente, para os agricultores e para o próprio território como um todo.

2- Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural Sustentável

Paula Lebre Bronzeado (UFPB)Alicia Ferreira Gonçalves (UFPB)

O semiárido brasileiro abrange 1.133 municípios, com uma área de 969.589,4 km2 e abriga mais de 1 milhão pessoas. Desde a década de 90, a proposta de convivência com o semiárido passa a conquistar novos espaços de participação da sociedade nos processos de formulação de políticas públicas. A presente pesquisa tem como objetivo analisar o papel dos novos atores sociais na formulação de políticas públicas para a sustentabilidade do desenvolvimento rural no semiárido da Paraíba. Nesse

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sentido, pretende-se verificar as novas concepções de sustentabilidade impulsionadas pelos novos atores sociais (comunidades rurais, novos movimentos sociais, terceiro setor) e suas inter-relações com entidades públicas. A metodologia é de cunho etnográfico e comparativo. Portanto, espera-se fornecer subsídios e elementos empíricos para análise sobre o desenvolvimento rural no semiárido e de como estão articuladas as estratégias de sustentabilidade em suas diversas dimensões. Tendo em vista contribuir para o entendimento dos sertanejos sobre realidade vivida e a busca coletiva de formas de enfrentamento, como organização social e participação política, tornando-os sujeitos do processo de desenvolvimento rural.

3- Análise de uma política pública de inclusão digital: o Centro Rural de Inclusão Digital no Assentamento Santana-CE

Cátia Regina Muniz (UNICAMP)Alcides Fernando Gussi (UFC)Hermínio Borges Neto (UFC)

A proposta deste trabalho é apresentar os resultados parciais da análise de uma pesquisa realizada sobre os Centros Rurais de Inclusão Digital - CRID´s, ambientes virtuais de aprendizagem instalados em comunidades de assentamentos rurais no Ceará, no âmbito de um programa do Laboratório de Multimeios da Faculdade de Educação – FACED da Universidade Federal do Ceará - UFC. Para tanto, descrevemos os dados coletados e analisados sobre o referido programa no assentamento Santana, localizado no Município de Monsenhor Tabosa-CE, destacando os impactos do mesmo sobre a comunidade local e as interpretações dos usuários, gestores, professores e moradores acerca do CRID. As conclusões indicam que uma avaliação dos CRID´s deve atentar para o contexto em que estão inseridos, os quais influenciam as interpretações sobre o Programa.

4- Identidade, agroextrativismo e políticas ambientais no Rio Manicoré/AM

Maglúcia Izabel de Assis Oneti (UFAM)

No Rio Manicoré, município de Manicoré - AM, há nove comunidades organizadas em torno da Central das Associações Agroextrativistas do Rio Manicoré, onde há a coexistência de diversas atividades: agricultura, criação de animais, extrativismo vegetal madeireiro, não madeireiro (coleta de castanha) e animal (caça e pesca). No ínterim de conflitos socioambientais (retirada de madeira, pesca ilegal) e territoriais (compra de terras por estrangeiros; limites entre as Terras Indígenas), os agricultores passaram a se denominar agroextrativistas, reivindicando do ITEAM a transformação de suas terras em UC's, na modalidade RDS. Questiona-se como a categoria agroextrativista é resignificada pelos agricultores e como estes percebem a implementação de políticas ambientais, pois o município é esquadrinhado por políticas territoriais da União e Estado. A abordagem antropológica permite compreender como os agentes se organizam associativamente e o posicionamento do pesquisador frente tais políticas.

5- Cidades, esportes de natureza e políticas públicas

Sônia Maria Neves Bittencourt de Sá (UFPB)

O trabalho reflete como as cidades, particularmente, a cidade de João Pessoa, são vividas no cotidiano por aqueles que praticam esporte de natureza. Por meio destas práticas eles articulam uma série de relações que junto com determinadas políticas públicas acabam por produzir uma melhor qualidade de vida e abrir caminho para uma rede de possibilidades de ações cidadãs voltadas a sustentabilidade urbana, particularmente na área de saúde, lazer e urbanismo.

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6- Decalcando projeto de vida na cidade: etnografando as tramas de uma política pública em Salvador

Rosana dos Santos Silva (UFBA)

Este trabalho versa sobre o modo como os atores sociais em seus jogos cênicos se apropriam e resignificam o que é para eles projetado pelas políticas de habitação popular quando elaboram seus projetos de vida. O cenário desta investigação é Paraíso Azul e Recanto Feliz, duas porções da cidade de Salvador, que vem experienciando ações de intervenção urbana. Busca-se compreender então os mecanismos de antecipação das linhas de ação futuras usadas por estes atores, atentando para os significados e práticas que se esboçam neste espaço. Ao trazer à baila a noção de projeto neste estudo, tentasse responder a seguinte questão: O que os atores fazem com o que é para eles desenhado por uma política pública? Pensar na categoria projeto significa aqui compreender como os atores se posicionam e decalcam fluxos de ações e subjetividades a partir de certos contextos de práticas.

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INTERCESSÕES DE GÊNERO, RAÇA E MOVIMENTOS SOCIAIS: OLHARES COMPARATIVOS SOBRE DIFERENTES REPRESENTAÇÕES

Dando continuidade às discussões e reflexões iniciadas, na II REA de 2009, em Natal, este painel visa articular estudos e leituras plurais das desigualdades de gênero, articuladas às de raça / etnia e de movimentos sociais presentes nos diversos imaginários. Entendemos que a sociedade hodierna tem concebido intricadas subjetividades ao estimular a constituição de enfoques diferenciados para políticas identitárias, resultando em novas representações sócio/culturais. As regiões Norte e Nordeste permitem examinar de forma privilegiada questões de gênero, sexualidade e etnicidade dada a importância que estas categorias têm recebido nos estudos das identidades locais e nacionais. Consideramos de grande interesse confrontar diferentes maneiras em que distintas sociedades dessa vasta região buscam entender e lidar com estas variáveis. Também buscamos compreender aspectos culturais específicos que se refletem nas memórias sociais inseridas nestes novos campos de estudos. Neste sentido, podemos observar a ampliação da área de investigação envolvendo temáticas de raça, etnicidade e gênero, num olhar comparativo que busca entendê-las no âmbito das sociedades influenciadas por fatores globalizados, representados pelos movimentos sociais. Objetivamos, portanto, constituir um espaço de interlocução procurando articular aspectos interdisciplinares ou multidisciplinares que aportem pesquisas sobre as diversidades e (des)igualdades sociais e culturais. Desejamos seguir promovendo um espaço de encontro entre pesquisadores, notadamente das regiões Norte e Nordeste que apresentem trabalhos de pesquisa envolvendo as intersecções entre estas temáticas, preferencialmente num olhar comparativo e que apresentem leituras plurais atuantes nos diversos imaginários e nas políticas multiculturais e fim de estimular a reflexão crítica e a troca de saberes entre os participantes do GT visando futuros trabalhos, pesquisas e publicações conjuntas.

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SESSÃO I- INTERCESSÕES DE GÊNERO: OLHARES SOBRE AS REPRESENTAÇÕES DE AMOR, VIOLÊNCIA E CONVIVÊNCIA

1- (In)humanas, (in)dizíveis e/ou (prot)agonistas? Notas sobre as travestis sul mato-grossenses em suas interfaces com os discursos dominantes

Simone Becker (UFGD)

Esta comunicação vincula-se às discussões ligadas ao projeto de pesquisa, “Maiorias que são minorias, invisíveis que (não) são dizíveis: análise etnográfica sobre sujeitos à margem dos discursos dominantes”. Aqui, nos ateremos às reflexões resultantes de trabalho de campo realizado em Dourados/MS, cujas especificidades ora reiteram as violências sofridas pelas travestis em outros centros, ora sinalizam para seus protagonismos, p.ex., em termos de movimentos sociais e de acesso a instituições públicas de ensino superior. Quanto ao citado protagonismo, referimo-nos ao Centro de Referência em Direitos Humanos vinculado à Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo federal que é presidido por uma travesti e ao fato de que diferentemente de outras instituições públicas de ensino superior, no MS há travestis que cursam graduações. Entretanto, a análise destas particularidades que não significam estigmas deve ser cruzada a vetores outros, como os de classe e/ou de raça/etnia.

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2- Travestis: olhares sobre um gênero fluido no Litoral Norte da Paraíba

Verônica Alcântara Guerra (UFPB)

Esta pesquisa de iniciação científica, com bolsa do CNPq, tem como objetivo observar, descrever e interpretar a construção de identidades de gênero e redes de relações entre travestis na região do Vale do Mamanguape, Litoral Norte da Paraíba. Deseja-se aqui entender a construção de identidade do “ser” travesti, não como marginal social, mas como ser humano que faz parte do contexto social existente, onde constrói sua identidade e tece sua sociabilidade. Observamos uma fluidez da identidade de gênero e dos relacionamentos de socialização que há entre elas. A todo o momento elas reconstroem e desfazem suas redes de relações e apresentam uma constante mobilidade por países, estados, cidades e residências na região. Mover-se faz parte da construção de sua identidade e composição de sua sociabilidade. Essa flexibilidade se apresenta também pelo fato de muitas usarem a prostituição como meio de renda. As travestis no Vale do Mamanguape vão construindo suas identidades, muitas vezes, a partir de uma auto-orientação e depois com a ajuda de amigas mais velhas transformam-se em travestis. Para essas pessoas, a subjetividade feminina se expressa por meio de uma estética própria, com muitas curvas e roupas provocantes. Mas isso não é uma regra aplicada à todas, pois há as que se reconhecem como travestis sem abrir mão da sua subjetividade masculina, mantendo esporadicamente desejos e relações até mesmo sexuais com mulheres e buscando uma matriz heterossexual em suas práticas e visões de mundo. Esta pesquisa está incluída em um projeto temático, “Entre campos, mares e trajetos: experimentos etnográficos no Litoral Norte da Paraíba”, coordenado pela Profª. Dra. Silvana de Souza Nascimento, da área de Antropologia do Campus IV da UFPB em Rio Tinto, que tem como propósito construir etnografias sobre a configuração de suas cidades, municípios e a multiplicidade de gênero, étnica e cultural de sua população.

3- “Casar”, “ficar”, “pegar”: considerações acerca dos arranjos conjugais e parentais homossexuais na era das políticas de reconhecimento (Piauí e Maranhão)

Fabiano de Souza Gontijo (UFPI)

Com as grandes transformações culturais dos últimos anos, a homossexualidade vem deixando de ser considerada, oficialmente, pecado, crime, sem-vergonhice ou doença e os relacionamentos entre pessoas de mesmo sexo já não chocam a opinião pública como no passado. Em Teresina, Piauí, e em São Luís, Maranhão, pode-se perceber, servindo-se da “cena gay” como mediadora, uma grande contradição entre dois modelos de relações sociais, um mais “tradicional” e um mais “moderno”. Teresina e São Luís, como centros urbanos periféricos, foram tomadas como referências de base na tentativa de compreender essas transformações e seus efeitos na estruturação de novos arranjos conjugais, parentais e afetivos (homossexuais) brasileiros. Trata-se aqui de apresentar considerações acerca do universo simbólico, socialmente construído e culturalmente formulado, que serve de referência para a construção desses novos arranjos a partir de pesquisa realizada entre 2008 e 2011 nas capitais piauiense e maranhense.

4- Os aparatos públicos de apoio às mulheres vítimas de violência

Joselina da Silva (UFC – Campus Cariri)Nicácia Lina do Carmo (UFC – Campus Cariri)

Relata sobre a violência contra mulher e os aparatos que apoiam essas vitimadas em três cidades da região do Cariri, Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. Constitui um mapeamento das instituições públicas que atuam no apoio às mulheres vítimas de violência, nas três cidades já supracitadas. Este

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trabalho norteia-se por uma revisão bibliográfica e entrevistas realizadas nos aparatos das respectivas cidades selecionadas. O universo de estudo tem como delimitação observar as ações e atribuições dos diversos aparatos oficiais de apoio às mulheres vitimadas por violências e o cumprimento das mesmas. Nosso campo de observação se estrutura a partir da análise dos dados disponibilizados pelos setores púbicos que atuam em prol dessas mulheres. Apresenta análises iniciais a partir dos dados coletados nas Delegacias da Mulher, Juizado e Conselhos da Mulher, das cidades mencionadas.

5- Espaços cotidianos: imigrantes portugueses e descendentes de africanos

Maria Manuela Alves Maia (Mackenzie-Rio)

Este estudo analisa relações entre brancos e negros dentro do espaço cultural hierarquizante do Rio de Janeiro. Parte de histórias de vida de imigrantes portugueses que, através da construção de memórias, definem analogias sui generis que remontam à ficção vivenciada ao fim da sociedade escravocrata, século XIX, por Aluísio Azevedo no célebre romance O Cortiço. Comparando as narrativas da história de persona-gens dos cortiços do séc. XIX com as narrativas de imigrantes que se estabelecem em caráter definitivo no período entre a Segunda Guerra mundial e 1974, estabelece três dimensões: num primeiro momento registra os encontros culturais, o segundo as relações de amizade e por fim, as associações pragmáticas que sem serem unilaterais, tornam-se importantes formas de resistência cultural. Neste sentido, pode-se pensar como essas relações contribuíram para a fixação e integração dos imigrantes portugueses em solo brasileiro. Para análise usamos a História Oral, como uma metodologia que mostra que a mudança de um país a outro fez com que os sujeitos criassem outras estratégias de (re) organização de vida: projetos, valores, hábitos, atitudes, sonhos, objetivos e conflitos provocados pelos processos de incorporação sócio-cultural, especialmente a forma de inserção de portugueses e negros no mercado de trabalho.

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SESSÃO II- INTERSEÇÕES DE GÊNERO, RAÇA E MOVIMENTOS SOCIAIS: OLHARES SOBRE AS POPULAÇÕES DA FLORESTA E DOS RIOS

1- Os Tupinambás da Serra do Padeiro: canais espirituais na luta pela terraHelen Catalina (UFPB)

A comunidade indígena da Serra do Padeiro situa-se no extremo sul do Estado da Bahia e compõe uma das vinte e duas comunidades Tupinambá da região. Ela se tornou conhecida pela sua religiosidade e estratégias políticas diferenciadas das outras comunidades do referido território, com relação à luta pela terra. A sua forma particular de resistência caracteriza-se por freqüentes Retomadas, que se constituem na “re-apropriação” do território pelos índios. Um dos elementos principais da sua religiosidade é a incorporação de Encantados (entidades que orientam a comunidade no cotidiano e na luta pela terra). Observamos que são as mulheres que têm um maior desempenho nas práticas religiosas, atuando como os principais veículos dos Encantados. Argumentaremos, portanto, que as relações de gênero na comunidade não se configuram em dominação, mas em complementaridade, mostrando, por exemplo, que a mulher transita em todos os âmbitos, tendo uma relação central com o território e os Encantados.

2- A casa de farinha como “lugar e espaço” da organização Social e política das mulheres da floresta

Márcia Maria Oliveira (UFAM)

A pesquisa “tecendo os fios da agricultura familiar com o gênero e o meio ambiente em duas comunidades amazônicas: o ethos das mulheres da floresta” realizada entre 2009 e 2011 nas

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comunidades N. S. de Nazaré do Barro Alto e Izidoro, localizadas no interior do Município de Coari no Amazonas, revelam que a Casa de Farinha é um espaço privilegiado da organização social e política das Mulheres da Floresta. As comunidades possuem uma dinâmica interna de organização e participação política interligada pela agricultura familiar, onde a produção de farinha se constitui como a principal atividade econômica. Considerando as diferenças e astensões nas relações de gênero, a Casa de Farinha é um espaço sociopolítico e antropológico criado e recriado pelas mulheres que estabelecem uma analogia de respeito e responsabilidade com o meio ambiente numa relação de uso responsável e sustentável dos recursos. É um lugar de debate permanente, de articulação, de construção cultural e identitária.

3- A indústria cultural e a narrativa amazônica: diálogos e analogias sobre as influências midiáticas na (de) formação do imaginário da criança ribeirinha

Marcos Afonso Dutra: (UFAM)

A região amazônica representa para o cenário global o berço da biodiversidade como a maior bacia hidrográfica do mundo: rios caudalosos, exuberância florística e fuanística e sobretudo um acentuado mapa da diversidade sócio-cultural. Para além das questões geopolíticas este trabalho tem como objetivo dialogar sobre as influências da indústria cultural na formação do imaginário da criança ribeirinha através da narrativa amazônica. Entendemos como imaginário os processos cognitivos pelos quais a mente da criança se apropria do mundo que o cerca, tais processos estão subjacentes no seu contexto sócio cultural, nas atividades praticadas no cotidiano e em toda relação travada entre a criança, a família e o todo o entorno que o cerca. Concordamos com o que diz François Laplantine: “O processo do imaginário constitui-se da relação entre o sujeito e o objeto que percorre desde o real, que aparece ao sujeito figurado em imagens, até a representação possível do real.” Trata-se de um tema amplo e inesgotável que se justifica através da relevância da região amazônica brasileira e os diálogos travados neste contexto por conta da diversidade cultural: as manifestações, narrativas, linguagens, simbolismos (significantes e significados) e as representações sociais. De acordo com Geertz (1989) a cultura não é um poder, algo que pode ser atribuído casualmente a acontecimentos sociais, é um contexto dentro de um universo compreensível, algo dentro do qual eles podem ser descritos com intensidade. Por conta deste cenário cabe ressaltar a influência predominante da cultura na formação da personalidade do caboclo, com destaque especial para a formação do imaginário da criança ribeirinha, manifestado através da narrativa amazônica: a lenda, o mito presente na vida desta criança. Para João de Jesus Loureiro “A cultura amazônica onde predomina a motivação de origem urbana e ribeirinha, é aquela na qual melhor se expressam mais vivas de mantém as manifestações decorrentes de um imaginário [...]”. Através do estudo da narrativa, pretendemos dialogar sobre um fator presente e determinante na (de) formação do imaginário da criança, ainda que o lócus circundante dela seja as margens dos rios, igarapés e beiradões, pois é lá que a indústria cultural de massa como veículo de comunicação está presente e contribui para tal (de) formação. Nessa perspectiva a narrativa e o os meios de comunicação teriam sua importância assegurada na (de) formação do imaginário da criança na medida em que através de determinado contexto se apropriam das imagens, dos símbolos para a expressar com maior intensidade a cultura local através da das narrativas orais contadas pela comunidade. Portanto, a partir dos argumentos acima expostos este trabalho se debruça sobre o poder da metáfora: as interseções e dissonâncias sobre as influencias da indústria cultural na construção do imaginário da criança através da narrativa amazônica.

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SESSÃO III- INTERSEÇÕES DE GÊNERO, RAÇA E MOVIMENTOS SOCIAIS

1- O feminino em Branco e Preto: imagens da mulher negra na escravidão brasileira

Ana Ligia Muniz Rodrigues (UFPB)

O cinema é um importante meio de propagação de representações no nosso país. Neste sentido, reconhecendo que a identidade nacional brasileira é tradicionalmente vinculada á tensões raciais e á opressão de gênero este trabalho produz uma reflexão acerca desses conflitos em dois filmes específicos: Sinhá Moça (1953) e Xica da Silva (1976). As duas obras foram selecionadas por apresentarem o universo feminino como tema central, no entanto representando visões antagônicas do que é ser mulher negra na sociedade escravocrata brasileira.

2- A identidade étnica-racial: as articulações do Fórum de Juventude Negra e suas implicações em âmbito nacional e internacional

Joyce Amâncio de Aquino Alves (UFCG)

O presente trabalho objetiva apresentar a discussão sobre a identidade étnica-racial, buscando analisar as ações do Fórum Nacional de Juventude Negra (FONAJUNE) que se articula através de diálogos, interação e aglutinação de grupos, movimentos, organizações, articulações de juventude negra e demais jovens negros (as) interessados(as) na organização e articulação nacional desta juventude, com perspectivas de ação e intervenção social. O FONAJUNE é estruturado a partir de Fóruns Estaduais de Juventude Negra para firmar-se como uma articulação nacional e com organizações de juventude negra de 15 países das Américas A iniciativa visa manter uma interação permanente entre os (as) jovens negros (as), de forma a esclarecer temáticas, possibilitar o amadurecimento de ideias e argumentos, a geração de conhecimentos, o estímulo à participação cidadã, o protagonismo e o empoderamento juvenil negro. Dessa forma, essa pesquisa se realiza através de análise de material bibliográfico e de dados que demonstrem como se dá a atuação do FONAJUNE no espaço nacional e internacional na formulação do pensamento da militância étnico-racial.

3- A construção da responsabilidade social universitária: o papel UFC – Cariri e do Curso de Biblioteconomia

Elieny do Nascimento Silva (UFC – Campus Cariri)Joana Coeli Garcia Ribeiro (UFPB)

O estudo da responsabilidade social no contexto das universidades torna possível a inclusão do termo cidadania, como condição básica de ser cidadão. A problemática em discussão centra-se em verificar o papel da UFC-Cariri e do Curso de Biblioteconomia como espaço/processo de construção da Responsabilidade Social Universitária analisando o tripé Ensino, Pesquisa e Extensão frente às novas configurações teóricas e práticas do locus universitário na contemporaneidade, analisando o impacto dos projetos de extensão. Nosso objetivo principal é: Analisar as ações do Programa Iniciativas Negras: trocando experiências sob o enfoque da responsabilidade social universitária; enfatizando a extensão universitária como processo acadêmico perante a realidade local, indispensável na formação do alunado comprometido com a sociedade. Realizaremos uma pesquisa descritiva, de natureza quantitativa e qualitativa, juntamente com um Estudo de Caso. Este trabalho é uma pesquisa em andamento do PPGCI/UFPB.

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4- Movimento de Mulheres Negras Movimento Negro e de Mulheres Negras em Fortaleza: aspectos e olhares sobre a década de oitenta

Joelma Gentil do Nascimento (UFC)

Este artigo objetiva ser uma contribuição acerca da construção do movimento negro contemporâneo no Ceará, evidenciando a capital, na década de oitenta. Consideramos as perspectivas antirracistas e sexistas sob o olhar das mulheres, os relatos de ativistas e documentos produzidos.

5- Interseccionalidade de gênero, classe e raça: uma abordagem comparativa

Carla Ramos (UFOPA)

Entre os anos de 2007 e 2009, o projeto A Comparative Study of Responses to Discrimination by Members of Stigmatized Groups, sob a coordenação da Prof. Michéle Lamont, da universidade de Harvard, organizou um levantamento qualitativo cujo objetivo foi verificar as estratégias utilizadas por indivíduos de grupos estigmatizados frente a situações de discriminação. No Brasil, em parceria com a UFRJ, a equipe de pesquisa realizou 200 entrevistas com moradores da cidade do Rio de Janeiro e região metropolitana, negros (pretos e pardos), divididos por gênero e classe. Como “Classe Média”, reunimos os entrevistados com curso superior trabalhando em ocupações de nível profissional; como “Classe trabalhadora”, os que tinham ensino médio completo e emprego com carteira assinada. Em suas pretenções, esse artigo se insere no âmbito das pesquisas que trabalham a partir da perspectiva da intersecionalidade das categorias gênero, raça e classe dentro de um registro comparatista. Para tanto, vamos analisar as entrevistas realizadas com mulheres, autodeclaradas negras e agrupadas em subcategorias de ocupação/classe, quais sejam “profissionais” (classe média) e “classe trabalhadora”. Enfim, compreendidas como indivíduos estigmatizados sob os registros de gênero, classe e raça, investigaremos as representações que elaboram sobre a sua trajetória e sua condição; as estratégias que costumam acionar em situações de conflito e os seus pontos de vista sobre gênero, classe e raça.

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ANTROPOLOGIA DO SECULARISMO E DA MODERNIDADE RELIGIOSA

A proposta deste Grupo de Trabalho pode ser sintetizada como uma busca pela compreensão dos modos de constituição religiosa da modernidade e de seus efeitos na contemporaneidade. Nosso intuito é alterar a perspectiva que usualmente observa a religião como externa, intrusa e/ou deslocada frente a um processo de crescente secularização por entendermos que essa é uma posição epistemológica entranhada em relações de poder que minimizam o lugar e o sentido da religião. Para tanto, interessa-nos repensar e problematizar categorias usualmente vistas como analíticas: “religião”, “modernidade”, “laicidade”, “secularização”, entre outras. Consideramos que elas não devem ser aplicadas indistintamente a partir de supostos definidos e definitivos a priori, mas sua aplicação remete às configurações históricas e sócio-culturais que as específicas. Ao rediscutir essas categorias, como resultantes do embate histórico que as constituiu legitimamente como tais, bem como em sua utilização pelos agentes sociais envolvidos em controvérsias atuais, ambicionamos ampliar seus sentidos para além das propostas de “secularismo”, “secularização” e “laicidade” que caracterizam a auto afirmação dos sujeitos modernos. Evitar-se-á, nessa direção, partir de uma perspectiva que as tomem como se fossem domínios que se distanciam o tempo todo e/ou como circunscritas e estanques. Sugerimos, portanto, colocar em debate etnográfico os modos de conceber o mundo que são capazes de não antagonizar “modernidade” e “religião”, tendo como referência, por exemplo, pesquisas referidas a controvérsias públicas sobre o (não-)lugar da religião frente à política, à educação, à economia e às ciências humanas, médicas, naturais e biológicas.

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SESSÃO I- POLÍTICA, SECULARISMO, LAICIDADE: ASPECTOS DA MODERNIDADE RELIGIOSA

1- Religião e política

João Roberto Bort Jr. (UNIFESP)

A partir de um objeto empírico, a homologação das terras yanomamis no início da década de 90, penso discutir o papel de “religiosos” na esfera pública. Pois, a que tudo indica, foi decisiva a participação de consolatinos (missionários católicos) nesse processo de homologação. A discussão lança luz sobre as ideias que secularização e laicização da política e também sobre “religião”. O fato de agentes serem oriundos de congregações religiosas permite pensar suas atuações políticas como atuações de religiosos? Ou ainda, a gramática de uma esfera pública historicamente contextualizada impõe elementos às posições políticas desses agentes? A hipótese é de que categorias pensadas como “religiosas” foram eficazes no processo de defesa de homologação das terras desses índios.

2- A pedagogia política de Paulo Freire: notas a partir de seus fundamentos católicos

Eduardo Dullo (MN/UFRJ)

A pedagogia política de Paulo Freire visa a formação de sujeitos capazes de vivenciar uma sociedade democrática. Sua proposta educacional foi amplamente difundida não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Pouco, entretanto, se comenta sobre seus fundamentos católicos. A presente comunicação visa oferecer uma primeira aproximação ao tema, questionando as circunscrições de “religião”, “política” e “ciências humanas”.

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3- O que é Antropologia Missionária?Delcides Marques (Unicamp e UNIVASF)

Trata-se de discutir a utilização da antropologia por parte de missionários protestantes interessados em instrumentalizar a disciplina para a prática missionária por meio das noções de cultura e etnografia, principalmente. Portanto, a proposta de comunicação é de fazer uma aproximação ao modo como a antropologia (cultural) funciona na defesa de uma antropologia missionária (transcultural). Com isso será possível, também, e mesmo que de relance, repensar o não-lugar de uma antropologia aplicada.

4- Debate legislativo sobre aborto: humanidades, direitos, laicidades e constitucionalidades em confronto

Rosana Castro (UnB)

Em discussão a respeito do PL 1135/91 em 2008, opiniões contrárias e favoráveis à descriminalização da interrupção da gestação expuseram seus argumentos, atribuindo diferentes sentidos aos direitos das mulheres e do concepto a partir de distintas concepções de humanidade, direitos humanos, laicidade e constitucionalidade. Explora-se neste trabalho essa diversidade de elementos articulados que compunham os discursos de especialistas, feministas, religiosos e parlamentares, salientando seus contrastes e a interpenetrabilidade das dimensões morais e políticas que permearam tal discussão. O trabalho mostra-se relevante na medida em que o tema do aborto transversalizou-se em diversas disputas a cargos públicos de poder, é pauta urgente nas agendas feminista e religioso-parlamentar e é assunto que articula preocupações antropológicas no nível do corpo, saúde, direitos, religiosidade, moral e política.

5- Modernidade religiosa em dois eixos: o direito e a filosofia na invenção de dispositivos religiosos

Bernardo Curvelano Freire (Unicamp)

Os debates acerca da religião e modernidade são, em geral, pautados pelo enfraquecimento ou pelo estatuto vacilante que o termo passa a incorporar. O fato de que as instituições religiosas passem a serem pautadas por outras estâncias da vida coletiva, como diversos governos e as instituições educacionais (como as universidades) permitem e legitimam a percepção de que o mundo moderno é, de alguma forma, o túmulo do religioso. Ainda que seja possível se contrapor a esta tese, em geral atrelada à do desencantamento do mundo, por via da vertente do re-encantamento, o que proponho é um esboço de investigação de outra sorte. Esta comunicação procura fornecer um mosaico de passagens em que agentes diversos, com vistas na modernidade enquanto projeto político e intelectual, produziram uma nova pauta, a da religião natural, isto é, de que a religião se aproxima do estatuto de faculdade do espírito, e não de providência e chamamento. Para tal, esta comunicação pretende reconstituir duas narrativas paralelas. A primeira, que versa sobre a perda de jurisdição pela Igreja Católica na França do século XVII tal como exposto por Esmein, Mandrou, Ferber, Maire e Hazard. A segunda pretende relacionar, ainda que à distância, alguns episódios do projeto filosófico de projeção de uma narrativa-mestra de uma religião natural, tendo os esboços de David Hume como eixo orbital.

6- A contribuição da sociologia compreensiva de Max Weber para o fenômeno da religião

Roberto Ferreira (UFPE)

Este trabalho pretende discutir a contribuição da sociologia compreensiva, desenvolvida a partir de Max Weber, para a problemática da religiosidade, tendo em vista a importância do tema e as inovações nas formas de abordagem, sobretudo com a teoria interpretava de Clifford Geertz. Dessa forma é possível

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pensar a religião a partir dos significados nativos atribuídos aos signos religiosos. Este trabalho tem por objetivo compreender como se da à formulação da abordagem Weberiana, bem como discutir sua contribuição para as ciências sociais, tendo em vista a importância do tema. Essa forma de abordagem enfoca o processo de racionalização sofrido por a religiosidade, e constrói uma forma de abordagem que possibilitar compreender como o asceticismo histórico da religião Protestante pode esta associada à emergência do capitalismo. Mas a maior contribuição do autor é a forma inovadora de abordagem, pautada em “tipos ideais” e buscando entender o sentido das ações sociais dos sujeitos históricos.

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SESSÃO II- OBSTÁCULOS E IMPEDIMENTOS

1- Buscando “ser”: adesão e transformação carismáticaMarcel Schmitz Gutiá (UFSC)

“A RCC mudou minha vida” “Na RCC eu consegui encontrar coisas mais claras sobre minha fé católica.” “Com a RCC eu tenho sido mais feliz por ser católico.” O “ser carismático” dos interlocutores pesquisados, pertencentes a uma paróquia da grande Florianópolis, levou em contas não só o que passaram a aderir das práticas da RCC, mas o modo que eles mudaram, de alguma forma, sua vida, no âmbito pessoal e social. O objetivo deste trabalho é discutir a maneira de “ser carismáticos” a partir do que os próprios interlocutores sistematizam. Esse estudo tráz algo, talvez, já amplamente discutido nos debates etnográficos, de que não se está em busca do saber do outro, pois o saber já é uma categoria pré-formulada, mas o que se pretende é compreender que o pensamento do “outro” constrói outro mundo, nesse caso tendo como ponto de partida uma adesão a um conjunto de elementos e experiências religiosas que afetaram suas vidas e suas relações cotidianas.

2- Juventude x secularização: devoção, santidade e as novas formas de inserção religiosa juvenil

Silvana Matos (UFPE)

Muito se tem debatido sobre o retorno/recomposição do religioso nas sociedades atuais. Após longos anos, no qual a tendência dominante era observar a religião a partir de processos que findavam necessariamente em secularização, muitos autores se questionam se vivemos de fato num mundo desencantado. Talvez a juventude tenha sido o mais emblemático grupo em que a secularização foi associada. Apesar dos “ventos secularizantes” soprarem mais fortemente entre os jovens, estes são ultimamente responsáveis por boa parte do revigoramento e pluralidade nas formas devocionais do catolicismo. Os dados deste artigo baseiam-se na Beatificação em 2010 de uma jovem leiga italiana que fazia parte do Movimento Juvenil dos Focolares, e na força dos jovens inclusive da América Latina no processo de beatificação. Desde sua morte a busca pela santidade cotidiana faz parte do repertório destes. Este artigo discutirá secularização x reavivamento católico, religiosidade juvenil e novos modelos de santidade.

3- Recomposições do catolicismo contemporâneo na terra Raposa Serra do Sol: religião e política entre os Macuxi

Vângela Maria Isidoro de Morais (UFC e UFR)

Este artigo discute a inserção do catolicismo contemporâneo entre os índios da etnia Macuxi que vivem na comunidade Maturuca, em Roraima. Analisam-se, como objetivo central, as recomposições da ação missionária naquela comunidade, privilegiando como episódio norteador o processo de homologação da Terra Raposa Serra do Sol. Entende-se que a relevância desta pesquisa está na potencial ampliação do

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debate sobre a histórica trajetória de mediação entre missionários e indígenas e o aggiornamento permanente do trabalho religioso. Assim, problematiza-se sobre a Igreja que se transforma junto ao segmento que lhe confere expressão, a inculturação e a contextualização da mensagem cristã, as negociações de sentidos que situam discursos e práticas, notadamente no terreno da organização política dos Macuxi. As bases teórico-metodológicas apóiam-se no repertório das identidades político-religiosas, acionando um conjunto de noções permeáveis, tais como religião, política, cultura e relações de poder.

4- Igrejas Universal do Reino de Deus e Mundial do Poder de Deus: formas híbridas de adequação à modernidade

Jonatas Silva Meneses (UFS)

A secularização tem sido apresentada nos meios acadêmicos como fenômeno opositor das práticas religiosas, ou, pelo menos, na condição de diminuidora dessas ações. Que esse fenômeno precisa ser interpretado como integrante histórico da modernidade, não se discute, contudo, é possível levar em consideração – esse tem sido o debate – a maior ou menor intensidade da sua ação nos diversos contextos sociais. É possível pensar nos efeitos da secularização na modernidade, mas, ainda assim, a religião tem mantido os seus espaços de atuação, e, em algumas regiões, até ampliado. O Brasil tem sido uma dessas regiões onde o fenômeno religioso tem se consolidado, se diversificado e ampliado as suas formas de interação com o indivíduo e com a sociedade. O neopentecostalismo é indicado neste texto na perspectiva de grupo mais atuante e representativo do campo religioso brasileiro contemporâneo. A Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus, representantes do neopentecostalismo, são protagonistas deste momento, por apresentarem as características do hibridismo que envolve a secularização e os fenômenos religiosos, apresentados em oposição à modernidade secularizada. Este artigo analisa o hibridismo desses grupos e a possível ambiguidade das suas relações com a modernidade.

5- Antropologia e bioética: o dilema da recusa de transfusão sanguínea por pacientes Testemunhas de Jeová no Brasil

Queise Hellen Luz Ramos (UFPA)

Esta pesquisa trata da recusa de transfusão sanguínea por pacientes Testemunhas de Jeová, tema bastante discutido nas áreas de Medicina e Direito revelando uma série de eventos conflituosos. Assim, pretende-se, a partir das contribuições da Antropologia referentes à saúde e à religião, dialogar com a temática e com os princípios bioéticos; mostrar a relevância das construções sócio-culturais de cada grupo; analisar os conflitos gerados pelos atores em questão, bem como discutir a pertinência do respeito à diversidade e Direitos Humanos.

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SESSÃO III- RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS

1- Tradição e legitimidade: divisão socioespacial na festa de São José em Bonsucesso

Antonio George Lopes Paulino (UFC)

Em Fortaleza, no bairro Bonsucesso, ocorre um interessante fenômeno social. São José, padroeiro do Ceará, celebrado em diversas localidades do estado, é festejado também ali há, aproximadamente, oitenta anos. Os festejos tiveram origem em práticas do catolicismo popular, marcando a tradição de um espaço rústico conhecido como capelinha de São José. Nos anos 1980, um templo oficial da igreja católica dedicado a São José Operário foi edificado no bairro. Desde então, no dia 19 de março duas

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procissões ocorrem em Bonsucesso, configurando uma divisão socioespacial. Duas imagens constituem o cenário: de um lado, a “procissão dos antigos”, legitimada pela força do catolicismo popular, mas não reconhecida pelas lideranças do templo oficial; de outro lado, a procissão de São José Operário, ordenada e resguardada conforme a liturgia oficial da igreja católica. Através da observação etnográfica, busco compreender os elementos de tensão e conflito que permeiam essa divisão, atentando para o componente político que atravessa o fenômeno estudado nesta pesquisa e para as forças simbólicas que se manifestam em relatos, memórias e percepções plurais.

2- A Cultura Racional e o universo em desencanto – a experiência etnográfica em Natal- RN

Alire Cristina Cavalcante Modesto da Silva (UFCG)

Realizei uma pesquisa etnográfica com o grupo Racional em Natal, Rio Grande do Norte, este se concentra todas as quintas feiras na Praça Pedro Velho, mais conhecida como Praça Cívica, localizada na Cidade Alta, centro da cidade. A exposição de paineis na praça faz parte das chamadas Divulgações Racionais onde eles se dispõem a dá explicações sobre a Cultura Racional as pessoas que frequentam aquele espaço. Outra forma de propagação do conhecimento ocorre através das Caravanas Racionais, onde eles saem pelos bairros da cidade levando o conhecimento porta a porta, essa ação acontece aos domingos. Observando – a partir do fazer etnográfico – a postura dos racionais frente às práticas religiosas que caracterizam o grupo e determinam a criação da identidade racional, ressalto a necessidade de analisar como se processa a afirmação desse grupo avesso à classificação de se construir como religião

3- Relações entre esfera pública e religião

Leonardo Siqueira Antonio (UNIFESP)

A atuação de denominações religiosas, sobretudo as pentecostais, nos meios de comunicação de massa repõem a clássica questão da relação entre religião e modernidade/secularização. Este debate nos coloca frente a novos desafios analíticos metodológicos. Sugerimos um deslocamento da problematização de influência weberiana baseada no binômio “encantamento” e “desencantamento do mundo” para uma abordagem que não toma como dado a priore os temas e os atores presentes na esfera pública. O presente trabalho pretende refletir sobre a concepção do conceito de esfera pública e sua relação com a religião a partir da presença de denominações religiosas nos meios de comunicação de massa, principalmente a televisão. Analisaremos os diversos modelos de esfera pública, através do trabalho de Sergio Costa (2002) As Cores de Ercília : esfera pública, democracia, configurações pós-nacionais. A interpretação será centrada no papel exercido pelos meios de comunicação na esfera pública; se os meios de comunicação abarcam todo o conjunto da esfera pública, substituindo o público pelo publicitário, impossibilitando o entendimento comunicativo; ou se, apesar de hegemônicos os meios de comunicação não abarcam toda a esfera pública, pois houve um processo de criação de novos públicos e mídias. Este trabalho analítico-conceitual tem por objetivo arregimentar ferramentas para a análise de um estudo de caso, o programa Fala que eu te escuto da Igreja Universal do Reino de Deus. A partir de diálogo teórico com Jurgen Habermas pretendemos analisar os argumentos presentes no programa para opinar publicamente, trata-se de compreender, através de uma análise sistemática dos discursos, a gramática, a argumentação e a produção de sentidos que eles colocam em circulação no espaço público e avaliar sua capacidade de persuasão.

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4- O pluralismo religioso e a “cultura da paz”: uma experiênciaRosa Maria de Aquino (UFRPE)

O pertencimento a uma identidade religiosa fixa parece não fazer parte da preocupação dos que integram o grupo, foco desta pesquisa. Os primeiros contatos mantidos deixam transparecer uma convivência religiosa pacífica, com suas especificidades respeitadas e com claras orientações para a aceitação da diversidade e da construção de uma “nova ética comunitária” que caminha para uma “cultura da paz”, como afirmou um dos líderes. A razão principal da existência daquele grupo, segundo um interlocutor, é a construção da paz pela inserção na sociedade do ser humano antes à margem, contribuindo, assim para a construção de um ser humano melhor. Nessa construção inclui-se a prática de uma espiritualidade que se desvincula das tendências religiosas tradicionais e institucionalizadas e busca o seu próprio caminho seja de modo ressignificado seja de modo talvez até mesmo descaracterizado. De fato, o que se observa é que a ênfase está na prática da espiritualidade que, ao lado de projetos sociais, dinamiza a tentativa de mudança pessoal e social. Alguns autores identificam nessa postura um distanciamento ou um frágil pertencimento desses crentes relativo às suas religiões de origem, institucionalizadas. Isto possibilita ao sujeito escolher o que lhe convém, sem prestar contas às instituições. Busco, pois, com esta pesquisa atingir dois objetivos: i) compreender a experiência entre os adeptos de diversas tendências religiosas presentes em um mesmo espaço físico sem que aparentemente haja conflitos e ii) compreender as influências recíprocas que possam existir entre as tendências religiosas e os projetos sociais que dinamizam as relações sócio-culturais da comunidade em estudo.

5- “Não é uma grande confusão, isso é uma grande unidade”: espiritualidade terapêutica e modernidade religiosa em espaços terapêuticos alternativos de Belém do Pará

Breno Sales (UFPA)

Trata-se de um estudo sobre a configuração social das terapias alternativas em Belém, tendo como foco duas dimensões básicas: uma espacial e outra discursiva. A dimensão espacial é abordada através de observações diretas em três espaços terapêuticos alternativos, procurando inferir sobre a disposição dos espaços na paisagem da cidade e relacionar sua gerência e arquitetura a um "ethos terapêutico" cuja fugacidade, hibridismo e busca de sentido marcam as expressões religiosas de uma modernidade inconclusa. Por outro lado, a dimensão discursiva é analisada a partir de conversas informais e entrevistas semi-dirigidas realizadas com nove terapeutas alternativos, de onde foi possível extrair temas que indicam as ênfases experiencial, comunitária e sintetizadora que caracterizam os perfis espiritualizantes dos sujeitos da pesquisa.

6- Igreja Adventista do Sétimo Dia: Movimento religioso da modernidade

Ismael Fuckner (IFP e UFPA)

O objetivo desta comunicação é discutir parte de minha dissertação de mestrado e alguns pontos de meu projeto de doutorado que buscará mostrar de que forma os adventistas demonstram sua fidelidade aos princípios fundantes de sua identidade marcadamente moderna num tempo que muitos teóricos já chamam de pós-moderno. O movimento adventista surgiu nos Estados Unidos em meados do século XIX, mas foi implantado no Brasil no início do século XX e apenas a partir da década de 70 tem sido produzidas pesquisas que abrangem temas peculiares às próprias especificidades de sua cosmovisão. Esses trabalhos universitários mostram que os adventistas do sétimo dia consideram-se portadores de uma verdade salvadora que deve ser pregada a todas as pessoas, inclusive aos cristãos de outras denominações, e esperam que todos se definam como adventistas antes do retorno de Cristo e

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do julgamento final de todos os seres humanos. Este tipo de exclusivismo é considerado por Pierre Sanchis como uma característica marcante das religiões modernas, pois o autor entende que a modernidade traz consigo a emergência de definição, de ser fiel a um grupo exclusivo. Com o objetivo de expandir suas crenças e modos de vida os adventistas criaram uma sólida estrutura burocrática de grande articulação com o sistema capitalista estadunidense e brasileiro e defendem o uso racional dos dízimos na manutenção dos pastores e das ofertas em empreendimentos no campo educacional e na construção de hospitais e clínicas, além da edificação de templos e divulgação de literatura denominacional. São marcas identitárias dos adventistas, entre outras, os cuidados com a saúde, a preocupação com o uso do tempo e do dinheiro e na manutenção do sábado como um dia de descanso das atividades cotidianas. Estes princípios fazem parte de um conceito mais amplo que os adventistas denominam de mordomia. Esses religiosos creem que seu criador os colocou na Terra como administradores de tudo que originalmente pertencia a ele. Weber, ao comentar a respeito do protestantismo ascético, forjado na Modernidade, diz que, segundo esse conjunto de crenças, o homem é apenas um guardião dos bens que lhe foram confiados pela graça de Deus aos quais se subordina como administrador. É meu objetivo colocar em discussão as ressignificações produzidas pelos adventistas em solo brasileiro de tradições herdadas dessas reformas protestantes.

Pôster 1: Globalização do pentecostalismo: Novas abordagens e o papel do líder carismático na expansão pentecostal

Cleonardo Torres (UFPE)

O pentecostalismo tem se espalhado rapidamente pelo mundo e pode ser considerado como uma das grandes histórias de sucesso da atual era da globalização cultural. As teorias que tentam explicar esta expansão giram em torno, geralmente, de argumentos que enfatizam o papel da anomia e das privações em promover o crescimento de movimentos religiosos extáticos. Pretendo trazer aspectos omitidos por esta abordagem, que são, porém, indispensáveis para entendermos a globalização do pentecostalismo: o papel da própria cultura pentecostal nesta expansão. Além disso, pretendo revelar o papel dos líderes carismáticos na globalização pentecostal ao analisar como compartilham e expandem seu carisma entre os fiéis. Tomo como exemplo a performance do Pr. Silas Malafaia, utilizando dados obtidos em pesquisa de campo realizada no Congresso de Avivamento Despertai, protagonizado por Malafaia em Recife.

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Gt20- POLÍTICAS ETNOEDUCACIONAIS E IDENTIDADES NA PAN-AMAZÔNIA: FRONTEIRA, PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E CONSUMO

Observa-se que em contextos de fronteiras e transnacionalidade as populações convivem, negociam, se relacionam com grupos diferenciados e buscam soluções para questões que envolvem identidade, línguas, culturas, saberes, adequação aos modos de produção exigidos pelo mercado. Nesse processo, criam estratégias para atender às suas demandas junto ao Estado e à sociedade mais ampla. Nesse GT são esperados trabalhos que discutam questões relativas à educação para grupos étnicos, migrantes, deslocados, refugiados e outras populações que estão em movimento. Também serão benvindos trabalhos que tratem de questões relativas à forma como esses grupos vivenciam a produção, circulação e consumo, em diferentes mercados ou espaços de interação e trocas, e seus desdobramentos em fronteiras na Pan-Amazônia.

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SESSÃO I- EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

1- Territórios Etnoeducacionais, povos indígenas e identidade: os Tembé-Tenetehara

Eneida Corrêa de Assis (FCS/PPGCP-UFPA)

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a proposta do MEC denominada Territórios Etnoeducacionais, visto como meio de articulação com diversos órgãos públicos para o atendimento da educação escolar indígena, considerando as peculiaridades de cada povo. Os Territórios Etnoeducacionais, enquanto ferramenta de gestão pública, busca contornar problemas enfrentados por muitos povos indígenas que habitam territórios que abrangem dois ou mais estados e que estão, algumas vezes, em Terras Indígenas diferentes. O percurso de Pactuação de cada Território expressa a dinâmica política, indígena e indigenista local. O estudo tem por base a pesquisa realizada pelo Observatório de Educação Escolar Indígena dos Territórios Etnoeducacionais Amazônicos, no qual os Tembé-Tenetehara são um dos povos estudados. 2- Arte, artefato: os diversos caminhos do comércio de cultura material indígena. Experiências Ka'apor e Kaiapó

Cláudia López Garcés (MPEG)Pascale de Robert (MPEG)

Sol Elizabeth Gonzalez Pérez (MPEG)

Para muitos povos indígenas da Amazônia a comercialização de objetos da sua cultura material se apresenta como uma renda importante, especialistas e famílias das aldeias dedicam parte do seu tempo a elaborar artefatos especificamente para este fim. Desde a elaboração, até a entrega à sociedade não indígena, são diversos os caminhos destes. Percebe-se a necessidade de articular uma relação com o mercado que vá às esferas regionais, encontrando-se ainda muitas dificuldades para abrir espaço à produção artística indígena. Considerando os contextos etnográficos dos indígenas Kayapó e Ka´apor, se discutem os processos de produção, intercâmbio e comercialização da cultura material indígena quando implementados desde a lógica capitalista e de acordo com os valores das sociedades não indígenas, e os possíveis efeitos das perspectivas jurídicas que propõem re-valorizar e proteger a cultura material indígena e o meio ambiente provedor das matérias-primas, o que paradoxalmente pode levar a desentendimentos e prejudicar as próprias iniciativas indígenas na hora de se inserir nos mercados.

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3- Educação Escolar IndígenaRicardo da Silva Rodrigues (FSC/UFPA e DPU-RO)

O trabalho desenvolvido no Observatório da Educação Escolar Indígena da UFPA fez estudo de trajetórias escolares de alunos indígenas no Estado do Pará. A coleta de informações para compor os dados quantitativos, foi feita através dos dados do INEP de 1999-2005 e da SEDUC de 1999-2009. Os dados qualitativos foram obtidos mediante entrevistas sobre as trajetórias escolares com professores indígenas e não indígenas, técnicos de educação, e alunos indígenas. Foi constatado que, entre 1999-2005, o número de escolas indígena cresceu no Brasil e no Pará. Esta educação está concentrada nas séries iniciais, tanto no país quanto no Pará, provocando a retenção involuntária do aluno no sistema de ensino. Assim, a migração de indígenas para as cidades é elemento constituinte da trajetória escolar indígena. Verificou-se dois movimentos de educação escolar indígena, um que chega até as aldeias, através de escolas Municipais e Estaduais, e outro de indivíduos indígenas que saem em busca de escolarização.

4- Entre diálogos e descontinuidades: trajetos etnográficos sobre a Educação Escolar Ka'apor

Raquel Cunha de Oliveira (PPGCS/UFPA)

Este trabalho visa rememorar o processo de construção da educação escolar do grupo étnico Ka'apor (Reserva do Alto Turiaçú – PA/MA) no período que vai da década de 70 até a reabertura democrática. É através do recurso de evocação das memórias de agentes da esfera burocrática, envolvidos no processo de institucionalização da educação Ka'apor, que é alicerçada a pesquisa etnográfica deste trabalho.Os dados que alicerçam este trabalho advém de etnografia realizada junto aos órgãos indigenistas oficiais, em entrevistas com interlocutores da esfera burocrática dialogadas com os documentos oficiais destas instâncias, e que contribuem para compreender o processo de formalização da educação escolar entre os Ka'apor. A relevância deste trabalho é contribuir para a construção de projetos etnoeducacionais na Amazônia Oriental Tupi. Uma vez, que é através do Decreto 6.861, os Territórios Etnoeducacionais são outorgados pelo Estado Brasileiro às populações Indígenas. Desta forma, pensar na reformulação de olhares mediante a análise histórica das mesmas poderá contribuir para que o Ministério da Educação construa um diálogo junto a esta Nação Indígena.

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SESSÃO II- MERCADOS INTERCULTURAIS

1- Portos e feiras, fronteiras e mediações em espaço urbano

Carmem Izabel Rodrigues (FCS/PPGCS-UFPA);Luciana Almeida Wilm (PPGCS-UFPA)Marcos Trindade Borges (PPGCS/UFPA); Abraão José Coelho de Moraes (PPGCS/UFPA)

Este trabalho busca mapear relações comerciais estabelecidas em portos e feiras localizados ao longo do rio Guamá, no bairro do Jurunas, em Belém. Pretende cobrir atividades comerciais, formais ou informais, estabelecidas entre comerciantes e feirantes locais que adquirem seus produtos, direta ou indiretamente, de produtores rurais e/ou ribeirinhos das ilhas e cidades próximas, que circulam pelo rio ou por estradas, trazidos por intermediários ou pelos próprios produtores. Enfatiza relações comerciais tributárias das relações sociais e das mediações culturais presentes nesses espaços de intercruzamento de tradições e inovações, de práticas e sociabilidades urbanas e ribeirinhas. A forte presença de práticas comerciais mediadas por relações sociais mais amplas, baseadas em vínculos pessoais, redes de interconhecimento e trocas de favores e serviços, reproduzem, nestes espaços específicos, práticas culturais tradicionais que associam formas de sociabilidade ribeirinha a espaços urbanos como o Jurunas, visto por muitos de seus moradores como um lugar de fronteira entre a cidade e o rio.

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2- A dualidade da despersonalização no consumo e a dualidade do habitus no Brasil

Paolo Totaro (UNISINOS)

As teorias do marketing destacaram o papel da despersonalização no comportamento do consumidor: passando de “velhos” para “novos” produtos, o consumidor alcança a superação da despersonalização. Mas, na base de nosso estudo empírico, defendemos que a despersonalização atua no consumo conforme uma dualidade desconsiderada pelo marketing. Ela, de um lado, pode significar perda de marcos distintivos, mas, de outro, pode significar des-personalização, no sentido de um deslocamento do “eu” num “nós” comunitário. Em países socialmente bipolarizados, essa dualidade da despersonalização parece estar se catalisando ao redor dos pólos sociais. No Brasil, de um lado, há um “habitus primário” (a “cidadania”); de outro, um “habitus precário” (resultado residual do habitus primário). O consumo – por aquela segunda vertente da despersonalização e em sinergia com a tecnologia e o resgate da tradição – está a transformar o habitus precário em uma formação cultural autônoma e não residual.

3- Feiras ribeirinhas na Amazônia: uma possibilidade para a compreensão da diversidade territorial

Marcos Alexandre Pimentel da Silva (FG/Marabá-UFPA)

Tendo em vista a categoria da diversidade, buscamos analisar o papel das feiras ribeirinhas enquanto espaço de circulação/consumo e de interculturalidade. Para isso, procedemos a uma revisão de pesquisas anteriormente realizadas, tais como: (a) a análise da identidade ribeirinha em contexto urbano, a partir do Porto da Palha em Belém-PA; (b) o papel das feiras e as mudanças e permanências do Baixo Tocantins-PA; e (c) a relação interior rural-cidade desde as feiras ribeirinhas de Macapá-AP. Dessa forma, pode-se observar que: (a) a lógica que define a circulação e distribuição e garante a permanência de uma economia de abastecimento na cidade desde as feiras, é uma lógica de (sobre)vivência; (b) as trocas que constituem a circulação a partir desses espaços são construídas ao lado de encontros diversos e de sociabilidades específicas relativas às suas histórias locais; (c) a espacialidade dessas feiras revela uma constante transformação a partir do encontro intercultural de práticas herdadas do passado e de inovações sociais contemporâneas; e (d) a forma e a extensão das relações socioespaciais processadas por esses espaços fazem da feira ribeirinha um locus de integração, circularidade e de atualização do urbano e do rural na Amazônia. Com efeito, a importância dessa temática reside no fato de as feiras ribeirinhas se apresentarem como uma possibilidade de análise e de descrição da diversidade territorial na Amazônia. Constituem-se em espaços importantes de reconhecimento e de afirmação de práticas sociais que questionam e negociam ideias amplamente difundidas a respeito de relações de mercado, produção, circulação e consumo.

4- A construção de um mercado no mercado: o caso de “Vivi Balôn”

Vanessa Durando (UFPR)

O Balôn é uma feira alocada em Torino (Itália). Caracterizada por dinâmicas informais, em 1995 passou por um processo de “requalificação” urbana, que envolveu políticas de “reordenamento” dos espaços empreendidas pela Prefeitura. A promulgação da lei Bersani, que exigia a atuação dos vendedores com licença profissional, contribuiu ao processo, levando à intervenção dos Órgãos de Segurança Pública, que passaram a inviabilizar o trabalho de um grupo de comerciantes, tidos, nessa nova situação, como “ilegais”. Neste artigo vou etnografar as consequências dessas disposições normativas “na praça”, que desembocaram, através de embates e negociações, na formalização deste grupo e na criação de um novo espaço comercial dentro da feira. Este estudo de caso contribui à discussão sobre a relação entre

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mercados de rua e Estado, informalidade e políticas públicas, mostrando as estratégias de atuação e dinâmicas de mediação exercidas de um lado pelo grupo de comerciantes e do outro pela Prefeitura.

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SESSÃO III- FRONTEIRAS E IDENTIDADES

1- Transmissão de patrimônio: barracas e saberes no Mercado do Ver-o-Peso

Suellen Nascimento dos Santos (FSC/UFPA)Wilma Marques Leitão (FCS/UFPA)

A partir da análise das relações e práticas sociais entre feirantes do Ver- o- Peso, no que se refere às formas de transição das barracas, pretendemos identificar alguns aspectos das exigências e competências para a inserção no mundo do trabalho neste mercado. O Decreto municipal nº39.326/2001 e a SECON atuam como órgãos fiscalizadores nos procedimentos de ingresso de trabalhadores na feira. Todavia, através da pesquisa etnográfica, percebemos que a transição das barracas e espaços está, na maioria das vezes, relacionada a laços de parentesco, seja dentro da família, através das gerações, seja pela “passagem” ou venda da barraca, que geralmente ocorre entre amigos ou vizinhos. O acesso ao espaço físico na feira é condição fundamental, mas não exclusiva, para a efetivação da transmissão, pois percebemos uma série de competências que são exigidas como conhecer a qualidade do produto, as características dos processos de comercialização e a dinâmica de funcionamento no próprio Ver-o-Peso.

2- Etnografia de uma feira livre em Belém do Pará: consumo e/ou circulação de produtos na Feira do Açaí e seus desdobramentos em temporalidades múltiplas

Josias de Souza Sales (PPGA-UFAM)

Localizada no centro da cidade de Belém (Pará-Brasil) e considerada a maior feira livre da América Latina, o Conjunto do Ver o Peso foi tombado pelo IPHAN em 09 de novembro de 1977 e, contemporaneamente, é mais (re)conhecido como Complexo do Ver o Peso, Feira do Ver o Peso e/ou, simplesmente, Ver o Peso. Partindo destas premissas e tendo como recorte espacial a Feira do Açai, um dos setores que constitui o referido complexo, esta comunicação pretende demonstrar a inter-relação entre a circulação e/ou consumo de diversos tipos de produtos e as diferentes temporalidades nas quais a Feira do Açai está inserida. Tal estudo é importante para compreender a dinâmica cotidiana neste local que se constitui enquanto uma faixa de incorporação entre os espaços “urbano” e “rural”, na qual, cotidianamente, os diversos atores que a frequentam configuram, entre si, relações de sociabilidades.

3- Construindo identidades em fronteiras: notas etnográficas sobre experiências de travessias de migrantes brasileiros em situação clandestina na Guiana Francesa

Rosiane Ferreira Martins (UFPA)

Os migrantes carregam consigo suas línguas, culturas, etnicidades e identidades; contribuem para transformações nas sociedades para onde se deslocam. Caribenhos, asiáticos, africanos e sul-americanos vivem na Guiana Francesa, muitos em situação clandestina; enfrentam várias travessias; experiências que envolvem anseios e tensões, nas quais encontram novas perspectivas e situações. A sua presença provoca diferentes questões, dentre as quais a construção de fronteiras e identidades expressivas dos diversos e diferentes fluxos. O objetivo deste trabalho é analisar como as fronteiras

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atravessadas contribuem para a construção de identidades no DUF. Elencam-se relações sociais estabelecidas, onde as territorialidades contribuem para a criação de diferentes identidades tecidas em espaços de trabalho, moradia e lazer. Apóio-me na observação etnográfica para compreender práticas cotidianas que revelem negociações e estratégias dos migrantes nesse território da França nas bordas da Amazônia.

4- A casa de Afuá: o estilo arquitetônico de uma cidade sobre palafitas

Claudia Suely dos Anjos Palheta (ETDUFPA e PPGARTES/ICA-UFPA)

Afuá, localizada ao norte da ilha do Marajó, apresenta, como muitas cidades ribeirinhas da Amazônia, uma paisagem natural, transformada pelo modo de vida de seus habitantes, onde se destacam suas casas de madeira, em um jogo de formas caprichadas e uma paleta de cores fortes, que chamam atenção em meio a essa paisagem. As casas de Afuá, cujo estilo arquitetônico é objeto deste estudo, destacam-se pelo uso de materiais e tecnologias da região amazônica, duram o tempo que a natureza permitir e são reconstruídas quando necessário e “atualizadas” em criativos projetos da própria região. A relação dos moradores com suas casas aponta, para além do uso funcional de um importante objeto da cultura material, a presença de um estilo arquitetônico próprio, como expressão de uma cidade que conjuga, através dessa relação íntima com a natureza, um modo de vida, uma cultura e uma identidade ribeirinha.

- Pôsteres 1: Açaí na mesa: o circuito produtivo do açaí na ilha Saracá/PA

Genisson Paes Chaves (FSC/UFPA)

Este trabalho visa refletir sobre a participação de homens e mulheres envolvidos na produção, distribuição e consumo do açaí (euterpe oleracea), “fruto” de grande relevância econômico-social para a população ribeirinha do Rio Igarapé Grande, na Ilha Saracá, município de Limoeiro do Ajuru-PA. Utilizou-se para esta investigação, pesquisas de campo, realizadas em diferentes momentos, precisamente com os moradores do Rio Igarapé Grande, auxiliadas, por entrevistas informais, registro de imagens fotográficas e observação direta da comercialização do açaí, nas feiras das cidades de Cametá e de Limeiro do Ajuru. Evidenciou-se, nesse sentido, a relevante representatividade que o açaí expressa para esta população ribeirinha, não somente pelo fato de inseri-los na economia local, mas por ser símbolo cotidiano que gera uma variada rede de sociabilidade e de identidade na insularidade da Ilha Saracá.

2- Práticas informais e novas sociabilidades nas feiras de Belém-PA

Rogério da Costa Sousa (FSC/UFPA); José Julierme Furtado dos Santos (FSC/UFPA)Carmem Izabel Rodrigues (FCS/PPGCS/UFPA)

As feiras livres se configuram como espaços repletos de possibilidades para intercâmbio de mercadorias e saberes, nos quais os sujeitos que delas participam desenvolvem práticas comerciais variadas, algumas delas mais informais/ilegais que outras. A pesquisa baseou-se em observações etnográficas e contatos diretos com feirantes e consumidores de duas feiras de Belém: a Feira do Guamá, situada na periferia da capital, correspondendo a uma demanda local, e a feira da Rua 25 de Setembro, localizada em uma área mais central da cidade, cuja localização estratégica atrai consumidores de diversos bairros adjacentes, ampliando a possibilidade de intercâmbio e troca de experiências e consequentes alterações nas práticas sociais. Pretende-se demonstrar como as feiras livres se adequam às novas exigências do mercado consumidor, atendendo e ao mesmo tempo criando novas demandas, através da

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circulação de produtos industrializados e eletrônicos (como relógios e CDs/ DVDs “piratas”), de origem informal e/ou ilegal, produzindo-se novas relações entre feirantes, consumidores e poder público, perante os quais os feirantes buscam sobreviver, mesmo em conflito com a lei, de forma criativa, na sociedade de mercado.

3- As mulheres indígenas e o ensino superior: apontamentos sobre acesso e permanência feminina na Universidade Federal do Pará

Lela Caroline Arantes Mesquita (FCS/UFPA)Claudiane de Fátima Melo de Sousa (FCS/UFPA)

O acesso a pesquisas que cruzam variáveis como gênero, raça e escolaridade, indicam uma diminuição da desigualdade de gênero e racial nos níveis educacionais (PNAD-2007). Entretanto, esse avanço educacional é pouco perceptível quando deslocamos essas variáveis para a situação educacional indígena. Análises indicam uma alarmante lacuna, no que tange ao acesso aos diversos níveis de educação, em que as mulheres indígenas avançam pouco na escolaridade em relação aos homens (MEC-2005), com causas e consequências nas esferas políticas, sociais e culturais. Como desdobramento dessa problemática, observamos que dentre os indígenas ingressantes na UFPA, menos de 20% são mulheres. De posse desses dados, esta pesquisa procura identificar as principais estratégias de sobrevivência, como também as dificuldades de acesso e permanência enfrentadas pelas mulheres indígenas ingressantes na Universidade Federal do Pará, por meio da Política de Reserva de Vagas para Povos Indígenas, a partir de 2010.

4- Financiamento de educação escolar indígena nos balanços de governo no Estado do Pará entre 2000 a 2007

Wilson Max Costa Teixeira (FSC/UFPA)Eneida Corrêa de Assis (FCS/PPGCP-UFPA)

O presente trabalho faz uma análise sobre o financiamento da educação escolar indígena no Estado do Pará entre o período que vai de 2000 a 2007. O estudo foi realizado a partir das contas públicas dos Balanços Gerais de Estado e classificação das ações, projetos e programas voltados para manutenção e desenvolvimento do ensino para a educação escolar indígena com resumo por etnia e demanda. Verificou-se que esta modalidade durante o período estudado fora financiada com recursos advindos de mais de uma secretaria de governo, tendo ações para o ensino fundamental (de responsabilidade dos municípios) em escolas indígenas financiadas pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos/SEJUDH, Secretaria de Estado de Educação/SEDUC, além de outras secretarias de estado, mostrando um panorama do financiamento da Educação Escolar Indígena no Estado do Pará.

5- Etnografia da unidade gestora de políticas educacionais indígenas no Estado do Pará

Irana Bruna Calixto Lisboa (FSC/UFPA)

A Secretaria de Estado de Educação do Pará possui uma seção denominada CEEIND (Coordenadoria de Educação Escolar Indígena) que promove políticas educacionais voltadas para os povos indígenas paraenses. Esta pesquisa tem como objetivo fazer uma etnografia da unidade gestora de política de educação escolar indígena. É importante frisar que o presente estudo se insere em um dos objetivos do projeto “Observatório de Educação Escolar Indígena dos Territórios Etnoeducacionais Amazônicos” financiado pela CAPES/INEP. A pesquisa está sendo desenvolvida através de levantamentos de literatura, análise de documentos do órgão em estudo, visitas à CEEIND visando a aproximação com o

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seu corpo técnico. As informações foram obtidas através de entrevistas gravadas. Este estudo é relevante, pois demonstra novas informações sobre a educação escolar indígena que é um assunto de divulgação ainda incipiente.

6- Narrativas indígenas: recepção e identidade cultural

Ellen Oliveira (UEPA)

Esta pesquisa tem a finalidade de contribuir para o aperfeiçoamento dos Processos Educativos e Materiais Didáticos destinados à educação escolar indígena nas disciplinas de Língua e Literatura. Escolheram-se as narrativas orais como objeto da pesquisa devido essas influenciarem profundamente a cultura indígena, pois na maioria das comunidades é o meio de transmissão de saberes dos mais velhos aos mais jovens. Inserir as narrativas ao contexto escolar é assegurar aos povos indígenas um direito constitucional: “valorização das culturas dos povos indígenas” e “desenvolvimento de currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades”. Trabalhar-se-á com teorias da literatura como Estética da Recepção e conceitos antropológicos como identidade cultural. Ao final da pesquisa serão elaboradas estratégias metodológicas para valorizar a identidade do grupo por meio das narrativas a serem utilizadas no ensino de Língua e Literatura.

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IDENTIDADES SOCIAIS EMERGENTES NA PAN-AMAZÔNIA E NO NORDESTE: COMUNIDADES, TERRITÓRIOS E DIREITOS

O colapso dos mitos da unidade das "culturas nacionais", da mestiçagem, dos salvacionistas "modelos de desenvolvimento" enseja a emergência de identidades sociais recônditas, longamente invisibilizadas, inviabilizadas; mas sempre gestadas, reproduzidas, ressignificadas na contramão desses mitos. O século XX já vira surgir novas conformações de sociedades indígenas de contextos históricos dos quais se as cria inviáveis; no Nordeste, em áreas de colonização antiga da Amazônia também. O advento da "nova ordem democrática" requalifica também os quilombos, em especial no Brasil. São agora miríades das ditas "comunidades tradicionais" em demanda por direitos próprios, de novas formas de legitimação de acessos e de garantias de terras e de recursos definidos como "de uso comum", de novos paradigmas de "sustentabilidade" para ribeirinhos, extrativistas, pastores, pescadores, coletores; e de afirmação de "novas etnias". O grupo de trabalho pretende reunir comunicações que abordem esses processos de sociogênese, de cunho étnico ou não, em suas dimensões políticas, simbólicas, jurídicas, ambientais; com foco principalmente na Pan-Amazônia e no Nordeste do Brasil; seja em perspectiva etnográfica, seja em abordagens comparativas ou na discussão dos muitos desafios e embates teóricos suscitados pela temática.

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SESSÃO I- IDENTIDADES EMERGENTES NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

1- Identidades em disputa: ser ou não ser quilombola, o que se ganha com isso?

Antônio Eustáquio de Moura (Unemat)

Apresentaremos alguns resultados da pesquisa "Levantamento das Comunidades Negras Rurais dos municípios de Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Barra do Bugres e Cáceres", realizado no Estado de Mato Grosso (Amazônia Legal), em 2004/2011. Enfocaremos as disputas entre as identidades disponíveis, a Etnogenese da identidade de Remanescente de Quilombo; e a recusa do Certificado de Remanescente de Quilombo por algumas comunidades, em decorrência da morosidade e das contradições das ações dos órgãos governamentais, e da resistência de algumas lideranças locais temerosas de perdas de terras. É importante analisar as ações para a efetivação das legislações referentes aos direitos das populações negras rurais e/ou remanescentes de quilombos, e os reflexos das mesmas nas comunidades, pois no Estado de Mato Grosso existem 160 comunidades negras rurais (CEPIR/MT) e dentre elas apenas 52 são reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares.

2- Conflitos étnicos em unidades de conservação Katiane Silva (UFRJ)

Pretendo discutir a emergência étnica em duas unidades de conservação (UCs) e os efeitos sociais decorrentes deste movimento. Tratarei do caso específico das relações entre uma comunidade de extrativistas da Resex Auati-Paraná (Fonte Boa/AM) e uma aldeia indígena da etnia Cocama, localizada na RDS Mamirauá (Tefé/AM). A principal atividade na região é o manejo do pescado e a gestão das unidades – que envolve diversas instituições como ICMBio, IBAMA, INCRA, Funai - reacendeu diversos desentendimentos prévios entre os habitantes da região. A partir dos relatos dos atores sociais é possível perceber que esta identificação não é produzida com neutralidade, mas por meio de ideologias, como já indicava Weber. Com isso, procuro

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analisar e confrontar os pontos de vista de alguns moradores das unidades de conservação de representantes das instituições gestoras e do movimento indígena sobre a questão, as repercussões e os conflitos sociais decorrentes da imposição das novas regras estatais.

3- De índio a caboclo e de caboclo a índioFlorêncio Almeida Vaz (UFOPA)

A comunicação visa apresentar uma síntese da tese de doutorado do autor, intitulada "A emergência étnica de povos indígenas no baixo rio Tapajós, Amazônia", que analisa o processo de etnogênese indígena que, de forma mais intensa desde a década de 1990, envolve 48 comunidades indígenas nos municípios de Aveiro, Belterra e Santarém, no oeste do Pará. A investigação, baseada na literatura histórica e em pesquisa de campo, procurou levar em conta os indígenas como sujeitos e não como vítimas do processo histórico, agindo criativamente através de estratégias variadas, que envolveram silêncio, tradução, adaptação, reelaboração e recriação cultural; e fazendo isso lançando mão de um repertório cultural já disponível, chamado também de cultura "cabocla". Este trabalho se torna relevante por mostrar a partir do estudo de uma sub-região como estão se dando os processos de etnogênese na Amazônia. A partir de resultados de pesquisa como esta, pode-se fazer comparações com outros casos que estão ocorrendo na Pan-Amazônia e que têm aumentado bastante nas últimas décadas.

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SESSÃO II- IDENTIDADES INDÍGENAS NO NORDESTE-LESTE

1- Emergência étnica indígena no Nordeste-Leste: balanço de uma já longa história

José Augusto Laranjeiras Sampaio (Uneb/Anaí)

Ainda é comum se ouvir exclamações de surpresa diante da emergência de "novas" identidades indígenas em regiões de colonização mais antiga no país, destacadamente o chamado Nordeste-Leste. O objetivo dessa comunicação é o de demonstrar que não se está diante de fenômeno recente nem isolado. Pelo contrário, com maior ou menor intensidade, ele tem estado continuamente presente, no período republicano, desde que em 1926 o SPI "resolveu" "reconhecer" os Fulniô de Pernambuco, que seriam então os "últimos" indígenas na região. A região tem hoje quase 70 etnias indígenas. Pretendo relatar e analisar, sucintamente, a história do seu "ressurgimento", em suas diversas fases, nesse já quase um século.

2- Indígenas e camponeses no Ceará nos anos 80: terra, mobilização social e memória

Alexandre Oliveira Gomes (UFPE)

Este trabalho tem por objetivo refletir, a partir da trajetória de organização dos Kanindé de Aratuba (Ceará), sobre processos de mobilização social e dinâmicas identitárias que tiveram como protagonistas grupos camponeses e indígenas, que assumiram discursos e estratégias distintas na luta pela terra, a partir dos anos de 1980. Naquele momento, grupos outrora mobilizados sob a bandeira campesina, passaram a organizar-se de forma distinta, articulando uma identidade étnica enquanto povos indígenas, numa tendência crescente à etnicização da luta política. Debater a questão da terra é o principal objetivo deste trabalho, percebendo como as estratégias de organização e mobilização política de indígenas e camponeses se articulam com identidade e a memória, analisando as interações sociais destes grupos em contextos de conflito, aliança e negociação, no desenrolar dos embates e lutas políticas. Como processos de mobilização social de luta pela terra se articulam com as dinâmicas

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identitárias? Em que momento se assemelham e se diferenciam, camponeses e indígenas, em suas especificidades de modos de organização e estratégias de articulação de discursos e posicionamentos políticos? Qual a relação entre memória, dinâmicas identitárias e organização social?

3- Programas de Formação de Professores Indígenas: entre a capacitação e a política

Isabelle Braz Peixoto da Silva (UFC)

O tema da educação como objeto de reivindicação dos povos indígenas no Brasil está posto, desde pelo menos o período Constituinte (1987), quando a sociedade brasileira debruçava-se sobre a elaboração de sua Carta Maior, inspirada nos ventos da redemocratização, pós-ditadura militar (1964-1985). Para as etnias que vivem no estado do Ceará, o início da contemplação da demanda por formação específica deu-se na virada do século (2001), com os primeiros Cursos de Formação para o Magistério Indígena. Decorrida mais uma década, temos em 2011 três cursos de formação superior vigentes no Estado. Como professora que teve a oportunidade de ministrar disciplinas no curso de formação para o magistério e recentemente em dois dos cursos superiores, interessa-nos fazer um estudo comparativo entre temas e questões postas pelos professores indígenas em suas diferentes formações, com atenção especial às dimensões política e identitária atribuídas aos próprios cursos e à condição de ser professor indígena.

4- “Índios”: uma identidade emergente em contexto multiétnico na Grande Belo Horizonte

Ana Paula Ferreira de Lima & Artur Queiroz Guimarães (Cedefes)

Ao contrário do que se pensara, segmentos indígenas em contextos metropolitanos tanto mantém vínculos estreitos e regulares com suas comunidades étnicas de origem quanto se organizam para o acesso a direitos que lhes são pertinentes - tanto quanto aos seus "parentes" em terras Indígenas - mas que frequentemente não alcançam. É também certo que essa organização, em contexto social e territorial diferenciado e multiétnico, adquire também configurações próprias e não raro inovadoras. A partir de experiência de pesquisa e assessoria conduzida pelo Cedefes ( Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva) em Belo Horizonte e sua Região Metropolitana, esta comunicação abordará esses novos contextos organizativos, não apenas na dimensão mais evidente do seu pleito por direitos, mas também em suas formas próprias de sociabilidade interétnica que incluem atividades festivas,religiosas, de cooperação econômica e social,associativismo multiétnico na prática da "agricultura urbana" e todo um rico acervo de iniciativas em que pataxós e pataxós hã-hã-hãe (originários do Sul da Bahia), aranãs e xacriabás (do Norte de Minas),dentre outros, além da reafirmação dos seus vínculos étnicos de origem,engendram e vivenciam novos atributos identitários relativos à sua situação de "índios na cidade".

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SESSÃO III- CONTEXTOS IDENTITÁRIOS NO SERTÃO NORDESTINO

1- Revisitando a 'Fábula das Três Raças': o caso dos brancos, morenos e caboclos de Rodelas

Ricardo Dantas Borges Salomão (UFF)

Atualmente no município de Rodelas existem diversos grupos e identidades, como indígenas e quilombolas, além de agricultores do MST - Movimento Sem Terra - e dos atingidos por barragens - MAB. O presente trabalho tem como objetivo pensar a relação desses diversos grupos focando na etnohistória dos índios Tuxá de Rodelas. Nesse sentido este trabalho procura, a partir de fontes

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bibliográficas e de material colhido durante trabalho de campo, investigar a interrelação entre esses grupos e identidades étnicas para refletir sobre a complexa relação entre "mistura" e "identidade" e a construção de uma identidade nacional.

2- A identidade de fundo de pasto: etnicidade em questão

Franklin Plessmann de Carvalho (UFBA)

Na Bahia, pelo menos três identidades coletivas são precursoras de novos padrões de relações políticas no campo: povos indígenas, comunidades quilombolas e comunidades de fundos de pasto. Acentuadamente após 1970, suas formas de mobilização incorporam fatores étnicos, elementos de consciência ecológica e autodefinição coletiva. (Almeida, 2006: 25). Neste trabalho buscarei refletir criticamente algumas abordagens que se referem à identidade de fundo de pasto como algo deliberadamente fabricado, com sentido de uma falsa identidade, mentirosa, induzida por políticas públicas, especialmente as de reconhecimento territorial. Quero também realizar uma reflexão crítica de outras abordagens, que mesmo compreendendo os fundos de pasto como identidade social, refutam seu caráter étnico.

3- Caatingueiros: a construção de um conceito dos povos do Sertão que fazem da vida uma espera enorme

Sádia Gonçalves de Castro (IFPI)

O Nordeste do Brasil com sua diversidade geográfica abriga diversos povos tradicionais identificados pelas maneiras como constroem suas relações com o meio ambiente natural. São chamados de sertanejos todos os nordestinos que ocupam a faixa interiorana da Região, porém este termo e suas definições não abarcam as particularidades dos caatingueiros, que não se trata apenas da denominação gentílica dos povos que sobrevivem na faixa do Sertão coberto predominantemente pela vegetação de caatinga. Este trabalho tem como objetivo descrever os caatingueiros – filhos da caatinga - que sobrevivem no Sudeste do Piauí, limites com a Bahia, e nesse território que não se limita apenas a um espaço geográfico mas a uma realidade social, política, psicológica e metafísica, tecem os saberes e práticas que orientam suas relações com os animais, a floresta, a cidade, os hábitos alimentares e os ciclos da natureza; e mantém padrões de comportamento fortemente marcados por valores éticos e religiosos e apresentam como traço cultural marcante a relação que têm com a chuva ou a falta dela, orientada por mitos, santos, deuses e outros seres invisíveis.

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ETNOLOGIA DA AMAZÔNIA MERIDIONAL: INVESTIGANDO AS POPULAÇÕES INDÍGENAS NAS FRONTEIRAS ENTRE A FLORESTA E O CERRADO DO BRASIL CENTRAL

Este grupo de trabalho pretende reunir pesquisadores trabalhando com populações indígenas na faixa meridional da Amazônia, que se estende do vale do Araguaia, a leste, ao Acre, no oeste. Esta região configura-se como uma 'zona de transição' entre as formações sócio-cosmológicas tipicamente amazônicas (Tupi) e aquelas características do Brasil Central (Macro-Jê). Este território apresenta grande diversidade, englobando povos falantes de línguas de diversas famílias dos troncos Tupi e Macro-Jê, mas também de outras famílias linguísticas menores e de línguas isoladas.

Conhecemos ainda muito pouco dessas sociedades, e menos ainda de suas trajetórias históricas e das relações que entreteceram entre elas ao longo do tempo. Trabalhos em linguística e arqueologia vêm destacando cada vez mais a importância dessa região como zona de origem de vários grupamentos linguísticos, tal como os Tupi e os Macro-Jê. Estudos em etnohistória sugerem complexas relações entre povos na área do Tapajós-Madeira, e o mesmo se diga das relações entre formações sociais e cosmológicas da floresta amazônica e do cerrado centro-brasileiro.

Esperamos oferecer um espaço para rediscutir este complexo território indígena, agrupando trabalhos que se debruçam sobre as populações indígenas na região, buscando preencher lacunas no conhecimento da área, em especial pelo compartilhamento de dados de pesquisa. Esperamos dar início a um esforço de adensamento dos mapas de inter-relações entre as sociedades que habitam a região, melhorando nosso entendimento dos cenários multi-étnicos nesta fronteira entre a Amazônia e o Brasil Central.

Além disso, pretendemos abrir espaço para a rediscussão dos modelos etnológicas que opõem populações de diferentes famílias lingüísticas, a partir de certa noção da relação língua/cultura. Um dos modos de revisar estes modelos poderá ser a investigação desta área que abriga populações de diversas filiações lingüísticas, e que estabelecem variadas relações entre elas.

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SESSÃO I-

1- Ser a últimaEdwin Reesink (UFPE)

Os Lakondê faziam parte do conjunto dos povos dos Nambikwara do Norte. A sua história termina tragicamente em mortes e dispersão de modo que, hoje em dia, uma pessoa Lakondê se sente como sendo a última representante do seu povo. A sua biografia e etno biografia é o contexto para situar este fim de um povo.

2- Cosmologia e corporalidadeFlávia Oliveira Serpa Gonçalves (UFPR)

Para os Myky, povo do noroeste do Mato Grosso, o corpo está em constante processo de fabricação. Os recém-nascidos,bem como seus pais e todos que ajudaram a “fazer a criança”,passam um mês tomando banho apenas com uma erva específica. Todos que mantiveram relações sexuais com a mãe no período de gestação são responsáveis pela saúde da criança e estão ligados a ela por meio das substâncias que a constituem. O objetivo deste

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trabalho é discutir a importância do processo de fabricação do corpo para os Myky e demonstrar como, por meio desse processo, se estabelecem as relações entre os vivos e entre os outros seres do cosmos.

3- Uma longa viagem de volta: os Xavante de Marãiwatsede

Estevão Rafael Fernandes (UNIR)

Este trabalho busca apresentar o percurso percorrido pelo grupo xavante de Marãiwatsede, desde sua expulsão de seu território “tradicional”, na década de 1960, até seu retorno, cerca de quatro décadas depois. Busca-se apontar, a partir dessa experiência, questões referentes a história, faccionalismo e feitiçaria xavante, bem como uma reflexão – ainda que breve – sobre a política indigenista do período.

4- A etnohistória Akwen e os professores Xerente

Izabel Missagia de Mattos (UFRJ)

A população Akuen-Xerente aproxima-se dos 3.000 indivíduos, divididos em cerca de 50 aldeias situadas no estado de Tocantins em duas Terras Indígenas: Xerente e Funil, nos municípios tocantinenses de Tocantínia e Miracema e a cerca de 70 km da capital, Palmas. É provável que o povo Akuen-Xerente seja fruto da experiência do aldeamento missionário capuchinho Teresa Cristina, estabelecido na região da atual cidade de Tocantínia, TO, no Século XIX, conforme situam algumas fontes (Audrin, 1947). Este trabalho visa, inicialmente, levantar o material existente em arquivos públicos no Rio de Janeiro e Goiás sobre a história dos povos Akwen, focando especialmente os Séculos XIX e XX e suas relações com os povos vizinhos. A investigação proposta dirige ainda seu olhar sobre as pesquisas que estão sendo realizadas pelos professores Akwen-Xerente, sobretudo os matriculados no Curso de Licenciatura Cultural Indígena da UFG, indagando a respeito dos significados dos recortes que estão sendo privilegiados para o estudo da história indígena por eles desenvolvida.

5- Eis a questão: Jê ou Tupi ou a importunidade modelar entre os Rikbaktsa (macro-jê) do sudoeste amazônico

Adriana Romano Athila (UFSC)

Tratado oficialmente como grupo macro-jê, os Rikbaktsa, do noroeste do estado de Mato Grosso, são privilegiados para refletir sobre a distinção tornada clássica na etnologia sul-americana entre grupos Tupi e Jê, usualmente tomada como absolutamente opositiva. Através de algumas provocações etnográficas, este trabalho propõe reconsiderar tanto o caráter das diferenças entre os grupos ameríndios quanto o movimento datado e que se caracteriza pela adoção de um modelo onde grupos Tupi aparecem como contraponto dos Jê e vice-versa. Não se trata de apontar “aberturas” no modelo Jê, de encampar distinções em uma reedição sofisticada do mesmo ou, tampouco, de considerar que Tupi e Jê têm fontes diversas de “retroalimentação”. Mas de, entre a “mutualidade íntima” e a “reciprocidade predatória”, talvez admitir para os ameríndios semelhanças tão irredutíveis a identidades plenas quanto diferenças irredutíveis a distinções absolutas

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SESSÃO II

1- De crânios achatados e pilões de pedra: quem são os Karitiana?

Felipe Ferreira Vander Velden (UFSCar)

Este trabalho investiga a construção dos “Karitiana” enquanto sociedade, unidade social discreta e dotada de uma cultura específica e de uma trajetória histórica particular. Ao longo da história da investigação antropológica e linguística deste “povo” atualmente no norte de Rondônia vários autores tentaram explicar a situação tida como anômala desses Tupi-Arikém espremidos entre os blocos populacionais de língua Tupi-Kagwahiv e Txapakura, construídos como radicalmente diferentes dos Karitiana em função da filiação linguística e de certas práticas culturais desses últimos (como o achatamento do crânio e o uso de pilões feitos de pedra). Argumento que essas sugestões devem necessariamente levar em conta a lógica do processo histórico tal como concebida pelos Karitiana, além de ampliar o leque de análises das relações inter-étnicas e históricas desse grupo indígena para além de suposições baseadas em “traços culturais” compartilhados ou contrastantes.

2- Kytop não é cachaça. Tradução, equívocos e bebidas entre os Karitiana (RO)

João Jackson Bezerra Vianna (UFAM)

Consta em várias etnografias sobre populações indígenas da Amazônia a utilização de bebidas fermentadas. Alguns autores têm demonstrado, por meio de uma abordagem etnológica, como estas bebidas se relacionam de modo importante com a vida social e ritual desses povos. Paralelamente, sabe-se que bebidas alcoólicas, como a cachaça, circulam atualmente entre essas populações, podendo constituir um problema por seu uso abusivo, questão que tem sido tema de interesse entre antropólogos da saúde. Pretende-se neste trabalho, a partir da utilização de bebidas que os Karitiana fizeram no passado e fazem no presente, saber que relações podem ser estabelecidas entre os modos de beber as bebidas fermentadas e as bebidas industrializadas advindas do contato com o “branco”, uma vez que os estudos sobre bebidas entre povos indígenas são realizados de modo a excluir uma bebida ou outra de seus escopos de análise. Interessa entender, assim, como essas duas diferentes perspectivas antropológicas podem, lado a lado, iluminar o uso da cachaça e também o das bebidas fermentadas entre os Karitiana.

3- Ritual do Gôn-aká : um estudo sobre a socialidade de povos Tupi-mondé

Rodolpho Claret Bento (UFSCar)

O trabalho a ser apresentado trata-se de um estudo realizado a partir de fatos históricos e de relatos de mitos apresentados pelos povos falantes da língua Tupi-mondé:Cinta-Larga, Suruí Paíter, Aruá, Zoró e Gavião. O objetivo é destacar como as relações dessas etnias entre si e com os brancos estão diretamente imbricadas com a suas cosmologias, ou seja, com a socialidade constituída através de uma lógica da predação. Por isso, escolhi a festa do Gôn-aká (animal de estimação), rito que envolve o sacrifício de um ou mais animais, uma vez que pretendo apresentá-la como a dramatização da guerra em tempos de “pacificação”. Portanto, a ideia é pensar o rito como a atualização do mecanismo da predação enquanto modo de se relacionar com a alteridade. De forma semelhante em cada povo tupi-mondé o rito apresenta aspectos relevantes para pensar tanto o fortalecimento de vínculos sociais entre o provedor da festa e seus convidados afins potenciais, quanto à relação da caça com as narrativas míticas.

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4- A história e os Outros dos MundurukusDanielli Jatobá (UnB)

O Povo Munduruku, família linguística munduruku, tronco Tupi, é uma das populações indígenas mais numerosas no Brasil. Esse povo amazônico, que tem como território de origem os campos entre os afluentes do Rio Tapajós, possui uma organização social com clãs e metades exogâmicas ativas, casa dos homens, cosmologia e celebrações marcadas pela caça. Proponho apresentar uma descrição geral sobre a organização munduruku atual para possibilitar o diálogo com outros estudos sobre a Amazônia Meridional. E, de acordo com a proposta do Grupo de Trabalho, trazer dados etnográficos sobre um dos clãs cuja origem é estrangeira; e sobre a fundação de uma aldeia munduruku junto aos Apiakás e Kaiabis, e como os primeiros veem-se por vezes como “civilizadores” ou, ao menos, como portadores de um conhecimento trazido a esses últimos nesse cenário interétnico

5- Os Enawene Nawe: polos cruzados entre Arawak e Tupi

Chloe Nahum-Claudel (University of Cambridge)

The Enawene nawe speak an Arawakan dialect closely related to Pareci and live in the Juruena river valley. The most usual account of Enawene ethnogensis is that they were a group of Parecis who became isolated – probably due to the predations of Tupi peoples and the subsequent migrations of the Nambiquara fleeing them (Price 1983: 140). Enawene do say that they were once “Haliti”; some of their clan names are equally Parecis ones and as among the latter, these were once territorial units who visited and exchanged with one another. All this supports the view of the Enawene as remnants of the “Pareci Nation” that was encountered by early colonisers. The name 'Saluma' 'mistakenly' attributed to the Enawene upon contact is an equivocation that complicates this picture. Saluma is an Enawene clan whose ancestral territory is the Rio Juína (Tono-winha), one of two Enawene clans that are often said to be 'the very same' Cinta-Larga (Tono-yali) - people who ate meat and were cannibals before they came to live as Enawene nawe. Saluma is also a warfaring rite that takes up part of the Enawene's calendar and which is markedly “Tupi” in character. The aim of the paper then will be to explore the riddle of Enawene history and identity between Tupi and Arawak poles. I will argue that this riddle is not resolvable if we assume that historical relatedness mirrors linguistic phylogeny.

6- Gênero, violência e imaginário: etnografia e teste arquétipo de nove elementos (AT-9) com mulheres indígenas Djeromitxi e Canoé

Arneide Bandeira Cemin (UNIR)

A pesquisa teve caráter exploratório por tratar de fenômeno que só agora ganha visibilidade: a violência nas relações de gênero intra étnicas. Utilizamos o método etnográfico, com entrevistas do tipo Grupo Focal e individual, além do AT-9 (Teste Arquétipo de Nove Elementos) pensado como complemento para a compreensão dos dados etnográficos, conforme experiência desenvolvida no Centro de Estudos do Imaginário (CEI/UNIR). O AT9 é um teste do tipo projetivo, criado pelo psicólogo Yves Durand, para validação da teoria do antropólogo Gilbert Durand. Visa estudar as configurações simbólicas resultantes da contínua interação entre o homem e o seu meio. A pessoa é convidada a elaborar um micro - universo mítico obtido a partir da produção de um desenho e de uma narrativa, complementados por um quadro de análise, no qual se registra o modo como cada arquétipo foi representado, o papel que ele cumpre no desenho e na história, bem como, aquilo que ele simboliza. A estas informações são acrescidos dados obtidos através de um questionário que permite esclarecer outros aspectos que motivaram o desenho e a história do mesmo. Trata-se de instrumento sensível para interpretação das relações entre o sujeito e seu ambiente, esclarecendo e confirmando a etnografia.

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GT23- POPULAÇÕES TRADICIONAIS, TERRITORIALIDADES E ETNOCIÊNCIAS

Este GT tem como objetivo congregar pesquisadores que desenvolvam análises teóricas e empíricas acerca de processos sociais concretos das populações tidas como tradicionais (índios, quilombolas, pescadores, camponeses, ribeirinhos, dentre outros). A meta é promover a reflexão sobre usos sociais do espaço e do meio ambiente, redes de parentesco, registros de memória, patrimônio cultural imaterial, saberes tradicionais e gestão de relações entre seres humanos e não-humanos. O GT avançará na compreensão das organizações sociais e sistemas de valores, bem como nas elaborações nativas sobre territorialidades, espacialidades e etnociências e, assim, contribuir com o debate corrente acerca do papel de tais populações no contexto de diálogo entre saberes, nas formas globais e locais de (re) criação de identidades e na complexa relação entre natureza e cultura.

SESSÃO I- NATUREZA, CULTURA E SABERES TRADICIONAIS

1- Levantamento etnobotânico aplicado aiInterpretação das ocupações pré-coloniais no semi-árido do Nordeste Brasileiro

André Luiz Proença e Mariana Luiz Proença (UFPE)

Esta apresentação busca dar suporte à compreensão acerca do modo de vida dos grupos autóctone, anteriores aos processos de colonização europeia nas Américas. O conhecimento etnobotânico, de algumas espécies da flora dos ambientes semi áridos do NE brasileiro, atrelado a etnohistória dos grupos sociais que viveram séculos em estreita dependência da oferta de recursos naturais e das suas formas de organização de trabalhá-los contribui decisivamente às interpretações acerca da vida pré-colonial nesta região. Nossa apresentação tem como resultado a criação de um banco de dados etnobotânico para os grupos tradicionais, especialmente indígenas do Nordeste brasileiro, buscando sistematizar algumas informações de espécies da flora do semi-árido e o seu uso (alimentar, terapêutico, místico, logístico) e associá-las às características da planta (adaptabilidade, sazonalidade) que possivelmente venha a ampliar o universo botânico pré-colonial.

2- Conhecimentos tradicionais: a relação sociedade/natureza no saber das plantas medicinais

Priscila Freire Rodrigues (Secretaria Municipal de Ensino/AM)

Neste artigo, a abordagem dos conhecimentos tradicionais quanto ao uso e conservação de plantas medicinais analisa como ocorre o processo socioambiental da conservação da natureza em uma comunidade ribeirinha no Alto Solimões/Amazonas. Ressaltam-se dois aspectos: um no que diz respeito ao conhecimento e manuseio do mundo natural, e o outro evidenciando a estreita relação sociedade/natureza na conservação sociocultural de plantas medicinais. Adotou-se a pesquisa etnográfica, na comunidade de Tupi I, no município de São Paulo de Olivença, Estado do Amazonas. Percebeu-se que a ocorrência do uso das plantas ocorre sempre num contexto de uma situação sociocultural, de lugares em que se tem forte relacionamento de parentesco. A conservação ocorre no processo mesmo da experimentação, do conhecimento da natureza em relação ao solo e ao clima; da experimentação, porque testam no próprio corpo o efeito de certo uso de uma planta, embora, às vezes, parece estar à fé antes da eficácia fisiológica. E, principalmente, a conservação ocorre no processo de socialização do

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conhecimento através da dinâmica da estrutura estruturante que permite a outras gerações conhecer e manipular as plantas. No aspecto predominante desse processo a lógica simbólica, religiosa e o gênero, são os elementos que intervêm na prática e manutenção do conhecimento tradicional.

3- Território, saberes e transformação: os catadores de caranguejo dos manguezais dos rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, Aracruz-ES

Márcio Antonio Farias de Freitas (UFES)

Na Reserva Ecológica dos Manguezais Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, localizada no município de Aracruz/ES, e em seu entorno, vivem catadores de caranguejo e indígenas tupiniquim que catam caranguejo nesta Unidade de Conservação, próxima a áreas de expansão urbano-industrial e monocultura do eucalipto. Observa-se que a implantação da UC e o processo de modernização adotado pelo município desencadearam inúmeros impactos socioambientais a essas populações e ao manguezal. O artigo propõe discutir sobre a atividade da cata do caranguejo realizada num território ancestralmente ocupado e transformado numa UC; os saberes tradicionais e a organização desses catadores; a percepção dessas populações a respeito do processo de transformações ocasionado pela modernização do município, expondo a memória dos catadores a respeito dessas mudanças. A relevância desse trabalho consiste em conhecer as conseqüências dessas transformações tanto na sustentabilidade dessas populações quanto no meio ambiente.

4- Populações tradicionais pesqueiras e conservação de ecossistema

Neila de Jesus Ribeiro Almeida (PPGEDAM)

No projeto “População pesqueira extrativista: Saberes e práticas tradicionais para a conservação do

ecossistema de manguezal na Vila Sorriso, São Caetano de Odivelas�MPa”., procura-se estudar a relação entre homem e natureza a partir dos saberes e práticas tradicionais locais para a conservação de ecossistema de manguezal, fundamentando a questão da utilização social do espaço e do meio ambiente. Considerando o questionamento, na Contemporaneidade, sobre os problemas ambientais, levando em direção a movimentação de grande parte dos segmentos das sociedades à conservação da biodiversidade. Provocou-nos a pesquisar: de que maneira os saberes e práticas das populações pesqueiras, podem influenciar na conservação em um ecossistema de manguezal? A partir desta problemática o projeto busca analisar as práticas utilizadas por essas populações que viabilizem a melhoria da qualidade de vida, com menor impacto possível no meio ambiente, buscando fixar o homem a seu espaço vivencial. O lócus é a Vila Sorriso, uma comunidade de pescadores extrativistas, na Amazônia Paraense, situada aproximadamente 7,5Km da sede do município de São Caetano de Odivelas, localizado no Nordeste do Pará, na micro-região do Salgado, distando poucos quilômetros da zona costeira. Nesta região, observa-se o ecossistema de manguezal ocupando mais da metade do território de populações tradicionais pesqueiras, isto explica o fato da economia do município ser baseada nos recursos naturais oriundos deste ecossistema. Assim faz-se necessário identificar os modos de vida dessas populações, observando seus conhecimentos, a maneira como estão inseridos nesse espaço e principalmente a relação das populações com o meio onde estão inseridas, verificando os saberes e práticas tradicionais das comunidades pesqueiras extrativistas, fomentando o uso sustentável do ecossistema de manguezal e finalmente junto a comunidade propor ações que reduzam uma possível superexploração do ecossistema, através de atitudes que solidifiquem uma gestão ambiental participativa para a proteção, a conservação e o manejo dos recursos naturais do ecossistema de manguezal local. Desta forma, o projeto visa ser um mediador nos processos de interação de conhecimentos focalizados nos saberes tradicionais e gestão ecológica, onde as relações entre

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comunidades humanas e não-humanas, o ambiente e os fatores que afetam estas relações podem possibilitar a sensibilização que favoreçam a construção de estratégias de desenvolvimento sustentável e conseqüentemente a melhoria da qualidade de vida local.

5- Saber tecer e fazer artesanato: a trajetória dos artesãos do arumã

Raiana Mendes Ferrugem (PPGAS-UFAM)

A proposta deste artigo é perceber os efeitos sociais do processo de ambientalização percebido no município de Novo Airão, Amazonas. É pela trajetória de um grupo de artesãos e suas famílias que me aproximo da problemática sobre política ambiental e suas consequências para os denominados povos e comunidades tradicionais. A partir da descrição e análise da dinâmica da trajetória coletiva de um grupo de famílias que viviam da agricultura e da pesca e que produziam do artesanato de arumã para uso doméstico. Essas famílias passam a se autodefinir como artesãos em decorrência dos processos e relações que modificaram seu modo de vida e sua relação com o meio ambiente, organizados enquanto associação esses artesãos passam a acionar as redes de parentesco como estratégia de mobilização. É na luta pela continuidade de acesso e direito ao uso do recurso natural (os arumazais) cujo é produzido o artesanato, que os artesãos constroem o que chamaremos de territorialidade do arumã.

6- Mì kù dò lè hwé nu: entrevista com uma comunidade de produtores de sal artesanal em Djègbadji, Benin

Hippolyte Brice Sogbossi (Universidade Federal de Sergipe)

Trata-se de uma incursão ao Benin no âmbito das Visitas Exploratórias de dois pesquisadores em procedência do Brasil. O trabalho objetiva descrever e analisar, a partir de gravações e imagens fotográficas, o processo de fabricação de sal artesanal numa comunidade tradicional. A comunidade semi-lacustre de Djègbadji, no sul do país africano foi visitada e “flagrada” na fabricação do tempero. A língua não constituiu uma barreira, já que um dos pesquisadores é nativo. A entrevista, de uma duração de 17 minutos e 36 segundos, permitiu conhecer o estilo de vida da dita comunidade a partir de temáticas como o trabalho comunitário e as técnicas relacionadas com ele,a questão da resistência ao capitalismo e à globalização a partir da negação de certas medidas com a finalidade de multiplicar a produção, a divisão do trabalho, o gênero, o território, a cooperativa local, as políticas públicas e os grupos étnicos envolvidos no processo.

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SESSÃO II- MEIO AMBIENTE, CONFLITOS E TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS

1- Campos científicos e campos aplicados: uma meta-etnografia de antropólogos brasileiros

Francisco Marcelo Gomes Ferreira (UFPE)

A presença de antropólogos brasileiros em espaços fora da academia se tornou profícua, diante de demandas que foram vociferadas, principalmente no que diz respeito aos direitos étnicos. Chamadas a dar parecer a juristas e outras instâncias, teorias e metodologias de pesquisa antes restritas aos muros da academia, passam fazer parte dos laudos ou perícias antropológicas, no processo de demarcação territorial de grupos étnicos. Essa pesquisa de doutorado em fase inicial analisa como se dão na atualidade as relações maniqueístas entre antropologia acadêmica e antropologia não-acadêmica, verificando quais

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as diferenças, semelhanças e especificidades entre esses dois campos e capitais científicos. Uso como foco de análise pesquisadores de comunidades remanescentes de quilombos. Dilemas éticos, políticos e epistemológicos são elementos dessa nova forma de fazer antropologia no Brasil.

2- Narrativas quilombolas e patrimônio nas várzeas do rio Arari

Eliana Teles(Secretaria de Educação- PA e Pesquisadora do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia)

O artigo examina o processo de territorialização de quilombolas entre os rios Arari e Gurupá, município de Cachoeira do Arari, Marajó e o processo de auto identificação. A várzea do rio Arari constitui elemento emblemático para a territorialidade do grupo, nela se realiza o sistema de uso comum. Nos anos setenta, os quilombolas experimentaram deslocamentos compulsórios desse nicho ecológico ocupando densamente as margens do rio Gurupá nos anos oitenta. Trata-se de marcos das suas relações com a natureza e das relações conflituosas com os fazendeiros. Essas transformações sociais e ecológicas são objetos de análise neste trabalho. A etnografia da organização social traça as formas de acesso e uso dos recursos da várzea especialmente dos açaizais. Esse sistema orienta as atividades coletivas, as estratégias do processo social de territorialização que são continuamente recriadas para satisfazer necessidades materiais e sociais das unidades familiares. Símbolos, crenças e narrativas míticas também são formas de produzir sua territorialidade presentes no falar sobre várzea, campo, manguezal, e terra firme constituem patrimônio coletivo reivindicado.

3- “A roça é nossa...”: uma perspectiva antropológica da relação com o meio-ambiente sertanejo

Danilo Duarte Costa e Silva (PPGAS/UFRN)

Recentemente um órgão estatal brasileiro de pesquisa teve que se retirar de uma comunidade quilombola pelo fracasso em sua pesquisa ligada a melhoramentos agrícolas. Segundo agentes do órgão, fatores ligados à falta de interesse dos membros da comunidade e a baixa produção do melhoramento apresentada na comunidade (em contrapartida ao sucesso de outras aplicações no Nordeste do Brasil), foram os motivos principais. Em meio a tal situação o que levaria uma comunidade localizada em pleno sertão do nordeste do Brasil, rejeitar os melhoramentos agrícolas introduzidos em sua produção? A partir do uso de uma abordagem teórico-interpretativa ligada à ecologia cultural a presente pesquisa teve como alvo apresentar uma análise da comunidade e partir de tal buscar o entendimento da resistência da comunidade as inovações introduzidas em seu cultivo. Através da observação se verificou uma profunda relação com o ambiente e tal fator tem sido decisivo na resistência dos quilombolas.

4- “E aí se deu o que se deu”: meio ambiente, agronegócio e populações tradicionais do oeste baiano

Jeíza das Chagas Saraiva; Ana Cláudia Rodrigues da Silva; Isabel Cristina Rodrigues da Silva (UFPE)

Este texto pretende discutir- a partir de dados etnográficos- a complexa rede de disputas entre populações tradicionais (geraizeiros) e empresários do agronegócio de grãos (soja) no município de Formosa do Rio Preto no oeste da Bahia. A região tornou-se espaço para o potencial produtivo do país devido a seu manancial hidrográfico e relevo aplainado. Isto modificou a vida de populações que aos poucos perdem seu território. Em Formosa, geraizeiros que vivem há séculos à margem do Rio Preto vivenciam momentos de insegurança. O latifúndio modernizado de grãos avança em seus territórios, empresários que não respeitaram a “lei de reserva legal” tentam se apropriar destas terras que se

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encontram em bom estado de conservação ambiental. O governo pretende construir duas Pequenas Centrais Hidrelétricas as margens do Rio que beneficiará a irrigação das fazendas. As populações se mobilizam e buscam alternativas através do reconhecimento étnico para não perderem suas terras.

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SESSÃO III- PARENTESCO, XAMANISMO E MEMÓRIA INDÍGENA

1- UTMÕSE: uma prática que antecede a teoria do parentesco Tukano

João Rivelino Rezende Barreto (UFAM)

Esta apresentação pretende fazer uma descrição etnográfica acerca das fundamentações teóricas do parentesco Tukano, com suas devidas práticas que eleva à estabilidade patrilinear e da exogamia lingüística. Sem dúvida esse sistema não é único, muito menos quer ser o melhor, mas nota-se que é um dos mais complexos em sua parcialidade descritiva e, ao mesmo tempo, com o tempo passaram a existir diversos efeitos transformativos que fizeram com que as observâncias tradicionais fossem descumpridas tanto pelo homem como a mulher. Mesmo assim, continua prevalecendo na sua íntegra a observância permanente da exogamia lingüística dos grupos étnicos (marsa kurári) do noroeste amazônico. Precisamente, utamõse (noção de enamoramento) elabora um sistema relativo à afinidade de onde surge a prática de enamoramento de um homem Tukano e de uma mulher pertencente a outro grupo étnico (Tuyuka, Desana…), portanto, é um sistema que garante o ordenamento das trocas matrimoniais mas que a noção de troca matrimonial em termos da obrigatoriedade, por sua vez, deixou de ser observada com veemência. Em fim, a propósito de minha experiência pertenço ao grupo étnico Tukano do sib Sararó Yuúpuri Búbera Põra da comunidade São Domingos Sávio, rio Tiquié, noroeste amazônico e que certamente esta descrição etnográfica parte de uma visão da etnoantropologia; mas, o sistema é complexo para descrever em sua totalidade, por isso a descrição do parentesco Tukano se fundamentará acerca de um sib Tukano (Sararó Yuúpuri Búbera Põra) de São Domingos Sávio, alto rio Tiquié, Amazonas, Brasil e assim conectar-se ao arcabouço do coletivo Tukano.

2- Xamanismo indígenaLaércio Fidelis Dias (Universidade Nove de Julho/PMDA)

A proposta desta comunicação é analisar o papel do xamã entre as populações indígenas do Uaçá (Karipuna, Palikur e Galibi-Marworno) sem reduzi-lo a mero curador. O papel terapêutico do xamã não pode ser desconsiderado, já que grande parte das vezes em que ele é procurado, há um caso de doença importante por trás. Porém, analisar o xamã sem reduzi-lo a curador, implica destacar o papel importante de construção e reconstrução do sentido de existência fornecido pela atividade xamânica, sentido este às vezes perdido diante de um infortúnio. Pensar o xamã para além de um curador é uma forma de enfatizar a importância do xamanismo como instituição que lida com as preocupações mais gerais destas sociedades. Nos ritos, estas concepções gerais de ordem são representadas, expressadas e recriadas. O xamã interage com estas energias por meio da experiência extática, dos sonhos, transe e atua, sobretudo, como mediador entre domínios humanos e extra-humanos.

3- Trabalhos de encantados: ressignificação simbólica das categorias de tempo e espaço nos índios Tremembé de Almofala

Juliana Monteiro Gondim (IFCE-CE)

Buscarei, aqui, mergulhar no imaginário religioso dos índios Tremembé de Almofala (litoral oeste do Ceará), através da análise das narrativas colhidas durante a pesquisa de mestrado, em especial as que se

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referem aos encantados, seres sobrenaturais que, segundo creem, habitam as matas e mares da região. Darei ênfase às histórias referentes à noção de espaço e tempo, pois, para se alcançar a cosmovisão do grupo, é preciso atentar para essas categorias, por serem elas fundantes da dimensão religiosa. Ademais, as recentes mudanças ocorridas no local transformaram o espaço e a forma de lidar com o tempo. A especulação imobiliária no litoral, bem como a pesca predatória geram impactos, não só no meio ambiente, mas também na concepção de tempo, provocando, assim, uma ressignificação simbólica dessas duas categorias. A capacidade imaginativa é intrinsecamente ligada à questão temporal, pois é necessário tempo de contemplação do mundo para o florescimento das narrativas aqui expostas.

4- Os encantados Potiguara José Glebson Vieira (UERN)

A comunicação proposta tratará do modelo de gestão de relações entre seres humanos e não humanos estabelecida pelos Potiguara da Paraíba e de que maneira tal modelo repercute na política faccional. Os seres encantados são para os Potiguara seres que habitam a mata e os fundos dos rios e do mar, têm como um dos atributos a invisibilidade e possuem os predicados da humanidade e da imortalidade. Eles correspondem a uma categoria de agentes que assumiram a condição humana, mas que foram capturados e familiarizados por uma agência extra-humana. As negociações com esses seres ocorrem por meio de relações simpáticas de troca, mas também inclui constantes tensões com vistas à neutralização de suas forças maléficas ou sedutoras.

5- Um olhar sobre os significados de linguagem e identidade nas narrativas orais indígenas

Carmem Véra Nunes Spotti ((UERR-PPGL/UFRR)Carla Monteiro Souza (PPGL/UFRR )

O presente trabalho versa sobre o que é identidade e o que é linguagem? Essas questões são abordadas tendo em vista que a comunicação está ligada às estruturas sociais e a língua é o objeto concreto do estudo da linguagem e esta, por sua vez, é o espaço onde o sujeito se constrói e possui voz. Este estudo tem como referencial a pesquisa que vem sendo desenvolvida na Comunidade Nova Esperança, localizada na Terra Indígena Alto São Marcos/RR. O estado de Roraima tem presença marcante da cultura indígena em sua formação populacional, haja vista os grandes conflitos gerados por demarcação de terras indígenas e o preconceito etno-lingüístico e sócio-econômico que envolvem a sociedade regional. Destaca-se no contexto estadual a desvalorização da cultura dos povos indígenas, quer seja na língua, suas narrativas orais, músicas, comidas, arte, danças, por outro lado, verifica-se a existência de práticas que visam à preservação da memória da comunidade de forma que as gerações futuras possam dela usufruir. Em uma perspectiva dos estudos da linguagem percebe-se que os aspectos da cultura indígena são repassados através da tradição oral, que tem nas narrativas um dos elementos produtores de identidade.

6- Caboclos do Riacho: memória indígena e oralidade no sertão potiguar

Lázaro Fabrício de França Sousa; Jailma Nunes Viana de Oliveira eJosé Glebson Vieira (UERN)

A presente comunicação tem como objetivo descrever a Comunidade dos Caboclos do Riacho (Assu-RN), tendo como foco a construção local sobre o “ser caboclo”. A pesquisa consistiu na observação de campo, visitas em quase todas as residências da localidade, entrevistas, conversas informais, registro fotográfico, dentre outros. As narrativas apontaram sobre a origem da comunidade a captura de uma tapuia ou “caboca braba” por um caçador. A renda e sustentação das famílias provêm da criação de

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bovinos e caprinos e do trabalho terceirizado em lavouras alheias. Observou-se certa convicção e linearidade no discurso em relação ao “ser índio”, mesmo não especificando um etnônimo. A construção do “ser caboclo” passa pela rivalidade com a comunidade mais próxima, conhecida como “Riacho”, devido ao fato dos que moram nessa comunidade tratarem os Caboclos como inferiores, incluindo desde a aparência física, até antigos costumes, modos e alimentação.

7- Nossos Ancestrais moravam aliFrancisca de Souza Miller (DAN/PPGAS/UFRN)

A presente comunicação relata experiências com estudos em comunidades tradicionais no interior do Rio Grande do Norte e chama atenção para as vantagens de uma abordagem pluri-disciplinar para futuros estudos etnográficos. Ao longo de nossas pesquisas com comunidades de pesca e uma de quilombolas, deparamos com vestígios arqueológicos (cacos de cerâmica, conchais e uma canoa ubá, entre outros objetos materiais) e com alguns relatos das populações locais de que estes remontam seus antepassados. Em Patané/Camocim no município de Arês, observamos cacos de “louça” (cerâmica) das tradições tupiguraraní e neo-brasileira. Havia uma aldeia indígena nas proximidades da lagoa Guaraíras. De acordo com o avô de um informante, que era índio, havia uma aldeia indígena situada próximo à lagoa ao lado dos mananciais de água doce. No citado município tinha uma missão jesuíta e uma feitoria holandesa. Perto de lá em Georgino Avelino, foi encontrado os restos arqueológicos de uma aldeia Tarariú em contato com holandeses. Certas práticas observadas nessas comunidades remontam os seus antepassados indígenas, inclusive a formação de “sambaquis” individuais associadas às moradias atuais. Na comunidade quilombola de Capoeira, no município de Macaíba, vários moradores comentaram acerca de uns cacos de “panela” encontrados nos seus roçados, que dizem ser dos Tapuias, sendo estes uma parte dos seus ancestrais. Os indícios arqueológicos podem nos ajudar a compreender as formas de ocupação do território e possivelmente nos dar uma ideia sobre a antiguidade da relação da população com o território.

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IMAGENS SOBRE A AMAZÔNIA - UM OLHAR A PARTIR DA ANTROPOLOGIA VISUAL

O campo disciplinar da antropologia visual surge em meados do século XIX com a “era da reprodutibilidade técnica” e da expansão industrial. A disciplina produz, hoje, conhecimento antropológico, frente aos desafios dos processos de globalização e da transformação digital. Voltada inicialmente para a documentação e preservação de práticas culturais ameaçadas, a antropologia compartilhada, se transformou ao longo dessas últimas décadas, com renovadas formas de narrativas visuais, sonoras, audiovisuais e, mais recentemente, digitais. Voltada, sobretudo, para o registro das técnicas materiais e rituais e depois para as palavras e as sonoridades, se abre hoje a novos objetos de estudo como a antropologia da arte. Em um primeiro momento a antropologia visual procurou garantir objetividade, atribuindo-se o estatuto de tecnologia de pesquisa ou mesmo de auxiliar de pesquisa. O que percebemos hoje é uma consolidação desse campo disciplinar no Brasil como um estilo de fazer uma antropologia compartilhada. Este GT tem a finalidade de discutir esse campo disciplinar na Amazônia, procurando agrupar trabalhos que possam apresentar uma antropologia visual da Amazônia. Portanto pretende discutir aspectos teóricos metodológicos da produção visual sobre a Amazônia com a finalidade explicita de ampliar esse conhecimento sobre os povos que ali habitam a partir de uma antropologia compartilhada.

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SESSÃO I- Coordenador: Renato AthiasDebatedor: Gabriel Alvarez

1- Imagética ticuna: olhares sobre a festa de “moça nova” ontem e hoje

João Martinho de Mendonça (UFPB)

Este trabalho procura refletir sobre a constituição de imagens em torno da festa de puberdade feminina entre os Ticuna do Rio Alto Solimões. Toma como um de seus pontos de partida o trabalho fotográfico de Curt Nimuendaju realizado no início dos anos quarenta. A partir de um pequeno conjunto de outras imagens publicadas em contextos e épocas diversas, mais ou menos antropológicas, propõe-se, num segundo momento, alguns percursos em torno das variações imagéticas assumidas pelo tema da “moça nova” Ticuna. Discutir as diferentes situações de recepção essas imagens e as possibilidades de sua elaboração nos termos da antropologia visual atual é o objetivo principal dessa proposta. Procura-se, ainda, abordar a noção de “antropologia compartilhada”, oriunda da obra de Jean Rouch, de maneira a explorar possibilidades e limites de interação e comunicação entre pesquisadores e grupos indígenas na Amazônia atual, para além, portanto, do contexto marcadamente colonial em que emergiu a obra do antropólogo-cineasta francês. Neste caso, as diferentes imagens produzidas entre os Ticuna nas últimas décadas, inclusive por eles mesmos, aparecem como indicativo seguro para o desenvolvimento da antropologia visual nas suas formas contemporâneas, com sentido necessariamente colaborativo

2- Coleções, pesquisa e o acervo Curt Nimuendajú do Museu Nacional

Rafael Pessôa São Paio (Instituto Natureza e Cultura- UFAM)

Pretendo apresentar um pouco de minha experiência no Laboratório de Conservação e Restauração do Museu Nacional (período de 1997-2001), meu contato com o acervo Curt

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Nimuendaju dos documentos escritos e fotográficos, junto a equipe de lingüística e etnologia coordenada pelo Dr. João Pacheco e Dra. Marília Facó. Não incluindo as coleções de artefatos, entre peças arqueológicas, máscaras do Alto Solimões, cultura material timbira coletado por este incrível pesquisador autodidata que também tive contato ao reordenar algumas vezes as salas de exposição sobre cultura indígena, e andina do Museu Nacional. Colocar o problema da conservação e acondicionamento do material e seus problemas correlacionados não tanto ao nível institucional, mas, na relação pessoal com a constituição de acervo. Durante minhas pesquisas e coleta de dados de pesquisas e praticas de campo, (acredito que seja 'um problema' comum a grande parte dos pesquisadores- como acondicionar ou mesmo disponibilizar o acervo) que incluem no meu caso: entrevistas, gravações audiovisuais, fotografias entre povos Timbira, Urubu Kaapor, Guarani e atualmente Pano (no Javari), alem de material sobre cultura popular e religião afro maranhense- a Casa Fanti Ashanti. Busco construir através de uma narrativa pessoal as dificuldades de 'se perceber a importância dos fatos/ dados, os registros', problematizar como disponibilizar a experiência de coleta versus material coletado, o que é exposto ou publicado do material da pesquisa?

3- Interfaces entre a antropologia e a fotografia: Pedro Martinelli, Claudia Andujar e a fotografia na Amazônia

Thiago Lopes da Costa Oliveira

Nesta comparação visamos apresentar uma comparação entre dois projetos fotográficos que tiveram a Amazônia como palco, os trabalhos de Claudia Adunjar e Pedro Martinelli. Iniciados na década de 1970, respectivamente na Amazônia setentrional – nas cicatrizes abertas pelo projeto Calha Norte – e meridional, na abertura da BR-163, a rodovia Cuiabá-Santarém. Ambos fizeram escolhas incomuns para foto-jornalistas. Adunjar voltou diversas vezes ao contato com os Yanomami, chegando a permanecer 11 meses ininterruptos visando transpor, no sentido inter-semiótico, o universo xamãnico para a representação fotográfica – partindo do visível captado pela fotografia ao universo invisível dos transes xamânicos. Martinelli, por sua vez, foi o único repórter a ficar 2 anos na frente de contato dos índios Panará, chefiada pelos irmãos Villas-Boas. Seus registros condensam de forma incomum o cotidiano e os conflitos sociais das frentes de expansão. Nossa hipótese é que estes trabalhos apresentam na execução (metodologia), e na estética final, interfaces com a antropologia que permitem que nos interroguemos de forma comparada sobre seus diferentes resultados; e que os situemos diante de outros projetos fotográficos que tiveram a Amazônia como palco – registros de viajantes, de sertanistas, indigenistas e antropólogos, que narram a história da fotografia na Amazônia no século XX – e que constituíram de formas diferenciadas a imagem indígena para o restante da sociedade nacional.

4- Índios, natureza e representação em produções visuais sobre a Amazônia

Renato Athias (LAV – UFPE)

Este trabalho tem o objetivo de apresentar uma análise sobre as representações que produções visuais fazem a respeito dos índios e da natureza na Amazônia. Nessa apresentação, baseada em filmes e em fotografias sobre a Amazônia pretende-se discutir os principais elementos que norteiam essa análise, sobre a representacão dos índios. As narrativas que essas imagens apresentam são na realidade, os interesses de exploradores extrativistas em todos os sentidos. E essa discussão a desenvolver um entendimento sobre a noção de raça, classe e etnicidade na Amazônia, tal como explorado nos livros de fotografias de viajantes, com excelentes dados sobre a realidade das organizações indígenas e o dis- curso destas sobre elas mesmas e o que elas entendem sobre o desenvolvimento. Esse apresentação procura mostrar a dinâmica das organizações e suas lutas com os diversos interesses da Amazônia.

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SESSÃO IICoordenador: Gabriel AlvarezDebatedor: Renato Athias

1- Usos ritualísticos de ayahuasca em Alagoas: “escutando o coração das coisas”

Silvia A. C. Martins (AVAL – UFAL)

Trata-se de abordar o filme etnográfico “Escutando o Coração das Coisas” (23'), que é um dos produtos da pesquisa financiada pelo CNPq (2009-2011) “Eu vivo na floresta aprendendo a me curar”, que tem proposta de realização de etnografia visual sobre usos ritualísticos de ayhauasca em Alagoas. Nessa pesquisa, registros audiovisuais e fotográficos vêm sendo gravados, particularmente em contextos de religiões ayahuasqueiras tais como, Santo Daime, Essência Divina/CHIED e União do Vegetal. A partir dos registros visuais durante um workshop em que o psiquiatra suíço Samuel Widmer solicita ao Mestre André (dirigente do Centro de Harmonização Interior Essência Divina/CHIED em Alagoas) a realização de um ritual, esse filme etnográfico foi editado considerando diferentes pontos de vista sobre experiências xamanísticas vivenciadas pelos participantes através do uso de ayahuasca. Assim, há uma abordagem de práticas de xamanismo urbano quando índios (Wassú), suíços e brasileiros participam desse ritual que o Mestre André conduz.

2- Etnomidia: comunicação audiovisual xavante

Rafael Franco Coelho (UFG e FACOMB)

O texto analisa o documentário "Wapté M'nhõnõ: a iniciação do jovem Xavante", realizado em 1999 durante as oficinas do programa de formação e capacitação das populações indígenas do projeto Vídeo nas Aldeias. A partir das propostas e proposições para a análise de documentários, contidas na comunicação "A propósito da análise de narrativas documentais" apresentada por Francisco Elinaldo Teixeira na VIII Reunião da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema, pretendemos desenvolver nossa análise deste documentário. Em seguida, discutiremos a linguagem audiovisual a partir da função da câmera no filme, faremos um levantamento dos elementos centrais presentes na narrativa audiovisual e por fim, uma reflexão sobre a produção audiovisual xavante, a forma como esta etnia especificamente se apropriou dos meios audiovisuais traçando um panorama da sua recente produção audiovisual.

3- Olhares trançados: algumas questões sobre a utilização do vídeo em projetos coletivos

Andréa Borghi Moreira Jacinto (PPG em Direito Ambiental/ UEA)

O presente trabalho busca discutir a utilização do vídeo e a construção de sentidos em projetos coletivos de pesquisa. Serão apresentados experiências de dois projetos concluídos e um em andamento, todos na região amazônica, envolvendo distintos grupos sociais e perspectivas disciplinares, e vinculados ao Núcleo de Imagem, Direito e Meio Ambiente (UEA/PPGDA). Entre as questões discutidas, estão algumas relativas a condições técnicas e de produção; e a construção de representações e discursos ao longo dos trabalhos. Como os sentidos, bem como as potenciais utilizações dos vídeos, são negociados entre diferentes grupos disciplinares e sociais envolvidos em cada trabalho? Como as possibilidades e limites técnicos direcionam e/ou condicionam o que é selecionado e enfocado nos registros e edição dos materiais? Qual o lugar da antropologia, entre as diferentes abordagens acionadas, processos e construções de sentidos? Tais questões serão discutidas a partir de três projetos.

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4- Usando o you tube: duas experiências de mini-vídeos documentário

Carmen Rial (NAVI/UFSC)

Reflete-se sobre o uso de novas tecnologias de distribuição de vídeos e especialmente sobre o impacto destas na estética audiovisual, a partir da experiencia de realização de dois mini-filmes documentários: "Lições de Rouch" (Carmen Rial e Miriam Grossi, 8 min, NAVI/UFSC, 2008) e "Djero encontra Iketut em Bali" (Carmen Rial e Miriam Grossi, NAVI/UFSC, 2011, versão de 2 e 5 min)

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SESSÃO III- Coordenador: Renato AthiasDebatedora: Carmen Rial

1- Os dois lados do grande mar. Imagens para uma antropologia da reciprocidade e do diálogo

Pascale de Robert (IRD/MPEG)

Existem exemplos cada vez mais numerosos e talentosos de filmes realizados por indígenas, na Amazônia brasileira mais também no mundo inteiro. Com a difusão das tecnologias digitais, a explosão dessas produções (que muitas vezes nem chegam a sair da aldeia) leva proporções realmente extraordinárias que procuram interrogar as nossas disciplinas sobre os efeitos de um processo de democratização da antropologia, sobre tecnologias mais apropriadas às formas indígenas de se representar o mundo, o mesmo e o outro (dimensões tempo e espaço interligadas, importância da palavra com narrativas orais, etc.) e sobre novos espaços possíveis de dialogo e de reflexão. Com essa perspectiva, o trabalho apresenta a historia do filme “Ngô ti nhikjê” realizado em 2010 por um jovem cineasta da aldeia Moikarakô (TIK): Bepunu Kayapo.“O outro lado do grande mar” conta a viagem de uma delegação de cinco Mebêngôkre-Kayapo que foram participar da inauguração duma exposição realizada por eles em Paris e visitar depois a aldeia da antropóloga (eu) no interior da França. Além do olhar etnográfico sobre as esquisitas costumes do povo francês, o filme é um chamado ao dialogo entre as culturas através de repetidas sequências sobre o 'cantar' e o 'comer' juntos. Em paralelo, será preciso discutir as produções visuais sobre Amazônia visíveis na exposição de Paris: vídeos sobre os Mebêngôkre realizados pelos Franceses e vídeos sobre os Mebêngôkre realizados pelos Mebêngôkre, enfocando particularmente nas produções atuais e passadas do Bepunu Kayapo.

2- Ayngava, oreayngava: a percepção asuriní da imagem audiovisual

Alice Martins Villela Pinto (PPGAS/USP)

Este paper pretende traçar um histórico da relação dos Asuriní do Xingu, grupo Tupi que vive na margem direita do rio Xingu no Pará, com a imagem audiovisual desde o contato com a sociedade nacional, no início da década de 70, até os dias atuais. O objetivo é refletir sobre os efeitos produzidos pelo confronto entre uma noção de imagem associada ao princípio vital (ynga) e portanto informada pelo xamanismo, e as múltiplas imagens dos índios produzidas por modernos equipamentos de reprodução e projeção de imagens. Espera-se, assim, reunir alguns apontamentos para refletir sobre como se constrói uma perspectiva da experiência Asuriní no mundo contemporâneo a partir de suas formas tradicionais (cosmologia e ritual) e de formas e meios expressivos não indígenas (audiovisual).

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3- Os momentos interpretativos da antropologia e a antropologia compartilhada

Gabriel O. Alvarez (PPGAS/FCS/UFG)

O trabalho aborda a antropologia visual a partir do diálogo entre a perspectiva interpretativa, de Cardoso de Oliveira e a proposta de uma antropologia compartilhada de Jean Rouch. Esta reflexão teórico-metodológica, é analisada a partir da experiência etnográfica junto aos Sateré-Mawé. Nesta reflexão, os momentos interpretativos se desdobram a partir do uso do vídeo como estratégia de pesquisa. O registro e edição, feitos de forma compartilhada permitiram compreender a tradição cultural e produzir um material qualitativamente diferente, no qual se entrelaçam os recursos digitais com a construção de uma narrativa audiovisual compartilhada, a partir de uma tradição amazônica.

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OS INDÍGENAS E A CIDADE: PROCESSOS IDENTITÁRIOS, DIREITO E POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO URBANO

A presença de indígenas nas cidades latino-americanas é uma realidade. Em relação à temática, Romano (1982) problematizou a partir do conceito de etnicidade a questão dos Sateré-Mawé que residem em Manaus, Fígoli (1982) procurou compreender a trajetória espacial e a trajetória social dos imigrantes indígenas do alto rio Negro em Manaus. As formas de ocupação do espaço na indígena na cidade do México foi objeto de reflexão e análise de Batalla (1989). Ximenes (2009) discutiu a relação dos indígenas em Belém-PA com o poder público. Mainbourg e Araújo debateram a questão de saúde da população indígena na capital amazonense. Teixeira analisou a característica da população indígena brasileira a partir da análise dos dados do censo de 1991 e 2000. Grosso (1996) apresentou aspectos relativos à negação, ocultação a representação da identidade étnica em Santiago del Estero, argentino. Visando ampliar e fomentar as discussões envolvendo a organização social, ocupação e construção do espaço indígena na cidade, a participação política de indígenas nas instituições estatais, a inserção/exclusão dos indígenas nas políticas públicas, a luta pelo reconhecimento e ampliação dos direitos indígenas, a relação entre aldeia/cidade, são aspectos inerente a questão indígenas na cidade. Com base nessas linhas, o presente GT visa discutir de forma crítica a dimensão política e cultural assumidas pelas instituições e sujeitos sociais envolvidos com a questão, debater os processos de intervenção do poder público e o papel das organizações indígenas na discussão, implantação e desenvolvimento de políticas públicas direcionada para essa população indígena residente na cidade, analisar as etapas e os processos de articulação, mobilização e organização dos indígenas no espaço urbano. Portanto, o presente GT se justifica na medida em que se propõe a problematizar e ampliar as análises sobre à questão indígena a partir da dimensão política e cultural manifesta e latente no contexto urbano.

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SESSÃO I

1- Representações do espaço urbano entre universitários da etnia Sateré-Maué residentes no município de Parintins-AM

Dirceu Ribeiro Nogueira da Gama (UFAM/ICSEZ)

Nos últimos dez anos, as universidades públicas brasileiras vêm sofrendo um duplo processo tanto de criação de novas unidades como de expansão para regiões situadas no interior dos estados da Federação onde até então não elas existiam em caráter permanente. No caso do Amazonas, tal adensamento é verificado no aumento do número de faculdades e institutos vinculados a Universidade Federal do Amazonas e Universidade do Estado do Amazonas, localizados principalmente nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant, Humaitá, Itacoatiara, Coaria e Parintins, dentre outros. Esse movimento tende a provocar mudanças no cotidiano dessas cidades, na medida em que abrem possibilidades para as populações locais que outrora não havia. Dentre elas, urge citar o progressivo aumento do número de matrículas de jovens indígenas em cursos superiores das mais diferentes áreas do conhecimento, fenômeno esse ainda relativamente recente e que requer maiores análises críticas. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo, de natureza qualitativa, consiste em investigar as representações de espaço urbano entre jovens universitários indígenas na etnia Sateré Maué. Para tal, adotou-se como marco conceitual a idéia de espaço urbano enquanto instância instituída e instituinte de valores, normas e cosmovisões. Como estratégia

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metodológica para recolhimento de dados, solicitou-se a catorze universitários da referida etnia (dez homens e quatro mulheres) que, entre 01 e 20 de abril de 2011, respondessem com um texto a seguinte questão: “Se um distante antepassado seu aparecesse hoje à sua frente e lhe perguntasse o que é e como é a cidade, qual seria sua resposta?”. A análise das respostas seguiu o protocolo da análise temática e categorial de Bardin (1977). Os resultados encontrados concentram-se em torno de quatro grupos de categorias: 1) cidade como zona de redenção; 2) cidade como ameaça destrutiva; 3) cidade como núcleo de divulgação cultural; 4) cidade como abertura a novas possibilidades existenciais. Como conclusão, pode-se dizer que as representações dos universitários não assentam numa lógica linear, envolvendo conteúdos complexos e sem determinismos.

2- Indígena citadinoMichely Aline Jorge Espíndola (UFRN)

O movimento étnico em direção ao meio urbano não é um fenômeno novo. As cidades grandes atraem muitos grupos de pessoas e exercem, principalmente, forte atração nas populações que se encontram aos redores. Sendo assim, este estudo busca entender, através da etnografia, o movimento do “jovem” indígena da etnia Terena em direção à cidade de Campo Grande-MS. O imaginário sobre a cidade nos diversos tipos de movimentos cidade-aldeia (os “jovens” que vão morar na cidade, e os que fazem o trajeto constante entre a aldeia e a cidade), as formas de sociabilidades, o contato interétnico e a etnicidade é o foco da pesquisa. Além disso, a construção da categoria “juventude” pensada juntamente com os Terena citadinos. Como base para esse debate utilizo diversos autores, dentre eles Pacheco de Oliveira, José Guilherme Magnani, Roberto Cardoso de Oliveira e Hannerz.

3- As múltiplas faces da cidade: os índios urbanos de Altamira e a luta pela cidadania

Márcia Pires Saraiva (UFOPA )

A presença de índios morando em cidades é algo antigo e complexo. Contudo, as políticas públicas têm sido pouco satisfatórias para essa realidade e os indígenas que estão em contextos urbanos vêm sofrendo processos de exclusão de várias ordens. Em Altamira, esses índios enfrentam dura realidade, morando em áreas periféricas, sem saneamento básico, assistência a saúde, educação diferenciada e expostos a situação de violência urbana. Ainda assim, esses índios vêm se mobilizando através de suas organizações e se lançando na política partidária, pois a cidade é também um espaço de informação e aprendizado, onde freqüentam escolas, universidades e centros comunitários, inserindo-se no âmbito dos movimentos sociais mais amplos. Este trabalho pretende refletir, a partir da experiência desses indígenas, como se configura o estar na cidade, suas estratégias de articulação com outros atores sociais e de que modo isso contribui para o fortalecimento de suas associações e da identidade indígena.

4- Os Marúbo em Atalaia do Norte: dinâmicas sociais e reflexão da identidade étnica no contexto da cidade

Neon Solimões Paiva Pinheiro (UFAM/PPGAS)

Este ensaio é fruto de uma pesquisa etnográfica com o povo Marúbo da família lingüística Pano na cidade de Atalaia do Norte, Amazonas. Parte da reflexão de como a identidade Marúbo vêem se organizando socialmente na cidade com o surgimento de “aldeias urbanas”. Através da metodologia da Cartografia Social possibilitou realizar uma etnografia coletiva com os atores sociais, questionando as políticas do Estado referente a estes que vivem na cidade, assim, utilizando de discussões coletivas na elaboração de croquis (mapas) e dos problemas socioculturais encontrados na cidade e os mesmos atores propondo possíveis soluções para melhores condições de vida neste cenário. Neste trabalho proponho analisar a

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identidade Marúbo na cidade no termo da identidade tecida – centrada na análise das dinâmicas sociais e de como as relações sociais são as responsáveis pelas formas de sociabilidade sendo que a identidade não esta cristalizada, engessada ou congelada, mas esta no processo constante de negociação conforme o contexto sociopolítico de seus atores sociais envolvidos. A aldeia na cidade para os Marúbo é uma apropriação política e cosmológica de quanto à cidade é importante, e, faz parte da vida social e da territorialidade deste povo, para além da questão geográfica para a reflexão simbólica.

5- Trabalhadores indígenas na construção civil em Boa Vista-RR

Roseli Bernardo S. dos Santos (IFRR e UNISINOS)

O artigo tem como objetivo sinalizar sobre o processo de migração dos indígenas na cidade e suas condições de trabalhos especificamente na construção civil. Enfoca a vida na cidade, as condições de trabalho e as expectativas futuras da categoria indígena. Refletiremos sobre o significativo número de famílias, residentes em Boa Vista, estima-se entre 15 a 20 mil pessoas morando na cidade. Para o desenvolvimento da pesquisa buscou-se delimitar um bairro da zona leste da cidade com maior número de obras na construção civil, no qual foram entrevistados os trabalhadores indígenas sobre as reais condições de vida e trabalho na cidade. Neste cenário detectou-se um percentual expressivo de trabalhadores desenvolvendo funções diversas principalmente nos projetos de edificação das residências da área nobre da cidade.

6- Espaço e Identidade Pataxó: um estudo de caso em Aldeia Velha

Hugo Prudente da Silva Pedreira (UFBA)

Em 1998, teve seu impulso inicial a atual povoação de Aldeia Velha, num movimento de atração efetuado entre famílias indígenas do extremo sul da Bahia que viviam em diferentes contextos, rurais e urbanos, alcançadas por redes de solidariedade indígena intra e interétnicas. A principal articulação para a ocupação da área se realizou entre índios então residentes no distrito de Arraial d'Ajuda, em Porto Seguro, muitos dos quais viviam, depois da perda de suas terras e da vinda para a cidade, as consequências de uma urbanização excludente que os afastou do centro do Arraial. A aldeia vem lidando com o alto crescimento populacional, motivado, em grande medida, pela proximidade com o centro turístico daquela localidade, que oferece possibilidades de emprego, e para a venda de artesanato. A gestão do território em foco se processa, pois, em diálogo com a cidade, entre suas ameaças e ofertas, e tendo em vista os parentes indígenas que vivem nos bairros e, cada vez mais, procuram a aldeia.

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SESSÃO II

1- Reordenamento sociocultural e político: a construção da identidade coletiva em Manaus

Glademir Sales dos Santos (PNCSA/NCSA/CESTU-UEA) Altaci Corrêa Rubim (PNCSA/NCSA/CESTU-UEA)

Os povos tradicionais da Amazônia estão cada vez mais se instrumentalizando de meios técnicos e políticos em diferentes processos organizativos. As comunidades indígenas do Rio Cueiras se encontram na Região Metropolitana de Manaus – RMM e vivenciam situações de conflitos que os levam a uma tomada de decisão. Geralmente as comunidades são formadas por diferentes etnias, mas prevalece a

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etnia do tuxaua. Nesse sentido, temos: Três Unidos (kambeba); Aldeia kuanã (karapãna); comunidade Nova Esperança (Baré); Boa Esperança (Baré); Barrerinha (Baré). No Rio Negro próximo do Cueiras estão situadas as comunidade: São Tomé (Baré) e Terra Preta (Baré). Essas comunidades são oriundas do Alto Rio Negro, Médio Solimões e Alto Solimões. Estão no processo de reorganização sociocultural e político em busca da demarcação de terra, educação diferenciada e saúde diferenciada. O presente artigo tem como objetivo dar visibilidade aos conflitos e a elaboração da política de identidade pelos indígenas do Rio Cuieiras, através da análise do processo de territorialização, tomando como fundamento empírico a Aldeia Kuanã do povo Karapãna. A atividade de campo procura entender que os discursos dos agentes sociais evidenciam as implicações decorrentes do vigor de um pensamento voltado para as práticas de uma razão utilitarista e pragmática.

2- “Estados indígenas”: o caso etnográfico de São Gabriel da Cachoeira

Aline Fonseca Iubel (UFSCar)

Esta proposta de trabalho inicia um debate sobre a relação índios/Estado a partir do caso etnográfico de São Gabriel da Cachoeira, município amazônico da região do alto rio Negro, que tem passado por um recente movimento de transformação nas lógicas de englobamento e captura da máquina política de Estado, formando o que estou inicialmente chamando de Estado indígena. Parece que a marca histórica da relação índios/Estado (a captura dos índios por parte do Estado) tem passado por transformações, com os indígenas invertendo a lógica e englobando o que antes os englobava. Esta proposta apresenta uma novidade em relação aos estudos até então realizados nessa área temática: a tentativa de apreender simultaneamente as duas perspectivas do processo de formação desta nova configuração estatal – a indígena e a do próprio Estado. Pretende-se um diálogo entre duas grandes áreas temáticas da antropolo-gia – a etnologia indígena e a antropologia do Estado – a partir de um caso etnográfico específico.

3- Estigmatização e território: mapeamento situacional dos indígenas em Manaus

Glademir Sales dos Santos (PNCSA/NCSA/CESTU-UEA)

A obra Estigmatização e território: mapeamento situacional dos indígenas em Manaus é resultado da pesquisas sobre indígenas na cidade de Manaus, iniciadas em 2008, no âmbito do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, procuram explicar fatores identitários a partir das realidades localizadas e dos processos reais das etnias em suas territorialidades específicas. Os trabalhos de pesquisa foram realizados a partir de observações, da análise das publicações jornalísticas, dos depoimentos, das oficinas de mapas, que resultaram na elaboração de um mapa situacional dos indígenas na cidade de Manaus, perfazendo quinze situações sociais referentes às “aldeias” ou “comunidades”, ligadas a uma rede de organizações, que constituem as entidades de representação indígena, ao mesmo tempo em que tais situações mostram a vulnerabilidade do espaço físico e a objetivação das identidades coletivas em movimentos sociais. Tomando como exemplo os Sateré-Mawé, organizados em três associações e quatro “comunidades”, as condições de existência na cidade de Manaus revelam a emergência da diversidade de expressões culturais e a reelaboração de um novo processo de territorialização que imprime uma reconfiguração étnica à cidade.

4- O contexto social que possibilitou a criação da organização indígena Tikuna PIASOL

Mislene Metchacuna Martins Mendes (UFAM-PPGAS)

Trata-se dos motivos que possibilitaram a criação da organização indígena Tikuna PIASOL, criada por lideranças Tikuna da região do Alto Solimões no Amazonas, com a finalidade de propor uma “polícia

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própria”. Os objetivos se deram em analisar a importância do poder de articulação, desempenhado pelas lideranças indígenas no que diz respeito, a aquisição de mecanismos “salvacionistas” gerados através de processos civilizatórios, que reordenam os discursos indígenas, quanto à inserção de elementos simbólicos, associados à ideia do “urbano” presente na comunidade, surgindo como resposta e reafirmação étnica; e perceber como se processam as relações sociais frente à PIASOL. Como justificativa, partiu-se da repercussão causada na mídia, através de conflitos ideológicos por parte do Estado, como um todo, e pela necessidade de compreender o ponto de vista dos próprios Tikuna, acerca da PIASOL. Sendo necessário, refletir sobre os processos históricos passados pelos Tikuna, de forma a tornar visíveis os agentes sociais que compuseram grupos de interesses nesta região, que contribuíram para a realidade contemporânea em que se encontram os Tikuna.

5- Terra Indígena Beija-Flor: uma experiência de área indígena em perímetro urbano na Amazônia

Willas Dias da Costa (UFAM)

No ano de 2007 a Terra Indígena Beija-Flor foi homologada e reconhecida como reserva indígena dentro do perímetro urbano do Município de Rio Preto da Eva que compõe a Região Metropolitana de Manaus. Essa homologação resulta de um longo processo de luta por direitos e acessos a políticas públicas de indígenas pertencentes a dez etnias distintas organizados em quatro comunidades e uma associação indígena. Em nossa pesquisa observamos que as relações multiétnicas podem resultar em novas dinâmicas socioculturais num contexto de reordenamento político e de reconstrução identitária de grupos que se reorientam num permanente processo de ressignificação. A luta pela apropriação do território, o uso consciente e responsável dos recursos naturais numa atitude de sustentabilidade e a dinâmica cultural dos grupos em interrelação de experiência interétnica vem provocando importantes impactos na sociedade e indicando preconceitos e prejuízos que ainda precisam ser enfrentados neste contexto urbano.

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SESSÃO III

1- Alianças interétnicas na cidade de Manaus-Amazonas

Evelyne Marie Therese Mainbourg (ILMD-FIOCRUZ) Maria Ivanilde Araújo (UFAM)

A partir dos dados de uma pesquisa realizada em 2007 (financiada pela FAPEAM), o objetivo deste estudo foi de identificar a composição étnica da população indígena de Manaus, e as alianças matrimoniais entre etnias e com não indígenas. Trata-se de um estudo transversal realizado a partir de uma amostragem aleatória estratificada proporcional por bairro, representativa da população indígena residente em Manaus. A etnia foi declarada pelos próprios entrevistados. Foram realizados freqüências e cruzamentos relativos à etnia do sujeito, do seu esposo/a, do pai, da mãe, do chefe de família, etno-região de origem e número de etnias por domicílio. Os principais resultados mostram 40 etnias pertencendo a 6 etno-regiões, e uma predominância dos Sateré-Mawé e Tukano. Em mais da metade dos domicílios, há 2 etnias. A associação não-indígena/indígena ocorre mais com etnias do rio Negro ou com a etnia Sateré-Mawé. Há mais uniões com não-indígenas na geração atual do que na anterior.

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2- Implantação da Ação de Atenção à Saúde Indígena em Manaus: A construção de uma Rede de Atendimento na Atenção Básica

Paula Francineth Fróes da Silva Azevedo (SEMSA/PMM)

Geograficamente, Manaus está situada a Leste do Estado e a Norte do Brasil. Possui área de 11.401,068 km2 e limita-se a Norte com o Município de Presidente Figueiredo; ao Sul com os Municípios de Careiro da Várzea e Iranduba; a Oeste com Novo Airão e a Leste com os Municípios de Itacoatiara e Rio Preto da Eva. O Estado do Amazonas possui uma população de 2.961.804 habitantes, distribuída em 62 Municípios. Deste total de habitantes, 1.731,993 residem no Município de Manaus, com uma taxa média de crescimento anual de 3,77%. (fonte: IBGE). Segundo dados do senso de 2000 (IBGE), Manaus abriga uma população indígena de 7896, índios morando em diferentes bairros da capital, geralmente são encontrados vivendo em comunidades, mas existe um número expressivo de famílias indígenas vivendo fora dos núcleos comunitários, que se encontram espalhados nos bairros da cidade. Mediante a essa realidade, no final de 2005 iniciou-se na Secretaria Municipal de Saúde a construção de uma rede de atendimento na Atenção Básica voltada para as famílias indígenas que se encontram dentro dos cincos Distritos de Saúde. A proposta que norteou essa construção foi a da promoção da saúde dos indígenas através da identificação e cadastramento da população indígena urbana nos Distritos de Saúde, da construção do perfil sócio epidemiológico, da realização de vigilância em saúde, de ações assistenciais e de educação em saúde, respeitando as particularidades étnicas culturais de cada família cadastrada.

3- Índio urbano sem perder a identidade: os sentidos discursivos das novas identidades nas ciências sociais

Leila Maria Camargo (UFRR)Lourival Novais Neto (UFRR)

Este trabalho apresenta um recorte teórico da pesquisa de mestrado, ora em andamento, intitula-da:“Viver entre dois mundos: uma análise das práticas discursivas de indígenas e descendentes sobre o direito de ser índio urbano em Boa Vista, Roraima”. Procura-se analisar o modo de produção de sentidos relacionados à questão das identidades, dentro da discussão dos distúrbios identitários provocados pela globalização e as delimitações histórico-discursivas do indígena no espaço urbano. Embora neste trabalho se privilegie examinar as identidades como efeito de sentido produzido pela linguagem, procura-se incorporar as contribuições da antropologia, sociologia e psicologia à discussão. Busca-se compreender como os diferentes discursos destas ciências têm conseqüência na mudança discursiva sobre o fenômeno identitário, a partir das praticas discursivas de mulheres indígenas, pertencentes à Organização dos Índios da Cidade- ODIC- criada em 2005 - sobre o direito de ser indígena urbana.

4- Língua indígena e identidade em contexto urbano: o caso de Manaus (AM)

Frantomé Bezerra Pacheco (UFA/DAN/PPGAS)

Esta comunicação objetiva apresentar, a partir dos pressupostos da Antropologia Linguística, algumas reflexões sobre a presença indígena nas cidades da Amazônia, enfatizando o caso de Manaus (AM), e como são estabelecidas as complexas relações entre a língua tradicionalmente falada pelo povo indígena ao qual pertencem as pessoas que vivem nas áreas urbanas e a identidade étnica ou cultural por elas assumida e defendida. Ou seja, como esses indígenas moradores dos centros urbanos, como Manaus, empregam a língua tradicional de seu povo como estratégia de luta pelos seus direitos. Estão em jogo, nesse uso específico da língua indígena, as seguintes questões: 1) o uso interacional da língua indígena minoritária e das práticas linguísticas a ela associadas por indígenas de grupos étnicos da

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Amazônia está em contraposição aos usos político e sócio-interacionais da língua (portuguesa) majoritária, que foi historicamente imposta pelo Estado em detrimento da manutenção das línguas indígenas tradicionalmente faladas pelo povo ao qual grupos indígenas urbanos estão vinculados; 2) as línguas indígenas são empregadas como símbolo de identidade étnica ou de pertencimento étnico-cultural, estabelecendo diferenciações não apenas entre indígenas e não-indígenas, mas entre os diversos povos aos quais esses indígenas pertencem; 3) de uma perspectiva política, a língua indígena é uma “bandeira de luta” frente às reivindicações dos indígenas moradores dos centros urbanos feitas ao Estado e suas Instituições, que privilegiam os indígenas aldeados ou moradores das áreas e reservas indígenas, apesar dessa política ter sofrido algumas mudanças recentemente. Para exemplificar esta questão, cita-se aqui o caso da educação escolar indígena na cidade de Manaus que é uma reivindicação dessas pessoas que procuram manter seu vínculo étnico e, ao mesmo tempo, usufruir de seu direito à diferença frente a uma sociedade que usa a negação linguística como modo de integrar indivíduos e coletividades às suas estruturas excludentes. As nossas considerações partem de pesquisadores que abordaram a questão dos indígenas em contexto urbano tanto de uma perspectiva antropológica como sociolinguística (entre eles, Almeida, 2007; Bernal, 2009; Fígoli, 1982; G. Oliveira, 1998; Mainbourg et al., 2002; Pereira da Silva, 2001; W. Silva, 2001; C. Rodrigues, 2004; Pastoral Indigenista, 1996).

5- Os Sateré-Mawé e a estrutura de dominação: mecanismos e estratégias de poder na microrregião de Parintins no Estado do Amazonas

Raimundo Nonato Pereira da Silva (PGCP-UFRGS/UFRR)

O povo Sateré-Mawé ocupa tradicionalmente a Terra Indígena Andirá/Marau/Aicurapá, localizada na região microrregião de Parintins, no Estado do Amazonas e no Estado Pará. Entorno da Terra Indígena, estão instaladas as cidades de Parintins, Barreirinha e Maués, Estado Amazonas e Itaituba, Juruti e Aveiro Estado do Pará. A população Sateré-Mawé, conforme Teixeira (2005) corresponde a 8.500 pessoas, desse total, 998 residem em áreas urbanas dos municípios Maués, Parintins e Barreirinha e na capital amazonense. Nesse contexto, e considerando as relações que os índios mantêm com a sociedade nacional e as implicações desse contato para os povos indígenas em diversas regiões do Brasil, e centrando minha reflexão sobre um povo específico, neste caso, o Sateré-Mawé, a presente comunicação objetiva discutir os mecanismos de poder adotados pelos poderes públicos locais das cidades de Parintins, Maués e Barreirinha sobre os Sateré-Mawé, além disso, visa debater as estratégias utilizadas pelas diversas instituições públicas localizadas nesses municípios no processo de dominação. A discussão é pertinente na medida em que se propõe a refletir e analisar os mecanismos e as estratégias que marcam a relação entre os Sateré-Mawé e as instituições públicas no contexto na microrregião de Parintins.

6- O enfoque Histórico Cultural e as Políticas Públicas de Educação Indígena na cidade de Boa Vista

José Airton da Silva Lima (UFRGS\UFRR – PPGPOL-NECAR)

Na área da educação, uma das prioridades assumidas pelo MEC diz respeito à democratização dos bens educacionais, mediante a promoção da inclusão educacional e o combate à discriminação e às iniqüidades no acesso aos bens em geral (IPEA fevereiro de 2004). No segundo seixo –ressalta o documento- da política educacional, refere-se à melhoria da qualidade. Para tanto, prevê-se um conjunto de ações para promover a valorização, a formação e o aperfeiçoamento dos professores e dos trabalhadores em educação, bem como a melhoria do equipamento didático, da infra-estrutura física e do transporte escolar. É nestes dois eixos que está o desafio de se fazer este artigo, pois é a partir destes, que se estabelece uma série de medidas voltadas para a formação e o aperfeiçoamento dos professores, incluindo aí, os indígenas que

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residem e os que moram na cidade. Mas como é que surgem estas políticas públicas voltadas para a formação de professores indígenas que estão no espaço urbano? Será que ela nasce do confronto de classes, cujos, interesses são antagônicos? Ou o Estado -poder público- reconhece pacificamente estes estas políticas públicas e as implantas? Por mais que se tenha constatado um confronto de lutas, entre povos indígenas e o Estado, no processo histórico de conquista dos seus direitos, este não foi o único vetor que possibilitou tais conquistas. Marx e Engel relataram que a luta de classe é a força motriz do desenvolvimento social nas formações antagônicas. Em uma etapa –afirmam eles- do desenvolvimento social, a luta de classe conduz inevitavelmente à revolução social. Mediante a revolução social efetua-se o passo de uma velha formação socioeconômica a outra nova, em outras palavras, quer dizer que houve um progresso histórico. “La lucha de la clase revolucionaria es el único médio para resolver las tareas apremiantes del desarrollo social' ( abc Del conocimiento sócio-politico, Zerkin y Yá kovleva). Pois bem, pelo que se sabe, não se conhece na história de Roraima ou do Brasil nenhum exercito de indígenas ou armada revolucionária indígena que tenha tomado o poder e estabelecido suas reivindicações em políticas públicas. Este é o principal objetivo deste artigo refletir sobre a importância histórico-cultural dos povos indígenas do Estado de Roraima, e em especial àqueles que mantêm relação no espaço urbano, na formulação de políticas públicas para a educação indígena no que se refere à formação dos professores indígenas. Se não houve a tomada de poder pela classe oprimida e nem pela benevolência do Estado, como os Indígenas do Estado de Roraima, conseguiram ao longo de 33 anos, fazer com que o Estado Nacional, reconhece suas terras? Estabelecesse políticas públicas que atendesse suas reivindicações históricas, principalmente, na área da educação voltada para a formação de professores indígenas? É neste contexto que se estabelece a reflexão deste artigo: Qual a importância da teoria histórico - cultural na luta dos povos indígenas do Estado de Roraima na formulação de políticas públicas para a educação indígena no que se refere a formação de professores indígenas? É esta resistência histórico – cultural que fez o Estado Nacional, não fazer concessões na demarcação contínua de terras Indígenas no Estado de Roraima. O Estado Nacional vai ao Supremo, a Corte Máxima do País, mas não cede nem negocia a vontade histórica dos índios. Será que esta vontade política tem alguma relação com o processo de resistência histórico - cultual dos indígenas em Roraima? Por quê os povos indígenas de Roraima avançaram na conquista de seus direitos, no que se refere à educação e outros nem tanto? Quais são os instrumentos que levaram a estas conquistas? Uma das repostas pode esta voltada para a organização dos povos indígena, que, através desta, conseguiram elevar sua reivindicações a níveis de políticas públicas. Pode ser que o processo histórico cultural dos povos indígenas, seja tão forte, que fez o povo indígena resistir durante centenas de anos, e mais ofensivamente, nos últimos 33 anos de lutas constantes contra seus direitos. Agora, como foi feito isso e, quais instrumentos utilizados? São indagações e hipóteses que pretende - se aprofundar no desenvolvimento deste trabalho.

7- Índios em Trânsito: uma etnografia dos Baré em Manaus

Águido Akell Santos de Carvalho (DCIS/UFAM )

Resultado de uma pesquisa para conclusão de curso de Ciências Sociais da UFAM, o presente trabalho apresenta uma etnografia sobre índios Baré que vivem em Manaus, Amazonas, enfocando o modo como esse povo tece as redes das novas relações sociais no espaço urbano ao mesmo tempo em que reafirma e fortalece as suas redes tradicionais de relações étnicas, no contato freqüente com os seus locais de origem no alto rio Negro. Conduzida a partir de observação participante junto a famílias nucleares e comunidades Baré no perímetro urbano de Manaus e na zona rural do município, a pesquisa que deu origem ao presente trabalho esteve fundamentada na reflexão crítica e no uso dos conceitos de “índios em trânsito”, como eles próprios se definem, índios da cidade e na cidade, identidade étnica, etnicidade, fronteiras sociais, coletor formal de sentidos, atentando sempre para a dinamização dos aspectos culturais, sociais e políticos do povo Baré.

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GT26- "SÓCIOANTROPOLOGIA MARÍTIMA E PESQUEIRA"

Nas últimas décadas, houve um expressivo aumento de estudos acadêmicos sobre o universo da pesca artesanal no Brasil, abordando temáticas diversas e elaborando, para isso, novas teorias e metodologias, seja na área da socioantropologia marítima e pesqueira, seja em outros campos de conhecimento (etnobiologia, geografia, ecologia humana, economia, história, etc.), que alimentaram também o debate da socioantropologia marítima e pesqueira.

Nesse sentido, o objetivo do presente GT é, por um lado, permitir o encontro, debate e discussão sobre as diversas expressões societárias de diálogos humanos com os recursos naturais aquáticos (ribeirinhos, marinhos, estuarinos, lagos, lagoas, açudes, etc.), a partir das plurais formas de apropriações realizadas por pescadores e pescadoras artesanais, ações de resistências populares em defesa de seus territórios e os impactos e processos socioambientais que afetam tal população, como as atividades de lazer e turismo, políticas públicas, expansão de empreendimentos privados (aquicultura) e/ou estatais (portos e hidroelétricas), por exemplo; e, por outro lado, visa também promover e incentivar o diálogo e a interação entre diferentes campos do conhecimento, permitindo, assim, tratar problemas multidimensionais de forma interdisciplinar, embora seja conferindo maior ênfase aos temas ligados à socioantropologia marítima e pesqueira sem negar o acolhimento de pesquisas de outras áreas do saber.

Recentemente, novas categorias científicas e políticas emergiram com vistas a dar conta desses novos contextos de apropriações, conflitos e dinâmicas societárias. Sendo assim, a nossa proposta centra-se na possibilidade de discutir as implicações das novas categorias, pensando-as em relação às diversas populações pesqueiras tradicionais (litorâneas e ribeirinhas), seus critérios patrimoniais de sustentabilidade, formas múltiplas de trabalho e os impactos sobre seus complexos culturais e processos societários.

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SESSÃO I

1- Continuidades e mudanças nas artes de pesca artesanal na Baixada Santista – SP

Wilsom Moreira Júnior(Prefeitura Municipal de São Carlos – SP)

Na Baixada Santista/SP a pesca artesanal é uma importante atividade econômica e social, isso propiciou o surgimento de diversas comunidades pesqueiras. Através de entrevistas a pescadores procurou-se conhecer os processos de continuidades e mudanças das artes de pesca locais e quais os fatores que provocaram suas transformações. Este tema se mostra relevante, pois possibilita conhecer os motivos que levam os pescadores artesanais a se manterem com uma técnica tradicional e incorporarem inovações, também contribui para o entendimento das dinâmicas do processo de trabalho e a relação com o ambiente natural e antrópico. O resultado dessa pesquisa foi ao encontro da literatura pertinente, pois indicou que as comunidades de pescadores não são estáticas, há uma dinâmica própria no ritmo de mudanças que diferem da sociedade urbano-industrial, considera-se que até mesmo as comunidades tradicionais e pesqueiras incorporam inovações no transcorrer do tempo, convivendo com técnicas tradicionais.

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2- Trabalho na lama: saberes e fazeres de marisqueiras de duas comunidades costeiras do baixo sul baiano

Laita Santiago (ECOMAR/IBIO/UFBA)Miguel Accioly (ECOMAR/IBIO/UFBA)

Esta pesquisa tem como objetivo a produção de conhecimento crítico de base socioantropológica sobre práticas empíricas de marisqueiras das comunidades de Garapuá e Barra dos Carvalhos, na Bahia. Este conhecimento construído através do método etnográfico com a realização de oito entrevistas em profundidade tem como produto um inventário do seu estoque de conhecimento acumulado sobre a dinâmica da reprodução ambiental do complexo ecológico e dos recursos naturais que aí ocorrem, identificando tendências de mudança presentes no local. É com base neste “saber prático” que define o sentimento de pertença a um grupo social específico que se pretende criar subsídios para políticas públicas destinadas à promoção do trabalho feminino na pesca, que as reconheça como produtoras de alimentos extraídos de um ecossistema estigmatizado, levando-as a incorporar o valor econômico e social do meio que exploram.

3- Arranjos institucionais e desenvolvimento econômico: perspectiva sobre o manejo comunitário pesqueiro na amazônia.

Eduardo Gigliotti (INPE)

A Amazônia em toda sua extensão territorial destaca-se não apenas por suas riquezas naturais, mas também pela problemática acerca dos processos de ocupação humana. É notório como algumas comunidades ribeirinhas voltadas ao manejo dos recursos pesqueiros podem estar relacionadas à preservação dos lagos e proteção dos recursos e, portanto, integradas ao desenvolvimento econômico local. Em última instância, constatase que nestas organizações comunitárias as instituições e o desenvolvimento econômicosão interdependentes, mas evoluem conjuntamente. Este trabalho propõe identificar em áreas onde um manejo comunitário pesqueiro foi implementado padrões e mudanças do uso da terra que correspondam às ações tomadas coletivamente. A priori pretende-se verificar a eficiência de um acompanhamento dos processos de ocupação humana por sensoriamento remoto para posteriormente verificar se em virtude de sua importância as ações que se aproximaram dos ideários de sustentabilidade possam ser identificadas e reproduzidas socialmente em outras áreas da região.

4- Caminhos da Sócioantropologia marítima na amazônia

Lourdes Furtado (Goeldi/PPGCS/UFPA)

Abordar os caminhos percorridos pela pesquisa antropológica pluridisciplinar na Amazônia, a partir de experiências de trabalho de campo de um grupo de antropólogos do Museu Emilio Goeldi e de instituições congêneres, em comunidades pesqueiras marítimas e ribeirinhas, visando mostrar que os resultados têm contribuído para o conhecimento desses povos, a formação de massa crítica e a construção de um campo disciplinar acadêmico em cursos de pós-graduação. O trabalho propõe uma reflexão sobre o tema enfatizando as linhas de pesquisa, sua dinâmica e seu porvir nas instituições de pesquisa e ensino.

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5- Estudos socioantropológicos da pesca no Brasil

Winifred Knox (UFES)

O trabalho visa fazer uma reflexão sobre questões encontradas em estudos socioantropológicos da pesca no Brasil. Tanto do ponto de vista teórico como naquele que envolve o trabalho de campo ao lidar com os problemas encontrados pelas populações que trabalham com os recursos mar e vivem no litoral, quais sejam a intensificação da ocupação da faixa litorânea por residências, pelo turismo, pelas indústrias de energia e petróleo, ou ainda outros. Parte-se da confrontação da construção teórica na relação com os estudos empíricos pretendendo (des) construir os percursos teóricos e confrontá-los com as questões que o loccus da pesquisa faz emergir. Deste modo espera-se refletir sobre os principais instrumentos investigativos, como conceitos e teorias disponíveis, e a sua amplitude de análise nas principais questões apontadas pelos estudos, cumprindo deste modo um processo em que ao mesmo tempo percebe os principais problemas que as populações da faixa litorânea estão sujeitas nos últimos 20 anos, e também o modo como têm sido vistos e trabalhados.

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SESSÃO II

1- Reservas extrativistas costeiro-marinhas

Erika Pinto (ICMBio)

As Reservas Extrativistas são unidades de conservação genuinamente brasileiras que apresentam uma série de particularidades e diferenciais, explicitando o caráter intrínseco da relação entre interesse social e ecológico e representando um dos primeiros modelos de reconhecimento oficial de “Áreas de Conservação Comunitárias”. As RESEX foram propostas como resultado de lutas de movimentos sociais de extrativistas da Amazônia e as primeiras áreas foram criadas em 1990. A partir de então, o modelo expandiu-se para outros ecossistemas brasileiros, com destaque para a zona litorânea. Atualmente as RESEX Costeiro-Marinhas representam 22 Unidades, as quais somam-se mais de 40 pedidos de criação de novas áreas. A criação de RESEX tem sido a principal estratégia identificada e utilizada por comunidades de pescadores artesanais em processos de resistência e defesa de seus territórios, com diversas implicações sociais e políticas nas dinâmicas societárias. Este trabalho objetiva traçar um panorama geral da situação de criação, implementação e gestão destas Unidades, abordando os principais conflitos e desafios e a relação das RESEX com o universo da pesca artesanal no Brasil.

2- Turismo em unidades de conservação (uc): experiências recorrentes e sustentabilidade em comunidades haliêuticas no Pará?

Helena Quaresma (UFPA)Raul Campos (UFPA)

O modelo de criação de UC no Brasil que desconsiderou as especificidades sociais, e o turismo que é apontado como viabilidade econômica sustentável, se apresentam como possibilidades à reversão do processo predatório sobre os recursos e de subsistência. Até que ponto isso de fato vem ocorrendo nas UC inseridas em sociedades haliêuticas, é o que se propõe analisar. Pretende-se discutir como as comunidades pesqueiras do nordeste paraense participaram ou não na criação das UC, e como o turismo efetivado nas mesmas insere-se na perspectiva da inserção social. A relevância desta discussão se justifica pelo fato da diversidade social ser um fator importante na Amazônia, e vem sendo sempre

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ignorado pelo Estado, seja no que tange a criação de políticas ambientais, seja no fomento de ações/linhas de crédito que venham a dinamizar alternativas viáveis de desenvolvimento para as sociedades pesqueiras, neste caso, o turismo. Palavras-Chave: Turismo; Unidades de Conservação; Sociedades Haliêuticas.

3- “É nessas águas que vou”: trabalho, tradição e resistência da pesca artesanal na resex acaú-goiana PB/PE

Gekbede Silva (UFPB/IFAL)

Populações tradicionais, localizadas no estuário do rio Goiano, divisa da Paraíba com Pernambuco, como a comunidade de Acaú-PB vivenciaram a criação de uma Reserva Extrativista em 2007, tem a pesca artesanal como uma das principais atividades econômicas. A criação de uma reserva extrativista implica em repercussões na vida social, cultural e no manejo da pesca. Dessa forma, desenvolvemos um trabalho de pesquisa de campo refletindo sobre tradição e modos de vida atrelados ao trabalho da pesca artesanal, os impactos gerados sobre seus processos societários, conflitos socioambientais nas práticas pesqueiras frentes a empreendimentos da carcinicultura. Buscamos através da socioantropologia marítima e pesqueira, acompanhando o processo de criação da reserva extrativista e da pesquisa participante, registrar depoimentos, relatos, memórias e narrativas de homens e mulheres ações de resistências frente às mudanças. Assim, pretendemos contribuir com o diálogo relativo as questões da prática societária da pesca artesanal, sobre os impactos ambientais e conflitos que permeiam o “saber” e “fazer” dessa atividade, o que nos ajudará a construir uma etnografia das populações costeiras que vivem da pesca às margens do rio Goiana.

4- Cultura ribeirinha e turismo comunitário: tradição e modernidade entre os moradores da Ilha do Combu

Denize Adrião (FIBRA)

A pesquisa focaliza modo de vida familiar e sócio cultural dos moradores da ilha do Combu (APA), localizada no rio Guamá a 1 km da orla sul da cidade de Belém. São pescadores artesanais e extratores dependentes dos recursos da natureza, com modo de vida simples dos povos da floresta. É uma região que guarda certo exotismo natural tanto na paisagem quanto no seu aspecto e estilo de vida. Atraindo cada vez mais pessoas de fora e envolvendo a população local nas novas demandas e solicitações dos turistas. Transformações sociais, econômicas e culturais são traços deste novo cenário. O turismo surge como opção de trabalho e renda. Pensar na gestão e sustentabilidade socioambiental através do turismo de base comunitária entre os locais é um dos objetos desta reflexão.

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SESSÃO III

1- O papel dos laboratórios de antropologia – o caso do Laboratório de Antropologia dos Meios Aquáticos (LAMAQ) e as mediações junto às comunidades marítimas pesqueiras

Lourdes Furtado (Museu Paraense Emílio Goeldi)Graça Santana (Museu Paraense Emílio Goeldi) Isolda Silveira (Museu Paraense Emílio Goeldi)

Refletir sobre o papel e o valor dos laboratórios de antropologia, focando para metodologias e mediações entre a pesquisa e as comunidades pesqueiras, visando incentivar inovações no trânsito

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entre a elaboração das pesquisas e os retornos às comunidades de pescadores, assim como nas ações de extensão e constituição e dinamização de acervos e coleções.

2- Capital social no associativismo: limites e perspectivas entre os “povos das águas”

Potiguar Júnior (UFPA)

A discussão sobre o capital social no associativismo pesqueiro na Amazônia vem tomando dimensões significativas demonstrando aspectos positivos e negativos envolvendo pescadores, associações de classes e lideranças locais, tornando-se fundamental reforçar esse debate para no contexto acadêmico. Aqui o objetivo será mostrar debates, de como o capital social vem se delineando em estudos na região paraense evidenciando limites e perspectiva do associativismo pesqueiro entre os pescadores em determinadas áreas no Pará, além de provocar reflexões objetivando apontar alternativas ao que aqui se propõem debater. A metodologia utilizada foi uma breve revisão bibliográfica de estudos feitos na pesca artesanal, em particular e algumas regiões paraenses e que compôs um dos capitulo de minha dissertação de mestrado em 2009 na Universidade Federal do Pará. Assim, as análises apontaram que a organização política pesqueira encontra-se fragilizada e deve ser (re) significada dentro da perspectiva que aponta Putnam (2008), principal teórico sobre o capital social e o associativismo. Essa (re) significação se pauta no sentido de fortalecer a organização política dos pescadores em algumas regiões do Pará, absorvendo as trajetórias de pouco sucesso para alimentar experiências inovadoras e desafiadoras na busca de acordar e alimentar capitais sociais adormecidos em algumas lideranças e regiões paraense no contexto da pesca artesanal, favorecendo assim um associativismo mias coeso e fortificado.

3- Os jangadeiros da praia de São José da Coroa Grande-PECristiano Ramalho (UFS)

A presente pesquisa, além de apoiar-se em dados quantitativos oriundos do IBAMA, IBGE e de bibliografia sobre o tema, realizou um estudo sobre jangadeiros da praia de São José da Coroa Grande, última do litoral sul de Pernambuco. O objetivo foi o de entender os processos de sociabilidade e trabalho do mais antigo personagem da pesca artesanal da costa nordestina: o jangadeiro. Para tanto, de junho a dezembro de 2008, fizemos uma pesquisa etnográfica. Foram entrevistados 22 pescadores (jangadeiros mais antigos e jovens da comunidade), feitos inúmeros registros fotográficos e fartas anotações de campo decorrentes das observações in loco sobre o dia-a-dia dos pescadores de jangada. Ademais, chegamos a morar 01 mês na localidade, de outubro a novembro de 2008, para podermos melhor desvelar o cotidiano de vida e trabalho dos jangadeiros.

4- Pesca e estratégias de produção/consumo: um balanço bibliográfico

Alejandro Labale (PPGAArq/UFPI)Ulisses de Andrade LIMA PPGAArq/UFPI)

No marco do Programa Desenvolvimento Territorial Sustentável: Ambientes Costeiros do Estado de Piauí; o presente artigo atenta para um balanço conceitual e metodológico sobre pesca e populações costeiras. Este “estado da arte” objetiva um balanço dos aportes clássicos às últimas publicações sobre pescadores, caiçaras e trabalhadores do mar, com ênfase nas artes, embarcações e técnicas de captura; e, aliadas a estas atividades marítimas, as estratégias grupais que podem englobar-se no conceito de pluriatividade. Primeiro passo direcionado a problematizar um local da costa do Piauí com população nativa tradicionalmente ligada à pesca artesanal que conta hoje com grande afluxo de visitantes e novos moradores, dentre outros vetores de modernização e novas práticas de sociabilidade que os aproxima de outras experiências já reportadas em inúmeros estudos para as costas brasileiras.

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Gt27- ANTROPOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA

Um dos aspectos mais instigantes no diálogo da antropologia com as ciências da saúde tem sido analisar como ocorrem os processos de apropriação e de resignificação das políticas universalistas de atenção à saúde implementadas por diferentes países e como estas apropriações são incorporadas, rechaçadas ou minimizadas pelos profissionais de saúde e pelos usuários/as dos serviços. Ideais de equidade, universalidade e integralidade ou de respeito a diversidade cultural e atenção diferenciada são princípios formais de muitos programas contemporâneos, porém até que ponto e, sobretudo, como estes são traduzidas no plano do atendimento local é uma das dimensões tradicionalmente estudadas pelos/as antropólogos. O relativismo e a etnografia, em especial, tem contribuído muito, teórica e medologicamente, para uma compreensão mais acurada destes processos, complexos, heterogêneos e multifacetados. Por outro lado, as reflexões realizadas pelos pesquisadores do campo da saúde pública seguem sendo desafiadores para a reflexão dos antropólogos, pois as especificidades da saúde publica, quase sempre presentes nas pesquisas, tendem a ser secundarizadas. A proposta deste GT é reunir pesquisas que tomem a saúde publica um ponto de reflexão mais especifico, reunindo pesquisas que reflitam sobre os processos contemporâneos de saúde e doença que ocorram no âmbito da saúde pública, levando em considerações as mudanças institucionais decorrentes de reformas e/ou mudanças políticas recentes ocorridas nos países latino-americano, em especial, entre os quais, a reforma sanitária e a reforma psiquiátrica brasileira. Estudos realizados sobre o PSF, programas de treinamento de parteiras e curadores tradicionais, entre outros, bem como programas não-governamentais que tenham interface com a saúde pública, serão, bem como pesquisas que abordem questões referentes à saúde mental e saúde reprodutiva e sexual, como assistência ao parto, aborto e contracepção .

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SESSÃO I- PRÁTICAS DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E INTERAÇÃO COM USUÁRIOS E PARTEIRAS

1- Imbricações políticas nas práticas cotidianas de trabalhadores do Sistema Único de Saúde

Lucenira Luciane Kessler (PPGAS/UFRGS)

Desde outubro de 2009, realizo pesquisa etnográfica em duas unidades de atenção primária pertencentes ao Grupo Hospitalar Conceição, situado em Porto Alegre/RS. O presente texto, no entanto, faz um recorte no universo de investigação e de análise para debruçar-se sobre o cotidiano de trabalho de uma destas equipes de saúde, tendo como ponto de partida etnográfico o acolhimento -ação em saúde praticada nesta equipe- e colocando em discussão os vários discursos e práticas relativos à hierarquia/horizontalidade entre as distintas categorias (posições) profissionais, suscitados neste cotidiano de trabalho. O objetivo deste texto é conectar as práticas em saúde às formas de organização do trabalho no SUS e justifica-se pelo interesse mais amplo dessa pesquisa que é o de compreender algumas das formas pelas quais o sistema público de saúde vigente no Brasil vai sendo colocado em prática no cotidiano dos serviços.

2- A produção de políticas públicas no CAPs EsperançaLecy Sartori (UFSCar)

Esta comunicação procura explorar as notas etnográficas de uma pesquisa de campo realizada no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Esperança, em Campinas. Procuro, com isso, descrever como os profissionais da equipe técnica refletem sobre suas práticas terapêuticas. De forma mais

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específica, pretendo descrever uma reunião de supervisão clínica que me possibilitou observar como seus atores avaliam a eficácia de suas práticas de cuidado. Nessa reunião, foi possível observar como um caso particular permitiu à equipe de profissionais repensar seu projeto institucional. Em outras palavras, procuro explorar como as práticas locais refletem em ações que modificam as formas de cuidado que não se voltam mais para a cura da doença mental, mas para o controle social de seu sofrimento. Com isso, pretendo expor como as políticas públicas são produzidas localmente. Ao mesmo tempo em que as modificações produzidas fazem seus atores repensarem as prescrições das diretrizes da saúde mental.

3- Os limites da humanização no parto: um estudo de caso na maternidade Elpídio de Almeida (Campina Grande- PB)

Maria Patrícia Silva de Souza; Maria de Assunção Lima de Paulo (União de Ensino Superior de Campina Grande-PB)

Compreendemos que o processo de humanização no parto não pode ser visto como algo simplesmente natural, mas como social e culturalmente construído, como um processo que envolve aspectos institucionais, sociais, culturais e psicológicos entre o profissional da saúde e as parturientes. Este trabalho foi realizado na Maternidade Elpídio de Almeida- ISEA, localizada na cidade de Campina Grande – PB, e teve como objetivos Identificar a humanização do parto na perspectiva do enfermeiro; Verificar as experiências de outras gestações e a eficiência do pré-natal; Analisar o atendimento da maternidade. Metodologicamente, o estudo se pautou em entrevistas e observação direta com 8 parturientes que se encontravam na instituição no momento da pesquisa e 4 enfermeiras que estavam diretamente ligadas com a assistência ao parto. Os métodos utilizados permitiram-nos interpretar que as práticas dos profissionais não são condizentes com um efetivo atendimento que indique a humanização no parto.

4- A noção de risco no atendimento à gestação, ao parto e ao puerpério a partir da perspectiva de parteiras tradicionais em Pernambuco – uma primeira aproximação

Júlia Morim de Melo (UFPE)

A partir da institucionalização do parto, o hospital passou a ser o “lugar” do nascimento. Parto e nascimento saíram da esfera familiar/doméstica e passaram ao domínio médico. Entretanto, atualmente muitas mulheres tem filhos em casa, seja por opção ou pela falta dela. O presente artigo traz reflexões acerca da noção de risco no atendimento ao ciclo gravídico puerperal a partir da perspectiva de parteiras – “assistentes”, “curiosas” – entrevistadas durante pesquisas, das quais fui integrante, realizadas pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e pelo Instituto Nômades, em projetos distintos, nos anos de 2007 a 2009. A proposta é abordar a visão dessas mulheres de corpo, vida e morte, no período de gestação e parto, bem como discutir sobre as transformações ocorridas no conceito de risco, do que elas caracterizam como perigoso, a partir do maior contato com o sistema público de saúde e de sua participação em cursos de capacitação para parteiras, e como essa mudança se desdobra na atividade e no atendimento às mulheres.

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SESSÃO II : AUTOCUIDADO, ATENDIMENTO E PERCEPÇÕES DOS USUÁRIOS

1- “Não importa qual é o remédio. Fica bom eu paro”: reflexões sobre alguns conceitos farmacêuticos à luz das atividades de autoatenção

Eliana Elisabeth Diehl (UFSC)Esther Jean Langdon (UFSC)

Pesquisas antropológicas com foco nos medicamentos vêm sendo realizadas desde os anos 1980 em diversos países. Alguns autores propõem, em uma abordagem da antropologia médica, estudos desde a produção e marketing até os usos dos medicamentos. Avançando essa temática, propomos discutir alguns conceitos que são caros às ciências farmacêuticas e à biomedicina, como adesão, automedicação, uso racional, eficácia e efetividade, sob o olhar das “atividades de autoatenção”, que deslocam da concepção biomédica de indivíduo para sujeitos e grupos sociais. Importante ressaltar que as políticas de saúde, em que pese a inclusão de ideais de diversidade sociocultural e atenção diferenciada em algumas delas, ainda se traduzem em serviços de saúde que pretendem aplicar tais conceitos, ignorando a autonomia de quem distribui e faz uso de medicamentos. Entendemos que essa discussão tem potencial contribuição não só para a reflexão teórica, mas também para as práticas profissionais do setor saúde.

2- Gestantes hipertensas: experiências, subjetividades e formas de atenção e autoatenção à saúde

Marialda Martins; Marisa Monticelli; Eliana Diehl(UFSC)

Na prática profissional em um hospital-escola, percebemos que a experiência das gestantes hipertensas é quase sempre negligenciada, prevalecendo a explicação da doença e a intervenção pautadas exclusivamente na biomedicina. Há pouca valorização sobre a necessidade de se conhecer as perspectivas subjetivas dessas mulheres, assim como as redes de símbolos e significados que norteiam seus cotidianos frente à sua situação de “gestantes de risco”. Além disso, as diferentes atividades de autoatenção usadas por elas sequer são consideradas e, quando conhecidas pelos profissionais, são julgadas negativamente. Propomos uma releitura sobre o modo como as gestantes são atendidas no setor formal de saúde, com base no conceito de autoatenção de Menéndez (2003), englobando tanto as subjetividades e práxis dessas mulheres, quanto a intencionalidade do processo de atenção à saúde sob o ângulo profissional. Tal reflexão desloca o olhar para quem sofre, potencializando contribuições ao serviço de saúde.

3- O itinerário etnográfico do serviço de atendimento: do H.U ao Clementino Fraga

Àtila Andrade de Carvalho (UFPB)

O presente trabalho como objetos de pesquisa casais heterossexuais sorodiscordantes na cidade de João Pessoa/PB. Buscou-se apreender as formas de relações sociais e percepções dos casais com relação aos dois Serviços de atendimento especializado: SAE H.U e SAE Clementino. Partindo da observação participante e da análise das entrevistas, fez-se uma apreciação das formas de sociabilidade e a repercussão da relação usuário/profissional no serviço especializado. A proposta da exposição do presente trabalho se apóia num recorte temático, englobando um período da pesquisa que vai de setembro de 2008 a dezembro de 2010, realizada pelo GRUPESSC: Casais sorodiscordante no Estado da Paraíba: Subjetividade, Práticas Sexuais e Negociação do Risco. Visamos investigar o preconceito em sua relação com o segredo e poder em sua construção social a partir dos discursos do portador. O referencial teórico esta balizado nas discussões a partir da literatura: Estigma, segredo, poder e AIDS.

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4- Fofoca, referências de gênero e culturas sexuais entre mulheres jovens da periferia da Cidade do Recife

Marion Teodósio de Quadros (UFPE) Karla Adrião Galvão (UFPE)

Ana Marta de Carvalho Teodósio(UFPE)

Este trabalho discute sobre saúde sexual e reprodutiva de mulheres jovens de um bairro de periferia de Recife, articulando as referências de gênero e de culturas sexuais na comunidade das jovens, particularmente na relação das mesmas com o serviço do posto de saúde e com a família e a vizinhança. Estas redes são importantes para refletir como as mulheres jovens constituem suas práticas e parcerias sexuais. Realizou-se a etnografia no bairro e 12 entrevistas com interlocutoras entre 16 e 24 anos. Os resultados apontam que as referências de gênero e de culturas sexuais interferem na forma como as jovens vivenciam a sexualidade e como buscam o serviço do posto de saúde. Há um sentimento de amor romântico entre as jovens e seus parceiros, que é indicador do uso ou não uso de métodos preventivos e contraceptivos. A fofoca aparece como elemento de desconfiança entre as jovens que já têm vida sexual, fazendo com que não busquem diálogo com amigas, familiares nem profissionais de saúde.

5- Receitas, filhos e injeções: sexualidade e contracepção em uma unidade de saúde

Carmen Susana Tornquist (UDESC)Rozeli Maria Porto (UFRN)

Denise Soares Miguel (UDESC)

Esta comunicação analisa uma unidade de saúde de um bairro popular de Florianópolis, tendo por foco sexualidade e da contracepção Buscamos perceber os agenciamentos dos sujeitos em torno das normas, valores, rotinas e princípios do sistema de saúde biomédico atinentes a sexualidade e reprodução, verificando como as pessoas aderem a racionalidade biomédica, e como os diferentes profissionais da Unidade de saúde lidam com esta.. Buscou-se também compreender as razões que presidem as escolhas dos métodos contraceptivos pelas usuárias, bem como a valorização da maternidade, que se articula com seu desejo de controle da fecundidade. Percebemos diferenças significativas entre as concepções de corpo, de sexualidade e de direitos reprodutivos entre os profissionais de saúde, os agentes comunitários e as usuárias, e as dificuldades de interlocução entre estes sujeitos, mas também tentativas de romper com estes distanciamentos, o que atesta o desafio que constitui a integralidade para o SUS.

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SESSÃO III- DIVERSIDADE E ATENÇÃO DIFERENCIADA NAS PRÁTICAS, AVALIAÇÕES E REPERCUSSÕES DE PROGRAMAS E POLÍTICAS DE SAÚDE

1- Quando quem cuida é o “inimigo”: os Wari' e os “brancos” no contexto da atenção à saúde na Amazônia Ocidental

Maurício Soares Leite (UFSC)

O cotidiano dos índios Wari' é marcado por um conjunto de práticas terapêuticas sistematicamente ignoradas ou negadas pelo sistema de saúde oficial – em que pese o diálogo nativo com os saberes e práticas biomédicas. Esta dinâmica relaciona e hierarquiza, em meio a tensões e conflitos, corpos distintos de conhecimentos e práticas, com pressupostos e epistemologias por vezes incompatíveis e que não se limitam ao campo da saúde. Tais distinções e tensões são ainda indissociáveis de uma relativamente

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recente e violenta trajetória de contato com não-índios, permanentemente evocada e se reatualiza seja nas idas à cidade, seja nos contatos com as equipes de saúde. Este trabalho centra-se na elaboração e percepção nativas acerca destas dinâmicas e interações, aqui entendidas em um contexto interétnico e de intermedicalidade, e pretende contribuir para o aprofundamento das discussões sobre a chamada “atenção diferenciada” nas políticas públicas de atenção à saúde dos povos indígenas no Brasil.

2- “Fomos sorteados com a doença”: raça e reprodução no Programa de Anemia Falciforme em Pernambuco

Ana Cláudia Rodrigues da Silva (UFPE)

Este texto pretende discutir a inserção de programas de saúde com recorte racial no SUS e sua influência na vida de usuário (a)s. O governo brasileiro vem instituindo políticas públicas que reconhecem as desigualdades raciais, estas políticas reivindicam a efetividade das diretrizes, universalidade, equidade e integralidade apregoada pelo SUS. O Programa de Anemia Falciforme (PAF) foi lentamente implementado nos estados. Em Pernambuco o PAF data de 2001 e tem dentre suas metas a detecção, o tratamento da doença e o aconselhamento genético para pessoas portadoras de AF. No aconselhamento genético afloram questões referentes à raça e reprodução. Raça, pelo fato da AF ser referida como uma doença étnica e reprodução, pela necessidade de orientação dos riscos na geração de filhos com doença falciforme. Desta maneira, é importante pensar como essas políticas interferem na vida das pessoas e como estas re-significam a relação saúde – doença.

3- Entre a universalidade e a particularidade: entraves à consolidação do direito à saúde de transexuais

Izis Morais Lopes dos Reis (MPDFT)

O Ministério da Saúde implantou o Comitê Técnico de Saúde para Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais a fim de construir ações políticas que garantam o direito à saúde destes segmentos. Entretanto, este CT é estratégia inserida em um contexto de concorrência entre perspectivas para a definição de quais rumos a ação estatal em saúde deve seguir. Este trabalho é parte de reflexões presentes em minha dissertação de mestrado sobre as interfaces entre política, saúde e transexualidades, com pesquisa realizada sobre a atuação do CT GLTB. A problemática é referente à busca pela compreensão de como as políticas públicas constroem (e são construídas) subjetividades que se encarnam em duas dobradiças: por um lado, corporalidades específicas; por outro, valores, emoções, auto-percepção e modos de vida de um grupo que articula demandas pela visibilidade de sua condição desvinculada de ideias patologizantes. Para isto, o texto apresenta perspectivas de profissionais envolvidos com o campo da atenção aos transexuais, e tem como foco central analisar as tensões presentes no debate sobre os significados da universalidade e das particularidades (ou diferença), significados (re)produzidos a partir da inserção social e crenças morais dos sujeitos que falam (técnicos do MS e representantes do judiciário). Esta tensionalidade se encontra na pergunta: a quem garantir acesso aos serviços públicos de saúde quando são constituintes deste campo a consciência do impacto das relações assimétricas de poder nos processos saúde-doença, uma legislação que tem como princípio a universalidade e, ao mesmo tempo, a existência de uma realidade de escassez de recursos públicos?

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4- Saúde Pública e Cidadania: sentidos do SUS e dos 'direitos' em um contexto de exclusão

Pedro Francisco Guedes do Nascimento (IUFAL) Ariana Cavalcante de Melo (UFAL)Darlane Custódio Santos (UFAL)

Quais os sentidos associados à noção de saúde como direito em um contexto marcado pela ausência de garantia de direitos básicos? O que significa dizer que a saúde é um direito de todos quando muitos querem garantir o pagamento de um seguro privado de saúde para não ter que “depender” do SUS, pensando-o como um sistema voltado aos pobres? Esta comunicação pretende refletir sobre essas questões a partir de uma pesquisa que está sendo realizada em serviços de atenção básica à saúde no município de Maceió, Alagoas. Trata-se de uma pesquisa que tem por foco a análise das políticas de planejamento familiar e as conexões entre ações com vistas a concepção e a contracepção. No entanto, temos sido interpelados sistematicamente, por um lado, pelas representações mais gerais sobre o SUS e, por outro, pela inexistência de políticas com foco na saúde reprodutiva e mesmo a ausência de uma linguagem dos direitos que dê sentido à emergência da noção de 'direitos' reprodutivos.

5- Dilemas antropológicos de uma agenda de saúde pública: Programa Cegonha, pessoalidade e pluralidade

Rosamaria Giatti Carneiro (Unicamp)

Foi lançado muito recentemente no Brasil o Programa Cegonha, uma iniciativa nacional orientada à gestante e à mãe brasileira usuária do serviço de saúde público. Enquanto tema de saúde pública, a proposta parece colocar-nos diante de duas possibilidades interpretativas. De um lado, implica no importante reconhecimento da cidadania e da efetivação do direito de acesso à saúde. Entretanto, de outro, abre espaço para a problematização de sua orientação, limites e eficácia; quando e se questionado a partir de discussões teóricas da pluralidade da categoria mulher e, principalmente, das críticas que têm sido feitas à prática obstétrica brasileira pelos adeptos do ideário do parto humanizado a partir dos anos 2000. Dado que o Brasil é o recordista mundial no número de cesáreas, procuraremos neste trabalho, à luz dessas duas matrizes discursivas, tematizar o programa público, a partir de tensões como medicina x despersonalização e saúde x doença; bem como de noções de pessoa, corpo, experiência e singularidade na contemporaneidade.

6- Aborto” legal” e saúde: o impacto das tecnologias de imagem sobre casos de malformações fetais em hospitais da rede pública de saúde em Natal/RN

Rozeli Maria Porto (UFRN)

O artigo objetiva discutir as representações de profissionais de saúde e/ou de mulheres/casais relativas aos diagnósticos de feto inviável, revelados pelas tecnologias de imagem, em hospitais da rede pública de saúde em Natal/RN. Destina-se a analisar os diferentes encaminhamentos dados pelos profissionais de saúde e itinerários terapêuticos escolhidos por essas pessoas, identificando se preceitos religiosos chegam a interferir nas decisões desses profissionais e das mulheres/casais para que realizem a IVG. Verifica se existe dificuldade em conseguir autorização judicial nos casos de IVG/aborto legal e o tipo de participação dos homens nesses casos. Metodologicamente, a pesquisa foi realizada a partir da observação participante e de entrevistas semiestruturadas.

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GT 28 - HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA: TEORIA E CAMPO NA AMAZÔNIA

O GT propõe promover uma discussão em torno da historia da Antropologia e avaliar o lugar reservado à etnografia para as diferentes escolas, em particular nas investigações empíricas desenvolvidas na Amazônia. A pesquisa empírica é uma constante para os diferentes modos de pensamento antropológico: desde o final do século XIX alguns antropólogos britânicos trataram, eles mesmos, de estabelecer a coleta sistemática de informações em campo. Contudo, apenas no início do século XX, passaram a cobrir largos segmentos da vida social e cultural de povos particulares. Vinculados a práticas coloniais, criavam uma falsa hierarquia entre o pesquisador adestrado profissionalmente e seu “outro”, o nativo. Na Alemanha, as preocupações com o pensamento e a “memória do povo” que marcaram o pensamento Boasiano que orientou a formação de profissionais que vieram a representar a chamada “Antropologia Histórico Cultural” nos EUA. Já os antropólogos franceses pensavam em termos das representações sociais, bem como das leis próprias da organização social e da interconexão de costumes e instituições sociais que operavam em termos de uma estrutura de sociedades humanas, mas que, dependiam em grande parte de viajantes e missionários para estabelecer suas comparações e generalizações antropológicas. Essas escolas, formadas no período de dominação colonial, conservaram suas particularidades e encontram-se nos primeiros estudos etnográficos realizados na Amazônia desde o final do século XIX até a profissionalização da disciplina. Trata-se aqui de reunir esforços para pensar o lugar da etnografia na história da antropologia, especialmente no que se refere à pesquisa antropológica na Amazônia. O Gt será organizado em três sessões nas quais os participantes serão convidados a discutir as opções teórico-metodológicas na interface comas situações coloniais, revisitar os autores clássicos, apontando para as escolhas metodológicas e

analisar as pesquisas realizadas na Amazônia à luz dessas opções.

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SESSÃO I- ANTROPOLOGIA, VIAGEM E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESQUISA

1- Relatos de um mundo “selvagem”: a Amazônia e a antropologia dos naturalistas

Benedito do Espirito Santo Pena Maciel (UFAM)

Pensar a história da Antropologia na Amazônia é mergulhar na própria gênese do pensamento científico ocidental moderno. Após dois séculos de “conquista”, com forte tônica religiosa, uma nova onda de intelectualidade inspirada no Iluminismo, que aliava metodologicamente razão e experiência, varreu as “fronteiras” do pensamento europeu e trouxe para a Amazônia, a partir de meados do século XVIII, várias expedições científicas cujo objetivo era “classificar”, “ordenar” e “explicar” o mundo “selvagem”, estabelecendo, inclusive, “comparações” de suas populações com as de outras regiões. Neste contexto, escolhemos as expedições dos naturalistas: Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-92) e de Alfred Ruseel Wallace (1848-52), que serão nossas fontes para discussão e problematização das perspectivas metodológicas, teóricas e conceituais dessas narrativas que acabaram por povoar o pensamento e o debate antropológico posterior sobre a Amazônia e suas populações

2- A Etnologia de Raimundo LopesHeloisa Maria Bertol Domingues (MAST)

Pretende-se abordar o trabalho de Raimundo Lopes, realizado no Museu Nacional do Rio de Janeiro, nos anos 1920 e 1930, considerando-o no campo da etnologia no qual inscrevia-se.

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Maranhense, foi no seu Estado que concentrou seus estudos. Antes de se transferir para o Rio de Janeiro, foi professor de geografia. No Museu Nacional foi etnólogo. Sua prática científica não fugiu à sua formação, o que o identificou à linha teórica que trilhou o conhecido Franz Boas, a chamada antropogeografia. Essa prática guardava o método naturalista do trabalho de campo e do colecionismo característico das ciências naturais, do século XIX, mas, a interpretação do material, traduzida em artigos e em cartografia das populações tradicionais, a identificava ao campo da etnologia que, considerando culturas sociais, se apresentava como uma descontinuidade à antropologia, então dominante, dedicada ao conhecimento do homem por medições corporais. Tanto a linha teórica adotada, quanto, a rede científica a que logrou integrar-se, o que se percebe em publicações, leva a pensar que a etnologia de Raimundo Lopes esteve na base da ecologia humana, então nascente.

3- Memórias e narrativas nacionais: os museus de história natural, os etnógrafos e a história da antropologia brasileira

Antonio Motta (UFPE)Luiz Antonio de Oliveira (UFPI)

Na história da antropologia brasileira, o campo de estudos etnológicos tem assumido o papel de mito fundador de uma antropologia nacional São, desse modo, os estudos etnográficos empreendidos, desde o século XIX, no âmbito dos museus de história natural (notadamente, o Museu Nacional no Rio de Janeiro, O Museu Paulista do estado de São Paulo e o Museu Emílio Goeldi no Pará) que criam o campo da etnologia brasileira e da institucionalidade da antropologia no conjunto das ciências naturais no Brasil. Antropologia do tipo nation-building, segundo modelo proposto por Stocking Jr., os estudos sobre as alteridades internas que integravam a nação caracterizou os inícios da atuação reflexiva e prática dos precursores de uma antropologia brasileira. Nesta história, desempenha destacado papel as redes de conhecimento e disputas simbólicas construídas em torno destes museus, onde se abrigava também os estudos etnográficos, identificados como forma de conhecimento e preservação da cultura (sobretudo material) de povos que eram tidos como em extinção.

5- A história da antropologia social e a política de patrimônio científico no Brasil em meados do século XX

Priscila Faulhaber (MAST)

No acervo do Conselho de Fiscalização das expedições Artísticas e Científicas no Brasil, depositado no Arquivo de História da Ciência do Mast estão compulsadas informações sobre como a política de patrimônio no Brasil regulamentou viagens de antropólogos estrangeiros como Nimuendaju, Charles Wagley, Claude Lévi-Strauss e David Maybury-Lewis. Considera-se aqui a especificidade da disciplina, que envolve práticas características e personagens singulares em um campo específico de relações no qual se definia estratégias do ponto de vista da salvaguarda do patrimônio científico. Cabe distinguir as viagens dentro de marcos caracterizados por Roberto Cardoso como “heróico” (Nimuendaju) e “carismático”(Wagley, Galvão) A atuação de Maybury-Lewis é considerada um marco para a busca de simetria na cooperação internacional (Seeger, 2009). Podem ser caracterizadas como “institucionais” pesquisas posteriores desenvolvidas posteriormente à formação dos cursos de pós graduação no Brasil, com o apoio dentro de programas específicos de fomento à pesquisa e à pós graduação no Brasil por agências governamentais como CNPq e Capes, criadas em 1951.

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SESSÃO II- ANTROPOLOGIA, VIAGEM E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESQUISA

1- A música norte-amazônica e a musicologia comparada alemã

Pablo de Castro Albernaz (Uni-Tübingen, Alemanha)

Este trabalho propõe uma reflexão sobre as coleções musicais feitas por Theodor Koch-Grünberg em sua obra inaugural da literatura etnográfica do Maciço Guianense Ocidental, intitulada “De Roraima ao Orenoco: observações de uma viagem pelo norte do Brasil e pela Venezuela durante os anos de 1911-1913”. Centrando-se nas gravações fonográficas e instrumentos musicais Taurepang e Makuxi, Yekuana e Ianomami, salvaguardados, respectivamente, no Arquivo Fonográfico e Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, essa trabalho procura analisar as práticas científicas da etnologia e da musicologia comparada alemã no início do século XX, que nortearam a documentação etnográfica de Koch-Grünberg e o posterior estudo musical de Eric von Hornbostel.

2- Pesquisando e coletando nas margens da Amazônia: Curt Nimuendajú e os museus etnológicos na Alemanha

Peter Schröder (UFPE)

O tema da comunicação são alguns dos primeiros resultados de uma pesquisa de pós-doutorado, realizada na Alemanha em 2010/11 e financiada pelo CNPq, sobre as relações de Curt Nimuendajú com museus etnológicos na Alemanha nas décadas de 1920 e 1930, com relação a coleções etnográficas, estudos etnológicos e contatos institucionais. Nimuendajú foi contratado duas vezes pelos museus etnológicos de Leipzig, Dresden e Hamburg, e também pelo Instituto de Etnologia da Universidade de Leipzig, para coletar objetos e informações etnográficas, sobretudo sobre povos indígenas falantes de línguas Gê nas regiões do Tocantins e no centro do Maranhão. Trata-se de um capítulo pouco conhecido da biografia de Nimuendajú e da história da Antropologia no Brasil. Hoje em dia ainda existem cinco coleções etnográficas organizadas por Nimuendajú em museus alemães e uma documentação complementar volumosa em língua alemã, a qual revela as condições e situações das pesquisas de campo empreendidas pelo grande etnólogo brasileiro.

3- O Americanismo visto do Musée de l'Homme: etnografia e internacionalismo científico; o exemplo da Amazônia

Julie A. Cavignac (UFRN)

Se o projeto cientifico elaborado no Musée de l'Homme era ligado a uma ideologia oriunda de um socialismo humanista, acompanhava-se também de uma preocupação da descrição circunstanciada da realidade social: a coleta e o estudo da cultura material eram privilegiados por serem testemunhos da diversidade das sociedades humanas. Para isto, foram contratados jovens colaboradores encarregados de coletar objetos para o Musée e suprir a ausência de conhecimento sobre as “culturas indígenas da America”. As duas missões “Lévi-Strauss” (1935 e 1938) integram este projeto de inventário da cultura material e marcam o início de uma nova fase do Americanismo voltado agora para o estudo das estruturas sociais. Iremos aqui avaliar a importância dessa mudança de foco para as pesquisas americanistas na Amazônia e a consolidação de uma rede de pesquisa internacional durante a Segunda Guerra Mundial, com destaque para a participação de pesquisadores franceses no Handbook of South American Indians.

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4- Métraux, ou o método etnográfico para transumar no Grande Chaco

Ana Gretel Echazú (UnB)Marianela Torino (Escola Tomás Cabrera, Argentina)

Maria Luna de la Cruz( UNSa, Argentina)

O presente texto propõe uma reflexão preliminar sobre a deriva do trabalho do antropólogo francês Alfred Métraux entre os anos 1930 3 1940 no norte argentino, sua influência na definição da região do Grande Chaco como área etnográfica e sua relação com as idéias de exotismo, primitivismo e desaparecimento das culturas tanto na academia francesa quanto argentina, em diálogo com os museólogos, naturalistas e folkloristas locais. No seu percurso, Métraux teve um papel fundamental na iniciação do Instituto de Etnologia da Universidad Nacional de Tucumán, cujo acervo museológico ele ajudou a montar em várias expedições. As peças de este acervo representam hoje, ainda que descontextualizadas, a possibilidade de estabelecer uma relação entre a produção material de culturas desaparecidas e uma leitura muito particular do outro. No museu encontram-se também documentos (cartas, relatórios, resenhas) que propomos analisar sob o bias das problematizações sobre a reconstrução (estética, simbólica, cultural e política) do outro proposta na primeira metade do século XX pelas elites européias e latino americanas.

5- Las antropologías andina y amazónica del Perú: miradas encontradas

Ladislao Landa Vásquez (Universidad de San Marcos, Lima/Peru)

La formalización académica de la disciplina antropológica en el Perú se realizó entre 1942 y 1946 al fundarse el Instituto de Etnología en las Universidades San Antonio Abad del Cusco y la Universidad San Marcos en Lima, habiendo orientado sus trabajos básicamente a la explicación de las comunidades indígenas de la sierra; mientras tanto, solo en la década del 60 se iniciaron investigaciones sistemáticas por parte de antropólogos peruanos entre diferentes grupos étnicos de la amazonia. En efecto, la historia de la antropología peruana se ha caracterizado por haberse centrado en la tradición andina principalmente, habiendo dejado de lado a culturas y etnicidades que habitan en la región amazónica. Esta situación fue muy evidente, no obstante que el arqueólogo Julio C. Tello (un científico de origen indígena) había hipotetizado que la cultura andina tuvo un origen amazónico. Partiendo de estas informaciones, esta investigación se propone historiar y comparar las diferentes experiencias investigativas entre la etnología, la antropología y la etnohistoria peruana desarrollada en espacios andinos y amazónicos, así como rastrear los intereses de investigadores que se especializaron en uno y otro lado de estos espacios mencionados.

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SESSÃO III- OLHARES CONTEMPORÂNEOS SOBRE A AMAZÔNIA

1- A alimentação como objeto de estudo antropologico na Amazônia

Esther Katz (IRD)

Os antropólogos que pesquisaram as sociedades amazônicas direcionaram seus estudos para os mitos, os rituais, a organização social, a arte. Poucos acharam interessante estudar a alimentação. Nisso, refletem o que aconteceu por muito tempo também na antropologia das outras partes do mundo. Como o escreveu a antropóloga inglesa Christine Hugh-Jones “ainda, em muitas sociedades, as mulheres dedicam várias horas por dia à preparação da comida, poucos antropólogos consagraram seus

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estudos a atividades tão ordinárias”. Nessa apresentação, analisaremos as diferentes perspectivas de estudo da alimentação na Amazônia realizados desde os inícios da antropologia na região: pela mitologia com Lévi-Strauss, pelo simbolismo com Christine Hugh-Jones, pela cultura material e a etnobotânica com Berta Ribeiro. Mostraremos que, até agora, o tema foi pouco explorado. Tem ainda um potencial grande para pesquisas futuras nessa área.

2- Imagens e idéias sobre a Amazônia e seus povos

Kalinda Félix de Souza (UFAM)

Este trabalho tem por objetivo contribuir com a reflexão sobre as imagens e idéias construídas, em relação aos povos indígenas e a floresta Amazônica ao longo do século XX, tendo como foco o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss, que nos anos 40 publicou um estudo sobre parentesco e, nos anos 50 o livro “Tristes Trópicos” analisado por alguns estudiosos como uma visão romanceada sobre as populações indígenas do Brasil central, nesse sentido trazemos a tona as idéias estruturalistas e sua relação com a Amazônia e seus povos, em especial os indígenas. Portanto, nosso recorte está nas idéias e imagens “pré-construídas” sobre os habitantes da região Amazônica com suas particularidades sociais, culturais, políticas e econômicas. Esperamos que esta reflexão possa abrir um leque de questões para discutirmos as diversas visões sobre os povos e a floresta Amazônica e o que a antropologia do século XXI tem feito para construir um diálogo com a questão teórico- metodológica.

3- A rádio livre como instrumento para a pesquisa dialógica num contexto de desconstrução da dominação nos meios de comunicação

Guilherme Figueiredo (UEA)

A preocupação com a dialogia é relevante na antropologia desde a consolidação da etnografia como observação participante e escuta do “ponto de vista nativo”, da qual Malinowski tornou-se emblema. As lutas de libertação nacional e obras como as de Franzt Fanon e Edward Said levaram a reflexão sobre as sutilezas do etnocentrismo e os desafios da dialogia a uma importância redobrada e ao compromisso mais claro não apenas com a revelação do “ponto de vista nativo”, mas com o fortalecimento da sua expressão autônoma. O presente trabalho parte do alerta de Said, para quem o contexto de dominação torna o diálogo um modo de cooptação. Apresenta o projeto “Laboratório de comunicação livre”, iniciado em 2006 no município de Tefé (AM) e que alia a construção da pesquisa dialógica com a extensão que visa a democratização dos meios de comunicação. Constrói o conhecimento pelo diálogo e, ao mesmo tempo, procura desconstruir o contexto de dominação que tende a viciá-lo.

ERRATA: GT 2 - Povos Tradicionais: conflitos e desafios contemporâneos“O nego d’água sumiu e as águas secaram”: comunidades tradicionais e conflitos por terra e água no oeste da Bahia.Isabel Cristina Rodrigues da Silva (UFPE-PPGA)Ana Cláudia Rodrigues da Silva (UFPE-PPGA)Maria Helena Tenderini Ferreira da Silva (UFPE-PPGA)

Este trabalho aborda os conflitos gerados pela luta de comunidades tradicionais dos municípios de Cocos e Formosa do Rio Preto- Oeste da Bahia- contra a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s) ao longo dos rios que banham as comunidades, Rio Carinhanha, Rio Itaguarí e Rio Preto. O conflito tem aflorado discussões a cerca da origem étnica destas comunidades (indígenas e quilombolas) e sua relação com o meio ambiente. Além dos problemas relativos à expansão do agronegócio de grãos (soja) em seus territórios. Os dados foram extraídos de levantamento antropológico realizado para um projeto de proteção das águas desta região em 2010. Discute-se ainda a participação de antropólogos em equipes multidisciplinares.

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