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< ~ -. ..,. ANAIS - , VIII REUNIAOCIENTIFICA , Sociedade de Arqueologia Brasileira ARQIIOI.OG1\ ~ ~ADE CNPq DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA ~ EDIPUCRS

ANAIS VIII REUNIAOCIENTIFICA...Urbano Zilles (Presidente) Diretor da EDIPUCKS: Antoninho Muza Naime EDIPUCRS Av. Ipiranza, 6681-Prédio 33 Caixa Postal 1429 90619-900 PORTO ALEGRE/RS

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    ~ -. ..,.

    ANAIS- ,VIII REUNIAOCIENTIFICA

    , Sociedade de Arqueologia Brasileira

    ARQIIOI.OG1\~ ~ADE CNPq

    DE ARQUEOLOGIABRASILEIRA

    ~EDIPUCRS

  • tJ~ o:!1-.J03

    ANAIS DAVIII REUNIÃOCIENTÍRCADA

    SOCIEDADEDE ARQUEOLOGIA."A SILE"IRA

    11 A 15 DE SETEMBRODE 1995

    PUCRS

  • .li

    Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

    Chanceler: Dom Altamiro Rossato

    Keitor: Ir. Norberto Francisco Rauch

    Conselho Editorial' Antoninho Muza NaimeAntonio Mario Pascual BianchiDélcia EnriconeJayme PavianiJorze Alberto FranzoniLuiz Antônio de AssisBrasil e SilvaRezina ZilbermanTeImo BertholdUrbano Zilles (Presidente)

    Diretor da EDIPUCKS: Antoninho Muza Naime

    EDIPUCRS

    Av. Ipiranza, 6681 - Prédio 33Caixa Postal 142990619-900 PORTO ALEGRE/RSBRASILTel.: (051) 339-1511 Ramal 3323FAX: (051) 339-1564

  • ARNO ALVAREZ KERN

    (ORG.)

    ANAIS DA

    VIII REUNIÃO CIENTÍFICADA

    ZfBSOCIEDADEDE ARQUEOLOGIABRASILEIRA

    Coleção Arqueologia 1VOLUME 2

    ~EDIPUCRS

    1'orto Alegre1996

  • @EDIPUCRSCapa: José Femando de AzevedoComposição e arte: Print Line Assessoria GráficaRevisão: do OrganizadorImpressão e acabamento: Gráfica EPECÊ

    EDIPUCRS

    Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 33Caixa Postal 142990619-900 PORTO ALEGRE/RSBRASILTe!.: (051) 339-1511 Ramal 3323FAX: (051) 339-1564

    FICHA CATALOGRÁFICA

    R444a Reunião Científica da SAB - Sociedade deArqueologia Brasileira (8.:1995 : Porto

    Alegre)Anais / 8a. Reunião Científica 'da SAB-

    Sociedade de Arqueologia Brasileira; org.Amo Alvarez Kem. -- Porto Alegre:EDIPUCRS,1996.

    2v. - (Coleção Arqueologia; 1)

    I.Arqueologia- Reuniões 2.Arqueologia- Brasil - Reuniões I.Kem, Amo AlvarezII.Título.

    C.D.D. 913.03106081

    Elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da BC-PUCRS

  • ~!:~,.ANAIS DA VIII REUNIÃo CIENTÍFICA

    PUCRS

    SUMÁRIO

    VOLUME2

    - COMUNICAÇÕES -

    1. CAÇADORES-COLETORES

    LOREDANA M. RIBEIRO, MÁRCIO ALONSO & EMÍLIO FOGAÇAProdução e Utilização de Artefatos Líticos: uma reconstitui-ção do espaço ocupado no início do Holoceno na Lapa doBoquete (Minas Gerais - Basil).................................................... 17

    M.GALINDO, S.VIANA, F.PARENTI,c.GUÉRIN, M.FAUREOcupações Pré-Históricas e Megafáuna Pleistocênica doSertão Pernambucano: A Lagoa da Pedra em Salgueiro - NotaPreliminar . 31

    SIRLEIELAINEHOELTZAs Tradições Umbu e Humaitá - Releitura das Indústrias Líti-cas das Fases Rio Pardinho e Pinhal Através de um PropostaAlternativa de Investigação ... ... 47

    Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~ ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENIÍFlCAPUCRS2. ARTE RUPESTRE

    CARLOSXAVIERDEAzEVEDONETTO

    A Questão da Teoria Semiótica na Interpretação da Arte Ru-pestre .............................................................

    MARcus VINÍCIUSBEBER

    A Arte Rupestre do Nordeste do Mato Grosso do SuL...............

    MARmEL GIRELLI

    Lajedos com Gravuras na região de Corumbá, MS....................

    MARTHAM. DE C. E SILVA& LOREDANAM. RIBEIRO

    Organização Espacial e Correlação Crono-Estilística na ArteRupestre de Montalvânia-MG ..................

    3. SÍTIOS LITORÂNEOS

    ARNO AL VAREZ KERN

    As Origens Pré-Históricas do Povoamento de Torres................

    DEISE LUCYO. MONTARDO .

    A Questão da Variabilidade das Evidências Funerárias nosSítios Pré-Coloniais do Litoral Catarinense...............................

    MARIACRISTINATENÓRIO

    Sítio Ilhote do Leste. Reconstituição de Distribuição Espacial.Escavações de 1995 ,.............................

    PAULO TADEU S. ALBUQUERQUE& WALNERB. SPENCERA Ocupação Pré-Histórica do Litoral Norteriograndense.........

    Coleção Arqueologia 1 - Volume 2

    65

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  • ~- ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICAPUCRS

    4. HORTICULTORES

    ANGELA BUARQUE

    Uma Aldeia Tupinambá em Morro Grande.................................

    ALCERILUIZ SCRIAVINI& RHONEDSALDORARODRIGUES

    Sambaquis e Lençóis Conchiferos Naturais do Litoral Sul-Catarinense: Novos Enfoques Interpretativos.............................

    ERIKAMARIONR. GONZÁLEZ

    Os Grupos Ceramistas Pré-Coloniais do Brasil Central: Ori-gens e Desenvolvimento................................................................

    EUNICEM.T.P. RESENDE& JULIANAS. CARDOSO

    Estruturas de Armazenamento Vegetal: Os "Silos" do Vale doRio Peruaçu (MG) ,..........

    JOSÉF. M. VALLS

    O Gênero Arachis L. (Leguminosae): Importante Fonte deProteínas na Pré-História Sul-Americana?.................................

    JOSÉ LUIS PEIXOTO

    A ocupação Tupiguarani na Borda Oeste do Pantanal Sul-Matogrossense: Maciço do Urucum............................................

    MÁRCIAANGELINAALVES& LILIACHEUICHEMACHADO

    Estruturas Arqueológicas e Padrões de Sepultamento do Sítiode Água Limpa, Monte Alto, São Paulo.......................................

    PEDRO IGNÁCIO SCHMITZ & ANA LUISA V. BITENCOURT

    O Sitio Arqueologico do pantano do Sul, SC..............................

    207

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    Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~:i"..ANAIS DA VIII REUNIÃO CiENIÍFICA

    PUCRS

    5. ARQUEOLOGIAHISTÓRICA

    ANA MARÍAROCCHIETTI& NELLY DE GRANDIS

    La Boca deI MOl1je: un sitio recuccional para indios isleros(siglo XVII)... ... ... ...... ...........................

    ÁRTHUR HENRIQUE F. BARCELOS

    Arqueologia Espacial da Redução de São João Batista: uma

    proposta teórico-metodológica """"'"''''''''''''''''''''''''''''''''

    CLÁUDIOBAPTISTACARLE& ALBERTOT. DE OLIVEIRA

    O Solar da Travessa Paraíso: Exemplo de Arqueologia Histó-rica no Município de Porto Alegre...............................................

    FERNANDAB. TOCCHETTO& ANGELAM. CAPELLETTI

    Intervenções Arqueológicas em Porto Alegre e o Exemplo deDois Sítios Históricos na Área Central da Cidade, Rs, Bra-sil...................................................................................................

    MARCOSALBUQUERQUE

    Situação Crono-Espacial de Unidades Funcionais em Per-nambuco: UmaAbordagem de Pré-Escavação...........................

    MARIZILDA C. CAMPOS

    Arqueologia Histórica: Casa da Marquesa de Santos................

    OSVALDOPAULINODA SILVA

    O Levantamento Arqueológico de Sítios de Engenhos na ParteSul da Ilha de Santa Catarina......................................................

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    Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~iw,.ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICA

    PUCRS

    6. ETNO-HISTÓRIA

    FRANCISCO S. NOELLI, LÚCIA T. MOTA& FABÍOLAA. SILVA

    Pari: Armadilhas de Pesca no Sul do Brasil e a Arqueologia....

    GISLENEMONTICELLIAnálise da Memória dos Mbyá-Guarani sobre suas Vasilhasde Cerâmica ...... ... ... ,... ......

    ÍTALA IRENE BASILE BECKER

    As Populações Indígenas do Rio Grande do Sul Vistas pelaArqueologia. Pré-História e Etno-História.................................

    IVORI JOSÉ GARLET & ANDRÉ LUIS RAMOS SOARES

    Cachimbos Mbya-Guarani: aportes etnográficos para umaarqueologia guarani. ... ... ... .........

    JORGE EREMITES DE OLIVEIRA

    Guató: Os Argonautas do Pantanal.............................................

    VALÉRIA SOARES DE ASSIS

    Um Estudo da Casa Mbya pela Perspectiva Etnoarqueo-lógica .................

    7. ARQUEOLOGIAE PATRIMÔNIO

    ANDRÉADE SOUZAZORTÉA

    Arqueologia e Pedagogia: Um Intertexto Possível sob a ÓticaInterdisciplinar .

    CLAUDIAINÊs PARELLADA

    Métodos de Prospecção no Programa de Salvamento Arqueo-lógico da Usina Hidrelétrica de Salto Caxias/PR.......................

    GILSON RAMBELLI

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    Coleção Arqueologia 1 -Volume 2/

  • ~- ANAIS DA VIII REUNIÃO CiENTÍFICAPUCRSA Arqueologia Subaquática e sua Aplicação ao Projeto Ar-queológico do baixo Vale do Ribeiro de Iguape (litoral sulpaulista) .MARCOSANDRÉT. DESOUZAO Sítio do Quincão. Exemplo de um Estudo Interdisciplinar noProjeto de Levantamento e Resgate do patrimônio Histórico-Cultural da Ada pela UEH-Corumbá-Goiás...............................

    NÍVEA LEITE

    O Ensino da Pré-História nas Escolas de 1° e 2° Graus.............

    ROSICLERSILVA,PAULOMELLO& JULIORUBIN

    Projeto de Levantamento e Resgate do Patrimônio Arqueoló-gico da Área Diretamente Afetada pela u.H.E. Corumbá -(GO) .VLADEMIRJosÉ LUFT

    Arqueologia e História: Algumas Considerações a Respeito daAplicação dos Métodos da História Oral na Identificação deSítios Arqueológicos.....................................................................

    VLADEMIR LUFT, MÁRCIA AMANTINO & ALFREDO ALBERTINI

    O Programa Arqueológico Puri-Coroado...................................

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    623

    Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~~~ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICA

    PUCRS

    ALBUQUERQUE, Marcos & LUCENA, Velada. Situação Crono-Espacial de Unidades Funcionais em Pernambuco: Uma Aborda-gem de Pré-Escavação. Coleção Arqueologia, Porto Alegre,EDIPUCRS, n° 1, v. 2, p. 393-408, 1995-96.

    SITUAÇÃO CRONO-ESPACIAL DE UNIDADESFUNCIONAIS EM PERNAMBUCO: UMA ABORDAGEM DE

    PRÉ-ESCAVAÇÃO.

    ALBUQUERQUE, Marcos 12

    LUCENA, Veleda

    A ação portuguesa durante o processo de ocupação ecolonização das terras americanas variou em seus métodosao longo do tempo e do espaço. Utilizou-se tanto de postoscomerciais, militares, religiosos, isolados, voltados à expan-são das fronteiras de seus domínios, quanto da implantaçãode núcleos complexos, de produção ou mesmo de reproduçãodo sistema europeu na América. Tais variações decorreramsobretudo dos objetivos buscados a cada tempo, e mais, dasdisponibilidades de seus povoadores, da resistência ofereci-da pelo sistema americano, das estratégias adotadas pelosistema português.

    Embora diferentes pesquisas tenham sido desenvolvi-das visando o entendimento das conseqüências da introdu-ção da cultura portuguesa no Brasil, os estudos relativos ao

    1 Coordenador do Laboratório de Arqueologia da Univ. Federal de Pemam-buco

    2 Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco.

    Coleção Arqueologia 1 - Volume 2 393

  • ~:iw",ANAIS DA ViII REUNIÃO CIENTÍFICA

    PUCRS

    processo de mudança cultural não se encontram significati-vamente desenvolvidos.

    No Brasil, a etnologia, a história, a antropologia, áre-as que tradicionalmente desenvolvem tais estudos, freqüen-temente abordam questões e momentos distintos: a históriabuscando sobretudo o entendimento da sociedade colonial,praticamente reduz as sociedades nativas a um patamar co-mum; a etnografia concentrando-se nas sociedades nativas,em si próprias; a arqueologia, em parte, enfocando as socie-dades nativas em termos de sua distribuição espaço-temporal, em parte concentrando-se em sítios históricos dasociedade colonial; alguns estudos ainda, enfocam os con-tactos entre as sociedades nativas e colonial.

    No Brasil, os estudos de aculturação têm envolvido so-bremodo a aculturação nativa sob o impacto da sociedadecolonial, sobretudo aqueles relacionados à aculturação diri-gida, orientada, promovida, por missões religiosas. Poucosestudos têm sido desenvolvidos em termos da aculturaçãodos representantes das sociedades africanas trazidos para oserviço escravo, ou mesmo da aculturação de europeus.Aculturação de europeus não apenas no sentido de adotarpráticas, costumes, técnicas, artefatos de outros grupos cultu-rais, mais ainda de permitir-se ajustar suas práticas, costu-mes, técnicas, artefatos, às condições diferentes de meio, deambiente físico e social.

    Do ponto de vista da pesquisa arqueológica, um as-pecto que atende em parte aos objetivos de entendimento dadinâmica de ajustamento da sociedade colonial às condiçõeslocais, refere-se à avaliação dos diferentes níveis de comple-xidade das unidades funcionais implantadas no Novo Mun-do, e sua comparação com aquelas similares européias.

    A implantação dos sistemas coloniais nas Américas,traz para a história do continente uma abundante documen-tação textual que se refere não apenas à sociedade européiatransplantada, mas ainda às sociedades nativas ágrafas.Para a grande maioria destas sociedades a memória seria

    394 Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~- ANMS DA V/II REUNIÃO CIENTÍFICAPUCRSaté então fundamentalmente oral. exceto por manifestaçõespictóricas, ou para um número muito restrito de sociedades, oinício de uma documentação. Entre estas manifestações po-dem se incluir as gravuras e pinturas tanto rupestres quantocorporal, a "decoração" da cerâmica ou de instrumentos demadeira, as contabilidades dos Estados Mesoamericanos eandinos.

    Por outro lado, a documentação textucrl relativa à fixa-ção de europeus nas Américas, e suas relações com o novoambiente a ser explorado, freqüentemente apresenta-sefragmentária. Seja por questões de conservação, seja porextravios e danos nos transportes, destruição por fatores na-turais, destruições intencionais, enfim toda gama de fatoresque atingem de um modo geral a documentação histórica.Fragmentária, ainda, pela própria natureza das informaçõesregistradas. A triagem natural dos temas a serem registra-dos, que não necessariamente representa uma omissão in-tencional, mas que quase sempre se relaciona com a próprianatureza do fato, restringe significativamente o universo dasinformações registradas na memória escrita.

    Pode-se ainda considerar que, o registro documentaldas novas sociedades americanas representa uma visãounilateral. mesmo quando se refere a assuntos não restritosàs sociedades nativas. As abordagens das sociedades nati-vas, através da documentação textual, necessariamente re-presentam uma interpretação exercida por elementos da so-ciedade européia, constituindo-se em uma fonte a ser com-plementada. Do mesmo modo, a abordagem da própria soci-edade colonial abrangida pela documentação textual, nãonecessariamente atinge a totalidade dos aspectos destassociedades. Muitas das informações do cotidiano estão con-tidas, implícita ou explicitamente, na documentação, entre-tanto outros aspectos do comportamento destas sociedadesnão chegam ao presente através do registro textuaL São fre-qüentes os casos em que se constata divergências entre es-truturas projetadas e a atual configuração. Freqüentemente

    Coleção Arqueologia 1 -Volume 2 395

  • ~~ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICA

    PUCRS

    as pesquisas arqueológicas têm demonstrado que projetosnão foram executados na íntegra, ou que foram feitas altera-ções, quer de simplificação, quer de ampliação. Observou-seainda, através de pesquisas arqueológicas, que foram ado-tadas soluções locais que implicam em alterações dos usosde materiais; fatos constatados na prática, mas que passa-ram imunes ao registro textual. Deste modo, alguns aspectosdas novas relações estabelecidas com o início da coloniza-ção européia nas Américas não se encontram ainda suficien-temente esclarecidos. São os movimentos de expansão e re-tração das sociedades, resultantes do contato que se estabe-leceu no Novo Mundo, a absorção recíproca de padrões, avelocidade de reprodução dos sistemas europeus nas Améri-cas, as novas formas adquiridas pela nova sociedade ameri-cana que se implantava.

    A partir do Seco XIX a gama de fontes de que se utilizaa história tem sido ampliada; tanto à medida que novas for-mas de registro são utilizadas quanto à medida que novasformas de abordagem ou mesmo novas óticas permitiramconsiderar-se como "documento histórico" outros elementos

    da produção humana.O século XIX incorpora às fontes históricas, elementos

    significativos: amplia a documentação figurada através dainvenção da fotografia e passa a utilizar de modo bem maissistemático que anteriormente uma classe de documentosmencionada em seu conjunto como "restos". São vestígios deelementos do passado que não foram produzidos visando atransmissão de conhecimento às futuras gerações; nemmesmo à geração coeva. Antes constituíam-se, à sua época,em elementos do cotidiano destas sociedades. Entre eles fi-

    guram, do mesmo modo as ruínas de uma cidade, restos deinstrumentos, de utensílios, e de quaisquer outros elementosproduzidos pelo homem. Mesmo os restos humanos passam aintegrar esta classe de documento. A incorporação destaclasse de documentos permitiu um significativo avanço noconhecimento da história, sobretudo de povos ágrafos. Entre-

    396 Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~- ANAIS DA VI/I REUNIÃO CiENTÍFICAPUCRStanto, o interesse pelo estudo tanto de objetos quanto de edi-ficações de um passado mais distante, não foi despertadoapenas no seco XIX. O interesse pela arte clássica, que levouà constituição de grandes coleções de objetos, motivava es-cavações como as que se desenvolveram a partir de 1748 emPompéia. Os objetos resgatados eram vistos primordialmentepor seu interesse na reconstituição da história da arte. Ape-nas a partir do seco XIX desperta-se para uma nova visão deque tais ruínas e objetos poderiam permitir reconstituir-se,ainda que em linhas gerais, parte da história de uma socie-dade e de suas relações com outras.

    Mesmo em se tratando de sociedades das quais sedispunha de documentação textual, os restos destas socieda-des passam a ser vistos não apenas por seu valor estéticomas sobretudo por seu valor histórico. Sob esta ótica, não selhes atribui mais uma mera valorização intrínseca ao objeto,mas busca-se sua inserção no local do achado, sua situaçãoe condições. Embora esta classe d~ documentos tivesse sidoutilizada desde meados do seco XIX como auxiliar para a re-constituição da história de povos dos. quais também se dis-punha de documentação textual, é bem mais tardia sua utili-zação na reconstituição de um passado mais recente. Destemodo, a documentação material não mais fica restrita às"civilizações mortas", passando a ser utilizada na reconstitui-ção do passado de culturas vivas. É sobretudo a partir dasegunda metade do seco XX que se intensificaram os estudosda chamada arqueologia histórica.

    Al~umas das características da "história ideológica"de NadeI, associadas às observações referentes a "amnésiacoletiva" de Le Goff4, instigam o arqueólogo a elaborar algu-mas considerações acerca do monumento arqueológico, quer

    3 NADEL, S. F. A Black Biyzantium: The kingdom of Nupe in Nigeria.London: Oxford University Press, 19424 LE GOFF, Jaques. Memória. In: Enciclopédia Einaudi, voI. 1, Memória eHistória. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional: Casa da Moeda, 1984.

    Coleção Arqueologia 1 - Volume 2 397

  • ZrB=:~::w,~

    ANAIS DA VIII REUNIÃO CiENTÍFICA

    PUCRS

    histórico quer pré-histórico. InsFgam sobretudo o desempe-nho do arqueólogo diante da memória sociaL Um monumen-to do passado que chegou aos dias atuais intacto, ou sobforma de ruína, constitui-se em um elemento da memória co-letiva desta sociedade.

    Um monumento, um forte por exemplo, constitui-sematerialmente em uma realidade do presente para a socie-dade atuaL Entretanto, inegavelmente, este mesmo monu-mento traz consigo, desde o período de sua construção, ele-mentos que agregam-se sucessivamente à memória coletiva.Esta agregação de elementos à memória coletiva dá-se atra-vés de uma conjugação de processos sociais dos mais dife-rentes matizes.

    Freqüentemente observa-se um conflito explicativo, emrelação a um monumento, entre a "história objetiva" e a"história ideológica". Na maioria das vezes, é possível resga-tar-se uma documentação textual relativa ao monumento,que permite ao historiador acessar a sua "história objetiva". Aconfrontação, entretanto, entre esta história e a memória co-letiva normalmente entra em rota de colisão em diversos as-pectos; é a "memória escrita" conflitando-se com a "memóriaoral". Muitos dos aspectos relativos à história de um monu-mento são submetidos a manipulação consciente ou"inconscientes", de forma a proporcionar certos"esquecimentos" da sua história. Por outro lado, o "ato narra-tivo" que se sucede ao longo das gerações, proporciona uma"releitura" do monumento associando "amnésia coletiva" à

    confusão da história com o mito. O monumento pois, que po-deria ser um testemunho materializado da memória de uma

    época, passa na maioria das vezes à categoria de epicentrode uma narrativa mítica. Por outro lado, as explicações paraum monumento, retidas na memória coletiva, freqüentementeassumem proporções de ficção que desviam a sociedade doentendimento de si própria. Heróis são transformados emvilões, personagens inexistentes são criados, personagens

    398 Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~- ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICAPUCRSreais são esquecidos, fatos são distorcidos, a cronologia émuitas vezes desprezada.

    Diferentes núcleos de assentamento, de um mesmosistema cultural apresentam diferentes níveis de complexida-de, que refletem o conjunto de funções a que estão relaciona-dos. Do ponto de vista de sua estruturação física, cada assen-tamento de um dado sistema cultural tende a apresentar dife-rentes conjuntos de unidades funcionais, de modo que, de-pendendo de seu nível de complexidade, cada assentamentorepresenta um maior ou menor número de elementos funcio-nais daquele sistema. Com base nestes conceitos, tem-seque, uma cidade abrange um maior número de funções queum povoado, ou um engenho de açúcar. Isto é, considerando-se nossa própria sociedade, há de se esperar em uma"cidade grande" um maior número de "serviços", de "unidadesprodutivas" do que aqueles disponíveis nos "pequenos povo-ados". Esta visão, entretanto, não abrange necessariamente oconceito de que tais assentamentos de maior complexidaderepresentem um maior grau de integr:.ação com o sistemacultural, como é defendido por South. Considerando-se quesistemas culturais mais complexos tendem a apresentar ní-veis de especialização mais definidos, mais específicos, as-sentamentos de funções diferenciadas, especializados, comono exemplo de um engenho de açúcar, não estão menos inte-grados ao sistema que uma vila ou um povoado. Diferem,evidentemente, nas funções que desempenham, entretanto talnão representa um afastamento de sua integração com osistema de modo mais amplo. De fato, pode-se considerarque em termos de seu desempenho funcional, suas unidadesde constituição abranjam um menor número de atividades,de serviços, de funções, que aquele exercido no âmbito doconjunto do sistema. Entretanto, a isto não consideramosuma não integração (ou uma baixa integração) ao sistema,mas sim uma função de seu nível de especialização, ou aindaum patamar mais simplificado na representação das diversasexpressões da complexidade do sistema cultural.

    Coleção Arqueologia 1 - Volume 2 399

  • ~~ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENIiFICA

    PUCRS

    Ao lidarmos com o sistema colonial português noBrasil, podemos esperar que ao longo de sua implantaçãotenha sofrido significativas alterações em termos de suasunidades funcionais implantadas. Este aspecto é bastanteevidente ao considerarmos que ao longo do tempo variaramsignificativamente objetivos, estratégias, níveis de interesse,disponibilidade política, e mesmo conhecimento dos recursoslocais.

    Deste modo, quando um documento textual faz refe-rência a um engenho de açúcar do século XVI, ou a uma viladaquele século, pode-se esperar que cada uma destas uni-dades apresentassem elementos funcionais distintos. O en-genho com sua "casa de purgar", sua moenda, sua fornalha,seus canaviais, seu armazém de encaixotar. A vila, com suaalfândega, sua casa de câmara, sua cadeia, suas lojas, suaárea de feira, etc. Por outro lado, ambos os assentamentosdeveriam apresentar elementos em comum, tais como os dis-tintos abrigos de senhores, de administradores, de artesã os,de escravos; fontes de água, oficinas e igrejas (capelas, namaioria dos engenhos). Entretanto, a implantação dos dife-rentes elementos funcionais, seja em uma vila, seja em umengenho, nem sempre se fez a um só tempo. A falta de dis-ponibilidade de recursos, de mão de obra, ou mesmo devontade política, muitas vezes retardou a implantação dedeterminados elementos. Os objetivos buscados, as necessi-dades ditadas seja por tais objetivos, seja por suas relaçõescom o sistema americano nativo, aceleravam ou retardavama implantação de determinados elementos, como é o casodos elementos voltados à defesa. Supria-se inicialmenteaquilo que era considerado essencial, prioritário.

    A análise dos diferentes elementos constantes de um

    assentamento, contribui para se avaliar os objetivos, as ne-cessidades de cada período, as suas relações com o meiofísico e social, seus temores, suas atividades.

    De um modo geral, a documentação textual trata deforma abrangente os assentamentos: a vila X ou a vila Y, sem

    400 Coleção Arqueologia 1 -Volume 2

  • ~!~..ANAIS DA VI/I REUNIÃO CIENTÍFICA

    PUCRS

    distinguir, entretanto quais elementos compunham cada umadelas; qual a ordem de implantação de cada um destes ele-mentos; que tipo de tratamento foi dado a cada um deles;suas dimensões absolutas e relativas; a intensidade de uso;a durabilidade ou precariedade das estruturas, suas disposi-ções e relações espaciais. Entretanto, através de uma pesqui-sa específica, provavelmente se poderá resgatar grande nú-mero de informações referentes aos elementos funcionaisimplantados em cada assentamento, e, deste modo, abrirnovas perspectivas para o entendimento do processo de im-plantação do sistema colonial português no Brasil, e suatransformação no novo sistema americano.

    Os problemas, indiscutivelmente, são múltiplos e vari-ados. A complexidade operacional com que se depara o ar-queólogo, muitas vezes, impedem ou retardam os resultados.Esta complexidade operacional vivenciada pela arqueologiahistórica é oriunda da abordagem multifacetada inerente aopróprio proceder arqueológico.

    Inúmeras atividades são desenvolvidas, em arqueo-logia histórica, em momento anterior às escavações de umsítio arqueológico. Dentre estas atividades poder-se-ia desta-car o levantamento de dados textuais, iconográficos e carto-gráficos. Habitualmente este levantamento direciona-se paraa unidade funcional a ser escavada. Como a maioria signifi-cativa dos arqueólogos atuais entende que a unidade funcio-nal a ser escavada integra um complexo de relações, busca-se, normalmente, ampliar este levantamento de modo apermitir uma contextualização a mais ampla possível. Estatarefa nem sempre é fácil e quando indevidamente executa-da poderá vir a comprometer o resultado final do trabalho decampo. Este comprometimento, inclusive, pode vir a prejudi-car o resultado final da escavação, reduzindo-a a uma abor-dagem fragmentada e desprovida de relações mais amplas.Ou seja, a informação oriunda da arqueologia poderá perdero seu caráter explicativo maior, limitando-se ao sítio escava-do.

    Coleção Arqueologia 1 - Volume 2 401

  • ~:1wo.ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICA

    PUCRS

    Embora a arqueologia possua um objeto materialsimilar ao de outras áreas do conhecimento, o seu objeto for-mal a diferencia das mesmas emprestando-lhe uma maneiraprópria e única de abordar os seus problemas. A sua abor-dagem característica, multifacetada e interdisciplinar perfeitoenquanto excelência, exige do profissional uma amplitude deconhecimentos e informações. Muitas vezes, uma gama con-siderável de informações, escapam ao controle do arqueólo-go, prejudicando conseqüentemente a sua atuação.

    A história, dentre as áreas que apresentam uma zo~ade sombreamento com a arqueologia histórica, constitui-seem uma fonte de informações que em nenhuma circunstânciapode ser negligenciada. Entretanto o arqueólogo, como mui-tos já afirmaram, é arqueólogo e não historiador - afirmativaque ainda carece de profundas reflexões -, deve utilizar-sedestas fontes em seu trabalho interpretativo, mesclando-ascom a documentação primária oriunda de sua escavação.

    A interpretação textual, característica primordial doproceder histórico, envereda habitualmente por uma vertenteque deságua em preocupações diferenciadas das eminente-mente arqueológicas. Parece existir uma tênue tendência dohistoriador para "o que foi feito"enquanto que do arqueólogopara "como foi feito". Óbvio que estas perguntas se comple-mentam. Não necessariamente em ordem direta e seqüencialpois pode-se partir também" do como foi feito" para" o que foifeito", inclusive, em ambos os casos acrescentando-se o "porquem foi feito", "o quando foi feito", o "para quem foi feito",como ainda "que relações o particular mantém com o todo".

    O arqueólogo histórico depara-se com um problemaque se constitui em sua realidade operacional. Embora emsuas preocupações maiores exista o "todo" e suas relações, asua prática exercita-se em uma unidade funcional isolada.Mesmo que o seu objetivo maior seja a inter-relação com ou-tros trabalhos já executados ou por executar. Nenhum ar-queólogo pode escavar simultaneamente o todo dos vestígiosmateriais de um sistema cultural. A abordagem necessaria-

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    mente deverá recair em uma unidade funcional. Mesmo paraos que se dedicam ao estudo urbano, a cidade não é escava-da como um todo, mas sim através de suas unidades funcio-nais.

    A reconstituição e o entendimento de um sistema cul-tural através da arqueologia é necessariamente lento. O gra-dual somatório dos resultados das escavações de unidadesfuncionais apenas permite a reconstituição do sistema estu-dado em longo prazo. A escavação de uma unidade funcio-nal desconectada de seu contexto impede avanços mais rá-pidos da arqueologia histórica. O desconhecimento do con-texto maior do sistema cultural impede a formulação dequestões adequadas que deveriam ser respondidas pela es-cavação de uma unidade específica. Parece se estar em umaárea limítrofe a um raciocínio tautológico. O desconhecimen-to do todo, impedindo a formulação de questões adequadaspara o particular, e a ausência de questões adequadas, du-rante a escavação do particular, impedindo o conhecimentodo todo.

    Ocorre, que no caso particular da arqueologia históri-ca, as informações textuais, oriundas da história, assumemum papel de significativa relevância. A manipulação, entre-tanto, destas informações não se constitui em tarefa das maissimples para o arqueólogo.

    Com o objetivo de acelerar os resultados arqueológi-cos, direcionando-os para o entendimento do processo defixação do sistema colonial português no Novo Mundo e par-ticularmente no nordeste do Brasil, elaboramos um projetoque tem como objetivo precípuo o fornecimento de informa-ções que preencham, mesmo que temporariamente, as lacu-nas verificadas. A utilização destas informações permitirão aelaboração de "perguntas" mais objetivas e conseqüente-mente deverão atuar como elemento catalisador no processode entendimento da realidade estudada. Até porquê, o co-nhecimento da realidade constitui-se em elemento fundamen-

    tal ao processo de avanço do conhecimento científico.

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  • ~- ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICAPUCRSA estratégia utilizada na elaboração deste projeto

    objetiva o armazenamento, controle e gerenciamento de da-dos, relativos aos sistemas europeu e americano, de modo apermitir um substantivo apoio às atividades de pesquisa des-envolvidas pelo Laboratório de Arqueologia. As informaçõesarmazenadas podem e devem ser oriundas das mais varia-das fontes. Documentos históricos primários, documentossecundários, gravuras, desenhos, cartografia, informaçõesarqueológicas, constituem-se em fontes de alimentação des-tas referências. Estas informações são armazenadas em umbanco de dados que possibilita o seu resgate de forma cru-zada e relacional.

    A idéia, portanto, é a de se criar uma base de dadosque permita ao arqueólogo o acesso rápido e eficiente àsinformações históricas em fase que anteceda a escavação.Preferencialmente que auxilie o arqueólogo na elaboraçãodo projeto de pesquisa e que permita a formulação de ques-tões objetivas relativas ao entendimento do tema em estudo.

    Qualquer trabalho de pesquisa necessariamente pas-sa pela etapa do conhecimento prévio da realidade. Este co-nhecimento prévio da realidade, em se tratando de arqueo-logia histórica apresenta um grau de complexidade de talordem, que muitas vezes a pesquisa arqueológica perde adimensão da totalidade relacional e centra-se apenas naunidade funcional escavada.

    Considerando que um forte não relaciona-se apenascom outros fortes mas sim com um complexo mais amplo, omesmo ocorrendo com um engenho ou uma igreja e demaisunidades funcionais, parece tomar-se imperioso, ao arqueó-logo, relacionar a unidade escavada com sua rede de rela-ções. Este trabalho é indiscutivelmente laborioso e passívelde apresentar grandes lacunas em seu todo. Deste modo,como estratégia de abordagem, o projeto que tem como obje-tivo inicial a plotagem crono-espacial das unidades funcio-nais dos sistemas colonial português e americano para o es-tado de Pemambuco. Isto é, objetiva inicialmente o armaze-

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  • ~- ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICAPUCRSnamento, controle e gerenciamento de dados, relativos à im-plantação e de desativação de unidades funcionais dos sis-temas europeu e americano. De início serão privilegiados osséculos XVI e XVII. O banco de dados desenvolvido para osistema de informações, será alimentado com dados relativosàs unidades funcionais que integraram àqueles sistemasculturais, atendendo ao corte temporal e espacial definidopara esta etapa, independente de sua origem. Portanto, in-formações textuais, primárias ou secundárias, fontes icono-gráficas ou cartográficas integram este banco de dados. Pro-curou-se, nesta primeira aproximação, resgatar ainda infor-mações quanto à fonte da informação, o sistema e subsiste-ma cultural a que remetem, o grupo social, a grande catego-ria funcional e a categoria da unidade funcional específica.Dentre os dados coletados inclui-se ainda a cronologia daunidade funcional estudada, a sua descrição e a sua locali-zação. Esta localização é obtida inicialmente a partir dosdados de referência histórica e em seguida identifica da 'inloco". Nesta identificação procede-se o registro das coorde-nadadas obtidas com o auxílio do GPS que em seguida étransferida para mapas específicos.

    Deste modo, o projeto buscará, em sua etapa inicial.através de documentação variada, levantar as unidadesfuncionais que a cada período, compunham diferentes com-plexos funcionais dos sistemas colonial português e america-no, visando alcançar uma aproximação quanto às suas in-serções topográficas.

    Em um segundo momento, o projeto visa a confronta-ção dos dados com a cartografia e iconografia, coeva e atual,com vistas ao levantamento de elementos que possam permi-tir a identificação topológica dos elementos constituintes dasunidades funcionais, ou de suas ruínas. Deste modo, o projetocontribuirá para uma melhor compreensão do processo deimplantação do sistema colonial português no Brasil. de suasetapas de implantação, de sua velocidade em se impor aosistema americano, o nível efetivo de reprodução do sistema

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    português nas Américas, e das novas formas adquiridas pelanova sociedade americana que se implantava.

    Do ponto de vista da prática arqueológica de campo,o projeto fornecerá elementos que virão a contribuir para umavisão de conjunto dos elementos funcionais de cada período edas disponibilidades de sua abordagem através de escava-ções. Utilizamos na montagem do nosso banco de dados o

    "Access" da Microsoft. Trata-se de um soft interativo e ~uepermite uma significativa flexibilidade quanto às consultas.

    À pesquisa arqueológica é de interesse fundamental oconhecimento do rol de elementos que integravam diferentesassentamentos, e sua cronologia de implantação. Conside-rando-se que a arqueologia utiliza-se fundamentalmente deelementos materiais da cultura, ou melhor, de restos, oumesmo fragmentos, é de importância primordial a identifica-ção destes elementos. Por outro lado, este processo de identi-ficação tem-se mostrado como um dos pontos de partida parao arqueólogo que pode conduzi-Io às diferentes respostas emsua pesquisa. A questão da identificação para a arqueologiaé um problema que tem sido referido por diferentes autores,sobretudo no que concerne a disponibilidade, na grandemaioria dos casos, apenas de partes de elementos, de partesde artefatos. A necessidade de identificação do todo a partirde partes exige mais do que uma familiaridade com as for-mas e funções de artefatos dos contextos culturais em que setrabalha. Exige a identificação concomitante, no interior dosistema cultural. das unidades funcionais a que está relacio-nado, pois um mesmo fragmento de artefato pode ser diferen-temente identificado, em função de suas relações com a uni-dade funcional a que esteja relacionado.

    Este controle crono espacial das unidades funcionaistem nos propiciado uma melhor visão de conjunto, embora

    5 Como o tempo disponivel para esta apresentação não permite um detalha-mento maior do processo, terei a maior satisfação de enviar para os interes-sados o modelo de nossas fichas como também o manual de preenchimento.

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  • ~!~o.ANAIS DA VIII REUNIÃO CIENTÍFICA

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    que ainda de uma área restrita. Caso práticas análogas ve-nham a ser adotadas por outros colegas, acreditamos que aarqueologia histórica brasileira, ou mesmo americana, possaacelerar a sua velocidade operacional permitindo uma visãode conjunto do processo colonial adotado nas Américas.Atualmente, inclusive, com o advento de recursos como o te-leprocessamento, profissionais das mais remotas regiões po-deriam acessar simultaneamente os diversos bancos de da-

    dos que viessem a ser implantados. Esta perspectiva permiti-ria sínteses mais objetivas com a redução de tempo e recur-sos.

    Finalizando gostaríamos de reafirmar que a identifi-cação do monumento em fase de pré-escavação, tanto doponto de vista espacial como cronológico, bem como o co-nhecimento das unidades funcionais que com ele se relacio-naram, que constituíram o complexo, indiscutivelmente permi-te uma maior visão do conjunto das atividades desenvolvidasno âmbito dos assentamentos coloniais.

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  • Texto disponibilizado pelo site Brasil Arqueológico - Equipe do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco - http://www.magmarqueologia.pro.br/ Conteúdo protegido pela lei de direitos autorais. É permitida a reprodução parcial ou total deste texto, sem alteração de seu conteúdo original, desde que seja citada a fonte e o autor.

    COMO CITAR ESTA OBRA: ALBUQUERQUE, Marcos; LUCENA, Veleda. Situação crono-espacial

    de unidades funcionais em Pernambuco: uma abordagem de pré-escavação. Revista de Arqueologia - Coleção Arqueologia, Porto Alegre, EDIPUCRS, n.1, v.2, 393-407, 1996. Número especial dedicado à VIII reunião Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), Porto Alegre, 1995.